O invencível - MMA Fighter 2 - Vi Keeland

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VI KEELAND

MMA Fighter - 02


“Às vezes a vida dá uma segunda chance porque talvez, apenas talvez, não estivéssemos prontos na primeira.” — Autor desconhecido

Para Chris. Sem você, eu estaria perdida.

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Um

Vince

O latejar na minha cabeça está aumentando. Era uma batida forte no fundo e agora parece tambores rufando bem debaixo das minhas pálpebras. Tenho medo de abrir um olho, temo que o tambor dentro da minha cabeça vá fugir e me seguir pelo resto da vida. Só que o maldito barulho do telefone é doloroso demais para ignorar. Sigo a música horrível até o outro lado do quarto, na escuridão, desesperado para fazê-la parar. Não é difícil localizar o intruso; está piscando, zumbindo e pulando como um feijão mexicano saltitante. Pego o aparelho e olho para a foto de uma garota qualquer que não conheço, sorrindo para mim no identificador de chamadas. Ela parece irritante pra cacete. Demoro alguns segundos para registrar que o telefone não é meu. Toco em SILENCIAR, na tela, jogo o negócio de volta na cômoda, sigo até o banheiro e volto sem acender nenhuma luz. A claridade piora a sensação de latejamento. Sei por experiência própria. Ignorando a britadeira que substituiu o rufar de tambores assim que minha cabeça passou da posição horizontal para a vertical, rastejo para a cama, fecho os olhos e começo a cochilar de novo. Até outro maldito telefone começar a tocar. Dessa vez ele está no criado-mudo, ao meu alcance, e o toque é familiar. A tela pisca o nome de Elle e, bem quando estou prestes rejeitar a ligação novamente, vejo as horas no relógio. Porra! Nico vai me matar dessa vez. — Alô. — Atendo, tentando disfarçar a voz de sono, que denunciaria que eu acabei de acordar. Não dá muito certo. — Te acordei? — A voz de Elle está cheia de preocupação. Ela sabe que Nico está à procura de uma razão para me dar um pé na bunda e me tirar do treino. De novo.

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— Não, estou a caminho agora mesmo… Peguei trânsito — minto. — Bom, porque ele já está lá embaixo esperando que você não apareça. — Vou aparecer. — Desligo, lanço o celular do outro lado do quarto e solto um gemido quando ouço o aparelho espatifar na parede. Outra porra de quatrocentos dólares jogados na privada. — O que foi? — A voz da mulher me assusta, quando estou a ponto de sair da cama. Tenho dez minutos para tomar banho e chegar à academia, ou vou levar um chute e ficar sem treinador de novo. Sinto a mão na minha bunda nua e fragmentos de ontem à noite começam a me inundar aos poucos. Krissy. Merda. — Levanta. Preciso sair daqui em dois minutos. — Nem sequer tento ser agradável. Fico louco da vida comigo mesmo por ter trazido esta garota aqui. Ontem à noite, quebrei minha própria regra de ouro de “nada de piranhas” porque eu estava bêbado demais para me livrar dela. Então, sou um lutador. E um bom pra cacete. E os bons têm piranhas. Nós as chamamos de PPC. Abreviação de “piranhas pra cama”. Sim, eu sei. Não é legal. Mas quem disse que eu era legal, hein? Se uma mulher quer me seguir e dar pra mim de quatro, no banheiro de um bar, quem sou eu para dizer não? Para elas, não sou apenas um pau. Eu cuido delas. Cuido da necessidade delas antes cuidar da minha. Bom, na maioria das noites. Só não levo as mulheres para casa comigo. Se levo, elas alimentam expectativas falsas. Além do mais, se eu levar, elas ficam sabendo onde eu moro.

y Nico está na entrada quando eu chego. — Você está atrasado. — Ignoro o comentário e tomo meu lugar na frente da classe. Sim, estou atrasado, mas menos de dez minutos, graças ao

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apelo da esposa dele. Hoje é meu dia de ser voluntário no Centro de Mulheres. É, certo, voluntário. Como se alguém pudesse dizer não a Nico Hunter. Mesmo que eu não estivesse a um “foda-se” de distância de ser dispensado como aluno, eu ainda não teria como sair dessa. Se você quer treinar com Nico, faz o que ele quer… mesmo que ele te apresente a situação como uma simples pergunta. Na verdade, a gente não tem escolha alguma na resposta. Minha temporada de voluntariado no Centro de Mulheres é parte da minha penitência. Nico acha que preciso melhorar como pessoa, aprender a respeitar mais as mulheres. Claro, como se todo mundo devesse se tornar um pau-mandado de mulher, que nem ele. Nico acha que não me lembro de como ele era antes de conhecer a Elle, mas eu lembro. Uma mulher diferente fazia o caminho da vergonha todo dia de manhã, saindo pela porta dos fundos do centro de treinamento. Eu tinha apenas treze anos, mas me lembro. Principalmente porque todos elas eram gostosas. Peitos empinados e minissaias: quem pode esquecer a visão dessas merdas todas as manhãs quando se tem treze anos? Algumas manhãs, tive que correr na esteira com uma maldita ereção. E, então, ele conheceu a Elle e tudo mudou. Não me entendam mal, Elle é a garota mais legal que conheço, ela apaga os incêndios entre Nico e eu quando as coisas começam a esquentar. Mas essa droga de voluntariado é a praia deles, não a minha. Mesmo assim, aqui estou eu, às dez da manhã em um sábado, prestes a ensinar defesa pessoal para uma turma cheia de mulheres. Dou uma olhada rápida pela sala lotada e ofereço a todas o meu melhor sorriso. O sorriso que sempre me ajuda a fugir das merdas quando estou em apuros. Bem, pelo menos quando o problema é com mulheres. Nico observa da porta, enquanto conduzo a aula pelos primeiros minutos de alongamento para aquecer. Fico aliviado quando ele finalmente desaparece e posso parar de fingir que estou feliz por estar na liderança da aula esta manhã. Eu ainda queria estar na cama, esparramado de costas, levando uma chupada. Vou

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andando em meio às alunas, que estão começando a treinar chutes. Algumas eu ajudo na postura, por outras, passo e sorrio enquanto vejo como elas ficam de roupa colada. Estou avaliando a turma, procurando minha próxima assistente. Se tenho que demonstrar em alguém, pode muito bem ser com as que valem a pena apalpar, não é verdade? Pelo canto do olho, tenho o vislumbre de uma mulher na fileira do fundo. Ela está virada, mas já sei que vai ser minha assistente só pela visão que tenho da sua bunda. Tem o formato de um coração perfeito e, quando ela levanta os braços para amarrar o cabelo em um rabo de cavalo, sou beneficiado com uma pequena visão da pele de porcelana debaixo da blusa, onde tenho o desejo de cravar meus dentes. Ando até ela, pensando que talvez o lance desta manhã não vá ser tão ruim, afinal. Droga, se a parte da frente for metade do que é a parte de trás, hoje esta aula pode até mesmo durar mais. Sigo o corredor para chegar a ela, pronto para acionar meu charme, e de repente ela vira de frente para mim. O que vejo me faz parar bruscamente no meio do caminho. Será que é ela mesmo?

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Dois

Liv

James Hawthorne é um grandessíssimo de um cretino. Há dois minutos eu o peguei beliscando a bunda da secretária dele e agora, enquanto me abaixo com elegância para recolher os papéis que caíram da sua mesa, eu o pego olhando dentro da minha camisa. É provável que tenha jogado os papéis de propósito, pois ele não tem sequer a decência de fingir que não estava olhando. Em vez disso, ele na verdade sorri para mim quando cruzo o olhar com ele sobre a mesa. Cretino total. Retribuo o sorriso quando me sento à sua mesa, apesar de tudo, mesmo que me cause dor física. Isso mostra o tanto que eu quero o emprego. O suficiente para aguentar essa palhaçada por mais sete semanas do meu estágio. O Cretino perde o interesse em mim no momento em que minha oponente entra. Summer Langley. Ela é alta, magra como uma modelo, e seu longo cabelo loiro-oxigenado contrasta com a pele morena. Ela é bonita, eu não o culpo por babar em cima dela, mas não estamos em um concurso de beleza, estamos competindo por um emprego. E não apenas qualquer emprego, mas uma das vagas mais cobiçadas em toda Chicago. E só sobramos nós duas na disputa. Minha única vaga alternativa está localizada em Nova York, a quase 1.600 quilômetros da minha família e amigos. Meu currículo fala por si só. Nota máxima na graduação e no mestrado, editora do jornal da faculdade, e assistente de um professor de Inglês de renome durante o mestrado. Summer, por outro lado, tem uma ligeira vantagem no currículo: ela tem duas coisas com as quais eu não posso competir. O pai faz parte do conselho do Daily Sun Times e ela não tem nenhum problema em flertar com o chefe. Mas quero esse emprego desde o ensino médio, por isso

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eu me forço a acreditar que a melhor candidata, aquela que faz o melhor trabalho, vai realmente conseguir a vaga quando este estágio de sete semanas terminar. Mil e cem pessoas se inscreveram para essas duas vagas. Agora somos só nós duas. Estou tão perto, que consigo até sentir o gosto. Eu queria ser repórter do Daily Sun Times desde que me lembro. Jornalistas aqui ganham Pulitzers e cadeiras em associações literárias. Sorrio para Summer quando ela se senta ao meu lado e nós duas esperamos a nova tarefa que o Cretino vai nos designar. Ela não tem qualificação para o trabalho; a realidade é que ela não estaria aqui se o papaizinho dela não fizesse parte do conselho. Mas há uma sensação de peso no meu estômago quando nós duas recebemos as atribuições. Summer vai entrevistar um jovem empresário promissor, alguém que está prestes a tornar pública sua firma de ponta de marketing de internet. Eu, por outro lado, serei enviada ao distrito dos armazéns, para entrevistar algum lutador de artes marciais mistas problemático, que espanca as pessoas como profissão. Sorrio para o Cretino quando pego a folha com as minhas tarefas, fingindo não ser afetada pelo fato de Summer ter recebido a melhor matéria. — Obrigada, James. Parece que vai render uma história muito interessante. — É, até parece. Alguém atire em mim agora mesmo e coloque um fim ao meu sofrimento. James retribuiu o sorriso educadamente, mas sua atenção logo retorna para Summer. Ele lhe diz para ficar, para que possam conversar sobre a perspectiva com que ela vai escrever a história, e me pede para fechar a porta quando sair. Por muito pouco ele não me pede para tomar cuidado e não deixar a porta bater na minha bunda. Muito pouco. Eu me pergunto se ele percebe o vapor exalando dos meus ouvidos quando saio pela porta.

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Uma pesquisa rápida revelou que o tal lutador é voluntário para ensinar defesa pessoal a mulheres. Talvez nessa história eu possa trabalhar o lado bom moço de um lutador bad boy, e assim impedir que as pessoas cochilem antes de chegar ao final do artigo. Me perco no centro da cidade e quase me atraso para chegar à academia antes da aula, da qual vou participar. Tinha esperanças de chegar mais cedo para conversar com o instrutor e marcar um horário para entrevistá-lo para o artigo, mas estou atrasada e a aula lotada já está começando. Assim, em vez disso, entro de fininho nos fundos, jogo minha bolsa atrás de mim e rapidamente prendo meu cabelo avermelhado e comprido para afastá-lo do rosto. Ouço a voz do instrutor ficar mais alta enquanto ele caminha pela sala em busca de uma voluntária para ajudá-lo a demonstrar os movimentos. Sua voz é perturbadora, sexy com um certo toque indecifrável, quase rouca, como se tivesse gritado a noite toda e agora estivesse se esforçando para fazer sua voz grave ser ouvida. Então, de repente a voz some no meio de uma frase. Conforme termino de amarrar o cabelo, eu giro, curiosa para ver o que silenciou a voz sexy. Quase caio quando todo o ar em meus pulmões é violentamente sugado para fora do meu corpo por causa da visão do homem que encontro parado diante de mim.

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