Coletiva Tendências Comunicação

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#11 • DEZEMBRO DE 2015

COMUNICAÇÃO


Informar é muito mais do que dar

notícias.


Todos os dias nos entregamos de corpo e alma para contar histórias verdadeiras e emitir opiniões relevantes. Esta é a nossa essência. Nossa paixão. Não importa se é uma grande cobertura ou apenas um pequeno texto. Cada linha e cada segundo contam. Cada linha e cada segundo podem mudar uma vida, alterar um ponto de vista, mexer numa realidade. Esta é a beleza e a responsabilidade do que fazemos. E fazemos pra você, por você, com você. Para que você tenha o verdadeiro poder da informação, aquele que torna você livre, consciente e independente. E é por isso que informar nunca será apenas informar. É fazer pensar, inspirar, evoluir, acontecer.

Informar é transformar. Você, o mundo, a vida.


Do tradicional ao inovador


O

futuro do jornal impresso está em xeque desde o início deste século, e não faltam análises sobre o rumo deste meio, ameaçado

pelo crescimento da mídia digital. O certo é que, independentemente de este futuro estar no papel ou na internet, é esta que avança vertiginosamente. Tanto que – sinal dos tempos? – a reportagem que produzimos a respeito está apenas em parte aqui, no papel. Para ser conferida em sua íntegra e nos melhores detalhes, é necessário ir até www.coletiva.net/revista. É de assuntos como este que esta edição de Coletiva Tendências se ocupa e procura aprofundar. Em um mercado que se acostumou a confrontar tradição e inovação, não é difícil deparar-se com projeções que questionam o futuro de meios e formatos de comunicação. Como se pode verificar nas 108 páginas que se seguem, as transformações são cada vez mais recorrentes, mas não invalidam os métodos já consolidados. A crescente presença de dispositivos móveis no cotidiano da população contribuiu para desenhar o rompimento nas formas de comunicação até então conhecidas. Em contrapartida, são esses mesmos produtos e gadgets os responsáveis por promover a conexão entre o já tradicional e o novo. Por mais paradoxal que possa parecer, o Jornalismo se enriquece quando ferramentas de interação e participação dão vez e voz ao cidadão, em um contexto em que esta atividade profissional e seus agentes precisam exercer uma competente capacidade de adaptação. É preciso estar atento ao detalhe de que, assim como comportamento e costumes, mudam as necessidades do consumidor, seja com relação a produto, marca ou conteúdo jornalístico. Nesse ambiente, permanecerá a comunicação que entenda e atenda às necessidades do público. Na tentativa de se identificar o que vem por aí, analisamos também os caminhos para os negócios. Aqui, inovar em formatos é fundamental. Afinal, inovação é o que se busca nos negócios do mercado de comunicação, segmento que enfrenta o desafio de garantir um futuro rentável e precisa assegurar a relevância junto ao público. Como se vê, não faltam desafios. Alguns deles estão dissecados nas páginas da edição. E, importante, registre aí, detalhados no mundo digital, em www.coletiva.net/revista.

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Sumário

8

Comunicação ressignificada

Smartphones, gadgets e outras inovações tecnológicas impactam no comportamento humano e dão nova forma à comunicação

16 24

Experiência e emoção

Quando as marcas precisam ir além de palavras e imagens para atingir o consumidor, os conceitos sensoriais se sobressaem

32 40

Impregnado na vida das pessoas e longe de atingir todo o seu potencial, o mobile ainda é terreno fértil para marcas

O futuro do impresso em xeque

Enquanto alguns estudiosos e profissionais decretam o fim do jornalismo no papel, outros creem na capacidade de adaptação

Colaboração no Jornalismo

Ferramentas de interação e participação dão força ao modelo que insere o cidadão na atividade jornalística

94 100

Mais do que a caixa

Sob a ameaça de smartphones e serviços on demand, a televisão aposta na força do conteúdo para manter o posto de primeira tela

Sensibilidade no olhar

70 84

Comunicação sem barreiras

Fazer mobile

56 62

Filtro do saber

Caminhos para os negócios

Inovar em formatos é desafio para empresas de comunicação, que, em tempos de crise, ainda precisam reafirmar a relevância junto ao público

Reduzir e produzir

106

Transformação na sala de aula 6



e n g i s s re A comunicação

desconstruída

8


a d a c i f i n A

internet móvel tem como uma de suas características ser

onipresente. Junto com ela, estão os smartphones, tablets e

demais gadgets – tecnologias que transformaram o mundo de

forma irreversível. A preocupação de muitos especialistas agora é compreender, e até prever, qual será o limite – se é que existirá – de interferência desse novo cenário no comportamento humano. Há quem diga que, não muito distante, a internet estará tão entrelaçada no dia a dia que nem mesmo será necessário se conectar, ela estará presente da mesma forma natural que a energia elétrica.

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Presidente do Grupo Amanhã, Jorge Polydoro acredita que dois aspectos devem ser analisados nesta questão. No primeiro, sob o ponto de vista da racionalidade, ele considera que a tecnologia faz o ser humano mais limpo, organizado, ágil, saudável, comunicativo e longevo. O segundo faz referência aos aspectos subjetivos, às emoções, aos sentimentos, e, nesse caso, Polydoro pondera que nem sem-

Temos baixa competência para antecipar os efeitos de novas tecnologias em nossas vidas e na do planeta.

pre novas e revolucionárias tecnologias tor-

JORGE POLYDORO

vidas e na do planeta”.

nam as vidas melhores e a espécie mais feliz. Sobre o futuro desse contexto, ele é cauteloso: “Temos baixa competência para antecipar os efeitos de novas tecnologias em nossas

PRESIDENTE DO GRUPO AMANHÃ

TONY SANTOS

O professor de graduação e pós da Famecos (PUCRS) Jacques Alkalai Wainberg traz uma reflexão sob a ótica da evolução do ser humano, ressaltando que todos são testemunhas de uma nova conversação, que é a virtual, e que isso faz parte do processo, pois já houve a era da oralidade, do manuscrito, da tipografia. “Todas são maneiras inventadas para se relacionar, mas essas já não bastam mais. A internet vai proporcionando possibilidades impressionantes, superando as dificuldades de tempo e espaço”, reflete. Para o docente, apesar de aceitar o que considera a “parte boa” dessa invasão tecnológica, ele sustenta também que toda ela produz seus efeitos colaterais e alguns deles têm nome: sonambulismo diurno, autismo digital e multidão solitária. De acordo com Wainberg, essas são consequências negativas, que justificam, inclusive, certa nostalgia de muitos arredios às inovações. Entretanto, ele ameniza ao ressaltar que esta é uma sociedade que valoriza a inovação e que, sem ela, não há progresso. “Sem tecnologia, ainda viveríamos nas cavernas”, compara. 10


Para abrir novos caminhos, nosso país tem a força do aço Gerdau. A força da transformação.

O aço da Gerdau tem a força da transformação.

Diminuir distâncias é uma forma de conectar pessoas e gerar mais desenvolvimento. Para criar novos caminhos, o aço da Gerdau se transforma. Reciclamos milhões de toneladas de sucata para produzir aço de qualidade, que vai continuar abrindo horizontes para o futuro.

www.gerdau.com

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Assim caminha a humanidade Tornou-se comum caminhar na rua de cabeça baixa, olhando

FREDY VIEIRA

para o celular e sem qualquer contato visual com as pessoas ao redor, ou mesmo com a mídia externa. Sobre isso, o presidente da agência Selling, Arthur Bender, avalia que será necessária uma revolução não só nos formatos de sites e adaptações técnicas de quem produz conteúdo. Segundo ele, há pouco tempo se pensava em um sujeito parado e sentado frente a uma tela de desktop, que, agora, está interagindo com as marcas pelas redes sociais, estudando, pesquisando e comprando em uma tela pequena, na palma da mão e, na maioria das vezes, exercendo outras atividades simultaneamente. Isso significa, para o executivo, uma mudança completa na sistemática do processo comunicacional, que impacta significativamente a relação com os conteúdos das marcas. “Atenção passa a ser algo dramático”, enfatiza. Ele também salienta que essas situações, cada vez mais comuns, alteram profundamente a relação entre pessoas, pois se dá muito mais atenção a quem está distante do que àquele que está ao lado. “Ainda existe uma verdadeira obsessão por colecionar contatos e amigos nas redes sociais, é a terrível solidão desses tempos. Gente que tem milhares de amigos e que sofre sozinha por falta deles”, alerta. A socióloga e diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), Elis Radmann, reflete sobre esse novo comportamento categorizando o smartphone como um “companheiro de entretenimento e de interação social”. Segundo ela, nesse ambiente, o usuário, metaforicamente, se desconecta do mundo real e se conecta a possibilidades oferecidas. Elis diz ainda que aqueles que andam na rua com a cabeça baixa acreditam ter o mundo na palma da mão, um mundo virtual, que disputa espaço com o mundo real. Mais uma vez, Polydoro lembra que há dois lados nessas situações. Um deles é comparado com aqueles que usam fones: parte das pessoas que se isola com o celular quer isso de fato, e o smart­phone funciona apenas como uma ferramenta. “Ambos nos tornam surdos, ao menos temporariamente”, compara. Em outra perspectiva, o presidente do Grupo Amanhã afirma que, sim, as pessoas podem estar lendo Fernando Pessoa, assistindo a um bom vídeo ou ouvindo Mozart. 12

Acredito que muito em breve – talvez, depois de doentes com ‘infotoxicação’ – vamos entender que a tecnologia é ótima e pode ser uma ferramenta genial, mas não precisa ser ‘a razão das nossas vidas'. ARTHUR BENDER

PRESIDENTE DA SELLING


Calor humano Elis concorda com Polydoro quando diz que a tecnologia tem um papel importante na informação e na interação social, mas exacerba o individualismo e aumenta a distância entre as pessoas, o que torna as relações mais superficiais e amplia o mundo das aparências – “o que tenho”, “o que fiz”, “onde estive”, “como está o meu humor”. Outra consequência que deve ganhar mais atenção, aponta a socióloga, está no fato de as pessoas alimentarem a falsa sen-

O ser humano precisa da vivência social, dos relatos, do acúmulo de experiências, da troca de sentimentos e de frustrações.

sação de conhecimento, armazenando cada vez menos informa-

ELIS RADMANN

olhos; o megafone, da boca; e agora o celular, do braço”, alerta.

ção e conversando menos entre si. “O ser humano precisa da vivência social, dos relatos, do acúmulo de experiências, da troca de sentimentos e de frustrações”, garante. Para o professor Wainberg, o futuro é incerto e perigoso, pois o mundo está perdendo o controle sobre as máquinas, que ganharão ainda mais autonomia, e nada assegura que isso irá parar ou diminuir. “É um mundo totalmente novo e nunca imaginado. O ser humano sempre brincou de Deus: o binóculo é a extensão dos

SOCIÓLOGA E DIRETORA DO INSTITUTO PESQUISAS DE OPINIÃO (IPO)

Por outro lado, ele também ameniza dizendo que não é preciso ARQUIVO PESSOAL

ter uma relação fóbica com as tecnologias, uma vez que o objetivo delas é agregar. Ou seja, para o intelectual, o mundo vive uma guerra entre “tecnofilia” e “tecnofobia”. A tendência, na opinião de Elis, é que exista uma fusão entre as plataformas, que coloque todas as mídias em um único local, mantendo vários formatos. Neste contexto, haverá capacidade de definir a informação que se deseja receber, o que tornará o usuário menos passivo e mais ativo, por ter a capacidade de selecionar o que interessa. A socióloga projeta ainda que, após a máxima do individualismo e da frustração gerada pelo sentimento de solidão, virá um tempo de restabelecimento gradual dos elos de interação social. Sobre esse aspecto, Wainberg resume: “A oralidade tem uma virtude que nenhuma outra tem, que é gerar intimidade”. Polydoro complementa a ideia ao afirmar que, enquanto houver a libido e o afeto, haverá contato interpessoal. Para ele, as comunidades em geral tendem a se reunir para realizar trocas, praticar jogos, comer, beber, etc. As grandes concentrações humanas em parques, estádios, praias, shows se multiplicam pelo mundo, conforme ele.

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Integração real e virtual Arthur Bender aposta de forma enfática no conceito de Internet das Coisas, pelo qual os objetos interagem com outros equipamentos, acumulando dados, compartilhando informações, adaptando-se. Para ele, esta é a próxima fronteira que

Sonambulismo diurno, autismo digital e multidão solitária são os efeitos colaterais dessa invasão tecnológica.

afetará o modo como se lida com a privacidade e com o compartilhar de informações. “Minha crença é de que a soma de Big Data com Internet das Coisas será uma revolução muito maior do que a que estamos vivendo com redes sociais e suas transformações.” Polydoro partilha da mesma previsão e lembra que a nuvem já está facilitando o armazenamento de dados e informações de maneira ampla, geral e econômica. Já o Big Data,

JACQUES WAINBERG

na medida em que coleta e organiza informações de todas

PROFESSOR NA PUCRS

cidade e infernizar as nossas vidas!”. Bender aprofunda sua análise e a leva para o viés mais humano da tecnologia, que, segundo ele, pode e deve caminhar lado a lado com o “mundo real”. Para o executivo, tudo que não se tem hoje é aquilo que não se pode comprar e que de tão simples passou a ser valioso: tempo, atenção, afeto, respeito, confiança, olho no olho, abraço afetuoso, consideração. “Acredito que muito em breve – talvez, depois de doentes com ‘infotoxicação’ – vamos entender que a tecnologia é ótima e que pode ser uma ferramenta genial nas nossas vidas, mas que não precisa ser ‘a razão das nossas vidas’.” Diante da possibilidade de avanço da tecnologia versus o crescimento do individualismo, Elis questiona qual será o tempo de cada um: “Quanto tempo irá se perder até que se tenha consciência do que é aparência e do que é essência? Do que é supérfluo e do que é necessário?”. Ela mesma responde afirmando que as pessoas que possuem raízes familiares e valores pessoais terão mais capacidade de usufruir das tecnologias e da interação social em sua forma mais plena. “Os demais passarão por vários estágios de comportamento. Uns aprenderão e outros precisarão de ajuda profissional para tratar as doenças sociais causadas por esta tendência”, provoca. 14

BRUNO TODESCHIN

as origens possíveis, “vai misturar tudo, diminuir nossa priva-


As estatísticas confirmam Se a máxima só acredito vendo funciona, vale a pena prestar atenção em

alguns números levantados pelo Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), que

35

a socióloga Elis Radmann apresenta à revista Coletiva Tendências (Comunicação):

% dos gaúchos utilizam smartphone (sendo que em Porto Alegre o índice representa 46% da população).

O maior percentual de aderência a essas mídias ocorre entre a população de

16 35 a

anos

52,3%

dos gaúchos usam redes sociais em todas as faixas de idade e renda.

Quanto maior a escolaridade e a renda familiar, maior é a

participação em redes sociais.

Entretenimento, estar ligado e se ocupar são algumas justificativas apresentadas pelos jovens para o uso das redes sociais. A população vê nas redes a possibilidade de

"manter o contato com amigos e família”, "permanecer informado sobre os acontecimentos” e "ampliar”.a rede de contato e desenvolver relações comerciais”. Entre o público adulto (especialmente a inativa economicamente), as redes são acessadas pelos computadores ou notebooks. Entre os jovens e a população economicamente ativa, destacam-se os smartphones.

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Filtrar para não

sobre carre gar I

nformação de mais, tempo de menos. Essa é a conclusão de

um estudo feito pelo doutor Ryon Braga, especialista em gestão educacional e presidente do Conselho da Hoper Educação, em

2007. Há oito anos já se tratava sobreissoatravésdolevantamento O Excesso de Informação – A Neurose do Século XXI. Nele, Braga escreveu: “Se o indivíduo não consegue desenvolver mecanismos para coletar e transformar dados e

fatos em informação, de nada vale ele ter acesso”. Como imaginar isso nos próximos cinco anos?

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Será possível absorver a onda de informações que é recebida diariamente? Ou melhor, será que é preciso absorver tudo? Para a psicóloga, jornalista e publicitária Milene Bordini, é necessário ter a capacidade de separar o que realmente será útil. “Assim como os computadores e celulares possuem uma capacidade finita de memória, costumo dizer que os seres humanos também”, argumenta.

meio predominante no País. O estudo aponta tam-

A melhor maneira de transformar todas essas informações em conhecimento é por meio de filtros.

bém que os brasileiros gastam, em média, cinco

JORNALISTA E FUNDADOR DA PROFILE PR

A edição 2015 da Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM), encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) e realizada pelo Ibope com mais de 18 mil pessoas, mostra que a televisão continua sendo o

RODRIGO VIEIRA DA CUNHA

horas do dia navegando na internet e que os jorARQUIVO PESSOAL

nais impressos são os veículos mais confiáveis. Agora, reúna tudo isso. Com a convergência midiática e o avanço da segunda tela, as pessoas se acostumaram a desempenhar ao mesmo tempo atividades como assistir TV, interagir nas redes sociais, ouvir música e, se duvidar, ainda ler algo. Não, o cérebro não consegue armazenar tudo. “E, na verdade, não precisa. A melhor maneira de transformar todas essas informações em conhecimento é por meio de filtros, escolhendo o que é mais importante e útil”, explica o jornalista e fundador da Profile PR, Rodrigo Vieira da Cunha. A mesma ideia tem o jornalista, escritor e editor do Medium Brasil, Leandro Demori, que defende a necessidade de separar o que presta do que não presta e, no caso de profissionais da imprensa, publicar apenas a primeira opção. “Tem se falado muito em curadoria, que é uma nova roupa para o que o jornalista sempre fez, mas se chamava edição. Essa separação deve ser o primeiro passo, pois ser um curador de conteúdo é como colocar as informações em grandes caixas de editorias.” 18


Atenção fragmentada Com tamanha oferta de conteúdo e informação, muitas vezes não se sabe no que focar. Um estudo compartilhado na Revista Galileu por Bia Granja, cocriadora e curadora do YouPix e da

Nas mãos dos jovens

Campus Party Brasil, revela que 25%

Aprender a distinguir o que é prioridade é a tare-

das músicas do Spotify são interrom-

fa dos jovens para o futuro, na opinião de Milene.

pidas após cinco segundos de execu-

Ela ressalta que, quando a memória interna dos

ção. E que metade dos usuários troca

aparelhos tecnológicos esgota-se, eles precisam

de trilha antes do seu final. No YouTu-

de uma externa, de um apoio, e com as pessoas

be, as pessoas passam, em média, 90

acontece o mesmo. A psicóloga brinca: “Tal infor-

segundos assistindo a um vídeo.

mação não é útil para o momento? Deixe para ar-

O estudo do doutor Ryon Braga, por exemplo, registrou que, se tudo que

mazenar depois. Libere espaço para o que realmente seja necessário”.

uma pessoa guarda no HD do seu com-

A interferência dessa torrente de informações

putador fosse impresso, os papéis não

na vida dos jovens é clara para Demori, que acre-

caberiam dentro de sua casa. Na atua-

dita ser algo ainda imensurável – aliás, na visão

lidade, somam-se à memória do PC o

dele, isso será possível em 20 anos talvez. “Há es-

HD externo e os serviços de armaze-

tudos que dizem que essa quantidade de infor-

namento em nuvem, como Google Dri-

mações disponível dispersa a atenção do público

ve e Dropbox. A ideia de ter tanta in-

ou impede que ele se concentre, mas, particular-

formação à disposição não significa que

mente, acho cedo para fazer uma afirmação des-

seja preciso guardar 100% dela.

sas”, pondera, salientando que as pessoas ainda

Para o escritor, jornalista e profes-

estão deslumbradas com os novos cenários e que

sor da Uniritter Marcelo Spalding, com

há muito caminho para aprender a lidar com eles.

uma mudança de linguagem e aborda-

O potencial de classificar informações também

gem dos conteúdos, as pessoas pode-

é destacado pelo sócio-diretor da produtora Mí-

rão selecionar o que realmente inte-

nima José Pedro Goulart. Ele observa que as pes-

ressa a elas. Cunha também defende

soas, em geral, julgam atividades como ler um livro

esta linha. “A curadoria está cada vez

uma perda de tempo, pois consideram que, com

mais conhecida e popular. Por meio dos

milhares de informações mais “relevantes” circu-

filtros disponíveis, principalmente na

lando nos canais de comunicação, elas podem per-

internet, é possível buscar informações

der o hit do momento. “Saber utilizar o tempo de

específicas, sem precisar ficar navegan-

forma a transformar o que está sendo consumido

do a esmo na rede. No futuro, aconte-

em conhecimento, em algo que agregue, é sabe-

cerá de forma melhorada e mais fácil

doria, além de ser essencial para que todo con-

ainda”, estima.

teúdo produzido não seja apenas mais um”, afirma.

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Orientar para transformar Não é somente responsabilidade do receptor saber filtrar e transformar em conhecimento tudo que ouve, vê e lê no dia a dia. Os produtores de conteúdo também carregam parte dis-

por ter a especialidade de selecionar, editar as informações

Tal informação não é útil para o momento? Deixe para armazenar depois. Libere espaço para o que realmente seja necessário.

para serem passadas adiante, de modo que cheguem me-

PSICÓLOGA, JORNALISTA E PUBLICITÁRIA

so. De acordo com Demori, a avalanche diária de informações está posta e não há como mudar, mas ele não considera que, no futuro, essa seleção “do joio e do trigo” seja natural. O jornalista argumenta que as pessoas não têm noção de tudo que se consome, especialmente no ambiente online. Neste processo, Spalding identifica dois profissionais que devem se sobressair: o professor e o jornalista. “O primeiro, por ter o dom de ensinar o aluno a perguntar, a criar conceitos do tema, a elaborar uma linha de raciocínio. O segundo,

MILENE BORDINI

bas as funções. Para José Pedro, outros responsáveis por garantir um futuro melhor da nova geração em relação ao conhecimento são os pais. “Hoje em dia, as crianças sabem usar o smartphone desde muito cedo, têm até perfis nas redes sociais. Os pais devem dar os limites e ensiná-los desde pequenos a separar o que é importante e o que não é. Além de mostrar que existe muito conteúdo perigoso, principalmente na internet, e a filtragem ajuda a eliminar isso”, alerta ele. Cunha sustenta que a tecnologia é fundamental para a evolução da capacidade de pensar e aprender, mas o essencial é saber como usar. Já Demori faz uma análise do ponto de vista da edição de conteúdos: “A tecnologia tem, sim, um papel muito importante nesse novo cenário, pois ela também faz recortes da informação. As plataformas não são isentas, pois cada uma tem seu público e precisa conversar com ele”, defende. Milene complementa a ideia dizendo que os educadores devem prestar atenção nos jovens, uma vez que eles passam muito tempo no mundo virtual. Conforme ela, eles vivem em uma realidade paralela e com acesso a tudo, podem estar passando por dificuldades e os pais nem saberem, pois se apoiam na internet para compartilhar suas vidas e buscar ajuda. 20

ANDERSON PONTES

lhor aos públicos de interesse”, explica ele, que exerce am-


Seletivo e ativo Mesmo que se tente, é impossível ficar alheio ao

formação aconteça cada vez mais e melhor, diz o

cenário atual. A psicóloga, por exemplo, garante

professor Spalding. “O Google, por exemplo, não

que não há como ficar estagnado em relação ao

deve ser a única fonte dos jovens, seria bom se

que acontece na volta, pois, mesmo involuntaria-

outras empresas ou negócios como esse surgis-

mente, todos são atingidos pela enxurrada. Para

sem para concorrer”, sugere. José Pedro completa

Cunha, são as escolhas que moldam a essência

afirmando que a inovação na forma de transmitir

de cada um. Ou seja, em sua opinião, aprender a

a mensagem se dará buscando novos modelos de

escolher o que se quer que o cérebro armazene

comunicação. Como fazer isso? Ouvindo o que os

não é somente uma tendência para o futuro, mas

consumidores querem e criando, a partir disso,

uma etapa primordial para a melhoria da comu-

informação que se transforme em educação, co-

nicação entre pessoas e veículos com o público.

nhecimento e mude vidas. É isso que os profissio-

No digital, a previsão é que essa seleção de in-

nais da área devem buscar para os próximos anos.

Síndrome do

CfoErmSaSçãO EdX o e In

Ryon Braga descreve em seu artigo O Excesso de Informação – A Neurose do Século XXI o que é a Síndrome do Excesso de Informação. Segundo o especialista, ela ainda não é uma doença, mas faz parte dos componentes do estresse associado ao trabalho e, já em 2007, começava a apresentar características próprias. Braga afirma no estudo que, na medida em que a ansiedade no trato com a informação vai crescendo, o nível de estresse vai subindo, com consequências mais graves para o nosso organismo. Ele pondera, entretanto, que esse cenário se agrava pela falta de capacidade do ser humano em lidar com o excesso de informação e não, isoladamente, pela quantidade de informações. O autor alerta, ainda, para o crescimento dessa síndrome em pessoas mais jovens: “Processos de degeneração precoce da memória, que antes só apareciam em pessoas com mais de 50 anos, agora, passam a ser encontrados em pessoas com idade entre 20 e 40 anos”. O estudioso ressalta que especialistas do Grupo de Estudos em Linguagem da Universidade de São Paulo (USP) acreditam que tal fato se deva ao excesso de informações e estímulos que bombardeiam o cérebro diariamente. Para Braga, tudo isso tem origem nos meios de comunicação, no telefone celular e, principalmente, na internet. E diz mais: de acordo com seu estudo, um dos sintomas da síndrome aparece quando se demora muito para desligar das atividades diárias, mesmo quando se está fora delas.

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Libertação Muita gente relaciona inovação com tecnologia ou com desenvolvimento de novos produtos, mas é só dar uma olhada para a história das empresas mais inovadoras e disruptivas do mundo para perceber que inovação é muito mais do que isso. No final do

Com maior rapidez e de forma simultânea, hoje manuseamos um volume impressionante de informação, o que nos exige muito mais articulação mental, e a possibilidade dinâmica da fragmentação obrigou nossas mentes – treinadas antes de forma cartesiana – a se adaptarem e produzirem a integração necessária. Ou seja, estamos INOVANDO a LINGUAGEM.

ano passado, o pianista e inovador norte-americano John Kao visitou Porto Alegre. Mr. Creativity, como é conhecido, diz em seu último livro, Innovation Nation, que até hoje procura uma definição para a palavra INOVAÇÃO! Ou seja, um dos mais renomados inovadores do planeta não só ainda não encontrou uma definição que considere satisfatória para inovação, como também faz uma interessante provocação: ele diz que precisamos INOVAR A INOVAÇÃO.

A transformação da linguagem também nos oferece um acréscimo de sensorialidade e um aumento de percepção extraordinário. A imagem é o eixo central dessa revolução e, graças às suas telas móveis, ganhou um protagonismo impressionante. O grande desafio agora é entendermos seus novos usos. Ou seja, não apenas o da linguística, o da palavra, mas também o uso da linguagem sensorial. Sensorial e intuitiva. Afinal, ao contrário da escrita e do código verbal, a imagem não é precisa, a imagem é ABERTA e AMBÍGUA.

Talvez tenhamos mesmo que ressignificar inovação, talvez inovação não tenha a ver somente com o novo, talvez inovar seja apenas fazer diferente. Mas o diferente, o desconhecido e, principalmente, o novo assustam, mesmo que Freud tenha garantido que a civilização é um movimento e não uma condição.

E mais: Texto, som, imagem e sensações convergem para criar uma experiência sensorial única, uma colagem caleidoscópica quase sem limites. E não estamos sequer utilizando um terço das ferramentas tecnológicas que vão invadir nossas casas, carros, coisas, corpos e desejos. A verdade é que a linguagem está fragmentada, intermitente, simultânea, e isso gera um comportamento que pode ser percebido como perturbado e esquizofrênico.

Eu não tenho dúvida de que vivemos um novo Renascimento. Uma revolução cultural sem precedentes, da qual surge um novo ser humano, o ser humano hiperinformado. Hoje, com apenas um clique, temos acesso a todo o conhecimento produzido pela humanidade em cinco mil anos. E o que antes só era possível a partir do esforço coletivo, agora está ao alcance de todo e qualquer indivíduo que disponha de uma conexão de internet – mesmo como a nossa. O coletivo hoje está dado, vivemos na grande rede.

Onde quero chegar? Basicamente, na ideia de que inovação é evolução. Inovar é humano. Natural. Inovamos diariamente, intuitivamente, inadvertidamente. Inovamos para nos manter vivos, operantes, participantes, mais eficientes, mais atraentes, mais rápidos. A revolução digital é poderosa não apenas porque produz ferramentas tecnológicas e sim, mas também porque está a serviço da interação.

Talvez vocês não lembrem do Olavo, que frequentava as cartilhas onde a minha geração aprendeu a ler da esquerda para direita até o ponto final, nova linha. Pois bem, desconfio que Olavo perdeu o emprego. Afinal, quase sem perceber e numa velocidade assustadora, digitalizamos a cartilha, e o padrão linear de leitura foi pro espaço! A leitura agora é fragmentada e em layers.

É, portanto, uma questão comportamental.

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A EG OT NB SO F ER JEF

FLAVIA MORAES

DIRETORA DE INOVAÇÃO E LINGUAGEM DO GRUPO RBS

Nos últimos 18 meses dirigindo um projeto encomendado pelo Grupo RBS, viajei milhares de quilômetros para entrevistar estudiosos, pensadores, professores e consumidores de comunicação. Como não sou jornalista, nem pesquisadora, encarei o projeto como realizadora cinematográfica e foi com esse olhar que minha equipe e eu conversamos com mais de 300 pessoas, tentando entender o impacto da revolução tecnológica nas suas vidas. O resultado deste trabalho tem sido debatido em universidades no Brasil e no mundo, em fóruns como Stanford, Singularity e MIT (Massachusetts Institute of Technology). Além de estudantes e acadêmicos, o conhecimento gerado pelo estudo também está sendo compartilhado com o mercado e com o público e ainda serve de base para todos os projetos de inovação que estamos conduzindo no Grupo RBS.

figuras absolutamente geniais, e que colaboraram com sua visão para o estudo, destaco o diretor da Biblioteca de Harvard, professor Robert Darnton. Depois de uma brilhante entrevista, saímos – Mr. Darnton e eu – numa manhã gelada de Boston, em busca de um café e, durante nossa conversa, dividi com ele a dificuldade que estava encontrando para formatar as centenas de horas de entrevistas que já tinham sido gravadas. Contei que a ideia de montar um documentário, além de óbvia, parecia tímida. Afinal, mesmo que o produto final fosse uma minissérie, eu seria forçada a reduzir e cortar grande parte do material, o que passaria necessariamente por uma edição, um filtro. Eram soluções literalmente reducionistas. Darnton pensou um minuto e me disse: “For new problems, old solutions.”

Aliás, eu sempre me pergunto… Por que tanta gente está interessada neste tipo de conteúdo?

E completou: “Think about Alexandria, my dear… Build a library!”

É claro que existem várias explicações para este interesse, mas eu queria destacar uma em especial: a nossa obsessão pela modernidade. A vontade de transformar e de não aceitar as coisas como elas são.

E, simples assim, aquele grisalho e transbordante octogenário me deu de mão beijada uma solução milenar e ao mesmo tempo inovadora: uma biblioteca.

Na minha opinião, somos viciados em modernidade, e a modernidade, pasmem, é uma senhora que nasceu no século 17, que foi – e continua sendo – a busca por uma outra visão de mundo, uma visão que empoderou a razão e libertou a inventividade do homem. A modernidade surgiu logo após o terremoto que destruiu Lisboa, quando as pessoas se perguntaram se não deveriam parar de colocar tudo nas mãos de Deus e ir à luta. O estudo The Communication (R)evolution não pretende ser um mapa ou receita de futuro, mas aponta 11 premissas de comportamento, para que cada um chegue a suas próprias conclusões. Entre tantas

Volto então ao princípio deste texto. O que é inovação? Quem são os inovadores? O que precisamos para nos tornarmos inovadores? Ser mais curiosos? Intuitivos? Observadores, talvez? Aceitar a diversidade? Aprender a colaborar? Ter coragem? Ressignificar tempo e espaço? Ou simplesmente aceitar o erro e aprender com ele? Tudo isso já foi dito e, com certeza, tudo é requisito para inovar. Mas, acima de tudo, arrisco dizer que inovação é LIBERTAÇÃO! Para ser inovador, é preciso ser livre no sentido mais espontâneo e original da palavra, livre para jogar, para se divertir, brincar e arriscar como uma criança ou um octogenário.

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A era da experiĂŞncia

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Q

ue os consumidores são motivados tanto pela razão como pela emoção, isso se sabe. O fato é que, mais

do que nunca, eles estão em busca de experiências, de algo que justifique a decisão de compra, pois oferecer qualidade é o básico, não um diferencial. Nesse contexto, o Marketing Sensorial vem ganhando visibilidade e espaço como uma ferramenta que pode, finalmente, ser fundamental para que o cliente se decida pela compra de um produto ou serviço.

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É verdade que este conceito não constitui uma novidade – o primeiro artigo sobre o assunto surgiu em 1979, assinado por Philip Kotler –, mas merece atenção devido ao seu crescimento. Conforme especialistas, ele vem ganhando espaço como uma alternativa para atingir o subconsciente dos consumidores, com mensagens que vão além de palavras ou imagens. O Marketing Sensorial é definido como a ação de fixar uma marca, produto ou serviço na mente do consumidor através do estímulo aos sentidos e formando, assim, um vínculo emocional. De acordo com a autora do livro  Merchandising no Ponto de Venda, Regina Blessa, os sentidos são percebidos da seguinte forma: 3,5% por olfato; 83% através da visão, 1% pelo paladar, 1,5% pelo tato e 11% por audição. Ou seja, o Marketing Sensorial busca trabalhar 100% dos sentidos. Professor e coordenador da pós-graduação em Marketing da ESPM-Sul, Artur Vasconcellos dá um bom exemplo: “A Nike é uma referência de marca que vende experiência. Por acaso, ela também vende produto. Mesmo assim, um tênis vem com um chip que mede a performance do atleta, a camiseta do time pode ser personalizada com o nome do consumidor”. O docente lembra que, hoje, é possível comprar muitas coisas pelo celular e, nessa extensa busca do consumidor por conveniência, é importante que as marcas compreendam: é preciso despertar sentimentos e sensações que justifiquem esse deslocamento. Ana Paula Costa, diretora-executiva da Blue Mint, empresa especializada em conceitos sensoriais, também acredita que a área vem crescendo em prestígio e credibilidade nos últimos tempos. “Toda ferramenta nova de Marketing passa por um período de indagações, questionamentos, desconfianças. Mas o fato é que ele está posto, já é uma realidade e vai, sim, ganhar mais espaço ainda”, garante ela, que também leciona uma disciplina sobre o tema. A empresária destaca ainda que criou um conceito próprio sobre Marketing Sensorial, que “não está em livros e nem é defendido por nenhum teórico”. Para ela, a ferramenta está focada em transformar relações racionais em elos afetivos, pois toda busca sensorial é movida a estalar emoções. 26


O que é e o que não é No Marketing Sensorial, não há obrigatoriedade de usar simultaneamente todos os cinco sentidos humanos. Ao mesmo tempo, oferecer algo que mexa com apenas um também não se enquadra no conceito. Ana Paula explica que as marcas olfativas (cheiros criados ou escolhidos exclusivamente para de-

Com ações bem feitas de Marketing Sensorial, é quase impossível não impactar o público. ARTUR VASCONCELLOS PROFESSOR NA ESPM-SUL

terminada marca), por exemplo, têm alta aceitação com o público, mas, isoladas, não oferecem muito. “Se fosse assim, todas as agências de publicidade já fariam Marketing Sensorial há anos através da visão”, defende. Vasconcellos apoia a ideia e acrescenta que as ações voltadas aos cinco sentidos devem conversar entre si. Segundo o professor, é necessário identificar os pontos de contato com o consumidor e conhecê-lo fora daquela marca. Saber o estilo de vida, seus hábitos, seus gostos, etc. “Marketing Sensorial

ARQUIVO PESSOAL

preza pelos detalhes, por encantar na simplicidade”, resume. Um exemplo é o caso da marca Mentos, que, ainda neste ano, instalou um tobogã no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre. De acordo com Vasconcellos, foram explorados o visual, com toda a identidade da marca, o tato, pois as pessoas podiam tocar e interagir com o brinquedo, o paladar, por se tratar de uma goma de mascar, e, por fim, o olfato, com o cheiro bem específico de frescor do produto no tobogã. Ana Paula relata um evento que promoveu com o tema Casa de Vó. No local, foi produzido bolo de milho para os presentes, e o espaço exalava uma essência da especiaria. As cadeiras em estilo mais antigo tinham em seu assento uma manta de crochê, e a decoração apostou em elementos com madeira e cores suaves. “É uma forma de fazer o consumidor se conectar com a marca de forma mais disposta e profunda. É o que se busca: gerar experiências através do Marketing Sensorial”, conta. A empresária enfatiza que tudo pode ser feito de modo sutil, com os elementos apresentados de maneira quase despercebida e conectados com a história e propósito da marca. E dá certo? Para Vasconcellos, sim: “Com ações bem feitas de Marketing Sensorial, é quase impossível não impactar o público”.

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O que vem por aí No caminho futuro, o Marketing Sensorial deve explorar novas opções, argumentam o professor e a empresária. Ambos concordam que a tecnologia, apesar de não ser essencial para oferecer elementos experienciais, estará ainda mais a favor dessa área.

Todos os materiais escolhidos para o PDV podem trazer uma experiência sensorial.

Para Ana Paula, muito se tem a aproveitar dessa ferramenta, mesmo que o conceito já esteja instalado. “A forma para encontrar essas novidades dependerá do perfil criativo de cada profissional.” Vasconcellos também entende que a tendência é o crescimento, uma vez que essa “amarração” será ainda mais

LUIZ MAGALHÃES

SÓCIO-DIRETOR DA LM GRUPO DESIGN

concreta na medida em que as orga-

ARQUIVO PESSOAL

nizações perceberem que não precisam ser pontuais em suas ações, tudo pode estar interligado. “O que as marcas precisarão fazer é, com todos esses aspectos, criar algo inesquecível na vida do consumidor, algo memorável, para realmente marcar a vida do cliente.” Ele cita o show Nívea viva Tim Maia, com Ivete Sangalo e Crioulo, como um “grande acerto” proporcionado pela marca. Tradicionalmente, grande parte do orçamento de marketing é destinada a ações visuais, em especial, com peças publicitárias. No entanto, a partir do conceito de experiências sensoriais, apenas imagens e logotipos não bastam. Há outros elementos que estimulam a visão, como iluminação, cores, revestimentos, etc.. Tudo isso pode tornar um ambiente agradável ou não. 28


Experiência com coerência A arquiteta Paula Posser, especializada em lançar

De fato, é difícil aguçar todos os sentidos em

boutiques eróticas, enfatiza que, no ramo dela, o

um mesmo PDV, mas é possível, por exemplo,

ponto de venda não vende só com projeto arqui-

explorar visão, tato, audição e até mesmo olfa-

tetônico. “Às vezes, a marca só pensa em vender,

to. Imagine uma loja de óculos de sol que utiliza

vender e vender e esquece de proporcionar ao

um cheiro de água salgada no seu interior. Isso

cliente uma experiência mais emotiva, para que ele

pode desencadear a sensação ou a memória

se sinta, de alguma forma, acariciado”, sustenta.

do período de férias. Para Magalhães, há uma

Luiz Magalhães, sócio-diretor da LM Grupo De-

explicação simples: “Todos os materiais esco-

sign, vai mais a fundo na reflexão sobre o chama-

lhidos para o PDV podem trazer uma experiên-

do PDV e afirma que esse, diferentemente da pro-

cia sensorial”.

paganda, não tem tempo de impacto para contar

Escolher um clima musical é outra opção, e

uma história, para envolver. É uma comunicação

pesquisas não faltam para provar a resposta emo-

“bate-pronto”. Conforme o empresário, o que im-

cional dos consumidores a este estímulo. Poder

pressiona é a coerência do conteúdo publicitário

tocar nos produtos ofertados também é essencial,

com o ponto de venda. “Ele faz parte de um con-

bem como os tecidos escolhidos para o ambiente,

ceito, uma estratégia muito maior. Costumamos

acionando o tato. Além disso, cliente com fome

dizer que o Design tem o poder de síntese da co-

não efetiva compra na maioria das vezes. Ou seja,

municação, em função desse tempo menor de im-

criar ações para atingir todos os sentidos pode

pacto no consumidor”, pondera.

alavancar diretamente as vendas.

O caminho das pedras Para a aplicação prática desse conceito, avalia

para Paris, e não para Porto Alegre”, brinca, para

Paula, as pesquisas de grupo focal podem cons-

completar em seguida que qualquer ação de Mar-

tituir um ótimo auxílio. Muitas vezes, reúne cer-

keting Sensorial deve entrar no projeto já no seu

ca de 50 pessoas e questiona tudo que for pos-

início de concepção, pois ele conta a história de

sível ligar com determinado tema, mesmo que

uma marca, um evento, uma pessoa.

de modo indireto, como música, filme, livro, etc.,

Magalhães acredita que ainda se tem muito a

para poder transpor essas preferências para a

descobrir nessa área até que se consiga praticar,

arquitetura.

de fato, essas experiências, especialmente no va-

Ela salienta ainda que, por mais que o cliente

rejo. Para ele, tudo ainda é um desafio e um obje-

tenha uma ideia bem definida, um manual de iden-

tivo. “Ao pensar no sensorial, criar experiências,

tidade da marca, um objetivo traçado, os consu-

se bem planejadas, todas as ações vão atingir o

midores podem dizer muito mais a ele. “Se não

que pretendem, que é emocionar, envolver, contar

fizermos essas pesquisas, podemos projetar algo

uma história”, garante.

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Direto às emoções

Marketing Sensorial está diretamente ligado a experiências e, no mesmo caminho, é possível encontrar outra área que busca mexer com os sentimentos dos consumidores: o Design Emocional. Mais amplo do que o tradicional Design, ele lida não apenas com conceitos da sua área, mas também se alimenta de Ergonomia, Usabilidade, Sociologia do Consumo e, até mesmo, Psicologia. A designer e sócia-diretora da anGema, Jennifer Forell, acredita no potencial da área e defende que é por meio das emoções que o cérebro define o que tem valor. Segundo ela, as pessoas amam as marcas, mas não são capazes de lembrar de alguma parte do volume infinito de publicidade a que são expostas diariamente sem um estímulo para isso. “O design emocional, conectado ao branding, aproxima marcas a seus clientes através de uma experiência”, explica ela, que também leciona disciplinas sobre o assunto no Senac. Se, no futuro, a visão dos especialistas se confirmar, a tendência é que as marcas busquem, cada vez mais, conhecer o consumidor, como preconiza a arquiteta Paula Posser, que aposta de forma enfática nas pesquisas de mercado. Com isso, o Design Emocional será capaz de aumentar o valor do que é oferecido, utilizando a qualidade como ponto-chave para estampar estratégias. Jennifer concorda e complementa: “Quanto mais profunda for a pesquisa e a análise, maior será o sucesso de um projeto de Design Emocional”.

Sentimentos e tecnologia Jacek Utko é arquiteto por formação, mas decidiu seguir a carreira no Design. Ele se consolidou na profissão criando capas de jornais da editora sueca Bonnier, e arrecadando muitos prêmios com elas, conforme conta em um vídeo do TED. Utko descobriu o Design Emocional de uma forma inusitada: foi a um espetáculo do Cirque du Soleil e percebeu que o show transformou o comum em extraordinário, através da beleza e da emoção. Ele foi atrás disso e deu certo. Diretor de Criação da Trinca, Roberto Fonseca também aposta no crescimento do Design Emocional nos próximos três anos. “O grande desafio será saber exatamente o que o consumidor está sentindo no exato momento em que ele é impactado pela mensagem”, prevê. Na 30


visão dele, a tecnologia será uma grande aliada dessas novas ferramentas, pois terão subsídios de áreas como Big Data e Neuromarketing. Por outro lado, alerta: “Por mais que a gente conheça de tecnologia, nem sempre ela dá certo para todo e qualquer cliente”. Fonseca cita exemplos de cases já trabalhados pela Trinca, que tiveram mais ou menos investimentos tecnológicos. No campo off, ele conta sobre uma rede de lojas de surfe que queria proporcionar

O grande desafio será saber exatamente o que o consumidor está sentindo no exato momento em que ele é impactado pela mensagem.

experiências. Foram cogitadas ações simples como pintar uma onda na parede, colocar areia de praia no provador, o som ambiente do mar ao fundo, entre outros. No fim, o que realmente deu certo foi criar uma essência para a loja – marca olfativa – com cheiro de parafina, característico para praticantes do esporte. Já sobre experiências digitais, Fonseca comenta uma ação que usava um aplicativo móvel para convocar consumidores a conhecer um espaço físico. No local, foi oferecida uma visão 360 graus do centro de São Paulo, contando a história dos prédios no entorno.

O que esperar

ROBERTO FONSECA

DIRETOR DE CRIAÇÃO DA TRINCA

A tecnologia tem muito a oferecer em termos sensoriais, diz Fongino que, daqui a poucos anos, tu vais poder pular da estratosfera sem sair de casa, dropar uma onda no sofá de casa. Isso pode ser proporcionado e patrocinado por marcas que se conectem com

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seca, que aposta na realidade virtual como tendência na área. “Ima-

experiências”, projeta. Na visão do diretor de Criação, as marcas só têm a ganhar com o avanço da tecnologia ao lado do Design Emocional, porém, as agências que se mantiverem no formato tradicional poderão – e deverão, conforme ele – perder espaços. Jennifer atua mais no campo offline, mas também crê na maior visibilidade da área. De acordo com a designer, existe um movimento de necessidade em se sentir único e especial em relação às marcas e também de coletividade, conexão entre as pessoas em diversos segmentos. Por conta disso, não vê uma saída que não passe pelo relacionamento com os públicos. “Publicidade, Marketing e a Comunicação são fundamentais, mas devem ser o complemento de uma estratégia de negócio que se alimenta de muitas outras áreas.”

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Integração a convergência do futuro

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N

o Brasil, o número de linhas de telefonia móvel ultrapassa em 77,7 milhões o de habitantes, segundo pesquisa

elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este é apenas um dos indicadores que demonstram a força das tecnologias digitais, um cenário que ganha mais atenção com o crescimento do fenômeno da segunda tela. A transformação está em curso e recebe reforço constante, com o surgimento de novos dispositivos. Enquanto multiplicamse as possibilidades, às marcas, e àqueles que as fazem, cresce o desafio: como manter a relevância e envolver o público?

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Além do aumento significativo no número de

Desde a criação da W3haus, em 2000, o CEO

informações em circulação, principalmente na

da agência, Tiago Ritter, diz que a equipe tinha a

internet, o acesso a aparatos como smartphones

convicção de que uma revolução digital estava

e tablets foi facilitado a uma parte da população

por vir e que mudaria para sempre a forma de

que, até então, não tinha recursos para usufruir

viver e de se comunicar. E parece que estavam

dessas tecnologias. Para o diretor da agência de

certos. Para ele, os dias eram fatiados em mo-

conteúdo Cartola, Sebastião Ribeiro, a mudança

mentos específicos: hora de trabalhar, de cuidar

de postura dos clientes obriga os profissionais

da família, de falar com os amigos, de se divertir.

de comunicação a mudarem também. Já Rafael

Hoje, não é possível delimitar uma fronteira. “Res-

Motta, diretor de projetos da consultoria O Me-

pondemos a um e-mail durante o jantar e fica-

lhor do Marketing, afirma: “Integrar é uma pala-

mos emocionados com uma foto do filho que

vra interessante quando se fala em convergência

chega pelo WhatsApp em plena jornada de tra-

digital, sobretudo na rede. O mobile dá, também,

balho”, exemplifica, para em seguida completar:

credibilidade para pessoas desconhecidas, como

“Essa convergência já existe em nossas vi-

acontece nos blogs”.

das há um bom tempo e a comunicação das marcas segue essa tendência. Agora, temos que nos preocupar mais com o contexto do que com o meio”.

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Foco no consumidor Ninguém vive de amor e todo mundo sabe disso. Até mesmo as lovemarks – marcas amadas por seus clientes, que mantêm fidelidade a elas, mesmo que outras vendam mais barato, simplesmente porque eles já têm um vínculo emocional –, antes de alcançar esse status, precisam entregar mais. Para rentabi-

Temos que nos preocupar mais com o contexto do que com o meio.

lizar e fidelizar clientes, fazer o bom não é mais o bastante, é preciso fazer o ótimo, se possível, o inimaginável. “A internet veio para mudar os antigos padrões e fazer antigas empresas se adaptarem ao novo perfil de usuário, para garantir um futuro próspero das marcas. É essencial focar na evolução e na

TIAGO RITTER

inovação”, afirma Motta.

CEO DA W3HAUS

ARQUIVO PESSOAL

O gerente regional da agência Reweb no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, José Albrecht, lembra que, atualmente, é possível fazer tudo na palma da mão, sem precisar se deslocar. Nesse cenário, acredita ele, as agências têm de crescer no sentido de não misturar mais on e off. “Elas precisam ser nativamente digitais. Caso contrário, ficam parecendo um ‘puxadinho’ dentro de uma estrutura que, certamente, não entregará o trabalho com a mesma agilidade e qualidade”, alerta. Com os consumidores mais atentos e exigentes, torna-se uma necessidade ainda maior apostar no conhecimento profundo sobre o negócio do cliente. O diretor de Jornalismo do Grupo Bandeirantes RS, Renato Martins, ressalta que “discernir qual é o público e entregar conteúdo relevante, de acordo com o que ele procura, são exercícios diários que todo bom profissional deverá fazer daqui pra frente”. A comunicação direcionada, acrescenta Motta, é um caminho para oferecer qualidade nos serviços. “É importantíssimo desenvolver um processo de um a um”, comenta. Outro investimento para o porvir da convergência digital é o neuromarketing, que busca entender o comportamento do consumidor de forma mais inteligente. Para Ribeiro, o desafio é, também, descobrir novos formatos editoriais e publicitários para explorar as novas mídias. “Precisamos entregar cada vez mais uma estratégia integrada de conteúdo, pensando em como podemos aproveitar cada plataforma da maneira correta e integrada.”

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Metamorfose Eterna mudança. É nisso que acredita Ritter. “Não

do produzido por marca ou por veículo, o que,

creio que vivamos um período da história como nos

enfatiza, deve ser preocupante.

últimos 30 anos, em que a comunicação ficou es-

Na linha da transformação, Motta aponta co-

tagnada a poucos meios e formatos. Quem tiver a

mo forte tendência a Internet das coisas, termo usa-

capacidade de se reinventar constantemente é que

do para denominar a conectividade cada vez mais

vai se dar bem”, garante. Albrecht vai além e diz que

presente em produtos do dia a dia, como geladei-

a correlação das mídias é muito importante para

ras, relógios, bicicletas, etc. “Essa ampliação é in-

gerar melhores resultados nas empresas. Para ele,

crível, vai impulsionar um salto maior no meio di-

o modo offline continua sendo valoroso para o bran-

gital. Contudo, precisa ser usada com equilíbrio,

ding e deve ser mantido. Entretanto, o digital pre-

para que traga melhorias na sociedade, e não o

cisa buscar melhorar a performance e entregar re-

contrário”, sustenta.

sultados rápidos e impactantes ao mesmo tempo.

O conceito cresce em relevância no mercado,

Ribeiro entende que é preciso ter cuidado, prin-

impulsionado por criações de gigantes da tecno-

cipalmente na publicidade, pois, ao se tornarem

logia como Apple, Google e Samsung, mas ainda

produtoras de conteúdo ou patrocinadoras, as

desafia marcas e comunicadores. O diretor de O

marcas ampliam sua influência sobre o editorial e

Melhor do Marketing destaca o caso da Nike, que

isso pode ser perigoso para o Jornalismo. “Enxer-

colocou em um tênis um dispositivo que, ao final

go a necessidade de encontrar fórmulas de deixar

do exercício físico, gerava um relatório de desem-

claro para o leitor o que é conteúdo patrocinado

penho do atleta. “Isso é muito interessante, mas

por marca, o que é produzido e o quanto elas in-

restrito a uma parte bem pequena da população,

fluenciam no editorial”, opina. Ele admite ainda que

não apenas pelo acesso, mas pelo interesse do

o mercado está engatinhando nessas possibilida-

consumidor”, defende Motta, que aposta que ain-

des, já que as novas gerações não percebem a di-

da levará muitos anos até que a internet das coi-

ferença entre jornalismo, entretenimento, conteú-

sas entre para o cotidiano das massas. 36


O que quer o público A principal reflexão que as marcas precisam fazer, diz o especialista, é sobre a real necessidade do consumidor, e não apenas a usabilidade de um produto. “Até 2007, ninguém precisava de um smart­ phone. Hoje, as pessoas não se veem sem um. Atualmente, quem necessita realmente de uma

de abertura de um videogame e, com isso, atin­

As marcas podem ser agentes de inovação em formatos de se contar histórias.

gir milhões de usuários. E como nem todo mun­

DIRETOR DA CARTOLA

geladeira conectada à nuvem?”, instiga Motta. No mesmo viés de proporcionar o que o pú­ blico de fato quer, Ribeiro cita que é possível con­ sumir conteúdo editorial, por exemplo, na tela

SEBASTIÃO RIBEIRO

cios promocionais, as marcas, afirma o diretor da Cartola, devem produzir ou patrocinar con­ teúdo relevante e de acordo com o seu público.

ARQUIVO PESSOAL

do quer ter a tela do seu jogo invadida por anún­

Ele ratifica ainda que apoia as marcas que querem produzir ou patrocinar conteúdos edi­ toriais específicos e vê nessa ação uma tendên­ cia que abre mercado para o Jornalismo e para agências de conteúdo, por exemplo, mas alerta: “Só é necessário estabelecer regras para deixar claro qual a participação delas na definição dos conteúdos”. O jornalista diz que esse pode ser um caminho de salvação para o que chama de crise das redações. E completa: “As marcas po­ dem ser, inclusive, agentes de inovação em for­ matos de se contar histórias”.

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Para profissionais Para não ficar para trás em um mundo em que as gerações se tornam mais ansiosas e imediatistas, os profissionais de comunicação precisam ficar atentos aos progressos e acompanhá-los. A resiliência, palavra da moda, é assunto sério para o futuro. Renato Martins acredita que todo profissional que quer crescer na área deve moldar a habilidade de se adaptar às mudanças e caminhar junto com a evolução. “Além disso, outras competências que serão cada vez mais exigidas nas em-

O Marketing terá que ampliar seu campo de visão, unir expertises de comunicação e comercial em um único profissional capaz de transitar em todas as plataformas.

presas são a ousadia, a criatividade e a versatilidade”, aconselha. Motta concorda e complementa: “O Marketing, por exemplo, terá que ampliar seu campo de visão, unir outras expertises de comunicação e comercial em um único profissional, capaz de transitar em todas as plataformas, sem esquecer, é claro, do foco em atrair e manter a atenção do

RAFAEL MOTTA

consumidor almejado”. Para Ribeiro, do ponto de

DIRETOR DE O MELHOR DO MARKETING

vista do mercado, isso muda não apenas as estraARQUIVO PESSOAL

tégias de mídia, mas também o perfil do profissional desejado. Na visão do diretor da Cartola, haverá uma demanda por profissionais multidisciplinares e com visão holística da comunicação. Mais agilidade no offline: esse é o pedido e a dica de Albrecht para agências que trabalham neste sentido. “Para os anunciantes, digo: não tenham medo de ousar. E aos veículos, que invistam mais em tecnologia e ideias para reconquistar a verba dos anunciantes”, finaliza. Ribeiro defende ainda que um dos desafios dos profissionais é mostrar para as empresas que a visão de ter uma agência on e uma off, por exemplo, não tem mais sentido. “Talvez separar a verba entre marketing de conteúdo e verba de propaganda tradicional e promocional faça mais sentido daqui para frente”, projeta. 38


A melhor parte de um projeto é quando vemos ele sair do papel e tornar-se realidade. O Projeto Guaíba2 será inaugurado em breve, mas já iniciou a sua operação para ampliar significativamente a produção de celulose (de 450 mil para 1,75 milhão de toneladas por ano). A importância desta obra está na geração de mais de 24 mil postos de trabalhos diretos e indiretos, além do compromisso ambiental de funcionar com 100% de energia própria, permitindo ainda a comercialização de seu excedente, estimado em 30.000 kW. Este investimento, que é um recorde no Rio Grande do Sul, vai transformar o projeto de vida de milhares de gaúchos em uma realidade mais próspera e cheia de alegrias.


Revolução

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m


ó

v

e

l

O

s donos de smartphones são capazes de olhar a tela do aparelho cerca de 150 vezes em apenas um

dia. A informação soaria espantosa, não fosse o cenário atual. Ao redor do globo, os usuários de internet móvel formam uma população de 3,2 bilhões. Em solo brasileiro, esse mesmo grupo saltou de 10 milhões para 93 milhões nos últimos cinco anos. Atualmente, é responsável por cerca de 30% das conexões. Os dados, trazidos pelo Google Brasil ao evento Mobile Day deste ano, reforçam a conjetura: o conceito mobile está impregnado na vida das pessoas.

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ANDREA GRAIZ

Outro levantamento, este feito pela Ericsson em dezembro de 2014, apontou que o tráfego de dados de aplicativos está concentrado em cinco apps principais. No País, foram analisados os dados de mais de 29 mil usuários, e a conclusão foi que o Facebook concentra 28% do tráfego móvel observado, seguido por Youtube, Google Chrome, WhatsApp e Instagram. A conclusão óbvia é que a tecnologia está mais democrática do que nunca. O sócio-diretor da 3yz Roberto Sirotsky identifica na capacidade de empoderar pessoas um grande valor dessa revolução. Para ele, as possibilidades de acesso e mais informação ao alcance de todos resultam em um poder de escolha ainda maior. “Isso acabou gerando uma evolução entre pessoas e pessoas, entre pessoas e marcas, e entre pessoas e instituições. Acredito muito nesse poder transformador da tecnologia”, avalia.

Não há um boom de aplicativos, mas de execução de serviços e acesso à informação pelo celular. Ele, hoje, é o mouse da vida. SAMANTHA CARVALHO

SÓCIA-DIRETORA DA QUEEN MOB

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Questão de comportamento Mobile é comportamento. A frase é defendida de forma enfática pela sócia-diretora da Queen Mob Samantha Carvalho. Segundo ela, é preciso observar o comportamento do consumidor para saber como agir, assim como entender o público detectar se é necessário estar presente em todas as plataformas. E diz mais: “Não há um boom de aplicativos, mas de execução de serviços e acesso à informação pelo celular. Ele, hoje, é o mouse da vida. Então, não saímos mais de casa sem o aparelho porque ele se tornou a extensão do nosso braço”. Samantha também incentiva uma reflexão quando salienta que as empresas têm planejamento para as redes sociais, para televisão, rádio e jornal, mas esquecem do mobile. “Por qual motivo as agências, a publicidade e as marcas ainda não integraram o mobile de uma maneira consistente dentro dos seus planejamentos, mesmo sabendo, em termos de comportamento, que esse é o canal onde as pessoas mais se relacionam?”, provoca. Uma pesquisa sobre comportamento, realizada pela Nielsen Ibope com usuários de smartphones, apontou que um quinto deles citou a ida ao banheiro como momento de não desgrudar do aparelho. Entre os hábitos dos usuários, também foi registrado que 24% deles já acordam com o celular na mão e 34% o usam enquanto assistem TV. Outro hábito identificado pelo estudo indica que quase metade dos entrevistados lança mão do aparelho para tornar qualquer espera menos dolorosa (46%) e parcela semelhante confere a vida online antes de dormir (48%). Sirotsky acredita na mudança de comportamento como sendo a materialização de um mundo de possibilidades. Ele defende que grandes negócios mobile ainda irão surgir, tendo em vista que o maior objetivo deles é conectar pessoas. “Não acho que isso seja algo passageiro, mas uma realidade. É a nova economia, do compartilhamento, onde o acesso é muito maior que a posse. As pessoas querem muito mais ter acesso às coisas do que possuí-las”, comenta. Crianças de seis anos sabem mexer em um smartphone, mas não sabem dar um laço no sapato. A situação é lembrada por Samantha para explicar a necessidade de se questionar sobre situações como essas, pois elas são “uma parte do todo e esse todo é um novo comportamento onde as pessoas se relacionam com o celular, executando, comprando, consumindo informação”.

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App como negócio Os aplicativos também popularizaram a ideia do software, que era muito pesado e caro, destaca o professor de Jornalismo da PUC e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Mobilidade e Convergência Midiática da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (Ubilab), Eduardo Pellanda. Ele lembra que os apps têm aberto um mercado grande, e muitas startups têm se utilizado dessas ferramentas como forma de se lançar e crescer. Este é um mercado amplo e cheio de oportunidades, acredita Pellanda. Marcus Drzewinski, Antônio Berthêm e Israel Lemes sabem disso e se tornaram sócios do aplicativo Diário Escola. Segundo eles, existem alguns modelos de negócios quando se fala em apps, sendo que o mais comum é o app pago. Então, se o usuário se interessa, baixa uma primeira versão gratuita e, por alguma funcionalidade a mais ou mais tempo de uso, passa a pagar um valor. Drzewinski alerta, porém, que essa é também a alternativa mais difícil, pois os preços, geralmente, ficam em torno de R$ 0,99 a R$ 1,90. Para obter algum lucro, é necessário ter a aderência de um grande número de usuários. Entre os aplicativos com mais de 10 milhões de downloads, por exemplo, nenhum se enquadra na modalidade paga, conforme mostrou uma pesquisa encomendada pelo PayPal à BigData Corp e divulgada em setembro deste ano. Há ainda o modelo baseado em propaganda, conforme lembra Berthêm, que consiste em oferecer um app gratuito, mas que, assim que é aberto no smartphone, exibe na tela anúncios de outros aplicativos ou jogos para baixar. Esta tam-

Reca d

os

bém é uma opção que precisa gerar muito fluxo, pois a pro-

Calen

dário

paganda é paga com fração de centavos por aparecimento ou centavos por clique. O Diário Escola não tem custo para o usuário final, mas é pago pelas empresas que querem aderir ao programa – no caso deles, as escolas, que optam pelo sistema de assinatura. “A ideia surgiu de uma necessidade não atendida pelo mercado. Somos técnicos, trabalhamos com desenvolvimento de software há 20 anos, mas esse é um mundo um pouco diferente da questão visual, da propaganda, do marketing”, argumenta Drzewinski. 44

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Baleia em aquário De acordo com Berthêm, mesmo que seja um aplicativo, do ponto de vista do negócio é necessário pensá-lo como um produto offline. O Diário Escola permite todo um gerenciamento de atividades e comunicação com os pais dos alunos, por isso, é natural que seus criadores prestem uma ARQUIVO PESSOAL

consultoria aos clientes, que estão mais acostumados ao papel e à caneta. “Tudo isso é para gerar aceitação, criar cultura, dar o conhecimento”, sintetiza Drzewinski. Pellanda complementa a ideia ressaltando que existem economias específicas para cada app, uma vez que cada aplicativo pertence a um segmento. Para ele, esse é um mercado amplo, que veio para ficar, mas que possibilita muitos modelos, para todo tipo de público e assunto. “A economia compartilhada, que nasceu a partir desse boom dos aplicativos, vai se expandir e dominar o nosso mercado cada vez mais”, prevê o professor da Famecos. Berthêm acrescenta que os apps irão crescer em quantidade e melhorar em qualidade, e detalha que os três pas-

A economia compartilhada, que nasceu a partir desse boom dos aplicativos, vai se expandir e dominar o nosso mercado cada vez mais.

sos-chave para construir um app de sucesso são conhecer

EDUARDO PELLANDA

um app: aliar-se aos já existentes também pode ser uma

PROFESSOR DE JORNALISMO DA PUC E COORDENADOR DO LABORATÓRIO DE PESQUISA EM MOBILIDADE E CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA DA FAMECOS

a necessidade de um público, criar uma solução que atenda a essas expectativas e monetizar esse produto. Seguir essas três etapas citadas pelo sócio-fundador do Diário Escola pode ser meio caminho andado, mas, conforme Samantha, também é necessário pensar a experiência mobile, prestar atenção no que há de novo e ver de que maneira isso pode, ou não, integrar os negócios. Conforme ela, nem sempre o melhor caminho será criar excelente opção. “Não adianta querer colocar uma baleia em um aquário, que não vai funcionar. Para ter sucesso, é preciso ter inteligência”, garante. A sócia-diretora da Queen Mob acredita que o ideal, ao iniciar um aplicativo, é lançá-­ lo com poucas funcionalidades. Ela ensina que de nada adianta lançar um app empilhando 80 funções, pois poderá confundir o usuário. O processo deve ser gradual e com base em análise de uso. “Para tudo, tem uma estratégia, tem que saber como as coisas funcionam”, ressalta.

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Conexão intuitiva O futuro será ainda mais social, local e mobile, conceito sintetizado na sigla SoLoMo. Os aplicativos deverão apostar na interação interpessoal, acessibilidade em dis-

ARQUIVO PESSOAL

positivos móveis a qualquer hora e lugar, e geolocalização. Segundo Pellanda, tudo será uma questão de acompanhar a evolução e as constantes atualizações. Nesse contexto, Sirotsky reafirma a ideia de que os aplicativos deverão seguir a lógica de conectar pessoas. “Não vejo como uma moda, a exemplo do que foram as compras coletivas. Os apps que apostarem nesse empoderamento das pessoas através da tecnologia terão sucesso”, defende. Pellanda sustenta que, por mais incerto que o futuro possa ser, existem tendências na área mobile. Os aplicativos deverão ser mais inteligentes e as informações, mais previsíveis. “Para o futuro, espero o cruzamento de informações nos apps. Por exemplo, se a pessoa tem uma reunião marcada em um aplicativo de agenda e também tem outro de trânsito, os dois conectarão as informações e enviarão um alerta do tipo ‘se você quiser chegar nessa reunião a tempo, saia agora e pegue a rota tal’. A Apple e o Google têm criado nesse sentido, é uma tendência muito forte”, aposta o professor. 46

As pessoas querem muito mais ter acesso às coisas do que possuí-las. ROBERTO SIROTSKY

SÓCIO-DIRETOR DA 3YZ


A tecnologia que nos trouxe até aqui é a que nos faz continuar Em maio de 2015, a Rede Pampa mais uma vez inovou. Criou seu portal de notícias, esporte e entretenimento com um grande diferencial: acesso completo totalmente gratuito. Seu grande time de colunistas, jornalistas e fotógrafos leva as informações mais relevantes do Estado, do Brasil e do mundo publicadas através de um conteúdo moderno, dinâmico e imparcial. A equipe O Sul agradece a seus leitores pela confiança neste marco alcançado de 4 milhões de acessos por mês.

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PortalOSul

Nossa tradição é inovar

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Qual é o impacto dos aplicativos móveis na vida das pessoas?

Uma turma de especialização em Comunicação e Marketing Estratégico do Senac realizou uma pesquisa, que questionou:

Com uma amostra de 901 respostas, coletadas em setembro deste ano, o estudo registrou aspectos importantes.

Faixas etárias

2%

Até 18

27%

45%

19 a 25

17%

26 a 35

36 a 45

Gênero Feminino

57%

Masculino

43

6%

46 a 55

Sistema operacional

69%

%

Android

48

24% iOS

2%

Acima de 56

Outros

2%

5%

Windows


Quantos apps você tem instalados em seu celular? Até 10

De 11 a 20

38,9

Acima de 30

De 21 a 30

32,6

13,9

14,7

% % % % Como usa os apps?

92,7% 95,6% 71,7% Redes sociais

Troca de mensagens

58%

Entretenimento

A aceleração do boom dos aplicativos se deu nos últimos três anos.

50%

Trabalho

Serviços

25%

Consumo

Quando se trata de serviços, os aplicativos móveis são utilizados como alternativas, e não como meio exclusivo ou principal. Mais de % usa os mesmos serviços em seu meio offline. Exemplos: bancos, alimentação, mobilidade.

80

Os termos mais citados pelos entrevistados quando falam sobre o futuro dos aplicativos: 1

V

I D A

F A C

3

P R A T

5

S E G U R A N Ç A

7

I N T E G R A Ç Ã O

9

I N T E R A T

2

I

C

I D A D E

I

V

6

4

I

I D A D E

M E M Ó R

A G I 8

L

L

I

A

I D A D E

P E S S O A S

I D A D E

DEZEMBRO2015

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Pescoço de texto Poucas são as pessoas que nunca foram classificadas como viciadas em celular, em razão do hábito de não tirar os olhos – e a cabeça – do aparelho. Sim, os smartphones permitem um mundo na palma da mão, mas também puxam os pescoços para baixo como ímãs. Consequência disso: casos de text neck, a doença do pescoço de texto, em tradução livre. Ao olhar fixamente para o celular, a tendência é que o pescoço se projete cada vez mais para frente, o que equivale a um peso de 25 quilos na nuca. Especialistas atentam para dores na cabeça ligadas a tensões na nuca e no pescoço, e também no braço e no ombro. Esses sintomas podem ser intensos, como se o pescoço estivesse “queimando” e, geralmente, começam na base da cabeça, se estendendo por toda a parte superior, no couro cabeludo. Em pessoas que apresentam a doença, o tratamento inclui correção de postura, massagem e remédios anti-inflamatórios. Em casos mais graves, há a possibilidade de injetar um coquetel de esteroides e outros relaxantes nos nervos ao redor do seu pescoço. Médicos também podem receitar relaxantes musculares, antidepressivos. Como é quase impossível abandonar o celular, fique atento à postura enquanto usa o aparelho: o correto é deixá-lo mais na altura dos olhos, para que o pescoço faça menos força. Fontes: BBC Brasil / Jornal Nacional, Rede Globo

50



Não há futuro para a comunicação digital O briefing deste artigo era escrever sobre

Se olharmos para o mercado de comunicação en-

“o futuro da comunicação digital”. Contudo

tre 1995 e 2005, certamente perceberemos o pa-

e sem nenhum pesar, afirmo: “a comunica-

pel da comunicação digital. Os hábitos e compor-

ção digital já não existe mais”. mais”. Sua passagem

tamentos já estavam em transformação, mais

por nossas vidas foi curta e transformadora. Assim

ainda distantes do que seria consolidado 10 anos

como acontece com substâncias puras, que, ao se-

depois. Naquela época, a maneira como as mar-

rem misturadas, constituirão algo novo e nunca

cas faziam sua comunicação seguia o curso evo-

mais poderão regressar aos seus padrões originais,

lutivo e massivo das mídias que eram conhecidas

a “comunicação digital” tem sua pseudoexistência

desde a década de 1950. Ou seja, fazer jornalis-

limitada ao uso forçado de uma terminologia que

mo, propaganda, campanhas de relacionamento,

é utilizada apenas na tentativa de manter separa-

relações públicas, marketing de conteúdo… tudo

do do “todo” alguns “itens” (chamarei assim) que

dependia apenas de algumas variáveis já estabe-

não são do domínio de alguns.

lecidas há muito tempo. O alcance e a frequência da mensagem, mais a “sacada” criativa definiam

Explicarei melhor, sempre evitando me aprofundar

o resultado de tudo.

em temas sociológicos. É fato que nossas vidas foram profundamente transformadas pelo digital nas

Apenas para exemplificar, para uma marca de ele-

últimas três décadas. Padrões sociais foram altera-

trodomésticos se tornar conhecida de todos, ne-

dos por conta da adoção massiva e cotidiana das

cessitava de uma campanha criativa veiculada de

novas tecnologias. Contudo, e por mais que eu gos-

maneira massiva. A onipresença era simples, mes-

te, não quero aqui falar de “sociedade informacional”,

mo que cara, pois havia concentração da audiên-

“pós-industrial” ou “novas estruturas econômicas”,

cia. Nesse contexto, a “comunicação digital” surgiu

quero apenas observar hábitos e comportamentos.

como mais um canal, como mais uma mídia, era um apêndice utilizado apenas para cobrir a abran-

Tudo o que fazemos hoje, mesmo que simples e

gência com que a mensagem poderia ser entregue.

individual, é diferente de como fazíamos 10 anos

Em linhas gerais, a campanha da marca de eletro-

atrás. Modificamos totalmente nossa compreen-

domésticos que ia parar na revista e na TV passou

são a respeito de: relevância, tempo, disponibilida-

a ter peças que também eram veiculadas em mí-

de, interesse, posse, domínio, compartilhamento.

dias digitais. Peças que geralmente estavam limi-

Assim, se a sociedade se transformou, tudo o que

tadas aos banners, e-mails marketing e, é claro,

lhe diz respeito também foi transformado. E com

um hotsite da campanha. Tudo era apenas uma

a comunicação (social) não foi diferente.

adaptação de formato, comparável aos ajustes fei-

52


IA BR IV ÃO AÇ U LG DIV

VINÍCIUS LOBATO

ESPECIALISTA EM MARKETING DE SERVIÇOS E CHIEF BUSINESS OFFICER NA BRIVIA DIGITAL BRANDING CO.

tos para veicular uma peça de página inteira ou de

fórmulas pasteurizadas de “sucesso” (celebridades,

meia página. No jornalismo, relações públicas, mar-

por exemplo). Uma dessas campanhas, inclusive,

keting de conteúdo… não era diferente. O que lía-

afirmava ser mais “digital” do que “tradicional”, pois

mos no jornal impresso também podia ser lido na

60% da verba de veiculação seria investida em ca-

“versão online”, ipsis litteris, e assim por diante.

nais como Youtube, Google, Facebook,… entre outros. Mas, em ambos os casos, o “digital” era ape-

Bom, os 10 anos de pleno vigor dessa “comunica-

nas mídia. A compreensão do seu valor e da trans-

ção digital” com cara de “outra mídia” foram tempo

formação do comportamento das pessoas não pas-

suficiente para virar o mundo de cabeças pra bai-

sou nem perto da concepção dessas campanhas.

xo. Hoje, não podemos e não devemos mais distinguir o que é digital ou não. O mind set vigente é,

Eu poderia citar cem sintomas que elucidariam es-

verdadeiramente, omnichannel. Os comportamen-

sa afirmação, mas apenas um já será suficiente:

tos estabelecidos tornam ultrapassadas e pouco

em nenhuma delas foi previsto o monitoramento

efetivas mensagens que buscam refúgio na “co-

da repercussão em mídias sociais. Ou seja, as mar-

municação digital” apenas como uma alternativa

cas não estavam interessadas em saber o real im-

de veiculação, porque as pessoas “estão lá”. Fazer

pacto de sua mensagem. Não estavam interessa-

isso nada mais é do que um novo jeito de se fazer

das em conversar com os seus públicos. Talvez os

o velho. O correto é que a concepção, a ideia, a

relatórios de projeção da audiência fossem sufi-

criatividade, a mensagem venham alinhadas com

cientes para a sua avaliação dos resultados, o que

a compreensão das “linhas de experiência” dos pú-

é lamentável. As marcas sequer estavam interes-

blicos de interesse. Assim, não basta mais apenas

sadas em aprender com o que os seus públicos

um slogan inteligente e uma veiculação baseada

diriam sobre tudo aquilo. Não acredito que R$ 30

no broadcasting. Vejam que eu disse “apenas”.

milhões de investimento não permitam a utilização de 1% desse valor para aprendizado, medição

Agora é hora de educar o mercado. Porque ainda

e conversação com os públicos.

há gente comprando e vendendo campanhas de 20 anos atrás como “comunicação digital”. Falo is-

Concluo, portanto, que o único futuro da “comuni-

so porque, nos últimos meses, tive contato com

cação digital” é o de servir de “embalagem” para o

duas grandes ações (de clientes e agências diferen-

jeito ultrapassado de se fazer comunicação. Não

tes) muito similares: marcas líderes de mercado

há diferença entre o ON e o OFF, pois não existem

que estavam por colocar no ar campanhas milio-

pessoas que sejam um ou outro. Todos foram trans-

nárias, com objetivos estratégicos de exposição e

formados e precisamos fazer comunicação assim.

DEZEMBRO2015

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53


A MODA É VENDER TODO ESTOQUE.

Case Loja Nadine Dubal Scarpe e Accessori.

A inauguração da Nadine Dubal ganhou um banho de loja transmídia e vendeu o estoque de dois meses em apenas uma semana. Um resultado surpreendente em uma cidade de 80 mil habitantes, como consequência de uma estratégia que uniu

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PDV, redes sociais, mídia tradicional e muito buzz. A loja se estabeleceu como referência de moda em

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Uma grade curricular destinada especificamente a cooperativistas. Um curso sediado em Porto Alegre, com público-alvo disperso por todo Estado. Um vestibular com inscrições insuficientes para suprir as vagas. O Vestibular Escoop

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foi reavaliado e reposicionado, com uma campanha transmídia que aumentou em 180%

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o número de inscritos.

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Conteúdo além da caixa

56


S

e há alguma unanimidade entre especialistas e estudiosos, esta é a

de que a televisão não acabará tão cedo. Entretanto, para continuar merecendo a atenção do telespectador, será preciso atualizar, reinventar e, especialmente, acelerar o passo. Enquanto serviços on demand, como Netflix e NET Now, ganham espaço e smartphones ampliam o acesso do público a vídeos quando, onde e como se quer usufruir, à programação televisiva resta uma opção: fazer do conteúdo seu trunfo diante da concorrência em múltiplas telas.

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Para reflexão, o professor de Jornalismo da Famecos Fábio Canatta questiona sobre o que o público compreende por televisão atualmente. Ele reconhece que, a princípio, a pergunta pode parecer boba, mas explica: “Até a década de 1990, a

Vivemos cercados de telas que podem exibir conteúdo audiovisual, inclusive a programação da TV. Cada vez menos, o termo televisão nos remete a um único dispositivo eletrônico.

tela, a caixa, o aparelho em si eram os únicos meios possíveis. Hoje, vivemos cercados de telas que podem exibir conteúdo audiovisual, inclusive a programação da TV – tela de computador, smartphone, tablet ou ainda GPS de carro. Portanto, cada vez menos o termo nos remete a um único dispositivo eletrônico”.

FÁBIO CANATTA

Distante do fim, o meio televisão, pre-

JORNALISTA E PROFESSOR DA PUC

ção Digital da Unisinos Silvio André Lacerda Alves, enfrentará uma acomodação nas formas de comunicar. Entretanto, afirma

ARQUIVO PESSOAL

vê o professor de Jornalismo e Comunica-

o docente, o Brasil ainda levará algum tempo para alcançar o futuro, que, provavelmente, ocupará, primeiro, o solo de países desenvolvidos. “Vale ressaltar que a nossa nação sofre com a baixa qualidade de infraestrutura de telecomunicações e de internet, e isso não se resolve de uma hora para outra”, alerta. A projeção é que a mais significativa mudança nos próximos anos envolva o aparelho e sua tela. De uma caixa em forma de cubo, a televisão passou a telas finas e depois até curvadas, repletas de avanços tecnológicos. Para Canatta, talvez seja a ideia da televisão como eletrodoméstico no centro da sala que esteja com os dias contados, mas, em sua visão, o meio como linguagem ou experiência cultural está mais vivo do que nunca nas mais diferentes telas – sejam elas de 2 ou 90 polegadas. 58


Experiência A evolução da TV como hardware também é defendida pelo diretor do canal SporTV, Raul Costa Júnior. Seja usando holografias, imagens projetadas ou qualquer outra solução tecnológica, ele analisa que o conteúdo de qualidade e credibilidade, entregue em uma programação organizada por um provema de fazer deverá usar, cada vez mais, as mais diferentes plataformas para entregar os conteúdos de maneira eficiente ao público. Dessa forma, chegará nele onde quer que esteja: no carro, na rua,

ARQUIVO PESSOAL

dor, terá sobrevida garantida. “A televisão como for-

no shop­ping ou em uma festa”, projeta o diretor. Assim como surgem discussões sobre a possível extinção do jornal impresso e se debate se o rádio, no seu modo tradicional, se sustentará com a onda da internet, com a televisão não é diferente. O meio também está no centro de previsões, estudos, estimativas. Um diferencial, no entanto, está na capacidade da TV em proporcionar experiências coletivas, seja através da reunião física de pessoas

dera a televisão a melhor possibilidade de experiên-

Toda programação feita no modelo “ao vivo” tem um valor imenso e garante audiência muito relevante.

cia de consumo de conteúdo audiovisual, mas aten-

RAUL COSTA JÚNIOR

em um mesmo ambiente, seja graças à aproximação provocada pelo conteúdo compartilhado, o que, na avaliação de Canatta, fará com que a televisão perdure por muito tempo. Pensamento semelhante tem Alves, que consi-

ta para a realidade de constante mudança de com-

DIRETOR DA SPORTV

portamento do telespectador e para a competição entre diferentes plataformas. Na mesma linha, Raul Costa Júnior reconhece na TV um fenômeno social que se manterá por muitos anos, porém, estima que a mudança deve ocorrer na grade, na forma de entrega de conteúdo, onde as pessoas terão mais possibilidades de interagir, de escolher e montar sua própria programação. Novas experiências com esse meio, enfatiza o diretor, ainda estão por vir.

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Fascínio vivo A interatividade, essencial para fidelizar o público, também é um desafio para a TV aberta, que, historicamente, apresentou um formato mais estático. Embora ainda distantes de encontrar a melhor maneira para participar do diálogo com o público, as emissoras começam a compreender o valor das informações contidas nessas conversas online. A estimativa é que esses dados influenciem cada vez mais a tomada de decisões dentro dos canais de comunicação. A força do conteúdo, afirmam os profissionais, estará, de fato, no modelo ao vivo. Para o diretor da SporTV, a principal tendência da TV aponta para a valorização desse formato. “Muito vivo. Vivo na veia. Toda programação feita neste modelo tem um valor imenso e garante audiência muito relevante”, assegura. O professor Alves reforça a perspectiva do ao vivo. “A aposta da TV aberta no vivo e na interatividade tem tido um bom efeito para algumas iniciativas”, avalia. Ele afirma que a convergência midiática está permitindo que a televisão seja “mais televisão”, no sentido de reforçar as características fundadoras da mídia. O ao vivo, contudo, não se sustentará sem que esteja atrelado a fatores como credibilidade e qualidade. Costa Júnior dá como exemplo o caso dos milhares de sites de informação à disposição do público e questiona quantos têm relevância e audiência significativa. A resposta, ele mesmo apresenta: “Somente aqueles que têm marcas realmente consagradas, respeitadas pelo público, e que entregam um material excelente”. 60


Fusão de formatos Para o jornalista do Grupo Bandeirantes Ricardo Boechat, a TV se tornará ainda mais crítica no futuro. Ele identifica a ausência de posicionamento até então exercida por âncoras e apresentadores do meio e garante que esse modelo já não responde às expectativas dos telespectadores. “A tendência é que os apresentadores sejam mais ousados em assumir opiniões, gerar polêmica e fazer ARQUIVO PESSOAL

intervenções”, projeta. O professor Alves verifica uma procura aguerrida por novos modelos, interfaces e maneiras de monetizar o produto televisivo, quase tudo, na opinião dele, sem resultados efetivos ou novidades. Já Canatta fortalece a ideia da tevê como espaço para transmissões, principalmente ao vivo, e de abordagens voltadas ao grande público, com noção de audiência, que abrange todos os perfis de telespectadores. Para ele, a mistura de gêneros e formatos irá se acentuar ainda mais. E, para ilustrar, indaga: “O programa da Globo ‘Tomara que caia’ é humorístico ou é game? É informação ou entretenimento, ou, ainda, ‘infotainment’ ? O CQC é jornalismo ou é humorístico? Ele usa do humor para fazer jornalismo? Ou usa do jornalismo para fazer humor?”. Outra aposta do professor da Famecos está na segunda tela. Esta, avalia, é capaz de transformar programas em eventos, e o telespectador faz questão de assistir no tempo do show. É uma forma de participar e integrar a comunidade de pessoas que vivencia aquele momento. Canatta prevê o surgimento de programas que valorizem a mobilidade e a ubiquidade oferecidas pelo digital. “Isso pode significar a busca de formatos alternativos ou adaptações na linguagem que permitam que o conteúdo siga fazendo sentido quando exibido em telas menores”, explica. Para os especialistas, não é apenas a postura em relação ao con-

Pode mudar o meio, mas a essência e a sua mecânica continuarão as mesmas. RICARDO BOECHAT

JORNALISTA DO GRUPO BANDEIRANTES

sumidor que deve mudar para permanecer e melhorar, mas também a de quem está à frente do telejornalismo. Canatta, por exemplo, acredita que a televisão aberta será produzida cada vez mais para o grande público, por mais que este encolha. Ele se refere a um público genérico, uma audiência que representa a soma de todas, que considera todos os perfis, menos segmentada e mais abrangente. Boechat é sucinto ao projetar o futuro da televisão: “Pode mudar o meio, mas a essência e a sua mecânica continuarão as mesmas”.

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Com novo olhar

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M

ais de 90% das fotografias pessoais na atualidade são registradas por celulares no Brasil, aponta

pesquisa realizada em dezembro de 2014, pela Phooto, empresa especializada em customização de produtos com fotografia. Dados como este trazem à tona opiniões distintas de fotógrafos e fotojornalistas em relação à enxurrada de tecnologias acessíveis a um público amplo.

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Danilo Christidis, fotógrafo e um dos sócios da Fluxo – Escola de Fotografia Expandida, considera que a modernização dos celulares não represen­ ta perigo algum aos profissionais. Ele argumenta que a acessibilidade à fotografia através dos smart­ phones trouxe uma quantidade incrível de novos

Há um mercado ávido por olhares diferenciados, olhares que façam efetivamente algo novo, que aproveitem o que de melhor os recursos possam lhes dar.

fenômenos de relação com a imagem, e ainda faz uma provocação: “Pense bem, nunca se fotogra­ fou tanto. Por que seria este um momento de ter medo e não euforia com a quantidade intangível de ‘janelas’ que se apresentam?”. Fotógrafo há 42 anos, Fernando Bueno acre­ dita que este fenômeno “vulgariza a captação e, ao mesmo tempo, valoriza o olhar diferenciado dos bons profissionais”. Nesse sentido, o publici­

MIRO BACIN

tário, fotógrafo e professor da ESPM-Sul, Raul Krebs,

FOTOJORNALISTA E PROFESSOR NA UNIPAMPA

observa que esta vulgarização pode se dar pela ARQUIVO PESSOAL

falta de qualificação no olhar de quem compra fo­ tografia. Com a onda de publicações espontâneas, ou até mesmo as pagas, em redes sociais, como o Facebook e o Instagram, está nas mãos do mer­ cado filtrar o que tem valor ou não. De acordo com os especialistas, essas escolhas dependem do quanto se tem para investir, da proposta e do pú­ blico que se quer atingir. Em uma época em que as imagens seguem crescendo em relevância, é natural que os jor­ nais ampliem o espaço concedido a elas. Em con­ sequência disso, o fotojornalista Jefferson Bote­ ga, editor de Imagem de Zero Hora, explica: “Fotos são cada vez mais importantes, a cultura é cada vez mais visual, reformas gráficas em jornais va­ lorizam mais e maiores fotos. Imagem boa é o primeiro ponto de entrada em páginas”. Ele ain­ da salienta que não vê crise alguma a atingir os bons profissionais, pois, para aqueles que bus­ cam algo profundo, haveria uma oportunidade em meio a uma indústria da comunicação em grande transformação. 64


átsE oãn omsilanRoJ ,aRoga EdadiCilbuP a .sianRoJ son ós soiEm so uossaPaRtlu áJ mébmat ,REttiRinu an sam .sianoiCidaRt .aiRótsih ahlEV amu é áJ ossi odut

aERá ad sosRuC so açEhnoC :REttiRinu ad oãçaCinumoC Ed

omsilanroJ adnagaporP e edadicilbuP sacilbúP seõçaleR oãçacinumoC me oãçaudarg-sóP lairaserpmE

VEJa EstE anúnCio dE um noVo JEito: colocando na frente do espelho.


Um pé no passado Criador do termo instante decisivo – momento no

çam efetivamente algo novo, que aproveitem o

qual “se alinha a cabeça, o olho e o coração”, se-

que de melhor os recursos possam lhes dar. Dian-

gundo descreveu em livro homônimo –, o fotógra-

te dessa realidade, o mercado de trabalho vem se

fo francês Henri Cartier-Bresson defende que, pa-

regulando, captando esse novo olhar”, defende o

ra fotografar, não basta ter uma câmera, efetuar

fotojornalista e professor da Universidade Federal

cliques indiscriminados e registrar sem limites. Fo-

do Pampa (Unipampa), em São Borja, Miro Bacin.

tografar, independentemente da ferramenta utili-

Botega destaca outros aspectos que podem

zada – seja smartphone ou câmera fotográfica,

colocar o profissional em evidência no futuro. Se-

profissional ou não –, é uma forma de arte, con-

gundo o editor de Zero Hora, o que importa em um

forme Bresson. Pode parecer ultrapassada, mas

bom fotógrafo é a forma como ele vê as coisas, a

a sua filosofia, apesar de cunhada em 1952, con-

abordagem diferenciada, os ângulos inusitados, a

tinua orientando profissionais até hoje.

capacidade de trazer imagens que provoquem a

Existem profissionais que garantem que a me-

reflexão em quem está olhando. Para isso, diz o

lhor resposta para este volume de novidades seja

fotógrafo, não importa o equipamento e, sim, a

fazer a diferença na quantidade e na qualidade

cultura do profissional de imagem, ou seja, os livros

das imagens. “Há, hoje, um gigantesco mercado

que ele leu, os filmes que assistiu, as exposições

ávido por olhares diferenciados, olhares que fa-

que visitou. “Isso, sim, fará a diferença”, sentencia. 66


Para onde ir Quanto às imagens para o setor publicitário, Raul

isso deve ocorrer de forma única. “A reinvenção

Krebs acredita que o futuro é restrito, mas vê com

não é uma exclusividade da fotografia. Quem não

esperança as fotografias de arte. Para o professor,

se reinventa, ou simplesmente não se movimenta,

esse segmento nunca esteve tão valorizado, o que

corre o risco de empoeirar”, projeta Danilo Chris-

significa que, em termos de fotografia “de parede”,

tidis. Nessa linha, Miro Bacin resume: “Reciclar-se

os clientes sabem comprar, escolhendo as ima-

é a palavra de ordem”.

gens que manifestam um olhar único sobre um

A tendência, como a maioria enxerga, é se adap-

determinado assunto e investindo valores que an-

tar, mas Christidis dá outra visão: “Pensar em ten-

tes só eram pagos por outras modalidades de ar-

dências é pensar que existe algo ditando as regras

te, como pintura e escultura.

do jogo. É mais interessante pensar que vivemos

Uma defesa é quase unânime entre esses pro-

um momento de fenômenos um tanto dinâmicos.

fissionais: é tempo de se reinventar. De que ma-

Estar atento e disponível seria o único apontamen-

neira, ninguém tem certeza, mas concordam que

to a fazer”.


Imagem com mais conteúdo A imagem é uma forma de pensamento. No jornalismo impresso, a fotografia tem a função de despertar a análise e a contextualização dos fatos de maneira crítica. A fotografia jornalística, independentemente do gênero, não pode ser efêmera nem saturada por um mosaico de cliques, que enche, atualmente, as nossas telas com imagens desnecessárias, cheias de vaidades de estilo ou de cunho personalista e, consequentemente, vazias de conteúdo. Este momento da imagem, na mídia, reflete a superficialidade, especialmente disseminada pelas redes sociais. Um estilo de captura de imagem muito influenciado pela publicidade e seus modelos. A fotografia jornalística tem um inegável papel documental e crítico. Essa influência de imagens pasteurizadas das redes sociais e outros meios impressos ou digitais quase que estabelecem um choque de culturas. A fotografia documental e jornalística, testemunha dos fatos, versus imagens quase fictícias. Sinal dos tempos, onde o interesse comercial prevalece ao jornalístico. Onde todo o usuário pensa ser repórter ou fotógrafo.

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S E CO FA M

LUIZ ADOLFO LINO DE SOUZA

JORNALISTA E PROFESSOR NA PUCRS

A crise do jornalismo passa também pela crise da

Neste ponto, a edição merece ser repensada. O

fotografia. Uma técnica, hoje, influenciada pela pu-

ato de editar fornece sentido e função às imagens.

blicidade e que se confunde, aos olhos dos leitores,

O papel do editor de imagens é primordial. So-

com imagens jornalísticas. Confusão essa que é

mente a busca por qualidade, relevância do dis-

deliberada para misturar conteúdos e mascarar a

curso fotográfico, pode reforçar o seu papel. Isto

comercialização da notícia.

porque a escolha de fotos de conteúdo banal, ou oriundas de banco de imagens, ameaça a credi-

Essa crise inclui, também, modelos de imagens e

bilidade dos veículos. O editor deve ser um defen-

estratégias saturadas para atrair, buscar atenção

sor da cultura visual e de um compromisso pela

a todo custo, e audiência. A procura por fórmulas

informação qualificada.

mais ricas de narração visual é fundamental para que o jornalismo valorize o uso da fotografia.

Sendo a imagem pensamento, seria essencial que o seu uso estimulasse novas referências, ângulos

A relevância do fotojornalismo se baseia na sua

e temáticas visuais. Linguagens que não sejam

tradição histórica. Hoje, temos o fotojornalismo

comercialmente manipuladas pelo interesse cor-

sendo substituído, em muitos casos, pela foto ilus-

porativo. Reportagens com investimento em fo-

trativa. A segmentação das pautas, em cadernos

tografia, contratação de fotojornalistas e edição

e temas acessórios, catapultou a foto-ilustração a

de qualidade.

lugar nobre, especialmente pela “revistização” dos temas contemporâneos.

A mensagem crítica, a denúncia, a emoção do fato são muito mais relevantes do que a velocidade de

A televisão é cúmplice, também, da superficialida-

publicação, tendências, ou interesse comercial. Ca-

de de algumas imagens editadas dos nossos dias.

da vez, temos mais imagens e, cada vez mais, so-

A banalidade e o imediatismo das coberturas re-

mos mais óbvios na narrativa. A exploração de ima-

forçam linguagens e discursos pouco criativos. For-

gens instantâneas, superficiais, hoje em dia, não

matos repetitivos e também pouco aprofundamen-

informa adequadamente.

to são características da cobertura cotidiana.

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Não parem as máquinas!

O

jornal impresso está com os dias contados? Não é de hoje que esta possibilidade vem

sendo questionada, tendo em vista o crescimento da mídia digital nas últimas décadas. Para alguns estudiosos, como o norte-americano Phillip Meyer, as rotativas devem silenciar em 2043. Bem menos otimista, a profecia de outro norte-americano, Nicholas Negroponte, aponta que o fim do impresso se dará ainda neste ano. Quem é da área sabe que mudanças e adaptações são necessárias e, embora pareça o fim dos jornais em papel, o caso merece ser visto com outros olhos para se manter nas bancas.

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Investir em conteúdo, com pautas mais aprofundadas e editorias específicas pode ser a receita para fidelizar o leitor. Em uma entrevista para o portal Imprensa, Ken Doctor, analista de mídia e guru da indústria jornalística norte-­ americana, é otimista quanto ao futuro da notícia no cenário pós-impresso. Pa-

Paywall e a boa notícia

ra ele, uma das alternativas para os veí-

No Brasil, existem mais de 570 mil assinantes de edições

culos saírem da crise seria criar uma

digitais, conforme levantamento do Instituto Verificador

aliança maior com a receita advinda dos

de Circulação (IVC) em outubro de 2014. A auditoria das

leitores. De acordo com o especialista,

edições digitais, paralela às impressas, abrange 26 veícu-

isso mudaria a escala de 35% de retor-

los. Alguns dos principais jornais do País, como Folha de

no da venda de exemplares a leitores,

S.Paulo, O Globo, Estadão e Zero Hora, têm mostrado mais

e 65% da publicidade. Ele explica que

força com suas edições digitais. Enquanto as vendas dos

os jornais podem obter alguma publi-

títulos – 93 publicações no total – auditados pelo IVC caí-

cidade digital, mas não conseguirão

ram, no geral, 3,3% no primeiro quadrimestre de 2015, em

manter o que recebiam pelo impresso.

relação ao mesmo período do ano passado, as dos 25 jor-

Alternativa encontrada até então, o

nais brasileiros que também possuem sua circulação digi-

modelo de cobrança paywall ainda não

tal auditada cresceram 2,5%.

tem aceitação satisfatória no grupo de

Se considerada a circulação das edições digitais, o cres-

leitores com menos de 30 anos, que

cimento é ainda mais expressivo: entre janeiro e abril de

resiste em pagar por notícia. Entra em

2015, os índices foram 50,3% maiores que nos quatro pri-

cena o que a publicidade pode fazer

meiros meses de 2014. E elas representam agora um sha-

pelo negócio e como os publishers ad-

re de 26,8% da circulação desses 25 títulos. O levantamen-

ministram suas empresas para que não

to não chega a refletir a realidade da leitura dos jornais

acabem apenas vendendo espaço. Com

digitais, porque, em geral, os assinantes do impresso têm

isso, Doctor acrescenta que, quando

acesso a essas versões gratuitamente. Ainda que o acesso

se chega em um ponto em que o digital

seja mediante cadastramento, os números não são com-

ganha mais terreno que o impresso, os

putados pelo IVC, uma vez que a assinatura deve ser paga.

custos diminuem significativamente:

O crescimento das assinaturas digitais no Brasil parece

não há necessidade de ficar escravo

desmentir o mito de que os internautas não aceitam pa-

das rotativas ou de caminhões de en-

gar por conteúdo digital. Os dados são confirmados no

trega. É possível divulgar uma campa-

relatório Digital News Report 2014, do Reuters Institute, em

nha em um cenário composto mais de

nove países – Brasil, Itália, Espanha, Alemanha, Estados

canais digitais e redes sociais. Para uma

Unidos, Dinamarca, Finlândia, França e Japão. De acordo

empresa anunciar, ela não precisa das

com o relatório, os brasileiros são os mais dispostos a pa-

mesmas ideias, nem das mesmas ver-

gar por notícias em meio digital (61%), contra apenas 11%

bas de uma década atrás.

dos norte-americanos e 8% dos japoneses. 72


Pelo mundo A jornalista e cientista da comunicação, graduada pela Universidade Autónoma de Lisboa, Filipa Teles Carvalho não hesita em afirmar que o jornal impresso está tão ameaçado quanto o jornalismo. Apesar de se considerar otimista, para ela, a realidade do cenário atual não permite muitas alegrias. “Julgo que a ameaça se estende ao próprio jornalismo na sua essência. A discussão do impresso versus digital é, pa-

DAVID COSTA BICHENZO

ra mim, menos importante do que o risco de se perder o bom e verdadeiro jornalismo e da importância que isso tem para uma sociedade informada e mais livre”, observa. Neste contexto, Filipa traz à tona uma questão de cunho cultural. Para ela, se as pessoas não querem saber e destinam pouco dinheiro para a informação, o jornal impresso vai sofrer, mas as telenovelas e o futebol não. “Também se diz que a internet é muito democrática, mas penso que há muita gente que ainda não sabe acessar seus conteúdos e – o mais importante – não tem os filtros necessários para escolher o que ver online. Assim, como uma saga repetitiva com consequências para o mundo, quem não sabe não quer saber”, brinca. Professor na Universidad de Navarra, na Espanha, Ramón Sala-

A discussão do impresso versus digital é, para mim, menos importante do que o risco de se perder o bom e verdadeiro jornalismo e da importância que isso tem para uma sociedade informada e mais livre. FILIPA TELES CARVALHO JORNALISTA

verría é especialista na investigação sobre ciberjornalismo e meios digitais. Conforme ele, manter a atenção no futuro do jornal de papel é uma preocupação secundária. O importante é a qualidade da informação. “Não deveria nos alarmar o fato de os cidadãos abandonarem paulatinamente o papel como suporte de consumo da informação. O que deveria preocupar é que eles não se interessem pela informação jornalística. Por sorte, isso está longe de acontecer. Pelo contrário, hoje em dia se consome mais informação do que nunca”, salienta. Salaverría diz que o futuro do papel como suporte jornalístico está em declive. “Não é necessário ser um adivinho para dizer que as telas cada vez mais consomem tempo e atenção dos cidadãos, que há anos vêm alcançando a portabilidade, graças aos dispositivos móveis”, observa. Na opinião do professor, o diário de papel seguirá perdendo terreno, mas isso não significa, necessariamente, seu desaparecimento, ao menos durante algumas décadas. “O impresso conviverá com as telas, mas, sem dúvida, perderá seu lugar hegemônico como suporte principal do jornalismo de qualidade. O jornal diário deixará de ser o meio de referência e se transformará em um meio a mais, mas não morrerá”, projeta.

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É preciso adaptar A respeito dos profetas que apregoam o desapa-

ta de um jogo. O que importa agora é as empresas

recimento do jornal impresso, Salaverría é enfáti-

e jornalistas se dedicarem a estudar novos forma-

co ao esclarecer que o cenário não é tão catastró-

tos e novas possibilidades, tanto de modelo de

fico quanto parece. Para ele, nem Phillip Meyer

negócio quanto de narrativa jornalística, e isso es-

nem Nicholas Negroponte estão corretos. “Todas

tá acontecendo de modo descentralizado em todo

essas profecias me parecem ridículas. Quem po-

o mundo”, enfatiza.

de assegurar que sabe antecipadamente a data

O professor indica que a principal tendência,

em que uma mídia desaparecerá?”, questiona.

que já é observada nos Estados Unidos, é de em-

Salaverría destaca que, ante tais afirmações,

presas manterem jornais funcionando por conta

as pessoas em geral, e, principalmente, os jorna-

do prestígio que a marca impressa traz ao grupo,

listas deveriam se rebelar. Ele alinha exemplos: Me-

enquanto, paralelamente, investem no seu novo

yer, de fato, anunciou o fim do jornal impresso nos

negócio principal, que passa a ser o jornalismo

Estados Unidos para 2043, e outros supostos gurus

distribuído digitalmente para celulares, tablets,

assinalam esta data para outros anos, 2025, 2017

computadores, gadgets diversos, em formas con-

inclusive o caso de Negroponte, que em uma en-

vencionais e não convencionais, como games, apli-

trevista, há alguns anos, afirmou que seria em 2015.

cativos, listas etc. “Para isso, será fundamental in-

O próprio Ted Turner, fundador da CNN, já havia

tegrar às equipes de cobertura o pessoal de TI

dito que em 1982 o diário impresso desaparece-

(Tecnologia da Informação)”, analisa. Para ele, os

ria. “Claro que ele não acertou”, sinaliza. Segundo

profissionais de TI vieram às redações para ficar.

ele, a única realidade incontestável é que, na atua-

O modelo que mistura profissionais de TI e até

lidade, os jornais continuam sendo impressos em

mesmo engenheiros com jornalistas, nas redações,

todo o mundo. “Isso vai continuar durante muito

alcançou excelentes resultados na transição de

tempo, ainda que haja iluminados com pretensões

impresso para digital do norte-americano Washing­

de colocar uma data como prazo final”, ironiza.

ton Post. Quando o fundador e proprietário da Ama-

Colunista do Estadão.com e professor de Jor-

zon, Jeff Bezos, comprou o jornal, no final de 2013,

nalismo na ESPM São Paulo, Renato Essenfelder

uma centena de repórteres e mais 40 engenheiros

expõe uma visão um pouco menos otimista que

foram contratados para modernizar a redação que

Salaverría. “Vai desaparecer, mas a questão é quan-

contava com quase 700 jornalistas. Neste perío-

do”, frisa. Essenfelder, que já atuou como repórter

do, a audiência do veículo na internet cresceu 60%,

e editor na Folha de S.Paulo, além de editor-chefe

com 50 milhões de visitantes por mês, e veio o re-

do jornal Metro no Brasil, acredita que não faz

conhecimento de sua produção jornalística com

muita diferença se em 10 ou 15 anos. “Não se tra-

o Prêmio Pulitzer. 74


O impresso precisa inovar O professor Salaverría segue a mesma proposta do editor do Washington Post no quesito aprofundamento dos assuntos que devem entrar na pauta dos impressos. Ele sugere que o jornal assuma que já não é o centro em torno do qual giram os demais ARQUIVO PESSOAL

meios de comunicação. E sinaliza aos editores dos impressos que abandonem a pretensão de publicar notícias em primeira mão e de conservar para si os conteúdos informativos. “A batalha do jornal diário não pode ser essa. Ao contrário, no que pode competir com armas formidáveis é a profundidade de uma análise mais tranquila”, pondera. Para Salaverría, sempre haverá leitores para este tipo de informação destilada e de qualidade. A equação é mais simples do que se pensa: cobrir menos informações, mas cobrir melhor. “Quantas das notícias publicadas diariamente pelos jornais resultam irrelevantes aos leitores? Demasiadas! Os jornalistas perdem tempo em conteúdos rotineiros que, muitas vezes, importam mais às fontes do que aos leitores. Os diários devem quebrar esta inércia e se concentrarem naquilo que de verdade interessa aos seus leitores, com todo o detalhe e profundidade possíveis”, ensina. Para a jornalista Filipa Teles Carvalho, as mudanças devem

O jornal impresso vai desaparecer, mas a questão é quando. RENATO ESSENFELDER

JORNALISTA, COLUNISTA E PROFESSOR

ser as mesmas que servem para outras crises, na cultura e na educação. Ela enfatiza que, cada vez mais, o jornalismo está nas mãos dos empresários que buscam o lucro. “São menos ordenados e mais produção, sem aprofundamento. É impossível estar atualizado sobre tudo. Mas é possível aprofundar algumas coisas e saber a importância delas. Isso parece que foi substituído por uma pressa de acumular informação como quem coleciona sem nunca entender. Disso resulta menos credibilidade e quase nenhuma qualidade. O jornalismo só vive da credibilidade. Sem ela, é outra coisa, é entretenimento”, pontua. Renato Eissenfelder entende que, nesse sentido, é possível que o jornal vire um objeto cult, como algumas revistas, que hoje se dedicam a conteúdo exclusivo, opinião e análise do noticiário. “O jornal acaba, mas continua. Acaba da forma que o conhecemos e continua repaginado, como uma espécie de butique noticiosa que agrega valor às marcas, sem, contudo, ser o principal carro-chefe das notícias”, afirma.

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Jornalistas precisam de jornalistas Um fator fundamental para os profissionais de jornal em todo o mundo está na necessidade de unir forças e não medi-las. Se, por um lado, os jornalistas mais velhos acumulam experiência, as novas gerações saem das universidades com fome de tecnologia e imediatismo. “Desde que apareceram os primeiros meios na web, na metade dos anos 1990, as redações dos diários sofreram uma brecha. De um lado, estavam os jornalistas veteranos, conhecedores do ofício, mas receosos das técnicas digitais para investigar, produzir e publicar informação. De outro, estavam os jovens graduados, habilidosos no manejo das tecnologias, mas, frequentemente, sem conhecimento dos fundamentos jornalísticos essenciais”, descreve Salaverría. Esta distância, segundo ele, criou nas redações duas castas. Na visão de Filipa, os profissionais mais antigos não estão preparados para a superficialidade. Ela observa que, em Portugal, há cada vez menos profissionais mais velhos nas redações. “Porque não os querem ou porque eles deixaram de se identificar com esta outra coisa que não é o jornalismo. Isso é verdadeiramente assustador porque precisamos deles, em experiência e sabedoria. Estamos perdendo algo muito importante, que é a parte pedagógica do jornalismo. Os velhos mestres sempre tiveram a preocupação de explicar, de esmiuçar e estamos perdendo isso”, compara. 76


Formação e desafio do jornalismo Como professor, Salaverría aponta três fundamentos básicos para a formação de um jornalista: primeiro, o desenvolvimento humanista, o saber relacionado à Literatura, História, Economia, Política, Sociologia, para entender, interpretar e criticar o mundo. “Quem não tiver uma formação assim, não tem o que dizer”, argumenta. Em segundo, é necessário ter conhecimento do meio jornalístico, da cultura profissional, da evolução de tendências na área, da narrativa. Por fim, ele ressalta a qualificação prática. “Cada um desses pontos vem depois do outro. É preciso também que o novo jornalista esteja atento ao valor crescente do público como elemento interativo do seu trabalho”, esclarece.

Os jornalistas perdem tempo em conteúdos rotineiros que, muitas vezes, importam mais às fontes do que aos leitores. Os diários devem quebrar esta inércia e se concentrarem naquilo que de verdade interessa aos seus leitores. RAMÓN SALAVERRÍA

PROFESSOR NA UNIVERSIDAD DE NAVARRA, NA ESPANHA

O Daily Telegraph, de Londres, na opinião de Ramón Salaverría, é um caso de referência mundial de convergência do impresso para o digital. Ainda em 2006, todos os jornalistas do veículo passaram por um processo de treinamento quase militar. Houve capacitação feita por profissionais do próprio jornal e de fora. Além disso, os jornalistas viveram um tempo trabalhando na área digital e vice-versa. Se alguém não quisesse participar do projeto, as portas estavam abertas para sair. E alguns saíram mesmo. Para Salaverría, o grande desafio do jornalismo do século 21 é converter a tecnologia em algo a serviço da informação. “E não o contrário, como está sendo feito até agora. Em minha opinião, o verdadeiro jornalismo online chegará no momento em que a informação seja apurada diretamente onde acontece”, profetiza.

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reconquistar Adaptar para

O jornal é um meio em transformação, bem como a comunicação em um sentido geral, reconhece a vice-presidente de jornais e mídias digitais do Grupo RBS, Andiara Petterle. A executiva considera inevitável acompanhar a evolução e se ajustar às novidades, principalmente em se tratando de tecnologia, para ter êxito em um mercado tão competitivo. Carmen Crochemore, diretora-executiva do Sul21, plataforma de jornalismo genuinamente online, atenta para o fato de que os jovens estão cada vez mais imediatistas e conectados, e o online possibilita o acesso à informação de modo mais ágil. Um dos desafios das empresas que trabalham com o impresso é encontrar maneiras de se diferenciar, na visão do coordenador de internet do Grupo RBS, Paulo Ludwig. “É difícil vencer a concorrência com a internet, pois ela entrega o conteúdo de forma muito mais rápida e em diversos formatos. O jornal precisa buscar estratégias de se destacar, inovar na produção, se aprofundar mais”, opina.

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Do papel para o virtual Alguns veículos estão fazendo a transição do papel para o virtual. O exemplo mais recente no Rio Grande do Sul é o caso do jornal O Sul, que extinguiu a circulação impressa e hoje atende exclusivamente no ambiente online. “Essa mudança foi pensada, planejada. Não acredito na extinção do impresso, mas o grupo entendeu que essa era a melhor opção para nós e está dando certo. Em agosto deste ano, tivemos 18 milhões de acessos no portal”, salienta Paulo Sérgio Pinto, vice-presidente da Rede Pampa, detentora de O Sul. Outros jornais, sem descuidar da versão impressa, optaram por manter seus exemplares em papel, mas têm investido no sistema de assinaturas online, para quem quiser folhear a edição na internet, seja na tela do computador, no celular ou no tablet. Andiara discorda de quem diz que as pessoas não pagam para ter informação na rede e acredita que este é um ótimo sistema. “Se tem qualidade jornalística, as pessoas pagam, sim”, garante. Existem também aqueles que nasceram digitais, como o Sul21, que viu nas infinitas possibilidades oferecidas pela internet um novo jeito de comunicar. “O Sul21 foi gerado nesse meio e seguirá exclusivamente nesta esfera. A evolução tecnológica conduz os leitores, cada vez mais, do impresso para o virtual. A busca maior é por informações atualizadas e diferenciadas, essa é a nossa proposta”, argumenta Carmen. Ludwig e Andiara concordam com a ideia de que as redações devem investir com mais intensidade nos conteúdos multiplataforma; apostar em reportagens aprofundadas, com vídeos, fotos, áudios, textos; fazer uma mescla de todas as funcionalidades disponíveis para atrair e fidelizar o público. Usar a tecnologia a favor da comunicação deve ser, então, o caminho para manter o papel vivo nos próximos anos. 80


Segmentar para não acabar JEFFERSON BERNARDES - AGÊNCIA PREVIEW

De acordo com os gaúchos ouvidos nesta reportagem, assim como em outros setores da comunicação, para evoluir e continuar em cena, um passo importante a ser tomado é buscar entender o comportamento e o perfil dos leitores de maneira mais efetiva. E, com isso, entregar conteúdo ainda mais direcionado. Paulo Sérgio salienta, por exemplo, que essa evolução dos meios de comunicação, em especial o jornalismo impresso, é alavancada pela nova geração, então, é necessário um conteúdo específico para ela. Desse modo, a segmentação é apontada como outra aposta para garantir a permanência do impresso por mais tempo. Ludwig é mais ousado na sua previsão para o futuro. “A segmentação é essencial, mas um caminho para o impresso é deixar de ser diário e pas-

A evolução dos meios de comunicação, em especial o jornalismo impresso, é alavancada pela nova geração. É necessário conteúdo específico para ela.

sar a ser trissemanal”, defende. Para isso, ele completa, será necessário um trabalho de pesquisa que busca compreender o que o consumidor quer e não apenas isso, o que é interessante e como pode ser explorado de forma mais abrangente.

PAULO SÉRGIO PINTO

VICE-PRESIDENTE DA REDE PAMPA

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ia

r á n e t n e c Uma fórmula

Confiança e credibilidade são valores que norteiam a tra-

jetória de 120 anos do Correio do Povo, completados no último 1º de outubro. Com mais de 1,5 milhão de páginas publicadas nesse período, o veículo – fundado pela Companhia Jornalística Caldas Júnior e hoje pertencente ao Grupo Record – anunciou recentemente a digitalização total de seu acervo. A medida, afirma o presidente do jornal, Cléber Nascimento Dias, busca proteger a história atrelada ao momento do jornal. Para o diretor Comercial, João Müller, “não existe nada maior do que a força da marca do Correio do Povo”, que, ao longo dos anos, conquistou crescimento tanto em circulação como em desenvolvimento tecnológico. A modernização também recebe atenção do veículo, que, ao comemorar o 120º aniversário, renovou os investimentos nas áreas financeira e humana e reformulou as versões impressa e online. O objetivo foi acompanhar o movimento mercadológico e equiparar o jornal a outros de destaque no setor. “Investimos muito em conteúdo com redação, planejamento e comercial focado no online”, revela. “Nós estamos prontos, quem não está pronto é o mercado”, acrescenta o presidente. Cleber ainda ressalta que, ao longo de 120 anos, o Correio manteve o compromisso com a informação. Segundo ele, é isso que torna o veículo mais forte e robusto. “As pessoas percebem que não são manipuladas por esse mundo da web. Por isso, nos diferenciamos, e seguimos esse legado que lá na frente se fortalecerá ainda mais”, projeta. Müller garante que, caso o impresso acabasse, a versão digital do Correio estaria apta a assumir integralmente a divulgação dos principais fatos do Estado. E, sem revelar detalhes, adianta que a empresa tem em andamento diversos projetos a serem implantados ao longo de 2016. Diretor de Redação, Telmo Flor destaca que o impresso vem sofrendo uma mudança significativa nos últimos anos. Nesse contexto, o jornal reforça junto aos leitores os compromissos fixados em seu editorial, publicado em 1895. Para o jornalista, o momento é de reafirmar: “Independência, imparcialidade política, verdade, credibilidade e modernidade são valores do Correio do Povo, e nisso se inserem não apenas as plataformas novas ou as que venham surgir, mas também as mudanças no impresso”. 82


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2

Jornalismo

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2.0 C

onstrução conjunta, união de forças ou

mentes com mesmo

objetivo, trabalho em

comum, cooperação. Tudo

isso pode ser traduzido na

palavra colaboração. Na

Bliive (www.bliive.com), rede

social de troca de tempo, o

conceito é apresentado

como “a nova revolução”. Já

na Comunicação, ganha

destaque pelo jornalismo

colaborativo, modalidade

que bus c a int roduzir o ‘cidadão comum’ no processo de produção da notícia. Mas,

diferentemente da internet,

que adotou o termo Web 2.0

para marcar o surgimento

das ferramentas de interação

e participação, o modelo ainda desafia o meio jornalístico.

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No ambiente digital, há alguns portais que trabalham com o conceito de colaboração, como o Casal Sem Vergonha, que permite que outras pessoas escrevam artigos para o site, e o Nômades Digitais, o qual conecta pessoas que trabalham viajando pelo mundo. Na área jornalística, ou seja, que produz com as técnicas do ramo, um dos casos mais emblemáticos é o noticiário sul-coreano OhmyNews, que levou o seu slogan Todo cidadão é um repórter ao mundo, mas se consolidou mesmo como um canal local. Também é possível citar CNN iReport, site dedicado a receber histórias e conteúdo multimídia produzido pelo público; o caso do portal Terra, que mantém um canal chamado Vc Repórter, pelo qual internautas enviam fotos, vídeos e textos; e do Mídia Ninja, o qual ganhou visibilidade durante as manifestações de 2013. Para o professor de Jornalismo da Uniritter e editor de Zero Hora, Rodrigo Lopes, a área deve acabar com uma arrogância do jornalista de achar que só ele pode produzir conteúdo. “Esse novo modo de fazer vem para mostrar que o público tem voz – e fala bem alto –, para democrati-

ARQUIVO PESSOAL

zar e aumentar a liberdade de expressão”, comenta ele.

Se não existir um interesse genuíno de tornar os cidadãos em ajudantes, então eles se tornarão concorrentes. ANA BRAMBILLA

JORNALISTA E DOUTORANDA EM COMUNICAÇÃO

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Facilitador e concorrente A internet é o principal facilitador do jornalismo colaborativo ao permitir que qualquer pessoa que tenha um celular conectado à rede possa produzir e divulgar conteúdo, qualquer que seja ele. A jornalista e doutoranda em Comunicação pela Universidad Austral, de Buenos Aires, Ana Brambilla ressalta que as tecnologias digitais promovem um simples cidadão a produtor de conteúdo com visibilidade midiática, como os blogueiros, por exemplo. Trata-se de um processo que, com o tempo e o aparecimento das redes sociais, tornou-se ainda mais fácil. Em contrapartida, muitos profissionais atuantes em veículos de comunicação tradicionais ainda não enxergam os não jornalistas como colaboradores. “Acredito que o fato de qualquer um se considerar um repórter, apto para produzir e propagar notícias, afetou a comunicação no caminho de alertar os jornais para a realidade de que existe notícia além da sala de redação”, explica o jornalista e professor da PUCRS Luiz Adolfo Lino de Souza. Ana complementa dizendo que as pessoas evoluíram neste sentido no momento em que se deram conta de que não é necessário que os grandes veículos publiquem algo para que uma causa ganhe projeção na sociedade. Exemplo disso – e sinal de alerta para que os comunicadores reflitam – está no fato de que parcela significativa da sociedade se sente desassistida no quesito notícias locais. Para Ana, muitos se veem mais atendidos por um post nas redes sociais do que pelo noticiário. Ela dá como exemplo o cidadão que espera o ônibus por um longo tempo, sem saber o que está acontecendo, enquanto ouve a notícia de que o celular da chanceler alemã, Angela Merkel, foi grampeado pela agência de segurança nacional norte-­ americana (NSA, na sigla em inglês), ao mesmo tempo em que recebe um tweet de um colega dizendo que o tal coletivo mudou o trajeto por causa de um acidente. Neste caso, quem entregou o serviço que a pessoa realmente precisava? O jornalista que noticiou um fato mundial, que não afeta a comunidade local, ou o cidadão, que deu informação que afetou os usuários daquele transporte? Uma projeção para o futuro é justamente esta: passar a ver o cidadão como um auxílio e não um inimigo, alguém que, efetivamente, poderá contribuir para as boas reportagens de critério local. “O jornalismo colaborativo consegue colocar na mídia muitos jornalistas e conteúdos que não têm espaço nos meios tradicionais”, acrescenta Lopes.

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E quem pode fazer jornalismo? Com o avanço das mídias digitais e as possibilidades de compartilhar conteúdo próprio, a confiabilidade e a credibilidade tendem a se tornar, cada vez mais, essenciais. O editor-executivo do Brio (www.brio.media) – plataforma online onde jornalistas do mundo todo podem publicar grandes histórias de forma compartilhada –, Breno Costa, afirma que o jornalismo de credibilidade sempre demandará técnica, seja de escrita, apuração ou edição. “Qualquer cidadão pode, de fato, publicar informações. A questão é como isso é recebido pe-

ARQUIVO PESSOAL

lo restante das pessoas. Até que ponto o que es-

Qualquer cidadão pode, de fato, publicar informações. A questão é como isso é recebido pelo restante das pessoas. Até que ponto o que essa pessoa diz é confiável? BRENO COSTA

EDITOR-EXECUTIVO DO BRIO

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sa pessoa diz é confiável?”, indaga Costa. Rodrigo

municação, como o jornal Diário Gaúcho, por

Lopes concorda e corrobora: “A colaboração é

exemplo, utilizam a ferramenta para trocar ex-

muito saudável, mas nem toda informação dis-

periências com os leitores e tirar dali, principal-

ponível na rede se transforma em produto final.

mente, conteúdo local, que é, por consequência,

Tenho a convicção que só faz jornalismo quem é

o que mais interessa para o público. “A partici-

jornalista e conhece as técnicas da profissão”. Na

pação das pessoas de fora da redação é funda-

visão de Ana, o futuro exige que os veículos pas-

mental para o futuro do noticiário. Casos de de-

sem a tratar leitores, ouvintes e telespectadores

núncias ligadas ao governo, deficiências nos ser-

como colaboradores. “Se não existir um interes-

viços públicos, acontecimentos inusitados, este

se genuíno de tornar os cidadãos em ajudantes,

olhar recortado é uma fonte importante. A rede

então eles se tornarão concorrentes”, diz ela.

fica mais completa e o jornalista ganha interlo-

Um canal que tem aberto portas para essa tendência é o WhatsApp. Alguns meios de co-

cutores melhor localizados e informados”, defende Luiz Adolfo.


Espaço para os novos Não apenas os sem-formação estão em busca de um lugar ao sol, os jornalistas também. Lançado em maio deste ano, o Brio, de acordo com o editor-executivo da plataforma, surgiu da ideia de experimentar um modelo alternativo em termos de produção de jornalismo independente no meio digital, mas que fosse susten-

O jornalismo colaborativo consegue colocar na mídia muitos jornalistas e conteúdos que não têm espaço nos meios tradicionais.

tável. “Percebemos que havia um campo aberto para o jornalismo narrativo relevante, feito por uma combinação de jovens repórteres e profissionais consagrados. Nos inspiramos de maneira mais direta na experiência, até então recente, do The Atavist, um site americano que une jornalismo e tecnologia”, conta Costa. Lopes acredita, ainda, que a simpatia dos jovens pelo jornalismo colaborativo tem muito a crescer. “Esta nova geração tem ânsia por escrever, há uma neces-

RODRIGO LOPES

sidade de se expressar, se posicionar e isso é interes-

PROFESSOR DE JORNALISMO DA UNIRITTER E EDITOR DE ZERO HORA

sante”, diz ele. Além disso, Luiz Adolfo explica que uma nais e cidadãos comuns usam toda a tecnologia e ferramentas disponíveis para enriquecer o jornalismo. Outro ponto que deve ser levado em conta para o futuro é apontado pela jornalista e doutoranda Ana: é preciso ouvir as reais necessidades dos consumidores, investir nas produções locais e de interesse do público. Para o Brio, esse modo de fazer comunicação significa habilidades que se complementam para produzir o melhor jornalismo possível. Para os que estão iniciando a carreira nessa profissão e querem investir no conceito de colaboração para comunicar, Breno Costa deixa um conselho: “Aprendam o básico sobre programação e design e criem um site próprio. Posicionem-se no vasto mundo da internet e se preocupem em como a sua produção será lida em smartphones. Não esqueça: é necessário se destacar na multidão, ou você se torna irrelevante e o jornalismo colaborativo vira uma ‘colaboração’ entre meia dúzia de interessados”, finaliza. 90

LIVIA STUMPF

forte tendência é a troca qualificada, na qual profissio-


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O papel do papel A página impressa já foi nossa principal interface com a informação. Uma folha carregava um mundo de dados, impressões, descobertas. Era a forma mais eficiente de oferecer reportagens, análises, fotos, gráficos para pessoas dispostas a entender o mundo, a sorver o que acontecia na rua, na cidade, no país, no mundo, no esporte, na cultura, na culinária, na economia. Isso mudou com as telas – da TV, do computador e, agora, dos celulares. Uma folha de papel, que costumava conter o mundo, agora está em crise de identidade.  É uma crise justa, mas contornável. Não se trata de morte do papel, mas de redefinição do seu… papel. Já faz algum tempo, ele vem perdendo a função de suporte principal de informação e entretenimento, e isso não aconteceu apenas com o advento e consolidação da internet. O rádio e a TV imitaram características do papel até desenvolver os próprios contornos.   Basta lembrar das novelas. Elas começaram nos livros, viraram radionovela e, nas telas grandes, só novelas. Hoje, muitas pessoas acham estranho quando um livro antigo é classificado como novela. Para algumas gerações antes da nossa, o estranho era ver novela na TV.

92


L OA ESS OP UIV A RQ

LEANDRO BEGUOCI

JORNALISTA E EDITOR-CHEFE DA F451

Portanto, a questão a fazer não é se o papel vai ou

Essas questões não atingem só o papel. Os sites

não morrer. É definir que funções o papel pode

também vêm passando por isso. Faz sentido pu-

desempenhar melhor do que as telas. Aí, as per-

blicar algumas coisas em um site. Outras, não. Faz

guntas começam a ficar mais interessantes – e me-

mais sentido publicar no Instagram, no Twitter, no

nos deprimentes.

Facebook, no YouTube.  Afinal, a proliferação de plataformas, e o papel é uma plataforma, levanta

Por exemplo: telas têm notificações, e elas tiram

uma questão clássica de eficiência: qual o melhor

nossa concentração. Que tipo de leitura pode fun-

meio para entregar aquilo que eu faço?

cionar melhor em papel? Aquelas que exigem grande concentração? Se sim, que tipos de leituras exi-

Nem tudo precisa estar em todas as plataformas.

gem grande concentração?

Algumas coisas funcionam melhor em uma do que em outra. A informação não precisa ser enquadra-

Outra coisa: o papel é mais flexível para design de

da para se adaptar ao meio. O meio é que deve

página e tipos de fotografia do que as telas, que

estar aberto para recebê-la da melhor maneira pos-

ainda operam com formatos predefinidos. Como

sível. Já passamos da fase de descrever vídeos em

oferecer uma experiência visual que use essas ca-

texto – ou de ter de ser redundantes para preen-

racterísticas do papel a favor da experiência das

cher espaços em torno de informações que cabem

pessoas com o produto?

em poucas linhas.

Um dos grandes problemas de muitos jornais e re-

A fragilidade do papel escondia a força enorme

vistas é vê-lo apenas como suporte de informação.

contida nele. É só comparar o mundo antes e de-

Ele não é apenas, nem mais, um suporte barato

pois da prensa de Gutenberg. Ela libertou uma enor-

para colocar aquilo que a gente queria pôr sobre

me quantidade de dados que estavam restritos a

ele. O papel tem de ser pensado como um produ-

alguns grupos e poucas pessoas. Agora, é hora de

to específico, com características próprias, que per-

deixar o papel descansar um pouco. Ele pode fazer

mite oferecer algumas coisas muito bem. E outras,

só algumas coisas – e fazê-las muito bem!

claro, ele já não pode mais oferecer. Afinal, por que raios imprimir previsão do tempo? Ou classificados com informações curtas e incompreensíveis?

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Procuram-se caminhos para os neg贸cios

94


Q

uando o cenário econômico é de tormenta, o mercado de comunicação não passa ileso. A verba

destinada à área é, comumente, a primeira a ser cortada no orçamento das empresas, embora a orientação seja exatamente a contrária. Garantir uma relação efetiva entre marca e consumidor costuma ser indicado como um dos principais ‘antídotos’ para superar a crise. Ao mesmo tempo, as empresas de comunicação precisam comprovar sua relevância, seja qual for o seu público.

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No mercado de comunicação, a palavra de ordem para assegurar um futuro rentável às agências de comunicação e publicidade é inovação. Para o presidente do Sindicato das Agências de ProCARLOS DELLA ROCCA

paganda do Rio Grande do Sul (Sinapro-RS), Delmar Gentil, o mercado vive um momento de intensa adaptação. “É preciso se ajustar e criar novos formatos, acompanhar a evolução”, diz ele. Desde que foi aberta à população, na década de 1990, a internet segue inovando, agregando funcionalidades, ampliando possibilidades e alterando a forma de relacionamento interpessoal. Da criação do Orkut, passando pelo Twitter, Facebook e até as mais recentes como Periscope, Snapchat, Tinder, as redes sociais, além de conectar pessoas, se tornaram aliadas da publicidade para conquistar clientes, seja através de anúncios ou por ações de marketing digital. O diretor-geral de Mercado Nacional do Grupo RBS, Flávio Steiner, entende que as marcas devem se comunicar mais legitimamente com seus públicos e vê nas mídias sociais um caminho interessante para o futuro. “Acredito que, mais do que a plataforma ou o canal em que essa comunicação vai acontecer, o importante é que ela seja construída com mensagem e conteúdo realmente re-

Mais do que a plataforma ou o canal, o importante é que a comunicação seja construída com mensagem e conteúdo realmente relevantes para o consumidor.

levantes para o consumidor”, explica. Um fator que chama a atenção na questão financeira está na constatação de que anunciar na internet é mais barato. Um empresário pode patrocinar sua página no Facebook com um investimento baixíssimo, por exemplo, e gerar mais visibilidade e receita do que colocando em um espa-

FLÁVIO STEINER

ço do impresso. Entretanto, o consultor em comu-

DIRETOR-GERAL DE MERCADO NACIONAL DO GRUPO RBS

nicação André Bersano alerta: “Para que isso funcione, é importante ter um sistema de métricas e mensuração de resultados eficiente, para ter certeza de que o que está sendo anunciado ou divulgado seja relevante para aquele nicho de pessoas”. 96



Parceria estratégica Com os consumidores mais exigentes e os anun-

tidas como tradicionais ganham dinheiro, normal-

ciantes mais cautelosos na aplicação de verbas, o

mente, através de fee mensal, comissão de mídia,

modelo de negociações com base nos resultados

ou honorários de produção. Nos modelos mais atuais,

deve ser observado pelos empresários, destaca Stei-

o que funciona melhor são os jobs, remuneração

ner. “É preciso ter as marcas como parceiras estra-

por planejamento, mais específicas”, esclarece. Isso

tégicas, não simplesmente oferecer um serviço, mas,

vai ao encontro do propósito de Zeca Honorato. Delmar Gentil concorda que, para crescer, é

juntos, atingirem os objetivos do negócio”, reitera o

necessário fazer junto, tanto no planejamento e

diretor-geral de Mercado Nacional do Grupo RBS. Quando os consumidores mudam de postura,

no pensar as ideias, quanto ao definir a remune-

os empresários também precisam encontrar no-

ração do trabalho. “Essa parceria deve visar a

vos formatos de negócio. O diretor da agência AMA,

uma entrega qualificada por parte da agência,

Zeca Honorato, defende que a criatividade e a ino-

ao mesmo tempo em que haja percepção de va-

vação por parte dos comunicadores constituem

lor por parte do cliente em relação ao serviço”,

critério para cobrar mais pelas tarefas. “Eu acredi-

aconselha o presidente do Sinapro-RS, desta-

to que a tendência é a valorização das grandes

cando que o mercado da comunicação gaúcha

ideias, de novos negócios, de evolução”, afirma. O

caminha para esse raciocínio.

publicitário diz ter estabelecido o critério de “ga-

Pensamento semelhante tem o consultor em

nha-ganha” ao praticar, por exemplo, a participa-

comunicação André Bersano. Para ele, é essencial

ção nos resultados do cliente.

que as agências e assessorias de imprensa defi-

A transformação nos modelos de remuneração

nam um alinhamento forte com a estratégia de

do negócio também é defendida pela engagement

reputação do cliente. Termo este, aliás, geralmen-

manager da Dot, agência especializada na estratégia

te apontado como chave para o futuro de negó-

de pontos de contato, Gabriela Frühauf: “As agências

cios sustentáveis.

Novos caminhos Outro formato de remuneração pela web é o da jor-

vezes por demanda das próprias empresas e ou-

nalista e escritora Cris Berger, que vislumbrou na re-

tras, por iniciativa própria, em que busca apoio

de uma oportunidade de fazer o que gosta. “Viajei

para executar os projetos. “Hoje, as empresas não

muito, criei um portfólio incrível e transformei isso

querem se comunicar por meio de propaganda,

em conteúdo de qualidade. Tem site, livro, redes so-

mas por conteúdo específico”, avalia ela, que sem-

ciais. É tudo multiplataforma, é assim que tem que

pre atuou no jornalismo empreendedor, produ-

ser se quiser crescer no mercado”, conta ela, que

zindo e comercializando seus projetos. São exem-

ainda atua como fotógrafa e videomaker. Os projetos

plos disso as três coleções de livros que levam a

recebem patrocínio de marcas que desejam se co-

sua assinatura e que foram patrocinadas por em-

municar com o público conquistado pela jornalista.

presas distintas, entre eles um guia pet, um dos

Cris produz conteúdo segmentado, algumas

mercados que mais cresce no Brasil. 98


Pensar e aprofundar Em meio a tantos formatos de venda e remuneração dos profissionais da comunicação, um ponto que gera polêmica está no modelo de negócio dos veículos imESTÚDIO HALUZ

pressos. O jornalista Marcelo Rech, diretor-executivo de Jornalismo do Grupo RBS, diz que houve uma redução de 30% a 50% nos jornais em termos de receita, tamanho e circulação, mas que há uma forte tendência à normalização. A justificativa, de acordo com ele, está baseada na diversificação dos modos de obter recursos financeiros. “Uma potente tendência é distribuir conhecimento por nichos. Trazer assuntos mais específicos para um grupo selecionado de pessoas. Se especializar cada vez mais, focar no anunciante, no leitor e nos seus interesses”, diz ele. Para os profissionais, um caminho pode estar em tor­ ­­­­­nar-se um “especialista da especialidade”, projeta Rech. “Se eu falo sobre saúde, vou me aprofundar apenas em diabetes”, explica, afirmando que a tendência do jornalismo está no ponto em que facilita tanto para o profissional – que, entre tantos temas, irá abordar apenas um – quanto para as empresas, que saberão exatamen-

Não basta a empresa anunciar em um site, por exemplo. É primordial pensar, planejar, criar, fazer um trabalho que se torne imprescindível para o usuário. GABRIELA FRÜHAUF

ENGAGEMENT MANAGER DA DOT

te em qual mídia investir seu dinheiro para propaganda. Nesta direção, comercialização e remuneração do negócio andam lado a lado, enquanto a marca também ganha, pois atinge o público efetivamente. Conhecer o cliente de maneira inteligente também ajudará a garantir bons negócios, é o que entende Gentil. Conforme ele, as redes sociais devem ser vistas como um complemento de toda uma estratégia, um mix de funções necessárias para realizar uma comunicação de grande impacto. E Gabriela acrescenta que ter um conhecimento completo de mídia online é um processo que deve ser buscado pelas agências de comunicação em geral. “Não basta a empresa anunciar em um site, por exemplo. É primordial pensar, planejar, criar, fazer um trabalho que se torne imprescindível para o usuário”, enfatiza.

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I

novações como o armazenamento de dados em nuvem reestruturam os processos internos, facilitando e agilizando

a troca de informações entre equipes, algo que tem se tornado rotina em algumas companhias. Ao mesmo tempo, estimulam um modelo de trabalho mais flexível. Há aqueles que observam o cenário econômico e buscam a redução de custos, outros valorizam o compartilhamento de ideias e experiências – ainda que nem sempre os profissionais dividam o mesmo ambiente – e a harmonia entre vida pessoal e trabalho.

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Exemplo disso é encontrado até mesmo em instituições ditas conservadoras, como Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e Banco do Brasil, que adotaram o formato home office para parte da equipe administrativa. No caso do TJ-SP, são cerca de 80 colaboradores usufruindo desse modelo, enquanto no banco federal, o número sobe para 100 pessoas. Mas ainda não é possível rotular esta como uma tendência, visto que institutos de estatística não possuem estudos oficiais sobre tal modalidade. Para alguns, esse formato de trabalho pode ser apenas um reflexo da crise econômica e política do Brasil. O fato é que o home office vem ganhando a atenção de muitos empregadores.

O mais importante é que os modelos não presenciais são democráticos, estão acessíveis a qualquer pessoa, independentemente da empresa ou local.

De acordo com o headhunter Rubem Souza, diretor-­ executivo da RSA Talentos Executivos, o que se nota é que muitos negócios passam a ser desenvolvidos em casa por uma necessidade de redução de custos, ou como um

RICARDO CAPPRA

formato alternativo, dependendo da

CIENTISTA-CHEFE DA CAPPRA DATA SCIENCE

natureza de cada negócio e da persoARQUIVO PESSOAL

nalidade de cada pessoa. Um dos poucos estudos sobre o tema foi realizado pela SAP Consultoria, empresa que atua no desenvolvimento e implantação de projetos voltados para soluções em gestão de cargos, funções, carreira e remuneração. Conforme a pesquisa, no primeiro semestre de 2014, 36% das empresas no Brasil já adotavam modelos de trabalho a distância. É importante ressaltar que o levantamento foi realizado apenas com empresas, sem incluir os profissionais autônomos, ou seja, freelancers. 102


Do tradicional ao alternativo Se as companhias optam por modelos alternativos para reduzir custos, entre os profissionais que decidem mudar o formato de trabalho, a escolha, muitas vezes, vem orientada pela busca por melhor qualidade de vida. “Acredito que a busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional é um dos fatores que faz com que esses modelos alternativos de trabalho cresçam a cada ano”, avalia a jornalista Márcia Breda, uma das idealizadoras do site Adoro Home Office.

Quem partilha dessa ideia é a publicitária Ana Carolina Campos, sócia-diretora do escritório de

O head de Criação da DZ Estúdio, Gustavo Mi-

marketing e consultoria La Rock. Ela, que possui

ni, após 20 anos atuando com Propaganda, fez

uma empresa de análise estratégica há quatro

uma parada estratégica e retornou ao mercado

anos, sempre atuou em modelos diferenciados

de trabalho de forma diferente. “Precisava experi-

de trabalho. “Quando comecei com a empresa,

mentar outras coisas, outros formatos e até outros

trabalhava em coworking para otimizar os custos,

segmentos”, recorda o publicitário, que passou 30

mas fui para o home office porque estava mais

meses trabalhando como freelancer. Neste perío-

no cliente do que na sede”, conta ela, que retor-

do, descobriu alguns pontos importantes sobre o

nou ao espaço compartilhado por necessitar do

próprio perfil e percebeu que podia render muito

contato com outras pessoas. Nesse aspecto, Ana

mais em menos tempo, sem precisar passar oito

Carolina é enfática ao afirmar que “a grande ten-

horas do dia em frente ao computador para de-

dência está no colaborativo”.

senvolver um projeto. “Quando eu me propunha a fazer algo, era muito mais focado”, garante.

Mas o modelo tradicional também tem seus atrativos. Mini, por exemplo, optou por voltar à

A jornalista Juliana Franzon, cocriadora do Ado-

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mesmo

ro Home Office, entende que o modelo de home

com todas as vantagens e aprendizados que diz

office não deve ser “comprado” por toda e qual-

ter adquirido ao longo do período como freelan-

quer empresa. Para ela, que também é produtora

cer. Ele conta que a agência para qual prestava

de conteúdo na Pirata Conteúdo, é necessário ana-

serviços o contratou como funcionário. “A renda

lisar se o sistema é interessante ou não para cada

fixa acabou compensando a falta de certeza nos

tipo de negócio. Márcia, que ainda atua como pro-

ganhos da consultoria”, pondera o publicitário.

dutora de conteúdo da B.Cause Connected Con-

Assim como não é válido para qualquer em-

tent, tem a mesma opinião, mas aposta que tra-

presa, o modelo de trabalho a distância também

balhar em casa ou em ambientes compartilhados

depende do perfil de cada profissional. O argu-

é, sim, uma tendência forte entre os profissionais

mento é do headhunter Rubem Souza, que consi-

da comunicação.

dera que algumas pessoas simplesmente não se adaptam a este formato. “Se sentem solitárias, por exemplo, e, assim, menos produtivas.”

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Movimentação Com a evolução tecnológica e os arquivos em nuvem, é inevitável que a mobilidade e o armazenamento das informações sejam facilitados, o que acaba reduzindo, de certo modo, a necessidade de as pessoas ocuparem o mesmo espaço. É o que defende o cientista de dados Ricardo Cappra: “Temos uma vida muito mais conectada, em nossos lares, com nossos familiares e amigos, e, naturalmente, isso ganha espaço na vida profissional também”. Segundo ele, as possibilidades tecnológicas facilitam para que novos modelos de trabalho comecem a ganhar espaço. Como exemplos, cita as reuniões remotas através de ferramentas como o Skype e, mais recentemente, o Hangout; as produções colaborativas de documentos como o GoogleDocs; o gerenciamento de projetos por aplicativos, e a troca instantânea de mensagens. Cappra, por exemplo, é adepto do formato que não exige presença física de seus colaboradores e parceiros full time, eles estão espalhados O cientista de dados, que coordena a Cappra Data Science e o laboratório de visualização de dados Mission Control, também destaca que grandes companhias internacionais disponibilizam datas específicas para trabalhar remotamen-

ARQUIVO PESSOAL

por diversas regiões do mundo, inclusive.

te, e pequenas empresas estão acelerando processos e até reduzindo custos através desses mesmos recursos. “O mais importante é que são modelos democráticos, estão acessíveis para qualquer pessoa, independentemente da empresa ou local em que ela esteja”, salienta. Outro caso que se destaca é o da produtora Zeppelin e da escola criativa Perestroika, que há cerca de um ano compartilham um casarão antigo em Porto Alegre. A Area 51, como o local é chamado, abriga um espaço de coworking que conta com 10 empresas e um café. “Criamos um ecossistema que gera muita informação e trocas de trabalho”, explica a coordenadora-geral da Zeppelin, Nádia Yacoub. Conforme ela, o formato de trabalho é uma grande tendência do mercado. “Hoje, tudo é muito colaborativo, e nada mais adequado que compartilhar os espaços”, acrescenta. 104

Criamos um ecossistema que gera muita informação e trocas de trabalho. NÁDIA YACOUB

COORDENADORA-GERAL DA ZEPPELIN


Tarefas e não trabalho Cappra defende que os formatos alternativos não

duração desse ‘contrato de trabalho’. Ao comparar

representam necessariamente a redução de locais

o trabalho remoto com os escritórios formais, Ana

de trabalho. Na opinião dele, o conceito de ‘posto

Carolina Campos avalia que “o grande movimento

de trabalho’ deveria ser alterado para tarefa. “Quan-

é não estar preso a um quadrado”, e esse cenário

do são distribuídas, elas podem fazer com que es-

é proporcionado pela tecnologia.

pecialistas atuem dentro de um mesmo trabalho

Modelos distintos, perfis diversos. Pode-se

sem necessidade da centralização do processo”,

dizer que o mercado de Comunicação não está

afirma o cientista de dados, que já atuou dessa

integralmente pronto para receber os formatos

forma para a Organização das Nações Unidas (ONU).

de trabalho a distância, mas é possível que já es-

Ele argumenta ainda que distribuir demandas

teja em um novo caminho, mais aberto a dife-

já virou uma realidade no seu trabalho, pois as

rentes modelos. Nessa linha, Cappra projeta:

pessoas podem estar espalhadas em qualquer

“Acho que chegaremos a um ponto em que os

parte do mundo, fazendo com que se busque o

modelos não serão nem discutidos. Tudo será

melhor recurso para resolver um determinado de-

tão natural que as empresas contarão com to-

safio, independentemente de onde ele está ou da

dos eles simultaneamente”.


Com a palavra, o mestre

106


J

ornalismo, Publicidade, Marketing, Design, Cinema, Relações Públicas, todas essas áreas têm algo em comum: a

Comunicação. Mais do que isso, hoje, elas têm a interferência da tecnologia nas suas atividades diárias. O fato é que, unindo tudo isso a duas gerações – Y e Z – que, basicamente, dominam as salas de aulas das faculdades, o resultado é um ciclo de transformações.Mudanças no jeito antigo de ensinar, no qual o professor apresentava uma verdade como sendo absoluta, começam a aparecer como um dos primeiros passos para formar novos profissionais. Como fazer isso? Para onde olhar? Que caminho traçar? Estas são perguntas que, de acordo com muitos professores, a academia se faz quase que diariamente.

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Coletiva Tendências confrontou seis professores de faculdades gaúchas com o seguinte questionamento:

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Qual é o futuro do ensino da Comunicação?


Adriana Stürmer CO O R D E N A D O R A D O S C U R S O S D E CO M U N I C A Ç Ã O D A F E E VA L E

Ana Cláudia Fleck CO O R D E N A D O R A D A A C A D E M I A D E P R O F E S S O R E S D A E S P M - S U L

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Cristiane Mafacioli Carvalho CO O R D E N A D O R A D O C U R S O D E P U B L I C I D A D E E P R O PA G A N D A D A P U C- R S

Fรกbio Berti Ramos CO O R D E N A D O R D E J O R N A L I S M O D O I PA

110


FA M E CO S 5 0 A N O S . A MAIOR FONTE D E I N S P I R AÇ ÃO : S E G U I R A F O R M AÇ ÃO DOS MELHORES PROFISSIONAIS DO M E R C A D O. A FAMECOS é uma das faculdades

Jornalismo:

de ensino mais respeitadas

melhor Curso da Região Sul entre

e de maior tradição do país, com cursos

as Universidades Privadas*.

de graduação e pós-graduação. Há cinco décadas contribui com a formação de grande parte dos profissionais de destaque no mercado. Com um corpo de professores qualificados e um ambiente de inovação, é o local ideal para inspirar novos talentos a realizarem sonhos

Publicidade e Propaganda: melhor Curso da Região Sul entre as Universidades Privadas * . Relações Públicas: nota máxima na Avaliação INEP-MEC. Tecnologia Em Produção Audiovisual: nota máxima na Avaliação INEP-MEC.

FAMECOS 50 anos. Você conhece. Todos reconhecem. http://eusoufamecos.pucrs.br/

*Fonte: Ranking Folha SP 2015

DO TAMANHO DO SEU FUTURO.


C

M

Laura Glüer

Y

CO O R D E N A D O R A D A G R A D U A Ç Ã O E M J O R N A L I S M O D A U N I R I T T E R

CM

MY

CY

CMY

K

Sérgio Trein CO O R D E N A D O R D E P U B L I C I D A D E E P R O PA G A N D A D A U N I S I N O S

112



O futuro do ensino em Comunicação Em 2015, tive a honra de completar 20 anos de

Então, o que nos cabe é lembrar que já tivemos

docência. Nestas duas décadas, tendo passado

sonhos, aspirações e, acima de tudo, um desejo

inclusive pela coordenação do curso de Publici-

quase insano de desafiar quem se coloca em po-

dade da Famecos, uma pergunta sempre esteve

sição de querer nos ensinar alguma coisa. Afinal,

ao meu lado: O que fazer para seguirmos

aos 20 e poucos anos, todos temos (ou tivemos)

sendo relevantes?

uma quase certeza de que já sabemos muito. E, com o apoio da tecnologia, da mobilidade, da in-

Sim, cada vez que entrei em aula, nestes 40 iní-

ternet e das redes sociais, esse tal de “muito” tem

cios de semestre que já vivi, olhei para aquelas

uma enorme vontade de ser “tudo”.

carinhas ali sentadas e fiz mentalmente o mesmo questionamento. A resposta, por incrível que pa-

Feita esta reflexão remissiva, resta o principal:

reça, sempre esteve em olhar para trás: para ser-

como se preparar para o futuro do ensino nos

mos relevantes, não podemos esquecer que já

cursos de Comunicação?

fomos alunos. Para quem não sabe – ou não parou para pensar Ora, professor, como assim? Isso não é demago-

–, a Comunicação hoje é uma área formada por

gia? O professor dá aula e o aluno aprende, não

uma habilitação que exige diploma, Relações Pú-

foi sempre assim?

blicas, e por duas profissões desregulamentadas, Jornalismo e Publicidade e Propaganda.

Foi, mas não é mais. Diante disso, se o mundo é do trabalho e não do Apenas transmitir conteúdos que julgamos saber

emprego, se empreender é cada vez mais uma

já não basta. O aluno de hoje tem acesso a mui-

alternativa interessante, se a tecnologia tornou

tos dados e, se não formos bons tutores, ele não

tudo mais rápido, se as barreiras legais não as-

aprende o mais importante: a agregar análise aos

seguram mais uma colocação no mercado, o ca-

dados para transformá-los em informação, algo

minho é aprender e ensinar que pensar ainda

que, se bem aplicado, torna-se inteligência – na

vem antes de fazer. O plano de comunicação não

vida e no mercado.

pode ser banal, a propaganda não é apenas peça de humor ou arte, e a notícia não é a reprodução pura e simples do que já caiu na rede.

114


S E CO FA M

ILTON TEITELBAUM PROFESSOR NA PUCRS

Assim, os alunos precisam se conscientizar sobre

Mas, cada vez mais, estou convicto de que o pro-

a necessidade de ter repertório, conhecendo do

fissional de Comunicação precisa ser, ao mesmo

mundo e da vida tanto ou mais que apenas da

tempo, um tanto cartesiano, como um estatístico

técnica; necessitam compreender a importância

no cuidado com seus números, e outro tanto “fo-

de ser mais estratégico que operacional; e devem

ra da caixa”, como um artista ao lidar com seus

aprender que a ação decorre do raciocínio e da

elementos, cores e formas.

capacidade de fazer a leitura do cenário. Deste modo, entenderemos todos que as mudanEm contrapartida, nós, do lado docente do bal-

ças tecnológicas alteram a plataforma de atua-

cão, precisamos, de uma vez por todas, entender

ção, mas que o profissional do futuro seguirá pre-

que experiência não é algo que se adquire uma

cisando compreender situações, lidar com fatos

vez e se repete para todo sempre, mas, isso sim,

e pessoas e transformar elementos do cotidiano

algo que se renova o tempo todo. Por isso, somos

em produtos de comunicação – e que tudo isso,

obrigados a ter olhos sedentos de futuro.

para ser produzido, deve ser bem encadeado e desenhado.

Claro que devemos pensar na necessidade de nos aproximarmos da Indústria Criativa, que precisa-

Para resumir, antes que alguém me entenda mal.

mos mudar o layout da sala de aula e nela incor-

O futuro não está no passado. Ele é apenas um

porar recursos tecnológicos, óbvio que precisa-

enredo que começou a ser desenvolvido antes

mos incentivar o empreendedorismo, especial-

de entrarmos em cena. Ou seja: o futuro dos cur-

mente o de carreira.

sos de Comunicação está em sabermos como chegamos até aqui para, assim, criarmos condições de andar daqui para frente.

DEZEMBRO2015

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#11 • DEZEMBRO DE 2015

REALIZAÇÃO

www.coletiva.net

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA TIRAGEM

20 mil exemplares

DIRETORES

José Antonio Vieira da Cunha José Luiz Fuscaldo

EDIÇÃO

Karen Vidaleti

REPORTAGEM

Carol Borne Cinthia Dias ASSISTENTE DE REDAÇÃO Fernanda Rosito Márcia Christofoli COORDENAÇÃO EDITORIAL Shállon Teobaldo

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO

Ariane Xarão ATENDIMENTO Carlos Redel Flavia Moraes Gabriela Boesel Ilton Teitelbaum Leandro Beguoci Luiz Adolfo Lino de Souza Vinícius Lobato Uniritter • Fayller Aprato, Leandro Olegário e Vinícius Farias REVISÃO

Press Revisão

PROJETO E EDIÇÃO GRÁFICA

MOOVE Comunicação Transmídia Evaldo Farias Tiburski • tiba COMERCIALIZAÇÃO

Grupo de Diários • www.grupodediarios.com.br

IMPRESSÃO

Noschang Artes Gráficas • www.graficanoschang.com.br

Av. Carlos Gomes, 1155/503 • 90480-004 • Porto Alegre • RS • 51 3331 5278

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