e-ISBN: 978-85-69918-04-2
MINHA VIDA NA UMBANDA Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé Elcio Prado (Inspirado pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema)
Elcio Prado
MINHA VIDA NA UMBANDA Desenvolvimento e formação mediúnica de um Filho de Fé
Santos 2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) EDITALIVROS Produções Editoriais P896
Prado, Elcio, 1962 – Minha vida na Umbanda (e-book): Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé / Elcio Prado - 1 ed. – Santos (SP): Editalivros Produções Editoriais – 2021. 200 p.; PDF. e-ISBN: 978-85-69918-04-2
1. Umbanda. 2. Médium. 3. Orixás. 4. ABESMA 5. Prado, Elcio I. Título CDD:200 CDU e-book
Revisão Rosane Prado Planejamento Gráfico / Diagramação / Capa Editalivros Produções Editoriais Sobre o Ebook Formato: 140 x 210 mm • Mancha: 110 x 180 mm Tipologia: Minion Pro (textos/títulos)
Editalivros Produções Editoriais Av. Conselheiro Nébias, 197 – Vila Mathias 11015-021 – Santos - SP https://elcio62.wixsite.com/editalivros Atendimento editalivros@hotmail.com
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Dedicatória Ao concluir esta obra, em fevereiro de 2022, perdi meu amado mentor espiritual, Pai Odé D’Loy. Foi um momento de muita dor e, superar sua ausência, foi um processo muito difícil, mas seus ensinamentos, seu carinho e seu amor me trouxeram forças para que, com o tempo, meu coração se acalentasse e minha fé trouxesse o conforto espiritual tão necessário. Assim como nós, nesse plano físico em que vivemos, sei que hoje ele continua sua jornada evolutiva em outro plano, junto aos seus Guias espirituais e iluminado pelos Orixás de nossa Divina e Sagrada Umbanda. Ao meu Pai Odé D’Loy, minha eterna gratidão!
Agradecimentos Primeiramente, agradecer ao Divino Criador Olorum, por nos conceder a graça da vida, ao nosso Pai Oxalá e seus Orixás, regentes de nossa evolução espiritual. Gratidão ao Sr. Caboclo Rompe Mato, responsável pelo desenvolvimento dos irmãos de fé em nosso terreiro. Agradeço ao meu amado Pai Odé D’Loy, sacerdote do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador, que me recebeu com o amor e o carinho que só um verdadeiro pai possui. Agradeço também aos meus Guias de Luz, que se manifestam através de meu corpo físico e me amparam, ensinam e conduzem meu desenvolvimento espiritual. Agradeço, com muita emoção, o Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, a quem devo os méritos desta obra, me revelando, inspirando e intuindo cada palavra através de seu imenso amor. Por fim, mas não menos importante, agradeço à minha amada esposa Valeria e meus filhos Gabriel e Gustavo, “minhas três metades”. In Memoriam Aos meus pais, Iolanda e Francisco, duas Luzes de brilho eterno em nossas vidas.
APRESENTAÇÃO
P
lantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro. Assim, José Martí, o aclamado poeta cubano, definiu em uma frase as obrigações do ser humano. Viver além do momento presente, contribuindo com a sociedade ao transcender para as gerações futuras, uma herança tripla. Conhecida e muito repetida, a proposta é muito mais profunda e arrojada. Exige muito de quem a ela se dedica. Exige ir além de seus próprios limites e persistir, ser insistente mesmo no desenvolvimento de cada tarefa. Plantar não é jogar a semente no solo, um pouco de água e deixar que a natureza faça o resto. É envolver-se na sua sobrevivência, cercá-la dos cuidados e da atenção necessários. É preciso mesmo insistir consigo próprio para não deixar pra lá a tarefa. Em uma escala maior, ter um filho é um compromisso que se constrói e reconstrói a cada momento consigo e com os outros, os parceiros familiares e com a criança. É preciso mesmo insistir sem cessar para não se perder em tal complexidade. E o livro? Bastam algumas palavras, um título e uma capa colorida? Trata-se de um livro, de um bem cultural que irá portar a sua mensagem ao longo dos anos e do mundo. Um livro é a sua mensagem. Qual é a sua? Aqui, o poeta foi caprichoso em sua síntese. É preciso insistir para entender o recado e, ainda mais, se compreender, ser persistente para realizar. Deus é insistente com a sua criação. As mulheres são insistentes com os filhos que trazem ao mundo. Os escritores são insistentes com as obras que geram. Narrar a própria trajetória em um livro é um desafio complexo. Há o risco de parecer vaidoso, pretensioso aos seus pares. Há a dúvida sobre ter uma riqueza de realizações a compartilhar e justificar a iniciativa. Há o conhecimento necessário sobre como escrever o dito, outra questão angustiante. Essas questões e outras variantes existem, incomodam. No entanto, há outro viés a ser considerado. Acontece que escrever a própria história ou parte dela é mais
do que apenas isso. É um registro histórico que trará compreensão sobre a época em que foi escrito. Trará à luz fatos e pessoas, histórias e ocorrências sociais. São fragmentos que ajudam a formar o esqueleto da sociedade humana, sempre em evolução. Ou um ato de amor, também pode ser. Compartilhar os passos dados, as dúvidas e os resultados de uma experiência vivida intensamente pode ajudar os outros a melhor compreenderem as inquietações que carregam e encontrarem as respostas. Nesta simplicidade de proposta, há uma carga enérgica de doação, de amor, por si só insistente. Compartilhando a sua vivência na Umbanda, o Autor revela-se em suas dúvidas e sobre os conhecimentos apreendidos, antes e depois de ingressar no culto. Ainda mais, sobre a jornada de leigo a ativo praticante, minucioso em pontuar as etapas. E aqui, nesse roteiro evolutivo que percorre os sete capítulos do livro, estabelece com o leitor um diálogo por assim dizer técnico sobre a cultura umbandista, sua origem sagrada, seus elementos teóricos e práticos, sua rotina e rituais. Remete ao processo de um irmão mais velho aconselhando o caçula sobre as dúvidas desse. Um processo fraternal, amoroso, insistente. Deve o leitor ter reparado que abusei do uso do verbo insistir. Foi proposital, pois essa situação ficou transparente desde o capítulo inicial e por meio dela, a intenção ganhou força como projeto de “caminhar junto” do autor. Muitos foram insistentes com ele para que trouxesse essa conversa a você e, se assim for, que seja inspiradora. Toda missão exige insistência, venha de onde vier, inclusive de si mesmo, para ser concluída. Esse é o item oculto na frase poética/profética. Marcelo Di Renzo Jornalista, professor.
SUMÁRIO 13 16
PREFÁCIO Capítulo 1 - O INÍCIO Uma breve história
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Capítulo 2 - O CHAMADO Terreiro - Pai de Santo - Mãe de Santo - Filho de Santo - Cambone - Médium - Giras - Assistência Consulentes - Por que se canta na Umbanda? - Os Guias falam errado?
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Capítulo 3 - O CAMBONO
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Capítulo 4 - O FILHO DE SANTO
Qual a diferença entre gira de cura, gira de desenvolvimento e gira de consulta? - Por que utilizamos roupas brancas nas giras de Umbanda? - O que é arquétipo na Umbanda? - O que é Tronqueira? O que é Casa das Almas? Que saudação se faz ao entrar no terreiro? - O que significa batismo na Umbanda? - Quem é o Caboclo Rompe Mato? - O que é incorporação? Existem técnicas para facilitar a incorporação? O que significa mistificação? - O que originou o sincretismo? O que é congá? - Qual o significado de bater-cabeça? - O que é salva? - Religião - Fé Espiritismo - Umbanda - Candomblé - Obrigações e princípios de um Filho de Santo - Mediunidade Para que servem as guias? Qual o procedimento quando uma guia se rompe? - Umbanda e internet - Qual a diferença entre Orixás e Guias? O que significa Orixá de Cabeça, Juntó e Adjuntó? O que é ojá e roupa de ração? - Qual a diferença entre Entidades, Guias e Protetores? O que é firmeza
para o Anjo da Guarda? - Como faço um altar dentro de casa? Qual a diferença entre cruzar e consagrar? O que é quartinha? - O que é falange? No que consiste a defumação? - Saudações Orações das Sete Ondas - Cores e significados - O que são nações africanas?
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Capítulo 5 - O MÉDIUM Como lidar com preconceito religioso em família? - Além do meu altar, posso ter outros pontos de vibração em casa? - Como faço a limpeza das imagens em meu altar? - Posso tomar banho de ervas em casa? O que é maceração? - Como despachar uma imagem quebrada? - O que faço com uma imagem que pertenceu a uma pessoa falecida? - O que faço com a sobra dos trabalhos feitos em casa? - Posso visitar outros terreiros? Posso defumar minha casa? Qual o procedimento? - Quais as plantas que posso ter em casa? - Posso incorporar em casa? - Quem é Caboclo Sete Folhas? - O que são as 7 linhas existentes na Umbanda? - Qual a diferença entre mediunidade conscientes, semiconscientes e inconscientes? - Qual a diferença entre benzimento, passe, limpeza, descarrego, simpatia e sacudimento? - Sou eu ou a entidade, como se livrar da eterna dúvida? - Sacramentos na Umbanda - Ervas na Umbanda - Guia de Aço - Pedras e cristais na Umbanda - O que é carma? - Aborto e Umbanda - Suicídio e Umbanda - Como a Umbanda vê a morte - O que é fechamento de corpo? - O Que são os Pontos Riscados? - O que significa firmar ponto? - O médium pode ir ao banheiro quando incorporado? - Se eu não desenvolver a mediunidade, minha vida vai desandar? - O que se entende por encarnação, desencarnação e reencarnação? - Mal olhado, olho gordo e inveja existem realmente? - Quantos e quais são os Orixás na Umbanda? - A Umbanda e a Música
Popular Brasileira - Pés Sujos: Uma Mensagem de Pai Cipriano - O Jogo de Búzios - Velas - Água - Pólvora - Carvão - Chacras - Ibejís - Quem foi Doum? - Erês - Caboclos Mirins - Médicos na Umbanda
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Capítulo 6 - A MATURIDADE O que significa a Esquerda na Umbanda? - Quem são Exú e Pombagira na Umbanda? - Quais as falanges que atuam na linha da Esquerda? - Exú é o diabo? - Pombogira é prostituta? - Homens incorporam Pombagira? - Porque Exú dá risada? - Porque as imagens de Exú são tão assustadoras? - Quem é Exú Mirim? - Porque Exú bebe pinga? - Exú é Orixá ou Entidade? - Posso ter uma imagem de Exú ou de Pombagira em casa? Exú ou Pombagira podem ser donos de coroa? - O que é Padê? - Como se dá a incorporação de Exú e de Pombagira? - Porque Exú e outras entidades fumam? - Zé Pilintra e os Malandros na Umbanda - Cruzeiro das Almas - O Que significa a encruzilhada na Umbanda? - Quais os tipos de encruzilhadas e suas entidades correspondentes? - Preces para Exú e Pombogira - Agrados para Exú e Pombogira - Banhos para Exú e Pombogira - Defumações para Exú e Pombogira - Pontos para Exú e Pombogira - Principais nomes de Exús - Principais nomes de Pombogiras
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Capítulo 7 - O PRESENTE Bandeira Oficial da Umbanda - Hino Oficial da Umbanda - Princípios Básicos da Umbanda - O que é a Federação Brasileira de Umbanda? - Prece a Oxalá - Prece a Oxum - Prece a Iansã - Prece a Iemanjá - Prece a Nanã Buroquê - Prece a Ogum - Prece a Oxóssi - Prece a Xangô - Prece a Omolú/ Obaluaê - Prece aos Ibeijís - Prece aos PretosVelhos - Prece aos Caboclos - Prece aos Baianos
- Prece aos Boiadeiros - Prece aos Marinheiros - Prece a Santa Sara (Ciganos) - Pai Nosso Umbandista - Ponto de Oxalá - Ponto de Oxum - Ponto de Iemanjá - Ponto de Iansã - Ponto de Nanã - Ponto de Ogum - Ponto de Oxóssi - Ponto de Xangô - Ponto de Obaluaê/Omolú - Ponto de Ibeijís - Ponto de Preto-Velhos - Ponto de Caboclos - Ponto de Boiadeiros - Ponto de Marinheiros Ponto de Ciganos - Ponto de Baianos - Frases & Pensamentos - O que é o Santuário Nacional da Umbanda? - Alguns nomes de Guias na Umbanda - Leitura indicada - Sites indicados - Glossário Bibliografia
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SOBRE A ABESMA POSFÁCIO
“Sou filho dos mares, dos lagos, dos rios e das matas. Sou filho guerreiro, armado de lança, espada, mortalha e machado. Sou filho da noite, da lua, das ruas, das trevas. Sou filho da terra, do fogo, da água e do ar. Sou filho de Pemba, guiado por Deus. Sou filho de Rei, valei-me Oxalá. Sou filho de fé virado no Santo, meu canto é sagrado. Sou filho de UMBANDA.” Elcio Prado
PREFÁCIO
A
ideia desse projeto veio, em parte, da necessidade de relatar aos meus irmãos de fé, minha experiência como filho de Umbanda, e de todo o meu desenvolvimento mediúnico até a presente data. Percebi ao longo dos anos, que existem um sem-número de obras sobre o tema Umbanda, mas obras escritas por um Filho de Santo, são poucas ou até mesmo raras. E isso se dá pelo fato de que o médium se sente naturalmente inseguro, assim como inicialmente me senti, em relatar suas experiências e tudo aquilo que o envolve em sua prática de fé. Contudo, percebi também, desde meus primeiros contatos com o terreiro que até hoje frequento, que as dúvidas, anseios e inseguranças que vivi, foram e ainda são vividos em grande parte, por muitos irmãos em seu início de desenvolvimento mediúnico. Com todo o respeito que me cabe, mesmo porque sou um leitor apaixonado e assíduo de Umbanda e de seus muitos autores consagrados, percebo uma certa distância na comunicação entre o médium iniciante e os escritores dessas obras que, em sua maioria, são Sacerdotes, Babalorixás, Ialorixá, Chefes de terreiro, Pais ou Mães de Santo, muitos utilizando da psicografia, transcrição ou inspiração divina. Mesmo com todo o valor e importância essencial de suas obras, muitas vezes não despertam a mesma empatia que um texto escrito por um “simples” irmão de fé. E digo “simples” não no sentido pejorativo da palavra, mas devido ao mesmo grau hierárquico que ocupamos, sendo todos nós, Filhos de Santo. É provável que, no decorrer das páginas a seguir, o leitor se identifique com muitas das situações descritas neste livro, formule as mesmas perguntas e dúvidas que formulei e talvez até em alguns momentos, encontre fatos similares ocorridos em sua própria jornada. Mais uma vez, deixo claro que não se trata de desmerecer e nem tampouco menosprezar o trabalho desses conceituados autores que contribuíram e contribuem para a história de nossa Sagrada Umbanda, dos quais se faz necessário destacar Rubens Saraceni, W. W. da Matta, Francisco Rivas Neto, Alfredo de Alcântara, Aluizio Fontenelle, Florisbela Maria de 13
Souza, Alexandre Cumino, Ademir Barbosa Júnior, Maria Helena Farelli, Benjamim Figueiredo, Teixeira Neto, Míriam Prestes, Ronaldo Linhares, Norberto Peixoto, Reginaldo Prandi, Tata Tancredo, Yvonne Maggie, Alan Barbieri, João Varela, dentre tantos outros que não cabem nessas poucas linhas introdutórias. Minha humilde intenção é que esse livro traga, através das experiências aqui relatadas, os necessários esclarecimentos às inúmeras dúvidas que o médium possui em seu início de vida mediúnica, embora sem a pretensão de ser uma obra didática, científica ou histórica. Finalizando este pequeno prefácio, outro motivo, senão o principal, que me fez escrever esse livro, partiu de meu Guia espiritual, o Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, que me intuiu durante meses a ideia do projeto. Sem nunca ter escrito nada em minha vida, perguntei-lhe como eu poderia atender a esse pedido sem a adequada qualificação espiritual e intelectual, e ele, em sua imensa sabedoria e humildade, respondeu: Calma filho, estarei a teu lado em cada página, em cada linha e em cada palavra inspirada. Atendendo às indicações feitas pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, disponibilizo esse livro e todo seu conteúdo gratuitamente a todos os filhos de fé e/ou qualquer pessoa interessada no assunto e espero que eu tenha cumprido o objetivo a que se destina essa obra, colaborando de alguma forma no desenvolvimento mediúnico de todos os meus irmãos de fé. Salve nossa Divina Sagrada Umbanda. Okê, Caboclo. Axé a todos e boa leitura! Elcio Prado São Vicente, fevereiro de 2022
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Capítulo I O INÍCIO
Foto: Autor
F
ilho de imigrantes europeus, meu pai chegou ao Brasil ainda menino, acompanhado de sua mãe, em meados de 1934, deixando na Espanha, sua irmã mais velha. Aqui, minha avó conheceu um brasileiro com quem teria seu terceiro filho. Com dois filhos pequenos e sozinha, começou a trabalhar em casas de família como diarista, para superar as dificuldades da época. O tempo passou e, anos mais tarde, meu pai, ainda adolescente e recém-formado no curso técnico pelo Instituto Escolástica Rosa, entrou no ramo industrial abrindo sua própria marcenaria, alcançando, com o passar dos anos, sua tão esperada estabilidade financeira. Já minha mãe, de origem humilde e filha de pais separados, vivia com a mãe, a qual teria mais dois filhos de um segundo casamento. Trabalhando como secretária em uma pequena imobiliária no Jardim Casqueiro, em Cubatão, ajudava a mãe nas despesas de casa, que lavava roupas para fora 16
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
enquanto seu padrasto trabalhava como garçom em restaurantes e buffets. Meus pais se conheceram nos salões de baile da época, unidos pelo amor e pela paixão mútua que os ligava: a dança. Casaram e constituíram família, tendo duas filhas e um menino caçula, e aí começa a minha história. Lembro de minha infância como num sonho, meu quarto, meus brinquedos, meus gibís e minha turminha de amigos do bairro. Residíamos em Santos, litoral de São Paulo, em um apartamento térreo de um prédio na Avenida Rodrigues Alves, onde iniciei meus estudos do ensino fundamental ao colegial, no extinto Colégio Independência. Por volta de 1973, aos treze anos de idade, comecei a viver algumas experiências que, só depois de muitos anos, entenderia os motivos dessas manifestações. Eram vultos que passavam a minha frente, aromas de perfume que impregnavam meu quarto repentinamente, vozes chamando meu nome e, algumas vezes, sentia a presença de alguém ao meu lado, sentado em minha cama. Embora essas ocorrências me deixassem um pouco assustado, eu não as comentava com ninguém, talvez por vergonha ou simplesmente por não dar a devida importância. Essas manifestações me acompanhariam durante toda a infância e adolescência. Com o passar dos anos, comecei a ficar mais atento a essas experiências. Foi quando descobri que minha mãe também vivia manifestações espirituais e que se davam, principalmente, através de incorporações involuntárias. Certa noite, eu e meu pai fomos surpreendidos com minha mãe falando sozinha num tom de voz muito grave, palavras incompreensíveis. De imediato, meu pai pediu que eu fosse para meu quarto e nunca mais tocamos no assunto. Na época, eu não compreendia o que estava acontecendo e tive muito medo em lidar com a situação. Talvez pelo fato de ser o irmão mais novo, minhas irmãs também evitaram comentar sobre esse assunto. A falta de informação provocou o medo, e o medo trouxe o preconceito que iria se manifestar em mim, anos depois. Lembro-me de outro episódio em que minha mãe, voltando de um jantar tarde da noite com meu pai, ao sentar-se na cama, foi incorporada subitamente por uma entidade que se pôs a agredir meu pai verbalmente. No mesmo instante, ele começou a chamar 17
MINHA VIDA NA UMBANDA
minha mãe repetidamente pelo nome, até que, pouco a pouco, ela foi voltando a si, embora sem recordar absolutamente nada. É importante salientar que quando nasci, fui batizado na Igreja Católica e criado sob a influência dessa doutrina, embora minha família não se dedicasse demasiadamente a religião e nem tampouco tivesse o hábito de frequentar igrejas, missas ou cerimoniais religiosos. Por outro lado, eu tinha muita curiosidade em conhecer novas doutrinas. Penso que o despertar espiritual de um indivíduo só se dá plenamente quando há a completa identificação com a religião e, somente assim, ocorrerá o verdadeiro encontro pessoa-fé. Julgo que esse contexto religioso e os acontecimentos vivenciados por minha família sejam de vital importância para a compreensão das origens e as raízes mediúnicas, herdadas ou não, e suas influências em nossas vidas. Voltando a nossa história, minha mãe começou a frequentar uma casa espírita em Santos, conhecida como Templo de Umbanda Caboclo Sete Flechas, mesmo a contragosto de meu pai, esperando que as manifestações cessassem. Mas, sem o apoio dos familiares e por falta de companhia, acabou por afastar-se do terreiro. Meus pais costumavam sair todos os finais de semana com uma turma de casais amigos que frequentavam bailes e jantares dançantes em vários clubes locais1. Num desses eventos, conheceram um casal, cuja esposa atuava como médium num centro espírita kardecista. Com o tempo, a amizade se estreitou e eram comuns as visitas semanais. Suas conversas giravam em torno de assuntos espíritas, o que levou minha mãe a compreender melhor sua mediunidade e, a partir daí, sua convivência com as manifestações se tornou mais natural e as incorporações foram ficando, através dos anos seguintes, cada vez mais esporádicas. Em 1992, minha mãe foi acometida por uma doença que lhe tiraria, lentamente, a vontade de viver. Nem remédios ou preces pareciam fazer efeito e o desfecho se fez inevitável. Quando minha mãe veio a falecer em 1993, já me encontrava casado, com dois filhos, um com dois anos e outro ainda no ven-
Na época, eram muito comuns os eventos dançantes promovidos nos diversos clubes localizados no bairro da Ponta da Praia, em Santos, como o Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube Internacional de Regatas, Clube de Regatas Saldanha da Gama, Clube Regatas Santista, dentre outros. 1
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
tre, prestes a nascer. Aos 29 anos de idade, trabalhava como músico num restaurante no Guarujá e minha esposa como secretária em uma empresa de exportação de café, no centro de Santos. Anos se passaram até a Umbanda entrar em minha vida, mas esse assunto iremos abordar a partir do próximo capítulo.
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Capítulo II O CHAMADO
Foto: Autor
O
s anos decorrentes foram marcados por muitas dificuldades em nossas vidas. Em meados de 2007, me encontrava desempregado, as despesas de casa e as altas dívidas no banco agravavam ainda mais nossa situação financeira. Como consequência, nosso casamento sofria o impacto dessa crise, fazendo com que minha esposa e eu vivêssemos em discussão quase que diariamente, nossos nervos tão abalados, que nos víamos muito próximos de uma possível separação. Foi nesse momento que ocorreu um fato que iria mudar por completo o rumo de nossas vidas. A sobrinha de minha esposa, residente em São Paulo, passava, na época, por problemas emocionais que estavam acarretando uma série de dificuldades em sua vida, impedindo-a ingressar na tão desejada faculdade. Um dia, resolveu procurar minha sogra 21
MINHA VIDA NA UMBANDA
relatando sua necessidade em tomar um passe ou fazer uma limpeza espiritual. Perguntou a avó se conhecia algum centro espírita ou algo similar, que mencionou um terreiro situado na rua Caminho dos Barreiros, em São Vicente, há muito tempo frequentado por uma conhecida. Horas depois, minha esposa foi surpreendida com o telefonema da sobrinha, insistindo para que fosse com ela ao terreiro indicado. Mesmo sendo católica e sem nunca ter entrado em uma casa espírita, minha esposa atendeu ao pedido desesperado da sobrinha, e marcaram uma ida ao local. Lembro-me que, nesse dia, ambas insistiram para que eu as acompanhasse, mas, por puro preconceito, respondi negativamente ao convite. Nossa sobrinha iniciou uma série de trabalhos espirituais, participando de algumas giras consecutivas, e, ao chegarem em casa após uma dessas consultas, comunicaram que o responsável pelo terreiro havia cobrado meu comparecimento na próxima gira, com a máxima urgência. Na hora, descartei enfaticamente a possibilidade, mas a insistência de ambas acabou por me convencer do contrário. Afinal, tudo estava tão difícil que era impossível piorar, pensava eu. Tinha 46 anos de idade quando pisei num centro de Umbanda pela primeira vez, em março de 2008. Não conhecia absolutamente nada sobre a religião, seus fundamentos e muito menos, sobre as chamadas “giras”. Aliás, o que eu imaginava, eram pessoas se contorcendo ao som de estrondosos batuques e urros guturais, induzidos a um delírio insano em evocações ao diabo, numa atmosfera mundana com sacrifícios animais, um verdadeiro filme de horror! Meu Deus, pobre de mim, vítima dos meus próprios preconceitos e fruto de uma sociedade cuja intolerância religiosa acompanha sua história desde sempre. Hoje percebo o quanto fui tolo... Nesse momento, peço licença aos leitores para uma pequena interrupção em minha narrativa, pois muitos de vocês, sejam médiuns iniciantes ou não, possam talvez desconhecer algumas definições básicas que, resumidamente, esclareço a seguir: TERREIRO Também conhecido como Casa ou Barracão, é o local em 22
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
que se realizam as práticas e cerimoniais de Umbanda, comandadas pelo dirigente responsável. PAI DE SANTO É a autoridade máxima dentro do terreiro, responsável pelo desenvolvimento mediúnico de cada filho. Cabe a ele cuidar das obrigações da casa, preparando banhos, amacis, e rituais como iniciação, batismo, casamento, entre outros. Conhecido também como Zelador de Santo, Babalorixá, Babalaô ou Dirigente da Casa, dedica sua vida doutrinando, conduzindo e ensinando a todos os médiuns os fundamentos da religião, além da prática da caridade. MÃE DE SANTO Possui as mesmas qualidades acima citadas, diferenciando-se unicamente por ser uma figura feminina. Também conhecida como Ialorixá ou Zeladora, é a sacerdotisa do terreiro responsável pela trajetória espiritual de seus filhos. FILHO DE SANTO É toda pessoa que tem um compromisso com o Orixá. Batizado na Umbanda, desenvolve e pratica suas obrigações de fé no terreiro. CAMBONE ou CAMBONO É quem auxilia o médium incorporado, servindolhe bebidas, fumos, acendendo velas ou exercendo a função de intérprete das mensagens entre a entidade e o consulente, além de cuidar da integridade física do médium. MÉDIUM Segundo Allan Kardec1, “todo aquele que sente em um grau qualquer influência dos espíritos é, por esse fato, médium”. É através do corpo físico do médium que a entidade se manifesta, em suas mais variadas Influente educador, autor e tradutor francês que, sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo (neologismo por ele criado). 1
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MINHA VIDA NA UMBANDA
expressões, tais como psicografia, psicofonia, transporte, clarividência, desdobramento, dentre outras. É também chamado de aparelho ou cavalo. GIRAS São os eventos ritualísticos que ocorrem no terreiro. Em sua maioria, seguem a mesma estrutura: Firmeza para Exú, Abertura, Defumação, Atendimento/Consultas e Encerramento. Podem ser Giras fechadas (Giras de estudo e desenvolvimento com a presença dos filhos da casa), Giras abertas (direcionadas ao público em geral) ou Giras festivas. ASSISTÊNCIA Local onde os consulentes aguardam o atendimento. CONSULENTES Pessoas que frequentam a Gira nos dias de consulta e atendimento. Chegando ao terreiro, acompanhado de minha esposa, deparei, logo na entrada, com uma pessoa trajada de branco, que organizava gentilmente a chegada de todos, acomodando cada um em cadeiras enfileiradas e separadas por gênero, de um lado homens, de outro mulheres, no espaço denominado “assistência”. Num primeiro momento, me imaginei numa sala de espera de um consultório médico e todos que ali estavam provavelmente sofriam de algum mal espiritual, cada qual esperando sua vez de ser chamado. Uma enorme cortina nos impedia ver o que acontecia na parte interior do estabelecimento. Alguns minutos se passaram até que, repentinamente, vozes entoando melodias ao som de atabaques substituíram o murmúrio inicial. A assistência participa do cerimonial com o bater de palmas acompanhando o ritual, e alguns consulentes, provavelmente os mais assíduos, cantam as melodias em uníssono. Nesse momento, percebi um forte aroma de ervas, como aquelas usadas por nossos avós, em suas defumações caseiras. Quando a cortina se abriu, deparei-me com vários médiuns já em estado de incorporação, andando de um lado para outro, soltando altos brados e fazendo movimentos que para mim, não tinham o menor sentido. Atendendo as instruções do Pai de Santo 24
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
ali presente, os médiuns foram colocados lado a lado, auxiliados por outros não incorporados, formando uma fila de atendimento e assim, de grupo em grupo, todos da assistência foram convidados a participar das consultas, junto às entidades ali presentes. POR QUE SE CANTA NA UMBANDA? Na verdade, não se canta, se ora. A forma de oração na Umbanda se dá também através de pontos melódicos, que nada mais são que cânticos ritualísticos evocando o Sagrado, muitas vezes acompanhados por instrumentos percussivos como atabaques, agogô e triângulo, além das palmas dos filhos e consulentes. São mensagens dirigidas aos Orixás, Guias e Espíritos de Luz, em invocações ou agradecimentos. Para que não se confunda: EVOCAR, no sentido de chamar, convocar, e INVOCAR, no sentido de pedir, suplicar. No momento em que meu grupo foi chamado, fui separado dos demais e encaminhado a um local mais reservado, ao fundo do terreiro, onde o Pai de Santo e dois filhos me aguardavam. Ali pude observar claramente a figura que se agigantava a minha frente. Um homem alto, de meia idade, pele parda, trajando uma bata verde com estampas florais, calça e sandálias brancas, portando um lindo cocar indígena, com vários adornos e colares em volta do pescoço, fumava seu charuto sem dizer uma palavra. Indicaram-me para que ficasse descalço e em pé, voltado para uma parede repleta de folhas e plantas de toda espécie. Naquele instante, senti que alguém resvalava a ponta dos dedos em minhas costas, como se estivesse “tirando o pó” de minhas roupas, em movimentos que iam dos meus ombros até o chão. Nessa hora, o que me deixou muito impressionado, foram os sons que essa suposta pessoa produzia atrás de mim. Se assemelhavam a estridentes chiados de gato ou outro animal, não saberia dizer ao certo. Imagino que isso tenha se dado por cinco minutos, talvez menos. Terminada a limpeza, me virei, notando que a pessoa atrás de mim era uma senhora dos seus 70 anos de idade que, demonstrando muito cansaço, sentou-se numa cadeira onde lhe foi servido um copo de água para que recuperasse suas energias. 25
MINHA VIDA NA UMBANDA
De lá, o Pai de Santo levou-me ao centro do terreiro, fazendome andar em sua direção sobre galhos e folhas jogadas no chão. A cada passo que dava, sentia tremores em meu corpo tenso, e chegando a sua frente, abraçou-me passando uma energia nunca antes por mim vivenciada. Comecei a chorar incontrolavelmente em seus braços, sentindo minhas lágrimas escorrerem pela minha face, e uma mistura de alívio e paz tomou conta de minha alma. Completamente extasiado, ouvi as palavras por ele pronunciadas em meu ouvido: “O mureco está muito judiado, nem acredita mais nele, mas ele tem muita riqueza dentro dele. Esse caboclo vai desatar todos os nós que estão amarrando os caminhos do mureco, pra que ele possa encontrar o rumo da felicidade”. OS GUIAS FALAM ERRADO? “As Entidades e Guias têm, sim, algumas expressões e termos específicos de sua linha, mas isto não significa falar erroneamente, com português de doer os ouvidos... Então, chega-se à conclusão de que os erros advêm dos médiuns! Os guias quando se apresentam estabelecem uma rede energética que faz fluir os pensamentos de um para o outro. Ele usa o que conhecemos e nós temos acesso a um pouco do que ele conhece, as suas ideias partilham de nossa mente e, portanto, temos conceitos prontos sobre os assuntos, que devemos passar da melhor forma possível. Para isso, um bom vocabulário, uma construção correta da frase é o melhor caminho. Mas também há o outro pólo desta questão: alguns médiuns que querem demonstrar que são eruditos (e que suas entidades também) e acabam usando a conjugação verbal na segunda pessoa do plural ou usam termos rebuscados com o objetivo de dar uma tonalidade de mensagem superior. Aí ficam enchendo as mensagens de “Vós sois”, “vós ireis”, “vós isto”, “vós aquilo”...! Deixe o Guia trabalhar, atuar da maneira dele, mas estude, conheça a doutrina, o corpo humano, os chakras, as Leis da Espiritualidade e, sobretudo, estude o português! Quanto maior nosso conhecimento, 26
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
melhor e mais claro serão nossos pensamentos e melhor a Entidade poderá ajudar o consulente!” 2 Fonte: adaptado de Nino Denani
Ao findar a gira, fui para casa tomado por um sentimento de gratidão e renovação, embora totalmente confuso com tudo que acabara de ocorrer. Em resumo, eu tinha ido a um lugar com práticas de fé contrárias às minhas, ouvido sussurros de animais e chorado convulsivamente nos braços de um estranho. Me indagava como tudo isso poderia ter acontecido... A partir daí, os acontecimentos que se sucedem trarão luz a muitas perguntas e dúvidas vividas não só por mim, mas certamente, por tantos filhos que iniciaram suas trajetórias rumo ao desenvolvimento mediúnico.
Disponível em: <http://luzdivinaespiritual.blogspot.com/2013/08/as-entidades-e-guias-falam-errado.html> 2
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Capítulo III O CAMBONO
Foto: Autor
N
a semana seguinte, retornei à casa e, pouco antes do início da gira, fui comunicado que, a pedidos do Pai de Santo, eu não mais ficasse na assistência, mas junto aos filhos, dentro da corrente. Isso me deixou surpreso, até porque minha esposa continuava sentada junto aos demais consulentes. Sem me dar conta, estava eu iniciando minha trajetória na Umbanda. De modo geral, efetuamos em nosso terreiro três giras semanais: a gira de cura, feita para a assistência, às segundas-feiras a partir das 19hs; a gira de desenvolvimento, às quartas-feiras, a partir das 19hs, voltadas exclusivamente para os filhos do terreiro e, aos sábados, as giras de consulta, que se inicia as 16hs, aberta aos consulentes. QUAL A DIFERENÇA ENTRE GIRA DE CURA, GIRA DE DESENVOLVIMENTO E GIRA DE CONSULTA? Em nossa casa as giras de cura ocorrem, na maioria das 29
MINHA VIDA NA UMBANDA
vezes, sem a incorporação dos médiuns. Participamos na vibração da corrente mediúnica através de passes magnéticos, onde os espíritos cuidam da saúde de toda a assistência, efetuando tratamentos, curas e até cirurgias espirituais. Dr. Bezerra, Dr. André Luiz e Dr. Fritz são algumas das entidades que trazem suas falanges de curadores nos dias de trabalho. Algumas giras também são conduzidas pelo Sr. Barra Vento. Diferentemente das giras de consulta, em que cada consulente conversa em particular com a entidade, nas giras de cura o atendimento é feito simultaneamente para todos ali presentes. As giras de desenvolvimento são restritas exclusivamente aos filhos da casa. Consiste em aprimorar, exercitar e expandir as aptidões mediúnicas de cada filho, doutrinando-os em sua evolução espiritual. Nessas giras, há a incorporação por parte dos médiuns, supervisionados pela entidade responsável, Sr. Rompe Mato. É na gira de consulta que as entidades se apresentam em terra, incorporadas em seus respectivos aparelhos (médiuns de trabalho) para atender particularmente, cada pessoa necessitada. Limpezas espirituais, passes energéticos, descarregos, aconselhamentos, orientações, benzimentos, e até desobsessões são algumas das práticas mais comuns em dias de consulta. Além dessas três, fazemos eventualmente as giras festivas, onde celebramos todas as datas comemorativas da Umbanda. Para frequentar as giras, fui informado que utilizasse apenas roupas brancas ou claras. Também me aconselharam levar uma mochilinha para a troca de roupas no local. POR QUE UTILIZAMOS ROUPAS BRANCAS NAS GIRAS DE UMBANDA? O branco, cor oficial da Umbanda, é a união de todas as cores refletidas, simbolicamente sugere a junção de 30
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várias matrizes numa só crença. É a representação da paz, da pureza e da elevação espiritual, cor do nosso Pai Oxalá, Regente Maior da fé. A troca de roupas no local se faz necessária devido ao respeito e a distinção entre o sagrado e o profano, com o qual a casa precisa estar sempre atenta. A partir do momento em que minha sobrinha alcançou suas graças, minha esposa começou a diminuir sua frequência às giras, até porque nunca sentira uma forte empatia com a religião. Hoje, percebo que uma de suas missões, fora a de insistir em me convencer a ir ao terreiro, abrindo uma porta em minha vida que eu jamais imaginaria adentrar. Na medida em que frequentava as giras, minha relação com a Umbanda ficava mais intensa e as dúvidas iam surgindo. Nessa fase, o médium iniciante deve ter a calma e a tranquilidade tão essenciais para seu desenvolvimento sadio. Na época, eu iniciava minhas obrigações como cambono junto com os demais médiuns principiantes. Como já foi dito, o cambono atende as entidades no terreiro e presta auxílio aos consulentes. Essa experiência, embora muitos não deem a devida importância, é essencial ao desenvolvimento do jovem médium. É onde ocorrem os primeiros contatos diretamente com os Guias, aprendendo suas expressões, observando seu arquétipo, conhecendo cada elemento utilizado em suas consultas e, através de seus sábios conselhos, doutrinando-se. Numa hipotética comparação, o jovem estudante aprende observando o experiente médico que consulta seu debilitado paciente. Não devemos nos esquecer, porém, que a prioridade do cambono é e sempre será atender todas as necessidades do Guia, dando também total apoio ao consulente. A prática do cambonar nos enriquece e nos traz conhecimentos essenciais em nossa caminhada. Confesso que, nas primeiras vezes em que cambonei, fiquei um tanto perdido, principalmente na interpretação dos termos utilizados pelas entidades. Expressões como “pito”, “toco”, “cazuá”, “marafo”, “curiar”, “fundanga”, “lume”, “mironga”, “torrão”, eram para mim totalmente desconhecidas, mas, com o tempo, fui me habituando ao linguajar utilizado. Ao final desta obra. relaciono num pequeno glossário alguns termos e expressões mais comuns usadas pelas entidades e seus respectivos significados. 31
MINHA VIDA NA UMBANDA
O QUE É ARQUÉTIPO NA UMBANDA? Os arquétipos são as diferentes formas de manifestação como cada Guia se apresenta no terreiro. Os PretosVelhos, por exemplo, se expressam de uma maneira semelhante, com seu jeito humilde, fala calma, postura arcada, andar lento, apoiando-se em sua bengala ou fumando seu cachimbo, fazendo com que o médium se apresente como um idoso. Os guias possuem diversos arquétipos que se manifestam através da incorporação, sendo alguns deles: Pretos-Velhos, Caboclos, Baianos, Erês, Marinheiros, Ciganos, Boiadeiros, Exús e PomboGiras. Nesse início de desenvolvimento onde tudo é novidade, eu observava muito do que acontecia a meu redor. Foi quando notei que vários filhos faziam uma espécie de saudação na entrada do terreiro. Perguntando o significado a um médium mais velho, explicou-me que, sempre ao entrar no terreiro, todo filho deverá pedir licença à Tronqueira e, posteriormente, saudar a Casa das Almas, situados respectivamente, ao lado esquerdo e direito do portão principal de acesso. O QUE É TRONQUEIRA? O QUE É CASA DAS ALMAS? QUE SAUDAÇÃO SE FAZ AO ENTRAR NO TERREIRO? Tronqueira é o local de firmeza do Exú guardião da casa. Casa das Almas (não confundir com Cruzeiro das Almas, assunto que será abordado em outro capítulo) é um local de reverência e oferenda aos Pretos-Velhos, onde se acendem velas para as Almas e para saudar a Omolú/Obaluaê. Tanto na Tronqueira quanto na Casa das Almas, se fazem os Assentamentos - locais e/ou elementos de força contínua, inesgotável, que sustentam os trabalhos no terreiro, e as Firmezas - elementos que atuam temporariamente como, por exemplo, a luz de uma vela. Cada terreiro adota práticas diferentes, seus rituais variam de casa para casa. No nosso terreiro reverenciamos primeiramente a Tronqueira, tocando no solo três vezes, com a ponta dos dedos da mão esquerda, 32
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mentalizando “LAROYÊ MOJUBÁ” (pode-se entender como “Exú, eu te saúdo”) e posteriormente, a Casa das Almas, nas palavras ADORÊ AS ALMAS (significa limpar e dar brilho a nossa alma). Na saída, repetimos as mesmas saudações só que em ordem contrária, com a Tronqueira sendo a última a ser reverenciada. Fui batizado na Umbanda em meados de 2008. Naquele momento, eu não entendia claramente o significado do batismo, e nem tinha a noção do comprometimento que estava por assumir, mas lembro que me senti inteiramente renovado e, principalmente, me reencontrado com a fé. Com o tempo, meus familiares começaram a perceber mudanças sutis em meu comportamento. Eu mesmo me via mais racional, ponderado e tolerante. Algo começava a acontecer em nossas vidas, em nossa família. Ainda assim, continuávamos enfrentando muitas dificuldades, principalmente financeiras. Meu maior desejo era uma oportunidade de emprego, mas com a idade avançada para o mercado de trabalho e sem um diploma superior, tudo se tornava mais difícil. O QUE SIGNIFICA BATISMO NA UMBANDA? É o ato de conversão religiosa em que a pessoa se entrega a doutrina; é o renascimento para a fé. Tem como objetivo tornar o adepto, um filho de Umbanda, iniciando-o na prática de suas obrigações sagradas, no seu desenvolvimento mediúnico e no comprometimento com a religião. Geralmente são utilizados elementos da natureza para purificação do filho durante a cerimônia, através do Amaci de Oxalá. As giras eram conduzidas pelo Sr. Caboclo Rompe Mato, responsável pelo desenvolvimento dos filhos da casa. Pai Rompe Mato foi a primeira entidade que me acolheu e me conduziu pelos braços, num momento em que não tinha mais pernas para caminhar. Me lembro de suas palavras: “As mudanças vão acontecer na vida do fio a partir do mês da fogueira”. Em junho de 2008 surgiu um convite para que eu trabalhasse numa distribuidora de jornais e revistas, na qual fiquei por quase um ano e, em junho do ano seguinte, veio a oportunidade que eu tanto aguardava. Fui contratado para trabalhar numa das maiores universidades da Baixada 33
MINHA VIDA NA UMBANDA
Santista, e ainda tive a chance de ingressar no curso superior, onde me formaria quatro anos depois, como Bacharel em Publicidade e Propaganda. QUEM É O CABOCLO ROMPE MATO? Reproduzo abaixo as palavras de meu mentor espiritual, Pai Odé D’Loy1: “Antes de qualquer coisa, gostaria de deixar esclarecido que o Caboclo Rompe Mato não é o mesmo que Ogum Rompe Mato, apesar de ser um Caboclo de Ogum. Vindo a trabalho pela Falange de Ogum Rompe Mato, o Caboclo Rompe Mato está sobre a irradiação vibracional de Oxóssi, e, por esse motivo, traz as cores vermelho e verde em suas guias e em algumas roupagens. Ele costuma se apresentar austero e bem rigoroso, contudo, é muito amoroso e aconselhador. Se apresenta em trabalhos nos terreiros de Umbanda, trazendo a paz, conselhos, boa conduta, saúde, tranquilidade e caridade a todos que buscam auxílio, mediante o merecimento de cada um”. Nessa época, eu trabalhava de dia e estudava a noite, e isso dificultava minha presença nas giras e, consequentemente, meu desenvolvimento mediúnico. Sentia a energia dos Guias, mas não incorporava, e isso me angustiava. Olhava ao redor e via os filhos mais antigos da casa recebendo suas entidades, mas nada ocorria comigo. Essa angústia dificultou muito meu processo de incorporação. Não conseguia me concentrar o suficiente para que os espíritos se aproximassem de meu corpo, pois me distraía com as manifestações de outros irmãos. A forma como cada médium incorpora é algo inteiramente pessoal. Os trejeitos, o comportamento e até o tempo de incorporação, variam inegavelmente. Por isso, meus irmãos, não se preocupem com o que acontece a sua volta, e sim com vocês. Não percam tempo e nem se deixem impressionar com médiuns que, ao primeiro toque do atabaque, saem “rodando”, nem com os gritos e brados de outros, pois cada qual se manifesta de uma maneira particular e no momento oportuno, eles se manifestarão em você também. Para alguns, esse processo se dá em semanas ou meses, outros levam anos. Eu 1
Sacerdote responsável pelo Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador.
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
levaria aproximadamente quatro anos para que minha primeira incorporação ocorresse. O QUE É INCORPORAÇÃO? EXISTEM TÉCNICAS PARA FACILITAR A INCORPORAÇÃO? O QUE SIGNIFICA MISTIFICAÇÃO? Incorporação é o nome dado ao transe mediúnico em que o médium entra num estado alterado de consciência, permitindo que o espírito se manifeste através de seu corpo físico. Esse processo é conhecido como psicofonia. É importante distinguir a incorporação da possessão, que é a manifestação do espírito sem o consentimento do médium. A incorporação é um processo espiritual muito complexo e por isso, exige atenção por parte dos chefes de terreiro. É fundamental seguir as regras e preparações adotadas em cada casa no dia que antecede a gira, como banhos de descarrego, defumações, firmamento de velas etc. Em relação as técnicas de incorporação, primeiramente o médium deve conhecer qual ou quais os tipos de mediunidades que nele se manifestam. No caso da incorporação, a concentração é a técnica mais eficaz e que muito auxilia nesse processo. Fechar os olhos e ouvidos para tudo que acontece a seu redor, focar exclusivamente em seu corpo, procurar um estado de consciência parcial e mentalizar as características do Guia, são práticas que podem estimular essa conexão. Por exemplo, numa gira de Caboclo, imagine o elemento mata, floresta, a força da natureza e sua energia, deixando-se levar ao som dos atabaques e pontos cantados... Muitos médiuns acabam prejudicando alguns iniciantes, mesmo sem querer, propondo-lhes práticas ou técnicas de incorporação, que acabam não trazendo um resultado satisfatório. Por isso, entenda que só você e seu Guia irão achar o caminho ideal para uma completa, segura e plena incorporação.
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MINHA VIDA NA UMBANDA
Segundo o sacerdote de Umbanda Rodrigo Queiroz2, “a mistificação é a intenção de mentir; coisa que acontece com o zombeteiro, tem espírito que finge ser e tem pessoas que fingem ser. Se a intenção é de mentir, enganar, falsear...isso sim, é mistificação.” Infelizmente, assim como em qualquer outra religião, temos, dentre os verdadeiros filhos de fé, alguns despreparados, médiuns vaidosos e mentirosos que fingem estar incorporados motivados por seus egos, dando abertura a espíritos sem luz, como eguns, kiumbas e zombeteiros, que se utilizam desses falsos médiuns para se apossar da vida tanto dos consulentes, quanto do próprio médium mistificador, arriscando a integridade e a segurança do terreiro. Uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção no terreiro foram as imagens que compunham nosso Congá. Percebi que a maioria era igual às utilizadas pela igreja católica, e isso me deixou intrigado. Consultando meu Pai Odé D’Loy, entendi que se tratava de um assunto mais complexo. As entidades representadas nessas imagens, embora apresentem uma grande similaridade, são distintas tanto na Umbanda, quanto no catolicismo. Por exemplo, nosso Orixá Ogum é representado pela imagem de São Jorge, santo da religião católica, e essa correlação é denominada sincretismo religioso. O QUE ORIGINOU O SINCRETISMO? O QUE É CONGÁ? Durante o processo de colonização do Brasil, o cristianismo europeu se fez predominar através da imposição de seus paradigmas aos escravos trazidos da África, proibindo suas práticas de fé e reprimindo seus cultos aos Orixás, Inquices3 e Voduns4, objetivando a total conversão religiosa. Desse choque, surge o sincretismo
2 Graduado em Filosofia pela USC-Bauru; Diretor Fundador do Jornal de Umbanda Sagrada (JUS); Diretor do Colégio de Umbanda Sagrada “Pai Benedito de Aruanda” em Bauru, SP; Presidente do Instituto Cultural Aruanda; Sacerdote Dirigente do Templo Escola de Umbanda Sagrada; Diretor Fundador da TV Umbanda Sagrada e Rádio Umbanda Sagrada. 3 Ver Glossário capítulo 7. 4 Ídem.
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religioso afro-brasileiro, com os escravos obrigados a virarem cristãos, representando nas imagens dos santos católicos, suas Divindades africanas. Relaciono abaixo os Orixás na Umbanda e suas representações no sincretismo católico: OXALÁ - Jesus Cristo (com os braços para frente, sobre o globo) IEMANJÁ - Nossa Senhora dos Navegantes (imagem tradicional saindo do mar) OXUM - Nossa Senhora da Conceição IANSÃ - Santa Bárbara OXÓSSI - São Sebastião OGUM - São Jorge (montado no cavalo) NANÃ - Senhora Santana XANGÔ - São Jerônimo (junto ao leão) OBALUAÊ - São Lázaro (com o cachorro) ERÊS - São Cosme, São Damião e Doum (os três juntos) Congá é o local principal, consagrado e de maior axé dentro do Terreiro. Imantados em sua base, encontramse objetos que muitas vezes são de conhecimento exclusivo do Pai ou Mãe de Santo. Local de devoção e adoração aos Orixás, Guias e Protetores espirituais, pode ser composto também por objetos variados, como velas, flores, copos com água, pontos riscados, pedras, quartinhas etc. Outro fato que percebi no dia a dia do terreiro foi em relação a postura de alguns médiuns, frente ao Congá. Muitos reverenciavam as entidades, inclinando-se e tocando a testa levemente no chão. Esse ato é conhecido como “bater cabeça” e é também um ritual comum em outras culturas como budismo, islamismo e até no próprio catolicismo, como forma de reverência e respeito ao sagrado.
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QUAL O SIGNIFICADO DE BATER-CABEÇA? Significa cumprimentar respeitosa e humildemente determinada entidade. Ao reverenciar o Congá, posicionando o Ori na horizontal, estamos não só exercendo um ato ritualístico, como também abrindo o chakra coronário para a entrada de irradiações puras, proporcionando serenidade, paz e bem-estar ao devoto. Segundo Alexandre Cumino5, “Bater cabeça é o ato de submissão no sentido de que você está submetendo seu trabalho, está reconhecendo a hierarquia do terreiro e está disposto a obedecer às doutrinas daquele templo.”6 Em alguns trabalhos orientados por Pai Odé D’Loy e desenvolvidos tanto para os filhos de nosso terreiro, quanto para a assistência, é cobrada uma quantia denominada Salva, outro assunto muito polêmico e de grande importância para o jovem médium. Reproduzo abaixo as palavras do sacerdote W. W. da Matta e Silva7, em sua obra “Umbanda e o Poder da Mediunidade”8: “Mas o que é, em verdade, a lei de salva? Tentaremos explicar isso direitinho, pondo os pontos nos “is”, que é para tirarmos a máscara de muitos falsos “chefes-de-terreiros” ou “babá”, ou que outro qualificativo lhes queiram dar, que fazem disso a “galinha de ovos de ouro”. Essa lei de salva é tão antiga quanto o uso da magia. Existe desde que a humanidade nasceu. Os magos do passado jamais se descuidavam de sua regra, ou seja, da lei de compensação que rege toda ou qualquer operação mágica, quer seja para empreendimentos de ordem material, quer implique em benefícios humanos de qualquer natureza, especialmente nos casos que são classificados na Umbanda como de demandas, descargas, desmanchos etc. Dessa lei de salva, ou regra de Sacerdote de Umbanda, responsável pelo Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca, bacharelado pela UNICLAR, diretor da AUEESP (Associação Umbandista e Espiritualista do Estado de São Paulo), ministra cursos virtuais (EAD) na plataforma www. umbandaead.com.br. É autor de vários livros, dentre eles História da Umbanda, Umbanda Não é Macumba e Médium – Incorporação Não é Possessão, todos pela Madras Editora. 6 Disponível em: <umbandaead.blog.br> 7 Médium, escritor e fundador da Tenda de Umbanda Oriental, fixada em Itacuruçá, Rio de Janeiro. 8 Umbanda e o Poder da Mediunidade, 3. ed. Livraria Freitas Bastos, p. 77-80, 1987. 5
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compensação sobre os trabalhos mágicos, nos dão notícia certos ensinamentos esotéricos com a denominação de lei de Amra. Nenhum magista pode executar uma operação mágica tão somente com o pensamento e “mãos vazias” – isto é, sem os elementos materiais indispensáveis e adequados aos fins. Essa história de pura magia mental é conversa para entreter mentalidades infantis ou não experimentadas nesse mister. Qualquer ato ou ação de magia propriamente dita requer os materiais adequados, sejam eles grosseiros ou não. Vão dos vegetais às flores, aos perfumes, aos incensos, às plantas aromáticas, às águas dessa ou daquela procedência até ao sangue do galo ou bode preto. A questão é definir o lado: – ou é esquerda, ou é direita, negra ou branca. Ora, como toda ação mágica traz sua reação, um desgaste, uma obrigação ou uma responsabilidade e uma consequência imprevisível (em face do jogo das forças movimentadas), é imprescindível que o médium-magista esteja coberto ou que lhe seja fornecida a necessária cobertura material ou financeira a fim de poder enfrentar a qualquer instante essas possíveis condições. Então é forçoso que tenha uma compensação. Aí é que entra a chamada lei de salva, ou simplesmente SALVA… Mesmo porque, todo aquele que, dentro da manipulação das forças mágicas ou da magia, dá, dá e dá sem receber nada, tende fatalmente a sofrer um desgaste, pela natural reação de uma lei oculta que podemos chamar de vampirização fluídica astral, que acaba por lhe enfraquecer as forças ou as energias psíquicas. E naturalmente o leitor, se é médium iniciado na Umbanda, nessa altura deve estar interessadíssimo em saber como será essa compensação. Claro, vamos dizer como é a regra, para que você possa extrair dela o que seu senso de honestidade ditar: DE QUEM TEM, PEÇA TRÊS, TIRE DOIS E DÊ UM A QUEM NÃO TEM; E DE QUEM NÃO TEM, NADA PEÇA E DÊ ATÉ DE SEU PRÓPRIO VINTÉM. (…) É claro que essa lei de salva ou de compensação, própria e de uso exclusivo em determinados trabalhos de magia, não pode ser aplicada em todos os “trabalhinhos” corriqueiros que se pretenda ser de ordem mágica.” O QUE É SALVA? A Lei de Salva é prática comum em muitos terreiros e é algo inteiramente lícito, quando aplicada de 39
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maneira honesta. Corresponde a uma eventual quantia arrecadada para determinados trabalhos feitos no terreiro, não devendo ser confundida com a mensalidade cobrada para arrecadação de verbas necessárias aos gastos e encargos da casa (ver capítulo 4). Nesse início de vida na Umbanda, definir certos conceitos se torna, muitas vezes, uma difícil tarefa para o jovem umbandista, não só devido à sua prematura experiência, como também à sua percepção e vocabulário ainda em desenvolvimento. Muitas vezes, para uma palavra que tenha um significado aparentemente óbvio, o iniciante não encontra uma definição exata, muito embora possa até interpretá-la num sentido mais abrangente. Reproduzo abaixo cinco conceitos básicos extraídos dos textos apostilados9 organizados por Pai Odé D’Loy. 1. RELIGIÃO: É uma devoção a tudo que é considerado sagrado. É um culto que aproxima o homem das entidades a quem são atribuídos poderes sobrenaturais. É uma crença em que as pessoas buscam a satisfação nas práticas religiosas ou na fé, para superar o sofrimento e alcançar a felicidade. Religião é também um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas, baseadas em livros sagrados, que unem seus seguidores numa mesma comunidade moral. Todos os tipos de religião têm seus fundamentos, algumas se baseiam em diversas análises filosóficas que explicam o que somos e porque viemos ao mundo, e outras em extensos ensinamentos éticos. 2. FÉ: Basicamente a fé é uma certeza. Seja ela natural ou sobrenatural, sempre será um sentimento de certeza absoluta. Se no coração não houver essa certeza absoluta, então não se pode considerar esse sentimento como fé. Às vezes, algumas pessoas confundem emoção com fé. Pensam elas que, pelo fato de sentirem um forte desejo em chorar ou mesmo vontade de sorrir, é fé. Não! A fé não é emoção, mas certeza! Ela é uma convicção tal, que é impossível removê-la do coração. A fé é como a luz, e a dúvida como as trevas. 9
Disponível em: Apostila ABESMA, 2016.
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3. ESPIRITISMO: É uma doutrina filosófica de consequências morais. É ciência, é filosofia e é ética (ciência do bem). Allan Kardec, no seu livro “O que é o espiritismo”, elucida-nos sinteticamente: O espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que resultam dessas mesmas relações. Podemos definir assim: o espiritismo é uma ciência que trata da origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. 4. UMBANDA: A primeira definição de Umbanda foi feita pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes: Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade. Religião brasileira por excelência, sintetiza vários elementos das religiões africanas e cristãs. Formada no início do século XX a partir da síntese com movimentos religiosos como o Candomblé, o Catolicismo e o Espiritismo, a palavra UMBANDA quer dizer, segundo o próprio Zélio de Moraes: Um (DEUS) banda (Nós): Deus conosco. 5. CANDOMBLÉ: É uma religião africana trazida para o Brasil no período em que os negros desembarcaram para serem escravos. Os Orixás, para o Candomblé, são os deuses supremos. Possuem personalidade e habilidades distintas, bem como preferências ritualísticas. Estes também escolhem as pessoas que utilizam para incorporar no ato do nascimento, podendo compartilhálo com outro Orixá, caso necessário. O Candomblé não pode ser igualado a Umbanda. No Candomblé, não há incorporação de espíritos, já que os Orixás que são incorporados são divindades da natureza; enquanto na Umbanda, as incorporações são feitas através de espíritos encarnados ou desencarnados. É importante que o jovem médium tenha, desde já, as noções reais de suas obrigações, compromissos e posturas dentro e fora do terreiro. Obviamente, os exemplos citados abaixo são princípios 41
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que seguimos em nossa Casa, sendo provavelmente diferentes dos adotados em outros terreiros. OBRIGAÇÕES E PRINCÍPIOS DE UM FILHO DE SANTO • O Batismo é a primeira obrigação do Filho de Umbanda e as demais obrigações que farão parte de seu desenvolvimento mediúnico, deverão ser cumpridas rigorosamente; • Deverá o jovem médium servir durante um determinado período como cambono, auxiliando os Guias, os médiuns e a assistência; • Não julgue ou critique seus irmãos, abstenha-se. Evite os chamados “grupinhos” e eventuais boatos, fofocas ou intrigas; • Mantenha sua roupa sempre limpa e em ordem, assim como sua higiene pessoal; • Cumpra pontualmente os horários determinados pela casa e, em caso de ausência, avise com antecedência os responsáveis; • Caso tenha condições financeiras, colabore com as mensalidades destinadas ao pagamento das despesas do terreiro; • Nos dias de gira, faça os preceitos indicados pelo seu Pai ou Mãe de Santo; • Seja sempre fiel aos princípios básicos da Umbanda, principalmente, no tocante à prática da caridade e a lei do amor; • Mantenha a mente limpa das fraquezas humanas. Não alimente a inveja, o preconceito, a competitividade e o ego, pois somos todos iguais perante Deus, independentemente de cor, condição social, opção sexual etc.; • Trabalhe sempre em prol da coletividade; • Seja um agente agregador, promovendo a união entre os 42
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irmãos, recebendo os novos filhos com amor e carinho; • Respeite a sua casa espiritual e seus dirigentes (Pai de Santo ou Mãe de Santo); • Respeite as suas entidades e a de todos os irmãos; • Respeite todas as pessoas da assistência; • Dedique-se aos estudos de Umbanda para que sua evolução seja plena; • Seja humilde, acima de tudo; • Seja umbandista dentro e fora do terreiro, a todo momento, colocando em prática seus ensinamentos, tanto em sua vida, como também ao seu redor e, como reza nosso consagrado hino, “...levando ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá”! O que significa mediunidade? Quais os tipos de mediunidade que se manifestam na Umbanda? Muitos de nós já fizemos essas perguntas sem encontrarmos uma resposta satisfatória. Para uma melhor compreensão, reproduzo abaixo o trecho de um texto10 que nos foi enviado por Pai Odé D’Loy. MEDIUNIDADE A mediunidade é a capacidade que todos nós temos, em maior ou menor grau e tipos diferentes, de servirmos de veículo de comunicação entre o plano físico e o plano espiritual. A mediunidade pode ficar latente durante toda a vida e não causar maiores problemas, ou pode “explodir”, causando transtornos na saúde, na vida sentimental e na vida profissional. Devemos esclarecer, entretanto, que não é a mediunidade que causa esses transtornos e sim o comportamento irregular que a pessoa passa a ter, uma vez que fica sem autocontrole, instável emocionalmente, e captando vibrações nem sempre boas, das pessoas com quem Disponível em: <http://www.centroespiritaurubatan.com.br/fundamentos/mediunidade.html> 10
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convive e dos ambientes que frequenta. Tudo isso contribui para que a pessoa se indisponha com seus entes mais queridos, se indisponha no seu ambiente de trabalho e, muitas vezes, perca a sua boa saúde anterior, já que normalmente assumirá um estado mental negativo. A mediunidade é um dom que precisamos aprender a controlar e que precisa ser disciplinada. A solução é o desenvolvimento mediúnico. Existem mais de 100 manifestações de mediunidade, mas as mais comuns são os seguintes: a) INTUIÇÃO: é um tipo de mediunidade onde o médium recebe em seu pensamento, sob a forma de uma sugestão, mensagens provindas de um espírito. A intuição nem sempre deve ser seguida, a não ser que o médium consiga identificar a entidade que o está intuindo. Essa identificação, ele aprenderá a fazer no seu desenvolvimento, pois cada entidade produz uma sintonia diferente no organismo. b) INCORPORAÇÃO: é a mediunidade em que o médium sintoniza a vibração da entidade e essa vibração toma conta de todo o seu corpo. A sintonia é mental e pode produzir uma incorporação parcial ou integral. - Na incorporação parcial, o médium fica consciente, isto é, ele sabe que está ali, sente, observa, mas não domina o corpo nem controla o raciocínio. Perde, também, a noção de tempo e, embora tenha sido espectador de si mesmo, perde a noção de muita coisa que se passou, ao desincorporar. Na incorporação parcial pode haver uma quebra de sintonia ocasional, o que permitirá ao médium interferir na comunicação. - Na incorporação integral, o médium fica totalmente inconsciente, pois há uma perfeita sintonia com a vibração da entidade. Nesse caso, não há possibilidade de interferência e, ao desincorporar, o médium não vai se lembrar de nada do que se passou. 44
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Queremos esclarecer que a incorporação parcial é tão autêntica quanto à integral. O único problema é o médium não interferir, procurando se isolar e deixar que a entidade atue livremente. A esmagadora maioria dos médiuns (mais de 95%) trabalha em incorporação parcial e uma pequeníssima minoria (menos de 5%), em incorporação integral. c) VIDÊNCIA: é o tipo de mediunidade que permite, àquele que a possui desenvolvida, ver as entidades, as irradiações. Pode ser de três tipos: direta, intuitiva e focalizada. 1. Na vidência direta, o médium pode ver as entidades de cinco maneiras diferentes: • Na projeção, o médium vê apenas um facho de luz, uma coloração que depende da vibração atuante. Não vê forma humana, nem identifica a entidade. • Na parcial, o médium percebe uma forma humana ao lado de quem está trabalhando espiritualmente, mas ainda não dá uma perfeita identificação. Vê somente o contorno, a forma. • No acavalamento, o médium vê a entidade por cima dos ombros de outro médium. Já percebe se é masculina ou feminina, se é caboclo ou preto-velho ou outro falangeiro qualquer, se os cabelos são longos ou curtos, etc. Muitos médiuns que tiveram esse tipo de vidência afirmam, por desconhecimento, que as entidades vistas possuíam mais de dois metros de altura, não percebendo que a entidade, vista acima dos ombros de outro médium, produziu uma falsa impressão de altura. • No encamisamento, o médium vê a entidade toda, perfeita. Isso acontece na incorporação integral, quando a entidade toma conta do corpo de outro médium. 2. Na vidência intuitiva, o médium vê apenas com a mente. Ele se concentra e recebe a imagem mental, por 45
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intuição. 3. Na vidência focalizada, o médium utiliza algum objeto para a vidência, como um copo d’água ou um cristal. As imagens aparecem no objeto de vidência. d) CLARIVIDÊNCIA: é o tipo de mediunidade que permite ver fatos que ocorreram no passado e que ocorrerão no futuro. Os clarividentes podem ver os corpos astrais e mentais de outras pessoas, e tomar conhecimento da vida em outros planos espirituais. É um tipo de mediunidade difícil de ser encontrado. e) AUDIÇÃO: o médium ouve uma voz clara e nítida nos seus ouvidos e dessa forma recebe as mensagens. Na audição, devemos ter o mesmo cuidado que temos na intuição, no que diz respeito à identificação de quem está dando a mensagem. f) TRANSPORTE: é a capacidade de visitar espiritualmente outros lugares, enquanto o corpo físico permanece repousando tranquilamente; o espírito se desliga do corpo e vai para o espaço. Esse transporte pode ser voluntário ou involuntário. - No transporte voluntário, o médium se predispõe a realizá-lo. Ele se concentra e se projeta espiritualmente a outros lugares, tomando conhecimento do que vê e do que ouve. - O transporte involuntário ocorre durante o sono. Todos nós nos desligamos do corpo físico durante o sono e entramos em contato com pessoas e lugares dos quais não nos recordamos ao acordar. Às vezes, recebemos nesses transportes, soluções para os nossos problemas que, mais tarde, nos parecerão ideias próprias. A respeito, diz um ditado popular: “Para a solução de um grande problema, nada melhor que uma boa noite de sono”. g) DESDOBRAMENTO: é um transporte em que o espírito do médium fica visível à outra pessoa. O corpo físico fica repousando, o espírito do médium se transporta a outro 46
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
ambiente e, nesse ambiente, torna-se visível. A manifestação de espíritos no médium é denominada incorporação, sejam espíritos evoluídos (nossos guias) ou espíritos não evoluídos (zombeteiro, egum). Obs.: Transporte é o ato do nosso espírito, nossa energia ir além do ambiente onde nosso corpo físico não alcança. “Receber” espírito é incorporação. “Ir” espiritualmente fora do corpo físico é transporte. No Kardecismo, mesa branca e na Umbanda nos trabalhos de Preto-Velho, o médium que recebe espírito para desobsessão está praticando a incorporação. É denominado médium de transporte devido seu desenvolvimento espiritual permitir a incorporação de espíritos que não são da sua energia mediúnica. h) PSICOGRAFIA: tipo de mediunidade muito comum, podendo ser intuitiva, semimecânica ou mecânica. É a capacidade de receber comunicações pela escrita. Na psicografia intuitiva, o médium recebe as mensagens na mente e as passa para o papel. É pura intuição. Na psicografia semimecânica, o médium, à medida que vai escrevendo, vai também tomando conhecimento do que escreve. O espírito atua, simultaneamente, na mente e na mão do médium. Na psicografia mecânica, o espírito atua somente na mão do médium, que escreve sem tomar conhecimento da mensagem recebida. Quando, ao invés de escrever, o espírito utiliza a mão do médium para pintar, esse tipo de mediunidade é chamado de psicopictografia. A seguir, reproduzo um texto elaborado pelo médium Douglas Rainho, idealizador e responsável pelo site Perdido em Pensamentos, que também aborda o assunto mediunidade e suas peculiaridades: Desenvolver a mediunidade é muito mais do que simplesmente ir até o terreiro e deixar-se levar, cedendo o corpo para as entidades 47
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que lá se manifestam. Muitas pessoas confundem desenvolvimento mediúnico com incorporação pura e simples. Entendam, não há como simplesmente ir e chacoalhar o corpo no terreiro, isso não é engrandecedor e qualquer um pode fazer isso, ou melhor, pode achar que está fazendo isso. Parte do desenvolvimento mediúnico se dá também com o estudo pautado no bom-senso, que irá ser o direcionador dos trabalhos espirituais que serão desenvolvidos. Primeiramente devemos compreender que não importa só achar que está fazendo algo, mas é preciso realmente entender o que se passa, até aquele algo ocorrer. (...)11 Antes de partirmos para o próximo capítulo, gostaria de esclarecer uma questão levantada por muitos médiuns iniciantes, a respeito da palavra “macumba”. É bom que se saiba que o termo macumba, vem da palavra makôba, um instrumento musical de origem africana, semelhante ao reco-reco. Refere-se também a uma espécie de árvore africana, além de ser o nome de uma manifestação religiosa do Rio de Janeiro, que em muito se aproxima da Cabula12. O uso pejorativo dessa palavra surgiu na primeira metade do século 20, com as igrejas neopentecostais e alguns grupos cristãos, que consideravam profanas as práticas da maioria das religiões afro-brasileiras, denominando-as como “macumba”. Esse conceito difundiu-se tanto que muitas pessoas até hoje, por ignorância e principalmente, por preconceito, se referem aos nossos irmãos de fé como “macumbeiros”. Quando usado nesse sentido depreciativo, o termo macumba deve ser radicalmente combatido, assim como todas as formas de violência, preconceito e intolerância às religiões afro-brasileiras. É essencial que o jovem médium se conscientize, desde já, da necessidade de defendermos nossa religião e termos verdadeiro orgulho em sermos umbandistas, sem nos envergonhar daquilo que somos, nem tampouco, daquilo em que acreditamos. A luta pelo respeito religioso, pela liberdade de crença e fim dos preconceitos Disponível em: <https://perdido.co/2016/01/a-coroa-mediunica-entendendo-o-desenvolvimento-do-medium/> 12 Seita afro-brasileira cujo advento se registra nos últimos anos do século XIX, na Bahia, sincretizadora de elementos malês, bantos e espíritas [Uma das prováveis origens da Umbanda, dela há sobrevivências no Estado do Espírito Santo e, no passado, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. 11
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cabe a todos nós umbandistas, iniciantes ou não. Trata-se de um direito estabelecido em nossa Constituição13. A Umbanda é religião fundamentada e deverá ser respeitada por todos, sem exceção.
A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. Disponível em: <http:// www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista2/artigo5.htm#:~:text=A%20 Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%2C%20no%20artigo,culto%20e%20as%20 suas%20liturgias.> 13
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Capítulo IV O FILHO DE SANTO
Foto: Autor
G
ostaria de abrir esse capítulo fazendo um breve relato a respeito da origem da Umbanda. Desde muito antes da manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas através do médium Zélio de Moraes, já havia indícios de incorporações de espíritos de índios e de escravos negros nas diversas formas de macumba1 existentes no Rio de Janeiro do século 19. Essas informações, baseadas em levantamentos biográficos feitos por acadêmicos historiadores e estudiosos do assunto, não diminuem nem comprometem a veracidade das origens de nossa religião, apenas evidenciam ocorrências de manifestações espirituais que antecedem o nascimento de nossa doutrina. Foi no ano de 1908 que um jovem chamado Zélio Fernandino de Moraes, aos 17 anos de idade, começava a demonstrar estranhas 1
Seita afro-brasileira. (N.E.)
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alterações de comportamento. Seus familiares denominavam esses episódios como “ataques”, relatando que o rapaz sofria repentinas mudanças de personalidade, uma hora aparentando ser um ancião com postura arcada e fala incompreensível e, noutro momento, parecendo um imponente índio conhecedor da natureza. Um familiar propôs que o levasse a um centro espírita, e foi lá que o Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou, revelando a todos sua missão: iniciar um novo culto que acolhesse todas as pessoas, independente de classe social, sexo, cor ou credo. Os espíritos de pretos-velhos e índios, considerados atrasados por muitos espíritas da época, também seriam aceitos para trabalharem livremente nessa nova doutrina, que traz como lema amor por base, a caridade por princípio e a fé por fim. Assim nasce a nossa Sagrada Umbanda, em 15 de novembro de 1908, data instituída pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), através do Projeto de Lei 5687/05, do deputado Carlos Santana (PT-RJ), como Dia Nacional da Umbanda. “A Umbanda será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.” (Caboclo das Sete Encruzilhadas, 15 de novembro de 1908). No início de seu desenvolvimento, é natural que o jovem médium demonstre uma grande curiosidade em relação a tudo ao seu redor. Certo dia, observando os médiuns mais antigos da casa, percebi que todos traziam na mão um saquinho branco de pano, mas não sabia qual a finalidade. Perguntando a um filho ali presente, compreendi que sua utilidade era, além de acomodar as guias do médium, guardar os objetos usados pelas entidades durante a gira, como charutos, cachimbos, cigarros, velas, patuás, fumo, terços, incensos, e tudo mais que julgar necessário. PARA QUE SERVEM AS GUIAS? QUAL O PROCEDIMENTO QUANDO UMA GUIA SE ROMPE? As guias, também conhecidas como deleguns ou quelês, são instrumentos sagrados que ligam o médium às entidades, emanando forças na incorporação e na resposta aos trabalhos da corrente, servindo também 52
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como proteção. Devem ser utilizadas exclusivamente por cada filho somente durante as giras, e nunca como adorno ou enfeite fora do terreiro. Durante a incorporação de alguns médiuns, a guia poderá eventualmente cair do pescoço por consequência de movimentos bruscos e involuntários. Nesse momento, deve-se pegar a guia com um pano ou toalha, sem nunca encostar as mãos diretamente na peça, devolvendo-a ao dono. Por se tratar de um objeto imantado e consagrado, deverá ser manipulado pelas mãos do próprio médium, cada qual responsável por seus deleguns. Pai Odé D’Loy determina que as guias utilizadas em nosso terreiro sejam compostas por missangas transpassadas em linha cordonê e fechadas com firma/ monjola. Seu comprimento, geralmente, irá até a altura do umbigo do médium. Quando em uso, eventualmente, a guia poderá se romper, espalhando-se pelo chão do terreiro, em resposta a ataques do baixo astral, trabalhos pesados, ou até acúmulo de energia. Nessa hora, cabe ao médium ou algum irmão de fé recolhê-la, tomando os cuidados citados anteriormente, guardando o máximo de missangas que puder, juntamente com a sobra da guia, para que posteriormente, sejam entregues ao Pai ou Mãe de Santo, para que se faça a devida recuperação, firmamento e fechamento da peça. De 2009 a 2013, eu frequentava as giras nos poucos momentos livres que dispunha, por conta de meus estudos e do trabalho. Foi um período de grande sacrifício, mas, em contrapartida, todo esse esforço nos trouxe a estabilidade financeira que tanto necessitávamos, a harmonia voltou a prevalecer em nosso lar e, consequentemente, eu e minha esposa estávamos muito mais próximos. Como agora eu podia contar com um salário fixo, comecei a pagar em dia as mensalidades do meu terreiro, prática comum em todas as casas de Umbanda, mas que alguns novatos desconhecem e muitas pessoas polemizam e criticam, sem fundamento algum. Todo Filho de Santo que tiver condições financeiras deve arcar com as mensalidades para a ajuda nas despesas da casa como aluguel, contas de água e luz, IPTU, material de limpeza, gás, 53
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materiais para os trabalhos e manutenção do terreiro. Esse dinheiro arrecadado é direcionado para quitar essas despesas, embora muitas vezes, o Pai ou Mãe de Santo seja obrigado a tirar do seu próprio bolso para completar o valor necessário. No nosso caso, fazemos ainda uma feijoada anual para ajudar na arrecadação de verbas. Em terreiros sérios e comprometidos com a fé, não são feitas cobranças à assistência, nem por trabalhos, nem por consultas, muito embora o consulente tenha a liberdade de fazer qualquer tipo de colaboração ou doação. Umbanda é sinônimo de prática religiosa e caritativa, não se coadunando com cobranças. Paralelamente aos estudos da faculdade, comecei a procurar informações sobre assuntos ligados à Umbanda, adquirindo alguns livros, fazendo o download de outros pela internet e visitando diversos sites e canais que abordavam o assunto. Eu tinha mais perguntas do que respostas, e precisava entender o que estava acontecendo durante meu desenvolvimento espiritual. No início dessa pesquisa, fiquei completamente perdido em meio a milhares de referências que encontrava na internet, muitas delas esclarecedoras, outras nem tanto. Com o tempo, comecei a separar o joio do trigo, as fontes sérias e competentes, comprometidas exclusivamente com a verdadeira doutrina umbandista, de outras fontes superficiais e rasas de informação, despreparadas, sem embasamento teórico e, muitas vezes, mais preocupadas com o número de likes, inscrições e seguidores do que com o conteúdo oferecido. UMBANDA E INTERNET Os infindáveis avanços ciber-tecnológicos que acontecem no mundo, vêm causando em nossa sociedade um profundo impacto comportamental. Esse fenômeno vem transformando cada vez mais a realidade da vida das pessoas num voraz ambiente virtual onde, na web, “navegar é preciso” através de redes sociais, sites, chats, blogs, e-commerce, EADs, videochamadas, lives, podcasts etc., sem citar a infinidade de aplicativos que dominam o mercado e, consequentemente, as pessoas. Nesse momento em que o tempo e o espaço ganham um novo significado, até as religiões se banham nessas águas, adequando suas doutrinas através desses novos recursos, 54
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levando a prática da fé virtual a milhões de devotos, num tipo de “Umbanda delivery”, que oferece um cardápio de serviços que vão desde consultas online, jogos de búzios, tarôs, receitas de banhos, magias, oferendas a distância, grupos de orações, correntes e rezas, até acendimento de velas em altares virtuais, fazendo com que a prática da fé rompa os limites físicos do terreiro e fique a um toque do devoto, através do mouse, do smartphone ou do tablet. É preciso muita cautela para navegar nesse oceano multimídia de fé, pois o risco de naufrágio é grande. Estudar a religião é um dever de todo filho de Umbanda, mas é importante que se saiba onde colher as informações. Sites duvidosos, promessas milagrosas e cobranças indevidas, fazem dos mais ingênuos as maiores vítimas de pessoas inescrupulosas que, infelizmente, escondem seus interesses atrás da religião. Ao final desta obra, relaciono alguns sites e links competentes e bem elucidativos, que poderão servir como referência aos jovens umbandistas que pretendem iniciar suas pesquisas e desenvolver seus estudos. Na medida em que caminhava com meus estudos sobre Umbanda, muitas dúvidas iam desaparecendo, embora tantas outras surgissem no lugar. Alguns termos utilizados no terreiro já não soavam tão estranhos aos meus ouvidos como no início e, progressivamente, meu “vocabulário umbandista” começava a crescer. Além dos estudos e pesquisas, o jovem médium deve contar também com a ajuda de seus irmãos mais velhos e, acima de tudo, de seu Pai ou Mãe de Santo, que estará sempre à disposição para responder quaisquer perguntas ou dúvidas que venham a ocorrer. Logo após meu batismo, Pai Odé D’Loy fez as confirmações de meus Orixás de Cabeça, Xangô e Oxum, orientando para que eu mesmo confeccionasse minhas 3 primeiras guias2: uma para Confeccionadas com miçangas, louça, cristais, pedras, contas de rosário, sementes, olho de boi, búzios, pingentes de aço, coquinho, dentre outros materiais, transpassados com nylon ou cordonet e fechadas com peça de material variado chamada firma ou monjola. Servem para potencializar a ligação do médium com o Guia, além de absorverem os acúmulos negativos dos campos eletromagnéticos, protegendo os médiuns contra influências ruins durante os trabalhos. 2
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Oxalá e outras duas para meus Pais de Ori. Assim, seguindo as regras da casa, comecei a usá-las nas giras juntamente com a roupa de ração e o ojá, na época confeccionados pela filha responsável pelos uniformes utilizados no terreiro. QUAL A DIFERENÇA ENTRE ORIXÁS E GUIAS? O QUE SIGNIFICA ORIXÁ DE CABEÇA, JUNTÓ E ADJUNTÓ? O QUE É OJÁ E ROUPA DE RAÇÃO? Orixás são os raios sagrados emanados por Olorum; são energias vindas de elementos primordiais presentes nas forças da natureza. Em cada elemento atua um Orixá, como exemplo, Iemanjá nos mares e oceanos; Iansã, nos raios, trovões e tempestades; Oxóssi nas matas e florestas; Oxum nas cachoeiras, lagos e rios etc. No próximo capítulo falaremos mais detalhadamente sobre esse assunto. Os Guias de Luz são os mensageiros que trabalham com essas energias por afinidade, grau de evolução, formação ou proximidade. Quando essas entidades se manifestam nos terreiros de Umbanda se identificando como Oxóssi, Ogum ou Iansã, referem-se à LINHA DE TRABALHO em que elas atuam, e não especificamente ao Orixá. Orixá de Cabeça é o mesmo que Orixá de Frente ou Pai de Cabeça, corresponde à energia básica, fundamental de um indivíduo, dando-lhe as características mais marcantes em sua personalidade. O segundo é o Adjuntó ou Juntó, de características mais sutis, muitas vezes amenizando o caráter do Orixá de Frente, que poderá ter um perfil forte e predominante. Ojá é um pano de cabeça utilizado pelas Filhas de Santo e também um tipo de “boné” sem aba usado pelos Filhos, durante a gira. Não se trata, em absoluto, de um enfeite, mas sim, uma proteção para a coroa (orí) do médium, além de representá-lo hierarquicamente. Roupa de Ração é o conjunto de calça e túnica brancas usados pelos médiuns no terreiro. Durante as giras, tanto de desenvolvimento como de consulta, 56
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embora minha incorporação ainda não tivesse ocorrido de fato, outras sensações começavam a se manifestar como, por exemplo, acessos de bocejos, corpo levemente adormecido, sutis ondas de tontura ou calor, arrepios repentinos, tudo isso acontecendo gradualmente durante a chegada das entidades no terreiro. Nesse início de desenvolvimento mediúnico, é importante estarmos bem atentos às sensações que vivenciamos, embora, como já dito, essa experiência seja pessoal e diferente em forma e intensidade para cada filho. É de se notar que alguns médiuns iniciantes fiquem envergonhados ou sintam até medo frente a essas manifestações, justamente por desconhecerem muito do que acontece a sua volta e com eles mesmos, mas saibam que esse é um dos momentos mais maravilhosos que o médium vive em sua jornada espiritual. É a hora em que as entidades começam a se aproximar, conhecendo melhor seu aparelho, trocando afinidades, sensações, criando laços vibratórios, enfim, esse é o início do processo mediúnico que precede a incorporação. Nas palavras de Alexandre Cumino, “a incorporação é um ato de amor, no qual o médium tem a oportunidade de unir-se misticamente a seus Guias e Orixás. Nas religiões de transe acontece isso, algo muito especial, seus mestres e suas divindades vêm à terra e lhe tomam como morada para sua manifestação.”3 Aproveito o assunto para falar um pouco sobre um problema que, infelizmente, ocorre em muitos terreiros, relacionado ao ego de determinados filhos. Alguns médiuns despreparados, tratam seus dons mediúnicos como uma virtude exclusiva, exibem seus Guias como os mais poderosos, cantam os pontos exageradamente, são chamativos na hora da incorporação, falam alto, dançam freneticamente, tudo isso com o intuito de roubar a atenção das pessoas a seu redor ou convencê-las de que ele está num nível mais elevado, comparado a seus irmãos. O verdadeiro médium umbandista sabe que a humildade é o primeiro passo para a evolução e, segundo nossos queridos Pretos-Velhos, “é a mais nobre das virtudes”. Por isso, é importante que o médium iniciante esteja sempre atento para que nunca se torne vítima de seu próprio ego, afinal, “a espiritualidade te chamou para ser Luz neste mundo, não estrela no terreiro.” 3
Disponível em: <https://umbandaead.blog.br/>
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Reproduzo abaixo, um trecho extraído do livro de Ademir Barbosa Junior4, intitulado O Livro Essencial de Umbanda5. “Médium não é X-Men, não tem poderes, e sim dons, que precisam ser desenvolvidos, trabalhados e colocados à disposição da comunidade. Orixá não é personagem de card, com superpoderes que vão detonar os inimigos, ou seja, aqueles que nos fazem mal ou discordam de nós. Orixás são divindades, procedem da Fonte Divina, agem em nome dessa Fonte para o equilíbrio. Guia no pescoço não é correntinha, bijuteria ou piercing. É proteção, tem funções litúrgicas, é símbolo de ligação com os Orixás, Guias, Guardiões. Roupa de Santo não é fashion week de Orixá, é uniforme de trabalho, de serviço, forma de se apresentar aos Orixás, aos Guias, aos Guardiões para serviço de autoconhecimento, equilíbrio e caridade para com o próximo. Ponto cantado não é samba, não é funk, não é pagode, nem forma de seduzir alguém do templo ou da assistência: é firmeza do Orixá, para a casa e o próprio médium. Dançar para Santo não é fazer bailão, coreografia de programa de auditório ou dança de salão: é manifestar a alegria e comungar do Axé de cada Orixá, de cada Linha. Sejam realmente filhos de Orixá, irmãos de todos e, ao mesmo tempo, aprendizes e mestres, pois todos temos experiências para trocar e crescer juntos, na fé e na fraternidade.” QUAL A DIFERENÇA ENTRE ENTIDADES, GUIAS E PROTETORES? O QUE É FIRMEZA PARA O ANJO DA GUARDA? Nas palavras de Pai Odé D’Loy6, “ENTIDADE ESPIRITUAL é todo e qualquer espírito de alta, média e baixa faixa vibratória, já em ascensão evolutiva ou não, no Plano Espiritual. GUIAS ESPIRITUAIS por sua vez, são espíritos de luz que nos auxiliam e nos guiam, afastando-nos do mau caminho, em representação ao Orixá de coroa do Médium, podendo ser um Caboclo ou um Preto-Velho, por exemplo. PROTETOR é um espírito que já passou pela vida terrena e busca obter mais luz, através do auxílio espiritual, fazendo sempre o bem e promovendo a paz entre os humanos que ainda vivem no Médium, escritor, tarólogo, numerólogo e presidente da ABEAFRO. O Livro essencial de Umbanda, p. 318. Universo dos Livros, 2014. 6 Disponível em: Apos�la ABESMA, p. 22, 2019. 4 5
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plano material. Pode ser um Exu ou Pomba-Gira. Já espíritos sem ou de pouca luz, desencarnados são chamados de EGUM, que significa desencarnado, na tradução afroamerindia. Portanto, teoricamente, todo espírito desencarnado é um Egum, o que diferencia é o estágio de evolução. Há ainda os espíritos conhecidos como zombeteiros ou kiumbas, de baixas faixas vibracionais, cujo único intuito é conturbar e prejudicar os trabalhos, através de dissimulações e do comportamento hostil. Efetuam trabalhos de magia negra e têm como objetivo prejudicar o ser humano, se aproveitando de seus vícios e desejos negativos. Estes espíritos fazem qualquer tipo de trabalho negativo para receber algo em troca, e se apresentam de forma dissimulada, se intitulando Exús, Pombas Giras e, em alguns casos, até como Pretos-Velhos, Baianos, Boiadeiros ou Marinheiros, para literalmente, enganar e vampirizar as pessoas que a eles recorrem em busca da realização de seus desejos, principalmente os materiais e amorosos, sugando sua energia e causando todo o tipo de problema. Observem que há uma grande diferença entre Guias e Protetores, com relação aos espíritos de baixa faixa vibracional. Tanto os Guias de Umbanda quanto os Protetores, trabalham sempre para o desenvolvimento espiritual do ser humano, para sua evolução e para causas benéficas, nos auxiliando na abertura de nossos caminhos sem nunca interferir na vontade ou prejudicar outro ser humano, nem pedir qualquer pagamento em troca. Trabalham sempre para o bem e seu único desejo é evoluir, sejam eles Pretos-Velhos, Caboclos, Baianos, Crianças, Exus ou Pomba Giras.” O Anjo da Guarda ou Anjo Protetor atua protegendo os médiuns durante a incorporação e desincorporação espiritual. Quando uma entidade vai incorporar em um médium, o seu anjo da guarda fica ali ao lado, protegendo-o ativamente para manter a integridade 59
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física e espiritual do médium. Ele ajuda a evitar que um ataque do baixo astral (entrada de seres inferiores) ocorra na corrente mediúnica. Quando nascemos, já é designado um Anjo da Guarda para nos acompanhar e proteger, nos conectando a ele por meio de orações e preces. A palavra anjo, em hebraico, significa Mensageiro Divino. A cada semana, quando acendemos uma vela branca junto a um copo d’água, estamos firmando para o nosso Anjo da Guarda e assim, nos ligando espiritualmente ao Divino. É através da luz emanada pela vela (elemento fogo) que ocorre a purificação do nosso corpo espiritual, fortalecendo nossa conexão com as entidades. O copo d´água junto a vela é mais um elemento poderoso e fundamental, que proporciona o equilíbrio de energias, purificação, propagação e a facilitação das respostas espirituais. Lembre-se, não é o Anjo da Guarda que necessita de “luz”, e sim nós, que acendemos a vela para nos firmar em sua energia, renovando nosso elo ou vínculo com o Sagrado. Durante meu desenvolvimento mediúnico, fui orientado pelo meu Pai de Santo a montar meu próprio Altar de Umbanda, dentro da minha residência. Nunca tive em meu lar nenhum objeto ligado a religiosidade, a não ser uma imagem católica de Jesus Cristo, pendurada na parede da sala e uma bíblia que ficava guardada numa caixa, junto com outros livros. Em meu dormitório, havia um espaço destinado para um ar-condicionado de parede, e foi lá que vislumbrei meu Altar, um local discreto, longe dos olhares curiosos e sem causar constrangimentos desnecessários a nenhum familiar (em casa, sou o único praticante e devoto de Umbanda). Por se tratar de um espaço relativamente pequeno, as imagens que o compõem atendem essa restrição. O dito popular “tamanho não é documento” se aplica muito bem nesse caso. É importante que o iniciante saiba que imagens pequenas são tão poderosas e sagradas quanto as imagens maiores, pois o que importa não é o tamanho, mas sim o Axé que constitui cada peça. Seguindo os ensinamentos de meu Pai, fui organizando meu 60
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Altar, comprando cada imagem que sentia necessidade, levando ao terreiro para consagrá-las, adquirindo outros componentes, como cristais, quartinha, oxé7, flores, perfumes, ofá8, fitas, quelés, enfim, todos os elementos que me foram solicitados ou intuídos. COMO FAÇO UM ALTAR DENTRO DE CASA? QUAL A DIFERENÇA ENTRE CRUZAR E CONSAGRAR? O QUE É QUARTINHA? Para fazer um Altar em sua residência, o ideal é que você escolha um local reservado e com o mínimo de privacidade para que possa praticar suas orações sem nenhum tipo de interferência. Caso opte por uma estante ou mesmo uma mesa, nunca coloque objetos decorativos junto ao sagrado. Seu altar deverá conter imagens referentes aos Orixás e seus Guias, além de possíveis objetos consagrados e relacionados exclusivamente a religião, como flores, patuás, pedras, búzios ou conchas, sem a disposição obrigatória de todos os Orixás ou Guias, ficando a critério de cada filho. As imagens que deverão compor o altar serão a de Oxalá e dos regentes da coroa do médium. As energias do altar são permanentemente renovadas através de preces, velas, terços ou quartinha, que deverá estar SEMPRE cheia de água. Importante: evite montar seu altar próximo a banheiros, lavabos ou latas de lixo, por se tratar de locais de expurgo de energias. Em nosso terreiro, as imagens dos Orixás e seus Guias estão disponibilizadas em uma ordem hierárquica, como no exemplo a seguir:
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Ver glossário capítulo 7. ídem
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Fonte: autor
Obs.- As imagens disponibilizadas em seu altar devem seguir o sincretismo católico.9 Lembre-se que a montagem de seu altar deverá ser feita sob o consentimento e orientação do seu Pai ou Mãe de Santo. As informações acima seguem os princípios adotados em nossa casa. As palavras “cruzar” e “consagrar”, no sentido litúrgico, possuem a mesma definição; Consagrar significa tornar sagrado. Quartinha é um recipiente de barro ou porcelana, utilizado na maioria dos assentamentos e na obtenção dos Axés. Pode se apresentar em cor natural ou pintada nas cores consagradas a entidade ou Orixá pertencente. A quartinha de porcelana ou louça branca é comum a todos os Orixás e entidades. As que possuem asa ou alça são destinadas às Orixás ou entidades femininas e a quartinha lisa se refere aos Orixás ou entidades masculinas. A quartinha é o elemento catalisador e transformador das energias recebidas e emanadas pelo médium. Segundo Pai Odé D’Loy, “a quartinha é algo pessoal e não deve ser manipulada por ninguém além do seu próprio dono, e só deverá conter suas vibrações.” Para que o jovem iniciante tenha uma ideia mais clara, descrevo a seguir minha rotina no terreiro em dias de gira. Importante salientar que as práticas variam de terreiro para terreiro, mas os 9
Ver capítulo 3, p. 37.
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fundamentos são únicos. No nosso caso, geralmente os filhos chegam 1 hora antes do início da gira. Na entrada, após saudarmos a Tronqueira e a Casa das Almas, reverenciamos o Solo Sagrado, o Divino Espírito Santo e o Congá. Depois da troca de roupas, saudamos a curimba10 e aguardamos o início da Gira, de preferência em silêncio. Não podemos esquecer que estamos em uma casa santa, e que, assim como numa igreja faz-se o devido silencio em respeito ao sagrado, no terreiro devemos ter a mesma conduta. Caso o médium tenha sede ou necessite ir ao sanitário, essa é a hora indicada para que se evite “quebrar” a corrente mediúnica após o início da gira. Todos à postos e, no momento anunciado, iniciamos a gira firmando Exú e, logo após, a abertura do Congá com a defumação de todos os filhos e assistência. Em nosso terreiro, os Guias de Pai Odé D’Loy costumam chamar os pontos cantados, acompanhado pela curimba, com as entidades se apresentando em terra nesse momento. Geralmente abrimos a gira com Ogum, seguido dos demais Orixás, cada qual trazendo suas falanges de trabalhadores espirituais. As giras de consulta são variadas, mas as mais comuns são as de Caboclo, Preto-Velho, Boiadeiro, Baiano, Cigano e Exú. O QUE É FALANGE? NO QUE CONSISTE A DEFUMAÇÃO? Falange são agrupamentos de espíritos que trabalham para um determinado Orixá. A exemplo disso, podemos citar os Caboclos que atuam na linha de Ogum, os Marinheiros que trabalham na linha de Iemanjá, ou mesmo os Pretos-Velhos que atendem na linha de Obaluaê. Reproduzo a seguir, um pequeno trecho do texto psicografado por Lurdes de Campos Vieira, em seu livro Os Guias Espirituais da Umbanda e seus Atendimentos11, através do Mestre Pena Branca: (...) Oxalá emite sua vibração específica e dá sustentação a uma grande leva de espíritos positivados e sublimados, que conquistaram grau na espiritualidade. São organizados em grandes grupos, constituindo as chamadas linhas, legiões, falanges e sub-falanges... Cada Orixá tem 10 11
Ver glossário capítulo 7. Os Guias Espirituais na Umbanda e seus Atendimentos, p.28. Madras, 2015.
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várias linhas de trabalhos sob sua responsabilidade; algumas se manifestam nas incorporações e outras são resguardadas no astral, dando sustentação aos trabalhos nos Templos e aos trabalhos realizados após as sessões, quando as soluções para os problemas, detectados nos atendidos merecedores, são autorizadas. (...) As linhas de trabalhos são dinâmicas e formam o grande potencial de seres que trabalham no astral, em benefício do Ritual de Umbanda Sagrada. Todas essas linhas, desdobradas, estão à disposição e a serviço dos trabalhos realizados nos Templos que agem com seriedade respeito e amor. (...) A defumação, prática comum em várias religiões, é um dos mais antigos rituais conhecidos da humanidade. Sua finalidade é harmonizar e purificar pessoas, locais ou ambientes. Toda energia negativa é desfeita através da defumação, por isso é fundamental em nosso dia a dia, como em todos os trabalhos de Umbanda. As defumações mais utilizadas na Umbanda são para limpeza (purifica o ambiente, retirando do local toda e qualquer energia negativa) e descarrego (livra o consulente e/ou a corrente mediúnica de influências ou energias negativas). “Defuma os braços por baixo e por cima para que tenha asas livres pra voar. Defuma a cabeça para limpar as velhas memórias que levam a repetir os mesmos erros e se ligar com as bênçãos do mundo acima de nós. Você defuma a frente para espantar os pensamentos que apagaram a visão e os olhos, para que possa ver o que não observa, e os ouvidos para que ouça o chamado da alma. Defuma a garganta pra soltar o nó que não te deixa falar, e ligar a mente ao coração. Você defuma o coração para espantar o medo, e para que possa abrir e receber o amor verdadeiro. Defuma com fogo as “partes” para que se queimem os 64
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apegos materiais, os sonhos que não se realizaram, e que possa reacender a vontade de sentir, criar, e começar de novo. Defuma os pés para limpar as velhas pegadas e reiniciar um novo caminhar. Defuma a nuca para espantar o que assombra. Defuma as costas pra tirar o peso do passado. Defuma as mãos para tirar as amarras que prendem e, para que elas, sejam abençoadas para dar e receber.” (Texto de autor desconhecido coletado e adaptado por Pai Odé D’Loy, extraído da Apostila ABESMA 2020)
Um fato que acontece com mais frequência do que se imagina, é a súbita indisposição ou desânimo que ocorre em muitos médiuns, dificultando ou até impedindo seu comparecimento nos dias de gira. Esse é um assunto relevante que deve ser esclarecido ao médium iniciante, para que possa superar esses momentos sem culpa, frustração ou vergonha. Pois bem, caso isso já tenha ocorrido ou venha a ocorrer com você, saiba que é absolutamente normal. Em nosso dia a dia, nos expomos a uma grande carga de energias negativas, onde se manifestam espíritos obsessores que objetivam nos enfraquecer, nos afastando de nossos compromissos religiosos, nos impedindo de ir ao terreiro. Dizem que para cada dez espíritos de luz há cerca de mil espíritos obsessores, cujo objetivo é atrasar nosso desenvolvimento espiritual. Como perdem forças no terreiro, obviamente é lá que nos impedirão de frequentar. Por isso, é importante que o jovem médium afaste essas más vibrações orando com frequência e pedindo proteção espiritual, tomando seus banhos de ervas quando necessários e firmando suas velas para seus guias e protetores. Espíritos obsessores não conseguem entrar em locais como terreiros de Umbanda, pois seriam imediatamente barrados e expulsos pelos guardiões da casa. Desse modo, tentam nos atacar fora de nosso reduto sagrado. Lute com força e fé contra esse desânimo pois só assim você voltará a se sentir protegido, disposto e renovado no cumprimento de suas obrigações espirituais. 65
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Falemos agora sobre as saudações. Na Umbanda, as saudações aos Orixás são formas de contemplação e louvor. Cada Orixá ou Guia possui sua própria saudação, podendo apresentar uma discreta variação de terreiro para terreiro. Abaixo, relaciono algumas das principais utilizadas em nossa casa e seus respectivos significados: OXALÁ – Epa epa Babá! (yorubá); Epa epa (exclamação de surpresa, grande admiração pela honrosa presença); Babá (pai) OMULU/OBALUAIE – Atoto! (yorubá); Atoto (Silêncio) – Silêncio! Ele está entre nós! OXÓSSI – Okê arô! (yorubá); Okê (monte); arô (título honroso dado aos caçadores) – Salve o grande Caçador! OXUM – Ora iê iê ô ! (yorubá) - Salve a Senhora da bondade! OGUM – Patakori Ogun! (yorubá) ou ainda, Ogunhê! (brado que representa o força de Ogun) pàtàki (principal); ori (cabeça) – Muita honra em ter o mais importante dignitário do Ser Supremo em minha cabeça! YEMANJÁ – Odô-fe-iaba! (yorubá) ou ainda, Odô iá!; Odô (rio); fe (amada); iyàagba (senhora) – Amada Senhora do Rio (das águas)! XANGÔ – Kawô Kabiecile! (yorubá) Ká (permitanos); wô (olhar para); Ka biyê si (Sua Alteza Real); le (complemento de cumprimento a um chefe) – Permitanos olhar para Vossa Alteza Real! IANSÃ – Eparrê Oiá! (yorubá); Eparrê (saudação a um dos raios do Orixá da decisão); Oyá (nome porque é conhecida Iansã) – Saudação aos majestosos ventos de Oyá! IBÊJI – Oni Beijada! (yorubá) ou ainda, Beji, Beijada!; Ele é dois! NANÃ – Saluba Nanã! (yorubá) - Salve a Senhora Mãe 66
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de todas as Mães! OSSAIM – Euê-ô! Euê-ô! Euê-ô! (yorubá); Ewe (folhas); O (sufixo para salve) – Salve o Senhor das folhas! PRETO-VELHO – Adorei as Almas! CABOCLO – Okê, Caboclo! - Salve o Grande Caboclo! BOIADEIRO – Xetro marrumbaxetro! Xetruá! Significado desconhecido. (Figuração onomatopéica). EXÚ – Laroyê exú! (yorubá) ou ainda, Exú é mojubá!; “Saudação amiga à Exú” ; móju (viver à noite) bá (armar emboscada) – Exú gosta de viver a noite, sempre capaz de armar emboscadas! CRIANÇAS – Oni, beijada! - Ele é dois! saudação igual à dos orixás Ibeji CIGANOS – Arriba! MALANDROS – Salve a Malandragem! ou ainda, Acosta, Malandro! A princípio, é comum que o jovem médium tenha uma certa dificuldade em memorizar todas as saudações acima citadas. Mas não se preocupe, pois a prática constante o fará decorar paulatinamente todas as expressões utilizadas. Uma outra curiosidade que ocorre, não só entre os iniciantes de Umbanda, como também na maioria das pessoas, é a respeito da tradição das Sete Ondas. Durante a época de réveillon, muitos tem o costume de ir à praia e pular as sete ondas do mar, fazendo seus pedidos e desejos, mas poucos sabem o significado desse ritual, que tem origem na Umbanda e representa uma respeitosa homenagem aos Sagrados Orixás. Para cada onda pulada, proferimos a prece referente a cada Divindade.
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ORAÇÕES DAS AS SETE ONDAS, SEGUNDO O SACERDOTE RODRIGO QUEIROZ (BLOG UMBANDA EAD12) 1ª Onda: Pai Oxalá, eu te saúdo e agradeço pela imantação de fé que mantém minha espiritualidade e religiosidade ativa nesta encarnação. 2ª Onda: Mãe Oxum, eu te saúdo e agradeço por sentir amor em meu coração, pela família e pelos amigos. 3ª Onda: Pai Oxóssi, eu te saúdo e reverencio vossa luz expansora em minha consciência que não aceita limitações e me mantém ativo na caça constante do meu crescimento intelectual, racional e consciencial. 4ª Onda: Pai Xangô, eu te saúdo e me curvo à vossa luz de Justiça e equilíbrio em meus atos. 5ª Onda: Pai Ogum, eu te saúdo e evoco a retidão que mantém minha caminhada ordenada na direção correta. 6ª Onda: Pai Obaluayê, eu te saúdo, silencio e agradeço pela saúde do meu corpo. 7ª Onda: Mãe Iemanjá, Divina Rainha, eu te saúdo, reverencio e agradeço pela vida. Aproveitando o assunto, relaciono abaixo sete cores que você poderá utilizar em suas indumentárias, na passagem de final de ano e seus respectivos significados. Lembrando que a cor escolhida poderá compor seu traje completo ou parcial, roupa íntima, ou até mesmo um detalhe ou acessório. Utilize tons mais claros ou mais escuros, conforme sua preferência.13 BRANCO - ideal para quem deseja paz e harmonia no ano que segue. A cor representa também a pureza, por isso é indicada para quem quer se desfazer de energias passadas ruins e renovar seus fluidos. PRATA - simboliza inovação e tudo que é moderno. Se você quer dar uma reviravolta na sua vida nesse ano e 12 O Blog Umbanda EAD é o meio de comunicação oficial da plataforma de ensino a distância Umbanda EAD, disponível em:< https://umbandaead.com.br/> 13 Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p.70.
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começar com tudo novo, aposte na roupa ou acessórios nesta cor. AMARELO ou DOURADO - estão associados ao ouro e à riqueza, tanto material como de espírito, e simbolizam a alegria e descontração. Por isso, é a cor para quem quer ter dinheiro e brilhar no ano que chega. VERDE – reflete esperança e também saúde. Se isso é o que você deseja para você e sua família no próximo ano, invista na cor, que também é o símbolo da fertilidade. VERMELHO – é a cor da paixão, dos sentimentos intensos, da energia e do desejo. Para viver um romance ardente no próximo ano, aposte na roupa principal ou íntima desta cor. ROSA - representa o amor, incluindo o amor-próprio, é o vermelho suavizado pelo branco, que propicia o romantismo, carinho e autoestima. AZUL – Sugere serenidade e tranquilidade, e ainda favorece o poder da comunicação, além de gerar bemestar e paciência. PRETO - é a ausência de cor, por isso, poucas pessoas usam. Por se tratar de um tema pouco conhecido entre os jovens umbandistas, mas não de menor importância, finalizo esse capítulo falando um pouco sobre as Nações Africanas. Assim como meu Pai de Santo veio do Candomblé de Angola-Congo e a Umbanda que hoje realizamos em nosso terreiro traz algumas influências dessa vertente em suas práticas, o mesmo também poderá ocorrer em outras casas, apresentando possíveis influências de outras nações. Não que esse fato seja uma regra e nem tampouco se faça necessário um entendimento aprofundado sobre o assunto, mas nunca é demais conhecermos um pouco dessas variantes culturais e das vertentes de cada nação. Reproduzo abaixo o texto14 de Juliana Viveiros Tonin15, que resume, em poucas palavras, essas diversidades. Disponível em: <https://www.iquilibrio.com/blog/espiritualidade/umbanda-candomble/nacoes-do-candomble/> 15 Praticante de bruxaria natural, é publicitária, com MBA em Gestão Estratégica de Marketing e especialista em esoterismo. 14
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O QUE SÃO NAÇÕES AFRICANAS? Assim como o Cristianismo possui diversas vertentes de expressão, as religiões africanas e mais especificamente o Candomblé também as possui. Conhecidas como Nações do Candomblé, elas são representações singulares do culto aos Deuses, com tradições, nomes e formas diferentes de manifestação. 1. AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ 1.1 O Grupo Nagô 1.2 O Grupo Daomeanos (Nação Jeje) 1.3 O Grupo Bantu 1.4 O Grupo Angola-congolês (Banto) 1.5 Os Grupos islamizados 2. AS NAÇÕES NO BRASIL 2.1 Nação Ketu 2.2 Nação Angola 2.3 Nação Jeje/ Jejê ou Djedje 1. AS NAÇÕES DO CANDOMBLÉ Deve- se lembrar que a África é um continente gigantesco em extensões territoriais e as maneiras de comunicação não eram como na atualidade. O homem desde cedo observou que há energias presentes em tudo que o rodeia e que elas, na maioria das vezes, têm o total controle sobre os acontecimentos e os ciclos da vida, essas energias são os Orixás, Inkices ou Voduns, como são chamados. Cada pedaço daquele território tinha seu reino e ele cultuava as Divindades de formas díspares, embora todos reconhecessem a presença de cada uma delas. Assim surgiram as nações do Candomblé. Quando esses povos foram atacados brutalmente e tirados à força de suas nações para serem escravos, eles espalharam pelo 70
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mundo uma mistura de tradições, que deram origem a outras vertentes do Candomblé (como as presentes no Brasil) e também levaram a sua própria cultura às demais localidades do planeta. Essa forma de vida das religiões que eles mostraram ao mundo, deve-se ao fato de que, com o fim de seus grandes reinos e suas autonomias, os africanos foram obrigados a se fortalecerem ainda mais na fé em sua religião e propagar por meio da memória e da fala, a sua cultura. Essas eram as únicas maneiras de acreditarem que toda sua história não morreria ali e que pudessem ter um fio de esperança em um amanhã melhor. Entre toda essa diversidade, podemos citar: 1.1 O GRUPO NAGÔ São de origem sudanesa, também chamado de grupo iorubá, nele encontramos os Candomblés: Ketu, Ijexá, Efan, Nagô Egbá, Xambá de Pernambuco e Batuque do Rio Grande do Sul. 1.2 O GRUPO DAOMEANOS (NAÇÃO JEJE) Hoje a região de Daomé é conhecida como Benin, os Candomblés que são de sua origem: Fon, Fanti, Krumans, Agni, Mina, Éwé, Ashanti, Nzema e Timini. 1.3 O GRUPO BANTU Localizado principalmente na África subsariana, na Contra-Costa, conhecido principalmente pelos moçambiques: Angola, Cabinda e Congo. 1.4 O GRUPO ANGOLA-CONGOLÊS (BANTO) Representados pelos: Benguelas, Congos, Cabindas e Ambundos de Angola. 1.5 OS GRUPOS ISLAMIZADOS Haúças, Mandingas, Fulas, Bornu, Grunci, Gurunsi e Tapa.
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2. AS NAÇÕES NO BRASIL Aqui no Brasil as nações mais fortes são: Nação Angola, Nação Jeje e Nação Ketu. Cada uma delas possuem linguagens diferenciadas assim como as formas de realizarem seus rituais. 2.1 NAÇÃO KETU O Candomblé Ketu é o mais conhecido no Brasil. Segundo lendas contadas pelos próprios africanos, ele foi fundado na Bahia por princesas de Ketu e Oyó que chegaram aqui como escravas nos navios negreiros. O intuito dessas mulheres era de salvar sua cultura ainda de alguma maneira. Os Orixás cultuados nessa religião são de origem Yorubá, o qual também está predominante no idioma utilizado. Essa nação possui também diferenças no toque dos atabaques, nos símbolos e cores de cada Orixá. Os ensinamentos do Ketu são transmitidos pelos Babalorixás e Yalorixás através da fala. Uma das peculiaridades é que a pessoa responsável pelo culto dos Eguns – chamado de Ojé – é um sacerdote com expertise nesse assunto, pois quem realiza os rituais para os Orixás não se envolve com os direcionados aos Eguns. 2.2 NAÇÃO ANGOLA Essa nação é considerada afro-brasileira pois mistura traços de origem bantu, – que compreende localidades do Congo e Angola – e que ganhou força dentro dos grupos de escravos africanos que tinham o dialeto de kikongo e kimbundo. Quem já frequentou rituais de diferentes casas de Candomblé poderá notar que as expressões de canto, dança e batidas dos tambores de Angola são bem diferentes dos demais. Quando fala-se de nomenclaturas de cargos dentro dessa casa também encontra-se palavras distintas, por exemplo: o Pai de Santo é chamado de Tata Nkisi e a Mãe de Santo, Mametu Nkisi. Os Orixás são denominados como Inquices (Inkices), e seu 72
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Deus maior é o Zambi. Para adentrar a religião há um longo preparo: o batismo é o Massangá, onde se faz a cabeça do iniciado. Nesse processo usa-se o Obi e a água doce, depois o Bori (onde usa o sangue de animais relacionados à Inkice de cabeça da pessoa), a raspagem da cabeça, a obrigação de 1 ano, depois uma obrigação de 3 anos (para mudança do grau), de 5 e, por último, de 7 anos. Após esse período a pessoa poderá ser um Tatá ou Mamety Nkisi, porém todo ano ela deverá renovar a obrigação de Obi ou Bori e de 7 em 7 anos repete-se todo ritual para se tornar um Kukala Ni Nguzu (homem forte). Onde encontra-se uma casa de Angola, há uma bandeira branca que simboliza Mukuiú N´Zambi, a nação. 2.3 NAÇÃO JEJE/ JEJÊ OU DJEDJE No Brasil há diversas casas com características diferentes do culto da Nação Jeje. Sua origem foi no Maranhão, mas, após um período, espalhou-se pelo Nordeste (principalmente Bahia e Pernambuco) e depois para São Paulo e Rio Grande do Sul. Nestas casas, os Orixás são chamados de Voduns, e o Deus maior é o Mawu (a Lua). Mawu encontrava-se com seu amado Lissa (Sol) durante o eclipse, o que deu origem aos 14 Voduns. No Maranhão, o Candomblé Jejé ficou conhecido como Tambor de Mina, e o terreiro destinado ao seu culto corresponde a uma área ampla, pois precisam de: Casa de Legba – onde realizam as obrigações maiores – pequenas casas das divindades, um barracão central para as danças, quartos para dormir, se vestir e fazer os alimentos. Para iniciar-se ao Candomblé de Jejê, é preciso um grande período de confinamento que pode durar de 6 meses à 1 ano. Durante esse processo, tudo sobre os rituais e cultura será ensinado. Outra curiosidade é que os assentamentos são feitos sobre pedras, pois elas são capazes de manterem uma ligação mais pura e forte com os Voduns cultuados. Cada nação tem sua particularidade e não há como descrever cada detalhe 73
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de cada uma delas em um artigo, mas ter a consciência das suas existências e de suas singularidades básicas demonstra um maior respeito à todas elas, que representam a formação da cultura do Brasil. Foram anos de tradições de um povo que teve sua estabilidade e continuidade ameaçadas com a exploração que sofreu, porém a energia é mais forte e ela viveu e se espalhou por todo o mundo por meio da luta e do sangue de cada um desses africanos que acreditaram no seu berço e na sua nação.
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Capítulo V O MÉDIUM
Foto: Autor
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inco anos haviam se passado desde que o Sr. Caboclo Rompe Mato se fez presente em minha vida e de meu reencontro com a fé, que até os dias de hoje, exerço no cumprimento de minhas obrigações como devoto filho de Umbanda. Meu desenvolvimento mediúnico se dava plenamente, pois agora dispunha do tempo necessário para cumprir meus compromissos com o Sagrado. Mesmo com meu trabalho na universidade e outros projetos paralelos, procurava dar continuidade aos meus estudos relativos à Umbanda. Sempre tive o costume de anotar minhas dúvidas num caderninho preto de rascunhos para que, através de minhas pesquisas, pudesse obter um material referencial como base de estudos da religião. Penso que muitas dessas questões possam ser comuns não só aos filhos recém-chegados na Umbanda, como também a tantos que, assim 76
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como eu, já são médiuns iniciados e frequentam um terreiro. A seguir, destaco onze questões relacionadas às práticas de Umbanda no lar, para uma maior compreensão e conhecimento geral. 1. COMO LIDAR COM PRECONCEITO RELIGIOSO EM FAMÍLIA? Na maioria das vezes, o preconceito nos lares ocorre devido ao fato de muitos ignorarem ou desconhecerem o que é a Umbanda e seus fundamentos. Somos criticados por pessoas que nunca sequer pisaram num terreiro. A Umbanda sofreu e ainda sofre muito com essas interpretações equivocadas e até mesmo com as inverdades que são ditas a seu respeito, deturpando seus fundamentos e formando opiniões infundadas sobre nossa fé e, infelizmente, muitos julgam nossa religião baseados nesses pré-conceitos. Dentro ou até mesmo fora do ambiente familiar toda crítica ou questionamento terá de ser ouvida com respeito pelo umbandista que, com muita calma e naturalidade, deverá esclarecer, desmistificar e demonstrar nossos fundamentos, práticas, e principalmente, todo o bem que proporcionamos aos muitos que nos procuram. Existem também aqueles que preferem impor sua religião, criticando as demais. Em verdade, todas as religiões são caminhos para um mesmo fim. Pessoas que criticam apenas por criticar não procuram entender. Logo, discussões nesse sentido não nos levarão a lugar algum. Devemos sempre respeitar para sermos respeitados e só assim, conseguiremos mostrar toda a grandiosidade de nossa doutrina, levando a luz da compreensão aos desprovidos de conhecimento, dirimindo suas dúvidas e mostrando a todos o verdadeiro significado de nossa Divina e Sagrada Umbanda. 2. ALÉM DO MEU ALTAR, POSSO TER OUTROS PONTOS DE VIBRAÇÃO EM CASA? O altar é a fonte de emanação de energia que todo médium deve ter em seu lar, mas nada o impede que 77
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tenha também um local específico para firmar seu Preto-Velho ou Caboclo. A exemplo disso, tenho em minha casa a imagem do Sr. Caboclo Sete Folhas num local reservado, entre as plantas que cultivo na área de serviço. Toda quinta-feira, acendo uma vela verde com um copo d’água, além do cálice com vinho branco suave e o charuto para meu Guia. Sobre um pequeno tronco de árvore (antiga peça decorativa que havia em casa) reservei um espaço para contemplação aos meus PretosVelhos, onde ofereço café preto ao lado do cachimbo, do rosário, da bengala e da imagem de meu Pai Thomé, além da vela preta e branca, acesa semanalmente, às segundasfeiras. Para montar cada assentamento, intuídos através de meus Guias, solicitei permissão ao meu Pai de Santo, que a concedeu após a confirmação dos pedidos. Com o tempo, alguns médiuns poderão sentir a necessidade de outros pontos vibracionais, atendendo às solicitações de suas entidades e, quando isso acontecer, aja com respeito, dedicação e humildade necessárias. Respeito para atender prontamente aos pedidos de seus Guias; dedicação para cumprir suas obrigações de rotina e manter a conservação do local; e humildade nas escolhas dos objetos sagrados, pois ostentação não combina com fé. 3. COMO FAÇO A LIMPEZA DAS IMAGENS EM MEU ALTAR? Cada terreiro possui seus próprios procedimentos. No nosso caso, costumamos fazer a limpeza das imagens do Altar utilizando um preparo com erva guiné macerada em água potável, limpando cada imagem e demais objetos com um paninho embebido nessa solução e por fim, a borrifamos delicadamente por todo o Altar. Essa limpeza poderá ser efetuada a cada três meses. 4. POSSO TOMAR BANHO DE ERVAS EM CASA? O QUE É MACERAÇÃO? É aconselhável que se faça qualquer banho com ervas, 78
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raízes ou demais ingredientes, sejam frescas ou secas, sempre mediante a prévia consulta com seu Pai ou Mãe de Santo. Mesmo assim, existem banhos que não oferecem grandes restrições, quando feitos com seriedade e fé. O banho de manjericão macerado é um exemplo disso, podendo ser tomado da cabeça aos pés, quando o médium sentir necessidade. Banhos mais “pesados” com ervas classificadas como quentes, tema que será abordado mais adiante, não são indicados sem a orientação adequada. Ervas como aroeira, arruda, espada de São Jorge, mamona, eucalipto, dentre outras, são consideradas agressivas, e em alguns casos, chegam a ser tóxicas, se não utilizadas com critério. É claro que o médium experiente deverá se informar a respeito do poder de cada erva e de suas especificações, através de pesquisas, estudos, e principalmente, das orientações fornecidas pelo seu Pai ou Mãe de Santo, além de seus próprios Guias. Maceração é o ato de moer ou amassar determinada substância sólida, para a extração de certos princípios ativos e energéticos. Na Umbanda, a maceração é uma prática muito comum na preparação de banhos com ervas. 5. COMO DESPACHAR UMA IMAGEM QUEBRADA? Se a imagem estiver consagrada, antes de dispensála, devemos romper essa relação existente do objeto com o sagrado. Diferentemente de uma pedra ou erva que possuem a energia natural do axé em sua essência primária, as imagens, originalmente, são somente elementos simbólicos que, após consagradas, adquirem uma estrutura energética em torno delas, vinculada ao médium. Por esse motivo, devemos neutralizar e esgotar essa energia, antes de despachá-la. Para tal, costuma-se usar uma vela branca palito e uma bacia de água com três punhados de sal grosso. Mergulhamos a imagem juntamente com todas as partes quebradas dentro da bacia e acendemos a vela, orando em respeito 79
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a energia vinculada ao objeto, deixando-o submerso por vinte e quatro horas. Por fim, despachamos a imagem cuidadosamente dentro do lixo, e nunca em locais da natureza como praias, jardins, rios, cachoeiras ou similares. A exemplo das sábias palavras citadas por Mário Sérgio Cotella1, “o mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para o nosso mundo”, devemos não só estar conscientes, como também conscientizar a todos sobre os cuidados com a natureza e a preservação do meio ambiente em que vivemos. 6. O QUE FAÇO COM UMA IMAGEM QUE PERTENCEU A UMA PESSOA FALECIDA? Nessas situações, somos orientados, primeiramente, a defumar a referida imagem com cigarro, charuto, ervas ou incenso (isso dependerá de qual o elemento que a ela se relaciona), banhando-a posteriormente com manjericão macerado. Por fim, devemos entregá-la à pessoa da família que tenha devoção. Caso seja um ente próximo e você queira ficar com a imagem, acenda uma vela referente ao Orixá ou Guia correspondente para que se faça a devida consagração. 7. O QUE FAÇO COM A SOBRA DOS TRABALHOS FEITOS EM CASA? Em nosso terreiro, somos orientados a despachar em lixo ou em água corrente as sobras dos trabalhos ou firmezas feitos em nosso lar. Por exemplo, restos de vela, incenso, charuto, alimentos, papéis etc., despachamos diretamente no lixo de nossas casas, separando o lixo orgânico do reciclável, ambos devidamente acomodados e ensacados. Substâncias líquidas como café, vinho, chás ou restos de banhos, despachamos em água corrente, podendo ser numa pia de cozinha ou num tanque na área de serviço, nunca em banheiros Filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro. É autor de vários livros, entre os quais Por que Fazemos o que Fazemos?, em que analisa a vida profissional na contemporaneidade.
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ou lavabos. Restos de plantas, flores, ervas e similares, descartamos em vasos com plantas ou em algum jardim mais próximo, dando o mesmo destino à água dos copos utilizados junto às velas. Mais uma vez ressalto que é de suma importância termos consciência de nossos atos e cuidados com o meio ambiente, despachando nossas sobras em locais permitidos e seguros, sem agredir ou poluir a natureza, e estarmos sempre comprometidos com a preservação ambiental. Em seu livro intitulado Umbanda e Meio Ambiente2, o escritor Giovani Martins traz assuntos relacionados às questões ambientais, aos novos paradigmas e desafios que surgem com o terceiro milênio, e o uso sustentável de recursos naturais, temas de extrema importância aos adeptos da Umbanda e à toda sociedade como um todo. “O umbandista não precisa de uma catedral como só o gênio humano é capaz de construir. Ele só precisa de um pouco de natureza, como só Deus foi capaz de criar.” Ronaldo Antonio Linares (Babalaô, escritor e jornalista) 8. POSSO VISITAR OUTROS TERREIROS? Não há problema algum em visitar outras casas, contanto que se faça com o consentimento de seu Pai ou Mãe de Santo. A experiência em conhecer outros terreiros é sempre positiva para o filho de Umbanda, desde que sejam locais sérios e comprometidos com a fé. Em nosso terreiro, somos orientados a levar a guia branca de Oxalá para nossa proteção e, no caso de médiuns mais experientes, poderão ocorrer incorporações. Como já foi dito, embora os fundamentos sejam únicos, as práticas variam entre terreiros, por isso, nunca faça comparações entre sua casa e as demais, nem tampouco julgue se as práticas lá adotadas são certas ou erradas, pois todas essas desigualdades são peculiares à nossa religião. Respeite todos os terreiros, assim como todos os médiuns e seus Zeladores. E respeite, principalmente, Umbanda e Meio Ambiente: Ações sustentáveis e novos paradigmas. São Paulo: Ícone Editora, 2014. 2
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as diferenças existentes em cada prática, observando e aprendendo com essa pluralidade, o que faz de nossa Umbanda uma religião única. 9. POSSO DEFUMAR MINHA CASA? QUAL O PROCEDIMENTO? O ideal é que a defumação no lar ou em outros locais seja feita com a permissão do Pai ou Mãe de Santo responsável pelo terreiro que você frequenta. É muito comum, não só entre os umbandistas, a prática da defumação em casa, mas nem todos conhecem o procedimento correto e os cuidados necessários. Muitos repetem aleatoriamente as práticas feitas no passado, por parentes ou conhecidos, mas se esquecem do princípio fundamental, que é a fé. Só através da fé e da proteção de seus Guias, você poderá limpar, descarregar, quebrar demandas ou purificar as energias de um ambiente com eficácia e segurança. O despreparo poderá comprometer o objetivo e até prejudicar quem a pratica. As forças que são evocadas através das preces que acompanham a defumação, são poderosos mantras que, pronunciados com determinação, extinguem, limpam, revigoram e purificam qualquer ambiente, livrando-o de toda energia negativa, miasmas3, larvas astrais4 ou forças destrutivas que possam estar prejudicando a vida dos que ali residem. Por isso, a prática da defumação deve ser conduzida por uma pessoa que tenha a devida formação espiritual, experiência, conhecimento e fé. A defumação pode ser feita com incenso ou defumador através de um turíbulo (receptáculo com carvão vegetal em brasas contendo as ervas e misturas que serão defumadas). Existem também defumadores em tablete, muito utilizados para trazer harmonia ao lar, o defumador Mãe Maria, próprio para limpeza, proteção e abertura de caminhos e o defumador Divino, que dispensa o uso da brasa para combustão. Daremos como exemplo, o procedimento para o uso Ver Glossário Capítulo 7 4 Ídem 3
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do carvão em brasa, método bastante comum nas defumações caseiras, objetivando o descarrego e limpeza do ambiente. Em um turíbulo ou recipiente de metal, acenda o carvão colocando por cima uma mistura de palha de alho, pó de café e fumo de rolo. Inicie a defumação a partir do cômodo situado na parte mais interna da residência, caminhando sentido a porta principal, passando por todos os locais de sua moradia. Os banheiros e lavabos não necessitam de defumação, por se tratar de locais de descarga. A defumação deverá ser feita nos quatro cantos de cada cômodo, em forma de “X”, deixando por último o canto da porta. Devese defumar muito bem atrás de cada porta, pois os cantos escondidos facilitam a impregnação de energias negativas. Durante a defumação, através das orações, pedimos para que todos os males sejam afastados, para que o ambiente fique limpo e purificado, livrando-o de toda energia negativa que possa estar prejudicando os moradores. Ao findar, após nos certificamos de que a brasa foi totalmente consumida e não há mais fogo, somente as cinzas, embalamos as sobras cuidadosamente, dispensando-as no lixo fora de casa, sempre nos assegurando de que não haja brasa ou qualquer fagulha acesa, para que não ocorra nenhum risco de incêndio. Lembre-se que a segurança é um fator primordial, por isso, velas acesas, incensos ou mesmo defumadores, devem ser manuseados com total segurança para evitar qualquer tipo de riscos ou acidentes. 10. QUAIS AS PLANTAS QUE POSSO TER EM CASA? Você pode cultivar em casa as plantas que quiser, desde que cuide com carinho pois, assim como nós, são seres vivos que merecem toda dedicação e atenção necessárias. Regar habitualmente, trocar a terra de tempo em tempo, aparar as folhas secas, deixá-las em local que apanhe sol sem demasia, são alguns cuidados básicos que todos devem ter. Em casa eu cultivo aroeira, manjericão, arruda, comigo-ninguem-pode, espada de 83
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Ogum, espada de Iansã, guiné, alecrim, dentre outras variedades. Importante pedirmos licença aos nossos Caboclos toda vez que formos manuseá-las ou mesmo colher folhas para banhos ou chás. 11. POSSO INCORPORAR EM CASA? Por se tratar de uma questão bem controversa, devemos respeitar as diversidades de opiniões. Em nosso terreiro, temos uma postura muito definida em relação a incorporação no lar. Toda casa de Umbanda possui, obrigatoriamente, todos os recursos de segurança necessários para sustentar as inúmeras tarefas lá desenvolvidas e suas habituais obrigações. Na Tronqueira, os Exús fornecem, através de seus potentes campos de força, a estrutura e barreiras que guarnecem o espaço físico e etérico, trazendo a segurança aos médiuns e consulentes ali presentes. O que ocorre também com a Casa das Almas, que emana suas forças espirituais e encaminha os espíritos obsessores para seu lugar de merecimento, tornando o terreiro um local seguro. Toda casa de Umbanda é um espaço sagrado, munido de todos os recursos firmados e consagrados para a proteção do ambiente e das pessoas que ali frequentam. Como diz o ponto “Nessa casa tem quatro cantos, cada canto tem um santo (...)”, temos, a partir da entrada do terreiro e nos demais espaços sagrados, toda proteção necessária aos filhos, à assistência e à todos os trabalhos ali desenvolvidos. Sendo assim, o médium que incorpora no terreiro possui a certeza de sua segurança e que nunca correrá o risco de algum kiumba ou espírito de baixa frequência interferirem em suas incorporações. Isso já não ocorre em nossos lares, pois mesmo com o Altar caseiro que muitos possam ter, nunca substituirá as forças e proteções necessárias que um terreiro oferece. Nosso lar é um local profano e despreparado para a prática mediúnica, o que poderá tornar essa experiência nociva às pessoas que lá vivem. Embora saibamos que, em determinadas circunstâncias, a incorporação fora do terreiro poderá se fazer indispensável e necessária, 84
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recomendamos, nesses casos, muita prudência, pois não há um rito que discipline e garanta a plena segurança durante tais manifestações. Sempre procurei conciliar minha vida familiar, profissional, social e religiosa, de forma equilibrada, para que nenhuma interferisse na outra. Penso que todo médium deva ter essa preocupação, sem nunca se dedicar demasiadamente a nenhum lado. A família é a grande prioridade em nossas vidas, mas não poderá acarretar o isolamento, separando-nos dos amigos ou de nossos compromissos de fé. Tampouco devemos colocar nosso trabalho acima de tudo. O mesmo acontece em nossa vida religiosa, que deverá ser vivida com dedicação, nunca com fanatismo, pois dessa forma, o umbandista correrá o sério risco de se tornar uma pessoa radical e inoportuna. Pessoas que se entregam em demasia à religião acabam se afastando, muitas vezes, dos amigos e dos próprios familiares, contrapondo os valores básicos de nossa doutrina, que tanto preza as verdadeiras amizades, e, acima de tudo, a família. Religião, como tudo na vida, só é boa para quem está apto a conduzi-la com sensatez, pois somente assim conseguiremos vivê-la com plenitude, equilíbrio e, consequentemente, com felicidade. Nesses anos vividos como Filho de Santo, aprendi que a constante busca por conhecimentos é intrínseca à nossa evolução espiritual, e durante nosso desenvolvimento mediúnico, carregamos conosco cada experiência vivida nesse percurso. Descrevo, a seguir, uma das mais emocionantes e inesquecíveis experiências que vivenciei nessa minha trajetória como Filho de Santo. Foi em meados de 2013, durante uma gira de desenvolvimento, que uma entidade se manifestou, através de meu corpo físico, pela primeira vez. Após a abertura da gira, Pai Rompe Mato “puxava” os pontos cantados, convocando os falangeiros de cada Linha a se manifestarem em terra através dos médiuns ali presentes. Recordo que, ao iniciar os pontos evocando os Caboclos, tive a súbita sensação de que meu corpo parecia “flutuar” e, com a cabeça girando, comecei a caminhar cambaleante pelo terreiro. Senti que, próximo a mim, Pai Rompe Mato me observava e meus irmãos, fazendo um círculo ao meu redor, me amparavam, pois eu tinha a nítida impressão de que, a qualquer momento, me desequilibraria e cairia no chão. A energia era indescritível e extremamente forte, 85
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as palmas, o som dos atabaques, o cântico, o cheiro de ervas, tudo isso foi me deixando parcialmente ausente, num estado de semiconsciência, me sentindo conduzido por uma força maior. Nesse momento, a entidade que se manifestava tomou a frente, desligando-me de tudo que acontecia ao meu redor. Foi como tivesse me ocorrido um “apagão”, pois perdi a noção de tempo e espaço. Quando voltei a mim, estava em pé no centro do terreiro, com os olhos molhados de lágrimas, invadido por uma profunda sensação de paz e extasiado com a experiência que considero até hoje, a mais linda vivida por um filho de fé. Perguntei a um irmão mais velho o motivo de minhas lágrimas e ele respondeu que, quando ocorre a primeira incorporação, muitas vezes a entidade se emociona com o momento, chorando de felicidade e compaixão. Passado um tempo, fui comunicado espiritualmente que essa entidade manifestada no terreiro era conhecida como Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema. A partir desse instante, percebi que minha vida adquiria um sentido muito maior daquele que, um dia, eu pudesse imaginar. QUEM É CABOCLO SETE FOLHAS5? Esse índio nascido no meio da Mata Atlântica, é um verdadeiro filho de Oxóssi. Viveu na Tribo dos Paí Tavyterã, no século XV, antes da chegada dos portugueses e dos espanhóis ao Sul do Brasil. Aprendeu sobre o poder das plantas medicinais e a arte da cura com seus ancestrais. Ele nasceu, cresceu e foi criado assim, para conhecer todas as plantas e todos os bichos das matas. Ele sabia lidar com todos os venenos e curar todas as maldições que se abatem sobre qualquer índio da aldeia - do mais novo ao mais velho. Ele recebeu de seus antepassados esse dom e a Mãe Natureza lhe abençoou com a sabedoria necessária ao seu desenvolvimento. Toda vez que entrava na Floresta, ele saudava Tupã - o Pai Maior - e pedia permissão aos Espíritos da Floresta para mexer com as plantas. Ele sabia a fase de cada Lua e quando deveria colher cada erva. Ele jamais feria um animal desnecessariamente, por isso os animais Disponível em: ts/429070043859505/> 5
<https://www.facebook.com/AxeEParaQuemTemFe/pos-
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lhe respeitavam. Se alguém em sua tribo necessitava de auxílio, ele prontamente lhe servia, com toda a humildade. Foi assim, que desde cedo recebeu o título de “curandeiro” e passou a ser chamado de “Sete Folhas”, pois toda vez que precisava preparar uma poção, ele dizia: pegue 7 ramos daquela erva, 7 galhos daquela outra, 7 folhas daquela ali e assim prosseguia, sempre usando o número 7. E quando lhe perguntavam por que o “sete”, ele respondia: “ - Porque Tupã fez o sete SAGRADO!” E assim viveu o Caboclo-Pajé Sete Folhas da Jurema: curando, benzendo, cuidando e ensinando. Ele foi um Mestre que jamais cansou de fazer o bem e de ajudar. Dizem que ele não morreu, ele “encantou”. Um dia, ele reuniu todos os filhos da Tribo e anunciou a chegada dos homens de pele branca e vestidos com roupas diferentes. Falou que seu tempo na Terra dos Homens estava acabando e que Tupã o chamava. Então ele entrou na Mata e desapareceu! Ao anoitecer, os índios ouviram o pio de uma coruja e um clarão nas matas se formou... E todos souberam que “Sete Folhas” tinha partido. Quando alguém estava mexendo com folhas na Aldeia, um vento soprava e levantava as folhas e alguém dizia: “É ele: é o Pajé das Folhas - porque todas as folhas lhe pertencem!” Novas manifestações ocorreram posteriormente, e, num curto espaço de tempo, vários Guias já se apresentavam através de minhas incorporações. Uma das primeiras manifestações foi com meu Exú, o qual ainda não tenho permissão para revelar seu nome, depois com Preto-Velho, e logo viriam Baiano, Boiadeiro, Cigano e Marinheiro, respectivamente. Alguns Caboclos falangeiros pertencentes a outras Linhas como de Ogum, Iemanjá, Oxum e Iansã, se manifestariam também nessa mesma época. Cada Linha ou vibração equivale à um grande agrupamento de espíritos que atendem a um determinado Orixá, responsável por suas respectivas falanges. Essas linhas foram homologadas no Congresso realizado no Rio de Janeiro em 1941, trinta e três anos após a fundação da Umbanda. Os nomes e significados das Sete 87
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Linhas podem variar, dependendo das origens, influências e características de cada terreiro. Para entendermos um pouco sobre as Sete Linhas na Umbanda, reproduzo abaixo um texto compilado por Pai Odé D’Loy. O QUE SÃO AS 7 LINHAS EXISTENTES NA UMBANDA? A Umbanda é formada por Sete Linhas que compõem as forças de trabalho. Essas Linhas correspondem aos raios de vida lançados por Deus sobre a Terra. As Sete Linhas formam uma força única e harmoniosa. Todas as entidades (espíritos) trabalham sobre a Lei das Sete Linhas. LINHA DE OXALÁ: chefiada por Oxalá, para ela convergem todas as demais linhas e seus respectivos Orixás, bem como todos os espíritos trabalhadores na Umbanda, uma vez que o sincretismo Oxalá / Jesus Cristo é perfeito. LINHA DAS ALMAS: Também chamada de Linha de Yorimá, essa linha é composta dos primeiros espíritos que foram ordenados a combater o mal em todas as suas manifestações, ensinando e praticando as verdadeiras “mirongas”. LINHA DAS MATAS: A vibração de Oxóssi e Ossanha significa ação envolvente ou circular dos viventes da Terra, ou seja, o caçador de almas, que atende na doutrina e na catequese. São invocações às forças da espiritualidade e da natureza, principalmente as matas. LINHA DA JUSTIÇA: Xangô é o Orixá que coordena toda lei cármica que afere nosso estado espiritual. Nesta Linha temos também a Orixá Iansã. LINHA DO AMOR: Oxum e Oxumarê são os Orixás desta linha. Suas vibrações eternizam o Amor. LINHA DAS DEMANDAS: Ogum é o fogo da salvação ou da glória, o mediador de choques consequentes do carma. É a linha das demandas da fé, das aflições, das 88
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lutas e batalhas da vida. Os Erês trabalham nesta linha amenizando o sofrimento e o cansaço. LINHA DA FERTILIDADE: Essa linha é também conhecida como Povo d’Água. Iemanjá significa a energia geradora, a divina mãe do universo, o eterno feminino, a divina mãe na Umbanda. Nesta Linha temos também a Orixá Nanã 6. Desde o início, as entidades que eu incorporava apresentavam-se de forma discreta, silenciosa e com gestuais comedidos, manifestando-se até os dias de hoje, dessa mesma maneira. Determinadas entidades se revelaram durante a incorporação no próprio terreiro, como o Boiadeiro Zé da Boiada, que atua na Linha do Sr. Chapéu de Couro, e o Baiano Zé do Coco; algumas se apresentaram em sonhos, como o Exú-Mirim Pinga-Fogo e o Caboclo Sete Folhas, outras, conscientemente através de intuições, a exemplo do Preto-Velho Pai Thomé e do Cigano das Pedras. Ouvir os Guias se revelarem ou mesmo se comunicarem através de incorporações, sonhos, intuitivamente ou conscientemente, requer do médium muita atenção a tudo que acontece a sua volta, em seu dia a dia. Muitas vezes, um fato isolado aparentemente sem grande importância, mas que nos chama a atenção, poderá ser um sinal de nossas entidades. Segundo Alan Barbieri7, devemos estar receptíveis a todas as formas possíveis de mensagens vindas do plano espiritual, como citado em texto de sua autoria, abaixo reproduzido. (...) Os reinos espirituais falam-nos de muitas formas e precisamos, ao longo do nosso desenvolvimento, dar a nós mesmos a chance de ouvi-los e não apenas querer ser escutado nos nossos anseios e nossas expectativas. Nesse sentido, frequentemente, as pessoas acham que os Guias falarão com elas presencialmente, como uma voz que surge do nada para dizer aquilo que precisamos saber. Mas a verdade é que esse tipo de comunicação, típica de médiuns clariaudientes, é bastante rara. Comumente, somos levados a situações ou recebemos mensagens de modo indireto. Disponível em: Apostila ABESMA, 2016. Médium e sacerdote de Umbanda, fundador do Templo Escola Casa de Lei, fundador da web-rádio Toques de Aruanda, diretor do Estudar em Casa, youtuber, escritor e diretor de comunicação e marketing da editora Mariwô. 6 7
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É um filme que assistimos e que nos toca pessoalmente, é um novo caminho que impede a jornada corriqueira do nosso ônibus e que pode gerar algum aprendizado, é um amigo, ou mesmo um desconhecido, que nos fala sobre algo que estamos vivendo. As formas e os meios podem ser tantos que fica impossível fazer uma lista aqui. Mas o que eu quero deixar é o ensinamento de que nossos amigos espirituais arrumarão formas de se comunicar conosco utilizando-se dos meios em que estamos inseridos. O que nos falta é a fé de que estamos sendo guiados e a certeza de que somos especiais, como tudo que Deus criou, portanto somos orientados e protegidos. Frequentemente, esperamos coisas mirabolantes dos Guias e esquecemos que o mistério da vida está conosco o tempo todo e que somos merecedores de todos os ensinamentos e orientações da espiritualidade para sermos pessoas melhores. (...) 8 Com o passar do tempo, eu tinha a nítida percepção de que meus Guias exerciam, gradativamente, um maior domínio sob meu corpo físico, mesmo ocorrendo alguns eventuais desequilíbrios durante as incorporações. Ainda assim, me sentia cada vez mais seguro, e me esforçava para que minha mente consciente não interferisse nesse processo. Aos poucos, as manifestações foram fluindo com mais facilidade, a medida em que abstraía-me e me concentrava. Quando conseguimos nos abstrair de tudo a nossa volta, proporcionamos a aproximação e a manifestação do espírito com maior fluência e naturalidade, e, nesse momento, nosso corpo físico e a entidade se completam num todo, assim como o leite completa o café, sem que nenhuma parte se anule ou perca sua personalidade, apenas tornam-se um. A esse processo denominamos incorporação semiconsciente. QUAL A DIFERENÇA ENTRE MEDIUNIDADE CONSCIENTE, SEMICONSCIENTE E INCONSCIENTE? A mediunidade consciente é aquela em que o médium está ciente durante toda a incorporação. Já a semiconsciente, o médium se encontra parcialmente consciente, tendo uma menor percepção das ocorrências Disponível em: <https://www.alanbarbieri.com.br/post/como-ouvir-os-guias-espirituais-e-entender-as-mensagens-que-eles-nos-enviam> 8
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durante a incorporação. A mediunidade inconsciente, ao contrário do que se imagina, ocorre com o consentimento do médium. Se faz muito mais intensa e, por esse motivo, o aparelho não se recorda do momento e dos fatos ocorridos durante o transe mediúnico, sendo essa a mais rara das incorporações. A cada gira, minhas incorporações se davam de maneira mais firme e natural, com os Guias manifestando-se através de meus gestos, minhas expressões e por último, de minha fala. Com a permissão de nosso Pai Rompe Mato para trabalharem no terreiro, essas entidades começaram a participar das Giras de consulta, oferecendo aos necessitados seus trabalhos através de benzimentos, passes, limpezas, descarregos, aconselhamentos ou simpatias, no cumprimento da missão a eles destinada. A nós, Filhos de Santo, nos foi designado o privilégio de desenvolver, através do dom mediúnico, nosso aprendizado e crescimento espiritual. Em seu livro Umbanda, mitos e realidades9, Iassan Ayporê Pery, dirigente do Centro Espiritualista Caboclo Pery, desmistifica, de forma clara e direta, a questão da incorporação considerada por muitos médiuns incautos, como caridade. “(...) Participar das sessões, dar passagem para as entidades, guias e protetores nunca foi fazer caridade, mas sim oportunidade de aprendizado e crescimento, pois que o maior beneficiado é o próprio médium. Já tive o desprazer de ouvir médium dizendo que está doando o tempo dele, emprestando o corpo dele para o guia fazer caridade. Quanta vaidade, empáfia e estupidez! Francamente! Ainda bem que estou encarnada e sei que muito tenho que aprender ainda, pois se sou guia de trabalho desse médium mandava ele as favas! Será que ele não vê nunca, não aprende nunca e não sente nunca? Será que está realmente com guia na cabeça? Sinceramente acho que não, pois a bênção que recebemos ao entrar em contato com nossos guias e protetores é insubstituível e se renova a cada gira. Esse médium não merece isso, mas principalmente o guia não merece um médium assim!” (...) QUAL A DIFERENÇA ENTRE BENZIMENTO, PASSE, LIMPEZA, DESCARREGO, SIMPATIA E SACUDIMENTO? 9
Umbanda, mitos e realidades, p. 75-76. Rio e Janeiro, 2008.
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Benzimento: Significa abençoar ou tornar bento. A palavra benzer vem do latim bene dicere, que significa bem dizer. Passe: Segundo Alexandre Cumino, “pode ser definido como a aplicação de um conjunto de técnicas mágicoreligiosas, além de explorar todos os recursos possíveis de imposição de mãos, utiliza elementos e técnicas variadas e até inusitadas”. Limpeza: é a cura para problemas gerados por energias negativas; Descarrego: ritual em que a entidade purifica o consulente; Simpatia: rituais e práticas utilizadas na Umbanda, que auxiliam aqueles que enfrentam problemas e buscam soluções na espiritualidade. A Simpatia pode ser uma combinação de vários rituais ligados a diferentes crenças, reunidas em um único rito. Sacudimento: Ritual de limpeza espiritual feito com folhas batidas na pessoa ou ambiente. Durante o desenvolvimento mediúnico de todo umbandista, as dúvidas e inseguranças são uma constante que nos levam a indagar, principalmente, sobre a veracidade de nossas próprias manifestações espirituais, como “até que ponto sou eu ou a entidade que está falando com o consulente?”, ou mesmo “até onde posso afirmar que não estou interferindo nas falas e conselhos proferidos pelos Guias?” Reproduzo abaixo um texto10 compilado na Apostila ABESMA 2020 que esclarece essas dúvidas. SOU EU OU A ENTIDADE, COMO SE LIVRAR DA ETERNA DÚVIDA? Esta é, talvez, a dúvida mais comum aos médiuns iniciantes. E se sua resposta fosse simples, não seria mais dúvida alguma. Na verdade, a interferência de médiuns no contexto da incorporação é muito comum no princípio do desenvolvimento e deve ser encarado 10 Disponível em: <https://casadopaibenedito.wordpress.com/mapa-do-site/estudos-sobre-umbanda/mediunidade-na-umbanda/duvidas-sobre-o-desenvolvimento-mediunico/>
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como algo normal. Somente com o exercício, o médium diminui sua ansiedade e cede espaço para que a entidade se manifeste com liberdade e clareza. Durante este período, o médium precisa de entrega absoluta a esta experiência, ignorar o julgamento alheio e recorrer sempre aos dirigentes do terreiro para ajustar o que for preciso. Não há regras absolutas. Contudo, há alguns indicadores típicos de interferência dos médiuns, seja na comunicação, seja na movimentação do corpo. O médium está comumente travado, restringindo a ação da entidade, quando: - A entidade incorporada não fala nada, mal se move nem sai do lugar; - O médium tropeça, se desequilibra ou cai com frequência no processo de aproximação; - O médium inicia o processo de incorporação, mas ele se rompe “no meio do caminho”. Por outro lado, são indicadores de animismo, de exacerbação da ação do espírito, quando: - A entidade grita muito, fala muito alto ou se movimenta exageradamente; - Quando há um excesso de tiques nervosos, sotaques ou ações incompreensíveis; - Quando o que ele diz não corresponde com a realidade ocorrida; - Quando o espírito manifesta opiniões que na verdade são do médium e não dele. Este último caso é sempre uma questão delicada de se analisar. Contudo, há uma dica que pode ajudar: a palavra de um espírito de Luz possui um tipo de sabedoria claramente identificada em seu discurso, mas que dificilmente pode ser vista no discurso do encarnado. Eles não tomam partido em conflitos terrenos. Guardam uma imparcialidade ímpar 93
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nestes conflitos, mesmo quando seus aparelhos estão envolvidos, pois reconhecem todos como filhos de Deus carentes de esclarecimento e auxílio nesta terra. Esteja atento a este tipo de sabedoria. Onde você encontrá-la, estará falando com um Guia autêntico. Dois anos após ter concluído meus estudos e me formado no ensino superior, estava prestes a abrir meus horizontes, incentivado pela minha família e pela minha fé. Foi quando nasceu a ideia de criar uma editora de livros e revistas, aproveitando meu conhecimento e experiência profissional obtidos nesses 6 anos de universidade. A Editalivros Produções Editoriais nasceu no início do ano de 2015, focada no mercado editorial e que hoje dispõem de variado acervo, tanto em suporte impresso, quanto eletrônico (e-book). Nessa época, estava muito voltado aos meus compromissos espirituais, cumprindo os preceitos11 e obrigações sacramentais, atendendo as orientações do Sr. Caboclo Rompe Mato, responsável pela formação e desenvolvimento mediúnico dos filhos da casa. SACRAMENTOS NA UMBANDA Os rituais realizados durante a formação espiritual do Filho de Santo, conhecidos como sacramentos, podem variar em cada terreiro, dependendo da Linha que a casa segue ou da própria formação do Dirigente responsável. Os mais praticados são: • INICIAÇÃO: Ritual no qual a pessoa se prepara para se tornar filha ou filho de Orixá. • BATISMO: é a apresentação às divindades da Umbanda, para que enviem suas vibrações ao espírito encarnado, passando a receber a proteção dos Orixás. • DEITADA (ou camarinha): Ritual para firmar a energia do Orixá na cabeça de quem vai se deitar. • AMACI: Ritual da lavagem da cabeça do médium já Preceitos são práticas doutrinárias que aprofundam o médium com sua espiritualidade. Têm, portanto, o objetivo de potencializar a ligação do fiel com seu Sagrado. Geralmente, os preceitos envolvem abstenção sexual, restrição de certos alimentos, banhos de ervas para limpeza e purificação, dentre outros. O período de cumprimento dos preceitos varia de acordo com as regras de cada casa. 11
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desenvolvido, com ervas e outros elementos. Consiste na preparação da vibração deste médium para incorporar o seu Guia protetor, o qual dirá o trabalho que o médium deverá desenvolver. • CONFIRMAÇÃO: Ritual para médiuns que completam 21 anos de idade carnal e já pertencem à Umbanda e possuem o Amaci. • FEITURA: Ritual que consiste em vários ritos de limpeza e recolhimento ou resguardo, que poderá variar de 3 a 7 dias, de acordo com o Orixá da pessoa. • COROAÇÃO: é o momento em que o médium se recolhe e busca através do ritual do Bori,12 uma maior conexão com sua espiritualidade e com seu Pai de Orí. • CASAMENTO: A cerimônia é feita dentro próprio terreiro ou em outro local escolhido pelos noivos (praias, rios, cachoeiras etc.), sob o consentimento e orientação do sacerdote da casa. • ENCOMENDAÇÃO: Ritual feito no caso de velórios, cemitérios e outros. Sobre a indumentária utilizada nas giras de Umbanda, é comum notarmos algumas diferenças nos trajes adotados em cada casa. Em nosso terreiro, todas as peças são confeccionadas pela filha responsável por nossas vestimentas, como observado em outro capítulo. Além da roupa de ração (branca), que poderá ser usada em todas as giras, é padrão que os filhos utilizem camisa xadrez verde e branca nas giras de Caboclo, camisa xadrez preta e branca nas giras de Preto-Velho e, para as giras de Exú, calça preta e camisa vermelha. Nas demais giras usamos a roupa branca, com exceção da Gira de Cigano, para a qual meu Cigano das Pedras indicou-me o uso de túnica estampada em tom azul celeste. O ojá branco é comum para todas as giras. No caso das Filhas de Santo, a variedade ocorre nas estampas das saias, sendo também permitido o uso comedido de ornamentos como lenços, cordões e acessórios em geral, além do pano de cabeça obrigatório. Os trajes utilizados em nosso terreiro são exclusivos às giras correspondentes, e seu uso objetiva, além de expressar organização e hierarquia, 12
O bori prepara a cabeça do médium para que o Orixá possa manifestar-se plenamente.
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ampliar a conexão e facilitar a irradiação de nossos Guias, e nunca a vaidade ou exibicionismo. A Umbanda é uma religião simples e humilde, voltada para a caridade, portanto, futilidade e ego não fazem parte de nossa doutrina. Durante esses sete anos de terreiro, embora já tivesse feito inúmeros rituais com banhos de ervas a pedidos de meu Pai Ode D’Loy, eu possuía um conhecimento muito restrito sobre o assunto. As variedades são tantas que se torna difícil, mesmo para filhos mais desenvolvidos, conhecer cada erva, suas propriedades e funções. Sem pretender me aprofundar no assunto, mesmo porque seria impossível falar das ervas na Umbanda em um único parágrafo, relaciono resumidamente, algumas informações mais relevantes a respeito do tema, que poderá ajudar o médium iniciante ou mesmo alguns filhos mais experientes. Aos que optarem por um conhecimento mais aprofundado sobre o assunto, indico o livro de Adriano Camargo13 intitulado Rituais com Ervas – banhos, defumações e benzimentos.14 ERVAS NA UMBANDA Muito antes de sua utilização na Umbanda, o uso das ervas é comum na história da humanidade, desde seus primórdios. No Brasil, o uso das ervas medicinais era prática utilizada pelos índios que aqui viviam, em seus rituais sagrados. O conhecimento dos poderes das diversas ervas era adquirido e repassado de geração em geração. Até hoje o homem as utiliza em seu dia a dia, seja como tempero de seus alimentos, como também em defumações, banhos, rituais sagrados, tratamentos medicinais e terapêuticos, dentre tantas outras formas. Jesus disse: “Tua cura é do tamanho de tua fé”. As ervas, folhas e raízes possuem, cada qual, suas propriedades fitoterápicas que, através da oração, são ativadas em nosso próprio benefício. Há dois tipos de ervas: as frescas e as secas. Na defumação, 13 14
Sacerdote dirigente do Templo Escola de Umbanda Ventos de Aruanda. Rituais com Ervas – Banhos, defumações e benzimentos, São Paulo: O Erveiro, 2012.
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a erva fresca não é adequada pois seu excesso de água impede a queima dos elementos usados no defumador. Adriano Camargo, conhecido como “O Erveiro da Jurema”, qualifica as ervas da seguinte forma: I. QUENTES OU AGRESSIVAS II. MORNAS OU EQUILIBRADAS III. FRIAS OU ESPECÍFICAS I. QUENTES OU AGRESSIVAS - Por apresentarem um alto grau de toxidade, essas ervas devem ser manipuladas com muita prudência e bom senso. Todo e qualquer banho ritualístico deverá ser feito com moderação e sob a supervisão de seu Pai ou Mãe de Santo. Em caso de alergias ou propensões a problemas de pele, a atenção e os cuidados deverão ser redobrados. Ervas quentes podem causar sérias irritações ou até consequências piores, caso aplicadas em indivíduos de pele sensível, portadores de dermatite ou qualquer outro mal cutâneo ou alérgico. Alguns exemplos: Aroeira, Arruda, Casca de alho, Casca de cebola, Espada de São Jorge, Eucalipto, Espada de Santa Bárbara, Quebra-demanda e Guiné. II. MORNAS OU EQUILIBRADAS – Menos agressivas que as ervas quentes, são muito utilizadas em rituais e magias. As plantas frutíferas e flores se enquadram nessa categoria. Alguns exemplos: Abre-caminho, Alecrim, Alfazema, Aniz-estrelado, Benjoim, Boldo, Capim-cidreira, Manjericão, Cravo da Índia, Erva-Doce e Girassol. III. FRIAS OU ESPECÍFICAS – Sua ação é pontual, ou seja, quando usadas separadamente, desencadeiam o processo ao qual estão atribuídas diretamente. À 97
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exemplo, uma pessoa que sofre de problemas digestivos, aconselha-se o chá de Boldo (embora o Boldo esteja na categoria de ervas mornas, quando utilizado sozinho, ele apresenta a função específica das ervas frias). Alguns exemplos: Louro, Erva-cidreira, Camomila, Boldo, Folha de laranjeira, Maracujá, Carapiá, Hortelã, Gengibre, Ginkgo, Melissa e Jasmim. Podemos utilizar uma ou mais ervas em nossos banhos e defumações, geralmente de três a sete ervas, levando em conta suas propriedades e a finalidade a que se destinam. Num caso hipotético, cujo objetivo seja limpeza, equilíbrio e prosperidade, poderíamos preparar um banho com arruda, guiné, casca de alho, manjericão, pitanga, hortelã e louro. O sal grosso também pode ser usado eventualmente junto com as ervas, embora seja um elemento de considerada agressividade. Sua função é a limpeza pesada e pode ser utilizado moderadamente tanto em banhos como também em defumações, sempre em quantidades muito pequenas. Lembro-me de um episódio ocorrido no final de uma gira de desenvolvimento, em que uma entidade incorporada em um irmão aconselhou-me utilizar uma guia de aço em meu dia a dia. Nessa época, eu estava me destacando profissionalmente e isso talvez tenha chamado a atenção ou mesmo despertado a inveja de algumas pessoas na empresa, tornando-se indispensável seu uso. Essa minha guia, consagrada na vibração de Ogum, é composta por 7 espadas de aço e uma estrela de cinco pontas, a qual utilizo até os dias de hoje. Como bem sabemos, a inveja, o olho gordo e a cobiça emitem energias negativas muito fortes e destrutivas, podendo prejudicar qualquer pessoa despreparada ou desprotegida. Abaixo, reproduzo um texto extraído do site Ação Cristã Vovô Elvírio (ACEV), escrito pela médium Luiza Cruz.
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GUIA DE AÇO (...) A guia de aço é um colar simples, com um crucifixo, ambos feitos de aço e, após imantada por uma entidade dirigente, atua como um amuleto para a nossa proteção. O aço (que é, em resumo, uma “mistura” de ferro [Fe] com carbono [C] atrai para si ou repele algumas das energias que poderiam nos prejudicar e, quando a guia é imantada, essas funções são potencializadas a nosso favor. Por esse motivo, de vez em quando, esse instrumento arrebentará ou terá sua coloração natural alterada. Isso significa que atingiu o fim ao qual se destinava, ou seja, cumpriu a sua missão. Então, uma nova guia deve ser adquirida e levada para o mentor benzer e a guia estragada deverá ser descartada. O aço é um excelente condutor de energia elétrica e possui uma aura fortemente radioativa. A guia de aço transforma-se num excelente captador de energias deletérias de baixo teor energético, desagregando esses baixos fluidos, não permitindo seu alojamento e, consequentemente, a criação e proliferação de miasmas e larvas astrais nos corpos sutis e físicos do homem. (...)15 É comum que alguns Guias, com o passar do tempo, solicitem aos seus médiuns velas, fumos, incensos, patuás ou qualquer outro objeto que necessitem em seus trabalhos. No caso do Sr. Cigano das Pedras, logo nas primeiras incorporações, já havia me solicitado, além do uso da túnica azul, que providenciasse 7 pedras de cores variadas a serem utilizadas por ele durante as consultas. No dia em que fui comprá-las, lembrei-me de suas palavras: “Estarei, através de sua mão, escolhendo as pedras que quero”, e assim o foi. Na loja de artigos religiosos, havia um grande cesto de vime com centenas de pedras que variavam em tamanho, formato e cor. Fechando os olhos, fui pegando aleatoriamente as sete pedras solicitadas, uma a uma. Ao final, havia sete lindas pedras, cada uma de uma cor, escolhidas pela entidade. Acomodei-as em uma antiga caixa de madeira, seguindo a orientação do próprio Guia, que as tem utilizado até hoje em todas as suas Giras. Disponível em: <http://acve.com.br/index.php/jornal/item/260-guia-de-aco-na-umbanda> 15
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Pedras e cristais são elementos que se fazem muito presentes nas práticas de nossa religião. Por se tratar de um assunto complexo e de infinita variedade, se torna difícil relacioná-lo aqui, qualificando cada qual e suas respectivas funções, e fugiríamos ao propósito desta obra. Abordaremos o tema de maneira concisa, para que os neófitos tenham uma ideia básica e, caso queiram aprofundar-se, relaciono alguns livros para leitura ao final desta obra. PEDRAS E CRISTAIS NA UMBANDA Desde tempos imemoriais o poder das pedras como catalizador, condensador e irradiador de energia, já era conhecido e sempre esteve presente nas práticas de diversos rituais sagrados. Reis e Rainhas as utilizavam cravejadas em suas coroas, cetros e vestimentas, como ornamentos sacerdotais, amuletos ou talismãs, acreditando na proteção e poderes mágicos que os proporcionava, além de seu uso terapêutico. Em nossa religião, são comuns as pedras aplicadas nos colares utilizados por Caboclos, Pretos-Velhos e outras entidades, além de seu uso em vários pontos riscados. O Otá é a pedra de assentamento presente nos altares dos terreiros e, mesmo na Tronqueira, constatamos a utilização das pedras, além de outros minerais. É indiscutível o poder que as pedras e cristais emanam e sua relação com as forças da natureza, e a partir daí, sua vasta utilização na Umbanda. Segundo Rubens Saraceni, “(...) uma pedra natural tem seu magnetismo próprio e permanente; tem sua forma inalterável de irradiar-se; alimenta-se de certos tipos de fatores, de essências, de elementos e de energia. Cada uma é um universo em si e é um portal para outras dimensões da vida (...)”.16 Cada Orixá se relaciona com uma ou mais pedras, como descrito a seguir: OXALÁ – Quartzo Branco EGUNITÁ – Calcita Laranja, Topázio ou Ágata de Fogo 16
A Magia Divina das Sete Pedras Sagradas, São Paulo: Madras Editora, 2008.
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IANSÃ – Citrino IEMANJÁ – Água Marinha, Zircão ou Diamante LOGUNÃ – Quartzo Fume Rutilado NANÃ – Ametrino ou Rubelita OBÁ – Madeira Fossilizada ou Calcedônia OBALUAYÊ – Ametista ou Turmalina Negra OGUM – Granada, Rubi, Sodalita ou Hematita OMULÚ – Ônix Negro OXÓSSI – Quartzo Verde ou Esmeralda OXUM – Quartzo Rosa ou Ametista OXUMARÉ – Fluorita ou Opala XANGÔ – Jaspe Vermelho ou Marrom, Pedra do Sol Muito se tem falado a respeito de resgate do carma, dívidas de vidas passadas, leis de ação e reação, causas e efeitos e por aí afora. Na Umbanda, entendemos que carma (kharma, em sânscrito – antiga língua sagrada da Índia) não é sinônimo de “peso”, “castigo” ou “penitência”, que o indivíduo carrega como um “eterno fardo”, durante seus diversos estágios evolutivos. Carma é o resultado moral de nossas intenções, pensamentos e comportamentos, definidos em nossas ações e atitudes, sejam elas boas ou más, objetivando a plena evolução espiritual. O QUE É CARMA? Carma nada mais é que a chance de resgatarmos e aprendermos com nossos próprios erros ou acertos. Assim, como a criança comete suas falhas ou acertos e seus pais a coíbem ou a estimulam durante sua vida, nosso Pai Maior, em sua imensa sabedoria, nos mostra das mais variadas formas, as consequências de nossas ações, para que possamos enxergar, aprender e evoluir. Carma seria então a oportunidade de aprendermos através de nossas ações, corrigindo e aprimorando nossos passos durante a experiência encarnatória – ou, como disse Norberto Peixoto: “Existe uma lei de justiça 101
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universal, que determina a cada um colher o fruto de suas ações, que é conhecida como Lei do Carma”. (PEIXOTO, 2006, p. 17) Não se trata do conceito “olho por olho, dente por dente” ou o famoso “aqui se faz, aqui se paga”, pois em nossa religião, carma não significa vingança, castigo ou pecado, mas sim a chance de evoluirmos através da Justiça Divina que age sobre nós como retorno de todas as nossas ações. Rubens Saraceni, em seu livro Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada, define que “resgatar um carma não é sofrer, mas sim aprender a lidar com sentimentos, reequilibrar-se emocionalmente, reparar débitos com fé, amor e caridade”. Somos reflexos de nossas ações e intenções, e evoluímos a cada resgate que a Lei Divina nos proporciona, revendo nossos débitos ou méritos e cumprindo a missão a qual todos estamos destinados, em busca do aprimoramento e da evolução espiritual, desenvolvidos a cada ciclo reencarnatório. Abordaremos agora três assuntos muito polêmicos, principalmente quando analisados sob o ponto de vista religioso. São eles: Aborto, Suicídio e Morte. 1. ABORTO E UMBANDA Este livro não objetiva questionar a prática do aborto, nem deliberar o certo ou errado, mesmo porque o julgamento final caberá exclusivamente à Justiça Divina. A intenção é a reflexão, a partir do olhar da Sagrada Umbanda. O aborto não pode ser tratado como tabu nem tampouco como um assunto proibido, mas sim um fato que acompanha a sociedade desde os primórdios, e toda iniciativa que traga luz e promova o debate construtivo, será essencial e benéfica. A Umbanda, mesmo não apoiando a prática do aborto, também não a coíbe. Nossa religião defende e prioriza, acima de tudo, a manutenção pela vida e a evolução humana. Reproduzo abaixo um trecho do texto publicado no Jornal do Templo Umbandista Caboclo Caçador - TUCC. 102
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(...) O espírito renasce para evoluir, aprender a usufruir e praticar o amor, a humildade e a caridade. Isso não acontece somente na gestação, mas com o desenvolvimento e a vida em família e na sociedade. A responsabilidade dos pais não acaba junto com o nascimento do bebê. Eles recebem a missão de cuidar, educar, aperfeiçoar e auxiliar no bem-estar futuro do novo ser. Quando a mulher decide pelo aborto, está abdicando do compromisso assumido no plano espiritual, da mesma forma, quando abandona a criança depois do nascimento. O homem que incentiva o aborto, ou renega os filhos já nascidos, comete o mesmo erro. Toda decisão que tomamos hoje, repercutirá no futuro. A liberação do aborto não trará consequências maiores dos que as que já temos, mas isso só será feito com muita educação e conscientização. Muitos são os motivos que levam uma mulher optar pelo aborto. Não nos compete o julgamento. O aborto deve ser direito de todos? Pode até ser que sim, desde que saibam que as Leis de Causa e Efeito entrarão em curso e que para cada ação haverá sempre uma reação. Não somos juízes. Todos estamos submetidos à Justiça Divina. A nossa religião não apoia o aborto, contudo não condena quem o pratica. A Umbanda não exclui, acolhe. Nosso objetivo é o aprimoramento moral e espiritual de forma gradativa. (...)17 2. SUICÍDIO E UMBANDA Pode-se dizer que o suicídio está entre as dez principais causas de morte. A cada ano, mais de um milhão de pessoas no mundo tiram a própria vida e um número ainda maior de indivíduos tenta suicídio. A prevenção é possível através de ações que requerem uma ampla articulação em rede, envolvendo famílias, poder público, comunidades de fé e sociedade como um todo, além de uma escuta ativa, que deve sempre estar presente nesses diálogos. Texto adaptado por Regina Celia S. Dezonne. Disponível em: <https//www.acentelhadivina.org/single-post/2015/11/17/ABORTO>. 17
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Segundo Gihad Abbas, Pai de Santo e presidente da Uniterreiros18, não só o suicida e a pessoa com depressão devem ser acolhidos, mas também a família. “A sociedade em geral tem que discutir esse assunto. Muitas vezes, a pessoa pode apresentar um estado depressivo sem que a família perceba. O diálogo se faz fundamental para enfrentar a questão. Não podemos tratar o assunto como tabú e nem fingir que isso não está acontecendo. Todos os espíritos têm o direito de serem resgatados. O suicida, por carregar uma grande carga de mágoas, ressentimento e as diversas energias negativas que o levaram a cometer o suicídio, necessitará de um tempo maior para expurgar e eliminar esses sentimentos, e assim continuar sua escalada evolutiva.”19 3. COMO A UMBANDA VÊ A MORTE A Umbanda baseia-se no princípio da reencarnação, onde a evolução espiritual se dá a cada ciclo, sucessivamente. Chamamos de “alma” a essência espiritual que habita o corpo carnal, e “espírito” quando ele deixa esse envoltório. Na visão da Umbanda, a morte do corpo físico não significa o final da vida, mas sim um ciclo que se encerra. O ser-espírito continuará sua evolução, sendo encaminhado a um plano condizente com seus atos durante sua passagem pelo corpo físico. Segundo Marcos Peixoto, presidente do Centro Espiritualista Irmãos de Fé (CEIF), localizado em Grajaú (RJ), “O momento de morte é o momento em que o espírito se desprende do corpo, retorna a sua origem, mas a evolução do espírito continua, tanto no plano espiritual, quanto no retorno ao plano físico”. Mas Peixoto ressalva que o encarne não é a única vivência do espírito, já que o outro plano é um desdobramento desse, ou seja, existem escolas, hospitais, delegacias e cada espírito sabe o que deve fazer. No plano espiritual, 18 19
Disponível em: <https://www.uniterreiros.com.br/> Disponível em: <https://youtu.be/_3xc-fyqd0E>
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os espíritos têm consciência das pessoas que passaram por suas vidas e as reconhece, essa consciência não viria para o momento do encarne, para que ele pudesse ter novas oportunidades, com decisões livres de traumas e experiências do passado. Quando encarnado, as ações guiarão o tamanho da evolução do espírito. Isso influenciará nas outras vidas e no período em que ele ficará no plano espiritual. (...) A morte, apesar de ser um momento muito difícil para quem fica, é uma libertação das limitações corpóreas para o espírito, como complementa o presidente. “Na nossa cultura atual, choramos pelo luto, pela passagem, temos um conceito de que a morte é ruim, quando na realidade, com a nossa leitura espiritual, ela não é, mas sim uma libertação, o fim de um ciclo e o recomeço de outro”. Quando um fiel passa pelo momento de luto, a Umbanda lhes ampara com ações específicas, como explica Peixoto. “A questão do luto é acolhida nas sessões de atendimento, nas conversas com as entidades, PretosVelhos, Caboclos, Crianças e também com os Exús e Pombagiras, chamados por nós, Guardiões. Esses espíritos de Luz são a linha de frente, os representantes em terra, da força pura da natureza. Durante essas consultas o luto vai sendo tratado”. Porém, em casos mais graves, quando este método não funciona, é realizado o segundo grau de trabalho, como reforça Peixoto. “Temos o segundo grau de trabalho, chamado ‘tratamento de processo obsessivo’. Sabemos que as relações de vida e de morte às vezes criam laços, muitas vezes, conflituosos e os espíritos ficam atados por essas energias. Esse processo de luto não é somente para quem fica, mas também para quem vai e às vezes é necessária uma força maior para a libertação desses laços”. (...)20 Concluindo, cito as palavras do Caboclo Sete Folhas em atendimento a um consulente que havia acabado de perder um familiar, em que ele dizia: “Sinta a ausência 20
Disponível em <Abyny Homenagens | Compreenda a morte pelo olhar da Umbanda>.
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do ente que se foi, mas não viva a dor de sua partida”, deixando claro que a recordação sadia deve se fazer presente naturalmente, mas a revolta, o inconformismo e o sofrer excessivo são sentimentos prejudiciais tanto para o ente que se foi quanto para os que aqui ficaram. É interessante refletirmos sobre nossa trajetória na Umbanda, principalmente quando olhamos ao lado e vemos novos médiuns sendo designados para o trabalho espiritual e se tornando filhos, assim como acontecera conosco, tempos atrás. A experiência que o jovem umbandista vive hoje é semelhante a que vivemos há alguns anos em nossa iniciação. As inseguranças, receios, vergonhas, dificuldades, preconceitos e dúvidas, são as mesmas que surgiram em nosso passado, como imagens de um mesmo espelho. Essas dúvidas diminuem a partir do momento em que o médium amadurece, mas sempre haverá outras mais, devido à complexidade de nossa doutrina e do pouco tempo que dispomos e dedicamos à religião. Ainda esclarecendo algumas questões, destaco abaixo, sete perguntas elaboradas por jovens irmãos. 1. O QUE É FECHAMENTO DE CORPO? É um ato na Umbanda que fortalece a energia dos nossos guardiões, criando ao redor de nossa aura21 um escudo blindado, que nos protege das energias negativas e maléficas. Durante o ato, os filhos da corrente sentem sensações diversas, pois, primeiro é feita a busca e limpeza no íntimo de cada um eliminando as dores, temores, falhas e mágoas de origem espiritual, para depois, fechar a corrente protetora. 2. O QUE SÃO OS PONTOS RISCADOS? São os pontos de força da entidade que está em terra; ela risca no chão com a Pemba22 (geralmente branca) seus símbolos mágicos, de onde vem e de qual falange pertence. Cada desenho no ponto riscado tem um
Espécie de radiação luminosa e invisível que envolve o corpo humano e de outros seres. 22 Giz de formato cônico-arredondado feito de calcário. Apresenta-se em diferentes cores e é usado ritualisticamente em várias religiões afro-brasileiras. Sua principal função nos rituais é a escrita do ponto riscado. Usa-se também o pó de pemba em rituais específicos. 21
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significado e uma utilização: ele pode retirar do local energias ruins, ele pode promover purificações, inversões de energias, ou retornos das magias negativas. Pontos riscados são verdadeiros portais por onde são levados todos os males que o consulente tem e estão ligados ao astral, podendo atrair ou repelir energias.23 3. O QUE SIGNIFICA FIRMAR PONTO? Significa cantar o ponto relacionado a entidade que está se manifestando naquele momento, potencializando as energias e firmando os Guias durante a corrente espiritual. O Ponto Firmado pode ser apenas cantado como também riscado ou a combinação de ambos. Significa também quando o Guia dá seu ponto cantado e/ou riscado, como prova de identidade. 4. O MÉDIUM PODE IR AO BANHEIRO QUANDO INCORPORADO? Durante a incorporação, o corpo físico do médium se encontra plenamente ativo, manifestando todas as sensações e necessidades naturais que qualquer pessoa normalmente sente, como frio, calor, sede ou fome, além das necessidades fisiológicas. Nesse caso, a própria entidade poderá solicitar para que um cambono auxilie o médium a sair temporariamente de seu transe mediúnico, deixando-o livre para saciar suas necessidades, retornando em seguida, à gira. 5. SE EU NÃO DESENVOLVER A MEDIUNIDADE, MINHA VIDA VAI DESANDAR? Não. Assim como não é verdade que a vida da pessoa irá para frente se ela entrar para a Umbanda. Ao frequentar um terreiro, o indivíduo inicia seu desenvolvimento mediúnico e, consequentemente, seu processo evolutivo, conduzido pelos seus Guias e Espíritos de Luz. A partir do momento em que esse processo é interrompido, poderão surgir as dificuldades e obstáculos que outrora 23
Disponível em: Apostila ABESMA, 2020.
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prejudicavam sua vida, e isso ocorrerá não porque ele deixou a Umbanda, e sim porque abandonou suas práticas do bem, da caridade, da ajuda ao próximo e sua própria evolução espiritual. Nossos atos sempre gerarão consequências, e as escolhas competem a cada um. Assim como toda religião, a Umbanda é apenas a oportunidade e o meio através do qual cada indivíduo poderá colocar em prática o melhor de si. Segundo Alexandre Cumino, (...) A mediunidade não amarra ninguém, não desanda a vida e muito menos castiga quem não quer vivê-la. Ela é uma manifestação de um dos seus sentidos e, como bem colocou Pai Rubens Saraceni no livro Fundamentos Doutrinários de Umbanda, “muita gente diz que a mediunidade é uma missão bonita, mas se você não cumprir essa missão será punido. Mas, se a mediunidade é uma missão bonita, então não pode haver punição para quem não praticála.” (...) 6. O QUE SE ENTENDE POR ENCARNAÇÃO, DESENCARNAÇÃO E REENCARNAÇÃO? Encarnação – Quando o espírito torna-se carne; o espírito encarna no plano físico, renascendo num novo ciclo de existência. Refere-se também a uma encarnação específica, como o caboclo que foi médico em sua quarta encarnação. Reencarnação - as vezes que o espírito retorna, encarnando novamente. O objetivo da reencarnação na Umbanda é o aprimoramento e a evolução espiritual. Desencarnação – Também conhecido como desencarne, é quando o espírito deixa o corpo físico e transcende ao plano espiritual. 7. MAL OLHADO, OLHO GORDO E INVEJA EXISTEM REALMENTE? Estamos expostos em nosso dia a dia a todo tipo de energia, seja positiva ou negativa. Energias positivas 108
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curam e trazem o bem quando resultam de boa intenção ou de mediunidade desenvolvida, harmoniosa e de vibração positiva. Mas as energias negativas, conhecidas como mau olhado e olho gordo, típicos de pessoas invejosas, insatisfeitas e maldosas, podem prejudicar ou causar o desequilíbrio na vida de muitos. Nesse caso, os olhos canalizam essas energias inferiores e as emitem através do desejo de possuir o que outros possuem, como bens materiais, felicidade, saúde ou status, provocando a inveja e a cobiça. Todo cuidado é pouco para não nos expormos a estas energias, preservando e protegendo nosso corpo. A conexão espiritual é nossa arma mais forte contra essas energias destrutivas, por isso, a oração diária, as firmezas semanais para nosso Divino Anjo Protetor, além dos eventuais passes energéticos e banhos de descarrego promovidos nos terreiros de Umbanda e o uso de amuletos e patuás, são indispensáveis para a nossa preservação e proteção. Os Orixás na Umbanda são as Divindades responsáveis pelo amparo e evolução de todos os seres viventes. São os raios sagrados emanados por Olorum; são seres supremos responsáveis pelas Linhas Sagradas na Umbanda e que irradiam sua energia através de suas falanges que se manifestam em terra, embora sem nunca incorporar em nossos terreiros. Reproduzo abaixo um trecho do texto extraído do livro Orixás: Teogonia de Umbanda24, de Rubens Saraceni, que conceitualiza o termo Orixá com muita clareza. (...) A Umbanda é uma religião e como tal tem sua teogonia25 fundamentada em Deus e em suas divindades, em Olorum e nos orixás. Olorum é o Divino Criador de tudo o que existe e está em tudo o que criou. Já os orixás são em si mesmos as qualidades divinas manifestadas pelas individualizações do Divino Criador. (...) Logo, a Umbanda não é politeísta26 porque entende que cada orixá é apenas a divindade responsável por uma parte da criação, é a Orixás: Teogonia de Umbanda, São Paulo: Madras, 2002. Conjunto de divindades cujo culto constitui o sistema religioso de um povo; genealogia dos deuses. 26 Sistema ou crença religiosa que admite mais de um deus. 24 25
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manifestadora de uma qualidade do Criador e é a aplicadora de um dos aspectos divinos na vida dos seres, das criaturas e das espécies. Os orixás não são deuses, mas sim divindades de Deus, e não chamam para si o fim último dos seres, mas tão-somente os amparam até que evoluam, desenvolvam seus dons naturais, alcancem seus fins em Deus e tornem-se, também, manifestadores das qualidades divinas d’Ele. (...) E assim, pelas qualidades de Deus, vão surgindo as suas divindades, que na Umbanda são denominadas orixás, os Senhores do Alto ou dos níveis superiores da Criação, assim como são os senhores do orí (da cabeça) dos seus filhos. (...) QUANTOS E QUAIS SÃO OS ORIXÁS NA UMBANDA? Existem mais de 400 Orixás na mitologia iorubá, mas no Brasil apenas 16 são mais conhecidos e cultuados dentro dos terreiros de Umbanda, podendo haver diferenças de uma casa para outra. Em nosso terreiro cultuamos: OXALÁ – Orixá supremo na Umbanda, responsável pela criação do mundo e do homem; líder de todas as Linhas Sagradas e Pai de todos os Orixás da Umbanda. Os trabalhos na Linha de Oxalá buscam sempre a paz e a harmonia. Possui duas qualidades básicas: Oxalufã (Oxalá velho) e Oxaguiã (Oxalá jovem). Seu dia da semana é sexta-feira e sua cor é a branca. Seus símbolos são o cajado, o algodão e o pombo branco. Reino: Toda a Terra, principalmente no céu. IEMANJÁ – É a mãe de todos na Umbanda. Representa a maternidade e a unidade familiar. Rainha das águas, mares, marés, ondas e da vida marinha em geral. Seu dia da semana é sábado e suas cores, azul claro, prata e pérola. Simbolizada por espelhos, estrelas do mar e peixes. Reino: mar; superfície e fundo. NANÃ BURUQUÊ – É a mais antiga dos Orixás. Associada às águas paradas e à lama, é senhora da vida e da morte. Seu símbolo é o ibiri (feixe de ramos de folha de palmeiras enfeitada com búzios), seu dia da semana é sábado e sua cor é o roxo. Reino: Manguezal; lodo dos pântanos. 110
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OGUM – É a Divindade das guerras que comanda as linhas de defesa; Orixá do sangue que sustenta o corpo, da espada, da forja e do ferro. Senhor dos caminhos e das ferrovias, é o responsável maior pela vitória contra as demandas. Sincretizado com São Jorge, seu dia da semana é terça-feira e a espada e a lança são seus símbolos. Reino: Autoestradas e ferrovias. OXÓSSI – Exímio caçador de lança certeira e patrono da Linha dos Caboclos, é ligado à floresta, à árvore, aos antepassados. Rege a lavoura e a agricultura. Seu dia da semana é quinta-feira e seus símbolos são o arco e a flecha. Reino: Matas e florestas. XANGÔ – Divindade que rege o fogo, o trovão, os raios. Sua Lei é como a rocha, dura, justa e cega. Orixá da Justiça representa a vida, a sensualidade, a paixão e a virilidade. Seu machado conhecido como oxê é seu símbolo e representa a ideia de que todo fato tem, ao menos, dois lados, duas versões, que devem ser pesadas e avaliadas. Seu dia da semana é quarta-feira. IANSÃ – Senhora dos ventos, guerreira que comanda os raios, tempestades e trovões. Audaciosa, poderosa e autoritária, é também senhora dos espíritos desencarnados (eguns). É simbolizada pelos raios ou rabo de cavalo e seu dia da semana é quarta-feira. OXUM – Orixá da fertilidade, do amor e do ouro. Senhora das águas doces dos rios, das águas quase paradas das lagoas não pantanosas, das cachoeiras e também da beira-mar. Perfumes, jóias, colares e espelhos refletem sua graça e beleza. Seus símbolos são coração e espelhos, e seu dia da semana é sábado. OBALUAÊ – Orixá responsável pelas passagens de plano para plano, de dimensão para dimensão, é também conhecido como Omulú, em sua manifestação mais velha. É responsável pela saúde e pelas doenças e possui estreita ligação com a morte. Conhecido como médico 111
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dos pobres, seu símbolo é o xaxará com o qual afasta as enfermidades, trazendo a cura. Seu dia da semana é segunda-feira. Outros Orixás como Oxumaré, Obá, Tempo, Ossaim, Orunmilá, Logunedé e Euá, dentre outros, são também cultuados em diversos terreiros de Umbanda. A UMBANDA E A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA A influência cultural das religiões de matrizes africanas se mostra desde sempre presente, não só nos instrumentos musicais aqui utilizados como agogô, berimbau, reco-reco, tambor, afoxé, atabaque, ganzá, dentre outros, mas também e principalmente, na diversidade rítmica e melódica que compõem nossa música popular brasileira. Muito embora presente noutros ritmos brasileiros como maracatú, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada, maxixe ou maculelê, o herdeiro mais popular dessa influência ainda é o samba. Esses elementos também aparecem em nossa música atual, nos vários estilos musicais como rock, rap, indie, funk ou hip hop. A compositora, cantora e percussionista Alessandra Leão27, comenta: “Essas religiões de matriz africana e indígena têm uma relação bastante singular com a música, porque nelas a música nunca tem um papel secundário nos rituais e celebrações. É a música que conduz e sustenta a maior parte dos trabalhos, sendo fundamental para o transe, para a conexão e comunicação com o sagrado. (...) Para além dos rituais, a música de terreiro é de suma importância na formação cultural do Brasil, tanto quando se apresenta de maneira mais próxima à realizada nos terreiros, quanto quando influencia outros gêneros musicais, seja por meio dos ritmos ou de caminhos melódicos e poéticos.” Muitos dos chamados pontos cantados nos terreiros de Umbanda e Candomblé foram gravados por inúmeros artistas de nossa MPB, revelando um nicho significativo na indústria fonográfica, voltado para essa temática afro-religiosa. João Bosco, Vinícius de Moraes, Jorge Ben Jor, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Clementina de Jesus, Beth Carvalho,
27 Texto de divulgação sobre o disco “Macumbas e Catimbós”, lançado em maio de 2019 pela gravadora YB Music, indicado ao Grammy Latino como Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras.
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Clara Nunes, Gilberto Gil além de novos artistas como Rappa, Baco Exú do Blues, Metá Metá, MC Tha, Marilene de Castro, Rita Benneditto e Luiza Lian, dentre outros, têm gravado com grande frequência músicas de origem afro-religiosas, levando um pouco de nossa cultura para fora de nossos terreiros. Aos interessados, o site KBoing28 disponibiliza gratuitamente diversas obras nesse estilo, com áudio, letra completa e opção de salvamento em playlist. Um fato tão comum na vida de todo umbandista que ocorre inevitavelmente ao fim de toda gira, seja de desenvolvimento ou de consulta, é, pela necessidade de nos mantermos descalços durante os trabalhos realizados no terreiro, apresentarmos os pés sujos. Fiz questão de incluir nessa obra esse belo texto, de autoria do escritor Pablo de Salamanca, o qual reproduzo abaixo. PÉS SUJOS: UMA MENSAGEM DE PAI CIPRIANO29 Naquela tarde eu voltava de um trabalho de Umbanda, com certo cansaço, após tantas tarefas. Entrei no banheiro, em ritmo lento, ainda pensando nas várias atividades desenvolvidas. Ao entrar debaixo do chuveiro, que tinha uma boa água quente, pensei: “Vou esfregar bem esses meus pés. Não gosto deles assim, tão sujos!” Ali, passei vigorosamente uma bucha com sabão, até tirar todo o pó e a fuligem típicos de um terreiro, após uma sessão umbandista. Então, num dado momento, ouvi o preto-velho dizendo: “Seus pés ficam sujos, mas seus caminhos estão ficando limpos.” Não entendi exatamente o que ele quis me passar naquele momento, mas guardei sua frase na minha mente. Alguns dias se passaram e, às vezes, a frase de Pai Cipriano ainda me voltava à memória. Eu senti que meu entendimento estava incompleto e, dessa forma, emiti um desejo de compreender melhor. Então, quando surgiu uma oportunidade, em atendimento aos meus pedidos mentais, houve uma nova aproximação do preto-velho, para trazer um esclarecimento mais profundo. Ele me passou as explicações, que estão expressas na sequência. Disponível em: <https://www.kboing.com.br/radio-show/playlists/1939773/2973177/> 29 Disponível em: <https://www.facebook.com/sabedoriadeumbandaoficial/posts/1004676466354902/> 28
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“No passado, muitas pessoas dedicaram-se à magia, movidas por interesses próprios, que nada mais eram que suas paixões, fome de poder e de riqueza material. Não viam seu semelhante como irmão de jornada, na estrada da vida. Em boa parte das vezes, esses “bruxos” ou “feiticeiros” apenas se utilizaram do conhecimento das forças da natureza, para manipular outras pessoas e tirar proveito, prejudicando àqueles a quem deveriam considerar como irmãos. Assim, nesta caminhada egoísta, cheios de vaidade e orgulho, foram sujando a estrada percorrida, a cada passo, a cada vida. Diversos conhecedores da magia foram deixando rastros de dor, sangue e revolta, ou seja, os caminhos percorridos ficaram muito sujos. Hoje, muitos desses antigos magistas estão reencarnados como médiuns umbandistas, para prestar a caridade. Assim, quando vejo que um trabalhador espiritual da Umbanda volta para casa suado, cansado e com os pés sujos, meu coração se alegra. E junto comigo, outros pretos-velhos, também antigos praticantes da magia, nem sempre positiva, ficamos felizes, pois amparamos àqueles que erraram como nós. É preciso limpar a estrada que, aparentemente, ficou para trás. Então, meu filho, quando chegar em casa com os pés sujos, devido ao trabalho umbandista, repare bem que seus pés ajudaram a limpar um pouco a sujeira que espalhou no passado. Seus caminhos estão ficando limpos.” Ao terminar o influxo psicográfico do conteúdo passado por Pai Cipriano, fiquei satisfeito e agradecido à entidade. Olhei a minha volta e reparei num sabiá, que acabava de pousar a poucos metros de distância. Eu estava debaixo de algumas árvores, sentado com o bloco na mão, onde tinha anotado as orientações do guia. Alguns raios de sol chegavam ao solo. Um passarinho, que não identifiquei, cantava no alto de uma árvore. Havia verde e algumas flores a minha volta. Senti-me abençoado por aqueles instantes de paz, nessa vida tão atribulada que vivemos hoje. Nesse contexto, espero que o leitor que absorve este pequeno relato possa também sentir os momentos de serenidade, que agora sinto, enquanto finalizo este texto. Salve as Almas! Axé a todos! Como já foi falado em capítulo anterior, meu Pai de Santo veio do Candomblé de Angola Congo e a Umbanda que praticamos em nosso terreiro traz algumas características dessa vertente. A 114
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prática do jogo de Búzios é um exemplo dessas influências. É através do posicionamento das conchas que se estabelece uma comunicação direta com os Orixás. Pai Odé D’Loy utiliza o jogo de Búzios em situações diversas, como para identificar os Orixás de Cabeça dos Filhos da casa, apontar soluções para possíveis dúvidas ou problemas em nosso dia a dia, ou mesmo sabermos algo em relação a vidas regressas ou sobre nosso futuro. O JOGO DE BÚZIOS O jogo de Búzios teve sua origem na Turquia, e foi difundido na África durante sua invasão. Desde a escravidão até os dias atuais o jogo de Búzios tem sido praticado nos diversos terreiros espalhados pelo país, tanto de Candomblé, quanto de Umbanda. É através da leitura interpretativa das conchas e pedras arremessadas sobre uma mesa preparada, que as repostas às diversas questões, sejam amorosas, financeiras, familiares ou de saúde, formuladas pelos consulentes, são dadas pelos Orixás. Além de ser uma arte divinatória, o Búzios é o único jogo que permite descobrir se alguém fez algum trabalho espiritual, feitiço ou simpatia contra você. Dessa forma, sob a orientação dos Orixás, ele consegue desfazer as magias. Em 2018 eu completava 10 anos em minha vida como Filho de Santo e devoto de Umbanda, plenamente ciente e convicto de minhas obrigações espirituais, muito embora o desenvolvimento mediúnico seja uma constante em nossa religião e a prática da caridade, nossa missão maior e objetivo de nossa fé. Hoje, percebo com muita clareza o quanto podemos e devemos crescer através da Umbanda, seja nas palavras e conselhos dos Pretos-Velhos trazendo a sabedoria e a humildade tão necessárias em nossas vidas, na força dos Caboclos que nos torna mais determinados e confiantes no alcance de nossos objetivos ou mesmo na pureza dos Erês, que nos proporcionam a alegria e a felicidade de viver. Dessa maneira, quando há a dedicação e a seriedade no exercício da fé, consequentemente nos tornamos pessoas melhores. Não melhores que outros, mas melhores que nós mesmos, melhores 115
MINHA VIDA NA UMBANDA
do que fomos ontem, pois cada dia é uma oportunidade para nos aprimorarmos, reconhecermos nossas falhas, aceitarmos nossos limites e corrigirmos nossos defeitos. Essa é a real evolução que ocorre na vida do verdadeiro filho de Umbanda e que só é vivida se houver amor, humildade e dedicação no coração de cada um de nós. Relaciono abaixo quatro elementos constantemente presentes nas práticas ritualísticas e imprescindíveis em nossa religião. São eles: vela, água, pólvora e carvão. 1. VELAS O uso de velas na Umbanda se faz presente devido à sua simbologia e ao poder energético por elas emanado, quando firmadas por meio de preces. Gera o elemento fogo, um dos quatro elementos principais, recurso constante nos cerimoniais umbandistas. “As cores vibram em diferentes frequências energéticas, e seus significados podem mudar de acordo com a religião, a cultura, o país e as crenças pessoais. Listamos aqui alguns dos significados associados às cores das velas: - A vela branca representa a pureza e sinceridade. É utilizada para obtermos paz de espírito, harmonia, equilíbrio em nossas casas. Acende-se quando se deseja paz, limpeza, cura, reconciliação, harmonia e iluminação. - A vela vermelha deve ser acesa quando se precisa de coragem, ânimo, determinação, força, ação, dinamismo, vigor, proteção, conquistas e assuntos relacionados à matéria, trabalho e dinheiro, para que se tenha triunfo e evolução rápida dos acontecimentos. - A vela violeta ou lilás deve ser acesa quando há necessidade de transmutar as energias, transformar negatividade, ter inspirações, aumentar a intuição, combater o “stress” e acalmar-se. - A vela laranja deve ser acesa para ter força mental, aumentar a confiança, a criatividade, o entusiasmo, o 116
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
poder de atração e obter sucesso nos empreendimentos. - A vela rosa representa a beleza, o amor, a moralidade. Deve ser acesa em se tratando de assuntos amorosos, para fortificar relacionamentos afetivos. Boa cor para realizar os desejos do campo emocional e afetivo. - A vela verde simboliza a calma, a tranquilidade e o equilíbrio. Deve ser acesa quando se desejar a cura física e espiritual, fertilidade, estabilidade e abundância. - A vela amarela deve ser acesa quando há necessidade de cura energética, clarear a mente, abrir o intelecto, estudar, firmar os pensamentos, desenvolver a espiritualidade e ocorrer mudanças rápidas das situações. - A vela azul deve ser acesa quando se deseja adquirir calma, serenidade, sabedoria, desenvolver e trabalhar poderes paranormais, sensitividade, intuição e ter expansão nos projetos. - A vela marrom simboliza a justiça. Empregada para resolver problemas de justiça, desordem, desequilíbrios e perturbações.” 30 2. ÁGUA A água é muito utilizada nas religiões de matrizes africanas. Em muitos rituais ela aparece tendo um significado muito importante. A água está relacionada à fecundidade, riqueza e à feminilidade. Cada Orixá domina uma fonte própria de água como: rios, mares, lagos e cachoeiras. Colocar água sobre a terra significa não só fecundá-la, mas também restituir-lhe seu sangue branco com o qual ela alimenta e propicia tudo que nasce e cresce, em decorrência dos pedidos e rituais a serem realizados. Deitar água (jogar ao chão) é iniciar e propiciar um novo ciclo. Outro significado das águas de Oxalá no Candomblé, em que a água é reverenciada como elemento portador do axé da vida, é que ela é essencial para renovar situações. 30
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, pp. 12-13.
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É comum, ao se chegar a uma entrada de um Terreiro, que um filho da casa venha com uma quartinha com água e despeje esta água nos lados direito e esquerdo da entrada da casa. Este ato é para acalmar Exú e também para despachar qualquer mal que, porventura, possa estar acompanhando esta pessoa. Neste caso, a água entra como um escudo contra o mal. Os banhos litúrgicos chamados de amacís são a junção da energia das folhas com o força das águas. Estes banhos são utilizados nas iniciações, limpezas espirituais, encantamentos e prevenções de doenças. A importância da água é um fator preponderante na Umbanda. A água tem o poder de absorver, acumular ou descarregar qualquer vibração, seja benéfica ou maléfica. A água poderá concentrar uma vibração positiva ou negativa, dependendo do seu emprego. Ao se rezar para uma pessoa com um copo de água do lado, todo o malefício, toda a vibração negativa dela passará para a água do copo, tornando-a embaciada; caso não haja mal algum, a água fica fluidificada. Nunca se deve acender vela para o Anjo da Guarda sem ter um copo de água do lado. A água que se apanha na cachoeira é água batida nas pedras, nas quais vibra, crepita e livra-se de todas as impurezas, assim como a água do mar, batida contra as rochas e as areias da praia, também acontece o mesmo, por isso nunca se apanha água do mar quando o mesmo está sem ondas. A água da chuva, quando cai é benéfica, pura, depois de cair no chão, torna-se pesada, pois, atrai as vibrações negativas do local. A importância da água pode ser traduzida numa única palavra: “VIDA”! As águas utilizadas para descarrego, têm fundamento parecido com a fumaça, sendo que a fumaça carrega as energias consigo, similar ao vento, e a água absorve estas energias. As águas em copos nas ofertas significam energia vital, e nos copos juntos às velas de Anjo da Guarda ou atrás das portas de entrada, têm a finalidade de atrair para 118
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si as energias que por ali passam, atraídas pela Luz ou passando pela porta. Os copos de águas utilizados para estes fins (Anjo da guarda ou atrás das portas) devem ser descarregados pelo menos de 7 em 7 dias, pois senão ficarão saturados e perderão seu poder de absorção. Esta descarga deve ser feita em água corrente (na pia com a torneira aberta, por exemplo), pois simboliza movimento, necessário para transportar as energias absorvidas por ela. Na Umbanda, a água é um dos elementos naturais mais receptivos com uma energia altamente condutora; ela é utilizada nas quartinhas, nos copos de firmeza dos Anjos de Guarda, no batismo, e em muitos rituais da Umbanda, principalmente pelos Guias Espirituais nos momentos onde há necessidade de realizar grande limpeza, purificação e energização de nosso corpo astral e de nossa casa, afinal, existem cargas e energias maléficas que somente esse elemento natural é capaz de desfazer, limpar e equilibrar. 31 3. PÓLVORA É um grande fundamento da Umbanda, também conhecida em algumas regiões como «fundanga» ou «tuia», o chamado ponto-defogo é um dos mais utilizados recursos da Umbanda. Alguns também o chamam de “círculo de pólvora” ou “queima de fundanga”. A prática deste ato é muito antiga e muito utilizada, mas poucos sabem o seu significado. Primeiramente, devemos saber qual a finalidade do uso da pólvora: o seu principal uso é afastar, limpar e dispersar energias negativas, espíritos obsessores da aura da pessoa ou do ambiente em que foi queimada. É importante dizer que todos os trabalhos com pólvora exigem muita concentração. Apesar de ser a pólvora a força máxima para limpeza, seu uso deve ser restrito aos casos da mais absoluta necessidade, sob a responsabilidade do guia-chefe,
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Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 46.
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com o auxílio, é evidente, das falanges trabalhadoras ou evocadas. Jamais poderemos iniciar sua combustão senão com fósforos ou charutos, no caso de entidades incorporadas. O uso da pólvora é muito eficaz, mas deve ser feito por uma pessoa habilitada, com conhecimento e tarimba para tal manipulação de energia.32 4. CARVÃO Sua principal propriedade é a absorção de fluídos de qualquer natureza. Todas as emoções astrais são por ele retidas, livrando os objetos e ambientes de fluídos negativos que possam estar impregnados. Sua ação se caracteriza pela lentidão e segurança, e o fato de agir em estado natural obriga-nos a consagrá-lo, quando usado em trabalhos de magia, a fim de purificá-lo. O carvão, em seu estado natural é o símbolo da “constância” e, em combustão, do “fervor”, pois neste estado, consegue dissolver o mais duro dos metais. 33 Pai Odé D’Loy sempre nos passou seus ensinamentos e práticas não só pessoalmente, mas também através de mensagens virtuais em redes sociais, contendo definições, fundamentos, procedimentos, preces, rituais, histórias, pontos e inúmeras informações a respeito da Umbanda e de nosso terreiro. Como sempre tive o hábito de arquivar todo esse material, a partir de 2018 passei a reorganizar esse conteúdo em apostilas periódicas. Sendo assim, todo material por ele enviado, é compilado em novas apostilas em formato PDF e enviadas gratuitamente a todos os filhos da casa, a cada ano. É importante destacarmos aqui a preocupação do Pai de Santo em relação a formação doutrinária de seus filhos. Como já foi dito, é dever de todo Filho de Santo estudar sua religião, assim como também é de suma importância que a casa forneça recursos para tal. O estudo dos chacras se faz importante para o aprimoramento de nossa mediunidade, pois é através deles que nossos corpos físico/espiritual, mantêm relação energética com os mundos 32 33
Disponível em:: Apostila ABESMA 2013, p. 52. Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 53.
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físico/espiritual. Entender os 7 chacras, seus regentes, localização e funções, são de extrema importância para a evolução de todo umbandista. CHACRAS Segundo Ademir Barbosa Júnior, os “chacras (rodas) são centros de energia físico-espirituais (espalhados por diversos pontos dos corpos físico e espiritual), que revestem o corpo físico. Os chacras mais conhecidos são 7.” Embora os conceitos se diversifiquem no que se refere aos chacras e seus Orixás regentes, temos a seguinte correspondência: 1° Chacra – Básico ou Sacro, regido por Exú / Obaluaiê / Pretos-Velhos. Localizado na área dos órgãos sexuais. Sentido da Geração. Cor de vibração: vermelho. 2° Chacra – Esplênico, regido por Oxóssi. Localizado na altura do baço. Sentido da Evolução. Cor de vibração: amarelo. 3° Chacra – Plexo Solar ou Umbilical, regido por Ogum / Oxum. Localizado no ventre, região do umbigo. Sentido da Justiça ou do Equilíbrio. Cor de vibração: laranja. 4° Chacra – Cardíaco, regido por Xangô / Iansã. Localizado na altura do coração. Sentido do Amor. Cor de vibração: verde 5° Chacra – Laríngeo ou Cervical, regido por Xangô / Iansã. Localizado na laringe. Sentido da Ordem (Lei Divina). Cor de vibração: azul claro. 6° Chacra – Frontal, regido por Iemanjá / Nanã / Iansã. Localizado entre as sobrancelhas. Sentido do Conhecimento. Cor de vibração: índigo. 7° Chacra – Coronário ou Sublime, regido por Oxalá. Localizado no alto da cabeça. Sentido da Fé. Cor de vibração: violeta. Quando em equilíbrio, os chacras trabalham alinhados, apresentam uma cor forte e brilhante e funcionam 121
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no sentido dos ponteiros do relógio. Quando em desequilíbrio, tendem a mover-se em sentido contrário ao habitual e podem reter negatividades que irão repercutir na estrutura inclusive física da pessoa. Sou um médium semiconsciente e, como tal, não tenho a plena noção de tudo que acontece quando meus Guias estão em terra. Mas sei que, quando os conselhos dados durante o atendimento servem não só ao consulente, como também ao médium, nos é concedida a permissão para lembrarmos parcialmente do assunto que foi tratado, e assim possamos também aprender e evoluir, através dessas orientações e mensagens espirituais. Um exemplo disso ocorreu comigo, numa gira de Preto-Velho, em que um consulente comentava com Pai Thomé sobre as graças que havia alcançado após fazer determinado trabalho. Assim dizia ele: Pai Thomé, não sei se foi pelo trabalho espiritual em si, ou se foi coincidência, se fui eu ou mesmo o acaso, que fez com que tudo voltasse ao normal (...) Mas agradeço a tudo por estar bem agora (...)
Pai Thomé observou:
Filho, quando suncê procura na Fé a solução de seus problemas, é a Fé que traz essa solução, e todas as outras razões passam a não ser mais consideradas. Suncê entregou aos Guias da Umbanda, e somente a Eles serão atribuídos os méritos das conquistas. Por isso, pare de falar que “não sabe se foi isso ou aquilo” e tenha em mente que, lá atrás, você entregou seus problemas pra nós, e hoje, tenha a certeza de que fomos nós que te atendemos!
Há uma confusão por parte de muitos adeptos ou mesmo simpatizantes de Umbanda, no que se refere as diferenças entre Ibejis, Erês e Caboclos Mirins. Na Umbanda, os Ibejis são vistos como Orixás e filhos de criação de Oxum e são sincretizados por São Cosme e Damião. Já os Erês são Guias, e são estereotipados como crianças, só que, na verdade, eles são seres encantados e nunca passaram pela ex122
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periência do existir humana. Os Caboclos Mirins são espíritos de índios que desencarnaram ainda jovens, alguns trabalham na Linha dos Caboclos, outros na Linha das Crianças. IBEJÍS34 Os gêmeos são protetores das crianças e simbolizam o nascimento e a vida. O Ibeji Orixá é a sobrevivência da continuidade. Na África os filhos são fonte de grande alegria, pois eles são a garantia de que a sua história e de sua descendência perdurará. Os Ibejis são muito confundidos com Erês, por serem crianças e terem os mesmos atributos de características infantis, mas os gêmeos são na verdade uma divindade e possuem história e missões diferentes dos Erês. A característica dos gêmeos mais particular é o seu poder de desfazer coisas realizadas por outros Orixás, mas algo feito por Ibejis jamais poderá ser desfeito por nenhum outro Orixá. Na Umbanda, São Cosme e Damião são muito amados e têm suas homenagens em 27 de setembro, juntamente com Erês. Nesta data, as casas de Axé realizam suas obrigações anuais com as Crianças da Umbanda, servem as comidas preferidas de cada Erê e são realizados todo tipo trabalho, em todos os níveis de energia. “Quem é essa terceira criança no meio de Cosme e Damião?” Você já deve ter ouvido alguém perguntar algo parecido ou ter indagado essa mesma pergunta. Muitos desconhecem a “terceira” criança presente nas imagens utilizadas tanto na Umbanda como no Candomblé, sem saber seu nome, sua origem e a história deste personagem. O nome dele é Doum, como explicado em texto publicado no Grupo de Estudos Axé de Umbanda35, o qual reproduzo abaixo.
Disponível em <www.iquilibrio.com/blog/espiritualidade/umbanda-candomble/tudo-sobre-ibejis/> 35 Disponível em <www.facebook.com/groups/1137979029681926/posts/2641016799378134> 34
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QUEM FOI DOUM? (...) Em todas as lendas conhecidas, Doum é citado como sendo irmão de São Cosme e Damião. No entanto, algumas das lendas o consideram um terceiro gêmeo de Cosme e Damião; enquanto em outras, Doum é considerado um irmão mais novo de Cosme e Damião. Sabe-se que São Cosme e Damião eram de família nobre e cristã, de origem árabe. Mas, visto que não se tem muitos registros a respeito da verdadeira história de São Cosme e Damião, não se sabe qual das lendas sobre Doum é a correta. Segundo as lendas sobre esses dois santos católicos, sincretizados com os Ibejis da Umbanda, seu irmão Doum foi determinante para que eles decidissem se tornar médicos. Seja gêmeo ou irmão mais novo, contase que Doum faleceu por doença e por falta de médicos que pudessem tratá-lo e curá-lo, o que levou seus irmãos a estudar e se formar em medicina para levar tratamento e cura a quem necessitava. (...) ERÊS “Reside no ponto exato entre a consciência da pessoa e a inconsciência do Orixá. No Candomblé, é através dos Erês que o Orixá expressa sua vontade e que o médium aprende as coisas fundamentais, como as danças e os ritos específicos de seu Orixá. A palavra Erê vem do iorubá erê, que significa brincar. Daí a expressão siré, que significa fazer brincadeiras, boa ação ou favor. Os Erês são de suma importância pois são eles que, muitas das vezes, trarão as várias mensagens do Orixá. Esses seres de Luz trazem a energia de renovação, enchem as almas de esperança e empolgação por tudo que é novo, pois eles sabem que são nas incertezas que podemos encontrar as melhores respostas. Esses encantados têm seus espíritos como os de 124
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qualquer criança, esbanjam disposição e sinceridade e por isso, necessitam de pessoas que os possam controlar sabiamente, para que eles consigam se concentrar na missão a qual foram enviados. Além de doces, eles também adoram brinquedos que correspondem à sua linha de atuação. Muitos deles passam a gira abraçados com bonecas, carrinhos, barcos, montados em cavalinhos, usando espelhinhos, chupando chupetas ou até mesmo os dedos. Erês não gostam de choro, farão de tudo para te ver sorrir, e suas orientações serão todas voltadas a caminhos que te levarão às conquistas e realizações. Na Umbanda, os Erês como Guias, dão passes para aqueles que vão em procura de sua sabedoria e proteção, eles enchem o terreiro de alegria e todos saem muito mais motivados, com as energias renovadas. Uma festa de Erê promete transmitir uma energia única para quem a frequenta, é realmente um banho de renovação e ânimo para todos que os buscam.”36 CABOCLOS MIRINS “Os Caboclos Mirins são espíritos de índios que desencarnaram ainda crianças, embora haja exceções. Alguns trabalham na Linha dos Caboclos, outros preferem vir sob a regência da Linha das Crianças. Esses espíritos quando se manifestam em terra, são sempre requisitados para a cura, pois são crianças muito sábias, não gostam tanto de brincar e comer doces como as outras crianças, o que os tornam um pouco diferentes das demais. Todo e qualquer espírito desta Linha é detentor de grandes encargos espirituais, apesar da aparência astral infantil, são grandes sábios e estão sempre prontos para ajudar. Sua vibração é mais parecida com a dos Caboclos e gostam de estar na companhia deles. Alguns Caboclos Mirins vêm na vibração do Orixá 36
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 68.
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Oxóssi, mas muitos fazem entrecruzamento com outros Orixás, principalmente com o Orixá Xangô.”37 Como dito anteriormente, nossas giras de cura acontecem às segundas-feiras, com a presença dos Filhos da Casa e da assistência. Durante a corrente mediúnica, médicos do astral trabalham em prol da saúde de todos que ali se encontram e que sofrem das mais variadas enfermidades. Essas entidades são, em sua maioria, espíritos que exerceram a medicina em suas últimas encarnações. Alguns se apresentam com os nomes de sua última existência, outros com nomes simbólicos, formando inúmeras falanges de trabalho. Finalizando este capítulo, reproduzo abaixo um texto muito esclarecedor sobre o assunto, de Renato C. de Almeida38. MÉDICOS NA UMBANDA39 (...) A corrente dos médicos não é formalmente uma linha ou falange de Guias “de Umbanda”, mas sim, uma corrente que se associou ao trabalho da Umbanda, onde encontrou mais uma oportunidade em ajudar e transmitir seus conhecimentos. (...) Quando incorporados, em comparação com a forma de trabalho das demais correntes que atuam na Umbanda, sua manifestação, normalmente, é muito suave e tranquila, pois possuem uma energia mais sutil, o que faz com que sua ligação com o médium incorporante seja mais tênue, levando os médiuns menos habituados ao trabalho com os doutores a terem um pouco mais de dificuldade na firmeza da incorporação. (...) Atuam em grande número e intensamente junto às equipes médicas da terra, em hospitais, consultórios e centros cirúrgicos, operando equipamentos etéricos e auxiliando no trabalho dos médicos encarnados, inclusive em pesquisas e desenvolvimento de novos medicamentos e tecnologias para o auxílio dos enfermos deste plano. Apesar de todos os guias poderem trabalhar em processos de Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 55. Renato Chiappim de Almeida, escritor, advogado e umbandista, responsável junto com Cleber Quichimbi pelo site Pensando Umbanda. 39 Disponível em: <www.pensandoumbanda.com> 37 38
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cura, cuidar da saúde física e mental dos encarnados e desencarnados é a especialidade dos médicos do astral e as cirurgias são uma das suas formas de trabalho mais marcantes. O Dr. Bezerra de Menezes, muito conhecido pelos irmãos Kardecistas por seu trabalho desde quando encarnado, é considerado um dos grandes líderes das correntes médicas do astral, mas há um número incontável de mestres que atuam nesta bendita tarefa. Seu trabalho é muito simples e se baseia na atuação sobre os corpos sutis do consulente para que, então, a matéria após se amolde ao corpo sutil, enfraquecendo as moléstias e fortalecendo o corpo físico que, ao final do processo, poderá se recuperar, sempre atuando de forma conjunta e aliada aos tratamentos da medicina terrena. O trabalho dos médicos do astral se funda no amor e na caridade e seus trabalhadores são abnegados tarefeiros que estão prontos e de braços abertos para acolher e auxiliar a todos que deles necessitam, indistintamente.
Capítulo VI A MATURIDADE
Foto: Autor
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esse sexto capítulo, além de minha jornada espiritual, falaremos um pouco sobre a Esquerda na Umbanda e seus fundamentos, e das muitas dúvidas que envolvem esse controverso e, para alguns leigos, “temido” assunto. Mesmo assim, foi necessário um capítulo inteiro reservado a esse tema tão polêmico, devido à sua enorme complexidade e às várias interpretações errôneas que até hoje promovem opiniões equivocadas, preconceituosas, tendenciosas e deturpadas sobre essa Linha tão essencial em nossa religião. Afinal, como reza o antigo provérbio, “Sem Exú não se faz nada.” O QUE SIGNIFICA A ESQUERDA NA UMBANDA? Em várias religiões ou mesmo na política, o conceito de esquerdo/esquerda possui para muitos um sentido negativo, sombrio ou até nocivo. Houve um tempo em 129
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que, durante uma missa católica, se uma pessoa fizesse o santo sinal com a mão esquerda, era considerada devota do diabo e praticante de magia negra. Na Idade Média, pessoas canhotas eram vistas sob suspeitas por boa parte do clero. No cristianismo, o demônio era conhecido como “o Canhoto”. Em italiano, as palavras esquerdo/ esquerda são traduzidas como sinistro/sinistra, o que nos remete a algo obscuro. A esquerda na política se refere ao lado da oposição, antagônico, extremista e polêmico. Percebemos assim que a conotação atribuída a certas palavras, pode trazer interpretações diferentes de seu real significado. Dentro da concepção religiosa, a esquerda é apenas o oposto complementar da direita. Esquerda e direita significam sentidos opostos, lados contrários, caminhos adversos, vias divergentes. Temos que abandonar de uma vez esse conceito que associa a esquerda a algo profano ou diabólico. Na Umbanda, a Esquerda é a Linha de trabalho em que atuam os chamados guardiões, nossos Exús, Pombagiras e suas falanges. Por atuarem no plano negativo (o conceito de negativo aqui aplicado não possui conotação moral ou de desvalor, mas se refere ao plano de atuação) como combatentes do mal, auxiliam em descarregos e desobsessões, encaminhando espíritos perdidos ou quiumbas para a Luz, reabilitando-os e promovendo a evolução de cada um. A chamada Esquerda na Umbanda é formada por uma infinidade de espíritos caridosos, agentes incansáveis que levam Luz às trevas, regendo tudo que é material, físico e carnal como dinheiro, fertilidade, prazer, festividade e fartura. Por trabalharem com causas mais ligadas aos assuntos terrenos, temos uma maior identificação e empatia com essas entidades. Como Janaína A. Corral observa, [...] os espíritos da Esquerda vêm a Terra para zelar por uma vida material plena, que deve sempre andar em equilíbrio com a vida espiritual. [...]1 Disponível em: O Livro da Esquerda na Umbanda, p. 23. Universo dos Livros, São Paulo, 2010. 1
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QUEM SÃO EXÚ E POMBAGIRA NA UMBANDA? “Exú, diferente de todos os preconceitos que sofre sobre ser uma entidade maléfica, não o é. Exú é o mensageiro dos Orixás. É o canal medianeiro entre o mundo dos vivos e dos mortos, conhecedor de todos os mistérios, é ele quem guarda os caminhos dos homens. Senhor das encruzilhadas, das esquinas e vielas, Exú é o destemido e traquinas filho da luz e da escuridão. Conhecedor do bem e do mal, é ele quem desfaz as energias malignas, descarregos e dá força para a caminhada espiritual dos filhos de Umbanda. Visto no Candomblé como entidade única, dizemos «O Exú”, enquanto força individual. Já na Umbanda existem vários tipos de Exús, uma falange que trabalha associados à Oxalá e aos demais Orixás. A Exú é dada a missão de ser sentinela dos caminhos humanos e força de movimento das ações na Terra. Onde há movimento, há Exú! É claro que, como representa as duas forças, bem e mal, em determinadas casas espirituais, Pais e Mães de Santo fazem feitiços e serviços para as forças da escuridão. Exú trabalha nesta via, mas fique claro que: EXÚ DOUTRINADO, EM LUZ E EM VERDADE AOS PLANOS DO AMOR E DA CARIDADE, É FORÇA QUE CAMINHA COM DEUS! Isto deve ficar claro, pois é um perigo ter esta entidade trabalhando em centros, terreiros ou tendas em que há médiuns desorientados, vaidosos e que não se valem dos ensinamentos. O cumprimento a Exú é, entre outros, “LAROYÊ EXÚ! EXÚ OMOJUBÁ! KOBALARÔ SENHOR EXÚ! SALVE!” E pode-se saudá-lo quando quiser, só não se recomenda após a meia noite dentro de casa, mas na rua, sempre que precisarmos da força destes amigos da Luz!”2 “Conhecida como Pomba Gira, Pombagira, Pombogira, Bombo Gira, seu nome deriva de Pambu Njila, como é conhecida em Angola.
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Na Umbanda, sua visão mais ampla da vida e dos instintos humanos, as tornam dominadoras no campo em que
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 65.
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se manifestam, passando suas mensagens sempre com muito crédito e fácil compreensão. Elas realizam curas até mesmo de enfermidades dadas como incuráveis, desmancham trabalhos de magia negra, resolvem problemas, nos dão conselhos preciosos de como bem dirigir nossas vidas, enfim, fazem tudo pelas pessoas bem-intencionadas que as procuram para a prática da caridade. É uma pena que ainda existam pessoas que as procuram somente para desmanchar relacionamentos amorosos ou conquistar alguém.”3 QUAIS AS FALANGES QUE ATUAM NA LINHA DA ESQUERDA? (...) Como já explicado, temos conhecimento da existência de 77 Falanges de Exú, sendo que existem estudos aprofundados e comprovados de 27 Falanges. Algumas Falanges são subdivididas, como: FALANGE DE TRANCA RUAS: - Das Almas; - Da Encruzilhada; - Guardião; - Sentinelas; - Quimbandeiro. Obs.: Quando falamos em Tranca Ruas, não estamos falando que ele fecha as ruas (logradouro, avenida), mas sim os caminhos, as vias e os meios espirituais de energia maligna, de espíritos obsessores. FALANGE DE SETE ENCRUZILHADAS: - Das Almas; - Das Matas; - Das Estradas. Obs.: Encruzilhada para nós não é somente o cruzamento 3
Disponível em: Apostila ABESMA 2019, p. 08.
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de duas ruas. É o eixo central de onde Exú observa todos os caminhos da humanidade. FALANGE DE MARIA PADILHA: - Das Almas; - Cigana; - Do Oriente; - Da Encruzilhada. Algumas Falanges chegam a ter mais de 70 mil falangeiros. Falangeiros são espíritos desencarnados que foram acolhidos por uma Falange para trabalharem na Umbanda Sagrada, sob o comando do chefe da Falange. (...)4 Quando o assunto se refere a Esquerda e tudo que a envolve, as questões e incertezas são tantas que fica difícil relacioná-las em tão poucas linhas. Contudo, não é nossa intenção nos aprofundarmos sobre o tema, mesmo porque grandes e inúmeras obras já foram escritas abordando de uma maneira muito mais aprofundada e abrangente esse mesmo assunto. Nosso propósito é relatar as dúvidas mais frequentes vividas tanto pelos filhos recém-chegados, como também pelos médiuns mais experientes. Para tal, destaco a seguir algumas questões constantemente formuladas em nosso terreiro. 1. EXÚ É O DIABO? (...) Satanás é caracterizado como vilão dos céus e de toda bondade, responsável pela incitação do pecado e da luxúria desmedida; é o rei do inferno. (...) Exú é descrito, em várias de suas lendas, como impiedoso, cruel, de temperamento difícil e trapaceiro, entretanto essas características apenas foram fabricadas para amedrontar os descrentes e as tribos rivais daqueles que o cultuam. (...) Em 313, Constantino, imperador romano, publicou o Edito de Milão, no qual era assegurado o fim das 4
Disponível em: Apostila ABESMA 2020, p. 67.
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perseguições contra os cristãos e, em 391, o Cristianismo transformou-se na religião oficial do Império Romano e iniciou seu processo de expansão. Caso invertêssemos a moeda e fossem os espíritos ancestrais africanos no lugar dos seguidores de Cristo, não há dúvidas que nos dias de hoje veríamos terreiros a cada esquina e uma ou duas igrejas bem escondidas. A colonização trouxe o inferno à África em nome de Deus, arrancou a vida e a escravizou, regozijou-se no mar de lágrimas dos negros já moribundos e sem terras para onde voltar, banalizou as crenças divergentes apenas pelo prazer de sentir-se superior. Aqueles que orgulhosamente alegavam erradicar o mal foram a personificação perfeita de Satanás. O Guia Espiritual Exú e o próprio Orixá continuam a acompanhar seus filhos, mesmo que ambos sejam rejeitados, insultados ou ignorados, pois o que os move é o amor profundo por seus frágeis companheiros encarnados que ainda buscam redenção.5 2. POMBOGIRA É PROSTITUTA? “Se Exú já é mal interpretado, confundindo-o com o Diabo, quem dirá a Pomba-Gira? Dizem que PombaGira é uma mulher da rua, uma prostituta. Que PombaGira é mulher de Sete Exús! As distorções e preconceitos são características dos seres humanos, quando eles não entendem corretamente algo, querendo trazer ou materializar conceitos abstratos, distorcendo-os. Pomba-Gira é um Exú Feminino, não são prostitutas. Na verdade, dos Sete Exús Chefes de Legião – do Sétimo Grau, apenas um Exú é feminino, ou seja, ocorreu uma inversão destes conceitos, dizendo que a Pomba-Gira é mulher de Sete Exús. Dentro da hierarquia do Exú Feminino (Pomba-Gira), estão divididas em níveis diversas outras Pombas-Giras, da mesma forma que as demais falanges. É claro que em 5
Disponível em: <www.aldeiadecaboclos.com.br/exu-e-o-diabo>
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alguns casos, podem ocorrer que uma delas, em alguma encarnação, tivesse sido uma prostituta, mas isso não significa que as Pombas-Giras tenham sido todas prostitutas e que assim agem. A função das Pombas-Giras, está relacionada à sensualidade. Elas frenam os desvios sexuais dos seres humanos, direcionam as energias sexuais para a construção e evitam as destruições. A sensualidade desenfreada é um dos “sete pecados capitais” que destroem o homem: a volúpia. Este vicio é alimentado tanto pelos encarnados, quanto pelos desencarnados, criando um ciclo ininterrupto, caso as Pombas-Giras não atuassem neste campo emocional. As Pombas-Giras são grandes magas e conhecedoras das fraquezas humanas. São, como qualquer Exú, executoras da Lei e do Karma. Cabe a elas esgotar os vícios ligados ao sexo. Quando um espírito é extremamente viciado ao sexo, elas, às vezes, dão a ele “overdoses” de sexo, para esgotá-lo de uma vez por todas. Elas, ao se manifestarem, carregam em si grande energia sensual, não significa que elas sejam desequilibradas, mas sim que recorrem a este expediente para “descarregar” o ambiente deste tipo de energia negativa. São espíritos alegres e gostam de conversar sobre a vida. São astutas, pois conhecem a maioria das más intenções. Estendem os assuntos ou alguma situação, só para que chegue ao âmago da questão.”6 3. HOMENS INCORPORAM POMBAGIRA? ”Na Umbanda temos a obrigação de entender que as entidades e os Orixás são energias que podem ser femininas ou masculinas, mas o sexo em si, não existe. É evidente que se no mundo material existem homens e mulheres, no astral isso também ocorre para que haja a perfeita hegemonia universal. Mas nunca, guardem bem 6
Disponível em: Pomba-Gira | Missão Umbanda (wordpress.com)
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isso, nunca uma entidade irá interferir na vida ou opção sexual de um médium. A última coisa que interessa a qualquer entidade, seja de que energia for, é sua opção sexual. E ela jamais afetará ou mudará nada em sua vida apenas por estar usando seu corpo para a caridade. Existem, e muitos, médiuns homossexuais, mas não foram levados a essa opção por espírito ou Orixá algum. Já chegaram à religião dessa forma e como a Umbanda ou o Candomblé não têm por hábito julgar ninguém, sentem-se em liberdade para mostrarem-se como são. Acontecem muitos casos de exageros, isso nenhum de nós pode negar. O médium, sendo consciente, libera mais seu lado feminino quando nessas incorporações. Isso, porém, é um fato que cabe a cada pai ou mãe de santo conter, para que não se ultrapassem limites.” (...)7 4. PORQUE EXÚ DÁ RISADA? “A gargalhada de Exu é mais que um mantra, é uma ferramenta de trabalho. Através do som da gargalhada, eles entram nos campos energéticos, desfazendo as energias densas, recolhendo entidades que vibram na maldade, retirando miasmas, enfim, abrindo o caminho para que outras entidades, como os pretos velhos e os caboclos, possam dar continuidade ao trabalho espiritual. A gargalhada também tem a função de liberar qualquer resquício de energia negativa que possa ficar impregnado no medianeiro ou no local de trabalho, fazendo, assim, a assepsia. Longe de ser um escárnio para com o consulente, a gargalhada é uma forma de vibrar na alegria, mesmo tendo que lidar constantemente com situações difíceis, tristes e inimagináveis para nós, situações essas criadas e estimuladas pelos seres humanos que não exercitam um bom caráter.”8 Disponível em: <www.povodearuanda.com.br> Texto baseado no livro Ensinamentos básicos de Umbanda, de Daisy Mutti e Lizete Chaves, Legião Publicações, Porto Alegre, 2016. 7 8
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5. PORQUE AS IMAGENS DE EXÚ SÃO TÃO ASSUSTADORAS? Existem duas explicações a respeito desse fato. Uma, entende que o cristianismo, durante o processo de catequese praticado no Brasil no período da colonização, repudiava o culto aos Orixás, coibindo a veneração de outras divindades que não fossem cristãs. No caso específico de Exú, que utiliza instrumentos como o ogó (espécie de bastão em madeira com forma fálica) que simboliza o prazer e a fertilidade, e o tridente, que representa os caminhos, foi a entidade que mais sofreu e ainda sofre as deturpações e manipulações criadas pela igreja cristã, que o apresenta como um terrível demônio lascivo portando um tridente diabólico, com chifres e patas de bode, numa figura grotesca e assustadora, com a clara intenção de assemelhá-lo ao diabo do cristianismo. Através das décadas, esse estereótipo foi reproduzido em muitas imagens que, até hoje, são utilizadas em respeito às histórias e lendas contadas, assim como também encontramos imagens de Exú que muito se assemelham ao homem comum, trajando capa, tridente, cartola e calça. Uma outra versão define que “os Exus costumam tomar tais formas como meio de impor respeito e medo a espíritos inferiores (quiumbas) e, desta maneira, facilitar o controle e vigilância que obtêm sobre estas mentes vinculadas ao mal, para que não perturbem trabalhos ou até mesmo lares e locais. (...) É o mensageiro, o que entra e sai das zonas umbralinas, sem temor, assumindo formas ameaçadoras para fazer-se respeitar. Sem ele, a força dos Orixás não atuaria no mundo, pois é ele o operário incansável. Temido por não admitir a desobediência, é ele quem aplica os castigos, fazendo, na verdade, cumprir a lei de causa e efeito, desmanchando a magia negra.” (...)9 Disponível em: <https://orixaessenciadivina.wordpress.com/2015/08/20/perguntas-e-respostas-vamos-falar-um-pouco-de-umbanda/> 9
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MINHA VIDA NA UMBANDA
6. QUEM É EXÚ MIRIM? “São seres encantados que auxiliam os homens a se manterem corretos em todos os caminhos de suas vidas, por isso são tão arteiros e levados quando percebem que as pessoas a quem ajudaram, não estão ouvindo os seus conselhos. São responsáveis por anular qualquer intenção negativa que esteja presente na vida das pessoas, portanto, são de grande importância as suas atuações para aquele que deseja se proteger ou se “limpar” de todo mal que está a persegui-lo. Exu Mirim é dotado de grande capacidade na hora de ajudar os seres humanos. Esses Exus não são filhos de Exú e Pombagira, tampouco são realmente crianças. O que os fazem ser chamados de Mirins é a baixa estatura e o comportamento brincalhão e traquina. Mas, no geral, eles podem ser vistos mais como adolescentes rebeldes. Essa entidade está sempre disposta a auxiliar na hora de encontrar uma saída para as nossas questões, tentando mostrar que tanto o problema quanto a solução vêm de dentro de nós. Conhecido por agir com base na justiça, Exu Mirim sempre nos dará aquilo que damos aos outros. Por exemplo: se você planta o mal, o mal colherá. Se você planta o bem, o bem colherá. Exu Mirim nunca habitou este planeta, sendo assim, não é um espírito humano. Ele se encontra em um estágio da vida denominado Plano Encantado, que fica na sétima dimensão, à esquerda da nossa dimensão humana. Portanto, não há uma história que conte a origem dessa entidade. Entre suas diversas características, a principal é a seguinte: essa entidade vem para nos ajudar a colocar tudo em ordem. Ele vem neutralizando as más energias que nos rodeiam sem que percebamos, já que nem todo mal é visível para os seres encarnados. 138
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Sua aparência é representada por um ser pequeno e traquina. Ele também é representado com chifres pequenos e em algumas estátuas aparece com uma cartola, algo bem comum na Umbanda.”10 7. PORQUE EXÚ BEBE PINGA? “Quando falamos da água ardente, pinga, marafo ou qualquer outra denominação para a bebida ingerida durante os trabalhos com Exú ou vulgarmente chamados de Esquerda, devemos atentar para os seguintes pontos: A cachaça utilizada nos terreiros nada mais é do que um elemento vegetal que carrega a energia: TERRA, ÁGUA e FOGO pela sua composição e, lembrando que no período de formação da cana de açúcar, encontramos a ação do FOGO no vento solar que aquece todo o nosso planeta. Utilizada como elemento de magia, não se faz necessário bebê-la durante o atendimento, e sim, manipular os elementos “mágicos” vegetais que este líquido nos oferece, tornando-o um instrumento de limpeza energética. Usa-se a cachaça nos atendimentos para: · Limpar o duplo etéreo de quem está sendo atendido, de parasitas que nele estejam alojados; · Desagregar cascões espirituais ligados a pessoa devido a seu padrão vibratório; · Efetuar limpezas energéticas de ambientes promovendo uma energia semelhante ao vento solar, enfim, não há necessidade de ingestão da bebida em si, mas a manipulação correta e mágica desse elemento. O Exú bebe comedidamente para limpar o aparelho e não para se embebedar ou se divertir. A maioria oferece um gole de sua bebida ao consulente e pede para que o faça de costas e fazendo um pedido. Até Preto-Velho e Caboclo bebem vinho, mas sempre pouco e com o intuito de limpeza. Tem médiuns que não 10
Disponível em: Apostila ABESMA 2021, p. 18.
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fumam e não bebem e não são obrigados a fazer isso, caso estejam incorporados e, nem por isso, são mais ou menos “fortes” em seus trabalhos com Exú. O corpo do médium é cedido, mas não pode ser ultrajado. Se o médium escolher deixar Exú beber e fumar, é problema de cada um, porque para quem trabalha com seriedade, ao “subir”, o Exú leva tudo e o médium não fica nem com cheiro de bebida ou de cigarro na boca.” (...)11 8. EXÚ É ORIXÁ OU ENTIDADE? Diferentemente do que ocorre no Candomblé, em que se cultua o Orixá Exú, na Umbanda, Exú é tratado como Entidade. Suas falanges vêm em terra e se manifestam através do corpo dos médiuns umbandistas durante as giras do terreiro, atendendo a todos que necessitam de seu auxílio. Tem por missão ajudar seus protegidos, dando-lhes orientações em forma de consultas, respondendo sempre com sinceridade e com a verdade, sendo a franqueza, um de seus maiores atributos. 9. POSSO TER UMA IMAGEM DE EXÚ OU DE POMBAGIRA EM CASA? Mais uma vez esbarramos nos diferentes ensinamentos e posturas adotados em cada terreiro de Umbanda. Em nossa casa, por exemplo, não somos aconselhados a manter imagens da Linha de Esquerda dentro de nossas residências, assim como não firmamos Exú ou Pombagira, nem possuímos assentamento ou tronqueira para tais entidades, pelo simples fato de que tudo isso é feito em nosso próprio terreiro. Assim como a esquerda é o oposto complementar da direita, as energias de um Congá são opostas às energias da Tronqueira. A primeira emana energia, e em contrapartida, a segunda as absorve. Para quem opta por cultuar Exú em casa, é aconselhável que o faça seguindo rigorosamente as instruções de seu Pai ou Mãe de Santo, e assim, evitando qualquer tipo de interferência negativa ou riscos desnecessários. Disponível em: <Tudo de Bom!: EXU BEBE POR QUE? (rainhaaugustta.blogspot. com)> 11
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Lembre-se: Invocar Exú e Pombagira para culto em casa é assunto sério e requer orientação para que não se cometam erros, atraindo espíritos baixos ou quiumbas. Em caso de dúvida, o mais adequado e seguro é que se faça no solo sagrado do terreiro que você frequenta. 10. EXÚ OU POMBAGIRA PODEM SER DONOS DE COROA? “Na Umbanda não pode, mesmo porque Exú é uma linha espiritual auxiliar, agregada e, como já visto antes, composta por falanges de espíritos, em sua maioria, amorais12 e de pouco conhecimento sobre princípios evolutivos, ou seja, de curta visão espiritual a despeito de muito conhecimento que possam ter sobre os princípios de vida material. Se Exú ou Pombagira estiverem à frente na coroa de um médium, o certo é (como nos foi ensinado desde muitos anos atrás) que se trabalhe no sentido de afastá-los desta posição para que espíritos Guias possam assumi-la.” 13 11. O QUE É PADÊ? “Farofa fria feita com farinha de mandioca crua e grossa, com quatro temperos: água, mel, pinga e dendê. Enfeitada com sete rodelas de cebola roxa e sete pimentas dedo de moça vermelhas. A comida para Exú deve ser servida em prato de barro. Essa comida representa os quatro cantos do mundo, os caminhos da vida. Tem o poder de criar vínculo entre o Exú e o médium, fortalecendo a vibração durante a incorporação, bem como abrir os caminhos.”14 12. COMO SE DÁ A INCORPORAÇÃO DE EXÚ E DE POMBAGIRA? “Exú e Pombagira quando incorporados em seus médiuns, podem se apresentar de duas maneiras básicas: 12 Amoral por desconhecer o conceito de moral, diferentemente de imoral, que conhece, mas não o aplica. (N.E.) 13 Disponível em: CASA DA VOVÓ MARIA ROSA: PERGUNTAS SOBRE EXÚ. (casadavovomariarosa.blogspot.com) 14 Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 24.
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alegres ou sérios. Mesmo alegres, não há desrespeito ou comportamentos inadequados no templo religioso. Quando o Exú é deselegante, o médium também o é, só que disfarça quando não está incorporado. Esse médium invigilante e portador de moral duvidosa, ao receber a energia de incorporação de Exú , por ser uma energia bastante similar a nossa e por estar mais próxima a crosta terrestre onde o combate com o astral inferior se dá, passa a dar vazão aos seus sentimentos menores, influenciando e interferindo diretamente na incorporação do Exú, que assiste a tudo desconsoladamente, transferindo para Exú sentimentos e comportamentos que são seus. Isso não chega a ser mistificação, ou seja, fingimento, porque existe a energia de Exú ao lado ou perto do médium. A mistificação envolve o fingimento puro e simples, sem envolvimento de energia ou proximidade de entidade alguma, mais se tratando de animismo. A incorporação de Exú e Pombagira envolve a manipulação energética de chacras inferiores e o que acontece no caso descrito acima, é que o médium deliberadamente utiliza mal essa energia. Deliberadamente, porque isso envolve intenção, moral e mau aproveitamento de energia da Exú. Com a insistência contínua do médium em se utilizar dessa energia para a manifestação de seus desejos e aspectos menores, em pouco tempo há a queda do médium. O Exú se arranca e fica o quê? Kiumba, que assume o nome de Exú e aumenta os desvarios e o médium não percebe por que, no fundo, usa a influência do kiumba (aliás, um usa o outro) para brigar com a mulher, encher a cara de cachaça, falar palavrão, fazer grandes pedidos de oferendas nas encruzilhadas da vida, matança de animais e outras aberrações. Cabe somente a direção da casa coibir veementemente esses comportamentos no seu nascedouro, ou seja, no médium assim que começa acontecer. Chamando-o a realidade, orientando e desestimulando atitudes desse tipo, tentando recuperar o médium. E se for o caso, não deve pestanejar em tomar medidas drásticas para a 142
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solução do problema.”15 13. PORQUE EXÚ E OUTRAS ENTIDADES FUMAM? “Muitas religiões utilizam a fumaça como depurador das energias. A defumação é sagrada e consagrada pelo mundo inteiro, desde os monges tibetanos até os padres católicos. Rodrigo Queiroz explica que o tabaco, é considerado uma “Erva de Poder”, usada há milênios pelos povos indígenas, considerado sagrado com ampla utilização em seus trabalhos de cura, pajelança e xamanismo. O tabaco é o vegetal que veicula os elementos terra e água. Quando utilizado nos cachimbos, charutos e defumação traz os elementos ar e fogo. Em suma, o fumo é uma defumação direcionada, que traz além do vegetal, os quatro elementos básicos (terra, água, ar e fogo) para trabalhos de magia prática. O sopro por si só traz efeitos terapêuticos e espirituais muito valorosos e eficazes nos trabalhos de cura e limpeza, que aliado ao poder das ervas é potencializado muitas vezes em resultados largamente vistos durante os rituais de Umbanda. Assim, o uso do tabaco pelos Caboclos, Pretos-Velhos, Baianos, Boiadeiros, Exús e outras Entidades possui efeito terapêutico ao mesmo tempo em que propicia uma verdadeira proteção para a aura do médium. A fumaça atua também como desagregador de miasmas aderidos ao campo astral do consulente. Não faz sentido, portanto, como apregoam alguns detratores da Umbanda, interpretar o uso do fumo como um vício das Entidades que se manifestam nos terreiros. (...)” 16 No final de 2020, já completados 12 anos como devoto da Umbanda, fui convidado por meu Pai de Santo a realizar o Borí, cerimônia que reforça a cabeça do médium para que o Orixá possa manifestar-se plenamente, como já foi explicado em capítulo anterior. Mas, infelizmente, com a vinda avassaladora da pandemia, tivemos que postergar o ritual, atendendo as regras de segurança tão necessárias à nossa saúde e proteção. Nossas giras presenciais Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 15. Disponível em: Manual de Umbanda para Iniciantes, p. 184, Diamantino Fernandes Trindade, Sattva Ed., São Paulo, 2017. 15 16
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sofreram um longo recesso e a solução encontrada por Pai Odé D’Loy veio através de encontros virtuais. Fazíamos reuniões semanais online, sempre lideradas por ele e organizadas por uma mediadora que intermediava as dúvidas dos filhos ali presentes, após a apresentação de assuntos variados pertinentes à religião. Noutras vezes, participávamos de correntes de orações conduzidas por Pai Odé D’Loy, com rituais firmados em nossos lares, seguindo suas orientações. Numa dessas reuniões virtuais, o tema abordado foi sobre um personagem muito carismático, conhecido no meio umbandista como Sr. Zé Pilintra. ZÉ PILINTRA E OS MALANDROS NA UMBANDA “Zé Pilintra ou Zé Pelintra (como é conhecido em alguns lugares) faz parte da Linhas das Almas e possui uma grande importância para a representação daqueles que se encontraram durante as suas vidas marginalizados pela sociedade, pois prova, através de sua ação como Guia Espiritual, que o falso conceito de malandro nada mais é do que um estereótipo criado por aqueles que não possuem a visão dos verdadeiros desafios no caminho dos humildes. Muitos desinformados o associam com imagens malignas e criaturas que fazem o mau, quando na verdade o seu espírito se desenvolveu tanto após a desencarnação, que ele volta a este plano como Guia para benefício dos que o procuram. Ele é a lição para os menos informados de que nem todos os desafortunados representam alguma ameaça para a sociedade, e que devemos respeitar e dar valor. Admirado na Umbanda, é considerado como um espírito humilde, de bondade plena, patrono dos bares, rei da vida noturna, boêmio e apaixonado por jogos e disputas. Exímio conhecedor de tratamentos com ervas (adquirido entre o povo nordestino), temido nas mesas de jogos e apostas e, principalmente, um grande galanteador, Zé Pilintra na Umbanda é a única entidade que é aceita em todos os rituais. Na Linha da Esquerda, regida por Exú, é onde apresenta maior ligação e sintonia com as características humanas para entregar os aconselhamentos. Na Linha 144
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da Direita, onde regem todos os outros Orixás, ele se apresenta nos rituais de Caboclos e Pretos-Velhos. Aparece no terreiro para tirar energias negativas, expulsar ações malignas que são geradas pelo preconceito, trazer purificação para a alma dos que necessitam, cura para todos setores e abertura de caminhos para todo tipo de assunto. Caridoso, Zé Pilintra não incorpora em médiuns que possuam qualquer tipo de comportamento desviado, procurando sempre por pessoas iluminadas. Sendo assim, podemos dizer que ele é capaz de mudar a vida de uma pessoa para melhor por meio de seu poder de cura e seus conselhos. Assim, auxilia na purificação da alma de todos os necessitados e também os ajuda a entender quais são os melhores caminhos que devem seguir – isso relacionado a qualquer tipo de assunto! Aprecia muitos tipos de comida, mas as suas favoritas são originárias da sua região nordestina. (...)” 17 Assim como Zé Pilintra, os Malandros são entidades que atuam na Linha da Esquerda na Umbanda. Em geral, apresentam-se trajando terno, sapato e chapéu brancos, com detalhes em vermelho. Existem também os que se assemelham a sambistas, com camisa listrada e chapéu panamá de palha. Muitas dessas entidades sofreram o preconceito racial, e passaram a viver à margem da sociedade. Felicidade e alegria expressam a Linha dos Malandros, que nos traz forças para lutar e sabedoria para crescermos e evoluirmos cada vez mais. Os cuidados que o umbandista deve ter ao visitar um cemitério, variam nos procedimentos adotados por cada casa para com seus filhos. Em nosso terreiro, Pai Odé D’Loy nos aconselha levar uma guia de proteção, no caso, nossa guia branca da casa, e ainda nas calçadas da entrada do cemitério, colocar uma moeda de qualquer valor, repetindo o mesmo gesto na saída. Pedindo licença na porteira, área de Ogum e Exú, devemos saudá-los ao adentrarmos no espaço. Já no interior, pedimos licença e saudamos à Obaluaiê, Orixá da doença e da cura que rege a parte superior da terra, e Omulú, o senhor da vida e da morte, que rege a parte 17
Disponível em: Apostila ABESMA 2021, anexos.
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debaixo da terra, além de saudarmos às almas, que regem o local (Cruzeiro das Almas). Ao chegar em casa, é aconselhado borrifar álcool na sola dos sapatos, antes de entrar no ambiente. Tomar um banho de higiene e, em seguida, um banho de cerveja clara do pescoço para baixo, completa a limpeza espiritual. Vale lembrar que o respeito, a discrição e a compaixão pelos que se foram e aos que ficaram, são as atitudes mais dignas que devemos apresentar nesse momento. CRUZEIRO DAS ALMAS Conhecido também como Campo Santo ou Calunga Pequena, o Cruzeiro das Almas, geralmente encontrado dentro dos cemitérios, é um portal de passagem do espírito para um outro plano vibratório. Esse campo é regido por Omulú/Obaluaiê e é lá que se costuma oferecer velas, flores e orações aos desencarnados, principalmente às segundas-feiras. As Santas Almas são poderosas e estão sempre nos ajudando, mas também nos cobrando pelo cumprimento de nossas promessas, como reza o ponto: Às almas deu, às almas dá. Às almas deu para quem sabe aproveitar. Às almas deu, às almas deu, às almas dá. Tome cuidado que as almas vêm te cobrar. “(...) Ali naquele lugar, temos uma grande força espiritual, local onde se trabalha as 13 Almas Benditas, na qual tem a função de auxiliar a entrada das Entidades trabalhadoras da Calunga Pequena para o resgate de espíritos desencaminhados, perdidos e viciosos. Esse é um dos trabalhos mais belos da Umbanda, pois ao desencarnar, o espírito por muitas vezes se sente desorientado, perdido, sem saber os acontecimentos, o que fazer e onde seguir. E assim, com essa força espiritual, é feita essa maravilhosa ajuda a esses espíritos buscarem o caminho que cada um deve seguir, deixando para trás o apego a matéria, a vida encarnada e aos bens materiais. (...) O Cruzeiro das Almas é tão importante aos espíritos, assim como o ar é fundamental ao encarnado, pois é ele 146
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o portal de passagem onde o espírito passa de um plano vibratório para outro, como por exemplo, no momento do desencarne, nas passagens de um estado de doença física ou emocional, uma obsessão complexa ou mesmo simples, mágoas, ódios, rancores e todo sentimento de ordem negativa para uma situação de cura, equilíbrio e harmonia. (...) Portanto, para finalizar, vamos ter em mente que o Cruzeiro das Almas é um ponto energético de luz e caridade que auxilia a nortear os desencarnados e encarnados, mostrando que não devemos nos apegar nas crendices, levando o nome santo do Cruzeiro das Almas em colocações errôneas feitas pelo próprio ser humano por falta de informação, ou por ser mau caráter, por vaidade ou mesmo misticismo. Devemos respeitar o Cruzeiro das Almas, pois certamente um dia passaremos por ele em busca de um portal de passagem entre o mundo material e o mundo espiritual.” 18 Amarração é o nome dado aos trabalhos espirituais feitos para “resgatar o amor perdido”, “restabelecer a união entre casais” ou até mesmo para “trazer o amor impossível”. Deixemos claro, desde já, que isso NÃO é Umbanda. Nossa religião tem como princípio o livre-arbítrio, a liberdade de escolhas e o respeito à individualidade. Quem promete esse tipo de serviço não possui escrúpulos, dignidade e objetiva somente o lucro financeiro obtido do sofrimento e desespero de muitos que não conseguem aceitar o fim de um relacionamento nem lidar com o desprezo em relações amorosas. Esse tipo de magia, quando não é puro charlatanismo, envolve espíritos trevosos, de baixa vibração ou pouco evoluídos. Por esse motivo, até poderá funcionar, mas certamente trará consequências terríveis para quem a fez e para quem a solicitou, além da própria vítima. A frase “Trago o seu amor em sete dias, pagamento só depois do resultado”, tão comum nos postes espalhados em nossas cidades ou em dezenas de anúncios de jornais diários, oferece ao ingênuo ou imprudente uma falsa promessa em sua vida. Precisamos entender de uma vez por todas que a liberdade é a maior bênção que foi concedida ao ser humano e que na Umbanda, não se faz Disponível em: <www.umbandayorima.blogspot.com/2017/05/entendendo-sobre-o-cruzeiro-das-almas.html> 18
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trabalhos para o amor, e sim trabalhamos por amor. Trabalhamos para que a pessoa se sinta capaz, confiante, resgatando seu amor-próprio, enaltecendo suas qualidades, evidenciando sua beleza interior, sua vaidade e autoestima, tornando sua aura mais leve e feliz, e como consequência, sentindo-se apta para conhecer e atrair naturalmente outras pessoas que queiram se relacionar por livre e espontânea vontade. O verdadeiro amor não possui amarras, não tem dono, não é comprado nem imposto. O verdadeiro amor é espontâneo, puro, livre e sempre será “eterno enquanto dure”, como disse o poeta...
Fonte: Autor
A maturidade que obtive nesses treze anos devotados a prática da fé, me proporcionou a aptidão, a segurança e a convicção necessárias para exercer a Umbanda fora dos limites de nosso terreiro, além de ganhar a confiança e a credibilidade de parentes e amigos, cada vez que sou solicitado a auxiliá-los das mais diversas formas, seja orando para uma determinada pessoa, indicando um banho específico, defumando residências, promovendo passes energéticos e limpezas espirituais, ou até aconselhando-os na presença de meus Guias, tudo isso sob o consentimento de meu 148
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Pai Odé D’Loy. É importante que se entenda que, assim como a fé, a prática da caridade está além dos limites físicos do terreiro. O Filho de Santo tem por obrigação ajudar ou mesmo socorrer a quem for a qualquer hora, caso possua o desenvolvimento mediúnico necessário e esteja totalmente apto para tal. Já foi dito, somos umbandistas em tempo integral e não apenas praticamos a Umbanda quando pisamos no terreiro. Chegado o momento, todo médium devidamente desenvolvido e qualificado, poderá cumprir suas obrigações, com o consentimento de seu Pai ou Mãe de Santo, de uma forma mais abrangente, muito embora o aprendizado e o desenvolvimento mediúnico continuarão ocorrendo, praticamente, durante toda sua caminhada. E falando em caminhos, sabemos que a Encruzilhada é o lugar onde muitos fazem oferendas e trabalhos para Exús e Pombagiras, mas o que ela significa? Quais os tipos de Encruzilhadas que existem? Respondendo a essas perguntas, reproduzo abaixo alguns conceitos elaborados por Pai Odé D’Loy. O QUE SIGNIFICA UMBANDA?
A
ENCRUZILHADA
NA
“Encruzilhada é o encontro de duas realidades, de duas verdades diferentes, tais como: matéria/astral; razão/ emoção; luz/trevas; ou, literalmente, pode ser o encontro de dois caminhos. Esta é a representação do ponto de força de Exu. Exu está em todos os caminhos, em todos os lugares e passagens, e não apenas na encruzilhada de rua, de terra, ou de mata. Todos os pontos que marcam a entrada e a saída de uma realidade são pontos de firmeza e de manifestação de Exu. Outra maneira, talvez, de se entender isso é lembrar que Exu é Guardião da Lei Maior e que trabalha na Lei e pela Lei regida por Pai Ogum, o Senhor de todos os Caminhos.”19
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Disponível em: Apostila ABESMA 2019, p. 9.
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MINHA VIDA NA UMBANDA
QUAIS OS TIPOS DE ENCRUZILHADAS E SUAS ENTIDADES CORRESPONDENTES? Encruzilhadas em forma de “X” e em forma de “T”, onde atuam Exú e Pombagira, respectivamente:
Fonte: Autor, baseado em Apostila ABESMA 2013
- Encruzilhadas Abertas: (indistintamente)
Para
todos
os
Exús;
- Encruzilhadas Fechadas: Para todos os Exús; (indistintamente) - Porteira de Curral: Exú das Sete Porteiras; - Encruzilhadas Mistas: Exús Miríns etc.; - Encruzilhadas em “S” ou em curvas: Exú Tira-Teima; - Encruzilhadas em “Pé de galinha”: Dona Pomba Gira; - Encruzilhadas de Estrada de Ferro: Dona Maria Padilha; - Encruzilhadas de caminho no Mato: Dona Maria Mulambo. 20
20
Disponível em: Apostila ABESMA 2013, p. 17.
150
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé ABERTA
FECHADA
PORTEIRA DE CURRAL
EM ‘S’
MISTA
PÉ DE GALINHA
CAMINHO NO MATO
ESTRADA DE FERRO
Fonte: Autor, baseado em Apostila ABESMA 2013
Dentre os conceitos que melhor definem UMBRAL, CROSTA, LIMBO e INFERNO, destaco abaixo o texto elaborado por Douglas Rainho, médium umbandista responsável pelo blog Perdido em Pensamento.21 “(...) O UMBRAL é o local no astral considerado o Astral inferior. Está localizado justamente na dimensão Astralina (ou espiritual) do plano terreno, logo cada orbe habitada possuiria o seu próprio Umbral. No próprio livro Nosso Lar, é deixado a entendimento de que a própria colônia que dá nome ao livro, estaria localizada no Umbral. Podemos considerar então que o Umbral é um local de transição e é subdividido em diversas áreas, conforme a simpatia e Disponível em: <https://perdido.co/2016/04/zonas-de-sofrimento-umbral-limbo-crosta-e-inferno/> 21
151
MINHA VIDA NA UMBANDA
afinidade dos espíritos. Também já me foi dito que todo ser humano passa pelo Umbral após seu desencarne, porém o tempo e a consciência que ele tomará dessa experiência, depende das suas atitudes nessa encarnação. Logo, um bom espírito passará brevemente e de forma adormecida, já um espírito negativo sofrerá impressões muito piores e durante um bom tempo. Podemos considerar também que o Umbral possua divisões, escalas de ascensão até chegar ao astral superior. Como somos espíritos ainda presos a matéria, muitos acabam ficando nos círculos próximos da crosta terrestre ou nosso plano zero. A CROSTA não é um local de habitação dos espíritos propriamente dito, mas sim o próprio plano terreno. Aqui é onde encontramos alguns espíritos vagantes, errantes e sem rumo. Alguns nem sequer tem consciência de que aqui ainda estão, talvez, presos pelas suas vidas anteriores ou por não saberem que morreram. A esses geralmente é dado o nome de Almas Penadas. A maioria dos fantasmas vistos por aí ou são Lêmures (elementais do astral inferior) ou são espíritos dessa categoria, de Alma Penada. A crosta não é um local de habitação continua, na verdade há uma intersecção entre o Umbral e a Crosta, então através do magnetismo (pensamento) é possível o espírito em desequilíbrio alternar (muitas vezes sem consciência) entre um plano e outro. O LIMBO já é um outro local complexo. Entendam que tanto o Umbral, quanto o Limbo e o Inferno (a seguir) estão localizados no Astral Inferior. Eles divergem apenas nas suas funções e nas densidades de suas construções. Esse local, é um local incerto, onde ficam espíritos que perderam a capacidade de pensar ou se cristalizaram de tal forma em suas evoluções (involução seria o termo adequado) que perderam qualquer capacidade cognitiva. O Espírito quando desprendido da matéria tem como lembrar dos seus atos passados, de suas experiências e tem acesso aos conhecimentos acumulados, conjuntamente com a sua história. Os Espíritos que habitam o limbo, perderam essa capacidade. É aqui que encontramos os famosos ovoides, espíritos em forma de ovos, que perderam quase que completamente seus perispíritos. São como mônadas, ainda albergando a essência espiritual (o espírito em si), mas enclausurado em um meio que não lhes permite externar nada. Alguns espíritos superiores os conseguem extrair o pensamento. Infelizmente, muitos desses espíritos acabam perdendo totalmente suas memórias, tendo que 152
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
passar por experiências de reencarnação para recuperar tudo, desde o início. Não perdem as experiências, mas ficam impossibilitados de acessá-las. Com o tempo, através de sucessivas reencarnações, conseguem recuperar o seu corpo espiritual (perispírito) e continuar a sua evolução. Nesse caso, muitas das reencarnações são compulsórias e dão origem a natimortos, bebês com deformidades congênitas que não sobrevivem ao parto. Isso devido a não existir mais uma configuração perispiritual para dar forma ao corpo. Mas por possuírem a essência – ou seja a energia inicial e vital, a centelha divina individualizada – são cobiçados por magos negros do astral inferior, para servirem de dínamos para seus intentos maléficos. Já o INFERNO seria a zona mais profunda do astral inferior, onde estariam as figuras mais nefastas e trevosas. Onde habitariam os verdadeiros demônios (Isso depende da interpretação teológica de cada um, mas acredita-se em entidades maléficas humanas e também as não humanas). Porém, ao contrário do que a crença popular prega, as entidades que habitam esse local estão completamente desinteressadas do ser humano individualmente. Elas raramente se manifestam e veem os seres humanos como insetos incômodos apenas. Logo será bem improvável encontrar a manifestação de uma entidade dessas, ou sequer, chegar até lá através de algum tipo de desdobramento. Os próprios seres espirituais positivos, não conseguem atingir essas zonas e o mesmo se dá com os habitantes negativos deste local, que não conseguem manifestar-se no plano terreno sem o concurso de outras entidades maléficas e negativas das zonas do Umbral. São mais incitadores do que realmente ativistas. O Inferno como visto pelo católico e pelo evangélico é apenas uma construção mental dos seus adeptos, não é real. O Inferno que propomos aqui na verdade não é uma região, mas um estado de consciência ou malignidade. (...)” Um outro assunto que causa muita controvérsia em nosso meio é referente ao chamado Corte ou sacrifício animal, prática muito utilizada em várias religiões de matrizes africanas, assim como no Candomblé e em alguns terreiros de Umbanda. Como já comentado, nossa casa traz fortes influências do Candomblé devido ao fato de nosso dirigente ter se iniciado nessa religião. Logo, é comum que tenhamos algumas práticas herdadas e adotadas em nosso terreiro, dentre elas o corte, ainda que praticado em 153
MINHA VIDA NA UMBANDA
raríssimas situações. Reproduzo abaixo um trecho do livro22 de autoria de Ademir Barbosa, que aborda com muita clareza essa questão. “(...) Na Umbanda, em cuja fundamentação não existe o corte, embora diversas casas dele se utilizem, por influências dos Cultos de Nação, os elementos animais, quando utilizados crus ou preparados na cozinha, provêm diretamente dos açougues. No primeiro caso, utilizam-se, por exemplo, língua de vaca, sebo de carneiro, miúdos, etc. No segundo, nas palavras de Rubens Saraceni: [...] Mas só se dá o que se come em casa e no dia a dia. Portanto, não há nada de errado, porque a razão de ter de colocar um prato com alguma comida ‘caseira’ se justifica na cura de doenças intratáveis pela medicina tradicional, causadas por eguns e por algumas forças negativas da natureza. [...] Observem que mesmo os Exús da Umbanda só pedem em suas oferendas partes de aves e de animais adquiridos do comércio regular, porque já foram resfriados e tiveram decantadas suas energias vitais (vivas) só lhes restando proteínas, lipídios etc., que são matéria.
Os animais criados em terreiro de Candomblé para o corte são muito mais bem cuidados e respeitados do que aqueles criados enjaulados, com alimentação inadequada para engordar etc. O animal, para o corte, não pode sofrer. Algumas partes são utilizadas para rituais; as demais são consumidas como alimento pela comunidade e pelo entorno. (...) Com relação ao corte, diálogo, respeito e compreensão são fundamentais para que todos se sintam irmanados, cada qual com sua individualidade e seus fundamentos. Diferenças não precisam ser necessariamente divergências.” (...) Finalizando este capítulo, selecionei alguns exemplos contidos na Apostila ABESMA 2013, de preces, agrados, banhos, defumações e pontos de Exú e Pombagira, além dos principais nomes dessas entidades no meio umbandista, para que o leitor tenha uma pequena referência das práticas relacionadas a Linha de Esquerda, adotadas em nosso terreiro. 22
Disponível em: O Livro Essencial de Umbanda, p.307-311, Universo dos Livros, São Paulo, 2014.
154
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
PRECES - Para Exú Exú, glorioso mensageiro do céu e da terra, protetor das almas encarnadas e desencarnadas e guardião dos espíritos de luz. Eu vos invoco humildemente, para que me ajude a pregar o amor, a justiça e a fazer a caridade. IIumine meu espírito com seu amor infinito e sua bondade inesgotável, para que eu possa, hoje e sempre, ter a misericórdia da sua proteção e, através dela, concretizar e levar minha fé, vencendo toda a adversidade e feitiçaria dos homens da terra. Laroiê, Exú. que assim seja e assim será! - Para Pombogira Pomba Gira, força divina de Olorum, estimula nosso progresso. Estimula nossa evolução. estimula nossas melhores qualidades. Fé, amor, lei, justiça e conhecimento, sem estímulo de vosso mistério, estagnam. Tudo estanca sem o desejo de desenvolvimento, e, como vosso mistério é este, auxilía-nos a seguir na senda luminosa sem quedas por desejar o que não se merece e desdenhar o que o Pai nos oferece. Livrai-nos desse tormento, para não ambicionarmos o errado, mas desejar sermos corretos, na natureza divina em que fomos criados. Amém. AGRADOS - Para Exú • PADÊ: Farofa fria feita com farinha de mandioca crua e grossa, com quatro temperos: água, mel, pinga e dendê. Enfeitada com sete rodelas de cebola roxa e sete pimentas dedo de moça vermelhas. A comida para Exú deve ser servida em prato de barro. Essa comida representa os quatro cantos do mundo, os caminhos da vida. Têm o poder de criar vínculo entre o Exú e o médium, fortalecendo a vibração durante a incorporação, bem como abrir os caminhos. 155
MINHA VIDA NA UMBANDA
• MARAFÔ: Bebida, geralmente aguardente (pinga); alguns bebem uísque, vinho tinto seco ou cerveja. • FUMO: Charuto. • GUIA DE EXÚ: Missangas enfiadas no cordenet, cores vermelha, preta e alguns casos branca, arrematada com firma (mojola) nas mesmas cores. - Para Pombogira • PADÊ: Farofa fria feita com fubá amarelo, temperado com azeite de dendê e sal, levemente úmida, soltinha. Enfeitada com sete rodelas de cebola crua, sete rodelas de tomate vermelho e sete pimentas dedo de moça vermelhas. Essa comida deve ser servida no prato de barro, representa a energia, a ligação entre o mundo material e espiritual. Tem o poder de esquentar os caminhos, bem como fortalecer os pedidos do médium. • BEBIDAS: Champanhe branco ou rose, bebidas doces como licor, vermute seco e doce (branco ou vermelho). Algumas entidades recebem conhaque de gengibre ou cerveja. • FUMO: Cigarro e/ou cigarrilhas com piteira. • GUIA DE POMBA-GIRA: Missangas nas cores vermelha e preta e, em alguns casos, amarelo escuro cristal, arrematadas com firma (monjola) nas mesmas cores. BANHOS - Para Exú • ABRE CAMINHO - Beladona, Arruda Macho, Guiné de Guampa, Erva Pombinha, Folha de Amoreira, Cambuí, Folha de Marmelo. - Para Pombogira • ABRE CAMINHO - Guiné de Guampa, Arruda Fêmea, Cambuí, Anis, Pétalas de Rosas Vermelhas, Folha de Aroeira, Alevante. 156
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
DEFUMAÇÕES - Para Exú e/ou Pombogira • DEFUMAÇÃO CONTRA FLUÍDOS NEGATIVOS Quebra-Tudo Guiné-caboclo, Espada de Santa Bárbara, Pitangueira, Folha de Marmelo, Alevante, Folha de Cambuí. • DEFUMAÇÃO PARA ATRAIR SORTE - Casca de Laranja Seca Ralada, Casca de Limão Galego Seco Ralado, Casca de Pêssego Seca, Casca de Maçã Seca, Canela em Pó ou em Pau, Cravo da Índia, Semente de Girassol. PONTOS - Para Exú O sino da igrejinha faz belém, blem blom (2x) deu meia-noite o galo já cantou Seu Tranca-ruas que é o dono da gira oi corre gira que Ogum mandou - Para Pombogira Juraram de lhe matar na porta do cabaré (2x) Ela anda de dia, ela anda de noite Só não mata quem não quer (2x) PRINCIPAIS NOMES DE EXÚS23 Exú Maré
Exú Pimenta
Exú Sete Pedras
Exú Arranca Toco
Exú Facada
Exú Pinga-fogo
Exú Sete Poeiras
Exú Asa Negra
Exú Ganga
Exú Pirata do Mar
Exú Sete Portas
Exú Bará
Exú Gargalhada
Exú Poeira
Exú Sete Porteiras
Exú Belzebu
Exú Gato Preto
Exú Ponto Maioral
Exú Sete Queimadas
Exú Brasa
Exú Gira Mundo
Exú Porteira
Exú Sete Sombras
Exú Calunga
Exú João Caveira
Exú Quebra-barranco
Exú Tatá Caveira
Exú Capa Preta
Exú da Campina
Exú Quebra Galho
Exú Tiriri
Exú Capa Preta da Encruzilhada
Exú da Morte
Exú Quirombô
Exú Tira-teima
Exú Capa Preta das Almas
Exú do Lodo
Exú Rei
Exú Toco-preto
PRINCIPAIS NOMES DE EXÚS
23
Disponível em: Os nomes Exú de do Exu (povodeesquerda07.blogspot.com) Tronco Exú Rei das 7 Exú Tranca-gira
Exú Capa Preta das 7 Encruzilhadas Exú Capoeira
Exú Lalu
Exú Carranca
Exú Lorde da Morte
Exú Carangola
Exú Lúcifer
Exú Rei das Trevas
157Exú do Rio
Exú Serapião
Exú Tranca-rua Exú Tranca-rua das Almas Exú Tranca-rua de Embaré
Exú João Caveira
Exú Calunga Exú Capa Preta
Exú Quebra-barranco
Exú da Campina Exú Quebra Galho MINHA VIDA NA UMBANDA
Exú Tatá Caveira Exú Tiriri
Exú Capa Preta da Encruzilhada
Exú da Morte
Exú Quirombô
Exú Tira-teima
Exú Capa Preta das Almas
Exú do Lodo
Exú Rei
Exú Toco-preto
Exú Capa Preta das 7 Encruzilhadas
Exú do Tronco
Exú Rei das 7
Exú Tranca-gira
Exú Capoeira
Exú Lalu
Exú Rei das Trevas
Exú Tranca-rua
Exú Carranca
Exú Lorde da Morte
Exú do Rio
Exú Tranca-rua das Almas
Exú Carangola
Exú Lúcifer
Exú Serapião
Exú Tranca-rua de Embaré
Exú Cascavel
Exú Malê
Exú Sete Brasas
Exú Tranca-rua das 7 Encruzilhadas
Exú Catacumba
Exú Mangueira
Exú Sete Buracos
Exú Tranca-rua da Encruzilhada
Exú Caveira
Exú Marabá
Exú Sete Caminhos
Exú Tranca-rua das Matas
Exú do Cemitério
Exú Marabô
Exú Sete Campas
Exú Tranca-rua do Mar
Exú Corta-corta
Exú Maré
Exú Sete Catacumbas
Exú Tranca Tudo
Exú Cobra
Exú Matança
Exú Sete Caveiras
Exú Tronqueira
Exú Corcunda
Exú das Matas
Exú Sete Corvas
Exú Veludo
Exú Corrente
Exú Meia Noite
Exú Sete Cruzes
Exú Veludo da Encruzilhada
Exú Curador
Exú Morcego
Exú Sete Encruzilhadas
Exú Veludo da Mata
Exú Desmancha Tudo
Exú Mulambo
Exú Sete Estradas
Exú Veludo das Almas
Exú Destranca Rua
Exú Pagão
Exú Sete Facadas
Exú Veludo das Sete Encruzilhadas
Exú Duas Cabeças
Exú Pantera Negra
Exú Sete Garfos
Exú dos Ventos
Exú do Fogo
Exú Pedra Preta
Exú Sete da Lira
Exú Ventania
Exú Mangueira
Exú Pemba
Exú Sete Montanhas
Exú Vira-mundo
PRINCIPAIS NOMES DE POMBAGIRAS24
Pombagira Maria de Minas
Pombagira Rosa da Madrugada
Pombagira Cacurucaia
Pombagira Maria do Cabaré
Pombagira Rosa da Noite
Pombagira Cigana (Nome da Cigana)
Pombagira Maria do Caís
Pombagira Rosa das Almas
Pombagira da Calunga
Pombagira Maria Dolores
Pombagira Rosa do Cabaré
Pombagira da Figueira
Pombagira Maria Eulália
Pombagira Rosa do Lodo
Pombagira da Lira
Pombagira Maria Farrapo
Pombagira Rosa dos Ventos
Pombagira da Meia-Noite
Pombagira Maria Molambo
Pombagira Rosa Maria
Pombagira da Praia
Pombagira Maria Morena
Pombagira Rosa Menina
Pombagira Dama da Noite
Pombagira Maria Mulambo
Pombagira Rosa Morena
Pombagira Dama das Sete Capas
Pombagira Maria Navalha
Pombagira Rosa Negra
Pombagira das Sete Liras
Pombagira Maria Padilha
Pombagira Rosa Vermelha
Pombagira das Almas
Pombagira Maria Quitéria
Pombagira Sete Calungas
Pombagira das Lagoas
Pombagira Maria Rita
Pombagira Sete Canoas
Pombagira das Rosas
Pombagira Maria Rosa
Pombagira Sete Capas
Pombagira das Sete Encruzilhadas
Pombagira Maria Sete Covas
Pombagira Sete Catacumbas
Pombagira do Cruzeiro
Pombagira Maria Sete Encruzilhadas
Pombagira Sete Chaves
Pombagira do Lodo
Pombagira Maria Sete Navalhas
Pombagira Sete Coroas
PRINCIPAIS NOMES DE POMBAGIRAS
24
Disponível em: Os nomes de Pombagira (povodeesquerda07.blogspot.com)
158
Pombagira das Sete Liras
Pombagira Maria Padilha
Pombagira das Almas
Pombagira Maria Quitéria
Pombagira das Lagoas
Pombagira Maria Rita
Pombagira Sete Canoas
Pombagira das Rosas
Pombagira Maria Rosa
Pombagira Sete Capas
Pombagira das Sete Encruzilhadas
Pombagira Maria Sete Covas
Pombagira Sete Catacumbas
Pombagira do Cruzeiro
Pombagira Maria Sete Encruzilhadas
Pombagira Sete Chaves
Pombagira do Lodo
Pombagira Maria Sete Navalhas
Pombagira Sete Coroas
Pombagira do Mangue
Pombagira Maria Sete Ondas
Pombagira Sete Cruzes
Pombagira do Reino da Lira
Pombagira Maria Sete Punhais
Pombagira Sete Encruzilhadas
Pombagira dos Ventos
Pombagira Maria Sete Rosas
Pombagira Sete Estrelas
Pombagira Fiqueira do Inferno
Pombagira Maria Sete Saias
Pombagira Sete Luas
Pombagira Ganga
Pombagira Maria Sete Véus
Pombagira Sete Mares
Pombagira Giramundo
Pombagira Menina
Pombagira Sete Navalhas
Pombagira Madalena Sofia
Pombagira Mirim
Pombagira Sete Ondas
Pombagira Maria Alagoana
Pombagira Mirongueira
Pombagira Sete Pembas
Pombagira Maria Baiana
Pombagira Rainha
Pombagira Sete Porteiras
Pombagira Maria Bonita
Pombagira Rainha das Rainhas
Pombagira Sete Punhais
Pombagira Maria Caveira
Pombagira Rainha das Sete
Pombagira Sete Rosas
Pombagira Maria Cigana
Pombagira Rainha do Cemitério
Pombagira Sete Saias
Pombagira Maria da Estrada
Pombagira Rainha Sete Saias
Pombagira Sete Tridentes
Pombagira Maria da Praia
Pombagira Rosa Caveira
Pombagira Sete Ventanias
Pombagira Maria das Almas
Pombagira Rosa da Calunga
Pombagira Sete Véus
Pombagira Maria das Sete
Pombagira Rosa da Encruzilhada
Pombagira Veludo
Pombagira Rosa Vermelha
Pombagira Sete Calungas Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
159
Capítulo VII O PRESENTE
Foto: Autor
E
sta obra foi finalizada em fevereiro de 2022 e naquele momento, eu já completava 14 anos em minha trajetória como Filho de Umbanda. A satisfação do livro concluído, a receptividade do projeto por parte de todos a minha volta, e a emoção em ser guiado durante todo esse processo pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, me foram de uma alegria sem fim. E agora, ao concluir esta obra, percebo, com muita clareza, a missão dada a minha amada mãe, que há muitos anos viveu suas primeiras manifestações mediúnicas, já sendo preparada para que deixasse a porta aberta, pela qual, tempos depois, eu iria entrar. Hoje, continuo com muito orgulho, a missão a nós destinada, mãe e filho, sob as Graças de nosso Pai Olorum. Muitas das informações deste presente capítulo foram organizadas em tópicos com o intuito de proporcionar uma maior 161
MINHA VIDA NA UMBANDA
fluidez e clareza ao leitor. Como comentado no prefácio desta obra, o Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema inspirou-me desde o início até as páginas finais, escolhendo cada assunto a ser abordado, como também a forma que deveriam ser tratados, desde a escolha de cada palavra, organização de conteúdo, até a finalização do livro. A Umbanda possui fundamento, história, hierarquia, princípios e sacramentos, assim como seu próprio hino e bandeira oficiais, e é sobre suas origens e significados que falaremos a seguir. BANDEIRA OFICIAL DA UMBANDA O lançamento oficial da Bandeira da Umbanda criada pelo babalorixá Saul de Medeiros (Saul de Ogum), presidente da Associação de Umbanda de Caxias, foi em 01 de junho de 2008, no Teatro Municipal Dr. Paulo Machado de Carvalho, na presença de 1.200 irmãos de fé. Nas palavras do autor, “a imagem de um lindo sol radiante e, de seu núcleo, sai uma figura que no primeiro instante parece a de um enorme pombo branco, mas olhando com mais atenção, a forma se modifica deixando transparecer um espectro humano angelical e com enormes asas, como se dirigisse a um destino determinado a realizar uma missão”.
162
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
O Hino Oficial da Umbanda é executado em todos os terreiros existentes, desde sua criação até os dias atuais, com a mesma letra e melodia originais, sem alteração alguma. Seu compositor, José Manuel Alves, ao escrever a letra do hino, quis mostrar que a “Luz Divina, que vem do Reino de Oxalá”, não é para ser vista com os olhos físicos, que voltarão ao pó, mas sim com olhos do espírito, no encontro da mente com o coração. Por isso, é importante que todos pratiquem esse ato cívico de Umbanda, como demonstração de fé, respeito e amor. HINO OFICIAL DA UMBANDA Nos anos de 1960, o compositor português José Manuel Alves, em busca da cura para sua deficiência visual, encontra na Umbanda a inspiração para compor um hino para a doutrina pela qual se apaixonara. Embora não tenha obtido a total recuperação de sua visão, definida como de origem cármica pelo Sr. Caboclo das Sete Encruzilhadas, o hino foi exibido a esta entidade que o aprovou de imediato, apresentando-o como o HINO DA UMBANDA no 2º Congresso de Umbanda, no ano de 1961, sendo oficializado na 1ª Convenção do Conselho Nacional Deliberativo de Umbanda (CONDU), em março de 1976. Refletiu a Luz Divina com todo seu esplendor Vem do Reino de Oxalá, onde há paz e amor Luz que refletiu na terra, Luz que refletiu no ar Luz que vem lá de Aruanda para nos iluminar A Umbanda é paz e amor É um mundo cheio de Luz É a força que nos dá vida É a grandeza que nos conduz Avante Filhos de Fé Como a nossa Lei não há Levando ao mundo inteiro A bandeira de Oxalá 163
MINHA VIDA NA UMBANDA
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA UMBANDA • Crença em um Deus único (monoteísmo) • Crença nos Orixás • Crença nos Guias de Luz • Existência da alma e sua sobrevivência após a morte • Prática da caridade • Lei do Livre-Arbítrio • Crença na encarnação e reencarnação • Crença na lei cármica de causa e efeito • Direito a liberdade de todos os seres Como já foi falado, a Umbanda recebeu influências de, basicamente, cinco matrizes religiosas: • Africanismo • Cristianismo • Indianismo • Kardecismo • Orientalismo Do Africanismo, herdamos o culto aos Orixás e aos Pretos-Velhos. O uso de imagens, orações e símbolos provém do Cristianismo (sincretismo); O Indianismo nos trouxe a sabedoria indígena ancestral em todos os seus aspectos (cultural, medicinal, ecológico, espiritual etc.), a pajelança e o culto aos Caboclos; Do Kardecismo, o estudo da Doutrina Espírita e a presença de espíritos que atuam na linha da cura como Bezerra de Menezes, André Luiz e Dr. Fritz; Por fim, o Orientalismo nos trouxe os conceitos sobre prana, chacras, além do culto à Linha Cigana, também 164
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
chamada Linha do Oriente. O QUE É A FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE UMBANDA1 (FBU)? Entidade de Cúpula de Umbanda, Candomblé e todos os cultos afro-brasileiros com personalidade jurídica reconhecida em âmbito nacional que tem como função primordial legalizar os Templos, fornecendo Alvará de Funcionamento, Estatutos e demais documentos necessários ao exercício das atividades religiosas e sociais dos mesmos, promovendo através de cursos, o aperfeiçoamento dos Diretores de Cultos das Entidades filiadas. Assim como os pontos cantados, a prática das orações também pode se diferenciar em cada terreiro. Muitos adotam preces distintas em determinados rituais, outros diferenciam-se no próprio conteúdo de suas rezas, apresentando alguma variação na forma estrutural da oração. Além das preces umbandistas, nossa religião também adota o Pai Nosso e a Ave Maria (catolicismo) em suas práticas religiosas. Muitas preces nos foram passadas por Pai Odé D’Loy, algumas das quais aqui reproduzo, para que o leigo tenha uma ideia, o iniciante, um recurso, e o médium, uma referência. PRECE A OXALÁ Meu pai Oxalá, neste dia, venho pedir a paz, a alegria e seu grande axé! Reveste-me com a Vossa Luz e destrua as trevas que atravessarem meus caminhos. Envolva-me em seu manto branco de paz, em Tua Luz, a cada instante de meu dia. Que Vossa sábia ajuda seja minha companheira durante todo o dia, e o ilumine com Vossa divina inspiração. Que eu encontre pessoas a quem eu possa confiar e compartilhar Vossa energia de paz, trazendo conforto a quem necessita e que eu possa receber somente as boas 1
Disponível em: <http://www.fbu.com.br/>
165
MINHA VIDA NA UMBANDA
emanações da energia das pessoas. Traga sucesso em meus trabalhos para que eu tenha um dia de realizações positivas. Que assim seja! Axé meu pai Oxalá! Axé Babá! PRECE A OXUM Oh mamãe Oxum, proteja-me. Faça que o amor seja constante em minha vida e que eu possa amar toda a criação de Olorum. Proteja-me de todas as mandingas e feitiçarias. Dai-me o néctar de sua doçura e que eu consiga tudo o que eu desejo e a serenidade para agir de forma consciente e equilibrada. PRECE A IANSÃ Oh mãe Iansã, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei com que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre a meu lado para que eu possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno, todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas e com a consciência do dever cumprido, eu possa agradecer a vós, minha protetora, e render graça a Deus, criador do céu, da terra e da natureza. Este Deus que tem o poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras. Eparrei! PRECE A IEMANJÁ Doce, meiga e querida mãe Iemanjá. Vós permitiste que no seio de Vossa morada se formassem as primitivas formas de vida, que foram o berço de toda a criação, de toda a natureza e de toda a humanidade, aceitai nossas preces de reconhecimento e amor. Que os lampejos que emanam de vosso diáfano manto de estrelas venham, como benéficas vibrações espirituais, 166
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
aliviar os males, curar aos doentes, apaziguar os nossos irmãos revoltados, consolar os corações aflitos. Que as flores e oferendas que depositamos em vosso tapete sagrado, sejam por Vós aceitas e quando entrarmos nas águas para vos ofertá-las, seja as ondas do mar portadoras de vossos fluídos divinos. Fazei, Senhora Rainha das Águas, com que a espuma das ondas em sua alvura imaculada traga-nos a presença de Oxalá, limpe os nossos corações de todas as maldades e malquerenças. PRECE A NANÃ BUROQUÊ À minha mãe Nanã, eu peço a benção e proteção para todos os passos de minha vida. À minha mãe Nanã, eu peço que abençoe o meu coração, minha cabeça, meu espírito e corpo. Que aos poderes dados somente à Senhora das senhoras, sejam caridosos e benevolentes, e me escondam de meus inimigos ocultos e poderosos. Minha querida mãe e senhora, tenha piedade de meu coração. para merecer a sua proteção e caridade. À minha mãe Nanã, eu lhe devoto minha fé e minhas palavras. Assim seja! Saluba, Nanã! PRECE A OGUM Pai, que minhas palavras e pensamentos cheguem até vós, em forma de prece, e que sejam ouvidas. Que esta prece corra mundo e universo, e chegue até os necessitados em forma de conforto para as suas dores. Que corra os quatro cantos da terra e chegue aos ouvidos dos meus inimigos, em forma de brado de advertência de um filho de Ogum, que sou e nada temo, pois sei que a covardia não muda o destino. Ogum, Padroeiro dos agricultores e lavradores, fazei com que minhas ações sejam sempre férteis como o trigo que cresce e alimenta a humanidade, nas suas ceias espirituais, para que todos saibam que sou teu filho. 167
MINHA VIDA NA UMBANDA
Ogum, Senhor das estradas, fazei de mim um verdadeiro andarilho, que eu seja sempre um fiel caminheiro seguidor do teu exército, e que nas minhas caminhadas só haja vitórias. que, mesmo quando aparentemente derrotado, eu seja um vitorioso, pois nós, os vossos filhos, conhecemos a luta, como esta que travo agora, embora sabendo que é só o começo, mas tendo o Senhor como meu Pai, minha vitória será certa. Ogum, meu grande Pai e Protetor, fazei com que o meu dia de amanhã seja tão bom como o de ontem e hoje, que minhas estradas sejam sempre abertas, que eu trabalhe para que no meu jardim só haja flores, que meus pensamentos sejam sempre bons e que aqueles que me procuram consigam sempre remédios para seus males. Ogum, vencedor de demandas, que todos aqueles que cruzarem a minha estrada, cruzem com o propósito de engrandecer cada vez mais a ordem dos cavaleiros de Ogum. Pai, dai Luz aos meus inimigos, pois eles me perseguem porque vivem nas trevas, e na realidade só perseguem a Luz que vós me destes. Senhor, livrai-me das pragas, das doenças, das pestes, dos olhosgrandes, da inveja, das mentiras e da vaidade que só leva a destruição. e que todos aqueles que ouvirem esta prece, e também aqueles que a tiverem em seu poder, estejam livres das maldades do mundo. Ogum Iê! Saravá Ogum. PRECE A OXÓSSI Senhor das matas e da vida silvestre, neste momento, pai, sou sua flecha. Sou a força do seu arco, sou tudo o que é, a agilidade, a sabedoria. Faça de mim, soberano caçador, uma pessoa de sucesso, e que haja fartura em minha casa. Dê a mim sabedoria para agir, paz para construir meus ideais, força para seguir sempre. Oxóssi, Rei das matas, da lua, do céu azul, que seja eu leve como o pássaro que voa, livre como o cavalo que corre, 168
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forte como o carvalho na mata, direto como a sua flecha. E que eu vença e seja feliz sempre! Okê Arô, Oxóssi! PRECE A XANGÔ Ao meu pai Xangô, eu peço na benção de Oxalá que atenda às minhas palavras, que ouça meu coração por amor a Orumilá. Ao meu pai Xangô, eu peço a sua misericórdia e proteção para minha vida. Ao meu pai Xangô, eu peço que seja digno de carregar em minha vida a sua proteção, a sua benevolência e sua força. Ao meu pai Xangô, eu peço que abra os meus caminhos e que eu consiga enxergar em minha alma, as imperfeições que não me deixam enxergar a luz divina do criador. Que meu corpo e meu espírito, sejam curados pelos seus ensinamentos divinos. Ao meu pai Xangô, pela minha verdadeira fé e devoção. eu peço que ouça minhas palavras e que eu, seja digno de seu perdão. PRECE A OMOLÚ/OBALUAÊ Dominador das epidemias, de todas as doenças e da peste. Omolú, Senhor da terra. Obaluaê, meu pai eterno. dai-nos saúde para a nossa mente, dai-nos saúde para nosso corpo. Refoçai e revigorai nossos espíritos para que possamos enfrentar todos os males e infortúnios da matéria. Atotô meu Obaluaê! Atotô meu velho Pai! Atotô Rei da terra! Atotô Babá! PRECE AOS IBEIJÍS Dois irmãos gêmeos que passaram pela vida usando a bondade e o conhecimento médico, para curar todas as pessoas necessitadas, sem cobrarem nada em troca. Pedimos por intermédio de Deus, que São Cosme e São Damião, faça-nos assim tão amáveis e desinteressados, com o coração puro e, protetores das crianças e dos médicos, sempre seguindo os vossos ensinamentos 169
MINHA VIDA NA UMBANDA
cristãos. Dai-nos forças, para que nossa espiritualidade seja maior do que qualquer bem material, para que nossa alma esteja preparada para se doar o quanto ela puder aos irmãos carentes. São Cosme e São Damião, amparenos na fé e na luz que precisamos para iluminar mais este trabalho celestial. São Cosme e São Damião, rogai por nós! PRECE AOS PRETOS-VELHOS Louvados sejam todos os pretos-velhos. Louvados sejam vós que formais o Santíssimo Rosário da Virgem Maria. Santas Almas Benditas, protetoras de todos aqueles que se encontram em aflição. A Vós recorremos, Espíritos Puros, pelos sofrimentos grandiosos, pela humanidade Bem-aventurados pelo amor que irradiam, socorram-me, pois me encontro em aflição Concedam-me, meus bondosos pretos-velhos, a graça da cura através da vossa intercessão junto a Santa Virgem Maria, Santíssima Mãe de Deus e de todos nós. Dai-me, meus pretos-velhos, um pouco de vossa humildade, de vosso amor e de vossa pureza de pensamentos, para que possa cumprir minha missão na Terra, seguindo todos os vossos exemplos de bondade. Louvadas sejam todas as Santas Almas Benditas. Tenham piedade de nós. Assim seja! PRECE AOS CABOCLOS Salve Zambi, Pai e criador de todo o universo! Salve Oxóssi, Rei das matas e chefe de todos os Caboclos! Salve seu Sete Folhas e sua falange guerreira! Peço que seu arco e sua flecha me defendam de toda armadilha, volúpia, de toda ganância material e desproteção psíquica. Que eu esteja sempre protegido de 170
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todo mal que me for direcionado e de tudo aquilo que não me faz bem e que eu insisto em me apegar. Que seu olhar penetrante queime todo o meu ódio, inveja, ciúme, orgulho, maledicência e minha mania humana em buscar a perfeição. Que sua luz me ajude a ter compaixão pelo outro e por mim mesmo. Que suas folhas me livrem do inimigo e embelezem a minha vida para sempre olhar e refletir o bem. Que assim seja e assim será! Salve o verde das matas! Salve os Caboclos! Oke Oxóssi! PRECE AOS BAIANOS Meu Sr. do Bonfim, acho-me na Tua presença humildemente, para receber de Ti, todas as graças que quiseres me dispensar. Perdoai-me, Senhor, por todas as faltas que porventura eu tenha cometido por obra ou pensamento. Fazei-me forte para vencer todas as tentações e malfeitos do inimigo. Que o sagrado Orixá Ogum corte com sua espada todos os males que de mim se acercarem; Que Iemanjá, Rainha do Mar, com a Tua proteção, leve sob grilhões para o fundo do mar toda a inveja que sobre mim, recair; Que Oxum leve consigo todas as lágrimas que eu tenha a chorar, para nunca o desespero ou a desgraça me alcançar; Que Ossanhe afaste de mim todas as tempestades para os ventos da bonança me trazerem prosperidade; Que toda a fortuna do mundo possa chegar aos meus pés, com a proteção do grande Orixá Oxumarê; Que Xangô, do alto da sua Santa Pedreira, solidifique todos os bens que eu alcançar.; Salve o Sr. do Bonfim, salve todos os Orixás, que me protejam na vida, para nada me faltar. 171
MINHA VIDA NA UMBANDA
PRECE AOS BOIADEIROS Salve a força dos cem cavalos brancos de boiadeiro Que rompem cercas Que rompem sebes Que avançam em pastos Que seguem rumo no sertão imenso! Xetruá! Boiadeiro com seu laço Gira o mundo e faz magia Gira o tempo e movimenta Os caminhos de nossas vidas! Xetruá! Boiadeiro com seu berrante Anuncia a nova era Abre os pensamentos e os corações Dos homens que avançam na terra! Xetruá Boiadeiro com seu chapéu Cobre o Ori dos filhos seus Mostra o eixo, mostra o rumo Das passadas de quem tem fé! Xetruá! Mensageiro do Cruzeiro do sul Caminhante do céu sem fim Sol, lua e estrela te orientam Rumo ao Norte de sua terra Seu lajedo, sua estrada 172
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Horizonte que nos leva Xetruá! Sua guia é a minha guia O seu canto é o meu canto Sua força é a minha força Seu amor é a minha bandeira! Xetruá, seu boiadeiro Que com seus cem cavalos brancos Rompe cerca Rompe sebes Corre pastos No sertão imenso de nós mesmos! Xetruá! PRECE AOS MARINHEIROS Salve os Marinheiros de Umbanda! Pelo mar vou levando o desequilíbrio e as negatividades do meu ser. Pelo mar vou levando a incerteza de que caminho tomar. Pelo mar vou levando os motivos de meu desespero e solidão. Pelo mar vou levando a falta de um caminho para seguir. Que os marujos me tragam a certeza de uma vida equilibrada, a vontade de continuar navegando e a promessa de um caminho iluminado. Assim, pedimos que pelo mar levem os nossos desequilíbrios e nossas negatividades. Da mesma maneira, que levem as incertezas e as intolerâncias. Levem o desespero, a angústia e a solidão. 173
MINHA VIDA NA UMBANDA
E nos tragam, caros marujos, a certeza de uma vida equilibrada, a coragem de seguir navegando pelo mar da vida e a certeza de um caminho iluminado. Assim seja e assim será! Saravá! PRECE A SANTA SARA (CIGANOS) Santa Sara, minha protetora, cubra-me com seu manto celestial. Afaste as negatividades que porventura estejam querendo me atingir. Senhora, protetora dos ciganos, sempre que estivermos nas estradas do mundo protejanos e ilumine nossas caminhadas. Santa Sara, pela força das águas, pela força da mãenatureza, esteja sempre ao nosso lado com seus mistérios. Nós, filhos dos ventos, das estrelas, da lua cheia e do Pai, só pedimos a sua proteção contra os inimigos. Ilumine nossas vidas com seu poder celestial, para que tenhamos um presente e um futuro tão brilhantes, como são os brilhos dos cristais. Ajude os necessitados, dê luz para os que vivem na escuridão, saúde para os que estão enfermos, arrependimento para os culpados e paz para os intranquilos. Santa Sara, que o seu raio de paz, de saúde e de amor possa entrar em cada lar neste momento. Dê esperança de dias melhores para essa humanidade tão sofrida. Santa Sara milagrosa, protetora do povo cigano, abençoe a todos nós que somos filhos do mesmo Deus. PAI NOSSO UMBANDISTA Pai nosso que estais nos céus, nas matas, nos mares e em todos os mundos habitados Santificado seja o Teu nome, pelos Teus filhos, pela natureza, pelas águas, pela luz e pelo ar que respiramos. Que o Teu reino, reino do bem, do amor e da fraternidade, nos una a todos e a tudo que criaste, em torno da sagrada cruz, aos pés do divino salvador e redentor. 174
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Que Tua vontade nos conduza sempre para o culto do amor e da caridade. Dá-nos hoje e sempre a vontade firme para sermos virtuosos e úteis aos nossos semelhantes. Dá-nos hoje o pão do corpo, o fruto das matas e a água das fontes para o nosso sustento material e espiritual. Perdoa, se merecermos, as nossas faltas e dá o sublime sentimento do perdão para os que nos ofendam. Não nos deixe sucumbir ante a luta, dissabores, ingratidões, tentações dos maus espíritos e ilusões pecaminosas da matéria. Envia, Pai, um raio de Tua divina complacência, luz e misericórdia para os Teus filhos pecadores que aqui habitam, pelo bem da humanidade. Que assim seja em nome de Olorum, Oxalá e de todos os mensageiros da luz divina. Destaco a seguir, alguns exemplos de Pontos Cantados praticados em nosso terreiro, em louvor aos Orixás e Guias de Luz de nossa Divina Sagrada Umbanda. PONTO DE OXALÁ Oxalá, meu Pai, hasteia a bandeira branca lá no alto da serra Oxalá, meu Pai, abençoe e perdoe seus filhos aqui na terra Missão sagrada meu Pai, a sua bênção O seu amor e o seu perdão E não permita que entre os filhos de umbanda possa existir jamais um traidor (2x) PONTO DE OXUM Eu ví Mamãe Oxum sentada numa cachoeira (2x) Colhendo os lírios, lírios ê 175
MINHA VIDA NA UMBANDA
Colhendo os lírios, lírios ah Colhendo lírios pra enfeitar nosso Congá (2x) PONTO DE IEMANJÁ IÊ...Iemanjá Rainha das ondas, Sereia do mar (2x) Como é lindo o canto de Iemanjá Faz até o pescador chorar Quem escuta a Mãe D’água cantar Vai com Ela pro fundo do mar (2x) PONTO DE IANSÃ Eu tava na ladeira sem poder subir (2x) Chamei Iansã pra me acudir (2x) Eu tava na ladeira sem poder subir (2x) Chamei Iansã para me valer (2x) PONTO DE NANÃ Vó Nanã minha vozinha, minha vó Minha vó que Deus me deu, minha vó (2x) PONTO DE OGUM Ogum tem sete espadas pra me defender (2x) Eu tenho Ogum em minha companhia Ogum é meu Pai, Ogum é meu Guia Ogum vai passar, Venha com Deus e a com a Virgem Maria (2x) PONTO DE OXÓSSI Oxóssi é Rei no céu Oxóssi é Rei na terra (2x) Ele não desce do céu sem coroa 176
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Sem sua muganga de guerra (2x) PONTO DE XANGÔ Meu Pai São João Batista é Xangô Ele é dono do meu destino até o fim Se um dia me faltar a fé no meu Senhor Que role esta pedreira sobre mim PONTO DE OBALUAÊ/OMOLÚ Meu Pai Oxalá é Rei venha me valer (2x) O velho Omolú, Atotô Obaluaê (2x) Atotô Obaluaê, Atotô Babá Atotô Obaluaê, Atotô é Orixá PONTO DE IBEIJÍS Hoje tem alegria no terreiro do meu Pai Saravá Seu Rompe Mato, ele é chefe de congá (2x) Embala eu, Babá, embala eu (2x) PONTO DE PRETOS-VELHOS Preto Velho vem de Angola, vem de Angola trabalhar (2x) Ele vai, Ele vai, Ele vem, Ele tira mironga, Ele faz tirar (2x) PONTO DE CABOCLOS Oxalá chamou, Ele mandou chamar Os Caboclos da Jurema lá no Juremá. Chamo os Caboclos das matas é para trabalhar (2x) Se o coqueiro é muito alto, Caboclo vai derrubar. (2X) PONTO DE BOIADEIROS Boiadeiro Boiadeiro, cadê sua boiada (2x) 177
MINHA VIDA NA UMBANDA
Minha boiada eu deixei lá em Belém E o meu chapéu de couro Eu deixei foi lá também. (2x) PONTO DE MARINHEIROS Eu não sou daqui, Marinheiro só Eu não tenho amor, Marinheiro só Eu sou da bahia, Marinheiro só de são salvador, Marinheiro só Oh Marinheiro, Marinheiro, Marinheiro só Quem te ensinou a navegar, Marinheiro só Foi o tombo do navio, Marinheiro só Foi o balanço do mar, Marinheiro só Lá vem, lá vem, Marinheiro só Ele vem faceiro, Marinheiro só Todo de branco, Marinheiro só Com seu bonezinho, Marinheiro só. PONTO DE CIGANOS Meu Ganga não me engana Meu Ganga me falou Essa moça é Cigana Foi doutor quem mandou PONTO DE BAIANOS Baiano bom, Baiano bom, Baiano bom é quem sabe trabalhar (2x) Baiano bom é quem sobe no coqueiro, tira água desse côco, bota o côco no lugar (2x) Os chamados ditos populares2 fazem parte da vida de todos e até hoje são passados de geração em geração. Frases disseminadas na cultura popular, curtas e de fácil assimilação, carregam inúmeros ensinamentos que se aplicam a todo tipo de situação em Dito popular é um provérbio agudo e sentencioso que costuma contemplar um conselho ou uma moral. 2
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nosso cotidiano. O mesmo ocorre em nossa religião, onde muitas frases e pensamentos se tornaram populares, sejam em forma de conselhos, cobranças, advertências ou transmitindo ensinamentos diversos. Relaciono abaixo algumas que merecem destaque. FRASES & PENSAMENTOS • Não mexa com filho de fé, ele é mel e dendê, Santo forte e feiticeiro, sua reza tem axé. • O mundo gira, o mundo dá voltas. Quem riu na tua ida, vai chorar na tua volta. • Pessoa ruim é capaz de tudo, fio meu, inclusive fingir ser boa. • Não culpe o Orixá pelo seu mal gênio. Ele é responsável pelo seu crescimento, e não pela sua estupidez. • Todo bajulador é falso e perigoso. O puxa-saco é igual carvão; apagado ele te suja, aceso ele te queima. • A lei do retorno anda bem devagarinho, mas pode apostar que ela chega sem avisar e faz o mundo girar. • A fé pela qual me ajoelho é a mesma que me levanta e não me deixa cair. • Não se reconhece um terreiro pelo luxo que ele tem, mas sim pelo que você sente ao pisar nele. • Levo uma rosa quando vou ao seu axé. Falo com Rosa Caveira porque nela tenho fé. • Exú trabalha junto com você. Não adianta pedir casa, carro, trabalho e ficar em casa cuidando da vida dos outros. • Quem tenta derrubar filho que está debaixo de minha capa, um dia tropeça e não levanta mais... • Chegou pelo dor, ficou pelo amor. • Todo mundo quer a verdade, mas nem todo mundo aguenta ouví-la. • A tempestade pode ser forte e violenta, mas a rocha que te sustenta é de Xangô. 179
MINHA VIDA NA UMBANDA
• Se tem uma coisa que a maldade conhece é o caminho de volta. • Eu sou da encruza, do axé, do saravá, da fé e da gira. Tenho proteção de Exú e de Pombagira. • Eu sou filho de fé, meu coração tem axé, meus Orixás me dão luz e no escuro eu tenho quem me conduz. • Não mexe comigo que eu não ando sozinho! • Quem cuida de mim não dorme! • Fé não é achar que seu Guia fará tudo que você quiser. • Fé é acreditar que ele fará sempre o que for melhor pra você. • A maldade é um tipo de correspondência que acaba sempre voltando para o remetente. • Não mexa comigo, não sou de brincadeira. Na minha encruza me chamam Tatá Caveira. • Dizem que as pessoas só dão valor depois que perdem. Eu tenho comigo que elas sabiam o que tinham... só não sabiam é que iam perder. • O que é teu já tá guardado. Não sou eu quem vou lhe dar! • Se não quer ouvir minhas verdades, não venha me contar suas mentiras. • Exú não te dá o que você pede, e sim o que você merece! • Novos começos chegam, muitas vezes, disfarçados de finais dolorosos. • As maldades que você me fez sorrindo, você vai pagar chorando! • Ao meu passado, teu perdão. Ao meu presente, tua misericórdia, e ao meu futuro, tua providência. • Língua que fala o que não vê, é fervida no azeite de dendê. • Sou do axé e não nego minha fé! 180
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
• Quem canta um ponto reza duas vezes. • Quem dá troco é comerciante. Filho de fé deixa nas mãos de Seu Zé. • Nunca foi sorte. Sempre foi vela acesa, ponto cantado e fé em dia. • Quando uma porta não abre, é porque não é seu caminho. • Nem anjo nem diabo. Sou sua imagem e semelhança. • O bom, eu protejo. O mal, eu cobro. O falso, eu derrubo. Meu nome e Exú. • Não mexe comigo moço, porque quando eu falo, falo sério. Meu tapa é hospital e meu chute é cemitério. • Roupa branca não combina com coração sujo. • Dessa vida, a gente só leva a alma. Cuide bem da sua. • O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. • Quando o corpo não aguenta, a fé sustenta. • Não estou na Umbanda; eu sou Umbanda! • Aquilo que Orixá dá, ninguém tira. • É a lei de Xangô: quem deve, paga; quem merece, recebe. • Não pergunte a Exú o que não quer ouvir. Não prometa a Exú o que não vai cumprir. • Metade de mim é fé e a outra é axé. • Faz do meu corpo a sua flecha e do meu coração o seu tambor. • Enquanto o silêncio dos pretos-velhos te emocionar, teu caminho é e sempre será a Umbanda. • Em casa de mamãe toda espuma é beijo, toda onda é abraço. • O que Oxum constrói, ninguém destrói. O que Oxum abre, ninguém fecha. O que Oxum levanta, ninguém derruba. 181
MINHA VIDA NA UMBANDA
• Não mexa com o povo da calunga. A cova pode ser rasa, mas a terra é profunda. • A umbanda não é submissão, é respeito. Não é escravidão, é dedicação. Não é status, é postura. • Quem bebe do meu copo, senta na minha mesa e se abriga debaixo do meu panamá, desamparado nunca há de ficar. • Meu Orixá não calará a sua boca, mas impedirá que seu veneno me atinja! • Oxalá traga a luz. Nanã a sabedoria. Xangô a justiça. Iemanjá o afeto. Ogum a vitória. Oxum o amor. Iansã a força. Oxóssi a fartura. Ibeji a alegria e Exú os caminhos abertos. • Ogã de verdade não é aquele que toca mais bonito, mas sim aquele que toca com o coração! • Quem tem fé nas almas não tem medo da assombração. Eu tenho as almas no peito e os pretos-velhos no coração. • Não mexe com ela. Ela é do dendê. Ela é de saravá. De laroyê e da fé em todos os Orixás. • Quando o canto é reza, todo toque é santo. • Aonde você for, vou estar contigo. Sou seu Anjo da Guarda e você pode contar comigo! • Benditas sejam todas as palavras ditas em silêncio, pois não há força maior que a fé, nem voz mais alta que a oração. • Quem com luz ilumina, com luz será iluminado. • Sobre as ondas do mar, sobre as águas na areia, minha força é do mar, minha mãe é sereia. • Fazer o bem sem olhar a quem. • Quem não pode com mandinga, não carrega patuá.
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
O QUE É O SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA? O Santuário Ecológico da Serra do Mar (Santuário Nacional de Umbanda)3, faz parte da Reserva Ecológica da Serra do Mar. O espaço, idealizado pelo Babalaô Ronaldo Linares4, foi adequado para práticas religiosas e recuperado pela entidade mantenedora do Santuário, a Federação Umbandista do Grande ABC, proporcionando aos devotos a contemplação à natureza e o culto aos Guias e Orixás. Tambem conhecido como Vale dos Orixás, o Santuário Ecológico da Serra do Mar é um lugar obrigatório a todo simpatizante ou devoto de qualquer religião afro, cuja exuberância de fauna e flora, com seus lagos, cachoeiras, pedreiras e matas preservadas, fazem do local um espaço único e sagrado.
Foto: Autor Disponível em: <https://santuariodeumbanda.com.br/site/> Presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, idealizador e criador do primeiro curso de Formação Sacerdotal de Umbanda do país, guardião do Santuário Nacional da Umbanda 3 4
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MINHA VIDA NA UMBANDA
ALGUNS NOMES DE GUIAS NA UMBANDA • PRETOS-VELHOS Pai Anacleto; Pai Antônio; Vovô Agripino; Pai Benedito; Pai Benguela; Pai Caetano; Pai Cipriano; Pai Congo; Pai Tomé; Pai Fabrício das Almas etc. • PRETAS-VELHAS Vovó Acácia; Vovó Ana; Vovó Anastácia; Vovó Cambinda (ou Cambina); Vovó Filó; Vovó Catarina; Tia Chica; Vó Ditinha; Vovó Barbina; Mãe Benedita etc. • CABOCLOS Caboclo Pena Branca; Caboclo Sete Folhas da Jurema; Caboclo Samambaia; Caboclo Sete Montanhas; Caboclo Humaitá; Caboclo Aimberê; Caboclo Aimoré Caboclo; Caboclo Sete Flechas; Caboclo Beira Mar; Caboclo Boiadeiro etc. • CABOCLAS Cabocla Araci; Cabocla Brava Cabocla; Cabocla Diana da Mata; Cabocla Caçadora; Cabocla Estrela de Cristal; Cabocla Guaraciara; Cabocla Indaiá; Cabocla Iracema Flecheira; Cabocla Itapotira etc. • CIGANOS Ramirez; Vladimir; Cigano das Pedras; Alba; Aurora; Esmeralda; Carmen; Dalila; Dolores; Gonçalo; Jade; Leoni; Jasmim; Ramon; Sara; Juan; Vladimir; Sandro etc • ERÊS Rosinha; Mariazinha; Ritinha; Pedrinho; Paulinho; Joãozinho; Francisquinho; Cosminho; Crispim; Flechinha etc. • BAIANOS João do Coco; Zé Baiano; Zé do Coco; Manoel do Facão; Pedro da Bahia, Simão; Maria do Rosário; Baiana do Balaio; Maria Quitéria etc. • MARINHEIROS 184
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
Zé do Mar; João da Marina; João Canoeiro; Seu Jangadeiro; Zé dos Remos; Marinheiro das Sete Praias; Antônio das Águas; Capitão dos Mares; Martim Pescador etc. • BOIADEIROS Zé Mineiro; Boiadeiro da Jurema; João Boiadeiro; Zé do Laço; Boiadeiro do Rio; Boiadeiro do Ingá; Boiadeiro de Chapéu de Couro; Boiadeiro do Chapadão; Carreiro; Boiadeiro da Serra da Estrela etc. Como já observado, o aprendizado em nossa religião ocorre durante toda a vida do umbandista, e não só dentro do terreiro. O estudo da Umbanda é obrigação de todo adepto que respeita sua religião e almeja evoluir. Só o conhecimento dilui as dúvidas, assim como só a Luz extingue as trevas. Estudar nossa religião é tão importante quanto receber nossos Guias ou praticar a caridade. Um médium esclarecido é um médium seguro, confiante e apto para exercer com plenitude suas obrigações religiosas e, como reza o dito, “o médium que não estuda é tão útil para seus Guias quanto um facão cego”. Relaciono abaixo algumas obras e sites que considero relevantes a todos que, assim como eu, buscam ampliar seus conhecimentos. LEITURA INDICADA • Bandeira, Armando Cavalcanti. O que é Umbanda. 1970. • Cumino, Alexandre. Exu Não é Diabo. 2018 • Farelli, Maria Helena. As sete forças da Umbanda. • Félix, Cândido Emanuel. A cartilha da Umbanda. 1965. • Fontenele, Aluízio. A Umbanda através dos séculos. 1950. • Freitas, Brasão de. Cultura umbandística. • Freitas, Byron Tôrres de. Na gira da Umbanda e das Almas. • Freitas, João de. Umbanda. 1941. 185
MINHA VIDA NA UMBANDA
• Guimarães, Edyr Rosa; Lima, Almir S. M. Universidade da Umbanda. 1982. • Guimarães, Fernando M. Grifos do passado. 2004. • Linares, Ronaldo Antonio; Trindade, Diamantino Fernandes. A Umbanda na sua vida diária. • Machado, Maria Elise G. (Yamaracyê). Umbanda: o despertar da essência. • Maciel, Sylvio Pereira. Umbanda Mista. 1950. • Magno, Oliveira. A Umbanda e seus complexos. • Mattos, Sandro da Costa. O livro básico dos Ogans. • Oliveira, J. Alves de. O evangelho na Umbanda. 1970. • Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). A missão da Umbanda. 2006. • Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Chama crística. 2001. • Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Diário mediúnico. 2009. • Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Jardim dos Orixás. 2004. • Peixoto, Norberto; Ramatís (espírito). Umbanda pés no chão. 2008. • Pinto, Altair. Dicionário da Umbanda. • Pinto, Tancredo da Silva; Freitas, Byron Tôrres de. As mirongas da Umbanda. • Prestes, Míriam (de Oxalá). Conversas de Terreiro. 2015. • Reis, Ney Nery dos (Omolubá). Almas e Orixás na Umbanda. 1986. • Rivas Neto, Francisco (Arhapiagha). Exu: o grande arcano. 1994. • Rosa, Celso Alves (Decelso). Umbanda para todos. • Saraceni, Rubens. A evolução dos espíritos. 186
Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
• Saraceni, Rubens. A magia divina das sete pedras sagradas. • Saraceni, Rubens. A magia divina dos elementais. • Saraceni, Rubens. A magia divina dos sete símbolos sagrados. • Saraceni, Rubens. A tradição comenta a evolução. • Saraceni, Rubens. As sete linhas de Umbanda: a religião dos mistérios. • Saraceni, Rubens. Código de Umbanda. • Saraceni, Rubens. Formulário de consagrações umbandistas: livro de fundamentos. • Saraceni, Rubens. O cavaleiro da estrela guia: o início da saga. 1990. • Saraceni, Rubens. O guardião da meia noite. • Saraceni, Rubens. O guardião da pedra de fogo: as esferas positivas e negativas. • Saraceni, Rubens. O guardião das sete portas. • Saraceni, Rubens. O guardião dos caminhos: a história do senhor Guardião Tranca-Ruas. • Saraceni, Rubens. Orixá Exu Mirim. • Saraceni, Rubens. Orixá Exu: fundamentação do mistério Exu na Umbanda. • Saraceni, Rubens. Orixá Pombagira. • Saraceni, Rubens. Os arquétipos da Umbanda: as hierarquias espirituais dos Orixás. • Saraceni, Rubens. Umbanda Sagrada: religião, ciência, magia e mistérios. • Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda de todos nós. 1956. • Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda do Brasil. 1969. 187
MINHA VIDA NA UMBANDA
• Silva, Woodrow Wilson da Matta e (Yapacani). Umbanda e o poder da mediunidade. • Souza, Antônio Eliezer Leal de. No mundo dos espíritos. 1925. • Souza, Antônio Eliezer Leal de. O Espiritismo, a magia e as sete linhas de Umbanda. 1933. • Souza, Florisbela Maria de. Umbanda para os médiuns. 1958. • Teixeira Neto, Antônio Alves. A magia e os encantos da Pomba-Gira. 1972. • Teixeira Neto, Antônio Alves. Conhecimentos indispensáveis aos médiuns espíritas (dois opúsculos doutrinários). 1953. • Teixeira Neto, Antônio Alves. Curas, mandingas e feitiços de Pretos-Velhos. 1975. • Teixeira Neto, Antônio Alves. Despachos e oferendas na Umbanda. 1970. • Teixeira Neto, Antônio Alves; Sampaio, Luiz Léo. Nossos Pretos-Velhos. 1968. • Trindade, Diamantino Fernandes. Umbanda brasileira: um século de história. 2009. • Trindade, Diamantino Fernandes; Cardoso, Edison. A Umbanda na sua vida diária. 1989. • Varela, João. Ervas sagradas na Umbanda. • Varella, João Sebastião das Chagas. Cozinha de santo (culinária de Umbanda e Candomblé). 1972. • Zespo, Emanuel. O que é Umbanda. 1941.
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Desenvolvimento e formação mediúnica de um filho de fé
SITES INDICADOS • https://www.facebook.com/Axeparaquemtemfe/ • povodeesquerda07.blogspot.com • https://al8758.wixsite.com/ventosdearuanda • http://acve.com.br • http://casadavovomariarosa.blogspot.com • https://casadopaibenedito.wordpress.com • https://orixaessenciadivina.wordpress.com • https://umbandaead.blog.br/ • institutocaminhosoriente.com • umbandayorima.blogspot.com • luzdivinaespiritual.blogspot.com • umbanda – e issuu Pesquisa • www.umbandadanatureza.com.br • www.abeafrica.com • www.alanbarbieri.com.br • www.centroespiritaurubatan.com.br • www.colegiopenabranca.com • www.facebook.com/groups/803996009707310 • www.facebook.com/sabedoriadeumbandaoficial/ • www.iquilibrio.com • www.kboing.com.br • www.pensandoumbanda.com • www.perdido.co • www.povodearuanda.wordpress.com
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MINHA VIDA NA UMBANDA
GLOSSÁRIO ABEBÊ: Leque dourado em forma circular, usado por Oxum e Iemanjá. ABÔ: É um banho de folhas ou outro elemento que promove a limpeza espiritual. Utilizado tanto no Candomblé quanto na Umbanda, é preparado pelo zelador responsável pelo terreiro. ADJÁ / AJÁ: Sinaleta de metal de 3 ou 4 campânulas, usada pelo sacerdote. ALGUIDAR: Recipiente de barro muito utilizado em entregas e oferendas. AMACI: Preparado líquido a base de ervas. AMALÁ: Farofa. ALUVAIÁ: Exú. APARELHO: Médium, cavalo. ARERÊ: É uma exclamação que sugere «olha a briga!» ou «olha a festa». ARUANDA: Céu, paraíso, plano espiritual elevado, morada dos espíritos umbandistas, morada dos Orixás. AXÉ: Energia sagrada que emana dos Orixás. BABÁ: Diminutivo de Babalorixá, significa Pai. BAIXAR: Diz-se de um espírito quando incorpora no médium. BANHO DE DESCARREGO: Preparado líquido de ervas sagradas que se toma após o banho de asseio, para limpeza e afastamento de vibrações negativas. BATE FOLHAS: É um amarrado de ervas usado pelas entidades para limpeza do consulente ou ambiente. BORÍ: É o rito de oferenda à cabeça (ebó/ori), que consiste em assentar, sacralizar, reverenciar e ofertar o Orixá de cabeça. BÚZIOS: São conchas preparadas para uso em diversos rituais. Os búzios são lançados sobre uma peneira e de acordo com sua caída, lê-se aquilo que o Guia ou Orixá quer nos revelar. 190
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CABAÇA: Vasilha feita do fruto maduro do cabaceiro depois de retirado o miolo. CABALA: A Cabala dos Orixás é uma das diversas formas de encontrar os signos que regem a personalidade e o destino das pessoas dentro da Umbanda, e pode ser calculada a partir da data de nascimento. O resultado desta numerologia é a identificação dos odús que regem a cabeça ou coroa. CABEÇA-FEITA: Médium desenvolvido. CABOCLO: Espírito de índio ou mestiço. CALUNGA GRANDE: Oceano, mar. CALUNGA PEQUENA: Cemitério. CANGIRA: O mesmo que Tronqueira; construção na entrada do Terreiro, à esquerda, onde ficam assentados os Exús. CARREGADO: Pessoa sob a influência de fluídos espirituais maléficos. CAVALO: Médium, aparelho. CAZUÁ: Palavra de origem kimbundo que significa “cabana”, “casa”. CHACRAS: São os locais de concentração de magnetismo no corpo, onde se aglomera os centros nervosos no ser humano. COISA FEITA: Diz-se do trabalho feito para levar o mal a alguém. COMPADRE: Modo popular de se referir a Exú. CONGÁ: Altar do terreiro composto por imagens e objetos sagrados. CONSAGRAR: Tornar sagrado. CONTRA-EGUN: Traçado de palha da costa usado no braço para proteção contra espíritos desencarnados que atuam em baixo astral. CORPO FECHADO: Pessoa que se crê a salvo da influência de maus espíritos. CURIMBA: Ou Corimba, é o nome que se dá ao grupo de 191
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pessoas que se relacionam com as práticas musicais dentro dos rituais umbandistas. CRUZAR: Ritual que consiste em fazer uma cruz com a pemba na testa, na nuca, nas palmas das mãos e no dorso dos pés dos médiuns. CRUZEIRO DAS ALMAS: É um ponto de energia situado dentro dos cemitérios (Calunga Pequena). CUMEEIRA: É o ponto central da energia, a base e a estrutura do terreiro. Funciona como uma espécie de «para-raios». CURIAR: Beber. CURIMBA: Também conhecidos como tabaqueiros ou ogãns, membros que compõem o grupo de percussão do terreiro, formado por atabaques, agogô, chocalho, berimbau, entre outros. DAR PASSES: Energia da entidade passada aos consulentes através do médium incorporado. DEMANDA: Problema, feitiçaria contra alguém. DEFUMAR: Limpar alguém, local ou alguma coisa de maus fluídos. DESCARREGAR: Livrar alguém de fluídos negativos. Despachar restos de vela, pontas de charuto e demais sobras do trabalho da entidade, em local adequado. DESCER: Diz-se quando o Orixá ou a entidade vai incorporar no médium. DESMANCHAR TRABALHO: Anular os efeitos de trabalho de magia negra sobre uma pessoa. DESPACHO: Trabalho entregue em lugar determinado, conforme orientação da entidade espiritual, geralmente da esquerda, para desmanche de trabalhos de magia negra, feitiço. EBÓ: É uma oferenda das religiões afro-brasileiras dedicada a algum Orixá. EBOMI: Pessoa que cumpriu todas as obrigações; irmã ou irmão mais velho. EGUN: Espírito desencarnado. 192
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EGUNITÁ: Qualidade de Iansã. ELEDÁ: Conjunto formado pelo Orixá “dono da cabeça” e o Orixá secundário, denominado ajuntó. ENCOSTO: Espírito desencarnado que compartilha dos pensamentos e fluídos dos encarnados, influenciando-os e prejudicando-os, conscientemente ou não, com suas vibrações. ENCRUZA: Cruzamento de ruas e rodovias para colocar oferendas. ENTIDADES: Seres espirituais. EKEDE: De origem Ketu, refere-se às cambonas na Umbanda. ERÊ: Espírito de criança. ESPÍRITO DE LUZ: Espírito sábio, benevolente, de elevada conduta moral. ESPÍRITO OBSESSOR: Espírito atrasado moralmente, algumas vezes malvado, que convive com o encarnado em perfeita comunhão de pensamentos. FALANGE: Grupo de seres espirituais que trabalham dentro de uma mesma corrente vibratória (linha). FALANGEIRO: Espírito pertencente a uma determinada falange. FECHAR A GIRA: Encerrar a gira ou qualquer cerimônia no terreiro em que houve formação de corrente vibratória. FEITURA DE SANTO: Ritual de iniciação na Umbanda. FILHO (A) DE FÉ: adepto da Umbanda. FILHO (A) DE SANTO: médium iniciante ou não, que trabalha em um terreiro. FIRMA: Peça central da guia (colar) utilizada pelos iniciados. É colocada no ponto em que a guia é amarrada para fechá-la. FIRMAR A CABEÇA: Concentrar-se. FIRMAR PORTEIRA: Procedimento de segurança, realizado antes do início do trabalho. Consiste em defumar ou riscar um ponto específico na entrada do templo. 193
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FIRMAR PONTO: Canto coletivo do ponto da entidade que irá dirigir os trabalhos, objetivando evocá-la ao mesmo tempo em que se forma a corrente mediúnica. Riscar o ponto de determinada entidade. Designa o momento em que a entidade risca seu ponto, dando prova de sua identidade. FUNDAMENTOS: Leis de Umbanda, suas crenças e procedimentos. FUNDANGA: Queima de pólvora. GARRAFADA: Bebida para fins medicinais, preparada com ervas curtidas ou maceradas, misturadas em aguardente ou água. GUIA: 1. Colar ritualístico representativo de uma entidade espiritual, constituído de miçangas de cristal e/ou de porcelana, pedras ou metal, nas cores que os identificam. 2. Orixá ou entidade espiritual. GUIA DE FRENTE: A primeira Entidade que se manifesta no médium, não necessariamente sendo o seu Guia de Cabeça. HUMAITÁ: É o reino de Ogum. IABÁ: Cozinheira especialista no preparo de comida de santo. IBÁ DE XANGÔ - Em iorubá: igbá Sàngó ou assentamento de Xangô como é chamado popularmente pelo povo de santo, são construídos com recipientes de madeira denominado de gamela, podendo ser de formato arredondadas ou ovaladas. IAÔ: (em iorubá: Ìyàwó) É como são designados os filhos de santo que já passaram pela iniciação no candomblé e no batuque, popularmente conhecida como “feitura de santo”, mas que ainda não completaram o período de 7 anos após a iniciação. Só após os 7 anos, o iaô se tornará um ebomi (“irmão mais velho”). IBIRI: Apetrecho da cultura afro-brasileira, inerente ao Orixá Nanã. INCORPORAR: Entrar em transe mediúnico. “Receber” a entidade espiritual. 194
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INQUICES: São divindades de origem banta, cultuadas no Brasil. INTOTÔ: É o ponto de firmeza feito no chão, no centro do Terreiro, que emana energia de dentro da terra. ITÁS: Lendas. JUNTÓ ou AJUNTÓ: Orixá secundário, que forma um par vibracional com o Orixá de Cabeça, regente da coroa do médium. O terceiro seria o Orixá de Herança ou Ancestral, que acompanha a família por várias gerações. JUREMA: 1. Uma das caboclas de Oxóssi, chefe de falange. 2. Cidade espiritual onde habitam os Caboclos índios, também conhecida como Juremá. LARVAS ASTRAIS: Criaturas vampirizadoras dos nossos sentimentos e pensamentos de baixa vibração. Elas se alimentam dessas energias que emanamos, sugando nossas reservas energéticas e espirituais, gerando desconforto em nossas vidas. LEBARA / LEGBARA: Forma como também são conhecidas as chamadas Pombogiras. LUME: Vela. ELEGBARA: É o guardião das aldeias, cidades, casas e do axé, das coisas que são feitas e do comportamento humano. MACAIA: Mata, floresta, folhas. MAIAKA: Farofa. MALEIME: Valei-me. MANDALA: Diagrama composto por formas geométricas presentes em várias religiões e utilizado como objeto ritualístico ou meditação. MARAFA ou MARAFO: Aguardente ou cachaça. MENGA: Sangue de animais sacrificados. METAMETÁ: São entidades que se assemelham aos Orixás; espírito que carrega uma dualidade; duas personalidades em apenas um espírito; um lado feminino e outro masculino. O lado feminino chama-se Legbara e o lado masculino chama-se Elegbara. MIASMAS: Espécie de plastificação de atos, 195
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pensamentos e sentimentos ruins, terreno adorado pelas larvas astrais. MIRONGA: Magia. Segredo. Mistério. MORADA: Lar; local onde alguém reside. MURECA / MURECO: Menina, garota / homem, rapaz. MUZAMBÊ: Forte. Vigoroso. MUZENZA: Filho de Santo. N’KISI: Orixá. OFERENDA: Presente para os Orixás, Guias, Exús. OGÃ: Médium responsável pelo canto e pelo toque. OGÓ: Espécie de porrete com forma fálica, com o qual Exú proteja as encruzilhadas e pune aqueles que violam suas normas. OLHO DE BOI: Semente utilizada como patuá contra mau-olhado e canalizador de energia. ORÍ: Cabeça, na língua yorubá. ORÍKIS: (do yorùbá, orí = cabeça, kì = saudar) São versos, frases ou poemas que são formados para saudar o Orixá referindo-se a sua origem, suas qualidades e sua ancestralidade. ORIXÁ ANCESTRAL: É a vibração divina primeira que o nosso Ori teve contato quando “desceu” para a dimensão das formas. ORUM: Mundo espiritual. OTÁ: Pedra assentada no ponto de força e vibração do Orixá. OPAXORÔ ou PAXORÔ: É um apetrecho em forma de «cajado», feito do cipó ou de metal prateado, usado pelo Orixá Oxalá. PADÊ: Oferenda para Exú. PASSE: É o gesto de imposição de mãos presente também no kardecismo. PATACA: Dinheiro, moeda. PATUÁ: Amuleto que a pessoa carrega em sua carteira, contendo orações, rezas e elementos. 196
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PEJI ou PEGI: Altar. Congá. PEMBA: Espécie de giz em forma cônica arredondada, utilizado para traçar desenhos de caráter invocatório (pontos), entre outras determinações ordenadas pelos guias. Nota: as diversas cores de pembas permitem identificar a linha a que pertence a entidade trabalhadora. PERESPÍRITO: É o elemento intermediário entre corpo e espírito. PITO: Cachimbo ou cigarro de palha usado pelos Pretos-Velhos. PONTO CANTADO: Letra e melodia de cântico sagrado para cada entidade. Espécie de prece evocativa cantada que tem por finalidade atrair a vibração das linhas, falanges de trabalho e entidades espirituais, assim como homenageá-las quando chegam e despedi-las quando devem partir. PONTO RISCADO: Sinais riscados com pemba pelo médium incorporado, identifica a entidade manifestada e fecha o seu corpo contra espíritos e forças perturbadoras. PORRÃO DO CABOCLO: Também conhecido como quartilhão, é uma grande vasilha feita de louça ou barro muito utilizada por muitos povos, desde a antiguidade, para a armazenagem de alimentos e bebidas. Sua aparência é muito semelhante as ânforas. Curiosidade: Devido ao formato do porrão que pessoas de baixa estatura e de grande porte físico são chamadas de parrudos. PORTEIRA: Entrada do terreiro. POVO DA ENCRUZA ou POVO DA RUA: Falange de Exus. PRECEITO: Prescrição feita para ser cumprida pelos filhos da casa. PUXAR O PONTO: Iniciar um cântico. QUEBRANTO: Mau olhado, feitiço, coisa feita. QUEBRAR DEMANDA: Anular, desmanchar o efeito de um trabalho feito para prejudicar ou perturbar uma pessoa. QUEBRAR PRECEITO: Desrespeitar as regras 197
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estabelecidas num ritual ou trabalho. QUIMBANDA: Linha de trabalhos de esquerda que juntamente com as linhas de direita, formam o equilíbrio na Umbanda. Não é o mesmo que Quiumbanda e não é do mal. QUIUMBA OU KIUMBA: Espíritos de maléficos sem luz, escravizados pelos seus próprios sentimentos de ódio, dor ou revolta. São obsessores, que induzem pensamentos negativos às pessoas, fingem ser entidades iluminadas, executam magia negra e vampirismo astral. QUIUMBANDA: Práticas maléficas associadas a quiumbas. QUIZILA: Tabu, aversão, antipatia, repugnância, implicância, indisposição em relação a algo ou alguém. Conjunto de proibições. RECEBER O SANTO: Incorporar. Entrar em estado de transe com o Orixá ou guia espiritual. RISCAR PONTO: Desenhar sinal cabalístico que identifica determinada entidade espiritual para evocá-la ou a sua vibração ao plano físico. RONCÓ: Cômodo de assentamentos e firmamentos do Zelador do terreiro e de seus Filhos de Santo, portanto, somente esses têm a autorização para adentrar a esse recinto do terreiro. RUM, RUMPI E LÊ: Rum (grande) Rumpi (médio) e Lê (pequeno) são os nomes dados ao trio de atabaques sagrados, usados nos rituais umbandistas. SACUDIMENTO: Limpeza espiritual de forte intensidade utilizada para desagregar energias negativas que acompanham pessoas ou infestam ambientes. SARAVÁ: Saudação umbandista que significa “Salve!”, “Viva!”. SESSÃO: Gira SUCÊ OU SUNCÊ: Você, tu. TOCO: Vela, charuto, cigarro, banco. TORRÃO: Charuto. 198
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TRONQUEIRA: Lugar de grande importância para a segurança do terreiro, localizado de frente para a rua, do lado esquerdo de quem entra. TURÍBULO: Receptáculo de alumínio suspenso por pequenas correntes, utilizado para defumações em cerimoniais ou práticas religiosas. UMBRAL: Purgatório. Região entre o plano físico e espiritual destinada ao esgotamento dos resíduos mentais no processo em que a alma abandona o corpo após sua morte. Estado ou local por onde passam algumas pessoas após a morte. URUPEMA: Espécie de peneira onde se é jogado os búzios. VODUN: Denominação dada aos Deuses na Nação Jejê. YABÁ: Orixá feminina. YALORIXÁ ou IALORIXÁ: Mãe de santo. XAXARÁ: Pequeno cetro de palha-da-costa usado por Omulú / Obaluaê, ornado com búzios e miçangas. XOXÓ: Azeite de Dendê. ZAMBI: Deus supremo na Umbanda. ZOMBETEIROS: O mesmo que Quiumbas. BIBLIOGRAFIA Apostila ABESMA 2013. Apostila ABESMA 2016/2018. Apostila ABESMA 2019. Apostila ABESMA 2020. Apostila ABESMA 2021. CAMARGO, A.. Rituais com ervas banhos defumações e benzimentos. São Paulo: O Erveiro, 2017. CORRAL, J. A.. O livro da esquerda na Umbanda. São Paulo: Universo dos Livros, 2010 CRISTIANO, E.. Aconteceu na casa espírita. São Paulo: 199
MINHA VIDA NA UMBANDA
Editora Allan Kardec, 2014. CUMINO, A.. Exú não é diabo. São Paulo: Madras, 2018. ______. Médium: Incorporação não é possessão. São Paulo: Madras, 2015. JÚNIOR, A. B.. O livro essencial de Umbanda. São Paulo: Universo dos Livros, 2014. NETO, F. R.. Umbanda a Protossíntese Cósmica. Epistemologia, ética e método da escola de síntese. São Paulo: Pensamento, 2007. PEREIRA, Y. do A.. Memórias de um suicida. Brasília: FEB, 2008. PINTO, A.. Dicionário de Umbanda. São Paulo: Eco. SARACENI, R.. As Sete Linhas de Umbanda. São Paulo: Madras, 2014. VIEIRA, L. de C.. Os guias espirituais da Umbanda e seus atendimentos. São Paulo: Madras, 2015.
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SOBRE A ABESMA
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Associação Beneficente Espírita São Miguel Arcanjo (ABESMA) foi fundada em 18 de junho de 1998 e reconhecida como entidade beneficente em 10 de junho de 2002. É uma associação sem fins lucrativos, mantenedora do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador, e do Templo de Candomblé Nação Angola Kongo, Inzo Diá N’kisi Telekompensú. Nosso templo de Umbanda, instituído pelo Sr. Cigano Mercador das Moedas de Ouro, Mentor e Guia Mestre do Terreiro e Espírito da Falange Cigana, pertence a Linha das Almas e segue a doutrina de Vovó Catarina de Angola, tendo como entidade responsável pelo desenvolvimento das Giras, o Sr. Caboclo Rompe Mato. Nosso Guardião é o Sr. Exú Tranca Ruas e nossa madrinha de Pemba, mamãe Shirley, que trabalha ao lado de Pai Odé D’loy, zelador do terreiro. Nosso Pai Odé D’loy é Sacerdote do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador e Tat’Etú do Inzo Diá N’Kisi Telekompensú. É Muzenza (Filho de Santo) de Mam’Etú (Mãe de Santo) Maza Kessy, Nação Angola Kongo, sendo filho do N’kisi (Orixá) Telekompensú (Logun Edé). Tem a Umbanda como profissão de Fé, conforme os ensinamentos de sua Mam’Etú, seguindo as orientações de seu Mentor Astral. Mamãe Shirley é Sacerdotisa de Umbanda e Ebomi (pessoa que cumpriu todas as obrigações) no Candomblé. Tem a Umbanda como profissão de Fé, conforme os ensinamentos de sua Mam’Etú (Zeladora), seguindo as orientações de seu Mentor Astral. É madrinha do Templo de Umbanda Tenda do Cigano Mercador, onde zela pelo cumprimento das determinações das entidades do Pai Odé D’Loy. A Associação Beneficente Espírita São Miguel Arcanjo encerrou todas as suas atividades em fevereiro de 2022, data de falecimento do nosso mentor espiritual Pai Odé D’Loy. 201
POSFÁCIO
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ncerrar um livro é como se nos despedíssemos de um amigo que nos fez companhia durante um longo tempo de convivência. É algo a que nos dedicamos um pouco todos os dias, com o carinho, o cuidado e a atenção que só as grandes amizades despertam. Nesse pouco mais de um ano que se passou, vi nossa amizade nascer, crescer e agora é chegada a hora de partir. Uma parte de mim se entristece, pois sentirei falta de cada palavra que escrevemos, das dúvidas e inseguranças que juntos superamos, e do tempo dedicado às pesquisas, muitas vezes varando a madrugada, eu e ele, anotando em nosso caderninho preto os lembretes e assuntos que julgamos pertinentes. Agora meu companheiro está pronto para partir, o que também me deixa muito feliz, pois é meu desejo que ele alcance muitas mãos e olhos ávidos de conhecimento e de fé, e que deixe em cada leitor pelo menos um pouco do todo que o compõem. Uma parte de mim vai com você, meu companheiro, assim como há de acontecer com todas as amizades que nascem do amor mútuo e verdadeiro. Gratidão ao meu Caboclo Sete Folhas da Jurema, por “cada página, cada linha e cada palavra inspirada”; Gratidão a Olorum e aos Divinos Orixás; Gratidão aos Guias de Luz, Protetores, Guardiões e Mentores; Gratidão as Sete Linhas de nossa Divina e Sagrada Umbanda. Saravá! Axé.
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ste livro, inspirado pelo Sr. Caboclo Sete Folhas da Jurema, tem como propósito esclarecer as primeiras dúvidas e questionamentos que muitos médiuns vivenciam ao entrar na religião da Umbanda. Embora não se restrinja apenas ao iniciante, serve também como um importante recurso aos apreciadores da doutrina ou mesmo para alguns médiuns já praticantes. Perguntas como ”o que é incorporação?”, “para que servem as guias?”, “posso incorporar em casa?” ou, “como faço um altar dentro de casa?”, são algumas das muitas abordadas nesta obra. Com uma linguagem simples, usual e dinâmica, o autor narra sua própria evolução como Filho de Santo, seus questionamentos e inseguranças, complementando a narrativa com de nições em forma de perguntas e respostas, tornando a leitura objetiva, agradável e acessível à todos. Ao nal, um Glossário com termos e expressões utilizadas no dia a dia do terreiro e uma lista de livros e sites para consultas, servem como referências àqueles que buscam ampliar seus conhecimentos. Uma obra essencial, tanto para o leigo, quanto ao iniciante, como também ao médium praticante e demais simpatizantes da religião.