Livreto - Somotos Todas Bruxas

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SOMOS TODAS BRUXAS


Brenda Bruxaria salvou minha vida. Ela não é aquele clichê sobre encontrar nossa força feminina e com isso sair por aí correndo na floresta atrás de lobos. Muito pelo contrário, a bruxaria é calma, foi a maneira sensata e honesta que pude de fato vir a me conhecer. Estava cansada de ser silenciada e diminuída enquanto mulher, eu não era nada para os católicos. Uma parideira e esposa perfeita quem sabe, eu não tinha voz, era assim que eu me sentia. Mas, a bruxaria veio, lentamente me serpenteando, me cobrindo de certezas e autoconhecimento que eu não poderia negar. Foi um caminho MUITO difícil, muito complicado e eu pensei em desistir diversas vezes, mas hoje percebo o quanto valeu à pena. Me salvou de uma depressão, ansiedade e tantas outras coisas ruins que me assolavam e batiam na minha porta. Não me salvou com um milagre sumindo com tudo isso, mas foi o suficiente para me dar forças e paciência para que eu pudesse passar por tudo.


Isa Eu sempre tive interesse por magia. Acho que a maior parte das mulheres tem alguma fase da vida onde se interessa por algum tipo de existência sobrenatural, alguma conexão com o universo, alguma forma de se sentir acolhida nesse mundo. No meu caso, isso aconteceu muito naturalmente. Lembro de um dos meus primeiros contatos com a bruxaria em si aconteceu quando eu tinha catorze anos. Meu primeiro namorado terminou comigo, e eu só chorava, não queria fazer nada, comer nada, falar nada, minha mãe fez um chá de alecrim e me explicou as propriedades mágicas das folhas, me falou para tomar um banho e lavar o cabelo com o chá, nessa hora, eu percebi que a magia, o sobrenatural e o divino estavam em tudo ao nosso redor, mas não foi aí que comecei a estudar. Comecei a estudar sobre magia com meus dezesseis ou dezessete anos, quando encontrei mais estudos sobre wicca e paganismo na internet. No wicca, o conceito de que tudo é divino é muito presente, e eu me identifiquei bastante com a religião na época. Estudando sobre bruxaria, aprendi que meu corpo é sagrado, que os sistemas que o regem são sagrados, e que o que importa é que eu cuide bem dele. Foi assim que comecei a me aceitar, e a cuidar de mim como não cuidava antes. Depois disso, comecei a usar a magia para alguns fins egoístas, e isso foi uma fase bem pesada da minha vida. O ego e o medo de encerrar ciclos me fizeram apelar para forças maiores e isso acabou me trazendo consequências


com as quais eu precisei aprender a lidar. Me afastei da bruxaria e da espiritualidade depois disso, com medo de causar maiores danos. Devia ter uns vinte anos, na época. Recentemente, com vinte e um, decidi que era hora de buscar a espiritualidade de novo. Por algum tempo, tentei fazer isso sozinha, e isso acabou sendo uma jornada infrutífera. Agora, com vinte e três, conheci mulheres praticantes de bruxaria, mulheres que estudam a bruxaria, e mulheres que vivem a bruxaria. Nossa paixão pelo oculto nos uniu, e o amor que elas têm por mim, por outras e por si mesmas foi uma porta de entrada para algo que hoje considero ser o que tenho de mais valioso na vida: um grupo de mulheres que cuidam umas das outras, que se compreendem, que se ajudam e que se amam. A bruxaria me trouxe essas pessoas e elas me ensinaram muito, inclusive a me amar.


Gabriela Eu acho que a primeira vez que me interessei por bruxaria foi aos meus 7 ou 8 anos quando encontrei um colar bem antigo nas coisas da minha bisavó com o formato de uma estrela, na época não sabia o que significava, mas de certa forma me atraiu. Minha bisavó sempre foi muito reservada sobre seus gostos e adorava presentear a família com o que ela chamava de herança de família, minha mãe havia ganhado quando adolescente um escapulário de ouro, que tinha algumas escritas em latim dentro, talvez isso possa ter levado ela a procurar saber o que significava. Minha mãe ingressou na Wicca há alguns anos, quando eu tinha 14 anos e sempre ao chegar em casa me contava como foi, lembro que a primeira vez que há vi fazendo um ritual ela ficou muito receosa de como eu iria receber aquela ação. Conversamos muito e logo fui pegando gosto pelo que ela fazia e pedi para saber mais e frequentar o lugar onde aconteciam os ritos. Aos meus 15 anos ingressei na Wicca e sempre tentava esconder isso da minha família cristã e dos colegas da escola, por mais que queria mostrar tudo que acreditava, o preconceito das outras religiões me impedia. Meu avô sempre foi muito rígido, consequentemente minha mãe sofria para esconder esse lado dela todos os dias. É triste, mas infelizmente até nos dias de hoje aprendemos a nos esconder e nos é recomendado isso dentro da Wicca ou grupos como Rosa Cruz esotéricos. A primeira vez que assumi meus símbolos em público foi no terceiro grau, por ser uma escola nova lembro de não


me importar com o que os outros fossem falar, pois seria apenas por um ano. Foi um sentimento grandioso de paz, libertação e harmonia com meu ser. Eu tive sorte de ter minha mãe como guia e meu pai com mente aberta para me direcionar ao que realmente me encantava. Hoje em dia sou uma bruxa solitária, tenho minhas próprias regras e trilho o caminho que acredito ser o certo para mim, usando um pouco de cada vertente. Quando se fala em bruxaria a maioria das pessoas sem informação confundem com outras coisas consideradas malignas. Pode se fazer uma infinidade de ações positivas visando o bem-estar do próximo, é possível curar ansiedade, dores físicas e emocionais através de técnicas como Reik e tratamentos naturais. O esoterismo em si me proporcionou uma evolução pessoal que hoje em dia me auxilia até mesmo em minha profissão. Está na moda na área da saúde mental tratamentos não convencionais e é engraçado porque a maioria desses tratamentos são de origem medieval esotérica e metade da população não faz ideia, paga pelo tratamento e depois discrimina as religiões que não são as deles nas redes sociais. Então eu reflito se as pessoas pudessem manter a mente um pouco mais aberta acredito que os resultados seriam tão benéficos em termos globais.... Será que um dia isso ainda poderá acontecer? Existem tantos recursos da bruxaria desconhecidos pela população. Será que o que falta é os esotéricos se empoderarem verdadeiramente e sem medo na sociedade e deixar de se esconder?


Marielly Lívia Desde criança sempre pensei em mundos mágicos, sereias, fadas e diversos outros seres mágicos, lembro de sempre conversar com uma amiga de infância à respeito dessas coisas, fui crescendo e de certa forma me distanciei um pouco disso mas no fundo eu ainda tinha um pouco dessa essência dentro de mim, passei por diversas fases durante o começo da minha adolescência, comecei a questionar tudo ao meu redor e principalmente o Deus do cristianismo, cheguei a brigar muitas vezes com minha família, cheguei ao ponto de me denominar ateísta e à esse ponto comecei a ter crises existenciais, depressão e ansiedade e infelizmente, até tentei acabar com minha própria vida algumas vezes achando que a existência humana não fazia sentido e afins! Depois de buscas incansáveis por respostas me deparei com o ocultismo e a bruxaria, isso foi em agosto 2019 e desde então eu quis estudar mais a fundo e fiz isso, de fato! Aprendi sobre várias coisas, estudando e entendendo melhor o mundo da perspectiva da bruxaria eu me dei conta que a nossa existência como um todo faz sentido sim e isso foi um enorme alívio em minha vida! Vivi e respirei tanto esse novo estilo de vida que já com 2 meses eu possuía um altar mágico em meu quarto, graças ao TODO, minha família lida bem com isso (apesar de acharem que sou estranha). Hoje posso dizer que a bruxaria salvou a minha vida (literalmente), pois me curo cada dia mais de meus transtornos mentais através das minhas práticas mágicas. Com a bruxaria, descobri coisas relacionadas à minha primeira vida aqui na Terra que me faz ficar satisfeito com


a minha própria essência, tenho para mim que se eu tivesse descoberto essas coisas antes de praticar bruxaria eu não chegaria ao ponto de tentar acabar com minha própria vida! Posso dizer que hoje o verdadeiro refúgio é esse estilo de vida tão lindo.


Erica Melissa A magia surgiu muito cedo para mim. Eu tinha cinco anos quando minha avó paterna faleceu e isso quebrou um ciclo na minha vida, porque a família que eu conhecia se desintegrou. As coisas começaram a mudar, eu precisei crescer muito rápido. O luto não é algo para criança, acontece, mas é algo que você precisa estar maduro para lidar. Em seguida a morte da minha avó, começaram a aparecer as revistas de astrologia, comecei a estudar, porque tinha muito interesse. Estudei astrologia dos cinco aos catorze ou quinze anos, eu estudei numerologia também e com mais ou menos dezoito dezenove anos eu entrei para a magia natural. A magia sempre esteve presente na minha vida, com quinze eu comprei uma revista que vinha com um baralho de tarô para recordar. Comecei a estudar o básico, os arcanos maiores, depois eu fui incrementar os menores. Em janeiro completará dez anos desse acontecimento, era uma revista de ano novo. Ainda com quinze anos, mudei de escola, eu sempre estudei em escola pública e nas escolas em que estudei as bibliotecas eram muito boas. Na biblioteca do fundamental tinham livros sobre mitologia egípcia e grega e na biblioteca do ensino médio tinha um livro de quiromancia, a arte de ler as linhas das palmas das mãos, eu peguei aquele livro para estudar e foi como se algo despertasse dentro de mim. Hoje estou com vinte e quatro anos e comecei a cobrar pelos meus serviços a muito pouco tempo. O tarô comecei a cobrar ano passado e mapa astral comecei a fazer e a


comercializar esse ano, durante a quarentena. Eu penso em ir atrás de um certificado de astrologia. Tenho consciência de que eu comercializo sensações, quando a pessoa paga por esse serviço e recebe, ela tem toda uma experiência de ver aquilo que faz sentido e o que não faz, então a pessoa tem sentimentos sobre aquilo e são esses sentimentos que as pessoas procuram na astrologia. A astrologia tem uma raiz muito forte, é muito antiga, no passado ela estava junto com a astronomia e só no mundo moderno que essas duas se separaram, a ciência se esquece disso. O tarô foi a raiz da pessoa que eu me tornei que vende seus serviços ocultistas, eu comecei com o tarô mesmo que a astrologia tenha vindo muito antes na minha vida. O que é irônico, porque no twitter tem pouco astrólogo que fazem mapa com o preço que eu faço, mas tem muita gente que comercializa do serviço de taróloga. A tarologia é tão antiga quanto a prostituição e existe um tabu. Existem pessoas que dizem que é dom, outras que dizem que só conseguem ancoradas em alguma entidade. Agora falando sobre sacerdócio, eu tenho sacerdócio com a deusa Afrodite no epíteto basiles, que é o epíteto de rainha. Quando descobri meu sacerdócio foi em uma tiragem de missão de vida no Samhain, o último Sabbaths da roda do ano. No Samhain você fecha ciclo e o véu para o mundo espiritual fica mais fino, eu tomei o título para mim no Yule, o primeiro Sabbaths da roda do ano, ou seja, o meu chamado foi todo programado. Eu consagrei e Afrodite fez um acordo com Dionísio trazendo a sacerdotisa dele para trabalhar comigo. Eu tenho alguns aprendizes e as deidades delas dão metas,


coisas que precisam trabalhar nelas e o tempo para isso. Algumas pessoas podem pensar que esses aprendizes são como cultos a minha pessoa, mas não são. É para evolução, para tornar-se uma pessoa melhor e um magista mais bem-sucedido. No sacerdócio existem pontos positivos e negativos. A questão que você se encontra no mundo, você entender suas vidas passadas, ver seus aprendizes melhorando, mas é difícil, porque uma deidade é algo evoluído, por isso existem coisas que eles nos pedem que deixam com o pé atrás, não é tão fácil acatar, porque temos ego, somos canais, temos medo. Não é porque você é sacerdotisa ou sacerdote que você não terá esses momentos, nós somos humanos.


Alex Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa e não me conformava com alguns dos ensinamentos que aprendi enquanto crescia e por volta dos meus quinze anos comecei a questionar alguns conceitos religiosos. Só fui ter meu primeiro contato com a bruxaria com dezoito anos através da minha melhor amiga que é bruxa. Eu me interessei muito pelo assunto, por algumas coisas que me aconteceram, então essa minha amiga me emprestou alguns livros e eu comecei a estudar mais sobre. A bruxaria abriu meus olhos para enxergar-me como uma mulher independente e forte, pois uma das coisas na bruxaria que ficou muito marcada em mim é que todas nós possuímos o dom, nós só precisamos aceitá-lo e desenvolvê-lo. A partir da bruxaria eu comecei a entender melhor meu corpo, meus ciclos e estou desenvolvendo o autoconhecimento e o amor próprio. Hoje em dia me sinto mais segura ao cuidar de mim mesma olhando não só para o físico, mas para o emocional e o espiritual também. Tenho muito contato com ervas através dos chás e incensos e já participei de alguns rituais. Essa minha melhor amiga que me ajudou com o meu primeiro contato me deu um colar com uma turmalina negra, ela o consagrou especialmente para mim e hoje sinto a energia dele e a proteção quando o uso. Tudo o que aprendo estudando e praticando bruxaria influência no meu desenvolvimento como pessoa, tornando-me uma mulher melhor, mais conectada com a natureza, com as energias do universo e comigo mesma e com isso estou resgatando minha chama interior.


Publicado por Editora Cinese Copyright ©️ 2020 Está é uma obra com relatos reais. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sem a autorização prévia da Editora Cinese. Ilustração da capa ©️ Freepik, 2020. São Paulo/SP, 2020. Todos os direitos dessa publicação reservados à Editora Cinese.



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