3
Coração do Oceano O sono profundo nos faz mergulhar Num lugar onde nada desejamos, além da paz do mar. Brisa, sol e poesias, Essa é a nossa alegria.
O amor de outrora foi aprisionado, Em um pequeno baú e lançado num lago. Aguarda um herói destemido que lhe salve, Para que o brilho se propague. O tempo é inimigo do espaço, Faça planos, crie um laço. Não contente-se com o que é fugaz, Sinta, ouça, seja mais.
A escolha é a sina do navegantes, Buscam dominar águas cintilantes, Contar histórias num barco à velas, Preocupar-se menos com as mazelas.
4
(Dez) ilusões
Meu coração é de pedra, Lanço meus sentimentos ao mar E vejo-os afundar Num redemoinho de sonhos...
5
Ode à Maiêutica
Palavras são escravas, Escravas de nossas vontades, Do nosso medo de esquecer, Da evanescência.
Histórias viram memórias, Memórias transformam-se em histórias, E as palavras continuam presas, Sem chance de escapar. O que seria da humanidade sem as palavras? Valorizaria mais os sentimentos? Os gestos teriam mais importância? O esclarecimento chegaria ao fim?
6
Sorrio, sou Rio Filosofias, grandes pensamentos, Jamais serão maiores, Que os pequenos gestos cotidianos, Dessa brasilidade sem igual. Rio de Janeiro, Carnaval em Fevereiro, Águas de Março, Deixa falar.
Literatura rotineira Vive o morador suburbano. Intrigas, casos, notícias, Cidade liquefeita.
Misturam-se vidas, histórias, Culturas, bebidas, Baixada e Zona Sul. Meninas descabeladas, pretos nas calçadas, Definem a memória Guanabara.
7
À Beira do Infinito Eu sou o oceano Que deságua no abismo Das decepções da vida, No qual espero resgate No meu Tártaro sem fim.
8
Elegia de Vênus Meu sonho está nas estrelas, Dizem que é impossível alcançar. No meu mundo, ao qual só eu pertenço, Hei de um dia chegar lá.
Vilipendiaram-me por todo o caminho, Isolaram-me numa Caixa de Pandora. Não obstante, meu reino chegará E aclamarão boquiabertos minha vitória. As flores que plantei Compartilhei com os que não me anistiaram. Se agora estou sorrindo, Foi porque muitos, comigo, choraram. Nos meus versos fica a saudade Das coisas que nunca vivi. Mas já sou um vencedor Desde o dia em que nasci.
9
Antes do começo, havia a essência Estou farto de mim, Estou farto de todos. Os problemas nos engolem vorazmente, E nossas vidas continuam, simplesmente continuam. Oh, meu Deus, não me deixe perder a fé, Pois é a única coisa que ainda me sustenta! Mas e o amor? Este não era para ser constante? Porquê não consegue ofuscar a fé e a esperança?
Tremores de solidão enervam meu corpo, Meu espírito transcende a Via Láctea, Tudo isso por querer sempre ser notado E não perceber que só o que notam é o palpável.
10
Enegrecer Solidão, solidão, como teu perfume é doce e inebriante! Tu és necessária nesse martírio sem fim. Mesmo que me jogues em teu abismo eterno, Acabamos sempre de mãos dadas a vagar pelas elegias.
11
Renascimento
Nobreza de espírito, Devassidão de corpo, Matar por instinto, Morrer de transtorno.
Sentimentos trancados no coração Vêm à tona no verão, Para de novo desfrutar a profundidade do mais sublime olhar.
12
Para além de Avalon As sacerdotisas são o espelho da terramãe, Brumas guardam a magia inalcançável aos mortais, E uma melodia tão nobre e pura Paira nos ares da Britânia.
Já tentaram tudo para destruí-la, Não obstante a Grande Deusa jamais falhou E mesmo nos tempos de guerra, Quantos inimigos sucumbiram ao fio da Excalibur! Meu coração faz parte desta magnífica história, Cheia de mistérios e fantasias. A distância não me faz desistir, pelo contrário, Só me faz ficar cada vez mais intrínseco À celestial energia de Avalon.
13
Raiz da existência Pedir perdão pelo que não se fez, Se desculpar por ser você mesmo, Essa é a vida do príncipe, Ofuscado pelo ouro dos tolos.
Envergonha a corte por falar demais, Desaponta o clero por ficar calado. Essa é a vida do príncipe Que é criticado por todos.
Culpado por amar os desamores, Condenado a sofrer no gelo eterno, Essa é a vida do príncipe, Arrancado de sua terra-mãe ainda novo.
Ter a pele escura é um crime, Viver de aparência é o que importa, Esse é o pecado do príncipe, Crucificado pela ira do povo.
14
Betelgeuse Loucura, sedutora loucura! Leve-me contigo para longe da lucidez, Pois ela há de transformar todos em fantoches Nesse teatro moldado pelo destino. Somos espectadores de nossos sonhos Sequestrados e afugentados pelo medo, Levados para o Mundo Inferior Para junto do titã temporal.
Perdemos tempo querendo ser arlequim, Nossa vida jamais terá valor em si, Afinal, quem não quer ser aplaudido Por uma plateia pomposa e hipócrita?
15
Rigel
Devaneios, anseios e desejos, Batalhas cognitivas sem fim. O Universo não se conforma com minhas robinsonadas Nas florestas do espírito meu demônio se perde. A frivolidade é irmã gêmea da vaidade, A carapaça ofusca o besouro. Já que a humanidade é desumana, Então vamos democratizar as misérias.
Olhe ao redor, a sensatez clama. O 12º planeta se faz presente, E o sonho de ser alguém Foi engolido pelo abismo do nascimento.
Temores, dores e desamores Que o silêncio solitário traz consigo, Não passam de erros constantes Que se cristalizam na essência do Ser.
16
Cinelogia Sonhar, imaginar, cinemalizar, Os prazeres ganham vida no momento. Uma cena, uma música, um gesto, Seja de alegria, ansiedade ou sofreguidão. A Doce Vida é bela Para não se encontrar Uma Linda Mulher. Faça Tudo por Amor, Não deixe Rastros de Ódio.
Fuja para a Cidade das Crianças, Se perca com Alice no País das Maravilhas, Bole o Plano Brilhante, Liberte-se dos Cães de Aluguel.
Aproveite o Dia Depois de Amanhã, Colha as Pequenas Flores Vermelhas, Pois chegará o tempo em que vamos dizer: “E o Vento Levou”.
17
ConstelaçãoRecordar para
O Maravilhoso Mágico de Oz Perdeu-se no Mundo de Sofia, Estava a esperar a Menina que Roubava Livros Para apresentá-la ao Corcunda de NotreDame.
Contavam-se as Crônicas de Nárnia Para os moradores da Cidade do Sol, Até que presenciaram o Rapto do Garoto de Ouro, E passaram a ver a Vida Como Ela é.
Invadido foi o planeta do Pequeno Príncipe E este ficou admirando a Hora da Estrela, Que passava numa Odisseia tão rápida A ponto de não deixar marcas nas Areias do Tempo.
Abriram o Diário de Annie Frank E leram suas Confissões Para um Shakespeare apaixonado, onde dizia: Desculpa se te chamo de amor.
18
Lenda Viva Em uma noite escura Fantasmas assustam, Lobisomens uivam E monstros rastejam.
Amedrontando A criança acordada eles estão. Passos no vazio são ouvidos, A angústia é companhia real. Ela corre para o quarto, Procura refúgio, Solta um grito, Busca uma última solução.
A única saída é enfrentá-los, Não passam de transcendências irreais. Quando de repente, quase vencida, diz: Vamos juntos para as sombras do medo? Até amanhã, quando o sol raiar.
19
Princesa do Destino Conheci uma menina Que é bem pequenininha. Sua beleza é singular, Perco-me no seu olhar.
Dei-lhe um sapatinho de cristal Para dançarmos sob o luar astral, Ao som das doze badaladas Faremos o nosso conto de fadas.
Ela parou, pensou e disse: “Vamos fugir!” Eu respondi: tudo bem, Não tenho mesmo aonde ir.
Ao Eldorado nossos caminhos seguem, Pelo Universo, com as leis que o regem. Essa menina pequenina, Deu fim à vida minha severina.
20
Epifania
Esqueça a razão, Não pare para pensar. Viva para sentir, Sinta para viver.
Não perca tempo planejando, Simplesmente aja. Sonhe a realidade, Realize o sonho.
Sorria, brinque, alegre-se, Faça cada momento valer a pena. Lembranças para recordar, Recordações para lembrar. Antes de partir, deixe saudades, Escreva um poema. Porque as palavras, São um gesto de amor.
21
Héstia Um sopro, um toque, um choro. Ligeira como uma raposa, Fugaz como um lampejo, Chega e vai embora sem dizer adeus. Antes que a chama se apague, Antes que a janela se feche, Ela vem com a brisa tépida E nos leva a passear.
O espelho não reflete seus olhos, Com um beijo diz “olá!” E com um afago clama: Venha comigo.
E ainda há quem diga Que encontrá-la é inevitável, Pois sua voz cálida e terrível atinge até os mais fortes de espírito.
22
Todo o mel da flor Um diamante selvagem cortejado pelos que não o merecem, Achará seu destino Junto às pérolas do mar. A flor que nasce com espinhos Não deseja ficar intocada, Quer que o louco se arrisque Para a leveza de seu perfume sentir. Não olhe para trás, Siga essa flecha sinuosa, Pois ela há de recompensar Os que se jogam aos devaneios.
Assim como os tesouros, Que estão para os grandes navegantes, Só encontrará seu brilho Quem por ti se entregar.
23
Espelhos Não contemple a Lua Faça melhor, Vá para junto dela, Alcance-a.
Busque a luz E ilumine, Busque os céus E voe.
Vire o medo do avesso, Transforme-o em esperança, Pois refletir a fé É o caminho para a glória.
Olhe para si, Não lamente os erros, Recomece o hoje E faça valer a pena.
24
Ode a uma Flor A memória do futuro Temos de construir agora. Se viver não tem sentido, Mergulhe nos amores.
Encontrei uma flor, Faço dela minha razão de existir. Deixei-a brilhar E ela sorriu para mim.
Enquanto não me faltar o fôlego, Jamais deixarei que lhe caia uma pétala, Seu perfume exalará Pela eternidade e além dela.
25
Parnasianos Modernos Filmar a literatura À medida que escrevemos o teatro, Para interpretar a escultura E moldar a pintura.
Pintemos a dança! Sem deixarmos de dançar a música. Vamos cantar a arte, A arte pela arte!
26
A Maçã Gravidade, Magnetismo, Amor... Estranhas forças de atração Não podemos ver, Apenas sentir... Como a brisa que nos afaga, Como o calor que nos conforta...
Presunção humana medir o infinito? Hipocrisia não pensar Deus? Ciência, Filosofia, Religião, Necessárias ou não?
27
Além do tempo, além do templo Os sentimentos se transformam Como lagartas em borboletas. Não prenda o amor, Solte-o, deixe-o voar.
Deus nos quer firmes além do templo. Guarde a aparência, Preserve a essência, Fique com um só Eu.
Deus nos quer constantes além do tempo. Os dias passam, Com eles vamos, As marcas ficam.
Nosso destino está escrito, Existimos para viver, Vivemos para existir, Essa é a nossa sina.
28
Natureza Viva Tranquilize-se. Se queremos um ao outro, A distância então diminui, Resume-se a um pensamento.
Olhe para as estrelas, Ou para o infinito, E você perceberá, Que estou mais próximo do que imagina. A esperança é menos importante que o amor, Mas ela nos ajuda a perceber Que o encontro é inevitável. Deixe-se levar.
É tempo de escrevermos a história sem fim, Transforme o medo em confiança, Pois as coisas só acontecem Para os que não deixam de sonhar.
29
Passarinho Quem tem asas é livre, O voo é filho da liberdade. Algemas? Quebre-as. Seja um besouro, Voe pelas flores, Seja um viajante, Voe pelos amores. Seja uma abelha, Voe pelo mel, Seja uma águia, Paire pelo céu.
Até mesmo um cometa No espaço sideral, Você deve imitar Para não deixar cair o seu astral. Através do horizonte É onde está o seu caminho. Então voe, voe, voe. Voe como um passarinho!
30
Luz e Sombra Quando no início Uns comeram o fruto do conhecimento, Outros não se contentaram, E comeram o da ignorância. A Ordem foi suplantada pelo Caos. A maldade semeada por homens Afogou o mundo em trevas, Trevas de solidão.
A guerra entre a vida e a morte começou, E até o fim dos tempos continuará, Enquanto houver uma alma Para ser disputada.
31
Tesouro de Lótus O paradoxo da vida Consiste em acorrentar as escolhas E defender uma liberdade finita, Presa pelas limitações do destino.
Destino este que não permite alternativa, A fuga não é possível, Correr só adiantará O encontro com o inevitável. O acaso não passa de um equívoco Que só existe no imaginário. Pois o universo é um quebra-cabeça Onde tudo se encaixa.
Mistérios? Continuarão. Não cabe a nós medir o princípio e o fim Seja nos planos terrestre, astral ou etéreo, Viver é preciso.
32
Amarras Estruturas, Formas, Maneiras, Estilos, Modos, Regras, Métodos, Critérios, Leis, Padrões,
Identidades, Normas, Sentidos, Razões, Lógicas, Alguém faça o favor De levá-los de volta para a linguagem que os pariu?
33
Avessos
A variação é constante No plano onde a contradição impera Propositalmente ou não, Somos fadados às mudanças do Eu.
O sagrado e o profano vivem em nós, Surgem numa explosão de estímulos, Digladiando-se a todo instante A fim de nos dominar. Sabedoria e loucura, Gêmeas de nascimento. Uma criada no luxo, Outra no lixo.
A presunção, Assassina da timidez, Se faz necessária Enquanto tentarem nos controlar.
34
Sinfonia do Caos Num dia faz sol No outro nem dó, Entre sustenidos e bemóis Não há tempo para si.
Talvez cheguemos lá, Se não dermos ré Se as notas não se perderem Num caminho agudo. Graves são os problemas Sob ritmos e desafinos, Escalas que nos rondam Com a melodia dissonante. Esqueça a harmonia, Abandone a métrica Apenas siga o compasso E delicie-se com o silêncio.
35
Ironias Inventaram as emoções Mas nos proíbem de usá-las. Plantam mentiras E colhem verdades.
O espírito quer liberdade, O corpo escravidão. A realidade é o presídio Que acorrenta as ilusões.
Desculpas para guerrear, Licenças para assassinar, A morte de longe só observa, Pois será a única sobrevivente.
A ruína dela também se aproxima, A vida clama por seu sangue. E assim, a morte suicida-se, Dando fim a toda injustiça.
36
Dimensões Palavrões, Palavrinhas, Um mundo onde um “porra” é crime E a miséria é problema de Estado.
37
Meta a Linguagem Que realidade é essa, Onde as liberdades nascem cativas, Sob condições mais numerosas Que as estrelas do céu?
38
Regressão Entregaram o amor Nas mãos dos burocratas, E já não é mais possível Se apaixonar sem cerimônias, Presentes, Certidões, Publicidades, Carimbos, Alvarás, Quando a única coisa necessária É a vontade de fazer alguém feliz.
39
Equilíbrio Gauss na Matemática, Beethoven na Música, Hegel na Filosofia, Einstein na Física, Freud na Psicanálise, Weber na Sociologia, Bohr na Química, Brecht no teatro, Rugendas na Pintura, Goethe na Literatura, Chaplin no Cinema, Lutero na Religião, Rosa Luxemburgo na Revolução, Tantos gênios E a vida resolve premiar a Alemanha Com Hitler, Mestre da patifaria e da perversão.
40
Diamante Carioca
Inconsequências, incongruências, coincidências, Como entendê-las? Sentimentos racionais, Ou razões sentimentais? Ela é música, Ela é poema, Ela é pintura, Ela é cinema.
Uma dama que faz melodia, Faz bemol, E faz sustenido. Porém não faz sentido.
Me cativou com um sorriso, Chegou aqui de mansinho, E com muita singeleza, Me apresentou sua beleza.
Deixo os versos, guardo os beijos, Fico quieto, sinto desejo, Respiro fundo, tenho anseio, Moça bonita, em meus sonhos lhe vejo.
41
Soneto de Véspera Cidade em lágrimas, Misérias à tona, A tristeza consola, E a esperança desmorona. Destino incerto, Sonhos afogados, Sombras eternas, Planos frustrados.
No caos, há poesia, Nas dúvidas, conhecimento, Nas ruas, lamento.
Glosas, decassílabos, Sonetos, elegias, Apenas descrevem a agonia.
42
Página em Branco
Vazio, Nada, Éter, Alma, Espírito, Ideia, Silêncio. Falam mais que palavras.
43
Nuvem No Brasil há solo fértil, Terra onde tudo floresce. Planta-se ignorância, Nasce miséria.
A soja está para o gado, Assim como o feijão para o lavrador. Numa labuta incessante, Nos engordam para o abate.
Passou a Idade Média, Mas o mecanismo permanece. Os padres rezam, os políticos guerreiam, E os trabalhadores... Trabalham.
Nas favelas, mãos à obra, Nos condomínios, lazer e luxo, No parlamento, os discursos, Nas ruas: fumaça e lixo.
44
Castelo de Areia Saudades, dores, Brilhos, amores, Jardins sem flores, Mundos e cores.
Um perfume, um acorde, Evocam lembranças do tempo que dorme, Quando a inocência reinava, E a brincadeira jamais cessava. Época de passear no bosque, De roubar doces, Admirar peixinhos, Chorar com professores. Foi-se a infância, a ternura, Ficou a memória, Dias que não voltam, Ventos que não sopram.
Chegará a velhice, Virão os netos, Dessa história não esqueceremos, Pois será eterno o afeto.
45
Deuses e Homens Rótulos, Títulos, Identidades, Definições, Nos guiam à paralisia. Metamorfoses, Mudanças, Ventanias, Estações, À fantasia.
46
Orgasmo digital
Internet faz poema? Eis o dilema. E-mail cura doença? Mais um problema.
Divulguem abraços, Que voltem os amassos, Joguem conversa fora, O tempo é agora.
47
Madrugada Não há justiça na imperfeição, Tampouco nobreza na pobreza. Indivíduos solitários Não largam mão da avareza.
Nem todos os caminhos levam à Roma. Alguns te induzem ao coma. Amor e ódio, Duas faces do ópio. Embriaguez, insanidade, porres, Só vive quem morre. Viver faz parte, Morrer é uma arte. Violência é não falar, Burrice é não sentir. Espírito a flanar Pela estrada a seguir.
48
Pedaรงos
Um dedo de prosa, Um corpo de soneto, Um braรงo de glosa.
Uma palhinha na sanfona, Uma parte no cavaquinho, Uma moda de viola.
49
Manifesto do Espírito
Romances, Lendas, Contos, Crônicas, Fatos, Trovas, Mitos, Cartas, Partituras, Diários, Perca a cabeça, Mas não perca a caneta.
50
O quê você fez? Seguro de certezas, Andar pelas veredas, Não aguento o pranto, Choro num banco.
Palavras miscigenadas E árvores almiscaradas, O feitiço do tédio Que se lança do prédio.
Há poeira na estante da memória, Ser assombrado por um passado sem glória. Adoecer com a expectativa De evitar uma morte vazia. Semanas sentado no sofá, Na mão apenas uma xícara de chá. Na primavera, tudo floresceu, Nada ainda aconteceu.
51
Jogo de Palavras
Idade Média Ou Idade Inteira, Não importa onde, Sempre se falou besteira.
Oriente Próximo E Ocidente Distante, Os segredos do mundo Não são para os iniciantes.
52
Mais-que-imperfeito Quiseras tu o quê não podia, Dormiras onde cama não havia. Comera o pão que o diabo amassava, Fizera cartas que eu queimava. Sentara num barco que navegava, Partira e para trás não olhava. Mergulhara no mar que se lançava, Remara e não o alcançava. Cantava, E se escondera. Meditava, E aparecera.
O horizonte nascia, A noite morrera. Da proa tudo se via, A bruma desaparecera.
53
Minimalismo Pessoas, objetos. Programas, dejetos. Natureza, afetos. Lugares, estradas. Tradições, amarras. Carnaval, fanfarras. Carreiras, escolhas. Paixões, caolhas. Problemas, garoas.
Editora 42 1ª edição 2015 www.editora42.com