Murilo Amaral Shyrley Bernadelli
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PORTUGUÊS Por falar nisso
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Leia a piada abaixo: A professora pede ao Joãozinho que ele diga três pronomes: - Quem? Eu? Por quê? E a professore responde: - Parabéns, Joãozinho! Corretíssimo! A partir da leitura dessa anedota, você já pode deduzir o que são pronomes ou, pelo menos, consegue citar os três exemplos dados por Joãozinho. Pronomes são termos que em uma oração atuam como um nome, isto é, um substantivo ou um adjetivo, referindo-o, substituindo-o ou acompanhando-o. Trata-se de um amplo estudo, visto que existe uma grande variedade de pronomes, os quais são divididos em categorias. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
A13 A14 A15 A16
Concordância nominal................................................................... 564 Pronomes I..................................................................................... 569 Pronomes II.................................................................................... 578 Colocação pronominal................................................................... 584
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A
PORTUGUÊS
MÓDULO A13
ASSUNTOS ABORDADOS nn Concordância nominal nn Tipos de concordância nn Aspectos gerais de concordância nn Termo adjetivo ligado a dois ou mais substantivos nn Termo substantivo ligado a dois ou mais termos adjetivos nn Palavras invariáveis nn Relação entre sujeito e predicativo
CONCORDÂNCIA NOMINAL Quem nunca discutiu na vida? Discussões são atos naturais no decurso de nosso amadurecimento. Cada sujeito possui ideias próprias que podem entrar em concordância ou não com as ideias de outros sujeitos. Independentemente de serem consoantes ou não esses pensamentos, é importante que se respeite a opinião do próximo. Certa vez disse Saramago, escritor português, “Convencer é uma tentativa de colonização do outro”.
Tipos de concordância Nesta aula, estudaremos os aspectos gerais das relações de concordância entre termos da língua portuguesa. Esse estudo se divide em dois ramos: concordância nominal e concordância verbal, as quais, por sinal, são o assunto mais rico da sintaxe portuguesa. Para início, entendamos como podem ocorrer tais concordâncias: 1. Gramatical: aquela que segue à risca as regras da gramática normativa. nn Existem amor e alegria nos seus gestos. nn Comprei apartamento e carro novos.
3. Ideológica: esse tipo de concordância ocorre quando se deixa de estabelecer a concordância padrão ou por eufonia para se criar uma relação com alguma ideia ou elemento implícito no contexto. A concordância ideológica é chamada de silepse. Podem ocorrer silepses de número, gênero e pessoa. Observe: nn Silepse de pessoa: Todos somos (são) iguais perante a lei. nn Silepse de número: A plateia estava indignada, esperaram (esperou) demais pelo show. nn Silepse de gênero: Vossa Excelência parece insatisfeito (insatisfeita) com o resultado das urnas.
564
Fonte: Wikimedia Commons
2. Atrativa: ocorre devido à proximidade entre os elementos relacionados, baseada no princípio da eufonia (o que soa bem). nn Existe amor e alegria nos seus gestos. nn Comprei apartamento e carro novo.
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Aspectos gerais de concordância Em aulas anteriores, já vimos que tipo de relação existe entre verbo e sujeito, que concordam em número e pessoa, como também a relação que existe entre um substantivo e seus determinantes (pronomes, adjetivos, artigos), que concordam em gênero e número. É importante sempre se atentar para a concordância gramatical entre esses termos. Para a relação entre substantivos e os determinantes que o acompanham, dá-se o nome de concordância nominal. Substantivos e determinantes devem concordar em gênero e número. Veja: nn Os
meninos estavam cansados, eles já não aguentavam mais brincar. nn Ela disse “obrigada” ao vendedor, que, logo em seguida, respondeu “obrigado a você”. nn Apenas dois barcos antigos abastecem todas as comunidades ribeirinhas.
Termo adjetivo ligado a dois ou mais substantivos 1. Como adjunto adnominal, o adjetivo posposto a dois ou mais substantivos poderá concordar com o substantivo mais próximo ou ir para o plural (masculino ou feminino). Se os substantivos forem de gêneros diferentes, prevalece o plural masculino. nn Gosto da comida e da música espanhola (ou espanholas). nn Encontrei um caderno e uma caneta perdida (ou perdidos). 2. Já o adjetivo anteposto deverá concordar apenas com o substantivo mais próximo. nn Entrava por sujas ruas e becos. (sujos becos e ruas) nn Escolhi boa hora e lugar para o nosso encontro. (bom lugar e hora)
Quando os substantivos são nomes próprios ou nomes de parentesco, o adjetivo vai para o plural. nn Todos adoram os incríveis D. Quixote e Sancho Pança. nn O disco Tropicália 2 é uma obra-prima dos
Fonte: Wikimedia Commons
Observação
brilhantes Caetano Veloso e Gilberto Gil. nn Os filhos respeitam os adorados pai e
mãe que tanto os amam.
nn O
café e o leite estão quentes.
nn A
filha e a mãe são bonitas.
nn O
jardim e a calçada estão limpos.
A13 Concordância nominal
3. Quando o adjetivo serve como predicativo de um sujeito constituído de substantivos do mesmo gênero, o adjetivo concorda com ambos e vai para o plural, mesmo que os substantivos estejam no singular. Caso os substantivos sejam de gêneros diferentes, prevalece o masculino.
Observação
Em ambos os casos, se o verbo da oração estiver no singular e anteposto aos núcleos do sujeito, o adjetivo poderá também concordar com o núcleo mais próximo. nn Está limpo o jardim e a calçada. nn É bonita a filha e a mãe.
565
Português
4. O predicativo do objeto anteposto poderá concordar com o substantivo mais próximo ou ir para o plural. Posposto, ficará somente no plural.
nn A
pouca saúde do brasileiro é culpa do Governo que trabalha pouco.
nn Há
bastantes motivos para sua ausência.
nn Julguei
desconexa(s) sua atitude e suas palavras.
nn Ele
não usa meias palavras.
nn Julguei
sua atitude e suas palavras desconexas.
nn Os
homens eram altos.
nn Tenho
como irresponsável(is) o chefe do setor e seus subordinados.
nn Tenho
o chefe do setor e seus subordinados como irresponsáveis.
Termo substantivo ligado a dois ou mais termos adjetivos Quando um único substantivo é modificado por dois ou mais adjetivos no singular, ou ainda, acompanhados por um numeral, podem ser usadas as seguintes construções: nn Admiro
a(s) cultura(s) italiana e a francesa.
nn Viajaram
por longes terras.
#Curiosidades
Simone de Beauvoir (1908 - 1986), nascida em Paris, França, foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. Embora não se considerasse uma filósofa, De Beauvoir teve uma influência significativa tanto no existencialismo feminista, quanto na teoria feminista. Sua principal obra é “O segundo sexo”, um estudo sobre a posição e o papel da mulher na sociedade ocidental em um transcurso biológico, histórico e psicanalítico.
seleção(ões) brasileira, a italiana e a argentina estão prontas para o torneio.
nn Convoquei
os alunos da primeira e segunda série(s).
Palavras invariáveis Existem classes de palavras que são invariáveis (não variam nem em gênero nem em número), como preposições, conjunções e advérbios, e existem também classes de palavras variáveis (variam em gênero masculino e feminino e número singular e plural), entre elas substantivos, artigos e adjetivos. Em certa medida, compreender essa lógica é bastante simples, no entanto, há advérbios e adjetivos que se assemelham, logo, geram certa confusão quanto à sua concordância. Para isso, é importante lembrar que o adjetivo é o determinante do substantivo e o advérbio o determinante do verbo.
Fonte: Wikimedia Commons
nn A(s)
Vejamos os principais casos: 1. Como advérbio: nn Simone
de Beauvoir muito contribuiu para o feminismo.
nn A
pouca saúde do brasileiro é culpa do Governo que trabalha pouco.
A13 Concordância nominal
nn Os
alunos falam bastante.
nn Estou nn Os
meio gorda.
homens falavam alto.
nn Eles
viviam longe da cidade.
2. Como adjetivo: nn Muitas mulheres ainda precisam se encontrar com
o feminismo.
566
Relação entre sujeito e predicativo Substantivos desacompanhados de determinantes (artigos, pronomes e numerais adjetivos) podem ser tomados em sentido amplo, genérico (grau absoluto). Nesse caso, expressões construídas com “é + adjetivo” não variam. nn É
proibido entrada de estranhos.
nn É
proibida a entrada de estranhos.
nn Frutas nn Estas nn É
é bom para a saúde.
frutas são boas para a saúde.
permitido saída.
nn Não
é permitida a saída.
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Exercícios de Fixação
02. (Acafe SC) Sobre concordância verbal e nominal, assinale a alternativa correta. a) Salvo melhor juízo, não foi levada em consideração as disposições estabelecidas pelo regimento do curso. b) Listam-se, em anexo, todas as disciplinas do segundo semestre, entre as quais encaixam-se, no meu plano de formação, as duas primeiras. c) Nesse caso, lista-se primeiramente os 11 princípios de Goebbels conforme consta nas páginas mais recente do Guilherme Afif Domingos. d) Como cumpro todos os requisitos previstos no Art. 16, não fica claro os motivos pelos quais eu não recebi a bolsa. 03. (Unisa SP) Há calorias que engordam mais e calorias que engordam menos? Se você já fez dieta, deve ter ouvido: “o que importa é a quantidade de calorias ingeridas contra as gastas pelo corpo”. Mas há outros detalhes na conta. “É diferente ingerir 100 calorias de gorduras e a mesma quantidade vinda de carboidratos”, diz a nutricionista Alessandra Antunes. Isso acontece porque nem todas as calorias a mais são absorvidas como gordura. Parte delas é gasta na transformação dos nutrientes em gorduras. Se ingerimos um alimento rico em carboidratos, como o pão, ou rico em proteínas, como a carne, a transformação em gordura é trabalhosa, demandando energia (calorias), o que faz com que menos calorias estejam disponíveis para “virar” gordura. Quando consumimos lipídios, que já são gorduras e estão mais presentes em alimentos como o chocolate, nosso corpo não precisa gastar tanta energia em um processo de conversão, fazendo com que mais calorias sejam absorvidas e estocadas como gordura. Mesmo assim, não é recomendável privilegiar um só tipo de alimento. “A melhor opção para a saúde é a dieta balanceada”, diz a nutricionista. (Galileu, julho de 2013. Adaptado.)
Assinale a alternativa correta quanto à concordância, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
a) 100 calorias de gordura se processa diferente de 100 gramas de carboidratos. b) No organismo, uma parte das calorias ficam sem ser absorvido como gorduras. c) A pergunta visa questionar se existe calorias que engordam mais – ou menos. d) Uma pessoa engorda quando se ingere mais calorias do que se gasta. e) Pensa-se que, numa dieta, o que mais importa são as calorias ingeridas. 04. (Fac. Cultura Inglesa SP) Falação O Cabralismo. A civilização dos donatários. A Querência e a Exportação. O Carnaval. O Sertão e a Favela. Pau-Brasil. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. A riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. Toda a história da Penetração e a história comercial da América. Pau-Brasil. Contra a fatalidade do primeiro branco aportado e dominando diplomaticamente as selvas selvagens. Citando Virgílio para tupiniquins. O bacharel. País de dores anônimas. De doutores anônimos. Sociedade de náufragos eruditos. Donde a nunca exportação de poesia. A poesia emaranhada na cultura. Nos cipós das metrificações. Século XX. Um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como babéis de borracha. Rebentaram de enciclopedismo. A poesia para os poetas. Alegria da ignorância que descobre. Pedr’Álvares. Uma sugestão de Blaise Cendrars: – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino. Contra o gabinetismo, a palmilhação dos climas. A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. (Oswald de Andrade. Pau-Brasil, 2000.)
Como recurso de expressão e de sentido, predominam no texto as sequências de a) termos e ideias em oposição. b) expressões sinonímicas. c) inversões sintáticas. d) frases nominais. e) expressões genéricas.
567
A13 Concordância nominal
01. (Espcex SP) Assinale a alternativa que apresenta uma oração correta quanto à concordância. a) Sobre os palestrantes tem chovido elogios. b) Só um ou outro menino usavam sapatos. c) Mais de um ator criticaram o espetáculo. d) Vossa Excelência agistes com moderação. e) Mais de um deles se entreolharam com espanto.
Português
Exercícios Complementares 01. (Ufal AL) Luís Tinoco foi ter com ele. Levou-lhe o soneto e a ode impressos, e mais algumas produções não publicadas. Essas orçavam pela ode ou pelo soneto. Apareciam imagens safadas, expressões comuns, frouxo alento e nenhuma arte (Machado de Assis). Considerando a concordância nominal, em qual opção a reescrita da oração sublinhada no texto apresenta um uso indevido? a) Levou-lhe impresso o soneto e a ode. b) Levou-lhe impressa a ode e o soneto. c) Levou-lhe a ode e o soneto impresso. d) Levou-lhe impressas a ode e o soneto. e) Levou-lhe a ode e o soneto impressos. 02. (Ibmec SP) – Você acha que estou meia gordinha? – Não é meia, é meio. – Como é que é? – Não é meia gordinha que se diz. É meio gordinha. – MEIO gordinha? Imagina. Meio gordinha... Não acredito. – Se você fosse meia gordinha, significaria que você é só meia, só metade, entende? Só metade gordinha. A outra metade magrinha. – Qual parte? A de cima ou a de baixo? (PRATA, Mario. Diário de um magro. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1997.)
A13 Concordância nominal
O diálogo acima foi construído com base nas regras de concordância nominal, opondo as variantes linguísticas. A incredulidade da personagem diante da correção feita pelo seu interlocutor decorre do fato de que ela não reconhece, nesse contexto, que o termo “meio” fica invariável por ser um(a) a) numeral d) conjunção b) adjetivo e) advérbio c) pronome 03. (Unirg TO) A concordância nominal responsabiliza-se pela harmonia do texto, sobretudo, quando escrito na linguagem padrão. Neste caso, em especial, a gramática normativa determina que o adjetivo concorde em gênero e número com o substantivo. Assim, atende a essa norma a frase: a) Estava meia aberta a porta e a dispensa da casa da fazenda. b) Dado a importância e o valor descrito, fomos verificar o preço. c) Estavam atentas alunas e alunos ao entusiasmado discurso do paraninfo. d) Andavam preocupados professoras e alunos sem que nada pudessem fazer. 04. (UFRR) Assinale a opção em que a concordância nominal está INCORRETA: a) O carro tinha um dos faróis queimados. b) Ele trazia muito bem tratados a barba e os cabelos.
568
c) Nesta circunstância, Vossa Excelência está enganada, Doutor Juiz. d) Há muitos anos que coleciono selos e moedas raras. e) As matas foram bastante danificadas pelo fogo. 05. (Ufam AM) Assinale a opção em que a concordância somente se justificaria por atração sintática: a) Os americanos ficaram meios tontos com o atentado de 11 de setembro. b) Haveria bastantes razões para os terroristas tentarem destruir até o prédio do Pentágono? c) Seguem anexas algumas interessantes charges sobre o último atentado. d) Os países industrializados vendem caro os produtos resultantes das matérias-primas que compram barato. e) O pavor de atentados é tanto que hoje é proibido até talheres de metal, mesmo na primeira classe das viagens aéreas. 06. (Ibmec SP) Texto I sic - Em latim, significa assim. Expressão usada entre colchetes ou parênteses no meio ou no final de uma declaração entre aspas, ou na transcrição de um documento, para indicar que é assim mesmo, por estranho ou errado que possa ser ou parecer. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_s.htm)
Texto II A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, recebeu um grupo de 50 manifestantes, que foram de ônibus a Brasília reclamar sobre a demora para receber os recursos do governo federal. (...) Em nota divulgada ontem no site do Ministério da Cultura, Ana de Hollanda disse que o ministério “reconhece, valoriza e tem claro [sic] a necessidade da continuidade” do trabalho dos Pontos de Cultura. A nota, no entanto, não aponta quando o problema deve ser resolvido. (Folha de São Paulo, 23/02/2011)
Considerando-se as informações apresentadas nos textos, é correto afirmar que o motivo da inclusão do “sic”, no Texto II, é apontar uma falha de a) concordância nominal, já que o adjetivo “claro” deveria estar no feminino para concordar com o substantivo “necessidade”. b) regência nominal, pois o “a”, antes do substantivo “necessidade”, deveria receber acento grave para indicar a ocorrência de crase. c) pontuação, uma vez que se omitiu a vírgula obrigatória para separar as orações coordenadas presentes nesse período. d) acentuação gráfica, já que o verbo “ter”, presente na expressão “tem claro”, deveria receber acento circunflexo. e) coesão textual, pois, nessa construção, é obrigatória a inclusão do conectivo “que” para ligar a oração principal à oração subordinada.
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A
PORTUGUÊS
MÓDULO A14
PRONOMES I
ASSUNTOS ABORDADOS
Os pronomes formam uma das classes gramaticais de maior importância em nosso idioma. Eles atuam na estruturação, na coesão e na coerência de um enunciado. Em suma, os pronomes são substitutos referenciais de um nome, isto é, exercem a função de um substantivo ou de um adjetivo. Devido a essa função principal, os pronomes dividem-se em dois grandes grupos: nn Pronomes nn Pronomes
nn Pronomes I nn Classificação dos pronomes nn Pronomes pessoais nn Pronomes possessivos
substantivos: quando o pronome substitui um substantivo. adjetivos: quando o pronome atua como um adjetivo.
Leia as frases a seguir e observe com atenção a função do pronome em destaque: começaram nossas férias, a temporada no Araguaia acabou. (pronome adjetivo) nn Falem baixo, crianças, ou vocês ficarão de castigo! (pronome substantivo) nn Entre cães e gatos, prefiro estes, pois são mais espertos. (pronome substantivo) nn Estes alunos são muito estudiosos. (pronome adjetivo) nn Mal
Os pronomes “nossa” e “vocês”, nesses contextos, são, respectivamente, pronomes adjetivo e substantivo. Note que, na primeira frase, o termo “nossa” acompanha o núcleo “férias”, exercendo uma função adjetiva. No caso do termo “vocês”, este é o núcleo da frase, pois sua função é equivalente à de um substantivo. Mas cuidado! É o contexto da frase que determina se um pronome é substantivo ou adjetivo. Observe as duas últimas frases, apesar de serem os mesmo pronomes: “estes”, eles são, respectivamente, pronomes substantivo e adjetivo. Na terceira frase, “estes” refere-se a “gatos”, um substantivo, já na quarta frase, “estes” acompanha o núcleo “alunos”, exercendo a função de um adjetivo.
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 01 - Fotografia do rio Araguaia ao pôr do sol.
569
Português
Classificação dos pronomes Há seis tipos de pronomes: nn Pronomes
pessoais nn Pronomes possessivos nn Pronomes demonstrativos nn Pronomes interrogativos nn Pronomes indefinidos nn Pronomes relativos Nesta aula, nós estudaremos os pronomes pessoais e os pronomes possessivos. Na aula seguinte, faremos o estudo dos pronomes demonstrativos, interrogativos e indefinidos. Quanto aos pronomes relativos, seu estudo se realizará juntamente ao das orações subordinadas adjetivas, que são introduzidas por um pronome relativo.
Pronomes pessoais Os pronomes pessoais, como a própria designação denota, são pronomes que se referem às pessoas do discurso, isto é, o falante (1ª pessoa), o ouvinte (2ª pessoa) e o assunto (3ª pessoa). Os pronomes pessoais se dividem em três categorias: nn Pronomes
pessoais do caso reto pessoais do caso oblíquo nn Pronomes pessoais de tratamento nn Pronomes
Pronomes pessoais do caso reto Pessoa
Singular
Plural
1ª
EU
NÓS
2ª
TU
VÓS
3ª
ELE ou ELA
ELES ou ELAS
Os pronomes pessoais do caso reto em uma oração só exercem função de sujeito, jamais a função de complemento. Leia as frases a seguir: saí correndo da festa assim que a Maria Joaquina chegou. nn Tu não disseste que não gostavas de futebol? nn “Não faça barulho”, ela disse. nn Enquanto uns dormem, nós trabalhamos arduamente. nn Onde vós estiverdes todo esse tempo, Senhor? nn Eles comeram tudo ontem à noite, não sobrou nada!
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A14 Pronomes I
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nn Eu
Figura 02 - Pronomes pessoais do caso reto.
570
Figura 03 - Jogadores de futebol.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Pronomes pessoais do caso oblíquo ÁTONOS
SAIBA MAIS
TÔNICOS
Pessoa
Singular
Plural
Singular
Plural
1ª
ME
NOS
MIM, COMIGO
NÓS, CONOSCO
2ª
TE
VOS
TI, CONTIGO
VÓS, CONVOSCO
3ª
SE, O, A, LHE
SE, OS, AS, LHES
SI, CONSIGO, ELE, ELA
SI, CONSIGO, ELES, ELAS
Os pronomes oblíquos, como vocês podem ver na tabela, se dividem em dois grupos, pronomes oblíquos átonos e pronomes oblíquos tônicos. O que distingue o uso desses dois grupos de pronomes oblíquos é a preposição. Só se usam pronomes oblíquos tônicos acompanhados por preposição. Veja: nn Eu nn Eu
te dei um iPhone 6 de presente e tu me dás esta porcaria! dei para ti um iPhone 6 de presente e tu dás para mim esta porcaria!
Note ainda que os pronomes oblíquos referentes à 3ª pessoa têm certa especificidade:
Você sabia que os pronomes oblíquos tônicos “comigo”, “contigo” e “consigo” são a forma adequada de se escrever “com mim”, “com ti” e “com si”. Essa adequação se explica porque, no latim, a forma correta era “mecum”, “tecum” e “secum”, o que seria equivalente à “mim com”, “ti com” e “si com”. Com o desenvolvimento da língua portuguesa a partir do latim, a preposição acabou sendo utilizada antes e depois do pronome: “com mim com”, “com ti com” e “com si com”, o que acabou se transformando em “comigo”, “contigo” e “consigo”. Fonte: Wikimedia Commons
nn Pronomes:
“se”, “si” e “consigo” são utilizado somente para designar reflexivamente o sujeito da oração. nn Patrício se cortou. nn Patrício cortou a si mesmo. nn Eduarda está decepcionada consigo mesma.
nn Pronomes:
“o”, “a”, “os” e “as” são utilizados somente para substituir o objeto direto de um verbo, isto é, um complemento verbal que não exige preposição. nn O chimpanzé comeu todas as bananas. / O chimpanzé comeu-as todas. nn Você viu o acidente na avenida? / Você o viu?
nn Pronomes:
“lhe” e “lhes” são utilizados somente para substituir o objeto indireto de um verbo, ou seja, um complemento verbal que exige a preposição “a”. nn Tua
irmã entregou a torta de maça ao vizinho? / Tua irmã entregou-lhe a torta de maçã?
nn Obedeça
aos seus pais, menina! / Obedeça-lhes, menina!
Emprego das formas eu e mim, tu e ti Os pronomes do caso reto “eu” e “tu” só aparecem na função de sujeito. Já os pronomes do caso oblíquo “mim” e “ti” só aparecem na função de complemento. Veja: Figura 04 - Desavenças resolvidas entre duas pessoas. Fonte: shutterstock.com
emprestou este livro para eu ler. já estás cansado de tanta corrupção. nn Bernardo comprou um computador novo para mim. nn Algumas desavenças ocorreram entre mim e ti. nn Tu
A14 Pronomes I
nn Vanda
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Português
Pronomes de tratamento Pronome
Abreviatura
Usado em relação a
Vossa Alteza
V. A.
pessoas da realeza
Vossa Majestade
V. M.
reis, imperadores
Vossa Santidade
V. S.
papas
Vossa Eminência
V. Emª
cardeais
Vossa Excelência
V. Exª
altas autoridades
Vossa Senhoria
V. Sª
pessoas graduadas
Senhor(a)
Sr. / Srª
pessoas mais velhas
Os pronomes de tratamento sempre concordam na 3ª pessoa com o verbo, mas no discurso se referem à 2ª pessoa, isto é, se referem ao ouvinte. Por isso que, em vez de usar os pronomes “tu” e “vós”, podem-se usar os pronomes “você” e “vocês”. nn Você
não disse que não gostava de futebol?
nn Onde
vocês estiveram todo esse tempo, Senhor?
nn Sílvia
é apaixonada por você, Joyce!
nn Nós
só pensamos em vocês desde que chegamos.
Atente-se para o fato de que, mesmo a maioria dos pronomes pessoais de tratamento começando por “vossa”, a concordância sempre se dá na 3ª pessoa do singular e no feminino. Observe: nn Vossa Excelência está complemente enganada a respeito das denúncias contra
o governador. nn Vossa
Santidade fez uma longa viagem no último mês.
Pronomes possessivos Os pronomes possessivos são usados para indicar posse de quem fala ou de quem ouve sobre algo que pertença a eles. Os pronomes são: Singular
Plural
1ª
MEU, MINHA
MEUS, MINHAS
2ª
TEU, TUA
TEUS, TUAS
3ª
SEU, SUA
SEUS, SUAS
A14 Pronomes I
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Figura 05 - Dinheiro representando a posse de um objeto.
Pessoa
572
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Concordância dos pronomes possessivos Os pronomes possessivos concordam em pessoa com o possuidor e concordam em gênero e número com a coisa possuída. Veja: nn O
viajante arrumou suas bagagens e embarcou logo pela manhã.
Note que o possuidor nessa frase, no caso “viajante”, está na 3ª pessoa, e a coisa possuída, no caso “bagagens”, está no feminino e plural, o que determina que o pronome possessivo adequado a ser usado é “suas”, na 3ª pessoa, feminino e plural. Ambiguidade das formas seu(s) e sua(s) Os pronomes possessivos “seu(s)” e “sua(s)” podem fazer referência à 2ª pessoa ou à 3ª pessoa. Essa dupla possibilidade pode gerar certa ambiguidade (duplo sentido de interpretação) em alguns contextos. Observe: nn A
aluna olhava para o professor sem saber qual era o seu destino.
De quem é o destino, da aluna ou do professor? Para desfazer essa ambiguidade, pode-se fazer uso do pronome “dele” ou “dela”. Veja: nn A
aluna olhava para o professor sem saber qual era o destino dele. aluna olhava para o professor sem saber qual era o destino dela.
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nn A
Figura 06 - Pessoa com dúvida após ler um texto ambíguo.
Pronomes oblíquos com valor de possessivos A14 Pronomes I
Os pronomes possessivos podem ser substituídos por pronomes oblíquos que desempenham a mesma função, isto é, a função de posse. Veja: não pude dirigir, pois me roubaram as chaves. (roubaram minhas chaves) volta das amigas reavivou-lhe a alma. (reavivou a sua alma)
nn Eu nn A
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Cefet MG) Lanchinho de avião Drauzio Varella
A14 Pronomes I
1º§ A comissária de bordo pede para afivelarmos os cintos e desligarmos os celulares. O comandante avisa que a decolagem foi autorizada, a aeronave ganha velocidade na pista e levanta voo. Pela janela, São Paulo vira um paliteiro de prédios espetados um ao lado do outro. Um pouco mais à frente, a periferia inchada, com ruas tortuosas e casas sem reboque, abraça o centro da cidade como se fosse esganá-lo. 2º§ Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os computadores podem ser ligados. Junto à porta de entrada, as comissárias se levantam e preparam o carrinho de lanches. De fileira em fileira, perguntam o que cada passageiro deseja beber. No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa de café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do que o sorriso da mulher amada. O rapaz à minha direita prefere suco de manga; o da esquerda quer um de pêssego. Agradeço, não quero nada. A moça estranha: “Nada, mesmo?”. 3º§ Em seguida, ela nos estende a mão que oferece um objeto ameaçador, embrulhado em papel branco. Em seu interior, um pão adocicado cortado ao meio abriga uma fatia de queijo e outra retirada do peito de um peru improvável. No reflexo, encolho as pernas. Se, porventura, um embrulho daqueles lhe escapa da mão e cai em meu pé, adeus carreira de maratonista. [...] 4º§ O comandante informa que, em Belo Horizonte, o tempo é bom e que nosso voo terá duração de 40 minutos. São dez e meia, é pouco provável que os circunstantes tenham saído de casa em jejum. O que os leva a devorar no meio da manhã 500 calorias adicionais, com gosto de isopor? Qual é o sentido de servir comida em voos de 40 minutos? 5º§ Cerca de 52% dos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com o excesso de peso, taxa que nove anos atrás era de 43%. Já caíram na faixa da obesidade 18% de nossos conterrâneos. Os que visitam os Estados Unidos ficam chocados com o padrão e a prevalência da obesidade. Lá, a dieta e a profusão de alimentos consumidos até em elevadores conseguiram a proeza de engordar todo mundo; não escapam japoneses, vietnamitas nem indianos. 6º§ As silhuetas de mulheres e homens com mais de 120 quilos pelas ruas e shopping centers deixam claro que existe algo profundamente errado com os hábitos alimentares do país. Nossos números mostram que caminhamos na esteira deles. Chegaremos lá, é questão de tempo; pouco tempo. 7º§ A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente
574
do computador, as comodidades da rotina diária e a oferta generosa de bebidas e alimentos industrializados repletos de gorduras e açúcares que nos oferecem a toda hora criaram uma combinação perversa que conspira para o acúmulo de gordura no corpo. 8º§ Os que incorporaram as 500 calorias em excesso no caminho para Belo Horizonte só o fizeram porque o lanche lhes foi servido. Milhões de anos de evolução, num mundo com baixa disponibilidade de recursos, ensinaram o corpo humano a comer a maior quantidade disponível a cada refeição, única forma de sobreviver aos dias de jejum que fatalmente viriam. 9º§ Engendrado em tempos de miséria, o cérebro humano está mal adaptado à fartura. A saciedade à mesa só se instala depois de ingerirmos muito mais calorias do que as necessárias para cobrir os gastos daquele dia. A seleção natural nos ensinou a não desperdiçá-las, o excesso será armazenado sob a forma de gordura. 10º§ O tecido gorduroso não é um reservatório inerte, produz hormônios, libera mediadores químicos que interferem com o metabolismo e o equilíbrio entre fome e saciedade. E, o mais grave, dá origem a um processo inflamatório crônico que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer e de outros males que infernizam e encurtam a vida moderna. 11º§ Por essas e outras razões, caríssimo leitor, é preciso olhar para a comida como fazemos com a bebida: é bom, mas em excesso faz mal. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05 set. 2015. (Adaptado).
A palavra ‘o’, grifada nas sentenças a seguir, tem uso equivalente ao de um pronome demonstrativo em: a) O que os leva a devorar no meio da manhã 500 calorias adicionais, com gosto de isopor? b) Os que incorporaram as 500 calorias em excesso no caminho para Belo Horizonte só o fizeram porque o lanche lhes foi servido. c) As silhuetas de mulheres e homens com mais de 120 quilos pelas ruas e shopping centers deixam claro que existe algo profundamente errado com os hábitos alimentares do país. d) E, o mais grave, dá origem a um processo inflamatório crônico que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer e de outros males que infernizam e encurtam a vida moderna. 02. (FGV RJ) Leia o seguinte texto, escrito poucos dias antes do início da última Copa do Mundo.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Janio de Freitas, Folha de S. Paulo, 03/06/2014. Adaptado.
Acerca dos seguintes pronomes presentes nos dois primeiros parágrafos do texto, a única afirmação correta é: a) Os trechos “do que se pensa” e “quando se trata” poderiam ser reescritos como “do que pensa-se” e “quando trata-se”, sem prejuízo para a correção gramatical. b) “vivê-los” deveria ser substituído por “vivê-lo”, uma vez que o pronome se refere à palavra “tempo”. c) No trecho “entre este e 1950”, o mais adequado seria usar “esse” em lugar de “este”, tendo em vista que, aí, ocorre ideia de presente. d) Em “porque ditadura nenhuma”, a palavra sublinhada poderia ser substituída por “alguma”, sem prejuízo para o sentido. e) No trecho “uma infinidade de outros”, o pronome sublinhado refere-se a uma expressão subentendida, no caso, “órgãos do governo”. 03. (Puc SP) Racionalidade e tolerância no contexto pedagógico Nadja Hermann – PUCRS
Stuart Mill (1806-1873) acrescenta à ideia de tolerância religiosa a importância do pluralismo, da liberdade de opinião e crença, baseado na independência do indivíduo. A liberdade compreende a “liberdade de pensamento e de sentimento, absoluta
independência de opinião e de sentimento em todos os assuntos, práticos ou especulativos, científicos, morais ou teológicos” (MILL, 2000, p.21). Desse modo, Stuart Mill defende a tolerância a partir de um princípio bastante simples de que a autoproteção constitui a única finalidade pela qual se garante à humanidade individual ou coletivamente, interferir na liberdade de ação de qualquer um. O único propósito de se exercer legitimamente o poder sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra sua vontade, é evitar danos aos demais.[...] Na parte que diz respeito apenas a si mesmo, sua independência é, de direito, absoluta. Sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano (2000, p.18). MILL, John Stuart. A liberdade. In: ____. A liberdade, utilitarismo. Trad. Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000. Trecho de artigo publicado no site do Grupo de Pesquisa “Racionalidade e Formação”. Disponível em: http://w3.ufsm.br/gpracioform/artigo%2002. pdf. Acesso em: 24 out.2015.
Considere a ordem em que são empregados os pronomes demonstrativos evidenciados no texto de Hélio Schwartsman e aponte a que se referem. a) conjunto de leis sobre costumes de um Estado moderno que tem de ser constantemente guiado pela inspiração liberal; legitimidade de o Estado operar de forma ativa em prol da coesão social. b) composição de leis que deliberam sobre práticas do Estado moderno; visão conservadora que considera ilegítima a forma de promover a coesão social. c) legislação sobre comportamento de um Estado moderno cujas bases são conservadoras; visão liberal que considera legítimo o Estado trabalhar ativamente para a coesão social. d) rol de leis de natureza liberal que o Estado moderno pretende promover para contestar a inspiração conservadora; legitimidade de o Estado trabalhar ativamente para promover a coesão social. 04. (Uncisal AL) Aquilo que não mata só nos faz fortalecer Vivendo aprendi que é só fazer por merecer Que passo a passo um dia a gente chega lá Pois não existe mal que não possa acabar Não perca a fé em Deus, fé em Deus Que tudo irá se acertar NOGUEIRA, DIOGO. Fé em Deus. Disponível em: <http:// letras.mus.br/diogo-nogueira/1062615/>. Acesso em: 28 out. 2015.
O vocábulo que foi empregado, pelo compositor da canção, como pronome relativo a) em apenas uma ocorrência. b) em apenas duas ocorrências. c) em apenas três ocorrências. d) em apenas quatro ocorrências. e) nas cinco ocorrências.
575
A14 Pronomes I
A tão falada lição Passam os anos menos depressa do que dizem, quando dizem que o tempo corre. Passam mais depressa do que se pensa, quando se trata de vivê-los. São 64 anos. Por exemplo, entre este e 1950, ano de muitas agitações. Na política, pela volta de Getúlio, se não para redimir-se da ditadura encerrada cinco anos antes, porque ditadura nenhuma tem redenção, para um governo que, mesmo inconcluído, legou ao Brasil os instrumentos que permitiriam fazer o grande país que não foi feito – Petrobras, BNDE, uma infinidade de outros. Entre tantas agitações mais, lá estava a Copa do Mundo, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial, no maior estádio do mundo, para fazer dos brasileiros os campeões mundiais. Nos 64 anos seguintes, Getúlio e seu governo desapareceram sob a dureza das versões degradantes e do getulismo mitológico. A Copa e seu final desastroso satisfizeram-se com explicação única e simples: fora do campo, os excessos da autoglorificação antecipada, com louvações e festejos movidos a políticos, artistas, jornalistas, a publicidade comercial; e, no campo, uma (inexistente) falha do goleiro das cores pátrias. Há 64 anos se repete essa ladainha de 50, como símbolo e como advertência. Quem quiser uma ideia melhor da explicação dada a 50, é fácil. Basta uma olhadela nos jornais e na TV, a gente da TV e outras gentes em visita à “concentração”, a caçada a jogadores, convidados VIP para ver treinos, lá vai a estatueta ao palácio presidencial, os comandantes Felipão e Parreira são claros: “Nós já estamos com uma mão na taça”. Igualzinho. Está nos genes.
Português
Exercícios Complementares 01. (FCM MG)
Assinale a única observação CORRETA sobre essa passagem. PESSOAS E NUVENS
a) A expressão “entrar na cabeça de alguém”, como no caso citado, tem caráter literal.
1º§ Existe gente que carrega no semblante, nos gestos e nas palavras um jeito de nuvem que chove na roseira de cada um de nós. Molham de afeto a nossa convivência. Parecem trazer sobre a cabeça um regador para banhar os amigos e semelhantes. Incitam o lado bom da vida, a criação, a amizade, o companheirismo. Essas são as pessoas que gosto de encontrar quando ando pelas ruas de nossa e outras cidades. É o tipo que ameniza o calor e nos protege do frio. Inteligentes e interessantes, logo bonitos. Chegam e partem sorrindo. A simples presença contagia e o perfume fica quando se vão.
b) O pronome presente em “evitá-los” refere-se ao termo “projetos”, citado mais adiante. c) As relações de adição, de conclusão e de finalidade estão presentes nos períodos do trecho transcrito. d) O uso de “desses” em vez de “destes” justifica-se porque o pronome refere-se a um nome já mencionado. 02. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP)
2º§ Outros carregam tempestade e raios, trovões, reclamações e ódio. Gastam todo o seu tempo para maquinar maldades e desejar que o pior aconteça com os seus desafetos. São minoria, mas têm aptidão para enxergar, no mundo, o lixo e, na humanidade, um exército de adversários e inimigos que devem ser eliminados. 3º§ Seria bom que só existisse gente chuva prazenteira, mas viver em sociedade é complexo e estamos expostos aos chatos e bruxos. São estações inevitáveis, a primavera que traz colheita de frutos e flores e o outono das desesperanças. Confesso que não consigo compreender a razão de alguém somente agir para prejudicar, torcer pela derrota e infelicidade, trabalhar pelo caos. Na cabeça desses eu não entro e nem quero entrar. Tento evitá-los e me proteger de seus projetos de terremotos. Mas é necessário preservar nossas defesas para que não sejamos contaminados. 4º§ Quem reclama já perdeu, dizia o mestre João Saldanha; Quem não se conforma com o sucesso de alguém, e reclama, odeia, xinga e vitupera, perdeu a chance de aproveitar o que a existência tem de bom. 5º§ O mundo não caminha nem nunca caminhou de ma-
“O objetivo é atender aos turistas que visitam a cidade durante as férias...” A palavra grifada tem a seguinte classificação: a) preposição b) substantivo c) pronome relativo d) pronome indefinido e) pronome adjetivo 03. (FM Petrópolis RJ) Mais velho, poucos amigos?
neira justa, mas a vida, ah! a vida, é uma aventura deslum-
1
brante que vale a pena ser degustada, em todos os sentidos.
que a redução do número de amigos com a 3 idade, tão co-
Meus olhos se concentram nesse território bendito habita-
mum entre os humanos, pode não ser 4 exclusivo da nossa
do e irrigado pelos que amo.
espécie. Aparentemente, macacos 5 também passariam por
(BRANT, Fernando. Casa aberta. Sabará, MG: Ed. Dubolsinho, 2012, p.215-216. Texto adaptado.)
A14 Pronomes I
Fonte: Folha de São Paulo – 27/10/2016 – Turismo.
Um curioso estudo divulgado na última semana 2 mostrou
processo semelhante em 6 suas redes de contatos sociais, o que poderia sugerir 7 um caráter evolutivo desse fenômeno. No trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa 9 com
Releia o trecho: “Na cabeça desses eu não entro e nem que-
8
ro entrar. Tento evitá-los e me proteger de seus projetos de
Primatas em Göttingen, Alemanha, se
10
identificou uma
terremotos. Mas é necessário preservar nossas defesas para
redução de grooming (tempo dedicado
11
ao cuidado com
que não sejamos contaminados.”
outros indivíduos, como limpar o 12 pelo e catar piolhos) entre os macacos mais velhos 13 da espécie Macaca sylvanus.
576
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Além disso, eles praticavam 14 grooming em um número menor
04. (UFPR) A épica narrativa de nosso caminho até aqui
ou parentes.
Fazer grooming está para os macacos mais ou 17 menos como
Quando viajamos para o exterior, muitas vezes passamos pela
o “papo” para nós. Da mesma forma 18 que o “carinho” huma-
experiência de aprender mais sobre o nosso país. Ao nos depa-
de endorfinas. Geram-
rarmos com uma realidade diferente daquela em que estamos
de bem-estar tanto em homens
imersos cotidianamente, o estranhamento serve de alerta:
16
no, ele parece provocar a liberação -se, dessa forma, sensações
20
19
como em outros 21 animais.
deve haver uma razão, um motivo, para que as coisas funcioScientist, os
nem em cada lugar de um jeito. Presentes diferentes só podem
cientistas perceberam que macacos de 24 25 anos tiveram uma
resultar de passados diferentes. Essa constatação pode ser um
22
Na pesquisa, publicada pelo periódico New
redução de até 30% do tempo
25
23
de grooming quando compa-
poderoso impulso para conhecer melhor a nossa história.
rados com adultos de
26
5 anos. Se esse fenômeno acontece
Algo assim vem ocorrendo no campo de estudos sobre o Siste-
em outros primatas,
ele também pode ter chegado a nós ao
ma Solar. O florescimento da busca de planetas extrassolares –
longo 28 do caminho de formação da nossa espécie. Se chegou,
aqueles que orbitam em torno de outras estrelas – equivaleu a
27
29
qual teria sido a vantagem evolutiva?
30
Durante muito tempo se especulou que esse
dar uma espiadinha no país vizinho, para ver como vivem “seus 31
“encolhi-
habitantes”. Os resultados são surpreendentes. Em certos sis-
resultado de
temas, os planetas estão tão perto de suas estrelas que com-
um processo de envelhecimento, em 33 que depressão, morte
pletam uma órbita em poucos dias. Muitos são gigantes feitos
mento” social em humanos seria, na verdade,
32
vergonha da aparência e me-
de gás, e alguns chegam a possuir mais de seis vezes a massa
nos dinheiro poderiam 35 limitar as novas conexões. Mas, pes-
e quase sete vezes o raio de Júpiter, o grandalhão do nosso sis-
se percebeu que ter menos amigos era
tema. Já os nossos planetas rochosos, classe em que se enqua-
muito 37 mais uma escolha pessoal do que uma consequência
dram Terra, Mercúrio, Vênus e Marte, parecem ser mais bem
de amigos, limitações físicas, quisando os idosos,
36
34
38
do envelhecer.
39
Uma linha de investigação explica que essa redução
raros do que imaginávamos a princípio. 40
dos
A constatação de que somos quase um ponto fora da curva
dos mais velhos de
(pelo menos no que tange ao nosso atual estágio de conhe-
como usar melhor o tempo. Mas 42 outros especialistas defen-
cimento de sistemas planetários) provocou os astrônomos a
amigos seria, na verdade, uma seleção
41
velhos teriam menos recursos e
formular novas teorias para explicar como o Sistema Solar ad-
defesas para lidar 44 com estresse e ameaças e, assim, escolhe-
quiriu sua atual configuração. Isso implica responder perguntas
mais cautela as pessoas com quem se sentem mais
tais como quando se formaram os planetas gasosos, por que
dem a ideia de que os mais riam com 46
45
43
seguros (os amigos) para passar seu tempo. BOUER, J. Jornal O Estado de São Paulo, caderno Metrópole, domingo, 26 jun. 2016, p. A23. Adaptado.
estão nas órbitas em que estão hoje, de que forma os planetas rochosos surgiram etc. Nosso artigo de capa traz algumas das respostas que foram for-
No trecho “Se esse fenômeno acontece em outros primatas,
muladas nos últimos 15 a 20 anos. Embora não sejam consen-
ele também pode ter chegado a nós ao longo do caminho de
suais, teorias como o Grand Tack, o Grande Ataque e o Modelo
formação da nossa espécie.” (Refs. 26-28), a palavra destacada
de Nice têm desfrutado de grande prestígio na comunidade
exerce a mesma função textual que em:
astronômica e oferecem uma fascinante narrativa da cadeia de
a) “No trabalho desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa com
eventos que pode ter permitido o surgimento da Terra e, em
Primatas em Göttingen, Alemanha, se identificou uma redu-
última instância, da vida por aqui. [...]
ção de grooming” (Refs. 8-10)
(Paulo Nogueira, editorial de Scientific American –
b) “Se chegou, qual teria sido a vantagem evolutiva?” (Refs. 28-29) c) “Durante muito tempo se especulou que esse ‘encolhimento’ social em humanos seria, na verdade, resultado de um processo de envelhecimento” (Refs. 30-32) d) “Mas, pesquisando os idosos, se percebeu que ter menos amigos era muito mais uma escolha pessoal do que uma consequência do envelhecer.” (Refs. 35-38) e) “escolheriam com mais cautela as pessoas com quem se sentem mais seguros (os amigos) para passar seu tempo.” (Refs. 44-46)
Brasil – no 168, junho 2016.)
Na 3ª linha do terceiro parágrafo, “Isso” se refere: a) ao florescimento da busca de planetas extrassolares. b) a gigantes feitos de gás, alguns chegando a possuir mais de seis vezes a massa e quase sete vezes o raio de Júpiter. c) à formulação de novas teorias para explicar como o Sistema Solar adquiriu sua configuração atual. d) à constatação de que somos quase um ponto fora da curva. e) ao nosso atual estágio de conhecimento de sistemas planetários. 577
A14 Pronomes I
de “amigos”
15
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A15
ASSUNTOS ABORDADOS
PRONOMES II
nn Pronomes II
Dando continuidade aos nossos estudos, nesta aula, estudaremos os pronomes demonstrativos, os pronomes indefinidos e os pronomes interrogativos.
nn Pronomes demonstrativos nn Pronomes indefinidos nn Pronomes interrogativos
Pronomes demonstrativos Os pronomes demonstrativos situam a pessoa ou a coisa designada relativamente às pessoas gramaticais. Isso significa que se trata de uma classe dos pronomes capaz de situar a pessoa gramatical no tempo e no espaço. Dessa maneira, temos que os pronomes demonstrativos: nn Situam
a posição de um ser no espaço em relação ao falante; nn Localizam no próprio texto elementos já mencionados ou que serão referidos adiante; nn Situam, no tempo, uma informação. Formas variáveis
Formas invariáveis
ESTE, ESTA, ESTES, ESTAS
ISTO
ESSE, ESSA, ESSES, ESSAS
ISSO
AQUELE, AQUELA, AQUELES, AQUELAS
AQUILO
Emprego espacial dos pronomes demonstrativos Atente-se à imagem abaixo, pois ela será usada para explicar como funciona cada um dos pronomes demonstrativos da tabela. nn Os pronomes este(a)(s) e isto situam, no espaço, o que está próximo do falante. nn Os pronomes esse(a)(s) e isso situam, no espaço, o que está próximo do ouvinte.
pronomes aquele(a)(s) e aquilo situam, no espaço, o que está longe do falante e do ouvinte.
nn Os
Exemplos:
Fonte: VGstockstudio / Shutterstock.com
nn O
Figura 01 - A assinatura de um contrato.
578
senhor sentado à direita vira para o senhor sentado no centro e diz: “Por favor, assine este papel”. nn Então, o senhor sentado no centro pede ao senhor sentado à direita: “Dê-me esse papel”. nn Antes que ele pegue o papel, a senhorita sentada à esquerda vira para o senhor sentado no centro e diz: “Depois, passe-me aquele papel”.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Emprego temporal dos pronomes demonstrativos Os pronomes demonstrativos podem indicar no decorrer do discurso um fato no presente, no passado ou no futuro em relação ao falante. Observe: nn Os pronomes este(a)(s) e isto indicam tempo atual, o momento presente. nn Os pronomes esse(a)(s) e isso indicam um tempo anterior próximo ou posterior
próximo. pronomes aquele(a)(s) e aquilo indicam um tempo distante anterior ao momento da fala.
nn Os
SAIBA MAIS Os pronomes demonstrativos correspondem aos seguintes advérbios: nn Este(a)(s) e isto: aqui nn Esse(a)(s) e isso: aí nn Aquele(a)(s) e aquilo: ali ou lá
Exemplo: nn Hoje
o dia está nublado, certamente nesta noite irá chover. (tempo presente) nn Já é a última semana de aula. O que você vai fazer nessas férias? (tempo posterior próximo) nn Na segunda-feira sempre me perguntam o que fiz nesse final de semana. (tempo anterior próximo) nn Quando era criança, eu fui à Disney. Sinto saudades daquela viagem. (tempo anterior distante)
!
ATENÇÃO!
Os pronomes demonstrativos podem-se combinar às preposições “de”, “em” e “a” formando: nn Deste(a)(s); desse(a)(s); daquele(a)(s); disto; disso; daquilo. nn Neste(a)(s); nesse(a)(s); naquele(a)(s); nisto; nisso; naquilo. nn Àquele(a)(s); àquilo.
Emprego textual dos pronomes demonstrativos No texto, os pronomes demonstrativos exercem funções anafóricas (referir-se a algo que já foi mencionado) ou catafóricas (referir-se a algo que será mencionado). Veja: catafórica: este(a)(s) e isto presidente, em seu pronunciamento, disse isto: “Eu não renunciarei.” nn Função anafórica: esse(a)(s) e isso nn Função nn O
nn “Eu não renunciarei”, o presidente disse, mas ninguém deu a mínima para isso.
Uma referência anafórica dentro de um texto é apontada, de modo geral, pelo pronome “esse” e derivados. No entanto, para desfazer ambiguidades ou especificar essa referência a algo já mencionado, pode-se usar os pronomes “este” e “aquele” e derivados. Observe o seu uso: nn Meus livros preferidos são: A hora da estrela e Dom Casmurro. Este foi escrito por Machado de Assis, aquele foi escrito por Clarice Lispector. nn Eu detesto comer salada, principalmente, rúcula e tomate. Este é vermelho e pegajoso, aquela é seca e amarga.
Fonte: Wikimedia Commons
A15 Pronomes II
Note que o pronome “este” refere-se ao termo mais próximo, nos exemplos acima: “Dom Casmurro” e “tomate”. Já o pronome “aquele” refere-se ao termo mais distante, nos exemplos acima: “A hora da estrela” e “rúcula”. Outros demonstrativos Além dos pronomes demonstrativos “este”, “esse” e “aquele” e derivados, há também outras palavras que, em determinados contextos, podem exercer esse papel. São estas: o(s), a(s), mesmo(a)(s), tal(is), semelhante(s), próprio(a)(s)
Figura 02 - Salada de rúcula e tomate.
579
Português
!
ATENÇÃO! Emprego incorreto do pronome “mesmo”
O pronome demonstrativo “mesmo” não deve ser utilizado como pronome pessoal. Isso significa que tal pronome não pode equivaler aos pronomes “ele” ou “ela”. Algo que é muito comum, mas está em desacordo com a norma estatal da língua portuguesa, é o uso do “mesmo” como pronome pessoal em avisos perto de elevadores.
Exemplos: nn Arthur é um grande artista. Você viu o que ele fez? nn Nunca pude acreditar que você me colocasse em tal situação. nn A fazenda era mantida pelo dinheiro dos próprios peões. nn Você não precisa fazer o mesmo que seu pai. Vocês são pessoas diferentes. nn Para ir para semelhante universidade, ele certamente estava preparado.
Pronomes indefinidos Os pronomes indefinidos se referem à 3ª pessoa do discurso (o assunto, a pessoa de quem se fala) de modo vago, sem fazer particularização ou especificação. Eles podem ser variáveis ou invariáveis: Formas variáveis
Formas invariáveis
ALGUM(A)(S)
ALGUÉM
NENHUM(A)(S)
NINGUÉM
OUTROS(A)(S)
OUTREM
TODO(A)(S)
TUDO
CERTO(A)(S)
NADA
QUANTO(A)(S)
CADA
QUALQUER e QUAISQUER
ALGO
Emprego dos pronomes indefinidos 1. Algum(ns), alguma(s) Quando têm valor afirmativo, são empregados antes do substantivo. nn Algum dia irei conhecer Paris, a cidade luz. Quando têm valor negativo, são empregados depois do substantivo. nn Aluno algum da escola gostaria de ficar em recuperação. (ou ficar para recuperação) 2. Certo(a)(s) Essas palavras mudam de classe gramatical de acordo com sua posição. Antes do substantivo são pronomes indefinidos, depois do substantivo são adjetivos. nn Você precisa saber o momento certo (adjetivo) de dizer certas coisas (pronome indefinido).
Pronomes interrogativos Os pronomes interrogativos são, na verdade, pronomes indefinidos usados para se fazer perguntas diretas ou indiretas. São estes: que, quem, qual(is), quanto(a)(s) Interrogativa direta: frases iniciadas pelas palavras interrogativas e terminadas por um ponto de interrogação. nn Que trabalho estão fazendo? nn Quem disse tal coisa? nn Qual dos livros preferes? nn Quantos passageiros desembarcaram? A15 Pronomes II
Interrogativa indireta: frases com a palavra interrogativa posicionada internamente e terminadas por ponto final. nn Diga-me que trabalho estão fazendo. nn Ignoramos quem disse tal coisa. nn Não sei qual dos livros preferes. nn Pergunte quantos passageiros desembarcaram. 580
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 03. Na passagem – Quando ele acordar amanhã vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. – haveria ambiguidade, caso se empregasse, no lugar de sapato dele a forma seu sapato, pois poderia, potencialmente, referir-se ao interlocutor de Leduína ou a seu filho.
Exercícios de Fixação
(HERCULANO, A. Eurico, o presbítero. 2.ed. São Paulo: Martin Claret, 2014. p.107.)
Sobre os elementos linguísticos presentes no texto, assinale a alternativa correta. a) O pronome “a” (Ref. 1) refere-se à “cavalgada”. b) O pronome “estes” (Ref. 2) refere-se a “muros”. c) O pronome “lhes” (Ref. 3) refere-se a “guerreiros”. d) O pronome “todos” (Ref. 4) refere-se a “árabes”. e) O pronome “quem” (Ref. 5) refere-se às “virgens do mosteiro”. 02. (UEPG PR) Relatório sugere que a França libere véu na escola Permitir que as alunas muçulmanas usem os véus típicos e promover o ensino de línguas árabes e africanas nas escolas francesas. Essas são algumas das recomendações de um relatório encomendado pelo primeiro-ministro da França, Jean-Marc Ayrault, como parte do programa de revisão das políticas públicas de integração de imigrantes. O documento sugere que o governo francês deva revisar medidas implementadas nas últimas décadas – pautadas na justificativa do ensino laico – para integrar efetivamente sua população imigrante. Entre elas, a proibição do uso do véu e de outros elementos religiosos nas escolas. O relatório demanda ainda que a França reconheça sua dimensão e identidade árabe, reformule seu currículo de história, crie um dia especial para homenagear as culturas imigrantes e defina como crime o “assédio racial”. À imprensa, Ayrault afirmou que não há planos para derrubar a proibição do véu e que o pedido do relatório não faz parte de suas conclusões políticas de governo. Adaptado de: Revista Carta na Escola, fevereiro/2014, no 83, Editora Confiança, Coluna Mosaico, página 9.
A palavra “que” presente nos primeiros períodos dos três parágrafos é uma conjunção integrante e inicia uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Assinale o que for correto no que se refere ao mesmo conectivo e à mesma classificação de subordinada. 06 01. É evidente que qualquer mudança nas políticas públicas necessita de amplo debate a respeito. 02. O relatório demanda ainda que a França reconheça sua dimensão e identidade árabe.
04. A maioria da população admite que há um preconceito na regulação do véu pelas muçulmanas. 08. Todas as recomendações que forem apresentadas, estão sujeitas à apreciação do governo atual. 16. A proposta do primeiro-ministro é que haja uma revisão nas políticas de integração. 03. (FGV RJ) – Hoje é dia de Natal, menino. Eles vão jantar fora, eu também tenho a minha festa, você vai jantar sozinho. Alonso inclinou-se. E espiou apreensivo debaixo do fogão. Dois olhinhos brilharam no escuro. [O cachorro] Biruta ainda estava lá e Alonso suspirou. Era tão bom quando Biruta resolvia se sentar! Melhor ainda quando dormia. Tinha então a certeza de que não estava acontecendo nada, era a trégua. Voltou-se para Leduína. – O que seu filho vai ganhar? – Um cavalinho – disse a mulher. A voz suavizou. – Quando ele acordar amanhã vai encontrar o cavalinho dentro do sapato dele. Vivia me atormentando que queria um cavalinho, que queria um cavalinho... Alonso pegou uma batata cozida, morna ainda. Fechou-a nas mãos arroxeadas. – Lá no orfanato, no Natal, apareciam umas moças com uns saquinhos de balas e roupas. Tinha uma moça que já me conhecia, me dava sempre dois pacotinhos em lugar de um. Era a madrinha. Um dia ela me deu sapatos, um casaquinho de malha e uma camisa... – Por que ela não adotou você? – Ela disse uma vez que ia me levar, ela disse. Depois não sei por que ela não apareceu mais, sumiu... Deixou cair na caçarola a batata já fria. E ficou em silêncio, as mãos abertas em torno da vasilha. Apertou os olhos. Deles irradiou-se para todo o rosto uma expressão dura. Dois anos seguidos esperou por ela, pois não prometera levá-lo? Não prometera? Nem sabia o seu nome, não sabia nada a seu respeito, era apenas a Madrinha. Inutilmente a procurava entre as moças que apareciam no fim do ano com os pacotes de presentes. Inutilmente cantava mais alto do que todos no fim da festa na capela. Ah, se ela pudesse ouvi-lo! (Lygia Fagundes Telles, Um coração ardente)
Analise as informações, extraídas e adaptadas da Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, e responda ao solicitado. Em algumas ocasiões, o possessivo “seu” pode dar lugar a dúvidas, a respeito do possuidor. Remedeia-se o mal com a substituição de seu, sua, seus, suas, pelas formas dele, dela, deles, delas, de você, do senhor, etc., conforme convier. Transcreva do texto uma passagem em que um eventual emprego do pronome seu geraria ambiguidade e explique quais seriam os potenciais referentes do pronome, nesse caso. 581
A15 Pronomes II
01. (Uel PR) 1 A cavalgada, que lenta subira a encosta, descia-a rapidamente enquanto Atanagildo, visitando os muros, 2 exortava os guerreiros da cruz a pelejarem esforçadamente. Quando estes souberam quais eram as intenções 3 dos árabes acerca das virgens do mosteiro, a atrocidade do sacrilégio afugentou-lhes dos corações a menor 4 sombra de hesitação. Sobre as espadas juraram todos combater e morrer como godos. Então o quingentário, 5 a quem parecia animar sobrenatural ousadia, correu ao templo.
Português
Exercícios Complementares 01. (Escs DF) Globalização e doença 1 Uma destacada faceta das consequências da 2 globalização sobre a saúde é a possibilidade da 3 transnacionalização das doenças transmissíveis, 4 particularmente as novas e as reemergentes. Com as facilidades 5 das viagens internacionais e a difusão do comércio em escala 6 planetária, microrganismos podem ser rapidamente 7 transportados, por meio de pessoas, animais, insetos e 8 alimentos, de um país a outro e de um ponto a outro do globo. 9 Exemplos recentes são as propagações de microrganismos 10 relacionados à SARS, à dengue e à gripe aviária. 11 A transmissão interpessoal das febres hemorrágicas 12 virais, como os casos das febres Marburg e Ebola, na África, 13 que apresentam grande potencial epidêmico, é facilitada pelos 14 rápidos deslocamentos em viagens aéreas internacionais, o que 15 aponta para a necessidade e a importância do reforço das redes 16 globais de diagnóstico e vigilância em saúde, operadas pela 17 OMS e parceiros ao redor do mundo. 18 Um caso já clássico é a difusão do vírus da AIDS, que 19 surgiu possivelmente em região remota da África e se espalhou 20 por todo o mundo. Até mesmo aves migratórias podem ser 21 responsabilizadas pela difusão global de doenças infecciosas, 22 como é o caso da gripe aviária e do vírus da febre do Oeste do 23 Nilo. Infecções como Salmoneloses e E. coli têm sido 24 frequentemente relacionadas com contaminação de alimentos 25 frescos ou industrializados que circulam entre países. 26 Outra dimensão importante da globalização da saúde 27 são as reformas setoriais orientadas ao mercado, preconizadas 28 por organizações internacionais. Elas resultaram em mais 29 iniquidades em saúde. Não há espaço para a saúde pública ou 30 para a promoção da saúde nessas reformas. Seu tema exclusivo 31 são a atenção médica aos indivíduos e os esquemas de 32 financiamento. O mesmo se pode dizer dos modelos 33 importados de formação de recursos humanos, pouco ajustados 34 aos padrões culturais ou aos sistemas nacionais de saúde. Paulo M. Buss. Globalização, pobreza e saúde. In: Ciência e Saúde Coletiva. Vol. 12, n.º 6, Rio de Janeiro, nov./dez., 2007. Internet: <www. scielo.br> (com adaptações).
A15 Pronomes II
No que concerne ao emprego dos pronomes no texto, assinale a opção correta. a) O pronome “se”, em “O mesmo se pode dizer” (Ref.32), poderia ser corretamente empregado tanto imediatamente após “pode” quanto após “dizer”, escrevendo-se pode-se dizer ou pode dizer-se. b) Na referência 18, o pronome “que” refere-se a “difusão”. c) Na referência 28, o antecedente do pronome “Elas” é “organizações internacionais”. d) O trecho “Seu tema exclusivo são a atenção” (Refs. 30 e 31) se tornaria mais formal caso o pronome “Seu” fosse substituído por delas, escrevendo-se O tema exclusivo delas.
582
02. (Fac. Cultura Inglesa SP) Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo “sentido”. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo. Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem muitas vezes confuso e incompreensível, não deixará de perceber que ele se forma de uma linha-mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação. É isto que se deve, antes de mais nada, procurar quando se aborda a análise da história de um povo, seja aliás qual for o momento ou o aspecto dela que interessa, porque todos os momentos e aspectos não são senão partes, por si só incompletas, de um todo que deve ser sempre o objetivo último do historiador, por mais particularista que seja. Tal indagação é tanto mais importante e essencial que é por ela que se define, tanto no tempo como no espaço, a individualidade da parcela de humanidade que interessa ao pesquisador: povo, país, nação, sociedade, seja qual for a designação apropriada no caso. É somente aí que ele encontrará aquela unidade que lhe permite destacar uma tal parcela humana para estudá-la a parte. (Formação do Brasil contemporâneo, 2004, Caio Prado Júnior)
“Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de incidentes secundários que o acompanham sempre e o fazem muitas vezes confuso e incompreensível, não deixará de perceber que ele se forma de uma linha-mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação.” O pronome “ele”, destacado, refere-se à expressão a) “aquele conjunto”. b) “cipoal de incidentes secundários”. c) “confuso e incompreensível”. d) “linha-mestra e ininterrupta de acontecimentos”. e) “Quem”. 03. (Fac. Direito de Franca SP) Inteligência é manter portas abertas Suzana Herculano-Houzel. Folha de S.Paulo
1. Uma das primeiras coisas que aprendemos em ciência é que, para abordar um problema, é primeiro preciso defini-lo. Encontrar as origens cerebrais da inteligência ou entender como ela se compara entre pessoas ou espécies animais diferentes, portanto, exige primeiro definir o que é inteligência. 2. O problema é antigo, mas ainda elusivo. O psicólogo Francis Galton foi supostamente o primeiro a propor, no século 19, medir a inteligência de indivíduos para estudar sua hereditariedade (e usá-la para fins de eugenia, termo, aliás, cunhado por ele). Mas uma medida útil foi criada so-
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3. Mas o que é a capacidade que o fator g mede? Por muito tempo me atraiu a definição abrangente de que inteligência é a capacidade de usar informações para resolver problemas. Mas recentemente um físico e matemático fez uma descoberta potencialmente transformadora. 4. Alex Wissner-Gross, pesquisador de Harvard e do MIT, resolveu fazer aquela coisa que físicos gostam de fazer: buscar uma equação única que explicasse a inteligência. E conseguiu. Sua palestra no site ted.com explicando a descoberta pode não ser a mais impressionante ou polida – mas faz pensar, e muito. 5. A equação geral para a inteligência, que ele trata como uma força dinâmica, consiste em apenas seis letras ou símbolos que se traduzem em uma frase simples: inteligência é a capacidade de maximizar opções futuras. Decisões inteligentes, portanto, são aquelas que, ao contrário de fechar portas, mantêm portas abertas para outras decisões no futuro. 6. As implicações são gigantescas. Por um lado, a equação produz comportamento inteligente até mesmo nos programas mais simples. Por outro, ela prediz que animais inteligentes são aqueles capazes de formular mentalmente estados futuros possíveis e então decidir pelo caminho que mantém mais opções abertas. Um hipocampo, que permite usar memórias recentes para projetar estados futuros, talvez seja assim fundamental para a inteligência – além do mais óbvio, algo que atue como um córtex pré-frontal que represente objetivos e selecione entre alternativas. 7. Se decisões inteligentes são aquelas que maximizam alternativas, para mim é inevitável pensar então no que é ciência inteligente: não aquela que resolve detalhes e fecha portas, mas a que abre novas questões e possibilidades. “Sua palestra no site ted.com explicando a descoberta pode não ser a mais impressionante ou polida – mas faz pensar, e muito.” [quarto parágrafo] O pronome possessivo evidenciado refere-se a) ao site. b) à palestra. c) à inteligência. d) ao pesquisador de Harvard. e) à autora do texto. 04. (IF RS) Frases que fisgam e aberturas sedutoras ou por que os romances têm as primeiras páginas Já observou as pessoas na livraria? Elas pegam o livro de uma estante, leem a capa, depois a quarta capa, depois as páginas de elogios (aquelas poucas só com elogios solicitados), e então... o quê? Você sabe essa. Dificilmente vi alguém pular para o meio do capítulo vinte e três. Portanto, é melhor que aquela página diga a que veio. Caso contrário, o livro volta para a estante. Você não pode ler todos eles.
Precisamos das primeiras páginas – e os romancistas também precisam. Desde o cabeçalho, o romance começa a exercer sua magia sobre os leitores. Talvez mais notavelmente, os leitores também começam a exercer a magia deles sobre o romance. O começo de um romance é de modo diferente a negociação de um contrato social um convite para dançar uma lista de regras do jogo e uma sedução bastante complexa. Eu sei eu sei – sedução? Parece extremo não é? Mas é isso o que acontece no começo de um romance. Estão nos pedindo para comprometer uma boa parte do nosso tempo e energia em uma iniciativa com muito pouca garantia quanto ao que ela tem pra nós. É aí que entra a sedução. E ela quer nos dizer o que acha importante, tanto que mal pode esperar pra começar. Talvez mais importante, quer que fiquemos envolvidos. Quando acabar, podemos nos sentir cortejados, adorados, apreciados, ou abusados, mas será sempre um caso para lembrar. A abertura de um romance é um convite para entrar e jogar. [...] (adaptado) FOSTER, Thomas C. Para ler romances como um especialista. Trad. de Maria José Silveira. São Paulo: Lua de Papel, 2011. p. 13.
Os pronomes grifados em negrito “eles” (1º parágrafo), “deles” (2º parágrafo) e “ela” (3º parágrafo) estão recuperando (ou retomando) palavras ou expressões utilizadas anteriormente. Qual das alternativas abaixo contém a correta associação entre os pronomes e as palavras ou expressões recuperadas (ou retomadas)? a) eles (livro) – deles (leitores) – ela (sedução) b) eles (elogios) – deles (leitores) – ela (sedução) c) eles (livro) – deles (romancistas) – ela (garantia) d) eles (capítulo) – deles (romance) – ela (iniciativa) e) eles (livro) – deles (leitores) – ela (iniciativa) 05. (IF SP) Leia o texto abaixo, de João Ubaldo Ribeiro. Estou estudando gramática e fico pasmo com os milagres de raciocínio empregados para enquadrar em linguagem “objetiva” os fatos da língua. Alguns convencem, outros não. Estes podem constituir esforços meritórios, mas se trata de explicações que a gente sente serem meras aproximações de algo no fundo inexprimível, irrotulável, inclassificável, impossível de compreender integralmente. Meu consolo é que há muitas coisas que me afligem, devem afligir vocês também. Ou pelo menos coisas parecidas. Com base no texto, marque V para verdadeiro ou F para falso e, em seguida, assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. ( ) Em “Estes podem constituir esforços meritórios”, o pronome destacado refere-se a fatos da língua. ( ) Em “Meu consolo e que há muitas coisas que me afligem, devem afligir vocês também.”, o pronome relativo que, destacado, tem a função sintática de sujeito da oração adjetiva. ( ) Na oração “Meu consolo e que há muitas das coisas”, o verbo haver tem sujeito claro. ( ) Nesse texto, há um erro de pontuação, pois há uma expressão explicativa que deve ser separada por vírgula. a) F/ V/ F/ V b) V/ V/ F/ V c) F/ V/ V/ F
d) F/ F/ F/ V e) F/ V/ F/ F
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A15 Pronomes II
mente em 1904, pelo estatístico Charles Spearman, e chamada de “fator g” em referência a inteligência “geral”: algo que influencia o desempenho em habilidades mentais diversas.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A16
ASSUNTOS ABORDADOS nn Colocação pronominal nn Posição do pronome nn Regras de colocação nn Colocação pronominal em locuções verbais nn Resumo da regra
Fonte: Wkimedia commons
Figura 01 - Luis Fernando Verissimo
COLOCAÇÃO PRONOMINAL Leia com atenção esta crônica dialogal de Luis Fernando Verissimo: Papos - Me disseram... - Disseram-me. - Hein? - O correto e “disseram-me”. Não “me disseram”. - Eu falo como quero. E te digo mais... Ou é “digo-te”? - O quê? - Digo-te que você... - O “te” e o “você” não combinam. - Lhe digo? - Também não. O que você ia me dizer? - Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz? - Partir-te a cara. - Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me. - É para o seu bem. - Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu... - O quê? - O mato. - Que mato? - Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? - Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo e elitismo! - Se você prefere falar errado... - Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me? - No caso... não sei. - Ah, não sabe? Não o sabes? Sabes-lo não? - Esquece. - Não. Como “esquece”? Você prefere falar errado? E o certo é “esquece” ou “esqueça”? Ilumine-me. Me diga. Ensines-lo-me, vamos. - Depende. - Depende. Perfeito. Não o sabes. Ensinar-me-lo-ias se o soubesses, mas não sabes-o. - Está bem, está bem. Desculpe. Fale como quiser. - Agradeço-lhe a permissão para falar errado que mas dás. Mas não posso mais dizer-lo-te o que dizer-te-ia. - Por quê? - Porque, com todo este papo, esqueci-lo. A partir desse diálogo, introduzimos o conteúdo a ser tratado neste módulo: a colocação de pronomes oblíquos átonos em relação aos verbos que eles acompanham. Com a leitura do diálogo, você pode ter contato com uma série de posições incomuns para esses pronomes e construções frasais “estranhas”. Agora vamos saber quais dos personagens acima têm razão quanto ao uso e à posição do pronome, como também entender aquelas construções “estranhas”.
584
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Regras de colocação
ATENÇÃO!
Lembre-se dos pronomes oblíquos átonos. São estes: nn me; te; se; nos; vos; o(s); a(s); lhe(s).
VERBO
com par culas atra vas
ÊNCLISE regra geral
Posição do pronome Antes de irmos às regras de colocação pronominal, denominemos cada posição do pronome: Próclise O pronome é usado antes do verbo. Veja os exemplos: nn Ninguém
lhe pediu opinião. disse que te ama, Joaquim!
Mesóclise O pronome é usado no meio do verbo. Veja os exemplos: nn Dir-te-ia
a verdade, se soubesse. nn Amanhã, visitar-me-ás, Carlos Eduardo? Ênclise O pronome é usado no fim do verbo. Veja os exemplo:
Fonte: www.shutterstock.com
Exemplos: nn Ontem
MESÓCLISE
nn A
(sem pausa); substantivos; nn Conjunções subordinativas. nn Pronomes
futuro presente futuro pretérito
nn Ela
Usa-se próclise obrigatoriamente quando, antes do pronome oblíquo átono, vier uma partícula atrativa. São consideradas partículas atrativas os seguintes fatores de próclise: nn Advérbios
COLOCAÇÃO PRONOMINAL PRÓCLISE
Próclise obrigatória
diretora informou-nos o horário de aulas. nn Mostre-nos os presentes de Natal!
me convidaram para uma festa de debutante. (ontem = advérbio sem pausa) nn Alguém me traga um copo d’água, por favor. (alguém = pronome substantivo) nn Pedro acreditava que a família o protegia. (que = conjunção subordinativa) Próclise facultativa O falante brasileiro, geralmente, opta pela próclise, enquanto o falante português opta pela ênclise, assim, há casos em que a próclise, para nosso alívio, pode ser utilizada também sem problema algum. É a chamada próclise facultativa ou optativa, você pode escolher entre usá-la ou não usá-la. Veja: nn O
advogado se referiu a essa situação. / O advogado referiu-se a essa situação. nn Márcia não teve a intenção de te ofender. / Márcia não teve a intenção de ofender-te. nn Eu te amo. / Eu amo-te.
!
ATENÇÃO!
Note que entre os exemplos acima há a opção “Eu amo-te”. Mas os pronomes substantivos não deveriam atrair o pronome? Os pronomes pessoais do caso reto são fatores de próclise facultativa, isto é, usar tanto próclise quanto ênclise diante desses pronomes é adequado.
A16 Colocação pronominal
!
585
Português
Mesóclise
SAIBA MAIS A mesóclise pode ser entendida como uma “ênclise especial” para os tempos verbais no futuro. Mas por que razão isso acontece? Os verbos no futuro do presente e no futuro do pretérito, na verdade, são formados pela aglutinação de dois verbos, um verbo haver conjugado e um outro verbo no infinitivo. Por exemplo, os verbos: estudarei, comeremos e sorriria correspondem às locuções verbais: hei de estudar, havemos (hemos) de comer e havia (hia) de sorrir; por esse motivo, o pronome posiciona-se no meio do verbo, isto é, entre esses dois verbos.
No português brasileiro contemporâneo, a mesóclise está praticamente extinta. Na fala, em raríssimas exceções e contextos ela é utilizada. Na escrita, somente em textos de caráter formal. A mesóclise, dessa maneira, só é usada nestas situações: nn Verbo no futuro (futuro do presente ou futuro do pretérito) iniciando a oração. nn Ausência
de fator de próclise.
Exemplos: nn Indicar-lhe-emos
as modificações no calendário. nn Contratar-te-iam nessa empresa? Ênclise O pronome posicionado ao final do verbo é utilizado em duas situações, quando o verbo inicia a oração (pois um pronome oblíquo átono nunca pode iniciar uma oração) ou quando este verbo vier precedido por advérbio com pausa, isto é, por vírgula. Veja: nn Ontem,
convidaram-me para sair. nn Disseram-me que as aulas começariam somente na terça. nn Consolidou-se-me a certeza de que devo cursar Direito.
Colocação pronominal em locuções verbais PRIMEIRA OPÇÃO PRÓCLISE
Verbo auxiliar
culas atra as
SEGUNDA OPÇÃO INFINITIVO + Pronome
ÊNCLISE
regra geral
VERBO PRINCIPAL
MESÓCLISE
futuro presente futuro pretérito
GERÚNDIO + Pronome PARTICÍPIO + Pronome
A posição mais comum para posicionar o pronome oblíquo átono em uma locução verbal é entre o verbo auxiliar e o verbo principal sem usar hífen. Observe: nn Os
diretores estão se preparando para a reunião.
nn Eu
não pude te acompanhar para essa ocasião. lhe falado a verdade!
Fonte: www.shutterstock.com
A16 Colocação pronominal
nn Tínhamos
586
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Note que, mesmo com a partícula atrativa “não”, ainda é adequado posicionar o pronome depois do verbo auxiliar, pois ele está no meio da locução verbal. Em relação às frases acima, o pronome ainda pode se posicionar antes do verbo auxiliar (caso ele não inicie a oração) ou depois do verbo principal (caso ele não esteja no modo particípio). Veja: Com o pronome antes do verbo auxiliar: nn Os
diretores se estão preparando para a reunião.
nn Eu
não te pude acompanhar para essa ocasião.
nn Lhe
tínhamos falado a verdade! (construção inadequada)
Com o pronome depois do verbo principal: nn Os
diretores estão preparando-se para a reunião.
nn Eu
não pude acompanhar-te para essa ocasião.
nn Nós
tínhamos falado-lhe a verdade! (construção inadequada)
Resumo da regra nunca pode iniciar uma oração com pronome oblíquo átono.
nn Você
jamais pode usar um pronome oblíquo átono depois de particípio.
A16 Colocação pronominal
nn Você
Fonte: Tashatuvango / Shutterstock.com
Para você, estudante, agilizar seu estudo sobre colocação pronominal, basta se atentar a estas duas recomendações:
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Ufam AM) Assinale a opção em que é absolutamente inadmissível a ênclise: a) Haviam-no já considerado morto. b) O bandido tinha escondido-se em baixo da cama. c) O policial não deveria tê-lo libertado. d) Não devemos calar-nos diante das injustiças. e) O barco ia lentamente afastando-se do cais. 02. (FGV SP) Assinale a alternativa em que a colocação dos pronomes oblíquos átonos atende à norma culta. a) Era claro que Nestor estava preocupado, mas otimista. “Erguerei-me depressa, enfrentando-lhe todos os arroubos.” b) Ao ver-se cercado pelas emas, concluiu: os animais poder-se-iam perder, se o ajudante não os controlasse. c) Não disse-lhe palavra. Partiu a galope, sem olhar para trás. d) Farei-o melhor do que você, embora não tenha tanta prática. e) Tendo encontrado-a sozinha na sala, deu-lhe um beijo maroto na face. 03. (Udesc SC) 1. A sala geral do estudo tinha inúmeras portas. Aristarco fazia aparições de súbito, a qualquer das portas, nos momentos em que menos se podia contar com ele. Levava as apa-
rições às aulas, surpreendendo professores e discípulos. Por meio desse processo de vigilância de inopinados, mantinha no estabelecimento por toda a parte o risco 5.perpétuo do flagrante como uma atmosfera de susto. Fazia mais com isso que as espionagens de todos os bedéis. Chegava o capricho a ponto de deixar algumas janelas ou portas como votadas a fechamento para sempre, com o fim único de um belo dia abri–las bruscamente sobre qualquer maquinação clandestina da vadiagem. Sorria então no íntimo, do efeito pavoroso das armadilhas, e cofiava os majestosos bigodes brancos de marechal, pausadamente, como lambe um jaguar ao focinho a pregustação de um repasto de sangue. (Raul Pompeia: O Ateneu. São Paulo, Editora Click, p. 49.)
Na oração com o fim único de um belo dia abri-las bruscamente (linhas 7-8) o autor faz uso da ênclise. Assinale a alternativa incorreta, quanto à colocação pronominal. a) Sorria, embora me entristecesse internamente aquela cena. b) Durante a festa não se faziam outros comentários. c) Em se tratando de flagrantes, Aristarco estava sempre presente. d) Aqui, se estudam línguas românicas. e) No internato, nunca se julgariam os alunos pela aparência.
Exercícios Complementares 01. (Udesc SC)
A16 Colocação pronominal
Inverno 1 A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído, sinha Vitória de pernas cruzadas, as coxas servindo de travesseiros aos filhos. A cachorra Baleia, com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinza. 5 Estava um frio medonho, as goteiras pingavam lá fora, o vento sacudia os ramos das catingueiras, e o barulho do rio era como um trovão distante. Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedras, clareando vagamente os pés do vaqueiro, os joelhos da mulher e os meninos 10deitados. De quando em quando estes se mexiam, porque o lume era fraco e apenas aquecia pedaços deles. Outros pedaços esfriavam recebendo o ar que entrava pelas rachaduras das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisões de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não era propriamente conversa, eram frases soltas, 15espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam 588
exibindo as imagens que lhes vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, não havia meio de dominá-las. Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto. RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 82ª ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2001, p. 63.
Assinale a alternativa incorreta, tendo como referência o texto. a) As palavras “Vitória” (ref. 1), “incongruências” (ref. 15) e “ambíguo” (ref. 15) são acentuadas graficamente pela mesma regra. b) Em “olhava as brasas que se cobriam de cinza” (ref. 1), a segunda oração estabelece uma ideia de restrição em relação à “as brasas”, o que dá a esta segunda a classificação sintática de subordinada adjetiva restritiva. c) Dentro das orientações do padrão culto da língua escrita relativo à colocação pronominal, o período “as brasas que se cobriam de cinza” (ref. 1) ficaria igualmente correto se assim redigido: as brasas que cobriam-se de cinzas. d) As palavras “medonho” e “goteiras” (ref. 5) são formadas por derivação sufixal. e) Em “Como os recursos de expressão eram minguados, tentavam...” (ref. 15), a substituição do termo sublinhado por Porque não altera o sentido original do texto e nem transgride as regras relativas ao padrão culto de escrita.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Assinale a alternativa correta. a) De acordo com as explicações do autor, as palavras pregüiça e tranqüilo não serão mais grafadas com o trema. b) As expressões “monstro ortográfico” e “abominável monstro ortográfico” mantêm uma relação hiperonímica entre si. c) A palavra “evocação” (3° parágrafo) pode ser substituída no texto por “recordação”, mas haverá alteração de sentido. d) A frase “Fui-me obrigando a escrever minimamente do jeito correto”, o emprego do pronome oblíquo átono está correto de acordo com a norma culta da língua portuguesa. e) Em “– Atrapalha a gente na hora de escrever”, conforme a norma culta do português, a palavra “gente” pode ser substituída por “nós”. 03. (UFPE) TEXTO 1 É fato sabido que a colocação dos pronomes átonos no Brasil difere apreciavelmente da atual colocação portuguesa e encon-
tra, em alguns casos, similar na língua medieval e clássica. Em Portugal, esses pronomes se tornaram extremamente átonos, em virtude do relaxamento e ensurdecimento de sua vogal. Já no Brasil, embora os chamemos ‘átonos’, são eles, em verdade, semitônicos. E essa maior nitidez de pronúncia, aliada a particularidades de entoações e a outros fatores (de ordem lógica, psicológica, estética, histórica, etc.), possibilita-lhes uma grande mobilidade de posição na frase, que contrasta com a colocação mais rígida que têm no português europeu. Infelizmente, certos gramáticos nossos e grande parte dos professores da língua, esquecidos de que esta variabilidade posicional, por ser em tudo legítima, representa uma inestimável riqueza idiomática, preconizam, no particular, a obediência cega às atuais normas portuguesas, sendo mesmo inflexíveis no exigirem o cumprimento de algumas delas, que violentam duramente a realidade linguística brasileira e que só podem ser seguidas na língua escrita, ou numa elocução altamente formalizada. Esta é, a nosso ver, a primeira distinção que as duas variantes nacionais da língua portuguesa apresentam em sua forma culta: a vigência de uma só norma em Portugal; no Brasil, a ocorrência de dualidade ou de assimetria de normas, com predominância absoluta da norma portuguesa no campo da sintaxe, o que dá a aparência de maior coesão do que a real entre as duas modalidades idiomáticas, principalmente na língua escrita. É a história que vai explicar-nos esta relativa unidade da língua culta de Portugal e do Brasil e as sensíveis, por vezes profundas, diferenças da língua popular em áreas dos dois países. (Celso Cunha. Política e cultura do idioma, In: Língua, nação e alienação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981, p.15-18. Adaptado.)
TEXTO 2 Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro (Oswald de Andrade)
Tomando por base as afirmações do Texto 1, podemos concluir que a forma “me dá um cigarro”, do Texto 2: a) apesar de diferir da forma lusitana que está prescrita nas gramáticas e nos manuais de língua portuguesa, representa a forma de uso mais habitual na variante brasileira do português, e pode ser explicada pela variação de pronúncia. b) embora seja de uso frequente no português do Brasil, deveria ser tratada com maior rigor pelos gramáticos e professores da língua, já que, por ser uma forma divergente do português de Portugal, é uma violência à nossa língua.
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A16 Colocação pronominal
02. (UFMS) Leia o artigo abaixo, intitulado “Uma questão de tempo”, de Miguel Sanches Neto, extraído da Revista Nova Escola Online, em 30/09/08. Em seguida, responda. Demorei para aprender ortografia. E essa aprendizagem contou com a ajuda dos editores de texto, no computador. Quando eu cometia uma infração, pequena ou grande, o programa grifava em vermelho meu deslize. Fui assim me obrigando a escrever minimamente do jeito correto. Mas de meu tempo de escola trago uma grande descoberta, a do monstro ortográfico. O nome dele era Qüeqüi Güegüi. Sim, esse animal existiu de fato. A professora de Português nos disse que devíamos usar trema nas sílabas qüe, qüi, güe e güi quando o u é pronunciado. Fiquei com essa expressão tão sonora quanto enigmática na cabeça. Quando meditava sobre algum problema terrível – pois na pré-adolescência sempre temos problemas terríveis –, eu tentava me libertar da coisa repetindo em voz alta: “Qüeqüi Güegüi”. Se numa prova de Matemática eu não conseguia me lembrar de uma fórmula, lá vinham as palavras mágicas. Um desses problemas terríveis, uma namorada, ouvindo minha evocação, quis saber o que era esse tal de Qüeqüi Güegüi. – Você nunca ouviu falar nele? – perguntei. – Ainda não fomos apresentados – ela disse. – É o abominável monstro ortográfico – fiz uma falsa voz de terror. – E ele faz o quê? – Atrapalha a gente na hora de escrever. Ela riu e se desinteressou do assunto. Provavelmente não sabia usar trema nem se lembrava da regrinha. Aos poucos, eu me habituei a colocar as letras e os sinais no lugar certo. Como essa aprendizagem foi demorada, não sei se conseguirei escrever de outra forma – agora que teremos novas regras. Por isso, peço desde já que perdoem meus futuros erros, que servirão ao menos para determinar minha idade. – Esse aí é do tempo do trema.
Português
c) é uma forma permitida pelas gramáticas do Brasil, apesar de proibida pelas gramáticas portuguesas, porque, aqui, os gramáticos e professores da língua são mais flexíveis e apoiam certos usos próprios do idioma nacional. d) além de comprovar o completo desconhecimento dos brasileiros em relação à história da língua que falam, também evidencia a tendência brasileira de deturpar a realidade linguística na qual os falantes estão inseridos. e) representa, de fato, uma divergência clara entre o português do Brasil e o de Portugal, sendo, conforme apontam os Textos 1 e 2, a forma preferida das pessoas não letradas da sociedade brasileira, com baixo grau de escolaridade. 04. (IME RJ) Observe as frases abaixo. I. Negros escravos ou libertos eram dois terços da população e se vestiam ainda de acordo com sua nação de origem. (Texto 2, ref. 5) II. “ponha-se na rua” (Texto 2, ref. 15) III. O imigrante realmente foi-se embora do Brasil. Indique o item que expressa as funções da partícula se nas frases I, II e III, respectivamente. a) Indeterminação; realce; subordinação. b) Reflexiva; reflexiva; realce. c) Reflexiva; indeterminação; realce. d) Adversativa; reflexiva; indeterminação. e) Integração; indeterminação; reflexiva 05. (Fatec SP) TEXTO I
A16 Colocação pronominal
Do jeito que eu quero ser Os sites que abrem portas para mundos virtuais em três dimensões, como o Second Life ou o do jogo Star Wars Galaxies, são um dos grandes sucessos atuais da internet. Não é para menos. Eles tornam corriqueira e divertida uma prática que a psicanálise há tempos detectou ser comum a todos os seres humanos – a de projetar uma imagem ideal de si mesmo através de outras pessoas. É o que se faz, por exemplo, quando se pensa em ganhar na loteria e levar uma vida igual à dos milionários que aparecem nas revistas. Na internet, essa projeção de si próprio se chama avatar e não existe apenas na mente de cada um. Ela se materializa nos personagens criados para participar dos mundos virtuais. No mundo dos avatares não existe a baixa autoestima. Todo mundo pode ser forte, atraente e dono de grandes habilidades sociais. É possível também se transmutar num personagem de desenho animado. Pode-se até mudar de sexo. Apenas no Second Life, perto de 9 milhões de avatares já foram inventados em todo o mundo. Os criadores dos personagens permanecem sentados à frente de seus computadores, mas suas criaturas ganham o mundo, lutam em guerras, eliminam monstros ou simplesmente namoram nas ruas de cidades imaginárias – mas bem reais na tela do monitor. (Veja Especial – Tecnologia, agosto, 2007, p. 18)
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Assinale a alternativa em que é observada a norma culta de concordância, regência e emprego de pronomes. a) Há uma porta para um mundo virtual, o qual os internautas gostam e nele vive uma vida paralela. b) Pode existir mundos povoados por avatares, os quais não é permitido a baixa autoestima. c) Trata-se de verdadeiras materializações de imagens projetadas, as quais se encontram fora da mente das pessoas; chamam-nas de avatares. d) A psicanálise detectou, fazem muitos anos, a essa prática, cuja é comum à várias pessoas. e) É possível haverem pessoas que aspiram ser fortes e atraentes ou, até, personagem de desenho animado. 06. (Unesp SP) Carta a Manuel Bandeira, S.Paulo, 28-III-31 Manú, bom-dia. Amanhã é domingo pé-de-cachimbo, e levarei sua carta, (isto é vou ainda rele-la pra ver si a posso levar tal como está, ou não podendo contarei) pra Alcantara com Lolita que tambem ficarão satisfeitos de saber que você já está mais fagueirinho e o acidente não terá consequencia nenhuma. Esse caso de você ter medo duma possivel doença comprida e chupando lentamente o que tem de perceptivel na gente, pro lado lá da morte, é mesmo um caso serio. Deve ser danado a gente morrer com lentidão, mas em todo caso sempre me parece inda, não mais danado, mas semvergonhamente pueril, a gente morrer de repente. Eu jamais que imagino na morte, creio que você sabe disso. Aboli a morte do mecanismo da minha vida e embora já esteja com meus trinteoito anos, faço projetos pra daqui a dez anos, quinze, como si pra mim a morte não tivesse de “vim”... como todos pronunciam. A idea da morte desfibra danadamente a atividade, dá logo vontade da gente deitar na cama e morrer, irrita. Aboli a noção de morte prá minha vida e tenho me dado bem regularmente com êsse pragmatismo inocente. Mas levado pela sua carta, não sei, mas acho que não me desagradava não me pôr em contacto com a morte, ver ela de perto, ter tempo pra botar os meus trabalhos do mundo em ordem que me satisfaça e diante da infalivel vencedora, regularisar pra com Deus o que em mim sobrar de inutil pro mundo. (MÁRIO DE ANDRADE. Cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1958, p. 269-270.)
Envolvido, como declara mais de uma vez em suas cartas, na criação de um discurso literário próprio, culto, mas com aproveitamentos de recursos e soluções da linguagem coloquial, Mário de Andrade apresenta nos textos de suas cartas soluções de ortografia, pontuação, variações coloquiais de vocábulos e de regência que podem surpreender um leitor desavisado. Escreve, por exemplo, no último período do trecho citado, “ver ela de perto”, tal como se usa coloquialmente. Aponte a forma que teria essa passagem em discurso formal, culto. “Vê-la de perto”.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Unificado RJ) Computador de engolir Lembrar-se de tomar o remédio, de fazer 2 exames periódicos, de ter de picar o dedo para 3 medir a glicose do sangue de diabéticos podem em 4 breve transformar-se em atitudes do passado. É para 5 isso que trabalham cientistas de vários laboratórios 6 pelo mundo, especializados em computadores 7 implantáveis. Uma nova geração desses aparelhos já 8 recebeu a aprovação de órgãos de regulação para 9 que sejam “instalados” em nós. A expectativa é que 10 esse mercado, que cresce rápido, chegue a US$ 24,8 11 bilhões em 2016. 12 Na dianteira desse avanço, está o engenheiro 13 Robert Langer, do MIT. Langer trabalha em um 14 chip que pode substituir as pílulas. Seu aparelho é 15 introduzido sob a pele na região da cintura e pode 16 ser programado remotamente para liberar doses de 17 medicamento em determinados horários. Ou seja, 18 em vez de pedir ao paciente que se lembre de tomar 19 o remédio, o médico pode programar de longe o 20 dispositivo para administrar a droga nos horários e 21 doses apropriados. O chip já foi testado com sucesso 22 em oito mulheres com osteoporose, substituindo 23 injeções diárias do remédio teriparatide. Ao final de 24 12 meses, houve uma melhora na formação óssea 25 delas. “Isso possibilita tratamento individualizado, 26 mais preciso e menos doloroso”, diz Langer. 27 Ainda não há previsão para o aparelho chegar ao 28 mercado, mas, quando começar a ser usado, poderá 29 somar-se a outros sensores internos que disparam 30 alertas quando há algo errado. Um deles, em fase 31 de desenvolvimento, tenta medir, em tempo real, o 32 nível de glicose no sangue do diabético. Nesse caso, 33 o 1
paciente obedecerá a uma informação do chip para 34 liberar automaticamente doses de insulina no sangue. 35 É como um painel de automóvel que acende uma luz 36 quando há algo de errado em seu sistema eletrônico, 37 compara o cardiologista americano Eric Topol. “Em 38 breve estarão em nossa corrente sanguínea na forma 39 de nanossensores, do tamanho de um grão de areia, 40 fornecendo uma vigilância contínua do nosso sangue, 41 sendo capazes de detectar a primeira possibilidade 42 de um câncer.” 43 Outro mecanismo, aprovado em 2013, é o Argus, 44 a primeira prótese ocular. Ele consiste em um chip45 com eletrodos, implantado no fundo do olho, que 46 converte imagens de uma microcâmera instalada nos 47 óculos em pulsos elétricos. Os pulsos, enviados a 48 células da retina, produzem imagens para pessoas 49 que perderam a visão. O “olho biônico” é usado em 50 pacientes com retinite pigmentosa, doença que causa 51 degeneração
da retina e afeta seriamente a visão de 52 cerca de 1,5 milhão de indivíduos no mundo. Apesar 53 de não restaurar por completo a visão, ajuda cegos a 54 voltar a enxergar movimentos e até a ler. 55 Todos esses aparelhos implantáveis são 56 descendentes diretos do marca-passo, usado com 57 sucesso pela primeira vez na Suécia, em 1958. 58 A diferença é que hoje eles atingem formas que 59 permitem um nível inédito de integração com o 60 corpo, possibilitando mais funções. Mas alguns 61 obstáculos permanecem: os principais desafios são 62 a compatibilidade, de modo que o corpo não rejeite 63 o implante, e a falta de clareza dos efeitos a longo 64 prazo. Materiais como silício ou ouro podem causar 65 consequências traumáticas: inflamações, cápsulas 66 fibrosas e calcificação ao redor do implante. Isso 67 afeta não só o corpo, mas também o funcionamento 68 do dispositivo e a precisão da leitura das informações. 69 Se essas barreiras forem ultrapassadas, a 70 perspectiva é de não apenas oferecer melhores 71 tratamentos, no futuro, mas também incrementar 72 algumas habilidades do nosso corpo. Mas 73 olhos biônicos que dão zoom, nanodispositivos 74 que aumentam a concentração ou melhoram o 75 desempenho físico devem ficar para depois que 76 tivermos implantes em tempo real nos examinando 77 ou liberando remédios em nosso sangue. IKEDA, P. Revista Galileu, n. 276, jul. 2014. p. 57-59. Adaptado.
A justificativa do emprego da vírgula, conforme as exigências da pontuação na língua, está exemplificada de acordo com a norma-padrão em a) “Lembrar-se de tomar o remédio, de fazer exames periódicos, de ter de picar o dedo para medir a glicose do sangue de diabéticos podem em breve transformar-se em atitudes do passado”. (Refs. 1-4) [uso da vírgula para marcar um adjunto adverbial antecipado] b) “Na dianteira desse avanço, está o engenheiro Robert Langer”. (Refs. 12-13) [uso de vírgula para isolar uma oração subordinada] c) “Os pulsos, enviados a células da retina, produzem imagens para pessoas”. (Refs. 47-48). [uso da vírgula para indicar a supressão de uma palavra ou de um grupo de palavras] d) “Materiais como silício ou ouro podem causar consequências traumáticas: inflamações, cápsulas fibrosas e calcificação ao redor do implante. (Refs. 64-66) [uso de vírgula para separar elementos que exercem a mesma função sintática] e) “Se essas barreiras forem ultrapassadas, a perspectiva é de não apenas oferecer melhores tratamentos”. (Refs. 69-71) [uso de vírgula para introduzir uma explicação] 591
Português
02. (UEPG PR) Consumo também é ato político Diz o “Houaiss” que o capitão Charles C. Boycott (1832-1897), um rico proprietário irlandês, no outono de 1880, recusando-se a baixar o preço que cobrava pelo arrendamento de suas terras, foi vítima de represália, tendo os agricultores da época se articulado para não negociar com ele. Daí a palavra “boycott” e, em português, boicote. Quase 130 anos depois, o termo em inglês ganhou uma espécie de antônimo, o “buycott”. Numa livre tradução seria a compra orientada de produtos. A partir disso, a pesquisadora Michele Micheletti, da Karlstad University, na Suécia, defende que o ato de consumo pode se transformar em ativismo político, pois, segundo ela, a falta de uma regulamentação global transferiu para os consumidores parte da responsabilidade sobre o mercado. Por meio de “boycotts” e de “buycotts”, é possível aos consumidores forçar mudanças no sistema produtivo e colaborar, utilizando o seu poder de compra, a fim de atenuar problemas como a exploração da mão de obra, o desrespeito ambiental e os desvios éticos e políticos de grandes empresas. O “buycotter” é o consumidor politizado, informado, responsável. Micheletti cita estudos que mostram que, na Suécia, o percentual de cidadãos que se envolveu em algum tipo de “consumo politizado” nos 12 meses anteriores à pesquisa era de 50%. No Brasil, não chegava a 7%. A pesquisadora concluiu que o resultado está vinculado ao nível de informação e aos recursos disponíveis dos consumidores. “É um movimento basicamente da classe média”, afirma. Adaptado de: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/plinio-fraga/consumo-tambem-e-ato-politico-130126426.html. Acesso em 30/03/2015.
Sobre regência nominal e verbal nos trechos abaixo, assinale o que for correto. 05 1. “...recusando-se a baixar o preço que cobrava pelo arrendamento de suas terras...” 2. “...na Suécia, o percentual de cidadãos que se envolveu em algum tipo de “consumo politizado” nos 12 meses anteriores à pesquisa era de 50%.” FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
01. Caso a crase fosse retirada no trecho 2, o sentido ficaria comprometido, pois seria possível compreender que a pesquisa ainda estava incompleta, ou seja, na metade. 02. No trecho 1 ocorre um erro devido à regência, pois o sinal indicativo da crase deveria estar presente: “...recusando-se à baixar...”. 04. No trecho 2, trata-se de um caso de regência nominal, uma vez que “anteriores” é um adjetivo. 08. Nos trechos 1 e 2, há casos de regência sobre a preposição a, entretanto, diferem entre si uma vez que são casos de regência nominal (trecho 1) e verbal (trecho 2). 592
03. (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública) 1 Um dos maiores problemas das cidades 2 grandes é a solidão. Quanto maior a cidade, maior 3 o isolamento das pessoas de todas as idades, 4 principalmente as idosas, cujos filhos ou parentes 5 partiram em busca de suas próprias vidas. Os filhos 6 casam, os parceiros viajam antes do tempo normal, 7 ocorrem divórcios e separações pelo desgaste dos 8 relacionamentos, e assim por diante. Percebendo ou 9 não, sofrendo ou não, um dia a gente se surpreende 10 morando só. 11 Todos conhecem as vantagens e desvantagens 12 da solidão. A liberdade, o direito de escolher o 13 livro, o programa de televisão, o filme, o que fazer 14 nas horas vagas, sem o inconveniente de outras 15 pessoas exercendo também o mesmo direito, num 16 mesmo ambiente, atrapalhando nosso desfrute. 17 As desvantagens são incontáveis, talvez em maior 18 número. Não ter com quem dividir os sentimentos é 19 o mais premente. 20 Uma colega de trabalho me relatou que o maior 21 sonho de sua vida seria alugar alguns filmes e 22 passar uns três dias em casa. Marido e filha não 23 permitem. Fiz a experiência, ou melhor, tentei. 24 Uma coisa é ver um filme no cinema, em casa não 25 tem graça. E quando tentei a solidão experimental, 26 permanecendo um fim de semana em casa, foi 27 também a pior experiência. Caiu de vez a tese que 28 tentava defender que a gente pode viver bem, sem 29 depender de ninguém. Na verdade, a solidão é boa 30 em algumas circunstâncias, ruim em outras. Num 31 determinado momento pode ser conveniente, mas 32 já me convenci de que não deve ser adotada como 33 estilo de vida. TINÉ, Flávio. Solidão experimental. Disponível em: <http://blogdotine. blogspot.com.br/2014/ 12/solidao-experimental.html>. Acesso em: 25 ago. 2015. Adaptado.
Considerando-se os elementos que garantem a progressão textual, é correto afirmar: 04 01. O conectivo presente em “Quanto maior a cidade” (Ref. 2) introduz uma ideia de comparação, que será concluída no fragmento “maior o isolamento das pessoas de todas as idades.” (Refs. 2-3). 02. O pronome relativo “cujos”, em “cujos filhos” (Ref. 4), retoma a expressão “pessoas de todas as idades” (Ref. 3), estabelecendo uma ideia de posse. 03. A expressão “ou melhor” (Ref. 23) dá progressão temática ao texto, indicando uma justificativa do que foi declarado anteriormente. 04. O elemento coesivo “que”, nas duas ocorrências, em “que tentava defender que a gente pode viver bem” (Refs. 2728), é um termo que apresenta diferentes funções, na medida em que o primeiro retoma o substantivo “tese” (Ref. 27), e o segundo introduz um complemento verbal, permitindo concluir que as classes gramaticais a que um e outro pertencem são distintas. 05. A conjunção “mas” (Ref. 31) introduz uma informação contrária, rejeitando a afirmação anterior sobre a importância da solidão no cotidiano das pessoas que vivem na cidade grande.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (FGV SP) Redundâncias Ter medo da morte é coisa dos vivos o morto está livre de tudo o que é vida Ter apego ao mundo é coisa dos vivos para o morto não há (não houve) raios rios risos
lidades simples e lineares, estamos 19 a um passo de “encontrar” explicações instintivas do ódio e da violência, em uma hierarquização em que 20 a natureza precede a cultura, território de escolha das argumentações racistas. A “natureza” – o 21 “biológico” como “a” origem ou “a” causa – operam como explicação segura e tranquilizadora ante 22 questões que nos encurralam na ignorância e na insegurança de um saber parcial. [...] (*) Pierre Clastres (1934-1977) (VIÑAR, M. O reconhecimento do próximo. Notas para pensar o ódio ao estrangeiro. In: Caterina Koltai (org.) O estrangeiro. São Paulo: Escuta; Fapesp, 1998)
Considere o primeiro parágrafo do texto (referências 1 a 5) e a tirinha abaixo. Dik Browne
E ninguém vive a morte quer morto quer vivo mera noção que existe só enquanto existo (Ferreira Gullar, Muitas vozes)
Determinado pronome demonstrativo, “quando, no singular masculino, equivale a isto, isso, aquilo...”.
A definição está corretamente exemplificada com o verso: a) é coisa dos vivos d) quer morto quer vivo b) de tudo o que é vida e) mera noção que existe c) E ninguém vive a morte 05. (ITA SP) Texto do psicanalista uruguaio Marcelo Viñar. 1 Nos estudos de antropologia política de Pierre Clastres*, estudioso francês que conviveu durante 2 muito tempo com tribos indígenas sul-americanas, menciona-se o fato de frequentemente os membros 3 dessas tribos designarem a si mesmos com um vocábulo que em sua língua era sinônimo de “os 4 homens” e reservavam para seus congêneres de tribos vizinhas termos como “ovos de piolho”, “subhomens” 5 ou equivalentes com valor pejorativo. 6 Trago esta referência – que Clastres denomina etnocentrismo – eloquente de uma xenofobia em 7 sociedades primitivas, porque ela é tentadora para propor origens precoces, quem sabe constitucionais 8 ou genéticas, no ódio ou recusa das diferenças. 9 A mesma precocidade, dizem alguns, encontra-se nas crianças. Uma criança uruguaia, com clara 10 ascendência europeia, como é comum em nosso país, resultado do genocídio indígena, denuncia, entre 11 indignada e temerosa, sua repulsa a uma criança japonesa que entrou em sua classe (fato raro em 12 nosso meio) e argumenta que sua linguagem lhe é incompreensível e seus traços são diferentes e 13 incomuns. 14 Se as crianças e os primitivos reagem deste modo, poder-se-ia concluir – precipitadamente – que 15 o que manifestam, de maneira tão primária e transparente, é algo que os desenvolvimentos posteriores 16 da civilização tornarão evidente de forma mais complexa e sofisticada, mas com a mesma contundência 17 elementar. 18 Por esse caminho, e com a tendência humana a buscar causa-
(http://geografiaetal.blogspot.com.br/2012/04/hagar-o-horrivel.html)
O par de pronomes que expressa a dicotomia dos conjuntos tribos/navegantes e tribos vizinhas/não navegantes é a) eu – você b) tu – vós c) ele – eles d) nós – eles e) vocês – eles 06. (UEPB) “(...) Quero ver-te de novo, contemplar-te muito, muito; quero-te bem unido a mim para, abraçados fortemente, eu te contar um segredo que só teus ouvidos podem escutar. (...)” (FARIA, Paula. Correspondência amorosa de Maria Lina. IN: Calendário, São Paulo: USP, maio/2006. p. 3.)
Reescrevendo o enunciado acima e substituindo a 2ª pessoa do discurso para a 3ª pessoa, considerando a pessoa com quem se fala, a alternativa correta é: a) Quero ver você de novo, contemplar-lhe muito, muito; quero-lhe bem unido a mim para, abraçados fortemente, eu contar a você um segredo que os ouvidos dele podem escutar. b) Quero ver-lhe de novo, contemplar-lhe muito, muito; quero ele bem unido a mim para abraçados fortemente eu contá-lo um segredo que só os seus ouvidos podem escutar. c) Quero vê-lo de novo, contemplá-lo muito, muito; quero você bem unido a mim para, abraçados fortemente, eu lhe contar um segredo que só seus ouvidos podem escutar. d) Quero vê-lo de novo, contemplar ele muito, muito; quero-o bem unido a mim para, abraçados fortemente, eu contar-lhe um segredo que só seus ouvidos podem escutar. e) Quero lhe ver de novo, contemplar você muito, muito; lhe quero bem unido a mim para, abraçados fortemente, eu contar a ele um segredo que só os ouvidos dele podem escutar.
593
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
(Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo)
FRENTE
B
Fonte: Wikimedia Commons
PORTUGUÊS Por falar nisso O Romantismo surge na Europa em uma época cujo ambiente intelectual é de grande rebeldia. Caem os sistemas de governo despóticos e surge o liberalismo político. No Brasil, o Romantismo emerge após a nossa independência política em 1822 e culmina com a abolição da escravidão. Este movimento literário não chegou a se consolidar de forma direta. Antes da Era Romântica, o nosso país passou por um período de transição denominado Préromantismo. Esse período ocorreu entre 1808 e 1836, com o fim do apogeu da estética clássica e dos padrões árcades. Apesar de o Brasil ter tido importantes autores no século XVIII, a produção escrita no país era destinada a leitores portugueses. Esse cenário só mudou diante da chegada do Romantismo. Desse modo, falamos de um movimento não só literário, mas também artístico, político e filosófico. Além disso, trata-se de um dos mais importantes movimentos literários e teve todas as qualidades de uma revolução, dando margens a manifestações do temperamento poético e literário nacionais. É com o Romantismo que a literatura adquire sua autonomia, pois, até então, ela estava ligada à literatura portuguesa, embora possuísse características brasileiras, conforme vimos em aulas anteriores. Nas próximas aulas, aprofundaremos nossos estudos sobre o Romantismo, estudando a segunda e a terceira gerações de poetas românticos, e a prosa produzida à época. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
B13 B14 B15 B16
Romantismo: segunda geração..................................................... 596 Romantismo: terceira geração...................................................... 608 Romance indianista e regional...................................................... 620 Romance urbano e histórico......................................................... 630
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B13
ASSUNTOS ABORDADOS nn Romantismo: segunda geração nn Características do Ultrarromantismo nn Principais poetas do Ultrarromantismo
ROMANTISMO: SEGUNDA GERAÇÃO A segunda geração romântica, tema desta aula, foi conhecida também como Byroniana ou Ultrarromântica. O Ultrarromantismo foi uma tendência posterior à primeira fase da poesia romântica, conhecida também por geração indianista. Ultrarromânticos foram os poetas-estudantes, universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro, influenciados pelo inglês Lord Byron. Um detalhe interessante: quase todos os poetas dessa geração faleceram muito jovens, membros de rodas boêmias, dilacerados entre o erotismo e o sarcasmo obsceno. Marcado por uma cultura da tristeza, valorização da morte, pensamentos pessimistas e decadência da sociedade, o Ultrarromantismo teve a denominação de “mal do século” por sua característica de abordar temas obscuros, vida desregrada dos jovens da época e a desesperança frente à vida, ao amor e à realidade. Esses jovens demonstravam gosto exacerbados pela morte, amores impossíveis e pela escuridão. Tinham grande apego aos valores decadentes e imorais, como a bebida, o satanismo e o vício. Os temas mórbidos, o pessimismo, a melancolia e o sofrimento eram frequentes em seus poemas.
Figura 01 - Morbidez, fuga total e definitiva da vida: solução para os sofrimentos
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Fonte: andriano.cz / Shutterstock.com
As obras produzidas nesse período possuíam a peculiaridade de um romantismo utópico, imprimindo um tom extremamente poético e metafísico na produção artística. O poeta encontrava na morte a fuga da realidade de amores não compreendidos, pois via no sentimento a finalidade da vida de cada indivíduo. Os poetas dessa geração romântica desprezavam todas as temáticas da geração anterior, como o nacionalismo e o indianismo, imprimindo na poesia traços egocêntricos, subjetivistas e sentimentais.
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Características do Ultrarromantismo Os autores do ultrarromantismo cultivaram o profundo subjetivismo, o egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o saudosismo (lamentação). Em Casimiro de Abreu, por exemplo, o pessimismo, o sentimento de angústia, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da realidade estão bem arraigados. nn Tédio
constante, morbidez, sofrimento, pessimismo, negativismo, satanismo, masoquismo, cinismo, autodestruição; nn Obsessão pela morte (solução para os sofrimentos): fuga total e definitiva da vida; nn Liberdade criadora (o conteúdo é mais importante que a forma); nn Dúvida, dualismo; nn Fuga da realidade para o mundo dos sonhos, da fantasia e da imaginação (escapismo, evasão); nn Desilusão adolescente; nn Idealização do amor e da mulher; nn Supervalorização das emoções pessoais, subjetivismo, egocentrismo; nn Saudosismo (saudade da infância e do passado); nn Gosto pelo noturno; nn Consciência de solidão; nn Sarcasmo e ironia. Os principais autores dessa geração foram quatro jovens poetas que morreram prematuramente: nn Fagundes
Varela (1825-1841) de Azevedo (1831-1852) nn Junqueira Freire (1831-1855) nn Casimiro de Abreu (1839-1860)
Principais poetas do Ultrarromantismo
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nn Álvares
Casimiro de Abreu
B13 Romantismo: segunda geração
Casimiro José Marques de Abreu foi um dos poetas que foram vítimas da vida boêmia e da tuberculose. Ele nasceu em Barra de São João, Rio de Janeiro, em 1839, e morreu em Nova Friburgo, também no Rio, em 1860. Foi o poeta mais lido e declamado da segunda geração romântica brasileira. A musicalidade de ritmos e rimas de seus versos facilitava a memorização dos poemas. O modo sensível com que tratou os temas, como a saudade, a infância, a família, o amor platônico e o medo do amor, a natureza e o desejo, sem a marca do pessimismo e a culpa que é evidente nos outros autores da época, justifica sua popularidade. Sempre muito sentimental, foi dominado pelo pessimismo nos dois últimos anos de sua vida. Sua obra lírica está reunida no volume As primaveras. Leia a seguir o poema “Meus oito anos” de Casimiro: Figura 02 - Casimiro de Abreu
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Português
Meus oito anos
De minha mãe as carícias
Oh! Presente! Primaveras! Auroras!
E beijos de minha irmã!
B13 Romantismo: segunda geração
Victor Hugo
Oh! que saudades que eu tenho
Livre filho das montanhas,
Da aurora da minha vida,
Eu ia bem satisfeito,
Da minha infância querida
De camisa aberta ao peito,
Que os anos não trazem mais!
– Pés descalços, braços nus –
Que amor, que sonhos, que flores,
Correndo pelas campinas
Naquelas tardes fagueiras
À roda das cachoeiras,
À sombra das bananeiras,
Atrás das asas ligeiras
Debaixo dos laranjais!
Das borboletas azuis!
Como são belos os dias
Naqueles tempos ditosos
Do despontar da existência!
Ia colher as pitangas,
– Respira a alma inocência
Trepava a tirar as mangas,
Como perfumes a flor;
Brincava à beira do mar;
O mar é – lago sereno,
Rezava às Ave-Marias,
O céu – um manto azulado,
Achava o céu sempre lindo,
O mundo – um sonho dourado,
Adormecia sorrindo,
A vida – um hino d’amor!
E despertava a cantar!
Que auroras, que sol, que vida,
Oh! que saudades que eu tenho
Que noites de melodia
Da aurora da minha vida
Naquela doce alegria,
Da minha infância querida
Naquele ingênuo folgar!
Que os anos não trazem mais!
O céu bordado d’estrelas,
– Que amor, que sonhos, que flores,
A terra de aromas cheia,
Naquelas tardes fagueiras
As ondas beijando a areia
À sombra das bananeiras,
E a lua beijando o mar!
Debaixo dos laranjais!
Oh! dias de minha infância! Oh! meu céu de primavera! Que doce a vida não era Nessa risonha manhã! Em vez de mágoas de agora, Eu tinha nessas delícias
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O poema inicia-se com uma epígrafe, cuja função é homenagear Victor Hugo, poeta romântico francês, e situar a temática da poesia. Carregada de subjetivismo, o sentimento presente é a saudade da infância, que transcorrerá como tema principal. As características do Romantismo encontradas no poema são a opção pela visão idealizada da vida e o culto à natureza. Podemos observar um grande saudosismo, confirmando que esse passado não irá refletir-se no presente, mostrando um desejo de voltar à infância.
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As imagens associadas à infância trazem lembranças muito positivas. A natureza é perfeita: céu estrelado, árvores de sombra acolhedora, mar como um lago sereno. A natureza passa a refletir o estado de espírito do eu lírico. O presente revela-se triste e repleto de desilusões, contrastando com um passado feliz, cheio de realizações. Nesse cenário comparado ao paraíso, o poeta expressa que a alma da criança respira “inocência” e faz referência às brincadeiras “ingênuas”. O poema representa uma possibilidade de reviver, de forma idealizada, aquele tempo que ficou perdido no passado ou aquela inocência infantil, perdida na idade adulta. Na terceira estrofe, percebe-se que o eu lírico mostra sua saudade nostálgica da infância pura. Nesse fragmento, podemos perceber que o poeta adulto está exposto a uma vida dolorosa, por não ter mais aquela inocência de criança. No poema, o poeta ainda faz menção à família, valorizando a figura feminina, a mãe e a irmã, enfatizando o apoio que recebia delas, diante da tristeza e solidão de agora. Nas estrofes que seguem, ele faz alusão ao sentimento de liberdade, felicidade e a preferência pelas montanhas. Pelo contexto, infere-se que, quando criança, o poeta sentia-se feliz em enfrentar desafios, correndo livre pelas campinas. A natureza para o poeta é exemplo da grandeza divina, portanto ela passa a ser reverenciada como expressão do Criador. Assim sendo, o culto pode sintetizar a intimidade de uma oração. O poema apresenta um tom nostálgico em alguns versos, mas o que o texto quer enfatizar é, na verdade, a “aurora da vida”, cheia de sonhos, flores, amor, bananeiras e laranjais. O poeta tem a impressão de que não viverá jamais essa realidade e esse cenário, porém, ao falar dessa “infância querida”, ele busca esquecer as “mágoas de agora”.
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Álvares de Azevedo (1831-1852) foi poeta e contista que produziu a literatura mais consistente do Ultrarromantismo, embora tenha tido uma vida muito curta. Morreu vítima de tuberculose e de um tumor na fossa ilíaca. Toda a sua obra foi escrita entre seus 17 e 21 anos, portanto entre 1848 e 1852, durante o período que cursou a Faculdade de Direito em São Paulo e nos poucos meses que viveu no Rio de Janeiro, perto já de sua morte. Sua obra foi publicada postumamente e deu mostra da evolução artística do poeta. Álvares de Azevedo imprime em seus textos a marca de uma adolescência conflitante e dilacerada, representando a experiência mais dramática do Romantismo brasileiro. De todos os poetas de sua geração, é o que mais reflete a influência do poeta inglês Lord Byron, criador de personagens sonhadores e aventureiros. Seus textos abordam constantemente o tédio da vida, as frustrações amorosas e o sentimento de morte. A presença da mulher em seus versos é frequente, ora como um anjo, ora como um ser fatal, porém sempre inacessível. Álvares de Azevedo também foi um prosador muito eficiente. Os contos fantásticos de Noite na taverna são repletos de crimes, casos de incestos, necrofilia e outras taras praticadas em ambientes noturnos. Álvares de Azevedo morreu no dia 25 de abril de 1852, com apenas 21 anos. Um dos maiores exemplos do seu sentimento exacerbado é o poema Lembrança de morrer. Leia-o a seguir:
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Álvares de Azevedo
Figura 03 - Álvares de Azevedo
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Português
Lembrança de morrer Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Aos lábios me encostou a face linda!
Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro, Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade... é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia.
Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores... Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta - sonhou - e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha
Que eu sentia velar nas noites minhas...
Que minha alma cantou e amava tanto,
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Protegei o meu corpo abandonado,
Que por minha tristeza te definhas!
E no silêncio derramai-lhe canto!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Mas quando preludia ave d’aurora
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
E quando à meia-noite o céu repousa,
Quando, em noites de febre endoidecido,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Deixai a lua pratear-me a lousa!
B13 Romantismo: segunda geração
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Só levo uma saudade... é dessas sombras
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Nesse poema, temos a noção de quão o eu lírico está desgostoso com a vida e o quanto a vida era cheia de tédio. Ele vivia cada dia não como se fosse o último, mas sim, com cansaço e querendo apressar o fim. Observe que o sujeito-lírico exibe todas as características presentes no segundo período do romantismo. A começar pelo título, tem-se uma ideia do sentimento de melancolia e a afeição pela morte, tal como a fuga do real. Como você pôde perceber, desde a primeira estrofe, o sentimento de melancolia está presente. Em um tom de despedida, o eu lírico pede para que não chorem por ele. Perceba que no primeiro quarteto o poeta utiliza-se de um eufemismo para se referir à morte. A vontade de morrer nasce de uma visão pessimista da existência humana. A existência conflitiva e penosa em que vive o sujeito lírico só encontra conforto na morte. Se a morte for consolidada, o eu lírico sentirá saudades de apenas algumas lembranças. Assim, de todas as lembranças, ele derramará uma lágrima nostálgica “apenas pela virgem que sonhei” expressando o amor carnal em oposição ao convencional. Ele nomeia uma mulher-anjo, cheia de virtudes tão maravilhosas que fazem dela algo inatingível. É a essa virgem presente em seus sonhos que o sujeito lírico dedica sua vida, porém esse desejo não se materializa, por isso ele busca a morte como meio de libertação dos sofrimentos. Isso é tão evidente que ele registra o seu próprio epitáfio na décima estrofe.
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Perceba que, se na décima estrofe há um ser que sofre quando descreve seu próprio epitáfio, nas últimas estrofes ele faz o desfecho do poema e descreve seu próprio túmulo, inferindo que a morte é uma possibilidade de encanto. Para o poeta do “mal do século” importam suas impressões, seu mundo interior, seu sofrimento, porém, tudo isso dentro de si, no silêncio, na imaginação, onde só padece o corpo e quem está ao redor. Como você pôde perceber, recluso no seu universo particular, o poeta experimenta a derrota do ego, produzindo a frustração e o tédio.
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Português
Fagundes Varela Luís Nicolau Fagundes Varela (1841-1875) foi um poeta marcado pela perda prematura de seu filho e pelo alcoolismo. Varela sofreu influências dos poetas Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Sua obra explora tanto temas nacionalistas e ultrarromânticos, como sociais. Embora byroniano, já tinha em sua poesia algumas características da terceira geração romântica, a geração condoreira. A grandiloquência de sua linguagem registra o estilo dos condoreiros, por esse motivo foi considerado um poeta de transição, apesar de a crítica classificá-lo como um poeta ultrarromântico por imprimir em sua obra temas e imagens dessa tendência: tédio, angústia, desesperança, morbidez, sombras, figuras vaporosas, aparições fantásticas. Na sua obra poética, destaca-se a poesia intitulada “A flor de maracujá” por ter sido inspirada na morte prematura do filho de seu primeiro casamento, em dezembro de 1863. Leia-a a seguir: A flor do maracujá
Pelas tranças de mãe-d’água Que junto da fonte está, Pelos colibris que brincam Nas alvas plumas do ubá, Pelos cravos desenhados Na flor do maracujá! Não se enojem teus ouvidos De tantas rimas em – á – Mas ouve meus juramentos, Meus cantos, ouve, sinhá! Te peço pelos mistérios Da flor do maracujá!
Pelas rosas, pelos lírios, Pelas abelhas, sinhá, Pelas notas mais chorosas Do canto do sabiá, Pelo cálice de angústias Da flor do maracujá! Pelo jasmim, pelo goivo, Pelo agreste manacá, Pelas gotas de sereno Pela coroa de espinhos Da flor do maracujá!
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Nas folhas do gravatá,
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A flor de maracujá significa a Paixão de Cristo, conhecida também como a “flor da paixão”. Em sua poesia, Varela, além de apresentar temas sociais e políticos, desenvolveu também temas sobre a natureza e temas que falam de angústia, solidão, melancolia e desengano. No poema, podemos perceber que o autor é um escravo que faz apelos à sua senhora, por meio de recursos da natureza. Notam-se também algumas tendências da terceira geração do romantismo que foi marcada pela liberdade, abolicionismo e denúncias aos males da sociedade. Percebe-se ainda que, ao longo do poema, o eu lírico faz um apelo referente aos elementos da natureza, para que seu interlocutor possa guardar um emblema que ele pede. Na última estrofe, ele utiliza um tom humorado, e pede para que não se enojem das rimas repetitivas que ele utiliza.
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Junqueira Freire Luís José Junqueira Freire (1832- 1855) viveu apenas 22 anos. Aos 18 anos, sofreu grande desilusão e por isso decidiu ingressar na Ordem dos Beneditinos, porém, sem vocação para a vida religiosa, conseguiu voltar à vida secular em 1854, sete meses antes de morrer. Sua obra tem como tema central a morte como libertação da matéria. A produção poética de Junqueira Freire foi publicada nos livros Inspirações do claustro e Contradições poéticas. Leia a seguir o poema “Louco (hora de delírio)”: Louco (hora de delírio) Não, não é louco. O espírito somente É que quebrou-lhe um elo da matéria. Pensa melhor que vós, pensa mais livre, Aproxima-se mais à essência etérea. Achou pequeno o cérebro que o tinha: Suas ideias não cabiam nele; Seu corpo é que lutou contra sua alma, E nessa luta foi vencido aquele, Foi uma repulsão de dois contrários: Foi um duelo, na verdade, insano: Foi um choque de agentes poderosos: Foi o divino a combater com o humano.
Ao ler o poema podemos perceber registro de características da geração “mal do século”. A morte é uma representação clara do pessimismo da segunda geração, além de apresentar evidências das características de escrita do próprio escritor: sacerdote e poeta. Junqueira em seus versos evidencia um conflito entrelaçando vida espiritual, religiosa e mundo material. Por meio de reflexões sobre a vida, o autor tenta mostrar a conexão entre o mundo material (o mundo humano) e o mundo espiritual (o mundo divino), manifestando sua desilusão com a vida religiosa que antes havia escolhido.
B13 Romantismo: segunda geração
Não só Junqueira, como também os demais representantes da segunda geração romântica trata a morte como sendo a única forma de se atingir a liberdade plena, abandonando a vida material e rompendo com “a prisão da carne”, forma pela qual ele descreveu em seu texto o que seria a vida na terra. Na visão do poeta, a morte é algo positivo para o espírito, um acontecimento bom e natural. Para Junqueira, a vida na terra é uma espécie de prisão da qual o espírito deve se libertar para atingir sua plenitude e chegar à essência.
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Português Questão 01. “b”. Esse lirismo está fundamentado na melancolia, sentimento que impede qualquer possibilidade de reação diante da perda, fato que pode ser notado nos seguintes versos: “Do leito embalde no macio encosto/ Tento o sono reter!... já esmorece/ O corpo exausto que o repouso esquece.../Eis o estado em que a mágoa me tem posto!”.
Exercícios de Fixação 01. (Enem Mec) Soneto Já da morte o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto! Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!… já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece… Eis o estado em que a mágoa me tem posto! O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade. Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive! (AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000)
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração do romantismo, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda. c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento. 02. (Puc RS) Leia o excerto abaixo, retirado da obra Macário, de Álvares de Azevedo.
B13 Romantismo: segunda geração
(O DESCONHECIDO) Eu sou o diabo. Boa-noite, Macário. (MACÁRIO) Boa-noite, Satã. (Deita-se. O desconhecido sai). O diabo! uma boa fortuna! Há dez anos que eu ando para encontrar esse patife! Desta vez agarrei-o pela cauda! A maior desgraça deste mundo é ser Fausto sem Mefistófeles. Olá, Satã! (SATÃ) Macário. (MACÁRIO) Quando partimos? (SATÃ) Tens sono? (MACÁRIO) Não. (SATÃ) Então já. (MACÁRIO) E o meu burro? (SATÃ) Irás na minha garupa. Sobre o movimento literário em que se inscreve Álvares de Azevedo, é INCORRETO afirmar:
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a) A representação de figuras do mundo sobrenatural também constitui uma das características desse movimento, conforme se lê no excerto acima. b) José de Alencar é o autor de romances mais representativos desse movimento, com obras como O Guarani, O sertanejo, As minas de prata. c) A representação da nação, um dos temas do movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo, exaltou as belezas naturais da terra brasileira. d) Os estados de alma em que o sujeito poético expressa seus sentimentos de tristeza, dor e angústia é tema recorrente no movimento em que se inscreve a obra de Álvares de Azevedo. e) A poesia de Álvares de Azevedo, como a dos outros românticos brasileiros, define-se em torno de dois polos poéticos: a marcante presença da natureza, explorada com destaque em Noites da taverna, e a constante viagem ao interior do sujeito para exprimir sua dor e seus sentimentos. 03. (Enem Mec) Soneto Oh! Páginas da vida que eu amava, Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!... Ardei, lembranças doces do passado! Quero rir-me de tudo que eu amava! E que doido que eu fui! como eu pensava Em mãe, amor de irmã! em sossegado Adormecer na vida acalentado Pelos lábios que eu tímido beijava! Embora — é meu destino. Em treva densa Dentro do peito a existência finda Pressinto a morte na fatal doença! A mim a solidão da noite infinda! Possa dormir o trovador sem crença. Perdoa minha mãe – eu te amo ainda! AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com o(a) a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico. b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã. c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica. d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir. e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.
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04. (Unesp SP) Outro traço importante da poesia de Álvares de Azevedo é o gosto pelo prosaísmo e o humor, que formam a vertente para nós mais moderna do Romantismo. A sua obra é a mais variada e complexa no quadro da nossa poesia romântica; mas a imagem tradicional de poeta sofredor e desesperado atrapalhou a reconhecer a importância de sua veia humorística. (Antonio Candido. “Prefácio”. In: Álvares de Azevedo. Melhores poemas, 2003. Adaptado.)
A veia humorística ressaltada pelo crítico Antonio Candido na poesia de Álvares de Azevedo está bem exemplificada em: a) Cavaleiro das armas escuras, Onde vais pelas trevas impuras Com a espada sanguenta na mão? Por que brilham teus olhos ardentes E gemidos nos lábios frementes Vertem fogo do teu coração? b) Ontem tinha chovido... Que desgraça! Eu ia a trote inglês ardendo em chama, Mas lá vai senão quando uma carroça Minhas roupas tafuis encheu de lama... c) Pálida, à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! d) Se eu morresse amanhã, viria ao menos
a) a atração pelo mórbido. b) o culto à natureza local. c) a ausência de subjetividade. d) o autoritarismo do gênio. e) o caráter místico. 06. (Espm SP) Assinale o item que possui um trecho com características nítidas do período literário conhecido como Romantismo: a) “Enquanto a luta jogam os Pastores,/E emparelhados correm nas campinas,/Toucarei teus cabelos de boninas,/Nos troncos gravarei os teus louvores.” b) “E essa imagem é pura e sorri; orna-lhe a fronte a coroa das virgens; sobe-lhe ao rosto a vermelhidão do pudor;...” c) “[Padre Antônio de Morais] Entregara-se, de corpo e alma, à sedução da linda rapariga (...) quisera saciar-se do gozo por muito tempo desejado, e sempre impedido.” d) “E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio.” e) “Os que as amam e gozam sensualmente, à lei da sensualidade, não lhes ouvem a vaporosa música embriagante do vinho dos encantos da voz e do sorriso; não lhes sentem o perfume delicado de úmidas bocas purpúreas,...” 07. (Ibmec SP) Vagabundo
Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã! e) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente,
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano, Fumando meu cigarro vaporoso; Nas noites de verão namoro estrelas; Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!
Não derramem por mim nem uma lágrima 05. (Ibmec SP) Cuidado com aqueles cujos bolsos estão cheios de esprit – de inteligência aguda – e que espalham essa sagacidade em todas as oportunidades, em todo lugar. Eles não têm nenhum demônio dentro de si, não são soturnos, ou sombrios, ou melancólicos, ou silenciosos. Nunca são desajeitados ou tolos. A cotovia, o tentilhão, o pintarroxo, o canário, estes piam e gorjeiam o dia todo; ao pôr do sol, repousam a cabeça debaixo da asa, e, pronto!, já estão dormindo. É então que o gênio torna sua lâmpada e a acende. E essa negra ave, solitária e selvagem, essa criatura indomável, com sua sombria e melancólica plumagem, abre a garganta e começa a cantar, faz ressoar os bosques e quebra o silêncio e as trevas da noite. DIDEROT, Denis. “Salão de 1765”. In: BERLIN, I. As raízes do Romantismo. São Paulo, Três Estrelas, 2015, p. 89.
No fragmento, o filósofo francês Diderot já reconhecia em artistas de seu tempo algumas características presentes na estética da primeira metade do século XIX, como
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas, E quem vive de amor não tem pobrezas. (...) (Álvares de Azevedo)
A visão de mundo expressa pelo eu lírico nos versos de Álvares de Azevedo revela o(a) a) desequilíbrio do poeta adolescente e indeciso, que não é capaz de amar uma mulher nem a si próprio. b) valorização da vida boêmia que proporciona um outro tipo felicidade, desvinculada de valores materiais. c) postura acrítica que o poeta tem diante da realidade, seja em relação ao amor, seja em relação à vida social. d) lamento do poeta que leva a vida peregrina e pobre, sem bens materiais e nenhuma forma de felicidade. e) constatação de que a música é o único expediente capaz de levá-lo à obtenção de recursos materiais. 605
B13 Romantismo: segunda geração
Em pálpebra demente.
Português
Exercícios Complementares 01. (UEG GO) Lembrança de morrer [...] Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto o poento caminheiro, - Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre sineiro [...] AZEVEDO, Alvares de. Poesias completas de Álvares de Azevedo. 7. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. p. 37.
Este fragmento mostra uma atitude escapista típica do romantismo. O eu lírico idealiza a) a vida como um ofício de prazer, destinado à fruição eterna. b) a morte como um meio de libertação do terrível fardo de viver. c) o tédio como a repetição dos fragmentos belos e significativos da vida. d) o deserto como um destino sereno para quem vence as hostilidades da vida. 02. (UFG GO) Leia os poemas a seguir. A POESIA Ah se não houvesse a poesia, se não houvesse a poesia, não haveria água, nem madeira, nem caminho, nem céu, nem corpo atraindo outro corpo. Ah, se não houvesse a poesia eu simplesmente não seria um zé garcia atravessado na garganta de deus e do diabo, eu não seria um zé, um Zé Garcia Chuva de Manga, não um camarada atravessado de nuvens e de tantas mulheres felizes, eu não seria, engraçada, uma tempestade muda. GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 25.
B13 Romantismo: segunda geração
UM CADÁVER DE POETA II [...] A poesia é de certo uma loucura; Sêneca o disse, um homem de renome. É um defeito no cérebro... Que doidos! É um grande favor, é muita esmola Dizer-lhes bravo! à inspiração divina... E, quando tremem de miséria e fome, Dar-lhes um leito no hospital dos loucos... Quando é gelada a fronte sonhadora Por que há de o vivo que despreza rimas Cansar os braços arrastando um morto, Ou pagar os salários do coveiro? A bolsa esvaziar por um misérrimo, Quando a emprega melhor em lodo e vício! AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 127.
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Os poemas transcritos tratam do mesmo tema, o fazer poético, mas apresentam diferentes concepções a respeito dessa temática. Tal diferença se expressa na contraposição entre as ideias de que a poesia é a) produto da observação da natureza, no primeiro poema; e fruto da inspiração divina, no segundo. b) decorrente dos temas explorados pelo poeta, no primeiro poema; e resultado da insanidade de quem a produz, no segundo. c) inspirada nos sentimentos amorosos, no primeiro poema; e responsável pelas dores vividas pelo poeta, no segundo. d) forma de conhecimento para o poeta, no primeiro poema; e motivo de sofrimento para quem a cria, no segundo. e) gênese da criação, no primeiro poema; e resultado de distúrbios emocionais do poeta, no segundo. 03. (UFG GO) Leia o poema a seguir. SONETO Ao sol do meio-dia eu vi dormindo Na calçada da rua um marinheiro, Roncava a todo o pano o tal brejeiro Do vinho nos vapores se expandindo! Além um Espanhol eu vi sorrindo Saboreando um cigarro feiticeiro, Enchia de fumaça o quarto inteiro. Parecia de gosto se esvaindo! Mais longe estava um pobretão careca De uma esquina lodosa no retiro Enlevado tocando uma rabeca! Venturosa indolência! não deliro Se morro de preguiça... o mais é seca! Desta vida o que mais vale um suspiro? AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 183.
Exemplar da segunda parte de Lira dos vinte anos, o poema transcrito encarna o lado Caliban do poeta, que se manifesta ao empregar a ironia como recurso para expressar a) uma distinção da imagem do artista, presente nos versos “De uma esquina lodosa no retiro / Enlevado tocando uma rabeca!”. b) uma visão pejorativa do homem, que se evidencia nos vocábulos do verso “Mais longe estava um pobretão careca”.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
c) um rebaixamento da condição humana, o que se confirma
05. (Udesc SC) O Romantismo foi marcado pela popularização da
na descrição depreciativa dos espaços, na terceira estrofe.
literatura, principalmente pelos “folhetins” que tiveram impor-
d) uma perspectiva escandalizada da sociedade, comprovada pela
tante papel no romance dessa época. Analise as proposições
representação depravada dos sujeitos, na primeira estrofe.
em relação ao gênero romance no período literário denomina-
e) um deboche da moralidade, visível nos versos “Venturosa in-
do Romantismo. I.
dolência! não deliro / Se morro de preguiça... o mais é seca!”.
Descreve costumes urbanos e apresenta personagens idealizadas, com as quais, muitas vezes, o leitor se
04. (UFG GO) Leia o poema a seguir.
identifica.
MEU SONHO
II.
EU Cavaleiro das armas escuras, Onde vais pelas trevas impuras Com a espada sanguenta na mão? Por que brilham teus olhos ardentes E gemidos nos lábios frementes Vertem fogo do teu coração?
Apresenta, entre outras tendências, a nacionalista, pois corresponde ao momento de afirmação da nossa nacionalidade. Isso ocorre principalmente com o escritor José de Alencar.
III.
Contém sempre cenas coletivas, grandes multidões, com personagens corrompidas e que apresentam desvios éticos.
IV.
Faz análise psicológica das personagens, é sempre documental, a exemplo, todas as obras de Machado de Assis.
Cavaleiro, quem és? o remorso? Do corcel te debruças no dorso... E galopas do vale através... Oh! da estrada acordando as poeiras Não escutas gritar as caveiras E morder-te o fantasma nos pés?
V.
Apresenta, normalmente, histórias de amor, pois o amor é um sentimento que se contrapõe quase sempre ao ódio e à intolerância.
Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas III e V são verdadeiras. b) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
Onde vais pelas trevas impuras, Cavaleiro das armas escuras,
c) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
Macilento qual morto na tumba?... Tu escutas... Na longa montanha Um tropel teu galope acompanha? E um clamor de vingança retumba?
e) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras.
06. (Unirv GO) Sobre a “Lira dos vinte anos”, de Álvares de Azevedo, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações abaixo.
Cavaleiro, quem és? – que mistério, Quem te força da morte no império Pela noite assombrada a vagar?
Gab: V-V-V-F
a) Na 1ª e na 3ª, o poeta eleva o leitor aos cenários mais envolventes e transcendentaliza os desejos mais profundos, em constantes abstrações e fantasias. b) Na segunda parte da obra, é apresentado o “reverso da medalha”; trata-se de uma sátira em relação à primeira parte. O poeta, desencantado e desiludido, traça o perfil de uma sociedade corrupta e insensível com a qual se depara diariamente.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 209.
c) A ironia e a autoironia são características da obra de Álva-
O poema transcrito emprega um recurso estrutural típico do gênero dramático e é representativo dos questionamentos ultrarromânticos recorrentes nas faces Ariel/Caliban da poesia de Álvares de Azevedo. Considerando essa afirmação e a análise do poema, responda: a) que recurso estrutural típico do gênero dramático é utilizado no poema? b) Que tema recorrente na obra de Álvares de Azevedo é abordado no poema?
no qual muitas vezes dirige o seu sarcasmo contra os po-
a) A divisão/separação/alternância das falas das personagens. b) A dualidade dos sentimentos que habitam uma mesma pessoa. OU A contraposição dos sentimentos positivos e negativos que habitam uma mesma pessoa.
res de Azevedo, sobretudo no livro “Lira dos vinte anos”, etas ultrarromânticos. d) As poesias são escritas sob o signo das entidades místicas Ariel e Caliban, que foram tomadas emprestadas da peça A Tempestade, de William Shakespeare. Pode-se dizer que, grosso modo, Caliban representa a face do bem e Ariel, a do mal.
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B13 Romantismo: segunda geração
O FANTASMA Sou o sonho de tua esperança, Tua febre que nunca descansa, O delírio que te há de matar!...
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B14
ASSUNTOS ABORDADOS nn Romantismo: terceira geração nn Condoreirismo nn Características e representantes nn Castro Alves nn Sousândrade
ROMANTISMO: TERCEIRA GERAÇÃO Como já vimos em aulas anteriores, o Romantismo no Brasil teve início em meados do século XIX após a Independência em 1822. Desde 1840, o país era governado pelo imperador D. Pedro II, que, com apenas 14 anos de idade, havia herdado do pai tanto a responsabilidade da coroa como também um país arruinado, e foi quando experimentou uma das maiores crises econômicas. Com o enfraquecimento do poder monárquico, o momento era de fortes agitações político-sociais, quando grande parte da população buscava um governo republicano, como também denunciava as condições dos escravos. Revoltas e lutas se espalhavam pelo território brasileiro: a revolta dos liberais em Minas Gerais e São Paulo, o movimento dos farroupilhas no Sul e a Balaiada no Maranhão. Para dominar os focos de revolta e calar os gritos de abolição da escravatura e as ideias republicanas, foi preciso o braço forte de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. A partir de 1860, a prosperidade no cultivo do café alavancou a economia e a infraestrutura trazendo enormes avanços para várias cidades, sobretudo no estado de São Paulo. Este estado foi favorecido pela chegada da energia elétrica, das redes de saneamento básico (água e esgoto) e com a construção de vias para a exportação do café. O contexto econômico brasileiro dá sinais de crescimento e esse novo tempo de prosperidade econômica impulsiona a classe latifundiária.
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 01 - A Liberdade Guiando o Povo (Delacroix, 28 de julho de 1830)
Muitos desses latifundiários e senhores de engenho das fazendas brasileiras utilizavam a mão de obra escrava, e esse foi o contexto que impulsionou os artistas a buscar a identidade nacional. Eles se inspiraram em temas de cunho político e social a fim de denunciar as mazelas da sociedade brasileira. Foi assim que, a partir da década de 1860, surge a poesia condoreira, utilizada como instrumento de denúncia das injustiças sociais, principalmente com relação à libertação dos escravos.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Figura 02 - Mãos escravizadas
Condoreirismo Com a prosperidade econômica, o melhoramento nas cidades, luz elétrica, novas estradas para levar o café aos portos para exportação, suscitava-se um clima para as festas e saraus. Paralelamente, as ideias liberais , democráticas e os ideais abolicionistas fervilhavam e alastram-se cada vez mais entre a população esclarecida, que realizava assembleias e comícios públicos, mas ainda persistia o regime escravocrata. Os africanos capturados eram tratados como “bens semoventes” e exibidos em pontos de comercialização, submetidos a maus tratos, à execração e a excessivas horas de trabalho, além de má alimentação.
SAIBA MAIS VICTOR HUGO Victor Hugo, poeta e dramaturgo, autor de Os miseráveis e O Corcunda de Notre Dame, escreveu obras com temas políticos, religiosos e filosóficos. Desde os anos 1830, seus textos são publicados, traduzidos e discutidos entre as elites intelectuais. No Rio de Janeiro, capital do Império de outrora, o Jornal do Commercio publicou alguns dos romances de Victor Hugo em folhetim. Os poetas brasileiros reconhecem, no vigor desse escritor, sua poesia apaixonada, cercada de imagens fortes, e seu caráter antitético. Ademais, a luta dos artistas pelo fim da monarquia e da escravidão era amparada pelos textos de Victor Hugo. O próprio imperador do Brasil, Dom Pedro II, fez questão de homenagear o poeta francês no seu falecimento em 1877. Fonte: Wikimedia Commons
Fonte: Wikimedia Commons
Contrariamente aos poetas ultrarromânticos da segunda geração, cujo tema era o isolamento da realidade social e cuja poesia expressava, exacerbadamente, sentimentos subjetivos-, os poetas condoreiros conscientes da sociedade em que viviam se interessavam mais pelos conflitos entre liberdade e escravidão que pela idealização amorosa e, por isso, engajavam-se nos debates sociais e mostravam-se indignados diante do contexto brasileiro da época.
B14 Romantismo: terceira geração
Influenciados pela obra do poeta francês Victor Hugo (1802-1895) – destaque para a obra de cunho político-social Os miseráveis –, essa geração também ficou conhecida como geração hugoana. Eles sugeriam que a poesia, qual um condor (ave símbolo da liberdade, por isso essa geração também é chamada “condoreira”), voasse alto, gritasse e causasse grande reviravolta na massa. Os poetas da terceira geração romântica sentem que é mais do que necessário deixar a lamentação e a melancolia de lado e se engajam em uma causa maior: a luta social e o uso da poesia como ferramenta afiada para atingir o íntimo do povo. Os textos revolucionários e eloquentes do poeta Victor Hugo tornam-se conhecidos no país e exercem forte influência sobre os jovens estudantes da época. São frequentes as discussões políticas e as novas ideias agitam as faculdades de Direito de São Paulo e de Olinda. É nesse momento que entra em vigor o último momento romântico brasileiro, que acontece com a publicação de Espumas Flutuantes, de Castro Alves.
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Português
Características e representantes O Condoreirismo se afasta dos princípios da primeira e da segunda fase romântica, pois não apresenta mais aquele estilo melancólico. Os poetas condoreiros foram inspirados pelos ideais libertários defendidos por Victor Hugo. Segundo o mestre francês, “a arte não deve buscar apenas o belo, mas sobretudo o bem”. Esses condoreiros criticavam e refletiam sobre as condições sociais dos escravos negros, pois valorizavam a liberdade com um bem supremo. Suas principais características são os temas que dão lugar às preocupações de cunho social e político, em detrimento das temáticas exploradas anteriormente, tal qual o amor não correspondido, a morte, a idealização da mulher, o egocentrismo, dentre outros. Entre as principais características da poesia da última geração romântica, listamos abaixo as mais gerais: nn Poesia de fundo social, defensora da república e do abolicionismo, que fala dos
homens e para os homens, utilizando-se de versos voltados para os pobres, marginalizados e negros escravos; nn A produção literária dessa época rejeita o lamento introspectivo e individualista da geração ultrarromântica; nn Essa geração quis ser ouvida e, por isso, alcançou-se nas praças, nos lugares públicos, nas multidões para falar de seus anseios e convencer o outro. Para tanto, recorria à retórica e à eloquência. Por esse motivo, foi também chamada de “poesia de comício”; nn A relação entre os amantes agora é real, acontece de fato, não há mais aquela atmosfera de amor platônico presente nas gerações anteriores. A castidade e a divindade agora são substituídas por uma atmosfera de sensualidade e erotismo. Dessa forma, a mulher passa a ser vista, como ser carnal que é, em suas virtudes e pecados; nn Os poetas dessa geração ousaram nas metáforas, abusaram das hipérboles, antíteses retumbantes e apóstrofes violentas. Além disso, aderiram ao gosto pela frase pomposa e retórica grandiloquente. Os poetas que mais se destacaram nessa terceira geração romântica foram: nn Antônio
Frederico Castro Alves; de Sousa Andrade; nn Tobias Barreto. nn Joaquim
Fonte: Wikimedia Commons
Castro Alves, considerado o mais importante representante da poesia condoreira no Brasil, é o maior poeta da terceira geração romântica, conhecido como “Poeta dos Escravos”. Destacou-se pelos poemas: “O Navio Negreiro”, “Os Escravos” e “Vozes D’África”.
B14 Romantismo: terceira geração
Castro Alves Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) foi o mais importante representante da poesia condoreira no Brasil. Seus poemas tratam de questões como a crença no progresso e na educação como forma de aprimoramento social e principalmente o fim da escravidão negra. Nascido em 14 de março de 1847, em Curralinho (atual Castro Alves, Bahia), ele cresceu sempre acompanhado de festas de arte, saraus, muita música e poesia, tanto em casa como no colégio, e com isso aos 17 anos já compôs suas primeiras poesias, em que expressou a sua indignação diante dos graves problemas sociais de seu tempo. Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao Romantismo um sentido social e revolucionário que o aproxima do realismo.
Figura 03 - Castro Alves
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Fez seus estudos primários em Muritiba e Cachoeira, depois estudou Humanidades no Ginásio Baiano. Por esse período começou a escrever os primeiros versos. Em 1862, transferiu-se para Recife em companhia do irmão mais velho, José Antônio, também poe-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
ta, que se suicidaria aos 19 anos. Lá fizeram os preparatórios para a Faculdade de Direito. Em 1866, Castro Alves conhece Eugênia Câmara, uma portuguesa dez anos mais velha, e logo se tornam amantes. Foi uma paixão fulminante. Dividia-se entre ela, os estudos universitários, colaborações literárias em jornais e revistas e a militância política. Poeta exaltado e defensor ardoroso das causas liberais, notadamente do abolicionismo, popularizou-se por promover duelos poéticos. Seus poemas eram declamados em festas e em reuniões acadêmicas, ajudando a fundamentar a mentalidade abolicionista. Nos anos seguintes, surge sua grande produção literária, que foi impulsionada pela abolição da escravatura, fase que foi muito expressiva em sua vida, e também pelos fortes ideais da proclamação da república. Em 7 de setembro de 1868, o poeta mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, sua obra “Tragédia no Mar”, que posteriormente passou a ser chamada de o “Navio Negreiro”. Além de poesia de caráter social, o escritor também escreveu versos lírico-amorosos, de acordo com o estilo de Victor Hugo. Alguns estudiosos afirmam que Castro Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo. Em São Paulo, Eugênia Câmara rompeu com o poeta, o qual mergulhou em depressão. O poeta desinteressou-se por tudo e passava os dias perambulando e caçando. Em um de seus passeios, ao caçar codornas no bairro do Brás, sofreu um terrível acidente: ao atravessar uma valeta, sua espingarda disparou, ferindo-lhe o pé esquerdo. Em 1870, volta para Bahia onde publica Espumas Flutuantes. Castro Alves morreu em Salvador no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose. Condoreirismo em Castro Alves A praça, a praça é do Povo! Como o céu é do Condor! É antro onde a liberdade Cria a águia ao seu calor! Castro Alves
O condor é uma das maiores aves voadoras do mundo. Vive na Cordilheira dos Andes, na América do Sul, habitando encostas de montanhas. Os poetas condoreiros faziam da poesia um instrumento de reforma social e usavam-na em duelos poéticos em festas e praças. Castro Alves costumava dizer que seus versos eram feitos para serem gritados em praças públicas.
Fonte: Wikimedia Commons
B14 Romantismo: terceira geração
A obra de Castro Alves tem como características a indignação com tantas opressões e a compreensão dos problemas sociais. Sua produção literária possui um tom vigoroso e versos expressivos/exclamativos, um estilo dramático, pomposo, violento, dualista, hiperbólico, repleto de interjeições, metáforas e apóstrofes. Os aspectos mais importantes de sua poesia são o social e o amoroso.
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Poesia social Corajoso defensor dos princípios de liberdade, de justiça social, apologista do progresso, Castro Alves defendeu, com versos inflamados e ousadas figuras, os escravos, revelando corajosamente a miséria física e moral em que eram obrigados a viver. Em seus versos, procurou ressaltar as implicações humanas da escravatura, ajustando a sua eloquência condoreira à luta abolicionista. Retratou o escravo de modo romanticamente trágico, tentando despertar a sociedade – depois de três séculos de escravidão – para o que havia de mais desumano nesse regime. Nas obras “Navio Negreiro” e “Vozes d’África” o poeta denuncia as injustiças e clama por liberdade. Para melhor compreender as características da poesia condoreira, vamos ler um fragmento do poema “Tragédia no Lar” de Castro Alves, com um pequeno comentário e análise temática.
[...] II Leitor, se não tens desprezo De vir descer às senzalas, Trocar tapetes e salas Por um alcouce cruel, Que o teu vestido bordado Vem comigo, mas... cuidado... Não fique no chão manchado, No chão do imundo bordel.
Tragédia no lar
Não venhas tu que achas triste
I
Às vezes a própria festa.
Na Senzala, úmida, estreita,
Tu, grande, que nunca ouviste
Brilha a chama da candeia,
Senão gemidos da orquestra
No sapé se esgueira o vento.
Por que despertar tu’alma,
E a luz da fogueira ateia.
Em sedas adormecida, Esta excrescência da vida
Junto ao fogo, uma africana,
Que ocultas com tanto esmero?
Sentada, o filho embalando,
E o coração - tredo lodo,
Vai lentamente cantando
Fezes d’ânfora doirada
Uma tirana indolente,
Negra serpe, que enraivada,
Repassada de aflição.
Morde a cauda, morde o dorso
E o menino ri contente...
E sangra às vezes piedade,
Mas treme e grita gelado,
E sangra às vezes remorso?
Se nas palhas do telhado Ruge o vento do sertão. Se o canto para um momento, Chora a criança imprudente…
B14 Romantismo: terceira geração
Mas continua a cantiga… E ri sem ver o tormento Daquele amargo cantar. Ai! triste, que enxugas rindo Os prantos que vão caindo Do fundo, materno olhar, E nas mãozinhas brilhantes Agitas como diamantes Os prantos do seu pensar... 612
O poema “Tragédia no Lar”, de Castro Alves, foi publicado postumamente em seu livro Os Escravos, uma compilação de poemas de cunho abolicionista. Ele está dividido em duas partes. A primeira delas possui dezoito estrofes que variam quanto ao número de versos, quanto ao número de sílabas poéticas. Quanto à musicalidade, o poema é repleto de rimas, que dificilmente se repetem. Já a segunda parte possui vinte e uma estrofes, com as mesmas características das anteriores. Castro Alves descreve, ao longo do poema, a história de uma escrava e seu filho. Ele fala da angústia que é para a mãe não poder ver o filho livre e da iminente venda pelo seu senhor. O sentimento de liberdade sonhado pela escrava pode ser visto em seu murmúrio, sentimento este que o condoreiro expressa por meio da retratação da natureza, principalmente no que diz respeito às aves, por elas serem exemplo da liberdade quando planam na imensidão do céu.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Na segunda parte do poema o eu lírico conversa com o leitor, em uma espécie de apelo para assistir ao desenrolar dos acontecimentos. Ele convoca o leitor para conhecer aquela triste vida com a escrava e seu filho. Podemos perceber uma espécie de diálogo entre a escrava e seu senhor, entre o eu lírico e o leitor. As falas da escrava evidenciam o sentimento de impotência e a subserviência que os escravos tinham diante do poderio de seus senhores.
‘Stamos em pleno mar... Do firmamento
Podemos observar uma característica importante do autor: o uso de reticências, travessões e pontos de exclamação. O objetivo da utilização desses recursos é a reprodução da oralidade dos discursos exaltados presentes nas praças públicas ou nas declamações em palcos. Os pontos de exclamação são usados para dar vigor ao discurso. Já as reticências indicam pausa dramática. Observe ainda a presença dos travessões. Eles têm dupla função: sinal introdutórios de falas (marca do discurso direto) que se dirigem a um interlocutor específico, e como pausas da elocução, tais quais as reticências.
Ali se estreitam num abraço insano,
Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, — Constelações do líquido tesouro... ‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos Azuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dois é o céu? qual o oceano? ... ‘Stamos em pleno mar... Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas...
O Navio Negreiro
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
I
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Neste Saara os corcéis o pó levantam,
Brinca o luar — dourada borboleta;
Galopam, voam, mas não deixam traço. [...]
B14 Romantismo: terceira geração
Como turba de infantes inquieta.
Fonte: Wikimedia Commons
E as vagas após ele correm... cansam
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II Que importa do nauta o berço,
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Donde é filho, qual seu lar?
Magras crianças, cujas bocas pretas
Ama a cadência do verso
Rega o sangue das mães:
Que lhe ensina o velho mar!
Outras moças, mas nuas e espantadas,
Cantai! que a morte é divina!
No turbilhão de espectros arrastadas,
Resvala o brigue à bolina
Em ânsia e mágoa vãs!
Como golfinho veloz. Presa ao mastro da mezena
[...]
Saudosa bandeira acena As vagas que deixa após.
Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia,
[...]
E chora e dança ali!
Os marinheiros Helenos,
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Que a vaga jônia criou,
Outro, que martírios embrutece,
Belos piratas morenos
Cantando, geme e ri!
Do mar que Ulisses cortou, Homens que Fídias talhara,
[...]
Vão cantando em noite clara Versos que Homero gemeu ...
V
Nautas de todas as plagas,
Senhor Deus dos desgraçados!
Vós sabeis achar nas vagas
Dizei-me vós, Senhor Deus!
As melodias do céu! ...
Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?!
[...] III
Ó mar, por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão? ...
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Astros! noites! tempestades!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Rolai das imensidades!
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Varrei os mares, tufão!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d’amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
[...]
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror! Ontem plena liberdade, B14 Romantismo: terceira geração
[...] IV
A vontade por poder... Hoje... cúm’lo de maldade, Nem são livres p’ra morrer...
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Prende-os a mesma corrente
Que das luzernas avermelha o brilho.
— Férrea, lúgubre serpente —
Em sangue a se banhar.
Nas roscas da escravidão.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
E assim zombando da morte,
Legiões de homens negros como a noite,
Dança a lúgubre coorte
Horrendos a dançar...
Ao som do açoute... Irrisão! ...
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
[...]
Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
V
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Existe um povo que a bandeira empresta
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia! ...
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria! ... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio. Musa... chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha! ...
A genialidade com que Castro Alves escreveu sua poesia, de forma eloquente, aberta e franca, foi algo inovador em sua época. A grandiloquência com que versejou tem o objetivo de conquistar seu interlocutor para a causa abolicionista. O poema divide-se em seis partes, ou cantos, na linguagem épica. Veja os principais temas das partes: nn 1ª parte: o poema faz uma descrição do cenário, exal-
tando o belo natural. nn 2ª parte: o poema faz elogio aos marinheiros, identifica-
dos pela nacionalidade; é a exaltação do belo humano. nn 3ª
parte: em franca oposição às estrofes anteriores, temos a visão do navio negreiro; ao belo do cenário e das figuras humanas dos marinheiros opõe-se um quadro de horror.
nn 4ª parte: aqui o poeta faz a descrição do navio negreiro
e do sofrimento dos escravos. nn 5ª
Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo
nn 6ª
parte: aqui o poeta trabalha mais uma vez com a antítese: em oposição à África livre, temos a imagem de um país que se beneficia com a escravidão.
Figura 04 - Tráfico de escravos num navio
B14 Romantismo: terceira geração
Fonte: Wikimedia Commons
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
parte: em oposição à desgraça dos negros aprisionados temos a imagem desse povo livre em sua terra.
Figura 05 - Escravos sendo transportados acompanhados por um feitor
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Poesia lírico-amorosa Castro Alves foi o grande poeta do amor. Sua poesia lírico-amorosa está associada ao período em que o poeta esteve envolvido com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Ainda que seu lirismo amoroso carregue um ou outro resquício do amor platônico, ainda que tenha a presença das donzelas virginais e inacessíveis e da idealização da mulher, em sua poesia o amor é desejo, vibração da alma e do corpo, superando, assim, o amor tímido, distante, de desespero ansioso representado pela geração anterior. Assim, a virgem idealizada dá lugar a uma mulher de carne e osso e sensualizada. No entanto, o poeta ainda é um jovem inocente e terno em face à sua amada corporificada e cheia de desejo. Seus poemas mais famosos dessa fase estão presentes em sua primeira publicação − Espumas Flutuantes (1870), conjunto de 53 poemas que versam sobre a transitoriedade da vida frente à morte, sobre o amor no plano espiritual e físico −, que apela para o sentimental e para o sensual e sensorial. Além disso, o romance com a atriz portuguesa acendeu no poeta o desejo de escrever sobre esperança e desespero. Na vertente lírica, Castro Alves cultivou os seguintes temas: nn Morte − apesar de ser um poeta da geração condoreira,
sofreu influências de Álvares de Azevedo, notadamente na fixação pela morte prematura. Mas, ao contrário do ultrarromântico, ele rebela-se contra a ideia da morte, manifestando desejo ardente de viver. Somente em seus últimos poemas deixou entrever alguma conformação com a iminência da morte. − episódios e personagens da História do Brasil, bem como personalidades de seu próprio tempo, são citados frequentemente pelo poeta.
nn Nacionais
− dos nossos poetas românticos, ele foi o que mais cultivou o lirismo sensual. Avesso às musas esquálidas de Álvares de Azevedo, as dele têm uma sensualidade sinuosa e quente, uma voluptuosidade contida em sedas e rendas, em seios níveos que se insinuam por entre a generosidade dos decotes.
nn Amor
B14 Romantismo: terceira geração
nn Natureza − além de tema, a natureza funciona na lírica
de Castro Alves como expressão de seus estados de alma e de seus desejos. Ela também pode vir conjugada ao tema amoroso, metaforizando a mulher ou partes do corpo feminino. A representação da mulher em boa parte dos poemas de Castro Alves é a de um ser corporificado, o qual, mais que isso, participa ativamente do envolvimento amoroso. Leia a seguir o soneto “Marieta”, por meio dele podemos ver a figura feminina denotando um amor mais real, despertando a sensualidade e a concretização do contato físico. 616
Marieta Como o gênio da noite, que desata o véu de rendas sobre a espada nua, ela solta os cabelos... bate a lua nas alvas dobras de um lençol de prata. O seio virginal que a mão recata, embalde o prende a mão... cresce, flutua... Sonha a moça ao relento... Além na rua preludia um violão na serenata. Furtivos passos morrem no lajedo... Resvala a escada do balcão discreta... matam lábios os beijos em segredo... Afoga-me os suspiros, Marieta! Oh surpresa! Oh! Palor! Oh! Pranto! Oh! Medo! Ai! Noites de Romeu e Julieta!... Veja que o poema O Adeus de Tereza, abaixo, mostra os enamorados envoltos em um clima de paixão e de realização afetiva. A experiência amorosa é relatada de maneira integral, em toda a sua plenitude sentimental e carnal. O “adeus” de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus... E amamos juntos... E depois na sala “Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala... E ela, corando, murmurou-me: “adeus.” Uma noite... entreabriu-se um reposteiro... E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus... Era eu... Era a pálida Teresa! “Adeus” lhe disse conservando-a presa... E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!” Passaram tempos... sec’los de delírio Prazeres divinais... gozos do Empíreo... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse — “Voltarei! ... descansa! ...” Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Temas como a natureza e a morte também figuraram na poesia de Castro Alves. As imagens e metáforas grandiosas do poeta são inspiradas nos aspectos imponentes da natureza, tais como o oceano, o deserto, o infinito, como também nas aves de grande porte e de alto voo, como o condor, a águia, o albatroz.
Sousândrade Joaquim de Souza Andrade (1832-1902), poeta e professor, realiza seus primeiros estudos em São Luís e, em 1853, viaja para Paris para fazer o curso de Letras na Sorbonne. Sousândrade se preocupou em definir uma identidade representativa de toda a América, e não só do povo brasileiro. Em 1857, publicou seu primeiro livro de poesia, Harpas Selvagens (1857). Escreveu e publicou O Guesa, nos Estados Unidos, poema embasado na lenda indígena Guesa Errante. O Guesa é um poema de dimensões épicas, composto por doze cantos e um epílogo, e inspirado na lenda dos índios Muíscas da Colômbia. Nessa obra, o autor narra a jornada de um adolescente que, depois de peregrinações na rota do deus Sol, acaba nas mãos de sacerdotes que lhe extraem o coração e recolhem o sangue nos vasos sagrados. Essa obra foi sucessivamente ampliada e corrigida. Nela se utilizam recursos expressivos, como a criação de neologismos e de metáforas vertiginosas, que só foram valorizados muito depois de sua morte. Vejamos um fragmento do primeiro canto: O Guesa Eia, imaginação divina! Os Andes Vulcânicos elevam cumes calvos, Circundados de gelos, mudos, alvos, Nuvens flutuando — que espetac’los grandes! Lá, onde o ponto do condor negreja, Cintilando no espaço como brilhos D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde lampeja Da tempestade o raio; onde deserto, O azul sertão, formoso e deslumbrante, Arde do sol o incêndio, delirante
B14 Romantismo: terceira geração
Coração vivo em céu profundo aberto! [...] Depois de muitas andanças e aventuras, dentro e fora do Brasil, Sousândrade reaparece em 1899 pela última vez em uma cerimônia pública proferindo o discurso de saudação ao escritor Coelho Neto (1864 - 1934), que visita São Luís. Em 1902, vivendo abandonado em Quinta da Vitória, vende as pedras da amurada para poder comprar alimento. É internado no Hospital Português por ordem do governador maranhense, mas morre poucos dias depois, em 21 de abril, sem parentes que resgatassem sua obra e seus pertences. 617
Português
Exercícios de Fixação 01. (Unirv GO) Considerando a poética de Castro Alves em Espumas Flutuantes, marque V para as verdadeiras e F para as falsas. V-V-F-V a) “Espumas Flutuantes”, compreende ao único livro publicado em vida por Castro Alves, reúne poemas escritos em diferentes épocas, abrangendo os mais variados temas de sua poética. b) A linguagem de sua poética é saborosa, mostra uma perspectiva crítica e revela traços do realismo, que já evidenciava nuances na época em que publicou “Espumas Flutuantes”. c) O conteúdo de sua lírica pode ser entendido como uma aberração que fere grotescamente o sentido amor, é demasiadamente cruel, ferindo as nuances do movimento barroco. d) Castro Alves utiliza quase todas as figuras de linguagem, como: metáfora, comparações, hipérboles e outras. Tem por finalidade a busca da grandiosidade poética, chegando aos exageros e ao mau gosto.
B14 Romantismo: terceira geração
02. (Unirv GO) Sobre a poética de Castro Alves, assinale (V) para verdadeiras e (F) para as falsas. V-V-V-F a) Um traço marcante da poética em Castro Alves é a oralidade. b) A poesia lírica de Castro Alves, nas duas espécies principais, a amorosa e a naturalista, está representada em “Espumas Flutuantes”. c) Castro Alves, em seus poemas, tem uma grande preocupação com a morte, posto que ele mesmo já se sentia condenado a ela. d) Castro Alves foi o maior poeta social do romantismo brasileiro, porém, “Espumas Flutuantes” não se constituiu em sua obra lírica mais significativa. 03. (Unirv GO) Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações: V-V-F-V a) A obra Espumas Flutuantes de Castro Alves contém poesias líricas, tratando do amor e exaltando a pátria, e outras de caráter épico-social. O primeiro diferencial que salta aos olhos está nas poesias amorosas, em que não aparece só a mulher idealizada; existe a menção ao amor carnal, erótico. b) O amor é um dos temas mais importantes da lírica de Castro Alves. E em todos os poemas se pode notar a importância dada ao escritor, devido à mudança de perspectiva defendida por ele quanto à expressão do amor à mulher, estabelecendo uma diferença em relação aos poetas da fase anterior do Romantismo. c) Na poesia de Castro Alves, não se pode notar a morbidez influenciada por Byron, que exaltava o culto do eu, da autopiedade e da melancolia. Os principais temas são o amor, a morte, a dúvida e o tédio. d) As espumas flutuantes do título podem ser associadas aos poemas que, saídos da imaginação de seu autor, fogem ao seu controle e tomam rumos inesperados, ao mesmo tempo em que eternizam seu nome.
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04. (Enem Mec) O trecho a seguir é parte do poema “Mocidade e morte”, do poeta romântico Castro Alves: Oh! eu quero viver, beber perfumes Na flor silvestre, que embalsama os ares; Ver minh’alma adejar pelo infinito, Qual branca vela n’amplidão dos mares. No seio da mulher há tanto aroma… Nos seus beijos de fogo há tanta vida… – Árabe errante, vou dormir à tarde À sombra fresca da palmeira erguida. Mas uma voz responde-me sombria: Terás o sono sob a lájea fria. (ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.)
Esse poema, como o próprio título sugere, aborda o inconformismo do poeta com a antevisão da morte prematura, ainda na juventude. A imagem da morte aparece na palavra a) embalsama. d) dormir. b) infinito. e) sono. Comentário: No último verso do poema: c) amplidão. “Terás o sono sobre a lájea fria”, o autor
utiliza a palavra sono para relacioná-la a 05. (Fuvest SP) outro sentido, o da morte. A expressão “láOh! Bendito o que semeia jea fria” significa túmulo, dando a entender Livros... livros à mão cheia... que o eu lírico descansá o sono eterno da morte em seu caixão. E manda o povo pensar! O livro caindo n’alma É germe - que faz a palma, É chuva - que faz o mar. Vós, que o templo das ideias Largo - abris às multidões, P’ra o batismo luminoso Das grandes revoluções, Agora que o trem de ferro Acorda o tigre no cerro E espanta os caboclos nus, Fazei desse “rei dos ventos” — Ginete dos pensamentos, — Arauto da grande luz!... (Castro Alves)
O tratamento dado aos temas do livro e do trem de ferro, nesses versos de “O livro e a América”, permite afirmar corretamente que, no contexto de Espumas Flutuantes, a) o poeta romântico assume o ideal do progresso, abandonando as preocupações com a História. b) entusiasmo pelo progresso técnico e cultural determina a superação do encantamento pela natureza. c) o entusiasmo pelo progresso cultural se contrapõe ao temor do progresso técnico, que agride a natureza. d) o poeta romântico se abre ao progresso e à técnica, em que não vê incompatibilidade com os ciclos naturais e) o poeta romântico propõe que literatura e natureza somem forças contra a invasão do progresso técnico.
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Exercícios Complementares
O Romantismo coincidiu com a afirmação do Brasil como nação e identificou-se com o modo de ser e de sentir do povo brasileiro; converteu-se, de certa maneira, num estilo de vida e traduziu muito da nossa individualidade e da nossa dimensão coletiva, sobretudo um marcante sentimentalismo nacional. PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de Época na Literatura. 15.ed, São Paulo: Ática, 2002, p.230).
Assinale a alternativa em que não se aplica o comentário acima: a) Como afirmação da nacionalidade, o Romantismo brasileiro fez do índio e sua civilização um símbolo da independência espiritual, política, social e literária e o culto à natureza encontrou campo propício na exuberante paisagem nacional. b) A preocupação com a cor local despertou nos românticos não só o interesse pela cultura indígena, mas também pelo estudo sobre o nosso folclore, ambos tomados como elementos de substituição dos modelos clássicos tão valorizados pelo barroco e pelo arcadismo. c) Os escritores românticos, preocupados em libertar a língua nacional das normas clássicas dos escritores portugueses, deram ênfase à língua oral, instaurando, dessa forma, uma língua literária brasileira. d) Por força do ambiente e da conjuntura político-social do momento, os românticos brasileiros conseguiram ultrapassar os riscos da mera adoção dos modelos importados e conseguiram conferir marcas específicas à arte que aqui concretizaram. e) Os românticos brasileiros ampliaram o público consumidor de romances, de poesia e de teatro no país, ao contrário do que ocorreu nos períodos anteriores de nossa tradição literária. 02. (Puc Campinas SP) Ao formular sua tese acerca das boas qualidades da Natureza, que fazem do homem um ser naturalmente bom, se vale Rousseau do conceito bom selvagem, que viria a prosperar entre escritores românticos brasileiros que, como a) Álvares de Azevedo e Machado de Assis, tomaram esse tema em reforço à campanha abolicionista. b) Gregório de Matos e Gonçalves de Magalhães, viram nessa tese um argumento para a independência nacional. c) Castro Alves e Olavo Bilac, propagaram suas ideias republicanas a partir da idealização da cidadania. d) Gonçalves Dias e José de Alencar, tomaram essa tese em reforço à consolidação dos ideais nacionalistas. e) Manuel Antônio de Almeida e Aluísio Azevedo, valeram-se dessas ideias para satirizar os privilégios dos colonizadores. 03. (Puc Campinas SP) As diferenças e as injustiças sociais sensibilizaram certos poetas românticos, que assumiram um papel missionário na luta pela igualdade e pelos direitos humanos. Entre nós, Castro Alves, com
a) a linguagem exacerbada de um poeta condoreiro, traduziu sua indignação de abolicionista no poema “Vozes d´África”. b) seu lirismo intimista, não deixou de se valer da ironia para maldizer as desigualdades do país. c) o apuro de seus sonetos equilibrados e contidos, refletiu sobre o triste destino das massas desfavorecidas. d) seus ideais emancipacionistas, teve ação decisiva para a proclamação da nossa independência. e) o estilo atormentado de “O escravo”, notabilizou-se por suas investidas contra o jugo português. 04. (Uespi PI) As obras de Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves demonstram que a poesia romântica brasileira: a) consolidou-se de forma homogênea sem nenhuma influência do romantismo europeu. b) seguiu os passos da poesia de Byron, com a linha do satanismo, única influência estrangeira que foi admitida entre nós. c) se constituiu de estilos diversificados; cada poeta cultivava uma linguagem, porém todos imbuídos do ideal abolicionista. d) tinha como tônica geral o indianismo, devido à rejeição dos modelos estrangeiros. e) deu uma tradução local aos valores da literatura europeia: a dignidade do homem natural, a exacerbação das paixões e os ideais libertários. 05. (Uespi PI) Leia os dois excertos da poesia de Castro Alves. Texto 1 Senhor Deus dos Desgraçados! Dizei-me Vós, senhor Deus! Se é loucura...se é verdade Tanto horror perante os céus... Texto 2 Na selva sombria de tuas madeixas, nos negros cabelos de moça bonita, fingindo a serpente que enlaça a folhagem, formoso enroscava-se o laço de fita. Sobre esses versos e seu autor, podemos afirmar: 01. os excertos representam as duas tendências da sua poesia: social/condoreira e lírico/amorosa. 02. superando o individualismo dos românticos brasileiros, Castro Alves deu a sua arte um sentido social e revolucionário, como podemos ver no excerto 1. 03. seu lirismo amoroso poetizou as mulheres em ardentes versos, como vemos no excerto 2, em linguagem muito rebuscada. Estão corretas: a) 1, 2 e 3 b) 1 apenas c) 2 apenas d) 3 apenas e) 1 e 2 apenas
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B14 Romantismo: terceira geração
01. (UFT TO) Leia o comentário abaixo.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B15
ASSUNTOS ABORDADOS nn Romance indianista e regional nn Prosa romântica no Brasil nn Romance indianista nn Romance regional
ROMANCE INDIANISTA E REGIONAL A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808 trouxe consigo uma série de mudanças culturais significativas ao Novo Mundo, entre elas a publicação diária de jornais. Uma seção denominada folhetim tornou-se popular entre os leitores. O folhetim trazia capítulos de romances que eram lidos e comentados pelos ávidos leitores e leitoras, principalmente os burgueses da época. Durante os treze anos em que D. João VI esteve no Brasil, ele tomou algumas providências que tiveram consequências positivas para a vida cultural brasileira. Além das mudanças comerciais, D. João criou escolas como a Academia Real Militar; a Academia da Marinha; a Escola de Comércio; a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios; a Academia de belas-artes e dois Colégios de Medicina e Cirurgia, um no Rio de Janeiro e outro em Salvador. Foram fundados o Museu Nacional, o Observatório Astronômico e a Biblioteca Real. Também foi inaugurado o Real Teatro de São João e o Jardim Botânico. Uma das atitudes mais importantes de D. João VI foi a criação da Imprensa Régia. Ela permitiu a edição de obras de vários escritores e traduções de obras científicas. Até a transferência de D. João VI e da corte portuguesa para a cidade do Rio de Janeiro no ano de 1808, a administração colonial lusitana impedia a tipografia e o jornalismo, além de a palavra impressa ser considerada crime até tal data. Entre os muitos fatores que contribuíram para a implantação do indianismo na literatura brasileira está a tradição literária do período colonial. Ela foi introduzida pela literatura de informação sobre o Brasil e pela literatura de catequese dos Jesuítas, retomada no movimento árcade por Basílio da Gama e Santa Rita Durão.
Figura 01 - Cuiabá, o arsenal de guerra.
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Fonte: Wikimedia Commons
Mas foi Gonçalves Dias, ávido pesquisador das línguas indígenas e do folclore brasileiro, o grande expoente do romantismo brasileiro e da tradição literária conhecida como indianismo. Por parte da Europa, a teoria do “bom selvagem” de Rousseau exerceu influência direta no pensamento literário brasileiro da época, fator importante para adaptação que os escritores brasileiros românticos fizeram da figura idealizadora do herói. Como o Brasil não teve Idade Média, seu “herói medieval” passou a ser o índio, o habitante do período pré-cabraliano. O desenvolvimento da prosa no período romântico brasileiro chegou graças à influência dos romances europeus e do surgimento da imprensa.
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Prosa romântica no Brasil Folhetim A difusão da prosa romântica foi impulsionada pelos folhetins. Os jornais da época publicavam, com periodicidade semanal ou diariamente, capítulos das histórias que compunham um romance, em folhetins. Por meio deles, o romance tornou-se extremamente popular e, assim, o sentimento de democracia cada vez mais aguçado foi se alastrando pelo país. Surgem, então, os primeiros consumidores da produção literária e a literatura é expandida ao leitor comum. O sentimento de nacionalismo no Romantismo contribuiu para valorizar o Brasil e o desvinculou da influência impositiva da arte portuguesa. A prosa literária surgiu em 1843. O primeiro romance romântico publicado no Brasil foi O filho do pescador, de Teixeira de Souza, porém, o romance foi considerado pelo público como muito sentimental, além de apresentar um enredo confuso. Nosso primeiro romancista, de fato, foi o fluminense Joaquim Manuel de Macedo e, por essa razão, A Moreninha (1844) viria a ser considerado o iniciador da prosa romântica na literatura brasileira e tido como o primeiro romance efetivamente brasileiro por receber maior aceitação do público e por definir as linhas do romance brasileiro. A obra de Joaquim Manuel de Macedo têm como características: linguagem simples, exatidão de descrições de costumes, incentivo à virtude e respeito à decência, e geralmente um conteúdo sentimental e adocicado beirando o exagero, mas que agradava muito. O romance tornou-se um grande sucesso, nacionalmente conhecido e um dos livros mais lidos de todos os tempos no Brasil.
Figura 02 - Ilustração de A moreninha
B15 Romantismo indianista e regional
Fonte: Wikimedia Commons
Os principais autores do período são: Joaquim Manoel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar e, constituindo o teatro nacional, Martins Pena.
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Português
Características principais nn Nacionalismo
e ufanismo, com retorno ao passado
histórico; nn Subjetivismo, idealização da mulher e amor platônico,
além de sentimentalismo e religiosidade; nn Figura
idealizada do índio, como herói e símbolo nacional, e valorização das línguas e costumes indígenas;
nn Culto
à natureza, estética nativista e exaltação do folclore;
nn Influências
do medievalismo romântico.
Tipos de romance De acordo com o tema principal que desenvolvem, os romances românticos podem ser classificados da seguinte maneira: nn Romance
indianista: enfoca a figura do índio, idealizando-o e exaltando-lhe o caráter nobre.
O romance indianista, tipicamente brasileiro, principal tendência do nosso Romantismo, busca valorizar o herói nacional, o índio. Afirmar a identidade brasileira significava, em primeiro lugar, valorizar nossos traços autóctones, isto é, aqueles que aqui já existiam antes da chegada dos colonizadores. O índio assumiria o papel de herói, o símbolo da raça. O indianismo resgatava o ideal do “bom selvagem”, segundo o qual a sociedade corrompe o homem, e o homem perfeito seria o índio que não tinha nenhum contato com a sociedade europeia. No indianismo são explorados temas como a natureza, o ufanismo e o sentimentalismo. O heroísmo é representado pela nobreza de caráter e valentia das personagens.
nn Romance
O romance indianista surge com o objetivo de valorizar nossas origens, e encontrou sua melhor realização nas obras de José de Alencar, que idealizou a figura do índio, no estilo de prosa romântica nacionalista, exaltando-lhe a nobreza e valentia.
nn Romance urbano ou de costumes: aborda temas amo-
São três os romances do gênero que popularizou o escritor José de Alencar:
sertanejo ou regionalista: aborda temas e ações que se passam longe dos centros urbanos. Focaliza a gente do interior, com seus costumes, valores e peculiaridades. rosos e sociais. As ações acontecem em ambiente urbano, principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
nn Romance
histórico: volta-se ao passado, em uma reinterpretação nacionalista de fatos e personagens de nossa história.
Romance indianista No século XIX, o público consumidor da literatura romântica era essencialmente formado pela burguesia, porém, as origens simples dessa classe não condiziam com o refinamento da arte clássica, cuja compreensão exigia conhecimento prévio das culturas grega e latina. A burguesia aguardava por uma literatura que focalizasse seu próprio tempo, seus problemas e sua forma de viver.
B15 Romantismo indianista e regional
América. Dessa maneira, o romantismo brasileiro encontrou no índio uma autêntica expressão de nacionalidade.
O romance, por abordar os acontecimentos da vida cotidiana e por atender ao gosto burguês pela fantasia e pela aventura, tornou-se o mais importante veículo de expressão artística dessa classe. Na literatura brasileira, o indianismo corresponde a uma das tendências literárias mais marcantes do período romântico. Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas empenharam-se em projetos de construção de uma cultura autônoma. Enquanto o branco era identificado como colonizador europeu, e o negro como o escravo africano, o índio era considerado o único e legítimo nativo da 622
nn O
Guarani (1857);
nn Iracema
(1865);
nn Ubirajara
(1874).
O Guarani Narrado em terceira pessoa, O Guarani, palavra tupi que significa “guerreiro”, tem como protagonistas o índio goitacá Peri e a branca de origem europeia, Cecília, de apelido Ceci. D. Antônio de Mariz, pai de Ceci, colonizador português fiel à sua pátria e inconformado com a situação dela (que perdera a sua independência política para a Espanha, por ocasião da União das Coroas Ibéricas), resolve construir nas matas do Rio de Janeiro, às margens do rio Paquequer, afluente do rio Paraíba, uma verdadeira fortaleza. Suas terras foram dadas por Mem de Sá, devido aos bons serviços prestados como colonizador. Nessa obra, abordam-se os seguintes temas: nn Miscigenação nn Fundação
das raças no Brasil;
do Rio de Janeiro (romance histórico-in-
dianista); nn Imposição
do cristianismo;
nn Idealização do índio aos moldes do cavaleiro medieval; nn A
conquista do sertão brasileiro.
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Em pé, no meio do espaço que formava a grande abóbada de árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cintura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto como um junco selvagem. [...] Perto dele estava atirada ao chão uma clavina tauxiada, uma pequena bolsa de couro que devia conter munições, e uma rica faca flamenga, cujo uso foi depois proibido em Portugal e no Brasil. Nesse instante erguia a cabeça e fitava os olhos numa sebe de folhas que se elevava a vinte passos de distância, e se agitava imperceptivelmente. Ali por entre a folhagem, distinguiam-se as ondulações felinas de um dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol. Era uma onça enorme; de garras apoiadas sobre um grosso ramo de árvore, e pés suspensos no galho superior, encolhia o corpo, preparando o salto gigantesco. Ouviu-se um rumor de galhos que se espedaçavam como se uma árvore houvesse tombado na floresta, e o vulto negro da fera passou no ar; de um pulo tinha ganho outro tronco e metido entre ela e o seu adversário uma distância de trinta palmos.
Fonte: Wikimedia Commons
O selvagem compreendeu imediatamente a razão disto: a onça, com os seus instintos carniceiros e a sede voraz de sangue, tinha visto os cavalos e desdenhava o homem, fraca presa para saciá-la. Com a mesma rapidez com que formulou este pensamento, tomou na cinta uma flecha pequena e delgada como espi-
nho de ouriço, e esticou a corda do grande arco, que excedia de um terço à sua altura. Ouviu-se um forte sibilo, que foi acompanhado por um bramido da fera; a pequena seta despedida pelo índio se cravara na orelha, e uma segunda, açoitando o ar, ia ferir-lhe a mandíbula inferior. O tigre tinha-se voltado ameaçador e terrível, aguçando os dentes uns nos outros, rugindo de fúria e vingança: de dois saltos aproximou-se novamente. Era uma lata de morte a que ia se travar; o índio o sabia, e esperou tranquilamente, como da primeira vez; a inquietação que sentira um momento de que a presa lhe escapasse, desaparecera: estava satisfeito. Assim, estes dois selvagens das matas do Brasil, cada um com as suas armas, cada um com a consciência de sua força e de sua coragem, consideravam-se mutuamente como vítimas que iam ser imoladas. O tigre desta vez não se demorou; apenas se achou a coisa de quinze passos do inimigo, retraiu-se com uma força de elasticidade extraordinária e atirou-se como um estilhaço de rocha, cortada pelo raio. [...] Então, o selvagem distendeu-se com a flexibilidade da cascavel ao lançar o bote; fincando os pés e as costas no tronco, arremessou-se e foi cair sobre o ventre da onça, que, subjugada, prostrada de costas, com a cabeça presa ao chão pelo gancho, debatia-se contra o seu vencedor, procurando debalde alcançá-lo com as garras. Esta luta durou minutos; o índio, com os pés apoiados fortemente nas pernas da onça, e o corpo inclinado sobre a forquilha, mantinha assim imóvel a fera, que há pouco corria a mata não encontrando obstáculos à sua passagem. Quando o animal, quase asfixiado pela estrangulação, já não fazia senão uma fraca resistência, o selvagem, segurando sempre a forquilha, meteu a mão debaixo da túnica e tirou uma corda de ticum que tinha enrolada à cintura em muitas voltas. ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Ateliê Editorial. 1990.
B15 Romantismo indianista e regional
Agora, leia um fragmento em que Alencar descreve a luta de Peri com uma onça. Observe a riqueza de detalhes de que o autor se vale.
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Português
Iracema Jose de Alencar criou uma lenda poética, uma explicação a respeito do surgimento de sua terra natal – o Ceará. Moacir, filho de Iracema, teria sido o primeiro cearense. Leia a seguir um fragmento desse romance. Pela leitura do fragmento, você poderá perceber as características românticas predominantes do texto: nacionalismo, valorização da natureza, e do elemento indígena. Martim vai a passo e passo por entre os altos juazeiros que cercam a cabana do Pajé. Era o tempo em que o doce aracati chega do mar, e derrama a deliciosa frescura pelo árido sertão. A planta respira; um suave arrepio erriça a verde coma da floresta. O cristão contempla o ocaso do sol. A sombra, que desce dos montes e cobre o vale, penetra sua alma. Lembra-se do lugar onde nasceu, dos entes queridos que ali deixou. Sabe ele se tornará a vê-los algum dia? Em torno carpe a natureza o dia que expira. Soluça a onda trépida e lacrimosa; geme a brisa na folhagem; o mesmo silencio anela de opresso. Iracema parou em face do jovem guerreiro: —E a presença de Iracema que perturba a serenidade no rosto do estrangeiro? Martim pousou brandos olhos na face da virgem: —Não, filha de Araquém: tua presença alegra, como a luz da manhã. Foi a lembrança da pátria que trouxe a saudade ao coração pressago. —Uma noiva te espera? O forasteiro desviou os olhos. Iracema dobrou a cabeça sobre a espádua, como a tenra palma da carnaúba, quando a chuva peneira na várzea.
B15 Romantismo indianista e regional
—Ela não é mais doce do que Iracema, a virgem dos lábios de mel, nem mais formosa! murmurou o estrangeiro. —A flor da mata é formosa quando tem rama que a abrigue, e tronco onde se enlace. Iracema não vive n’alma de um guerreiro: nunca sentiu a frescura do seu sorriso. Emudeceram ambos, com os olhos no chão, escutando a palpitação dos seios que batiam opressos. A virgem falou enfim: —A alegria voltará logo à alma do guerreiro branco; porque
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Iracema quer que ele veja antes da noite a noiva que o espera. Martim sorriu do ingênuo desejo da filha do Pajé —Vem! disse a virgem. Atravessaram o bosque e desceram ao vale. Onde morria a falda da colina, o arvoredo era basto: densa abóbada de folhagem verde-negra cobria o ádito agreste, reservado aos mistérios do rito bárbaro. Era de jurema o bosque sagrado. Em torno corriam os troncos rugosos da árvore de Tupã; dos galhos pendiam ocultos pela rama escura os vasos do sacrifício; lastravam o chão as cinzas de extinto fogo, que servira à festa da última lua. Antes de penetrar o recôndito sítio, a virgem que conduzia o guerreiro pela mão, hesitou, inclinando o ouvido sutil aos suspiros da brisa. Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma voz para a selvagem filha do sertão. Nada havia porém de suspeito no intenso respiro da floresta. Iracema fez ao estrangeiro um gesto de espera e silêncio; logo depois desapareceu no mais sombrio do bosque. O sol ainda pairava suspenso no viso da serrania; e já noite profunda enchia aquela solidão. Quando a virgem tornou, trazia numa folha gotas de verde e estranho licor vazadas da igaçaba, que ela tirara do seio da terra. Apresentou ao guerreiro a taça agreste: —Bebe! Martim sentiu perpassar nos olhos o sono da morte; porém logo a luz inundou-lhe os seios d’alma; a força exuberou em seu coração. Reviveu os dias passados melhor do que os tinha vivido: fruiu a realidade de suas mais belas esperanças. Ei-lo que volta à terra natal, abraça a velha mãe, revê mais lindo e terno o anjo puro dos amores infantis. Mas por que, mal de volta ao berço da pátria, o jovem guerreiro de novo deixa o teto paterno e demanda o sertão? Já atravessa as florestas; já chega aos campos do Ipu. Busca na selva a filha do Pajé. Segue o rasto ligeiro da virgem arisca, soltando à brisa com o crebro suspiro o doce nome: —Iracema! Iracema !... Iracema, São Paulo, Moderna.
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O romance regionalista é marcado pela busca do redescobrimento do Brasil e sua diversidade regional e cultural. A temática principal observada nesses textos é a vida rural da sociedade da época em determinadas regiões do Brasil. Esse tipo de prosa tem como projeto a consolidação da identidade nacional por meio da representação das angústias, comportamentos, costumes e valores de uma sociedade rural totalmente oposta aos padrões da corte. Por meio dessa prosa, o autor quis formar uma imagem grandiosa e valorizar os espaços brasileiros em relação aos moldes europeus, que ainda influenciam muito a região litoral, voltando seu olhar para diferentes regiões e trazendo à tona sua diversidade. O regionalismo romântico incorpora o sentimento ufanista, tomando esse espaço como uma pequena representação do nosso país. Ao exaltar o homem e a terra de uma determinada região, o autor se insere no projeto nacionalista, que idealiza a realidade brasileira. Nesse cenário rural, há um herói do campo, sertanejo, alguém que pertence a terra. No romance regionalista não há tensão social. Ele é considerado um relato regional de costumes sem críticas. José de Alencar inaugurou um caminho que se revela muito promissor ao colocar o foco sobre as realidades regionais no Brasil. No Rio grande do Sul, com a obra O Gaúcho, no interior de São Paulo, em o Tronco do Ipê, no Nordeste em
O Sertanejo. Seguindo esse caminho, Alencar conquista novos adeptos da literatura regionalista: Bernardo Guimarães e Visconde de Taunay. Porém, é no século XX que o a literatura regionalista se manifesta com enorme vigor gerando grandes autores na década de 1930. Características da narrativa A maior parte dos romances publicados em língua portuguesa tinha suas origens vindas de Portugal, mas os autores brasileiros contribuíram para a criação de obras com as suas próprias características. Os romances regionalistas, considerados um dos mais difíceis estilos por não contar com referências anteriores, eram destinados aos moradores de classe média dos centros urbanos, publicados em pequenos encartes de jornais, conhecidos como folhetins. Se fizessem sucesso eram organizados em um livro. O Brasil, recentemente independente, procura definir a identidade de sua nação por meio de mitos que retomam e valorizam sua história. Para tal, cria-se um personagem de valores dignos e heroicos aguçando no público leitor o sentimento de amor à pátria. Agora, o sertanejo passa a ser o símbolo do homem brasileiro mais utilizado pelos principais autores da época, ocupando o lugar que era do índio. Os romances passam a exaltar aspectos específicos de cada região, revelando assim um lado exótico do país. Esses textos retratam o território nacional e dão ênfase aos grandiosos cenários típicos do interior do Brasil, construindo assim uma nova imagem da pátria. Fonte: Wikimedia Commons
Romance regionalista
B15 Romantismo indianista e regional
Figura 03 - A casa-grande: residência do senhorio nas propriedades rurais do Brasil.
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Português
Principais representantes José de Alencar nn O
Gaúcho (1870), Tronco do Ipê (1871), nn Til ( 1872) nn O Sertanejo ( 1875) nn O
Visconde de Taunay nn Inocência nn A
(1872) Retirada da Laguna (1871)
Bernardo Guimarães (1825-1884) nn O
Ermitão de Muquém (1869) Garimpeiro (1872) nn O Seminarista (1872) nn A Escrava Isaura (1875) nn O
Franklin Távora (1842-1888) nn O
Cabeleira (1876) Casamento no Arrabalde. nn O Matuto (1878) nn Um
Til A ação de Til ocorre na Fazenda das Palmas, localizada na região de Campinas, interior do Estado de São Paulo, e transcorre temporariamente a partir do ano de 1826. No romance Til, José de Alencar retrata os costumes, a linguagem e a vida rural da época, seguindo os moldes românticos, abordando a inocência, o amor, a fragilidade, a idealização da natureza e a subjetividade. O livro é dividido em duas partes. A primeira serve como apresentação das personagens e das tramas e é nela que conhecemos Berta, personagem central da narrativa e típico arquétipo da heroína romântica.
Fonte: Wikimedia Commons
Na primeira metade da obra, o que mais chama a atenção é a contrariedade do comportamento de Berta: sempre movida por boas intenções, ela usa de sua influência e bondade para manipular as outras personagens. Grande desencontros amorosos, segredos antigos, e grandes renúncias estão presentes neste romance regionalista, em que Alencar registra o cotidiano da fazenda Palmas do interior paulista do século XIX. Til é o apelido de Berta, a heroína capaz de imensos sacrifícios por um ideal, e que guarda segredos do passado.
B15 Romantismo indianista e regional
Berta foi adotada ainda bebê e sua família mora em uma casa nas proximidades da fazenda das Palmas, onde mora a família Galvão. Seu irmão Miguel não a considera como irmã e nutre profundos sentimentos por ela. Participa do enredo as personagens Jão Fera, um capanga bugre, Zana e Brás, este último um jovem violento e com problemas mentais. Linda e Afonso, gêmeos e filhos do Senhor Luís Galvão, são amigos de Miguel e Berta. Eles vivenciam momentos cheios de romances inocentes e alegres. Berta diz se chamar Til ao tentar alfabetizar Brás, pois ele tem uma grande atração pelo sinal gráfico til (~). Berta demonstra uma coragem única e se envolve em tramas complicadas na tentativa de ajudar aos que mais precisam. O romance apresenta um enredo com altos e baixos e sua narrativa leve cria uma atmosfera suave, com amores pueris e até platônicos, cuja inocência dos personagens contrasta com a violenta e complicada trama, cheia de coincidências. Jão Fera, um matador de aluguel e jagunço, com atitudes grotescas, por quem Berta desenvolve sentimentos confusos: uma mistura de coragem e horror. Jão Fera é quem guarda as chaves dos segredos da origem de Berta e de seu vínculo com a garota. 626
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
D’ANGELIS, Histórias dos índios lá em casa: narrativas indígenas e tradição oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org. Acesso em: 5 dez. 2012.
A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes objetivos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasileiras, a oralidade possibilitou a) a conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes. b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos. c) a manutenção e a reprodução dos modelos estratificados de organização social. d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades. e) o reconhecimento e a legitimação da importância da fala como meio de comunicação. 02. (Enem Mec) Na verdade, o que se chama genericamente de índios é um grupo de mais de trezentos povos que, juntos, falam mais de 180 línguas diferentes. Cada um desses povos possui diferentes histórias, lendas, tradições, conceitos e olhares sobre a vida, sobre a liberdade, sobre o tempo e sobre a natureza. Em comum, tais comunidades apresentam a profunda comunhão com o ambiente em que vivem, o respeito em relação
aos indivíduos mais velhos, a preocupação com as futuras gerações, e o senso de que a felicidade individual depende do êxito do grupo. Para eles, o sucesso é resultado de uma construção coletiva. Estas ideias, partilhadas pelos povos indígenas, são indispensáveis para construir qualquer noção moderna de civilização. Os verdadeiros representantes do atraso no nosso país não são os índios, mas aqueles que se pautam por visões preconceituosas e ultrapassadas de “progresso”. AZZI, R. As razoes de ser guarani-kaiowa. Disponível em: www.outraspalavras.net. Acesso em: 7 dez. 2012.
Considerando-se as informações abordadas no texto, ao iniciá-lo com a expressão “Na verdade”, o autor tem como objetivo principal a) expor as características comuns entre os povos indígenas no Brasil e suas ideias modernas e civilizadas. b) trazer uma abordagem inédita sobre os povos indígenas no Brasil e, assim, ser reconhecido como especialista no assunto. c) mostrar os povos indígenas vivendo em comunhão com a natureza, e, por isso, sugerir que se deve respeitar o meio ambiente e esses povos. d) usar a conhecida oposição entre moderno e antigo como uma forma de respeitar a maneira ultrapassada como vivem os povos indígenas em diferentes regiões do Brasil. e) apresentar informações pouco divulgadas a respeito dos indígenas no Brasil, para defender o caráter desses povos como civilizações, em contraposição a visões preconcebidas. 03. (Enem Mec) “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que colecionava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do romance no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advogado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas desse personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada. História Viva, n.° 99, 2011.
Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que a) a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances. b) o conhecido autor de O guarani e Iracema foi importante porque deixou uma vasta obra literária com temática atemporal. c) a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil Imperial.
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01. (Enem Mec) As narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabéticos (como a escrita do português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos chineses) ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estratificação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que surgiu algum tipo de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar claramente isso: que ela surge e se desenvolve – em qualquer das formas – apenas em sociedades estratificadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmitiram e se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domesticaram plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferentes em toda a América).
Português Questão 01. a) A principal função da personagem Berta é a de estripar o mal, o aspecto violento e bestial do ser humano. As personagens violentas e perversas, como João Fera e Brás, entre outras, são redimidas pela ação de Berta. A “contradição viva” e “o ser e o não ser” de Berta evidenciam-se recorrentemente no romance, seja no afeto e na repulsa agressiva por João Fera, seja no amor que tem por Miguel, que a ama, e nos esforços que ela faz para que o amado namore Linda, para assim fazer a amiga feliz e elevar a condição social do irmão de criação, Miguel.
d) a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória linguística e da identidade nacional. e) o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista. 04. (Unesp SP) Ultrapassando o nível modesto dos predecessores e demonstrando capacidade narrativa bem mais definida, a obra romanesca deste autor é bastante ambiciosa. A partir de certa altura, este autor pretendeu abranger com ela, sistematicamente, os diversos aspectos do país no tempo e no espaço, por meio de narrativas sobre os costumes urbanos, sobre as regiões, sobre o índio. Para pôr em prática esse projeto, quis forjar um estilo novo, adequado aos temas e baseado numa linguagem que, sem perder a correção gramatical, se aproximasse da maneira brasileira de falar. Ao fazer isso, estava tocando o nó do problema (caro aos românticos) da independência estética em relação a Portugal. Com efeito, caberia aos escritores não apenas focalizar a realidade brasileira, privilegiando as diferenças patentes na natureza e na população, mas elaborar a expressão que correspondesse à diferenciação linguística que nos ia distinguindo cada vez mais dos portugueses, numa grande aventura dentro da mesma língua. (Antonio Candido. O romantismo no Brasil, 2002. Adaptado.)
O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor a) Raul Pompeia. b) Manuel Antônio de Almeida. c) José de Alencar. d) Machado de Assis. e) Aluísio Azevedo. 05. (Puc SP) TIL é uma obra escrita por José de Alencar e publicada em 1 872, no Jornal A República. Recebeu o subtítulo de “Romance Brasileiro” como forma de evidenciar não só a autenticidade da autoria como também o espírito nacionalista do autor. Indique, das alternativas abaixo, a que apresenta enunciado CORRETO, de acordo com o conteúdo da obra. a) Estrutura-se em 4 volumes de tamanhos irregulares que se ordenam sem interrupção do fio narrativo e se desenvolvem de forma rigorosamente cronológica e sequenciada. b) Engendra uma história de vingança de um crime cometido no passado, por suspeita de infidelidade conjugal e cujo causador precisa ser justiçado. c) Apresenta uma fábula de amor que envolve Berta e Miguel e cujo desfecho é a união dos dois em enlace amoroso. d) Classifica-se como romance romântico porque, ambientado em plena natureza, enfoca a paixão entre Luiz Galvão e Besita, com desfecho trágico e criminoso. e) Caracteriza personagem que carrega um segredo, móvel da trama e que, desvendado ao final da narrativa, promove a dissolução da família.
Exercícios Complementares 01. (Fuvest SP) Observe o seguinte trecho de Til, de José de Alencar, no qual o narrador caracteriza a personagem Berta:
B15 Romantismo indianista e regional
Contradição viva, seu gênio é o ser e o não ser. Busquem nela a graça da moça e encontrarão o estouvamento do menino; porém mal se apercebam da ilusão, que já a imagem da mulher despontará em toda sua esplêndida fascinação. A antítese banal do anjo-demônio torna-se realidade nela, em quem se cambiam no sorriso ou no olhar a serenidade celeste com os fulvos lampejos da paixão, à semelhança do firmamento onde ao radiante matiz da aurora sucedem os fulgores sinistros da procela. a) Segundo o narrador, Berta é uma “contradição viva”, cujo “gênio é o ser e o não ser”. Como essa característica da personagem se relaciona à principal função que ela desempenha na trama do romance? b) Considerando a expressão “anjo-demônio” no contexto cultural da época em que foi escrito o romance, justifica-se o fato de o narrador classificá-la como “antítese banal”? Explique resumidamente.
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02. (Uem PR) Assinale o que for correto em relação a Iracema e ao seu autor, José de Alencar. Gab: 15 01. José de Alencar, o maior ficcionista romântico brasileiro, produziu vasta obra com vistas à formação de uma literatura autenticamente nacional, liberta das influências portuguesas, mas com nítidas fontes francesas, oriundas de suas leituras prediletas, entre elas, Victor Hugo e Alexandre Dumas. Iracema, ao narrar a história de amor entre a jovem indígena e o branco Martim, parte de um argumento histórico sobre a fundação do estado do Ceará, de que o índio Poti participou, atuando na expulsão dos holandeses e sendo, posteriormente, batizado como Antônio Felipe Camarão. 02. Uma das características importantes do Romantismo, a harmonia entre homem e natureza, responsável por reforçar os traços da nacionalidade no texto, pode ser observada no excerto de Iracema – “A alvorada abriu o dia e os olhos do guerreiro” –, exemplo também significativo para a compreensão do modo como José de Alencar procurava adequar a norma culta da língua ao caráter primitivo e singelo daquela língua falada pelos primeiros habitantes do Brasil.
Questão 01. b) Justifica-se a classificação “antítese banal” para o oximoro “anjo-demônio”, porque no contexto do Romantismo, escola literária a que pertence Til, existem muitas personagens que apresentam caráter dual, contraditório, como as que aparecem em A Dama da Camélias, de Alexandre Dumas, Lucíola e O Demônio Familiar, de José de Alencar, entre outras.
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mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia, nas frondes da carnaúba. Verdes mares que brilhais, como líquida esmeralda, aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias, ensombradas de coqueiros” – revela a exploração da potencialidade rítmica, importante recurso que auxilia na memorização das imagens simples e líricas da narrativa. O excerto, inclusive, permite que sejam encontradas ocorrências do ritmo muito usado em versos populares, como a redondilha maior (verso com sete sílabas poéticas), e pode confirmar o ponto de vista de críticos que caracterizam a obra como poema em prosa. 08. O fragmento de Iracema – “Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul riste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo” – narra o primeiro contato de Iracema com Martim e, além da premonição do sofrimento da jovem índia tabajara, pode indicar a destruição do elemento natural pela civilização, em nome do progresso. 16. Iracema integra o projeto literário revolucionário de José de Alencar, que antecipa a discussão sobre o papel da mulher na sociedade, em obras como Lucíola e Senhora. Embora seja um romance de autoria masculina, é todo escrito a partir do ponto de vista feminino, uma vez que os fatos são relatados pela jovem índia tabajara. Por essa razão, a narrativa, além do tema da formação da nacionalidade, focaliza a situação da mulher na aldeia indígena, com destaque para a função sagrada de Iracema, que detinha o segredo da Jurema, ou seja, a missão de difundir, entre as jovens, a necessidade de manutenção da virgindade. 03. (FMABC SP) O romance Til, de José de Alencar é considerado uma das obras importantes do autor, por suas características românticas. Dele NÃO se pode afirmar que a) se enquadra na categoria de narrativa de vingança, pois há um crime cometido no passado que precisa ser cobrado. b) integra o conjunto de obras que se classificam como “Perfis de mulher”, porque o objetivo dele é elaborar a história de uma menina com bondade prodigiosa. c) é o romance que configura uma alegoria sertaneja da luta entre o Bem e o Mal, construída sob o foco narrativo da onisciência. d) denominado pelo autor de romance brasileiro, é ambientado em fazenda do interior de São Paulo, com características
e) desenvolve uma história de amor, com final feliz, consumado na concretização amorosa entre Berta e Miguel. 04. (Uea AM) Leia o trecho de Iracema, de José de Alencar. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam omar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido. De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida. O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. (www.objdigital.bn.br)
O romance trata das consequências do encontro entre Iracema e Martim. Com o romance, José de Alencar tem a intenção de a) mostrar que o povo indígena, símbolo da nação brasileira, era culturalmente superior ao colonizador europeu. b) inventar um mito fundador para o Brasil, pela interação do povo indígena e do povo branco europeu. c) descrever o interior brasileiro, com seus diversos habitantes, em particular os sertanejos, os fazendeiros e os jesuítas. d) imitar os romances europeus que narram a destruição da vida de um homem gentil por uma mulher fatal. e) documentar, com rigor científico, o encontro entre populações que formaram o Brasil: indígenas, portugueses e africanos. 05. (Unitau SP) Sobre o romance Til, de José de Alencar, qual alternativa abaixo é a CORRETA? a) É um romance histórico, com linguagem carregada de brasileirismos e com personagens idealizadas. b) É um romance regionalista, com linguagem carregada de brasileirismos e com personagens que traduzem nossa cor local. c) É um romance indianista, com linguagem carregada de brasileirismos e com personagens que traduzem nossa cor local. d) É um romance citadino, com linguagem purista e com personagens dotadas de uma consciência histórica. e) É um romance histórico, com linguagem purista e com personagens dotadas de uma consciência histórica.
de romance regionalista. 629
B15 Romantismo indianista e regional
04. O trecho dos primeiros períodos de Iracema – “Verdes
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B16
ASSUNTOS ABORDADOS nn Romance urbano e histórico nn Romance urbano nn Romance histórico
ROMANCE URBANO E HISTÓRICO Romance urbano A partir da década de 1830, uma nova forma de entretenimento surgiu para os moradores da capital do Império. Os romances estrangeiros, principalmente franceses, marcados por características melodramáticas e por finais felizes, eram publicados nos jornais em forma de folhetins, faziam sucesso entre os leitores da corte. Como já vimos em aulas anteriores, o sentimento de nacionalismo no Romantismo promoveu a valorização do Brasil e diminuiu a influência impositiva da arte estrangeira. Vimos também que o nosso primeiro romance efetivamente brasileiro foi A moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, um romance adaptado ao nosso cenário, retratando os costumes, as manias, e as mediocridades da sociedade carioca da época, e escrito em estilo fluente e leve, com uma linguagem simples que beira o desleixo. Macedo viria a ser considerado o iniciador do Romantismo na literatura brasileira, como também consegue ser o autor mais lido do Brasil no final da década de 1840 e início dos anos 1850, até sofrer a concorrência de Alencar com a publicação de O Guarani (1857). O romance urbano ou romance de costumes é uma modalidade de romance que se dedica, especialmente, a retratar e tecer críticas aos hábitos e costumes praticados na esfera social do Rio de Janeiro, então a capital do país, no Segundo Reinado (18311840). A representação dos costumes da elite brasileira definiu o projeto literário do romance urbano. Por meio da divulgação de perfis, espaços e comportamentos reconhecidos, o autor investe na criação de uma nova identidade brasileira.
Nesse sentido, o romance urbano aponta os aspectos negativos da vida urbana e dos costumes burgueses. Aborda intrigas e conflitos amorosos, situações corriqueiras, como casamento por interesse ou ascensão social a qualquer preço, as desigualdades e problemas socioeconômicos comuns à maioria das pessoas. O desfecho é, invariavelmente, feliz e com a vitória do amor.
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Fonte: Wikimedia Commons
As personagens centrais (heróis) deixam de ser o aristocrata com seus rígidos códigos de honra e seus valores de nobreza. Agora o foco não é mais o nativo ou os nobres, e sim o cidadão comum, geralmente procedente da burguesia ou da plebe, que vivencia experiências do dia a dia. Essas figuras permeiam eventos praticamente sem importância. Suas ações já não lhes proporcionam fama e poder, mas giram em torno de fatos corriqueiros e relativamente insignificantes.
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Características Entre as principais características do romance urbano esteve a preocupação em retratar a sociedade. A aristocracia perdeu o enfoque, dando lugar aos homens comuns, protagonistas no romance urbano. Os romances urbanos preservam as características estruturais dos folhetins estrangeiros. Os enredos dramáticos falam sobre amores idealizados, introduzem elementos nacionais e criticam os costumes burgueses, seguindo uma estrutura tradicional das histórias de amor: situação inicial; conflito/quebra; reparação/solução. O drama quase sempre gira em torno de um jovem casal que precisa enfrentar obstáculos sociais, geralmente envolvendo questões financeiras, se quiserem ficar juntos. Com uma estrutura simples, e sem se valer de referências culturais sofisticadas (histórias, artísticas), o romance urbano contribuiu para a consolidação da identidade nacional e a democratização da literatura. Utilizando uma linguagem acessível, o narrador estabelece um diálogo com um leitor específico. Esse diálogo faz com que a história contada ganhe o aspecto de confidência trocada entre leitor e personagem. As heroínas dos romances são modelos para papéis de mães e esposas dedicadas, entrelaçando realidade e ficção e divulgando os valores morais. Um recurso muito usado é o uso de referências reais, que correspondem à realidade do leitor, como lugares físicos conhecidos, e que de certa forma o liga ao texto. O Rio de Janeiro, então capital federal, foi cenário para romances como A moreninha, de Joaquim Manoel de Macedo, cuja sociedade teve seus costumes e manias fielmente retratados. Representantes e obras do romance urbano nn Joaquim
de Alencar: Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875);
Fonte: Wikimedia Commons
nn Manuel
Antônio de Almeida: Memórias de um Sargento de Milícias (1852).
Figura 01 - Da esquerda para a direita, Manuel Antônio de Almeida, Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar
B16 Romance urbano e histórico
nn José
Manuel de Macedo: A Moreninha (1844);
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Português
Memórias de um sargento de milícias - nem romântico, nem realista, um romance de transição Memórias de um sargento de milícias (1852-1853) publicado, inicialmente, em folhetim foi a obra-prima de Manuel Antônio de Almeida. Ela apresenta características que convergem e divergem em relação à construção romântica da primeira metade do século XIX. Em outras palavras, ela apresenta características tanto do Romantismo como do Realismo, próxima escola literária que estudaremos. A obra não se define claramente nem como romântica nem como realista. Caracterizado como “romance de costumes ou urbano”, o livro segue algumas características românticas, mas contraria outras construções dessa escola. Apresenta um cenário da classe média e baixa do Rio de Janeiro, fato que o aproxima do Realismo. Nas palavras de Eça de Queirós “O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento: - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa sociedade”. Portanto, os estudiosos da literatura afirmam que a obra não se encaixa nem como sendo um romance romântico nem como realista, e sim de transição entre essas duas escolas literárias.
B16 Romance urbano e histórico
Em Memórias de um sargento de milícias vamos encontrar uma narrativa que busca a verdade, por meio de retratos fiéis dos personagens. Os motivos humanos dominam as ações em uma relação com o determinismo. A narrativa é lenta, fruto de uma detalhada caracterização de cada ação, utilizando uma linguagem próxima da realidade simples e natural, preocupando-se com análises psicológicas. Memórias de um sargento de milícias difere da maioria dos romances românticos, pois apresenta uma série de procedimentos que fogem ao padrão da prosa romântica. O protagonista não é herói, de acordo com o modelo idealizado do Romantismo, mas um malandro simpático que leva uma vida de pessoa comum. Não há idealização da mulher, da natureza ou do amor. As situações retratadas são reais e a linguagem aproxima-se da jornalística, abandonando a excessiva metaforização, traço característico da prosa romântica. Por ser uma obra deslocada de seu tempo, Memórias de um sargento de milícias despertou o interesse de vários críticos literários, que destoam em suas análises. Leonardo, o filho, é o protagonista do romance. Ele é o anti-herói ou herói picaresco do romance, vadio, folgado, malandro, que adora fazer estripulias e criar problemas. É criado pelo padrinho, já que os pais se separam e não têm paciência para suportar632
-lhe as traquinagens. Vive suas aventuras sem nenhum compromisso com a vida séria. Mulherengo, quase perde seu amor, por ser inconsequente. Chega a ser preso, torna-se granadeiro e sargento de milícias. Leia o fragmento a seguir: Pequeno Leonardo, o anti-herói Era no tempo do rei. Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). [...] Quem passasse por aí em qualquer dia útil dessa abençoada época veria sentado em assentos baixos, então usados, de couro, e que se denominavam — cadeiras de campanha — um grupo mais ou menos numeroso dessa nobre gente conversando pacificamente em tudo sobre que era lícito conversar: na vida dos fidalgos, nas notícias do Reino e nas astúcias policiais do Vidigal. Entre os termos que formavam essa equação meirinhal pregada na esquina havia uma quantidade constante, era o Leonardo-Pataca. Chamavam assim a uma rotunda e gordíssima personagem de cabelos brancos e carão avermelhado, que era o decano da corporação, o mais antigo dos meirinhos que viviam nesse tempo. [...] Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.
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[...] Primeiros infortúnios Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de 7 anos. Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança com um choro sempre em oitava alta; era colérico; tinha ojeriza particular à madrinha, a quem não podia encarar, e era estranhão até não poder mais. Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. Tinha uma paixão decidida pelo chapéu armado do Leonardo; se este o deixava por esquecimento em algum lugar ao seu alcance, tomava-o imediatamente, espanava com ele todos os móveis, punha-lhe dentro tudo que encontrava, esfregava-o em uma parede, e acabava por varrer com ele a casa; até que a Maria, exasperada pelo que aquilo lhe havia custar aos ouvidos, e talvez às costas, arrancava-lhe das mãos a vítima infeliz. Era, além de traquinas, guloso; quando não traquinava, comia. A Maria não lhe perdoava; trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal acabava a dor das palmadas. Assim chegou aos sete anos. Afinal de contas a Maria sempre era saloia, e o Leonardo começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito por ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido fundadas suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha notado que um certo sargento passava-lhe muitas vezes pela porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma ocasião, recolhendo-se, parecera-lhe que o vira encostado à janela. Isto porém passou sem mais novidade.
Depois começou a estranhar que um certo colega seu o procurasse em casa, para tratar de negócios do oficio, sempre em horas desencontradas: porém isto também passou em breve. Finalmente aconteceu-lhe por três ou quatro vezes esbarrar-se junto de casa com o capitão do navio em que tinha vindo de Lisboa, e isto causou-lhe sérios cuidados. Um dia de manhã entrou sem ser esperado pela porta adentro; alguém que estava na sala abriu precipitadamente a janela, saltou por ela para a rua, e desapareceu. À vista disto nada havia a duvidar: o pobre homem perdeu, como se costuma dizer, as estribeiras; ficou cego de ciúme. Largou apressado sobre um banco uns autos que trazia embaixo do braço, e endireitou para a Maria com os punhos cerrados. — Grandessíssima! ... E a injúria que ia soltar era tão grande que o engasgou... e pôs-se a tremer com todo o corpo. A Maria recuou dois passos e pôs-se em guarda, pois também não era das que se receava com qualquer coisa. — Tira-te lá, ó Leonardo! — Não chames mais pelo meu nome, não chames... que tranco-te essa boca a socos... — Safe-se daí! Quem lhe mandou pôr-se aos namoricos comigo a bordo? Isto exasperou o Leonardo; a lembrança do amor aumentou-lhe a dor da traição, e o ciúme e a raiva de que se achava possuído transbordaram em socos sobre a Maria, que depois de uma tentativa inútil de resistência desatou a correr, a chorar e a gritar: — Ai... ai... acuda, Sr. compadre... Sr. compadre! ... Porém o compadre ensaboava nesse momento a cara de um freguês, e não podia largá-lo. Portanto a Maria pagou caro e por junto todas as contas. Encolheu-se a choramingar em um canto. O menino assistira a toda essa cena com imperturbável sangue-frio: enquanto a Maria apanhava e o Leonardo esbravejava, este ocupava-se tranquilamente em rasgar as folhas dos autos que este tinha largado ao entrar, e em fazer delas uma grande coleção de cartuchos. Quando, esmorecida a raiva, o Leonardo pôde ver alguma coisa mais do que seu ciúme, reparou então na obra meritória em que se ocupava o pequeno. Enfurece-se de novo: suspendeu o menino pelas orelhas, fê-lo dar no ar uma meia-
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B16 Romance urbano e histórico
Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história.
Português
-volta, ergue o pé direito, assenta-lhe em cheio sobre os glúteos, atirando-o sentado a quatro braças de distância. — És filho de uma pisadela e de um beliscão; mereces que um pontapé te acabe a casta. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo. Moderna.
Romance histórico O romance histórico no Brasil tem seu efetivo início no século XIX a partir do anseio dos românticos de registrar todo o processo histórico que estava sendo vivenciado e estabelecer uma pesquisa minuciosa nesses documentos. O romance brasileiro definiu-se como romance histórico no momento decisivo de sua estruturação. Conforme o estudioso de literatura José Aderaldo Castello, é importante perceber que os componentes da obra de José de Alencar não são apenas literários e estéticos, são históricos e, sobretudo, linguísticos no sentido social, político e econômico, ou do ponto de vista particular da nossa realidade. A partir de Alencar, o romance histórico também foi cultivado por outros romancistas em diferentes épocas da literatura brasileira. Representantes e obras José de Alencar nn As nn A
Minas de Prata; Guerra dos Mascates.
Franklin Távora nn O
Matuto; nn Lourenço.
B16 Romance urbano e histórico
Características O romance histórico deve descrever fatos e personagens tal qual eles existiram. Esse recurso é chamado de “autenticidade de cor local”. O romance histórico traz o retrato de costumes de uma época passada, cujo relato muitas vezes mistura ficção e realidade, reconstruindo acontecimentos, costumes e personagens históricos. O romance histórico foi um dos principais meios encontrados pelos românticos para a reinterpretação nacionalista de fatos e personagens da nossa história, em uma revalorização e idealização de nosso passado. A composição das personagens e dos cenários é feita de modo que estejam em concordância com documentos e dados históricos, oferecendo assim ao leitor uma noção da vida e dos costumes da época. São características e ingredientes importantes do romance histórico: a cor lo-
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cal, a informação histórica, o passado apresentado como uma realidade acabada. Além disso, outras características também importantes são: nn O
fato histórico deve ser o ponto de partida para a construção da ficção, ambos interagindo;
nn Uso de temas heroicos e personagens representando
valores éticos e morais; nn A narrativa é construída no tempo passado, em detri-
mento ao tempo em que escreve o autor; nn Busca
de legitimação dos fatos históricos por meio de documentos e referências históricas;
nn Tentativa
de recuperar estruturas sociais, culturais, políticas e estilos do passado.
As minas de prata As minas de prata é considerado o melhor romance histórico de José de Alencar. O livro retrata o Brasil colônia de Portugal, especificamente a Bahia do século XVIII, período em que o Brasil vivia sob constantes ameaças holandesas, espanholas e da Companhia de Jesus. Época em que havia grande interesse europeu em terras brasileiras para a exploração do pau-brasil, madeira que existia com relativa abundância em largas faixas da costa brasileira. É nesse cenário de espírito aventureiro que estão as minas de prata, que dão origem ao romance de José de Alencar. A obra possui uma trama muito bem conduzida, embasada em uma narrativa coesa e bem construída. Dentro de uma ambiência variada e muito rica, o autor apresenta vários personagens envolvidos na história das lendárias minas de prata. Uma história simples em que boa parte das ações gira em torno de três personagens. O romance fala sobre a incansável busca do roteiro das minas de prata – a fortuna prometida pelas lendárias minas de prata, cuja descoberta se atribui ao aventureiro Robério Dias. Estácio, o herói do romance, é filho de Robério Dias. Jovem metido em pobreza pecuniária, mas abastado de grande coragem e honra cavalheirescas, tem pela frente dois desafios: reabilitar a memória do pai, livrando-o da acusação de “falso” e “embusteiro” (ele teria inventado a existência das minas), e superar o preconceito social para casar-se com Inês de Aguilar ou Inesita, que é “princesa inacessível”, por ser nobre e rica. Para isso, é necessário recuperar o valioso roteiro. A narrativa é repleta de cenas de ação, sangue, pancadaria, festivais coloniais, conspirações jesuíticas e reviravoltas mirabolantes.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
02. (Puc SP) Memórias de um Sargento de Milícias cronologicamente faz parte da literatura romântica brasileira; no entanto, torna-se uma obra atípica em relação ao momento em que foi escrita. Das alternativas abaixo, indique a que não valida essa afirmação porque a) seu enredo é marcado por intenso e trágico sofrimento amoroso cujo desfecho concretiza um final feliz, com a união conjugal e ascensão social dos personagens. b) sua linguagem é marcada pela oralidade e coloquialidade, em tom de crônica jornalística, ilustrando a prática de que se deve escrever como se fala. c) obra caracterizada pela ausência do tom açucarado e idealizador da literatura romântica, visto que as relações sentimentais não se dão nem pela grandeza no sofrimento, nem pela redenção pela dor. d) a caracterização dos personagens ou fere a descrição sempre idealizada do perfil feminino ou configura traços de um herói pelo avesso mais marcado por defeitos que por virtudes. 03. (Puc SP) A palavra “memórias” no título do romance Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida, remete a) às lembranças vividas pelo autor, em sua relação direta com a população da cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX. b) aos fatos narrados ao autor por um companheiro de redação, ex-militar português que vivera no Brasil os tempos descritos no romance.
c) às situações vividas e relatadas pelo Major Vidigal, único personagem rigorosamente histórico do romance, conhecedor da sociedade de seu tempo. d) aos relatos feitos pelo sargento de milícias, das peripécias de toda sorte, em especial as amorosas, vividas por ele ao longo da narrativa. 04. (Unesp SP) Ultrapassando o nível modesto dos predecessores e demonstrando capacidade narrativa bem mais definida, a obra romanesca deste autor é bastante ambiciosa. A partir de certa altura, este autor pretendeu abranger com ela, sistematicamente, os diversos aspectos do país no tempo e no espaço, por meio de narrativas sobre os costumes urbanos, sobre as regiões, sobre o índio. Para pôr em prática esse projeto, quis forjar um estilo novo, adequado aos temas e baseado numa linguagem que, sem perder a correção gramatical, se aproximasse da maneira brasileira de falar. Ao fazer isso, estava tocando o nó do problema (caro aos românticos) da independência estética em relação a Portugal. Com efeito, caberia aos escritores não apenas focalizar a realidade brasileira, privilegiando as diferenças patentes na natureza e na população, mas elaborar a expressão que correspondesse à diferenciação linguística que nos ia distinguindo cada vez mais dos portugueses, numa grande aventura dentro da mesma língua. (Antonio Candido. O romantismo no Brasil, 2002. Adaptado.)
O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor a) Raul Pompeia. b) Manuel Antônio de Almeida. c) José de Alencar. d) Machado de Assis. e) Aluísio Azevedo. 05. (Fac. Direito de São Bernardo do Campo SP) A obra de Manoel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, configura personagens populares que pela primeira vez comparecem no romance brasileiro. São personagens das quais NÃO se pode afirmar que a) tipificam caricaturas que, sem maior profundidade psicológica, equivalem-se pela representação social a que pertencem. b) formam um extrato médio da sociedade do período, nem proprietários nem escravos, e agem de acordo com a necessidade, sem moralismos nem escrúpulos. c) apresentam identidade formatada por nomes comuns e diminutivos ou se reconhecem por funções exercidas socialmente, como o barbeiro, o bicheiro, a cigana, o caça-dotes, o mestre de reza. d) vivem no universo da ordem sem jamais transgredir as normas sociais, apesar de se marcarem por certa amoralidade no comportamento cotidiano.
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B16 Romance urbano e histórico
01. (Unirv GO) O Romantismo no Brasil foi um movimento anticolonialista que em muito contribuiu para a formação da nossa identidade cultural. Em virtude da necessidade de se criar uma literatura com nossas raízes históricas, linguísticas e culturais, surge sob a influência deste período, Bernardo Guimarães autor de O Seminarista. Com relação a este autor e sua obra, marque V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas. Gab: V-F-V-F a) O seminarista é romance de linha pastoril na tradição da escola romântica cujo autor recebeu forte influência de Alexandre Herculano. b) Esta obra faz um típico romance de tese na tentativa de provar o equívoco do celibato religioso, que deforma o homem, e do autoritarismo religioso. A obra trata das diferenças sociais e preconceitos morais, traços este que a afastam dos ditames do romantismo para penetrar, puramente, no movimento da escola realista. c) Nesta obra, Eugênio e Margarida, personagens cujo enredo levanta uma trama amorosa, são vítimas da arrogância e dos preconceitos de uma época que os faz viver tão tragicamente como Romeu e Julieta. d) A crítica forte do romance é contra o casamento, não importando a condição social ou religiosa dos amantes.
Português
Exercícios Complementares 01. (Fac. Israelita de Ciênc. da S. Albert Einstein SP) Era no tempo do rei. Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo – O Canto dos Meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei: esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós e um elemento da vida: o extremo oposto eram os desembargadores (...).
B16 Romance urbano e histórico
O trecho acima inicia o romance Memórias de um Sargento de Milícias, escrito em forma de folhetim entre 1852 e 1853 por Manoel Antonio de Almeida. Deste romance como um todo, é correto afirmar que a) reveste-se de comicidade, na linha do pitoresco, e desenvolve sátira saborosa aos costumes da época, que atinge todas as camadas sociais, em particular os políticos e os poderosos. b) apresenta personagem feminina, Luisinha, cuja descrição fere a caracterização sempre idealizada do perfil de mulher dentro da estética romântica. c) caracteriza um romance histórico que pretende narrar fatos de tonalidade épica e heroica da vida brasileira, ambientados no tempo do rei e vividos por seus principais protagonistas. d) configura personagens populares que, pela primeira vez, comparecem no romance brasileiro e que se tornam responsáveis pelo desprestígio da literatura brasileira junto ao público leitor da época. 02. (UFGD MS) Leia o trecho a seguir. [...]. Calando-me naquela ocasião, prometi dar-lhe a razão que a senhora exigia; e cumpro o meu propósito mais cedo do que pensava. Trouxe no desejo de agradar-lhe a inspiração; e achei voltando a insônia de recordações que despertara a nossa conversa. Escrevi as páginas que lhe envio, as quais a senhora dará um título e o destino que merecerem. É um perfil de mulher apenas esboçado. Desculpe, se alguma vez a fizer corar sob os seus cabelos brancos, pura e santa coroa de uma virtude que eu respeito. O rubor vexa em face de um homem; mas em face do papel, muda e impassível testemunha, ele deve ser para aquelas que já imolaram à velhice os últimos desejos, uma como essência de gozos extintos, ou extremo perfume que deixam nos espinhos as desfolhadas rosas. De resto, a senhora sabe que não é possí-
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vel pintar sem que a luz projete claros e escuros. As sombras do meu quadro se esfumam traços carregados, contrastam debuxando o relevo colorido de límpidos contornos. ALENCAR, José de. Lucíola. 12ª ed., São Paulo: Ática, 1988, p. 5.
Em Lucíola, José de Alencar apresenta um dos melhores retratos da sociedade carioca do século XIX. A protagonista é uma prostituta que, ao final, transforma-se em uma heroína. Para alguns críticos, entretanto, o foco narrativo escolhido limita a possibilidade de representação da obra. Ou seja, o papel do narrador assume preponderância nessa narrativa. Como isso se reconhece dentre as alternativas abaixo? a) O narrador romantiza a história de Lucíola, evita confrontar a sociedade da época e, por isso, busca representar Lúcia como vítima, mas sem acusar diretamente personagens como Couto. b) O narrador em primeira pessoa é a irmã mais nova de Lúcia, com quem a protagonista se reencontra em seu leito de morte. Dessa maneira, os fatos narrados são baseados naquilo que outras pessoas contaram a ela. c) O narrador em primeira pessoa limita a representação da obra porque é a subjetividade de uma personagem quem conduz a história, imprimindo o seu ponto de vista. No caso de Lucíola, é Paulo o responsável por tornar pública a história de sua amada. d) Nesse caso, em especial, o limite se dá porque o narrador é Couto. Quando Lúcia tinha 14 anos, ele lhe oferece dinheiro em troca de sexo. Ao saber do ocorrido, o pai de Lúcia a expulsa de casa e a joga definitivamente no mundo da prostituição. O leitor percebe que não há uma crítica direta ao ato de Couto, uma vez que ele conduz a história. e) Em carta deixada a Paulo, Lúcia narra como se transformou em uma prostituta e agradece a Paulo a chance de recuperar a inocência e a pureza perdidas aos 14 anos de idade. É pelo olhar da protagonista, portanto, que a história é narrada. 03. (UCS RS) Os excertos abaixo são cantados por Lulu Santos e fazem parte da música O último romântico. Talvez eu seja o último romântico Dos litorais desse Oceano Atlântico Só falta reunir a zona norte à zona sul Iluminar a vida já que a morte cai do azul [...] Tolice é viver a vida assim sem aventura Deixa ser Pelo coração Se é loucura então melhor não ter razão Fonte: SANTOS, Lulu. O último romântico. Composição de: Lulu Santos, Antonio Cícero e S. Souza. Álbum Tudo azul. 1984. Disponível em: < http://www.vagalume.com.br>. Acesso em: 10 out. 14.
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04. (Unisc RS) Considere as afirmativas abaixo, a respeito de José de Alencar. I. Seu romance O Guarani é uma das obras mais importantes do indianismo brasileiro. II. A obra Lucíola inaugurou o Realismo no Brasil. III. O sertanejo é uma das obras do autor a tratar da temática regionalista. IV. Em Escrava Isaura, José de Alencar antecipa, na literatura, a discussão promovida pelo movimento abolicionista. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II estão corretas. c) Somente as afirmativas II e III estão corretas. e) Somente as afirmativas II e IV estão corretas. b) Somente as afirmativas I e IV estão corretas. d) Somente as afirmativas I e III estão corretas. 05. (Unirv GO) Considerando a produção literária de Joaquim Manuel de Macedo com foco em A Moreninha, marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas. Gab: V-V-F-V a) Apesar de seus objetivos, confessadamente modestos, de escrever uma obra de puro entretenimento, o autor acaba criando um painel da vida carioca de sua época. b) Em A Moreninha, o autor comenta, ironicamente, a futilidade da vida social. c) Embora A Moreninha tenha se constituído uma obra que marca a tendência romântica e o condicionamento pelo gosto popular, não é considerada, pela crítica, um romance, mas sim, uma narrativa comum, recheada de passagens grotescas e vulgares. d) O estilo de Joaquim Manuel de Macedo é despretensioso e ligeiro, impregnado de um humor leve e sutil. 06. (Unirv GO) A respeito de Joaquim Manoel de Macedo, leia as alternativas abaixo e marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas. Gab: V-F-F-F a) Joaquim Manoel de Macedo foi, por excelência, o escritor da classe média carioca, em oposição a aristocracia rural. b) Macedo apresentou um esquema de romances românticos pautado pela descrição de costumes da sociedade carioca, suas festas e tradições, o que contrariou esta classe social pela linguagem rebuscada, trama finalizado pela marcação do ódio e sentimentos confusos.
c) Joaquim Manoel de Macedo marcou o início do movimento romântico, no Brasil, com a obra A Moreninha. d) A ideologia romântica apresentada por Macedo deixou de contemplar a relação amor/final feliz face à carga trágica apontada como desfecho, o que contrariou o leitor da época. 07. (UFPR) Leia com atenção dois fragmentos de Lucíola, de José de Alencar. Se tivesse agora ao meu lado o Sr. Couto, estou certo que ele me aconselharia para as ocasiões difíceis uma reticência. Com efeito, a reticência não é a hipocrisia no livro, como a hipocrisia é a reticência na sociedade? Sempre tive horror às reticências; nesta ocasião antes queria desistir do meu propósito, do que desdobrar aos seus olhos esse véu de pontinhos, manto espesso, que para os severos moralistas da época, aplaca todos os escrúpulos, e que em minha opinião tem o mesmo efeito da máscara, o de aguçar a curiosidade. (p.253-254) Quando a mulher se desnuda para o prazer, os olhos do amante a vestem de um fluido que cega; quando a mulher se desnuda para a arte, a inspiração a transporta a mundos ideais onde a matéria se depura ao hálito de Deus; quando porém a mulher se desnuda para cevar, mesmo com a vista, a concupiscência de muitos, há nisto uma profanação da beleza e da criatura humana, que não tem nome. É mais do que a prostituição: é a brutalidade da jumenta ciosa que se precipita pelo campo, mordendo os cavalos para despertar-lhes o tardo apetite. (p. 258) ALENCAR, José de. Lucíola. Ficção completa e outros escritos, vol 1. Rio de Janeiro: Aguilar, 1965.
Considere as afirmativas abaixo: 1. A estratégia narrativa de Lucíola superpõe, entre o real e o ficcional, três figuras autorais: José de Alencar, o escritor do romance; Paulo, o autor das cartas em primeira pessoa; G.M, a destinatária que as organiza em forma de livro, atribuindo-lhe o título. 2. Apesar de situado no romantismo brasileiro, Lucíola inaugura o naturalismo na literatura brasileira ao explicar a sensualidade e a prostituição da protagonista como consequência do meio em que vive: a sociedade degradada da Corte no ano de 1855. 3. O grande amor de Paulo por Lúcia faz com que ele conheça profundamente os sentimentos e pensamentos da amada, gerando em alguns momentos uma oscilação entre a narração em primeira pessoa e a narração onisciente. 4. Paulo é ao mesmo tempo personagem do acontecimento passado e narrador do relato presente. A distância de seis anos possibilita comentários, conclusões e reflexões, deixando clara a diferença temporal entre viver e narrar o vivido. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. 637
B16 Romance urbano e histórico
Como o título da canção indica, é correto afirmar que a composição recupera traços do Romantismo ao a) satirizar os costumes e valores burgueses, marcando as distinções sociais, expressas na divisão entre a zona norte e a zona sul. b) enfatizar o conflito entre corpo e alma, expresso na relação entre as palavras coração e razão, nos últimos versos. c) explorar a antítese como recurso para exprimir a dualidade humana, manifestada no terceiro verso. d) tematizar o amor e o arrebatamento passional que pode conduzir à loucura, valorizando o sentimento em oposição à razão. e) contrariar o subjetivismo e o desabafo sentimental.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (ESPM RJ) A mulher, nas poesias de Álvares de Azevedo, aparece frequentemente envolvida por um ambiente de sonho e indefinição, estando sempre inacessível ao poeta. Indique em qual verso essa característica NÃO está presente: a) “Negros olhos as pálpebras abrindo...” b) “Entre as nuvens do amor ela dormia!” c) “Era a virgem do mar! na escuma fria” d) “Era um anjo entre as nuvens d’alvorada” e) “Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!” Texto comum às questões 02 e 03 Quando à noite no leito perfumado Lânguida fronte no sonhar reclinas, No vapor da ilusão por que te orvalha Pranto de amor as pálpebras divinas? E, quando eu te contemplo adormecida, Solto o cabelo no suave leito, Por que um suspiro tépido ressona E desmaia suavíssimo em teu peito? Virgem do meu amor, o beijo a furto Que pouso em tua face adormecida Não te lembra no peito os meus amores E a febre de sonhar da minha vida? Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio O meu peito se afoga de ternura E sinto que o porvir não vale um beijo E o céu um teu suspiro de ventura! Um beijo divinal que acende as veias, Que de encantos os olhos ilumina, Colhido a medo como flor da noite Do teu lábio na rosa purpurina, E um volver de teus olhos transparentes, Um olhar dessa pálpebra sombria Talvez pudessem reviver-me n’alma As santas ilusões de que eu vivia! Álvares de Azevedo. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000, p. 133-4.
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02. (Escs DF) A partir da leitura do poema de Álvares de Azevedo e considerando as características da poesia romântica brasileira, assinale a opção correta. a) O eu lírico, ao velar a amada enquanto ela dorme, mantém-se a distância e impassível. b) A terceira geração da poesia romântica brasileira caracterizou-se pela continuidade da poesia produzida por Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. c) Álvares de Azevedo, cuja retórica é mais simples que a de Gonçalves Dias, comunica mais diretamente os estados amorosos idealizados. d) As inovações propostas pela primeira geração romântica, sobretudo no que se refere à linguagem, estão presentes nos poemas de Álvares de Azevedo. e) Presente no poema acima, de Álvares de Azevedo, o ultrarromantismo é marcado por lamento nostálgico ante o amor e a morte, o qual também se observa na lírica-amorosa de Castro Alves. 03. (Escs DF) A partir da leitura do texto acima, assinale a opção correta. a) A aura onírica do poema deve-se ao fato de a amada estar dormindo. b) Depreende-se do poema que as ilusões do eu lírico estão ligadas à idealização do passado e às suas experiências na juventude. c) A representação da amada como “anjo de amor” revela que o eu lírico pressente a morte da amada. d) Nesse poema, que pertence ao grupo de obras da segunda geração do Romantismo brasileiro, o eu lírico é melancólico e saudosista, o que se verifica, em especial, nas duas últimas estrofes. e) O eu lírico propõe uma visão erótico-amorosa da amada que inclui a entrega sexual, conforme explicitado no poema. 04. (Uespi PI) Conhecido como o poeta dos escravos, Castro Alves marca sua poesia pela forte indignação para com a condição degradante e sub-humana do cativo. Porém, vamos encontrar também na sua poesia versos que falam dos encantos da mulher amada, do progresso e da técnica. Dentre os poemas abaixo, assinale qual deles pertence ao poeta baiano. a) Alma cheia de fogo e mocidade Que ante a fúria dos reis não se acobarda, Sonhava nesta geração bastarda Glórias e liberdade.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 06. a) Trata-se de uma relação de dependência socioeconômica entre um homem pobre, mas não escravo, e um rico proprietário rural, Luís Galvão. Jão Fera vive de favor, é um camarada agregado à fazenda das Palmas. O mal-estar decorre do fato de Jão Fera ter consciência de que é um “pobre diabo”, um a mais entre os homens livres ou escravos que vivem das sobras do proprietário. Não há a mínima afeição de Luís Galvão em relação aos dependentes. Existe apenas vaidade.
b) A praia é tão longa! E a onda bravia
a) Nesse trecho, Jão Fera refere-se de modo acerbo a uma de-
As roupas de gaza te molha de escuma;
terminada relação social (aquela que o vinculara, anterior-
De noite — aos serenos — a areia é tão fria,
mente, ao seu “benfeitor”, conforme diz Berta), revelando o
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
mal-estar que tal relação lhe provoca. Que relação social é
c) Minh’alma é toda saudade, De saudades morrerei,
essa e em que consiste o mal-estar que lhe está associado? b) A fala de Jão Fera revela que, no contexto sócio-histórico em
Disse-me, quando, minh’alma
que estava inserido, sua posição social o fazia sentir-se amea-
Em saudades lhe deixei
çado de ser identificado com um outro tipo social - identifica-
d) Para as estrelas de cristais gelados As ânsias e os desejos vão subindo, Galgando azuis e siderais noivados De nuvens brancas e amplidão vestindo.
ção, essa, que ele considera intolerável. De que identificação se trata e por que Jão a abomina? Explique sucintamente. 07. (Ibmec SP) O NAVIO NEGREIRO
e) Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... 05. (UFT TO) Com base na leitura de Espumas flutuantes, de Castro
Castro Alves
(fragmento) Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas
Alves, é CORRETO afirmar que as “espumas” a que se refere o
Rega o sangue das mães:
título da obra representam, metaforicamente,
Outras moças, mas nuas e espantadas,
a) as forças líricas que movem o poeta.
No turbilhão de espectros arrastadas,
b) as poesias que compõem o livro.
Em ânsia e mágoa vãs!
c) os amores do poeta por artistas de teatro.
06. (Fuvest SP) Leia com atenção o trecho de Til, de José de Alencar, para responder ao que se pede. [Berta] - Agora creio em tudo no que me disseram, e no que se pode imaginar de mais horrível. Que assassines por paga a quem não te fez mal, que por vingança pratiques crueldades que espantam, eu concebo; és como a suçuarana, que às vezes mata para estancar a sede, e outras por desfastio entra na mangueira e estraçalha tudo. Mas que te vendas para assassinar o filho de teu benfeitor, daquele em cuja casa foste criado, o homem de quem recebeste o sustento; eis o que não se compreende; porque até as feras lembram-se do benefício que se lhes fez, e têm um faro para conhecerem o amigo que as salvou. [Jão] - Também eu tenho, pois aprendi com elas; respondeu o bugre; e sei me sacrificar por aqueles que me querem. Não me torno, porém, escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das sobras que me atirava, como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro. Não foi por mim que ele fez isso; mas para se mostrar ou por vergonha de enxotar de sua casa a um pobre-diabo. A terra nos dá de comer a todos e ninguém se morre por ela. [Berta] - Para ti, portanto, não há gratidão? [Jão] - Não sei o que é; demais, Galvão já pôs-me quites dessa dívida da farinha que lhe comi. Estamos de contas justas! acrescentou Jão Fera com um suspiro profundo.
E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, E após fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!...” No poema “O Navio Negreiro”, Castro Alves expõe a sua indignação diante da situação do negro-escravo e essa obra é uma das muitas manifestações poéticas que, ao longo da nossa Literatura – e desde o Barroco até nossos dias – tiveram um apelo centrado no(a):
Questão 06. b) Jão Fera sente-se ameaçado de ser identificado com a “ralé da enxada” (alusão depreciativa à condição do escravo) e considera-se tratado como tal por Afonso Galvão, que lhe atiraria sobras “como atiraria a qualquer outro, a seu negro”. Jão abomina a identificação com o escravo a tal ponto que sente repugnância pelo trabalho “da ralé” e prefere ser capanga a trabalhar com a enxada. No final do romance, transformado pelo carinho de Berta, Jão redime-se da violência e trabalha com a enxada na lavoura doméstica.
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FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
d) os interesses sociais do poeta.
Português Questão 08. Espera-se que o candidato identifique em Jão Fera uma personagem ambivalente, que não pode ser classificada puramente como vilão ou herói. Jão Fera tornou-se um assassino cruel por conta das vicissitudes que lhe marcaram a vida. Em sua juventude Jão Fera viu Besita, a moça por quem estava apaixonado, e a cujo amor renunciara por não se julgar digno dela, ser violada por Luís Galvão, seu melhor amigo, e, posteriormente, ser assassinada pelo marido. Esses fatos o levaram a trilhar o caminho do crime. Mas a lembrança de seu amor por Besita persiste em sua adoração pela filha dela, Berta, a quem se mantém fiel e a quem protege de todos os perigos ao longo de todo o romance.
a) engajamento nas lutas classistas operárias b) revolta contra o colonizador português
Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, considere as seguintes
c) comprometimento com a problemática social
afirmativas:
d) indignação com o desgoverno e a impunidade
1. Nos dois romances, os nomes dos protagonistas são signifi-
e) irreverência diante do descomprometimento social 08. (Unicamp SP) – (...) Quando o Bugre sai da furna, é mau sinal: vem ao faro do sangue como a onça. Não foi debalde que lhe deram o nome que tem. E faz garbo disso! – Então você cuida que ele anda atrás de alguém? – Sou capaz de apostar. É uma coisa que toda a gente sabe. Onde se encontra Jão Fera, ou houve morte ou não tarda. Estremeceu Inhá com um ligeiro arrepio, e volvendo em torno a vista inquieta, aproximou-se do companheiro para falar-lhe em voz submissa: – Mas eu tenho-o encontrado tantas vezes, aqui perto, quando vou à casa de Zana, e não apareceu nenhuma desgraça. – É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e estão-lhe na cola. – Coitado! Se o prendem! – Ora qual. Dançará um bocadinho na corda! – Você não tem pena? – De um malvado, Inhá! – Pois eu tenho! (José de Alencar, Til, em Obra completa, vol. III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958, p. 825.)
O trecho do romance Til transcrito acima evidencia a ambivalência que caracteriza a personagem Jão Fera ao longo de toda a narrativa. a) Explicite quais são as duas faces dessa ambivalência. b) Exemplifique cada face dessa ambivalência com um episódio do romance. 09. (FMABC SP) Til é uma obra escrita por José de Alencar. Tem como subtítulo “Romance Brasileiro”. Das personagens que o integram, considerando o romance como um todo é INCORRETO afirmar que a) Brás é a criança rejeitada pelos tios e primos e tem em Berta sua protetora e mestra. É, ao longo da história, sempre comFRENTE B Exercícios de Aprofundamento
parado a um réptil. b) Jão Fera é o protótipo do facínora empedernido e assassino profissional para o qual o crime era a única razão de viver. c) Berta é caracterizada como “alma soror” que, abandonando sua humanidade, transforma-se em um ser mais metafísico, cujo objetivo é humanizar Brás e Jão Fera. d) Til é o nome dado a Berta por Brás e essa nomeação se ajusta perfeitamente à transformação sofrida pelos dois, caracterizando, assim, um traço mítico da narrativa. e) Berta desenvolve ações de convencimento sobre Miguel para aproximá-lo de Linda e torná-los namorados. 640
10. (UFPR) Sobre os romances Lucíola, de José de Alencar, e
cativos: Lúcia, pseudônimo adotado pela brilhante cortesã, ofusca a pureza perdida de Maria da Glória; já no caso de Amaro, o apelido Bom-Crioulo é irônico, salientando o viés negativo adotado na caraterização dessa personagem. 2. Em Lucíola, busca-se legitimar o comportamento sexual da protagonista por meio de uma motivação ajustada à moralidade burguesa do século XIX: Lúcia inicia-se na prostituição por conta de sua ingenuidade e desamparo, tentando salvar a própria família da miséria extrema. 3. Bom-Crioulo estabelece paralelos entre o cativeiro da escravidão e aquele representado pela atração de Amaro por Aleixo: seja na cena do castigo físico a que Amaro é submetido no primeiro capítulo, seja nas agruras da personagem título quando, transferido de embarcação, se vê afastado de Aleixo. 4. A despeito das diferenças entre Romantismo e Naturalismo, no que se refere ao tratamento das cenas de intimidade sexual, ambos os romances adotam um tom sóbrio, com vocabulário discreto que evita expressões grosseiras de modo a ajustar-se às expectativas do público de seu tempo. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 11. (ITA SP) As personagens desta obra, que anunciam um movimento literário posterior, são quase caricaturas de tipos do estrato socioeconômico médio da sociedade da época – o mestre de rezas, a cigana, o barbeiro, dentre outras. Elas agem conforme as necessidades de sobrevivência, sem moralismos ou escrúpulos. As personagens, de certa forma, representam aspectos da cultura brasileira, entre os quais se destaca o “jeitinho brasileiro”. Trata-se de: a) O cortiço, de Aluísio Azevedo. b) O Ateneu, de Raul Pompeia. c) Macunaíma, de Mário de Andrade. d) Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. e) Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Texto comum às questões 12, 13 e 14
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Joaquim Manoel de Macedo, A Moreninha.
A Esmeralda e o Camafeu
12. (Mackenzie SP) No excerto, está presente:
01
— Se eu encontrasse!...
02
— Então?... que faria?...
03
— Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria:
04
“Perdoai-me, perdoai-me, senhora, eu já não posso ser vosso
a) um narrador-observador que participa da cena apenas para produzir um efeito de comicidade, como em A cena se estava tornando patética (Ref. 13). b) o uso da primeira pessoa na voz narrativa, caracterizando
tomai a prenda que me deste...”
um personagem com dupla função: narrador-personagem.
E o infeliz amante arrancou debaixo da camisa um breve, que
06
c) um narrador-protagonista que conhece e participa de toda
07
convulsivamente apertou na mão.
08
— O breve verde!... exclamou D. Carolina, o breve que con-
tém
09
a história, impondo juízo de valores, como em E o infeliz amante arrancou debaixo da camisa um breve (Ref. 06).
a esmeralda!...
10
— Eu lhe diria, continuou Augusto: “recebei este breve que já
d) o recurso do flashback, iniciado com — Espere, tornou D. Ca-
11
não devo conservar, porque eu amo outra que não sois vós,
rolina (Ref. 23), para elucidar uma ação ocorrida no passado com consequências no presente.
que é 12 mais bela e mais cruel do que vós!...” 13
A cena se estava tornando patética; ambos choravam e só
14
e) um narrador que, em perspectiva futurista, exalta a vida moderna, a velocidade e a sociedade urbana.
passados alguns instantes a inexplicável Moreninha pôde falar responder ao triste estudante.
e
15
16
— Oh! pois bem, disse; vá ter com sua desposada, repita-lhe
o 17 que acaba de dizer, e se ela ceder, se perdoar, volte que eu serei 18 sua... esposa. 19
— Sim... eu corro... Mas, meu Deus, onde poderei achar essa
20
moça a quem não tornei a ver, nem poderei conhecer?...
onde meu 21 Deus?... onde?... 22
E tornou a deixar correr o pranto, por um momento sus-
pendido. 23
— Espere, tornou D. Carolina, escute, senhor. Houve um
dia,
24
quando a minha mãe era viva, em que eu também
socorri um velho 25 moribundo. Como o senhor e sua camarada, matei a fome de sua 26 família e cobri a nudez de seus filhos; em sinal de reconhecimento 27 também este velho me fez um presente: deu-me uma relíquia
28
milagrosa que, as-
severou-me ele, tem o poder uma vez na vida de
29
quem a
13. (Mackenzie SP) A partir do fragmento selecionado, pode-se afirmar que a prosa de Joaquim Manoel de Macedo I.
é marcada por enredos cheios de peripécias e final feliz.
II.
é composta com uma linguagem simples, estilo fluente e leve.
III.
é elaborada em torno de objetividade temática, com negação do sentimentalismo.
Assinale a alternativa correta. a) Estão corretas apenas as alternativas I e II. b) Estão corretas apenas as alternativas I e III. c) Estão corretas apenas as alternativas II e III. d) Todas as alternativas estão corretas. e) Nenhuma das alternativas está correta. 14. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa INCORRETA sobre a pro-
possui, de dar o que se deseja; eu cosi essa relíquia dentro 30
sa romântica brasileira.
de um breve; ainda não lhe pedi coisa alguma, mas trago-a
a) Destacam-se autores como Manuel Antônio de Almeida,
comigo; eu lha cedo... tome o breve, descosa-o,
Bernardo Guimarães, José de Alencar, Joaquim Manuel de
sempre
31
tire a relíquia e à
32
mercê dela encontre sua antiga amada.
Obtenha o seu perdão e 33 me terá por esposa. 34
— Isto tudo me parece um sonho, respondeu Augusto, po-
rém, 35 dê-me, dê-me esse breve! 36
começou a descosê-lo precipitadamente. Aquela relíquia, que se dizia 38 milagrosa, era sua última esperança; e, semelhante ao náufrago que 39 no derradeiro extremo se agarra à mais leve tábua, ele se abraçava 40 com ela. Só falta a derradeira capa do 41
tivista e pelo cientificismo. c) Costuma girar em torno da descrição dos costumes da socie-
A menina, com efeito, entregou o breve ao estudante, que 37
breve... ei-la que cede e
Macedo e Visconde de Taunay. b) Retrata a sociedade da época embasada pela ideologia posi-
dade da época, criando identificação com o público-leitor. d) É composta por romances de costumes, urbanos, indianistas, regionalistas e históricos. e) Visconde de Taunay é um dos representantes do romance regionalista com a obra Inocência.
se descose... Salta uma pedra... e
Augusto, entusiasmado e como
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delirante, cai aos pés de D.
Carolina, exclamando:
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FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
esposo!
05
— O meu camafeu!... o meu camafeu!...
FRENTE
C
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PORTUGUÊS Por falar nisso É difícil traduzir a realidade por palavras. Apesar da vasta quantidade delas em nosso vocabulário, mal podemos, nem mesmo se conhecêssemos todos os vocábulos da língua portuguesa, traduzir, por meio de palavras, nossos sentimentos. Essa missão, porém, é dada ao poeta, que não raro falha nesse objetivo. Quem é capaz de traduzir o que é o amor? “Amor é um fogo que arde sem se ver”, escreveu Luís Vaz de Camões, um dos mais célebres poetas da literatura portuguesa. Observe, porém, que a definição de amor é o que não encontramos nesse verso. Nem nesse, nem no resto do poema! Veja como o eu lírico, na tentativa de desvendar o que é o amor, se apega a elementos contraditórios, a comparações, a misturas de sensações. Embora o amor se apresente tão indefinido, o poeta tange o significado desse sentimento. Todo esse trabalho com a linguagem está vinculado a um recurso linguístico que aprenderemos nas próximas aulas: as figuras de linguagem. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
C13 C14 C15 C16
Figuras de linguagem: harmonia................................................... 644 Figuras de linguagem: palavra....................................................... 649 Figuras de linguagem: pensamento.............................................. 654 Figuras de linguagem: sintaxe....................................................... 659
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C13
ASSUNTOS ABORDADOS nn Figuras de linguagem: harmonia nn Aliteração nn Assonância nn Paronomásia nn Onomatopeia
FIGURAS DE LINGUAGEM: HARMONIA As figuras de linguagem, como já introduzimos, representam aquilo que as palavras, meramente utilizadas no sentido denotativo, não conseguem descrever. Faz-se necessário extrapolar o sentido mundano e entrar no universo da conotação. Para tornar didáticos nossos estudos, dividimos as figuras de linguagem em quatros grupos: nn Figuras
de harmonia de palavra nn Figuras de pensamento nn Figuras de sintaxe nn Figuras
As figuras de harmonia são um grupo de figuras de linguagem que possuem o aspecto sonoro como elemento comum. Elas constituem um importante conjunto de recursos para realçar a musicalidade e o ritmo de um texto. Trata-se de recursos comumente empregados na linguagem poética. As figuras de harmonia que estudaremos são: nn Aliteração nn Assonância nn Paronomásia nn Onomatopeia
Aliteração A aliteração é um recurso sonoro que consiste na repetição regular de um som consonantal ou de sons consonantais semelhantes. Veja a seguir alguns exemplos: “Auriverde pendão* da minha terra Que a brisa do Brasil beija e balança”
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*pendão: bandeira
Figura 01 - A primeira bandeira brasileira, que ainda não se parecia com a atual, foi criada em 19 de setembro de 1822 por decreto de dom Pedro I (17981834). Só em 1889, com a Proclamação da República, as armas do Império foram substituídas pelo círculo azul, o emblema republicano.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Fonte: www.shutterstock.com
Esse par de versos do poeta brasileiro Castro Alves transcende à mera repetição de sons semelhantes. Os sons /b/, /br/, /p/, /d/, /t/ têm em comum o modo de articulação, isto é, são sons oclusivos, feitos a partir de uma pequena oclusão, “explosão”. Ao utilizar sons de tal natureza, o poeta almeja representar o som do vento batendo na bandeira. Experimente recitar esse poema em voz alta e perceba como a sonoridade realmente se assemelha à do vento soprando na bandeira. “O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas.” Agora nesse poema de Manuel Bandeira, acima, outros sons são explorados, as consoantes /v/ e /f/. Note como essas consoantes são produzidas de maneira semelhante. Mais uma vez, porém, o sentido do poema transcende à “aleatória” repetição dessas consoantes semelhantes. O som do vento varrendo as folhas, flores e frutos é representado por essa repetição de “v” (vês) e “f” (efes).
Assonância Recurso que, por meio da distribuição regular e alternada de vogais abertas e vogais fechadas, realça a sonoridade do texto. Veja a seguir alguns exemplos: “O ângelus plange ao longe em doloroso dobre” Nesse verso dodecassílabo de Olavo Bilac, poeta do Parnasianismo brasileiro, há a repetição de vogais nasalizadas /ã/ e /õ/. Tendo conhecimento do contexto desse verso, isto é, a hora do ângelus – momento em que tocam os sinos da igreja para chamar os fiéis à missa –, podemos interpretar o que essa repetição significa. Recite esse verso em voz alta e perceba que essas vogais nasalizadas representam o som do sino. Há, inclusive, o par de palavras, no final do verso, que compõe uma aliteração que também pode representar o badalar dos sinos da igreja, as palavras “doloroso dobre”. “Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer”
Figura 02 - Os sinos comunicam acontecimentos importantes aos membros de Comunidades. A raiz da palavra sino provém do latim “signu” (sinal). C13 Figuras de harmonia
No primeiro quarteto do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, do poeta Luís Vaz de Camões, podemos observar como a presença de muitas vogais alternadas compõe o ritmo desses versos. Note que a tonicidade de cada verso é sempre marcada na 6ª e 10ª sílabas métricas, o que indica um ritmo regular de recitação.
645
Português
Paronomásia Paronomásia, ou também eco, é um recurso que, por meio da distribuição regular e alternada de grupos sonoros semelhantes, realça a sonoridade do texto. Pode-se dizer que a paranomásia é uma aliteração e uma assonância combinadas. Veja a seguir alguns exemplos: “Berro pelo aterro, pelo desterro Berro por seu berro, pelo seu erro” Note que nesse trecho da canção “Qualquer coisa” de Caetano Veloso o grupo de sons que se repete é o “erro”. Note ainda a maneira como eles estão dispostos. Tal disposição produz um efeito de sentido semelhante a um eco, por isso a paronomásia também recebe este nome. Perceba também que não se trata apenas de uma repetição de consoantes ou de vogais, mas sim de um grupo em que ambas estão presentes.
SAIBA MAIS De onde vem o nome paronomásia? Em aulas anteriores, nós fizemos um estudo sobre a semântica da língua, destacando as relações de homonímia (palavras iguais) e paronímia (palavras parecidas). É exatamente daí que vem o nome paronomásia, de parônimo; ou seja, palavras parecidas como “erro” e “berro”, “aterro” e “desterro” possuem uma relação de paronomásia.
Onomatopeia Emprego (ou criação) de palavras ou expressões a fim de representar (reproduzir) determinados sons ou ruídos conhecidos. Veja a seguir alguns exemplos:
C13 Figuras de harmonia
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“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno”
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Nesse verso de Fernando Pessoa, poeta do Modernismo português, podemos perceber como é representado o som das engrenagens, a partir da repetição dos “r” (erres). “O trem partiu Café com pão. Café com pão. Café com pão.” Antes de analisar que som representa essa onomatopeia de Manuel Bandeira, experimente recitar contínua e rapidamente “Café com pão”. Agora, perceba como essa repetição acelerada nos induz ao som do trem nos trilhos.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. Identifique as figuras de harmonia presentes nos fragmentos abaixo:
a) Aliteração; b) Aliteração; c) Paronomásia; d) Paronomásia; e) Assonância
a) “Acho que a chuva ajuda a gente se ver” (Caetano Veloso) b) “Olha a bolha d’água no galho!” (Cecília Meireles) c) “Na messe, que enlouquece, estremece a quermesse” (Eugênio de Castro) d) “Em horas inda louras, lindas / Clorindas e Berlindas, brandas” (Fernando Pessoa) e) Sua bença, presença imensa / Que vença na crença (Arlindo Cruz)
02. (FGV RJ) Considere as definições: nn Metáfora é a figura de linguagem que consiste no emprego de uma palavra com sentido que não lhe é comum ou próprio, sendo esse novo sentido resultante de uma relação de semelhança, de intersecção entre dois termos. nn Personificação ou prosopopeia é a figura de linguagem que consiste em atribuir linguagem, sentimentos e ações próprios dos seres humanos a seres inanimados ou irracionais. nn Aliteração é a repetição constante de um mesmo fonema consonantal. (William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães. Gramática reflexiva, 2005)
As definições são exemplificadas, respectivamente, com os seguintes versos do poema: a) o súlfur dos avernos em pescoções de fogo. / a implorar, sem esperança, um caneco de sombra. / sobre os corpos e as mentes, fulminando-os.
b) Restam, sob o massacre, esquírolas de consciência, / As árvores decotadas, alamedas sem árvores. / mas, curvados ao peso dessa carga de chamas, c) As árvores decotadas, alamedas sem árvores. / ressoa no interior da célula ferida. / ou essa rocha ardendo onde a verdura ria? d) A vida, esse lagarto invisível na loca, / O ar é neutro, fixo, e recusa passagem / às viaturas da brisa. O zinir de besouros buzinas e) em mil formas de esforço e pobreza e rotina, milhões / curtem a maldição do esplêndido verão. / O mar abre-se em leque à visita de uns milhares, 03. (IF CE) A linguagem usada em “Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere” é a) conotativa. d) informativa. b) denotativa. e) inapropriada. c) literal. 04. (Fac. Israelita de Ciências da S. Albert Einstein SP) “Colocar foto de jaleco e dentro do hospital é ‘ímã de mulher’ no Tinder”, diz um médico de 30 anos da rede pública de São Paulo que costuma usar o aplicativo. Nessa declaração, o efeito de sentido decorrente do uso da linguagem figurada revela a) os propósitos do aplicativo. b) a indicação do local de trabalho do jovem médico. c) a intenção do médico. d) a frequência com que o aplicativo é acessado.
01. (Famema SP) Leia o texto de Claudia Wallin. Vossas excelências, ilustríssimos senhores e senhoras, trago notícias urgentes de um reino distante. É mister vos alertar, Vossas Excelências, que nesta estranha terra os habitantes criaram um país onde os mui digníssimos e respeitáveis representantes do povo são tratados, imaginem Vossas Senhorias, como o próprio povo. Insânia! Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de contos de fada, pois há neste rico reino, que chamam de Suécia, rei, rainha e princesas. Mas não se iludam! Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes do rei, em nome de uma democracia que proclama uma tal igualdade entre todos, e o que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta mesma terra um dia há de comer. Nestas longínquas comarcas, os mui distintos parlamentares, ministros e prefeitos viajam de trem ou de ônibus para o trabalho, em sua labuta para adoçar as mazelas do povo. De ônibus, Eminências! E muitos castelos há pelos quatro
cantos deste próspero reino, mas aos egrégios representantes do povo é oferecido abrigo apenas em pífias habitações de um cômodo, indignas dos ilustríssimos defensores dos direitos dos cidadãos e da democracia. Este reino está cercado por outros ricos reinos, numa península chamada Escandinávia, onde também há príncipes e reis, e onde os representantes do povo vivem como sobrevive um súdito qualquer. E isto eu também vi, com os olhos que esta terra há de comer: em um dos povos vizinhos, conhecido como o reino dos noruegueses, tos nobres representantes do povo chegam a almoçar sanduíches que trazem de casa, e que tiram dos bolsos dos paletós quando a fome aperta. É preciso cautela, Vossas Excelências. Deste reino, que chamam de Suécia ainda pouco se ouve falar. Mas as notícias sobre o igualitário reino dos suecos se espalham. Estocolmo, 6 de janeiro de 2013. (Um país sem excelências e mordomias, 2014. Adaptado.)
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C13 Figuras de harmonia
Exercícios Complementares
Português
Assinale a alternativa em que ocorre um pleonasmo. a) “Dirão que as histórias que aqui relato são meras alucinações de contos de fada” b) “em sua labuta para adoçar as mazelas do povo” c) “trago notícias urgentes de um reino distante” d) “o que digo são coisas que tenho visto com os olhos que esta mesma terra um dia há de comer” e) “Os habitantes desta terra já tiraram todos os poderes do rei” 02. (FM Petrópolis RJ) As palavras podem ser empregadas no sentido literal ou no sentido figurado. O trecho da obra de Graciliano Ramos que se caracteriza pela presença de linguagem figurada é: a) “Não me ajeitava a esse trabalho: a mão segurava mal a caneta, ia e vinha em sacudidelas, a pena caprichosa fugia da linha, evitava as curvas, rasgava o papel, andava à toa como uma barata doida, semeando borrões.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 135.
b) “A mulher gorda chamou-me, deu-me uma cadeira, examinou-me a roupa, o couro cabeludo, as unhas e os dentes. Em seguida abriu a caixinha branca, retirou o folheto: — Leia.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 135.
c) “Atrás da loja, de quatro portas, duas em cada frente, havia o armazém de ferragens e o depósito de milho, onde eu e minhas irmãs brincávamos.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 72.
d) “Datam desse tempo as minhas mais antigas recordações do ambiente onde me desenvolvi como um pequeno animal. Até então algumas pessoas, ou fragmentos de pessoas, tinham se manifestado, mas para bem dizer viviam fora do espaço. RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 26.
e) “Na cidade ainda não havia hotéis, e à tardinha, ao chegar o trem, quase diariamente nos apareciam carregadores que transportavam bagagens.”
C13 Figuras de harmonia
RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 256.
03. (Unicamp SP) Em depoimento, Paulo Freire fala da necessidade de uma tarefa educativa: “trabalhar no sentido de ajudar os homens e as mulheres brasileiras a exercer o direito de poder estar de pé no chão, cavando o chão, fazendo com que o chão produza melhor é um direito e um dever nosso. A educação é uma das chaves para abrir essas portas. Eu nunca me esqueço de uma frase linda que eu ouvi de um educador, camponês de um grupo de Sem Terra: pela força do nosso trabalho, pela nossa luta, cortamos o arame farpado do latifúndio e entramos nele, mas quando nele chegamos, vimos que havia outros arames farpados, como o arame da nossa ignorância. Então eu percebi que quanto mais inocentes, tanto melhor somos para os donos do mundo. (…) Eu acho que essa é uma tarefa que não é só política, mas também pedagógica. Não há Reforma Agrária sem isso.” (Adaptado de Roseli Salete Galdart, Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais que escola. São Paulo: Expressão Popular, 2008, p. 172.)
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No excerto adaptado que você leu, há menção a outros arames farpados, como “o arame da nossa ignorância”. Trata-se de uma figura de linguagem para a) a conquista do direito às terras e à educação que são negadas a todos os trabalhadores. b) a obtenção da chave que abre as portas da educação a todos os brasileiros que não têm terras. c) a promoção de uma conquista da educação que tenha como base a propriedade fundiária. d) a descoberta de que a luta pela posse da terra pressupõe também a conquista da educação. 04. (IF SC) Comportamentos camuflados 1 [...] quantas vezes, no seu cotidiano, você compartilha uma mensagem/informação, 2 sem saber se ela é verdadeira ou não, com os seus colegas de trabalho ou com amigos e 3 familiares? Pense no constrangimento que você passaria caso alguém desacreditasse 4 essa informação no momento em que você está falando. Agora compare com o que você 5 tem feito nas redes sociais virtuais. 6 Alguma vez você pegou uma foto íntima de um conhecido e saiu por aí mostrando 7 essa foto para todas as pessoas que você encontra no seu dia a dia – no ambiente de 8 trabalho, na fila do supermercado ou num encontro com amigos mais próximos? Agora 9 compare com o que você tem feito nas redes sociais virtuais. 10 Hoje em dia, para disseminar uma informação basta apertar o botão de enviar e/ou 11 compartilhar. Mas a facilidade desse ato pode ser inversamente proporcional às 12 repercussões e os efeitos que causamos na sociedade como um todo. A popularização 13 da internet permitiu que tivéssemos acesso a uma quantidade inimaginável de 14 informações. Da mesma forma, ela possibilitou que adotássemos determinados 15 comportamentos sem o questionamento moral dessas ações, camuflados por nossos 16 avatares e/ou perfis nas redes sociais ou “escondidos” dentro de um grupo de Whatsapp [...]. TESSAROLO, Felipe. Comportamentos Camuflados. Observatório da Imprensa. 19. jan. 2016. Disponível em <http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/sobre-a-banalidade-do-mal/>. Acesso em: 15 set. 2016. Fragmento.
Em se tratando das palavras e expressões sublinhadas no texto, marque no cartão resposta a soma da(s) proposição(ões) CORRETA(S). 01-32 01. A conjunção “caso” (Ref. 3) introduz uma situação hipotética, também marcada pelo uso do modo subjuntivo na forma verbal “desacreditasse” (linha 3). 02. A expressão “dia a dia” (Ref. 7) está adequadamente grafada, de acordo com as regras ortográficas atuais, que mandam hifenizar todas as locuções adjetivas. 04. Na referência 11, para refletir a fala de muitos falantes do português, “mas” poderia ser substituído por “mais”, sem que isso implicasse erro. 08. A substituição da expressão “Da mesma forma” (Ref. 14) por “No entanto” acentuaria a contradição entre um aspecto positivo da popularização da internet, o acesso à informação, e um aspecto negativo, que é a adoção de comportamentos moralmente repreensíveis. 16. O pronome “ela” (Ref. 14) está retomando o referente “quantidade inimaginável de informações” (Refs.13-14). 32. O texto configura-se como literário, pois apresenta muitas palavras em sentido figurado e privilegia linguagem conotativa.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C14
FIGURAS DE LINGUAGEM: PALAVRA As figuras de palavra são o grupo de figuras de linguagem que mais está presente em nosso cotidiano. Diferente das figuras de harmonia, que, como vimos, são recursos comumente empregados na poesia e na música, as figuras de palavra aparecem em nossos diálogos sem que percebamos. As figuras de palavra que estudaremos são:
ASSUNTOS ABORDADOS nn Figuras de linguagem: palavra nn Comparação nn Metáfora nn Catacrese
nn Comparação
nn Metonímia
nn Metáfora
nn Sinestesia
nn Catacrese
nn Antonomásia
nn Metonímia nn Sinestesia nn Antonomásia
Comparação Expressa similaridade entre dois seres ou fatos, atribuindo a um deles características presentes no outro. Essa aproximação figurada entre seres ou fatos é marcada pela presença explícita de termos de valor comparativo (como; tal qual; igual; “feito”; “que nem”). Veja a seguir alguns exemplos: nn Aquela
menina parece um anjo. padeiro agiu “que nem” um cavalo. nn E as nuvens, qual plumas, enfeitavam o céu. nn Fiquei te esperando “feito” um palhaço. nn O
Metáfora Relação de semelhança estabelecida entre dois elementos, em linguagem figurada, por meio da transferência de valores e características de um a outro. Trata-se de uma comparação implícita, na qual os termos de valor comparativo não se revelam no texto. Veja a seguir alguns exemplos: nn Aquela
menina tem cabelos de anjo. padeiro deu-me uma patada. nn Você me apunhalou pelas costas. nn Cada vez mais pessoas navegam na internet. nn O
Catacrese Ampliação do sentido de uma palavra por extensão de seu significado original, a partir de alguma semelhança existente entre ambos. Trata-se de uma metáfora que de tanto utilizada se “desgastou”. Veja a seguir alguns exemplos: nn dente
de alho; perna da mesa; asa da xícara; pé da cama. nn embarcar no trem; aterrissar no mar; cavalgar no burro. Note que, por similaridade, por um processo de comparação, partes de objetos puderam ser nomeadas, como “asa da xícara”. Seu uso constante e cotidiano fez com que essa associação passasse a designar unicamente as partes desse objeto, perceba que não há outro nome senão este. Tem-se ainda outro processo de catacrese implícito em alguns verbos, como “embarcar no trem”. Observe que “embarcar” vem da palavra “barco”, ou seja, só por um processo metafórico se poderia embarcar em um trem ou em um avião, mas, por tão utilizada essa comparação, consolidou-se essa catacrese.
!
ATENÇÃO!
Você pôde perceber como a metáfora é semelhante à comparação. Saiba, ainda, que há outra figura de linguagem que se situa como um intermediário entre a comparação e a metáfora. Estamos falando da símile, figura de linguagem que aproxima dois elementos por meio do verbo “ser”. Observe: Os lábios da musa são vermelhos como um pássaro escarlate. (comparação) nn Os lábios da musa são um pássaro
escarlate. (símile)
nn Os lábios tocaram levemente o
pássaro escarlate. (metáfora)
649
Português
Metonímia
SAIBA MAIS cores são originalmente designadas por esses substantivos,
Metonímia é a substituição de um termo por outro que o represente. Tal substituição, no entanto, só se torna possível quando existe entre ambos uma relação de proximidade que permita essa troca. Veja a seguir alguns exemplos:
diferentemente de laranja, rosa, violeta, cinza, cujos nomes
nn Meu pai comprou um Chevrolet. (a marca pelo produto)
provieram de elementos do mundo real: a fruta laranja, as flo-
nn Bebemos
Há muitas cores que são nomeadas por um processo de catacrese. Vermelho, amarelo, azul, verde, enfim, todas essas
res rosa e violeta, e a cinza de uma combustão. Parece pouco fulcral saber que alguns nomes de cores são formados por catacrese, mas saber disso é importante para realizar algumas concordâncias. Observe abaixo que não se pluralizam as cores cujo nome é um elemento do mundo real: nn cadernos vermelhos; borrachas brancas; gatos pretos.
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nn cadernos rosa; borrachas laranja; gatos cinza.
duas jarras de suco. (o recipiente pelo conteúdo) nn Ganhava a vida com muito suor. (a causa pelo efeito) nn O garoto parecia ler Jorge de Lima. (o autor pela obra) Leia a seguir um exemplo de metonímia em um trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade: “O bonde passava cheio de pernas pernas brancas, pretas, amarelas.”
!
ATENÇÃO!
Existe um tipo particular de metonímia em que a palavra que indica o todo de um ser é substituída por outra que indica apenas uma parte dele. A esse recurso de linguagem dá-se o nome de sinédoque. Veja a seguir alguns exemplos: nn O rebanho tinha mil cabeças. nn Ontem, Carlos pediu a mão de Joana em casamento.
C14 Figuras de palavra
Figura 01 - Bonde típico do século XIX no Rio de Janeiro.
650
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Sinestesia A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes em uma mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (visão, audição, olfato, tato e paladar) ou psicológicas (subjetivas). Veja a seguir alguns exemplos: nn Via
aquela mancha na parede... verde, úmida, macia. sentiu a dor amarga da solidão.
nn Então,
Leia a seguir um exemplo de sinestesia em um trecho de poema de Cecília Meireles: “Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos
!
colore as areias desertas.”
Antonomásia Criação de um codinome, de natureza simbólica, para fazer referência a um elemento conhecido. Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido. Veja a seguir alguns exemplos: nn Edson
Arantes do Nascimento: Pelé; rei do futebol. de Janeiro: Cidade maravilhosa. nn Paris: Cidade luz.
ATENÇÃO!
É designada perífrase quando a antonomásia (o apelido dado) é criada a partir de características ou atributos desse ser. Veja a seguir alguns exemplos: nn Paul McCartney: o eterno Beatle.
nn Rio
nn Brasil: o país do futebol.
Exercícios de Fixação 01. (Unirg TO)
d) a sinestesia associativa de cor, letra e número pode provocar alucinações.
Disponível em: <http://www.diariodaregiao.com.br/cidades/sinestesia-um-turbilh%C3%A3ode- sensa%C3%A7%C3%B5es-1.79488>. Acesso: 13 out. 2016.
A descrição atribuída a cada um dos sinestésicos chamados de famosos revela que a) a sinestesia predominante no meio artístico é a que associa som e cor. b) o fenômeno da sinestesia constitui uma exclusividade de pessoas bem-sucedidas. c) o fenômeno da sinestesia pode desenvolver talentos profissionais no indivíduo.
CAPÍTULO LIII ....... 1 Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda 2 ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha 3 vida, no meu pensamento;—era o que dizia, e era verdade. 4 Há umas plantas que nascem e crescem depressa; 5 outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; 6 brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, 7 era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques. 8 Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou esse 9 crescimento. Lembrame, sim, que, em certa noite, 10 abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo 11 que ela me deu, trêmula,—coitadinha,—trêmula de medo, 12 porque era ao portão da chácara. Uniunos esse beijo único, 13 — breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de 14 uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres 15 que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em 16 alegria,— uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio 17 de uma paixão sem freio,—vida de agitações, de cóleras, de 18 desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de 19 sobra; mas outra hora vinha
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C14 Figuras de palavra
02. (Fuvest SP)
Português
e engolia aquela, como tudo 20 mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do 21 resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o livro daquele 22 prólogo. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
Dentre os recursos expressivos empregados no texto, tem papel preponderante a a) metonímia (uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, com base na relação de contiguidade existente entre ela e o referente). b) hipérbole (ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística). c) alegoria (sequência de metáforas logicamente ordenadas). d) sinestesia (associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão). e) prosopopeia (atribuição de sentimentos humanos ou de palavras a seres inanimados ou a animais). 03. (UEG GO) Leia o fragmento e observe a imagem. A mulher era uma pena na cidade grande. E a cidade grande se lhe exibia como uma prostituta na vitrine. E se insinuava, sorrateira, entre um e outro setor. Vista num relance, seu conjunto urbano parecia se erigir em meio aos interstícios de sonhos diacrônicos, que, unidos, formavam um mosaico por meio de cujo vislumbre o presente e o passado conviviam na forma arquitetônica de seus prédios. Era antiga e nova ao mesmo tempo. Essa cidade grande se chamava Trude e era fruto de um desejo e de uma realidade. [...] Então Heloíse Dena passou a sentir muito medo. Não da cidade em si, nem dos perigos e dos riscos multiplicados pela configuração da urbe imensa. Seu medo era de algo mais profundo, menos aparente. No fundo, receava não conseguir viver o contexto de uma busca e de um encontro em meio a tantos e tão altos prédios. Por essa época, só se sentia realmente à vontade dentro de seu carro, quando estava com os vidros fechados e as portas trancadas.
AMARAL, Tarsila do. Operários (1933). Disponível em: <http://novaescola. org.br/arte/pratica-pedagogica/tem-muitas-historias-brasil-telas-tarsila-424884.shtml>. Acesso em: 22 ago. 2016.
Verificam-se, no fragmento e na pintura, respectivamente, as seguintes figuras: a) catacrese e paradoxo. b) hipérbole e catacrese. c) metonímia e hipérbole. d) paradoxo e prosopopeia. e) prosopopeia e metonímia. 04. (Uerj RJ) O personagem presente no último quadrinho é um ácaro, um ser microscópico. Suas falas têm relação direta com seu tamanho. No contexto, é possível compreender a imagem do personagem como uma metonímia. Essa metonímia representa algo que se define como: a) invisível b) expressivo c) inexistente d) contraditório
FREITAS, Ewerton. As metades invisíveis. São Paulo: Ixtlan, 2010. p. 130.
Exercícios Complementares 01. (Uerj RJ)
02. (IF GO) O vestido Adélia Prado
André Dahmer. Folha de São Paulo, 13/05/2013. C14 Figuras de palavra
A internet é um tribunal... A afirmação acima configura um exemplo de metáfora. A partir da análise desse exemplo, pode-se definir “metáfora” como: a) alusão negativa b) simbologia crítica c) representação parcial d) comparação subentendida 652
No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante. Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão. De tempo e traça meu vestido me guarda. Disponível em: <http://inspiredresses.com.br/o-vestido-adelia-prado/>. Acesso em: 18 out. 2015.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Observa-se que o poema traz sensações evocadas pela autora ao tocar o vestido, ao cheirá-lo e ao vê-lo. Quando se trata de sensações, assinale a figura de linguagem que trata dos sentidos. a) Catacrese. b) Sinestesia. c) Antítese. d) Polissíndeto. e) Silepse. 03. (IF PE)
- Não faz assim - Não vai lá não Os letreiros a te colorir Embaraçam a minha visão Eu te vi suspirar de aflição
3
E sair da sessão, 4frouxa de rir Já te vejo brincando, gostando de ser Tua sombra a se multiplicar Nos teus olhos também posso ver As vitrines te vendo passar
5
Na galeria, 6cada clarão É como um dia depois de outro dia Abrindo um salão Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/disco virtual/galerias/imagem/00000 00447/0000003347.jpg>. Acesso em: 22 set. 2015.
O humor da tirinha, no texto, foi conferido, sobretudo, pela não compreensão por parte da personagem Chico Bento da figura de linguagem utilizada por ser seu interlocutor. A essa referida figura de linguagem dá-se o nome de a) anáfora. b) metonímia. c) perífrase. d) hipérbole. e) aliteração. 04. (IF PE) Leia os versos da canção Índia. Se a palavra em destaque puder ser substituída por “pretos” sem haver alteração no sentido global do texto, estaremos diante de um caso de: “Índia seus cabelos nos ombros caídos Negros como a noite que não tem luar”
Passas sem ver teu vigia Catando a poesia Que entornas no chão Disponível em: <http://letras.mus.br/chico-buarque/45109/>. Acesso em: 23 set. 2015.
a) 1 e 2. b) 5 e 6. c) 3 e 4. d) 1 e 3. e) 2 e 6. 06. (UEPG PR) Assinale o que for correto em relação às figuras de linguagem. 01-02 01. Fotografar a si mesmo vira febre... – metáfora. 02. ...as selfies tomaram o mundo. – prosopopeia.
Disponível em: <http://letras.mus.br/perla/718686/>. Acesso em: 24 set. 2015.
a) Homonímia. b) Paronímia. c) Sinonímia. d) Antonímia. e) Ambiguidade.
04. Vale tudo pela pose nas redes sociais... – eufemismo. 08. “...uma mania que não respeita desastres naturais, despenhadeiros ou funerais...” – perífrase. 16. O paradoxo mencionado no texto é construído por meio da relação entre as palavras selfie e minha. 07. (ESPM SP) As frases abaixo apresentam ambiguidade, ou dupla
As Vitrines Eu te vejo sumir por aí Te avisei que 2a cidade era um vão - Dá tua mão - Olha pra mim
Chico Buarque
leitura, exceto uma. Assinale-a: a) Paternidade: o desafio para os pais que cuidam dos filhos sozinhos. b) Ciências sem Fronteiras: verbas para estudantes atrasadas. c) Dilma afirma que Petrobras é maior que seus problemas. d) Mesmo sem revogar dogmas, Papa vira alvo dos conservadores. e) Deputados insatisfeitos passaram a criticar abertamente erros do governo.
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C14 Figuras de palavra
05. (IF PE) Leia a letra da seguinte canção e observe as expressões em destaque. Depois, marque a opção que representa trechos compostos pelas figuras de linguagem personificação e comparação, nessa ordem.
1
Passas em exposição
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C15
ASSUNTOS ABORDADOS nn Figuras de linguagem: pensamento nn Antítese nn Paradoxo
FIGURAS DE LINGUAGEM: PENSAMENTO As figuras de pensamento são um grupo de figuras de linguagem que, diferente das figuras de palavra, apresentam recursos referentes ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. As figuras de pensamento que estudaremos são:
nn Eufemismo
nn Antítese
nn Hipérbole
nn Paradoxo
nn Gradação
nn Eufemismo
nn Ironia
nn Hipérbole
nn Prosopopeia
nn Gradação nn Ironia nn Prosopopeia
Antítese Ocorre antítese quando há utilização de palavras ou expressões que possuem sentidos contrários ou contrastantes, para que a expressividade do texto ocorra exatamente devido a esse contraste. Veja a seguir um exemplo de Rui Barbosa: “Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.” Note que, por um recurso que apresenta termos antônimos, o autor fala sobre o bem que nos trazem os inimigos, isto é, os desafios da vida. E alerta também para o fato de que, quando na vida algo nos vem muito facilmente, podemo-nos acomodar e, consequentemente, acabar sendo prejudicados.
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Figura 01 - Duas expressões de sentido contrário: uma antítese gestual. À esquerda, um sinal positivo com o polegar; à direita, um sinal negativo.
654
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Paradoxo Ocorre paradoxo, ou também oximoro, quando há aproximação (associação) de ideias contrárias ou contrastantes, estabelecendo entre elas uma relação de existência aparentemente absurda, inaceitável. Veja a seguir alguns exemplos, sendo o primeiro um trecho de um poema de Fernando Pessoa e o segundo, de Camões. “Minha mulher, a solidão Faz que eu não seja triste Que bom é ao coração Ter este bem que não existe!” “Amor é um fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer.” Perceba que, diferentemente da antítese, o paradoxo é uma oposição de ideias, não de palavras. Não se trata da mera aproximação de antônimos, e sim de um contraste entre conceitos do mundo real. Analisando o quarteto de Camões, podemos ler uma série de paradoxos, uma estratégia do eu lírico para definir o indefinível, aquilo que, apesar da dor, do sofrimento, não se faz sentir, o amor.
Eufemismo Ocorre eufemismo quando há a construção de uma ideia com a clara intenção de amenizar, suavizar uma informação normalmente trágica, chocante ou desagradável. Veja a seguir alguns exemplos: nn Acho
que estás com uns quilinhos a mais. (gordo) nn Marcos sofre de uma doença de difícil tratamento. (mal incurável) nn Algo está cheirando mal na geladeira. (fedendo) Leia a seguir um exemplo de eufemismo em um trecho de música de Chico Buarque: “Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe pague” Nos versos dessa canção, o autor usa de um eufemismo para tratar da morte, preferindo a expressão “paz derradeira”.
!
ATENÇÃO! DISFEMISMO
Diferentemente do eufemismo, o disfemismo, ao invés de atenuar um fato desagradável, agrava ainda mais o teor da informação. Veja abaixo alguns exemplos: nn Quem é que vai querer dançar
com um pintor de rodapé? (pessoa de baixa estatura) nn Agora “aquelazinha” está comen-
do capim pela raiz. (está morta) nn Ele está demorando muito no ba-
nheiro, deve estar mandando um fax para Boston. (está defecando)
Hipérbole Ocorre hipérbole quando há uma expressão empregada a fim de dar a uma ideia o tom de exagero, ou seja, de dar a uma informação um valor muito maior do que o real. Veja a seguir alguns exemplos: nn Vão correr rios de lágrimas dos seus olhos! (chorar muito) nn Você
sala está congelando! (muito fria)
C15 Figuras de pensamento
nn Esta
me faz morrer de rir! (rir muito)
Gradação Ocorre gradação, ou também progressão semântica, quando uma ideia é expressa de forma fragmentada, seja pela ampliação de uma mesma ideia, seja por uma sequência de ideias menores. Veja a seguir alguns exemplos: nn Ela ficou em uma sala... calada, triste, deprimida. nn Os preços sobem. A inflação aumenta. O consumo diminui. A produção cai. O desemprego toma conta. O país entra em crise! 655
Português
Ironia Ocorre ironia quando há uma subversão das ideias de um texto. É também designada antífrase quando se fala ou se escreve algo que, pelo contexto, seja interpretado de maneira diferente (contrária àquilo que foi dito ou escrito). Veja a seguir alguns exemplos: nn Aquela nn Seu
criança é um anjo! (muito custosa)
comentário foi genial! (muito estúpido)
nn Foi o melhor presente que já ganhei! (o pior presente) nn Temos
a honra de sermos os campeões mundiais da dengue!
Prosopopeia Ocorre prosopopeia, ou também personificação ou animização, quando há uma atribuição de características animadas a seres inanimados, ou de condição humana a elementos não humanos. Veja a seguir alguns exemplos: nn O
violão e a flauta, depois de mais de uma noite de trabalho, sentaram-se na calçada para conversar. nn O vento uivava... as árvores gemiam... o medo tomava conta da floresta. nn Os rios vão carregando as queixas no seu curso.
Figura 02 - Montes Claros é um município brasileiro no norte do estado de Minas Gerais. Pertence à microrregião homônima e mesorregião do Norte de Minas, localizando-se a norte da capital do estado, distando desta cerca de 422 km.
“Que beleza, Montes Claros. Como cresceu Montes Claros. Quanta indústria em Montes Claros.
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Leia a seguir um exemplo de ironia em um trecho de poema de Carlos Drummond de Andrade:
Montes Claros cresceu tanto, ficou urbe tão notória, prima-rica do Rio de Janeiro, que já tem cinco favelas por enquanto, e mais promete.”
Figura 03 - O violão é um instrumento de cordas, com uma caixa geralmente feita de madeira, que gera uma acústica facilitando a propagação do som. Já a flauta é um dos instrumentos musicais mais antigos que conhecemos. Sabe-se que o homem de Neandertal já construía flautas a partir de ossos de animais.
Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01 e 02
C15 Figuras de pensamento
DICIONÁRIO FEITO POR CRIANÇAS REVELA UM MUNDO QUE OS ADULTOS NÃO ENXERGAM MAIS 1 Em abril, aconteceu a Feira do Livro de Bogotá, e um dos maiores sucessos foi um livro chamado 2 Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Nele, há um dicionário com mais de 500 3 definições para 133 palavras, de A a Z, feitas por crianças. 4 O curioso deste “dicionário infantil” é como as crianças definem o mundo através daquilo que 5 os adultos já não conseguem perceber. O autor do livro é o professor Javier Naranjo,
656
que 6 compilou informações ao longo de dez anos durante as aulas. Ele conta que a ideia surgiu 7 quando ele pediu aos seus alunos para definirem a palavra “criança”, e uma das respostas que 8 lhe chamou atenção foi: “uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum e 9 vai dormir cedo”. 10 Veja outros verbetes do livro e as idades das crianças que os definiram: 11 • Adulto: pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma. (Andrés, 8 anos) 12 • Água: transparência que se pode tomar. (Tatiana, 7 anos) 13 • Branco: o branco é uma cor que não pinta. (Jonathan, 11 anos)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
• Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro, somente seus filhos. (Luis, 8 anos) 15 • Céu: de onde sai o dia. (Duván, 8 anos) 16 • Dinheiro: coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos. 17 (Ana María, 12 anos) 18 • Escuridão: é como o frescor da noite. (Ana Cristina, 8 anos) 19 • Guerra: gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz. (Juan Carlos, 11 anos) 20 • Inveja: atirar pedras nos amigos. (Alejandro, 7 anos) 21 • Mãe: mãe entende e depois vai dormir. (Juan, 6 anos) 22 • Paz: quando a pessoa se perdoa. (Juan Camilo, 8 anos) 23 • Solidão: tristeza que dá na pessoa às vezes. (Iván, 10 anos) 24 • Tempo: coisa que passa para lembrar. (Jorge, 8 anos) 25 • Universo: casa das estrelas. (Carlos, 12 anos) 14
André Fantin. Adaptado de repertoriocriativo.com.br, 22/05/2013.
01. (Uerj RJ) As ausências da moldura e da imagem são recursos gráficos que contribuem para o sentido do texto. A relação entre esses recursos gráficos e a mensagem contida no terceiro quadrinho possui um sentido de: a) ironia
minoria são suspeitos do ataque 9 terrorista. Olha aí no que dá defender minoria... 10
noria são suspeitos pelo ataque 11 terrorista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque terrorista. 12
A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque
terrorista fortalece a extrema 13 direita francesa. A extrema direita francesa está por trás do ataque terrorista. 14
Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen”
é “O Caneta”, se tomarmos o 15 artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema 16
direita francesa à liberdade de expressão e aos erros de
concordância nominal. 17
Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres
para se expressar. Algumas dessas 18 expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é desejável que indivíduos 19 ou grupos sejam ofendidos. 20
Os terroristas que atacaram o jornal Charlie Hebdo usavam
gorros pretos. “Black blocs” usam 21 gorros pretos. “Black blocs” são terroristas. 22
b) reforço
A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma mi-
Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk
é um abacate.
c) negação
Antonio Prata. Adaptado de Folha de São Paulo, 11/01/2015.
d) contradição 02. (Uerj RJ) No último quadrinho, formula-se uma analogia moral, quando se sugere que não é possível ver tudo o que acontece à frente dos olhos. A partir dessa analogia, pode-se chegar à seguinte conclusão: a) a verdade absoluta não existe
d) o curso da vida não pode ser mudado Texto comum às questões 03 e 04 TERRORISMO LÓGICO O terrorismo é duplamente obscurantista: primeiro no atentado, depois nas reações que desencadeia. Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said 2
do ataque ao jornal Charlie
Hebdo, na França. Se não houvesse imigrantes na França, não teria 3 havido ataque ao Charlie Hebdo. 4
Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal Charlie
Hebdo, eram filhos de argelinos. 5 Zinedine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é terrorista. 6
Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif Kouachi,
suspeitos do ataque ao jornal Charlie 7 Hebdo, eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi sabiam jogar futebol. 8
do método dedutivo, conhecido como “silogismo” e normalmente organizado na forma de três sentenças em sequência. A organização do silogismo sintetiza a estrutura do próprio mé-
Muçulmanos são uma minoria na França. Membros de uma
a) premissa geral – premissa particular – conclusão b) premissa particular – premissa geral – conclusão c) premissa geral – segunda premissa geral – conclusão particular d) premissa particular – segunda premissa particular – conclusão geral 04. (Uerj RJ) Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate. (Ref. 22) Todo argumento pode se tornar um sofisma: um raciocínio errado ou inadequado que nos leva a conclusões falsas ou improcedentes. O último parágrafo do texto é um exemplo de sofisma, considerando que, da constatação de que todo abacate é verde, não se pode deduzir que só os abacates têm cor verde. Esse é o tipo de sofisma que adota o seguinte procedimento: a) enumeração incorreta b) generalização indevida c) representação imprecisa d) exemplificação inconsistente
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C15 Figuras de pensamento
c) o homem não é o centro do mundo
e Chérif Kouachi são suspeitos
Hebdo, construiu uma série de variações do argumento típico
todo dedutivo, que se encontra melhor apresentada em:
b) a existência não tem explicação
1
03. (Uerj RJ) Antonio Prata, ao comentar o ataque ao jornal Charlie
Português Gabarito questão 01 O verso em que ocorre sinestesia é “e enfim converte em choro o doce canto”. Na expressão “doce canto”, há fusão da sensação gustativa (“doce”) com a auditiva (“canto”). Na ordem direta, substituindo-se o pronome relativo “que” pelo seu referente, tem-se: “o chão de verde manto já foi coberto de neve fria”.
Exercícios Complementares 01. (Unesp SP) Leia o soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” do poeta português Luís Vaz de Camões (1525?-1580). Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança1; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem – se algum houve –, as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e enfim converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor2 espanto: que não se muda já como soía3. (Sonetos, 2001.) esperança: esperado. 2 mor: maior. 3 soer: costumar (soía: costumava). 1
A sinestesia (do grego syn, que significa “reunião”, “junção”, “ao mesmo tempo”, e aisthesis, “sensação”, “percepção”) designa a transferência de percepção de um sentido para outro, isto é, a fusão, num só ato perceptivo, de dois sentidos ou mais. (Massaud Moisés. Dicionário de termos literários, 2004. Adaptado.)
C15 Figuras de pensamento
Transcreva o verso em que se verifica a ocorrência de sinestesia. Justifique sua resposta. Reescreva o verso da terceira estrofe “que já coberto foi de neve fria”, adaptando-o para a ordem direta e substituindo o pronome “que” pelo seu referente. 02. (Unicamp SP) Os anos correm entre um século e outro, mas os problemas permanecem os mesmos para os kalungas*. Quilombolas** que há mais de 200 anos encontraram lar entre os muros de pedra da Chapada dos Veadeiros, na região norte do Estado de Goiás, os kalungas ainda vivem com pouca ou quase nenhuma infraestrutura. De todos os abusos sofridos até hoje, um em particular deixa essa comunidade em carne viva: os silenciosos casos de violência sexual contra meninas. Entretanto, passado o afã das denúncias de abuso sexual que figuraram em grandes reportagens da imprensa nacional em abril do ano passado, a comunidade retornou ao seu curso natural. E assim os kalungas continuam a viver no esquecimento, no abandono e, principalmente, no medo. As vítimas não viram seus algozes punidos. O silêncio prevalece
658
e grita alto naquelas que se arriscaram a mostrar suas feridas. O sentimento é o de ter se exposto em vão. (Adaptado de Jéssica Raphaela e Camila Silva, O silêncio atrás da serra. Revista Azmina. Disponível em http://azmina.com.br/secao/osilencioatras-da-serra/. Acessado em 03/10/ 2016.) * Kalungas: habitantes da comunidade do quilombo Kalunga, maior território quilombola do país. ** Quilombolas: termo atribuído aos “remanescentes de quilombosˮ. Atualmente, há no Brasil cerca de 2.600 comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural dos Palmares.
No final do texto há uma figura de linguagem conhecida como paradoxo. Quais termos são utilizados para se obter esse efeito de sentido? Os termos que produzem o efeito de paradoxo são: o “silêncio”
e “grita”.
03. (Centro Universitário de Franca SP) Leia o texto de Mario Quintana. Verbete Autodidata. — Ignorante por conta própria. (A vaca e o hipogrifo, 2008.)
O efeito de humor do texto está associado a) à personificação, porque os termos “autodidata” e “ignorante” conferem, no texto, características humanas a um conceito abstrato. b) à ironia, porque o termo “ignorante” é comumente contrário à ideia de instrução, vinculada à palavra “autodidata”. c) ao pleonasmo, porque a palavra “ignorante” retoma, de modo repetitivo, o sentido já apresentado pelo termo “autodidata”. d) ao eufemismo, porque a expressão “ignorante por conta própria” atenua o sentido negativo que geralmente se atribui ao termo “autodidata”. e) à hipérbole, porque a expressão “por conta própria” contribui para descrever as virtudes do autodidata de maneira exagerada. 04. (Unifor CE)
O ápice da narrativa da tirinha está centrado no uso de significados diferentes para a mesma palavra, o que dependerá do contexto em que está inserida, como é o caso da palavra “barbero”. A essa propriedade damos o nome de: a) Antonímia. d) Conotação. b) Denotação. e) Paronímia. c) Polissemia.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C16
FIGURAS DE LINGUAGEM: SINTAXE As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões. Elas podem ser constituídas por: nn Omissão:
elipse, zeugma e assíndeto nn Repetição: polissíndeto, anáfora e pleonasmo nn Inversão: anástrofe, hipérbato nn Ruptura: anacoluto nn Concordância ideológica: silepse
Elipse
ASSUNTOS ABORDADOS nn Figuras de linguagem: sintaxe nn Elipse nn Zeugma nn Assíndeto nn Polissíndeto nn Anáfora nn Pleonasmo nn Anástrofe nn Hipérbato nn Anacoluto nn Silepse
Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo. nn Subiu
a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro. E a voz dos filhos embaixo. nn Hoje me disseram ele era um dos bons. Note que houve a omissão destes termos: nn Ela subiu a escada. A cama estava arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro.
Zeugma Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição. nn A
igreja era grande e pobre. Os altares, humildes. sonho em ter uma camionete como meu pai!
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E a voz dos filhos embaixo. nn Hoje me disseram que ele era um dos bons.
nn Eu
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Português
!
Note que houve a omissão de termos já expressos no enunciado:
ATENÇÃO!
Cuidado com o uso da zeugma! Certifique-se sempre se a supressão de um termo não causará ambiguidade, isto é, duplo sentido para o enunciado. Veja que no exemplo “Eu sonho em ter uma camionete como meu pai!”, o termo suprimido pode tanto ser o verbo “ter”, o que significaria que o pai tem a camionete, ou o verbo “sonhar”, o que significaria que o pai também sonha com o veículo.
nn A
igreja era grande e pobre. Os altares eram humildes. nn Eu sonho em ter uma camionete como meu pai tem/sonha!
Assíndeto Ocorre assíndeto (ausência de síndeto, conjunção) quando orações ou palavras que deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas aparecem justapostas ou separadas por vírgulas. nn “A
tua raça quer partir, guerrear, sofrer, vencer, voltar”.
Perceba que estão ausentes conjunções aditivas (por exemplo, “e”) no fragmento de texto de Cecília Meireles.
Polissíndeto Ocorre polissíndeto (muitos síndetos, muitas conjunções) quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção “e”). Trata-se de um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos. “Vão chegando as burguesinhas pobres, e as criadas das burguesinhas ricas, e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.” Manuel Bandeira
“O quinhão que me coube é humilde, pior que isto: nulo. Nem glória, nem amores, nem santidade, nem heroísmo.” Otto Lara Resende
Anáfora
C16 Figuras de sintaxe
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Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.
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“Depois o areal extenso... Depois o oceano de pó... Depois no horizonte imenso Desertos... desertos só...”
Castro Alves
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Pleonasmo
Note que, nesse verso de Mário Quintana, houve posposição dos verbos. Em ordem direta, ficaria: Estou tão leve que nem tenho sombra.
Hipérbato Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase.
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“Passeiam à tarde, as belas na avenida.”
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Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma ideia, isto é, redundância de significado. Pleonasmo literário É o uso de palavras redundantes para reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântica quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, o pleonasmo enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem. “Iam vinte anos desde aquele dia
Note que, nesse verso de Drummond, houve a inversão de dois sintagmas. Em ordem direta, ficaria: As belas passeiam à tarde na avenida.
Quando com os olhos eu quis ver de perto Quando em visão com os da saudade via”
SAIBA MAIS Alberto de Oliveira
É o desdobramento de ideias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma ideia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.
Em ordem direta, ficaria: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.
Gonçalves Dias
nn Subir para cima nn Descer para baixo nn Repetir de novo nn Hemorragia de sangue nn Breve alocução nn Entrar para dentro nn Ouvir com os ouvidos nn Monopólio exclusivo nn Principal protagonista
absoluta
C16 Figuras de sintaxe
nn Certeza
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Pleonasmo vicioso
SÍNQUISE Recebe o nome de sínquise quando se constrói, em exagero, um hipérbato. Trata-se de uma inversão violenta de distantes partes da frase. Há presença de sínquise no início do Hino Nacional. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heroico o brado retumbante”.
“Morrerás morte vil na mão de um forte.”
Anástrofe Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante e determinado). “Tão leve estou que nem sombra tenho.”
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Português
Anacoluto Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a sequência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos, que não apresentam função sintática definida, desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível. “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.” Antônio Alcântara Machado
Silepse Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a ideia a ela associada. Silepse de gênero Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino). Vossa Excelência está atrasado para a reunião. “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” Guimarães Rosa
Silepse de número Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural). “Corria gente de todos os lados, e gritavam.” Mário Barreto
Silepse de pessoa
C16 Figuras de sintaxe
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Ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.
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“Na noite seguinte estávamos reunidas algumas pessoas.” Machado de Assis
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
(Manoel de Barros, Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 53.)
Considerando que o poeta joga com os sentidos do verbo “adivinhar” e da sua raiz latina divinare, justifique o neologismo usado no último verso. 02. (Puc GO) VIII Para que a vida me fosse estrada e o mundo um labirinto, fiz da força esta humana incerteza do que sinto.
Gabarito questão 01 O neologismo verbal “divinam” provém do latim “divinare”, que significa adivinhar, descobrir, atribuindo ao sabiá uma sabedoria divina, uma vez que o neologismo remete ao adjetivo divino. Esse jogo de palavras criado pelo poeta (adivinhar, divinam, divinare) aponta um limite para os poderes da ciência.
(VIEIRA, Delermando. Os tambores da tempestade. Goiânia: Poligráfica, 2010. p. 30.)
Em relação ao processo de construção lógica do texto de Delermando Vieira, assinale a alternativa correta: a) A conjunção “e”, apesar de ser normalmente associada a acréscimo de ideias, no texto, foi usada com sentido de adversidade. b) No texto, a vida é metaforizada como uma estrada, o mundo como labirinto e a força como incerteza humana. c) A construção “para que” estabelece com o enunciado seguinte uma relação de proporcionalidade em relação à vida e ao mundo. d) No poema, o sentimento do poeta é descrito como claro e definido tal como se apresentam os componentes de uma estrada. 03. (Puc GO)
6 Garimpo – terra rica de gente pobre… Um pedaço no meio da Amazônia transformado em turbulento reduto de aventureiros. Com as notícias de riqueza fácil, toda a espécie de gente acorria desordenada como um formigueiro desfeito. Vinha tentar a sorte. Cada forasteiro, sem nada nos bolsos, se mostrava mais ganancioso do que o outro. Era uma massa de gente que não prestava, desbandeirada, sem pouso nem destino certo. Por toda parte, existia gente que não prestava, mas em menor proporção. Ali, a maioria
não valia um níquel, numa ânsia de enriquecer de qualquer jeito. Na luta pela posse do ouro, a ambição cega atropelava. Homens cegos sedentos por ganhos rápidos. A maioria vinha só, sem mulher e filhos. Para que levar a família no meio da floresta? Logo, entretanto, a fome por sexo falava mais alto. Não havia mulheres para todos e isso causava pânico. Os homens se tornavam nervosos e inquietos, como se os corpos ardessem em chamas. Então, bebiam. Por qualquer palavra desentendida, as brigas, seguidas de mortes, explodiam. O pequeno cemitério crescia como um organismo vivo. [...] (GONÇALVES, David. Sangue verde. Joinville: Sucesso Pocket, 2014. p. 13.)
Assinale a alternativa que delimita corretamente os tipos de recursos linguísticos predominantes no trecho “O pequeno cemitério crescia como um organismo vivo” para produzir efeito de sentido: a) Antítese e ironia: o lugar onde se enterravam os mortos é comparado paradoxal e ironicamente a um organismo vivo. b) Ambiguidade e polissemia: os diferentes significados do verbo “crescer” levam a entender “cemitério” tanto no sentido literal quanto no figurado. c) Metonímia e pleonasmo: a referência ao tamanho de uma parte do espaço físico é feita de maneira exagerada para se referir ao todo do reduto dos aventureiros. d) Alusão e intertextualidade: a alusão ao crescente aumento de mortos tem relação com o discurso da biologia. 04. (Cefet MG) Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento; Ouvi pois o meu fúnebre lamento; Se é que de compaixão sois animados: Já vós vistes, que aos ecos magoados Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Da lira de Anfião ao doce acento Se viram os rochedos abalados. Bem sei, que de outros gênios o Destino, Para cingir de Apolo a verde rama, Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um peregrino, Se faz digno entre vós também de fama. COSTA, Cláudio Manuel da. A poesia dos inconfidentes. (Org.: COSTA, MACHADO). São Paulo: Martins Fontes, 1966, p. 51 – 52.
Vocabulário: Destino: Na Grécia Antiga, o Destino dos deuses e dos homens eram concedidos às três irmãs Moiras, responsáveis por tecer e cortar o fio da vida de cada um.
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C16 Figuras de sintaxe
01. (Unicamp SP) O poema abaixo é de autoria de Manoel de Barros e foi publicado no Livro sobre nada, de 1996. “A ciência pode classificar e nomear todos os órgãos de um sabiá mas não pode medir seus encantos. A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá. Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam”.
Português
Anfião: Deus da mitologia grega, filho de Zeus e Antíope, que recebeu uma lira como presente de Apolo, que também o ensinou a tocá-la. Ele construiu a cidade de Tebas tocando a lira pois, ao som de sua música, as pedras se moviam sozinhas. Apolo: Filho de Zeus e Latona, é considerado o deus da juventude e da luz. Apesar de ser sempre associado à imagem de um jovem viril e talentoso, não teve sucesso no amor, devido à paixão não correspondida por Dafne. O poeta Calímaco apresenta Apolo como o inventor da lira, mas outros textos indicam que quem o inventou foi seu irmão Hermes.
Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento; Ouvi pois o meu fúnebre lamento; Se é que de compaixão sois animados: Nesse fragmento do poema, predomina o uso da figura de linguagem a) metáfora. b) hipérbole. c) metonímia. d) prosopopeia.
Exercícios Complementares 01. (Famerp SP) Leia o trecho do conto “As caridades odiosas”, de Clarice Lispector. Foi uma tarde de sensibilidade ou de suscetibilidade? Eu passava pela rua depressa, emaranhada nos meus pensamentos, como às vezes acontece. Foi quando meu vestido me reteve: alguma coisa se enganchara na minha saia. Voltei-me e vi que se tratava de uma mão pequena e escura. Pertencia a um menino a que a sujeira e o sangue interno davam um tom quente de pele. O menino estava de pé no degrau da grande confeitaria. Seus olhos, mais do que suas palavras meio engolidas, informavam-me de sua paciente aflição. Paciente demais. Percebi vagamente um pedido, antes de compreender o seu sentido concreto. Um pouco aturdida eu o olhava, ainda em dúvida se fora a mão da criança o que me ceifara os pensamentos. – Um doce, moça, compre um doce para mim. Acordei finalmente. O que estivera eu pensando antes de encontrar o menino? O fato é que o pedido deste pareceu cumular uma lacuna, dar uma resposta que podia servir para qualquer pergunta, assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água. Sem olhar para os lados, por pudor talvez, sem querer espiar as mesas da confeitaria onde possivelmente algum conhecido tomava sorvete, entrei, fui ao balcão e disse com uma dureza que só Deus sabe explicar: um doce para o menino. (A descoberta do mundo, 1999.)
“assim como uma grande chuva pode matar a sede de quem queria uns goles de água.” (3° parágrafo)
C16 Figuras de sintaxe
A imagem literária presente nessa passagem exprime uma comparação baseada a) numa redundância. b) numa ironia. c) numa desproporção. d) numa atenuação. e) num paradoxo.
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02. (Unifesp SP) Leia o soneto do poeta Luís Vaz de Camões (1525-1580). Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prêmio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, passava, contentando-se com vê-la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos lhe fora assi negada a sua pastora, como se a não tivera merecida, começa de servir outros sete anos, dizendo: “Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida”. (Luís Vaz de Camões. Sonetos, 2001.)
Uma das principais figuras exploradas por Camões em sua poesia é a antítese. Neste soneto, tal figura ocorre no verso: a) “mas não servia ao pai, servia a ela,” b) “passava, contentando-se com vê-la;” c) “para tão longo amor tão curta a vida.” d) “porém o pai, usando de cautela,” e) “lhe fora assi negada a sua pastora,” 03. (Unifesp SP) Focalize a passagem da comédia O juiz de paz da roça do escritor Martins Pena (1815-1848). JUIZ (assentando-se): Sr. Escrivão, leia o outro requerimento. ESCRIVÃO (lendo): Diz Francisco Antônio, natural de Portugal, porém brasileiro, que tendo ele casado com Rosa de Jesus, trouxe esta por dote uma égua. “Ora, acontecendo ter a égua de minha mulher um filho, o meu vizinho José da Silva diz que é dele, só porque o dito filho da égua de minha mulher saiu malhado como o seu cavalo. Ora, como os fi-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
(Martins Pena. Comédias (1833-1844), 2007.)
O efeito cômico produzido pela leitura do requerimento decorre, principalmente, do seguinte fenômeno ou procedimento linguístico: a) paródia. b) intertextualidade. c) ambiguidade. d) paráfrase. e) sinonímia. 04. (UECE) O texto é um excerto de Baú de Ossos (volume 1), do médico e escritor mineiro Pedro Nava. Inclui-se essa obra no gênero memorialístico, que é predominantemente narrativo. Nesse gênero, são contados episódios verídicos ou baseadas em fatos reais, que ficaram na memória do autor. Isso o distingue da biografia, que se propõe contar a história de uma pessoa específica. O meu amigo Rodrigo Melo Franco de 2 Andrade é autor do conto “Quando minha avó 3 morreu”. Sei por ele que é uma história 4 autobiográfica. Aí Rodrigo confessa ter passado, 5 aos 11 anos, por fase da vida em que se sentia 6 profundamente corrupto. Violava as promessas 7 feitas de noite a Nossa Senhora; mentia 8 desabridamente; faltava às aulas para tomar 9 banho no rio e pescar na Barroca com 10 companheiros vadios; furtava pratinhas de dois 11 mil-réis... Ai! de mim que mais cedo que o 12 amigo também abracei a senda do crime e 13 enveredei pela do furto... Amante das artes 14 plásticas desde cedo, educado no culto do belo, 15 eu não pude me conter. Eram duas coleções de 16 postais pertencentes a minha prima Maria Luísa 17 Palleta. Numa, toda a vida de Paulo e Virgínia – 18 do idílio infantil ao navio desmantelado na 19 procela. Pobre Virgínia, dos cabelos 20 esvoaçantes! Noutra, a de Joana d’Arc, desde os 21 tempos de pastora e das vozes ao da morte. 22 Pobre Joana dos cabelos em chama! Não resisti. 23 Furtei, escondi e depois de longos êxtases, com24 medo, joguei tudo fora. Terceiro roubo, terceira 25 coleção de postais – a que um carcamano, 26 chamado Adriano Merlo, escrevia a uma de 27 minhas tias. Os cartões eram fabulosos. Novas 28 contemplações solitárias e piquei tudo de latrina 29 abaixo. Mas o mais grave foi o roubo de uma 30 nota de cinco mil-réis, do patrimônio da própria 31 Inhá Luísa. De posse dessa fortuna nababesca, 32 comprei um livro e uma lâmpada elétrica de 33 tamanho desmedido. Fui para o parque Halfeld 34 com o butim de minha pirataria. Joguei o troco 35 num bueiro. Como 1
ainda não soubesse ler, 36 rasguei o livro e atirei seus restos em um 37 tanque. A lâmpada, enorme, esfregada, não fez 38 aparecer nenhum gênio. Fui me desfazer de 39 mais esse cadáver na escada da Igreja de São 40 Sebastião. Lá a estourei, tendo a impressão de 41 ouvir os trovões e o morro do Imperador 42 desabando nas minhas costas. Depois dessa 43 série de atos gratuitos e delitos inúteis, voltei 44 para casa. Raskólnikov. O mais estranho é que 45 houve crime, e não castigo. Crime perfeito. 46 Ninguém desconfiou. Minha avó não deu por 47 falta de sua cédula. Eu fiquei por conta das 48 Fúrias de um remorso, que me perseguiu toda a 49 infância, veio comigo pela vida afora, com a 50 terrível impressão de que eu poderia reincidir 51 porque vocês sabem, cesteiro que faz um 52 cesto... Só me tranquilizei anos depois, já 53 médico, quando li num livro de Psicologia que só 54 se deve considerar roubo o que a criança faz 55 com proveito e dolo. O furto inútil é fisiológico e 56 psicologicamente normal. Graças a Deus! Fiquei 57 absolvido do meu ato gratuito... (Pedro Nava. Baú de ossos. Memórias 1. p. 308 a 310.)
No trecho “abracei a senda do crime e enveredei pela do furto...” (referências 12-13), foi empregada linguagem figurada. Assinale V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se diz sobre esse trecho. ( ) O sentido primeiro do vocábulo “senda” é caminho. ( ) No texto, o vocábulo “senda” foi empregado para indicar aquilo que é feito habitualmente; prática observada; hábito, rotina. ( ) O trecho foi composto com duas metáforas: uma expressa pelo vocábulo “senda” e outra pelo vocábulo “furto”. ( ) O substantivo “senda” e o verbo enveredar (“enveredei”) formam uma única metáfora, a metáfora do caminho. ( ) Em linguagem não metafórica, teríamos algo como o que segue: comecei a praticar crimes, mais especificamente o furto. ( ) O verbo abraçar (“abracei”), usado também em sentido figurado, fortalece a metáfora do caminho, pois, dentre as várias acepções desse verbo, estão as de envolver, tomar como seu, adotar. Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência. a) V, F, F, V, V, V. b) F, F, V, V, F, F. c) V, V, V, F, F, F. d) V, V, F, V, V, V. 05. (ESPM SP) Poética
C16 Figuras de sintaxe
lhos pertencem às mães, e a prova disto é que a minha escrava Maria tem um filho que é meu, peço a V. Sa. mande o dito meu vizinho entregar-me o filho da égua que é de minha mulher”. JUIZ: É verdade que o senhor tem o filho da égua preso? JOSÉ DA SILVA: É verdade; porém o filho me pertence, pois é meu, que é do cavalo. JUIZ: Terá a bondade de entregar o filho a seu dono, pois é aqui da mulher do senhor. JOSÉ DA SILVA: Mas, Sr. Juiz... JUIZ: Nem mais nem meios mais; entregue o filho, senão, cadeia.
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Português
Estou farto do lirismo comedido
as 5 mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível 6 crer. Eu
Do lirismo bem comportado
deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu 7 um grande salto,
Do lirismo funcionário público com livro de
estendeu os braços e as pernas, 8 até tomar a forma de um X:
ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
decifra-me ou devoro-te. 9
Essa ideia era nada menos que a invenção 10 de um medica-
mento sublime, um emplasto 11 anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa 12 melancólica humanidade. Na petição de privilégio 13 que então redigi, chamei a atenção do governo para 14 esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, 15 não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias 16 que deviam resultar da
Abaixo os puristas
distribuição de um produto Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
efeitos. Agora, porém,
18
17
de tamanhos e tão profundos
que estou cá do outro lado da vida,
posso confessar 19 tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de 21
20
ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos,
esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas 22 três pa-
lavras: Emplasto Brás Cubas. Para que paixão do arruído, do cartaz, do
negá-lo? Eu tinha a
foguete de lágrimas. Talvez
os modestos me arguam 25 esse defeito; fio, porém, que esse
Político
talento me hão de
Raquítico
ideia trazia
Sifilítico
o 28 público, outra para mim. De um lado, filantropia e 29 lucro;
De todo lirismo que capitula ao que quer
de outro lado, sede de nomeada. Digamos: – 30 amor da glória.
De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. (Manuel Bandeira, in: Libertinagem)
C16 Figuras de sintaxe
23
Estou farto do lirismo namorador
que seja fora de si mesmo
A repetição de palavras no início do verso (“Estou farto”, “Todas”, “O lirismo”) e a omissão de termos subentendidos do verso anterior (“Político”) caracterizam respectivamente: a) anáfora e zeugma. b) hipérbole e hipérbato. c) catacrese e antonomásia. d) epístrofe e elipse. e) anacoluto e perífrase. 06. (Escola Bahiana de Medicina) 1 Com efeito, um dia de manhã, estando a 2 passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cére3
bro. Uma vez 4 pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer 666
24
27
26
reconhecer os hábeis. Assim, a minha
duas faces, como as medalhas, uma virada para
ASSIS, Machado de. O emplasto. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 1880. Disponível em: <https://books. google.com.br/O+EMPLASTO+DE+BRAS+CUBAS+CAPITULO+2>. Acesso em: 15 set. 2015.
Tendo em vista os aspectos estilísticos presentes no texto, o fragmento que está devidamente analisado é o transcrito na alternativa 03 01. “Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim, que é possível crer.” (Refs. 3-6) deixa evidenciada a presença de uma hipérbole, por meio de ações consideradas exageradas em relação ao elemento a que se refere. 02. “Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas” (Refs. 6-7) revela a existência de uma metonímia, visto que há uma substituição do todo pelas partes do corpo do personagem. 03. “até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.” (Ref. 8) constitui uma metáfora, através da comparação implícita entre a ideia de Brás Cubas e uma incógnita, diante da necessidade de desvendá-la. 04. “Eu tinha a paixão do arruído, do cartaz, do foguete de lágrimas.” (Refs. 23-24) traz uma antítese, já que o louvor à glória vai de encontro à proposta social do emplasto. 05. “Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim.” (Refs. 26-28) apresenta um paradoxo, evidenciando a aproximação de ideias consideradas contraditórias e incompatíveis.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (ESPM SP)
02. (ESPM SP)
Acrobata da Dor Gargalha, ri, num riso de tormenta, como um palhaço, que desengonçado, nervoso, ri, num riso absurdo, inflado de uma ironia e de uma dor violenta.
Levando-se em conta que Filippo Marinetti, fundador do movimento referido na questão anterior, rejeitou o passado e defendeu a extinção de museus e cidades antigas, ao afirmar que “um automóvel é mais belo que a Vitória de Samotrácia”, ele só não usou com essa frase: a) eufemismo, já que automóvel apenas suaviza a natural ideia de superioridade sobre uma estátua. b) metonímia, em que o automóvel substitui toda modernidade veloz e a Vitória de Samotrácia substitui a arte grega c) comparação ou símile, pois para o autor o automóvel é mais belo artisticamente que a estátua grega. d) metáfora, em que o automóvel simboliza o moderno e a estátua simboliza o antigo. e) antítese, pois contrapõe o conjunto da modernidade ao conjunto do passadismo.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta, agita os guizos, e convulsionado salta, gavroche¹, salta clown, varado pelo estertor² dessa agonia lenta ... Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa nessas macabras piruetas d’aço... E embora caias sobre o chão, fremente³, afogado em teu sangue estuoso4 e quente, ri! Coração, tristíssimo palhaço.
03. (FCM MG) (Cruz e Sousa)
¹gavroche: garotos de Paris, figuradamente artista. ²estertor: respiração anormal própria de moribundos. ³fremente: vibrante, agitado, violento. 4estuoso: que ferve, ardente, febril. Assinale a alternativa em que a indicação entre parênteses não está de acordo com o verso: a) “Gargalha, ri, num riso de tormenta,” (pleonasmo vicioso) b) “salta, gavroche, salta clown, varado” (assonância) c) “Da gargalhada atroz, sanguinolenta,” (sinestesia) d) “nessas macabras piruetas d’aço...” (metáfora) e) “afogado em teu sangue estuoso e quente,” (aliteração)
PESSOAS E NUVENS 1º§ Existe gente que carrega no semblante, nos gestos e nas palavras um jeito de nuvem que chove na roseira de cada um de nós. Molham de afeto a nossa convivência. Parecem trazer sobre a cabeça um regador para banhar os amigos e semelhantes. Incitam o lado bom da vida, a criação, a amizade, o companheirismo. Essas são as pessoas que gosto de encontrar quando ando pelas ruas de nossa e outras cidades. É o tipo que ameniza o calor e nos protege do frio. Inteligentes e interessantes, logo bonitos. Chegam e partem sorrindo. A simples presença contagia e o perfume fica quando se vão. 2º§ Outros carregam tempestade e raios, trovões, reclamações e ódio. Gastam todo o seu tempo para maquinar maldades e dese667
Português
jar que o pior aconteça com os seus desafetos. São minoria, mas têm aptidão para enxergar, no mundo, o lixo e, na humanidade, um exército de adversários e inimigos que devem ser eliminados. 3º§ Seria bom que só existisse gente chuva prazenteira, mas viver em sociedade é complexo e estamos expostos aos chatos e bruxos. São estações inevitáveis, a primavera que traz colheita de frutos e flores e o outono das desesperanças. Confesso que não consigo compreender a razão de alguém somente agir para prejudicar, torcer pela derrota e infelicidade, trabalhar pelo caos. Na cabeça desses eu não entro e nem quero entrar. Tento evitá-los e me proteger de seus projetos de terremotos. Mas é necessário preservar nossas defesas para que não sejamos contaminados. 4º§ Quem reclama já perdeu, dizia o mestre João Saldanha; Quem não se conforma com o sucesso de alguém, e reclama, odeia, xinga e vitupera, perdeu a chance de aproveitar o que a existência tem de bom. 5º§ O mundo não caminha nem nunca caminhou de maneira justa, mas a vida, ah! a vida, é uma aventura deslumbrante que vale a pena ser degustada, em todos os sentidos. Meus olhos se concentram nesse território bendito habitado e irrigado pelos que amo. (BRANT, Fernando. Casa aberta. Sabará, MG: Ed. Dubolsinho, 2012, p.215-216. Texto adaptado.)
Assinale a alternativa em que um procedimento usado no texto foi explicado de forma equivocada. a) Paradoxo: “não entro e nem quero entrar”. b) Citação: “Quem reclama já perdeu, dizia o mestre João Saldanha”. c) Aliterações: “é complexo e estamos expostos aos chatos e bruxos”. d) Metáforas: “um jeito de nuvem que chove na roseira de cada um de nós”. 04. (Unirg TO)
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
O homem que degusta sons 1. Ketchup, presunto, elástico e torta de amêndoa são apenas quatro dos vários sabores que James Wannerton degustou durante nossa entrevista. Ele concordou em conceder a palavra porque meu nome, Kate, tem gosto de chocolate e, segundo ele, suas papilas gustativas o distrairiam durante boa parte de nossa conversa. 2. Wannerton tem um tipo raro de sinestesia conhecida como sinestesia léxico-gustativa, o que significa que sua audição e seu paladar não funcionam separados um do outro. Para Wannerton, cada palavra falada tem um sabor distinto. Embora esses sons não tenham uma ligação clara com seus respectivos gostos, os sabores são sempre os mesmos; a palavra “falar”, por exemplo, tem gosto de bacon desde que Wannerton se entende por gente. 3. “Palavras e sons fazem ‘ping, ping, ping’ na minha boca o tempo todo, como uma lâmpada piscando sem parar”, explicou. “Alguns sabores vão embora rápido, mas outros podem durar por horas e me fazem desejar aquela comida específica; fico meio distraído até satisfazer a vontade.” 668
4. Wannerton disse que a sinestesia lhe dá “poderes especiais” - como se guiar pelo metrô de Londres seguindo os sabores das estações. De acordo com Wannerton, a parada de Oxford Circus tem gosto de bolo. A Linha Bakerloo tem gosto de rocambole, a Linha Victoria de cera de vela. Mas claro que a benção da sinestesia tem suas desvantagens [...] como Wannerton desassocia o gosto dos alimentos, ele raramente tem fome. “Não ligo para o gosto da comida – o que me interessa é a textura”, disse. “Gosto de comidas crocantes, como salgadinhos, e alimentos mornos. O sabor não importa.” 5. Wannerton também afirma que fica “insuportavelmente incomodado” quando uma palavra desperta um sabor que ele não consegue identificar. Wannerton passou anos encucado com o sabor da palavra “esperar”. “Eu não conseguia descobrir o que era esse gosto forte e amargo”, disse. Seu cérebro só fez a conexão quando finalmente comeu uma torrada com Marmite (um extrato de levedura que os britânicos curtem passar no pão). “Lembrei que quando eu estava no jardim-de-infância, havia uma barraquinha onde podíamos comprar torradas com Marmite- e é esse o gosto que ‘esperar’ tem para mim.” 6. Apesar dos pesares, Wannerton não gostaria de viver sem sua sinestesia. “Pode até ser bizarro pensar que o nome Jackie tem gosto de alcaçuz; Blackpool, de jujuba; e a palavra vodka, de grãos minúsculos de terra; mas a minha sinestesia é tão natural que sem ela eu perderia minha identidade”, declarou. SAMUELSON, Kate. Trad. Amanda Pieratti. 10 jul. 2015. O homem que degusta sons. Disponível.em:<http://www1.folha.uol.com.br/vice/2015/07/1653490-o-homem-quedegusta- sons.shtml>. Acesso: 11 out. 2016. [Adaptado]
A sinestesia, como figura de linguagem, é o cruzamento dos sentidos, a qualidade de um sentido atribuído a outro, expressão típica de uma determinada categoria de poetas. Quanto mais sentidos cruzados em apenas um sintagma, ou sob uma única conjunção sensorial, mais rica será a frase ou poesia sinestésica. Dos fragmentos de textos a seguir, qual deles deixa de fazer uso da sinestesia como recurso poético? a) “Era um som feito luz, eram volatas / Em lânguida espiral que iluminava, / Brancas sonoridades de cascatas / Tanta harmonia melancolizava”. (Cruz e Sousa - Cristais) b) “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” / Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia”. (Machado de Assis – Memórias póstumas de Brás Cubas) c) “Como ecos longos que à distância se matizam / Numa vertiginosa e lúgubre unidade, / Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade”. (Charles Baudelaire – Correspondências) d) “Insônia roxa. A luz a virgular-se em medo / Tudo é capricho ao seu redor, em sombrias fátuas / O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou / Tenho frio... Alabastro! / E o seu corpo resvala a projetar estátuas”. (Mario de Sá - Carneiro - Salomé)
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05. (Cefet MG) Considere a leitura do livro Sete Histórias, de Luiz Vilela. “Ele chegou até a janela. A chuva, miúda, continuava a cair sobre as casas de telhados antigos. Um pouco mais longe estava o rio, de águas barrentas, com bananeiras à margem. O céu coberto, o dia escuro, ninguém passando na rua. Era uma paisagem triste, e ela o fazia recordar-se de outras, antigas, que ele não sabia quando nem onde mas que estavam bem lá no fundo de sua memória, na parte mais solitária de seu ser. E ele então sentiu de novo o que tantas vezes sentira: aquele gosto antecipado de perda, a inutilidade dos esforços, o irremediável das coisas. Tudo já estava há muito tempo traçado, e qualquer tentativa de mudar as coisas terminava sempre em fracasso”
Ninguém admite nada disso, pois fazê-lo equivaleria a confessar
Fragmento do conto “A chuva nos telhados antigos”
a) Religiões das mais diversas e filósofos como Kant não se va-
Entre os recursos expressivos empregados nesse fragmento, destaca- se a
lem desse princípio, pelo fato de ele já se ter popularizado
06. (Fac. Direito de São Bernardo do Campo SP) Hélio Schwartsman Folha de S.Paulo, 17/10/2015 SÃO PAULO – A filosofia distingue entre a ética descritiva e a normativa. Enquanto a primeira se limita a arrolar as crenças morais das pessoas, a segunda tenta estabelecer se essas crenças se justificam à luz de princípios que permitam classificá-las em termos de certo e errado. Como filósofos têm imaginação fértil, há desde sistemas baseados no cálculo da felicidade até os que se fundam na religião. Um dos favoritos é a chamada regra de ouro, segundo a qual não devemos fazer ao próximo aquilo que não desejaríamos que ele nos fizesse. Surgem assim normas morais invioláveis como não roubar, não mentir, pôr o interesse público acima dos particulares etc. O princípio é tão popular que já foi sequestrado por religiões tão diversas quanto cristianismo e budismo e por filósofos do calibre de Kant. A aplicação da regra de ouro ao cenário político brasileiro recomendaria desistir do país. Ao que tudo indica, o governo acuado pela ruína econômica e por infindáveis denúncias de corrupção está em vias de fechar um acordo com o presidente da Câmara, ele próprio enredado em acusações de corrupção. Se os relatos de bastidores são precisos, parlamentares da base governista livrariam a cara do chefe dos deputados no Conselho de Ética em troca de ele segurar os trâmites que poderiam levar a um processo de impeachment contra a presidente da República. Como a oposição calcula que não pode dispensar as boas graças do ilustre parlamentar, também evita contrariá-lo.
estão sendo violadas. Uma alternativa seria trocar a regra de ouro por éticas mais realistas, como o consequencialismo, segundo o qual ações devem ser julgadas pelos resultados que acarretam. Mas, neste caso, a emenda fica pior que o soneto, pois são as disputas entre políticos que estão magnificando a crise econômica. No segundo parágrafo, ao tratar das normas morais, o autor pondera: “O princípio é tão popular que já foi sequestrado por religiões tão diversas quanto cristianismo e budismo e por filósofos do calibre de Kant”. Opte pela alternativa que explicita o sentido figurado desse trecho.
em demasia. b) Tanto o filósofo Kant como o cristianismo e o budismo ficaram com mais popularidade por causa do princípio. c) A popularidade do princípio é de tal sorte que não só um filósofo como Kant, mas também algumas religiões ficaram presos e reduzidos a ele. d) A popularidade do princípio é tanta que as religiões mencionadas e filósofos da importância de Kant já se apropriaram dele. 07. (IF CE) 1 2 3 4 5 6 7 8
Pálida, à luz da lâmpada sombria. Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre as nuvens do amor ela dormia! Era a virgem do mar! Na escuma fria Pela maré das águas embalada! Era um anjo entre nuvens d’alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia!
9 Era mais bela! O seio palpitando... 10 Negros olhos as pálpebras abrindo... 11 Formas nuas no leito resvalando... 12 Não te rias de mim, meu anjo lindo! 13 Por ti – as noites eu velei chorando, 14 Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo. (AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L& PM, 1998. p.190-191)
Levando em consideração as figuras de linguagem, encontramos no trecho “Como a lua por noite embalsamada” (linha 3) um exemplo de a) comparação. b) prosopopeia. c) metáfora. d) sinestesia. e) perífrase.
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FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
a) referência ao rio como metáfora da solidão do protagonista. b) caracterização do cenário pela perspectiva da memória pessoal. c) construção de um efeito de verossimilhança na descrição do espaço. d) correspondência entre a paisagem e o estado emocional da personagem.
que um bom naco das normas morais supostamente invioláveis
Português
08. (IF CE) Médicos expõem pacientes em redes sociais Giuliana Miranda DE SÃO POULO – 20/08/2014 01h50
No aplicativo de paquera Tinder – em que os usuários exibem uma seleção de fotos para atrair a atenção do potencial pretendente –, é possível encontrar imagens de profissionais em centros cirúrgicos, UTIs e outros ambientes hospitalares. Em busca feita pela reportagem, foram encontradas fotos em que era possível ver o rosto dos pacientes, incluindo de um homem sendo operado e uma criança que fazia tratamento contra um câncer. “Colocar foto de jaleco e dentro do hospital é ‘ímã de mulher’ no Tinder”, diz um médico de 30 anos da rede pública de São Paulo que costuma usar o aplicativo. Ele diz que já usou uma foto sua operando, mas agora tem apenas imagens em que não é possível identificar outras pessoas ou a instituição de saúde em que trabalha. “Fiquei com medo de que desse problema”, explicou. Segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina), o registro de pacientes, identificando-os ou não, é irregular. “É proibido tirar essas fotos. Existe uma resolução bem rígida sobre o assunto”, diz Emmanuel Fortes, coordenador do departamento de fiscalização do CFM. Ele diz que a única situação em que o registro de pacientes é permitido é para fins científicos, como a exibição em congressos médicos. “Mas tem de haver consentimento do paciente, além da preservação de sua imagem.” Médicos que desrespeitarem a norma estão sujeitos a punição, inclusive com a perda de registro profissional, em casos julgados graves. Folha de S.Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude /2014/08/1503001- medicos-expoem-pacientes-em-redes-sociais. shtml. Acesso em: 5 set. 2015.
Assinale a alternativa que apresenta a correta relação entre a frase e a figura de linguagem. a) Finalmente passou dessa para uma melhor. (Metonímia) b) Já estou farto de ter que implorar um milhão de vezes por isso! (Eufemismo) c) Minha alma é como um buraco negro profundo e insondável. (Metáfora) FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
d) Chegou à sala com um perfume doce, falando com voz macia. (Sinestesia) e) Ele bebeu mais de três copos e não poderá dirigir! (Hipérbole) 09. (IF CE) O anjo Rafael Machado de Assis
670
Médicos e outros profissionais da saúde registram cada vez
1 Cansado da vida, descrente dos homens, desconfiado das
mais suas rotinas nas redes sociais. O problema é que, frequen-
mulheres e aborrecido dos credores, o dr. Antero da 2 Silva de-
temente, expõem também os pacientes, algumas vezes em si-
terminou um dia despedir-se deste mundo.
tuações constrangedoras.
3 Era pena. O dr. Antero contava trinta anos, tinha saúde, e po-
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dia, se quisesse, fazer uma bonita carreira. Verdade é 4 que para
três elementos reduzirei a minha vida ao nada. Não 34 levo
isso fora necessário proceder a uma completa reforma dos seus
nem deixo saudades. Morro por estar enjoado da vida e por ter
costumes. Entendia, porém, o nosso herói que 5 o defeito não
certa curiosidade da morte.
estava em si, mas nos outros; cada pedido de um credor inspi-
35 Provavelmente, quando a polícia descobrir o meu cadáver,
rava-lhe uma apóstrofe contra a sociedade; 6 julgava conhecer
os jornais escreverão a notícia do acontecimento, e um 36 ou
os homens, por ter tratado até então com alguns bonecos sem
outro fará a esse respeito considerações filosóficas. Importam-
consciência; pretendia conhecer as 7 mulheres, quando apenas
-me bem pouco as tais considerações.
havia praticado com meia dúzia de regateiras do amor.
37 Se me é lícito ter uma última vontade, quero que estas li-
8 O caso é que o nosso herói determinou matar-se, e para isso
nhas sejam publicadas no Jornal do Commercio. Os 38 rima-
foi à casa da viúva Laport, comprou uma pistola e 9 entrou em
dores de ocasião encontrarão assunto para algumas estrofes.
casa, que era à rua da Misericórdia.
39 O dr. Antero releu o que tinha escrito, corrigiu em alguns
10 Davam então quatro horas da tarde.
lugares a pontuação, fechou o papel em forma de carta, e 40
11 O dr. Antero disse ao criado que pusesse o jantar na mesa.
pôs-lhe este sobrescrito: Ao mundo.
12 - A viagem é longa, disse ele consigo, e eu não sei se há ho-
41 Depois carregou a arma; e, para rematar a vida com um tra-
téis no caminho.
ço de impiedade, a bucha que meteu no cano da 42 pistola foi
13 Jantou com efeito, tão tranquilo como se tivesse de ir dormir
uma folha do Evangelho de S. João.
o amo estava nesse dia mais folgazão que nunca. Conversaram alegremente durante todo o jantar. No fim dele, 15 quando o criado lhe trouxe o café, Antero proferiu paternalmente as seguintes palavras: 16 - Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta mil-réis que lá estão, são teus. Vai passar a noite fora e não voltes 17 antes da madrugada. 18 - Obrigado, meu senhor, respondeu Pedro. 19 - Vai. 20 Pedro apressou-se a executar a ordem do amo. 21 O dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no divã, abriu um volume do Dicionário filosófico e começou a ler. 22 Já então declinava a tarde e aproximava-se a noite. A leitura do dr. Antero não podia ser longa. Efetivamente daí a 23 algum tempo levantou-se o nosso herói e fechou o livro. 24 Uma fresca brisa penetrava na sala e anunciava uma agradável noite. Corria então o inverno, aquele benigno 25 inverno que os fluminenses têm a ventura de conhecer e agradecer ao céu. 26 O dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se à mesa para
43 Era noite fechada. O dr. Antero chegou-se à janela, respirou um pouco, olhou para o céu, e disse às estrelas: 44 - Até já. 45 E saindo da janela acrescentou mentalmente: 46 - Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas com certeza hão de impedir-me os vermes da terra. Estou aqui, e 47 estou feito um punhado de pó. É bem possível que no futuro século sirva este meu invólucro para macadamizar a rua do 48 Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o prazer de ser pisado por alguns pés bonitos. 49 Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões, lançava mão da pistola, e olhava para ela com certo orgulho. 50 - Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere, disse ele. 51 Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e 52 segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes. 53 Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pancadinhas à porta. Involuntariamente levantou a cabeça. Depois de um 54 curto silêncio repetiram-se as pancadinhas. O rapaz não esperava ninguém, e era-lhe indiferente falar a quem quer que 55 fos-
escrever. Não tinha parentes, nem amigos a quem deixar 27
se. Contudo, por maior que seja a tranquilidade de um homem
carta; entretanto, não queria sair deste mundo sem dizer a res-
quando resolve abandonar a vida, é-lhe sempre 56 agradável
peito dele a sua última palavra. Travou da pena e 28 escreveu
achar um pretexto para prolongá-la um pouco mais.
as seguintes linhas:
57 O dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi abrir a porta.
29 Quando um homem, perdido no mato, vê-se cercado de
No fragmento “[...] o dr. Antero da Silva determinou um dia
animais ferozes e traiçoeiros, procura fugir se pode. De 30 ordi-
despedir-se deste mundo” (Refs. 1 e 2) a expressão grifada é
nário a fuga é impossível. Mas estes animais meus semelhantes
uma figura de linguagem conhecida como
tão traiçoeiros e ferozes como os outros, tiveram a 31 inépcia
a) hipérbole.
de inventar uma arma, mediante a qual um transviado facil-
b) pleonasmo.
mente lhes escapa das unhas.
c) eufemismo.
32 É justamente o que vou fazer.
d) metáfora.
33 Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora e bala; com estes
e) comparação.
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FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
a sesta e não o último sono. O próprio criado reparou 14 que
FRENTE
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PORTUGUÊS Por falar nisso Os três mais importantes gêneros em prosa da tipologia narrativa são: romance, novela e conto. O que diferencia esses três gêneros é a extensão. Do romance para o conto, aquele é mais extenso que este. Para extensão, entenda tanto a quantidade de páginas, parágrafos e linhas, quanto a duração da história. Enquanto o romance detalha, minuciosamente, a vida inteira do protagonista, o conto se concentra na resolução de um único conflito. Diferentes, e com muitos pontos de interseção comuns, qual manifestação literária seria a mais antiga: o romance ou o conto? O romance surge no século XVI com a publicação de Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes. No entanto, o gênero só se popularizaria no início do século XIX com a ascensão cultural de uma elite burguesa. O conto, na realidade, não tem datação histórica precisa como a do romance, porque, distintamente, a narração em conto era feita oralmente desde a Antiguidade Clássica greco-romana. Passados tantos séculos de transformação da sociedade, hoje o conto tem uma prosa livre e espontânea. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
D13 D14 D15 D16
Conto II........................................................................................... 674 Crônica narrativa............................................................................ 680 Crônica argumentativa................................................................... 688 Carta argumentativa...................................................................... 693
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D13
ASSUNTOS ABORDADOS nn Conto II nn O conto fantástico no Brasil nn Características dos contos fantásticos nn Conto contemporâneo
CONTO II Há muitos e muitos anos, as narrativas ficcionais estão presentes na história da humanidade. Essas narrativas trazem suas variadas classificações – contos maravilhosos e fantásticos, contos de terror, de mistério, de ficção científica, contos policiais, modernos, contemporâneos, tradicionais, dentre outros. O conto fantástico ou de fantasia é uma das formas mais livres de escrever. Trata-se de um gênero literário em que são narradas histórias imaginárias. É um subgênero específico e seu principal aspecto é a presença de uma dimensão irreal no fluxo dos acontecimentos. É uma narrativa cheia de emoções “de outro mundo”, que constrói um mundo irreal, com situações improváveis e ações que transcendem a realidade além do humano. A presença de magia oferece condições para que fatos absurdos aconteçam ao longo da narrativa, como se fossem fatos normais: criaturas mágicas que surgem e desaparecem com facilidade. Nesta aula, vamos estudar o conto fantástico, que não ficou esperando a evolução dos tempos. Para exemplificar, podemos citar a obra fantástica de Franz Kafka, A metamorfose, que mostra o conflito vivenciado pelo personagem Gregor Samsa, que, repentinamente, se vê transformado em uma barata. Alguns escritores brasileiros também exploraram o gênero fantástico, entre eles podemos citar: nn Aluísio
de Azevedo (1857-1913) em sua obra de contos Demônios (1895);
nn Machado de Assis (1839-1908) em seu conto intitulado “O espelho”, pertencente
à obra Papéis Avulsos (1892); nn Carlos
Drummond de Andrade (1902-1987) em seu livro Contos de Aprendiz (1951), especificamente o texto “Flor, telefone, moça”.
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Figura 01 - Fantasia e imaginação: com a cabeça nas nuvens.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Somente a partir do século XX (décadas de 1970 a 1980) que o conto fantástico se incorporou no meio ficcional. Nesse período, o Brasil vivia um momento marcado pela repressão política, perseguições, prisões e censura. Em meio a esse ambiente tenso, emergiram importantes figuras como Rubem Fonseca, Ariano Suassuna e o goiano José J. Veiga, que denunciaram em suas obras essa realidade opressiva.
Esse fato inesperado gera no leitor a justificada expectativa de que Alexandre seria assassinado. Uma sucessão de fatos inverossímeis acontece instaurando a incerteza que caracteriza as narrativas fantásticas, nas quais o elemento misterioso intervém no curso normal dos fatos, resultando a ruptura, em um suspense instigante. O desvendamento do mistério não ocorre no final do conto. A ambiguidade permanece até o final da história, deixando que o leitor faça a dedução dos fatos finais.
Fonte: Wikimedia Commons
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Mas o maior destaque é o mineiro Murilo Rubião (19161991), que já teve alguns de seus textos comparados aos do escritor tcheco Franz Kafka. Rubião é considerado o iniciador ou precursor do conto fantástico. A obra O Ex-Mágico (1947), livro de estreia do escritor, contém O ex-mágico da Taberna Minhota, um dos contos mais republicados por Rubião.
suspense, ela foge dos esquemas da lógica do senso comum, estabelecendo a incerteza própria do gênero fantástico. A personagem Alexandre Saldanha Ribeiro, mesmo carregando uma mala pesada, rejeita o elevador e usa as escadas para chegar ao décimo andar de um prédio desabitado, sujo e decadente. Ao entrar na sala que buscava, encontra uma grande surpresa: um velho está a sua espera empunhando um revolver na sua direção.
Figura 02 - Obra completa do escritor Murilo Rubião.
Nessa obra composta por quinze contos, o autor aventura-se principalmente pelo fantástico, gênero ainda muito pouco explorado no Brasil até então. Nessas histórias, o autor aborda o cotidiano humano por meio de uma perspectiva transcendental e irônica. A obra de Rubião pertence ao realismo fantástico, movimento que se utiliza do absurdo e do inimaginável para apresentar seus desfechos e complicações, porém, com um fundo de realidade muito intrigante e contínuo. De estilo preciso, a obra de Rubião passa por regiões em que, normalmente, a fantasia brota em meio à realidade. Ao ler sua obra, é preciso buscar significado em cada parágrafo, cada linha, em cada um de seus textos repletos de alegorias incríveis sobre problemas da realidade brasileira, apesar do absurdo de muitas situações. Utilizando uma linguagem precisa, Rubião provoca, no leitor, um efeito de realidade, mesmo quando os fatos mais contraditórios são narrados. Outra obra fantástica é A armadilha, uma das narrativas mais enigmáticas de Rubião. Embasada na ambiguidade e no
Figura 03 - “A arte da conversação”, do pintor René Magritte.
Características dos contos fantásticos O que distingue o conto fantástico dos outros tipos de contos é justamente a presença do fator mágico, da magia que envolve as personagens. Os contos fantásticos são textos que abrangem uma série de características, leia-as a seguir: nn Realidade ilógica distante da realidade humana, com-
posta de elementos maravilhosos, inverossímeis, imaginários, extraordinários; nn Textos pautados em uma realidade ilógica. A narrativa se desenrola em um mundo irreal ou universo onírico, marcado pelo absurdo, pela inverossimilhança, situações e ações extraordinárias; nn Presença de magias e poderes sobrenaturais; nn Enredo não linear ou ziguezagueante (mescla de presente, passado e futuro); 675
D13 Conto II
O conto fantástico no Brasil
Português
nn Utilização
de recursos como o flashback (voltar ao passado) e o tempo psicológico (tempo das emoções e das recordações vividas pelos personagens);
nn Presença
de sensações de “estranhamento” no leitor, por meio da ruptura realidade-ficção;
nn Narrativa
concisa a partir de temas livres fantásticos, os quais aliam o fantástico e o real ou a ficção à realidade, surgindo da oposição dentre dois planos: real e irreal;
nn Presença
de alegorias e de personagens que podem ser: monstros, fantasmas, seres invisíveis, mágicos, mitológicos ou folclóricos, dentre outros.
Enredo O enredo compõe-se de determinados elementos que lhe conferem a devida credibilidade, fazendo com que se instaure um clima de envolvimento entre os interlocutores para que a finalidade discursiva seja realmente concretizada. Quando exploramos a ficção é importante que a obra seja verossímil, dando ao leitor a ideia de verdade, aproximando-o da realidade.
SAIBA MAIS
D13 Conto II
VEROSSIMILHANÇA “Vero” significa verdadeiro; “simil”, semelhante; ou seja, o que é verossímil é semelhante ao que é verdadeiro. No caso da obra literária, verossimilhança quer dizer semelhante à vida, à realidade. A verossimilhança define não a semelhança dos elementos da obra com o mundo real, mas a credibilidade que esses elementos demonstram em relação ao mundo de ficção apresentado. Para melhor compreender a verossimilhança, é necessário partir do pressuposto de que os fatos não precisam corresponder com a realidade. Os fatos, no entanto, precisam ser dotados de lógica e coerência, pois o que se espera é que, ainda que inventados, eles façam sentido, satisfazendo as expectativas do interlocutor, fazendo com que ele encontre sentido naquilo que está participando. Caso contrário, as ideias ficarão ilógicas, absurdas, incompreensíveis ou vagas. Enfim, a verossimilhança é a impressão da verdade que a ficção consegue provocar no leitor, graças à lógica interna da história. A verossimilhança é, pois, a essência do texto de ficção.
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Em literatura, o termo verossimilhança designa a ideia de que aquilo que é narrado se assemelha à realidade. No geral, verossimilhança é aquilo que possui semelhança com a realidade, com o nosso dia a dia. É por meio da verossimilhança, da aproximação da realidade, que o texto se fará real. Mesmo em se tratando de fatos ficcionais (inventados), o discurso requer certa coerência, com o objetivo de proporcionar ao interlocutor uma impressão de que os fatos, situados em um dado contexto, realmente são passíveis de acontecer. Em uma história, a coerência e a harmonia entre os elementos fantasiosos ou imaginários são essenciais para o entendimento do texto. A cada novo episódio vão surgindo fatos ou situações que desencadeiam outros fatos. Tudo vai se embaralhando, se complicando, até chegar a um ponto máximo. Por fim, tudo se resolve ou a história toma caminhos inesperados pelo próprio leitor. Essa sucessão de acontecimentos é natural, faz parte do enredo, da trama. Porém, os acontecimentos não podem estar em contradição, sob a pena de tornar a história inverossímil.
Conto contemporâneo O conto é uma das formas contemporâneas de prosa literária mais difundida e aceita. O conto contemporâneo substituiu a estrutura clássica pela construção de um texto curto. Essa nova narrativa vem sendo construída nas últimas décadas, com o objetivo de conduzir o leitor para além do dito, para a descoberta de um sentido daquilo não dito. Uma característica importante dos contos contemporâneos é sua ressonância final. O autor deixa, no final, uma reflexão, algo que irá despertar no leitor a partir das conexões entre o mundo apresentado pela literatura e o mundo que ele observa em seu redor, no seu dia a dia. E o que distingue o conto contemporâneo dos contos tradicionais? Nos contos tradicionais, geralmente, existe um final bem definido, uma solução, um desfecho para o conflito apresentado na história, salvo raras exceções. Já no conto contemporâneo, não há, necessariamente, uma solução final. Ele apresenta uma situação sem solução, seja pela impossibilidade de encontrar uma saída, seja por sua ambiguidade. Essa característica dos contos contemporâneos pode refletir o momento atual da sociedade, cujos valores universais e as verdades absolutas já não são aceitos. Daí a indefinição parece ser uma proposta possível.
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Exercícios de Fixação
René Magritte. Ceci n’est pas une pipe, 1929. Internet: <museumexhibitions.wordpress.com>.
Para o filósofo Vilém Flusser, a relação texto-imagem 2 assumiu, na Idade Média, a forma de disputa entre o 3 cristianismo textual e o paganismo imagético. Na Idade 4 Moderna, houve conflitos entre a ciência textual e as ideologias 5 imagéticas, que, de modo dialético, foram-se criticando. Na 6 tentativa de exterminar o paganismo, o cristianismo acabou 7 absorvendo as imagens pagãs e, na medida em que a ciência 8 criticava esses valores, incorporava as imagens e se 9 ideologizava. Assim, os textos passaram a explicar as imagens, 10 e elas, por sua vez, passaram a ilustrar os textos. Essa troca 11 foi-se tornando tão dialética entre a imaginação e a 12 conceituação, que, num momento, se negavam e, num outro, se13 reforçavam. 1
S.Venturelli e M. Maciel. Imagem interativa. Brasília: Ed. UnB, 2008 (com adaptações).
Tendo como referência o texto acima e a figura apresentada, que se refere à obra Ceci n’est pas une pipe (Isto não é um cachimbo), julgue os itens a seguir. C-E-C-C-E ( ) Na distinção entre escrita e desenho ou entre escrita e artes plásticas em geral, não se considera escrita o grafismo das pinturas rupestres. ( ) Os autores do texto sustentam que tanto a relação dialética entre ciência e ideologia quanto a relação dialética entre escrita e imagem observadas na Idade Moderna já se estabeleciam na Idade Média. ( ) A oposição apresentada no texto possibilita que, sem prejuízo para a coerência textual e a correção gramatical, no trecho “entre a ciência textual e as ideologias imagéticas” (Ref. 4 e 5), os adjetivos “textual” e “imagéticas” fiquem isolados por vírgula, como apresentado a seguir: entre a ciência, textual, e as ideologias, imagéticas, que, de modo dialético, foram-se criticando. ( ) A relação entre imagem e texto como sistemas de comunicação na obra Ceci n’est pas une pipe, de René Magritte, elimina o princípio da separação entre as representações linguística e plástica. ( ) Na obra Ceci n’est pas une pipe, em que os elementos do grafismo e os das artes plásticas são expressos no mesmo espaço, o enunciado ratifica a identidade da figura.
02. (UnB DF) E-C-C 1 A história da humanidade não pode ser dissociada da 2 história de seus parasitas. O primeiro Homo sapiens já os 3 encontrou prontos para o assalto, e o último não se despedirá 4 da vida sem a presença deles. A relação entre seres humanos e 5 parasitas nunca foi amistosa, quando muito, tolerada. A 6 expressão mais desastrosa de nossa relação com tais 7 organismos são as epidemias — ou pandemias, quando em 8 escala global —, que já dizimaram populações ao longo do 9 tempo, chegando a alterar o curso da História. A AIDS e a 10 SARS têm muitas características em comum: seus agentes são 11 vírus que romperam a barreira biológica entre animais e seres 12 humanos e se disseminaram graças a brechas nos sistemas 13 nacionais e internacionais de vigilância. São produtos da 14 globalização, e seus efeitos políticos, econômicos e sociais são 15 devastadores. J. A. Favaretto, H. Trebbi. Globalização dissemina as epidemias por todo o planeta. In: Boletim Mundo: geografia e política internacional, out./2003. Internet: <clubemundo.com.br> (com adaptações).
Tendo como referência o texto acima, julgue os itens seguintes. ( ) O texto informa que, por serem vírus, os agentes da AIDS e da SARS rompem a barreira biológica entre animais racionais e irracionais, o que impede o controle de sua disseminação pelos serviços de vigilância sanitária. ( ) A oração “e o último não se despedirá da vida sem a presença deles” (Refs. 3 e 4) expressa um eufemismo. ( ) A maior parte da circulação de informações e de capitais tem ocorrido, de forma instantânea e em escala planetária, nas denominadas cidades globais. 03. (Ufu MG) Leia o texto a seguir. A tecnologia tem permitido que filhos vivam sob permanente monitoramento dos pais. Do ultrassom 3D do bebê no útero às câmeras on-line nas maternidades e escolas infantis até a instalação de GPS no celular e no carro de adolescentes, a vigilância pode ser constante. Em São Paulo, pais de crianças pequenas integraram mais um item à cadeia de monitoramento eletrônico: estão instalando câmeras em casa para vigiar seus filhos enquanto trabalham fora. São verdadeiros “big brothers” domésticos. O monitoramento é condenado por psicólogos e pedagogos, que veem prejuízo na relação de pais e filhos. “É uma loucura”, define a psicóloga Ana Bahia Bock, professora da PUC. Já as empresas de segurança eletrônica comemoram. Algumas registram aumento de 250% de instalações de câmeras no interior de casas. Uma delas instalou 500 aparelhos em 2007, 300 a mais do que em 2006. “Na maioria dos casos, os pais têm crianças pequenas, instalam câmeras nos ambientes e avisam a babá sobre o monitoramento”, diz Thiago Títero, dono da empresa.
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D13 Conto II
01. (UnB DF)
Português Gabarito questão 03 (Fixação) a) Transcrições do texto que apresentem uma sequência narrativa (predominante no segundo e no quarto parágrafo) e uma sequência argumentativa (predominante no primeiro, no terceiro e no quinto parágrafo). b) Construção de parágrafo que apresente a ideia de monitoramento eletrônico dos pais com relação aos filhos, vigilância das crianças, controle paternal por meio da tecnologia etc.
Educadores e psicólogos avaliam que o monitoramento eletrô-
nico dos filhos reflete uma falta de confiança no outro e pode comprometer a educação dos filhos na busca de autonomia. “Há aquela ideia de que o outro é sempre uma ameaça”, diz a psicóloga Rosely Sayão. COLLUCCI, Cláudia. Disponível em: <http://www.itaboraiweblist.com.br/index. php/homek2/item/1287-gera%C3%A7%C3%A3o-big-brother-%C3%A9-vigiada-do-ultra-som-ao-gps >. Acesso em: 2 de março de 2016 (fragmento).
Com base no texto, faça o que se pede.
“Agora, sob a grande sombra do tamarindo, eu fechei os olhos e convoquei saudades. Me apareceu o quê? Um pátio, mas que não era aquele. Porque nesse terreiro havia uma criança. Nas mãos desse menino, minha lembrança tocava umas tristezas, coisitas tiradas num lixo. Artes da meninice era fazer dessas coisas um brinquedo. Apetrechos de mago, ele convertia o cosmos num jogo de desmontar. E era qual esse brinquedo? Isso, em meu sonho, eu não conseguia distinguir. Apenas me surgia a enevoada memória da criança escondendo o brinquedo entre as raízes do tamarindo.” (COUTO, 2005, p. 162).
a) Transcreva uma sequência narrativa e uma sequência argumentativa. Justifique sua resposta. b) Redija um parágrafo, explicitando a temática do texto. 04. (Unitau SP) “Regressei à minha velha casa, e ali, sob a sombra do tamarindo, me deixei afogar em lembranças. [...] O tamarindo mais sua sombra: aquilo era feito para abraçar saudades. Minha infância fazia ninho nessa árvore. [...] E via os flamingos, setas rapidando-se furtivas pelos céus. Meu pai sentava em baixo, na curva das raízes, e apontava os pássaros.” (COUTO, 2005, p. 159).
Quanto aos fragmentos acima, de O último voo do flamingo, obra de Mia Couto, pode-se dizer que a) o narrador emprega linguagem descuidada, caracterizada pela oralidade. b) o narrador, incoerentemente, atenta contra os preceitos da gramática normativa. c) o narrador não se caracteriza por dominar os recursos da língua. d) a modalidade de linguagem empregada é a regionalista. e) a modalidade de linguagem empregada é a prosa poética.
Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) Posso mandar por e-mail? Atualmente, é comum “disparar” currículos na internet com a expectativa de alcançar o maior número possível de selecionadores. Essa, no entanto, é uma ideia equivocada: é preciso saber quem vai receber seu currículo e se a vaga é realmente indicada para seu perfil, sob o risco de estar “queimando o filme” com um futuro empregador. Ao enviar o currículo por e-mail, tente saber quem vai recebê-lo e faça um texto sucinto de apresentação, com a sugestão a seguir: Assunto: Currículo para a vaga de gerente de marketing Mensagem: Boa tarde. Meu nome é José da Silva e gostaria de me candidatar à vaga de gerente de marketing. Meu currículo segue anexo. Guia da língua 2010: modelos e técnicas. Língua Portuguesa, 2010 (adaptado).
D13 Conto II
O texto integra um guia de modelos e técnicas de elaboração de textos e cumpre a função social de a) divulgar um padrão oficial de redação e envio de currículos. b) indicar um modelo de currículo para pleitear uma vaga de emprego. c) instruir o leitor sobre como ser eficiente no envio de currículo por e-mail. d) responder a uma pergunta de um assinante da revista sobre o envio de currículo por e-mail. e) orientar o leitor sobre como alcançar o maior número possível de selecionadores de currículos.
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02. (Enem MEC) Na exposição “A Artista Está Presente”, no MoMA, em Nova Iorque, a performer Marina Abramovic fez uma retrospectiva de sua carreira. No meio desta, protagonizou uma performance marcante. Em 2010, de 14 de março a 31 de maio, seis dias por semana, num total de 736 horas, ela repetia a mesma postura. Sentada numa sala, recebia os visitantes, um a um, e trocava com cada um deles um longo olhar sem palavras. Ao redor, o público assistia a essas cenas recorrentes. ZANIN, L. Marina Abramovic, ou a força do olhar. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br. Acesso em: 4 nov. 2013.
O texto apresenta uma obra da artista Marina Abramovic, cuja performance se alinha a tendências contemporâneas e se caracteriza pela a) inovação de uma proposta de arte relacional que adentra um museu. b) abordagem educacional estabelecida na relação da artista com o público. c) redistribuição do espaço do museu, que integra diversas linguagens artísticas. d) negociação colaborativa de sentidos entre a artista e a pessoa com quem interage. e) aproximação entre artista e público, o que rompe com a elitização dessa forma de arte.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Todos os meses são recolhidas das rodovias brasileiras centenas de milhares de toneladas de lixo. Só nos 22,9 mil quilômetros das rodovias paulistas são 41,5 mil toneladas. O hábito de descartar embalagens, garrafas, papéis e bitucas de cigarro pelas
Seis meses depois, as impressões do grupo foram comparadas com a análise de desempenho feita pelos chefes dos jovens que tiveram seus perfis analisados. Os pesquisadores encontraram uma forte correlação entre as características descritas a partir dos dados da rede e o comportamento dos universitários no ambiente de trabalho. Disponível em: http://exame.abril.com.br. Acesso em: 29 fev. 2012 (adaptado).
rodovias persiste e tem aumentado nos últimos anos. O problema é que o lixo acumulado na rodovia, além de prejudicar o meio ambiente, pode impedir o escoamento da água, contribuir para as enchentes, provocar incêndios, atrapalhar o trânsito e até causar acidentes. Além dos perigos que o lixo representa para os motoristas, o material descartado poderia ser devolvido para a cadeia produtiva. Ou seja, o papel que está sobrando nas rodovias poderia ter melhor destino. Isso também vale para os plásticos inservíveis, que poderiam se transformar em sacos de lixo, baldes, cabides e até acessórios para os carros. Disponível em: www.girodasestradas.com.br. Acesso em: 31 jul. 2012.
Os gêneros textuais correspondem a certos padrões de composição de texto, determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade. Pela leitura do texto apresentado, reconhece-se que sua função é a) apresentar dados estatísticos sobre a reciclagem no país. b) alertar sobre os riscos da falta de sustentabilidade do mercado de recicláveis. c) divulgar a quantidade de produtos reciclados retirados das rodovias brasileiras. d) revelar os altos índices de acidentes nas rodovias brasileiras poluídas nos últimos anos. e) conscientizar sobre a necessidade de preservação ambiental e de segurança nas rodovias. 04. (Enem MEC) Rede social pode prever desempenho profissional, diz pesquisa Pense duas vezes antes de postar qualquer item Em seu perfil nas redes sociais. O conselho, repetido o à exaustão por consultores de carreira por aí, acaba de ganhar um status, digamos, mais científico. De acordo com resultados da pesquisa, uma rápida análise do perfil nas redes sociais pode prever o desempenho profissional do candidato a uma oportunidade de emprego. Para chegar a essa conclusão, uma equipe de pesquisadores da Northern Illinois University, University of Evansville e Auburn University pediu a um professor universitário e dois alunos para analisarem perfis de um grupo de universitários. Após checar fotos, postagens, número de amigos e interesses por 10 minutos, o trio considerou itens como consciência, afabilidade, extroversão, estabilidade emocional e receptividade.
As redes sociais são espaços de comunicação e interação on-line que possibilitam o conhecimento de aspectos da privacidade de seus usuários. Segundo o texto, no mundo do trabalho, esse conhecimento permite a) identificar a capacidade física atribuída ao candidato. b) certificar a competência profissional do candidato. c) controlar o comportamento virtual e real do candidato. d) avaliar informações pessoais e comportamentais sobre o candidato. e) aferir a capacidade intelectual do candidato na resolução de problemas. 05. (Enem MEC) A emergência da sociedade da informação está associada a um conjunto de profundas transformações ocorridas desde as últimas duas décadas do século XX. Tais mudanças ocorrem em dimensões distintas da vida humana em sociedade, as quais interagem de maneira sinérgica e confluem para projetar a informação e o conhecimento como elementos estratégicos, dos pontos de vista econômico-produtivo, político e sociocultural. A sociedade da informação caracteriza-se pela crescente utilização de técnicas de transmissão, armazenamento de dados e informações a baixo custo, acompanhadas por inovações organizacionais, sociais e legais. Ainda que tenha surgido motivada por um conjunto de transformações na base técnico-científica, ela se investe de um significado bem mais abrangente. LEGEY, L.-R.; ALBAGLI, S. Disponível em: www.dgz.org.br. Acesso em: 4 dez. 2012 (adaptado).
O mundo contemporâneo tem sido caracterizado pela crescente utilização das novas tecnologias e pelo acesso à informação cada vez mais facilitado. De acordo com o texto, a sociedade da informação corresponde a uma mudança na organização social porque a) representa uma alternativa para a melhoria da qualidade de vida. b) associa informações obtidas instantaneamente por todos e em qualquer parte do mundo. c) propõe uma comunicação mais rápida e barata, contribuindo para a intensificação do comércio. d) propicia a interação entre as pessoas por meio de redes sociais. e) representa um modelo em que a informação é utilizada intensamente nos vários setores da vida.
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D13 Conto II
03. (Enem MEC) Embalagens usadas e resíduos devem ser descartados adequadamente
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D14
ASSUNTOS ABORDADOS nn Crônica narrativa nn Características principais nn Tipos de crônicas
CRÔNICA NARRATIVA A crônica é uma narrativa que se caracteriza por basear-se em considerações do cronista acerca de fatos correntes e marcantes do cotidiano. Ela tem relação com a ideia de tempo e é escrita em linguagem conotativa. Em torno desses fatos, o autor manifesta uma visão subjetiva, pessoal e crítica. Portanto, é um gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de jornal, em blogs ou na internet. É um texto desenvolvido de forma livre e pessoal, a partir de acontecimentos atuais. Por isso, é um dos gêneros textuais discursivos mais populares entre os leitores, como também é um dos gêneros jornalísticos mais tradicionais. Uma crônica é um gênero discursivo marcado pela brevidade, e pode se tratar de uma narrativa real ou fictícia. A crônica narrativa pode ser definida como uma história bem-humorada, em que são retratadas reflexões a respeito dos acontecimentos do dia a dia, em que há personagens, cenários e um conflito, em determinada época ou tempo, a partir do uso de linguagem literária e coloquial. Ademais, a crônica deve possuir introdução, clímax e conclusão. A necessidade de um conflito ou enredo é essencial para que um texto seja definido como uma crônica narrativa.
Fonte: www.shutterstock.com
Para Antonio Candido – sociólogo, estudioso da literatura brasileira e estrangeira – a crônica é filha do jornal: “Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha.” Apesar de consagrada já no fim do século XIX, a crônica voltou a ser praticada com mais fôlego a partir da década de 1930, com novos representantes: Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Enfim, a crônica moderna gira em torno da atualidade.
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A palavra crônica deriva do latim chronica e do grego khrónos (tempo) que significava, no início da Era Cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. A crônica teve um desenvolvimento específico no Brasil. Os historiadores literários atribuem-lhe um caráter exclusivamente nacional. A crônica, tal qual nós a entendemos, não é comum na imprensa de outros países. Por esse motivo, o prestígio da crônica, entre nós, tem crescido cada vez mais.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Em uma entrevista, durante a III Bienal Brasil do Livro e da Leitura, o cronista Mário Prata afirmou que a crônica perdeu sua essência: “Crônica era uma coisa leve, solta, com tendência mais para a literatura que para o jornalismo. Teve um momento no Brasil, antes de mim, que os grandes cronistas de então, que são os mesmos grandes cronistas até hoje... Extraíam do nada observações. A característica principal da crônica é transformar o nada em arte. Tem muitas crônicas assim.” A despeito disso, com o tempo, o gênero ganhou novos adeptos em revistas, jornais impressos e, mais recentemente, jornais virtuais e blogs. Apesar de haver hoje muitos cronistas articulistas, a crônica ainda conserva suas referências. A crônica ainda é um texto breve, leve e mantém seu grande objetivo: entreter o leitor. Alguns cronistas da atualidade: Luis Fernando Verissimo, Fernando Sabino, Rubem Braga, Lygia Fagundes Telles, Lya Luft entre tantos outros que imprimiram nos jornais seu talento, sua genialidade e sua marca.
Características principais
Produção da crônica Para produzir uma boa crônica narrativa, atente-se aos seguintes pontos: nn O
quê? - o fato que será narrado; - o tempo em que o fato ocorreu; nn Onde? - o lugar onde ocorreu o fato; nn Quem? - quais personagens vão fazer parte de história; nn Por quê? - o motivo pelo qual ocorreu tal situação; nn Como? - como se deu o fato; nn Desfecho - as consequências geradas pelo fato. nn Quando?
Tipos de crônicas Crônica humorística A crônica humorística é aquela cujo autor faz graça com o cotidiano, apelando para o humor. Ele escreve o texto apresentando uma visão irônica ou cômica, em forma de comentário dos acontecimentos, com o objetivo de entreter o público. O cronista utiliza o texto como ferramenta essencial para criticar alguns aspectos da sociedade, política, cultura, economia. Na literatura, os escritores brasileiros que se destacam nesse tipo de narrativa são: Fernando Sabino, Luis Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes. Leia a seguir uma crônica humorística de Verissimo e note como ela se constrói exclusivamente por diálogo: O lixo Fonte: Wikimedia commons
A crônica literária difere da crônica jornalística. A crônica literária esbanja recursos próprios da literatura sem jamais perder sua essência veloz e prosaica que tanto encanta os leitores. Muitos foram os escritores de nossa literatura que viram na crônica uma oportunidade de fazer literatura e ao mesmo tempo, denunciar costumes e mazelas da sociedade brasileira. Os cronistas Machado de Assis, Lima Barreto, Olavo Bilac, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Nelson Rodrigues e tantos outros cultivaram a crônica com singular engenhosidade, arte e grande criatividade.
A crônica narrativa tem por eixo uma história, o que a aproxima do conto. Ela pode ser narrada tanto em primeira quanto em terceira pessoa do singular. Ademais, ela pode apresentar elementos básicos da narrativa – fatos, tempo, personagens e lugar – com tempo e espaço limitados. nn O
narrador pode ser observador ou personagem;
nn Empregada
em variedade informal da língua, pode apresentar discurso direto, indireto e indireto livre;
nn Apresenta
linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária;
nn Narração
curta, real ou fictícia, em que há enredo, cenário, conflito e personagens comuns; irônico e apresenta crítica social;
nn Descreve
fatos da vida cotidiana com livre tradução da realidade;
nn Situa-se
entre o jornalismo e a literatura;
nn Brevidade;
geralmente é um texto curto, pois está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.
Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam. - Bom dia... - Bom dia. - A senhora é do 610. - E o senhor do 612? - É. 681
D14 Crônica narrativa
nn Imprime um caráter humorístico, crítico, satírico e/ou
D14 Crônica narrativa
Português
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente... - Pois é... - Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo... - O meu quê? - O seu lixo. - Ah... - Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena... - Na verdade sou só eu. - Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata. - É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar... - Entendo. - A senhora também... - Me chame de você. - Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim... - É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra... - A senhora... Você não tem família? - Tenho, mas não aqui. - No Espírito Santo. - Como é que você sabe? - Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo. - É. Mamãe escreve todas as semanas. - Ela é professora? - Isso é incrível! Como foi que você adivinhou? - Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora. - O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo. - Pois é... - No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado. - É. - Más notícias? - Meu pai. Morreu. - Sinto muito. - Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos. - Foi por isso que você recomeçou a fumar? - Como é que você sabe? - De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo. - É verdade. Mas consegui parar outra vez. - Eu, graças a Deus, nunca fumei. - Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo... - Tranquilizantes. Foi uma fase. Já passou. - Você brigou com o namorado, certo? - Isso você também descobriu no lixo? - Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel. 682
- É, chorei bastante, mas já passou. - Mas hoje ainda tem uns lencinhos... - É que eu estou com um pouco de coriza. - Ah. - Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo. - É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é. - Namorada? - Não. - Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha. - Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga. - Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte. - Você já está analisando o meu lixo! - Não posso negar que o seu lixo me interessou. - Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia. - Não! Você viu meus poemas? - Vi e gostei muito. - Mas são muito ruins! - Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados. - Se eu soubesse que você ia ler... - Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela? - Acho que não. Lixo é domínio público. - Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso? - Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que... - Ontem, no seu lixo... - O quê? - Me enganei, ou eram cascas de camarão? - Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei. - Eu adoro camarão. - Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode... - Jantar juntos? - É. - Não quero dar trabalho. - Trabalho nenhum. - Vai sujar a sua cozinha? - Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora. - No seu lixo ou no meu? Crônica jornalística A mais comum das crônicas da atualidade são as crônicas chamadas de crônicas jornalísticas, produzidas para os meios de comunicação. A crônica jornalística é um gênero híbrido, que trabalha com o cotidiano e traz o aspecto cronológico como característica fundamental. É uma forma particular de
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
retratar uma notícia. É um texto de não ficção bastante utilizado em jornais, revistas ou na internet. Essa crônica pode abordar temas políticos, policiais, esportivos e econômicos. Leia a seguir uma crônica jornalística de Luís Fernando Verissimo: Para se roubar um coração Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago. E então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por quê? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós. Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava... E é assim que se rouba um coração, fácil não?
Fonte: Wikimedia commons
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... É simples... É porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você. Crônica histórica D14 Crônica narrativa
A crônica histórica é marcada por relatar fatos ou acontecimentos históricos, com personagens, tempo e espaço definidos. Aproxima-se da crônica narrativa. A carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha escreveu entre 22 de abril e primeiro dia de maio de 1500 para o rei D. Manuel é considerada o primeiro documento da nossa história, e também o primeiro texto literário, ou crônica do nascimento do Brasil. A carta escrita mescla aspectos da crônica histórica, do diário de bordo e de missiva informativa e impressionista. Leia um trecho dela a seguir: 683
Português
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço e depois tirou- as e embrulhou-as no braço, e acenava para a terra e então para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por o desejarmos, mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar isto não queríamos entender porque não lho havíamos de dar. Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Crônica lírica ou poética Em uma linguagem poética e metafórica o autor, ao escrever uma crônica poética, extravasa sua alma lírica diante de episódios sentimentais, nostálgicos ou de simples beleza da vida urbana, significativos para ele, como no texto abaixo Furto de uma flor, de Carlos Drummond. Por vezes, esse tipo de crônica é construído em forma de versos poéticos. A letra da música de Meu guri, escrita por Chico Buarque, em 1981, é um bom exemplo de crônica lírica ou poética.
copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida. Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores. Eu a furtara, eu a via morrer. Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me. – Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim! Meu guri Chega estampado, manchete, retrato Com venda nos olhos, legenda e as iniciais Eu não entendo essa gente, seu moço Fazendo alvoroço demais O guri no mato, acho que tá rindo Acho que tá lindo, de papo pro ar Desde o começo, eu não disse, seu moço? Ele me disse que chegava lá, olha aí, olha aí
Furto de flor Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no
Olha aí, aí o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri
Exercícios de Fixação 01. (UFG GO) Leia o texto a seguir para responder à questão. Assim eram os velhos de passadas gerações. Preservavam, até o fim, uma dignidade superiormente crespa; opinar por telefone seria uma dessas humilhações inapeláveis e crudelíssimas. Os novos tempos é que tr ouxeram, para a imprensa, novos usos, costumes, valores, maneiras. No passado, as redações eram só masculinas. Mais fácil ver uma girafa escrevendo tópicos do que uma mulher jornalista. Ao passo que, em nossos dias, a imprensa está cheia de meninas. Ainda bem que as estagiárias são de outra época, ou seja, de uma época em que tudo se diz e tudo se faz pelo telefone. Entre a Casa Branca e o Kremlin há um telefone direto e fatal. Basta uma ligação e não sobreviverá uma folha de alface. RODRIGUES, Nelson. Estrela. In: O reacionário: memórias e confissões. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 128-132. (Adaptado). D14 Crônica narrativa
Esta crônica foi publicada no jornal O Globo, em 1969. Os recursos linguísticos utilizados demarcam a experiência histórica daquele tempo. No texto, com o uso da a) hipérbole, em “tudo se diz e tudo se faz pelo telefone”, o cronista elogia a incorporação da técnica que substitui o trabalho humano nas redações.
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b) metáfora, em “a imprensa está cheia de meninas”, o cronista defende a ação do movimento feminista na conquista de postos de trabalho nas redações. c) catacrese, em “não sobreviverá uma folha de alface”, o cronista ironiza a crença popular quanto à corrida armamentista europeia. d) metonímia, em “entre a Casa Branca e o Kremlin, há um telefone direto”, o cronista indica as relações tensas entre blocos hegemônicos internacionais. e) prosopopeia, em “mais fácil ver uma girafa escrevendo tópicos”, o cronista opõe o cavalheirismo presente à cultura machista do passado. 02. (Enem MEC) Desabafo Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Texto comum às questões 03 e 04 Leia o trecho inicial do conto “A chave”, de Machado de Assis. Não sei se lhes diga simplesmente que era de madrugada, ou se comece num tom mais poético: a aurora, com seus róseos dedos... A maneira simples é o que melhor me conviria a mim, ao leitor, aos banhistas que estão agora na Praia do Flamengo, – agora, isto é, no dia 7 de outubro de 1861, que é quando tem princípio este caso que lhes vou contar. Convinha-nos isto; mas há lá um certo velho, que me não leria, se eu me limitasse a dizer que vinha nascendo a madrugada, um velho que... Digamos quem era o velho. Imaginem os leitores um sujeito gordo, não muito gordo, – calvo, de óculos, tranquilo, tardo, meditativo. Tem sessenta anos: nasceu com o século. Traja asseadamente um vestuário da manhã; vê-se que é abastado ou exerce algum alto emprego na administração. Saúde de ferro. Disse já que era calvo; equivale a dizer que não usava cabeleira. Incidente sem valor, observará a leitora, que tem pressa. Ao que lhe replico que o incidente é grave, muito grave, extraordinariamente grave. A cabeleira devia ser o natural apêndice da cabeça do Major Caldas, porque cabeleira traz ele no espírito, que também é calvo. Calvo é o espírito. O Major Caldas cultivou as letras, desde 1821 até 1840 com um ardor verdadeiramente deplorável. Era poeta; compunha versos com presteza, retumbantes, cheios de adjetivos, cada qual mais calvo do que ele tinha de ficar em 1861. (Obra completa, vol. 2, 1992.)
03. (Centro Universitário de Franca SP) Assinale a alternativa cujo trecho destacado apresenta uma comparação. a) “agora, isto é, no dia 7 de outubro de 1861, que é quando tem princípio este caso que lhes vou contar” (1° parágrafo) b) “há lá um certo velho, que me não leria, se eu me limitasse a dizer que vinha nascendo a madrugada” (1° parágrafo) c) “Traja asseadamente um vestuário da manhã; vê-se que é abastado ou exerce algum alto emprego na administração” (2° parágrafo) d) “O Major Caldas cultivou as letras, desde 1821 até 1840 com um ardor verdadeiramente deplorável” (3° parágrafo) e) “compunha versos com presteza, retumbantes, cheios de adjetivos, cada qual mais calvo do que ele tinha de ficar em 1861” (3° parágrafo)
04. (Centro Universitário de Franca SP) O narrador emprega a palavra “calvo” em diferentes sentidos para referir-se ao físico e ao espírito do Major Caldas. Referindo-se ao espírito, o sentido de “calvo” associa-se a a) um traço positivo, caracterizando o Major como um artista humilde e criativo. b) uma qualidade reconhecida, expondo o destaque do Major no cenário das letras. c) um atributo negativo, destacando a falta de talento do Major para a criação poética. d) uma virtude discutível, expondo hábitos do Major pouco compatíveis com um empregado público de alto escalão. e) um traço valorizado pelo narrador na arte do Major, que era a grandiloquência dos versos deste. 05. (Enem MEC) E como manejava bem os cordéis de seus títeres, ou ele mesmo, títere voluntário e consciente, como entregava o braço, as pernas, a cabeça, o tronco, como se desfazia de suas articulações e de seus reflexos quando achava nisso conveniência. Também ele soubera apoderar-se dessa arte, mais artifício, toda feita de sutilezas e grosserias, de expectativa e oportunidade, de insolência e submissão, de silêncios e rompantes, de anulação e prepotência. Conhecia a palavra exata para o momento preciso, a frase picante ou obscena no ambiente adequado, o tom humilde diante do superior útil, o grosseiro diante do inferior, o arrogante quando o poderoso em nada o podia prejudicar. Sabia desfazer situações equívocas, e armar intrigas das quais se saía sempre bem, e sabia, por experiência própria, que a fortuna se ganha com uma frase, num dado mo mento, que este momento único, irrecuperável, irreversível, exige um estado de alerta para a sua apropriação. RAWET, S. O aprendizado. In: Diálogo. Rio de Janeiro: GDR, 1963 (fragmento).
No conto, o autor retrata criticamente a habilidade do personagem no manejo de discursos diferentes segundo a posição do interlocutor na sociedade. A crítica à conduta do personagem está centrada a) na imagem do títere ou fantoche em que o personagem acaba por se transformar, acreditando dominar os jogos de poder na linguagem b) na alusão à falta de articulações e reflexos do personagem, dando a entender que ele não possui o manejo dos jogos discursivos em todas as situações. c) no comentário, feito em tom de censura pelo autor, sobre as frases obscenas que o personagem emite em determinados ambientes sociais. d) nas expressões que mostram tons opostos nos discursos empregados aleatoriamente pelo personagem em conversas com interlocutores variados e) no falso elogio à originalidade atribuída a esse personagem, responsável por seu sucesso no aprendizado das regras de linguagem da sociedade.
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D14 Crônica narrativa
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.
Português
Exercícios Complementares Textos comuns às questões 01 e 02 Texto I Diz-se que a função principal da linguagem é comunicar. No entanto, 02 há duas questões que devem ser pensadas. De um lado, comunicar 03 não é só transmitir informações, pois as pessoas se comunicam até 04 para não dizer nada. De outro lado, comunicar não é um ato unilateral, 05 mas é um jogo em que um parceiro da comunicação age sobre o 06 outro. A comunicação é, antes de qualquer coisa, relacionamento, 07 interação. Por isso, a linguagem é um meio de ação recíproca, é um 08 meio de interagir com os outros, é um lugar de confrontações, de 09 acordos, de negociações. 01
José Luiz Fiorin, A linguagem humana
Texto II O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) proibiu a participação 02 de médicos em partos domiciliares e nas equipes de sobreaviso, que 03 ficam de plantão para o caso de alguma complicação.
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O Estado de S.Paulo, 24/07/2012, A10
Texto III O remetente envia uma mensagem ao destinatário. Para ser eficaz, 02 a mensagem requer um contexto a que se refere […], apreensível 03 pelo destinatário, e que seja verbal ou suscetível de verbalização; um 04 código total ou parcialmente comum ao remetente e ao destinatário 05 […]; e, finalmente, um contato, um canal físico e uma conexão 06 psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacite a 07 ambos a entrarem e a permanecerem em comunicação. 01
D14 Crônica narrativa
Roman Jakobson, Linguística e poética
01. (Mackenzie SP) Considere as seguintes afirmações sobre o texto II. I. Exemplifica o expresso no texto III, pois se pode identificar o remetente (o jornal) da mensagem (veiculada no código da língua portuguesa), o destinatário (o leitor) e o contexto (o assunto do qual a notícia trata). II. Representa de modo adequado a utilização de uma linguagem composta predominantemente por elementos de natureza não verbal. III. Tem como função principal aquela denominada como conativa, pois seu objetivo central é a persuasão do leitor. Assinale a alternativa correta. a) Estão corretas as afirmações I e II. b) Estão corretas as afirmações II e III. c) Está correta apenas a afirmação I. d) Está correta apenas a afirmação II. e) Está correta apenas a afirmação III. 02. (Mackenzie SP) Depreende-se corretamente da leitura dos textos I e III que:
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a) a comunicação é emissão de ideias, pois depende apenas das intenções que um destinador tem ao transmitir informações em um determinado código. b) a função da linguagem é primordialmente a expressão de emoções, a partir apenas dos valores subjetivos relacionados a um remetente. c) a interação verbal prescinde do uso de um código, mesmo que este seja compartilhado entre os participantes da atividade comunicativa. d) a prática comunicativa é uma atividade de interação verbal, que implica a participação constante de remetente e destinatário para a emissão e a compreensão de sentidos. e) toda prática comunicativa implica necessariamente, e sempre, a transmissão de informações altamente relevantes para o contexto de interação verbal. 03. (IF PE) A história, mais ou menos 01 Negócio seguinte. Três reis magrinhos ouviram um plá de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa meta no Oriente e tal e se flagraram que o Guri tinha pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar cascata, já tinham dicado o troço: em Belém da Judéia vai nascer o Salvador, e tá falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de irem direto para Belém, como mandava o catálogo, resolveram dar uma incerta no velho Herodes, em Jerusalém. Pra quê! Chegaram lá de boca aberta e entregaram toda a trama. Perguntaram: Onde está o rei que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Quer dizer, pegou mal. Muito mal. O velho Herodes, que era um oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele é que era o dono da praça. Mas comeu em boca e disse: Joia. Onde é que esse guri vai se apresentar? Em que canal? Quem é o empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber tudo. Os magrinhos disseram que iam flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para o coroa. 02 Bom. Seguiram o cometa, chegaram numa estrebaria e lá estava o Guri com a Mãe e o Pai. Sensacional. Parecia até presépio vivo. Os magrinhos encheram o Guri de presente. Era Natal, pô. Mirra, incenso, ouro, autorama. Tava na hora de darem no pé quando chega um telex. É do céu. Um anjo avisando aos magrinhos que não, repito, não voltem à presença de Herodes porque o coroa tá a fim de apagar o Guri. E, depois que os magrinhos se mandaram, chega outro telex, desta vez para o velho do Guri. Te manda e leva a família. O Herodes vem atrás de vocês e não é para dar presente. O velho pegou a mulher e o Guri e voou para o Egito. Na estrebaria as vacas ficaram se entreolhando meio acanhadas, mas depois esqueceram tudo. Aliás, um dos carneiros, mais tarde, quis vender a história toda para um jornal de Jerusalém, mas não acertaram o tutu. 03 Bom, o Herodes, é claro, ficou chutando as paredes quando soube da jogada dos magrinhos. Mandou que todo bebinski nascido nas bocas fosse cancelado. Se tiver fralda,
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VERÍSSIMO. L. F. A história, mais ou menos. Disponível em: <http://cronicasdeluisfernandoverissimo.blogspot.com.br/2006/08/crnicahistria-mais-ou-menos.html>. Acesso em: 20 set. 2015.
O texto, intitulado “A história, mais ou menos”, de Luís Fernando Veríssimo, estabelece um diálogo interessante com a história do nascimento de Cristo. Tal diálogo ocorre por meio do seguinte recurso: a) Paráfrase direta, uma vez que a história é contada de acordo com a opinião crítica do autor. b) Intertextualidade com forte referência ao texto fonte, de modo que, embora não haja citação expressa, a história de Cristo é facilmente recuperada. c) Citação, já que a história de Cristo foi recorrentemente citada de forma literal. d) Paródia, porque o texto 04 conta a história de Cristo, mas não se limita ao enredo original, criando eventos dos quais o texto fonte não trata. e) Intertextualidade intergenérica, pois há uma relação entre gêneros textuais diferentes, ou seja, o texto 04 tem forma de conto, mas função de fábula. 04. (UniRV GO) Teimosia Empedernida Drauzio Varella
A falta de noção, às vezes, vem disfarçada de boas intenções. É o caso da lei que prevê penas maiores para traficantes, que acaba de ser aprovada pela Câmara e vai à votação no Senado. A proposta do projeto original era ampliar a pena mínima até para o contingente formado pelos que trabalham com quantidades pequenas ou vendem droga para custear a parcela que consomem. Por sorte, o bom senso da parte do governo rejeitou a ideia de trancafiar essa legião de pequenos contraventores. Nem que transformássemos todas as escolas públicas em presídios haveria vaga para tanta gente. Você, leitor, que, como eu, morre de medo de ter um filho escravo da dependência química, gostaria de ver os vendedores na cadeia. Provavelmente, imagina que, se aprisionássemos todos, o adolescente não teria de quem comprar. Não menosprezo nem condeno esse pensamento mágico; já fui vítima dele. Depois de 24 anos em contato com traficantes e cadeias, minha visão mudou. Mandar para trás das grades quem vende quantidades pequenas é medida insensata, pela mais singela das razões: quem usa, trafica. Seu filho, que fuma um baseado de vez em quando sem você saber, sai para comprar e traz um pouco para o amigo. Por uma besteira dessas, mereceria passar anos enjaulado num presídio brasileiro? Agora, vamos à questão daqueles que comandam grupos criminosos. Segundo o novo projeto, devem ser condenados à pena mínima de oito anos, em vez dos cinco anos previstos na lei atual.
Todos concordam que deveríamos prender os chefes. É voz corrente que a repressão não funciona, porque só vai presa a raia miúda. Por que será, não? A competência corruptora do traficante endinheirado está longe de ficar restrita ao suborno do policial corrupto. Seus tentáculos chegam aos três poderes da República. Os milhões de reais movimentados pelo tráfico são lavados nos mesmos bancos em que você e eu depositamos o salário ganho com o suor de nossos rostos. Aumentar as penas para combater o tráfico é uma falácia. Pode ter apelo eleitoral, mas serve apenas para dar às famílias a ilusão de que serão protegidas. Como bem lembrou o professor André Mendes, nesta Folha (em 29/05/2013), a pena mínima estabelecida em 1976, que punia os traficantes com três anos de cadeia, foi aumentada para cinco anos, em 2006. De lá para cá, caiu o consumo de drogas no país? Você poderia argumentar que, se prendêssemos os grandes, pelo menos a criminalidade diminuiria. Não é o que os estudos mostram, caro leitor. Como em outros ramos da atividade econômica, o grande traficante começa pequeno. Salvo exceções, costuma chegar às posições de mando perto dos 40 anos, quando a maturidade já lhe ensinou que resolver os problemas à bala é menos lucrativo do que tentar solucioná-los por meio da negociação. Quando um chefe é preso ou morre, seus subordinados se matam para assumir o posto. Por ocasião dessas lutas pelo poder, muitos inocentes perdem a vida. Qual a solução? Nas transações comerciais, enquanto existir um mercado consumidor em expansão, disposto a pagar qualquer preço por uma mercadoria que custa barato nos centros de produção, o impacto do aprisionamento de comerciantes será pífio. Oferta e procura é uma lei universal. É ingenuidade irresponsável supor que será revogada com medidas repressivas, por mais lógicas e bem intencionadas que pareçam. Sem diminuir a procura, aumentar as penas dos traficantes só servirá para agravar o drama da superlotação das cadeias. Se no estado de São Paulo há que construir quase cem penitenciárias apenas para cobrir o atual déficit de vagas — além de mais duas a cada três meses para trancafiar os que serão presos pela polícia –, imaginem a calamidade enfrentada pelos estados mais pobres. Quantos anos serão necessários para nos convencermos de que a guerra às drogas foi um equívoco com consequências desastrosas para a sociedade? Quantos precisarão morrer até entendermos que dependência química é um problema de saúde pública que jamais será resolvido na base da repressão policial? Nos últimos 30 anos, os americanos investiram mais de um trilhão de dólares nessa guerra. Tanto dinheiro, para criar o maior mercado consumidor do mundo. (Disponível em: http://drauziovarella.com.br/ dependencia-quimica/teimosia-empedernida).
Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para cada uma das seguintes proposições de acordo com o texto acima: V-V-V-F a) A tipologia textual predominante no texto acima é a argumentação, em que o autor defende uma tese, tentando convencer o leitor. b) Logo no primeiro parágrafo, o autor apresenta o fato que será, no resto do texto, analisado e comentado. c) O último parágrafo do texto exemplifica o título. d) Varella concorda que não se amplie a pena mínima para aqueles que vendem pequenas quantidades de droga, mas defende o aumento da pena para os chefes do tráfico. 687
D14 Crônica narrativa
apaga. Foi chato. Muito chato. Morreu neném que não foi fácil. Mas o Guri tava no Egito, vivão. Pouco depois Deus achou que o Herodes tava se passando e cassou a licença dele. E mandou passar outro telex para o velho do Guri: Pode voltar. Segue carta. Mas o velho foi vivo e em vez de pintar na Judéia- onde o filho de Herodes, outro mauca, reinava – foi para a Galileia, para uma cidadezinha chamada Nazaré. Ali o Guri cresceu legal. Acabou Rei mesmo, dando o maior Ibope. Aliás, os profetas já tinham dito que o Guri seria chamado Nazareno. Naquela época, profeta não dava uma fora! Se tivesse a Loteria Esportiva, já viu, né?
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D15
ASSUNTOS ABORDADOS nn Crônica argumentativa nn Características principais nn Interpretação
CRÔNICA ARGUMENTATIVA A crônica argumentativa consiste em um tipo de texto mais reflexivo cuja argumentação é a sua principal característica. É um texto mais moderno que a dissertação. O cronista, muitas vezes, utiliza-se do humor, da ironia e do sarcasmo como instrumentos para expressar seu ponto de vista sobre uma problemática da sociedade, seja no âmbito social, seja no âmbito político ou até mesmo cultural. A crônica argumentativa é um tipo de texto que funde aspectos da crônica e dos textos argumentativos e, nesse meio, se aproxima do artigo de opinião. É um tipo de texto argumentativo que nos remete à noção voltada para a formulação de uma tese (um assunto que dá margem à discussão) comprovada, sobretudo, por meio de argumentos convincentes, presumíveis, associados à exemplificação, cujo objetivo exclusivo é conferir credibilidade para o leitor/interlocutor.
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A crônica argumentativa é muito utilizada pelos meios de comunicação, sobretudo os jornais, as revistas e sites. O cronista parte da observação dos fatos do cotidiano para instigar, emocionar ou levar o leitor à reflexão sobre os fatos abordados. Nesse gênero, além de se narrar um determinado fato, o cronista tem a oportunidade de expor o que pensa a respeito de um determinado assunto. Já na crônica narrativa, como vimos na aula anterior, o autor conta uma história bem-humorada, em que são retratadas reflexões a respeito de acontecimentos do dia a dia.
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A crônica nos dias atuais é, ao mesmo tempo, literária e polêmica, é exaltação e condenação. Ela envolve, polemiza, abrange memória e profecia, e une presente e passado. Há hoje os cronistas modernos que fazem um tipo bem específico de crônica. São cronistas que se especializaram em determinado assunto: a crônica política, como a que faz Carlos Heitor Cony; a esportiva, como faz Juca Kifouri; a social, como faz Jacinto de Thormes; a gastronômica, como faz Sylvio Lancellotti; a econômica, como faz Joelmir Betting, e tantas outras.
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Características principais
nn Argumentação
Não há uma receita ou uma fórmula para se escrever uma crônica. A matéria-prima do cronista é o fato que estimulou a vontade de escrever, com o objetivo de levantar questionamentos, críticas, reflexões. Grandes nomes como Machado de Assis, Rubem Braga e Clarice Lispector usaram todo seu talento linguístico ao produzir textos sobre coisas triviais, cujo objetivo era o entretenimento ou a fruição. Hoje, cronistas contemporâneos ampliaram esses objetivos. As crônicas da atualidade são veiculadas em livros, jornais, sites e blogs, cujo objetivo é, também, a fruição e o fazer rir; mas, principalmente, criticar, denunciar e levar o interlocutor à reflexão sobre os problemas atuais. Os cronistas representantes dessa nova modalidade de texto são: Carlos Heitor Cony, Max Gehringer, Moacyr Scliar, Pedro Bial, Arnaldo Jabor, Ivan Martins, Martha Medeiros, Francisco Reginaldo de Sá, Marcelo Rubens Paiva, Roberto Pompeu de Toledo, entre outros.
e persuasão; nn Exposição do ponto de vista do autor permeada de crítica, humor e ironia, posicionando-se sobre o assunto em questão; nn É um gênero textual que reúne características de crônica e de texto argumentativo; nn Temas contemporâneos que apresentam assunto ou controvérsia a ser discutida, normalmente, no início do texto; nn Linguagem criativa, coloquial, simples e direta, geralmente, de acordo com o padrão culto informal da língua; nn Temas cotidianos e polêmicos, crítica, humor e ironia; nn Exposição de argumentos que fundamentam o ponto de vista do autor; nn Tratamento subjetivo do tema, utilizando-se de criatividade para deixar perpassar a sensibilidade e as emoções do cronista; nn Conclusão surpreendente retomando as ideias do texto e confirmando o ponto de vista defendido.
Interpretação
Uma pessoa pode ser altamente confiável, gentil, carinhosa, simpática, mas, se não é habitada, rapidinho coloca os outros pra dormir. Uma pessoa habitada é uma pessoa possuída, não necessariamente pelo demo, ainda que satanás esteja longe de ser má referência. Clarice Lispector certa vez escreveu uma carta a Fernando Sabino dizendo que faltava demônio em Berna, onde morava na ocasião. A Suíça, de fato, é um país de contos de fada onde tudo funciona, onde todos são belos, onde a vida parece uma pintura, um rótulo de chocolate. Mas falta uma ebulição que a salve do marasmo.
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D15 Crônica argumentativa
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A crônica argumentativa se caracteriza pela narração, mesclada à exposição de opiniões acerca do assunto tratado. Uma das características da crônica argumentativa é sua capacidade de questionar padrões aceitos como verdades absolutas. É muito comum a produção de crônicas argumentativas cujo autor utiliza de humor e ironia para expor seu ponto de vista sobre assuntos de cunho social, político ou mesmo cultural. As principais características de uma crônica argumentativa são:
Estava conversando com uma amiga, dia desses. Ela comentava sobre uma terceira pessoa, que eu não conhecia. Descreveu-a como sendo boa gente, esforçada, ótimo caráter. “Só tem um probleminha: não é habitada”. Rimos. Uma expressão coloquial na França - habité -‚ mas nunca tinha escutado por estas paragens e com este sentido. Lembrei-me de outra amiga que, de forma parecida, também costuma dizer “aquela ali tem gente em casa” quando se refere a pessoas que fazem diferença.
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Leia a seguir uma crônica de Martha Medeiros:
Português
Então são as criaturas mais incríveis do universo? Não necessariamente. Entre os habitados há de tudo, gente fenomenal e também assassinos, pervertidos e demais malucos que não merecem abrandamento de pena pelo fato de serem, em certos aspectos, bastante interessantes. Interessam, mas assustam. Interessam, mas causam dano. Eu não gostaria de repartir a mesa de um restaurante com Hannibal Lecter, “The Cannibal”, ainda que eu não tenha dúvida de que o personagem imortalizado por Anthony Hopkins renderia um papo mais estimulante do que uma conversa com, sei lá, Britney Spears, que só tem gente em casa porque está grávida. Que tenhamos a sorte de esbarrar com seres habitados e ao mesmo tempo inofensivos, cujo único mal que possam fazer seja nos fascinar e nos manter acordados uma madrugada inteira. Ou a vida inteira, o que é melhor ainda. Veja como a cronista expõe os argumentos que fundamentam seu ponto de vista, dando um tratamento subjetivo sobre o tema e utilizando-se de criatividade para deixar perpassar a sensibilidade e as suas emoções. Atente-se para o conceito de “pessoas possuídas” que é veiculado no texto. Assassinos em série como “The Cannibal” (O Canibal) são mais interessantes do que pessoas como Britney Spears. Nem todos os “habitados” são seres confiáveis e inofensivos, pois eles possuem uma gama de personalidades. A enunciadora assume total responsabilidade sobre sua opinião ao utilizar a expressão
“ainda que eu não tenha dúvida” no enunciado: “Eu não gostaria de repartir a mesa de um restaurante com Hannibal Lecter, “The Cannibal”, ainda que eu não tenha dúvida de que o personagem imortalizado por Anthony Hopkins renderia um papo mais estimulante do que uma conversa com, sei lá, Britney Spears, que só tem gente em casa porque está grávida”. Com a expressão “sei lá” fica evidente a pouca ou nenhuma consideração da enunciadora por Britney Spears.
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Retornando ao assunto: pessoas habitadas são aquelas possuídas por si mesmas, em diversas versões. Os habitados estão preenchidos de indagações, angústias, incertezas, mas não são menos felizes por causa disso. Não transformam suas “inadequações” em doença, mas em força e curiosidade. Não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem. Além disso, mantêm com a solidão uma relação mais do que cordial.
Em relação ao que se diz sobre o fragmento: “Uma pessoa pode ser altamente confiável, gentil, carinhosa, simpática, mas, se não é habitada, rapidinho coloca os outros pra dormir. Uma pessoa habitada é uma pessoa possuída, não necessariamente pelo demo, ainda que satanás esteja longe de ser má referência”, a autora infere que ser confiável, gentil, carinhoso e simpático são qualidades desejáveis para todo ser humano, mas são qualidades que não bastam para que alguém seja “uma pessoa habitada”. Pode-se entender, nesse contexto, que colocar rapidinho os outros para dormir significa ser enfadonho, não ter nada de interessante para dizer. Quando se diz que alguém é uma pessoa possuída ou que uma pessoa está possuída, pensa-se logo na possessão demoníaca, algo extremamente indesejável. Há, no entanto, uma quebra de expectativa: a possessão de que se fala não é a demoníaca. O fato de não se tratar desse tipo de possessão não invalida, contudo, a possibilidade de que a de satanás possa ser uma boa referência desse fenômeno.
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC)
D15 Crônica argumentativa
Desabafo Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entre-
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tanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
02. (Enem MEC) Sob o olhar do Twitter Vivemos a era da exposição e do compartilhamento. Público e privado começam a se confundir. A ideia de privacidade vai mudar ou desaparecer. O trecho acima tem 140 caracteres exatos. É uma mensagem curta que tenta encapsular uma ideia complexa. Não é fácil esse tipo de síntese, mas dezenas de milhões de pessoas o praticam diariamente. No mundo todo, são disparados 2,4 trilhões de SMS por mês, e neles cabem 140 toques, ou pouco mais. Também é comum enviar e-mails, deixar recados no Orkut, falar com as pessoas pelo MSN, tagarelar no celular, receber chamados em qualquer parte, a qualquer hora. Estamos conectados. Superconectados, na verdade, de várias formas. […] O mais recente exemplo de demanda por total conexão e de uma nova sintaxe social é o Twitter, o novo serviço de troca de mensagens pela internet. O Twitter pode ser entendido como uma mistura de blog e celular. As mensagens são de 140 toques, como os torpedos de blogs. Em vez de seguir para apenas uma pessoa, como no celular ou no MSN, a mensagem do Twitter vai para todos os “seguidores” – gente que acompanha o emissor. Podem ser 30, 300 ou 409 mil seguidores. MARTINS, I.; LEAL, R. Época. 16 mar.2009 (fragmento adaptado).
Pode-se afirmar que o texto acima a) adverte os leitores de que a internet pode transformar-se em um problema porque expõe a vida dos usuários. b) ensina aos leitores os procedimentos necessários para que as pessoas conheçam esse novo meio de comunicação c) exemplifica e explica o novo serviço global de mensagens rápidas que desafia os hábitos de comunicação e reinventa o conceito de privacidade. d) procura esclarecer os leitores a respeito dos perigos que o uso do Twitter pode causar no trabalho e na vida pessoal. e) apresenta uma enquete sobre as redes sociais da atualidade e mostra que o Twitter é preferido dos internautas.
03. (Enem MEC) São Paulo vai se recensear. O governo quer saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão reduzidos a números e invertidos em estatísticas. O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando: — Quantos são aqui? Pergunta triste, de resto. Um homem dirá: — Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente, só há pulgas e ratos. E outro: — Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se quiser. Querendo levar todos, é favor... (...) E outro: — Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá de meu quarto e de meu peito! Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3. São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
O fragmento acima, em que há referência a um fato sócio-histórico — o recenseamento —, apresenta característica marcante do gênero crônica ao a) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra. b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os personagens em um só tempo e um só espaço. c) contar história centrada na solução de um enigma, construindo os personagens psicologicamente e revelando-os pouco a pouco. d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as pessoas informadas. e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a construção de texto que recebe tratamento estético.
Exercícios Complementares
A madrugada vinha querendo romper. Os sapos voltaram a cantar. Galos cantaram desanimadamente. Uma neblina densa caiava a Vila, como que prenunciando a manhã. E como o tempo esfriasse, Vicente fechou a janela para dormir, mas de novo lhe voltou à cabeça a história do assassinato do coronel. Então passou a considerar mal a polícia a partir daquele momento. Que tinham matado o velho sem precisão. Achou mesmo muito esquisito quando viu chegar aqueles cadáveres. O velho coronel era violento, brigão, metido a valente, mas era covarde. A noite era de neblina e de tormento. ÉLIS, Bernardo. O tronco. 6. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978. p. 130. (Adaptado).
Verifica-se, no excerto apresentado, menções ao tempo a) psicológico b) histórico c) cronológico d) social 02. (Ibmec SP Standard and Poor’s tira grau de investimento do Brasil O Brasil perdeu o grau de investimento na classificação de crédito da Standard and Poor’s (S&P), informou a agência de classificação de risco nesta quarta‐feira (09). A nota do país foi rebaixada de “BBB‐” para “BB+”, com perspectiva negativa. O rebaixamento do rating do Brasil para a categoria
691
D15 Crônica argumentativa
01. (Unievangélica GO)
Português
“especulativa” acontece menos de 50 dias após a agência ter
nariz do paciente a partir das quais se desenvolveram os tecidos
mudado a perspectiva para negativa.
seccionados – o complexo circuito responsável pelo olfato é a
Em seu comunicado, a agência chama a atenção para a dete-
única parte do sistema nervoso que se regenera durante toda
rioração fiscal e a falta de coesão da equipe ministerial, como
a vida e foi essa característica que os cientistas procuraram re-
causas da decisão de rebaixar a nota.
produzir na lesão de Fidyka. As células do próprio paciente não
“Os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuam a pesar
seriam rejeitadas e o tecido medular poderia ser reparado.
na capacidade do governo e vontade de submeter ao Orçamen-
A técnica de transplante, descoberta na UCL, apresentou bons
to de 2016 ao Congresso consistente com a política de ajuste
resultados em laboratório, mas nunca havia sido testada com
fiscal assinalada durante o segundo mandato da presidente Dil-
sucesso em um ser humano. Na primeira das duas operações,
ma Rousseff”, destaca a S&P. (...)
os cirurgiões removeram os bulbos olfativos do paciente e fi-
Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/standardand‐ poors‐tira‐grau‐de‐investimento‐do‐brasil.html. Acesso:30/09/2015
zeram as células crescer em cultura. Duas semanas depois, foi
Em textos jornalísticos com trechos que são traduzidos de
Fidyka manteve seu programa de condicionamento – cinco horas
outros idiomas, são comuns passagens truncadas, o que nor-
de exercícios durante os cinco dias da semana – e percebeu que
malmente se explica pela pressa com que essas traduções são
a cirurgia havia sido bem sucedida quando, após três meses, sua
feitas. É o que ocorre em:
coxa esquerda começou a desenvolver músculos. Seis meses de-
a) A nota do país foi rebaixada de “BBB‐” para “BB+”
pois, deu seus primeiros passos com o apoio de fisioterapeutas.
b) acontece menos de 50 dias após a agência ter mudado a
Agora, após dois anos, caminha apenas com o andador. De acor-
perspectiva para negativa
espinhal do paciente se fechou após o tratamento.
d) e vontade de submeter ao Orçamento de 2016 ao Congresso
“Nós acreditamos que o procedimento é uma descoberta ca-
e) assinalada durante o segundo mandato da presidente Dilma
pital que, se for bem desenvolvida, constituirá uma mudança histórica para as pessoas que sofrem de ferimentos na coluna
Texto comum às questões 03 e 04 Neurociência Paraplégico volta a andar após cirurgia revolucionária Graças a um transplante de células da cavidade nasal, búlgaro Darek Fidyka, de 40 anos, recuperou um rompimento total dos nervos da coluna vertebral. Feito é comparado à chegada do homem à Lua Um homem paraplégico voltou a andar graças a um transplante de células nervosas realizado na Polônia, em uma operação sem precedentes. Derek Fidyka, um búlgaro de 40 anos, é a primeira pessoa do mundo a se recuperar de um rompimento total dos nervos da coluna vertebral. Ele recebeu um transplante de células de sua cavidade nasal para a medula espinhal e, após reabilitação de um ano, ele pode caminhar com o auxílio de um andador – Fidyka também recuperou algumas funções da bexiga e do intestino.
D15 Crônica argumentativa
do com os cientistas, exames mostraram que a lacuna na medula
c) Os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuam a pesar
Rousseff
692
feito o transplante de medula por meio de microinjeções.
cerebral”, declarou Raisman. (Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/paraplegicovoltaa-andar-apos-cirurgia-revolucionaria. Acesso em 21/10/2014)
03. (Unemat MT) Considerando as características do gênero a que pertence o texto acima, sua principal finalidade é: a) Persuadir o leitor de que as células olfativas são as únicas que se regeneram durante toda a vida. b) Informar que um paraplégico voltou a andar após cirurgia que utilizou células olfativas do próprio paciente. c) Expor os procedimentos da técnica de reprodução de células olfativas. d) Apresentar os médicos poloneses como os melhores neurocirurgiões do mundo. e) Relativizar a importância de o homem ter caminhado na Lua. 04. (Unemat MT) Ainda em relação ao texto “Paraplégico volta a
“Para mim, isto é ainda mais impressionante do que um ho-
andar após cirurgia revolucionária”, a utilização de discurso di-
mem caminhando na Lua”, afirmou Geoffrey Raisman, profes-
reto, a abundância de sequenciadores temporais e o predo-
sor do Instituto de Neurologia do University College de Londres
mínio de verbos no pretérito contribuem para que o texto seja
(UCL), na Inglaterra, e um dos autores do estudo publicado na
classificado na tipologia
revista Cell Transplantation. [...]
a) Descritiva.
A cirurgia foi realizada por uma equipe médica polonesa, coor-
b) Argumentativa.
denada pelo neurocirurgião Pawel Tabakow, da Universidade de
c) Expositiva.
Wroclaw, na Polônia, um dos maiores especialistas em lesões
d) Injuntiva.
medulares do mundo. Os médicos utilizaram células nervosas do
e) Narrativa.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D16
CARTA ARGUMENTATIVA
ASSUNTOS ABORDADOS nn Carta argumentativa nn Características nn Estrutura nn Interlocução nn Argumentação
Fonte: Wikimedia Commons
Em aulas anteriores pudemos estudar ramificações textuais do gênero carta, como a carta pessoal e a carta aberta. Diferente dessas, com o objetivo de persuadir o leitor, existe também a carta argumentativa, na qual os argumentos são sua principal arma de convencimento. Dessa maneira, o emissor (escritor), a partir de seu ponto de vista, pode convencer o receptor (leitor) sobre determinado assunto. Trata-se, então, de um texto da tipologia argumentativa que possui peculiaridades em sua produção, haja vista que apresenta um receptor ou receptores específicos para o(s) qual(is) se dirige.
Fonte: Wikemedia commons
Assim, é importante ressaltar que a principal especificidade do gênero textual carta é justamente a existência de um remetente (emissor) e de um destinatário (receptor). A linguagem empregada pode ser formal ou informal, a depender da relação de proximidade entre os interlocutores. Embora a expansão da internet e dos meios de comunicação tenha criado outras formas de interação – como o e-mail e as redes sociais –, a carta enviada pelo correio ainda é um recurso comunicativo muito importante. Por esse motivo, atente-se à sua estrutura, pois esse tipo de texto pode ser exigido em vestibulares e concursos públicos.
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Português
Características As principais características da carta argumentativa são: nn Persuasão
e argumentação; nn Linguagem clara e objetiva; nn Geralmente escrita em 1ª pessoa do singular; nn Presença de destinatário e remetente; nn Uso de pronomes de tratamento; nn Assinatura do escritor (locutor).
Estrutura Apesar de ser um texto dissertativo-argumentativo (com estrutura básica de introdução, desenvolvimento e conclusão), a estrutura da carta argumentativa também apresenta: nn Local
!
ATENÇÃO!
D16 Carta argumentativa
Fonte: www.shutterstock.com
A assinatura, em muitos exames vestibulares, normalmente não é exigida, pelo fato de o corretor da sua redação não poder saber quem a está escrevendo. Além disso, é comum também que a banca exigir que você assine com um nome fictício dado na proposta de redação.
e data ou cabeçalho: primeiramente, escreve-se o nome da cidade em que o emissor se encontra e o dia em que está sendo escrita. nn Nome do destinatário: abaixo da data e do local, deve-se escrever o nome da pessoa ou do órgão a quem se dirige a carta. Acompanhado do nome, deve vir uma saudação inicial (prezada senhora, meu caro etc.), que depende do grau de formalidade entre emissor e receptor. nn Introdução: o assunto a ser abordado durante todo o texto, ou seja, o tema principal da carta, deverá ser mencionado. nn Desenvolvimento: já que se trata de um texto argumentativo, nesse momento as argumentações e os pontos de vista deverão ser explorados de forma a convencer o leitor. nn Conclusão: trata-se da parte final do texto, que apresenta o fechamento dos argumentos expostos na introdução e no desenvolvimento. Em outras palavras, é a parte da síntese das ideias. nn Despedida: é a saudação final que colocará fim no seu texto, por exemplo, “atenciosamente”, se for formal, ou até “beijos e abraços”, de maneira mais informal. nn Nome do emissor: no final da carta, aparece o nome e assinatura de quem a produziu.
694
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Interlocução A presença de um destinatário é, sem sombra de dúvidas, a principal diferença entre a dissertação argumentativa e a carta. Na carta, estabelece-se um elo comunicativo entre um emissor e um receptor definidos. Logo, você deverá ser bastante hábil para adaptar a linguagem e a argumentação à realidade desse leitor e ao grau de intimidade estabelecido entre vocês dois. Os argumentos e informações deverão ser compreensíveis ao leitor, próximos da realidade dele. Mas, da mesma maneira que a competência do interlocutor não pode ser superestimada, não pode, é claro, ser menosprezada. Você deve ter bom senso e equilíbrio para selecionar os argumentos e/ou informações que não sejam óbvios ou incompreensíveis àquele que lerá a carta. Normalmente, em produções dissertativas, é recomendado que você evite dirigir-se diretamente ao interlocutor por meio de verbos no imperativo, como “pense”, “veja”, “imagine”. Ao escrever uma carta, no entanto, essa prescrição não tem validade, pois nesse gênero o que há de elemento principal é a interlocução, e o uso de verbos no imperativo é uma excelente marca de interação. Trata-se de uma necessidade da carta fazer o leitor “aparecer” nas suas linhas. Se a carta se direciona para um leitor, é óbvio que ele deve ser evocado no decorrer do texto. Então, verbos no imperativo – que fazem o leitor perceber que é ele o interlocutor – e vocativos são muito bem-vindos.
ATENÇÃO!
É uma falha comum em cartas de exames vestibulares, os candidatos disfarçarem uma dissertação argumentativa em um modelo de carta. Escrevem-se o cabeçalho e o vocativo inicial, mas o corpo do texto não é nada senão uma dissertação, sem nenhum marca de interlocução, um texto que não evoca em momento algum o leitor. Tome cuidado! Na carta, vale reforçar, o leitor “aparece”.
Argumentação
Argumentação por citação Para defender uma ideia, a citação de um argumento afim à sua ideia, e proveniente de uma pessoa de prestígio, renomada na sociedade é uma excelente estratégia argumentativa. A citação deve ser feita entre aspas e deve mencionar o(a) autor(a), além, é claro, de estar articulada com os outros argumentos. Assim, uma citação pode ser apresentada desta maneira: Assim parece ser porque, para Piaget, “toda moral consiste em um sistema de regras e a essência de toda moralidade deve ser procurada no respeito que o indivíduo adquire por essas regras”. A essência da moral é o respeito às regras. A capacidade intelectual de compreender que a regra expressa uma racionalidade em si mesma equilibrada. Argumentação por comprovação A sustentação de um argumento se realiza a partir de informações apresentadas (dados, estatísticas, percentuais) que a acompanham. Um argumento fica muito mais forte e difícil de ser contestado quando acompanhado por um dado estatístico de uma pesquisa. É importante ressaltar que, ao usar essa estratégia argumentativa, deve-se informar a fonte da pesquisa. Observe: O ministro da Educação, Cristovam Buarque, lança hoje o Mapa da Exclusão Educacional. O estudo do Inep, feito a partir de dados do IBGE e do Censo Educacional do Ministério da Educação, mostra o número de crianças de sete a catorze anos que estão fora das escolas em cada estado. Segundo o mapa, no Brasil, 1,4 milhão de crianças, ou 5,5 % da população nessa faixa etária (sete a catorze anos), para a qual o ensino é obrigatório, não frequentam as salas de aula. O pior índice é do Amazonas: 16,8% das crianças do estado, ou 92,8 mil, estão fora da escola. O melhor, o Distrito Federal, com apenas 2,3% (7200) de crianças excluídas, seguido por Rio Grande do Sul, com 2,7% (39 mil) e São Paulo, com 3,2% (168,7 mil).
Fonte: Wikemedia commons
(Mônica Bergamo. Folha de S. Paulo, 3.12.2003)
A argumentação é um recurso textual que tem como intuito persuadir alguém, a fim de alterar a opinião do destinatário. Sempre que argumentamos, temos o propósito de convencer alguém a pensar como nós. No momento da ela-
Argumentação por raciocínio lógico Para a construção de um bom texto argumentativo fazem-se necessários o conhecimento e a fundamentação sobre a questão proposta. É importante distinguir fato de opinião. A criação de relações de causa e consequência é um recurso utilizado para demonstrar que o fechamento de uma ideia é necessário, e não apenas fruto de uma interpretação pessoal que pode ser mais facilmente contestada. Veja: O fumo é o mais grave problema de saúde pública no Brasil. Assim como não admitimos que os comerciantes de maconha, crack ou heroína façam propaganda para os nossos filhos na TV, todas as formas de publicidade do cigarro deveriam ser proibidas terminantemente. Para os desobedientes, cadeia. VARELLA, Drauzio. In: Folha de S. Paulo, 20 de maio de 2000.
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D16 Carta argumentativa
!
boração do texto, os argumentos são essenciais, pois se trata das provas que se apresentam com o fim de defender uma ideia e convencer o leitor de que ela é a correta.
Português
Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01, 02, 03 e 04 Quem é o Grande Irmão? Keila Grinberg
Li recentemente que, depois de Edward Snowden, ex-funcionário da Agência 02 Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, sigla em inglês), ter vazado 03 informações sobre programas de inteligência do país, a venda de exemplares do 04 livro 1984, de George Orwell, cresceu mais de 7.000% no site da Amazon. 05 Achei curioso. Não pela relação, algo óbvia, entre o best-seller escrito em 06 1948 e publicado pela primeira vez, coincidentemente, no mesmo dia 8 de junho, 07 quando estourava o escândalo, e o evento do mês. Afinal, 1984 é justamente a 08 história de uma sociedade na qual o controle total é exercido pelo Grande Irmão, 09 o Big Brother. 10 Embora inspirado diretamente nos regimes totalitários das décadas de 1930 e 11 1940, no livro, a história se passa em uma sociedade liberal-democrática, na qual 12 Winstom Smith, o personagem principal, representa o cidadão comum vigiado o 13 dia inteiro pelas teletelas e pelo Partido. 14 No romance, Smith sabe que toda atitude suspeita é passível de denúncia à 15 Polícia do Pensamento e que qualquer ato considerado dissidente pode originar 16 uma denúncia. O que Snowden está mostrando é que, ao usar serviços de 17 empresas como o Skype, o Google (“don’t be evil”), o Facebook e a Verizon (esta 18 última, empresa de telefonia norte-americana), nossas conversas podem ser 19 ouvidas em tempo real, nossos e-mails podem ser lidos, nossas ligações 20 telefônicas podem ser rastreadas. A diferença é que ninguém precisa denunciar. 21 Nós mesmos alegremente abrimos mão da nossa privacidade, continuando a 22 usar os serviços dos gigantes da internet. Ou você viu por aí alguém protestando 23 contra o uso do Gmail? 24 Orwell imaginou um mundo de vigilância total, mas ele mesmo viveu uma 25 realidade totalmente diferente desta. Ao mesmo tempo em que publicava 1984, 26 Orwell mandava sua própria lista de suspeitos de comunismo a sua amiga Celia 27 Kirwan, que trabalhava no Information Research Department (IRD) do Foreign 28 Office inglês. A lista contém 38 nomes de jornalistas e escritores que, segundo 29 sua opinião, “eram criptocomunistas” ou simpatizantes. 30 Claro que, como todo texto tem seu contexto de produção, a lista de Orwell 31 também tem sua época. Ele era um importante liberal antissoviético e, em 1949, 32 muito doente, quatro anos depois da publicação de seu libelo A revolução dos 33 bichos, estava convencido de que a Inglaterra e os demais países ocidentais 34 perderiam a guerra ideológica contra a União Soviética. O que, evidentemente, 35 não o
D16 Carta argumentativa
01
696
desculpa. Ainda mais ao sabermos que seu caderninho de anotações 36 continha várias outras observações, como as variações pejorativas do termo 37 “judeu” (“judeu polonês”, “judeu inglês”), chegando mesmo a se perguntar se 38 Charlie Chaplin seria um deles (não era). 39 A lista e o caderninho de Orwell só tornam mais irônico o fato de ter se 40 tornado, post mortem – ele faleceria no início de 1950 –, o símbolo da 41 independência política e da defesa da liberdade de pensamento contra os 42 excessos de qualquer Estado. Quem lê 1984 hoje, “um livro péssimo”, segundo o 43 já bastante deprimido Orwell, procura essa reflexão. 44 Mas irônico mesmo é saber que Orwell foi genial ao imaginar e descrever uma 45 sociedade que ele de fato não chegaria a conhecer, mas não teria como antever 46 que seu caderno de anotações e suas listas de suspeitos seriam hoje 47 desnecessários: na era da conexão total, nós nos tornamos informantes de nós 48 mesmos. Fonte: Ciência Hoje On-line, 21 jun. 13. Disponível em: <http:// cienciahoje.uol.com.br/colunas/emtempo/ quem-e-o-grande-irmao>. Acesso em: 18 ago. 15. (Adaptado.)
01. (UCS RS) Conforme o texto, é correto afirmar que a) o reality show de televisão Big Brother se baseia no livro 1984. b) gera curiosidade para Grinberg a relação entre o caso Snowden e as vendas do livro 1984. c) é preciso denunciar a vigilância eletrônica exercida sobre os cidadãos. d) Snowden denunciou a vigilância de grandes empresas sobre os cidadãos por meio do site da Amazon. e) é preferível abrir mão da privacidade para usar os serviços eletrônicos. 02. (UCS RS) Segundo o texto, é correto afirmar que a) Orwell viveu uma realidade similar à retratada por ele em sua obra. b) 1984 é um livro de qualidade inferior às demais obras do autor. c) Chaplin foi um dos denunciados por Orwell em sua lista de simpatizantes do comunismo. d) as convicções de Orwell o isentam de ter denunciado cidadãos comunistas ao governo. e) a diferença entre a realidade atual e a obra 1984 é que as pessoas já são vigiadas, mesmo sem denúncia. 03. (UCS RS) De acordo com o texto, é correto afirmar que I. Orwell conviveu com a vigilância iminente do governo em sua vida privada. II. os criptocomunistas, para Orwell, eram mais perigosos que os cidadãos abertamente comunistas. III. Orwell tinha a convicção de que o Ocidente perderia a batalha de ideologias contra a União Soviética.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Das proposições acima, a) apenas I está correta. b) apenas II está correta. c) apenas III está correta. d) apenas I e II estão corretas. e) apenas II e III estão corretas. 04. (UCS RS) Com base no texto, é correto afirmar que I. a autora considera estranho o fato de Orwell ter imaginado uma sociedade em que não viveu.
II. III.
1984 foi inspirado nos governos totalitários da primeira metade do século XX. 1984 é uma crítica contundente ao comunismo.
Das proposições acima, a) apenas I está correta. b) apenas II está correta. c) apenas III está correta. d) apenas I e II estão corretas. e) I, II e III estão corretas.
Exercícios Complementares
DUFOUR, Dany-Robert. O divino mercado: a revolução cultural liberal. Rio de Janeiro: Cia de Freud, 2008. p. 23-24. (Adaptado).
A tese central do texto repousa sobre um paradoxo, que consiste no seguinte: a) se por um lado as pessoas são efetivamente iguais em direitos e deveres, característica das democracias liberais, por outro são estimuladas a entender o que isso de fato significa e a buscar meios eficazes para exercer a liberdade de pensamento e de ação. b) existe nas democracias liberais um discurso de valorização e promoção da liberdade, segundo o qual se pode fazer tudo que se quer, mas na verdade as pessoas são conduzidas a fazer parte de um rebanho, que consente em querer o que lhe dizem que deve querer. c) as democracias liberais visam à promoção efetiva da liberdade individual, por meio da conscientização das pessoas quanto aos modos de existência pessoal, e ao mesmo tempo estimulam os indivíduos a viverem de modo mais altruísta e menos egoísta. d) a sociedade atual se caracteriza pela valorização da consciência individual e pela busca da liberdade, ao mesmo tempo em que o indivíduo é estimulado a não aceitar que lhe digam o que deve pensar ou fazer, já que isso fere sua liberdade individual. 02. (Puc RS) Analise o gráfico com dados referentes aos países com mais cientistas no exterior.
Adaptado de: Histórias de cientistas brasileiros ajudam a explicar o fenômeno da exportação de cérebros. Zero Hora, Planeta Ciência. 24/7/2015.
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D16 Carta argumentativa
01. (UEG GO) O EGOÍSMO GREGÁRIO COMO PRINCÍPIO DO REBANHO PÓS-MODERNO 1 Estamos numa época de promoção do egoísmo, de produção de egos tanto mais cegos ou cegados 2 que não percebem o quanto podem hoje ser recrutados em conjuntos massificados. Em outras palavras, 3 vemos egos, isto é, pessoas que se creem iguais e que, na realidade, passaram a ficar sob o controle do 4 que se deve bem chamar “o rebanho”. Viver em rebanho fingindo ser livre nada mais mostra que uma 5 relação consigo catastroficamente alienada, uma vez que supõe ter erigido como regra de vida uma relação 6 mentirosa consigo mesmo. E, a partir daí, com os outros. Assim, mentimos despudoradamente aos outros, 7 àqueles que vivem fora das democracias liberais, quando lhes dizemos que acabamos – com algumas 8 maquininhas à guisa de presentes ou de armas nas mãos em caso de recusa – de lhes trazer a liberdade 9 individual; na realidade, visamos, antes de tudo, fazer com que entrem no grande rebanho dos 10 consumidores. 11 Mas qual é, perguntarão, a necessidade dessa mentira? Por que precisamos fazer crer que somos 12 livres quando vivemos em rebanho? E por que precisamos fazer outros crerem que são livres quando 13 vamos colocá-los em rebanho? A resposta é simples. É preciso que cada um vá livremente na direção das 14 mercadorias que o bom sistema de produção capitalista fabrica para ele. Digo bem “livremente” pois, 15 forçado, resistiria. Ao passo que livre, pode consentir em querer o que lhe dizem que deve querer enquanto 16 cidadão livre. A obrigação permanente de consumir deve, portanto, ser redobrada por um discurso 17 incessante de liberdade, de uma falsa liberdade, é claro, entendida como permissão para fazer “tudo o que 18 se quer”. Esse duplo discurso é exatamente o das democracias liberais, descambem para a direita ou para 19 a esquerda. É pelo egoísmo que se deve agarrar os indivíduos para arrebanhá-los, pois é o meio mais 20 econômico e racional de ampliar sempre mais as bases do consumo de um conjunto de pessoas 21 permanentemente levadas para necessidades reais ou, quase sempre, supostas.
Português
A partir da análise do gráfico, pode-se concluir que a) Suíça, Reino Unido e Holanda são os países com mais cientistas estrangeiros. b) Espanha e Brasil estão à frente dos Estados Unidos na importação de cientistas estrangeiros. c) quanto menor o percentual de cientistas no exterior, maior é o avanço tecnológico do país. d) enquanto o Japão desponta como o país com menor percentual de cientistas no exterior, a Suíça destaca-se como o maior exportador de cérebros. e) a proximidade, no gráfico, do Brasil com os Estados Unidos sinaliza o fato de que o nosso desenvolvimento tecnológico não está tão atrasado. 03. (FGV) Leia a manchete.
(Folha de S.Paulo, 28.08.2015. Adaptado)
D16 Carta argumentativa
No contexto em que está empregada, a expressão “com a disparada de Vale e Petrobras” traduz sentido de a) comparação e, de acordo com a norma-padrão, poderia ser substituída por “tal como a disparada de Vale e Petrobras”. b) causa e, de acordo com a norma-padrão, poderia ser substituída por “devido à disparada de Vale e Petrobras”. c) tempo e, de acordo com a norma-padrão, poderia ser substituída por “concomitantemente à disparada de Vale e Petrobras”. d) consequência e, de acordo com a norma-padrão, poderia ser substituída por “por causa da disparada de Vale e Petrobras”. e) conformidade e, de acordo com a norma-padrão, poderia ser substituída por “segundo a disparada de Vale e Petrobras”. 04. (FGV) Na virada do século, chegou o euro. Na prática, era como se o marco alemão mudasse de nome para “euro” e passasse a suprir o resto do continente (a maior parte dele, pelo menos). Parecia bom para todas as partes. Os governos dos países menos pibados passariam a receber os impostos dos seus cidadãos em euros, uma moeda garantida pelo PIB alemão. Impostos servem para pagar as dívidas dos governos – além da lagosta dos governantes. E agora os contribuintes pagavam em euros. Resultado: o mercado passou a emprestar para os países bagunçados da Europa a juros baixíssimos. Aí choveu euro na periferia da Europa. A economia ali cresceu como nunca, mas os governantes gastaram como sempre. Além disso, não perceberam que seus países eram pequenos demais para suportar o peso de uma moeda forte. Com os PIBs dos europobres caindo, a arrecadação deles diminuiu. Menos arrecadação, mais problemas para pagar dívidas. Aí tome mais dinheiro emprestado para ir rolando a pendura, só que agora a juros menos fofos. (Superinteressante, agosto de 2015. Adaptado)
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Ao discutir a adoção do euro como moeda entre os países europeus, o autor mostra que a) a nova moeda, em razão de sua estabilidade, permitiu que os países da Europa com fragilidade econômica pudessem tomar empréstimos a juros mais baixos, o que garantiu o fortalecimento das economias e dos governos. b) a moeda alemã acabou se tornando a garantia da nova moeda, graças ao PIB do país. Isso, aliado ao aquecimento da economia na periferia da Europa, acabou por equalizar as dívidas da maior partes dos países de menor PIB. c) os países com menor PIB acabaram tendo a ilusão de que a nova moeda seria a redenção de suas economias, o que de fato não aconteceu, pois, entre outros fatores, houve queda de arrecadação e mantiveram-se os gastos do governo. d) a fragilidade da nova moeda acabou por abalar a economia de países estáveis, como a Alemanha, que, assim como os europobres, viu diminuir a arrecadação de impostos e, consequentemente, teve de recorrer a empréstimos. e) os países que passaram a tomar mais dinheiro emprestado por conta da queda na arrecadação fizeram com que a nova moeda, inicialmente forte, passasse a se fragilizar ante um cenário de pouca arrecadação e de endividamento. Texto comum às questões 05 e 06 01 Para quase todos os brasileiros, o último 20 de julho 02 não passou de mais um dia comum. É uma pena que seja 03 assim, pois o dia deveria ser reverenciado por todos nós, 04 brasileiros, como uma das grandes datas da nossa história. 05 Poucos sabem, mas nesse dia comemora-se o aniversário 06 do maior e mais consagrado cientista brasileiro 07 de todos os tempos. Há 130 anos nascia Alberto Santos 08 Dumont (1873-1932), um mineiro que ousou voar como 09 os pássaros e teve o desplante de realizar seu sonho aos 10 olhos de todo o mundo. Nada de voos secretos, numa 11 praia deserta da Carolina do Norte, sem documentação 12 imparcial, como fizeram os irmãos Wright. Não. Santos 13 Dumont “matou a cobra”, repetidamente, para o delírio do 14 povo de Paris, que testemunhou a audácia, a coragem e 15 o jeitinho brasileiro de fazer ciência. Adaptado de: NICOLELIS, Miguel A.L. É preciso sonhar grande. Disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993, ECT611130-1726,00. html. Publicado em 2003 e acessado em 09 set. 2015.
05. (Puc RS) Ao estabelecer uma comparação entre Santos Dumont e os irmãos Wright, o autor destaca a) a falta de incentivo aos cientistas brasileiros. b) o ineditismo da invenção de nosso compatriota. c) o valor que os brasileiros dão ao que vem de fora. d) os métodos pouco convencionais de fazer ciência no Brasil. e) a importância de um cientista não ter receio de expor seu trabalho. 06. (Puc RS) A leitura do texto NÃO permite concluir que a) os voos dos irmãos Wright foram documentados. b) Santos Dumont voou mais de uma vez nos céus de Paris. c) muitos brasileiros ignoram a data de nascimento de Santos Dumont. d) o dia 20 de julho deveria ser tratado como uma das grandes datas da nossa história. e) Santos Dumont é, aos olhos dos brasileiros, o mais consagrado cientista de todos os tempos.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (USF SP) O charme de Madureira
Bailes suingados na terra do samba por JOÃO CARVALHO
Faltavam poucos minutos para as oito e meia da noite de uma segunda-feira, em julho, quando umas três dezenas de pessoas caminharam apressadas para baixo do viaduto Prefeito Negrão de Lima, em Madureira, no subúrbio carioca. Ia à frente um rapaz de cabelos curtos, tingidos de castanho-claro e raspados nas laterais. Tão logo atravessou o portão que dá acesso a uma extensa pista de dança sob o elevado, Eduardo Gonçalves, de 30 anos, tratou de ir até a área aos fundos, onde ficam os banheiros. Espetou uma das pontas de um fio desencapado na tomada e emendou a outra a cabos elétricos que saíam da parede. Estava ligada a caixa de som que – conectada a um celular – embalaria mais uma oficina de charme do Viaduto de Madureira. Ao notar que a instalação improvisada por Gonçalves fora bem-sucedida, Lucas Leiroz não perdeu tempo. O baixinho de 18 anos com piercing no nariz e a cabeça coberta por um boné de tamanho exagerado organizou os alunos da turma de iniciantes em pequenas fileiras. Disponível em: <http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-108/esquina/ocharme-de-madureira>. Acesso em: 20/09/2015, às 17h (excerto).
Os textos são produzidos, entre outras características, de acordo com sua finalidade discursiva. Sobre o excerto de “O charme de Madureira”, é possível afirmar corretamente que a) os fatos estão descaracterizados devido à perceptível falta de experiência do narrador. b) a sequência de ações ocorre em tempo psicológico, por se tratar de um texto de ficção. c) a posição do narrador em relação aos fatos é de quem os está julgando negativamente. d) o uso de verbos no pretérito perfeito ocorre por tratar-se de uma transposição de discurso. e) o predomínio dos verbos em terceira pessoa coloca o narrador como observador das ações. 02. (Unirg TO) Então é assim? Eu, que sempre fui o gostosão, que te dei prazer em noites solitárias, em escapadinhas pecaminosas, fui rebaixado. Humilhado. Não que a fama de mau não me caia bem. Mas desta vez fui tachado de maligno. De cancerígeno. A Organização Mundial de Saúde (OMS) se organizou para me desmoralizar. Juntou 22 experts de dez países para avaliar 800 estudos sobre meus efeitos nos corpinhos e corpanzis mundo afora. A conclusão: há indícios suficientes nessas pesquisas para afir-
mar que, quanto mais você me come, maior seu risco de ter câncer. Muitos já suspeitavam que eu não fazia bem quando comido exageradamente – e meus fãs raramente são moderados. Agora, a OMS crava que a suspeita estava correta. Se você sucumbe a 50 gramas, ou duas míseras fatias, de minha delícia por dia, seu risco de câncer colorretal aumenta em 18%. Não satisfeitos, esses especialistas me colocaram na mesma categoria de substâncias vis, como o cigarro, o álcool e até o amianto. Aí, não. [...] Meu nome vem do francês e do alemão arcaicos, de palavras que remetiam a “back”, ou às costas do porco. Da barriga ou do lombo, estou aí derretendo e entupindo corações há séculos. [...] Enfim, a OMS rebaixou, junto comigo, boa parte de meus parentes. Salsicha, presunto, salame, linguiça... Estão todos desolados. Mais tristes do que Plutão depois de virar planeta-anão. O ministro da Agricultura da Alemanha, Christian Schmidt, foi solidário. Disse que ninguém deve ter medo de uma salsicha de vez em quando. Quem me conhece sabe que eu não poderia concordar mais. Milhares de admiradores se mobilizaram em minha defesa. Foram às redes sociais para gritar ao mundo, em CAPS LOCK, que nada vai atrapalhar nosso amor. Muitos preferem a morte. #FREEBACON. Fiquei comovido, galera. Valeu, mesmo! TAVARES, Flávia. Época. 2 de nov. 2015. n. 908. p. 20-21.
A identidade do narrador é evidenciada quando ele fala sobre: a) o pronunciamento do ministro da Agricultura da Alemanha em relação à SALSICHA. b) o percentual de riscos de câncer colorretal, revelando o malefício do CIGARRO. c) a declaração de amor dos internautas ao criarem a hashtag #FREEBACON. d) a origem do seu nome que se relaciona a back, do Inglês, e traduzida como LOMBO. 03. (Unirg TO) Então é assim? Eu, que sempre fui o gostosão, que te dei prazer em noites solitárias, em escapadinhas pecaminosas, fui rebaixado. Humilhado. Não que a fama de mau não me caia bem. Mas desta vez fui tachado de maligno. De cancerígeno. A Organização Mundial de Saúde (OMS) se organizou para me desmoralizar. Juntou 22 experts de dez países para avaliar 800 estudos sobre meus efeitos nos corpinhos e corpanzis mundo afora. A conclusão: há indícios suficientes nessas pesquisas para afirmar que, quanto mais você me come, maior seu risco de ter câncer. Muitos já suspeitavam que eu não fazia bem quando comido exageradamente – e meus fãs raramente são moderados. Agora, a OMS crava que a suspeita estava correta. Se você sucumbe a 50 gramas, ou duas míseras fatias, de minha delícia por dia, seu risco de câncer colorretal aumenta em 18%. Não satisfeitos, esses 699
Português
especialistas me colocaram na mesma categoria de substâncias vis, como o cigarro, o álcool e até o amianto. Aí, não. [...] Meu nome vem do francês e do alemão arcaicos, de palavras que remetiam a “back”, ou às costas do porco. Da barriga ou do lombo, estou aí derretendo e entupindo corações há séculos. [...] Enfim, a OMS rebaixou, junto comigo, boa parte de meus parentes. Salsicha, presunto, salame, linguiça... Estão todos desolados. Mais tristes do que Plutão depois de virar planeta-anão. O ministro da Agricultura da Alemanha, Christian Schmidt, foi solidário. Disse que ninguém deve ter medo de uma salsicha de vez em quando. Quem me conhece sabe que eu não poderia concordar mais. Milhares de admiradores se mobilizaram em minha defesa. Foram às redes sociais para gritar ao mundo, em CAPS LOCK, que nada vai atrapalhar nosso amor. Muitos preferem a morte. #FREEBACON. Fiquei comovido, galera. Valeu, mesmo! TAVARES, Flávia. Época. 2 de nov. 2015. n. 908. p. 20-21.
A identidade do narrador é evidenciada quando ele fala sobre: a) o pronunciamento do ministro da Agricultura da Alemanha em relação à SALSICHA. b) o percentual de riscos de câncer colorretal, revelando o malefício do CIGARRO. c) a declaração de amor dos internautas ao criarem a hashtag #FREEBACON. d) a origem do seu nome que se relaciona a back, do Inglês, e traduzida como LOMBO.
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
04. (Unifor CE) O MISTÉRIO DO DICIONÁRIO “Inexplicável”, no dicionário “Caldas Aulet”, quer dizer: “1. Difícil ou impossível de ser explicado ou compreendido, ininteligível; 2. Insondável, imperscrutável; 3. Estranho, esquisito, bizarro”. É a palavra para o que tem ocorrido nas escolas estaduais ocupadas no Rio de Janeiro. Os alunos têm encontrado livros encaixotados, nunca disponibilizados aos estudantes. Em pelo menos três delas, das quais a coluna recebeu fotos, um título se repete: o “Novíssimo Aulete (Lexikon). A coluna apurou que os volumes encontrados fazem parte de um lote de 290.690 exemplares, distribuídos pelo Programa Nacional do Livro Didático em 2013 (ano em que o MEC comprou 8,7 milhões de dicionários). Portanto, estão encaixotados há três anos. As escolas são a Visconde Cairu, a Oscar Tenório e a Gomes Freire de Andrade. A coluna tentou falar com a diretoria delas, mas não conseguiu, porque elas estão ocupadas. Maurício Meireles. Painel das Letras. Folha de S. Paulo, 7 de maio de 2016.
O discurso jornalístico, assim como a maior parte da argumentação polêmica e das temáticas tidas como polêmicas, apoia-se em recursos sintáticos para construir e ou reforçar sua eficácia de acordo com o efeito de sentido que pretende produzir. No trecho: “A coluna tentou falar com a diretoria delas, mas não conseguiu, porque elas estão ocupadas”, encontra-se como estratégia argumentativa a a) refutação. d) lógica. b) ironia. e) autoridade. c) consenso. 700
05. (FCM MG) TROTE NUNCA MAIS Eu tive taquicardia e as tripas reviraram quando vi na televisão as novas cenas de violência nos trotes universitários. Lembrei as humilhações que sofri no meu ingresso na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco. Sempre evito escrever sobre o assunto porque não contenho a raiva. Pedro Almodóvar relutou em filmar Má educação, pois não se distanciara bastante dos sofrimentos da infância e adolescência. No filme Os sete samurais, do japonês Akira Kurosawa, um mestre observa dois samurais que se preparam para lutar e informa ao discípulo qual deles irá morrer. O jovem pergunta como ele sabe isso e o mestre responde que o futuro morto é o que expressa raiva. É possível atenuar o rancor, escrevendo sobre ele. No Recife já não existem trotes, apenas calouradas, festejos para acolher os novos alunos. Mas foi no Recife que aconteceu o primeiro caso de morte em consequência de um trote, quando mataram a facadas o estudante de direito Francisco Cunha e Menezes, no ano de 1831. Vindo desde a Idade Média, o costume ganhou prestígio em Portugal, sobretudo na Universidade de Coimbra, e de lá, como tudo o mais que não presta, veio para o Brasil. Nos primeiros anos da ditadura militar, o trote era um recurso de expressão e protesto dos jovens estudantes, uma forma de fazer política. Em 1968, o AI-5 fechou o Congresso Nacional e os trotes foram reprimidos, descambando para a violência. Foi nesse clima de terror que me apresentei para a matrícula no curso de medicina. Eu era um estudante vindo do interior do Ceará, que frequentara apenas quatro meses de cursinho, pobre, tímido e feio. Com todos esses predicados desfavoráveis, eu abocanhara uma boa classificação no vestibular das duas faculdades públicas. Um dos primeiros maus-tratos a que os alunos do segundo e terceiro ano me submeteram foi raspar minha cabeça, expondo o crânio nada bonito. Depois me obrigaram a despir a camisa e baixar a calça para jogarem os meus cabelos dentro dela. Subjugado como um judeu num campo de concentração, ou como o próprio Cristo, me empurraram, espancaram, e fizeram de minha perplexidade motivo de riso e vaias. O pior estava por vir. Obrigaram-me a rolar pelos gramados do pátio e em seguida mergulhar cinco vezes num esgoto a céu aberto, que corria por dentro da faculdade. Meus algozes eram estudantes de medicina e sabiam dos riscos a que estavam me submetendo. No primeiro ano de curso, os colegas dos anos superiores me aterrorizavam mais do que a polícia da repressão. Eu não compreendia como jovens de classe média que frequentaram bons colégios e que agora estudavam medicina, uma profissão de elite, se entregavam a tais vandalismos. Não achava a menor graça no comportamento cafajeste e infantil de boa parte deles e atribuía à repressão da ditadura o fato de se manterem alienados da política, da cultura e dos valores éticos e filosóficos da profissão para a qual se preparavam. Passados tantos anos, esquecidos os fantasmas do Quarto Exército, em alguns lugares do Brasil, a instituição do trote continua
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
(BRITO, Ronaldo Correia de. Crônicas para ler na escola. R.J.: Fontanar, 2012, p.69-71.)
O texto NÃO se caracteriza por conter: a) Valorização da metalinguagem como expediente de digressão literária. b) Abordagem de diferentes períodos históricos no tratamento de um tema. c) Utilização da prática da intertextualidade como reforço de argumentação. d) Narração de fatos vivenciados pelo autor, corroborando a gravidade do assunto. 06. (Acafe SC) APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA! Tenho sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa. Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado, mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranquilamente. Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram-me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível. Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: – Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara! Passados menos de três minutos, estavam na minha rua cinco carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia. No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse: – Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão. Eu respondi: – Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/OTQzODk4/. Acesso em: 27/08/2015. Adaptado. (Autor desconhecido, mas há quem atribua a autoria a Luis Fernando Verissimo.)
Sobre o texto, é correto o que se afirma em: a) O narrador deu dois telefonemas para a polícia: no primeiro, ele falou a verdade, e a polícia respondeu supostamente com uma mentira; no segundo, contou uma mentira, e a polícia entrou em contradição. b) A oração “[...] que não perderiam isso por nada neste mundo” é ambígua, pois o pronome relativo “que” pode tanto retomar “uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos” quanto retomar apenas “a turma dos direitos humanos”. c) Em “Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia”, ocorre apenas um pronome, e esse pronome retoma “o ladrão”. d) Na frase “Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível”, todos os “quês” têm a mesma função sintática, isto é, funcionam como conjunções integrantes. 07. (Cefet MG)
Lanchinho de avião Drauzio Varella
1º§ A comissária de bordo pede para afivelarmos os cintos e desligarmos os celulares. O comandante avisa que a decolagem foi autorizada, a aeronave ganha velocidade na pista e levanta voo. Pela janela, São Paulo vira um paliteiro de prédios espetados um ao lado do outro. Um pouco mais à frente, a periferia inchada, com ruas tortuosas e casas sem reboque, abraça o centro da cidade como se fosse esganá-lo. 2º§ Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os computadores podem ser ligados. Junto à porta de entrada, as comissárias se levantam e preparam o carrinho de lanches. De fileira em fileira, perguntam o que cada passageiro deseja beber. No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa de café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do que o sorriso da mulher amada. O rapaz à minha direita prefere suco de manga; o da esquerda quer um de pêssego. Agradeço, não quero nada. A moça estranha: “Nada, mesmo?”. 3º§ Em seguida, ela nos estende a mão que oferece um objeto ameaçador, embrulhado em papel branco. Em seu interior, um pão adocicado cortado ao meio abriga uma fatia de queijo e outra retirada do peito de um peru improvável. No reflexo, encolho as pernas. Se, porventura, um embrulho daqueles lhe escapa da mão e cai em meu pé, adeus carreira de maratonista. [...] 4º§ O comandante informa que, em Belo Horizonte, o tempo é bom e que nosso voo terá duração de 40 minutos. São dez e meia, é pouco provável que os circunstantes tenham saído de casa em jejum. O que os leva a devorar no meio da manhã 500 calorias adicionais, com gosto de isopor? Qual é o sentido de servir comida em voos de 40 minutos? 5º§ Cerca de 52% dos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com o excesso de peso, taxa que nove anos atrás era de 43%. Já caíram na faixa da obesidade 18% de nossos conterrâneos. Os que visitam os Estados Unidos ficam chocados com o padrão e a prevalência da obesidade. Lá, a dieta e a profusão de alimentos consumidos até em elevadores conseguiram a proeza de engordar todo mundo; não escapam japoneses, vietnamitas nem indianos. 701
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
fazendo suas vítimas. Bem recentemente, numa faculdade de medicina, onde se formam pessoas para cuidar da saúde e restituir a vida, um jovem calouro foi morto. E uma estudante de pedagogia queimou sem escrúpulo suas futuras colegas de educação. Não era por culpa da ditadura militar que os piores instintos afloravam nos jovens promovedores dos trotes. Não era. A prova é que continuam aflorando em tempos de democracia. O trote “se sustenta na ameaça e promove o terror”, como afirma Paulo Denisar Fraga. O mesmo exercício da ditadura no passado recente.
Português
6º§ As silhuetas de mulheres e homens com mais de 120 quilos pelas ruas e shopping centers deixam claro que existe algo profundamente errado com os hábitos alimentares do país. Nossos números mostram que caminhamos na esteira deles. Chegaremos lá, é questão de tempo; pouco tempo. 7º§ A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente do computador, as comodidades da rotina diária e a oferta generosa de bebidas e alimentos industrializados repletos de gorduras e açúcares que nos oferecem a toda hora criaram uma combinação perversa que conspira para o acúmulo de gordura no corpo. 8º§ Os que incorporaram as 500 calorias em excesso no caminho para Belo Horizonte só o fizeram porque o lanche lhes foi servido. Milhões de anos de evolução, num mundo com baixa disponibilidade de recursos, ensinaram o corpo humano a comer a maior quantidade disponível a cada refeição, única forma de sobreviver aos dias de jejum que fatalmente viriam. 9º§ Engendrado em tempos de miséria, o cérebro humano está mal adaptado à fartura. A saciedade à mesa só se instala depois de ingerirmos muito mais calorias do que as necessárias para cobrir os gastos daquele dia. A seleção natural nos ensinou a não desperdiçá-las, o excesso será armazenado sob a forma de gordura. 10º§ O tecido gorduroso não é um reservatório inerte, produz hormônios, libera mediadores químicos que interferem com o metabolismo e o equilíbrio entre fome e saciedade. E, o mais grave, dá origem a um processo inflamatório crônico que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, vários tipos de câncer e de outros males que infernizam e encurtam a vida moderna. 11º§ Por essas e outras razões, caríssimo leitor, é preciso olhar para a comida como fazemos com a bebida: é bom, mas em excesso faz mal. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05 set. 2015. (Adaptado).
O objetivo central do texto é a) denunciar as companhias áreas pela falta de qualidade dos lanches servidos nos voos. b) alertar os leitores sobre as consequências para saúde do consumo excessivo de calorias. c) apontar os Estados Unidos como os responsáveis pelo aumento da obesidade no mundo. d) explicar as razões que levam as pessoas a ingerirem mais comida do que necessitam. 08. (Acafe SC) IDEOLOGIA DE GÊNERO? FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
Elvira Simões Barretto (Professora da UFAL)
Outro dia, estando no elevador, entra uma vizinha, mãe de uma criança de 5 anos, e me diz: “Que bom te ver. Sei que você gosta dessas histórias de gênero... estou assustada recebendo umas mensagens dizendo que o governo quer impor uma ideologia de gênero para as crianças na escola, desde pequenininhas. Mandaram umas cartilhas e estou em pânico; uma coisa horrível”. Nesse mesmo dia, no supermercado, uma conhecida proprietária de uma escola, aborda-me aflita: “[...] Meu Deus... é verdade o que vai acontecer? Nós vamos ter que trabalhar aquelas cartilhas absurdas para as crianças? E essa ideologia de gênero? A gente tem que ensinar às crianças que não existe nem homem nem mulher e incentivar a homossexualidade?” 702
Passando os dias, fui ficando assustada, pois percebi que havia se instalado uma histeria coletiva em torno do assunto. Vou compartilhar um pouco do que conversei com algumas pessoas. Vejamos: não existem, de forma alguma, cartilhas para introduzir a “ideologia de gênero” nas escolas. O que vem circulando na internet, no whatsApp e outras mídias não passa de especulações vulgares para confundir, irresponsavelmente, o que realmente está posto para debate e análise, ou seja, a versão preliminar do Plano Estadual de Educação (PEE), encaminhado para a Assembleia Legislativa, aberto para apreciação até o momento de aprovação no parlamento. Sobre a chamada “ideologia de gênero”, desconheço formulação séria e fundamentada dessa terminologia tendenciosa. É importante saber que existem importantes trabalhos de pesquisadores/as, junto com a UNESCO, entre outros órgãos nacionais e internacionais, que se debruçam em questões centrais da vida em sociedade, desde a expressão contundente de barbárie humana, como extermínio de judeus e homossexuais através do nazismo, na Segunda Guerra Mundial. Há de se convir que, ainda hoje, deparamo-nos com traços de barbárie no cotidiano, as distintas expressões de violência, a exemplo: abuso sexual, tráfico de pessoas, mortes de mulheres por parceiros afetivos, assassinato de jovens do sexo masculino, assassinato de pessoas homoafetivas, suicídio de homens em situação de desemprego, perseguição e morte de pessoas de religião de matriz africana. Temas como gênero e diversidade, entre muitos outros, tratados no PEE, trazem a possibilidade de delinear processos educativos que rompam com a cultura da violência. O problema não é que menino jogue bola ou brinque com dardos, que menina brinque de boneca e de casinha. A questão é a violência da interdição na ultrapassagem dessas fronteiras. Trabalhar a educação para a igualdade das relações de gênero e diversidade, entre outros aspectos, é dizer não à violência. É vislumbrar uma sociedade que não reproduza, por exemplo, homens embrutecidos, autores de violência contra si mesmo e ao outro do mesmo sexo, contra pessoas que fogem do padrão de sexualidade e contra parceiras afetivas. Disponível em: http://www.cress16.org.br/noticias/ ideologia-de-genero. Acesso em: 29/08/2015. Adaptado.
Relativamente ao texto, todas as alternativas estão corretas, exceto a: a) A respeito das cartilhas sobre gênero, o texto apresenta duas informações contraditórias: no primeiro parágrafo, a mãe de uma criança de 5 anos, afirma que “mandaram umas cartilhas” [sobre gênero]; no terceiro parágrafo, a autora nega a existências de cartilhas sobre “ideologia de gênero”. b) O principal argumento da autora do texto 1 para justificar a inclusão do tema gênero e diversidade nas escolas fundamenta-se na possibilidade de desenvolver processos educativos que se contraponham à cultura da violência. c) A motivação para a produção do texto 1 tem origem no que está posto, para debate e análise, no Plano Estadual de Educação, em apreciação na Assembleia Legislativa, ou seja, a introdução do tema gênero e diversidade nas escolas de Alagoas. d) De acordo com a autora, as manifestações contrárias ao que foi proposto no Plano Estadual de Educação pelos representantes da Universidade Federal de Alagoas têm origem em setores conservadores da sociedade, com apoio de pessoas ignorantes, via redes sociais.