Coleção 10 V - Livro 1 - Português- Aluno

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Murilo Amaral Shyrley Bernadelli


shutterstock.com / pio3

FRENTE

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PORTUGUÊS Por falar nisso À medida que a sociedade vem se transformando e se tornando mais complexa, a língua de um povo também acompanha tais mudanças. Língua não é algo estático ou imutável, nem deve ser. A maneira como se fala, as gírias, expressões idiomáticas, construções frasais, tudo isso marca uma geração, uma época. Nesse sentido, o estudo do processo de comunicação humana está ligado à compreensão dos sentidos situados em quaisquer épocas, e um livro que descreve esse processo deve estar consciente disso. Ademais, como disse Gonçalves Dias, poeta brasileiro do século XIX: “Não se repreende de leve num povo o que geralmente agrada a todos”. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A01 A02 A03 A04

Introdução aos estudos da linguagem.......................................... 526 Noções de fonologia...................................................................... 529 Acentuação gráfica........................................................................ 534 Ortografia....................................................................................... 541


FRENTE

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PORTUGUÊS

MÓDULO A01

ASSUNTOS ABORDADOS nn Introdução aos estudos da

linguagem

nn Três concepções de língua e várias gramáticas nn Gramática no cotidiano nn Gramática na poesia

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA LINGUAGEM Língua, linguagem, discurso. Todos esses três termos, à primeira vista, parecem equivalentes ou até sinônimos, embora as distinções que os singularizam sejam bastante pertinentes aos estudos que tangem a interação por meio da linguagem. Desse modo, segundo os linguistas Celso Cunha e Lindley Cintra: 1) Linguagem é um conjunto complexo de processos [...] que torna possível a aquisição e o emprego concreto de uma língua qualquer. Usa-se também o termo para designar todo sistema de sinais que serve de meio de comunicação entre os indivíduos. 2) Língua é um sistema gramatical pertencente a um grupo de indivíduos. [...] Utilização social da faculdade da linguagem, criação da sociedade, não pode ser imutável; ao contrário, tem de viver em perpétua evolução, paralela à do organismo social que a criou. 3) Discurso é a língua no ato, na execução individual. E, como cada indivíduo tem em si um ideal linguístico, procura ele extrair do sistema idiomático de que se serve as formas do enunciador que melhor lhe exprima o gosto e o pensamento.

Três concepções de língua e várias gramáticas No transcurso dos estudos da linguagem, diferentes linguistas propuseram variados conceitos e definições acerca do significado de língua. Desse estudo, destacaram-se três vertentes: língua como expressão do pensamento, como ato de comunicação e como meio de interação. A primeira significação entende a língua como um sistema de regras que prescreve a melhor expressão de uma ideia, portanto, julga-se a estrutura que constitui e concretiza esse pensamento, sendo descartada aquela que não seguir a norma pré-determinada. Entender a língua como ato de comunicação, leva-nos a considerar mais maneiras de proferir uma ideia ou um discurso, uma vez que não se limita somente às produções que sigam à risca a gramática prescritiva. No entanto, compreender a língua como meio de interação vai além de reduzir a existência de um idioma a um contexto exclusivamente funcional. Língua é o espaço no qual nós, seres humanos, nos conhecemos e nos identificamos como grupos pensantes e comunicativos. É o lugar de desenvolvimento das relações humanas.

Fonte: shutterstock.com / igor kisselev

Figura 01 - Processo de interatividade por meio da linguagem

Entender a língua como lugar de interação dos seres humanos – entendê-la como parte constituinte da natureza do homem – vem destacando-se ante às demais concepções. Desse modo, estudar profundamente uma língua vai muito além do conhecimento de sua gramática, culmina, na análise do discurso de um sujeito que enuncia. Trata-se, não somente, do estudo das formas, mas também do conteúdo.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Ainda restaria, nesse contexto, espaço à gramática, um livro que dita as regras sobre como se comunicar bem? Um livro que sempre sobrepôs o valor da forma ao do conteúdo. Vejamos bem, um livro que prescreve as normas de uso da linguagem é a gramática normativa ou prescritiva, mas tal como ela, existem a gramática descritiva, a gramática histórica, a gramática gerativa e outras mais. Conheçamos, então, um pouco mais sobre as gramáticas normativa e descritiva:

no lugar do imperativo, seja para aproximar-se do coloquial, seja para diminuir o tom de imposição desse modo verbal, a agência bancária optou pelo “vem”. Viu como estudar uma língua vai muito além do simples julgamento e distinção entre certo e errado? Logo, apesar de incorreto para a norma estatal, o slogan é totalmente adequado para a compreensão de todos os falantes de língua portuguesa.

1) Gramática normativa é um livro que julga como correta ou incorreta a estrutura de um enunciado consoante à norma estatal, por isso é aquela exigida em concursos, em vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No Brasil, as gramáticas normativas pautam-se na Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). 2) Gramática descritiva, diferentemente da prescritiva, não julga a enunciados como certos ou errados, ela, como o próprio nome diz, descreve a sua estrutura. Independentemente de estar de acordo com a NGB, essa gramática avalia a adequação de um enunciado, se ele é compreensível e pertinente ao receptor da informação.

SAIBA MAIS A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) é um sistema de regras preparado por linguistas e filósofos, estabelecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e recomendado para adoção no ensino programático da Língua Portuguesa. Nesse sistema, estabelece-se a norma estatal que deve ser seguida em documentos oficiais, concursos e exames. A NGB ainda divide o ensino de Língua Portuguesa em três áreas: Fonologia, Morfologia e Sintaxe.

Figura 02 - Slogan da Caixa Econômica Federal

Gramática na poesia Erro de português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português

Gramática no cotidiano No famoso slogan da Caixa Econômica Federal: “Vem pra caixa você também”, encontra-se uma inadequação em relação à norma estatal. Por se tratar de um verbo no imperativo, seria mais adequado utilizar a forma “venha”, concordando em número e em pessoa com o pronome “você”. No entanto, como é bastante comum o uso do presente do indicativo

Veja como o modernista Oswald de Andrade desconstrói, no poema acima, a noção de “erro de português”, uma vez que pelo título, poderíamos pensar numa incorreção linguística, numa inadequação na linguagem. Sabendo-se disso, então, o poeta quebra essa expectativa, propondo-nos outro contexto: um erro cometido pelo próprio português ao chegar ao Brasil.

Exercícios de Fixação 01. Defina as características que se restringem a essa tríade: linguagem, língua e fala. A linguagem é representada por todo o sistema de sinais convencionais que permitem a interação entre os seres, fazendo com que a comunicação se efetive de forma plena. Definimos língua como um sistema convencional regido por leis combinatórias, pertencente a um determinado grupo de indivíduos. Já a fala, mesmo tendo em vista que a língua é concebida como um organismo social, restringe-se a uma determinada pessoa de modo individual.

02. Tendo em vista as peculiaridades que norteiam a língua, em especial a língua portuguesa, comente acerca deste enunciado linguístico: Espelho olhos da são os alma o. Não precisamos ir muito além para detectarmos uma verdadeira imprecisão no que tange ao processo comunicativo. Tal ocorrência se refere de modo evidente aos aspectos que norteiam a língua como um todo, pois esta é regida por um conjunto de palavras organizadas segundo regras específicas e utilizado por uma coletividade. Sendo assim, a partir do momento que os membros dessa comunidade lançam mão de tais conhecimentos, eles automaticamente percebem que a mensagem expressa pelo discurso é manifestada da seguinte forma: Os olhos são o espelho da alma

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A01  Introdução aos estudos da linguagem

Oswald de Andrade


Português

Exercícios Complementares 01. Leia o poema abaixo e responda corretamente: Vício da fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados. Oswald de Andrade

Sobre o poema de Oswald de Andrade, um dos principais representantes da primeira geração do modernismo brasileiro, é correto afirmar: a) Oswald, como os demais modernistas da primeira fase, defendia o uso da coloquialidade nos textos escritos como maneira de alcançar uma linguagem genuinamente brasileira, linguagem que levasse em consideração os diferentes registros da língua portuguesa. b) O poema de Oswald tece uma crítica sobre o emprego da coloquialidade nos textos da literatura brasileira. De acordo com o poema, essa coloquialidade subverte a norma culta da língua, único registro capaz de representar adequadamente a linguagem poética. c) O título “Vício da fala” remete à falha dos brasileiros ao reproduzir erradamente fonemas complexos. Essa simplificação das palavras é prejudicial para o idioma, já que pode vulgarizar a língua portuguesa. d) Aqueles que subvertem a norma culta ao falar “mio”, em vez de milho, “mió” em vez de melhor, “pió” em vez de pior, “teiado” em vez de telhado estão prejudicando o entendimento da mensagem, anulando a comunicação, sua principal finalidade. 02. Leia o texto abaixo e responda corretamente:

A01  Introdução aos estudos da linguagem

“Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.” Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.

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A partir da leitura do texto, podemos inferir que uma língua é: a) o conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser considerada exemplar. b) sistema que não admite nenhum tipo de variação linguística, sob pena de empobrecimento do léxico. c) a modalidade oral alcança maior prestígio social, pois é o resultado das adaptações linguísticas produzidas pelos falantes. d) A língua padrão deve ser preservada na modalidade oral e escrita, pois toda modificação é prejudicial a um sistema linguístico. 03. Analise as afirmativas abaixo: I.

II.

III.

Dominar uma língua não significa apenas conhecer normas gramaticais mas, sobretudo, empregar adequadamente essa língua em várias situações. Modernamente, é possível identificar, pelo menos, dois tipos de gramática: a normativa, que estabelece as regras a serem seguidas por aqueles que querem “falar e escrever corretamente”, e a descritiva, que busca descrever e analisar a língua utilizada por um determinado grupo de pessoas em um dado momento histórico. Em cada situação que vivenciamos, empregamos diferentes linguagens, adequadas a cada contexto, o que nos permite afirmar que existem vários níveis de linguagem.

Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente as afirmativas I e III estão corretas. b) Somente as afirmativas I e II estão corretas. c) Somente as afirmativas II e III estão corretas. d) Somente a afirmativa II está correta. e) Todas as afirmativas estão corretas. 04. Comente o texto da imagem abaixo sob a perspectiva da gramática normativa e sob a gramática descritiva:

Sob a ótica e entendimento da gramática normativa, o enunciado da imagem está transcrito erroneamente e deve, portanto, ser substituído pela sentença: “Fui almoçar”. Dessa maneira, estará acordado à norma estatal e trará mais facilidade na compreensão e na interpretação. Pela visão da gramática descritiva, porém, o texto da imagem não está errado, ele certamente não está de acordo com a normatividade, logo, pode levar a uma leitura enganosa, uma vez que se possa pensar que “mossar” seja o possível lugar aonde a pessoa tenha ido. Nesse sentido, a gramática descritiva sugere a troca por “Fui almoçar” a fim de facilitar a interpretação.


FRENTE

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PORTUGUÊS

MÓDULO A02

NOÇÕES DE FONOLOGIA

ASSUNTOS ABORDADOS

A Fonologia, como vimos no módulo anterior, é uma subdivisão da gramática e nela se estudam os sons produzidos e articulados pelos falantes de uma língua. Trata-se de uma ciência que compreende os elementos fônicos que diferenciam duas mensagens de sentidos distintos, como nos pares: mata/nata, bomba/pomba, faca/vaca etc. É a parte da gramática que estuda o comportamento dos fonemas em uma língua. Mas então o que é fonema?

nn Noções de fonologia nn Conceitos importantes nn Classificação dos fonemas da língua portuguesa nn Aspectos fonográficos importantes

Conceitos importantes nn Fonema: é a menor unidade que participa da constituição sonora de uma palavra. nn Grafema:

são as letras que, na escrita, formam as palavras de uma língua.

Na língua portuguesa, como todos nós sabemos, existem cinco vogais (a, e, i, o, u) e essas representações são grafemas. Já em nível fonemático, a quantidade de vogais aumenta, passando a ser sete (a, é, ê, i, ó, ô, u). Observe que se diferenciam “é” e “ó” abertos e “ê” e “ô” fechados, apesar de que as letras que os representam serem as mesmas: “e” e “o”. Note a diferença entre a quantidade fonemas e grafemas das seguintes palavras: Palavra

Quantidade de Grafemas

Quantidade de Fonemas

planalto

8

8

carrocinha

10

8

flexível

8

9

Mas por que essa quantidade varia? Para a palavra ‘planalto’, a quantidade de grafemas e fonemas é a mesma porque cada letra representa e realiza um único som. Diferentemente da palavra ‘carrocinha’, para a qual são necessárias duas letras “rr” e “nh” para produzir um som, respectivamente, /r/ e /ñ/. Ainda assim, em ‘flexível’, podemos dizer que ocorre o oposto, note que uma letra representa dois sons, “x” corresponde aos fonemas /ks/.

!

ATENÇÃO!

Neste material, seguindo um padrão adotado internacionalmente, os fonemas serão transcritos entre barras (/) e as letras entre aspas (“”).

Além disso, vale lembrar que um mesmo grafema nem sempre corresponde a um mesmo fonema, assim como certo som pode ser representado por letras diferentes. nn Letra nn Som

“x”: táxi /ks/; extra /s/; exame /z/; xícara /x/. de /s/: face; extra; sapo; aço; osso; nascer; cresça; exceto.

Figura 01 - Número de fonemas da palavra “caneta”

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Português

Classificação dos fonemas da língua portuguesa 1) Consoantes: são sons produzidos com obstáculo, isto é, a corrente de ar chega ao meio exterior com uma interrupção que pode ser provocada pela língua, pelos dentes ou pelos lábios. As consoantes são classificadas em: nn Sonoras:

o ar passa pelas cordas vocais /b, d, v/. nn Surdas: o ar não passa pelas cordas vocais /p, t, f/. Exemplos: bata/pata; dado/tato; vaca/faca. 2) Vogais: são sons produzidos sem obstáculo, isto é, a corrente de ar chega livremente ao meio exterior sem nenhum tipo de interrupção. As vogais são classificadas em: nn Orais: o ar passa somente pela boca /a, é, ê, i, ó, ô, u/. nn Nasais: o ar passa pela boca e pelo nariz /ã, ẽ, ĩ, õ, ũ/.

Exemplos: casa; mel; beijo; pirulito; bota; olho; urso; infância; entrar; padrinho; corações; álbum.

Observações: Note que nas palavras ‘infância’ e ‘contínua’ “i” e “u” são semivogais e por isso estão na mesma sílaba das vogais que os acompanham; enquanto nas palavras ‘melancia’ e ‘continua’, “i” e “u” são vogais, logo, devem estar separados em uma sílaba diferente da vogal “a”. Note ainda que os grupos “rr” e “ss” são separados silabicamente, não por questões fonológicas, mas sim por questão estética. Tonicidade As palavras também podem ser classificadas de acordo com a posição da sílaba mais forte, isto é, das vogais tônicas e átonas. Nesse sentido, elas subdividem-se em: oxítonas (a última sílaba é a mais forte), paroxítonas (a penúltima sílaba é a mais forte) e proparoxítonas (a antepenúltima sílaba é a mais forte). nn Oxítonas:

rapaz; café; girassol; colher; angu. nn Paroxítonas: espelho; brinco; lápis; azeite. nn Proparoxítonas: específico; lógico; mágico; última.

3) Semivogais: são os sons /i/ e /u/ apoiados em uma vogal, logo a sua pronúncia é mais fraca que a da vogal que ele acompanha. São representados pelas letras: e, i, o, u, m, n, l. Exemplos: pães; cais; sãos; maus; jogam; abdômen; final.

!

ATENÇÃO!

Note que na palavra ‘também’ as letras “m” atuam de maneira distinta. O primeiro “m” confere nasalidade à vogal que o acompanha, e juntos correspondem a um único som /ã/, enquanto em uma segunda ocorrência, o “m” já desempenha papel de semivogal, cujo som se aproxima da vogal /i/. Assim como nessa palavra, é o comportamento geral das letras “m” e “n”: quando no meio da palavra conferem à vogal nasalidade, quando ao final, são uma semivogal /i/.

A02  Noções de fonologia

Aspectos fonográficos importantes Sílaba Sílaba é um grupo de fonemas que tem em seu centro uma vogal e pode ter, em sua periferia, consoantes e/ou semivogais que nela se apoiam. Exemplos: mão; in-fân-cia; me-lan-ci-a; con-tí-nua; con-ti-nu-a; car-ro-ça; es-sên-cia. 530

Figura 02 - Posição da sílaba tônica em uma palavra

Quanto aos monossílabos, exatamente por possuírem somente uma sílaba, para classificá-los em átonos e tônicos é necessário outro raciocínio. São tônicos os monossílabos que sozinhos desempenham significado numa frase, logo, são: substantivos, adjetivos, verbos, advérbios, numerais e pronomes. São átonos os monossílabos que só adquirem significado numa frase juntos de outro termo, são: preposições, artigos, conjunções, combinações (preposição + artigo) e pronomes oblíquos átonos. nn Tônicos:

pá, fé, bem, más (adjetivo), sol, dá (verbo), três, nós. nn Átonos: a, de, em, mas (conjunção), o, da (combinação), por. Encontros vocálicos Como já explicado, em cada sílaba há somente uma vogal. Desse modo, quando se fala num encontro entre vogais, pode-se antecipar que, estando elas numa mesma sílaba,


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

apenas uma é realmente vogal, sendo a(s) outra(s) que a acompanha(m) semivogais; estando elas em sílabas diferentes, trata-se então de duas vogais. Assim, classificam-se os encontros vocálicos em mesma sílaba como: ditongo (uma vogal e uma semivogal) e tritongo (uma vogal e duas semivogais), e em sílabas diferentes como: hiato. Veja os exemplos a seguir: 1) Ditongo: formado por uma semivogal e uma vogal (ditongo crescente) ou uma vogal e uma semivogal (ditongo decrescente) na mesma sílaba, podendo ser essa vogal oral ou nasal. nn Ditongo crescente: rádio; frequência; água; contínuo. nn Ditongo decrescente: biscoito; alemães; estudam; ilegal. 2) Tritongo: formado por uma semivogal, uma vogal e outra semivogal na mesma sílaba, podendo ser essa vogal oral ou nasal. nn Paraguai; saguão; enxáguam; qualquer. 3) Hiato: encontro de duas vogais em sílabas diferentes. nn mo-e-da; ca-ó-ti-co; fei-u-ra; goi-a-ba; u-ru-guai-o. Encontros consonantais Existem dois tipos de encontros consonantais: perfeitos e imperfeitos. São perfeitos quando as consoantes se encontram na mesma sílaba e imperfeitos quando as consoantes estão dispostas em sílabas diferentes. Veja os exemplos a seguir: 1) Perfeito: atleta, placa, blusa, crise, franco, preto, pneu, psicose, gnomo. 2) Imperfeito: ab-dicar, sub-solo, ad-vogado, ad-mitir. Dígrafos e dífonos

!

ATENÇÃO!

Note que na palavra “sublinhar”, apesar de nos induzir a um encontro consonantal perfeito, há um encontro consonantal imperfeito, uma vez que é uma palavra composta por um prefixo “sub-” e o verbo “linhar”. Nesse sentido, sua separação silábica é a seguinte: sub-li-nhar.

São as ocorrências de dígrafos e dífonos que explicam a diferença entre o número de grafemas e fonemas. Dígrafo é uma situação em que duas letras aparecem numa palavra para representar um único som, e dífono a situação contrária, em que apenas uma letra é capaz de representar dois sons. Observe: 1) Dígrafo: a) Consonantais: chave; galho; ninho; carro; assim; queijo; guerra; nascer; desça; exceção. b) Vocálicos: campo; sangue; sempre; talento; limpo; tingir; tromba; conto; nenhum; sunga. 2) Dífono: a) Pronúncia padrão: táxi /ks/; flexível /ks/; tórax /ks/. b) Pronúncia regional: dia /dj/; cidade /dj/; tiara /tx/; leite /tx/.

A02  Noções de fonologia

Fonema zero Fonema zero, na verdade, não é um fonema, trata-se de uma letra que não realiza nenhum papel sonoro em uma palavra. Exemplos: nn história;

Bahia; companhia; queremos; gueixa.

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Português

Exercícios de Fixação 01. Escreva para as palavras a seguir a quantidade exata de fonemas e grafemas: a) Dicionário b) Chaleira c) Historiador d) Taxímetro e) Ampararam f) Consumidores g) Araguaia h) Ortodoxo i) Raquítico j) Sauipe

a) 10 grafemas e 10 fonemas b) 8 grafemas e 7 fonemas c) 11 grafemas e 10 fonemas d) 9 grafemas e 10 fonemas e) 9 grafemas e 8 fonemas f) 12 grafemas e 11 fonemas g) 8 grafemas e 8 fonemas h) 8 grafemas e 9 fonemas i) 9 grafemas e 8 fonemas (caso considere a variante regional /tx/ serão 9 fonemas) j) 6 grafemas e 6 fonemas

02. Separe silabicamente as palavras abaixo: a) Computador b) Importante c) Brânquias d) Alcoólico e) Cearense f) Cooperação g) Quintessência h) Antirrevolucionário i) Tuiuiú j) Sequoia

a) Com-pu-ta-dor b) Im-por-tan-te c) Brân-qui-as d) Al-co-ó-li-co e) Ce-a-ren-se f) Co-o-pe-ra-ção g) Quin-tes-sên-cia h) An-tir-re-vo-lu-cio-ná-rio i) Tui-ui-ú j) Se-quoi-a

03. Divida as palavras abaixo em três grupos: ditongos, tritongos e hiatos. Gabarito no final da página Lívia, Mateus, boi, colmeia, heroico, Goiânia, remedeia, Portugal, Brasil, paranaense, capitania, hereditariedade, substituição, saudade, paraguaia, meados, Caetano, Gilberto, lúmen, transbordaram, maquiadora, Aécio, Dilma, espanhol, construção, regional 04. Divida as palavras abaixo em três grupos: oxítonas, paroxítonas proparoxítonas. Gabarito no final da página régua, lápis, aió, outrem, leiaute, Cristiane, Débora, Pirenópolis, Brasíia, Paris, Ilíada, memórias, girassol, escarcéu, gastrite, fotografia, Pará, condicionador, Nobel, sutil, cartomancia, erudito, filantropo, gratuito, Hungria, rubrica, alcoólatra, andrógino, arquétipo, êxodo, Niágara, zênite 05. Classifique o papel dos grafemas “m” e “n” quanto à sua função na constituição de um dígrafo ou quanto ao seu papel de semivogal. a) Embrulhavam b) Bombom c) Anteviram d) Constipação e) Wellington

a) Primeiro “m”: dígrafo; segundo “m”: semivogal. b) Primeiro “m”: dígrafo; segundo “m”: semivogal. c) Primeiro “n”: dígrafo; segundo “m”: semivogal. d) Dígrafo e) Semivogal

Exercícios Complementares

A02  Noções de fonologia

01. (Unipar PR) Assinale a alternativa em que o x nunca é pronunciado como ks: a) tóxico / máximo / prolixo b) êxtase / exímio / léxico c) máximo / êxodo / exportar d) exportar / nexo / tóxico e) exímio / prolixo / êxodo 02. (Unifesp SP) Na língua portuguesa escrita, quando duas letras são empregadas para representar um único fonema (ou som, na fala), tem-se um “dígrafo”. O dígrafo só está presente em todos os vocábulos de a) Pai, minha, tua, esse, tragar. b) afasta, vinho, dessa, dor, seria. c) queres, vinho, sangue, dessa, filho. d) esse, amarga, Silêncio, escuta, filho. e) queres, feita, tinto, Melhor, bruta. 03. (Mackenzie SP) Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das afirmações relacionadas à análise fonológica e gráfica do segmento a seguir.

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Questão 03 (Exercícios de Fixação) Ditongos: Lívia, Mateus, boi, colmeia, heroico, Goiânia, remedeia, Portugal, Brasil, substituição, saudade, Caetano, Gilberto, lúmen, transbordaram, Aécio, Dilma, espanhol, construção, regional. Hiatos: colmeia, Goiânia, remedeia, paranaense, capitania, hereditariedade, substituição, paraguaia, meados, maquiadora, Aécio, regional. Tritongos: paraguaia.

“Ele é especialmente sensível sobre seu excesso de peso. “ ( ) O fonema /s/ está representado pelas letras (s), (c) e dois dígrafos, ao passo que o fonema /z/ está representado apenas pela letra (s). ( ) A letra “n” junta-se ao (e) formando um dígrafo para representar a vogal nasal. ( ) As palavras “sobre” e “seu” apresentam, respectivamente, um encontro consonantal e um ditongo decrescente. A sequência correta é a) V - F - F. b) F - V - V. c) F - F - F. d) V - V - V. e) V - F - V. 04. (UFCE) Considerando que, na passagem a seguir, os sons das palavras se correlacionam ao sentido que estas traduzem no contexto, avalie as seguintes afirmações, quanto ao segmento destacado. Questão 04 (Exercícios de Fixação) Oxítonas: aió, Paris, girassol, escarcéu, Pará, condicionador, Nobel, sutil. Paroxítonas: régua, lápis, outrem, leiaute, Cristiane, Brasília, memórias, gastrite, fotografia, cartomancia, erudito, filantropo, gratuito (úi), Hungria, rubrica. Proparoxítonas: Débora, Pirenópolis, Ilíada, alcoólatra, andrógino, arquétipo, êxodo, Niágara, zênite.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

“SENTIA AINDA ZUMBIR O VENTO NOS OUVIDOS, QUANDO,

interpretação, mas também em um nível de manipulação

EM DESAPODERADA CARREIRA, o castanho perseguia, através

objetiva dos elementos que o integram. A opção de modi-

dos campos em flor, as novilhas lisas ou os fuscos barbatões,

ficar o conteúdo do texto, de conectá-lo a outros trabalhos

que espirravam dos magotes;”

prévios, e as novas formas de acesso e de consulta mudam

I.

Os fonemas nasais em alternância sugerem o barulho dos

substancialmente o conceito tradicional do livro. Embora em

cascos do cavalo no pasto.

um texto impresso o índice sugira diversas alternativas de

II.

A insistência nos fonemas sibilantes conjugada à nasali-

leitura, essas devem submeter-se à ordem fixa das páginas;

dade das vogais evoca o barulho do vento.

em troca, no hipertexto, que apresenta uma estrutura menos

III.

O ritmo da corrida do cavalo é sugerido em “desapode-

rígida, podem coexistir estruturas hierárquicas e associati-

rada” por sons oclusivos e alternância de vogais abertas/

vas. Qualquer caminho representa uma alternativa de lei-

fechadas.

tura apropriada, o que implica uma mudança radical na

A palavra “sentia” é fonologicamente motivada, uma vez

relação do leitor com o texto.

IV.

que seu significado se correlaciona à pronúncia de seus fonemas.

ÁLVAREZ, O. H. “O texto eletrônico: um desafio para o ensino da leitura e da escrita” In: PÉREZ, F. C. e GARCÍA, J. R. Ensinar ou aprender a ler e a escrever? Porto Alegre: Artmed, 2001. P. 167.

Estão corretas as afirmações contidas na alternativa: 06. (UFCE) Assinale a alternativa cujo par de palavras tem o mesmo

a) I e II. b) II e III.

número de letras e de fonemas.

c) I e lII.

a) leitura – radical

d) I e IV.

b) radical – criando

e) IV e II.

c) caminho – leitura

05. (UFPI) Leia as assertivas abaixo, pautadas no vocábulo “campanha”, e assinale a alternativa que,de acordo com a gramática tradicional, encerra apenas as assertivas VERDADEIRAS:

d) criando – domínio e) domínio – caminho 07. (Ufam AM) Assinale a opção constante de vocábulos que apresentem ditongo decrescente nasal (o primeiro), encontro con-

I.

O vocábulo é formado por seis fonemas;

II.

Há dois dígrafos na representação gráfica do vocábulo;

sonantal (o segundo) e dígrafo (o terceiro):

III.

Verifica-se um ditongo nasal na sílaba inicial do vocábulo;

a) puniu – exclamar – enxágue

IV.

O vocábulo apresenta um encontro consonantal;

b) quatro – samba – escala

V.

Trata-se de um vocábulo paroxítono.

c) tênue – excitar – aquoso d) fortuito – descida – leque

a) I, II, V

e) muito – obtuso – mundo

b) I, II, IV c) I, III, V

08. (Ufam AM) Assinale a opção em que há ditongo decrescente

d) II, III, IV

nasal, hiato e tritongo, respectivamente:

e) III, IV, V

a) unguento, gratuito, sequóia

Texto comum à questão 06

b) xerém, aorta, deságuam

leitura e da escrita O hipertexto é um documento eletrônico composto de nodos ou de unidades textuais interconectados que formam

c) quando, raiz, enxágue d) pinguim, ruiu, tuxaua e) frequente, friíssimo, gaiola 09. (Ufam AM) Assinale a opção em que há, na mesma palavra,

uma rede de estrutura não linear. As palavras, ressaltadas

tritongo + hiato:

nesses blocos textuais, desempenham a função de botões que

a) goiaba

conectam a outras fontes. Navegando entre esses nodos, o lei-

b) quais

tor vai criando suas próprias opções e trajetórias de leitura,

c) uruguaio

o que rompe o domínio tradicional de um esquema rígido de

d) saía

leitura imposto pelo autor. Assim, o leitor tem a oportunidade

e) correio

A02  Noções de fonologia

O texto eletrônico: um desafio para o ensino da

de experimentar o texto, não só em um nível subjetivo de

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FRENTE

A

PORTUGUÊS

MÓDULO A03

ASSUNTOS ABORDADOS nn Acentuação gráfica nn Regras gerais nn Regras complementares nn Novo acordo ortográfico

ACENTUAÇÃO GRÁFICA O sistema brasileiro de acentuação gráfica marca tanto a tonicidade de uma palavra, isto é, indica a posição da sílaba tônica, quanto o grau de abertura ou fechamento da pronúncia de uma vogal. Os únicos acentos gráficos que existem na língua portuguesa são: acento agudo (´) e acento circunflexo (^). O primeiro recai sobre qualquer vogal de nossa língua e indica que sua pronúncia é aberta (á, é, í, ó, ú), já o segundo, que indica uma pronúncia fechada da vogal, recai apenas sobre as vogais (â, ê, ô). A acentuação em língua portuguesa obedece a uma série de regras que, neste material, serão divididas em: regras gerais (monossílabos, oxítonos, paroxítonos e proparoxítonos) e regras complementares (hiato tônico, ditongo aberto, acento flexional e acento diferencial).

Regras gerais Monossílabos São acentuados todos os monossílabos tônicos terminados exatamente em: a(s), e(s), o(s) Exemplos: pá, fé, dó, sol, bem, rim, nu, dê (verbo), de (preposição).

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ATENÇÃO!

Fonte: shutterstock.com / pinkomelet

Lembre-se de que são tônicos os monossílabos pertencentes a estas classes gramaticais: substantivo, verbo, adjetivo, advérbio, pronome e numeral; e átonos aqueles pertencentes a estas classes: preposição, artigo, conjunção e pronomes oblíquos átonos.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

SAIBA MAIS Quem já viu “que” sem acento e “quê” com acento? Que confusão nossa língua, não? Há alguma explicação para essas mutações desse pronome? Há sim! O pronome “que” recebe acento circunflexo quando se situa no final de uma oração, uma vez que pela entonação, é-se pronunciado mais fortemente. Veja os exemplos a seguir: Você não foi à festa por quê? Não foi por que estava doente? Eu saí mal na prova sem saber por quê, mas, para a próxima, estudarei mais!

Oxítonos São acentuados todos os oxítonos terminados exatamente em: a(s), e(s), o(s), em(ens) Exemplos: sofá, chalé, jiló, refém, parabéns, comprá-la, recebê-la, suprimi-lo, anzol, caqui, bambu. Paroxítonos São acentuados todos os paroxítonos terminados exatamente em: l, i(s), n(s) [-ens], u(s), um, r, x, ã(o)(s), ps e ditongos Exemplos: fácil, táxi, prótons, bônus, álbum, mártir, xérox, ímã, órgãos, bíceps, responsáveis, infância, área, água, escada, debate, limpo, batem, imagens, jogam.

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ATENÇÃO!

Observação:

Fonte: shutterstock.com / ImageFlow

A regra de acentuação dos paroxítonos pode parecer meio complicada, uma vez que há muitas terminações para se memorizar. Observe, porém, que a regra de acentuação das palavras paroxítonas é praticamente o inverso da regra de acentuação das palavras oxítonas. Nesse sentido, não se acentuam os paroxítonos terminados exatamente em: a(s), e(s), o(s),em(ens), am*

#Curiosidades

A03  Acentuação gráfica

De onde vem a terminação “-am”, que não consta na regra de acentuação dos oxítonos? Veja os pares de palavras: encontraram/ encontrarão. Note que foneticamente “am” e “ão” são equivalentes, ou seja, o som articulado é o mesmo: /ãw/. Desse modo, distinguem-se na utilização quanto à posição da sílaba tônica, “am” se escreve nos verbos paroxítonos (brincam, encontraram, faziam, pulavam), e “ão” aparece nos verbos oxítonos e monossílabos (encontrarão, estão, hão, são, dão, vão).

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Português

Fonte: Wikimedia Commons / Dario Sanches

Veja o poema abaixo do escritor goiano Murilo Amaral: Acentuação gráfica Não existe criatura mais sábia neste mundo que o sabiá, pois tudo que eu sei, ele já sabia. Podemos ver nesse poema como o autor brinca com a sonoridade semelhante das palavras: ‘sábia’, ‘sabiá’ e ‘sabia’. Se tanto ‘sábia’ quanto ‘sabia’ são palavras paroxítonas, por que motivo são pronunciadas de maneira distinta? Na primeira ocorrência, /i/ é uma semivogal, logo, na palavra têm-se duas sílabas: “sá-bia”. Já na segunda, /i/ é uma vogal, por conseguinte, na palavra têm-se três sílabas: “sa-bi-a”. Quanto a ‘sabiá’, há também três sílabas, porém, diferentemente de ‘sabia’, a sílaba tônica recai no último “a”, sendo assim, uma oxítona. Figura 01 - Sabiá em repouso no Cerrado.

Proparoxítonos Todos os proparoxítonos são acentuados independentes de suas terminações: Exemplos: monólogo, prática, síntese, veículo, rápido.

Regras complementares

A03  Acentuação gráfica

Fonte: image description

Não é incomum encontrarmos em outdoors, folhetos e/ou anúncios palavras grafadas equivocadamente. Você já deve ter se deparado com algumas propagandas com inadequações gráficas. Veja, por exemplo, a propaganda acima. Rapidamente, você é capaz de notar que o pronome “você” está grafado incorretamente. Todos nós sabemos que o pronome é escrito com a letra “cê” e não com “cê-cedilha”. Essa foi fácil, mas calma aí! Devo te contar que, na verdade, há mais uma palavra grafada incorretamente. Observe que “construímos” está transcrita sem o acento agudo. No entanto, por que razão esse verbo, uma palavra paroxítona terminada em “os”, deve ser acentuado? A partir das regras que já estudamos, essa palavra não receberia acento algum. Nesse sentido, é necessário que estudemos as regras complementares de acentuação, entre elas, a regra do hiato tônico, que explica o porquê de “construímos” ser acentuado.

Figura 02 - Outdoor com inadequações ortográficas.

Hiato tônico São acentuadas as vogais “i/u” quando tônicas seguidas ou não de “s”. Exemplos: país, pais, juízo, juiz, cair, saúde, baús, Raul, substituí-lo, parti-lo.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Observações: 1. Note que na palavra “pais” a pronúncia do “i” é mais fraca, uma vez que seu comportamento é de semivogal. 2. A razão de se acentuar “juízo” e não acentuar “juiz” está no fato de que, na primeira o “i” encontra-se sozinho na separação silábica: “ju-í-zo”, enquanto na segunda ele aparece seguido da letra “z”: “ju-iz”, portanto, fugindo à regra para que receba o acento. 3. Nos pares de palavra “substituí-lo/parti-lo” somente na primeira o “i” é acentuado porque ele encontra-se sozinho na sílaba, enquanto o “i” na segunda palavra ele acompanha a consoante “t”. Exceções: Não se acentuam os hiatos “i/u” tônicos que antecedem o grupo “-nh”, como também os hiatos “i/u” tônicos paroxítonos precedidos por ditongos. Exemplos: rainha, feiura, Sauipe.

Fonte: Wikimedia Commons

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ATENÇÃO!

Ainda são acentuados os hiatos “i/u” tônicos oxítonos precedidos por ditongos, como em: tuiuiú, Piauí.

Figura 03 - À direita, temos uma praia de Costa do Sauipe, e, à esquerda, uma praia do litoral do Piauí. Igualmente belas, há nelas só uma diferença. Somente a da direita perdeu o acento.

Ditongos abertos tônicos São acentuados monossílabos tônicos e oxítonos terminados nos ditongos decrescentes abertos abaixo: éu(s), éi(s), ói(s) Exemplos: céu, seu, anéis, rei, heróis, boi. Observações: 1. Note que esse acento não marca só a tonicidade como também o grau de abertura da vogal, diferenciando “é” de “ê” e “ó” de “ô”. A03  Acentuação gráfica

2. Veja ainda que ditongos abertos nas paroxítonas não são acentuados, como em: plateia, europeia, heroico, boia. Acento flexional Recebem acento circunflexo os verbos TER/VIR na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo.

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Português

Exemplos: ele tem, ele vem, ele mantém, ele intervém, eles têm, eles vêm, eles mantêm, eles intervêm. Acento diferencial O acento diferencial existe na língua portuguesa para distinguir no valor semântico – diferenciar quanto ao sentido – duas palavras escritas à mesma maneira. Os únicos acentos diferenciais da nossa língua são: PÔR (verbo) ≠ POR (preposição)

O Novo Acordo Ortográfico, que hoje vigora no Brasil, começou a ser discutido em 1990, foi concluído em 2009 e, só após um período de 7 anos de adaptação para os brasileiros, entrou realmente em vigor em 2016. Ufa! Viu como é complexa a discussão de mudança de todo um sistema ortográfico? Ainda mais se tratando de um acordo que unificou a ortografia da maioria dos países lusófonos (falantes de língua portuguesa). Quais são esses países? São: Portugal, São Tomé e Príncipe, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor-Leste, países integrantes da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

PÔDE (verbo no passado) ≠ PODE (verbo no presente)

Novo acordo ortográfico Opirus/Arte

SAIBA MAIS

Figura 04 - Países integrantes da CPLP

Gabarito questão 02 A primeira frase: “Vou pôr aqui” equivale a “vou colocar aqui” ou “porei aqui”, daí conclui-se que a palavra “pôr” acentuada é um verbo. Já na frase: “Vou por aqui”, “por” é apenas uma preposição, logo, indica o caminho pelo qual o sujeito irá.

Exercícios de Fixação 01. As palavras abaixo estão grafadas sem acento. Acentue-as quando necessário. a) Caquetico (proparoxítona) Caquético b) Torax (paroxítona) Tórax c) Escocia (paroxítona) Escócia d) Rubrica (paroxítona) Rubrica e) Ortodoxo (paroxítona) Ortodoxo f) Xilindro (oxítona) Xilindró

A03  Acentuação gráfica

02. Explique a diferença entre as duas frases abaixo: a) Vou pôr aqui. b) Vou por aqui. 03. (FCM PB) Assinale a alternativa em que as palavras são acentuadas pela mesma razão: a) econômica, crônica, política b) saúde, países, vírus

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c) possível, além, etária d) vários, três, líderes e) médicos, âmbito, poderá 04. (Udesc SC) Analise as afirmativas quanto às recomendações da norma culta sobre acentuação gráfica. I.

Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e a vê-lo.

II.

Logo depois, seguiu na direção do Largo da Carioca, para entrar num tílburi.

III.

A ideia de estarem descobertos parecía-lhe cada vez mais verossimil.

IV.

Camilo, em si, reconhecia que podia serví-la por toda uma eternidade.

V.

A mesma suspensão das suas visitas apenas com o pretexto futil, trouxe-lhe magoas.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. b) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras. d) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras. e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 05. (Escs DF) O novo sistema ortográfico de língua portuguesa, implantado em 2009, modifica algumas regras de uso de acento

gráfico; entre as mudanças, há uma que diz que os ditongos EI/ OI abertos, em palavras paroxítonas, não terão mais acento. Nesse caso, a única palavra abaixo que continuará corretamente acentuada com a manutenção do acento agudo, é: a) assembléia b) coronéis c) idéia d) heróico e) intróito

Exercícios Complementares 01. (Escs DF) A série em cujas palavras o acento tônico tem a mesma posição é: a) prototipo - decano - forceps b) refem - ruim - alibi c) misantropo - rubrica - gratuito d) interim - pegada - decada e) maquinaria - caracteres - crisantemo

03. (FGV SP) Sua excelência [O ministro] vinha absorvido e tangido por uma chusma de sentimentos atinentes a si mesmo que quase lhe falavam a um tempo na consciência: orgulho, força, valor, satisfação própria etc. etc. Não havia um negativo, não havia nele uma dúvida; todo ele

02. (Unificado RJ) De bem com a vida A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida. Afinal, desde que nos entendemos por gente, aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que, de certa forma, coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro. Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr de sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir...

estava embriagado de certeza de seu valor intrínseco, das suas qualidades extraordinárias e excepcionais de condutor dos povos. A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que o cercavam, reafirmadas tão eloquentemente naquele banquete, eram nada mais, nada menos que o sinal da convicção dos povos de ser ele o resumo do país, vendo nele o solucionador das suas dificuldades presentes e o agente eficaz do seu futuro e constante progresso. Na sua ação repousavam as pequenas esperanças dos humildes e as desmarcadas ambições dos ricos. Era tal o seu inebriamento que chegou a esquecer as coisas feias do seu ofício... Ele se julgava, e só o que lhe parecia grande entrava nesse julgamento. As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que, só ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o país chegar ao destino que os antecedentes dele impunham.

São situações e momentos que vamos empilhando com o

(Lima Barreto. Os bruzundangas. Porto Alegre: L&PM, 1998, pp. 15-6)

cuidado e a delicadeza que merecem − alegrias de pequeno

Assinale a alternativa contendo as palavras acentuadas se-

e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.

gundo a regra que determina a acentuação, respectivamen-

São acentuadas por justificativas distintas as palavras: a) “dúvida” e “xícara”. b) “contrário” e “trajetória”. c) “café” e “até”. d) “mágico” e “homeopática”. e) “pôr de sol” e “recém-coado”.

te, de consciência, intrínseco e levá-lo-iam. a) Extraordinárias; própria; país.

A03  Acentuação gráfica

FERREIRA, Leila. Revista Marie Claire. nov. 2008. p.56. (fragmento)

b) Parágrafo; porém; até. c) Ofício; dúvida; atrás. d) Vivência; tórax; virá. e) Cenógrafo; bíceps; contê-las.

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Português

04. (FGV SP) O administrador da repartição em que Pádua trabalhava teve de ir ao Norte, em comissão. Pádua, ou por ordem regulamentar, ou por especial designação, ficou substituindo o administrador com os respectivos honorários. Não se contentou de reformar a roupa e a copa, atirou-se às despesas supérfluas,

05. (Ibmec SP) Assinale a alternativa em que a ausência do acento não acarretaria falha gramatical. a) através d) atrás b) domésticos e) discutível c) negócio 06. (UEPG PR)

deu joias à mulher, nos dias de festa matava um leitão, era visto em teatros, chegou aos sapatos de verniz. Viveu assim vinte e dois meses na suposição de uma eterna interinidade. Uma tarde entrou em nossa casa, aflito e esvairado, ia perder o lugar, porque chegara o efetivo naquela manhã. Pediu à minha mãe que velasse pelas infelizes que deixava; não podia sofrer a desgraça, matava-se. Minha mãe falou-lhe com bondade, mas ele não atendia a coisa nenhuma.

Você trabalha para quê? Os consultores vivem dizendo que, quando a gente tem uma meta, o foco aumenta e o esforço para realização – seja ele em termos de aprendizado, de performance ou de poupança – vai mais fácil. Em nossa reportagem de capa desse mês, você vai conhecer a história de quatro profissionais que estão focados em crescer na carreira e realizar sonhos. (Juliana de Mari. Revista Você S/A, setembro/2007)

– Não, minha senhora, não consentirei em tal vergonha! Fazer descer a família, tornar atrás... Já disse, mato-me! Não hei de confessar à minha gente esta miséria. E os outros? Que dirão os vizinhos? E os amigos? E o público? – Que público, Sr. Pádua? Deixe-se disso; seja homem. Lembre-se que sua mulher não tem outra pessoa... e que há de fazer? Pois um homem... Seja homem, ande. Pádua enxugou os olhos e foi para casa, onde viveu prostrado alguns dias, mudo, fechado na alcova, – ou então no quintal, ao pé do poço, como se a ideia da morte teimasse nele. D. Fortunata ralhava:

Quais das seguintes palavras, extraídas do texto, são acentuadas em razão da tonicidade? 01-02-08-16 01. fácil 02. mês 04. quê 08. você 16. história 07. (Enem MEC) Diante da visão de um prédio com uma placa indicando SAPATARIA PAPALIA, um jovem deparou com a dúvida:

– Joãozinho, você é criança? Mas, tanto lhe ouviu falar em morte que teve medo, e um dia correu a pedir à minha mãe que lhe fizesse o favor de ver se lhe salvava o marido que se queria matar. Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação menos, e perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha... Pádua obedeceu; confessou que acharia forças para cumprir a vontade de minha mãe.

como pronunciar a palavra PAPALIA? Levado o problema à sala de aula, a discussão girou em torno da utilidade de conhecer as regras de acentuação e, especialmente, do auxílio que elas podem dar à correta pronúncia de palavras. Após discutirem pronúncia, regras de acentuação e escrita, três alunos apresentaram as seguintes conclusões a respeito da palavra PAPALIA: I.

– Vontade minha, não; é obrigação sua.

PAPÁLIA, pois a palavra seria paroxítona terminada em di-

– Pois seja obrigação; não desconheço que é assim mesmo. (Machado de Assis, Dom Casmurro)

A03  Acentuação gráfica

As regras que justificam a acentuação das palavras “honorários”, “atrás” e “público” também justificam, respectivamente, a acentuação das seguintes palavras, cujos acentos gráficos foram omitidos: a) frequencia, ananas, ritmico. b) heroi, tenaz, frenesi. c) sumaria, guaranas, serio. d) perfumaria, perspicaz, etico. e) agraria, caibras, veneto.

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Se a sílaba tônica for o segundo PA, a escrita deveria ser tongo crescente.

II.

Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALÍA, pois

III.

Se a sílaba tônica for LI, a escrita deveria ser PAPALIA, pois

“i” e “a” estariam formando hiato. não haveria razão para o uso de acento gráfico. A conclusão está correta apenas em: a) I b) II c) III d) I e II e) I e III


FRENTE

A

PORTUGUÊS

MÓDULO A04

ORTOGRAFIA A palavra ortografia deriva das palavras gregas ortho, que significa “correto”, e graphos, que significa “escrita”; trata-se, portanto, de uma parte da gramática que nos ensina a grafia correta das palavras. Estudar esse assunto pode ser exigente e parecer-nos que nunca se esgota, justamente por se tratar de muitas regras e muitas exceções, das quais algumas trataremos aqui. No entanto, o melhor método de se saber a ortografia de uma língua é ler muito. Ler grandes clássicos da literatura, ler jornais, revistas, tudo isso ajuda com a identificação e memorização da grafia correta de uma palavra.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Ortografia nn Regras gerais nn Palavras e expressões homônimas e parônimas nn Emprego do hífen

Com base no que estudamos nos módulos anteriores, você já pode antever por que razões existem tantas variáveis ortográficas na língua portuguesa. Uma dessas respostas se explica pela relação entre fonema e grafema. Observe: Fonema /z/: azeite; casamento; exame. Fonema /x/: xícara; chaleira. Fonema zero: história; hora. O som de /z/ pode ser grafado pelas letras “x”, “s” e pelo próprio “z”, assim como o som de /x/ que pode ser grafado pela própria letra “x” como pelo dígrafo “ch”, ou ainda, a letra pode não representar realização sonora alguma, como no caso da letra “h”. Isso se explica pelo desenvolvimento sócio-histórico da nossa língua. O que justifica o “h” mudo no início de palavras é que, no passado, ele já representou um som, o qual acabou se perdendo entre os falantes de língua portuguesa, apesar de a grafia ter-se mantido.

Regras gerais Uso do cê-cedilha (“ç”) 1. Usa-se “ç” em palavras derivadas de vocábulos terminados em − TO: intento = intenção canto = canção exceto = exceção junto = junção 2. Usa-se “ç” em palavras terminadas em − TENÇÃO referentes a verbos derivados de − TER: deter = detenção reter = retenção conter = contenção manter = manutenção 3. Usa-se “ç” em palavras derivadas de vocábulos terminados em − TOR: infrator = infração trator = tração redator = redação setor = seção 541


Português

4. Usa-se “ç” em palavras derivadas de vocábulos terminados em − TIVO: introspectivo = introspecção relativo = relação

Obs.: juíza escreve-se com z, por ser o feminino de juiz, que também se escreve com z. 5. Usa-se “s” em palavras derivadas de verbos terminados em − CORRER ou − PELIR:

ativo = ação

concorrer = concurso

intuitivo – intuição

discorrer = discurso

5. Usa-se “ç” em palavras derivadas de verbos dos quais se retira a desinência − R: reeducar = reeducação

expelir = expulso, expulsão compelir = compulsório 6. Usa-se “s” na conjugação dos verbos PÔR, QUERER, USAR:

importar = importação

pôs, puser, pusessem

repartir = repartição

quis, quiser, quisessem

fundir = fundição

usou, usava, usariam

6. Usa-se “ç” após ditongo quando houver som de /s/: eleição traição Uso do esse (“s”) 1. Usa-se “s” em palavras derivadas de verbos terminados em − NDER ou − NDIR: pretender = pretensão, pretensa, pretensioso

7. Usa-se s em palavras terminadas em − ASE, − ESE, − ISE, − OSE: frase tese crise osmose Exceções: deslize e gaze. 8. Usa-se s em palavras terminadas em − OSO, − OSA:

defender = defesa, defensivo

horrorosa

compreender = compreensão, compreensivo

gostoso

repreender = repreensão

Exceção: gozo

expandir = expansão fundir = fusão confundir = confusão 2. Usa-se “s” em palavras derivadas de verbos terminados em − ERTER ou − ERTIR:

Uso do esse (“s”) e do zê (“z”) 1. Usa-se o sufixo indicador de diminutivo − INHO com “s” quando esta letra fizer parte do radical da palavra de origem, e com “z” quando a palavra de origem não tiver terminação em“s”:

inverter = inversão

Teresa = Teresinha

converter = conversão

casa = casinha

perverter = perversão

mulher = mulherzinha

divertir = diversão

pão = pãozinho

3. Usa-se “s” após ditongo quando houver som de /z/: Creusa

A04  Ortografia

maisena 4. Usa-se “s” em palavras terminadas em − ISA, substantivos femininos: Luísa Heloísa poetisa profetisa 542

Fonte: Shutterstock.com / MidoSemsem

coisa


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

improviso = improvisar análise = analisar pesquisa = pesquisar paralisia = paralisar terror = aterrorizar

4. Os verbos terminados em − METER terão palavras derivadas escritas com − MISS ou − MESS: comprometer = compromisso prometer = promessa intrometer = intromissão remeter = remessa Uso do jota (“j”) e do gê (“g”) 1. Escreve-se com “j” a conjugação dos verbos terminados em − JAR: viajar = espero que eles viajem

útil = utilizar

encorajar = para que eles se encorajem

economia = economizar

enferrujar = que não se enferrujem as portas

catequese = catequizar 3. As palavras terminadas em − ÊS e − ESA serão escritas com “s” quando indicarem nacionalidade, títulos ou nomes próprios; as terminadas em − EZ e − EZA serão escritas com “z” quando forem substantivos abstratos provindos de adjetivos, ou seja, quando indicarem qualidade: Teresa

2. Escrevem-se com j as palavras derivadas de vocábulos terminados em − JA: loja = lojista canja = canjica sarja = sarjeta gorja = gorjeta 3. Escrevem com j as palavras de origem tupi-guarani:

camponês

jiló

duquesa

jiboia

calabresa

jirau

embriaguez limpeza Uso do duplo esse (“ss”) 1. Os verbos terminados em − CEDER terão palavras derivadas escritas com − CESS: exceder = excesso, excessivo conceder = concessão proceder = processo 2. Os verbos terminados em − PRIMIR terão palavras derivadas escritas com − PRESS: imprimir = impressão deprimir = depressão comprimir = compressa 3. Os verbos terminados em − GREDIR terão palavras derivadas escritas com − GRESS: progredir = progresso agredir = agressor, agressão, agressivo transgredir = transgressão, transgressor

4. Escrevem-se com “g” as palavras terminadas em − ÁGIO, − ÉGIO, − ÍGIO, − ÓGIO, − ÚGIO: pedágio sacrilégio prestígio relógio refúgio 5. Escrevem-se com “g” os substantivos terminados em − GEM: a viagem a coragem a ferrugem Exceções: pajem, lambujem Uso do xis (“x”) 1. Palavras iniciadas por ME − serão escritas com “x”: mexerica A04  Ortografia

2. Os verbos terminados em − ISAR serão escritos com “s” quando esta letra fizer parte da palavra de origem, enquanto os terminados em − IZAR serão escritos com “z” quando a palavra de origem não tiver terminação em “s”:

México mexilhão mexer Exceção: mecha de cabelos 543


Português

2. As palavras iniciadas por EN- serão escritas com “x”, a não ser que provenham de vocábulos iniciados por “ch”: enxada enxerto enxurrada encher – provém de cheio enchumaçar – provém de chumaço 3. Usa-se“x” após ditongo: ameixa caixa peixe Exceções: recauchutar, guache

Palavras e expressões parônimas e homônimas

A04  Ortografia

Fonte: Shutterstock.com / Billion Photos

São muitas as regras para se memorizar quanto à grafia correta de uma palavra, e familiarizar-se com elas deve ser um exercício constante e rotineiro dado que, seguindo esse fluxo, logo você não terá mais tantos problemas de ortografia. No entanto, ainda faz-se necessário desfazer outras inadequações ortográficas no ensino de língua portuguesa: escrita de palavras homônimas (do grego homo, igual) e parônimas (do grego para, semelhante, parecido).

Figura 01 - Hexaedros do alfabeto da língua portuguesa

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Desses três grupos de homônimas, aquele que mais gera confusões e consequentemente leva-nos a cometer inadequações ortográficas é o grupo das homônimas heterógrafas. Explica-se justamente pela sonoridade idêntica e grafia distinta, uma vez que se você escrever: “Noz vamos ao cinema” ou “Nós é minha castanha predileta”, apesar de não haver explicitamente nenhum palavra grafada erroneamente, houve uma confusão que perturba o sentido do enunciado. Nesse sentido, é muito importante se atentar a esse grupo de palavras. Ampliando o grupo das homônimas heterógrafas juntam-se as palavras parônimas, cuja semelhança na pronúncia também nos leva a deslizes, como no par: mandado (ordem judicial) e mandato (tempo de um cargo político). Estude com atenção a lista de palavras homônimas e parônimas a seguir:

Iminente = imediato, próximo Emigrar = sair da pátria Imigrar = entrar em outro país para viver Estada = permanência em algum lugar Estadia = permanência do navio no porto Flagrante = evidente Fragrante = aromático Incipiente = iniciante, principiante Insipiente = ignorante Infligir = aplicar pena, castigo Infringir = transgredir Mandado = ordem judicial Mandato = delegação de poder Ratificar = confirmar Retificar = corrigir A princípio = no início, no começo Em princípio = antes de tudo, antes de mais nada, em tese Tão pouco = pouca quantidade ou intensidade Tampouco = também não, nem também

Acerca de = a respeito de A cerca de = a uma certa distância Há cerca de = faz um certo tempo Cerca de = aproximadamente

Casos especiais

Ao encontro de = para junto de, favorável De encontro a = contra, em prejuízo de

Além desses casos, vejamos com mais cuidado os seguintes grupos de palavras:

Censo = recenseamento Senso = juízo, discernimento

Uso de POR QUE, POR QUÊ, PORQUE e PORQUÊ

Vultoso = grande, volumoso Vultuoso = inchado (o rosto)

Delatar = denunciar, acusar Dilatar = adiar, ampliar

O uso dos porquês da língua portuguesa restringe-se ao conhecimento da classe gramatical a que cada um pertence: por que e por quê (pronomes), porque (conjunção) e porquê (substantivo).

Descrição = ato de descrever Discrição = modéstia, recato

Quando pronome, equivale às expressões: por que razão, por qual motivo, pelo(a)(s) qual(is).

Descriminar = inocentar, isentar de crime Discriminar = diferenciar, separar Despercebido = não visto, não notado Desapercebido = desprevenido, desprovido Eminente = elevado, célebre

nn Por

que (por que razão) você não disse a verdade?

nn Até

agora não entendi por que (por qual motivo) ela mentiu.

nn Você não está sendo sincera. Por quê (Por qual razão)? nn A razão por que (pela qual) ela mentiu não me interessa. nn Os

ideais por que (pelos quais) lutamos são nobres.

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A04  Ortografia

Existem três tipos de palavras homônimas: homônimas perfeitas (palavras idênticas na pronúncia e na grafia), homônimas homógrafas (iguais apenas na grafia) e homônimas heterógrafas (iguais apenas na pronúncia). nn Nos pares: são (sadio) / são (verbo); mangueira (tubo plástico) / mangueira (árvore) = homônimas perfeitas. nn Nos pares: torre (prédio alto) / torre (verbo); colher (talher) / colher (verbo) = homônimas homógrafas. nn Nos pares: nós (pronome) / noz (castanha); acento (sinal gráfico) / assento (lugar de sentar) = homônimas heterógrafas.


Português

Obs.: Como vimos nos módulos que abordavam as regras de acentuação, você já é capaz de entender por que ora a partícula “que” é acentuada e ora não é. Trata-se da tonicidade que é empregada a ela quando encontrada no final de uma frase, por ser pronunciada com mais intensidade. Quando conjunção, equivale às conjunções causais e explicativas: pois, já que, visto que etc. nn Ela

mentiu porque (pois) ficou com medo.

nn Será que ela mentiu por que (visto que) ficou com medo?

Quando substantivo, equivale aos termos: motivo, razão, dúvida, e é o único que possui plural. nn Ela

mentiu e não nos disse o porquê (o motivo).

Fonte: Wikimedia Commons

professor sempre deve responder aos porquês (às dúvidas) dos alunos.

Figura 02 - Criança com dúvidas acerca da grafia das palavras: por que, por quê, porque e porquê.

Uso de MAL e MAU A grafia “mal” é utilizada quando advérbio, substantivo ou conjunção, e opõe-se a “bem” ou “nem bem”. Já a grafia “mau” é utilizada quando adjetivo ou adjetivo substantivado, e opõe-se a “bom”. Observe: nn Júlio

nunca foi mau (bom) aluno. nn A depressão é considerada o mal (bem) do século. nn Deve afastar-se dos maus (bons). nn Pouca saúde e muita saúva os males (bens) do Brasil são. nn Pedro passou mal (bem) na aula de ontem. nn Mal (nem bem) chegamos à festa, a confusão começou.

A04  Ortografia

Uso de HÁ e A A terceira pessoa do presente do indicativo do verbo “haver” é grafada como “há”, em oposição à preposição de sonoridade idêntica: “a”. Nesse sentido, o verbo pode ser substituído por outro verbo semelhante, como: existir, fazer, ocorrer ou acontecer. Veja as diferenças quanto ao uso: nn Parece que ainda há (existem) pessoas desaparecidas. nn O

546

Elis começou a cantar. público estava a poucos metros da cantora.

(Faz) dez dias, soubemos o local do exame que faremos daqui a dez dias.

Obs.: Nas indicações de tempo, usa-se “há” para o passado (tempo decorrido) e “a” para o futuro (tempo restante). Uso de ONDE, AONDE e DONDE Os enunciados construídos com “onde” referem-se somente a adjuntos adverbiais de lugar e, quando necessário, juntam-se às preposições “a” (aonde) e de (donde). Observe ainda que a expressão “donde”, hodiernamente, é pouco utilizada, sendo preferível “de onde”. Veja exemplos da partícula “onde” mal empregada: nn A criança ganhou um lindo presente, onde (logo) ficou

nn O

nn Silêncio!

nn Há

muito feliz. nn Nossa alegria é imensa, onde (por isso) queremos compartilhá-la com todos. nn Existem momentos na vida, onde (nos quais) o melhor é recomeçar. nn Às vezes, ocorrem situações onde (em que) devemos ter cuidado. Veja que, em nenhuma das situações, a palavra “onde” mal empregada refere-se a um lugar, então, seu uso deve ser substituído por outro termo, seja conjunção, seja pronome. Agora, observe o uso de “onde” em relação à preposição que o acompanha e note que é o verbo que determina o uso da preposição correta: nn Ela

não nos disse onde estava (estar em) nem aonde ia (ir a) com tanta pressa. nn Você não conhece o lugar donde eu vim (vir de): ele é muito pequeno. nn Onde você mora (morar em)? Aonde você vai (ir a)? Donde você veio (vir de)? Obs.: Quando a preposição exigida pelo verbo é a preposição “em” o referente “onde” não sofre alteração em sua grafia. Uso de A FIM DE e AFIM(NS) A locução conjuntiva “a fim de” significa com finalidade, objetivo, intenção, enquanto o adjetivo “afim” equivale é semelhante, ligado à afinidade, parentesco. Veja: nn Todos

que vieram aqui a fim de (com intuito de) conseguir o emprego têm objetivos afins (semelhantes). nn Sempre fui a fim (intenção) daquela menina! nn Minha opinião sempre foi afim (semelhante) à sua. nn João e Joana são afins (parentesco), isto é, são primos. nn Ele queria sair, mas ontem eu não estava a fim (intenção). Uso de EM VEZ DE e AO INVÉS DE A expressão “em vez de” significa no lugar de algo, em substituição a alguma coisa, e a expressão “ao invés de” significa ao contrário de algo, exatamente o oposto. Logo, pode-se notar que a expressão “em vez de” pode ser empregada sempre, em quaisquer dessas situações.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

nn Ao

invés de subir as escadas, preferiu descê-las. (Veja que subir é o oposto de descer)

nn Em

vez de subir as escadas, preferiu descê-las. (Nada impede, porém, essa construção)

nn Por

que você não arranja um trabalho digno em vez de viver à custa dos outros. (Nesse caso, somente “em vez de” é aceitável, já que, por mais que distintas, arranjar um trabalho e viver à custa dos outros não são opostos)

Emprego do hífen Esse assunto deu o que falar na discussão do Novo Acordo Ortográfico entre os países lusófonos. Imagine uma sala ampla cheia de linguistas e um grita: - Chega de hífen! Ninguém sabe isso mais! A solução é escrever tudo emendado! - Realmente, responderia ironicamente um dos linguistas, “guardarroupa” ficaria sensacional! - Se a questão é estética, outro estudioso da língua grita, o hífen deveria ser opcional. Cada um usaria do jeito que bem entender! - Não, mas com certeza não se trata só de uma questão de estética, sim uma questão de lógica! - Enfim alguém sensato o suficiente! Mas que lógica segue a regra do hífen mesmo? Bem, esse diálogo não é real, mas ele exemplifica suficientemente bem todas as dúvidas que falantes de língua portuguesa têm sobre o uso do hífen. Para isso, vejamos como era a situação antes e depois da reforma ortográfica. Antes da reforma

Depois da reforma

mega-sena

megassena

minissaia

minissaia

microondas

micro-ondas

guarda-chuva

guarda-chuva

Parecia que antes da reforma realmente não havia lógica alguma. Como escrever mega-sena com hífen e minissaia sem hífen? Pelo menos isso agora o Novo Acordo conseguiu organizar. A lógica agora do uso do hífen está ligada a três preceitos básicos:

Fonte: Wikimedia Commons

nn Preservação da sonoridade: significa que, quando necessário, para

manter-se o valor real da vogal, podem-se dobrar as letras “r” ou “s”. nn contra

+ regra = contrarregra

nn Uso

do hífen em último caso: o hífen só será utilizado quando a sonoridade estiver comprometida. A04  Ortografia

nn inter + regional = inter-regional (se as juntássemos, a palavra não

preservaria eufonia, ficando “interregional”). nn “Em time que se está ganhando não se mexe”: isto é, para palavras

cuja grafia já está consolidada – normalmente palavras formadas Figura 03 - Seleção brasileira campeã de 2002

547


Português

por composição – não houve alterações quanto ao hífen, diferente das palavras formadas por derivação, que sempre provocaram dúvidas. nn “Guarda-chuva”

e “girassol” são palavras formadas por composição e você certamente sempre se deparou com essa mesma grafia.

nn “Ultrassonografia” e “micro-ônibus” são palavras formadas por derivação, mas

verem-nas escritas, respectivamente, com e sem hífen, é bastante comum. Regra geral Usa-se o hífen somente se o segundo elemento iniciar por “h” ou vogal igual. nn arqui-inimigo;

!

anti-horário; contrarreforma; autossustento

ATENÇÃO!

Para manter-se a eufonia, as consoantes “r” e “s” do segundo elemento dobram-se caso o primeiro elemento termine por vogal.

Veja abaixo todos os prefixos que seguem essa regra. Note ainda que tais prefixos, de modo geral, são bissílabos terminados em vogal. Exemplos: nn aeroplano; anti-inflamatório; autorretrato; contra-ataque; fotossíntese; heteros-

sexual; infraestrutura; micro-ondas; mini-história; sobre-humano; ultrarrevisão; carbo-hidrato (carboidrato*); micro-organismo (microrganismo*) aero; agro; alfa; ante; anti; arqui; auto; beta; bi; bio; contra; eletro; entre; extra; foto; geo; hetero; hidro; hipo; homo; infra; intra; iso; lipo; macro; maxi; meso; micro; mini; mono; multi; neo; neuro; paleo; para; peri; pluri; poli; proto; pseudo; psico; retro; semi; sobre; supra; tele; tetra; tri; ultra.

!

ATENÇÃO!

Consagradas pelo uso, são aceitas as duas grafias para ‘carboidrato’ e ‘microrganismo’.

Regras complementares Veja abaixo o grupo de prefixos e em que situações deve ser empregado o hífen: hiper; inter; nuper; super Usa-se o hífen somente se o segundo elemento iniciar por “h” ou “r”. Exemplos: A04  Ortografia

nn inter-racial;

hiper-relação; super-raça; super-herói ab; ob; sob; sub

Usa-se o hífen somente se o segundo elemento iniciar por “h”, “b” ou “r”.

548


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exemplos: nn sub-humano;

sub-base; sub-região; ab-rupto (abrupto*) ad

Usa-se o hífen somente se o segundo elemento iniciar por “h”, “d” ou “r”. Exemplos: nn ad-digital;

advir; ad-renal (adrenal*) pan; circum

Usa-se o hífen somente se o segundo elemento iniciar por “h”, “m”, “n” ou vogal. Exemplos: nn circum-navegação;

pan-americano; circum-hispânico

além; aquém; ex; para; recém; sem; sota; soto; vice Usa-se o sempre o hífen. Exemplos: nn ex-vice-reitor;

sem-terra; recém-nascido in; i(r); des; re; co

Nunca se usa o hífen. Exemplos: nn insalubre;

irreal; desumano; cooperação

Casos especiais Prefixos pré/pró/pós X pre/pro/pos

Com autonomia

Sem autonomia

pré-natal

preexistente

pós-graduação

posterior

pró-ativo

promover A04  Ortografia

O hífen só será empregado quando o prefixo preservar autonomia. O prefixo “pré”, por exemplo, significa antes, anteriormente, no entanto a palavra “preconceito” significa muito mais que um conceito prévio, seu sentido é próximo de discriminação, uma conotação negativa. Diferentemente, porém, da palavra “pré-vestibular”, nesse caso, o hífen é utilizado porque o prefixo preservou seu significado, pré-vestibular é exatamente aquilo que ocorre antes do vestibular.

Prefixos bem e mal Usa-se o hífen quando o segundo elemento começa por vogal ou “h”. nn bem-educado;

bem-humorado; mal-agradecido; mal-habituado 549


Português

!

ATENÇÃO!

Quando o segundo elemento se inicia por consoante, o advérbio “mal” sempre se aglutina, ao contrário do advérbio “bem”, que nunca se aglutina, salvo exceções consolidadas pelo uso. nn bem-nascido; malnascido; bem-mandado; malmandado; benfeitor; benquerença

Nacionalidade Os prefixos que denotam nacionalidade são grafados sempre com hífen. nn euro-asiático;

!

indo-português; anglo-americano; franco-suíço

ATENÇÃO!

São grafados sem hífen quando funcionam adjetivamente como elemento mórfico. nn eurocomunista; afrolatria; francofonia; lusofilia

Observações finais As palavras formadas por composição não possuem regra clara, sendo sua escrita grafada ou não com hífen consagrada pelo uso. nn arco-íris;

para-choque; marca-passo; girassol; passatempo; paraquedas; bem-me-quer; malmequer; cor-de-rosa; mais-que-perfeito; à queima-roupa; fim de semana; café da manhã; mão de obra; pé de moleque

!

ATENÇÃO!

Palavras que designam espécies botânicas/zoológicas são grafadas sempre com hífen. nn beija-flor; andorinha-do-mar; bico-de-papagaio; tico-tico

A04  Ortografia

Exercícios de Fixação 01. Assinale o trecho que apresenta correção ortográfica, gramatical e sintática: a) A cidade na virada da década de 1890 ganha as primeiras marcas do progresso, impressas pelo prefeito. Vapores singram às águas. Surge a iluminação a gás. Conclui-se, com base nessas informações, que o desenvolvimento teve início nessa década. b) A cidade, na virada da década de 1890, ganha as primeiras marcas do progresso, impressas pelo prefeito. Vapores singram as águas. Surge a iluminação a gás. Conclui-se, com base nessas informações, que o desenvolvimento teve início nessa década. c) A cidade, na virada da década de 1890, ganha as primeiras marcas do progresso, impressas pelo prefeito. Vapores singram as águas. Surje a iluminação a gaz. Con-

550

clue-se, com base nessas informações que o desenvolvimento teve início nesta década. d) A cidade, na virada da década de 1890, ganham as primeiras marcas do progresso, impressas pelo prefeito. Vapores singram as águas. Surgem a iluminação a gás. Conclui-se, com base nessas afirmações, que o desenvolvimento teve início nessa década. e) A cidade, na virada da década de 1890, ganha as primeiras marcas do progresso, impresso pelo prefeito. Vapores cingram as águas. Surje a iluminação a gás. Conclue-se, com base nessas informações, que o desenvolvimento teve início nessa década. 02. (Udesc SC) 1Por que terminamos tudo? Tolice... Sinto vontade de rir quando me lembro. Um dia fui ao mato conversar sozinha com as árvores e abaixei-me para fazer xixi. Um galho


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

de árvore quebra-se de repente e eu, com o susto, me sento na terra molhada de meu próprio orvalho, e instintivamente olho para cima. Lá estava o Rudi que, desonestamente, trepara para me 5ouvir conversar e declamar para as árvores. Fugi apavorada e a vergonha nunca mais deixou que eu o encarasse. Parece que o meu pequeno romance, tão lindo, dos meus quinze anos, tinha de acabar assim, tão prosaicamente! Mas... meu Deus, tia Clara já deve estar quase de volta, Cidinha e Dora também. Percorri toda a cidade da infância, o cemitério e só agora me apercebo de que o relógio não para. Vou 10começar a vestir-me para as lições das crianças de Frau Schmidt. Será que vem chuva? Deixa ver o lado da Itoupava Seca. É... está mesmo carregado... Quem vem lá, não é o Zeca do “Blumenau”? É ele, sim. Vou ao portão ver o que é. – Mas Zeca, o Blumenau não saiu ou criou asas como nos contos de... – Dona Lula, não quero lhe dizê nada. Queria era falá com sua tia. Ela está? 15 – Não. Foi ao hospital. Mas que é que há homem? Desembucha! – Não sei se devo, a senhora é moça e tão... mas já que ela não está, eu quero pedir um favor: Não perca a Menininha de vista. Aquilo é danada, mais danada que pimenta!... Aquilo, ninguém sabe o que é que tá ali. [...]

03. De acordo com as novas regras para o hífen, passarão a ser cor-

(LAUS, Lausimar. O guarda-roupa alemão. Rio de Janeiro: Pallas, 1975, p. 49-50.)

e) É preciso ter auto-estima e auto-controle para co-ordenar o

Assinale a alternativa correta, tendo como referência o texto. a) Os termos destacados em “o relógio não para” (ref. 5) e “vestir-me para as lições” (ref. 10) apresentam-se com o mesmo sentido em ambas as orações. b) O enunciado “Por que terminamos tudo?” (ref. 1) segue as normas ortográficas se também for redigido Terminamos tudo porque? c) Seguindo as normas ortográficas, o plural de O guarda-roupa alemão é Os guardas-roupas alemães. d) A expressão destacada em “Mas que é que há homem?” (ref. 15) e “Aquilo, ninguém sabe o que é que tá ali.” (ref. 15) não pode ser eliminada, pois alteraria todo o sentido da informação. e) Acrescentando-se a conjunção pois após a vírgula em “Não sei se devo, a senhora é moça e tão...” (ref. 15), não se altera o sentido do período no texto.

projeto de infraestrutura recém-aprovado,ainda muito polê-

retas as grafias: a) Coautor, antissocial e micro-ondas b) Co-autor, anti-social e micro-ondas c) Coautor, antissocial e microondas d) Co-autor, antissocial e micro-ondas e) Coautor, anti-social e microondas 04. Qual das frases abaixo está redigida de acordo com a nova ortografia? a) É preciso ter autoestima e autocontrole para coordenar o projeto de infraestrutura recém-aprovado,ainda muito polêmico e com ajustes a fazer. b) É preciso ter auto-estima e autocontrole para coordenar o projeto de infra-estrutura recém-aprovado,ainda muito polemico e com ajustes a fazer. c) É preciso ter auto-estima e autocontrole para co-ordenar o projeto de infraestrutura recémaprovado,ainda muito polêmico e com ajustes a fazer. d) É preciso ter auto-estima e auto-controle para coordenar o projeto de infra-estrutura recém-aprovado,ainda muito polemico e com ajustes a fazer.

mico e com ajústes a fazer. 05. Em quais das alternativas abaixo há apenas palavras grafadas de acordo com a nova ortografia da língua portuguesa? a) Pára-choque, ultrassonografia, relêem, União Européia, inconseqüente, arquirrival, saúde b) Para-choque, ultrassonografia, releem, União Europeia, inconsequente, arquirrival, saúde c) Para-choque, ultrassonografia, releem, União Europeia, inconsequente, arquirrival, saúde d) Parachoque, ultra-sonografia, releem, União Européia, inconsequente, arqui-rival, saúde e) Pára-choque, ultra-sonografia, relêem, União Européia, inconseqüente, arqui-rival, saúde

Exercícios Complementares

a) Receba meus cumprimentos pelo seu aniversário. b) Ele agiu com muita descrição. c) O pião conseguiu o primeiro lugar na competição. d) Ele cantou uma área belíssima. e) Utilizamos as salas com exatidão.

02. Indique a única sequência em que todas as palavras estão grafadas corretamente: A04  Ortografia

01. Estão corretamente empregadas as palavras na frase:

a) fanatizar - analizar - frizar. b) fanatisar - paralizar - frisar. c) banalizar - analisar - paralisar. d) realisar - analisar - paralizar. e) utilizar - canalisar - vasamento. 551


Português

03. A alternativa que apresenta erro(s) de ortografia é: a) O experto disse que fora óleo em excesso. b) O assessor chegou à exaustão. c) A fartura e a escassez são problemáticas. d) Assintosamente apareceu enxarcado na sala. e) Aceso o fogo, uma labareda ascendeu ao céu. 04. Verifique, nas proposições a seguir, se os termos em maiúsculos estão CORRETAMENTE empregados. I. Sua alegria aumentava À MEDIDA QUE o fim de semana se aproximava. II. DIA A DIA, suas esperanças vão se concretizando. III. Não concordo com sua opinião, pois o que você acha a respeito de riqueza vem AO ENCONTRO DO que eu penso. IV. Não aceito nada que venha DE ENCONTRO AOS meus princípios morais. V. O professor não estava AO PAR dos fatos da semana, por isso não se manifestou durante a reunião com os colegas. Indique a seleção CORRETA das proposições anteriores: a) I, III, IV d) I, II, IV b) II, III, IV e) III, IV, V c) II, IV, V 05. A expressão em destaque está corretamente usada em: a) PORQUÊ estava cansado, o namorado dormiu. b) Não sabemos o PORQUE da sua dúvida. c) Você me evita não sei POR QUÊ. d) Não sei POR QUÊ você me evita.

A04  Ortografia

06. (Ufam AM) Pode-se escrever, conforme o caso, a cerca de, há cerca de ou acerca de. Assinale a opção em que há erro nesse emprego. a) A cerca de dez anos vivo apenas de minhas lembranças: sombras, murmúrios, vozes da infância, o mandacaru no fundo do quintal. b) Eu tinha em minha carteira, há cerca de duas semanas, o número do telefone do hotel no qual gostaria que passasse suas férias. c) A fim de visitar meu irmão, que não vejo há doze anos, estarei viajando a Belém daqui a cerca de três meses. d) O delegado ainda não se pronunciou acerca do litígio que ocorreu entre duas galeras rivais. e) Podes me dizer o que há acerca da sucessão presidencial? 07. Indique a alternativa em que o parônimo destacado está inadequadamente empregado em lugar de outro. a) Na reconstrução da região atingida pelas enchentes, o governo precisará investir vultosos recursos. b) Com as chuvas, a queda do velho casarão era iminente, por isso a Defesa Civil isolou a área ao redor do prédio. c) Para receber o dinheiro, você precisa discriminar detalhadamente as despesas. d) É da falta de políticas sociais eficientes que emergem alguns dos graves problemas que afligem as grandes cidades; é nelas que muitos adolescentes desassistidos imergem na criminalidade. 552

e) Em certos países, a Justiça infringe terríveis castigos corporais a quem inflige os rigorosos códigos morais fixados pela tradição. 08. Complete as lacunas das frases com porque, por que, por quê ou porquê e indique a alternativa correta: I.

Ele nunca colabora na execução dos trabalhos, mas, depois que tudo está pronto, fica perguntando _____ não fizemos de um outro jeito.

II.

A prefeitura não autorizou a realização do show, mas ninguém sabe _____.

III.

A empresa responsável pela realização do show ainda não explicou o _____ do cancelamento da festa.

São vários os órgãos públicos _____ a documentação tem de passar para que um show de grandes proporções possa ser autorizado. a) por que – por quê – porquê – por que b) porque – por quê – porquê – porque c) por que – porquê – porquê – por que d) por quê –por que – porquê – por que e) porque – por quê – por que – porque 09. O hífen deixará de ser usado quando o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento começar por consoante diferente de r ou s. Qual é a exceção? a) A palavra auto-escola. b) Termos econômicos, como agro-industrial. c) O prefixo mini, que passará a levar hífen. d) O prefixo vice, que levará sempre o hífen. 10. Em relação ao uso do HÍFEN, assinale a alternativa correta, de acordo com a Nova Ortografia: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (

x x x x

x x x x x x x

) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) )

auto-escola azul-escuro malcriado minidicionário pós-graduação sem teto auto-retrato extra-regimento anti-herói paraquedas superresistente semi-interno re-edição reidratação bem-querer Trás-os-Montes ervilha de cheiro andorinha-do-mar

( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( (

x

x x x

x x

x

) autoescola ) azul escuro ) mal-criado ) mini-dicionário ) pósgraduação ) sem-teto ) autorretrato ) extrarregimento ) antiherói ) pára-quedas ) super-resistente ) semiinterno ) reedição ) re-hidratação ) benquerer ) Trás os Montes ) ervilha-de-cheiro ) andorinha do mar


FRENTE

A

PORTUGUÊS

Exercícios de Aprofundamento 01. Reescreva, quando necessário, as frases a seguir seguindo adequadamente a norma estatal: I. II. III. IV. V.

O desrespeito às leis implica sérias consequências ao inI. De acordo com a norma estatal. frator. II. Nós preferimos ficar em casa a viajar com chuva. Nós prefere ficar em casa que viajar com chuva. O secretário dos esportes chegou atrasado na abertura III. O secretário dos esportes chegou atrasadas Paraolimpíadas. do à abertura das Paralimpíadas. Cara, você é muito chato! Sai daqui! IV. Cara, você é muito chato! Saia daqui! O secretário, de cujo nome me esqueci, acabou de entrar no recinto. V. De acordo com a norma estatal.

02. O trecho a seguir faz parte de uma matéria sobre erros de português cometidos inclusive por jornalistas e foi extraído da revista Imprensa, ano III, n. 34 (In. MESQUITA, Roberto Melo. Gramática. São Paulo: Saraiva, 1999). Texto 1 “De fato, de 30 anos para cá, o ensino da língua portuguesa nas escolas primárias e secundárias teve sua qualidade perigosamente comprometida pelo descaso governamental, pela incúria dos educadores e – pior – pela garantia, na mídia, das condições de reprodução dos equívocos sintáticos e derrapadas linguísticas. De tanto esses erros serem repetidos, assumem foros de norma estabelecida. “Vem pra Caixa você também” propõe, por exemplo, o anúncio de um banco oficial. “No meu governo”, indigna-se Luís Edgar de Andrade, 57 anos e 35 de profissão, diretor de redação da Rede Manchete, “o presidente da Caixa Econômica Federal seria condenado ao degredo perpétuo, para aprender como se conjuga o verbo vir no imperativo.” (UFSC) Após ler o Texto 1, analise as afirmativas abaixo: I. A forma “Venha para a Caixa, você também” não deixaria Luís Edgar de Andrade indignado. II. Para o diretor da Rede Manchete, o presidente da Caixa deveria ser condenado a pagar altíssimas multas, pelo desconhecimento da língua padrão. III. O diretor de redação da Rede Manchete não considera as possibilidades de uso das variantes linguísticas em certos textos, como textos publicitários, em que as variantes são utilizadas como estratégia de persuasão, uma vez que aproximam a linguagem do texto daquela utilizada no cotidiano. Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente as afirmativas I e III estão corretas. b) Somente a afirmativa II está correta. c) Somente as afirmativas I e II estão corretas. d) Somente as afirmativas II e III estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas.

03. (FGV SP) Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade: Lagoa Eu não vi o mar. Não sei se o mar é bonito, não sei se ele é bravo. O mar não me importa. Eu vi a lagoa. A lagoa, sim. A lagoa é grande e calma também. Na chuva de cores da tarde que explode a lagoa brilha a lagoa se pinta de todas as cores. Eu não vi o mar. Eu vi a lagoa... Observe as frases: Eu não vi o mar. Eu não vi Omar. Evidentemente, a segunda frase não caberia no poema pela construção semântica mar X lagoa. No entanto, tomado o verso fora do contexto do poema, o seu entendimento poderia ser prejudicado. Isso decorre do fato de a) a construção frasal ser semelhante, apesar de haver diferenciação na pronúncia das palavras. b) haver uma coincidência na seleção de fonemas entre as duas frases, o que leva à idêntica pronúncia. c) não haver equivalência entre os fonemas de ambas as frases, o que as torna bastante ambíguas. d) haver duas unidades linguísticas (o mar) sendo retomadas por uma (Omar) de pronúncia diferente. e) haver diferença na quantidade de letras nas duas frases, mas equivalência de fonemas entre elas. 04. (IF SC) AULA DE PORTUGUÊS A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando 553


Português

o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entre cortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. ANDRADE, Carlos Drummond de. Aula de Português. <http://drummond.memoriaviva.com.br/alguma-poesia/aula-de-portugues>. Acesso em: 10 set. 2014.

Tendo em vista a leitura do texto e considerando a posição da sílaba tônica das palavras, assinale a alternativa CORRETA. a) As palavras acentuadas na primeira estrofe do poema são classificadas como paroxítonas. b) As palavras acentuadas na terceira estrofe do poema são classificadas como proparoxítonas. c) As palavras acentuadas na segunda estrofe do poema são classificadas como paroxítonas. d) As palavras acentuadas na quarta estrofe do poema são classificadas como oxítonas. e) As palavras acentuadas na segunda estrofe do poema são classificadas como proparoxítonas. 05. (IF SP)

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Junho 1871 Leitor de bom senso, que abres curiosamente a primeira página deste livrinho, sabe, leitor celibatário ou casado, proprietário ou produtor, conservador ou revolucionário, velho patuleia ou legitimista hostil, que foi para ti que ele foi escrito – se tens bom senso! E a ideia de te dar assim todos os meses, enquanto quiseres, cem páginas irônicas, alegres e justas, nasceu no dia em que pudemos descobrir, através da ilusão das aparências, algumas realidades do nosso tempo. Aproxima-te um pouco de nós, e vê. O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos em Coimbra vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína econômica cresce, cresce, cresce... O comércio definha, A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um

554

inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro. De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O número das escolas só por si é dramático. O professor tornou-se um empregado de eleições. A população dos campos, arruinada, vivendo em casebres ignóbeis, sustentando-se de sardinha e de ervas, trabalhando só para o imposto por meio de uma agricultura decadente, leva uma vida de misérias, entrecortada de penhoras. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do País. Apenas a devoção perturba o silêncio da opinião, com padre-nossos maquinais. Não é uma existência, é uma expiação. Eça de Queirós.

De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e em relação às regras de acentuação, assinale a alternativa em que os três vocábulos, transcritos do texto, obedecem à mesma regra de acentuação gráfica. a) página/ públicos/ ruína

d) café/ crê/ país

b) inércia/ princípio/ indústria

e) cidadão/ café/ através

c) país/ há/ ação 06. (UEPG PR) A poesia de um B.O. Não é de hoje que a Justiça apela para a literatura para arejar o discurso formal de seus documentos e protocolos, geralmente sisudos e eivados de linguagem técnica. Se juízes e advogados já praticaram a linguagem literária em horário de trabalho, agora foi a vez da polícia mineira arriscar nas rimas. Na cidade de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, um policial se valeu de versos para contar a história de um pai que tentava tirar o filho do mundo do crime. O registro tratava da devolução de uma arma irregular, que foi descoberta pelo pai na casa do rapaz. Com medo de que o jovem fosse preso, o pai ligou para a polícia para indicar onde deixaria a arma. O policial assim descreveu a devolução: “Recolhemos a tal arma sem força ou resistência / O velho cumpriu o trato / Sem gastar uma insistência; / O velho nunca mais vi / Deve estar por aí”. Segundo a assessoria de imprensa da PM mineira, o militar, que não teve o nome divulgado, desrespeitou a técnica de redação dos documentos militares, o que poderá lhe render uma punição. 01-02-04-08

Adaptado de: Revista Metáfora. Fevereiro de 2013, número 16, página 09.

No que diz respeito à acentuação, assinale o que for correto. 01. Quanto à posição da sílaba tônica, os vocábulos “literatura”, “juízes” e “assessoria” classificam-se como palavras paroxítonas. 02. Todas as palavras proparoxítonas são acentuadas, embora nem toda palavra acentuada seja necessariamente proparoxítona. 04. Os vocábulos “rapaz”, “policial” e “poderá” são oxítonas, mas só a última palavra é acentuada graficamente, pois é uma oxítona terminada em “a”. 08. Os vocábulos “resistência” e “insistência” classificam-se como palavras paroxítonas terminadas em ditongo crescente.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

havia, ainda, entre nós, a televisão. Para se divertirem, os brasileiros frequentavam, além dos campos de futebol, os teatros de revista, os programas de auditório da Rádio Nacional, os cinemas. E os que podiam gastar mais, os cassinos. Mas, tanto nos palcos como nos auditórios, nas telas e nos redutos do

( ) O crescimento demográfico ocorrido no Brasil, a partir da década de 50 do século XX, conforme mencionado no texto, deveu-se ao aumento da natalidade, o qual compensou a mortalidade infantil, que, ainda hoje, apresenta taxas crescentes. ( ) A tendência de crescimento das maiores cidades brasileiras, denominadas metrópoles, é uma característica da ex-

jogo, desfilava, praticamente, o mesmo plantel de artistas, can-

pansão urbana do Brasil, que se configura em uma rede de

tores e comediantes. Nas telas, predominavam as chanchadas,

cidades densa e articulada, na qual se integram todas as

desprezadas, por serem consideradas produtos de ínfima qualidade. Mas, nunca, até aquela data, o cinema brasileiro lograra atrair, com tal ímpeto e regularidade, a atenção e o entusiasmo

regiões brasileiras. ( ) A migração inter-regional concorreu para a urbanização do país e para o estabelecimento das grandes metrópo-

do grande público. Graças às chanchadas, a indústria brasileira de filmes pôde sobreviver, contra tudo e contra todos, apesar da maciça concorrência estrangeira.

les brasileiras. ( ) A concentração da população brasileira em grandes cidades implicou degradação ambiental, que, por sua vez, está

Nosso século. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 179.

Considerando o texto acima como referência, julgue os itens que se seguem. C-C-C ( ) A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial como integrante das forças aliadas contra o eixo nazifascista foi habilmente utilizada por Vargas em sua estratégia de financiamento da indústria de base no país, tendo sido também decisiva para a derrubada de um regime essencialmente autoritário como era o do Estado Novo. ( ) Nos anos 40 e 50 do século passado, o Brasil era um país em movimento, que se industrializava e, com impressionante rapidez, se urbanizava. Nesse contexto de transformações, a moderna linguagem radiofônica uniu o país, e plateias cada vez mais numerosas ocupavam as salas de cinema para ver filmes não só estrangeiros, mas também nacionais. ( ) O período áureo das chanchadas, ao longo dos anos 50 do século passado, corresponde à grande efervescência política de um Brasil que conduzia seu aprendizado democrático convivendo com crises — como a que culminou no suicídio de Vargas — e com as lições de otimismo que marcaram os anos JK. 08. (UnB DF) Por volta dos anos 40 do século passado, o hábito de ir ao cinema tornou-se de tal forma popular que, em cidades de grande porte como Rio de Janeiro ou São Paulo, 80% da população frequentava as salas de exibição, pelo menos, uma vez por semana. É difícil acreditar em tal porcentagem sem levar em conta que o vertiginoso crescimento demográfico das metrópoles brasileiras ocorreu a partir da década de 50 e que, desde a década de 60, a audiência do cinema foi progressivamente suplantada pela da televisão. Com relação ao tema abordado nesse texto, julgue os seguintes itens.

E-E-C-C-C

relacionada a epidemias. ( ) A moderna urbanização brasileira está relacionada à industrialização iniciada na Era Vargas e ao contexto da Segunda Guerra Mundial, processo que se ampliou ao longo dos anos da década de 50 do século XX, com a criação da PETROBRAS e o desenvolvimentismo do período JK. 09. (UnB DF) 1

Além de ser considerado um dos símbolos e uma 2das ino-

vações da modernidade, o cinema tornou-se um meio 3extraordinário de circulação de conhecimento, de difusão de 4

novas experiências e valores culturais. Numa cultura 5in-

teiramente permeada pela expectativa de progresso 6científico e inovações tecnológicas, é natural que os meios de 7

comunicação projetem perspectivas semelhantes. Não ape-

nas 8documentários e ficções científicas exprimem os 9conhecimentos desejados e os alcançados, mas, até mesmo, 10

os dramas (profundos ou tolos) e as comédias revelam a

11

penetração da ciência em nossa cultura. Isso faz dos filmes

12

um ótimo material para a análise da cultura e também para

a 13 compreensão da história da ciência. Bernardo Jefferson de Oliveira. Cinema e imaginário científico. História, ciência, saúde. v. 13 (suplemento), p. 133-50 (com adaptações).

Com relação ao texto acima, julgue os itens a seguir.

E-C-E

( ) Segundo o autor do texto, documentários e ficções científicas retratam melhor que os dramas e as comédias as características culturais de um povo. ( ) A inserção da informação entre parênteses, na referência 10, também pode, retirando-se os parênteses, ser assinalada por duas vírgulas ou por dois travessões, sem que a correção e a coerência do texto sejam prejudicadas. ( ) A substituição da preposição de, em “dos filmes” (ref.11), por com que, resultando no segmento com que os filmes, preservaria a correção e a coerência textuais. 555

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

07. (UnB DF) Fim da guerra, fim da ditadura estado-novista. Não


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FRENTE

B


PORTUGUÊS Por falar nisso Literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível. Enfim, literatura é novidade que permanece novidade. Ezra Pound

A literatura está presente em todos os momentos da história e, assim como qualquer outra arte, é uma forma de conhecimento e de percepção do mundo. A leitura oferece ao homem ferramentas para a socialização. Os livros retratam acontecimentos sociais, políticos, religiosos e culturais de uma nação. Por meio da leitura, podemos viajar pelos continentes e pelas terras mais diversas, além de compreender o momento vivido por determinada sociedade. Nessa perspectiva, a literatura é de suma importância para a sociedade. O hábito da leitura é imprescindível, pois, além de trazer fruição e de contribuir para o enriquecimento intelectual e cultural de cada leitor, desenvolve o senso crítico. Isso amplia o conhecimento de mundo e aguça a sensibilidade, o que promove a reflexão sobre a realidade, despertando o leitor para novas experiências e novas descobertas. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

B01 B02 B03 B04

O que é literatura?..........................................................................558 Gêneros literários...........................................................................568 Trovadorismo..................................................................................575 Humanismo.....................................................................................582


FRENTE

B

PORTUGUÊS

MÓDULO B01

ASSUNTOS ABORDADOS nn O que é literatura? nn A origem e a evolução da escrita nn A história da literatura em língua portuguesa nn Periodização da literatura em língua portuguesa

O QUE É LITERATURA? Não há uma definição estabelecida acerca do conceito de literatura. Ela varia de acordo com o momento histórico e com as condições de recepção de seu material, porque, embora a literatura seja basicamente composta por textos literários, ainda há inúmeras discussões acerca do que seria esse “texto” e de quais seriam seus meios de difusão. Além disso, pode-se acrescentar que a literatura é, na realidade, uma reunião de diversos aspectos estruturais, sociais e culturais dentro de uma manifestação textual. Sabemos que a literatura, além de refletir a realidade vista pelos olhos dos artistas, é um veículo de disseminação de ideias e, independente de seu teor, causa determinados impactos e sensações no imaginário de seus leitores. Não é fácil o trabalho de conceituar literatura, uma palavra com origem no termo em latim littera, que significa letra. Literatura é a linguagem carregada de significados, é a manifestação artística da sociedade e é, também, uma reunião de diversos aspectos estruturais, sociais e culturais dentro de uma manifestação textual que remete a um conjunto de habilidades de ler e escrever, de criar e compor textos. É uma das várias maneiras de expressão artística do ser humano, incluindo a música, a dança, a pintura, o teatro, a escultura e o cinema.

Fonte: wikimedia.commons /Unknownwiki

Existem diversos tipos de produções literárias, como poesia, literatura de ficção, literatura de romance, literatura popular e também literatura de cordel.

A origem e a evolução da escrita Os mais remotos indícios da arte literária são datados no Período Paleolítico. Conhecido como o mais extenso período da história humana, o Período Paleolítico compreende uma datação muito variada, que vai de 2,7 milhões de anos até 10 000 a.C. Desprovidos de técnicas sofisticadas, os grupos humanos dessa época desenvolviam hábitos e técnicas que facilitavam sua sobrevivência em meio às hostilidades impostas pela natureza. A arte rupestre consistia em pinturas e desenhos gravados em paredes e tetos das cavernas. Isso demonstra que o homem pré-histórico já sentia a necessidade de expressão por meio das artes, algo inerente ao ser humano. Figura 01 - A mais antiga representação artística da história do homem é a chamada arte rupestre.

558


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Essas representações feitas nas cavernas eram de grandes animais selvagens, na tentativa de tentar comunicar ou reproduzir as caçadas da forma mais real possível. O homem pré-histórico usava ossos de animais, cerâmicas e pedras como pincéis, além de fabricar suas próprias tinturas utilizando-se de folhas de árvores, sangue de animais e excrementos humanos.

Fonte: wikimedia.commons / Osama Shukir Muhammed Amin FRCP(Glasg)

O homem se comunicava pela fala e por gestos. Com a evolução da humanidade, foi necessário criar símbolos que perpetuassem a fala, as ideias e os fatos. Assim, aos poucos, surgiu a escrita, aproximadamente em 3500 a.C. na Mesopotâmia (Ásia), e foram os sumérios que mais contribuíram para o desenvolvimento da escrita. Esses povos utilizavam tábuas de argila molhada e, com um estilete feito de cana e em forma de cunha, marcavam caracteres, o que originou, assim, o nome escrita cuneiforme. Essa é a língua escrita mais antiga das que se têm testemunhos gráficos.

Figura 03 - Tábua de argila

Acredita-se que a escrita tenha sido criada a partir dos simples desenhos de ideogramas: por exemplo, um desenho de duas pernas poderia representar tanto o conceito de andar como de ficar em pé. A partir daí, os símbolos tornaram-se mais abstratos, terminando por evoluir em símbolos sem aparente relação aos caracteres originais. Um estágio moderno da comunicação humana foi a descoberta da tipografia (arte de imprimir), pelo alemão Johannes Gutemberg, em 1445. Essa invenção abriu a era da comunicação social e foi um dos acontecimentos que mudaram a história da leitura e da circulação de ideias em nível mundial.

#Curiosidade Antes da imprensa, os livros eram construídos à mão, artesanalmente, com escrita cursiva, geralmente à pena. A técnica de impressão com moldes não era novidade – já tinha sido iniciada havia catorze séculos na China, por meio da impressão de gravuras na qual se usava a tinta nanquim. Mas, por volta de 1439, no século XV, o alemão Johannes Gutenberg (1398-1468) desenvolveu a primeira máquina de impressão feita com tipos móveis. Quando falamos em imprensa, vêm-nos à mente os equipamentos jornalísticos que registram e transmitem à população as notícias e informações do dia a dia. Mas, aqui, a palavra imprensa tem o significado de origem, remete-nos ao fenômeno de impressão em papel, impressão de caracteres ou tipos móveis (letras e demais sinais gráficos – como acento, vírgula, ponto etc). Johannes Gutenberg revolucionou o modo de produzir livros de maneira eficaz e rápida. A grande novidade da imprensa de Gutenberg foi a capacidade mecânica de produzir e reproduzir textos e livros. A impressão em massa transformou a cultura ocidental para sempre.

Figura 04 - Prelo de madeira, peça histórica

559

B01  O que é literatura?

Figura 02 - Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, Brasil.

Sabemos que a função principal atribuída à escrita é registrar informações. Porém, não se pode negar sua relevância para a difusão de informações e a construção dos conhecimentos.

Fonte: pixabay / Patrice_Audet

Fonte: wikimedia.commons /Unknownwiki

Muito do que sabemos hoje sobre esse período da história, deve-se às placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos daquela época.


Português

A história da literatura em língua portuguesa A literatura reflete a relação do homem com o mundo, como em todas as outras artes. Na medida em que essas relações se transformam historicamente, a literatura também se transforma, uma vez que é sensível às peculiaridades de cada época, aos modos de encarar a vida, de problematizar a existência, de questionar a realidade e de organizar a convivência social. Por esse motivo, as obras de um determinado período histórico, ainda que se diferenciem umas das outras, possuem certas características comuns que as identificam. Essas características dizem respeito tanto à mentalidade predominante na época quanto às formas, às convenções e às técnicas expressivas utilizadas pelos autores. Os estudos de história da literatura procuram investigar as transformações pelas quais passou o conceito de criação literária no decorrer do desenvolvimento da sociedade. Para isso, são analisados tanto os textos literários produzidos em cada uma das etapas históricas da humanidade como os sistemas de ideias e as relações sociais que coexistiram com esses textos. Esse trabalho procura detectar as influências mútuas entre a produção literária e o ambiente histórico em que ela se deu. Assim, podemos dizer que literatura portuguesa é toda produção literária escrita em língua portuguesa por escritores portugueses. Já a literatura lusófona compreende toda a produção em língua portuguesa de diferentes países de cultura lusófona, entre eles, o Brasil.

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Fonte: shutterstock.com / Everett Historical

Para melhor compreender a literatura brasileira, sua história e seu nascimento, é imprescindível conhecer as origens da literatura portuguesa, que influenciaram e ainda influenciam nossa produção literária.

560 Figura 05 - A primeira impressão do mundo, na imprensa de Gutenberg.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Periodização da literatura portuguesa A literatura portuguesa acompanha as grandes transformações históricas, que influenciam e ditam as divisões e subdivisões da produção literária em: Era Medieval, Era Clássica e Era Moderna. Essas três grandes eras estão subdivididas em fases menores, chamadas de escolas literárias ou estilos de época. Era Medieval O Trovadorismo é considerado como os primórdios da literatura portuguesa, pois dele surgiram as primeiras manifestações literárias. Estende-se do século XII ao início do século XV. Esse período reflete uma sociedade feudal organizada a partir de relações de vassalagem, de uma extrema religiosidade em que prevalece o pensamento de que Deus é o centro de tudo (teocentrismo) e das lutas da Reconquista (forças cristãs tentavam retomar o território tomado pelos árabes).

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Humanismo (1434 a 1527) é a transição do economia feudal para a economia mercantil, que influenciou as artes e proporcionou o Renascimento cultural. Estende-se do início do século XV ao início do século XVI, quando Portugal passa a cultivar os modelos renascentistas, marcando a transição para o Renascimento e a ruptura dos modelos medievais.

Figura 06 - Cavaleiro medieval com sua amada com vestido vermelho.

561


Português

Era Clássica Em Portugal, a Era Clássica compreende os séculos XVI, XVII e XVIII e divide-se em três períodos: Classicismo (1527 a 1580), Barroco (1580 a 1756) e Arcadismo (1756 a 1825). O Classicismo, ou também Quinhentismo, se constituiu como um resgate à cultura clássica greco-romana. Suas principais características são: antropocentrismo, presença da mitologia grega, equilíbrio e valorização da razão sobre a emoção. O Barroco, ou também seiscentismo, se formou como uma contraposição ao Classicismo. Trata-se de uma tentativa da Igreja Católica de recuperação de seu poder político e cultural. Suas principais características são: teocentrismo, religiosidade, presença de antítese e paradoxos e valorização da emoção sobre a razão. O Arcadismo, ou também Setecentismo, é inaugurado com a fundação da Arcádia Lusitana. É um movimento literário academicista que busca romper com o exagero do Barroco, buscando uma linguagem clara e racional. Era Moderna A Era Moderna, ou também Era Romântica, inicia-se em 1825 e vai até nossos dias, e divide-se em: Romantismo (1825 a 1865), Realismo (1865 a 1890), Simbolismo (1890 a 1915) e Modernismo (1915 a 1945); a partir daí, o que se está em estudo é a contemporaneidade da literatura portuguesa. O Romantismo é marcado por uma quebra da literatura academicista árcade e por uma busca por uma literatura mais popular. O início dessa escola literária é concomitante à ascensão cultural da burguesia, como produtora e consumidora de literatura. O Realismo, com a formação de uma elite burguesa, busca elitizar a literatura. Nesse sentido, entra em choque com os ideais românticos. O Simbolismo aparece fortemente na poesia e já é um prelúdio à Modernidade. O Modernismo rompe com todos os modelos de literatura anteriores, trazendo novas questões para a configurar a arte literária.

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Figura 07 - Pintura medieval no teto de igreja

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

A Era Colonial abrange a Literatura de Informação, ou também Quinhentismo (1500 a 1601); o Barroco, ou também Seiscentismo (1601 a 1768); o Arcadismo, ou também Setecentismo (1768 a 1808). A Era Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (1836 a 1881), o Realismo (1881 a 1893), o Simbolismo (1893 a 1922) e o Modernismo (1922 a 1945); a partir daí, o que se está em estudo é a contemporaneidade da literatura brasileira. Quinhentismo Essa expressão é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura europeia em terras brasileiras. No Quinhentismo, observamos uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas como principais manifestações literárias no século XVI. Barroco O Barroco, no Brasil, tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, que introduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século

Arcadismo O Arcadismo, no Brasil, começa no ano de 1768, com dois fatos marcantes: a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa. A escola setecentista, por sinal, desenvolve-se até 1808, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, que, com suas medidas político-administrativas, permite a introdução do pensamento pré-romântico no Brasil. Quanto ao aspecto formal, a escola é marcada pelo soneto, os versos decassílabos, a rima optativa e a tradição da poesia épica. O Arcadismo tem como principais nomes: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, José de Santa Rita Durão e Basílio da Gama. Romantismo O Romantismo se inicia no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica um livro de poesias românticas intitulado Suspiros poéticos e saudades. Na poesia, o Romantismo é estudado em fases ou gerações: geração nacionalista ou indianista, geração do mal do século e a geração condoreira. Dentro das características básicas da prosa romântica, destacam-se os romances histórico, indianista, regionalista e urbano. Fonte: wikimedia.commons / Oscar Pereira da Silva

A literatura brasileira tem suas origens atreladas às cartas informativas destinadas à Coroa Portuguesa durante as Grandes Navegações. Dessa maneira, a historiografia brasileira divide-se em: Era Colonial e Era Nacional.

XVII e início do XVIII. As principais referências do barroco brasileiro são Gregório de Matos, poeta baiano, e Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de obras literárias, inquietantes para os padrões da época, entre as quais estão os 200 sermões produzidos.

Figura 08 - Chegada dos portugueses ao Brasil

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B01  O que é literatura?

Periodização da literatura em língua portuguesa


Português

Realismo O marco inicial do Realismo brasileiro foi em 1881 com a publicação de O mulato, de Aluísio Azevedo, e Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. O Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e culturais da segunda metade do século XIX. Raul Pompéia, Machado de Assis e Aluísio Azevedo transformaram-se nos principais representantes da escola realista no Brasil. Ideologicamente, os autores desse período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano, como nos romances O mulato, O cortiço e O Ateneu. A expressão Realismo é uma denominação genérica da escola literária, que abriga três tendências distintas: romance realista, romance naturalista e poesia parnasiana, que por sua vez é representada por Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. Simbolismo O Simbolismo, no Brasil, começa em 1893 com a publicação de Missal (prosa) e Broquéis (poesia), ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se até 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna. Seus dois grandes expoentes foram Cruz e Sousa, que reflete na sua poesia o sofrimento e a angústia do ser humano, e Alphonsus de Guimaraens, o mais místico poeta de nossa literatura. Pré-Modernismo O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo no Brasil não constitui uma escola literária. Pré-Modernismo é, na verdade, um termo genérico que designa toda uma vasta produção literária que caracteriza os primeiros vinte anos do século XX. Nele é que se encontram as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, alguns preocupados com uma literatura política, e outros com propostas realmente inovadoras. É grande a lista dos autores que pertenceram ao Pré-Modernismo, mas, indiscutivelmente, merecem destaque: Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. Modernismo (Primeira Fase) O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em consequência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico dessa primeira fase modernista e seu forte sentido destruidor. Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo, que continuariam a produzir nas décadas seguintes, destacam-se Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, além de Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado. Modernismo (Segunda Fase) O período de 1930 a 1945 registrou a estreia de alguns dos nomes mais significativos da poesia brasileira, refletindo o mesmo momento histórico e apresentando as mesmas preocupações dos poetas da década de 1930 (Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes). A segunda fase do Modernismo apresenta romancistas como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo, que produzem uma literatura de caráter mais construtivo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora. B01  O que é literatura?

Modernismo (Terceira Fase) O Pós-Modernismo se insere no contexto dos extraordinários fenômenos sociais e políticos de 1945. Foi o ano que assistiu ao fim da Segunda Guerra Mundial e ao início da Era Atômica. A prosa, tanto nos romances como nos contos, aprofunda a tendência já trilhada por alguns autores da década de 1930 em busca de uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector e Guimarães Rosa. No final dos anos 1940, a literatura revelou João Cabral de Melo Neto, um dos mais importantes poetas brasileiros. 564


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

a) o resfriamento do movimento cristão protestante no século XVI. b) a supervalorização dos códices escritos à mão, já que os livros impressos não caíram no gosto do público. c) a possibilidade de formação de comunidades de leitores, já que livros, panfletos e jornais começaram a ser reproduzidos em massa e em língua vernácula. d) o retorno à leitura em praças públicas para ouvintes, de modo que só a pessoa que dominava a tecnologia dos tipos móveis conseguia imprimir e ler os livros. e) o aumento do analfabetismo na Europa. 02. No período pré-histórico, não havia técnica de retratos realistas, tampouco o contato intercontinental via comércio ou o desenvolvimento de cidades. A maior parte dos vestígios, como a arte rupestre e os instrumentos de pedra polida e lascada, usados na compreensão do período pré-histórico, não era levada em consideração. A arte rupestre possui a característica de expressar elementos da cultura do homem pré-histórico. Dentre esses elementos, destacam-se, nas pinturas rupestres: a) o retrato das famílias, feito de forma realista, com o uso de carvão. b) a descrição de cenas relacionadas com a vida política da pólis. c) a descrição das trocas comercias intercontinentais. d) a descrição de cenas de caça, rituais e símbolos cosmológicos. e) o retrato das personalidades da tribo. 03. (Faap SP) Leia o texto a seguir. Soneto de separação De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama. De repente, não mais que de repente. Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Vinícius de Moraes

Releia com atenção a última estrofe: Tomemos a palavra amigo. Todos conhecem o sentido com que essa forma linguista é usualmente empregada no falar atual. Contudo, na Idade Média, como se observa nas cantigas medievais, a palavra amigo significou: a) colega. b) companheiro. c) namorado. d) simpático. e) acolhedor. 04. (Fuvest SP) Interpretando historicamente a relação de vassalagem entre homem amante / mulher amada, ou mulher amante/ homem amado, pode-se afirmar que: a) O Trovadorismo corresponde ao Renascimento. b) O Trovadorismo corresponde ao movimento humanista. c) O Trovadorismo corresponde ao Feudalismo. d) O Trovadorismo e o Medievalismo só poderiam ser provençais. e) Tanto o Trovadorismo como Humanismo são expressões da decadência medieval. 05. (UFMG) Nas mais importantes novelas de cavalaria que circularam na Europa medieval principalmente como propaganda das Cruzadas, sobressaem-se: a) as namoradas sofredoras, que fazem bailar para atrair o namorado ausente. b) os cavaleiros medievais, concebidos segundo os padrões da Igreja Católica (por quem lutam). c) as namorada castas, fiéis, dedicadas, dispostas a qualquer sacrifício para ir ao encontro do amado. d) os namorados castos, fiéis, dedicados que, entretanto, são traídos pelas namoradas sedutoras. e) os cavaleiros sarracenos, eslavos e infiéis, inimigos da fé cristã.

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B01  O que é literatura?

01. A imprensa de Gutenberg, inventada entre os anos de 1429 e 1440, difundiu-se com uma velocidade vertiginosa no século XVI. Primeiramente impulsionou as leituras religiosas, com a reprodução das traduções da Bíblia para línguas vernáculas e, em seguida, produziram-se os primeiros romances e livretos de poesias e contos populares, reproduzidos pelas máquinas de imprensa, as primeiras comunidades. Além de tornar mais ágil o processo de reprodução de determinado texto, também desencadeou algumas transformações, tais como:


Português

Exercícios Complementares 01. (UFG GO) As pinturas rupestres são evidências materiais do desenvolvimento intelectual dos seres humanos. Embora tradicionalmente estudadas pela Arqueologia, elas ajudaram a redefinir a concepção de que a História se inicia com a escrita, pois a) funcionam como códices velados de uma comunidade à espera de decifração. b) expressam uma concepção de tempo marcada pela cronologia. c) indicam o predomínio da técnica sobre as forças da natureza. d) atestam as relações entre registros gráficos e mitos de origem. e) registram a supremacia do indivíduo sobre os membros de seu grupo.

Fonte: wikimedia commons

A pintura rupestre mostrada na figura anterior, que é um patrimônio cultural brasileiro, expressa a) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante o processo de colonização do Brasil. b) a organização social e política de um povo indígena e a hierarquia entre seus membros. c) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram durante a chamada pré-história do Brasil. d) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossauros atualmente extintos. e) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da América durante o período colonial. Texto para as próximas duas questões SOBRE A ORIGEM DA POESIA B01  O que é literatura?

cias, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas [...] No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo [...] Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis – os poemas – contaminando o deserto de referencialidade. ARNALDO ANTUNES

No último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo, em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja, à linguagem referencial.

02. (Enem MEC)

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso

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muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferên-

03. (Uerj RJ) Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o seguinte traço fundamental: A linguagem literária não apresenta um a) O desgaste da intuição. caráter utilitário ou prático, pois se afasta b) A dissolução da memória. da materialidade das coisas do cotidiano. c) A fragmentação da experiência. d) O enfraquecimento da percepção. 04. (Uerj RJ) A comparação entre a poesia e outros usos da linguagem põe em destaque a seguinte característica do discurso poético: A poesia não tem compromisso com a objetivia) revela-se como expressão subjetiva. dade, seu compromisso é b) manifesta-se na referência ao tempo. com a poesia e com uma linguagem que nos afasta c) afasta-se das praticidades cotidianas. da realidade cotidiana. d) conjuga-se com necessidades concretas. Textos para as questões 05 e 06 As questões que seguem tomam por base uma cantiga do trovador galego Airas Nunes, de Santiago (século XIII), e o poema Confessor Medieval, de Cecília Meireles (1901-1964). Cantiga Bailemos nós já todas três, ai amigas, So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas) E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa) Se amigo amar, So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas) Verrá bailar. (verrá = virá) Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs) So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este) E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa)


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 09. a) Cecília Meireles retoma, em seu poema, tanto a oração condicional (“Se…”) quanto à interrogativa (“Irias…”). b) O terceiro verso de Airas Nunes é um hendecassílabo (onze sílabas métricas), com acentos na 5.a, na 8.a e na 11.a sílaba. A mesma estrutura métrica aparece no terceiro verso de Cecília Meireles.

(Airas Nunes, de Santiago. In: SPINA, Segismundo. Presença da Literatura Portuguesa – I. Era Medieval. 2ª ed. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1966.)

Confessor Medieval (1960) Irias à bailia com teu amigo, Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda) Se te dera apenas um anel de vidro Irias com ele por sombra e perigo? Irias à bailia sem teu amigo, Se ele não pudesse ir bailar contigo? Irias com ele se te houvessem dito Que o amigo que amavas é teu inimigo? Sem a flor no peito, sem saia de sirgo, Irias sem ele, e sem anel de vidro? Irias à bailia, já sem teu amigo, E sem nenhum suspiro? (Cecília Meireles. Poesias completas de Cecília Meireles – v. 8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.)

05. (Unesp SP) Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles verificam-se diferentes personagens: um eu poemático, que assume a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige. Com base nessa informação, releia os dois poemas e, a seguir: a) indique o interlocutor ou interlocutores do eu poemático em cada um dos textos. b) identifique, em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada pelo eu poemático para dirigir-se ao interlocutor ou interlocutores. 06. (UFRGS RS) Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em Portugal: a) nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do ponto de vista feminino. b) nas cantigas de amor, há o reflexo do relacionamento entre senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e extrema submissão. c) a influência dos trovadores provençais é nítida nas cantigas de amor galego-portuguesas. d) durante o trovadorismo, ocorre a separação entre poesia e música. e) muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros.

07. (UFPE) Alguns historiadores afirmam que a História iniciou quando a humanidade inventou a escrita. Nessa perspectiva, o período anterior à criação da escrita é denominado Pré-História. Sobre esse assunto, assinale a alternativa correta. a) A história e a Pré-História só podem se diferenciar pelo critério da escrita. Logo, aqueles historiadores que não concordam com esse critério estão presos a uma visão teológica da História. b) Esta afirmação não encontra qualquer contestação dos verdadeiros historiadores, pois ela é uma prova irrefutável de que todas as culturas evoluem para a escrita. c) Os historiadores que defendem a escrita como único critério que diferencia a História da Pré-História reafirmam a tradição positivista da História. d) A escrita não pode ser vista como critério para distinguir a História da Pré-História, pois o aspecto econômico é considerado um critério muito mais importante. e) Os únicos historiadores que defendem a escrita como critério são os franceses, em razão da influência da filosofia iluminista. 08. (Puc RS) O paralelismo, uma técnica de construção literária nas cantigas trovadorescas, consistiu em: a) unir duas ou mais cantigas com temas paralelos e recitá-las em simultaneidade. b) um conjunto de estrofes ou um par de dísticos em que sempre se procura dizer a mesma ideia. c) apresentar as cantigas, nas festas da corte, sempre com o acompanhamento de um coro. d) reduzir todo o refrão a um dístico. e) pressupor que há sempre dois elementos paralelos que se digladiam verbalmente. 09. A leitura da cantiga de Airas Nunes e do poema Confessor Medieval, de Cecília Meireles, revela que esse poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta intencionalmente algumas características da poesia trovadoresca, como o tipo de verso e a construção baseada na repetição e no paralelismo. Releia com atenção os dois textos e, em seguida: a) considerando que o efeito de paralelismo em cada poema se torna possível a partir da retomada, estrofe a estrofe, do mesmo tipo de frase adotado na estrofe inicial (no poema de Airas Nunes, por exemplo, a retomada da frase imperativa), aponte o tipo de frase que Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe para possibilitar tal efeito. b) estabeleça as identidades que há entre o terceiro verso da cantiga de Airas Nunes e o terceiro verso do poema de Cecília Meireles no que diz respeito ao número de sílabas e às posições dos acentos.

Gabarito questão 05 a) No texto de Airas Nunes, o eu lírico feminino tem como interlocutoras duas amigas, também chamadas de irmãs, na segunda estrofe. No texto de Cecília Meireles, a interlocutora é uma mulher, conforme indicações do contexto (“amigo”, “saia”). b) No primeiro texto, o eu lírico utiliza a primeira pessoa do plural, incluindo-se assim no mesmo grupo que as interlocutoras. No segundo texto, o eu lírico dirige-se à interlocutora na segunda pessoa do singular.

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B01  O que é literatura?

Se amigo amar, So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras) Verrá bailar. Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos, (mentr’al = enquanto outras coisas) So aqueste ramo frolido bailemos, E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto) Se amigo amar, So aqueste ramo so lo que bailemos Verrá bailar.


FRENTE

B

PORTUGUÊS

MÓDULO B02

ASSUNTOS ABORDADOS nn Gêneros literários nn Gênero épico nn Gênero lírico nn Gênero dramático nn Gêneros na atualidade

GÊNEROS LITERÁRIOS Gênero épico O tema das epopeias são os feitos heroicos e os grandes ideais relatados por um povo em uma narrativa de fundo histórico. O narrador mantém distanciamento em relação aos acontecimentos (esse distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: os fatos narrados situam-se no passado). Temos, portanto, um poeta-observador voltado para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A palavra epopeia vem do grego épos, “verso”, + poieô, “faço”, e se refere à narrativa, em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio heroico da história de um povo. Dentre as principais epopeias (ou poemas épicos), destacamos: nn Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Troia) nn Eneida

(Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos)

nn Paraíso

perdido (Milton, Inglaterra)

nn Orlando nn Os

Furioso (Ludovico Ariosto, Itália)

Lusíadas (Camões, Portugal)

Na literatura brasileira, as principais epopeias foram escritas no século XVIII: nn Caramuru nn O

(Santa Rita Durão)

Uraguai (Basílio da Gama)

Na atualidade, várias produções cinematográficas exploram o gênero épico exibindo histórias que narram façanhas de heróis e seguem atraindo a atenção de milhares de pessoas. Podemos citar Katherine de Alexandria, A História de Ruth, A Batalha de Argel, Joana D´arc, O Senhor dos Anéis, Apocalipse e muitos outros.

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Figura 01 - Armadura de cavaleiro medieval

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Gênero lírico Caracteriza-se por um “eu” que nos passa uma emoção, um estado; centra-se no mundo interior do poeta, apresentando forte carga subjetiva. A subjetividade surge, assim, como característica marcante do lírico. O poeta posiciona-se em face dos “mistérios da vida”. A lírica já foi definida como a expressão da “primeira pessoa do singular do tempo presente.” Gênero lírico vem de lira, instrumento musical usado para acompanhar os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o Final da Idade Média, os poemas eram cantados. Ao separar-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima e a combinação das palavras passaram a ser mais intensamente cultivados pelos poetas. Mas, atenção! Apesar do que foi dito acima, não significa que poesia, para ser poesia, precise, necessariamente, apresentar rima, métrica, estrofe. A poesia do Modernismo, por exemplo, desprezou esses conceitos. Essa poesia caracterizava-se pelo verso livre (abandono da métrica), por estrofes irregulares e pelo verso branco, ou seja, o verso sem rimas. A poesia lírica pode ser classificada em: nn Elegia

- Palavra de origem obscura, normalmente indica poemas em que se expõem sentimentos dolorosos e digressões moralizantes destinadas a ajudar ouvintes ou leitores a suportar momentos difíceis (como, por exemplo, a morte de um amigo ou da pessoa amada). nn Ode - Palavra de origem grega, significa “canto”. Denomina composições líricas de tom normalmente solene e entusiasta, que podem falar de temas extremamente variados, desde os prazeres da mesa até celebrações de vitórias em jogos ou batalhas. nn Écloga ou égloga - Palavra de origem grega, significa “seleção”. Nomeia poemas de tema pastoril, normalmente dialogados. nn Soneto - A palavra provém do italiano sonetto, literalmente “pequeno som”. É um poema constituído por quatorze versos; na poesia em língua portuguesa, esses versos estão geralmente distribuídos em dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos). Vários esquemas de rimas foram praticados ao longo do desenvolvimento da literatura. nn Canção - A palavra evoca evidentemente as relações entre a poesia e a música e é utilizada para designar vários tipos de composições líricas. Mais frequentemente, refere-se a um texto de temática amorosa, formado por estrofes de número regular de versos e encerrado por uma estrofe menor, o ofertório, em que o poeta dedica o poema à amada ou condensa o conteúdo das estrofes anteriores.

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B02  Gêneros literários

Fonte: shutterstock.com / Nickolay Vinokurov

Figura 02 - Lira da era medieval


Português

Gênero dramático O texto dramático é constituído com base em uma história, apresenta elementos como tempo e espaço, demarcados por cenários, porém os acontecimentos não são contados por um narrador. Eles são apresentados diretamente ao público pela fala e expressão dos atores que representam os personagens da narrativa. Em outras palavras, o texto dramático é aquele em que a “voz narrativa” está entregue às personagens, que contam a história por meio de diálogos ou monólogos. O gênero dramática, na Grécia Antiga, desenvolveu-se por meio de duas modalidades: a tragédia e a comédia. Na Idade Medieval, porém, surgiram outras modalidades, como o auto e a farsa. Ao gênero dramático, pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que, entre autor e público, desempenha papel fundamental todo o elenco que participa da encenação. O texto dramático só se realiza de fato quando ocorre a apresentação e quando alguém assiste a essa apresentação. Os atores podem contar com vários recursos visuais e sonoros, como cenário, música, figurinos, iluminação. O gênero dramático compreende as seguintes modalidades: nn Tragédia - representação de um fato trágico, suscetível

de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era “uma representação de uma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror”. nn Comédia

- representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem está ligada às festas populares gregas de celebração à fecundidade da natureza.

nn Tragicomédia -

modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.

n n Drama B02  Gêneros literários

- Forma surgida no século XVIII, resulta da fusão de elementos trágicos e cômicos, procurando apresentar ações heroicas e de índole elevada ao lado de atitudes risíveis. Atualmente, a palavra também designa a peça teatral que expõe tensões sociais e individuais submetidas a processos de interpretação e análise.

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nn Auto - Peça curta, em geral, de cunho religioso ou profano.

Carregado de simbologia, uma vez que seus personagens não eram humanos e, sim, entidades abstratas. nn Farsa - Pequena peça teatral, de caráter grotesco, ridículo

e caricatural.

Gêneros na atualidade O gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, nesse caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela e o conto. Em qualquer destas três modalidades, há representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativas épicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses. nn Romance

- É a forma narrativa em que ocorre um desenvolvimento minucioso da ação e dos personagens, proporcionando ao leitor uma visão da totalidade do universo representado. Dessa maneira, obtém-se uma trama complexa, capaz de incorporar análises detalhadas dos elementos narrativos. Na estrutura de um romance, o acúmulo de detalhes e pormenores tem sempre a finalidade de construir um universo narrativo coerente e organizado; isso significa que não há como dispensar qualquer elemento formador do texto sob pena de destruir-lhe a unidade.

n n Novela - Diferencia-se do romance por apresentar um

predomínio da ação sobre as análises; o que importa em uma novela é o encadeamento de episódios rumo a um final, que coincide com o clímax da história. Não há a análise pormenorizada do comportamento de personagens e do desenvolvimento da ação que caracteriza o romance. Lembre-se de que a palavra novela é usada no dia a dia para denominar certo tipo de programa de televisão que encadeia incontáveis capítulos diários. Também chamamos de “novelas” as situações que se prolongam por muito tempo, com muitos episódios, numa sequência que parece interminável (a “novela” da reforma administrativa do Estado, por exemplo). Nesses casos, leva-se em conta a característica básica da novela, que é o predomínio da ação sobre a análise. nn Conto -

É a forma narrativa tradicionalmente mais breve, caracterizando-se pela ênfase ao essencial, o que acaba concentrando o desenvolvimento da ação e dos personagens, limitando-os no tempo e no espaço. É um verdadeiro instantâneo narrativo.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

a) No gênero narrativo, há sempre um eu que se expressa, elemento que é responsável pelo subjetivismo atribuído a esse tipo de composição. b) O gênero narrativo é marcado pela afetividade e pela emotividade do clima lírico, sempre relacionado com o íntimo e a introspecção. c) O gênero narrativo apresenta um enredo, no qual existe uma situação inicial, a modificação da situação inicial, um conflito, o clímax e o epílogo. Os elementos que compõem o gênero narrativo são narrador, tempo, lugar, enredo ou situação e as personagens. d) O gênero narrativo faz referência à narrativa feita em forma de versos, contando histórias e fatos grandiosos e heroicos sobre a história de um povo. O narrador fala do passado, o que justifica os verbos sempre empregados no tempo pretérito. 02. O soneto é uma das composições poéticas mais tradicionais e difundidas nas literaturas ocidentais e sua principal característica é a subjetividade. O soneto expressa, quase sempre, conteúdo: a) satírico. b) lírico. c) cronístico. d) épico. e) dramático. 03. Os gêneros literários agrupam um conjunto de obras que reúnem características equivalentes de forma e conteúdo. Essa classificação pode ser feita conforme os critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais, entre outros. Dentre os gêneros literários abaixo, um, atualmente, está sendo resgatado pelos escritores e, em parte, pelo leitor atual. Esse gênero tem sido abordado em muitas produções cinematográficas no sentido de mostrar as histórias que contam façanhas de personagens heroicos. Pode-se afirmar que esse gênero é o: a) narrativo. b) épico. c) lírico. d) dramático. e) jornalístico.

04. Para que uma história tenha sentido, ela precisa obedecer aos critérios específicos no que se refere aos seus elementos constitutivos: os personagens, o narrador, o espaço e o tempo. Leia o fragmento de texto da obra As três Marias, de Rachel de Queiroz. “Pelas varandas imensas espalhavam-se às centenas meninas de todos os tamanhos, com todas as caras deste mundo, vestidas de azul-marinho. Um grupo delas acercou-se de nós, sorridente, curioso. A mim me pareceram logo malvadas, escarninhas, hostis. Encolhi-me mais junto à Irmã. Lá para trás outras meninas vinham chegando, e ouviam-se gritos: – Novata! Uma novata! A irmã me pôs a mão no ombro, mandou que me fosse reunir a elas, procurasse brincar, fazer amigas. Eu resisti. Sentia cada vez mais medo e me agarrei resolutamente ao hábito grosso da freira: – Queria ir para junto da minha mala. Angustiada pela timidez que me inspiravam as caras novas e atrevidas das meninas, eu só pensava em fugir; e a lembrança da mala me ocorreu como uma salvação.” O narrador acima se apresenta como se fosse um(a) a) câmera. b) eu protagonista. c) eu testemunha. d) onisciente neutro. e) onisciente onipresente. 05. (Aman RJ) Leia o trecho abaixo de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, e responda: “Severino retirante, deixa agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida: (...) E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica” Quanto ao gênero literário, é correto afirmar que o fragmento lido é: a) narrativo, que conta, em prosa, histórias do sertão nordestino. b) uma peça teatral, desprovida de lirismo e com linguagem rústica. c) bastante poético e marcado por rimas, sem metrificação. d) uma epopeia, que traduz o desencanto pela vida dura do sertão. e) dramático, que encena conflitos internos do ser humano.

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B02  Gêneros literários

01. Os gêneros literários reúnem um conjunto de obras que apresentam características análogas de forma e conteúdo. Vale salientar também que, atualmente, os textos literários são organizados em três gêneros: narrativo, lírico e dramático. Indique qual item apresenta características do gênero narrativo.


Português

Exercícios Complementares 01. (UFRJ) Autorretrato falado Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas. Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci. Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão, aves, pessoas humildes, árvores e rios. Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar entre pedras e lagartos. Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou abençoado a garças. Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que fui salvo. Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado. Os bois me recriam. Agora eu sou tão ocaso! Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço coisas inúteis. No meu morrer tem uma dor de árvore. Uma obra literária pode combinar diferentes gêneros, embora, de modo geral, um deles se mostre dominante. O poema de Manoel de Barros, predominantemente lírico, apresenta características de um outro gênero. Qual? a) Gênero épico. b) Gênero poético. c) Gênero elegíaco. d) Gênero dramático. e) Gênero narrativo. 02. (Enem MEC) Considere a imagem a seguir e assinale a observação correta acerca do fenômeno artístico moderno nela evidente.

c) A imagem constitui cópia, especificamente chamada, em nomenclatura artística, de plágio. d) A figura ilustra a arte pop, uma vez que insere na obra conteúdo político, no caso, anticonsumista. e) A obra mantém-se clássica, apesar da interferência de um artista moderno, pois não evita a lembrança do original. 03. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações: I. O romance é um gênero literário em constante evolução que, na sua configuração atual, utiliza-se das técnicas mais variadas, provenientes, inclusive, de outras artes como o cinema e a pintura. II. O conto é uma narrativa em prosa, de curta extensão, cuja trama é em geral construída com tempo, espaço e número de personagens reduzidos. III. A crônica moderna apresenta-se como um registro isento e distanciado de acontecimentos cotidianos presenciados pelo cronista. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 04. Um texto dramático é projetado para ser interpretado, já um texto narrativo é destinado para contar. Mesmo com algumas diferenças, entre os textos narrativos e dramáticos, há inúmeras semelhanças, como o uso de _____ .Porém, os textos teatrais não necessitam, obrigatoriamente, de um elemento essencial à narrativa, que é _________. a) personagens – o cenário b) diálogos – o narrador c) descrições – narrador d) personagens – o autor e) falas – o autor 05. (Enem MEC)

B02  Gêneros literários

a) A imagem constitui um exemplo moderno de desconstrução, uma vez que associa uma obra clássica a um produto popular. b) Na imagem percebe-se o recurso da intertextualidade, uma vez que remete explicitamente a uma obra marcada pela tradição histórica.

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Isto Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Essa coisa é que é linda.

c) entende que somente a morte é capaz de findar com o amor de duas pessoas. d) concebe o amor como um sentimento intenso a ser compartilhado, tanto na alegria quanto na tristeza. e) vê, na angústia causada pela ideia da morte, o impedimento para as pessoas se entregarem ao amor.

Sentir? Sinta quem lê! (PESSOA, F. Poemas escolhidos. São Paulo: Globo, 1997.)

Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo fazer poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no plano criativo do que no plano concreto, e criar foi a grande finalidade de sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude irreverente. Com base no texto e na temática do poema Isto, conclui-se que o autor: a) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto. b) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais. c) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta. d) apresenta a concepção de que a voz do poeta é a expressão pura dos sentimentos. e) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu lírico. 06. (Ufscar SP) Soneto de fidelidade (Vinicius de Moraes)

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta a) não acredita no amor como entrega total entre duas pessoas. b) acredita que, mesmo amando muito uma pessoa, é possível apaixonar-se por outra e trocar de amor.

07. Os gêneros literários reúnem um conjunto de obras que apresentam características análogas de forma e conteúdo. Essa classificação pode ser feita de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais, entre outros. Um escritor contemporâneo se destaca pela produção de sonetos, esquetes teatrais e contos. A produção desse autor está relacionada, respectivamente, aos gêneros: a) épico, lírico e narrativo. b) lírico, narrativo e dramático. c) dramático, lírico e narrativo. d) lírico, dramático e narrativo. e) poético, dramático e lírico. 08. “Poema tirado de uma notícia de jornal” é um poema narrativo, cujo eu lírico se transforma em uma informação jornalística e rotineira de suicídio. Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. (BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.)

De acordo com as suas características, o poema pode ser classificado como um texto a) lírico. b) épico. c) poético.

Os textos dramáticos são sequências narrativas produzidas para serem representadas, não importando o gênero. Podem ser sequências narrativas desenvolvidas em versos – poesia —, como podem ser textos em prosa.

d) dramático. 09. (ITA SP) Leia a narrativa abaixo e responda. O leão A menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está preso, velho e doente, em gradil de ferro. Fui solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento, que fossem lágrimas. 573

B02  Gêneros literários

Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é.


Português

Observei em volta: somos todos adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão conserva o seu antigo prestígio – as crianças estão em redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica que o leão tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula. Derreado, não pode sustentar-se em pé. Chega-se um piá e, desafiando com olhar selvagem o leão, atira-lhe um punhado de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: faz estremecer as gramas a seus pés. Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos. – Ele não tem dente? – Tem sim, não vê? Não tem é força para morder. Continua o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecido o travo amargoso da derrota. Está velho, artrítico, não se aguenta das pernas, mas é um leão. De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar capim. Ora, leão come verde! Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu. O leão abriu a bocarra de dentes amarelos, não era um bocejo. Entre caretas de dor, elevou-se aos poucos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé. Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina do fordeco antigo. Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez bater mais depressa o coração da menina. O leão soltou seis ou sete urros. Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre. I.

II.

III.

Embora não seja um texto predominantemente descritivo, ocorre descrição, visto que o autor representa a personagem principal através de aspectos que a individualizam. Por ressaltar unicamente as condições físicas da personagem, predomina a descrição objetiva no texto, com linguagem denotativa. Por ser um texto predominantemente narrativo, as demais formas – descrição e dissertação – inexistem.

B02  Gêneros literários

Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s): a) todas estão corretas. b) apenas a I. c) apenas a II. d) apenas a III. e) nenhuma das afirmações. 10. (Ufu MG) Relacione as espécies literárias ao lado com suas respectivas características dispostas abaixo e assinale a alternativa correta: I. Modalidade de texto literário que oferece uma amostra da vida através de um episódio, um flagrante ou instantâneo, um momento singular e representativo; possui economia de meios narrativos e densidade na construção das personagens. 574

II.

III.

IV.

V.

À intensidade expressiva desse tipo de texto literário, à sua concentração e ao seu caráter imediato, associa-se, como traço estético importante, o uso do ritmo e da musicalidade. Essa modalidade de texto literário prende-se a uma vasta área de vivência, faz-se geralmente de uma história longa e apresenta uma estrutura complexa. Nos textos do gênero, o narrador parece estar ausente da obra, ainda que, muitas vezes, se revele nas rubricas ou nos diálogos; neles impõe-se rigoroso encadeamento causal. Espécie narrativa entre literatura e jornalismo, subjetiva, breve e leve, na qual muitas vezes autor, narrador e protagonista se identificam.

( ) Poema lírico ( ) Conto ( ) Crônica ( ) Romance ( ) Texto teatral a) II – I – V – III e IV. b) II – I – V – IV e III. c) II – I – III – V e IV. d) I – II – V – III e IV. e) I – IV – II – V e III. 11. (UFV MG) Considere o texto: “O incidente que se vai narrar, e de que Antares foi teatro na sexta-feira 13 de dezembro do ano de 1963, tornou essa localidade conhecida e de certo modo famosa da noite para o dia. (…) Bem, mas não convém antecipar fatos nem ditos. Melhor será contar primeiro, de maneira tão sucinta e imparcial quanto possível, a história de Antares e de seus habitantes, para que se possa ter uma ideia mais clara do palco, do cenário e principalmente das personagens principais, bem como da comparsaria, desse drama talvez inédito nos anais da espécie humana.” (Érico Veríssimo)

Assinale a alternativa que evidencia o papel do narrador no fragmento acima. a) O narrador tem senso prático, utilitário e quer transmitir uma experiência pessoal. b) É um narrador introspectivo, que relata experiências que aconteceram no passado, em 1963. c) Em atitude semelhante à de um jornalista ou de um espectador, escreve para narrar o que aconteceu com x ou y em tal lugar ou tal hora. d) Fala de maneira exemplar ao leitor, porque considera sua visão a mais correta. e) É um narrador neutro, que não deixa o leitor perceber sua presença.


FRENTE

B

PORTUGUÊS

MÓDULO B03

TROVADORISMO

ASSUNTOS ABORDADOS

A Cultura Medieval é um conjunto de manifestações filosóficas, literárias, religiosas, que mistura fatores das culturas greco-romanas e germânicas, em uma síntese permeada por aspectos cristãos. Trovadorismo é o primeiro movimento literário da língua portuguesa. Iniciou-se em 1198 em plena Idade Média no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII. O ano de 1198 é considerado o marco inicial da literatura portuguesa, a data provável da primeira composição literária conhecida como “Cantiga da Ribeirinha” ou “Cantiga de Guarvaia”, escrita pelo trovador Paio Soares da Taveirós, dedicada a dona Maria Pais Ribeiro.

E, mia senhor, desd’aquel’di, ai! me foi a mi mui mal, E vós, filha de don Paai Moniz, e bem vos semelha d’haver eu por vós guarvaia, Pois eu, mia senhor, d’alfaia Nunca de vós houve nem ei Valia d’uacorrea.

nn Os cancioneiros nn Cantigas trovadorescas nn Novelas de cavalaria

Canção da Ribeirinha No mundo ninguém se assemelha a mim enquanto a minha vida continuar como vai porque morro por vós, e ai minha senhora de pele alva e faces rosadas Quereis que vos descreva (retrate) quando vos eu vi sem manto (saia: roupa intima) Maldito dia me levantei que não vos vi feia (ou seja, a viu mais bela) E minha senhora, desde aquele dia, ai Tudo foi muito mal e vós filha de don Pai Moniz, e bem vos parece de ter eu por vós ( guarvaia: roupa luxuosa) pois eu minha senhora, como mimo (ou prova de amor) de vós nunca recebi algo, mesmo sem valor. (correa: coisa sem valor) (Paio Soares de Taveirós)

Fonte: wikimedia.commons / G.Rosa

No mundo non me sei parelha, mentre me for como me vai, cá já moiro por vós, e - ai! mia senhor branca e vermelha. Queredes que vos retraia! quando vos eu vi em saia! Mao dia me levantei, que vos enton non vi fea!

nn Trovadorismo

575


Português

No fim desse período, Fernão Lopes é nomeado chefe dos arquivos do Estado (guarda-mor da Torre de Tombo) e suas crônicas históricas tornaram-se marco do Humanismo em Portugal. Em 1434, assume a função de cronista-mor do reino, introduzindo uma nova visão de história dos reis de Portugal. De volta da Itália, o poeta Sá de Miranda introduz em Portugal as novas ideias do Renascimento, inaugurando um estilo literário: o Classicismo. A poesia que se volta para a emoção amorosa, para o mundo interior do homem, surge em meados do século XII, diferenciada em dois tipos bem definidos: a trovadoresca e o romance cortês, seguidos mais tarde pelas novelas de cavalaria. Foi a Provença, pequena região situada ao sul da França, o local geográfico que serviu de ponto de partida ou de fulcro gerador das primeiras manifestações poéticas da literatura ocidental, conhecidas hoje em dia como Poesia Trovadoresca. Veja a tabela abaixo para melhor entender essa divisão. Literatura Medieval – Quadro Geral 1ª época Medieval (1198 – 1418)

2ª época Medieval (1418 – 1527)

Poesia

1ª época Medieval (1198 – 1419)

Poesia Palaciana

Prosa

Novelas de Cavalaria

Crônicas de Fernão Lopes

Teatro

Peças simples de cunho religioso e satírica

Peças de Gil Vicente

Os cancioneiros Os Cancioneiros são os únicos documentos que restam para o conhecimento do Trovadorismo. São cerca de 1680 as cantigas da lírica galego-portuguesa de assunto profano que chegaram até nós em coleções manuscritas, os chamados Cancioneiros, com características variadas e escritas por diversos autores. A maioria dessas cantigas se encontra em três coletâneas. nn Cancioneiro

de Ajuda – Assim chamado por ter sido encontrado na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa. Constituído de 310 cantigas, é o mais antigo dos cancioneiros conhecidos, originado provavelmente no século XIII. nn Cancioneiro da Vaticana – Encontrado na Biblioteca do Vaticano. É cópia de um manuscrito anterior e contém 1205 cantigas e foi compilado provavelmente no século XV. nn Cancioneiro da Biblioteca Nacional – Hoje na Biblioteca Nacional de Lisboa. É uma cópia italiana de manuscritos anteriores. Pertenceu a um humanista italiano, Ângelo Colocci, e mais tarde integrou a biblioteca do conde Brancuti – por isso, por muito tempo conhecido como Cancioneiro de Colocci-Brancuti. Esse cancioneiro é composto por 1567 cantigas. B03  Trovadorismo

Esses cancioneiros, infelizmente, só conservaram o texto das cantigas: a melodia da quase totalidade delas se perdeu. Restaram apenas a notação musical de seis cantigas de amigo de Martim Codax, em um pergaminho encontrado em 1913 por um livreiro madrilenho, e a música de sete cantigas de amor de D. Dinis, num pergaminho localizado em 1990.

576


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Cantigas trovadorescas Todos os textos poéticos dessa primeira época medieval eram acompanhados de música e normalmente cantados em coro, daí chamados de cantigas. Podemos reconhecer dois grandes grupos de cantigas: as cantigas líricas e as cantigas satíricas. Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos classificá-las da seguinte forma: Gênero lírico

Gênero satírico

Cantigas de amigo

Cantigas de escárnio

Cantigas de amor

Cantigas de maldizer

Cantigas de Amigo Nas cantigas ou cantares de amigo, o sujeito lírico é uma mulher camponesa (falando como se fosse uma mulher) que canta seu amor, sua paixão pelo amigo (namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. Nas cantigas de amigo, o trovador procura traduzir os sentimentos femininos. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Leia a seguir uma cantiga do rei D. Dinis:

Se sabedes novas do meu amado, aquel que mentiu do que mi há jurado! ai Deus, e u é?” Cantigas de Amor As cantigas de amor surgiram no sul da França, na região de Provença. Expressam o sentimento amoroso do trovador que se coloca a serviço da mulher amada. Aqui, o amor se torna tema central do texto poético, deixando de ser pretexto para a discussão de outros temas. Mas é um amor não realizado, não correspondido, que fica sempre em um plano idealizado. De outro modo não poderia ser, pois a mulher amada se encontra socialmente afastada do poeta: é a senhora, esposa do senhor feudal. São cantigas que espelham a vida na corte por meio de forte abstração e linguagem refinada. Quer’ eu em maneira de provençal fazer agora hun cantar d´amor equerreymuyt’ i louar mia senhor, a que prez nem fremusura non fal. Quero eu à maneira de um provençal fazer agora um cantar d´amor e quererei muito louvar minha senhora, a quem mérito nem formosura não faltam. D. DINIS. Do Cancioneiro de D. Dinis. São Paulo: FTD. 1995. pág.54.(fragmento).

Embora compostas por homens, as cantigas de amor procuram expressar o sentimento feminino por meio de pequenos dramas e situações da vida amorosa das donzelas, geralmente, as saudades do namorado que foi combater contra os mouros, a vigilância materna, as confissões às amigas.

“Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo! ai Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pôs comigo! ai Deus, e u é?

Cantiga de escárnio As cantigas de escárnio reúnem a produção satírica e maliciosa da época. Essas cantigas contêm críticas e ironias feitas de modo indireto. Em muitas delas, o tema central trata de escândalos políticos e religiosos, apresentando nobres decadentes, avarentos ou pretensiosos, padres, prostitutas. Os vossos meus maravedis1, senhor, Que eu non ouv’i2, que servi melhor Ou tan bem come outr’a que os dan, ei-os d’aver3enquant’eu vivo for, ou a mia mort4, ou quando mi os daran?

B03  Trovadorismo

Fonte: wikimedia.commons

Há nessas cantigas uma forte presença da natureza, sua linguagem é simples e sua estrutura apropriada ao canto e à transmissão oral apresenta refrão e versos encadeados e repetidos ou ligeiramente modificados [paralelismo].

A vossa mia soldada5, senhor Rei, que eu servi e serv’ e servirei, 577


Português

com’ outro quen quer6 a que a dan bem, ei-a d’averenquant’a viver ei, ou a mia mort’, ou que mi faran en?

dona fea, velha e sandia!

Os vossos meus dinheiros, senhor, non pud’ eu aver, pero servidos7 com. Come outros, que os na-de servir, ei-os d’aver mentr’eu8 viver, ou pon mi-os a mia mort’o a que os vou pedir9? Ca passou temp’e transtempados10son, Ouve na’e dia e quero-m’em partir11.

Novelas de cavalaria

In. Massaud Moisés. A literatura portuguesa através dos textos. 14. Ed.São Paulo: Cultrix, 1985.p.29-30

A lírica trovadoresca coexistiu com diversas manifestações em prosa. Muitas delas são traduções de originais latinos e de outras línguas abrangendo temas religiosos, relatos da vida de santos (hagiografias), fábulas e outros escritos normalmente ligados à religiosidade e às intenções moralizantes típicas da mentalidade medieval.

CONDE, Gil Peres. In: Op. Cit. P. 96.

A transição de uma estrutura feudal para uma economia mercantil, com consequente valorização da vida cortês, a criação das primeira universidades, a permanência do espírito guerreiro e aventureiro da época das lutas da Reconquista, a forte influência ainda exercida pelo clero, todo esse conjunto de situações apresenta as condições ideais para o aparecimento e desenvolvimento da prosa em Portugal nos séculos XII e XIV.

Maravedis: moeda antiga. 2 Ouv’i: tive então. 3 Ei-os d’aver: hei de tê-los 4 Ou a mia mort’: ou à hora da minha morte. 5 Soldada: pagamento. 6 Quem quer: qualquer. 7 Servidos: ganhos, merecido. 8 Mentr’eu: enquanto eu. 9 Pon-mios a mia mort’o que os vou pedi: põe-mos somente à minha morte aquele a quem os vou pedir. 10 Trastempados: atrasados, vencidos. 11 Ouvean’ e dia e quero-m’em partir: passou um ano e um dia e já não quero ocupar-me disso. 1

A prosa de caráter literário da época aparece no final do século XIII, e é pertencente ao chamado ciclo bretão ou arturiano. Tinha como cenário o reino de Camelot, em que eram narradas as façanhas do Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. As principais obras são: História de Merlim, José de Arimateia e Demanda do Santo Graal, a mais famosa e popular delas.

Esse texto tem evidente cunho satírico: o sujeito lírico dirige-se ao senhor Rei, protestando contra o não pagamento dos serviços prestados. A ironia se estende quando o sujeito lírico pergunta se só vai receber após a morte, sugerindo que, morto, pedirá seu dinheiro a quem encontrar no Além. O texto é arrematado por uma estrofe curta em que fica claro o atraso no pagamento e a intenção de pôr um fim à questão. Cantigas de maldizer

Ai, dona fea! Foste-vos queixar que vos nunca louv’en meu trobar; mas ora quero fazer um cantar en que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Ai, dona fea! Se Deus me pardon! poisavedes [a] tangrancoraçon que vos eu loe, en esta razon vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: 578

Fonte: Renata Sedmakova / Shutterstock.com

B03  Trovadorismo

As cantigas de escárnio, como vimos, fazem uma crítica indireta, utilizando-se de forte carga irônica e de muitas ambiguidades para não nomear a pessoa satirizada. Já nas cantigas de maldizer, o trovador faz uma crítica direta, explícita e feroz. Não só se nomeia a vítima de seus ataques como também, de maneira frequente, envolve-se o nome dela a palavras de baixo calão ou vocabulário obsceno.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação

“Ay flores, ay flores do verde pinho, se sabedes novas do meu amigo! ay Deus, e hu é? Ay flores, ay flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! ay Deus, e hu é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu no que pôs comigo! ay Deus, e hu é? A composição anterior, parcialmente transcrita, pertence à lírica medieval da Península Ibérica. Ela tem autor desconhecido, arte poética própria e características definidas do lirismo trovadoresco, podendo-se ainda descobrir o nome pelo qual composições idênticas são conhecidas. Em uma das alternativas indicadas acham-se todos os elementos que correspondem a essas afirmações. a) O autor é Paio Soares de Taveirós. Destacam-se o paralelismo das estrofes, a alternância vocálica e o refrão. O poeta pergunta pelo seu amigo. b) O autor é Nuno Fernandes Torneol. Destaca-se o refrão como interpelação à natureza. Trata-se de uma cantiga de amigo. c) O autor é el-rei D. Dinis. Destacam-se o paralelismo das estrofes, a alternância vocálica e o refrão. O poeta canta na voz de uma mulher e pergunta pelo amado, porque é uma cantiga de amigo. d) O autor é Fernando Pessoa. Destaca-se a alternância vocálica. Trata-se da teoria do fingimento, que já existia no lirismo medieval. e) O autor é Martim Codax. Destaca-se o ambiente campestre. O poeta espera que os pinheiros respondam à sua pergunta. 02. (Unifesp SP) Senhor feudal Se Pedro Segundo Vier aqui Com história Eu boto ele na cadeira. (Oswald de Andrade)

O título do poema de Oswald remete o leitor à Idade Média. Nele, assim como nas cantigas de amor, a ideia de poder retoma o conceito de: a) fé religiosa. b) relação de vassalagem. c) idealização do amor. d) saudade de um ente distante. e) igualdade entre as pessoas.

03. (Fuvest SP) Sobre o Trovadorismo em Portugal, é correto afirmar que: a) sua produção literária está escrita em galego ou galaico-português e divide-se em: poesia (cantigas) e prosa (novelas de cavalaria). b) utilizou largamente o verso decassílabo porque sua influência é clássica. c) a produção poética daquela época pode ser dividida em lírico-amorosa e prosa doutrinária. d) as cantigas de amigo têm influência provençal. e) a prosa trovadoresca tinha claro objetivo de divertir a nobreza, por isso tem cunho satírico. 04. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa incorreta a respeito do Trovadorismo em Portugal. a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação entre poesia e a música. b) Muitas cantigas trovadorescas foram reunidas em livros ou coletâneas que receberam o nome de cancioneiros. c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do relacionamento entre o senhor e vassalo na sociedade feudal: distância e extrema submissão. d) Nas cantigas de amigo, o trovador escreve o poema do ponto de vista feminino. e) A influência dos trovadores provençais é nítida nas cantigas de amor galego-portuguesas. 05. (Fuvest SP) O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala: a) tem concepções clássicas do fazer poético. b) é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmente, é erudita. c) estabeleceu-se num longo período que dura dez séculos. d) tinha como concepção poética a epopeia, a louvação dos heróis. e) reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor. 06. (Mackenzie SP) Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é incorreto afirmar que: a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentrismo, o feudalismo e valores altamente moralistas. b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser representada por setores mais baixos da sociedade. c) pode ser dividida em lírica e satírica. d) em boa parte de sua realização, teve influência provençal. e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, expressam o eu lírico feminino.

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B03  Trovadorismo

01. (Unesp SP) Leia e observe com atenção a composição seguinte:


Português

Exercícios Complementares 01. (Mackenzie SP) Em meados do século XIV, a poesia trovadoresca entra em decadência, surgindo, em seu lugar, uma nova forma de poesia, totalmente distanciada da música, apresentando amadurecimento técnico, com novos recursos estilísticos e novas formas poemáticas, como a trova, a esparsa e o vilancete. Assinale a alternativa em que há um trecho representativo de tal tendência. a) Non chegou, madre, o meu amigo, eoje est o prazo saido! Ai, madre, moiro d’amor! b) Êstes olhos nunca perderán, senhor, gran coita, mentr’eu vivo fôr; edirei-vosfremosa, mia senhor, dêstes meus olhos a coita que han: choran e cegan, quand’alguém non veen, e ora cegan por alguen que veen. c) Meu amor, tanto vos amo, que meu desejo não ousa desejarnehua cousa. Porque, se a desejasse, logo a esperaria, e se eu a esperasse, sei que vós anojaria: mil vezes a morte chamo e meu desejo não ousa desejar-me outra cousa. d) Amigos, non poss’eu negar agran coita que d’amor hei, ca me vejo sandeu andar, econsandece o direi: os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assi.

B03  Trovadorismo

e) Ai! dona fea, foste-vos queixar por (que) vos nunca louv’em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar, em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar. donafea, velha e sandia! 02. (Prosel Uepa PA) Texto I Aquestas noites tão longas Que Deus fez em grave dia Por mi, por que as non Dormio E por que as non fazia No tempo que meu amigo Soia falar comigo Por que as fez Deus tan

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Grand Non poss’eu dormir, coitada! E de como son sobejas, Quisera – m’outra vegada No tempo que meu amigo Soia falar comigo Por que Deus fez tan Grandes, Sem mesura e desiguaaes, E as eu dormir non posso? Sossegada Por que as non fez ataes, No tempo que meu amigo Soia falar comigo (Julião Bolseiro)

Texto II Quantas noites não durmo A rolar-me na cama A sentir tanta coisa Que a gente não pode Explicar Quando ama. O calor das cobertas Não me aquece direito Não há nada no mundo Que possa afastar Esse frio do meu peito. Volta, vem viver outra vez A meu lado, Já não posso dormir Sossegada Pois meu corpo está Acostumado. (Adaptado de canção de Lupicínio Rodrigues, interpretada por Gal Costa).

A respeito dos textos I e II, julgue as afirmativas a seguir. I. São confissões amorosas de um eu lírico feminino que ficou sozinho. II. Falam do amor idealizado na forma de vassalagem comum à Idade Média. III. Têm raízes populares, de tal forma que o primeiro revela a origem portuguesa das manifestações contemporâneas semelhantes às do segundo. IV. O segundo tem características comuns às cantigas de amigo que o primeiro exemplifica. São corretas: a) I, II, III e IV. b) I e IV, somente. c) I, III e IV, somente.

d) I, II e III, somente. e) II e III, somente. A vassalagem amorosa é característica das Cantigas de Amor.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Assinale a informação correta a respeito do trecho de João Garcia de Guilhade: a) é cantiga satírica. b) foi o primeiro documento escrito em língua portuguesa (1189). c) trata-se de cantiga de amigo. d) foi escrita durante o Humanismo (1418-1527). e) faz parte do Auto da Feira. 04. (Mackenzie SP) As narrativas que envolvem as lutas dos cruzados envolvem sempre um herói muito engajado na luta pela cristandade, podendo ser a um só tempo frágil e forte, decidido e terno, furioso e cortês. No entanto, com relação à mulher amada, esse herói é sempre: a) pouco dedicado. b) infiel. c) devotado. d) indelicado. e) ausente e belicoso. 05. (Unifap AP) Sobre as cantigas de escárnio do trovadorismo português, é correto afirmar que: a) apresentam interesse, sobretudo histórico através da voz lírica feminina. b) revelam detalhes da vida íntima da aristocracia através das convenções do amor cortês. c) apresentam uma linguagem velada, sem deixar de lado o humor sobre a vida social da época. d) utilizam-se de sátiras diretas, revelando a vida campesina e urbana. e) fazem a crítica rude, direta, muitas vezes enveredando para a obscenidade. Nas cantigas de escárnio o eu lírico é masculino, não são respeitadas as convenções do amor cortês, as sátiras são de modo indireto, por meio de trocadilhos e ironias. É a cantiga de maldizer que apresenta críticas de modo direto.

06. (Mackenzie SP) Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai Deus, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus, se verrá cedo! (Martim Codax) Obs.: verrá = virá levado = agitado

Assinale a afirmativa correta sobre o texto. a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta a Deus seu sofrimento amoroso.

b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino dirige-se a Deus para lamentar a morte do ser amado. c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino manifesta às ondas do mar sua angústia pela perda do amigo em trágico naufrágio. d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculino dirige-se às ondas do mar para expressar sua solidão. e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino dirige-se às ondas do mar para expressar sua ansiedade com relação à volta do amado. 07. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito das cantigas de amor. a) O ambiente é rural ou familiar. b) O trovador assume o eu lírico masculino: é o homem quem fala. c) Têm origem provençal. d) Expressam a “coita” amorosa do trovador, por amar uma dama inacessível. e) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a uma categoria social mais elevada que a do trovador. 08. (Prosel Uepa PA) Leia com atenção, os textos A e B para avaliar se são corretas as afirmativas que se lhe seguem. Texto A “Per ribeira do rio vi remar o navio, e sabor hei da ribeira. Per ribeira do alto Vi remar o barco E sabor hei da ribeira. Vi remar o navio I vai o meu amigo E sabor hei da ribeira. (…)

Texto B “Dizia lafremosinha ay adeus, val! Com’estou d’amor ferida, Ay deus, val! Dizia la bem talhada: Ay deus, val! Com’estou d’amor coytada Ay deus, val! (…) Sabor hei – estou contente Alto – rio Val – valha

Apud BELLEZI, Clenir. Arte Literária Brasil – Portugal.

I. II.

III. IV.

Tanto no texto A quanto no texto B estão presentes eu líricos femininos. O sentimento amoroso em A e B exemplifica a noção de “coyta d’amor” (sofrimento amoroso), cultivada, em seus versos, pelos trovadores. O texto A é uma Cantiga de Amor e o B uma Cantiga de Amigo. Ambos os textos exemplificam a lírica amorosa do Medievalismo literário em Portugal.

São corretas somente: a) I e IV Os dois textos são cantigas de amigo que tratam do sofrimento b) I e II de um eu lírico feminino que sofre pela ausência do amado. c) II e III d) I e III e) III e IV 581

B03  Trovadorismo

03. (Mackenzie SP) “Ai dona fea! foste-vos queixar porque vos nunca louv’em meu trobar mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via e vedes como vos quero loar: donafea, velha e sandia!”


FRENTE

B

PORTUGUÊS

MÓDULO B04

ASSUNTOS ABORDADOS nn Humanismo nn Poesia palaciana

HUMANISMO Poesia palaciana

nn Uma época de transição nn Gil Vicente

Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém. Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão chorosos da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes os tristes, tão fora d’esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém. In Segismundo Spina. Presença da literatura portuguesa. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1969.

Fonte: wikimedia.commons

Como você pôde observar, a leitura da cantiga já não oferece maiores dificuldades de compreensão. Observe também que não estamos diante de um texto escrito em galego-português, tal qual ocorria nas cantigas trovadorescas. Há uma simplicidade expressiva impressa pelo autor que reflete na escolha do vocabulário.

Figura 01 - Eventos literários da nobreza europeia em um Palácio.

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No início, a poesia era transmitida oralmente, por meio dos jograis: compositores, cantores e músicos ambulantes, que divulgavam nas feiras, castelos e cidades um repertório musical e literário. A partir do século XII, quando a nobreza passou a escrever em língua vernácula, o latim foi deixado de lado e começou a acontecer aí uma divisão entre as tradições orais e a produção da elite. Houve então a divisão do trabalho artístico: os trovadores, geralmente de origem nobre, especializavam-se na criação da música e dos versos, requerendo para si o papel de compositores-autores. Os menestréis ou jograis, artistas tradicionais de origem popular, que originalmente eram compositores-autores, passaram a meros executores e intérpretes.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: wikimedia commons

Uma época de transição Os séculos XV e XVI constituem um período de transição entre a era medieval e a era moderna. Surge agora uma nova visão de mundo, mais focada na valorização do humano como sujeito de sua própria história. A preocupação central desloca-se de Deus para o humano, porém com o olhar vigilante da Igreja. Nasce uma nova ordem social e econômica juntamente com a ascensão da burguesia. Abrem-se, assim, novas formas de manifestação artística. Esse novo modelo de encarar a vida é conhecido como Humanismo. A segunda época medieval ou Humanismo corresponde ao período que vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda da Itália, produzindo, em Portugal,a nova estética clássica, no ano de 1527.

Figura 02 - Amor, ciúme e música no fim da Idade Medieval

Esse é um período muito rico do desenvolvimento da prosa, graças ao trabalho dos cronistas. Outra manifestação importantíssima que se desenvolve no Humanismo, já no início do século XVI, é o teatro popular, com a produção de Gil Vicente. A prosa de Fernão Lopes Fonte: wikimedia commons

Conheçamos um trecho de uma crônica escrita por Fernão Lopes, enfocando um momento da vida de D. Pedro I.

Figura 03 - Imagem do cronista português Fernão Lopes

B04  Humanismo

Em três cousas, assinadamente, achamos, pela mor parte, que el-Rei D. Pedro de Portugal gastava seu tempo. A saber: em fazer justiça e desembargos do Reino; em monte e caça, de que era mui querençoso; e em danças e festas segundo aquele tempo, em que tomava grande sabor, que adur é agora para ser crido. E estas danças eram a som de umas longas que então usavam, sem curando de outro instrumento, posto que o aí houvesse; e se alguma vez lho queriam tanger, logo se enfadava dele e dizia que o dessem ao demo, e que lhe chamassem os trombeiros. Ora deixemos os jogos e festas que el-Rei ordenava por desenfadamento, nas quais, de dia e de noite, andava dançando por mui grande espaço; mas vede se era bem saboroso jogo. Vinha el Rei em batéis de Almada para Lisboa, e saíam-no a receber os cidadãos, e todos os dos mestres, com danças e trebelhos, segundo então usavam,e eis saia dos batéis, e metia-se na dança com eles, e assim até o paço. Parai mentes se foi bom sabor: jazia el-Rei em Lisboa uma noite na cama, e não lhe vinha sono para dormir. E fez levantar os moços, e quantos dormiam no paço; e mandou chamar João Mateus e Lourenço Palos, que trouxessem as trombas de prata. E fez acender tochas, e meteu-se pela vila em dança com os outros. As gentes, que dormiam, saíam às janelas, a ver que festa era aquela, ou por que se fazia; e quando viram daquela guisa el-Rei, tomaram prazer de o ver assim ledo. E andou el-Rei assim gram parte da noite, e tornou-se ao paço em dança, e pediu vinho e fruta, e lançou-se a dormir. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2002, p. 47-8

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Português

Costuma-se caracterizar as crônicas de Fernão Lopes como regiocêntricas (por centralizar-se nas ações do rei), políticas (por abordar a face política de algumas ocorrências) e psicológicas (por se preocupar com a sondagem do interior do monarca). No trecho lido, podemos perceber algumas dessas características. Observe como o narrador é detalhista, ao contar os fatos. É como se ele estivesse com uma câmera, filmando tudo que acontece, relatando fielmente o que vê. Na última frase, percebe-se que o povo (as gentes) partilhava do sofrimento do monarca e viam nesses arroubos de festa o desaguadouro para tantas aflições. A poesia no humanismo A principal fonte de poemas desse período é o Cancioneiro Geral, publicado em 1516. Ele reúne cerca de mil composições de 286 autores. Essas canções foram selecionadas pelo poeta Garcia de Resende. Elas são extremamente variadas, incluindo poemas amorosos, poesia épica, poesia satírica e textos teatrais em verso. As poesias palacianas do Cancioneiro geral eram marcadas por ambiguidades, conotações, aliterações e jogos de palavras. Apresentam uma forma de língua portuguesa já bem próxima da nossa e consolidam a presença dos versos conhecidos como redondilha maior (heptassílabos) e da redondilha menor (pentassílabos).

Gil Vicente Na Idade Média, as peças de teatro eram todas de caráter religioso e costumavam ser apresentadas no pátio das igrejas e dos mosteiros. Quando o Paço Real adquire maior importância, ele passa a ser o centro da movimentação cultural e é lá que as peças serão encenadas. A atividade teatral torna-se intensa e começa a abordar termas mais variados. Em Portugal, o grande nome do teatro do Humanismo é Gil Vicente, considerado o criador do teatro português pela apresentação, em 1502, de seu Monólogo do vaqueiro (também conhecido como Auto da visitação).

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Fonte: wikimedia commons

O teatro vicentino é basicamente caracterizado pela sátira e critica o comportamento de todas as camadas sociais: a nobreza, o clero e o povo. Apesar de sua profunda religiosidade, a Igreja Católica é tomada como referência para a identificação das virtudes e dos erros humanos. O tipo mais comumente satirizado por Gil Vicente é o frade, que se entrega aos amores proibidos (chegando a enlouquecer de amor), à ganância na venda de indulgências, ao exagerado misticismo, ao mundanismo, à depravação dos costumes. Sem fazer distinção entre os segmentos da sociedade, o teatro vicentino coloca no centro da cena os pecados de ricos e pobres, de nobres e plebeus. A crítica de Gil Vicente atingia desde os frades até o Alto Clero, sem poupar bispos e cardeais. Criticavam-se aqueles que rezavam mecanicamente, ou seja, por obrigação social, e também os que invocavam a Deus somente para solicitar favores pessoais. Para exemplificar, apresentamos este diálogo entre um sapateiro e o Diabo, do Auto da barca do Inferno:

Figura 04 - Representação em óleo sobre tela da "barca do Inferno"

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Sapateiro:

Quantas missas eu ouvi,

Classificação das peças de Gil Vicente

Nom me hão elas de prestar?

Diabo:

Ouvir missa, então roubar –

Os estudiosos portugueses José Saraiva e Óscar Lopes apontam cinco grupos básicos de textos de Gil Vicente:

É caminho para aqui.

Sempre é morto quem do arado há-deviver. Nós somos vida das gentes, e morte de nossas vidas; (...) o lavrador não tem tempo nem lugar nem somente d’alimpar as gotas do seu suor. Riquíssima é a galeria de tipos humanos do teatro vicentino: o velho apaixonado que se deixa roubar, a alcoviteira, a velha beata, o sapateiro que rouba do povo, o escudeiro fanfarrão, o médico incompetente, o judeu ganancioso, o fidalgo decadente; a mulher adúltera, o padre corrupto. Gil Vicente não tem a preocupação de fixar tipos psicológicos, mas, sim, de fixar tipos sociais. Observe que a maior parte dos personagens do teatro vicentino não tem nome de batismo, eles são designados pela profissão ou pelo tipo humano que representam. Quanto à forma e à utilização de cenários e montagens, o teatro de Gil Vicente é extremamente simples. Tampouco obedece às três unidades do teatro clássico – ação, lugar e tempo. Seu texto apresenta estrutura poética, com o predomínio da redondilha maior, havendo mesmo várias cantigas no corpo de suas peças. Outro aspecto a salientar no teatro vicentino, que é consequência natural de seu momento histórico: ao lado de algumas características tipicamente medievais (religiosidade, uso de alegorias, de redondilhas, não obediência às três unidades do teatro clássico), percebem-se características humanistas, tais como a presença de figura mitológicas, a condenação à perseguição aos judeus e cristãos-novos, a crítica social.

pastoris (éclogas): gênero a que pertencem algumas das primeiras obras do autor. São monólogos ou diálogos cômicos de pastores, ricos em lirismo folclórico. Estão nesse grupo o Monólogo do vaqueiro, o Auto pastoril da serra da Estrela e o Auto pastoril português.

nn Moralidades

religiosas ou autos de moralidade: gênero em que Gil Vicente se tornou célebre. Embasados na Bíblia, expõem o tema da salvação pelo sacrifício de Cristo ou utilizam alegorias para transmitir ensinamentos religiosos ou morais. Esse grupo compreende peças como: Auto dos quatro tempos, Auto de Mofina Mendes, Mistérios da Virgem, Breve sumário da história de Deus, Auto da alma, Auto da feira, Auto da barca do Inferno, Auto da barca da Glória e Auto da barca do Purgatório. Estes três últimos textos constituem a chamada Trilogia das barcas.

nn Autos cavaleirescos: exibem a encenação de episódios

cavaleirescos, muito em moda na época. Destacam-se neste grupo o Amadis de Gaula, O. Duardos, a Comédia do viúvo e a Comédia de Rubena. nn Alegorias de tema profano: peças de tema não religioso

diverso, em que os personagens são frequentemente ideais, qualidades ou entidades abstratas (alegorias). Incluem-se neste grupo Cortes de Júpiter, Frágua do amor, Nau de amores, Exortação da guerra e outras. nn Farsas:

são peças de caráter crítico. Gil utiliza como personagens tipos populares e os envolve em torno de problemas da sociedade. São quadros cômicos em que desfilam personagens típicos, apresentando acentuado caráter de crítica social. Incluem-se neste grupo Quem tem farelos?, Farsa dos almocreves, Clérigo da Beira, O juiz da Beira, Auto da Índia, Velho da horta e Farsa de Inês Pereira. Esta última é, sem dúvida, a peça de maior unidade de ação do autor, feita como resposta a um desafio de seus detratores.

Farsa de Inês Pereira Uma das farsas mais conhecidas de Gil Vicente é a farsa de Inês Pereira, representada no Convento de Tomar, em 1523. O tema dessa farsa é dado pelo seguinte provérbio: “Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube”. A heroína Inês, embora pertença à classe popular, sonha com um marido da elite. Jovem, cansada dos trabalhos domésticos, procura um bom casamento. O primeiro pretendente é Pero Marques, um lavrador “rico e honrado”, mas muito tosco para atender aos desejos da jovem, que sonha com um marido galante e refinado. 585

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A baixa nobreza, representada pelo fidalgo decadente e pelo escudeiro, é outra classe social insistentemente criticada pelo autor. O teatro vicentino satiriza ainda o povo que abandona o campo em direção à cidade ou mesmo aqueles que sempre viveram na cidade, mas que, como os provenientes do campo, se deixam corromper pela perspectiva do lucro fácil. Isso explica a defesa e o carinho de Gil Vicente com um tipo: o lavrador, talvez o verdadeiro povo, vítima da exploração de toda a estrutura social. No Auto da barca do Purgatório, o lavrador assim se manifesta:

nn Autos


Português

Inês casa-se com um escudeiro que lhe é indicado por dois judeus casamenteiros. Antes galanteador e afável, ele revela-se um marido tirânico: tranca a esposa em casa e coloca-a sob a vigilância de um empregado. Para alívio de Inês, ele morre numa batalha na África, atingido nas costas por um mouro quando fugia. Viúva, experiente e livre, ela resolve aceitar como marido o antigo pretendente Pero Marques. Resolve também iniciar uma vida de diversões para compensar o que passara com o escudeiro: ao dar esmola a um ermitão, reconhece nele um antigo namorado e logo marca um encontro. A peça termina com Pero Marques carregando Inês às costas enquanto a conduz à ermida onde ela irá encontrar o amante. Nessa peça, Gil Vicente alcançou um enredo mais bem construído que na média de sua obra, conseguindo desenvolver sua personagem principal, Inês, com maior cuidado e detalhamento. Muitos estudiosos da obra vicentina a consideram sua obra-prima, tanto pela estrutura narrativa, que supera a simples justaposição de quadros e atinge uma concatenação de episódios mais complexa, como também pela investigação psicológica do personagem, que deixa de ser um simples tipo social. O fragmento a seguir retrata o momento em que o novo marido (o ermitão) a leva ao eremitário e atravessa o rio com ela às costas. Inês convence seu marido a acompanhá-la até a capela distante, onde deverá encontrar-se com um “anjinho de Deus”, na verdade, o ermitão-amante. No caminho, há um rio. Inês pede ao marido que a carregue nos ombros, para que a água fria não lhe faça mal. Pero Marques, feito um asno, obedece-a prontamente, dando assim, mostras de sua afeição, de sua dedicação e de seu amor pela mulher, e, ao mesmo tempo, dando mostras de sua submissão, de sua condição vassala diante de Inês.

Na letra da música, ele é chamado por “marido cuco” (“marido traído”), “gamo” e “cervo”, referindo-se a três animais de chifres que tradicionalmente servem como símbolo de marido enganado, antecipando a sua traição. Mas, a ingenuidade do inocente Pero impede-o de perceber o comportamento de Inês. INÊS: Cantemos, marido, quereis? PERO: Eu não saberei entoar... INÊS: Pois eu hei só de cantar E vós me respondereis, Cada vez que eu acabar: “Pois assi se fazem as cousas”. [...] INÊS: “Bem sabedes vós, marido, Quanto vos quero. Sempre fostes percebido Pera cervo. Agora vos tomou o demo Com duas lousas.” PERO: “Pois assi se fazem as cousas.” E assi se vão, e se acaba o dito Auto. Obras de Gil Vicente- Correctas e emendadas. Tomo Terceiro - digitalizado

INÊS: Passemos primeiro o rio.

Gil Vicente aos nossos dias

Descalçai-vos.

Gil Vicente criou uma obra que apresenta sinais de modernidade no que tem de despojamento formal e de capacidade de compreensão do espírito popular. Nesse aspecto, seu teatro é mais atual que o de muitos outros autores cronologicamente posteriores. Em vários momentos da literatura em língua portuguesa, as formas e feições vicentinas foram reutilizadas, como, por exemplo, no teatro catequético de José de Anchieta, no trabalho de Almeida Garret (que, no Romantismo, escreveu Um auto de Gil Vicente) e mesmo nos nossos dias, em textos como O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

PERO: E pois como? INÊS:

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E levar me-eis no ombro, Não me corte a madre o frio. Inês viaja feliz nas costas do marido e sugere que eles cantem. Pero Marques afirma que não sabe cantar, então, ela pede que ele repita o refrão da cantiga: “Pois assi se fazem as cousas”, verso que sintetiza a sua aquiescência. 586


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Exercícios de Fixação

No português, encontramos variedades históricas, tais como a representada na cantiga trovadoresca de João Garcia de Guilhade, ilustrada a seguir. Non chegou, madre, o meu amigo, e oje est o prazo saido! Ai, madre, moiro d’amor! Non chegou, madre, o meu amado, e oje est o prazo passado! Ai, madre, moiro d’amor! E oje est o prazo saido! Por que mentiu o desmentido? Ai, madre, moiro d’amor! E oje, est o prazo passado! Por que mentiu o perjurado? Ai, madre, moiro d’amor! No verso – Ai, madre, moiro d’amor! – a função sintática do termo madre é a seguinte: a) sujeito. Trata-se do vocativo, termo que não b) objeto direto. possui relação sintática com outra exc) adjunto adnominal. pressão da oração e é usado para chamar ou interpelar o interlocutor, real d) vocativo. ou imaginário. É correta a opção [D]. e) aposto. 02. (UeL PR) Sobre a cultura medieval ocidental, considere as seguintes afirmativas. I. A maioria dos “não romanos” desconhecia a escrita e utilizava-se da oralidade para orientar a vida social. II. No campo da Filosofia, verificou-se a influência do pensamento escolástico, que retomou o debate entre fé e razão. III. A arquitetura medieval caracterizou-se pela presença de grandes construções inspiradas em motivos religiosos, como mosteiros e igrejas. IV. O heroísmo da cavalaria e o amor, temas característicos da poesia trovadoresca, tornaram-se comuns na literatura medieval. Assinale a alternativa correta. a) Apenas as afirmativas III e IV são verdadeiras. b) Apenas as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. c) Apenas as afirmativas I, II e III são verdadeiras. d) Apenas as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

03. (Espm SP) O amor cortês foi um gênero praticado desde os trovadores medievais europeus. Nele, a devoção masculina por uma figura feminina inacessível foi uma atitude constante. A opção cujos versos confirmam o exposto é: a) Eras na vida a pomba predileta (...) Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, - a inspiração, - a pátria, O porvir de teu pai! (Fagundes Varela)

b) Carnais, sejam carnais tantos desejos, Carnais sejam carnais tantos anseios, Palpitações e frêmitos e enleios Das harpas da emoção tantos arpejos... (Cruz e Sousa)

c) Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nenhuma lágrima Em pálpebra demente. (Álvares de Azevedo)

d) Em teu louvor, Senhora, estes meus versos E a minha Alma aos teus pés para cantar-te, E os meus olhos mortais, em dor imersos, Para seguir-lhe o vulto em toda a parte. (Alphonsus de Guimaraens)

e) Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer amar e malamar, amar, desamar, amar? (Manuel Bandeira)

04. (Fuvest SP) Aponte a alternativa correta em relação a Gil Vicente. a) Compôs peças de caráter sacro e satírico. b) Introduziu a lírica trovadoresca em Portugal. c) Escreveu a novela Amadis de Gaula. d) Só escreveu peças em português. e) Representa o melhor do teatro clássico português. 05. (Fuvest SP) Caracteriza o teatro de Gil Vicente: a) a revolta contra o cristianismo. b) a obra escrita em prosa. c) a elaboração requintada dos quadros e cenários apresentados. d) a preocupação com o homem e com a religião. e) a busca de conceitos universais.

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01. (IF SP)


Português

Exercícios Complementares 01. (Mackenzie SP) Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo. a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres camponesas. b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura antropocêntrica. c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis. d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente. e) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões estéticos greco-romanos. 02. Grande parte dos textos do Cancioneiro Geral foi produzida para animar os nobres intelectuais ociosos da corte. Esses textos retratavam eventos amorosos e intrigas cortesãs circunstanciais da época. O Cancioneiro Geral não contém: a) composições com motes e glosas. b) cantigas e esparsas. c) trovas e vilancetes. d) composições na medida velha. e) sonetos e canções. 03. (UFPA)

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VELHA “E o lavrar [o trabalho], Isabel? ISA. Faz a moça mui mal feita, Corcovada e contrafeita, De feição de meio anel; E faz muito mao [mau] carão [semblante], E mao costume dolhar. VEL. Hui! pois jeita-te [dedica-te] ao fiar Estopa, linho ou algodão, Ou tecer, se vem à mão. ISA. Isso he [é] peor que lavrar. VEL. Engeitas tu o fiar? ISA. Que não hei de fiar não. Eu sou filha de moleira? Em roca me falais vós? Ora assi salve Deos, Que tendes forte cenreira [teimosia]. VELHA Aprende logo a tecer.

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ISA. Então bolirco fiado [tecer]: Achais outro mais honrado Ofício pera eu saber? ” VICENTE, Gil. Farsa de “Quem tem farelos”. In: Obras de Gil Vicente. Porto: Lello& Irmão, 1965. p. 583-584.

Sobre o fragmento transcrito, é correto afirmar que: a) Isabel, embora aceite a submissão dos filhos aos pais, não admite alguns tipos de trabalhos manuais que possam comprometer a sua aparência física. b) trata-se de um fragmento da discussão final entre a Velha e a Isabel (vv. 451-538), por meio da qual o leitor contrapõe conceitos opostos sobre o trabalho feminino da época. c) a Velha repudia as atividades relacionadas ao fiar e ao tecer, defendendo que apenas as moças pobres devem dedicar-se a trabalhos domésticos. d) a discussão final entre a Velha e a filha marca duas posições opostas e irreconciliáveis, o que as torna personagens individualizadas em oposição ao tipo do fidalgo pobre, representado por Aires Rosado. e) a sátira à sociedade portuguesa vincula-se a uma crítica de personagens, representando Isabel uma geração superada historicamente. 04. (Fuvest SP) Caracteriza o teatro de Gil Vicente: a) a revolta contra o cristianismo. b) a obra escrita em prosa. c) a elaboração requintada dos quadros e cenários apresentados. d) a preocupação com o homem e com a religião. e) a busca de conceitos universais. 05. (Unitau SP).Em relação a Gil Vicente, é incorreto dizer que a) recebeu, no início de sua intensa atividade literária, influência de Juan del Encina. b) sua primeira produção teatral foi Auto dos Reis Magos. c) suas obras se caracterizaram, antes de tudo, por serem primitivas e populares. d) suas obras surgiram para entretenimento nos ambientes da corte portuguesa. e) seu teatro caracterizou-se por observações satíricas às camadas sociais da época. 06. (Mackenzie SP) Marque a alternativa incorreta a respeito do Humanismo. a) Época de transição entre a Idade Média e o Renascimento. b) O teocentrismo cede lugar ao antropocentrismo. c) Fernão Lopes é o grande cronista da época. d) Garcia de Resende coletou as poesias da época, publicadas em 1516 com o nome de Cancioneiro Geral. e) A Farsa de Inês Pereira é a obra de Gil Vicente cujo assunto é religioso, desprovido de crítica social.


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08. (Fuvest SP) Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. a) É intricada a estruturação de suas cenas, que surpreendem o público com a inesperado de cada situação. b) O moralismo vicentino localiza os vícios, não nas instituições, mas nos indivíduos que as fazem viciosas. c) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor é o primeiro a relativizar a distinção entre Bem e o Mal. d) A ênfase dessa sátira recai sobre as personagens populares mais ridicularizadas e as mais severamente punidas. e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo. 09. (UM SP) Assinale a alternativa em que se encontra uma afirmação incorreta sobre a obra de Gil Vicente. a) Sofre a influência de Juan del Encina, principalmente no teatro pastoril de sua primeira fase. b) Seus personagens representam tipos de uma vasta galeria de estratos da sociedade portuguesa da época. c) Por viver em pleno Renascimento, apega-se aos valores greco-romanos, desprezando os princípios da Idade Média. d) Um dos maiores valores de sua obra é ter contrabalançado uma sátira contundente como pensamento cristão. e) Suas obras-primas, como a Farsa de Inês Pereira, são escritas na terceira fase de sua carreira, período de maturidade intelectual. 10. (Mackenzie SP) Gil Vicente, autor representativo do Humanismo em Portugal, (1) revela-nos, em sua obra lírica, (2) uma ambivalência típica desse período (3) de um lado, a ideologia teocêntrica do mundo medieval; (4) de outro, influenciado pelo antropocentrismo emergente, (5) é o analista mordaz da sociedade portuguesa do século XVI. É esse ambivalência que o situa como autor de transição: (6) entre o humanismo e o antropocentrismo. (7) Dos fragmentos destacados: a) Todos estão corretos. b) Todos estão incorretos. c) Apenas 4 e 5 estão incorretos.

11. (Aman RJ) Considerando a imagem da mulher nas diferentes manifestações literárias, pode-se afirmar que: a) nas cantigas de amor, originárias da Provença, o eu lírico é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso. b) no Arcadismo, a louvação da mulher é feita a partir da escolha de um aspecto físico em que sua beleza se iguale à perfeição da natureza. c) no Realismo, a mulher era idealizada como misteriosa, inatingível, superior, perfeita, como nas cantigas de amor. d) a mulher moderna é inferiorizada socialmente e utiliza a dissimulação e a sedução, muitas vezes desencadeando crises e problemas. e) a mulher barroca foi apresentada como arquétipo da beleza, evidenciando o poder por ela conquistado, enquanto os homens viviam uma paz espiritual. 12. (Uepa PA) “A literatura do amor cortês, pode-se acrescentar, contribuiu para transformar de algum modo a realidade extraliterária, atua como componente do que Elias (1994)* chamou de processo civilizador. Ao mesmo tempo, a realidade extraliterária penetra processualmente nessa literatura que, em parte, nasceu como forma de sonho e de evasão.” (Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, EDUFSC, v. 41, n. 1 e 2, p. 83-110, Abril e Outubro de 2007 pp. 91-92)(*)Cf. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Zahar, 1994, v.1.

Interprete o comentário acima e, com base nele e em seus conhecimentos acerca do lirismo medieval galego-português, marque a alternativa correta. a) As cantigas de amor recriaram o mesmo ambiente palaciano das cortes galegas. b) “A literatura do amor cortês” refletiu a verdade sobre a vida privada medieval. c) A servidão amorosa e a idealização da mulher foram o grande tema da poesia produzida por vilões. d) O amor cortês foi uma prática literária que aos poucos modelou o perfil do homem civilizado. e) Nas cantigas medievais mulheres e homens submetem-se às maneiras refinadas da cortesia.

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07. (Mackenzie SP) Na passagem da Idade Média para o Renascimento, dois escritores portugueses se destacaram, por apresentar características que já previam uma nova tendência filosófica e artística. Trata-se de: a) Fernão Lopes e Gil Vicente. b) D. Dinis e Paio Soares de Taveirós. c) Garcia de Resende e Aires Teles. d) Camões e Bocage. e) Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos.

d) Apenas 2 e 7 estão incorretos. e) Apenas 2, 5 e 7 estão incorretos. 589


FRENTE

B

PORTUGUÊS Gabarito questão 03 A poesia trovadoresca é indissociável da música e sua transmissão era sobretudo oral, embora houvesse também registro escrito das cantigas, como se comprova no códice do Cancioneiro da Ajuda, contemporâneo dos trovadores.

Exercícios de Aprofundamento 01. (Ufscar SP) É, pois, nas sociedades orais que não apenas a função da memória é mais desenvolvida, mas também a ligação entre o homem e a Palavra é mais forte. Lá onde não existe a escrita, o homem está ligado à palavra que profere. Está comprometido por ela. Ele é a palavra, e a palavra encerra um testemunho daquilo que ele é. (...) Nas tradições africanas - pelo menos nas que conheço e que dizem respeito a toda a região de savana ao sul do Saara-, a palavra falada se empossava, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e às forças ocultas nela depositadas. Agente mágico por excelência, grande vetor de “forças etéreas”, não era utilizada sem prudência. Inúmeros fatores - religiosos, mágicos ou sociais - concorrem, por conseguinte, para preservar a fidelidade da transmissão oral (...). Gabarito no final da página. (A. HampatéBâ. A tradição viva. In: J. Ki-Zerbo (org.). História geral da África, 1982.)

a) Escreva sobre a importância da criação da escrita na diferenciação entre sociedades pré-históricas e históricas, que esteve presente, durante muito tempo, no pensamento europeu. b) A partir da interpretação do texto apresentado, escreva por que é possível escrever a história de sociedades orais. 02. (Ufscar SP) (...) Pré-História do Brasil compreende a existência de uma crescente variedade linguística, cultural e étnica, que acompanhou o crescimento demográfico das primeiras levas constituídas por poucas pessoas (...) que chegaram à região até alcançar muitos milhões de habitantes na época da chegada da frota de Cabral. (...) não houve apenas um processo histórico, mas numerosos, distintos entre si, com múltiplas continuidades e descontinuidades, tantas quanto às etnias que se formaram constituindo ao longo dos últimos 30, 40, 50, 60 ou 70 mil longos anos de ocupação humana das Américas. (Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noeli. Pré-História do Brasil, 2002.)

Considerando o texto, é correto afirmar que: a) as populações indígenas brasileiras são de origem histórica diversa e, da perspectiva linguística, étnica e cultural, se constituíram como sociedades distintas. b) uma única leva imigratória humana chegou à América há 70 mil anos e dela descendem as populações indígenas brasileiras atuais. c) a concepção dos autores em relação à Pré-História do Brasil sustenta-se na ideia da construção de uma experiência evolutiva e linear. d) os autores descrevem o processo histórico das populações indígenas brasileiras como uma trajetória fundada na ideia de crescente progresso cultural. 590

e) Na época de Cabral, as populações indígenas brasileiras eram numerosas e estavam em um estágio evolutivo igual ao da Pré-História europeia. 03. (Mackenzie SP) Assinale a afirmativa correta com relação ao Trovadorismo. a) Um dos temas mais explorados por esse estilo de época é a exaltação do amor sensual entre nobres e mulheres camponesas. b) Desenvolveu-se especialmente no século XV e refletiu a transição da cultura teocêntrica para a cultura antropocêntrica. c) Devido ao grande prestígio que teve durante toda a Idade Média, foi recuperado pelos poetas da Renascença, época em que alcançou níveis estéticos insuperáveis. d) Valorizou recursos formais que tiveram não apenas a função de produzir efeito musical, como também a função de facilitar a memorização, já que as composições eram transmitidas oralmente. e) Tanto no plano temático como no plano expressivo, esse estilo de época absorveu a influência dos padrões estéticos greco-romanos. 04. (Ufam AM) Leia o poema abaixo, de autoria de D. Dinis, rei de Portugal, antes de responder à questão próxima questão: “En gran coita, senhor, que pior que mort’é, vivo, per boa fé, e polo voss’amor esta coita sofr’eu por vós, senhor, que eu Vi polo meu gran mal, e melhor me será de morrer por vós já e, pois me Deus non val,

esta coita sofr’eu por vós, senhor, que eu Polo meu gran mal vi, e mais me val morrer ca tal coita sofrer, pois por meu mal assi esta coita sofr’eu por vós, senhor, que eu Vi por gran mal de mi, pois tam coitad’and’eu.”

A respeito do poema acima fazem-se as seguintes afirmativas: I. É uma cantiga de escárnio, pois o poeta ridiculariza a mulher amada. II. É uma cantiga de amigo, pois o eu lírico é feminino. III. Possui versos paralelísticos, como “Vi polo meu gran mal” e “Polo meu gran mal vi”. IV. É uma cantiga de amor, pois o eu lírico, além de ser masculino, sofre intensamente um amor impossível. V. É uma cantiga de refrão, o qual possui a particularidade de ver o seu sentido completado na estrofe seguinte. VI. É uma cantiga de maldizer, pois o poeta não se conforma com o fato de não conquistar a mulher que ama. Estão corretas: a) Apenas III e VI d) Apenas I e V b) Apenas II e III e) III, IV e V c) Apenas II e V

Gabarito questão 01 a) A historiografia europeia cunhou o termo Pré-História para designar o período que antecedeu a invenção da escrita. Esta foi considerada, assim, como um divisor na análise do percurso humano, pois permitiria aos historiadores estabelecer interpretações baseadas em registros linguísticos. Lendo os textos gerados por diversas civilizações, portanto, teríamos delas uma compreensão diferente daquela possível sobre os povos sem escrita. b) Segundo o texto, as sociedades orais teriam a função da memória mais desenvolvida, uma ligação mais forte com a palavra, vista como sagrada. Desse modo o historiador, através do levantamento sistematizado de depoimentos, tem sim como se aproximar da realidade histórica desses povos.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Gabarito questão 07 Podemos observar na crônica de Rubem Braga todos os elementos característicos desse gênero, como o relato de uma situação corriqueira do cotidiano, permeado por uma linguagem dotada de certa dose de lirismo, além de características como a brevidade do texto e uso de uma linguagem coloquial...

(PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 dez. 2012.)

As rubricas em itálico, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem: a) necessidade, porque as encenações precisam ser fiéis às diretrizes do autor. b) possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como outros elementos. c) preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a encenação. d) exigência, porque elas determinam as características do texto teatral. e) imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor. 06. “A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.” (Ariano Suassuna)

Considerado um dos maiores dramaturgos do Brasil, Ariano Suassuna tem seu nome identificado por sua obra mais conhecida, O Auto da Compadecida, de 1955, e reputada, já em 1962, como um dos textos mais representativos da história do teatro brasileiro. Sobre o papel desse autor e de sua obra, assinale a alternativa correta. a) A atualização do teatro nacional reuniu valores europeus, num movimento conhecido como “Os discípulos da Compadecida”. b) A obra de Ariano Suassuna se confunde com a modernização do teatro brasileiro, incorpora e dá especial destaque à chamada cultura popular nordestina. c) Ariano Suassuna tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras, mas jamais conseguiu projeção nacional, a despeito da divulgação de suas obras. d) O Auto da Compadecida é, em síntese, uma exaltação dos poderosos e uma crítica aos pobres, identificados como ignorantes e preguiçosos. 07. (Enem MEC) Leia o texto a seguir para responder à questão: A outra noite Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.

Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou o sinal fechado para voltar-se para mim: - O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima? Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra – pura, perfeita e linda. - Mas, que coisa... Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa. - Ora, sim senhor... E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um “boa-noite” e um “muito obrigado ao senhor” tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei. Rubem Braga

Analisando as principais características do texto lido, podemos dizer que seu gênero predominante é: a) Conto. d) Crônica. b) Poesia. e) Diário. c) Prosa. 08. (Enem MEC)

Texto Com o texto eletrônico, enfim, parece estar ao alcance de nossos olhos e de nossas mãos um sonho muito antigo da humanidade, que se poderia resumir em duas palavras, universalidade e interatividade. As luzes, que pensavam que Gutenberg tinha propiciado aos homens uma promessa universal, cultivavam um modo de utopia. Elas imaginavam poder, a partir das práticas privadas de cada um, construir um espaço de intercâmbio crítico das ideias e opiniões. O sonho de Kant era que cada um fosse ao mesmo tempo leitor e autor, que emitisse juízos sobre as instituições de seu tempo, quaisquer que elas fossem e que, ao mesmo tempo, pudesse refletir sobre o juízo emitido pelos outros. Aquilo que outrora só era permitido pela comunicação manuscrita ou a circulação dos impressos encontra hoje um suporte poderoso com o texto eletrônico.

(CHARTIER. Roger. A Aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Imprensa Oficial do ‘Estado de São Paulo: Unesp, 1998.)

No trecho apresentado, o sociólogo Roger Chartier caracteriza o texto eletrônico como um poderoso suporte que coloca ao alcance da humanidade o antigo sonho de universalidade e interatividade, uma vez que cada um passa a ser, nesse espaço de interação social, leitor e autor ao mesmo tempo. A universalidade e a interatividade que o texto eletrônico possibilita estão diretamente relacionadas à função social da internet de: a) propiciar o livre e imediato acesso às informações e ao intercâmbio de julgamentos. b) globalizar a rede de informações e democratizar o acesso aos saberes. c) expandir as relações interpessoais e dar visibilidade aos interesses pessoais. d) propiciar entretenimento e acesso a produtos e serviços. e) expandir os canais de publicidade e o espaço mercantilista.

Gabarito questão 06 O teatro de Ariano Suassuna resgatou manifestações artísticas como o teatro popular dos brincantes, as danças dramáticas, o romance de origem ibérica, o recurso ao maravilhoso e a poesia épica, transpondo elementos eminentemente europeus para a cultura popular do Sertão.

591

FRENTE B  Exercícios de Aprofundamento

05. (Enem MEC) FABIANA, (arrepelando-se de raiva) — Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que quem casa quer casa ... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé). Um dia arrebento, e então veremos.


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FRENTE

C


PORTUGUÊS Por falar nisso Você certamente já ouviu alguém dizer que ler também é um exercício e que leitura é hábito. Quanto mais tempo você se dedica à atividade leitora, melhor leitor você se tornará. O ideal seria encarar um livro como se fosse uma atividade física. Não se deve começar pelo treino mais pesado, mais duradouro e intenso, você vai acabar se frustrando com o seu resultado e se cansando rapidamente. Ademais, um treino não pode ser monótono e as atividades físicas devem ser variadas. Esteira, bicicleta, natação, musculação, as opções são inúmeras. De modo análogo, você não deve começar pelos clássicos da literatura mundial. Pegue um livro cujo tema o agrade mais – terror, policial, drama – e varie quanto ao estilo – contos, poesias, romances, novelas. Você verá que à medida que você lê, melhor será sua capacidade de interpretação, concentração e compreensão. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

C01 C02 C03 C04

Interpretação de texto................................................................... 594 Denotação, conotação e variedades linguísticas........................... 600 Funções da linguagem................................................................... 608 Noções de semântica..................................................................... 615


FRENTE

C

PORTUGUÊS

MÓDULO C01

ASSUNTOS ABORDADOS nn Interpretação de texto nn Vocabulário nn Prática nn Recomendações

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Nas aulas dedicadas à Interpretação Textual, nós abordaremos e disporemos assuntos e ferramentas que o ajudem a compreender melhor o sentido de um texto. Mais do que isso, porém, é necessário que você leia. Acredite! Você não está lendo o bastante. Ninguém lê o suficiente. Desse modo, quais serão os passos para se tornar um bibliófilo? Essa pergunta já até nos dirige para o primeiro passo: ter vocabulário. Você sabe o que é bibliófilo?

Vocabulário Aprender vocabulário é essencial para qualquer falante de qualquer língua. Não existe, porém, método de estudo para ampliar-se um vocabulário melhor que a leitura. Quando se aprende uma segunda língua, por exemplo, de tanto ouvir uma palavra e relacioná-la a um objeto, acaba-se memorizando. Mas ainda assim é um método bastante limitado. Nesse sentido, a ampliação de vocabulário deve ser entendida como uma via de mão dupla: você precisa de vocabulário para poder ler mais, entretanto, você só adquire vocabulário lendo mais e mais. Para isso, é importante ter sempre um dicionário ao seu alcance. Então, eu pergunto: quem, hoje em dia, anda carregando um dicionário? Eu, particularmente, conheço poucas pessoas que o fazem. Mas, com toda certeza, muitos andam sempre com um celular no bolso. Assim, esqueça os dicionários impressos e trate de baixar um aplicativo de dicionário no seu celular! Os significados estarão sempre a um “touch” de distância. Digamos, ainda, que você consulte um dicionário todas as vezes que se deparar com uma palavra estranha, mas acaba esquecendo seu significado. Quais técnicas você poderia usar para armazenar palavras? Antes de tudo, entenda a estrutura de formação dessa palavra. Peguemos, por exemplo, “bibliófilo”, que significa alguém que gosta de livros. Isso faz o maior sentido, porque “biblio” significa livro (basta acessar seu vocabulário e encontrar palavras como biblioteca e bibliografia). Outro exercício que pode ajudá-lo a memorizar um significado é elaborar outras frases com essa mesma palavra. Desse modo, você terá armazenado cada vez mais palavras.

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Figura 01 - Inovação vem por aí: um leitor de livros digitais ao lado de livros impressos

594


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Prática

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A todo o momento você pode praticar sua capacidade de interpretação textual. A língua é um meio de interação entre as pessoas e essa interação só é possível devido à capacidade que nós, seres humanos, temos de assimilar o sentido de um texto. Em um diálogo corriqueiro do nosso dia a dia, pouco provavelmente será explorada e exercitada sua capacidade de interpretação, isso porque a linguagem coloquial é mais acessível e mais inteligível ao ouvinte. Que momentos seriam interessantes para você treinar sua interpretação, que não seja em livros complexos e extensos? Pense no seu cotidiano, pense em tudo o que você lê e ouve. Aí estará a resposta. Comece simplesmente a interpretar o sentido das canções de que você mais gosta, o significado de um outdoor na rua, Figura 02 - Olhar curioso de uma mulher ao abrir um livro. uma propaganda na televisão. Além do mais, ver bons filmes e séries também é muito bom para que você pratique sua compreensão da interatividade humana por meio da linguagem. O entretenimento cinematográfico (filmes, novelas, séries) pode parecer mais atrativo que o entretenimento literário justamente porque o cinema já produz algo por você: as imagens. É exatamente isso que você deve procurar ao ler um livro: ser capaz de elaborar as cenas, as imagens, visualizar o cenário e as personagens. Leia um livro como se assistisse a um filme. Imagine-se como um diretor de cinema pronto para lançar o próximo sucesso de bilheteria! Aliás, você já leu um livro e depois pôde assistir ao filme baseado nele? Quem já fez essa experiência sabe o quão enriquecedor e interessante ela pode ser, já que nesse momento você confronta duas interpretações sobre o mesmo objeto: a sua visão da obra e a visão do diretor. Em geral, você acha melhor o livro ou a adaptação cinematográfica?

Recomendações

C01  Interpretação de texto

O que se deve ler primeiro? Antes de responder a essa pergunta, tracemos um objetivo com a nossa leitura. A que ponto queremos chegar com a nossa atividade leitora? Você é um estudante de Ensino Médio apto para prestar Enem e demais vestibulares. Você deve almejar alto para conquistar sua vaga em uma Universidade Federal, logo, o seu objetivo é ler os maiores clássicos da literatura brasileira e universal. No entanto, ninguém começa com Machado de Assis, muito menos com Guimarães Rosa. A sua meta é, ao final do Ensino Médio, ler esses escritores e, preferivelmente, apreciando essa leitura. Para chegar até lá então, comecemos pelo básico. Você assiste a novelas? Você está por dentro de tudo o que ocorre no mundo dos famosos? Então não tenha vergonha e vá agora à banca mais próxima e compre uma revista de fofoca! Ou melhor, abra um site de fofocas e comece seu treino diário de leitura. Ora, por que não? As matérias desses sites abordam duplo sentido em vários textos. Toda vez que você não entender alguma coisa, pergunte-se: o que será que o autor do texto quis dizer com isso? 595


Português

Fonte: wikimediacommons / Alegna13

Além de revistas dos mais variados gêneros, é importante que você comece a ler jornais. Sejam jornais do seu estado ou não, o importante é que você esteja antenado a tudo o que está acontecendo em seu país e no mundo. Lembre-se também de que você pode acessar a jornais pela internet, facilitando e ampliando caminhos para que você se mantenha informado.

Figura 03 - Interior de uma biblioteca.

Ouvir músicas, ler histórias em quadrinhos, contos e poesias, além de ser uma maneira excelente para o entretenimento, você terá a possibilidade de enriquecer ainda mais seu leque cultural. Com o passar do tempo e das leituras, passe a procurar outros autores. Fique ligado naquilo que mais pode aumentar seu conhecimento cultural. Há excelentes canções escritas durante o regime militar no Brasil, que, além de serem massivamente cobradas em diversos exames, você tem acesso ao histórico cultural brasileiro durante as décadas de 1960, 1970 e 1980. O segredo é diversidade. Leia em abundância e sempre procure por algo que difere totalmente daquilo que você já tenha lido. Dessa maneira, aliado aos estudos que desenvolveremos ao longo desse curso, você será imbatível para interpretar qualquer texto!

Exercícios de Fixação 01. Abaixo estão listadas cinco palavras cujo significado você provavelmente desconhece. Consulte o dicionário e formule uma frase para cada uma delas. a) Durante a campanha, o atual prefeito tomara media) Inócua das políticas inócuas. b) Infelizmente, devido à atual crise econômica, o lanb) Parco che da garotada será bem parco. c) Acredito que as novas delações da Lava-Jato sejam c) Presságio um presságio favorável para os novos rumos da política em nosso país. d) Dissuadir d) Jamais tente me dissuadir de meus ideais! e) Verborrágico e) O discurso do pastor no dia anterior foi tão verbor-

03. (Enem MEC) Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair da folhas”, um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça até outubro de 1914.

02. O casamento é uma instituição muito antiga que celebra a união de duas pessoas que se amam, ademais, está presente, por meio de realizações diferentes, em quase todas as sociedades. Observe atentamente a imagem a seguir e descreva a posição que o autor da figura tem sobre o casamento.

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

C01  Interpretação de texto

rágico que quase adormeci.

596

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto. b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos. c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos. d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais. e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

Questão 02 Na figura anterior três elementos foram dispostos de maneira a se assemelhar quanto à forma. Todos os três possuem fecho e, no interior, guardam um objeto estimado, como o queijo ou a aliança. No entanto, as duas imagens acima são armadilhas, cuja intenção é prender quem cair nela. Nesse sentido, pode-se depreender que o autor supõe que o matrimônio seja uma cilada, que o casamento seja uma prisão


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios Complementares 01. (Enem MEC)

sua sucessiva destruição. Na verdade, não existe uma distinção entre a nossa arte e

TEXTO I

aquela produzida por povos tecnicamente menos desenvolvidos. As duas manifestações devem ser encaradas como expressões diferentes dos modos de sentir e pensar das várias sociedades, mas também como equivalentes, por resultarem de impulsos humanos comuns. SCATAMACHIA, M. C. M. In: AGUILAR, N. (Org.). Mostra do redescobrimento: arqueologia. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo – Associação Brasil 500 anos artes visuais, 2000.

De acordo com o texto, inexiste distinção entre as artes produzidas pelos colonizadores e pelos colonizados, pois ambas compartilham o(a) a) suporte artístico. b) nível tecnológico. c) base antropológica. d) concepção estética. e) referencial temático. 03. (Enem MEC) Poesia quentinha Projeto literário publica poemas em sacos de FREUD, L. Francis Wyndham. Óleo sobre tela, 64 x 52 cm. Coleção pessoal, 1993.

pão na capital mineira Se a literatura é mesmo o alimento da alma, então os mineiros estão diante de um verdadeiro banquete. Mais do

TEXTO II

que um pãozinho com manteiga, os moradores do bairro de

Lucian Freud é, como ele próprio gosta de relembrar às pes-

Barreiro, em Belo Horizonte (MG), estão consumindo poesia

soas, um biólogo. Mais propriamente, tem querido registrar

brasileira no café da manhã. Graças ao projeto “Pão e Poe-

verdades muito específicas sobre como é tomar posse deste

sia”, que faz do saquinho de pão um espaço para veiculação

determinado corpo nesta situação particular, neste específi-

de poemas, escritores como Affonso Romano de Sant’An-

co espaço de tempo.

na e Fernando Brant dividem espaço com estudantes que passaram por oficinas de escrita poética. São ao todo 250

Considerando a intencionalidade do artista, mencionada no

mil embalagens, distribuídas em padarias da região de Belo

Texto II, e a ruptura da arte no século XX com o parâmetro

Horizonte, que trazem a boa literatura para o cotidiano de

acadêmico, a obra apresentada trata do(a)

pessoas, além de dar uma chance a escritores novatos de

a) exaltação da figura masculina.

verem seus textos impressos. Criado em 2008 por um ana-

b) descrição precisa e idealizada da forma.

lista de sistemas apaixonado por literatura, o “Pão e Poesia”

c) arranjo simétrico e proporcional dos elementos.

já recebeu dois prêmios do Ministério da Cultura.

d) representação do padrão do belo contemporâneo. e) fidelidade à forma realista isenta do ideal de perfeição. 02. (Enem MEC) Ao se apossarem do novo território, os europeus ignoraram um universo de antiga sabedoria, povoado por homens e bens unidos por um sistema integrado. A recusa em se inteirar dos valores culturais dos primeiros habitantes levou-os a uma descrição simplista desses grupos e à

Língua Portuguesa, n. 71, set. 2011.

A proposta de um projeto como o “Pão e Poesia” objetiva inovar em sua área de atuação, pois a) privilegia novos escritores em detrimento daqueles já consagrados. b) resgata poetas que haviam perdido espaços de publicação impressa.

597

C01  Interpretação de texto

SMEE, S. Freud. Köln: Taschen, 2010.


Português

c) prescinde de critérios de seleção em prol da populariza-

• Cotonete e fio dental; • medicamento e preservativo;

ção da literatura. d) propõe acesso à literatura a públicos diversos.

• óleo de cozinha;

e) alavanca projetos de premiações antes esquecidos.

• ponta de cigarro; • poeira de varrição de casa;

04. (Enem MEC)

• fio de cabelo e pelo de animais; • tinta que não seja à base de água; • querosene, gasolina, solvente, tíner. Jogue esses produtos no lixo comum. Alguns deles, como óleo de cozinha, medicamento e tinta, podem ser levados a pontos de coleta especiais, que darão a destinação final adequada. MORGADO, M.; EMASA. Manual de etiqueta. Planeta Sustentável, jul.-ago. 2013 (adaptado).

O texto tem objetivo educativo. Nesse sentido, além do foco no interlocutor, que caracteriza a função conativa da linguagem, predomina também nele a função referencial, que busca a) despertar no leitor sentimentos de amor pela natureza, induzindo-o a ter atitudes responsáveis que beneficiarão a sustentabilidade do planeta. b) informar o leitor sobre as consequências da destinação inadequada do lixo, orientando-o sobre como fazer o corDisponível em: www.behance.net. Acesso em: 21 fev. 2013 (adaptado).

A rapidez é destacada como uma das qualidades do servi-

do exemplos de atitudes sustentáveis do autor do texto

ço anunciado, funcionando como estratégia de persuasão

em relação ao planeta.

em relação ao consumidor do mercado gráfico. O recurso

d) estabelecer uma comunicação com o leitor, procurando

da linguagem verbal que contribui para esse destaque é o

certificar-se de que a mensagem sobre ações de sustentabilidade está sendo compreendida.

emprego a) do termo “fácil” no início do anúncio, com foco no processo.

mente os termos utilizados de forma a proporcionar me-

c) das formas verbais no futuro e no pretérito, em sequência.

lhor compreensão do texto.

qualidade. e) da locução “do mundo” associada a “melhor”, que quantifica a ação. 05. (Enem MEC) 14 coisas que você não deve jogar na privada

C01  Interpretação de texto

e) explorar o uso da linguagem, conceituando detalhada-

b) de adjetivos que valorizam a nitidez da impressão. d) da expressão intensificadora “menos do que” associada à

Nem no ralo. Elas poluem rios, lagos e mares, o que contamina o ambiente e os animais. Também deixa mais difícil obter a água que nós mesmos usaremos. Alguns produtos podem causar entupimentos:

598

reto descarte de alguns dejetos. c) transmitir uma mensagem de caráter subjetivo, mostran-

06. (Enem MEC) Na exposição “A Artista Está Presente”, no MoMA, em Nova Iorque, a performer Marina Abramovic fez uma retrospectiva de sua carreira. No meio desta, protagonizou uma performance marcante. Em 2010, de 14 de março a 31 de maio, seis dias por semana, num total de 736 horas, ela repetia a mesma postura. Sentada numa sala, recebia os visitantes, um a um, e trocava com cada um deles um longo olhar sem palavras. Ao redor, o público assistia a essas cenas recorrentes. ZANIN, L. Marina Abramovic, ou a força do olhar. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br. Acesso em: 4 nov. 2013.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

07. (Enem MEC) No ano de 1985 aconteceu um acidente muito grave em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, perto da aldeia guarani de Sapukai. Choveu muito e as águas pluviais provocaram deslizamentos de terras das encostas da Serra do Mar, destruindo o Laboratório de Radioecologia da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, construída em 1970 num lugar que os índios tupinambás, há mais de 500 anos, chamavam

imitações reduzidas do campo utilizado pelos soldados e acrescentaram numeração nos quadrados que deveriam ser pulados. Hoje as amarelinhas variam nos formatos geométricos e na quantidade de casas. As palavras “céu” e “inferno” podem ser escritas no começo e no final do desenho, que é marcado no chão com giz, tinta ou graveto. Disponível em: www.biblioteca.ajes.edu.br. Acesso em: 20 maio 2015 (adaptado).

Com base em fatos históricos, o texto retrata o processo de adaptação pelo qual passou um tipo de brincadeira. Nesse sentido, conclui-se que as brincadeiras comportam o(a) a) caráter competitivo que se assemelha às suas origens. b) delimitação de regras que se perpetuam com o tempo. c) definição antecipada do número de grupos participantes. d) objetivo de aperfeiçoamento físico daqueles que a praticam. e) possibilidade de reinvenção no contexto em que é realizada. 09. (Enem MEC) Azeite de oliva e óleo de linhaça: uma dupla imbatível

de Itaorna. O prejuízo foi calculado na época em 8 bilhões de cruzeiros. Os engenheiros responsáveis pela construção

Rico em gorduras do bem, ela combate a obesidade, dá um

da usina nuclear não sabiam que o nome dado pelos índios

chega pra lá no diabete e ainda livra o coração de entraves

continha informação sobre a estrutura do solo, minado pelas

Ninguém precisa esquentar a cabeça caso não seja possível

águas da chuva. Só descobriram que Itaorna, em língua tupi-

usar os dois óleos juntinhos, no mesmo dia. Individualmen-

nambá, quer dizer ‘pedra podre’, depois do acidente

te, o duo também bate um bolão. Segundo um estudo re-

FREIRE, J. R. B. Disponível em: www.taquiprati.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado).

cente do grupo EurOlive, formado por instituições de cinco

Considerando-se a história da ocupação na região de Angra

frear a oxidação do colesterol LDL, considerado perigoso.

dos Reis mencionada no texto, os fenômenos naturais que a

Quando isso ocorre, reduzse o risco de placas de gordura na

atingiram poderiam ter sido previstos e suas consequências

parede dos vasos, a temida aterosclerose – doença por trás

minimizadas se

de encrencas como o infarto.

países europeus, os polifenóis do azeite de oliva ajudam a

MANARINI, T. Saúde é vital, n. 347, fev. 2012 (adaptado).

a) o acervo linguístico indígena fosse conhecido e valorizado. b) as línguas indígenas brasileiras tivessem sido substituídas pela língua geral. c) o conhecimento acadêmico tivesse sido priorizado pelos engenheiros. d) a língua tupinambá tivesse palavras adequadas para descrever o solo. e) o laboratório tivesse sido construído de acordo com as leis ambientais vigentes na época. 08. (Enem MEC) Riscar o chão para sair pulando é uma brincadeira que vem dos tempos do Império Romano. A amarelinha original tinha mais de cem metros e era usada como treinamento militar. As crianças romanas, então, fizeram

Para divulgar conhecimento de natureza científica para um público não especializado, Manarini recorre à associação entre vocabulário formal e vocabulário informal. Altera-se o grau de formalidade do segmento no texto, sem alterar o sentido da informação, com a substituição de a) “dá um chega pra lá no diabete” por “manda embora o diabete”. b) “esquentar a cabeça” por “quebrar a cabeça”. c) “bate um bolão” por “é um show”. d) “juntinhos” por “misturadinhos”. e) “por trás de encrencas” por “causadora de problemas”.

599

C01  Interpretação de texto

O texto apresenta uma obra da artista Marina Abramovic, cuja performance se alinha a tendências contemporâneas e se caracteriza pela a) inovação de uma proposta de arte relacional que adentra um museu. b) abordagem educacional estabelecida na relação da artista com o público. c) redistribuição do espaço do museu, que integra diversas linguagens artísticas. d) negociação colaborativa de sentidos entre a artista e a pessoa com quem interage. e) aproximação entre artista e público, o que rompe com a elitização dessa forma de arte.


FRENTE

C

PORTUGUÊS

MÓDULO C02

ASSUNTOS ABORDADOS nn Denotação, conotação e varie-

dades linguísticas

nn Sentido denotativo nn Sentido conotativo nn Variedades linguísticas

DENOTAÇÃO, CONOTAÇÃO E VARIEDADES LINGUÍSTICAS O primeiro cuidado que se deve tomar antes de estudar denotação e conotação é que nenhuma palavra possui sentido fora de um contexto. As palavras ganham e reforçam seu sentido umas com as outras e adquirem significado a partir da situação na qual foram utilizadas. Isso implica que, ao ler um texto, é importante saber por quem ele foi produzido, a quem ele é dirigido, em que época foi escrito, para quais objetivos, enfim, compreender toda a situação de produção. As palavras na língua são vivas e seu campo significativo é fluido. Nenhuma palavra está engessada a um sentido fixo. Observe abaixo o soneto de Olavo Bilac: “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pátio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.” Pela leitura do soneto, podemos inferir que o eu lírico, a voz que fala no poema, constrói um diálogo entre seus sentimentos mais profundos e a opinião pública. Nesse diálogo, que, na verdade, se encaminha para uma discussão, pode-se ver que as duas instâncias enunciativas (as duas vozes do texto) têm conceitos diferentes para a definição de estrela. Qual seria essa diferença?

Sentido denotativo Denotação é uma relação direta de significação que um nome estabelece com um objeto da realidade. É o sentido referencial, usual e literal; encontrado nas definições de dicionários. O sentido denotativo é comumente empregado em textos informativos (científicos e jornalísticos), por serem mais objetivos. No caso do poema acima, a voz da opinião pública entende “estrela” no seu sentido denotativo, isto é, o corpo celeste, o astro com luz própria. Por se tratar, portanto, de um ser inanimado, essa voz do poema não admite razoabilidade na ação de conversar com estrelas. 600


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Sentido conotativo Conotação é uma ampliação do significado básico, direto e imediato de uma palavra. É o sentido afetivo, metafórico, não usual, encontrado em textos literários. Além de poetas, romancistas e contistas, também os humoristas e os profissionais da publicidade usam e abusam do duplo sentido das palavras ao selecionar e combinar o vocabulário de seu texto. Em relação ao soneto, a voz dos sentimentos mais profundos do eu lírico compreende “estrela” no seu sentido conotativo, isto é, uma extensão da sua amada. Uma pessoa apaixonada é capaz de conversar e entender as estrelas, uma vez que por meio delas ele vê o amor, a paixão e a partir delas nutre esse sentimento. Nesse sentido, como a opinião pública não está apaixonada como o eu lírico, ela é incapaz de dialogar com as estrelas.

SAIBA MAIS Você sabe o que significa eu lírico? Em toda poesia, há uma voz que grita seus sentimentos e suas angústias. Essa voz, portanto, recebe o nome de eu lírico.

Fonte: shutterstock.com / elwynn

C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

Figura 01 - Casal admirando estrelas no céu

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Português

Variedades linguísticas Língua é um constituinte da cultura de um povo. Língua é o retrato do povo, de um aglomerado de indivíduos que compartilha mesmo espaço, mesmo tempo, mesma cultura. Embora uma nação seja formada por pessoas que se identificam quanto aos hábitos e costumes, cada pessoa em seu espaço individual é única. As pessoas de um mesmo país, ou até de uma mesma cidade, são diferentes entre si quanto à etnia, à classe social, à idade, ao nível de escolaridade e também apresentam diferenças quanto à maneira de falar. Língua é um sistema dentro do qual há outros subsistemas que dão forma e estruturam o idioma. Esses subsistemas são variações linguísticas.

Figura 02 - Os emojis já se adaptaram para a diversidade de etnias.

Tipos de variações As variações linguísticas ocorrem em quatro principais eixos: 1) Variações diatópicas: diferenças no espaço geográfico (falares locais, variantes regionais e, até, intercontinentais); 2) Variações diastráticas: diferenças entre as camadas socioculturais (nível cultural, língua padrão, nível popular);

C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

3) Variações diafásicas: diferenças entre níveis de modalidade expressiva (língua falada, língua escrita, língua literária, linguagens especiais). 4) Variações diacrônicas: diferenças na época (língua do século XIX, língua do XX). Variações diatópicas O Brasil, por ser um país de proporções continentais, apresenta, em nível de variação linguística diatópica, significativas diferenças quanto à maneira que falantes de distintas regiões elaboram uma frase, como também o vocabulário, além do sotaque. Um exemplo clássico é a respeito da raiz Manihot esculenta, constituinte da culinária brasileira que possui vários nomes a depender da região em que se encontra. A mandioca, como é costume se falar na região Centro-Oeste, também é chamada de aipim no Sul do Brasil ou ainda macaxeira, mais ao Norte do nosso país. Esses são os principais nomes dessa raiz, mas existem muitas outras variantes, como: aipi, uaipi, maniva, castelinha, pão-de-pobre. 602


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Fonte: shutterstock.com / Santhosh Varghese

Variações diastráticas

Figura 03 - Mandioca, macaxeira, ipi, uaipi, maniva, castelinha, pão-de-pobre.

Veja a seguir as variantes diastráticas e o grupo a que ela pertence: nn “Foi

mal, galera, amanhã não posso colar com vocês porque eu trampo de manhã, saca.” – possível fala de um jovem de classe média;

nn “Pô,

meu brother, você é o bicho, moro?” – possível fala de um surfista;

nn “Data venia, meritíssimo, quanto ao quorum exigido para o próximo julgamen-

to.” – possível fala de um advogado. Leia o texto abaixo e observe como o autor demarca bem as diferenças de fala entre os personagens da história: Especialistas... Um caboclo, vendo uma movimentação de homens e equipamentos perto do sitiozinho onde ele morava, foi até lá e perguntou a um deles: - Cum licencia, moço, o que ocêis ta fazendo com esses trem aí? - Aqui vai passar uma rodovia, uma estrada – respondeu o homem -, e nós somos os engenheiros. Com esses equipamentos nós vamos marcar por onde ela vai passar. - Oia, moço, o senhor vai discurpá, mais aqui no sertão nóis faz estrada de outro jeito. Nóis pega o burro e sorta ele. Onde ele passá... aí é o mio lugá pra abri a estrada. - Não me diga?! – respondeu o engenheiro, rindo da simplicidade do capiau. – E se vocês não tiverem um burro? E o caboclo: - Aí nóis quebra o gaio com uns engenheiro... (Texto de domínio público)

#Curiosidade DE ONDE VEIO O NOME “MANDIOCA”? Reza a lenda, contada entre os índios tupis, sobre o nascimento de uma menina muito branquinha que se diferenciava entre os outros índios, que tinham a pele de coloração avermelhada. Era uma menina muito linda e muito amada que encantou a tribo e recebeu o nome de Mani. A linda Mani, ainda criança, padecera de uma doença terrível que a levou a óbito. Todos da tribo choraram muito a perda da pequena indiazinha e a enterraram na oca de seus pais, como era costume dos tupis. Com o passar do tempo, regada a muitas lágrimas, cresceu ali uma planta, cuja raiz era escura por fora e branca por dentro como Mani. Os índios tupis então decidiram, em homenagem à criança que falecera, dar à planta o nome de mandioca, isto é, uma junção de Mani (nome da indiazinha) e oca (habitação indígena).

603

C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

As variações diastráticas revelam o nível de desigualdade social de um país. Essas variações são ocasionadas, principalmente, pela falta de oportunidades que todos os cidadãos têm de acesso à educação de qualidade. Quem estuda a língua portuguesa, quem vai à escola regularmente, quem possui curso superior, quem lê bastante, enfim, quem reúne essas características tem para si um nível de comunicação mais próximo à gramática normativa, diferente de quem não teve acesso a boas instituições de ensino. Saber a gramática e conhecer a norma linguística estatal é essencial em um processo de inclusão dentro de seu país, seja para prestar concursos, seja para se inserir no mercado de trabalho. Infelizmente, porém, no Brasil, essa realidade ainda está distante, uma vez que o número de analfabetos no país supera o número de habitantes da cidade de São Paulo; em 2013, registrou-se 13,3 milhões de analfabetos.


Português

Variações diafásicas

Variações diacrônicas

Trata-se de diferenças ligadas à modalidade expressiva da língua, e o maior exemplo dessas variações está no contraste língua falada X língua escrita. O hiato entre essas duas maneiras de expressão nunca deixará de existir, a língua falada é muito mais dinâmica e suscetível a transformações que a língua escrita. Além da língua escrita, acredita-se haver uma linguagem literária, esta, por sua vez, carregada de significado e refinamento estético.

São variações ligadas à época em que o falante se situa. São diferenças que não podem ser encontradas no presente momento do falante e do ouvinte, esse contraste só se percebe por meio da manutenção de documentos de outro período, ou por meio de obras literárias. No século XIX, por exemplo, era muito comum os palavras “dous” e “cousa” serem grafadas com “u”, ao passo que hoje a pronúncia opta por “i”. Além dessas, veja abaixo como eram os nomes das refeições no século XIX.

Veja abaixo como seriam essas variações: nn Linguagem literária: “Marcela amou-me durante quinze

meses e onze contos de réis.” – Machado de Assis; nn Língua

escrita: “Marcela me amou durante quinze meses ao passo que nesse período gastei onze contos de réis.”;

nn Língua falada: “Eu fiquei com a Marcela por uns quinze

meses e gastei com ela uns onze contos.”

nn Almoço: refeição feita por volta das oito horas da ma-

nhã, o que hoje chamamos de café da manhã. nn Janta:

a principal refeição do dia, servida entre 12 e 14 horas, o que hoje chamamos de almoço.

nn Merenda: refeição possível, sempre leve, ao cair tarde,

o que hoje chamamos de lanche da tarde. nn Ceia:

última refeição do dia, servida à noite, o que hoje chamamos de janta.

Exercícios de Fixação 01. Leia as frases abaixo e evidencie com “D” para denotação e com “C” para conotação em relação ao termo em destaque: D-C-C-D-C ( ) O coração da minha avó não suportou, o infarto foi fulminante. ( ) O coração da minha avó não suportou, o filho falecera em um acidente de carro. ( ) Seja criativo. Saia do senso-comum. Dê asas à sua imaginação! ( ) As pirâmides do Egito têm mais de 3000 anos. ( ) O sol da liberdade guia meus caminhos para o sucesso. 02. Sobre a conotação e a denotação, pode-se afirmar que:

C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

a) O sentido denotativo é utilizado principalmente na linguagem poética e na literatura, mas pode ser encontrado em gêneros textuais do cotidiano, como letras de músicas, anúncios publicitários, entre outros. b) Uma palavra ou expressão é usada no sentido denotativo para representar diferentes significados, dependendo do contexto da enunciação. c) Os textos literários devem preferir a conotação, pois esta tem como finalidade informar o receptor da mensagem de maneira clara e objetiva, livre de ambiguidades e metáforas. d) A conotação e a denotação são as variações de significado que ocorrem no signo linguístico, que, por sua vez, é composto de um significante (letras e sons) e um significado (conceito, ideia).

604

03. Leia as frases abaixo e correlacione-as à coluna abaixo: a) Tô gostando tanto de Josefa, que já tô querendo casar com ela pá modo de nós mudar daqui! b) Olhe a raba daquela formosa rapariga! c) Ó dama imaculada da quietude, teu pesar sobre nós, serviçais do senhor, nunca se mostrara tão abundante. ( ) variação diatópica b ( ) variação diafásica c ( ) variação diastrática a 04. Leia o diálogo abaixo: - Menino – gritou a avó de dentro da cozinha – venha cá! - Sua bênção, vó! - Deus te abençoe! Meu neto, vai à farmácia aqui do lado e compra dentifrício, modess e ramona. - Quê? – exclamou o moleque, perplexo, sem entender o que era para ser comprado. Chega então a mãe do menino, que, rapidamente, desfaz a confusão: - Ela quer dizer: creme dental, absorvente e grampo de cabelo. a) Por que o rapaz não entendeu o que era para ser comprado? Que tipo de variação na linguagem da avó existe para que o neto dela não a entendesse? b) Por que a mãe do menino é capaz de compreender a lista de compras da anciã, ao passo que o menino não? a) A fala da avó passou por variações diacrônicas, uma vez que os termos que usou são de outra época, que foram substituídos por outros vocábulos na contemporaneidade. Nesse sentido, o menino não pôde compreender a avó sem que sua mãe fizesse uma tradução dos itens de compra. b) A mãe do menino, por conviver com esses vocábulos e ter permanecido a uma época em que eles eram utilizados, além de acompanhar de perto as mudanças de uso de termos na língua portuguesa, pôde melhor compreender a lista de compras, como também poder traduzi-la ao seu filho.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio, denotativo, ocorre em a) “(....) É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida, cumprida a sol (....)” (Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos. setembro de 1992.)

b) “Protegendo os inocentes é que Deus, sábio demais, põe cenários diferentes nas impressões digitais.” (Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)

c) “O dicionário padrão da língua e os dicionários unilíngues são os tipos mais comuns de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório para as nações civilizadas e desenvolvidas.” (Maria T. Camargo Biderman. O dicionário padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)

d)

d) usar corretamente a expressão “indicador de desemprego”, mesmo sendo criança. e) atribuir, no último quadrinho, fama exagerada ao dedo indicador dos patrões. 03. (Enem MEC) Cântico VI Tu tens um medo de Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. MEIRELES, C. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 1963 (fragmento).

e) “Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.” (Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br <http://www.mercadolivre.com.br>. acessado em julho de 2005.)

02. (Enem MEC)

O humor presente na tirinha decorre principalmente do fato de a personagem Mafalda a) atribuir, no primeiro quadrinho, poder ilimitado ao dedo indicador. b) considerar seu dedo indicador tão importante quanto o dos patrões. c) atribuir, no primeiro e no último quadrinhos, um mesmo sentido ao vocábulo “indicador”.

04. (Enem MEC) Embalagens usadas e resíduos devem ser descartados adequadamente Todos os meses são recolhidas das rodovias brasileiras centenas de milhares de toneladas de lixo. Só nos 22,9 mil quilômetros das rodovias paulistas são 41,5 mil toneladas. O hábito de descartar embalagens, garrafas, papéis e bitucas de cigarro pelas rodovias persiste e tem aumentado nos últimos anos. O problema é que o lixo acumulado na rodovia, além de prejudicar o meio ambiente, pode impedir o escoamento da água, contribuir para as enchentes, provocar incêndios, atrapalhar o trânsito e até causar acidentes. Além dos perigos que o lixo representa para os motoristas, o ma-

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C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

O Globo. O menino maluquinho: agosto de 2002

A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o homem em seu aspecto existencial. Em Cântico VI, o eu lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente à condição humana, a) a sublimação espiritual graças ao poder de se emocionar. b) o desalento irremediável em face do cotidiano repetitivo. c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes humanas. d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado adolescente. e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade das coisas.


Português

terial descartado poderia ser devolvido para a cadeia produtiva. Ou seja, o papel que está sobrando nas rodovias poderia ter melhor destino. Isso também vale para os plásticos inservíveis, que poderiam se transformar em sacos de lixo, baldes, cabides e até acessórios para os carros. Disponível em: www.girodasestradas.com.br. Acesso em: 31 jul. 2012.

Os gêneros textuais correspondem a certos padrões de composição de texto, determinados pelo contexto em que são produzidos, pelo público a que eles se destinam, por sua finalidade. Pela leitura do texto apresentado, reconhece-se que sua função é a) apresentar dados estatísticos sobre a reciclagem no país. b) alertar sobre os riscos da falta de sustentabilidade do mercado de recicláveis. c) divulgar a quantidade de produtos reciclados retirados das rodovias brasileiras. d) revelar os altos índices de acidentes nas rodovias brasileiras poluídas nos últimos anos. e) conscientizar sobre a necessidade de preservação ambiental e de segurança nas rodovias. 05. (Enem MEC) A emergência da sociedade da informação está associada a um conjunto de profundas transformações ocorridas desde as últimas duas décadas do século XX. Tais mudanças ocorrem em dimensões distintas da vida humana em sociedade, as quais interagem de maneira sinérgica e confluem para projetar a informação e o conhecimento como elementos estratégicos, dos pontos de vista econômico-produtivo, político e sociocultural. A sociedade da informação caracteriza-se pela crescente utilização de técnicas de transmissão, armazenamento de dados e informações a baixo custo, acompanhadas por inovações organizacionais, sociais e legais. Ainda que tenha surgido motivada por um conjunto de transformações na base técnico-científica, ela se investe de um significado bem mais abrangente. LEGEY, L.-R.; ALBAGLI, S. Disponível em: www.dgz.org.br. Acesso em: 4 dez. 2012 (adaptado). C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

O mundo contemporâneo tem sido caracterizado pela crescente utilização das novas tecnologias e pelo acesso à informação cada vez mais facilitado. De acordo com o texto, a sociedade da informação corresponde a uma mudança na organização social porque a) representa uma alternativa para a melhoria da qualidade de vida. b) associa informações obtidas instantaneamente por todos e em qualquer parte do mundo. c) propõe uma comunicação mais rápida e barata, contribuindo para a intensificação do comércio. d) propicia a interação entre as pessoas por meio de redes sociais. e) representa um modelo em que a informação é utilizada intensamente nos vários setores da vida. 606

06. (Enem MEC) Até quando? Não adianta olhar pro céu Com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer E muita greve, você pode, você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão Virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer! GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).

As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet. b) cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas. c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias. d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial. e) originalidade, pela concisão da linguagem. 07. (Enem MEC)

A pátria Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este! Olha que céu! que mar! que rios! que florestas! A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, É um seio de mãe a transbordar carinhos. Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos, Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! Vê que grande extensão de matas, onde impera, Fecunda e luminosa, a eterna primavera! Boa terra! jamais negou a quem trabalha O pão que mata a fome, o teto que agasalha... Quem com o seu suor a fecunda e umedece, Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! Criança! não verás país nenhum como este: Imita na grandeza a terra em que nasceste! BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza. b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo. c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais. d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento. e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.


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Yaô Aqui có no terreiro Pelú adié Faz inveja pra gente Que não tem mulher No jacutá de preto velho Há uma festa de yaô Ôi tem nêga de Ogum De Oxalá, de Iemanjá Mucama de Oxossi é caçador Ora viva Nanã Nanã Buruku Yô yôo Yô yôoo No terreiro de preto velho iaiá Vamos saravá (a quem meu pai?) Xangô! VIANA, G. Agô, Pixinguinha! 100 Anos. Som Livre, 1997.

A canção Yaô foi composta na década de 1930 por Pixinguinha, em parceria com Gastão Viana, que escreveu a letra. O texto mistura o português com o iorubá, língua usada por africanos escravizados trazidos para o Brasil. Ao fazer uso do iorubá nessa composição, o autor a) promove uma crítica bem-humorada às religiões afro-brasileiras, destacando diversos orixás. b) ressalta uma mostra da marca da cultura africana, que se mantém viva na produção musical brasileira. c) evidencia a superioridade da cultura africana e seu caráter de resistência à dominação do branco. d) deixa à mostra a separação racial e cultural que caracteriza a constituição do povo brasileiro. e) expressa os rituais africanos com maior autenticidade, respeitando as referências originais. 09. (Enem MEC) As narrativas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou antigos; sejam as histórias de ficção, como aquelas da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabéticos (como a escrita do português), sejam ideogramáticos (como a escrita dos chineses) ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estratificação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que surgiu algum tipo de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar claramente isso: que ela surge e se desenvolve – em qualquer das formas – apenas em sociedades estratificadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continui-

dade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmitiram e se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domesticaram plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferentes em toda a América). D’ANGELIS, Histórias dos índios lá em casa: narrativas indígenas e tradição oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org. Acesso em: 5 dez. 2012.

A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes objetivos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasileiras, a oralidade possibilitou a) a conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes. b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos. c) a manutenção e a reprodução dos modelos estratificados de organização social. d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades. e) o reconhecimento e a legitimação da importância da fala como meio de comunicação. 10. (Enem MEC) Assum preto Tudo em vorta é só beleza Sol de abril e a mata em frô Mas assum preto, cego dos óio Num vendo a luz, ai, canta de dor Tarvez por ignorança Ou mardade das pió Furaro os óio do assum preto Pra ele assim, ai, cantá mió Assum preto veve sorto Mas num pode avuá Mil veiz a sina de uma gaiola Desde que o céu, ai, pudesse oiá GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em: www.luizgonzaga.mus.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (fragmento).

As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam da aplicação de um conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resultado de uma mesma regra a a) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”. b) pronúncia da palavras “tarvez” e “sorto”. c) flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”. d) redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em frô”. e) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”.

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C02  Denotação, conotação e variedades linguísticas

08. (Enem MEC)


FRENTE

C

PORTUGUÊS

MÓDULO C03

ASSUNTOS ABORDADOS nn Funções da linguagem nn Função emotiva nn Função apelativa nn Função fática nn Função poética nn Função referencial

FUNÇÕES DA LINGUAGEM Linguagem é o meio no qual ocorrem interações entre os seres humanos essas relações almejam certa finalidade. Logo, toda faculdade da linguagem possui uma função. Basta ver que dependendo da situação, das pessoas envolvidas e do contexto, pode mudar o sentido e a interpretação de uma frase. Veja, na imagem abaixo, os elementos que participam da composição e transmissão da informação: Opirus/Arte

nn Função metalinguística

1) Emissor: aquele que profere a informação; o portador da voz; o falante. 2) Receptor: aquele a quem é proferida a informação; o ouvinte. 3) Canal: estado de manutenção da ligação entre emissor e receptor. 4) Mensagem: o tom e a situação de transmissão da informação. 5) Referente: o conteúdo propriamente dito; a informação; o assunto. 6) Código: a linguagem; o idioma do falante e do ouvinte. Seis são os elementos que constituem o processo de interação humana por meio da linguagem. Nesse sentido, são também seis as funções da linguagem, uma vez que cada uma delas está centrada em um componente desse esquema linguístico.

Função emotiva Por vezes chamada função expressiva, é aquela cujo centro é o emissor. Ocorre quando o falante é posto em destaque, ou seja, a mensagem está centrada na expressão dos sentimentos dele. É um texto pessoal, subjetivo. É comum o uso de verbos e pronomes em 1ª pessoa e também o uso de pontos de exclamação e interjeições. Bons exemplos da função emotiva são textos líricos.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Função apelativa

Exemplos:

Por vezes chamada função conativa, é aquela cujo centro é o receptor. Ocorre quando o ouvinte é posto em destaque, ou seja, a linguagem se organiza no sentido de convencer o receptor. Nesse tipo de função, é comum o emprego de verbos no imperativo e verbos e pronomes na 2ª (tu) ou na 3ª (você) pessoas. Bons exemplos da função conativa são os textos de publicidade e propaganda.

I-JucaPirama “Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas Nas selvas cresci:

Exemplo: Fonte: <http://portalsaude.saude.gov.br> Acesso em: 22.fev.2017.

Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiro, nasci: Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.” (Gonçalves Dias)

Eterna Presença Este feliz desejo de abraçar-te, Pois que tão longe tu de mim estás, Faz com que te imagine em toda a parte Visão, trazendo-me ventura e paz. Vejo-te em sonho, sonho de beijar-te; Vejo-te sombra, vou correndo atrás; Vejo-te nua, oh branco lírio de arte, Corando-me a existência de rapaz…

Geratriz, esta mágica saudade, Dá-me a ilusão de que chegaste enfim; Sinto alegrias de quem pede e alcança E a enganadora força de, em verdade, Ter-te, longe de mim, juntinho a mim. (Mário de Andrade)

É aquela cujo centro é o canal. A palavra ‘fático’ significa “ruído, rumor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas formas que se usam para chamar a atenção (psiu!, ahn?, ei!). Essa função ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. Outras expressões típicas da função fática são: “alô”, “pronto”, “oi”, “tudo bem?” “boa tarde”, “e aí?” etc.

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C03  Funções da linguagem

Função fática

E com ver-te e sonhar-te, esta lembrança


Português

Exemplo:

Função poética É aquela cujo centro é a mensagem. Função que aparece em todas as composições artísticas: cinema, teatro, pintura, poesia, literatura, fotografia, música – em textos em verso ou prosa, com o fim de obter efeito estético por intermédio de linguagem especial: figuras, desvios de normas e neologismos. Ocorre quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias. Bastante explorada também em textos publicitários. Exemplo: Vila Rica O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre; Sangram, em laivos de ouro, as minas, que a ambição Na torturada entranha abriu da terra nobre: E cada cicatriz brilha como um brasão. O ângelus plange ao longe em doloroso dobre. O último ouro do sol morre na cerração. E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre, O crepúsculo cai como uma extrema unção. Agora, para além do cerro, o céu parece C03  Funções da linguagem

Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu... A neblina, roçando o chão, cicia, em prece, Como uma procissão espectral que se move… Dobra o sino… Soluça um verso de Dirceu… Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove. (Olavo Bilac)

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Função referencial Por vezes chamada função informativa, é aquela cujo centro é o referente. Privilegia o contexto impessoal (na terceira pessoa). O emissor tem a intenção de informar sem envolvimentos passionais, constituindo-a, assim, na linguagem das redações argumentativas (concursos e vestibulares), das narrações não fictícias e das descrições objetivas. Está presente também em teses científicas, em textos jornalísticos, em redações oficiais e comerciais.

prio referente. Por meio dela, o código é posto em destaque, ou seja, é usado para transmitir aos receptores reflexões sobre a própria linguagem. Bons exemplos da função metalinguística são as aulas de línguas, as gramáticas, o dicionário, ou quaisquer textos cujo tema abordado esteja relacionado à comunicação ou à linguagem. Exemplo: Poesia Gastei uma hora pensando em um verso

Exemplo: Dois doleiros contaram à força-tarefa da quinta fase da Lava Jato sobre a propina paga no exterior a Sérgio Cabral por Eike Batista. Os irmãos Renato e Marcelo Chebar trabalhavam para Sérgio Cabral desde que ele era deputado estadual do Rio, no final dos anos 90.

que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair.

(O Globo)

Mas a poesia deste momento

Função metalinguística

inunda minha vida inteira.

É aquela cujo centro é o código. Ocorre quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se em seu pró-

(Carlos Drummond de Andrade)

Exercícios de Fixação 01. No texto abaixo, identifique as funções da linguagem: Função emotiva.

“Gastei trinta dias para ir do Rossio Grande ao coração de Marcela, não já cavalgando o corcel do cego desejo, mas o asno da paciência, a um tempo manhoso e teimoso. Que, em verdade, há dois meios de granjear a vontade das mulheres: o violento, como o touro da Europa, e o insinuativo, como o cisne de Leda e a chuva de ouro de Dânae, três inventos do padre Zeus, que, por estarem fora de moda, aí ficam trocados no cavalo e no asno.” (Machado de Assis)

02. Leia o poema abaixo: Poética Que é poesia? uma ilha cercada de palavras por todos os lados Que é um poeta? um homem que trabalha um poema com o suor do seu rosto Um homem que tem fome como qualquer outro homem.

a) Quais as funções da linguagem predominantes no poema anterior? Funções poética e metalinguística. b) Aponte os elementos que integram o processo de comunicação em Poética, de Cassiano Ricardo. Código, emissor e mensagem.

03. (Enem MEC) O telefone tocou. — Alô? Quem fala? — Como? Com quem deseja falar? — Quero falar com o sr. Samuel Cardoso. — É ele mesmo. Quem fala, por obséquio? — Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel? Faça um esforço. — Lamento muito, minha senhora, mas não me lembro. Pode dizer-me de quem se trata? (ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz.

(Cassiano Ricardo)

Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o receptor, predomina no texto a função a) metalinguística. b) fática. c) referencial. d) emotiva. e) conativa.

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C03  Funções da linguagem

Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.)


Português

Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) Desabafo Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).

Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação. 02. (Enem MEC)

C03  Funções da linguagem

Aula de Português A linguagem na ponta da língua tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a priminha. O português são dois; o outro, mistério. Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.

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Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em a) situações formais e informais. b) diferentes regiões dos pais. c) escolas literárias distintas. d) textos técnicos e poéticos. e) diferentes épocas. 03. (Enem MEC) O exercício da crônica Escrever crônica é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um assunto qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, restar-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. (MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia das Letras, 1991).

Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista. b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica. 04. (Enem MEC) Há o hipotrélico. O termo é novo, de impensada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prática, tome-se hipotrélico querendo dizer: antipodático, sengraçante imprizido; ou talvez, vicedito: indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. (ROSA, G. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001). (fragmento).


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Nesse trecho de uma obra de Guimarães Rosa, depreende-se a predominância de uma das funções da a) metalinguística, pois o trecho tem como propósito essencial usar a língua portuguesa para explicar a própria língua, por isso a utilização de vários sinônimos e definições. b) referencial, pois o trecho tem como principal objetivo discorrer sobre um fato que não diz respeito ao escritor ou ao leitor, por isso o predomínio da terceira pessoa. c) fática, pois o trecho apresenta clara tentativa de estabelecimento de conexão com o leitor, por isso o emprego dos termos “sabe-se lá” e “tome-se hipotrélico”. d) poética, pois o trecho trata da criação de palavras novas, necessária para textos em prosa, por isso o emprego de

06. (Insper SP) “A cena cotidiana, que a maioria já vivenciou, sempre serviu como exemplo de conversa superficial. “Está quente hoje”, comenta um. “Será que vai chover?”, indaga o interlocutor desinteressado. Para uma fatia dos moradores da região metropolitana de São Paulo, contudo, a pergunta não é mais retórica. Revela, ao contrário, preocupação genuína com a situação do sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento hídrico de 8,8 milhões de pessoas. Por causa da estiagem incomum, tornaram-se frequentes, e não só nos elevadores, os diálogos sobre um possível racionamento em parte da capital e em municípios próximos. A Sabesp (companhia paulista de saneamento básico), por ora, descarta essa hipótese e assegura o suprimento até março de 2015.”

“hipotrélico”.

(Folha de S. Paulo, 24/07/2014)

e) expressiva, pois o trecho tem como meta mostrar a subjetividade do autor, por isso o uso do advérbio de dúvida “talvez”.

O fragmento acima evidencia os propósitos comunicativos dos falantes, a partir de escolhas linguísticas que exploram diferentes funções de linguagem. Dessa forma, de acordo com o texto, a preocupação com a seca fez com que os diá-

Uma luz na evolução

logos dos paulistanos acerca da previsão do tempo deixas-

Dois fósseis descobertos na África do Sul, dotados de inu-

sem de cumprir unicamente o objetivo da função

sitada combinação de características arcaicas e modernas,

a) emotiva

podem ser ancestrais diretos do homem.

b) apelativa

Os últimos quinze dias foram excepcionais para o estudo das origens do homem. No fim de março, uma falange fossilizada encontrada na Sibéria revelou uma espécie inteiramente nova de hominídeo que existia há 50 000 anos. Na semana passada, cientistas da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, anunciaram uma descoberta similar. São duas as ossadas bastante completas ― a de um menino de 12 anos e a de uma mulher de 30 ― encontradas na caverna Malapa, a 40 quilômetros de Johannesburgo. Devido à abundância de fósseis, a região é conhecida como Berço da Humanidade. (Veja. Abr. 2010) (adaptado).

Sabe-se que as funções da linguagem são reconhecidas por meio de recursos utilizados segundo a produção do autor, que, nesse texto, centra seu objetivo a) na linguagem utilizada, ao enfatizar a maneira como o texto foi escrito, sua estrutura e organização. b) em si mesmo, ao enfocar suas emoções e sentimentos diante das descobertas feitas. c) no leitor do texto, ao tentar convencê-lo a praticar uma ação, após sua leitura. d) no canal de comunicação utilizado, ao querer certificar-se do entendimento do leitor. e) no conteúdo da mensagem, ao transmitir uma informação ao leitor.

c) referencial d) metalinguística e) fática 07. (Enem MEC) A linguagem na ponta da língua tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que quer dizer? Professor Carlos Góis, ele e quem sabe, e vai desmatando 10 o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquemáticas, atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a priminha. O português são dois; o outro, mistério. (Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.)

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C03  Funções da linguagem

05. (Enem MEC)


Português

Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em a) situações formais e informais. b) diferentes regiões dos pais. c) escolas literárias distintas. d) textos técnicos e poéticos. e) diferentes épocas 08. (Enem MEC)

dominante no segundo texto, está ausente no primeiro.

Texto I

09. (Enem MEC) Sentimental

O canto do guerreiro Aqui na floresta

1

Dos ventos batida,

com letras de macarrão.

Façanhas de bravos

No prato, a sopa esfria, cheia de escamas 4 e debruçados na

Não geram escravos,

mesa todos contemplam

Que estimem a vida

esse romântico trabalho.

Sem guerra e lidar.

Desgraçadamente falta uma letra, 7 uma letra somente para

— Ouvi-me, Guerreiros,

acabar teu nome!

— Ouvi meu cantar.

— Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Valente na guerra,

10

Quem há, como eu sou?

E há em todas as consciências este cartaz amarelo: “Neste

Quem vibra o tacape

país é proibido sonhar.”

Ponho-me a escrever teu nome

Eu estava sonhando...

Com mais valentia?

(ANDRADE, C. D. Seleta em Prosa e Verso.

Quem golpes daria

Rio de Janeiro: Record, 1995.)

Fatais, como eu dou?

Com base na leitura do poema, a respeito do uso e da pre-

— Guerreiros, ouvi-me;

dominância das funções da linguagem no texto de Drum-

— Quem há, como eu sou? (Gonçalves Dias)

mond, pode-se afirmar que a) por meio dos versos “Ponho-me a escrever teu nome” (v.1)

Texto II

e “esse romântico trabalho” (v.5), o poeta faz referências

Macunaíma

ao seu próprio ofício: o gesto de escrever poemas líricos. (Epílogo)

b) a linguagem essencialmente poética que constitui os versos “No prato, a sopa esfria, cheia de escamas e debruça-

Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles C03  Funções da linguagem

b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal. c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena. d) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais. e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, pre-

casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói? (Mário de Andrade)

dos na mesa todos contemplam” (v.3 e 4) confere ao poema uma atmosfera irreal e impede o leitor de reconhecer no texto dados constitutivos de uma cena realista. c) na primeira estrofe, o poeta constrói uma linguagem centrada na amada, receptora da mensagem, mas, na segunda, ele deixa de se dirigir a ela e passa a exprimir o que sente. d) em “Eu estava sonhando...” (v. 10), o poeta demonstra que está mais preocupado em responder à pergunta feita anteriormente e, assim, dar continuidade ao diálogo com seus interlocutores do que em expressar algo sobre si mesmo.

Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que

e) no verso “Neste país é proibido sonhar.” (v. 12), o poeta

a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente

abandona a linguagem poética para fazer uso da função

tanto no primeiro quanto no segundo texto.

referencial, informando sobre o conteúdo do “cartaz amarelo” (v.11) presente no local.

614


FRENTE

C

PORTUGUÊS

MÓDULO C04

NOÇÕES DE SEMÂNTICA

ASSUNTOS ABORDADOS

O que é semântica? Trata-se de uma palavra de origem grega derivada de sema, sinal; é o estudo do significado. Toda palavra possui duas faces, uma delas é o significante ou imagem acústica, isto é, o constituinte sonoro da palavra, a sua realização material; a outra face é o significado ou o conceito, ou seja, aquilo que a palavra figura e representa.

nn Noções de semântica nn Significação das palavras nn Linguagens verbal e não verbal

Quem primeiro abordou esse estudo foi Ferdinand de Saussure, pai da linguística moderna. Nesse sentido, focaremos na face significado dos signos da língua portuguesa, como também, nas interações que as palavras, dentro de um texto, estabelecem e constroem o sentido.

Significação das palavras Sinônimos A relação de sinonímia entre duas palavras é basicamente uma aproximação quanto ao significado, signos linguísticos que apresentam significados semelhantes. Observe esta imagem de uma festa de aniversário:

Figura 01 - Crianças comemorando uma festa de aniversário.

Valor dos sinônimos Mas será que se podem usar quaisquer sinônimos, como se todas as palavras em relação de sinonímia tivessem o mesmo peso? Certamente que não. Não existem sinônimos perfeitos. As palavras podem apresentar significados próximos, semelhantes, mas nunca iguais.

SAIBA MAIS

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: wavebreakmedia / Shutterstock.com

Você certamente diria que estas crianças estão felizes, ou alegres, ou contentes. Disso, podemos inferir que “feliz”, “alegre” e “contente” são sinônimos, porque as três conseguem demonstrar o estado de felicidade das crianças na festa.

Ferdinand de Saussure nasceu em 1857 em Genebra, Suíça, e foi linguista e filósofo, cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma. Seu pensamento exerceu grande influência sobre o campo da teoria da literatura e dos estudos culturais. Ademais, seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento do estruturalismo no século XX.

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Português

Imagine que você faça um amigo em uma rede social que more em outro país. Da mesma maneira que você pode dizer que seu novo amigo mora em um lugar distante, você pode dizer que ele mora em um lugar remoto, porque, distante e remoto são sinônimos. No entanto, veja que o peso da distância é muito maior sobre a palavra “remoto”, do que sobre a palavra “distante”. Isso acontece com todas as relações de sinonímia, sempre haverá um termo que seja mais intenso que o outro. Hiperônimo

Hipônimo e hiperônimo Hipônimo

Figura 02 - Diagrama de Venn para representação das relações de hiperonímia e hiponímia

Palavras hipônimas e hiperônimas não deixam de ser sinônimos, porém, essa relação de sinonímia se dá à medida que uma palavra é mais geral e a outra é mais específica. Bicicleta e veículo, por exemplo, são palavras sinônimas, pode-se ver, entretanto, que o significado de veículo é muito mais amplo que de bicicleta. De veículo, podemos depreender também moto, carro, caminhão, ônibus, assim como, bicicleta, que, apesar de ser também um veículo, não é sinônimo de moto, muito menos, de carro. Dessa maneira, veículo é o hiperônimo, e bicicleta, o hipônimo. Antônimos A relação de antonímia entre duas palavras é basicamente uma oposição quanto ao significado, signos linguísticos que apresentam significados inversos. Uma palavra pode possuir um antônimo representado por uma palavra diferente ou um antônimo obtido a partir dessa mesma palavra por meio de acréscimos prefixos que denotem negação. Digamos que, na festa do exemplo acima, as crianças em vez de estarem felizes, ou alegres, ou contentes, estivessem tristes, ou entediadas, ou aborrecidas. Este último grupo de palavras é antônimo do primeiro grupo. No entanto, poderia ainda ser formado outro grupo de palavras antônimas a partir do acréscimo de partículas negativas, como infelizes ou descontentes. Note ainda que nem sempre é possível esse tipo de construção. O antônimo de “alegre” não é “desalegre” ou “inalegre”. Essas palavras não existem. Nesse caso, a palavra “alegre” só possui como antônimos palavras de origem distinta.

Linguagens verbal e não verbal Verbo, além de constituir uma classe de palavras que designam ação, estado ou processo, é sinônimo de palavra e discurso. Nesse sentido, linguagem verbal é o uso da escrita ou da fala como meio de comunicação. Linguagem não verbal é o uso de imagens, figuras, desenhos, símbolos, dança, tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação.

C04  Noções de semântica

Para o sistema de tráfego de uma grande cidade é muito mais prático, inclusivo e eficiente o uso da linguagem não verbal em um semáforo de trânsito do que a linguagem verbal. E se, em vez de associar às palavras “pare” e “siga” às cores vermelha e verde, respectivamente, elas fossem realmente escritas, com certeza o número de acidentes aumentaria, pois nosso cérebro é mais veloz ao decifrar códigos não verbalizados. Isso não significa, porém, que a linguagem verbal não seja efetiva. Partindo desse mesmo eixo temático, como uma pessoa que não detém do conhecimento da linguagem verbalizada, isto é, que não seja letrada, pode pegar o ônibus certo? Por uma combinação de números e palavras, você pode se orientar para pegar a condução certa e chegar ao seu destino.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Texto verbal e não verbal

Figura 04 - Semáforo em uma avenida

C04  Noções de semântica

Para interpretar o cartum acima precisamos interpretar a linguagem verbal e não verbal. A partir do que está escrito: “1980” no primeiro quadro e “2010” no segundo, podemos inferir que se passaram trinta anos. Mas o que exatamente esses trinta anos significam? Nesse período, houve uma evolução significativa dos aparelhos de informática e eletroeletrônicos, como o computador e o laptop desenhados acima. Não houve, porém, somente avanços tecnológicos nesse espaço de tempo. A população, com hábitos alimentares cada vez piores e com a popularização de comidas fast-food, tem se tornado cada vez mais obesa. Dessa maneira, o autor do cartum associa esses dois fatos e constrói, a partir deles, uma relação inversamente proporcional: quanto mais os objetos de informática se sofisticam e diminuem de tamanho, mais a população tende a ficar obesa. Por meio desse recurso, ele critica a dependência e vício das pessoas por aparelhos eletrônicos e, consequentemente, a vida sedentária que a população vem levando.

Fonte: Victor Grow / Shutterstock.com

Figura 03 - Charge que destaca a revolução da equipamentos eletroeletrônicos

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Português

Exercícios de Fixação 01. Leia abaixo um trecho da peça Macbeth de William Shakespeare: 1ª Feiticeira: Quando é que nos encontraremos Neste planalto, assim com tantos A partir do contexto, pode-se Trovões, relâmpagos e chuva? inferir que “alvoroço” signifique 2ª Feiticeira: Quando cessar todo o alvoroço Dessa batalha, enfim, Seja perdida ou seja ganha.

o desenvolvimento da batalha, uma vez que a personagem espera que, após a parte mais turbulenta do conflito, ela possa se encontrar com a outra feiticeira.

Em relação à palavra em destaque no trecho, escreva um possível sinônimo para ela, de acordo com o contexto em que ela fora utilizada. 02. Leia com atenção as frases abaixo e explique, baseando-se no significado dos elementos textuais em destaque, por que razão é absurdo o sentido geral de cada uma dessas afirmações. a) D. Pedro II foi o monarca que mais tempo permaneceu no poder na República do Brasil. b) Em Esparta as crianças que nasciam mortas eram sacrificadas. c) O ateísmo é uma religião anônima.

03. Sobre as linguagens verbal e não verbal, é correto afirmar que: a) A linguagem verbal utiliza qualquer código para se expressar, enquanto a linguagem não verbal faz uso apenas da língua escrita. b) A linguagem verbal é único meio para transmissão da informação, enquanto a linguagem não verbal por si só não transmite mensagem alguma. c) A linguagem não verbal é aquela que utiliza qualquer código que não seja a palavra, enquanto a linguagem verbal utiliza a língua, seja oral ou escrita, para estabelecer comunicação. d) Linguagem verbal e não verbal, quando simultâneas, são um obstáculo para o entendimento total do texto. 04. Sobre as linguagens verbal e não verbal, estão corretas, exceto: a) a linguagem não verbal é composta por signos sonoros ou visuais, como placas, imagens, vídeos etc. b) a linguagem verbal diz respeito aos signos que são formados por palavras. Eles podem ser sinais visuais e sonoros. c) a linguagem verbal, por dispor de elementos linguísticos concretos, pode ser considerada superior à linguagem não verbal. d) linguagem verbal e não verbal são importantes, e o sucesso na comunicação depende delas, ou seja, quando um interlocutor recebe e compreende uma mensagem adequadamente.

Exercícios Complementares 01. (Centro Universitário de Franca SP) Leia o trecho inicial do conto “A chave”, de Machado de Assis.

C04  Noções de semântica

Não sei se lhes diga simplesmente que era de madrugada, ou se comece num tom mais poético: a aurora, com seus róseos dedos... A maneira simples é o que melhor me conviria a mim, ao leitor, aos banhistas que estão agora na Praia do Flamengo, – agora, isto é, no dia 7 de outubro de 1861, que é quando tem princípio este caso que lhes vou contar. Convinha-nos isto; mas há lá um certo velho, que me não leria, se eu me limitasse a dizer que vinha nascendo a madrugada, um velho que... Digamos quem era o velho. Imaginem os leitores um sujeito gordo, não muito gordo, – calvo, de óculos, tranquilo, tardo, meditativo. Tem sessenta anos: nasceu com o século. Traja asseadamente um vestuário da manhã; vê-se que é abastado ou exerce algum alto emprego na administração. Saúde de ferro. Disse já que era calvo; equivale a dizer que não usava cabeleira. Incidente sem valor, observará a leitora, que tem pressa. Ao que lhe replico que o incidente é grave, muito grave, extraordinariamente grave. A cabeleira devia ser o natural apêndice da cabeça do Major Cal-

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das, porque cabeleira traz ele no espírito, que também é calvo. Calvo é o espírito. O Major Caldas cultivou as letras, desde 1821 até 1840 com um ardor verdadeiramente deplorável. Era poeta; compunha versos com presteza, retumbantes, cheios de adjetivos, cada qual mais calvo do que ele tinha de ficar em 1861. (Obra completa, vol. 2, 1992.)

O narrador emprega a palavra “calvo” em diferentes sentidos para referir-se ao físico e ao espírito do Major Caldas. Referindo-se ao espírito, o sentido de “calvo” associa-se a a) um traço positivo, caracterizando o Major como um artista humilde e criativo. b) uma qualidade reconhecida, expondo o destaque do Major no cenário das letras. c) um atributo negativo, destacando a falta de talento do Major para a criação poética. d) uma virtude discutível, expondo hábitos do Major pouco compatíveis com um empregado público de alto escalão. e) um traço valorizado pelo narrador na arte do Major, que era a grandiloquência dos versos deste.

Questão 02 (Exercícios de Fixação) a) A palavra república significa “coisa pública”, isto é, o poder pertence ao povo; já a palavra monarca, que vem de monarquia, significa governo de um só. Nesse sentido, esta frase é absurda uma vez que um monarca não pode governar uma República. b) Nesse caso, há uma incoerência em relação ao par causa/consequência, haja vista que não é possível matar alguém que já esteja morto. c) A palavra ateu é formada pelo radical theo que significa “Deus” e pelo prefixo a que denota negação, assim, o ateísmo é a negação da existência de um Deus, portanto, não pode se tratar de uma religião.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Equilibre suas atitudes Para melhorar a expectativa de vida, atitudes como dietas balanceadas, prática de atividades físicas e relacionamentos interpessoais são de extrema importância. No entanto, um fator pouco lembrado pelas pessoas pode representar um papel ainda maior para uma vida mais longa e saudável: o estudo. Segundo o psiquiatra Daniel Barros, pessoas que estudam mais tendem a elevar a expectativa de vida. “Existem diversas pesquisas mostrando que cada ano investido em conhecimento se reverte em anos a mais na vida do indivíduo”, afirma. Os benefícios do estudo para a longevidade e qualidade de vida são resultados de um efeito global causado no indivíduo. “O impacto não é explícito no organismo; são as atitudes, os comportamentos da pessoa que vão mudando conforme ela ganha conhecimento”, explica o psiquiatra. De acordo com Barros, a principal habilidade adquirida por meio do estudo “é conseguir saber a hora de adiar as gratificações. Então, em detrimento de um prazer imediato, a pessoa consegue pensar no futuro e fazer um planejamento no longo prazo para aproveitar melhor sua vida”. Para uma maior qualidade de vida, a dica do especialista é equilibrar atitudes. “Claro que é importante malhar, praticar atividades físicas, comer saudavelmente, mas não somos feitos somente de ‘corpo’. Não podemos nos esquecer da mente”, observa. O Estado de S. Paulo, 12/07/2015

A frase cujo sentido mais se aproxima de uma das ideias contidas no texto é: a) Os benefícios advindos da aquisição de conhecimentos globais definem as atitudes assumidas ao longo da vida. b) A longevidade depende mais da qualidade de vida do que das dietas balanceadas. c) Os relacionamentos interpessoais constituem o fator preponderante para melhorar a expectativa de vida. d) O estudo pode permitir que a pessoa saiba o momento certo de buscar o prazer. e) A influência do estudo sobre o organismo das pessoas ocorre de forma direta. 03. (Ibmec SP) Dois homens se esgueiram pelas ruas de Quito no meio da noite, armados com latas de tinta em spray e o desejo de promover uma reforma. Não são ativistas políticos ou revolucionários: são defensores radicais da gramática, engajados na missão de corrigir a pontuação das pichações do Equador. Acrescentando acentos, inserindo vírgulas e posicionando pontos de interrogação no começo e no fim das orações interrogativas rabiscadas nos muros da cidade, nos últimos três meses os editores justiceiros vêm fazendo intervenções frequentes para expor as deficiências gramaticais de candidatos a poetas, amantes abandonados e ativistas antigoverno.

Se o grupo de ativistas equatorianos resolvesse atuar no Brasil, a única frase que dispensaria sua intervenção seria: a) Procura‐se pessoas integras... b) Largue de frescura e assuma uma postura! c) Licença aqui patrão, eu cresci no mundão. d) Fale de amor, se for preciso use palavras. e) O mundo é difícil mas sorria! 04. (Ibmec SP) Standard and Poor’s tira grau de investimento do Brasil O Brasil perdeu o grau de investimento na classificação de crédito da Standard and Poor’s (S&P), informou a agência de classificação de risco nesta quarta‐feira (09). A nota do país foi rebaixada de “BBB−” para “BB+”, com perspectiva negativa. O rebaixamento do rating do Brasil para a categoria “especulativa” acontece menos de 50 dias após a agência ter mudado a perspectiva para negativa. Em seu comunicado, a agência chama a atenção para a deterioração fiscal e a falta de coesão da equipe ministerial, como causas da decisão de rebaixar a nota. “Os desafios políticos que o Brasil enfrenta continuam a pesar na capacidade do governo e vontade de submeter ao Orçamento de 2016 ao Congresso consistente com a política de ajuste fiscal assinalada durante o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff”, destaca a S&P. (...) Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/standardand‐poors‐tira‐grau‐de‐investimento‐do‐brasil.html. Acesso:30/09/2015

De acordo com o texto, um dos motivos para o rebaixamento da nota brasileira pela S&P é a) a especulação fiscal entre os economistas. b) a falta de coesão orçamentária no Congresso. c) o ajuste fiscal extremamente rigoroso. d) o crescimento baixo do PIB e a inflação alta. e) uma equipe ministerial de posições divergentes. 05. (Enem MEC) Através da linguagem não verbal, o artista gráfico polonês Pawla Kuczynskiego aborda a triste realidade do trabalho infantil.

C04  Noções de semântica

02. (FGV SP)

Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/03/1598867‐ no‐ equador‐defensores‐da‐gramatica.shtml>. Acesso:30/09/2015

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Português

O artista gráfico polonês Pawla Kuczynskiego nasceu em 1976 e recebeu diversos prêmios por suas ilustrações. Nessa obra, ao abordar o trabalho infantil, Kuczynskiego usa sua arte para a) difundir a origem de marcantes diferenças sociais. b) estabelecer uma postura proativa da sociedade. c) provocar a reflexão sobre essa realidade. d) propor alternativas para solucionar esse problema. e) retratar como a questão é enfrentada em vários países do mundo. 06. (Uerj RJ)

Algumas maneiras de se prevenir: nn Vacine-se contra as hepatites A e B. nn Use água tratada e siga sempre as recomendações quanto à restrição de banhos em locais públicos e ao uso de desinfetantes em piscinas. nn Lave SEMPRE bem os alimentos como frutas, verduras e legumes. nn Lave SEMPRE bem as mãos após usar o toalete e antes de se alimentar. nn Ao usar agulhas e seringas, certifique-se da higiene do local e de todos os acessórios. nn Certifique-se de que seu médico ou profissional da saúde esteja usando a proteção necessária, como luvas e máscaras, quando houver a possibilidade de contato de sangue ou secreções contaminadas com o vírus. Disponível em: http://fam5.static.flickr.com. Acesso em: 26 out.2011 (adaptado).

Nas peças publicitárias, vários recursos verbais e não verbais são usados com o objetivo de atingir o público-alvo, influenciando seu comportamento. Considerando as informações verbais e não verbais trazidas no texto a respeito da hepatite, verifica-se que a) o tom lúdico é empregado como recurso de consolidação do Mineiro de Araguari, o cartunista Caulos já publicou seus trabalhos em diversos jornais, entre eles o Jornal do Brasil e o The New York Times

No cartum apresentado, o significado da palavra escrita é reforçado pelos elementos visuais, próprios da linguagem não verbal. A separação das letras da palavra em balões distintos contribui para expressar principalmente a seguinte ideia:

pacto de confiança entre o médico e a população. b) a figura do profissional da saúde é legitimada, evocando-se o discurso autorizado como estratégia argumentativa. c) o uso de construções coloquiais e específicas da oralidade são recursos de argumentação que simulam o discurso do médico. d) a empresa anunciada deixa de se autopromover ao mos-

a) dificuldade de conexão entre as pessoas

trar preocupação social e assumir a responsabilidade pelas

b) aceleração da vida na contemporaneidade

informações.

c) desconhecimento das possibilidades de diálogo

e) o discurso evidencia uma cena de ensinamento didático,

d) desencontro de pensamentos sobre um assunto

projetado com subjetividade no trecho sobre as maneiras

07. (Enem MEC)

de prevenção.

C04  Noções de semântica

08. (Enem MEC)

Pode aparecer onde menos se espera e em cinco formas diferentes.

Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 28 jul. 2013.

É por isso que o Dia Mundial Contra a Hepatite está aí para alertar você. As hepatites A, B, C, D e E têm diversas causas e muitas formas de chegar até você. Mas, evitar isso é bem sim-

ção da violência por meio da palavra. Isso se evidencia pela

ples. Você só precisa ficar atento aos cuidados necessários para

a) predominância de tons claros na composição da peça pu-

cuidar do maior bem que você tem: A SUA SAÚDE! 620

Essa propaganda defende a transformação social e a diminui-

blicitária.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

b) associação entre uma arma de fogo e um megafone. c) grafia com inicial maiúscula da palavra “voz” slogan. d) imagem de uma mão segurando um megafone. e) representação gráfica da propagação do som. 09. (Enem MEC)

d) apoiar-se na linguagem denotativa ao invés de elaborar um argumento conotativo 11. (Uerj RJ) Por meio da generalização, pode-se atribuir um determinado conjunto de traços que não se relacionam apenas com o que está sendo nomeado. O melhor exemplo desse procedimento de generalização está presente em: a) Branco: o branco é uma cor que não pinta. b) Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro, somente seus filhos. c) Céu: de onde sai o dia. d) Universo: casa das estrelas. 12. (Enem MEC)

Disponível em: http://orion-oblog.blogspot.com.br. Acesso em: 6 jun. 2012 (adaptado).

O cartaz aborda a questão do aquecimento global. A relação entre os recursos verbais e não verbais nessa propaganda revela que a) o discurso ambientalista propõe formas radicais de resolver os problemas climáticos. b) a preservação da vida na Terra depende de ações de dessalinização da água marinha. c) a acomodação da topografia terrestre desencadeia o natural degelo das calotas polares. d) o descongelamento das calotas polares diminui a quantidade de água doce potável do mundo. Disponível em: www.behance.net. Acesso em: 21 fev. 2013 (adaptado).

e) a agressão ao planeta é dependente da posição assumida pelo homem frente aos problemas ambientais.

O verbete citado apresenta uma definição poética para o termo “escuridão”. Essa afirmativa pode ser justificada pelo fato de a autora do verbete ter optado por: a) priorizar as crenças antes de se pautar pela racionalidade b) construir uma figuração particular sem se ater ao fenômeno físico c) expressar seu medo da noite no lugar de descrevê-la minu¬ciosamente

A rapidez é destacada como uma das qualidades do serviço anunciado, funcionando como estratégia de persuasão em relação ao consumidor do mercado gráfico. O recurso da linguagem verbal que contribui para esse destaque é o emprego a) do termo “fácil” no início do anúncio, com foco no processo. b) de adjetivos que valorizam a nitidez da impressão. c) das formas verbais no futuro e no pretérito, em sequência. d) da expressão intensificadora “menos do que” associada à qualidade. e) da locução “do mundo” associada a “melhor”, que quantifica a ação.

621

C04  Noções de semântica

10. (Uerj RJ) Escuridão: é como o frescor da noite.


FRENTE

C

PORTUGUÊS

Exercícios de Aprofundamento 01. (Enem MEC)

gem e Tecnologia do Cefet-MG. Da mesma forma, é preciso da sua memória mil e mui tos out ros ros tos sol tos pou coa pou coa

considerar a capacidade do destinatário de interpretar corretamente a mensagem emitida. No entendimento do pesquisador, a escola, às vezes, insiste em ensinar um registro utilizado apenas em contextos específicos, o que acaba por desestimular o aluno, que não vê sentido em empregar tal modelo em outras situações. Independentemente dos aparatos tecnológicos da atualidade, o emprego social da língua revela-se muito mais significativo do que seu uso escolar, conforme ressalta a diretora de Divulgação Científica da UFMG: “A dinâmica da língua oral é sempre presente. Não falamos ou escrevemos da mesma forma que nossos avós”. Some-se a isso o fato de os jovens se revelarem os principais usuários das novas tecnologias, por meio das quais conseguem se comunicar com facilidade. A professora ressalta, porém, que as pessoas precisam ter discernimento quanto às distintas situações, a fim de dominar outros códigos. SILVA JR., M. G.; FONSECA, V. Revista Minas Faz Ciência, n. 51, set.-nov. 2012 (adaptado).

pag amo meu ANTUNES, A. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 1998.

Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela a) interrupção da influência verbal, para testar os limites da lógica racional. b) reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor. c) dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças. d) fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças. e) renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética. 02. (Enem MEC) Embora particularidades na produção mediada pela tecnologia aproximem a escrita da oralidade, isso não significa que as pessoas estejam escrevendo errado Muitos buscam, tão somente, adaptar o uso da linguagem Ao suporte utilizado: “O contexto é que define o registro de língua. Se existe um limite de espaço, naturalmente, o sujeito irá usar mais abreviaturas, como faria no papel”, afirma um professor do Departamento de Lingua622

Na esteira do desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação, usos particulares da escrita foram surgindo. Diante dessa nova realidade, segundo o texto, cabe à escola levar o aluno a a) interagir por meio da linguagem formal no contexto digital. b) buscar alternativas para estabelecer melhores contatos on-line. c) adotar o uso de uma mesma norma nos diferentes suportes tecnológicos. d) desenvolver habilidades para compreender os textos postados na web. e) perceber as especificidades das linguagens em diferentes ambientes digitais. 03. (Enem MEC) Palavras jogadas fora Quando criança, convivia no interior de São Paulo com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá esporadicamente. O sentido da palavra é o de “jogar fora” (pincha fora essa porcaria) ou “mandar embora” (pincha esse fulano daqui). Teria sido uma das muitas palavras que ouvi menos na capital do estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso”. Aparentemente, para muitos falantes, esse verbo é algo do passado, que deixará de existir tão logo essa geração antiga morrer.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

As palavras são, em sua grande maioria, resultados de uma

Considerando-se a história da ocupação na região de Angra

tradição: elas já estavam lá antes de nascermos. “Tradição”,

dos Reis mencionada no texto, os fenômenos naturais que a

etimologicamente, é o ato de entregar, de passar adiante, de

atingiram poderiam ter sido previstos e suas consequências

transmitir (sobretudo valores culturais). O rompimento da tra-

minimizadas se

dição de uma palavra equivale à sua extinção. A gramática nor-

a) o acervo linguístico indígena fosse conhecido e valorizado.

mativa muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o fator

b) as línguas indígenas brasileiras tivessem sido substituídas

mais forte que motiva os falantes a extinguirem uma palavra é associar a palavra, influenciados direta ou indiretamente pela visão normativa, a um grupo que julga não ser o seu. O pinchar, associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está fadado à extinção? É louvável que nos preocupemos com a extinção de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a extinção de uma palavra não promove nenhuma comoção, como não nos comovemos com a extinção de insetos, a não ser dos extraordi-

pela língua geral. c) o conhecimento acadêmico tivesse sido priorizado pelos engenheiros. d) a língua tupinambá tivesse palavras adequadas para descrever o solo. e) o laboratório tivesse sido construído de acordo com as leis ambientais vigentes na época. 05. (Enem MEC) Posso mandar por e-mail?

nariamente belos. Pelo contrário, muitas vezes a extinção das palavras é incentivada.

Atualmente, é comum “disparar” currículos na internet com a

VIARO, M. E. Língua Portuguesa, n. 77, mar. 2012 (adaptado).

nadores. Essa, no entanto, é uma ideia equivocada: é preciso

A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo “pinchar” nos traz uma reflexão sobre a linguagem e seus usos, a partir da qual compreende-se que a) as palavras esquecidas pelos falantes devem ser descartadas dos dicionários, conforme sugere o título. b) o cuidado com espécies animais em extinção é mais urgente do que a preservação de palavras. c) o abandono de determinados vocábulos está associado a preconceitos socioculturais.

expectativa de alcançar o maior número possível de seleciosaber quem vai receber seu currículo e se a vaga é realmente indicada para seu perfil, sob o risco de estar “queimando o filme” com um futuro empregador. Ao enviar o currículo por e-mail, tente saber quem vai recebê-lo e faça um texto sucinto de apresentação, com a sugestão a seguir: Assunto: Currículo para a vaga de gerente de marketing Mensagem: Boa tarde. Meu nome é José da Silva e gostaria de me candidatar à vaga de gerente de marketing. Meu currículo segue anexo. Guia da língua 2010: modelos e técnicas. Língua Portuguesa, 2010 (adaptado).

d) as gerações têm a tradição de perpetuar o inventário de uma língua. e) o mundo contemporâneo exige a inovação do vocabulário das línguas.

O texto integra um guia de modelos e técnicas de elaboração de textos e cumpre a função social de a) divulgar um padrão oficial de redação e envio de currículos. b) indicar um modelo de currículo para pleitear uma vaga de

No ano de 1985 aconteceu um acidente muito grave em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, perto da aldeia guarani de Sapukai. Choveu muito e as águas pluviais provocaram deslizamentos de terras das encostas da Serra do Mar, destruindo o Laboratório de Radioecologia da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, construída em 1970 num lugar que os índios tupinambás, há mais de 500 anos, chamavam de Itaorna. O prejuízo foi calculado na época em 8 bilhões de cruzeiros. Os engenheiros responsáveis pela construção da usina nuclear não sabiam que o nome dado pelos índios continha informação sobre a estrutura do solo, minado pelas águas da chuva. Só descobriram que Itaorna, em língua tupinambá, quer dizer ‘pedra podre’, depois do acidente FREIRE, J. R. B. Disponível em: www.taquiprati.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado).

emprego. c) instruir o leitor sobre como ser eficiente no envio de currículo por e-mail. d) responder a uma pergunta de um assinante da revista sobre o envio de currículo por e-mail. e) orientar o leitor sobre como alcançar o maior número possível de selecionadores de currículos. 06. (Mackenzie SP) Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente [protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. (...)

623

FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

04. (Enem MEC)


Português

Estou farto do lirismo namorador

sa. Qualquer assunto servindo, fala-se do tempo ou de futebol.

Político

No escrever também poderia ser assim, e deveria haver para a

Raquítico

escrita algo como conversa vadia, com que se divaga até encontrar assunto para um discurso encadeado. Mas, à diferença da

Sifilítico. (Manuel Bandeira)

Assinale a afirmativa correta. a) O lirismo caracterizado no terceiro verso é o oposto do lirismo comedido (primeiro verso). b) No quarto verso, o eu lírico repudia o envolvimento amoroso. c) Raquítico e Sifilítico, nesse contexto, são palavras antônimas. d) No terceiro verso, as expressões que caracterizam o lirismo pertencem a campos semânticos diferentes. e) A palavra lirismo, no poema, é índice de função metalinguística, isto é, revela que o assunto do poema é o próprio fazer poético.

conversa falada, nos ensinaram a escrever e na lamentável forma mecânica que supunha texto prévio, mensagem já elaborada. Escrevia-se o que antes se pensara. Agora entendo o contrário: escrever para pensar, uma outra forma de conversar. Assim fomos “alfabetizados”, em obediência a certos rituais. Fomos induzidos a, desde o início, escrever bonito e certo. Era preciso ter um começo, um desenvolvimento e um fim predeterminados. Isso estragava, porque bitolava, o começo e todo o resto. Tentaremos agora (quem? eu e você, leitor) conversando entender como necessitamos nos reeducar para fazer do escrever um ato inaugural; não apenas transcrição do que tínhamos em mente, do que já foi pensado ou dito, mas inauguração do

07. (Unifesp SP)

próprio pensar. “Pare aí”, me diz você. “O escrevente escreve

fora de si

antes, o leitor lê depois.” “Não!”, lhe respondo, “Não consigo

eu fico louco

escrever sem pensar em você por perto, espiando o que escre-

eu fico fora de si

vo. Não me deixe falando sozinho.”

eu fica assim

Pois é; escrever é isso aí: iniciar uma conversa com interlocuto-

eu fica fora de mim

res invisíveis, imprevisíveis, virtuais apenas, sequer imaginados

eu fico um pouco

de carne e ossos, mas sempre ativamente presentes. Depois é

depois eu saio daqui

espichar conversas e novos interlocutores surgem, entram na

eu vai embora

roda, puxam assuntos. Termina-se sabe Deus onde.

eu fico fora de si

(Marques, M.O. Escrever é Preciso, Ijuí, Ed. UNIJUÍ, 1997, p. 13).

eu fico oco eu fica bem assim

Observe a seguinte afirmação feita pelo autor: “Em nossa civili-

eu fico sem ninguém em mim.

zação apressada, o “bom dia”, o “boa tarde” já não funcionam

A leitura do poema permite afirmar corretamente que o poeta explora a ideia de

para engatar conversa. Qualquer assunto servindo, fala-se do

a) buscar a completude no Outro, conforme atesta a função

cuja meta é “quebrar o gelo”. Indique a alternativa que explicita

apelativa, reforçando que o Eu, quando fora de si, necessa-

essa função.

riamente se funde com o Outro.

a) Função emotiva

b) sair de sua criação artística, retratando, pela função poética,

FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

a contradição do fazer literário, que não atinge o poeta.

b) Função referencial c) Função fática

c) perder a noção de si mesmo, e também perder a noção das

d) Função conativa

outras pessoas, o que se mostra num poema metalinguístico.

e) Função poética

d) extravasar o seu sentimento, como denuncia a função emotiva, reafirmando a situação de desencanto e desengano do poeta. e) criar literariamente como brincar com as palavras, o que se pode comprovar pela função fática da linguagem. 08. (Puc SP)

09. (UnB DF) Texto I Talvez a única afirmação suficientemente justa a respeito da função da música no cinema é a de que, de uma maneira ou de outra, a música existe para “tocar” as pessoas. Ela pode emo-

A questão é começar

624

tempo ou de futebol.” Ela faz referência à função da linguagem

cionar, arrancar lágrimas, causar tensão, desconforto, incomo-

Coçar e comer é só começar. Conversar e escrever também. Na

dar, narrar um acontecimento, uma morte, uma perseguição,

fala, antes de iniciar, mesmo numa livre conversação, é necessá-

uma piada, um diálogo, um alívio, uma festa, descrever um

rio quebrar o gelo. Em nossa civilização apressada, o “bom dia”,

movimento, criar um clima, acelerar uma situação, acalmá-la,

o “boa tarde, como vai?” já não funcionam para engatar conver-

enfim, de um jeito ou de outro, a boa composição não existe


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

çamos, podemos senti-la. O drama e a música são expressões culturais que obviamente têm valores e efeitos distintos e independentes (...). Parece haver um consenso entre a maioria dos compositores no sentido de que a música deve servir ao filme. Ela deve auxiliar a narrativa, seus personagens, seu ritmo, suas texturas, sua linguagem, seus requisitos dramáticos. Tony Berchmans. A música do filme: tudo o que você gostaria de saber sobre a música de cinema. São Paulo: Escrituras, 2006, p. 20 (com adaptações).

Texto II A trilha do filme Guerra nas Estrelas, composta por John Williams, ganhou vários prêmios, inclusive o Oscar de melhor trilha musical original. Acerca dessa trilha sonora, Tony Berchmans comenta: “Quando aparece pela primeira vez o personagem Luke Skywalker, o tema principal soa em um arranjo leve e específico. Há vários motivos ao longo do filme, inclusive uma marcha militar que faz referência às forças militares do Império. O que Williams adora fazer é rearranjar de diversas maneiras a frase inicial do tema principal, formada pelas famosas sete notas (...). Por fim, a música é dramaticamente descritiva e vai-se intensificando precisamente de acordo com a complicação da situação dos rebeldes. Até que, enfim, Luke Skywalker consegue atingir o objetivo, e a música dá um alívio à sua tensão.” Idem, ibidem, p. 86.

Tendo esses textos como referência, julgue os itens que se seguem.

C-C-C-C-E

( ) Infere-se do texto II que, na trilha sonora de Guerra nas Estrelas, John Williams explorou diferentes formas de organização das notas musicais, caracterizando contornos melódicos distintos que lembram o tema principal. ( ) Assim como ocorre no cinema, a sonoplastia pode ser usada no teatro para afirmar ou intensificar as ações dos personagens em cena. ( ) É correto concluir da descrição apresentada no texto II que o desenvolvimento da trilha sonora de Guerra nas Estrelas narra a sequência de ações que se estabelece no filme: a instalação do conflito, o seu ápice e a sua resolução. ( ) A partir das informações dos textos I e II, é correto afirmar que elementos musicais como dinâmica, andamento e instrumentação são recursos que podem ser utilizadas para intensificar a emoção das cenas de um filme. ( ) Guerra nas Estrelas foi a denominação dada pelo governo Reagan ao ambicioso e caro programa militar norte-americano que, paradoxalmente, acabou por fortalecer a potência rival no período pós-Segunda Guerra: a União Soviética.

10. (UnB DF) 1 Fechado o Cinema Odeon, na Rua da Bahia. Fechado para sempre. Não é possível, minha mocidade 4 fecha com ele um pouco. Não amadureci ainda bastante para aceitar a morte das coisas. 7 (...) Não aceito, por enquanto, o Cinema Glória, maior, mais americano, mais isso-e-aquilo. Quero é o derrotado Cinema Odeon, 10 o miúdo, fora de moda Cinema Odeon. (...) Exijo em nome da lei ou fora da lei que se reabram as portas e volte o passado. Carlos Drummond de Andrade. O fim das coisas. In: Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988, p. 701.

A primeira sala de exibição de cinema de Belo Horizonte foi o Teatro Paris. Inaugurada em 1906, passou a chamar-se, a partir de 1912, Cinema Odeon. Um dos melhores lugares de diversão da cidade e muito frequentado pela população, o Cinema Odeon foi fechado em 1928, e, por causa desse fechamento, Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema O fim das coisas, reproduzido acima. A partir dessas informações e da leitura desse poema de Drummond, julgue os itens seguintes. C-E-C-C-C-C-C ( ) A importância atribuída aos marcos urbanos, representados, nesse poema memorialístico, pelo Cinema Odeon, evidencia a relação entre a estética vanguardista e o movimento de progresso e urbanização. ( ) Considerando-se as ideias defendidas pelos modernistas, como, por exemplo, Mário e Oswald de Andrade, em textos como Paulicéia Desvairada e Memórias Sentimentais de João Miramar, é correto concluir que o poema O fim das coisas foi escrito antes dessa época. ( ) Na época em que ocorreu o fechamento do Cinema Odeon, fato que o poeta deplora, ganhavam espaço cada vez maior no mundo os EUA, como iria confirmar o impacto da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. ( ) O registro da experiência urbana de uma geração é um dos elementos de que está composto o poema apresentado. ( ) A memória das imagens da cidade mistura-se fortemente aos sonhos e às crenças de Carlos Drummond de Andrade, a ponto de funcionar como esteio da construção do poema apresentado. ( ) Com o emprego do particípio “Fechado” (v.1-2), não só se constrói o ritmo do poema, mas também se enfatiza o estado resultante de uma ação acabada. ( ) A organização textual do poema apresentado permite inferir, especialmente a partir do verso “Não amadureci ainda bastante” (v.5), que o aludido amadurecimento resulta em aceitação de perda. 625

FRENTE C  Exercícios de Aprofundamento

em vão. Ela está lá por algum motivo, e, ainda que não a ou-


FRENTE

D

Tortoon / Shutterstock.com


PORTUGUÊS Por falar nisso “A leitura do mundo precede a leitura da palavra.”

(Paulo Freire)

Desde que o homem começou a organizar o pensamento por meio de registros, a escrita foi se desenvolvendo e ganhando a máxima relevância nas relações sociais, na divulgação de ideias e de informações. No momento em que vivemos, os indivíduos que não reconhecem os códigos da linguagem escrita são, inevitavelmente, marginalizados da dinâmica de reações sociais. A capacidade de ler, de compreender e de interpretar enunciados, gráficos, tabelas, mapas, imagens e os mais variados tipos de textos, verbais e não verbais, nas mais diferentes áreas do conhecimento, é uma das maiores exigências do mundo atual. A escrita, hoje, já não é mais vista apenas como uma questão pedagógica, mas também como um grande investimento na formação sociocultural do ser humano. Comunicar-se bem por meio de uma escrita clara é uma ferramenta fundamental para o indivíduo no mundo atual e, certamente, pode ampliar as oportunidades dele no mercado de trabalho. É necessário que as pessoas conheçam as várias modalidades dos textos, cultivem o hábito da leitura e da escrita. Dessa maneira, poderão inserir-se na sociedade e tornar-se sujeitos críticos. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

D01 D02 D03 D04

Tipologia textual.............................................................................................................628 Dissertação: introdução..................................................................................................638 Dissertação: desenvolvimento........................................................................................645 Dissertação: conclusão...................................................................................................650


FRENTE

D

PORTUGUÊS

MÓDULO D01

ASSUNTOS ABORDADOS

TIPOLOGIA TEXTUAL

nn Tipologia textual

Os vários tipos de texto

nn Os vários tipos de texto nn Tipo × Gênero nn Gêneros literários

Os textos de diferentes tipos se instauram devido à existência de diferentes modos de interação ou interlocução. Trata-se de uma conjugação tipológica, de um intercâmbio de tipos. A tipologia textual se define como aquilo que pode instaurar um modo de interação, uma maneira de interlocução, a partir de perspectivas que podem variar. O termo Tipologia Textual designa uma sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição, ou seja, está relacionado com questões estruturais da língua, determinadas por aspectos lexicais e sintáticos, relações lógicas e de tempos verbais. Em geral, os tipos textuais abrangem as seguintes categorias: nn Narrativa nn Descritiva nn Argumentativa nn Expositiva nn Injuntiva nn Dialogal Apesar da tentativa de diferenciação, texto narrativo poderá contar com elementos descritivos e, para classificá-lo, a predominância de um elemento sobre o outro deve ser observada, pois um texto pode ser tipologicamente variado. Narração Essa modalidade se desenvolve por meio da narração de um fato, fictício ou não, que ocorreu em um determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. É marcado pelo desenrolar de acontecimentos, personagens e ambiente, caracterizado por uma organização temporal dos fatos. Essas ideias são organizadas por um autor, que pode apenas observar a história (narrador-observador) ou participar dela (narrador-personagem).

Fonte: shutterstock.com / A. and I. Kruk

Alguns exemplos de gêneros em que prevalece a tipologia narrativa: fábula, conto, notícia, piada, lenda, romance, texto teatral, tirinhas de jornal, crônica, romance, etc.

Figura 01 - Aluno se preparando para começar sua redação

628


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Argumentação O texto argumentativo busca defender uma ideia ou um ponto de vista do autor, logo, é embasado na argumentação e no desenvolvimento de um tema. Para tanto, sua estrutura é dividida em três partes fundamentais, introdução (na qual deve ser apresentada a tese), desenvolvimento (no qual conterão os principais argumentos) e conclusão (retomada da tese introdutória síntese dos argumentos apresentados). Alguns exemplo de gênero em que prevalece a tipologia argumentativa: texto de opinião, carta de leitor, redações dissertativas, carta de solicitação, editorial, ensaio, resenhas, etc. Exposição O texto expositivo apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Desenvolve-se por meio da defesa de um ponto de vista, da sustentação de uma opinião, da intenção de persuadir um receptor, fundamentando ideias com argumentos convincentes e coerentes com o tema em questão, embasando em recursos como a conceituação, a definição, a descrição, a comparação, a informação e enumeração. Reflete e expõe uma situação ou um acontecimento, que se pretende desenvolver ou apresentar, explica e avalia ideias de modo objetivo. Alguns exemplos de gêneros em que prevalece a exposição: debate orientado, editorial de jornal ou revista, crítica, ensaio, sermão, artigo de opinião, manifesto, seminário, palestra, conferência, relatório científico, etc. Descrição Um texto que traz elementos que descrevem características de um espaço, tempo e pessoas. Desenvolve-se por meio da descrição, da caracterização de algo por elementos que demonstrem e comprovem que ele foi apreendido pelos sentidos. Faz um retrato por escrito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. É um tipo textual que se agrega facilmente aos outros tipos em diversos gêneros textuais. Wikimedia Commons

Alguns exemplos de gêneros em que prevalece a descrição: fotografia, autorretrato, anúncio classificado, cardápio, lista de compras, folheto turístico, etc. Injunção Os textos injuntivos ou instrucionais são aqueles que indicam como realizar uma ação. Eles têm o objetivo de orientar, predizer acontecimentos e comportamentos, pedir ou prescrever como se deve realizar algo. Basicamente, esse tipo de texto tem a função de persuadir e encadear orientações. Alguns exemplos de gêneros em que prevalece a injunção: receitas culinárias, artigos constitucionais, manuais, gramáticas etc.

D01  Tipologia textual

Dialogal Texto constituído por diálogos entre duas ou mais personagens, reais ou imaginárias, humanas ou não humanas. Trata-se de um tipo de texto que facilmente se agrega a outros tipos de texto, como nos tipos narrativos e expositivos. Alguns exemplos de gêneros que contêm diálogos: entrevista, conto, novela, romance, piada, fábula, etc.

Figura 02 - Estudante lendo um livro em uma biblioteca

629


Português

Tipo × Gênero O tipo textual é a forma ou estrutura das sequências linguísticas encontradas em cada texto. Já o gênero textual está relacionado com as diferentes formas de expressão ou a forma pela qual nos comunicamos por meio da escrita ou da fala. Tipologia textual

Gênero Textual

Os tipos textuais são caracterizados por propriedades linguísticas, como: vocabulário, relações lógicas, tempos verbais, construções frasais.

Os gêneros possuem função comunicativa e estão inseridos em um contexto cultural.

São os textos narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo, injuntivo e dialogal.

Existe um conjunto ilimitado de características, que são determinadas de acordo com o estilo do autor, conteúdo, composição e função de cada texto.

São várias as formas de linguagem que circulam em nossa sociedade, sejam textos formais ou informais. Cada gênero textual tem seu estilo próprio, podendo então ser identificado e diferenciado dos demais por meio de suas características. Veja os seguintes exemplos: Carta: tende a ser um texto do tipo dissertativo-argumentativo produzido em linguagem formal, nos casos de “carta aberta” ou “carta de leitor”, em que se escreve à sociedade, aos leitores ou a jornais e revistas. Quando se trata de “carta pessoal”, é mais comum a presença de aspectos narrativos ou descritivos e o uso de uma linguagem coloquial. Propaganda: é um gênero textual dissertativo-expositivo em que existe o intuito de divulgar informações sobre um produto, ideia ou serviço. Tem a intenção de atingir e influenciar o leitor tirando-o da inércia, provocando novas emoções e aguçando-lhe a sensibilidade. Bula de remédio: é um gênero textual descritivo, dissertativo-expositivo e injuntivo que tem por objetivo apresentar as informações indispensáveis para o adequado uso do medicamento.

D01  Tipologia textual

Receita: é um gênero textual descritivo e injuntivo que transmite a fórmula de preparo de um prato ou iguaria, detalhando os ingredientes e o modo de prepará-los. Algumas características formais, como verbos no imperativo, com o significado de ordem, estão presentes nesse tipo de texto a fim de que o leitor siga corretamente as instruções. Tutorial: é um gênero injuntivo que consiste em um guia que tem por finalidade explicar ao leitor, passo a passo e de maneira simplificada, como fazer algo. Editorial: é um gênero textual dissertativo-argumentativo que expressa o posicionamento da empresa sobre determinado assunto, geralmente com a presença da objetividade. 630

Notícia: nesse tipo de texto podem-se identificar características narrativas, o fato ocorrido que se deu em um determinado momento e em um determinado lugar, envolvendo determinadas personagens. Características do lugar, bem como dos personagens envolvidos são, muitas vezes, minuciosamente descritos. Reportagem: é um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta. Entrevista: é um gênero textual fundamentalmente dialogal, representado pela conversação de duas ou mais pessoas, o entrevistador e o(s) entrevistado(s), para obter informações sobre entrevistado, ou de algum outro assunto. Geralmente envolve também aspectos dissertativo-expositivos, especialmente quando se trata de entrevista à imprensa ou entrevista jornalística. Pode também envolver aspectos narrativos, como na entrevista de emprego, ou aspectos descritivos, como na entrevista médica. História em quadrinhos: é um gênero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos quadros por meio de diálogos diretos entre seus personagens, gerando uma espécie de conversação. Charge: é um gênero textual narrativo no qual se faz uma espécie de ilustração cômica, por meio de caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria.

Gêneros literários Os gêneros literários agregam um conjunto de obras que carregam características muito parecidas tanto na forma como no conteúdo. As primeiras divisões surgiram na Idade Antiga com os filósofos gregos Platão e Aristóteles. A divisão por categoria é muito flexível e elástica porque um determinado conteúdo pode permear entre uma e outra modalidade, as quais são normalmente classificadas em subgrupos ou subgêneros. São divisões feitas de acordo com características formais comuns em obras literárias, agrupando-as segundo critérios estruturais, contextuais, sintáticos e semânticos, fonológicos formais, contextuais, entre outros. Todos os gêneros, entretanto, surgem de uma base padrão, adotada desde a Antiguidade: épico, lírico e dramático. Gênero épico Epopeia: as epopeias são geralmente longas e narram histórias de um povo ou de uma nação, envolvendo aventuras, guerras, viagens, gestos heroicos. Normalmente apresentam um tom de exaltação nacionalista, isto é, de valorização de seus heróis e de seus feitos. Alguns exemplos são Os Lusíadas, de Luís de Camões, e Ilíada e Odisseia, de Homero.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Romance: importante gênero literário que apresenta uma narrativa complexa, pois não dispõe apenas um núcleo, mas de várias tramas que se desencadeiam no decorrer da narração da história principal. É um texto completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos e de caráter mais verossímil. Novela: é um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevidade do romance e a brevidade do conto. Como exemplos de novelas, podem ser citadas as obras: O Alienista, de Machado de Assis, e A Metamorfose, de Kafka. Conto: é uma narrativa concisa, contendo um só conflito. Inicialmente, fazia parte da literatura oral. Existem diversos tipos de contos: conto de fadas, que envolve personagens do mundo da fantasia; contos de aventura, que envolvem personagens em um contexto mais próximo da realidade; contos folclóricos contos de terror ou assombração, que se desenrolam em um contexto sombrio e objetivam causar medo no expectador; contos de mistério, que envolvem o suspense e a solução de um mistério. Fábula: é um texto de caráter fantástico que busca ser inverossímil. As personagens principais são animais e a finalidade é transmitir alguma lição de moral.

Ensaio: é um texto literário breve, situado entre o poético e o didático, expondo ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. É menos formal e mais flexível que o tratado. Consiste também na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social, cultural, moral, comportamental), sem que se paute em formalidades como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico. Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago e Ensaio sobre a tolerância, de John Locke.

D01  Tipologia textual

Fonte: wikimedia.commons / Alfredo Roque Gameiro (1864–1935)

Crônica: é uma narrativa informal, breve, ligada à vida cotidiana, com linguagem coloquial. Originalmente a crônica limitava-se a relatos verídicos e nobres, mas a partir do XIX passou a refletir também a vida social, a política, os costumes e, o cotidiano. Pode ter um tom humorístico ou um toque de crítica indireta, especialmente, quando aparece em seção ou artigo de jornal, revistas e programas da TV.

Figura 03 - Chegada dos europeus à América

631


Português

Gênero Lírico

Fonte: wikimedia.commons / Charles Henry Bennett (1828–1867)

O gênero lírico é o texto em que há a manifestação de um eu lírico, isto é, a voz que se manifesta no poema. Nesses textos, há a expressão das emoções, ideias, expressões do mundo interior diante do mundo exterior. São textos subjetivos, normalmente os pronomes e verbos estão em primeira pessoa e a musicalidade das palavras é explorada. Poema: trabalho elaborado e estruturado em versos. Além dos versos, pode ser estruturado em estrofes. Rimas e métrica também podem fazer parte de sua composição. Pode ou não ser poético. Dependendo de sua estrutura, pode receber classificações específicas, como haicai, soneto, epopeia, poema figurado, dramático. Poesia: é um gênero literário caracterizado pela composição em versos estruturados de forma harmoniosa. É uma manifestação de beleza e estética retratada pelo poeta em forma de palavras. No sentido figurado, poesia é tudo aquilo que comove, que sensibiliza e desperta sentimentos. É qualquer forma de arte que inspira e encanta, que é sublime e bela. Figura 04 - Imagem figurativa da fábula “A formiga e a cigarra”

Soneto: é um texto em poesia com catorze versos, dividido em dois quartetos e dois tercetos, com rimas alternadas, paralelas ou interpoladas. Elegia: é um texto de exaltação à morte de alguém, sendo que a morte é elevada como o ponto máximo do texto. O emissor expressa tristeza, saudade, ciúmes, decepção, desejo de morte. É um poema melancólico. Um bom exemplo é a peça Roan e Yufa, de William Shakespeare.

Fonte: wikimedia.commons / Frank Dicksee (1853–1928)

Ode (ou hino): é o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O hino é uma ode com acompanhamento musical. Idílio (ou écloga): é o poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com diálogos (muito rara). Gênero Dramático Trata-se do texto escrito para ser encenado no teatro. Nesse tipo de texto, não há um narrador contando a história. É uma espécie de performance no palco, ou seja, é representada por atores, que assumem os papéis das personagens nas cenas. O gênero dramático expõe o conflito dos homens e seu mundo, as manifestações da miséria humana.

D01  Tipologia textual

Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era “uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror”. Farsa: é uma pequena peça teatral, de caráter caricatural, que critica a sociedade e seus costumes. Baseia-se no lema latino ridendo castigat mores (rindo, castigam-se os costumes). A farsa consiste no exagero do cômico, graças ao emprego de processos grosseiros, como o absurdo, as incongruências equívocos. Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil. Sua origem grega está ligada às festas populares.

Figura 05 - Casal apaixonado se beijando em um castelo

632

Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios de Fixação 01. (UnB DF)

normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras

A reforma agrária, desapropriando terras ociosas para des-

variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação. Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.

tiná-las aos pobres, é um imperativo para enfrentar a extrema desigualdade existente no meio rural. O programa do presidente Fernando Henrique Cardoso para esse setor fixa a meta de assentamento de 280 mil famílias até 1998. Dois milhões de hectares já foram destinados a mais de 60 mil fa-

Considere as seguintes afirmações sobre os quatro períodos que compõem o texto: I.

texto, o primeiro período estabelece uma causa cuja

mílias, em apenas 18 meses do atual governo. As metas estão sendo cumpridas. Entretanto, a reforma agrária não se limita à desapropriação de terras. Vem sendo dado todo o apoio ao desenvolvimento do processo produtivo, de forma sustentável, para que os trabalhadores assentados tenham

consequência aparece no segundo período. II.

mento da agricultura familiar. (Raul Jungmann, In. Manchete, 17/8/9, p. 98)

Na(s) questão(ões) a seguir assinale os itens corretos e os itens errados. Julgue os itens adiante, considerando a estrutura e a tipologia do texto. V-V-V-V 01. Trata-se de um parágrafo dissertativo que inclui um período narrativo, como indica o verbo no pretérito. 02. O trecho compreendido entre “O programa” até “cumpridas” mostra que o autor crê que o programa de Fernando Henrique Cardoso poderá alcançar suas metas. 03. O desenvolvimento do parágrafo divide-se em duas partes que correspondem aos dois requisitos básicos para que a reforma agrária dê certo. 04. A escolha dos vocábulos e a estrutura textual adotada pelo autor dão consistência aos argumentos da política de reforma agrária defendida pelo governo. 02. (Fuvest SP) Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor

O uso de orações subordinadas, tal como ocorre no terceiro período, é muito comum em textos dissertativos.

III.

Por formarem um parágrafo tipicamente dissertativo, os quatro períodos se organizam em uma sequência consti-

acesso a financiamento e apoio técnico, reconhecendo-se que as ações devem buscar a sustentabilidade e o fortaleci-

Tendo em vista as relações de sentido constituídas no

tuída de introdução, desenvolvimento e conclusão. IV.

O procedimento argumentativo do texto é dedutivo, isto é, vai do geral para o particular.

Está correto apenas o que se afirma em Apenas a afirmativa I é inadequada, pois o primeiro período do texto apresenta uma constatação genérica sobre a diversidade linguística de cada idioma (“Todas as variedades linguísticas são I e III. estruturadas…”) seguida de uma oposição introduzida no seIII e IV. gundo período pela conjunção coordenativa adversativa “mas”. O terceiro, formado essencialmente por orações subordinadas I, II e IV. (concessiva e causal), constitui a exemplificação, que levam à conclusão coerente sobre a particularidade da variedade padrão. AsII, III e IV. sim, são corretas as afirmativas II, III e IV, como se aponta em [E].

a) I e II. b) c) d) e)

03. (Fuvest SP) Há muitas, quase infinitas maneiras de ouvir música. Entretanto, as três mais frequentes distinguem-se pela tendência que em cada uma delas se torna dominante: ouvir com o corpo, ouvir emotivamente, ouvir intelectualmente. Ouvir com o corpo é empregar no ato da escuta não apenas os ouvidos, mas a pele toda, que também vibra ao contato com o dado sonoro: é sentir em estado bruto. É bastante frequente, nesse estágio da escuta, que haja um impulso em direção ao ato de dançar. Ouvir emotivamente, no fundo, não deixa de ser ouvir mais a si mesmo que propriamente a música. É usar da música a fim de que ela desperte ou reforce algo já latente em nós mesmos. Sai-se da sensação bruta e entra-se no campo dos sentimentos. Ouvir intelectualmente é dar-se conta de que a música tem, como base, estrutura e forma. Referir-se à música a partir dessa perspectiva seria atentar para a materialidade de seu discurso: o que ele comporta, como seus elementos se estruturam, qual a forma alcançada nesse processo. Adaptado de J. Jota de Moraes, O que é música.

633

D01  Tipologia textual

Reforma Agrária e Cidadania


Português

Nesse texto, o primeiro parágrafo e o conjunto dos demais articulam-se de modo a constituir, respectivamente, a) uma proposição e seu esclarecimento. b) um tema e suas variações. c) uma premissa e suas contradições. d) uma declaração e sua atenuação. e) um paradoxo e sua superação. 04. (Uerj RJ)

05. (UFMT) Os textos abaixo fazem parte da campanha publicitária de uma empresa fabricante de produtos eletrônicos. TEXTO I Noel querido, No próximo dia 24 vou oferecer uma ceia para alguns amigos em minha casa, em petit comitê. Eu adoraria poder contar com a sua presença. E, se você quiser trazer um

Coração numeroso

presente para a anfitriã, não vou me importar, pelo contrá-

Foi no Rio.

rio, até dou uma sugestão: você já viu a nova linha de mo-

Eu passava na Avenida quase meia-noite.

nitores de plasma da Gradiente? É um must! Design clean,

Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis.

tecnologia de última geração. Ficaria o máximo ao lado de

Havia a promessa do mar

minhas obras modernistas. Apenas um pedido, querido.

5

e bondes tilintavam,

Por favor, não entre pela chaminé para não assustar os

abafando o calor

convidados. Um beijo.

que soprava no vento

____________________

e o vento vinha de Minas.

Seu nome

Meus paralíticos sonhos desgosto de viver

TEXTO II

(a vida para mim é vontade de morrer)

10

faziam de mim homem-realejo imperturbavelmente na Galeria Cruzeiro quente quente e como não conhecia ninguém a não ser o doce vento mineiro, nenhuma vontade de beber, eu disse: Acabemos com isso. Mas tremia na cidade uma fascinação casas compridas

15

autos abertos correndo caminho do mar voluptuosidade errante do calor mil presentes da vida aos homens indiferentes, que meu coração bateu forte, meus olhos inúteis choraram. O mar batia em meu peito, já não batia no cais.

20

E aí, Papai Noel, Belê? A parada é a seguinte: eu, ___________________, tô muito a fim, a finzaço mesmo, de ter um Mini System Titanium da Gradiente no meu quarto, aquele que reproduz MP3 com 5.000 Watts de potência, tá ligado? Sabe como é: eu queimo uns CDs MP3, convido a mina para ouvir um som da hora, a gente troca umas ideia s e aí, meu velho, você tá ligado, né? E então? Quebra essa pra mim, mano. O senhor, que já tá velhinho, não sabe como é difícil hoje em dia agradar a mulherada. (VEJA, dezembro de 2003.)

A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu a cidade sou eu

Sobre a caracterização do gênero dos textos I e II, assinale a

sou eu a cidade

afirmativa correta.

meu amor.

a) Em função do registro formal, da invocação, da identi-

Carlos Drummond de Andrade .Moriconi, Italo (org.) Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

O discurso poético se caracteriza pelo uso de recursos que abrem ao leitor a possibilidade de múltiplas interpretações. A dupla possibilidade de leitura de uma mesma palavra é o D01  Tipologia textual

recurso que provoca essa multiplicidade em: a) Eu passava na Avenida quase meia-noite. (v. 2) b) Bicos de seio batiam nos bicos de luz estrelas inumeráveis. (v. 3) c) Meus paralíticos sonhos desgosto de viver (v. 9) d) na Galeria Cruzeiro quente quente (v. 12)

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ficação do requerente, o texto II é exemplo do gênero requerimento. b) O uso da expressão seu nome no texto I e o espaço para pôr nome no texto II sugerem que os remetentes devam ficar no anonimato, não podem ser identificados. c) No texto I, foi estabelecida uma interação formal, distante, entre a anfitriã e Papai Noel, trazido para o convívio diário, para a realidade presente. d) No texto II, há relação de proximidade entre Papai Noel e o jovem, quebrada no final do texto pelo uso do tratamento senhor. e) O texto I apresenta características como vocativo, corpo, fechamento e assinatura, que o identificam como carta.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Exercícios Complementares

“Cabelos longos, brinco na orelha esquerda, físico de skatista. Na aparência, o estudante brasiliense Rui Lopes Viana Filho, de 16 anos, não lembra em nada o estereótipo dos gênios. Ele não usa pesados óculos de grau e está longe de ter um ar introspectivo. No final do mês passado, rui retornou de Taiwan, onde enfrentou 419 competidores de todo o mundo na 39ª Olimpíada Internacional de Matemática. A reluzente medalha de ouro que ele trouxe na bagagem está dependurada sobre a cama de seu quarto, atulhado de rascunhos dos problemas matemáticos que aprendeu a decifrar nos últimos cinco anos. Veja – Vencer uma olimpíada serve de passaporte para uma carreira profissional meteórica? Rui – Nada disso. Decidi me dedica à Olimpíada porque sei que a concorrência por um emprego é cada vez mais selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais para oferecer. O problema é que as coisas estão mudando e não sei qual será minha profissão. Além de ser muito novo para decidir sobre o meu futuro profissional, sei que esse conceito de carreira mudou muito.” (Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Revista Veja, 5 ago. 1998.)

Na pergunta, o repórter estabelece uma relação entre a entrada do estudante no mercado de trabalho e a vitória na Olimpíada. O estudante: a) concorda com a relação e afirma que o desempenho na Olimpíada é fundamental para sua entrada no mercado. b) discorda da relação e complementa que é fácil se fazer previsões sobre o mercado de trabalho. c) discorda da relação e afirma que seu futuro profissional independe de dedicação aos estudos. d) discorda da relação e afirma que seu desempenho só é relevante se escolher uma profissão relacionada à matemática. e) concorda em parte com a relação e complementa que é complexo fazer previsões sobre o mercado de trabalho. 02. (UnB DF) Duas horas da manhã. Vejo esta cena No leito grande, entre linhos bordados dormem marido e mulher. As brisas nobres de Higienópolis entram pelas venezianas, servilmente aplacando os calores do verão. Dona Laura, livre o colo das colchas, ressona boca aberta, apoiando a cabeça no braço erguido. Braço largo, achatado, nu. A trança negra flui pelas barrancas moles do travesseiro, cascateia no álveo dos lençóis. Concavamente recurvada, a esposa toda se apoia no esposo dos pés ao braço erguido. Sousa Costa completamente oculto pelas cobertas, enrodi-

lhado, se aninha na concavidade feita pelo corpo da mulher, e ronca. O ronco inda acentuar a paz compacta. Estes dois seres tão unidos, tão apoiados um no outro, tão Báucis e Filamão, creio que são felizes. Perfeitamente. Não 1 tem raciocínio que invalide a minha firme crença na felicidade destes dois cidadãos da República. Aristóteles ...me parece que na Política afirma serem felizes os homens pela quantidade de razão e virtude possuídas e 2na medida em que, por estas, regram a norma do viver ... Estes cônjuges são virtuosos e justos. Perfeitamente. Sousa Costa se mexe. Tira um pouco, pra fora das cobertas, algumas ramagens do bigode. Apoia melhor a cara no sovaco gorducho da esposa. Dona Laura suspira. Se agita um pouco. E se apoia inda mais no honrado esposo e senhor. Pouco a pouco Sousa Costa recomeça a roncar. O ronco inda acentua a paz compacta. Perfeitamente. Mário de Andrade. AMAR, VERBO INTRANSITIVO. São Paulo, Ática, p.83.

Na questão a seguir assinale os números dos itens corretos. Acerca da periodização literária e a partir da estruturas discursivas do texto, julgue os itens a seguir. F-F-F-V 01. Mário de Andrade, assim como Guimarães Rosa, pertence à primeira fase do Modernismo Brasileiro. 02. Em nenhuma passagem do texto, há a presença de comentários pessoais do narrador. 03. O ponto de vista usado no texto é o do narrador onisciente. 04. Em “Aristóteles ... me parece que na Política afirma serem felizes os homens pela quantidade de razão e virtude possuídas e na medida em que, por estas, regram a norma do viver ...”, tem-se um exemplo de discurso indireto. 03. (UnB DF) AONDE VOCÊ VAI? Para quem não sabe aonde vai qualquer caminho serve. Só que o indeciso perde muito tempo. E tempo é o bem mais escasso. Definir a rota de primeira ajuda a ganhar pontos. A rota é o objetivo. (Dad Abi Chahine Squerisi. Correio Braziliense, Cidades, 18/12/96, p.6 (com adaptações))

Na(s) questão(ões) a seguir assinale os itens corretos e os itens errados. Em uma dissertação, há ideias que desenvolvem o tema proposto. O texto anterior é um parágrafo dissertativo. Considerando a adequação dos períodos a seguir para o desenvolvimento da ideia central desse parágrafo, julgue os itens a seguir. F-V-F-V-F

635

D01  Tipologia textual

01. (Enem MEC)


Português

00. O mundo atual, marcado por contradições e injustiças sociais, oferece múltiplas opções de escolha aos caminhantes. 01. Vencer a indecisão, aproveitar o tempo e acreditar na capacidade humana são maneiras de se aproximar do sucesso. 02. A fugacidade do tempo e a efemeridade da vida são temas atuais que preocupam a população do planeta, às vésperas do terceiro milênio. 03. Para se alcançarem os objetivos, não há uma fórmula predeterminada; é enfrentando a caminhada que se aprende a caminhar. 04. No Natal e no Ano Novo, as pessoas têm pensamentos voltados para o futuro, ainda mais quando os dias de amanhã se apresentam nebulosos. 04. (Enem MEC) Texto I É praticamente impossível imaginarmos nossas vidas sem o plástico. Ele está presente em embalagens de alimentos, bebidas e remédios, além de eletrodomésticos, automóveis etc. Esse uso ocorre devido à sua atoxicidade e à inércia, isto é: quando em contato com outras substâncias, o plástico não as contamina; ao contrário, protege o produto embalado. Outras duas grandes vantagens garantem o uso dos plásticos em larga escala: são leves, quase não alteram o peso do material embalado, e são 100% recicláveis, fato que, infelizmente, não é aproveitado, visto que, em todo o mundo, a percentagem de plástico reciclado, quando comparado ao total produzido, ainda é irrelevante. Revista Mãe Terra. Minuano, ano I, n. 6 (adaptado).

Texto II Sacolas plásticas são leves e voam ao vento. Por isso, elas entopem esgotos e bueiros, causando enchentes. São encontradas até no estômago de tartarugas marinhas, baleias, focas e golfinhos, mortos por sufocamento. Sacolas plásticas descartáveis são gratuitas para os consumidores, mas têm um custo incalculável para o meio ambiente. Veja, 8 jul. 2009. Fragmentos de texto publicitário do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. A letra “b” apresenta-se como verdadeira, pois retrata a ideia presente em ambos os textos.

D01  Tipologia textual

Na comparação dos textos, observa-se que a) o texto I apresenta um alerta a respeito do efeito da reciclagem de materiais plásticos; o texto II justifica o uso desse material reciclado. b) o texto I tem como objetivo precípuo apresentar a versatilidade e as vantagens do uso do plástico na contemporaneidade; o texto II objetiva alertar os consumidores sobre os problemas ambientais decorrentes de embalagens plásticas não recicladas.

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c) o texto I expõe vantagens, sem qualquer ressalva, do uso do plástico; o texto II busca convencer o leitor a evitar o uso de embalagens plásticas. d) o texto I ilustra o posicionamento de fabricantes de embalagens plásticas, mostrando por que elas devem ser usadas; o texto II ilustra o posicionamento de consumidores comuns, que buscam praticidade e conforto. e) o texto I apresenta um alerta a respeito da possibilidade de contaminação de produtos orgânicos e industrializados decorrente do uso de plástico em suas embalagens; o texto II apresenta vantagens do consumo de sacolas plásticas: leves, descartáveis e gratuitas. Leia o texto para responder às questões 05 e 06 TEXTO O que faz você feliz? A lua, a praia, o mar A rua, a saia, amar... Um doce, uma dança, um beijo, Ou é a goiabada com queijo? Afinal, o que faz você feliz? Chocolate, paixão, dormir cedo, acordar tarde, Arroz com feijão, matar a saudade... O aumento, a casa, o carro que você sempre quis Ou são os sonhos que te fazem feliz? Um filme, um dia, uma semana Um bem, um biquíni, a grama... Dormir na rede, matar a sede, ler... Ou viver um romance? O que faz você feliz? Um lápis, uma letra, uma conversa boa Um cafuné, café com leite, rir à toa, Um pássaro, ser dono do seu nariz... Ou será um choro que te faz feliz? A causa, a pausa, o sorvete, Sentir o vento, esquecer o tempo, O sal, o sol, um som O ar, a pessoa ou o lugar? Agora me diz, O que faz você feliz? (Anúncio publicitário do Grupo Pão de Açúcar, veiculado na Revista VEJA, edição de 21 de março de 2007)

05. (Enem MEC) Nesse texto publicitário predomina um padrão de linguagem coloquial, no qual podem ocorrer desvios do padrão culto da língua. Assinale a alternativa contendo desvio(s). a) “Ou é a goiabada com queijo?”. b) “O aumento, a casa, o carro que você sempre quis”. c) “O que faz você feliz?”. d) “Um cafuné, café com leite, rir à toa”. e) “Agora me diz, o que faz você feliz?”.

Gabarito questão 08 00. Falsa. As expressões em análise são claramente metafóricas e metonímicas. Além disso, não tem sentido afirmar que, em textos de comentário, não cabe o recurso às figuras de linguagem. 01. Verdadeira. O autor, nesse trecho, recorre, explicitamente, à propriedade da intertextualidade quando evoca um conhecido provérbio popular. 02. Verdadeira. De fato, os sentidos das duas formas em análise são bastante diferentes, mas a proximidade da forma enseja o trocadilho que é criado. 03. Falsa. Há uma hipérbole na expressão destacada; mas uma hipérbole não é uma redundância de sentido. 04. Verdadeira. É perceptível o efeito de ironia que o autor pretende emprestar a sua afirmação. Na verdade, ele quer dizer exatamente o contrário: “ninguém mais que o técnico sabe diagnosticar onde está o erro.”


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Texto comum às questões 07, 08 e 09 180 milhões de linguistas Os cronistas esportivos não se cansam de repetir o clichê de que o Brasil tem 180 milhões de técnicos. Afinal, qualquer torcedor sabe escalar a seleção melhor do que o Dunga. Qualquer tropeço da esquadra nacional é motivo de críticas acerbas e inflamadas em todas as esquinas do país. E todos – menos o técnico – sabem diagnosticar onde está o erro. Pois cheguei à conclusão de que o Brasil tem 180 milhões de linguistas. Isso mesmo! Somos 180 milhões de cidadãos que adoram palpitar sobre as línguas em geral e sobre a língua portuguesa em particular. E fazemos isso com a sem-cerimônia e desenvoltura de grandes experts (ou espertos) no assunto. Quando se trata da língua, não é raro ouvirmos os maiores disparates, eivados de preconceito e miopia intelectual, proferidos amiúde em tom solene e professoral por pessoas que às vezes mal têm o ensino fundamental completo. Frases chauvinistas como “o português é a mais bela e perfeita língua do mundo”, “o francês é o idioma da lógica e do equilíbrio” ou “só é possível filosofar em alemão” já se tornaram lugar-comum em discussões do gênero. (...) O pior de tudo é que cidadãos leigos não se intimidam em debater sobre questões de língua com especialistas. (...) É que existe a crença mais ou menos generalizada de que medicina e direito, por exemplo, são matérias de alta especialidade, ao passo que a língua é assunto de domínio público. Afinal, nem todos clinicam ou advogam; mas todos falam. E, portanto, qualquer um sabe “ensinar o padre-nosso ao vigário”. Já ouvi mais de uma vez a afirmação de que o português se originou do grego – ou, pior ainda, do celta ou do fenício. Trata-se de uma tremenda mixórdia de informações desencontradas, entreouvidas aqui e ali, colhidas às vezes de fonte não confiável, ou destorcidas pelos “ruídos da comunicação”.

Voltando ao esporte bretão, acredito que os técnicos são uns grandes injustiçados e incompreendidos. Afinal, mesmo quando o time perde, um treinador, que respira futebol 24 horas por dia, deve entender do métier mais do que um torcedor que, muitas vezes, nem sabe chutar uma bola direito. Pois o mesmo vale para a língua: um linguista é um estudioso que dedica a sua vida a estudar a estrutura, o funcionamento, o processamento cerebral, o uso social e a evolução histórica das línguas com o mesmo rigor teórico e metodológico com que um biólogo estuda a anatomia, a fisiologia e a evolução das espécies, ou o astrônomo estuda os astros e a história do Universo. Só que, assim como ainda há pessoas que acreditam na astrologia mais do que na astronomia, também os curiosos e palpiteiros da linguagem têm mais crédito do que os linguistas. Pobre Dunga! (Aldo Bizzochi. Língua Portuguesa. Ano II, n. 22, agosto de 2207, pp. 56-57. Adaptado.)

07. (UFPE) Pela análise da composição do Texto 1, chegamos à conclusão de que se trata: F-F-V-F-V 00. de uma narração; há uma sucessão de fatos, em um cenário, com protagonistas e antagonistas bem definidos. 01. de uma descrição, numa perspectiva unilateral; ou seja, apenas um item é, em todo o texto, objeto de consideração. 02. de um texto de comentário, destinado à exposição de determinada visão acerca de uma questão social comumente posta em discussão. 03. de um conjunto de instruções, que se propõem a regular o comportamento das pessoas face a uma dada situação. 04. de um texto de natureza argumentativa: em seu desenvolvimento, podem ser vistos pontos de vista e argumentos de sustentação. 08. É possível identificar certas passagens do texto que, por diferentes recursos, o tornam mais expressivo. A esse propósito, analise os comentários a seguir. F-V-V-F-V 00. Em: “miopia intelectual”, “vive e respira futebol”, o autor recorreu a sentidos literais: em um texto deste gênero, não cabem metáforas e metonímias. 01. Em: “ensinar o padre-nosso ao vigário”, há o recurso a uma intertextualidade explícita; o autor apela para os saberes do domínio popular. 02. Em: “grandes experts (ou espertos) no assunto”, há um trocadilho que assenta na proximidade da forma entre os dois termos, embora os sentidos pretendidos sejam bem diferentes. 03. Em: “críticas acerbas e inflamadas em todas as esquinas do país”, há uma hipérbole, ou seja, uma espécie de redundância de sentido. 04. Em: “E todos – menos o técnico – sabem diagnosticar onde está o erro”, a afirmação é visivelmente irônica.

Gabarito questão 07 0-0 - Falsa. O texto não apresenta o esquema característico de uma narração. Não há personagens envolvidas em uma ação que se desenrola, conforme algum critério de sucessão, em um determinado cenário. Falsa. Igualmente, não se pode ver no texto características – quer formais, quer funcionais – de uma descrição. 2-2- Verdadeira. O texto é, na verdade, um comentário opinativo, de natureza dissertativo-argumentativa, no qual o autor discorre sobre um ponto, apresenta seu ponto de vista e argumenta em favor de sua sustentação. Logo, a alternativa 4-4) também é verdadeira. 3-3- Falsa. Não há no texto elementos que o caracterizam como sendo “um conjunto de instruções”, em função de possíveis procedimentos a serem tomados pelas pessoas. 4-4-Verdadeira. (Ver justificativa apresentada em 2- 2).

637

D01  Tipologia textual

06. (Enem MEC) Podem-se destacar alguns elementos que caracterizam o texto como propaganda de uma rede de supermercados. Assinale a alternativa que cumpre melhor esse intento. a) Referência explícita a produtos industrializados, tais como “saia”, “doce”, “goiabada”, “queijo”, todos potencialmente à venda em supermercados. b) Apelo à ideia de que a felicidade depende de elementos naturais, tais como “lua”, “praia” e “mar”, aonde só se chega por meio das relações de compra e venda da sociedade de consumo. c) Menção aos atos de “dormir cedo e acordar tarde”, que evocam, por oposição e contraste, o ciclo do trabalho, base da vida voltada para as necessidades do consumo. d) Citação dos sonhos, em “ou são os sonhos que te fazem feliz?”, para simbolizar tudo aquilo que a noção do consumo leva as pessoas a almejar. e) Evocação da liberdade, na figura do pássaro, em “um pássaro, ser dono do seu nariz”, a qual sugere abandonar as limitações das pessoas compelidas a consumir mais.


FRENTE

D

PORTUGUÊS

MÓDULO D02

ASSUNTOS ABORDADOS nn Dissertação: Introdução nn Estrutura textual dissertativa nn Esquema de dissertação

DISSERTAÇÃO: INTRODUÇÃO Uma redação nada mais é do que um texto estruturado de forma escrita com o objetivo de transmitir o ponto de vista do autor ou o questionamento de uma determinada realidade. Um bom texto exige dois ingredientes fundamentais: conhecimento sobre o tema e capacidade de apresentar ao leitor um argumento convincente. O texto dissertativo pode ser de diversos formatos: expositivo, argumentativo, argumentativo-subjetivo, argumentativo-objetivo ou também, crítico, mas é preciso trazer consigo a coerência. Para ser coerente, o texto deve apresentar uma relação lógica e harmônica entre suas ideias, que devem ser ordenadas e interligadas de maneira clara, formando, assim, uma unidade cujas partes possam estar “amarradas”. Em um texto coerente, todas as partes se encaixam, na verdade, se completam. Neste módulo, vamos falar da estrutura do texto dissertativo-argumentativo, exigido no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e também bastante solicitado nos vestibulares mais exigentes do país.

Estrutura textual dissertativa Dissertar é expor ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos, explicar, refletir, conceituar, avaliar. Dissertar ainda é defender uma opinião, um ponto de vista, uma tese, uma argumentação bem estruturada para se chegar a uma conclusão ou convencer o interlocutor. Nesse sentido, é necessário dispor as partes em um encadeamento perfeito. 1. Contextualização do tema: é a abertura do texto. Aqui vai se falar da questão a ser tratada, apontar a problemática e preparar o leitor para o seu posicionamento.

3. Argumentação: é o momento de explicar em detalhes o porquê do posicionamento e a razão de se ter escolhido essa ou aquela solução para a situação-problema. 4. Conclusão: é o fechamento do texto. Momento em que o autor irá sintetizar sua exposição ao leitor.

Figura 01 - Garoto pensando em como fazer sua redação

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2. Apresentar o posicionamento: aqui o poder de articulação começa a ser testado. O autor vai apresentar, de forma muito clara, o que pensa a respeito do tema.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Parágrafo de introdução Além de despertar o interesse do leitor, a introdução tem o papel fundamental de expor a tese, o ponto de vista do autor, sobre o assunto a ser explorado. A introdução constitui o primeiro parágrafo da dissertação e deve conter a informação sobre o que será argumentado e/ou discutido no desenvolvimento. É um bom início de texto que desperta no leitor vontade de continuar. Nesse caso, o número de parágrafos de desenvolvimento geralmente coincide com o número de ideias apresentadas na introdução que pode ser elaborada em apenas um parágrafo de aproximadamente sete linhas, nunca mais do que um parágrafo. Tudo o que for citado na introdução deve ser discutido no desenvolvimento. É importante lembrar: o que não for citado na introdução não deve ser discutido no desenvolvimento. Enfim, a introdução é uma espécie de índice do desenvolvimento. Todas as ideias devem ser apresentadas de forma sintética, pois é no desenvolvimento que elas serão detalhadas.

Esquema de dissertação 1° parágrafo: repertório sociocultural + tema + tese 2° parágrafo: desenvolvimento do argumento 1 3° parágrafo: desenvolvimento do argumento 2 4° parágrafo: desenvolvimento do argumento 3 5° parágrafo: síntese dos argumentos + reafirmação da tese + proposta de intervenção.

Leia o texto como exemplo do esquema apresentado. Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver os graves problemas que preocupam a todos, pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico. Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis – estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos – encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África, vê-se com tristeza, a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações. Além disso, nestas últimas décadas, tem-se assistido, com certa preocupação, aos conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras do Vietnã e da Coreia, as quais provocaram grande extermínio. Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iugoslávia, em alguns membros da Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou. Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados e poluem as águas dos rios. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável. Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.

Exemplo: Tema: Problemáticas graves que ainda persistem no terceiro milênio nn Argumento

1: Existem populações imersas em completa miséria.

nn Argumento

2: A paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais.

nn Argumento 3: O meio ambiente encontra-se ameaçado

por sério desequilíbrio ecológico.

Se você seguir a orientação dada pelo esquema verá que não há como se perder na redação, nem fazer a introdução maior que o desenvolvimento, já que a introdução apresenta, de forma embrionária, o que será desenvolvido no corpo do texto. Lembre-se de que a conclusão sempre retoma a ideia apresentada na introdução, reafirmando-a, apresentando propostas, soluções para o caso apresentado. Com essa noção clara, de estrutura de texto, também é possível melhorar o seu desempenho nas provas de compreensão e interpretação de textos.

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D02  Partes fundamentais da dissertação - O parágrafo de introdução

Uma boa estrutura de um texto dissertativo deve englobar três partes importantes: introdução, desenvolvimento e conclusão.


Português

Exercícios de Fixação 01. (Uerj RJ)

02. (UECE)

D02  Partes fundamentais da dissertação - O parágrafo de introdução

Por que ler? Certas coisas não basta anunciar, como uma verdade que deve ser aceita por si só. Precisamos dizer o porquê. Se queremos fazer os brasileiros lerem mais de um livro por ano, essa trágica média nacional, precisamos de fato conquistar o seu interesse. Listo os três benefícios fundamentais que a leitura pode trazer. O primeiro: 1ler nos faz mais felizes. É um caminho para o autoconhecimento, e o exercício constante de autoconhecimento é um caminho para a felicidade. 2A vida, também no plano individual, é mais intensa na busca. Os personagens de um livro de ficção, os fatos de um livro-reportagem, as ideias de um livro científico, interagem com os nossos sentimentos, ora refletindo-os, ora agredindo-os, e, portanto, servindo de parâmetro para sabermos quem somos, seja por identidade ou oposição. O segundo benefício: ler nos torna amantes melhores. Treina nossa sensibilidade para o contato com o outro. Amores românticos, amores carnais, amores perigosos, amores casuais, amores culpados, todos estão nos livros. A sensibilidade do leitor encontra seu caminho. E quanto mais o nosso imaginário estiver arejado pelas infinitas opções que as histórias escritas nos oferecem, sejam elas factuais ou ficcionais, com mais delícia aproveitamos os bons momentos do amor, e com mais calma enfrentamos os maus. Por fim: ler nos torna cidadãos melhores. 3Os livros propiciam ao leitor um ponto de vista privilegiado, de onde observa conflitos de interesses. No processo, sua consciência é estimulada a se posicionar com equilíbrio. 4Tendem a ganhar forma, então, princípios de “honestidade”, “honra”, “justiça” e “generosidade”. Guiado por estes valores, o leitor pode enfim ultrapassar as fronteiras sociais, e ver a humanidade presente em todos os tipos, em todas as classes. Teríamos menos escândalos de corrupção, se lêssemos mais; 5construiríamos uma sociedade menos injusta, se educássemos melhor os nossos espíritos; eu acredito nisso. Rodrigo Lacerda Adaptado de rodrigolacerda.com.br.

Ler nos faz mais felizes. É um caminho para o autoconhecimento, e o exercício constante de autoconhecimento é um caminho para a felicidade.(ref. 1) Neste argumento, Rodrigo Lacerda formula uma premissa geral e uma premissa particular, para relacioná-las na conclusão. Essa estrutura caracteriza o argumento como: A argumentação de Rodrigo Lacerda, no texto, é aprea) indutivo sentada sob a forma de silogismo: são expostas duas b) dialético proposições (premissas) e, por elas, por inferência, chega-se a uma terceira, chamada conclusão. Parte-se c) dedutivo do geral para o particular e deduz-se algo a respeito. d) comparativo No trecho, “ler nos faz mais felizes” é a premissa geral; “ler é um caminho para o autoconhecimento”, a premissa particular e; “o autoconhecimento é um caminho para a felicidade”, a conclusão.

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O texto a seguir é um excerto retirado do primeiro parágrafo do artigo de opinião “Com um braço só”, escrito por J. R. Guzzo, que trata da corrupção na política. Um dos aspectos menos atraentes da personalidade humana é a tendência de muitas pessoas de só condenar os vícios que não praticam, ou pelos quais não se sentem atraídas. Um caloteiro que não fuma, não bebe e não joga, por exemplo, é frequentemente a voz que mais grita contra o cigarro, a bebida e os cassinos, mas fecha a boca, os ouvidos e os olhos, como 6os três prudentes macaquinhos orientais, quando o assunto é honestidade no pagamento de dívidas pessoais. É a velha história: 2o mal está 4sempre na alma dos outros. Pode até ser verdade, 5infelizmente, quando se trata da política brasileira, em que continua valendo, mais do que nunca, a máxima popular do 3“pega um, pega geral”. 1

Extraído do artigo ”Com um braço só”, de J.R. Guzzo. VEJA. 21/08/2013.

Atente-se para as seguintes afirmações sobre alguns dos elementos do texto. I. Os gramáticos modernos distinguem os advérbios frásicos (aqueles advérbios que modificam um elemento da frase, como em Ele correu muito.) dos advérbios extrafrásicos (aqueles que são exteriores à frase, estão no âmbito da enunciação, como em Ele, naturalmente, passou de primeira, não foi?). Esse segundo grupo congrega os advérbios avaliativos, isto é, que indicam uma avaliação do enunciador acerca do conteúdo enunciado. No texto em estudo, temos um advérbio frásico (ref. 4): “sempre”; e um advérbio extrafrásico (ref. 5): “infelizmente”. II. Na expressão “os três prudentes macaquinhos orientais” (ref. 6), o artigo definido “os” confere a “três macaquinhos orientais” o status de informação conhecida. III. O texto, embora constitua apenas um excerto do parágrafo original, apresenta a estrutura paragráfica canônica: tópico frasal ou introdução, desenvolvimento e conclusão. Está correto o que se diz em a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) I, II e III. d) II apenas. 03. (Cefet RJ) Turismo na favela: E os moradores? Água morro abaixo, fogo morro acima e invasão de turistas em favelas pacificadas são difíceis de conter. Algo precisa ser feito para que a positividade do momento não transforme esses lugares em comunidades “só pra inglês ver”. As favelas pacifi-


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Gabarito questão 04 Ao contrário do que se afirmar no item 3, Calvin não questiona a eficiência da professora, apenas se revolta contra uma postura enérgica em retê-lo dentro da sala de aula, mesmo contra sua vontade. Assim, é correta a opção [D].

Itamar Silva é Presidente do Grupo Eco — Santa Marta e diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Adaptado de: Jornal O Dia, 31/01/2013.

O texto é predominantemente argumentativo. Isso significa que seu enunciador sustenta uma tese, ou seja, um ponto de vista específico a respeito do tema desenvolvido. A alternativa que melhor sintetiza a tese central desse texto é: a) a pacificação de algumas favelas incrementou o turismo nessas regiões. b) o turismo na favela deve ser praticado de maneira favorável aos moradores. c) as Unidades de Polícia Pacificadora não trazem ganhos reais para as comunidades. d) a preservação da identidade local é imprescindível para o turismo nas favelas.

04. (UFPR)

Sobre a argumentação de Calvin, considere as seguintes afirmativas: 1. Ao se dirigir à professora, Calvin faz uma simulação do discurso jurídico, tanto no vocabulário quanto na organização dos argumentos. 2. A argumentação de Calvin está fundada na premissa de que a ignorância é uma condição necessária para a felicidade. 3. Calvin questiona a eficiência da professora quando diz que sua aula é uma tentativa deliberada de privá-lo da felicidade. 4. Ao gritar “Ditadura!” no último quadrinho, Calvin protesta contra o desrespeito à Constituição, que lhe garante o direito inalienável à felicidade. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 05. (Uerj RJ) Ciência e Hollywood Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho algum no espaço. Não me lembro de um só filme que tenha retratado isso direito. 6Pode ser que existam alguns, mas se existirem não fizeram muito sucesso. 10Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos fantásticos. Para existir ruído é necessário um meio material que transporte as perturbações que chamamos de ondas sonoras. Na ausência de atmosfera, ou água, ou outro meio, as perturbações não têm onde se propagar. 7Para um produtor de cinema, a questão não passa pela ciência. Pelo menos não como prioridade. Seu interesse é tornar o filme emocionante, e explosões têm justamente este papel; roubar o som de uma grande espaçonave explodindo torna a cena bem sem graça. 11 Recentemente, o debate sobre as liberdades científicas tomadas pelo cinema tem aquecido. O sucesso do filme O dia depois de amanhã (The day after tomorrow), faturando mais de meio bilhão de dólares, e seu cenário de uma idade do gelo ocorrendo em uma semana, em vez de décadas ou, melhor ainda, centenas de anos, 9levantaram as sobrancelhas de cientistas mais rígidos que veem as distorções com desdém e esbugalharam os olhos dos espectadores (a maioria) que pouco ligam se a ciência está certa ou errada. Afinal, cinema é diversão. 5

Gabarito questão 03 Itamar Silva analisa o contexto atual do turismo mercadológico nas comunidades do Rio de Janeiro e adverte para a descaracterização a que elas estão sujeitas pela necessidade de se adequarem às necessidades de turistas, pesquisadores, empresários e comerciantes que acedem a esses locais: “Se os moradores não se organizarem e se não assumirem o protagonismo das ações de turismo e de entretenimento no Santa Marta, vamos assistir aos nativos – os de dentro – servindo de testa de ferro para empreendimentos e iniciativas dos de fora, às custas de uma identidade local que aos poucos vai perdendo suas características”. Assim, é correta a alternativa [B], que sintetiza a tese do autor.

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cadas tornaram-se alvo de uma volúpia consumidora poucas vezes vista no Rio de Janeiro. O momento em que se instalaram as Unidades de Polícia Pacificadora em algumas favelas foi como se tivesse sido descoberto um novo sarcófago de Tutankamon, o faraó egípcio: uma legião de turistas, pesquisadores, empresários, comerciantes “descobriram” as favelas. O Santa Marta, primeira favela a ter uma UPP ao longo dos seus quase 80 anos, sempre recebeu, na maioria das vezes de forma discreta, visitantes estrangeiros. E, em alguns casos, ilustres: Rainha Elizabeth, Senador Kennedy, Gilberto Gil. Até mesmo Michael Jackson, quando gravou seu clipe na favela, não permitiu a presença da mídia. A partir de 2008, iniciou-se a era das celebridades e a exposição da favela para o mundo. Algumas perguntas, porém, precisam ser feitas e respondidas no momento em que o poder público pensa em investir nesse filão: o que é uma favela preparada para receber turistas? Que 1“maquiagem” precisa ser feita para que o turista se sinta bem? Que produtos os turistas querem encontrar ali? O comércio local deve adaptar-se aos turistas ou servir aos moradores? Se o Morro não é uma propriedade particular, se não tem um dono, todo e cada morador tem o direito de opinar sobre o que está se passando com o seu lugar de moradia. Essas e outras questões devem pautar o debate entre moradores e gestores públicos sobre o turismo nas favelas pacificadas. Se os moradores não se organizarem e se não assumirem o protagonismo das ações de turismo e de entretenimento no Santa Marta, vamos assistir aos nativos — os de dentro — servindo de testa de ferro para empreendimentos e iniciativas dos de fora, às custas de uma identidade local que aos poucos vai perdendo suas características. Tomar os princípios do turismo comunitário — integridade das identidades locais, protagonismo e autonomia dos moradores — talvez ajude-nos a encontrar estratégias para receber os de fora sem sucumbir às regras violentas de um turismo mercadológico.


Português Gabarito questão 05 Marcelo Gleiser afirma, em primeiro lugar, que não existem filmes que retratem as explosões no espaço de forma verossímil, pois há sempre ruídos a acompanhar os efeitos visuais. Posteriormente, admite que possa ter havido até alguns, justificando que não lhe ficaram na memória por não terem obtido grande sucesso.

Até recentemente, defendia a posição mais rígida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis à ciência que retratam. Claro, isso sempre é bom. Mas não acredito mais que seja absolutamente necessário. 1Existe uma diferença crucial entre um filme comercial e um documentário científico. 12Óbvio, 2documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população, mas filmes não têm necessariamente um compromisso pedagógico. 13As pessoas não vão ao cinema para serem educadas, ao menos como via de regra. Claro, 3filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme valor cultural. Outros educam as emoções através da ficção. 14Mas, se existirem exageros, eles não deverão ser criticados como tal. Fantasmas não existem, mas filmes de terror sim. Pode-se argumentar que, no caso de filmes que versam sobre temas científicos, 4as pessoas vão ao cinema esperando uma ciência crível. Isso pode ser verdade, mas elas não deveriam basear suas conclusões no que diz o filme. No mínimo, o cinema pode servir como mecanismo de alerta para questões científicas importantes: o aquecimento global, a inteligência artificial, a engenharia genética, as guerras nucleares, os riscos espaciais como cometas ou asteroides etc. 8Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da letra. 16A arte distorce para persuadir. E o cinema moderno, com efeitos especiais absolutamente espetaculares, distorce com enorme facilidade e poder de persuasão. 15

O que os cientistas podem fazer, e isso está virando moda nas universidades norte-americanas, é usar filmes nas salas de aula para educar seus alunos sobre o que é cientificamente correto e o que é absurdo. Ou seja, usar o cinema como ferramenta pedagógica. 17Os alunos certamente prestarão muita atenção, muito mais do que em uma aula convencional. Com isso, será possível educar a população para que, no futuro, um número cada vez maior de pessoas possa discernir o real do imaginário. MARCELO GLEISER Adaptado de www1.folha.uol.com.br.

Na construção argumentativa, uma estratégia comum é aquela em que se reconhecem dados ou fatos contrários ao ponto de vista defendido, para, em seguida, negá-los ou reduzir sua importância. O fragmento do texto que exemplifica essa estratégia é: a) Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho algum no espaço. (ref. 5) b) Pode ser que existam alguns, mas se existirem não fizeram muito sucesso. (ref. 6) c) Para um produtor de cinema, a questão não passa pela ciência. (ref. 7) d) Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da letra. (ref. 8)

Exercícios Complementares 01. (Puc PR)

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Tragédia anunciada Uma semana depois de celebrar o Dia Mundial da Água, o Brasil perpetrou um marco na história ambiental. Uma mancha tóxica resultante do processo químico de branqueamento do papel se alastrou por quase 100 quilômetros de rios, deixando mais de 600 mil pessoas sem água e um cenário desolador. Foi um dos mais graves desastres ecológicos do País.(...) (Isto É, 09/04/03)

Indique a sequência mais coerente para dar continuidade ao parágrafo iniciado: a) O acidente começou na madrugada do sábado 29, quando 1,2 bilhão de litros de resíduos tóxicos vazaram do reservatório da fábrica Cataguazes Indústria de Papel, no município mineiro de Cataguases. b) O impacto da espuma tóxica diminui à medida que segue para São João da Barra, em direção ao mar. c) De manhã, muitos moradores das cidades do norte e noroeste do Rio de Janeiro munem-se de baldes e garrafões e se postam na fila dos caminhões-pipa de Defesa Civil para encher seus recipientes.

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d) A empresa é reincidente em crime ambiental e já havia sido autuada por causar poluição e funcionar sem licença. e) Nenhuma dessas sequências é coerente. Texto comum às questões: 02 e 03 Pelo ralo Os pratos estão empilhados de um dos lados da pia numa torre irregular, equilibrando-se uns sobre os outros, como os destroços de um prédio bombardeado ameaçando cair. Estão sujos. Muito sujos. Foram deixados ali já faz algum tempo, e os pedaços de detritos sobre eles se cristalizaram, tomando formas absurdas, surreais. Há grãos e lascas, restos de folhas amontoados. Copos e tigelas, também empilhados num desenho caótico, exibem a superfície maculada, cheia de nódoas, e o metal das panelas, chamuscado e sujo, lembra a fuselagem de um avião incendiado. Mas há mais do que isso. Há talheres por toda parte, lâminas, cabos, extremidades pontiagudas que surgem por entre os pratos, em sugestões inquietantes. E há ainda a cratera da pia, onde outros tantos pratos e travessas, igualmente sujos, estão quase submersos numa água escura, como se, num campo de batalha, a chuva tivesse caído sobre as cinzas. O cenário é desolador.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

(Heloísa Seixas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2001).

02. (UFPE) Na construção do texto o autor lançou mão de diferentes procedimentos com funções textuais específicas, como se descreve a seguir. V-V-F-V-F 00. No segmento: “A mulher se aproxima, os olhos fixos na pia.”, (início do 2º. parágrafo), o autor introduz no cenário do texto um novo figurante. 01. No segmento: “O cenário é desolador.”, o autor recorreu a um procedimento de síntese de um parágrafo inteiro. 02. No trecho: “Esfrega com vigor, começando pelas travessas que estavam imersas, pegando em seguida os copos e, por fim, os pratos.”, os fatos são situados numa clara relação temporal de simultaneidade. 03. No segmento: “De repente, a mulher sorri.” (Início do último parágrafo), fica evidente o propósito do autor de eleger um novo foco de atenção. 04. No trecho: “É bom assistir a essa passagem, à transformação do sujo em limpo”, ouviu dizer um dia um poeta.”, pode-se reconhecer uma voz apenas: a do poeta. 03. (UFPE) Analisemos a construção do segmento com que o autor inicia o texto: “Os pratos estão empilhados de um dos lados da pia numa torre irregular, equilibrando-se uns sobre os outros, como os destroços de um prédio bombardeado ameaçando cair. Estão sujos. Muito sujos. Foram deixados ali já faz algum tempo, e os pedaços de detritos sobre eles se cristalizaram, tomando formas absurdas, surreais.” Pela análise, podemos fazer as seguintes constatações: V-F-V-V-F

00. o tópico do fragmento em questão é “pratos”; basta ver que esse termo constitui o sujeito de alguns dos verbos que aparecem no segmento. 01. os quatro termos sublinhados constituem retomadas da referência feita anteriormente ao objeto ‘pratos’. 02. o sentido pretendido no primeiro período assenta sobre uma relação de comparação: o conectivo ‘como’ sinaliza essa relação. 03. a segmentação da informação e a repetição lexical, em “Estão sujos. Muito sujos.”, provocam um efeito estilístico de ênfase ou reforço. 04. predomina nesse trecho um sentido literal, sem recursos figurativos que sugiram algum tipo de associação metafórica. 04. (Fuvest SP) Há muitas, quase infinitas maneiras de ouvir música. Entretanto, as três mais frequentes distinguem-se pela tendência que em cada uma delas se torna dominante: ouvir com o corpo, ouvir emotivamente, ouvir intelectualmente. Ouvir com o corpo é empregar no ato da escuta não apenas os ouvidos, mas a pele toda, que também vibra ao contato com o dado sonoro: é sentir em estado bruto. É bastante frequente, nesse estágio da escuta, que haja um impulso em direção ao ato de dançar. Ouvir emotivamente, no fundo, não deixa de ser ouvir mais a si mesmo que propriamente a música. É usar da música a fim de que ela desperte ou reforce algo já latente em nós mesmos. Sai-se da sensação bruta e entra-se no campo dos sentimentos. Ouvir intelectualmente é dar-se conta de que a música tem, como base, estrutura e forma. Referir-se à música a partir dessa perspectiva seria atentar para a materialidade de seu discurso: o que ele comporta, como seus elementos se estruturam, qual a forma alcançada nesse processo. Adaptado de J. Jota de Moraes, O que é música.

Nesse texto, o primeiro parágrafo e o conjunto dos demais articulam-se de modo a constituir, respectivamente, a) uma proposição e seu esclarecimento. b) um tema e suas variações. c) uma premissa e suas contradições. d) uma declaração e sua atenuação. e) um paradoxo e sua superação. Texto comum à questão 05 01 Vou divulgar uma anedota, mas 02uma anedota no genuíno sentido do vocábulo, 03que o vulgo ampliou às historietas 04 de pura invenção. Esta é verdadeira; 05podia citar algumas pessoas que a sabem 06tão bem como eu. Nem ela andou recôndita, 07senão por falta de um espírito 08repousado, que lhe achasse a filosofia. 09(...) Pela minha parte creio ter decifrado 10este caso de empréstimo; ides ver se me 11engano.

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A mulher se aproxima, os olhos fixos na pia. Suas mãos movem-se em torno da cintura e caminham até as costas, levando as tiras do avental. E a mulher abre a torneira. Encostada à pia, espera, tocando a água de vez em quando com a ponta dos dedos. (...) A mulher começa a lavar. Esfrega com vigor, começando pelas travessas que estavam imersas, pegando em seguida os copos e, por fim, os pratos. Vai acumulando-os, de um dos lados da pia, num trabalho longo, árduo. E só depois se põe a enxaguá-los, deixando que a água escoe, levando consigo o que resta dos detritos. De repente, a mulher sorri. As pessoas não acreditam, mas ela gosta de lavar louça. Sempre gostou. A sensação de água nas mãos, seu jato carregando as impurezas, são para ela um bálsamo. “É bom assistir a essa passagem, à transformação do sujo em limpo”, ouviu dizer um dia um poeta. Ficara feliz ao ouvir aquilo. Só então se dera conta do quanto havia de beleza e poesia nesses gestos tão simples. Mas agora a mulher suspira. Queria poder também lavar os erros do mundo, desfazer seus escombros, apagar-lhe as nódoas, envolver em sabão todos os ódios e horrores, as misérias e mentiras. Porque, afinal, do jeito que as coisas andam, é o próprio mundo que vai acabar – ele inteiro – descendo pelo ralo.


Português

E, para começar, emendemos Sêneca. 13Cada dia, ao parecer daquele moralista, 14é, em si mesmo, uma vida singular; 15 por outros termos, uma vida dentro 16da vida. Não digo que não; mas por que 17não acrescentou ele que muitas vezes 18uma só hora é a representação de uma 19vida inteira? 12

“O empréstimo” – Machado de Assis

Obs.: recôndita – ignorada, escondida; Sêneca – filósofo latino; escreveu acerca de tendências morais. 05. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa correta. a) (refs. 01, 02 e 03) Em mas uma anedota no genuíno sentido do vocábulo, a conjunção destacada equivale a “ainda que”. b) (refs. 05 e 06) A frase podia citar algumas pessoas que a sabem tão bem como eu constitui argumento do narrador para reforçar a veracidade da anedota que vai divulgar. c) (refs. 05 e 06) Na frase podia citar algumas pessoas que a sabem tão bem como eu, a locução destacada expressa uma ação habitual no passado. d) (ref. 09) A expressão Pela minha parte pode ser substituída, sem prejuízo do sentido original e da correção gramatical, por “Quanto à mim”. e) (linhas 10 e 11) A frase se me engano exprime condição.

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06. (Fuvest SP) TEXTO Artistas, costureira, soldadores e desenhistas manejam ferro, madeira, isopor e tecido. No galpão do boi Garantido, o do coração vermelho, todos se 1esmeram (nunca usam o verbo caprichar) para preparar um espetáculo que supere o do rival. No ano passado, foi o Caprichoso, o da estrela azul, o ganhador da disputa de bois-bumbá do famoso Festival de Paratins, que todo final de junho atrai cerca de cem mil pessoas para a doce ilha situada na margem direita do rio Amazonas. No curral da torcida caprichosa, “alegoristas”, passistas e percussionistas preferem não dizer que uma nova vitória está garantida. Dizem, sim, com todas as letras que está 2assegurada. Fernanda Pompeu. Caprichada e garantida.

As marcas linguísticas e o modo de organização do discurso que caracterizam o texto são, respectivamente, a) verbos no presente e no passado; descritivo-narrativo. b) substantivos e adjetivos; descritivo-dissertativo. c) substantivos; narrativo-dissertativo. d) frases nominais; apenas narrativo. e) adjetivos substantivados; apenas descritivo. 07. (ITA SP) O leão A menina conduz-me diante do leão, esquecido por um circo de passagem. Não está preso, velho e doente, em gradil

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de ferro. Fui solto no gramado e a tela fina de arame é escarmento ao rei dos animais. Não mais que um caco de leão: as pernas reumáticas, a juba emaranhada e sem brilho. Os olhos globulosos fecham-se cansados, sobre o focinho contei nove ou dez moscas, que ele não tinha ânimo de espantar. Das grandes narinas escorriam gotas e pensei, por um momento, que fossem lágrimas. Observei em volta: somos todos adultos, sem contar a menina. Apenas para nós o leão conserva o seu antigo prestígio- as crianças estão em redor dos macaquinhos. Um dos presentes explica que o leão tem as pernas entrevadas, a vida inteira na minúscula jaula. Derreado, não pode sustentar-se em pé. Chega-se um piá e, desafiando com olhar selvagem o leão, atira-lhe um punhado de cascas de amendoim. O rei sopra pelas narinas, ainda é um leão: faz estremecer as gramas a seus pés. Um de nós protesta que deviam servir-lhe a carne em pedacinhos. - Ele não tem dente? - Tem sim, não vê? Não tem é força para morder. Continua o moleque a jogar amendoim na cara devastada do leão. Ele nos olha e um brilho de compreensão nos faz baixar a cabeça: é conhecido o travo amargoso da derrota. Está velho, artrítico, não se aguenta das pernas, mas é um leão. De repente, sacudindo a juba, põe-se a mastigar capim. Ora, leão come verde! Lança-lhe o guri uma pedra: acertou no olho lacrimoso e doeu. O leão abriu a bocarra de dentes amarelos, não era um bocejo. Entre caretas de dor, elevou-se aos poucos nas pernas tortas. Sem sair do lugar, ficou de pé. Escancarou penosamente os beiços moles e negros, ouviu-se a rouca buzina do fordeco antigo. Por um instante o rugido manteve suspensos os macaquinhos e fez bater mais depressa o coração da menina. O leão soltou seis ou sete urros. Exausto, deixou-se cair de lado e fechou os olhos para sempre. I. Embora não seja um texto predominantemente descritivo, ocorre descrição, visto que o autor representa a personagem principal através de aspectos que a individualizam. II. Por ressaltar unicamente as condições físicas da personagem, predomina a descrição objetiva no texto, com linguagem denotativa. III. Por ser um texto predominantemente narrativo, as demais formas - descrição e dissertação - inexistem. Inferimos que, de acordo com o texto, pode(m) estar correta(s): a) Todas b) Apenas a I c) Apenas a II d) Apenas a III e) Nenhuma das afirmações.


FRENTE

D

PORTUGUÊS

MÓDULO D03

DISSERTAÇÃO: DESENVOLVIMENTO O Desenvolvimento, a segunda parte de uma redação, também chamada de argumentação, representa o corpo do texto. Aqui serão desenvolvidas as ideias propostas na introdução. É o desdobramento da tese. É o momento em que se defende o ponto de vista acerca do tema proposto. Pode estar dividido em dois ou três parágrafos e corresponde a vinte linhas, aproximadamente.

ASSUNTOS ABORDADOS nn Dissertação: desenvolvimento nn Estratégias de desenvolvimento de um argumento nn Observações finais

É necessário que as ideias estejam claras e exemplificadas, que seja um parágrafo mais persuasivo e munido de recursos que comprovem as ideias nucleares de cada parágrafo. Isso vai depender do conhecimento prévio do autor. Relacionar parágrafos do desenvolvimento e cada um deles ao parágrafo de introdução garante a organização e a coerência da argumentação.

Estratégias de desenvolvimento de um argumento Alguns procedimentos utilizados para a introdução podem também ser aproveitados no desenvolvimento, como a comparação, a refutação de ideias, o uso de dados estatísticos, dentre outros. 1. O levantamento de uma hipótese É marcado gramaticalmente pelo uso de conjunções condicionais e verbos no subjuntivo e no futuro do pretérito do indicativo. “Se o Brasil continuar trilhando seu caminho de prosperidade na economia, pode de fato ser a quinta economia do mundo até o fim desse. Isso traria à sociedade brasileira como um todo mais oportunidades de melhoria de vida.” 2. A refutação de ideias, juízos, citações, provérbios etc. Nesse caso, o redator cita o discurso do outro para, logo em seguida, contra-argumentar, sustentando sua opinião por meio de uma prova (dados estatísticos) ou de evidências. Exemplo: “O argumento privativista parte do princípio de que a universidade pública no Brasil é demasiado cara e serve aos ricos. Levantamentos socioeconômicos recentes mostram, no entanto, que há cada vez mais um predomínio e um avanço progressivo dos alunos com renda familiar inferior a dez salários mínimos.” (FILHO, José Martins. Reitor da Unicamp. IN: Seção Polêmica. REVISTA ISTO É.)

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Figura 01 - Estudante começando a escrever sua redação

645


Português

3. A comparação ou a analogia: Analogia é uma relação de semelhança estabelecida entre duas coisas ou fatos distintos. Por exemplo, pode-se fazer analogia entre as asas de insetos e as de aves. “Funciona igualmente com camundongos e com humanos: o cérebro que recebe maus tratos na infância sofre várias mudanças, incluindo alterações em seu sistema de recompensa, que antecipa bons resultados; na amígdala, que sinaliza maus resultados; e no hipocampo, que forma memórias novas e cuida de nossa lista mental de ‘problemas a resolver’ “. (Disponível em www.veja.com.br, acesso em 17 out. 2010.)

4. A perspectiva histórica Consiste em traçar uma trajetória ou paralelos entre passado, presente e futuro, relembrando acontecimentos históricos importantes. “Na antiga cidade grega de Esparta, os castigos corporais eram um recurso na educação de meninos e moços. Seus governantes acreditavam que a dor física e moral causada por espancamentos e chibatadas fazia aumentar a força e enobrecia o caráter dos futuros guerreiros encarregados de proteger e ampliar a glória dos espartanos. Uma vez por ano os meninos eram chicoteados em frente ao altar dedicado à deusa Ártemis, protetora da caça e da cidade, num ritual que visava a premiar os mais resistentes. A poderosa Esparta desapareceu sob o domínio romano séculos antes do nascimento de Cristo, mas os castigos físicos de cunho pedagógico, dos quais os espartanos foram os maiores entusiastas, sobreviveram. A partir da segunda metade do século XX, eles entraram na mira de alguns psicólogos, que passaram a ver até mesmo numa palmadinha um abuso e uma humilhação inadmissíveis – capaz, inclusive, de causar traumas irreversíveis nas crianças. A palmada e seus correlatos voltaram à ordem do dia na semana passada, no Brasil, depois que o governo federal decidiu transformá-los em crime.” Disponível em www.veja.com.br, 03/08/2010

5. A introdução de questionamentos Esse procedimento deve ser usado com moderação, sem exageros. Deve ser um elemento motivador de reflexões acerca de um determinado tema. Por meio do emprego de frases interrogativas o autor levanta os questionamentos. D03  Partes fundamentais da dissertação - O parágrafo de desenvolvimento

“O estatuto que proíbe a punição corporal de crianças visa a que se deixe de considerar normal, necessário ou saudável ‘educar’ com violência. Como a sociedade que pune com prisão quem bate em velhinhos aceita que pais batam em suas crianças? O problema tem vários níveis, e só um deles (ainda que de grandes consequências para as gerações futuras) é o seguinte: violência, não importa em qual forma, gera violência, como a neurociência já constatou várias vezes.” Folha de São Paulo, 27 de julho de 2010.

6. A conceituação de um dado objeto ou assunto sob determinado ponto de vista: “Psicologia é o conjunto de conhecimentos que servem para nos conhecermos a nós mesmos e compreender os modos de ser (pensar, sentir e fazer) de nossos semelhantes, ou seja, é o estudo das funções mentais e das atividades pessoais. (...)” (MIRA Y LÓPEZ, Psicologia geral , p. 13)

7. A bilateralidade Consiste em enfocar um determinado tema sob dois pontos de vista contrários: é apresentar aspectos positivos e aspectos negativos, pontos favoráveis e pontos desfavoráveis do argumento. É trabalhar com os “prós e contras”, sem dar ênfase a apenas um deles. Ex.: “A demarcação das terras indígenas do ponto de vista do índio e do ponto de vista do “homem branco”. 646


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

8. A exemplificação: A exemplificação é a maneira mais fácil de se desenvolver a dissertação. Devem ser apresentados exemplos concretos, que sejam importantes para a sociedade, argumentando sobre personagens históricas, artísticas, políticas, sobre fatos históricos, culturais, sociais importantes. Esse recurso argumentativo é amplamente usado quando a tese defendida é muito teórica e precisa de esclarecimentos com mais dados concretos. “A televisão define um tipo de relação absolutamente singular: ao contrário do que acontece com as artes do movimento, que sempre reivindicaram a ação do corpo – como é o caso da dança –, a televisão é uma técnica do movimento, que age sobre um corpo em repouso.” 9. A citação, o que pode ocorrer ou não como argumento de autoridade: Consiste na utilização de ponto de vista de autoridades: trechos ou frases célebres de um pensador, cientistas, artistas, filósofos, psicólogos, uma autoridade no assunto abordado. A citação pode auxiliar e deixar consistente a tese. (...) A psicóloga Jonia Lacerda, do Instituto de Psiquiatria da USP, pondera que, no caso de criança muito pequena, lançar um olhar mais duro, segurá-la pelo braço ou mesmo dar um tapa leve no bumbum pode ser mais adequado e eficiente que discorrer durante horas sobre uma regra que ela infringiu. Diz Jonia: ‘A criança de até 5 anos ainda não tem plena capacidade intelectual para entender conceitos abstratos. Para ela, a linguagem corporal, muito mais direta e clara que a verbal, pode ser mais apropriada em algumas situações (...) . Texto adaptado da Revista Veja. São Paulo: Abril, ano 43, n. 29, 21 jul. 2010, p. 87-92.

10. O uso de dados de pesquisa: É a utilização de dados estatísticos, resultados de enquetes, despesas, lucros, índice de natalidade e mortalidade, aumento ou diminuição de casos de dengue, etc.

D03  Partes fundamentais da dissertação - O parágrafo de desenvolvimento

“Um estudo assinado pela pesquisadora de saúde comunitária Catherine Taylor, da Universidade Tulane (EUA), mostra que crianças que levam palmadas frequentes por volta dos três anos se tornam mais agressivas aos cinco. Foram ouvidas 2 500 mães e listados fatores de risco na maternidade. Quase metade delas (46%) afirmou que não havia batido em seus filhos nenhuma vez no mês anterior, e 28% o haviam feito uma ou duas vezes. Outras 27% bateram mais e eram as que reuniam mais fatores de risco, segundo o estudo. Em outra fase, as crianças que apanham mais manifestaram mais sinais de agressividade, como crueldade, bullying, brigar e fazer ameaças.” Folha de São Paulo, 29 de abril de 2010.

Observações finais O desenvolvimento expõe os argumentos que apoiam a sua afirmação inicial que que vão fundamentar a ideia principal da dissertação que pode vir especificada por meio da argumentação, de pormenores, da ilustração, da causa e da consequência, da enumeração, das definições, dos dados estatísticos, da ordenação cronológica, da interrogação e da citação. Para uma boa produção de texto, organize seu desenvolvimento da seguinte forma: 1) Apresentação da ideia-chave do parágrafo (pode ser uma ideia-chave, mas também pode ser um tópico do problema. O importante é que você foque uma única ideia-chave em cada parágrafo do desenvolvimento). 2) Apresentação do ponto de vista, com os argumentos contra ou a favor da ideia-chave (ou do tópico do problema) e apresentação das informações que tornarão seu ponto de vista consistente. 647


Português

Exercícios de Fixação 01. (Acafe SC) Numere os períodos de modo a constituírem um texto coeso e coerente e, depois, indique a sequência numérica correta. ( ) A partir de 1971, porém, Simonal foi condenado a um degredo artístico: não era mais convidado para programas de televisão, não conseguia mais gravar discos nem se apresentar ao vivo. ( ) Nos anos 60, só Roberto Carlos competia com ele em popularidade. ( ) Em pleno governo Médici, período de intensa polarização ideológica, o cantor ganhou a fama infausta de colaborador do Dops, a polícia política da ditadura. ( ) Outros músicos recusavam-se a dividir o palco com ele. ( ) Simonal popularizou bordões como “alegria, alegria” (que Caetano Veloso reaproveitou como título de música) e “vou deixar cair”. ( ) Wilson Simonal de Castro foi um dos maiores ídolos de massa que o Brasil já teve. ( ) Seus shows eram celebrações, com a participação entusiasmada dos espectadores – ele chegou a “reger” um público de 30 000 pessoas no Maracanãzinho, no Rio. Revista Veja. Edição 2113, de 20 de maio de 2009. Seção Cinema.

a) 5 - 2 - 7 - 6 - 3 - 1 - 4 b) 4 - 1 - 5 - 7 - 2 - 3 - 6

c) 6 - 7 - 3 - 4 - 1 - 5 - 2 d) 7 - 3 - 4 - 2 - 5 - 6 – 1 02. (Unifor CE) A questão abaixo apresenta cinco propostas diferentes para a redação de um período. Selecione a opção que corresponde ao período cuja redação atende aos critérios de correção, clareza e concisão. a) Tanto foi sua generosidade que causou-me pasmo. b) Fiquei pasmo face a generosidade dele. c) Ele foi tão generoso, que me deixou pasmado. d) Sua generosidade foi tamanha a me pasmar. e) Pasmei-me, de tanta foi sua generosidade. 03. (Unifev SP) A grande maioria dos médicos formandos não fica no interior. Não há incentivos. Assinale a alternativa em que as frases foram unidas em um só período com um correto elemento de coesão. a) A grande maioria dos médicos formandos não fica no interior, embora não haja incentivos. b) A grande maioria dos médicos formandos não fica no interior, mesmo que não haja incentivos. c) A grande maioria dos médicos formandos não fica no interior, pois não há incentivos. d) A grande maioria dos médicos formandos não fica no interior, porém não há incentivos.

Exercícios Complementares

D03  Partes fundamentais da dissertação - O parágrafo de desenvolvimento

Texto para as questões 01, 02, 03 e 04 Preconceito e Exclusão Os preconceitos linguísticos no discurso de quem vê nos estrangeirismos uma ameaça têm aspectos comuns a todo tipo de posição purista, mas têm também matizes próprios. Tomando a escrita como essência da linguagem, e tendo diante de si o português, língua de cultura que dispõe hoje de uma norma escrita desenvolvida ao longo de vários séculos, [o purista] quer acreditar que os empréstimos de hoje são mais volumosos ou mais poderosos do que em outros tempos, em que a língua teria sido mais pura. (...) Ao tomar-se a norma escrita, é fácil esquecer que quase tudo que hoje ali está foi inicialmente estrangeiro. Por outro lado, é fácil ver nos empréstimos novos, com escrita ainda não padronizada, algo que ainda não é nosso. Com um pouco menos de preconceito, é só esperar para que esses elementos se sedimentem na língua, caso permaneçam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza!

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Na visão alarmista de que os estrangeirismos representam um ataque à língua, está pressuposta a noção de que existiria uma língua pura, nossa, isenta de contaminação estrangeira. Não há. Pressuposta também está a crença de que os empréstimos poderiam manter intacto o seu caráter estrangeiro, de modo que somente quem conhecesse a língua original poderia compreendê-los. Conforme esse raciocínio, o estrangeirismo ameaça a unidade nacional porque emperra a compreensão de quem não conhece a língua estrangeira. (...) O raciocínio é o de que o cidadão que usa estrangeirismos- ao convidar para uma happy hour, por exemplo - estaria excluindo quem não entende inglês, sendo que aqueles que não tiveram a oportunidade de aprender inglês, como a vastíssima maioria da população brasileira, estariam assim excluídos do convite. Expandindo o processo, por analogia, para outras tantas situações de maior consequência, o uso de estrangeirismos seria um meio linguístico de exclusão social. A instituição financeira banco que oferece home banking estaria excluindo quem não sabe inglês, e a loja que oferece seus produtos numa sale com 25% off estaria fazendo o mesmo.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

O equívoco desse raciocínio linguisticamente preconceituoso

d) “não tiveram a oportunidade de aprender inglês, como a

não está em dizer que esse pode ser um processo de exclusão.

VASTÍSSIMA maioria da população brasileira,” - emprego

O equívoco está em não ver que usamos a linguagem, com ou

de superlativo.

sem estrangeirismos, o tempo todo, para demarcarmos quem é de dentro ou de fora do nosso círculo de interlocução, de dentro ou de fora dos grupos sociais aos quais queremos nos associar ou dos quais queremos nos diferenciar. (...) (GARCEZ, Pedro M. e ZILLES, Ana Maria S. In: FARACO, Carlos Alberto (org.). Estrangeirismos - guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2001.)

01. (Uerj RJ) Pode-se afirmar que o objetivo do texto é defender uma opinião, a partir do estabelecimento de uma polêmica com os que defendem outro ponto de vista. Essa polêmica constrói-se, nesse texto, pelo seguinte modo de organização interna: a) as duas posições são apresentadas por um único enunciador. b) os argumentos enunciados contrapõem os usos oral e escrito da língua. c) as opiniões de cada lado são referendadas por testemunhos autorizados.

04. (Uerj RJ) É só esperar para que esses elementos se sedimentem na língua, caso permaneçam, e que sejam padronizados na escrita, como a panqueca. Afinal, nem tudo termina em pizza! No contexto do segundo parágrafo, o trecho acima desempenha a função de: a) reafirmar a certeza já apresentada de que as questões da linguagem devem ser tratadas com a devida objetividade. b) exemplificar o comentário contido nas frases anteriores ao mesmo tempo em que ironiza a preocupação dos puristas. c) registrar estrangeirismos cuja grafia comprova que há necessidade de adaptação de novos termos às convenções do português. d) demonstrar o argumento central de que não podemos abrir mão dos estrangeirismos e frases feitas na comunicação corrente. 05. (Unicamp SP) Em ensaio publicado em 2002, Nicolau Sevcenko discorre sobre a repercussão da obra de Euclides da

d) os defensores de cada posição alternam-se na defesa de seu ponto de vista.

Cunha no pensamento político nacional. mento histórico da população brasileira. Sua maior aposta

conceituoso não está em dizer que esse pode ser um pro-

para o futuro do país era a educação em massa das cama-

cesso de exclusão.

das subalternas, qualificando as gentes para assumir em

O fragmento acima inicia, no último parágrafo, uma estraté-

suas próprias mãos seu destino e o do Brasil. Por isso se

gia que busca demonstrar uma falha no raciocínio criticado

viu em conflito direto com as autoridades republicanas, da

pelos autores.

mesma forma como outrora lutara contra os tiranetes da monarquia. Nunca haveria democracia digna desse nome

Essa falha pode ser definida como:

enquanto prevalecesse o ambiente mesquinho e corrupto

a) observação incompleta dos fatos

da “república dos medíocres”(...). Gente incapaz e indispos-

b) apresentação de falso testemunho

ta a romper com as mazelas deixadas pelo latifúndio, pela

c) construção inadequada de silogismo

escravidão e pela exploração predatória da terra e do povo.

d) ausência de exemplificação suficiente

(...) Euclides expôs a mistificação republicana de uma “or-

03. (Uerj RJ) Na construção do texto, os autores utilizam alguns recursos de linguagem para se distanciar da posição que eles combatem.

legado mais abominável do passado. Sua morte precoce foi um alívio para os césares. A história, porém, orgulhosa de quem a resgatou, não deixa que sua voz se cale.”

Um desses recursos está assinalado e caracterizado em: a) “os empréstimos de hoje são MAIS volumosos ou mais poderosos DO QUE em outros tempos,” - comparação. b) “Na visão ALARMISTA de que os estrangeirismos representam um ataque à língua,” - adjetivação. c) “ao convidar para uma happy hour, POR EXEMPLO - estaria excluindo quem não entende inglês,” - citação de exemplo.

dem” excludente e um “progresso” comprometido com o

(Nicolau Sevcenko, O outono dos césares e a primavera da história. Revista da USP, São Paulo, n. 54, p. 30-37, jun-ago 2002.)

a) No último período do texto, há uma ocorrência do conectivo “porém”. Que argumentos do texto são articulados por esse conectivo? b) Apresente o argumento que embasa a posição atribuída a Euclides da Cunha em relação ao lema da Bandeira Nacional

a) Os argumentos articulados pelo conectivo PORÉM são opiniões de Euclides da Cunha descritas no parágrafo anterior, ou seja, as considerações críticas acerca das “mazelas deixadas pelo latifúndios, pela escravidão e pela exploração predatória da terra e do povo”. b) O argumento apresentado é que no lema “Ordem e progresso” figurava uma ordem que excluía o povo e o progresso que não se comprometia com o futuro apenas com o que já estava determinado.

649

D03  Partes fundamentais da dissertação - O parágrafo de desenvolvimento

“Acima de tudo Euclides exaltava o papel crucial do agencia-

02. (Uerj RJ) O equívoco desse raciocínio linguisticamente pre-


FRENTE

D

PORTUGUÊS

MÓDULO D04

ASSUNTOS ABORDADOS nn Dissertação: Conclusão nn Dedução nn Síntese nn Intervenção nn Análise de uma dissertação do Enem

DISSERTAÇÃO: CONCLUSÃO A conclusão é o encerramento da dissertação, é a síntese do problema tratado no decorrer do texto, é o fechamento. Portanto, nunca apresente informações novas. Se ainda houver argumentos a serem discutidos, não inicie a conclusão. Procure terminar a redação com conclusões consistentes, e não com evasivas. Esse parágrafo deve concluir todo o texto, e não apenas o argumento do último parágrafo do desenvolvimento. A conclusão é a parte final do texto, um resumo forte e breve de tudo o que já foi dito, em apenas um parágrafo de aproximadamente cinco linhas, não mais que isso. Cabe também a essa parte responder à questão proposta inicialmente, expondo uma avaliação final do assunto. É importante se perguntar, desde o início da produção do texto, a que conclusão quero chegar ao final, com os argumentos que foram apresentados? Enfim, na conclusão, as ideias tratadas no texto propõem uma solução. O ponto de vista do escritor, apesar de ter aparecido nas outras partes, adquire maior destaque na conclusão. Deve-se evitar em uma dissertação nn Usar

ponto no título de uma redação, como também colocar no final do texto qualquer coisa escrita ou riscos ou imagens de qualquer natureza;

nn Repetir

muitas vezes as mesmas palavras. Isso empobrece o texto;

nn Abreviar nn O

uso de etc.;

nn As

palavras estrangeiras;

nn Usar nn A

palavras;

provérbios, chavões, ditos populares ou frases feitas;

primeira pessoa do singular;

nn Expressar

emoção nem mesmo em um adjetivo empregado no texto. Atenção à imparcialidade;

nn Não

analisar assuntos polêmicos sob apenas um dos lados da questão;

Dedução O candidato vai explorar nos parágrafos dedicados ao desenvolvimento da dissertação tudo aquilo que sabe sobre o tema, fazer as devidas relações e, no momento da conclusão, manifestar o que se pode deduzir dessas informações. A conclusão por dedução é uma decorrência de todo o raciocínio desenvolvido ao longo da redação. Essa forma de encerramento, em geral, utiliza conjunções conclusivas, como por exemplo: logo, portanto, pois (posposto ao verbo), então, assim, por isso, por conseguinte, de modo que, em vista disso, entre outras. No caso da conjunção “portanto”, vale lembrar que, nas conclusões de sentido amplo (aquelas que funcionam apenas como desfecho do texto), a sua utilização não é recomendada. Isso porque a relação entre o parágrafo final do texto com os anteriores é apenas de acréscimo, ou seja, não é uma decorrência de tudo o que foi escrito anteriormente. 650


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Síntese A síntese tem como objetivo defender uma tese ou ideia por meio da argumentação. Basicamente é o ato de abordar as principais ideias e pontos de conexão de um determinado raciocínio. Em outras palavras: consiste em sintetizar as ideias que foram abordadas ao longo da dissertação, confirmando a tese que normalmente aparece na introdução do texto. Essa forma de introdução é a mais adequada para garantir a coerência do texto.

Intervenção Essa técnica é obrigatória na redação do Enem. Trata-se de elaborar uma sugestão para solucionar o problema posto em debate na proposta de redação. O próprio Guia do MEC-INEP, informa que o aluno deve intervir e indicar os meios para realizar essa intervenção, buscando propostas concretas, claras, inovadoras, viáveis, específicas e consistentes com o desenvolvimento de suas ideias. Deve-se elaborar uma proposta de intervenção detalhada, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. Enfim, é importante que o aluno responda a pelo menos uma dessas perguntas em relação ao seu texto para que ele produza uma boa conclusão. – Que lição pode ser tirada disso? – Como resumir a solução para esse problema?

D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

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– O que merece ser destacado nesse raciocínio?

Figura 01 - Caneta tinteiro marcando o papel

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Português

Abaixo segue a proposta de redação Enem 2015.

PROPOSTA DE REDAÇÃO A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. TEXTO I Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1 353 para 4 465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país WALSELFISZ. J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização. Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.

TEXTO II

TEXTO III

BRASIL. Secretária de Políticas para as Mulheres. Balanço 2014. Central de Atendimento à Mulher. Disque 180, Brasília, 2015 Disponível em: www.spm.gov.br. Avesso em: 24 jun. 2015 (adaptado).

Disponível em: www.compromissoeatitude.org.br. Acesso em 24 jun. 2015 (adaptado).

TEXTO IV O IMPACTO EM NÚMEROS

D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados apenas nos juizados e varas especializados

Fontes: Conselhos Nacional de Justiça. Departamento Penitenciário Nacional e Secretaria de Políticas para as Mulheres Disponível em: www.istoe.com.br. Acesso em: 24 jun. 2015 (adaptado).

Leia abaixo a conclusão de duas redações que receberam nota 1000 no Enem 2015. Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na contemporaneidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Federal deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e 652


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

municipal do poder, principalmente nas áreas que mais necessitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses crimes. Dessa forma, com base no equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será gradativamente minimizado no país. Raphael de Souza ( fonte: www.g1.com)

Pode-se perceber, portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras dificultam a erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradicação seja possível, é necessário que as mídias deixem de utilizar sua capacidade de propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo feminino. Ademais, é preciso que o Poder Legislativo crie um projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja possível diminuir a reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser uma utopia para o Brasil. Amanda Carvalho Maia Castro (fonte: www.g1.com)

Análise de um dissertação Enem A seguir, analisamos uma redação nota mil (2014), do aluno João Pedro Maciel Schlaepfer. Título: O verdadeiro preço de um brinquedo Introdução É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes.

No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?

O aluno inicia a redação traçando o parâmetro da situação.. Ele está situando o leitor e dando ênfase   ao problema e cita exemplos sobre a situação da publicidade infantil attualmente.

Nesse segundo parágrafo, ele começa fazer a sua reflexão sem, no entanto, se posicionar a respeito  do problema. Observe que ele faz uma pergunta ela  deverá ser respondida no decorrer do texto. Ele pretende construir um texto reflexivo − explicativo  partindo da pergunta que está bem estruturada.

Desenvolvimento

O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão. Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.

No 1º. paragrafo de desenvolvimento, ele fala da importância da imprensa e seu poder de persuasão  e comprova com fatos históricos quando ele diz da queda do absolutismo e pessoas  que são capazes de se levar por números.

Nesse período, ele nos colocou dentro do problema  apresentado pela proposta da redação.

Aqui ele começa a responder à pergunta que  fez lá no parágrafo de introdução.

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D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.


Português

Conclusão Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.

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Aqui o estudante parte para a conclusão e a fez muito  bem. Ele poderia dizer da necessidade de se criar uma  lei, porém ele mostra que está muito bem informado,   pois a lei já existe, cujo órgão legislador é o CONAE. Ele conclui apresentando a proposta de intervenção :  a necessidade de uma ampliação da atual legislação.

Figura 02 - Garota desenvolvendo sua produção textual

Exercícios de Fixação 01. (Fuvest SP) Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e 1tragava dois dedos de parati 2“pra cortar a friagem”. Uma 3transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia

D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

a dia, hora a hora, 4reviscerando-lhe o corpo e 5alando-lhe os sentidos, num 6trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil 7patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; 8 tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, 9resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...) E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, 10 posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções ,poéticas dos sertanejos, quando can-

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tam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de um marujo, que se habituaram aos largos horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte 11dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos. Aluísio Azevedo, O cortiço.

Destes comentários sobre os trechos sublinhados, o único que está correto é: a) “tragava dois dedos de parati” (ref.1): expressão típica da variedade linguística predominante no discurso do narrador. b) “pra cortar a friagem” (ref.2): essa expressão está entre aspas, no texto, para indicar que se trata do uso do discurso indireto livre. c) “patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos” (ref.1): assume o sentido de “registravam oficialmente”. d) “posto que em detrimento das suas forças físicas” (ref.10): equivale, quanto ao sentido, a “desde que em favor”. e) “tornava-se (...) imprevidente” (ref.8) e “resignando-se (...) às imposições do sol” (ref.9): trata-se do mesmo prefixo, apresentando, portanto, idêntico sentido.

Gabarito questão 01 Apenas é correto o que se afirmar em [B], pois o uso de aspas na expressão pra cortar a friagem indica a presença do discurso indireto livre. As demais opções são incorretas, pois a expressão “tragava dois dedos” é típica da linguagem informal, distinta, portanto da linguagem padrão que usa o narrador, o verbo “patentear” adquire, no contexto, o significado de “evidenciar”, a locução conjuntiva “posto que” tem valor concessivo podendo ser substituída por “embora” e o prefixo “-im” apresenta valores distintos nos vocábulos “imprevidente” (negação) e “imposições” (sobre).


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Gabarito questão 02 a) A polissemia do verbo acompanhar instaura o humor da anedota, pois o ambulante que tocava sanfona depreende que a ordem “Então me acompanhe” se refere à execução de um tema musical que deveria acompanhar o canto do policial e não ao sentido mais provável: ir junto. b) O fiscal do “rapa” perguntou ao músico se ele tinha licença ao que ele respondeu que não. O policial, então, ordenou-lhe que o acompanhasse. O ambulante respondeu afirmativamente e perguntou-lhe que música iria cantar.

02. (Fuvest SP) Leia o seguinte texto:

Um músico ambulante toca sua sanfoninha no viaduto do Chá, em São Paulo. Chega o “rapa”* e o interrompe: — Você tem licença? — Não, senhor. — Então me acompanhe. — Sim, senhor. E que música o senhor vai cantar? *rapa: carro de prefeitura municipal que conduz fiscais e policiais para apreender mercadorias de vendedores ambulantes não licenciados. Por extensão, o fiscal ou o policial do rapa.

a) Para o efeito de humor dessa anedota, contribui, de maneira decisiva, um dos verbos do texto. De que verbo se trata? Justifique sua resposta. b) Reescreva o diálogo que compõe o texto, usando o discurso indireto. Comece com: O fiscal do “rapa” perguntou ao músico...

03. (Fuvest SP) Leia o trecho a seguir, extraído de um conto, e responda ao que se pede. “eu estava ali deitado olhando através da vidraça as roseiras no jardim fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto e de repente cessava e tudo ficava tão quieto tão triste e de repente recomeçava e as roseiras frágeis e assustadas irrompiam na vidraça e eu estava ali o tempo todo olhando estava em minha cama com minha blusa de lã as mãos enfiadas nos bolsos os braços colados ao corpo as pernas juntas estava de sapatos Mamãe não gostava que eu deitasse de sapatos deixe de preguiça menino! mas dessa vez eu estava deitado de sapatos e ela viu e não falou nada ela sentou-se na beirada da cama e pousou a mão em meu joelho e falou você não quer mesmo almoçar?” a)

a) A ausência de pontuação e a repetição vocabular. b) Há discurso direto em: Luiz Vilela. “Eu estava ali deitado”. “deixe de preguiça O texto procura representar um “fluxo de consciência”, menino” ou seja, a livre-associação de ideias do narrador-perso- e “você não quer nagem. Aponte dois recursos expressivos, presentes no mesmo almoçar?”. texto, que foram empregados com essa finalidade.

b) Cite, do texto, um exemplo de emprego do discurso direto.

01. (Fuvest SP) Artistas, costureiras, soldadores e desenhistas manejam ferro, madeira, isopor e tecido. No galpão do boi Garantido, o do coração vermelho, todos se 1esmeram (nunca usam o verbo caprichar) para preparar um espetáculo que supere o do rival. No ano passado, foi o Caprichoso, o da estrela azul, o ganhador da disputa de bois-bumbá do famoso Festival de Parintins, que todo final de junho atrai cerca de cem mil pessoas para a doce ilha situada na margem direita do rio Amazonas. No curral da torcida caprichosa, “alegoristas”, passistas e percussionistas preferem não dizer que uma nova vitória está garantida. Dizem, sim, com todas as letras, que está 2assegurada. Fernanda Pompeu. Caprichada e garantida.

As marcas linguísticas e o modo de organização do discurso que caracterizam o texto são, respectivamente, a) verbos no presente e no passado; descritivo-narrativo. b) substantivos e adjetivos; descritivo-dissertativo. c) substantivos; narrativo-dissertativo. d) frases nominais; apenas narrativo. e) adjetivos substantivados; apenas descritivo. 02. Musa paradisíaca Hoje, na quitanda, vi duas donas de casa pondo as mãos na cabeça: “Trinta e seis 1cruzeiros por uma dúzia de bananas! É o fim do mundo, onde já se viu uma coisa dessas!”

E a conversa continuava nesse tom. Mas eu fui e paguei prazerosamente o preço de um cacho dourado. Tudo está pela hora da morte, concordo. Mas banana não! Acho que nunca a banana será cara demais para mim, e eu conto por quê. Para mim, a banana é bem mais que aquela fruta amarela, perfumada, de polpa alva, macia e saborosa, que se apresenta numa abundância nababesca em cachos e pencas. O aspecto, o sabor, o perfume da banana estão indissoluvelmente associados com minha infância longínqua na terra nórdica de onde eu vim, nas praias do Mar Báltico. Naquele tempo, naquele lugar, uma banana era uma novidade e uma raridade. Numa certa época do ano, ela aparecia na cidade, em algumas casas muito finas, solitária e formosa, exposta na vitrina. Solitária, sim – uma de cada vez. E uma banana custava uma quantia fabulosa, porque meu pai comprava mesmo uma só, e a trazia para casa onde ela era admirada e namorada durante horas, para depois ser solenemente descascada e repartida em partes milimetricamente iguais entre nós crianças, que a saboreávamos lentamente, conservando o bocadinho de polpa suave na boca o mais possível, com pena de engoli-lo. Imaginem, pois, o meu espanto maravilhado ao desembarcar do navio no porto de Santos e dar de cara com todo um carregamento de bananas, cachos e mais cachos enormes, num exagero de abundância que só em contos de fadas! Naquele dia, me empachei de bananas até quase estourar. Foi aos dez anos de idade, a minha primeira grande impressão gastronômica do Trópico de Capricórnio – e nunca mais me refiz dela. Até hoje sou fiel ao meu primeiro amor brasileiro – a banana.

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D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

Exercícios Complementares


Português Gabarito questão 04 a) O foco narrativo do texto é de terceira pessoa, ou seja, o narrador onisciente tem conhecimento dos fatos, sentimentos, opiniões e pensamentos das personagens. Entretanto, no início do texto, o narrador, ao citar “as crônicas da vila de Itaguaí”, incluindo outros narradores no seu relato, mistura história e ficção e configura a inconfiabilidade do foco narrativo. b) Nota-se no texto a maneira irônica com que são descritos tanto a chegada do médico à vila quanto os critérios utilizados pelo Dr. Bacamarte na escolha da futura esposa. No primeiro caso, configura-se a ideia de progresso através da atividade científica mencionada. Em relação ao positivismo, percebe-se que Dona Evarista é a eleita devido as suas “condições fisiológicas e anatômicas”, distantes da ideia previsível de uma escolha pelo amor e pela beleza física.

Se eu fosse poeta, como Pablo Neruda, por exemplo, que escreveu 2Ode à cebola, eu escreveria uma Ode à banana. E não estou sozinha neste meu entusiasmo pela mais brasileira das frutas, porque se eu não tivesse razão, os cientistas, que não são as pessoas mais sentimentais do mundo, não a teriam batizado com o nome poético de Musa paradisíaca. (BELINKI, Tatiana. Olhos de ver. São Paulo: Moderna, 1996. Adaptado) cruzeiro: moeda utilizada no Brasil à época em que a crônica foi escrita ode: poema de exaltação, de elogio

1 2

No 3º parágrafo, ao se referir à mais brasileira das frutas, a escritora faz uma a) descrição impessoal, que extrapola o conceito habitual que se tem da banana. b) descrição subjetiva da fruta, consequência de recordações significativas para a narradora. c) narração impessoal, que confere à banana características que lhe são inerentes. d) narração subjetiva, em que a apreensão dos aspectos da fruta está desvinculada dos órgãos dos sentidos. e) dissertação expositiva, em que analisa a infância nos países nórdicos em oposição à infância nos Trópicos.

Classifica corretamente o 3º parágrafo, pois trata-se de uma descrição subjetiva, provocada pelas lembranças da infância vivida pela narradora em país distante.

03. (Unicamp SP) Leia os seguintes trechos de Viagens na minha terra e de Memórias Póstumas de Brás Cubas: Benévolo e paciente leitor, o que eu tenho decerto ainda é consciência, um resto de consciência: acabemos com estas digressões e perenais divagações minhas.

(Almeida Garrett, Viagens na minha terra. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1969, p.187.)

Neste despropositado e inclassificável livro das minhas Viagens, não é que se quebre, mas enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada meada. (Idem, p. 292.)

D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás íntimo, por que o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem... (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, em Romances, vol I. Rio de Janeiro: Garnier, 1993, p. 140.)

a) No que diz respeito à forma de narrar, que semelhanças entre os dois livros são evidenciadas pelos trechos acima? b) Que tipo de leitor esta forma de narrar procura frustrar, e de que maneira esse leitor é tratado por ambos os narradores?

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04. (Puc RJ) Leia. As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia. – A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. Dito isto, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, – únicas dignas da preocupação de um sábio, – D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte. D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência, – explicável mas inqualificável, – devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes. Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção, – o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de “louros imar-

Gabarito questão 03 a) Em ambos os textos, os narradores em 1ª pessoa estabelecem diálogo com o leitor (“Benévolo e paciente leitor”, “o maior defeito deste livro és tu, leitor”), usam o recurso da função metalinguística (“Neste despropositado e inclassificável livro das minhas Viagens”, “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica”) e desviam-se da narrativa cronológica para abrirem espaço a digressões (“acabemos com estas digressões e perenais divagações minhas”, “este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem”). b) O leitor é tratado de forma respeitosa no excerto de Almeida Garrett e irônica no de Machado de Assis. Ambos deduzem que o público da época preferia a narrativa linear, com recursos técnicos facilitadores de leitura, desenvolvimento de tramas que provocassem as emoções até um clímax e conduzissem a um final previsível.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: Ática, 1982, pp. 9-10.

a) A compreensão do jogo entre o narrador, as personagens e o leitor é um dos procedimentos críticos necessários à análise da obra literária. Comente, utilizando as suas próprias palavras, a problemática do foco narrativo no conto “O alienista” tendo como referência o início do texto. b) Dois dos mais significativos aspectos da obra do autor de “Dom Casmurro” estão relacionados ao seu ceticismo e à crítica corrosiva e sarcástica da sociedade brasileira do seu tempo. Publicado entre outubro de 1881 e março de 1882, O alienista narra a trajetória de Simão Bacamarte, médico voltado para a pesquisa, entendimento e cura dos males do espírito. Tomando por base o fragmento selecionado, comente criticamente a visão de Machado de Assis sobre os postulados do pensamento positivista e da ideologia do progresso tão valorizados no fim do século XIX. 05. (Uerj RJ) Ciência e Hollywood Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho algum no espaço. Não me lembro de um só filme que tenha retratado isso direito. 6Pode ser que existam alguns, mas se existirem não fizeram muito sucesso. 10Sempre vemos explosões gigantescas, estrondos fantásticos. Para existir ruído é necessário um meio material que transporte as perturbações que chamamos de ondas sonoras. Na ausência de atmosfera, ou água, ou outro meio, as perturbações não têm onde se propagar. 7Para um produtor de cinema, a questão não passa pela ciência. Pelo menos não como prioridade. Seu interesse é tornar o filme emocionante, e explosões têm justamente este papel; roubar o som de uma grande espaçonave explodindo torna a cena bem sem graça. 11 Recentemente, o debate sobre as liberdades científicas tomadas pelo cinema tem aquecido. O sucesso do filme O dia depois de amanhã (The dayaftertomorrow), faturando mais de meio bilhão de dólares, e seu cenário de uma idade do gelo ocorrendo em uma semana, em vez de décadas ou, melhor ainda, centenas de anos, 9levantaram as sobrance5

lhas de cientistas mais rígidos que veem as distorções com desdém e esbugalharam os olhos dos espectadores (a maioria) que pouco ligam se a ciência está certa ou errada. Afinal, cinema é diversão.

Até recentemente, defendia a posição mais rígida, que filmes devem tentar ao máximo ser fiéis à ciência que retratam. Claro, isso sempre é bom. Mas não acredito mais que seja absolutamente necessário. 1Existe uma diferença crucial entre um filme comercial e um documentário científico. 12Óbvio, 2 documentários devem retratar fielmente a ciência, educando e divertindo a população, mas filmes não têm necessariamente um compromisso pedagógico. 13As pessoas não vão ao cinema para serem educadas, ao menos como via de regra. Claro, 3filmes históricos ou mesmo aqueles fiéis à ciência têm enorme valor cultural. Outros educam as emoções através da ficção. 14Mas, se existirem exageros, eles não deverão ser criticados como tal. Fantasmas não existem, mas filmes de terror sim. Pode-se argumentar que, no caso de filmes que versam sobre temas científicos, 4as pessoas vão ao cinema esperando uma ciência crível. Isso pode ser verdade, mas elas não deveriam basear suas conclusões no que diz o filme. No mínimo, o cinema pode servir como mecanismo de alerta para questões científicas importantes: o aquecimento global, a inteligência artificial, a engenharia genética, as guerras nucleares, os riscos espaciais como cometas ou asteroides etc. 8Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da letra. 16A arte distorce para persuadir. E o cinema moderno, com efeitos especiais absolutamente espetaculares, distorce com enorme facilidade e poder de persuasão. O que os cientistas podem fazer, e isso está virando moda nas universidades norte-americanas, é usar filmes nas salas de aula para educar seus alunos sobre o que é cientificamente correto e o que é absurdo. Ou seja, usar o cinema como ferramenta pedagógica. 17Os alunos certamente prestarão muita atenção, muito mais do que em uma aula convencional. Com isso, será possível educar a população para que, no futuro, um número cada vez maior de pessoas possa discernir o real do imaginário. 15

MARCELO GLEISER Adaptado de www1.folha.uol.com.br.

Na construção argumentativa, uma estratégia comum é aquela em que se reconhecem dados ou fatos contrários ao ponto de vista defendido, para, em seguida, negá-los ou reduzir sua importância. O fragmento do texto que exemplifica essa estratégia é: a) Infelizmente, é verdade: explosões não fazem barulho algum no espaço. (ref. 5) b) Pode ser que existam alguns, mas se existirem não fizeram muito sucesso. (ref. 6) c) Para um produtor de cinema, a questão não passa pela ciência. (ref. 7) d) Mas o conteúdo não deve ser levado ao pé da letra. (ref. 8) Marcelo Gleiser afirma, em primeiro lugar, que não existem filmes que retratem as explosões no espaço de forma verossímil, pois há sempre ruídos a acompanhar os efeitos visuais. Posteriormente, admite que possa ter havido até alguns, justificando que não lhe ficaram na memória por não terem obtido grande sucesso.

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D04  Dissertação - Parágrafo de conclusão

cescíveis”, – expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores. – A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.


FRENTE

D

PORTUGUÊS

Exercícios de Aprofundamento Texto comum às questões: 01, 02 e 03 Vença a guerra contra a obesidade Enxugar as medidas deixou de ser há algum tempo uma questão 2puramente estética. Desde que a ciência passou a relacionar 3obesidade à hipertensão, colesterol alto e diabete, entre outros 4problemas, afinar a cintura virou o alvo de todos aqueles que buscam 5uma vida saudável. E esse desafio se apresenta com força total ao 6Brasil. Nos últimos 35 anos, o número de homens com mais de 20 7anos acima do peso subiu de 18,5 para 50%, e o de mulheres cresceu 8de 28,7 para 48%. 9 Se nada for feito, em menos de dez anos alcançaremos as 10 mesmas estatísticas de obesidade dos Estados Unidos, um dos 11primeiros colocados no ranking mundial do problema, mas dá para 12reverter esse quadro. Exercitar-se 150 minutos por semana, dormir 13bem e até levar o cachorro para passear são pequenos passos para 14a grande vitória contra a síndrome do excesso de peso no país. 1

www.emagrecebrasil.com.br

01. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa que melhor explica o significado de síndrome (ref. 14) tal como presente no texto. a) Estado de obesidade em que se encontra a população. b) Associação de uma situação crítica a um conjunto de sinais e características. c) Equivalente a hipertensão, obesidade e colesterol alto. d) Medo diante de uma situação muito crítica. e) Restrição física, mental ou sensorial, causada por fatores sociais. 02. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa correta. a) O texto explora fundamentalmente uma questão estética em relação ao aumento de peso, sugerindo, na sua conclusão, estratégias para voltar à boa forma. b) Por meio de um confronto de argumentos, há no texto uma discussão implícita a respeito de a obesidade ser incorretamente tachada de doença no mundo ocidental. c) Há, na exposição das ideias do texto, comparações que possibilitam ao leitor verificar que a obesidade é um problema exclusivamente norte-americano. d) O texto defende que a obesidade é um problema essencialmente masculino, relacionado ao sedentarismo dos envolvidos exclusivamente com o trabalho. e) Por meio de uma linguagem clara e objetiva, o texto associa a obesidade não só a uma questão de saúde pública, mas também a uma necessária alteração de hábitos. 658

03. (Mackenzie SP) Assinale a alternativa INCORRETA. a) Vença a guerra contra a obesidade (título) e enxugar as medidas (ref. 01) exemplificam a presença de linguagem metafórica no texto. b) A partícula até (ref. 13) apresenta mesmo sentido daquele presente em “Ele correu tanto como maratonista que chegou até a ponte da outra cidade”. c) A presença de dados estatísticos (refs. 06 a 08) fortalece o argumento central, pois os números contribuem para evidenciar o assunto tratado. d) Em Se nada for feito (ref. 09), a partícula Se denota condição para que algo possa ser concretizado. e) O título apresenta verbo no modo imperativo, expressando a noção, na globalidade da unidade textual, de conselho, de atitude a ser tomada pelo leitor. Texto comum às questões: 04, 05 e 06 Educação é feita por meio de punição No seminário da Volvo OHL sobre a década mundial de ações de segurança de trânsito, realizado este mês em Brasília, o diretor geral de tráfego da Espanha, Pere Navarro, afirmou que, em 2003, o país europeu decidiu reduzir em 50% as mortes no trânsito. Lá, a punição de quem desrespeita as regras é tida como um meio de educar. Uma das primeiras medidas foi contratar mais 1,5 mil policiais rodoviários, além de promover campanhas publicitárias de impacto e ampliar o número de radares fixos. O resultado espanhol foi melhor do que o esperado. O país de 40 milhões de habitantes conseguiu reduzir em 57% a mortalidade, que era de 3 993 em 2003 para 1 717 em 2010. Em SC, o número de mortes foi a metade, 850. A diferença é que a população é seis vezes menor. No Brasil, o total é de 38 mil mortes. – Nosso país tornou o tema uma prioridade de governo e mobilizamos a sociedade. Só que é preciso fazer a lei ser cumprida. Se alguém está com a carteira suspensa e continua dirigindo, é preso em nosso país (o mesmo não acontece no Brasil) – explica Navarro. O consultor de trânsito do Banco Mundial (Bird), o australiano Eric Howard, também participou do seminário em Brasília, e comentou a mortalidade no trânsito catarinense, com base na estatística de 2007 do Ministério da Saúde. O número de mortos foi de 33,1 por grupo de 100 mil habitantes, superior ao índice brasileiro (18,9). Howard afirmou que essa realidade pode ser mudada com um programa de segurança, que integre todas as instâncias envolvidas no trânsito.


Linguagens, Códigos e suas Tecnologias

Em 1970, o Estado de Victoria, na Austrália, tinha um índice

ber o título de Sítio Ramsar no início deste mês. E, na próxima

alto, 30 mortes por 100 mil habitantes, muito parecido com a de

semana, será a vez do Parque Estadual do Rio Doce, em Minas

Santa Catarina. Após uma forte ação do governo para reduzir a

Gerais. Há atualmente cerca de 1.880 Sítios Ramsar pelo mun-

mortalidade, o índice diminuiu para 5,2 por 100 mil habitantes.

do, divididos em 159 países. Com os dois novos títulos, o Brasil

– O incrível é que o sistema viário daqui é uma verdadeira tragé-

agora possui 11 locais 5reconhecidos.

dia e poucas ações são feitas – lamenta o especialista australiano.

Desde 1993, o País é signatário da Convenção de Ramsar, es-

Disponível em: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/de.

tabelecida em 1971 com o objetivo de conservar áreas utiliza-

Acesso em 15-10-2011. Adaptado.

das por aves migratórias aquáticas. Depois, o tratado se tornou mais abrangente e passou a reconhecer também a importância

a) No seminário sobre a década mundial de ações de segurança de trânsito, realizado em Florianópolis, dois especialistas

das áreas úmidas para a manutenção da diversidade de espécies e bem-estar dos homens. Quem ratifica a convenção, além de ganhar a atenção interna-

10

estrangeiros afirmaram que, no Brasil, o trânsito é caótico.

cional, pode ter acesso a benefícios como cooperação técnica e

b) Em 2003, o índice de mortos no trânsito do Brasil era seme-

apoio financeiro por meio de pequenos fundos. “Abrolhos tem

lhante ao índice da Austrália.

os maiores recifes de coral e a maior biodiversidade do Atlânti-

c) De acordo com dados estatísticos de 2007 do Ministério da

co Sul. Também é local de reprodução da baleia jubarte”, afir-

Saúde, o índice de mortos no trânsito em Santa Catarina é

ma Guilherme Dutra, diretor do programa marinho da Conser-

superior ao índice nacional.

vação Internacional (CI), apontando os quesitos que tornaram

d) A Espanha conseguiu reduzir em 50% o índice de mortos no trânsito, em 2003. 05. (Acafe SC) De acordo com o texto, é correto o que se afirma em: a) Em Santa Catarina, o índice de mortes no trânsito, em 2010, é proporcionalmente menor do que o índice de mortos na Espanha. b) O diretor geral de trânsito da Espanha afirmou que a punição é um meio de educar quem desrespeita as regras de trânsito. c) No Brasil, as leis de trânsito são adequadas, no entanto não são cumpridas. d) Para reduzir a violência no trânsito no Brasil, a primeira medida necessária é contratar pelo menos 1,5 mil policias rodoviários. 06. (Acafe SC) O texto permite inferir que: a) se não houver ações integradas de educação, a punição dos infratores, por si só, não será medida suficiente para mudar o comportamento dos brasileiros no trânsito. b) a principal causa de mortes no trânsito, não só no Brasil, mas também em outros países como a Espanha e a Austrália, é o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. c) o Brasil decidiu mudar as ações e políticas de combate às transgressões de trânsito com vistas à redução das mortes em 50%. d) no Brasil, os órgãos de segurança e a justiça são excessivamente tolerantes com os infratores de trânsito. Texto comum às questões 07 e 08 ABROLHOS E PARQUE DE MINAS GERAIS SÃO RECONHECIDOS NO EXTERIOR

o parque apto a receber o título. Já o Parque Estadual do Rio Doce possui cerca de 40 lagos

15

e fauna rica: a região ainda é habitada pelas onças pintadas e conta com uma população grande de antas e de macacos-prego, por exemplo. AGÊNCIA ESTADO. Disponível em:<:http://viajeaqui.abril.com.br/noticias/ abrolhos-parque-mg-sao-reconhecidos-exterior- 220292_comentarios. shtml?6978403>. Acesso em: 11 mar. 2010.

07. (UEG GO) Com relação aos aspectos coesivos do texto, nota-se que a expressão a) “a região” (ref.15) retoma “Minas Gerais” (ref.1). b) “o tratado” (ref.5) refere-se a “Convenção de Ramsar” (ref.5). c) “o parque” (ref.10) refere-se a “Parque Estadual do Rio Doce” (ref.15). d) “o título” (ref.1) retoma “Parque Nacional Marinho de Abrolhos” (ref.1). 08. (UEG GO) No primeiro parágrafo, as expressões “na próxima semana” (ref.1), “atualmente” (ref.1) e “agora” (ref.1) a) situam o texto em seu contexto temporal por meio de indicações precisas. b) estabelecem uma relação temporal em relação à criação da Convenção de Ramsar, estabelecida em 1971. c) dependem, para sua correta interpretação, de informações contextuais relativas ao momento de produção e publicação do texto. d) apontam relações temporais entre o momento de produ-

O Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia, foi reconhe-

ção do texto e a data de assinatura pelo Brasil da Conven-

cido internacionalmente como importante zona úmida ao rece-

ção de Ramsar. 659

FRENTE D  Exercícios de Aprofundamento

04. (Acafe SC) Em relação ao texto, é correto afirmar:


Português Gabarito questão 10 d - Trata-se de um texto dissertativo-argumentativo, pois a autora tem por finalidade persuadir o interlocutor de que a sociedade atual é caracterizada pela falta de talento ou mérito de pessoas que têm responsabilidades diretivas ou governamentais, assim como de alunos que, em diversos níveis, refletem a precariedade do sistema de ensino do país. Em alguns momentos, Lya Luft descreve situações que ratificam o seu posicionamento sobre o assunto, por isso o artigo insere-se no conjunto dos textos de tipo dissertativo-argumentativo com porções descritivas, como se afirma em [A].

09. (Uerj RJ) só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, (ref. 9) Esse trecho se refere à utilização do seguinte método de arguDedução é a conclusão inferida após a análise dos fatos, a dialémentação: tica interpreta os processos antitéticos que tendem a se resola) indutivo ver numa solução-síntese, e o silogismo é o raciocínio que parte b) dedutivo de duas proposições para delas deduzir uma terceira. Assim, o método de argumentação que parte de fatos ou dados particuc) dialético lares para elaborar princípios gerais ou inferir uma conclusão é d) silogístico o indutivo, método implicitamente referido em “só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar”.

Texto comum à questão 10 Buscando a excelência

Texto comum à questão 11 LAMA Mauro Duarte

Lya Luft

Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistentemente. Autoridades, altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às públicas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual. As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. [...] E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito [...] Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade. [...] Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso da própria capacidade e talento, já entre as crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem pequenos, mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não é só brincadeira, que lazer e divertimento são necessários até à saúde, mas que a escola é também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites – que aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos. Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou desatinadas, [...] se delineia com grande inteligência e precisão a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos devolve ânimo e esperança.

FRENTE D  Exercícios de Aprofundamento

10. (IF SP) O texto apresentado é um artigo de opinião, que se insere no conjunto dos textos de tipo a) dissertativo-argumentativo com porções descritivas. b) descritivo com porções dissertativo-expositivas. c) narrativo com porções dissertativo-expositivas. d) narrativo com porções descritivas. e) descritivo com porções narrativas.

Pelo curto tempo que você sumiu Nota-se aparentemente que você subiu Mas o que eu soube ao seu respeito Me entristeceu ouvi dizer Que pra subir você desceu, você desceu Todo mundo quer subir A concepção da vida admite Ainda mais quando a subida Tem o céu como limite Por isso não adianta estar no mais alto degrau da fama Com a moral toda enterrada na lama (Clara Nunes. O canto das três raças. EMI-Odeon, 1976)

11. (Cefet RJ) O texto “Lama” pertence ao gênero letra de música, por isso foi escrito em versos. Analisando-os atentamente, pode-se observar que neles há, predominantemente, dois modos de organização textual, que são, respectivamente: a) o narrativo e o argumentativo. a- O poema apresenta uma narrativa implícita (“ouvi dizer /Que pra subir você desceu”) b) o descritivo e o narrativo. que justifica a sensação de tristeza do eu lírico perante a conduta do interlocutor para c) o dissertativo e o injuntivo. atingir a fama, concluindo com uma reflexão: “Por isso não adianta estar no mais alto ded) o narrativo e o descritivo. grau da fama /Com a moral toda enterrada na lama”. Assim, é correta a alternativa [A].

12. (Fuvest SP) Leia este texto. O tempo personalizou minha forma de falar com Deus, mas sempre termino a conversa com um pai-nosso e uma ave-maria. (...) Metade da ave-maria é uma saudação floreada para, só no final, pedir que ela rogue por nós. No pai- nosso, sempre será um mistério para mim o “mas” do “não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Me parece que, a princípio, se o Pai não nos deixa cair em tentação, já estará nos livrando do mal. Denise Fraga, www1.folha.uol.com.br, 07/07/2015. Adaptado.

a) Mantendo-se a relação de sentido existente entre os segmentos “não nos deixeis cair em tentação” / “mas livrai_ nos do mal”, a conjunção “mas” poderia ser substituída pela conjunção e, de modo a dissipar o “mistério” a que se refere a autora? Justifique. b) Sem alterar seu sentido, reescreva o trecho da oração citado pela autora, colocando os verbos “deixeis” e “livrai” na terceira pessoa do singular.

(Fonte: Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado).

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Questão 12 a) Sim, a conjunção “mas” poderia ser substituída por “e” de modo a dissipar o mistério a que se refere Denise Fraga. O uso de “mas” lhe causou estranhamento porque não há, no contexto, a relação de adversidade comumente estabelecida por essa palavra. Por isso, ela afirma: “se o Pai não nos deixa cair em tentação, já estará nos livrando do mal”. Com o uso da conjunção “e”, aditiva, esse estranhamento desapareceria. b) Não nos deixe cair em tentação, mas livre-nos do mal.


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