Revista
Itinerários
Culturais
Foto: Vania Gondim
Recantos da Redenção mestrado em memória social e bens culturais - unilasalle/canoas
ANO 1 - Nº 5 - 2013
Foto: Vania Gondim
Itinerários
Culturais Recantos da Redenção
NÚMERO 5 | JUlHO/2013
Apresentação Dentro do contexto da disciplina de Seminário Itinerários Culturais: criação e gestão de percurso no Cone Sul, do Mestrado de Memória Social e Bens Culturais do UNILASALLE - Canoas, propusemo-nos a desenvolver um itinerário cultural dentro do Parque da Redenção, com o objetivo de estudar, conhecer, visitar, escrever sobre os Recantos existentes neste espaço. A missão foi dividida entre os componentes do grupo, com a devida definição de cada um dos recantos do parque; para, posteriormente, haver um encontro entre o grupo e a captação da impressão pessoal com a finalidade de desembocar na produção de uma revista capaz de destacar as belezas, alertar sobre os problemas encontrados e sugerir medidas que venham ao encontro dos interesses de quem realizou o trabalho e daqueles que desfrutam do Parque da Redenção. A cada página, um passo; a cada passo, uma nova experiência; a cada experiência, um novo aprendizado. É isso que se busca fazer com os Recantos do Parque da Redenção, que eles sejam pontos de encontro entre pessoas, mas que também haja um resgate dos valores do passado, um elo entre as lições do presente e a certeza de que continuará no coração de todos no futuro próximo e distante. Venha conosco nessa caminhada.
Trilhe pelos caminhos dos Recantos do Parque da Redenção e descubra aquele algo mais que sempre esteve ali, à sua espera, convidativo e esperançoso de que, um dia, alguém iria lançar um olhar de descoberta e de encantamento. Descubra os Recantos da Redenção! Explore a ilha de natureza no meio de um turbilhão urbano! Emocione-se com o pulmão verde no meio da cidade!
Alini, Plínio, Tanira e Vania
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 3
SUMÁRIO Aspectos históricos do Parque da Redenção.
Fonte: https://www.facebook.com/PortoHistoria.PH
A história do Parque Farroupilha se confunde com a própria história de Porto Alegre e, por extensão, com acontecimentos históricos do Estado do Rio Grande do Sul.
Itinerários Cultural Recantos da Redenção 11 A elaboração de um itinerário cultural que contemple os quatro Recantos da Redenção visa ressaltar os aspectos históricos dos locais, bem como buscar a revitalização dos espaços
Recanto Solar
Recanto Oriental
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16
Recanto Europeu
Recanto Alpino
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20 22
Reflexões
Referências
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Perfil dos Autores
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http://cachorrodromodaredencao.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html
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Aspectos históricos do Parque da Redenção O ano era 1807 e o governador da Província de São Pedro era Paulo da Silva Gama, que atualmente empresta seu nome a uma das vias públicas no entorno do Parque Farroupilha. Neste ano, o local recebeu uma nova denominação, passando a se chamar Campo do Bom Fim, por ocasião de
Ao longo do tempo, as denominações recebidas pelo atual Parque Farroupilha comprovam a ligação histórica do lugar, uma vez que, primeiramente, recebeu o nome de Campos da Várzea do Portão, em razão de servir como ponto de paragem aos tropeiros e ao gado que seria abatido no matadouro local.
sua proximidade com a igreja de Nosso Senhor do Bom Fim, a qual tinha significativa participação nos eventos cristãos em Porto Alegre, como a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, por exemplo.
Vista aérea do Parque da Redenção Foto: Vania Gondim
A história do Parque Farroupilha se confunde com a própria história de Porto Alegre e, por extensão, com acontecimentos históricos do Estado do Rio Grande do Sul (desde quando Província de São Pedro) e momentos marcantes na história do Brasil (como, por exemplo, a Abolição da Escravatura).
Já em 1884, obteve o nome que viria
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 5
a se cristalizar até o presente, ou seja, o Campo da Redenção, como forma de homenagear a luta dos sulrio-grandenses em favor da libertação dos escravos, considerando-se a antecipação do movimento libertário local em relação ao resto do país: um ano antes, na libertação dos escravos sexagenários e quatro anos antes da abolição geral da escravatura no Brasil.
em
seus
diversos
Em 1930, o arquiteto Alfred Agache elabora um novo projeto de ajardinamento do Campo da Redenção, eliminando o parcelamento do projeto anterior. Este projeto foi implantado em parte para a grande exposição de 1935, que aconteceu na festa em homenagem ao Centenário da Revolução Farroupilha, momento perfeito para mostrar a tradição e a memória gaúcha, bem como o orgulho de seu potencial industrial e da modernidade. Nesta ocasião, Porto Alegre tinha em torno de 250 mil habitantes e recebeu um milhão de pessoas neste mega evento, que contou com a participação de 3.122 expositores de vários estados do país. Para se ter uma ideia da grandeza do evento, foram utilizadas 28.289 lâmpadas enquanto a cidade contava com 4.482 lâmpadas naquele momento.
Espaç o buc óli Foto: Vania co do Parq Gond ue da im Red
enção
O governo do Estado escolheu a Redenção para a grande exposição industrial de 1901, que contou com a representação de 60 municípios, 2.200 expositores e 8.872 objetos classificados, com mostra de animais, produtos agrícolas e industriais, artes e ciências, transformando Porto Alegre em um centro de atrações. Nessa ocasião, o parque teve seu primeiro ajardinamento e iniciou-se o processo
de iluminação espaços.
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ção
Há que se destacar que cerca de 13% da área pertencente ao perímetro do
eden ta quen co fre Gondim li b u P Vania Foto:
Em 1935, como forma de homenagear o centenário da Revolução Farroupilha, o então prefeito Alberto Bins, via decreto municipal, determinou o nome de Parque Farroupilha para o já conhecido Campo da Redenção. No entanto, como se observa até os dias de hoje, a população tratou de fazer uma adaptação, mesclando as
Entre tantas peculiaridades presentes na história do Parque Farroupilha, cabe destacar a iniciativa do então governador da Província, Paulo Gama, em colocar uma cláusula determinando que a área em questão só poderia ser negociada mediante autorização expressa do Rei D. João VI. Sendo que em 1826, o Imperador D. Pedro I conseguiu evitar o loteamento e a venda da área ao defini-la como local reservado a práticas militares.
aR dor d
O parque recebeu tratamento paisagístico, aterro geral, sendo drenado e ajardinado. Da exposição de 1935, ficaram alguns elementos que fizeram composição para o cenário da festa: o pequeno belvedere, a ilhazinha no centro do lago, o embarcadouro e o Instituto de Educação, que foi o pavilhão cultural da Exposição.
denominações e vindo a consagrar o uso de Parque da Redenção.
Parque Farroupilha serviram para abrigar a Escola de Engenharia, Escola de Medicina e a Faculdade de Direito, configurando-se atualmente no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Além disso, 4,36% do terreno do Parque foram
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cedidos para a construção do atual Instituto de Educação Flores da Cunha.
O visitante passa a ter contato com expressivos monumentos como a Fonte Luminosa, datada de 1935 e produzida
A figura do gaúcho presente na Redenção Foto: Vania Gondim
Em sua trajetória histórica de existência, o Parque Farroupilha já abrigou um circo de touradas e um velódromo, com as bicicletas, ou velocípedes como chamados na época, sendo o grande lazer da comunidade. Hoje, o espaço disponível ao público possibilita a prática de diversas atividades físicas com os aparelhos instalados nas praças, diversos campos para a prática futebolística, além da tradicional caminhada, prática possível em seus incontáveis caminhos.
Para chegar ao Parque Farroupilha, a população pode se utilizar das avenidas João Pessoa, José Bonifácio, Osvaldo Aranha e Paulo Gama, além das ruas Setembrina e Luis Englert. Os aproximadamente 370.000 m² de área do parque possibilitam um contato direto com a natureza, espaço composto por árvores plantadas desde o início de estruturação do parque, contando com algumas espécies nativas do Rio Grande do Sul.
Uma nota trágica que acompanha seu histórico diz respeito à piscina construída para a disputa de competições oficiais de natação e, com a morte acidental de uma criança no ano de 1967, foi transformada no atual Espelho d’água.
em Nova Iorque; e o Monumento do Expedicionário, de autoria de Antonio Caringi, cuja inauguração ocorreu em 1953, com o duplo Arco do Triunfo a simbolizar a atuação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial.
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Como forma de atração, há também o Lago com Pedalinhos, o mini parque de diversões, o orquidário e os recantos: Solar, Oriental, Europeu e Alpino.
entre outros.
O Auditório Araujo Viana é um marco cultural da cidade e sua localização dentro da área do parque possibilita a realização de eventos artísticos e culturais para um público de até 4.500 pessoas sentadas. Outro evento de destaque, e já tradicional no cenário porto alegrense, é o Brique da Redenção, sendo que nas mais de 300 bancas há a comercialização de produtos artesanais, de antiguidades e de obras artísticas; no Brique, é comum haver manifestações de cunho político, artístico e cultural. Também ocorre, aos sábados pelo período da manhã, a feira ecológica, onde são comercializados hortifrutigranjeiros e produtos naturais, tais como mel, pães, biscoitos, sucos,
compõem um quadro mágico a quem toma contato com esse cenário, como, por exemplo, o Roseiral, caracterizandose por ter uma fonte no centro. Já o Orquidário, inaugurado em 1953, no início de suas atividades contava com doações de plantas de orquidófilos e também com orquídeas confiscadas pelo Instituto Brasileiro de Defesa Florestal IBDF (atual Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA), por serem comercializadas ilegalmente. Atualmente, constitui-se de uma estufa, uma sala para os funcionários e uma sala para palestras.
Pedalinhos Foto: Plínio Mósca
Há no parque, alguns espaços onde os caminhos, vegetação e ambiente
Localizam-se, no espaço do parque, os pedalinhos, que podem ser alugados
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 9
para passeios envolvendo de duas a quatro pessoas, sendo muito utilizados por casais apaixonados; assim como o parque de diversões, onde as crianças podem desfrutar dos inúmeros brinquedos disponíveis.
no Plano Diretor da cidade, incluindo o Parque Farroupilha. E o urbanista francês Agache detalha seu projeto, acrescentando alguns recantos e jardins, no que foi alterada a ideia original, porém a construção destes recantos não possuiria uma articulação com o traçado geral do local.
O Café do Lago é um espaço charmoso que faz parte do Parque Farroupilha, proporcionando aos frequentadores Desse modo, o Recanto Alpino tem momentos agradáveis e descontraídos. uma cabana de pedras cercada por Na atualidade, o café encontra-se em trepadeiras, árvores e um pequeno período de restauração e deverá córrego remetendo à paisagem ser reaberto ao público presente nas montanhas ainda no ano de 2013, dos Alpes, daí deriva após cumprimento sua denominação. de normas de O Recanto Solar Os visitantes do Parque segurança. apresenta uma contam ainda com um rosa dos ventos espaço para a realização Os visitantes e um “relógio de do Parque de atividades esportivas... sol” (razão de Farroupilha seu nome), bem contam ainda como a presença com um espaço de grandes esferas para a realização de de bronze sugerindo a atividades esportivas, demarcação dos pontos recreação e lazer, situado cardeais. no Parque Ramiro Souto, composto por campo de futebol e de Além desses, há o Recanto Europeu, futebol de areia, uma pista de atletismo, com seus dois espaços distintos: um quadras de vôlei, basquete, futsal, handebol, cancha de bocha e um espaço administrativo. Destaque especial para os chamados Recantos e sua simbologia característica que os remetem, de alguma forma, a algum ponto geográfico do mundo. Na década de 1940, o arquiteto Arnaldo Gladosh foi contratado para trabalhar
jardim europeu em que se ressalta a Fonte Francesa (doação do governo francês no séc. XIX) e o Pergolado Romano, numa autêntica imagem europeia com um cenário paisagístico composto por ciprestes e arbustos esculpidos. Já o Recanto Oriental salienta-se por apresentar o Templo de Buda, em que se verifica, além da estátua de Buda, as colunas orientais,
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a miniatura do vulcão Fuji-Yama e um lago em forma de dragão. Em 1997, houve o tombamento do Parque Farroupilha como Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre. Da inicial várzea alagadiça e periférica da
cidade, tem-se um espaço de cultura, lazer e cidadania, onde a paisagem natural contrasta com os avanços arquitetônicos da modernidade.
Itinerário Cultural Recantos da Redenção A elaboração de um itinerário cultural
esquecidos, caso dos recantos Alpino e
que contemple os quatro Recantos da
Solar.
Redenção visa ressaltar os aspectos históricos dos locais, bem como buscar a revitalização dos espaços. Eles foram projetados com o intuito de embelezar o parque, no entanto, a população foi lhes dando um uso mais funcional sem nunca ter havido uma proposta de utilização que os destacasse.
Certamente, grande parte da população não sabe ao certo por que eles estão ali, nem qual sua origem, embora passe por eles com frequência ao visitar a Redenção. Assim, traçar um itinerário cultural que ressalte a existência destes locais e que os coloque em evidência é vital para preservá-los e fazer com que
Com o passar dos anos, alguns deles
sejam melhor utilizados dentro dessa
foram
intensa área de lazer que é o Parque da
sendo
utilizados
com
mais
frequência, como o Recanto Europeu
Redenção.
e o Oriental, já outros ficaram mais
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 11
Recanto Alpino
Recanto Solar
Recantos da Redenção
Recanto Europeu
Recanto Oriental
Fotos: Vania Gondim
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Recanto Solar do horizonte; os pontos cardeais e colaterais servem para indicar a direção de um determinado local. Recebe o nome de rosa dos ventos em virtude de seu diagrama composto pelas coordenadas
à posição em que o sol nasce e se põe, ou seja, possibilita que o frequentador do parque consiga verificar onde fica o nascente e o poente.
polares representar a frequência com que sopram os ventos correspondentes a cada direção (ROCHA, 2013, p. 1).
Rosa dos ventos Fonte: Educa, 2013
Segundo a Prefeitura de Porto Alegre (2013), o Recanto Solar é constituído por uma grande rosa dos ventos e um relógio solar com esferas de bronze nos pontos cardeais, com a finalidade de proporcionar uma orientação em relação
A rosa dos ventos corresponde a uma volta completa do horizonte, dividida em 360 partes iguais, que recebem o nome de graus, com a finalidade de localizar, com exatidão, todos os pontos na linha
Com relação ao relógio solar, este nunca teve seu projeto concluído, mantendose com uma estrutura composta por uma mandala, desenhada de forma detalhada com pequenas lajotas, e os pontos cardeais são sinalizados
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por grandes esferas construídas em alvenaria. Durante as visitas realizadas, verificouse que o Recanto Solar é pouco visitado e explorado pelas pessoas, ficando excluído em relação aos demais atrativos do parque, sem despertar a atenção enquanto um ponto geográfico de interesse para observação. Também foi percebida a inexistência de pessoas ou grupos fazendo visitação ao local, simbolizando uma espécie de isolamento do Recanto Solar, isso tanto em dias úteis da semana, assim como nos finais de semana. Durante a noite, o Recanto Solar não conta com nenhuma iluminação, favorecendo a sua utilização como espaço para atividades ilegais, transformando-o em ponto de encontro para drogados, traficantes e outros marginais. Para se obter um melhor aproveitamento desse recanto, seria necessário o desenvolvimento de um projeto, sob a coordenação da Prefeitura de Porto Alegre, com a finalidade de explicar no que consiste e qual a sua importância. Além disso, é imprescindível que se realizem reformas estruturais, iniciandose por uma iluminação adequada, a conclusão do projeto inicial e uma campanha para visitação de estudantes e demais frequentadores, alertando-se para seu alto potencial geográfico ali presente. Se fosse colocado o gnômon1 1
e o
O Gnômon é o mais antigo instrumento astronômico
relógio viesse a funcionar, sem dúvida, seria extremamente prazeroso para os visitantes do parque confrontarem seus relógios digitais e ultramodernos com uma forma rudimentar e primitiva de verificar as horas. As pessoas iriam se sentir atraídas por esta curiosidade, passariam a prestigiar o espaço, contribuindo para sua revitalização e integração ao contexto sociocultural do Parque da Redenção. De um modo geral, seria importante que todos os recantos fossem revitalizados de maneira a proporcionar uma integração entre eles, de forma a propiciar um percurso cultural aos visitantes. Considerando-se que suas localizações no parque são estratégicas e possibilitam um contato direto com a natureza, criando ambientes favoráveis ao convívio social e cultural que, na maioria das vezes, fica resumido ao eixo central, em torno no espelho d’água, nas visitações ao brique e presença do público consumidor nas feiras de produtos naturais. Além das melhorias necessárias à estrutura física do espaço, é primordial que as secretarias municipais de Turismo (SMTUR), Cultura (SMC) e o programa Viva o Centro a Pé2 desenvolvam uma programação que inclua caminhadas orientadas pelos de que se tem notícia. Consiste em uma haste longa e afinada, colocada verticalmente ao solo, cuja sombra permite a determinação da posição do Sol. Os primitivos relógios solares derivaram deste instrumento. 2 Para obter maiores informações sobre o Programa Viva o Centro a Pé acessar o link: http://www2. portoalegre.rs.gov.br/vivaocentro/default.php?p_secao=133.
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informativo contendo, sobretudo, os aspectos históricos dos recantos.
G nia : Va o t o F
im ond
recantos da Redenção, informando de maneira objetiva e clara a existência desses espaços e sua importância para o convívio dos frequentadores, bem como a necessidade de um folder
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Recanto Oriental O Recanto Oriental é um local propício à meditação e ao devaneio, pelo seu conjunto de elementos compostos: um pagode com colunas orientais que abriga a estátua do Buda, guardada por um par de leões; um lago em forma de dragão, duas pontes, uma miniatura do vulcão Fuji-Yama, lanternas e uma vegetação nos arredores de ciprestes e bambus. Os leões estão sob pedestais e estes animais, tanto na China como no Japão, dão proteção contra os demônios. Buda tem significado solar, sempre associado à luz e nunca fecha os olhos. O lago em forma de dragão não é perceptível se não for visualizada sua arquitetura. Em relação à água do lago, no paisagismo chinês é vista como símbolo de riqueza e abundância. O dragão também se apresenta como suporte dos bancos do jardim, na concepção mítica de muitos povos é uma mistura de serpente, lagarto, pássaro, etc.. Concede fertilidade por estar relacionado com as forças da água. As pontes no lago simbolizam conexões de ideias, ligação de um tempo ao outro, servem para transpor os abismos, reduzir distâncias, e seu aspecto utilitário camufla seu significado.
Fuji-Yama, montanha sagrada dos japoneses. Representado por um pequeno monte de terra em alvenaria pintado de vermelho, escorrendo de seu topo. As montanhas simbolizam a aproximação do céu com a terra. O jardim chinês desenvolveu-se em antítese à cidade, contrapondo-se às linhas retilíneas da cidade estão as linhas naturais e os espaços do jardim. Da mesma forma, os japoneses, com um céu intenso e um oceano que parece oprimir suas ilhas, buscam elementos que tornam seus jardins um local de sentimento e meditação. As lanternas representam luz e clareza espiritual. E, por fim, a vegetação: os bambus, no oriente, são plantas de bom presságio; os nós, as partes isoladas representam o caminho e os diversos graus de desenvolvimento espiritual. Os ciprestes e os pinheiros simbolizam, na China e no Japão, imortalidade e por serem resistentes ao vento e ao tempo simbolizam a força vital. Nesse sentido, o Recanto Oriental sintetiza os aspectos culturais de uma civilização que tem como filosofia de vida os elementos ligados às forças da Natureza.
Outro elemento desse recanto é uma representação em miniatura do vulcão
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Pagode com leões e o Buda
Vulcão Fugi-Yama
Buda
Pontes
Banco e ponte
Recanto Oriental Fotos: Vania Gondim
Lanterna
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Recanto Europeu Segundo o site oficial do Parque
Além disso, o Recanto Europeu, com
Redenção, o Recanto Europeu possui
as colunas do seu Pergolado e a sua
dois espaços distintos que simulam
localização à direita do Espelho d’água
um jardim europeu no qual podem ser
e do grande Chafariz Central, é um dos
vistos:
espaços mais visitados do Parque para
Fonte Francesa - trata-se de um magnífico chafariz de ferro, doado pelo governo da França no século XIX, disposto no centro de uma área circundada por Palmeiras-da-Califórnia,
se posar para belas fotografias. Desse modo, é comum ver casais, noivos, modelos fotográficos, formandos, entre outros, ali tirando fotos para compor seus álbuns.
que lembram um oásis; Pergolado Romano - com colunas jônicas, pórtico triangular e trepadeiras. Fazem parte do conjunto paisagístico, as
árvores,
ciprestes
e
arbustos
esculpidos, sugerindo ao visitante a bela paisagem da velha Europa. E, conforme escreveu Jorge Herrmann (2013) no catálogo Confluências: Uma Crônica Visual da Redenção, constituído de desenhos do Parque Redenção, o Recanto Europeu tem grupos de colunas que dão uma disposição a disposição, num primeiro momento, seria difícil de assimilar e as linhas de colunas gerariam pontos de fuga que convidam a dirigir o olhar para fora de seus limites.
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Pergolado Rom an Foto: Alini Ham o merschmitt
diferente dos outros. Assim, para ele,
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 19
mitt
Pergo Foto: lado Roma Alini H n amme o rsch
o o Roman Pergolad Hammerschmitt ni Foto: Ali
Recanto Alpino construído
muito usado em paisagismo, o de elevar
artificialmente, uma espécie de cabana
acima do nível térreo o local para ser
que também parece com um templo
posto em destaque.
Sobre
um
monte
construído em pedra e rodeado por arbustos, foi erigido.
A cabana é uma unidade habitacional assaz simples, construída em nível
Esse ambiente objetiva representar
superior,
o Recanto Alpino, uma manifestação
montanhas, nas alturas.
de uma Europa perdida e longínqua, remetendo ao romantismo.
como
um
refúgio
nas
Lamentamos a ausência de placas indicativas e de limpeza em volta do
A construção do falso monte foi feita
local.
Foto: Va
nia Gon
dim
com alvenaria aterrada. Um recurso
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dim
nia Gon
Foto: Va
dim nia Gon Foto: Va
Reflexões
Fotos: Alini, Tanira e Vania
Imagens do Parque da Redenção
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DOIS EVENTOS RECENTES E A UTILIZAÇÃO DO PARQUE FARROUPILHA EM DEBATE Alini Hammerschmitt
Quando se fala no Parque Farroupilha,
Assim, os palestrantes argumentaram
cuja alcunha como Parque Redenção já
que desde que área foi ocupada e,
soma alguns séculos desde que a área
posteriormente, doada à população
foi ocupada, um dos aspectos que mais
pelo município, sempre houve uma
se debate é com relação à utilização que
tentativa de normatizar o acesso ao
a população da cidade de Porto Alegre
local. E isso teria ficado mais evidente
faz do local.
nas Exposições de 1901 e 1935
Por ocasião do lançamento do Catálogo Confluências: Uma Crônica Visual da
quando foram realizados projetos de embelezamento do atual Parque.
Redenção, que aconteceu no dia 29 de
Porém, as tentativas de transformar a
maio de 2013, no Museu da UFRGS,
Redenção em um parque criteriosamente
e, que consiste em desenhos do
organizado, aos moldes dos jardins
Parque da Redenção, feitos por Jorge
dos palácios Europeus, teria esbarrado
Herrmann, ocorreu uma mesa-redonda
no uso espontâneo que a população
composta por Luís Augusto Fisher,
fez do local ao longo dos anos. E isso
Rualdo Menegat e pelo próprio Jorge
remontaria desde a utilização feita
Herrmann.
pelos negros e escravos do século XIX
O debate feito por eles destacou, entre outras coisas, que o uso do local pela população da cidade sempre se deu de
até a realizada pelos marginalizados e economicamente menos favorecidos dos dias atuais.
forma espontânea indo na contramão,
No lançamento do Catálogo Con-
na maioria das vezes, da utilização
fluências, os palestrantes defenderam
desejada pelo poder público.
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 23
que o espaço do Parque Farroupilha é historicamente democrático, um ponto de encontro de todos os que vivem ou passam por Porto Alegre. Segundo os palestrantes, a Redenção deve continuar tendo este perfil, algo que inclusive tem que ser defendido e enaltecido por todos os porto-alegrenses. Somando-se ao que foi defendido no lançamento do referido catálogo, sobre o perfil dos usuários do parque, um trabalho realizado por Palma (2002) para a Especialização em Educação Ambiental, do Centro Universitário La Salle, salienta que o local é “[...] frequentado, sem nenhum tipo de discriminação, por todos os tipos de pessoas, independente de classe social, cor, religião ou ‘tribos’”. E isso pode ser comprovado em recente evento chamado “Serenata Iluminada: Ocupando o parque para pensar a convivência em Porto Alegre” que ocorreu dia 8 de junho de 2013, a partir das 19 horas, na Redenção.
O evento, divulgado pela internet, através das Redes Sociais, juntou diversas tribos e idades numa noite fria do outono de Porto Alegre. Democrático por natureza, reuniu aqueles que lutam pela ocupação mais intensa do parque, inclusive durante a noite, incluindo os populares, frequentadores do local, os vendedores ambulantes e os políticos locais, que foram conferir a movimentação. Dessa forma, podemos concluir que, como foi defendido na mesa-redonda do Confluências, a população vem ocupando e utilizando o parque de uma forma muito própria, à revelia do posicionamento oficial mantido pelo poder público. Nosso desejo é que múltiplos eventos espontâneos aconteçam na Redenção, bem como que os Recantos do Parque sejam mais frequentados e redescobertos a partir do Itinerário proposto nesta revista.
FOLDERS DE DIVULGAÇÃO DOS DOIS EVENTOS
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RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 25
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PERTENCER & NÃO PERTENCER Plínio Mósca Em que parte de seu processo histórico o Parque da Redenção gozou de extremo acesso popular? Quão importante representava no cotidiano do cidadão porto-alegrense a existência desse colosso verde? Sabemos que ele não fica no centro histórico da cidade, que por prática urbana de cidade antiga são as praças centrais, as mais frequentadas. Na cidade antiga, assim como na cidade nova, mas especialmente na cidade contemporânea, é saudável que se faça a indagação, qual a importância do parque para a população da cidade?
urbano da cidade. O “esparramamento” da cidade na direção sul talvez tenha afastado seus habitantes de frequentar ativamente o Parque da Redenção. Se nos dias da semana as pessoas saem de casa para trabalhar no centro da cidade, e por ali mesmo almoçam, deslocamse aos bancos e outras modalidades de comércio e de alimentação, será em seus bairros habitacionais mais afastados que praticarão seu ócio de final de semana.
Como toda cidade que vai crescendo não somente para cima, a cidade de Porto Alegre também foi crescendo para os lados, a zona sul não acaba mais no Jockey Club e nem são apenas umas casas de finais de semana o que encontramos pelos bairros de Ipanema, Vila Conceição, Belém Novo, Humaitá, Itapuã.
Quando estamos no Parque da Redenção, podemos notar que a cidade cresceu verticalmente na direção compreendida entre as avenidas Oswaldo Aranha, Protásio Alves, Independência e 24 de Outubro, mas que pouca coisa mudou no que diz respeito ao bairro Cidade Baixa, exceto por algumas poucas construções verticais de apartamentos.
O crescimento da cidade ocorreu em quase todas as direções, porém há determinadas partes, como a zona leste da cidade, por exemplo, em que é notória a verticalização do processo
A própria UFRGS se encarregou de “esvaziar” de frequentadores o Parque da Redenção quando construiu seu novo campus fora do perímetro da cidade e para lá enviou um elevado percentual
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 27
de seus alunos.
Parque da Redenção.
O tamanho da cidade cresceu, sua população também cresceu, incluindo as populações nos bairros vizinhos ao Parque da Redenção, mas este continua tendo vida - no sentido de local para reunião de gente e troca de ideias e convergência de atos e de atitudes sociais, durante os finais de semana e, às vezes, nas datas festivas.
A cidade foi aos poucos deixando de olhar para o parque com a avidez típica de quem procura novidades e foi se acostumando com a paisagem do mesmo, como se sobre ela incidisse algum esmaecimento, embaçamento, que foi se repetindo durante décadas e se perdendo ao longo do tempo paulatinamente.
Uma de suas ruas principais, onde está localizado o Colégio Militar, a Rua José Bonifácio tornou-se uma rua deserta, escura, ocupada pelo baixo meretrício
É certo que nos sábados, graças à feira dos produtos alimentares orgânicos e especialmente nos domingos, graças ao Brique da Redenção e sua tradição de barraquinhas e de comércio de artesanato (às vezes nem tão artesanais assim) o Parque da Redenção passa a ter um ritmo grandioso e certa multidão a ele se assoma por quase todas as horas em que dure a luz solar.
masculino, devido a sua pouca utilização com o passar dos anos. Essa ocupação torta sempre se passa nas ocasiões onde o Estado se omite e a sociedade civil recua. As duas igrejas instaladas na mesma rua, praticamente não recebem mais nenhuma cerimônia de casamento e tratam de fechar-se antes mesmo do término do dia. Poucas peças de teatro do gênero Teatro de Rua acontecem no horário noturno. Os produtores e artistas alegam que não há público. Um misto de intranquilidade e de temor foi se instaurando entre tantas ruas e os caminhos do parque, assim como pelas alamedas arborizadas. Somente no horário diurno e, ainda assim, tão somente nos finais de semana é que se nota o grau de apropriação que os moradores da cidade dão ao seu
A estreita relação “povo + parque”, de ter sido fazenda, pista de touradas, zona de treino de tiro militar e todos os demais tópicos sociais desenvolvidos ao longo de sua história, foram se desfazendo com a fumaça do tempo. Estão escritos tais fatos nas páginas dos livros de História, mas pouco vivenciados na memória das pessoas. Durante os dias de semana é pouco usado para algumas atividades desportivas pelos moradores vizinhos e por militares em treinamento de educação física. Já não existe mais a sua parte de mercado. O prédio atualmente é utilizado por restaurantes, bares, lojas e
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uma floricultura. Constata-se que muitos monumentos estão em lamentável estado de penúria, que o grau de degradação patrimonial é elevado, que está mais presente na Memória Social do cidadão do que na sua capacidade de “aqui-hojeagora” oferecer espaço e abrigo para atividades de lazer, religiosas ou de confraternizações. Comparando a cidade de Porto Alegre do alto de seus 241 anos de vida com outras cidades antigas do nosso país, vêse que morar nas cercanias do parque não representa status econômico e nem social, como morar em um prédio voltado para o Parque Ibirapuera em São Paulo ou para a Praça Serzedelo Correa em Copacabana no Rio de Janeiro. A capital do Rio Grande do Sul padece do mesmo mal que todas as demais cidades grandes do nosso país: diminuição ou até mesmo ausência de controle rígido contra a violência urbana e contra a marginalização dos setores mais desfavorecidos da população. Certo é refletir que nem todo pobre é perigoso, mas que todo pobre faminto e drogado se torna um problema social com o estopim aceso e que todos os históricos de drogadição continuada são sinônimos de corrupção da máquina pública pelo narcotráfico. O capitalismo instalado entre nós fomentou a criação de descomunais abismos sociais. Pobres cada vez mais
pobres e ricos cada vez mais ricos e ainda por cima com a necessidade de manter um Estado que demorou muito para começar a buscar um equilíbrio nessa gangorra. O chamado grito de guerra “Acorda Brasil” enfim começou! Esperemos que mesmo tendo começado tardiamente, torne-se perene e frutifique. Outras cidades com mais ou menos a mesma idade de Porto Alegre, entre dois e três séculos de existência, estando também nas Américas (ou seja, um processo de civilização semelhante) lograram juntar os farrapos destecidos pelo processo devastador da renúncia social e apresentar para a sua população parques, praças, passeios, com mais segurança e mais frequentado pela sua população. Não é uma história sem retorno. É um presente que precisa de muita atenção para ser reposto em termos adequados. Boa vontade a população da cidade inclusive tem. Precisa-se de um mote, de uma bússola e, sobretudo, de vontade de começar e de continuação por parte dos gestores públicos. Talvez seja o Parque da Redenção um desses raros casos em que todos a ele querem pertencer e todos querem que ele pertença às suas realidades presentes e atuais, não somente pertencer às suas memórias.
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REDENÇÃO Tanira Rodrigues Soares
Muitas vezes, fazemos a indagação com
ligação direta com a história e o povo do
relação ao porquê determinado local ou
Rio Grande do Sul e, no caso específico,
dito popular se cristaliza na memória do
com a cidade de Porto Alegre.
povo, quais fatores influenciariam para que houvesse esse reconhecimento e todos incorporassem no seu dia a dia a história presente ao reproduzirem uma dada situação ou fazerem referência a um determinado lugar. É assim com o Parque da Redenção, cristalizado na memória dos portoalegrenses com este nome, sendo conhecido e reconhecido como um lugar de convivência cultural e
A
Revolução
Farroupilha,
também
conhecida como Guerra dos Farrapos, serve de motivo de orgulho para os gaúchos; no entanto, é um acontecimento cuja relação deve ser feita com termos como
guerra,
morte,
tentativa
de
separação do resto do país, entre outros. Além disso, a troca de nome do então Parque da Redenção para Parque
social da população.
Farroupilha provém de uma decisão de
Pode-se dizer que a consagração
época, e cuja justificativa seria a de
popular supera decretos e demais
homenagear o centenário da Revolução
imposições oficiais; a correlação entre
Farroupilha, isso tudo sem ter sido feito
um feito histórico e a memória de um
qualquer tipo de consulta à população.
gabinete, de parte dos governantes da
povo nem sempre alcança o mesmo grau de aceitação e perenização. É o
Por outro lado, o nome de Parque da
que se pode presenciar com relação ao
Redenção tem sua referência direta
Parque Farroupilha, ou o já consagrado
com a luta abolicionista travada pelos
Parque da Redenção, dois nomes com
sul-rio-grandenses,
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 31
sendo
que,
por
duas vezes, os escravos que atuavam
sacramentando aquilo que apresenta
no Estado, obtiveram sua liberdade bem
uma ligação direta com seu cotidiano e
antes do restante do país, no caso dos
sua forma de glorificar o passado. Assim,
escravos sexagenários e na própria
o nome Redenção possui mais apelo
Abolição da Escravatura. Também há
popular do que o termo Farroupilha, e a
que se ressaltar a intensa participação
cristalização do primeiro se justifica em
da população negra existente em Porto
razão de que a memória de um povo é
Alegre, na época, em relação a festas
algo que não aceita imposições, flui de
religiosas e outros eventos ligados à
acordo com os interesses da maioria,
raça.
acabando por suplantar o próprio tempo
O nome redenção tem origem do latim redemptio, cujo significado é libertação (SANTOS,
2005).
Dessa
e criando raízes que atravessam séculos e gerações.
maneira,
pode-se fazer uma relação direta com o fato de Porto Alegre ter sido a primeira cidade brasileira a abolir a escravatura em 12 de agosto de 1884. [...] um grupo de abolicionistas caminhou pela Rua da Praia protestando contra a escravidão. As páginas 2 e 3 do Livro de Ouro da Câmara Municipal registram ata da sessão comemorativa da dia de 7 de setembro de 1884. Nessa mesma sessão, a título de celebrar a libertação dos escravos na
Cidade,
os
vereadores
aprovaram que o Campo do Bom Fim passasse a denominar-se Campo da Redenção (SANTOS, 2005, p. 34).
Com base no exposto, tem-se que a memória de uma coletividade acaba superando determinações oficiais e
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Registros do pintor Debret no Brasil
Abolição, que aconteceu ao meio-
DESCOBRINDO A REDENÇÃO Vania Gondim Zé da folha Zé da folha, como é conhecido, aprendeu
um doutor na arte da afinação. Escuta
sua arte de fazer som para acompanhar
uma música e sai tocando. Tem um
o seu violão ainda criança na zona
repertório diversificado o que encanta a
rural de São Valentim, no alto Uruguai,
uma variedade de pessoas que param
quando testava com as folhas de pente-
em sua volta e acabam deixando um
de-macaco e de cerca viva. Chegou a
trocado para ouvir mais outra canção.
Porto Alegre com uma tia, aos dez anos
Zé está com 70 anos, e há 60 que
de idade, após a morte de seu pai, e já trazia na mala este talento especial, e entre outras profissões que desenvolveu: engraxate, vendedor de jornais, mas é tocando violão com o acompanhamento simultâneo da folha de jambolão, que ele ganha a vida e leva o som que embevece os passantes do centro
da
toca para ganhar a vida. Entre uma música e outra, diverte o público com imitações de sons de animais, como cachorro e passarinho. Ele já participou do quadro Se vira nos trinta, do Domingão do Faustão e, há nove anos, é responsável pela abertura do espetáculo Tangos e Tragédias, no
cidade
Theatro São Pedro.
durante a semana, e nos domingos na Redenção. Para José Costa, a música é instintiva, natural, apesar Z[e d Foto a Folha : Van ia Go ndim
de ser analfabeto nas letras, é
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Lambe-lambe Freitas O fotógrafo lambe-lambe ou fotógrafo
balde d’água sob o tripé da máquina
à la minuta é um fotógrafo ambulante
fotográfica operada pelo pai, morto em
que atua desde o século XIX, com
1999 e que, por 58 anos, trabalhou,
sua atividade nos espaços públicos
fazendo retratos diante do Chalé da
como jardins, praças, feiras, e teve um
Praça XV. Assim, ele herdou de Varceli
papel importante na popularização da
pai mais do que uma câmera, um ofício,
fotografia.
que hoje desenvolve com dificuldades:
As circunstâncias exigiam tempo mínimo de lavagem e mínima quantidade de água. Portanto, para garantir a qualidade do trabalho, eles tocavam a língua nas
pela
popularização
das
máquinas
digitais e pelo alto custo do papel importado para fazer as revelações de suas fotos.
fotos durante a lavagem para avaliar
O Varceli Filho sempre diz para as
a qualidade da fixação e da própria
pessoas “olha o passarinho”, relembrado
lavagem. Os clientes e passantes que
a frase de seu escritor preferido,
viam aquela cena não podiam entender
Mario Quintana, “vocês passarão, eu
por que aquele homem a cada instante
passarinho”. Ele diz ser o último lambe-
“lambia” as fotografias.
lambe do estado Rio Grande do Sul. O
Varceli Filho, aos 12 anos, já esfregava
cidade de Porto Alegre.
Foto: Vania Gondim
a mão molhada nas fotos imersas num
Freitas é patrimônio histórico vivo da
Lambe-lambe Freitas
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Sociedade Esportiva Recanto da Alegria – SOERALFoto: Vania Gondim
Sociedade Esportiva Recanto da Alegria – SOERAL
Existe um espaço no Parque da
Apesar do parque ser um lugar público
Redenção que sempre me chamou a
da cidade de Porto Alegre, a SOERAL
atenção, por sua construção rústica,
tem regras internas que distanciam os
chamado
que
que não desempenham atividades no
aquela sigla tem um significado curioso,
grupo. As relações sociais desenvolvidas
Sociedade Esportiva Recanto da Alegria,
possuem um significado particular na
cujo objetivo é vivenciar a velhice de
vida de cada participante. Assim, o
seus associados através do lúdico.
espaço transcende a um lugar destinado
SOERAL.
Descobri
A SOERAL é um lugar onde frequentam homens de idade avançada, e desenvolvem diversas atividades como jogos de cartas, de dominó, damas, o xadrez e o jogo de bocha. Foi criada em 28 de dezembro de 1976. Seus sócios têm perfil bem heterogêneo, médicos, ex-militares,
trabalhadores
rurais
e
comerciários. Apesar de não possuírem
à prática de jogos de mesa e de bocha, mas passa a ser um universo cultural que possui uma origem própria e que gera um sentimento de pertencimento para estes homens, numa fase delicada da vida, geralmente estão aposentados, com os filhos criados e, ainda, alguns sem a companheira, por separação ou viuvez.
origens sociais comuns, viverem em bairros diferenciados da cidade, tem nos jogos os condutores do seu convívio.
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RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 37
PERFIL DOS AUTORES:
Alini Hammerschmitt Graduada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda pela PUC/RS (2005). Atualmente é produtora na Pironauta Produções Culturais. Trabalha na área de Artes, com ênfase em Artes do Vídeo. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.
Plínio Mósca
Diretor, ator e professor de teatro, Chevallier des Arts et des Lettres de la République Française. Tecnólogo em Produção Cênica pela Faculdade Monteiro Lobato. Mestrando em Memória Social e Bens Culturais UNILASALLE
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Tanira Rodrigues Soares Técnica em Assuntos Educacionais da UFRGS. Formada em História, com Especialização em Metodologia do Ensino Superior. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais – UNILASALLE.
Vania Gondim
Administradora da UFRGS. Formada em Administração de Empresas, com Especialização em Gestão Empresarial, Análise de Projetos Econômicos Financeiros e Qualidade e Produtividade. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais – UNILASALLE.
RECANTOS DA REDENÇÃO - p. 39
Mestrado Profissional em Memória Social e Bens Culturais
CANOAS RS
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