Ademar da Silva Campos
Conhecendo as Raízes
doBrasil História e Cultura Afro-Brasileira
Neste livro: Os negros no Brasil: imigração forçada
2
A utilização da mão de obra escrava no Brasil
3
A presença negra nos movimentos insurrecionais do m do Século XIX
4
A inuência inglesa na Abolição da Escravatura e o Racismo
5
A África e sua História
6
A África e sua Geograa
7
A África e a diversidade de um continente excluído
8
As heranças africanas na formação cultural do Brasil
9
A presença negra na Amazônia e sua participação na História do Pará
Conhecendo as Raízes do Brasil • História e Cultura Afro-Brasileira
1
Ademar da Silva Campos
Conhecendo as Raízes
doBrasil História e Cultura Afro-Brasileira
ISBN 978-85-65965-43-9
CULTURAL BRASIL 9 788565 965439
CULTURAL BRASIL
Ademar da Silva Campos Professor especialista. docência nos ensinos fundamental, médio e superior. Graduado em Geografia. especialista em Metodologia do Ensino superior pela UNESPA e mestrando em Ciências Florestais pela UFRA.
Conhecendo as Raízes do Brasil História e Cultura Afro-Brasileira
CULTURAL BRASIL
Coleção Didática da Amazônia Conhecendo as Raízes do Brasil – Volume 2 História e Cultura Afro-Brasileira Projeto gráfico, capa, editoração eletrônica e arte final: Márcio Serra Composição da capa: Aborígene Africana, quadro em acrílico sobre tela com a dimensão de 170 cm x 100 cm, de autoria do artista plástico Elvis da Silva Preparação de texto: Ana Cristina Furtado do Couto Revisão: Roberto Carvalho de Faro Direitos Reservados Texto conforme as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Destaque-se Editora e Distribuidora Ltda. (Cultural Brasil) E-mail: editoradestaquese@gmail.com www.editoradestaquese.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ C21c Campos, Ademar da Silva, 1963Conhecendo as raízes do Brasil: História e Cultura Afro-Brasileira - livro do aluno / Ademar da Silva Campos. - 1ª ed. - Belém, Pa: Cultural Brasil, 2015. 104 p. : il. ; 27,5 cm. ISBN 978-85-65965-43-9 1. Cultura afro-brasileira - Estudo e ensino. 2. Cultura afro-brasileira - História. 3. Negros - Brasil - História. I. Título. 15-20803
CDD: 305.89 CDU: 316.347(=2/=8)
Agradecimentos Meu primeiro agradecimento está direcionado ao Grande e Único Criador do Universo e de todos os seres vivos que respiram Seu fôlego de vida, que é Deus! Depois, a meus pais, que me proporcionaram com dificuldades a minha formação. À minha esposa, Patrícia Marques Campos. A meus irmãos. A meus filhos e a todas as pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida.
Homenagens Homenageio todos os meus saudosos colegas do Núcleo Pedagógico Integrado (UFPa.) durante os anos de 1979, 1980 e 1981, de todas as áreas (CB, CH e CE). Aos meus colegas professores das escolas particulares e públicas na capital paraense. Aos meus colegas professores do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME). A todos os meus alunos desde o início de minha docência. E a todos os meus amigos que fazem parte da minha história de vida.
• Lei nº 10.639 de Janeiro de 2003 Altera a Lei 9.394 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e dá outras providências. Publicado no Diário Oficial da União de 10.1.2003 • Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008 Altera a Lei 9.394, de 29 de dezembro de 1996, modificada pela Lei 10. 639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece ad diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Publicado no Diário Oficial da União de 11.3.2008
Conhecend o as
Raí zes do
Brasil
SUMÁRIO
Unidade
1
Os Negros no Brasil: Imigração forçada ...................... 9
Introdução..................................................................... 9
Como tudo começou...................................................... 9 Ao chegarem à terra estranha, os negros são tratados como mercadoria...........................................................13 Atividades....................................................................15
Unidade
4
Introdução....................................................................33 A campanha para o fim do tráfico .................................36 A cronologia da libertação ............................................39 A Revolta da Chibata ....................................................43 Atividades....................................................................43
Unidade Unidade
2
A utilização da mão de obra escrava no Brasil ...........................17
Introdução....................................................................17 O cotidiano duro e servil e a formação dos quilombos...17 O fim de uma grande e histórica resistência negra........... 20 Atividades....................................................................23
Unidade
3
A Presença Negra nos Movimentos Insurrecionais do Fim do Século XIX ..... 25
Introdução....................................................................25 A Abolição e os principais abolicionistas brasileiros.......27 Atividades....................................................................31
a Influência Inglesa na Abolição da Escravatura e o Racismo ...................... 33
5
a África e Sua História ...................... 45
Introdução................................................................... 45 Na Antiguidade............................................................. 45 Na Idade Moderna........................................................ 46 Na Idade Contemporânea............................................. 48 O Imperialismo Ocidental.............................................. 50 A Conferência do Congo.............................................. 51 Nova era africana......................................................... 54 Problemas pós-coloniais.............................................. 57 Atividades................................................................... 57
Unidade
6
a África e Sua Geografia................... 59
Introdução....................................................................59 Localização...................................................................59 Relevo, clima, hidrografia e vegetação...........................60
As regiões da África......................................................63 Norte da África..............................................................63 África Ocidental.............................................................64 África Central................................................................65 África Oriental...............................................................65 África Meridional...........................................................66 Densidade demográfica.................................................67 O espaço das etnias..................................................... 67 O espaço das religiões................................................. 68 O espaço das línguas................................................... 68 O espaço da política..................................................... 68 O espaço da economia................................................. 68 O espaço do extrativismo............................................. 69 O espaço da agricultura................................................ 69 O espaço da indústria e do comércio............................ 70
Unidade
8
Introdução....................................................................81 A culinária afro-brasileira e as divindades......................82 Traje africano – indumentária tradicional africana.............84 Indumentária contemporânea........................................85 Elementos tradicionais da comida brasileira...................86 Danças e folguedos populares.......................................87 Alguns instrumentos musicais.......................................88 Outras manifestações na dança introduzidas pelos negros.................................................................. 89 Atividades....................................................................95
O espaço dos problemas atuais africanos...................... 71 Problemas históricos: o Racismo................................. 73 Atividades................................................................... 73
Unidade
7
África e a Diversidade de um Continente Excluído ......................75
Introdução................................................................... 75 África: cinco regiões num continente............................ 75 Aspectos Socioeconômicos......................................... 76 Divisão Física (localização) da África............................ 76 Divisão Socioeconômica da África............................... 77 Tribos e Grupos Étnicos............................................... 77 A África e seus vales férteis......................................... 79 Atividades................................................................... 79
As Heranças Africanas na Formação Cultural do Brasil....................... 81
Unidade
9
A Presença Negra na Amazônia e sua Participação na história do Pará ........97
Introdução....................................................................97 Os negros no Pará........................................................98 Escravidão negra na Amazônia......................................98 A Abolição da Escravatura no Pará.............................. 100 Influências negras no Pará.......................................... 100 As povoações negras (mocambos) no Pará................ 101 Resistência negra: os quilombos e a capoeira............. 102 A capoeira.................................................................. 103 Atividades.................................................................. 103
BIBLIOGRAFIA....................................................... 104
Unidade 1
Negros no fundo do porão de navio. Pintura. Johann Moritz Rugendas (1802–1858)
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Os Negros no Brasil: imigração forçada
Unidade 1
Gravura. Jean-Baptiste Debret (1768–1848)
Os Negros no Brasil: Imigração forçada
penhou importante papel na colonização e, depois, no desenvolvimento econômico do império. Os africanos entravam no Brasil principalmente através dos portos do Rio de Janeiro, de Salvador, do Recife e de São Luís no Maranhão, de onde se espalhavam por todo o espaço territorial brasileiro. Em 1501, a ilha de São Domingos – atual República Dominicana –, por um ato do rei da Espanha, recebeu a primeira leva de negros, vindo com Nicolau Ovando, e a partir de 1517 o comércio negreiro para as colônias espanholas começou a ser feito regular e legalmente. Foi concedido asiento a Gomenot, governador de Besa, para a introdução de 4.000 negros, contrato que ele vendeu a negociantes genoveses. Na Europa, é difícil saber a quem cabe a prioridade do tráfico – se a portugueses ou espanhóis. Já em meados do século XV ele constituía o meio regular de colonização de ambos os países e, a partir daí, durante os duzentos anos seguintes, foram abastecidas também, além das colônias espanholas e portuguesas, as possessões inglesas, francesas e holandesas.
Os primeiros negros jejê entraram no Brasil pelo Maranhão e foram levados, depois, para a Bahia
Introdução Os povos que foram trazidos como escravos para o Brasil habitavam diferentes regiões da África e possuíam costumes e tradições distintas. Alguns estudiosos dividem esses povos em dois grandes grupos: oeste-africanos e bantos. Atualmente, estimativas do IBGE apontam que cerca de 46% da população brasileira possui ascendência em grupos étnicos africanos. Os povos africanos (Nagô, Jejê, Haussá, Benguela, Moçambique, etc.) foram trazidos para trabalhar como mão de obra nas atividades coloniais. Historicamente, foram mais de três séculos e meio de escravidão, condição em que o negro desem-
Em Portugal, Antão Gonçalves, ao regressar em 1442 de uma expedição à África, ordenada por D. Henrique, levou alguns mouros como cativos que o Infante mandou libertar. No ano seguinte, Antão Gonçalves trocou seus prisioneiros por dez negros da Guiné, que frei Francisco de São Luís afirmou terem sido os primeiros escravos chegados a Portugal, provenientes da costa ocidental africana. Em 1445, Nuno Tristão transportou mais de 40 escravos africanos, entusiasmado pelas possibilidades econômicas do negócio.
Como tudo começou Foi em Portugal que mais se desenvolveu o tráfico negreiro – já que esse país mantinha o domínio exclusivo da África colonial. Durante muitos anos, porém, o tráfico negreiro foi também próspero na Espanha, representando a principal fonte de renda do país. Por intermédio dos asientos a Os Negros no Brasil: imigração forçada
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Óleo sobre tela. Benedito Calixto (1853–1927)
Martim Afonso de Sousa teria trazido os primeiros escravos
de São Vicente. Para alguns historiadores, os escravos africanos aqui chegaram com Martim Afonso de Sousa, em sua expedição de 1532. Durante quase 50 anos esse tráfico foi regular, e em 1583 realizou-se o primeiro contrato para a introdução da mão de obra africana no Brasil, assinado entre Salvador Correa de Sá, governador da cidade do Rio de Janeiro, e João Gutiérres Valério. Um século mais tarde já havia nas lavouras brasileiras 50 mil escravos negros, a maioria em Pernambuco.
Pintura. Johann Moritz Rugendas (1802–1858)
Coroa espanhola concedia a determinados súditos o direito exclusivo de fornecer negros escravos às suas possessões de ultramar. O negócio era tão vantajoso que muitos soberanos estrangeiros faziam tudo para obter os asientos, ou seja, tratados ou contratos de monopólio comercial. E por dois séculos – de 1517 a 1743 – holandeses, espanhóis, franceses, portugueses e ingleses gozaram sucessivamente desse monopólio. A Inglaterra, que mais tarde seria ferrenha defensora da proibição do tráfico, conseguiu 30 anos de monopólio para seus súditos pelo tratado de Paz de Utrecht, assinado em 1713. A Espanha tirava grandes lucros dessas transações, recebendo vultosos empréstimos ou adiantamentos dos empresários com os quais negociava, e a esses asientos era dada ainda uma vinculação religiosa, sendo celebrados, inclusive, em nome da Santíssima Trindade por Sua Majestade Católica de Espanha. Dez contratos dessa espécie foram realizados em menos de dois séculos, compreendendo o transporte de quinhentos mil escravos num total de 50 milhões de libras. No Brasil, o elemento negro começou a ser introduzido com os primeiros engenhos de açúcar
No Brasil, africanos são escravizados nos engenhos de açúcar
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Os Negros no Brasil: imigração forçada
Mapa que evidenciava a origem étnica dos negros sudaneses e bantos que vieram para o Brasil
Marquês de Pombal, criador da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão
tos reconhecida. Entre estes, Nóbrega, em carta ao rei de Portugal datada de 1559; o conceituado bispo D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, em sua obra Justiça do Comércio de Resgate dos Escravos da Costa d’África; e o famoso padre Antonil, que em sua Cultura e Opulência do Brasil, por Suas Drogas e Minas, escreveu: “Os escravos são mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente.” Vetorização: Márcio Serra
Em 1755, o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão e, em 1759, a de Pernambuco e Paraíba, as quais, introduzindo grande número de negros africanos, fomentaram o progresso material do Nordeste brasileiro. Tencionando contar com o elemento natural para a colonização dos continentes que ocupavam, os portugueses tentaram – nos primeiros tempos de sua permanência no Brasil – subjugar os silvícolas brasileiros. Assim, em 1533, Martim Afonso de Sousa permitiu a Pero de Góis o transporte para a Europa de 17 indígenas escravizados, e no foral dado a cada donatário constava o direito de vender anualmente até 37 indígenas cativos. O índio brasileiro, entretanto, além de não se adaptar ao regime da escravidão, não servia para o trabalho na lavoura. Esses acontecimentos, aliados à vinda dos jesuítas, empenhados na defesa do índio, fizeram com que aumentasse o tráfico negreiro, tendo os próprios religiosos usados a mão de obra africana até 1870. A introdução do escravo negro no Brasil representava algo relevante no contexto socioeconômico para a emancipação colonial, e foi por mui-
Óleo sobre tela. Joana do Salitre
Unidade 1
Sudaneses Guiné
Congo
Pernambuco Bantus
BRASIL Bahia Rio de Janeiro
Angola
Moçambique
Os Negros no Brasil: imigração forçada
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Os bantos – encontravam-se na fase do fetichismo – adorando árvores e símbolos toscos –, no sistema da propriedade coletiva – como uma rudimentar organização de família – e do governo patriarcal. Além do senhor do céu, Olorun, a religião dos iorubas inseriu no Brasil outras divindades ou orixás, entre os quais Obatalá, ou Orixalá, ou Oxalá que tinha por esposa Odudua; Xangô, deus dos raios e trovões; Ogum, deus da guerra; Iemanjá, deusa das águas; Oxóssi, deus dos caçadores e dos viajantes; Ifá, que tem por fetiche o fruto do dendezeiro, revelador do oculto; Dadá, protetor
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Os Negros no Brasil: imigração forçada
das crianças; Ibeji, orixá dos gêmeos; e Exu ou Elegbará, espirito do mal. Os Sudaneses – que receberam influência do islamismo e eram os mais adiantados – foram os responsáveis pelos movimentos de rebelião dos escravos e pela formação dos quilombos – os agrupamentos de escravos fugidos – criados no Brasil. Os negros africanos trazidos ao Brasil para trabalhar na lavoura e na criação, não se adaptaram a esta última função, sendo substituídos pelos indígenas – mais adaptáveis ao tipo de vida do pastoreio. E embora fossem utilizados nos serviços domésticos e na mineração – onde tiveram papel importante – eles foram os principais, e em alguns casos os únicos, trabalhadores das lavouras de açúcar, café e algodão. Foto disponível: http://tribunodahistoria.blogspot.com.br
Os negros eram vendidos pelos seus sobas – chefes de tribos africanas – aos portugueses, e trazidos para o Brasil vindos da costa e da contracosta da África. Até meados do século XVII eram eles adquiridos, em sua maioria, pelos senhores de engenho de Pernambuco e Bahia. No início do século XVIII seus maiores compradores passaram a ser o Rio de Janeiro e Salvador. Ainda nesse século os escravos negros foram utilizados nas regiões cafeeiras, a princípio do Pará e do Maranhão, mais tarde do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os negros escravos que vieram para o Brasil saíram de vários pontos do continente africano: da costa ocidental, entre o Cabo Verde e o da Boa Esperança; da costa oriental, de Moçambique; e mesmo de algumas regiões do interior. Por isto, possuíam os mais diversos estágios de civilização. O grupo mais importante introduzido no Brasil foi o sudanês, que, dos mercados de Salvador, se espalhou por todo o Recôncavo. Desses negros, os mais notáveis foram os iorubas ou nagôs e Jejês, seguindo-se os minas. Os bantos foram inseridos em Pernambuco, de onde seguiram até Alagoas; no Rio de Janeiro, de onde se espalharam por Minas e São Paulo; e no Maranhão, atingindo daí o Grão-Pará. Ainda no Rio de Janeiro e em Santa Catarina foram introduzidos os camundás, camundongos e os quiçamãs.
O comércio de escravos para o Brasil fez muitas fortunas
A compra do negro era, a princípio, realizada de forma muito simples. Empregava-se o sistema de troca, usando de todo tipo de miçangas, vidrilhos, guizos, panos, armas e utensílios de ferro necessários à lavoura africana, que eram entregues aos sobas por uma certa quantidade de escravos. Mais tarde, o ferro e a aguardente passaram a ser importantíssimos nesse comércio. À medida, entretanto, que o tráfico se intensificou, as
Unidade 1
exigências dos vendedores foram aumentando e os compradores quase que tiveram de lançar mão de mercadorias europeias. Os negros eram transportados em navios negreiros, funileiros ou
tumbeiros, e as descrições destas viagens – sobretudo as que foram transmitidas através dos apaixonados versos dos poetas abolicionistas – são de estarrecer.
Ao chegarem à terra estranha, os negros são tratados como mercadoria
Desembarque estimado de africanos no Brasil
Pintura. Johann Moritz Rugendas (1802–1858)
Desembarque de escravos chegados da África ao Brasil
Aqui chegando, os negros eram armazenados em um barracão, à espera de que fossem vendidos. Os preços variavam de acordo com muitos fatores: o sexo, a idade, a origem e o destino. Quando encaminhados às minas de ouro, valiam muito mais que os que iam aos campos de plantação ou ao serviço doméstico. Eram vendidos separadamente, sem respeitar laços de família – pais para um senhor, filhos para outros, maridos e mulheres para donos diferentes. O negro era muito valorizado e seu preço foi inflacionado, principalmente depois que a Inglaterra passou a ser defensora da raça maltratada, iniciando uma perseguição aos navios negreiros. Os riscos tornaram-se, então, maiores, com prejuízo algumas vezes total, quando o navio negreiro era abordado em alto mar e o carregamento per-
Local de desembarque
Quinquênios
Total
Sul da Bahia
Bahia
Norte da Bahia
Total
2 113 900
1 314 900
409 000
390 000
1781-1785 1786-1790 1791-1795 1796-1800 1801-1805 1806-1810 1811-1815 1816-1820 1821-1825 1826-1830 1831-1835 1836-1840 1841-1845 1846-1850 1851-1855
(63 100) 97 800 125 000 108 700 117 900 123 500 139 400 188 300 181 200 250 200 93 700 240 600 120 900 257 500 6100
34 800 –– 44 800 20 300 47 600 34 300 45 100 36 200 50 100 36 300 58 300 39 100 78 700 36 400 95 700 34 300 120 100 23 700 176 100 47 900 57 800 16 700 202 800 15 800 90 800 21 100 208 900 45 000 3300 1900
28 300 32 700 43 100 27 400 31 500 26 100 24 300 58 300 37 400 26 200 19 200 22 000 9000 3600 900
Os Negros no Brasil: imigração forçada
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Ilustração disponível: http://dandidesenhos.blogspot.com.br
dido, quer pelo aprisionamento da embarcação, quer pelo extermínio de toda a carga. Nos primeiros tempos, de uma forma generalizada, o valor médio de um escravo oscilava entre 20 e 30 libras esterlinas, havendo momentos excepcionais em que este preço atingia 100 libras. Existem inúmeros dados relativos aos preços de escravos no século XIX, mas, como variam muito, é difícil determinar-se uma média real. Entretanto, um quadro estatístico em que se anota-
va que o preço de um escravo em 1835 era de 375 mil réis, enquanto uma escrava custava, no mesmo ano e nas mesmas condições de saúde e idade, 359 mil réis. Vinte anos depois, isto é, em 1855, um escravo custava 1.075 mil réis, enquanto uma escrava atingia a importância de 857 mil réis; em 1875 chegava-se ao preço de 1.256 mil réis para o homem e 1.106 para a mulher. Entre 1835 e 1875 o preço médio dos escravos subiu 235%. A cotação dos negros africanos se elevou muito depois que a Inglaterra passou a combater os navios negreiros
Na roça um escravo de 60 a 65 anos valia a metade de um entre 40 a 50 anos e a quarta parte de um de 25 a 30 anos; as crianças tinham, a partir de 9 ou 10 anos, preços iguais aos dos adultos; menores de nove anos, o preço de um escravo subia de 20 a 50 mil réis por ano de idade. Antes de 1850 a elevação dos preços foi efeito da procura, enquanto que a partir desse ano a causa principal da baixa do preço foi a oferta, tendo em vista as leis abolicionistas que lentamente iam substituindo o escravo pelo trabalhador livre. O negro e o mulato livres tinham três possibilidades de ganhar a vida. A primeira era obter a independência financeira a qualquer custo, tirando proveito de qualquer oportunidade comercial que surgisse. A segunda era deixar-se absorver no sistema escravocrata como feitor e trabalhador
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Os Negros no Brasil: imigração forçada
assalariado. A última era desistir de enfrentar os desafios e as desvantagens de ser um indivíduo de cor e entregar-se à vagabundagem. Muitos ex-escravos tinham imensa dificuldade em se integrar ao mundo dos livres. Portanto, os negros e mulatos nascidos livres tinham mais oportunidades que aqueles nascidos escravos e alforriados depois. E, por fim, os mulatos de pele mais clara, mesmo os nascidos no cativeiro, tinham mais chances de ser assimilados no “mundo branco” do que os negros de pele mais escura, mesmo os nascidos livres. Assim, enfrentar a sociedade livre mostrou-se uma tarefa complicada para a crescente população de negros e mulatos livres no período colonial. Socialmente marginalizados, desprovidos de recursos financeiros, muitos viviam em situação mais precária do que os escravos. A Coroa Portuguesa e as autoridades municipais brasileiras
Foto disponível: http://spiritosanto.wordpress.com
Unidade 1
Família negra do Século XIX, depois da Abolição
nada fizeram para resgatar essa população da marginalidade. No final do século XIX, um grande número de imigrantes, sobretudo europeus, foram para o Brasil. A maioria desses imigrantes rumou para o estado de São Paulo, onde foram engajados como trabalhadores em plantações de café. Nesse momento, estava havendo a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado.
Muitos imigrantes trabalharam lado a lado com negros e mulatos, exercendo as mesmas funções, ou seja, imigrantes europeus e afrodescendentes estavam, inicialmente, no mesmo nível social. Vários autores já tentaram explicar o porquê desse fenômeno. Florestan Fernandes explicava que os libertos não estavam preparados para competir com imigrantes, porque a desumanização e a violência da escravidão tornavam os primeiros anômicos, sem Você sabia? laços familiares e comunitários fortes, sem Que o livro de contas disciplina e tendendo Engenho Sergipe do tes a enxergar a liConde fornece valiosas berdade como auinformações sobre o preço sência de trabalho. A literatura atual dá mais ênfase ao racismo dos fazendeiros brasileiros, que preferiam contratar imigrantes aos trabalhadores nacionais de origem africana.
dos escravos nos primeiros anos do século XVII? De acordo com as compras ali anotadas, um escravo custava, em 1622, 29 mil réis; em 1630, 30 mil réis; em 1635, 42 mil réis; e, em 1652, 55 mil réis.
ATIVIDADES 1) Explique como o escravo negro entrou no Brasil. 2) Indique qual foi o primeiro país na América a receber a primeira leva de escravos negros. 3) Fale como iniciou o tráfico negreiro. 4) Quem introduziu os escravos negros no Pará? 5) Indique que nação passaria a ser mais tarde ferrenha defensora dos escravos? 6) Quem transportou mais de quarenta escravos africanos, entusiasmado pelas possibilidades econômicas do negócio? 7) Aponte o responsável por trocar seus prisioneiros por dez negros da Guiné. 8) Os negros que vinham para o Brasil procediam de diversos pontos do Continente africano. Cite os dois principais grupos de onde vieram os africanos. 9) Indique o local onde os primeiros negros foram introduzidos no Brasil para forçadamente trabalharem. 10) Quem foi responsável pela vinda dos primeiros negros ao Brasil? Os Negros no Brasil: imigração forçada
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Conhecendo as Raízes
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