Ademar da Silva Campos
Conhecendo as Raízes
doBrasil História e Cultura dos Povos Indígenas
Neste livro: Os Indígenas que já habitavam esta terra!
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Os Indígenas e o Movimento das Entradas e Bandeiras
3
A linguagem e outros traços característicos dos Indígenas
4
Os Índios e sua grande inuência cultural
5
Aspectos educacionais, religiosos e culturais dos primeiros indígenas
6
A Amazônia Paraense antes e depois dos europeus
7
Os índios brasileiros e algumas de suas peculiaridades
8
As terras indígenas e as leis da terra
Conhecendo as Raízes do Brasil • História e Cultura dos Povos Indígenas
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Ademar da Silva Campos
Conhecendo as Raízes
doBrasil História e Cultura dos Povos Indígenas
ISBN 978-85-65965-45-3
CULTURAL BRASIL 9 788565 965453
CULTURAL BRASIL
Ademar da Silva Campos Professor especialista. docência nos ensinos fundamental, médio e superior. Graduado em Geografia. especialista em Metodologia do Ensino superior pela UNESPA e mestrando em Ciências Florestais pela UFRA.
Conhecendo as Raízes do Brasil
História e Cultura dos Povos Indígenas
CULTURAL BRASIL
Coleção Didática da Amazônia Conhecendo as Raízes do Brasil – Volume 1 História e Cultura dos Povos Indígenas Projeto gráfico, capa, editoração eletrônica e arte final: Márcio Serra Composição da capa: Expedição Indígena, quadro em acrílico sobre tela com a dimensão de 170 cm x 100 cm, de autoria do artista plástico Elvis da Silva Preparação de texto: Ana Cristina Furtado do Couto Revisão: Roberto Carvalho de Faro Direitos Reservados Texto conforme as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Destaque-se Editora e Distribuidora Ltda. (Cultural Brasil) E-mail: editoradestaquese@gmail.com www.editoradestaquese.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ C21c Campos, Ademar da Silva, 1963Conhecendo as raízes do Brasil: História e Cultura dos Povos Indígenas - livro do aluno / Ademar da Silva Campos. - 1ª ed. - Belém, Pa: Cultural Brasil, 2015. 104 p. : il. ; 27,5 cm. ISBN 978-85-65965-45-3 1. Índios do Brasil - Estudo e ensino. 2. Índios do Brasil - História. I. Título. 15-20601
CDD: 980.41 CDU: 94(=87)(81)
Agradecimentos Meu primeiro agradecimento está direcionado ao Grande e Único Criador do Universo e de todos os seres vivos que respiram Seu fôlego de vida, que é Deus! Depois, a meus pais, que me proporcionaram com dificuldades a minha formação. À minha esposa, Patrícia Marques Campos. A meus irmãos. A meus filhos e a todas as pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida.
Homenagens Homenageio todos os meus saudosos colegas do Núcleo Pedagógico Integrado (UFPa.) durante os anos de 1979, 1980 e 1981, de todas as áreas (CB, CH e CE). Aos meus colegas professores das escolas particulares e públicas na capital paraense. Aos meus colegas professores do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME). A todos os meus alunos desde o início de minha docência. E a todos os meus amigos que fazem parte da minha história de vida.
• Lei nº 10.639 de Janeiro de 2003 Altera a Lei 9.394 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e dá outras providências. Publicado no Diário Oficial da União de 10.1.2003 • Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008 Altera a Lei 9.394, de 29 de dezembro de 1996, modificada pela Lei 10. 639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece ad diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Publicado no Diário Oficial da União de 11.3.2008
Conhecend o as
Raí zes do
Brasil
SUMÁRIO
Unidade
1
Os Indígenas Que Já Habitavam Esta Terra!..................................... 9
As principais características das famílias indígenas e sua organização política.............................................28 Atividades....................................................................31
Introdução..................................................................... 9 O contato inicial com os europeus.................................. 9 A Carta de Caminha e outras informações sobre os Indígenas........................................................10 Uma classificação dos indígenas brasileiros..................11
Unidade
4
Os Índios e sua grande influência CulturaL ..................... 33
A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses.................................................................15
Introdução....................................................................33
A organização social dos indígenas...............................16
A contribuição indígena na culinária .............................34
Os contatos entre indígenas e portugueses...................16
Contribuições passam também por hábitos de
Atividades....................................................................17
alimentação e pelo artesanato.......................................35 A língua brasílica...........................................................36
Unidade
2
Os Indígenas e o Movimento das Entradas e Bandeiras ...................19
Agricultura de coivara...................................................37 Plantas domesticadas...................................................37 Instrumentos Musicais Indígenas..................................38 Instrumentos Idiofones.................................................38 Instrumentos Membrafones...........................................39
Introdução....................................................................19
Instrumentos Aerofones................................................40
Início das Entradas........................................................20
E somos miscigenados!................................................41
A conquista...................................................................21
Costumes, produção, artes e habilidades......................41
Atividades....................................................................25
Pintura..........................................................................43 Tecidos.........................................................................43
Unidade
3
A Linguagem e Outros Traços característicos Dos Indígenas .................... 27
Introdução....................................................................27
Canoas.........................................................................44 Cestaria........................................................................44 Cerâmica......................................................................45 Curiosidades sobre o índio: hábitos diferentes...............46 Yanomâmis...................................................................46 Atividades....................................................................47
Unidade
5
Aspectos educacionais, religiosos e culturais dos primeiros indígenas .......................... 49
Unidade
7
Os índios brasileiros e algumas de suas peculiaridades .......... 61
Introdução....................................................................61 97 tribos conhecidas.....................................................63
Introdução....................................................................49
As dez maiores tribos indígenas brasileiras...................92
Religião indígena ..........................................................49
Atividades....................................................................93
Principais costumes dos índios brasileiros....................50 Atividades....................................................................53
Unidade Unidade
6
A Amazônia Paraense Antes e depois dos Europeus .................... 55
8
As Terras Indígenas e as Leis da terra ..................... 95
Introdução................................................................... 95
O Estatuto do Índio....................................................... 98
Introdução....................................................................55
A Constituição de 1988................................................ 98
Cultura marajoara..........................................................56
Demarcação das terras indígenas................................. 99
Cultura tapajônica.........................................................56
Conflitos e controvérsias............................................ 100
Choque cultural.............................................................57
Atividades................................................................. 102
Tribos indígenas da Amazônia.......................................58 Atividades....................................................................59
BIBLIOGRAFIA...................................................... 103
Unidade 1
Dança dos índios tapuias. óleo sobre tela. Albert Eckout. 1641
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Os Indigenas que já habitavam esta terra!
Unidade 1
Cotidiano dos primeiros habitantes do Brasil
Introdução Vivendo em grupos nas tabas – aldeias constituídas por ocas de troncos e de folhas de palmeira –, andando nus ou vestidos com pequenas tangas, conhecendo a tecelagem e construindo canoas e jangadas, pescando e caçando, acreditando num deus bom e num mau espírito –, assim foram os indígenas brasileiros encontrados pelo descobridor europeu. A princípio o português não interferiu na maneira de viver do índio. Depois, porém, quando os colonizadores tiveram a necessidade de braços para a lavoura e passaram a escravizar o nativo, o relacionamento entre brancos e indígenas mudou. Muitas tribos resistiram e lutaram, outras fugiram para o sertão, mas a maioria submeteu-se ao branco e gradativamente viram desaparecer seus usos e costumes. A cultura indígena chegou, assim, bastante diluída até nossos dias.
O primeiro contato entre os portugueses e os indígenas brasileiros – asseguram todos, cronistas e historiadores – foi rigorosamente amistoso: houve troca de presentes. E Pero Vaz de Caminha, na carta enviada ao rei D. Manuel I, afirmava: “Essa gente é boa, de boa simplicidade; e imprimir-se-á ligeiramente neles qualquer cunho que lhes quiserem dar”. Mas havia evidentemente, uma desconfiança mútua. Portugueses e índios estudavam-se. Os europeus consideravam estar diante de bárbaros, e os índios, naturalmente, sentiam-se diante de pessoas, pelo menos, muito estranhas. Nesse primeiro contato – quando Nicolau Coelho desembarcou no dia 23 de abril de 1500 –, o português entregou ao grupo de índios que encontrou, entre outras coisas, um chapéu preto e ganhou deles um cocar de penas vermelhas. No dia seguinte, ao aportar na atual baía Cabrália, Pedro Álvares Cabral recebeu dois nativos que, embora desconfiados, não decepcionaram: comportaram-se muito bem, acabando por passar a noite na nau capitânia. Óleo sobre tela. Benedito Calixto (1853–1927)
Gravura. Karl von der Stein. 1894
Os Indígenas Que Já Habitavam Esta Terra!
O contato inicial com os europeus
Amistosidade marca primeiro encontro de europeus e índios
A semana seguinte continuou a decorrer num clima de cordialidade, os índios ajudaram a consOs Indigenas que já habitavam esta terra!
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Óleo sobre tela. Oscar Pereira da Silva (1865–1939)
Conquistadores não conseguem seduzir todos. Os Tupinambás tornam-se seus inimigos
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Os Indigenas que já habitavam esta terra!
cidos. Pois foi principalmente com eles que os portugueses entraram em contato durante o período de colonização.
A carta de Caminha e outras informações sobre os indígenas
Biblioteca Nacional de Portugal
Fac-símile da carta original de Pero Vaz de Caminha.
truir a cruz para a celebração da segunda missa, em terra firme, e houve até mesmo festas. Pero Vaz afirmava ao rei que naquele pouco tempo os indígenas demonstravam estar “mais mansos e seguros entre nós do que nós andávamos entre eles; mais nossos amigos do que nós seus”. As relações entre brancos e índios, no entanto, no transcorrer da História do Brasil, não foram apenas de trocas de presentes e realização de festas. Quando os portugueses começaram a apossar-se da terra e a escravizar os índios, o relacionamento começou a mudar. Tendo uma cultura própria com uma ordem social estabelecida e padrões religiosos, houve tribos que se rebelaram, enquanto outras se entregaram ou fugiram para o interior. Ao rebelarem-se, os índios dariam muito trabalho aos portugueses, e dificultariam a colonização. Em outros casos, ajudariam os colonizadores. Algumas tribos, como os Tupinambás, tornar-se-iam inimigas ferrenhas dos portugueses, aliando-se aos franceses quando estes tentaram estabelecer-se no Brasil, e ainda utilizaram a técnica guerreira do europeu – canhões e pólvora – contra uma tribo inimiga, os Tupiniquins. Tupinambás e Tupiniquins: embora existissem vários grupos espalhados pelo território brasileiro, os usos e costumes dos Tupis são os mais conhe-
A Carta de Pero Vaz de Caminha descreve o desembarque dos portugueses no Brasil
A primeira informação que se tem sobre os indígenas encontrados no Brasil está na carta de Caminha. Ao mesmo tempo em que dava notícia ao rei sobre o achado da terra, o escrivão da frota de Cabral descrevia algumas características dos povos encontrados: “A feição deles é serem pardos, à maneira de avermelhados, de bons narizes; os cabelos são corrediços; andam tosquiados, de tosquia alta; as mulheres com cabelos muito pretos e compridos pelas espáduas” –, quer no registro de seus utensílios – “cortam sua madeira e paus com pedras feitas como cunha, metidas em um pau entre duas talas, muito bem, atadas e por tal maneira que andam fortes”. Depois de Caminha, foram os cronistas de viagens, os missionários e algumas vezes os próprios viajantes – na primeira metade do século XVI – que se encarregaram de observar os aborígenes e descrever seus hábitos: gente como Vespúcio, Luís Ramires, Hans Staden ou Pero Lopes de Sousa. Este, aliás, escreveu seu Diário da Navegação durante a expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1530. A partir da segunda metade
Óleo sobre tela. Benedito Calixto (1853–1927)
do século XVI – e até nos séculos XVII e XVIII – os melhores registros pertencem à correspondência dos jesuítas. Entre estes, destacam-se o Padre Antônio Pires, que oferece a primeira descrição do mameluco (mestiço do branco com o índio); o Padre Manoel da Nóbrega, em cujas cartas se encontram um vasto material sobre as crenças dos indígenas, as tradições que se referem ao dilúvio, a fé na existência de um ser superior, os feiticeiros, os agouros e ainda a utilização do fumo como uma espécie de narcótico; o Padre Fernão Cardim, que escreveu um tratado sobre os índios, além de uma narrativa de viagem onde se encontram preciosas informações relativas aos hábitos sociais indígenas. São as informações contidas nestes e em outros documentos que permitem estabelecer um quadro geral da estrutura social de nossos índios e determinar alguns traços de sua cultura e de sua distribuição geográfica.
Anchieta descreveu costumes e tradições indígenas
Aquarela sobre papel. Hércules Florence (1804 - 1879)
Unidade 1
Os portugueses tiveram contatos mais intensos com os tupis-guaranis
Uma classificação dos indígenas brasileiros Levando em consideração principalmente a diversidade linguística, os jesuítas foram os primeiros a apresentar uma classificação do indígena brasileiro: Tapuias (índios de língua travada) e Tupis (índios de língua geral). Essa divisão teve origem, ainda, no fato de os Tupis chamarem os Tapuias de bárbaros. Na primeira metade do século XIX, o sábio alemão Carl Friedrich Philipp von Martius propôs uma classificação precária em que estabelecia nove grupos: os Tupis-Guaranis (os guerreiros); Jês ou Crans (os cabeças); Gucks ou Cocos (os tios); Grens ou Querens (os velhos); Parecis ou Poragis (os de cima); Goitacás (os corredores da mata); Aruaques (a gente da farinha); Guaicurus ou Lenguas (os cavaleiros) e índios em transição para a cultura portuguesa. Essa classificação foi criticada, dando lugar com o tempo, a outras denominações. Até que Capistrano de Abreu apresentou sua divisão constituída de nove grupos: Tupis, Cariris, Jês, Caraíbas, Maipurus e outras menores – os Guaicurus, Charruas, Minuanos e Panos. Todas as classificações apresentadas até hoje, no entanto, Os Indigenas que já habitavam esta terra!
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Gravura. Spix e Matius (viajem pelo Brasil)
Os Tapuias habitavam do Rio Grande do Norte ao Maranhão
Os Jês eram chamados, a princípio, de Tapuias ou Crans. Foi através de Carl Friedrich Philipp von
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Os Indigenas que já habitavam esta terra!
Martius que passaram a ser conhecidos por esta denominação – Jês –, retirada pelo cientista do sufixo que aparece em várias tribos que compõem este grupo: Apinajés, Cricatajés, Procoljés, Aujés, Tajés, etc. Dentre todos os grupos, o dos Gravuras. G.W.C. Voorduin
são insuficientes. Partindo exclusivamente da linguística, falta-lhes uma base cultural mais ampla. O certo é que os portugueses, ao realizarem a colonização, encontraram-se com os Tupinambás e Tupiniquins no litoral baiano, sendo que os Tupinambás se localizavam no Maranhão; Caetés e Tabajaras, em Pernambuco; Potiguares, no litoral do Ceará e Rio Grande do Norte; Taramambés, no litoral paraense; Tamoios, no litoral de São Vicente e Rio de Janeiro; Tupis e Guaranis, mais ao sul; e Tupinas e Amoipinas, no interior nordestino. Embora a classificação dos indígenas brasileiros seja um problema ainda não solucionado, pode-se, no entanto, dividir os índios em quatro grandes grupos: Tupis, Jês, Aruaques e Caraíbas. Os Tupis tiveram seu centro de expansão nos vales dos rios Paraguai e Paraná. Sua diretriz migratória foi a sul-norte. Beirando a serra do Mar, estenderam-se pelo litoral brasileiro, caminhando pelo centro, chegando até o Amazonas e a parte oriental da Guiana, e, subindo pelo vale do Paraguai, atingiram a Bolívia. Suas principais tribos eram os Tapes, no interior; Carijós, no litoral sul, chegando até Cananeia; Tupinambás e Tamoios, no Rio de Janeiro; Temiminós, no Espirito Santo; Tupiniquins e Tupinambás, propriamente ditos, na Bahia; e Potiguares, no Nordeste. Existiam, ainda, tribos menores.
Os Aruaques ocupavam extensa área no Novo Mundo
Jês era o que se encontrava no mais atrasado estágio de desenvolvimento. Entre as suas tribos estão os Aimorés, no sul da Bahia; Botocudos, no Espirito Santo; Apinajés, no Maranhão; e Bugres, em Santa Catarina. O grupo dos Aruaques – índios também conhecidos como Nuaruaques e Maipures – foi o que ocupou a mais extensa zona geográfica. Seu centro de expansão parece ter sido entre o Alto Amazonas e o rio Negro ou a região fronteiriça entre o Brasil e a Venezuela. A migração, talvez a primeira de todos os grupos brasileiros, foi no sentido oeste-leste: estenderam-se desde a Bolívia até a costa setentrional da Venezuela; para o
Unidade 1
Gravura. Friedrich Georg Weitsch (1758–1828)
Outra questão muito discutida e de solução ainda não estabelecida é a da origem do indígena brasileiro, problema que não se pode isolar do estudo da procedência do índio americano em geral. O primeiro grande passo objetivo para o esReprodução
norte, chegaram até a Flórida e, para o sul, atingiram o Paraguai. Os Aruaques eram hábeis navegadores, dotados de uma civilização bem mais adiantada que a dos outros grupos: sua agricultura e sua cerâmica eram notáveis. Entre as tribos Aruaques encontradas em nosso país estão os Aruãs (por toda a bacia amazônica), Parecis (campos mato-grossenses), Paumaris (bacia do Purus), Cunibos (bacia do Jutaí), Guanás e Terenos. Inimigos implacáveis dos Aruaques eram os Caraíbas, localizados nas cabeceiras do rio Xingu. Os Caraíbas foram a princípio chamados canibais. Sua expansão seguiu o rumo centro-nordeste; do Amazonas subiram para as Guianas e Venezuela oriental e daí para as Antilhas. Diversas de suas tribos permaneceram no Brasil, entre as quais os Pamelas, à margem esquerda do rio Madeira; Pimenteiras, ao sul do Piauí; Nauquás e Bocairis, nas cabeceiras do rio Paratininga às margens do Xingu; Piano-Cotós e Mariquitáris, às margens dos rios Pau, Jari e Jamundá; Crixanás, no Japeri; e Macuxis, no rio Branco. Guerreiros implacáveis, os Caraíbas eram os mais ferozes de todos os grupos e usavam velas em suas embarcações.
Estreito de Bering: acesso às migrações para o Novo Mundo
tudo do Homo Americanus foi dado em 1859 pelo geógrafo alemão Alexander von Humboldt. Esse cientista confrontou os selvagens do Novo Mundo com outros povos não estudados pelas antigas teorias existentes sobre o problema, e que remontavam à primeira metade do século XIX. Depois de Humboldt muitas novas teorias foram criadas, algumas afirmando ter sido apenas uma corrente povoadora, e outras dizendo que o povoamento da América se fez através de várias migrações. A teoria da migração de uma única raça para a América afirma que o indígena americano teria procedido das regiões setentrionais da Ásia, entrando no Novo Mundo pelo estreito de Bering, àquela época um istmo que ligava Ásia e América. A justificação para esta hipótese é que o homem americano, embora existam pequenas diferenças, é racialmente uniforme. As diferenças de cultura teriam surgido posteriormente à sua vinda para as novas terras.
Humboldt deu início aos estudos do Homo Americanus
Uma das hipóteses do povoamento através de várias migrações é encabeçada por Paul Rivet, que aponta quatro grandes correntes migratórias: Os Indigenas que já habitavam esta terra!
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Em seus movimentos contínuos, as tribos indígenas brasileiras deixavam marcas de sua passagem ou de sua permanência. Através de pesquisas arqueológicas foi possível recompor, em muitos casos, o estágio de cultura em que os indígenas brasileiros se encontravam quando o elemento colonizador chegou ao Brasil. São as referências arqueológicas, como os sambaquis, as estearias, a cerâmica e as inscrições rupestres. Verdadeiras colinas de conchas, os sambaquis são o resultado de restos de cozinha de nossos indígenas. Popularmente conhecidos por concheiros e casqueiros, existiram no Amazonas, Pará e Maranhão, e no litoral sul, a partir de São Paulo. Essa concentração no litoral é facilmente explicável: por falta de alimento interior, os indígenas foram buscá-lo na costa, onde permaneceram por muito tempo. Embora fossem encontrados em número muito reduzido longe do litoral, é costume dividir os sambaquis em costeiros, fluviais e centrais. Além de vestígios de uma indústria rudimentar, foram encontradas nestes sambaquis ossadas humanas: algumas vezes ossos soltos, ostras, esqueletos completos (do chamado homem dos sambaquis). Idênticas às palafitas, as estearias foram assim denominadas por constarem de milhares de esteios fincados na água. Eram construídas para a defesa da habitação e para facilitar a pesca. As mais importantes são as do lago maranhense do Cajari (dois quilômetros de extensão) e as do Encantado no Pará. Da cerâmica, a manifestação mais notável foi a encontrada no aterro sepulcral de Pacoval, na mar-
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Os Indigenas que já habitavam esta terra!
gem do lago Arari, na ilha de Marajó, e atribuída à extinta tribo dos Aruãs, pertencente ao grupo dos Amáquis. De extremo bom gosto, a cerâmica marajoara – como é popularmente conhecida, devido à sua localização – tem sido comparada ao produto das indústrias mais sofisticadas do mundo moderno. Foi encontrada, também, em Maracá, em cemitérios subterrâneos de Cunani e em Santarém. Edithe Pereira - Acervo Museu Paraense Emílio Goeldi
asiática, australiana, malaio-polinésia e esquimó. Outra teoria, a de Canals Fran, fixa também em quatro as correntes pré-históricas de povoamento da América: dolicóides primitivos de cultura inferior; canoeiros mesolíticos; braquióides de cultura média; e polinésios de alta cultura. Para o estudo do indígena brasileiro, esta última teoria é a mais importante.
Sítio aberto, paredão na encosta da serra. Monte Alegre, Pará
As inscrições rupestres – ou litóglifos – não apresentam letras mas possuem figuras de animais, corpos humanos e astros, além de toscos desenhos de duendes, armas e utensílios. Outros elementos, como o Sol, a Lua, a serpente e o jabuti, aparecem também nesta manifestação dos índios. Para alguns estudiosos, as inscrições lapidares, que no Amazonas tomaram o nome de itacoatiaras, constituem um instrumento gráfico de que se utilizavam os indígenas para assinalar os seus jazigos ou muitas vezes para perpetuar a lembrança de companheiros ou heróis. Essas inscrições rupestres foram encontradas em larga extensão do Brasil, principalmente no Norte, Nordeste e Centro Oeste. Embora tenha deixado essas inscrições rupestres, o indígena brasileiro não possuía escrita. Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em
território brasileiro, esse número chegava a 5 milhões de nativos, aproximadamente. Esses índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupis-guaranis (região do litoral), macro-jês ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia). Atualmente, calcula-se que apenas 900 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.
A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses
Gravura. Biblioteca Nacional de Portugal. Lisboa
O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os índios que viviam naquela época, graças à Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Cabral) e também aos documentos deixados pelos padres jesuítas.
Cabral e sua comitiva estranharam o modo de vida dos nativos
Gravura. Jean-Baptiste Debret (1768–1848)
Unidade 1
Os indígenas viviam da caça, da pesca e da agricultura
Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, batata-doce e, principalmente, mandioca. Essa agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio). Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha. As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum. Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Dessa madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (ocas). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas Os Indigenas que já habitavam esta terra!
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Gravura de Wied-Neuwied
O trabalho na tribo é realizado por todos, com divisão por sexo e idade
e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.
cestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.
A organização social dos indígenas
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprendem desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem prática e vinculada à realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
Entre os índios não há classes sociais, diferentemente do homem branco. Todos têm os mesmos direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores. Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos an-
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Os Indigenas que já habitavam esta terra!
Os contatos entre indígenas e portugueses Como dissemos, os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho.
Unidade 1
O que se seguirá foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequeno número de índios que temos hoje. Principais etnias indígenas do Brasil
A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considerada pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro dessa visão, acreditava que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura.
População estimada
Ticunas
35.000
Guaranis
30.000
Caiagangues
25.000
Macuxis
20.000
Terenas
16.000
Guajajaras
14.000
Xavantes
12.000
Yanomâmis
12.000
Pataxós
9.700
Potiguaras
7.700
Você sabia?
Que o primeiro contato entre índios e portugueses, em 1500, foi de muita estranheza para ambas as partes? E que as duas culturas eram muito diferentes por pertencerem a mundos completamente distintos?
Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio)
- De acordo com dados do Censo 2010 (IBGE), o Brasil possuía, em 2010, 896.917 indígenas. Este número correspondia a 0,47% da população do Brasil.
ATIVIDADES 1) Comente como foi o primeiro contato dos europeus com os índios que já viviam no Brasil. 2) Explique como os colonizadores passaram a escravizar os índios. 3) Fale sobre a atuação dos jesuítas na intermediação dos colonizadores com os índios. 4) Como a cultura indígena era considerada pelo europeu? 5) Qual foi o navegador europeu que fez o primeiro contato com os índios? 6) Fale sobre os sambaquis. 7) Discorra sobre a cerâmica marajoara. 8) Como estavam divididos os índios, de acordo com o tronco linguístico? 9) Cite três principais etnias indígenas do Brasil. 10) Aponte o escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral.
Os Indigenas que já habitavam esta terra!
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miolo impresso em Couchê Fit Silk 80grs e capa em Cartão Ningbo Star 250grs, em abril de 2015, na Intergraf. Texto composto em Swis721 WGL4 BT, corpo 11/15,5.
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As terras indígenas e as leis da terra
Ademar da Silva Campos
Conhecendo as Raízes
doBrasil História e Cultura dos Povos Indígenas
Neste livro: Os Indígenas que já habitavam esta terra!
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Os Indígenas e o Movimento das Entradas e Bandeiras
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A linguagem e outros traços característicos dos Indígenas
4
Os Índios e sua grande inuência cultural
5
Aspectos educacionais, religiosos e culturais dos primeiros indígenas
6
A Amazônia Paraense antes e depois dos europeus
7
Os índios brasileiros e algumas de suas peculiaridades
8
As terras indígenas e as leis da terra
Conhecendo as Raízes do Brasil • História e Cultura dos Povos Indígenas
1
Ademar da Silva Campos
Conhecendo as Raízes
doBrasil História e Cultura dos Povos Indígenas
ISBN 978-85-65965-45-3
CULTURAL BRASIL 9 788565 965453
CULTURAL BRASIL