ANO XLVI - OUTUBRO/2017 Nº 433
Reforma Protestante
500
anos A Reforma Protestante do século XVI foi um protesto contra os males doutrinários e práticas errôneas da Igreja Romana. Veio no momento oportuno, quando parecia não haver esperança de melhoria da cristandade. Foi um regresso aos ensinos da igreja primitiva. Nenhuma verdade nova foi acrescentada por Lutero, Calvino e outros reformadores e pré-reformadores. Abriram a Bíblia e anunciaram o que nela acharam. Não tentaram fazer mais do que isso. Saiba mais nesta edição...
Reforma Protestante - 500 anos
Reforma protestante: celebração de fé pelos 500 anos da liberdade eclesiástico-cristã É sabido que a Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão ocorrido no início do século XVI, cujo marco inaugural se deu por meio da publicação das 95 Teses de Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, afixadas à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestando contra diversos pontos doutrinários da Igreja Católica Romana. Os números são sempre significativos. Por vezes, falam de datas e marcas, de fatos e recordações, de pactos e compromissos, do passado e do presente, do ontem e do hoje, assim como de momentos de reflexão e desafios para novos objetivos. 500 é um número alto, difícil de ser alcançado e de ser comemorado. Não é qualquer segmento religioso que atinge essa marca. A Reforma Protestante fala, antes de qualquer coisa, de liberdade eclesiástico-cristã. Sim, liberdade e rompimento com a idolatria, com a liturgia engessada e contaminada pelas heresias, com a devocional acasulada, com o sacerdócio pagão e místico e com o estado de vida cristã fria, monótona e acorrentada pelos dogmas do catolicismo romano. Em suma, a Reforma Protestante fala da liberdade cristã para cultuar e adorar ao Deus eterno, afirmando que Jesus, seu Filho, é o “único” mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). Em 31 de outubro de 2017, completam-se 500 anos dessa façanha cristã. O momento é oportuno para refletirmos sobre a coragem de Martinho Lutero, ao protestar e romper com os religiosos romanos, a fim de que a Igreja alcançasse a liberdade e assumisse a missão divina de ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5:16,17). Por isso, vamos celebrar com gratidão e louvores a Deus esse marco histórico, que nos deixa lições práticas e relevantes para a vida cristã. Reforma x Bíblia A Reforma Protestante não é apenas um movimento reformista, em protesto aos dogmas de uma instituição religiosa. Se assim fosse, não seria tão duradoura. Um marco desse porte prova a razão de sua existência e finalidade. Seu fundamento não está na pessoa de Martinho Lutero ou de outro reformador, mas na veracidade 2
e infalibilidade da Palavra de Deus, capaz de penetrar e dividir alma e espírito, juntas e medulas, sensível para perceber os pensamentos e intenções do coração (Hb 4:12). Reforma sem Bíblia não seria reforma, não teria valor, não teria credibilidade. As contestações de Lutero a respeito da venda de indulgência e da salvação pelas obras estavam alicerçadas nas Sagradas Letras. A Bíblia foi o retrovisor, para que Lutero enxergasse o que estava por detrás das doutrinas católicas, que cegava e condenava as pessoas. Nenhuma doutrina deve ter outro fundamento além da Palavra de Deus. Bíblia x Indulgência A Bíblia Sagrada foi a plataforma de sustentação para que Lutero pudesse mostrar ao mundo os erros da doutrina romana, especialmente a venda de indulgência. Indulgência, segundo o dicionário, está relacionada à clemência, tolência e perdão. O termo originou-se do latim “indulgentia”, que significa “bondade”, “para ser gentil” ou “perdão de uma pena”. Portanto, no contexto religioso-romano, seria a remissão dos pecados cometidos por um indivíduo, sendo perdoado pela Igreja, como ato de sua misericórdia. Em outras palavras, as indulgências eram concedidas pela Igreja ao pecador para reparar as penas temporais causadas pelo pecado já perdoado pelo Sacramento da Confissão. Com isso, a cada pessoa que a Igreja Católica concedia o perdão divino, por meio da venda da indulgência, aumentava consideravelmente sua força política e econômica. Isso explica o poderio que essa Igreja exerceu nessas e em outras áreas do Estado. Indulgência x Fé Insatisfeito, Lutero encontra a verdade na Bíblia. O perdão dos pecados e a salvação do ser humano são resultados da obra vicária de Jesus, pelo seu sangue derramado na Cruz do Calvário. Garantir perdão por meio da indulgência foi a grande farsa da Igreja, antes da Reforma Protestante. Isso era inadmissível! Essa heresia deixou Lutero incomodado e o tornou uma pessoa disposta a lutar a favor da liberdade cristã. A venda de indulgências era para ele o principal motivo da Reforma. Jornal Aleluia
Lendo Romanos (1:17), Lutero se depara com a verdade: “Mas o justo viverá pela fé”. O que representava para o reformador essa palavra? Estaria ele desvendando uma verdade omitida pelo clero romano? Sim, porque, à luz desse texto, Lutero passou a compreender e a ensinar a justiça de Deus como um ato divino, pelo qual o justo (pecador) vive. As obras não são, em hipótese alguma, suficientes para salvar o perdido, mas simplesmente algo necessário à vida do cristão (Tg 2:26). Fé x Liberdade Liberdade é o que todos desejamos e precisamos. Liberdade é o eco que ainda ressoa do brado de Jesus na Cruz do Calvário: “Está consumado!” (Jo 19:30). É como se Jesus dissesse: Pai, agora eles estão livres, eu paguei o preço por todos (Jo 8:32). Dessa forma, ninguém precisa pagar mais nada pelo perdão e salvação. Jesus pagou de uma vez por todas a nossa “indulgência” com o seu próprio sangue: “Mas fostes resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como de Cordeiro sem mácula ou defeito algum” (1Pe 1:19). Para expressar suas convicções, Lutero escreveu as 95 Teses contra a prática da Igreja Romana, fixando-as na porta do Castelo de Wittenberg e desafiando, com muita autoridade, as lideranças do clero ao debate teológico. O conteúdo dessas teses tinha como meta principal combater o comércio das indulgências praticado pelo clero romano. No dia 31 de outubro de 1517, a liberdade eclesiástico-cristã estava proclamada. A Reforma Protestante nos trouxe muitos legados importantes. Por meio dela, a Igreja pôde sair do “casulo” e se expandir pelo mundo afora, obedecendo à ordem de Jesus (Mt 28:19,20; At 1:8). Com isso, surgiram diversas igrejas cristãs, tais como: Luterana, Anglicana, Presbiteriana e outras mais. A IPRB, fundada em 8 de janeiro de 1975, é fruto desse movimento histórico-reformista. Que Deus abençoe a sua Igreja na face da terra, e que esta data seja uma oportunidade de renovação de compromissos com Deus. Pr. Advanir Alves Ferreira Presidente da IPRB
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OUTUBRO 2017
Reforma Protestante - 500 anos
Solus Christus e Soli Deo Gloria
Novembro
Dois princípios teológicos fundamentais da Reforma Protestante No contexto da Reforma, a igreja encontrava-se quase que totalmente secularizada. Seus interesses se confundiram com os da política e da cultura e, por isso, seus líderes cada vez mais buscavam a primazia entre a sociedade. Assim, nessa época, o ministro religioso era considerado como tendo uma relação especial com Deus, na medida em que mediava a graça de Deus e o Seu perdão através dos sacramentos. A Reforma se contrapôs a isso, defendendo que a mediação entre Deus e o homem só é feita por Cristo, por meio do seu sacrifício, que é suficiente e eficaz para a salvação daquele que é chamado a crer. Não existe outro caminho que leve o pecador a Deus senão o proposto pelo próprio Deus, isto é, Cristo Jesus. Em 1Tm 2:5, Paulo deixa isto muito claro. O raciocínio é sim-
ples. Se existe apenas um Deus, e ele deseja a salvação de todos, ou seja, não só dos judeus, mas de homens de todos os lugares, só pode existir um mediador entre esses homens e Deus. Por isso, Paulo diz "Cristo Jesus, homem", isto é, fosse a salvação destinada a um grupo em especial, como por exemplo aos judeus, o apóstolo teria escrito: "Jesus Cristo, judeu". Contudo, como Deus tem os seus salvos entre os homens em geral, Paulo o descreveu assim. Nessa condição, Cristo não só restaura os pecadores a uma relação legal com Deus, como também os leva ao conhecimento da verdade, testificando-a como a única verdade. Assim, "Solus Christus" é o grito de quem encontrou o único caminho que leva ao descanso em Deus. É o alivio de quem, em densas trevas, encontrou a luz. É a resposta positiva de quem ou-
viu um chamado gracioso e não pode resistir. Hoje, a secularização da igreja continua, mas se os reformadores do sec. XVI foram levantados por Deus para denunciar e protestar contra os abusos da igreja, que reclamava para si o direito de ser mediadora entre Deus e o homem. Nós temos de continuar o protesto, mas agora, contra estes que, em vez de protestar, querem fazer da Igreja a mediadora entre o homem e o diabo. Quem crê no evangelho encontrou o único caminho que o levou a Deus, Cristo Jesus. Ele incorpora a suprema revelação de Deus. Assim Ele mesmo narra Deus, ou seja, diz e faz exclusivamente o que o Pai lhe concede dizer e fazer. Diz e faz o que Deus é! Ele é a graciosa autorrevelação de Deus. Ele é a Sua Palavra em carne.
"Soli Deo Gloria" foi outra denúncia feita pelos reformadores contra o clérigo romano que atribuía glória a si mesmo, "canonizando-se" uns aos outros. Na visão da Reforma, a descentralidade das Escrituras no seio da Igreja seguiu um processo sucessivo, um tipo de "efeito cascata". A substituição da fé (Sola Fide) pelas obras meritórias, como caminho para a salvação, resultou na desvalorização das Escrituras (Sola Scriptura). Consequentemente a mediação entre Deus e os homens, feita unicamente por Cristo (Solus Christus), perdeu sua ênfase, e o efeito disso foi a banalização da graça (Sola Gratia). Quando a igreja romana substituiu, no processo soteriológico, a fé, as Escrituras, Cristo e a graça pelas obras, inevitavelmente incorreu no erro de glorificar-se a si mesma. Esse sinergismo cínico e infundado de que a salvação do homem só pode ser alcançada mediante uma colaboração da
vontade humana com a graça divina, no mínimo, desonrou o favor eterno de Deus. "Soli Deo Gloria" é o princípio segundo o qual, no processo de salvação, toda a glória é devida a Deus, pois, a remissão do pecador só é possível porque nasceu no conselho soberano de Sua vontade. Se para Ele são todas as coisas, logo, tudo está em ordem quando retorna como louvor a Ele. A melhor reposta que temos para o porquê de as coisas serem como são é que tudo é para a glória de Deus. Quando entendemos que Deus faz cumprir Sua vontade, trabalha esta vontade à Sua maneira e o resultado final é a perfeição, o que nos
resta dizer é “Glória a Deus!” Todos os caminhos da vontade de Deus serão percorridos por nós para o Seu agrado, e o agradável é que a glória seja Dele, não por vaidade divina, mas porque, quando a glória é dada a Ele, tudo está em perfeita ordem e isso, sim, O agrada. Quem creu no evangelho vive para a glória de Deus, pois sabe que a sua fé em Cristo, suscitada pela revelação das Escrituras, o reconciliou com Ele pela graça.
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Edição 433
Pr. Sandro Veiga da Silva Passos, MG
Jornal Aleluia
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Edmilson Soares dos Santos Boituva SP Márcio Sobreira de Souza Anápolis GO Otacílio Gonçalves de Oliveira Suzano SP Héverton Luiz Bacha Borda da Mata MG Antônio Braz Teodoro Anápolis GO Élcio Roberto Caetano Gama DF Ermiro Malaquias de Oliveira Araras SP Luiz Carlos Pinto Ouro Preto do Oeste RO Altair Batista Linhares Teófilo Otoni MG Edivaldo Ferreira Ariquemes RO Rodrigo Correia da Silva Assis SP Edmilson Lopes da Silva Curitiba PR Luciano André Andrian Apucarana PR Mariano Carlos Mateus Dourados MS Reinaldo Gonçalves Sinop MT Erasmo Carlos dos Santos São Luís MA Fernando Vanalli Maringá PR Joel Lopes Farias Campo Grande MS Maxwell de Moura Lima Jaraguá GO Florêncio Gomes de Lima Campo Grande MS Francisco de F. Nunes Oliveira Porto Velho RO Gilberto Luís Malaspina Goiânia GO José Valmir Dias Rosa Jussara GO Hugo Vieira da Costa Wattignies França Ilto Paulo da Silva Lencóis Paulista SP Isaias Ventura Itaúna MG Valdivino Remes da Silva Guarulhos SP Célio Rodrigues Alto Araguaia MT João Sabino Moreira Governador Valadares MG Cléverson de Souza Assêncio Santa Cecília do Pavão PR Émerson Jorge da Silva São Bernardo do Campo SP João Edmar da Silva Goiânia GO Paulo Bispo Maringá PR Vivi de Oliveira Ouro Preto do Oeste RO Cassiano Antunes São Carlos SP João Ferreira de Freitas Filho Teófilo Otoni MG Lucas Cardoso Almir Rogério Ruiz Jaime Valinhos SP Ana Maria Dourado Goianésia GO Osvaldo Rodrigues Zengo Cascavel PR Ruben Dario G. de Los Santos Corumbá MS Thiago Henrique Santos Vianna Itaobim MG Luiz Almeida de Moraes Júnior Luiz Antônio Barbosa Padre Paraíso MG Maurício Pinheiro de Jesus Terra Boa PR Nilson Alberto Vila Velha ES Pedro Henrique Moraes Borges Itumbiara GO Robert Stephen Cooper Londres SP Edson Luiz de Souza São Paulo SP Isaías Aparecido de Souza Ariquemes RO Josué da Silva Assis SP Julio Cézar de Oliveira Governador Valadares MG Marcílio Joaquim dos Santos Recife PE Ailton Cesar Garbosse Lages SC David Doria Gonçalves Aracaju SE Jane Cândida dos Santos Pacheco Polska Polônia Manoel Barbosa de Sousa Gama DF Levi Neves de Miranda Nova Santa Rosa PR Marcos Antônio Figueiredo Maciel Manaus AM Vilson Júnior Machado Curitiba PR David Correia Brasil Maringá PR Francean Belo Mendes Porto Acre AC Glaisson Carvalho Dutra Edéia GO Josias do Amaral Florianópolis SC Lucas Pereira da Silva Porteirinha MG Marcus Vinícius Cunha Bauru SP Wendel Antônio Porto Anápolis GO Andrey Marcelo Garcia Mandaguari PR Benício Máximo de Carvalho Aquidauna MS Elio Ferreira dos Santos Juranda PR Gilson Luís de Paula Reis Goiânia GO Leonardo Rufino da Silva Paulista PE Marcos de Souza Franco Londres Inglaterra Rômulo de Arruda Júnior Governador Valadares MG Wagner André de Barros Palmares PE Edson Pinheiro Gonçalves São Félix de Minas MG Luís Benedito de Jesus Machado Cândido Mota SP Maricélio Alves Santana Medina MG Valdeci Coelho da Silva Sertãozinho SP Wanderley da Silva São José SC Adalberto Pereira de Jesus Camaçari BA Cosme Ribeiro Maringá PR Gédison Cardoso da Silva Bauru SP Joanito Ribeiro de Oliveira Governador Valadares MG Jobel Cândido Venceslau Assis SP José Santana de Souza Cuiabá MT Junio Ferreira de Jesus Tapejara PR Oziel Fernandes Viana Araguari MG João Bortolato Sobrinho Barueri SP Paulo Ricardo Costa Guilherme Ronaldo da Costa Ramos Governador Valadares MG Daniel Camargo de Oliveira Cianorte PR Eli Berbeth Carvalho Mamborê PR Francisco Vieira de Sá Filho Iporâ PR Giovanni F. Cabral Ferronato Nova Ubiratã MT Maria Aparecida Paulino da Silva Barretos SP Nivaldo Cecílio Christianini Bauru SP Adolfo Neves Maringá PR Ivani Maria da Silva Santiago Maior Cabo Verde Marcello Scopel Santa Catarina SC Charliton dos Santos De Sousa Fortaleza CE Jayme Gervasio Villela Santa Fé do Sul SP Claudomiro Ferreira da Silva Maringá PR Edes Guimarães da Silva Governador Valadares MG Divino de Deus Eterno Goiânia GO Leandro Stori Resende Ariquemes RO Nivaldo Luiz da Silva Tucuma PA Ronaldo Costa Maia Assis SP Geraldo Vieira de Aguiar Ribeirão das Neves MG João Adalberto de Freitas Júnior Fortaleza CE Márcio Tadeu Molina São Paulo SP Sérgio Renato Scheunemann Biguaçu SC Tiago Donizete de Matos Mairinque SP Moacir Sgorlon Campo Grande MS José Osvaldo Mendes Costa Angatuba SP Renato Santos Gomes Valdir Luiz de Almeida Goiânia GO William Roberto Rodrigues Calvão Goiânia GO
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Reforma Institucional Protestante - 500 anos
500 anos de Reforma Protestante Origens, ideais e impactos O Cristianismo, no começo da Idade Moderna, estava passando por momentos muito difíceis. Os interesses pessoais daqueles que exerciam autoridade sobre a igre-
ja e sobre o povo haviam tomado o lugar da verdade bíblica. A teologia fora distorcida e heresias ganharam espaços. Esse quadro era fruto de séculos de afastamento
das verdades bíblicas. Mas Deus, por sua graça, levantou pessoas para combater os desvios teológicos e a escuridão espiritual que o Cristianismo enfrentava.
Pré-reformadores
João Wycliffe
Como sabemos, a Reforma Protestante deu-se no século XVI, sob a proeminência da figura de Martinho Lutero. No entanto, antes disso, outros servos do Senhor já batalhavam por uma igreja voltada unicamente para os ensinos bíblicos. João Wycliffe e João Huss são dois nomes importantes daqueles que precederam a Reforma, mas tiveram o eco de suas vozes ressoando na luta dos reformadores.
João Huss
João Wycliffe João Wycliffe (13281384) nasceu na Inglaterra. Fora um grande teólogo, sábio, competente professor na Universidade de Oxford e reitor em Lutterworth (Inglaterra). Muito contribuiu para uma volta aos ensinos bíblicos.
ção do abuso doutrinário, Wycliffe criticava a imoralidade sacerdotal, a extorsão religiosa, as riquezas e as grandes propriedades da igreja, os privilégios eclesiásticos e heresias tais como o purgatório, a transubstanciação, a confissão Na época, a Igreja auricular e a forma como o Católica exercia grande sacerdócio era conduzido. interferência política e reEm seus sermões, foligiosa sobre quase todos lhetos ou escritos mais os países. Essa influência extensos, colocou as Esprovocou reações e opo- crituras Sagradas e o sensição. Wycliffe não re- so comum como testemuconhecia a autoridade do nhas de suas declarações. papa e se opunha a ela. Nunca hesitava em usar Para ele, só Jesus Cristo é a ironia e a censura, nas o chefe da Igreja. Por isso, quais era mestre; a objetifoi condenado pelo Con- vidade e a pertinência de cílio de Constança, e seus seus apelos faziam tudo seguidores, exterminados facilmente compreensível por Henrique V. à mente popular. Convicto de que a BíFoi chamado de Estrela blia é a lei de Deus, tradu- da Manhã da Reforma por ziu-a ao povo, na língua causa de sua importância inglesa. Em sua condena- na história da Igreja. 4
João Huss
João Huss nasceu de pais camponeses, na Boêmia, Checoslováquia, em 1369. Na Universidade de Praga, cursou Teologia e Filosofia. Ordenado ao sacerdócio, continuou a lecionar na Universidade, da qual foi reitor. Ele era discípulo de Wycliffe, de suas filosofias e de sua teologia. O início de suas pregações ocorreu na Capela de Belém, em Praga. Traduziu o Novo Testamento para a língua tcheca e escreveu vários livros contra as indulgências, o papado, a igreja católica, a adoração a imagens. Era a favor dos ensinamentos dos evangelhos e da vida e paixão de Cristo. Tinha uma vida íntegra e era um grande pregador. Huss afirmava que o fundamento da Igreja não era Pedro, mas Jesus; negou a infalibilidade do papa; negou, também, a importância do papa para a existência da Jornal Aleluia
Igreja; apregoou a autoridade das Escrituras; defendia que os leigos participassem do cálice na celebração da Ceia do Senhor; ensinou que a igreja era formada pelos predestinados, dos quais o verdadeiro cabeça não é o papa, mas Cristo. Criticou severamente várias atitudes do papado. No concílio de Constança foi preso. Esse mesmo Concílio condenou Wycliffe e, embora sepultado havia tanto tempo, ordenou que seu cadáver fosse queimado. Pensavam que, com isso, fariam Huss se submeter às decisões do Concílio. Mas o pré-reformador não quis comprometer sua consciência. Refutou as acusações. Como resultado, Huss foi condenado à fogueira. Por pregar a verdade, foi excomungado duas vezes e, depois, executado. Por amor a Cristo e com grande coragem enfrentou a morte.
Pouco antes que a fogueira fosse acesa, disse Huss, cujo nome significava “ganso” na língua boêmia: “Hoje vós assais o pato, mas dentro de um século tereis um cisne, que não podereis assar nem cozinhar.” Um século depois, surgiria Lutero, o grande reformador alemão. Huss teve papel importante no trabalho que Lutero iria fazer. Em certo momento, Lutero disse: “somos todos hussitas agora”. Os pré-reformadores abriram a porta para Lutero e para a Reforma. Através de sua teologia e de suas pregações audaciosas contra uma liderança corrupta e imoral, aguçaram a mente do povo e os despertaram para a verdade bíblica, levando-os a não crerem apenas no que se ouvia por parte dos líderes da Igreja, mas ensinando-os a confrontar tudo com o que a Bíblia diz. Edição 433
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Reforma Protestante - 500 anos
Alguns princípios enfatizados na Reforma O caminho trilhado pelos (pré)reformadores não foi fácil e exigiu muita perseverança. Importantes princípios foram enfatizados por eles:
Justificação somente pela fé A justificação pela fé é o ato divino pelo qual Deus atribui ao pecador os méritos de Cristo e o homem é declarado justo diante de Deus (Rm 5:1-2; Ef 2:110). O movimento reformador levantou a bandeira da justificação somente pela fé. Isso se opunha à teologia romana, que dava ênfase às boas obras para a salvação.
Os defensores da justificação pelas obras ainda são muitos. Essa teologia não encontra abrigo nos ensinos bíblicos. Quem crê que pode ser justificado pelas obras está negligenciando a perfeição do sacrifício remidor de Jesus. As boas obras são, na verdade, um sinal de que vivemos uma nova vida em Cristo (Ef 2:1-10).
Sacerdócio universal dos cristãos No Antigo Testamento, os sacerdotes faziam o papel de mediadores entre Deus e o homem. Ofereciam sacrifícios, celebravam rituais religiosos, intercediam pelo povo diante de Deus (Lv 16). No início do segundo século depois de Cristo, começou-se a fazer distinção entre o clero e os leigos. Com o passar do tempo, desenvolveu-se um sacerdócio correspondente ao dos antigos judeus. Os bispos estavam na direção da Igreja e eram considerados os sucessores dos apóstolos. No Catolicismo, foi instituído o sacramento da Ordem. Quem é ordenado ao sacerdócio recebe o poder de desempenhar as funções eclesiásticas. São funções do sacerdote oferecer o santo sacrifício (para os católicos, o pão e o vinho transformam-
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-se no corpo e no sangue de Jesus); perdoar os pecados; pregar o evangelho e governar a Igreja. Os reformadores não aceitavam a ideia de que os sacerdotes tivessem privilégios diante de Deus. Lutero ensinou que todos nós não só podemos mas devemos nos apresentar diante de Deus sem nenhum intermediário a não ser a pessoa de Cristo (1Tm 2:5). O sacerdócio individual foi afirmado nos textos de 1Pe 2:9: “vós sois sacerdócio real”; Ap 1: 6: “nos constituiu reino, sacerdotes”. O fato de que somos todos sacerdotes e reis significa que cada um de nós, cristãos, pode ir perante Deus e interceder pelo outro. Se um de nós notar que o outro não tem fé ou tem uma fé fraca, pode pedir a Deus que lhe dê uma fé sólida.
Primazia das Escrituras Sagradas Os reformadores consideraram que o ensino para a vida cristã deveria emanar unicamente da Bíblia. As tradições, as decisões de concílios e os ensinos dos papas deveriam ser deixados de lado diante da autoridade das Escrituras. Por isso se diz que a Reforma foi uma volta à Bíblia. Os reformadores preocuparam-se em analisar as doutrinas da Igreja à luz das Escrituras e rejeitaram tudo o que não fosse bíblico. Zwínglio, por exemplo, num sermão sobre “a clareza e a certeza da Palavra de Deus”, pregado diante de uma assembleia de freiras, em 1522, relembra a importância desse ensino. Afirmou: “Quando mais jovem, dediquei-me demais ao ensinamento humano, como outros de minha época, e, quando há sete ou oito anos passei a devotar-me inteiramente às Escrituras, era sempre impedido de fazê-lo pela filosofia e pela teologia. Final-
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mente, porém, cheguei ao ponto em que, guiado pela Palavra e pelo Espírito de Deus, vi a necessidade de colocar de lado todas essas coisas e aprender a doutrina de Deus diretamente de sua própria palavra. Então comecei a pedir luz a Deus, e as Escrituras tornaram-se mais claras para mim”. Ele deixara as tradições de lado para aprender a Palavra com a Palavra. “Entendo a Escritura somente na maneira em que ela interpreta a si mesma pelo Espírito Santo. Isso não requer nenhuma opinião humana”. As tradições e costumes jamais podem substituir a Palavra. Em matéria de fé, os cristãos não podem ir além das verdades reveladas na Palavra (1Co 4:6). Se um anjo descer do céu, mas ensinar verdades que ultrapassam os limites do Novo Testamento deverá ser considerado anátema (Gl 1:8). A plenitude da revelação está em Jesus Cristo (Hb 1:1-4).
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Lutero e sua contribuição Martinho Lutero nasceu aos 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Filho de pais piedosos, camponeses. Aos 5 anos, começou a estudar latim em uma escola local. Aos 12 anos, foi aluno de uma escola de uma irmandade religiosa em Magdeburgo. Em 1505 recebeu grau de Mestre em Artes da Universidade de Erfurt e começou a estudar Direito. Na madru-
gada de 17 de julho daquele mesmo ano, com pouco mais de vinte e um anos de idade, depois de uma experiência com Deus, disse adeus ao mundo e internou-se num convento, na cidade de Erfurt, onde se tornou um monge agostiniano. No mosteiro, começou a estudar a Bíblia, especialmente os profetas e as epístolas dos apóstolos. Em Romanos, descobriu a frase:
“O justo viverá da fé” (Rm 1:11). Essas palavras nunca cessaram de retinir em seus ouvidos. Então uma angústia tomou conta de sua mente, ao perceber a clareza dos ensinos de Paulo quanto à necessidade de real conversão. Depois de receber o título Martinho Lutero de Doutor em Teologia, convencido de que a Igreja ha- a Bíblia em suas conferênvia se desviado das verdades cias. Lutero era administrapaulinas, começou a pregar dor de onze mosteiros.
O firme posicionamento de Lutero A igreja estava em crise teológica. Cristo deixara de ser o centro do culto, e a pessoa do papa se tornara mais importante que Cristo. A Palavra de Deus ficara em segundo lugar. Primeiro se ouvia o papa. Some-se a isso: a venda de indulgências, o ensino de que a salvação era por meio de obras, a teologia do purgatório, a penitência para perdão de pecados, a idolatria e outras heresias que se infiltraram no meio da igreja ao longo dos séculos.
Lutero, combatendo a imoralidade, dizia: “As pessoas estão se tornando depravadas e as penitências impostas a elas as têm levado à falta de compromisso com o Deus da Bíblia”. Numa localidade próxima a Wittenberg, apareceu, em 1517, um homem chamado Tetzel, enviado pelo arcebispo de Mogúncia para vender as indulgências emitidas pelo papa. Indulgências eram um documento que oferecia perdão de pecados e diminuição das
penas no purgatório aos que as comprassem. Martinho Lutero resolveu denunciar essa e outras heresias. No dia 31 de outubro de 1517, pregou na porta da Igreja de Wittenberg as suas famosas 95 teses. Eram uma lista de 95 pontos que ele julgava necessário discutir para corrigir a situação em que se encontrava a Igreja. Essa data é tida como o “Dia da Reforma”.
Só Deus pode perdoar pecado, afirmava Lutero com base em 1Jo 1: 9; 2:12; Ef 4:32; Cl 2:13,15. “Se o papa tem controle sobre as almas no purgatório, por que ele não abre os portões e as deixa sair?”, ironizava.
Figura de Tetzel vendendo indulgências 6
Parte das 95 Teses
Também atacou o sistema sacramental do catolicismo medieval, sustentando a autenticidade de apenas dois sacramentos: o batismo, que marca o início da vida cristã, e a Santa Ceia, que significa a manutenção dessa vida – a santificação. Ele rejeitou a penitência e os demais (Mt 28:18-20; Jo 6:5059). Segundo o Catolicismo, há sete sacramentos: batismo, crisma, eucaristia, confissão, extrema-unção, ordem e matrimônio. Jornal Aleluia
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Reforma Protestante - 500 anos
Oposição dos líderes católicos Aos poucos, os conflitos entre ele e a Igreja avolumaram-se. Em 1518, Roma abre um processo por heresia contra Lutero. Dois anos mais tarde, o Papa Leão X ameaça puni-lo, caso não revogue suas teses, agindo contra o que considerava um monge rebelde: “Um monge louco, um psicótico demoníaco derrubando os pilares da Igreja Mãe”. Primeiro intimou-o a ir a Roma. Lutero não foi, porque significaria morte certa. Mas seu caso foi discutido e ouvido na Alemanha. Em dezembro de 1520, Lutero queima a bula papal em protesto, além de um livro de leis católicas. No dia 3 de janeiro de 1521, o papa Leão X excomunga o teólogo e reformador alemão. É o clímax do conflito entre duas visões da religião cristã, que acabará resultando numa das mais importantes cisões do Cristianismo. Nesse mesmo ano, o reformador é levado a uma assembleia, a Dieta de
Worms, para ser julgado. O papa queria estar seguro da condenação de Lutero, que foi compelido a se retratar. Tentaram colocar-lhe medo, lembrando-lhe do que aconteceu com Huss, queimado numa fogueira. Ele disse: “Huss foi queimado, mas não a verdade por ele pregada. Prosseguirei ainda que tantos demôLutero na Dieta de Worms nios, quantos são as telhas dos telhados, me alvejem”. lios, porque é claro como o dia que Pediu um prazo para refletir. Foram cedidas vinte e quatro eles caíram muitas vezes em erro, horas. No dia seguinte, 18 de abril e mesmo em grande contradição de 1521, perante a assembleia consigo mesmos. Se, pois, eu não mais célebre e poderosa no mun- for convencido por testemunho da do, Lutero pronunciou um discur- Escritura, ou por evidentes razões, so comovente que terminou com se me não persuadirem pelas próestas palavras: “Vossa sereníssima prias passagens que citei, e se não majestade e vossas altas potências tornarem assim a minha consciência exigem de mim uma resposta sim- cativa da Palavra de Deus, não posples, clara e precisa, dá-la-ei; ei-la so e não quero retratar coisa alguma, aqui: Não posso submeter a minha porque não é seguro para o cristão fé, nem ao papa, nem aos concí- falar contra a sua consciência”. Ter-
minou dizendo: “Aqui estou, não posso fazer de outro modo; Deus me ajude! Amém”. Depois que se negou a retratar-se de suas afirmações contra o poder da igreja, a assembleia dissolveu-se em meio a grande confusão. Os espanhóis gritaram: “À fogueira com ele!”. Os alemães o protegeram. Nos anos seguintes, surgiria João Calvino, que aprofunda as reformas e consolida o trabalho de Lutero.
Obras Tradução da Bíblia Convencido de que o povo Antigo Testamento no texto precisava conhecer as Escri- hebraico. Conhecedor da línturas, traduziu a Bíblia para a gua do povo, soube transmitir língua alemã. A sua não foi a à mente alemã o pensamento primeira versão. Mas, as que original. Foi a sua Bíblia que existiam eram traduzidas da unificou a língua que é hoje Vulgata e continham incorre- conhecida como alto alemão ções. Lutero baseou sua tradu- moderno e concorreu para o ção do Novo Testamento no desenvolvimento da vida relitexto grego de Erasmo, e a do giosa da nação.
Castelo Forte
Castelo Forte é nosso Deus, Espada e bom escudo; Com seu poder defende os seus Em todo transe agudo. Com fúria pertinaz Persegue Satanás Com ânimo cruel; Astuto e mui rebel, Igual não há na terra.
Bíblia de Lutero, impressa em Wittenberg por Hans Lufft em 1534 OUTUBRO 2017
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Livros doutrinários Escreveu obras importantes. Publicou 151 teses sobre a Justificação e o opúsculo Liberdade Cristã, entre outros livros. Também escreveu dois catecismos, o grande e o pequeno. Esses dois tornaram-se manuais do pensamento e da teologia protestante.
A nossa força nada faz; O homem está perdido; Mas nosso Deus socorro traz, No Filho escolhido. Sabeis quem é? Jesus, O que venceu na cruz Senhor dos altos céus; E, sendo o próprio Deus, Triunfa na batalha.
Se nos quisessem devorar, Demônios não contados, Não nos podiam derrotar, Nem ver-nos assustados. O príncipe do mal, Com rosto infernal, Já condenado está; Vencido cairá. Por uma só palavra.
Hino Castelo Forte, de Lutero, no hinário organizado por Joseph Klug, sec. XVI Jornal Aleluia
Hinos Lutero era músico, amava os corais. Escreveu vários hinos, alguns ainda não traduzidos para o português. O mais conhecido é “Castelo Forte”, composto quando ele estava refugiado no castelo de Wittenberg. É o hino 312 do Hinário Aleluia. Leia e veja como sua letra reflete a batalha espiritual que enfrentava.
Livro: Do cativeiro babilônico da igreja
Que a Palavra ficará, Sabemos com certeza, E nada nos assustará, Com Cristo por defesa. Se temos de perder Os filhos - bens, mulher Embora a vida vá Por nós Jesus está, E dar-nos-á seu reino.
Livro: Da liberdade cristã 7
Reforma Protestante - 500 anos
Reforma Protestante e Confessionalização Análise da Confissão de Fé de Westminster (1647)
O
período da Reforma Protestante foi marcado pela elaboração de muitas confissões de fé e catecismos, que tinham como propósito apresentar uma interpretação própria sobre questões doutrinais e pastorais, as quais serviram para distinguir o protestantismo da Igreja Católica Romana. O movimento desencadeado por Martinho Lutero (14831546) abriu diferentes campos religiosos na Europa ocidental, que resultou no surgimento de novos grupos constituídos em diferentes denominações religiosas dentro do próprio protestantismo. Tais grupos discordavam entre si sobre questões eclesiais e doutrinais, por isso, dedicaram-se à delimitação cuidadosa de seus artigos de fé, num processo que conduziu ao aprofundamento das diferenças teológicas entre eles. Todo empenho dessas novas denominações protestantes para elaborar suas próprias confissões de fé era para demonstrar que seus postulados
Pr. Rodrigo Andrade1 Campina da Lagoa, PR doutrinários estavam em acordo com os principais Credos da Igreja (Apostólico, Niceno e Constantinopolitano) e pretendiam distinguir a sua posição teológica da teologia romana. A elaboração das confissões de fé esteve diretamente relacionada aos processos de confessionalização vividos pela religião cristã na Europa ocidental nos séculos XVI e XVII, no contexto do nascimento dos Estados Modernos e das novas denominações cristãs. Na tradição e na teologia protestantes, esse período ficou marcado pela produção e reprodução de variadas confissões de fé e catecismos, que apresentaram a doutrina de maneira simples e direta, com a intenção de alcançar o maior número possível de adeptos. Assim, o fiel estaria vinculado à própria igreja não apenas pela participação dos sacramentos, mas, principalmente, pela profissão de fé, ou seja, pela fidelização à instituição eclesiástica.
Martinho Lutero
Neste artigo, nosso objetivo não é analisar todos os catecismos e confissões de fé produzidos no contexto da Reforma (trabalho que tem sido realizado por diversos pesquisadores que se inscrevem em diferentes áreas do conhecimento), mas centrar nosso estudo na Confissão de Fé de Westminster, importante documento do protestantismo, redigido na Abadia
de Westminster, na Inglaterra, em 1647. O texto foi elaborado por teólogos calvinistas e serviu como manual doutrinal e confessional da Igreja Reformada2. O documento foi e tem sido amplamente utilizado pelas igrejas de orientação calvinista, e seus postulados eclesiais, pastorais e doutrinais tiveram larga influência nas regiões onde foi utilizado.
Reforma Protestante: contexto sócio/político e econômico A Reforma Protestante esteve inserida num contexto de amplas reformas que preludiavam uma nova configuração para o mundo medieval. Embora tenha se voltado prioritariamente para as ques-
tões eclesiásticas, o movimento desencadeado por Martinho Lutero (1483-1546) teve desdobramentos em outros campos da vida social e ultrapassou as questões relativas à religião e à religiosidade, reforçando processos de renovação nas mais diferentes esferas da estrutura social, tendo repercussão nos campos social, cultural, econômico, político e Porta da Igreja do Castelo, em Wittenberg, onde Lutero afixou as 95 Teses educacional. 8
Jornal Aleluia
O início da Reforma Protestante teve como marco definidor o período entre os anos de 1517 e 1555. De acordo com Pierre Chaunu (1984)3 , a Reforma representou uma significativa transformação no campo da fé e marcou o fim do monopólio da autoridade da Cúria Romana na Europa ocidental. A Reforma proposta por Lutero em 1517, quando da divulgação das suas 95 teses para o debate público, contra a venda de indulgências e com severas críticas aos clérigos, era a culminação de um processo de reivindicações por mudanças no interior da Igreja.
No decorrer de sua história, a Igreja passou por largas transformações nos aspectos estrutural e doutrinário. Ela deixou de ser apenas uma comunidade de crentes fervorosos e seguidores de Jesus Cristo, para se tornar uma instituição poderosa e secular que dominou a sociedade medieval europeia em quase todos os seus aspectos. O Cristianismo do século XVI estava muito diferente da sua estrutura inicial. Não era mais uma crença de pessoas simples como em seus primórdios. Reis e príncipes engrossavam as fileiras de seus fiéis seguidores. Não era Edição 433
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Reforma Protestante - 500 anos mais apenas a doutrina dos mártires que deitaram suas vidas nos coliseus e foram perseguidos em todo Império Romano. Desde o século IV, após a união com o Estado, o Cristianismo passou a ser a religião oficial Império. Os cristãos deixaram de se reunir nas catacumbas e nos esconderijos improvisados, e foram erigidas catedrais e mosteiros luxuosos em toda Europa. O clima religioso do final da Idade Média retratava uma Igreja cujos fiéis clamavam por mudanças. A cobrança de indulgências - o perdão dos pecados mediante o pagamento de emolumentos, prática que se acentuou no início do século XVI, e os abusos de poder cometidos pelo Clero, apontavam para uma fragilidade nas estruturas administrati-
vas da Igreja. As denúncias de vendas de funções eclesiásticas, sobretudo na Alemanha, causavam indisposição popular contra a Cúria Romana. Pode-se dizer que o sucesso da aceitação das propostas religiosas de Lutero decorreu, em grande medida, do descontentamento generalizado com as práticas da Igreja. Na percepção de Tawney (1971)4 , há que se ter clareza que todas as mudanças pelas quais passou a Igreja no Ocidente, no século XVI, não surgiram espontaneamente nesse mesmo século. Todas as propostas de mudanças tinham um longo histórico, tanto na esfera teológica, dentro da própria Igreja, como econômica, fora dela. Tais fatores pressionavam por mudanças em suas estruturas. Por isso, não é possível
falar em Reforma como um evento, como um fato coeso, mas há que se considerar a extensão do termo. Trata-se de um movimento que esteve inserido em um amplo movimento de reformas que preludiavam uma nova configuração para a religião cristã, em crise. A Reforma Protestante, portanto, fez parte do marco das rachaduras provocadas pela ação histórica dos homens na estrutura da sociedade medieval e contribuiu, como elemento importante, na transição do feudalismo para o capitalismo comercial. Não era apenas a religião que passava por mudanças no século XVI, mas também as demais áreas da
Igreja do Castelo, Wittenberg
vida social dos homens estavam em transformação no período. Assim, é possível afirmar que o movimento desencadeado pelos questionamentos de Lutero extrapolou seus anseios iniciais e ganhou grande repercussão, influenciando múltiplos aspectos das relações sociais.
A Reforma na Inglaterra A Reforma religiosa na Inglaterra possui algumas peculiaridades que a distinguem das demais nações europeias. Embora os teólogos que lideraram o movimento reformista no país tivessem recebido decisiva influência de reformadores como João Calvino (1509-1554) e Martinho Lutero, a Igreja da Inglaterra adquiriu caráter peculiar tanto na teologia quanto na vida social. As raízes da Reforma da Igreja na Inglaterra5 estão na era medieval, no frágil equilíbrio entre o poder eclesiástico da Santa Sé e o dos monarcas ingleses. Nesse
Henrique VIII OUTUBRO 2017
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contexto, o teólogo John Wycliff (1330-1384), professor de teologia em Oxford, é a figura mais referenciada pelos defensores da reforma religiosa inglesa, pois seus posicionamentos teológicos, de caráter subversivo para a Cúria Romana, questionavam a hierarquia eclesiástica e a supremacia do papa, a quem apelidou de anticristo, o que levou ao movimento conhecido como lolardismo. A partir de fins do século XV, houve o recrudescimento de uma consciência nacional, que resultou no apoio ao rei e em seus esforços para separar a igreja inglesa do papado. A ruptura com a Santa Sé encerrou um processo iniciado no século XV e se estendeu ao século XVI, o que fez aumentar a desconfiança e a hostilidade para com a Igreja Católica. O rompimento definitivo se deu em 1534, sob Henrique VIII. Ele instituiu o Ato de Supremacia Real, que proibia o pagamento de anatas ao papa e suspendia os recursos das cortes eclesiásticas da Inglaterra às cortes papais em Roma, e tornava a Coroa dona das terras da Igreja da Inglaterra. No afã de ter um filho homem para substituí-lo no trono, o rei Henrique VIII decidira obter a anulação do próprio casamento
com Catarina de Aragão (14831536) para se casar com Ana Bolena (1501-1536) com quem tinha um romance. Para alcançar seu intento, o rei teria de controlar a Igreja na Inglaterra. Após muita negociação, a Cúria Romana aceitou o divórcio entre o rei Henrique VIII e Catarina de Aragão. O segundo casamento do rei, porém, não lhe trouxe o filho esperado. Ao pressionar a Igreja pelo segundo divórcio, Henrique VIII teve ampla e dura oposição, o que acabou resultando no rompimento definitivo da igreja inglesa com a Igreja de Roma. Henrique VIII foi quem levou a cabo a separação da igreja da Inglaterra. Ele tirou a igreja dos domínios do papado e a pôs sob o controle real. Com o apoio do Parlamento, o rei se tornou o chefe da Igreja Anglicana. Com o Ato de Supremacia Real, de 1534, o rei passou a ser o chefe da Igreja da Inglaterra. A partir de então, passou a existir uma igreja nacional inglesa, separada de Roma. A aprovação dos Seis Artigos pelo Parlamento, em 1539, evidenciou que o rei não rompera teologicamente com o catolicismo. Os Artigos reafirmavam dogmas romanos, tais como a transubstanciação, a comunhão sob uma só espécie, os Jornal Aleluia
votos monásticos e o celibato eclesiástico. Com a morte de Henrique VIII em 1547, Eduardo VI (15371553, rei desde 1547) ascendeu ao trono aos nove anos de idade. Sob a tutela do tio, Eduardo Seymour (1500-1552). Eduardo VI foi o primeiro rei inglês formado nos princípios da fé protestante; ele introduziu importantes mudanças nas questões religiosas na Inglaterra. Sob a influência de Thomas Cranmer (1489-1556), arcebispo da Cantuária, o rei favoreceu a nascente igreja reformada da Inglaterra por meio de incentivo à elaboração de dois documentos, que foram amplamente utilizados pela igreja: os 42 Artigos e o Livro de Oração Comum. Com a morte de Eduardo VI em 1553, Maria Tudor (15161558, rainha desde 1553), assumiu o trono na Inglaterra. Filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão, Maria foi fiel ao catolicismo e trabalhou para restabelecer a fé católica na Inglaterra. Em 1554, vinte anos após o Ato de Supremacia Real, ela conseguiu devolver o domínio da Igreja Inglesa à Santa Sé. Seu reinado, portanto, contribuiu para que a Reforma deixasse de avançar em solo inglês (DANIEL-ROPS, 1996). 9
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Maria Tudor
Após a morte de Maria Tudor em 1558, Elizabeth I (1533-1603, rainha desde 1558), filha de Henrique VIII e Ana Bolena, subiu ao trono para um reinado de quarenta e cinco anos. Com Elizabeth I, o protestantismo se firmou defini-
tivamente na Inglaterra. A rainha restabeleceu o Ato de Supremacia Real, e o Parlamento o aprovou em 1559. O Ato de Elizabeth I fez dela a rainha governante suprema do reino inglês em assuntos espirituais, eclesiásticos e temporais. No período, também foi estabelecido o Ato de Uniformidade, que instituiu o Livro de Oração, de 1552, composto por 39 artigos, como referência para a Igreja Anglicana. O documento foi aceito pelo Parlamento em 1563 como o Credo da Igreja Anglicana. O reinado de Elizabeth I consolidou a vitória da Igreja Anglicana sobre o papado. A partir de 1603, quando Tiago I (15661625, rei desde 1603) a sucedeu, os puritanos reivindicaram que fosse estabelecido um sistema presbiteriano de governo na Igre-
ja Anglicana; contudo, eles não tiveram suas aspirações atendidas. Naquelas condições, enquanto não foram atendidos, os puritanos formaram grupos de oposição a Tiago I. Assim, quando Carlos I (1600-1649, rei desde 1625) tornou-se monarca, a luta entre os puritanos e os partidários do rei se acirrou. Nesse contexto de disputas, o Parlamento decidiu, em 1643, pela abolição do sistema episcopal de governo da Igreja Inglesa e requisitou para assessorá-lo, em administração e teologia, a Assembleia de Westminster, composta por cento e cinquenta e um puritanos ingleses. O sínodo esteve em seção permanente de 1643 a 1649, funcionando como corpo consultivo dos Comuns. Sua missão era implementar a reforma
Elizabeth I
da igreja na Inglaterra por meio do presbiterianismo. Assim, em 1648, a igreja oficial da Inglaterra era de orientação teológica calvinista e tinha um sistema de governo presbiteriano.
Confissão de Fé de Westminster: principais conceitos doutrinais, eclesiais e pastorais Na segunda metade do século XVI e primeira metade do século XVII, houve mudanças no cristianismo: na teologia, na eclesiologia e na liturgia. Isso implicou novos modelos de relações entre a igreja e os governantes e o fortalecimento do cristianismo. O período ficou conhecido na história da teologia como o século do confessionalismo6, cuja marca maior foi a explicitação de posicionamentos teológicos em face às diversas controvérsias doutrinárias. As divergências doutrinais no interior da cristandade ocidental resultaram numa minuciosa sistematização teológica das diversas denominações cristãs. Houve uma progressiva ênfase nas formulações confessionais e novas conformações sociais foram criadas. Esses processos de confessionalização vividos pela religião cristã no período, além servirem de conformação para as primeiras igrejas protestantes, também contribuíram para a reelaboração de um novo modo de discurso que apontava para uma maneira diferente de perceber a finalidade da Igreja, qual seja, a de preservar o que cada grupo estava adotando como verdade doutrinária inegociável. O momento mais marcante 10
dessa relação entre transformações são de Fé de Westminster trabalhapolíticas e religiosas se deu quan- ram cento e vinte e um teólogos e do esses diferentes grupos passa- trinta leigos nomeados pelo Parlaram a apresentar suas confissões mento (vinte da Casa dos Comuns de fé explicitamente formuladas7. e dez da Casa dos Lordes), oito A Confissão de Fé de West- representantes escoceses, quatro minster destaca-se como a princi- pastores e quatro presbíteros. A pal declaração doutrinária adotada Confissão de Fé de Westminster é pelas igrejas reformadas. Trata-se a obra mais importante da Assemde um documento emanado dos bleia. Foi a última das grandes condebates realizados na Assembleia fissões protestantes do período. O de Westminster, que se reuniu texto foi concluído em 1647, mas, após convocação do Parlamento só foi aprovado pelo Parlamento inglês, para elaborar novos pa- Inglês em 1648, com o seguinte drões doutrinários, litúrgicos e ad- título: Artigos de religião cristã, ministrativos para a Igreja Ingle- aprovados e sancionados por ambas sa8. Os trabalhos tiveram início na as casas do Parlamento, segundo Abadia de Westminster, em Lon- o conselho da Assembleia de teódres, no dia 1° de julho de 1643, e logos ora reunida em Westminster continuou em atividade até 22 de por autoridade do Parlamento. Em fevereiro de 1649. Nesse período, houve mil e seiscentos e quarenta e três reuniões do plenário e centenas de reuniões de comissões e subcomissões. Após ter concluído o trabalho em 1649, a Assembleia foi dissolvida. Na elaboração Assembleia de Westminster do texto da ConfisJornal Aleluia
1647, a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana na Escócia adotou a Confissão de Fé de Westminster como seu manual doutrinal e pastoral em substituição aos antigos documentos que vinham desde a época de John Knox. A Confissão de Fé de Westminster possui trinta e três capítulos, subdivididos em cento e setenta e nove seções, num total de trinta e sete páginas. A versão do documento que é utilizado atualmente nas igrejas de tradição reformada tem algumas modificações em relação ao texto original, publicado no contexto dos trabalhos da Assembleia, em 1647. Na seção XXIII, que trata sobre as funções do Magistrado Civil, tinha uma
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Reforma Protestante - 500 anos seção que sustentava a necessidade da união da Igreja e do Estado, porém, essa seção foi suprimida em 1788, quando da formação da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América. Refletindo outro momento histórico e alinhado às questões políticas e econômicas dos séculos XVIII e XIX, o texto adotado pela igreja estadunidense não sustentou a obrigatoriedade do vínculo entre a Igreja e o Estado. As igrejas de tradição protestante reformada no Brasil, na segunda metade do século XIX, seguiram a mesma deliberação da igreja dos Estados Unidos. O texto da Confissão de Fé de Westminster foi organizado pelos teólogos da Assembleia de Westminster a partir do sistema conhecido como Teologia do Pacto, ou seja, ênfase no Pacto das Obras e no Pacto da Graça. De acordo com essa proposta teológica, Deus tem estruturado seu relacionamento com a humanidade por meio de pactos, em vez de dispensações. O pacto da graça é um dos pactos fundamentais nessa perspectiva teológica, pois ele serve de base para o relacionamento de Deus com a humanidade após o pecado de Adão. Os conceitos doutrinais, eclesiais e pastorais expressos na Confissão de Fé de Westminster
estiveram alinhados à mensagem da Reforma, isto é, a uma nova Teologia9, cujo princípio doutrinal que veio a ocupar centralidade foi a compressão da justiça de Deus não mais como uma propriedade divina, exigida às pessoas, mas como uma justiça que o próprio Deus atribui e torna presente e atuante no ser humano, quando o justifica única e exclusivamente por Sua graça. A Confissão de Fé de Westminster pode ser considerada um manual de teologia protestante reformada. Seus trinta e três capítulos abordam os principais temas da teologia cristã, tais como: a autoridade das Escrituras Sagradas; a soberania de Deus; eleição e predestinação; o conceito do pacto; integração da doutrina com a vida cristã; relação entre Lei e evangelho; a importância da igreja e dos sacramentos; o sistema de governo eclesiástico; o relacionamento entre o reino de Deus e o reino do mundo10. Após concluir o documento da Confissão de Fé, a Assembleia de Westminster se dedicou à elaboração dos catecismos, um mais exato e abrangente e outro mais fácil e breve, para principiantes. O Catecismo Maior era voltado à exposição no púlpito, ao passo que o Catecismo Menor, ou Breve
Catecismo, seria destinado para a instrução de crianças e adolescentes. O Catecismo Maior, de 1647, foi redigido por Herbert Palmer (1601-1647) e Anthony Tuckney (1599 - 1670), ambos estudiosos da área de religiões e professores de teologia. O Breve Catecismo, de 1648, foi preparado por uma comissão, mas, sua redação ficou a cargo dos professores de teologia Anthony Tuckney e John Wallis (1616-1703). Os catecismos demonstram a mesma concisão, precisão, objetividade e abrangência da Confissão de Fé de Westminster. Ambos são estruturados em duas partes; a primeira versa sobre o que o ser humano deve crer a respeito de Deus e a segunda parte fala dos deveres que Deus requer dos homens. O Catecismo Maior tem cento e noventa e seis perguntas e respostas distribuídas em três seções. Suas respostas são claras e servem como complemento e comentário da Confissão de Fé. O Breve Catecismo possui cento e sete perguntas e respostas, sintetizando os pontos mais importantes dos documentos maiores. O texto tem uma estrutura harmoniosa, instrução condensada e abrangente, linguagem simples e objetiva. Esse manual foi e tem sido mais utiliza-
do pelas igrejas reformadas que o Catecismo Maior. Nenhum outro catecismo reformado foi tão influente como o Breve Catecismo; tornou-se para tradição protestante reformada um recurso didático eficaz para o ensino e memorização dos ditames da fé. Desde o século XVII, a Confissão de Fé e os dois Catecismos da Assembleia de Westminster têm servido como um elo doutrinário e eclesiástico que une as relações entre os movimentos presbiterianos de todo o mundo. As posições doutrinais, eclesiais e pastorais defendidas na Confissão de Fé de Westminster contribuíram para a solidificação de uma teologia reformada e de uma eclesiologia inspirada no calvinismo. No século XVIII, o documento serviu de padrão doutrinário para o congregacionalismo da Nova Inglaterra e para os presbiterianos ortodoxos; tornou-se um eficiente mecanismo de unificação da ação pastoral dos cristãos reformados e foi uma estratégia pedagógica eficaz de divulgação da fé cristã protestante. No Brasil, a Confissão de Fé de Westminster tem se constituído como parte importante da identidade das igrejas presbiterianas.
Notas: 1 Rodrigo Andrade é Doutor em História da Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), com Estágio Intercalar de Doutoramento na Universidade de Lisboa (U-LISBOA) e professor de História e Filosofia da Educação da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). É pastor da IPR de Campina da Lagoa - PR, desde 2004. Direção eletrônica: rodrigouem@yahoo.com.br 2 Sobre o contexto histórico da elaboração da Confissão de Fé de Westiminster e a influência das propostas doutrinais de feição calvinista em sua confecção, ver: ANDRADE, Rodrigo Pinto de Andrade, O tema da “oração pelos mortos” na Confissão de Fé de Westminster (1647), texto de nossa autoria publicado no periódico cientifico: Protestantismo em Revista, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Luterana EST. 3 Um trabalho importante sobre os movimentos de reformas ocorridos na Europa ocidental no século XVI é o livro: Les temps des Réformes, do historiador francês Pierre Chaunu, publicado em Bruxelles, pela Editora Complexe, OUTUBRO 2017
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em 1984 (a obra não possui versão traduzida para o português). Daniel´Rops, autor que é também vinculado à tradição da historiografia francesa, tem uma vasta publicação sobre a História da Igreja que merece destaque. Para o estudo específico da temática que discute os movimentos reformistas do século XVI e neles inclusos as Reformas: Protestante e Católica, sugerimos as obras: A Igreja da Renascença e da Reforma (Volumes I e II), publicadas em 1996, pela editora Quadrante. 4 Para o estudo sobre as relações entre religião e economia, a obra de R.B Tawney: A Religião e o surgimento do Capitalismo, publicada pela editora Perspectiva, constitui-se numa importante referência. Nessa mesma esteira, cabe destaque o renomado trabalho de Max Weber: A ética protestante e o espírito do capitalismo, com diferentes edições publicadas no Brasil. 5 Sobre a Reforma na Inglaterra, conferir a obra organizada por David Bagchi e David Steinmetz: Reformation Theology, publicada em Cambridge, pela editora: CUP, em 2004. O livro apresenta
um total de dezessete (17) textos, de diferentes autores, que discutem o percurso histórico, os desdobramentos sócio/políticos, bem como os principiais postulados doutrinais e, sobretudo, eclesiais da Reforma na Inglaterra. Damos um particular destaque para os textos da coletânea que serviram para fundamentar nossa argumentação neste tópico do trabalho: FUDGE, Thomas. Hussite theology and the law of God. SCASE, Wendy. Lollardy. TREUEMAN, Carl. The theology of the English reformers. BROOKS, Peter Newman. The theology of Thomas Cranmer. (Ainda não há a versão desta obra em português). 6 Para o aprofundamento das discussões sobre o processo de confessionalização vivido pelo cristianismo ocidental nos séculos XVI e XVII, bem como as confissões de fé elaboradas no período, a tese de doutoramento de Rui Luis Rodrigues: Entre o dito e o maldito: humanismo erasmiano, ortodoxia e heresia nos processos de confessionalização do Ocidente, 15301685, constitui-se num importante referencial. Jornal Aleluia
7 Sobre a elaboração das Confissões protestantes dos séculos XVI e XVII, verificar o artigo do teólogo presbiteriano Hermisten Maia Pereira da Costa: A relevância da ortodoxia protestante na elaboração das confissões protestantes nos séculos XVI E XVII, publicado nos anais do XI Simpósio Nacional da Associação Brasileira de História das Religiões, em 2009 8 Sobre o contexto da elaboração da Confissão de Fé de Westiminster e suas principais implicações histórico/políticas para igreja inglesa, conferir a obra de John Leith: Assembly at Westminster: Reformed Theology in the Making, publicada na Escócia pelo Instituto e Editora John Knox, em 1973, ainda sem versão em português. Publicada também pela mesma editora, a obra: The Westminster Handbook to Origen, de John Anthony Mcgukin. Outro trabalho que importante sobre a temática é o de Robert Paul: The Assembly of the Lord: Politics and Religion in the Westminster Assembly and the Great Debate, publicado pela editora Clark, em Edinburgh, no ano de 1985. Nossas discussões nesta parte do texto,
a rigor, estiveram fundamentadas nestas obras. 9 Para quem deseja uma boa “entrada” nas discussões sobre a Teologia da Reforma, sugerimos o livro Pilares da Fé: a atualidade da mensagem da Reforma, publicado em 2017 pela Editora Vida Nova, de autoria do teólogo brasileiro Franklin Ferreira, pesquisador claramente alinhado à Teologia Reformada, de feição calvinista, que apresenta as consagradas expressões latinas, conhecidas como as “cinco solas” da Reforma, como uma caracterização da Teologia da Reforma. Em sua obra, Ferreira conceitua e analisa sob uma perspectiva teológica e histórica as “cinco solas”: Sola scriptura, sola gratia, sola fide, sola Christus e soli deo gloria. 10 Uma boa divisão com destaque para os principais postulados doutrinários da Confissão de Fé de Westiminster está nos textos de Alderi Souza de Matos: Puritanos e a Assembleia de Westminster e Os Catecismos de Westminster (1647-1648), ambos disponíveis no sítio eletrônico da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 11
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