Coleção 10 V - Livro 2 - História - Aluno

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Camila J. Silva


Wikimedia Commons / Barcex

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HISTÓRIA Por falar nisso O mundo está cada vez mais urbanizado. Atualmente, mais da metade da população do Planeta vive em cidades, diferente do que ocorria meio século atrás, quando apenas um terço da população do mundo era urbana. Nos anos 50, apenas 86 cidades tinham mais de um milhão de habitantes. Esse número aumentou para 400 e, de acordo com as previsões da ONU (Organização das Nações Unidas), até 2025 serão 500. A maioria das cidades modernas faz parte de um país. Porém, durante a Antiguidade e a Idade Média, havia cidades independentes. Estas não faziam parte de países ou reinos e, geralmente, estavam localizadas em pequenas extensões territoriais, devido ao seu baixo contingente demográfico. Elas são conhecidas como cidades-estado, porque governavam a si próprias e as áreas rurais próximas. As cidades-estado surgiram no contexto da formação das primeiras civilizações. Entre 5000 e 2500 a.C., havia cerca de 10 cidades-estado na Mesopotâmia (atual Iraque). Em determinados momentos, como já vimos anteriormente, essas cidades perderam sua autonomia, passando a fazer parte de impérios, como o Império Babilônico. Esse tipo de organização estatal surgiu novamente na Grécia Antiga, onde uma paisagem montanhosa separava as comunidades. As cidades-estado gregas experimentaram vários tipos de governo. Por exemplo, Atenas é considerada o berço da democracia, e Esparta, um complexo militar governado por monarquias. No entanto, as cidades gregas ainda eram instáveis, e, em momentos específicos, sucumbiram a invasões de povos externos, como os macedônios e romanos. Apenas a cidade de Atenas sobreviveu e existe até os dias de hoje. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A05 A06 A07 A08

Hebreus e Fenícios......................................................................... 482 Persas e cultura da antiguidade oriental....................................... 487 Grécia: período pré-homérico....................................................... 492 Grécia: período homérico.............................................................. 497


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HISTÓRIA

MÓDULO A05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Hebreus e Fenícios nn Hebreus nn Fenícios

HEBREUS E FENÍCIOS Na região do chamado Crescente Fértil, as importantes terras localizadas às margens dos rios Nilo, Tigre e Eufrates possibilitaram não apenas o desenvolvimento das civilizações egípcia e mesopotâmica, mas também o de povos vizinhos, que buscavam condições adequadas para se estabelecer, como poços de água, terra e pastagens. Entre essas populações estavam os hebreus e fenícios, responsáveis por uma série de legados deixados à cultura ocidental. Os hebreus se destacaram por terem sido o primeiro povo a adotar o monoteísmo ético, religião em que existe um deus único que exige um comportamento ético de seus fiéis, ou seja, uma conduta correta e justa por parte dos indivíduos. Hoje, o monoteísmo ético está na base das religiões de mais de 2 bilhões de pessoas, os judeus, os cristãos e os muçulmanos. Segundo alguns pensadores, as religiões surgem na tentativa de responder a indagações para as quais a razão humana não tem respostas. Entre todas as divindades existentes, nas mais diversas civilizações, em determinado momento uma teria se destacado. Esses processos teriam levado a humanidade em direção ao monoteísmo. No Egito, por exemplo, no século XIV a.C., o faraó Amenófis IV tentou implantar o culto exclusivo ao deus Aton, mas fracassou. Após a sua morte, os egípcios voltaram ao politeísmo.

Fonte: Wikimedia Commons / Birmingham Museum and Art Gallery

Quanto aos fenícios, esse povo também deixou um importante legado à sociedade ocidental, sendo o principal deles, o tipo de escrita. Os primeiros sistemas de escrita, como o dos egípcios e dos sumérios, faziam uso de imagens para representar ideias. Esse era um código bastante complexo, pois havia milhares de sinais e poucas pessoas os conheciam. Por volta de 1500 a.C., os fenícios, povo que vivia na região onde hoje é o Líbano, no Oriente Médio, criaram um sistema de escrita muito mais simples, baseado em apenas 29 sinais, cada um representando um som específico da fala. Esse sistema se disseminou e sofreu uma série de mudanças até se transformar no alfabeto que conhecemos hoje.

Figura 01 - Gravura representando povo hebreu em atividade pastoril.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Hebreus Os hebreus eram povos de origem judaica que se caracterizavam pelo seu caráter nômade e pela sua feição pastoril. Muitas informações que temos sobre os hebreus vêm da Bíblia, mais especificamente do Antigo Testamento. No entanto, estudos linguísticos, arqueológicos e textos não bíblicos dialogam com essas representações, fazendo-nos crer que os hebreus migraram da Mesopotâmia para a Palestina, uma estreita faixa de terras nas proximidades da Fenícia que é cortada pelo rio Jordão e que lhes tinha o significado de “terra prometida”.

#DicaCine Hisóri O PRÍNCIPE DO EGITO DREAMWORKS, 1998. No Egito antigo, durante a escravização dos hebreus, o faraó Seti, temendo o constante nascimento de crianças hebreias, pois no futuro poderiam se tornar uma força que ameaçasse seu poder, ordena que todos os bebês hebreus do sexo masculino sejam afogados. Uma hebreia se desespera ao ver que seu filho poderá ser morto e, para salvá-lo, o coloca em uma cesta no rio.

Em virtude de uma grande seca que assolou toda a região da Palestina, os hebreus migraram para o Egito, aproveitando-se da invasão que os hicsos procediam na região. Contudo, com a expulsão dos hicsos, os hebreus foram escravizados e permaneceram nessa situação durante mais de 300 anos até que foram libertados em 1250 a.C. por intermédio de Moisés, que empreendeu o Êxodo e reconduziu os hebreus de volta para a Palestina. Ao retornar à Palestina, os hebreus travaram lutas vigorosas contra os filisteus, dando grande ênfase à ação dos juízes, chefes militares com autoridade religiosa. Os juízes tinham poder temporário e caracterizavam sua ação na luta contra inimigos comuns. Dentre eles, destacam-se Gedeão, Sansão e Samuel. Este último tentou centralizar o poder, mas não conseguiu. A concretização da centralização dos hebreus ocorreu por volta do século X a.C., por necessidade de combater seus inimigos, tendo em Saul seu primeiro monarca. Com a morte de Saul, o poder ficou com Davi, que concretizou o Estado Hebreu, conquistando toda a Palestina e transformando Jerusalém em sua capital. Davi montou uma monarquia de caráter sagrado com grande prosperidade econômica.

Fonte: Wikimedia Commons / Birmingham Museum and Art Gallery

Os hebreus chegaram à Palestina por volta de 2000 a.C., segundo a Bíblia, conduzidos por Abraão. E tiveram que conviver com cananeus e filisteus que lá viviam. Os hebreus eram organizados em tribos patriarcais que se dedicavam ao pastoreio. Mais tarde, dividiram-se em várias tribos e começaram a desenvolver uma base agrária.

Salomão sucedeu Davi e atingiu o apogeu do mundo hebraico, desenvolvendo as atividades comerciais, assim como a construção de grandes obras como o Templo de Jerusalém dedicado ao deus Jeová. Após a sua morte, houve o cisma, dividindo o povo hebreu em dois reinos: Israel e Judá, o que acabou contribuindo para o enfraquecimento dos hebreus, que ficaram vulneráveis e suscetíveis às invasões e dominações estrangeiras. Essa dominação conduziu o povo hebreu à sua diáspora, ou seja, uma dispersão por todo o mundo.

A05  Hebreus e Fenícios

Figura 02 - Imagem simulando o Templo de Jerusalém construído durante o governo do rei Salomão.

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Fonte: Wikimedia Commons

História

Figura 03 - Templo de Jerusalém

Os hebreus sempre foram lembrados pela presença de uma religião monoteísta, adoradora do deus único Javé, o que deu unidade aos povos que habitavam a Palestina. É ainda relevante destacar que a rigidez na religião hebraica e a luta pela formação de um Estado são causas de divisionismos que se aguçaram com o movimento sionista iniciado em 1897 por Theodore Herzl e que mais tarde redundaria na criação do Estado de Israel em 1948. Essas polêmicas são causas até hoje de embates entre povos no Oriente Médio, fato que mantém essa região como uma das mais conturbadas do planeta.

Fenícios Por volta de 3000 a.C., na região onde hoje é o Líbano, estabeleceram-se povos de origem semita que se autodenominavam cananeus, uma vez que a região era conhecida pelo nome de Canaã. Os cananeus construíram seus aldeamentos, sobretudo às margens do Mediterrâneo, desenvolvendo intensa atividade mercantil. Esse povoamento deu origem a diversas cidades portuárias, como Biblos, Ugarit e Tiro. Embora possuíssem idioma e hábitos culturais bastante semelhantes, essas cidades não eram unificadas. Eram cidades-estado, que possuíam autonomia política e administrativa. A comunicação entre essas diferentes cidades era feita principalmente pelo mar, de forma que, com o tempo, também passaram a estabelecer relações comerciais com outras populações mediterrâneas, transformando-se em verdadeiros entrepostos comerciais.

A05  Hebreus e Fenícios

Além da navegação e do comércio marítimo, os cananeus se notabilizaram pela produção de um riquíssimo artesanato, destacando-se a produção de joias, estatuetas, caixas de marfim, entre outros artigos, e a produção de corantes, desenvolvendo sofisticada técnica no tingimento de tecidos. Para isso, utilizavam um líquido extraído de um molusco. Muito provavelmente por esse motivo, os gregos teriam chamado Canaã de Phoenicia (púrpura), palavra da qual derivam Fenícia e fenícios. Com o passar do tempo, as regiões vizinhas foram ocupadas por diversos povos, entre eles os arameus, hebreus e filisteus. No entanto, os fenícios não eram um povo guerreiro, tendo sua expansão marítima vindo em decorrência do comércio e de seu desenvolvimento náutico. Seus navios, feitos principalmente de cedro, possuíam proa e popa altas, boca larga e moviam-se tanto a vela quanto a remo.

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Opirus/Arte

Ciências Humanas e suas Tecnologias

Figura 04 - Mapa das rotas comerciais fenícias.

Devido à estreita relação mantida com outros povos, os fenícios passaram por um intenso processo de miscigenação étnica e cultural. Ao mesmo tempo em que entravam em contato com habitantes de outras regiões, como os egípcios e os egeus, apropriavam-se de aspectos culturais, artísticos e religiosos dessas sociedades.

Opirus/Arte

As diversas cidades-estado cultuavam vários deuses, os mais importantes, geralmente denominados Baal, eram associados ao Sol, e Astarteia, simbolizada pela Lua, que representava fecundidade. A partir do século IX a.C. a Fenícia entrara em derrocada, sofrendo invasões de vários povos. Primeiro foram os assírios, depois, e sucessivamente, os babilônios, persas e gregos. Em 64 a.C., Roma incorporou as cidades-estado fenícias aos seus domínios. A civilização fenícia chegava ao fim, porém sua herança se perpetuaria graças a uma de suas maiores invenções: o alfabeto.

Figura 05 - Alfabeto dos fenícios

Exercícios de Fixação

a) A introdução de técnicas agrícolas eficientes. b) Introdução do carro de roda nos transportes. c) Criação de uma escrita e um alfabeto fonético. d) Uma arquitetura inovadora representada pelas pirâmides. e) Desenvolvimento da organização política democrática. 02. Dentre as alternativas abaixo é incorreta a que afirma ser uma característica da civilização fenícia: a) o predomínio no comércio marítimo do Mar Mediterrâneo, principalmente entre os séculos XII e VIII a.C.

b) a criação de um alfabeto fonético com 22 letras. c) organizar-se politicamente em cidades-estado, como Sídon. d) principais comerciantes de púrpura. e) desenvolvimento de uma religião monoteísta. 03. (Ufal AL) A busca por melhores condições de vida – tanto espaciais quanto socioculturais – tem sido uma constante na história de homens e mulheres em todos os tempos. a) O que significou para o povo hebreu o episódio da sua história reconhecido como o Êxodo? b) Como podem ser classificadas as migrações quanto ao seu espaço de deslocamento? 04. (Uems MS) A cultura hebraica (marcada por um profundo senso de religiosidade que perpassou sua arte e sua literatu-

Questão 03 a) O episódio reconhecido como Êxodo significou, para o povo hebreu, a libertação de sua condição de povo escravo, submisso aos caprichos dos mandatários egípcios, e, contrariamente, a possibilidade de acesso a uma vida social, político-religiosa, e econômica, livre, autônoma e produtiva. b) As migrações podem ser classificadas como internas, quando ocorrem dentro de um mesmo país, e, externas ou internacionais, quando implicam a travessia de uma ou mais fronteiras.

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A05  Hebreus e Fenícios

01. Os fenícios, que desenvolveram sua civilização na região onde hoje se encontra o Estado do Líbano, destacaram-se como grandes comerciantes marítimos. Entretanto, outro importante legado foi deixado pelos fenícios para as civilizações posteriores. Qual foi este legado?


História

ra) deixou raízes profundas em toda a Europa e, por extensão, na civilização ocidental, porque foi responsável pelo desenvolvimento do: a) Ateísmo b) Cristianismo c) Judaísmo d) Budismo e) Maometismo 05. (Upe PE) Entre os povos que se destacaram na Antiguidade Oriental, os hebreus são considerados os únicos que sobreviveram ao desmoronamento de milenares impérios da história da humanidade. Sobre a sociedade hebraica na época antiga, é incorreto afirmar que:

a) havia escravidão, porém o escravo poderia alcançar sua liberdade, caso o patrão, castigando-o, inutilizasse seu olho ou lhe arrancasse um dente. b) durante o governo de Salomão, o reino conheceu seu apogeu, transformando-se numa das grandes monarquias orientais, empreendendo, inclusive, a construção do Templo de Jerusalém. c) é no Antigo Testamento que se encontra sua história, especialmente a fase da escravidão no Egito, narrada pelos livros dos Números e do Deuteronômio. d) houve a presença de mulheres como dirigentes militares na época dos Juízes, cuja autoridade era fundamentada na ideologia religiosa. e) durante muitos séculos, utilizou a língua hebraica, mas a substituiu pelo aramaico, língua semita do ramo ocidental, tornada oficial na época do domínio persa.

Exercícios Complementares 01. (Unesp SP) Na região onde atualmente se encontra o Líbano, instalou-se, no III milênio a. C., um povo semita, que passou a ocupar a estrita faixa de terra, com cerca de 200 quilômetros de comprimento, apertada entre o mar e as montanhas. Várias razões os levaram ao comércio marítimo, merecendo destaque sua proximidade geográfica com o Egito; a costa, que oferecia lugares para bons portos; e os cedros, principal riqueza, usados na construção de navios. O contido nesse parágrafo refere-se ao povo: a) fenício. b) hebreu. c) sumério. d) hitita. e)assírio. 02. (UFPB) Sobre os povos da Antiguidade Oriental, é correto afirmar:

rios atuais do Líbano, Palestina, Israel, e partes da Síria e da Jordânia. Palco de inúmeras invasões, em especial por parte dos hebreus que acreditaram que lá seria o local prometido por Deus a eles. Sobre Canaã é correto afirmar-se que: a) era um local muito disputado e, quando da chegada dos hebreus, era habitada também pelos filisteus. b) era uma denominação fictícia para narrativas romanceadas oriundas da Mesopotâmia. c) após a ocupação hebraica, descrita no Livro de Juízes, a região recebeu o nome de Fenícia. d) não resistiu às invasões, especialmente à dos hebreus, pois também professava o monoteísmo. 04. Os fenícios, povo de origem semita que se fixou e desenvolveu as suas cidades numa faixa de 200 quilômetros situada

senvolvimento dos hebreus, devido ao aproveitamento das

entre o mar Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano,

águas por meio de complexos e amplos sistemas de irrigação.

conheceram o apogeu da sua influência a partir de 1400 a.C.

egípcios, de onde provém o monoteísmo judaico. c) O comércio marítimo marcou a presença histórica dos fenícios, que estabeleceram contatos com diversos povos, ao longo da costa do Mar Mediterrâneo. d) A guerra de conquista foi a principal característica dos su-

A05  Hebreus e Fenícios

ferir-se à região que, grosso modo, compreende os territó-

a) A agricultura foi o principal fator de enriquecimento e de-

b) A religião constituiu a principal herança deixada pelos

mérios, povo que construiu um império que se estendia do Egito às fronteiras da Índia. e) A escrita cuneiforme, um das mais importantes formas de registro escrito, produzido em blocos de argila, foi a principal contribuição dos persas, povo que habitou a Mesopotâmia.

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03. (UECE) Canaã foi a palavra utilizada na Antiguidade para re-

(destruição de Cnossos em Creta). Entre as afirmações que se seguem, escolha aquela que caracteriza de maneira correta esse povo. a) Viviam num sistema político teocrático, ou seja, os sacerdotes governavam. b) Suas principais atividades econômicas eram agrícolas e a pecuária. c) Seu alfabeto foi elaborado a partir do alfabeto grego. d) Praticavam uma religião maniqueísta. e) Eram especializados no comércio marítimo.


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HISTÓRIA

MÓDULO A06

PERSAS E CULTURA DA ANTIGUIDADE ORIENTAL Os primórdios da civilização Persa remetem ao sexto milênio antes de Cristo, quando grupos nômades vindos do centro e do norte da Ásia instalaram-se no planalto iraniano, ao leste da Mesopotâmia. Esses povos, progressivamente, foram capazes de construir uma civilização que seria a responsável por um dos maiores impérios do mundo antigo.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Persas e cultura da antiguidade

oriental

nn Os Persas nn Cultura da Antiguidade Oriental

Entre os povos que habitavam aquela região, encontravam-se os medos e os persas. Os medos se estabeleceram a Oeste e Nordeste do planalto, na região onde hoje se encontra a cidade de Teerã, capital do Irã, enquanto os agrupamentos persas se fixaram no sudoeste do planalto. Por volta do século VII a.C, os medos se unificaram sob a liderança de um rei. No entanto, no século seguinte, foram dominados pelos persas, que estavam unificados em torno da figura de Ciro. Os persas conquistaram ainda outros povos que viviam nas proximidades do planalto do Irã, impondo a todos a mesma administração e construindo um vasto Império. Seu território chegou a compreender a Ásia menor, a Mesopotâmia e uma parte da Ásia Central, domínios que seriam ampliados nos governos posteriores a Ciro (Egito, Ásia até o vale do rio Indo e pequena parte da Europa, onde se localizavam algumas colônias gregas). Neste módulo, saberemos mais sobre os Persas e também faremos uma exposição geral da cultura da antiguidade oriental.

Os Persas

Fonte: Wikimedia Commons

Ciro foi o primeiro rei a unificar o povo persa a partir de uma perspectiva militarista que lhe permitiu a conquista e a anexação dos povos medos. Suas dominações estenderam-se à Babilônia, Fenícia, Síria, Palestina, chegando até a Índia. Seu filho, Cambises empreendeu a conquista do Egito com a vitória na Batalha da Pelusa.

Figura 01 - Escultura em alto-relevo representando Dario I, ao centro.

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História

A06  Persas e cultura da antiguidade oriental

SAIBA MAIS O chamado modo de produção asiático caracteriza os primeiros Estados surgidos no Oriente Próximo, Índia, China e África. A agricultura, base da economia desses Estados, era praticada por comunidades de camponeses presos à terra, os quais não podiam abandonar seu local de trabalho e viviam submetidos a um regime de servidão coletiva. Todas as terras pertenciam ao Estado, representado pelas figuras do imperador, rei ou faraó , que se apropriava do excedente agrícola (produção que supera o consumo imediato), distribuindo-o entre a nobreza, formada por sacerdotes e guerreiros. Esse Estado todo-poderoso, onde os reis ou imperadores eram considerados verdadeiros deuses intervinha diretamente no controle da produção. Nos períodos entre as safras, era comum o deslocamento de grandes levas de trabalhadores (servos e escravos) para a construção de imensas obras públicas, principalmente canais de irrigação e monumentos. Esse tipo de poder, também denominado despotismo oriental, marcado pela formação de grandes comunidades agrícolas e pela apropriação dos excedentes de produção, caracteriza a passagem das sociedades sem classes das primitivas comunidades da pré-história para as sociedades de classes. Nestas, predomina a servidão entre explorados e exploradores, embora a propriedade privada ainda fosse pouco difundida. Guardadas as particularidades históricas, pode-se afirmar que os primeiros Estados surgidos no Oriente Próximo (egípcios, babilônios, assírios, fenícios, hebreus, persas) desenvolveram esse tipo de sociedade. Por fim e resumidamente, a servidão coletiva era o modo de pagamento para o rei ou faraó pelas terras. Disponível em: <http://www.ebah. com.br> Acesso em: 05 abr. 2017.

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Após a morte de Ciro e algumas disputas internas, Dario I assumiria o poder. Foi sob a sua liderança que o Império persa atingiu o apogeu, reconquistando domínios perdidos. Sob o controle persa, houve a expansão dos territórios sob o controle persa, estes que abrigavam mais de 10 milhões de pessoas, com línguas, costumes e religiões diferentes. Para controlar esse vasto território, Dario construiu estradas reais, principalmente entre suas duas capitais: Susa e Persépolis e criando um sistema de correios para mantê-lo sempre informado. Além disso, promoveu um hábil sistema de arrecadação de impostos e criou uma moeda para veiculação em todo o império, o dárico. Seu imenso império foi dividido em unidades administrativas, denominadas satrapias, que eram chefiadas por altos funcionários: os sátrapas e fiscalizadas por inspetores reais, que ficaram conhecidos como “olhos e ouvidos do imperador”. Militarmente, o reinado de Dario I foi marcado pela reorganização do exército e pelo avanço sobre o mundo grego, iniciando as Guerras Médicas, responsáveis pela decadência futura do império, sob a liderança de seu filho Xerxes. No entanto, a sustentação de uma gigantesca estrutura militar somada à suntuosidade da corte foram os elementos principais para o colapso do Império que, para mantê-las, espoliava e brutalizava os povos vencidos que dificilmente aceitavam a dominação de forma passiva. Com a derrota persa, as cidades gregas tornaram-se a principal força do Mediterrâneo oriental. Os persas deixaram importante legado aos povos e religiões que vieram depois deles. A concepção de Juízo Final, Paraíso e a oposição entre o Bem e o Mal encontradas no cristianismo, por exemplo, tiveram influência do masdeísmo, ou zoroastrismo, da religião persa. Os fundamentos dessa doutrina estão registrados no Zend-Avesta, obra escrita por Zoroastro, também conhecido como Zaratustra. Oficialmente, apenas o deus Ahura-Mazdã, simbolizado pela luz e pela pureza do fogo, era adorado. No entanto, a população também cultuava divindades que personificavam as forças do Bem em permanente luta contra as trevas e os demônios. Acreditava-se que quem combatesse as forças do Mal alcançaria a felicidade e vida eterna.

Cultura da antiguidade oriental Como vimos até agora, os povos da antiguidade oriental, independentemente de possuírem modelos produtivos semelhantes, comumente chamado de modo de produção asiático, fundamentado na propriedade das terras por parte Estado e no sistema de servidão coletiva, demonstraram culturas bastante diversificadas. A partir do impulso de dominação militar dos impérios, diferentes culturas conviveram num mesmo território, por exemplo, quando os hebreus, com sua cultura monoteísta e pastoril, foram mantidos em cativeiro no Egito. Isso ocorreu de forma ainda mais intensa e ampla no Império Persa, pois, no processo de expansão, seus cavaleiros lutavam ao lado de grupos hindus, gregos, marinheiros fenícios e árabes cavalgando camelos. Por causa dessa proximidade entre povos diferentes, costumes e experiências foram gradativamente difundidos e assimilados: peças de vestuário dos persas; técnicas agrícolas dos egípcios; a experiência hidráulica dos mesopotâmicos, entre outros conhecimentos. É importante ressaltar que tal intercâmbio cultural, na antiguidade oriental, deu-se igualmente no campo da religião, pois, com exceção dos hebreus, não havia restrição de culto a uma divindade específica. Pelo contrário, havia tolerância e, eventualmente assimilação, como ocorria no Egito. A religião era um fator que influenciava quase todas as instâncias da vida cotidiana, inclusive a política, pois era a grande responsável pela manutenção da ordem social. No campo das artes, por exemplo, a pintura e a escultura, na Mesopotâmia, representavam sempre temas relacionados às divindades e à guerra, e eram utilizadas para decorar os templos e palácios.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Foi na antiguidade oriental que, pela primeira vez, verificou-se o uso de moedas, entre os fenícios e os persas. O impulso comercial foi de grande importância para o desenvolvimento do artesanato e da técnica de tingimento de tecidos, como verificado entre os fenícios. No ramo da arquitetura, foi de grande expressividade a cultura mesopotâmica e egípcia, com destaque para a construção de palácios, templos e monumentos funerários. Os Zigurates, que eram os templos destinados à adoração dos deuses, costumavam possuir uma torre que dava acesso à parte superior, onde os sacerdotes observavam os astros, o que denota a importância que a astronomia possuía na Mesopotâmia.

Figura 02 - Estatueta de marfim feita por artesãos fenícios, provavelmente representando o deus Mitra, um deus solar.

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Fonte: Wikimedia Commons

A06  Persas e cultura da antiguidade oriental

A cultura na antiguidade oriental, como já vimos anteriormente, deixou diversos legados, que perduram até a sociedade moderna. Entre eles, encontram-se as influências da religião hebraica e persa, da astronomia, da matemática, mas, sem dúvida, a maior deles foi a invenção e o aperfeiçoamento da escrita, desde a escrita cuneiforme dos sumérios, até o alfabeto fenício.


História

Exercícios de Fixação 01. (UECE) Ciro, o Grande (558-529 a.C.), reinou sobre o grande império persa. Utilizou como método de organização política a tolerância em relação aos seus súditos, concedendo-lhes relativa autonomia administrativa. Dividiu o imenso território em vinte satrapias, cada uma dirigida por um sátrapa, que era um funcionário a) privado, encarregado do governo da cidade e da administração dos bens do templo. b) nomeado pelo rei para ocupar postos de chefia sob a autoridade de um governador. c) nomeado inspetor pelo imperador persa, com as funções de polícia e vigilância. d) do estado persa, que exercia o poder de um governo de fato. 02. (Enem MEC) Em seu discurso em honra dos primeiros mortos na Guerra do Peloponeso (séc. V a.C.), o ateniense Péricles fez um longo elogio fúnebre, exposto na obra do historiador Tucídides. Ao enfatizar o respeito dos atenienses à lei e seu amor ao belo, o estadista ateniense tinha em mente um outro tipo de organização de Estado e sociedade, contra o qual os gregos se haviam batido 50 anos antes e que se caracterizava por uma administração eficiente que concedia autonomia aos diferentes povos e era marcada pela construção de grandes obras e conquistas.

A06  Persas e cultura da antiguidade oriental

PRADO, A. L. A.,Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, Livro I, São Paulo, Martins Fontes (com adaptações).

O “outro tipo de organização de Estado e sociedade” ao qual Péricles se refere era a) O mundo dos impérios orientais, que rivalizava comercialmente com a Atenas de Péricles. b) O Império Persa, que, apesar de possuir um vasto território, tentou, em vão, conquistar a Grécia. c) O universo dos demais gregos, que não viviam sob uma democracia, já que esta era exclusividade de Atenas. d) O Alto Império Romano, que, se destacava pela supremacia militar e pelo intenso desenvolvimento econômico. e) O mundo dos espartanos, que, desconhecendo a escrita e a lei, eram guiados pelo autoritarismo teocrático de seus líderes 03. (UFSE) Analise as proposições sobre os egípcios e povos mesopotâmicos. 03-04 00. A religião monoteísta foi o elemento cultural mais atuante em todos os períodos da história política do Egito Antigo. 01. A medicina, a arquitetura e a engenharia no Egito foram pouco utilizadas e insignificantemente estimuladas pelo poder central. 02. Estimulados pelos faraós e pelos sacerdotes, técnicos e artistas, atuando como verdadeiros funcionários do Estado, buscaram, em vão, por meio de estudos da astronomia, elaborar um calendário.

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03. Mesopotâmia --- nome dado pelos gregos e que significa “terra entre dois rios” --- compreendia os vales e planícies irrigados pelos rios Tigre e Eufrates, onde hoje é o território do Iraque e terras próximas. 04. Durante o reinado de Nabucodonosor (604 a.C- 561 a.C.), o Segundo Império Babilônico viveu o seu apogeu. Foi a época das grandes construções públicas como os templos para vários deuses, especialmente o de Marduk, as grandes muralhas da cidade e os palácios, a exemplo dos “Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados pelos gregos como uma das maiores “maravilhas do mundo”. 04. (Ufac AC) “A religião penetrava intimamente todos os aspectos da vida pública e privada (...) Cerimônias eram realizadas pelos sacerdotes a cada ano para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às divindades adequadas. Oráculos dos deuses desempenhavam um papel importante na solução de problemas políticos e burocráticos e eram também consultados pelos homens do povo antes de tomarem decisões de algum peso. As mulheres sem filhos se desnudavam diante de touros ou carneiros sagrados, esperando mudar a situação por sua exposição a tais símbolos de fertilidade. A medicina era penetrada de magia e religião. O aspecto supersticioso das crenças multiplicava o uso de amuletos e outras proteções mágicas, tanto pelos vivos quanto pelos mortos.” (Ciro Flamaríon Cardoso)

A partir da leitura do texto acima, diga a qual povo da antiguidade o autor se refere: a) gregos b) romanos c) fenícios d) egípcios e) hebreus 05. (UFRN) A religião estava presente em todos os aspectos da vida no Antigo Egito. A medicina, inclusive, era impregnada de elementos mágicos e religiosos. A relação entre religião e medicina no Antigo Egito era evidente na medida em que: a) as práticas médicas estavam voltadas apenas para o tratamento dos faraós, cuja imagem era associada aos deuses. b) as técnicas desenvolvidas na medicina foram estimuladas pela necessidade de preservar o corpo para a vida após a morte. c) os médicos, recrutados entre as mais altas camadas sociais, acumulavam também a função de promover o culto religioso. d) os médicos queriam prolongar a existência terrena, estimulados pelas crenças religiosas que negavam a imortalidade da alma.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 02. a) O povo iraniano descende dos antigos persas, que estabeleceram no planalto iraniano, no período compreendido entre os séculos VI a.C e IV a.C, um poderoso império. No final do século V a.C, o Império Persa dominou as colônias gregas na Ásia Menor e tentou conquistar a Grécia Continental, dando origem a um longo conflito que ficou conhecido como Guerras Médicas ou Guerras Persas. Uma das batalhas mais famosas deste conflito foi a “Batalha das Termópilas” (retratada no filme 300 de Esparta), na qual trezentos guerreiros espartanos enfrentaram o gigantesco exército do rei persa Xerxes.

Exercícios Complementares 01. (Ufam AM) Os Persas foram, na Antiguidade, um dos povos

a rapidez do correio persa como inigualável, ao dizer que

mais importantes a ocupar a região da Mesopotâmia.

“não há ninguém no mundo capaz de percorrer um itine-

Sobre sua história e cultura é possível afirmar que:

rário mais rapidamente do que esses mensageiros, graças

a) A vitória de Dario I sobre os Gregos marcou o início da as-

ao hábil sistema persa”.

censão Persa no Mediterrâneo, favorecendo a expansão da escrita cuneiforme e dos cultos monoteístas. b) Desenvolveram uma religião própria, o Zoroastrismo, e começaram sua expansão territorial após as conquistas lideradas por Ciro, o Grande. c) Famosos por suas obras arquitetônicas, os Persas construíram na Babilônia as maiores pirâmides da Mesopotâmia, tornando aquela cidade o centro de seu Império. d) O declínio do Império Persa foi marcado pela derrota de Xerxes para os Assírios na batalha de Susa. e) Adotando uma religião que opunha, de forma maniqueísta, o bem e o mal, os Persas dominaram o comércio mediterrâneo após conquistar o Egito, a Ásia Menor e a Macedônia, sob a liderança de Nabucodonosor. 02. (UFCE)

(VICENTINO, p. 50).

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre a civilização persa, pode-se afirmar: 04 01. A eficiente administração dos persas esteve fundamentada na harmonia cultivada por Dario I, que evitou confrontos com as colônias gregas do mar Egeu. 02. A preocupação com a eficiência nas comunicações justificava-se pelo interesse de monetarizar aquela economia ainda baseada no escambo. 03. O envolvimento dos persas com as atividades artesanais e o comércio interno impediu que, no Império, fossem direcionados investimentos no setor das grandes obras públicas nas cidades e no campo. 04. O sistema de comunicação interligando províncias e cidades-sedes de governo garantiu a arrecadação dos impostos devidos ao império.

entre gregos e persas no filme ‘300 de Esparta’, a Embaixada

05. A eficiente administração implementada na Pérsia de

do Irã em Brasília divulgou uma nota nesta quarta-feira na

Dario I contribuiu para a permanência ininterrupta da-

qual acusa o filme, que tem no elenco o brasileiro Rodrigo

quela civilização até os dias atuais.

Santoro fazendo o papel do rei persa Xerxes, de ‘promover o conflito entre as civilizações’. (Jornal O Globo, 04/04/2007).

Com base no texto acima e em seus conhecimentos, responda às questões que seguem. a) Qual a ligação histórica entre os povos iraniano e persa? b) Como ficaram conhecidas as guerras entre gregos e persas na Antiguidade? c) Qual a motivação principal das guerras mencionadas no item anterior? d) Cite dois motivos do conflito diplomático entre Irã e EUA nos dias de hoje. 03. (Uesc BA) A “estrada real” construída por Dario I media perto de 2400 quilômetros de comprimento e cortava o império, unindo Sardes, nas proximidades do mar Egeu (Ásia Menor) ao palácio de Susa, no golfo Pérsico. A segurança da estrada era garantida por uma constante patrulha imperial e possuía mais de 100 postos onde os mensageiros reais faziam a troca de cavalos e passavam o correio, um trajeto que durava apenas uma semana em todo o seu percurso. O historiador grego Heródoto chegou a apontar

04. (UECE) Analise o seguinte comentário: “Por mais longe que se remonte aos primórdios da civilização do Nilo egípcio... a imagem feminina traduz o amor, a fecundidade ou a solicitude, ou seja, a amante, a mãe, a carpideira (ou “enlutada”), a que provoca o desejo, que dá a vida ou vela o morto que parte para sua eternidade”. Fonte: NOBLECOURT, Christiane Desroches. A Mulher no Tempo dos Faraós. Trad. Tânia Pellegrini.Campinas: Papirus, 1994, p. 201.

Uma vez que a opinião expressa nessa afirmação se refere à situação da mulher na sociedade egípcia, é correto afirmar que: a) A veneração pela figura feminina encontra-se expressa tanto nas manifestações artísticas quanto nos relatos literários. b) O espaço social, a ela reservado, garantindo-lhe total independência, resulta de uma imposição jurídica, elaborada pelo Faraó Amenófis IV. c) As sociedades egípcia e hebraica, em virtude da forte influência da ética religiosa, concediam à mulher uma posição idêntica a do homem. d) O respeito à mulher e à igualdade de direitos, que lhe eram concedidos, resultou da influência da cultura grega na sociedade egípcia.

Questão 02. b) O conflito entre gregos e persas tinha como móvel fundamental a disputa pela supremacia marítima e comercial do Mundo Antigo, que tinha como uma de suas rotas primordiais o mar Egeu. No século XX (década de 1950), o Xá (rei) do Irã, Reza Pahlevi, empreendeu um movimento de modernização do país, que ficou conhecido como “Revolução Branca”. Nesse período, foram estabelecidos vários acordos políticos e comerciais com os EUA, especialmente no campo da exploração de petróleo. Esse movimento entrou em choque com a cultura mulçumana, levando a uma série de conflitos entre o governo e religiosos. Em 1979, a “Revolução Islâmica”, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, transformou o país numa República Islâmica e rompeu todos os acordos comerciais com os EUA. Desde então, a Casa Branca vem tentando retomar, por meio de pressões diplomáticas e sanções comerciais, a influência política e econômica (sobretudo no campo da exploração de petróleo) que exercia sobre o Irã ao tempo do Xá. Nos últimos anos, o conflito diplomático foi agravado por denúncias feitas pelo Presidente George W. Bush de que o Irã favorece organizações terroristas e tenta desenvolver armas nucleares, bem como pelas declarações do Presidente Mahmud Ahmedinejad a favor da destruição do Estado de Israel, principal aliado dos EUA no Oriente Médio.

491

A06  Persas e cultura da antiguidade oriental

BRASÍLIA - Irritada com a versão de Hollywood para a guerra


FRENTE

A

HISTÓRIA

MÓDULO A07

ASSUNTOS ABORDADOS nn Grécia: período pré-homérico nn Períodos da História Grega nn Período pré-homérico

GRÉCIA: PERÍODO PRÉ-HOMÉRICO Entre todos os povos do mundo antigo, aquele cuja cultura mais claramente influenciou o espírito do homem ocidental foi o povo grego, que não só apreciava a liberdade, como também exaltava a figura do homem em detrimento do poder religioso. Os gregos foram os primeiros a falar de democracia. Para eles, tal sistema deveria ser moderado por cidadãos intelectualmente preparados e conhecedores dos problemas da região onde viviam. Manifestaram atitudes laicas e racionais, exaltando o conhecimento e permitindo que a cultura atingisse o mais alto patamar de toda a Antiguidade. No entanto, mesmo sendo possuidores de uma leitura racional da realidade, a religião não foi esquecida no imaginário grego. A população possuía muita proximidade com seus deuses e acreditava que eles podiam influenciar diretamente na vida dos indivíduos. A Grécia, ou Hélade, é uma região com litoral recortado, solo bastante pobre e um relevo bastante montanhoso, o que dificultava a comunicação entre povos que habitavam suas diferentes localidades. Na península balcânica e nas ilhas do mar Egeu, primeiras regiões ocupadas pelos gregos, predominava o relevo montanhoso. Já as demais regiões ocupadas são constituídas por um planalto elevado que domina a península anatólica, enquanto a costa é recortada e cheia de pequenas ilhas. A Hélade era formada por três regiões distintas: a Grécia Continental, ao norte do Golfo de Corinto, a Grécia Peninsular, ao Sul, e a Grécia Insular, formada pelo conjunto das ilhas do Mar Egeu e do Mediterrâneo Oriental, destacando-se Creta, ao Sul, e Chipre, a Leste. Esse fator geográfico determinou, em parte, a constituição de certos elementos culturais das comunidades gregas, ao mesmo tempo em que teve muita importância para a organização de um dos modelos políticos mais importantes da Antiguidade: a cidade-estado.

492


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Períodos da história grega nn Período Pré-Homérico (século XX ao XII a.C.)– caracterizou-se pelas migrações

e invasões indo-europeias (aqueus, jônios e eólios) à península Balcânica, que deram origem, entre outras, à civilização micênica e à formação do homem grego (heleno) e se estendeu até a invasão e dominação dórica. nn Período Homérico (século XII ao VIII a.C.)– período pós-invasão dórica, carac-

terizado pelas comunidades familiares (“genos”), chefiadas pelo paterfamílias. A desintegração dessas comunidades gentílicas foi o passo essencial para a formação da pólis (cidades-estados).

nn Período

Arcaico (século VIII ao VI a.C.)– fase de formação e organização da pólis em que se destacaram as cidades de Esparta e de Atenas, que marcaram todo o desenvolvimento dessa brilhante civilização.

nn Período

Clássico (século VI ao IV a.C.)– representou o apogeu da civilização grega, caracterizado especialmente pelo estabelecimento da democracia ateniense. Foi também a época das guerras que assolaram o mundo grego, tanto externa quanto internamente, como se pode ver a partir das Guerras Médicas e da Guerra do Peloponeso, que marcou não só o início da decadência grega, como permitiu a intervenção de outros povos ao território grego, como por exemplo, os macedônios de Filipe II e Alexandre, o Grande.

nn Período

Helenístico (século III ao II a.C.)– representou o momento de centralismo político marcado pela figura de Alexandre, o Grande e do cosmopolitismo cultural, a partir da fusão de diferentes elementos.

Período pré-homérico O conhecimento histórico da primeira parte da História Grega ainda é muito limitado. Durante esse período, formaram-se duas civilizações: a Cretense e a Micênica. Creta era a maior ilha do mar Egeu e o seu desenvolvimento ocorreu entre 2000 a.C. e 1400 a.C. Dentre suas principais características, podemos destacar a existência de uma escrita, uma produção artesanal de grande porte e um intenso comércio marítimo, que privilegiava as vasilhas de cerâmica e o azeite de oliveira. Sua população vivia sob o domínio de um regime de servidão coletiva, possuindo uma agricultura desenvolvida em que, além de cereais, vinhas e oliveiras, dedicavam-se também à criação de animais de grande porte como bovinos, asininos e equinos. Sua riqueza e o seu poder eram controlados por Reis sacerdotes. No caráter social, é importante destacar o papel exercido pela mulher, que adquiria certa inserção social, podendo participar de festas e cerimônias religiosas. Muitas eram sacerdotisas, fiandeiras e até pugilistas, caçadoras e toureiras. Religiosamente, os cretenses eram politeístas e cultuavam a Grande Mãe, além de animais, árvores e objetos sagrados. A07  Grécia: período pré-homérico

A partir do século XX a.C., diversos povos de origem indo-europeia migraram para a Península Balcânica, destacando-se os aqueus, jônios e eólios que fundaram inúmeros núcleos urbanos dos quais Micenas assume posição privilegiada. Sabe-se que Micenas desenvolveu algumas edificações e chegou a montar uma burocracia, sistema administrado por funcionários com cargos bem definidos, orientados por um regulamento fixo. Com o passar do tempo, Micenas passa a manter relações com os Cretenses, o que permite a formação de uma civilização denominada Creto-Micênica que exerceu forte controle sobre grande parte da região grega. É relevante ainda destacar que, embora Micenas tenha sido fundada por Aqueus, muitos valores cretenses foram incorporados ao seu cotidiano como, por exemplo, sua base artística. 493


História

SAIBA MAIS “A consequência mais aparente das invasões foi a destruição, quase integral, da civilização micênica. No espaço de um século, as criações orgulhosas dos arquitetos aqueus: palácios e cidadelas, não são mas do que ruínas. Ao mesmo tempo, vemos desaparecer a realeza burocrática, a escrita, que não passava de uma técnica de administração, e todas as criações artísticas...” (Pierre Lévêque, A Aventura Grega)

#DicaCine Hisóri VEJA O FILME TROIA, 2004. Em 1193 A.C., Paris (Orlando Bloom) é um príncipe que provoca uma guerra da Messência contra Troia, ao afastar Helena (Diane Kruger) de seu marido, Menelaus (Brendan Gleeson). Tem início então uma sangrenta batalha, que dura por mais de uma década. A esperança do Priam (Peter O’Toole), rei de Troia, em vencer a guerra está nas mãos de Aquiles (Brad Pitt), o maior herói da Grécia, e seu filho Hector (Eric Bana).

A partir do século XII a.C., a Grécia sofre uma invasão dos dórios que, conhecedores das técnicas de fundição do ferro, dispunham de grande habilidade e superioridade militar. A ação violenta dos dórios representou um retrocesso para o mundo helênico, haja vista que quase levou ao desaparecimento da escrita. Fez com que as atividades comerciais declinassem e obrigou multidões a fugirem da Grécia, ocupando diversas porções da Ásia Menor e ilhas do mar Egeu, o que ficaria, mais tarde, conhecido como a Primeira Diáspora Grega. Outra parte da população migrou para o interior criando condições para a organização das comunidades gentílicas que marcariam a história da Grécia, durante o período que se iniciava: o Período Homérico, ou também conhecido como Período das Trevas.

A07  Grécia: período pré-homérico

Figura 01 - O cavalo de Troia, de Giovanni Domenino Tiepolo.

494

Fonte: © Photos.com/Jupiterimages

No entanto, a partir de 1400 a.C., a civilização cretense foi praticamente destruída, o que possibilitou não só o predomínio como também o início de um processo de expansão dos gregos por todo o entorno do mar Egeu. É nesse contexto que está inserida a Guerra de Troia, eternizada no poema Ilíada, de Homero, a qual, ainda hoje, suscita indagações sobre a sua real existência em virtude de suas explicações. Estas geralmente se relacionam à utilização do fator mitológico e apontam o rapto da princesa Helena pelo príncipe Páris, filho do rei Príamo de Troia, como o fator desencadeador de todo o embate.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. (Puc Campinas SP) Observe a figura abaixo.

d) eliminar a integração política, militar e cultural entre as cidades-estados. e) valorizar as crenças aristocráticas e eliminar as formas de culto populares. 04. (UFPR) Na sociedade grega antiga, desenvolveram-se a Filosofia, a Medicina, a Matemática, a Astronomia e a História. No campo político, desenvolveu-se um sistema de governo que existe até hoje em muitos países, inclusive no Brasil atualmente. Assinale qual foi este sistema. a) República.

A imagem retrata um dos episódios da história grega do período Homérico, descrito na a) Odisseia, compilação do trabalho de poetas gregos que narravam a guerra de Troia, organizada por Homero. b) Ilíada, poema que descreve o retorno do guerreiro Ulisses ao reino de Ítaca, após vencer a guerra de Troia. c) Ilíada, poema que descreve o longo cerco e a to’mada de Troia pelas forças gregas, chefiadas por Agamenon. d) Odisseia, obra do poeta Homero que narra o conflito entre gregos e troianos, iniciado com o rapto de Helena. e) Ilíada, obra de Homero que narra a acidentada viagem de Odisseu durante o conflito entre gregos e troianos. 02. (Unievangélica GO) O berço da civilização ocidental é tradicionalmente apontado como a Grécia antiga. É característica da organização social dos gregos na antiguidade, a existência a) das cidades-estados, cada uma com suas leis, seu calendário, suas moedas, porém unidas pelo sistema de federação. b) da pólis, que compreendia uma área urbana e uma área rural onde a população se ocupava das atividades agropastoris. c) do trabalho livre em substituição à mão de obra escrava, o que a caracteriza como primeira civilização comercial. d) da classe social dos cidadãos, em que todos tinham direitos políticos, direito ao desenvolvimento econômico e ao trabalho livre. 03. (Unesp SP) Segundo o texto, um papel fundamental da religião, na Grécia antiga, foi o de a) eliminar as diferenças étnicas e sociais e permitir a igualdade social. b) estabelecer identidade e vínculos comunitários e unificar as crenças. c) impedir a persistência do paganismo e afirmar os valores cristãos.

b) Ditadura. c) Democracia. d) Eleição. e) Cidadania. 05. (Unesp SP) A relação estabelecida no texto entre a arquitetura grega e a arquitetura egípcia e oriental pode ser justificada pela a) circulação e comunicação entre povos da região mediterrânica e do Oriente Próximo, que facilitaram a expansão das construções em pedra. b) dominação política e militar que as cidades-estados gregas, lideradas por Esparta, impuseram ao Oriente Próximo. c) presença hegemônica de povos de origem árabe na região mediterrânica, que contribuiu para a expansão do Islamismo. d) difusão do helenismo na região mediterrânica, que assegurou a incorporação de elementos culturais dos povos dominados. e) força unificadora do cristianismo, que assegurou a integração e as recíprocas influências culturais entre a Europa e o norte da África. 06. (Uem PR) Sobre a arte na Antiguidade Clássica é correto afirmar que: 02-04 01. Por falta de registros documentais, não conhecemos o nome de nenhum produtor de imagens na Grécia Antiga. 02. Parte da chamada arte grega apresenta algumas semelhanças com os objetos produzidos em certas regiões dos continentes asiático e africano. 04. De uma maneira geral, nos templos gregos em pedra não se empregava argamassa, uma vez que os blocos eram justapostos com precisão. 08. Os templos romanos eram réplicas dos templos gregos. 16. Assim como os gregos, os romanos desconheciam a arte do retrato, contentando-se com uma representação ideal.

495

A07  Grécia: período pré-homérico

(http://historica.com.br/hoje-na-historia/cavalo-de-troia)


História

Exercícios Complementares 01. (Puc Campinas SP) Sobre a mitologia referida no texto de Péricles Alcântara, é correto afirmar que, na pólis, a) o completo afastamento da cultura grega em relação às tradições orientais favoreceu o surgimento de mitos e lendas sobre deuses com aspectos humanos, responsáveis pelos fenômenos naturais. b) a manutenção da autonomia das cidades-estados, sob o comando de Atenas, incentivou o desenvolvimento de crenças como as de que os deuses eram seres divinos que moravam no Monte Olimpo. c) o desenvolvimento de correntes filosóficas que faziam do problema ético o centro de suas preocupações estimulou a criação de um conjunto de crenças de que os deuses interferiam na vida dos homens. d) a conquista de dórios e aqueus na época da ocupação do território grego influenciou a cultura dos habitantes da região e contribuiu para a formação de instituições religiosas que deram origem à mitologia. e) as lutas civis conquistaram direitos que estabeleceram o espaço público para a discussão, para o convencimento e para a decisão racional, negando o preestabelecido e a revelação sobrenatural. 02. (FMABC SP) “A Ilíada e a Odisseia são, certamente, fruto de uma longa tradição oral em que os poetas (chamados aedos) declamavam os episódios da guerra de Troia e as aventuras de Odisseu. Esses relatos eram cantados acompanhados por música, e passados de geração em geração, tendo sofrido muitas alterações e adaptações. Só mais tarde, cerca de 550 a.C., os poemas foram escritos pela primeira vez.”

A07  Grécia: período pré-homérico

Marcelo Rede. A Grécia antiga. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 16.

A partir do texto e de seus conhecimentos, pode-se afirmar que a Ilíada e a Odisseia são a) relatos que, à época, alimentavam a profunda rivalidade e os ininterruptos conflitos, hoje bastante estudados, entre gregos e troianos. b) fonte importante para os historiadores, pois acumulam informações sobre diferentes épocas e sobre o funcionamento da sociedade grega. c) registros sobre uma guerra decisiva, cuja precisão e veracidade podem ser confirmadas pela farta documentação hoje conhecida sobre Troia. d) poemas interessantes, mas inúteis para os historiadores, pois suas informações não são verdadeiras e suas bases não são científicas. 03. (Fuvest SP) O aparecimento da pólis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a pólis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII a.C., marca um começo, uma verdadeira invenção; por 496

ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos. Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 1981. Adaptado.

De acordo com o texto, na Antiguidade, uma das transformações provocadas pelo surgimento da pólis foi a) o declínio da oralidade, pois, em seu território, toda estratégia de comunicação era baseada na escrita e no uso de imagens. b) o isolamento progressivo de seus membros, que preferiam o convívio familiar às relações travadas nos espaços públicos. c) a manutenção de instituições políticas arcaicas, que reproduziam, nela, o poder absoluto de origem divina do monarca. d) a diversidade linguística e religiosa, pois sua difusa organização social dificultava a construção de identidades culturais. e) a constituição de espaços de expressão e discussão, que ampliavam a divulgação das ações e ideias de seus membros. 04. (UniCesumar SP) A criação das pólis, na Antiguidade, relaciona-se com a escravidão, entre outros fatores, pois a) a escravidão era definida pela origem étnica e foi proibida nas áreas urbanas de todas as cidades-estados gregas e fenícias. b) os estrangeiros eram proibidos de trabalhar na produção agrícola e se concentravam nas cidades. c) o recurso à mão-de-obra escrava ampliou a produção agrícola e liberou os cidadãos de parte das atividades produtivas. d) os direitos de cidadania eram restritos aos anciãos, o que transformava em escravos todos os demais habitantes. e) os estrangeiros eram potenciais compradores dos excedentes agrícolas, sendo assim libertados de sua condição escrava. 05. (Uniube MG) As imortais obras literárias atribuídas ao poeta Homero, Ilíada e Odisseia são, até os dias atuais, reverenciadas como uma das mais importantes da Civilização ocidental. O que justifica toda essa consideração que a nossa cultura dedica a essas duas obras? Assinale a alternativa que explica corretamente esse fenômeno. a) As duas obras relatam o período de ouro do imperialismo ateniense na Península Balcânica anterior à Guerra do Peloponeso. b) As obras trazem elucidações importantes sobre o modo de vida e a educação espartana desenvolvida na região da Lacônia. c) Sem os relatos dessas obras, nunca conheceríamos o sofisticado estilo de vida da corte do rei Minos da ilha de Creta. d) Embora descrevam fatos ocorridos no período pré-homérico, as obras revelam informações importantes sobre a mentalidade helênica em todos os períodos dessa civilização. e) Por não apresentarem elementos que especifiquem o período em que se deram as narrativas, as obras são valorizadas como expressão literária, apresentando, porém, pouca importância histórica.


FRENTE

A

HISTÓRIA

MÓDULO A08

GRÉCIA: PERÍODO HOMÉRICO O desaparecimento da escrita dificultou em grande medida o estudo do período posterior à invasão dórica. Nesse sentido, os poemas atribuídos a Homero, Ilíada e Odisseia, são uma das principais fontes de recuperação desse período histórico. Por essa razão, o período compreendido entre os séculos XII e VIII a.C é chamado pelos historiadores de Período Homérico.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Grécia: período homérico nn Período homérico

Essas obras devem ser vistas com ressalvas, uma vez que se trata de um passado muito distante e introduzem deuses e outros seres míticos na narrativa. Entretanto, desde o final do século XIX, uma série de pesquisas arqueológicas tem contribuído igualmente para melhor conhecimento sobre essa época.

Um efeito dessas expedições arqueológicas foi a conclusão de que a cidade de Troia realmente existiu, porém seus vestígios mais antigos remetem a uma época por volta de 3000 a.C, o que demonstra que essa cidade possuiu vários períodos. Desse modo, quanto à Guerra de Troia, sabe-se que de fato ocorreram batalhas na cidade, porém ainda não se tem certeza da data exata, de quanto tempo duraram as batalhas e de quem foram os inimigos, se foram os micênicos, gregos, trácios ou hititas.

Fonte: Wikimedia Commons

Além da Ilíada e a Odisseia, outras fontes são usadas para suscitar informações sobre esse passado, como as ruínas de cidades encontradas no lugar indicado por Homero como a localização de Troia e objetos e ferramentas utilizados naquela época.

Então, dizer que a guerra realmente ocorreu não é uma afirmação exata, pois não se encontraram provas, porém os indícios apontam para a existência de batalhas que teriam levado a originar as lendas sobre a Guerra de Troia. Todavia, a mais importante dessas descobertas foi a confirmação de que Troia e os troianos realmente existiram e habitavam o local onde Homero havia dito que a cidade ficava. Esse local seria na Ásia Menor, em uma região chamada Trôade, situada na Turquia. O período Homérico ficou também conhecido como Idade Média da Grécia, em virtude da presença dórica tanto na organização política quanto também nas estruturas do cotidiano grego, como a cultura. Essa expressão serve para designar o desaparecimento dos registros antigos, salvo alguns que demonstram um “retrocesso” na vida grega, em razão de um retorno a estruturas mais simples e modestas do que aquelas que existiam no período micênico.

Período homérico Com a invasão dos dórios – que possuíam armas de ferro, mais resistentes que as de bronze, usadas pelos vencidos – as cidades micênicas foram destruídas, seus palácios saqueados, o artesanato praticamente abandonado e a própria escrita desapareceu por tempo considerável. Os grupos que não fugiram foram escravizados e outros fizeram alianças, mudando a configuração social existente. Algumas regiões, no entanto, não foram invadidas nem dominadas. A Ática, Figura 01 - Homero: poeta épico lendário da Grécia Antiga povoada pelos jônios, foi uma delas. 497


História

1250 a.C. 1 ª Diáspora Grega (A Chegada dos Dórios)

Opirus/Arte

Invasões indo-europeias

Troia

Mar Jônico

Mar Egeu

ÁSIA MENOR

Esparta

Creta

Eólios

Dórios

Jônios e aqueus

Mapa 01 - Sentido das migrações gregas após a invasão dos dórios.

A base da organização da sociedade nesse período era a comunidade gentílica ou genos, um clã familiar sob o controle de um chefe, chamado pater, que se mantinha independente das ações e do controle externo. A autoridade do pater (basileu) era bastante limitada, sendo ele apenas um chefe tribal, com funções predominantemente sacerdotais e militares. No tocante à economia, os genos eram extremamente simples, sendo que o trabalho manual não era considerado degradante, e a agricultura e pecuária eram suas atividades mais importantes. Fazia-se o comércio de forma muito modesta, sendo o escambo a base de sua organização. Cada família fabricava seus instrumentos, produzia seus alimentos e desenvolvia seus próprios tecidos.

A08  Grécia: período homérico

Religiosamente, eram politeístas e nenhuma divindade elevava-se mais que as demais. Para os gregos desse período, a religião significava ter deuses com atributos humanos, com fraquezas e desejos. Todo homem era livre para crer no que achasse mais conveniente. Não tinham medo da fúria nem da ira dos deuses. A pobreza do solo e a expansão demográfica levaram progressivamente à crise da sociedade gentílica. Faltavam terras aráveis para garantir o alimento e as técnicas produtivas eram bastante limitadas. As disputas por melhores terras causou o surgimento de proprietários e não proprietários, como também conflitos entre diversos genos, motivando a união das tribos mais poderosos, provocando crescente instabilidade . Esse processo de declínio, associado ao afrouxamento dos laços de parentesco, fez com que a solução encontrada fosse a divisão das terras. Essa divisão, contudo, acarretou um 498

grande dano a essas comunidades, uma vez que promoveu uma desigualdade entre as camadas sociais. O pater promoveu a divisão, agraciando seus parentes mais próximos com pedaços maiores e melhores de terra, dando pedaços menores aos parentes mais distantes e nada oferecendo ou dando muito pouco àqueles cujo grau de parentesco era muito distante, fato que gerou no mundo grego uma massa gigante de despossuídos. Com o desmantelamento da ordem social marcada por certo equilíbrio, formou-se uma nova estrutura em que se destacavam os eupátridas (“bem-nascidos”), os georgóis (“agricultores”), os demiurgos (“que trabalha para o público”) e os thetas (“marginalizados”). Os eupátridas eram descendentes do pater e se tornaram uma verdadeira elite aristocrática, passando a ser a mandatária de todos os grandes poderes nas futuras cidades que estavam por vir. Os georgóis eram pequenos proprietários que acabavam se endividando com os eupátridas, o que acabou credenciando a escravidão por dívida. Os demiurgos eram trabalhadores urbanos que se dedicavam ao comércio e ao artesanato. E finalmente, os thetas, marginalizados e despossuídos, acabaram tendo que se sustentar mediante o trabalho nas terras das elites. Com a desintegração da grande maioria dos genos, uma parcela significativa da população que estava excluída das divisões buscou novas regiões para obter novas oportunidades. Isso contribuiu para uma segunda diáspora grega, que foi marcada por atividade intensa no mediterrâneo, onde foram fundadas diferentes colônias em áreas como a Magna Grécia, Sicília, França e Espanha. Os gregos também se voltaram para o Mar Negro, em cujo litoral formaram-se novas cidades. Independentemente dessa formação colonial, é importante destacar que as colônias mantinham relações diversas com as cidades de onde se originaram tanto no aspecto comercial quanto no cultural-religioso. Por outro lado, vários genos remanescentes unificaram-se em torno de frátrias que por sua vez, mais tarde, deram origem às tribos e consequentemente às pólis. Essa forma de organização surgiu em torno de um espaço fortificado erguido em um local elevado: a acrópole, onde estavam os templos e os santuários das divindades diversas do mundo grego. A parte baixa da cidade é marcada pela presença da Ágora, praça pública onde a população reunia-se para discutir os assuntos da cidade, o que marcaria, posteriormente, a ação da democracia grega.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Cada cidade-estado (pólis) possuía um sistema próprio de leis, costumes, exército, moeda, etc. No entanto, todos os gregos falavam o mesmo idioma e possuíam as mesmas divindades, sendo que cada pólis poderia eleger sua divindade protetora, não desqualificando as demais. Fonte: Wikimedia Commons / Steve Swayne

Desse modo, na península Balcânica e na orla do mar Mediterrâneo surgiram mais de cem pólis gregas, sendo Atenas e Esparta as mais importantes.

Figura 02 - Partenón ateniense.

Exercícios de Fixação

Marcelo Rede. A Grécia antiga. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 32.

A frase justifica-se, pois a) os povos da Antiguidade equivocavam-se, ao não reconhecer que a democracia só é possível se houver plena igualdade social. b) não há qualquer relação entre as questões políticas e as questões econômicas, sociais ou étnicas. c) a existência de escravos proporcionava aos cidadãos atenienses tempo livre para se dedicarem à política. d) não é possível conciliar, na Antiguidade ou nos dias de hoje, democracia e trabalho obrigatório. e) o militarismo espartano era superior à democracia ateniense, pois dispensava a escravidão e todas as hierarquias sociais. 02. (UEPG PR) As religiões grega e romana possuem características bastante particulares e são fundamentais para entender como funcionavam as sociedades clássicas. A respeito desse tema, assinale o que for correto. 01. Ao mesmo tempo em que expandiu seus domínios pela Europa e Ásia, Roma impôs seus deuses, cultos e crenças aos povos conquistados, impedindo-os de praticar as suas religiões originais. 02. Politeístas, as religiões grega e romana possuíam, respectivamente, em Zeus e em Júpiter, os seus deuses supremos.

04. O crescimento do cristianismo em Roma o levou a condição de religião oficial do Império em substituição às práticas e celebrações politeístas. 08. Apesar de se assemelharem, as religiões greco-romanas possuíam características distintas. A religião romana, por exemplo, contava com vários elementos religiosos etruscos na sua essência. 16. Dionísio (deus da colheita), Hera (deusa do prazer), Hermes (deus dos mares) e Atena (deusa do amor) são 02-04-08 alguns dos deuses presentes na religião grega. 03. (Enem MEC) O que implica o sistema da pólis é uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos do poder. A palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual, assim como do jogo político. VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand, 1992 (adaptado).

Na configuração política da democracia grega especial a ateniense, a ágora tinha por função a) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em prol da cidade. b) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado expostas por seus magistrados. c) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para deliberar sobre as questões da comunidade. d) reunir os exércitos para decidir em assembleias fechadas os rumos a serem tomados em caso de guerra. e) congregar a comunidade para eleger representantes com direito a pronunciar-se em assembleias.

499

A08  Grécia: período homérico

01. (Fac. Direito de Franca SP) “Na Grécia Antiga, Não havia contradição entre a democracia antiga e a escravidão.”


História

04. (UEPG PR) Os historiadores compreendem a Antiguidade Clássica como o período que vai do surgimento da poesia grega de Homero (século VIII a.C.) até a queda do Império Romano (século V d.C.). A respeito desse período histórico, assinale o que for correto. 01-02-04 01. Os genos eram unidades sociais que possuíam líderes, leis e cultos religiosos próprios. A unificação de genos acabou dando origem a polis (ou cidades-estado) grega. 02. O ostracismo foi implantado em Atenas com o objetivo de evitar que governos autoritários tomassem o poder na cidade. Qualquer cidadão poderia ser condenado ao exílio (ostracismo) por dez anos em nome da segurança da democracia ateniense. 04. Sócrates, Platão, Pitágoras e Aristóteles estão entre os filósofos gregos da Antiguidade Clássica. 08. Em Atenas, o poder era exercido pelos eupátridas (grandes proprietários de terras) e as mulheres tinham plenos poderes políticos. A vida pública e a participação nas decisões coletivas eram compreendidas como exemplos de virtude feminina pelos atenienses. 16. Odisseia e Ilíada, poemas escritos por Homero, narram as lutas contra a tentativa romana de invadir e conquistar o território grego. 05. (UFGD MS) “Demóstenes, em um de seus discursos, apresenta-nos sete testemunhas a afirmar pertencerem todas ao mesmo ghénos, o dos britidas. O que esse exemplo tem de notável é as sete pessoas citadas como membros do mesmo ghénos estarem inscritas em seis dêmos diferentes, mostrando que o ghénos não correspondia exatamente ao dêmo, e não era, como este, simples divisão administrativa. [...] Poderíamos citar exemplos relativos a muitas outras cidades da Grécia e da Itália e concluir, com grandes possibilidades de acerto, que a gens era uma instituição universal entre os antigos povos”. (COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. 2 ed. São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 110)

A08  Grécia: período homérico

Sobre a antiguidade clássica, é possível inferir que as comunidades gentílicas referidas no fragmento como ghénos: a) representavam as unidades administrativas das Cidades-Estado, contribuindo para as decisões políticas coletivas. b) se baseavam na propriedade privada que diferenciava categorias sociais nas sociedades grega e romana. c) foram consideradas as primeiras organizações sociais da Grécia e Roma, baseadas em laços de parentescos e terras coletivas. d) se identificavam aos dêmos por constituírem a estrutura da democracia grega nas Cidades-Estado. e) correspondiam a vilarejos que apenas existiram nas origens da sociedade greco-romana, sendo a propriedade privada uma de suas características econômicas.

500

06. (Uem PR) Sobre o teatro na Grécia antiga, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01-02-08 01. Nas peças trágicas do teatro grego objetivava-se mostrar como os humanos estavam condicionados à vontade dos deuses e como erros levavam os personagens a desgraças inevitáveis. 02. Uma das peças mais conhecidas da Tragédia grega é “Édipo Rei”, de Sófocles, que foi, por sua vez, um dos mais importantes dramaturgos da Grécia antiga. 04. Na comédia grega as companhias preparavam suas apresentações de forma cuidadosa e bem ensaiada. Com tudo pronto, partiam de cidade em cidade apresentando suas peças em lugares públicos. Foi o início do teatro de rua. 08. A figura do “herói” aparece nas tragédias como o personagem protagonista da história, em quem se concentram os acontecimentos principais. 16. As comédias gregas tinham como objetivo cultuar os deuses e fortalecer as regras sociais, porém de forma leve e engraçada, buscando levar ao público em geral o entendimento das regras sociais da época. 07. (FMJ SP) Desde os tempos homéricos, passando pelo período helenístico, até o final do Império Romano, a propriedade da terra permaneceu como a condição básica para que o cidadão gozasse de poder e prestígio. [...] É de Marx a célebre frase: “A história antiga clássica é a história das cidades, porém, de cidades baseadas sobre a propriedade da terra e da agricultura.” (Maria Beatriz B. Florenzano. O mundo antigo: economia e sociedade, 1982.)

A análise do fragmento permite concluir corretamente que: a) A supremacia econômica do espaço urbano sobre o rural deveu-se à especial capacidade de acumulação de capitais por parte das cidades da Antiguidade. b) A utilização do trabalho livre nas cidades e do trabalho compulsório no campo determinou a prevalência das cidades sobre os espaços rurais greco-romanos. c) A importância obtida pela vida urbana no mundo greco-romano tem por fundamento uma estrutura social e política essencialmente agrária. d) A inexpressiva participação política das populações campesinas é parte da explicação para a hegemonia do mundo urbano na Antiguidade Clássica. e) Os espaços urbanos na Antiguidade recebiam a maior parte das populações, mas o desenvolvimento técnico era exclusividade do campo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares

Norberto Luiz Guarinello. História antiga. São Paulo: Contexto, 2013, p. 69.

Sobre as colônias gregas na Antiguidade, pode-se afirmar que: a) Tinham localizações e funções muito variadas, mas sempre se estabeleciam nas terras da atual Europa e revelavam prioritariamente os interesses militares do Estado grego. b) Algumas se estabeleceram pela conquista e outras por alianças, mas sempre envolviam assentamentos estáveis e o estabelecimento de relações comerciais ou áreas de produção agrícola. c) Expressaram a necessidade grega de obter mão de obra escrava para as lavouras, mas acabaram por provocar graves problemas de superpopulação na Península Balcânica. d) Algumas foram obtidas por meio de ocupações de áreas periféricas de grandes Impérios do Oriente, mas a maioria resultou da vitória da Liga de Delos sobre o Império Romano. e) Revelavam prioritariamente o interesse grego de difundir suas tradições culturais e sua religiosidade, mas acabaram também por contribuir para o aumento da participação ateniense e espartana no comércio internacional. 02. (UCS RS) Os povos da Antiguidade Clássica foram responsáveis por um legado que permanece vivo nas sociedades contemporâneas, em especial nas ocidentais. Sobre esse legado é correto afirmar que: a) A religião monoteísta, praticada por gregos e romanos, foi a base para o surgimento do Cristianismo, que, ainda hoje, congrega a maior comunidade de fiéis do Planeta. b) A filosofia e a ciência praticada pelos gregos constituem-se a base do pensamento científico e filosófico das sociedades ocidentais. c) A medicina praticada, tanto pelos gregos quanto pelos romanos, realizou progressos extraordinários; graças a eles foi possível conhecer a circulação do sangue e as infecções dos olhos e dentes. d) Os idiomas dos países ocidentais, na sua totalidade, derivam do latim ou da fusão dele com os dialetos bárbaros.

e) O sistema de numeração empregado atualmente é uma contribuição direta dos gregos e romanos, especialmente o conhecimento do zero. 03. (Espm SP) Acolhidos com uma hospitalidade benevolente, não se sentem humilhados por uma discriminação injuriosa. Excluídos dos direitos políticos e também da propriedade imobiliária, pagando anualmente uma taxa módica, são eles, de fato no tocante ao resto, assimilados aos cidadãos sujeitos aos mesmos encargos militares e fiscais. Exercem as mais variadas profissões liberais, artesanais ou mercantis. Não há, por assim dizer, um artista, um homem de letras ou de ciência que, sendo grego e não ateniense, não tenha passado uma parte mais ou menos importante de sua vida em Atenas. (Maurice Crouset. O Oriente e a Grécia, in: História Geral das Civilizações)

A respeito da sociedade ateniense, o texto deve ser relacionado com: a) eupátridas b) georgóis c) metecos d) hilotas e) periecos 04. (Uefs BA) Nenhum povo sofreu como o grego na crise financeira internacional. Desde 2008 [...], a taxa de desemprego subiu de 7% para 25%. Em Atenas, a capital, [...] os cinco anos de recessão fizeram a economia encolher 25%. Em Atenas, a capital, mesmo no bairro turístico de Plaka, nas imediações de onde, na Antiguidade, ficavam a Ágora e a Acrópole, dezenas de lojas estão com as portas fechadas. Os cinco anos de recessão contínua fizeram a economia encolher. (O GREGO..., 2015, p. 68). O GREGO e o euro. Veja. São Paulo: Abril, ed. 2411, ano 48, n.5, 4 fev. 2015.

A Atenas citada no texto difere, hoje, da Atenas da Antiguidade, porque esta se caracterizava por a) ter se elevado à condição de capital do mundo greco-romano no governo de Alexandre. b) ter uma economia fechada e autossuficiente, que a protegia contra os desequilíbrios econômicos da época. c) ser uma dentre as outras cidades-estado da Grécia, num período histórico quando ainda não havia unidade territorial. d) ter desempenhado um papel relevante na conquista de terras no Oriente Médio. e) ser a pioneira no sistema econômico que remunerava trabalhadores rurais, mesmo submetidos à servidão.

501

A08  Grécia: período homérico

01. (FMABC SP) “A dispersão das colônias gregas é notável. Assentamentos de fala grega espalharam-se pela costa oriental da Sicília, o sul da Itália, o norte da África, todo o norte do mar Egeu, o Bósforo e a parte norte do mar Negro.”


FRENTE

A

HISTÓRIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (IF GO) Leia o texto abaixo: Algumas “reformas religiosas”, como as do rei Ezequias e do rei Josias, buscaram afirmar substancialmente a ideia de um “deus nacional”. Ao rei Ezequias, em torno do ano 700 a. C., foi atribuída uma reforma religiosa, na qual foi suprimido o culto a Neustã, uma divindade mágico-terapêutica cultuada no santuário central, simbolizada na forma de uma serpente de bronze. Em sequência a essa iniciativa, e no contexto de graves convulsões e crises sociais acirradas pelo cerco do exército assírio às cidades mais importantes do Reino de Judá, foi realizada a sistematização de um conjunto de leis, usualmente reconhecido como “código da aliança” (Êxodo, 20,22-23, 19). Esse código, que deve ser datado para o final do século VIII ou início do século VII a. C, estrutura diversas leis, em forma concêntrica, em torno de um eixo teológico que é a negação do culto a outros deuses e a afirmação da exigência somente de Yahveh. REIMER, Haroldo. Monoteísmo e Identidade. Disponível em:<http://www3. est.edu.br/nepp/revista/016/ano07n2_04.pdf>. Acesso em: 24 mai. 2012.

O texto apresenta considerações em relação à formação do monoteísmo entre os hebreus. A partir da leitura, é correto afirmar que o texto: a) Realiza uma leitura religiosa e não política de parte da história do povo hebreu. b) Enfatiza a ideia da existência de um povo sagrado, presente no cristianismo. c) Estabelece relações entre a religiosidade e a história do povo hebreu. d) Nega a existência do deus Yahveh. e) Oferece uma leitura fundamentalista do chamado Antigo Testamento. 02. (UFSC) Subitamente, entreabria-se o quadro sonoro para irromper o coro das lamentações. Acabavam no ar, lucíolas extintas, os derradeiros sons da harpa de David; perdia-se em ecos a derradeira antístrofe de Salomão; [...]. Clamavam as imprecações do dilúvio, os desesperos de Gomorra; flamejava no firmamento a espada do anjo de Senaqueribe; dialogavam em concerto tétrico as súplicas do Egito, os gemidos de Babilônia, as pedras condenadas de Jerusalém. 04-16-32 POMPEIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Ática, 1990. p. 37.

Sobre os hebreus e os judeus, é correto afirmar que: 01. David foi considerado o primeiro patriarca hebreu. 02. Senaqueribe foi o rei responsável pela retirada dos hebreus de Jerusalém para a Babilônia, fato este conhecido como Êxodo. 502

04. no século XX, após a Segunda Guerra Mundial, com a criação do Estado de Israel pela ONU, os judeus voltaram a se reunir em um território. 08. no primeiro milênio a.C., os hebreus foram retirados à força de Canaã pelos egípcios, que os levaram ao vale do rio Nilo e os fizeram escravos. 16. o dilúvio, narrado no Antigo Testamento, provavelmente foi inspirado em um relato muito mais antigo, conhecido pelos sumérios. 32. a construção do Templo de Jerusalém por Salomão foi um marco na centralização política dos hebreus durante o período monárquico. 64. a religião dos hebreus não teve qualquer importância na construção da identidade daquele povo. 03. (UFMS) Sobre a Bíblia e a história dos hebreus, é correto afirmar que: a) A Bíblia é, ao mesmo tempo, o livro cujas traduções estão mais espalhadas pelo mundo e, segundo alguns historiadores, um dos menos lidos de todos os best-sellers. Além de ser um livro sagrado, ela também é uma importante fonte de pesquisa para o conhecimento da história dos hebreus. b) O povo hebreu, do qual a Bíblia é originária, desde seus primórdios manifestou total desprezo pelas suas tradições escritas. Isso significa que, para eles, a tradição oral teve mais importância na transmissão de conhecimentos e costumes, enfim, para a manutenção de sua identidade. c) Na Bíblia, a história dos hebreus começa em Gênesis, quando Moisés, um dos patriarcas, recebeu a ordem de deixar a sua terra natal para ir rumo à terra que Deus lhe mostrou para nela se estabelecer. d) Embora a Bíblia seja considerada um livro sagrado, ela não deve ser vista como um documento que possa ser estudado por historiadores, pois religião e ciência são diferentes esferas do conhecimento. e) A Bíblia, composta pelo Antigo e pelo Novo Testamento, é considerada integralmente um livro sagrado para cristãos, judeus e mulçumanos. 04. (UFRN) Entre as civilizações do antigo Oriente, a crença na influência dos astros sobre o destino humano foi um estímulo para o desenvolvimento da astronomia. Foi calculada, com exatidão, a duração do ano e a variação anual do eixo da Terra. Foi feita a distinção entre estrelas e planetas e previram-se eclipses.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

a) persa. b) egípcia. c) caldaica. d) hebraica. e) fenícia. 05. (UFPE) Não se pode esquecer a luta de alguns povos da Antiguidade, para construir seus vastos impérios. Contudo, esses povos também expressaram, na arte, seus sonhos e desejos. Numa análise mais geral dessas manifestações, podemos afirmar que: a) os egípcios conseguiram realizar revoluções na arte de pintar murais, mas não se preocuparam com a arquitetura de seus templos religiosos. b) a arte assíria não merece destaque, devido à preocupação excessiva do seu povo com a guerra e com o imperialismo. c) a grandiosidade da arte dos caldeus manifesta-se com especial destaque nas suas obras arquitetônicas. d) a escrita suméria expressava a habilidade artística do seu povo, que era bastante envolvido com uma religião liderada pelos escribas. e) os hebreus conseguiram construir uma arte original, desarticulada das manifestações religiosas. 06. (UFPE) Na Antiguidade, a busca pela superação das dificuldades naturais acontece ao mesmo tempo que são criadas manifestações culturais que visam simbolizar o conteúdo dessa luta. Nas manifestações artísticas dessa época, pode-se constatar: 00-02 00. a predominância de obras arquitetônicas religiosas, marcadas pela grandiosidade. 01. de uma maneira geral, a inexistência de trabalhos de pintura, destacando-se apenas algumas obras religiosas no Egito. 02. a expressiva presença das construções da arquitetura grega, que buscavam a harmonia e o equilíbrio. 03. a originalidade da arte romana, expressa em suas esculturas majestosas e seus palácios monumentais. 04. a ausência de construções relacionadas com aspectos nãoreligiosos. 07. (Fuvest SP) O aparecimento da pólis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a pólis conhecerá etapas múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os séculos VIII e VII a.C., marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente sentida pelos gregos. Jean-Pierre Vernant. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 1981. Adaptado.

De acordo com o texto, na Antiguidade, uma das transformações provocadas pelo surgimento da pólis foi

a) o declínio da oralidade, pois, em seu território, toda estratégia de comunicação era baseada na escrita e no uso de imagens. b) o isolamento progressivo de seus membros, que preferiam o convívio familiar às relações travadas nos espaços públicos. c) a manutenção de instituições políticas arcaicas, que reproduziam, nela, o poder absoluto de origem divina do monarca. d) a diversidade linguística e religiosa, pois sua difusa organização social dificultava a construção de identidades culturais. e) a constituição de espaços de expressão e discussão, que ampliavam a divulgação das ações e ideias de seus membros. 08. (FGV SP) É a partir do século VIII a.C. que começamos a entrever, em diferentes regiões do Mediterrâneo, o progressivo surgimento das cidades-estados ou pólis. Elas formaram a organização social e política dominante das comunidades organizadas ao longo do Mediterrâneo nos séculos seguintes. (Norberto Luiz Guarinello, História Antiga, 2013, p. 77. Adaptado)

Nas pólis, é correto a) assinalar a crescente importância da mulher e da família nos espaços públicos. b) reconhecer a presença de espaços públicos, caso da ágora. c) destacar uma característica: a inexistência de espaços rurais. d) identificar a acumulação de capital pela ação do Estado. e) apontar para a sua essência: a organização urbana estruturada para a guerra. 09. (Uem PR) Sobre os templos gregos, é correto afirmar que: 02-04-16 01. Foram criados para abrigar e reunir as pessoas para os cultos religiosos. 02. Uma das características mais evidentes dos templos gregos é a simetria entre o pórtico da entrada e o pórtico dos fundos. 04. Os templos eram decorados com esculturas nos frontões, nas métopas e nos frisos. 08. O núcleo do templo grego era destinado ao sacerdote, que era cercado por imagens de divindades. 16. As colunas do templo formavam-se por três partes: a arquitrave, o friso e a cornija. 10. (UFPE) A cultura grega é uma das bases da formação das concepções, dos valores e do imaginário do mundo ocidental. Nesse sentido, as obras de Sófocles são exemplares e mostram a excelência da tragédia grega. Em um dos seus dramas mais famosos, Antígona, podemos destacar: 02-03 00. a preocupação em ensinar valores democráticos, pela crítica às leis divinas e pela defesa de qualquer forma de rebeldia. 01. a exaltação feita aos poderes de Zeus, inquestionáveis e absolutos na afirmação da vida pública e religiosa. 02. os diálogos sobre as leis do homem e as leis divinas, fato importante para a organização política da sociedade. 03. a importância da diversidade no caráter moral e ético das escolhas e os conflitos que elas provocam na sociedade. 04. a força do poder despótico de Creonte, sem limites em suas decisões, uma vez que era protegido pelas divindades. 503

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Apesar do aspecto astrológico, a astronomia foi o ponto alto da cultura:


FRENTE

B


Wikimedia Commons / Phillip Capper

HISTÓRIA Por falar nisso A crise do Império Romano decorreu em virtude da desordem política e da disseminação do cristianismo, somadas às invasões bárbaras. Esse processo de ocupação foi protagonizado pelos povos bárbaros que eram assim chamados pelos romanos por viverem fora dos territórios do Império e não falar latim. Foi com a introdução da cultura dos bárbaros, também chamados germânicos, que o mundo feudal ganhou suas primeiras feições. Povoando as fronteiras do Império Romano, os povos bárbaros foram lenta e gradativamente adentrando nos territórios de Roma. Foi somente nos séculos IV e V que as invasões ganharam feições mais conflituosas. Devido à pressão exercida pelos tártaro-mongóis (hunos), tais povos intensificaram o processo de invasão aos domínios do Império. Entre os principais povos responsáveis pela fragmentação do Império podemos destacar os visigodos, ostrogodos, anglo-saxões, francos, suevos e turíngios. Com a invasão dos hérulos, em 476, houve a deposição do último imperador romano, Rômulo Augusto, que já possuía descendência germânica. Tais invasões foram de grande importância para que o Império Romano e seu conjunto de valores e tradições passassem por um processo de junção com a cultura germânica. Dessa maneira, a Idade Média, além de ter sido iniciada pelo estabelecimento dos reinos bárbaros, também ficou marcada pela miscelânea de instituições e de costumes de origem romana e germânica. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B05 B06 B07 B08

Alta idade média: Reino Franco..................................................... 506 Alta idade média: Império Carolíngeo........................................... 510 Feudalismo: formação................................................................... 515 Feudalismo: organização econômica e política............................. 520


FRENTE

B

HISTÓRIA

MÓDULO B05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Alta idade média: Reino Franco nn Alta idade média nn Reino Franco

ALTA IDADE MÉDIA: REINO FRANCO A partir do século V da era cristã, a Europa Ocidental foi sacudida por inúmeras transformações que não só fizeram com que grande parte das instituições greco-romanas entrassem em decadência como também inauguraram um novo momento marcado pela insegurança e pelo medo, o que acabou sendo fator determinante para o início de uma nova era, conhecida como Idade Média ou Medievo. Esse período foi marcado por uma grande disparidade entre um Ocidente mergulhado na crescente feudalização, sob o domínio dos fragmentados reinos bárbaros (com exceção dos francos), e o Oriente e os seus dois grandes impérios: o Bizantino (Império Romano do Oriente) e sua grande capital Constantinopla, e o Império Islâmico, que, sob a tutela de seu profeta Maomé, unificou politicamente o povo árabe por meio de sua religião monoteísta e teve grande influência na história da Europa nesse dado momento. A somatória desses acontecimentos fez com que vários pensadores modernos viessem a utilizar o termo “Idade das Trevas” para designar o período medieval, partindo do pressuposto do desaparecimento do esplendor greco-romano e da incidência na Europa de um período de diminuição do conhecimento, de conflitos generalizados e de pestes que assolaram sua população. No entanto, deve-se ressaltar que existem grandes controvérsias quanto à elaboração dessa terminologia. A denominação “Idade Média”, atribuída pelos humanistas italianos, apresentava o contraponto colocado pelos eruditos renascentistas e iluministas da perspectiva racional, liberal dos humanistas em oposição à ideia de que quase não havia vida urbana, de que foram anos de estagnação, sem progresso, dominados pelo teocentrismo da Igreja Católica e que, somente com a modernidade, as pessoas passariam a se despertar para um mundo novo repleto de toda a sorte de inovações. Porém, mesmo com toda essa discussão levantada principalmente pelos grandes historiadores da Escola Francesa dos Annales (Marc Bloch, Lucien Febvre, George Duby e Jacques Le Goff) quanto aos conceitos e preconceitos sobre a Idade Média, ainda existe hoje grande interesse da literatura e da filmografia pelo lado lendário da Idade Média, valorizando a imagem dos cavaleiros, as batalhas, o misticismo etc.

Alta Idade Média Com o colapso do Império Romano do Ocidente, a Europa foi palco da emergência de diferentes povos que estruturaram suas bases em cima daquilo que restou do mundo clássico. Os povos germânicos aproveitaram-se de todas as circunstâncias de crise interna do Império (colapso do escravismo, a interrupção dos embates de expansão, o crescimento do cristianismo, a anarquia militar, etc.) para a invasão, constituindo gradativamente diversos reinos dentro dos espaços até então dominados por Roma.

Figura 01 - Mapa das invasões dos povos bárbaros ao Império romano.

506

Os povos germânicos, tidos como bárbaros pelos romanos, por não falarem o latim e não estarem imbuídos da cultura romana, organizavam-se de forma primitiva, sendo que alguns gru-


Ciências Humanas e suas Tecnologias

pos eram nômades vivendo da caça, pesca e coleta, e outros dedicavam-se à agricultura e pastoreio em terras coletivas. Politicamente, as tribos eram controladas por um líder, representado pela sua figura mais respeitada, não havendo um Estado unificado. Esses povos não conheciam a escrita, tinham seu direito pautado em leis orais (direito consuetudinário) e promoveram relações que mais tarde seriam herdadas pelo feudalismo, tais como o Comitatus, que era um laço de fidelidade entre os guerreiros e os chefes, e o beneficium, em que se doavam terras aos guerreiros como forma de recompensa pela guerra. Ademais, eles tinham uma religião politeísta e cultuavam seus ancestrais. O contato dos germânicos com os romanos processou-se de forma distinta, uma vez que, inicialmente, houve uma convivência harmônica entre eles. Esse tipo de relação muda a partir dos séculos IV e V, quando empurrados por ataques violentos de tribos asiáticas, os germânicos invadiram Roma de forma violenta (assaltos e saques). O contato cotidiano provocou profundas alterações no modo de vida dos romanos: o fim da unidade romana e um grande declínio comercial (guerras e falta de produtos) que contribuiu para a ruralização da sociedade (bases para o feudalismo) e para o atrofiamento das cidades. Há uma fragmentação política, que permite a formação de diversos reinos bárbaros marcados pela efemeridade (curta duração), com exceção do Reino Franco. Dentre os principais reinos existentes nesse período, podem ser destacados: os Vândalos – Norte da África (ocuparam Cartago, Córsega, Sardenha e Sicília); os Ostrogodos – Macedônia; os Burgúndios – margens do rio Reno (Europa Central); os Suevos e Visigodos – Península Ibérica; os Anglos, os Saxões e os Jutos – Inglaterra; e os Francos – região da França (maior duração).

Reino Franco

Com a morte do rei Clóvis, em 511, seus herdeiros não tiveram a mesma habilidade para sustentar as estruturas do reino. Diante desse quadro, as tarefas administrativas passaram a ser atribuídas aos prefeitos do palácio (Major Domus), que funcionaram como verdadeiros ministros. Esses prefeitos eram inicialmente eleitos pelas figuras mais importantes do reino.

Fonte: wikimedia.commons/Master of Saint Giles

Dentro da Dinastia Merovíngia, a figura de maior relevância é a do rei Clóvis, que foi responsável por unir as tribos francas, organizando o reino no plano político e administrativo, e por converter os francos ao cristianismo, o que contribuiu para o amparo e apoio do clero, fato que foi de suma importância para suscitar a influência junto aos imperadores bizantinos. Além disso, ele foi responsável ainda pela expansão territorial e doação de terras para os guerreiros (beneficium), o que seria uma base das relações típicas da medievalidade.

B05  Alta idade média: Reino Franco

O Reino Franco é inegavelmente o mais importante dentre todos os reinos bárbaros que foram montados dentro do espaço em que outrora se estabeleceu o Império Romano Ocidental. Duas dinastias destacam-se na organização desse importante reino: a Merovíngia e a Carolíngia.

Figura 02 - Pintura representando a conversão de Clóvis ao cristianismo.

507


História

SAIBA MAIS “O enorme Império de Carlos Magno foi plasmado pela conquista. Não há dúvida de que a função básica de seus predecessores, e mais ainda a do próprio Carlos, foi a de comandante de exército, vitorioso na conquista e na defesa (...). Como comandante de exército, Carlos Magno controlava a terra que conquistava e defendia. Como príncipe vitorioso, premiou com terras os guerreiros que lhe seguiam a liderança. (ELIAS, Norbert. O Processo civilizatório Rio de Janeiro, Zahar, 1993 col. II, p. 25)

A partir do século VIII, essa chefia administrativa tornou-se hereditária, sendo controlada pela família Heristal. Dentre os principais mordomos do paço (outra denominação para os major domus), destacam-se Carlos Martel, responsável pela vitória sobre os muçulmanos (batalha de Poitiers – 732) que, entre outros fatores, contribuiu para a salvação da cristandade latina; e Pepino, o Breve, seu filho, cujas principais ações estão vinculadas à derrubada dos reis Merovíngios, com o apoio da Igreja Católica, e a luta contra os Lombardos, da qual saiu vitorioso e acabou aumentando os domínios francos. Parte dos territórios anexados foram doados à Igreja Católica, tornando ainda mais forte a relação entre o poder temporal e espiritual. Essa área concedida à Igreja seria conhecida como o Patrimônio de São Pedro e faria parte dos Estados Pontifícios. Com a morte de Pepino, há uma divisão do império entre Carlos Magno e Carlomano, que morreu pouco depois. Carlos Magno assumiu o poder e efetivou a dinastia carolíngia. Seu governo ficou marcado pela não fixação do poder em nenhuma capital, pois o imperador preferia andar por todo o reino repelindo ameaças.

Exercícios de Fixação 01. (Faap SP) Entre os principais povos bárbaros que invadiram o Império Romano, podemos citar: a) os visigodos d) os francos b) os vândalos e) todas as anteriores c) os ostrogodos 02. (UFPB) O mapa abaixo descreve a configuração dos Impérios Bizantino, Islâmico e Carolíngio, no princípio do século IX.

d) a formação dos três Impérios foi decorrência do Tratado de Verdun, que também estipulou a partilha do domínio franco. e) a presença do Islão na Itália fez o papado afastar-se dos francos e submeter-se às orientações políticas e religiosas do Império Bizantino. 03. (Unirg TO) Analise a imagem a seguir:

Coroação de Carlos Magno. Disponível em: < https://idademedia. wordpress.com/tag/carlos-magno/>. Acesso em: 23 de maio de 2016.

B05  Alta idade média: Reino Franco

Acerca dessa configuração, é correto afirmar que a) o Império Carolíngio era geograficamente o mais expressivo entre os impérios apresentados e exerceu forte interferência militar sobre o Império Bizantino. b) a ofensiva dos francos de Carlos Martel contra os árabes, em Poitiers, constituiu um importante antecedente para a formação da dinastia carolíngia. c) o avanço do Islão sobre diversos territórios em torno do Mediterrâneo intensificou o comércio do Ocidente cristão com o Oriente.

508

A imagem representa a Coroação de Carlos Magno no ano 800. Ela indica uma concepção política que se refere a um contexto marcado pela a) expansão do cristianismo e combate ao paganismo dos povos bárbaros invasores do Império Romano. b) submissão do Império à Igreja e controle do poder temporal pelo espiritual. c) formação do monasticismo guerreiro como braço armado da Igreja na luta contra o infiel. d) consolidação da aliança entre o Imperador e o Papa e fortalecimento do poder monárquico centralizado.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares 01. (Puc SP) A conversão e batismo de Clóvis, após a Batalha de Tolbiac, explicam-se principalmente: a) pela insistência do papa Gregório Magno b) pela insistência de sua mulher Clotilde c) pelo fato de que a maior parte da população da Gália era cristã d) pela insistência dos bispos da Gália e) n.d.a. 02. (Unip SP) A importância da Batalha de Poitiers, em 732, no contexto da história da Europa, justifica-se em função de que: a) com essa vitória, Carlos Martel tornou-se imperador dos francos. b) a partir daí teve início a Guerra de Reconquista na Península Ibérica. c) esse evento assinalou o limite da expansão cristã no Mediterrâneo. d) os cristãos foram derrotados pelos árabes, consolidando-se o feudalismo europeu. e) a derrota árabe frente ao Reino Franco impediu a islamização do Ocidente. 03. (Med. Santos) Luís, o Piedoso, sucessor de Carlos Magno, manteve o Império unido. Com sua morte, começou a crise política, caracterizada de um lado pelas invasões normandas e de outro: a) pela divisão do Império em três reinos, através do Tratado de Verdun. b) pela manutenção da unidade do Império, através do Tratado de Cateau-Cambrésis. c) pela disputa entre seus sucessores, que acabaram mantendo a unidade do Império através do Tratado de Verdun. d) pela divisão do Império, através do Tratado de Cateau-Cambrésis. e) n.d.a.

Tomando por base a citação acima, assinale a alternativa INCORRETA. a) Um dos principais fenômenos iniciais desse período é o processo de ruralização em contraposição ao urbanismo do Império Romano. Apesar da conservação de alguns poucos centros urbanos, ao invés da cidade, a urbs, a villa passa a ser o centro da vida econômica e social. b) A Europa Medieval é herdeira do Império Romano e a primeira herança desta Antiguidade é a língua. Antes do aparecimento das chamadas “línguas vulgares” no século X, o conhecimento científico e filosófico é divulgado em latim. c) Em meados do século X, as conquistas e anexações do rei da Germânia, Oto I, retomam o sonho da chamada unidade imperial desejada por Carlos Magno. As proezas de Oto servem de alicerce para o que mais tarde será o Sacro Império Romano Germânico. d) A chamada “Alta Idade Média” representa o período da transição do feudalismo para o capitalismo. e) Entre os séculos XI e XII, assistimos ao advento de uma política de perseguições, direcionada principalmente para dois grupos: os hereges, reprimidos pelas atuações do papa Inocêncio III; e os judeus. 06. (UEPB) Um dos reinos germânicos que mais se destacaram no território do antigo império romano foi o dos francos. Sobre os francos é correto afirmar:

05. (Unioeste PR) “A Idade Média pôs em evidência, e muitas vezes constituiu, as características reais ou problemáticas da Europa: a imbricação de uma unidade potencial com uma diversidade fundamental, a mestiçagem das populações, as divisões e oposições Oeste-Leste e Norte-Sul, a indecisão da fronteira oriental, a primazia unificadora da cultura (...). A formação dessas mentalidades, desse imaginário, particularmente vivo na Idade Média, é um caráter essencial da gênese da Europa como realidade e como ideia”. In: LE GOFF, Jacques. As Raízes Medievais da Europa. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2007, p. 13/14.

a) Pepino, o Breve, foi o principal perseguidor do cristianismo da dinastia carolíngea. b) Carlos Magno incentivou a atividade intelectual nos mosteiros e procurou cercar-se de religiosos conhecidos pela erudição. c) Clóvis, da dinastia merovíngea, recebeu o apoio do islamismo no projeto de unificação do território. d) Carlos Martel foi derrotado pelos árabes em 732, na batalha de Poitiers. e) Os condes não podiam legislar, nem administrar a justiça, limitando-se à função de fiscalizar os condados.

509

B05  Alta idade média: Reino Franco

04. (FGV SP) A unificação da Gália deu-se sob o controle de: a) Clóvis, da dinastia merovíngia. b) Carlos Magno, da dinastia carolíngia. c) Carlos Magno, iniciador da dinastia merovíngia. d) Carlos Martel, da dinastia capetíngia. e) Filipe, o Belo, da dinastia carolíngia.


FRENTE

B

HISTÓRIA

MÓDULO B06

ASSUNTOS ABORDADOS nn Alta idade média: Império Ca-

rolíngio

nn O fortalecimento da Igreja Católica nn O império Carolíngio

Fonte: Wikimedia Commons

ALTA IDADE MÉDIA: IMPÉRIO CAROLÍNGIO Os povos germânicos, após terem contribuído para a desintegração do Império Romano, criaram diversos reinos, a maior parte de curta duração. Como já vimos, em termos político-administrativos ocorreu nesses novos reinos um lento processo de integração de elementos romanos e germânicos. No que se refere à perspectiva social, esse processo resultou na formação de dois grupos bem diferenciados e sobre os quais se estruturou a sociedade: uma aristocracia rural formada pelos grandes proprietários e o campesinato, totalmente dependente dos donos de terra. Os senhores germânicos consideravam seus reinos como propriedade pessoal. Por isso, sentiam-se no direito de reparti-los entre os filhos ou de doar extensões de terras a pessoas que lhes prestavam serviços importantes. A fim de manter seus povos unidos em torno de sua autoridade, procuravam mobilizá-los em constantes campanhas militares. As guerras, por sua vez, permitiam que os nobres mais poderosos organizassem seus próprios exércitos. Para tanto, recrutavam guerreiros, contratados mediante remuneração ou pela garantia de subsistência. Em busca de proteção, muitos guerreiros doavam suas pequenas propriedades a um chefe de maior autoridade, que lhes assegurava o direito de continuar trabalhando em suas antigas terras. Embora livres, essas pessoas tornavam-se dependentes dos senhores aos quais se ligavam, de modo que a linha que separava a servidão da liberdade passou a ser muito tênue. Aos poucos, o poder desses nobres cresceu em relação ao poder real.

Figura 01 - Pintura representando Carlos Magno.

O fortalecimento da Igreja Católica Nesse contexto de enfraquecimento do poder real diante do fortalecimento da nobreza rural, da supressão de reinos, da queda do comércio e da ruralização da sociedade, uma instituição conseguiu superar as adversidades e manter sua coesão: a Igreja Católica.

Fonte: Wikimedia Commons

O cristianismo, religião oficial do Império romano desde 380, foi gradativamente adotado também pelos reinos germânicos surgidos na Europa ocidental a partir do século V. Nesse processo, a Igreja acumulou vastas extensões de terra e outros bens materiais. Inversamente aos nobres, cujos bens eram repartidos após a morte, devido ao direito de herança, as propriedades da Igreja eram centralizadas, pois não pertenciam aos religiosos, mas à própria instituição. Dessa forma, além do poder religioso, a Igreja passou a deter um vasto e sólido patrimônio material. A influência temporal e ideológica dessa instituição perante a sociedade começou a se firmar quando alguns reis germânicos se converteram ao cristianismo, como foi o caso de Clóvis, rei dos francos, em 496. Essas conversões prepararam o terreno para o surgimento, no século VIII, de um império amparado no cristianismo, o Império Carolíngio.

Figura 02 - Pintura representando o rei Clóvis.

510

Em 732, amparado por um forte exército de cavaleiros couraçados, os carolíngios bloquearam a invasão dos muçulmanos ao Reino Franco, derrotando-os na batalha de Poitiers. Graças a esse feito, os carolíngios ficaram conhecidos como os grandes defensores do mundo cristão.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons / Marcelo Camargo/Agência Brasil

#TÁ NA MÍDIA

Figura 03 - Cavalhada no Brasil

A cavalhada é um folguedo de origem cristã bastante popular no Brasil. Entre as mais tradicionais estão a da cidade de Pirenópolis, em Goiás, e a de São Luís do Paraitinga, em São Paulo. Nesse folguedo, dois grupos de cavaleiros armados de lanças e espadas simulam um combate. Os cavaleiros de azul representam os cristãos e os de vermelho, os muçulmanos, também chamados de mouros. O enredo da cavalhada baseia-se nas histórias e lendas em torno da figura do rei cristão Carlos Magno. No século IX, ele controlava um império que ocupava boa parte da Europa ocidental: o Império Carolíngio. O Império Carolíngio se formou em uma época em que muitos europeus se sentiam ameaçados pelos muçulmanos. De fato, [...] os muçulmanos eram senhores não só do norte da África, mas também da península Ibérica. Fonte: AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História em Movimento. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013.

O império Carolíngio Em 771, filho do reio Pepino III, Carlos assumiu o reino Franco, dando início a uma política de conquistas territoriais. Ao ampliar seus territórios, o novo rei, ao mesmo tempo, procurava converter ao cristianismo a população dominada. Tal política expansionista foi muito bem vista pela hierarquia da Igreja Católica, pois o crescimento do Reino Franco significava também a difusão da fé cristã.

Figura 04 - Coroação de Carlos Magno

511

B06  Alta idade média: Império Carolíngio

Fonte: Wikimedia Commons

As relações entre o papado e o rei Carlos estreitaram-se ainda mais quando no ano 800, durante a missa de Natal na igreja de São Pedro, em Roma, o papa Leão III coroou Carlos como imperador dos romanos, dando-lhe o título de Carlos Magno. Era uma tentativa de restaurar o antigo Império Romano do Ocidente e nomear Carlos um representante de Deus na Terra.


História

Carlos Magno centralizou os poderes político-administrativo e jurídico, tendo assumido o controle dos tribunais, padronizado o sistema de cunhagem de moedas, instalado a corte no palácio Aix-La-Chapelle – na atual Aachen, na Alemanha –, passando a fazer uso crescente de documentos escritos. Com ampla estrutura administrativa, Carlos Magno mantinha o controle sobre todo o Império. Ao mesmo tempo, procurava governar a Igreja, colocando o papa sob sua autoridade: era o rei quem praticamente decidia sobre a escolha dos bispos e os empregava como simples funcionários do Império. Renascimento carolíngio O imperativo de contar com um clero melhor qualificado e com uma nobreza capacitada para garantir uma boa administração fez com que Carlos Magno estimulasse a criação de escolas em todo o Império, o que acabou provocando uma intensa renovação cultural comumente chamada de renascimento carolíngio. O projeto educacional previa, além do estudo da Bíblia, o ensino de gramática, retórica, dialética, matemática, astronomia, música e, mais tarde, medicina. As disciplinas tinham por base textos clássicos da Antiguidade, como os do pensador romano Cícero (106-43 a.C.) e os do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). Preparava-se, dessa forma, o caminho para o surgimento das primeiras universidades europeias. Nesse processo, foi promovida a transcrição desses e de outros textos clássicos por meio de cópias cuidadosamente elaboradas por monges copistas. Garantia-se, assim, sua preservação para a posteridade. O fim do Império Esse processo de consolidação administrativa e de renascimento cultural, no entanto, entrou em crise após a morte de Carlos Magno, em 814. Após uma geração, a unidade do reino se desfez e o império foi dividido entre seus três netos. Surgiram assim a França Oriental, a França Ocidental e a França Central. Disputas internas e invasões estrangeiras, como a dos normandos, ou vikings, vindos da Escandinávia, levaram ao enfraquecimento do poder central. A falência da centralização político-administrativa desses reinos deu origem à sociedade feudal.

Exercícios de Fixação das disparidades étnicas e culturais. Tornavam-se realmente

tão. Assim, no início do século X, o chefe normando Rollon

participantes da comunidade do povo de Deus assim que

aceita ser batizado. Ele muda de nome, adotando o de seu

começassem a compreender alguns rudimentos de latim e

padrinho, Robert. Com ele, todos os guerreiros que o cer-

se pusessem a construir igrejas na tradição carolíngia.”

B06  Alta idade média: Império Carolíngio

01. (UECE) “A primeira maneira de integrar-se é tornar-se cris-

cam mergulham nas águas do batismo. Por volta do ano 1000, o duque da Normandia chama um homem que sabia

512

DUBY, G. Ano 1000, Ano 2000. Na pista de nossos medos. Trad. Eugênio Michel da Silva e Maria Regina L. Borges-Osório. São Paulo: Editora UNESP, 1998.

escrever bem o latim, formado nas melhores escolas – o

Segundo o texto de G. Duby, o batismo de Rollon é nitida-

portador da cultura carolíngia mais pura. Encomenda-lhe

mente

uma história dos normandos. Nela vemos como se deu a

a) um ato político.

integração, ao menos, entre os aristocratas. Eles firmaram

b) uma necessidade para o casamento.

com as famílias dos países francos, casamentos que foram,

c) uma reivindicação de nacionalidade.

com o cristianismo, o fator essencial do enfraquecimento

d) um aprendizado da língua latina.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

02. (Puc RS) O sistema feudal, que se constitui na Europa Ocidental

Sobre o Cristianismo podemos afirmar que:

entre os séculos V e X, é fruto da progressiva integração entre

01. boa parte dos adeptos do Cristianismo eram mulheres,

estruturas sociais _________ e _________, sendo o modelo

pois ela era a única religião oriental a permitir a participação delas no culto.

clássico desse sistema estabelecido no reino dos _________, sobretudo a partir da fragmentação do império _________.

02. depois de ser perseguido por todos, em 380 d. C., o im-

a) gregas – germânicas – visigodos – carolíngio

perador Teodósio I transformou o Cristianismo na religião

b) romanas – normandas – visigodos – bizantino

oficial do Estado romano e proibiu os outros cultos.

c) romanas – germânicas – francos – carolíngio

03. Foi em 756 d. C. que a Igreja construiu o seu próprio Esta-

d) gregas – normandas – francos – bizantino e) romanas – germânicas – visigodos – carolíngio 03. (Cefet PR) Dinastia que surgiu com Pepino, o Breve, e pretendia restabelecer o Império Romano do Ocidente. Antes de morrer,

do, o Vaticano, com Pepino, o Breve. 04. na Idade Média, a Igreja se separou do Estado, na Europa, dominando várias rotas comerciais no Mediterrâneo. 05. o Cristianismo, depois de tantas crises, cisões, cismas e crises políticas, apresenta-se hoje num momento de pro-

em 768, Pepino dividiu o reino entre seus dois filhos: Carlos

funda decadência e não desperta qualquer interesse no

Magno e Carlomano. Porém, três anos após receber sua parte

Ocidente, como ficou demonstrado com a escolha, pelo

no reino (771), Carlomano morreu e Carlos Magno tornou-se soberano absoluto do reino franco. Através de diversas guerras, Carlos Magno ampliou os domínios dos francos, apoderando-se de regiões como a Saxônia, a Baviera, a Lombardia e quase toda a Itália. Suas conquistas trouxeram-lhe prestígio e poder, estamos tratando dos:

Concílio Católico, do papa João Paulo III. 06. o Tribunal da Inquisição, órgão da Igreja Católica Ortodoxa, não teve voz ativa no período da colonização do 01-02-03

Novo Mundo.

06. (Fuvest SP)

b) Carolíngeos.

“O feudalismo medieval nasceu no seio de uma época infinita-

c) Bourbons.

mente perturbada. Em certa medida, ele nasceu dessas mes-

d) Plantagenetas.

mas perturbações. Ora, entre as causas que contribuíram para

e) Capetíngeos.

criar ou manter um ambiente tão tumultuado, algumas existi-

04. (UFRN) No ano de 786, Carlos Magno afirmou:

ram completamente estranhas à evolução interior das sociedades europeias.”

A nossa função é, segundo o auxílio da divina piedade, (...) de-

(Marc Bloch, A Sociedade Feudal)

fender com as armas e em todas as partes a Santa Igreja de Cristo dos ataques dos pagãos e da devastação dos infiéis. PINSKY, Jaime (Org.). O modo de produção feudal. 2. ed. São Paulo: Global, 1982. p. 101.

O fragmento acima expressa a orientação política do Império Carolíngio no governo de Carlos Magno. O objetivo dessa polí-

O texto refere-se: a) às invasões dos turcos, lombardos e mongóis que a Europa sofreu nos séculos IX e X, depois do esfacelamento do Império Carolíngio. b) às invasões prolongadas e devastadoras dos sarracenos,

tica pode ser definido como um(a):

húngaros e vikings na Europa, nos séculos IX e X (ao Sul, Les-

a) esforço para estabelecer uma aliança entre os carolíngios e a

te e Norte respectivamente), e depois do esfacelamento do

Igreja bizantina para fazer frente ao crescente poderio papal. b) intenção de anexar a Península Ibérica aos domínios do papado, com a finalidade de impedir o avanço árabe. c) desejo de subordinar os domínios bizantinos à dinastia carolíngia, no intuito de implantar uma teocracia centralizada no Imperador. d) tentativa de restaurar o Império Romano, com vistas a promover a união da cristandade da Europa Ocidental. 05. (Puc GO) Após o final da República, houve a introdução de uma série de seitas filosóficas e religiões orientais em Roma. Entre

Império Carolíngio. c) às lutas entre camponeses e senhores no campo e entre trabalhadores e burgueses nas cidades, impedindo qualquer estabilidade social e política. d) aos tumultos e perturbações provocadas pelas constantes fomes, pestes e rebeliões que assolavam as áreas mais densamente povoadas da Europa. e) à combinação de fatores externos (invasões e introdução de novas doutrinas e heresias) e internos (escassez de alimentos e revoltas urbanas e rurais).

essas, o Cristianismo (CÁCERES, 1996, p. 113 ).

513

B06  Alta idade média: Império Carolíngio

a) Merovíngeos.


História

Exercícios Complementares 01. (UFRGS) Sobre a história da Idade Média, assinale a alternativa correta. a) A criação do Sacro Império Romano Germânico no Ocidente, no contexto da expansão carolíngia do século VIII, resultou na conversão dos francos ao cristianismo. b) A Igreja permitia o ingresso feminino apenas nas ordens regulares, enquanto as seculares eram reservadas somente aos homens. c) A aristocracia exercia atividade guerreira, embora não fosse detentora de terras ou de direitos senhoriais. d) A criação dos relógios mecânicos públicos, a partir do século XIII, reforçou o monopólio eclesiástico no controle do tempo pela Igreja. e) A presença islâmica no Mediterrâneo, a partir do século VII, caracterizou-se pela destruição dos mecanismos de administração urbana nas cidades europeias. 02. (Unesp SP) “Quando Pepino, o Breve arriscou a usurpação que tantos outros tinham executado nos reinos vizinhos, quis purificá-la pela mais inatacável consagração. Primeiro, levou o papa a declarar que o título real devia caber a quem detivesse o verdadeiro poder. Depois, eleito rei pela assembleia dos grandes, fez-se ungir por S. Bonifácio, o mais ilustre dos missionários, na presença dos bispos franceses.”

d) no empenho demonstrado nas lutas contra muçulmanos, vikings e diferentes formas de heresias. e) na submissão de senhores e vassalos, reis e súditos, ao Islamismo. 04. (UnB DF) As cavalhadas são festas populares que representam a defesa da civilização cristã ocidental contra as invasões dos muçulmanos, ocorridas, na Europa, entre os séculos VI e IX d.C. No Brasil, as cavalhadas são reproduzidas desde o período colonial e, na atualidade, manifestam-se principalmente nos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco e no norte do Rio de Janeiro. A festa dura, em média, três dias e cada dia representa uma batalha. Ao final da festa, os cristãos, que trajam roupas azuis, vencem os mouros, de indumentária vermelha, o que simboliza a derrota dos invasores e, ao mesmo tempo, a conversão dos muçulmanos ao cristianismo. A gastronomia da festa é composta basicamente de doces brasileiros tradicionais, como a rapadura e a goiabada, dos típicos daquelas regiões mencionadas, e dos de origem portuguesa, como o fio de ovos, o quindim e o bom-bocado. Internet: <www.conexaoaluno.rj.gov.br>.

(Robert Lopez – O nascimento da Europa)

Pepino, o Breve tornou-se, assim, o primeiro rei da dinastia: a) Merovíngia b) Carolíngia c) Capetíngia d) Valois e) Bourbon

Tendo o texto acima como referência inicial e considerando os importantes aspectos da cultura e da formação histórica do Brasil, julgue os itens a seguir. ( ) A festa é uma instituição social e, como tal, desenvolve o processo de socialização, ao mesmo tempo em que mantém e renova tradições. ( ) Contribuição do colonizador português, a cavalhada

03. (Unesp SP)

remete ao conturbado contexto histórico vivido pela

[Na época feudal], o mundo terrestre era visto como palco

Península Ibérica, de formação católica, em face da

da luta entre as forças do Bem e as do Mal, hordas de anjos

invasão árabe muçulmana, que perdurou por sécu-

e demônios. Disso decorria um dos traços mentais da épo-

los. Outra expressão da cultura popular brasileira, a

ca: a belicosidade.

congada, atesta a força duradoura da influência das

B06  Alta idade média: Império Carolíngio

(Hilário Franco Junior. O feudalismo, 1986. Adaptado.)

A belicosidade (disposição para a guerra) mencionada expressava- se, por exemplo,

culturas africanas no Brasil, que se fez sentir desde o período colonial. ( ) Especialmente a partir de meados do século XVI e ao longo do século seguinte, a economia colonial esteve

a) no ingresso de homens de todas as camadas sociais na

centrada na cana-de-açúcar. Diferentemente do que

cavalaria e na sua participação em torneios.

ocorreria com a mineração no século XVIII, os engenhos

b) no pacto que reunia senhores e servos e determinava as

nordestinos eram autossuficientes na produção de ali-

chamadas relações vassálicas. c) na ampla rejeição às Cruzadas e às tentativas cristãs de reconquista de Jerusalém.

514

mentos, o que inviabilizava a existência de atividades C-C-E

econômicas subsidiárias ao açúcar na região.


FRENTE

B

HISTÓRIA

MÓDULO B07

FEUDALISMO: FORMAÇÃO Com o colapso do Império Romano do Ocidente em 476, a Europa enfrentou uma situação de lacuna no poder temporal, pois o poder político fora fragmentado em decorrência da instalação dos reinos bárbaros. Já a Igreja manteve intacto seu poder espiritual e ideológico. Dessa forma, a igreja cristã passou a ser a única ponte entre o mundo antigo e o mundo medieval, tornando-se a única instituição da Antiguidade a manter-se intacta após a queda de Roma.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Feudalismo: Formação nn O colonato nn Queda do Império Carolíngio

Foi a Igreja que manteve a cultura e a lei romana preservadas mesmo com a queda do Império. É importante perceber que essa Igreja, como instituição, já caminhava em direção à criação da Igreja Católica Apostólica Romana. A partir do século III, a situação do Império romano tornou-se crítica e a crise manifestou-se principalmente nas cidades, por meio das lutas sociais, da retração do comércio e das invasões bárbaras. Esses elementos estimularam um processo de ruralização, envolvendo tanto as elites como a massa plebeia, determinando o desenvolvimento de uma nova estrutura socioeconômica, baseada nas vilae e no colonato.

Fonte: Wiki Media Commons / Neil Weightman

As mudanças da estrutura produtiva deram-se principalmente nos séculos IV e V e ocorreram mesmo nas regiões onde se fixaram os povos bárbaros, que, de uma forma geral, tenderam a se organizar seguindo a nova tendência do Império, com uma economia rural, aprofundando o processo de fragmentação. Em meio à crise, as vilas tenderam a se transformar no núcleo básico da economia. A grande propriedade rural passou a diversificar a produção de gêneros agrícolas, além da criação de animais e da produção artesanal, deixando de produzir para o mercado, e atendendo a suas próprias necessidades. Foi dentro desse contexto que se desenvolveu o colonato, novo sistema de trabalho, atendendo aos interesses dos grandes proprietários rurais ao substituir o trabalho escravo, e mesmo aos interesses da plebe, que, migrando para as áreas rurais, encontrava trabalho.

Figura 01 - Mosaico representando colonos durante o período de declínio do Império Romano.

515


História

O colonato Naquele momento, o trabalhador rural romano, ou o colono, era colocado em uma nova situação. Suas origens, nas regiões próximas a Roma, estavam no antigo plebeu ou no ex-escravo, enquanto nas regiões mais afastadas, este descendia dos povos de origem bárbara, que, ao abandonar o nomadismo e a guerra, eram fixados a terra. Esse trabalhador era livre por não ser escravo, porém estava preso a terra. O sistema de exploração de grandes propriedades entre colonos e meeiros, que ficavam encarregados de cultivar uma determinada terra e entregar parte da produção ao proprietário, mantendo uma parte para o seu consumo, é chamado colonato. As terras passaram a dividir-se em duas partes, ambas trabalhadas pelo colono, nas quais a colheita de uma era destinada ao proprietário, enquanto a outra se destinava à subsistência dos colonos. De certa forma, pode-se perceber que o desenvolvimento de tal estrutura fundiária pode ser considerado como embrionário do sistema produtivo característico ao feudalismo. É importante notar que durante todo o período de gestação do feudalismo ainda serão encontrados escravos na Europa, porém em pequena quantidade e com importância cada vez mais reduzida.

Queda do Império Carolíngio

Em 843, na intenção de evitar o confronto, os filhos de Luís, o Piedoso, assinaram um acordo − o Tratado de Verdun – dividindo o Império entre eles: Carlos, o Calvo, ficou com a França Ocidental; Luís, o Germânico, ficou com a França Oriental (atual Alemanha); e Lotário ficou com a Lotaríngia (porção central do Império formado por Carlos Magno e o norte da atual Itália). A morte de Lotário, sucedida pouco depois da partilha, levou os outros dois irmãos a dividir a Lotaríngia. Assim, grande parte do antigo Império Carolíngio ficou dividida em dois reinos: a França e a Germânia. No primeiro, acentuou-se a fragmentação do poder e consolidaram-se os aspectos mais marcantes do mundo medieval, enquanto na Germânia, formou-se o Sacro Império Romano-Germânico. Após essa divisão chegava ao fim o Império Carolíngio. Tanto os netos de Carlos Magno quanto seus sucessores enfrentaram dificuldades para governar seus reinos. Durante os séculos IX e X, novas ondas de invasões atingiram a Europa, seguindo-se um período de guerras, saques e destruição em algumas cidades. A maior parte da população urbana fugiu para o campo à procura de trabalho e proteção nas grandes propriedades. Bloqueados em terra, os árabes muçulmanos continuaram atacando por mar. Partindo da Espanha e do norte da África, piratas muçulmanos, que ficaram conhecidos como sarracenos, atacavam e pilhavam as costas da atual região da França e da Itália.

Fonte: Wiki Media Commons / Cplakidas

B07  Feudalismo: Formação

Devido à morte de Carlos Magno, seu filho, Luís, o Piedoso, herdou o Império Carolíngio, enfrentando uma série de dificuldades para manter a unidade do seu império. Além de

esse império ser formado por muitos povos diferentes, ao final do governo de Luís, seus três filhos se envolveram em disputas políticas objetivando a sucessão.

Figura 02 - Gravura árabe retratando uma frota de piratas sarracenos.

516


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Fonte: Pinterest

Outro povo que também chegou pelo mar foram os normandos, mais conhecidos como vikings. Esses povos possuíam origem germânica e viviam na Escandinávia (Dinamarca, Suécia e Noruega). Esses experientes navegadores, com suas velozes embarcações, saqueavam e pilhavam cidades e os mosteiros, espalhando o pânico por onde passavam. Eventualmente, seguiam também pelos rios e atacavam o interior. Com o tempo, os normandos deixaram de lado a pirataria e os saques e começaram a se estabelecer. No final do século IX, fixaram-se no norte da atual França, em uma região que, devido a eles, ficou conhecida como Normandia.

Figura 03 - Pintura representando uma embarcação Viking.

Na primeira metade do século X, vieram do leste os magiares (húngaros), povo guerreiro originário da Ásia Central. Conhecidos também como cavaleiros das estepes, pilharam e escravizaram as populações de vários povoados europeus, destruíram mosteiros e se apossaram do ouro entesourado neles. No final do século X, os magiares foram vencidos pelos guerreiros germanos e acabaram se estabelecendo na região da atual Hungria, onde pouco a pouco foram sendo convertidos ao cristianismo. Populações buscando refúgio e proteção subordinavam-se aos grandes senhores de terras. Condes, marqueses e outros nobres passaram a ter uma importância crescente, fortalecendo assim a tendência à descentralização. O conjunto desses fatos promoveu a descentralização do território europeu e iniciou a montagem do cenário da sociedade feudal. B07  Feudalismo: Formação

As relações de vassalagem As relações de subordinação, que dariam origem à vassalagem, desenvolveram-se desde o século V, no entanto foi durante o reinado de Carlos Magno que tomaram sua forma mais desenvolvida. O incentivo aos laços de vassalagem em um primeiro momento fortalecia o poder real, pois direta ou indiretamente estendia-se a toda a sociedade. No entanto, com o passar do tempo o resultado tornou-se oposto na medida em que as relações pessoais foram reforçadas, diminuindo, portanto, o poder dos reinos. 517


História

Exercícios de Fixação 01. (Puc RS) O feudalismo europeu foi resultante de uma lenta e complexa integração de estruturas sociais romanas com estruturas dos povos conhecidos como germanos, ocorrida entre os séculos V e IX. Uma das principais estruturas germânicas que compuseram o feudalismo foi a) a vila, grande latifúndio que tendia à autossuficiência econômica. b) o colonato, sistema de trabalho que vinculava o camponês a terra. c) o burgo, cidade fortificada onde se concentravam atividades artesanais. d) o comitatus, relação de fidelidade militar entre guerreiros e seu chefe. e) o direito codificado, reunião simplificada de leis escritas. 02. (Uepa PA)

(MONTELLATO, Andrea Rodrigues Dias.História Temática: terra e propriedade, 7ª série. São Paulo: Scipione, 2000, p.51)

B07  Feudalismo: Formação

A iconografia ao lado ilustra as formas de relações sociais construídas na sociedade medieval. O modelo de relação que nela se representa ficou assim denominado: a) Servidão e Colonato b) Ordenação e Investidura de cavaleiros c) Suserania e Vassalagem d) Padroado e Benefício e) Principado e Condato 03. (UFT TO) Na origem das instituições feudais, encontramos elementos germânicos e romanos, sendo um elemento característico de herança germânica: a) ruralização, fortalecimento da vida rural e aumento das atividades comerciais urbanas. b) colonato, sistema de trabalho servil com produção agropastoril destinado ao consumo. c) formariage, uso generalizado do trabalho servil e o fortalecimento do processo de ruralização.

518

d) banalidade, pagamento de taxas ao senhor pela utilização de equipamentos e instalações do senhorio. e) benefício, os chefes militares recompensavam seus guerreiros concedendo-lhes possessões de terra. 04. (Upe PE) Até o início do século XX, os historiadores davam pouca importância ao período final do chamado Mundo antigo, ainda deslumbrados com a grandeza alcançada pela civilização criada pelos gregos e romanos e entristecidos ante a trágica visão de uma Europa barbarizada. Pouco se reconhecia das contribuições trazidas pelos povos germanos para a formação de uma nova sociedade. (OLIVEIRA, Waldir Freitas. A Antiguidade Tardia. São Paulo: Editora Ática, 1990).

Sobre as modificações ocorridas nesse período de transição, analise as afirmativas a seguir: I. No século IV, no Ocidente, a Igreja triunfara e se tornara, na prática, a dirigente das mentalidades no Império. II. As manifestações artísticas da época, a presença de cenas e de figuras ligadas ao cristianismo passam a ser dominantes. III. Os germanos destruíram a cultura romana e adaptaram a sua à nova sociedade, mudando completamente o cenário. IV. O surgimento do latim vulgar foi utilizado como língua franca, principalmente pelos proprietários, pelos cobradores de impostos e pelos bispos, o qual vai dar origem às línguas neolatinas. V. As principais estruturas germânicas que entraram na composição do feudalismo foram: colonato, vilas romanas, direito consuetudinário. Estão CORRETAS a) I, II e III. b) I, IV e V. c) I, II e IV. d) II, III e IV. e) III, IV e V. 05. (Fuvest SP) “A instituição das corveias variava de acordo com os domínios senhoriais, e, no interior de cada um, de acordo com o estatuto jurídico dos camponeses, ou de seus mansos [parcelas de terra].” Marc Bloch. Os caracteres originais da França rural, 1952.

Esta frase sobre o feudalismo trata a) da vassalagem. b) do colonato. c) do comitatus. d) da servidão. e) da guilda.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares 01. (UFJF MG) A partir do século III, assiste-se ao longo pro-

b) o cristianismo proporcionou a dinamização da econo-

cesso de crise do Império Romano do Ocidente e ao de-

mia do Império Romano, acelerando o processo do

senvolvimento das instituições feudais, que daria início

colonato que havia sido iniciado na crise do século III,

ao período medieval.

garantindo a hegemonia de Roma sobre todo o mundo

a) A expansão do Império Romano do Ocidente cessou, le-

mediterrâneo. c) o cristianismo apresentava um caráter herético e subversivo, na medida em que rompia com os dogmas judaicos

vando ao decréscimo da obtenção de escravos e riquezas.

e, ao mesmo tempo, representava um fator de desestru-

b) As fronteiras pouco controladas devido à fragilidade romana possibilitaram a invasão dos povos bárbaros e a fragmentação territorial do Império.

turação social e política para o governo de Roma. d) o Império Romano apresentou uma forte expansão de suas fronteiras a partir da conquista da Gália e da Germâ-

c) O poder político exercido pelas grandes cidades se man-

nia, tendo sido favorecido nesse processo pela conversão

teve, levando a um crescimento da urbanização e desen-

das populações dessas regiões ao cristianismo.

volvimento das instituições comerciais. d) Desenvolveu-se o sistema de colonatopor meio do qual escravos e plebeus empobrecidos passaram a trabalhar como colonos nas terras dos grandes proprietários. e) Iniciaram-se as relações de suserania e vassalagem base-

04. (Uergs RS) O Sistema Feudal, que predominou na Europa Ocidental ao longo da Idade Média, resultou da mescla de instituições romanas e germânicas. Dentre as instituições romanas está o (a):

adas em fidelidade e prestação de serviços dos vassalos

a) Comitatus.

para com os senhores.

b) Direito consuetudinário.

02. (UFV MG) Assinale a alternativa em que NÃO aparece representada uma das características do Império Romano durante a Antiguidade Clássica: a) Pax Romana. b) Surgimento do Colonato. c) Difusão e triunfo do cristianismo.

c) Colonato. d) Benfeficium. e) Vassalagem. 05. (UFRGS) Sobre o período histórico denominado Alta Idade Média, considere as seguintes afirmações. I.

Carlos Magno foi responsável pela unificação de gran-

II.

As cidades permaneceram como importantes centros

d) Apogeu do Triunvirato. 03. (UEG GO) O advento do cristianismo representou uma re-

de parte do antigo território romano na Europa. econômicos e culturais, devido, em parte, à reabertu-

volução na história ocidental, ultrapassando a dimensão religiosa. Ele influenciou de maneira decisiva as estruturas políticas, sociais, culturais e econômicas do Ocidente. Tendo sido perseguido de forma implacável durante um longo período, o cristianismo foi incorporado pelo Império Romano no governo de Constantino. Ao longo do processo histórico que propiciou a expansão do movimento cristão, observa-se que: a) a ampliação e consolidação do Império Romano resultaram essencialmente de sua aliança precoce com o movimento cristão, sendo que este representou um instrumento formidável de sustentação para o governo imperial.

ra do mar Mediterrâneo pelos cruzados. III.

A Europa cristã, fragilizada pelo declínio do Império Carolíngio, foi vítima de inúmeras invasões, principalmente por parte dos povos escandinavos e dos sarracenos.

Quais estão corretas? a) apenas I b) apenas II

B07  Feudalismo: Formação

Assinale o item que NÃO se enquadra nesse contexto.

c) apenas I e III d) apenas II e III e) I, II e III

519


FRENTE

B

HISTÓRIA

MÓDULO B08

ASSUNTOS ABORDADOS nn Feudalismo: organização econô-

mica e política nn Economia

Nesse período da história do Ocidente, a sociedade desenvolveu-se sob um sistema de relações produtivas denominado Feudalismo, nome derivado da estrutura chamada feudo. As relações de produção feudais são características da Europa Ocidental, durante a Idade Média, e originaram-se a partir do declínio do escravismo, no Baixo Império Romano, e da crise geral da Europa Ocidental, gerada pelas invasões dos povos bárbaros. O emprego dessa definição é controverso, porque, desde Karl Marx, alguns historiadores preferem utilizá-la para descrever um sistema produtivo de base agrária, no qual grandes propriedades são trabalhadas por um campesinato dependente. O problema do uso desse conceito ocorre por ele ser impreciso, pois relações semelhantes de produção existiram em muitos lugares e épocas depois da Idade Média europeia, e o sistema agrário medieval pode ser definido melhor como um regime senhorial. Em um outro extremo, certos historiadores argumentam que, mesmo que o termo feudalismo seja usado para descrever um sistema político medieval, as realidades medievais eram tão diversas que nenhuma definição de feudalismo pode cobrir com precisão, ou mesmo com utilidade, mais que um único caso.

Fonte: Wikimedia Commons / R.M.N. / R.-G. Ojéda

nn Política

FEUDALISMO: ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E POLÍTICA

Figura 01 - Os camponeses formavam a base da sociedade feudal. Mesmo constituído a grande maioria da população, eram subordinados à autoridade dos senhores feudais, por meio do sistema de servidão. Esses trabalhadores realizavam todo o trabalho agrícola, trazendo o sustento a todas as ordens feudais. É importante ressaltar que os servos não eram escravos. Independente de estarem submetidos ao trabalho imposto pelo senhor, o servo não poderia ser vendido, como ocorria com os escravos. Além disso, os senhores feudais eram responsáveis por garantir proteção militar e oferecer-lhes terras para a agricultura.

520


Ciências Humanas e suas Tecnologias

A palavra “feudo”, de origem germânica, remete a um benefício concedido a alguém em troca de fidelidade e auxílio, principalmente militar. O feudo (a terra ou outra fonte de renda), unidade básica de produção do feudalismo, era uma grande propriedade rural que podia variar de algumas centenas a vários milhares de acres. Cada feudo, geralmente, possuía um castelo fortificado ou burgo (residência do senhor feudal), a vila ou aldeia – onde moravam os servos –, e ainda a igreja, celeiro, açude, forno, pastagens comuns e um mercado, onde se realizavam as trocas semanais. O feudo era dividido em manso senhorial (terras de uso exclusivo do senhor feudal); manso servil (terras de uso exclusivo do servo); e terras comuns (uso tanto do senhor quanto do servo).

Fonte: Pinterest / Odoric de Pordenone

Economia

Figura 02 - O trabalho dos camponeses, durante a Idade Média, era marcado por uma série de dificuldades. A precariedade das terras e a inadequação das técnicas e ferramentas para o plantio faziam com que a produção agrícola nem sempre suprisse as necessidades das famílias camponesas. Devido a isso, a coleta de frutos silvestres, a pesca e a caça implementavam sua alimentação.

A economia agrária de subsistência, sem grandes relações mercantis e com limitada circulação monetária, produzia o necessário para a sobrevivência, o que acabava influenciando também na organização política, haja vista que o regime de trocas era mais um fator para dificultar a centralização do poder.

É indispensável, nesse momento, ressaltar a importância do sistema de rotação trienal, em que se buscava uma forma para garantir a subsistência do servo. Esse regime consistia em dividir a terra arável em três partes: o campo de plantio da primavera, o de plantio de outono e o de pousio ou repouso, a cada ano alternava-se o cultivo dos campos, de forma que um deles estivesse sempre em período de recuperação. Por sua vez, os servos pagavam ao senhor feudal uma série de impostos. A talha obrigava os camponeses a fornecer ao senhor metade de toda a colheita retirada das terras do feudo. A corveia era uma obrigação que correspondia ao pagamento por meio de serviços prestados nas terras ou instalações do senhor feudal. De três a quatro dias por semana, o servo era obrigado a cumprir diversos trabalhos como, por exemplo, fazer a manutenção do castelo, construir muros, limpar o fosso do castelo, o moinho etc. Já a banalidade consistia no pagamento pela utilização das instalações do castelo. Se o servo precisasse usar o moinho ou o forno, deveria pagar uma taxa em mercadoria para o senhor feudal.

Política B08  Feudalismo: organização econômica e política

No tocante à política, no feudalismo, os diversos reinos existentes não possuíam governos fortes e centralizados. Por sua vez, os senhores feudais não controlavam, de fato, todo o reinado, pois a base do poder político estava ligada ao domínio da terra. O poder público estaria, naquele dado momento, em mãos de particulares, ou seja, a aplicação do poder político se fazia de forma local. Esses governantes regiam seus feudos de forma independente e, nestes, cada senhor possuía autoridade máxima, possuindo poderes de administrador geral, juiz e chefe militar. Em virtude das constantes guerras que sacudiram a Europa durante a Idade Média, o poder central foi perdendo seu espaço e isso acabou obrigando as pessoas a recorrerem aos poderes locais. Houve uma generalização do costume de que os povos de um determinado local submetessem-se a quem podia lhes garantir proteção. Às vezes era um conde, um marquês ou até mesmo uma pessoa sem títulos oficiais, mas que se impunha aos demais pela sua valentia e seu sentido de autoridade. Esses homens eram denominados de “senhores” e passaram a constituir o verdadeiro poder dentro do feudalismo. 521


História

Laços de suserania e vassalagem Os laços de suserania e vassalagem davam-se entre o senhor feudal (suserano) e seus servos (vassalos). O suserano era o senhor que concedia feudos a seus protegidos, os vassalos. Em contrapartida, o vassalo dedicava fidelidade ao suserano e prestava-lhe serviços (principalmente serviços militares). Portanto, a relação suserano-vassalo era direta e pessoal. Implicava direitos e obrigações recíprocas. Os laços de suserania e vassalagem eram estabelecidos por meio de uma cerimônia solene que se compunha de dois atos principais: a homenagem e a investidura. A investidura era o juramento de fidelidade que o vassalo fazia perante o suserano. A homenagem era o ato de entrega do feudo ao vassalo, pelo suserano.

B08  Feudalismo: organização econômica e política

Fonte: Wikimedia Commons

Essa relação de suserania e vassalagem criava vínculos morais e obrigações entre o suserano e o vassalo.

Figura 03 - Pintura medieval representando contrato entre suserano e vassalo.

Exercícios de Fixação 01. (Fac. Direito de São Bernardo do Campo SP) “A falência do modelo imperial, a ausência de poderes centralizadores fortes (as monarquias ainda são uma incerteza) favorecem o recurso aos superiores, sejam os que residem na cidade, sejam os que vivem no campo. É em volta deles que se reúnem, em caso de necessidade, homens, animais, colheitas e instrumentos de trabalho.” Jacques Le Goff. Em busca da Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 157-158. Adaptado.

522

O texto caracteriza um processo histórico, notável na Idade Média ocidental, que contribuiu decisivamente para a afirmação do a) absolutismo e da servidão. b) senhorio e da feudalidade. c) encastelamento e do capitalismo. d) nacionalismo e da hereditariedade.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

02. (Unesp SP) Eis dois homens a frente: um, que quer servir;

III.

As banalidades eram obrigações feudais pagas pelos

o outro, que aceita, ou deseja, ser chefe. O primeiro une

servos e relativas ao uso das instalações no domínio

as mãos e, assim juntas, coloca-as nas mãos do segundo:

senhorial.

claro símbolo de submissão, cujo sentido, por vezes, era ainda acentuado pela genuflexão. Ao mesmo tempo, a personagem que oferece as mãos pronuncia algumas palavras, muito breves, pelas quais se reconhece “o homem” de quem está na sua frente. Depois, chefe e subordinado beijam-se na boca: símbolo de acordo e de amizade. Eram estes – muito simples e, por isso mesmo, eminentemente adequados para

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. d) I e II, apenas. e) I, II e III.

impressionar espíritos tão sensíveis às coisas – os gestos que

04. (UCB DF) O feudalismo foi um sistema de organização econô-

serviam para estabelecer um dos vínculos mais fortes que a

mica, social e política com base nos laços de fidelidade e de

época feudal conheceu.

dependência entre suserano e vassalo. Tinha como principais (Marc Bloch. A sociedade feudal, 1987.)

características o poder político descentralizado e a produção voltada para a subsistência.

Miniatura do Liberfeudorum Ceritaniae, século XIII

BOULOS, Júnior Azevedo. História sociedade & cidadania. Vol. 1. São Paulo: FTD, 2013, com adaptações.

Em relação ao sistema feudal, assinale a alternativa correta. a) A sociedade feudal estava dividida em duas ordens: a dos nobres (guerreiros) e a dos servos e escravos (trabalhadores). b) No sistema feudal, enquanto os escravos eram vistos apenas como objeto e não como pessoas, os servos desfrutavam de relativa autonomia e podiam até adquirir a própria terra. c) A sociedade feudal permitia a mobilidade social. O servo, por exemplo, pelos próprios esforços individuais, poderia se tornar um nobre e adquirir um feudo. d) O senhorio era uma terra que dava ao respectivo detentor o poder de explorá-la e cobrar tributos. e) A relação de vassalagem estava restrita apenas aos escravos, que eram denominados vassalos de seus senhores feudais. 05. (Cefet PR) A produção feudal era agrícola, sendo a terra sua principal fonte de riqueza. O sistema comunitário de cultivo reduzia o interesse por inovações técnicas, por isso, qualquer nova forma (www.mcu.es)

O texto e a imagem referem-se à cerimônia que a) consagra bispos e cardeais.

disso, todo aumento da produção correspondia a mais tributos a serem pagos ao senhor feudal, desestimulando a produção excedente pelos servos.

b) estabelece as relações de vassalagem.

Entre os muitos impostos que estes pagavam, um deles era a

c) estabelece as relações de servidão.

corveia que consistia em:

d) consagra o poder municipal.

a) dias de trabalho no manso senhorial.

e) estabelece as relações de realeza.

b) dias em que só se produzia artesanato.

03. (Puc RS) Analise as afirmativas sobre o período medieval. I.

O ritual da investidura era uma cerimônia praticada no momento da elevação de um guerreiro a vassalo.

II.

No período Carolíngio, a difusão da vassalagem resultou

c) parte dos alimentos produzidos no manso servil. d) produção destinada à Igreja. e) parte dos alimentos produzidos nos feriados e dias santificados.

na centralização da estrutura política em torno do rei. 523

B08  Feudalismo: organização econômica e política

de trabalhar a terra, exigia a aprovação de toda a aldeia. Além


História

Exercícios Complementares 01. (Fieb SP) Eram quase ilimitadas as imposições do senhor feudal ao camponês. De acordo com um observador do século XII, o camponês “nunca bebe o produto de suas vinhas, nem prova uma migalha do bom alimento; muito feliz será se puder ter seu pão preto e um pouco de sua manteiga e queijo...” (...). O camponês era, então, um escravo? (Leo Huberman. História da riqueza do homem)

Para responder à pergunta colocada pelo texto, é correto afirmar que os camponeses da época feudal eram diferentes dos escravos pelo fato de que esses camponeses a) tinham direito a ascender socialmente pelo seu trabalho. b) não podiam ser comprados ou vendidos a outros senhores de terras. c) eram, em geral, prisioneiros de guerra ou devedores de impostos. d) não eram discriminados pela sua origem ou família. e) eram livres para escolher as terras e o tipo de produto a ser cultivado.

B08  Feudalismo: organização econômica e política

02. (IF CE) Sobre as obrigações servis na época do feudalismo, é correto afirmar-se que a) albergagem era paga quando o servo usava instrumentos do seu senhor, como o moinho ou o forno. b) corveia era a taxa cobrada quando o camponês casava. c) formariage era o trabalho gratuito nas terras do senhor em alguns dias da semana. d) o tributo cobrado na transferência do lote de um servo falecido a seus herdeiros era chamado de banalidades. e) talha consistia na porcentagem da produção que era entregue ao senhor feudal. 03. (Ufu MG) Mas o objetivo da produção, mesmo com meios modestos, não era um fim abstrato como hoje, mas prazer e ócio. Esse conceito antigo e medieval de ócio não deve ser confundido com o conceito moderno de tempo livre. Isso porque o ócio não era uma parcela da vida separada do processo de atividade remunerada, antes estava presente, por assim dizer, nos poros e nos nichos da própria atividade produtiva. KURZ, Robert. A expropriação do tempo. Folha de São Paulo, 3 jan.1999. p. 5 (Adaptado).

A noção de tempo livre assumiu uma qualidade positiva distinta daquela de ócio, em função de estar articulada a um conjunto de transformações socioeconômicas, localizadas a partir de fins da Idade Média, e que se caracterizava a) pelo incremento da produção agrícola para o mercado interno, responsável pelo chamado renascimento feudal do século XV.

524

b) pela crescente mercantilização das terras da Igreja, cada vez mais alinhada com as modernas concepções sobre o trabalho. c) pela descentralização político-administrativa das emergentes monarquias nacionais, fator de estímulo para o crescimento da produção mercantil d) pela aceleração das atividades urbanas e comerciais, com o crescimento da produção mercantil e das camadas burguesas da sociedade. 04. (Unievangélica GO) A sociedade feudal caracterizou-se, entre outros aspectos, pela existência de a) relações servis de produção, em que a maioria da população urbana ficava subordinada juridicamente aos senhores. b) mobilidade social dentro da estrutura básica, constituída por senhores feudais, nobreza e clero, servos e vilões. c) trabalho livre, que garantia ao pequeno camponês a possibilidade da reprodução de sua força de trabalho e algum ganho. d) fragmentação do poder político, economia com tendência à autossuficiência e baseada na produção agrícola. 05. (Ufu MG) A tranquilidade dos súditos só se encontra na obediência. [...] Sempre é menos ruim para o público suportar do que controlar incluso o mau governo dos reis, do qual Deus é único juiz. Aquilo que os reis parecem fazer contra a lei comum funda-se, geralmente, na razão de Estado, que é a primeira das leis, por consentimento de todo mundo, mas que é, no entanto, a mais desconhecida e a mais obscura para todos aqueles que não governam. LUÍS XIV, Rei da França. Memorias. (Versão espanhola de Aurelio Garzón delCamino). México: Fondo de Cultura Económica, 1989. p. 28-37 (Adaptado).

As palavras do rei Luís XIV exemplificam um complexo e longo processo sociopolítico, identificado com o que comumente chamamos de Idade Moderna e que podia ser caracterizado a) por um crescente deslocamento do poder político da burguesia, que passou a ver a ascensão da nobreza feudal, cada vez mais próxima do poder e ocupando importantes cargos políticos. b) pela centralização administrativa sobre os particularismos locais e pela crescente unificação territorial, ainda que os senhores de terra não perdessem inteiramente seus privilégios. c) pelo fortalecimento do poder político da Igreja Católica, resultado de um processo de crescente mercantilização de suas terras e de sua consequente adequação ao mercado. d) pelo processo de cercamento dos campos, com o consequente fortalecimento da nobreza feudal, a qual, com os altos impostos que pagava, contribuiu decisivamente para o fortalecimento do poder real.


FRENTE

B

HISTÓRIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (Espm SP) No dia seguinte, os poucos francos que escaparam ao massacre manquejaram até o acampamento de Carlos Magno, muitos feridos, todos sujos e cobertos de sangue, os olhos expressando, eloquentes, o horror que haviam visto e suportado. Muitos também se mostravam envergonhados porque sobreviveram, enquanto seus companheiros jaziam mortos. Mas, na realidade, não tinham motivo para a vergonha, pois haviam lutado para sobreviver ao combate, e não fugido. Quando Carlos Magno soube o que sucedera a Rolando e seus pares, a resplandecente nata da cavalaria franca, ele chorou. (Allan Massie. Carlos Magno. A vida do imperador do Sacro Império Romano)

O texto trata da batalha de Roncesvales, episódio em que Rolando, sobrinho de Carlos Magno, morreu heroicamente. O episódio inspirou poemas intitulados “Canções de Gesta”; especialmente a “Canção de Rolando”, poema que foi, para os homens da Idade Média, o que a “Ilíada” tinha sido para os helenos. A derrota dos francos, em Roncesvales, deve ser relacionada: a) com as campanhas militares empreendidas por Carlos Magno contra os saxões. b) com as campanhas militares contra os sarracenos na Espanha. c) com as campanhas militares promovidas por Carlos Magno, no norte da Itália, contra os lombardos. d) com o conflito contra os bizantinos do Império Romano do Oriente. e) com a campanha comandada por Carlos Magno contra a heresia dos albigenses. 02. (Unicamp SP) No Natal de 800, o papa Leão III coroou Carlos Magno como Imperador dos Romanos. O Imperador recebeu o antigo título de Augusto. Gabarito no final da página a) Caracterize a autoridade de Carlos Magno como Imperador naquele momento. b) Apresente dois aspectos do renascimento carolíngio. 03. (Uem PR) Sobre a arte na Idade Média, assinale o que for correto. 01. Pode-se afirmar que a origem das basílicas paleocristãs é a basílica romana. 02. Por causa de graves dissidências religiosas, não havia intercâmbios culturais entre o Império de Carlos Magno e o Império Bizantino. 04. A arquitetura dita “Românica” tem esse nome devido à sua semelhança, em certos aspectos, com as construções praticadas no Império Romano do Ocidente.

08. Durante parte da Idade Média, os produtores de imagem não estavam interessados em representar apenas o que viam, mas, principalmente, o que sentiam. 16. Durante esse período histórico, não foram produzidas unicamente imagens de temas sacros, mas também 04-08-16 mundanos. 04. (UEPG PR) Embora a penetração bárbara houvesse modificado profundamente o mapa político da Europa; por muitos séculos, o sonho de uma nova unidade política permaneceu vivo. A primeira expressão concreta desse sonho coletivo foi o Império Carolíngio, constituído no ano 800. Sobre o Império Carolíngio, assinale o que for correto. 01. O Tratado de Verdum (843) consolidou a concepção de Império Cristão, impedindo a penetração de novos invasores no território europeu. 02. Pepino, o Breve, em 751, foi coroado com o aval do Papado, inaugurando a dinastia carolíngia. Em contrapartida e como retribuição, entregou ao Papa os territórios italianos conquistados aos lombardos. 04. Carlos Magno criou seus vastos territórios, um sistema administrativo que, embora personalista e rudimentar, adequava-se à conjuntura do período. 08. Com a coroação de Carlos Magno, teoricamente renascia o Império Romano; na prática, foi uma ficção que pouco sobreviveu ao seu imperador. 16. Suas raízes remontam ao ano de 496, quando o rei franco Clóvis converteu-se ao cristianismo, possibilitando as pri02-04-08-16 meiras aproximações com a Igreja. 05. (Puc RS) Considere as seguintes afirmativas sobre o Império Carolíngeo, constituído a partir do reino dos Francos durante a chamada Alta Idade Média. I. A dinastia carolíngea, a partir de Pepino, o Breve, no século VIII, buscou combater o poder temporal da Igreja através do confisco de terras eclesiásticas e da dissolução do chamado Patrimônio de São Pedro, na Itália. II. A partir do reinado de Carlos Magno, coroado “imperador dos romanos” no ano de 800, a servidão enfraqueceu-se consideravelmente na Europa, pois o Estado impunha aos nobres a transformação dos servos da gleba em camponeses livres, para facilitar o recrutamento militar. III. Apesar de procurar centralizar o poder, Carlos Magno contribuiu para a descentralização política no Império, ao distribuir propriedades de terras e direitos vitalícios entre os vassalos, em troca de lealdade e de serviço militar.

Questão 02 a) A coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III caracterizava o Imperador como detentor dos poderes religioso e militar, cujos alcances se estendiam por praticamente toda a Europa, conferindo-lhe um poder superior ao dos demais monarcas do período. b) O Renascimento Carolíngio pode ser caracterizado pela produção artística e cultural que remete a elementos greco-romanos, germânicos e cristãos, pela criação de escolas em mosteiros, catedrais e palácios, pela valorização dos estudos clássicos como parte do dever religioso que Carlos Magno se atribuía como defensor da fé cristã.

525


História

IV.

O Tratado de Verdun, firmado entre os netos de Carlos Magno após esses guerrearem entre si, dividia o Império em três partes, que passavam a constituir Estados apenas nominais, devido à consolidação da ordem política feudal. São corretas apenas as afirmativas a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) I, III e IV.

FRENTE B  Exercícios de Aprofundamento

06. (Unifor CE) No processo de organização da sociedade, os francos desenvolveram uma notável renovação na vida cultural conhecida por renascença carolíngia. O programa cultural do governo de Carlos Magno (768–814): a) constituía parte de um pano mais amplo de preservar as obras da Antiguidade clássica, ainda que fortemente condicionado aos ensinamentos da Igreja Cristã. b) inviabilizou a possibilidade do conhecimento integral dos ideais das civilizações antigas, uma vez que muitos livros foram destruídos por ordem direta do Imperador. c) esteve atrelado aos ensinamentos religiosos, razão pela qual contribuiu para a produção de várias obras de caráter científico e filosófico. d) limitou-se à construção de grandes monumentos, que simbolizavam a grandiosidade que o Imperador atribuía a si mesmo, desprezando os conhecimentos literários, aritméticos e geométricos. e) teve pouca repercussão na sociedade ocidental, por ter sido idealizado por um dos “povos bárbaros”, responsáveis pela destruição do Império Romano do Ocidente. 07. (Unifor CE) Considere os textos abaixo. I. “Segundo Tácito, essa sociedade (...) desconhecia o Estado e a cidade como organismos político-administrativos. O poder político estava nas mãos de uma Assembleia de Guerreiros, que posteriormente deu origem à nobreza medieval. O elemento de maior prestígio era o guerreiro, o homem livre, e a vida social centrava-se na tribo ou clã, ou seja, nos laços de sangue.” II. “A base de toda a estrutura social residia no sippe – comunidade de linhagem que assegurava a proteção do grupo sob sua autoridade. (...) O casamento era monogâmico (...). A mulher dividia com o marido as tarefas de proteção ao grupo familiar (...).” III. “A economia dessas tribos (...) estava baseada na agricultura e na pecuária (...): plantavam e colhiam em grupo. Além disso, praticavam a caça e a pesca e não excluíam a pilhagem como atividade complementar (...).” IV. “A metalurgia ocupou papel importante na sociedade (...). O grande desenvolvimento da atividade bélica foi responsável para fabricação de armas, carros de combate e barcos bastantes eficientes.” 526

Eles identificam os costumes dos povos: a) tártaros. b) eslavos. c) mongóis. d) germânicos. e) sarracenos. 08. (Fuvest SP) “O feudalismo medieval nasceu no seio de uma época infinitamente perturbada. Em certa medida, ele nasceu dessas mesmas perturbações. Ora, entre as causas que contribuíram para criar ou manter um ambiente tão tumultuado, algumas existiram completamente estranhas à evolução interior das sociedades europeias.” (Marc Bloch, A Sociedade Feudal)

O texto refere-se: a) às invasões dos turcos, lombardos e mongóis que a Europa sofreu nos séculos IX e X, depois do esfacelamento do Império Carolíngio. b) às invasões prolongadas e devastadoras dos sarracenos, húngaros e vikings na Europa, nos séculos IX e X (ao Sul, Leste e Norte respectivamente), e depois do esfacelamento do Império Carolíngio. c) às lutas entre camponeses e senhores no campo e entre trabalhadores e burgueses nas cidades, impedindo qualquer estabilidade social e política. d) aos tumultos e perturbações provocadas pelas constantes fomes, pestes e rebeliões que assolavam as áreas mais densamente povoadas da Europa. e) à combinação de fatores externos (invasões e introdução de novas doutrinas e heresias) e internos (escassez de alimentos e revoltas urbanas e rurais). 09. (FGV SP) A colisão catastrófica dos dois anteriores modos de produção em dissolução, o primitivo e o antigo, veio a resultar na ordem feudal, que se difundiu por toda a Europa. Anderson, P. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. Trad. Porto: Afrontamento, 1982, p. 140.

O autor refere-se a três tipos de formações econômico-sociais nesse pequeno trecho. A esse respeito é correto afirmar: a) A síntese descrita refere-se à articulação entre o escravismo romano em crise e as formações sociais dos guerreiros germânicos. b) O escravismo predominava entre os povos germânicos e tornou-se um ponto de intersecção com a sociedade romana. c) A economia romana, baseada na pequena propriedade familiar, foi transformada a partir das invasões germânicas dos séculos IV a VI. d) Os povos germânicos desenvolveram a propriedade privada e as relações servis que permitiram a síntese social com os romanos. e) A transição para o escravismo feudal foi proporcionada pelos conflitos constantes nas fronteiras romanas devido à ofensiva dos magiares.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

11. (UFGD MS) No livro A Sociedade Feudal (1979), o historiador Marc Bloch reflete sobre a baixa expectativa de vida na Europa feudal. A mortalidade infantil, incontestavelmente muito forte na Europa feudal, não deixava de embotar um pouco os sentimentos relativamente a lutos que eram quase normais. Quanto à vida dos adultos, mesmo independentemente dos acidentes de guerra, era em média relativamente curta: pelo menos, quanto podemos avaliar pelas personagens principais a que se referem os únicos dados, embora imprecisos, de que dispomos. Roberto, o Pio, morreu pelos sessenta anos; Henrique I, com 52 anos; Filipe I e Luís VI, com 56. Na Alemanha, os quatro primeiros imperadores da dinastia saxônica atingiram respectivamente 60 anos – ou perto disso – 28, 22 e 52 anos. A velhice parecia começar muito cedo, desde a idade madura. Aquele mundo que [...] se julgava muito velho, era de facto dirigido por homens jovens. BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. Edições 70: Lisboa, 1979, p. 94.

Considerando o texto e o contexto social do período histórico, é correto afirmar que a) entre tantas mortes prematuras na Europa feudal, as grandes epidemias eram responsáveis por muitas delas, haja vista que a sociedade estava mal preparada para combatê-las. Entre os pobres, além do mais, as mortes eram provocadas pela fome. b) as muitas mortes na Europa feudal eram devidas às grandes guerras. A sociedade tinha alimentação farta e recursos materiais para lidar com as catástrofes advindas da natureza e dos surtos de doenças. c) na Europa feudal, a baixa expectativa de vida da sociedade estava associada às catástrofes da natureza. A medicina avançou consideravelmente no período medieval, sobretudo no controle de epidemias.

d) as mortes prematuras na Europa feudal são evidências de que o feudalismo apresentava sérios problemas sociais. Entre os séculos XVII e XVIII, o feudalismo desapareceu em todos os países da Europa, pois não expressava mais as demandas populares. e) o contexto político absolutista dos países europeus da Idade Média contribuiu decisivamente para as mortes prematuras no período, pois havia muitas guerras. Por mais que a produção de alimentos fosse abundante e acessível, os conflitos por terras foram preponderantes pelas mortes. 12. (Fatec SP) Leia o trecho de uma das versões da lenda O País da Cocanha, muito difundida entre os camponeses medievais. Bem-vindo à Cocanha, que nenhuma outra terra é capaz de igualar. Aqui abundam as coisas boas, sem que ninguém precise semear para colher. Nunca tem inverno nem geada, nunca tem seca nem fome. E nenhum senhor vem roubar nossos celeiros nem devastar nossas plantações. Venha, você será meu convidado! (MASSARDIER, G. Contos e lendas da Europa medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. pp.27-35.)

Ao sonhar com um lugar em que havia abundância de alimentos, esses trabalhadores expressavam uma preocupação constante em suas vidas: a fome. Sobre as condições de produção e distribuição de alimentos na Alta Idade Média, é correto afirmar que a) os camponeses europeus tinham pouca disposição para o trabalho braçal, preferindo a coleta de frutos silvestres rasteiros, o que resultava na baixa produtividade agrícola e no consequente medo da fome. b) o medo da fome era constante, porque os solos europeus eram inadequados para o cultivo de produtos agrícolas, o que obrigou o homem medieval a adotar uma dieta baseada no consumo de carne de caça que, por sua vez, era rara. c) a fome, na Alta Idade Média, era provocada pelo fervor religioso dos camponeses, que, incentivados pelas autoridades da Igreja Católica, adotavam o jejum e o autoflagelo como uma forma de sacrifício em troca da salvação de suas almas. d) o desenvolvimento da monocultura extensiva de cana-de-açúcar na Europa medieval ocupou todas as terras produtivas, e os camponeses não dispunham de terrenos onde pudessem trabalhar em culturas de subsistência, o que provocava longos períodos de fome. e) os camponeses medievais estavam sujeitos à fome porque o clima frio e úmido, as inundações e os equipamentos precários dificultavam o cultivo de grãos e, além disso, precisavam entregar parte da produção aos senhores de terras, como pagamento de tributos.

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FRENTE B  Exercícios de Aprofundamento

10. (Unifap AP) Durante a Idade Média a concessão de terras dos senhores feudais aos camponeses implicava no pagamento de alguns tributos, dentre estes se destaca a corveia, caracterizada como: a) Taxa paga pela utilização do forno e do moinho pertencentes ao senhor feudal. b) Trabalho de três dias da semana nas terras de uso exclusivo do senhor feudal, na qual toda produção era destinada ao senhor dessas terras. c) Taxa paga pelo camponês para permanecer no feudo após a morte de seu pai. d) Pagamento de 10% da produção a igreja. e) Entrega da metade de tudo o que os camponeses produziam ao senhor feudal.


Wikimedia Commons / Phillip Capper

FRENTE

C


HISTÓRIA Por falar nisso Na história das colonizações desenvolvidas a partir da Idade Moderna, costuma-se distinguir colonização de povoamento e colonização de exploração. O primeiro tipo teria vigorado na parte norte das colônias inglesas na América, enquanto o segundo, voltado sobremaneira para a empresa exploratória, prevaleceu na América ibérica, inclusive no Brasil. O sistema de uma colônia de exploração, conhecido também por plantation, possui basicamente duas características principais: latifúndio, caracterizado por enormes propriedades de terra; monocultura: produção de poucos gêneros agrícolas destinados a suprir as necessidades do mercado externo. Geralmente, nesse sistema produtivo, havia um produto principal e toda a economia local girava em torno dele (caso do açúcar, do café e da borracha no Brasil), deixando de lado a formação de um mercado interno. Além disso, a mão de obra utilizada era o trabalho escravo, especificamente do negro africano. Essa distinção entre os tipos de colonização, na modernidade, eventualmente causa confusão, pois, por mais que no Brasil a intenção dos colonos era, ao mesmo tempo, contribuir para o desenvolvimento da metrópole, enriquecer e voltar para a pátriamãe, a maioria dos portugueses estabelecidos na América jamais voltaria para a Europa. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C05 C06 C07 C08

Capitanias hereditárias.................................................................. 530 Governo geral................................................................................ 536 Economia açucareira no Brasil: sociedade colonial...................... 541 Economia açucareira no Brasil: os engenhos................................ 547


FRENTE

C

HISTÓRIA

MÓDULO C05

ASSUNTOS ABORDADOS nn Capitanias hereditárias nn As capitanias hereditárias nn Os donatários nn O fracasso das capitanias

CAPITANIAS HEREDITÁRIAS Com a chegada dos portugueses ao Brasil, a única matéria-prima que lhes interessou foi o pau-brasil, árvore alta, de madeira avermelhada, que podia ser usada para tingir tecidos e outros artigos. Essa planta existia também na Ásia e era conhecida pelos europeus desde a Idade Média. No entanto, com a conquista de Constantinopla pelos otomanos, em 1453, e o bloqueio do comércio pelo Mediterrâneo, o preço dessa madeira subiu expressivamente. Sua exploração se tornaria a principal atividade econômica dos portugueses na região até 1530. Comerciantes de outros países da Europa, originários inclusive da França, também demonstraram interesse no lucrativo pau-brasil, rejeitando o Tratado de Tordesilhas. A partir de 1504, os franceses deram início à organização de expedições com destino às terras da América que Portugal considerava suas. Preocupado com as invasões, de início, Portugal enviou expedições guarda-costas para evitar a ação dos concorrentes. Devido à dificuldade em vigiar o extenso litoral brasileiro, em 1530 o governo português decidiu, de fato, iniciar a colonização do território. Essa tarefa ficou a cargo de Martim Afonso de Sousa.

Fonte: Winkimedia Commons

Entre suas missões no Novo Mundo estavam: capturar embarcações estrangeiras envolvidas no tráfico de pau-brasil; estabelecer feitorias e criar núcleos de povoamento. Além disso, Martim Afonso doou terras aos integrantes de sua expedição e ergueu um engenho de açúcar, que utilizava como matéria-prima a cana-de-açúcar trazida da ilha da Madeira.

Figura 01 - Fundação da Vila de São Vicente. Observe na imagem a presença de indígenas. As mais nobres famílias tupi dominavam as terras que Martim Afonso de Sousa tomaria em nome do Rei de Portugal.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

As capitanias hereditárias As expedições francesas, no entanto, continuavam a aportar no litoral da colônia portuguesa. Diante disso, o rei português dom João III percebeu que, para colonizar as novas terras, não bastava simplesmente fundar vilas, era necessário adotar outras medidas para efetivar a colonização. Então, o sistema escolhido foi o das capitanias hereditárias. Esse modelo de colonização já havia sido utilizado pelo governo português nas ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde, e consistia em dividir um determinado território em grandes extensões de terras, cedendo-as a particulares, os capitães donatários, o direito de explorá-las.

Opirus/Arte

Assim, entre 1534 e 1536, o governo português dividiu a colônia em quinze faixas de terra lineares e paralelas, que se estendiam de Norte a Sul, das regiões dos atuais estados do Pará e Maranhão até Santa Catarina e, no sentido Leste-Oeste, do litoral até a linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.

Mapa 01 - Capitanias hereditárias. C05  Capitanias hereditárias

Para financiar a colonização desses extensos lotes, a Coroa portuguesa decidiu buscar o apoio da iniciativa privada. Como os nobres não manifestaram interesse em desbravar as novas terras, dom João III concedeu as capitanias a militares envolvidos na conquista das Índias e a altos burocratas da Corte em condições financeiras de colonizar os lotes. Ao todo, doze senhores foram contemplados. Alguns como Martim Afonso de Sousa e seu irmão Pero Lopes de Sousa receberam mais de uma capitania, demonstrando, além da grande confiança nesses indivíduos, o pequeno interesse das elites portuguesas em migrar para a colônia. 531


História

Os donatários

Fonte: Wikimedia Commons

Os donatários não eram proprietários das capitanias. Portanto, não poderiam vendê-las, somente produzir nelas. Em contrapartida, seus filhos poderiam herdá-las. Os direitos e as funções de um donatário resumiam-se em fundação de vilas, em doação de lotes de terra – as sesmarias, que deram origem aos primeiros latifúndios, no Brasil - , e em nomear ouvidores, tabeliães, escrivães e juízes. Em contrapartida, esses donatários poderiam cobrar impostos sobre a produtividade na capitania.

Figura 02 - A partir da doação das capitanias hereditárias, por Dom João III em 1534, surgiram os primeiros povoamentos visando garantir a defesa do território. Além da vila de São Vicente, rapidamente outras foram sendo fundadas, como Santos, São Paulo, Sant’Ana de Mogi, entre outras.

Apesar dos privilégios dados aos donatários, isso não foi suficiente para incentivar o povoamento das capitanias. As razão disso é que todas as despesas, desde a viagem à fixação e exploração da terra, deveriam ficar a cargo dos próprios donatários. Dessa forma, alguns beneficiados sequer saíram de Portugal para conhecer as terras que ficavam além do Atlântico. Dos oito donatários que vieram para suas terras, dois morreram em naufrágios e um – Francisco Pereira Coutinho, da capitania da Bahia de Todos-os-Santos – foi morto pelos Tupinambás, e depois devorado em ritual antropofágico. Além deles, Pêro Campos Tourinho, da capitania de Porto Seguro, foi preso pelos próprios colonos e enviado à Inquisição portuguesa, sob a acusação de heresia; três outros se interessaram pouco por suas capitanias, entre eles Vasco Fernandes Coutinho, donatário da capitania do Espírito Santo, e apenas Duarte Coelho viu seus negócios prosperarem.

O fracasso das capitanias C05  Capitanias hereditárias

A despeito do sucesso das capitanias de Pernambuco e São Vicente, as capitanias hereditárias contribuíam com menos de 3% de todas as rendas da Coroa portuguesa, o que expunha as fragilidades do sistema de colonização escolhido por Portugal. As vias de comunicação e transporte entre as capitanias hereditárias eram precárias, o poder encontrava-se disperso entre os donatários, e os conflitos com os indígenas eram constantes. Além disso, os navios franceses continuavam aportando no litoral. No final de 1548, o governo português decidiu assumir o controle da colônia e implantou uma forma de administração centralizada: o Governo-Geral.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

(Francisco Carlos Teixeira da Silva, Conquista e colonização da América Portuguesa, in Maria Yedda Linhares, História Geral do Brasil. Adaptado)

O texto trata de dois sistemas político-administrativos implantados no início da colonização, que são, respectivamente, a) as donatarias e o Conselho Ultramarino. b) os juízes de fora e o Regimento Geral. c) as Câmaras Municipais e o Vice-Reino. d) os Senados locais e o Estado do Brasil. e) as Capitanias Hereditárias e o Governo-Geral.

04. (Uniube MG) “Por questões políticas, o rei Dom João III autorizou a colonização do Brasil 30 anos após a chegada de Pedro Álvares Cabral a este lado do Atlântico. Em 1533, a Coroa decidiu repartir as terras do além-mar entre 15 donatários que teriam condições de administrar a nova colônia. Assim nasceram as capitanias hereditárias.” Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 10. n.108, setembro de 2014. p.12 (adaptado)

As capitanias hereditárias foram uma estratégia de colonização que não obtiveram o sucesso esperado devido: a) À centralização político-administrativa, à concorrência comercial entre as capitanias e à exportação dos gêneros tropicais. b) À prática dos donatários em vender possessões de terras a pequenos colonizadores e ao precário sistema de transporte e comunicação. c) À falta de recursos financeiros dos donatários, à extensão do

02. (Unifap AP) A divisão do Brasil “em quinze quinhões, por uma série de linhas paralelas ao Equador que iam do litoral ao meridiano de Tordesilhas, sendo os quinhões entregues aos chamados capitães-donatários” (FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. 2012), refere-se as: a) Sesmarias b) Províncias c) “Guerras Justas” d) Capitanias Hereditárias e) Companhias de Comércio

05. (Uem PR) No início da década de trinta do século XVI, a Coroa portuguesa adotou, nos territórios portugueses da América, o sistema de Capitanias Hereditárias.

03. (Ufpel RS) A colonização oficial do Brasil coincide com o estabelecimento do sistema de capitanias hereditárias e a criação dos primeiros engenhos de açúcar. Outros fatores coetâneos a essas iniciativas são a) união Ibérica, guerra contra a Holanda, substituição do trabalho compulsório indígena pelo africano. b) fundação de Salvador (primeira capital da América Portuguesa), criação da França Antártica, predomínio do trabalho escravo africano nas áreas mais ricas da América Portuguesa. c) confederação dos Tamoios, chegada dos Jesuítas ao Brasil, trabalho compulsório indígena. d) crise do Império Português do Oriente, participação de capitais holandeses no financiamento e comercialização do açúcar, superexploração do trabalho indígena. e) busca de centralização do poder mediante o estabelecimento de um Governo-geral, início do tráfico negreiro, guerra contra a Holanda.

A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01. Os direitos e os deveres dos capitães donatários eram estabelecidos pelos Forais e pelas Cartas de Doação. 02. As Cartas de Doação eram documentos da Coroa portuguesa que estabeleciam a transferência da propriedade das terras para o donatário. 04. Entre as dificuldades enfrentadas pelos donatários, estavam os ataques dos índios e os altos investimentos necessários para levar adiante a colonização dos territórios. 08. O sucesso da colonização da capitania de Duarte Coelho (Pernambuco) vincula-se, entre outros motivos, ao fato de que, nessa capitania, os investimentos financeiros realizados possibilitaram a organização da produção mercantil de açúcar. 16. A criação do sistema de capitanias atesta o descaso e o desinteresse da Coroa portuguesa pela colonização 01-04-08 do Brasil.

território e aos conflitos entre colonizadores e indígenas. d) À inexistência de cidades para a comercialização da produção e à constante ameaça de invasão estrangeira. e) Às altas taxas de administração cobradas pela Coroa, ao desinteresse de muitos donatários e à falta de trabalhadores especializados.

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C05  Capitanias hereditárias

01. (Unesp SP) Dois documentos básicos, conforme a tradição do povoamento de terras no Portugal da Reconquista, regiam [o sistema]: a carta de doação e o foral, que garantiam os direitos do capitão-donatário e suas obrigações frente à Coroa (...). (...) Visando sanar os males que grassavam na sua nova conquista, El-Rei procura centralizar, na figura de Tomé de Souza, muitos dos poderes dispersos (...).


História

Exercícios Complementares 01. (Unirv GO) A ocupação da América colocou o governo português diante de um novo desafio: tornar rentável um território ocupado por uma população que não produzia qualquer excedente que pudesse ser comercializado. Na América, a população era nômade, vivia da caça e da pesca, não praticava o comércio nem utilizava dinheiro; produzia apenas o necessário para o próprio sustento. Por uma série de circunstâncias, a escravidão africana acabou se impondo como solução para o problema da mão de obra. Nesse caso, valeu a experiência dos portugueses em escravizar africanos nas ilhas do Atlântico.

C05  Capitanias hereditárias

Africanos no Brasil Colônia eram utilizados como escravos e sofriam duros castigos. Sobre o processo de colonização do Brasil, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações abaixo. E-C-E-C a) O pacto colonial indica uma relação de dominação política e econômica de uma potência (metrópole) sobre uma região (colônia), geralmente menos desenvolvida. Mantinha-se um acordo entre duas partes contratantes, que trazia benefícios a ambos os lados, devido à circulação de mercadorias. b) A exploração do Brasil, colônia portuguesa, com o cultivo da cana-de-açúcar, assumiu três características básicas: grande propriedade, monocultura e trabalho escravo. Além disso, a produção era voltada para a exportação. A economia agroexportadora ainda é uma marca forte da pauta de exportações do Brasil. c) No Brasil colonial, as capitanias hereditárias deveriam passar de pai para filho. Aos donatários foi atribuída grande soma de poder: podiam distribuir terras a colonos, nomear autoridades administrativas, escravizar índios, fundar vilas, cobrar impostos reais e tinham as despesas da colonização pagas pela coroa lusitana. Somente duas capitanias tiveram sucesso, a de São Paulo e a de Pernambuco. d) A partir da metade do século XVI, a produção portuguesa de açúcar, no Brasil, passou a ser uma empresa em comum com empresários dos Países Baixos. Estes recolhiam o produto bruto em Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa, particularmente no Báltico, na França e na Inglaterra.

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02. (Uel PR) A colonização no Brasil pela coroa portuguesa teve sua origem no sistema de Capitanias Hereditárias que definiu a propriedade e a posse das terras. No início do século XIX, com a vinda de imigrantes europeus para o Brasil, estabeleceu-se a Lei de Terras de 1850, com o intuito de normatizar a propriedade e o seu uso. Sobre o domínio de terras no Brasil, no contexto das Capitanias Hereditárias e da Lei de 1850, assinale a alternativa correta. a) Os donatários eram impedidos pela Coroa Portuguesa de vender suas terras. A Lei de Terras definiu que as terras públicas poderiam tornar-se propriedade privada somente pela compra. b) Os donatários se isentavam da defesa de suas terras, convocando o poder real para fazê-la. Com a vinda dos imigrantes, a Lei de Terras possibilitou a apropriação aos desprovidos de recursos. c) Os recursos empregados pelos donatários viabilizaram o pleno sucesso do modelo das capitanias. Com a Lei de Terras, expandiu-se o domínio do setor industrial pelo monopólio do poder econômico. d) O sistema de capitanias vigorou até o século XIX quando aconteceram as insurreições do Maranhão e da Bahia. A Lei de Terras impediu que a mão de obra livre pudesse se locomover para as atividades industriais. e) A Coroa tinha o direito de confiscar todos os metais preciosos extraídos das capitanias. A Lei de Terras facilitou a ocupação ilegal e o arrendamento das terras consideradas devolutas. 03. (Uesb BA) O Império Colonial Português, entre os séculos XVI e XVIII, formou-se a partir de 01 01. entrepostos comerciais na África e na Ásia e de uma estrutura colonial montada nas terras do Brasil. 02. colônias de exploração na Índia e na Indonésia, enquanto ampliava as colônias de povoamento no Brasil e no Maranhão. 03. terras ocupadas na África do Norte e nas ilhas atlânticas, onde foi instalado o primeiro Governo Geral. 04. feitorias fundadas ao longo do litoral do Brasil, que deram origem às primeiras cidades coloniais de Salvador, de São Paulo e de São Luís. 05. territórios conquistados aos povos africanos do Golfo da Guiné, onde foram organizadas as primeiras capitanias hereditárias. 04. (Uem PR) Sobre a formação territorial, política e administrativa do Brasil, assinale o que for correto. 01-04 01. O processo de ocupação do território brasileiro é fruto do encontro de povos que aqui viviam e de outros que vieram a ocupá-lo ao longo do tempo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

05. (Unesp SP) Em 1534, a Coroa portuguesa estabeleceu o regime de capitanias hereditárias no Brasil Colônia. Entre as funções dos donatários, podemos citar a) a nomeação de funcionários e a representação diplomática. b) a erradicação de epidemias e o estímulo ao crescimento demográfico. c) a interação com os povos nativos e a repressão ao trabalho escravo. d) a organização de entradas e bandeiras e o extermínio dos indígenas. e) a fundação de vilas e cidades e a cobrança de impostos 06. (Fuvest SP) Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que me parecia acerca dos negócios da França, e isto por ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia suceder dos pontos mais aparentes, que consigo traziam muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V. A. E tudo se encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com modos honestos de fazer que esta gente não houvesse de entrar nem possuir coisa de vossas navegações, pelo grandíssimo dano que daí se podia seguir. Serafim Leite. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954.

O trecho acima foi extraído de uma carta dirigida pelo padre jesuíta Diogo de Gouveia ao Rei de Portugal D. João III, escrita em Paris, em 17/02/1538. Seu conteúdo mostra a) a persistência dos ataques franceses contra a América, que Portugal vinha tentando colonizar de modo efetivo desde a adoção do sistema de capitanias hereditárias. b) os primórdios da aliança que logo se estabeleceria entre as Coroas de Portugal e da França e que visava a combater as pretensões expansionistas da Espanha na América. c) a preocupação dos jesuítas portugueses com a expansão de jesuítas franceses, que, no Brasil, vinham exercendo grande influência sobre as populações nativas. d) o projeto de expansão territorial português na Europa, o qual, na época da carta, visava à dominação de territórios franceses tanto na Europa quanto na América. e) a manifestação de um conflito entre a recém-criada ordem jesuíta e a Coroa portuguesa em torno do combate à pirataria francesa.

07. (Puc SP) Texto: 10102- Cartas de Duarte Coelho a El Rei- PUC SP 2016-1 “Entre todos os moradores e povoadores uns fazem engenhos de açúcar porque são poderosos para isso, outros canaviais, outros algodoais, outros mantimentos, que é a principal e mais necessária cousa para a terra, outros usam de pescar, que também é muito necessário para a terra, outros usam de navios que andam buscando mantimentos e tratando pela terra conforme ao regimento que tenho posto, outros são mestres de engenhos, outros mestres de açúcares, carpinteiros, ferreiros, oleiros e oficiais de fôrmas e sinos para os açúcares e outros oficiais que ando trabalhando e gastando o meu por adquirir para a terra, e os mando buscar em Portugal, na Galiza e nas Canárias às minhas custas, além de alguns que os que vêm fazer os engenhos trazem, e aqui moram e povoam, uns solteiros e outros casados, e outros que cada dia caso e trabalho por casar na terra.” Gonsalves de Mello e Albuquerque. Cartas de Duarte Coelho a El Rei. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1997, p. 114.

A carta, enviada pelo donatário de Pernambuco ao rei de Portugal em 1549, mostra que os a) colonos exerciam diversas atividades produtivas no Brasil colonial, o que gerava a presença de muitos trabalhadores livres sob a ordem escravocrata. b) escravos desempenhavam todas as atividades produtivas no Brasil colonial, o que permitia aos colonos portugueses o desfrute do ócio e o enriquecimento rápido. c) senhores de engenho controlavam todas as relações de trabalho e de produção no Brasil colonial, o que impedia que a Corte portuguesa lucrasse efetivamente com a empresa colonizadora. d) nobres portugueses eram os donatários das principais capitanias no Brasil colonial, o que limitava a ascensão social dos escravos alforriados. 08. (Uem PR) A partir de 1534, a Coroa Portuguesa adotou o sistema de capitanias hereditárias ou de donatários para viabilizar a colonização do Brasil. Sobre a divisão do território colonial brasileiro em capitanias, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01. O sistema de capitanias hereditárias se caracterizava pela doação de extensas faixas de terra a capitães-donatários, regulamentada pelas Cartas de Doação e Forais. 02. O donatário deveria colonizar a capitania, fundar vilas e proteger a terra e seus colonos contra os ataques de nativos e de estrangeiros. 04. Os forais estabeleciam os direitos e os deveres dos donatários em relação à exploração da terra, que recebiam não como proprietários, mas como administradores. 08. As capitanias hereditárias que mais prosperaram foram a de Santana, localizada ao sul do território brasileiro, e a do Maranhão, situada na parte setentrional da colônia. 16. O sistema de capitanias hereditárias foi adotado primeiramente na América Portuguesa e só depois implantado por Portugal em suas colônias das ilhas do Atlântico. 01-02-04

535

C05  Capitanias hereditárias

02. Durante os séculos XVIII e XIX, a extração de minerais preciosos no interior do Brasil entrou em declínio devido à produção de açúcar para exportação, fato que determinou a mudança da capital do Rio de Janeiro para Salvador. 04. O sistema político-administrativo das capitanias hereditárias, implantadas na década de 1530, dividiu a América Portuguesa em unidades autônomas e desarticuladas entre si. 08. A partir da promulgação da Constituição Federal de1988, as províncias foram transformadas em unidades federativas conhecidas como territórios. 16. O Distrito Federal é a menor unidade na hierarquia de organização político-administrativa do país, e Brasília é a única unidade administrativa que compõe o Distrito Federal.


FRENTE

C

HISTÓRIA

MÓDULO C06

ASSUNTOS ABORDADOS nn Governo geral nn A gestão de Tomé de Souza nn Novos governadores nn A companhia de Jesus

GOVERNO GERAL Após reconhecer o fracasso das capitanias hereditárias, o rei dom João III implantou, em 1548, um modelo de administração centralizada já adotado em possessões portuguesas da Ásia e da África: o Governo-Geral. Com a medida, o governador-geral passaria a ser o principal representante do rei na colônia. O rei Dom João III acreditava que as capitanias não tiveram êxito devido à falta de uma figura de autoridade, à qual todos os donatários obedecessem. A esse chefe, nomeado diretamente por ele, em 1548, denominou-se governador-geral. Seu poder superava o dos donatários das capitanias. Quanto a essas capitanias, elas seriam extintas gradualmente, tendo a última delas deixado de existir em 1759. O governador-geral tinha por incumbência garantir a defesa do território, explorar o sertão, distribuir sesmarias para a construção de novos engenhos de açúcar, estabelecer alianças com povos indígenas amigos e castigar duramente aqueles que, em sua visão, prejudicavam a colonização portuguesa. A Bahia foi escolhida como sede do governo-geral, pois essa capitania ficava aproximadamente no meio da costa brasileira, podendo o governador atender de Norte a Sul da colônia. No entanto, como já vimos anteriormente, as capitanias eram hereditárias, nem mesmo o próprio rei, que lhes havia concedido, poderia tomá-las de seus donatários. Devido a isso, D. João III teve de comprar a terra do filho de Francisco Pereira Coutinho, para estabelecer nela a sede do governo-geral. Para auxiliar Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral do Brasil, o rei nomeou um alcaide-mor, chefe da milícia, um ouvidor geral, que cuidava da justiça, um capitão-mor da Costa, para defender o litoral dos ataques dos estrangeiros, e um provedor-mor da Fazenda, que cuidava das rendas da colônia, como cobrança dos impostos, e das despesas, como pagamento dos funcionários.

A gestão de Tomé de Souza

Em 1549, chegou à baía de Todos-os-Santos a esquadra que trazia, além de Tomé de Sousa, o ouvidor-geral da Justiça, Pêro Borges, o provedor-mor da Fazenda, Antônio Cardoso de Barros, também donatário da capitania do Ceará, e Vero Góis da Silveira, nomeado para o cargo de capitão-mor da Costa. Também vinham na esquadra homens de ofício, carpinteiros, pedreiros, muitos soldados e colonos, além de jesuítas. Ajudado pelos índios de Diogo Álvares, o Caramuru, Tomé de Sousa iniciou a construção da cidade do Salvador, inaugurada alguns meses depois.

Figura 01 - Pintura representando Tomé de Souza.

536

Fonte: Wikimedia Commons

Tomé de Sousa recebeu do rei algumas incumbências: deveria fundar, na baía de Todos-os-Santos, a cidade do Salvador; cuidar bem dos indígenas que fossem amigáveis com os portugueses, podendo até condenar à morte os colonos que os escravizassem; deveria ainda nomear funcionários e conceder sesmarias (grandes extensões de terras) aos que quisessem construir engenhos de açúcar.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Tomé de Sousa percorreu as capitanias mais ao Sul, pois queria verificar quais as medidas que deveria tomar para que elas continuassem prosperando. Na capitania de São Vicente, foi aprovada a fundação da Vila de Santos e, ao passar pela baía de Guanabara, ficou entusiasmado com o lugar e aconselhou ao rei que fosse fundada uma povoação para garantir a defesa desse litoral contra os estrangeiros. Se o seu conselho fosse seguido por D. João III, os Figura 02 - Gravura demonstra a chegada de Tomé de Souza à Bahia. franceses não teriam invadido o Rio de Janeiro em 1555. Tomé de Sousa ainda preocupou-se em verificar se havia ouro naquelas terras e por isso encomendou uma expedição ou entrada a Francisco Bruza Espinosa, que partiu para o sertão baiano, já no governo seguinte. Em 1553, Tomé de Sousa foi substituído por D. Duarte da Costa.

Fonte: Winkimedia Commons

A administração de Tomé de Sousa foi muito proveitosa. Plantações foram montadas e deu-se início à atividade pastoril, com as primeiras cabeças de gado que o governador-geral mandou vir das ilhas do Cabo Verde. Os jesuítas começaram a catequizar os índios e, por instrução do Padre Manuel da Nóbrega, criou-se o primeiro bispado, cujo nomeado para servir na Bahia foi o bispo D. Pero Fernandes Sardinha.

Novos governadores Tomé de Sousa governou até 1553, quando foi substituído por Duarte da Costa. Com ele vieram mais dezesseis jesuítas, entre os quais o noviço espanhol José de Anchieta. Os cinco anos em que o novo governador-geral permaneceu na colônia foram marcados por uma sucessão de crises. As relações entre portugueses e indígenas, por exemplo, pioravam progressivamente. Isso porque a necessidade de mão de obra de baixo custo para as lavouras fez com que os colonos escravizassem um número crescente de indígenas. Ameaçados em sua liberdade e cultura, os nativos reagiam, criando, assim, uma situação de guerra quase constante. Em 1555, os franceses tentaram estabelecer uma colônia na região hoje ocupada pela cidade do Rio de Janeiro, à qual deram o nome de França Antártica. Duarte da Costa, não conseguindo expulsá-los, em 1558, foi substituído pelo jurista Mem de Sá. O novo governador ficaria à frente da colônia durante quase catorze anos. Em seu governo, procurou restaurar a organização político-administrativa desmantelada durante a gestão do antecessor. Criou leis de proteção aos índios cristianizados. Em contrapartida, dizimou centenas de aldeias indígenas hostis aos portugueses e estimulou o tráfico de escravos africanos. O maior feito de sua administração foi a expulsão dos franceses da baía de Guanabara.

A companhia de Jesus Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em 1549. A princípio, estabeleceram-se na capitania da Bahia de Todos-os-Santos, onde fundaram a sede da Companhia de Jesus, da qual eram integrantes.

Fonte: Winkimedia Commons

A fim de pregar o evangelho aos nativos, os jesuítas buscaram aprender algumas de suas línguas, como tupi-guarani e tupinambá, faladas por povos indígenas de diferentes etnias. Com base nelas, os religiosos procuraram desenvolver línguas gerais para facilitar a comunicação entre a população nativa e os colonizadores, o que favoreceu a inserção de várias expressões desses povos na língua portuguesa.

C06  Governo geral

Instalados inicialmente nas aldeias do litoral, com o passar do tempo adentraram pelo sertão, ou seja, o interior do território, explorando regiões que ainda não haviam sido alcançadas pelos colonos portugueses e travando contato com os indígenas que ali viviam.

Figura 03 - Franceses em aliança com indígenas.

537


História

Exercícios de Fixação 01. (Centro Universitário de Franca SP) O jesuíta padre Antônio

03. (UERN) “Importante reforçar que a presença francesa nas

Vieira, que havia servido durante 20 anos como confidente

costas da capitania do Rio Grande não seria possível não

do rei D. João IV, resolveu, diante da resistência dos colonos,

fosse a aliança estabelecida com os índios potiguares que

voltar a Portugal para mobilizar as autoridades em favor de

viviam por todo o litoral norte-rio-grandense, ficando a taba

uma definição mais precisa da “liberdade dos índios”. Visava

principal na Aldeia Velha, área que se estende entre o atual

também propiciar a evangelização desses numerosos povos

bairro de Igapó e a praia da Redinha. De todos os franceses

e, em vista disso, sugeriu uma série de medidas: exclusão

que estiveram por essas bandas, Charles de Vaux e Jacques

dos capitães de assuntos indigenistas, presença obrigató-

Riffault foram os mais constantes, sendo que este último,

ria de um sacerdote em todas as expedições, nomeação

no dizer de Medeiros (1973, p. 25), ‘traficante, aventureiro

de “procuradores dos índios”, regulamento das condições

comerciante de Diepe, fundeava suas naus um pouco mais

e dos prazos de trabalho, inventário anual da mão de obra

ao sul da curva do rio Potengi, resguardando-as de possíveis

indígena e concentração dos nativos em aldeamentos, sob a

eventualidades’. Um topônimo gravou o local e fixou o fato

administração exclusiva dos padres da Companhia de Jesus.

inconteste: diz-se Nau dos Refoles, ou simplesmente Refo-

(Karl Arenz. “Mão de obra da fé”. Revista de História da Biblioteca Nacional, janeiro de 2015. Adaptado.)

les, até hoje, a parte do bairro do Alecrim (Natal) onde se ergue a Base Naval.” (Trindade, 2010.)

No fragmento, Vieira defende a) a escravização dos indígenas desde que se garantisse a

ram a estabelecer relações com os franceses. Na tentativa de

sua evangelização. b) a liberdade dos indígenas, garantida sob tutela dos jesuítas.

estabelecer uma colonização no território americano, a França

c) a utilização da mão de obra indígena sem restrições.

chegou a tentar fundar duas colônias no país.

d) a liberdade dos indígenas, assegurada pelo rei português e administrada pelos colonos. guerras justas.

b) Antártica e Equinocial. c) Equatorial e Litorânea.

02. (Ufscar SP) De modo geral, os jesuítas concentraram suas estratégias em três áreas de ação: a conversão dos “principais”, a

d) Atlântica e Continental. 04. (Unimontes MG) As três primeiras décadas após o desco-

doutrinação dos jovens e a eliminação dos pajés. Mas, a cada

brimento do Brasil caracterizaram-se pelo(a)

passo, enfrentavam resistências, em maior ou menor grau.

a) escambo com os índios e presença de expedições francesas.

De fato, acompanhando os efeitos devastadores das doen-

b) escravidão indígena e expansão da pecuária.

ças, foi a resistência indígena o principal obstáculo ao êxito

c) produção de açúcar e uso expressivo da mão-de-obra

do projeto missioneiro.

africana. (John Manuel Monteiro, Negros da terra)

De acordo com o historiador, a) a catequese foi um processo pacífico e uniforme, que sempre contou com a aceitação por parte dos indígenas. b) a recusa dos índios em aceitar a nova religião e as mortes por epidemias dificultaram a ação dos jesuítas. c) as missões jesuíticas tiveram sucesso porque os caciques e os pajés mantiveram seu poder político.

C06  Governo geral

Assinale-as. a) Oriental e Ocidental.

e) a escravização dos indígenas desde que decorrente de

d) a assimilação dos costumes europeus e valores cristãos foi mais fácil entre os líderes religiosos indígenas. e) o trabalho dos jesuítas baseou-se na preservação das crenças religiosas e tradições culturais dos índios.

538

Segundo o texto, os potiguares do Rio Grande do Norte chega-

d) surgimento da França Antártica e fundação de Salvador.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares

Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação, 2008, p. 143.

A relação, proposta pelo texto, entre a preocupação religiosa na colonização do Brasil e a Contrarreforma pode ser exemplificada pela a) perseguição sistemática dos judeus e dos protestantes, durante o período de domínio holandês do Nordeste. b) expulsão dos jesuítas do Brasil, ocorrida no período da administração de Portugal pelo Marquês de Pombal. c) realização de autos-de-fé, no Brasil, durante todo o período da colonização portuguesa. d) chegada, ao Brasil, de representantes da Companhia de Jesus para que atuassem na conversão dos nativos. 02. (Fac. Direito de São Bernardo do Campo SP) “Desde os primórdios da colonização, a monarquia [portuguesa] deu mostras de que manteria o controle sobre a vida religiosa dos habitantes do Novo Mundo sob sua jurisdição. A instalação do governo-geral na Bahia coincidiu com o auge da Contrarreforma católica e das guerras de religião na Europa.” Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação, 2008, p. 143.

A relação, proposta pelo texto, entre a preocupação religiosa na colonização do Brasil e a Contrarreforma pode ser exemplificada pela a) perseguição sistemática dos judeus e dos protestantes, durante o período de domínio holandês do Nordeste. b) expulsão dos jesuítas do Brasil, ocorrida no período da administração de Portugal pelo Marquês de Pombal. c) realização de autos-de-fé, no Brasil, durante todo o período da colonização portuguesa. d) chegada, ao Brasil, de representantes da Companhia de Jesus para que atuassem na conversão dos nativos. 03. (Fuvest SP) Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que me parecia acerca dos negócios da França, e issopor ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia suceder dos pontos mais aparentes, que consigo traziam muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V. A. E tudo se encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com modos honestos de fazer que essa gente não houvesse de entrar nem possuir coisa de vossas navegações, pelo grandíssimo dano que daí se podia seguir. Serafim Leite. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954.

O trecho anterior foi extraído de uma carta dirigida pelo padre jesuíta Diogo de Gouveia ao Rei de Portugal D. João III, escrita em Paris, em 17/02/1538. Seu conteúdo mostra a) a persistência dos ataques franceses contra a América, que Portugal vinha tentando colonizar de modo efetivo desde a adoção do sistema de capitanias hereditárias. b) os primórdios da aliança que logo se estabeleceria entre as Coroas de Portugal e da França e que visava a combater as pretensões expansionistas da Espanha na América. c) a preocupação dos jesuítas portugueses com a expansão de jesuítas franceses, que, no Brasil, vinham exercendo grande influência sobre as populações nativas. d) o projeto de expansão territorial português na Europa, o qual, na época da carta, visava à dominação de territórios franceses tanto na Europa quanto na América. e) a manifestação de um conflito entre a recém-criada ordem jesuíta e a Coroa portuguesa em torno do combate à pirataria francesa. 04. (Udesc SC) Analise as proposições sobre a administração colonial na América portuguesa, e assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa. ( ) Com o objetivo de diminuir as dificuldades na administração das capitanias, D. João III implantou, na América portuguesa, um Governo-Geral que deveria ser capaz de restabelecer a autoridade da Corte portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as decisões e a política colonial. ( ) A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Coroa Portuguesa para ser a sede do Governo, pois estava localizada em um ponto estratégico do território colonial português. Foi nessa Capitania que se implementaram as novas políticas administrativas da Coroa com a instalação do Governo-Geral. ( ) Tomé de Souza foi o responsável por instalar o primeiro Governo- Geral. Trouxe com ele soldados, colonos, burocratas, jesuítas, e deu início à construção da primeira capital do Brasil: Rio de Janeiro. ( ) A criação e instalação do Governo-Geral na América portuguesa foi uma alternativa encontrada pela Coroa Portuguesa para organizar e ocupar a colônia, que enfrentava dificuldades, dentre elas os constantes conflitos com os indígenas e os resultados insatisfatórios de algumas capitanias. Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo: a) V – F – F – V b) V – F – V – F c) V – V – F – F d) F – V – F – V e) F – V – V – F

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C06  Governo geral

01. (Fac. Direito de São Bernardo do Campo SP) “Desde os primórdios da colonização, a monarquia [portuguesa] deu mostras de que manteria o controle sobre a vida religiosa dos habitantes do Novo Mundo sob sua jurisdição. A instalação do governo-geral na Bahia coincidiu com o auge da Contrarreforma católica e das guerras de religião na Europa.”


História

05. (Mackenzie SP) Após a criação desse sistema, estabeleceu-se um centro que serviria como o “coração” do território nacional. Segundo Rodolfo Garcia, o regimento de 1548 introduziu uma alteração significativa no caráter da legislação metropolitana editada no Brasil, na medida em que o principal meio pelo qual o rei mandava povoar o Brasil era o da redução da população indígena à fé católica. Não por acaso, os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil na comitiva de Tomé de Souza. Adaptado de Ronaldo Vainfas. Dicionário do Brasil Colonial.

O texto trata de um sistema conhecido como a) Provedor-mor. b) Capitanias Hereditárias. c) Período Pré-colonial. d) Intendente das Minas. e) Governo Geral. 06. (UEPG PR) A chegada dos portugueses ao Brasil, oficialmente datada de 1500, marcou o início do processo de colonização lusitana em nosso território. Sobre a colonização no século XVI, assinale o que for correto. 01-02 01. Os textos produzidos pelos cronistas no início da colonização apresentam os nativos aqui encontrados pelos portugueses como seres bárbaros que necessitavam ser

07. (IF MG) Sobre o processo de colonização do território americano dominado pelos portugueses, podemos AFIRMAR: a) A colonização portuguesa contou imensamente com a participação dos particulares, que são exemplificadas na formação das Capitanias Hereditárias, que perdurou ao longo da dominação sobre o território americano. b) A partir de 1549, o rei de Portugal decide instalar um sistema de governo na América, o Governo-Geral, como forma de estimular a colonização do território. c) A igreja católica pouco teve participação nos primeiros séculos da colonização portuguesa, só se intensificando no século XVIII, com a promoção do Barroco. d) A atividade açucareira teve um curto impacto na promoção da colonização do território, tendo em vista a concorrência da produção no Caribe e na América inglesa. 08. (Puc SP) “Ao longo da segunda metade do século XVI, a Bahia se tornou a principal capitania do Brasil colonial. Juntou-se a Pernambuco como região de grande lavoura e engenhos produtores de açúcar; tornou-se polo de imigração portuguesa, com destaque para os cristãos-novos, atraídos pela nova frente de expansão açucareira e desejosos de escapar do braço comprido do Santo Ofício português, criado entre 1536 e 1540; abrigou número crescente de missionários, não só jesuítas, mas professos de outras ordens religiosas.” Ronaldo Vainfas. Antônio Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 31.

salvos por meio da cristianização. 02. A França Antártica, como foi chamada a ocupação francesa na baía de Guanabara, se caracterizou pela forma-

Podemos afirmar que o texto indica uma concepção acerca

ção de uma sociedade protestante que recebeu inúme-

do estudo da história do Brasil colonial em que se

ros europeus fugitivos da perseguição católica durante

a) privilegia a dimensão religiosa dos vínculos entre colônia

a Contrarreforma. 04. Por mais que a escravidão negra tenha sido predominante ao final dos três séculos coloniais (XVI/XVII/

C06  Governo geral

terminante das demais relações presentes na sociedade colonial.

XVIII), no primeiro deles ela foi praticamente nula. Ao

b) valoriza a liberdade de crença e a pluralidade das mani-

longo do século XVI, a utilização indígena como mão

festações religiosas na colônia, possível a partir da aceita-

de obra escrava foi hegemônica em todo território

ção, pela Igreja Católica, das formas de religiosidade das

colonial.

comunidades indígenas.

08. O sistema de Capitanias Hereditárias, já conhecido

c) caracteriza a divisão internacional do trabalho, pois as co-

e utilizado pelos portugueses em outras regiões, foi

lônias americanas e suas metrópoles europeias mantive-

adotado em território brasileiro logo no início da co-

ram, antes e depois da independência, papéis hegemôni-

lonização. A produção agrícola garantiu o sucesso das

cos no contexto global de circulação de mercadorias.

Capitanias e sua manutenção durante quase todo o

d) reconhece o caráter complexo e plural das relações entre

período colonial. 16. Por sua posição geográfica estratégica, o Rio de Janeiro

540

e metrópole, pois tal dimensão é necessariamente de-

colônia e metrópole a partir da identificação de diversos elementos da ocupação e organização da sociedade colonial.

foi escolhido como primeira capital da colônia, abrigan-

e) define o caráter flexível das relações entre colônia e

do a estrutura da administração portuguesa no Brasil

metrópole, pois estas se estruturam a partir do perfeito

até a independência do país, em 1822.

equilíbrio político entre a periferia e o centro econômico.


FRENTE

C

HISTÓRIA

MÓDULO C07

ECONOMIA AÇUCAREIRA NO BRASIL: SOCIEDADE COLONIAL

ASSUNTOS ABORDADOS nn Economia açucareira no Brasil:

Diante do interesse econômico europeu e as condições favoráveis, tais como, clima quente e solo de massapé, experiência portuguesa com o cultivo da espécie e participação financeira holandesa, fizeram com que Portugal implantasse, na colônia brasileira, a empresa açucareira. Instalada sobretudo no Nordeste, ela foi a grande responsável pelo impulso da colonização e da expansão socioeconômica do Brasil.

sociedade colonial

nn Sociedade açucareira

O engenho era a unidade produtora, sendo os seus proprietários, conhecidos como, senhores-de-engenho. Englobando, a casa-grande, a senzala, a capela, a casa de purgar e os galpões.

Fonte: Wikimedia Commons

O açúcar, naquele momento, era considerado um luxo e, por sua vez, sinônimo de riqueza. Para produzi-lo, os portugueses basearam-se em um sistema fundado na grande propriedade monocultora, com produção voltada essencialmente para o mercado externo e utilizando mão de obra escrava. Esse tipo de sistema ficou conhecido como plantation, como já vimos anteriormente.

Figura 01 - Escravos trabalhando no engenho

SAIBA MAIS “É reparo singular dos que contemplam as coisas naturais ver que as que são de maior proveito ao gênero humano não se reduzem à perfeição sem passarem primeiro por notáveis apertos [...] o vemos na fábrica de açúcar, o qual, desde o primeiro instante de se plantar, até chegar às mesas e passar entre os dentes a sepultar-se no estômago dos que o comem, leva uma vida cheia de tais e tantos martírios que os que inventaram os tiranos lhes não ganham vantagem. [...] E, ainda assim, sempre doce e vencedor de amarguras, vai dar gosto ao paladar dos seus inimigos nos banquetes, saúde nas mezinhas aos enfermos e grandes lucros aos senhores de engenho e aos lavradores que o perseguiram e aos mercadores que o compraram e o levaram degredado nos portos e muito maiores emolumentos à Fazenda Real nas alfândegas.” (ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Itatiaia/ EDUSP, 1982. p. 143-5.)

541


História

Sociedade açucareira

Fonte: Opirus/Arte

O engenho era a grande unidade produtora da colônia, porém pouco povoada. Um grande engenho não tinha mais de 5 mil moradores. Esse território, cercado de áreas florestais fornecedoras de madeira, comportava: as plantações de cana; a casa-grande- residência do senhor de engenho, sua família, dos agregados e sede da administração; a capela; e a senzala – alojamento dos escravos. Uma pequena parte das terras eram destinadas à subsistência, com plantação de mandioca, milho, entre outros gêneros alimentícios. A fábrica do açúcar(o engenho propriamente dito) era composta pela moenda, casa das caldeiras e casa de purgar. O produto final, fruto da mão de obra escrava era enviado para Portugal e depois para Flandres, onde passava pelo processo de refinamento para a comercialização.

Figura 02 - A sociedade do açúcar.

C07  Economia açucareira no Brasil: sociedade colonial

“Moradores dos ‘sertões’, instalados além das cidades coloniais, transformaram tais espaços físicos em espaços humanos. (...) A presença desses nossos antepassados é de fundamental importância para entender por que, no Brasil Colônia, houve mais do que a pura e simples plantation de cana. A ‘visão plantacionista’, que considera todas as atividades não voltadas para a exportação como irrelevantes, embaçou durante muito tempo a contribuição que milhares de agricultores - responsáveis pela agricultura de subsistência ou pelo abastecimento do mercado interno- deram à história de nosso mundo rural.” (DEL PRIORE, Mary e VENÂNCIO, Renato. Uma história da vida rural no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, p. 47-48.)

No mais alto nível social, estavam os senhores de engenho, grandes proprietários das unidades agroexportadoras. Imediatamente abaixo deles estavam os “senhores obrigados” ou lavradores de cana, que, por não possuírem a estrutura necessária à fabricação de açúcar, ficavam com apenas a metade do produto. Ambos os sujeitos eram geralmente homens brancos, de origem portuguesa, que haviam recebido terras no Brasil como recompensa por serviços prestados à Coroa, garantindo-lhes importância social e influência política. 542


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Esse poder aristocrático estendia-se pelas vilas, regendo as câmaras municipais e boa parte da vida colonial. Repercutia igualmente na vida privada, já que os senhores eram obedecidos e temidos como verdadeiros chefes. Às mulheres cabia o papel de administrar a casa, inclusive no que se referia aos escravos domésticos, devendo permanecer ali recolhidas. Esse sistema tipicamente patriarcal, que predominara entre as elites da colônia, nem sempre foi efetivo, pois muitas mulheres comandaram engenhos (especialmente as viúvas), outras desempenhavam atividades comerciais, o que suscitava, muitas vezes, a reação masculina para pedidos de divórcio. No entanto, para além das famílias dos senhores de engenho, existia uma gama variada de modelos familiares entre a população da colônia, cabendo às mulheres diferentes atuações, de acordo com a sua posição social, cabendo à mulher diferentes papéis. A relação econômica entre a metrópole e a colônia era caracterizada pela exportação de produtos primários e importação de artigos de luxo para sustentar o estilo de vida dos senhores de engenho. Com o desenvolvimento da economia açucareira e o aumento da população, a necessidade de alimentos, roupas e produtos manufaturados também aumentou. Gradativamente, houve uma diversificação das atividades econômicas, fazendo apontar um nascente mercado interno para outros tipos de mercadorias.

Imagem 01 - Família colonial e seus escravos domésticos

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C07  Economia açucareira no Brasil: sociedade colonial

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 03 - Gravura demonstrando uma família colonial e seus escravos domésticos. Na residência dos senhores de engenho e outras famílias de colonos, havia escravos que se dedicavam ao cuidado das tarefas domésticas.


História

Exercícios de Fixação 01. (Fuvest SP) O tráfico de escravos africanos para o Brasil a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas nas Minas Gerais. b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e foi extinto, de vez, no início do século XIX. c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século XIX. d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressão contrária das regiões auríferas. e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditárias, e, por isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, até o século XVIII. 02. (Univag MT) A sociedade colonial no Brasil foi construída a partir da exploração do trabalho escravo. Além da escravidão, foram características definidoras do período colonial, no Nordeste canavieiro, a a) policultura e pequenas propriedades agrícolas. b) monocultura e latifúndio. c) monocultura e produção para o mercado interno. d) policultura e produção para o mercado externo. e) produção para o mercado externo e médias propriedades agrícolas. 03. (Ufal AL) A tarefa de defender a posse da terra contra a ameaça estrangeira era uma preocupação crescente em

C07  Economia açucareira no Brasil: sociedade colonial

Portugal. Para realizá-la era preciso promover a colonização

que tratam da história nacional e da formação de sua sociedade, Sérgio Buarque de Holanda escreveu: “Da tradição portuguesa, que mesmo em território metropolitano jamais chegara a ser extremamente rígida nesse particular, pouca coisa se conservou entre nós que não tivesse sido modificada ou relaxada pelas condições adversas do meio. Manteve-se melhor do que outras, como e fácil imaginar, a obrigação de irem os ofícios embandeirados, com suas insígnias, as procissões reais, o que se explica simplesmente pelo gosto do aparato e o dos espetáculos coloridos, tão peculiar a nossa sociedade colonial.” (p. 59). Tomando-se por base a passagem acima e considerando as especificidades da sociedade colonial brasileira, assinale o que for correto. 01-02-04-08 01. A miscigenação entre europeus, africanos e ameríndios é uma característica da sociedade colonial brasileira desde o século XVI. O mulato (branco europeu e negro africano) e o caboclo (branco europeu e indígena) representam esse processo. 02. O clientelismo, ou seja, a prática em que homens livres gravitavam ao redor dos senhores de engenho do nordeste açucareiro do século XVI em troca de benesses, foi uma das marcas da sociedade colonial brasileira. A concentração da propriedade da terra e a inexistência de outras formas produtivas levaram ao aparecimento dessa prática.

com algum tipo de atividade econômica capaz de viabilizá-

04. Do ponto de vista de ocupação do território, entre os

-la. A solução encontrada por Portugal foi implantar a em-

séculos XVI e XVIII, a maior parte da sociedade colo-

presa açucareira em certos trechos do litoral brasileiro. Essa

nial brasileira esteve fixada em determinadas capita-

escolha de Portugal era porque

nias, como Rio de Janeiro, Pernambuco, São Paulo e

a) era de Portugal que viriam as pessoas para trabalharem

Minas Gerais.

no desenvolvimento da produção.

08. A família patriarcal, típica do nordeste açucareiro, apre-

b) a implantação da atividade açucareira no Brasil exigia

sentava como características o poder absoluto do pai

apenas a associação da experiência técnica portuguesa

sobre todos os membros da família e demais agrega-

na produção do açúcar com a presença de capitais que

dos, a submissão feminina e, em geral, a presença de

financiassem a comercialização do produto, destacando-

um sacerdote no entorno da casa-grande devido à forte

-se, nesse campo, os ingleses.

religiosidade católica disseminada pelos colonizadores.

c) a atividade agrícola no litoral brasileiro fora praticada desde muito antes das capitanias hereditárias. d) o desenvolvimento da indústria canavieira era voltado para as necessidades da colônia. e) era uma das mais valiosas no início do século XV, garantindo alta lucratividade aos mercadores.

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04. (UEPG PR) Em “Raízes do Brasil” (1936), um dos clássicos

16. No século XVIII, momento em que se desenvolveu uma forte atividade mineradora na colônia, verifica-se um modelo próprio de sociedade. Mais urbana e voltada para as práticas culturais, a sociedade da mineração prescindiu do trabalho escravo e adotou a defesa do abolicionismo como princípio.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares

Ronaldo Vainfas. Antônio Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 31.

Podemos afirmar que o texto indica uma concepção acerca do estudo da história do Brasil colonial em que se a) privilegia a dimensão religiosa dos vínculos entre colônia e metrópole, pois tal dimensão é necessariamente determinante das demais relações presentes na sociedade colonial. b) valoriza a liberdade de crença e a pluralidade das manifestações religiosas na colônia, possível a partir da aceitação, pela Igreja Católica, das formas de religiosidade das comunidades indígenas. c) caracteriza a divisão internacional do trabalho, pois as colônias americanas e suas metrópoles europeias mantiveram, antes e depois da independência, papéis hegemônicos no contexto global de circulação de mercadorias. d) reconhece o caráter complexo e plural das relações entre colônia e metrópole a partir da identificação de diversos elementos da ocupação e organização da sociedade colonial. e) define o caráter flexível das relações entre colônia e metrópole, pois estas se estruturam a partir do perfeito equilíbrio político entre a periferia e o centro econômico. 02. (UEPG PR) Desde os seus primórdios até o seu final, a sociedade colonial brasileira foi mantida às custas do trabalho escravo. Ao longo do século XX, historiadores, antropólogos e sociólogos debruçaram-se sobre esse tema e produziram clássicos como, por exemplo, “Casa-Grande & Senzala” (Gilberto Freyre) e As Metamorfoses do Escravo (Octavio Ianni). A respeito do trabalho escravo no Brasil colonial, assinale o que for correto. 02-04 01. A pecuária, atividade praticada no sertão nordestino durante os séculos coloniais, dependeu essencialmente da mão de obra escrava negra, o que gerou um intenso deslocamento de africanos cativos dos engenhos para as fazendas de criação nos séculos XVI e XVII. 02. Com base na legislação portuguesa e com a permissão da Igreja Católica, os castigos físicos foram aplicados regularmente contra os escravos que não desempenhavam as suas funções a contento, que resistiam à condição de cativos, fugindo ou agredindo os seus senhores.

04. Desde 1530, quando se estruturou a sociedade açucareira no nordeste, a escravidão (inicialmente indígena e posteriormente negra) foi utilizada fartamente pelos colonizadores portugueses. 08. Ao contrário do que se imagina, não foram os lucros com o tráfico negreiro que estimularam a vinda de africanos para o Brasil. A maior razão para que fosse adotada a escravidão negra na colônia foi a maior capacidade física e a melhor adaptação ao trabalho compulsório por parte destes quando comparados aos indígenas brasileiros. 16. A mineração, atividade econômica predominante na colônia durante o século XVIII, contou com o trabalho de um grande contingente de escravos indígenas. Apesar de se popularizar a imagem do negro escravo nas atividades mineiras, o certo é que, em termos numéricos, a presença escrava indígena superou a africana na exploração das minas. 03. (Mackenzie SP)

A imagem acima, do artista francês Jean-Baptiste Debret, presente em seu livro, Viagem pitoresca e Histórica ao Brasil, retrata uma cena referente aos costumes presentes no Brasil colonial. A respeito da sociedade que se organizou em função da economia agroexportadora, implantada no século XVI, em nosso país é correto afirmar que a) a colonização do Brasil, durante o século XVI, sustentou-se, exclusivamente, na escravidão do aborígine, em que o escravo africano estava presente apenas para realizar as tarefas domésticas, como documenta a imagem acima. b) seguindo os moldes europeus, transpuseram-se para a colônia brasileira os princípios do feudalismo, em que a relação servil impunha para os trabalhadores africanos uma série de obrigações perante seus senhores, presentes na imagem. c) a predominância na utilização do trabalho escravo, em detrimento da escravidão dos indígenas é justificada, principalmente, na dificuldade de adaptar-se o índio ao trabalho, já que nas sociedades tribais é incumbência feminina o trabalho na lavoura.

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01. (Puc SP) “Ao longo da segunda metade do século XVI, a Bahia se tornou a principal capitania do Brasil colonial. Juntou-se a Pernambuco como região de grande lavoura e engenhos produtores de açúcar; tornou-se polo de imigração portuguesa, com destaque para os cristãos-novos, atraídos pela nova frente de expansão açucareira e desejosos de escapar do braço comprido do Santo Ofício português, criado entre 1536 e 1540; abrigou número crescente de missionários, não só jesuítas, mas professos de outras ordens religiosas.”


História

d) a mão de obra africana representou a base das atividades econômicas do Brasil colonial, pois, além de trabalhar nos engenhos e nas minas, os africanos também foram utilizados em outros setores como, no transporte, comércio e serviço doméstico. e) o senhor de engenho monopolizava a riqueza e, com ela, o prestígio e o poder de comando em suas terras. Na vida doméstica, contudo, o convívio entre senhores e escravos era permeado por relações mais informais, como demonstra a imagem de Debret. 04. (UECE) “O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho quanto se estimam os títulos entre os fidalgos do Reino.” DEL PRIORI, Mary. Revisão do Paraíso: os brasileiros e o estado em 500 anos de História. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p. 17-27.

C07  Economia açucareira no Brasil: sociedade colonial

Observe as seguintes afirmações acerca desse personagem da história brasileira: I. Misto de honraria riqueza e prestígio, a imagem do senhor de engenho correspondia exatamente à pomposa definição realizada no excerto acima. A abundância no modo de vida era a norma geral. II. O senhor de engenho figurava no ápice da hierarquia social e controlava, em muitos casos, grande extensão de terras e grande número de escravos, bem como era a representação da erudição naquela sociedade. III. Via de regra, vivia o senhor de engenho e seus agregados uma vida difícil: alimentavam-se muito mal, as enchentes e as secas dificultavam o suprimento de víveres frescos; a sífilis marcava-lhes o corpo; eram ainda constantemente ameaçados pelos nativos. Está correto o que se afirma apenas em a) I. b) III. c) I e II. d) II. 05. (Puc RJ) Sobre as comunidades negras de africanos e afrodescendentes no Brasil, durante o período colonial, estão corretas as afirmações abaixo, À EXCEÇÃO de uma. Indique-a. a) Na América Portuguesa, os africanos e seus descendentes não conseguiam construir laços de parentesco, uma vez que, na situação de cativeiro, podiam ser vendidos para outro senhor. b) Na sociedade colonial, havia diferenciação social no interior da própria comunidade negra, uma vez que os africanos e afrodescendentes poderiam ser escravos, forros ou livres. c) Os africanos que chegavam à América Portuguesa buscavam, na situação de cativeiro, se aproximar daqueles que tinham vindo da mesma região de origem da África, praticantes de tradições semelhantes.

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d) Na América Portuguesa, as irmandades constituíram um espaço onde os africanos e seus descendentes puderam recriar uma identidade e instituir formas de solidariedade, principalmente em face da morte e da doença. e) As relações entre africanos e crioulos eram conflituosas, pois os últimos, por terem nascido no Brasil, recebiam dos seus senhores um tratamento diferenciado daquele dispensado aos africanos. 06. (Uefs BA) Texto: 5949 - GOMES, L. 1822: como um homem sábio - UEFS 2011-2 Ao retornar para Lisboa, em abril de 1821, o rei D. João VI deixou para trás dois brasis inteiramente diferentes. De um lado, havia um país transformado pela permanência da corte nos trópicos, já com os pés firmes no turbulento século XIX, bem informado das novidades que redesenhavam o mundo na época e às voltas com dilemas muito semelhantes aos conflitos que agitavam a nascente opinião pública na Europa e nos Estados Unidos. Esse era um Brasil muito pequeno, de apenas alguns milhares de pessoas, que tinha seu epicentro no Rio de Janeiro, o modesto vilarejo colonial de 1807 convertido numa cidade com traços e refinamentos de capital europeia nos 13 anos seguintes. De outro lado, modorrava um território vasto, isolado e ignorante, não muito diferente do lugar selvagem e escassamente povoado que Pedro Álvares Cabral havia encontrado trezentos anos antes ao aportar na Bahia. Esses dois brasis conviviam de forma precária e se ignoravam mutuamente. GOMES, L. 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D.Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

As diferenças entre os dois brasis, indicadas pelo autor, já aparecem na época colonial, entre a) as ricas capitanias do Sul e do Sudeste, dedicadas à produção e à exportação do café, e as capitanias do Nordeste, amarradas à arcaica produção do açúcar. b) os colégios religiosos e particulares, destinados a meninos e meninas da classe senhorial, e os colégios públicos e gratuitos, destinados à população pobre. c) a sociedade de cunho rural, na área açucareira, e a sociedade urbana e mais complexa, construída na área da mineração. d) o rico Estado do Maranhão e o endividado Estado do Brasil, sempre atacado por invasores estrangeiros. e) a situação privilegiada das escravas mulheres, em contraste com a vida de privações, castigos e exploração dos escravos homens.


FRENTE

C

HISTÓRIA

MÓDULO C08

ECONOMIA AÇUCAREIRA NO BRASIL: OS ENGENHOS O açúcar foi conhecido na Europa, durante a Idade Média, no século XII, por meio de mercadores árabes e integrantes das cruzadas. Era um produto caro e apreciado pelas elites. Em 1440, 15 quilos de açúcar custavam 18,3 gramas de ouro. Seu preço era tão valorizado que algumas pessoas indicavam em testamento quem deveria herdar, após sua morte, o açúcar que lhes pertencera em vida.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Economia açucareira no Brasil:

os engenhos

nn A instalação dos primeiros engenhos nn O trabalho nos engenhos

Como já falamos anteriormente, na América portuguesa, a produção de açúcar esteve baseada em grandes fazendas monocultoras voltadas para a exportação. O trabalho utilizado nessas lavouras advinha da mão de obra escrava, inicialmente indígena e, mais tarde, africana. Esse tipo de organização produtiva se mostraria extremamente lucrativo para Portugal, fazendo aumentar as vendas do produto.

Nos dias atuais, depois de quinhentos anos, a cana-de-açúcar ainda não deixou de ter sua importância. Seu potencial econômico volta à tona, mas agora como biocombustível, ou seja, um combustível de fonte biológica. Uma grande vantagem do etanol, combustível formulado a partir da cana-de-açúcar, em relação ao petróleo é que ele reduz as emissões de gás carbônico na atmosfera, pois parte do gás que emite é reabsorvida pelas plantas. No entanto, muitos estudiosos criticam a grande atenção dada à cana-de-açúcar no Brasil. Eles argumentam que a expansão da cana provocará a diminuição das áreas de plantio de alimentos, um grande impacto ambiental, além de fomentar as precárias condições de trabalho dos cortadores de cana no país, muitas vezes remetendo à época da escravidão.

Fonte: Wikimedia Commons / William Clark

De acordo com o historiador Jorge Caldeira, em seu conjunto, o negócio do açúcar se transformou em um mercado global, pois o financiamento vinha da Holanda; a produção se fazia no Nordeste da colônia; o refino, também na Holanda; havia consumidores em toda a Europa; a principal fonte de mão de obra encontrava-se na África; parte dos insumos, na Europa; outra parte, em vários pontos da América do Sul.

Figura 01 - Pintura representando escravos trabalhando na colheita da cana-de-açúcar.

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História

A instalação dos primeiros engenhos

O trabalho nos engenhos

O primeiro engenho da América portuguesa foi instalado em 1532 por Martim Afonso de Souza, na capitania de São Vicente. No entanto, foi no Nordeste que a agroindústria do açúcar teve maior êxito. Nessa região, o massapê, solo argiloso escuro e rico em calcário, era excelente para o cultivo da planta, permitindo a rápida expansão da produção canavieira.

O açúcar resultava de um processo que exigia grandes investimentos em maquinário, instalações, animais e mão de obra qualificada, além das terras destinadas ao plantio da cana. Algumas terras pertenciam ao próprio engenho, outras eram alugadas pelo valor da compra da cana-de-açúcar ali colhida.

Em 1542, começou a operar o primeiro engenho em Pernambuco. Quatro décadas depois, o número aumentou para 66 engenhos. Em 1580, eram 115 os engenhos distribuídos por todo o litoral brasileiro. Juntos, eles colocavam no mercado uma produção anual de 300 mil arrobas de açúcar (4,5 mil toneladas), além de aguardente (cachaça). A cachaça, produto igualmente derivado da cana, tornou-se importante item nas transações comerciais da colônia. Os traficantes de escravos a utilizavam como “moeda de troca” para a compra de cativos africanos. No Nordeste, alguns dos principais centros produtores de açúcar eram as capitanias da Bahia, Pernambuco e Paraíba.

Cada senhor de engenho dispunha do seu próprio lote de escravos, sendo este composto por seis a dez cativos, em média. Os indígenas, chamados negros da terra, foram os primeiros a serem escravizados, porém já nas primeiras décadas do século XVI teve início a utilização da mão de obra africana. Os escravos desempenhavam a tarefa de cortar a cana e amarrá-la em feixes, que eram empilhados em carros de boi, que os transportavam até a casa da moenda. Ali era extraído o caldo da cana, que, por sua vez, era processado e transformado em açúcar escuro, mascavo. Esse trabalho era de responsabilidade de uma equipe de escravos mais especializada, contando com alguns trabalhadores livres.

Fonte: Wikimedia Commons

A princípio, a palavra engenho representava apenas a estrutura física na qual se fabricava o açúcar. Posteriormente, passou a englobar todo o complexo que envolvia a produção açucareira, desde os canaviais, a moenda, a casa-grande e a senzala, respectivamente a moradia do senhor e o alojamento dos escravos.

Figura 02 - Pintura representando engenho no Brasil colonial.

No período da colheita, os engenhos funcionavam ininterruptamente, de 18 a 20 horas por dia. Engenhos de médio porte contavam com 60 a 80 escravos. Os maiores, com mais de 200. O trabalho era ininterrupto, rígido e disciplinado; e o cansaço tão grande que muitos cativos chegavam a adormecer durante as longas e extenuantes jornadas. Com isso, as taxas de acidentes eram altas, chegando a provocar a morte de 5% a 10% dos escravos.

Os senhores de engenho desfrutavam de uma posição social semelhante à da nobreza, em Portugal. Controlavam a vida política da região, ocupando cargos nas câmaras municipais e seus filhos e parentes trabalhavam em importantes cargos públicos. Ao mesmo tempo, mantinham uma ampla rede de dependentes.

Até meados do século XVII, a colônia portuguesa liderava a produção açucareira mundial. Depois disso, problemas internos − como secas e a destruição de engenhos nordestinos durante a Insurreição Pernambucana −, e, mais tarde, externos − como a forte concorrência holandesa, que produzia açúcar nas Antilhas − provocaram a gradativa decadência da economia do produto na colônia portuguesa da América.

Fonte: Wikimedia Commons

C08  Economia açucareira no Brasil : os engenhos

Figura 03 - Escravos trabalhando na moenda.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

02. (Fatec SP) “Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda.” (ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982, p. 89.)

No trecho citado, parte de uma obra publicada em 1711, o jesuíta Antonil a) torna evidente que o trabalho escravo constituiu a base da exploração econômica em setores essenciais da economia colonial. b) fornece argumentos para o combate movido pela Igreja contra a escravização de indígenas e africanos nos domínios coloniais portugueses. c) explica por que a escravidão foi importante no empreendimento açucareiro, mas teve papel secundário e marginal na exploração mineradora. d) justifica a brandura da escravidão no Brasil e sugere uma explicação para a “democracia racial” predominante na sociedade colonial brasileira. e) condena as tentativas de introduzir trabalhadores livres, trazidos da Europa, para substituir a mão de obra escrava nas lavouras de café. 03. (UECE) “Em 1590, a colônia brasileira já contava com 150 engenhos espalhados pelas capitanias de Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. As duas primeiras, no entanto, correspondiam a 80% do total.” LOPEZ, Adriana. Açúcar: esse doce objeto dedesejo. Revista História Viva: Temas Brasileiros. São Paulo: Duetto Editorial, 2007. p. 20-23.

Dentre os incentivos fiscais e privilégios oferecidos pela Coroa aos produtores de cana, encontrava(m)-se a) a isenção de impostos para engenhos recém-construídos e os benefícios tributários sobre o açúcar. b) a isenção vitalícia de impostos, ou seja, enquanto o proprietário de engenho fosse vivo, não pagaria nenhum tipo de imposto.

c) a redução de pagamento de taxas na importação de mão de obra africana apenas para as capitanias do Nordeste, em virtude de sua alta produtividade. d) a gratuidade da mão de obra para os engenhos recém-construídos em toda a Colônia. 04. (Fac. Direito de Sorocaba SP) A segunda metade do século XVII em Portugal parecia promissora. Afinal, em 1640 tinha-se dado a Restauração (o fim da União Ibérica, com a autonomia de Portugal perante a Coroa espanhola). Oito anos depois, Angola seria recuperada aos holandeses e, em 1654, o mesmo aconteceria com o Nordeste brasileiro. O Atlântico sul português, e com ele Lisboa, podia agora respirar mais livremente. Logo, entretanto, viriam os pesadelos. (João Fragoso, Manolo Florentino e Sheila Faria, A economia colonial brasileira)

Um desses “pesadelos” foi a) a invasão francesa ao Rio de Janeiro, centro político-administrativo da colônia, a fim de formar um império no Novo Mundo. b) a queda do preço do açúcar, resultado da concorrência das Antilhas, após a expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. c) o esgotamento das minas de ouro, devido à exploração desenfreada pelos ingleses, que detinham as técnicas de extração do metal. d) o monopólio espanhol sobre o tráfico negreiro, após a conquista das áreas fornecedoras até então sob domínio dos holandeses. e) o aumento da dívida externa, a fim de custear a guerra de Restauração e a instalação do sistema de capitanias na colônia. 05. (Espm SP) Quem vir na escuridade da noite aquelas fornalhas tremendas perpetuamente ardentes, o ruído das rodas, das cadeias, da gente toda da cor da mesma noite, trabalhando vivamente, e gemendo tudo ao mesmo tempo sem momento de tréguas, nem de descanso; quem vir enfim toda a máquina e aparato confuso e estrondoso daquela Babilônia, não poderá duvidar, ainda que tenha visto Etnas e Vesúvios, que é uma semelhança de inferno. (Padre Antonio Vieira. Citado por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling in Brasil uma Biografia)

A leitura do trecho deve ser relacionada com: a) o trabalho indígena na extração do pau-brasil; b) o trabalho indígena na lavoura da cana-de-açúcar; c) o trabalho de escravos negros africanos no engenho de cana-de-açúcar; d) o trabalho de escravos negros africanos no garimpo, na mineração; e) o trabalho de imigrantes italianos na lavoura cafeeira.

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C08  Economia açucareira no Brasil : os engenhos

01. (IF SC) Ainda que o primeiro engenho tenha sido construído na Capitania de São Vicente, a atividade açucareira teve grande êxito no Nordeste brasileiro durante o período colonial. Sobre a estrutura de um engenho, assinale a alternativa CORRETA. a) A Coroa Portuguesa aproveitou que os indígenas já produziam açúcar para adotar a atividade quando da colonização. b) A senzala, local de alojamento de escravos, ficava fora das fazendas. c) Não havia lavoura de subsistência nas fazendas produtoras de açúcar, obrigando a importação de todo tipo de alimento. d) O açúcar era armazenado na casa-grande. e) Além do local de fabricação propriamente dito, o termo engenho era utilizado para nomear as propriedades onde o açúcar era produzido.


História

Exercícios Complementares 01. (UERN) “No início do século XIX, estabeleceram-se, no Brasil, as primeiras colônias de imigrantes europeus. Os suíços-alemães fundaram as colônias de Friburgo, na Capitania do Rio de Janeiro, antes da Independência. O senador Campos Vergueiro conseguiu fazer votar na Assembleia, em 1830, um complicado processo de contratos para a vinda dos imigrantes europeus, prevendo a prisão para quem infringisse os acordos assinados.” (Moraes, 1998.)

“O Movimento dos Caifazes organizava fugas de escravos no final do século XIX. Antônio Bento e seus comparsas roubavam os negros e os enviavam para o quilombo do Jabaquara (Santos). Então, eles eram mandados para a província cearense, local onde a igualdade racial já havia sido decretada. O Movimento dos Caifazes teve influência de artistas como o poeta Luís Gama que disse, ‘o escravo que mata o seu senhor pratica um ato de legítima defesa’. Após sua morte, foi substituído por Antônio Bento.” (Disponível em: http://www.infoescola.com/ historia-do-brasil/caifazes/.)

C08  Economia açucareira no Brasil : os engenhos

Os textos, que retratam ações específicas de personagens do Brasil Imperial a) descrevem, ambos, movimentos de cunho abolicionista, que foram determinantes para a assinatura, em 1888, da “Lei Áurea”. b) tem em comum o fato de se ligarem, mesmo que em períodos diferentes, a questões relacionadas às mudanças da mão de obra do Brasil. c) relatam ações preconizadas por representantes da sociedade civil, mas que só lograram êxito por serem subsidiadas e oficializadas pelo governo vigente. d) definiram, em última instância, o destino da escravidão, uma vez que os negros deixaram de representar uma mão de obra importante na economia brasileira. 02. (Unitau SP) “A mão de obra empregada na montagem dos engenhos de açúcar no Brasil foi predominantemente indígena. Uma parte dos índios (recrutados em aldeamentos jesuíticos no litoral) trabalhava sob regime de assalariamento, mas a maioria era submetida à escravidão. Os primeiros escravos africanos começaram a ser importados em meados do século XVI; seu emprego nos engenhos brasileiros, contudo, ocorria basicamente nas atividades especializadas”. MARQUESE, Rafael de B. A dinâmica da escravidão no Brasil. Resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX. Revista Novos estudos. CEBRAP. São Paulo, n.74, 2006.

Sobre a transição do trabalho indígena para o trabalho escravo africano, no Brasil colonial, podemos afirmar que: a) O emprego da mão de obra escrava africana foi o resultado da demanda interna dos colonos e de pressões externas dos traficantes no plano da oferta.

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b) O tráfico dinamizava o comércio interno da colônia, pois o escravo representava um quinto do investimento de um engenho e metade do investimento dos lavradores. c) Os lucros dos engenhos eram investidos na compra de escravos indígenas, ficando, assim, garantida a transferência da renda do setor produtivo para o mercantil. d) No Brasil colônia, a Igreja defendeu a liberdade dos africanos, em oposição à escravidão indígena, cuja exploração mercantil enriquecia os colonos. e) Os índios, acostumados ao trabalho esporádico e livre, não conseguiram trabalhar com as regras e a disciplina que a economia açucareira exigia. 03. (Uem PR) A escravidão foi uma das mais duradouras instituições humanas, pois fez parte da vida de distintas sociedades, desde a Antiguidade até o século XX. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01-02 01. Nas primeiras décadas do século XIX, o tráfico de africanos e a escravidão foram abolidos do Império Britânico. 02. No Brasil, no início da colonização portuguesa, os primeiros trabalhadores escravizados foram os índios; posteriormente, o trabalho do escravo africano tornou-se predominante no nordeste açucareiro. 04. Nas colônias da Inglaterra, na América do Norte, desde o início da ocupação europeia, houve uma proibição legal da escravidão; em razão disso, foram utilizados os “servos sob contrato”. 08. Após a introdução de escravos africanos, a escravidão indígena foi extinta no Brasil em razão das proibições da Igreja. 16. Ao contrário do que ocorreu no Brasil, na América Espanhola não houve escravidão dos africanos, pois os espanhóis preferiram utilizar o trabalho dos índios. 04. (UFRN) O gráfico abaixo mostra a destacada posição da agroindústria açucareira na economia do Brasil Colonial.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

05. (FMJ SP) A partir de 1530, a produção açucareira espalhou-se pelo litoral da América portuguesa, principalmente nas capitanias de Pernambuco e Bahia. Sobre essa produção, assinale a alternativa correta. a) A concessão de sesmarias a todos os colonos que as requeressem era incondicional, a Metrópole visava primordialmente incentivar a migração e garantir o povoamento do território, oferecendo o acesso legal à terra de forma irrestrita. b) Antes da lavoura canavieira, a exploração do território limitara-se às atividades extrativas e à comercialização de produtos naturais da terra, portanto, a produção açucareira transformou a empresa colonial em sistema produtivo. c) Apesar da concorrência existente no mercado europeu, os baixos investimentos necessários para a montagem da empresa açucareira foram determinantes a fim de que a Metrópole elegesse essa atividade para iniciar a colonização. d) O tráfico de escravos africanos foi concomitante à fase inaugural da empresa açucareira porque questões culturais impediram a apropriação do trabalho compulsório da escassa população nativa. e) Devido à produção em grande escala e aos altos lucros obtidos, a sociedade açucareira colonial apresentou intensa mobilidade, promovendo significativa ascensão de brancos livres e pobres à condição de senhores de engenho. 06. (UFSC) A produção e a comercialização do açúcar foi uma das principais bases econômicas da colonização portuguesa no Brasil. Sobre este tema, é CORRETO afirmar que: 01-32 01. o interesse dos portugueses em produzir açúcar no Brasil estava relacionado aos conhecimentos que esses acumularam por várias décadas com o cultivo da cana e a fabricação de açúcar nas ilhas atlânticas sob seu domínio.

02. as tentativas de ocupação francesa e depois holandesa, no Brasil, ocorreram, em primeiro lugar, em função das descobertas de minas de ouro no interior e, em segundo, devido à produção de açúcar no litoral. 04. a organização social das áreas canavieiras do Brasil gerou uma sociedade escravista em torno do complexo “casa grande e senzala”. Dessa forma, ao contrário da Europa, o Brasil não conheceu uma sociedade aristocrática. 08. a política mercantilista propunha a independência e a emancipação das colônias, o que causou profunda crise no sistema colonial português. 16. a grande quantidade de açúcar produzido no Brasil no período colonial tornava este produto pouco competitivo no mercado internacional, razão pela qual foi substituído pelo café como principal produto de exportação. 32. para desenvolver a economia açucareira, Portugal precisou recorrer a banqueiros e mercadores holandeses, os quais financiavam a instalação de engenhos, a aquisição de escravos, o transporte e a distribuição do produto na Europa. 07. (Unifor CE) Sobre a economia e a sociedade no Brasil Colonial, considere as afirmações e assinale a afirmação INCORRETA. a) A economia açucareira na região Nordeste sustentava-se sob três pilares: i) a grande lavoura, ii) na mão de obra escrava, e iii) demanda do mercado externo. b) A aliança com os holandeses foi extremamente importante para viabilizar a implantação da indústria açucareira no Brasil, tanto pela experiência comercial, quanto pelo financiamento. c) As atividades mineradoras proporcionaram significativas transformações na economia e na sociedade colonial brasileira. A organização social, até então fundada na vida rural, adquiriu caráter urbano. O eixo econômico, localizado nos grandes centros produtores de açúcar do Nordeste, passou a ser o Centro-Sul do País. A própria capital – Salvador -, foi transferida para o Rio de Janeiro em 1763. d) Contrastando com a região açucareira do Nordeste, que utilizava mão de obra escrava, em Minas Gerais o trabalho de exploração de ouro e diamantes era realizado por homens livres e escravos alforriados. e) Durante a ocupação de Pernambuco no período 16301640, os holandeses adquiriram o conhecimento de aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Foi esse conhecimento que possibilitou a formação de uma indústria concorrente na região do Caribe e culminou com o fim do monopólio brasileiro no mercado de açúcar.

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C08  Economia açucareira no Brasil : os engenhos

Na análise histórica, esses dados se tornam significativos quando relacionados a outras dimensões da sociedade na mesma época. Nesse sentido, é correto afirmar que, além de fornecer um importante produto para o comércio mundial, a agroindústria do açúcar a) favoreceu a diversificação da economia colonial, uma vez que os lucros da produção açucareira foram investidos na implantação de manufaturas na colônia. b) ocasionou a ampliação do território da colônia portuguesa para além dos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, à medida que se expandia o cultivo da cana-de-açúcar. c) incorporou efetivamente ao domínio português as regiões banhadas pelo rio São Francisco, onde se instalaram engenhos, que utilizavam a água do rio em obras de irrigação. d) vinculou a exploração das terras americanas à África, fornecedora de mão de obra, e serviu de alternativa à economia portuguesa, a partir da crise no comércio com o Oriente.


FRENTE

C

HISTÓRIA

Exercícios de Aprofundamento 01. (Ufal AL) [...] O Brasil era uma terra de dimensões continentais na visão da coroa; pouco colonizada e principalmente, pouco produtiva. Então, surge mais um artifício para a exploração da terra: as sesmarias. Iniciadas e incluídas a partir do capitão-donatário de uma capitania, as sesmarias eram lotes de terra menor, que eram doadas a um sesmeiro com o intuito de principalmente tornar a terra produtiva. O sesmeiro tinha então a partir do recebimento do lote, a obrigação de cultivar a terra por um prazo de cinco anos, tornando-a produtiva e pagando os devidos impostos à Coroa.[...] Disponível em: http://www.historiabrasileira.com. Acesso em: 9 dez. 2013.

O sistema de sesmaria poucas vezes satisfez as expectativas iniciais de produção. Ou pelas grandes dimensões territoriais ou pela má administração e fiscalização, raramente as terras tornavam-se produtivas. Ainda hoje, considera-se reflexo da apropriação sesmarial a) o sistema de roça. b) a policultura. c) os latifúndios brasileiros. d) o trabalho assalariado. e) a produção de subsistência. 02. (Uem PR) A colonização da América pelos europeus, na época moderna, assumiu distintas configurações. A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 08-16 01. Em países como Estados Unidos, Austrália e Angola, a colonização foi caracterizada pelo desenvolvimento de lavouras modernas, com a utilização intensa de tecnologia. 02. Em algumas regiões da colonização inglesa da América do Norte, predominaram a grande propriedade agrícola e o trabalho escravo; em outras, prevaleceram a pequena propriedade e o trabalho familiar com uma produção diversificada. 04. Em regiões onde as condições ambientais impossibilitavam as atividades agrícolas, foram desenvolvidas atividades manufatureiras, como, por exemplo, nas Antilhas. 08. Na colonização francesa do Canadá, foi adotado o sistema de Capitanias hereditárias. Inspirada no modelo português, a França concedia grandes propriedades à Alta Nobreza. 16. Na colonização do litoral nordestino brasileiro, predominou a produção mercantil voltada – principalmente, mas não exclusivamente – para o mercado externo. 552

03. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre a história indígena no Brasil. I. O letramento de índios guaranis, nas reduções jesuíticas do sul do Brasil, foi fundamental na defesa dos interesses territoriais indígenas, por ocasião das disputas entre as monarquias ibéricas, durante o século XVIII. II. A Bula do Papa Paulo III, de 1537, ao reconhecer a possibilidade de conversão dos índios americanos à fé católica e ao interditar sua escravização, colocou fim à exploração da mão de obra indígena na América. III. A independência do Brasil acarretou discussões a respeito da política indigenista, o que consolidou medidas legislativas que reconheciam o direito dos índios à terra, presente na Constituição de 1824. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 04. (IF SC) [...] Assim, não pense ninguém que foram tirados o poder, os bens [dos indígenas]: e sim que Deus lhes concedeu a graça de pertencerem aos espanhóis, que os tornaram cristãos e que os tratam e consideram exatamente como digo. Deram-lhes animais de carga para que não façam trabalho pesado; e lã para que se vistam, não por necessidade, mas por honestidade, se quiserem. E carne para que comam, pois lhes faltava. Ensinaram-lhes o uso do ferro e da candeia, o que lhes melhorou a vida. Deram-lhes moedas para que saibam o que compram e vendem, o que devem e possuem. Ensinaram-lhes latim e ciências que valem mais de que toda a prata e todo o ouro que eles tomaram. Porque, com conhecimentos, são verdadeiramente homens, e da prata nem todos tiravam muito proveito. [...] Fonte: GÓMORA,Francisco Lopez de. História geral de Las Índias. In:PEDRO, Antonio; LIMA, Lizânias de Souza. História Sempre Presente: Ensino Médio. v.2. ed. São Paulo: FTD, 2010, p.116.

Leia e analise as seguintes proposições e assinale no cartão-resposta a soma da(s) CORRETA(S). 01-02-04 01. Pela leitura do texto se percebe que os europeus só valorizaram nas culturas americanas o que já valorizavam na sua própria cultura, e, nesse sentido não reconheceram a riqueza do que parecia estranho e diferente. 02. Segundo o autor, do encontro entre as duas culturas, os ameríndios foram beneficiados pois a ciência e a tecnologia trazidas pelos europeus proporcionou alimento e conforto aos povos da América.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

05. (Uneb BA) A ligação entre a participação política da sociedade brasileira à determinada conjuntura econômica pode ser observada 01-04 01. na restrição da participação política, na época colonial, apenas aos homens bons, elementos portugueses desvinculados da produção agrícola escravocrata e considerados a elite intelectual e política da colônia. 02. na adoção do voto censitário, durante o Primeiro Reinado, que provocou um grande desgaste na imagem do Imperador entre a aristocracia rural nordestina, excluída do processo político, em função da crise da economia açucareira. 03. no Segundo Império, na medida em que o governo passou a incentivar o processo industrial, fazendo surgir uma massa operária, que pressionou o governo para a ampliação da sua participação política. 04. na criação de empresas estatais, na Primeira República, com o objetivo de modernização da produção cafeeira do Oeste Paulista, o que levou os jovens tenentes do Exército a criar a Coluna Prestes, como forma de pressão para a implantação de um modelo socialista no país. 05. na reação dos setores conservadores ligados ao capital estrangeiro contra a política nacionalista e social estabelecida a partir da proposta das Reformas de Base, do governo João Goulart, que provocou o apoio de diversos setores civis ao golpe militar de 1964. 06. (UFSC) O açúcar nosso de cada dia Há quem diga que o sexo e a comida são os dois maiores prazeres da vida. No caso brasileiro, o açúcar vem cumprindo um papel histórico de dar liga aos dois, combinando a natureza violenta e dominadora a uma cultura adocicada, marcada pela negociação dos conflitos. A sensibilidade despertada pelo sabor açucarado e os lucros advindos desse comércio motivaram a construção de uma sociedade em que o mais português dos preconceitos não resistiu às tentações do suor escravo, conforme demonstrou Gilberto Freyre. Para mucamas, quituteiras, concubinas ou cozinheiras, a

satisfação da gula tinha valor de liberdade. No cerco dos engenhos, o açúcar era o resultado de um complexo sistema produtivo, mas foi se tornando também a autonomia da colônia, a sobrevivência do escravo, o segredo da sedução feminina, a moeda dos mascates, o pecado, a autoridade e a violência do senhor. CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR: DA COLÔNIA AO ETANOL. Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 8, n. 94, p. 17, jul. 2013.

Sobre a produção de cana-de-açúcar, é CORRETO afirmar que: 02-04 01. a aceleração da produção de açúcar nas regiões de floresta tropical do “novo mundo” está relacionada com um impacto social de enorme alcance: foi o principal estímulo para a construção do escravismo moderno. 02. entre as diversas plantas nativas da América assimiladas pelos colonizadores, a cana-de-açúcar foi a grande responsável pela implantação do sistema colonial português no “novo mundo”. 04. no mundo pré-moderno, a culinária pouco utilizava o sabor adocicado – era pontual o uso do mel, do sorgo-doce, de frutas, etc. Por ser fácil de armazenar e transportar, além de adoçar sem modificar muito o sabor da comida, o açúcar tornou-se o adoçante de uso quase hegemônico com a implantação do sistema colonial português na América. 08. o sucesso da produção açucareira fez com que a coroa portuguesa instalasse uma complexa estrutura administrativa, fiscal e militar no Brasil, capaz de evitar a ação de contrabandistas e invasores. 16. conforme a produção açucareira se desenvolveu, o campo se ajustou ao seu produto principal e às suas necessidades. Gado, lenha e farinha de mandioca estavam todos ligados ao mundo dos engenhos. 32. estimulado principalmente pela produção de etanol, o cultivo de cana-de-açúcar ainda se mantém forte na economia brasileira, destacando-se, inclusive, pelo uso de alta tecnologia e pelo grande distanciamento do uso de mão de obra em condições semelhantes às da escravidão. 07. (Fuvest SP) É assim extremamente simples a estrutura social da colônia no primeiro século e meio de colonização. Reduz-se em suma a duas classes: de um lado os proprietários rurais, a classe abastada dos senhores de engenho e fazenda; doutro, a massa da população espúria dos trabalhadores do campo, escravos e semilivres. Da simplicidade da infraestrutura econômica – a terra, única força produtiva, absorvida pela grande exploração agrícola – deriva a da estrutura social: a reduzida classe de proprietários e a grande massa, explorada e oprimida. Há naturalmente no seio desta massa gradações, que assinalamos. Mas, elas não são contudo bastante profundas para se caracterizarem em situações radicalmente distintas. Caio Prado Jr., Evolução política do Brasil.20ª ed. São Paulo: Brasiliense, p.28-29, 1993 [1942].

553

FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

04. O desrespeito pela cultura ameríndia se manifesta no projeto dos jesuítas com a criação de aldeamentos permanentes de índios que tinham como característica as mudanças temporárias (seminômades). 08. Outras fontes históricas nos mostram que o contato do homem branco com os nativos da América não foi pacífico porque os índios eram muito agressivos e sempre atacavam os visitantes com crueldade, para usá-los nos rituais canibais. 16. A religião, o latim e as ciências oferecidas generosamente pelo invasor europeu foram de grande ajuda para a salvação espiritual e material dos povos indígenas evitando a destruição em massa dessas populações espalhadas pela América.


História

Nesse trecho, o autor observa que, na sociedade colonial, a) só havia duas classes conhecidas, e que nada é sabido sobre indivíduos que porventura fizessem parte de outras. b) havia muitas classes diferentes, mas só duas estavam diretamente ligadas a critérios econômicos. c) todos os membros das classes existentes queriam se transformar em proprietários rurais, exceto os pequenos trabalhadores livres, semilivres ou escravos. d) diversas classes radicalmente distintas umas das outras compunham um cenário complexo, marcado por conflitos sociais. e) a população se organizava em duas classes, cujas gradações internas não alteravam a simplicidade da estrutura social. 08. (Uem PR) Sobre a América Portuguesa, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 04-08-16 01. No século XVIII, com a crise do açúcar que se seguiu à Invasão Holandesa de Pernambuco, o governo de Mauricio de Nassau introduziu novas atividades econômicas naquela região, transformando-a no principal polo de produção artesanal do Brasil. 02. A criação do Governo Geral, em 1547, pela Coroa de Portugal extinguiu o sistema de capitanias hereditárias e impediu que franceses e holandeses invadissem e fundassem colônias no Brasil. 04. Ao longo da colonização portuguesa no Brasil, a produção

batida por jesuítas como José de Anchieta e André João Antonil, que defendiam que sequer os negros deveriam ser escravizados. e) existiu na forma de trabalho semisservil, com o consentimento da Igreja, quando se entendia que os indígenas da região não poderiam ser “pacificados” ou catequizados sem uso da força, ou seja, quando se praticava a chamada Guerra Santa. 10. (UnB DF) Não se sabe ao certo quando os primeiros escravos africanos foram trazidos para o Brasil. No entanto, é somente a partir do alvará de D. João III de 29 de março de 1549, que faculta o “resgate e recebimento de escravos da costa da Guiné e da ilha de São Tomé” para auxílio da cultura da cana e do trabalho dos engenhos, que a importação de escravos africanos para o Brasil cresce de forma vertiginosa. Já no final do século XVI, os africanos ocupavam majoritariamente a base da sociedade colonial brasileira, o que iria acentuar-se no século XVII. É possível que os primeiros escravos africanos tenham tido contato com a língua geral, mas, com a redução da presença indígena na zona açucareira, pode-se dizer que os escravos passaram a ter contato, desde cedo, com o português. Os escravos que eram incapazes de se comunicar nessa língua eram chamados de boçais, em oposição aos que demonstravam conhecer

troca na compra de escravos na África, tornou-se uma im-

o português, que eram chamados de ladinos. No decorrer do

portante atividade econômica.

século XVIII, com o ciclo do ouro, aumentou a onda migrató-

09. (Puc Campinas SP) No sistema colonial português, o trabalho compulsório indígena a) foi empregado em pequena escala nas missões e em regiões onde não se dispunha de outra mão de obra, até a expulsão FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

cipalmente quando se tratava de escravidão, prática com-

de tabaco, utilizado pelos portugueses como moeda de

08. Embora o trabalho escravo tenha predominado na produção de açúcar, nos engenhos também era utilizada a mão de obra de trabalhadores livres assalariados. 16. Os Bandeirantes, ao ultrapassarem os limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas na busca de riquezas e de índios para escravizar, contribuíram para expandir os domínios portugueses na América.

da Companhia de Jesus, no século XVII, momento em que a Coroa Portuguesa regulamentou essa forma de exploração. b) mostrou-se menos vantajoso aos proprietários de terras, nas grandes lavouras, considerando, entre outros fatores, as rebeliões e fugas frequentes, favorecidas pelo conhecimento da região e a eficácia do tráfico negreiro no abastecimento de mão de obra.

554

d) causou grande polêmica ao longo do período colonial prin-

ria vinda de Portugal, e o tráfico negreiro também se orientou para as demandas cada vez maiores de mão de obra para a mineração, tendo aumentado, portanto, o acesso dos escravos africanos à língua portuguesa. Dante Lucchesi. História do contato entre línguas no Brasil. In: Dante Lucchesi, Alan Baxter e Ilza Ribeiro (Org.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 47-8 (com adaptações).

O gramático Os negros discutiam Que o cavalo sipantou Mas o que mais sabia Disse que era Sipantarrou.

Oswald de Andrade. Poesias reunidas. 5.ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.

Considerando o texto de Dante Lucchesi, o poema de Oswald de Andrade e as questões por eles suscitadas, julgue os itens que se seguem. E-E-C-C-E-C-C-E

c) assumiu formas distintas ao longo do processo de coloniza-

( ) No primeiro período do texto, a locução “ao certo” (ref. 1)

ção, sendo empregado sistematicamente nas Entradas e Ban-

está ligada, no nível semântico, à negação observada na

deiras mediante acordos entre brancos e indígenas, os quais

oração principal e reforça a ideia expressa na oração ad-

previam a divisão das riquezas eventualmente encontradas.

verbial temporal, iniciada pela conjunção “quando” (ref. 1).


Ciências Humanas e suas Tecnologias

( ) O texto de Dante Lucchesi reitera a relevância do trabalho

04. Além de poder econômico e prestígio social, o senhor de

escravo para a economia colonial brasileira, em especial

engenho detinha poder político e militar, mesmo não ocu-

para a agroindústria açucareira do Nordeste, e sugere ter

pando cargos públicos.

sido sensivelmente diminuída essa participação à época da

08. A sociedade que se formou na região Nordeste tinha ca-

mineração, certamente em face das características singu-

racterísticas agrárias, estava organizada em torno do com-

lares do processo de extração aurífera. ( ) Estados-nações vêm-se tornando cada vez mais multiétnicos e multiculturais devido aos movimentos migratórios em várias regiões do globo, por motivos políticos e socioeconômicos, entre outros. ( ) Infere-se do texto que o alvará de 29 de março de 1549 foi o primeiro ato governamental da monarquia lusitana a normatizar ações relativas ao tráfico de escravos para o Brasil. ( ) A estrutura do trecho “faculta o ‘resgate e recebimento de escravos da costa da Guiné e da ilha de São Tomé’ para auxílio da cultura da cana e do trabalho dos engenhos” (ref. 4) está centrada em nominalizações, que — se consideradas as formas verbais cognatas — correspondem a estruturas verbais na voz passiva sem agente explícito. ( ) Considerando, de um lado, a questão linguística referida no texto e, de outro, as intenções propostas por Oswald de Andrade no Manifesto Pau-Brasil, pode-se apontar que, no poema, há tematização de aspectos relativos ao contato linguístico no Brasil colônia, como evidenciado na dicotomia “boçais”/“ladinos” (ref. 13 e ref.16).

plexo formado pela casa-grande, capela, senzala, engenho (local onde se produzia o açúcar) e o canavial. 16. Os engenhos podiam ser desde “trapiches”, isto é, pequenas unidades movidas a força motriz animal, até engenhos “reais”, grandes unidades produtivas, movidos por energia hidráulica, com a utilização de uma roda d’água e grande número de trabalhadores. 12. (Mackenzie SP) “O privilégio do homem livre não é a liberdade, mas a ociosidade, que tem por complemento o trabalho forçado dos outros, isto é, a escravatura.” (Aristóteles)

“Os escravos são as mãos e os pés do senhor do engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente.” (Antonil, Cultura e Opulência do Brasil)

Desde a Antiguidade, diversas civilizações utilizaram-se de tra-

( ) Ainda que se desconheça o significado dos verbos que são

balhadores escravizados em atividades produtivas e improduti-

objeto de comparação no poema de Oswald de Andrade

vas. Apesar da semelhança entre a citação dos autores acima,

ou, ainda, admitindo-se a hipótese de que tais vocábulos

o sistema escravista não foi o mesmo, seja na Grécia Clássica ou

não pertençam ao léxico da língua portuguesa, é correto

no Brasil Colonial. Considere as assertivas abaixo.

inferir que, na discussão a que o poema se refere, os inter-

I.

No escravismo clássico, apesar da produção ser voltada para

locutores demonstram capacidade de aplicar elementos

o mercado, o trabalho escravo destinava-se, sobretudo, à

estruturais da morfologia da língua portuguesa.

satisfação das necessidades do grupo familiar, subsistindo

( ) No texto, é destacada a importância do contato linguísti-

outras formas de trabalho paralelas à produção escravista.

co entre portugueses e escravos africanos como forma de

Na escravidão colonial, o trabalho escravo era fundamental

atenuar a crueza das imagens historicamente associadas

e dominava plenamente a sociedade brasileira, objetivando

ao processo de escravidão.

atender ao interesse mercantil e voltado para a exportação. II.

O sistema escravista define-se, entre outras características, pelo fato do cativo ser considerado como simples merca-

partir da lavoura canavieira, tornou-se, no século XVII, o princi-

doria e, portanto, ser passível de estar sujeito à compra,

pal produto da economia da América portuguesa.

venda, aluguel e penhora. Entretanto essa característica

A esse respeito, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 04-08-16

não foi observada na Grécia, onde os escravos possuíam

01. Em razão dos lucros possibilitados pelo tráfico de africanos,

relativa autonomia e não podiam ser comprados.

o índio não foi escravizado naquela região. Assim sendo, as

III.

O escravismo marcou os diversos aspectos da vida eco-

populações indígenas que habitavam a região litorânea e a

nômica, social, política e cultural em ambos os casos. Na

região do agreste nordestino foram preservadas.

Grécia Clássica, como o escravo tinha maiores direitos

02. Em razão de a produção de açúcar ser mais lucrativa, a an-

dentro da sociedade, o princípio de cidadania era plena-

tiga atividade de extração de pau-brasil foi abandonada.

mente partilhado por um grande número de homens, ao

Tal fato contribuiu para a preservação da Mata Atlântica no

passo que no Brasil, os escravos não possuíam nenhum

litoral do Nordeste.

direito à cidadania.

555

FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

11. (Uem PR) A produção de açúcar na região Nordeste do Brasil, a


História

Assinale

04. Na marcha carnavalesca, a contraposição do tempo

a) se somente a assertiva I estiver correta.

da descoberta ao tempo do carnaval indica que a nação

b) se somente a assertiva II estiver correta.

se reconhece mais na festa popular do que no gesto de

c) se somente a assertiva III estiver correta.

descobrimento;

d) se somente as assertivas I e II estiverem corretas.

08. Os portugueses não somente descobriram um novo

e) se somente as assertivas I e III estiverem corretas.

mundo, mas se anteciparam às demais nações, inician-

13. (UnB DF) Para valorizar economicamente e garantir a posse das terras do Novo Mundo, Portugal adotou as seguintes medidas. 00. Atribuiu aos indígenas a responsabilidade pela defesa das

do o povoamento e a exploração da terra, rompendo, assim, com as antigas práticas coloniais vinculadas exclusivamente ao comércio. 15. (UFRN) Sobre as Capitanias Hereditárias, sistema administrativo

Feitorias. 01. Promoveu a colonização por meio de agricultura tropical.

adotado no Brasil por iniciativa de D. João III, é correto afirmar:

02. Instituiu a propriedade privada da terra e assegurou esse

a) O sistema já fora experimentado, com êxito, pelos portugue-

direito por meio do “Foral”.

ses em suas possessões nas ilhas atlânticas e marcou o início

03. Dividiu o litoral em 14 faixas lineares e entregou-as a doze donatários, que tinham amplos poderes. 01-02-03

efetivo da colonização lusa no Brasil. b) Os donatários tornavam-se proprietários das capitanias através da Carta de Doação, a qual lhes dava o direito de vendê-

14. (UFG GO)

-las, de acordo com seus interesses. c) A maioria dos donatários era representante da grande no-

Quem foi que descobriu o Brasil

breza de Portugal e demonstrava forte interesse pelo siste-

Foi seu Cabral

ma de capitanias.

Foi seu Cabral

d) O fracasso do sistema é associado às lutas ocorridas na dis-

no dia 21 de abril

puta pelas terras e aos conflitos com estrangeiros que fre-

dois messes depois do carnaval

quentavam as costas brasileiras. 16. (UFPB) Acerca da criação do governo-geral, no Brasil, é cor-

Depois Ceci amou Peri Peri amou Ceci

reto afirmar:

Ao som ... Ao som do Guarani !

a) Os donatários das capitanias hereditárias, tais como Duarte Coelho, de Pernambuco, eram grandes defensores

Do Guarani ao Guaraná

dos índios contra as arbitrariedades dos colonos, o que

Surgiu a feijoada e mais tarde o parati. (BABO, Lamartini. 1993.)

provocou conflitos, sendo estes resolvidos com a criação do governo-geral.

Nesta marchinha carnavalesca, Lamartine Babo brinca com o mito de fundação da nacionalidade, contrapondo-se ao discurso historicista em que o Brasil aparece solenemente como nação.

FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

02-04-08

01. O processo de descoberta delimitou espacialmente o território encontrado pelos portugueses e prontamente nomeado como Brasil. Ao gesto da descoberta e da colonização, com a extração do pau-brasil, formou-se um vasto império comandado rigidamente pelos capitães donatários; 02. Peri e Ceci, personagens do romance de José de Alencar, aparecem como representantes da fase romântica da literatura brasileira, caracterizada pela presença do índio como elemento de identificação nacional;

556

com os franceses, vendendo-lhes o pau-Brasil, o que era proibido pela Coroa portuguesa. c) A necessidade de efetiva ocupação do território brasileiro e de defesa contra outras nações européias obrigou a Coroa à

Acerca do tema descobrimento e processo de formação da nacionalidade, pode-se afirmar que:

b) Alguns portugueses residentes no Brasil fizeram alianças

criação de um governo centralizado, com sede na Bahia. d) O sucesso dos donatários na descoberta do ouro preocupou a Coroa portuguesa, que queria o controle completo sobre os minerais preciosos. e) O fracasso de capitanias importantes, como São Vicente e Pernambuco, deixou o litoral brasileiro à mercê dos franceses, o que fez com que a Coroa tomasse providencias no sentido de centralizar a administração colonial.


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