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O livro, página a página
As indicações apresentadas na sequência são como uma palavra da autora ao educador/educadora, revelando suas intenções e desejos ao produzir o conteúdo de cada uma das páginas do livro. São sugestões que podem estimular a criança a localizar, antecipar, inferir e extrapolar o conteúdo do texto e da ilustração, adquirindo uma maior consciência de sua percepção e interpretação da história. Um guia para as conversas que surgirão de forma espontânea ou estimulada pelo educador/educadora. Vale lembrar que ler para a criança bem pequena é conversar para compartilhar aquilo que compreendeu, lembrou e emocionou cada um dos leitores, estreitando os laços de afeto e consolidando a primeira comunidade de leitores da qual elas irão participar e, durante a sua escolarização, vivenciarão de outras inúmeras formas. Nesse momento, ao se preparar para ler o livro, o educador e a educadora poderão decidir se realizarão inicialmente toda a leitura do livro, sem interrupção, voltando a ler novamente dessa vez fazendo comentários e dialogando com as crianças. Ou o contrário, se será realizada uma primeira leitura comentada para posteriormente realizar outras em situações de diálogo. Ambos os encaminhamentos são importantes, sempre lembrando que é a diversidade de situações que ajuda a criança a construir os procedimentos para participar de um momento de leitura: ouvir, prestar atenção, permanecer em silêncio, refletir, esperar a sua vez para falar.
Lendo Com A Ponta Do Dedo
Apontar o texto ou a ilustração com a ponta do dedo indicador é um recurso simples, mas de grande valia para as crianças bem pequenas. Esse gesto corriqueiro para os adultos é um importante instrumento de localização, de identificação do sentido e da direção da leitura (a linearidade do texto) e de reconhecimento entre aquilo que se fala quando se lê em voz alta e aquilo que está escrito no texto (relação fonema/grafema, início do processo de conscientização fonológica que as crianças podem começar a desenvolver, mesmo quando ainda muito pequenas). Com o livro em suas mãos ou com ele apoiado em uma superfície, é fundamental que o leitor mediador use esse recurso ao ler para crianças.
A leitura de um livro começa pela capa. Ou melhor, pela 1ª capa. Importantes informações textuais como o título da obra, o nome dos autores e da editora estão ali presentes e podem ser compartilhadas com as crianças. No caso do livro ilustrado, a arte da capa já começa a contar a história. Quem ali aparece? Quem ele parece ser? Um animal? Que animal é esse? O que ele está fazendo? Muito importante essa primeira exploração, que já fornecerá pistas sobre o texto que será lido na sequência. Vale destacar que o pequeno desenho entre o nome da autora e da ilustradora é o logo da editora, um elemento gráfico que traz imagem e texto e que se repete em outras passagens da obra: na 4ª capa, na página 1 (o front ou rosto) e na página 2, no expediente. Essa distinção entre o que é desenho, o que é escrita e no caso de uma logomarca a reunião de ambos (texto e imagem), é um procedimento essencial por parte do adulto leitor que, assim, já ensina a criança bem pequena a começar a reconhecer as diferenças entre um e outro.
A capa é formada pela 1ª capa e também pela 4ª capa, o verso do livro. Geralmente, ali se encontra a sinopse da obra. Uma breve resenha que pode e deve ser lida para as crianças. A ilustração também deve ser observada: o que aparece ali? Interessante destacar que em Psiu o texto da 4ª capa é também o texto integral da obra, um recurso criado pela autora para facilitar a leitura do mediador com o livro voltado para o leitor durante toda a leitura. Aqui há um QRCode que linka com o site da editora e dali para as redes sociais – onde o educador e a educadora (até mesmo os pais), encontrarão diversas informações complementares sobre essa obra e sobre a leitura na primeira infância.
A primeira página do livro, chamada de “rosto’ ou “front”, geralmente repete o conteúdo da capa, mas sem o mesmo trabalho gráfico. Essa é uma informação interessante de ser compartilhada com as crianças. Que novidades essa página apresenta com relação à capa? O que repete e o que muda entre a capa e front? A identificação visual de semelhanças e diferenças é uma atividade interessante para ser realizada com as crianças, que poderão ainda ser estimuladas a localizar onde está o texto, o nome da autora, do ilustrador e da editora. A observação atenta ainda poderá revelar o personagem “xereta” dessa história, o pequeno vaga-lume que acompanha os leitores em sua jornada história adentro.
Esta página é chamada de expediente. É nela que a editora informa os dados da empresa, tais como o endereço e as redes sociais. É no expediente que também estão os dados do livro, a sua ficha de identificação, informações sobre o nome dos autores e o ano de publicação, tamanho do livro e o número de páginas. Nela, também consta o número do ISBN, que é a identificação da obra. Trata-se de um número internacional, válido no mundo todo, como se fosse o número da carteira de identidade de uma pessoa. Vale lembrar que mostrar a estrutura de um livro para uma criança tem como principal objetivo aproximá-la desse objeto cultural e suas características. Não é necessário de modo algum que ela “decore” ou entenda os dados formais da obra, mas que conheça o objeto livro em sua totalidade e se sinta com domínio sobre ele, apropriando-se através do contato com o livro impresso do direito de pertencer à cultura letrada.
Neste livro, a página 3 traz uma apresentação à leitura, uma frase de motivação para despertar a curiosidade das crianças pelo texto. Trata-se de um momento de pré-leitura, no qual as crianças podem ser convidadas para falar sobre o que acreditam que acontecerá na sequência. Se está na hora de dormir, o que vai acontecer? Quem será que estará dormindo? Onde será que ele estará? Como será que ele dorme? Será que ronca? Um toque de humor poderá aguçar a curiosidade das crianças pela leitura. Ao compartilhar os seus conhecimentos prévios, as crianças reforçam seus vínculos enquanto leitores, construindo certa cumplicidade para a leitura que se realizará na sequência. Importante explorar a imagem que acompanha a frase motivacional: “o que ela mostra? por que aparecem estrelinhas? o que é esse paninho?”. Certamente, muitas hipóteses serão levantadas e as crianças já se animarão a falar sobre si, suas experiências e preferências.
O texto começa com a leitura da interjeição “PSIIIU”. O leitor mediador poderá escolher se realiza essa leitura de forma mais suave ou não – sugerimos que seja uma entrada suave, já sinalizando para as crianças que os personagens estão dormindo e que é preciso tomar cuidado para não acordá-los. Certamente chamará a atenção das crianças o início de uma história com um “psiu!”. A saudação é o “boa noite”, já conhecido das crianças.
A ilustração traz o filhotinho do tamanduá dormindo aninhado à mãe, entre as folhagens da mata sob um céu estrelado.
Antes de ler o texto, é possível perguntar às crianças o que elas observam na imagem: “quem está ali? o que está fazendo? quando isso está acontecendo?” são algumas perguntas que podem ser feitas pelo leitor mediador. Importante chamar a atenção para a posição dos animais na hora de dormir: deitados no chão, abraçados de conchinha (a cauda da mamãe tamanduá na realidade serve como proteção e abrigo ao filhotinho).
Após a leitura do texto, será possível conversar sobre o que as crianças observaram (será que alguém descobriu onde está o vaga-lume?). Quem dorme com a mamãe? Quem gosta de ficar abraçado na cama com o papai? Quem já viu as estrelas no céu quando anoitece? Aqui, é interessante convidar a turma para compartilhar as suas próprias experiências.
Essa é a dupla de páginas do bicho-preguiça. É interessante convidar as crianças a considerar: na página anterior, havia o bebê tamanduá dormindo com a mãe no chão, e esse filhote: onde e com quem ele está? As crianças logo perceberão que a preguiça prefere dormir sozinha e no galho de uma árvore, numa posição diferente. Que posição é essa? Será que alguém na turma também gosta de dormir de barriga para baixo? A saudação para a preguiça é “durma bem”. Por que será que falamos assim quando alguém vai dormir?
A comparação entre os modos de dormir do tamanduá e da preguiça, através da observação atenta das ilustrações, favorecerá o desenvolvimento de importantes estratégias de leitura do texto visual: observar, descrever e relacionar.
Chegou a vez da onça-pintada. Assim como o tamanduá, ela também dorme no chão, mas convide as crianças a repararem na posição que ela dorme (de barriga para cima). Será que as crianças também gostam de dormir assim? Será que é uma boa ideia fazer carinho na barriguinha da onça? Como será que ela vai reagir? “PSIIIU”, cuidado para não acordar a onça!
“Bons sonhos” é uma expressão diferente, menos usual. Será possível perguntar para as crianças sobre o que elas acham que essa frase quer dizer, qual a relação entre o sonho e a o ato de dormir – algo que provavelmente elas não saberão responder mas que, ao serem questionadas, começarão a construir noções sobre o assunto. O educador e a educadora poderão compartilhar suas experiências pessoais, contando sobre algum sonho interessante de ser compartilhado com as crianças para que elas possam começar a ter uma noção sobre o significado dessa palavra “sonho”.
Agora, há a família de araras. Note que o filhote dorme bem no meio dos pais e todos se sentem confortáveis em dormir bem juntinhos. Por serem as primeiras aves a aparecerem no livro, é interessante apontar as diferenças físicas delas para os outros animais já vistos até então. Também é possível apontar as particularidades do lugar em que elas estão: em um buraco na rocha, que parece ser muito alto, pois estamos no nível de algumas nuvens, acima das copas das árvores. Se possível, comente com as crianças sobre os opostos – alto e baixo – de uma maneira lúdica, para que elas tenham a consciência dessa altura. Por se tratar de um filhote dormindo entre os pais, certamente as crianças terão muito a dizer sobre o que acham disso: “quem dorme com os pais? o que acha disso? como será que o filhotinho da arara se sente dormindo com os seus pais? e você, como se sente dormindo com eles? e na sua própria cama?” são algumas das questões que podem ser feitas à turma. A expressão usada no texto para a despedida da ararinha foi “boa noite”. E se fosse durante o dia, como saudar a ararinha antes dela dormir? Não deixe de convidar as crianças para localizarem o vaga-lume que está acompanhando essa história.
Hora de observar o soninho do tatu. Ele é outro animal que prefere dormir sozinho, mas que diferença entre ele e as araras! Enquanto as aves estão bem no alto, o tatu já está bem embaixo, prefere cavar um buraco na terra. Ele também gosta de cobrir a carinha com suas patinhas. Quem no grupo também gosta de dormir com a mão próxima do rosto? O tatu tem características físicas bem diferentes dos demais animais vistos até agora. Será que as crianças conseguem reconhecer algumas delas? As garras certamente chamarão a atenção da criançada, assim como a carapaça que cobre o corpo do animal. E o vaga-lume, está fácil de encontrar? O livro segue com a mesma estrutura textual, a interjeição “PSIIIU” seguida pela saudação de despedida para aquele que se retira para dormir “bom descanso”. O que será que essa expressão quer dizer? Quem já ficou tão cansado ou cansada que precisou dormir para descansar?
Aqui, as crianças conhecerão o pequeno mico. Assim como a preguiça, ele também gosta de dormir no galho de uma árvore, mas prefere dormir nas costas da mamãe! Será que as crianças também gostam de ficar agarradinhas com os seus responsáveis na hora de dormir? Quem aqui gosta de dormir no colinho? No colo de qual adulto: do papai, da mamãe, do vovô ou da vovó? Para as crianças menores, por volta dos 2 anos, adormecer no colo do adulto ainda pode ser uma experiência extremamente prazerosa. Mas, onde estão os macaquinhos? Em um lugar alto ou baixo? Se possível, é interessante estimular as crianças a apontarem na ilustração o galho da árvore, que parece estar bem no alto. Quanto à parte textual, o que será que quer dizer “até amanhã”?. Alguém já ouviu ou usou essa expressão? Em que outras ocasiões é possível dizer “até amanhã”?.
Essa é a dupla de páginas de um animal que dorme de um jeitinho bem diferente: é o jacaré! É interessante comentar para as crianças sobre onde ele está dormindo – na água, diferente de todos os animais vistos até então. Há outra diferença também... Será que as crianças conseguem perceber que o jacaré dorme com um olho aberto? Na realidade, os pesquisadores afirmam que os jacarés e crocodilos provavelmente dormem com um hemisfério cerebral por vez, deixando a outra metade do cérebro ativo e em vigilância. Com um dos olhos abertos, eles podem observar a presença de intrusos ou de ameaças e, assim, se proteger. Essa informação pode ou não ser compartilhada com as crianças, dependerá da decisão do educador e da educadora. Mas é uma curiosidade interessante: será que alguém na turma consegue dormir com um olho aberto e outro fechado como o jacaré? Será que quando a gente dorme dá para perceber o que acontece ao nosso redor? O vaga-lume está bem pequeno, ainda mais quando comparado com o tamanho do jacaré, mas eles estão bem próximos! Convide as crianças para localizarem esse companheiro da leitura.
Essa é uma página de surpresa e de reconhecimento. Até agora, as crianças viram diversos bichinhos, mas quem aparece nessa passagem do livro? Será que as crianças sabem responder? Se possível, aponte para o berço e as mãozinhas que seguram as grades, as mãos desse bebê são iguais às das crianças da sala? Repare que temos os mesmos bichinhos que aparecem do decorrer do livro nessa página, mas agora, eles estão na ilustração como bichinhos de brinquedo desse bebê, que também tem um livro muito parecido com o que as crianças estão vendo... Quem é esse bebê? Onde ele está? O que vai acontecer com ele? É de dia ou de noite? Questões como essas podem ser feitas, estimulando as crianças a observar, localizar e extrapolar o conteúdo do texto escrito e do texto visual.
Finalmente, há um bebê humano dormindo em um quarto com muitos detalhes da decoração ilustrados com bichinhos da fauna brasileira. Se possível, peça para as crianças apontarem os bichinhos que aparecem na imagem e pergunte se eles se parecem com os animais vistos nas páginas anteriores. Por fim, será que as crianças gostam de dormir na mesma posição que o bebê do livro? Como é o lugar em que elas dormem? É interessante fazer essas questões para que as crianças possam relacionar o que estão lendo no livro com a sua própria rotina, ambiente e preferências.
Essa dupla de páginas traz um paratexto informativo sobre a obra, conteúdo interessante para o leitor adulto que poderá conhecer as intencionalidades da autora e da editora e se informar sobre como a leitura desse livro pode ser instigante para a criança.
Essa seção traz informações sobre a autora e o ilustrador, que podem de ser compartilhadas com as crianças. É muito importante que elas aprendam que um livro é resultado do trabalho de alguém, que geralmente estuda e passa horas se dedicando à sua produção, seja na composição do texto escrito, seja na elaboração das ilustrações.
Aqui, há um paratexto que comenta sobre o propósito de mostrar a natureza para as crianças pequenas, enaltecido a partir do selo Aqui tem Natureza. Também há informações sobre o processo criativo das ilustrações, feitas a partir de fotos de filhotes reais da fauna brasileira.
Página com dicas para a formação do leitor na primeira infância, um texto a ser compartilhado com os familiares em momentos de reunião pedagógica e a ser debatido em situações coletivas entre os educadores na creche, junto à coordenação.