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Cristiane Ventre Porcini

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Thais Sousa

Thais Sousa

A VIAGEM Cristiane Ventre Porcini

Naqueles tempos, viajávamos em família. Havia uma cidadezinha que gostávamos de ir para comer peixe a beira de um rio.

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O café da manhã, no pequeno hotel, tinha o sabor da alegria. A mesa era longa e nela serviam: bolos, frutas, sucos, tortas, coalhada – e ficávamos ali planejando os passeios para mais tarde.

Aquela cidade tinha um quê de especial. A terra avermelhada tingia a sola de nossos sapatos, e nas águas agitadas do rio às vezes conseguíamos ver os peixes pulando – era a piracema, o período de reprodução dos peixes. A palavra piracema vem do tupi e significa “subida dos peixes”. Eles se deslocam às vezes para regiões dos rios com ervas para desovar.

À noite, caminhávamos na pracinha central, onde havia um pequeno coreto. Lá, encontrávamos um incrível sorvete de milho verde ou um delicioso doce para saborear.

Os restaurantes que serviam maravilhosos peixes assados no espeto eram bem disputados. Às vezes, formava-se fila para esperar vaga em uma mesa.

O peixe servido vinha de outra região, e eram acompanhados por uma crocante polenta frita.

Passávamos bons momentos lá.

Havia um museu onde podíamos ver vários bichos embalsamados – embora eu preferisse vê-los vivos. Mas, o passeio no museu tinha lá algum encanto.

Talvez no setor em que podíamos ver grande diversidade de espécies de borboletas.

Em uma tarde, passeando próximo ao rio, fiquei encantada ao ver um rapaz que pintava para vender belíssimas paisagens no azulejo.

A tarde seguia tranquila e nos esquecíamos das horas olhando para as águas agitadas daquele rio. Elas corriam, seguiam firmes, contínuas, precisas em seu curso.

Tirávamos fotografias que depois pareciam idênticas, mas registrar aquele imenso rio e aqueles momentos fazia-se necessário.

Como é maravilhoso olhar depois as fotos de uma viagem, de um passeio e lembrar de momentos tão bem aproveitados.

As viagens, sejam elas para o interior ou praia, sempre trazem recordações que levamos para a vida inteira.

Conheci pessoas que viajaram o mundo inteiro, e uma que morreu sem realizar o desejo de conhecer o Rio de Janeiro.

Meu pai gostava de pegar estrada. Algumas cidades por onde passamos subíamos serras, às vezes cheias de curvas, mas ele dizia que era uma oportunidade para encher os pulmões de ar puro. 32

Sim, nas serras, às vezes, sentíamos o perfume dos eucaliptos, avistávamos pinheiros, montanhas, e nossos olhos descansavam no verde da paisagem.

Certa vez, fui visitar uma cidade litorânea do sul do Brasil e quando pus meus olhos na imensidão do mar fiquei emocionada com as nuances de azul.

O poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) escreveu “O mar é a religião da natureza”.

Hotel, mala, passagem, ônibus de viagem, carro de passeio, máquina fotográfica ou celular, roupas, chapéu, óculos de sol, protetor solar, carteira, biquini e disposição para ser feliz talvez sejam ingredientes para uma lista de viagem.

Não sei se a vida é curta demais ou ainda haja tempo, mas os bons momentos em família sustentam a nossa existência, elevam nossos pensamentos, confortam nossos dias.

Cora Coralina escreveu lindamente sobre a colcha de retalhos, e eu concordo com a escritora, pois o que vivi me acrescentou: as recordações dos lugares, das pessoas, das comidas como uma colcha de pequeninos pedaços.

Cristiane Ventre Porcini Moça com turbante

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