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ESPAÇO ABERTO
A ASNEIRA DA OBRA ‘RUIM’ DO ARTISTA BOM
Christian Pruks
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christian@clubedoaudio.com.br
Quando comecei este texto, pensei em ‘dar os nomes aos bois’ mas acabei achando que essa reflexão, obra por obra, tem que ser feita pelo admirador, não pelo coletivo, não pelo crítico, não pelo entendido, não pelo aficionado. Esses não decidem por você - eles podem dar sugestões, explicações e ideias, e só.
A história é o quanto uma obra (tenho exemplos musicais e literários) é ‘ruim’ e execrada por não estar à altura do resto da produção do mesmo artista. Um certo disco, lá para o meio da carreira de um célebre grupo de rock, destoa um pouco do resto de sua produção, não é ‘genial’ e inovador como outros discos, falta um ou outro membro do grupo, etc. Amigos e músicos e ‘especialistas’ já me falaram: “Eu não ouço esse disco de jeito nenhum! Ele não está à altura! Não presta!”, entre outras coisas… O dito disco é ruim? De maneira nenhuma - apenas é diferente do resto dos discos da banda. Mas é mal gravado? Mal tocado? Mal produzido, composto ou arranjado? Não, nenhuma dessas.
Aparentemente existe uma expectativa sobre um artista de que ele tenha que atingir o ápice
o tempo todo… E os fãs sentem-se ofendidos e traídos se eles não o fizerem - em vez de ad-
mirar aquela obra pelo que ela realmente é. Tudo que vier ‘abaixo’ daquilo é ‘porcaria’... Isso,
desculpem-me, é de uma bobeira tão grande, que não dá nem para começar a pensar. E eu
não sou bobo nesse nível, não - curto muito a obra, se gosto dela, e isso me dá muito prazer.
E não estou nem aí se alguém gosta disso ou não. A perda é deles, não minha.
Tem vários exemplos disso no rock, no progressivo, no pop, e em vários outros gêneros. Um
disco excelentemente bem feito, bem tocado, é considerado ovelha negra - o que em si, não é
algo ruim, mas quando as pessoas deixam de ouvir aquele disco e taxam ele de ‘obra ruim’, eu
acho que o mundo está indo para o buraco. Tem disco de rock que eu, a vida inteira, ouvi dizer
que não deveria ter sido feito, que a própria banda o renegou, etc, e que eu sempre gostei - e
que agora está começando a aparecer em várias listas de discos indicados por outros que,
como eu, sabem que ele é bom. “Mas não está à altura da qualidade da banda!!”. E daí? Se o
disco é bem feito, se é boa música, então: e daí?
Outro caso, desta vez literário: amigos aficionados de livros, e fãs de um certo autor bastante
prolífico, declararam que uma quadrilogia escrita por ele não é tão boa quanto outras obras
do mesmo, não está à altura, portanto não deve ser lida e muito menos indicada! Eu peguei
os livros, li, e hoje estão entre meus preferidos. Refleti muito tempo sobre o porque eles não
gostavam (alguns deles preferiram nem ler!), e cheguei à conclusão de que os livros tinham um
estilo e uma temática diferente do que esperavam do autor, e a palavra é “Purismo”! Realmente
não importa para eles se a obra é boa em uma análise fria… São Puristas sem Causa (parafra-
seando o ‘Rebelde sem Causa’.
E isso é ridículo porque se esses livros tivessem sido lançados com um pseudônimo, com
um nome de um iniciante e desconhecido, esse cara estaria hoje constando na lista dos gran-
des escritores daquele gênero. E sua obra? Seria leitura obrigatória!
O mesmo se aplica a três exemplos de discos que me vêm à cabeça agora. Mudasse o
nome na capa, e teríamos uma “Grande superprodução complexa de instrumentação e arranjo
com melodias e harmonias dignas dos grandes”, e “Um grande disco imortal que mostra a
incrível habilidade instrumental desse quinteto!”. E, também: “Esse cantor faz arranjos impecá-
veis de pop-rock, quase românticos, mas sem nunca serem piegas, e com grandes músicos
de apoio - é um disco obrigatório!”. Acreditem, essas descrições são 100% cabíveis em cada
um desses três casos.
Autoindulgentes? Grandiloquentes? Sim. Mas, e daí?!?
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