Celestial Glow – A neve em forma de amor Copyright Ⓒ Thaís S. Lurco em parceria com a Editora Charme Edição Digital
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Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens e situações narradas aqui são fruto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Rio de Janeiro, Brasil 2014 Nota da autora: Este é um pequeno conto natalino sobre amor e neve. Espero que seus corações se sintam aquecidos acompanhando o Natal de Jessica e Noah.
Aos leitores do blog. Com carinho e abraços quentinhos,
Thaís S. Lurco.
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“Now slowly I'm falling But I don't need saving You've already got me You've already got me This celestial glow is blinding”
Celestial – Tori Kelly
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—
V
ocê podia ao menos dar um sorriso, sabia? — é a primeira coisa que ele
fala quando descemos do táxi. Cruzo os braços e encaro as luzes e os enfeites bregas. — Está falando sério, Noah? Esse lugar é péssimo! Ele agarra minha cintura e me puxa para perto. — Achei que qualquer lugar comigo fosse perfeito — sorri torto. — Não foi isso o que você disse quando falei que tinha uma surpresa para você? — Isso foi antes de eu saber que esta era a surpresa — falo, mal me importando em sair do seu abraço. — Qual é, Jessica? Onde foi parar o seu espírito natalino? — Junto do seu bom senso? — sorrio irônica. — Mulheres... Difícil entende-las, impossível agradá-las. Rio da sua cara contrariada e me aconchego mais a ele. Olhando agora posso ver a Sunset Boulevard daqui. Ao longe observo o caminho de árvores iluminadas, com decorações de estrelas vermelhas e brancas e luzes neon. A vista é quase mágica. Me repreendo por ter sido carrancuda demais.
— Obrigada pelo passeio — falo com sinceridade. Noah apenas me dá um beijo na bochecha e me conduz para frente. Fico sorrindo para o céu feito boba, pensando que todas as noites poderiam ser sempre assim. — No que está pensando? — pergunta, assim que nos sentamos numa mesa de canto. — Chocolate quente — digo a primeira coisa que vem a minha mente. Meu estômago ronca, concordando que uma boa xícara com marshmellows e creme não me faria mal. Ele revira os olhos e ri. — Não da comida. Dessa noite. Paro e penso. Estamos num restaurante caído, em plena véspera de Natal. No nosso primeiro encontro. Realmente não sei o que eu tinha na cabeça para aceitar, mas ser uma brasileira sem grana, morando sozinha em Los Angeles não me dava muita escolha. Era isso ou passar o resto da noite assistindo pela milésima vez a reprise de Miracle on 34th Street, me entupindo de comida chinesa. — Com certeza não é uma típica noite de feriado — digo, enrolando uma mecha de cabelo loiro nos dedos. Não sei ao certo o que deveria dizer, mas ele acha graça. Abaixo os olhos e fico encarando os bordados em formato de bengalas de açúcar na toalha de mesa. — Gosto da sinceridade — Noah diz, me deixando menos desconfortável. — É só que eu não costumo passar o Natal longe da minha família — me justifico. — E do que sente falta? Lembro-me da mesa farta, da família reunida e das crianças correndo feito doidas em volta da árvore. — De tudo? — sorrio. — De todos cantando em volta da mesa, da contagem regressiva para meia noite, da decoração de pisca-pisca no telhado... Do calor. Passo os dedos pelo suéter felpudo, arrependida por não ter escolhido um casaco maior. Alguém deveria criar um manual de vestimenta para garotas no primeiro encontro. Especialmente quando o frio é capaz de congelar até seu cérebro. — E você? — pergunto. — Não tem nenhuma lembrança boa de Natal?
Ele se ajeita no banco. Dá para perceber o quão desconfortável ficou com essa pergunta e eu me xingo mentalmente por tentar puxar conversa da maneira mais desagradável possível. — Não muita coisa — diz, antes que eu possa fingir que aquela pergunta nunca existiu. — Meus pais e eu nunca fomos muito... Próximos. Seu tom de voz é seco, baixo. Gostaria de saber muito mais sobre ele, mas não posso fazer isso agora. Fico olhando em seus olhos cor de mel, torcendo pra que eu não tenha acabado de arruinar nossa noite. — Lembro-me de andar de trenó quando era pequeno — Noah continua, com um sorriso triste no rosto. — E de fazer bonecos de neve. — Isso deve ser bem legal! — digo animada. — A maior experiência que eu já tive com neve foi assistindo Frozen. Rimos juntos, mas estou falando sério. Olho para a janela através dele. Ainda não há nem vestígio daqueles pontinhos brancos congelantes, mesmo fazendo um frio absurdo lá fora. Eu planejei meu intercâmbio em dezembro justamente por isso, então dá para entender minha frustração. — Você nunca viu neve? — ele pergunta. — Sério? Faço que não com a cabeça. — Quer ver? — Em Los Angeles? — pergunto incrédula. — Onde mais seria? Fico olhando para ele, sem entender. Seu sorriso é tão grande que eu poderia me perder ali dentro. E até que não seria má ideia, considerando o quanto nos aproximamos nesses últimos segundos. — Eu adoraria... — falo, ainda sem compreender o real significado por detrás de suas palavras. — Vamos — Noah diz, puxando a minha mão e nos conduzindo para fora. Ainda nem fizemos nossos pedidos e ele parece não se importar. Ignoro a fome que estou sentindo e vou atrás dele, igualmente sorrindo de orelha a orelha. Não sei para onde estamos indo, mas só a possibilidade de ver neve de verdade faz meu estômago se contorcer.
❅❄❅ O frio está me matando. Pegar um táxi essa época do ano pode ser realmente complicado, então decidimos caminhar. A cada passo que dou, sinto minhas pernas congelarem. — Você está bem? — ele pergunta, parecendo realmente preocupado. — Estou — minto, concentrando meus pés a fazerem o caminho em linha reta. — Eu levo você — fala e sinto minhas pernas novamente. Estou fora do chão, em seu colo. Se não fosse o frio, eu poderia muito bem estar com vergonha agora. Não paro para pensar nisso. Encolho meu rosto em seu casaco e respiro fundo, agradecendo por ele não ter nenhum problema em usar um agasalho enorme no primeiro encontro. Ser homem tem suas vantagens, nesse caso. Quando sou colocada no chão novamente, já estamos na The Grove, em frente a centenas de lojas de departamento. Não sei o que eu estava esperando, mas com certeza não tinha nada a ver com megastores lotadas. — Bem-vinda ao seu destino. Fico olhando outra vez para as vitrines enfeitadas sem saber o que dizer. Tenho certeza que minha cara parece extremamente confusa, porque ele começa a gargalhar. — Caso esteja se perguntando para onde nós vamos, é ali — ele aponta para uma das lojas. Dou de cara com uma Nordstrom imensa, decorada com centenas de flocos de gelo falsos e luzes de LED. Lá dentro, qualquer coisa que você deseje comprar, seja para casa ou vestimenta. Um sonho de consumo pra shopaholic nenhum botar defeito. — Aqui? — pergunto, ainda sem entender. Realmente não sei aonde ele quer chegar. — Sim, não está vendo, Jessie? Estreito os olhos e me forço a perceber qualquer coisa a minha volta que esteja passando despercebida. Nada. Não consigo entender.
Noah me puxa outra vez, me carregando para dentro da loja. Depois de alguns minutos andando, finalmente entendo o que ele quis dizer. Estamos parados em frente a uma vitrine cheia de confetes brancos e espuma. — Neve falsa – digo inconformada. — Sério, Noah? Ele fica me encarando, meio decepcionado. Talvez esperasse um pouco mais de entusiasmo da minha parte, mas estou frustrada. — Você precisa experimentar — diz. Não sei exatamente o que quer dizer com experimentar, mas ele não me dá tempo para reivindicar sua decisão. Outra vez sou puxada por ele, até estarmos dentro da vitrine, dividindo o espaço apertado com os manequins. — Está pronta? — pergunta. Não tenho certeza, então apenas balanço a cabeça, sem uma direção exata. No segundo seguinte um jato de ar frio voa em minha direção. Ameaço uma briga com ele, mas a sensação é estranha de um jeito muito bom. Aqui dentro tem cheiro de pinho e biscoitos assados. E agora todos os pontinhos brancos flutuam ao nosso redor, me fazendo esquecer o que eu ia dizer. — Isso é... — não consigo falar. Sei que isso não é neve. Não parece neve, nem gelo, só espuma e papéis brancos picados. Mas, agora que os vejo dançando no vento ao meu redor, esqueço o que eles são por alguns instantes e penso que isso aqui é neve de verdade. Poderia ser, não é? Deixo de me importar com o que é real ou não e fico tentando juntar um montinho de neve nas mãos. — Está gostando? — ele me pergunta com aquele sorriso gigante outra vez. É impossível não sorrir. Seria loucura esperar que ele trouxesse neve de verdade quando obviamente não está nevando. Mas ele tentou. Fez isso por mim e não posso deixar de agradecer. — Muito — falo sorrindo em sua direção. — Obrigada, Noah. Isso é mágico! Sem saber ao certo o porquê, corro em sua direção e lhe dou um abraço. Ele passa os braços ao meu redor e me levanta no ar. Estamos girando na neve e esse é o melhor Natal de todos. Aos poucos paramos de rodar e ele me coloca no chão lentamente. O movimento parece acontecer em câmera lenta, enquanto nossos olhos se encontram
pela segunda vez nessa noite. Eles são lindos, penso. Poderia olhar nesses olhos pelo resto dos meus dias sem me cansar. — Ei, o que pensam que estão fazendo aí? — uma voz grave tira nossos olhares um do outro. — É proibido entrar nas vitrines! Para fora! Fico sem reação por alguns instantes, antes de ouvir a voz de Noah em meus ouvidos: — Correndo. No três. — Eu disse para fora! — o segurança da loja repete. Mal escuto o que ele diz, porque a nossa pequena contagem já terminou e estamos correndo feito loucos pelos corredores lotados da Nordstrom. Me sinto como uma adolescente inconsequente, desviando das pessoas sem olhar para trás. Noah está a apenas alguns passos de mim, então corro ainda mais rápido e alcanço sua mão no instante em que ultrapassamos a porta. Nosso perseguidor perdeu o fôlego na metade do caminho, mas continua nos xingando, com as mãos apoiadas nas pernas e a testa suada. — Feliz Natal pra você também! — Noah se dirige a ele, e depois voltamos a correr, rindo alto como se fossemos as únicas pessoas da Terra. — Você é louco! — digo, assim que paramos de correr. Ainda estou sorrindo, sem motivo nenhum. — Todo mundo precisa de um pouco de loucura de vez em quando, certo? E ele está certo. Não me lembro de nenhum outro Natal como esse. Continuamos andando, conversado sobre a nossa fuga, até pararmos em frente a uma Starbucks inacreditavelmente não muito cheia. — Agora sim a noite está perfeita — falo suspirando quando nossos pedidos chegam e dou o primeiro gole no meu Peppermint Hot Cocoa, com bastante chantilly e pedacinhos de bala. — Repete — Noah diz. — O que? — Você usou a palavra — ele sorri. — Perfeita. Sorrio em resposta. — Sim, a noite está perfeita. — O que significa que eu ganhei muitos pontos com esse encontro.
Levanto as sobrancelhas, divertida. — Humildade pra que, né? Ele apenas pisca para mim e volta a atacar sua xícara de cappuccino. A cena toda parece estranhamente familiar, apesar de ser o Natal mais atípico de todos. Eu poderia facilmente me acostumar com isso. — Quer fazer isso mais vezes? — ele pergunta. — O que? Invadir vitrines e fugir de seguranças fora de forma? Rimos juntos. — Também — ele brinca. — Mas eu quero dizer isso aqui. O encontro. Quer fazer mais vezes? Noah é tão doce quanto meu chocolate quente. Sei que o pensamento é cafona, mas isso ainda é pouco perto de todas as sensações que ele me proporcionou essa noite. — Eu adoraria — respondo. Desvio os olhos para as pessoas atrás dele, antes que eu fique sem graça demais. — Noah... — Jessica, olha! — sua voz se sobrepõe a minha quando aponta para a janela atrás de mim. — Neve! Perco o fôlego por um segundo. Não consigo acreditar. Está nevando lá fora! Os flocos caem devagar, transformando aos poucos todas as cores num branco brilhante. Não é uma nevasca, mas com certeza é neve de verdade. Solto um gritinho de animação. — Vamos! Nem espero por uma resposta. Pela segunda vez na noite corremos de mãos dadas rua afora. Sou uma criança feliz e saltitante, rodando com os braços abertos na neve. Abro a boca e deixo os flocos se derreterem em minha língua. — Neve! — digo como se eu tivesse me dado conta disso apenas agora. — É celestial! — Celestial – Noah repete, se aproximando. — Gosto dessa palavra. Ele passa os braços outra vez ao meu redor e ficamos cada vez mais perto. Apesar do frio, meu corpo inteiro está aquecido com seu calor. Respiramos em sincronia, sorrindo um para o outro. Ele chega mais perto, talvez perto demais, mas não me importo.
Meu celular toca. Desvio o olhar para a tela, contrariada. É só o alarme, o que significa que agora é oficialmente Natal. — Meia-noite? — ele pergunta. — Meia-noite — respondo, com os olhos agora em seus lábios. De alguma forma eles estão incrivelmente perto agora. — Perfeito — diz, antes de me beijar. E eu não poderia concordar mais.
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Feliz Natal e Boas Festas! www.missthay.com