A Bíblia Hacker – Volume 1
Marco Aurélio Thompson
A Casa do Hacker Episódio de hoje: A Escuta O clima na empresa era tenso. O ano começou com boatos de corte de pessoal. Boatos que logo se mostraram verdadeiros. Tirando o filho do dono, ninguém estava seguro. Até um dos diretores, que gostava de falar que a empresa não funcionaria sem ele, foi o primeiro a levar um pé na bunda. A partir daí é que começou o desespero geral. Ninguém estava seguro com o seu emprego. Eu que gosto de planejar o orçamento, comecei o ano sem comprar nada. Sem aproveitar nenhuma daquelas liquidações de início do ano. Resisti a todas as tentações de consumo. Não me pareceu sensato ficar sem reservas ou fazer dívidas, estando sujeito a ser mandado embora a qualquer momento. Cada dia parecia ser o último. Mas não era. E isso só piorava as coisas. Porque quando você é demitido, é ruim, mas pelo menos teve um desfecho. Já sabe que está desempregado e pode procurar outro emprego. Mas quando fica essa situação de manda embora ou não manda, ficamos em uma espécie de limbo. Sem saber se estamos dentro ou fora. Com o futuro indefinido. As demissões ocorriam geralmente no final da tarde de sextafeira. O funcionário era chamado até a sala do chefe. Lá era avisado da demissão e que teria dez minutos para esvaziar as gavetas. Já saía acompanhado por dois seguranças e sequer podia se despedir dos colegas.
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A Bíblia Hacker – Volume 1
Marco Aurélio Thompson
Para não nos prejudicarmos, fingíamos que nada de anormal estava acontecendo. Não nos incomodávamos com as lágrimas, principalmente das mulheres. Saíam de lá como almas penadas. Sem que qualquer um de nós desse qualquer apoio ou atenção. Os demitidos tonavam-se invisíveis. E nós, aliviados por não ter chegado a nossa vez. A explicação que dávamos a nós mesmos, é que se o chefe visse alguém de conversinha com o(a) demitido(a), esse poderia ser o próximo. _Eu sou hacker!, pensei. Não podia admitir passar por uma situação dessas. Já estava ficando paranoico. Em uma sexta-feira me chamaram até a sala do chefe e quase me mijei. E não era nada demais. Era só para eu ver o novo logotipo que deveria entrar no site da empresa. Pedir demissão estava fora de questão. Não queria perder meus direitos trabalhistas. Se já é ruim ser demitido, é ainda pior pedir demissão. Como eu poderia saber se chegara a minha vez? A única forma que encontrei para fazer isso foi plantando uma escuta. No telefone não dava. O sujeito usava uma linha de telefone fixo sem fio. Parece um celular, mas é um telefone fixo. Só que vez de fio usa ondas de rádio. Era um telefone sem fio fornecido pela companhia telefônica, diferente desses que compramos nas lojas. Se fosse um telefone fixo convencional eu colocaria a escuta no fio do telefone ou na caixa de inspeção. Mas sem fio não dava.
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