Revista Áudio e Vídeo Magazine - Edição 284

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ESPAÇO ABERTO Algumas semanas depois do disco lançado, nos chegou uma

uso de compressão ou equalização, o simples fato do microfone

quantidade enorme de dúvidas e questionamento, como: “no meu

não ser o mais adequado, essa gravação não serve como referência

sistema o timbre foi mais correto no microfone 2 ou 3”. Ou: “no meu

para timbre ou equilíbrio tonal (que são os alicerces essenciais para

sistema os três microfones não soam diferentes”, ou ainda “não en-

o ajuste de todos os sistemas). Poderia ser usada apenas para ava-

tendi o que vocês quiseram mostrar com esse disco!”. Nos meses

liação de soundstage e nada mais!

seguintes, mostrei aos participantes dos nossos Cursos de Percepção Auditiva, que as diferenças de microfones dependem do ajuste perfeito do equilíbrio tonal, que o microfone mais fidedigno e plano é sempre a faixa um de cada instrumento, e a faixa mais incorreta é a faixa três de cada instrumento.

O que precisa estar claro a todos que desejam ampliar seu grau de percepção auditiva, é que em toda gravação o que estaremos escutando é a perspectiva do ‘microfone mais a sala’, capacidade do engenheiro de gravação e concepção do artista. E em uma audição de instrumentos acústicos ao vivo, o que estamos referenciando

Que quanto mais equilibrado o sistema, mais audível são as dife-

para educar nossos ouvidos é o timbre dos instrumentos, e como

renças, e que em alguns instrumentos o timbre é tão alterado pelo

a reprodução eletrônica, por mais que tenha avançado nos últimos

microfone três, que soam como ‘sampler’ e não como instrumentos

anos, ainda é apenas um esboço de uma apresentação ao vivo.

reais.

Aos nossos leitores que nos contam que finalmente irão assistir a

E aí voltamos à questão da importância de termos referências se-

um concerto na sala São Paulo, e me pedem dicas do que observar,

guras da música acústica em boas salas de concerto, para jamais

eu sempre indico apenas fecharem os olhos, abstraírem todo o ruído

perdermos esse parâmetro de como soam instrumentos Ao Vivo e

a sua volta, e sentirem aquele momento mágico.

não ‘por microfones’.

E percebam como soam os naipes da orquestra, os crescendos,

Pois se o engenheiro fez escolhas erradas dos microfones, por mais que sua captação tenha sido correta, em uma boa sala, sem

como o som brota do silêncio e retorna a ele. E se tiverem a sorte de assistir a concertos que tenham enorme variação dinâmica, ou voz e orquestra, notem como os fortíssimos soam e como é uma ‘quimera’ achar que esse volume cabe em uma caixa acústica e um amplificador de 1.000 Watts. Ou notem o corpo do naipe de cordas de uma orquestra, e imediatamente perceberá que esse momento nenhuma gravação feita até hoje consegue captar! Ainda que o selo Reference Recordings (na minha opinião) seja o selo que mais se esforçou em tentar! Por tudo isso que eu acho muito perigoso a forma com que o editor da Stereophile colocou seu ponto de vista, pois aos que estão começando sua jornada, leva a crer que seja uma perda de tempo ampliar nossa Percepção Auditiva, explorando todas as possibilidades existentes. Pois todas as possibilidades se complementam e nos ajudam a entender que, sem a referência ‘original’ dos instrumentos ao vivo, estaremos à mercê dos erros e acertos dos engenheiros de gravação, e isso não me parece nem muito seguro e nem tampouco sensato! Fernando Andrette

fernando@clubedoaudio.com.br

Fundador e atual editor / diretor das revistas Áudio Vídeo Magazine e Musician Magazine. É organizador do Hi-End Show (anteriormente Hi-Fi Show) e idealizador da metodologia de testes da revista. Ministra cursos de Percepção Auditiva, produz gravações audiófilas e presta consultoria para o mercado.

Gravação do CD Timbres

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MAIO . 2022


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