Revista Ressurgir - Instituto Bíblico de Arapongas

Page 1

Maio/2011 Ano I - Ed. I R$ 12,00



EDITORIAL Caros leitores Esta revista tem como objetivo publicar matérias relacionadas ao extinto Instituto Bíblico de Arapongas – o IBA –, fundado pelo Pr. Palmiro Francisco de Andrade, no ano de 1970, quando um significativo número de jovens, de vários Estados de nossa Federação, num período de intenso avivamento espiritual, foi movido pelo Espírito Santo, e se deslocou para Arapongas, no interior do Paraná, em busca de preparo teológico para o trabalho missionário e pastoral. O IBA encerrou suas atividades em 1974 e alguns dos seus egressos seguiram suas vidas como pastores ou missionários (as), em diferentes igrejas. Outros se encontram inseridos nos mais diversos campos de atividades profissionais. Pelo período de quase 40 anos, os ex-alunos do IBA não tiveram nenhum contato entre si, até que, em 2009, movidos por um grande desejo de se reencontrar, puderam fazê-lo, primeiro virtualmente, por meio de uma comunidade no Orkut, depois, nos dias 1 e 2 de maio de 2010, num emocionante encontro físico, em Arapongas, a mesma cidade, onde estudaram nos anos 70. Durante o I Reencontro, em maio de 2010, foi lançado o projeto de escrita coletiva da história da instituição. Sob o lema “Registrando nossas memórias, construiremos nossa história”. O livro móvel circula pelos endereços dos escritores, até que todos os ex-alunos do IBA completem seus registros, que depois serão publicados em um livro, que a ser lançado em 2012, no III Encontro. Esta revista traz, em suas páginas, sete seções repletas de assuntos variados e envolventes, os quais, com certeza, lhe proporcionarão uma leitura agradável e edificante. São elas: Seção I - Notas e Notícias - Por onde andam e o que fazem atualmente os ex-alunos do IBA. Seção II - Minha experiência - Relata a história do chamado missionário do Pr. Paulo Bueno Camargo e sua passagem pelo IBA. Seção III - Memórias do IBA - Apresenta fragmentos das histórias vividas pelos alunos e relatadas nos fóruns da Comunidade Virtual: ALUNOS DO IBA – DÉCADA DE 70. As seções IV, V, VI e VII apresentam, nessa ordem, entrevista e artigo especial, por dois ex-alunos do IBA, Pr. Luiz Carlos Vicente e Pr. Silas Barbosa Dias. Um amplo relato sobre o lugar do IBA nas raízes históricas da IPRB, escrito pelo Professor Joel R. Camargo, que fora professor no IBA, nos anos 70. E conclui com depoimentos comoventes dos participantes do I Reencontro dos Alunos do IBA, realizado no mês de maio de 2010, 40 anos depois. Ficamos felizes por poder proporcionar esse conjunto de informações aos que conheceram IBA, e vivenciaram a experiência de dele participar, e aos que não o conheceram, mas precisam saber de seu papel, ainda que modesto, na História da Igreja no Brasil. Vilma Ferreira Bueno Organizadora


ÍNDICE Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 Seção I Por onde andam os alunos do IBA? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 Seção II Uma vocação marcada pela história do IBA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04 Seção III Histórias do IBA - Fragmentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06 Seção IV Reflexos do IBA sobre o ministério de um ex-aluno, 40 anos depois. . . . . 09 Seção V IBA: Sonhar os sonhos de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Seção VI O lugar do IBA nas raízes históricas da IPRB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Seção VII I Reencontro de alunos do IBA - maio/2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Colaboradores da 1ª Ressurgir

Vilma Ferreira Bueno

Silas Barbosa Dias Professor da Unifil, Pastor II IPI Londrina, PR

Professor Joel Ribeiro de Camargo

Luiz Carlos Vicente Pastor Ministério Apascentar Guarulhos, SP

Paulo Bueno Camargo Pr. Comunidade Aliança de Amor Capão Bonito, SP

Alfredo Pereira - Funcionário do Banco Central - Brasília, DF Amélia Ribeiro - Professora Rede Pública - São José do Rio Preto, SP Ariovaldo Cardoso de Oliveira - Prof. Rede Pública - Bragança Paulista, SP Dulcinéia Marques - Profª., Diretora de Escola - Santana do Parnaíba, SP James Andrade Silva - Engenheiro Civil - Brasília, DF Lygia Maria Carlin do Prado - Profª. aposentada - Biguaçu, SC Manoel Messias Pereira - Pastor Batista e Professor de Teologia - Buritama, SP Mirian Lago - Professora - Maringá, PR Noé Alcy Cruz - Diretor Unidade Saúde Pública - Vila Mariana – São Paulo, SP Rísia dos Santos Coelho - Missionária – Santos, SP Roberto Carlos Fernandes - Empresário Construção Civil - Milford, EUA Rosângela Tromm - Missionária, dona de casa - Joinville, SC Shirley Menezes - Professora - Americana, SP Tona, Nice, Ivanilde, Pr. Luiz e Léa, Paulo e Zilma

02

EXPEDIENTE A Revista Ressurgir é uma publicação comemorativa do 1º Encontro do IBA ••• Maio/2011 ••• Reportagem e edição: Vilma Ferreira Bueno ••• Revisão: Prof. Joel Camargo Vilma Ferreira Bueno ••• Fotos: Banco de imagens dos ex-alunos do IBA ••• Capa: Cléverson Faverzani ••• Arte e diagramação: Ariélly Bonini ••• Tiragem: 300 exemplares ••• Vilma Ferreira Bueno Fones: |48| 3206.2937 |48| 9638.1603 E-mails: vfb1006@hotmail.com e vilmabueno1006@gmail.com ••• Impressão: Aleluia Empreendimentos Gráficos Ltda.

www.editoraaleluia.com.br aleluia@editoraaleluia.com.br Televendas: 0800-400-0005 Fone: |43| 3172-4040


SEÇÃO I POR ONDE ANDAM OS ALUNOS DO IBA? Alunos do IBA que são membros da Comunidade Virtual (Orkut).

E

u, Vilma Ferreira Bueno, resido em Florianópolis, SC. Fui aluna da primeira turma do IBA. Fiz parte da caravana que saiu de Joinville e São Francisco do Sul, SC, com o pastor Palmiro Francisco de Andrade, em 1970, rumo a Arapongas, para estudar no IBA. Permaneci no IBA até 1972, quando pedi transferência para o Instituto Bíblico de Londrina, o ISBL, onde me formei em 1973. Retornei a Santa Catarina e segui carreira acadêmica, graduando-me em Pedagogia e especializando-me em Fundamentos da Educação, na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e Mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Dediquei-me ao Magistério Público Estadual, tendo lecionado em várias escolas da rede, e dando consultoria em legislação educacional no órgão central da Secretaria de Estado da Educação de Santa Catarina. Nos últimos 10 anos, tenho atuado na área da Educação a Distância, na UDESC, SENAC, e no www.saberemergente.com.br, bem como na organização dos Encontros dos Alunos do IBA, do projeto escrita coletiva da história do IBA e da Revista Ressurgir. Contato: vilmabueno1006@gmail.com Fone: (48) 9638-1603.

II Encontro de Alunos do IBA Nos dias 14 e 15 de maio de 2011, Arapongas sediará o II Encontro de Alunos do IBA, com intensa programação. O evento ocorrerá nas dependências do Executive Hotel, Rua Marabu, esq. com Jacutinga, 1229, e na Igreja Presbiteriana Renovada Central, à Rua Calu, 35.

Alfredo Pereira Luiz Carlos Vicente Funcionário do Banco Central Pastor Ministério Apascentar Brasília, DF Guarulhos, SP Alvino Neves Manoel Messias Pereira Professor e Fazendeiro Pastor Batista e Professor de Teologia Campina da Lagoa, PR Buritama, SP Alzira Ferreira Bueno Mirian Lago Pedagoga aposentada - Joinville, SC Professora - Maringá, PR Amélia Ribeiro Nair Ribeiro Professora Rede Pública Esposa do Pr. Jair Andrade - Londrina, PR São José do Rio Preto, SP Natanael Palazin Ariovaldo Cardoso de Oliveira Pr. Jubilado da IPRB Prof. Rede Pública - Bragança Paulista, SP Várzea Grande, MT Ary Pereira Neuza Palazin Químico, farmacêutico, fazendeiro Missionária, esposa do Pr. Natanael Londrina, PR Várzea Grande, MT Dejair Molina Cavalcanti Noé Alcy Cruz Funcionário Público - Osasco, SP Diretor Unidade Saúde Pública Dulcinéia Marques Vila Mariana – São Paulo, SP Profª., Diretora de Escola Norma Veras Santana do Parnaíba, SP Pastora - Araraquara, SP Eduardo Medeiros Osmar Menezes Pastor da IPI - Londrina, PR Pastor da IPI - Pirapozinho, SP Elizeth Bruno do Nascimento (Tona) Otávio Nascimento Artista Plástica - Curitiba, PR Pr. da Igreja Evangélica de Língua Esmael Arcas Portuguesa - Zurich - Suíça Pastor IPI - São José dos Campos, SP Ozias Almeida (Neves) Evani Terra Logar Missionário - Campo Mourão, PR Profª., Consultora Educacional Paulo Bueno Camargo Peruíbe, SP Pr. Comunidade Aliança de Amor Ivani Bessa Capão Bonito, SP Profª aposentada, Rede Estadual Ensino Rísia dos Santos Coelho São Paulo, SP Missionária – Santos, SP Inês Arcas Roberto Carlos Fernandes Esposa do Pastor Esmael Arcas Empresário Construção Civil São José dos Campos, SP Milford, EUA Ivenice Ronaldo Tavares Pedagoga - Osasco, SP Pastor da Comunidade El Shadday Jacó Veras Curitiba, PR Pastor - Araraquara, SP Rosângela Tromm Jair Andrade Missionária, dona de casa - Joinville, SC Pastor - Londrina, PR Ruth Dominoni James Andrade Silva Missionária, dona de casa - Marília, SP Engenheiro Civil - Brasília, DF Shirley Menezes João Bernardino Professora - Americana, SP Professor de História - Faxinal, PR Silas Barbosa Dias Josias Amaral Professor da Unifil, Pastor II IPI Pastor Jubilado IPRB - Florianópolis, SC Londrina, PR Lygia Maria Carlin do Prado Vilma Ferreira Bueno Profª. aposentada - Biguaçu, SC Proprietária da Comunidade

03


SEÇÃO II UMA VOCAÇÃO MARCADA PELA HISTÓRIA DO IBA Paulo Bueno de Camargo

T

alvez aí por volta de 1958/9, depois de ler matéria na Revista Voz Missionária (1954) sobre a vida do Rev. Orlando e Loide Bonfim, missionários presbiterianos na Missão Caiuá (MT), pela primeira vez senti algo como que vindo de Deus e um profundo desejo de ser como aqueles missionários, embora, aos meus 9 ou 10 anos de idade, muito pouco ou quase nada entendesse sobre o assunto. Entretanto, já tinha ouvido sobre a experiência do menino Samuel que vai à procura do Sacerdote Eli (1 Sm 3. 4-11). Um dia, falei com mamãe sobre o assunto. Disse que sentia no coração forte desejo de ser missionário e a resposta foi mais ou menos assim: “O Senhor está te chamando para o serviço dele”. Minha reação, em seguida, foi correr para o quintal de nossa casa, apanhar um cabo de vassoura, fazer dele um cavalinho e sair correndo sem rumo.

E

Minha estrada de Damasco

sse chamado voltou a ser muito forte quando participei, em 1967, de uma campanha evangelística promovida pelo Ministério Palavra da Vida, na cidade de Londrina, no antigo Ginásio Londrinense. Lembro-me de que voltei a Sertanópolis, PR, onde residia, com um profundo desejo no coração de servir ao Senhor. Entretanto, os anos se passaram, e o desejo acomodou-se em mim. Minha experiência de conversão ocorreu em um domingo, à tarde, no do dia 8 de novembro de 1969. Foi aqui que se deu o novo nascimento, minha experiência de conversão. Meu coração transbordava de alegria, e servir ao Senhor era tudo o que me dava prazer. Nesta ocasião já estava residindo em Londrina. Dias depois me lembrei das duas experiências do chamado de Deus e entendi que aquele era o momento da confirmação da vocação cristã. Na década de sessenta, a Igreja

04

Presbiteriana Independente (Presbitério de Londrina), à qual pertencia, vivia um estado de estagnação espiri-tual. Muito entusiasmo, mas pouca experiência com a pessoa do Espírito Santo. O despertamento espiritual começou a chegar com um Encontro do Sínodo Meridional, no sitio Marília, em Londrina, estando presente o pastor presbiteriano Rev. Antonio Elias. O avivamento, que já estava acontecendo em outros recantos da Igreja Presbiteriana Independente pelo Brasil, sopra agora também em Londrina, na Terceira IPI. Tive o privilégio de ter sido pastoreado por alguns ilustres homens de Deus. Alguns deles foram o entusiasta Rev. João Batista Ribeiro Neto e o pioneiro do evangelismo no norte do Paraná, Rev. Jonas Dias Martins, que fora meu grande incentivador e discipulador, e o Rev. José Ferreira Filho. Apesar de ter estado aos pés desses expoentes, a vocação pastoral era ainda algo não muito claro em minha mente.

Talvez pelo medo de ter de deixar minha ambição profissional, família e certa acomodação na igreja local. Algo ainda teria de acontecer como uma espécie de confirmação. Em dezembro de 1969 estive presente no Encontro de Avivamento, na cidade de Campina da Lagoa, PR. Logo em seguida, em fevereiro de 1970, estive em outro Encontro de Avivamento, em São Francisco do Sul, SC. Estes eventos foram decisivos quanto à clareza do meu chamado. Mas, muito teimoso, ainda faltava a experiência da “lã umedecida”. Em 21 de abril de 1970, numa vigília de oração em Joinville, SC, Deus confirmou o meu chamado, quando tomei conhecimento da abertura do Instituto Bíblico de Arapongas. Dias depois recebi uma carta de Rosângela Rocha dizendo que o meu nome constava na lista dos primeiros alunos. Aquela carta foi a “lã” que confirmava a minha ida para o seminário.


SEÇÃO II

Meu deserto na Arábia

M

inha experiência no IBA foi dentro desse espaço de tempo quando experimentava aquele antegozo espiritual. Ao conversar com minha mãe sobre a decisão de cursar o seminário, lembrome de sua alegria por ver estar sendo confirmado o voto que ela havia feito a Deus quando eu ainda estava no seu ventre. Fiquei sabendo a razão e o porquê do nome Paulo, fazendo alusão ao nome do apóstolo dos gentios. Naqueles dias, ainda em Londrina, o entusiasmo e a sede pelo evangelismo eram grandes: culto nas praças, distribuição de folhetos, evangelismo no ponto final de ônibus da linha no Jardim do Sol, grupo de evangelismo nas madrugadas, vigílias de oração, evangelização de crianças no Jardim Leonor. Por onde passava, dava testemunho da graça de Deus sobre a minha vida. Depois de receber as primeiras instruções de meus pastores, agora, em Arapongas, era a vez do Rev. Palmiro Francisco de Andrade e Rev. Alcedino Pereira (nosso querido professor de grego), trabalharem com este vaso de barro que precisava ser

moldado à luz das Sagradas Escrituras e tinha muito a conhecer dos mistérios de Deus nas aulas de teologia. Precisava aprender sobre as implicações dessa função, as exigências, as incumbências de servir com boa vontade, nas instruções do apóstolo Pedro: “não por torpe ganância, mas por ânimo pronto, nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”, 1Pe 5.2,3. No IBA trilhei os primeiros passos para essa maravilhosa tarefa que hoje exerço. E isso sob a supervisão de homens escolhidos por Deus, cheios do Espírito, cheios de sabedoria. A cada manhã, nos cultos na capela, na sala de aula, no refeitório, no alojamento, nas tarefas diárias, Deus ia me moldando na formação do meu caráter. Que tempo difícil do ponto de vista humano, ser tratado por Deus. As dificuldades financeiras, a liberdade vigiada, as privações, as provações quase sempre acompanhadas de tentações, da vontade da carne, das dúvidas, do desejo de abandonar tudo. Mas Deus estava presente sustentando, cuidando e suprindo as necessidades.

O parêntese aberto

D

eixei o IBA em 1972 quando nasceu a Igreja Presbiteriana Renovada. Voltei para Londrina entendi que deixar os estudos não era abandonar a vocação, mas um “parêntese” que Deus estava permitindo que fosse aberto e que no tempo certo se encerraria e voltaria à busca da formação acadêmica, tendo em vista a clareza da vocação. Durante este “parêntese” me casei com Zilma, temos duas filhas, Anna Paula, hoje casada com Márcio, e uma linda neta que eles nos deram. A segunda filha, Rafaela, solteira, reside conosco. Em 1986 o “parêntese” começou a ser fechado. Reiniciei a minha formação teológica na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, concluindo-a em 1990. Hoje sou pastor metodista, pastoreando desde 1988. Capão Bonito, SP, 5 de novembro de 2010 Pr. Paulo B. Camargo

Fatos muito marcantes

Q

uando voltei ao IBA, quarenta, anos depois para o nosso I Reencontro, em maio de 2010, agora mais velho, (mas não tão velho como os outros e outras, rsrs) que alegria (quase incontida) ao rever pessoas tão amadas que outrora foram instrumentos de Deus nas pequenas coisas, nas coisas maiores, nos pequenos gestos. Que bom olhar para o passado e lembrar dos trotes entre os alunos, sem o Rev. Palmiro saber, e quando descobria lá iam o Eduardo e o Paulo para o “Sinédrio” dar as devidas explicações. Fazer as coisas escondidas do Natanael e continuar fazendo, mas sendo amigo dele. Chegar à noite, com fome, vindo do culto na Vila Aparecida e, às escondidas, entrar na cozinha e comer o pão do dia seguinte. Lembrar que, uma vez, o Ariovaldo deixou de orar de joelho em cima da sua cama porque o seu travesseiro estava cheio das meias fedorentas do Esmael Arcas. Lembrar dos baldes cheios de águas que eram jogados enquanto alguns alunos estavam sentados no “trono”. Chegar à biblioteca e ver o Lourival dormindo, apagar as luzes e continuar conversando no escuro e ouvir o Lourival acordando e gritando: “fiquei cego! fiquei cego!”. Lembrar que o Dilmar, com toda aquela simplicidade, era terrível nas suas vinganças para conosco. Tirar as agulhas do agulheiro do Tael só para vê-lo irritado. Viajar escondidos a Londrina para brincar na piscina do sítio Marília e chegar ao IBA dizendo que tinham ido fazer visita pastoral. O Tael dizia que acreditava. O que dizer mais daqueles dias? O vozeirão do Alvino Neves, cantando e tocando com o seu violão de sete bocas! Quantas outras brincadeiras poderiam ser narradas aqui.

05


SEÇÃO III

“HISTÓRIAS DO IBA” FRAGMENTOS A construção da caixa d´água Hei, tempo bom! Quem não se lembra da construção ou reforma da caixa d'água! Não posso esquecer que resolvi balançar na corda que levantava o balde com massa e segurei na corda e adivinha... Rsrsrs! Cicatriz na cabeça. Acho que o Natanael anotou a burrice do garotão, He,he! Meu tempo foi pequeno no IBA, mas foi tão bom que todos os momentos nunca saíram da minha mente. James

Ah! Sobre a construção da caixa d'água, no Colégio Evangélico, lembro-me bem! Afinal eu e o Messias éramos os "voluntários" do Pr. Palmiro para trabalhar de serventes do presbítero Ananias, o pedreiro, aquele que era da IPI da Vila Morangueira, em Maringá. E ainda tínhamos de fazer nossas tarefas no Instituto para a nossa sobrevivência. Sem contar que o presbítero não nos dava moleza. Tínhamos de bater a massa e ainda tomar conta dos assistentes casuais que apareciam para "ajudar" e alguns pra tirar uma 'casquinha' de nós. Ainda tinham coragem de dizer que éramos privilegiados, pode? Rsrsrs! Mas foi um tempo muito bom... E deixou saudades! Luiz Carlos Vicente

Nem tudo eram 'rosas' Talvez alguns se espantem, outros já não mais... pois já andei tecendo alguns comentários sobre meus sentimentos de tristeza e frustrações no tempo que estava no IBA. Afinal nem tudo eram 'rosas'. Estávamos na fase final da adolescência (eu tinha apenas 16 anos) e uma grande carência, em todos os sentidos. Certa vez, numa conversa com a Rosa, chorei minhas mágoas e falei dos meus 'complexos', pois estava me sentindo nada mais nada menos que 'o cocô da mosca que pousou no cocô do cavalo do bandido'! Rsrsrs! Falei a ela que me sentia feia, desprezada e triste. Disse que não gostava da minha boca, pois a achava muito grande, não gostava de minhas pernas, etc, etc. Crises de adolescente... Todos passamos por isso e sabemos o que é... Só que nem sempre conseguimos expor isso, a não ser no "divã do analista". Mas vamos lá: minha amiga, pra me consolar, disse: imagine, sua boba! Você já reparou no 'tamanho da boca' e na grossura das pernas das artistas de telenovelas nas revistas? Pois sua boca e suas pernas são iguaizinhas, ou mais lindas que as delas (TV nem existia, pelo menos pra nós)... Aquelas simples palavras elogiosas da minha querida amiga caíram como um 'bálsamo' alentador sobre a minha alma, melhorando minha autoestima e alegrando o meu espírito. Alguém ainda duvida da importância do carinho e da força das palavras? Vilma

As lutas e provas que tivemos no IBA foram proporcionais à nossa idade. Com certeza, agora temos lutas maiores e mais sérias, porém saberemos enfrentá-las com maturidade e paciência, graças ao bom Senhor que disse: “Sem mim nada podeis fazer” e “Não se turbe o vosso coração” e “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” e ainda: “Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos”. Glórias a Deus! Rosângela

06


Enquanto isso, no dormitório masculino...

SEÇÃO III

Agora ficou mais fácil contar alguma de nossas peripécias. O que mais me chamou a atenção, dentre muitas, foi o que aconteceu com o Dilmar. Lembramse do Dilmar, um dos Neves? Pois bem. Ele morava no quarto do Tael, Otávio e Paulo Camargo. Aí ele teve a brilhante ideia de experimentar algo novo em sua vida "acadêmica", sugerindo ao Tael que o colocasse para morar em nosso quarto. Ali só tinha gente boa, todos demasiadamente responsáveis (rsrs). Eram o Samuel, Flávio, eu, e acho que o James. Queria vir porque ele achava que ia nos mudar. Só que os "vidas tortas" logo logo fizeram com que o coitado do Dilmar já estivesse perdendo hora e dormindo um pouco mais como todos do quarto. Conclusão: acabou tomando umas "duras" do velho e bom Natanael. Coisas do IBA... Olá pessoal que gosta de escrever, vamos nos soltar em nossas histórias, pois já se foram muitos anos e, pelo jeito, estão latentes em nossos pensamentos. Assim, como dizem os entendidos, quanto mais velhos, melhores. Por exemplo, o que era mais hilário em nosso alojamento era quando aquele bando de rapazes tinha de lavar suas roupas, porque, no meio, havia alguns, ou melhor, quase todos que só conheciam sabão, água e as roupas deles! Mais tenebroso era quando o diretor Tael saía nos chamando, nas manhãs geladas de Arapongas. Era a hora de deixar nossa caminha quentinha, quentinha. Eitaaaa! Como era difícil! Com certeza devo ter sido um dos que tirava o sono de nosso diretor. Porque, naquela época, não tínhamos noção clara e nem um conhecimento real de nosso próprio contexto. Mas, graças a Deus por ter-nos dado o privilégio de passarmos parte de nossas vidas no IBA. Hoje tenho certeza de que o que sou é por conta desse período de convivência, de estudos e das dificuldades inerentes àqueles dias e de tudo que aprendemos lá. Luiz Carlos Vicente

E quem disse que homem não chora!!! Eu sou um sujeito metido a homem, portanto, não gosto de chorar. Acho que choradeira é coisa de mulher. Mas, lendo suas mensagens, imaginado o tom de voz de cada um, calculando os sentimentos - os sentimentos são calculáveis? - , observando a riqueza espiritual que conquistaram, vivendo este momento lindo de reencontro, puxa vida, eu quase chorei. Uma lagriminha espremida parou no canto do meu olho esquerdo. Vocês são ótimos! Claro que o Senhor é quem nos deu o poder pra conquistar tudo isso, mas, lembrando o James, neste momento sou arminiano. Sem as respostas certas do nosso coração, nossas conquistas teriam sido minúsculas. Nos tempos do IBA, eu era um bobalhão. De lá pra cá acho que melhorei um pouco. Eu não podia olhar demais pra nenhuma garota, senão os guardas percebiam e... Além disso, eu tinha minha namorada e as meninas tinham seus namorados ou apaixonados e, você sabe como é, poderia dar uma confusão danada. Nosso saudoso diretor era um homem brabo, igual a um jacaré, e todo mundo tinha muito medo dele! Eu achava que podia ser expulso a qualquer momento, porque não era exatamente um cumpridor de normas. Não sei onde li que as regras existem para ser descumpridas. Hoje eu sou um rigorosíssimo observador das leis, mesmo não sendo sabatista. Afinal, em nome do avivamento, restaurou-se a Inquisição! O que me restava, então? Olhar pouco, falar menos ainda, sorrir e abaixar a cabeça! E mudar a letra de alguns corinhos na capela, arriscando-me a um castigo celestial terrível. Lembro-me bem daquele "De caminhão eu vou..." Como creio que Deus perdoou todos os meus pecados, perdoou esse também. Uma vez um colega - vê se você lembra, Luís, eu esqueci estava numa sala de aula na agradável tarefa de beijar a sua namoradinha. Um dos “guardas” viu. O carinhoso casal foi expulso! Hoje seria homenageado! As coisas mudam. Nós também mudamos. Só o nosso amor uns pelos outros não mudou. Porque Deus é amor e Deus não muda! E o nosso amor nasceu do coração de Deus! Vocês falam coisas que mexem com o coração da gente. Mas, como a Vilma é a nossa anfitriã (tá certo falar assim?), sugiro a ela, sobre o pretendido encontro em Arapongas: quem não puder ir, seja de antemão perdoado; quem for, coloque o nome no peito, à moda dos aeroportos, pra todo mundo ficar sabendo quem é quem. AFINAL, DEPOIS DESSES TRINTA E SETE ANINHOS, ESTAMOS MUITO MAIS BONITOS E CHARMOSOS! Não é mesmo? Ariovaldo.

07


SEÇÃO III

Doces recordações... Querido amigo e irmão em Cristo, Ariovaldo. Li o que você escreveu, e achei muito bonito. É verdade que essas lembranças emocionam e trazem saudades. Eu me lembro bem de você. Sentávamos perto, no refeitório na hora do almoço, próximos à janela, no fim da mesa. Eu dizia que estava com frio, e pedia para fechar a janela. Você dizia: frio é psicológico e não me atendia. Eu me lembro bem de suas risadinhas como se fosse hoje, você abaixava um pouco a cabeça e sorria tirando 'palha' da gente! Rrsrs! Que saudades! Foi muito bom ter conhecido você e ter tido a oportunidade de conviver aqueles tempos com você, meu amigo! Que o Senhor o abençoe! Tenho muitas lembranças agradáveis dos dias de IBA. Quem das meninas não se lembra das escalas para lavar a louça? Era divertido pois, enquanto lavávamos, também cantávamos em duetos e quartetos. Era muito legal. Rosângela

Quando saímos do Colégio Evangélico e as moças foram morar em uma casa, foi instalada uma lâmpada na cabeceira de cada cama, para aquecer no frio que era de tremer. Colocávamos lâmpada de 100 watts. Vivíamos com tão pouco dinheiro que "nem dava para contar". Um dia, procurei minha blusa de educação física (filha única) e sabe onde estava? A Neth Kantack havia enrolado a blusa na lâmpada da cama dela. Resultado: virou churrasco! Mas ela me comprou outra! Rsrs! Risia

E eu vivia pensando que só eu não cumpria as regras... Rsrs! Coisas de estudantes! Aproveitando o tempo me lembro da amada Agda, gente fina toda vida, mas na época meio que mandona. Lembro-me de uma parada que tivemos no saguão do dormitório masculino. A gente discutiu e dei uma rasteira nela e acabei derrubando-a e à Evani de pernas pro ar... Rssss! Foi um barato! Mas, na hora, ela queria me trucidar! Rsrsr! Meninas, desculpem, mas foi muito hilário! Saudades de vocês! Noé

08

Revendo fotos A memória está bem fraquinha... Quase nem me reconheci a mim mesmo! Rrsrs! Brincadeirinha! Consigo identificar o famoso professor de Português... Hihihi, esqueci o nome dele! Mas o Bereta, é esse de bigode? Acho que sim! O Ronaldo, que figura! Sorriso manhoso! Gostava dele... E aqueles dois que moravam juntos, amigos inseparáveis dos livros polêmicos... Tuiuti... Será que é assim? E os amigos lá do interiorzão... Se não me engano eram parentes, primos, irmãos... Sérios! Há... o Flávio... me lembro bem! Será que vocês poderiam me ajudar a lembrar seus nomes? Das meninas me lembro de algumas: Rosângela... Vilma... Rísia... Amélia... Marlene, Dulcinéia. Seria muito interessante encontrar esse pessoal... Quem sabe! Roberto

Tempo maravilhoso Depois de um tempo afastada do convívio dos amados, hoje retorno pra compartilhar as delícias que Deus nos proporciona. Fiquei muito feliz em ler todas as falas de vcs. Vi-me lá em Arapongas, no Colégio, no pátio, na cozinha lavando as louças, vendo os meninos na janela. Os alunos do período noturno. Tia Rosa, supervisionando o Alvino, o Gérson e cia que estavam fazendo o tão delicioso pão. Parece que sinto ainda o gosto do mingau, que às vezes faço aqui em casa para relembrar. Tempo maravilhoso! Deus esteve sempre do nosso lado! Lembro-me também dos cultos na praça. Os trabalhos realizados nas madrugadas em Londrina, ganhando almas para Cristo. Hoje estamos em outras circunstâncias, porém com muito mais experiências, com famílias formadas, vida profissional realizada, graças ao nosso Deus que é maravilhoso! Enfim, minha memória também está falhando, mas isso não importa. Vivemos ali os melhores momentos de nossas vidas. Dulcinéia


SEÇÃO IV

REFLEXOS DO IBA SOBRE O MINISTÉRIO DE UM EX-ALUNO, 40 ANOS DEPOIS Entrevista com Luiz Carlos Vicente – ex-aluno do IBA, atualmente Pastor Auxiliar da Igreja do Ministério Apascentar de Guarulhos, São Paulo. 1. A confirmação do seu chamado para o ministé- miro me falou: “Luiz, se você foi verdadeiramente rio aconteceu antes ou depois do seu ingresso chamado por Deus, vá para casa e volte no próxino IBA? mo ano e terá sua vaga garantida”. Assim, em R. A confirmação do meu chamado deu-se antes de 1971, matriculei-me regularmente naquela Casa vir para o IBA. Em 1970, no início do ano letivo, um de Profetas, fiz meus estudos e tive minha vida grupo de alunos esteve em Bauru, SP, divulgando transformada. o IBA, participando do louvor, e conclamando jovens que tinham um chamado a responder sim. 2. Você saiu do IBA direto para algum campo minisDeus tocou fortemente no meu coração e me disterial? pus a ir para o Seminário. Como não tinha condi- R. Quando saí do Seminário, não fui de imediato pações de me manter, pois minha família era muito ra o campo. Por necessidade de minha família, tihumilde e eram membros da Igreja Presbiteriana ve de trabalhar fora do ministério. Mas voltei pado Brasil, o Senhor Deus levantou uma família para minha Igreja, em minha cidade, que passou a ra me sustentar nos estudos. Dessa forma, pude ser uma nova Igreja, um ministério novo. O avivair, naquele ano, para Arapongas. Mas, ao chegar, mento havia se instalado nas Igrejas, provocando as aulas já haviam começado. Então, o Pastor Pal divisões e nascimento de novas denominações.

09


SEÇÃO IV Então, fui ajudar no fortalecimento dessa nova Igreja. Interessante que o que assimilara no IBA me levou a trabalhar na área de vendas, viajando por muitos lugares deste País, por mais de 30 anos.

rio, estava preparado para enfrentar a vida e isso me trouxe firmeza e convicção em meus princípios. E, no presente, a cultura assimilada em três anos de busca de conhecimento, tanto acadêmico quanto espiritual, me fez um homem mais comedido e mais interessado em ser aquilo que Deus quer que eu seja, em fazer com segurança a vontade do Pai. 4. Em que aspectos o que aprendera no IBA ajudou a dar conta dos problemas vividos no cotidiano da vida pastoral, na atualidade? R. Primeiro, faço parte de uma geração que foi marcada pelo “fogo do avivamento” e o que aprendemos não foi retirado de nenhum livro ou de um ensaio acadêmico, mas do verdadeiro fogo do altar 3. Que importância tiveram os estudos realizados de Deus. Aprendi no decorrer da minha vida que, no IBA para o seu ministério, no passado e no precomo seres humanos, pode até acontecer de quesente? brarmos algumas regras impostas pelo homem, R. Como já expus, venho de uma família humilde. mas não podemos jamais quebrar os princípios de Éramos seis irmãos. Por minha conta não teria Deus. Por exemplo: “Deus é o mesmo ontem hoje condições de conseguir acesso a coisas melhores, e será eternamente”. Outro princípio, cuja quebra pois aprendera com meu pai que o trabalho era pode trazer consequências drásticas é a obediênprimordial e que estudo era para quem tivesse cia. “Deus não quer que concordemos com Ele, e condições, e nós não tínhamos. Aí o Senhor brasim que o obedeçamos”. Tenho descoberto que o dou em minha vida. Costumo dizer que Deus me que era difícil de aceitar ou entender naquela épodeu uma oportunidade única de poder sair daca, por já ter passado por determinadas situações quela situação. E a agarrei com unhas e dentes e lá atrás, torna-se mais fácil agora. A evolução nafui para o Seminário. Tudo para mim era novo! tural das coisas não mexe com a essência de nosLonge de casa, do convívio com minha família, so Deus, que continua o mesmo. Os valores humados irmãos amados da Igreja, dos amigos, mas nos estão sendo mudados, mas os princípios diviera preciso desfrutar do novo que Deus estava me nos são imutáveis, e Ele haverá de completar a dando. Aprendi muito, cresci como ser humano. boa obra que começou em nós. Jovem ainda, mas com uma vontade louca de ser alguém, completamente diferente daquela vida que haviam achado que eu deveria viver lá na minha pacata cidade. No IBA, tive acesso a informações, li muitos livros, conheci pessoas e lugares e, por conta de tudo o que passei em três anos de internato, cresci e saí preparado para enfrentar a dureza e a competitividade do mundo. Se hoje consegui chegar aon- 5. Relate algum momento ou evento marcante em de estou é porque foi de fundamental importânseu ministério. cia a minha estada naquela casa de Profetas. Di- R. Depois de 30 anos de formação no IBA, no final de ria mais. Houve em minha vida um divisor de 2003, estava morando do Sul de Minas Gerais, haáguas: o período antes do IBA e o pós-IBA. No pasvia concluído mais um curso na área de preparação sado, com o aprendizado que obtive no Seminá missionária em nossa Igreja e percebi que Deus es-

A confirmação do meu chamado deu-se antes de vir para o IBA.

“Deus é o mesmo ontem hoje e será eternamente”.

10


SEÇÃO IV tava me levando para fazer Missões Transculturais. Mas o diretor de Missões me enviou para Guarulhos, na Grande São Paulo. Fui pastorear a primeira Igreja, como pastor titular. Fiquei à frente desse trabalho por três anos, quando a igreja veio a ser fechada. E fiquei sete meses sem ministério. Várias ovelhas me procuraram, perguntando-me se eu iria abrir uma nova igreja. Respondi que não, pois entendia que Deus não me havia trazido para uma cidade grande para abrir mais um Ministério. Foram tempos difíceis. Mas senti Deus me falando com muita clareza, e eu não tive dúvidas de que Ele estava preparando o melhor para mim e minha família. Em agosto de 2007 vim para o Ministério Apascentar e, desde então, o Senhor tem-me honrado e feito cumprir em minha vida a sua palavra que diz: “eu o tiro do monturo e o faço sentar-se a mesa com os príncipes”. 6. Qual é seu maior sonho? R. Deus tem me permitido realizar muitos deles, e o que mais me enche de alegria é o fato de ter restaurado meu ministério, minha família e ter-me dado a honra de trabalhar de forma integral na sua obra. Mas, como não sou perfeito, ainda tenho um, que é conseguir escrever um livro para poder passar às pessoas aquilo que Deus permitiu que eu vivesse. Ah! Por sinal já tem até nome... Mas isto é outra história. 7. Qual é a passagem bíblica chave em sua vida? R. Quando me converti ao Senhor, na década de 60, Deus falou ao meu coração e fala até hoje de seu grande amor por mim e por você que está lendo estas palavras. Está no Evangelho de João e diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira; que deu

o seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16. 8. Uma frase. R. “Tudo posso naquele que me fortalece”. Paulo nos ensina isso em uma de suas Cartas. E, nos momentos mais difíceis, foi o que me manteve firme diante do Pai, dando-me vitórias. 9. O que você diria aos jovens que desejam preparar-se para o ministério, atualmente? R. Por causa da evolução da humanidade e das mudanças constantes do ser humano, posso repetir as palavras do apóstolo Paulo, a respeito do novo pastor, seja jovem, ou seja de qualquer idade: “Aquele que almeja o episcopado, excelente obra almeja”... Que haja da parte do servo de Deus a disposição em ser manso e humilde como o nosso Mestre o foi, e viver mais a essência do Evangelho. O mundo moderno busca o retorno à espiritualidade. Ser cristão em nossos dias é viver as verdades da palavra de Deus e, se for preciso, você fala, mas essencialmente você tem de viver. Evangelho é vida e vida abundante. Cuidar do rebanho do Senhor é saber que, como Davi, você terá de matar um leão ou urso por dia, ou de cada vez, e estar pronto para os “tapinhas nas costas” e as críticas duras, ou não. Depois de tantos anos, tenho aprendido que críticas são críticas, construtivas ou não, e devemos aprender que elas, boas ou más, nos movem para o alvo que é Jesus, “autor e consumador da nossa fé.” Luiz Carlos Vicente Guarulhos, fevereiro de 2011

11


SEÇÃO V

IBA: SONHAR OS SONHOS DE DEUS “Vem lá, o tal sonhador”. Gênesis 37:19 Silas Barbosa Dias medida que a complexidade da vida humana aumenta, aumenta também a necessidade de sabedoria para se viver. As mudanças do mundo atual exigem que repensemos nossos valores. A igreja de Cristo precisa abrir-se aos planos e aos projetos de Deus. Abrir em sua vida avenidas de gratidão e celebração para receber e experimentar, de forma comprometida, os sonhos de Deus. Através de toda a história bíblica, Deus abriu um corredor de sonhos, planos e projetos transformadores que transfiguravam a plena luz de seu amor, graça e misericórdia. Ele mesmo plantou sonhos no coração humano, fertilizando as imaginações de esperança de um tempo de luz ilimitada: o Reino de Deus. Comecemos com essa ideia: Deus nos criou com a habilidade de sonhar, e mais, de realizar estes sonhos no poder do Espírito Santo. Deus chamou Abraão para um propósito. Um projeto que tinha a ver com toda a humanidade. Era o sonho divino sendo colocado em ação. José do Egito entrou de tal maneira no corredor dos sonhos de Deus, que foi chamado pelos irmãos de “sonhador”. O fato é que seus sonhos se tornaram realidade. Gideão assustou-se com as dimensões dos sonhos de Deus. No primeiro momento, resistiu. Depois, no entanto, abraçou com tanta paixão o projeto, que hoje o nome Gideão é um símbolo de coragem, liderança e êxito. No corredor dos sonhos, Davi tornou-se fiel à sua geração. Ele foi fiel na oração e na obediência. Sua vida, mesmo com tantas falhas e fracassos, expressou adoração e o desejo de realizar os sonhos do Senhor. Por isso foi chamado de “o homem segundo o coração de Deus". Poderíamos ainda falar de Maria, de José, de Simeão, da profetisa Ana, de Paulo. Todos entraram no corredor dos sonhos divinos. Falar de sonhos é falar de possibilidades incríveis. Os

À

12

Pr. Silas e colegas sonhos são plataformas de lançamento, ponto de partida na pista da carreira da vida. Sonhar dentro da vontade de Deus é a grande largada em direção à bandeirada da vitória. Ouvir os desejos do coração de Deus é um chamado para fazer decolar a imaginação. No entanto, os sonhos não nascem na passividade, nunca se fertilizam nos solos das desculpas, nem nos jardins da indolência. Não basta sonhar, é preciso sonhar os sonhos que vêm de Deus. São esses os que dão força para cada passo na caminhada. Eles tornam-se o combustível dos aventureiros que resistem ao desânimo e ao encalhe espiritual. Não garantem aonde vamos chegar com 100% de certeza, mas nos asseguram que não vamos continuar onde estamos. Sentados no trono do conformismo. Na década de 70, vimos jovens, muitos ainda adolescentes, sendo fertilizados pelos sonhos de Deus. Sonhos que geraram possibilidades incríveis ao longo da vida. Depois de quatro décadas, realidades vividas, diante de memórias e testemunhos, uma gratidão flui de dentro de mulheres e homens maduros, por momentos inesquecíveis em Arapongas, onde descobriram que estudar teologia é um falar de Deus, em Sua presença e para a Sua Glória. Ser contado entre os sonhadores, como José, é um privilégio dos filhos de Deus. Vamos juntos, como OS CHAMADOS PARA ESTE TEMPO, compreender os planos do Autor da Vida para esta geração. Enquanto cada um daqueles que viveram as maravilhas dos sonhos de Deus na década de 70 estiver nesta terra, há ainda algo a fazer. Deus é fiel. Que nossa resposta seja de entrega e desejo de realizar em nossas vidas os planos e os projetos daquele que um dia nos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz. Londrina, 01 de março de 2011


SEÇÃO VI

Professor Joel e Vilma Ferreira no 1º Encontro do IBA

P

ara se alinhavar algo sobre a história do Instituto Bíblico de Arapongas, instituição que atuou de 1970 a 1974, talvez seja necessário inicialmente propor um conceito de avivamento e relembrar as razões das origens da Igreja Presbiteriana Renovada. A seguir, verificar quem foi seu fundador e diretor, apontando traços da ação do Rev. Palmiro Francisco de Andrade, homem que esteve no centro desses acontecimentos. E, por fim, tentar recordar um pouco do ambiente espiritual que permeou essa escola e assim poder pensar na sua importância como formadora de homens e mulheres que, vocacionados, foram ali preparados para a tarefa ministerial. O avivamento espiritual, conquanto tenha aspectos concretos que podem ser vistos pela história, sociologia e teologia, também é a vivência de experiências pessoais inexplicáveis. Quem tentou descrevê-lo não fugiu de termos como reuniões maravilhosas, convicções pessoais, fogueira, pentecostes, unção, glória... Evan Roberts foi mais longe: “O avivamento no País de 1 Gales não vem dos homens: é obra de Deus” . Vendo-o assim, da mesma forma como ocorreu em outros países que tiveram o privilégio de experimentá-lo, também chegou ao Brasil. Somos a geração que testemunhou sua eclosão, como um presente de Deus, uma resposta dos céus a muitos clamores e angustiosas ora 1 2 3

4 5

6

O LUGAR DO IBA NAS RAÍZES HISTÓRICAS DA IPRB

Prof. Joel Ribeiro de Camargo

ções, na forma como rogava o profeta Habacuque: “Aviva, Senhor, a tua obra”2. Avivamento que veio chocar-se, na década de 60 do século XX, com um processo de secularização presente em alguns meios teológicos, e que era aplaudido como “altamente positivo para a desmitificação da religiosidade alie3 nante...” Ao finalizar obra na qual relata a chegada do movimento pentecostal ao Brasil, no século XX, conclui o historiador e pastor presbiteriano Elben César: “Não se pode negar a redescoberta da pessoa e obra do Espírito nesse século pentecostal. Isto procede do Senhor, não se tenha dúvida.” 4 É nesse tempo e nesse ambiente espiritual que nasce a Igreja Presbiteriana Renovada Independente, a IPIR, depois de meses5 muito tensos para os que aceitaram o avivamento, quando dezenas de pastores e presbíteros foram despojados de suas funções. A IPIR não foi resultado de decisões de um líder, nem de um projeto, e muito menos do acaso, mas de uma ação que tinha de ser tomada para agasalhar espiritualmente os que se achavam desorientados diante de um quadro conflituoso. Historicamente, ela é fruto de um processo de pregação do avivamento6, de busca de uma igreja santificada, de um desejo profundo de conhecer mais a Palavra de Deus, de expandir a obra missionária, de servir mais a Jesus e, sobretudo, de viver plenamente a vontade do Senhor para sua Igreja.

Bartleman, F. A História do Avivamento. Azusa. 2ª ed. Americana: Worship Produções, 1981, p. 26. Habacuque, 3: 2. Souza, M. Q. de. A IPI do Brasil, o avivamento e o pentecostalismo. In Cadernos de O Estandarte. 2º Caderno do Centenário. São Paulo: Editora Pendão Real, janeiro de 2003, p. 29. César, E. M. L. História da Evangelização do Brasil. Dos Jesuítas ao neopentecostais. Viçosa: Ultimato, 2000, p. 157. O Supremo Concílio que se definiu sobre a situação dos avivados fora realizado em Brasília em janeiro de 1972. A organização da IPIR viria a concretizar-se em julho daquele ano. Lima, É. F. S. A IPI do Brasil e o pentecostalismo na década de 50. In: Cadernos de O Estandarte. 1º Caderno do Centenário. São Paulo: Editora Pendão Real, julho de 2002, pp. 42-59.

13


D

SEÇÃO VI Raízes históricas

uas fontes recentes podem oferecer preciosos subsídios. Comemorando, em 2010, os 35 anos de existência da Igreja, fora editada a obra A IPRB na virada do milênio, do Pr. Advanir Alves Ferreira7, seu presidente. A obra faz amplo relato com destaque aos seus últimos dez anos de atividades, com introduções históricas. E, mais especificamente, um trabalho científico que aborda esse início da obra de avivamento, o artigo "Conflitos no campo protestante: o movimento carismático e o surgimento da Igreja Presbiteriana 8 Renovada (1965-1975)". Trata-se de amplo e bem documentado texto, presente na edição

A

Um homem, um líder

história do IBA não poderia ser descrita sem que conhecêssemos, primeiramente, um homem chamado Palmiro Francisco de Andra10 de. Quem esteve na famosa reunião do Sítio Marília pode fazer constar isso em seu currículo. Algo inusitado aconteceu ali. O local, a rodovia que liga Cambé a Londrina, em frente à empresa Cacique de Café Solúvel. Instalações rústicas. Manhã fria do dia 5 de julho de 1968. Ali está reunido um concílio da maior importância: o Sínodo Meridional da IPI. O despertamento espiritual já havia alcançado algumas igrejas no meio presbiteriano independente nos Estados do Paraná, São Paulo e Minas e isso inquietava sua liderança, que passara a tomar posições. A missão de seu presidente, o Rev. Palmiro de Francisco de Andrade, pastor em Joinville, SC, não era outra senão a de colocar um ponto-final na questão em sua área administrativa. E ele vinha plenamente decidido a resolver o "problema". Entretanto, diz o refrão popular: “o homem põe e Deus dispõe”. Para falar aos ministros, fora convidado o Rev. Antônio Elias, pastor presbiteriano, de Niterói, RJ, conhecido avivalista, que discorreu sobre 'A doutrina do 7 8 9

10

de setembro de 2010 da Revista Brasileira de História das Religiões. Seu autor, o professor Sérgio Gini, da Universidade Estadual de Maringá, doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, pastor da IPI, discorre sobre a origem Igreja Presbiteriana Independente Renovada, a IPIR. Com 43 páginas, inicia-se fazendo referência aos principais cismas no meio protestante brasileiro. Nos prolegômenos, destaca o afloramento do avivamento na IPI. Segundo ele, esse movimento cria uma tensão doutrinária interna que resultaria em medidas administrativas, vindo, no início dos anos 70, a dar origem à IPIR.9

Espírito Santo'. Ao final, o inesperado: o evento produzira efeito contrário ao que se previa. E, entre outros, o Rev. Palmiro teve uma experiência espiritual marcante e fora batizado com o Espírito Santo. Agora, ao voltar para Joinville levava a chama pentecostal que iria definir sua história dali para frente. Com dois cursos superiores - teologia e história vasta experiência ministerial e pedagógica, conferencista, de muita autoridade na Palavra, professor em faculdade de sua cidade, 44 anos, dotado de personalidade forte, esse foi um dos valentes que Deus levantou, nessa época, para iniciar uma obra que culminaria no cumprimento de Sua vontade para nosso país. E o revestiu de uma firmeza muito grande para poder enfrentar as turbulências que os próximos anos lhe reservariam. Pelo menos sete trabalhos se destacam em sua biografia: fora pastor na IPI até 21/05/1972, um dos fundadores do Jornal Aleluia, fundou e foi diretor do IBA, participou da organização da IPIR, fundou e pastoreou a IPR de Arapongas, pastoreou a IPR de Curitiba (hoje 1ª IPR) e encerrou sua carreira como diretor do Seminário Presbiteri

O livro-relatório fora organizado pelo Pr. Émerson Garcia Dutra, tem 319 páginas e fora editado em 2010 pela Ed. Aleluia. Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf7/08.pdf O texto traz depoimentos e informações sobre a atuação de pastores como Azor Etz Rodrigues, Abel Amaral Camargo, Palmiro de Andrade, Jobel Cândido Venceslau, Jamil Josepetti, José Zaponi, Jonathan Ferreira dos Santos e outros. Refere-se à origem do Jornal Aleluia, ao Instituto Bíblico de Arapongas, o IBA, à reunião do sítio Marília, à reunião do Supremo Concílio da IPI, realizado em Brasília, em 1972, que se posicionou de forma final sobre a não permanência dos avivados na Igreja. Palmiro Francisco de Andrade nasceu em Biguaçu, SC, aos 11/10/1924 e faleceu em Cianorte, PR., em 01/06/1991.

14


SEÇÃO VI ano Renovado de Cianorte, PR, depois de dedicar 19 anos à Renovada. Residindo em Arapongas, PR, desde 1970, embora não fosse pastor da igreja local, O Rev. Palmiro, quando diretor do IBA, passou a ser conhecido pelos membros pela sua espiritualidade e mansidão. Viam nele um homem temente a Deus e cheio do Espírito. Passaram a amá-lo e, aos poucos, sua liderança foi-se impondo. Muitos lares se abriram para a oração. O grupo avivado crescia não só em Arapongas, mas também em cidades vizinhas como Apucarana, Maringá, Paranavaí, Campo Mourão, Assis e Cianorte.

F

Uma escola, um propósito

uncionava desde 1962, nas dependências do Colégio Evangélico de Arapongas, PR, o Instituto Bíblico João Calvino, o IBJC, escola de teologia fundada e dirigida pelo Rev. Antonio de Godoi Sobrinho. Em 1969, havendo conflitos com a Igreja local, seu diretor demitiu-se e a Fundação Eduardo Carlos Pereira, entidade que administrava o IBJC, nomeou, no dia 25 de fevereiro de 1970, para seu lugar, o Rev. Palmiro de Andrade, que de imediato se transfere de Joinville, SC, para Arapongas, no começo de 1970, e se apresenta para assumir a direção da escola. O ex-diretor, alegando que o nome “IBJC” era um patrimônio da família, não consentiu no seu uso e ele foi extinto. Em seu lugar, o Rev. Palmiro criou, no dia 03 de maio de 1970, o IBA, Instituto Bíblico de Arapongas, com novos currículos, 12 novos métodos de trabalho e novos professores. Nascia assim, ainda pertencente à IPI, um novo Instituto Bíblico, funcionando nas dependências cedidas pela igreja local, agora, porém, chamado de Instituto Bíblico de Arapongas – o IBA. Ter uma instituição para formar pastores na linha do movimento de renovação foi, sem dúvida, uma grande porta para a solidificação da futura igreja, que viria a ser organizada dois anos depois.

11

12

13

No começo de 1972 o Presbitério designou o Rev. Palmiro para assumir a IPI local. A oposição aos líderes avivados, que já era grande, avultou-se ainda mais. Por isso, escudado em decisões do Supremo Concílio, no dia 21 de maio de 1972, o Presbitério, reunido em Maringá, PR, despojou, entre outros, o pastor Palmiro de seus direitos eclesiásticos, afastando-o do pastorado, e dissolveu o Conselho de Arapongas. Ferido o pastor, as ovelhas procuraram um novo local para suas reuniões. Era o começo da futura Renovada em Arapongas.

Numa mesma escola, alunos de posições diferentes agora compartilhavam salas de aulas, refeitório e o internato. Entre os que não queriam nem saber de avivamento estava o Otávio Nascimento. Línguas? Curas? Profecias? Isso não era com ele. Um rapaz forte, inteligente, de firmes convicções. Os meses se passaram. Os alunos, nos finais de semana, faziam escalas de serviço e treinamento nas igrejas da região. Otávio ia regularmente para Apucarana. Lá dava assistência a um grupo que aceitara o avivamento, mas ele, sempre na sua. Um final de semana, o grupo teria uma vigília. Estavam orando, quando, de repente, o Otávio fora batizado com o Espírito Santo! E falou línguas até o amanhecer. No outro dia, um domingo, não pôde pregar, não só pelo esgotamento físico, mas porque, se abrisse a boca, só falava em línguas. Ficou hospedado na casa de uma irmã por dois dias. Achando-se melhor, foi até a rodoviária. Mas o funcionário não entendeu nada do que queria, porque o Otávio ainda estava embriagado pelo Espírito e não percebia que estava falando em línguas... Hoje, quem é o Otávio? Depois de pastorear igrejas renovadas por cerca de vinte anos no Brasil, foi para a Suíça. Reside em Zurique e, além de pastor local, preside uma federação de Igrejas Cristãs de Língua Portuguesa. 13 Sua experiência está em seu livro autobiográfico.

Em Cianorte, em 1968, um grupo se desligara da IPB. Sob liderança do Pr. Jonathan F. Santos, fora fundada a Igreja Cristã Presbiteriana. O trabalho expandiu-se, organizou-se um Presbitério e um Instituto Bíblico. O Rev. Silas Barbosa Dias, ex-aluno, registrou no Orkut: “Em 1970, eu tinha uma caderneta onde anotava os fatos mais marcantes do dia. No dia 06 de maio, tivemos nossa primeira aula, há exatamente 40 anos. O IBA foi instituído no dia 03 de maio de 1970. No dia 04, houve um culto, quando pregou o pastor Abel Amaral Camargo. No dia 05, outro culto, e pregou o pastor Matias Quintela de Souza. Finalmente, no dia 06, a aula.” Nascimento, O. R. do. Resistindo às provas e crescendo na fé. Arapongas: Aleluia, 1999.

15


SEÇÃO VI

A formação, os resultados

Missão cumprida

O

IBA formou três turmas. A de 1972, com 13 alunos15; a segunda, no final de 1973, com 14 alunos, e a última, ssim, o IBA foi trabalhando. Chega, porém, o em 74 com três: Nair Ribeiro, ano de 1972, quando a IPIR fora organizada em Raimundo Wilson e João Souza Matos. Em 1974, mais de 26 jovens já estavam Assis, SP. O Pr. Palmiro fora eleito seu presidente. Era natural que o IBA tivesse de deixar as de- atuando no sagrado ministério: Alvino de Paula pendências do Colégio Evangélico. Fora alugado um hotel Neves, João Bernardino, Jérson de Paula Neves, na cidade, o Hotel Jaú (hoje Hotel Prado), situado na Rua Ma- Natanael A. Palazin, Ronaldo Tavares, Daniel de rabu, 229, que serviu de internato e de residência para o Pas- Almeida, Francisco da Silva, Jair de Andrade, tor Palmiro. Uma ampla cozinha era liderada por dona Rosa Pa- Ariovaldo Cardoso, Manoel Messias, Otávio ula Lima, carinhosamente chamada de Tia Rosa pelos alunos. E Nascimento, Esmael Arcas, Dilmar de Paula Neves um salão, na Rua Tico-Tico, 499, que havia sido uma antiga ofi- e as missionárias: Agda Batistela, Mariza Maciel e cina mecânica, reformado, era agora o local para as aulas. Rísia Maria da Costa.16 Oficialmente, o IBA fora instalado na IPIR no dia 8 de Então chegou o tempo em que IPIR e ICP agosto de 1972, com 36 alunos. Um culto de ação de graças (Igreja Cristã Presbiteriana) uniram-se, formando pela instalação fora realizado no dia 16 do mesmo mês, es- a IPRB, Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil. tando presentes a diretoria da IPIR e o prefeito de Arapon- Depois de vários meses de aproximação e de gas, Sr. Sadao Yokomizo. Houve a posse da diretoria do IBA: reuniões de trabalho, numa inesquecível diretor pastor Palmiro Francisco de Andrade, tesoureiro Dr. assembleia, realizada em Maringá, no dia 8 de janeiro de 1975, as duas igrejas deram-se as Severo Franco e secretário Paulo Gomes.14 Nesse novo lar, o IBA formou admiráveis alunos, gente de mãos. A ICP administrava o Instituto Bíblico de fibra espiritual, de oração, que faziam evangelismo nas ruas, Cianorte e decidiu-se que os alunos do IBA seriam nas cadeias, que no louvor vibravam como se estivessem vi- transferidos para aquela instituição17, que passou vendo num paraíso, pisando em nuvens. Jovens – moços e mo- ao status de seminário, o Seminário Presbiteriano ças – que sabiam com muita segurança de seu chamado. E o Renovado de Cianorte. resultado foi uma plêiade de pastores que serviram e ainda Passados quarenta anos que tudo isso servem com total integridade aos propósitos do reino de Deus. aconteceu, a cortina do tempo foi levantada e À noite e nos fins de semana, o salão da Rua Tico-Tico rece- realizado um reencontro dos ex-alunos, bia o grupo avivado de Arapongas para seus cultos. Nesse lo- professores e familiares. Nos dias 1 e 2 de maio cal houve lindas conversões, muitos restauraram sua vida es- de 2010, em Arapongas, PR, uma festa de piritual, casais se reconciliaram e houve também um eficiente abraços, de risos e de lágrimas, de cânticos, de trabalho de libertação que beneficiou a muitos. Era o núcleo fotos e de recordações. E também de saudades e inicial da igreja local que veio a ser organizada em 12 de no- ações de graças. vembro de 1972. Que bom ter tanto a comemorar!

A

14

Paes, R. IBA: Marco histórico na educação teológica da igreja. Jornal Aleluia, junho de 2010, ed. 353, p. 8. Segundo informação do Pr. Natanael Palazin, os 13 formandos da 1ª turma foram: Tânia Maria Tadei, Natanael Antonio Palazin, Shirley Menezes, Manoel Messias, Ariovaldo Cardozo, Rute Dominoni, Ronaldo Tavares, Neusa Naramoto, Gerson Paula Neves, Daniel de Almeida, João Bernardino e Marlene Ramos. Do antigo Seminário, ficaram sete alunos que seriam formandos dessa turma. Ele se lembrou de três: Osmar Menezes, Amélia e Jessé. 16 Jornal Aleluia, abril de 1974, p. 2. 17 Foram transferidos 29 alunos para Cianorte. 15

16


SEÇÃO VII

I REENCONTRO DE ALUNOS DO IBA - MAIO/2010 Depoimentos de participantes Hoje é dia 6 de maio. Em 1970, eu tinha uma Fico aqui também emocionada ao ler o que vocês caderneta onde anotava os fatos mais marcantes escrevem. Imagino a felicidade e o amor de cada do dia. No dia 06 de maio, tivemos nossa primeira um de vocês num reencontro +/- 40 anos depois... aula, há exatamente 40 anos. O IBA foi instituído Gente é muito tempo! Como o nosso Deus é fiel, no dia 03 de maio de 1970. No dia 04, houve um em manter "nossos corpos" e também em manter culto, quando pregou o pastor Abel Amaral aceso em nossos corações esse amor. Fico muito Camargo. No dia 05, outro culto, e pregou o pastor feliz em saber que tudo deu certo... Parabéns aos Matias Quintela de Souza. Finalmente, no dia 06, a organizadores! Tona aula. Essa história maravilhosa começou de forma tão inesquecível que ainda sinto as fortes emoções do que foi nosso encontro nos dias 01 e 02 de maio. Estar naquele lugar onde foi a capela e o local das aulas, em 1970, uau! Quase não pude Dez horas de viagem de volta pra casa não foram resistir. Penso que Deus preservou aqueles lugares suficientes para falarmos de tudo que aconteceu para que, mais uma vez, pudéssemos relembrar neste nosso Reencontro. Foi muita emoção! Os que, um dia, centenas de jovens foram ali, cabelos brancos, as gordurinhas e nossas rugas marcados para sempre. Rever vocês foi fantástico e não apagaram a essência da nossa jovialidade da inesquecível. Meu cérebro e emoções ainda estão época. Cantamos: “Somos JOVENS unidos do IBA”, em erupção. Fiquei com vontade de rever todos os com o mesmo entusiasmo da década de 70, porém, que não puderam ir. Então, Vilma e equipe, pensem regado por muitas lágrimas que corriam sobre logo no próximo, e que não seja daqui a 40 anos, nossas faces. Deus esteve presente em cada senão vai ser difícil eu ir... Silas momento deste nosso reencontro. Hei! Quando será o próximo? Lygia

Faltam-me palavras para expressar tudo o que esse encontro com vocês significou para mim! Todo esforço valeu, mas valeu muuiiiiiiiiito a pena! Obrigada por vocês terem acreditado e apostado na realização deste sonho! Deus esteve conosco confirmando sua presença nos mínimos detalhes, em todos os momentos ! Vilma

O que tenho a dizer é que foi uma realização para minha vida. Fui até lá para Deus me dizer novamente que o que me foi tirado será restituído! Aleluia! Subi aos céus ao encontrar irmãos queridos e alguns que não conhecia. Noé

17


SEÇÃO VII Creio que Deus tem um propósito muito especial para nossas vidas. Afinal, o amor nos manteve unidos esse tempo todo, embora distantes. Agora, então, será impossível nos afastarmos. Meu marido está muito empenhado em nos manter unidos. Ele vai falar com o Rev. Gerson Lacerda sobre a possibilidade da IPI doar o IBA pra nós. O Rev. Gerson é cliente dele. Vamos orar neste sentido. Obrigada, meus amigos, por esses momentos tão especiais e que a graça e as bênçãos do nosso Deus transbordem em nossos corações. Nice

Ainda estou meio emburrado por ter perdido o Reencontro, mas... apreciando o estilo emocionado e elegante dos recados de vocês, não posso perder o momento. Deve ter sido algo lindo o que ocorreu em Arapongas! Para inspirar tanta gente ao mesmo tempo, para despertar o desejo de revitalização das instalações do Instituto, para aparecer a ideia insana (não somos todos loucos?) de adquirir uma área para louvarmos juntos ao Senhor, até que morramos um nos braços dos outros. A energia espiritual derramada foi poderosíssima! E aí, amados, o que vamos fazer, já que estamos sendo impelidos pelo Espírito a esta estupenda união? Qual seria o objetivo do nosso Grande Deus? Confesso que não tenho as respostas. Vamos continuar orando. Queridos, vocês estão lembrados do comentário sincero dos dois discípulos que foram acompanhados pelo Senhor até Emaús, depois que Ele desaparecera? "Porventura não ardia em nós os nossos corações, quando Ele nos dizia aquelas coisas!" Desculpem se a citação não estiver perfeita, mas estou degustando os recados de vocês e o meu coração arde e meus olhos ficam nublados. Preparemos a mesa, porque o Senhor quer cear conosco. Ariovaldo

18

Estou emocionada até agora! Só posso dizer que o Reencontro foi tremendo... Cada minuto, cada gesto, cada encontro! Que lindo! Fiquei maravilhada ao ver como Deus estava nesse negócio... Vilma, tenho a dizer pra você que nós homens fazemos um plano, mas o Senhor o executa à maneira dele. Pessoal, já estou morrendo de saudades de vocês. Vocês fazem parte da minha vida... Amo a cada um de vocês. Espero que todos tenham feito uma ótima viagem de retorno. Ivanilde

Hei! isso pegou, hein? Fiz uma ótima viagem, com meus amigos Vilma, Lygia e Aderbal. Foi muito riso, brincadeiras e bênçãos de Deus. E o nosso encontro? Que coisa tremenda! Eu nem conseguia me alimentar de tanta emoção! Deus é maravilhoso, e eu estou ainda percebendo o trabalhar dele em tudo isto. Foi par restaurar nossas forças fé, alegria esperança, para curar e sarar feridas e para percebermos outras coisas que podemos fazer para sua glória. Aos amigos que estiveram lá, um grande abraço cheio de saudades. Aos que não puderam ir, não se preocupem: em tudo vejo a mão de Deus. Rosângela

Gente, foi a maior maravilha que podia ter acontecido em minha vida e na da Silvana. Adoramos o reencontro e estou cheio de novas ideias para o futuro, caminhando pelo que a Nice registrou acima. Qual será o propósito de Deus em nos juntar em Arapongas, vendo o prédio do IBA sendo deteriorado? Cantar na Igreja Renovada foi como imaginei. Só chorei, perdi a voz. Reencontrar amigos dos meus 16 anos, no IBA, deixou gosto de quero mais. James


SEÇÃO VII Meus amados! Estou muito feliz por Deus ter me dado momentos tão lindos e marcantes na minha vida e de Léa. A bênção da dupla honra, como nos ensina a Palavra, só pode ser mencionada quando Deus nos proporciona isto. Olhando para trás, sem saudosismo, mas com a convicção de que o meu Deus está no controle. Pude ver que somos como o vinho: quanto mais velho, melhor o sabor e a qualidade. Ah! tive de me controlar muito para não chorar muito também. Rever cada um de vocês foi algo que com certeza vai mudar o rumo da minha história e dar uma arrancada para melhor em meu Ministério. Mais uma vez: vocês foram fundamentais para que Deus abrisse as janelas dos céus e derramasse sobre mim e minha doce Léa as bênçãos que nos fortalecem e nos fazem crescer. Meus queridos, mais uma vez: muito obrigado! Vilma, você é uma mulher virtuosa e terá sempre o nosso respeito e nosso amor. Obrigado pelo carinho com que trataram a minha doce Léa! Ela voltou para a casa apaixonada por todos! Pr. Luiz e Léa

Não canso de me lembrar dos momentos emocionantes que vivemos no Encontro em Arapongas. Não imaginava que seria tão bom! Ainda bem que deu certo e pude estar com vocês, compartilhando das bênçãos do avivamento que o Senhor derramou sobre todos nós na década de 70. Para mim foi um imenso privilégio ter sido colocado à frente de nosso grupo para cantarmos louvores e gratidão ao Senhor por tudo que Ele nos fez. Não consigo esquecer a emoção vivida ao reger "Grata memória" no domingo pela manhã. Tinha pelo menos uns seis homens chorando tanto que não conseguiam cantar direito. Foram muitas lágrimas. Os momentos na capela também foram muito fortes prá mim. É um local onde o Espírito do Senhor nos enchia do seu poder no tempo do IBA. Alfredo

Queridos, estou também embevecida. Não paro de pensar. Durmo cantando e acordo com o hino do IBA. O Jorge então virou um IBANO, não esquece o nome de nenhum de vocês, fala para todos do Encontro. Obrigada pelo carinho de todos vocês. O avivamento de 70 foi sem igual, é por isso que o Senhor está nos fazendo recordar. O Senhor tem um propósito e Ele vai nos mostrar. Nossas vidas têm uma história que o Senhor está trazendo para nos dar esperança. Que cada um de nós, em partes diferentes do nosso Brasil, busquemos o sentido desse Encontro. Amélia

Foi tremendo, emocionante e fantástico o nosso encontro em Arapongas. Poderia se estender por mais dias que teríamos muitos assuntos a tratar. Quase falei pra Jesus: "Façamos três tendas..." Mas a luta continua e o ministério e trabalho precisam de nós. Vamos estar ligados um ao outro e fortalecer esse grupo para não nos perdermos no tempo e também ganharmos os outros que precisam chegar. Pr. Messias

A turma do IBA é mais do que vencedora por meio da fé. O nosso encontro foi uma verdadeira vitória em nossas vidas e ministérios. Pessoal! Foi demais esse encontro. Quem não pôde ir perdeu. Mas logo teremos o próximo. Gostei da ideia da Vilma de termos um lugar só para nós. Abraços e que Deus abençoe a todos. No vínculo do Calvário! Pr. Manoel Messias

19


SEÇÃO VII Cheguei hoje, às 7:30 da manhã, mas minha vontade mesmo era continuar lá. Que bênção! Que emoção! Amei! Fui contar pro meu filho, mas nem consegui, pois comecei a chorar de tanta emoção. Perdi o dia de trabalho, mas o que recebi de bênçãos, em Arapongas, valeu a pena. Amo todos vocês! Parabéns, Vilma. Shirlei

Eu não sei se o céu desceu ou se fomos nós que subimos... Mas que foi Deus purinho, ah! Foi! Hein? Pr. Luiz Carlos Vicente

Eu fico encantada com a bondade de Deus! Experiências deste tipo não acontecem, é Deus quem nos proporciona. Amo cada um de vocês sempre. Risia Ainda estou no espírito de Arapongas. O dia todo, no colégio, em casa, enfim, um filme passa pela minha mente e é só bênção. Glória a Deus por isso. Já estou com muitas saudades de todos os momentos que passamos aí. Amados, vocês que não foram por uma ou outra razão, Deus proverá novos momentos, eu creio. Hei! "Essa é a vitória que vence o mundo: a nossa fé". Dulcinéia

Foi indescritível, memorável, uma alegria contagiante. O coração palpitava forte a cada novo reencontro. Muitos perguntavam: quem é você? Ahhhhhhhhhh!!!!!! E, a seguir: abraços, abraços sorrisos, lágrimas. Temos muito para contar! Mirian

Foi maravilhoooso. Não dava vontade de voltar pra casa. Foram muitas bênçãos, emoções, corações transbordando de alegria. Reencontrar os amigos 40 anos depois foi mega, ultra, maxi tremendo. Quem foi pode confirmar. Valeu a pena. Dulcinéia

20

Quando Zilma e eu nos preparávamos para a viagem, a expectativa é que seria um encontro com pessoas, cada uma devidamente acompanhada/o pelo seu geriatra, cardiologista, ortopedista e levando pacotes de remédios, etc... Mas quando entrei no restaurante, no sábado, para o almoço, encontrei uma juventude que só poderia ter sido mantida pela perene graça de Deus. ALELUIA! Foi mais que um encontro 40 anos depois! Foi algo que, no silêncio ou nas falas, nos testemunhos, na impressionante jovialidade de D. Mariazinha, nas caretisses contínuas do Natanael, nos choros da Amelinha, no espírito de liderança da Vilma, por certo em todos e por todos e no meio de todos o ESPÍRITO DO SENHOR movia-se graciosamente. Talvez mais tarde venhamos a entender o propósito eterno do Senhor para completar em cada um/a (Ibano/a) aquilo que foi interrompido nesse espaço (kronos) para que, que no tempo (kairós) de Deus fosse concretizado. Esta é e será a minha oração e ação. Beijos aos que foram e um sentimento pelos que não puderam ir. Paulo e Zilma




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.