Murilo Amaral Shyrley Bernadelli
FRENTE
A
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PORTUGUÊS Por falar nisso
ttt
Na língua portuguesa, com certeza, a classe de palavras mais rica e de paradigma mais complexo é a dos verbos. Eles variam quanto ao tempo, modo, número, pessoa e aspecto. Com o desenvolvimento sócio-histórico da língua, certas formas verbais têm se regularizado e outras até desapareceram. Isso pode ser visto no próprio paradigma pronominal de conjugação. Nenhum falante de língua portuguesa no Brasil conjuga verbos a partir dos pronomes eu, tu, ele, nós, vós e eles. A 2ª pessoa do singular, tu, é predominante em muitas regiões do Brasil e pode ser polêmico afirmar que nesses lugares ela está desaparecendo - como acontece com o pronome “vós”. Por isso, sugiro reformular a frase: Atualmente, a forma de 2ª pessoa do plural (vós) tem desaparecido, dando lugar à forma de 3ª pessoa (vocês). Além disso, apesar de a segunda pessoa do singular (tu) ser usada em muitas regiões brasileiras, na maior parte do território ela foi substituída pela terceira pessoa (você). E a mudança da língua não para por aí. A 3ª pessoa dos verbos também é recorrente para representar a 1ª pessoa do plural (nós) a partir da locução pronominal “a gente”. Note que apenas nessa reflexão excluímos três formas verbais e as substituímos por outras. Nesse sentido, estudaremos a formação dos tempos verbais a fim de preencher essas lacunas que, na linguagem oral, são realizadas por formas da 3ª pessoa do singular. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
A17 A18 A19 A20
Advérbio, numeral e interjeição.................................................... 560 Formação dos tempos verbais I..................................................... 568 Formação dos tempos verbais II.................................................... 576 Formação dos tempos verbais III................................................... 585
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A17
ASSUNTOS ABORDADOS
ADVÉRBIO, NUMERAL E INTERJEIÇÃO
nn Advérbio, numeral e interjeição nn Advérbio nn Numeral
Opirus Arte
nn Interjeição
Advérbio O advérbio é uma classe de palavras cuja função fundamental é atuar como modificador do verbo. Isso significa que, assim como o adjetivo está para o substantivo, o advérbio está para o verbo. Apesar dessa função básica, os advérbios podem atuar como modificadores do adjetivo, de outro advérbio ou de toda a oração. Veja: nn Advérbio
como modificador do verbo:
Para melhorar sua redação, exponha claramente seus argumentos. nn Advérbio
como modificador do adjetivo:
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Eu fiquei muito feliz com minha aprovação no Enem.
560
nn Advérbio
como modificador do advérbio:
O homem, triste, caminhava muito devagar. nn Advérbio
como modificador de toda a oração:
Possivelmente, ficarei em dependência ano que vem.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
nn Advérbios de afirmação: sim, certamente, efetivamente, realmente, na verdade,
de fato, sem dúvida, por certo, com certeza etc. nn Advérbios de negação: não, tampouco, nem, nunca, jamais etc. nn Advérbios de dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez etc. nn Advérbios de intensidade: bastante, bem, demais, mais, menos, muito, pouco, quanto, quão, quase etc. nn Advérbios de lugar: abaixo, acima, adiante, aqui, aí, ali, além, aquém, atrás, através, cá, lá, acolá, dentro, fora, perto, longe, junto, onde etc. nn Advérbios de tempo: agora, ainda, anteontem, ontem, hoje, amanhã, antes, depois, breve, cedo, então, jamais, nunca, sempre, outrora, tarde etc. nn Advérbios de modo: assim, bem, debalde, depressa, devagar, mal, melhor, pior e quase todos terminados pelo sufixo –mente, como: claramente, legalmente etc. Locuções adverbiais São denominadas locuções adverbiais o conjunto de duas ou mais palavras que funcionam como advérbio. Assim, as locuções adverbiais são formadas pela aproximação de uma preposição com um substantivo, adjetivo ou advérbio. Veja: nn Caio
Fernando deixou a sala em silêncio. nn Mesmo que contra sua vontade, Joaquim obedeceu de novo ao professor. nn Os pedreiros podem começar por aqui! nn Com certeza, as crianças aproveitarão o dia no clube. nn Ela disse que viria à noite para a festa. nn De forma alguma me sentarei ao lado dele. Advérbio X Adjetivo É muito comum encontrar em enunciados orais ou em textos de variante coloquial um adjetivo atuando como um advérbio, isto é, um adjetivo modificando o valor de um verbo. Apesar de bastante comum, esses tipos de construções são considerados inadequados pela NGB. Dessa maneira, atente-se sempre para as elaborações frasais dos tipos a seguir: nn O
professor disse que eu não escrevo claro. leopardo corre muito rápido. nn Pegue leve, treinador, acabamos de voltar das férias. nn Um
claramente rapidamente levemente
!
ATENÇÃO!
Os advérbios de lugar, modo e tempo, em orações interrogativas diretas e indiretas, assumem o valor de advérbios interrogativos. Observe: nn Onde está meu caderno? /
Diga-me onde colocou meu caderno.
nn Como vai de saúde? / Quero
saber como vai de saúde.
nn Quando viajaremos para a Ín-
dia / Você não me disse quando será a viagem para a Índia.
!
ATENÇÃO!
Quando em um enunciado advérbios que terminam pelo sufixo –mente são justapostos e repetidos. Apenas o último pode aparecer com o sufixo. Veja: nn Fechou os olhos profunda e
tristemente, sufocado pela angústia.
nn Todos naquele internato se
moviam lúdica e religiosamente.
A17 Advérbio, numeral e interjeição
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) classifica os advérbios nos tipos a seguir:
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Classificação dos advérbios
561
Português
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Numeral Os numerais são uma classe de palavras que indicam uma quantidade exata de seres ou assinalam o lugar que estes ocupam em uma série. Assim, os numerais dividem-se em: nn
Cardinais;
nn
Ordinais;
nn
Multiplicativos;
nn
Fracionários.
Cardinais São os números naturais. Observe: nn
José de Aquino levantou-se e deu cinco passos até o jardim.
nn
Emília, gulosa, comeu três pedaços de bolo.
Ordinais Indicam a ordem de sucessão de seres em uma série. Observe: nn Eu tenho a primeira edição do livro Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. nn Jorge,
errar é humano, mas errar pela segunda vez é tolice.
Multiplicativos Indicam o aumento proporcional da quantidade. Observe: nn O candidato, não fosse seu envolvimento na Lava Jato, teria o dobro de chances
de ganhar. o triplo de boas ações.
nn Faça
Fracionários Exprimem a diminuição proporcional da quantidade. Observe: nn Já
quitamos metade do aluguel. terços da cidade estavam naquele show. Foi incrível!
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A17 Advérbio, numeral e interjeição
nn Dois
562
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Algarismos romanos e arábicos
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Os algarismo romanos ainda são utilizados em nossa cultura para fazer a notação de um século, para marcar os algarismos de um relógio, indicar os capítulos de um livro etc. Veja a tabela de correspondência entre números cardinais e romanos a seguir: Números cardinais
Números romanos
1
I
2
II
3
III
4
IV
5
V
6
VI
7
VII
8
VIII
9
IX
10
X
50
L
100
C
500
D
1000
M
Interjeição As interjeições são uma espécie de grito com que traduzimos de modo vivo nossas emoções. A mesma reação emotiva pode ser expressa por mais de uma interjeição. O valor de uma interjeição depende do contexto de produção. Veja as mais comuns: nn Alegria:
ah! oh! oba! oh! oxalá! nn Dor: ai! ui! nn Dúvida: uai! ué! hem? nn Espanto: ah! ih! eita! nn Silêncio: psiu! chi! nn Desejo:
E ITA!
OH!
P S IU !
AI!I!
U U
A17 Advérbio, numeral e interjeição
AH!
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AI!
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Unemat MT) “NEYMAR agora é MEIA. E CUECA também. NEYMAR agora é LUPO. O maior fabricante de golaços do país e a maior fabricante de meias sociais e cuecas do Brasil, juntos”. (Revista Veja, 10 de agosto de 2011, pp. 35-37).
Sobre esse texto é incorreto afirmar. a) A conjunção “E”, na primeira linha, indica uma relação de adição entre orações. b) A expressão “também” reitera o sentido de adição. c) A palavra “LUPO” refere-se à fábrica de meias e cuecas. d) Com apoio no texto, infere-se que a palavra “meia” é numeral que indica metade. e) Está explícito no texto que o gênero da palavra “fabricante” é distinguido pela concordância nominal determinada pelos artigos definidos o e a em referência simultânea ao masculino e ao feminino. 02. (Unesp SP) Considere o fragmento de uma crônica de Eça de Queirós (1845-1900) escrita em junho de 1871. Uma campanha alegre, IX
A17 Advérbio, numeral e interjeição
Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder, perdem o Poder, reconquistam o Poder, trocam o Poder... O Poder não sai duns certos grupos, como uma pela* que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos. Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no Poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da Fazenda, a ruína do País! Os outros, os que não estão no Poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais — os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País. Mas, coisa notável! — os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da Fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E os que não estão no Poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem — os verdadeiros liberais, e os interesses do País! Até que enfim caem os cinco do Poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da Fazenda e ruína do País; em tanto que os que caíram do Poder se resignam, cheios de
564
fel e de tédio — a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País. Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da Fazenda e ruína do País... Não há nenhum que não tenha sido demitido, ou obrigado a pedir a demissão, pelas acusações mais graves e pelas votações mais hostis... Não há nenhum que não tenha sido julgado incapaz de dirigir as coisas públicas — pela Imprensa, pela palavra dos oradores, pelas incriminações da opinião, pela afirmativa constitucional do poder moderador... E todavia serão estes doze ou quinze indivíduos os que continuarão dirigindo o País, neste caminho em que ele vai, feliz, abundante, rico, forte, coroado de rosas, e num chouto** tão triunfante! (*) Pela: bola. (**) Chouto: trote miúdo. (Eça de Queirós. Obras. Porto: Lello & Irmão-Editores, [s.d.].)
Assinale a alternativa cuja frase contém um numeral cardinal empregado como substantivo. a) Há muitos anos que a política em Portugal apresenta... b) Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o Poder... c) ... os cinco que estão no Poder fazem tudo o que podem para continuar... d) ... são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos... e) ... aos quatro cantos de uma sala... 03. (Ufam AM) Assinale a opção em que há erro na forma numeral ordinal: a) 90º. – nonagésimo b) 80º. – octagésimo c) 300º. – trecentésimo d) 500º. – quingentésimo e) 400º. – quadringentésimo 04. (Puc SP) Em uma peça publicitária recentemente veiculada em jornais impressos, pode-se ler o seguinte: “Se a prática leva à perfeição, então imagine o sabor de pratos elaborados bilhões e bilhões de vezes.” A segunda oração que compõe a referida peça publicitária contém a expressão “pratos elaborados bilhões e bilhões de vezes”. Em recente declaração à Revista Veja a respeito
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
a) apenas em “bilhões e bilhões”, em que bilhões é essencialmente advérbio, existe uma indicação precisa de quantidade. b) apenas em “um milhão”, em que é milhão essencialmente adjetivo, existe uma indicação precisa de quantidade. c) em ambas as expressões, que são conjunções coordenativas aditivas, existe uma indicação precisa de quantidade. d) em ambas as expressões, que são essencialmente numerais, existe um uso figurado que expressa exagero intencional. e) apenas em “bilhões e bilhões”, em que bilhões é essencialmente pronome, existe um uso figurado que expressa exagero intencional. 05. (UECE) Comunicação e alteridade 1 Na nossa vida de todo dia, estamos 2 sempre em contato com outras pessoas. 3 Esse contato frequente acontece a partir das 4 afinidades e das semelhanças, mas inclui 5 também as relações de diferença entre o que 6 pertence ao “eu” e o que diz respeito ao 7 “outro”. Para se referir a essas relações, 8 costuma-se utilizar uma noção importante: 9 alteridade. 10 A palavra alteridade, ao pé da letra, 11 significa “natureza do que é outro”. Para 12 entender melhor seu significado, podemos 13 opô-la a expressões como “identidade” e 14 “subjetividade”. As relações de alteridade 15 dizem respeito às diferenças que perpassam 16 o nosso cotidiano, e que podem se 17 manifestar nas divergências de opinião em 18 um debate, na diversidade de preferências 19 que define as comunidades nas redes sociais, 20 ou podem estar presentes em questões bem 21 mais complicadas, como as diferenças de 22 nacionalidade, de raça, de religião, de 23 gênero ou de classe social, que motivam 24 conflitos dos mais diversos. Perceber as relações de alteridade entre 26 várias pessoas nos leva não apenas a 27 identificar os traços dessas diferenças – de 28 nacionalidade, de cor da pele, de sotaque –, 29 mas a considerar como se produzem, 30 socialmente, tanto a diferença quanto a 31 identidade. É preciso compreender que o 32 “eu” e o “outro” não são entidades fixas e 33 isoladas, mas se constituem na relação: nós 34 só nos tornamos quem somos a partir da 35 visão do outro, assim como o outro só se 36 torna diferente de nós porque projetamos 37 sobre ele um olhar que o diferencia. Ainda 38 que, muitas vezes, seja difícil perceber, 39 nessa jornada ocorre um processo contínuo 40 de diferenciação: eu sou desse jeito, e não 41 daquele outro; eu gosto dessas coisas, e não 42 dessas outras. 25
Um processo semelhante acontece com as 44 identidades coletivas (sejam elas nacionais, 45 étnicas, sexuais, religiosas ou outras). Elas 46 não são “essências”, mas sim construídas 47 histórica e socialmente: o “ser brasileiro” não 48 significa somente “ter nascido no Brasil”, 49 mas sim fazer parte de uma identidade que 50 se transforma com o passar do tempo. Dizer 51 “sou brasileiro” significa dizer, 52 implicitamente, “não sou argentino”, “não 53 sou chinês”, “não sou moçambicano”. 54 Identificar-se com um grupo é diferenciar-se 55 de outro, estabelecer fronteiras entre “nós” e 56 “eles”, em um processo que é permeado não 57 apenas por escolhas, mas também por 58 tentativas de fixar as identidades, dizendo –59 muitas vezes implicitamente – que ser de um 60 jeito é normal, mais correto ou melhor. Fixar 61 uma determinada identidade como a norma 62 é uma das formas privilegiadas de 63 hierarquização das identidades e das 64 diferenças. Normalizar significa eleger – 65 arbitrariamente - uma identidade específica 66 como 43
o parâmetro em relação ao qual as 67 outras identidades são avaliadas e 68 hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a 69 essa identidade todas as características positivas 70 possíveis, em relação às quais as 71 outras identidades só podem ser avaliadas 72 de forma negativa. 73 O processo de produção das identidades e 74 das diferenças envolve muitos conflitos. Esse 75 processo não é ingênuo, mas sim permeado 76 por relações de poder. Ficha técnica do texto “Comunicação e alteridade”: Associação Imagem Comunitária Concepção: Beatriz Bretas, Samuel Andrade e Victor Guimarães Redação: Victor Guimarães
Considere o enunciado seguinte e o que se diz sobre as relações sintáticas que ele mantém: “O processo de produção das identidades e das diferenças envolve muitos conflitos” (Refs.73-74). I. Os vocábulos processo e produção são substantivos abstratos. II. A expressão preposicionada de produção [...] relaciona-se com o substantivo processo, completando-lhe o sentido; o mesmo acontece entre as expressões preposicionadas das identidades e das diferenças e o substantivo produção. III. A expressão de produção deve ser classificada como complemento do vocábulo processo; enquanto as expressões das identidades e das diferenças, como complemento indireto (objeto indireto) do verbo envolver (envolve). Esse verbo tem como complemento direto (objeto direto) “muitos conflitos”. Está correto o que se diz em a) I e II apenas. b) I, II e III. c) II e III apenas. d) III apenas.
565
A17 Advérbio, numeral e interjeição
de seu filho, o presidente Luís Inácio Lula da Silva fez a seguinte afirmação (Revista Veja Edição 1979 - 25 out. 2006). “Deve haver um milhão de pais reclamando: por que meu filho não é o Ronaldinho? Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho. A respeito das expressões destacadas em negrito nos trechos acima, é linguisticamente adequado afirmar que
Português
Exercícios Complementares 01. (ESPM SP) Quando se perde o grau de investimento, corre-se o risco de uma debandada dos capitais estrangei-
do romantismo de 34 sua época.
ros, aí é preciso tomar medidas mais drásticas do que se desejaria
35
(Joaquim Levy).
Benzinho, pela mão feiticeira de seu criador
literário,
que, aliás, colheu o modelo na vida real, passa ao longo do 37
romance sem que o autor se 38 aprofunde em qualquer análise psicológica da 39 passagem de uma condição de vítima
a) advérbio, expressando a ideia de “nesse lugar”.
inocente à 40 de uma representante típica, embora 41 incons-
b) interjeição, traduzindo ideia de apoio, animação.
ciente, de um fenômeno sociológico, o da 42 ascensão social,
c) palavra expletiva (dispensável) ou de realce.
que, ao contrário do tipo 43 habitual da mulher nordestina,
d) advérbio, expressando ideia de conclusão “então”.
coloca 44 inteiramente de lado as razões do coração ou da 45
e) substantivo, traduzindo ideia de “por outro lado”.
sensualidade para se dirigir exclusivamente pela 46 razão. E
edição do romance Janelas Fechadas, do maranhense Josué Montello, publicado pela primeira vez em 1941. Foi escrito por Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), que compõe uma crítica na qual desenvolve ideias originais, como uma aproximação entre Benzinho, protagonista do romance de Montello, e Capitu.
01
em nossas letras. Sua 03 fecundidade literária, aliás [...], nunca se fez
com sacrifício de seu esmero na expressão
05
ver-
bal. Pelo contrário, esse esmero atingiu seu 06 alto grau de perfeição com Aleluia, mas de forma
07
47
interesseiro de promoção
social ou de influência exterior. Quando, pela primeira vez, 48
se entrega a 49 um quase desconhecido, é levada 50 exclusivamente por uma frase eventual de sua 51 mãe, que lhe confidenciara a vontade de ter um 52 neto. Pela segunda vez, o que a levou a fazer o 53 mesmo foi simplesmente a ambição de casar 54 com um vizinho rico. Em ambos os casos, absoluta ausência de
passional e, no fundo, preocupações
Cada novo livro de Josué Montello é um 02 acontecimento 04
pelo raciocínio rigorosamente
55
Uma Capitu Nordestina
alguma se esgotou
na sua busca de concisão, 08 outra meta constante em sua
mais que feminino. Não é a
58
57
56
sentimento
de tipo masculino
preocupação feminista de
emancipação de seu 59 sexo, mas a passividade em face de um desejo 60 materno e o impulso masculino de ambição 61 social. 62
Aliás, na criação da personagem central 63 dessa jovem Ca-
pitu nordestina, tocava Josué 64 Montello em um fenômeno típico das sociedades
65
modernas: a confusão ou o desen-
Ainda agora, o que o levou a reeditar
contro entre os sexos, em sua respectiva natureza biológica
esse quase 10 primeiro livro de sua “maturidade literária”, 11
e 67 psicológica. Já Aristóteles verificava haver 68 homens de
como ele próprio assinalou, foi a preocupação estritamen-
alma feminina e vice-versa. Assim 69 como não há, entre as vá-
estilística pessoal.
09
12
te estilística e não estrutural, junto ao 13 cuidado de preservar o tipo de sua personagem
14
central, a jovem Benzinho,
e o ambiente 15 maranhense de todos os seus romances. 16
Aliás, se a paisagem maranhense desse
17
romance nada
66
rias idades do ser 70 humano, limites claros e positivos, assim 71
também não existe, entre os sexos, uma 72 psicologia res-
pectivamente incompatível. O que é 73 preciso é não confundir o desencontro de 74 psicologias com a confusão, ou antes,
tem a ver com a rude paisagem 18 tipicamente nordestina dos
a inversão 75 das psicologias. Uma coisa é um homem de alma
romances de um José Lins do Rego ou de um José Américo,
76
o caráter 21 da jovem Maria de Lourdes Silva, apelidada 22 Ben-
vemos é o predomínio de certas 78 qualidades, que normal-
tipo genuíno
mente distinguem a alma 79 feminina, sem que, entretanto,
20
zinho desde a infância, nada tem a ver com o
23
das jovens nordestinas, como aliás 24 dos homens da região,
feminina e outra um homem efeminado. 77 Naqueles, o que
essa troca 80 perturbe seus valores máximos.
onde a firmeza de caráter é a expressão mais representativa 25
do
26
temperamento nordestino, pela supremacia dos
27
(Introdução. ATHAYDE, Tristão de. In: MONTELLO, Josué. Romances e novelas. V. 1. P. 109-111.)
valo-
res morais sobre os valores eróticos e 27 sobretudo hedonísti-
A expressão “Ainda agora” (Ref. 09) indica
cos. Sendo esse romance dos seus vinte anos uma tentativa
a) presente.
quase 29 subconsciente de reação antirromântica, não é 30 de
b) passado remoto.
espantar que essa adolescente dos subúrbios de São Luís, o
c) futuro.
bairro do Anil, se pareça mais com 32 a sofisticada carioca Ca-
d) passado recente.
28
31
566
36
O vocábulo grifado aí é:
02. (UECE) O texto desta prova consta, como prefácio, da 2ª
A17 Advérbio, numeral e interjeição
pitu do que com qualquer 33 das Inocências, ou Moreninhas
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (Unicamp SP) Leia a seguir a crônica adaptada “O crítico teatral O futuro da medicina
O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das profissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos, jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até aqui é o de médico. Até aqui. A crer no médico e geek 1 Eric Topol, autor de The Patient Will See You Now (“O paciente vai vê-lo agora”), está no forno uma revolução da qual os médicos não escaparão, mas que terá impactos positivos para os pacientes. Para Topol, o futuro está nos smartphones. O autor nos coloca a par de incríveis tecnologias, já disponíveis ou muito próximas disso, que terão grande impacto sobre a medicina. Já é possível, por exemplo, fotografar pintas suspeitas e enviar as imagens a um algoritmo que as analisa e diz com mais precisão do que um dermatologista se a mancha é inofensiva ou se pode ser um câncer, o que exige medidas adicionais. Está para chegar ao mercado um apetrecho que transforma o celular num verdadeiro laboratório de análises clínicas, realizando mais de 50 exames a uma fração do custo atual. Também é possível, adquirindo lentes que custam centavos, transformar o smartphone num supermicroscópio que permite fazer diagnósticos ainda mais sofisticados. Tudo isso, aliado à democratização do conhecimento, diz
vai ao casamento”, de Millôr Fernandes. Como espetáculo, o casamento da Senhorita Lídia Teles de Souza com o Sr. Herval Nogueira foi realmente um dos mais irregulares a que temos assistido nos últimos tempos. A noiva parecia muito nervosa, nervosismo justificado por estar estreando em casamentos (o que não se podia dizer do noivo, que tem muita experiência de altar) de modo que até sua dicção foi prejudicada. O noivo representou o seu papel com firmeza, embora um tanto frio. Disse “sim” ou “aceito” (não ouvimos bem porque a acústica da abadia é péssima). Fora os pequenos senões notados, teremos que chamar a atenção, naturalmente, para o coroinha, que a todo momento coçava a cabeça, completamente indiferente à representação, como se não participasse dela. A música também foi mal escolhida, numa prova de terrível mau-gosto. O fato de a noiva chegar atrasada também deixou altamente impacientes os espectadores, que mostraram evidentes sinais de nervosismo. A sua entrada, porém, foi espetacular, e rendeu-lhe os melhores parabéns ao fim do espetáculo. Lamentamos apenas – e tomamos como um deplorável sinal dos tempos – a qualidade do arroz jogado sobre os noivos. (Adaptado de Millôr Fernandes, Trinta anos de mim mesmo. São Paulo: Círculo do livro, 1972, p. 78.)
Topol, fará com que as pessoas administrem mais sua própria saúde, recorrendo ao médico em menor número de ocasiões e de preferência por via eletrônica. Concordo com as linhas gerais do pensamento de Topol, mas, como todo entusiasta da tecnologia, ele provavelmente exagera. Acho improvável, por exemplo, que os hospitais caminhem para uma rápida extinção. Dando algum desconto para as previsões, The Patient... é uma excelente leitura para os interessados nas transformações da medicina. (Hélio Schwartsman, www.folha.uol.com.br, 17.01.2016. Adaptado.) 1
geek: gíria inglesa para se referir a pessoas que são muito fãs
Identifique duas expressões adverbiais que foram usadas pelo cronista para acentuar sua crítica humorística ao casamento como espetáculo. 05. (Fuvest SP)
Entre as expressões adverbiais usadas pelo cronista para intensificar a crítica humorística ao casamento como espetáculo, podem ser citadas: (o casamento) “foi realmente um dos mais irregulares” e “o coroinha (...) completamente indiferente à representação”.
A praga dos selfies
De uma coisa tenho certeza. A foto pelo celular vale apenas pelo momento. Não será feito um álbum de fotografias, como no passado, onde víamos as imagens, lembrávamos da família, de férias, de alegrias. As imagens ficarão esquecidas em um
de tecnologia.
imenso arquivo. Talvez uma ou outra, mais especial, seja
Considere o trecho inicial do texto.
revivida. Todas as outras, que ideia. Só valem pelo prazer de
O avanço da tecnologia afetou as bases de boa parte das pro-
fazer o selfie. Mostrar a alguns amigos. Mas o significado ori-
fissões. As vítimas se contam às dezenas e incluem músicos, jornalistas, carteiros etc. Um ofício relativamente poupado até aqui é o de médico. Até aqui. Em suas duas ocorrências no excerto, o termo “aqui” exprime
ginal da foto de família ou com amigos, que seria preservar o momento, está perdido. Vale pelo instante, como até grandes amores são hoje em dia. É o sorriso, o clique, e obrigado. A conquista: uma foto com alguém conhecido. W. Carrasco, “A praga dos selfies”. Época, 26.09.2016.
circunstância de a) tempo. b) lugar. c) modo. d) intensidade. e) oposição.
Para que o emprego da palavra “onde”, sublinhada no texto, seja considerado correto, a que termo antecedente ela deve se referir? Justifique sua resposta. O pronome relativo “onde” refere-se a lugar, retomando a expressão “álbum de fotografia”, o que permite a seguinte relação de ideias: “víamos as imagens no álbum de fotografias”.
567
A17 Advérbio, numeral e interjeição
03. (Uni FaceF SP)
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A18
ASSUNTOS ABORDADOS nn Formação dos tempos verbais I nn Verbo nn Presente do indicativo nn Derivados do presente do indicativo
FORMAÇÃO DOS TEMPOS VERBAIS I Verbo Verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa. Trata-se do registro de um acontecimento representado no tempo. É uma palavra que flexiona em pessoa, número, modo e tempo. nn Pessoa:
1ª (falante); 2ª (ouvinte) e 3ª (assunto).
nn Número: nn Modo:
singular e plural.
indicativo, subjuntivo e imperativo.
nn Tempo:
pretérito, presente, futuro.
Tempos do modo indicativo: nn Presente:
eu estudo;
nn Pretérito
perfeito: eu estudei;
nn Pretérito
imperfeito: eu estudava;
nn Pretérito
mais-que-perfeito: eu estudara;
nn Futuro
do presente: eu estudarei;
nn Futuro
do pretérito: eu estudaria.
Tempos do modo subjuntivo: nn Presente:
(que) eu estude;
nn Pretérito
perfeito: (que) eu tenha estudado;
nn Pretérito
imperfeito: (se) eu estudasse;
nn Pretérito
mais-que-perfeito: (que) eu tivesse estudado;
nn Futuro:
(se) eu estudar.
Conjugações: conjugação (verbos terminados em –ar): estudar, chorar, amar.
nn 2ª
conjugação (verbos terminados em –er e em –or): receber, escrever, pôr.
nn 3ª
conjugação (verbos terminados em –ir): partir, dormir, sorrir.
Fonte: shutterstock.com/Por Sergey Nivens
nn 1ª
568
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Formação dos tempos verbais: VERBOS Formação dos tempos verbais Tempos primitivos
→
Tempos derivados
Presente do indicativo
Presente do subjuntivo Imperativo afirmativo Imperativo negativo
Pretérito perfeito do indicativo
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo Futuro do subjuntivo Pretérito imperfeito do subjuntivo
Infinitivo impessoal
Pretérito imperfeito do indicativo Futuro do presente do indicativo Futuro do pretérito do indicativo Infinitivo / Gerúndio / Particípio
Presente do indicativo Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudo
Vendo
Parto
Tu
Estudas
Vendes
Partes
Ele
Estuda
Vende
Parte
Nós
Estudamos
Vendemos
Partimos
Vós
Estudais
Vendeis
Partis
Eles
Estudam
Vendem
Partem
Verbos irregulares faço; fazes; faz; fazemos; fazeis; fazem. nn TRAZER: trago; trazes; traz; trazemos; trazeis; trazem. nn DIZER: digo; dizes; diz; dizemos; dizeis; dizem. nn MEDIR: meço; medes; mede; medimos; medis; medem. nn PEDIR: peço; pedes; pede; pedimos; pedis; pedem. nn CONFERIR: confiro; conferes; confere; conferimos; conferis; conferem. nn PREFERIR: prefiro; preferes; prefere; preferimos; preferis; preferem. nn ADERIR: adiro; aderes; adere; aderimos; aderis; aderem. nn PÔR: ponho; pões; põe; pomos; pondes; põem. nn SER: sou; és; é; somos; sois; são. nn ESTAR: estou; estás; está; estamos; estais; estão. nn HAVER: hei; hás; há; havemos (hemos); haveis (heis); hão. nn CABER: caibo; cabes; cabe; cabemos; cabeis; cabem. nn SABER: sei; sabes; sabe; sabemos; sabeis; sabem. nn IR: vou; vais; vai; vamos; ides; vão. nn DAR: dou; dás; dá; damos; dais; dão. nn VALER: valho; vales; vale; valemos; valeis; valem. nn RIR: rio; ris; ri; rimos; rides; riem. nn VER: vejo; vês; vê; vemos; vedes; veem. nn VIR: venho; vens; vem; vimos; vindes; vêm. nn TER: tenho; tens; tem; temos; tendes; têm.
A18 Formação dos tempos verbais
nn FAZER:
569
Português
Fonte: shutterstock.com/Por Piti Tangchawalit
Verbos terminados em “-ear” e “iar” Em todos os verbos cuja terminação seja “ear”, nas formas rizotônicas do presente do indicativo e subjuntivo, insere-se um ditongo na conjugação. Veja: do indicativo do verbo “passear”: passeio; passeias; passeia; passeamos; passeais; passeiam. nn Presente do subjuntivo do verbo “passear”: passeie; passeies; passeie; passeemos; passeeis; passeiem. nn Presente
!
ATENÇÃO!
Forma rizotônica: verbo cuja tonicidade recai em parte do radical e não sobre a desinência.
Há também verbos terminados em “iar” que seguem essa lógica de conjugação. São os verbos da “turma do Mário” (MEDIAR, ANSIAR, REMEDIAR, INCENDIAR, ODIAR). do indicativo do verbo “odiar”: odeio; odeias; odeia; odiamos; odiais; odeiam. n n Presente do subjuntivo do verbo “odiar”: odeie; odeies; odeie; odiemos; odieis; odeiem. n n Presente
Os demais verbos terminados em “iar” são regulares. Veja: n n Presente
do indicativo do verbo “variar”: vario; varias; varia; variamos; variais; variam. n n Presente do subjuntivo do verbo “variar”: varie; varies; varie; variemos; varieis; variem.
Derivados do presente do indicativo Presente do subjuntivo O presente do subjuntivo é formado a partir da 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, trocando a desinência “o” por “e” (1ª conjugação) e “a” (2ª e 3ª conjugações). Feito isso, você já terá a 1ª pessoa do singular do presente do subjuntivo. Assim, acrescente as desinências de número e pessoa para obter as demais flexões. Observe o esquema: Estudar ⇒ eu estudo → que eu estude Vender ⇒ eu vendo → que eu venda Partir ⇒ eu parto → que eu parta
A18 Formação dos tempos verbais
+ Desinências:
570
S
∅
MOS
IS
M
2a p.s.
3a p.s.
1a p.p.
2a p.p.
3a p.p.
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estude
Venda
Parta
Tu
Estudes
Vendas
Partas
Ele
Estude
Venda
Parta
Nós
Estudemos
Vendamos
Partamos
Vós
Estudeis
Vendais
Partais
Eles
Estudem
Vendam
Partam
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Verbos irregulares: faço → faça + desinências nn TRAZER: trago → traga + desinências nn DIZER: digo → diga + desinências nn MEDIR: meço → meça + desinências nn PEDIR: peço → peça + desinências nn CONFERIR: confiro → confira + desinências nn PREFERIR: prefiro → prefira + desinências nn ADERIR: adiro → adira + desinências nn PÔR: ponho → ponha + desinências nn CABER: caibo → caiba + desinências nn VALER: valho → valha + desinências nn RIR: rio → ria + desinências nn VER: vejo → veja + desinências nn VIR: venho → venha + desinências nn TER: tenho → tenha + desinências nn FAZER:
Verbos que merecem atenção especial: nn SER:
seja; sejas; seja; sejamos; sejais; sejam. nn ESTAR: esteja; estejas; esteja; estejamos; estejais; estejam. nn IR: vá; vás; vá; vamos; vades; vão. nn DAR: dê; dês; dê; demos; deis; deem. nn SABER: saiba; saibas; saiba; saibamos; saibais; saibam. nn HAVER: haja; hajas; haja; hajamos; hajais; hajam. Imperativo afirmativo O imperativo afirmativo é formado a partir do presente do indicativo e do presente do subjuntivo. Lembremos que no modo imperativo não há a primeira pessoa do singular. Sabendo disso, as segundas pessoas do singular e do plural do imperativo afirmativo são formadas a partir das segundas pessoas do singular e do plural do presente do indicativo sem o “s” final; já as demais pessoas são idênticas ao presente do subjuntivo. Observe: nn TU
/ VÓS: presente do indicativo sem o “s” final. / NÓS / ELES: idêntico ao presente do subjuntivo.
nn ELE
Exemplos: nn Compra
o livro que te pedi. o livro que lhe pedi. nn Tenhamos um pouco de paciência, amigos. nn Esperai os melhores resultados possíveis. nn Digam sempre a verdade. nn Compre
A18 Formação dos tempos verbais
!
Fonte: shutterstock.com/Por Julia Tim
ATENÇÃO!
O único verbo cujo imperativo afirmativo não segue essa lógica de formação é o verbo ser. Veja: nn SER: sê (tu); seja (você); sejamos (nós); sede (vós); sejam (vocês).
571
Português
Imperativo negativo O imperativo negativo é formado totalmente a partir do presente do subjuntivo. Desse modo, imperativo negativo e presente do subjuntivo são idênticos na forma. Veja os exemplos: nn Não
compres o livro que te pedi.
nn Não
compre o livro que lhe pedi.
nn Nunca nn Não
abdiquemos de nossos sonhos.
espereis os piores resultados.
nn Jamais
repitam isso, estão me ouvindo?
Verbos defectivos Há alguns verbos designados defectivos. São aqueles que não possuem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, o que significa que tais verbos não possuem flexões no presente do subjuntivo, nem no imperativo negativo; apenas nas segundas pessoas no imperativo afirmativo. Os mais comuns são: abolir; banir; colorir; demolir; explodir; extorquir; falir; reaver; precaver-se. Veja um par de exemplos: ABOLIR
Indicativo
Subjuntivo
Imperativo afirmativo
Imperativo negativo
X
X
X
X
aboles
X
abole
X
abole
X
X
X
abolimos
X
X
X
abolis
X
aboli
X
abolem
X
X
X
Indicativo
Subjuntivo
Imperativo afirmativo
Imperativo negativo
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
reavemos
X
X
X
reaveis
X
reavei
X
X
X
X
X
A18 Formação dos tempos verbais
REAVER
572
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
02. (IF SC)
Disponível em: http://profmilenacaetano.blogspot.com.br/2012/12/tiras-damafalda-quino-para-discussao.html. Acesso em: 29 abr. 2013.
Com relação à classe gramatical das palavras no texto, é CORRETO afirmar: a) O adjetivo realmente, no quinto quadrinho, serve para intensificar o advérbio importantes. b) No terceiro quadrinho, a palavra ótima funciona como um substantivo, usado para caracterizar o comportamento da mãe da professora. c) A palavra parabéns, no terceiro quadrinho, funciona como um advérbio, o qual indica uma circunstância de modo. d) No quinto quadrinho, o verbo ensinar aparece conjugado no presente do indicativo, para indicar uma ação que ocorrerá num futuro imediato. e) Os verbos amar e mimar, no primeiro quadrinho, estão conjugados no presente do indicativo e revelam, no contexto, uma verdade geral a respeito do comportamento materno. 03. (IF SP) Considere as seguintes formas verbais: 1. havia recebido
3. tivesse recebido
2. tinha recebido
4. iria receber
Na frase: “Toda reforma foi realizada com os recursos que a instituição recebera da prefeitura da cidade.”, o sentido
temporal e a norma culta ficam inalterados se o verbo destacado for substituído pela(s) seguinte(s) forma(s) verbal(is): a) 4, apenas. b) 1, apenas. c) 1 e 2, apenas. d) 2, apenas. e) 3 e 4, apenas. 04. (UEG GO)
Fonte: <http://www. blogdefrases.com.br>. Acesso em: 24 set. 2014. (Adaptado).
Na tirinha, a locutora utiliza o imperativo verbal para desafiar seu interlocutor a lhe apresentar uma prova de amor. Essas formas imperativas apresentam um caso de variação na pessoa do verbo, tendo a seguinte configuração: a) “mate” e “peça” são formas de 2ª pessoa que derivam do presente do modo indicativo e se correlacionam ao pronome de 2ª pessoa “tu”. b) “prova” e “coloca” são formas de 3ª pessoa que derivam do presente do modo subjuntivo e se correlacionam ao pronome de 3ª pessoa “você”. c) “prova” e “coloca” são formas de 2ª pessoa correlacionadas ao pronome “tu”; “mate” e “peça” são formas de 3ª pessoa correlacionadas ao pronome “você”. d) “mate” e “peça” são formas de 2ª pessoa correlacionadas ao pronome “tu”; “prova” e “coloca” são formas de 3ª pessoa correlacionadas ao pronome “você”. 05. (Ibmec SP) [O ministro] disse que o governo está preferindo “procurar receitas que advenham de soluções e criação de oportunidade ao invés de aumentar a carga tributária”. Fonte: <http://epocanegocios.globo.com>. Acesso:30/09/2015
A respeito do verbo “advir”, empregado na fala do ministro, é correto afirmar que: a) contém um desvio de linguagem de natureza ortográfica. b) obedece ao padrão formal, pois segue a mesma conjugação de “vir”. c) apesar de ser comum na linguagem popular, a forma culta é “advejam”. d) por ser defectivo, não poderia ser conjugado no presente do subjuntivo. e) por expressar ideia de possibilidade, deveria ser substituído por “adviessem”.
573
A18 Formação dos tempos verbais
01. (IF SC) Considere o seguinte trecho: “[...] a rede Globo importa um programa que pode, a médio e longo prazo, demolir tudo o que os grandes mestres das lutas conseguiram em anos.” Assinale a alternativa CORRETA. a) As formas verbais “importa” e “pode” indicam o tempo e o modo em que os fatos relatados ocorreram, isto é, no passado, gramaticalmente conhecido como pretérito perfeito do indicativo. b) Na expressão “tudo o que os grandes mestres”, os termos destacados classificam-se como artigos indefinidos. c) A forma verbal “conseguiram” está na 3ª pessoa do plural para concordar com o sujeito “grandes mestres das lutas”. d) Na expressão “a rede Globo importa um programa”, temos dois sujeitos simultaneamente: rede Globo / um programa. e) As vírgulas são usadas na expressão “a médio e longo prazo” para separar o sujeito do predicado.
Português
Exercícios Complementares 01. (Unifor CE) Vieste na hora exata Com ares de festa e luas de prata Vieste com encantos, vieste Com beijos silvestres colhidos pra mim Vieste com a natureza Com as mãos camponesas plantadas em mim Vieste com a cara e a coragem Com malas, viagens, pra dentro de mim Meu amor Vieste a hora e a tempo Soltando meus barcos e velas ao vento Vieste me dando alento Me olhando por dentro, velando por mim Vieste de olhos fechados num dia marcado Sagrado pra mim Vieste com a cara e a coragem Com malas, viagens, pra dentro de mim (LINS, Ivan. Vieste. Disponível em: < http:// www.vagalume.com. br/ivan-lins/vieste.html > Acesso em: 08/04/2016)
A18 Formação dos tempos verbais
Uma análise morfossintática do verbo vir na canção “Vieste”, do compositor Ivan Lins, permite afirmar que o verbo é a) intransitivo, tem sujeito elíptico e apesenta-se no pretérito perfeito simples. b) transitivo direto, tem sujeito indeterminado e apresenta-se no pretérito mais que perfeito. c) transitivo indireto, tem sujeito elíptico e apresenta-se no futuro do pretérito. d) transitivo direto e indireto, tem oração com sujeito inexistente e apresenta-se no futuro do presente simples. e) intransitivo, tem sujeito indeterminado e apresenta-se no presente do subjuntivo. 02. (Escs DF) 1 Fala-se muito em globalização. As finanças, a 2 informação simultânea, as migrações de povos, o crime 3 organizado, os conhecimentos científicos, a tecnologia, os 4 sistemas de poder, a produção e o trabalho humano, tudo isso 5 se globaliza. Pode-se exaltar a globalização como oportunidade 6 de crescimento econômico e cultural dos povos. Pode-se ainda 7 criticá-la em razão dos que a conduzem, ou de como a 8 conduzem, ou dos rumos que toma. Mas ela é irrefreável, 9 sobretudo por corresponder a muitas exigências dos seres humanos. 10 Essa afirmação pode sofrer duas objeções: uma vem 11 sustentar que a globalização resulta em acumulação de capital 12 e de poder em poucas mãos e no predomínio das finanças 13 internacionais sobre qualquer outro interesse; outra, que o 14 conceito e a natureza da globalização foram
574
criados e 15 difundidos por forças neoliberais, com a intenção de levar 16 os povos a crer que não há alternativa e, assim, de negar a 17 função da política e da democracia. 8 Ambas as objeções baseiam-se em fatos reais. Pode-se 19 acrescentar que o ganho de capital passou a não respeitar nada 20 (a vida, a saúde e até mesmo as partes do corpo humano vão se 21 transformando em mercadoria) e que o credo neoliberal é 22 imposto aos povos com as regras do fundamentalismo 23 monetário, que não admite dissidências. É o que se evidencia 24 quando instituições financeiras internacionais subordinam sua 25 ajuda ao compromisso dos governos de reestruturar os sistemas 26 de saúde pública e previdência social. As consequências dessa 27 opção (e ainda mais, dos crescentes desníveis de renda, de 28 educação e de poder entre as classes e entre os povos) 29 traduziram-se por quase toda a parte em aumento das 30 desigualdades de níveis de saúde, documentadas por 31 estatísticas eloquentes, que se podem traduzir em milhões de 32 existências humanas truncadas ou prejudicadas. Giovanni Berlinguer. Globalização e saúde global. In: Estudos avançados. Vol. 13, n.º 35, São Paulo, jan./abr. 1999. Internet: <www.scielo.br> (com adaptações).
No texto, o vocábulo a) “ganho” (Ref.19) é a forma irregular do particípio passado do verbo ganhar. b) “imposto” (Ref.22) é uma forma de caráter verbal. c) “poder” (Ref.4) classifica-se como verbo. d) “humanos” (Ref.9) classifica-se como substantivo. 03. (ESPM SP) Na frase: “Fora Leonardo algibebe(²) em Lisboa, sua pátria;...”, a forma verbal em negrito pode ser substituída, sem prejuízo de sentido, por: a) tinha ido b) tinha sido c) seria d) foi e) iria 04. (Fac. Direito de Sorocaba SP) Texto 1 Empresas atendem protestos no Twitter em até duas horas Enquanto a interação no SAC ainda é unidirecional, as redes sociais deram rapidez e poder aos usuários. “Antes você reclamava para seus amigos e nada acontecia. Nas redes sociais você escancara essa situação”, afirma Renato Shirakashi, responsável por uma empresa de monitoramento de redes sociais. Para ele, a “tirania da transparência” é uma nova realidade à qual as empresas precisam se adaptar.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
(Lucas Sampaio. Folha de S.Paulo, 12.10.2011. Adaptado)
Texto 2 Agilidade da rede flamba a imagem das empresas em poucos instantes As redes sociais não somente mobilizaram populações contra tiranos, na chamada Primavera Árabe, como são muito mais eficazes na solução de infrações nas relações de consumo. A instantaneidade das reclamações e a velocidade de sua propagação queimam a reputação das companhias em ritmo vertiginoso. Não há negócio que resista a tamanha desconstrução digital. Os SACs são instrumentos ideais para uma verdadeira gestão de qualidade empresarial. Dirigentes e gestores têm preciosas informações sobre as falhas de seus produtos e serviços no registro da insatisfação dos clientes, mas continuam de olhos e ouvidos fechados. Perdem, assim, a oportunidade de reforçar o respeito e a fidelidade à marca, reduzindo custos de uma maneira mais inteligente do que por meio de cortes de pessoal e de serviços. Os reclamantes, porém, não devem se esquecer de formalizar suas queixas nos órgãos de defesa do consumidor, para atualizar a listagem das empresas que não agem corretamente e para que elas sofram as sanções previstas na lei. (Maria Inês Dolci. Folha de S.Paulo, 12.10.2011. Adaptado)
Muitas empresas____________ metas similares para atender a protestos de clientes: o prazo de duas horas_______ o máximo para mensagens que chegam via Twitter, e cinco dias úteis_______________ o limite para uma resposta às reclamações via telefone. De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, as lacunas devem ser preenchidas, respectivamente, por: a) mantém … é … constitui b) mantém … são … constituem c) mantêm … é … constituem d) mantêm … são … constitui e) mantêm … são … constituem 05. (Escs DF) 1 A tão repetida ideia de aldeia global é uma fabulação. 2 O fato de que a comunicação se tornou possível à escala do 3 planeta, deixando saber instantaneamente o que se passa em 4 qualquer lugar, permitiu que fosse cunhada essa expres-
são, 5 quando, na verdade, ao contrário do que se dá nas verdadeiras 6 aldeias, é frequentemente mais fácil comunicar com quem está 7 longe do que com o vizinho. A informação sobre o que 8 acontece não vem da interação entre pessoas, mas do que é 9 veiculado pela mídia, uma interpretação interessada, senão 10 interesseira, dos fatos. 11 Um outro mito é o do espaço e do tempo contraídos, 12 graças, outra vez, aos prodígios da velocidade. Só que a 13 velocidade está ao alcance apenas de um número limitado de 14 pessoas, de tal forma que, segundo as possibilidades de cada 15 um, as distâncias têm significações e efeitos diversos e o uso do 16 mesmo relógio não permite igual economia do tempo. 17 A ideia de aldeia global, tanto quanto a de espaçotempo 18 contraído, permitiria imaginar a realização do sonho de 19 um mundo só, já que, pelas mãos do mercado global, coisas, 20 relações, dinheiros, gostos largamente se difundem por sobre 21 continentes, raças, línguas, religiões, como se as 22 particularidades tecidas ao longo de séculos houvessem sido 23 todas esgarçadas. Tudo seria conduzido e, ao mesmo tempo, 24 homogeneizado pelo mercado global regulador. Será, todavia, 25 esse mercado regulador? Será ele global? 26 Fala-se, também, de uma humanidade 27 desterritorializada, entre cujas características estaria o 28 desfalecimento das fronteiras como imperativo da globalização, 29 e a essa ideia dever-se-ia uma outra: a da existência, já agora, 30 de uma cidadania universal. De fato, as fronteiras mudaram de 31 significação, mas nunca estiveram tão vivas, na medida em que 32 o próprio exercício das atividades globalizadas não prescinde 33 de uma ação governamental capaz de torná-las efetivas dentro 34 do território. A humanidade desterritorializada é apenas um 35 mito. O exercício da cidadania, mesmo se avança a noção de 36 moralidade internacional, é, ainda, um fato que depende da 37 presença e da ação dos Estados nacionais. Sem essas fábulas e 38 mitos, este período histórico não existiria como é: também não 39 seria possível a violência do dinheiro. Este só se torna violento 40 e tirânico porque é servido pela violência da informação. Milton Santos. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006 (com adaptações).
A respeito do segundo período do primeiro parágrafo do texto, assinale a opção correta. a) Na linha 6, a oração introduzida pela forma verbal “comunicar” subordina-se sintaticamente ao adjetivo “fácil”. b) A oração iniciada pela forma verbal “saber” (Ref.3) poderia ser corretamente substituída por uma oração introduzida pela conjunção que, se essa forma verbal fosse flexionada no presente do subjuntivo — saiba — e acompanhada da partícula se. c) O referente dos sujeitos das formas verbais “deixando” e “saber” (Ref.3), que estão elípticos no texto, é o mesmo. d) A expressão “o vizinho” (Ref.7) recebe uma interpretação específica e determinada nesse contexto, podendo-se recuperar, dadas as informações veiculadas no texto, a identidade desse vizinho. 575
A18 Formação dos tempos verbais
Juliana Rios, superintendente do SAC de uma instituição bancária, concorda. “Não existe mais a opção de não estar nas redes sociais. O efeito avassalador atinge todo mundo.” Ela afirma que a expectativa de resposta é totalmente diferente nesse novo SAC. No banco onde trabalha, há três metas: protestos que chegam via Twitter têm de ser atendidos em até duas horas; via Facebook, em 24 horas; via telefone, em até cinco dias úteis. Outras empresas trabalham com prazos similares. Para órgãos de defesa do consumidor, o tempo de resposta deveria ser um só. Segundo Karina Alfano, do Idec, “qualquer tentativa da empresa de facilitar o contato é válida, mas isso não pode virar uma forma de discriminação para um tipo de público”.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A19
ASSUNTOS ABORDADOS nn Formação dos tempos verbais II nn Pretérito perfeito do indicativo
FORMAÇÃO DOS TEMPOS VERBAIS II Pretérito perfeito do indicativo
nn Derivados do pretérito perfeito do indicativo nn Quadro-resumo da aula
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudei
Vendi
Parti
Tu
Estudaste
Vendeste
Partiste
Ele
Estudou
Vendeu
Partiu
Nós
Estudamos
Vendemos
Partimos
Vós
Estudastes
Vendestes
Partistes
Eles
Estudaram
Venderam
Partiram
Verbos irregulares
Fonte: shutterstock_572297374 Por everything possible
nn SER/IR:
576
fui; foste; foi; fomos; fostes; foram. nn ESTAR: estive; estiveste; esteve; estivemos; estivestes; estiveram. nn VER: vi; viste; viu; vimos; vistes; viram. nn VIR: vim; vieste; veio; viemos; viestes; vieram. nn TER: tive; tiveste; teve; tivemos; tivestes; tiveram. nn PÔR: pus; puseste; pôs; pusemos; pusestes; puseram. nn DIZER: disse; disseste; disse; dissemos; dissestes; disseram. nn TRAZER: trouxe; trouxeste; trouxe; trouxemos; trouxestes; trouxeram. nn FAZER: fiz; fizeste; fez; fizemos; fizestes; fizeram. nn SABER: soube; soubeste; soube; soubemos; soubestes; souberam. nn CABER: coube; coubeste; coube; coubemos; coubestes; couberam. nn HAVER: houve; houveste; houve; houvemos; houvestes; houveram. nn PODER: pude; pudeste; pôde; pudemos; pudestes; puderam. nn QUERER: quis; quiseste; quis; quisemos; quisestes; quiseram. É comum empregar-se, no pretérito perfeito do indicativo, verbos irregulares como se fossem regulares, especialmente, em se tratando de verbos derivados. Atente-se, portanto, às construções adequadas: nn O
juiz interviu na decisão. (interveio) nn Eles deteram o assaltante. (detiveram) nn Nós expomos, ontem à tarde, nossa opinião. (expusemos) nn A garota reaveu seu anel. (reouve) nn O professor não reveu minha prova. (reviu) nn Os alunos proporam mais cinco minutos de intervalo. (propuseram) nn As estudantes poram o nome na lista de frequência. (puseram)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Portanto, lembre-se de que: nn Conjugam-se
como VER: rever; prever; antever. nn Conjugam-se como VIR: intervir; advir; convir; provir; desavir-se. nn Conjugam-se como TER: manter; reter; obter; conter; deter; ater-se. nn Conjugam-se como PÔR: repor; depor; impor; expor; opor; (de)compor.
Derivados do pretérito perfeito do indicativo
!
ATENÇÃO!
O verbo requerer não se conjuga qual o verbo querer no pretérito perfeito do indicativo. Trata-se, na verdade, de um verbo regular. Veja: nn REQUERER: requereu; reque-
reste; requereu; requeremos; requerestes; requereram.
Pretérito mais-que-perfeito O pretérito mais-que-perfeito é formado a partir da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, retirando-se a letra “m” final dos verbos. Feito isso, você já terá a 1ª pessoa do singular do pretérito mais-que-perfeito. Assim, acrescente as desinências de número e pessoa para obter as demais flexões. Observe o esquema: Estudar ⇒ eles estudaram → eu estudara Vender ⇒ eles venderam → eu vendera Partir ⇒ eles partiram → eu partira ∅
MOS
(E)IS
M
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudara
Vendera
Partira
Tu
Estudaras
Venderas
Partiras
Ele
Estudara
Vendera
Partira
Nós
Estudáramos
Vendêramos
Partíramos
Vós
Estudáreis
Vendêreis
Partíreis
Eles
Estudaram
Venderam
Partiram
O emprego desse tempo verbal equivale ao de sua forma composta pelos verbos ter ou haver. Indica, portanto, uma ação que ocorreu antes da outra, também no passado. Veja um exemplo: nn Quando
o professor explicou a matéria, o aluno já fizera (tinha feito / havia feito) todos os exercícios.
A19 Formação dos tempos verbais II
S
Fonte: shutterstock Por Jacek Chabraszewski
+ Desinências:
577
Português
Futuro do subjuntivo O futuro do subjuntivo é formado a partir da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, retirando-se as letras “am” final dos verbos. Feito isso, você já terá a 1ª pessoa do singular do futuro do subjuntivo. Assim, acrescente as desinências de número e pessoa para obter as demais flexões. Observe o esquema: Estudar ⇒ eles estudaram → (quando) eu estudar Vender ⇒ eles venderam → (quando) eu vender Partir ⇒ eles partiram → (quando) eu partir + Desinências:
(E)S
∅
MOS
DES
(E)M
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudar
Vender
Partir
Tu
Estudares
Venderes
Partires
Ele
Estudar
Vender
Partir
Nós
Estudarmos
Vendermos
Partirmos
Vós
Estudardes
Venderdes
Partirdes
Eles
Estudarem
Venderem
Partirem
O emprego desse tempo verbal indica uma ação futura incerta; provável de acontecer. Veja os exemplos:
A19 Formação dos tempos verbais II
Fonte: shutterstock_286469927-Por Tom Wang
nn Viajarei
578
nn O
nessas férias, se eu tiver tempo livre e dinheiro sobrando.
que dissermos poderá ser usado contra nós.
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Pretérito imperfeito do subjuntivo O pretérito imperfeito do subjuntivo é formado a partir da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, retirando-se as letras “ram” final dos verbos e acrescentando as letras “sse”. Feito isso, você já terá a 1ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do subjuntivo. Assim, acrescente as desinências de número e pessoa para obter as demais flexões. Observe o esquema: Estudar ⇒ eles estudaram → (se) eu estudasse Vender ⇒ eles venderam → (se) eu vendesse Partir ⇒ eles partiram → (se) eu partisse + Desinências:
∅
S
MOS
IS
M
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudasse
Vendesse
Partisse
Tu
Estudasses
Vendersses
Partisses
Ele
Estudasse
Vendesse
Partisse
Nós
Estudássemos
Vendêssemos
Partíssemos
Vós
Estudásseis
Vendêsseis
Partísseis
Eles
Estudassem
Vendessem
Partissem
O emprego desse tempo verbal indica uma ação que poderia (ou deveria) ter acontecido, mas não aconteceu; possibilidade remota. Observe o exemplo: nn Se você resolvesse mais exercícios de interpretação textual, entenderia melhor
a matéria.
Pretérito perfeito
Pret. mais que perf.
Futuro subjunt.
Pret. imp. subjunt.
RAM 3a p.pl.
−M
− AM
− RAM +SSE
Ver
Viram
Vira
Vir
Visse
Vir
Vieram
Viera
Vier
Viesse
Pôr
Puseram
Pusera
Puser
Pusesse
Ter
Tiveram
Tivera
Tiver
Tivesse
Ser/Ir
Foram
Fora
For
Fosse
Verbo
A19 Formação dos tempos verbais II
Quadro-resumo da aula
579
Português
Exercícios de Fixação 01. (Puc RS) Entre o espaço público e o privado Excluídos da sociedade, os moradores de rua 02 ressignificam o único espaço que lhes foi permitido 03 ocupar, o espaço público, transformando-o em 04 seu “lugar”, um espaço privado. Espalhados pelos 05 ambientes coletivos da cidade, fazendo comida no 06 asfalto, arrumando suas camas, limpando as calçadas 07 como se estivessem dentro de uma casa: assim vivem 08 os moradores de rua. Ao andar pelas ruas de São 09 Paulo, vemos essas pessoas dormindo nas calçadas, 10 passando por situações constrangedoras, pedindo 11 esmolas para sobreviver. Essa é a realidade das 12 pessoas que fazem da rua sua casa e nela constroem 13 sua intimidade. Assim, a ideia de individualização que 14 está nas casas, na separação das coisas por cômodos 15 e quartos que servem para proteger a intimidade do 16 indivíduo, ganha outro sentido. O viver nas ruas, um 17 lugar aparentemente inabitável, tem sua própria lógica 18 de funcionamento, que vai além das possibilidades. 19 A relação que o homem estabelece com o 20 espaço que ocupa é uma das mais importantes para 21 sua sobrevivência. As mudanças de comportamento 22 social foram sempre precedidas de mudanças físicas 23 de local. Por mais que a rua não seja um local para 24 viver, já que se trata de um ambiente público, de 25 passagem e não de permanência, ela acaba sendo, 26 senão única, a mais viável opção. Alguns pensadores 27 já apontam que a habitação é um ponto base e 28 adquire uma importância para harmonizar a vida. 29 O pensador Norberto Elias comenta que “o quarto 30 de dormir tornou-se uma das áreas mais privadas 31 e íntimas da vida humana. Suas paredes visíveis 32 e invisíveis vedam os aspectos mais ‘privados’, 33 ‘íntimos’, irrepreensivelmente ‘animais’ da nossa 34 existência à vista de outras pessoas”. 35 O modo como essas pessoas constituem o único 36 espaço que lhes foi permitido indica que conseguiram 37 transformá-lo em “seu lugar”, que aproximaram, cada 38 um à sua maneira, dois mundos nos quais estamos 39 inseridos: o público e o privado.
A19 Formação dos tempos verbais II
01
RODRIGUES, Robson. Moradores de uma terra sem dono. (fragmento adaptado) In: http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ ESSO/edicoes/32/ artigo194186-4.asp. Acesso em 21/8/2014.
Quanto ao emprego dos verbos no texto, NÃO é correto afirmar que a) “fazer” tem sentido diferente nas referências 05 e 12. b) “dormindo” (Ref. 09), “passando” (Ref. 10) e “pedindo” (Ref. 10) indicam ações não concluídas no presente.
580
c) “viver” nas ocorrências das referências 16 e 24 tem valor de substantivo. d) “estabelece” (Ref. 19) expressa uma realidade permanente. e) “é” (Ref. 27) e “adquire” (Ref. 28) pertencem a orações sintaticamente paralelas. 02. (Ibmec SP)
(http://deposito-de-tirinhas.tumblr.com)
O dinamismo das línguas é atestado pela polissemia de vocábulos como “dever” e “precisar” que, dependendo dos contextos em que são utilizados, assumem diferentes sentidos. O uso do verbo “precisar” nas falas das personagens acima expressa, respectivamente, ideia de a) ordem e conveniência. b) capacidade e habilidade. c) conselho e possibilidade. d) compromisso e disposição. e) obrigação e necessidade. 03. (Espcex SP) Assinale a alternativa correta quanto ao emprego do verbo haver. a) Eu não sei, doutor, mas devem haver leis. b) Também a mim me hão ferido. c) Haviam tantas folhas pelas calçadas. d) Faziam oito dias que não via Guma. e) Não haverão umas sem as outras. 04. (Puc Campinas SP) “O que você quer ser quando crescer?” Toda criança ouve essa pergunta dezenas de vezes. 2 Quase sempre há uma resposta, dada por ela mesma 3 (bombeiro! 1
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
piloto de fórmula 1! mágico! cantor!) ou pelos 4 zelosos paizi-
quem saberá dizer quais próximos passos
nhos (médico! engenheiro! advogado!). Ao que parece nin-
quais novas especialidades?
guém dá muita importância ao que se designa por 6 “vocação”,
O que não se pode esquecer é que o atendimento a uma vocação – seja ela qual for – é praticamente uma garantia 59 de realização pessoal. Descontadas as condições indignas 60 em que um trabalho se dê – caso da escravatura, da 61 exploração de mão de obra barata, das atividades 62 insalubres etc. – toda atividade pode ser intrinsecamente 63 gratificante. Há o pequeno lavrador que ama a terra, o 64 funcionário que esbanja sociabilidade em sua função, o 65 motorista zeloso e amigo dos passageiros. Se o executivo 66 se embebeda em casa para esquecer a ambição que o faz 67 infeliz no escritório, estará ele atendendo a alguma 68 vocação? E o palhaço do circo pobre, lutando contra todas 69 as dificuldades, não pode refletir em si mesmo a alegria que 70 distribui? 71 Vocare, chamar, chamamento: somos capazes de ouvir 72 bem essa voz supostamente instalada dentro de nós? 73 Con-
do latim vocare, isto é, chamar: somos levados a 7 exercer uma profissão para a qual fomos chamados. Vinda 8 de fora ou de dentro de nós, essa “voz” nos leva a ser 9 professores, músicos, atores, malabaristas − e até médicos 10 e engenheiros, por que não? Essa voz atua com muita 11 força, mas muitos de nós acabam por se desviar dela. 12
Há vocações irresistíveis, como a do renascentista 13 Miche-
langelo: diante da escultura recém-finalizada de 14 Moisés, bateu no joelho de mármore e gritou: −Fala! 15 Reconheceu, ali, a força viva da obra que criara e, com ela, 16 a de uma plena vocação. E há vocações macabras: o 17 fisiologista francês Antoine Louis, ao tempo da Revolução
18
Francesa, inventou a guilho-
tina; cientistas vocacionados e
19
bem-intencionados acabam
inadvertidamente contribuindo
20
para a criação de armas de
eliminação em massa, como a 21 bomba atômica, de catastrófica lembrança ao final da 22 II Guerra. São numerosas as vocações que não se 23 cumprem: Maquiavel podia ter sido um príncipe italiano, na 24 dividida Itália do século XVI, pois escreveu um tratado 25 clássico sobre essa figura poderosa, mas se limitou a ser 26
um escritor e diplomata. Por sua vez, Napoleão Bonaparte,
27
que leu e comentou Maquiavel, tinha fortes aspirações de 28
escritor. Entre nós, D. Pedro II parecia amar mais a 29 literatura do que o poder imperial: protegeu escritores ao seu reinado. Poeta, Manuel Bandeira confessava
longo de
30 31
ter prefe-
rido ser músico, e Carlos Drummond de Andrade 32 formou-se em Farmácia sem jamais exercer o ofício, 33 trabalhando como funcionário público e jornalista: seus 34 estudos farmacêuticos renderam-lhe tão-somente uma 35 referência aos álcoois, num de seus poemas. Na prosa,36 Graciliano Ramos era um escritor tão vocacionado que até
37
57 58
correndo com ela, ou contra ela, há as vozes poderosas 74 do “mercado”, essa entidade que acaba por reger tantas 75 vidas. Em vez da vocação, a “boa oportunidade”, o “melhor 76 ganho”: traça-se uma linha reta entre os pretendentes e 77 algum pote de dinheiro, e começa a corrida. Entre o químico 78 promissor e o laboratório surge a corrida da Bolsa; entre o 79 provável grande biólogo e os estudos genéticos de ponta 80 arma-se a promessa do dinheiro fácil das vendas; entre o 81 jovem violoncelista e as sonatas clássicas surge um cargo 82 burocrático insosso mas estável. E é de se perguntar: e os 83 políticos, quantos estarão cumprindo de fato a vocação 84 original de cuidar bem da polis, ou seja, dos interesses 85 públicos? 86 As vocações bem atendidas são mais que simples 87 realizações pessoais: são as células saudáveis que 88 constituem da melhor forma o melhor tecido social. (Adalberto Cruz e Silva, inédito)
seus relatórios administrativos de
prefeito tornaram-se 38 documentos de valor literário. 39
Décadas atrás, um jovem ingressante do ensino médio,
40
então chamado “curso colegial”, decidia-se já pelas
41
hu-
determinarão
Concorrendo com ela, ou contra ela, há as vozes poderosas do “mercado”, essa entidade que acaba por reger tantas vidas.
manidades (o “Clássico”), pelas exatas (o “Científico”) ou
42
Sobre o que se tem acima (Refs. 73 a 75), é correto afirmar:
pela pedagogia (o “Normal”). No atual sistema de seleção
43
a) O verbo “acabar”, como auxiliar, exprime a ideia de que a
do vestibular, pretende-se quase sempre que o aluno tenha
ação de reger se efetiva, ainda que não fosse esperado que o “mercado” conduzisse tantas vidas.
noções básicas de todas as disciplinas. De Pitágoras e
45
Sócrates a Darwin e a Einstein, dos tempos homéricos à
46
b) A presença de uma vírgula depois da palavra entidade é op-
fissão nuclear, o vestibulando de hoje enfrentará uma
47
es-
cional, pois ela não produziria alteração nem sintática, nem
pécie de radiografia fundamental do saber e da história
48
dos
44
homens de todas as épocas. 49
A modernidade trouxe consigo uma multiplicação
ordinária de profissões e ocupações possíveis.
51
50
extra-
Somente na
área da Informática, o jovem tem diante de si 52 desde a programação de softwares e hardwares até a
53
criação de blo-
gs, da publicidade digital à manifestação 54 política nas redes sociais. A parafernália eletrônica continua
semântica. c) A substituição de há por “pode surgirem” alteraria o sentido
55
original, mas estaria correta do ponto de vista gramatical. d) A oração em que se encontra a forma Concorrendo expressa, sem outra possibilidade, a ideia de condição. e) No início do período, o uso de com e contra constitui recurso de estilo, sem impacto para o sentido do fragmento.
em expansão: 581
A19 Formação dos tempos verbais II
5
56
Português
Exercícios Complementares 01. (UFPR)
A19 Formação dos tempos verbais II
As palavras e o tempo Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” soava-me tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. [...] A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito, parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar disponível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi alguém confessar: “Deletei ela da minha vida”. Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela segue adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou. Cristóvão Tezza, Gazeta do Povo, 20 set.2011.
“Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que
582
parecem tão comuns, com um jeitão de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de 20 anos – e também já estão no Houaiss.” A partir desse trecho, é correto afirmar: a) “Priorizar” e “disponibilizar” são formas antigas, do tempo de Camões. b) As formas analíticas são mais interessantes. c) “Priorizar” é uma forma sintética que veio substituir a forma analítica “dar prioridade”. d) Palavras com mais de 20 anos já são consideradas arcaicas. e) O desaparecimento de “priorizar” e “disponibilizar” é iminente. 02. (Ibmec SP) Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituirme os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras...? (Dom Casmurro, Machado de Assis)
O mesmo uso do verbo lembrar na frase “lembrou-me escrever um livro” ocorre em: a) Lembrei-me de sair de casa. b) Lembrou-me de sair de casa. c) Lembrei de sair de casa. d) Lembrei-me sair de casa. e) Lembrou-me sair de casa. 03. (UFRGS) 01 À porta do Grande Hotel, pelas duas da 02 tarde, Chagas e Silva postava-se de palito à 03 boca, como se tivesse descido do restaurante 04 lá de cima. Poderia parecer, pela estampa, 05 que somente ali se comesse bem em Porto 06 Alegre. Longe disso! A Rua da Praia que o 07 diga, ou melhor, que o dissesse. O faz de 08 conta do inefável personagem ligava-se mais 09 à importância, à moldura que aquele portal 10 lhe conferia. Ele, que tanto marcou a rua, 11 tinha franco acesso às poltronas do saguão 12 em que se refestelavam os importantes. 13 Andava dentro de um velho fraque, usava 14 gravata, chapéu, bengala sob o braço, barba 15 curta, polai-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Adaptado de: RUSCHEL, Nilo. Rua da Praia. Porto Alegre: Editora da Cidade, 2009. p. 110-111.
Considere as afirmações abaixo, a respeito dos tempos verbais utilizados no texto. I. Os verbos era (Ref. 17) e dispunha (Ref. 37) estão conjugados no mesmo tempo e modo. II. Todos os verbos do primeiro parágrafo estão conjugados no pretérito imperfeito do indicativo, porque fazem referência a rotinas e hábitos do passado. III. Os verbos ocupar-me (Ref. 30) e divertia-se (Refs. 49-50) estão conjugados no modo subjuntivo. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e II. e) I, II e III. 04. (UFRGS) 01 Hoje os conhecimentos se estruturam de 02 modo fragmentado, separado, 03 compartimentado nas disciplinas. Essa 04 situação impede uma visão global, uma visão 05 fundamental e uma visão complexa. 06 “Complexidade” vem da palavra latina 07 complexus , que significa a compreensão dos 08 elementos no seu conjunto. 09 As disciplinas costumam excluir tudo o que 10 se encontra fora do seu campo de 11 especialização. A literatura, no entanto, é
uma 12 área que se situa na inclusão de todas as 13 dimensões humanas. Nada do humano lhe é 14 estranho, estrangeiro. 15 A literatura e o teatro são desenvolvidos 16 como meios de expressão, meios de 17 conhecimento, meios de compreensão da 18 complexidade humana. Assim, podemos ver o 19 primeiro modo de inclusão da literatura: a 20 inclusão da complexidade humana. E vamos 21 ver ainda outras inclusões: a inclusão da 22 personalidade humana, a inclusão da 23 subjetividade humana e, também, muito 24 importante, a inclusão do estrangeiro, do 25 marginalizado, do infeliz, de todos que 26 ignoramos e desprezamos na vida cotidiana. 27 A inclusão da complexidade humana é 28 necessária porque recebemos uma visão 29 mutilada do humano. Essa visão, a de homo 30 sapiens , é uma definição do homem pela 31 razão; de homo faber , do homem como 32 trabalhador; de homo economicus , movido 33 por lucros econômicos. Em resumo, trata-se 34 de uma visão prosaica, mutilada, que esquece 35 o principal: a relação do sapiens/demens , da 36 razão com a demência, com a loucura. 37 Na literatura, encontra-se a inclusão dos 38 problemas humanos mais terríveis, coisas 39 insuportáveis que nela se tornam suportáveis. 40 Harold Bloom escreve: “Todas as grandes 41 obras revelam a universalidade humana 42 através de destinos singulares, de situações 43 singulares, de épocas singulares”. É essa a 44 razão por que as obras-primas atravessam 45 séculos, sociedades e nações. 46 Agora chegamos à parte mais humana da 47 inclusão: a inclusão do outro para a 48 compreensão humana. A compreensão nos 49 torna mais generosos com relação ao outro, e 50 o criminoso não é unicamente mais visto 51 como criminoso, como o Raskolnikov de 52 Dostoievsky, como o Padrinho de Copolla. 53 A literatura, o teatro e o cinema são os 54 melhores meios de compreensão e de 55 inclusão do outro. Mas a compreensão se 56 torna provisória, esquecemo-nos depois da 57 leitura, da peça e do filme. Então essa 58 compreensão é que deveria ser introduzida e 59 desenvolvida em nossa vida pessoal e social, 60 porque serviria para melhorar as relações 61 humanas, para melhorar a vida social. Adaptado de: MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da literatura. In: RÖSING, Tânia et al. Edgar Morin: religando fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p.13-18
Considere as seguintes afirmações, referentes ao uso de tempos e modos verbais no texto. I. O emprego do presente na forma verbal revelam (Ref. 41) reforça o caráter generalizador da afirmação, já sinalizado pelo emprego de Todas (Ref. 40). II. Os usos de futuro do pretérito em deveria (Ref. 58) e serviria (Ref. 60) contribuem para mostrar que o autor conclui a argumentação com soluções possíveis e desejáveis. III. A presença no texto de verbos nos modos indicativo e subjuntivo confere sentidos de certeza e de possibilidade à argumentação.
583
A19 Formação dos tempos verbais II
nas e uns olhinhos apertados na 16 ........ bronzeada. O charuto apagado na boca, 17 para durar bastante, era o toque final dessa 18 composição de pardavasco vindo das Alagoas. 19 Chagas e Silva chegou a Porto Alegre em 20 1928. Fixou-se na Rua da Praia, que percorria 21 com passos lentos, carregando um ar de 22 indecifrável importância, tão ao jeito dos 23 grandes de então. Os estudantes tomaram 24 conta dele. Improvisaram comícios na praça, 25 carregando-o nos braços e fazendo-o 26 discursar. Dava discretas mordidas e 27 consentia em que lhe pagassem o cafezinho. 28 Mandava imprimir sonetos, que “trocava” por 29 dinheiro. 30 Não era de meu propósito ocupar-me do 31 “doutor” Chagas e, sim, de como se comia 32 bem na Rua da Praia de antigamente. Mas ele 33 como que me puxou pela manga e levou-me 34 a visitar casas por onde sua imaginação de 35 longe esvoaçava. 36 Porto Alegre, sortida por tradicionais 37 armazéns de especialidades, dispunha da 38 melhor matéria-prima para as casas de pasto. 39 Essas casas punham ao alcance dos gourmets 40 virtuosíssimos “secos e molhados” vindos de 41 Portugal, da Itália, da França e da Alemanha. 42 Daí um longo e ........ período de boa comida, 43 para regalo dos homens de espírito e dos que 44 eram mais estômago que outra coisa. 45 Na arte de comer bem, talvez a dificuldade 46 fosse a da escolha. Para qualquer lado que o 47 passante se virasse, encontraria salões 48 ornamentados, ........ maiores ou menores, 49 tabernas ou simples tascas. A Cidade divertia-se 50 também pela barriga.
Português
Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e II. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 05. (Puc RJ) A tarefa de desenvolver as capacidades intelectuais e morais do sujeito universal, como condição de aprimoramento da personalidade do indivíduo, juntamente com a inserção social e a reprodução dos conteúdos culturais da tradição, formam o esteio da intencionalidade educativa moderna. A escola deve assumir o compromisso com o desenvolvimento das estruturas mentais do sujeito para que ele seja capaz de operar em níveis de abstração elevada. Essa é uma condição necessária para que os processos de tomada de consciência superem a racionalidade instrumental e habilitem o sujeito frente às possibilidades da competência comunicativa. Cabe à escola favorecer uma aprendizagem crítica do conhecimento científico, promover a discursividade dos alunos e a discussão pública das formas de racionalidade subjacentes aos processos escolares. [...] A construção de uma razão que se descentra é condição necessária para que o sujeito reconheça outras razões e seja capaz de agir com competência no discurso argumentativo, fundamental para a racionalidade comunicativa que opera nas bases de um pensamento refletido, tornando conscientes os seus esquemas de ação. Texto adaptado de LIMA, João Francisco Lopes de. A reconstrução da tarefa educativa: uma alternativa para a crise e a desesperança. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003, p. 103.
Com relação à frase abaixo, faça o que é pedido a seguir. “A escola deve assumir o compromisso com o desenvolvimento das estruturas mentais do sujeito para que ele seja capaz de operar em níveis de abstração elevada.” i) ii)
Determine o valor semântico do verbo auxiliar dever na locução “deve assumir”. Indique um outro verbo auxiliar que mantenha o mesmo sentido da expressão sublinhada e que forme uma locução verbal com o verbo operar: i) Valor semântico de obrigação; ii) “possa operar”. “__________________ operar”.
A19 Formação dos tempos verbais II
06. (Fac. Cultura Inglesa SP) Excerto 1 Cabeça de porco Na gíria popular, é comum dizer que um imóvel de péssima qualidade e muitos moradores não passa de uma cabeça de porco. O berço dessa expressão surgiu no final do século 19 e era o nome do maior cortiço do centro do Rio de Janeiro, com cerca de quatro mil habitantes, derrubado em 26 de janeiro de 1893 por determinação do então prefeito carioca Cândido Barata Ribeiro, atendendo à recomendação da Inspetoria Geral de Higiene. 584
O escritor Aluísio Azevedo é o autor do clássico O cortiço, em que usou o Cabeça de Porco como fonte de inspiração para seu livro. (Márcio Cotrim. Revista Língua Portuguesa, dezembro de 2014. Adaptado.)
Excerto 2 João Romão não saía nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição de Bertoleza, indo em hasta pública1 algumas braças2 de terra situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela. Que milagres de esperteza e de economia não realizou ele nessa construção! Servia de pedreiro, amassava e carregava barro, quebrava pedra; pedra, que o velhaco, fora de horas, junto com a amiga, furtavam à pedreira do fundo, da mesma forma que subtraíam o material das casas em obra que havia por ali perto. Estes furtos eram feitos com todas as cautelas e sempre coroados do melhor sucesso, graças à circunstância de que nesse tempo a polícia não se mostrava muito por aquelas alturas. João Romão observava durante o dia quais as obras em que ficava material para o dia seguinte, e à noite lá estava ele rente3, mais a Bertoleza, a removerem tábuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua, com tamanha habilidade que se não ouvia vislumbre de rumor. […] Nada lhes escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, os cavalos de pau, o banco ou a ferramenta dos marceneiros. E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão. hasta pública: venda de bens em leilão. braça: unidade de medida que equivale a dez palmos. 3 rente: constante, assíduo. 1 2
(Aluísio Azevedo. O cortiço, 1993. Adaptado.)
“furtavam à pedreira do fundo, da mesma forma que subtraíam o material das casas em obra que havia por ali perto.” (2º parágrafo) Assinale a alternativa em que o verbo “haver” está empregado com o mesmo sentido do trecho transcrito. a) No âmbito do Poder Judiciário, nunca houve tantos processos à espera da análise dos promotores. b) Diante da animosidade entre os times, o juiz houve por bem encerrar a partida. c) Durante a expedição, o geógrafo havia, enfim, encontrado a nascente do rio. d) Toda aquela riqueza não havia de bastar para um homem tão ambicioso como ele. e) A maioria dos moradores havia decidido por construir as casas em sistema de mutirão.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A20
FORMAÇÃO DOS TEMPOS VERBAIS III
ASSUNTOS ABORDADOS nn Formação dos tempos verbais III
Derivados do infinitivo impessoal
nn Derivados do infinitivo impessoal
Nesta aula, estudaremos os tempos verbais que são derivados do infinitivo impessoal, isto é, a forma primeira dos verbos. Os tempos verbais que se derivam do infinitivo impessoal são: pretérito imperfeito do indicativo, futuro do presente, futuro do pretérito e formas nominais (infinitivo pessoal, gerúndio e particípio).
nn Formas nominais dos verbos
Pretérito imperfeito do indicativo O pretérito imperfeito do indicativo é formado a partir do radical do infinitivo e pelo acréscimo das desinências “(a)va” (1ª conjugação) e “ia” (2ª e 3ª conjugações). Feito isso, você já terá a 1ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo. Assim, acrescente as desinências de número e pessoa para obter as demais flexões. Observe o esquema: Estudar ⇒ eu estudava Vender ⇒ eu vendia Partir ⇒ eu partia + Desinências:
S
∅
MOS
(E)IS
M
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudava
Vendia
Partia
Tu
Estudavas
Vendias
Partias
Ele
Estudava
Vendia
Partia
Nós
Estudávamos
Vendíamos
Partíamos
Vós
Estudáveis
Vendíeis
Partíeis
Eles
Estudavam
Vendiam
Partiam
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Atenção para os verbos irregulares: nn SER:
era; eras; era; éramos; éreis; eram. nn TER: tinha; tinhas; tinha; tínhamos; tínheis; tinham. nn VIR: vinha; vinhas; vinha; vínhamos; vínheis; vinham. nn PÔR: punha; punhas; punha; púnhamos; púnheis; punham. O emprego desse tempo verbal pode indicar uma ação passada, habitual, duradoura ou contínua. Veja os exemplos: nn Quando nn Ontem,
eu era criança, eu só estudava no dia da prova. enquanto você dormia, eu trabalhava. 585
Português
Futuro do presente O futuro do presente é formado a partir do infinito aglutinado ao verbo haver no presente do indicativo.
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Estudar ⇒ Vender ⇒ Partir ⇒ Fazer ⇒ Trazer ⇒ Dizer ⇒
!
Estudar Vender Partir Far* Trar* Dir*
(H)EI (H)ÁS (H)Á (H)EMOS (H)EIS (H)ÃO
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudarei
Venderei
Partirei
Tu
Estudarás
Venderás
Partirás
Ele
Estudará
Venderá
Partirá
Nós
Estudaremos
Venderemos
Partiremos
Vós
Estudareis
Vendereis
Partireis
Eles
Estudarão
Venderão
Partirão
ATENÇÃO!
Atente-se para os verbos irregulares: nn FAZER: farei; farás; fará; faremos; fareis; farão. nn TRAZER: trarei; trarás; trará; traremos; trareis; trarão. nn DIZER: direi; dirás; dirá; diremos; direis; dirão.
O emprego desse tempo verbal indica uma ação futura, posterior ao momento da fala. Pode tanto ser expresso pela forma simples como pela composta (verbos ir ou haver auxiliares). Veja o exemplo: viajarei (hei de viajar / vou viajar) na próxima semana, faremos (hemos de fazer / vamos fazer) a reunião assim que eu voltar.
A20 Formação dos tempos verbais III
nn Como
586
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Futuro do pretérito O futuro do pretérito é formado a partir do infinito aglutinado ao verbo haver no pretérito imperfeito do indicativo. IA IAS IA ÍAMOS ÍEIS IAM
Pessoas
Estudar
Vender
Partir
Eu
Estudaria
Venderia
Partiria
Tu
Estudarias
Venderias
Partirias
Ele
Estudaria
Venderia
Partiria
Nós
Estudaríamos
Venderíamos
Partiríamos
Vós
Estudaríeis
Venderíeis
Partiríeis
Eles
Estudariam
Venderiam
Partiriam
O emprego desse tempo verbal indica uma suposição acerca de um fato, que depende de certa condição para ocorrer. Pode ser expresso pela forma simples e, a depender do contexto, pela composta (verbo ir auxiliar). Veja os exemplos: nn Naquela nn Eu
época, a cidade teria uns 100 mil habitantes.
compraria (ia comprar) aquela casa, se tivesse dinheiro.
Fonte: shutterstock.com/Por chuyuss
Estudar Vender Partir Far* Trar* Dir*
A20 Formação dos tempos verbais III
Estudar ⇒ Vender ⇒ Partir ⇒ Fazer ⇒ Trazer ⇒ Dizer ⇒
587
Português
Formas nominais dos verbos Infinitivo pessoal Formado a partir do infinitivo impessoal acrescido das desinências de número e pessoa. Veja o esquema: Estudar ⇒ (para) eu estudar Vender ⇒ (para) eu vender Partir ⇒ (para) eu partir Fazer ⇒ (para) eu fazer + Desinências:
(E)S
∅
MOS
DES
(E)M
Gerúndio Formado a partir do tema do verbo acrescentando-se “ndo”. Observe: Estudar ⇒ estudando Vender ⇒ vendendo
!
Partir ⇒ partindo
ATENÇÃO!
Fazer ⇒ fazendo
Atente-se para os verbos de particípio irregular:
Vir ⇒ vindo
nn ABRIR: aberto nn COBRIR: coberto nn VER: visto
Pôr ⇒ pondo Particípio Os verbos de particípio regular são formados pelo radical do verbo acrescido das formas “ado” (1ª conjugação) e “ido” (2ª e 3ª conjugações). Veja:
nn VIR: vindo nn FAZER: feito
Estudar ⇒ estudado
nn PÔR: posto
Vender ⇒ vendido
nn ESCREVER: escrito
Partir ⇒ partido
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A20 Formação dos tempos verbais III
nn DIZER: dito
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Sorrir ⇒ Sorrido Existem verbos cujo particípio é abundante, isto é, eles possuem duas formas de particípio, uma regular, e outra irregular. As formas regulares são usadas com os verbos auxiliares ter e haver, já as formas irregulares são usadas com os verbos auxiliares ser, estar e ficar. Observe: nn A
garota tinha aceitado o convite. médicos haviam expulsado o pai da sala de parto. nn O convite foi aceito pela garota. nn O pai ficou expulso da sala de parto por 1 hora. nn A dívida enfim está paga. nn Os
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (Fuvest SP)
a) desenvolvimento contínuo. Revelação do subúrbio
Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a [vidraça do carro*,
b) curta extensão de tempo. c) descontinuidade no tempo. d) perspectiva futura. e) longa extensão de tempo.
vendo o subúrbio passar. O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,
03. (FGV SP) Consideração do poema
com medo de não repararmos suficientemente em suas luzes que mal têm tempo de brilhar. A noite come o subúrbio e logo o devolve, ele reage, luta, se esforça, até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais e à noite só existe a tristeza do Brasil. Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo, 1940.
(*) carro: vagão ferroviário para passageiros. Considerados no contexto, dentre os mais de dez verbos no presente, empregados no poema, exprimem ideia, respectivamente, de habitualidade e continuidade
Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis. Uma pedra no meio do caminho ou apenas um rastro, não importa. Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
a) “gosto” e “repontam”. b) “condensa” e “esforça”. c) “vou” e “existe”. d) “têm” e “devolve”. e) “reage” e “luta”.
de toda a precisão se incorporam ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata
02. (Fac. Cultura Inglesa SP) Leia a tira de Adão Iturrusgarai.
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski. São todos meus irmãos, não são jornais nem deslizar de lancha entre camélias: é toda a minha vida que joguei. Estes poemas são meus. É minha terra e é ainda mais do que ela. É qualquer homem ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna em qualquer estalagem, se ainda as há. – Há mortos? há mercados? há doenças? por que falsa mesquinhez me rasgaria? Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas. O beijo ainda é um sinal, perdido embora, da ausência de comércio,
(Folha de S.Paulo, 01.09.2013.)
No primeiro quadrinho, na fala da personagem, a locução verbal Acabo de lançar expressa uma ação de
boiando em tempos sujos. (...) Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.
589
A20 Formação dos tempos verbais III
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
Português
A20 Formação dos tempos verbais III
Considere as seguintes afirmações sobre diferentes elementos do texto: I. O verbo “rimarei”, empregado duas vezes no início do texto, pode ser entendido em seu sentido literal nas duas ocorrências. II. No verso “nem deslizar de lancha entre camélias” (2ª. estrofe), a palavra “deslizar” deve ser lida como substantivo e não como verbo. III. O pronome que ocorre na frase “se ainda as há” (3ª. estrofe), embora esteja no plural, relaciona-se, quanto ao sentido, com uma palavra no singular. Está correto apenas o que se afirma em a) I. b) II. c) III d) I e II. e) II e III. 04. (Acafe SC) Assinale o texto em que se utiliza o imperativo, mantendo sempre a mesma pessoa gramatical. a) Liguem o forno para aquecer por 10 minutos em fogo baixo. Batam no liquidificador os ovos, o leite moça e o leite por 3 minutos. Façam uma calda com o açúcar, deixem esfriar um pouco. Colocar a calda numa forma com furo no meio, colocando o pudim sobre a calda. Leve ao forno (não precisa ser em banho-maria) em torno de 40 graus até ficar moreninho em cima, em torno de 40 minutos. Aguardem esfriar e leve à geladeira. b) Ligar o forno para aquecer por 10 minutos em fogo baixo. Bater no liquidificador os ovos, o leite moça e o leite por 3 minutos. Fazer uma calda com o açúcar, deixar esfriar um pouco. Colocar a calda numa forma com furo no meio, colocar o pudim sobre a calda. Levar ao forno (não precisa ser em banho-maria) em torno de 40 graus até ficar moreninho em cima, em torno de 40 minutos. Aguardar esfriar e levar à geladeira. c) Ligue o forno para aquecer por 10 minutos em fogo baixo. Bata no liquidificador os ovos, o leite moça e o leite por 3 minutos. Faça uma calda com o açúcar, deixe esfriar um pouco. Coloque a calda numa forma com furo no meio, coloque o pudim sobre a calda. Leve ao forno (não precisa ser em banho-maria) em torno de 40 graus até ficar moreninho em cima, em torno de 40 minutos. Aguarde esfriar e leve à geladeira. d) Liga-se o forno para aquecer por 10 minutos em fogo baixo. Batam-se no liquidificador os ovos, o leite moça e o leite por 3 minutos. Faça-se uma calda com o açúcar, deixa-se esfriar um pouco. Coloca-se a calda numa forma com furo no meio, coloca-se o pudim sobre a calda. Leva-se ao forno (não precisa ser em banho-maria) em torno de 40 graus até ficar moreninho em cima, em torno de 40 minutos. Aguarda-se esfriar e leva-se à geladeira.
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05. (Ibmec SP) Texto I A dança do verbo regente A imagem de um maestro a conduzir a orquestra com batuta e fraque pode ser severa em demasia. Mas talvez traduza como poucas a ideia que fazemos da regência verbal. Como um maestro, o verbo regente cria uma unidade necessária entre personas diversas, que o seguem a seu sinal. Ele é, no entanto, regente caprichoso: o mesmo verbo pode assumir significados diferentes a cada relação que mantém com seus complementos. (Revista Língua, edição 45, fevereiro de 2012)
Texto II
(http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4643401/ amar-verbo-intransitivo-col-saraiva-de-bolso)
Considerando as informações do Texto I, identifique a alternativa em que o verbo “amar”, tal como no título do livro de Mário de Andrade (Texto II), é intransitivo. a) “Que pode uma criatura senão,/entre criaturas, amar/ amar e esquecer (...)?” (Carlos Drummond de Andrade) b) “Amar a Deus sobre todas as coisas” (Um dos mandamentos) c) “Quero de amor/ Viver no teu coração!/ Sofrer e amar essa dor/ Que desmaia de paixão!” (Álvares de Azevedo) d) “Não é maior o coração que a alma/Nem melhor a presença que a saudade/Só te amar é divino, e sentir calma…” (Vinicius de Moraes) e) “Amar a nossa falta mesma de amor e na secura nossa/Amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita?” (Carlos Drummond de Andrade)
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Exercícios Complementares 01. (Puc GO)
II.
Talhado para as grandezas, P’ra crescer, criar, subir, O Novo Mundo nos músculos Sente a seiva do porvir. – Estatuário de colossos – Cansado doutros esboços Disse um dia Jeová: “Vai, Colombo, abre a cortina “Da minha eterna oficina... “Tira a América de lá.” Molhado inda do dilúvio, Qual Tritão descomunal, O continente desperta No concerto universal. Dos oceanos em tropa Um – traz-lhe as artes da Europa, Outro – as bagas de Ceilão... E os Andes petrificados, Como braços levantados, Lhe apontam para a amplidão. Olhando em torno então brada: “Tudo marcha!... Ó grande Deus! As cataratas – p’ra terra, As estrelas – para os céus Lá, do pólo sobre as plagas, O seu rebanho de vagas Vai o mar apascentar... Eu quero marchar com os ventos, Com os mundos... co’os firmamentos!!!” E Deus responde – “Marchar!” [...] (ALVES, Castro. Melhores poemas de Castro Alves. São Paulo: Global, 2003. p. 15-16.)
O gerúndio, o infinitivo e o particípio, por não apresentarem flexão de tempo e modo e por serem tomados como nomes – substantivos, adjetivos e advérbios −, são conhecidos como as formas nominais do verbo. Sobre o uso dessas formas nominais no texto, considere as seguintes proposições: I. As formas crescer, criar, subir indicam as ações que Colombo estava predestinado a realizar num futuro próximo.
As formas talhado e cansado, que fazem referência, respectivamente, a Novo Mundo e a Jeová, têm semelhança com o adjetivo por qualificarem seus referentes. III. A forma olhando, que manifesta a atitude do grande Deus em contemplar a sua própria criação, indica a concomitância entre as ações de olhar e marchar. IV. A forma petrificados, cujo referente é Andes, associa-se por analogia a braços levantados, o que contribui para a construção personificada da América. Em relação às proposições analisadas, assinale a única alternativa que apresenta todas as corretas: a) I e III b) I e IV c) II e III d) II e IV 02. (Puc GO) Visita ao Passado Ouvi dizer que os tabuleiros onde desciam as naus vão ser contaminados. Antes que viesse a ordem, fui lá dar uma última olhada. Quando crianças eu e Rudêncio brincávamos lá com outros garotos apesar de ser um lugar mais ou menos amaldiçoado já naquele tempo. Hoje quase ninguém se aventura por aqueles lados por causa do matagal que tomou conta de tudo. Da última vez que estive lá com mamãe à procura de ervas, faz uns dois anos, voltamos com as pernas lanhadas e com os pés castigados por espinhos cabeça-de-boi e ramos secos de malícia. Saí cedo, antes que o sol esquentasse, levando bodoque e lança e o caderno de desenho, se vão mesmo contaminar o lugar quero guardar uma lembrança dele como é agora. Não está proibido visitar os tabuleiros nem fazer desenhos do que existe lá, pelo menos que eu saiba. Em todo caso, escondi precavidamente o caderno debaixo da túnica, e dei umas voltas manhosas antes de pegar a estrada certa. Estão construindo um conjunto de ranchos comunais naquela zona, há muito trabalhador estranho tirando bambu, amassando barro, fincando estacas por toda parte, e eu não queria correr o risco de ser notado por algum olheiro disfarçado entre eles. Felizmente ninguém se interessou por mim, e eu passei boa parte do dia zanzando pelos tabuleiros, fazendo rascunhos, copiando inscrições, ponderando sobre a finalidade daquelas construções, as paredes feitas de um material duro como pedra, as pistas divididas em grandes quadrados do mesmo tamanho, parece que do mesmo material das paredes, a torre circular erguida numa extremidade do campo. [...]
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A20 Formação dos tempos verbais III
O Livro e a América
Português Questão 04: Os verbos do soneto estão na segunda pessoa do singular, dirigidos a um destinatário impessoal (um dos usos possíveis de tu, como de seu equivalente você). Portanto, o poema é dirigido ao homem em geral, suas características seriam inerentes à espécie humana e sintetizadas nos dois últimos versos: Residem juntamente no teu peito/ Um demônio que ruge e um deus que chora...”
Fiz várias páginas de desenhos do caminho de lajes, dos nichos, da torre e da inscrição que existe numa placa de ferro embutida num pilar de pedra na entrada dos tabuleiros. Pena que ninguém aqui conheça a língua da inscrição. Mas vou guardar o caderno bem guardado. Se o lugar vai mesmo ser contaminado, pode ser que um dia, daqui a muitos anos, alguém o encontre e fique sabendo como eram os tabuleiros onde baixavam as naus celestes e até decifre a inscrição. (VEIGA, José J. Os pecados da tribo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 29-31.)
No último período do texto, o verbo poder associado ao verbo ser, formando a construção pode ser, indica (Marque a alternativa correta): a) permissão. Como autoridade máxima do texto, o narrador permite ao leitor vislumbrar o futuro do tabuleiro das naus. b) possibilidade. O narrador formula uma hipótese do que é possível ocorrer no futuro em relação ao lugar registrado nos desenhos. c) dúvida. Ao visitar o lugar, o enunciador confunde-se entre o passado e o futuro, revelando um presente também incerto. d) habilidade. O enunciador mostra-se capaz de modificar o rumo da história, prevendo o destino do lugar. 03. (Unisa SP) Considere o enunciado: A hidroxiapatita estimula o crescimento ósseo. As células injetadas aumentariam a velocidade dessa formação.
Tupã, demiurgo criador, e o seu Anhangá, demiurgo destruidor. É o eterno dualismo, governando todas as fases religiosas, toda a história mitológica da humanidade. Já entre os persas e os iranianos, na religião de Zoroastro, havia um deus de bondade, Ormuz, e um deus de maldade, Ahriman. A religião de Manés, na Babilônia, não criou a ideia do dualismo; acentuou-a, precisou-a; a base da religião dos maniqueus era a oposição e o contraste da luz e da treva: o mundo visível, segundo eles, era o resultado da mistura desses dois elementos eternamente inimigos. Mas em todos os grandes povos, e em todas as pequenas tribos, sempre houve, em todos os tempos, a concepção desse conflito: e esse conflito perdura no catolicismo, fixado na concepção de Deus e do Diabo. Os nossos índios sempre tiveram seu Tupã e o seu Anhangá... Ora, o selvagem das margens do Amazonas, do São Francisco e do Paraná compreende os dois demiurgos, porque os sente dentro de si mesmo. E nós, os civilizados do litoral, compreendemos e contemos em nós esses dois princípios antagônicos, Deus e o Diabo. Cada um de vós tem uma arena íntima em que a todo o instante combatem um gênio do bem e um gênio do mal: Não és bom, nem és mau: és triste e humano... Vives ansiando em maldições e preces, Como se, a arder, no coração tivesses O tumulto e o clamor de um largo oceano.
(Folha de S.Paulo, 27.07.2013.)
Na primeira oração, o verbo está no presente do indicativo; na segunda, no futuro do pretérito do indicativo. Isso ocorre porque, com o emprego do último verbo, circunscreve-se a informação como uma ação a) durativa no tempo passado. b) que não se realizará. c) já concluída no tempo passado. d) certa em tempo futuro. e) provável de se realizar. Texto comum às questões 04 e 05
A20 Formação dos tempos verbais III
Considere um trecho da conferência Sobre algumas lendas do Brasil, de Olavo Bilac (1865-1918), e um soneto do mesmo autor, utilizado por ele para ilustrar seus argumentos. Sendo cada homem todo o universo, tem dentro de si todos os deuses, todas as potestades superiores e inferiores que dirigem o universo. (Tudo, se existe objetivamente, é porque existe subjetivamente; tudo existe em nós, porque tudo é criado e alimentado por nós). E esta consideração nos leva ao assunto e à explanação do meu tema. Existem em nós todas as entidades fantásticas, que, segundo a crença popular, enchem a nossa terra: são sentimentos humanos, que, saindo de cada um de nós, personalizam-se, e começam a viver na vida exterior, como mitos da comunhão. 592
Pobre, no bem como no mal, padeces; E, rolando num vórtice vesano*, Oscilas entre a crença e o desengano, Entre esperanças e desinteresses. Capaz de horrores e de ações sublimes, Não ficas das virtudes satisfeito, Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: E, no perpétuo ideal que te devora, Residem juntamente no teu peito Um demônio que ruge e um deus que chora... *Vesano: louco, demente, delirante, insensato. (Últimas conferências e discursos, 1927.)
04. (Unesp SP) Indique a pessoa gramatical dos verbos empregados no soneto e identifique, no plano do conteúdo, a quem o eu lírico se dirige por meio dessa pessoa gramatical. 05. (Unesp SP) E nós, os civilizados do litoral, compreendemos e contemos em nós esses dois princípios [...]. Qual a forma infinitiva do verbo destacado e em que tempo e modo está flexionado? O verbo está na primeira pessoa do plural do presente do indicativo do verbo cujo infinitivo é conter.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Uerj RJ) O comprador de fazendas 1 O acaso deu a Trancoso uma sorte de cinquenta contos na loteria. Não se riam. Por que motivo não havia Trancoso de ser o escolhido, se a sorte é cega e ele tinha no bolso um bilhete? Ganhou os cinquenta contos, dinheiro que para um pé-atrás daquela marca era significativo de grande riqueza. 5 De posse do bolo, após semanas de tonteira deliberou afazendar-se. Queria tapar a boca ao mundo realizando uma coisa jamais passada pela sua cabeça: comprar fazenda. Correu em revista quantas visitara durante os anos de malandragem, propendendo, afinal, para a Espiga. Ia nisso, sobretudo, a lembrança da menina, dos bolinhos da velha e a ideia de meter na administração ao sogro, de jeito a folgar-se uma vida vadia de regalos, embalada pelo amor de 10Zilda e os requintes culinários da sogra. Escreveu, pois, a Moreira anunciando-lhe a volta, a fim de fechar-se o negócio. Ai, ai, ai! Quando tal carta penetrou na Espiga houve rugidos de cólera, entremeio a bufos de vingança. – É agora! – berrou o velho. – O ladrão gostou da pândega e quer repetir a dose. Mas desta feita 15curo-lhe a balda*1, ora se curo! – concluiu, esfregando as mãos no antegozo da vingança. No murcho coração da pálida Zilda, entretanto, bateu um raio de esperança. A noite de sua alma alvorejou ao luar de um “Quem sabe?” Não se atreveu, todavia, a arrostar*2 a cólera do pai e do irmão, concertados ambos num tremendo ajuste de contas. Confiou no milagre. Acendeu outra velinha a Santo Antônio... 20 O grande dia chegou. Trancoso rompeu à tarde pela fazenda, caracolando o rosilho*3. Desceu Moreira a esperá-lo embaixo da escada, de mãos às costas. Antes de sofrear*4 as rédeas, já o amável pretendente abria-se em exclamações. – Ora viva, caro Moreira! Chegou enfim o grande dia. Desta vez, compro-lhe a fazenda. Moreira tremia. Esperou que o biltre*5 apeasse e mal Trancoso, lançando as rédeas, dirigiu-se-lhe 25de braços abertos, todo risos, o velho saca de sob o paletó um rabo de tatu e rompe-lhe para cima com ímpeto de queixada*6. – Queres fazenda, grandissíssimo tranca*7? Toma, toma fazenda, ladrão! – e lepte, lepte, finca-lhe rijas rabadas coléricas. O pobre rapaz, tonteando pelo imprevisto da agressão, corre ao cavalo e monta às cegas, de passo 30que Zico lhe sacode no lombo nova série de lambadas de agravadíssimo ex-quaQuestão 01: se-cunhado.
Interjeição Expressa contrariedade. Onomatopeia Reproduz o som das rabadas coléricas.
Dona Isaura atiça-lhe os cães: – Pega, Brinquinho! Ferra, Joli! O mal azarado comprador de fazendas, acuado como raposa em terreiro, dá de esporas e foge à toda, sob uma chuva de insultos e pedras. Ao cruzar a porteira inda teve ouvidos para distinguir 35na grita os desaforos esganiçados da velha: – Comedor de bolinhos! Papa-manteiga! Toma! Em outra não hás de cair, ladrão de ovo e cará!... E Zilda? Atrás da vidraça, com os olhos pisados do muito chorar, a triste menina viu desaparecer para sempre, envolto em uma nuvem de pó, o cavaleiro gentil dos seus dourados sonhos. 40 Moreira, o caipora*8, perdia assim naquele dia o único negócio bom que durante a vida inteira lhe deparara a Fortuna: o duplo descarte – da filha e da Espiga... MONTEIRO LOBATO Urupês. São Paulo: Globo, 2007.
Vocabulário: *1 balda - defeito habitual, mania *2 arrostar - encarar sem medo *3 rosilho - cavalo de pelo avermelhado *4 sofrear - conter *5 biltre - homem vil, infame *6 queixada - espécie de porco-do-mato *7 tranca - indivíduo ordinário, de mau caráter *8 caipora - indivíduo azarado Observe as expressões destacadas nos fragmentos abaixo. Ai, ai, ai! Quando tal carta penetrou na Espiga houve rugidos de cólera, entremeio a bufos de vingança. (ref. 10) Toma, toma fazenda, ladrão! – e lepte, lepte, finca-lhe rijas rabadas coléricas. (ref. 25) Classifique essas expressões e explicite o valor estilístico de cada uma. 02. (UFSM RS) Em um ratinho que sonha em se tornar um grande chef (ref. 1), o segmento sublinhado tem a mesma classe gramatical do sublinhado em: a) Vimos que o ratinho queria ser um grande chef. b) A verdade é que o ratinho desejava o impossível. c) O ratinho não comia qualquer coisa que encontrasse pela frente. d) Linguini, o rapaz, precisa fingir que sabe cozinhar. e) É possível que o ratinho realize seu sonho. 593
Português Questão 03: hão: o verbo está na 3ª pessoa do plural, concordando com o sujeito “os meus cabelos”. há: o verbo está na 3ª pessoa do singular por ser impessoal/a oração não tem sujeito.
03. (Uerj RJ) O Relógio Quem é que sobe as escadas Batendo o liso degrau? Marcando o surdo compasso Com uma perna de pau? 5
Quem é que tosse baixinho Na penumbra da antessala? Por que resmunga sozinho? Por que não cospe e não fala?
10
15
20
Por que dois vermes sombrios Passando na face morta? E o mesmo sopro contínuo Na frincha1 daquela porta? Da velha parede triste No musgo roçar macio: São horas leves e tenras Nascendo do solo frio. Um punhal feriu o espaço... E o alvo sangue a gotejar; Deste sangue os meus cabelos Pela vida hão de sangrar. Todos os grilos calaram Só o silêncio assobia; Parece que o tempo passa Com sua capa vazia.
25
30
O tempo enfim cristaliza Em dimensão natural; Mas há demônios que arpejam2 Na aresta do seu cristal.
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
2
frincha − abertura arpejar − tocar harpa
Deste sangue os meus cabelos (v. 19) / Pela vida hão de sangrar. (v. 20) Mas há demônios que arpejam (v. 27) / Na aresta do seu cristal. (v. 28) Os verbos sublinhados nesses exemplos estão flexionados na terceira pessoa − do plural ou do singular − de acordo com regras de sintaxe características da norma escrita culta da língua portuguesa. Justifique a flexão de pessoa e número do verbo em cada ocorrência sublinhada. 04. (Ufam AM) Leia o seguinte texto, extraído do livro “Nos Andes de Vargas Llosa”, do escritor Ari Nepomuceno: 594
Sobre o emprego das formas verbais em destaque, leia as seguintes afirmativas: I. “Estaríamos” está empregado no mais-que-perfeito do modo indicativo. II. “Não toca” está empregado no imperativo negativo, mas de modo incorreto, pois deveria ser “não toque”. III. “Tivéssemos” está empregado no pretérito imperfeito do modo subjuntivo; IV. “Havia estado” apresenta conjugação no mais-que-perfeito composto do modo indicativo e poderia ser substituído, sem perda de sentido, pela forma “estivera”. V. “Creu” é forma verbal inexistente, pois esse verbo é defectivo. Assinale a alternativa correta: a) Somente as afirmativas I e IV estão corretas b) Somente as afirmativas I, III e V estão corretas c) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas d) Somente as afirmativas II e V estão corretas e) Todas as afirmativas estão corretas 05. (ESPM SP) Crianças brincando
No tempo pulverizado Há cinza também da morte: Estão serrando no escuro As tábuas da minha sorte. Joaquim Cardozo Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2007.
1
Contei a ele que o detetive Lituma já ali havia estado, observando a cena do crime e coletando material para a sua elucidação. Fiz questão de salientar sua recomendação ao criado, antes de sair: – Você, não toca em nada aqui, hein? Se tivéssemos mais indícios, não estaríamos até hoje perdidos, como diante de um enigma de impossível solução. Lituma, no princípio, creu que o assassino era alguém da família.
Uma psicóloga da PM-SP defende que crianças de oito anos podem manusear armas de fogo, “desde que acompanhadas pelos pais”. É normal, diz ela, que o filho de um policial tenha curiosidade sobre o instrumento de trabalho de seu pai, “assim como o filho do médico tem sobre o estetoscópio”. A recente tragédia em São Paulo, envolvendo o menino Marcelo Pesseghini, 13, suspeito de matar seus pais (ambos, policiais militares), a avó e a tia-avó, e que se matou em seguida, tudo a tiros, não abalou sua convicção. Vejamos. É normal que o filho de oito anos de um piloto de aviação tenha curiosidade sobre o instrumento de trabalho do pai - o avião. Isso autoriza o piloto a pôr o filho na cadeira do copiloto e “acompanhá-lo” enquanto ele pousa o aparelho levando 300 passageiros? O filho de um madeireiro, apenas por ser quem é, estará autorizado a brincar com uma motosserra? E o filho de um proctologista estará apto a manipular o instrumento de trabalho de seu pai? (...)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A professora Maria de Lourdes Trassi, da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, rebate o argumento da psicóloga da PM, dizendo: “O cirurgião pode até dar o estetoscópio ou a luva [para o filho brincar]. Mas não vai lhe apresentar o bisturi”. Também acho. E há muitas coisas com que o filho de um PM pode brincar - gás de mostarda, bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha -, sem ter de apelar para armas de fogo. (Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 19.08.2013)
Levando em conta o aspecto do verbo na frase: “crianças de oito anos podem manusear armas de fogo”, afirma-se que a forma verbal está no Presente: a) momentâneo, pois se refere ao manuseio de armas no momento da fala. b) histórico, pois se refere a fatos sobre crimes ocorridos nos passado. c) frequentativo, pois se refere a um fato que se repete ao longo do tempo no noticiário criminal. d) universal, pois se refere à permissão do manuseio tida como uma verdade supostamente aceita por todos. e) no lugar do futuro, pois a permissão para o manuseio de armas se dará em época próxima. 06. (IF MG) Considere o trecho abaixo: Do que ficou dito até aqui, sabe-se que a finalidade do advérbio é servir ao verbo, acrescentando a ele uma circunstância qualquer. Sabe-se, no entanto, que o advérbio é cedido do mundo dos acontecimentos ao mundo dos nomes, para auxiliar o adjetivo – no grau superlativo absoluto analítico – a intensificar ao máximo a qualidade atribuída a um substantivo.
A vida de Silva não mudou, mas o vendedor gostou da ideia e pretende fazer cópias das frases divertidas, pois o humor, segredo dos publicitários, é um velho conhecido de Thiago nas vendas. “Já chego sorrindo e dando bom dia, dou algumas balinhas de cortesia”, conta. No mesmo ponto há sete anos, Silva conhece os clientes por nome e diz que “já fez até amizades”. De tão comunicativo, já recebeu propostas de trabalho de clientes. Voltar a estudar está nos seus planos, pois deixou a escola no 8o ano. Mas agora o que ele quer são novas frases para aumentar as vendas. “Vamos continuar alimentando o Silva com novas frases”, conta Alexandre Freire, 24, que também participou do projeto. (Sabine Righetti, Folha de S. Paulo, 12.04.2013. Adaptado)
Assinale a alternativa que apresenta a correspondência correta entre os tempos verbais em destaque. a) Balas mágicas: se você tivesse comprado, a minha vida ficaria mais doce. b) Balas mágicas: se você comprar, a minha vida teria ficado mais doce. c) Balas mágicas: se você comprasse, a minha vida ficou mais doce. d) Balas mágicas: se você comprava, a minha vida ficará mais doce. e) Balas mágicas: se você tiver comprado, a minha vida ficasse mais doce. 08. (IF RS)
Fonte: <http://linguaportuguesa.uol.com.br/>. Acesso em: 22 nov. 2014.
07. (IF SP) Slogan publicitário turbina lucro de vendedor de bala em semáforo O ambulante Thiago M. Silva, 29, vendedor de balas em um semáforo no bairro paulistano do Butantã, resolveu participar de um experimento de dois publicitários. Eles colocaram frases engraçadinhas nos 250 pacotes de balas que Thiago vende diariamente para ver o que aconteceria com as vendas. Silva, que levava seis horas para vender as balinhas, gastou metade do tempo após usar nas embalagens frases como “Vendo essas balas porque não posso vender a minha sogra” ou “Balas mágicas: você compra e a minha vida fica mais doce”. “Queríamos testar o poder das palavras para mudar a vida de uma pessoa”, conta um dos publicitários do “Candy Project” (Projeto Doce), Will Ferrari Júnior, 27.
QUINO. Mafalda 2. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
O tempo e o modo verbal de leu e diz, respectivamente, são a) pretérito perfeito do indicativo e presente do indicativo. b) pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do presente do indicativo. c) pretérito perfeito do indicativo e presente do subjuntivo. d) pretérito imperfeito do indicativo e presente do indicativo. e) pretérito mais-que-perfeito do indicativo e presente do subjuntivo. 595
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
O “mundo dos acontecimentos” e o “mundo dos nomes” citados no texto apresentam, respectivamente, como classes gramaticais principais: a) o adjetivo e o substantivo. b) o verbo e o substantivo. c) o verbo e o advérbio. d) o adjetivo e o verbo.
FRENTE
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PORTUGUÊS Por falar nisso
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A segunda metade do século XIX, além de ter presenciado um grande avanço das ciências, experienciou os efeitos da Revolução Industrial. O contexto sociopolítico europeu mudou radicalmente as relações entre os seres humanos. Emergiram lutas sociais, novos ideais políticos e descobertas científicas. O mundo mostrava-se efervescente. Esses eventos transformaram o modo como a arte e a literatura o representavam. Não se concebia mais viver de idealizações, do culto do eu e da fuga da realidade, como no tempo do Romantismo. Os sentimentos dão espaço ao materialismo, para um olhar mais objetivo da sociedade. No Brasil, as últimas produções da terceira geração romântica já assinalavam as mudanças que estavam por vir. Os representantes dessa geração, especialmente Castro Alves, já atentavam para a realidade social do país em suas obras. Na prosa, não era diferente. Manuel Antônio de Almeida também dava indícios de novas abordagens no seu romance, Memórias de um Sargento de Milícias. O mundo agora é visto sob a lente do Realismo, que analisa as atitudes, comportamentos e instituições. A literatura passou a revelar a face do cotidiano massacrante, do amor adúltero, da falsidade e do egoísmo humano, da impotência do homem comum perante os poderosos. Na França (1857) surge o Realismo, cujo marco inicial foi a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, que trata, sobretudo, da mediocridade da vida burguesa. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
B17 B18 B19 B20
Realismo I....................................................................................... 598 Realismo II...................................................................................... 606 Naturalismo I.................................................................................. 615 Naturalismo II................................................................................. 626
FRENTE
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PORTUGUÊS
MÓDULO B17
ASSUNTOS ABORDADOS nn Realismo I nn Realismo na Europa nn Realismo no Brasil nn Machado de Assis
REALISMO I O avanço das ciências desenvolve no homem um espírito de análise que faz prevalecer a razão sobre a emoção, além de uma significativa dose de materialismo. Na segunda metade do século XIX, a Europa vivia um momento bastante conturbado. As profundas transformações vividas pela sociedade europeia levaram a uma mudança de postura diante da realidade. A Europa vive a segunda fase da Revolução Industrial, ao mesmo tempo que conhece o desenvolvimento do pensamento científico e das doutrinas filosóficas e sociais: nn O socialismo utópico de Proudhon e o socialismo científico de Marx e Engels: na
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luta de classes, o poder burguês tende a ser superado pelo poder do proletário. nn O evolucionismo de Darwin (A origem das espécies – 1859): na evolução das espécies, há uma seleção natural que faz os animais mais adaptados sobreviverem. nn O determinismo histórico e geográfico de Taine: o comportamento humano e, portanto, da obra de arte que o investiga, é determinado pela confluência de três fatores: meio, raça e momento. nn O positivismo de August Comte (Sistema de filosofia positiva – 1850): só devem ser considerados como existentes os fatos positivos, isto é, aqueles que podem ser analisados cientificamente.
Figura 01 - Naturalismo na pintura: Os comedores de batatas, de Van Gogh
Realismo na Europa Escolas literárias francesas As escolas literárias do século XIX nascem na França, palco das grandes revoluções europeias, evidenciando três estilos que se desenvolveram simultaneamente: o Realismo, o Naturalismo e o Simbolismo. nn Inauguração
da Escola Realista com a publicação de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857; nn Inauguração da Escola Naturalista com a publicação de O romance experimental, obra de Émile Zola, em 1880; nn Inauguração da Escola Simbolista com a publicação de As flores do mal, de Charles Baudelaire, em 1857. 598
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Escolas literárias portuguesas Em Portugal o Realismo inicia-se em 1865, com a Questão Coimbrã, e vai até 1890. A Questão Coimbrã, também conhecida como a “Questão do Bom Senso e Bom Gosto”, foi uma polêmica entre os românticos e os jovens realistas. O Realismo deve ser visto como um movimento amplo, que engloba três tendências: o Realismo, propriamente dito; o Naturalismo e o Parnasianismo, e que define uma maneira peculiar de ver o mundo e representá-lo, principalmente com objetividade e fidelidade à descrição dos detalhes.
No Brasil, o Realismo nasceu em consequência da crise criada com a decadência econômica açucareira, o crescimento do prestígio dos estados do Sul e o descontentamento da classe burguesa em ascensão na época. Juntamente com o abolicionismo, a Guerra do Paraguai, a assinatura da Lei Áurea, a substituição da mão de obra escrava pela assalariada, o ideal republicano e a crise da monarquia caracterizavam a segunda metade do século XIX. Esse período representou o declínio da sociedade aristocrata-escravista e uma gradual ascensão do capitalismo industrial. Em São Paulo, as máquinas e as indústrias começaram a surgir, e os cafeicultores, com a mão de obra assalariada, passaram de latifundiários a empresários agrícolas. Nesse momento, as ideias de Comte, Spencer, Darwin, Marx e Haeckel conquistaram os intelectuais brasileiros que se entregaram ao espírito científico. Todos se dedicaram a explicar o universo por meio da Ciência, e tomaram como direção o positivismo, o darwinismo, o naturalismo e o cientificismo. O grande divulgador do movimento foi Tobias Barreto, ideólogo da Escola de Recife, admirador das ideais de Augusto Comte e Hipólito Taine. O Realismo e o Naturalismo estabelecem-se no Brasil, em 1881, com a obra realista Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e com a obra naturalista O Mulato, de Aluísio Azevedo, influenciados pelo escritor português Eça de Queirós, autor das obras O Crime do Padre Amaro (1875) e O Primo Basílio (1878).
Figura 02 - Escritor francês Gustave Flaubert
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Alfredo Bosi, crítico e historiador literário, ensaísta e professor, assim descreve o movimento: “O Realismo se tingirá de naturalismo no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das “leis naturais” que a ciência da época julgava ter codificado; ou se dirá parnasiano, na poesia, à medida que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito”.
Realismo no Brasil
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Gustave Flaubert (1821-1880) foi o primeiro escritor a incorporar na prosa a preocupação científica com o objetivo de captar a realidade em toda a sua crueldade. Para Flaubert, a arte é impessoal e a fantasia deve ser exercida por meio da observação psicológica, enquanto os fatos humanos e a vida comum são provas, documentos, e têm a objetividade como fim. Madame Bovary critica a hipocrisia moral da burguesia de forma implacável. A protagonista, ao mesmo tempo em que despreza a superficialidade da sua própria classe social, também se deleita descaradamente na colcha de pecados capitais por ela oferecida.
Figura 03 - Escritor português Eça de Queirós
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Português
Características
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As características da literatura realista contrastam com as românticas. Os cenários passam a ser urbanos e o ambiente social passa a ser valorizado, sobrepondo-se ao ambiente natural. O amor e o casamento – elementos de felicidade no Romantismo – transformaram-se em convenções sociais de aparência. A contemporaneidade é uma característica dos autores do Realismo, que se preocupavam com o momento histórico, com o momento presente da sociedade em seus contextos políticos e econômicos.
Figura 04 - Rio de Janeiro no século XIX.
As personagens criadas são baseadas em pessoas comuns encontradas no cotidiano dos escritores, com suas obrigações diárias condicionadas a fatores de raça, de clima, de classe social. Essa nova postura artística proporcionou uma profunda transformação da linguagem. Entre as principais características da linguagem realista, podemos destacar: nn Objetivismo; nn Universalismo; nn Linguagem
direta, vocabulário simples e claro; lenta, que acompanha o tempo psicológico; nn Estudo psicológico e observação das personagens; nn Descrições e adjetivações objetivas, com a finalidade de captar a realidade de maneira fidedigna; nn Sentimentos, sobretudo o amor, subordinados aos interesses sociais; nn Herói problemático, cheio de fraquezas; nn Não idealização da mulher. nn Narrativa
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Machado de Assis
B17 Realismo I
Costuma-se dividir a obra de Machado de Assis em duas fases distintas. A primeira fase apresenta o autor ainda preso a alguns princípios da Escola Romântica e, por isso, foi chamada de fase romântica ou de fase de amadurecimento. A segunda fase apresenta um autor completamente definido dentro das ideias realistas e, por isso, foi chamada de fase da maturidade. Nesta aula, vamos nos ater à primeira fase do autor, o amadurecimento de Machado de Assis.
Figura 05 - Machado de Assis.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A vida do escritor Joaquim Maria Machado de Assis foi jornalista, contista, cronista, romancista, poeta, além de deixar algumas peças teatrais e inúmeras críticas, crônicas e correspondências. Nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. Machado de Assis estudou por pouco tempo em uma escola pública, onde aprendeu as primeiras letras. Começou sua vida literária bastante cedo e, aos 16 anos, publicou o poema “Ela” no jornal Marmota Fluminense. No ano seguinte, passou a trabalhar como tipógrafo na Imprensa Nacional, então sob a direção de Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um Sargento de Milícias. Em 1858, iniciou aulas de francês com o Padre Antônio José da Silveira Sarmento e, no mesmo ano, tornou-se revisor de provas tipográficas na livraria de Paula Brito. No ano seguinte, trabalhou como crítico teatral, colaborando para inúmeros jornais. Em 1863, Machado publicou suas primeiras peças de teatro: O Protocolo e O Caminho da Porta, além de publicar diversos contos no Jornal das Famílias. Seu primeiro livro publicado foi uma coletânea de versos intitulada Crisálidas. A partir de então, a produção literária de Machado de Assis tornou-se bastante fecunda e o autor escreveu críticas, crônicas, contos, poemas, ensaios e teve publicado seu primeiro romance, Ressurreição. Inspirado no novo estilo de romance que estava se desenvolvendo na Europa e, principalmente, por Eça de Queirós (que havia publicado O Primo Basílio em 1878), Machado inicia, em 1879, a publicação seriada de Memórias Póstumas de Brás Cubas, na Revista Brasileira e, no mesmo ano, inicia a publicação seriada de Quincas Borba na revista A Estação. Os dois romances foram publicados em forma de livro em 1881 e 1891, respectivamente. A partir de 1882, foram publicados os livros Papéis Avulsos, Histórias sem Data e Várias Histórias. Embora Machado de Assis seja classificado como autor realista, seu estilo é bastante particular. Suas obras dialogam tanto com o Romantismo quanto com o Realismo. A primeira fase, o amadurecimento literário São romances dessa primeira fase: Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Esses romances foram escritos pelo jovem Machado de Assis, ainda distante do autor irônico no qual se transformaria. Mesmo mostrando sinais do romantismo, ele reúne a força de sua narrativa em personagens femininas ávidas por ascensão social, mesmo que sob pena do sacrifício da vida amorosa e sentimental.
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Machado de Assis foi um ótimo crítico literário. O próprio autor apresenta algumas ideias sobre a evolução de seus romances e contos, da fase romântica para a fase realista: “Este foi o meu primeiro romance, escrito aí vão muitos anos. Dado em nova edição, não lhe altero a composição nem o estilo, apenas troco dois ou três vocábulos, e faço tais ou quais correções de ortografia. Como outros que vieram depois, e alguns contos e novelas de então, pertence à primeira fase da minha vida literária.” Figura 06 - O jovem talento, Machado de Assis.
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Português
Você pode observar que o próprio autor nos dá a extensão exata das fases de sua obra, adotando uma posição paternal ao comentar e se desculpar pelas obras da primeira fase, rememoradas como uma época de ingenuidade que foi se perdendo ao longo do caminho. Ao longo dos anos, a explicação para a virada que ocorre na obra de Machado vem sendo justificada como decorrência de uma mudança em relação ao modo como ele entendia a sociedade brasileira do século XIX. Apesar de a primeira fase do escritor ser marcada por textos com características do Romantismo, a produção dessa época já sinalizava algumas características que, mais tarde, se consolidariam na obra de Machado: o amor contrariado, o casamento por interesse, uma leve preocupação psicológica e uma tímida ironia. É importante destacar a técnica dos capítulos curtos: neles, as ideias não se perdem, as entrelinhas são valorizadas e são permitidas observações paralelas à narrativa. Podemos perceber que Machado não teve uma “fase romântica”, mas um amadurecimento de sua técnica narrativa e literária. Helena é uma obra tragicômica, marcada por uma boa dose de ironia na construção das personagens. Iaiá Garcia, o quarto romance do autor, é uma obra especialmente singular, que já dá sinais do amadurecimento da técnica irônica de narrar, como também do emprego do jogo polifônico narrativo.
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Nesse sentido, é possível dizer que a obra machadiana desde a primeira fase, permeada por nuances românticas, já evidencia traços realistas da segunda fase. Mesmo porque desde seu primeiro romance já se faz perceber o jogo de vozes narrativas e, pincipalmente, a ironia como recurso para a reflexão sobre a sociedade, sobre as sinuosidades, sobre os interesses sociais e sobre as máscaras construídas nas relações sociais.
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Ressureição, o primeiro romance O primeiro e o mais moderno dos romances iniciais de Machado, publicado em 1872, Ressurreição é considerado, pela crítica, pertencente à fase romântica. É considerada uma obra importante, seja por contribuir na construção da simples tradição romanesca brasileira, seja por inserir nela uma nova temática centrada no indivíduo. Seu enredo propõe uma observação da complexidade psicológica do seu protagonista Félix, em detrimento das costumeiras paisagens da cor local, elaboradas nas produções românticas. A apresentação da realidade em Ressurreição é rarefeita, exatamente por constituir-se mediante a relação entre narrador, que cria o ambiente movediço, e a dissimulação de Félix, gerada por sua complexidade. Nessa obra, são encontrados alguns dos traços definitivos de sua fisionomia: a penetração psicológica, a preocupação com a análise, o monólogo interior, o desenvolvimento linear da intriga, a narrativa complexa. Ressurreição apresenta um conflito aberto, frontal. Em lugar de grandes quadros estáticos contrapostos, a composição desse romance é dinâmica. Sua linha narrativa avança em um ritmo acelerado e constante, em uma direção única, rumo à essência das contradições sociais que se manifestam em cada episódio e rumo ao centro do conflito de consciência que acompanha todo o relato. Leia a seguir um fragmento dessa obra: Capítulo I: No dia de ano bom Naquele dia, — já lá vão dez anos! — o Dr. Félix levantou-se tarde, abriu a janela e cumprimentou o sol. O dia estava esplêndido; uma fresca bafagem do mar vinha quebrar um pouco os ardores do estio; algumas raras nuvenzinhas brancas, finas e transparentes se destacavam no azul do céu. Chilreavam na chácara vizinha à casa do doutor algumas aves afeitas à vida semiurbana, semisilvestre que lhes pode oferecer uma chácara nas Laranjeiras. Parecia que toda a natureza colaborava na inauguração do ano. Aqueles para quem a idade já desfez o viço dos primeiros tempos, não se terão esquecido do fervor com que esse dia é saudado na meninice e na adolescência. Tudo nos parece melhor e mais belo, — fruto da nossa ilusão, — e alegres com vermos o ano que desponta, não reparamos que ele é também um passo para a morte. Teria esta última ideia entrado no espírito de Félix, ao contemplar a magnificência do céu e os esplendores da luz? Certo é que uma nuvem ligeira pareceu toldar-lhe a fronte. Félix embebeu os olhos no horizonte e ficou largo tempo imóvel e absorto, como se interrogasse o futuro ou revolvesse o passado. Depois, fez um gesto de tédio, e parecendo envergonhado de se ter entregue à contemplação interior de alguma quimera, desceu rapidamente à prosa, acendeu um charuto, e esperou tranquilamente a hora do almoço.
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Exercícios de Fixação
02. (Unirv GO) É unânime o reconhecimento de Machado de Assis como maior escritor brasileiro de todos os tempos. Portanto, assinale V para as proposições verdadeiras e F para as falsas. Gab: V-F-F-V a) Machado de Assis inaugurou em nosso país um realismo psicológico sem precedentes nem continuadores, anunciou a modernidade literária, por meio de obras que até hoje se mantêm novas e desafiadoras. b) A visão machadiana sobre o ser humano é chamada de positivista por valorizar heroicamente os conceitos tradicionais do Romantismo naquela época. c) Ao fazer a leitura de obras machadianas, pode-se perceber um vocábulo rebruscado, linguagem depreciativa, confusa pelo excesso de uso de figuras de palavras: metonímia, pleonasmo e onomatopeia. d) Machado de Assis foi escritor múltiplo, inventivo e desconcertante, tendo exercitado todos os gêneros literários. 03. (Unirv GO) Leia atentamente as seguintes afirmações a respeito da obra de Machado de Assis e marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas.
Gab: F-V-V-F
a) Na primeira fase da produção do autor, há traços românticos na representação das personagens e na estruturação do enredo. Esaú e Jacó é um exemplo típico desse período. b) Na fase realista, o autor está preocupado com a análise psicológica das personagens, buscando atingir os motivos essenciais da conduta humana, desmascarando a hipocrisia que há por trás dos atos aparentemente bons e honestos. c) O enredo, a ação e o tempo da narrativa não têm sequência linear. Os fatos só têm sentido em função da análise da consciência humana. d) A problemática central da obra Esaú e Jacó gira em torno do tema do adultério, e o autor cria um clima de incerteza e ambiguidade que não permite saber se o adultério de fato ocorreu.
04. (Unifesp SP) O que primeiro chama a atenção do crítico na ficção deste escritor é a despreocupação com as modas dominantes e o aparente arcaísmo da técnica. Num momento em que Gustave Flaubert sistematizara a teoria do “romance que narra a si próprio”, apagando o narrador atrás da objetividade da narrativa; num momento em que Émile Zola preconizava o inventário maciço da realidade, observada nos menores detalhes, ele cultivou livremente o elíptico, o incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com bisbilhotice saborosa. A sua técnica consiste essencialmente em sugerir as coisas mais tremendas da maneira mais cândida (como os cronistas do século XVIII); ou em estabelecer um contraste entre a normalidade social dos fatos e a sua anormalidade essencial; ou em sugerir, sob aparência do contrário, que o ato excepcional é normal, e anormal seria o ato corriqueiro. Aí está o motivo da sua modernidade, apesar do seu arcaísmo de superfície. (Antonio Candido. Vários escritos, 2004. Adaptado.)
O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor a) Machado de Assis. b) José de Alencar. c) Manuel Antônio de Almeida. d) Aluísio Azevedo. e) Euclides da Cunha. 05. (UFAM) Assinale a alternativa que expressa a verdade em relação à frase “Ao vencedor, as batatas”: a) Expressa, de modo irônico, a ideia de que somente a solidariedade entre os homens é capaz de nos levar a um tipo de vida melhor. b) Constitui o fundamento do Existencialismo, filosofia que prega a guerra, em face de o homem ser naturalmente competitivo e pouco solidário. c) Expressa, considerando-se o contexto político da época, o Positivismo de Auguste Comte, para quem o progresso só pode ser obtido mediante a força. d) Trata-se de uma contestação feita por um personagem machadiano à teoria da evolução de Charles Darwin, a qual não pode ser aplicada em nível social. e) É a base do Humanitismo, filosofia criada por um personagem machadiano, e significa que, na luta pela sobrevivência, quem vence é o mais forte.
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01. (Unirg TO) A respeito da obra de Machado de Assis, assinale a alternativa incorreta. a) Preocupa-se mais com a análise das personagens do que com a ação. b) Descreve a realidade com forte conteúdo otimista. c) Usa o humor frequentemente para criticar o ser humano e suas fraquezas. d) O narrador conversa com o leitor e analisa a própria narrativa.
Português
Exercícios Complementares 01. (IF MG) Assinale a característica não aplicável aos romances realistas e naturalistas: a) Observação, análise e denúncia dos males sociais e comprometimento presente. b) Aceitação do positivismo e determinismo científico nas obras. c) Criação dos denominados romances de tese, objetivismo e predomínio da razão. d) Descrição de cenários bucólicos e presença de inversões sintáticas na obra lírica. 02. (UERN) Machado de Assis, introdutor do Realismo no Brasil, demonstra em sua obra aspectos como determinismo, extrema ironia, busca da realidade interna, entre outros. No capítulo 11 de Memórias póstumas de Brás Cubas, o “autor-defunto” (ou “defunto-autor”) afirma após a descrição de uma cena em que haveria “quebrado a cabeça de uma escrava” quando ainda era uma criança: “Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros..., mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui;...” Tal passagem demonstra a) o superficialismo com que o autor tratava os conflitos infantis. b) o determinismo com que o autor via o percurso da existência humana. c) a figura da criança inocente e amorosa diante de um contexto cru e cruel. d) a sabedoria que o autor atribuía ao homem diante de situações conflitantes. 03. (UEPA) A poética de Castro Alves insere-se na terceira fase do romantismo brasileiro, a qual se convencionou chamar de condoreira em alusão à imponência do voo do condor. Essa poesia de caráter social e linguagem eloquente, que evidenciava o espaço cultural vivido pelo poeta, traz em si os valores impostos pela época, que impulsionaram uma das temáticas mais fortes da poesia de Castro Alves: a luta abolicionista. Analise os versos abaixo e marque aquele que evidencia a marca condoreira em sua poesia.
B17 Realismo I
a) Tu és, ó filha de Israel formosa... Tu és, ó linda, sedutora Hebreia... Pálida rosa da infeliz Judeia Sem ter o orvalho, que do céu deriva! b) Não sabes criança? ‘Stou louco de amores... Prendi meus afetos, formosa Pepita. Mas onde? No templo, no espaço, nas [névoas?! Não rias, prendi-me num laço de fita.
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c) Minh’alma é como a fronte sonhadora Do louco bardo, que Ferrara chora... Sou Tasso!... a primavera de teus risos De minha vida as solidões enflora... Longe de ti eu bebo os teus perfumes, Sigo na terra de teu passo os lumes. .. — Tu és Eleonora... d) Mas quando a branca estrela matutina Surgiu do espaço... e as brisas forasteiras No verde leque das gentis palmeiras Foram cantar os hinos do arrebol, Lá do campo deserto da batalha Uma voz se elevou clara e divina: Eras tu— Liberdade peregrina! Esposa do porvir—noiva do sol!... e) A tarde caía, nas águas barrentas, As sombras das margens deitavam-se longas. 04. (Unicastelo SP) Assim, houve uma passagem do vago ao típico, do idealizante ao factual. Quanto à composição, os narradores brasileiros também procuraram alcançar maior coerência no esquema dos episódios, que passaram a ser regidos não mais por aquela sarabanda de caprichos que faziam das obras verdadeiras caixas de surpresa, mas por necessidades objetivas do ambiente ou da estrutura moral das personagens. De um modo geral, a prosa de ficção ganhou em sobriedade e em rigor analítico com o advento da nova disciplina. (Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.)
O crítico literário refere-se ao movimento a) barroco. b) simbolista. c) parnasiano. d) realista. e) modernista. 05. (IF SP) Considere as afirmativas sobre o Realismo. I. Os escritores procuram uma visão científica, exata, verossímil do mundo e das pessoas. II. Este movimento reflete as profundas transformações políticas, econômicas, culturais e sociais da segunda metade do século XIX. III. Aproxima-se do Romantismo, concentrando-se na valorização do individual, do mundo íntimo. Qual(is) está(ão) correta(s)? a) Apenas a I. b) Apenas a II. c) Apenas a III. d) Apenas a I e a II. e) I, II, III.
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06. (UEPG PR) No que se refere à obra Contos Fluminenses, de Machado de Assis, assinale o que for correto.
Gab: 22
09. (UFT TO) Sobre Machado de Assis, NÃO é correto afirmar: a) Sua produção literária costuma ser dividida em dois gru-
01. O narrador classifica-se como onisciente, porém não in-
pos: no primeiro, de herança romântica, seus livros apre-
truso ou irônico, pois não há comentários críticos refe-
sentam um conjunto de características que diz respeito, de
rentes à burguesia.
um modo geral, ao romance brasileiro do século XIX. Desse
02. Machado de Assis tem como objetivo analisar, especifica-
grupo fazem parte: Ressurreição, Helena, A Mão e a Luva
mente, o comportamento da sociedade burguesa carioca,
e Iaiá Garcia. No segundo grupo, Machado revelou-se um
em ascensão, durante o Segundo reinado, época marcada
gênio na análise psicológica das personagens. Pertencem a
pela decadência do império.
esse grupo obras como: Memórias Póstumas de Brás Cubas,
04. Farsa e vaidade são temas decorrentes na obra, representados pelos personagens Gomes e Augusta, respecti-
Quincas Borba, Dom Casmurro e Esaú e Jacó. b) Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis ocupa na literatura brasileira a
vamente. 08. Escrita no século XIX, entre 1865 e 1868, encaixa-se nos
posição de introdutor do romance psicológico, da pers-
padrões do realismo/naturalismo, devido à animalização
pectiva problematizadora, da visão crítica e reflexiva do
do homem presente em boa parte da obra.
mundo, fugindo da descrição de paisagens para enfatizar,
16. É possível inferir que a narrativa se passa no Rio de Janeiro, durante o império.
cunstâncias em que vive.
07. (UEPG PR) Em relação à obra Contos Fluminenses de Machado de Assis, assinale o que for correto.
Gab: 26
01. A morte como desfecho de desilusão amorosa é o tema do conto “Luis Soares”. 02. Os contos “A mulher de preto” e “Confissões de uma viúva moça” prenunciam a temática da suposta traição na obra machadiana. 04. O narrador em “Confissões de Augusta” é onisciente. 08. Os contos apresentam uma característica comum: os acontecimentos são permeados de explicações aos leitores por parte do narrador. 16. O conto “Luis Soares” faz alusão à opereta Barbe Bleue de
c) Apesar de seu espírito inovador, Machado de Assis ainda conservou, em muitas de suas narrativas, a preocupação com o mundo dos cavaleiros destemidos, das virgens ingênuas e frágeis, além de propor a valorização do ideal de uma vida primitiva, distante da civilização. d) A ironia é um dos traços mais marcantes da obra machadiana, aparecendo, de forma mais acentuada, nos romances da segunda fase. Como uma construção linguística que prevê outros sentidos para o que é dito, a ironia em Machado serve para combater as verdades absolutas, das quais desacreditava por princípio. 10. (UFCG PB) Julgue como correta (C) ou errada (E) as afirmações sobre a obra Fuga do hospício e outras crônicas, de Ma-
08. (UEPG PR) Sobre as características da prosa realista-naturalista, Gab: 13
01. Desenvolve-se, em geral, uma preferência pela abordagem do tipo, do característico, como forma de explicitar a realidade. 02. Dentro do ideário realista-naturalista, o romance mergulha nas tradições populares, no legendário, dando espaço ao maravilhoso e sobrenatural. 04. As personagens são moldadas de acordo com a realidade, sem idealizações; o retrato do corpo e de comportamentos exteriores (tendência naturalista); retrato do espírito e da vida interior da personagem (tendência realista). 08. O romance é encarado como instrumento de denúncia e combate, uma vez que focaliza os desequilíbrios sociais.
chado de Assis: ( ) Machado de Assis revoluciona ao se fazer presente em seus textos através do uso de verbos em primeira pessoa, constituindo uma singularidade do autor. ( ) Em muitas crônicas, percebemos que um dos procedimentos linguísticos utilizados pelo autor é a personificação de animais que refletem sobre determinado assunto. ( ) O autor trata de variados temas sempre fazendo uso ameno de uma linguagem crítica e irônica. A sequência correta é: a) ECE. b) ECC. c) CEE. d) CEC.
B17 Realismo I
Jacques Offenbach.
assinale o que for correto.
principalmente, a forma como o homem vê e sente as cir-
e) EEC.
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FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B18
ASSUNTOS ABORDADOS nn Realismo II nn Memórias póstumas de Brás Cubas nn Dom Casmurro nn Quincas Borba
REALISMO II As verdadeiras obras-primas do romancista e contista Machado de Assis pertencem à prosa realista. A análise psicológica das personagens, o pessimismo, o egoísmo, o negativismo, as frases curtas, a técnica dos capítulos curtos e da conversa com o leitor são as principais características dos textos desse autor, paralelamente à análise da sociedade e à crítica aos valores românticos. Durante o período de passagem do Romantismo para o Realismo, o Brasil sofreu inúmeras mudanças na história econômica e político-social. O Realismo encontrou no Brasil uma realidade propícia para a ascensão da literatura. O país havia vivenciado fatos importantes como a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), a campanha abolicionista e o fortalecimento da economia agrária. A queda do Império e o fim da escravidão criaram uma nova realidade no país. A vida sociocultural tornou-se mais ativa, influenciada por ideais europeus: liberalismo, socialismo, positivismo, cientificismo etc. Os romances realistas tornaram-se instrumentos de crítica ao comportamento burguês e às instituições sociais. É nesse cenário que Machado de Assis assume papel central na história da Literatura Brasileira. A obra da segunda fase machadiana, chamada de fase madura, é composta pelos romances: nn Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881); nn Quincas Borba (1891); nn Dom Casmurro (1889); nn Esaú e Jacó (1904); nn Memorial de Aires (1908).
Fonte: Wikimedia Commons
A trama de todas essas obras desenvolve-se durante o Segundo Reinado, e traz como cenário a cidade do Rio de Janeiro. Especialistas em literatura dizem que o marco inicial do movimento realista no Brasil é a publicação do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. Nessa obra, o escritor fluminense faz duras críticas à sociedade da época. Machado passa a ter pleno domínio da técnica irônica. Uma ironia apurada e reflexiva, que, embora tímida, já aparecia nos primeiros romances.
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Leia o fragmento do romance Memórias póstumas de Brás Cubas a seguir: Capítulo I: Óbito do Autor Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poderia em primeiro lugar o meu nascimento ou minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para que a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: a diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram -me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina, casada com Cotrim, a filha — um lírio do vale — e... Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que expira aos 64 anos não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era apresentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção. “Morto! morto!”, dizia consigo.
Dito isto, expirei às 2 horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns 64 anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de 300 contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu a beira de minha cova: “Vos que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”.
E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o voo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos — a imaginação dessa senhora também voou sobre os destroços pressentes até às ribas de uma África juvenil... Deixá-la ir; iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranquilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia a imobilidade física e moral, e o corpo fazia-se-me planta, e pedra, e lodo, e coisa nenhuma.
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas
Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.
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Figura 01 - Cena do filme Memórias póstumas de Brás Cubas, estreado em 2001.
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Análise do fragmento Podemos observar que, no primeiro parágrafo, o narrador começa sua narrativa a partir de sua morte e, por esse motivo, autointitula-se um defunto-autor, ou seja, um morto que resolveu escrever suas memórias. Ele não sabe se começa a narrativa contanto seu nascimento ou sua morte. No segundo parágrafo, há uma ironia referindo-se às pessoas que, em vida, não notam a existência de outras pessoas, no entanto, quando elas morrem, fazem grandes cenas de sofrimento. No início do terceiro parágrafo, o autor faz referência a um amigo que, além de fiel de última hora, é herdeiro do morto. A senhora anônima do velório era alguém que mantinha, com o narrador, um relacionamento que não poderia tornar-se público. Não era “parenta”, sofreu mais que os demais, porém não lhe convinha demonstrar dor. Sobre sua causa mortis o narrador diz que morreu de pneumonia, mas que, na realidade, crê ter havido uma causa maior: a ideia de inventar um emplasto anti-hipocondríaco, para aliviar nossa melancólica humanidade. O narrador tem um tipo de relação interessante com o leitor, interagindo e aproximando-se dele. A crítica social é a característica mais marcante, somada a um tempero entre humor e ironia em toda a extensão do texto.
Dom Casmurro Leia o seguinte fragmento de Dom Casmurro: Capítulo XVIII – Um plano Pai nem mãe foram ter conosco, quando Capitu e eu, na sala de visitas, falávamos do seminário. Com os olhos em mim, Capitu queria saber que notícia era a que me afligia tanto. Quando lhe disse o que era, fez-se cor de cera.
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— Mas eu não quero, acudi logo, não quero entrar em seminários; não entro, é escusado teimarem comigo; não entro. Capitu, a princípio, não disse nada. Recolheu os olhos, meteu-os em si e deixou-se estar com as pupilas vagas e surdas, a boca entreaberta, toda parada. Então eu, para dar força às afirmações, comecei a jurar que não seria padre. Naquele tempo jurava muito e rijo, pela vida e pela morte. Jurei pela hora da morte. Que a luz me faltasse na hora da morte se fosse para o seminário. Capitu não parecia crer nem descrer, não parecia sequer ouvir; era uma figura de pau. Quis chamá-la, sacudi-la, mas faltou-me ânimo. Essa criatura que brincara comigo, que pulara, dançara, creio até que dormira comigo, deixava-me agora com os braços atados e medrosos. Enfim, tornou a si, mas tinha a cara lívida, e rompeu nestas palavras furiosas: — Beata! carola! papa-missas! Fiquei aturdido. Capitu gostava tanto de minha mãe, e minha mãe dela, que eu não podia entender tamanha explosão. 608
É verdade que também gostava de mim, e naturalmente mais, ou melhor, ou de outra maneira, coisa bastante a explicar o despeito que lhe trazia a ameaça da separação; mas os impropérios, como entender que lhe chamasse nomes tão feios, e principalmente para deprimir costumes religiosos, que eram os seus? Que ela também ia à missa, e três ou quatro vezes minha mãe é que a levou, na nossa velha sege. Também lhe dera um rosário, uma cruz de ouro e um livro de Horas... Quis defendê-la, mas Capitu não me deixou, continuou a chamar-lhe beata e carola, em voz tão alta que tive medo fosse ouvida dos pais. Nunca a vi tão irritada como então; parecia disposta a dizer tudo a todos. Cerrava os dentes, abanava a cabeça... Eu, assustado, não sabia que fizesse; repetia os juramentos, prometia ir naquela mesma noite declarar em casa que, por nada neste mundo, entraria no seminário. — Você? Você entra. — Não entro. — Você verá se entra ou não. Calou-se outra vez. Quando tornou a falar, tinha mudado; não era ainda a Capitu do costume, mas quase. Estava séria, sem aflição, falava baixo. Quis saber a conversação da minha casa; eu contei-lha toda, menos a parte que lhe dizia respeito. — E que interesse tem José Dias em lembrar isto? perguntou-me no fim. — Acho que nenhum; foi só para fazer mal. É um sujeito muito ruim; mas, deixe estar que me há de pagar. Quando eu for dono da casa, quem vai para a rua é ele, você verá; não me fica um instante. Mamãe é boa demais; dá-lhe atenção demais. Parece até que chorou. — José Dias? — Não, mamãe. — Chorou por quê? — Não sei; ouvi só dizer que ela não chorasse, que não era coisa de choro... Ele chegou a mostrar-se arrependido, e saiu; eu então, para não ser apanhado, deixei o canto e corri para a varanda. Mas, deixe estar, que ele me paga! Disse isto fechando o punho, e proferi outras ameaças. Ao relembrá-las, não me acho ridículo; a adolescência e a infância não são, neste ponto, ridículas; é um dos seus privilégios. Este mal ou este perigo começa na mocidade, cresce na madureza e atinge o maior grau na velhice. Aos quinze anos, há até certa graça em ameaçar muito e não executar nada. Capitu refletia. A reflexão não era coisa rara nela, e conheciam-se as ocasiões pelo apertado dos olhos. Pediu-me algumas circunstâncias mais, as próprias palavras de uns e de outros, e o tom delas. Como eu não queria dizer o ponto inicial da conversa, que era ela mesma, não lhe pude dar toda a significação. A atenção de Capitu estava agora particularmente nas lágrimas de minha mãe; não acabava de enten-
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dê-las. Em meio disto, confessou que certamente não era por mal que minha mãe me queria fazer padre; era a promessa antiga, que ela, temente a Deus, não podia deixar de cumprir. Fiquei tão satisfeito de ver que assim espontaneamente reparava as injúrias que lhe saíram do peito, pouco antes, que peguei da mão dela e apertei-a muito. Capitu deixou-se ir, rindo; depois a conversa entrou a cochilar e dormir. Tínhamos chegado à janela; um preto, que, desde algum tempo, vinha apregoando cocadas, parou em frente e perguntou: — Sinhazinha, qué cocada hoje? — Não, respondeu Capitu. — Cocadinha tá boa. — Vá-se embora, replicou ela sem rispidez. — Dê cá! disse eu descendo o braço para receber duas. Comprei-as, mas tive de as comer sozinho; Capitu recusou. Vi que, em meio da crise, eu conservava um canto para as cocadas, o que tanto pode ser perfeição como imperfeição, mas o momento não é para definições tais; fiquemos em que a minha amiga, apesar de equilibrada e lúcida, não quis saber de doce, e gostava muito de doce. Ao contrário, o pregão que o preto foi cantando, o pregão das velhas tardes, tão sabido do bairro e da nossa infância: Chora, menina, chora, Chora, porque não tem Vintém, a modo que lhe deixara uma impressão aborrecida. Da toada não era; ela a sabia de cor e de longe, usava repeti-la nos nossos jogos da puerícia, rindo, saltando, trocando os papéis
comigo, ora vendendo, ora comprando um doce ausente. Creio que a letra, destinada a picar a vaidade das crianças, foi que a enojou agora, porque logo depois me disse: — Se eu fosse rica, você fugia, metia-se no paquete e ia para a Europa. Dito isto, espreitou-me os olhos, mas creio que eles não lhe disseram nada, ou só agradeceram a boa intenção. Com efeito, o sentimento era tão amigo que eu podia escusar o extraordinário da aventura. Como vês, Capitu, aos quatorze anos, tinha já ideias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos saltinhos. Não sei se me explico bem. Suponde uma concepção grande executada por meios pequenos. Assim, para não sair do desejo vago e hipotético de me mandar para a Europa, Capitu, se pudesse cumpri-lo, não me faria embarcar no paquete e fugir; estenderia uma fila de canoas daqui até lá, por onde eu, parecendo ir à fortaleza da Laje em ponte movediça, iria realmente até Bordéus, deixando minha mãe na praia, à espera. Tal era a feição particular do caráter da minha amiga; pelo que, não admira que, combatendo os meus projetos de resistência franca, fosse antes pelos meios brandos, pela ação do empenho, da palavra, da persuasão lenta e diuturna, e examinasse antes as pessoas com quem podíamos contar. Rejeitou tio Cosme; era um boa-vida; se não aprovava a minha ordenação, não era capaz de dar um passo para suspendê-la. Prima Justina era melhor que ele, e melhor que os dois seria o Padre Cabral, pela autoridade, mas o padre não havia de trabalhar contra a igreja; só se eu lhe confessasse que não tinha vocação...
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Fonte: Wikimedia Commons
Figura 02 - Cena da minissérie “Capitu”, exibido na Globo, em 2008.
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— Posso confessar? — Pois, sim, mas seria aparecer francamente, e o melhor é outra coisa. José Dias... — Que tem José Dias? — Pode ser um bom empenho. — Mas se foi ele mesmo que falou... — Não importa, continuou Capitu; dirá agora outra coisa. Ele gosta muito de você. Não lhe fale acanhado. Tudo é que você não tenha medo, mostre que há de vir a ser dono da casa, mostre que quer e que pode. Dê-lhe bem a entender que não é favor. Faça-lhe também elogios; ele gosta muito de ser elogiado. D. Glória presta-lhe atenção; mas o principal não é isso; é que ele, tendo de servir a você, falará com muito mais calor que outra pessoa. — Não acho, não, Capitu. — Então vá para o seminário. — Isso não. — Mas que se perde em experimentar? Experimentemos; faça o que lhe digo. Dona Glória pode ser que mude de resolução; se não mudar, faz-se outra coisa, mete-se então o Padre Cabral. Você não se lembra como é que foi ao teatro pela primeira vez, há dois meses? D. Glória não queria, e bastava isso para que José Dias não teimasse; mas ele queria ir, e fez um discurso, lembra-se? — Lembra-me; disse que o teatro era uma escola de costumes. — Justo; tanto falou que sua mãe acabou consentindo, e pagou a entrada aos dois... Ande, peça, mande. Olhe; diga-lhe que está pronto a ir estudar leis em São Paulo. Estremeci de prazer. São Paulo era um frágil biombo, destinado a ser arredado um dia, em vez da grossa parede espiritual e eterna. Prometi falar a José Dias nos termos propostos. Capitu repetiu-os, acentuando alguns, como principais; e inquiria-me depois sobre eles, a ver se entendera bem, se não trocara uns por outros. E insistia em que pedisse com boa cara, mas assim como quem pede um copo de água a pessoa que tem obrigação de o trazer. Conto estas minúcias para que melhor se entenda aquela manhã da minha amiga; logo virá a tarde, e da manhã e da tarde se fará o primeiro dia, como no Gênesis, onde se fizeram sucessivamente sete. Análise do fragmento
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Bentinho tinha uma notícia a dar para Capitu: ele iria para o seminário. Apesar de muito triste, a mãe de Bentinho consentia que ele fosse para o seminário porque havia feito uma promessa. Diante desse fato, Capitu ficou estarrecida, depois, irritada. Capitu não confiava na firmeza de Bentinho: “Capitu não parecia crer nem descrer, não parecia sequer ouvir”.
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Com relação à infância, à adolescência e à maturidade, ele diz que a adolescência e a infância são impulsivas, têm instinto de desafio; na maturidade o instinto cresce e na velhice atinge seu mais alto grau. Entretanto, tudo fica nas palavras, já que ninguém as põe em prática, fato perdoado apenas na infância e na adolescência. Observe que, no caso das cocadas, Capitu mostrou-se mais rancorosa, ao passo que Bentinho, mesmo preocupado, ainda arranjou “espaço para as cocadas”. Ela atentou mais para o canto do negro, pois se tivesse “vintém”, ajudaria Bentinho a fugir. Se fôssemos traçar um perfil de Capitu, desde criança ela foi capciosa, astuta, firme nos seus propósitos e ainda muito atenta.
Quincas Borba Leia agora um fragmento do romance Quincas Borba: Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. Análise do fragmento Nessa passagem, quem fala é Quincas Borba, o filósofo. Suas palavras são dirigidas a Rubião, ex-professor, futuro capitalista, mas, no momento, apenas seu enfermeiro. Podemos observar que a maneira como o autor constrói esse discurso revela objetividade, uma vez que visa à compreensão de Rubião da filosofia criada por Quincas Borba, o Humanitismo.
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O romance Quincas Borba é considerado o mais objetivo dos romances de Machado de Assis. E é tido como irmão da obra que inaugurou o Realismo Brasileiro. Não tem as inovações de Memórias Póstumas de Brás Cubas, mas se percebe, ainda que de forma menos intensa, a mesma habilidade ao trabalhar com a digressão, ironia e metalinguagem. É um desdobramento da problemática e da narrativa de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Quincas Borba é um romance narrado em terceira pessoa e faz uma análise da desagregação psicológica e financeira de Rubião, humilde professor do interior de Minas Gerais, uma das raras personagens machadianas boas, honestas e decentes. Rubião herda os bens de Quincas Borba.
Figura 03 - Autorretrato com a Morte Tocando Violino de Arnold Böcklinr
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Outro ponto de ligação é o fato de Quincas Borba ser personagem que já fazia parte de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Amigo de infância do defunto-autor, tinha decaído de abastado para mendigo, depois, recebendo uma herança, tornara-se rico.
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Exercícios de Fixação 01. (Unirg TO) Todas as seguintes afirmativas podem ser confirmadas pela leitura do conto “A Cartomante”, de Machado de Assis, exceto: a) Rita, uma mulher supersticiosa e dotada de espírito ingênuo, consultou uma cartomante porque acreditava que Camilo deixaria de amá-la. b) A citação da frase de Shakespeare, na abertura do conto, é um recurso intertextual que contribui para criar expectativas em relação ao conflito. c) O comportamento cético da personagem Camilo, descrente em relação às premonições da cartomante, decorre de conflitos vividos na infância. d) Passagens como “... era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...” e “A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos” levam o leitor a inferir que Rita e Camilo eram amantes.
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02. (Fac. Direito de Franca SP) As mulheres na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, não aparecem sob a forma idealizada, castas e ingênuas, mas muitas vezes, ambiciosas, sedutoras, adúlteras e até mesmo torpes. Sarcasticamente são caracterizadas pelo narrador, com representações florais, que, em alguns casos, mais ofendem que exaltam. Assim, identifique, abaixo, as correspondências que não se comprovam. a) Eugênia, a flor da moita, cujo apelido se deve ao fato de ser filha espúria, concebida em situação clandestina, a partir de um beijo furtivo entre D. Eusébia e Dr. Vilaça. b) Eulália, Nhã-Loló, a flor do pântano, assim referida pelo ambiente social em que vivia, de família pobre e de costumes e afinidades sociais duvidosos, cujo pai era viciado em brigas de galo. c) Marcela, a flor das graças, pela beleza e sedução com que envolveu o narrador e pela paixão verdadeiramente sempre devotada a ele. d) Venância, o lírio do vale, era filha do Cotrim e sobrinha de Brás Cubas, e o designativo de seu nome remete à flor das damas de seu tempo. 03. (FMABC SP) Na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o narrador protagonista, autodenominado defunto autor, relata seus inúmeros relacionamentos afetivos/amorosos envolvendo diferentes mulheres. Assim, verifique, na relação abaixo, a alternativa que contém informações que NÃO conferem com as características de cada uma no desenrolar do romance. a) Marcela, uma cortesã espanhola, espécie de fantasia amorosa da adolescência, por quem o narrador se apaixona e que o ama durante quinze meses e onze contos de réis. b) Nhâ-loló, apelido de Eulália, uma noiva arranjada ao narrador pela irmã Sabina, mas que morre vitimada por uma epidemia.
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c) Virgília, com quem o narrador mantém um relacionamento amoroso clandestino e com quem acaba se casando, num negócio arranjado pelo pai, também preocupado em torná-lo deputado. d) Eugênia, uma moça pobre, um tanto bonita, mas manca, lembrada, no texto, como flor da moita, de quem o narrador tentava se aproveitar. 04. (Fac. Direito de Sorocaba SP) O trecho a seguir foi extraído de O Alienista, de Machado de Assis. Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção,— o recanto psíquico, o exame da patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de “louros imarcescíveis”, — expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores. A respeito da obra O Alienista, é correto afirmar que se trata de obra de a) finalidade moralista, escrita com o intuito de criar personagens modelares de conduta. b) teor filosófico, na qual o narrador desenvolve conceitos sobre as correntes da filosofia. c) influência religiosa, na qual Simão Bacamarte constrói um centro de recuperação de pessoas carentes. d) cunho espiritualista na qual as personagens se ocupam de questões transcendentais. e) crítica ao cientificismo do século XIX, visto com poderes para interferir na sociedade. 05. (Unirv GO) Leia atentamente as seguintes afirmações a respeito da obra de Machado de Assis e marque (V) para as verdadeiras e (F) para as falsas. Gab: F-V-V-F a) Na primeira fase da produção do autor, há traços românticos na representação das personagens e na estruturação do enredo. “Esaú e Jacó” é um exemplo típico desse período. b) Na fase realista, o autor está preocupado com a análise psicológica das personagens, buscando atingir os motivos essenciais da conduta humana, desmascarando a hipocrisia que há por trás dos atos aparentemente bons e honestos. c) O enredo, a ação e o tempo da narrativa não têm sequência linear. Os fatos só têm sentido em função da análise da consciência humana. d) A problemática central da obra “Esaú e Jacó” gira em torno do tema do adultério, e o autor cria um clima de incerteza e ambiguidade que não permite saber se o adultério de fato ocorreu.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 03. a) Brás Cubas era um membro da elite escravocrata que nunca trabalhou na vida. Sua existência foi toda entregue a ocupações fúteis ou a projetos megalômanos e egocêntricos. Essa postura pode ser associada à atitude de “matar o tempo”, referida na máxima. Por mais que essa existência pareça prazerosa, ela também está inserida na natural evolução do tempo e é submetida à inarredável presença da morte. Daí a noção de que “o tempo nos enterra” − perspectiva melancólica que marca toda a obra.
Exercícios Complementares
02. (Unicamp SP) (...) pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil réis. – Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu. – Sim? acudiu ele, dando um bote pra mim. – Trabalhando, concluí eu. Fez um gesto de desdém; calou-se alguns instantes, depois disse-me positivamente que não queria trabalhar. (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.158.)
O trecho citado diz respeito ao encontro entre Brás Cubas e Quincas Borba, no capítulo 49, e, mais precisamente, apanha o momento em que Brás dá uma esmola ao amigo. Considerando o conjunto do romance, é correto afirmar que essa passagem a) explicita a desigualdade das classes sociais na primeira metade do século XIX e propõe a categoria de trabalho como fator fundamental para a emancipação do pobre. b) indica o ponto de vista da personagem Brás Cubas e propõe a meritocracia como dispositivo pedagógico e moral para a promoção do ser humano no século XIX. c) elabora, por meio do narrador, o preconceito da classe social a que pertence Brás Cubas em relação à classe média do século XIX, na qual se insere Quincas Borba. d) sugere as posições de classe social das personagens machadianas, mediante um narrador que valoriza o trabalho, embora ele mesmo, sendo rico, não trabalhe. 03. (Fuvest SP) No capítulo CXIX das Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador declara: “Quero deixar aqui, entre parêntesis, meia dúzia de máximas* das muitas que escrevi por esse tempo.” Nos itens a) e b) encontram-se reproduzi-
das duas dessas máximas. Considerando-as no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede. * “Máxima”: fórmula breve que enuncia uma observação de valor geral; provérbio. a) “Matamos o tempo; o tempo nos enterra.” Pode-se relacionar essa máxima à maneira de viver do próprio Brás Cubas? Justifique sucintamente. b) “Suporta-se com paciência a cólica do próximo.” A atitude diante do sofrimento alheio, expressa nessa máxima, pode ser associada a algum aspecto da filosofia do “Humanitismo”, formulada pela personagem Quincas Borba? Justifique sua resposta. 04. (Ibmec SP) (...) Quanto ao outro original, aquela história de um casamento malsucedido, Dom Casmurro, detectamos um problema na trama: afinal, Capitu traiu ou não o marido? Isso não fica claro. Talvez fosse preciso reescrever o texto adotando outro ponto de vista que não o de Bentinho, parte interessada em nos fazer crer ter sido ele vítima de adultério. E se a narradora fosse a prima Justina, que “dizia francamente a Pedro o mal que pensava de Paulo, e a Paulo o que pensava de Pedro?” Parece-nos uma voz mais isenta, capaz de narrar os acontecimentos com a distância que o enredo exige. BENDER, Maria Emília. “Se nos permite uma sugestão”. In: Piauí 115 Abril, p. 60.
No texto, de caráter humorístico e ficcional, simula-se a possível reação de um editor ao avaliar os originais de Dom Casmurro, de Machado de Assis. O conselho dado por ele para o escritor realista revela a) a falta de conhecimento sobre a obra, visto que o romance é narrado em 3ª pessoa. b) a insensibilidade de perceber que, ainda que o relato se apresente em 1ª pessoa, garante-se a isenção necessária. c) a ingenuidade com que a obra foi lida, visto que, ainda que de modo implícito, a certeza sobre o adultério é dada. d) a falta de percepção para a reflexão proposta na obra: a impossibilidade de se conhecer o outro por completo. e) o desconhecimento de que as digressões tão frequentes na obra constituem recurso para garantir o distanciamento em relação aos fatos narrados. 05. (Acafe SC) Considerando o contexto social e histórico, os personagens, a linguagem e outros elementos relacionados aos estilo, assinale a citação extraída da obra Esaú e Jacó, de Machado de Assis.
Questão 03. b) A máxima de Brás Cubas está perfeitamente adequada à teoria do Humanitismo, pois essa filosofia é a expressão de um individualismo que afirma explicitamente a necessidade de “adorar-se a si próprio” e que exalta a chamada “lei do mais forte”. Dessa forma, desde que o prazer subjetivo seja mantido, pouco importa a dor do próximo. Quincas Borba, o autor da filosofia, chega a afirmar que a dor “é uma pura ilusão”.
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B18 Realismo II
01. (Unirv GO) Da leitura de “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, assinale V(verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações abaixo. Gab: V-V-F-V a) Pedro, por ser mais contido, tem como referência política a Monarquia, a tradição. Paulo, por ser o oposto, adequa-se à ideia de rebeldia, de republicanismo. b) Um fator que diferencia esse livro das demais obras de Machado são os fatos históricos que vão nela se desenrolando: a abolição, a República, as disputas pelo poder. c) Os curtíssimos trechos digressivos da narrativa estão em sintonia com as intervenções do Conselheiro Aires e marcados por comentários repletos de ironia, erudição e humor. d) O romance “Esaú e Jacó”, por pertencer à 2ª fase da obra machadiana, deve ser considerado realista, pois a fase romântica do autor é a 1ª.
Português
a) “Um dia pareceu à mãe que a filha andava nervosa. Interrogou-a e apenas descobriu que Flora padecia de vertigens e esquecimentos. Foi justamente um dia em que Aires lá apareceu de visita, com recados de Natividade. A mãe falou-lhe primeiro e confiou-lhe os seus sustos. Pediu-lhe que a interrogasse também. Aires fez de médico, e, quando a moça apareceu e a mãe os deixou na sala, cuidou de a interrogar cautelosamente.” b) “Tudo ele contou pro homem e depois abriu asa rumo de Lisboa. E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a história. Por isso que vim aqui. Me acocorei em riba destas folhas, catei meus carrapatos, ponteei na violinha e em toque rasgado botei a boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói de nossa gente.” c) “Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.” d) “Escobar e a mulher viviam felizes; tinham uma filhinha. Em tempo ouvi falar de uma aventurado marido, negócio de teatro, não sei que atriz ou bailarina, mas se foi certo, não deu escândalo…” 06. (Unifesp SP) O que primeiro chama a atenção do crítico na ficção deste escritor é a despreocupação com as modas dominantes e o aparente arcaísmo da técnica. Num momento em que Gustave Flaubert sistematizara a teoria do “romance que narra a si próprio”, apagando o narrador atrás da objetividade da narrativa; num momento em que Émile Zola preconizava o inventário maciço da realidade, observada nos menores detalhes, ele cultivou livremente o elíptico, o incompleto, o fragmentário, intervindo na narrativa com bisbilhotice saborosa. A sua técnica consiste essencialmente em sugerir as coisas mais tremendas da maneira mais cândida (como os ironistas do século XVIII); ou em estabelecer um contraste entre a normalidade social dos fatos e a sua anormalidade essencial; ou em sugerir, sob aparência do contrário, que o ato excepcional é normal, e anormal seria o ato corriqueiro. Aí está o motivo da sua modernidade, apesar do seu arcaísmo de superfície.
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(Antonio Candido. Vários escritos, 2004. Adaptado.)
O comentário do crítico Antonio Candido refere-se ao escritor a) Machado de Assis. b) José de Alencar. c) Manuel Antônio de Almeida. d) Aluísio Azevedo. e) Euclides da Cunha. 07. (UEMG) Este texto é um excerto do conto Pai contra mãe, de Machado de Assis.
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“A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. ” http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/contos/macn007.pdf
Considerando que a ordem social e humana a que se refere o conto machadiano é supostamente alcançada, ainda hoje, por meio de estratégias que de alguma forma se assemelham àquelas utilizadas no período escravocrata, responda: qual dos elementos dos contos da obra Olhos d’água, de Conceição Evaristo, tematiza a referida ordem? a) O ofício de Kimbá em um supermercado, onde trabalha esfregando chão. b) A rotina de Cíntia, que presta serviços em um escritório no centro do Rio de Janeiro. c) O trabalho informal de Davenga, que oferece flores para casais de namorados. d) O fato de Maria ter obtido ganhos financeiros como “barriga de aluguel”. 08. (Fac. Israelita de Ciênc. da S. Albert Einstein SP) Um dos capítulos do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, denomina-se O Humanitismo. Partilha da grande sátira que constitui a obra e se torna um “nonsense” das memórias nela apresentadas. – Assim, a respeito do Humanitismo, de acordo com o romance, é INCORRETO afirmar que a) é uma teoria que, criada por Brás Cubas e difundida por Quincas Borba, apoia-se no princípio de humanitas que, segundo seu autor, rege as condicionantes da vida e da morte, não obstante revigorar o sintoma da hipocondria e exaltar a existência da dor. b) é uma teoria, espécie de mescla bufa de pensamentos filosóficos que vão da tradição grega até o século XIX, utilizada por Machado de Assis para fazer caricatura do Positivismo e do Evolucionismo, teorias científicas e filosóficas em voga na época. c) é uma doutrina de valorização da vida, defendida por um mendigo que acaba seus dias em plena loucura, caracterizando, essa situação, forte ironia como marca estruturante desta obra machadiana. d) é uma teoria que convém a Brás Cubas para justificar a vacuidade de sua existência e dar a ele uma ilusão da descoberta de um sentido para sua vida e pela qual ele acaba se orientando.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B19
NATURALISMO I
ASSUNTOS ABORDADOS
O Naturalismo foi um movimento que surgiu na França, na segunda metade do século XIX, relacionado às artes plásticas, à literatura e ao teatro, e teve como marco inicial a publicação, em 1881, de Germinal, de Émile Zola. Ele, por sua vez, tinha suas ideias moldadas no evolucionismo de Darwin e no positivismo religioso de Comte, os principais responsáveis pelo estudo e pesquisas que deram sustentação e matéria-prima à literatura. A Europa do século XIX presenciou um crescente desenvolvimento das ciências sociais e naturais:
nn Naturalismo I nn Cenário político no Brasil nn Características do Naturalismo nn O Mulato nn O Cortiço
nn Augusto Comte concebe o positivismo, segundo o qual tudo pode ser explicado
à luz da ciência; nn Hippolyte
Taine cria o determinismo e afirma que o meio, a raça e o momento determinam as diretrizes do comportamento humano;
nn Charles
Darwin desenvolve a lei da seleção natural, segundo a qual só os mais fortes sobrevivem, pois a natureza é responsável por selecionar aqueles que devem continuar a procriar;
nn Pierre-Joseph
Proudhon surge como precursor do socialismo utópico.
Cresce a influênca das ideias científicas, especialmente na área das ciências biológicas e sociais. O Naturalismo procura explicar, de forma materialista e científica, os fenômenos da vida e do comportamento humano e tenta buscar esclarecimento para os fatos sociais e pessoais por meio do determinismo, das relações de causa e efeito estabelecidas pela ciência. Os naturalistas acreditavam que os fatos e atitudes eram consequência ou condicionados pelo meio em que viviam, pelas circustâncias vividas, pela raça ou pela descendência, conforme as ideias de Hippolyte Taine. O foco desse movimento era destacar o predomínio do instinto fisiológico nos seres humanos e seu reflexo na sociedade.
Fonte: Wikimedia Commons
A prosa naturalista retrata o homem como produto de forças naturais, instintivas. Um homem que se comporta conforme o meio, o momento e situações específicas. Em Portugal o Naturalismo inicia-se em 1865, com a Questão Coimbrã, que foi uma polêmica entre românticos e jovens realistas. Os autores brasileiros foram fortemente motivados pelo português Eça de Queirós, autor de O crime do padre Amaro e O primo Basílio, em cujas obras já se defendia que os instintos naturais do homem fazem dos personagens indivíduos cruéis. O estilo que ousava liberdade na elaboração de seus textos influenciou sobremaneira os escritores brasileiros.
Figura 01 - Angelus é o quadro mais famoso do pintor francês Jean-François Millet.
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Português
Cenário político no Brasil A vida política no Brasil encontrava-se bastante tumultuada. A aristocracia pretendia manter-se no poder a qualquer preço, enquanto parte da sociedade queria renovações. As novas ideias que circulavam na Europa chegavam até aqui dando abertura a grandes mudanças de mentalidade.
Fonte: Wikimedia Commons
As ideias liberais, abolicionistas e republicanas fevilhavam, mas o Brasil ainda continuava escravista, agrário e latifundiário, apesar da proibição do tráfico de escravos em 1850. É uma época de benefícios materiais e econômicos para a burguesia. O predomínio da concepção capitalista trouxe progresso, mas trouxe também a degradação humana.
Figura 02 - Fernand Pelez, Sans asile ou Les Expulsés (1883)
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O Naturalismo brasileiro desenvolveu-se concomitantemente ao Realismo e deu origem a obras muito significativas. Adotando os moldes do Naturalismo europeu, os nossos escritores também começaram a conceber seus romances como instrumento de análise da sociedade brasileira, e não apenas como entretenimento para a classe média, como fizeram os autores românticos. A prosa naturalista no Brasil nasceu em 1881 com a publicação de O Mulato, do escritor e jornalista maranhense Aluísio Azevedo.
Características do Naturalismo No romance naturalista, o narrador busca comprovar, por meio da ficção, a legitimidade de teses científicas deterministas e se comportar como um cientista, que observa os fenômenos sociais como quem observa uma experiência científica. Por isso, os fatos devem ser narrados de modo impessoal. O escritor defende a tese de que o comportamento humano está condicionado a fatores hereditários e ao ambiente físico e social.
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nn O
Figura 03 - Escritor naturalista Aluísio Azevedo
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ser humano está condicionado às suas características biológicas (hereditariedade) e ao meio social em que vive; nn O mundo pode ser explicado por meio das forças da natureza; nn Possui foco na realidade cotidiana, retrato da sociedade e crítica social. A realidade é apontada por meio de uma forma científica (influência do positivismo); nn Nos textos literários, observam-se narrativa lenta, linguagem simples, clara e objetiva e ambientes e pessoas minuciosamente descritos; nn Os principais temas abordados nas obras literárias naturalistas são aqueles que abordam sobre a “patologia social”: promiscuidade, homossexualidade, crimes, adultério, vícios, desejos e taras humanas, instinto, loucura, violência, miséria, decadência moral, preconceito racial, animalização das personagens, exploração social etc. nn Não existe subjetividade ou vontade individual, como postulavam os românticos.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Aluísio de Azevedo entra para a história literária com o romance O Mulato, que o consagrou como o escritor que inaugurou o Naturalismo no Brasil. No entanto, O Mulato não é a obra naturalista mais marcante do autor, apesar de ter causado impacto na sociedade, principalmente entre o clero e a alta sociedade de São Luís do Maranhão. O determinismo social predomina na obra de Azevedo, construída por meio de observação rigorosa do mundo físico e da zoomorfização das personagens. Raimundo é o protagonista do romance. Filho de uma escrava com um português. Apesar de ter a aparência de um homem branco, tem “sangue negro” e, por isso, sofre a violência do preconceito racial da sociedade, principalmente da família de seu tio que o impede de se casar com a prima Ana Rosa, por quem se apaixonou. Sem dúvida, Raimundo é a personagem mais consciente das grandes questões da época, e diante de suas convicções positivistas, a política aparecerá na primeira edição como mais um de seus interesses. Leia o fragmento desse romance a seguir: Na dúvida, sua procedência e com a certeza do seu bastardismo, vinha-lhe agora uma estranha suscetibilidade; não sabia por que motivo, mas sentia que precisava, que tinha urgência, de uma explicação cabal do que levou Manuel a recusar-lhe a filha. “Com certeza estava aí a ponta do mistério!”. Ele o que queria era penetrar no seu passado, percorrê-lo, estudá-lo, conhecê-lo a fundo; encontrara até então todas as portas fechadas e mudas, como a sepultura de seu pai; embalde bateu em todas elas; ninguém lhe respondera. Agora um alçapão se denunciava na recusa de Manuel; havia de abri-lo e entrar, custasse o que custasse, ainda que o alçapão despejasse sobre um abismo. E, tão dominado ia pela sua resolução que, ao passar pelo cruzeiro da Estrada Real, nem só não deu por ele, como pelo guia que logo se pusera a caminho. -Ó meu amigo! gritou-lhe o tio. Isto também não vai assim!... Despeça-se deste lugar! E apeou-se, para depor aos pés da cruz um galho de murta. Raimundo voltou atrás e, depois de um grande silêncio, fitou Manuel e perguntou-lhe, externando um retalho do pensamento que o dominava: -Ela será, porventura, minha irmã?... -Ela, quem? -Sua filha. O negociante compreendeu a preocupação do sobrinho. -Não.
Raimundo tornou a mergulhar no paul da sua dúvida e das suas conjeturas, procurando de novo o motivo daquela recusa, como quem procura um objeto no fundo d’água; e a sua inteligência, de outras vezes tão lúcida e perspicaz, sentia-se agora impotente e cega, às apalpadelas, às tontas, desesperada, quase extinta, nas lamacentas e misteriosas trevas do pântano. E, de tudo isso, vinha-lhe um grande mal-estar. Depois da negativa de Manuel, Ana Rosa afigurava-se-lhe uma felicidade indispensável; já não podia compreender a existência, sem a doce companhia daquela mulher simples e bonita, que, no seu desejo estimulado, lhe aparecia agora sob mil novas formas de sedução. E, na sua fantasia enamorada, acariciava ainda a ideia de possuí-la, ideia que, só então o notava, dormira todas as noites com ele, e que agora, ingrata, queria escapar-lhe com as desculpas banais e comuns de uma amante enfastiada. Oh! sim! desejava Ana Rosa! habituara-se imperceptivelmente a julgá-la sua; ligara-a a pouco e pouco, sem dar por isso, a todas as aspirações da sua vida; sonhara-se junto dela, na intimidade feliz do lar, vendo-a governar uma casa que era de ambos, e que Ana Rosa povoava com alegria de um amor honesto e fecundo. E agora, desgraçado -olhava para toda essa felicidade, como o criminoso olha, através às grades do cárcere para os venturosos casais, que se vão lá pela nua, de braço dado, rindo e conversando ao lado dos filhos. E Raimundo antejulgava perfeitamente que aquele empenho de Manuel em negar-lhe a filha, longe de arredá-la do seu amor, mais e mais o empurrava para ela, ligando-a para sempre ao seu destino. -Terá sua filha alguma secreta enfermidade, que levasse o médico a proibir-lhe o casamento? Terá algum defeito orgânico?... -Oh! com efeito! O senhor tortura-me com as suas perguntas!... creia que, se eu pudesse dizer-lhe a causa de minha recusa, tê-lo-ia feito desde logo! Oh! Raimundo não pôde conter-se e disparatou, fazendo estacar o seu cavalo. -Mas o senhor deve compreender a minha insistência! Não se diz assim, sem mais nem menos, a um homem que vem, legítima e conscienciosamente, pedir a mão de uma senhora, que a isso o autorizou. “Não lha dou, porque não quero!” Por que não quer?! “Porque não! Não posso dizer o motivo!...” É boa! Tal recusa significa uma ofensa direta a quem faz o pedido! Foi uma afronta à minha dignidade. O senhor há de concordar que me deve uma resposta, seja qual for! uma desculpa! uma mentira, muito embora! mas, com todos os diabos! é necessária uma razão qualquer! 617
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O Mulato
Português
-É justo, mas... -Se me dissesse: “Oponho-me ao casamento, porque antipatizo solenemente com o seu caráter”. Sim senhor! Não seria uma razão plausível, mas estaria no seu direito de pai, mas o senhor... -Perdão! eu não podia dizer semelhante coisa, depois de o haver elogiado por várias vezes, e ter-me declarado, como repito, seu amigo e seu apreciador... -Mas então?! Se é meu amigo, que diabo! diga-me a razão com franqueza! tire-me, por uma vez, deste maldito inferno da dúvida! declare-me o segredo da sua recusa, seja qual for, ainda que uma revelação esmagadora! Estou disposto a aceitar tudo, tudo! menos o mistério, que esse tem sido o tormento da minha vida! Vamos, fale! suplico-lhe por... aquele que caiu assassinado! -E apontou na direção da cruz. Era seu irmão e dizem que meu pai... Pois bem, peço-lhe por ele que me fale com franqueza! Se sabe alguma coisa dos meus antepassados e do meu nascimento, conte-me tudo! Juro-lhe que lhe ficarei reconhecido por isso! Ou, quem sabe? serei tão desprezível a seus olhos, que nem sequer lhe mereça tão miserável prova de confiança? ... -Não! não! ao contrário, meu amigo! Eu até levaria muito em gosto o seu casamento com a minha filha, no caso de que isso tivesse lugar!... E só peço a Deus que lhe depare a ela um marido possuidor das suas boas qualidades e do seu saber; creia, porém, que eu, como bom pai, não devo, de forma alguma, consentir em semelhante união. Cometeria um crime se assim procedesse!... -Com certeza há parentesco de irmão entre ela e eu! -Repare que me está ofendendo... -Pois defenda-se, declarando tudo por uma vez! -E o senhor promete não se revoltar com o que eu disser?... -Juro. Fale! Manuel sacudiu os ombros e resmungou depois, em ar de confidência: -Recusei-lhe a mão de minha filha, porque o senhor é... é filho de uma escrava...
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-Eu?! -O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... Raimundo tornou-se lívido. Manuel prosseguiu, no fim de um silêncio: -Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana 618
Rosa mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! o senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos! ... Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses! ... O senhor é um moço muito digno, muito merecedor de consideração, mas... foi forro à pia, e aqui ninguém o ignora. -Eu nasci escravo?!... -Sim, pesa-me dizê-lo e não o faria se a isso não fosse constrangido, mas o senhor é filho de uma escrava e nasceu também cativo. Raimundo abaixou a cabeça. Continuaram a viagem. E ali no campo, à sombra daquelas árvores colossais, por onde a espaços a Lua se filtrava tristemente, ia Manuel narrando a vida do irmão com a preta Domingas. Quando, em algum ponto hesitava por delicadeza em dizer toda a verdade, o outro pedia-lhe que prosseguisse francamente, guardando na aparência uma tranquilidade fingida. O negociante contou tudo o que sabia. -Mas que fim levou minha mãe?... a minha verdadeira mãe? perguntou o rapaz, quando aquele terminou. Mataram-na? Venderam-na? O que fizeram dela? -Nada disso; soube ainda há pouco que está viva... É aquela pobre idiota de São Brás. -Meu Deus! exclamou Raimundo, querendo voltar à tapera. -Que é isso? Vamos! Nada de loucuras! Voltará noutra ocasião! Calaram-se ambos. Raimundo, pela primeira vez, sentiu-se infeliz; uma nascente má vontade contra os outros homens formava-se na sua alma até aí limpa e clara; na pureza do seu caráter o desgosto punha a primeira nódoa. E, querendo reagir, uma revolução operava-se dentro dele; ideias turvas, enlodadas de ódio e de vagos desejos de vingança, iam e vinham, atirando-se raivosos contra os sólidos princípios da sua moral e da sua honestidade, como num oceano a tempestade açula contra um rochedo os negros vagalhões encapelados. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: «Mulato». E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. -Mulato!
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Análise do fragmento Podem ser observadas, pela leitura do texto, algumas características do Naturalismo: objetivismo, contemporaneidade, racionalismo, linguagem simples, discussão do preconceito (determinismo), crítica à sociedade. Pelo pouco que se pode apreender do texto, a mãe de Raimundo não recebeu nenhuma assistência do seu “senhor”. No fragmento “... na pureza do seu caráter o desgosto punha a primeira nódoa.” Podemos deduzir que algo se altera, para pior, no caráter de Raimundo. Manuel é um homem sem preconceito. Dizia que esse era um sentimento hostil, que o preconceito era uma asneira, mas Manuel era também arraigado às normas da sociedade e, por isso capaz de contrariar a própria vontade e, ainda, pôr em risco a felicidade da filha. Para não acabar marginalizado dentro da própria família e da sociedade, ele não deu a mão da filha em casamento. Os escritores do Naturalismo, em especial Aluísio de Azevedo, abordaram a realidade social brasileira, destacando a vida nos cortiços, o preconceito, a diferenciação social, entre outros temas. Os autores assumem a postura dos cientistas que observam experimentos. Tentam ser o mais objetivo possível, demonstrando distanciamento e impessoalidade no trato dos fatos do romance, como se estivessem em um laboratório, diante de cobaias.
O Cortiço Em um cenário marcado pelos mais diversos tipos de “vícios”, como o caráter lascivo e a homossexualidade – considerados, pelo autor, à época, como problemas –, a degradação moral é inevitável. Azevedo atua como se fosse um desenhista ou um pintor, compondo um cenário em que exibe o caos dentro do qual se afundam os personagens do cortiço comandados pelo autoritarismo de João Romão. O Cortiço (1890) foi a expressão máxima e o marco do naturalismo brasileiro, sendo considerado a obra-prima de Aluísio de Azevedo. É um romance de tese, uma vez que essa escola tem como objetivo comprovar as experiências científicas por meio de suas personagens. Essa obra mostra como o comportamento das personagens é influenciado pelo meio, pela raça e pelo momento histórico em que se inserem, argumentando que a mistura de raças serve para a degradação humana. O ambiente é o Rio de Janeiro, no final do século XIX. O enredo narra o nascimento, a maturidade e a morte de um cortiço, meio pelo qual seu dono, o português João Romão, pretende enriquecer. Esse aglomerado de casas serve de pano de fundo para mostrar que nesse espaço social as leis ambientais interferem no indivíduo e determinam seu comportamento. Por meio do uso constante da personalização, a Estalagem de São Romão é apresentada como personagem dotado de vida própria.
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Nesse espaço se desenvolve uma sequência de quadros os quais expõem o meio social pobre e promíscuo influenciando o comportamento dos seus habitantes. As figuras humanas são apresentadas como tipos que compõem um painel social. Esse procedimento comprova a intenção de retratar uma dada realidade pelo que ela apresenta de mais típico. Em O Cortiço, as individualidades não existem: notamos apenas figuras que fazem parte de um quadro coletivo, que gradativamente vão ganhando movimentação. Não é difícil associar a estalagem com um formigueiro ou a uma colmeia, em que o coletivo se sobrepõe ao individual. 619
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O Brasil é delineado como o país em que os portugueses se tornaram ricos por meio da prática da exploração dos nativos e dos escravos, herança deixada pelos colonizadores. O Cortiço narra a saga de João Romão em busca do enriquecimento à custa da exploração cruel. Para acumular capital, ele engana os empregados e inquilinos e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. O português Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso. João Romão, cuja maior ambição é enriquecer, é um comerciante esperto e aproveitador, avarento, invejoso, ambicioso e desumano que se une a Miranda, outro estrangeiro de qualidades idênticas. Este último é infeliz no casamento, entretanto, continua casado, pois depende do dote de sua esposa. Miranda e Romão agem por interesses próprios, em função de atingirem seus ambiciosos objetivos. De acordo com o texto em que transcorre a narrativa, a identidade nacional é constituída de elementos desonrosos, tendo como filosofia principal, o fato de que os oportunistas se dão bem, iludindo e se aproveitando dos índios e negros. Sabemos que o Brasil é produto de uma pluralidade de raça e cultura que apresenta como componente dominante: o homem inescrupuloso, que só se importa com a elevação social, destacando daí a perspectiva política ligada à formação da identidade nacional. Leiamos o fragmento a seguir: João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro. Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lhe, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade. Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem, depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta. B19 Naturalismo I
João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu para confidente das suas desventuras. Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de amofinações e dificuldades. “Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era brinquedo para uma pobre mulher ter de escarrar pr’ali, todos os meses, vinte mil-réis em dinheiro!” E segredou-lhe então o que já tinha junto para a sua liberdade e acabou 620
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pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos fundos.
-Coitado! A gente se queixa é da sorte! Ele, como meu senhor, exigia o jornal, exigia o que era seu!
Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro da crioula. No fim de pouco tempo era ele quem tomava conta de tudo que ela produzia, e era também quem punha e dispunha dos seus pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava um pulo até à venda e recebia-o das mãos do vendeiro, de «Seu João», como ela dizia. Seu João debitava metodicamente essas pequenas quantias num caderninho, em cuja capa de papel pardo lia-se, mal escrito e em letras cortadas de jornal: “Ativo e passivo de Bertoleza”.
Contra todo o costume, abriu-se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto, e os dois beberam-na em honra ao grande acontecimento. Entretanto, a tal carta de liberdade era obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo, que ele entendeu de pespegar-lhe em cima, para dar à burla maior formalidade, representava despesa, porque o esperto aproveitara uma estampilha já servida. O senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo.
E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com ela qualquer negócio, nem mais se dava ao trabalho de procurá-la, ia logo direito a João Romão.
João Romão não saia nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terra situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela.
Ele propôs-lhe morarem juntos, e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à sua. João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas, dividida ao meio paralelamente à rua, sendo a parte da frente destinada à quitanda e a do fundo para um dormitório que se arranjou com os cacarecos de Bertoleza. Havia, além da cama, uma cômoda de jacarandá muito velha com maçanetas de metal amarelo já mareadas, um oratório cheio de santos e forrado de papel de cor, um baú grande de couro cru tacheado, dois banquinhos de pau feitos de uma só peça e um formidável cabide de pregar na parede, com a sua competente coberta de retalhos de chita. O vendeiro nunca tivera tanta mobília. -Agora, disse ele à crioula, as coisas vão correr melhor para você. Você vai ficar forra; eu entro com o que falta. Nesses dias ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com uma folha de papel toda escrita, que leu em voz alta à companheira. -Você agora não tem mais senhor! declarou em seguida à leitura, que ela ouviu entre lágrimas agradecidas. Agora está livre! Doravante o que você fizer é só seu e mais de seus filhos, se os tiver. Acabou-se o cativeiro de pagar os vinte mil-réis à peste do cego!
(...)
Que milagres de esperteza e de economia não realizou ele nessa construção! Servia de pedreiro, amassava e carregava barro, quebrava pedra; pedra, que o velhaco, fora de horas, junto com a amiga, furtavam à pedreira do fundo, da mesma forma que subtraiam o material das casas em obra que havia por ali perto. (...) E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão. Hoje quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e, à proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de moradores. Sempre em mangas de camisa, sem domingo nem dia santo, não perdendo nunca a ocasião de assenhorear-se do alheio, deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas, comprando por dez réis de mel coado o que os escravos furtavam da casa dos seus senhores, apertando cada vez mais as próprias despesas, empilhando privações sobre privações, trabalhando e mais a amiga como uma junta de bois, João Romão veio afinal a comprar uma boa parte da bela pedreira, que ele todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à porta da venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça. 621
B19 Naturalismo I
Quando deram fé estavam amigados.
-Seu ou não seu, acabou-se! E vida nova!
Português
Pôs lá seis homens a quebrarem pedra e outros seis a fazerem lajedos e paralelepípedos, e então principiou a ganhar em grosso, tão em grosso que, dentro de ano e meio, arrematava já todo o espaço compreendido entre as suas casinhas e a pedreira, isto é, umas oitenta braças de fundo sobre vinte de frente em plano enxuto e magnífico para construir. Análise do fragmento As atitudes da sociedade, conforme as forças interiores da pessoa, podem levar o ser humano à passividade, à subserviência ou atitudes que levem ao preconceito justificado.
Observe as características do Naturalismo no perfil de João Romão: sujeito sem escrúpulos, ambicioso, desumano, mau-caráter e explorador; e de Bertoleza: ex-escrava trabalhadora, explorada e submissa. Traçando um paralelo ente Bertoleza, de O Cortiço, e Raimundo, de O Mulato, podemos concluir para quais caminhos a sociedade pode levar o homem. Bertoleza era preconceituosa e não se sentia negra. Considerava o negro uma raça inferior. Manteve-se na ignorância e na exploração. Ao passo que Raimundo ficou com ódio da sociedade e com uma mancha no caráter.
Exercícios de Fixação
B19 Naturalismo I
01. (Unirg TO) Dos segmentos a seguir, extraídos de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, marque aquele que não traduz exemplo de zoomorfismo: a) “Zulmira tinha então doze para treze anos e era o tipo acabado de fluminense; pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios, faces levemente pintalgadas de sardas.” b) “Leandra...a Machona, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo.” c) “Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.” d) “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa começou a minhocar,... e multiplicar-se como larvas no esterco.” 02. (Unirg TO) Em O Cortiço, Aluísio Azevedo reafirma a ideologia do Naturalismo e cumpre à risca alguns princípios cientificistas vigentes na segunda metade do século XIX. Dentre as afirmativas a seguir, assinale aquela que não corresponde às propostas da Escola Naturalista: a) O caráter determinista da obra tem como símbolo a personagem Pombinha, que, se antes era “pura” e de boa conduta moral, acaba prostituindo-se por força daquele meio sórdido e animalesco. b) Ao enfatizar as atitudes inescrupulosas de João Romão para com os habitantes do cortiço, em especial para com a negra Bertoleza, o narrador confirma as preocupações sociais do Naturalismo em sua inclinação reformadora. c) Os personagens de O Cortiço constituem-se, em sua maioria, de operários das pedreiras, lavadeiras e outros miseráveis que ali vivem de forma degradante, o que evidencia a preferência do escritor naturalista pelas camadas mais baixas da sociedade. d) Em O Cortiço, Aluísio Azevedo exprime um conceito naturalista da vida e, ao idealizar seus personagens, integra-os a elementos de uma natureza convencional.
622
03. (Unemat MT) No romance O Cortiço, temos várias personagens femininas que são criadas de acordo com a ideologia da época, século XIX, fortemente marcada pelo patriarcalismo. As mulheres, ricas ou pobres, sofriam com a submissão e, obviamente, o sofrimento das mais pobres era maior. Uma dessas personagens, entretanto, demonstra uma relativa autonomia e parece escapar à ideologia imposta. Assinale o trecho que indica essa variante. a) [...] – Você quer saber? – afirmava ela – bem percebo quanto aquele traste do meu marido me detesta, mas isso tanto se me dá, como a primeira camisa que vesti! Desgraçadamente para nós, mulheres de sociedade, não podemos viver sem o esposo, quando somos casadas; de forma que tenho de aturar o que me caiu em sorte, quer goste dele, quer não goste! [...] (p.34) b) [...] Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira [...] Varria a casa, cozinhava, vendia ao balcão na taverna. [...]” (p.17) c) [...] – Olha! – Pediu ela – faze-me um filho, que eu preciso alugar-me de ama de leite... Agora estão pagando muito bem as amas! A Augusta Carne-Mole, nesta última barriga, tomou conta de um pequeno aí na casa de uma família de tratamento, que lhe dava setenta mil-réis por mês! [...] (p.84) d) [...] – Casar? – Protestou a Rita. Nessa não cai a filha de meu pai! Casar? Livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre! Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu! [...] (p. 61) e) [...] Pobre Pombinha! No fim dos seus primeiros dois anos de casada já não podia suportar o marido; todavia, a princípio, para conservar-se mulher honesta, tentou
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (Acafe SC) Leia o texto a seguir. “João Romão, depois de serrazinar na venda com os caixeiros e com a Bertoleza, tornou ao pátio da estalagem quei-
a meia de seda azul e um sapatinho preto de entrada baixa; só de longo em longo espaço, ela desviava os olhos do serviço e erguia-os para o sobrado. Em qual alternativa o termo entre parênteses se refere, corretamente, à palavra sublinhada? a) “Do cortiço, onde esta novidade causou sensação, via-se nas janelas do sobrado (...)” (esta = sensação)
xando-se de que tudo ali ia muito mal. Censurou os trabalha-
b) “(...) os olhos fechados, a cabeça torcida para dentro por
dores da pedreira, nomeando o próprio Jerônimo, cuja força
causa da poeira que a cada pancada se levantava (...)” (se
física aliás o intimidara sempre. ‘Era um relaxamento aquela
= cabeça)
porcaria de serviço! Havia três semanas que estava com uma
c) “(...) preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas
broca à toa, sem atar, nem desatar; afinal aí chegara o do-
da lavagem, que escorriam para o quintal.” (que = lavagem)
mingo e não se havia ainda lascado fogo! Uma verdadeira
d) “(...) de instante a instante, chegava à janela, para namo-
calaçaria! O tal seu Jerônimo, dantes tão apurado, era agora
riscar Pombinha, que fingia não dar por isso (...)” (que =
o primeiro a dar o mau exemplo! perdia noites no samba!
Pombinha)
não largava os rastros da Rita Baiana e parecia embeiçado por ela! Não tinha jeito!’ Piedade, ouvindo o vendeiro dizer mal do seu homem, saltou em defesa deste com duas pedras na mão, e uma contenda travou-se, assanhando todos os ânimos. Felizmente, a chuva, caindo em cheio, veio dispersar o ajuntamento que se tornava sério.” Considerando a linguagem, o contexto sócio-histórico, as personagens e o estilo, o fragmento de texto acima pertence à obra: a) A Hora da Estrela, de Clarice Lispector. b) O Cortiço, de Aluísio Azevedo. c) A Majestade do Xingu, de Moacyr Scliar. d) O Fantástico na Ilha de Santa Catarina, de Franklin Cascaes. 05. (IFMG) Leia o trecho do livro O Cortiço, de Aluísio Azevedo.
06. (IF MG) Leio o trecho abaixo, a respeito de O Cortiço. “Cabe perguntar de que forma a consciência do escritor percebia os grupos humanos. Assumindo uma perspectiva do alto, de narrador onisciente, ele fazia distinção entre a vida dos que já venceram, como João Romão, o senhor da pedreira e do cortiço, e a labuta dos humildes que se exaurem na faina da própria sobrevivência. Para os primeiros, o trabalho é uma pena sem remissão, pois a fome de ganho não se sacia e o frenesi do lucro – ‘uma moléstia nervosa, uma loucura’, como a que empolga Romão – arrasta às mais sórdidas privações, a uma espécie de ascese às avessas, sem que um limite “natural” e ‘humano’ venha dar ao cabo a desejada paz. Já nos pobres, na ‘gentalha’, como os chama, o trabalho é o exercício de uma atividade cega, instintiva, não sendo raras as comparações com
Do cortiço, onde esta novidade causou sensação, via-se nas
vermes ou com insetos, sempre que importa fixar o vaivém dos
janelas do sobrado, abertas de par em par, surgir de vez em
operários na pedreira ou das mulheres no cortiço. (...)
quando Leonor ou Isaura, a sacudirem tapetes e capachos, ba-
A franzina Nenén escapa ‘como enguia’ dos rapazes; Paula, a
tendo-lhes em cima com um pau, os olhos fechados, a cabeça
cabocla mandingueira, tem ‘dentes de cão’; a mulatinha Flo-
torcida para dentro por causa da poeira que a cada pancada
rinda, ‘olhos luxuriosos de macaca’; e no cavoqueiro portu-
se levantava, como fumaça de um tiro de peça. Chamaram-se
guês, o pescoço é de touro e os olhos humildes, ‘como os de
novos criados para aqueles dias. No salão da frente, pretos la-
um boi de carga’.”
vavam o soalho, e na cozinha havia rebuliço. Dona Estela, de penteador de cambraia enfeitado de laços cor-de-rosa, era lobrigada de relance, ora de um lado, ora de outro, a dar as suas ordens, abanando-se com um grande leque; ou aparecia no patamar da escada do fundo, preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas da lavagem, que escorriam para o quintal. Zulmira também ia e vinha, com a sua palidez fria e úmida de menina sem sangue. Henrique, de paletó branco, ajudava o Botelho nos arranjos da casa e, de instante a instante, chegava à janela, para namoriscar Pombinha, que fingia não dar por isso, toda embebida na sua costura, à porta do número 15, numa cadeira de vime, uma perna dobrada sobre a outra, mostrando
BOSI, A. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1999. Pp. 190-191.
O texto acima é parte de uma crítica referente ao escritor Aluísio Azevedo. Nela, são feitos comentários sobre o processo de composição do livro O Cortiço. Os comentários tratam de uma característica importante do Naturalismo, muito presente na obra O Cortiço. Marque a alternativa que apresenta essa característica: a) Cientificismo – pensar a literatura como ciência. b) Zoomorfismo – comparar pessoas com animais. c) Determinismo – relacionar o homem ao meio onde vive. d) Evolucionismo – tratar o homem como evolução biológica.
623
B19 Naturalismo I
perdoar-lhe a falta de espírito, os gostos rasos e a sua risonha e fatigante palermice de homem sem ideal; ouviu-lhe resignada, as confidências banais nas horas íntimas do matrimônio;[...] (p.212)
Português
Exercícios Complementares 01. (Unirg TO) O Cortiço, romance de Aluísio de Azevedo, é uma clássica narrativa realista da Literatura Brasileira. Uma de suas teses centrais, quanto à população humilde, marginalizada e sem condições efetivas de ascensão social, é: a) o meio social é fator determinante para a formação do comportamento humano. b) o Brasil é um país de convivência pacífica entre suas várias etnias e raças. c) a condição social feminina brasileira é similar à condição social masculina. d) a meritocracia é um sistema político e cultural equânime nas relações sociais.
B19 Naturalismo I
02. (ITA SP) Acerca das personagens femininas de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, podemos dizer que a) Rita Baiana seduz Jerônimo somente para vingar-se de Firmo, seu amante. b) Pombinha, aos domingos, escreve as cartas ditadas pelos moradores do cortiço. c) Estela não ama Miranda, mas é fiel a ele, ainda que por mera conveniência. d) Bertoleza dedica, até o final do romance, um amor platônico a João Romão. e) Leónie, que não mora no cortiço, se sustenta sozinha, trabalhando como lojista. 03. (UFPR) A respeito do narrador do romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, assinale a alternativa correta. a) O narrador naturalista descreve com objetividade e riqueza de detalhes o cenário em que se ambienta o romance, como se observa neste trecho: “A lua, surgindo lenta e lenta, cor de fogo, a princípio, depois fria e opalescente, misto de névoa e luz, alma e solidão, melancolizava o largo cenário das ondas, derramando sobre o mar essa luz meiga, essa luz ideal que penetra o coração do marinheiro, comunicando-lhe uma saudade infinita dos que navegam”. b) O narrador descreve com minúcia o pensamento das personagens, desvendando seu refinado sistema de valores culturais, como se observa neste trecho: “Estimava Bom-Crioulo desde o dia em que ele, desinteressadamente, por um acaso providencial, livrou-a de morrer na ponta de uma faca, história de ladrões... [...]”. c) O narrador evidencia a percepção sofisticada de Amaro, que fica nítida nas referências do marinheiro à cultura grega: “Aleixo surgia-lhe agora em plena e exuberante nudez, muito alvo, as formas roliças de calipígio ressaltando na meia sombra voluptuosa do aposento, na penumbra acariciadora daquele ignorado e impudico santuário de paixões inconfessáveis... Belo modelo de efebo que a Grécia de Vênus talvez imortalizasse em estrofes de ouro límpido e estátuas duma escultura sensual e pujante”.
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d) O narrador deixa pistas da vingança planejada por Amaro contra Aleixo, como se pode perceber nas referências intertextuais a Otelo, o clássico do ciúme, lido pelo marinheiro nos seus momentos de ócio: “Aleixo era seu, pertencia-lhe de direito, como uma coisa inviolável. Daí também o ódio ao grumete, um ódio surdo, mastigado, brutal como as cóleras de Otelo”. e) O narrador interpreta o conflito vivido pelo ex-escravo, justapondo uma percepção animalizante ao lado de outra, construída por meio de comparações artísticas: “Dentro do negro rugiam desejos de touro ao pressentir a fêmea... Todo ele vibrava, demorando-se na idolatria pagã daquela nudez sensual como um fetiche diante de um símbolo de ouro ou como um artista diante duma obra-prima”. 04. (UFRGS) Sobre o romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações. ( ) No início do romance, está o vendeiro português João Romão que, com força de trabalho e boa dose de oportunismo, constrói o cortiço, seu primeiro caminho para a ascensão social. ( ) No romance, a ex-escrava Bertoleza é a companheira de João Romão, por ele tratada com respeito, o que dá mostras do tom conciliatório do livro, que trata a escravidão como problema resolvido. ( ) No sobrado contíguo ao cortiço de João Romão, vivem Miranda, Dona Estela e a filha Zulmirinha, família financeiramente confortável, que cria sinceros vínculos de amizade com João Romão e Bertoleza. ( ) No romance, Dona Estela, sempre descrita pelo narrador como uma dama séria e decorosa, sofre com as constantes traições de seu marido Miranda. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – F – V – F. b) F – V – F – V. c) V – F – F – F. d) F – F – V – V. e) V – V – F – V. 05. (UFRGS) Leia o seguinte trecho de O Cortiço. A criadagem da família do Miranda compunha-se de Isaura, mulata ainda moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que pilhava em comprar capilé na venda de João Romão; uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe davam atracações: “Óia, que eu me queixo ao juiz de orfe!”; e finalmente o tal Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona Estela e a quem esta havia alforriado.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
06. (Puc RS) Leia o trecho de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, e preencha as lacunas. Bertoleza é que continuava na cepa torta, sempre a mesma crioula suja, sempre atrapalhada de serviço, sem domingo nem dia santo: essa, em nada, em nada absolutamente, participava das novas regalias do amigo: pelo contrário, à medida que ele galgava posição social, a desgraçada fazia-se mais e mais escrava e rasteira. A personagem Bertoleza em O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, representa o fatalismo_________ que se presentifica em muitas obras _________, pautadas pela forte influência de escritores franceses como _________. a) determinista – naturalistas – Émile Zola b) determinista – simbolistas – Gustave Flaubert c) capitalista – modernistas – Charles Baudelaire d) positivista – realistas – Charles Baudelaire e) capitalista – maneiristas – Émile Zola 07. (Unemat MT) [...] Capítulo IX Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e trabalhava dois dedos de parati “pr’a cortar a friagem”. Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicida-
des novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar. [...] (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 3ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2010, p.90)
No romance O Cortiço, o personagem português Jerônimo vai, segundo o narrador, aos poucos, “abrasileirando-se”, afrouxando seus costumes, o que confirma a filiação da obra a uma corrente filosófica em voga no mundo ocidental, na época (século XIX), a qual defendia que o ser humano: a) nasce bom, mas a sociedade o corrompe. b) só consegue ser feliz refugiado na natureza. c) é produto do meio em que vive. d) é produto da sua vontade. e) já nasce com o destino traçado. 08. (Acafe SC) Sobre a obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale a alternativa correta. a) Durante muito tempo, Rita Baiana foi vista pelos críticos como o motivo da ruína emocional do narrador. Acusada de trair o marido com o melhor amigo dele e, pior, de enganá-lo com um filho ilegítimo, foi encarada como o protótipo da mulher devassa, sem caráter e impostora. Os exemplos desse tipo de análise são vastos, todos embasados na esperteza da personagem desde sua meninice, qualidade esta narrada por Bento, um homem amargurado e pouco confiável. b) A prostituta Léonie possuía sentimentos passionais e libidinosos em relação à Pombinha, filha de dona Isabel, como se observa no seguinte trecho: “– Vem cá, minha flor!... disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-se cair sobre um divã. Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou louca por ti!” c) Jerônimo, casado com Piedade e amante de Bertoleza, é o dono do cortiço no qual se ambienta o livro. Parte do caráter de Jerônimo é descrito assim: “[...] deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas [...]”. d) Esta obra narra a história do amor de Ana Rosa e seu primo Raimundo, impedido pelas barreiras do preconceito racial contra Raimundo, que é mulato. Raimundo é rejeitado, ignorado e maltratado pela sociedade do Maranhão (onde a história se passa), mas ainda assim seu amor e o de Ana Rosa florescem. 09. (UFG GO) As trajetórias das personagens do romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo, são representativas da força com que o meio age sobre seus comportamentos. Afetadas por essa força, as personagens a) Albino e Leocádia se tornam promíscuas devido às más influências dos amigos do cortiço. b) João Romão e Bertoleza se anulam em nome da ambição de fazer progredir o cortiço. c) Miranda e Estela se corrompem à medida que se aproximam dos moradores do cortiço. d) Jerônimo e Pombinha são transformadas pela sensualidade reinante no cortiço. e) Firmo e Rita Baiana têm seu caráter modificado pela malandragem própria dos habitantes do cortiço. 625
B19 Naturalismo I
Sobre o texto anterior, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações. ( ) O fragmento reflete o tom geral do romance, no qual o narrador em terceira pessoa distancia-se das personagens populares – especialmente as negras –, pois está atrelado às reduções do cientificismo naturalista que antepõe raça superior a raça inferior. ( ) A linguagem do narrador é diferente da linguagem da personagem: a fala de Leonor não segue o registro linguístico adotado pelo narrador. ( ) As personagens femininas descritas no trecho – e no romance de maneira geral – são estereotipadas, respondem ao imaginário da mulata sensual e ociosa, especialmente Bertoleza e Rita Baiana. ( ) O narrador em terceira pessoa simpatiza com as personagens populares; tal simpatia está presente em todo o romance, nas inúmeras vezes em que a narração em terceira pessoa cede espaço para o diálogo entre escravos. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – V – F – F. d) F – V – F – V. b) F – F – V – V. e) V – V – V – F. c) F – F – F – V.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B20
ASSUNTOS ABORDADOS nn Naturalismo II nn Raul Pompéia nn Principais características nn O Ateneu nn A vida do escritor
NATURALISMO II O Realismo e o Naturalismo, normalmente, são estudados juntos, pois suas origens e suas características são muito semelhantes. Podemos dizer que o Naturalismo é uma ramificação do Realismo, pois ambos os movimentos se desenvolveram concomitantemente. O Brasil contou com escritores que souberam desenvolver o romance naturalista com maestria, dadas as condições sociais de um país às vésperas da abolição da escravatura, da Proclamação da República e que via os latifúndios, gradativamente, dominados por máquinas e estrangeiros. Era final do século XIX e o Brasil enfrentava um cenário de crise: nn Guerra
do Paraguai (1864-1870)
nn Fim
da escravidão no Brasil (1888)
nn Fim
do Império e início da República (1889)
Fonte: Wikimedia commons
Com a Lei Áurea, o Império perde seu último sustentáculo: os latifundiários cafeeiros do Vale do Paraíba que eram contra o fim da escravidão por utilizarem essa mão de obra. Sem sustentação política, o Império cai e dá lugar à República.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Raul Pompéia
Fonte: Wikimedia commons
O cenário mostrava-se propício, e inspirados pelo cientificismo do século XIX, muitos se dedicaram ao “romance de tese”. O foco principal dos escritores era o determinismo, isto é, a prova de que os seres humanos são influenciados por seu meio, pela raça e pelo momento em que vivem. Assim, muitos romances priorizam aquilo que é instintivo e primitivo no ser humano, como a agressividade e o erotismo, em detrimento da razão. Essas obras apresentam narradores objetivos e oniscientes, que assistem às cenas como espectadores-cientistas que dissecam seus personagens, com o intuito de confirmar suas teses. Sabemos que os romances têm um valor histórico para a literatura. No entanto, nos dias de hoje, essas teses já não são mais válidas. Na época do Naturalismo, algumas características causaram reação negativa diante da crítica literária, tais como: uso da linguagem oral e popular nos diálogos, cenas de sexo, incesto e amor homossexual. Para o leitor de hoje, tais características são bem aceitas e incorporadas naturalmente à literatura contemporânea. Raul Pompéia é um autor muito particular, pois sua obra transita entre o Realismo e o Naturalismo. Seu romance O Ateneu tanto apresenta características naturalistas como realistas, e até mesmo impressionistas. Sua narrativa naturalista é marcada pela vigorosa análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando-se o coletivo.
Figura 01 - Escritor naturalista Raul Pompéia
Durante a leitura de O Ateneu, podemos encontrar elementos impressionistas, parnasianos, simbolistas, expressionistas e elementos naturalistas, principalmente ao tratar da homossexualidade masculina e da influência do meio na conduta das pessoas.
Principais características nn O homem é um objeto a ser cientificamente estudado. Uma máquina guiada pela
B20 Naturalismo II
Figura 02 - As Respigadoras de Jean-François Millet − (As três mulheres) personificam a força animal profundamente concentradas numa tarefa dolorosa. O contraste entre riqueza e pobreza, poder e desamparo, esferas do masculino e do sexo feminino é apresentado nitidamente.
Fonte: Wikimedia commons
ação de leis físicas e químicas, pela hereditariedade e pelo meio físico e social. nn Linguagem naturalista: exatidão das descrições, apelo à minúcia, linguagem simples, coloquial; nn Determinismo: para os naturalistas, os seres aparecem como consequências de forças preexistentes que lhes roubam o livre arbítrio, que limitam sua responsabilidade e os tornam, em casos extremos, verdadeiros joguetes nas mãos do destino; nn Despreocupação com a moral; nn Preferência por temas de patologia social: os escritores naturalistas não hesitaram em destacar os efeitos de taras, das doenças e dos vícios na formação do caráter; nn Interessam-se por temas como miséria, adultério, criminalidade, desequilíbrio psíquico etc.
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Português
O Ateneu Raul Pompeia publicou quatro romances ao longo de sua vida, dos quais O Ateneu: crônica de saudades é o que ganha maior importância para o estudo da literatura brasileira. O Ateneu foi consagrado pela crítica como uma das obras mais inteligentes da literatura brasileira. Nesse romance que soma autobiografia e ficção, não há um enredo linear, e narra-se a experiência pessoal do autor em um sistema de internato. Marcado de forma brutal por essa experiência, o autor trata de recriá-la em termos artísticos, valendo-se de um narrador-personagem, Sérgio, que é o protagonista da história.
Fonte: Wikimedia Commons
O livro é narrado em primeira pessoa e é construído a partir das recordações do personagem Sérgio, que entra, ainda garoto, para um colégio interno chamado Ateneu. Sérgio, já adulto, conta o início de sua adolescência passada no internato. O leitor tem a visão de um sujeito adulto que lembra os acontecimento, não a visão que o menino teria ao ingressar no internato. Assim, o romance é a memória adulta de uma experiência juvenil.
Figura 03 - Colégio Abílio César Borges, retratado pelo escritor Raul Pompeia em O Ateneu.
Como já antecipava seu pai, no Ateneu, Sérgio, ainda criança, conhece o mundo por meio de um ambiente marcado pela corrupção, pelo autoritarismo das instituições escolares e pela promiscuidade adolescente. Podemos observar que o narrador, no presente (idade madura), analisa os fatos do passado. Suas memórias confundem-se com os julgamentos feitos, no presente da narrativa, sobre a existência no educandário. Não há, pois, uma história, uma linearidade, um enredo propriamente dito. Existem, isso sim, um amontoado de fatos, situações, percepções e impressões que servem para delinear a psicologia e a estrutura social do mundo do internato. B20 Naturalismo II
O Ateneu é visto pelas impressões iludidas de Sérgio, inicialmente, como um paraíso, um lugar harmonioso, suntuoso e imponente, já que o visitou duas vezes antes de ser internado, em períodos de grandes festas e solenidades, em que se faziam presentes grandes e importantes autoridades políticas do Império. Porém, com o tempo, Sérgio percebe que o colégio é um microcosmo que reflete os valores, os costumes e comportamentos dos sujeitos sociais da época. 628
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Desse modo, o protagonista Sérgio descobre, angustiado, o cair das aparências. Ele percebe que essas ações negativas são práticas e valores comuns no internato, espelho da vida em sociedade. Tudo isso causava perplexidade e medo no menino Sérgio, contudo, com o passar do tempo, ele vai se adaptando e se fortalecendo nas relações que o cercam. Leiamos, a seguir, um fragmento da obra O Ateneu, em que se evidenciam a brutalidade, a ambição pelo poder, a exploração e a homossexualidade: Um cáfila! (dizia Rebelo) Não imagina, meu caro Sérgio. Conte como uma desgraça ter de viver com esta gente. Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade… Uns perversos. Têm mais pecados na consciência que um confessor no ouvido; uma mentira em cada dente, um vício em cada polegada de pele. Fiem-se neles. São servis, traidores, brutais, adulões. Vão juntos. Pensa-se que são amigos… Sócios de bandalheiras! Cheiram à corrupção, empestam de longe.” Há no colégio uma explícita divisão entre fortes e fracos. O relacionamento estre os colegas reduplicava os valores do universo social: opressores e oprimidos. A saída dos frágeis é o homossexualismo, com o qual adquirem a “proteção” de um dos rapazes mais fortes: Isto é uma multidão; é preciso força de cotovelos para romper. Os gênios fazem aqui dois sexos, como se fosse uma escola mista. Os rapazes tímidos, ingênuos, sem san-
gue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores. Dificilmente, contudo, alguém se isenta do homossexualismo sub-reptício ou direto que assalta as salas de aula, os corredores e os dormitórios de o Ateneu. Exceção feita a Rebelo, todas as amizades de Sérgio são ambíguas. Ele próprio – por medo – parece dispor-se a certo tipo de relacionamento Depois que sacudi fora a tranca dos ideais ingênuos, sentia-me vazio de ânimo; nunca percebi tanto a espiritualidade imponderável da alma: o vácuo habitava-me dentro. Premia-me a força das coisas; senti-me acovardado. Perdeu-se a lição viril de Rebelo; prescindir de protetores. Eu desejei um protetor, alguém que me valesse, naquele meio hostil e desconhecido, e um valimento direto mais forte do que palavras. Pouco a pouco me ia invadindo a efeminação mórbida das escolas. (…) E, como se a alma das crianças, à maneira do físico, esperasse realmente pelos dias para caracterizar em definitivo a conformação sexual do indivíduo, sentia-me possuído de certa necessidade preguiçosa de amparo, volúpia de fraqueza…
A vida do escritor Raul D’Ávila Pompéia nasceu em Jacuecanga, no município de Angra dos Reis, no dia 12 de abril de 1863. Filho da burguesia culta, estudou no colégio interno Abílio César Borges e depois no D. Pedro II, ambos frequentados por famílias tradicionais da época. Foi nas memórias vividas no Colégio Abílio que Pompeia buscou inspiração para sua obra-prima O Ateneu. O romance foi criado a partir da visão dos contornos nítidos de suas recordações e impressões profundas. De temperamento ultrassensível, passou uma vida bastante isolada. Descrito por muitos biógrafos como uma pessoa tímida, doentia, emotiva ao extremo, evidenciava-se também sua criatividade como desenhista, cartunista e crítico de arte. Em 1881, ingressa na Faculdade de Direito em São Paulo tornando-se adepto dos movimentos republicano e abolicionista, e dando início a sua carreira de jornalista tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo. Profundamente deprimido e perturbado emocionalmente, depois de ter sido acusado de homossexual por Olavo Bilac, o que gerou contínuas polêmicas e diversas discussões, suicidou-se em uma noite de Natal, quando tinha 32 anos de idade.
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Fonte: Wikimedia Commons
Sérgio enxerga, agora claramente, a corrupção, o furto, o egoísmo, o assédio moral e sexual, a humilhação pública vexatória e constrangedora, a individualidade exacerbada, a competição desigual e predatória entre os alunos, a relação de dominação/exploração e dominados/explorados, sobretudo, sexual.
Português
Exercícios de Fixação
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01. (Ufam AM) Assinale a alternativa que NÃO está correta a respeito do romance O Ateneu, de Raul Pompeia: a) Considerado o principal marco do Expressionismo na ficção brasileira, não possui propriamente um enredo, apresentando uma sucessão de quadros que culminam com o incêndio ateado no colégio pelo estudante Sérgio. b) Mistura de invenção e memória, oscilando entre o diário e o romance, a trama gira em torno das experiências desagradáveis sofridas por um menino ingênuo no internato de Aristarco Argolo de Ramos. c) O realismo de Raul Pompeia, tal como o de Machado de Assis, era mais interior, aspecto que se pode observar no tom de reminiscência que perpassa o livro e no seu subtítulo: “Crônica de saudades”. d) Um dos episódios do romance mostra o afeto do protagonista pela mulher do diretor do colégio, sempre apresentado como um tirano que dava prioridade ao dinheiro, mais que à educação. e) Destruída a impressão inicial, o protagonista percebe, entre os alunos, uma clara divisão entre fortes e fracos, numa prática de violência que a puberdade vai cobrir de matizes sexuais. 02. (UERN) O Realismo-Naturalismo foi um movimento estético que, sucedendo ao período romântico, ocorreu na segunda metade do século XIX, à mesma época em que se assistia à eclosão da Segunda Revolução Industrial na Inglaterra e ao surgimento da Teoria da Evolução, de Charles Darwin. Assinale a alternativa que apresenta-se plenamente coerente com a visão de mundo proporcionada por aquela corrente estética. a) A visão de mundo realista-naturalista acentua e privilegia alguns traços herdados do movimento estético anterior, em que a análise dos fatos e a focalização da sociedade se fazem a partir de abordagem maniqueísta, totalmente adequada aos novos parâmetros estéticos. b) A nova visão de mundo proporcionada pelo realismo-naturalismo se estrutura a partir de um universo literário no qual se substituem a observação racional e a objetividade pela imaginação e subjetividade no processo de análise da sociedade. c) Sob a perspectiva da visão realista-naturalista, o mundo é um grande painel social em que o mais importante é a consideração do individualismo sobre o coletivismo, de vez que este último pode mascarar totalmente as características subjetivas e sentimentais, principal objeto de análise do Realismo-Naturalismo.
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d) A visão de mundo se renova, na medida em que privilegia a objetividade, a razão na percepção da realidade, o abandono da valorização desmedida da emoção e a focalização da sociedade como centro de interesse, em lugar da perspectiva individualista. Texto comum às questões 03 e 04 Considere o texto apresentado abaixo. (...) não havia família de dinheiro, enriquecida pela setentrional borracha ou pela charqueada do sul, que não reputasse um compromisso de honra com a posteridade doméstica mandar dentre seus jovens um, dois, três representantes abeberar-se à fonte espiritual do Ateneu. (Raul Pompeia. O Ateneu. Apud DACANAL, José Hildebrando. Romances brasileiros I. Alegre: Novo Século, 2000. p. 158)
03. (Puc Campinas SP) Ao analisar o romance O Ateneu, Mário de Andrade fez a seguinte observação acerca de Raul Pompeia: Deu-lhe a ideia do seu romance a incompetência de viver adquirida ou pelo menos arraigada nele pelo drama do internato; vazou no livro o seu ódio por um passado que culpou (...). Com esta observação, Mário de Andrade considera que O Ateneu é um romance bastante marcado a) pelos ressentimentos pessoais de seu autor, advindos de sua experiência de aluno interno. b) pelo estilo exaltado de um narrador que simula ter vivido as experiências do protagonista do romance. c) pelo desejo de mostrar a vida de um aluno incompetente, atormentado por intenso sentimento de culpa. d) pela pesquisa que fez seu autor junto a colégios da época, quando se deparou com o conservadorismo das técnicas pedagógicas. e) pela denúncia dos dramas que vivem os alunos de um internato religioso, em oposição à rotina amena das escolas públicas. 04. (Puc Campinas SP) Sugere-se, nesse trecho, que o colégio Ateneu a) servia diligentemente à comunidade local e cultivava nos alunos valores de alta espiritualidade. b) era bastante prestigiado e correspondia aos planos que uma elite econômica traçava para seus filhos. c) tinha fama de disciplinador, e a ele recorriam as famílias abastadas para que se punisse a rebeldia dos jovens. d) primava pela firme orientação religiosa, razão pela qual pais modestos se sacrificavam para a ele enviar os filhos. e) adotava uma revolucionária pedagogia moderna, afastando- se dos princípios de uma educação mais tradicional.
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Exercícios Complementares
02. (Ufu MG) Bom-Crioulo tinha despido a camisa de algodão, e, nu da cintura pra cima, numa riquíssima exibição de músculos, os seios muito salientes, [...] um sulco profundo e liso d’alto a baixo no dorso, nem sequer gemia, como se estivesse a receber o mais leve dos castigos. CAMINHA, Adolfo. Bom Crioulo. São Paulo: Ática, 1995, p.7.
De acordo com o trecho acima, marque, para as afirmativas abaixo, (V) Verdadeira, (F) Falsa ou (SO) Sem Opção. V-F-V-F 1. A descrição do corpo de Amaro se aproxima muito do ideal do corpo masculino contemporâneo, moldado nas academias de ginástica; no entanto, os músculos de o Bom-Crioulo foram adquiridos com o árduo trabalho de marinheiro. 2. Amaro era sempre alvo de castigos cruéis, pois era comum, na Marinha do século XIX, o uso de chicotadas como forma de punição, o que levou Bom- Crioulo a liderar o famoso movimento popular intitulado “A revolta da Chibata”. 3. Amaro é um protagonista que difere dos heróis do Romantismo brasileiro. Era negro, ex-escravo, homossexual e assassino. Sua habilidade com a navalha e seus problemas com a bebida metiam medo até no mais corajoso dos marinheiros. 4. De nada adiantaram os castigos corporais recebidos na Marinha, muito menos sua prisão; Amaro, depois de uns goles de cachaça, sempre se metia em brigas e confusões, até ser brutalmente assassinado pelo seu parceiro sexual, de nome Aleixo. 03. (ITA SP) Sobre O Ateneu, de Raul Pompeia, NÃO se pode afirmar que: a) O colégio Ateneu reflete o modelo educacional da época, bem como os valores da sociedade da época. b) O romance é narrado num tom intimista, em terceira pessoa.
c) A narrativa expressa um tom de ironia e ressentimento. d) As pessoas são descritas, muitas vezes, de forma caricatural. e) São comuns comparações entre pessoas e animais. 04. (Enem MEC) Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estala de gozo. AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens são observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas. b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo. c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português. d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses. e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais. Considere o texto apresentado abaixo para responder às questões 05 e 06 (...) não havia família de dinheiro, enriquecida pela setentrional borracha ou pela charqueada do sul, que não reputasse um compromisso de honra com a posteridade doméstica mandar dentre seus jovens um, dois, três representantes abeberar-se à fonte espiritual do Ateneu. (Raul Pompeia. O Ateneu. Apud DACANAL, José Hildebrando. Romances brasileiros I. Alegre: Novo Século, 2000. p. 158)
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01. (Fuvest SP) Em que pese a oposição programática do Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra a que pertence – a presença de uma linha de continuidade entre o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira, a saber, a a) exaltação patriótica da mistura de raças. b) necessidade de autodefinição nacional. c) aversão ao cientificismo. d) recusa dos modelos literários estrangeiros. e) idealização das relações amorosas.
Português
05. (Enem MEC) Capítulo LIV – A pêndula Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim: — Outra de menos… — Outra de menos… — Outra de menos… — Outra de menos…, O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre. Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuava-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados. ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).
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O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque a) o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros adúlteros. b) como “defunto autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do tempo. c) na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e acumular riquezas. d) o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o comportamento idealista de Brás Cubas. e) o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do relógio. 06. (Enem MEC) Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros 632
soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi de amor: música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de gozo. AZEVEDO, A. O Cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
No romance O Cortiço (1890), de Aluízio Azevedo, as personagens são observadas como elementos coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas. b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo. c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português. d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses. e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais. 07. (Enem MEC) Soneto Já da morte o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto! Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!... já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece... Eis o estado em que a mágoa me tem posto! O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade. Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive! AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é a) a angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda. c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Unifor CE) Não, Machado de Assis não foi, como em regra se afirma, apenas um escritor para letrados, para espíritos requintados. Nem foi tampouco ignorado da gente de seu tempo, embora nunca houvesse conhecido grande popularidade. E não podia ter sido nem uma coisa nem outra, porque há na sua obra, a par da filosofia amarga, um sopro de vida, um latejar de dor que hão de sempre achar eco no coração humano. No fragmento acima, a crítica Lúcia Miguel Pereira valoriza uma importante e paradoxal duplicidade da obra de Machado de Assis ao se valer das expressões a) letrados e espíritos requintados. b) letrados e nunca houvesse conhecido grande popularidade. c) filosofia amarga e sopro de vida. d) filosofia amarga e espíritos requintados. e) nem foi tampouco ignorado da gente de seu tempo e achar eco no coração humano. 02. (Unifesp SP) Leia o texto. Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. (...) Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque ele só falava uma ou outra vez na rua; em casa, nada. “Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais.” Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso. Aguentava toda a trabalheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços. Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa. Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse
a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que sim. Uns braços, de Machado de Assis
Uma das características do Realismo é a introspecção psicológica. No conto, ela se manifesta, sobretudo, a) no comportamento grosseiro de Borges, que impõe medo a D. Severina e desperta ódio em Inácio. b) nas vivências interiores de Inácio e de D. Severina, que revelam seus sentimentos e conflitos. c) na forma solitária como Inácio se submete no trabalho com Borges, sem que pudesse estar com sua mãe e irmãs. d) nas reflexões de D. Severina, que vê Inácio como uma criança que merece carinho e não o silêncio e a reclusão. e) na forma como o contato é estabelecido entre as personagens, já que a falta de diálogo é uma constante em suas vidas. 03. (Mackenzie SP) 01Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética 02para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. [...] Quantos minutos 03gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse 04tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por 05não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades 06e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu 07conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os 08 seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão 09gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados 10do inferno. Considere as seguintes afirmações: I. No fragmento citado tem-se exemplo de tendência machadiana caracterizada por comentários digressivos do narrador. II. Uma visão amarga da humanidade está expressa na reflexão acerca da eternidade (linha 05), lugar em que se reproduzem os aspectos negativos da alma humana. III. A referência ao tempo infinito e breve (linha 04) sugere dupla percepção do tempo: psicológica e cronológica. Assinale: a) se apenas a afirmativa III estiver correta. b) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. c) se apenas a afirmativa II estiver correta. d) se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas. e) se todas as afirmativas estiverem corretas.
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Português
04. (FGV SP) Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
Ao configurar as Memórias póstumas de Brás Cubas como narrativa em primeira pessoa, conforme se verifica no trecho, Machado de Assis a) deu um passo decisivo em direção ao Realismo, adotando os procedimentos mais típicos dessa escola. b) visa a criticar o subjetivismo romântico e os excessos sentimentalistas em que este incorrera. c) deu a palavra ao proprietário escravista e rentista brasileiro do Oitocentos, para que ele próprio exibisse sua desfaçatez. d) parodia as Memórias de um sargento de milícias, retomando o registro narrativo que as caracterizava. e) confere confiabilidade aos juízos do narrador, uma vez que este conhece os acontecimentos de que participou. 05. (Ibmec SP) Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituirme os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras...? (Dom Casmurro, Machado de Assis)
Sobre os motivos que levaram o narrador a escrever sua autobiografia, é correto afirmar que a) para fugir da monotonia, ele pensou em escrever um livro, mas só decidiu por uma autobiografia depois da sugestão dos “bustos pintados nas paredes”.
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b) ele sempre quis escrever uma História dos Subúrbios, mas foi convencido a mudar de ideia pela influência do Fausto, obra-prima de Goethe. c) ele desistiu de escrever obras jurídicas, filosóficas e políticas porque, em geral, elas são cansativas e monótonas, ao contrário das biografias. d) para variar, ele resolveu pesquisar, tendo “documentos e datas como preliminares”, a fim de resgatar o passado, que ele chama de “tempos idos”. e) ele tinha como referência “as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos”, importante obra biográfica brasileira do século XIX. 06. (UCS RS) Em relação aos contos da obra Cinco histórias do Bruxo do Cosme Velho, de Machado de Assis, é correto afirmar que a) o final feliz da relação amorosa, no conto “Naini”, pode ser visto como uma tentativa de o narrador obter a simpatia da leitora da época. b) um alfinete conta toda sua existência, encerrada pelo desfecho explícito, no conto “História comum”. c) o narrador do conto, “Ideias de canário”, é a própria ave que relata peculiaridades da vida da sua espécie. d) a conversa entre dois coturnos abandonados, no conto “Filosofia de um par de botas”, revela preocupações do ser humano. e) o emprego de notas explicativas restringe-se a explicar quem foram grandes poetas como Homero, Virgílio, Dante. Texto comum às questões 07 a 09 E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. Aluísio Azevedo, O Cortiço.
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tencimento ao Naturalismo em literatura – baseiam-se amplamente no procedimento de explorar de modo intensivo aspectos biológicos da natureza. Entre esses procedimentos empregados no texto, só NÃO se encontra a a) representação do homem como ser vivo em interação constante com o ambiente. b) exploração exaustiva dos receptores sensoriais humanos (audição, visão, olfação, gustação), bem como dos receptores mecânicos. c) figuração variada tanto de plantas quanto de animais, inclusive observados em sua interação. d) ênfase em processos naturais ligados à reprodução humana e à metamorfose em animais. e) focalização dos processos de seleção natural como principal força direcionadora do processo evolutivo. 08. (Fuvest SP) Entre as características atribuídas, no texto, à natureza brasileira, sintetizada em Rita Baiana, aquela que corresponde, de modo mais completo, ao teor das transformações que o contato com essa mesma natureza provocará em Jerônimo é a que se expressa em: a) “era o calor vermelho das sestas da fazenda”. b) “era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta”. c) “era o veneno e era o açúcar gostoso”. d) “era a cobra verde e traiçoeira”. e) “[era] a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele”. 09. (Fuvest SP) Para entender as impressões de Jerônimo diante da natureza brasileira, é preciso ter como pressuposto que há a) um contraste entre a experiência prévia da personagem e sua vivência da diversidade biológica do país em que agora se encontra. b) uma continuidade na experiência de vida da personagem, posto que a diversidade biológica aqui e em seu local de origem são muito semelhantes. c) uma ampliação no universo de conhecimento da personagem, que já tinha vivência de diversidade biológica semelhante, mas a expande aqui. d) um equívoco na forma como a personagem percebe e vivencia a diversidade biológica local, que não comporta os organismos que ele julga ver. e) um estreitamento na experiência de vida do personagem, que vem de um local com maior diversidade de ambientes e de organismos. Leia o fragmernto para responda à questão.
A narrativa na primeira pessoa confere ao romance O Ateneu o aspecto de diário. Surge daí o tom intimista das cenas selecionadas pelo narrador adulto. São confissões que dificilmente seriam feitas a outras pessoas, envolvendo intimidades sexuais vexatórias, apenas confiáveis a um diário íntimo. 10. Opte pela afirmativa incorreta: a) O Ateneu é romance narrado em primeira pessoa. b) O tempo em O Ateneu é linear, ou seja, há um início que evolui depois para o clímax e, deste, para um final. c) O narrador viveu a história contada entre 11 e 13 anos de idade; só depois de adulto, ele a narrou. d) A apresentação dos fatos sofre, às vezes, influência romântica, quando o narrador põem em primeiro plano a emoção. e) O romance compõe-se de 12 capítulos longos, sem títulos, enumerados em algarismos arábicos. 11. (Enem MEC) Capítulo III Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, – primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços. ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento).
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre a essência. b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes. c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião. d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho. e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de xenofobia.
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FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
07. (Fuvest SP) O efeito expressivo do texto – bem como seu per-
shutterstock Por Olena Yakobchuk
FRENTE
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PORTUGUÊS Por falar nisso
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O que constitui o significado de uma palavra? As palavras possuem um significado fixo? No momento de transmitir uma informação, todos os componentes da situação que envolvem o ato de interação por meio da linguagem verbal devem ser considerados. Isso significa que, para compreender e interpretar qualquer texto – seja ele oral, seja ele escrito –, é fundamental que se leve em conta: quem fala, a quem se fala, a entonação empregada, onde se fala, quando se fala, enfim, o contexto é fulcral para o entendimento do texto. As palavras não têm significado fixo, muito menos, significado invariável. Dessa maneira, ao ler um texto, você, estudante, deve estar atento para não predeterminar o sentido de uma palavra, pois pode ser que o autor a esteja empregando em outro sentido. Todo bom leitor é capaz de absorver as condições de produção do texto a fim de compreender exatamente o que o escritor quer passar, entendendo o significado das palavras a partir do olhar do autor. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
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Notícia e reportagem..................................................................... 638 Crônica literária.............................................................................. 646 Tipos de discurso........................................................................... 655 Tempo linguístico........................................................................... 662
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PORTUGUÊS
MÓDULO C17
ASSUNTOS ABORDADOS nn Notícia e reportagem
NOTÍCIA E REPORTAGEM As palavras dentro de um texto não funcionam como estão no dicionário. Os contextos em que elas podem ser empregadas são inúmeros, algo que o verbete de dicionário não é capaz de produzir. Assim, a partir dessa premissa, leiamos a reportagem a seguir sobre o perfil percentual de leitores no Brasil. Antes disso, façamos a seguinte reflexão: o que é ser leitor? Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa, leitor é: nn quem
lê para si mesmo, mentalmente, ou para alguém em voz alta; tem hábito de ler; nn o aparelho que lê códigos, sinais, dados microfilmados etc. nn quem
Note que esse verbete de dicionário traz três definições para a palavra leitor: uma primeira ligada à capacidade de ler, uma segunda relacionada à frequência de leitura, e outra terceira (cujo significado não convém para nosso estudo), que se refere a aparelhos, como o leitor de código de barras. Perceba ainda que, para esse verbete, não importa o que está sendo lido, para definir o sujeito como leitor. Trata-se de uma limitação que todo verbete de dicionário possui, uma vez que isso só pode ser determinado pelo contexto de produção e de uso. Em se tratando de uma palavra que é conhecida por todos nós e está em nosso cotidiano, usada em textos orais e escritos, pense em outros múltiplos significados que o termo “leitor” pode admitir. Leitor, portanto, pode ser: que sabe ler, ou seja, o sujeito alfabetizado. nn Aquele que sabe ler e relacionar o que leu com seu mundo, ou seja, o sujeito letrado. nn Aquele que lê jornais, revistas, blogs, sites. nn Aquele que lê, cotidianamente, jornais, revistas, blogs, sites. nn Aquele que lê literatura, livros literários. nn Aquele que compra livros. Fonte: shutterstock.com/Por Africa Studio
nn Aquele
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Observe que para definir a palavra leitor é necessário considerar o que está sendo lido, com que frequência se lê e qual a qualidade dessa leitura. Dada essa introdução, leia o texto de Maria Fernanda Rodrigues, jornalista do Estadão, e veja a definição de leitor para a autora.
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44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro, aponta pesquisa Retratos da Leitura Há um pouco mais de leitores no Brasil. Se em 2011 eles representavam 50% da população, em 2015 eles são 56%. Mas ainda é pouco. O índice de leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano. Os dados foram revelados na tarde desta quarta-feira, 18, e integram a quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, entidade mantida pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), a pesquisa ouviu 5 012 pessoas, alfabetizadas ou não, mesma amostra da pesquisa passada. Isso representa, segundo o Ibope, 93% da população brasileira. Para a pesquisa, é leitor quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Já o não leitor é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses. A Bíblia é o livro mais lido, em qualquer nível de escolaridade. O livro religioso, aliás, aparece em todas as listas: últimos livros lidos, livros mais marcantes. 74% da população não comprou nenhum livro nos últimos três meses. Entre os que compraram livros em geral por vontade própria, 16% preferiram o impresso e 1% o e-book. Um dado alarmante: 30% dos entrevistados nunca comprou um livro.
Entre as principais motivações para ler um livro, entre os que se consideram leitores, estão gosto (25%), atualização cultural ou atualização (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%), crescimento pessoal (10%), exigência escolar (7%), atualização profissional ou exigência do trabalho (7%), não sabe ou não respondeu (5%), outros (1%). Adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%). Os fatores que mais influenciam na escolha de um livro estão tema ou assunto (30%), autor (12%), dicas de outras pessoas (11%), título do livro (11%), capa (11%), dicas de professores (7%), críticas/ resenhas (5%), publicidade (2%), editora (2%), redes sociais (2%), não sabe/não respondeu (8%), outro (1%). O item O “tema ou assunto” influencia mais a escolha dos adultos e daqueles com escolaridade mais alta, atingindo 45% das menções entre os que têm ensino superior. Já o público entre 5 e 13 anos escolhe pela capa. Dicas de professores funcionam melhor que todas as outras opções para crianças entre 5 e 10 anos. E blogs respondem por menos de 1%. Lê-se mais em casa (81%), depois na sala de aula (25%), biblioteca (19%), trabalho (15%), transporte (11%), consultório e salão de beleza (8%) e em outros lugares menos expressivos. E lê-se mais livros digitais em cyber cafés e lan houses (42%) e no transporte (25%).
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Fonte: shutterstock.com/Por Halfpoint
Para 67% da população, não houve uma pessoa que incentivasse a leitura em sua trajetória, mas dos 33% que tiveram alguma influência, a mãe, ou representante do sexo feminino, foi a principal responsável (11%), seguida pelo professor (7%).
As mulheres continuam lendo mais: 59% são leitoras. Entre os homens, 52% são leitores. Aumentou o número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos – de 53% em 2011 para 67% em 2015. A pesquisa não aponta os motivos, mas Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores, disse ao Estado que o boom da literatura para este público pode ter ajudado no aumento do índice – mais do que uma ação para manter o aluno que sai da escola interessado na leitura.
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Aos não leitores, foi perguntado quais foram as razões para eles não terem lido nenhum livro inteiro ou em partes nos três meses anteriores à pesquisa. As respostas: falta de tempo (32%), não gosta de ler (28%), não tem paciência para ler (13%), prefere outras atividades (10%), dificuldades para ler (9%), sente-se muito cansado para ler (4%), não há bibliotecas por perto (2%), acha o preço de livro caro (2%), tem dinheiro para comprar (2%), não tem local onde comprar onde mora (1%), não tem um lugar apropriado para ler (1%), não tem acesso permanente à internet (1%), não sabe ler (20%), não sabe/não respondeu (1%).
A principal forma de acesso ao livro é a compra em livraria física ou internet (43%). Depois aparecem presenteados (23%), emprestados de amigos e familiares (21%), emprestados de bibliotecas de escolas (18%), distribuídos pelo governo ou pelas escolas (9%), baixados da internet (9%), emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias (7%), emprestados em outros locais (5%), fotocopiados, xerocados ou digitalizados (5%), não sabe/não respondeu (7%). A livraria física é o local preferido dos entrevistados para comprar livros (44%), seguida por bancas de jornal e revista (19%), livrarias online (15%), igrejas e outros espaços religiosos (9%), sebos (8%), escola (7%), supermercados ou lojas de departamentos (7%), bienais ou feiras de livros (6%),
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Fonte: shutterstock.com/Por connel
A leitura ficou em 10º lugar quando o assunto é o que gosta de fazer no tempo livre. Perdeu para assistir televisão (73%), que, vale dizer, perdeu importância quando olhamos os outros anos da pesquisa: 2007 (77%) e 2011 (85%). Em segundo lugar, a preferência é por ouvir música (60%). Depois aparecem usar a internet (47%), reunir-se com amigos ou família ou sair com amigos (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar WhatsApp (43%), escrever (40%), usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%), ler jornais, revistas ou notícias (24%), ler livros em papel ou livros digitais (24%) – mesmo índice de praticar esporte. Perdem para a leitura de um livro: desenhar, pintar, fazer artesanato ou trabalhos manuais (15%), ir a bares, restaurantes ou shows (14%), jogar games ou videogames (12%), ir ao cinema, teatro, concertos, museus ou exposições (6%), não fazer nada, descansar ou dormir (15%).
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na rua, com vendedores ambulantes (5%), outros sites da internet (4%), em casa ou no local de trabalho, com vendedores “porta a porta” (3%), outros locais (6%) e não sabe/ não respondeu (7%). O preço é o que define o local da compra para 42% dos entrevistados. Na pesquisa anterior, isso valia para 49%. A pesquisa perguntou a professores qual tinha sido o último livro que leram e 50% respondeu nenhum e 22%, a Bíblia. Outros títulos citados: Esperança, O Monge e o Executivo, Amor nos tempos do cólera, Bom dia Espírito Santo, Livro dos sonhos, Menino brilhante, O símbolo perdido, Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e Fisiologia do exercício. Entre os 7 autores mais lembrados, Augusto Cury, Chico Xavier, Gabriel Garcia Márquez, Paulo Freire, Benny Hinn, Ernest W. Maglischo e Içami Tiba. Quando extrapolamos para a amostra total, os títulos mais citados como os últimos lidos ou que estão sendo lidos foram Bíblia, Diário de um banana, Casamento Blindado, A Culpa é das Estrelas, Cinquenta Tons de Cinza, Ágape, Esperança, O Monge e o Executivo, Ninguém é de ninguém, Cidades de Papel, O Código da Inteligência, Livro de Culinária, Livro dos Espíritos, A Maldição do Titã, A Menina que Roubava Livros, Muito mais que cinco minutos, Philia e A Única Esperança. Quando a questão é sobre os livros mais marcantes, os religiosos continuam ali e a Bíblia segue como referência, mas a lista fica um pouco diferente, com alguns clássicos e infantojuvenis: Bíblia, A Culpa é das Estrelas, A Cabana, O Pequeno Príncipe, Cinquenta Tons de Cinza, Diário de um banana, Turma da Mônica, Violetas na Janela, O Sítio do Pica-pau Amarelo, Crepúsculo, Ágape, Dom Casmurro, O Alquimista, Harry Potter, Meu pé de laranja lima, Casamento Blindado e Vidas Secas. Entre os escritores preferidos dos brasileiros estão Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Maurício de Sousa, Augusto Cury, Zibia Gasparetto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Chico Xavier, John Green, Ada Pellegrini, Vinícius de Moraes, José de Alencar e Padre Marcelo Rossi.
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Fonte: shutterstock.com/Por pinkomelet
A depender da sua definição predeterminada de leitor, você pode ter lido a manchete e concluído que 44% da população brasileira é analfabeta, o que seria um índice surreal. Por isso, é importante que se leia cada palavra de um texto tendo em mente que tal palavra, naquele contexto, possui um significado específico, o qual pode ser diferente do que você atribui àquela palavra. Fique atento ao ler esse texto, pois não só o índice do número de leitores está comprometido pelo conceito da autora, como também, todas as outras porcentagens trazidas. Lembre-se de que, para a autora, leitor é aquele que leu um livro literário nos últimos três meses. Quem leu há mais de três meses, ou quem lê diariamente jornais, revistas, ou textos na internet, não são considerados leitores. Assim, quando a autora informa que as mulheres leem mais que os homens, ela está dizendo que nos últimos três meses, as mulheres leram mais livros literários do que homens. O que ela não revela é qual dos gêneros, masculino e feminino, está lendo mais notícias, textos virtuais etc. Atente-se ainda para as atividades eleitas no tempo livre: Segundo a reportagem, a leitura ficou em 10º lugar na lista do que fazer no tempo livre. Perceba, porém, que antes de leitura, as pessoas preferem atividades como: ler jornais e revistas, ler notícias, usar redes sociais, escrever, usar o WhatsApp, navegar na internet. Todas essas atividades listadas envolvem práticas de leitura. Logo, afirmar o que o hábito de ler está em 10º lugar no quesito “o que fazer no tempo livre” não pode ser inteiramente verdade.
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Desse modo, contextualizando as palavras dessa reportagem, compreendemos com que fim esse texto foi produzido: incentivar as pessoas a comprarem livros. Ademais, nenhum dos dados ali expostos podem servir de base para traçar o perfil de leitura do cidadão brasileiro, pois tais dados difundem uma ideia arbitrária sobre o hábito do leitor brasileiro.
Fonte: shutterstock.com/Por Radiokafka
O texto ainda enfatiza outro ponto: 30% das pessoas nunca compraram um livro. Para se ter acesso à leitura não é necessário comprar um livro. Você pode ganhar livros de presente, de doações, alugar livros em bibliotecas, ou ainda, ler livros pela internet. O objetivo da autora, ao revelar e destacar esse percentual “alarmante”, é fomentar a compra de livros, sejam eles físicos ou virtuais.
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC)
b) reflexibilidade, pois o personagem se refere aos tubarões usando um pronome reflexivo. c) condicionalidade, pois a atenção dos personagens é a condição necessária para a sua sobrevivência. d) possibilidade, pois a proximidade dos tubarões leva a suposição do perigo iminente para os homens. e) impessoalidade, pois o personagem usa a terceira pessoa para expressar o distanciamento dos fatos. 03. (Enem MEC)
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 1 mar. 2012.
A publicidade, de uma forma geral, alia elementos verbais e imagéticos na constituição de seus textos. Nessa peça publicitária, cujo tema é a sustentabilidade, o autor procura convencer o leitor a a) assumir uma atitude reflexiva diante dos fenômenos naturais. b) evitar o consumo excessivo de produtos reutilizáveis. c) aderir à onda sustentável, evitando o consumo excessivo. d) abraçar a campanha, desenvolvendo projetos sustentáveis. e) consumir produtos de modo responsável e ecológico. 02. (Enem MEC)
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BROWNE, D. Folha de S.Paulo, 13 ago. 2011.
As palavras e as expressões são mediadoras dos sentidos produzidos nos textos. Na fala de Hagar, a expressão “é como se” ajuda a conduzir o conteúdo enunciado para o campo da a) conformidade, pois as condições meteorológicas evidenciam um acontecimento ruim.
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Cartaz afixado nas bibliotecas centrais e setoriais da Universidade Federal de Goiás (UFG), 2011.
Considerando-se a finalidade comunicativa comum do gênero e o contexto específico do Sistema de Biblioteca da UFG, esse cartaz tem função predominantemente a) socializadora, contribuindo para a popularização da arte. b) sedutora, considerando a leitura como uma obra de arte. c) estética, propiciando uma apreciação despretensiosa da obra. d) educativa, orientando o comportamento de usuários de um serviço. e) contemplativa, evidenciando a importância de artistas internacionais. 04. (Enem MEC) A marcha galopante das tecnologias teve por primeiro resultado multiplicar em enormes proporções tanto a massa das notícias que circulam quanto as ocasiões de sermos solicitados por elas. Os profissionais têm tendência a considerar esta inflação como automática - mente favorável ao público, pois dela tiram proveito e tornam-se obcecados pela imagem liberal do grande mercado em que cada um, dotado de luzes por definição iguais, pode fazer sua
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VOYENNE, B. Informação hoje. Lisboa: Armand Colin, 1975 (adaptado).
Com o uso das novas tecnologias, os domínios midiáticos obtiveram um avanço maior e uma presença mais atuante junto ao público, marcada ora pela quase simultaneidade das informações, ora pelo uso abundante de imagens. A relação entre as necessidades da sociedade moderna e a oferta de informação, segundo o texto, é desarmônica, porque a) o jornalista seleciona as informações mais importantes antes de publicá-las. b) o ser humano precisa de muito mais conhecimento do que a tecnologia pode dar. c) o problema da sociedade moderna é a abundância de informações e de liberdade de escolha. d) a oferta é incoerente com o tempo que as pessoas têm para digerir a quantidade de informação disponível. e) a utilização dos meios de informação acontece de maneira desorganizada e sem controle efetivo. 05. (Enem MEC) Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra num desses meus badulaques. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário, aquela que tem, no topo, a fotografia de uma “varroa”(sic!) (você não sabe o que e uma “varroa”?) para corrigir-me do meu erro. E confesso: ele está certo. O certo é “varrição” e não “varreção”. Mas estou com medo de que
os mineiros da roça façam troça de mim porque nunca os vi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostra-lhes o xerox da página do dicionário com a “varroa” no topo. Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. E o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção” quando não “barrecão”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela mas reclama sempre que o prato está rachado. ALVES, R. Mais badulaques. São Paulo: Parábola, 2004 (fragmento).
De acordo com o texto, após receber a carta de um amigo “que se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário” sinalizando um erro de grafia, o autor reconhece a) a supremacia das formas da língua em relação ao seu conteúdo. b) a necessidade da norma padrão em situações formais de comunicação escrita. c) a obrigatoriedade da norma culta da língua, para a garantia de uma comunicação efetiva. d) a importância da variedade culta da língua, para a preservação da identidade cultural de um povo. e) a necessidade do dicionário como guia de adequação linguística em contextos informais privados. 06. (Enem MEC) E-mail com hora programada Redação INFO, 28 de agosto de 2007. Agende o envio de e-mails no Thunderbird com a extensão SendLater Nem sempre é interessante mandar um e-mail na hora. Há situações em que agendar o envio de uma mensagem é útil, como em datas comemorativas ou quando o e-mail serve para lembrar o destinatário de algum evento futuro. O Thunderbird, o ótimo cliente de e-mail do grupo Mozilla, conta com uma extensão para esse fim. Trata-se do SendLater. Depois de instalado, ele cria um item no menu de criação de mensagens que permite marcar o dia e a hora exatos para o envio do e-mail. Só há um ponto negativo: para garantir que a mensagem seja enviada na hora, o Thunderbird deverá estar em execução. Senão, ele mandará o e-mail somente na próxima vez que for rodado. Disponível em: http://info.abril.com.br. Acesso em: 18 fev. 2012 (adaptado).
Considerando-se a função do SendLater, o objetivo do autor do texto E-mail com hora programada é a) eliminar os entraves no envio de mensagens via e-mail. b) viabilizar a aquisição de conhecimento especializado pelo usuário. c) permitir a seleção dos destinatários dos textos enviados. d) controlar a quantidade de informações constantes do corpo do texto. e) divulgar um produto ampliador da funcionalidade de um recurso comunicativo. 643
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escolha em toda liberdade. Isso jamais foi realizado e tende a nunca ser. Na verdade, os leitores, ouvintes, telespectadores, mesmo se abandonam a sua bulimia*, não são realmente nutridos por esta indigesta sopa de informações e sua busca finaliza em frustração. Cada vez mais frequentemente, até, eles ressentem esse bombardeio de riquezas falsas como agressivo e se refugiam na resistência a toda ou qualquer informação. O verdadeiro problema das sociedades pós-industriais não é a penúria**, mas a abundância. As sociedades modernas têm a sua disposição muito mais do que necessitam em objetos, informações e contatos. Ou, mais exatamente, disso resulta uma desarmonia entre uma oferta, não excessiva, mas incoerente, e uma demanda que, confusamente, exige uma escolha muito mais rápida a absorver. Por isso os órgãos de informação devem escolher, uma vez que o homem contemporâneo apressado, estressado, desorientado busca uma linha diretriz, uma classificação mais clara, um condensado do que é realmente importante. (*) fome excessiva, desejo descontrolado. (**) miséria, pobreza
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Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. [...] Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4° É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. [...] BRASIL. Lei n. 8 069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. Disponível em: www.planalto.gov.br (fragmento)
Para cumprir sua função social, o Estatuto da criança e do adolescente apresenta características próprias desse gênero quanto ao uso da língua e quanto à composição textual. Entre essas características, destaca-se o emprego de a) repetição vocabular para facilitar o entendimento. b) palavras e construções que evitem ambiguidade. c) expressões informais para apresentar os direitos. d) frases na ordem direta para apresentar as informações mais relevantes. e) exemplificações que auxiliem a compreensão dos conceitos formulados.
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03. (Enem MEC) Com o texto eletrônico, enfim, parece estar ao alcance de nossos olhos e de nossas mãos um sonho muito antigo da humanidade, que se poderia resumir em duas palavras, universalidade e interatividade. As luzes, que pensavam que Gutenberg tinha propiciado aos homens uma promessa universal, cultivavam um modo de utopia. Elas imaginavam poder, a partir das práticas privadas de cada um, construir um espaço de intercâmbio crítico das ideias e opiniões. O sonho de Kant era que cada um fosse ao mesmo tempo leitor e autor, que emitisse juízos sobre as instituições de seu tempo, quaisquer que elas fossem e que, ao mesmo tempo, pudesse refletir sobre o juízo emitido pelos outros. Aquilo que outrora só era permitido pela comunicação manuscrita ou a circulação dos impressos encontra hoje um suporte poderoso com o texto eletrônico. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Unesp, 1998.
Disponível em: www.compolitica.org. Acesso em: 2 mar. 2012 (adaptado).
No trecho apresentado, o sociólogo Roger Chartier caracteriza o texto eletrônico como um poderoso suporte que coloca ao alcance da humanidade o antigo sonho de universalidade e interatividade, uma vez que cada um passa a ser, nesse espaço de interação social, leitor e autor ao mesmo tempo. A universalidade e a interatividade que o texto eletrônico possibilita estão diretamente relacionadas à função social da internet de a) propiciar o livre e imediato acesso às informações e ao intercâmbio da julgamentos. b) globalizar a rede de informações e democratizar o acesso aos saberes. c) expandir as relações interpessoais e dar visibilidade aos interesses pessoais. d) propiciar entretenimento e acesso a produtos e serviços. e) expandir os canais de publicidade e o espaço mercadológico.
Em 2011, após uma forte mobilização popular via redes sociais, houve a queda do governo de Hosni Mubarak no Egito. Esse evento ratifica o argumento de que a) a internet atribui verdadeiros valores culturais aos seus usuários. b) a consciência das sociedades foi estabelecida com o advento da internet.
04. (Enem MEC) Carta a uma jovem que, estando em uma roda em que dava aos presentes o tratamento de você, se dirigiu ao autor chamando-o “o senhor”: Senhora: Aquele a quem chamastes senhor aqui está, de peito magoado e cara triste, para vos dizer que senhor ele não é, de nada, nem de ninguém.
02. (Enem MEC) O sociólogo espanhol Manuel Castells sustenta que a comunicação de valores e a mobilização em torno do sentido são fundamentais. Os movimentos culturais (entendidos como movimentos que têm como objetivo defender ou propor modos próprios de vida e sentido) constroem-se em torno de sistemas de comunicação – essencialmente a internet e os meios de comunicação – porque esta é a principal via que esses movimentos encontram para chegar àquelas pessoas que podem eventualmente partilhar os seus valores, e a partir daqui atuar na consciência da sociedade no seu conjunto”.
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c) a revolução tecnológica tem como principal objetivo a deposição de governantes antidemocráticos. d) os recursos tecnológicos estão a serviço dos opressores e do fortalecimento de suas práticas políticas. e) os sistemas de comunicação são mecanismos importantes, de adesão e compartilhamento de valores sociais.
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Bem o sabeis, por certo, que a única nobreza do plebeu está em não querer esconder sua condição, e esta nobreza tenho eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e nobres a quem chamáveis você escolhestes a mim para tratar de senhor, é bem de ver que só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa e na prata de meus cabelos. Senhor de muitos anos, eis aí; o território onde eu mando é no país do tempo que foi. Essa palavra “senhor”, no meio de uma frase, ergueu entre nós um muro frio e triste. Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro, que me acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.
e) Indução, ao elaborar o discurso de acordo com os anseios do consumidor. 06. (Enem MEC)
BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A escolha do tratamento que se queira atribuir a alguém geralmente considera as situações específicas de uso social. A violação desse princípio causou um mal-estar no autor da carta. O trecho que descreve essa violação é: a) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma frase ergueu entre nós um muro frio e triste.” b) “A única nobreza do plebeu está em não querer esconder a sua condição.” c) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas rugas de minha testa.” d) “O território onde eu mando é no país do tempo que foi.” e) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa tristeza; mas também não era a vez primeira.” 05. (Enem MEC)
Disponível em: www.ivancabral.com. Acesso em: 27 fev. 2012.
O efeito de sentido da charge é provocado pela combinação de informações visuais e recursos linguísticos. No contexto da ilustração, a frase proferida recorre à a) polissemia, ou seja, aos múltiplos sentidos da expressão “rede social” para transmitir a ideia que pretende veicular. b) ironia para conferir um novo significado ao termo “outra coisa”. c) homonímia para opor, a partir do advérbio de lugar, o espaço da população pobre e o espaço da população rica. d) personificação para opor o mundo real pobre ao mundo virtual rico. e) antonímia para comparar a rede mundial de computadores com a rede caseira de descanso da família. 07. (Enem MEC) Lugar de mulher também é na oficina. Pelo menos nas oficinas dos cursos da área automotiva fornecidos pela Prefeitura, a presença feminina tem aumentado ano a ano. De cinco mulheres matriculadas em 2005, a quantidade saltou para 79 alunas inscritas neste ano nos cursos de mecânica automotiva, eletricidade veicular, injeção eletrônica, repintura e funilaria. A presença feminina nos cursos automotivos da Prefeitura – que são gratuitos cresceu 1.480% nos últimos sete anos e tem aumentado ano a ano.
LAERTE. Disponível em: http://blog.educacional.com.br. Acesso em: 8 set. 2011.
Que estratégia argumentativa leva o personagem do terceiro quadrinho a persuadir sua interlocutora? a) Prova concreta, ao expor o produto ao consumidor. b) Consenso, ao sugerir que todo vendedor tem técnica. c) Raciocínio lógico, ao relacionar uma fruta com um produto eletrônico. d) Comparação, ao enfatizar que os produtos apresentados anteriormente são inferiores.
Na produção de um texto, são feitas escolhas referentes a sua estrutura, que possibilitam inferir o objetivo do autor. Nesse sentido, no trecho apresentado, o enunciado “Lugar de mulher também é na oficina” corrobora o objetivo textual de a) demonstrar que a situação das mulheres mudou na sociedade contemporânea. b) defender a participação da mulher na sociedade atual. c) comparar esse enunciado com outro: “lugar de mulher é na cozinha”. d) criticar a presença de mulheres nas oficinas dos cursos da área automotiva. e) distorcer o sentido da frase “lugar de mulher é na cozinha”. 645
C17 Notícia e reportagem
Disponível em: www.correiodeuberlandia.com.br. Acesso em: 27 fev. 2012 (adaptado).
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C18
ASSUNTOS ABORDADOS nn Crônica literária nn Cronistas brasileiros nn Leitura e interpretação
CRÔNICA LITERÁRIA Tal como o folhetim, a crônica literária surgiu em meados do século XIX, na França. Ambos os gêneros provieram de jornais que surgiram à época em que os meios de comunicação de massa se difundiram, com tiragens relativamente grandes e conteúdo acessível. No entanto, enquanto o folhetim se constitui um meio restrito às narrativas ficcionais, a crônica, de maneira geral, é um texto com linguagem mais próxima à das reportagens, que registra e comenta a vida cotidiana da cidade, do país, ou do mundo. De acordo com o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, a crônica:
Fonte: shutterstock.com/Por Teecha
É um gênero intermediário entre o jornalismo e a literatura. Como texto para jornal é aquele no qual é admitido alto grau de subjetividade. Os demais jornalistas têm que ser mais objetivos. O cronista vai ao Oriente pelo Ocidente, ou vice-versa. É também um gênero disseminador. O recorte da crônica ganha um significado especial. O leitor se apodera do texto, guarda-o na carteira, na agenda, o reproduz e o repassa como um talismã criando uma espécie de corrente. Por isto, já pensei que entre o jornal e o livro, talvez fosse necessário servir as crônicas separadamente ao leitor, e num papel mais resistente, numa caixa ou pasta onde ele escolhesse as que quisesse.
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Nesse sentido, por sua liberdade estilística, a crônica está livre de exigências como a objetividade e imparcialidade, que não podem escapar a outros textos de jornal. A liberdade com relação às regras que direcionam a prática jornalística concede ao cronista maior autonomia para divulgar visões alternativas a respeito de temas da atualidade e, não raro, suscitar perplexidades.
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Os textos do gênero são marcados, principalmente, pelos comentários pessoais e o olhar subjetivo. Na maioria das vezes, a crônica é desenvolvida com o tom de uma conversa leve e acessível, com uma linguagem repleta de recursos figurativos, como a sátira, a ironia, a exposição de sentimentos e a reflexão de temas do cotidiano. Entre os principais cronistas brasileiros destacam-se: Machado de Assis, Lima Barreto, João do Rio, Paulo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Rubem Braga, Nelson Rodrigues e outros.
Cronistas brasileiros Carlos Drummond de Andrade Embora tenha sido consagrado como poeta, Carlos Drummond de Andrade também reservou tempo para o ofício de cronista, atividade que exerceu com maestria. A vasta produção literária no gênero foi marcada pelo dialogismo entre literatura e jornalismo, bem como pelo lirismo inconfundível do poeta. Também inovou ao trazer crônicas em versos.
C18 Crônica literária
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Se o 1º e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino: O AMOR. Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro [sic] outro. Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Fonte: shutterstock.com/Por Andre Luiz Moreira
Leia a seguir um trecho da crônica “Conselhos de um velho apaixonado”:
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Português
Clarice Lispector Reconhecida por sua narrativa profunda e lírica, representada em romances, novelas e contos, Clarice Lispector também foi uma importante cronista brasileira, revelando fatos do seu cotidiano enfocando-os sob uma perspectiva feminina. Nesse gênero, a autora desenvolveu um subgênero, a crônica metafísica, carregada de lirismo e reflexões. Leia a seguir um trecho da crônica “A descoberta do mundo”: Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo aliás atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais. Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. Ou será que eu adivinhava mas turvava minha possibilidade de lucidez para poder, sem me escandalizar comigo mesma, continuar em inocência a me enfeitar para os meninos? Enfeitar-me aos onze anos de idade consistia em lavar o rosto tantas vezes até que a pele esticada brilhasse. Eu me sentia pronta, então. Seria minha ignorância um modo sonso e inconsciente de me manter ingênua para poder continuar, sem culpa, a pensar nos meninos? Acredito que sim. Porque eu sempre soube coisas que nem eu mesma sei que sei. Vinícius de Moraes Apesar de ser reconhecido, principalmente, por sua poesia e suas letras de música que compuseram o cenário da bossa nova, Vinícius foi também um grande cronista. Suas crônicas tratam de temas cotidianos, singularidades e reflexões sobre a vida e o ato de escrever. Leia a seguir um trecho do texto “O exercício da crônica”:
C18 Crônica literária
Fonte: Wikimedia Commons
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Leitura e interpretação Machado de Assis não foi genial apenas como romancista. Sua fina ironia também ganhou espaço em suas crônicas, que apresentavam um interessante quadro da sociedade carioca do final do século XIX. Embora tenha sido considerado um escritor alienado, Machado de Assis fez da crônica um instrumento para denunciar as mazelas sociais de seu tempo, entre elas a escravidão. A seguir, leremos a crônica ficcional “Abolição e liberdade”, texto em que o autor aborda a questão do “fim da escravidão”, ocorrida oficialmente no dia 13 de maio de 1888. Abolição e liberdade Bons dias! Eu pertenço a uma família de profetas après coup, post factum, depois do gato morto, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, e juro se necessário for, que toda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos, e dei um jantar. Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico. No golpe do meio (coup du milieu, mas eu prefiro falar a minha língua), levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que acompanhando as ideias pregadas por Cristo, há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus, que os homens não podiam roubar sem pecado. Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre assembleia que correspondesse ao ato que acabava de publicar, brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo. No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza: – Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um ordenado, um ordenado que… – Oh! meu senhô! fico.
C18 Crônica literária
– …Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo; tu cresceste imensamente. Quando nasceste, eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos… – Artura não qué dizê nada, não, senhô… – Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha. – Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete. 649
Português
Fonte: Wikimedia Commons
Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre. O meu plano está feito; quero ser deputado, e, na circular que mandarei aos meus eleitores, direi que, antes, muito antes da abolição legal, já eu, em casa, na modéstia da família, libertava um escravo, ato que comoveu a toda a gente que dele teve notícia; que esse escravo tendo aprendido a ler, escrever e contar, (simples suposições) é então professor de filosofia no Rio das Cobras; que os homens puros, grandes e verdadeiramente políticos, não são os que obedecem à lei, mas os que se antecipam a ela, dizendo ao escravo: és livre, antes que o digam os poderes públicos, sempre retardatários, trôpegos e incapazes de restaurar a justiça na Terra, para satisfação do céu. Boas noites. Nessa crônica, Machado de Assis valeu-se de sua escrita irônica e satírica para denunciar a hipocrisia dos políticos e barões de sua época. Atualmente, historiadores e sociólogos discutem que a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, quando a Lei Áurea foi apresentada formalmente, não pôde ser vista simplesmente como vitória da democracia racial no país. Hoje, reflete-se sobre a questão da inexistência de programas sociais oferecidos aos negros àquela época. No Rio de Janeiro, por exemplo, sem perspectiva de emprego, sem moradia e sem qualidade de vida, muitos ex-escravos tiveram de se refugiar nos morros da cidade, os quais hoje constituem as favelas e comunidades cariocas. Além da falta de assistência social, os negros sofriam (e, infelizmente, ainda sofrem) preconceito racial, o que dificultou sua ascensão social e a possibilidade de se ter uma vida digna. Machado, como grande escritor, antecipou críticas à Lei Áurea na crônica que acabamos de ler. O escritor revela a hipocrisia de um “ex-dono de escravos” que, ao libertar Pancrácio, na realidade, apenas mudou seu status de escravo para “homem livre”. Note que Machado vai revelando, em poucas linhas, que o negro ainda era humilhado, que recebia um pequeno ordenado, e que ainda trabalhava na casa de seu patrão.
C18 Crônica literária
Perceba também que a denúncia da hipocrisia não acaba por aí. Machado ainda insere a vontade de esse senhor de escravos seguir carreira política. Como tema de campanha, esse senhor carregaria a bandeira da abolição, ação que ele, supostamente, teria antecipado em sua casa. No entanto, como o autor nos revela, não passou de uma farsa política e social. Concluímos a leitura com uma reflexão: a abolição concedeu uma liberdade limitada, mas não ofereceu assistência social aos negros recém-libertos.
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
(https://support.google.com)
As informações apresentadas no suporte do Google orientam o usuário em relação ao modo de controlar como é visto pelas outras pessoas. Entende-se, portanto, que o usuário do Google a) tem um campo de ação limitado quando se trata de controlar as suas informações pessoais, havendo, portanto, pouca possibilidade de interagir com as outras pessoas de forma contínua e satisfatória. b) tem obrigação de oferecer todos os seus dados cadastrados no site a outros usuários do Google, ficando, portanto, vulnerável quando se trata de manter em sigilo as suas informações pessoais. c) tem a possibilidade de alterar uma série de informações no site do Google, tanto pessoais quanto de outras pessoas, havendo, portanto, um processo interativo pleno entre todos os usuários dos serviços. d) tem serviços no site que estão além de sua deliberação mais imediata, evidenciando, portanto, um processo de interação entre usuários nem sempre pautado na intencionalidade e no desejo pessoal. e) tem condições de disponibilizar ou não determinadas informações pessoais para as outras pessoas, tendo ascendência, portanto, sobre as formas de interação nos serviços oferecidos pelo Google. 02. (Ibmec SP) Dívida antiga e vencida Constitui um símbolo flagrante de atraso que o Brasil ostente uma das piores taxas de analfabetismo da América Latina: 8,3% de sua população com mais de 15 anos é incapaz de ler e escrever – um contingente de 13 milhões de pessoas. O país nunca chegou a definir e implementar uma ver-
dadeira política pública para a questão, com objetivos de longo prazo e constante avaliação dos resultados e das estratégias adotadas. Dado o número vergonhoso de analfabetos no Brasil, o país não pode prescindir de programas para enfrentar a questão de uma vez por todas. Os maus resultados do Programa Brasil Alfabetizado (PBA), porém, obrigam o governo – sobretudo num contexto de grave crise econômica – a avaliar o que vem sendo feito e implementar melhorias palpáveis. Apontam-se como a principais fragilidades do programa a alta evasão e o baixo encaminhamento de egressos para seguir estudando na EJA (Educação de Jovens e Adultos, antigo supletivo). Menos da metade conclui o curso de alfabetização; destes, nem 50% persistem nos estudos, e com a falta de continuidade o estudante tende a recair no analfabetismo. Tudo isso afasta o país de cumprir metas internacionais que adotou. E, pior, condena parcela expressiva da população à ignorância e à alienação. (Folha de S.Paulo, 03.09.2016. Adaptado)
No texto, o autor traça um panorama do analfabetismo no Brasil. Nessa análise, fica evidente que o fator principal desse preocupante problema nacional é a) o desinteresse generalizado dos alunos por estudo e conhecimento. b) a falta de políticas públicas efetivas para contorná-lo com eficiência. c) a opção por políticas de longo prazo, pouco atreladas à realidade. d) a diminuição de investimentos na área, devido à crise econômica. e) a incapacidade de leitura e de escrita da maioria dos alunos adultos. 03. (Unicamp SP) Além de escrever Dom Quixote das crianças, Monteiro Lobato também leva o “cavaleiro errante” para o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Lá na varanda Dom Quixote conversava com Dona Benta sobre as aventuras, e muito admirado ficou de saber que sua história andava a correr mundo; escrita por um tal de Cervantes. Nem quis acreditar; foi preciso que Narizinho lhe trouxesse a edição de luxo ilustrada por Gustavo Doré. O fidalgo folheou o livro muito atento às gravuras, que achou ótimas, porém falsas. – Isso não passa duma mistificação! - protestou ele. – Esta cena aqui, por exemplo. Está errada. Eu não espetei este frade, como o desenhista pintou - espetei aquele lá.
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C18 Crônica literária
01. (Ibmec SP) Controlar como as outras pessoas veem você Na sua página “Sobre mim”, é possível escolher quais informações as outras pessoas veem sobre você nos serviços do Google, como Gmail e Hangouts. Também é possível visualizar como suas informações são exibidas para outras pessoas. Estes são alguns dos itens que podem ser alterados: nn apelido; nn sexo; nn informações profissionais, por exemplo, local de trabalho; nn informações de contato pessoal, como seu número de telefone e endereço para correspondência; nn informações de contato comercial, como o e-mail e o número de telefone do seu trabalho; nn lugares que você visitou; nn informações educacionais.
Português
– Isto é inevitável - disse Dona Benta. – Os historiadores costumam arranjar os fatos do modo mais cômodo para eles; por isto a História não passa de histórias. (Adaptado de Monteiro Lobato, O Picapau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 18.)
Na cena narrada, a) Dona Benta mostra a Dom Quixote que a história dele não é, de forma alguma, uma mistificação. b) Dona Benta convence Dom Quixote de que as gravuras não refletem a História dos fatos. c) Dona Benta concorda com Dom Quixote e critica o fato de a História ser fruto de interesses. d) Dona Benta opõe-se a Dom Quixote e critica a forma como a história dele é narrada nos livros. Texto comum às questões 04 e 05 Leia a crônica “Anúncio de João Alves”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954.
C18 Crônica literária
Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido: À procura de uma besta. – A partir de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho-escura com os seguintes característicos: calçada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas seções em consequência de um golpe, cuja extensão pode alcançar de quatro a seis centímetros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as indagações. Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos notícia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a) João Alves Júnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitério de Itambé. Mas teu anúncio continua um modelo no gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagações. Falharam. Formulaste depois um raciocínio: houve roubo. Só então pegaste da pena, e traçaste um belo e nítido retrato da besta. Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento. 652
Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, não o afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não denúncia formal. Finalmente – deixando de lado outras excelências de tua prosa útil – a declaração final: quem a apreender ou pelo menos “notícia exata ministrar”, será “razoavelmente remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a existir, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa atitude crítica. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.)
04. (Unesp SP) O cronista manifesta um juízo de valor sobre a sua própria época em: a) “Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a tiveste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira.” (3º parágrafo) b) “Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó.” (2º parágrafo) c) “Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido:” (1º parágrafo) d) “Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa atitude crítica. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida.” (7º parágrafo) e) “Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a existir, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência.” (7º parágrafo) 05. (Unesp SP) Com base no último parágrafo, a principal qualidade atribuída pelo cronista a João Alves é a) a prudência. b) o discernimento. c) a concisão. d) o humor. e) a dedicação.
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Exercícios Complementares
PESSOAS E NUVENS 1º§ Existe gente que carrega no semblante, nos gestos e nas palavras um jeito de nuvem que chove na roseira de cada um de nós. Molham de afeto a nossa convivência. Parecem trazer sobre a cabeça um regador para banhar os amigos e semelhantes. Incitam o lado bom da vida, a criação, a amizade, o companheirismo. Essas são as pessoas que gosto de encontrar quando ando pelas ruas de nossa e outras cidades. É o tipo que ameniza o calor e nos protege do frio. Inteligentes e interessantes, logo bonitos. Chegam e partem sorrindo. A simples presença contagia e o perfume fica quando se vão. 2º§ Outros carregam tempestade e raios, trovões, reclamações e ódio. Gastam todo o seu tempo para maquinar maldades e desejar que o pior aconteça com os seus desafetos. São minoria, mas têm aptidão para enxergar, no mundo, o lixo e, na humanidade, um exército de adversários e inimigos que devem ser eliminados. 3º§ Seria bom que só existisse gente chuva prazenteira, mas viver em sociedade é complexo e estamos expostos aos chatos e bruxos. São estações inevitáveis, a primavera que traz colheita de frutos e flores e o outono das desesperanças. Confesso que não consigo compreender a razão de alguém somente agir para prejudicar, torcer pela derrota e infelicidade, trabalhar pelo caos. Na cabeça desses eu não entro e nem quero entrar. Tento evitá-los e me proteger de seus projetos de terremotos. Mas é necessário preservar nossas defesas para que não sejamos contaminados. 4º§ Quem reclama já perdeu, dizia o mestre João Saldanha; Quem não se conforma com o sucesso de alguém, e reclama, odeia, xinga e vitupera, perdeu a chance de aproveitar o que a existência tem de bom. 5º§ O mundo não caminha nem nunca caminhou de maneira justa, mas a vida, ah! a vida, é uma aventura deslumbrante que vale a pena ser degustada, em todos os sentidos. Meus olhos se concentram nesse território bendito habitado e irrigado pelos que amo. (BRANT, Fernando. Casa aberta. Sabará, MG: Ed. Dubolsinho, 2012, p.215-216. Texto adaptado.)
Segundo o cronista, “são estações inevitáveis, a primavera que traz colheita de frutos e flores e o outono das desesperanças”. Tal inevitabilidade se deve ao a) despreparado conjunto de valores da sociedade. b) complexo mundo social, constituído de seres díspares. c) contraditório sistema que rege a busca da ascensão social. d) inexorável fatalismo que submete o homem às leis naturais.
Texto comum às questões 02 e 03 Esta sinistra morada era habitada por uma personagem talhada pelo molde mais detestável; era um caboclo velho, de cara hedionda e imunda, e coberto de farrapos. Entretanto, para a admiração do leitor, fique-se sabendo que este homem tinha por ofício dar fortuna! Naquele tempo acreditava-se muito nestas coisas, e uma sorte de respeito supersticioso era tributado aos que exerciam semelhante profissão. Já se vê que inesgotável mina não achavam nisso os industriosos! E não era só a gente do povo que dava crédito às feitiçarias; conta-se que muitas pessoas da alta sociedade de então iam às vezes comprar venturas e felicidades pelo cômodo preço da prática de algumas imoralidades e superstições. Pois ao nosso amigo Leonardo tinha-lhe também dado na cabeça tomar fortuna, e tinha isso por causa das contrariedades que sofria em uns novos amores que lhe faziam agora andar a cabeça à roda. Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar sem uma paixãozinha. Como o ofício rendia, e ele andava sempre apatacado, não lhe fora difícil conquistar a posse do adorado objeto; porém a fidelidade, a unidade no gozo, que era o que sua alma aspirava, isso não o pudera conseguir: a cigana tinha pouco mais ou menos sido feita no mesmo molde da saloia. Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
02. (FGV SP) Para realizar seu propósito evidente de ironizar e até de desmerecer os ideais do amor romântico, o narrador valeu-se de vários recursos expressivos, alguns dos quais se encontram relacionados nas alternativas abaixo. A ÚNICA alternativa que registra um recurso de expressão que NÃO se prestou a essa finalidade é a) a associação do termo “romântico” ao termo “babão”. b) a utilização do diminutivo em “paixãozinha”. c) o emprego da alusão, para indicar o caráter interesseiro da dama escolhida. d) a designação da amada como “adorado objeto”. e) a atribuição de sentido pejorativo à palavra “fidelidade”.
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C18 Crônica literária
01. (FCM MG)
Português
03. (FGV SP) Dentre as afirmações abaixo referentes aos termos sublinhados em diferentes trechos do texto, a única que NÃO está correta é: a) “não foi a este respeito melhor aquinhoado”: pode ser substituído por “mais bem”, sem prejuízo para a correção. b) “e uma sorte de respeito supersticioso”: pode ser substituído por “espécie”, sem prejuízo para o sentido. c) “era tributado aos que exerciam semelhante profissão”: refere-se ao imposto cobrado dos que exerciam o “ofício de dar fortuna”. d) “muitas pessoas da alta sociedade de então”: exprime ideia de tempo. e) “que lhe faziam agora andar a cabeça à roda”: equivale ao pronome “sua” e se refere a “cabeça”. 04. (Fundação Instituto de Educação de Barueri SP)
Fonte: Folha de São Paulo – 27/10/2016 – Turismo.
C18 Crônica literária
Depreende-se do texto que: A exposição “Café, Patrimônio Cultural do Brasil: Ciência, História e Arte” foi criada para atender, exclusivamente, aos turistas que visitam a cidade durante as férias. a) O funcionamento do museu às segundas-feiras será definitivo a partir de dezembro de 2017, atendendo à temporada de cruzeiros. b) No museu tem atividades educativas, eventos culturais além de exposições como “Café, Patrimônio Cultural do Brasil: Ciência, História e Arte”. c) O objetivo da mudança no funcionamento do museu é atender somente aos turistas que nunca visitaram a exposição em foco. d) Todos os turistas que visitarem o museu, no período de férias, receberão a gratuidade no ingresso. e) Todos os turistas que visitarem o museu, no período de férias, receberão a gratuidade no ingresso. 05. (FPS PE) O fim do livro e a eternidade da literatura É comum a discussão sobre o futuro do livro, tal como hoje o conhecemos. Por extensão, a mídia impressa sofre a mesma ameaça vinda da mídia eletrônica. Antes de tudo, vale lembrar que o livro teve ancestrais em nada parecidos com o produto 654
industrial de hoje. O homem escreveu seus primeiros códigos em pedra, tijolos e madeira. A escrita primitiva era feita a estilete. (...) Mas, antes mesmo de Gutenberg, o livro já tinha adquirido o formato atual e foi nele que se conservou a cultura e a tradição material e espiritual da humanidade. Pergunta: o que será dele quando a tecnologia conseguir avançar ainda mais? Podemos dispensar nossas bibliotecas? Mas a pergunta que importa não é sobre o futuro material do livro. Importa discutir é que a linguagem habitual do livro, a literária, ganhou uma inesperada importância com o advento da linguagem digital. Isto é, com a linguagem colocada em circuito pela rede eletrônica, os jovens, em busca de informações, estão voltando à expressão literária, rudimentar embora, mas sujeita ao aprimoramento natural determinado pela própria necessidade de se exprimir. Não faz muito tempo, um jovem normal, independente de sua escolaridade, possuía um vocabulário padrão reduzido, cheio de simplificações. Com a chegada dos sites virtuais, as necessidades da interação verbal aumentaram e, embora continuem a ser usados símbolos, ícones e imagens, vê-se que a palavra impressa é indispensável, vai sobreviver em sua forma convencional e não será vencida pela linguagem visual e animada. É impossível deter a perplexidade que isso começa a provocar nos jovens, que sentem necessidade, cada vez maior, da comunicação impressa. Aos poucos, estão descobrindo o universo literário em sua acepção mais clássica. Ou seja: há um retorno à literatura. Discutir a sobrevivência do livro, como objeto material, é ocioso. Como produto industrial, ele está sujeito às transformações da técnica e da circunstância. Agora, o espírito da letra, como símbolo da expressão e da comunicação, nada tem a temer em relação à linguagem digital. Pelo contrário: ela ajudou a velha letra, que nossos ancestrais grafavam na pedra ou na madeira, a vencer a força e a comodidade da imagem. (Carlos Heitor Cony. O fim do livro e a eternidade da literatura. Folha de S. Paulo, 8/9/2000).
No global, o texto constitui: a) uma alegação de que a escrita digital veio fortalecer o desdém que as salas de aula provocam pela linguagem literária impressa. b) uma defesa do mundo virtual, embora reconheça que o livro em papel está sujeito a inovações da técnica e da realidade concreta. c) uma argumentação a favor da retomada da força e da comodidade da imagem, tão comum às experiência históricas ancestrais. d) uma chamada de atenção reativamente à inconveniência e aos limites da linguagem propriamente dita, em sua forma convencional. e) uma apologia da linguagem digital, ainda que admita restrições quanto a possibilidades de ela despertar a procura pela literatura.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C19
TIPOS DE DISCURSO
ASSUNTOS ABORDADOS
A palavra discurso, normalmente, está relacionada a discursos políticos ou a pessoas subindo em palanques para debater propostas. Discurso, no entanto, é todo ato que envolve interação por meio da linguagem dentro de um determinado contexto, considerando quem fala, a quem se fala e do que se fala.
nn Tipos de discurso nn Discurso direto nn Discurso indireto nn Discurso indireto livre
Nesse sentido, dentro de um texto, o escritor pode expor os pensamentos e as palavras de personagens reais ou fictícios por meio de três moldes linguísticos diversos. São eles: nn Discurso
(ou estilo) direto; (ou estilo) indireto; nn Discurso (ou estilo) indireto livre. nn Discurso
Discurso direto Leia a seguir este trecho do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis: Virgília replicou: - Promete que algum dia me fará baronesa?
Fonte: shutterstock_54172237Por Marish
Atente-se para o fato de que nesse trecho transcrito há duas vozes: a voz do narrador que, por sua vez, é Brás Cubas, e a voz do locutor que, por sua vez, é Virgília. Note que o narrador, após introduzir a personagem Virgília, deixou que ela se expressasse por si mesma, limitando-se a reproduzir a fala como ela efetivamente teria discursado, organizado e emitido.
655
Português
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Características do discurso direto O discurso direto é geralmente introduzido por verbos dicendi, isto é, verbos que introduzem a fala das personagens. No exemplo anterior, Machado de Assis escolheu o verbo “replicar” para apontar a fala da personagem. Outros verbos dicendi muito utilizados são: dizer, afirmar, ponderar, sugerir, perguntar, indagar, responder e tantos outros. Nas narrativas modernas, entretanto, tem-se buscado elipsar tais verbos, de maneira que somente pelo contexto, ou por sinais de pontuação (dois-pontos, aspas, travessão), o autor consegue indicar a fala da personagem. Observe: E Jorge, indignado, virou-se para Elza: - Você comeu todo o bolo de chocolate e não deixou nenhum pedaço para mim?!
Discurso indireto Leia a seguir este trecho do romance Dom Casmurro de Machado de Assis: José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico. Note agora que, diferentemente do discurso direto, no discurso indireto, há apenas uma voz, a voz do narrador. Este incorpora, em suas próprias palavras, uma informação da personagem, contentando-se em transmitir ao leitor apenas o seu conteúdo, sem nenhum respeito à forma linguística que teria sido realmente empregada.
Fonte: shutterstock_557001652-Por Monkey Business Images
Características do discurso indireto O discurso indireto também é comumente introduzido por verbos dicendi, porém por meio de uma oração subordinada introduzida pela conjunção “que” ou “se”. Veja: João Paulo garantiu que nos emprestaria o carro. Angélica perguntou se podia ir brincar no pátio. Transposição do discurso direto para o indireto Leia as duas frases a seguir: Heitor perguntou para Lúcia:
C19 Tipos de discursos
- Quer dançar comigo? X Heitor perguntou para Lúcia se ela queria dançar com ele.
656
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Note que, apesar de transmitir o mesmo conteúdo, há distinções entre o discurso direto e indireto. Observe que há diferenças no emprego do tempo verbal e que no discurso indireto a pergunta aparece desacompanhada de um ponto de interrogação. Nesse sentido, atente-se para a tabela a seguir para aprender como se faz a transposição de um discurso direto para um discurso indireto:
Discurso direto
Discurso indireto
Enunciado em 1ª ou 2ª pessoa
Enunciado em 3ª pessoa
Verbo enunciado no presente do indicativo
Verbo enunciado no pretérito imperfeito do indicativo
Verbo enunciado no pretérito perfeito do indicativo
Verbo enunciado no pretérito mais-que-perfeito do indicativo
Verbo enunciado no futuro do presente
Verbo enunciado no futuro do pretérito
Verbo no modo imperativo
Verbo no modo subjuntivo
Enunciado com ponto de interrogação
Enunciado sem ponto de interrogação
Pronome demonstrativo de 1ª (este) ou 2ª (esse) pessoa
Pronome demonstrativo de 3ª (aquele) pessoa
Advérbio de lugar aqui
Advérbio de lugar ali
Discurso indireto livre Na modernidade literária, tem sido utilizado largamente um outro recurso de reprodução de discursos, que é resultado da conjunção dos dois processos descritos anteriormente. Trata-se do discurso indireto livre, que, em vez de revelar a própria voz da personagem (discurso direto), ou de informar objetivamente o leitor sobre o que ela teria dito (discurso indireto), aproxima narrador e personagem, dando-nos a impressão de que passam a falar em conjunto. Veja a seguir um exemplo de Clarice Lispector, que muito utilizou deste recurso: “O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família.” Características do discurso indireto livre
nn O
C19 Tipos de discursos
O discurso indireto livre, no plano sintático, aparece sem conjunção, dentro do corpo discursivo do narrador. Assim, confunde-se a voz do narrador e a voz da personagem. Logo: discurso indireto livre aparece liberto de qualquer conector subordinativo.
nn Ao
contrário do que ocorre no discurso indireto, o indireto livre conserva as interrogações, as exclamações, as palavras e as frases da personagem.
nn O
discurso indireto livre também garante mais fluência ao texto. 657
Português
Exercícios de Fixação 01. (IF RS)
sinasse coisa alguma... Se eu o magoar, desculpe, será sem Crônica familiar
Em Assunção do Paraguai, morreu a tia 02 mais querida de Nicolás Escobar. Morreu 03 serenamente, em casa, enquanto dormia. Quando 04 soube que perdera a tia, Nicolás tinha seis anos 05 de idade e milhares de horas de televisão. E 06 perguntou: 07 – Quem a matou? 01
GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Trad. Sérgio Faraco. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 2007. p. 112.
Assinale a alternativa que contém a transposição correta da frase “ – Quem a matou?” para o discurso indireto. a) Quando soube que perdera a tia, Nicolás Escobar perguntou quem a matou.
C19 Tipos de discursos
b) Quando soube que perdera a tia, Nicolás Escobar perguntou se alguém a tinha matado. c) Quando soube que perdera a tia, Nicolás Escobar perguntou do que ela tinha morrido. d) Quando soube que perdera a tia, Nicolás Escobar perguntou quem a poderia ter matado. e) Quando soube que perdera a tia, Nicolás Escobar perguntou quem a tinha matado. 02. (Puc MG) — Agora, que sei o que é amar, direi a meu pai que já não quero o Manecão. — E se ele insistir? — Hei de chorar... chorar muito... — Lágrimas, muitas vezes, de nada servem. — Mas tenho cá comigo outro recurso... — Qual é? perguntou Cirino. — Morrer! — Não! Há outros... hei de dizer-lhe... Tomou Inocência ar grave e meio ofendido. — Escute, Cirino, observou ela, nestes dias tenho aprendido muita coisa. Andava neste mundo e dele não conhecia maldade alguma... A paixão que tenho por mecê foi como uma luz que faiscou cá dentro de mim. Agora começo a enxergar melhor... Ninguém me disse nada; mas parece que a minha alma acordou para me avisar do que é bom e do que é mau... Sei que devo de ter medo de mecê porque pode botar-me a perder... Não formo juízo como, mas a minha honra e a de toda a minha família estão nas suas mãos... Inocência quis interromper Cirino. — Deixe-me falar, deixe contar-lhe o que me enche o peito... Depois ficarei sossegada... Sou filha dos sertões; nunca morei em povoados, nunca li em livros, nem tive quem me en-
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querer... Lembra-me que, há já um tempão, pararam aqui umas mulheres com uns homens e eu perguntei a papai por que é que ele não as mandava entrar cá para dentro, como é de costume com famílias... O pai me respondeu: — Não, Nocência, são mulheres perdidas, de vida alegre. Fiquei muito assombrada. — Mas, então, melhor, se são alegres hão de divertir-me. — Aquilo é gente airada, sem-vergonha, secundou ele. — Tive tanto dó delas que mecê não imagina. Depois fui espiar... caíam tontas no chão... pitavam e cantavam muito alto com modos tão feios, que me fizeram corar por elas! E são os homens que fazem ficar assim as coitadas!... Antes morrer... Parece-me que Nossa Senhora há de ter pena dos que amam... mas desampara com certeza os que erram... Se não houver outro remédio, temos que nos lembrar que as almas, quando se acaba tudo neste mundo, vão, pelos céus cheios de estrelas, passeando como num jardim... Se eu me finasse e mecê também, punha-se a minha alma a correr pelos ares, procurando a de mecê, procurando, procurando, e então nós dois, juntinhos íamos viajando ora para aqui, ora para ali, às vezes pelo carreiro de São Tiago, às vezes baixando a este ermo a ver onde é que botaram os nossos corpos... Não era tão bom? Envolvida em sua pureza como num manto de bronze, entregava-se Inocência com exaltamento e sem reserva à força da paixão. TAUNAY, Visconde de. Inocência. 19 ed., São Paulo: Ática, 1991.
Em relação à estrutura narrativa, o texto apresenta a) ações historicamente situadas. b) predomínio de discurso direto. c) narrador em primeira pessoa. d) tempo-espaço psicológico. 03. (Uniube MG) “Perguntei um dia em que ele tanto pensava e ele respondeu que quando crescesse não ia continuar assim um esfarrapado. Que ia ser médico e importante que nem o doutor Pinho. Caí na risada ah ah ah. Ele me bateu mas me bateu mesmo e me obrigou a repetir tudo o que ele disse que ia ser. Não dê mais risadas de mim ficou repetindo não sei quantas vezes e com uma cara tão furiosa que fui me esconder no mato com medo de apanhar mais.” (TELLES, Lygia Fagundes. A confissão de Leontina. In: PORTELLA, Eduardo. Melhores contos: Lygia Fagundes Telles.12 ed. São Paulo: Global, 2003, p.104-105)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Durante o conto A confissão de Leontina, a autora utiliza- se do discurso:
b) [...] não se filiar a um partido significaria abdicar totalmente da eleição [...]
a) Direto
c) [...] Campos seria um vitorioso se terminasse a eleição presidencial [...]
b) Indireto
d) [...] poderá ser forçado a abdicar da candidatura em favor de
c) Indireto livre
Marina.
d) Direto livre e) Direto e indireto
05. (FGV SP) Pela tarde apareceu o Capitão Vitorino. Vinha numa burra velha, de chapéu de palha muito alvo, com a fita ver-
O xadrez de Marina
de- -amarela na lapela do paletó. O mestre José Amaro esta-
SÃO PAULO — Eduardo Campos não é um “zero”, como Ciro
va sentado na tenda, sem trabalhar. E quando viu o compadre
Gomes o chamou na sua tola e habitual verborragia, tampouco
alegrou-se. Agora as visitas de Vitorino faziam-lhe bem. Desde
é o estrategista político formidável, tal qual passou a ser pin-
aquele dia em que vira o compadre sair com a filha para o Reci-
tado em Brasília após a surpreendente filiação da ex-senadora
fe, fazendo tudo com tão boa vontade, que Vitorino não lhe era
Marina Silva ao seu PSB.
mais o homem infeliz, o pobre bobo, o sem-vergonha, o vaga-
O governador de Pernambuco é um construtor de pontes, pa-
bundo que tanto lhe desagradava. Vitorino apeou-se para falar
ciente e habilidoso, que consegue se manter como interlocu-
do ataque ao Pilar. Não era amigo de Quinca Napoleão, achava
tor de quase todo o mundo, de Lula a Serra, de Bornhausen
que aquele bicho vivia de roubar o povo, mas não aprovava o
e Ronaldo Caiado a Marina. É um conciliador que parece mais
que o capitão fizera com a D. Inês.
mineiro do que o próprio Aécio Neves.
– Meu compadre, uma mulher como a D. Inês é para ser
É evidente que esses traços o ajudaram a se posicionar no
respeitada.
momento em que Marina precisava achar uma saída para o
– E o capitão desrespeitou a velha, compadre?
imbróglio em que se meteu ao não conseguir oficializar a tal
– Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima
Rede Sustentabilidade -- não se filiar a um partido significaria
dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do
abdicar totalmente da eleição presidencial; entrar numa sigla
cofre. Ela não deu. José Medeiros, que é homem, borrou-se
qualquer apenas para ser candidata seria um gesto persona-
todo quando lhe entrou um cangaceiro no estabelecimento.
lista que poderia arranhar a imagem da nova política, que Ma-
Me disseram que o safado chorava como bezerro desmamado.
rina tanto cultiva.
Este cachorro anda agora com o fogo da força da polícia fazen-
Mas, na prática, o governador pernambucano foi um agente
do o diabo com o povo.
passivo nessa história toda. Se alguém anteviu alguma coisa, foi Marina. A ex-senadora criou o principal fato político desde a eleição de Dilma e ainda jogou sobre Campos a responsabilidade de crescer nas pesquisas em pouco tempo, ao deixar claro que, se o governador não se viabilizar, ela pode concorrer. No cenário anterior, Campos seria um vitorioso se terminasse a eleição presidencial do ano que vem com cerca de 15% dos votos. Atingiria seu objetivo de tornar-se um nome nacionalmente conhecido a fim de, quatro anos depois, disputar a sucessão para valer. Agora, após o empurrão da ex-senadora, se Campos não atingir esse patamar nos próximos meses, antes mesmo de a campanha eleitoral começar, poderá ser forçado a abdicar da candidatura em favor de Marina. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ rogeriogentile/2013/10/1354262-o-xadrez-de-marina.shtml. Acesso em: 10 out. 2013.
Todos os excertos a seguir trazem considerações que pertencem ao campo da suposição ou hipótese, EXCETO: a) [...] tal qual passou a ser pintado em Brasília [...]
(José Lins do Rego, Fogo Morto)
A passagem do quarto parágrafo – Eu não estava lá. Mas me disseram que botou o rifle em cima dela, para fazer medo, para ver se D. Inês lhe dava a chave do cofre. – é caracterizada por discurso a) direto, por meio do qual o narrador expressa a indignação do Capitão Vitorino e do Mestre José Amaro ao ataque à cidade do Pilar. b) indireto, por meio do qual a personagem Quinca Napoleão explica ao Capitão Vitorino o medo que reinou em Pilar durante o ataque. c) direto, por meio do qual a personagem Mestre Amaro manifesta sua indignação diante dos fatos que lhe são narrados. d) direto, no qual se insere trecho de discurso indireto em que Capitão Vitorino relata a seu interlocutor o que ouviu de outrem. e) indireto, que prepara a introdução do direto, para esclarecer que nem Capitão Vitorino nem José Medeiros presenciaram os fatos em Pilar.
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C19 Tipos de discursos
04. (Puc MG)
Português
C19 Tipos de discursos
Exercícios Complementares 01. (Uneb BA) 1 O homem é um animal falante e mortal, dizia 2 Aristóteles. E, como ele, muitos outros filósofos 3 associam a humanidade do homem à condição da fala. 4 Heidegger dizia que construímos não só nossa 5 humanidade, mas também nossa singularidade através 6 da linguagem. 7 Para Hannah Arendt, falar nos iguala aos outros 8 tanto quanto nos distingue deles. Ao falar, os homens 9 se comunicam uns com os outros, e a palavra comunicar 10 quer dizer tornar comum. Como os homens falam e 11 agem, falar e agir estão sempre associados, à medida 12 que as palavras dão significado aos nossos atos e, 13 assim, mostram nossas intenções, nossos princípios e 14 motivos e, enfim, revelam a pessoa que somos. 15 A filosofia contemporânea também revelou que a 16 realidade não subsiste em si mesma, mas só aparece 17 como realidade quando é percebida pela nossa 18 consciência, e se essa consciência for compartilhada 19 com outros. 20 Do mesmo modo, a realidade do nosso eu só é 21 assegurada quando outros nos veem, nos ouvem, quer 22 dizer, nos testemunham. É o testemunho dos outros 23 que nos torna reais, e que efetiva tudo o que e como 24 fizemos e dissemos. 25 As redes sociais são redes de testemunho. Em 26 todas as épocas, as comunidades tiveram um espaço 27 público, um cenário em que podiam aparecer para os 28 outros e exibir sua excelência, ou seu virtuosismo. 29 A febre de celebridade que toma conta do nosso 30 tempo leva as pessoas a se lançarem ávidas sobre 31 qualquer oportunidade de exibição e reconhecimento, 32 mesmo sem nenhuma excelência ou virtuosismo. 33 Mas se o testemunho dos outros e os registros 34 salvam nossa existência e a afirmação de nossa 35 singularidade da dissolução e do esquecimento, podem 36 também dar uma persistência indelével ao que 37 gostaríamos de manter no ocultamento. 38 Ao garantir nossa exposição, esses registros e 39 testemunhos também nos mantêm presas da 40 interpretação e da memória dos outros. 41 Quanto mais idade temos, mais cresce o desejo 42 de recolhimento e de estarmos abrigados da opinião 43 pública. Isso não acontece com os jovens, que dependem 44 dessa exibição como uma ponte para o mundo. 45 Talvez por isso se exponham sem pensar e sem 46 querer, sem saber diferenciar o privado do que é público, 47 sem ainda poder avaliar a preciosidade da intimidade e 48 o valor inestimável da vida e da própria singularidade. A 49 marca do testemunho é que ele torna os acontecimentos 50 irreversíveis, e o mal, sem remédio. Talvez seja por isso 51 que, quando expostas nas redes sociais em uma 52 intimidade
660
primeiramente consentida e só depois adolescentes tirem a própria vida.
53
compreendida,
CRITELLI, Dulce. Disponível em: http://www.cartaeducacao.com.br/ artigo/ somos-todos-testemunhas. Acesso em: 10 fev. 2106. Adaptado.
Analisando-se a estrutura redacional em que a articulista se expressou, pode-se afirmar: Gab: 04 01. Para a manifestação de suas ideias, embora citem alguns intelectuais renomados, observa-se uma inadequação temática em relação às observações deles, que contribuem para a falta de coerência do texto. 02. A presença de diferentes vozes polifônicas, reconhecidas pelo mundo da intelectualidade, tem por objetivo dar a si alguma credibilidade, em virtude do seu anonimato neste meio. 03. O assunto a que se propõe tratar, por ser de pouco interesse coletivo, demanda de referências bibliográficas que sustentem sua argumentação. 04. O registro no texto de um sujeito coletivo, manifestado no uso de “nós”, confere ao assunto, além de uma contemporaneidade, uma preocupação humanista em relação às ferramentas tecnológicas impostas pela comunicação. 05. O uso da linguagem conotativa, expressa por meio de um discurso indireto, em que diferentes estudiosos do comportamento humano se manifestam, contribui para importância do tema. 02. (Uncisal AL) [...] “Depois ela não se lembrava do sonho, disse que eu tinha inventado. O que eu faço com isto? De que me adianta saber como a Sandrinha raspava a manteiga, cantava uma música no chuveiro que ela jurava que existia, ‘Olará-olerê, tou de bronca com você’, que ninguém nunca tinha ouvido? E fechava um olho sempre que não gostava de alguma coisa, de uma sobremesa ou de uma opinião?” [...] VERÍSSIMO, L. F. Em algum lugar no paraíso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. p 129.
Assinale a alternativa correta quanto ao trecho do texto. a) O uso do discurso direto comprova que o autor dialoga com a personagem. b) A fala do personagem é registrada pelo emprego do discurso indireto, uma vez que o narrador a incorpora. c) A reprodução da fala da personagem é feita através do discurso direto marcado por sinais gráficos e pelo emprego de verbos de elocução. d) O autor utiliza a 1ª pessoa do plural para marcar sua posição quanto à temática e para se referir a si mesmo e a suas personagens. e) Percebe-se o emprego do discurso indireto livre, já que as falas do narrador e as do personagem se confundem, combinando-se o discurso direto com o indireto.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
03. (Unievangélica GO) Analise a chamada e leia o texto a seguir.
seu ambiente faria 09 essa criança ascender também linguisticamente. E não há de ser 10 chamando-a de ignorante, ou fazendo-a sentir-se assim, obrigando-a 11 a decorar regras, que a faremos melhorar sua linguagem. 12 Assim sendo, aprender uma língua não é complicado, como faz crer 13 o ensino tradicional. É um fato natural, ou seja, é da natureza do ser 14 linguístico que é o homem: um processo por assim dizer automático, 15 até inevitável. E fácil: “uma criança normal pode aprender qualquer 16 língua com o mesmo grau de facilidade”, diz o linguista Lenneberg, 17 que complementa: “desde que a criança seja rodeada de um ambiente 18 falante, a linguagem se desenvolverá automaticamente”. Adaptado de Celso Pedro Luft
Após “tirar” o pai de Barcelona 1992, Raulzinho brilha pelos dois no Mundial Mesmo antes de nascer, em 1992, o atleta mais novo do elenco do Brasil foi decisivo na carreira do pai. Convocado para a pré-lista do então técnico José Medalha para os Jogos de Barcelona do mesmo ano, Raul Filho desistiu do torneio poucas horas antes de embarcar de Minas para São Paulo, por causa do nascimento de seu filho do meio. No saguão do hotel de Madri, onde a delegação brasileira está hospedada para a fase final da Copa do Mundo, o cestinha da vitória contra a Argentina, com 21 pontos, brincou com a reportagem do GloboEsporte.com, dizendo que “tirou” o pai da competição mais importante do esporte. – É uma história engraçada. O meu pai me disse que estava indo para o aeroporto para se apresentar à seleção, mas quando chegou lá e abriu o porta-malas para pegar a bagagem, desistiu. Ele brinca que agora tenho dois motivos para ir bem, jogar por mim e por ele contou o camisa 5 canarinho. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/basquete/noticia/2014/09/ apos-tirar-o- pai-de-barcelona-1992-raulzinho-brilha-pelos-dois-no-mundial. html>. Acesso em: 09 set. 2014. (Adaptado).
O último parágrafo do texto é elaborado a partir do seguinte procedimento textual: a) discurso livre b) discurso indireto c) discurso figurado d) discurso direto 04. (Mackenzie SP) 01A linguagem da criança, quanto ao nível cultural e vocabulário, 02 dependerá naturalmente do meio em que ela vive, dos modelos a que 03 é exposta para liberar suas próprias capacidades. Assim, a linguagem 04 nativa da criança de um nível sócio-cultural-econômico mais baixo 05 é aquela tida como “errada” pelos tradicionais defensores da “língua 06 pátria” ou do “vernáculo escorreito, castiço”, que desejariam que 07 falássemos o português lusitano, de preferência o antigo. Na verdade, 08 só a ascensão econômica, social e cultural do
Observe as afirmações sobre o texto. I. As aspas empregadas no texto (Refs. 15-16) sinalizam o emprego do discurso direto na citação de autor diferente daquele que efetivamente produziu o texto apresentado. II. O emprego das aspas no uso do vocábulo errada (linha 5) denota que o sentido atribuído ao termo não é de concordância do autor do texto lido. III. A citação feita de modo direto no final do texto colabora para que a argumentação desenvolvida pelo autor do texto ganhe mais valor persuasivo. Assinale a alternativa correta. a) As afirmações I e II estão corretas. b) As afirmações II e III estão corretas. c) As afirmações I e III estão corretas. d) Todas as afirmações estão corretas. e) Nenhuma das afirmações está correta. 05. (Ufu MG) Em uma entrevista à revista Veja em 17 de janeiro de 2015, Edward Frenkel, um dos maiores pensadores da matemática moderna, ao ser questionado sobre a razão de tanta gente detestar matemática, afirmou: – Existem vários fatores. A principal razão de grande parte das pessoas não gostar de matemática é porque não sabe do que se trata. Mas pensa que sabe, o que é pior ainda, pois foi apresentada na escola a uma fração minúscula do tema, de forma muito ruim, e ficou com um gosto amargo na memória. Uma das missões que me proponho é diminuir o estrago causado pelo sistema de ensino. Seria muito mais fácil se meus leitores nunca tivessem ouvido falar do assunto e eu pudesse explicá-lo partindo do zero. a) Transcreva para o discurso indireto a resposta dada por Frenkel ao jornalista da Veja, de modo que tanto a pergunta quanto a resposta constituam um único texto com sentido completo. b) Parafraseie a resposta dada por Frenkel e, na sequência, redija um exemplo real ou fictício, que corrobore com a ideia de que ”Seria muito mais fácil se meus leitores nunca tivessem ouvido falar do assunto e eu pudesse explicá-lo partindo do zero”. a) Se o candidato retomar a pergunta e empregar adequadamente os elementos do discurso indireto. b) Se o candidato fizer, adequadamente, a paráfrase e o exemplo.
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C19 Tipos de discursos
Chamada de abertura do portal globoesporte.com. Disponível em: <www.globoesporte.com>. Acesso em: 09 set. 2014.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C20
ASSUNTOS ABORDADOS nn Tempo linguístico nn Tempo linguístico X Tempo verbal nn Presente nn Pretérito nn Futuro
TEMPO LINGUÍSTICO Antes de dar início ao nosso estudo sobre tempo linguístico, vamos relacioná-lo a outras categorias temporais. Em nosso meio de compreensão temporal existem três tipos de tempo: Tempo físico O tempo físico é marcado por alterações naturais e climáticas visíveis e sensíveis para quaisquer seres humanos. Por exemplo, a passagem do dia para a noite é um fenômeno compreendido por nós, seres humanos, a partir do transcurso do tempo físico. Tempo cronológico O tempo cronológico, diferente do tempo físico, não pode ser determinado somente por aquilo que abarca nossos sentidos. O tempo cronológico obedece a um padrão rígido, as horas, as semanas, os meses, por exemplo. Tempo linguístico Enquanto o tempo físico depende das forças naturais (anoitecer é uma consequência do movimento de rotação da Terra) e o tempo cronológico depende de uma convenção social (afirmar que são 15 horas é uma consequência do fuso-horário). O tempo linguístico depende unicamente da vontade do sujeito, o qual enuncia a partir de um momento de referência que pode estar no presente, no passado ou no futuro.
Tempo linguístico X Tempo verbal O tempo linguístico, apesar de estar relacionado aos tempos verbais, refere-se unicamente à noção de tempo para o falante, sem, necessariamente, estar preso às desinências que acompanham os verbos. Os tempos linguísticos se dividem em nove tempos, estabelecidos por três momentos de referência (presente, passado e futuro) e pela concomitância (presente) ou não concomitância (passado ou futuro) entre as ações. Veja a seguir os tempos verbais e linguísticos da língua portuguesa: Tempos verbais nn Presente;
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nn Pretérito
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perfeito; imperfeito; nn Pretérito mais-que-perfeito; nn Futuro do presente; nn Futuro do pretérito. nn Pretérito
Tempos linguísticos nn Presente
do presente; nn Pretérito do presente; nn Futuro do presente; nn Presente do pretérito; nn Pretérito do pretérito; nn Futuro do pretérito; nn Presente do futuro; nn Pretérito do futuro; nn Futuro do futuro.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
José Luiz Fiorin é um renomado professor e linguista brasileiro. Doutor em Letras pela USP, é um dos maiores especialistas brasileiros em Pragmática, Semiótica e Análise do Discurso, com centenas de publicações nessas áreas. Ademais, o professor Fiorin é um dos maiores estudiosos de tempos linguístico da atualidade no Brasil, tendo várias publicações e pales-
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SAIBA MAIS
tras nessa área de estudo.
Presente
O nosso momento referencial agora é o presente. Isso pode ser determinado pelo próprio contexto e estar implícito no enunciado ou estar explícito por meio de advérbios como “hoje”, “agora” etc. Já a concomitância ou não concomitância das ações serão determinadas pelo tempo verbal. Veja a tabela a seguir: Tempos linguísticos
Tempos verbais
Presente do presente
Presente do indicativo
Pretérito do presente
Pretérito perfeito
Futuro do presente
Futuro do presente
Exemplos: nn Agora,
um raio risca o céu.
O momento de referência e a ação ocorrem simultaneamente, no momento da fala a ação acontece. Logo, o tempo linguístico é o presente do presente. nn Eu
emagreci três quilogramas.
nn O
C20 Tempo linguístico
A ação de emagrecer ocorre anteriormente ao momento da fala, mas o resultado só pode ser compreendido no momento presente. Logo, o tempo linguístico é o pretérito do presente. Brasil será uma grande potência.
A hipótese, que é feita a partir de uma observação do momento presente, só poderá verificar-se posteriormente ao momento da fala. Logo, o tempo linguístico é o futuro do presente. 663
Português
Pretérito
O nosso momento referencial agora é o pretérito. Isso pode ser determinado pelo próprio contexto e estar implícito no enunciado ou estar explícito por meio de advérbios como “ontem”, “antes” etc. Já a concomitância ou não concomitância das ações serão determinadas pelo tempo verbal. Veja a tabela a seguir: Tempos linguísticos
Tempos verbais
Presente do pretérito
Pretérito perfeito / Pretérito imperfeito
Pretérito do pretérito
Pretérito mais-que-perfeito
Futuro do pretérito
Futuro do pretérito
Exemplos: nn No
mês de janeiro, choveu muito.
O momento de referência é o mês de janeiro (no passado), e a ação ocorreu concomitante a esse momento de referência. Logo, o tempo linguístico é o presente do pretérito.
C20 Tempo linguístico
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nn Quando
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cheguei, ele já tinha saído.
O momento de referência está no passado e a ação, anterior a esse momento referencial. Note que antes de o sujeito chegar, a outra pessoa já não estava mais lá. Logo, o tempo linguístico é o pretérito do pretérito. nn Naquele
jogo, senti que meu time não venceria o campeonato.
O momento de referência é um jogo que já se passou, mas a afirmação desenvolvida pelo sujeito expõe um futuro hipotético. Logo, o tempo linguístico é o futuro do pretérito.
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Futuro
O nosso momento referencial agora é o futuro. Isso pode ser determinado pelo próprio contexto e estar implícito no enunciado ou estar explícito por meio de advérbios como “amanhã”, “depois” etc. Já a concomitância ou não concomitância das ações serão determinadas pelo tempo verbal. Veja a tabela a seguir: Tempos linguísticos
Tempos verbais
Presente do futuro
Futuro do presente
Pretérito do futuro
Futuro do presente composto
Futuro do futuro
Futuro do presente
Exemplos: nn Ano
que vem, já trabalharei.
O momento de referência no futuro é concomitante à ação que também está no futuro. O momento estabelecido é o próximo ano, data em que o falante começará a trabalhar. Logo, o tempo linguístico é o presente do futuro. nn Ano
que vem, ele terá terminado o curso.
O momento de referência é o próximo ano, mas note a ação explicitada pelo sujeito já terá sido concluída antes desse momento de referência, ou seja, no próximo ano o falante já não estará cursando mais. Logo, o tempo linguístico é o pretérito do futuro. nn Ao
término do ano letivo, viajaremos.
!
ATENÇÃO!
Note que, em se tratando do futuro, os tempos verbais são sempre os mesmos para tempos linguísticos diferentes. No entanto, é importante estar atento para o momento de referência para concluir se a ação está no presente do futuro, no pretérito do futuro ou no futuro do futuro.
C20 Tempo linguístico
O momento de referência é o final do ano, mas a ação de viajar só ocorrerá depois desse momento referencial. Logo, o tempo linguístico é o futuro do futuro.
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Uncisal AL) Gota a gota Cada busca inútil me traz uma impressão longínqua de despedaçar-se: chegou-se a algum lugar, afinal, pois chegamos quando nos dispomos a continuar; mas a que custo! Seria talvez mais desejável para nós, gente, não chegar, achando quem sabe um último suspiro depois de um último passo. CESAR, Ana Cristina. Inéditos e dispersos. São Paulo: Ática, 1999.
Ao longo do texto, o uso dos termos “me traz”, “chegou-se” e “chegamos” demonstra, simultaneamente, o caráter a) invariável do tempo verbal. b) passivo da voz verbal. c) instável da pessoa verbal. d) individual do número verbal. e) inacabado do aspecto verbal. 02. (Uncisal AL) A indústria da bebida investe para afastar menores do álcool Um quarto dos pais brasileiros nunca conversou com os filhos sobre o consumo de bebidas alcoólicas com responsabilidade, segundo um levantamento da empresa de pesquisas Ipsos em onze países. Outros estudos expõem um aspecto ainda mais grave: os pais costumam ser responsáveis por incentivar os filhos a consumir álcool antes da maioridade. Um estudo da Secretaria Nacional Antidrogas concluiu que quase metade dos adolescentes experimentou álcool pela primeira vez em casa, sob o olhar dos familiares. [...] DALTRO, Ana Luiza. Revista Veja. Edição 2.344/ Ano 46/ nº 43. 23 out 2013.
C20 Tempo linguístico
Ao iniciar o texto, a autora fez a seguinte escolha lexical: um sujeito formado de uma expressão partitiva seguida de um substantivo pluralizado. Nesse caso, analise a concordância da estrutura frasal e assinale a opção considerada correta do ponto de vista da norma culta e à luz dos recursos morfossintáticos. a) O verbo da estrutura frasal encontra-se no singular, concordando com o sujeito “o consumo de bebidas”. b) A forma verbal não está de acordo com a norma padrão. Uma situação semelhante ocorre em: “[...] quase metade dos adolescentes experimentou álcool pela primeira vez [...]”. c) O verbo da oração deveria obrigatoriamente está pluralizado, uma vez que o termo “pais” está no plural. d) O plural da formal verbal, nesse contexto, é que é correto, a fim de concordar com o substantivo núcleo do sujeito. e) O verbo da estrutura frasal está no singular, concordando com a expressão partitiva, entretanto é admissível ficar também no plural, concordando com o substantivo pluralizado. Texto comum às questões 03 e 04 Cultura 1
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Além dos seres vivos e da matéria cósmica, existem, também,
coisas 2 culturais, muitíssimo mais complicadas. Chama-se cultura tudo o que é feito pelos 3 homens, ou resulta do trabalho deles e de seus pensamentos. Por exemplo, uma 4 cadeira está na cara que é cultural porque foi feita por alguém. Mesmo o 5 banquinho mais vagabundo, que mal se põe em pé, é uma coisa cultural. É cultura, 6 também, porque feita pelos homens, uma galinha. Sem a intervenção humana, que 7 criou os bichos domésticos, as galinhas, as vacas, os porcos, os cabritos, as cabras, 8 não existiriam. Só haveria animais selvagens. 9 A minhoca criada para produzir humo é cultural, eu compreendo. Mas a 10 lombriga que você tem na barriga é apenas um ser biológico. Ou será, ela também, 11 um ser cultural? Cultural não é, porque ninguém cria lombrigas. Elas é que se 12 criam e se reproduzem nas suas tripas. 13 Uma casa qualquer, ainda que material, é claramente um produto cultural, 14 porque é feita pelos homens. A mesma coisa se pode dizer de um prato de sopa, de 15 um picolé ou de um diário. Mas estas são coisas de cultura material, que se pode 16 ver, medir, pesar. 17 Há, também, para complicar, as coisas da cultura imaterial, impropriamente 18 chamadas de espiritual - muitíssimo mais complicadas. Afala, por exemplo, que 19 se revela quando a gente conversa, e que existe independentemente de qualquer 20 boca falante, é criação cultural. Aliás, a mais importante. Sem a fala, os homens 21 seriam uns macacos, porque não poderiam se entender uns com os outros, para 22 acumular conhecimento e mudar o mundo como temos mudado. 23 A fala está aí, onde existe gente, para qualquer um aprender. Aprende-se, 24 geralmente, a da mãe. Se ela é uma índia, aprende-se a falar a fala dos índios, dos 25 Xavantes, por exemplo. Se ela é uma carioca, professora, moradora da Tijuca, a 26 gente aprende aquele português lá dos tijucanos. Mas, se você trocar a filhinha da 27 índia pela filhinha da professora, e criar, bem ali na praça Saens Peña, ela vai 28 crescer como uma menina qualquer, tijucana, dali mesmo. E vice-versa, o mesmo 29 ocorre se a filha da professora for levada para a aldeia Xavante: ela vai crescer lá, 30 como uma xavantinha perfeita - falando a língua dos Xavantes e xavanteando 31 muito bem, sem nem saber que há tijucanos. 32 Além da fala, temos as crenças, as artes, que são criações culturais, porque 33 inventadas pelos homens e transmitidas uns aos outros através de gerações. Elas 34 se tornam visíveis, se manifestam, através de criações artísticas, ou de ritos e 35 práticas- o batizado, o casamento, a missa- em que a gente vê os conceitos e as 36 ideias religiosas ou artísticas se realizarem. Essa separação de coisas cósmicas, 37 coisas vivas, coisas culturais, ajuda a gente de alguma forma? Sei não. Se não 38 ajuda, diverte. É melhor que decorar um dicionário, ou aprender datas. Você não 39 acha? RIBEIRO, Darcy. Noções de Coisas. São Paulo: FTD, 2000, p. 34.
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04. (Unisc RS) Assinale a alternativa incorreta. a) No trecho “Só haveria animais selvagens” (Ref. 8), se trocássemos o verbo haver pelo verbo existir, este também seria impessoal. Assim, em consonância com a norma gramatical, teríamos: “Só existiria animais selvagens”. b) A expressão “boca falante” é um pleonasmo tal qual expressões como “elo de ligação”. c) termo “xavanteando” é um exemplo de neologismo. d) Na passagem “Mesmo o banquinho mais vagabundo, que mal se põe em pé, é uma coisa cultural.” (Refs. 4 e 5), o uso do diminutivo cria um efeito de sentido diferente do da frase “O povinho brasileiro não sabe mesmo votar”. e) A expressão “Sei não” (Ref. 37) tem um significado quase oposto à expressão “Não sei”. 05. (Unimontes MG) O significado de Mandela para o futuro ameaçado da humanidade
Leonardo Boff
Nelson Mandela, com sua morte, mergulhou no inconsciente coletivo da humanidade para nunca 2 mais sair de lá porque se transformou num arquétipo universal do injustiçado que não guardou rancor, que 3 soube perdoar, reconciliar polos antagônicos e nos transmitir uma inarredável esperança de que o ser 4 humano ainda pode ter jeito. Depois de passar 27 anos de reclusão e eleito presidente da África do Sul em 5 1994, se propôs e realizou o grande desafio de transformar uma sociedade estruturada na suprema injustiça 6 do apartheid, que desumanizava as grandes maiorias negras do país, condenando-as a não pessoas, numa 7 sociedade única, unida, sem discriminações, democrática e livre. 8 E o conseguiu ao escolher o caminho da virtude, do perdão e da reconciliação. Perdoar não é 9 esquecer. As chagas estão aí, muitas delas ainda abertas. Perdoar é não permitir que a amargura e o espírito 10 de vingança tenham a última palavra e determinem o rumo da vida. Perdoar é libertar as pessoas das 11 amarras do passado, é virar a página e começar a escrever outra a quatro mãos, de negros e de brancos. A 12 reconciliação só é possível e real quando há a admissão completa dos crimes por parte de seus autores e o 13 pleno conhecimento dos atos por parte das vítimas. A pena dos criminosos é a condenação moral diante de 14 toda a sociedade. Uma solução dessas, seguramente originalíssima, pressupõe um conceito alheio à nossa 15 cultura individualista: o ubuntu, que quer dizer: “eu só posso ser eu através de você e com você”. Portanto, 16 sem um laço permanente que liga todos com todos, a sociedade estará, como na nossa, sob risco de 17 dilaceração e de conflitos sem fim. 1
Deverá figurar nos manuais escolares de todo o mundo esta afirmação humaníssima de Mandela: 19 “Eu lutei contra a dominação dos brancos e lutei contra a dominação dos negros. Eu cultivei a esperança do 20 ideal de uma sociedade democrática e livre, na qual todas as pessoas vivem juntas e em harmonia e têm 21 oportunidades iguais. É um ideal pelo qual eu espero viver e alcançar. Mas, se preciso for, é um ideal pelo 22 qual estou disposto a morrer”. 23 Por que a vida e a saga de Mandela fundam uma esperança no futuro da humanidade e de nossa 24 civilização? Porque chegamos ao núcleo central de uma conjunção de crises que pode ameaçar o nosso 25 futuro como espécie humana. [...] Isso quer dizer que a crença persistente no mundo inteiro, também no 26 Brasil, de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e 27 espiritual é uma ilusão. Estamos vivendo tempos de barbárie e sem esperança. [...] 28 Acrescento a opinião do conhecido filósofo e cientista político, Norberto Bobbio, que, como 29 Mandela, acreditava nos direitos humanos e na democracia como valores para equacionar o problema da 30 violência entre os estados e para uma convivência pacífica. Em sua última entrevista declarou: “Não saberia 31 dizer como será o Terceiro Milênio. Minhas certezas caem, e somente um enorme ponto de interrogação 32 agita a minha cabeça: será o milênio da guerra de extermínio ou o da concórdia entre os seres humanos? 33 Não tenho condições de responder a esta indagação”. 34 Em face destes cenários sombrios, Mandela responderia seguramente, fundado em sua experiência 35 política: Sim, é possível que o ser humano se reconcilie consigo mesmo, que sobreponha sua dimensão de 36 sapiens àquela de demens e inaugure uma nova forma de estar juntos, na mesma casa. 37 Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu, que coordenou o 38 processo de Verdade e Reconciliação: “Tendo encarado a besta do passado olho no olho, tendo pedido e 39 recebido perdão e tendo feito correções, viremos agora a página — não para esquecer esse passado, mas 40 para não deixar que nos aprisione para sempre. Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova 41 sociedade em que as pessoas valham não em razão de irrelevâncias biológicas ou de outros estranhos 42 atributos, mas porque são pessoas de valor infinito [...]”. 43 Essa lição de esperança nos deixa Mandela: nós ainda viveremos se, sem discriminações, pusermos 44 em prática de fato o ubuntu. 18
Fonte: <http://leonardoboff.wordpress.com>. Acesso em: 10 mar. 2014.
“Avancemos em direção a um futuro glorioso de uma nova sociedade [...]”. (Refs. 40-41) A alternativa que apresenta forma verbal com o mesmo conceito semântico do termo destacado acima, de acordo com o seu contexto, é a) “[...] a crença [...] de que o crescimento econômico material nos deveria trazer desenvolvimento social, cultural e espiritual é uma ilusão.” (Refs. 25-27) b) “[...] viremos agora a página [...]”. (Ref. 39) c) “[...] nós ainda viveremos se, sem discriminações, pusermos em prática de fato o ubuntu.”(Refs. 43-44) d) “Talvez valham as palavras de seu grande amigo, o arcebispo Desmond Tutu [...]”. (Ref. 37) 667
C20 Tempo linguístico
03. (Unisc RS) Assinale a alternativa em que o verbo criar está sendo usado no mesmo sentido que no trecho “Cultural não é, porque ninguém cria lombrigas” (Ref. 11). a) Quanto mais cedo se cria vergonha na cara, melhor. b) É como diz o ditado: uma mãe cria dez filhos mas dez filhos não criam uma mãe. c) Toda discussão sempre cria um mal estar no ambiente. d) A criança só cria confiança para andar depois de vários tombos. e) Ornitófilo é o nome dado à pessoa que cria pássaros.
Português
Exercícios Complementares 01. (Puc Campinas SP) 1 Como os filmes de Hollywood lembram, a maioria de nós procura um amor duradouro, não importa a idade. Psicólogos 2 agora sabem que cada um de nós expressa afeto de maneira diferente. Alguns são fortemente emotivos e convivem quase que 3 diariamente com altos e baixos no humor. Já outros são plácidos e serenos. Enquanto uns apresentam maior dificuldade para 4 revelar seus sentimentos, outros abrem-se para estranhos no ônibus ou avião. 5 Parece óbvio que a maneira pela qual expressamos nosso afeto varia muito de pessoa para pessoa. Entretanto, 6 essa questão costuma ser negligenciada quando autores populares aconselham o que fazer para fortalecer um romance. 7 Quando presumem que todos se assemelham em termos de personalidade, tais autores adotam a abordagem “tamanho 8 único” para os assuntos afetivos. Como resultado, isso gera frustração entre os parceiros. Desconfie. Qualquer que seja o 9 caso, aqui estão quatro dimensões de personalidade a serem levadas em consideração. (HOFFMAN, Edward. Como você demonstra afeto? Seção Conexões da alma. In: Bons fluidos: atitude, bem-estar, autoconhecimento, São Paulo: ed.175, ano 17, n. 10, out. 2013)
Análise do texto confirma a seguinte afirmação: a) O paralelo apresentado nas referências 3 e 4 é instituído especificamente pela correlação entre uns e outros. b) Em a maneira pela qual expressamos nosso afeto (Ref. 5), a substituição do segmento destacado por “porque” preserva a correção e o sentido originais. c) O segmento Quando presumem, à referência 7, exprime ideia de tempo em relação a uma ação hipotética. d) Em Qualquer que seja o caso (Refs. 8 e 9), se, em lugar de o caso, houvesse “os casos”, a correção da frase exigiria a forma “Quaisquer que seja os casos”. e) Em todos se assemelham em termos de personalidade, à referência 7, o verbo está empregado com objeto direto pronominal e com objeto indireto. Texto comum às questões 02 e 03 Há muitos anos atrás, em um reino bem distante, 2vivia um imperador mais conhecido por seu orgulho e 3elegância do que por seus feitos e atos de bondade. 4 Certo dia o pequeno vilarejo saiu de sua monotonia 5habitual. Foi noticiada a chegada de dois visitantes 6renomados, reconhecidos como os mais habilidosos alfaiates 7que já tinham vestido impecavelmente reis e imperadores. 8 Mas desta feita o traje havia de ser especial, para 9o mais especial dos reis. O material a ser empregado era 10tão precioso, que continha um segredo: somente os mais 11sábios, os mais inteligentes poderiam ver o esplendor 12das novas vestes. (Eis enfim o maior prêmio para o nosso 13rei vaidoso: uma roupa cujos limites entre o visível e o 14invisível estariam só fragilmente delineados.)
C20 Tempo linguístico
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Começaram os preparativos. Os trabalhos evoluíam bem e houve a primeira prova. O rei, ansioso, entrou 17 pontualmente no ateliê. Era hora de iniciar o ato. 18Com gestos refinados, os artífices começaram a vestir o 19monarca. O contentamento inicial do rei transformava-se 20rapidamente em apreensão, à medida que notava que 21não via nada, a não ser seus já conhecidos trajes de 22baixo. Porém, como seus serviçais não diziam nada − ao 23contrário, soltavam exclamações de admiração diante de 24tão magnânima veste −, o rei resolveu se calar, ou melhor, 25achou por bem assumir a atitude geral, que estava 26mais para a consagração do que para o questionamento. 27 Chegou o dia de o monarca desfilar diante de todos 28os súditos as já famosas “novas vestes do rei”. A 29princípio, nas ruas, tudo correu bem: todos admiravam 30as vestes, e o rei, mais seguro, começava a comportar-se 31com desenvoltura. 32 Até que ocorreu o inesperado. Um menino que 33não havia sido informado sobre as histórias que cercavam 34as vestes do rei, exclamou em alto e bom som: 35”O rei está nu”. Esse foi só o início, pois, após o primeiro 36toque, a multidão, até então contida, passou a gritar e 37gargalhar diante da nudez inesperada do rei. 38 O monarca e sua corte, desnudados diante dos 39acontecimentos, voltaram ao palácio, vexados e humilhados. 40Os alfaiates farsantes já estavam bem longe, felizes 41com a sorte de um golpe bem dado. 15
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(Adaptado de: SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, cap. 1, A roupa nova do rei: reflexões sobre a realeza, que reproduz o conto de Hans Christian Andersen. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 25 a 27)
02. (Puc Campinas SP) Afirma-se com correção: a) (referência 11) O verbo “conter”, empregado apropriadamente no texto, também está usado com adequação em “Se o tecido contesse mesmo um segredo, a história seria outra”. b) (referência 12) O verbo “ver”, empregado apropriadamente no texto, também está usado com adequação em “Pensou o alfaiate: Quando alguém ver que o rei está nu, estarei longe”. c) (referência s 34 a 37) A transposição do discurso direto para o indireto está adequada às normas e ao contexto assim: “Um menino [...] exclamou em alto e bom som que o rei está nu”. d) (referência 30) As aspas em “novas vestes do rei” sugerem ser esta a expressão com que os súditos, comentando reiteradamente o assunto, construíram a fama citada. e) (referência s 4 e 5) Se, em vez de monotonia, se tratasse de “monotonia e tristeza”, a forma do adjetivo poderia permanecer, adequadamente, “habitual”.
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03. (Puc Campinas SP) Expressão empregada para designar ação posterior à época de que se fala está presente em: a) (referências 21 a 23) notava que não via nada, a não ser seus já conhecidos trajes de baixo. b) (referências 10 e 11) O material a ser empregado era tão precioso, que continha um segredo. c) (referências 32 e 33) o rei, mais seguro, começava a comportar-se com desenvoltura. d) (referência 34) Até que ocorreu o inesperado. e) (referências 42 e 43) Os alfaiates farsantes já estavam bem longe, felizes com a sorte de um golpe bem dado. 04. (Udesc SC) 1 Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. 2 Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus 3 dotes por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de 4 triunfo, era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de 5 espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena 6 praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse 7 e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem 8 entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade da menina e a compostura da mulher 9 feita, um acordo de virtudes domésticas e maneiras elegantes. 10 Além das qualidades naturais, possuía Helena algumas prendas de sociedade, 11 que a tornavam aceita a todos, e mudaram em parte o teor da vida da família. Não falo 12 da magnífica voz de contralto, nem da correção com que sabia usar dela, porque ainda 13 então, estando fresca a memória do conselheiro, não tivera ocasião de fazer-se ouvir. 14 Era pianista distinta, sabia desenho, falava correntemente a língua francesa, um pouco 15 a inglesa e a italiana. Entendia de costura e bordados e toda a sorte de trabalhos 16 feminis. Conversava com graça e lia admiravelmente. Mediante os seus recursos, e 17 muita paciência, arte e resignação, − não humilde, mas digna, − conseguia polir os 18 ásperos, atrair os indiferentes e domar os hostis.
d) A predominância do uso do pretérito imperfeito do indicativo, no Texto 5, exprime um fato já concluído anteriormente ao momento em que se fala. e) No período “Havia nela a jovialidade da menina e a compostura da mulher feita” (Refs. 8 e 9) tem-se uma oração sem sujeito. 05. (Ufal AL) BICHO-CARPINTEIRO Há mais de um século a expressão “ter (ou estar com) bicho-carpinteiro” significa “ser muito inquieto, não parar no lugar”. Faz pouco tempo, porém, os reformadores da fraseologia começaram a espalhar a seguinte tese fraudulenta: “O certo é ter bicho no corpo inteiro”. Errado. O dislate parte assumidamente da ignorância de um fato básico da língua: o de que existe uma criatura chamada bicho-carpinteiro. Segundo o Houaiss, ele é o nome popular e genérico de “diversas espécies de besouro, especialmente das famílias dos buprestídeos e cerambicídeos, que durante o estágio larvar brocam troncos e cascas de árvores”. Como se vê, a ideia da velha expressão é propor uma metáfora: a de que, como as árvores sob a casca, a pessoa irrequieta tem sob a pele as larvas desses insetos a se remexer constantemente, fazendo cócegas e não a deixando sossegada. Sobre palavras. Revista Veja. Edição 2.347/ Ano 46/ Nº 46. 13 nov. 2013.
A impessoalidade que ocorre na forma verbal da oração “Há mais de um século [...]” é também percebida em a) “O certo é ter bicho no corpo inteiro”. b) “[...] ele é o nome popular e genérico de “diversas espécies de besouro, [...]”. c) “Como se vê, a ideia da velha expressão é propor uma metáfora [...]”. d) “Faz pouco tempo, porém, [...]”. e) “[...] fazendo cócegas e não a deixando sossegada”. 06. (Ufal AL)
MACHADO DE ASSIS, J.M. Helena. São Paulo: Paulus, 2008, p. 25.
Disponível em: http://mensagensdeamorparacelular.com. Acesso em: 02 dez. 2013.
O enunciado do cartaz acima traz as formas verbais no imperativo afirmativo. Como ficaria o mesmo enunciado, ao mudar o tempo verbal para o imperativo negativo? a) Não desligai a TV e não pensai. b) Não desligue a TV e não pense. c) Não desligas a TV e não pensas. d) Não desligues a TV e não penses. e) Não desliga a TV e não pensa. 669
C20 Tempo linguístico
Assinale a alternativa incorreta em relação à obra Helena, Machado de Assis, e ao texto. a) Da leitura do período “Além das qualidades naturais, possuía Helena algumas prendas de sociedade, que a tornavam aceita a todos” (Refs. 10 e 11) depreende-se que a protagonista possuía algumas qualidades natas e outras devido à educação recebida, nas escolas pagas pelo conselheiro. b) Sabe-se que coesão é a articulação dos enunciados entre si, logo se pode dizer que a expressão “O que” (Ref. 3) é o elemento que estabelece a coesão com as orações que o antecedem. c) O romance Helena, em relação ao tempo, apresenta dois tempos: um cronológico – mais ou menos um ano, duração da narrativa; e um psicológico, principalmente, quando incorre sobre a vida de Helena.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Enem MEC)
02. (Enem MEC)
Entrevista com Marcos Bagno Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam nos usos que os escritores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar de “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”. No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparecem centenas desses usos. Se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebemos esses usos dos nossos ex-colonizadores. Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal, concordâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso bicentenário de independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo temos mais falantes de português do que em toda a Europa!
Estudos contemporâneos mostram que cada língua possui sua
Informativo Parábola Editorial. s/d.
própria complexidade e dinâmica de funcionamento. O texto
Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da norma padrão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele a) adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma padrão. b) apresenta argumentos carentes de comprovação cientifica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de ser verificado na materialidade do texto. c) propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados. d) acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a gramática normativa do português europeu. e) defende que a quantidade de falantes do português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a hegemonia do antigo colonizador. 670
O léxico e a cultura Potencialmente, todas as línguas de todos os tempos podem candidatar-se a expressar qualquer conteúdo. A pesquisa linguística do século XX demonstrou que não há diferença qualitativa entre os idiomas do mundo – ou seja, não há idiomas gramaticalmente mais primitivos ou mais desenvolvidos. Entretanto, para que possa ser efetivamente utilizada, essa igualdade potencial precisa realizar-se na prática histórica do idioma, o que nem sempre acontece. Teoricamente, uma língua com pouca tradição escrita (como as línguas indígenas brasileiras) ou uma língua já extinta (como o latim ou o grego clássicos) podem ser empregadas para falar sobre qualquer assunto, como, digamos, física quântica ou biologia molecular. Na prática, contudo, não é possível, de uma hora para outra, expressar tais conteúdos em camaiurá ou latim, simplesmente porque não haveria vocabulário próprio para esses conteúdos. É perfeitamente possível desenvolver esse vocabulário específico, seja por meio de empréstimos de outras línguas, seja por meio da criação de novos termos na língua em questão, mas tal tarefa não se realizaria em pouco tempo nem com pouco esforço. BEARZOTI FILHO, P. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. Manual do professor. Curitiba: Positivo, 2004 (fragmento).
ressalta essa dinâmica, na medida em que enfatiza a) a inexistência de conteúdo comum a todas as línguas, pois o léxico contempla visão de mundo particular específica de uma cultura. b) a existência de línguas limitadas por não permitirem ao falante nativo se comunicar perfeitamente a respeito de qualquer conteúdo. c) a tendência a serem mais restritos o vocabulário e a gramática de línguas indígenas, se comparados com outras línguas de origem europeia. d) a existência de diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades relacionadas à própria cultura dos falantes de uma comunidade. e) a atribuição de maior importância sociocultural às línguas contemporâneas, pois permitem que sejam abordadas quaisquer temáticas, sem dificuldades.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
03. (Unicamp SP) Caligrafia (Arnaldo Antunes)
Arte do desenho manual das letras e palavras. Território híbrido entre os códigos verbal e visual. A caligrafia está para a escrita como a voz está para a fala. A cor, o comprimento e espessura das linhas, a disposição espacial, a velocidade dos traços da escrita correspondem a timbre, ritmo, tom, cadência, melodia do discurso falado. Entonação gráfica. Assim como a voz apresenta a efetivação física do discurso (o ar nos pulmões, a vibração das cordas vocais, os movimentos da língua), a caligrafia também está intimamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior força ou delicadeza, rapidez ou lentidão, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura. (Adaptado de https://www.arnaldoantunes.com.br. Acessado em 12/07/2016.)
Em Caligrafia, o autor a) estabelece uma relação de causa e efeito entre caligrafia e voz. b) sugere uma relação de oposição entre caligrafia e voz. c) projeta uma relação de gradação entre caligrafia e voz. d) apreende uma relação de analogia entre caligrafia e voz.
b) comparação entre o lado bom dos produtos naturais e o lado ruim dos produtos processados, de modo a ressaltar, efusivamente, o perigo da química. c) demonstração do lado bom dos produtos naturais e o lado ruim dos produtos processados, sem, contudo, realizar uma crítica em relação à química. d) elogio aos produtos naturais, reforçando-se a ideia de consumirmos mais desses produtos em detrimento de produtos processados com o auxílio da química. 05. (Puc MG) O PEIXE NEMO E O MAIS MÉDICOS Rogério Cezar de Cerqueira Leite
1º § A indústria farmacêutica apresenta uma característica peculiar. Ela vende para um, o doente, que é quem paga, mas quem escolhe o medicamento é outro, o médico. 2º § Essa condição fez com que a indústria farmacêutica internacional desenvolvesse uma estratégia “sui generis” que, não obstante, imita um comportamento comum entre animais inferiores, a simbiose. 3º § Observo em meu aquário o peixe-palhaço percola Nemo colher um vôngole e levá-lo à boca de “sua” anêmona, antes mesmo que ele próprio se alimente. Em troca, recebe da anêmona – um animal com tentáculos venenosos – proteção contra eventuais predadores. Essa troca de favores chama-
Ironia ao natural É natural, é bom e quanto mais melhor, como os cogumelos vermelhos, as rãs azuis ou o suco de serpente... É químico, processado, é mau, como a aspirina, um perfume ou o plástico da válvula cardíaca de um coração...
mos simbiose. 4º § A promoção de medicamentos se faz de porta em porta, nos consultórios médicos. Todo mundo sabe que os inúmeros congressos médicos nos mais pitorescos locais do mundo, de Paris a Cancun, são patrocinados pelas empresas produtoras de medicamentos, inclusive com passagens e estadia pagas. 5º § O que não era percebido até recentemente é a importância e o volume de recursos repassados diretamente a médicos como remuneração pela promoção de medicamentos. Pois bem, embora sejam esses recursos diminutos em comparação com os gastos globais dessas empresas com propaganda, em que se incluem as conferências técnico-turísticas, elas ultrapassam só nos Estados Unidos uma centena de milhões de dólares por ano. 6º § E onde fica a ética? E o ensinamento de Hipócrates? A prática quotidiana e a necessidade de sobrevivência geram padrões de comportamento que, por sua vez, estabelecem dogmas, tabus, que enfim são incorporados como princípios éticos
(João Paiva, quase poesia quase química. Sociedade Portuguesa de Química, 2012, p.15. Disponível em www.spq.pt/files/docs/boletim/poesia/quase-poesia-quasequimica-jpaiva2012.pdf. Acessado em 06/07/2016.)
à cultura de cada sociedade.
Nesse poema, há a) inversão dos atributos do que seria bom na natureza e do que seria ruim nos processados, de modo a, ironicamente, ressaltar a importância da química.
percepção dos conflitos de interesse que regem essa maléfica
7º § Aos poucos, os médicos acabam por sepultar sua própria simbiose. Três empresas multinacionais do setor farmacêutico foram há pouco multadas e 18 de seus funcionários presos na China por adotarem essa prática. 671
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
04. (Unicamp SP)
Português
8º § Recentemente, o médico britânico e Nobel de medicina Richard J. Roberts acusou as farmacêuticas de evitar a cura em prol da dependência, um fato já conhecido. Se você cura o doente, você deixa de faturar. Se você simplesmente o mantém vivo, você fatura indefinidamente. Uma estratégia também adotada por animais parasitas. Quantas corporações médicas denunciaram essa condição maléfica? 9º § Médicos e suas associações já se opuseram, se não publicamente, pelo menos nos bastidores, a iniciativas positivas do Estado. Isso ocorreu com a instalação do SUS e com as poucas iniciativas de produção de medicamentos em laboratórios estatais. Agora acontece com o programa Mais Médicos, que, para as condições atuais da saúde no Brasil, é imprescindível. Tudo que pareça interferir com a tradicional simbiose médico-produtoras de medicamentos, mesmo que tangencialmente, passa a ser hostilizado. 10º § Quantos dos médicos que se declaram contra o programa repudiaram ofertas de passagens e estadias em gostosas conferências? Quantos colocam o interesse da sociedade brasileira acima dos seus próprios e de sua corporação? (Extraído de: Folha de S.Paulo, 19 nov. 2013.)
[...] embora sejam esses recursos diminutos em comparação com os gastos globais dessas empresas com propaganda, em que se incluem as conferências técnico-turísticas, elas ultrapassam só nos Estados Unidos uma centena de milhões de dólares por ano. (5º §) II. Quantos dos médicos que se declaram contra o programa repudiaram ofertas de passagens e estadias em gostosas conferências? (10º §) III. Uma estratégia também adotada por animais parasitas. (8º §) IV. E onde fica a ética? E o ensinamento de Hipócrates? (6º §) Tendo em conta as passagens acima transcritas, pode-se dizer que o discurso do autor assume um tom irônico em: a) I e II b) I e IV c) II e III d) I e III FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
I.
06. (Puc Campinas SP) Fora os fantasmas que me acompanham e me 2fazem refletir
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sobre o sentido da vida, vivo eu, neste 3apartamento, com uma gatinha siamesa. Que é linda, 4não preciso dizer, mas, além disso, é especial: quase 5nunca mia e, quando soa a campainha da porta, se arranca. 6Nem eu sei onde ela se esconde. Ela é, portanto, muito diferente do gatinho que, 8antes dela,
7
me fazia companhia e que se foi. Morreu de 9velho, já que nunca havia adoecido durante seus 16 anos 10de vida. Quando adoeceu, foi para morrer. Não preciso 11dizer que fiquei traumatizado e não quis mais saber de 12outro gato. Amigas e amigos me 672
ofereceram um substituto 13para o meu gatinho, e eu respondia que amigo não 14se substitui. 15 Os anos se passaram, a dor foi se apagando, até 16que um belo dia, minha amiga Adriana Calcanhoto chegou 17aqui em casa com um presente para mim: era uma 18gatinha siamesa. Faltou-me coragem para dizer não, 19mesmo porque a bichinha me encantou à primeira vista. 20Manteve-se arredia por algum tempo, mas logo me aceitou 21e nos tornamos amigos. 22 Hoje me sinto praticamente lisonjeado pelo fato 23de que, por medo ou desconfiança, enquanto ela foge de 24todo mundo, me busca pela casa, sobe em minhas pernas 25e ali se deita, isso sem falar que, todas as noites, 26dorme em minha cama. 27 Confia em mim, sabe que gosto dela e que pode 28contar comigo para o que der e vier. Essa confiança de 29um bicho que não fala a minha língua, que não sabe 30quem sou eu, mas só o que sou dentro desta casa, me 31alegra. 32 E às vezes, olhando-a dormir na poltrona da sala, 33lembro que para ela a morte não existe, como existe para 34nós, gente. Ela é mortal, mas não sabe, logo é imortal. A 35morte, no caso dela, é apenas um acidente como outro 36qualquer, dormir, comer, brincar, correr; só existirá quando 37acontecer, sem que ela saiba o que está acontecendo. (GULLAR, Ferreira. Folha de S.Paulo, E10 ilustrada, 9 de março de 2014)
O trecho que, na frase de que faz parte, indica o fundamento da opinião nela expressa é: a) (referências 1 e 2) Fora os fantasmas que me acompanham e me fazem refletir sobre o sentido da vida. b) (referência 7) Ela é, portanto, muito diferente do gatinho. c) (referências 9 e 10) já que nunca havia adoecido durante seus 16 anos de vida. d) (referências 11 e 12) e não quis mais saber de outro gato. e) (referência 20) Manteve-se arredia por algum tempo. 07. (Univag MT) Leia o trecho de Inocência, romance de Visconde de Taunay publicado em 1872. Quando Cirino penetrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de maneira que, no primeiro olhar que atirou ao redor de si, só pôde lobrigar, além de diversos trastes de formas antiquadas, uma dessas camas, muito em uso no interior, altas e largas, feitas de tiras de couro engradadas. Estava encostada a um canto, e nela havia uma pessoa deitada. Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproximaram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao corpo e puxando para debaixo do queixo uma coberta de algodão de Minas, se encolheu toda, e voltou-se para os que entravam. — Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez. — Boas-noites, dona, saudou Cirino. Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de médico, se sentava num escabelo junto à cama e tomava o pulso à doente.
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parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da nuca. Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante. Do seu rosto irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno, que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces. Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado. (Inocência, 1994.)
A expressão destacada no trecho — Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante. — pode ser corretamente substituída, preservando-se o sentido original e a correlação verbal, por: a) Caso estiver. b) Como estará. c) Ainda que estar. d) Contanto que estaria. e) Embora estivesse. 08. (Uespi PI) Uma discussão comum nos encontros com profissionais que trabalham com o ensino, mas não só aí, é a relação entre ensino de leitura e escrita na escola e o desenvolvimento dos aprendizes após toda a etapa de escolarização.
Nesse trecho, caso a forma verbal seria venha a ser utilizada por sua forma de futuro, do tempo presente, do modo indicativo, respectivamente, aprendessem e atuassem passarão a a) aprendam e atuem. b) aprenderam e atuaram. c) aprendiam e atuavam. d) aprenderão e atuarão. e) aprendem e atuam. 09. (UECE) Barcos de Papel Quando a chuva cessava e um vento fino Franzia a tarde úmida e lavada Eu saía a brincar pelas calçadas Nos meus tempos felizes de menino. Fazia de papel, toda uma armada E, estendendo meu braço pequenino Eu soltava os barquinhos sem destino Ao longo das sarjetas, na enxurrada... Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles, Que não são barcos de ouro os meus ideais São barcos de papel, são como aqueles: Perfeitamente, exatamente iguais! Que os meus barquinhos, lá se foram eles! Foram-se embora e não voltaram mais.
As reclamações são muitas, e não raramente a avaliação que se
(Guilherme de Almeida. In Acaso.)
faz é de que “os alunos não sabem ler e escrever”, ou que “a
Atente aos dois versos finais do poema e ao que se diz sobre eles. I. O verbo ir, no pretérito perfeito (foram), foi usado no interior do verso 13 (Ref. 89) e no início do verso 14 (Ref. 90), constituindo uma figura de linguagem que tem função textual: reforçar o sentido do verbo ir, sugerindo que os ideais do eu poético se foram de vez, sem possibilidade de retorno. II. O verbo ir (foram) vem acompanhado do pronome se, primeiro, em posição proclítica, depois, em posição enclítica. Esse pronome não tem função sintática, mas função textual. O pronome repetido é mais um recurso que reforça o desengano do sujeito lírico. III. Os dois diminutivos do texto – pequenino e barquinhos – indicam apenas dimensão. De fato, os braços de uma criança são realmente pequenos.
juventude conhece cada vez menos sua língua”. A função primeira (e esperada) da escola seria, para grande parte dos educadores, propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendessem, de forma consciente e consistente, os mecanismos de apropriação de conhecimentos, assim como a de possibilitar que os alunos atuassem criticamente em seu espaço social. E essa é também a perspectiva de que parto. Mas a vida está dentro e fora da escola! E frequentemente o aprendizado do aluno fora dos limites da instituição escolar lhe é muito mais motivador, pois a linguagem da escola nem sempre é a do aluno. (...). (Maria de Lourdes Meirelles Matencio. Leitura, Produção de Textos e a Escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2000, p. 15-16).
A função primeira (e esperada) da escola seria, para grande parte dos educadores, propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendessem, de forma consciente e consistente, os mecanismos de apropriação de conhecimentos, assim como a de possibilitar que os alunos atuassem criticamente em seu espaço social.
Está correto o que se diz somente em a) I e III. b) II. c) I e II. d) II e III.
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FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
Caía então a luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto,
FRENTE
D
Fonte: shutterstock/Por Aimorn1992
PORTUGUÊS Por falar nisso
ttt
Já estamos no final do ano e nos aproximando da prova mais importante para ingresso em Universidades públicas brasileiras: o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Para fazer essa prova é necessário que você adote estratégias para economizar tempo, manter a calma e conseguir obter um bom desempenho no exame. Em geral, nessas provas, o maior obstáculo para você, estudante, é sempre o tempo e para poupá-lo é necessário a organização. Para conseguir se organizar, as próximas aulas serão dedicadas a ensinar-lhe como fazer um projeto de texto. A princípio, isso pode parecer-lhe um recurso que só consumirá seu tempo, no entanto, com a prática, você verá que, ao reservar cinco minutos para organizar suas ideias antes de escrever a redação, seu texto terá mais fluidez, coesão e coerência. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
D17 D18 D19 D20
Notícia e reportagem..................................................................... 676 Editorial.......................................................................................... 683 Dissertação argumentativa: Enem I............................................... 690 Dissertação argumentativa: Enem II.............................................. 697
FRENTE
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PORTUGUÊS
MÓDULO D17
ASSUNTOS ABORDADOS nn Notícia e reportagem nn Notícia nn Reportagem
NOTÍCIA E REPORTAGEM Notícia A notícia é um texto do cotidiano, que veicula informações sobre um acontecimento atual. Trata-se de um gênero textual jornalístico (não literário), e está presente nos principais meios de comunicação, como jornais, revistas, sites e, inclusive, no rádio e na televisão. A notícia não é um gênero restrito à modalidade escrita, portanto, está presente em muitos veículos de comunicação de textos orais. As principais funções da linguagem nos noticiários são a função descritiva (responsável por transmitir em detalhes o fato) e a função narrativa (responsável por apresentar o tempo, o espaço e as personagens envolvidas). Esse tipo de texto caracteriza-se por apresentar uma linguagem simples, clara, objetiva e precisa, pautando-se no relato de fatos que interessam ao público em geral. Estrutura da notícia A estrutura da notícia recebe o nome de pirâmide invertida, porque as informações principais e mais relevantes já se encontram no primeiro parágrafo do texto. Em uma notícia, os eventos são apresentados pelo interesse, segundo a perspectiva de quem conta, e pelo que o leitor pode considerar mais importante. Leia, a seguir, os elementos que constituem o texto notícia:
Fonte: shutterstock.com/Por Impact Photography
nn Manchete:
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Não se trata de um título, simplesmente. Além de expor o tema sobre o qual a notícia foi escrita, a manchete tem a função de despertar o interesse do leitor. nn Lide (lead): Trata-se do primeiro parágrafo, no qual estão expostas as informações mais relevantes para o leitor, e o qual apresenta a importante tarefa de fazê-lo querer continuar a leitura do texto. Nesse parágrafo, procura-se responder às seguintes questões: Quem? Onde? O quê? Como? Quando? Por quê?. Esta estratégia é bastante utilizada em jornais devido ao seu caráter informativo e sintético, e por poder levar informações rápidas e claras ao leitor. nn Corpo da notícia: Corresponde à informação propriamente dita, com a exposição mais detalhada dos acontecimentos mencionados. Após trazer as informações mais importantes no primeiro parágrafo, os parágrafos seguintes apresentam os outros acontecimentos - sempre em ordem decrescente de relevância (lembre-se da pirâmide invertida). As informações realmente necessárias para o entendimento dos fatos – tais como as personagens, o espaço e o tempo – são priorizadas. Outras informações, como a causa do acontecimento, o desenrolar e as consequências dos fatos, vêm logo em seguida.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Características
Fonte: shutterstock.com/Por sebra
As principais caraterísticas do gênero textual notícia são: nn Texto
de cunho informativo; descritivo e/ou narrativo; nn Texto veiculado nos meios de comunicação; nn Textos em terceira pessoa (impessoais); nn Apresenta linguagem formal, clara e objetiva; nn Utiliza o discurso indireto; nn Apresenta fatos reais, atuais e cotidianos; nn Ausência de enunciados de opinião. nn Texto
A linguagem jornalística A notícia tem um compromisso com a veracidade dos fatos, por isso, não deve, de maneira alguma, apresentar informações incertas ou duvidosas. Nesse sentido, a linguagem empregada deve transmitir confiança para o leitor acerca da veracidade da informação. A comprovação das informações por meio de entrevistas com as testemunhas, fotos ou filmagens é uma excelente estratégia. Outra estratégia importante para conquistar a confiança do leitor é a impessoalidade. Utilizam-se verbos na 3ª pessoa do singular e no modo indicativo (modo que indica certeza). A linguagem jornalística deve prezar pela imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Ademais, trata-se de uma linguagem preferencialmente coloquial, isto é, mais próxima da maneira como falamos, objetivando tornar a comunicação mais eficiente. Leia, a seguir, um trecho da notícia publicada na revista Carta Capital sobre um terremoto no México: “A Cidade do México está um caos”, diz brasileiro após terremoto
Um forte terremoto sacudiu a Cidade do México, provocando pânico entre a população de 20 milhões de habitantes da capital mexicana nesta terça-feira 19, data em que o país relembra os 32 anos do terremoto que destruiu a cidade em 1985 e matou 10 mil pessoas. O sismo, que o Instituto Sismológico do México havia estimado inicialmente em 6,8 para depois revê-lo a 7,1, teve seu epicentro localizado a 55 quilômetros da cidade de Puebla, perto da capital. O Centro Geológico dos Estados Unidos (US Geological Survey) também estimou a magnitude do tremor em 7,1. [...] Durante o socorro, funcionários da Defesa Civil advertiam a população para o risco de vazamento de gás. “Não fumem! Há vazamentos de gás!”, gritavam os socorristas, enquanto corriam pelas ruas na região de Roma Norte. Na praça Cibeles, crianças com crise de pânico foram evacuadas da escola, enquanto os pais, angustiados, as buscavam em meio à multidão, constatou um jornalista da AFP. “Estava caminhando pela (rua) Colima e as janelas começaram a se mexer. Vi as pessoas correndo, começaram a gritar. Ficou muito feio. Não queria me aproximar de nenhuma árvore. Tive que me jogar no chão”, contou Leiza Visaj Herrera, de 27 anos.
Agora observe com atenção o parágrafo que você acabou de ler e encontre nele as características que constituem o lide: nn O quê? – Um forte terremoto. nn Onde? – Cidade do México. nn Quando? – Terça-feira, dia 19 de setembro de 2017. nn Como? – Provocando pânico entre a população. Leia os parágrafos ao lado e veja as características que constituem o corpo da notícia: nn Linguagem clara e coloquial, próxima do leitor. nn Comprovação dos dados da notícia: Instituto Sismológico do México e Centro Geológico dos Estados Unidos. nn Comprovação da veracidade dos fatos: a fala de uma testemunha.
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D17 Notícia e reportagem
Tremor de 7,1 graus na escala Richter provocou mortes e destruição na capital mexicana
Português
Reportagem A reportagem é um gênero textual jornalístico (não literário), nas modalidades escrita ou oral, veiculado por meios de comunicação: jornais, revistas, televisão, internet, rádio, dentre outros. O repórter é a pessoa responsável por redigir e/ou apresentar a reportagem, a qual aborda temas da sociedade em geral. Estrutura da reportagem A reportagem, apesar de apresentar uma estrutura semelhante à da notícia, é menos rígida na estrutura textual e pode incluir as opiniões e interpretações do autor. Enquanto a notícia é um gênero do jornalismo informativo, a reportagem é um gênero do jornalismo opinativo. Nesse tipo de texto, encontram-se entrevistas e depoimentos, análises de dados e pesquisas, causas e consequências, dados estatísticos, dentre outros. Vale lembrar que, como toda estrutura básica dos textos jornalísticos, a reportagem divide-se em três partes: manchete, lide e corpo da reportagem. Diferenças entre reportagem e notícia nn Emprego
do discurso direto e do discurso indireto: na notícia, o discurso predominante é o indireto, enquanto na reportagem os dois tipos de discurso mesclam-se para melhor construir os significados do texto; nn Polifonia: no gênero textual notícia, a única voz presente é a do repórter. Na reportagem, é comum encontrarmos o recurso da polifonia, pois nesse gênero existem elementos como entrevistas com testemunhas e/ou especialistas. Esses elementos permitem que o jornalista, ao apresentar outras vozes no texto, isente-se da apresentação dos fatos; nn Meios de divulgação: a reportagem é mais frequente em revistas e em edições específicas de jornais (geralmente publicadas nas edições de finais de semana). Isso acontece porque o gênero textual reportagem apresenta uma estrutura textual mais complexa, fruto de uma investigação minuciosa do jornalista. Principais características As principais características da reportagem são:
Fonte: shutterstock.com/Por BrAt82
em primeira e terceira pessoa; nn Temas sociais, políticos, econômicos; nn Linguagem simples, clara e dinâmica; nn Discurso direto e indireto; nn Objetividade e subjetividade; nn Pode apresentar enunciados de opinião.
D17 Notícia e reportagem
nn Textos
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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
Eric Hobsbawm. Tempos interessantes. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 450 (com adaptações) .
Considerando o texto autobiográfico acima, escrito por um dos mais respeitados historiadores da contemporaneidade, julgue os itens seguintes. Gab: C C C E C C ( ) O desaparecimento dos impérios coloniais europeus, inclusive o britânico, resulta das transformações suscitadas pela Segunda Guerra Mundial, entre as quais se destacaram a perda de poder da Europa e a emergência afro-asiática. ( ) Ao fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), algumas das antigas potências europeias desapareceram ou perderam importância, a exemplo do que ocorreu com os impérios austro-húngaro e turco. ( ) No terceiro período do texto, o autor alude às pretensões de perenidade do III Reich alemão e do Estado soviético que veio substituir a antiga Rússia dos czares. ( ) A eleição de Barack Obama confirma a “mutabilidade do poder político” a que o texto se reporta. Além de negro, em um país historicamente marcado pela segregação racial, Obama chega à Casa Branca sem contar com o aval do sistema político norte-americano e sem receber as doações que tradicionalmente financiam os candidatos à presidência daquele país. ( ) O ano de 2009 se inicia com mais uma conflagração no historicamente tenso Oriente Médio, desta feita fazendo da região de Gaza o cenário trágico do confronto entre Israel e o grupo palestino Hamas. ( ) Em termos históricos, o século XX pode ser definido como um tempo contraditório de luz e de trevas, em que o avanço da democracia, do conhecimento e da própria cidadania convive com guerras em profusão, práticas de genocídio e regimes totalitários. 02. (UnB DF) 1Inovações técnicas e organizacionais da agricultura 2concorrem para criar um novo uso do tempo e um novo uso 3da terra. O aproveitamento de momentos vagos do 4 calendário agrícola ou o encurtamento dos ciclos vegetais,
a 5velocidade de circulação de produtos e de informações, a 6disponibilidade de crédito e a preeminência dada à 7exportação constituem, certamente, dados que vão permitir 8 reinventar a natureza, modificando-se solos, criando-se 9 sementes e até buscando-se, embora pontualmente, impor 10 leis ao clima. M. Santos e M. L. Silveira. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 120.
Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens que se seguem. Gab: C E C C C ( ) Nas orações iniciadas por verbos no gerúndio (refs.8-9), são apresentadas formas para se “reinventar a natureza” decorrentes das inovações técnicas e organizacionais introduzidas na agricultura contemporânea. ( ) O novo uso agrícola do solo, aludido no texto, tem conduzido à redução da competitividade internacional no setor, levando à eliminação de medidas protecionistas, como subsídios a agricultores ou concessão de créditos especiais, já que a agricultura passou a ser uma atividade produtiva e rentável em todo o mundo. ( ) As atividades humanas voltadas para a maior produtividade agrícola, tema abordado no texto, vêm acarretando, reconhecidamente, a deterioração dos solos, incluindo-se o processo de desertificação. ( ) Uma das transformações socioeconômicas decorrentes dos processos relacionados ao cenário descrito no texto é a transferência de força de trabalho humano do campo para a cidade, verificando-se que, muitas vezes, o setor de serviços, nos países industrializados, é o maior empregador, na atualidade, dessa mão-de-obra. ( ) É exemplo de inovação técnica e organizacional na agricultura brasileira a formação de complexos agroindustriais em que se estabelecem cadeias produtivas, do cultivo até a transformação industrial, como observado no caso da produção de soja no Brasil. 03. (UnB DF) Na edição de 14 de dezembro de 1968, em primeira página que se celebrizou, o Jornal do Brasil estampava, no espaço tradicionalmente reservado às informações meteorológicas, o seguinte fragmento de texto. Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 3º nas Laranjeiras. Considerando esse fragmento de texto e o contexto histórico a que ele obliquamente se refere, julgue os itens seguintes, sabendo que, na noite de 13 de dezembro de 1968, foi anunciado o Ato Institucional nº 5 (AI 5). Gab: C E E C
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D17 Notícia e reportagem
01. (UnB DF) Viver durante mais de oitenta anos no século XX foi uma lição natural a respeito da mutabilidade do poder político, dos impérios e das instituições. Presenciei o desaparecimento total dos impérios coloniais europeus, inclusive o do maior de todos. Vi grandes potências mundiais relegadas às divisões inferiores, vi o fim de um império que pretendia durar mil anos e o de uma potência revolucionária que esperava durar para sempre. Provavelmente não verei o fim do “século americano”, mas creio ser possível apostar que alguns leitores o verão.
Português
( ) Para se manter o paralelismo sintático, é correto que sejam suprimidos, na frase “O ar está irrespirável”, os termos “O” e “está”, procedimento que não poderia ser adotado em relação à frase “O país está sendo varrido por fortes ventos”, visto que, sendo mantido apenas o particípio “varrido”, o sentido da frase seria alterado. ( ) O AI 5 conferia caráter plenamente ditatorial ao regime instaurado quatro anos antes, embora mantivesse algum aparato de normalidade institucional, como a preservação da autonomia do Judiciário e o funcionamento normal do Congresso Nacional. ( ) O AI 5 destacou-se pelo inédito teor de autoritarismo. A rigor, apesar de momentos de retrocesso democrático, o regime republicano brasileiro desconhecera, até então, período ditatorial que pudesse se comparar ao do regime militar. ( ) A revogação do AI 5 integra o processo de distensão “lenta, gradual e segura” iniciado por Geisel e finalizado no governo Figueiredo, quando eleições indiretas asseguraram a vitória do civil oposicionista Tancredo Neves. 04. (UnB DF)
Tarsila, como outros modernistas — e perto dela Oswald de Andrade —, foi movida por Blaise Cendrars, na direção da descoberta de arquétipos culturais e artísticos do país. Em depoimento de fins dos anos 30, ela refere-se à viagem que fez a várias cidades mineiras na semana de 1924, ao lado de Cendrars, Oswald e Mário de Andrade. “Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o ramerrão do gosto apurado... Mas depois vingueime da opressão, passando-as para minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes, conforme a mistura de branco. Pintura limpa, sobretudo sem medo de cânones convencionais.” Walter Zanine. História geral da arte no Brasil, p. 557.
Considerando o texto acima e as figuras I e II, que ilustram obras, respectivamente, de Almeida Junior e Tarsila do Amaral, julgue os itens que se seguem.
Gab: E C E E C C C C E
( ) Depreende-se do texto que Tarsila, após sua viagem a Minas em 1924, foi ensinada a usar, em seus quadros, cores tradicionais, mas, posteriormente, rompeu com os cânones e passou a utilizar cores ditas “caipiras”. ( ) Na realidade literária brasileira, a denominação Modernismo designa tanto o período literário que se inicia em 1922 quanto um conjunto de experiências estéticas, estilísticas e expressivas apresentadas na Semana de Arte Moderna. ( ) Os primeiros sintomas da nova mentalidade que, no centenário da independência política brasileira, se transformará na própria expressão artística nacional começaram
Figura I - Almeida Junior. O violeiro, 1899.
a ser detectados durante os eventos realizados na Semana de Arte Moderna. ( ) Entre os modernistas que participaram da Semana de 22, despontam, ao lado de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, Graciliano Ramos e Jorge Amado. ( ) Na obra da figura I, na representação da realidade, foram enfatizados os detalhes. ( ) Na obra da figura II, verifica-se a influência de movimentos de vanguarda europeus. ( ) Na composição da figura II, a linha é precisa e desempenha papel estrutural. ( ) Na obra da figura I, a simetria da imagem é quebrada
D17 Notícia e reportagem
pelo posicionamento em diagonal das duas personagens retratadas. ( ) Os espaços rural e urbano, retratados, respectivamente, nas obras ilustradas nas figuras I e II, passaram, a partir de intenso distanciamento verificado no século XX, a produzir Figura II - Tarsila do Amaral, Est. Ferro Central do Brasil, 1924.
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em dinâmicas econômicas independentes.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
02. (UnB DF) Texto I 1 O consumidor não é rei, como a indústria cultural 2gostaria de fazer crer; ele não é o sujeito dessa indústria, 3 mas, seu objeto. O termo mass media, introduzido para 4 designar a indústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase 5para aquilo que é inofensivo. Não se trata nem das massas, 6em primeiro lugar, nem das técnicas de comunicação como 7tais, mas, do espírito que lhes é insuflado, a saber, a voz de 8seu senhor. Theodor W. Adorno. Indústria cultural. In: Gabriel Cohn. Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Nacional/EDUSP, 1971, p. 287 (com adaptações).
Texto II A cultura da mídia é a cultura dominante hoje em dia; substituiu as formas de cultura elevada como foco da atenção e de impacto para grande número de pessoas. Além disso, suas formas visuais e verbais estão suplantando as formas da cultura livresca, exigindo novos tipos de conhecimentos para decodificá-las. Ademais, a cultura veiculada pela mídia transformou-se em uma força dominante de socialização: suas imagens e celebridades substituem a família, a escola e a igreja como árbitros de gosto, valor e pensamento, produzindo novos modelos de identidade e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento. Com o advento da cultura da mídia, os indivíduos são submetidos a um fluxo, sem precedentes, de imagens e sons dentro de sua própria casa, e um novo mundo virtual de entretenimento, informação, sexo e política está reordenando percepções de espaço e tempo, anulando distinções entre realidade e imagem, enquanto produz novos modos de experiência e subjetividade. Douglas Kellner. A cultura da mídia. São Paulo: Verbum, 2001, p. 75 (com adaptações).
Considerando os textos apresentados e os temas que eles suscitam, julgue os itens seguintes. Gab: E E E C C C C ( ) O desenvolvimento das ideias no texto I indica que a flexão de plural em “tais” (ref.7) estabelece a concordância desse termo tanto com “massas” (ref.5) quanto com “técnicas” (ref.6). ( ) Infere-se do texto I que, para se compreender o papel dos meios de comunicação de massa, é mais importante analisar o conteúdo ideológico das mensagens veiculadas que entender o interesse econômico da indústria cultural. ( ) Conclui-se corretamente dos textos I e II que, no mundo atual, o consumidor age conscientemente ao realizar suas compras e utiliza a publicidade como meio para economizar um dos recursos mais escassos de que dispõe, o tempo. ( ) Um traço distintivo da indústria cultural no Brasil é a passagem da cultura oral para a cultura visual, sendo saltada a cultura letrada. ( ) Considere a seguinte tese defendida por cientistas sociais. Níveis altos de representação da violência no cinema e na televisão geram padrões diretamente imitativos no público exposto a programações desse gênero. É correto concluir que a referida tese não contradiz o que se menciona no seguinte trecho do texto II: “a cultura veiculada pela mídia transformou-se em uma força dominante de socialização (...) produzindo novos modelos de identidade e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento”.
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D17 Notícia e reportagem
01. (UnB DF) 1No sertão mineiro do século XIX, fazendeiro 2bruto tranca a sete chaves sua bela filha, prometida em 3casamento para um brutamontes. Mas ela se apaixona 4por médico itinerante e tenta fugir. Walter Lima Júnior, 5em um de seus melhores filmes, homenageia duas 6importantes figuras do cinema nacional, Humberto 7Mauro e Lima Barreto, ao adaptar o romance clássico 8do Visconde de Taunay, já filmado em 1915 e 1949. O 9resultado é um filme romântico, bonito e eficiente. Por 10exigência dos produtores para conter custos, foi rodado 11na floresta da Tijuca — e não, no sertão mineiro, como 12na primeira adaptação —, mas não se perdeu o clima. Com relação ao texto acima, aos temas nele abordados e ao romance Inocência, no qual se baseia o referido filme, de mesmo título, julgue os itens a seguir. Gab: C E C E C C ( ) A obra Inocência, de Visconde de Taunay, é considerada uma das obras-primas do romance regionalista brasileiro. ( ) O romance Inocência, de Visconde de Taunay, inaugura uma tendência na narrativa do século XIX no Brasil: a do narrador onisciente. ( ) Em Inocência, de Visconde de Taunay, o leitor depara– se com uma mescla de romantismo e realismo. ( ) Considerando-se o desenvolvimento da argumentação do texto apresentado, a conjunção “e” tem sentido explicativo em “e eficiente” (ref.9) e pode, portanto, ser substituída pela conjunção porque, sem que se prejudiquem a coerência e a correção gramatical do texto. ( ) Na argumentação do texto, a partir do emprego da conjunção “mas” (ref.12), depreende-se que a mudança de local de filmagens da referida obra de Walter Lima Júnior poderia ter prejudicado o “clima” (ref.12). ( ) Áreas do sertão mineiro do século XIX, época em que transcorre a história do filme referido no texto, são atualmente áreas de produção agropecuária moderna, o que demonstra transformações no espaço brasileiro nos últimos tempos.
Português
( ) Os jogos eletrônicos atuais, em que são utilizados códigos e elementos de sintaxe nas formas visuais e verbais, tais como linhas, formas, cores, texturas, espaços, planos, movimentos, músicas, textos, entre outros, podem ser corretamente considerados exemplos de produto do que o texto II denomina cultura da mídia, dada a sua capacidade de submeter indivíduos a um fluxo de imagens e sons, em um mundo virtual de entretenimento, reordenando percepções de espaço e tempo e anulando distinções entre realidade e imagem. 03. (UnB DF) A vida de Genivaldo da Silva, agricultor de Inhapi, na região semiárida de Alagoas, foi marcada por diversas militâncias. Na maturidade, ele revê suas experiências, que sacrificaram sua vida familiar e causaram divisões entre seus filhos, e continua buscando uma forma independente de atuação na organização de comunidades agrícolas, algumas das quais ele ajudou a formar. Internet: <www.epipoca.com.br>.
D17 Notícia e reportagem
Com relação aos temas suscitados por esse texto, julgue os itens seguintes. Gab: E C E C C ( ) A região Nordeste do Brasil contrasta com o restante do país não somente por suas características climáticas, dado o baixo índice de pluviosidade, mas também por ser considerada vazio populacional e apresentar o mais baixo índice de qualidade de vida do país. ( ) Pelo menos nas três últimas décadas, a região Norte do Brasil foi destino de muitos imigrantes nordestinos em busca de melhores condições de vida e de terras para extração vegetal e mineral e para agricultura, entre outras atividades, o que promoveu, de certa forma, a criação e a expansão de cidades. ( ) A concentração de terras no semiárido brasileiro contrasta com o que ocorre no Centro-Sul do país, onde, com o processo de modernização, rompeu-se com estruturas fundiárias arcaicas, logo que se implantou o agronegócio. ( ) A pequena agricultura, ao remover a cobertura vegetal e promover o uso intensivo do solo, contribui para a degradação ambiental no Brasil. No caso nordestino, esse tipo de atividade é um dos fatores geradores do processo de desertificação, com consequências ambientais e socioeconômicas. ( ) O modelo de colonização adotado pelos portugueses, do qual a agroindústria açucareira e a distribuição de capitanias e de sesmarias foram grandes símbolos, foi decisivo para o processo de concentração de terras no Brasil. 04. (UnB DF) A publicidade organiza toda sorte de livros, filmes e outros produtos culturais, em escala mundial. Se há uniformização parcial, há mestiçagem cultural. O crescimento de viagens ao estrangeiro, turísticas ou profissionais, e a presença de comunidades de imigrantes reforçam os contatos entre pessoas pertencentes a culturas diferentes. A partir dessas informações, julgue os itens que se seguem. Gab: E C C 682
( ) Conceitos como fronteira, Estado-nação, livre-comércio, capitalismo liberal, nascidos no espaço europeu e exportados para o mundo, são considerados inadequados no contexto atual, diante da intensa fragmentação e diversidade cultural e econômica dos países. ( ) Expressões dramáticas populares brasileiras como o bumba-meu-boi e o maracatu são exemplos da mestiçagem cultural, pois, nelas, estão fundidos elementos da cultura europeia, africana e indígena. ( ) Na América colonizada por Portugal e Espanha, os fluxos de mercadorias estavam subordinados, em geral, às práticas mercantilistas vigentes na Europa moderna, voltadas essencialmente para o fortalecimento dos Estados nacionais e para o enriquecimento da burguesia. 05. (UnB DF) O mundo conheceu a América através do cinema e, para muitos, a América foi apenas o cinema. Em uma sala escura dedicada à narração de um longo sonho, o cowboy, o mocinho, o cidadão honesto e a moça pobre sempre venciam o índio, o bandido, o desonesto e a moça rica. Hollywood criou essa América, onde o bem derrotava o mal, o amor se realizava e as pessoas de vida pequena sonhavam com a grande vida. E, quando essa máquina de fabricar mitos se voltou contra o Eixo, foram mobilizados milhões de almas simples contra os novos vilões da história. Nosso século. v.3, São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 243 (com adaptações).
Para o marxismo moderno, em sua filosofia política, todas as ações estão perpassadas por ideologia, não existindo ação ideologicamente neutra. Tendo essa afirmação e o texto apresentado como referências, julgue os itens que se seguem. Gab: C C E E ( ) Na perspectiva do fundamento marxista mencionado, toda realização cinematográfica está necessariamente vinculada a determinada ideologia. Nessa ótica, propositadamente ou não, uma obra cinematográfica é sempre, entre outras coisas, uma propaganda, ideia que é corroborada no texto, na menção ao cinema de Hollywood. ( ) A copiosa produção cinematográfica hollywoodiana desempenhou importante papel político na divulgação de valores e costumes que caracterizariam o modo de vida americano, contribuindo para a então crescente afirmação do prestígio internacional dos Estados Unidos da América (EUA). ( ) Infere-se do texto que, a despeito da enorme carga emocional suscitada por um conflito como a Segunda Guerra Mundial, a indústria cinematográfica norte-americana eximiu-se de fazer juízo de valor em relação aos inimigos, provavelmente para não perder futuros mercados exibidores de seus filmes. ( ) A figura do cowboy remete à colonização inglesa da América do Norte, marcada pela conquista integral do território e pela similitude com o processo de colonização da América ibérica
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D18
EDITORIAL Como vimos na aula passada, há dois tipos de textos jornalísticos: os de caráter informativo e os de caráter opinativo. O texto editorial pertence ao segundo grupo, pois é ele o responsável por transmitir a opinião máxima do jornal ou da revista, por isso, é geralmente escrito pelo redator-chefe da equipe editorial. No geral, trata-se de textos dissertativo-argumentativos que apresentam os diversos temas que serão abordados na imprensa. Comumente, nos jornais e também nas revistas, podemos encontrar os editoriais intitulados “Carta ao Leitor” ou “Carta do Editor”.
ASSUNTOS ABORDADOS nn Editorial nn Principais características nn Estrutura do editorial nn A metalinguagem no editorial
A objetividade e imparcialidade, desse modo, não são características dessa tipologia textual, uma vez que o redator dispõe da opinião do jornal sobre o assunto narrado. Logo, os acontecimentos são relatados sob a subjetividade do editorialista, de maneira que evidencie a posição da mídia, ou seja, do grupo que está por trás do canal de comunicação. O editorial possui um fato e uma opinião. O fato informa o que aconteceu e a opinião transmite a interpretação daquilo que aconteceu. Em um editorial, é importante notar que o autor raramente usa a 1ª pessoa para que o texto possa assumir seu formato de opinião. As funções do editorial são: explicar os fatos e sua importância, contextualizar historicamente, prever situações decorrentes do ato, formular juízos e morais, e convocar ações de resposta. Pelas características apontadas, podemos dizer que o editorial é um texto: nn dissertativo,
já que expõe um ponto de vista;
nn informativo,
porque relata um acontecimento. Fonte: shutterstock.com/Por Rawpixel.com
nn crítico,
pois desenvolve argumentos baseados em uma ideia central;
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Português
Principais características As principais características dos editoriais jornalísticos são: nn Caráter
objetivo e subjetivo; nn Linguagem simples e clara; nn Textos dissertativos-argumentativos; nn Temática livre e da atualidade; nn Textos relativamente curtos.
Estrutura do editorial O gênero editorial, comumente, é curto e conciso. Então, atente-se às funções que você deve desempenhar em cada parte do texto para que o seu editorial cumpra, de forma objetiva, o seu papel: nn Introdução:
D18 Editorial
Fonte: shutterstock.com/Por George Rudy
parte em que o assunto é identificado, ou seja, apresenta a ideia central; nn Desenvolvimento: parte em que o tema é problematizado e fundamenta-se o ponto de vista do periódico por meio de dados estatísticos, citações, exemplos, comparações, depoimentos etc.; nn Conclusão: parte em que o autor pode apresentar soluções para o problema ou fazer uma síntese do que foi discutido, instigando a reflexão crítica em seus leitores.
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O editorial, portanto, é escrito porque o jornal ou revista tem uma motivação para a produção do texto: algum fato, que desencadeará reflexões e posicionamentos a serem fundamentados. É válido ressaltar que esse posicionamento não é a opinião do chefe editorial, pois ele não escreve e defende pontos de vista pela perspectiva dele, mas, sim, representa toda a equipe de redação que compõe o periódico em questão. Esse gênero, por estar inserido no meio jornalístico, não se restringe a alguns poucos assuntos. Todo e qualquer tema é conteúdo para produção de um editorial: política, cultura, economia, meio ambiente, religião etc. Os editoriais, portanto, são textos que apresentam discussões, sob o ponto de vista do meio de comunicação, em relação a fatos, principalmente atuais, relevantes, nacionais e internacionais.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A metalinguagem no editorial A metalinguagem é um recurso presente nesse gênero, isto é, há marcas no texto que fazem referência ao próprio meio de comunicação que é suporte para o editorial. Leia a seguir um exemplo extraído da Folha da região, em 25 de janeiro de 2016: “A região de Araçatuba sai na frente e abre caminho para um debate de interesse nacional ao discutir e aprovar mecanismos que ampliam a exigência de “ficha limpa” para a ocupação de cargos públicos e acomodação de apadrinhados. Reportagem publicada hoje pela Folha da Região revela que a Câmara de Lins acaba de aprovar lei estendendo a abrangência para o preenchimento de cargos de confiança na administração municipal.” Note que é também função do editorial apresentar, ou pelo menos citar, os textos do meio de comunicação.
Exemplo Reportagem na página 12 desta edição mostra que a área de unidades de conservação devastada pelo fogo, se medida em hectares, supera o que foi atingido pelas chamas em 2015 e no ano passado. Certamente, o tempo seco, agravado pelo curso dos dias sem chuvas, que se soma às dezenas, contribui para este cenário calorosamente indesejado. Mas especialistas apontam um fato humano que ultrapassa a questão climática. E é aí que todos devemos refletir de forma permanente. Há, segundo eles, falta de uma política de prevenção à prática e também a falta de conscientização ambiental.
Leia com atenção este parágrafo e atente-se para as seguintes características do editorial: nn Citar os textos do meio de comunicação: “Reportagem na página 12 desta edição mostra que...”. nn Apresentar uma problemática: “área de unidades de conservação devastada pelo fogo”. nn Usar linguagem clara e precisa: “o tempo seco [...] contribui para este cenário calorosamente indesejado”. nn Expor uma opinião sob respaldo científico: “especialistas apontam um fato humano que ultrapassa a questão climática” e “falta de uma política de prevenção à prática e também a falta de conscientização ambiental”.
Dados do governo do Estado apontam que 8 das 13 unidades de conservação de proteção integral foram atingidas pelas chamas, dentre os quais os parques estaduais Altamiro de Moura Pacheco, na grande Goiânia, e o da Serra Dourada, na cidade de Goiás, que ilustra reportagem de capa. Nos primeiros dez dias de setembro foram identificados 1199 focos de queimadas nas áreas sob proteção no território de Goiás. Diante desta perspectiva, é imperioso que o poder público, sociedade civil organizada e o cidadão comum se atentem para um problema recorrente, que requer controle rígido para ser evitado.
Leia com atenção este parágrafo e atente-se para as seguintes características do editorial: nn Apresentar dados que confirmam a problemática: “8 das 13 unidades de conservação de proteção integral foram atingidas pelas chamas”. nn Citar o meio de comunicação: “que ilustra reportagem de capa”. nn Dar opinião e apresentar proposta de conscientização: “é imperioso que o poder público, sociedade civil organizada e o cidadão comum se atentem para um problema recorrente, que requer controle rígido para ser evitado”.
Fonte: Wikimedia commons
Leia a seguir um editorial do jornal O Popular:
D18 Editorial
Figura 01 - O desafio em meio à seca
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Português
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC)
naíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados… CUNHA, M. A. F. (Org.) . Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade do Natal. Natal: EdUFRN, 1998.
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 29 out. 2013 (adaptado).
D18 Editorial
Os meios de comunicação podem contribuir para a resolução de problemas sociais, entre os quais o da violência sexual infantil. Nesse sentido, a propaganda usa a metáfora do pesadelo para a) informar crianças vítimas de abuso sexual sobre os perigos dessa prática, contribuindo para erradicá-la. b) denunciar ocorrências de abuso sexual contra meninas, com o objetivo de colocar criminosos na cadeia. c) dar a devida dimensão do que é o abuso sexual para uma criança, enfatizando a importância da denúncia. d) destacar que a violência sexual infantil predomina durante a noite, o que requer maior cuidado dos responsáveis nesse período. e) chamar a atenção para o fato de o abuso infantil ocorrer durante o sono, sendo confundido por algumas crianças com um pesadelo. 02. (Enem MEC) eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto de Par-
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Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no qual se observa a frequente repetição de “né”. Essa repetição é um(a) a) índice de baixa escolaridade do falante. b) estratégia típica de manutenção da interação oral. c) marca de conexão lógica entre conteúdos na fala. d) manifestação característica da fala regional nordestina. e) recurso enfatizador da informação mais relevante da narrativa. 03. (Enem MEC) Blog é concebido como um espaço onde o blogueiro é livre para expressar e discutir o que quiser na atividade da sua escrita, com a escolha de imagens e sons que compõem o todo do texto veiculado pela internet, por meio dos posts. Assim, essa ferramenta deixa de ter como única função a exposição de vida e/ou rotina de alguém — como em um diário pessoal —, função para qual serviu inicialmente e que o popularizou, permitindo também que seja um espaço para a discussão de ideias, trocas e divulgação de informações A produção dos blogs requer uma relação de troca, que acaba unindo pessoas em torno de um ponto de interesse comum. A força dos blogs está em possibilitar que qualquer pessoa, sem nenhum conhecimento técnico, publique suas ideias e opiniões na web e que milhões de outras pessoas publiquem comentários sobre o que foi escrito, criando um grande debate aberto a todos. LOPES, B. O. A linguagem dos blogs e as redes sociais. Disponível em: www.fateczl.edu.br. Acesso em: 29 abr. 2013 (adaptado).
De acordo com o texto, o blog ultrapassou sua função inicial e vem se destacando como a) estratégia para estimular relações de amizade. b) espaço para exposição de opiniões e circulação de ideias. c) gênero discursivo substituto dos tradicionais diários pessoais.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
d) ferramenta para aperfeiçoamento da comunicação virtual escrita.
O texto introduz uma reportagem a respeito do futuro da televisão, destacando que as tecnologias a ela incorporadas serão
e) recurso para incentivar a ajuda mútua e a divulgação da roti-
responsáveis por a) estimular a substituição dos antigos aparelhos de TV.
na diária. 04. (Enem MEC) E se a água potável acabar? O que aconteceria se a água potável do mundo acabasse? As teorias mais pessimistas dizem que a água potável deve acabar logo, em 2050. Nesse ano, ninguém mais tomará banho todo dia. Chuveiro com água só duas vezes por semana. Se alguém exceder 55 litros de consumo (metade do que a ONU recomenda), seu abastecimento será interrompido. Nos merca-
b) contemplar os desejos individuais com recursos de ponta. c) transformar a televisão no principal meio de acesso às redes sociais. d) renovar técnicas de apresentação de programas e de captação de imagens. e) minimizar a importância dessa ferramenta como meio de comunicação de massa.
dos, não haveria carne, pois, se não há água para você, imagine
06. (Enem MEC)
para o gado. Gastam-se 43 mil litros de água para produzir 1 kg
TEXTO I
de carne. Mas, não é só ela que faltará. A Região Centro-Oeste
João Guedes, um dos assíduos frequentadores do boliche do
do Brasil, maior produtor de grãos da América Latina em 2012,
capitão, mudara-se da campanha havia três anos. Três anos de
não conseguiria manter a produção. Afinal, no país a agricultu-
pobreza na cidade bastaram para o degradar. Ao morrer, não
ra e a agropecuária são responsáveis por 70% do uso. Faltariam
tinha um vintém nos bolsos e fazia dois meses que saíra da ca-
arroz, feijão, soja, milho e outros grãos.
deia, onde estivera preso por roubo de ovelha.
Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 30 jul. 2012.
A história de sua desgraça se confunde com a da maioria dos
A língua portuguesa dispõe de vários recursos para indicar a
te, triste e precocemente envelhecida, situada nos confins da
atitude do falante em relação ao conteúdo de seu enunciado.
fronteira do Brasil com o Uruguai.
que povoam a aldeia de Boa Ventura, uma cidadezinha distan-
No início do texto, o verbo “dever” contribui para expressar
MARTINS, C. Porteira fechada. Porto Alegre: Movimento, 2001 (fragmento).
a) uma constatação sobre como as pessoas administram os reTEXTO II
cursos hídricos. b) a habilidade das comunidades em lidar com problemas ambientais contemporâneos.
Comecei a procurar emprego, já topando o que desse e viesse, menos complicação com os homens, mas não tava fácil. Fui na
c) a capacidade humana de substituir recursos naturais renováveis.
feira, fui nos bancos de sangue, fui nesses lugares que sempre dão para descolar algum, fui de porta em porta me oferecendo
d) uma previsão trágica a respeito das fontes de água potável.
de faxineiro, mas tava todo mundo escabreado pedindo refe-
e) uma situação ficcional com base na realidade ambiental bra-
rências, e referências eu só tinha do diretor do presídio.
sileira. 05. (Enem MEC)
Disponível em: http://info.abril.com.br. Acesso em: 9 maio 2013 (adaptado)
A oposição entre campo e cidade esteve entre as temáticas tradicionais da literatura brasileira. Nos fragmentos dos dois autores contemporâneos, esse embate incorpora um elemento novo: a questão da violência e do desemprego. As narrativas apresentam confluência, pois nelas o(a) a) criminalidade é algo inerente ao ser humano, que sucumbe a suas manifestações. b) meio urbano, especialmente o das grandes cidades, estimula uma vida mais violenta. c) falta de oportunidades na cidade dialoga com a pobreza do campo rumo à criminalidade. d) êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da violência nas grandes cidades. e) complacência das leis e a inércia das personagens são estímulos à prática criminosa.
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FONSECA, R. Feliz Ano Novo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (fragmento).
Português
Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) João Antônio de Barros (Jota Barros) nasceu aos 24 de junho de 1935, em Glória de Goitá (PE). Marceneiro, entalhador, xilógrafo, poeta repentista e escritor de literatura de cordel, já publicou 33 folhetos e ainda tem vários inéditos. Reside em São Paulo desde 1973, vivendo exclusivamente da venda de livretos de cordel e das cantigas de improviso, ao som da viola. Grande divulgador da poesia popular nordestina no Sul, tem dado frequentemente entrevistas à imprensa paulista sobre o assunto. EVARISTO, M. C. O cordel em sala de aula. In: BRANDÃO, H. N. (Coord.). Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político, Divulgação científica. São Paulo: Cortez, 2000.
A biografia é um gênero textual que descreve a trajetória de determinado indivíduo, evidenciando sua singularidade, No caso específico de uma biografia como a de João Antônio de Barros, um dos principais elementos que a constitui é a) a estilização dos eventos reais de sua vida, para que o relato biográfico surta os efeitos desejados. b) o relato de eventos de sua vida em perspectiva histórica, que valorize seu percurso artístico. c) a narração de eventos de sua vida que demonstrem a qualidade de sua obra. d) uma retórica que enfatize alguns eventos da vida exemplar da pessoa biografada. e) uma exposição de eventos de sua vida que mescle objetividade e construção ficcional. 02. (Enem MEC) Riscar o chão para sair pulando é uma brincadeira que vem dos tempos do Império Romano. A amarelinha original tinha mais de cem metros e era usada como treinamento militar. As crianças romanas, então, fizeram imitações reduzidas do campo utilizado pelos soldados e acrescentaram numeração nos quadrados que deveriam ser pulados. Hoje as amarelinhas variam nos formatos geométricos e na quantidade de casas. As palavras “céu” e “inferno” podem ser escritas no começo e no final do desenho, que é marcado no chão com giz, tinta ou graveto. Disponível em: www.biblioteca.ajes.edu.br. Acesso em: 20 maio 2015 (adaptado).
D18 Editorial
Com base em fatos históricos, o texto retrata o processo de adaptação pelo qual passou um tipo de brincadeira. Nesse sentido, conclui-se que as brincadeiras comportam o(a) a) caráter competitivo que se assemelha às suas origens. b) delimitação de regras que se perpetuam com o tempo. c) definição antecipada do número de grupos participantes. d) objetivo de aperfeiçoamento físico daqueles que a praticam. e) possibilidade de reinvenção no contexto em que é realizada.
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03. (Enem MEC) Por que as formigas não morrem quando postas em forno de micro-ondas? As micro-ondas são ondas eletromagnéticas com frequência muito alta. Elas causam vibração nas moléculas de água, e é isso que aquece a comida. Se o prato estiver seco, sua temperatura não se altera. Da mesma maneira, se as formigas tiverem pouca água em seu corpo, podem sair incólumes. Já um ser humano não se sairia tão bem quanto esses insetos dentro de um forno de micro-ondas superdimensionado: a água que compõe 70% do seu corpo aqueceria. Micro-ondas de baixa intensidade, porém, estão por toda a parte, oriundas da telefonia celular, mas não há comprovação de que causem problemas para a população humana. OKUNO, E. Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 11 dez. 2013.
Os textos constroem-se com recursos linguísticos que materializam diferentes propósitos comunicativos. Ao responder à pergunta que dá título ao texto, o autor tem como objetivo principal a) defender o ponto de vista de que as ondas eletromagnéticas são inofensivas. b) divulgar resultados de recentes pesquisas científicas para a sociedade. c) apresentar informações acerca das ondas eletromagnéticas e de seu uso. d) alertar o leitor sobre os riscos de usar as micro-ondas em seu dia a dia. e) apontar diferenças fisiológicas entre formigas e seres humanos. 04. (Enem MEC) O boxe está perdendo cada vez mais espaço para um fenômeno relativamente recente do esporte, o MMA. É o maior evento de Artes Marciais Mistas do planeta é o Ultimate Fighting Championship, ou simplesmente UFC. O ringue, com oito cantos, foi desenhado para deixar os lutadores com mais espaço para as lutas. Os atletas podem usar as mãos e aplicar golpes de jiu-jitsu. Muitos podem falar que a modalidade é uma espécie de vale tudo, mas isso já ficou no passado: agora, a modalidade tem regras e acompanhamento médico obrigatório para que o esporte apague o estigma negativo. CORREIA,D. UFC: saiba como o MMA nocauteou o boxe em oito golpes. Veja, 10 jun. 2011 (fragmento).
O processo de modificação das regras do MMA retrata a tendência de redimensionamento de algumas práticas corporais, visando enquadrá-las em um determinado formato. Qual o sentido atribuído a essas transformações incorporadas historicamente ao MMA?
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a) A modificação das regras buscou associar valores lúdicos ao MMA, possibilitando a participação de diferentes populações como atividade de lazer. b) As transformações do MMA aumentam o grau de violência das lutas, favorecendo a busca de emoções mais fortes tanto aos competidores como ao público. c) As mudanças de regras do MMA atendem à necessidade de tornar a modalidade menos violenta, visando sua introdução nas academias de ginástica na dimensão da saúde. d) As modificações incorporadas ao MMA têm por finalidade aprimorar as técnicas das diferentes artes marciais, favorecendo o desenvolvimento da modalidade enquanto defesa pessoal. e) As transformações do MMA visam delimitar a violência das lutas, preservando a integridade dos atletas e enquadrando a modalidade no formato do esporte de espetáculo.
06. (Enem MEC) TEXTO I Seis estados zeram fila de espera para transplante da córnea Seis estados brasileiros aproveitaram o aumento no número de doadores e de transplantes feitos no primeiro semestre de 2012 no país e entraram para uma lista privilegiada: a de não ter mais pacientes esperando por uma córnea. Até julho desse ano, Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo eliminaram a lista de espera no transplante de córneas, de acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, no Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos. Em 2011, só São Paulo e Rio Grande do Norte conseguiram zerar essa fila. TEXTO II
05. (Enem MEC) Uso de suplementos alimentares por adolescentes Evidências médicas sugerem que a suplementação alimentar pode ser benéfica para um pequeno grupo de pessoas, aí incluídos atletas competitivos, cuja dieta não seja balanceada. Tem-se observado que adolescentes envolvidos em atividade física ou atlética estão usando cada vez mais tais suplementos. A prevalência desse uso varia entre os tipos de esportes, aspectos culturais, faixas etárias (mais comum em adolescentes) e sexo (maior prevalência em homens). Poucos estudos se referem a frequência, tipo e quantidade de suplementos usados, mas parece ser comum que as doses recomendadas sejam excedidas. A mídia é um dos importantes estímulos ao uso de suplementos alimentares ao veicular, por exemplo, o mito do corpo ideal. Em 2001, a indústria de suplementos alimentares investiu globalmente US$ 46 bilhões em propaganda, como meio de persuadir potenciais consumidores a adquirir seus produtos. Na adolescência, período de autoafirmação, muitos deles não medem esforços para atingir tal objetivo. Sobre a associação entre a prática de atividades físicas e o uso de suplementos alimentares, o texto informa que a ingestão desses suplementos a) é indispensável para as pessoas que fazem atividades físicas regularmente. b) é estimulada pela indústria voltada para adolescentes que buscam um corpo ideal. c) é indicada para atividades físicas como a musculação com fins de promoção da saúde. d) direciona-se para adolescentes com distúrbios metabólicos e que praticam atividades físicas. e) melhora a saúde do indivíduo que não tem uma dieta balanceada e nem pratica atividades físicas.
Disponível em: http://noticias.uol.com.br. Acesso em: 11 ago. 2013 (adaptado).
A notícia e o cartaz abordam a questão da doação de órgãos. Ao relacionar os dois textos, observa-se que o cartaz é a) contraditório, pois a notícia informa que o país superou a necessidade de doação de órgãos. b) complementar, pois a notícia diz que a doação de órgãos cresceu e o cartaz solicita doações. c) redundante, pois a notícia e o cartaz têm a intenção de influenciar as oessias a doarem seus órgãos. d) indispensável, pois a notícia fica incompleta sem o cartaz, que apela para a sensibilidade das pessoas. e) discordante, pois ambos os textos apresentam posições distintas sobre a necessidade de doação de órgãos.
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D18 Editorial
ALVES, C.; LIMA, R. J. Pediatr. v.85, n.4, 2009 (fragmento).
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D19
ASSUNTOS ABORDADOS nn Dissertação argumentativa:
Enem I
nn Competências e habilidades nn Projeto de texto
DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA: ENEM I Competências e habilidades A prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) exige certas competências e habilidades para que o estudante alcance a nota máxima nessa avaliação. A redação deve ser escrita em até trinta linhas (contando com o título, que, lembrando, é opcional) e ser do gênero dissertativo-argumentativo. Veja abaixo as cinco competências: Competência I – Demonstrar domínio da norma culta da língua escrita A primeira competência está relacionada ao domínio da gramática e da estética textual. O estudante deve redigir e aplicar a norma-padrão da língua portuguesa. Nessa competência, serão analisados os conhecimentos sobre todas as regras gramaticais, entre elas, ortografia, regência e, concordância verbo-nominais e semântica. O que será avaliado? entre a modalidade oral e escrita; nn Atenção à ortografia e às regras gramaticais; nn Estética geral do texto e o respeito ao número de linhas; nn Ausência de marcas da oralidade; nn Precisão vocabular; nn Colocação das letras maiúsculas e minúsculas; nn Divisão silábica na mudança de linha (translineação).
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nn Diferença
Competência II – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo A segunda competência da redação do Enem é a compreensão da proposta. O estudante deve entender o tema a ser desenvolvido, organizar as ideias e aplicá-las em um texto. Para isso, é importante ler o tema cuidadosamente, para relacioná-lo a outras áreas do conhecimento e demonstrar que você sabe o que é um texto dissertativo. O que será avaliado? nn Compressão
da proposta: não ignore os textos motivadores, mas evite ficar preso a eles e nunca os copie. nn Articulação com conhecimento sobre outras áreas, como: literatura, biologia, cinema, biotecnologia, entre outras; nn Capacidade de estruturação do texto dissertativo.
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Competência III – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista A terceira competência avalia se a argumentação do candidato, se ela é feita com base em fatos concretos para defender um ponto de vista. Tudo que é escrito na redação do Enem precisa estar fundamentado em algo verdadeiramente comprovado e real. O estudante pode usar dados estatísticos, analogias, metáforas (comparações), fatores como causa e consequência, enumerações e citações. O que será avaliado? nn Progressão
qualitativa (relação de sentido entre as partes do texto); nn Ordem lógica entre as ideias apresentadas; nn Coerência: adequação entre o conteúdo do texto e o mundo real; nn Encadeamento de ideias: cada parágrafo apresenta informações novas, coerentes com o que foi apresentado anteriormente, sem repetições ou saltos temáticos.
O que será avaliado? nn Estruturação
dos parágrafos: em um texto dissertativo-argumentativo, o parágrafo é formado por uma ideia principal à qual se ligam as ideias secundárias; nn Estruturação dos períodos: os períodos de um texto dissertativo são, normalmente, estruturados de modo complexo, formados por duas ou mais orações, para que se possam expressar as ideias de causa/consequência, contradição, temporalidade, comparação, conclusão, entre outras; nn Uso de referências: lugares, pessoas, coisas, dados, informações e fatos que são introduzidos devem ser retomados, à medida que o texto vai progredindo. As referências podem ser expressas por meio de pronomes, advérbios e artigos.
D19 Dissertação argumentativa: Enem I
Nessa competência, será avaliada a coesão do texto. Como, na redação do Enem, é exigido um texto dissertativo-argumentativo, as ideias precisam, além de serem sólidas, estar articuladas e organizadas por meios de parágrafos bem elaborados. A utilização de conectores (conjunções) deve ser explícita, ligando os argumentos e parágrafos, evitando repetições.
Fonte: shutterstock / Por Catalin Petolea
Competência IV – Demonstrar conhecimento e repertório dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação
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Português
Competência V – Elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respeito aos valores humanos e considerando a diversidade sociocultural Nessa competência, é exigida do estudante a elaboração de uma proposta de intervenção social para a problemática em pauta. Por ser a parte mais importante da redação do Enem, o parágrafo de conclusão é aquele que o corretor avalia mais criteriosamente. Desse modo este é o parágrafo em que os alunos mais possuem dificuldade. A proposta de intervenção deve ser detalhada de modo a permitir ao leitor o julgamento sobre sua exequibilidade, portanto, deve conter a exposição da intervenção sugerida e o detalhamento dos meios para realizá-la. Além disso, é preciso considerar os pontos abordados durante o desenvolvimento do texto e manter coerência com os argumentos utilizados. O que será avaliado? de proposta, que se constitui de: o que deve ser feito, como deve ser feito, por quem deve ser feito e as consequências que essa medida trará para a sociedade; nn Detalhamento dos meios para realização da solução proposta; nn Possibilidade de ser executada: a solução que eu apresento é viável? nn Respeito aos Direitos Humanos: a intervenção não pode ferir valores como cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural. nn Presença
Projeto de texto Entre todas as dificuldades dos estudantes que prestam o Enem, o tempo é sempre o maior obstáculo. Muitos candidatos se atrapalham na hora de escrever a redação, acabam perdendo muito tempo para conseguir estruturar o texto, organizar as ideias, escrever, reler e, enfim, passá-lo a limpo. Nesse momento, é preciso que você, estudante, tenha uma estratégia para economizar tempo e fazer toda a prova com tranquilidade. Para isso, aqui vai uma dica de estratégia fundamental: faça um projeto de texto. O que é projeto de texto? O projeto de texto consiste em um balanço geral das ideias que você teve ao ler a proposta de redação e os textos motivadores. É o momento que você vai organizar as partes de seu texto por tópicos, os quais devem guiá-lo na hora de escrever a redação. Será como um passo a passo, que você deve seguir à medida que escreve sua redação. Assim, você não perde tempo nem se atrapalha com a organização de suas ideias. O projeto de texto de uma redação do Enem é composto de, basicamente, seis etapas:
D19 Dissertação argumentativa: Enem I
1) Tese: aqui, após ler a proposta de redação, você deve escrever sua opinião. É a parte mais importante, pois, a partir da tese, se seguirão os argumentos que comporão o seu texto. 2) Repertório sociocultural: trata-se de uma habilidade exigida pelo Enem, a qual se constitui em trazer informações de outras áreas do conhecimento. Essas informações devem se articular com o tema. 3) Argumento I: é o primeiro parágrafo de argumentação. Aqui você, estudante, deve organizar os seus argumentos e listá-los de maneira que, no texto, você os desenvolva. Tais argumentos devem reforçar o que foi escrito na tese. 4) Argumento II ou contra-argumento: é o segundo parágrafo de argumentação, o qual, junto ao parágrafo anterior, compõe o seu desenvolvimento. Nele, podem-se conter mais argumentos que reafirmem a sua tese, ou também, a desconstrução de argumentos contrários à sua ideia, isto é, a contra-argumentação. 5) Síntese: agora você já está finalizando o seu texto, e no início do parágrafo de conclusão você deve, sucintamente, retomar a sua tese. Nessa parte do texto, você deve ser bem sintético. 6) Proposta de intervenção: no restante do parágrafo de conclusão, você deve organizar a proposta de intervenção para solucionar a problemática levantada no início de sua redação. É a parte mais delicada do texto. 692
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Exercícios de Fixação
Seus estudos recentes comprovam uma forte relação entre educação e crescimento econômico. Com o Brasil nas últimas colocações em rankings internacionais de ensino, o que se pode dizer sobre a economia? Com esse desempenho, as chances de o Brasil crescer em ritmo chinês e se tornar mais competitivo no cenário internacional são mínimas. Digo isso baseado nos números que reuni ao longo das últimas décadas. Eles mostram que avanços na sala de aula têm peso decisivo para a evolução dos indicadores econômicos de um país. Olhe o caso brasileiro. Se as notas dos estudantes subissem apenas 15% nas avaliações, o Brasil somaria, a cada ano, meio ponto porcentual às suas taxas de crescimento. Isso significaria, hoje, avançar em um ritmo 10% maior. Vale observar que o que impulsiona a economia é a qualidade da educação, e não a quantidade de alunos na escola. O Brasil colocou 97% das crianças na sala de aula. Isso não tem impacto na economia? A massificação do ensino, por si só, tem pouco efeito — e a matemática não deixa dúvida quanto a isso. Os dados mostram que a influência da educação passa a ser decisiva apenas quando ela é de bom nível. Aí, sim, consegue empurrar os indivíduos e a economia. A relação é simples. Países capazes de proporcionar bom ensino a muita gente ao mesmo tempo elevam rapidamente o padrão de sua força de trabalho. Quando uma população atinge alta capacidade de raciocínio e síntese, torna-se naturalmente mais produtiva e capaz de criar riquezas para o país. Nesse sentido, a posição do Brasil é desvantajosa. Faltam aos alunos habilidades cognitivas básicas, e isso funciona como um freio de mão para o crescimento. Esse cenário, que já era preocupante décadas atrás, agora é ainda mais nocivo. Na comemoração de seus 40 anos, a mesma revista Veja promoveu o seminário “O Brasil que queremos ser”, no qual foi abordado, entre outros, o seguinte tema: “Educação com qualidade: os caminhos da produtividade e da prosperidade”. PROPOSTA: Reportando-se a suas ideias e informações acerca do assunto, desenvolva uma dissertação apresentando, do seu ponto de vista, o Brasil que queremos ser, com foco na relação entre educação, produtividade e prosperidade.
02. (UERGS RS) A seguir são apresentados três temas que devem ser analisados atentamente. Para cada um deles, há um texto de apoio que traz algumas informações a respeito do assunto. Você deverá escolher apenas um deles e elaborar um texto dissertativo com extensão mínima de 25 linhas e máxima de 30, expondo suas ideias sobre o tema escolhido. TEMA 1 – A teoria da evolução e a vida atual Charles Darwin, o tão conhecido naturalista, nasceu na Inglaterra em 1809 e foi o responsável pela publicação da Teoria da Evolução. Um dos marcos mais importantes da sua história foi a viagem a bordo do navio Beagle, quando visitou diversas regiões do globo terrestre e pôde perceber uma interessante relação entre fósseis e espécies viventes na época, bem como mecanismos de adaptação de espécies relacionados ao ambiente e ao modo de vida destes. Observou emas e avestruzes, espécies que, apesar da semelhança, ocupam regiões geográficas distintas; os tentilhões de Galápagos, com bicos adaptados aos tipos alimentícios; as tartarugas gigantes do mesmo arquipélago, com detalhes no casco característicos para indivíduos de cada ilha, além de outros animais. (Adaptado de www.brasilescola.com/biologia/charles-darwin.htm )
A partir de muita observação, estudo e experiência, Darwin formulou a sua teoria da seleção natural, e, em consequência, a da evolução. Hoje, no entanto, parece que a humanidade está retrocedendo, visto que a cada dia somos bombardeados com notícias catastróficas, sejam elas relacionadas às cobranças da natureza – furacões, chuvas torrenciais, degelos –, sejam elas relacionadas às ações do próprio homem – guerras, violência urbana, crises financeiras. É a natureza cobrando, é o homem destruindo. Instrução: No ano de 2009, comemoramos os duzentos anos de nascimento daquele cientista que dedicou a vida às pesquisas acerca da evolução das espécies, formulando a teoria da seleção natural. Pensando nisso e considerando a realidade com a qual convivemos, elabore um texto dissertativo, refletindo acerca da seguinte questão: Se hoje você fosse formular uma teoria a respeito do comportamento do homem, que aspectos seriam considerados relevantes? TEMA 2 – Reforma ortográfica O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990 pelos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, entrou em vigor no Brasil no dia 1º de janeiro de 2009. Entretanto, o uso da grafia antiga – em livros e outros publicações, em vestibulares, provas e concursos
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01. (UFABC SP) Leia o texto de parte da entrevista concedida pelo economista Erick Hanushek à revista Veja, edição de 17 de setembro de 2008; esse texto pode fornecer subsídios ao desenvolvimento do tema de sua redação.
Português
públicos – está liberado até 2012. Calcula-se que cerca de 2 mil palavras sofrerão alteração – em torno de 0,5% do total. “É importante ressaltar, também, que o acordo não interfere na língua falada. Cada uma das nações de Língua Portuguesa mantém seus padrões de entonação e pronúncia. Essa diversidade de sotaques não será abalada. Por isso a adaptação não deve ser difícil para quem escreve com frequência”, afirma Irandé Antunes da Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Estadual do Ceará. (In Nova Escola, fev./2009)
Instrução: O objetivo do Acordo Ortográfico assinado entre países de Língua Portuguesa é unificar o vocabulário ortográfico, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível (Art. 2º - Acordo Ortográfico). Levando em conta esse objetivo, elabore um texto, apresentando seu posicionamento acerca do tema proposto, apontando benefícios ou prejuízos que, a seu ver, decorrerão dessa mudança. TEMA 3 – Benditos os que podem viver hoje para recordar amanhã. “Se eu tivesse que aconselhar os jovens, iria impeli-los a viver tudo o que podem, a amar, a divertir-se, a entreter-se em camaradagens, a impregnarem-se de aspirações, a sorver dia a dia, quanto mais o consigam, a vida em todas as suas delícias, senão pelo gozo do usufruto, quanto mais para que desfrutem mais tarde da riqueza das recordações. [...] Nunca mais voltarão os esperançados fins de tarde de sábado, quando tudo até a madrugada poderia acontecer. Só pode ser feliz quem tiver aptidão para tal. Os jovens, por exemplo, mas só enquanto forem aptos. Depois que realizarem seu sonho, tendem a ser menos felizes e mais incompletos. O que é imprescindível é que nunca se deixe de ter ânsias. A tolice consiste em saciar-se dos desejos e dos sonhos, daí que perde o sentido a vida quando a gente se encontra com o futuro. Por isso é que, quando a vida se oferece inteira para nós, temos de vivê-la de maneira a que nunca nos esqueçamos do que estamos fazendo com ela. É preciso que se viva de modo que tenhamos orgulho bem mais tarde do jeito que vivemos.” D19 Dissertação argumentativa: Enem I
(Vida vivida, Paulo Sant’Anna, Jornal Zero Hora, 16-11-2008)
“Extravasa Libera e joga tudo pro ar Eu quero ser feliz antes de mais nada Extravasa Libera e joga tudo pro ar, pro ar, pro ar, pro ar”. (trecho da música cantada por Cláudia Leite)
Instrução: A partir dos textos acima, elabore uma dissertação a respeito da seguinte questão: Considerando o contexto social em que vivemos, é possível “jogar tudo pro ar” sem que o nosso futuro seja comprometido? 694
03. (Mackenzie SP) Redija uma dissertação a tinta, desenvolvendo um tema comum aos textos abaixo. Texto I Com 240 mil veículos a mais nas ruas de São Paulo nos últimos seis meses, que se uniram a uma frota de seis milhões, o carro é cada vez mais um pesadelo no qual os paulistanos se vêem imersos diariamente. Parado nos congestionamentos ou na disputa inglória por uma vaga livre para estacionar, o automóvel virou um trambolho que coloca em xeque a própria sobrevivência da metrópole. Adaptado de Gustavo Fioratti
Texto II São Paulo é uma das 32 cidades brasileiras que participam do Dia Mundial Sem Carro. O objetivo dos organizadores é que as pessoas deixem o carro em casa e usem o transporte público por um dia, para refletir sobre os prejuízos que o excesso de automóveis traz ao meio ambiente e sobre alternativas para a mobilidade urbana. Adaptado de Folha de S.Paulo
Texto III O Brasil chega ao final de 1960 com uma população de 65 755 000 habitantes e um total de 321 150 veículos produzidos desde o início da implantação do parque industrial automotivo. Mais de 90% das indústrias de autopeças foram instaladas na Grande São Paulo. E foi no Estado de São Paulo que ficou instalado o maior parque industrial da América Latina, dando um importante impulso para o rápido crescimento econômico paulista. A revolução automotiva da década de 1950 trouxe ao Estado paulista tecnologia de ponta, empregos, desenvolvimento industrial e uma nova relação de capital-trabalho, com o crescimento e fortalecimento dos sindicatos de classes. Hoje, o Estado produz mais de um milhão de veículos por ano. www.investimentos.sp.gov.br
Texto IV “Vendi meu carro! Não suporto o trânsito”, dispara a publicitária Yeda Timerman. A história de ódio começou em 2004, quando Yeda ficou presa em um congestionamento na zona sul de São Paulo e teve uma crise de pânico. “Comecei a sentir falta de ar, secura na boca, o cinto de segurança me sufocava”, lembra a publicitária, que teve de descer do automóvel e pedir ajuda na primeira loja que viu. O peculiar, no caso de Yeda, é que ela só tem as crises de pânico nas situações em que está dentro de um carro, parada por causa do famoso “excesso de veículos”. Adaptado de Iara Biderman
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Exercícios Complementares Kaufman, J. S., “How Inconsistencies in Racial Classification Demystify The Race Construct in Public Health Statistics”. Em: Epidemiology, 10:108-11, 1999. 1
01. (Unisc RS) Quem é o homem brasileiro? Um Brasil ou muitos “Brasis”. O que nos identifica, o que nos torna uma nação com promessas de um futuro melhor, ou com indesejáveis sinais de que continuaremos sendo uma sociedade desigual e culturalmente pobre? Problematize esse tema, construindo um texto argumentativo, no qual você deve destacar, essencialmente, a questão da identidade do brasileiro e sua diversidade, os potenciais naturais e humanos que temos para sermos uma grande nação ainda neste século, bem como as mazelas que ameaçam essa mudança tão desejada. 02. (Unisc RS) Na sociedade contemporânea, o homem passou a ser mais uma peça de uma grande engrenagem que não pode parar. Em Tempos Modernos, a memorável personagem de Chapplin funcionava como uma previsão do devir. Para onde caminha, então, a humanidade? Parafraseando um grande escritor. Trata-se de uma temática instigante e desafiadora. Olhar para o futuro nos assusta. O desconhecido pode ser surpreendentemente positivo ou negativo. Produza um texto argumentativo, explorando essa temática. Você pode optar por uma abordagem a partir de um ponto de vista pessoal ou social. 03. (Unisc RS) No texto Humanidade Sem-Raças?, p. 3, o autor empregou a expressão “qualidades humanas e singulares que determinam uma individualidade existencial”. Quais seriam essas características que determinam nossa individualidade? Qualidades humanas e singulares não seriam traços comuns a todos os indivíduos? Aborde esse tema, elaborando um texto argumentativo, desenvolvendo a relação estabelecida entre os conteúdos enunciados. 04. (Unifor CE) a) Leia com atenção o texto abaixo. Os shopping centers, desde que se propagaram por todas as cidades de algum porte, trouxeram consigo um novo estilo de vida, sobretudo para os jovens, que acorrem a esses centros comerciais para assistir a um filme, para namorar, para dançar, para conversar, para comer e beber, para se agrupar em “tribos”, para ouvir música. A iluminação artificial em pleno dia, o ambiente fechado e controlado, o rígido esquema da segurança, as vias de
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Textos comuns às questões 01, 02 e 03 A Bíblia nos apresenta os Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Morte, Guerra, Fome e Peste. Com os conflitos na Irlanda do Norte, em Ruanda e nos Bálcãs, no fim do século passado, e, após o 11 de Setembro, com a invasão do Afeganistão e do Iraque e os conflitos de Darfur no início do século 21, temos de adicionar quatro novos cavaleiros: Racismo, Xenofobia, Ódio Étnico e Intolerância Religiosa. Vamos examinar um desses: o racismo, com o seu principal comparsa, a crença na existência de “raças humanas”. Proponho demonstrar que as raças humanas são apenas produto da nossa imaginação cultural. Como disse o epidemiologista americano Jay S. Kaufman, as raças não existem em nossa mente porque são reais, mas são reais porque existem em nossa mente1. Acredito que a palavra raça deveria ser sempre escrita entre aspas. Como isso comprometeria demais a apresentação do texto, serão omitidas aqui, mas gostaria de sugerir que o leitor as mantivesse, imaginariamente, a cada ocorrência do termo. No passado, a crença de que as raças humanas possuíam diferenças biológicas substanciais e bem-demarcadas contribuiu para justificar discriminação, exploração e atrocidades. Ao longo dos tempos, esse infeliz conceito integrou-se à trama da nossa sociedade, sem que sua adequação ou veracidade tenham sido suficientemente questionadas. Perversamente, o conceito tem sido usado não só para sistematizar e estudar as populações humanas, mas também para criar esquemas classificatórios que parecem justificar o status quo e a dominação de alguns grupos sobre outros. Assim, a sobrevivência da ideia de raça é deletéria por estar ligada à crença continuada de que os grupos humanos existem em uma escala de valor. Essa persistência é tóxica, contaminando e enfraquecendo a sociedade como um todo. Parece existir uma noção generalizada de que o conceito de raças humanas e sua indesejável consequência, o racismo, são tão velhos como a humanidade. Há mesmo quem pense neles como parte essencial da “natureza humana”. Isso não é verdade. Pelo contrário, as raças e o racismo são uma invenção recente na história da humanidade. Como é possível que o fato de possuir ancestrais na África faça o todo de uma pessoa ser diferente de quem tem ancestrais na Ásia ou na Europa? O que têm a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver com as qualidades humanas singulares que determinam uma individualidade existencial? Tratar um indivíduo com base na cor da sua pele ou na sua aparência física é claramente errado, pois alicerça toda a relação em algo que é moralmente irrelevante com respeito ao caráter ou às ações daquela pessoa. * Texto Adaptado a partir da introdução do livro de mesmo nome.
Português
acesso congestionadas, os preços altos, nada disso parece desanimar os usuários; é possível, mesmo, que constituam parte da atração. Paraíso do consumismo, o shopping center é uma instituição altamente reveladora do tempo em que vivemos. b) Com base no texto acima, redija uma dissertação, na qual você deverá desenvolver, de forma clara e coerente, seu ponto de vista sobre a seguinte questão: Centros de consumo: centros da vida? c) Sua redação deverá ter no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, considerando-se letra de tamanho regular. 05. (Unesp SP) Depois daquele beijo
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Fábio Cordeiro, 27 anos, seis de profissão, é um paparazzo que pelo menos três vezes por semana frequenta a praia do Leblon em busca de celebridades para fotografar. O Rio de Janeiro é uma espécie de Hollywood brasileira, em parte por abrigar os artistas da Rede Globo, só que com belas praias, o que deixa as pessoas naturalmente mais expostas. Naquela sexta-feira 25 de fevereiro, Cordeiro não precisou esperar muito – às vezes faz plantão de até oito horas. Uma babá deu a dica. Chico (Buarque de Hollanda) estava na área e ela também queria fotografá-lo. Ele ficou observando o cantor tirar o tênis, cumprimentar uma moça e ir para o mar. Logo em seguida, a moça mergulhou, eles conversaram, se abraçaram, se beijaram e saíram da água de mãos dadas. E o fotógrafo registrou tudo. “Invasão de privacidade é quando você tem que vencer um obstáculo ou entrar em propriedade privada.” Ao lado de Cordeiro há opiniões de peso. Edson Vidigal, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), diz que, realmente, o fato de uma pessoa pública ser fotografada em local público não caracteriza invasão de privacidade. Ele cita o Carnaval de 1994, em que a modelo Lílian Ramos foi fotografada sem calcinha ao lado do presidente Itamar Franco. Vidigal adverte que fotos tiradas por cima de muros, com teleobjetivas, estas, sim, são claras violações de privacidade. Antônio Carlos de Almeida Castro, um dos mais conhecidos advogados de Brasília, lembra que não há diferenças entre pessoas famosas e desconhecidas em lugares públicos. “Se um casal é flagrado junto num jogo de futebol, e outros não poderiam saber, trata-se de uma infelicidade, e não de violação de privacidade.” (Isto É, 16.03.2005)
Sob o olhar do Twitter Um serviço global de mensagens rápidas desafia os hábitos de comunicação e reinventa o conceito de privacidade Ivan Martins e Renata Leal
Vivemos a era da exposição e do compartilhamento. Público e privado começam a se confundir. A ideia de privacidade vai mudar ou desaparecer. O trecho acima tem 140 caracteres exatos. É uma mensagem curta que tenta encapsular uma ideia complexa. Não é fácil esse 696
tipo de síntese, mas dezenas de milhões de pessoas o praticam diariamente. No mundo todo são disparados 2,4 trilhões de SMS por mês, e neles cabem 140 toques ou pouco mais. Também é comum enviar e-mails, deixar recados no Orkut, falar com as pessoas pelo MSN, tagarelar no celular, receber chamados em qualquer parte, a qualquer hora. Estamos conectados. Superconectados, na verdade, de várias formas. Há 1,57 bilhão de pessoas que usam a internet e 3,3 bilhões com celulares – e as duas redes estão se fundindo. Há uma nova sintaxe em construção, a das mensagens. Práticas da internet migraram para o mundo do celular e coisas do mundo do celular invadiram a rede de computadores. A difusão de informação digital iniciada pela web em 1995 está se aprofundando e traz com ela mudanças radicais de costumes. As pessoas não param de falar e não querem parar de receber. Elas querem se exibir e querem ver. Tudo. O mais recente exemplo da demanda total por conexão e de uma nova sintaxe social é o Twitter, o novo serviço de troca de mensagens pela internet. Criado em 2006, decolou no ano passado e já tem 6 milhões de usuários no mundo. O Twitter pode ser entendido como uma mistura de blog e celular. As mensagens são de 140 toques, como os torpedos dos celulares, mas circulam pela internet como os textos de blogs. Em vez de seguir para apenas uma pessoa, como no celular ou no MSN, a mensagem do Twitter vai para todos os “seguidores” – gente que acompanha o emissor. (...) Outro aspecto do Twitter que provoca controvérsia é a invasão da privacidade. As conversas que se travam no serviço são públicas. Basta se registrar como seguidor de alguém (não é preciso autorização) para acompanhar as conversas. Mas qualquer pessoa pode ler a página de alguém no Twitter sem ter uma conta. Coisas pessoais acabam tornadas públicas, de maneira talvez ingênua. “Aqueles que não entendem suas vidas públicas on-line estarão um dia à mercê daqueles que entendem e sabem como cavar aquelas maravilhosas histórias que as pessoas estão deixando na internet”, diz [John] Grohol [psicólogo americano]. Essa é uma questão que não tem o mesmo valor para diferentes gerações. É possível que os adolescentes e jovens de hoje se arrependam de seus perfis abertos no Twitter e no Orkut. Mas é possível, também, que eles construam uma nova relação com suas personas digitais, uma relação muito mais aberta e permissiva do que a geração anterior seria capaz de admitir. A nova ideia de privacidade em construção convive com o exibicionismo e o voyeurismo da rede. (Época, 16.03.2009)
Proposta de Redação Nos textos da Prova de Língua Portuguesa, focaliza-se, de maneira direta, o interesse pela vida alheia. De modo semelhante, nos dois textos de apoio, transcritos nesta parte, o conteúdo aponta para o gosto por invadir a privacidade Levando em consideração as ideias expressas nesses textos e sua própria experiência, escreva uma redação, no gênero dissertativo, sobre o seguinte tema: A tecnologia e a invasão da privacidade
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D20
DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA: ENEM II Na aula anterior, nós vimos as principais competências cobradas pelo Enem e aprendemos como fazer um projeto de texto que pode ajudar você a organizar suas ideias e a economizar tempo. Ademais, é também importante que, além de adotar tais estratégias, você leia bastante outras redações do Enem. Ler redações nota 1000 do Enem de anos anteriores é fator decisivo para adquirir repertório e estrutura textual sobre o formato de texto que é exigido nesse exame.
ASSUNTOS ABORDADOS nn Dissertação argumentativa:
Enem II
nn Proposta de redação Enem (2016) nn Redação nota 1000 nn Análise da redação
Dessa maneira, esta aula dedica-se à análise de uma redação nota 1000 do Enem, em 2016, intitulada: “Orgulho Machadiano”. Leia a proposta e os textos motivadores da prova e em seguida a redação nota 1000.
Proposta de redação Enem (2016) Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema A intolerância religiosa no Brasil, apresentando proposta de ação social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. TEXTO I
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Português
TEXTO II A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a diferentes crenças e religiões. Em casos extremos esse tipo de intolerância torna-se uma perseguição. Sendo definida como um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana, a perseguição religiosa é de extrema gravidade e costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação e até mesmo atos que atentam à vida de um determinado grupo que tem em comum certas crenças. As liberdades de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal. A religião e a crença de um ser humano não devem constituir barreiras a fraternais e melhores relações humanas. Todos devem ser respeitados e tratados de maneira igual perante a lei, independente da orientação religiosa. O Brasil é um país de Estado Laico, isso significa que não há uma religião oficial brasileira e que o Estado se mantém neutro e imparcial às diferentes religiões. Desta forma, há uma separação entre Estado e Igreja; o que, teoricamente, assegura uma governabilidade imune à influência de dogmas religiosos. Além de separar governo de religião, a Constituição Federal também garante o tratamento igualitário a todos os seres humanos, quaisquer que sejam suas crenças. Dessa maneira, a liberdade religiosa está protegida e não deve, de forma alguma, ser desrespeitada. É importante salientar que a crítica religiosa não é igual à intolerância religiosa. Os direitos de criticar dogmas e encaminhamentos de uma religião são assegurados pelas liberdades de opinião e expressão. Todavia, isso deve ser feito de forma que não haja desrespeito e ódio ao grupo religioso a que é direcionada a crítica. Como há muita influência religiosa na vida político-social brasileira, as críticas às religiões são comuns. Essas críticas são essenciais ao exercício de debate democrático e devem ser respeitadas em seus devidos termos.
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TEXTO III
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Redação nota 1000 Orgulho Machadiano Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez hoje ele percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente a intolerância religiosa é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge a problemática do preconceito religioso que persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social. É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes. Segundo pesquisas, a religião afro-brasileira é a principal vítima de discriminação, destacando-se o preconceito religioso como o principal impulsionador do problema. De acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de agir e de pensar. Ao seguir essa linha de pensamento, observa-se que a preparação do preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo também por conta da vivência em grupo. Assim, a continuação do pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de geração a geração, funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o problema no Brasil. Infere-se, portanto, que a intolerância religiosa é um mal para a sociedade brasileira. Sendo assim, cabe ao Governo Federal construir delegacias especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o praticar. Ainda cabe à escola criar palestras sobre as religiões e suas histórias, visando a informar crianças e jovens sobre as diferenças religiosas no país, diminuindo, assim, o preconceito religioso. Ademais, a sociedade deve se mobilizar em redes sociais, com o intuito de conscientizar a população sobre os males da intolerância religiosa. Assim, poder-se-á transformar o Brasil em um país desenvolvido socialmente, e criar um legado de que Brás Cubas pudesse se orgulhar.”
Análise da redação
D20 Dissertação argumentativa: Enem II
Ao ler essa redação, você é capaz de abstrair o projeto de texto que o(a) estudante fez para organizar e selecionar as ideias do texto. Note que é uma dissertação bem estruturada, com progressão semântica e encadeamento entre os argumentos e não há fuga ao tema. Parágrafo de introdução A partir da leitura do título “Orgulho Machadiano”, o candidato já informa o repertório sociocultural de que é composto seu texto. Logo no primeiro período, é feita uma referência ao romance Memórias póstumas de Brás Cubas, do escritor realista Machado de Assis. Esse conhecimento é demonstrado por meio de uma citação do próprio romance, contida em seu último capítulo: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Tal reflexão é articulada com o tema, ao ser exposto que a intolerância religiosa é um dos traços da miséria humana. 699
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Feito isso, tal estudante já cumpriu uma competência exigida pelo Enem: “Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo”. Assim, ele ou ela já pode seguir para a última etapa da elaboração de uma introdução, ou seja, definir o seu ponto de vista e escrever a tese. A tese dessa redação é a de que “a intolerância religiosa é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento”. Note que o(a) estudante, além de opinar sobre esse tipo de preconceito, recriminando-o, também foi capaz de articulá-lo à realidade brasileira, cuja sociedade está em desenvolvimento. Tal posição o(a) autor(a) justifica ao afirmar que essa problemática ainda persiste por dois fatores: a “insuficiência de leis” e a “lenta mudança de mentalidade social”. 1º parágrafo de desenvolvimento Nesse parágrafo, você pode observar os argumentos que fundamentam a tese exposta na introdução. O início do desenvolvimento está articulado à ideia de que a insuficiência de leis corrobora para a permanência da intolerância. Nesse sentido, são trazidos também conhecimentos de outras áreas, como a filosofia, na figura de Aristóteles. Tal conhecimento é aplicado à realidade brasileira, a qual, segundo tal estudante, rompe com a ideia de harmonia defendida pelo filósofo. O(a) autor(a) ainda fundamenta sua posição mediante o princípio de isonomia presente na Constituição Federal e, assim, comprova que leu os textos motivadores da proposta de redação. Desse modo, ele(a) defende que todos os tipos de religiões e crenças devem ser respeitados. 2º parágrafo de desenvolvimento No início desse parágrafo, o(a) estudante traz dados de pesquisas: “a religião afro-brasileira é a principal vítima de discriminação” e levanta a questão da intolerância religiosa como causa desse tipo de conduta. Dessa forma, o(a) autor(a) articula esse ponto de vista a conhecimentos da área da Sociologia, com o estudioso Émile Durkheim, o teórico do fato social (geral, coercitivo e exterior). Ao trazer esse sociólogo, o(a) estudante demonstra que a lenta mudança de mentalidade social é fruto de um pensamento intolerante que ainda está presente em muitas famílias brasileiras. Dessa maneira, o preconceito persistiria uma vez que as crianças criadas em torno de pessoas com tal mentalidade cresceriam com esse tipo de intolerância. Parágrafo de conclusão
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O parágrafo de conclusão é iniciado por um conjunção coordenada conclusiva (portanto), o que indica o desfecho do texto, articulado à retomada da tese: “a intolerância religiosa é um mal para a sociedade brasileira”. Feito isso, o(a) estudante apresenta proposta de intervenção social para solucionar a problemática trazida. A proposta sugerida é realizável por meio de três agentes: o Estado, a escola e a sociedade civil. Cabe a estas o seguinte: nn O Governo Federal deve construir delegacias especializadas em crimes de ódio
contra religião. escola deve criar palestras sobre as religiões e suas histórias. nn A sociedade deve se mobilizar em redes sociais, com o intuito de conscientizar a população sobre os males da intolerância religiosa. nn A
Note ainda que, após explicitar o que cada agente social deve fazer para dar fim à intolerância religiosa, o(a) autor(a) insere a consequência dessa ação. Lembre-se de que aliadas à sua proposta de intervenção social sempre devem estar as consequências dessa ação. Por fim, o texto se encerra com uma reflexão que se articula ao título da dissertação e ao parágrafo de introdução: caso as ideias sugeridas tivessem sido acatadas, o personagem Brás Cubas teria podido se orgulhar da sociedade brasileira. 700
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (FCM MG) I) Releia a frase a seguir: “A mente humana é poderosa, porém não pode tudo.” REDIJA um texto dissertativo-argumentativo, discutindo, de forma coerente e coesa, essa afirmativa do texto. Apresente exemplos que fundamentem sua argumentação, sem transcrever trechos do texto. II) Observe atentamente os textos e imagens abaixo.
Facebook, ganhando seu primeiro bilhão aos 23 anos de idade; ou Nick D’Aloisio, recebendo 30 milhões de dólares do Yahoo, pela venda do startup Summly, criado por ele aos 15 anos. Tecnologia/era digital; on-line/off-line; inovação/ instantaneidade: é nesse cenário que as pessoas nascidas a partir de 1995 circulam. Entretanto, prestes a entrar no mundo do trabalho, essa geração convive com um mundo competitivo, com conflitos globais, e com problemas econômico-sociais sem precedentes. O otimismo parece dar lugar a um certo pragmatismo. Disponível em:<exame2.com.br/móbile/pme/noticias/10-jovensempreendedores-de-sucesso-para-se-inspirar>. Acesso em: 20 ago. 15. (Parcial e adaptado.)
Texto 1
Em sua opinião, a “Geração do Milênio” (Geração “Z”) terá maior ou menor facilidade para ingressar no mercado de trabalho? Por quê? 03. (UCS RS) Redija um texto dissertativo sobre a proposta a seguir, manifestando, de forma explícita, seu posicionamento crítico, com a devida argumentação e de acordo com as orientações abaixo. Segundo Aristóteles: “A verdadeira igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na exata medida de sua desigualdade”. 10% da população mundial apresentam algum tipo de deficiência; são 650 milhões de pessoas em todo o mundo. Diante desse cenário, o conceito de acessibilidade representa algo mais amplo do que rampas de acesso ou ônibus adaptados: ele tem um papel fundamental na dinâmica dos espaços urbanos e na qualidade de vida das pessoas.
Texto 2
Disponível em: <http//thecityfixbrasil.com/2013/08/29/uberlândiacidade-modelo-em-acessibilidade>. Acesso em: 20 set. 15. (Parcial e adaptado.)
(jorge-menteaberta.blogspot.com. Acessado em 05/08/2015.)
A partir dessas imagens, REDIJA um texto dissertativo-argumentativo, confrontando os dois textos destacados. Apresente argumentos coerentes e coesos para fundamentar esse confronto. 02. (UCS RS) Redija um texto dissertativo sobre a proposta a seguir, manifestando, de forma explícita, seu posicionamento crítico, com a devida argumentação e de acordo com as orientações abaixo. A expressão “Geração do Milênio”, ou Geração “Z”, transporta qualquer leitor a imagens como Mark Zuckerberg, do
04. (Udesc SC) Com base na leitura dos textos motivadores abaixo, redija um texto dissertativo, enfocando o tema: Avareza: mediocridade humana. Texto 1 “Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha.” AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 8ª ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. p.17.
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Em sua opinião, as cidades estão empenhadas em proporcionar acessibilidade às pessoas com deficiência? Sim ou não? Por quê?
Português
Texto 2 “ – Eu não convidei ninguém, ele vem porque quer. E você, Seu Dodó, não diz nada? O senhor ouve essa desgraça, vê que estão querendo me depenar, me explorar, e fica calado?” SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. 30ª ed. Rio de Janeiro. José Olympio. p. 41.
Texto 3 Mercado Público 2015
Disponível em: http://mensagens.culturamix.com/frases/frases-sobre-avareza acessado em: 30/08/2015.
05. (Udesc SC) Com base na leitura dos textos motivadores abaixo, redija um texto dissertativo, enfocando o tema: Preservar as evidências do antigo é dar continuidade à história. Texto 1 É de vital importância preservar as características originais de uma arquitetura,não só para seus moradores como também para o país, já que são esses pequenos fragmentos espalhados que contribuem para se formar a história cultural. Infelizmente, essas memórias ficarão apagadas materialmente se nenhuma providência for tomada, pois as propriedades antigas estão sendo destruídas. Restaurar esses patrimônios é manter vivo um ícone histórico cultural, é uma forma de eternizar a reflexão sobre a história. Desconhecer o próprio passado é fechar as portas para a construção de um novo futuro. Disponível em:http://valdecyalves.blogspot.com.br/2010/08/patrimoniohistorico-preservacao-da.html [Adaptado]Acesso em: 20/08/2015.
Texto 2 Fiquei olhando. Ah, como eu amava essas casas antigas, gastas de uso, cheias de tradições, prenhes de reminiscências! Gostava de perceber nelas o sinal do tempo passando, ver-lhes gravados nas fachadas os dramas, ouvir o dolorido murmúrio que todas elas pareciam deixar escorrer, exalar pelas frestas quais feridas sangrando. MIGUEL, Salim. Melhores contos. Editora Global, São Paulo 2009, p. 125
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Texto 3
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06. (Fatec SP) Texto 1 As centrais telefônicas eram comuns até a gradual digitalização dos serviços de telefonia que ocorreu por volta da década de 1980. Essas centrais, encarregadas de completar a ligação, realizando chamadas interurbanas e internacionais, eram operadas, no Brasil, por uma empresa pública, a TELEBRAS, e suas subsidiárias regionais como, a TELESP, a TELERJ, a TELEMIG, etc. Hoje, a profissão daqueles que trabalharam nessas centrais foi extinta. Apesar de ainda existir a profissão de telefonista, profissional que realiza o primeiro atendimento em uma empresa de grande ou médio porte, essa função também está em extinção, prestes a ser substituída pelas centrais digitais com gravações de secretárias eletrônicas. <http://tinyurl.com/q3m3uj2> Acesso em: 20.09.2015. Adaptado.
Texto 2 As profissões vão mudando ao longo do tempo para acompanhar o mercado de trabalho. As profissões se modernizam e os estudantes precisam acompanhar as mudanças quando ainda estão na faculdade. Os profissionais que já estão no mercado também precisam se atualizar. O Ministério do trabalho reconheceu catorze novas ocupações só este ano. O mercado profissional se transforma sempre e, com o avanço da tecnologia, os trabalhadores precisam se atualizar. O técnico em telecomunicações, por exemplo, trabalhava com telefonia, rádio e televisão. Hoje, ele tem que entender também de TV digital, computador, fibra ótica e as possibilidades de especialização aumentaram. <http://tinyurl.com/orz8xm6> Acesso em: 10.09.2015. Adaptado.
A partir dessa coletânea, elabore um texto dissertativo-argumentativo explorando o seguinte tema: A importância do profissional se preparar para as novas demandas do mercado de trabalho. Orientações • Dissertação: selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para sustentar suas ideias e pontos de vista. Ao elaborar seu texto • organize-o em parágrafos; • não o redija em versos; • empregue apenas a variedade culta da língua portuguesa; • faça um rascunho antes de passar para a folha de redação; • não copie os textos apresentados na coletânea e • utilize apenas caneta de tinta azul ou preta para elaborar a versão definitiva.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
Disponível em: http://www.mobilize.org.br/sobre-o-portal/mobilidadeurbanasustentavel/. Acesso em 29/08/2015. Fragmento adaptado.
Considerando o texto motivador da proposta 1 de redação, escreva uma dissertação sobre mobilidade urbana. 02. (Acafe SC) A taxa de desemprego subiu nos últimos três meses até maio deste ano e chegou a 8,1%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é a maior da série histórica, que começou em 2012, segundo o IBGE. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/07/ desempregofica- em-81-no-trimestre-ate-maio-diz-ibge.html. Acesso em: 29/08/2015.
A atual exclusão social decorrente do desemprego é resultado da política de austeridade do governo que visa o chamado ajuste fiscal. O governo deseja reduzir o déficit nas contas públicas. E corta gastos e direitos trabalhistas e sociais. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/economia/desempregonaopara- de-aumentar-qual-a-saida-5309.html. Acesso em: 30/08/2015. Fragmento adaptado.
Considerando os textos motivadores da proposta 2 de redação, escreva uma dissertação sobre desemprego. 03. (Centro Universitário de Franca SP) Texto 1 A sanção presidencial da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência no dia de hoje [06.07.2015] representa uma vitória para as famílias de alunos nesta situação, pois o artigo 28 da nova lei proíbe a cobrança de “valores adicionais de qualquer natureza” nas mensalidades e matrículas de crianças e adolescentes com deficiência em instituições privadas. A reivindicação para proibir as escolas de cobrarem taxa extra para matricular alunos com deficiência ganhou força com um abaixo-assinado criado pela advogada Consuelo Martin, mãe de Arthur Martin, de 10 anos, que tem atraso global de desenvolvimento.
A opinião de Consuelo é que “os pais pagam tudo, dão tudo o que têm para ver o seu filho incluído em algum lugar. Isso (taxa extra) não é justo”. Segundo a advogada, às vezes os pais fazem um sacrifício sobre-humano para pagar escola e ainda têm que pagar taxa extra, além de um mediador para acompanhar a criança na escola. Para ela, a sanção da lei vai “melhorar a vida de muita gente” e é um “grande passo”. “A gente tem que criar a cultura da inclusão, que tem que ser pra todos. A sanção da lei será mais uma ferramenta para a mãe que quer lutar pela inclusão do seu filho”, disse. (Paulo Vitor Chagas. Lei que proíbe taxa extra para alunos com deficiência atende pedido das mães. www.ebc.com.br, 06.07.2015. Adaptado.)
Texto 2 A CONFENEN (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino) entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), no dia 3 de agosto de 2015, no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, que entrará em vigor em janeiro de 2016, e que determina que as instituições privadas ofereçam educação de qualidade à pessoa com deficiência sem a cobrança de valores adicionais em suas mensalidades, anuidades e matrículas. Para as escolas particulares, o gasto para manter a estrutura (equipamentos, recursos didáticos, médicos, psicólogos, professores especializados, etc.) é “altíssimo, imprevisível e inimaginável, impossível de ser suportado pela grande maioria das famílias ou de ser rateado entre todos os alunos”. Com isso, os altos custos poderão resultar na perda em massa de alunos, demissão de professores e até fechamento de escolas particulares, diz a Confederação. (“Escolas privadas vão ao STF contra obrigação de ter alunos com deficiência”. http://educacao.uol.com.br, 14.08.2015. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, redija uma dissertação, na norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Os custos adicionais para inclusão de crianças com deficiência nas escolas privadas são responsabilidade dessas instituições ou das famílias? 04. (Fac. Direito de Sorocaba SP) Texto 1 É fato que, cada vez mais, os jovens, e também os adultos, estão usando a internet e as redes sociais para se relacionarem. Isso tanto pela facilidade cada vez maior de acesso à web quanto pelo fato de hoje vivermos a chamada era do
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01. (Acafe SC) Mobilidade é o grande desafio das cidades contemporâneas, em todas as partes do mundo. A opção pelo automóvel - que parecia ser a resposta eficiente do século 20 à necessidade de circulação - levou à paralisia do trânsito, com desperdício de tempo e combustível, além dos problemas ambientais de poluição atmosférica e de ocupação do espaço público. No Brasil, a frota de automóveis e motocicletas teve crescimento de até 400% nos últimos dez anos.
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espetáculo, na qual o “ser” é ou pode ser igual a “mostrar”. E aí, mostra-se de tudo um pouco nas redes sociais: os sapatos novos, a recente conquista amorosa, a viagem das férias, o embarque no avião… (Adriana Lemos, A era do espetáculo e a exposição na internet. www.clinicacuidarte.com.br. Adaptado)
Texto 2 Mais do que compartilhar links e informações e fazer novas amizades, as redes sociais funcionam como diários virtuais em tempo real. São comuns posts de gente narrando a rotina, reclamando do trabalho, mostrando a roupa do dia, o prato do almoço ou exibindo sua localização: na academia, na faculdade, no hospital ou na balada. Isso sem contar os selfies (autorretratos). Para Pedro Luiz Ribeiro de Santi, líder da área de comunicação e artes da ESPM-SP (campus São Paulo da Escola Superior de Propaganda e Marketing), postar constantemente acontecimentos particulares é um sinal de autoafirmação. “Antes, as pessoas obtinham reconhecimento social através da família ou do trabalho. Hoje, esse reconhecimento vem através das curtidas em um post. Os likes parecem dar sentido à existência”, explica. De acordo com a psicanalista Luciana Wickert, não só as relações humanas vêm se tornando mais superficiais como também a noção de intimidade passa por mudanças. “Não basta tomar um bom vinho com o parceiro, é preciso exibir isso para o outro. É o olhar de aprovação alheio que dirá se aquilo tem ou não valor”, comenta. (Heloísa Noronha, Estamos perdendo o limite ao nos expormos nas redes sociais? mulher.uol.com.br, 18.08.2014. Adaptado)
D20 Dissertação argumentativa: Enem II
Texto 3 Desde sempre, o interesse em se comunicar faz parte da vida das pessoas, seja por carta, telefone, e-mail, mensagens no Facebook, Whatsapp etc. Ao longo do tempo, as tecnologias foram possibilitando novas formas de se relacionar. Hoje as redes sociais representam uma nova forma de interação. No entanto, é levantada a hipótese de que essas redes são responsáveis por estarmos construindo relacionamentos menos importantes, transitórios e irrelevantes. De fato, é bastante perceptível o aumento de velocidade e quantidade de informações oferecidas. Junto a isso, há também uma enorme variedade de maneiras de se relacionar virtualmente. Isso não é necessariamente ruim, apenas são formas diferentes das anteriores. As relações humanas sempre se modificaram e continuarão se modificando. (Débora Dias, Comportamento e redes sociais virtuais. comportese.com. Adaptado)
Texto 4 Justiça seja feita, nem tudo é ruim, as vantagens das redes sociais são inúmeras, dentre elas, destaco: facilidade de comunicação entre as pessoas e maior acesso às informações. Porém, essa maneira rápida de se comunicar que a internet proporciona tanto aproxima quem está longe como pode distanciar quem está perto. Ou seja, além de unir pessoas e criar 704
laços, também pode servir de palco para confusões, fofocas e intrigas. No âmbito profissional, empresas se mantêm conectadas para descobrir talentos e observar o comportamento de pretendentes a empregos. São muitas as informações levantadas, tais como: hábitos, hobbies, preferências, habilidade de relacionamento, comportamento ético e até a redação. Redes sociais são excelentes ferramentas de marketing e devem ser aproveitadas como tal, em todo o seu potencial. (Christiane Lima, Redes sociais: exposição ou intromissão? elo.com.br. Adaptado)
Com base nas informações dos textos da coletânea e em seus conhecimentos sobre o assunto, escreva uma dissertação de acordo com a norma culta da língua portuguesa sobre o tema: Exposição na internet: problema a ser combatido ou evolução natural dos relacionamentos? 05. (FM Petrópolis RJ) Utilize o texto a seguir como motivador para a produção de sua redação. Não o copie. Os limites da liberdade de expressão O que significa, afinal, “liberdade de expressão”, termo usado tantas vezes para dizer coisas muitas vezes diferentes? Significa que alguém pode dizer o que quer, a qualquer hora e lugar? Ou sua expressão deve ser limitada pela sociedade? Segundo juristas, a liberdade de expressão é importante porque viabiliza outros direitos. Com ela, é possível reivindicar, protestar, criticar, avaliar relações e garantir um melhor controle social pela população. Há vários tipos de limites, principalmente quando há colisão com outros direitos, como o de privacidade, a proteção da reputação ou o direito da criança e do adolescente. A questão complicada é saber até que ponto a liberdade de expressão contempla as manifestações que podem ofender. Isso é sempre objeto de controvérsia. Em um primeiro olhar, a zona limite para a expressão estaria na ofensa. Mas, fosse só isso, qualquer manifestação de certezas distintas poderia facilmente ofender crenças e convicções. Segundo Zuenir Ventura, jornalista e imortal da Academia Brasileira de Letras, “a liberdade de expressão absoluta talvez seja uma utopia: não existe nem dentro de nossa casa. Mas numa sociedade democrática, os seus limites só podem ser determinados por leis, pela Justiça, que é a instância a que se deve recorrer.” Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/112/os-limitesda-liberdade-de-expressao-338197-1.asp>. Acesso em: 12 maio 2015. Adaptado.
O texto apresenta algumas reflexões sobre o tema “liberdade de expressão”. Tomando-as como ponto de partida, elabore um texto dissertativo-argumentativo em que você discuta a questão e expresse sua opinião acerca da relação entre a liberdade de expressão e os direitos individuais. Justifique sua opinião com argumentos.
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Exercícios de Aprofundamento 01. (UnB DF)
outras consequências, a redução da densidade demográfica, nesse período. ( ) Ao se confirmarem as projeções do IPEA, será garantida a ocorrência, a partir de 2035, da transição demográfica da população brasileira, à semelhança do que já tem ocorrido nos países mais desenvolvidos. ( ) Após a queda do Estado Novo (1945), o Brasil protagoniza experiência histórica modernizadora marcada, na política, pelo exercício da democracia, ainda que limitada e envolta em sucessivas crises políticas. ( ) Na segunda metade da década de 50 do século XX, os Anos JK foram assinalados por grandes obras de infraestrutura,
O gráfico da figura acima apresenta dados do IBGE acerca da taxa de crescimento da população brasileira entre 1945 e 2005 e projeções dessa taxa até 2035, feitas pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Gab: E-C-C-E-C-E-E-C-E-E
por maior abertura da economia brasileira aos capitais internacionais e, sob o ponto de vista político, pelo retrocesso democrático, com perseguições inquisitoriais a adversários e rígida censura à imprensa. ( ) A longa duração do regime autoritário instaurado em 1964
Com relação a essas informações, julgue os próximos itens.
pode ser explicada, essencialmente, pela própria configu-
( ) É correto concluir do gráfico que, entre 1945 e 1965, a
ração da sociedade brasileira, ainda marcadamente rural,
população brasileira era mais numerosa que entre 1985
despolitizada, com taxas de analfabetismo superiores a
e 2005.
50% e sem contar com classes médias.
( ) Confirmando-se as projeções do IPEA, em 2030, o número de nascimentos será aproximadamente igual ao
02. (UnB DF)
número de óbitos no país, considerando-se apenas esses dois fatores na definição de taxa de crescimento da população brasileira. ( ) O gráfico ilustrado pode ser representado, a partir de 1955, por uma poligonal, cujos segmentos de reta que a compõem têm coeficientes angulares negativos. ( ) Apesar do aumento na taxa de natalidade, devido principalmente a melhorias nas condições de saúde da população brasileira, verificou-se, no Brasil, nas últimas décadas, redução na taxa de crescimento da população, como pode ser observado no gráfico. E. C. Coelho. A criminalidade urbana violenta, v. 32, n.o 2, 1988 (com adaptações).
( ) A redução na taxa de crescimento da população brasileira, apontada pelas projeções do IPEA, deverá apresentar ritmos distintos para as cinco grandes regiões geográficas
O gráfico acima mostra o comportamento de alguns indica-
brasileiras, devido a fatores como a taxa de natalidade.
dores sociais básicos no estado do Rio de Janeiro, no período
( ) A diminuição na taxa de crescimento da população brasi-
entre 1981 e 1985. Esses indicadores estão apresentados na
leira nas últimas décadas do século XX, observada no grá-
forma de números-índices, tendo como base o ano de 1981.
fico, está relacionada ao comportamento de diversos indi-
Tendo essas informações como referência inicial, julgue os
cadores socioeconômicos do país e a ela se atribui, entre
itens a seguir.
Gab: ECCE
705
Português
( ) Os dados do gráfico vão ao encontro da tese de que a po-
a) apresentação dos resultados de uma pesquisa que retrata
breza explica o crime, fundamento das operações denomi-
o quadro atual da preferência popular relativa à música
nadas tolerância zero.
brasileira.
( ) O conceito de anomia, usado na investigação sociológica
b) caracterização das opiniões relativas a determinados gêne-
do crime, diz respeito ao sentimento de desorientação vi-
ros, considerados os mais representativos da brasilidade,
vido pelo indivíduo em face da ausência de normas sociais, ou do conflito entre essas normas. ( ) Os dados do gráfico permitem afirmar que o índice de criminalidade e o índice de despesa per capita com segurança nem sempre variam de forma inversamente proporcional. ( ) O gráfico referente à criminalidade poderia ser corretamente modelado pelo gráfico da função f(x) = 40|x − 1983|+20 em que x = 1981, 1982, 1983, 1984 e 1985.
como meros estereótipos. c) uso de estrangeirismos, como rock, funk e gospel, para compor um estilo próximo ao leitor, em sintonia com o ataque aos nacionalistas. d) ironia com relação ao apego a opiniões superadas, tomadas como expressão de conservadorismo e anacronismo, com o uso das designações “império” e “baluarte”. e) contraposição a impressões fundadas em elitismo e preconceito, com a alusão a artistas de renome para melhor
03. (Enem MEC) O Brasil é sertanejo Que tipo de música simboliza o Brasil? Eis uma questão discutida há muito tempo, que desperta opiniões extremadas. Há
demonstrar a consolidação da mudança do gosto musical popular. 04. (Enem MEC) Linotipos
fundamentalistas que desejam impor ao público um tipo de som nascido das raízes socioculturais do país. O samba. Outros,
O Museu da Imprensa exibe duas linotipos. Trata-se de um
igualmente nacionalistas, desprezam tudo aquilo que não tem
tipo de máquina de composição de tipos de chumbo, in-
estilo. Sonham com o império da MPB de Chico Buarque e Ca-
ventada em 1884 em Baltimore, nos Estados Unidos, pelo
etano Veloso. Um terceiro grupo, formado por gente mais jo-
alemão Ottmar Mergenthaler. O invento foi de grade impor-
vem, escuta e cultiva apenas a música internacional, em todas
tância por ter significado um novo e fundamental avanço na
as vertentes. E mais ou menos ignora o resto.
história das artes gráficas A linotipia provocou, na verdade,
A realidade dos hábitos musicais do brasileiro agora está claro,
uma revolução porque venceu a lentidão da composição dos
nada tem a ver com esses estereótipos. O gênero que encanta
textos executada na tipografia tradicional, em que o texto
mais da metade do país é o sertanejo, seguido de longe pela
era composto à mão, juntando tipos móveis um por um.
MPB e pelo pagode. Outros gêneros em ascensão, sobretudo
Constituía-se, assim, no principal meio de composição tipo-
entre as classes C, D e E, são o funk e o religioso, em especial o
gráfica até 1950. A linopio, a partir do final do século XIX,
gospel. Rock e música eletrônica são músicas de minoria.
passou a produzir impressos a baixo custo, o que levou in-
É o que demonstra uma pesquisa pioneira feita entre agosto
formação às massas, democratizou a informação. Promoveu
de 2012 e agosto de 2013 pelo Instituto Brasileiro de Opi-
uma revolução na educação. Antes da linotipo, os jornais e
nião Pública e Estatística (Ibope). A pesquisa Tribos musicais
revistas eram escassos, com poucas páginas e caros. Os li-
– o comportamento dos ouvintes de rádio sob uma nova óti-
vros didáticos eram também caros, pouco acessíveis.
ca faz um retrato do ouvinte brasileiro e traz algumas no-
Disponível em: http://portal.in.gov.br. Acesso em: 23 fev. 2013 (adaptado).
vidades. Para quem pensava que a MPB e o samba ainda FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
resistiam como baluartes da nacionalidade, uma má notícia: os dois gêneros foram superados em popularidade. O Brasil moderno não tem mais o perfil sonoro dos anos 1970, que muitos gostariam que se eternizasse. A cara musical do país agora é outra. GIRON, L. A. Época, n. 805, out. 2013 (fragmento).
gráfica inventada no século XIX e responsável pela dinamização da imprensa. Em termos sociais, a contribuição da linotipo teve impacto direto na a) produção vagarosa de materiais didáticos. b) composição aprimorada de tipos de chumbo.
O texto objetiva convencer o leitor de que a configuração da
c) montagem acelerada de textos para impressão.
preferência musical dos brasileiros não é mais a mesma da dos
d) produção acessível de materiais informacionais.
anos 1970. A estratégia de argumentação para comprovar essa
e) impressão dinamizada de imagens em revistas.
posição baseia-se no(a)
706
O texto apresenta um histórico da linotipo, uma máquina tipo-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
05. (ESPM RS)
assim que, pelas histórias dos homens e pelo roteiro do rio, fiquei sabendo que a fome não era um produto exclusivo dos mangues. Que os mangues apenas atraíram os homens famintos do Nordeste: os da zona da seca e os da zona da cana. Todos atraídos por esta terra de promissão, vindo se aninhar naquele ninho de lama, construído pelos dois e onde brota o maravilhoso ciclo do caranguejo. E quando cresci e saí pelo mundo afora, vendo outras paisagens, apercebi-me com nova surpresa que o que eu pensava ser um fenômeno local era um drama universal. Que a paisagem humana dos mangues se reproduzia no mundo inteiro. Que aqueles personagens da lama do Recife eram idênticos aos personagens de inúmeras outras áreas do mundo assolados pela fome. e-mail: gentefina@oglobo.com.br (Revista O globo, 14 de setembro de 2008)
Em princípio, o shopping era considerado o templo no consumo. Corredores estrategicamente preparados para induzir os
Que aquela lama humana do Recife, que eu conhecera na infância, continua sujando até hoje toda a paisagem de nosso planeta como negros borrões de miséria: as negras manchas demográficas da geografia da fome. (texto adaptado) Disponível em: www.josuedecastro.com.br
visitantes a comprar, comprar e comprar. Hoje, se se deseja ir ao cinema, sem grandes preocupações, com alguma segurança, pensa-se no shopping; se se deseja assistir a um espetáculo
TEMA
teatral, quase sempre, opta-se por teatros localizados em sho-
Em pleno século XXI, temos fome de quê?
ppings. Não bastassem estas mudanças, agora neles há livrarias
07. (Udesc SC) Com base na leitura dos textos motivadores abaixo,
e, eventualmente, alguns bares muito interessantes. Portanto, os tais templos, ao investirem em entretenimento e cultura,
redija um texto dissertativo, enfocando o tema: Grafitismo Texto 1
mudaram o seu perfil. Elabore um texto dissertativo coerente e coeso sobre “as mudanças a que se têm submetido os grandes shoppings”. Texto comum à questão 06 Escolha um tema sobre o qual deve criar um título e produzir um texto dissertativo com o mínimo de 20 e o máximo
Do figurativo ao abstrato. Abstrativar o figurativo, criando uma nova linguagem plástica que só os pósteros admirarão e irão entender. Exemplo? Não: os clássicos não! Da Vinci, Rafael, Miguel Ângelo, Giotto... não-não. Avancemos. O impressionismo. Sim, o impressionismo (ou o expressionismo?): levou quanto, 50 anos, 100 anos para se impor, para vencer. MIGUEL, Salim. Melhores contos. Editora Global, São Paulo 2009, p. 154.
de 30 linhas. Antes de fazer sua opção pelo tema, leia os fragmentos abaixo. Eles podem despertar ideias para desenvolver o seu trabalho.
Texto 2 O princípio do grafitismo, que favorece sua difusão, está em
06. (UPE) FOME Não foi na Sorbonne nem em qualquer outra universidade sábia que travei conhecimento com o fenômeno da fome. A fome se revelou espontaneamente aos meus olhos nos mangues do Capibaribe, nos bairros miseráveis do Recife Afogados, Pina, Santo Amaro, Ilha do Leite. Esta foi a minha Sorbonne. A lama dos mangues de Recife, fervilhando de caranguejos e povoada de seres humanos feitos de carne de caranguejo, pensando e sentindo como caranguejo. E foi
em primeiro lugar porque não é arte vendável (pois é realizada sobre suportes como vagões ferroviários ou muros urbanos) e por isso desnorteia “o sistema da arte” no qual o mercado frequentemente lança, divulga, celebra ou queima artistas e tendências. Em segundo lugar, porque esta expressão de criatividade espontânea e explosiva dirige-se diretamente ao público, sem o apoio de colecionadores, marchands, críticos ou curadores de museus. Disponível em<http://www.cam.cultura.pr.gov.br/modules/conteudo/ conteudo.php?conteudo=117[Adaptado] Acesso em: 12/08/2015
707
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
uma proposta fora dos padrões e realmente revolucionária,
FRAGMENTO 2
Português
Texto 3
Disponível em http://criticadaespecie.com/2013/11/10/por-baixo-dografiti-do-armazem-vieira/ Acesso em: 12/08/2015
08. (UEA AM)
estranhos na sua vida privada e familiar. Câmeras de segurança inseridas pelo poder público nas ruas são, portanto, absolutamente legais e têm como finalidade monitorar o trânsito, flagrar crimes, atitudes suspeitas e até mesmo auxiliar no socorro de acidentados. Indústrias, shoppings, condomínios e comércio em geral têm optado pela instalação, obtendo excelentes resultados. Em relação à presença de câmeras nas escolas, é possível afirmar o mesmo. A maioria dos pais de alunos do colégio paulistano apoiou a instituição, sendo que um deles afirmou que “dentro da escola acontece muita coisa em que fica a versão de um contra a do outro. Com as câmeras, saberemos a verdade e acabam as mentiras”. Também não se pode esquecer da prática de bullying, comum em várias escolas, em que as vítimas, muitas vezes, não têm condições emocionais de reagir e nem de contar aos responsáveis. Tal prática poderia ser evitada com a detecção dos abusos através das câmeras.
Texto 1
(“Câmaras de segurança em sala de aula: você é contra ou a favor?”. http://tudosobreseguranca.com.br. Adaptado.)
O uso de câmeras de vigilância não é novidade em ambientes como restaurantes, ruas, elevadores e muitos outros espaços públicos por medida de segurança. É uma iniciativa também adotada pelas instituições de ensino privado há alguns anos nas entradas e saídas e ambientes de circulação de pessoas. Porém, as câmeras de vigilância chegaram também às salas de aula, sob o mesmo argumento: segurança. No meio educacional, esse procedimento tem provocado protestos. Vários pedagogos, psicólogos e professores mostram-se contrários à instalação destes equipamentos em sala de aula. Eles defendem a privacidade dos professores e estudantes no processo de ensino e aprendizagem, o que garante a espontaneidade, a criatividade e a confiança dos envolvidos. (“Câmaras de vigilância em sala de aula. ” www.sinpro-rs.org.br. Adaptado.)
Texto 2
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
Um dos colégios mais tradicionais de São Paulo instalou câmeras no interior de salas de aula, sem avisar os alunos, com o objetivo de aumentar a segurança no estabelecimento de ensino e de melhorar a disciplina. Alegando que não haviam sido consultados a respeito desta decisão, vários alunos fizeram um protesto no pátio do colégio. A diretoria determinou a suspensão dos insatisfeitos por um dia e comunicou seus pais. A controvérsia ganhou debate nas mídias sociais e os contrários à decisão do colégio afirmam que a instalação das câmeras viola a privacidade de alunos e professores. Invasão de privacidade é não respeitar espaço reservado e restrito de alguém. A ideia de “privacidade”, por sua vez, está estreitamente ligada à de “intimidade” dos cidadãos, direito garantido pela constituição federal e que consiste na faculdade que cada indivíduo tem de proibir intromissão de 708
Texto 3 Vários alunos de um dos mais tradicionais colégios de São Paulo foram suspensos por um dia por protestar contra a instalação de câmeras de segurança nas salas de aula. Segundo a direção da escola, o objetivo seria aumentar a segurança e melhorar a disciplina. Sob a justificativa da segurança – interna e externa – plantamos câmeras em qualquer lugar, rifando nossa liberdade individual. O direito à privacidade, desde que ela não agrida aos direitos e liberdades de terceiros, deveria ser garantido. Mas, em nome dessa paranoia por segurança e, o pior, em nome da disciplina, enterramos isso. Disciplina vigiada eletronicamente... Qual exemplo passamos com isso? Que soluções arbitrárias, que ignoram direitos, são viáveis em nome de um valor supostamente maior? Colocar câmeras pode parecer mais fácil. Mas isso encerra toda a possibilidade de diálogo sobre direitos e deveres. Enquanto estou sendo vigiado, irei agir como a sociedade espera de mim. E quando não houver câmeras? Ignoro tudo e todos? Que espírito democrático é esse que estamos fomentando? Esse não é o único colégio que optou por essa saída. Outras escolas adotam o mesmo expediente, ou seja, essa está longe de ser uma discussão localizada. (Leonardo Sakamoto. Sorria! Você está sendo desrespeitado em sala de aula. http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br. Adaptado.)
Com base em seus conhecimentos e nos textos apresentados, redija uma dissertação, na norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Câmeras de vigilância em sala de aula: invasão da privacidade de alunos e professores ou garantia de segurança e disciplina?