3 minute read
A FORMAÇÃO DO LEITOR NA PRIMEIRA INFÂNCIA
A primeira infância, que compreende os primeiros seis anos da criança, é uma fase de descobertas infinitas, em que o cérebro cria milhares de conexões por segundo e se desenvolve como em nenhuma outra fase da vida. É o período inicial de identificação e pertencimento, de autoconhecimento, do conhecimento do outro e do mundo que o cerca. Aqui, as descobertas são ainda mais intensas, a criança passa de um período extremamente dependente do outro para os seus primeiros atos de autonomia, como falar, ir ao banheiro, dormir sozinha, aprender e, sobretudo, ter maior consciência de si e do outro. E sobre os livros e a literatura para essa faixa etária, como tudo isso se reflete?
Os livros para a primeira infância
No mercado editorial, há uma variedade de livros para crianças pequenas, nomenclatura usada na Base Nacional Comum Curricular para classificar as crianças com idade de 4 a 5 anos. Dentro desse grupo, estão diversos livros-brinquedo, livros com suporte cartonado, de pano, de banho e com outras características específicas. Todos esses objetos são interessantes do ponto de vista lúdico e sensorial; contudo, os livros tradicionais, com capa e folhas de papel, também devem ser oferecidos às crianças desde a mais tenra idade, para que elas conheçam o objeto livro tal como ele se apresenta socialmente e se familiarize com ele, sem que haja a confusão de que tal objeto é um brinquedo (ainda que, entre outras características, o livro também é feito para divertir, e essa é uma de suas características principais).
Para melhor compreender a importância do contato da criança pequena com um livro de papel, é possível fazer um paralelo com a alimentação. Ninguém duvida da importância de deixar a criança, desde bebê, pegar a comida com as próprias mãos: trata-se de um estimulo para o desenvolvimento da autonomia e também do paladar. O bebê fica com o rosto todo sujo e as mãos enlambuzadas; suas roupas manchadas; a cadeira, a mesa, o chão… Tudo em volta parece ficar cheio de pedacinhos de comida. E a reação das pessoas? Pura alegria!
Mas, quando se trata de deixar uma criança pequena pegar um livro de papel com as próprias mãos, muita gente ainda hesita. E se rasgar uma página? Cortar a mão? Comer o papel? Amassar o livro? Pois é, embora os livros sejam o alimento da alma, ainda existem aqueles que acreditam que livros e crianças pequenas não combinam. Afinal, elas nem conseguem ler o que está escrito, não é mesmo?! Não, não é. No processo de literacia, é fundamental que as crianças pequenas sejam expostas a livros de papel, com todas as suas características reais. Livros de plástico, de pano e até livros brinquedos podem fazer parte da biblioteca da criança. Mas é com o livro de papel que a criança terá as melhores oportunidades para perceber-se como um leitor ativo inserido em uma comunidade leitora. Ao estimular o contato frequente com um objeto social real, tal como ele existe concretamente no dia a dia, a criança aprenderá, gradualmente, a manipulá-lo com segurança, reconhecendo desde o início os cuidados necessários para a sua conservação. Mas o suporte do livro para a primeira infância não deve ser o único ponto a ser levado em conta: a ilustração e o texto, somados ao suporte, formam a tríade perfeita para um livro de qualidade. As cores, as formas representadas e as imagens que complementam o texto chamam a atenção das crianças pequenas que veem o adulto mediador segurando o livro, ou quando já possuem a independência de folhear os livros por si sós. Da mesma forma o texto, quando lido em voz alta, convida às crianças a entrarem no universo apresentado pela história, auxilia na construção do vocabulário, estimula a capacidade de concentração e, mais importante do que tudo isso, diverte e forma futuros leitores, contemplando o conceito de literacia. Inserir a leitura na rotina da criança, independentemente da idade, é um fator preponderante para que os pequenos aprendam a reconhecer o valor da leitura e para que a criança tenha a consciência de que esse é também um momento de diversão, mas também de aprendizado e até de reconhecimento. Por isso, é importante que sejam lidos livros de diversas temáticas, com características diferentes e que podem ora se focar em um objeto, ora na rotina, ora em um lugar, ora em uma pessoa ou um animal… as possibilidades são muitas. Com o passar do tempo, as crianças perceberão qual tipo de história e de temas preferem e passarão a eleger seus livros favoritos a partir de
LÊ DE NOVO?!
Durante a primeira infância, as crianças gostam da repetição. Para elas, repetir um mesmo passeio, comer uma mesma comida, ouvir várias vezes uma mesma história ou música e ler e reler o mesmo livro é uma estratégia de aprendizagem emocional e cognitiva. Por isso, é muito importante reler o mesmo livro várias vezes. As crianças sempre poderão fazer uma interpretação diferente do que foi lido, observar um novo detalhe na ilustração e se sentirem mais seguras ao saberem que já conhecem o texto. Esses são pontos que podem estimular a concentração dos pequenos e que fazer toda a diferença em suas vidas como leitores.