Murilo Amaral Shyrley Bernadelli
Maglara / Shutterstock.com
FRENTE
A
PORTUGUÊS Por falar nisso
ttt
Você já se perguntou de onde veio a palavra substantivo? A que outras palavras ela se assemelha? Bem, trata-se de uma palavra cuja origem vem do latim substantivu, que significa “substancial”, ou seja, o que está ligado à essência. O papel de um substantivo é exatamente carregar o que há de essencial para a informação em uma frase. Enquanto o substantivo é o termo central em uma análise morfológica, o sujeito de uma oração é o termo essencial em nível sintático. O verbo é o referente do sujeito e concorda com ele. Ademais – substantivo e sujeito –, além dos principais constituintes da análise morfossintática, um é representado pelo outro. Todo sujeito é um substantivo, quando não, é um pronome substantivo ou uma palavra substantivada. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
A09 A10 A11 A12
Substantivo: definição e flexões.................................................... 556 Sujeito............................................................................................ 564 Adjetivo.......................................................................................... 573 Termos ligados a nomes................................................................ 581
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A09
ASSUNTOS ABORDADOS nn Substantivo: definição e flexões nn Classificação dos substantivos nn Flexões dos substantivos
SUBSTANTIVO: DEFINIÇÃO E FLEXÕES Como já pudemos ver em aulas anteriores, os substantivos são palavras que nomeiam os seres em geral. Desse modo, são substantivos palavras que designam nomes de pessoas, de lugares e de instituições como também nomes de ações, de qualidades ou de estados que, por sua vez, foram tomados como seres. Observe: nn Pessoas:
mulher, rapaz, João, Helena. Goiânia, Goiás, Brasil. nn Instituições: congresso, clero, assembleia. nn Ações: justiça, verdade, glória. nn Qualidade: bondade, doçura, raiva. nn Estado: velhice, doença, limpeza. nn Lugares:
Classificação dos substantivos Comuns e próprios Comum nn Dá nome a todos os seres de uma mesma espécie: cadeira, metrópole, garoto. Próprio nn Denomina um único ser de uma determinada espécie: Belo Horizonte, Uruguai, Marcelo. Primitivos e derivados Primitivo nn Não é formado a partir de outra palavra: cadeira, Uruguai, flor. Derivado nn Formado a partir de outra palavra: cadeirinha, uruguaia, florista. Simples e compostos Simples nn Formado por apenas uma palavra: cadeira, tamborete, banana. Composto nn Formado por mais de uma palavra: beija-flor, guarda-chuva, banana-da-terra. Concretos e abstratos Concreto nn Nomeia seres de existência própria (real ou imaginária): cadeira, bolsa, rio.
!
ATENÇÃO!
Note que cada um dos pares de classificação é independente dos demais. Assim, o substantivo cadeira, por exemplo, tem estas quatro classificações: comum, primitivo, simples e concreto.
556
Abstrato nn Nomeia ações, sensações, sentimentos, conceitos e estados: justiça, dor, medo, beleza, vida. Substantivos coletivos Chama-se coletivo todo substantivo comum que, mesmo no singular, denomina um agrupamento, um conjunto de seres de uma mesma espécie. nn alcateia (lobos), cardume (peixes), colmeia (abelhas), vara (porcos), constelação
(estrelas), penca (banana), cacho (uvas), fauna (animais), flora (plantas).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Os substantivos podem variar em gênero (feminino e masculino), número (singular e plural) e grau (normal, aumentativo ou diminutivo). nn menina; menino; meninas; meninos; menininha; me-
ninão.
Gênero Os gêneros dos substantivos são o gênero feminino e o gênero masculino. Ao contrário do que se possa pensar, o gênero dessa classe de palavras não é determinado pela sua terminação e, sim, pelo artigo que o acompanha. Observe: nn São
do gênero feminino as palavras acompanhadas pelo artigo “a”: (a) caneta, (a) gema, (a) égua, (a) atriz, (a) educação. nn São do gênero masculino as palavras acompanhadas pelo artigo “o”: (o) livro, (o) telefonema, (o) cavalo, (o) ator, (o) feijão. Regra geral A maioria dos substantivos flexiona-se mediante uma simples regra, pelo acréscimo da desinência “a” ao final da palavra com ou sem alterações. Veja: nn aluno
– aluna nn mestre – mestra nn presidente – presidenta nn lavrador – lavradora nn camaleão – camaleoa nn cidadão – cidadã nn valentão – valentona Casos especiais Há situações em que a alteração final da palavra é muito mais intensa. Uma vez que a regra geral acima é muito genérica, é importante atentar-se às variações como abaixo: nn galo
– galinha nn maestro – maestrina nn ator – atriz nn imperador –imperatriz nn rei – rainha nn poeta – poetisa nn herói – heroína nn réu – ré Há, ainda, formas substantivas que apresentam uma palavra específica para cada gênero, como nos casos: nn homem
– mulher nn genro – nora nn bode – cabra nn pai – mãe
nn cavaleiro
– amazona nn cavalheiro – dama nn cavalo – égua nn carneiro – ovelha Substantivos uniformes De modo geral, os substantivos uniformes são aqueles que se comportam tanto como substantivos femininos quanto como substantivos masculinos. Existem, dessa maneira, três tipos de substantivos uniformes: substantivos epicenos, substantivos sobrecomuns, substantivos comuns de dois gêneros. Epicenos Designam espécies animais que só apresentam um gênero. Para diferenciá-los, portanto, utilizam-se os termos “fêmea” e “macho” acompanhando-os. Veja: nn a águia (macho) e a águia (fêmea); o crocodilo (macho)
e o crocodilo (fêmea); a onça (macho) e a onça (fêmea).
Sobrecomuns São palavras que, apesar de concordarem só com um gênero, são usadas para ambas as concordâncias. Observe: nn a criança; o indivíduo; a pessoa; a testemunha; a vítima.
Comuns de dois gêneros Diferentes dos substantivos sobrecomuns, os substantivos comuns de dois gêneros aceitam tanto o artigo feminino quanto o artigo masculino. nn o
agente, a agente; o artista, a artista; o cliente, a cliente; o indígena, a indígena; o jornalista, a jornalista.
!
ATENÇÃO!
Existem substantivos que podem parecer comuns a dois gêneros, no entanto seu sentido varia na mudança de gênero. São estes: nn o capital (bens materiais) – a capital (cidade) nn o rádio (aparelho) – a rádio (estação) nn o nascente (onde nasce o sol) – a nascente (onde nasce
a água)
Número Os números que admitem os substantivos são: singular, quando designam um ser único, ou um conjunto de seres considerados como um todo (substantivo coletivo); e plural, quando designam mais de um ser, ou mais de um desses conjuntos orgânicos. nn Singular:
aluno; cão; mesa; povo; manada; tropa. nn Plural: alunos; cães; mesas; povos; manadas; tropas.
557
A09 Substantivo: definição e flexões
Flexões dos substantivos
Português
Regras gerais nn Substantivos terminados em vogal ou ditongo: acrescenta-se um simples “-s”. nn livro – livros; boné – bonés; pai – pais; herói – heróis. nn Substantivos terminados em “-ão”: formam plural em “-ãos”, “-ães” ou “-ões”. nn cidadão – cidadãos; coração – corações; alemão – alemães. nn Há também substantivos com mais de uma forma plural adequada como: anciãos, anciães, anciões; vulcãos, vulcões; verãos, verões. nn Substantivos terminados “-r” e “-z”: acrescenta-se “-es”. nn mar – mares; reitor – reitores; rapaz – rapazes; cruz – cruzes. nn Casos particulares: júnior – juniores; caráter – caracteres. nn Substantivos terminados em “m” e “n”: formam plural em “ns”. nn jovem – jovens; hífen – hifens; viagem – viagens; abdômen – abdomens. nn Substantivos terminados em “s”: acrescenta-se “es” nos substantivos oxítonos e monossílabos; para os demais (paroxítonos e proparoxítonos) não há variação. nn freguês – fregueses; país – países; mês – meses; pires – pires; lápis – lápis; ônibus – ônibus. nn Exceção: cais – cais. nn Substantivos terminados em “x”: não sofrem alteração. nn tórax – tórax. nn Substantivos terminados em “al”, “el”, “ol”, “ul”: formam plural em “is”. nn varal – varais; túnel – túneis; anzol – anzóis; paul – pauis. nn Substantivos terminados em “il”: os oxítonos formam plural em “is”, os paroxítonos, em “eis”. nn barril – barris; fuzil – fuzis; réptil – répteis; papel – papéis. nn Exceções: mal – males; cônsul – cônsules. Plural dos substantivos compostos O plural dos substantivos compostos não é, sempre, um consenso entre os gramáticos. A fim, porém, de facilitar nosso estudo, exporemos uma regra geral, isto é, um pressuposto lógico para que entendamos como funciona o plural dos substantivos compostos. Veja: Obra-prima Plural de obra: obras Plural de prima: primas Plural de obra-prima: obras-primas
Wikimedia Commons A09Fonte: Substantivo: definição e flexões
!
ATENÇÃO!
Assim como advérbios, que são termos invariáveis e nunca vão para o plural, substantivos acompanhados por preposição também não se pluralizam. Veja:
558
Abaixo-assinado Plural de abaixo: não existe Plural de assinado: assinados Plural de abaixo-assinado: abaixo-assinados
Sexta-feira Plural de sextas: sextas Plural de feira: feiras Plural de sexta-feira: sextas-feiras
Alto-falante Plural de alto: não existe Plural de falante: falantes Plural de alto-falante: alto-falantes
O plural de um substantivo composto é a reunião das formas de plural das palavras que o constituem. Isso significa que serão pluralizados apenas os termos que admitam essa ocorrência. Pé de moleque Plural de pé: pés Plural de moleque: invariável, pois é acompanhado por preposição Plural de pé de moleque: pés de moleque
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Fonte: Wikimedia Commons
Moleque-da-bananeira Plural de moleque: moleques Plural de bananeira: invariável, pois é acompanhado por preposição Plural de moleque-da-bananeira: moleques-da-bananeira Grau O grau de um substantivo pode ser normal, diminutivo ou aumentativo, ademais, pode ser expresso de forma analítica (duas palavras) ou sintética (uma palavra). Observe: Casa Aumentativo analítico: casa grande Aumentativo sintético: casarão Diminutivo analítico: casa pequena Diminutivo sintético: casinha Valor expressivo das formas sintéticas Diferente das flexões de gênero e número, o grau de um substantivo não é formado pelo acréscimo de desinências, trata-se de uma nova palavra formada por derivação sufixal. Nesse sentido, as palavras podem variar em grau admitindo tons de ironia e desprezo ou tons de carinho e ternura. Sufixos depreciativos: jornaleco; narigudo; viela. Sufixos valorativos: filhão; avozinha; golaço.
01. (IF SC) Circuito Fechado (1) Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas, caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço
de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, externo¹, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. Fonte: RAMOS, Ricardo. Circuito Fechado. São Paulo: Martins Editora, 1972. p. 21-22.
Glossário: (1) externo: No texto, o termo externo se refere à pessoa que faz serviços externos. Assinale no cartão-resposta a soma da(s) proposição(ões) CORRETA(S).
Gab: 14
559
A09 Substantivo: definição e flexões
Exercícios de Fixação
Português
01. O substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral, e é classificado apenas como concreto e abstrato. 02. Os substantivos abstratos designam somente noções, ações, estados e qualidades. 04. No conto “Circuito Fechado” o autor usa substantivos concretos. 08. Os substantivos são variáveis também quanto à flexão de número. 16. Nos substantivos, há variação em três gêneros: masculino, feminino e neutro.
c) Como se diz em Hollywood, o tapete vermelho está desenrolado, o champanhe está no gelo e as limusines estão esperando. Está na hora do Oscar. (http://g1.globo.com.)
02. (IF SP) Responda de acordo com a gramática normativa. O substantivo em destaque está corretamente flexionado no plural em: a) Vários painéus explicativos foram expostos para orientar os visitantes que vêm ao museu. b) Os arqueólogos até hoje tentam decifrar alguns caracteres usados por povos da Antiguidade. c) Os cidadões estão indignados com o aumento excessivo e injusto dos impostos. d) A nova cozinheira sabe preparar deliciosos pãozinhos de milho. e) No salão de cerimônias do clube estavam expostos os troféis do time.
madeira. Por dentro, todas as portas acompanham o pé
03. (Ibmec SP) Atente-se ao título da notícia.
d) Se há um homem que sabe driblar as ameaças, Ney Matogrosso é o cara. Quando decidiu rasgar o manual dos bons modos nos anos 70 para atiçar a libido de sua plateia em palcos vigiados por militares, recebeu cartinhas da ditadura dizendo que sua batata estava assando. (O Estado de São Paulo, 29/01/2011.) e) Um dos quartos do apartamento de 140 metros quadrados recebe iluminação de quatro janelas altas e largas de direito elevado e são pintados de um tom lilás suave. Cada cômodo do apartamento da aposentada praticamente equivale a uma quitinete na capital paulista. (http://www. redebrasilatual.com.br) 04. (Escs DF) OS CAMELÔS Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão: O que vende balõezinhos de cor O macaquinho que trepa no coqueiro O cachorrinho que bate com o rabo Os homenzinhos que jogam boxe A perereca verde que de repente dá um pulo que engraçado E as canetinhas-tinteiro que jamais escreverão coisa alguma Alegria das calçadas. Uns falam pelos cotovelos: -“O cavalheiro chega em casa e diz: ‘Meu filho, vai buscar um pedaço de banana para eu acender o charuto.’ Naturalmente o menino pensará: “Papai está malu...” Outros, coitados, têm a língua atada. Todos, porém, sabem mexer nos cordéis com o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades. E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice... E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma li-
(Folha de São Paulo, 14/05/2011.)
A09 Substantivo: definição e flexões
Utilizou-se uma flexão de gênero que contraria os princípios da norma gramatical com relação aos substantivos. Esse mesmo procedimento foi utilizado em a) Segundo o pesquisador, os avanços na medicina reprodutiva em bovinos vão ajudar a clonar mamutes com o uso de elefantas como mães de aluguel, mas não vai ser da maneira como as pessoas pensam. (Folha de S.Paulo, 19/11/2008.) b) O omelete preparado pela presidenta Dilma Rousseff no programa ‘Mais Você’, da apresentadora Ana Maria Braga, está mais salgado para as donas de casa cariocas.” (O dia online, 02/03/2011.) 560
ção de infância. (M. Bandeira In: Libertinagem. Seleta em prosa e verso. (Org. Emanuel de Moraes), Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p.131).
Canetinhas-tinteiro é um vocábulo cuja formação de plural se processa do mesmo modo que em: a) tenente-coronel; b) terça-feira; c) afro-asiático; d) árvore-anã; e) laranja-pera.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Questão 01. a) No primeiro período do texto, temos duas ocorrências da palavra público: “são de interesse público” e “são de interesse do público”. Na primeira ocorrência, “público” é empregado como adjetivo, já que está qualificando diretamente o substantivo “interesse”, como ocorre também em “não tem nenhum interesse público” (2ª linha). Na segunda ocorrência, a palavra “público” é empregada como substantivo, pois vem determinada diretamente pelo artigo definido “o”, como ocorre também em “enorme interesse do público” (3ª linha); igualmente como substantivo é empregado em “de um certo público”, aqui substantivado por meio do determinante indefinido “um certo”. b) No texto, chama-se de “interesse público” tudo aquilo que atende às reais demandas da sociedade, que se destina ao bem-estar social, como, por exemplo (de acordo com o texto), medidas tomadas para conter a inflação. Já com a expressão “interesse do público” designam-se os interesses mais associados ao gosto pessoal, à curiosidade, ou à simples “fofoca”.
Exercícios Complementares
(Fernando Barros e Silva, O jornalista e o assassino. Folha de São Paulo (versão on line), 18/04/2011. Acessado em 20/12/2011.)
a) A palavra público é empregada no texto ora como substantivo, ora como adjetivo. Exemplifique cada um desses empregos com passagens do próprio texto e apresente o critério que você utilizou para fazer a distinção. b) Qual é, no texto, a diferença entre o que é chamado de interesse público e o que é chamado de interesse do público? 02. (FGV SP) Leia a tira e o texto.
(www2.uol.com.br/glauco. Adaptado.)
Foi o que bastou para que o súdito de Sua Majestade se visse arrastado por uma onda de irresistível nostalgia. Mas nada de Pampulha, Serra do Curral, Praça da Liberdade, Rua do Amendoim, essas belorizontices: a lembrança mais forte que Michael guardava da capital mineira, vinte anos depois, era de uma empadinha. (Humberto Werneck, O espalhador de passarinhos.)
a) Considerando os valores afetivos da linguagem, comente o sentido assumido pelas palavras morandinho e empadinha, extraídas respectivamente da tira e do texto. b) Em português, a ideia de diminuição das proporções, manifestada pelos sufixos próprios dos diminutivos, em sua forma, caracteriza o grau dos substantivos. Aplique essa regra às palavras morandinho e empadinha, apresentando comentários pertinentes. 03. (FGV SP) Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração me dava Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos Ele não gostava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas… – O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada. (Manuel Bandeira. Libertinagem e Estrela da manhã.)
Sobre os diminutivos presentes no texto, é correto afirmar que a) “limpinhos” e “porquinho(-da-índia)” são substantivos que exemplificam o padrão básico do diminutivo. b) “ternurinhas” e “bichinho” aludem à ideia física de tamanho, típica da formação do diminutivo. c) “limpinhos” e “ternurinhas” revelam características do emprego estilístico-afetivo do diminutivo. d) “bichinho” e “porquinho(-da-índia)” se formam a partir de adjetivos e substantivos abstratos. e) “ternurinhas” e “bichinho” representam formações de uso pejorativo, na língua portuguesa atual. 04. (UFSM RS) Leia mais uma apreciação do filme Ratatouille. Ratatouille trata de temas sérios, como o quão importante é a aceitação do diferente, a luta contra as expectativas familiares, a busca da própria independência e a importância de sermos verdadeiros com aquilo que realmente somos. O filme desmistifica aquela famosa pergunta: “você é um rato ou um homem?” Aqui o rato é humano. Remy deseja fazer aquilo que mais ama e para isso mergulha num universo completamente hostil. Exatamente como nós, que temos de lutar contra um mercado de trabalho espremido e feroz para realizarmos aquilo que amamos. www.confrariadecinema.com.br
Questão 02. a) A palavra empadinha, mesmo que possa ter algum valor afetivo, em função do contexto, refere-se mais propriamente ao diminutivo de “empada”, no sentido de um objeto de pequenas proporções; por sua vez, morandinho revela, de modo mais acentuado, um sentido afetivo, afastando-se da ideia de tamanho. b) Enquanto empadinha exemplifica bem a regra dada, o termo morandinho é formado a partir de um verbo no gerúndio (morando), fugindo ao padrão da língua (a partir de um substantivo).
561
A09 Substantivo: definição e flexões
01. (Unicamp SP) Há notícias que são de interesse público e há notícias que são de interesse do público. Se a celebridade “x” está saindo com o ator “y”, isso não tem nenhum interesse público. Mas, dependendo de quem sejam “x” e “y”, é de enorme interesse do público, ou de um certo público (numeroso), pelo menos. As decisões do Banco Central para conter a inflação têm óbvio interesse público. Mas quase não despertam interesse, a não ser dos entendidos. O jornalismo transita entre essas duas exigências, desafiado a atender às demandas de uma sociedade ao mesmo tempo massificada e segmentada, de um leitor que gravita cada vez mais apenas em torno de seus interesses particulares.
Português
Assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das afirmações relacionadas ao primeiro período do texto (ref. 1). ( ) Os substantivos aceitação, luta e busca derivam de verbos, mas não passaram todos eles pelo mesmo processo de derivação. ( ) Se os substantivos aceitação, luta e busca fossem substituídos por verbos correspondentes no infinitivo, os três verbos não seriam mais seguidos por preposição. ( ) As palavras sérios, diferente e familiares têm a função de qualificar um substantivo que as antecede. A sequência correta é a) V - F - F. b) F - F - V. c) V - V - V. d) F - F - F. e) V - F - V. Texto comum às questões: 05 e 06
A09 Substantivo: definição e flexões
Escravidão com etiqueta O impacto de que há escravidão entre nós, na própria cidade de São Paulo e em municípios do interior paulista, pode ser medido pela repercussão do fato na internet e pelo incômodo de consciência que vem causando. Indústrias de confecção, terceirizadas defamosa marca internacional de roupas, foram flagradas violando a legislação trabalhista do País por utilizarem o trabalho clandestino de imigrantes bolivianos e peruanos, em regime análogo ao da escravidão. Há uma persistente anomalia em relações de trabalho de algumas de nossas atividades econômicas. Mas por aí se constata também nossa consciência difusa de iniquidades que persistem tanto tempo depois da Lei Áurea. (…) O que terminou, em 1888, com a Lei Áurea, foi a escravidão negra, do escravo-coisa e mercadoria, objeto e propriedade de seu senhor, sujeito a castigo físico e comércio. Mas não terminou o trabalho propriamente servil. (…) A novidade que vem crescendo entre nós é a da sobre-exploração do trabalho na indústria urbana, e mesmo o cativeiro. Não é de agora que a indústria dos países ricos recorre à mão de obra residente nos países pobres para pagar salários baixos por mercadorias que serão vendidas a preços de países ricos. As confecções estão entre as mercadorias que melhor se encaixam nessa lógica econômica. Na verdade, o Brasil está sendo alcançado pelo modelo asiático de relações de trabalho, os trabalhadores trabalhando praticamente pela mera subsistência ou até menos, algo que representa um retrocesso em relação à própria escravidão,em que o escravo era tratado como bem precioso e, portanto, em tese e em termos relativos, até melhor do que as atuais vítimas da escravidão. (O Estado de S.Paulo, 21.08.11. Adaptado)
05. (Unisa SP) Ocorre mudança de classe gramatical entre as palavras destacadas em: 562
a) Mas por aí se constata também nossa consciência difusa de iniquidades./ O jornal é um veículo difusor de denúncias sociais. b) A novidade que vem crescendo entre nós é a da sobre-exploração do trabalho na indústria urbana./ Já se sabe que os bolivianos vêm para São Paulo para melhorar de vida. c) Não é de agora que a indústria dos países ricos recorre à mão de obra residente nos países pobres./ Entre os médicos, é o residente que cuida dos doentes, vítimas do trabalho escravo. d) O impacto de que há escravidão entre nós pode ser medido pela repercussão do fato na internet./ Com a exploração do trabalho na indústria urbana, continua havendo escravidão entre nós. e) Em municípios do interior paulista também se pratica a escravidão./ Não é aceitável que se pratique a escravidão em cidades paulistas, as mais ricas do país. 06. (Unisa SP) Assinale a alternativa em que se repete a classe gramatical da palavra em destaque na oração – O escravo era tratado como um bem precioso. a) Os imigrantes bolivianos bem que reclamaram dos trabalhos forçados. b) O escravo era até mais bem tratado que as atuais vítimas da escravidão. c) Os trabalhadores daqui ganham bem menos que os dos países ricos. d) Obedecer à legislação trabalhista é o maior bem que se faz aos trabalhadores. e) Os trabalhadores do interior paulista são bem explorados pelas confecções. 07. (FM Petrópolis RJ) Verba Testamentária “... Item, é minha última vontade que o caixão, em que o meu corpo houver de ser enterrado, seja fabricado em casa de Joaquim Soares, à rua da Alfândega. Desejo que ele tenha conhecimento desta disposição, que também será pública. Joaquim Soares não me conhece; mas é digno da distinção, por ser dos nossos melhores artistas, e um dos homens mais honrados da nossa terra...” Cumpriu-se à risca esta verba testamentária. Joaquim Soares fez o caixão em que foi metido o corpo do pobre Nicolau B. de C.; fabricou-o ele mesmo, con amore; e, no fim, por um movimento cordial, pediu licença para não receber nenhuma remuneração. Estava pago; o favor de defunto era em si mesmo um prêmio insigne. Só desejava uma coisa: a cópia autêntica da verba. Deram-lha; ele mandou-a encaixilhar e pendurar de um prego, na loja. Os outros fabricantes de caixões, passado o assombro, clamaram que o testamento era um despropósito. Felizmente — e esta é uma das vantagens do estado social —, felizmente, todas as demais classes acharam que aquela mão, saindo do abismo para abençoar a obra de um operário modesto, praticara uma ação rara e magnânima. Era em 1855; a população estava mais conchegada; não se falou de outra coisa. O nome do Nicolau reboou por muitos dias na imprensa da corte, donde passou à das províncias. Mas a vida universal é tão variada, os sucessos acu-
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
ASSIS, Machado de. In: Contos/ Uma Antologia. Seleção, introdução e notas de John Gledson. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.p. 411-413.
No trecho “donde passou à das províncias”, o substantivo que está sendo referido entre à e das é a) ação b) população c) coisa d) imprensa e) corte 08. (UECE) A garagem de casa Com o portão enguiçado, e num convite a ladrões de livros, a garagem de casa lembra uma biblioteca pública permanentemente aberta para a rua. Mas não são adeptos de literatura os indivíduos que ali se abrigam da chuva ou do sol a pino de verão. Esses desocupados matam o tempo jogando porrinha, ou lendo os jornais velhos que mamãe amontoa num canto, sentados nos degraus do escadote com que ela alcança as prateleiras altas. Já quando fazem o obséquio de me liberar o espaço, de tempos em tempos entro para olhar as estantes onde há de tudo um pouco, em boa parte remessas de editores estrangeiros que têm apreço
pelo meu pai. Num reduto de literatura tão sortida, como bem sabem os habitués de sebos, fascina a perspectiva de por puro acaso dar com um livro bom. Ou by serendipity, como dizem os ingleses quando na caça a um tesouro se tem a felicidade de deparar com outro bem, mais precioso ainda. Hoje revejo na mesma prateleira velhos conhecidos, algumas dezenas de livros turcos, ou búlgaros ou húngaros, que papai é capaz de um dia querer destrinchar. Também continua em evidência o livro do poeta romeno Eminescu, que papai ao menos tentou ler, como é fácil inferir das folhas cortadas a espátula. Há uma edição em alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que ele não leu, mas cujas ilustrações admirou longamente, como denunciam os filetes de cinzas na junção das suas páginas coloridas. Hoje tenho experiência para saber quantas vezes meu pai leu um mesmo livro, posso quase medir quantos minutos ele se deteve em cada página. E não costumo perder tempo com livros que ele nem sequer abriu, entre os quais uns poucos eleitos que mamãe teve o capricho de empilhar numa ponta de prateleira, confiando numa futura redenção. Muitas vezes a vi de manhãzinha compadecida dos livros estatelados no escritório, com especial carinho pelos que trazem a foto do autor na capa e que papai despreza: parece disco de cantor de rádio. (Chico Buarque. O irmão alemão. 1 ed. São Paulo. Companhia das letras. 2014. p. 60-61. Texto adaptado com o acréscimo do título.)
A obra O irmão alemão, último livro de Chico Buarque de Holanda, tem como móvel da narrativa a existência de um desconhecido irmão alemão, fruto de uma aventura amorosa que o pai dele, Sérgio Buarque de Holanda, tivera com uma alemã, lá pelo final da década de 30 do século passado. Exatamente quando Hitler ascende ao poder na Alemanha. Esse fato é real: o jornalista, historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, na época, solteiro, deixou esse filho na Alemanha. Na família, no entanto, não se falava no assunto. Chico teve, por acaso, conhecimento dessa aventura do pai em uma reunião na casa de Manuel Bandeira, por comentário feito pelo próprio Bandeira. Foi em torno da pretensa busca desse pretenso irmão que Chico Buarque desenvolveu sua narrativa ficcional, o seu romance. Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: “o que o leitor tem em mãos [...] não é um relato histórico. Realidade e ficção estão aqui entranhadas numa narrativa que embaralha sem cessar memória biográfica e ficção”. O substantivo “convite” (Ref. 2) tem, no texto, o mesmo sentido que tem no enunciado seguinte: a) Um convite formal a Alberto o obrigará a abandonar sua confortável neutralidade e a tomar partido nessa questão. b) A falta de compromisso de alguns professores é um convite à malandragem dos alunos. c) O convite para a sua festa será entregue com antecedência. Não há, pois, motivo para tanta preocupação. d) O show será gratuito. A Secretaria de Cultura estará distribuindo os convites até a véspera do espetáculo. 563
A09 Substantivo: definição e flexões
mulam-se em tanta multidão, e com tal presteza, e, finalmente, a memória dos homens é tão frágil, que um dia chegou em que a ação de Nicolau mergulhou de todo no olvido. Não venho restaurá-la. Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito. Obra de lápis e esponja. Não, não venho restaurá-la. Há milhares de ações tão bonitas, ou ainda mais bonitas do que a do Nicolau, e comidas do esquecimento. Venho dizer que a verba testamentária não é um efeito sem causa; venho mostrar uma das maiores curiosidades mórbidas deste século. Sim, leitor amado, vamos entrar em plena patologia. Esse menino que aí vês, nos fins do século passado (em 1855, quando morreu, tinha o Nicolau sessenta e oito anos), esse menino não é um produto são, não é um organismo perfeito. Ao contrário, desde os mais tenros anos, manifestou por atos reiterados que há nele algum vício interior, alguma falha orgânica. Não se pode explicar de outro modo a obstinação com que ele corre a destruir os brinquedos dos outros meninos, não digo os que são iguais aos dele, ou ainda inferiores, mas os que são melhores ou mais ricos. Menos ainda se compreende que, nos casos em que o brinquedo é único, ou somente raro, o jovem Nicolau console a vítima com dois ou três pontapés; nunca menos de um. Tudo isso é obscuro. Culpa do pai não pode ser. O pai era um honrado negociante ou comissário [...], que viveu com certo luzimento no último quartel do século, homem ríspido, austero, que admoestava o filho, e, sendo necessário, castigava-o. Mas nem admoestações, nem castigos, valiam nada. O impulso interior do Nicolau era mais eficaz do que todos os bastões paternos; e, uma ou duas vezes por semana, o pequeno reincidia no mesmo delito. Os desgostos da família eram profundos. Deu-se mesmo um caso, que, por suas gravíssimas consequências, merece ser contado. [...]
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A10
ASSUNTOS ABORDADOS nn Sujeito nn Sujeito determinado nn Sujeito indeterminado nn Orações sem sujeito
SUJEITO Em aulas anteriores, vimos que o sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração. Dessa maneira, compreendemos que a estrutura do sujeito é formada por um sintagma nominal que se relaciona com um sintagma verbal. Daí, entendemos que o sujeito é o termo com o qual o verbo concorda em número e em pessoa.
Características do sujeito: nn Referente
imediato de informação expressa por um verbo ou locução verbal; da oração que possui independência sintática (não vem seguido por preposição); nn Tem como núcleo(s) palavra(s) de valor substantivo. nn Termo
Classificação: 1) Simples (um núcleo) ou composto (dois ou mais núcleos); 2) Agente (realiza a ação verbal) ou paciente (sofre a ação verbal); 3) Anteposto ao verbo ou posposto ao verbo; 4) Expresso na oração ou subentendido pelo contexto.
Sujeito determinado 1) Mais importante que identificar o sujeito de uma oração é identificar o núcleo do sujeito, justamente porque é com esse termo que o verbo concorda. Então, como encontrar o núcleo de um sujeito? Já sabemos que ele é representado por uma palavra de valor substantivo que não é regida por preposição. Isso é o essencial para vermos, numa oração, a palavra central do sujeito. Veja: A exploração de recursos naturais sustentáveis traz prejuízos ao meio ambiente. Em meio a tantas palavras no plural, por que razão o verbo da oração acima foi escrito no singular? Primeiro, identifiquemos o sujeito: “A exploração de recursos naturais”, uma vez que é esse o termo referente imediato da informação expressa pelo verbo. Agora, para entender por que o verbo deve permanecer no singular, temos de identificar o núcleo desse sujeito. Veja que a única palavra de valor substantivo que não é regida por preposição no sujeito dessa oração é: “exploração”. Logo, o núcleo do sujeito da oração acima é “exploração” e é exatamente com ela que o verbo trazer deve concordar (3ª pessoa do singular).
564
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
2) O sujeito pode tanto realizar a ação de um verbo quanto recebê-la. Na oração acima, o sujeito é quem executa a ação do verbo trazer. Mas veja como na oração abaixo, o sujeito não realiza ação verbal alguma. Ele é quem sofre o comando do verbo. Prejuízos ao meio ambiente são trazidos pela exploração de recursos naturais sustentáveis. Note que agora o verbo está no plural e que o referente da ação verbal passou a ser “Prejuízos ao meio ambiente”. Logo, ele é o novo sujeito da oração, porém, diferentemente da outra oração ele não executa a ação verbal. Trata-se, portanto, de um sujeito paciente. 3) O sujeito normalmente é anteposto, isto é, situa-se antes do verbo ou locução verbal. Mas não se engane, veja abaixo as orações cujo sujeito é posposto ao constituinte verbal: nn Serão apresentados na assembleia os novos diretores. nn Chegaram atrasados todos os alunos para a palestra. nn Aconteceram diversos atentados terroristas no ano passado. 4) O sujeito de uma oração também pode estar subentendido pelo contexto, a fim de se evitar a repetição de uma palavra. Desse modo, o sujeito pode ser identificado pelas desinências verbais (lembre-se das desinências verbais número-pessoais). Esse tipo de sujeito antes se designara sujeito oculto, nomenclatura atualmente em desuso; em vez dessa, opta-se por sujeito desinencial ou sujeito elíptico, ou ainda sujeito claro pela desinência verbal. Observe: nn Querida, (eu) cheguei! nn (Tu) Disseste algo, meu caro? nn Mariana foi ao supermercado e (Mariana) comprou carne para o almoço. Empregos gerais nn Pedro
e eu resolvemos a lista de exercícios.
Sujeito composto, agente, anteposto e expresso. resolvemos a lista de exercícios.
nn Nós
Sujeito simples, agente, anteposto e expresso. nn Divulgamos o resultado no site da escola. Sujeito simples, agente e elíptico (desinencial). ex-governador ficou detido por três semanas.
nn O
Sujeito simples, paciente, anteposto e expresso. nn São lindos os seus olhos. Sujeito simples, agente, posposto e expresso. nn Aqui foram encontradas todas as evidências de um crime. Sujeito simples, paciente, posposto e expresso.
!
ATENÇÃO!
Sabendo que o sujeito é termo da oração que não pode ser acompanhado por preposição, podemos entender por que em determinadas orações não é feita a combinação entre a preposição e o artigo. Veja: Essa matéria não é difícil de o aluno entender. Repare que não foi escrito “do aluno” e, sim, “de o aluno”. Isso ocorre porque “o aluno” é o sujeito do verbo entender, portanto para garantir a independência sintática desse termo, a combinação (preposição + artigo) não é admitida. 565
A10 Sujeito
Independência sintática do sujeito
Português
Fonte: outubrorosa.org.br
Sujeito indeterminado Algumas vezes o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem executa a ação, ou ainda por não haver interesse no seu conhecimento. Dessa maneira, quando o complemento verbal é mais importante que o referente verbal (o sujeito), é possível indeterminar o sujeito, fazendo-o ser irrelevante para a interpretação da oração. Assim, designamo-lo sujeito indeterminado. Imagine a manchete de jornal: “Descobriram um novo tratamento para o câncer de mama”. Certamente, no texto principal seriam evidenciados aqueles cientistas e médicos que contribuíram para esse novo tratamento. A fim de chamar, no entanto, a atenção do leitor pela manchete, pouco vale o grupo de pessoas que participou na descoberta desse tratamento. O referente não importa, é muito mais importante o complemento dessa informação. Assim, o sujeito da oração acima foi indeterminado com intuito de atrair o leitor, e o foco redirecionado para o novo tratamento para o câncer de mama. Verbo na 3ª pessoa do plural A maneira mais comum de se indeterminar um sujeito é com o verbo na 3ª pessoa do plural. Observe: nn Falaram muito mal de você ontem! nn Dizem que a gasolina vai subir outra vez. nn Encontraram novas evidências que podem mudar o curso da investigação.
!
ATENÇÃO!
Qual a diferença entre sujeito desinencial e sujeito indeterminado? Do sujeito desinencial sabe-se quem é o referente, uma vez que ele foi expresso em outra oração, em uma circunstância anterior ou ainda pressuposto no próprio enunciado. Ademais, o sujeito subentendido dá-se com o fim de se evitar repetições de termos. O sujeito indeterminado só pode ser expresso por um verbo na 3ª pessoa e é utilizado quando não se sabe ou não se interessa para transmissão da informação. Veja que o sujeito do verbo encontrar na oração abaixo não é indeterminado e, sim, desinencial, uma vez que seu referente é expresso anteriormente: nn Vanessa e Arnaldo são policiais federais e (eles) encontraram novas evidências que
podem mudar o curso da investigação.
Índice de indeterminação do sujeito Diferentemente do processo anterior, há outro em que o sujeito pode ser indeterminado a partir do uso de uma partícula “se”, chamada índice de indeterminação do sujeito. Veja: nn Vive-se
bem nesta cidade. de funcionários com experiência. nn Na infância, ficava-se feliz por qualquer motivo. nn Precisa-se
Partícula apassivadora Há ainda outro processo que prioriza o fato ante o referente da informação, porém não indetermina o sujeito. É muito semelhante ao processo anterior, embora gere outra lógica na relação de concordância do verbo com o sujeito. Veja: A10 Sujeito
casa no setor Sul. nn Construíram-se barragens por todo o país. nn Encontram-se funcionários com experiência. nn Vende-se
566
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Concordância com a partícula “se” Note que, quando seguido por índice de indeterminação do sujeito, o verbo deve sempre estar no singular e, quando seguido por partícula apassivadora, o verbo concorda com o sujeito. Mas qual a diferença de construções com índice de indeterminação do sujeito e com partícula apassivadora? Bem, quanto ao sentido, não há diferença. Em uma análise sintática, entretanto, vemos que apenas verbos intransitivos (VI), verbos de ligação (VL) e verbos transitivos indiretos (VTI) aceitam construções com índice de indeterminação do sujeito, enquanto apenas verbos transitivos diretos (VTD) aceitam partículas apassivadoras. Compare as frases abaixo: de funcionários com experiência. nn Encontram-se funcionários com experiência. nn Precisa-se
Na primeira frase, o verbo está no singular e “funcionários com experiência” é seu o complemento; já na segunda, o verbo está no plural porque “funcionários com experiência” é o sujeito da oração. Para diferenciar com mais objetividade quando um termo funciona como sujeito e quando como complemento, basta olhar a preposição. Como estudado na aula anterior, o sujeito tem independência sintática, logo, em uma construção com a partícula “se” na qual haja preposição, o verbo deverá ser mantido no singular.
Orações sem sujeito
nn Chove. nn Anoitece. nn Faz
frio.
O processo verbal em si nos é interessante, mas não o atribuímos a nenhum ser. A esses verbos ligados a fenômenos da natureza dá-se o nome de impessoais, cujo sujeito é inexistente. Principais verbos impessoais Veja a foto abaixo e observe que nela há manifestantes protestando às portas do Congresso Nacional. Agora, imagine-se redator de um grande jornal que se deparou com uma dúvida ao escrever a manchete para essa foto: “Houve manifestações às portas do Congresso” ou “Houveram manifestações às portas do Congresso”? Os verbos impessoais não possuem referente e, por isso, só são escritos na 3ª pessoa do singular. Logo, para a foto abaixo, a manchete a ser escolhida pelo redator deve ser: “Houve manifestações às portas do Congresso”.
A10 Sujeito
Fonte: Wikimedia Commons
O que se quer dizer com orações sem sujeito? Já vimos vários exemplos de orações nas quais o sujeito não aparece:
a fim de se evitar repetições, ocultamos o sujeito, fazendo-o ser identificado a partir da desinência do verbo, além disso, quando pelo sujeito não há interesse, o indeterminamos. Nesses dois casos, porém, o sujeito existe, há um ser por trás do verbo que realiza a ação. No entanto, há determinadas condições em que não existe ser algum que possa realizar a ação descrita pelo verbo. Tem-se, assim, orações sem sujeito, como as seguintes:
567
Português
Verbo HAVER
Verbo SER
O verbo haver quando sinônimo dos verbos existir, acontecer e ocorrer é impessoal. Veja: nn Durante
a greve, houve manifestações de protesto. nn Deve haver motivos para tal atitude. nn Haverá chuvas para o mês de janeiro? Coloquialmente, o verbo ter impessoal é preferido pelos falantes em vez de usar o verbo haver. Assim, de maneira semelhante, o verbo ter também deve permanecer no singular quando sinônimo de existir, ocorrer ou acontecer. nn Durante
a greve, teve manifestações de protesto. nn Deve ter motivos para tal atitude. nn Terá chuvas para o mês de janeiro?
!
ATENÇÃO!
Os verbos existir, acontecer e ocorrer não são impessoais, logo, concordam naturalmente com o sujeito. Veja: nn Durante a greve, ocorreram manifestações de protesto. nn Devem existir motivos para tal atitude. nn Acontecerão chuvas para o mês de janeiro?
Verbos HAVER e FAZER Os verbos haver e fazer quando indicam tempo decorrido são impessoais. Observe: nn Há
dez anos não vejo meu irmão. nn Faz dez anos que não vejo meu irmão.
O verbo ser quando indicativo de hora, data ou distância é impessoal. No entanto, por eufonia (buscando melhor sonoridade), esse verbo pode ser também escrito no plural. Veja: nn Hoje
são 25 de fevereiro. é dia 25 de fevereiro. nn Já é meio-dia e meia. nn Já são 12 horas e 30 minutos. nn De Goiânia a Brasília, são 250 quilômetros de distância. nn Hoje
Verbos ligados a fenômenos naturais São inúmeros os verbos que transmitem ações ligadas a fenômenos da natureza como: chover, amanhecer, nevar, trovoar etc., assim como construções verbais que expressem tais fenômenos como: fazer frio, ficar escuro, estar quente etc. Logo, por não haver um ser por trás dessas ações, trata-se de verbos impessoais que devem ser escritos na 3ª pessoa do singular. Veja: nn Vamos
embora! Já está tarde e ficou escuro. nn No norte, faz verões quentes e chuvosos. nn Está calor nesses dias, mas chove com frequência.
!
ATENÇÃO!
Em algumas construções, o verbo denotador de um fenômeno natural pode aparecer no plural quando ele necessitar de um referente. Veja: nn Está calor nesses dias, mas choveram granizos com frequência. nn Chovem críticas sobre o atual governo. (sentido figurado)
Exercícios de Fixação 01. (Ibmec SP)
a) Foram criados novos aplicativos que prometem anonimato dos usuários. b) No mercado há diversos aplicativos que prometem anonimato dos usuários. c) Surgiram vários aplicativos que prometem anonimato dos usuários. d) Desenvolvemos novos aplicativos que prometem anonimato dos usuários. e) Cresce a oferta de aplicativos que prometem anonimato dos usuários.
(Folha de S. Paulo, 07/04/2014)
A10 Sujeito
O título da chamada alude a um dos termos essenciais da oração: o sujeito. No entanto, para que o sujeito seja classificado como oculto, é necessário que haja certas marcas linguísticas, que podem ser identificadas em
568
02. (UFRN) Carlos Drummond de Andrade publicou seus Contos de aprendiz quando já se aproximava dos cinqüenta anos de idade. Por que um poeta consagrado decidiria arriscar a reputação num terreno que, aparentemente, lhe era estranho? Quando reuniu os contos que compõem este volume, Drummond já tinha publicado alguns de seus livros mais importantes [...]. Não precisava, mais, de aventuras. Já tinha experimentado também o papel de prosador pelo
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
satisfeito. Os contos aqui reunidos guardam, porém, uma outra estrutura. Se Drummond preferiu chamá-los “de aprendiz”, não se referia, contudo, a uma iniciação. A palavra aprendiz indica, em princípio, aquele que tateia em um ofício, que não passa de um iniciante. O poeta era, talvez, ainda um principiante na prosa, mas na poesia já era um mestre. É do exercício dessa maestria, e do prazer em experimentá-la em terrenos distantes, de transportá-la para outras regiões sem que ela se perca, portanto, que se trata. CASTELLO, José. Prefácio. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos de aprendiz. 49. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 7.
A respeito dos termos sublinhados na terceira linha do fragmento, é correto afirmar que: a) Exercem, respectivamente, estas funções sintáticas: adjunto adverbial e adjunto adnominal. b) Exercem, respectivamente, estas funções sintáticas: adjunto adverbial e sujeito. c) Ambos desempenham, do ponto de vista sintático, a mesma função: sujeito. d) Ambos introduzem orações adjetivas, daí exercerem a mesma função: adjunto adnominal. 03. (Puc GO) Considerando-se os traços sintático-semânticos definidores do sujeito gramatical do verbo lançar, em suas duas ocorrências nos versos finais da segunda estrofe do poema, é correto afirmar que tal sujeito, no texto, é: a) simples e revela as qualidades necessárias para a salvação das “almas escuras das grutas” a que o enunciador se refere. b) composto e apresenta significação oposta aos valores cristãos evocados pelas palavras “calvário” e “cruz”. c) desinencial e esconde a identidade solitária do poeta. d) indeterminado e deixa implícito o desejo do enunciador de desistir da luta. 04. (Unifor CE)
Marque a opção que apresenta o mesmo tipo de sujeito encontrado na oração: “Quem foi João Ninguém?” a) Todos buscam a felicidade. b) Há imagens irreconhecíveis. c) Foi-se ainda triste. d) Andava pensativa naquelas últimas noites. e) Gregos e Troianos eram povos antigos. 05. (IF RS) Poema em linha reta Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? PESSOA, Fernando. Fernando Pessoa - Obra Poética. Cia. José Aguilar Editora: Rio de Janeiro, 1972. p. 418.
Na frase “Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” (linha 02), o sujeito da oração é _____________________. Trata-se de um sujeito ____________. Assinale a alternativa que completa correta e respectivamente as lacunas. a) conhecidos – simples b) Todos os meus conhecidos – simples c) meus conhecidos – composto d) têm sido campeões em tudo – indeterminado e) campeões em tudo – composto 569
A10 Sujeito
menos por duas vezes [...]. Deveria, pode-se pensar, se dar por
Português
Exercícios Complementares 01. (Famerp SP)
a época de gastar dinheiro sempre no mesmo lugar. O ser Autopsicografia
humano é um animal de hábitos. O verbo habitar diz tudo. O apogeu do hábito é não querer mais sair de casa.
O poeta é um fingidor.
SILVA, Juremir Machado da. Correio do Povo, 12 de julho de 2014.
Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor
Na frase “Na adolescência, queremos ser diferentes da fa-
A dor que deveras sente.
mília e iguais aos colegas e amigos de tribo” (Ref. 01), o su-
E os que leem o que escreve,
a) simples.
Na dor lida sentem bem,
b) composto.
Não as duas que ele teve,
c) oculto.
Mas só a que eles não têm.
d) indeterminado.
jeito classifica-se como
e) inexistente. E assim nas calhas de roda
03. (Unesp SP) O surto de ebola que afeta a Guiné, Serra
Gira, a entreter a razão,
Leoa, Libéria e Nigéria é maior do que indicam as cifras
Esse comboio de corda
oficiais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Que se chama o coração. (Obra poética, 1984, Fernando Pessoa.)
Essa situação supõe que por vários meses a epidemia ainda durará, e, portanto, a OMS adaptou seus planos de
Para a correta compreensão da terceira estrofe, deve-se en-
resposta a tais previsões. Além da ajuda, países da Co-
tender que o sujeito de “Gira” é
munidade Européia estão __________ com a segurança
a) “roda”.
de seus ______________ que estão nos países com ebo-
b) o poeta.
la. O Ministério das Relações Exteriores da Espanha, por
c) “Esse comboio de corda”.
exemplo, estima que cerca de 500 espanhóis estejam na
d) “a razão”.
região: oito na Libéria, 260 na Nigéria, 160 na Guiné e
e) o leitor.
30 em Serra Leoa, onde, além disso, está uma equipe de cooperantes da Cruz Vermelha que o ministério calcula
02. (IF RS) Idade dos hábitos
em 16 ou 17 pessoas. (http://brasil.elpais.com/brasil. 15.08.14. Adaptado)
Na adolescência, queremos ser diferentes da família e iguais aos colegas e amigos de tribo. Em casa, não supor-
Na passagem – Essa situação supõe que por vários me-
tamos a repetição. Na rua, não aceitamos a diferença. É
ses a epidemia ainda durará… –, o sujeito do verbo em
por isso que o adolescente costuma ser chamado de ove-
destaque é
lha negra. Quer ser diferente, mas no rebanho. Até certo
a) simples (a epidemia).
momento da idade adulta, queremos novidades, distin-
b) composto (vários meses).
ções e descobertas. Em algum momento, porém, começa
c) simples (Essa situação).
a idade dos hábitos.
d) indeterminado.
— Que tal sair para jantar? — Boa ideia!
A10 Sujeito
— Um lugarzinho diferente!
570
04. (Unitau SP) Apetitoso por mais tempo
— Ah, não!
Mesmo os mais apaixonados por chocolate podem rejeitá-
— Que mania de ir sempre nos mesmos lugares.
-lo quando, ao abrir a embalagem, encontram o produto
— Os mesmos bons lugares.
com aspecto esbranquiçado e sem brilho. A boa nova é
[…] É a vida. A cada etapa uma mania. Existe a etapa da ma-
que uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Cam-
nia de ganhar dinheiro. E a etapa da mania de gastar dinhei-
pinas (Unicamp) conseguiu prolongar a aparência apetito-
ro. Tem a época de gastar dinheiro em lugares diferentes e
sa desse doce.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Desenvolvido durante o doutorado da engenheira química Élida Bonomi, o estudo buscou retardar o fat bloom (aflora-
O adjetivo
mento de gordura, numa tradução livre), fenômeno que acon-
É a nossa impressão
tece durante a estocagem do chocolate e que nada tem a ver
Sobre quase tudo
com contaminação por fungos ou prazo de validade vencido. (...)
“Isso ocorre quando, por causa do calor, a gordura usada na composição do chocolate ganha mobilidade e migra para a superfície. Lá, ela encontra uma temperatura mais baixa e
E se temos verbo
cristaliza, conferindo tonalidade esbranquiçada ao produto”,
Com objeto
explica a pesquisadora. Para retardar o efeito, Bonomi obteve
É bem mais direto
a estearina da gordura de leite, fração de gordura que tem alto ponto de fusão e necessita, portanto, de altas temperatu-
No entanto falta
ras para derreter. A seguir, a engenheira produziu um choco-
Ter um sujeito
late contendo estearina no lugar da gordura de leite e subme-
Pra ter afeto
teu-o, diariamente, num período de cinco meses, a ciclos de temperatura que variavam entre 20 e 32 graus. “Percebemos
Mas se é um sujeito
que o chocolate com estearina demorava 13 dias amais para
Que se sujeita
apresentar aspecto embranquecido quando comparado à re-
Ainda é objeto
ceita tradicional”, comenta. Ainda que 13 dias pareçam pouco tempo, Bonomi explica que, em condições normais, a temperatura não sofre variações drásticas em um período tão curto. “Colocamos o produto em condições extremas para testar a eficácia, mas, em condições normais, a mudança de aspecto deve demorar ainda mais a aparecer”. Ciência Hoje, nº307, vol. 52, set. 2013, p. 55.
Considere as frases:
(www.vagalume.com.br)
Como recurso de estruturação textual, a letra da música explora as frases a) sem sujeito, mais recorrentes em enunciados empregados em definição. b) nominais, notadamente aquelas que são formadas com o verbo “ser”. c) verbais, sem sujeito definido, representando ações no presente.
I.
Os chocolates que apresentam aspecto esbranquiçado e
II.
Os chocolates, algumas pessoas rejeitam-nos, quando
sem brilho são rejeitados por algumas pessoas. apresentam aspecto esbranquiçado e sem brilho. Assinale a opção CORRETA: a) Em I e II, “chocolates” é sujeito. b) Em I e II, “chocolates” é sujeito; em II, o “os” de “nos” é objeto direto pleonástico.
d) com sujeito explícito, em especial aquele que recebe a ação verbal. e) verbais cujos verbos de estado são empregados no tempo passado. 06. (Ibmec SP) TEXTO II O NAVIO NEGREIRO Castro Alves (fragmento)
c) Em I e II, “chocolates” é objeto direto; em II, o “os” de “nos” é objeto direto pleonástico. d) Em I, “chocolates” é sujeito; em II, é objeto direto. e) Em II, “chocolates” é sujeito e o “os” de “nos” é objeto direto pleonástico.
Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas,
05. (UFTM MG) Leia o trecho da letra da música de Sandra Peres
No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs!
e Luiz Tatit. Gramática É o substituto Do conteúdo
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
A10 Sujeito
O substantivo
E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, 571
Português
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
do amarelo e a cachorra Baleia. Os pés calosos, duros como
E voam mais e mais...
cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não caminhariam? Sinhá Vitória achou que sim. [...] Por
Presa nos elos de uma só cadeia,
que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato
A multidão faminta cambaleia,
como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extra-
E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece,
ordinárias. Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano
Outro, que martírios embrutece,
– O mundo é grande.
Cantando, geme e ri!
Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que
respondeu que não podiam.
era grande – e marchavam, meio confiados, meio inquietos. No entanto o capitão manda a manobra,
Olharam os meninos que olhavam os montes distantes, onde
E após fitando o céu que se desdobra,
havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu
Tão puro sobre o mar,
Sinhá Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma ob-
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
jeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinhá Vitória
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
renovou a pergunta – e a certeza do marido abalou-se. Ela de-
Fazei-os mais dançar!...”
via ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.
As formas verbais “geme e ri” (verso 18) e “diz” (verso 22) têm
– Vaquejar, opinou Fabiano.
como sujeitos, respectivamente:
Sinhá Vitória, com uma careta enjoada, balançou a cabeça
a) um / a manobra
negativamente, arriscando-se a derrubar o baú de folha.
b) outro / o capitão
Nossa Senhora os livrasse de semelhante desgraça. Vaque-
c) a multidão faminta/ o mar
jar, que idéia! Chegariam a uma terra distante, esqueceriam
d) martírios / o céu
a catinga onde havia montes baixos, cascalhos, rios secos,
e) elos de uma só cadeia / os densos nevoeiros
espinhos, urubus, bichos morrendo, gente morrendo. Não
07. (Efei SP) Redigindo o período “A sala de visitas tinha muito quadro, tinha um espelho para o corpo inteiro, tapetes no chão.”, em linguagem culta: a) o verbo haver seria empregado no lugar do verbo ter. b) o termo “a sala de visitas” seria adjunto adverbial de lugar, sendo introduzido pela preposição em. c) quadro, espelho e tapetes seriam núcleos do objeto direto. d) a oração não teria sujeito. e) todas as alternativas estão corretas. 08. (Ibmec SP) Os meninos sumiam-se numa curva do caminho. Fabiano adiantou-se para alcançá-los. Era preciso aproveitar a disposição deles, deixar que andassem à vontade. Sinhá Vitória acompanhou o marido, chegou-se aos filhos. Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia esmoreceram no seu espírito. E a conversa recomeçou. Agora Fabiano estava meio otimista. Endireitou o saco da comida, examinou o rosto carnudo e as pernas grossas da mulher. Bem. Desejou fumar. Como seA10 Sujeito
gurava a boca do saco e a coronha da espingarda, não pôde realizar o desejo. Temeu arriar, não prosseguir na caminhada. Continuou a tagarelar, agitando a cabeça para afugentar uma nuvem que, vista de perto, escondia o patrão, o solda-
572
voltariam nunca mais, resistiriam à saudade que ataca os sertanejos na mata. Então eles eram bois para morrer tristes por falta de espinhos? Fixar-se-iam muito longe, adotariam costumes diferentes. (RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 71. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 120-122.)
Ocorre oração sem sujeito em a) “Era preciso aproveitar a disposição deles...”. b) “Por que haveriam de ser sempre desgraçados?”. c) “Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias”. d) “... onde havia seres misteriosos”. e) “Vaquejar, que ideia!”.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A11
ADJETIVO O adjetivo por essência é um modificador do substantivo. Atribui a este, portanto, uma qualidade (ou um defeito), o modo de ser, o aspecto ou aparência e um estado. Veja: nn mulher simples; pensamento ignóbil; idoso lúcido; criança barulhenta; nuvens
brancas; tecido aveludado; mangueira florida etc.
Há também outro grupo de adjetivos chamado adjetivos de relação que, diferentemente dos anteriores, estabelecem com o substantivo relação de tempo, de espaço, de matéria, de finalidade, de propriedade, de procedência etc. Veja:
ASSUNTOS ABORDADOS nn Adjetivo nn Substantivação do adjetivo nn Posição do adjetivo nn Locuções adjetivas nn Flexões do adjetivo nn Plural dos adjetivos compostos nn Graus do adjetivo
nn nota
mensal (nota relativa ao mês); movimento estudantil (movimento feito por estudantes); casa paterna (casa onde habitam os pais); vinho português (vinho proveniente de Portugal) etc.
Substantivação do adjetivo Por vezes um adjetivo pode adquirir grande independência em uma oração para tornar-se núcleo do sintagma nominal, e como núcleo, passará a atuar como substantivo. Observe as frases abaixo: nn O nn O
céu cinzento indica chuva. cinzento do céu indica chuva.
Na primeira ocorrência, trata-se de um adjetivo, que acompanha e caracteriza o núcleo do sintagma nominal (“céu”); na segunda, tem-se um substantivo que possui maior independência sintática e é acompanhado por um artigo.
Posição do adjetivo Um adjetivo pode tanto ser posto antes do substantivo quanto depois. Normalmente, a posição posterior ao substantivo é a preferida pelo falante; note, porém, como a sua anteposição confere um tom poético ao enunciado: nn Os nn Os
cordeirinhos formosos pastam nos campos verdes. formosos cordeirinhos pastam nos verdes campos.
Locuções adjetivas Por vezes, pela falta de uma palavra que descreva objetivamente um determinado objeto, são necessárias construções com mais de uma palavra que expressem um valor adjetivo. São as chamadas locuções adjetivas: nn Quando
há um adjetivo semelhante: barco a vela (barco veleiro); coração de anjo (coração angelical); indivíduo sem coragem (medroso). nn Quando não há adjetivo que possa caracterizá-lo: cadeiras de madeira; caminhos do destino; copo de vidro; cabeça de vento.
Flexões do adjetivo Todo adjetivo deve concordar em gênero (feminino ou masculino) e número (singular ou plural) com o substantivo que o acompanha: nn Aqueles nn Aquela
meninos são muito folgados. mulher é muito sábia. 573
Português
Plural dos adjetivos compostos São adjetivos compostos um grupo formado por mais de uma palavra que descrevem ou caracterizam um substantivo. Para pluralizar um adjetivo composto, apenas o último termo vai para o plural: nn ações político-sociais; consultórios médico-cirúrgicos; institutos afro-asiáticos;
letras anglo-germânicas.
Exceção: indivíduos surdos-mudos.
Graus do adjetivo
!
Ao adjetivo se admitem dois graus: grau comparativo e grau superlativo.
ATENÇÃO!
Em se tratando dos adjetivos bom, mau, grande e pequeno, utilizam-se as formas melhor, pior, maior e menor para se elaborar uma sentença de grau comparativo.
Grau comparativo Existem três tipos de comparação: de superioridade, de igualdade ou de inferioridade. nn A
festa foi mais agitada que o show. festa foi tão agitada quanto o show. nn A festa foi menos agitada que o show. nn A
Grau superlativo Existem dois tipos de grau superlativo: relativo e absoluto. O superlativo relativo atribui uma característica a um ser, relacionando-o a outros seres que também a apresentem, pode ser de superioridade ou de inferioridade. Já o superlativo absoluto é uma característica dada isoladamente, e pode ser analítico (duas palavras, sendo uma delas um intensificador) ou pode ser sintético (adjetivo acrescido do sufixo -íssimo). Relativo: nn Superioridade: Nossa casa era a mais humilde da vila. nn Inferioridade: Esse assunto é o menos importante de todos. Absoluto: nn Analítico: O prefeito estava muito irritado durante a entrevista. nn Sintético: O prefeito estava irritadíssimo durante a entrevista.
Cusiosidade
A11 Adjetivo
Fonte: Wikimedia Commons
Você sabia que há certos nomes de cores que não admitem plural? Por exemplo, você pode ter duas camisetas rosa e três pares de meias amarelas. Note que a cor de rosa não é pluralizada ao passo que a cor amarela é. Por que isso ocorre? Há certo grupo de cores que não possui plural porque são cores nomeadas a partir de objetos reais por um processo designado catacrese, como: cinza (produto de uma queimada); rosa (nome de um flor); violeta (nome de uma flor); laranja (nome de um fruto) etc.
574
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (Unisa SP) Assinale a alternativa em que o substantivo em
Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro
destaque é caracterizado por adjetivos, como em Não há
nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares assim
calçadas uniformes,planas, planejadas, cuidadas.
frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas
a) Tropeçamos na calçada e tivemos despesas com ortope-
são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que que-
dista, medicamentos, fisioterapia. b) Na cidade, desloco-me, sofro e irrito-me com a condição
rendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal
dos transportes públicos. c) Tenho inveja das cidades limpas, arborizadas, civilizadas.
semente que vossa alteza em ela deve lançar.
d) Os pedestres podem circular com segurança, desenvol-
O trecho apresentado é preponderantemente descritivo. A classe de palavras que aparece associada a esse tipo tex-
tura, prazer. e) Alguém ficou um dia inteiro num ponto de ônibus cronometrando as passagens, as chegadas e as partidas?
texto, as seguintes: a) ... porém a terra em si é de muitobons ares...
02. (Escs DF)
b) Águas são muitas e infindas.
Enquanto a nutrição é uma ciência, o nutricionismo é 2
um paradigma que classifica os alimentos de acordo com seus 3 componentes. Para alguns, essa é uma abordagem reducionista: 4a qualidade da comida é entendida apenas no nível bioquímico 5 e, mesmo nesse nível, os nutrientes são analisados 6 isoladamente dos alimentos. É claro que essa especialização da 7ciência, que conseguiu entender a função de diversos nutrientes, trouxe muitos ganhos 8
c) ... dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem... d) ... o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente... e) ... esta deve ser a principalsemente que vossa alteza em ela deve lançar. 04. (IF SP) Buscando a excelência
abordagem nutricionista mantém
(Lya Luft)
o foco no detalhe, outros tipos de análise consideram
Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina,
a alimentação como um todo: não só os 11 componentes
assustadora, implacável e persistentemente. Autoridades,
químicos, mas também o tamanho das porções, 12 as es-
altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinte-
tratégias de marketing e até a companhia no momento
ressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino
das 13refeições são levados em conta. Esse olhar vem, aos
médio semianalfabetos e assim entram nas universidades,
poucos, 14 ganhando influência na elaboração de políticas
que aos poucos – refiro-me às públicas – vão se tornando
de saúde.
reduto de pobreza intelectual.
à humanidade. Se a
9
10
Bárbara Lopes. Comida integral. In: Vida Simples, out./2012 (com adaptações).
As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais
Assinale a opção que apresenta um termo do texto que tem
alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do en-
função de adjetivo, porque qualifica um nome.
sino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque
a) “de marketing” (Ref.12)
não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E,
b) “de acordo com seus componentes” (Refs.2-3)
porque não sabem ler nem escrever direito e com natura-
c) “nesse nível” (Ref.5)
lidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensa-
d) “à humanidade” (Ref.8)
mento truncado e pobre. [...] E as cotas roubam a dignidade
e) “no detalhe” (Ref.9)
daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por
03. (IF SP) Esse texto do século XVI reflete um momento de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a apropriação de alguns gêneros discursivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa produção é a Carta de Caminha a D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa carta.
me oponho desde sempre, servem magnificamente para
mérito [...] Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade. [...] Em suma, parece que trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho,
575
A11 Adjetivo
1
tual é o adjetivo. São exemplos de palavras dessa classe, no
Português
zelo, esforço, busca de mérito, uso da própria capacidade e ta-
No título “Um Dever Amaríssimo”, o termo em destaque
lento, já entre as crianças. O ensino nas últimas décadas apri-
significa:
morou-se em fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode
a) amar demais
ser bom para os bem pequenos, mas já na escola elementar,
b) de amavios (sedução, feitiço, encanto)
em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria,
c) amoroso
para o fato de que a vida não é só brincadeira, que lazer e di-
d) muito amaro (amargo)
vertimento são necessários até à saúde, mas que a escola é
e) de amante
também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites – que aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos.
06. (Unesp SP) Considere o poema de Raul de Leoni (1895-1926). A alma das cousas somos nós...
Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus leitores
Dentro do eterno giro universal
preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas
Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
mazelas, num momento fundamental em que, em meio a
Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
greves, justas ou desatinadas, [...] se delineia com grande
Nada mais, na verdade,
inteligência e precisão a possibilidade de serem punidos
Nunca mais se repete exatamente...
aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o
Sim, as cousas são sempre as mesmas na corrente
país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos
O que varia é o espírito que as sente
devolve ânimo e esperança.
Que é imperceptivelmente desigual, (Fonte: Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado).
Que sempre as vive diferentemente, E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...
As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do ensino supe-
Estado de alma em fuga pelas horas, Tons esquivos e trêmulos, nuanças
rior. (2º parágrafo)
Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
Sabe-se que o adjetivo é uma palavra que modifica o substanti-
Da sensibilidade furta-cor...
vo e que sua posição mais comum no português é a de suceder
E a nossa alma é a expressão fugitiva das cousas
esse substantivo. Assinale o efeito de sentido que a autora con-
E a vida somos nós, que sempre somos outros!...
segue com o emprego do adjetivo antecedendo o substantivo
Homem inquieto e vão que não repousas!
em “as infelizes cotas”.
Para e escuta:
a) produz uma sonoridade mais adequada ao trecho.
Se as cousas têm espírito, nós somos
b) provoca o estranhamento do leitor, pois algumas cotas são
Esse espírito efêmero das cousas, Volúvel e diverso,
felizes. c) antecipa que nem todas as cotas são infelizes, como se po-
Variando, instante a instante, intimamente, E eternamente,
deria esperar. d) oferece pistas ao leitor de seu posicionamento crítico sobre
Dentro da indiferença do Universo!... (Luz mediterrânea, 1965.)
o assunto das cotas. e) exemplifica a situação da educação do país, empregando inadequadamente o termo.
pois de um substantivo: a) O que varia é o espírito que as sente
05. (Espm SP) CAPÍTULO IV / UM DEVER AMARÍSSIMO A11 Adjetivo
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não as havendo, servir a prolongar as frases. (Machado de Assis, Dom Casmurro)
576
Indique o verso em que ocorre um adjetivo antes e outro de-
b) Mas, se nesse vaivém tudo parece igual c) Tons esquivos e trêmulos, nuanças d) Homem inquieto e vão que não repousas! e) Dentro do eterno giro universal
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
A memória e o caos digital Fernanda Colavitti
A era digital trouxe inovações e facilidades para o homem que superou de longe o que a ficção previa até pouco tempo atrás. Se antes precisávamos correr em busca de informações de nosso interesse, hoje, úteis ou não, elas é que nos assediam: resultados de loterias, dicas de cursos, variações da moeda, ofertas de compras, notícias de atentados, ganhadores de gincanas, etc. Por outro lado, enquanto cresce a capacidade dos discos rígidos e a velocidade das informações, o desempenho da memória humana está ficando cada vez mais comprometido. Cientistas são unânimes ao associar a rapidez das informações geradas pelo mundo digital com a restrição de nosso “disco rígido” natural. Eles ressaltam, porém, que o problema não está propriamente nas novas tecnologias, mas no uso exagerado delas, o que faz com que deixemos de lado atividades mais estimulantes, como a leitura, que envolvem diversas funções do cérebro. Os mais prejudicados por esse processo têm sido crianças e adolescentes, cujo desenvolvimento neuronal acaba sendo moldado preguiçosamente. Responda sem pensar: qual era a manchete do jornal de ontem? Você lembra o nome da novela que antecedeu o Clone? E quem era o técnico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1994? Não ter uma resposta imediata para essas perguntas não deve ser causa de preocupação para ninguém, mas exemplifica bem o problema constatado pela fonoaudióloga paulista Ana Maria Maaz Alvarez, que há mais de 20 anos estuda a relação entre audição e recordação. A pedido de duas empresas, ela realizou uma pesquisa para saber o que estava ocorrendo com os funcionários que reclamavam com frequência de lapsos de memória. Foram entrevistados 71 homens e mulheres, com idade de 18 e 42 anos. A maioria dos esquecimentos era de natureza auditiva, como nomes que acabavam de ser ouvidos ou assuntos discutidos. (Por falar nisso, responda sem olhar no parágrafo anterior: você lembra o nome da pesquisadora citada?) Ana Maria descobriu que os lapsos de memória resultavam basicamente do excesso de informação em consequência do tipo de trabalho que essas pessoas exerciam nas empresas, e do pouco tempo que dispunham para processá-las, somados à angústia de querer saber mais e ao excesso de atribuições. “Elas não se detinham no que estava sendo dito (lido, ouvido ou visto) e, consequentemente, não conseguiam gravar os dados na memória”, afirma. (Fonte Internet: Superinteressante, 2001).
Assinale a alternativa em que todas as expressões sublinhadas têm valor de adjetivo. a) Era digital trouxe inovações e facilidades que superaram o que previa a ficção. b) Deixemos de lado atividades que envolvem diversas funções do cérebro. c) Hoje, úteis ou não, as informações é que nos assediam. d) Responda qual era a manchete do jornal de ontem. 02. (Ufac AC) A alternativa em que a locução adjetiva não corresponde ao adjetivo dado é: a) De veias – venoso. b) De garganta – gutural. c) De chuva – plúmbeo. d) De prata - argênteo. e) Dos quadris – ciático. 03. (Unimontes MG) Pérolas, porcos e patetas
Bia Abramo
“Graças a Deus, nunca fui de ler livro.” A frase, definitiva, é de uma das ilustres celebridades criadas no laboratório do “BBB”, um tal de Fernando. É má política ficar indignado com aquilo que já sabemos não ser digno de atenção, mas, ainda assim, por vezes a estupidez dá tais sustos na gente que é difícil ficar impassível. Neste caso, o mais intrigante não é, evidentemente, o fato de o moço não ser de “ler livros”. A cultura escrita não goza lá de muito prestígio entre nós, brasileiros, falando de maneira bem genérica. Se consideramos o microcosmo do “BBB” — gente jovem, considerada bonita, com pendores exibicionistas, ambição de se tornar celebridade e propensa a ganhar dinheiro fácil —, o índice deve tender a quase zero. O mais revelador é o alívio com que ele se expressa, como a dizer: “Graças a Deus não fui amaldiçoado com essa estranhíssima vontade, esse gosto bizarro, esse defeito de caráter”. Qual é, exatamente, a ameaça que se pensa haver nos livros, ficamos sem saber, mas o temor de pertencer ao esquisito grupo daqueles que “são de ler livro” fala por si só. Por outro lado, é nesses momentos de espontaneidade real que o “BBB” tem algum interesse. Embora aqueles que chegaram ao programa não sejam, a rigor, representativos de nada, nessas brechas escapa o que vai na cabeça dessas moças e rapazes, de certa forma parecidos com os que estão do lado de fora. O desprestígio do conhecimento letrado é marca funda da sociedade brasileira — e, quando é formulado com tanta veemência e clareza, é preciso prestar atenção. Enquanto isso, na universidade de Aguinaldo Silva, o pau come. Na novela “Duas Caras”, a instituição de ensino é palco de uma luta renhida entre aqueles que “querem estudar”
577
A11 Adjetivo
01. (UECE)
Português
— para vencer na vida, não mais do que isso; estudar aqui tem um valor de troca muito claro — e o bando de baderneiros e oportunistas, identificados como “de esquerda”, que querem tumultuar o projeto “eficiente” do reitor, um ex-militante convertido ao ensino privado. Todos estudam lá — as mulatas sestrosas da favela, as patricinhas do condomínio, a mulher adulta que volta à sala de aula. Só não se sabe, ao certo, o que se estuda — embora haja gente empunhando livros e cadernos, não há uma indicação sequer (nem nos diálogos, nem nas trajetórias dos personagens) de que, em uma universidade, ao contrário dos shoppings do ensino, deva se produzir conhecimento e que o conhecimento de verdade é transformador. Justamente o que deve temer o “brother” Fernando. Folha de São Paulo, 3/2/2008
Em estranhíssima, o adjetivo “estranh(o)” foi acrescido do sufixo –íssimo(a) para exprimir o grau superlativo absoluto sintético. Qual dos adjetivos abaixo, em sua forma não coloquial, exprime esse grau com outro sufixo? a) Amigo. b) Negro. c) Lindo. d) Frio. 04. (IF PE) Leia o poema e observe os termos destacados. Assinale a alternativa INCORRETA com relação às classes gramaticais desses termos e suas respectivas funções. O fotógrafo Manoel de Barros
A11 Adjetivo
Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto: Madrugada a minha aldeia estava morta. Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa. Eram quase quatro da manhã. Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado. Fotografei esse carregador. Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. (...) BARROS, M. de. Meu quintal é maior do que o mundo: antologia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2015.
578
a) Tentei – Verbo, pois está indicando a ação de tentar. b) Pela – Preposição, pois estabelece uma relação entre duas palavras, no caso, “silêncio” e “rua”, indicando “lugar por onde”. c) Perfume – Adjetivo, pois expressa a qualidade do jasmim. d) Esse – Pronome, pois acompanha um substantivo anteriormente mencionado no texto – o carregador – e a ele se remete. e) Perdão – Substantivo, pois nomeia um ato. 05. (Uerj RJ) Tempo da camisolinha Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados, tão lentos! e eu me envaidecia deles, mais que isso, os adorava por causa dos elogios. Foi por uma tarde, me lembro bem, que meu pai suavemente murmurou uma daquelas suas decisões irrevogáveis: “É preciso cortar os cabelos desse menino.” Olhei de um lado, de outro, procurando um apoio, um jeito de fugir daquela 5 ordem, muito aflito. Preferi o instinto e fixei os olhos já lacrimosos em mamãe. Ela quis me olhar compassiva, mas me lembro como si fosse hoje, não aguentou meus últimos olhos de inocência perfeita, baixou os dela, oscilando entre a piedade por mim e a razão possível que estivesse no mando do chefe. Hoje, imagino um egoísmo grande da parte dela, não reagindo. As camisolinhas, ela as conservaria ainda por mais de ano, até que se acabassem feitas trapos. Mas 10ninguém percebeu a delicadeza da minha vaidade infantil. Deixassem que eu sentisse por mim, me incutissem aos poucos a necessidade de cortar os cabelos, nada: uma decisão à antiga, brutal, impiedosa, castigo sem culpa, primeiro convite às revoltas íntimas: “é preciso cortar os cabelos desse menino”. Tudo o mais são memórias confusas ritmadas por gritos horríveis, cabeça sacudida com 15violência, mãos enérgicas me agarrando, palavras aflitas me mandando com raiva entre piedades infecundas, dificuldades irritadas do cabeleireiro que se esforçava em ter paciência e me dava terror. E o pranto, afinal. E no último e prolongado fim, o chorinho doloridíssimo, convulsivo, cheio de visagens próximas atrozes, um desespero desprendido de tudo, uma fixação emperrada em não querer aceitar o consumado. 20 Me davam presentes. Era razão pra mais choro. Caçoavam de mim: choro. Beijos de mamãe: choro. Recusava os espelhos em que me diziam bonito. Os cadáveres de meus cabelos guardados naquela caixa de sapatos: choro. Choro e recusa. Um não conformismo navalhante que de um momento pra outro me virava homem-feito, cheio de desilusões, de revoltas, fácil para todas as ruindades. De noite fiz questão de não rezar; e minha mãe, depois de várias tentativas, 25olhou o lindo quadro de Nossa Senhora do Carmo, com mais de século na família dela, gente empobrecida mas diz-que nobre, o olhou com olhos de imploração. Mas eu estava com raiva da minha madrinha do Carmo. 1
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 05. Lentos: dá destaque ao movimento dos cabelos. Porque normalmente é empregado para qualificar a duração de algo, que não é o caso dos cabelos. Infecundas: enfatiza a ideia de que as piedades foram inúteis, não tiveram efeito. Porque não costuma ser empregado para caracterizar um sentimento, mas a terra, os animais, os homens.
MÁRIO DE ANDRADE Contos novos. São Paulo: Martins; Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.
Mário de Andrade é um escritor conhecido pela adjetivação expressiva e original que utiliza em seus textos, como nos exemplos sublinhados abaixo: Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados, tão lentos! (ref. 1) palavras aflitas me mandando com raiva entre piedades infecundas, (ref. 10-15) Descreva o valor expressivo dos dois adjetivos e explique por que o emprego de cada um deles é peculiar. 06. (Uel PR) Poema obsceno Façam a festa cantem e dancem que eu faço o poema duro o poema-murro sujo como a miséria brasileira Não se detenham: façam a festa Bethânia Martinho Clementina Estação Primeira de Mangueira Salgueiro gente de Vila Isabel e Madureira todos façam a nossa festa enquanto eu soco este pilão este surdo poema que não toca no rádio que o povo não cantará (mas que nasce dele) Não se prestará a análises estruturalistas Não entrará nas antologias oficiais Obsceno como o salário de um trabalhador aposentado o poema terá o destino dos que habitam o lado escuro do país – e espreitam. (GULLAR, F. Toda poesia. São Paulo: Círculo do Livro, s. d. p. 338.)
O adjetivo “obsceno” presente no título e no poema refere-se a) à permissividade característica de festas populares como o carnaval. b) ao tom de poemas de Gullar, proibidos de figurar em antologias oficiais. c) à situação dos que habitam o lado escuro do país. d) à denuncia de uma condição social. e) à indignação para com a corrupção política do país. 07. (Uesc BA) 1Viajam de bonde silenciosamente. Devia ser quase uma hora, pois o veículo já se enchia do público especial dos domingos. Eram meninas do povo envolvidas nos seus 5vestidos empoados com suas fitinhas cor-de-rosa ao cabelo e o leque indispensável; eram as baratas casemiras claras dos ternos, [...] eram as velhas mães, prematuramente envelhecidas com a maternidade frequente, a acompanhar a escadinha dos filhos, ao lado 10dos maiores, ainda moços, que fumavam os mais compactos charutos do mercado — era dessa gente que se enchia o bonde e se via pelas calçadas em direção aos jardins, aos teatros em matiné, aos arrabaldes e às praias. 15 Era enfim o povo, o povo variegado da minha terra. As napolitanas baixas com seus vestidos de roda e suas africanas, as portuguesas coradas e fortes, caboclas, mulatas e pretas — era tudo sim preto, às vezes todos exemplares em bando, às vezes separados, que a viagem 20de bonde me deu a ver. E muito me fez meditar o seu semblante alegre, a sua força prolífica, atestada pela cauda de filhos que arrastavam, a sua despreocupação nas anemias que havia, em nada significando a preocupação de seu 25verdadeiro estado — e tudo isso muito me obrigou a pensar sobre o destino daquela gente. BARRETO, Lima. O domingo. Contos completos de Lima Barreto. Organização e introdução de Lília Moritz Schwarcz. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 589.
No texto, faz-se presente a adjetivação, que é um traço avaliativo do narrador, mas que está ausente no fragmento transcrito em Gab: 05 01. “pois o veículo já se enchia do público especial dos domingos.” (ref. 1). 02. “Eram meninas do povo envolvidas nos seus vestidos empoados com suas fitinhas cor-de-rosa ao cabelo” (ref. 1-5). 03. “Era enfim o povo, o povo variegado da minha terra.” (ref. 15). 04. “As napolitanas baixas com seus vestidos de roda e suas africanas” (ref. 15). 05. “e tudo isso muito me obrigou a pensar sobre o destino daquela gente.” (ref. 25). 08. (Unesp SP) Considere o texto que integra uma reportagem da revista Fotografe Melhor e fragmentos de um artigo de Elisabeth Seraphim Prosser, professora e pesquisadora de História da Arte e de Metodologia da Pesquisa Científica da Escola de Música e Belas Artes do Paraná. 579
A11 Adjetivo
E o meu passado se acabou pela primeira vez. Só ficavam como demonstrações desagradáveis dele, as camisolinhas. Foi dentro delas, camisolas de fazendinha barata (a gloriosa, de veludo, 30 era só para as grandes ocasiões), foi dentro ainda das camisolinhas que parti com os meus pra Santos, aproveitar as férias do Totó sempre fraquinho, um junho.
Português Questão 07. Segundo o texto, o transeunte que não aprecia a arte de rua considera-a sujeira. Assim, o adjetivo esterilizada indica uma paisagem sem intervenção artística, ou seja, não “contaminada” pelo trabalho do artista. Nessa perspectiva, o transeunte quer uma paisagem “limpa”, numa espécie de pureza originária. Em outros termos, deseja uma paisagem “asséptica”, que não traga nenhum incômodo, perturbação, questionamento.
Manifestação surgiu em Nova York nos anos de 1970 Muitos encaram o grafite como uma mera intervenção no visual das cidades. Outros enxergam uma manifestação social. E há quem o associe com vandalismo, pichação... Mas um crescente público prefere contemplá-lo como uma instigante, provocadora e fenomenal linguagem artística. O grafite é uma forma de expressão social e artística que teve origem em Nova York, EUA, nos anos de 1970. O nova-iorquino Jean-Michel Basquiat foi o primeiro grafiteiro a ser reconhecido como artista plástico, tendo sido amigo e colaborador do consagrado Andy Warhol — a vida de Basquiat, aliás, mereceu até filme, lançado em 1996. A chegada ao Brasil também foi nos anos de 1970, na bagagem do artista etíope Alex Vallauri e se popularizou por aqui. Desde a década de 1990 é pura efervescência. Irreverente, a arte das ruas colocou à prova a criatividade juvenil e deu uma chance bastante democrática de expressão, que conquistou, além dos espaços públicos, um lugar na cultura nacional. Uma arte alternativa, que saiu dos guetos para invadir regiões centrais e privilegiadas em quase todo o Ocidente. Hoje, à vista da sociedade e totalmente integrada ao cotidiano do cidadão brasileiro, a arte de rua provoca e, ao mesmo tempo, lembra a existência de minorias desfavorecidas e suas demandas por meio de coloridos desenhos que atraem a atenção. Essa manifestação avançou no campo artístico e vem conquistando superfícies em ambientes até então improváveis: do interior de famosas galerias às fachadas externas de museus, como o Tate Modern, de Londres, que em 2008 (maio a setembro) teve a famosa parede de tijolinhos transformada em monumentais painéis grafitados (25 metros) pelas mãos, sprays e talento de grafiteiros de vários lugares do planeta, convidados para esse desafio, com destaque para os brasileiros Nunca e os artistas-irmãos Osgêmeos. (Fotografe Melhor. Um show de cores se revela na arte dos grafites. São Paulo: Editora Europa, ano 14, n.º 161, fevereiro 2010.)
Do vandalismo anárquico à arte politicamente comprometida Quanto à manifestação da arte de rua em si, pode-se afirmar que ela abrange desde o vandalismo anárquico até a arte politicamente comprometida. Vai da pichação, cujo propósito é sujar, incomodar, agredir, chamar a atenção sobre determinado espaço urbano ou simplesmente desafiar a sociedade estabelecida e a autoridade, até o lambe-lambe e o graffiti, nos quais se pretende criticar e transformar o status quo. (...) O transeunte (...) geralmente ignora, rechaça ou destrói essa arte, considerando-a sujeira, usurpação do seu direito a uma paisagem esterilizada, uma invasão do seu espaço (às vezes privado, às vezes público), uma afronta à mente inteligente. Escolhe não olhá-la, não observá-la, não ler nas suas entrelinhas e nos espaços entre seus rabiscos ou entre seus traços elaborados. Confunde o graffiti com a pichação, isto é, a arte com o vandalismo (...). No entanto, em documentários e em entrevistas com vários artistas de rua em Curitiba em 2005 e 2006, pôde-se constatar que essa concepção é, na maioria dos casos, improcedente. Grande parte dos escritores de graffiti e dos artistas envolvidos com o lambe-lambe não apenas estuda ou trabalha, mas tem rendimento bom ou ótimo na sua escola ou no seu emprego. De acordo com a pesquisa ora em andamento, o artista de rua curitibano mora tanto na periferia quanto no centro, é oriundo tanto de famílias de baixa renda como de outras economicamente mais favorecidas. Seu nível de instrução varia do fundamental incompleto ao médio e ao superior, encontrando-se entre eles inclusive funcionários de órgãos culturais e educacionais da cidade, bem como profissionais liberais, arquitetos, publicitários, designers e artistas plásticos, entre outros. Pôde-se perceber, também, que suas preocupações políticas, sua consciência quanto à ecologia e ao meio ambiente natural ou urbano, seu engajamento voluntário ou profissional em organizações educacionais e assistencialistas são uma constante. (Elisabeth Seraphim Prosser. Compromisso e sociedade no graffiti, na pichação e no lambe-lambe em Curitiba (2004-2006). Anais – Fórum de Pesquisa Científica em Arte.Escola de Música e Belas Artes do Paraná.Curitiba, 2006-2007.)
O transeunte (…) geralmente ignora, rechaça ou destrói essa arte, considerando-a sujeira, usurpação do seu direito a uma paisagem esterilizada,…
A11 Adjetivo
Nesta passagem dos fragmentos do texto de Prosser, a expressão “paisagem esterilizada” constitui uma síntese bastante expressiva da opinião do transeunte que não aprecia a arte de rua. Explique o que quis dizer a autora com a atribuição do adjetivo esterilizada ao substantivo paisagem. (www.tate.org.uk)
580
FRENTE
A
PORTUGUÊS
MÓDULO A12
TERMOS LIGADOS A NOMES Vimos, em aula anterior, que o adjetivo é uma classe gramatical que caracteriza o substantivo. O adjetivo deve ser entendido como um termo periférico, ou seja, que circunda o substantivo. Assim como o adjetivo, são os termos ligados a nomes aqueles que, em nível sintático, circundam o núcleo de um sintagma nominal ou a ele se referem. Esses termos são: adjunto adnominal, predicativo, complemento nominal, aposto e vocativo.
ASSUNTOS ABORDADOS nn Termos ligados a nomes nn Adjunto adnominal nn Predicativo nn Complemento nominal nn Aposto nn Vocativo
Adjunto adnominal Trata-se de um determinante que acompanha um substantivo (núcleo). Faz parte do termo que determina, está na periferia de um sintagma nominal. Pode ser: artigo, pronome, numeral, adjetivo ou locução adjetiva. Veja a frase abaixo: Os meus três novos livros de Física sumiram. nn Sintagma
nominal: Os meus três novos livros de Física nn Núcleo do sintagma nominal: livros nn Adjuntos adnominais: Os / meus / três / novos / de Física. Aquela senhora produz peças de tricô. nn Sintagmas
nominais: Aquela senhora / peças de tricô. nn Núcleos dos sintagmas nominais: senhora / peças nn Adjuntos adnominais: aquela / de tricô. No Halloween, as crianças fantasiadas assustam os vizinhos inocentes da rua. nn Sintagmas
nominais: as crianças fantasiadas / os vizinhos inocentes da rua. nn Núcleos dos sintagmas nominais: crianças / vizinhos nn Adjuntos adnominais: as/ fantasiadas / os / inocentes / da rua.
Predicativo Característica atribuída ao sujeito (predicativo do sujeito) ou ao objeto (predicativo do objeto). Diferentemente do adjunto adnominal, ele não é um elemento periférico do sintagma nominal, apenas acrescenta uma informação sobre ele. No litoral baiano, as manhãs são claras e douradas, e as noites, escuras e prateadas. nn Sujeito:
as manhãs / as noites do sujeito: claras e douradas / escuras e prateadas
nn Predicativo
Tranquilo, o juiz considerou culpados ambos os réus. nn Sujeito:
o juiz nn Predicativo do sujeito: tranquilo nn Objeto: ambos os réus nn Predicativo do objeto: culpados Você acha meus olhos bonitos? nn Objeto:
meus olhos do objeto: bonitos
nn Predicativo
581
Português
!
ATENÇÃO!
Como o adjunto adnominal faz parte do sintagma nominal e o predicativo não, apenas atribui a ele uma característica, o valor desses termos varia. O adjunto adnominal representa uma característica permanente e o predicativo revela uma característica momentânea. Compare as duas frases abaixo: nn A menina, triste, saiu da sala. nn A menina triste saiu da sala. Na primeira ocorrência, o termo “triste” é predicativo do sujeito, note que ele não faz parte do sintagma nominal, uma vez que está isolado por vírgulas; já na segunda ocorrência, “triste” é adjunto adnominal e acompanha o núcleo do sintagma “menina”. Por meio disso, podemos inferir que na primeira frase a menina estava triste naquele momento, devido a algo que possa ter-lhe acontecido, enquanto na segunda frase deduzimos que a menina é triste pela sua natureza, uma característica inerente que a faz ser assim reconhecida pela turma.
Complemento nominal Termo preposicionado que completa a informação expressa por um substantivo abstrato, um adjetivo ou um advérbio. Assemelha-se a complementos verbais. nn Aquele
rapaz perdeu a confiança em Deus. livro foi bastante útil ao aluno. nn O diretor agiu favoravelmente ao professor. nn Meu caderno é igual ao seu. nn O
Note como os termos sublinhados completam o sentido dos nomes aos quais eles se referem. Observação: Complemento nominal X Adjunto adnominal Há determinadas construções em que o adjunto adnominal muito se assemelha ao complemento nominal, como: “livro de Física” e “compra de votos”, por exemplo. Mas lembre-se que complementos nominais só complementam o sentido de um substantivo abstrato, logo “de Física” só pode ser um adjunto adnominal, porque “livro” é um substantivo concreto. Em se tratando de um termo que completa o sentido de um substantivo abstrato, temos: Adjunto adnominal: quando o termo é ativo, realiza a ação do nome. nn a
fala do diretor; a resolução do professor.
Complemento nominal: quando o termo é passivo, sofre a ação do nome. nn a
fala aos alunos; a resolução dos exercícios.
Aposto Termo acessório equivalente a outro já expresso na oração e possui valor substantivo. Existem quatro tipos de apostos: explicativo, especificativo, enumerativo e resumitivo. O Brasil, maior país da América Latina, passa por um momento político complicado. nn aposto
explicativo
O ex-presidente Lula visitou a cidade de Goiás. nn aposto
especificativo
O bom aluno precisa ter algumas virtudes: disciplina, humildade e perseverança. nn aposto
enumerativo
A12 Termos ligados a nomes
Pedro, Ana, João, ninguém faltou ao evento. nn aposto
resumitivo
Vocativo Termo isolado por vírgulas cuja função é chamar o interlocutor. Na verdade, é um constituinte da oração que não se conecta a nenhum outro termo. nn Jaqueline,
venha rapidamente que o jantar está na mesa. cheguei. nn Ó pátria amada, verto-lhe minha admiração. nn Querida,
582
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (Unesp SP) Considere a passagem de um livro de José Ribeiro sobre o folclore nacional. Curupira Na teogonia* tupi, o anhangá, gênio andante, espírito
imensos pelos bosques, sem poder atinar com o caminho de casa, ou meio algum de chegar até os seus”. Como se vê, qualquer desses tipos é a manifestação de um só mito em regiões e circunstâncias diferentes.
andejo ou vagabundo, destinava-se a proteger a caça do campo. Era imaginado, segundo a tradição colhida pelo Dr. Couto de Magalhães, sob a figura de um veado branco, com olhos de fogo. Todo aquele que perseguisse um animal que estivesse amamentando corria o risco de ver Anhangá e a visão determinava logo a febre e, às vezes, a loucura. O caapora é o mesmo tipo mítico encontrado nas regiões central e meridional e aí representado por um homem enorme co-
(O Brasil no folclore, 1970.)
(*) Teogonia, s.f.: 1. Filos. Doutrina mística relativa ao nascimento dos deuses, e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo. 2. Conjunto de divindades cujo culto forma o sistema religioso dum povo politeísta. (Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI.) [...] à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho.
berto de pelos negros por todo o rosto e por todo o corpo, ao qual se confiou a proteção da caça do mato. Tristonho e taciturno, anda sempre montado em um porco de grandes dimensões, dando de quando em vez um grito para impelir a vara. Quem o encontra adquire logo a certeza de ficar infeliz e de ser mal sucedido em tudo que intentar. Dele se originaram as expressões portuguesas caipora e caiporismo, como sinônimo de má sorte, infelicidade, desdita nos negócios. Bilac assim o descreve: “Companheiro do curupira, ou sua duplicata, é o Caapora, ora gigante, ora anão, montado num caititu, e cavalgando à frente de varas de porcos do mato, fumando cachimbo ou cigarro, pedindo fogo aos viajores; à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho”. Ambos representam um só mito com diferente configuração e a mesma identidade com o curupira e o jurupari, numes que guardam a floresta. Todos convergem mais ou menos para o mesmo fim, sendo que o curupira é representado na região setentrional por um “pequeno tapuio” com os pés voltados para trás e sem os orifícios necessários para as secreções indispensáveis à vida, pelo que a gente do Pará diz que ele é músico. O Curupira ou Currupi-
Eliminando-se o aposto, a frase em destaque apresentará, de acordo com a norma-padrão, a seguinte forma: a) à frente voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando o caminho. b) à frente dele voam os vaga-lumes batedores, alumiando o caminho. c) à frente dele voam seus batedores, alumiando o caminho. d) à frente dele voam os vaga-lumes, alumiando o caminho. e) à frente dele voam os vaga-lumes, seus batedores, alumiando. 02. (Unesp SP) Considere o fragmento de um artigo de Mônica Fantin sobre o uso dos tablets no ensino, postado na seção de blogues do jornal Gazeta do Povo em 16.05.2013: Tablets nas escolas Ou seja, não é suficiente entregar equipamentos tecnológicos cada vez mais modernos sem uma perspectiva de formação de qualidade e significativa, e sem avaliar os programas anteriores. O risco é de cometer os mesmos equívocos e não potencializar as boas práticas, pois muda a tecnologia, mas as práticas continuam quase as mesmas.
uma infinidade de lendas tanto no norte como no sul do Brasil. No Pará, quando se viaja pelos rios e se ouve alguma pancada longínqua no meio dos bosques, “os romeiros dizem que é o Curupira que está batendo nas sapupemas, a ver se as árvores estão suficientemente fortes para sofrerem a ação de alguma tempestade que está próxima. A função do Curupira é proteger as florestas. Todo aquele que derriba, ou por qualquer modo estraga inutilmente as árvores, é punido por ele com a pena de errar tempos
Com isso, podemos nos perguntar pelos desafios da didática diante da cultura digital: o tablet na sala de aula modifica a prática dos professores e o cotidiano escolar? Em que medida ele modifica as condições de aprendizagem dos estudantes? Evidentemente isso pode se desdobrar em inúmeras outras questões sobre a convergência de tecnologias e linguagens, sobre o acesso às redes na sala de aula e sobre a necessidade de mediações na perspectiva dos novos letramentos e alfabetismos nas múltiplas linguagens.
583
A12 Termos ligados a nomes
ra, como é chamado no sul, aliás erroneamente, figura em
Português
Outra questão que é preciso pensar diz respeito aos conteú-
17
dos digitais. Os conteúdos que estão sendo produzidos para
próxima da 18 personagem Viúva Negra, também interpretada por Scarlett na série de filmes com 19 super-heróis da Marvel — igualmente com cenas eletrizantes de luta. Mas “Lucy” 20 (no original) também faz uma reflexão em torno de questões como evolução, 21 metafísica e tempo. Percebe-se que Besson se diverte pelo jeito como desenvolve a 22 narrativa: a cada estágio de transformação de Lucy, o diretor intercala as 23 explicações científicas do tal pesquisador. Tudo de maneira a sustentar o conceito 24 por trás da trama, desenvolvido com extrema habilidade e num ritmo 25 propositalmente acelerado com objetivo de dar credibilidade ao improvável.
os tablets realmente oferecem a potencialidade do meio e sua arquitetura multimídia ou apenas estão servindo como leitores de textos com os mesmos conteúdos dos livros didáticos? Quem está produzindo tais conteúdos digitais? De que forma são escolhidos e compartilhados? Ou seja, pensar na potencialidade que o tablet oferece na escola — acessar e produzir imagens, vídeos, textos na diversidade de formas e conteúdos digitais — implica em repensar a didática e as possibilidades de experiências e práticas educativas, midiáticas e culturais na escola ao lado de questões econômicas e sociais mais amplas. E isso necessariamente envolve a reflexão crítica sobre os saberes e fazeres que estamos produzindo e compartilhando na cultura digital. (Tablets nas escolas. www.gazetadopovo.com.br. Adaptado.)
O adjetivo midiático, empregado no feminino plural (midiáticas), diz respeito a a) diversidade de tipos de tablets. b) programas e projetos educacionais. c) questões econômicas e sociais. e) variedade dos recursos tecnológicos 03. (UFJF MG) A ação sob um novo olhar O cineasta Luc Besson é catalogado como o diretor francês que
mais se 2 parece com um profissional americano de Hollywood, por seus longas serem 3 carregados de ação explosiva, além de sempre protagonizados por anti-heróis 4 típicos de produções da terra do Tio Sam. A presença de astros consagrados reforça 5
A AÇÃO sob um novo olhar. Disponível em: <http://rioshow.oglobo.globo.com/ cinema/eventos/criticas-profissionais/lucy- 11057.aspx>. Acesso em: 16 de agosto de 2014.
A quem se refere a expressão “ tal pesquisador”, na referência 23 do texto? a) Ao ator Morgan Freeman. b) Ao diretor Luc Besson. c) Ao personagem interpretado por Scarlett Johansson. d) Ao personagem interpretado por Morgan Freeman. e) Ao personagem interpretado por Luc Besson. 04. (IF SP) No português, encontramos variedades históricas, tais como a representada na cantiga trovadoresca de João Garcia de Guilhade, ilustrada a seguir.
d) meios de comunicação de massa.
1
Com o filme colocado dessa forma, Lucy parece uma prima
essa definição — basta lembrar filmes icônicos como “Nikita”
(que virou até 6 seriado nos EUA), “O profissional”, “O quinto elemento” e as franquias “Carga 7 explosiva” e “Busca implacável”. A diferença de Besson está no modo inteligente 8 como
Non chegou, madre, o meu amigo, e oje est o prazo saido! Ai, madre, moiro d’amor! Non chegou, madre, o meu amado, e oje est o prazo passado! Ai, madre, moiro d’amor! E oje est o prazo saido! Por que mentiu o desmentido? Ai, madre, moiro d’amor!
ele insere, num peculiar cinema comercial, arte e reflexão sem parecer 9 picaretagem, conseguindo atrair a simpatia de diferentes públicos. 10
“Lucy” é o mais novo projeto com essa sua marca: a estrela
A12 Termos ligados a nomes
Scarlett
11
Johansson surge numa história que, num primeiro
momento, lembra um filme de 12 super-herói. Scarlett faz uma mulher acidentalmente envolvida na negociação de uma dro13
ga experimental, que, ao entrar em sua circulação, faz com que ela
14
aumente a utilização de seu cérebro em 100%. A turbi-
nada resolve então procurar
15
um pesquisador (Morgan Fre-
eman) do assunto, ao mesmo tempo em que um 16 traficante está à sua procura.
584
E oje, est o prazo passado! Por que mentiu o perjurado? Ai, madre, moiro d’amor! No verso – Ai, madre, moiro d’amor! – a função sintática do termo madre é a seguinte: a) sujeito. b) objeto direto. c) adjunto adnominal. d) vocativo. e) aposto.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares 01. (Ibmec SP) Cerco ao Ebola A epidemia de Ebola que castiga os países africanos Serra Leoa, Guiné e Libéria ganhou contornos ainda mais preocupantes na semana passada. Na sexta-feira 8, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a proliferação do vírus uma emergência de saúde internacional. (Adaptado: http://www.istoe.com.br/reportagens/ 376794_CERCO+AO+EBOLA)
Por apresentarem valores semânticos, os conectivos desempenham importante papel na construção dos textos. Observa-se, por exemplo, que, na reportagem acima, o uso das preposições nas expressões “cerco ao Ebola” e “epidemia de Ebola” estabelece diferentes relações sintáticas. A função das expressões grifadas é, respectivamente, a) complemento nominal e adjunto adnominal b) adjunto adnominal e predicativo do sujeito c) agente da passiva e adjunto adnominal d) sujeito e complemento nominal e) adjunto adnominal e agente da passiva 02. (Unievangélica GO) Analise a seguinte citação: “Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar fazem parte do nosso processo de humanização.” LUFT, Lya. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/poesia_sobre_saude/>. Acesso em: 30 set. 2013.
Os termos em destaque têm função sintática de a) aposto enumerativo b) adjuntos adnominais c) complementos nominais d) predicativos do sujeito 03. (Ibmec SP)
Considerando os objetivos da charge, sua posição crítica é feita a partir da repetição do sintagma “controle da dengue”, em que “da dengue” assume diferentes funções sintáticas em cada ocorrência, sendo respectivamente a) sujeito e objeto indireto. b) adjunto adnominal e aposto. c) complemento nominal e adjunto adnominal. d) sujeito e predicativo do sujeito. e) aposto e complemento nominal. 04. (Uel PR) MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fonte: PESSOA, F. Mensagem. In: Mensagem e outros poemas afins seguidos de Fernando Pessoa e ideia de Portugal. Mem Martins: Europa-América [19-].
Em “Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal”. A expressão Ó mar salgado classifica-se, sintaticamente, como: a) Sujeito, pois expressa o ser de quem se diz algo. b) Objeto, pois completa o sentido do verbo transitivo direto. c) Vocativo, pois expressa o ser a quem se dirige a mensagem do narrador. d) Complemento nominal, pois completa a ideia expressa por um nome. e) Aposto, pois explica e identifica o termo a que se refere o narrador. 05. (Ibmec SP) TEXTO I Luis Fernando Veríssimo (fragmento)
Disponível em: https://emiliobarbosa.wordpress.com/2011/03/28/28‐mar‐o‐alerta‐e‐geral‐dengue‐mata/28‐marco‐charge‐dengue/. Acesso: 30/09/2015
Nosso racismo tem a desculpa de ser distraído. O que nos absolve é que não nos damos conta. O Grafite não considera o seu apelido racista. Como é negro e comprido, deve achar o apelido bem bolado. Implícita neste racismo que não se reconhece está a ideia de que caricaturar carinhosamente ou infantilizar o negro é uma maneira de consolá-lo pela sua
585
A12 Termos ligados a nomes
RACISMO DISTRAÍDO
Português
condição de diferente. Entre o negrão e o negrinho está a nossa incapacidade de dar nome certo ao preconceito. E não é só com negros. Há anos que o humor brasileiro recorre a estereótipos raciais sem medir o insulto: o judeu sempre retratado como o avarento de sotaque carregado, o japonês invariavelmente bobo, etc., além do negro em suas várias versões de primitivo divertido. Nas alternativas abaixo, marque aquela em que o termo sublinhado desempenha função sintática distinta da apontada em parênteses: a) “Nosso racismo tem a desculpa de ser distraído” (predicativo do sujeito) b) “...é uma maneira de consolá-lo pela sua condição de diferente” (predicativo do objeto) c) “Como é negro e comprido” (predicativo do sujeito) d) “...deve achar o apelido bem bolado” (predicativo do objeto) e) “O Grafite não considera o seu apelido racista” (predicativo do objeto) 06. (UFF RJ) Texto II
A12 Termos ligados a nomes
O verão invadiu outubro e expulsou a primavera. Aqui estou, neste dia esplendente, reduzido a meu corpo. Sem passado, sem sonho, sem fuga. Presente em minhas unhas, em minha pele, em meus cabelos. Eu e os demais habitantes deste outubro coroado. Uma onça – não sei se já repararam – não tem costura. O verão, esta pantera, também não tem. E dentro dele estamos 5nós, prisioneiros de uma jaula feliz. O verão não tem municípios, nem governo, nem câmara, nem eleições. Está deitado ao lado do mar e aos pés da montanha selvagem. Azul e verde, sal e clorofila. ...................................................................................................... O verão é feroz. Especialmente um verão como este, ilegítimo, fora de época, produto de uma subversão planetária. Tudo nele está fora da lei, como a poesia e a paixão desvairada. Por 10 isso mesmo, tudo nele é intenso e efêmero, como se decidisse esbanjar toda a sua vida num dia apenas, com a urgência de quem vai morrer às seis da tarde, sangrando, esquartejado, sobre as montanhas do Leblon. O verão lembra uma máquina anômala cujas correias e roldanas se estendem por avenidas e rodam nas nuvens, espiralando, em câmera lenta, numa velocidade diferente dos aviões que 15sobrevoam os quarteirões do Flamengo e o Morro da Viúva, preparando-se para descer na pista do Santos Dumont. ...................................................................................................... Em meio ao verão, a chama da literatura bruxuleia e se apaga. Não se precisa de chave para abrir o mundo, quando ele se dá a nós, escancarado, sem espessura e sem sombras. O verão dos livros é eterno, pode esperar. Já o verão deste dia 25 de outubro de 2007 trepida à nossa 20volta, urgente. Ferreira Gullar, Revista O Globo, 30/12/07
Assinale a opção em que a expressão apositiva sublinhada traduz uma explicação de caráter metafórico. 586
a) E dentro dele estamos nós, prisioneiros de uma jaula feliz. b) O verão, esta pantera, também não tem. E dentro dele estamos nós, prisioneiros de uma jaula feliz. c) Eu e os demais habitantes deste outubro coroado. d) O verão dos livros é eterno, pode esperar. e) Aqui estou, neste dia esplendente, reduzido a meu corpo. 07. (Unisa SP) É a mais pura verdade, pode acreditar: no último fim de semana, um rapaz foi seduzido e embriagado por uma loira daquelas de cinema numa boate e acordou numa banheira de hotel cercado de gelo, com uma mensagem escrita no espelho com batom vermelho para que procure imediatamente um médico, pois seu rim fora retirado. Uma variável dessa história é a do menino – “filho da vizinha de um primo” – que desapareceu quando comprava lanches no McDonald’s de um famoso shopping da cidade e foi encontrado uma semana depois pálido. Quando a mãe foi dar banho nele, viu um grande corte não cicatrizado e o levou ao pronto-socorro, onde descobriram que traficantes de órgãos tinham retirado um de seus rins. Que usuário regular de internet em todo o planeta nunca recebeu pelo menos uma mensagem assim, repassada por amigo ou conhecido, com o relato de algum caso que lhe pareceu bizarro ou absurdo, capaz de causar calafrios? Provavelmente, nenhum. (Pesquisa – Fapesp, maio 2008)
Assinale a alternativa em que as palavras em destaque funcionam como aposto explicativo, acrescentando informações sobre a sequência anterior. a) É a mais pura verdade, pode acreditar. b) ... seduzido e embriagado por uma loira daquelas. c) ... escrita no espelho com batom vermelho. d) Seu rim fora retirado. Uma variável dessa história. e) ... e a do menino – filho da vizinha de um primo. 08. (Unimontes MG) O milagre do sorinho e outros milagres A doutora Zilda Arns fez tudo ao contrário de como costumam ser feitos os programas de políticas públicas no Brasil. Não chamou o marqueteiro, como providência inaugural dos trabalhos. Não engendrou uma generosa burocracia, capaz de proporcionar bons e agradáveis empregos. Não ofereceu contratos milionários aos prestadores de serviço. Sobretudo, não anunciou o programa e, com o simples anúncio, deu5a coisa por feita e resolvida. Milagre dos milagres. Zilda Arns, que morreu na semana passada, no terremoto do Haiti, aos 75 anos, realmente fez. Se o Brasil teve uma redução significativa nos níveis de mortalidade e desnutrição infantil, nas últimas décadas, isso se deve em primeiro lugar à Pastoral da Criança, criada e administrada por ela, com apoio da Igreja Católica, e aos exemplos que semeou. O índice de mortalidade infantil no Brasil andava pelos 82,8 mortos por 1000 nascidos vivos, em101982, quando Zilda foi convocada pelo irmão, o cardeal Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, a pôr sua experiência de médica pediatra e sanitarista a serviço de um programa de combate ao 1
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
nn A multiplicação da boa vontade. A ordem era ensinar e fazer
com que os que aprendiam passassem também a ensinar. A Pastoral da Criança conta hoje 260 000 voluntários. nn
O trabalho e a persistência. Se fosse só ensinar a tomar o sorinho ou a multimistura e ir embora, seria repetir outro padrão das políticas públicas à brasileira. Cabe ao voluntariado fazer uma visita por mês às famílias assistidas. Um instrumento imprescindível nessas ocasiões é a balança, para medir a evolução da criança.
25
nn A escora da índole feminina. Noventa e dois por cento do vo-
luntariado da Pastoral da Criança é30constituído por mulheres. Uma tarefa dessas é séria demais para ser deixada por conta dos homens. A mulher é muito mais confiável quando se mexe com assunto situado nos extremos da existência, como são os cuidados com o nascimento e a morte, a saúde e a doença. Zilda Arns conduziu-se por uma estratégia baseada na sabedoria antiga e na vontade de fazer, nada mais do que isso. É paradoxal dizer isso de uma pessoa tão religiosa, mas não houve milagres na sua ação.35A menos que se considere um milagre a presença dessa coisa chamada amor como motor, tanto dela como das pessoas em quem ela inoculava o mesmo vírus. Vai ver, ela diria isso. Vai ver, isso foi importante mesmo. O escritor Saul Bellow conta que, certa vez, passeava de bote num rio infestado de jacarés quando começou a ficar apavorado. Não era tanto a morte que o apavorava. Era o necrológio: “Morreu ontem,40devorado por jacarés...”. Zilda Arns está condenada ao necrológio: “Morreu de terremoto, no Haiti”. Não é esdrúxulo como ser devorado por um jacaré. Também não é raro como cair no poço do elevador, como a atriz Anecy Rocha, irmã de Glauber, ou ser tragado pela boca do Vesúvio, como o republicano histórico Silva Jardim. Mas é raro para um brasileiro, em cujo território não ocorrem terremotos de proporções mortais, e chocante como são as mortes inesperadas, provocadas por acidentes. Zilda Arns, como Anecy45Rocha e Silva Jardim, morreu em circunstâncias do tipo que nunca se es-
quece. Mas, também, em circunstâncias que lhe coroam a vida. Estava no Haiti para, em contato com religiosos locais, propagar a metodologia da Pastoral da Criança. Morreu em combate. Roberto Pompeu de Toledo, Veja, 20-1-2010
Verifica-se uma sequência de apostos na alternativa a) “... Zilda foi convocada pelo irmão, o cardeal Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo...” (ref. 10) b) “A doutora Zilda Arns fez tudo ao contrário de como costumam ser feitos os programas de políticas públicas no Brasil.” (ref. 1) c) “O escritor Saul Bellow conta que, certa vez, passeava de bote num rio infestado de jacarés quando começou a ficar apavorado.” (ref. 35) d) “Zilda Arns, como Anecy Rocha e Silva Jardim, morreu em circunstâncias do tipo que nunca se esquece.” (ref. 40-45) 09. (Ibmec SP) Pátria minha A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho Pátria, eu semente que nasci do vento Eu que não vou e não venho, eu que permaneço Em contato com a dor do tempo, eu elemento De ligação entre a ação e o pensamento Eu fio invisível no espaço de todo adeus Eu, o sem Deus! Tenho-te no entanto em mim como um gemido De flor; tenho-te como um amor morrido A quem se jurou; tenho-te como uma fé Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito Nesta sala estrangeira com lareira E sem pé-direito. Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra 587
A12 Termos ligados a nomes
problema. Hoje está em 23,3 por 1 000. Nas áreas com atuação direta da Pastoral da Criança são 42 000 comunidades pobres, espalhadas por 4 000 municípios brasileiros está em 13 por 1 000. O que mais espanta, na obra de Zilda, é o contraste entre a eficácia dos resultados e a simplicidade dos métodos. Nada15de grandiosos aparatos, nada de invencionices. A partir da gestão do hoje governador José Serra no Ministério da Saúde, ela passou a contar com forte apoio governamental. Mas suas ferramentas básicas continuaram as mesmas: nn O sorinho e a multi mistura. O soro caseiro feito de água, açúcar e sal foi o grande segredo no combate à desidratação, por muito tempo a maior causa de mortalidade infantil no Brasil. A multi mistura feita de casca20de ovo, arroz, milho, semente de abóbora e outros ingredientes singelos foi, e continua sendo, a arma contra a desnutrição. Zilda Arns era contra a cesta básica. Achava-a humilhante, para quem a recebia, e de presença incerta. Optou por ensinar como proporcionar uma boa dieta com recursos escassos.
Português
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz À espera de ver surgir a Cruz do Sul Que eu sabia, mas amanheceu... Fonte de mel, bicho triste, pátria minha Amada, idolatrada, salve, salve! Que mais doce esperança acorrentada O não poder dizer-te: aguarda... Não tardo! Quero rever-te, pátria minha, e para Rever-te me esqueci de tudo Fui cego, estropiado, surdo, mudo Vi minha humilde morte cara a cara Rasguei poemas, mulheres, horizontes Fiquei simples, sem fontes. Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta Lábaro não; a minha pátria é desolação De caminhos, a minha pátria é terra sedenta E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular Que bebe nuvem, come terra E urina mar. Mais do que a mais garrida a minha pátria tem Uma quentura, um querer bem, um bem Um libertas quae sera tamen Que um dia traduzi num exame escrito: “Liberta que serás também” E repito! Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa Que brinca em teus cabelos e te alisa Pátria minha, e perfuma o teu chão... Que vontade me vem de adormecer-me Entre teus doces montes, pátria minha Atento à fome em tuas entranhas E ao batuque em teu coração.
A12 Termos ligados a nomes
Não te direi o nome, pátria minha Teu nome é pátria amada, é patriazinha Não rima com mãe gentil Vives em mim como uma filha, que és Uma ilha de ternura: a Ilha Brasil, talvez. Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que peça ao rouxinol do dia Que peça ao sabiá Para levar-te presto este avigrama: “Pátria minha, saudades de quem te ama… Vinicius de Moraes.” 588
As expressões preposicionadas retiradas do poema apresentam valores sintáticos idênticos em função da relação que guardam com os termos antecedentes. Uma das alternativas apresenta a única EXCEÇÃO, qual seja, a expressão preposicionada é complemento nominal, completando o sentido introduzido pelo termo a que que se liga. Assinale-a: a) vontade de chorar b) os olhos de minha pátria c) as cores do vestido d) Uma ilha de ternura e) rouxinol do dia 10. (Fac. Santa Marcelina SP) Os pesquisadores Roberta Faria, Alan Vendrame, Rebeca Silva e Ilana Pinsky, do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Federal de São Paulo, analisaram a associação entre propaganda de álcool e consumo de cerveja por adolescentes. Foram entrevistados 1 115 estudantes de sétima e oitava séries de três escolas públicas de São Bernardo do Campo, SP, em 2006. As variáveis independentes foram: atenção prestada às propagandas de álcool, crença na veracidade das propagandas, resposta afetiva às propagandas, uso prévio de cigarro, entre outras. A variável dependente foi consumo de cerveja nos últimos 30 dias. Idade, importância dada à religião e ter banheiro em casa foram utilizadas como controle. O consumo de cerveja nos últimos 30 dias esteve associado ao uso de cigarro, a ter uma marca preferida de bebida alcoólica, a não ser monitorado pelos pais, a achar que as festas que frequentam parecem-se com as de comerciais, a prestar muita atenção aos comerciais, acreditando que eles falam a verdade. Essa associação manteve-se mesmo na presença de outras variáveis associadas ao seu consumo. A conclusão do artigo “Propaganda de álcool e associação ao consumo de cerveja por adolescentes” foi: as propagandas de bebidas alcoólicas associam-se positivamente ao consumo recente de cerveja por remeterem os adolescentes à própria realidade ou por fazê-los acreditar em sua veracidade. Limitar a veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas pode ser um dos caminhos para a prevenção do uso e abuso de álcool por adolescentes. (Pesquisa FAPESP, agosto de 2011. Adaptado.)
Certos termos têm o papel, na frase, de completar outros termos, como no trecho resposta afetiva às propagandas, no qual a expressão às propagandas funciona como complemento nominal. Assinale a alternativa em que a expressão destacada exerce essa mesma função sintática: a) [...] a prestar muita atenção aos comerciais [...]. b) O consumo de cerveja nos últimos 30 dias [...]. c) [...] limitar a veiculação de propagandas [...]. d) [...] consumo de cerveja por adolescentes [...]. e) [...] acreditando que eles falam a verdade.
FRENTE
A
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (FGV SP) As ideias de especialização e progresso, inseparáveis da ciência, são inválidas para as letras e as artes, o que não quer dizer, evidentemente, que a literatura, a pintura e a mú-
Responda ao que se pede. a) Identifique o referente de cada um dos seguintes pronomes usados no 1º. parágrafo: “nelas”, “aquela”,“esta”.
sica não mudem nem evoluam. Mas, diferentemente do que
b) Segundo as gramáticas tradicionais, por não ser um verbo
se diz sobre a química e a alquimia, nelas não se pode dizer
de conjugação completa, “abolir” é considerado defectivo.
que aquela abole e supera esta. A obra literária e artística que
Por isso não se recomenda o uso da forma “abole” (1º. pa-
atinge certo grau de excelência não morre com o passar do
rágrafo). Em vista disso, reescreva o trecho “aquela abole e
tempo: continua vivendo e enriquecendo as novas gerações e
supera esta”, substituindo os dois verbos por sinônimos ade-
evoluindo com estas. Por isso, as letras e as artes constituíram
quados ao contexto.
até agora o denominador comum da cultura, o espaço no qual era possível a comunicação entre seres humanos, apesar das diferenças de línguas, tradições, crenças e épocas, pois quem hoje se emociona com Shakespeare, ri com Molière e se deslumbra com Rembrandt e Mozart está dialogando com quem no passado os leu, ouviu e admirou. Esse espaço comum, que nunca se especializou, que sempre esteve ao alcance de todos, passou por períodos de extrema complexidade, abstração e hermetismo, o que restringia a compreensão de certas obras a uma elite. Mas essas obras experimentais ou de vanguarda, se de fato expressassem zonas inéditas da realidade humana e criassem formas de beleza duradoura, sempre acabavam por educar leitores, espectadores e ouvintes, integrando-se desse modo no patrimônio comum. A cultura pode e deve ser, também, experimentação, é claro, desde que as novas técnicas e formas introduzidas pela obra ampliem o horizonte da experiência da vida, revelando seus segredos mais ocultos ou expondo-nos a valores estéticos inéditos que revolucionem nossa sensibilidade e nos deem uma visão mais sutil e nova desse abismo sem fundo que é a condição humana. A cultura pode ser experimentação e reflexão, pensamento e sonho, paixão e poesia e uma revisão crítica constante e profunda de todas as certezas, convicções, teorias e crenças. Mas não pode afastar-se da vida real, da vida verdadeira, da vida vivida, que nunca é a dos lugares-comuns, do artifício, do sofisma e da brincadeira, sem risco de se desintegrar. Posso parecer pessimista, mas minha impressão é que, com uma irresponsabilidade tão grande como nossa irreprimível vocação para a brincadeira e a diversão, fizemos da cultura um daqueles castelos de areia, vistosos mas frágeis, que se desmancham com a primeira ventania. Mario V. Llosa, A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
02. (IME RJ) Texto I Espaço e tempo Tanto Aristóteles quanto Newton acreditavam no tempo absoluto. Isto é, acreditavam que se pode, sem qualquer ambiguidade, medir o intervalo de tempo entre dois eventos, e que o resultado será o mesmo em qualquer mensuração, desde que se use um relógio preciso. O tempo é independente e completamente separado do espaço. Isso é no que a maioria das pessoas acredita; é o consenso. Entretanto, tivemos que mudar nossas ideias sobre espaço e tempo. Ainda que nossas noções, aparentemente comuns, funcionem a contento quando lidamos com maçãs ou planetas, que se deslocam comparativamente mais devagar, não funcionam absolutamente para objetos que se movam à velocidade da luz, ou em velocidade próxima a ela. […] Entre 1887 e 1905 houve várias tentativas [...] de explicar o resultado de experimentos [...] com relação a objetos que se contraem e relógios que funcionam mais vagarosamente quando se movimentam através do éter. Entretanto, num famoso artigo, em 1905, um até então desconhecido funcionário público suíço, Albert Einstein, mostrou que oconceito de éter era desnecessário, uma vez que se estava querendo abandonar o de tempo absoluto. Ponto semelhante foi abordado poucas semanas depois por um proeminente matemático francês, Henri Poincaré. Os argumentos de Einstein eram mais próximos da Física do que os de Poincaré, que abordava o problema como se este fosse matemático. Einstein ficou com o crédito da nova teoria, mas Poincaré é lembrado por ter tido seu nome associado a uma parte importante dela. O postulado fundamental da teoria da relatividade, como foi chamada, é que as leis científicas são as mesmas para todos os observadores em movimento livre, não importa qual seja sua velocidade. Isso era verdadeiro para as leis do movimento de 589
Português
Newton, mas agora a ideia abrangia também outras teorias e a
o corpo em movimento. A resposta, embora simples, já não
velocidade da luz: todos os observadores encontram a mesma
é óbvia: se nenhuma força atua sobre o corpo em movimen-
medida de velocidade da luz, não importa quão rápido estejam
to, ele continuaem movimento. Mas que tipo de movimento?
se movendo. Essa simples ideia tem algumas consequências
Como não há força atuando sobre o corpo, a sua velocidade
notáveis: talvez a mais conhecida seja a equivalência de massa
não aumenta, nem diminui, nem muda de direção. Portanto o
e energia, contida na famosa equação de Einstein E=mc2 (onde
único movimento possível do corpo na ausência de qualquer
E significa energia; m, massa e c, a velocidade da luz); e a lei
força atuando sobre ele é o movimento retilíneo uniforme.
que prevê que nada pode se deslocar com mais velocidade do
A primeira lei de Newton reúne ambas as respostas num só
que a própria luz. Por causa da equivalência entre energia e
enunciado: um corpo permanece em repouso ou em movi-
massa, a energia que um objeto tenha, devido a seu movimen-
mento retilíneo uniforme se nenhuma força atuar sobre ele.
to, será acrescentada à sua massa. Em outras palavras, essa
Em outras palavras, a Primeira Lei de Newton afirma que, na
energia dificultará o aumento da velocidade desse objeto. [...]
ausência de forças, todo corpo fica como está: parado se esti-
Uma outra consequência igualmente considerável da teoria
ver parado, em movimento se estiver em movimento (retilíneo
da relatividade é a maneira com que ela revolucionou nossos
uniforme). Daí essa lei ser chamada de Princípio da Inércia.
conceitos de tempo e espaço. Na teoria de Newton, se uma
O que significa inércia?
vibração de luz é enviada de um lugar a outro, observadores
Inércia, na linguagem cotidiana, significa falta de ação, de ativi-
diferentes deverão concordar quanto ao tempo gasto na traje-
dade, indolência, preguiça ou coisa semelhante. Por essa razão,
tória (uma vez que o tempo é absoluto), mas nem sempre con-
costuma-se associar inércia a repouso, o que não corresponde
cordarão sobre a distância percorrida pela luz (uma vez que o
exatamente ao sentido que a Física dá ao termo. O significado
espaço não é absoluto). Dado que a velocidade da luz é apenas
físico de inércia é mais abrangente: inércia é “ficar como está”,
a distância que ela percorre, dividida pelo tempo que leva para
ou em repouso ou em movimento. Devido à propriedade do
fazê-lo, diferentes observadores poderão atribuir diferentes
corpo de “ficar como está” depender de sua massa, a inércia
velocidades à luz. Segundo a teoria da relatividade, por outro
pode ser entendida como sinônimo de massa.
lado, todos os observadores deverão concordar quanto à ra-
GASPAR, Alberto. Física: Mecânica. 1. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 114-115. (adaptado)
pidez da trajetória da luz. Podem, entretanto, não concordar com a distância percorrida, tendo então, que discordar tam-
Assinale a alternativa em que as orações abaixo, que aparecem
bém quanto ao tempo gasto no evento. O tempo gasto é, no
destacadas nos textos, exercem função de substantivo e de
final das contas, apenas a velocidade da luz – sobre a qual os
adjetivo em relação à sua oração principal, respectivamente.
observadores concordam – multiplicada pela distância que a
a) “que o conceito de éter era desnecessário” (Texto I, 2º pará-
luz percorreu – sobre a qual eles não concordam. Em outras pa-
b) “se uma vibração de luz é enviada de um lugar a outro” (Tex-
absoluto! Parece que cada observador pode obter sua própria
to I, último parágrafo) - “que um objeto tenha” (Texto I, 3º
medida de tempo, tal como registrada pelo seu relógio, e com a
parágrafo);
qual relógios idênticos, com diferentes observadores, não concordam necessariamente. HAWKING, Stephen W. Uma breve história do tempo. São Paulo: Círculo do livro, 1988. p.30-33. (adaptado)
FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
Texto II Inércia: a Primeira Lei de Newton As leis de Newton tratam da relação entre força e movimento. A primeira pergunta que elas procuram responder é: “O que acontece com o movimento de um corpo livre da ação de qualquer força?” Podemos responder a essa pergunta em duas partes. A primeira trata do efeito da inexistência de forças sobre o corpo parado ou em repouso. A resposta é quase óbvia: senenhuma força atua sobre o corpo em repouso, ele continua em repouso. A segunda parte trata do efeito da inexistência de forças sobre 590
grafo) - “que prevê” (Texto I, 3º parágrafo);
lavras, a teoria da relatividade sela o fim do conceito de tempo
c) “que elas procuram responder” (Texto II, 1º parágrafo) - “ele continua em movimento” (Texto II, 2º parágrafo); d) “A resposta” (Texto II, 2º parágrafo) - “todo corpo fica como está” (Texto II, 3º parágrafo); 03. (Cefet MG) Lanchinho de avião Drauzio Varella
A comissária de bordo pede para afivelarmos os cintos e desligarmos os celulares. O comandante avisa que a decolagem foi autorizada, a aeronave ganha velocidade na pista e levanta voo. Pela janela, São Paulo vira um paliteiro de prédios espetados um ao lado do outro. Um pouco mais à frente, a periferia inchada, com ruas tortuosas e casas sem reboque, abraça o centro da cidade como se fosse esganá-lo.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os
pois de ingerirmos muito mais calorias do que as necessárias
computadores podem ser ligados. Junto à porta de entrada, as
para cobrir os gastos daquele dia. A seleção natural nos ensi-
comissárias se levantam e preparam o carrinho de lanches. De
nou a não desperdiçá-las, o excesso será armazenado sob a
fileira em fileira, perguntam o que cada passageiro deseja be-
forma de gordura.
ber. No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa
O tecido gorduroso não é um reservatório inerte, produz hor-
de café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do
mônios, libera mediadores químicos que interferem com o
que o sorriso da mulher amada. O rapaz à minha direita prefere
metabolismo e o equilíbrio entre fome e saciedade. E, o mais
suco de manga; o da esquerda quer um de pêssego. Agradeço,
grave, dá origem a um processo inflamatório crônico que au-
não quero nada. A moça estranha: “Nada, mesmo?”.
menta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, vários
Em seguida, ela nos estende a mão que oferece um objeto
tipos de câncer e de outros males que infernizam e encurtam
ameaçador, embrulhado em papel branco. Em seu interior,
a vida moderna.
um pão adocicado cortado ao meio abriga uma fatia de queijo
Por essas e outras razões, caríssimo leitor, é preciso olhar para
e outra retirada do peito de um peru improvável. No reflexo,
a comida como fazemos com a bebida: é bom, mas em exces-
encolho as pernas. Se, porventura, um embrulho daqueles lhe
so faz mal.
escapa da mão e cai em meu pé, adeus carreira de maratonista.
Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 05 set. 2015. (Adaptado).
O comandante informa que, em Belo Horizonte, o tempo é bom e que nosso voo terá duração de 40 minutos. São dez e
Houve emprego de sujeito desinencial em:
meia, é pouco provável que os circunstantes tenham saído de
a) Em poucos minutos, ouve-se um som agudo, sinal de que os
calorias adicionais, com gosto de isopor? Qual é o sentido de servir comida em voos de 40 minutos?
computadores podem ser ligados. b) Cerca de 52% dos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com o excesso de peso, taxa que nove anos atrás era de 43%.
Cerca de 52% dos brasileiros com mais de 18 anos sofrem com
c) No carrinho, acotovelam-se latas de refrigerantes, a garrafa
o excesso de peso, taxa que nove anos atrás era de 43%. Já
de café e uma infinidade de pacotes de sucos mais doces do
caíram na faixa da obesidade 18% de nossos conterrâneos. Os
que o sorriso da mulher amada.
que visitam os Estados Unidos ficam chocados com o padrão
d) A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente do
e a prevalência da obesidade. Lá, a dieta e a profusão de ali-
computador, as comodidades da rotina diária e a oferta ge-
mentos consumidos até em elevadores conseguiram a proeza
nerosa de bebidas e alimentos industrializados repletos de
de engordar todo mundo; não escapam japoneses, vietnamitas
gorduras e açúcares que nos oferecem a toda hora criaram
nem indianos.
uma combinação perversa que conspira para o acúmulo de
As silhuetas de mulheres e homens com mais de 120 quilos
gordura no corpo.
pelas ruas e shopping centers deixam claro que existe algo profundamente errado com os hábitos alimentares do país. Nossos números mostram que caminhamos na esteira deles. Chegaremos lá, é questão de tempo; pouco tempo. A possibilidade de ganharmos a vida, sentados na frente do
04. (UEPG PR) Gramática amorosa Piscadelas, gestos sutis com as mãos e até tosses e escarradas eram usados como forma de mostrar interesse pelo sexo oposto
computador, as comodidades da rotina diária e a oferta ge-
Na Idade Moderna, erotismo designava “o que tivesse relação
nerosa de bebidas e alimentos industrializados repletos de
com o amor”. Como essa definição se materializaria na prática?
gorduras e açúcares que nos oferecem a toda hora criaram
Há registros de estratégias de sedução que soariam pouco fa-
uma combinação perversa que conspira para o acúmulo de
miliares e mesmo pueris aos olhos de hoje. É o caso do “namo-
gordura no corpo.
ro de bufarinheiro”, descrito por Julio Dantas, corrente em Por-
Os que incorporaram as 500 calorias em excesso no caminho
tugal e também no Brasil, ao menos nas cidades. Consistia em
para Belo Horizonte só o fizeram porque o lanche lhes foi ser-
passarem os homens a distribuir piscadelas e a fazerem gestos
vido. Milhões de anos de evolução, num mundo com baixa dis-
sutis com as mãos e bocas para as mulheres que se postavam à
ponibilidade de recursos, ensinaram o corpo humano a comer
janela, em dias de procissão, como se fossem eles bufarinhei-
a maior quantidade disponível a cada refeição, única forma de
ros a anunciar seus produtos. É também o caso do “namoro
sobreviver aos dias de jejum que fatalmente viriam.
de escarrinho”, costume luso-brasileiro dos séculos 17 e 18, no
Engendrado em tempos de miséria, o cérebro humano está
qual o enamorado punha-se embaixo da janela da moça e não
mal adaptado à fartura. A saciedade à mesa só se instala de-
dizia nada, limitando-se a fungar à maneira de gente resfriada.
591
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
casa em jejum. O que os leva a devorar no meio da manhã 500
Português
Caso a declaração fosse correspondida, seguia-se uma cadeia
curtidor de um sarau musical, tocando violão ele próprio e de-
de tosses, assoar de narizes e cuspidelas. Escapa-nos, sobrema-
positário de canções que nunca mais ouvi cantadas, como “O
neira, o apelo sedutor que os tais “escarrinhos” poderiam ter
leve batel”, linda, lancinante, lúdica e que mais palavras haja
naquele tempo, mas sabe-se que, até hoje, no interior do país,
em “l’s” líquidos e palatais, com versos atribuídos a Bilac; avó
o namoro à janela das moças não desapareceu de todo. [...]
materna e mãe pianistas, dedilhando aquelas valsas antigas
Adaptado de: Mary Del Priore, Revista Aventuras na História. Edição 139, fevereiro/2015, ano 12, no 3, p.56.
que doem como uma crise de angina no peito; dois tios seres-
Quanto ao tipo de sujeito e a sua posição na sentença, assinale
de dois metros de altura e um digitalismo espantosos, uma es-
o que for correto.
pécie de Canhoto (que também o era) da Gávea; como é que,
Gab: 27
01. “Piscadelas, gestos sutis com as mãos e até tosses e escarradas eram usados...” Sujeito composto anteposto ao
teiros, como Henriquinho e tio Carlinhos, irmão de minha mãe,
com toda essa progênie, poderia eu deixar de ser também um compositor popular…
verbo.
Vinicius de Moraes, Samba falado: (crônicas musicais). Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2008. Adaptado.
02. “... erotismo designava “o que tivesse relação com o amor...” Sujeito simples anteposto ao verbo. 04. “Há registros de estratégias...” Sujeito simples posposto ao verbo.
Ao exaltar a canção “O leve batel”, Vinícius de Moraes emprega adjetivos que exemplificam um tipo de recurso expressivo de natureza sonora que ocorre, de modo mais expressivo, nestes
08. “Consistia em passarem os homens...” Sujeito elíptico.
versos também de sua autoria:
16. “Escapa-nos, sobremaneira, o apelo sedutor que os tais
a) De repente do riso fez-se o pranto / Silencioso e branco
“escarrinhos” poderiam ter naquele tempo...” Sujeito simples posposto ao verbo. 05. (FGV SP) Leia o poema de Mário Quintana. Um céu comum No Céu vou ser recebido com uma banda de música. Tocarão um dobradinho daqueles que nós sabemos
como a bruma. b) De nada vale ao homem a pura compreensão de todas as coisas. c) A minha pátria não é florão, nem ostenta / Lábaro não; a minha pátria é desolação. d) Na melancolia de teus olhos / Eu sinto a noite se inclinar. e) Quero ir-me embora pra estrela / Que vi luzindo no céu. 07. (UFJF MG)
– pois nada mais celestial
‘Jeitinho brasileiro’: 82% acham que maioria pretende tirar
do que a música que um dia ouvimos
vantagem, diz pesquisa
no coreto municipal
Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) re-
de nossa cidadezinha...
vela percepção da população sobre o tema
Não __________ cítaras nem liras – quem pensam vocês que eu sou? E os anjinhos estarão vestidos no uniforme da banda, com os sovacos bem suados e os sapatos apertando. FRENTE A Exercícios de Aprofundamento
Depois, irei tratar da vida como eles tratam da sua... A locução empregada no poema com valor de adjetivo é: a) com uma banda de música (2.º verso). b) no coreto municipal (7.º verso). c) de nossa cidadezinha (8.º verso). d) com os sovacos bem suados (13.º verso). e) da vida (15.º verso). 06. (FGV SP) Agora me digam: como é que, com tio-avô modinheiro parente de Castro Alves, com quem notivagava na Bahia; pai
592
LETICIA FERNANDES
RIO - Vivemos em uma sociedade dividida entre malandros e manés? O cultuado “jeitinho brasileiro” costuma ser usado para burlar regras, furar filas, andar pelo acostamento e sempre se sair melhor do que a pessoa ao lado. Mesmo quando ela é da sua família, seu amigo, vizinho ou colega de trabalho. É o que mostra pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), feita entre 17 e 21 de setembro de 2012, e completada com dados divulgados somente no início deste ano. A percepção dos entrevistados em relação à forma de agir do brasileiro reflete o jeito com que tratamos as pessoas, mesmo as mais próximas do nosso círculo afetivo: 82% acham que a maioria age querendo tirar vantagem, enquanto só 16% dos entrevistados acham que as pessoas agem de maneira correta. Embora os dados tenham sido coletados no ano retrasado, a coordenação da pesquisa diz que um ou dois anos não interferem na alteração do nível de percepção das pessoas.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
– Há certas imagens sobre o comportamento do brasileiro que
confiança, 9% confiam muito e 35% têm alguma confiança nas
permeiam as percepções das pessoas nas suas relações sociais.
pessoas à sua volta. A desconfiança, aqui, chega a 47%, sendo
A ideia de que o brasileiro sempre burla normas e determi-
22% os que confiam quase nada e 25% os que não têm nenhu-
nações para obter o que almeja - e essa é uma definição do
ma confiança nesse grupo.
jeitinho - é recorrente. Para a grande maioria dos brasileiros, a busca de atalhos, soluções facilitadas ou vantagens fazem parte
No grupo dos que recebem até um salário-mínimo, a descon-
do cotidiano das pessoas - explica Rachel Meneguello, cientista
fiança aumenta, com 83% dos entrevistados acreditando que
política da Universidade de Campinas (Unicamp).
a maioria das pessoas quer tirar vantagem. O nível só diminui na categoria dos que ganham de 5 a 10 salários-mínimos,
Nível de confiança e percepção da forma de agir do brasileiro
mesmo assim chega aos 77%. Sobre a percepção que o brasileiro tem da sociedade, o nível de desconfiança é maior entre
Quando o assunto é confiança, o número também é alto: de
os mais pobres e os mais ricos. Na faixa de quem ganha um
62% dos brasileiros que responderam negativamente para o
salário-mínimo, 67% dos entrevistados disseram ter pouca
quesito confiança, 29% não têm nenhuma e 33% quase nenhu-
(26%) ou nenhuma confiança (41%) na maioria das pessoas.
ma confiança na maioria das pessoas. Os otimistas, que con-
No grupo que ganha mais de 10 salários-mínimos, 68% apon-
fiam muito no próximo, são apenas 6%, e os que disseram ter
taram desconfiança absoluta (39%) ou muita desconfiança
alguma confiança somam 31%.
(29%) na maioria das pessoas.
Quanto mais próximo é o círculo social, maior é a confiança.
“O que tem é essa visão de que o brasileiro sempre quer tirar
A pergunta sobre familiares teve 93% de respostas positivas,
vantagem, ele passa pelo acostamento, fura fila, não devolve
em que os entrevistados disseram depositar muita (73%) ou
o troco, cola na prova, e isso afeta essa avaliação. As pessoas
alguma confiança (20%) em membros da família. Logo depois,
podem defender uma sociedade sem corrupção, mas, nessas
vêm os amigos, que inspiram muita confiança em apenas 18%
pequenas coisas, elas não têm essa ética, e aí você começa a
das pessoas. Os que disseram ter alguma confiança foram 48%.
perder confiança. É uma confiança desconfiada” - conta Renato da Fonseca, coordenador da pesquisa.
A pesquisa aponta ainda que o Nordeste é a região onde as pessoas mais acreditam estar sendo passadas para trás.
Entrevistados com nível superior são os que mais confiam nos
São 89% os entrevistados que acham que os outros querem
outros. Mesmo assim, são apenas 19% os que acreditam que
tirar vantagem e só 9% acreditam que as pessoas agem de
as pessoas agem de forma correta e 80% os que acreditam que
maneira correta. Em seguida, vem o Sul, com 85% de grau
elas querem tirar vantagem.
tro-Oeste (71%).
FERNANDES, L. ‘Jeitinho brasileiro’: 82% acham que maioria pretende tirar vantagem, diz pesquisa. O GLOBO. São Paulo, 22 ago.
O perigo mora ao lado
Releia o parágrafo abaixo:
Tão próximos, mas tão distantes: assim percebemos nossos vi-
Quanto mais próximo é o círculo social, maior é a confiança.
zinhos em 53% dos casos analisados. De acordo com a CNI, que
A pergunta sobre familiares teve 93% de respostas positivas,
entrevistou 2.002 brasileiros de 143 municípios, mais da meta-
em que os entrevistados disseram depositar muita (73%) ou
de dos brasileiros desconfia dos moradores da porta ao lado.
alguma confiança (20%) em membros da família. Logo depois, vêm os amigos, que inspiram muita confiança em apenas 18%
Para Rachel Meneguello, o alto nível de desconfiança mesmo
das pessoas. Os que disseram ter alguma confiança foram 48%.
entre pessoas próximas aponta para a fragilidade das relações sociais: “Em contextos em que, mesmo entre os grupos mais
O termo “Os”, em destaque no parágrafo acima, refere-se:
próximos, a relação é frágil, estamos diante de situações em
a) aos amigos.
que o tecido social está esgarçado.”
b) aos pesquisadores. c) aos membros da família.
A última categoria analisada foi a de colegas de trabalho ou
d) aos membros do círculo social.
escola. Nesta faixa, dos 44% de entrevistados que relataram
e) aos entrevistados.
593
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
de desconfiança, seguido pelo Sudeste (81%) e Norte/Cen-
FRENTE
B
Everett - Art / Shutterstock.com
PORTUGUÊS Por falar nisso O Arcadismo ou Neoclassicismo surgiu no século XVIII (1756), em Portugal, quando foi fundada a Arcádia Lusitana. Essa época ficou conhecida como o Século das Luzes. Esse movimento literário desponta com um novo olhar em meio a momentos marcantes da história mundial. Esse novo conceito, esse olhar diferente com relação à realidade, chegou para acabar com a estética barroca, que já estava demonstrando sinais de declínio. Ao mesmo tempo que refletiam as mudanças sociais e científicas da época, os artistas árcades buscavam recuperar a simplicidade e o equilíbrio da civilização greco-romana em oposição aos exageros do estilo barroco. Entre os anos de 1768 a 1836, a elite jovem brasileira passou a buscar conhecimento em Coimbra, Portugal, e isso fez com que as tendências europeias dos autores árcades chegassem ao Brasil. Trazendo na bagagem os ideais iluministas, os jovens árcades tinham o grande sonho da Independência do Brasil, assim como já havia acontecido nos Estados Unidos. Seus argumentos tinham base para agir contra o governo, como também reuniam subsídios para a concretização da Inconfidência Mineira (1789), movimento que buscava a Independência do Brasil em relação a Portugal e, entre outros motivos, o fim da derrama e do domínio português. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
B09 B10 B11 B12
Arcadismo I.................................................................................... 596 Arcadismo II................................................................................... 603 Romantismo................................................................................... 612 Romantismo: primeira geração..................................................... 619
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B09
ASSUNTOS ABORDADOS nn Arcadismo I nn Temas principais nn Características estilísticas nn Cláudio Manoel da Costa nn Santa Rita Durão
ARCADISMO I A primeira metade do século XVIII marcou a decadência do pensamento barroco. A burguesia cresceu voltada para as questões mundanas, a religiosidade ficou em segundo plano e o exagero da expressão barroca já não satisfazia o público. Assim, o período literário que caracterizou a segunda metade do século XVIII é o Arcadismo, também conhecido por Neoclassicismo, o qual trazia novas nuances às artes com matizes e tonalidades burguesas. Pensadores e cientistas haviam determinado novos caminhos para o pensamento humano. As duas figuras máximas do barroco brasileiro: Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos não encontraram substitutos no século XVIII. O centro econômico transferiu-se do Nordeste para Minas Gerais e Rio de Janeiro. Minas Gerais agora é o cenário dos acontecimentos econômicos, políticos, sociais e culturais, em particular, Vila Rica, hoje, Ouro Preto. Em Portugal, o Arcadismo estende-se de 1756, ano da fundação da Arcádia Lusitana, até 1825, data de publicação do poema “Camões”, de Almeida Garrett, considerado o marco inicial do Romantismo português. No Brasil, o início do Arcadismo está associado a dois acontecimentos literários importantes: a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, e a publicação do livro de poemas Obras, de Cláudio Manuel da Costa, ambas em 1768. Vivendo um século marcado por lutas políticas, guerras, desenvolvimento humano e pesquisas científicas, os poetas árcades idealizavam em seus textos as paisagens campestres de outras épocas, em que os pastores levam uma vida agradável e amorosa. Esse bucolismo poético constitui uma das características marcantes do Arcadismo. Leia a seguir um soneto do poeta português Manuel Bocage: Olha, Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como são cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores? Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores! Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha para, Ora nos ares sussurrando, gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a morte me causara. O soneto que você acabou de ler transmite a ideia de arte como uma cópia da natureza refletida por meio da tradição clássica. A partir do primeiro quarteto, podemos notar a valorização da vida no campo (bucolismo). A amada é convidada a contemplar as coisas simples ao seu redor, voltando-se para uma vida pastoril. O eu poético usa a natureza como pano de fundo para mostrar como o seu estado de espírito depende da visão de Marília. Ele caracteriza a natureza de modo positivo, definindo um ambiente marcado pela alegria e pelo otimismo.
596
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Temas principais Alguns temas podem ser considerados frequentes entre os poetas desse período. Além da impessoalidade, eram usados pequenos clichês latinos como indicativos do que acreditavam ser a boa arte literária. São estes: nn Fugere
urbem: Fuga da cidade, da agitação e da violência da vida urbana ou da corte em favor da vida tranquila e equilibrada do campo. Esse comportamento levou ao bucolismo, à evocação nostálgica do campo. Durante o Arcadismo, os autores adotaram pseudônimos pastoris inspirados na Arcádia grega. O cenário campestre, é constantemente usado como cenário. Na verdade, o Neoclassicismo criou um “universo artificial” de enfoque bucólico e pastoril, em que os poetas assumiam personas poéticas. nn Inutilia truncat: Cortar o inútil. É uma verdadeira repulsa aos exageros formais do Barroco. Ao contrário do rebuscamento, os árcades optavam pela clareza, primavam pela simplicidade e a ordem direta na linguagem. nn Locus amoenus: Lugar ameno. O poeta idealizava uma paisagem agradável e propícia aos encontros amorosos. Os neoclássicos viam a natureza como um lugar ameno, aprazível, onde o ser humano poderia encontrar equilíbrio e paz interior. nn Aurea mediocritas: Partindo do pressuposto de que a simplicidade se revelava como elemento preponderante, o luxo e a ostentação eram vistos como algo inconcebível. A tradução literal desse clichê não conduz à ideia que ele busca expressar, entendida aqui como o ideal de uma vida tranquila e equilibrada, sem miséria nem riqueza, contando apenas com o essencial, ou seja, com aquilo que pudesse proporcionar tempo para a virtude e a arte, sem excessos e extremos. Seria algo como “equilíbrio de ouro”, embasado na máxima latina: In medio est virtus, ou seja, “A virtude está no meio”. nn Carpe diem: Aproveitem o dia, apreciar o presente, aproveitar ao máximo o agora significa viver o hoje sem preocupações com o amanhã. É desfrutar a vida e os prazeres do momento em que se vive. Essa expressão tem o objetivo de lembrar que a vida é breve e efêmera e por isso, cada instante deve ser aproveitado intensamente.
Características estilísticas nn Oposição ao Barroco: proposta de linguagem simples,
de frases na ordem direta e de palavreado de uso popular, ou seja, o contrário das pregações do seiscentismo. nn Versos brancos: ao contrário do Barroco, o poeta árcade
pode usar o verso branco (sem rima), em uma atitude que simboliza liberdade na criação. No Brasil, Basílio da Gama foi o mais ousado: compôs o livro O Uraguai (poema épico) sem fazer uso da rima. nn Pastoralismo:
o poeta árcade imagina-se, na hora de produzir poemas, como um “pastor de ovelhas”. É de supor que um pastor não dispusesse de linguagem sofisticada. Daí a ideia de simplicidade ao escrever. O próprio tema da poesia converge para assuntos bucólicos, amorosos, com riachos, campinas, fontes, rebanho, ovelhas e cajado. A ideia de amar e ser feliz é condicionada à convivência campestre.
nn Imitação da natureza: os árcades copiavam os modelos
clássicos antigos ou renascentistas. O poeta buscava, na natureza, os modelos de beleza, bondade e perfeição. nn Pseudônimos:
o poeta árcade adota nome falso porque se considera um “pastor de ovelhas”. O escritor assume duas identidades: uma real, outra especial, usada apenas para compor poesias. Tomás Antônio Gonzaga, o nosso maior poeta árcade, era advogado e político na vida real. No momento de compor poemas, transformava-se em Dirceu, um simples (às vezes nem tanto) pastor de ovelhas.
nn Musas: A condição principal para ser poeta, no Arcadis-
mo, era estar apaixonado. Exageros à parte, a maioria dos poetas árcades brasileiros notabilizaram-se fazendo poesias líricas para suas amadas. Alguns comedidos (caso de Gonzaga que se inspirava em uma só mulher, Marília), outros mais ousados (caso de Cláudio Manuel da Costa que fazia poemas para Nise e Eulina), a verdade é que poucos se aventuraram à lavra pura e simples da poesia dissociada da figura feminina.
Cláudio Manoel da Costa Cláudio Manoel da Costa é considerado o primeiro poeta do movimento árcade brasileiro, embora ainda apresente características barrocas em toda a sua obra, principalmente no que diz respeito ao estilos cultista e conceptista utilizados, compondo poemas perfeitos na forma e na linguagem. Esse poeta árcade cultivou a poesia épica e lírica, imprimindo em seus sonetos enorme afinidade com a lírica de Camões. Em sua obra tem destaque “Vila Rica”, um poema épico inspirado nas epopeias clássicas. Isso nos permite dizer que a sua poesia foi uma transição entre o Barroco e o Arcadismo. 597
B09 Arcadismo I
Vale salientar, nas duas últimas estrofes, o sentimento de bem-estar do pastor pelo ambiente campestre. Contudo, na última estrofe, há uma valorização do cotidiano focalizado pela razão, pois todo esse bem-estar vindo da paisagem campestre de nada valeria se Marília não estivesse lá também, já que do contrário seria mais triste do que a própria morte. A natureza não teria tanta beleza se ele não tivesse sua musa Marília ao seu lado. A natureza exibe sua beleza encantadora porque o pastor a contempla na presença da amada. O amor expresso no poema está alegre, o eu lírico está satisfeito por amar Marília e deseja aproveitar a manhã com ela.
Português
Cláudio Manoel da Costa adotou o pseudônimo pastoril de Glauceste Satúrnio e sua musa inspiradora era Nise. De acordo com a estética árcade, Cláudio cultivava a simplicidade, a poesia bucólica e pastoril, que exalta a natureza e a inquietação amorosa platônica. Seus sonetos se destacam pela perfeição formal e linguística, pelo verso decassílabo e pela contemplação da vida. O cenário de natureza rochosa de Minas Gerais é uma constante em seus versos que expressam o tormento interior causado pelo contraste entre o rústico mineiro e a experiência cultural europeia. A poesia lírica de Cláudio Manuel da Costa ora apresenta resquícios do Barroco, ora apresenta antecipações do Romantismo. Os temas mais comuns de sua poesia lírica são: a desilusão amorosa e a descrição da natureza. É frequente em seus textos uma tentativa de conciliação das características do Arcadismo e a paisagem mineira. Mas, apesar dessa identidade com a região, o autor mostra, em vários momentos, um grande apego à metrópole portuguesa. A paisagem mineira aparece em sua obra por meio de referências à natureza áspera da região. Em seus sonetos cultivou a poesia bucólica, pastoril, na qual menciona a natureza como refúgio. Veja a seguir um exemplo:
vras para descrever o horror da funesta tormenta, que a tudo cresta, tudo consome, tudo arrasta, e infesta. Toda a tormenta fatal a que o mundo será submetido não significa nada diante do tormento que representa para o poeta a destruição que lhe provoca o amor de Nise. Podemos notar as relações que o poeta estabelece entre ele mesmo a natureza, e entre a tempestade e o amor por Nise. Observe como ele transfere para seus próprios sentimentos toda a desgraça a que o mundo está sujeito. Essa transferência de características de uma realidade (natureza) a outra (sentimentos do eu poético) é chamada de processo metafórico, o qual concretiza no soneto por meio de uma comparação.
Santa Rita Durão
Não vês, Nise, este vento desabrido, Que arranca os duros troncos? Não vês esta, Que vem cobrindo o céu, sombra funesta, Entre o horror de um relâmpago incendido? Não vês a cada instante o ar partido Dessas linhas de fogo? Tudo cresta, Tudo consome, tudo arrasa e infesta, O raio a cada instante despedido. Ah! Não temas o estrago, que ameaça A tormenta fatal; que o céu destina Vejas mais feia, mais cruel desgraça:
B09 Arcadismo I
Rasga o meu peito, já que és tão ferina, Verás a tempestade, que em mim passa; Conhecerás, então, o que é ruína. O sentimento do eu lírico é expresso por meio de imagens, que convidam o interlocutor a traçar um paralelo entre a intensidade do amor e do sofrimento e a magnitude da tempestade. Assim, o sentimento do poeta é expresso por meio de metáforas e hipérboles. “O vento”, “o raio”, “a tormenta”, “a tempestade” que o poeta descreve são seus conflitos íntimos. Nesse soneto, o eu lírico, a voz que se dirige a alguém chamado Nise, revela suas emoções, expõe seu mundo interior, utilizando o mundo exterior como reflexo de seus sentimentos. O eu poemático cria um cenário de tempestade, abusando das pala598
Fonte: Wikimedia Commons
A natureza e a dor do amor
Frei José de Santa Rita Durão nasceu em Minas Gerais, em 1722. Após os primeiros estudos com os jesuítas no Rio de Janeiro, segue para Portugal. Formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra e pertenceu à Ordem de Santo Agostinho. Em 1781 publica o poema Caramuru. Falece em Portugal, em 1784. O poema Caramuru narra o descobrimento da Bahia, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias, sobretudo com Paraguaçu. O material é vasto: narra fatos da história do Brasil, o comportamento indígena, até lendas. Caramuru é a primeira obra cujo tema é o habitante nativo do Brasil. Nessa obra, Santa Rita Durão fala das aventuras da chegada da nau de Diogo Álvares Correia, cujo navio naufragou na costa da Bahia. Chegado ali com mais seis companheiros, viu logo um deles, agonizante, ser levado para o banquete dos índios antropófagos, que o retalham e comem, cruas mesmo, todas as suas partes. Os náufragos são presos em uma gruta, perto do mar, e, para que engordassem, são bem alimentados. Incertos sobre o futuro, e notando que os índios nada sabem de armas, Diogo, durante um passeio na praia, retira, do barco destroçado, toda pólvora e munições, guardando-as na gruta. Desde então, como vagaroso enfermo, passa a se utilizar de uma espingarda como cajado.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Entretanto, segundo a tradição, por ser considerado mais esperto que os cinco companheiros, Diogo Álvares consegue impor-se definitivamente perante os indígenas após um estrondoso disparo de sua arma de fogo, salvando os companheiros e alcançando para si total respeito e obediência dos indígenas, fato que o consagrou como “filho do trovão”, uma espécie de divindade próxima do deus ameríndio Tupá a que chamaram Caramuru. O poema é considerado uma exaltação da paisagem brasileira, dos recursos naturais, das tradições e dos costumes dos índios e ainda de sua religiosidade extremada. Esses traços nativistas serão desenvolvidos pelos indianistas românticos. A estrutura do poema segue o modelo de Camões, formado por dez cantos de versos decassílabos dispostos em estrofes fixas, as oitavas, com esquema de rimas ABABABCC. Caramuru tem como subtítulo Poema Épico do Descobrimento da Bahia e narra as aventuras de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre outras personagens do poema estão Paraguaçu, com quem Diogo se casou na França, e Moema – rival e irmã de Paraguaçu, que se lança ao mar para alcançar a nau que levava o homem que amava e morre afogada. Duas mulheres, um mesmo objeto de desejo. Em Caramuru, a personagem Moema protagoniza um drama de amor e rejeição, sem medir consequências. Quando Diogo Álvares resolve levar Paraguaçu consigo, rumo a Paris, Moema e outras índias nadam atrás do navio. Contudo, Moema morre ao tentar alcançar o barco.
Pasma da turba feminil que nada. Uma, que às mais precede em gentileza, Não vinha menos bela do que irada; Era Moema, que de inveja geme, E já vizinha à nau se apega ao leme. XXXVIII - Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem... Porém o tigre, por cruel que brame, Acha forças amor que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame. Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem. Como não consumis aquele infame? Mas apagar tanto amor com tédio e asco... Ah que o corisco és tu... raio... penhasco? (...) XLI Enfim, tens coração de ver-me aflita, Flutuar moribunda entre estas ondas; Nem o passado amor teu peito incita A um ai somente com que aos meus respondas! Bárbaro, se esta fé teu peito irrita, (Disse, vendo-o fugir), ah não te escondas!
Figura 01 - Moema - Victor Meirelles (1866).
E indo a dizer o mais, cai num desmaio. XLII Perde o lume dos olhos, pasma e treme, Pálida a cor, o aspecto moribundo; Com mão já sem vigor, soltando o leme, Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Vejamos um trecho da obra de Santa Rita Durão:
Mas na onda do mar, que irado freme,
Canto VI
Tornando a aparecer desde o profundo,
XXXVII
- Ah! Diogo cruel! - disse com mágoa,
Copiosa multidão da nau francesa
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
B09 Arcadismo I
Fonte: Victor Meirelles / Wikimedia Commons
Dispara sobre mim teu cruel raio...”
Corre a ver o espetáculo assombrada; E, ignorando a ocasião de estranha empresa,
599
Português
Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01 e 02 Soneto VII Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado E em contemplá-lo, tímido, esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado; Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! COSTA, Claudio Manuel da. Disponível em:<http://www.jornaldepoesia. jor.br>. Acesso em: 2/10/2014.
01. (UCB DF) Com relação às características do Arcadismo presentes no poema, julgue os itens a seguir. F-F-F-F-V 00. Preferência por construções sintáticas na ordem direta e pela impessoalidade do tratamento dispensado ao tema. 01. Defesa do carpe diem e do fugere urben. 02. Valorização do jogo de antítese e paradoxos, aliada à preocupação com a transitoriedade da vida. 03. Idealização da natureza-pátria. 04. Revitalização do Classicismo pelo emprego do soneto como forma de composição. 02. (UCB DF) Com base na leitura compreensiva e na estrutura do texto, julgue os itens a seguir. V-F-V-V-V 00. O poema condena o progresso pela degeneração da natureza. 01. Por seu conteúdo marcadamente desvinculado da subjetividade lírica, o poema enquadra-se no gênero épico. 02. O poema está estruturado em versos decassílabos e apresenta rimas interpoladas nas duas primeiras estrofes. B09 Arcadismo I
03. As funções poética e emotiva da linguagem prevalecem no poema. 04. Entre as mudanças do ambiente percebidas pelo eu poético, estão o desaparecimento de uma fonte e a transformação de um monte em vale.
600
03. (Mackenzie SP) Texto Olha, Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo, a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores? Bocage
No texto encontra-se representação da natureza que: a) se caracteriza como o locus amoenus (lugar aprazível), motivo poético desenvolvido pela estética árcade. b) corresponde a um quadro harmonioso, seguindo modelo típico das cantigas de amor medievais. c) é resultado de uma concepção romântica, característica do mal do século. d) é expressão da religiosidade cristã que marcou os ideais iluministas. e) corresponde a um padrão estético que reflete a cosmovisão dos escritores naturalistas do século XIX. 04. (Mackenzie SP) Texto I Bem não Vos amo, confesso, Várias juras proferi, Missa inteira nunca ouvi ...; Gregório de Matos
Texto II Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos, E a boca, com prazer o mais jucundo, Apalpar-lhe de neve os dois pimpolhos: Vê-la rendida enfim a Amor fecundo; Ditoso levantar-lhe os brancos folhos; É este o maior gosto que há no mundo. Bocage
Jucundo: alegre Ditoso: feliz Folho: tecido com pregas ou franzido, para enfeitar vestuário Considerando os versos do texto II, assinale a alternativa correta sobre Bocage. a) Sua poesia, de caráter filosófico e edificante, evita a linguagem popular e irreverente, típica dos poetas árcades. b) Apesar de ter em Camões o seu modelo, os motivos clássicos estão ausentes em seus textos poéticos. c) Além da sátira e do erotismo, sua poesia, com marcas de emotividade, expressa o conflito existencial, prenunciando o Romantismo português. d) A representação da vivência amorosa em seus textos é sempre de natureza platônica, revelando uma visão de mundo racionalista. e) Afastou-se das formas poéticas tradicionais, como o soneto, preferindo produzir poemas de forma livre.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
I – de Ricardo Reis Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) [...] Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro Ouvindo correr o rio e vendo-o. II – de Tomás Antônio Gonzaga Enquanto pasta, alegre, o manso gado, minha bela Marília, nos sentemos à sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos na regular beleza, que em tudo quanto vive nos descobre a sábia natureza. Sobre os textos, afirma-se que ambos I. valem-se do ambiente pastoril, nos quais os poetas propõem às mulheres amadas a introspecção e a reflexão junto à natureza; II. pertencem ao mesmo período literário: o Arcadismo; III. são rigorosos quanto à métrica, o que é próprio do período literário a que pertencem. Está correto o que se afirma em a) I apenas. d) II e III apenas. b) III apenas. e) I, II e III. c) I e II apenas. 02. (UFV MG) O carpe diem é um dos temas recorrentes na poesia do Arcadismo que também pode aparecer na poesia de outros estilos de época. Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que NÃO apresenta um exemplo desse tema: a) Tristes lembranças! e que em vão componho A memória da vossa sombra escura! Que néscio em vós a ponderar me ponho! (COSTA, Cláudio Manuel da. Poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 49.)
b) Ah! não, minha Marília, Aproveite-se o tempo, antes que faça O estrago de roubar ao corpo as forças, E ao semblante a graça! (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: Martin Claret. 2009. p. 48.)
c) Gozai, gozai da flor da formosura, Antes que o frio da madura idade Tronco deixe despido, o que é verdura. (MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 320.)
d) Amanhã! — o que val’, se hoje existes! Folga e ri de prazer e de amor; Hoje o dia nos cabe e nos toca, De amanhã Deus somente é Senhor! (DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p. 444.)
03. (Uespi PI) Assinale a alternativa que referenda uma característica do Arcadismo presente no poema abaixo. Acaso são estes os sítios formosos aonde passava os anos gostosos São estes os prados, aonde brincava enquanto pastava o manso rebanho que Alceu me deixou? a) Evasão pela morte. b) Presença de entes mitológicos. c) Confissão amorosa. d) Bucolismo e contemplação da natureza. e) Sentimento de religiosidade associado à meditação. 04. (Uergs RS) Assinale a alternativa composta SOMENTE por nomes de autores árcades. a) José de Anchieta, Padre Vieira, Santa Rita Durão. b) Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Basílio da Gama. c) Silva Alvarenga, José de Alencar, Cláudio Manoel da Costa. d) Santa Rita Durão, Basílio da Gama, Cláudio Manoel da Costa. e) José de Anchieta, José de Alencar, Tomás Antônio Gonzaga. 05. (UFPA) Leia o soneto, abaixo transcrito, do poeta mineiro Cláudio Manuel da Costa. XXXI Estes os olhos são da minha amada: Que belos, que gentis, e que formosos! Não são para os mortais tão preciosos Os doces frutos da estação dourada.
B09 Arcadismo I
01. (UFTM MG) Leia os textos para responder à questão que segue:
Por eles a alegria derramada, Tornam-se os campos de prazer gostosos;
601
Português
Em Zéfiros suaves, e mimosos Toda esta região se vê banhada. Vinde, olhos belos, vinde; e enfim trazendo Do rosto de meu bem as prendas belas, Dai alívios ao mal, que estou gemendo: Mas ah! delírio meu, que me atropelas! Os olhos, que eu cuidei que estava vendo Eram (quem crera tal!) duas estrelas. (COSTA, Cláudio Manuel da. Sonetos. In: FILHO, Domício P. (Org.). A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Claudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1966, p.64-65.)
Com base nos elementos da estética do Arcadismo presentes nesse poema, é correto afirmar que a) o estilo do poeta é rebuscado, com obsessão pela linguagem erudita e imagens exageradas. b) o autor representa o irracional e o subconsciente, procurando a livre associação de ideias e imagens suprarrenais de sonho e pesadelos. c) o poeta expressa o amor com uma linguagem simples, sem ornamentos, e descreve a natureza em harmonia, por meio de imagens pastoris, bucólicas e referências mitológicas. d) os versos se caracterizam pelo exagero nas emoções, pela subjetividade nos sentimentos, pela idealização da realidade e sugerem a evasão para épocas imaginárias e mundos distantes. e) o poeta descreve com detalhes o seu mundo interior, revela livremente seus anseios e seu subjetivismo e manifesta emoções pessoais que se contradizem e se completam em estranhos paradoxos. 06. (Uepa PA) Leia os versos abaixo. Deixa louvar da corte a vã grandeza: Quanto me agrada mais estar contigo Notando as perfeições da Natureza! Os versos de Bocage, acima transcritos, sugerem a tese da superioridade da natureza sobre a civilização. Assinale a opção que apresenta uma das causas deste modo de entender a relação entre estas.
B09 Arcadismo I
a) O desejo de se afastar dos problemas da vida urbana provocados pela consolidação do modo de produção capitalista. b) O exacerbado crescimento do sistema feudal e a insatisfação dos poetas árcades com este crescimento. c) A influência do modo de produção capitalista e a ascensão da burguesia influenciando esteticamente o modelo poético árcade a ter uma visão negativa da natureza. d) A satisfação com as consequências do capitalismo e o repúdio aos ideais campesinos. e) A influência da propriedade da terra como fonte geradora de riqueza no modo de produção capitalista. 602
07. (UCS RS) Em relação ao Arcadismo, é correto afirmar que: a) O movimento estético caracteriza-se, principalmente, pela retomada da cultura greco-latina, pela subjetividade e pela idealização do amor e da beleza. b) A estética simples presente no Movimento permite até a inserção da linguagem popular em textos épicos. c) O exagero transparece principalmente em relação a qualidades e defeitos dos personagens. d) A presença marcante do bucolismo implica exaltação da vida campesina em poemas do Período. e) A tendência ao sentimentalismo, assumida pelo Arcadismo em oposição ao Barroco, implica tematizar o sofrimento amoroso. 08. (Puc Campinas SP) A valorização de paisagens bucólicas, idealizadas pelo equilíbrio e harmonia da natureza, expressa-se em versos como estes: I.
Formoso e manso gado, que pascendo A relva andais por entre o verde prado, Venturoso rebanho, feliz gado, Que à bela Antandra estais obedecendo.
II.
Não sou um diamante nato Nem consegui cristalizá-lo: Se ele te surge no que faço Será um diamante opaco.
III.
Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento.
Atendem ao enunciado os versos que se encontram em a) I, II e III. b) I e II, somente. c) I e III, somente. d) II e III, somente. e) III, somente. 09. (Puc Campinas SP) O prestígio do bucolismo em pleno Iluminismo setecentista pode ser constatado, dentro da literatura brasileira, a) nos sermões de Antônio Vieira, sobretudo quando neles dá ênfase à exuberância da natureza tropical. b) nos poemas de Gregório de Matos em que o poeta barroco enaltece os contornos de sua amada Bahia. c) em sonetos de Cláudio Manuel da Costa, nos quais o idealismo da paisagem arcádica é tomado como poderoso parâmetro estético. d) nos documentos de missionários e viajantes estrangeiros, que arrolavam, entusiasmados, a profusão de nossas riquezas naturais. e) nas descrições dos nossos primeiros romances românticos, em que a beleza natural da terra traduz bem as exaltações do nacionalismo.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B10
ARCADISMO II
Fonte: Wikimedia Commons
Na aula anterior vimos que, na Europa nos séculos XVII e XVIII, a divulgação de notícias por meio de jornais veio ajudar a espalhar ideias políticas. Aqui no Brasil, o governo não só proibia a divulgação de livros e jornais, como também exercia um austero controle sobre qualquer publicação que entrasse no país. A grande preocupação do governo centralizava-se na circulação de notícias a respeito da independência dos Estados Unidos (1776) e das atuações dos revolucionários franceses (1789), que avançavam rumo à proclamação da República.
ASSUNTOS ABORDADOS nn Arcadismo II nn Tomás Antônio Gonzaga nn Basílio da Gama
Nesse contexto, surgiu no Brasil o comércio clandestino de livros. Sabe-se que muitos inconfidentes mineiros tinham livros contrabandeados, e assim surgiram as academias. Essas academias eram reuniões de intelectuais, cujo objetivo era discutir assuntos sobre literatura, filosofia, história, política e ciência. Sentindo-se ameaçado, o governo português, depois da Conjuração Mineira, intensificou a vigilância sobre essas academias e associações, inclusive fechando muitas delas. No Rio de Janeiro, havia também academias e associações, e em 1794, o vice-rei Conde de Resende mandou fechar a Sociedade Literária, acusando os intelectuais de espalharem as ideias para a queda da monarquia. Os inconfidentes queriam proclamar a República e tornar o Brasil Independente. E mais, havia ainda a intenção de fundar uma universidade em Vila Rica, além de construir fábricas nas regiões mais importantes do País. Os participantes da Conjuração Mineira foram delatados por Joaquim Silvério dos Reis, e nessa denúncia, Silvério apontou Tomás Antônio Gonzaga como um dos líderes do movimento. Gonzaga foi preso pela coroa portuguesa juntamente com os demais companheiros. Figura 01 - Paisagem bucólica - cenário ideal para os poetas árcades.
603
Português
Tomás Antônio Gonzaga Tomás Antônio Gonzaga, o poeta apaixonado, é o mais conhecido entre ao árcades brasileiros. Nasceu em Portugal em 1744 e veio ainda criança para o Brasil. Aos 17 anos volta a Portugal e forma-se em direito pela Universidade de Coimbra. Aos 38 anos volta ao Brasil como ouvidor de Vila Rica, onde conheceu Cláudio Manoel da Costa. Em virtude de seus desentendimentos com o governador de Minas Gerias, Luís da Cunha Meneses, nasceram as Cartas Chilenas. Sob o pseudônimo de Critilo, o poeta escreve cartas a Doroteu fazendo duras críticas ao Fanfarrão Minésio (o governador). A autoria dessas cartas só lhe foi definitivamente atribuída no século XX. Por volta dos 40 anos de idade, Gonzaga apaixonou-se pela adolescente Maria Joaquina Doroteia de Seixas, a quem chama de Marília em suas liras. Gonzaga é exaltado até hoje pela publicação da obra Marília de Dirceu. Na época da Inconfidência Mineira, Gonzaga estava de casamento marcado com a jovem Maria Doroteia, a Marília, mas foi condenado ao degredo em Moçambique, na África, onde morreu em 1810. Seu pseudônimo árcade era Dirceu e sua musa inspiradora era Marília.
Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado; Os Pastores, que habitam este monte, Respeitam, o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste Nem canto letra que não seja minha. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Mas tendo tantos dotes da ventura, Só apreço lhes dou, gentil Pastora, Depois que o teu afeto me segura Que queres do que tenho ser Senhora. É bom, minha Marília, é bom ser dono De um rebanho, que cubra monte e prado; Porém, gentil pastora, o teu agrado Vale mais que um rebanho, e mais que um trono Graças, Marília bela,
Marília de Dirceu Na poesia lírica de Tomás Antônio Gonzaga, o eu poético transforma-se em um pastor e demonstra toda sua paixão pela linda e jovem Marília, sua musa inspiradora. A obra está dividida em duas partes: na primeira, anterior ao degredo, o tom característico das liras é mais otimista. Podemos perceber a felicidade proporcionada pelo amor de Marília e os sonhos para o futuro. Nos versos do poema, podemos ver várias referências ao gado que pasta, aos pastores, às ovelhas que fornecem lã e leite e à vida tranquila e natural. Aqui vemos a regência ao espaço bucólico e a criação do locus amoenus. O eu poemático afirma não ser um pastor como outro qualquer, em referência ao saber intelectual. Leia, a seguir, trechos de Marília de Dirceu: Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado, De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos e dos sóis queimado. B10 Arcadismo II
Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Graças à minha Estrela! Como podemos apreender da leitura da Lira I, em cada uma das estrofes o eu lírico aborda um aspecto diferente de sua vida. Na primeira estrofe, sua situação material, na segunda, seu modo de ser, na terceira, seu amor por Marília. O poeta diz no refrão: “Graças, Marília bela, Graças à minha estrela!” O fato de o poeta personificar “estrela” e crer que deve a ela seus dotes, já que Deus, para os árcades, habitava a natureza, tem relação com o Arcadismo, apesar de que o uso do refrão não era comum nesse movimento literário. Podemos notar também que além dos bens materiais, o eu poético fornece outras informações de si mesmo: sua fisionomia, sua autoridade, seus dotes musicais, sua originalidade. As características árcades que aparecem no texto são: ambiente campestre, racionalismo, aurea mediocritas, e preocupação formal. Podemos perceber ainda que o eu poético determina suas condições de superioridade social: não cuidar de gado alheio, o rosto não é grosseiro nem queimado pelo sol, é o proprietário da casa em que mora. Essas qualidades que ele reúne e apresenta à Marilia, e por ser melhor que os outros pastores, fazem com que ele seja digno de cortejá-la. Em resumo, o eu lírico se apresenta como alguém que tem posses e educação refinada.
Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto.
Cartas chilenas
Graças, Marília bela,
Cartas Chilenas é uma obra que contém poemas escritos em linguagem muito agressiva. São treze textos manuscri-
Graças à minha Estrela! 604
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
cação, dedicatória, narração e epílogo, traço que o aproxima de Os Lusíadas, de Camões.
Fonte: Samuel Kochhan / Shutterstock.com
Durante muito tempo houve dúvidas sobre a sua autoria, mas hoje ela é atribuída a Tomás Antônio Gonzaga. Nos textos, o Chile era Minas Gerais, e Santiago era Vila Rica. Suas sátiras, em geral, criticavam pessoas específicas e não instituições. No trecho que você vai ler, a hipocrisia do governador mineiro é ironizada por Critilo. Aquele, Doroteu, que não é santo, mas quer fingir-se santo aos outros homens, pratica muito mais do que pratica quem segue os sãos caminhos da verdade. Mal se põe nas igrejas, de joelhos, abre os braços em cruz, a terra beija, entorta o seu pescoço, fecha os olhos, faz que chora, suspira, fere o peito e executa outras muitas macaquices, estando em parte onde o mundo as veja. Assim o nosso chefe, que procura mostrar-se compassivo, não descansa com estas poucas obras: passa a dar-nos da sua compaixão maiores provas. Nessas cartas, Critilo, habitante de Santiago do Chile (na verdade Vila Rica), narra os desmandos e as arbitrariedades do governador chileno, um político sem moral, despótico e narcisista, o Fanfarrão Minésio (na realidade, Luís da Cunha Meneses, governador de Minas Gerais até pouco antes da Inconfidência).
Basílio da Gama
Figura 02 - Ruínas de Sete Povos das Missões, conjunto de aldeamentos indígenas, fundado pelos jesuítas espanhóis no Rio Grande do Sul.
As personagens mitológicas são substituídas por elementos da cultura indígena. Aparece a figura do índio como “bom selvagem” e a descrição da natureza brasileira, numa espécie de antecipação romântica. Entre as personagens destacam-se: Gomes Freire Andrada, o herói português; Balda, padre jesuíta e vilão que administrava a aldeia, uma caricatura dos jesuítas e; os índios Cacambo, chefe da tribo, Lindoia, esposa de Cacambo, Caitutu, guerreiro índio irmão de Lindoia, Tanajura, a feiticeira vidente, Cepé, índio guerreiro, e General Gomes Freire de Andrade, chefe das tropas de Portugal. Para cumprir o acordo celebrado pelo Tratado de Madri, que delimitava os territórios da América do Sul pertencentes a Portugal e Espanha, os soldados deveriam transferir as terras dos Sete Povos para os portugueses e a colônia de Sacramento para os espanhóis. O episódio mais famoso do poema é uma passagem lírica, do Canto IV, em que é narrada a morte da índia Lindoia, depois da morte do marido. Ela, para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente venenosa. Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza:
Sua obra mais importante é, sem dúvida, o poema épico, O Uraguai. Esse poema fala da guerra movida pelos portugueses e espanhóis contra o conjunto de aldeias denominado Sete Povos das Missões do Uruguai (São Borja, Santo Ângelo, São João, São Lourenço, São Luís, São Miguel e São Nicolau). O Uraguai é composto de cinco cantos e os versos são brancos, ou seja, sem rimas e sem divisão de estrofes. Possui partes tradicionais do poema épico: proposição, invo-
Fonte: José Maria de Medeiros / Wikimedia Commons
Outro grande árcade foi Basílio da Gama (1741-1795). Ele nasceu em Minas Gerias em São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes, e faleceu em Lisboa em 1795. José Basílio da Gama adotou o pseudônimo árcade de Termindo Sipílio. Era estudante jesuíta quando o Marquês de Pombal determinou a expulsão da Companhia de Jesus do Brasil. Caiu nas graças do ministro português quando escreveu um poema em homenagem ao casamento de sua filha.
Figura 03 - A morte de Lindoia, de José Maria de Medeiros (1849-1925).
605
B10 Arcadismo II
tos que têm a estrutura de uma carta, porém compostos por versos decassílabos. Essas “cartas” se espalhavam anonimamente por toda a cidade de Vila Rica, pouco tempo antes da Inconfidência Mineira. As “cartas” contavam a história do Fanfarrão Minésio. Gonzaga assume pseudônimo de Critilo e dialoga com o amigo Doroteu.
Português
A morte de Lindoia Canto IV Não faltava,
Porém o destro Caitutu, que treme
Para se dar princípio à estranha festa,
Do perigo da irmã, sem mais demora
Mais que Lindoia. Há muito lhe preparam
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Todas de brancas penas revestidas
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Festões de flores as gentis donzelas.
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
Cansados de esperar, ao seu retiro
O arco e faz voar a aguda seta,
Vão muitos impacientes a buscá-la.
Que toca o peito de Lindoia, e fere
Estes de crespa Tanajura aprendem
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Que entrara no jardim triste e chorosa,
Deixou cravados no vizinho tronco.
Sem consentir que alguém a acompanhasse.
Açouta o campo co’a ligeira cauda
Um frio susto corre pelas veias
O irado monstro, e em tortuosos giros
De Caitutu, que deixa os seus no campo;
Se enroscano cipreste, e verte envolto
E a irmã por entre as sombras do arvoredo
Em negro sangue o lívido veneno.
Busca co’a vista, e teme de encontrá-la. Entram enfim na mais remota e interna Parte de antigo bosque, escuro e negro, Onde ao pé de uma lapa cavernosa Cobre uma rouca fonte, que murmura, Curva latada de jasmins e rosas. Este lugar delicioso e triste, Cansada de viver, tinha escolhido Para morrer a mísera Lindoia. Lá reclinada, como que dormia, Na branda relva e nas mimosas flores, Tinha a face na mão, e a mão no tronco De um fúnebre cipreste, que espalhava Melancólica sombra. Mais de perto Descobrem que se enrola no seu corpo Verde serpente, e lhe passeia, e cinge Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. Fogem de a ver assim, sobressaltados, E param cheios de temor ao longe; E nem se atrevem a chamá-la, e temem Que desperte assustada, e irrite o monstro,
B10 Arcadismo II
E fuja, e apresse no fugir a morte. Vocabulário lapa: gruta, pequena caverna cinge: está em torno de, circunda açouta: açoita lívido: pálido, azulado brando: macio 606
Leva nos braços a infeliz Lindoia O desgraçado irmão, que ao despertá-la Conhece, com que dor! no frio rosto Os sinais do veneno, e vê ferido Pelo dente sutil o brando peito. Os olhos, em que Amor reinava, um dia. Cheios de morte; e muda aquela língua, Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes Contou a larga história de seus males. Nos olhos Caitutu não sofre o pranto, E rompe em profundíssimos suspiros, Lendo na testa da fronteira gruta De sua mão já trêmula gravado O alheio crime e a voluntária morte. E por todas as partes repetido O suspirado nome de Cacambo. Inda conserva o pálido semblante Um não sei quê de magoado e triste, Que os corações mais duros enternece. Tanto era bela no seu rosto a morte! [...]
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
“Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado, De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!.” (Tomás Antônio Gonzaga)
De acordo com a estrofe acima, assinale a alternativa que caracteriza a condição social do emissor. a) Um sem-terra. b) Um sem-teto. c) Um assalariado; d) Não tem residência fixa. e) Trabalha por conta própria. 02. (UFRGS RS) Leia os excertos abaixo, extraídos de Marília de Dirceu (Lira XIV), de Tomás Antônio Gonzaga. “Minha bela Marília, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça.” “Ornemos nossas testas com as flores E façamos de feno um brando leito; Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores. Sobre as nossas cabeças, Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Também, Marília, morre.” “Ah, não, minha Marília, Aproveite-se o tempo, antes que faça O estrago de roubar ao corpo as forças, E ao semblante a graça.” Considere as seguintes afirmações sobre esses excertos. I. Os versos chamam a atenção para a passagem do tempo e expressam um convite aos prazeres de um amor sadio. II. Os versos 05 a 12 descrevem uma cena amorosa ambientada na paisagem mineira da cidade então chamada de Vila Rica. III. Marília é um nome literário adotado para referir a noiva do poeta inconfidente, cujo nome verdadeiro era Maria Dorotéia de Seixas Brandão.
Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 03. (UEMG) O fragmento a seguir foi extraído da Lira XXXIII, Parte I, da obra Marília de Dirceu. Pega na lira sonora, Pega, meu caro Glauceste; E ferindo as cordas de ouro, Mostra aos rústicos Pastores A formosura celeste De Marília, meus amores. Ah! pinta, pinta A minha Bela! E em nada a cópia Se afaste dela. (...) A pintar as negras tranças Peço que mais te desveles, Pinta chusmas de amorinhos Pelos seus fios trepando; Uns tecendo cordas deles, Outros com eles brincando. Ah! pinta, pinta A minha Bela! E em nada a cópia Se afaste dela. Sobre esse fragmento, considere as seguintes afirmações: I. Verifica-se no fragmento a presença da metalinguagem, expressa nas metáforas da lira e da pintura. II. Há um apelo à reprodução fiel da realidade, contrariado, no entanto, pela descrição da pintura de Marília. É CORRETO afirmar que a) somente I é verdadeira. b) somente II é verdadeira. c) I e II são verdadeiras. d) I e II são falsas. 04. (UPE PE) Ora pois, doce amigo, vou pintá-lo Da sorte que o topei a vez primeira; (...) Tem pesado semblante, a cor é baça, O corpo de estatura um tanto esbelta, Feições compridas e olhadura feia;
B10 Arcadismo II
01. (Unifor CE)
607
Português
Estão CORRETAS apenas as afirmações: a) I, III e IV. b) IV e V. c) I, II e III. d) I, II e V. e) II, III e IV.
Tem grossas sobrancelhas, testa curta, Nariz direito e grande, fala pouco Em rouco, baixo som de mau falsete; Sem ser velho, já tem cabelo ruço, E cobre este defeito e fria calva À força de polvilho, que lhe deita. Ainda me parece que o estou vendo No gordo rocinante escarranchado! As longas calças pelo umbigo atadas, Amarelo colete e sobre tudo Vestida uma vermelha e justa farda. De cada bolso da fardeta pendem Listadas pontas de dois brancos lenços
05. (UCS RS) O movimento árcade no Brasil procurou refletir as influências europeias aliadas aos interesses dos poetas pelas coisas da nossa terra. O mais popular poeta mineiro do período foi Tomás Antônio Gonzaga, que, em sua poesia lírica, Marília de Dirceu, tematiza os amores entre Dirceu e Marília. (Cartas Chilenas)
O texto faz parte das Cartas Chilenas, produção localizada no período da nossa história literária conhecido como Arcadismo. Considerando o fragmento citado, bem como os aspectos estéticos e históricos dessas cartas, analise as afirmações abaixo. I. As Cartas Chilenas foram emitidas por Critilo a seu destinatário, Doroteu, personagens fictícias usadas por um autor que preferiu se esconder no anonimato. II. O conjunto das cartas se refere a personagens e situações estrangeiras, mas nelas se vê o reflexo das circunstâncias que envolveram o governo corrupto e arbitrário de Cunha Meneses, governador de Minas Gerais. III. O trecho do poema apresentado tem uma forma eminentemente descritiva, como se pode perceber pela natureza dos tempos verbais utilizados. Um forte teor irônico-satírico perpassa essa descrição. IV. Uma das grandes obras do Governador do Chile foi a construção de uma cadeia pública, um modesto edifício que supria as necessidades prioritárias de um centro urbano já plenamente desenvolvido. V. As Cartas Chilenas figuram no rol das obras mais representativas do Arcadismo, apresentando todos os temas caros a essa estética, como o fugere urbem (fuga da cidade) e o locus amoenus (lugar ameno).
Leia o fragmento de Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga. Lira II Na sua face mimosa, Marília, estão misturadas Purpúreas folhas de rosa, Brancas folhas de jasmim. Dos rubins mais preciosos Os seus beiços são formados; Os seus dentes delicados São pedaços de marfim. (GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu. s/l. Editora Tecnoprint. s/d. p.28.)
A partir do fragmento acima, assinale a alternativa correta em relação ao Arcadismo. a) Nessa Lira, o eu lírico preocupa-se em buscar a razão de seus sentimentos amorosos. b) A descrição de Marília denota sensualidade e paixão, evidenciadas pelos adjetivos empregados. c) O culto à natureza é uma característica que representa o mundo pastoril dos poetas do século XVIII. d) Nesse fragmento, a confusão de sentimentos demonstra uma característica marcante do Arcadismo: o bucolismo. e) A fuga da realidade para uma vida campestre e harmoniosa é descrita por meio do uso de uma linguagem antitética.
Exercícios Complementares 01. (Mackenzie SP)
Texto II Amor é fogo? Ou é cadente lágrima?
Texto I Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.
Pois eu naufrago em mar de labaredas Que lambem o sangue e a flor da pele acendem Quando o rubor me vem à tona d’água. E como arde, ai, como arde, Amor, Quando a ferida dói porque se sente, E o mover dos meus olhos sob a casca Vê muito bem o que devia não ver.
B10 Arcadismo II
É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; (Camões)
608
(Ilka Brunhilde Laurito)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
02. (Mackenzie SP) Faz a imaginação de um bem amado, Que nele se transforme o peito amante; Daqui vem que a minha alma delirante Se não distingue já do meu cuidado. Cláudio Manuel da Costa
Obs. : do meu cuidado = da pessoa amada Tomás Antônio Gonzaga, outro poeta árcade brasileiro, assim expressa o sentimento amoroso: Se não lhe desse, / compadecido, / tanto socorro / o deus Cupido; / se não vivera / uma esperança / no peito seu, / já morto estava / o bom Dirceu. Nesses versos, encontram-se índices que apontam para o fato de que a poesia brasileira do século XVIII I. preservou da cultura clássica as referências mitológicas. II. adotou explicitamente o “fingimento” poético, ao desenvolver motivos pastoris. III. apoiou-se também em padrões métricos mais populares, como o verso tetrassílabo. Assinale: a) se apenas a afirmação I estiver correta. b) se apenas a afirmação II estiver correta. c) se apenas a afirmação III estiver correta. d) se apenas as afirmações I e II estiverem corretas. e) se todas as afirmações estiverem corretas. 03. (Ibmec SP) Marília de Dirceu Enquanto pasta, alegre, o manso gado, minha bela Marília, nos sentemos À sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos Na regular beleza, Que em tudo quanto vive nos descobre A sábia Natureza. Atende como aquela vaca preta O novilhinho seu dos mais separa, E o lambe, enquanto chupa a lisa teta. Atende mais, ó cara,
Como a ruiva cadela Suporta que lhe morda o filho o corpo, E salte em cima dela. Repara, como cheia de ternura Entre as asas ao filho essa ave aquenta, Como aquela esgravata a terra dura, E os seus assim sustenta; Como se encoleriza, E salta sem receio a todo o vulto, Que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, Quando der ao filhinho o peito brando, E refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando Disser consigo: “É esta “De teu querido pai a mesma barba, “A mesma boca, e testa.” Que gosto não terá a mãe, que toca, Quando o tem nos seus braços, c’o dedinho Nas faces graciosas, e na boca Do inocente filhinho! Quando, Marília bela, O tenro infante já com risos mudos Começa a conhecê-la! Que prazer não terão os pais ao verem Com as mães um dos filhos abraçados; Jogar outros luta, outros correrem Nos cordeiros montados! Que estado de ventura! Que até naquilo, que de peso serve, Inspira Amor, doçura. (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. In: Proença Filho, Domício. Org. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1996, p. 605.)
É correto afirmar sobre esses versos a) O cenário bucólico e pastoril, típico dos poemas árcades, contrasta com a seleção de palavras de baixo calão como “vaca”, “teta” e “cadela”. b) Inspirado nos clássicos greco-latinos e renascentistas, o poeta recorre a uma linguagem rebuscada e extravagante para valorizar a técnica barroca. c) Embora tenha a estrutura de um diálogo, os versos devem ser interpretados como um monólogo no qual o poeta reflete sobre a sabedoria da natureza, tomada como modelo de equilíbrio. d) O eu lírico expressa seu ufanismo, pois idealiza a pátria e sua amada, Marília, de forma a antecipar os ideais do Romantismo. e) O poeta envolve sua amada numa atmosfera onírica para enfatizar a transfiguração do amor. 609
B10 Arcadismo II
Assinale a alternativa correta sobre o texto II. a) A liberdade formal dos quartetos, associada à contenção emotiva, é índice da influência parnasiana. b) Por seguir os princípios estéticos clássicos, sua expressão é de teor mais universalista que individualista. c) O caráter reflexivo das interrogativas iniciais impede que a linguagem seja marcada por índices de emotividade. d) Recupera, do estilo camoniano, a preferência por imagens paradoxais, como, por exemplo, mar de labaredas. e) Vale-se de recursos estilísticos conquistados pelos modernistas, como, por exemplo, versos decassílabos e expressão coloquial.
Português
04. (UCS RS) Leia os fragmentos que seguem. Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Coleção Prestígio, s/l: Tecnoprint, s/d. p. 25)
A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. (...) Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. (MATOS, Gregório de. A Jesus Cristo Nosso Senhor. In: CEREJA, Roberto William; MAGALHÃES, Tereza Cochar. Literatura brasileira: ensino médio. 3. ed. São Paulo: Atual, 2005. p. 135.)
Sobre os períodos literários a que pertencem esses dois trechos, é possível afirmar que I. o poema de Gregório de Matos refere-se ao período Barroco, que tinha como uma de suas principais características o conflito espiritual, dividindo o homem entre o pecado e o perdão. II. Tomás Antônio Gonzaga constrói sua “Lira I” bem ao gosto árcade, procurando a simplicidade dos versos, descrevendo a natureza amorfoseada, pintando um ingênuo e idílico quadro. III. o sujeito-lírico, no poema de Gregório de Matos, argumenta em favor de sua absolvição, num jogo de ideias, utilizando uma parábola como exemplo. Esse procedimento, chamado conceptismo, era muito comum no Barroco. B10 Arcadismo II
Das afirmativas acima, pode-se dizer que a) apenas I e III estão corretas. b) apenas II e III estão corretas. c) apenas a II está correta. d) I, II e III estão corretas. e) apenas I e II estão corretas. 610
05. (Uem PR) Considere o texto abaixo e assinale a única alternativa correta. O destro Cupido um dia Extraiu mimosas cores De frescos lírios, e rosas, De jasmins, e de outras flores. Com as mais delgadas penas Usa de uma, e de outra tinta, E nos ângulos do cobre A quatro belezas pinta. Por fazer pensar a todos No seu liso centro escreve Um letreiro, que pergunta: “Este espaço a quem se deve?” Vênus, que viu a pintura, E leu a letra engenhosa, Pôs por baixo “Eu dele cedo; “Dê-se a Marília formosa.” (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu, Lira XXVI, Parte I.)
a) O poema é composto de quatro estrofes em redondilha maior e apresenta uma estrutura formal rígida (estrofes e esquema completo de rimas regulares e emparelhadas) e, ao mencionar as cores e as flores, o eu lírico revela a visão realista da existência. b) O poema é composto de quatro estrofes de versos em redondilha maior e rimas alternadas, marcando a presença de personagens da mitologia clássica (Vênus e Cupido) para exaltar os prazeres da vida física: a beleza sedutora e o amor carnal. c) No poema em questão, evidencia-se a presença de personagens da mitologia clássica nos versos “O destro Cupido um dia” e “Vênus, que viu a pintura”, sugerindo que se deve aproveitar a mocidade, fase da vida em que a beleza e o prazer são maiores e mais intensos. d) No poema em questão, Cupido é o hábil pintor que recorre à natureza (frescos lírios, rosas,/ jasmins, outras flores), o locus amoenus (lugar ameno e agradável dos árcades), extraindo dela as cores com que pinta e eleva a beleza de Marília, aceita e reconhecida por Vênus. e) Nos versos da última estrofe, a figura de Vênus, deusa do amor e da beleza, representa o amor como um sentimento capaz de construir um mundo ideal, inspirado na beleza das cores e das flores. 06. (Uergs RS) Assinale a alternativa incorreta em relação ao Arcadismo. a) O Arcadismo no Brasil inicia-se oficialmente com a publicação de Obras poéticas, de Tomás Antônio Gonzaga, em 1768. b) Na poesia lírica de Cláudio Manoel da Costa, destaca-se a desilusão amorosa. O autor lamenta-se por não ser correspondido por Nise, sua musa inspiradora.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
07. (UFPA) Poeta do Arcadismo brasileiro, Tomás Antônio Gonzaga oscila entre dois estilos: por um lado, recupera o equilíbrio clássico e a inspiração pastoral da remota Arcádia; por outro, anuncia a emoção que caracteriza o espírito romântico. Das estrofes abaixo transcritas, do poema Marília de Dirceu, a que contém, essencialmente, elementos do Neoclassicismo e do Arcadismo é a seguinte: a) “Repara, Marília, O quanto é mais forte Ainda que a morte Num peito esforçado, De amor a paixão. Marília, já treme, Já treme de susto O meu coração.” b) “Porém eu, Marília, nego, Que assim seja Amor; pois ele Nem é moço, nem é cego, Nem setas, nem asas tem. Ora, pois, eu vou formar-lhe Um retrato mais perfeito Que ele já feriu meu peito; Por isso o conheço bem.” c) “Tu não verás, Marília, cem cativos Tirarem o cascalho, e a rica terra, Ou dos cercos dos rios caudalosos, Ou da minada serra.” d) “Eu tenho um coração maior que o mundo! Tu, formosa Marília, bem o sabes: Um coração..., e basta, Onde tu mesma cabes.” e) “Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado: Os Pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado: Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha.” (GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo, Melhoramentos, 1964.)
08. (UFV MG) Considere as afirmativas abaixo, referentes ao Arcadismo brasileiro: I. A natureza adquire um sentido de simplicidade, verdade e harmonia, impondo-se como modelo para a realização do ser humano. II. A vinculação ao mundo natural se dá através de uma poesia de caráter pastoril. III. Defende-se a imitação da simplicidade dos autores clássicos, que produziram suas obras na Antiguidade greco-romana e no Barroco. IV. Há uma forte ligação com a Inconfidência Mineira, pelo fato de poetas como Cláudio Manuel da Costa e Tomás António Gonzaga terem se envolvido na rebelião contra a metrópole. V. Os poetas enfatizam a subjetividade, pois estavam convencidos de que deviam expressar em seus textos sentimentos intensos, passionais e impulsivos. Está CORRETO o que se afirma em: a) I e III, apenas. b) I, III, IV e V, apenas. c) II e V, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) I, II, III, IV e V. 09. (Uepa PA) LXII Torno a ver-vos, ó montes; o destino Aqui me torna a pôr nestes oiteiros; Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Pelo traje da Corte rico e fino. Aqui estou entre Almendro, entre Corino, Os meus fiéis, meus doces companheiros, Vendo correr os míseros vaqueiros Atrás de seu cansado desatino. Se o bem desta choupana pode tanto, Que chega a ter mais preço, e mais valia, Que da cidade o lisonjeiro encanto; Aqui descanse a louca fantasia; E o que ‘té agora se tornava em pranto, Se converta em afetos de alegria. O campo como locus amoenus, livre de mazelas sociais e morais, foi o grande tema literário à época neoclássica, quando a literatura também expressou uma resistência à Cidade, considerada então violento símbolo do poder monárquico e da corrupção moral. Interprete as opções abaixo e assinale aquela em que se sintetiza o modo de resistência expresso nos versos de Cláudio Manuel da Costa acima transcritos. a) apego à metrificação tradicional b) bucolismo e paralelismo c) aurea mediocritas d) inutilia truncat e) fugere urbem 611
B10 Arcadismo II
c) Tomás Antônio Gonzaga assumiu o pseudônimo de Dirceu e tem como tema central de sua obra lírica o amor por Marilia. d) A obra de Basílio da Gama ganha destaque com O Uraguai, e o tema é a luta dos portugueses e espanhóis contra os índios e os jesuítas, que não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri. e) Frei Santa Rita Durão é autor de Caramuru, poema de pretensões épicas que narra as aventuras do náufrago Diogo Álvares Correia.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B11
ASSUNTOS ABORDADOS
ROMANTISMO
nn Romantismo
Contexto histórico
nn Contexto histórico nn Era Romântica nn Características principais nn Gerações de poetas do Romantismo no Brasil nn Romance brasileiro
A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil se deu em janeiro de 1808. Portugal estava prestes a ser invadido pelas tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte e, sem condições militares para enfrentar os franceses, o príncipe regente de Portugal, D. João VI, não teve outra alternativa senão fugir com sua família e parte da corte para as terras brasileiras. Vieram um total de dez mil pessoas, em 29 de novembro de 1807. Nos quatorze navios, além da Família Real, vieram centenas de funcionários, criados, assessores e pessoas ligadas à corte portuguesa. Trouxeram também muito dinheiro, obras de arte, documentos, livros, bens pessoais e outros objetos de valor. Assim que chegou ao Brasil, D. João decretou que os portos brasileiros fossem abertos para o comércio com todas as nações com as quais Portugal mantinha relações cordiais, entre elas, a Inglaterra. A Família Real permaneceu na Bahia por um mês, realizando melhorias na região, tais como: a criação da Escola de Cirurgia, a criação da Junta do Comércio, a construção do Passeio Público e a construção do Teatro São João, a melhor casa de espetáculos do País. Em março de 1808, a corte portuguesa instalou-se no Rio de Janeiro, sede do governo de Portugal, por mais de treze anos. Com a mudança da Família Real para o Rio de Janeiro, essa província obteve novas estruturas: a Academia Militar e da Marinha, a Imprensa Régia, a Academia de Belas Artes, o Jardim Botânico, o Museu da Biblioteca Nacional, além de outros museus, bibliotecas, teatros e escolas.
Figura 01 - Chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil
612
Fonte: http://www.monarquia.org.br
Com a instalação da corte no Brasil, o Rio de Janeiro tornou-se a sede do Império Português e D. João teve de organizar toda a administração brasileira. Criou três ministérios: o da Guerra e Estrangeiros, o da Marinha, e o da Fazenda e Interior. Instalou também os serviços auxiliares e indispensáveis ao funcionamento do governo, entre os quais o Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Junta Geral do Comércio e a Casa da Suplicação (Supremo Tribunal).
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Era Romântica Romantismo é um movimento que configura um estilo de vida e de arte predominante na civilização ocidental, no período compreendido, aproximadamente, entre a segunda metade do século XVIII e a primeira do século XIX. Trata-se do primeiro período literário da Era Romântica ou Moderna da literatura portuguesa. Reflete, no campo artístico, as profundas transformações históricas do período, marcado pelo apogeu do processo de transferência da liderança histórica da aristocracia para a burguesia, a partir do Iluminismo, e da divulgação de suas propostas pelos enciclopedistas, culminando com a Revolução Francesa. Podemos caracterizá-lo como um período cultural, artístico e literário, abrangendo formas de pensar e de agir da vida humana, o qual se inicia na Europa no final do século XVIII, espalhando-se pelo mundo até o final do século XIX. As características principais desse período são: valorização das emoções, liberdade de criação, amor platônico, temas religiosos, individualismo, nacionalismo e história. As origens do romantismo e as influências europeias As primeiras manifestações do Romantismo podem ser assim situadas: nn Na Alemanha, o vigor e a genialidade de Goethe registram as bases definitivas do
sentimentalismo romântico e do escapismo pelo suicídio, a partir da publicação do romance Os sofrimentos do jovem Werther, em 1774. nn Na Inglaterra, o Romantismo se manifesta na poesia nostálgica, ultrarromântica, de Lord Byron, modelo constante do negativismo, do tédio e do satanismo, que inspira o poeta brasileiro Álvares de Azevedo e seus seguidores. Manifesta-se também por meio do romance histórico criado por Walter Scott, em que Ivanhoé serve de modelo aos heróis de José de Alencar, romancista no Brasil. nn Na França, Chateaubriand redescobre as belezas do cristianismo, sobrepondo-se à mitologia dos poetas árcades. Com a obra Atala, valoriza as sugestões de paisagem americana, que José de Alencar assimilou no seu romance Iracema. A poesia social rebelde e declamatória de Victor Hugo, e seu romance de denúncia da opressão do proletariado, Os Miseráveis, modelaram a retórica de Castro Alves, outro poeta brasileiro. Literatura em Portugal e no Brasil Em Portugal, o Romantismo apresenta como março inicial a publicação do poema Camões, em 1825, escrito por Almeida Garret. O Brasil ainda vivia sob a euforia da Independência. Os artistas brasileiros buscavam sua fonte de inspiração na natureza e nas questões sociais e políticas do País. As obras brasileiras valorizavam o amor sofrido, a religiosidade cristã, a importância de nossa natureza, a formação histórica brasileira e o cotidiano popular. Em 1822, o Brasil já havia conquistado sua independência política, porém sem identidade definida. Cresce, então, o sentimento de nacionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza da nossa terra. Sob a euforia dos ideias da Independência, o Romantismo foi particularmente importante por constituir um elemento decisivo na evolução não só da literatura como também da própria cultura brasileira. O ano de 1836 marca o início do Romantismo brasileiro, quando Gonçalves de Magalhães publica seu livro de poesias Suspiros Poéticos e Saudades, e lança, em Paris, a Niterói - Revista Brasiliense, em que as novas ideias românticas são divulgadas. B11 Romantismo
Com a Proclamação da Independência (1822), o Brasil foi embalado pela energia renovadora. Independente de Portugal, o Brasil torna-se um império politicamente autônomo. E nesse clima começa a defender e delinear a cultura da nova nação. Cresce cada vez mais o sentimento de patriotismo e veem-se nas riquezas naturais os traços que colocariam o Brasil no topo em relação ao resto do mundo.
613
Português
Características principais nn Subjetivismo: Representa um dos traços fundamentais dessa estética, o culto do
eu. O romancista traz à tona o seu mundo interior e trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. É a exposição triunfal do homem interior em suas fantasias, aspirações e intuições. Com total liberdade de criação, o artista romântico não tem medo de expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.
nn Sentimentalismo: O sentimento passa a ser considerado o grande valor da vida,
pois somente por meio dele consegue-se expressar o interior do indivíduo. Esse predomínio do sentimento sobre a razão, a princípio, parecia equilibrado; porém, com o passar do tempo, houve um exagero.
nn Evasão
ou escapismo: É o resultado do conflito do eu poético com a realidade. Isso leva o romântico a evadir-se na aspiração por um outro mundo (cenário novo, paisagens exóticas), no tempo e no espaço onde ele não encontre as dificuldades da realidade a que está vinculado. O sonho é uma forma de escapismo que permite a criação de um mundo pessoal e idealizado. A consciência da solidão: resultante de uma inadaptação ao mundo e da crença de que é um incompreendido.
nn Idealismo
da mulher e do herói: Empolgado pela imaginação, o autor idealiza temas, exagerando em algumas de suas características. A mulher é uma virgem frágil, é a criatura ideal, um misto de anjo, santa e mulher em torno da qual gravitam todas as qualidades femininas: carinhosa, fiel, formosa, prendada, centro de todas as atenções e delicadezas. O índio é um herói nacional, e a pátria sempre perfeita. Essa característica é marcada por descrições minuciosas e muitos adjetivos.
nn Liberdade de criação: Os românticos abandonam as formas fixas, a obrigatorie-
dade da rima. Agora valorizam os versos brancos, negam e fundem os gêneros literários, abandonando a sistematização, impondo o desaparecimento de alguns gêneros, como a epopeia clássica, a tragédia, a comédia e propiciando o surgimento de outros, como o drama, o romance de costumes.
nn Religiosidade: A religiosidade e a redescoberta das fontes bíblicas são perceptí-
veis em alguns momentos do Romantismo em que a irregularidade é evidente, sobretudo nos primeiros românticos.
Gerações de poetas do Romantismo no Brasil Essa fase literária da poesia no Romantismo foi composta por três gerações, as quais pontuaremos a seguir e estudaremos mais profundamente em aulas posteriores. 1ª Geração Conhecida como nacionalista ou indianista, pois os escritores dessa fase valorizavam os temas nacionais, fatos históricos e o indígena, que era apresentado como “ bom selvagem” e, portanto, o símbolo cultural do Brasil. Destacam-se, nessa fase, os seguintes escritores: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, Araújo Porto Alegre e Teixeira e Souza. 2ª Geração
B11 Romantismo
É conhecida como mal do século, byroniana ou fase ultrarromântica. Os escritores dessa época retratavam os temas amorosos levados ao extremo, pelo exagero do subjetivismo e do emocionalismo: o tédio, a melancolia, o devaneio, o sonho estão sempre presentes. As poesias são marcadas por um profundo pessimismo, valorização da morte, tristeza e uma visão decadente da vida e da sociedade. Muitos escritores desse período morreram ainda jovens. Podemos destacar os seguintes escritores dessa fase: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Junqueira Freire.
614
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
3ª Geração Essa última fase, conhecida como geração condoreira, poesia social ou hugoana, já antecipa certas características da escola realista, próximo movimento literário a ser estudado. Os textos são marcados por crítica social em tom exaltado, engajados nas grandes causas sociais e políticas da época. Castro Alves é o maior representante dessa fase.
Romance brasileiro Enquanto os sentimentos românticos eram cantados em versos, iniciava-se, de fato, a produção de prosa romântica no Brasil. Nasciam os folhetins, que eram histórias publicadas, em capítulos, nos jornais. Na segunda metade do século XIX, as manifestações culturais mantêm as influências europeias, principalmente a francesa, mas cresce a presença de temas nacionais. A prosa de ficção romântica oscila entre o nacionalismo indigenista e o relato de costumes tipicamente brasileiros. José de Alencar representa bem essas duas tendências, com destaque para as obras Lucíola, Iracema e O Guarani. Nesse campo, o romantismo se dividiu por tendências: Romance Urbano Os temas desenvolvidos relatam as particularidades da vida social e amorosa e do cotidiano da burguesia, cujos membros se identificavam com os personagens e sua ação se passava em ambiente urbano, principalmente no Rio de Janeiro, descrevendo os tipos humanos encontrados naquela sociedade. Como exemplo, A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo, Cinco Minutos, Lucíola, A Pata da Gazela, Sonhos d’Ouro e Senhora, todos de José de Alencar. Romance Regionalista Aborda temas e situações que se passam longe dos centros urbanos. Demonstra atração pelo pitoresco e tem como principal característica a representação da vida no interior do Brasil, com seus costumes, seus hábitos e valores peculiares e seu modo de falar. Como exemplo, O Sertanejo, O Tronco do Ipê, Til e O Gaúcho, de José de Alencar; Inocência, de Visconde de Taunay; e A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Romance Histórico Mistura história e ficção, reconstruindo ficticiamente acontecimentos, costumes e personagens históricos. Trata-se de uma revalorização do passado, trazendo ao romance personagens da nossa história, retratando-os de modo nacionalista. Como exemplo, Lendas e Romances, de Bernardo Guimarães; As Minas de Prata e A Guerra dos Mascates, de José de Alencar. Romance Indianista
B11 Romantismo
Enfoca a figura altamente idealizada do índio como autêntica expressão da nacionalidade. Teve como maior representante o romancista José de Alencar, e como característica a idealização do índio, como herói brasileiro, nobre e valente. Como exemplo, O Guarani, Iracema e Ubirajara.
615
Português
Exercícios de Fixação 01. (FGV SP) Na historiografia da literatura brasileira, reconhece-se em Gonçalves Dias o poeta que a) primeiro abandonou as influências literárias portuguesas e francesas. b) introduziu os índios como personagens em nossas letras. c) consolidou o Romantismo. d) antecipou o Parnasianismo. e) inaugurou o nativismo na literatura brasileira. 02. (UFT TO) Leia o comentário abaixo. O Romantismo coincidiu com a afirmação do Brasil como nação e identificou-se com o modo de ser e de sentir do povo brasileiro; converteu-se, de certa maneira, num estilo de vida e traduziu muito da nossa individualidade e da nossa dimensão coletiva, sobretudo um marcante sentimentalismo nacional. PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de Época na Literatura. 15.ed, São Paulo: Ática, 2002, p.230).
B11 Romantismo
Assinale a alternativa em que não se aplica o comentário acima: a) Como afirmação da nacionalidade, o Romantismo brasileiro fez do índio e sua civilização um símbolo da independência espiritual, política, social e literária e o culto à natureza encontrou campo propício na exuberante paisagem nacional. b) A preocupação com a cor local despertou nos românticos não só o interesse pela cultura indígena, mas também pelo estudo sobre o nosso folclore, ambos tomados como elementos de substituição dos modelos clássicos tão valorizados pelo barroco e pelo arcadismo. c) Os escritores românticos, preocupados em libertar a língua nacional das normas clássicas dos escritores portugueses, deram ênfase à língua oral, instaurando, dessa forma, uma língua literária brasileira. d) Por força do ambiente e da conjuntura político-social do momento, os românticos brasileiros conseguiram ultrapassar os riscos da mera adoção dos modelos importados e conseguiram conferir marcas específicas à arte que aqui concretizaram. e) Os românticos brasileiros ampliaram o público consumidor de romances, de poesia e de teatro no país, ao contrário do que ocorreu nos períodos anteriores de nossa tradição literária. 03. (Puc Campinas SP) Ao formular sua tese acerca das boas qualidades da Natureza, que fazem do homem um ser naturalmente bom, se vale Rousseau do conceito bom selvagem, que viria a prosperar entre escritores românticos brasileiros que, como
616
a) Álvares de Azevedo e Machado de Assis, tomaram esse tema em reforço à campanha abolicionista. b) Gregório de Matos e Gonçalves de Magalhães, viram nessa tese um argumento para a independência nacional. c) Castro Alves e Olavo Bilac, propagaram suas ideias republicanas a partir da idealização da cidadania. d) Gonçalves Dias e José de Alencar, tomaram essa tese em reforço à consolidação dos ideais nacionalistas. e) Manuel Antônio de Almeida e Aluísio Azevedo, valeramse dessas ideias para satirizar os privilégios dos colonizadores. 04. (Puc Campinas SP) As diferenças e as injustiças sociais sensibilizaram certos poetas românticos, que assumiram um papel missionário na luta pela igualdade e pelos direitos humanos. Entre nós, Castro Alves, com a) a linguagem exacerbada de um poeta condoreiro, traduziu sua indignação de abolicionista no poema “Vozes d´África”. b) seu lirismo intimista, não deixou de se valer da ironia para maldizer as desigualdades do país. c) o apuro de seus sonetos equilibrados e contidos, refletiu sobre o triste destino das massas desfavorecidas. d) seus ideais emancipacionistas, teve ação decisiva para a proclamação da nossa independência. e) o estilo atormentado de “O escravo”, notabilizou-se por suas investidas contra o jugo português. 05. (Uncisal AL) Dadas as proposições sobre o Romantismo brasileiro, I. Ocorreu após a Proclamação da Independência brasileira e questionou, em muitas de suas obras, a identidade nacional. Divide-se em três gerações. A primeira ficou conheciII. da como nacionalista ou indianista e teve como principais autores José de Alencar e Gonçalves Dias. III. Teve, entre seus poetas, Castro Alves, cuja poesia não abordava questões sociais nem denunciava a situação dos escravos no Brasil. IV. Foi um movimento marcado pela produção de obras significativas em diversos gêneros literários, tais como romance, poesia lírica e drama. Verifica-se que está(ão) correta(s) a) I, II, III e IV. b) I, apenas. c) II e III, apenas. d) I, II e III, apenas. e) I, II e IV, apenas.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares
02. (UFRGS) Assinale a alternativa correta sobre autores do Romantismo brasileiro. a) Gonçalves Dias, autor dos célebres Canção do exílio e I-Juca-Pirama, dedicou a maioria de seus poemas à temática da escravidão. b) Joaquim Manuel de Macedo, em A Moreninha, afasta-se da estética romântica em muitos pontos, especialmente no tom paródico adotado pelo narrador que ridiculariza a sociedade burguesa fluminense. c) Álvares de Azevedo, em A noite na taverna, desvincula-se do nacionalismo paisagista e indianista e ingressa no universo juvenil da angústia, do erotismo e do sarcasmo. d) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um sargento de milícias, vincula-se à estética romântica, em especial porque se centra em personagens da classe média urbana fluminense. e) Castro Alves é o principal poeta do indianismo romântico, pois toma o índio como figura prototípica da nacionalidade. 03. (UFG GO) Leia o poema a seguir. DINHEIRO Sem ele não há cova – quem enterra Assim grátis, a Deo? – O batizado Também custa dinheiro. Quem namora Sem pagar as pratinhas ao Mercúrio? Demais, as Danais também o adoram. Quem imprime seus versos, quem passeia, Quem sobe a Deputado, até Ministro, Quem é mesmo Eleitor, embora sábio, Embora gênio, talentosa fronte, Alma Romana, se não tem dinheiro?
Fora a canalha de vazios bolsos! O mundo é para todos… Certamente, Assim o disse Deus – mas esse texto Explica-se melhor e doutro modo. Houve um erro de imprensa no Evangelho: O mundo é um festim – concordo nisso, Mas não entra ninguém sem ter as louras. AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FDT, 1994. p. 193.
Glossário: a Deo: Pela graça de Deus. Danais: Filhas de Dânao, que se tornou rei de Argos, relativo à Grécia ou às gregas. Mercúrio: Deus romano protetor dos viajantes, mercadores e ladrões, equivale a Hermes na mitologia grega. Alma Romana: Expressão relativa à glória romana. A ironia romântica é um conceito resultante do conflito entre o mundo material e o mundo ideal. No poema transcrito, ocorre esse tipo de ironia porque o eu lírico a) conscientiza-se de sua dependência do dinheiro e desdenha dessa condição degradante. b) escandaliza-se por descobrir que tanto o nascimento quanto a morte custam dinheiro ao indivíduo. c) defende que não há felicidade sem dinheiro e proclama que a pobreza deveria ser exterminada. d) denuncia que o ensinamento de Deus sobre os custos da vida não é colocado em prática. e) percebe-se dominado pelos interesses econômicos e manifesta o desejo de viver de forma diferente. 04. (UEG GO) Lembrança de morrer [...] Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto o poento caminheiro, - Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre sineiro [...] AZEVEDO, Álvares de. Poesias completas de Álvares de Azevedo. 7. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. p. 37.
Este fragmento mostra uma atitude escapista típica do romantismo. O eu lírico idealiza a) a vida como um ofício de prazer, destinado à fruição eterna. b) a morte como um meio de libertação do terrível fardo de viver. c) o tédio como a repetição dos fragmentos belos e significativos da vida. d) o deserto como um destino sereno para quem vence as hostilidades da vida.
617
B11 Romantismo
01. (Espm SP) Assinale o item que possui um trecho com características nítidas do período literário conhecido como Romantismo: a) “Enquanto a luta jogam os Pastores,/E emparelhados correm nas campinas,/Toucarei teus cabelos de boninas,/ Nos troncos gravarei os teus louvores.” b) “E essa imagem é pura e sorri; orna-lhe a fronte a coroa das virgens; sobe-lhe ao rosto a vermelhidão do pudor;...” c) “[Padre Antônio de Morais] Entregara-se, de corpo e alma, à sedução da linda rapariga (...) quisera saciar-se do gozo por muito tempo desejado, e sempre impedido.” d) “E cada verso que vinha da sua boca de mulata era um arrulhar choroso de pomba no cio.” e) “Os que as amam e gozam sensualmente, à lei da sensualidade, não lhes ouvem a vaporosa música embriagante do vinho dos encantos da voz e do sorriso; não lhes sentem o perfume delicado de úmidas bocas purpúreas,...”
Português Questão 07. a) Mulheres e homens brancos escravocratas daquele período brasileiro eram pessoas mais autoritárias e impositivas, logo, não seriam tão facilmente enredados pelas peripécias de um menino escravo. OU Mulheres e homens livres daquele tempo não viviam de modo idealizado, pois suas relações pessoais estavam no plano/voltadas da/para vida prática/cotidiana.
05. (IF MG) A respeito do poeta Gonçalves Dias, é correto afirmar que: a) consolidou o movimento romântico no Brasil a partir de temas como a pátria e a natureza. b) foi considerado o maior poeta em língua portuguesa, pois trabalhou com temas inéditos. c) ficou conhecido como “o poeta pessimista”, pela forte influência byroniana. d) escreveu principalmente poemas que exaltavam a angústia existencial do ser humano. 06. (UFG GO) Leia o poema a seguir. AI JESUS! Ai Jesus! não vês que gemo, Que desmaio de paixão Pelos teus olhos azuis? Que empalideço, que tremo, Que me expira o coração? Ai Jesus! Que por um olhar, donzela, Eu poderia morrer Dos teus olhos pela luz? Que morte! que morte bela! Antes seria viver! Ai Jesus! Que por um beijo perdido Eu de gozo morreria Em teus níveos seios nus? Que no oceano dum gemido Minh’alma se afogaria? Ai Jesus! AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 33.
B11 Romantismo
O poema transcrito é exemplar do posicionamento ultrarromântico que se propaga por toda a obra poética de Álvares de Azevedo. Em tal poema, o ultrarromantismo se evidencia na expressão do eu lírico pelo a) comportamento depressivo causado pela rejeição. b) arrebatamento diante do sentimento amoroso. c) desejo sexual exacerbado próprio da juventude. d) descontentamento diante da ausência da amada. e) temor religioso diante do desejo carnal. 07. (UFG GO) O Romantismo foi um período que, além de outros ramos do saber, abrangeu a Literatura. Era próprio dos românticos o princípio de idealização do mundo, tendo em vista o indivíduo, segundo sua subjetividade, como ponto de partida. Assim, durante o Romantismo, em termos de Literatura, as obras representavam temas, cenários, ações e pessoas mais encantados ou mais desencantados do que aquilo que de fato se experimentava na realidade. Dado esse contexto, explique 618
a) por que a representação das mulheres (Henriqueta, Carlotinha, D. Maria) e dos homens (Eduardo, Alfredo, Azevedo), em O demônio familiar, de José de Alencar, não condiz com a vida social de brancos escravocratas do Brasil do século XIX; b) o foco dado ao sentimento de amor filial do prisioneiro Tupi, em I – Juca Pirama, de Gonçalves Dias, tendo em vista o contexto real da conduta indígena apresentado ao longo do poema, tanto da nação do prisioneiro quanto dos inimigos Timbiras. 08. (Uncisal AL) A literatura brasileira teve um longo processo de formação. Um importante momento desse processo está relacionado a um movimento artístico-literário que ocorreu no País, após a Proclamação da Independência, e foi muito influenciado por esse fato histórico, como se pode perceber nas obras de seus primeiros autores, que visavam elaborar uma literatura genuinamente nacional e exaltavam as belezas brasileiras. O texto evidencia o Questão 07. b) Ao focalizar o sentimento do prisioneiro, o autor de a) barroco. I-Juca-Pirama sobreleva a imagem do indivíduo, implicando que a paixão dedicada à particularidade destaca b) arcadismo. o sujeito em relação ao todo coletivo, ao conjunto social. OU c) modernismo. O sentimento do prisioneiro é elevado pelo seu caráter subjetivo, demonstrando que a vontade/o desejo/as d) romantismo. paixões individual/individuais é/são mais importante(s)/ mais relevante(s) do que a própria conduta social. e) parnasianismo. 09. (UFG GO) Leia os poemas a seguir. O menino ficou triste com sua ideia de que as mães morrem logo. Sempre uma mãe é como uma certa montanha, o homem vai caminhando, mas o caminho andado na distância não diminui e quando se percebe a montanha está no mesmo lugar. A mãe pode morrer nova, ela pode desaparecer por muitos anos da vida do filho, mas a mãe está cada vez mais próxima igual à montanha. GARCIA, José Godoy. Poesias. Brasília: Thesaurus, 1999. p. 111.
XII Aqui sobre esta mesa junto ao leito Em caixa negra dous retratos guardo. Não os profanem indiscretas vistas. Eu beijo-os cada noite: neste exílio Venero-os juntos e os prefiro unidos – Meu pai e minha mãe. – Se acaso um dia Na minha solidão me acharem morto, Não os abra ninguém. Sobre meu peito Lancem-os em meu túmulo. Mais doce Será certo o dormir da noite negra Tendo no peito essas imagens puras. AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 146.
Ainda que sejam poemas de épocas distintas, os textos transcritos aproximam-se por apresentarem a figura materna de forma a) sublimada, descrevendo os aspectos positivos de sua natureza. b) espiritualizada, apresentando o seu caráter de santidade. c) engrandecida, reforçando sua importância para o eu lírico. d) idealizada, revelando sua inatingibilidade para o eu lírico. e) mistificada, evidenciando sua imortalidade para o eu lírico.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
MÓDULO B12
ROMANTISMO: PRIMEIRA GERAÇÃO A história brasileira no século XIX foi marcada por grandes transformações políticas. Nesse período, a mudança da Família Real Portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808; a ascensão do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal, em 1816; a Proclamação da Independência, em 1822; o reinado de D. Pedro I (1822 - 1831); o Período Regencial (1831 - 1840); e o reinado de D. Pedro II (1840 - 1889).
ASSUNTOS ABORDADOS nn Romantismo: primeira geração nn Características principais nn Gonçalves de Magalhães nn Gonçalves Dias
No início do século XIX, várias missões estrangeiras vieram ao Brasil. Tais missões eram compostas por cientistas e artistas que imprimiram as características do novo reino. Dois importantes integrantes fizeram parte das missões científicas, Auguste de Saint-Hilaure e Carl Friedrich von Martius. Em, seus textos, eles divulgaram as ideias liberais e nacionalistas que estavam em moda na Europa. Eles chegaram ao Brasil em 1816 e 1817 respectivamente e logo apontaram o índios e a natureza exuberante como elementos mais representativos da identidade brasileira, símbolos ideias para a nação. Para entender bem o estudo do Romantismo brasileiro, é importante que se compreenda o sentimento que dominava esse primeiro período da nova nação: a insatisfação com a abrangência das reformas introduzidas por D. João VI; a busca na manutenção da unidade nacional; os conflitos entre liberais e conservadores em busca do modelo político; o orgulho nacional despertado pela independência; e os projetos de construção do novo país. Tudo isso estimulava o sentimento de luta pela consolidação da autonomia.
Figura 01 - Aldeia indígena no Brasil.
Fonte: Wikimedia Commons
Nesse cenário, nasce o sentimento de nacionalismo. Os autores vão em busca do passado histórico, exaltam a natureza da pátria promovendo nossas belezas tropicais e nossos índios e, com isso, cresce o desejo tornar o Brasil independente. O Brasil passa por um período um período conturbado de 1823 a 1831 como reflexo do autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembleia Constituinte; a Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abdicação. Vem, em seguida, o período regencial e a maioridade prematura de Pedro, momento confuso, obscuro e inseguro.
619
Português
Nesse cenário, surge o Romantismo brasileiro, carregado do sentimento de lusofobia diante da necessidade de se afastar dos moldes europeus e buscar uma arte realmente brasileira. Com a autonomia em relação à metrópole, brotou, nos escritores brasileiros, um sentimento de nacionalismo, motivando um movimento anticolonialista em defesa da criação de uma literatura que pudesse retratar nossa cultura, história e língua de maneira legítima. Nesse sentido, pode-se dizer que o Romantismo foi um movimento de reação à tradição clássica, uma vez que contestou os modelos literários europeus que não representavam nossas raízes históricas, linguísticas e culturais.
A exaltação à natureza ganha contornos de prolongamento do escritor e de seu estado emocional. A natureza é vista como uma extensão da pátria ou refúgio à vida agitada dos centros urbanos do século XIX. Entre as marcas principais da primeira geração romântica estão: nn Indianismo e nacionalismo - valorização do índio como
também dos aspectos naturais do Brasil, como, florestas, rios, animais, cachoeiras etc.;
Dessa maneira, o nacionalismo é uma característica fundamental da primeira geração do Romantismo brasileiro, sobretudo na poesia. O marco inicial foi a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades (1836), do escritor Gonçalves de Magalhães (1811-1882).
nn Retorno
Apesar de possuir características semelhantes dessa fase, o Romantismo é tradicionalmente dividido em três diferentes gerações e cada uma delas apresenta características peculiares. Essa divisão, contudo, engloba somente os autores de poesia.
nn Forte
A primeira geração romântica (1836 a 1852) está pautada no nacionalismo/indianismo, visto como a fase inicial para a busca de uma identidade nacional - exaltação da terra e da figura idealizada do índio, eleito herói nacional. A segunda geração romântica (1853 a 1869), também chamada de “Geração Ultrarromântica”, “Mal do Século” ou “Geração Byroniana”. Essa fase destacou-se pela abordagem de temas como: o pessimismo, a dor, o amor não correspondido, a melancolia, os vícios, a morbidez, fuga da realidade (escapismo), fantasia e o desejo de morte. A terceira geração romântica (1870 a 1880), também chamada de “Geração Condoreira” (em referência ao condor, ave símbolo da liberdade), essa última fase do romantismo aposta na liberdade e na justiça inspirada, sobretudo, na literatura do escritor francês Victor Hugo (Geração Hugoana).
Características principais B12 Romantismo: primeira geração
Na literatura europeia, os heróis nacionais são belos e valentes cavaleiros medievais. Os românticos brasileiros pregam o nacionalismo, incentivam a exaltação da natureza pátria, o retorno ao passado histórico e a criação do herói nacional. Nossos heróis nacionais são os índios, igualmente belos, valentes e civilizados.
A primeira geração romântica foi chamada de nacionalista ou indianista, porque os escritores desse período abordavam principalmente os temas nacionais, relatando fatos históricos e a vida do índio, chamados de “bom selvagem”, eleito herói nacional, também considerado como o símbolo cultural do País. Os autores que mais se destacaram nessa primeira geração foram Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias. Este último foi o que mais se consagrou nessa fase, seja na poesia, seja no teatro. 620
e valorização ao passado histórico do Brasil;
nn Criação do índio brasileiro como o grande herói nacional
(indianismo) de um país recém-nascido (pós-independência). O índio é representado de forma romântica nas poesias; presença do sentimentalismo;
nn Abordagem
de temas religiosos;
nn Sentimentalismo,
a supervalorização das emoções
pessoais; nn Saudades nn Fuga
da infância;
da realidade.
As principais figuras de linguagem utilizadas pelos escritores românticos são: nn Metáfora nn Metalinguagem nn Hipérbole nn Antítese nn Sarcasmo nn Ironia
Principais autores e obras: nn Gonçalves
Dias, autor de I-Juca Pirama; Canção do Exílio e Marabá.
nn Gonçalves de Magalhães, autor de Leito de folhas ver-
des; Suspiros poéticos e saudades e Se se morre de amor. Indianismo e nacionalismo No Romantismo, o indivíduo sente-se em dessintonia ou em desajuste com a sociedade, daí a necessidade de fugir da realidade. Um dos mecanismos utilizados para tanto é voltar-se para o passado. Sabemos que, no Romantismo europeu, a volta ao passado histórico leva à Idade Média, em que estão as origens das
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
nações europeias. Como no Brasil não houve Idade Média, voltar ao passado significa redescobrir o Brasil antes da chegada dos europeus, quando era ainda habitado, apenas, por nações indígenas. Em vez do cavaleiro medieval, a figura do índio é idealizada porque seria um antepassado nacional legitimamente brasileiro, e não europeu. Por isso, um dos temas essenciais da primeira geração é o indianismo. Inspirados pela definição de “bom selvagem” feita por Jean-Jacques Rausseau, os poetas românticos projetaram o espírito do homem livre e incorruptível, uma imagem literária idealizada, bem diferente da realidade história dos índios que aqui viviam. A exaltação da pátria (nacionalismo ufanista) é o outro tema abordado, pois nossos primeiros românticos perceberam que sua missão era gestar e fazer nascer uma identidade brasileira. Valorização da natureza Uma das características da nossa primeira geração romântica é a valorização da natureza pátria que foi escolhida como um dos símbolos da nacionalidade brasileira, como ocorre nos versos de Gonçalves Dias, do poema Canção do Exílio (1843), um dos mais citados em nossa cultura. Minha terra tem palmeiras Onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá É importante observar nos versos abaixo de Os suspiros da pátria em que transparece o sofrimento do eu poético por encontrar-se longe dos encantos e maravilhas de sua pátria. Nessa passagem, podemos verificar um nacionalismo exacerbado, que beira ao ufanismo, pois há uma comparação dela com a figura de mãe e o autor busca personificá-la a fim de demonstrar um sofrimento recíproco, ou seja, tanto dele, quanto de sua terra natal.
Já no poema A infância, podemos notar a alma romântica no que concerne à fuga da realidade. O eu poético expressa, por meio de lembranças dessa fase da vida, certo saudosismo e o desejo de evasão.
Fonte: Wikimedia Commons
“Oh minha infância! Oh estação de flores! De inocente ilusão alva saudosa! Inda hoje te apresentas Ante mim, como a imagem deleitosa De um sonho que encantou-me a fantasia, Ou como a aurora de um formoso Gonçalves de Magalhães Figura 02 - Gonçalves de Magalhães
621
B12 Romantismo: primeira geração
Só uma mãe malfadada, Que vê seus filhos lutando, Nos céus os olhos fitando, Assim pode suspirar
Português
Gonçalves de Magalhães Domingos José Gonçalves de Magalhães nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de agosto de 1811. Foi médico, diplomata, político, poeta e ensaísta. Foi professor de Filosofia no Colégio Pedro II, escola considerada, na época, a principal do País. Aos 21 anos, formou-se em Medicina e publicou seu primeiro livro, Poesias. É considerado o fundador do Romantismo brasileiro por ter publicado, em 1836, Suspiros poéticos e Saudades, duas obras em um só volume. Vivendo em Paris, publicou a revista Niterói, na qual procurava expor aos brasileiros as últimas novidades culturais da Cidade Luz. Em 1856, publicou Confederação dos Tamoios, sob o patrocínio do imperador D. Pedro II. Apesar dos sete anos de trabalho que a obra lhe exigiu, foi considerada tediosa e medíocre, e José de Alencar, na ocasião colaborador do jornal Diário do Rio de Janeiro, fez-lhe implacável crítica, apesar de alguns amigos do autor tentarem remediar o dano, entre eles o próprio D. Pedro, que assinava seus textos como “Outro Amigo do Poeta”. Conhecido também como Visconde de Araguaia, Domin gos José Gonçalves de Magalhães era filho de Pedro Gonçalves de Magalhães Chaves, e não há registros do nome de sua mãe. Tornou-se importante figura na literatura brasileira por ter marcado o início do romantismo no Brasil. Foi figura ilustre no seu tempo: deputado, ministro residente nos Estados Unidos. Exerceu alguns cargos públicos no Rio Grande do Sul e no Maranhão, mas não seguiu a profissão, preferiu ingressar na carreira diplomática. Ocupou vários cargos na Europa, inclusive o de cônsul brasileiro em Viena, na Áustria. Em 1833 lançou a revista literária Niterói, em que publicou um manifesto sobre o romantismo e outros artigos importantes para a definição do movimento do romantismo no Brasil. Retornou ao Brasil em 1837, passando a lecionar Filosofia em uma escola no Rio de Janeiro. Depois disso, o poeta dedicou-se ao gênero dramático.
B12 Romantismo: primeira geração
Características de sua obra “Todo amor é eterno, se não é eterno não é amor!” Gonçalves de Magalhães teve o título de precursor de nosso Romantismo, com a publicação de seu livro Suspiros Poéticos e Saudades, lançado em 1836 enquanto Magalhães estava na Europa. Essa obra aborda os principais temas do romantismo nas letras brasileiras: o individualismo, patriotismo, idealização da infância, evocação da natureza, sentimentalismo e desejo de voltar às origens do país. Gonçalves de Magalhães é considerado o inaugurador do romantismo 622
no Brasil, apesar de o primeiro livro ainda carregar forte tendência estilística do Arcadismo. Gonçalves de Magalhães recém-formado em Medicina (1858), viaja para a Europa, e lá entra em contato com as ideias românticas (medieval e patriótica) de Chateaubriand, Manzoni e Lamartini. Esse fato foi essencial para a introdução do movimento no Brasil, pois suas obras sofrem uma mudança considerável, fato que veio contribuir para o amadurecimento de sua poesia, marcando a transição para as novas tendências literárias. Essa fase romântica, mais inovadora, explorou quase todos os temas do romantismo: como a infância, a saudade, o amor impossível, o desgosto da vida, a melancolia e a tristeza, reflexões sobre as paixões humanas e o efêmero da vida. Gonçalves de Magalhães cultivou também a poesia indianista de caráter nacionalista, de uma forma mais épica, como no poema épico A Confederação dos Tamoios, fato que lhe rendeu os méritos de pertencer à primeira geração romântica, ao lado de Gonçalves Dias. O poema épico Confederação dos Tamoios, escrito em 1856, aborda a rebelião, ocorrida entre os anos 1554 e 1567, dos indígenas tamoios contra os colonizadores portugueses. Nele, o poeta defende os índios, personagens nativos que seriam bravos guerreiros empenhados na defesa de sua terra, o que significaria um forte sentimento nacionalista. Assim, o índio seria considerado o primeiro herói nacional. Apesar de sua importância para as letras como precursor do romantismo literário brasileiro, Magalhães não é reconhecido como um grande poeta pela crítica literária. Principais obras: 1836 − Suspiros poéticos e saudades 1836 − Discurso sobre a História da Literatura do Brasil 1839 − Antônio José ou O poeta e a Inquisição 1857 − A Confederação dos Tamoios, poema épico 1857 − Os Mistérios 1858 − Fatos do Espírito Humano, tratado filosófico 1862 − Urânia, poesias 1864 − Cânticos fúnebres, poesias 1876 − A alma e o cérebro, ensaios 1880 − Comentários e pensamentos
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Gonçalves Dias
Fonte: Wikimedia Commons
A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar! Um dos melhores poetas líricos da literatura brasileira, Gonçalves Dias (1823-1864) nasceu nos arredores de Caxias, no Maranhão, no dia 10 de agosto de 1823. Foi advogado, jornalista, etnógrafo e teatrólogo brasileiro. Filho de um comerciante português e de uma cafuza, o poeta orgulhava-se de ter no sangue as três raças formadoras do povo brasileiro (branca, indígena e negra). Deu romantismo ao índio e às paisagens, e uma feição nacional à sua literatura. O índio é retratado como um guerreiro nobre, um herói. Enquanto o branco simboliza a exploração. Gonçalves Dias foi um dos poucos poetas que souberam dar um toque realmente brasileiro na poesia romântica. Suas paixões são reveladas, muitas vezes, em um tom ingênuo e melancólico. Em 1843, em Coimbra, inspirado na saudade da pátria, escreveu seu famoso poema “Canção do Exílio”, em que expressa o sentimento da solidão e a tristeza do exílio. Essa é considerada a mais bela obra-prima de nossa literatura.
Figura 03 - Gonçalves Dias
Alguns dos versos de Canção do Exílio fazem parte da letra do Hino Nacional: “Nossos bosques têm mais vida” / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”. Outros versos de Gonçalves Dias, mais do que uma vigorosa exaltação nacionalista, foram dedicados aos índios e, até hoje, servem para denunciar séculos de destruição que os colonizadores impuseram às suas culturas. De volta ao Maranhão em 1845, depois de formado em Direito, Dias ocupa vários cargos no governo imperial e realiza diversas viagens à Europa. Vai para o Rio de Janeiro em 1846 e em 1847 publica o livro “Primeiros Cantos”, que recebe elogios de Alexandre Herculano, poeta romântico português. Ao apresentar o livro, Gonçalves Dias confessa: “Dei o nome Primeiros Cantos às poesias que agora publico, porque espero que não sejam as últimas”. Em 1848 publica o livro Segundos Cantos. Durante esse período escreve para várias publicações, entre elas, o Jornal do Comércio, a Gazeta Mercantil e para o Correio da Tarde. Fundou a Revista Literária Guanabara. Gonçalves Dias publica em 1851 o livro “Últimos Cantos”. Em 1862, Antônio Gonçalves Dias vai à Europa para tratamento de saúde. Sem resultados e com a saúde abalada, embarca de volta ao Brasil. Na viagem, porém, morre no naufrágio do navio Ville de Boulogne, em 1864, próximo ao Maranhão.De sua obra, geralmente dividida em lírica, medieval e nacionalista, destacam-se I-juca Pirama, Os Tibiraras e Canção dos Tamoios. B12 Romantismo: primeira geração
Principais obras: Um Anjo - 1843 Beatriz Cenci - 1843 1846 - Canção do Exílio Sextilhas do Frei Antão - 1848 I-Juca Pirama - 1851 Cantos - 1857 Canção do exílio Minha terra tem palmeiras, 623
Português
Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Coimbra – julho de 1843. DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.p.105-106
Além disso, aparecem os advérbios “cá” e “aqui” utilizados em igual sentido em: “Lá”, no poema, refere-se ao Brasil, sua terra natal da qual o poeta está afastado. “Aqui” e “cá’ referem-se ao país em que ele se encontra, Portugal, como indica a referência, no final do poema.
B12 Romantismo: primeira geração
Figura 04 - Sabiá-laranjeira ave símbolo do Brasil.
624
Fonte: Wikimedia Commons
Você acaba de ler o poema Canção do exílio, escrita pelo poeta Gonçalves Dias, em Coimbra, julho de 1843. Como você pôde constatar, a fala do eu poético é de alguém que está exilado, longe de sua terra natal. As marcas textuais que comprovam esse fato é o emprego dos advérbios “aqui” e “lá”, na primeira estrofe.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (Espm SP) Leia:
d) origem das diferenças entre a língua portuguesa e as lín-
Hora do pôr do sol? - hora fagueira, Qu’encerras tanto amor, tristeza tanta! Quem há que de te ver não sinta enlevos, Quem há na terra que não sinta as fibras Todas do coração pulsar-lhe amigas, Quando desse teu manto as pardas franjas Soltas, roçando a habitação dos homens? Há i prazer tamanho que embriaga, Há i prazer tão puro, que parece Haver anjos dos céus com seus acordes A mísera existência acalentado! (Gonçalves Dias, trecho de A Tarde)
Os versos acima exemplificam a característica romântica: a) do sentimentalismo romântico que aponta para a desilusão amorosa. b) do nacionalismo que exalta a beleza exótica da natureza brasileira. c) do escapismo em que a morte representa a libertação da vida material. d) da projeção do estado de espírito do poeta nos elementos da natureza. e) do pessimismo e da melancolia, configurando o chamado “mal do século”.
guas tupi. e) interação pacífica no uso da língua portuguesa e da língua tupi. 03. (Enem MEC) TEXTO I Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
TEXTO II
TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1984 (adaptado).
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013.
A identidade de uma nação está diretamente ligada à cultura de seu povo. O texto mostra que, no período colonial brasileiro, o Português, o Índio e o Negro formaram a base da população e que o patrimônio linguístico brasileiro é resultado da a) contribuição dos índios na escolarização dos brasileiros. b) diferença entre as línguas dos colonizadores e as dos indígenas.
Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária. b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
c) importância do padre Antônio Vieira para a literatura de língua portuguesa.
625
B12 Romantismo: primeira geração
02. (Enem MEC) Quando os portugueses se instalaram no Brasil, o país era povoado de índios. Importaram, depois, da África, grande número de escravos. O Português, o Índio e o Negro constituem, durante o período colonial, as três bases da população brasileira. Mas no que se refere à cultura, a contribuição do Português foi de longe a mais notada. Durante muito tempo o português e o tupi viveram lado a lado como línguas de comunicação. Era o tupi que utilizavam os bandeirantes nas suas expedições. Em 1694, dizia o Padre Antônio Vieira que “as famílias dos portugueses e índios em São Paulo estão tão ligadas hoje umas com as outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que nas ditas famílias se fala é a dos Índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.”
Português
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos. d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística. e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico, retratando a colonização. 04. (FGV SP) Caracteriza o Romantismo, na literatura brasileira, I. o desejo de exprimir sentimentos como orgulho patriótico, considerado, então, algo de primordial importância; II. a intenção de criar uma literatura independente, diversa, de identidade bem marcada; III. a percepção da atividade literária como parte indispensável da tarefa patriótica de construção nacional. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III. 05. (Uepa PA) No romantismo brasileiro, a poesia muitas vezes se encarregou de criar um imaginário em torno da colonização europeia, destacando-lhe o caráter explorador no conjunto do capitalismo mundial e os prejuízos que ela causou ao nativo. Assinale a única alternativa cujos versos demonstrem essa temática. a) “Anhangá impiedoso nos trouxe de longe Os homens que o raio manejam cruentos, Que vivem sem pátria, que vagam sem tino Trás do ouro correndo, vorazes, sedentos.” (Deprecação)
b) “Dá, meu Deus, que eu possa amar, Dá que eu sinta uma paixão, Torna-me virgem minha alma, E virgem meu coração.” (Minha vida e meus amores)
B12 Romantismo: primeira geração
c) “Seu rosto pálido e belo Já não tem vida nem cor! Sobre ele a morte descansa, Envolta em baço palor.” (Epicédio)
d) “É alvo meu rosto da alvura dos lírios, Da cor das areias batidas do mar; As aves mais brancas, as conchas mais puras Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.” (Marabá)
e) “Lá vão pelas matas; Não fazem ruído: O vento gemendo 626
E as malas tremendo E o triste carpido Duma ave a cantar, São eles - guerreiros, Que faço avançar.”
06. (Ufal AL) Canção do Exílio. Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá.
(O Canto do Guerreiro) a) Gonçalves Dias viveu no auge do Romantismo na Europa e, coincidentemente, nos tempos gloriosos da Independência do Brasil. Nada mais propício do que essas condições para que os escritores brasileiros – romancistas e poetas – procurassem exaltar as grandezas nacionais como parte de um projeto de construção da identidade brasileira. Daí que “nossas palmeiras” abrigam “sabiás” que cantam melhor que as aves do exílio; daí que ‘nosso céu tem mais estrelas’; ‘nossas várzeas têm mais flores’, ‘nossos bosques têm mais vida’ , ‘nossa vida mais amores’. Ou seja, é explícita a exaltação da terra nacional, que merece, por isso mesmo, ganhar identidade própria. O “lá” e o “cá” presentes no poema referem-se ao Brasil e a Portugal, onde o poeta encontrava-se “em exílio”. b) São várias as ocorrências de repetição no poema. Seja repetição de versos inteiros (Minha terra tem palmeiras /Onde canta o sabiá), seja repetição de segmentos menores ‘nosso’, ‘nossa’, ‘mais’ etc.). De qualquer forma, a estratégia de reiteração, de reforço, constitui um fator significativo para deixar o poema em clara condição de continuidade temática.
(Gonçalves Dias. Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1966, p. 4).
a) Relacione os versos do famoso poema de Gonçalves Dias com o momento histórico brasileiro e com o movimento literário em voga na época. Encontre no poema passagens que comprovem suas considerações. b) Analise as estrofes do poema transcrito acima e identifique as estratégias de repetição escolhidas para garantir a continuidade do tema abordado no poema. 07. (Unifesp SP) Os versos de Casimiro de Abreu que se aproximam da ideia de saudade, tal como descrita por Massaud Moisés, encontram- se em: a) Se eu soubesse que no mundo / Existia um coração, / Que só por mim palpitasse / De amor em terna expansão; / Do peito calara as mágoas, / Bem feliz eu era então! b) Oh! não me chames coração de gelo! / Bem vês: traí-me no fatal segredo. / Se de ti fujo é que te adoro e muito, / És bela – eu moço; tens amor, eu – medo!... c) Naqueles tempos ditosos / Ia colher as pitangas, / Trepava a tirar as mangas, / Brincava à beira do mar; / Rezava às Ave-Marias, / Achava o céu sempre lindo, / Adormecia sorrindo / E despertava a cantar! d) Minh’alma é triste como a flor que morre / Pendida à beira do riacho ingrato; / Nem beijos dá-lhe a viração que corre, / Nem doce canto o sabiá do mato! e) Tu, ontem, / Na dança / Que cansa, / Voavas / Co’as faces / Em rosas / Formosas / De vivo, / Lascivo / Carmim; / Na valsa / Tão falsa, / Corrias, / Fugias, / Ardente, / Contente, / Tranquila, / Serena, / Sem pena / De mim!
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios Complementares 01. (Puc RS) Leia o trecho a seguir.
Dos Timbiras ao chefe. –– “A nós só caiba, (Disse ele) a honra e a glória; entre nós ambos
Minha terra tem palmeiras,
Decida-se a questão do esforço e brios.
Onde canta o Sabiá;
Estes, que vês, impávidos guerreiros
As aves que aqui gorjeiam
São meus, que me obedecem; se me vences,
Não gorjeiam como lá. (...)
São teus; se és o vencido, os teus me sigam: Aceita ou foge, que a vitória é minha.”
Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá;
1-tribo indígena; 2- chefe de tribo;
Sem que desfrute os primores
3- objeto para carregar as setas
Que não encontro por cá;
(DIAS, Gonçalves. Os Timbiras: poema americano. Salvador: Progresso, 1956.)
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Os versos do famoso poema Canção do Exílio evidenciam um grande amor à pátria, simbolizada por sua natureza. Criado por _________ e pertencente à escola _________, o poema revela, em tom _________, um eu lírico que exterioriza sua _________. A alternativa correta para o preenchimento das lacunas acima é: a) Gonçalves de Magalhães – árcade – bucólico – solidão b) Gonçalves Dias – romântica – ufanista – saudade c) Gregório de Mattos – barroca – contraditório – ironia d) Casemiro de Abreu – indianista – regionalista – nacionalidade e) Castro Alves – condoreira – emancipatório – liberdade 02. (Uepa PA) Leia Dos Gamelas1 um chefe destemido, Cioso d’alcançar renome e glória, Vencendo a fama, que os sertões enchia, Saiu primeiro a campo, armado e forte Guedelha2 e ronco dos sertões imensos, Guerreiros mil e mil vinham trás ele, Cobrindo os montes e juncando as matas, Com pejado carcaz3 de ervadas setas Tingidas d’urucu, segundo a usança Bárbara e fera, desgarrados gritos Davam no meio das canções de guerra.
A cena de luta entre dois guerreiros, narrada logo no início de Os Timbiras, também revela uma situação comunicativa. A conversa entre dois guerreiros revela: a) a idealização de personagens frágeis e evasivas diante do tédio. b) o nacionalismo condoreiro que foi a grande marca do engajamento romântico. c) o nacionalismo a partir da retratação fiel do passado histórico brasileiro. d) a reprodução de temas e heróis inspirados no comportamento dos cavaleiros medievais. e) o sarcasmo autodestrutivo que caracterizou o gosto romântico pelo tema da morte. 03. (UFG GO) Em I - Juca Pirama, de Gonçalves Dias, o andamento do enredo caracteriza uma obra híbrida entre o trágico e o épico porque a) os episódios expressam uma divergência entre os ideais românticos e a cultura indígena. b) as ações exprimem a fragilidade do prisioneiro e sua consequente punição, mas isso é superado por sua reação guerreira. c) as atitudes do herói explicitam uma indecisão entre a morte honrada e o salvamento do pai. d) os eventos narrados evidenciam o amor e a dedicação do prisioneiro ao pai, mas priorizam o sentimento tribal do guerreiro. e) o desenlace da narrativa representa uma convergência entre sentimento filial e ação guerreira. 04. (UFPE) Considere as afirmações a seguir a respeito da
Chegou, e fez saber que era chegado
produção literária brasileira que prosperou na primeira
O rei das selvas a propor combate
metade do século XIX. Gab: F-V-V-V-V 00. No Brasil, o Romantismo desenvolveu-se após a Inde-
627
B12 Romantismo: primeira geração
Onde canta o Sabiá.
Português
01.
02.
03.
04.
pendência. Na Europa, com o ressuscitar do passado, o nativismo explorou figuras e cenas medievais; em nosso país, com o indianismo romanceando as origens nacionais, o mundo indígena foi enfocado com heróis baseados em personagens e ações reais. José de Alencar, na prosa, criou uma galeria de heróis indígenas que se submetiam voluntariamente ao colonizador. Por exemplo, em O Guarani, Peri é escravo de Ceci e converte-se ao cristianismo, sendo batizado. Em Iracema, a personagem título se submete ao branco Martim, entrega que implica sacrifício e abandono de sua tribo de origem. Em Ubirajara, narrativa que enfoca uma fase anterior à colonização, Alencar despertou para a falsidade da idílica submissão dos colonizados aos colonizadores, escrevendo: “Foi depois da colonização que os portugueses, assaltando os índios como a feras e caçandoos a dente de cão, ensinaram-lhe a traição que eles não conheciam”. Gonçalves Dias, que representa o Indianismo na poesia, já nos Primeiros Cantos, tem a consciência do destino atroz que aguardava os tupis com a conquista portuguesa. Na fala do xamã, as predições são assustadoras: “Manitós já fugiram da Taba/ ó desgraça! ó ruína! ó Tupã!” Gonçalves Dias lamentou a sorte do Novo Mundo, com sua gente vencida e suas terras profanadas. Além do mais, o escritor maranhense, diferentemente de Alencar, dá voz ao nativo: “Chame-lhe progresso, quem do extermínio secular se ufana/ Eu, modesto cantor do povo extinto, /Chorarei os vastíssimos sepulcros”.
B12 Romantismo: primeira geração
05. (Puc Campinas SP) Diferentemente da natureza arcádica, convencionada como modelo de equilíbrio pelos escritores neoclássicos, a natureza romântica representa-se de modo a a) se converter em simples cenários para as ações humanas. b) espelhar os sentimentos e as paixões das criaturas humanas. c) figurar a melancolia de quem se entrega a seus instintos. d) traduzir a preocupação humana com o equilíbrio ecológico. e) fortalecer os argumentos dos defensores do paganismo. 06. (Espm RJ) Por meio da figura do indígena, o poeta romântico Gonçalves Dias faz uma exaltação da liberdade. Indique os versos em que essa ideia esteja presente: a) “Valente na guerra / Quem há, como eu sou?” b) “Quem golpes daria / Fatais, como eu dou?” c) “Quem guia nos ares / A frecha implumada, / Ferindo uma presa” d) “Quem canta seu feitos / Com mais energia?” e) “Aqui na floresta / Dos ventos batida, / Façanha de bravos / Não geram escravos” 07. (UFG GO) Leia os trechos apresentados a seguir. I As tribos vizinhas, sem força, sem brio, As armas quebrando, lançando-as ao rio, O incenso aspiraram dos seus maracás: Medrosos das guerras que os fortes acendem, Custosos tributos ignavos lá rendem, Aos duros guerreiros sujeitos na paz. 628
No centro da taba se estende um terreiro, Onde ora se aduna o concílio guerreiro Da tribo senhora, das tribos servis: Os velhos sentados praticam d’outrora, E os moços inquietos, que a festa enamora, Derramam-se em torno de um índio infeliz. […] Acerva-se a lenha da vasta fogueira, Entesa-se a corda da embira ligeira, Adorna-se a maça com penas gentis: A custo, entre as vagas do povo da aldeia Caminha o Timbira, que a turba rodeia, Garboso nas plumas de vário matiz. DIAS, Gonçalves. I - Juca Pirama. Porto Alegre: LP&M Pocket, 2007. p. 11-12.
Glossário: maracás: chocalho usado pelos indígenas em solenidades ignavo: fraco, covarde adunar: reunir embira: cipó usado para amarração maça: bastão ou porrete com que se sacrifica o prisioneiro garboso: elegante, distinto O poema I – Juca Pirama se destaca por representar um painel da cultura indígena. Nos versos transcritos, o elemento desse painel que se evidencia é: a) o confronto entre povos inimigos. b) a preparação de um ritual. c) o modo de vida cotidiano. d) a caracterização dos papéis tribais. e) a relação com a natureza. 08. (UFG GO) A literatura se articula à realidade, à história e aos fatos, na medida em que ela cria, e até funda, mundos imaginados. Gonçalves Dias, em I – Juca Pirama, ao criar um passado indígena para a nação brasileira, a) configura as personagens do poema a partir de seu convívio com os Timbira. b) retrata a história dos índios antes da colonização, ampliando a informação dos livros dos viajantes. c) representa o povo Timbira, compondo um mundo entre o real e o ficcional. d) recupera princípios da conduta dos Timbira, documentando a imagem cotidiana dessa nação indígena. e) reproduz o quadro de costumes dos índios que viviam no Brasil em sua época. 09. (UFG GO) Obra exemplar da vertente indianista da poesia brasileira, o poema I - Juca Pirama, de Gonçalves Dias, representa a) a idealização do indígena no contexto nacionalista brasileiro. b) a formação guerreira do Brasil, com ênfase no elemento indígena. c) o confronto entre o modo de vida indígena e o dos demais tipos de vida no Brasil. d) a tendência de valoração da cultura indígena sobre as diversas culturas brasileiras. e) o caráter natural da origem do povo brasileiro com base na figura do índio.
FRENTE
B
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Unesp SP) Os autores deste movimento pregavam a simplici-
03. (UFV MG) Os árcades, no Brasil, assimilaram as ideias neoclás-
dade, quer nos temas de suas composições, quer como sistema
sicas europeias, muitas vezes, reinterpretando, cada um ao seu
de vida: aplaudindo os que, na Antiguidade e na Renascença,
estilo, a realidade sociopolítica e cultural do país, como se ob-
fugiam ao burburinho citadino para se isolar nas vilas, prega-
serva no seguinte fragmento das “Cartas Chilenas”:
vam a “áurea mediocridade”, a dourada mediania existencial, transcorrida sem sobressaltos, sem paixões ou desejos. Re-
Pretende, Doroteu, o nosso chefe
gressar à Natureza, fundir-se nela, contemplar-lhe a quietude
erguer uma cadeia majestosa,
permanente, buscar as verdades que lhe são imanentes – em
que possa escurecer a velha fama
suma, perseguir a naturalidade como filosofia de vida.
da torre de Babel e mais dos grandes,
(Massaud Moisés. Dicionário de termos literários, 2004. Adaptado.)
O comentário do crítico Massaud Moisés refere-se ao seguinte movimento literário: a) Arcadismo. b) Simbolismo. c) Romantismo. d) Barroco. e) Naturalismo. 02. (UFRR) Sobre o Arcadismo, é correto afirmar que: a) expressa a sociedade medieval, teocêntrica, de caráter servil e fortemente religioso. Ao mesmo tempo, é marcado pelo surgimento de formas de expressões artísticas de caráter popular, vinculadas a classes sociais consideradas “inferiores” à época. b) é marcado pelo rebuscamento das formas, pela riqueza de detalhes e pelos contrastes. Influenciado pela Contrarreforma, foi concebido como uma reação ao Renascimento. c) é também chamado de Neoclassicismo, surge como uma releitura do Renascimento (ou Classicismo), preconizando uma arte pautada pela observância das formas clássicas e dos ideais humanistas. O bucolismo e o pastoralismo podem ser citados como características do Estilo no Brasil. d) surge como reação direta à arte e às concepções de mundo medievais, valorizando o passado greco-latino e a explicação científica do mundo; é teocêntrico, em contraponto ao antropocentrismo difundido pela Igreja. e) é marcado pelo rebuscamento das formas, pela riqueza de detalhes e pelos contrastes. Expressa a sociedade medieval, teocêntrica, de caráter servil e fortemente religioso. Surge como reação direta à arte e às concepções de mundo medievais e é marcado pelo surgimento de formas de expressões artísticas de caráter popular, vinculadas a classes sociais consideradas “inferiores” à época.
custosos edifícios que fizeram, para sepulcros seus, os reis do Egito. Talvez, prezado amigo, que imagine que neste monumento se conserve, eterna a sua glória, bem que os povos, ingratos, não consagrem ricos bustos nem montadas estátuas ao seu nome. Desiste, louco chefe, dessa empresa: um soberbo edifício levantado sobre ossos de inocentes, construído com lágrimas dos pobres, nunca serve de glória ao seu autor, mas sim de opróbrio. (GONZAGA, Tomás Antônio. “Cartas chilenas”. In: COSTA, Cláudio M. da; GONZAGA, Tomás A.; PEIXOTO, Alvarenga. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 814.)
Todas as alternativas abaixo apresentam características desse estilo literário, presente nos versos acima citados, EXCETO: a) Valorização do ideal da vida simples e tranquila. b) Tendência ao discurso em forma de diálogo do eu poético com um interlocutor. c) Utilização de linguagem elegante, rebuscada e artificial. d) Intenções didáticas, expressas no tom de denúncia e sátira. e) Caracterização do poeta como um pintor de situações e não de emoções. 04. (UFMT) Leia o poema do poeta árcade Cláudio Manoel da Costa e responda. VIII Este é o rio, a montanha é esta, Estes os troncos, estes os rochedos; São estes inda os mesmos arvoredos; Esta é a mesma rústica floresta.
629
Português
Tudo cheio de horror se manifesta, Rio, montanha, troncos, e penedos; Que de amor nos suavíssimos enredos Foi cena alegre, e urna é já funesta. Oh quão lembrado estou de haver subido Aquele monte, e as vezes, que baixando Deixei do pranto o vale umedecido! Tudo me está a memória retratando; Que da mesma saudade o infame ruído Vem as mortas espécies despertando.
a) Predomínio da razão, perfeição da forma, imitação dos antigos gregos e romanos. b) Reação anticlássica, busca de temas nacionais, sentimentalismo e imaginação. c) Anseio de liberdade criadora, busca de verdades absolutas e universais, arte pela arte. d) Desejo de expressar a realidade objetiva, erotismo, visão materialista do universo. e) Preferência por temas medievais, rebuscamento de conteúdo e forma, tentativa de expressar a realidade inconsciente. 07. (Ibmec RJ) Sabiá
(MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através de textos. São Paulo: Cultrix, 1986.)
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
A respeito do texto, assinale a afirmativa verdadeira. a) A natureza é cenário tranquilo, descrita sem levar em conta o estado de espírito de quem a descreve, como ocorre no Romantismo. b) O poema faz elogio ao pastoralismo, criticando os males que o meio urbano traz ao homem. c) Exemplo típico do Arcadismo, o poema apresenta a primazia da razão sobre a emoção, revelando a influência da lógica iluminista. d) A antítese Foi cena alegre, e urna é já funesta. resume o poema, indicando a passagem do tempo e a lembrança do amor perdido. e) Faz referência à constância da vida, à previsibilidade do destino, recomendando que se aproveite o dia. 05. (Ufal AL) A respeito da poesia romântica, assinale como VERDADEIRAS as afirmações que estão corretas e como FALSAS as que não o são. F-V-V-V-V 00. Castro Alves pode ser considerado um poeta mais ligado à estética realista do que ao Romantismo, pela linguagem contundente com que analisa os problemas sociais da época. 01. Na obra da segunda geração de poetas românticos brasileiros, encontram-se o tédio da vida e o cultivo da ideia da morte. 02. Se eu morresse amanhã é um poema em que predomina a função emotiva da linguagem, acentuando o individualismo e o subjetivismo exacerbados. 03. Gonçalves Dias foi um dos primeiros poetas românticos brasileiros e sua obra está marcada pelo indianismo, um dos temas marcantes da época. 04. Casimiro de Abreu cultivou, em seus poemas, o tema da saudade da Pátria, em função do exílio que sofreu em Portugal, ao lado do lirismo amoroso. 06. (Unifoa MG) Assinale a alternativa em que se encontram três características do movimento literário ao qual se dá o nome de Romantismo.
630
Tom Jobim e Chico Buarque
Vou voltar Sei que ainda vou voltar Para o meu lugar Foi lá e é ainda lá Que eu hei de ouvir Uma sabiá Vou voltar Sei que ainda vou voltar Vou deitar à sombra de uma palmeira Que já não há Colher a flor que já não dá E algum amor talvez possa espantar As noites que eu não queria E anunciar o dia Vou voltar Sei que ainda vou voltar Não vai ser em vão Que fiz tantos planos de me enganar Como fiz enganos de me encontrar Como fiz estradas de me perder Fiz de tudo e nada de te esquecer (...) A canção “Sabiá” é apenas uma das inúmeras releituras e citações que o poema de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio” recebeu a partir do Modernismo. Esse poeta pertenceu à 1ª geração do Romantismo Brasileiro. Nas opções abaixo, assinale a única que não apresenta características desse estilo de época. a) Nacionalismo, onde a exaltação da pátria somente enaltece Letra “E”. O Conceptismo e o Cultismo são tenas qualidades dências próprias do Barroco, Escola Literária b) Exaltação da natureza que tinha como principais representantes no Brasil Gregório de Matos e Padre Antonio Vieira. c) Sentimentalismo e religiosidade d) Indianismo e) Conceptismo (jogo de ideias) e cultismo (jogo de palavras)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 08. O Romantismo representou uma ruptura com os principais valores estéticos defendidos pelo Arcadismo, período literário predominante no século XVIII no Brasil. A poética romântica reage, de uma maneira geral, contra o culto de elementos neoclássicos, tais como equilíbrio, bucolismo, objetivismo, racionalismo, mitologia, paganismo, propondo novos valores como exagero, subjetivismo, sentimentalismo e nacionalismo.
A beleza Gonçalves de Magalhães
Oh Beleza! Oh potência invencível, Que na terra despótica imperas; Se vibras teus olhos Quais duas estrelas, Quem resiste a teu fogo terrível? Oh Beleza! Oh celeste harmonia, Doce aroma, que as almas fascina; Se exalas suave Tua voz divina, Tudo, tudo a teus pés se extasia (...) Teu poder, teus encantos entoa, Oh Beleza, meus dias bafeja, Em teu fogo minha alma devora; Verás de que modo Meu peito te adora. O poema de Gonçalves de Magalhães foi publicado no livro Suspiros poéticos e saudades, considerado a primeira obra romântica brasileira. Há em seus versos a valorização de elementos que marcariam em definitivo o novo momento artístico e a defesa de uma estética bem distinta daquela do período literário anterior. Tendo como referência o texto, apresentado acima, comente a ruptura representada pela poética romântica em relação ao estilo de época predominante no século XVIII no Brasil. 09. (UFG GO) Leia o seguinte fragmento de I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias. II Em fundos vasos d’alvacenta argila Ferve o cauim; Enchem-se as copas, o prazer começa, Reina o festim. O prisioneiro, cuja morte anseiam, Sentado está, O prisioneiro, que outro sol no ocaso Jamais verá! A dura corda, que lhe enlaça o colo, Mostra-lhe o fim Da vida escura, que será mais breve Do que o festim! Contudo os olhos d’ignóbil pranto Secos estão; Mudos os lábios não descerram queixas Do coração.
Mas um martírio, que encobrir não pode, Em rugas faz A mentirosa placidez do rosto Na fronte audaz! DIAS, Gonçalves. I-Juca Pirama. In: I-Juca Pirama seguido de Os Timbiras. Porto Alegre: L&PM Pocket, 1997. p. 13.
Durante o Romantismo, foram simultaneamente escritos poemas com características líricas e épicas. Nessa perspectiva, o fragmento de I-Juca Pirama constitui uma mistura de gêneros por a) descrever o ambiente de sacrifício e as características físicas do prisioneiro. b) contar o que se passa no coração dos Timbiras e no coração do prisioneiro. c) apresentar a preparação do sacrifício do prisioneiro e o seu estado de espírito. d) mostrar a vontade dos Timbiras em matar seu prisioneiro, descrevendo as suas condições físicas. e) evitar descrever o estado de ânimo dos Timbiras e se abster de apresentar o do prisioneiro. 10. (Udesc SC) Leia e analise as proposições sobre a estética romântica na literatura brasileira. I. O Romantismo brasileiro pregava a valorização do elemento local e dos aspectos particulares de cada povo como material de criação artística; há, portanto, uma grande analogia entre as propostas românticas e o momento histórico e social vivenciado pelo País na primeira metade do século XIX. II. A primeira geração romântica apresentava como cerne de suas atenções a pátria recém-independente, para a qual procurava uma forma de expressão autêntica. O Romantismo dessa geração era marcado predominantemente pelo nacionalismo. III. Os poetas da segunda geração estavam voltados para a própria individualidade, preocupavam-se com a demonstração de seus sentimentos e suas frustrações. IV. Também o teatro inseriu-se no projeto nacionalista do romantismo. A grande figura do teatro romântico foi Nelson Rodrigues, considerado o criador da Comédia brasileira. V. A terceira geração da poesia romântica passou a valorizar uma produção voltada para os problemas sociais que trazia à tona tópicos abolicionistas e republicanos, entre outros. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I, II, III e V são verdadeiras. b) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas II e V são verdadeiras. e) Todas as afirmativas são verdadeiras. 631
FRENTE B Exercícios de Aprofundamento
08. (Puc SP)
FRENTE
C
shutterstock.com
PORTUGUÊS Por falar nisso A poesia e a música eram artes que se complementavam na sua origem. Na Antiguidade Clássica, a poesia era cantada e tinha acompanhamento musical. O instrumento musical geralmente utilizado era a lira, daí deu-se o nome a esse tipo de produção poética de gênero lírico. Essas duas manifestações artísticas permaneceram associadas até o Trovadorismo, na Idade Média. No entanto, com o advento da modernidade histórica do século XVI, essas modalidades se dissociaram. A poesia desenvolveu-se silenciosamente, e a música desenvolveu-se sem a palavra cantada. Só no século XX, por meio de recursos de gravação áudio-musical e a partir da difusão do rádio, que houve o resgate dessa associação. A letra de música surge e se manifesta paralela à poesia. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
C13 C14 C15 C16
Música............................................................................................ 634 Teoria do texto............................................................................... 640 Fábula............................................................................................. 648 Conto.............................................................................................. 656
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C09
ASSUNTOS ABORDADOS nn Música nn Panorama histórico-musical da década de 1960 no Brasil nn Recursos estilísticos e rítmicos em canções
MÚSICA A análise de uma letra de música, apesar de se assemelhar bastante com a interpretação de um poema, requer atenção, além do conteúdo, para os recursos estilísticos e, principalmente, para o ritmo.
Panorama histórico-musical da década de 1960 no Brasil O sexto decênio do século XX, no Brasil, foi marcado por grandes mudanças na política (com o golpe de 1964 e a instauração da ditadura), pelo exílio de grandes personalidades públicas, entre elas muitos artistas, e também por uma eclosão de diferentes ritmos musicais que serão a base da Música Popular Brasileira (MPB).
Fonte: Wikimedia commons
Segundo a tradição dos anos de 1930, 1940 e 1950, a música brasileira, marcada pelo samba como gênero principal e suas “marchinhas” de Carnaval, também incorporava outros gêneros, como o bolero e a valsa. No rádio, destacam-se cantores e cantoras de vozes potentes e operísticas como Francisco Alves, Carmem Miranda, Dalva de Oliveira, Orlando Silva e Ângela Maria, todos acompanhados por orquestras.
634
Figura 01 - Civil sendo agredido por policiais durante a ditadura no Brasil
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Bossa Nova Com o lançamento do disco (LP) “Chega de saudade” em 1959, João Gilberto, interpretando canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, notabilizou-se por executar ao violão acordes dissonantes, fundindo samba e jazz. As letras da Bossa Nova traduziam a vida de uma classe média da zona sul do Rio de Janeiro, em um contexto de otimismo. Podemos dizer que a Bossa Nova, apesar das críticas dos tradicionalistas, implicou na modernização da MPB. Tropicália Também denominado Tropicalismo, esse movimento da MPB buscou reunir diversos gêneros musicais. Inspirada pelo Modernismo, a semana de Arte Moderna de 1922 e o manifesto antropofágico de Oswald de Andrade, a Tropicália admitia as várias influências formadoras da música brasileira. Com canções gravadas em 1966, compositores e cantores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Mutantes e Novos Baianos combinavam os vários elementos nacionais com o rock’n roll. Suas letras, também influenciadas pelo movimento concretista, traduziam o ambiente cultural e político brasileiro, marcado pela antítese do autoritarismo e da alegria do país do carnaval e do futebol. Jovem Guarda
Fonte: Wikimedia commons
C09 Música
Fonte: Wikimedia commons
Fonte: Wikimedia commons
Iniciado em 1965, o programa de televisão Jovem Guarda, voltado ao público adolescente, tinha atrações de artistas como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Wanderleya e Wanderley Cardoso. Os artistas eram influenciados por Elvis Presley e The Beatles, e ficaram conhecidos como a “turma do iê-iê-iê”, em apologia ao “yeah-yeah-yeah”. Suas letras falavam das aventuras e valores de uma juventude, o que incluía festas, carros e paixões. A Jovem Guarda foi, muitas vezes, estimulada pelo regime militar, em função de sua despolitização.
Figura 02 - Da esquerda para a direita, os cantores: João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Roberto Carlos
635
Português
Fonte: Wikimedia commons
Música de Protesto Alguns músicos e intérpretes da Bossa Nova buscaram romper com a passividade política. Nara Leão dedicou-se ao projeto “Opinião”, ao lado de João do Vale e Zé Kéti. Edu Lobo e Chico Buarque compuseram e cantaram letras críticas, valorizando o homem simples e o trabalhador brasileiro. Geraldo Vandré foi uma referência da chamada música de protesto. Sua canção “Para não dizer que eu não falei das flores” tornou-se hino contra o regime militar.
Recursos estilísticos e rítmicos em canções
Figura 03 - Cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda
As letras de música por vezes têm ritmo muito marcado por versos com quantidades precisas de sílabas poéticas e por rimas bem dispostas. Isso é o que dá harmonia à canção. Tente você, depois, trocar, em uma música, palavras menores por maiores e vice-versa, e veja como o ritmo do cantar fica prejudicado. Os letristas valem-se recorrentemente de figuras de harmonia para compor suas canções.
Aliteração Repetição de sons consonantais semelhantes. Leia abaixo a canção de Chico Buarque “Morena de Angola” e veja como a repetição dos sons consonantais /k/ e /x/ dão o efeito de sentido de um chocalho (cheq-cheq-cheq). “Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela Será que a morena cochila escutando o cochicho do chocalho Será que desperta gingando e já sai chocalhando pro trabalho” Assonância Repetição de sons vocálicos semelhantes. Leia abaixo a canção de Chico Buarque “Ana de Amsterdã” e repare na repetição do som vocálico /a/. “Sou Ana da cama, da cana, fulana, sacana Sou Ana de Amsterdam” Paranomásia Repetição de grupos sonoros semelhantes. Leia abaixo a canção de Caetano Veloso “Qualquer coisa” e veja como a repetição do grupo “erro” produz um eco na canção, como se fosse um berro ecoando. “Berro pelo aterro Pelo desterro Berro por seu berro
C09 Música
Pelo seu erro”
636
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC) Disneylândia Multinacionais japonesas instalam empresas em Hong-King E produzem com matéria-prima brasileira Para competir no mercado americano [...] Pilhas americanas alimentam eletrodomésticos ingleses na Nova Guiné Gasolina árabe alimenta automóveis americanos na África do Sul [...] Crianças iraquianas fugidas da guerra Não obtêm visto no consulado americano do Egito Para entrarem na Disneylândia Na canção, ressalta-se a coexistência, no contexto internacional atual, das seguintes situações: a) Acirramento do controle alfandegário e estímulo ao capital especulativo. b) Ampliação das trocas econômicas e seletividade dos fluxos populacionais. c) Intensificação do controle informacional e adoção de barreiras fitossanitárias.
d) Aumento da circulação mercantil e desregulamentação do sistema financeiro. e) Expansão do protecionismo comercial e descaracterização de identidades nacionais.” 02. (Enem MEC) “Até quando? Não adianta olhar pro céu Com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer E muita greve, você pode, você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão Virar a cara para não ver Se liga aí que te botaram numa cruz só porque Jesus Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer! As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto a) Caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet. b) Cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas. c) Tom de diálogo pela recorrência de gírias. d) Espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial. e) Originalidade, pela concisão da linguagem.”
Exercícios Complementares
DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005 (adaptado).
Entre as manifestações da cultura hip hop apontadas no texto, o break se caracteriza como um tipo de dança que representa aspectos contemporâneos por meio de movimentos a) retilíneos, como crítica aos indivíduos alienados. b) improvisados, como expressão da dinâmica da vida urbana. c) suaves, como sinônimo da rotina dos espaços públicos. d) ritmados pela sola dos sapatos, como símbolo de protesto. e) cadenciados, como contestação às rápidas mudanças culturais.
02. (Enem MEC) A partir da metade do século XX, ocorreu um conjunto de transformações econômicas e sociais cuja dimensão é difícil de ser mensurada: a chamada explosão da informação. Embora essa expressão tenha surgido no contexto da informação científica e tecnológica, seu significado, hoje, em um contexto mais geral, atinge proporções gigantescas. Por estabelecerem novas formas de pensamento e mesmo de lógica, a informática e a Internet vêm gerando impactos sociais e culturais importantes. A disseminação do microcomputador e a expansão da Internet vêm acelerando o processo de globalização tanto no sentido do mercado quanto no sentido das trocas simbólicas possíveis entre sociedades e culturas diferentes, o que tem provocado e acelerado o fenômeno de hibridização amplamente caracterizado como próprio da pós-modernidade. FERNANDES, M. F.; PARÁ, T. A contribuição das novas tecnologias da informação na geração de conhecimento. Fonte: http://www.coep.ufrj.br. Acesso em: 11 ago. 2009 (adaptado).
Considerando-se o novo contexto social e econômico aludido no texto apresentado, as novas tecnologias de informação e comunicação
637
C09 Música
01. (Enem MEC) O rap, palavra formada pelas iniciais de rhythm and poetry (ritmo e poesia), junto com as linguagens da dança(o break dancing) e das artes plásticas (o grafite), seriadifundido, para além dos guetos, com o nome de cultura hip hop. O break dancing surge como uma dança de rua. O grafite nasce de assinaturas inscritas pe4los jovens com sprays nos muros, trens e estações de metrô de NovaYork. As linguagens do rap, do break dancing e do grafite se tornaram os pilares da cultura hip hop.
Português
a) desempenham importante papel, porque sem elas não seria possível registrar os acontecimentos históricos. b) facilitam os processos educacionais para ensino de tecnologia, mas não exercem influência nas ciências humanas. c) limitam-se a dar suporte aos meios de comunicação, facilitando sobretudo os trabalhos jornalísticos. d) contribuem para o desenvolvimento social, pois permitem o registro e a disseminação do conhecimento de forma mais democrática e interativa. e) estão em estágio experimental, particularmente na educação, área em que ainda não demonstraram potencial produtivo. 03. (Enem MEC) La Vie en Rose
que o hipertexto oferece uma multiplicidade de caminhos a seguir, podendo ainda o leitor incorporar seus caminhos e suas decisões como novos caminhos, inserindo informações novas, o leitor-navegador passa a ter um papel mais ativo e uma oportunidade diferente da de um leitor de texto impresso. Dificilmente dois leitores de hipertextos farão os mesmos caminhos e tomarão as mesmas decisões. MARCUSCHI, L. A. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio: Lucerna, 2007.
No que diz respeito à relação entre o hipertexto e o conhecimento por ele produzido, o texto apresentado deixa claro que o hipertexto muda a noção tradicional de autoria, porque a) é o leitor que constrói a versão final do texto. b) o autor detém o controle absoluto do que escreve. c) aclara os limites entre o leitor e o autor. d) propicia um evento textual-interativo em que apenas o autor é ativo. e) só o autor conhece o que eletronicamente se dispõe para o leitor. 05. (Enem MEC)
ITURRUSGARAI, A. La Vie en Rose. Folha de S.Paulo, 11 ago. 2007.
C09 Música
Os quadrinhos exemplificam que as Histórias em Quadrinhos constituem um gênero textual a) em que a imagem pouco contribui para facilitar a interpretação da mensagem contida no texto, como pode ser constatado no primeiro quadrinho. b) cuja linguagem se caracteriza por ser rápida e clara, que facilita a compreensão, como se percebe na fala do segundo quadrinho: “</DIV></SPAN><BR CLEAR = ALL>< BR><BR><SCRIPT>”. c) em que o uso de letras com espessuras diversas está ligado a sentimentos expressos pelos personagens, como pode ser percebido no último quadrinho. d) que possui em seu texto escrito características próximas a uma conversação face a face, como pode ser percebido no segundo quadrinho. e) que a localização casual dos balões nos quadrinhos expressa com clareza a sucessão cronológica da história, como pode ser percebido no segundo quadrinho. 04. (Enem MEC) Diferentemente do texto escrito, que em geral compele os leitores a lerem numa onda linear – da esquerda para a direita e de cima para baixo, na página impressa – hipertextos encorajam os leitores a moverem-se de um bloco de texto a outro, rapidamente e não sequencialmente. Considerando
638
XAVIER, C. Quadrinho quadrado. Disponível em: http://www.releituras.com. Acesso em: 5 jul. 2009.
Tendo em vista a segunda fala do personagem entrevistado, constata-se que a) o entrevistado deseja convencer o jornalista a não publicar um livro. b) o principal objetivo do entrevistado é explicar o significado da palavra motivação. c) são utilizados diversos recursos da linguagem literária, tais como a metáfora e a metonímia. d) o entrevistado deseja informar de modo objetivo o jornalista sobre as etapas de produção de um livro. e) o principal objetivo do entrevistado é evidenciar seu sentimento com relação ao processo de produção de um livro.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
06. (Enem MEC) Saúde, no modelo atual de qualidade de vida, é o resultado das condições de alimentação, habitação, educação, renda, trabalho, transporte, lazer, serviços médicos e acesso à atividade física regular. Quanto ao acesso à atividade física, um dos elementos essenciais é a aptidão física, entendida como a capacidade de a pessoa utilizar seu corpo — incluindo músculos, esqueleto, coração, enfim, todas as partes —, de forma eficiente em suas atividades cotidianas; logo, quando se avalia a saúde de uma pessoa, a aptidão física deve ser levada em conta. A partir desse contexto, considera-se que uma pessoa tem boa aptidão física quando a) apresenta uma postura regular. b) pode se exercitar por períodos curtos de tempo. c) pode desenvolver as atividades físicas do dia-a-dia, independentemente de sua idade. d) pode executar suas atividades do dia a dia com vigor, atenção e uma fadiga de moderada a intensa. e) pode exercer atividades físicas no final do dia, mas suas reservas de energia são insuficientes para atividades intelectuais. 07. (Enem MEC) Cárcere das almas Ah! Toda a alma num cárcere anda presa, Soluçando nas trevas, entre as grades Do calabouço olhando imensidades, Mares, estrelas, tardes, natureza.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais. d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras. e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do cotidiano. 08. (Enem MEC) Para o Mano Caetano O que fazer do ouro de tolo
1
Quando um doce bardo brada a toda brida, Em velas pandas, suas esquisitas rimas? Geografia de verdades, Guanabaras postiças
4
Saudades banguelas, tropicais preguiças? A boca cheia de dentes De um implacável sorriso
7
Morre a cada instante Que devora a voz do morto, e com isso, Ressuscita vampira, sem o menor aviso
10
[...] E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo Tipo pra rimar com ouro de tolo? Oh, Narciso Peixe Ornamental!
13
Tease me, tease me outra vez *1 Ou em banto baiano
Ó almas presas, mudas e fechadas Nas prisões colossais e abandonadas, Da Dor no calabouço, atroz, funéreo! Nesses silêncios solitários, graves, que chaveiro do Céu possui as chaves para abrir-vos as portas do Mistério?! CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos. b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
Ou em português de Portugal
16
Se quiser, até mesmo em americano De Natal [...] Tease me (caçoe de mim, importune-me).
*1
LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).
Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem: a) “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2) b) “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3) c) “Que devora a voz do morto” (v. 9) C09 Música
Tudo se veste de uma igual grandeza Quando a alma entre grilhões as liberdades Sonha e, sonhando, as imortalidades Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
d) “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12) e) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)
639
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C10
ASSUNTOS ABORDADOS nn Teoria do texto nn O que é texto e contexto? nn Implícito e explícito nn Estilística da língua
TEORIA DO TEXTO O que é texto e contexto? Para se fazer uma leitura completa de uma enunciação verbal é preciso, além de decodificar o que está escrito no texto, conhecer o contexto de produção.
nn Texto literário e não literário
Texto O texto é uma unidade linguística que se estrutura por meio de signos (palavras) de maneira coerente e coesa. As partes de um texto devem se relacionar e manifestar um posicionamento unidirecional. Um fragmento de palavras, por exemplo, que trata de várias temáticas, não pode ser chamado de texto. Isso implicaria a falta de coerência, as contradições de ideias. Se o que compõe a frase não estiver coeso para que se passe de uma ideia à outra, não será possível concluir o texto. O autor de cada texto precisa ter tais noções, para que imprima qualidade ao que escreve, para que consiga interagir com o leitor, para que cumpra a competência do escritor. A formação de um texto exige habilidades que vão desde a compreensão dos códigos, do conhecimento da gramática da língua, até da combinação dos valores simbólicos e de signos do mundo das palavras. Essa confluência de habilidades permite a existência de um bom texto. Contexto
Fonte: Brian A Jackson / Shutterstock.com
O contexto representa o conjunto de informações que acompanha o texto. A compreensão do contexto influencia diretamente na qualidade final da produção do texto. Não basta apenas reconhecer e decodificar as informações dentro do texto. É preciso interpretar em qual contexto ele se enquadra, em que realidade e cenário ele foi produzido. O contexto se compõe por dois níveis de estudo: os enunciados (em nível de superfície) e a semântica, os efeitos de sentido (em nível de profundidade). O leitor aprofunda a compreensão a partir de cada oração, e assim busca compreender a visão de mundo que domina o indivíduo que redigiu tal texto. Cada escritor vale-se de uma bagagem histórica, geográfica, sociológica e literária específicas, antes de gerar suas próprias palavras e de compreender o mundo por meio de um texto.
640
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Implícito e explícito
Fonte: Wikimedia Commons
O processo de compreensão e interpretação de um texto ocorre pelo entendimento e compreensão do universo macro ao universo micro, isto é, do discurso, passando pela frase, até chegar à palavra. No entanto, nem todo tipo de informação você conseguirá extrair apenas com a leitura do texto. Então, você poderia se perguntar: de onde mais posso conseguir extrair dados para compreensão de um texto ou de um enunciado? Normalmente, um leitor mediano passa despercebido por vários elementos de sentido que estão subentendidos no texto. Contudo, você, como leitor experiente, deverá compreender não só o que está explícito, como também o que está implícito (o não dito) na constituição de um ato discursivo. Observe os enunciados a seguir: fora está chovendo granizo. nn A partir da palavra “fora”, inferimos que do lado de dentro não está chovendo granizo. nn Agora você está me dizendo a verdade. nn A partir da palavra “agora”, inferimos que anteriormente ele ou ela mentia. nn Lá
Estilística da língua
C10 Teoria do texto
Embora muitos ainda associem o estilo a uma ideia de deformação da norma linguística, principalmente no âmbito literário, existe uma grande diferença entre traço de estilo e desvio da norma gramatical. O traço estilístico ocorre quando há uma intenção estético-expressiva que justifique o desvio da norma-padrão. Já o desvio gramatical não apresenta uma intenção estética, pois se configura apenas como um desconhecimento das regras. Para auxiliar na organização das palavras, tanto na linguagem escrita como na linguagem oral, a estilística ocupa-se do estudo dos elementos expressivos, abarcando, assim, a conceptualização e os diversos usos das figuras, vícios e funções de linguagem.
Fonte: Billion Photos / Shutterstock.com
A estilística de uma dada língua, como o próprio nome sugere, preocupa-se com o estilo. Trata-se de estudar a utilização da linguagem para fins estéticos, o que confere à palavra dados emotivos.A linguagem afetiva é representada por esse importante recurso, por exemplo. Assim, podemos observar os processos de manipulação da linguagem utilizados para extrapolar a mera função de informar. Na estilística, há um interessante contraste entre a emoção e a razão. Por meio disso, pode-se estabelecer uma relação de complementaridade, o estudo do estilo e o estudo sistemático da gramática normativa.
641
Português
SAIBA MAIS O QUE É ESTILO? Para o linguista brasileiro, precursor dos estudos da linguística moderna no País, Joaquim Mattoso Câmara Jr.: “Estilo é a linguagem que transcende do plano intelectivo para carrear a emoção e a vontade.”
Estilística do som A estilística do som ocupa-se das alterações do padrão fonológico de pronúncia das palavras de uma língua. Os recursos de estilo no âmbito da fonologia são comumente encontrados em obras que resgatem a realidade caipira e do sertão brasileiro. Leia abaixo o fragmento do conto “Mandovi” do escritor Coelho Neto: — Não vou? Ocê sabi? Pois mió. Dá cá mais uma derrubada aí modi u friu, genti. Um dos vaqueiros passou-lhe o copo e Mandovi bebeu com gosto, esticando a língua para lamber os bigodes. Té aminhã, genti. — Adeu! — Eh! Tigre... livanta. Com a ponta do pé espremeu o ventre de um cão negro que se levantou ligeiro e, rebolindo-se a acenar com a cauda, pôs-se a mirá-lo rosnando. Bamu! Adeu, genti. E, da porta, para rir, bradou: — Dá um tombu nesse queixada comedô, genti. Estilística da frase
Fonte: Wikimedia Commons
A sintaxe traz diversos recursos expressivos, podendo interagir com a estilística de várias maneiras. Uma delas é retirar os conectivos de uma oração para desacelerar o ritmo, ou repeti-los para acelerar. Os recursos sintáticos podem produzir diversos sentidos em uma oração, dar ênfase, igualar a língua escrita com a oral, entre diversos outros objetivos. Veja o fragmento do conto “A volta do marido pródigo” de João Guimarães Rosa:
Figura 02 - Escritor mineiro João Guimarães Rosa
“Quando Lalino Salãthiel, atravessando o arraial, chegou em casa do espanhol, já estava cansado de inventar espírito, pois só com boas respostas é que ia podendo enfrentar as interpelações e as chufas do pessoal.”
C10 Teoria do texto
Lendo esse fragmento, você talvez tenha passado despercebido pelo recurso de estilo sintático de que Guimarães se valeu. Aparentemente, não há nenhum desvio da norma-padrão.. Aparentemente! Note que, no trecho “chegou em casa do espanhol”, falta um artigo que se combine à preposição “em”. A palavra casa, quando acompanhada por determinante, deve vir precedida de artigo. Nesse sentido, estaria consoante à norma se o trecho estivesse escrito desta maneira: “chegou na casa do espanhol”. Mas será que o renomado escritor Guimarães Rosa teria cometido um erro desses, que está tão evidente em nossa oralidade? Claro que não! O autor, na verdade, sobrepôs duas construções frasais: nn chegou nn chegou
642
em casa na casa do espanhol
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Texto literário e não literário Existem inúmeros tipos de texto, cada um com sua forma, estrutura e conteúdo específicos. Apesar dessa tamanha variedade, nós podemos separar todos os textos em dois grandes grupos: os textos literários e os textos não literários. Os textos literários são aqueles que possuem função estética, por vezes lírica, e destinam-se ao entretenimento, ao belo, à arte, à ficção. Os textos não literários são os textos com função utilitária, pois servem para informar, convencer, explicar, ordenar. Principais diferenças Texto literário
Texto não literário
Linguagem pessoal
Linguagem impessoal
Presença de emoção
Presença de razão
Subjetividade
Objetividade
Centrada no emissor ou na própria mensagem
Centrada no receptor ou no próprio assunto
Linguagem conotativa
Linguagem denotativa
Exposição de um imaginário
Representação da realidade
Foco na maneira de dizer, na expressão
Foco no que dizer, na informação
SAIBA MAIS QUEM FOI GRACILIANO RAMOS? Graciliano Ramos foi um escritor alagoano, nascido em 1892, na cidade de Quebrângulo. Muito novo mudou-se para o sertão de Pernambuco e lá teve seu primeiro contato com a seca, que matou o gado da fazenda de sua família. Escreveu vários romances entre os quais se destacam: Vidas Secas, Memórias do Cárcere e São Bernardo. Fonte: Wikimedia Commons
Sem o artigo e desacompanhada de determinante, dá-se a entender que a casa é do próprio Lalino Salãthiel. Com o artigo, ficaria evidente que a casa é do espanhol. No entanto, quando Guimarães une as duas construções, ele gera uma ambiguidade. De quem é a casa? Do Lalino? Do espanhol? Só lendo o conto para saber.
Exemplos Texto literário
Vidas Secas, Graciliano Ramos.
643
C10 Teoria do texto
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.”
Fonte: Alohaflaminggo / Shutterstock.com
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Português
Texto não literário “Enquanto no Sul está chovendo demais, no Nordeste milhares de famílias sofrem com a seca. Mais da metade dos munícipios do Piauí estão em situação de emergência. São 128 cidades e 600 mil pessoas sofrendo com a seca. Este ano, a produção de soja teve uma queda de quase 65% em comparação com 2015. O Exército está distribuindo água para população da zona rural de 70 cidades com a Operação Carro-Pipa. Açudes e barragens estão com menos de 30% da capacidade. Em Sergipe, a quebra na safra do feijão chegou a quase 80%. É o pior resultado desde 2011. A colheita do milho teve o mesmo resultado negativo. Isso tudo é reflexo da seca, a pior dos últimos cinco anos em Sergipe. Todas as regiões foram atingidas, com o baixo volume de chuvas. No sertão choveu quase metade do que era esperado. Até mesmo o litoral, que costuma ser a região onde mais chove, este ano não alcançou nem mesmo 50% do volume. Mais de 171 mil pessoas estão sendo afetadas pela estiagem.” Seca no Nordeste bate recorde e afeta a produção agrícola, Jornal Nacional.
C10 Teoria do texto
Fonte: matteo scarano / Shutterstock.com
Análise textual
644
Após ler atentamente os dois textos acima, você deve ter percebido algumas semelhanças e diferenças entre eles. A temática dos dois excertos é afim, isto é, parecidas, porque ambas tratam do período de seca no sertão nordestino. No entanto, a função das duas produções textuais é bem distinta. O fragmento da notícia do Jornal Nacional nos informa a situação da produção agrícola nos estados Piauí e Sergipe, onde a seca afetou as plantações de milho e feijão. Já no fragmento do romance Vidas Secas, do escritor Graciliano Ramos, há a narração de uma família de retirantes (pai, mãe, dois filhos e uma cachorra), que caminha pela caatinga. Enquanto no primeiro excerto o autor expõe os sentimentos das personagens e narra suas ações, o segundo excerto traz dados científicos e pesquisas sobre a mesma região.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC)
determinado grupo social, como se pode observar na descrição acima do balé Parade, o qual reflete a) a falta de diversidade cultural na sua proposta estética. b) a alienação dos artistas em relação às tensões da Segunda Guerra Mundial. c) uma disputa cênica entre as linguagens das artes visuais, do figurino e da música. d) as inovações tecnológicas nas partes cênicas, musicais, coreográficas e de figurino. e) uma narrativa com encadeamentos claramente lógicos e lineares.
Os principais recursos utilizados para envolvimento e adesão do leitor à campanha institucional incluem a) o emprego de enumeração de itens e apresentação de títulos expressivos. b) o uso de orações subordinadas condicionais e temporais. c) o emprego de pronomes como “você” e “sua” e o uso do imperativo. d) a construção de figuras metafóricas e o uso de repetição. e) o fornecimento de número de telefone gratuito para contato. 02. (Enem MEC) No programa do balé Parade, apresentado em 18 de maio de 1917, foi empregada publicamente, pela primeira vez, a palavra sur-realisme. Pablo Picasso desenhou o cenário e a indumentária, cujo efeito foi tão surpreendente que se sobrepôs à coreografia. A música de Erik Satie era uma mistura de jazz, música popular e sons reais tais como tiros de pistola, combinados com as imagens do balé de Charlie Chaplin, caubóis e vilões, mágica chinesa e Ragtime. Os tempos não eram propícios para receber a nova mensagem cênica demasiado provocativa devido ao repicar da máquina de escrever, aos zumbidos de sirene e dínamo e aos rumores de aeroplano previstos por Cocteau para a partitura de Satie. Já a ação coreográfica confirmava a tendência marcadamente teatral da gestualidade cênica, dada pela justaposição, colagem de ações isoladas seguindo um estímulo musical. SILVA, S. M. O surrealismo e a dança. GUINSBURG, J.; LEIRNER (Org.). O surrealismo. São Paulo: Perspectiva, 2008 (adaptado).
As manifestações corporais na história das artes da cena muitas vezes demonstram as condições cotidianas de um
Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As características regionais exploradas no texto manifestam-se a) na fonologia. b) no uso do léxico. c) no grau de formalidade. d) na organização sintática. e) na estruturação morfológica. 04. (Fac. Israelita de Ciências da S. Albert Einstein SP) No terceiro parágrafo, a proposta da SSP-SP implica a) construir proposta interventiva inicial para posterior aperfeiçoamento e adoção em maiores proporções. b) promover debate para discutir as providências que podem enfrentar a violência contra profissionais da saúde. c) discutir com os profissionais da saúde quais seriam as melhores ações interventivas. d) intervir retroativamente com base nos registros de ameaças ou de truculência a que foram submetidos médicos e enfermeiros.
645
C10 Teoria do texto
BRASIL. Ministério da Saúde, 2009 (adaptado).
03. (Enem MEC) Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido; não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri, então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais em al ou el – carnavau, Raqueu... Já os paraibanos trocam o l pelo r. José Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
Português
Exercícios Complementares 01. (Enem MEC) O “politicamente correto” tem seus exageros, como chamar baixinho de “verticalmente prejudicado”, mas, no fundo, vem de uma louvável preocupação em não ofender os diferentes. É muito mais gentil chamar estrabismo de “idiossincrasia ótica” do que de vesguice. O linguajar brasileiro está cheio de expressões racistas e preconceituosas que precisam de uma correção, e até as várias denominações para bêbado (pinguço, bebo, pé-de-cana) poderiam ser substituídas por algo como “contumaz etílico”, para lhe poupar os sentimentos. O tratamento verbal dado aos negros é o melhor exemplo da condescendência que passa por tolerância racial no Brasil. Termos como “crioulo”, “negão” etc. são até considerados carinhosos, do tipo de carinho que se dá a inferiores, e, felizmente, cada vez menos ouvidos. “Negro” também não é mais correto. Foi substituído por afrodescendente, por influência dos afro-americans, num caso de colonialismo cultural positivo. Está certo. Enquanto o racismo que não quer dizer seu nome continua no Brasil, uma integração real pode começar pela linguagem. VERÍSSIMO, L. F. Peixe na cama. Diário de Pernambuco. 10 jun. 2006 (adaptado).
Ao comparar a linguagem cotidiana utilizada no Brasil e as exigências do comportamento “politicamente correto”, o autor tem a intenção de a) criticar o racismo declarado do brasileiro, que convive com a discriminação camuflada em certas expressões linguísticas. b) defender o uso de termos que revelam a despreocupação do brasileiro quanto ao preconceito racial, que inexiste no Brasil. c) mostrar que os problemas de intolerância racial, no Brasil, já estão superados, o que se evidencia na linguagem cotidiana. d) questionar a condenação de certas expressões consideradas “politicamente incorretas”, o que impede os falantes de usarem a linguagem espontaneamente. e) sugerir que o país adote, além de uma postura linguística “politicamente correta”, uma política de convivência sem preconceito racial. 02. (Enem MEC)
C10 Teoria do texto
O novo boca a boca Tomara que não seja verdade, porque, se for, os críticos, comentaristas, os chamados formadores de opinião, todos corremos o risco de perder nossa razão de ser e nossos empregos. Há uma nova ameaça à vista. Dizem que a Internet será em breve, já está sendo, o boca a boca de milhões de pessoas, isto é, vai substituir aquele processo usado tradicionalmente para recomendar um filme, uma peça, um livro e até um candidato. Não mais a orientação transmitida pela imprensa e nem mesmo as dicas dadas pessoalmente
646
– tudo seria feito virtualmente pelos mecanismos de mobilização da rede. VENTURA, Z. O Globo, 19 set. 2009 (fragmento).
Segundo o texto, a Internet apresenta a possibilidade de modificar as relações sociais, na medida em que estabelece novos meios de realizar atividades cotidianas. A preocupação do autor acerca do desaparecimento de determinadas profissões deve-se a) às habilidades necessárias a um bom comunicador, que podem ser comprometidas por problemas pessoais. b) à confiabilidade das informações transmitidas pelos internautas, que superam as informações jornalísticas. c) ao número de pessoas conectadas à Internet, à rapidez e à facilidade com que a informação acontece. d) aos boatos que atingem milhões de pessoas, levando a população a desacreditar nos formadores de opinião. e) aos computadores serem mais eficazes do que os profissionais da escrita para informar a sociedade. 03. (Enem MEC) Maurício e o leão chamado Millôr Livro de Flavia Maria ilustrado por cartunista nasce como um dos grandes títulos do gênero infantil Um livro infantil ilustrado por Millôr há de ter alguma grandeza natural, um viço qualquer que o destaque de um gênero que invade as livrarias (2 mil títulos novos, todo ano) nem sempre com qualidade. Uma pegada que o afaste do risco de fazer sombra ao fato de ser ilustrado por Millôr: Maurício - O Leão de Menino (CosacNaify, 24 páginas, R$ 35), de Flavia Maria, tem essa pegada. Disponível em: http://www.revistalingua.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010 (fragmento).
Como qualquer outra variedade linguística, a norma padrão tem suas especificidades. No texto, observam- se marcas da norma padrão que são determinadas pelo veículo em que ele circula, que é a Revista Língua Portuguesa. Entre essas marcas, evidencia-se a) a obediência às normas gramaticais, como a concordância em “um gênero que invade as livrarias”. b) a presença de vocabulário arcaico, como em “há de ter alguma grandeza natural”. c) o predomínio de linguagem figurada, como em “um viço qualquer que o destaque”. d) o emprego de expressões regionais, como em “tem essa pegada”. e) o uso de termos técnicos, como em “grandes títulos do gênero infantil”.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
04. (Enem MEC) Riqueza ameaçada Boa parte dos 180 idiomas sobreviventes está ameaçada de extinção – mais da metade (110) é falada por menos de 500 pessoas. No passado, era comum pessoas serem amarradas em árvores quando se expressavam em suas línguas, lembra o cacique Felisberto Kokama, um analfabeto para os nossos padrões e um guardião da pureza de seu idioma (caracterizado por uma diferença marcante entre a fala masculina e a feminina), lá no Amazonas, no Alto Solimões. Outro Kokama, o professor Leonel, da região de Santo Antônio do Içá (AM), mostra o problema atual: “Nosso povo se rendeu às pessoas brancas pelas dificuldades de sobrevivência. O Contato com a língua portuguesa foi exterminando e dificultando a prática da nossa língua. Há poucos falantes, e com vergonha de falar. A língua é muito preconceituada entre nós mesmos”.
A Literatura Brasileira desempenha papel importante ao suscitar reflexão sobre desigualdades sociais. No fragmento, essa reflexão ocorre a) descreve as propriedades do açúcar. b) se revela mero consumidor de açúcar. c) destaca o modo de produção do açúcar. d) exalta o trabalho dos cortadores de cana. e) explicita a exploração dos trabalhadores. 06. (Enem MEC)
Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, nº 26 , 2007.
05. (Enem MEC) Açúcar O branco açúcar que adoçará meu café Nesta manhã de Ipanema Não foi produzido por mim Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. [...] Em lugares distantes, Onde não há hospital, Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome Aos 27 anos Plantaram e colheram a cana Que viraria açúcar. Em usinas escuras, homens de vida amarga E dura Produziram este açúcar Branco e puro Com que adoço meu café esta manhã Em Ipanema. GULLAR, F. Toda Poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1980 (fragmento).
AMARAL, Tarsila do. O mamoeiro. 1925, óleo sobre tela, 65x70, IBE/USP
O modernismo brasileiro teve forte influência das vanguardas europeias. A partir da Semana de Arte Moderna, esses conceitos passaram a fazer parte da arte brasileira definitivamente. Tomando como referência o quadro O mamoeiro, identifica-se que, nas artes plásticas, a a) imagem passa a valer mais que as formas vanguardistas. b) forma estética ganha linhas retas e valoriza o cotidiano. c) natureza passa a ser admirada como um espaço utópico. d) imagem privilegia uma ação moderna e industrializada. e) forma apresenta contornos e detalhes humanos. 07. (Enem MEC)
HAGAR, o horrível. O Globo, Rio de Janeiro, 12 out. 2008.
Pela evolução do texto, no que se refere à linguagem empregada, percebe-se que a garota a) deseja afirmar-se como nora por meio de uma fala poética. b) utiliza expressões linguísticas próprias do discurso infantil. c) usa apenas expressões linguísticas presentes no discurso formal. d) se expressa utilizando marcas do discurso formal e do informal. e) usa palavras com sentido pejorativo para assustar o interlocutor. 647
C10 Teoria do texto
O desaparecimento gradual ou abrupto de partes importantes do patrimônio linguístico e cultural do país possui causas variadas. Segundo o professor Leonel, da região de Santo Antônio do Içá (AM), os idiomas indígenas sobreviventes estão ameaçados de extinção devido ao a) medo que as pessoas tinham de serem castigadas por falarem a sua língua. b) número reduzido de índios que continuam falando entre si nas suas reservas. c) contato com falantes de outras línguas e a imposição de um outro idioma. d) desaparecimento das reservas indígenas em decorrência da influência do branco. e) descaso dos governantes em preservar esse patrimônio cultural brasileiro.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C11
ASSUNTOS ABORDADOS nn Fábula nn A fábula e o público infantojuvenil nn Origens da fábula nn Exemplos de fábulas
FÁBULA Nos módulos destinados à produção textual, você aprenderá como redigir uma fábula moderna, quais elementos são obrigatórios, sua forma, estrutura e possíveis conteúdos. Já nas aulas de interpretação de texto, paralelamente à frente D, faremos a leitura e a interpretação de algumas fábulas. Mas antes, vamos relembrar o que é fábula. Fábula é uma palavra que vem do latim e significa “jogo” ou “narrativa”. Trata-se de um gênero que, geralmente, apresenta uma moral no final do texto. Com relação às suas características, podemos dizer que se trata de uma composição literária em prosa e, de maneira geral, bastante breve. Os personagens das fábulas são animais que se personificam, ou seja, adquirem características dos seres humanos.
A fábula e o público infantojuvenil A fábula é um espaço importante de disseminação de valores como a ética, a amizade e o respeito às diferenças. Por essa razão, as fábulas apresentam características didático-pedagógicas, logo, essenciais ao público infantojuvenil, já que abordam conflitos inerentes à vida dos seres humanos em sociedade de maneira lúdica.
Fonte: YanLev / Shutterstock.com
A explicitação da “Moral da história” também é outra característica que faz da fábula um gênero didático-pedagógico. A moral é uma interpretação ou análise breve a respeito da história e é exposta após o desfecho da narrativa. No entanto, é importante ressalvar que nem todas as fábulas apresentam a “Moral da história” ao final.
648
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Origens da fábula A fábula originou-se no Oriente Médio, no século VI a.C., e era transmitida oralmente. O gênero se expandiu e popularizou-se, sobretudo, na Grécia Antiga com Hesíodo, Arquíloco e, principalmente, Esopo. Muitos estudiosos acreditam que as personagens das fábulas consagraram-se como animais, porque elas surgiram em uma época quando a liberdade de expressão era limitada. Com intuito de criticar as formas de governo sem represálias, as fábulas emergiram como código para que os mais fracos pudessem contrapor-se aos mais fortes de forma subjetiva. As histórias de Esopo são cheias de mensagens em que os mais fortes podem ser enganados e os mais fracos podem, com alguma astúcia, vencer. A fábula permaneceu sob a tradição oral até a conquista da Grécia pelos romanos, quando Fedro as insere na literatura escrita. Atualmente, as fábulas de Esopo são as mais conhecidas, devido aos trabalhos do poeta francês Jean La Fontaine, que versificou essas fábulas, eternizando-as.
Exemplos de fábulas O lobo e o cordeiro Estava um Lobo a beber água num ribeiro, quando avistou um Cordeiro que também bebia da mesma água, um pouco mais abaixo. Mal viu o Cordeiro, o Lobo foi ter com ele de má cara, arreganhando os dentes. — Como tens a ousadia de turvar a água onde eu estou a beber? Respondeu o cordeiro humildemente: — Eu estou a beber mais abaixo, por isso não te posso turvar a água. — Ainda respondes, insolente! — retorquiu o lobo ainda mais colérico. — Já há seis meses o teu pai me fez o mesmo. Respondeu o Cordeiro: — Nesse tempo, Senhor, ainda eu não era nascido, não tenho culpa. — Sim, tens — replicou o Lobo —, que estragaste todo o pasto do meu campo. — Mas isso não pode ser — disse o Cordeiro —, porque ainda não tenho dentes. O Lobo, sem mais uma palavra, saltou sobre ele e logo o degolou e o comeu.
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 01 - Ilustração da fábula “O Lobo e o Cordeiro”
C11 Fábula
Moral da história: Claramente se mostra nesta Fábula que nenhuma justiça nem razões valem ao inocente para o livrarem das mãos de um inimigo poderoso e desalmado. Há poucas cidades ou vilas onde não haja estes Lobos que, sem causa nem razão, matam o pobre e lhe chupam o sangue, apenas por ódio ou má inclinação.
649
Português
Fonte: Wikimedia Commons
O leão e o macaco Um leão devorou sua caça tão depressa, com tanto apetite, que acabou ficando com um osso entalado na garganta. Cheio de dor, o leão começou a correr de um lado para outro rugindo, e ofereceu uma bela recompensa para quem tirasse o osso de sua garganta. Com pena do leão e com vontade de ganhar a recompensa, um macaco resolveu enfrentar o perigo. Depois de tirar o osso, quis saber onde estava a recompensa que o leão tinha prometido. – Recompensa? – berrou o leão. – Mas que macaco pechinchão! Que recompensa, que nada! Você enfiou a cabeça na minha boca e em vez de arrancar sua cabeça com uma dentada deixei que você a tirasse lá de dentro sem um arranhãozinho. Você não acha que tem muita sorte, seu bicho insolente! Dê o fora e se cuide para nunca mais chegar perto de minhas garras! Figura 02 - Leão e macaco correndo na savana
Moral: Não espere gratidão ao mostrar caridade para um inimigo. A rosa e a borboleta Uma vez uma borboleta se apaixonou por uma linda rosa. A rosa ficou comovida, pois o pó das asas da borboleta formava um maravilhoso desenho em ouro e prata. Assim, quando a borboleta se aproximou voando diante da rosa e disse que a amava, a rosa ficou coradinha e aceitou o namoro. Depois de um longo noivado e muitas promessas de fidelidade, a borboleta deixou sua amada rosa. Mas ó desgraça! A borboleta só voltou muito tempo depois. – É isso que você chama fidelidade? – choramingou a rosa. – Faz séculos que você partiu, e além disso você passa o tempo de namoro com todos os tipos de flores. Vi quando você beijou dona Gerânio, vi quando você deu voltinhas na dona Margarida até que dona Abelha chegou e expulsou você… Pena que ela não lhe deu uma boa ferroada! – Fidelidade!? – riu a borboleta. – Assim que me afastei, vi o senhor Vento beijando você. Depois você deu o maior escândalo com o senhor Zangão e ficou dando trela para todo besourinho que passava por aqui. E ainda vem me falar em fidelidade! Moral: Não espere fidelidade dos outros se não for fiel também.
C11 Fábula
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 03 - Uma borboleta pousa em uma rosa em um jardim
650
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
TAVARES, Flávia. Época. 2 de nov. 2015. n. 908. p. 20-21.
A identidade do narrador é evidenciada quando ele fala sobre: a) o pronunciamento do ministro da Agricultura da Alemanha em relação à SALSICHA. b) o percentual de riscos de câncer colorretal, revelando o malefício do CIGARRO. c) a declaração de amor dos internautas ao criarem a hashtag #FREEBACON. d) a origem do seu nome que se relaciona a back, do Inglês, e traduzida como LOMBO. 02. (Uerj RJ) O encontro marcado Eduardo e a vida sadia. Seu Marciano tornou-se sócio do clube, o filho praticava natação.
1
2
– Por que você não joga basquete? – sugeria Letícia. – Na-
tação é tão sem graça... 3
– Porque natação não depende de ninguém, só de mim.
4
Em seis meses era o melhor nadador de sua categoria, e
ameaçava já o recorde dos adultos. Uma espécie diferente de emoção – a de poder contar
5
consigo mesmo, e de se saber, numa
6
competição, ante-
cipadamente vencedor. Os entendidos sacudiam a cabeça, admirados: 7
– Quem diria, esse menino...
8
Era uma espécie de êxtase: fazer de simples prova de na-
tação, a que ninguém o obrigava, uma 9 disputa em que parecia empenhar o destino, fazer da arrancada final uma luta contra o cansaço, 10 em que a vida parecia querer prolongar-se além de si mesma. 11
Dia de competição. As luzes da piscina acesas, as arqui-
bancadas cheias. Ambiente de expectativa, 12 medo, alegria, excitação. Alto-falantes comandando ordens, convocando nadadores, apostas,
13
previsões, torcida, gritaria. Nada da
paz quase bucólica da piscina nos dias de treino – o rigor e 14 a monotonia dos exercícios, de manhã e de tarde, o longo, lento e meticuloso esforço durante 15 meses e meses, para ganhar décimos de segundo na luta contra o cronômetro. Refugiado no
16
vestiário, enrolado em cobertor, Eduardo
aguardava o momento de sua prova, ouvindo, lá fora, 17 os aplausos da multidão. Logo chegaria a sua vez. Chico, o roupeiro, aparecia para dar-lhe a 18 notícia da competição. 19
– Estamos ganhando. Daqui a pouco é você.
20
(...) Sua emoção se traduzia em longos bocejos, o medo
era quase náusea, a expectativa era 21 uma ilusória, persistente e irresistível vontade de urinar. A multidão voltava a aplaudir, lá fora. – 22 “Daqui a pouco é você”. Nunca saía do vestiário antes da hora de nadar. 23
– Quanto está a água hoje? – perguntava ao roupeiro.
24
Era o único nadador que não interrompia os treinos no
inverno, sozinho, a água gelada, a piscina 25 fechada aos sócios. (...) Nadar era difícil, ficava cada vez mais difícil... Onde quer que surgisse um
26
recordista, logo surgia outro para
abaixar-lhe o recorde. (...) 27
– Marciano, a sua vez! – vinham lhe avisar.
28
Nada a fazer. Ali estava ele, pronto para o sacrifício, con-
vocado como um condenado para a 29 execução. Ia seguindo em direção à mesa dos juízes, para assinar a súmula, sem olhar para os 30 lados. Sentia que todos os olhos o seguiam, ouvia vagamente os aplausos, procurava ignorar
31
tudo,
651
C11 Fábula
01. (Unirg TO) Então é assim? Eu, que sempre fui o gostosão, que te dei prazer em noites solitárias, em escapadinhas pecaminosas, fui rebaixado. Humilhado. Não que a fama de mau não me caia bem. Mas desta vez fui tachado de maligno. De cancerígeno. A Organização Mundial de Saúde (OMS) se organizou para me desmoralizar. Juntou 22 experts de dez países para avaliar 800 estudos sobre meus efeitos nos corpinhos e corpanzis mundo afora. A conclusão: há indícios suficientes nessas pesquisas para afirmar que, quanto mais você me come, maior seu risco de ter câncer. Muitos já suspeitavam que eu não fazia bem quando comido exageradamente – e meus fãs raramente são moderados. Agora, a OMS crava que a suspeita estava correta. Se você sucumbe a 50 gramas, ou duas míseras fatias, de minha delícia por dia, seu risco de câncer colorretal aumenta em 18%. Não satisfeitos, esses especialistas me colocaram na mesma categoria de substâncias vis, como o cigarro, o álcool e até o amianto. Aí, não. [...] Meu nome vem do francês e do alemão arcaicos, de palavras que remetiam a “back”, ou às costas do porco. Da barriga ou do lombo, estou aí derretendo e entupindo corações há séculos. [...] Enfim, a OMS rebaixou, junto comigo, boa parte de meus parentes. Salsicha, presunto, salame, linguiça... Estão todos desolados. Mais tristes do que Plutão depois de virar planeta-anão. O ministro da Agricultura da Alemanha, Christian Schmidt, foi solidário. Disse que ninguém deve ter medo de uma salsicha de vez em quando. Quem me conhece sabe que eu não poderia concordar mais. Milhares de admiradores se mobilizaram em minha defesa. Foram às redes sociais para gritar ao mundo, em CAPS LOCK, que nada vai atrapalhar nosso amor. Muitos preferem a morte. #FREEBACON. Fiquei comovido, galera. Valeu, mesmo!
Português Questão 02. Uma das repostas: • onisciente • em terceira pessoa Particularidade: o narrador expõe o pensamento, os sentimentos e os conflitos do personagem no momento que antecede a prova de natação.
concentrar-se. Vontade de dormir, de desistir, fugir, sair correndo, esquecer aquele
suplício. Medo. Os outros também se
32
26
Mas tenho um milagre, sim. O milagre das
andando pela rua e do vento me
sentiriam assim, fragilizados pela emoção, sucumbidos 33 pela
te nos cabelos. A
espera? Munira-se de alguns minutos de descanso e solidão,
30
29
28
27
folhas. Estou
cai uma folha exatamen-
incidência da linha de milhões de folhas
transformadas em uma única, e de milhões de
31
pessoas a
– era a sua reserva. Ali fora,
incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes
os nervos se esbandalhariam ante o que o aguardava – que
que passei a me 33 considerar modestamente a escolhida das 34
curtidos em agonia no vestiário viesse
35
34
imediatamente.
32
folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos 35 cabelos e guardo-
37
– Mostra a essa gente, Eduardo.
-a na bolsa, como o mais 36 diminuto diamante.
38
– É pra valer!
37
39
– Capricha, menino.
a folha seca, engelhada, 39 morta. Jogo-a fora: não me interessa
40
– Está bem, está bem...
fetiche 40 morto como lembrança. E também porque sei 41 que
41
Deslumbrado pela luz dos refletores, desprotegido e nu, ia
novas folhas coincidirão comigo.
caminhando para o sacrifício.
42
Fernando Sabino O encontro marcado. Rio de Janeiro: Record, 2012.
Sua emoção se traduzia em longos bocejos, o medo era quase
Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro 38 entre os objetos
Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei 43 Deus de uma
grande delicadeza. LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Organização e introdução. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187.
náusea, a expectativa era uma ilusória, persistente e irresistível vontade de urinar. A multidão voltava a aplaudir, lá fora. – “Daqui a pouco é você”. Nunca saía do vestiário antes da hora de
com ele. Às vezes, essas vozes vêm marcadas por um verbo
Identifique o foco narrativo do trecho acima e explique a parti-
discendi e por sinais gráficos, tais como dois pontos, aspas,
cularidade do seu emprego na exploração do tempo psicológi-
travessão, etc. Isso acontece, principalmente, na narrativa dita
co nesse episódio.
tradicional. Outras vezes, essas vozes aparecem muito sutil-
Texto comum às questões 03 e 04
mente e exigem maior atenção do leitor. Pondere sobre o seguinte excerto: “Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um
Não, nunca me acontecem milagres. Ouço 2 falar, e às vezes
objeto de estimação se quebraria.” (linhas 4-8). Nesse trecho
isso me basta como 3 esperança. Mas também me revolta: por
da crônica, ouve-se mais de uma voz camuflada pela voz do
1
que 4 não a mim? Por que só de ouvir falar? Pois já 5 cheguei a
enunciador. Reconheça a única voz que NÃO se manifesta no
ouvir conversas assim, sobre 6 milagres: “Avisou-me que, ao ser
trecho destacado.
dita 7 determinada palavra, um objeto de estimação 8 se que-
a) A primeira voz é a do enunciador da crônica que relata o que
braria”. Meus objetos se quebram 9 banalmente e pelas mãos das empregadas. 10
para os quais os seixos
13
12
séculos, e não daqueles
já vêm prontos, polidos e brancos.
Bem que 14 tenho visões fugitivas antes de adormecer – 15 seria milagre? Mas já me foi tranquilamente 16 explicado que isso até nome tem: cidetismo alucinatório as
18
17
(sic), capacidade de projetar no
imagens inconscientes. LISPECTOR, Clarice.
In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Organização e introdução. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187. 19
lhe foi dito por alguém. b) Para fazer o relato do que lhe foi dito ele se vale do discurso
Até que fui obrigada a chegar à conclusão 11 de que sou da-
queles que rolam pedras durante
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de
vivo de linhas que incidem uma C11 Fábula
além da voz do enunciador, contradizendo-o ou concordando
nadar. (Refs. 20-22)
O milagre das folhas
cruzamento formam
22
21
20
coincidências,
na outra e se cruzam e no
um leve e instantâneo ponto, tão leve
e 23 instantâneo que mais é feito de pudor e 24 segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando
652
03. (UECE) Geralmente, em um texto, detectam-se outras vozes
25
em nada.
indireto. c) A segunda voz é a de alguém que fala sobre milagre ao enunciador da crônica. d) Ouve-se a voz de quem, como terceira voz, deu à segunda voz informações sobre milagre. 04. (UECE) Os dois últimos parágrafos do texto constituem uma sequência a) argumentativa, que dá um toque de intelectualidade ao texto. b) descritiva, que confere a tonalidade de leveza exigida pelo gênero crônica. c) narrativa, que empresta ao texto o cunho do cotidiano, imprescindível para a crônica. d) injuntiva (exprime uma ordem), que torna a crônica mais ágil, porque põe as personagens em interação.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 02. Entende-se por dogmatismo a imposição de uma verdade tida como universal, ou seja, a incapacidade de aceitar diferentes visões sobre um mesmo fato. A univocidade inexiste em Mayombe, porque há a polifonia, ou seja, a coexistência de diversos narradores, cada um deles expressando seu ponto de vista, sua maneira peculiar de entender a realidade. Esse confronto de pontos de vista impede o dogmatismo.
Exercícios Complementares
CAPÍTULO LIII ....... 1 Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda 2 ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha 3 vida, no meu pensamento;—era o que dizia, e era verdade. 4 Há umas plantas que nascem e crescem depressa; 5 outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; 6 brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, 7 era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques. 8 Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou esse 9 crescimento. Lembrame, sim, que, em certa noite, 10 abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo 11 que ela me deu, trêmula,—coitadinha,—trêmula de medo, 12 porque era ao portão da chácara. Uniunos esse beijo único, 13 — breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de 14 uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres 15 que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em 16 alegria,— uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio 17 de uma paixão sem freio,—vida de agitações, de cóleras, de 18 desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de 19 sobra; mas outra hora vinha e engolia aquela, como tudo 20 mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do 21 resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o livro daquele 22 prólogo. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
No último período do texto, o ritmo que o narrador imprime ao relato de seus amores corresponde sobretudo ao que se encontra expresso em a) “prólogo de uma vida de delícias” (Refs. 13-14). b) “prazeres que rematavam em dor” (Refs. 14-15). c) “hipocrisia paciente e sistemática” (Ref. 16). d) “paixão sem freio” (Ref. 17). e) “o livro daquele prólogo” (Refs. 21-22). 02. (Fuivest SP) Leia o excerto de Mayombe, de Pepetela, no qual as personagens “dirigente” e Comandante Sem Medo discutem o comportamento do combatente chamado Mundo Novo. As indicações [d] e [C] identificam, respectivamente, as falas iniciais do “dirigente” e do Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo. [d] (...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas tu ser dogmático? [C] – Ser dogmático? Sabes tão bem como eu. – Depende, as palavras são relativas. Sem Medo sorriu. – Tens razão, as palavras são relativas. Ele é demasiado rígido na sua concepção da disciplina, não vê as condições existentes, quer aplicar o esquema tal qual o aprendeu. A isso eu chamo dogmático, penso que é a verdadeira acepção da palavra. A sua verdade é absoluta e toda feita, recusa-se a pô-la em dúvida, mesmo que fosse para a discutir e a refor-
çar em seguida, com os dados da prática. Como os católicos que recusam pôr em dúvida a existência de Deus, porque isso poderia perturbá-los. – E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são absolutas? – Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve uma educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer um esforço para evitar de engolir como verdade universal qualquer constatação particular. Disponível em: http://www.mabnacional.org.br. Acesso em 15/10/2013.
No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu modo de organizar e distribuir o discurso narrativo, emprega-se algum recurso para evitar que o próprio romance, considerado no seu conjunto, recaia no dogmatismo criticado no excerto? Explique resumidamente. 03. (Unemat MT) Neurociência Paraplégico volta a andar após cirurgia revolucionária Graças a um transplante de células da cavidade nasal, búlgaro Darek Fidyka, de 40 anos, recuperou um rompimento total dos nervos da coluna vertebral. Feito é comparado à chegada do homem à Lua Um homem paraplégico voltou a andar graças a um transplante de células nervosas realizado na Polônia, em uma operação sem precedentes. Derek Fidyka, um búlgaro de 40 anos, é a primeira pessoa do mundo a se recuperar de um rompimento total dos nervos da coluna vertebral. Ele recebeu um transplante de células de sua cavidade nasal para a medula espinhal e, após reabilitação de um ano, ele pode caminhar com o auxílio de um andador – Fidyka também recuperou algumas funções da bexiga e do intestino. “Para mim, isto é ainda mais impressionante do que um homem caminhando na Lua”, afirmou Geoffrey Raisman, professor do Instituto de Neurologia do University College de Londres (UCL), na Inglaterra, e um dos autores do estudo publicado na revista Cell Transplantation. [...] A cirurgia foi realizada por uma equipe médica polonesa, coordenada pelo neurocirurgião Pawel Tabakow, da Universidade de Wroclaw, na Polônia, um dos maiores especialistas em lesões medulares do mundo. Os médicos utilizaram células nervosas do nariz do paciente a partir das quais se desenvolveram os tecidos seccionados – o complexo circuito responsável pelo olfato é a única parte do sistema nervoso que se regenera durante toda a vida e foi essa característica que os cientistas procuraram reproduzir na lesão de Fidyka. As células do próprio paciente não seriam rejeitadas e o tecido medular poderia ser reparado.
653
C11 Fábula
01. (Fuvest SP)
Português
A técnica de transplante, descoberta na UCL, apresentou bons resultados em laboratório, mas nunca havia sido testada com sucesso em um ser humano. Na primeira das duas operações, os cirurgiões removeram os bulbos olfativos do paciente e fizeram as células crescer em cultura. Duas semanas depois, foi feito o transplante de medula por meio de microinjeções. Fidyka manteve seu programa de condicionamento – cinco horas de exercícios durante os cinco dias da semana – e percebeu que a cirurgia havia sido bem sucedida quando, após três meses, sua coxa esquerda começou a desenvolver músculos. Seis meses depois, deu seus primeiros passos com o apoio de fisioterapeutas. Agora, após dois anos, caminha apenas com o andador. De acordo com os cientistas, exames mostraram que a lacuna na medula espinhal do paciente se fechou após o tratamento. “Nós acreditamos que o procedimento é uma descoberta capital que, se for bem desenvolvida, constituirá uma mudança histórica para as pessoas que sofrem de ferimentos na coluna cerebral”, declarou Raisman. (Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/ paraplegicovolta- a-andar-apos-cirurgia-revolucionaria. Acesso em 21/10/2014)
C11 Fábula
Ainda em relação ao texto “Paraplégico volta a andar após cirurgia revolucionária”, a utilização de discurso direto, a abundância de sequenciadores temporais e o predomínio de verbos no pretérito contribuem para que o texto seja classificado na tipologia a) Descritiva. b) Argumentativa. c) Expositiva. d) Injuntiva. e) Narrativa. 04. (UFRR) Eu não sabia nada de mim, como vim ao mundo, de onde tinha vindo. A origem: as origens. Meu passado, de alguma forma palpitando na vida dos meus antepassados, nada disso eu sabia. Minha infância, sem nenhum sinal da origem. É como esquecer uma criança dentro de um barco num rio deserto, até que uma das margens a acolhe. Anos depois, desconfiei: um dos gêmeos era meu pai. Domingas disfarçava quando eu tocava no assunto; deixava-me cheio de dúvida, talvez pensando que um dia eu pudesse descobrir a verdade. Eu sofria com o silêncio dela; nos nossos passeios, quando me acompanhava até o aviário da Matriz ou a beira do rio, começava uma frase mas logo interrompia e me olhava, aflita, vencida por uma fraqueza que coíbe a sinceridade. Muitas vezes ela ensaiou, mas titubeava, hesitava e acabava não dizendo. Quando eu fazia a pergunta, seu olhar logo me silenciava, e eram olhos tristes. (...) A área que contorna o porto estava silenciosa. Na calçada da rua dos Barés dormiam famílias do interior. Vi a loja fechada e apontei o depósito, onde Halim, encostado à janelinha, contara trechos de sua vida. Minha mãe quis sentar na mureta que dá para o rio escuro. Ficou calada por uns minutos, até a claridade sumir de vez. “Quando tu nasceste”, ela disse, “seu Halim
654
me ajudou, não quis me tirar da casa... Me prometeu que ias estudar. Tu eras neto dele, não ia te deixar na rua. Ele foi ao teu batismo, só ele me acompanhou. E ainda me pediu para escolher teu nome. Nael, ele me disse, o nome do pai dele. Eu achava um nome estranho, mas ele queria muito, eu deixei... Seu Halim. Parece que a vida se entortou também para ele... Eu sentia que o velho gostava muito de ti. Acho que gostava até dos filhos. Mas reclamava do Omar, dizia que o filho tinha sufocado a Zana.” Senti suas mãos no meu braço; estavam suadas, frias. Ela me enlaçou, beijou meu rosto e abaixou a cabeça. Murmurou que gostava tanto de Yaqub... Desde o tempo em que brincavam, passeavam. Omar ficava enciumado quando via os dois juntos, no quarto, logo que o irmão voltou do Líbano.” Com o Omar eu não queria... Uma noite ele entrou no meu quarto, fazendo aquela algazarra, bêbado, abrutalhado... Ele me agarrou com força de homem. Nunca me pediu perdão”. HATOUM, Milton. Dois Irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. p. 54, 183-184.
O narrador da obra Dois Irmãos, de Milton Hatoum é: a) narrador personagem, com perfil de protagonista; b) narrador personagem, com perfil de testemunha; c) narrador onisciente, assumindo uma postura de neutralidade em relação aos fatos narrados; d) narrador onisciente, assumindo uma postura parcial em relação aos fatos narrados; e) narrador observador, relatando os fatos sem participar deles. 05. (UECE) O texto é um excerto de Baú de Ossos (volume 1), do médico e escritor mineiro Pedro Nava. Inclui-se essa obra no gênero memorialístico, que é predominantemente narrativo. Nesse gênero, são contados episódios verídicos ou baseadas em fatos reais, que ficaram na memória do autor. Isso o distingue da biografia, que se propõe contar a história de uma pessoa específica. 1 O meu amigo Rodrigo Melo Franco de 2 Andrade é autor do conto “Quando minha avó 3 morreu”. Sei por ele que é uma história 4 autobiográfica. Aí Rodrigo confessa ter passado, 5 aos 11 anos, por fase da vida em que se sentia 6 profundamente corrupto. Violava as promessas 7 feitas de noite a Nossa Senhora; mentia 8 desabridamente; faltava às aulas para tomar 9 banho no rio e pescar na Barroca com 10 companheiros vadios; furtava pratinhas de dois 11 mil-réis... Ai! de mim que mais cedo que o 12 amigo também abracei a senda do crime e 13 enveredei pela do furto... Amante das artes 14 plásticas desde cedo, educado no culto do belo, 15 eu não pude me conter. Eram duas coleções de 16 postais pertencentes a minha prima Maria Luísa 17 Palleta. Numa, toda a vida de Paulo e Virgínia – 18 do idílio infantil ao navio desmantelado na 19 procela. Pobre Virgínia, dos cabelos 20 esvoaçantes! Noutra, a de Joana d’Arc, desde os 21 tempos de pastora e das vozes ao da morte. 22 Pobre Joana dos cabelos em chama! Não resisti. 23 Furtei, escondi e depois de longos êxtases, com24 medo, joguei tudo fora. Terceiro roubo, terceira 25 coleção de postais – a que um carcamano, 26 chamado Adriano Merlo, escrevia a uma de 27 minhas tias. Os cartões eram fabulosos. Novas 28 contemplações solitárias e piquei tudo de latrina
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
(Pedro Nava. Baú de ossos. Memórias 1. p. 308 a 310.)
O texto de Pedro Nava tem uma estrutura linguística que se pode demarcar com facilidade. Atente ao que se diz sobre essa estrutura. I. Uma das possíveis divisões dessa estrutura é a seguinte: a primeira parte, da referência 1 à referência 11 (“mil réis”); a segunda parte, da referência 11 (“Ai! de mim”) até a referência 47 (“cédula”); a terceira parte, da referência 47 (“Eu fiquei”) à referência 52 (“cesto”). II. Essa divisão apresenta uma lógica interna: o texto começa com a referência a um amigo do enunciador, cujos crimes serão comparados com os crimes desse enunciador; segue com a relação dos delitos cometidos pelo enunciador e termina com o relato da remissão desse enunciador pelas transgressões por ele praticadas quando criança. III. O emprego do pretérito imperfeito do indicativo, entre as referências 5 e 10, indica que as ações expressas por esses verbos são ações que se repetem (aspecto iterativo ou frequentativo). Está correto o que se diz em a) II e III apenas. b) I e III apenas. c) I e II apenas. d) I, II e III. 06. (Unesp SP) Memória e tecnologia Estava em um aeroporto quando testemunhei uma cena que me fez pensar bastante. Um garoto de mais ou menos 10 anos andava para lá e para cá muito aflito, sem saber para onde ir, e estava quase caindo no choro. Fui em sua direção para tentar ajudar, mas um casal chegou antes e pude ouvir a conversa deles.
O garoto estava no aeroporto com a família de um amigo porque eles iriam viajar para uma praia. Ele havia saído de onde estava para comprar um lanche e não conseguiu mais encontrar o grupo. E aí vem a parte mais interessante para refletirmos. O casal aquietou o garoto e disse que bastava o menino informar o número do telefone que eles ligariam para o amigo. O garoto, que tinha um celular e o deixara com o colega, não sabia de memória nenhum número, nem o seu. “Está tudo no meu celular”, justificou. Claro que, com a ajuda do casal, não foi difícil o garoto se reunir com o seu grupo. O fato, porém, me deu o que pensar. Imediatamente me lembrei de que, quando criança, meus pais me fizeram decorar a seguinte frase: “Meu nome é Rosely Sayão, eu moro na Rua Jaceguai, 462, São Paulo, Capital”. Eles achavam São Paulo uma cidade em que uma criança se perderia com muita facilidade e, cuidadosos, tentaram garantir que eu tivesse informações para que, caso me perdesse, tivesse condições mínimas para encontrá-los. Hoje, com tantos recursos tecnológicos, delegamos a esses aparelhos maravilhosos muito do serviço que fazíamos antes da existência deles. Quantas coisas deixamos de ensinar às crianças porque a tecnologia resolve isso por nós. Não mais ensinamos a elas, por exemplo, que é muito perigoso abrirem a porta do carro em movimento, porque elas estão protegidas pelas travas; não as alertamos para os riscos de uma queda de local alto, porque estão protegidas pelas grades, e assim por diante. Não ensinamos mais as crianças a memorizar números de telefones, porque os aparelhos têm cada vez mais memória, justamente para guardar o que antes era responsabilidade da memória humana. Mas, quando deixamos a cargo do funcionamento dos aparelhos essas e outras tarefas, não consideramos que a vida é feita de falhas – humanas e mecânicas – de inesperados, de acontecimentos inusitados. E, que nesses momentos, o que conta é o conhecimento que a pessoa guardou consigo. Em educação, os detalhes são importantes. Por isso é necessário ajudar os mais novos a perceber a importância da memorização de informações que a família considera essenciais e do autocuidado, que inclui as noções de risco e de autoproteção. Afinal, aparelhos falham. (Rosely Sayão. Folha de S. Paulo, 04.02.2014. Adaptado)
Os três parágrafos iniciais do texto constituem trecho, predominantemente, a) narrativo, visto que a autora expõe sua opinião sobre a dependência da tecnologia. b) narrativo, pois a autora relata a situação vivida pelo garoto que se perdeu no aeroporto. c) descritivo, porque a autora testemunha o conflito do rapaz e se propõe a refletir sobre o fato. d) dissertativo, pois a autora menciona o desespero do adolescente e apresenta características físicas do garoto. e) dissertativo, visto que a autora compara sua família à do garoto que se perdeu dos amigos. 655
C11 Fábula
abaixo. Mas o mais grave foi o roubo de uma 30 nota de cinco mil-réis, do patrimônio da própria 31 Inhá Luísa. De posse dessa fortuna nababesca, 32 comprei um livro e uma lâmpada elétrica de 33 tamanho desmedido. Fui para o parque Halfeld 34 com o butim de minha pirataria. Joguei o troco 35 num bueiro. Como ainda não soubesse ler, 36 rasguei o livro e atirei seus restos em um 37 tanque. A lâmpada, enorme, esfregada, não fez 38 aparecer nenhum gênio. Fui me desfazer de 39 mais esse cadáver na escada da Igreja de São 40 Sebastião. Lá a estourei, tendo a impressão de 41 ouvir os trovões e o morro do Imperador 42 desabando nas minhas costas. Depois dessa 43 série de atos gratuitos e delitos inúteis, voltei 44 para casa. Raskólnikov. O mais estranho é que 45 houve crime, e não castigo. Crime perfeito. 46 Ninguém desconfiou. Minha avó não deu por 47 falta de sua cédula. Eu fiquei por conta das 48 Fúrias de um remorso, que me perseguiu toda a 49 infância, veio comigo pela vida afora, com a 50 terrível impressão de que eu poderia reincidir 51 porque vocês sabem, cesteiro que faz um 52 cesto... Só me tranquilizei anos depois, já 53 médico, quando li num livro de Psicologia que só 54 se deve considerar roubo o que a criança faz 55 com proveito e dolo. O furto inútil é fisiológico e 56 psicologicamente normal. Graças a Deus! Fiquei 57 absolvido do meu ato gratuito... 29
FRENTE
C
PORTUGUÊS
MÓDULO C12
ASSUNTOS ABORDADOS nn Conto nn Narradores do conto nn Leitura e interpretação
CONTO Paralelamente à frente D (Produção Textual), vamos, na frente de Interpretação Textual, trabalhar também com o conto. No entanto, não nos focaremos na sua capacidade de produção, que será desenvolvida em outra frente. Nestas aulas, vamo-nos dedicar à interpretação de contos, procurando desvendar os mais complexos enredos. O conto é um gênero textual em prosa no qual predomina a tipologia narrativa. Em segundo plano, também não é difícil encontrar as tipologias descritiva e dialogal nessas produções textuais. Trata-se de um gênero cuja origem é a própria oralidade. Uma das primeiras manifestações de comunicação se dava por meio do conto, isto é, por meio da narração de uma história. Supõe-se que esse gênero tenha surgido a partir de relatos do cotidiano do grupo de caçadores de uma aldeia, em volta de uma fogueira, reunindo todos da tribo. O conto, diferente da novela e do romance, possui só um conflito e um clímax, que encaminha para o desfecho. Normalmente, devido a isso, sua duração é pequena. Alguns podem durar algumas horas, mas dificilmente há contos cujo enredo se passe em mais de uma semana. Há, porém, contos que usam da estratégia do flashback, uma espécie de retorno ao passado, utilizado para trazer esclarecimentos sobre o presente. A temática dos contos é muito variável. Pode envolver personagens reais ou fictícios, humanos ou animais. Veja abaixo mais algumas características desse gênero: nn É
Fonte: Vojtech Mucha / Shutterstock.com
Figura 01 - Pessoas em volta de uma fogueira contando histórias
uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa. nn Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho. nn Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação. nn As ações, geralmente, se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito. nn O eixo narrativo do conto prima pela concisão, precisão e densidade. nn Deve surtir no leitor uma unidade de efeito ou impressão total.
656
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Narradores do conto
– Você não dá é porque não tem, não é, moço?
nn Narrador-personagem:
narrador que participa da história, envolvendo-se diretamente com as demais personagens. nn Narrador-observador: narrador que não participa da história. Apenas narra os detalhes que observa. nn Narrador-onisciente: assim como o narrador observador, ele não participa da história, no entanto, ele faz mais que observar, ele pode adentrar e desvendar os pensamentos do protagonista. nn Narrador-onisciente-prismático: diferentemente do narrador, que adentra somente nos pensamentos do protagonista, o narrador-onisciente-prismático desvenda e revela o que se passa nas mentes de várias personagens do conto.
Leitura e interpretação Agora é a sua vez. A partir das características sumárias que destacamos anteriormente, faça um exercício mental e, a partir dos dois contos a seguir, procure comprová-las. Pense em qual tipo de narrador há em cada conto, pense em como o enredo se constrói, nas personagens, no ambiente, no tempo e no clímax. E o mais importante, divirta-se, pois literatura é uma arte, literatura é entretenimento. Teleco, o coelhinho “Três coisas me são difíceis de entender, e uma quarta eu a ignoro completamente: o caminho da águia no ar, o caminho da cobra sobre a pedra, o caminho da nau no meio do mar, e o caminho do homem na sua mocidade.” (Provérbios, XXX, 18 e 19)
– Moço, me dá um cigarro? A voz era sumida, quase um sussurro. Permaneci na mesma posição em que me encontrava, frente ao mar, absorvido com ridículas lembranças. O importuno pedinte insistia: – Moço, oh! Moço! Moço me dá um cigarro? Ainda com os olhos fixos na praia, resmunguei: Vá embora, moleque, senão chamo a polícia. – Está bem, moço. Não se zangue. E, por favor; saia da minha frente, que eu também gosto de ver o mar. Exasperou-me a insolência de quem assim me tratava e virei-me, disposto a escorraçá-lo com um pontapé. Fui desarmado, entretanto. Diante de mim estava um coelhinho cinzento, a me interpelar delicadamente:
O seu jeito polido de dizer as coisas comoveu-me. Dei-lhe o cigarro e afastei-me para o lado, a fim de que melhor ele visse o oceano. Não fez nenhum gesto de agradecimento, mas já então conversávamos como velhos amigos. Ou, para ser mais exato somente o coelhinho falava. Contava-me acontecimentos extraordinários, aventuras tamanhas que o supus com mais idade do que realmente aparentava. Ao fim da tarde, indaguei onde ele morava. Disse não ter morada certa. A rua era o seu pouso habitual. Foi nesse momento que reparei nos seus olhos. Olhos mansos e tristes. Deles me apiedei e convidei-o a residir comigo. A casa era grande e morava sozinho acrescentei. A explicação não o convenceu. Exigiu-me que revelasse minhas reais intenções: Por acaso, o senhor gosta de carne de coelho? Não esperou pela resposta: – Se gosta, pode procurar outro, porque a versatilidade é o meu fraco. Dizendo isto, transformou-se numa girafa. – A noite – prosseguiu – serei cobra ou pombo. Não lhe importará a companhia de alguém tão instável? Respondi-lhe que não e fomos morar juntos. Chamava-se Teleco. Depois de uma convivência maior, descobri que a mania de metamorfosear-se em outros bichos era nele simples desejo de agradar ao próximo. Gostava de ser gentil com crianças e velhos, divertindo-os com hábeis malabarismos ou prestando-lhes ajuda. O mesmo cavalo que, pela manhã, galopava com a gurizada, à tardinha, em lento caminhar, conduzia anciãos ou inválidos às suas casas. Não simpatizava com alguns vizinhos, entre eles o agiota e suas irmãs, aos quais costumava aparecer sob a pele de leão ou tigre. Assustava-os mais para nos divertir que por maldade. As vítimas assim não entendiam e se queixavam à polícia, que perdia o tempo ouvindo as denúncias. Jamais encontraram em nossa residência, vasculhada de cima a baixo, outro animal além do coelhinho. Os investigadores irritavam-se com os queixosos e ameaçavam prendê-los. Apenas uma vez tive medo de que as travessuras do meu irrequieto companheiro nos valessem sérias complicações. Estava recebendo uma das costumeiras visitas do delegado, quando Teleco, movido por imprudente malícia, transformou-se repentinamente em porco-do-mato. A mudança e o retorno ao primitivo estado foram bastante rápidos para que o homem tivesse tempo de gritar. Mal abrira a boca, horrorizado, novamente tinha diante de si um pacifico coelho: 657
C12 Conto
O narrador é, certamente, a figura mais importante do conto. Na tradição oral, o narrador era quem contava a história aos ouvintes. Veja abaixo os tipos de narradores do conto:
Português
O senhor viu o que eu vi? Respondi, forçando uma cara inocente, que nada vira de anormal. O homem olhou-me desconfiado, alisou a barba e, sem se despedir, ganhou a porta da rua. A mim também me pregava peças. Encontrava-se vazia a casa, já sabia que ele andava escondido em algum canto, dissimulado em algum pequeno animal. Ou mesmo no meu corpo sob a forma de pulga, fugindo-me dos dedos, correndo pelas minhas costas. Quando começava a me impacientar e pedia-lhe que parasse com a brincadeira, não raro levava tremendo susto. Debaixo das minhas pernas crescera um bode que, em disparada, me transportava até o quintal. Eu me enraivecia, prometia-lhe uma boa surra. Simulando arrependimento, Teleco dirigia-me palavras afetuosas e logo fazíamos as pazes. No mais, era o amigo dócil, que nos encantava com inesperadas mágicas. Amava as cores e muitas vezes surgia transmudado em ave de todas as espécies inteiramente desconhecidas ou de raça já extinta. Não existe pássaro assim! Sei. Mas seria insípido disfarçar-me somente em animais conhecidos. O primeiro atrito grave que tive com Teleco ocorreu um ano após nos conhecermos. Eu regressava da casa da minha cunhada Emi, com quem discutira asperamente sobre negócios de família. Vinha mal-humorado e a cena que deparei ao abrir a porta da entrada, agravou minha irritação. De mãos dadas, sentados no sofá da sala de visitas, encontravam-se uma jovem mulher e um mofino canguru. As roupas dele eram mal talhadas, seus olhos se escondiam por trás de uns óculos de metal ordinário. O que deseja a senhora com esse horrendo animal? – perguntei, aborrecido por ver minha casa invadida por estranhos. – Eu sou o Teleco – antecipou-se, dando uma risadinha.
C12 Conto
Mirei com desprezo aquele bicho mesquinho, de pêlos ralos, a denunciar subserviência e torpeza. Nada nele me fazia lembrar o travesso coelhinho. Neguei-me a aceitar como verdadeira a afirmação, pois Teleco não sofria da vista e se quisesse apresentar-se vestido teria o bom gosto de escolher outros trajes que não aqueles. Ante a minha incredulidade, transformou-se numa perereca. Saltou por cima dos móveis, pulou no meu colo. Lancei-a longe, cheio de asco. 658
Retomando a forma de canguru, inquiriu-me, com um ar extremamente grave: – Basta esta prova? – Basta. E daí? O que você quer? -De hoje em diante serei apenas homem. -Homem? – indaguei atônito. Não resisti ao ridículo da situação e dei uma gargalhada: – E isso? Apontei para a mulher. É uma lagartixa ou um filhote de salamandra? Ela me olhou com raiva. Quis retrucar, porém ele atalhou: – É Tereza. Veio morar conosco. Não é linda? Sem dúvida, linda. Durante a noite, na qual me faltou o sono, meus pensamentos giravam em torno dela e da cretinice de Teleco em afirmar-se homem. Levantei-me de madrugada e me dirigi à sala, na expectativa de que os fatos do dia anterior não passassem de mais um dos gracejos do meu companheiro. Enganava-me. Deitado ao lado da moça, no tapete do assoalho, o canguru ressonava alto. Acordei-o, puxando-o pelos braços: – Vamos, Teleco, chega de trapaça. Abriu os olhos, assustado, mas, ao reconhecer-me, sorriu: – Teleco?! Meu nome é Barbosa, Antônio Barbosa, não é, Tereza? Ela, que acabara de despertar, assentiu, movendo a cabeça. Explodi, encolerizado: – Se é Barbosa, rua! E não me ponha mais os pés aqui, filho de um rato! Desceram-lhe as lágrimas pelo rosto e, ajoelhado, na minha frente, acariciava minhas pernas, pedindo-me que não o expulsasse de casa, pelo menos enquanto procurava emprego. Embora encarasse com ceticismo a possibilidade de empregar-se um canguru, seu pranto me demoveu da decisão anterior, ou, para dizer a verdade toda, fui persuadido pelo olhar súplice de Tereza que, apreensiva, acompanhava o nosso diálogo. Barbosa tinha hábitos horríveis. Amiúde cuspia no chão e raramente tomava banho, não obstante a extrema vaidade que o impelia a ficar horas e horas diante do espelho. Utilizava-se do meu aparelho de barbear, da minha escova de dente e pouco serviu comprar-lhe esses objetos, pois continuou a usar os meus e os dele. Se me queixava do abuso, desculpava-se, alegando distração.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Por outro lado, custava tolerar suas mentiras e, às refeições, a sua maneira ruidosa de comer, enchendo a boca de comida com auxílio das mãos. Talvez por ter-me abandonado aos encantos de Tereza, ou para não desagradá-la, o certo é que aceitava, sem protesto, a presença incômoda de Barbosa. Se afirmava ser tolice de Teleco querer nos impor sua falsa condição humana, ela me respondia com uma convicção desconcertante: – Ele se chama Barbosa e é um homem. O canguru percebeu o meu interesse pela sua companheira e, confundindo a minha tolerância como possível fraqueza, tornou-se atrevido e zombava de mim quando o recriminava por vestir minhas roupas, fumar dos meus cigarros ou subtrair dinheiro do meu bolso. Em diversas ocasiões, apelei para a sua frouxa sensibilidade, pedindo-lhe que voltasse a ser coelho. Voltar a ser coelho? Nunca fui bicho. Nem sei de quem você fala. – Falo de um coelhinho cinzento e meigo, que costumava se transformar em outros animais. Nesse meio tempo, meu amor por Tereza oscilava por entre pensamentos sombrios, e tinha pouca esperança de ser correspondido. Mesmo na incerteza, decidi propor-lhe casamento. Fria, sem rodeios, ela encerrou o assunto:
Indignado, separei-os. Agarrei o canguru pela gola e, sacudindo-o com violência, apontava-lhe o espelho da sala: -É tu, não é um animal? -Não, sou um homem! – E soluçava, esperneando, morto de medo pela fúria que via nos meus olhos. A Tereza, que acudira, ouvindo seus gritos, pedia: – Não sou um homem, querida? Fala com ele: -Sim, amor, você é um homem. Por mais absurdo que me parecesse, havia uma trágica sinceridade na voz deles. Eu me decidira, porém. Joguei Barbosa ao chão e lhe esmurrei a boca. Em seguida, enxotei-os. Ainda da rua, muito excitada, ela me advertiu: – Farei de Barbosa um homem importante, seu porcaria! Foi a última vez que os vi. Tive, mais tarde, vagas notícias de um mágico chamado Barbosa a fazer sucesso na cidade. A falta de maiores esclarecimentos, acreditei ser mera coincidência de nomes. A minha paixão por Tereza se esfumara no tempo e voltara o interesse pelos selos. As horas disponíveis eu as ocupava com a coleção. Estava, uma noite, precisamente colando exemplares raros, recebidos na véspera, quando saltou, janela adentro, um cachorro. Refeito do susto, fiz menção de correr o animal. Todavia não cheguei a enxotá-lo. – Sou o Teleco, seu amigo, afirmou, com uma voz excessivamente trêmula e triste, transformando-se em uma cotia. -E ela? Perguntei com simulada displicência.
– A sua proposta é menos generosa do que você imagina. Ele vale muito mais.
-Tereza… sem que concluísse a frase, adquiriu as formas de um pavão.
As palavras usadas para recusar-me convenceram-me de que ela pensava explorar de modo suspeito às habilidades de Teleco.
Havia muitas cores… O circo… Ela estava linda… Foi horrível… Prosseguiu, chocalhando os guizos de uma cascavel.
Frustrada a tentativa do noivado, não podia vê-los juntos e íntimos, sem assumir uma atitude agressiva.
-O uniforme… muito branco… cinco cordas… amanhã serei homem… – as palavras saíam-lhe espremidas, sem nexo, à medida que Teleco se metamorfoseava em outros animais.
O canguru notou a mudança no meu comportamento e evitava os lugares onde me pudesse encontrar. Uma tarde, voltando do trabalho, minha atenção foi alertada pelo som ensurdecedor da eletrola, ligada com todo o volume. Logo ao abrir a porta, senti o sangue afluir-me à cabeça: Tereza e Barbosa, os rostos colados, dançavam um samba indecente.
Seguiu-se breve silêncio, antes que voltasse a falar:
Por um momento, ficou a tossir Uma tosse nervosa. Fraca, a princípio, ela avultava com as mutações dele em bichos maiores, enquanto eu lhe suplicava que se aquietasse. Contudo ele não conseguia controlar-se. Debalde tentava exprimir-se. Os períodos saltavam curtos e confusos.
659
C12 Conto
Também a sua figura tosca me repugnava. A pele era gordurosa, os membros curtos, a alma dissimulada. Não media esforços para me agradar, contando-me anedotas sem graça, exagerando nos elogios à minha pessoa.
Português
– Pare com isso e fale mais calmo – insistia eu, impaciente com as suas contínuas transformações. – Não posso, tartamudeava, sob a pele de um lagarto. Alguns dias transcorridos perdurava o mesmo caos. Pelos cantos, a tremer, Teleco se lamuriava, transformando-se seguidamente em animais os mais variados. Gaguejava muito e não podia alimentar-se, pois a boca, crescendo e diminuindo, conforme o bicho que encarnava na hora, nem sempre combinava com o tamanho do alimento. Dos seus olhos, então, escorriam lágrimas que, pequenas nos olhos miúdos de um rato, ficavam enormes na face de um hipopótamo. Ante a minha impotência em diminuir-lhe o sofrimento, abraçava-me a ele, chorando. O seu corpo, porém, crescia nos meus braços, atirando-me de encontro à parede. Não mais falava: mugia, crocitava, zurrava, guinchava, bramia, triscava. Por fim, já menos intranquilo, limitava as suas transformações a pequenos animais, até que se fixou na forma de um carneirinho, a balir tristemente. Colhi-o nas mãos e senti que seu corpo ardia em febre, transpirava. Na última noite, apenas estremecia de leve e, aos poucos, se aquietou. Cansado pela longa vigília, cerrei os olhos e adormeci. Ao acordar, percebi que uma coisa se transformara nos meus braços. No meu colo estava uma criança encardida, sem dentes. Morta.
C12 Conto
Figura 02 - Da esquerda para a direita, um coelho e um canguru
660
Fonte: Wikimedia Commons
Obra Completa, Murilo Rubião
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
“I love you, yeah, yeah... Now and forever” eram os últimos versos de uma canção do fim dos anos 70. Eu gostava de música, de sair da realidade... Sentia a brisa beijar meu rosto, o sol abraçar-me o corpo e, encostado num poste, na T-53, deixava minha mente viajar. Eu corria por um parque e deitava numa grama verde; o cheiro molhado do orvalho levava-me a sonhar... Eu podia ficar deitado naquela imensidão verde para sempre. Havia acabado uma prova de biologia. Fui a uma pracinha em frente ao WR. Se saíra bem na prova?, ah, isso não me importou, eu só quis sair o mais cedo possível! Fui o primeiro e não me arrependi, esperei!, e esperaria mais! Oh, leitor, como ela era linda! Seus olhos... que cores, seu olhar fantasiava-me! Sua pele era branca e combinava com o seu lindo casaco verde, ah e também era macia!, eu sabia porque tinha tocado uma vez nas mãos dela. Seus cabelos eram longos e sedosos, uma vez imaginei-me penteando-os lentamente... Mas era o seu sorriso que me cativava o espírito. Um riso capaz de inverter qualquer previsão do tempo... Ah!, e como eu gostava de fazê-la rir! Certa vez eu estava andando no corredor e ela sorriu pra mim. Fê-lo de graça, eu não tinha falado nada engraçado, em verdade, nem falei nada. Acho que era um sinal de que ela me amava. - Garoto! Ei moleque! - Hã?! Oi? - É... Você sabe onde fica a avenida 85? - Ah... Bem, espera, aquela ali não é... - pensava em voz alta. - Oi! - De longe acenei para a garota do casaco verde. - Então... - já disse o homem impaciente - Rapaz, onde fica a 85? - Ah, a rua, é... Me desculpa, senhor, não sei - Disse e saí correndo dali.
Fonte: Rawpixel.com / Shutterstock.com
Ali tá ela, não vê leitor?! A garota do casaco verde. Ai, olhe-a sorrindo pra mim de novo! Vamos, não quero que perca a chance de conhecê-la, vamos lá falar com ela!!!
Falamo-nos. Sentei com ela num banco, naquela mesma praça e conversamos sobre a prova, nossos interesses acadêmicos, sobre o clima. O assunto até vinha bem e fazia com que ela conhecesse a cada dia mais sobre mim; construíamos assim a nossa relação. Se bem que eu sabia muito pouco sobre ela. Até insistia, sutilmente, mas... em vão. Na verdade, a garota do casaco verde era muito ruim de papo. E, além disso, tinha uma mania esquisita, nunca olhava diretamente nos meus olhos, a todo o momento tinha de recuperá-los, fisgá-los a fim de prender novamente sua atenção a mim. Naquele dia não foi diferente, seus olhos escapavam-me a cada movimento periférico. Chegou, então, nossa amiga que, numa extrema rapidez, conseguiu arrancar de meus braços minha garota, a qual parou em outros muito mais experientes que os meus. Braços de nadador. Olhei pra ela, de longe, e tinha esperança de captar de novo aqueles olhos fugitivos, que, agora, permaneciam imóveis. O que tinha pra fazer?, fui embora! Ah, nem venha você com essa! Não me julgue pelos meus braços! Cheguei à minha casa, mas não entrei, fiquei parado no jardim. Criei coragem e caí sobre as gramíneas. Quisera eu que, nesse momento, meu mundo começasse a rodar, e quisera ter forças pra nadar a braçadas todo um oceano. Esperança demais. Saiba, meu amigo, esperança é o sentimento que destrói a humanidade. Não tomamos ações em virtude de esperar. Uma vez perguntaram-me se estava bem: “Melhor do que ontem e pior do que amanhã!”, pensava ser minha grande filosofia. O final de semana que se seguiu não foi dos melhores. Fui com uns primos a um parque aquático mas quase me afoguei. Na segunda-feira fui à escola. Sentei na primeira carteira (onde a nossa menina sentava) e esperava – ansiosamente – que ela chegasse. A cada passo alheio, fervia-me o sangue, achava sempre que fosse ela. Ah, e ela chegou! Nossa como ela tava linda! Veio sorrindo a mim de novo, e me olhou agora com... novamente me vinha conquistando. Notei, porém, algo diferente. Seria seu sorriso? Não! O que era?! Meu deus!, é o casaco! Ela agora usa o vermelho! Casaco Verde, Murilo Amaral
Figura 03 - Jovem lendo livros
661
C12 Conto
Casaco verde, seu sorriso ou uma canção
Português
Exercícios de Fixação 01. (Puc Campinas SP) Você vai para a escola todo dia mesmo sem vontade e sem ter feito a lição de casa. Seus pais dizem que é preciso, que é obrigação. Eles estão certos. Mesmo que os pais quisessem atender ao capricho do filho que não quer ir à escola, eles não poderiam. Toda criança deve ir à escola: isso é lei. Um dia, quando você for grande e já tiver saído da escola, pode ser que perceba que foi realmente necessário ir todo santo dia e não só quando dava vontade. O problema é que seus pais decidiram ser superpais. Para eles, não basta a escola: agora é preciso ficar lá mais tempo, aprender línguas, fazer outros cursos e até mais. E sabe por que agem assim? Porque acreditam que vai ser bom para o seu futuro. Mas alguns exageram porque, pensando demais no futuro, esquecem que o filho precisa viver o tempo de agora, o presente. Ser criança. E não dá para ser criança sem tempo livre. [...] Se você acha que está fazendo coisas demais, que está sem tempo para brincar, ficar sossegado sem nenhuma obrigação, é hora de criar coragem e conversar com seus pais. Mas conversar de verdade: sem reclamação, chororô, drama. Desse modo, fica mais fácil eles prestarem atenção a suas palavras e a suas emoções. [...] Papo sério de filho para pais! (Folha de S.Paulo, folhinha, 22 de março de 2014, coluna 3, Quebra-Cabeça com Rosely Sayão)
C12 Conto
No texto acima, a autora a) busca prioritariamente persuadir seu interlocutor acerca da importância de ir à escola e estudar, motivo pelo qual alinha, em linguagem apropriada a uma criança, distintos argumentos cedidos pela pedagogia. b) cria ilusão de intimidade com o leitor almejado, por meio do uso da segunda pessoa, construindo desse interlocutor a imagem de ser uma criança a quem as obrigações podem pesar. c) convence, pela solidariedade que lhe manifesta – Mas alguns exageram; E não dá para ser criança sem tempo livre – o estudante-criança a cumprir a tarefa sugerida por especialista adulto: persuadir os pais de que a escola basta para educar plenamente uma pessoa. d) revela amplo conhecimento tanto da psicologia infantil – Mas conversar de verdade: sem reclamação, chororô, drama – quanto da linguagem típica da criança − como se nota em ir todo santo dia ou superpais –, o que confere credibilidade à tese que defende.
662
e) induz a criança a assumir responsabilidades pertinentes à idade infantil, tanto no sentido de decidir, passo a passo, o que é melhor para si, quanto no sentido de impor seu ponto de vista de modo adulto, como o comprova a atraente inversão da frase Papo sério de filho para pais! Texto comum às questões 02 e 03 Há muitos anos atrás, em um reino bem distante, 2vivia um
1
imperador mais conhecido por seu orgulho e 3elegância do que por seus feitos e atos de bondade. Certo dia o pequeno vilarejo saiu de sua monotonia 5habi-
4
tual. Foi noticiada a chegada de dois visitantes 6renomados, reconhecidos como os mais habilidosos alfaiates 7que já tinham vestido impecavelmente reis e imperadores. Mas desta feita o traje havia de ser especial, para 9o mais
8
especial dos reis. O material a ser empregado era 10tão precioso, que continha um segredo: somente os mais 11sábios, os mais inteligentes poderiam ver o esplendor 12das novas vestes. (Eis enfim o maior prêmio para o nosso 13rei vaidoso: uma roupa cujos limites entre o visível e o 14invisível estariam só fragilmente delineados.) Começaram os preparativos. Os trabalhos evoluíam 16bem
15
e houve a primeira prova. O rei, ansioso, entrou 17pontualmente no ateliê. Era hora de iniciar o ato. 18Com gestos refinados, os artífices começaram a vestir o 19monarca. O contentamento inicial do rei transformava-se 20rapidamente em apreensão, à medida que notava que 21não via nada, a não ser seus já conhecidos trajes de 22baixo. Porém, como seus serviçais não diziam nada − ao 23contrário, soltavam exclamações de admiração diante de 24tão magnânima veste −, o rei resolveu se calar, ou melhor, 25achou por bem assumir a atitude geral, que estava 26mais para a consagração do que para o questionamento. Chegou o dia de o monarca desfilar diante de todos 28os
27
súditos as já famosas “novas vestes do rei”. A 29princípio, nas ruas, tudo correu bem: todos admiravam 30as vestes, e o rei, mais seguro, começava a comportar-se 31com desenvoltura. Até que ocorreu o inesperado. Um menino que 33não havia
32
sido informado sobre as histórias que cercavam 34as vestes do rei, exclamou em alto e bom som: 35”O rei está nu”. Esse foi só o início, pois, após o primeiro 36toque, a multidão, até então contida, passou a gritar e 37gargalhar diante da nudez inesperada do rei.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
O monarca e sua corte, desnudados diante dos 39aconteci-
38
mentos, voltaram ao palácio, vexados e humilhados. Os al40
faiates farsantes já estavam bem longe, felizes 41com a sorte de um golpe bem dado. (Adaptado de: SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, cap. 1, A roupa nova do rei: reflexões sobre a realeza, que reproduz o conto de Hans Christian Andersen. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 25 a 27)
02. (Puc Campinas SP) Infere-se corretamente acerca do aproveitamento do conto de Andersen, numa obra que examina a biografia do imperador brasileiro: a narrativa, de maneira original, a) possibilita indiciar o aspecto teatral, a dimensão simbólica do poder político. b) evidencia que regimes políticos, monárquico, ou não, determinam imutáveis rituais de glorificação. c) denuncia o caráter impenetrável da camada que funde essência e aparência. d) condena cerimoniais que envolvem chefes de estado por implicar luxos desmedidos. e) propicia clara compreensão de que ritos de consagração são nocivos, seja qual for o consagrado. 03. (Puc Campinas SP) Análise da estrutura do texto legitima o seguinte comentário:
a) A indeterminação de tempo e espaço, ao lado da caracterização também fluida das personagens, constitui organização típica de conto de fadas, o que prescreve que o relato indique explicitamente sua moral: ela vem no parágrafo 3, inovadoramente entre parênteses. b) O objeto mágico, de presença constante em contos e lendas, surge nesta narrativa de modo singular, pois está a serviço de farsantes, e não do herói, motivo pelo qual não se pode atribuir ao relato a natureza de conto de fadas. c) O jogo entre formas verbais que indicam ações passadas contínuas (como admiravam e começava) e formas verbais que indicam fatos ocorridos em determinado momento do passado (como ocorreu e exclamou) denota que há passagem narrativa exclusivamente a partir do parágrafo 5. d) É reconhecível na narrativa o movimento típico do gênero: é dada uma situação de equilíbrio (entendida como uma ordem habitual), que é rompida (fato motivador do relato), e, ao final, se instaura novamente o equilíbrio (normalidade que não se confunde com a ordem inicial). e) Na organização do enredo, nota-se que a narrativa segue uma ordem linear, apresentando os fatos na ordem cronológica em que se deram; no que se refere à descrição: para reforçar os efeitos, os traços descritivos, das personagens, do ambiente e das ações, foram todos concentrados no parágrafo 4.
Exercícios Complementares
Clarice Lispector, A hora da estrela.
No contexto da narração de A hora da estrela, é complementar ao “pudor” que confessa o narrador, no excerto, uma outra espécie de pudor, motivado, este, pela a) percepção da distância social que o afasta da protagonista. b) sua pressa em iniciar a parte narrativa ou factual da obra. c) irrelevância do assunto, que não lhe desperta o desejo de narrar. d) revolta que a exposição da miséria pode provocar nos leitores. e) sua identidade de origem com a migrante nordestina Macabéa.
02. (Puc MG) “Vais encontrar o mundo”, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. “Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. (POMPEIA, Raul. O ateneu. São Paulo, FTD, 1992).
Em relação à estruturação da narrativa, o texto apresenta: a) linguagem e ponto de vista infantis. b) narração em primeira pessoa. c) predomínio do discurso direto. d) voz narrativa distante dos fatos narrados.
C12 Conto
01. (FGV SP) Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe etscorrer e logo se coagular em cubos de geleia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada –, que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.
663
Português
03. (Puc MG) “Amanheci um dia pensando em casar. Foi uma ideia que me veio sem que nenhum rabo de saia a provocasse. Não me ocupo com amores, devem ter notado, e sempre me pareceu que mulher é um bicho esquisito, difícil de governar. A que eu conhecia era a Rosa do Marciano, muito ordinária. Havia também conhecido a Germana e outras da mesma laia. Por elas eu julgava todas. Não me sentia, pois, inclinado por nenhuma: o que sentia era desejo de preparar um herdeiro para as terras de São Bernardo. Tentei fantasiar uma criatura alta, sadia, com trinta anos, cabelos pretos mas parei aí. Sou incapaz de imaginação, e as coisas boas que mencionei vinham destacadas, nunca se juntando para formar um ser completo.” (RAMOS, Graciliano. São Bernardo [Trecho]. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 66.)
O texto apresenta marcas ideológicas que evidenciam a intenção do narrador em: a) distanciar-se dos fatos narrados, simulando um ponto de vista imparcial sobre o casamento. b) valer-se da posição de fazendeiro para formular uma crítica implícita ao casamento por interesse. c) apresentar um discurso autoritário em relação à mulher, representada como objeto utilitário. d) atribuir à vida difícil e à incapacidade de imaginação as causas de suas frustrações amorosas. 04. (Puc SP) Trecho A: A ciência deste século é uma grandessíssima tola. E, como tal, presunçosa e cheia de orgulhos dos néscios. ...................................................................................................... Vamos à descrição da estalagem. Não pode ser clássica, assobiam-me todos estes rapazes de pera, bigode e charuto, que fazem literatura cava e funda desde a porta do Marrare até ao café de Moscou... Trecho B: A quem custa é a quem paga para todos esses balões de papel – a terra e a indústria ................................................................... ...................................................................................................... Este capítulo deve ser considerado como introdução ao capítulo seguinte, em que entra em cena Frei Dinis, o guardião de S. Francisco de Santarém.
C12 Conto
Ao longo do romance Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, há a utilização de oito espaços compostos por linhas pontilhadas, como os acima referidos. A utilização deles pode ser entendida como a) um recurso de impressão gráfica com o objetivo de destacar as partes principais do enredo e orientar o leitor quanto à mudança de modalidade textual. b) um recurso da linguagem modernista de criação da montagem cinematográfica e visual que caracteriza a obra inteira. c) um recurso gráfico inovador, mas negativo porque desestruturante da sequência da obra e empecilho para o claro entendimento do leitor. 664
d) um corte espácio-temporal que marca a passagem de uma digressão à retomada do fio condutor da narrativa. e) uma forma de subentender a sequência por óbvia ou desnecessária mas que fere a estrutura sempre linear desta narrativa. Texto comum às questões 05 e 06 Agachado atrás dum muro, José Lírio preparava-se para a última corrida. Quantos passos dali até à igreja? Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. “Tenente Liroca - dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos - suba pro alto do campanário e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se alguém aparecer pra tirar água do poço, faça fogo sem piedade.” [...] Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revolução porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas não se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora − um medo que lhe vinha de baixo, das tripas, e lhe subia pelo estômago até a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braços, a vontade. Medo é doença; medo é febre. (VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento. In: O Continente, parte 1. São Paulo: Círculo do livro, 1997. p. 9)
05. (Puc Campinas SP) Ao contar a história para o leitor, o narrador, nesse trecho, a) cria uma cena de espera em que está envolvido José Lírio, valendo-se, predominantemente, de pensamentos, percepções e sentimentos dessa personagem. b) usa o recurso de falar de si próprio em terceira pessoa, relatando assim sua própria história; só um narrador-protagonista poderia informar tantos detalhes como os vistos no trecho acima. c) revela-se como participante dos fatos relatados, pois somente como personagem ele poderia ter tido acesso ao que o coronel dissera a José Lírio e às reações deste último. d) acompanha segundo a segundo a trajetória de José Lírio e relata os fatos presenciados na ordem cronológica em que se deram, recurso que aproxima o leitor do mundo da personagem. e) privilegia a expressão de seu próprio juízo sobre José Lírio, como se nota, por exemplo, em Sim, covarde, sem deixar-se contaminar com o que vai no mundo interior da personagem. 06. (Puc Campinas SP) O segmento em que uma forma verbal indica ação passada que se deu anteriormente a outra ação igualmente passada é: a) José Lírio preparava-se para a última corrida. b) Era preciso cumprir a ordem. c) Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. d) Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. e) Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo.
FRENTE
C
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Enem MEC) A música pode ser definida como a combinação de sons ao longo do tempo. Cada produto final oriundo da infinidade de combinações possíveis será diferente, dependendo da escolha das notas, de suas durações, dos instrumentos utilizados, do estilo de música, da nacionalidade do compositor e do período em que as obras foram compostas.
02. (Enem MEC) Texto I Chão de esmeralda Me sinto pisando Um chão de esmeraldas Quando levo meu coração À Mangueira Sob uma chuva de rosas Meu sangue jorra das veias E tinge um tapete Pra ela sambar É a realeza dos bambas Que quer se mostrar Soberba, garbosa Minha escola é um cata-vento a girar É verde, é rosa Oh, abre alas pra Mangueira passar BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010.
Figura 1 - http://images.quebarato.com.br/photos/big/2/D/15A12D_2.jpg. Figura 2 - http://ourinhos.prefeituramunicipal.net/dados/fotos/2009/07/07/normal. Figura 3 - http://www.edmontonculturalcapital.com/gallery/edjazzfestival/ JazzQuartet.jpg. Figura 4 - http://www.filmica.com/jacintaescudos/archivos/Led-Zeppelin.jpg.
Das figuras que apresentam grupos musicais em ação, pode-se concluir que o(os) grupo(s) mostrado(s) na(s) figura(s) a) 1 executa um gênero característico da música brasileira, conhecido como chorinho. b) 2 executa um gênero característico da música clássica, cujo compositor mais conhecido é Tom Jobim. c) 3 executa um gênero característico da música europeia, que tem como representantes Beethoven e Mozart. d) 4 executa um tipo de música caracterizada pelos instrumentos acústicos, cuja intensidade e nível de ruído permanecem na faixa dos 30 aos 40 decibéis. e) 1 a 4 apresentam um produto final bastante semelhante, uma vez que as possibilidades de combinações sonoras ao longo do tempo são limitadas.
Texto II Quando a escola de samba entra na Marquês de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componentes bate mais forte e o que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro espetáculo entre em cena, por trás da cortina de fumaça dos fogos de artifício, existe um verdadeiro batalhão de alegria: são costureiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, pesquisador de enredo e uma infinidade de profissionais que garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile. AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. Revista de Carnaval 2010: Mangueira. Rio de Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010.
Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o compromisso dos dirigentes e de todos os componentes com a escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças que se estabelece entre os textos é que a) o artigo jornalístico cumpre a função de transmitir emoções e sensações, mais do que a letra de música. b) a letra de música privilegia a função social de comunicar a seu público a crítica em relação ao samba e aos sambistas. c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza imagens metafóricas e a própria escola, enquanto a linguagem, no Texto II, cumpre a função de informar e envolver o leitor. d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o Texto I acende a rivalidade entre escolas de samba, enquanto o Texto II é neutro. e) o Texto I sugere a riqueza material da Mangueira, enquanto o Texto II destaca o trabalho na escola de samba. 665
Português
03. (Enem MEC) As redes sociais de relacionamento ganham força a cada dia. Uma das ferramentas que tem contribuído significativamente para que isso ocorra é o surgimento e a consolidação da blogosfera, nome dado ao conjunto de blogs e blogueiros que circulam pela Internet. Um blog é um site com acréscimos dos chamados artigos, ou posts. Estes são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática proposta do blog, podendo ser escritos por um número variável de pessoas, de acordo com a política do blog. Muitos blogs fornecem comentários ou notícias sobre um assunto em particular; outros funcionam mais como diários on-line. Um blog típico combina texto, imagens e links para outros blogs, páginas da web e mídias relacionadas a seu tema. A possibilidade de leitores deixarem comentários de forma a interagir com o autor e outros leitores é uma parte importante dos blogs. O que foi visto com certa desconfiança pelos meios de comunicação virou até referência para sugestões de reportagem. A linguagem utilizada pelos blogueiros, autores e leitores de blogs, foge da rigidez praticada nos meios de comunicação e deixa o leitor mais próximo do assunto, além de facilitar o diálogo constante entre eles.
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
Disponível em: http//pt.wikipedia.org. Acesso em: 21 maio 2010 (adaptado).
As redes sociais compõem uma categoria de organização social em que grupos de indivíduos utilizam a Internet com objetivos comuns de comunicação e relacionamento. Nesse contexto, os chamados blogueiros a) promovem discussões sobre diversos assuntos, expondo seus pontos de vista particulares e incentivando a troca de opiniões e consolidação de grupos de interesse. b) contribuem para o analfabetismo digital dos leitores de blog, uma vez que não se preocupam com os usos padronizados da língua. c) interferem nas rotinas de encontros e comemorações de determinados segmentos, porque supervalorizam o contato a distância. d) definem previamente seus seguidos, de modo a evitar que pessoas que não compactuam com as mesmas opiniões interfiram no desenvolvimento de determinados assuntos. e) utilizam os blogs para exposição de mensagens particulares, sem se preocuparem em responder aos comentários recebidos, e abdicam do uso de outras ferramentas virtuais, como o correio eletrônico. 04. (Enem MEC) Saúde Afinal, abrindo um jornal, lendo uma revista ou assistindo à TV, insistentes são os apelos feitos em prol da atividade física. A mídia não descansa; quer vender roupas esportivas, propagandas de academias, tênis, aparelhos de ginástica e musculação, vitaminas, dietas... uma relação infindável de materiais, equipamentos e produtos alimentares que, por trás de toda essa “parafernália”, impõe um discurso do con666
vencimento e do desejo de um corpo belo, saudável e, em sua grande maioria, de melhor saúde. RODRIGUES,L. H.; GALVÃO, Z. Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
Em razão da influência da mídia no comportamento das pessoas, no que diz respeito ao padrão de corpo exigido, podem ocorrer mudanças de hábitos corporais. A esse respeito, infere-se do texto que é necessário a) reconhecer o que é indicado pela mídia como referência para alcançar o objetivo de ter um corpo belo e saudável. b) valorizar o discurso da mídia, entendendo-o como incentivo à prática da atividade física, para o culto do corpo perfeito. c) diferenciar as práticas corporais veiculadas pela mídia daquelas praticadas no dia a dia, considerando a saúde e a integridade corporal. d) atender aos apelos midiáticos em prol da prática exacerbada de exercícios físicos, como garantia de beleza. e) identificar os materiais, equipamentos e produtos alimentares como o caminho para atingir o padrão de corpo idealizado pela mídia. 05. (UEFS BA) Prática cotidiana da intimidação Não faz muito tempo, vi dois meninos sendo 2 interpelados abruptamente pela polícia, não nas avenidas 3 movimentadas que trazem e levam a população 4 trabalhadora que mora nas periferias. Ao contrário, estava 5 sentada numa praça situada num elegante bairro dos 6 Jardins, e a cena, a despeito de ir se tornando corriqueira, 7 causou enorme incômodo. Gritos, pequenos empurrões, 8 o uso ostensivo de lanternas (em plena luz do dia) em 9 busca de um suposto objeto atirado na grama, a 10 obrigatoriedade de baixar os olhos… enfim, toda uma 11 engenharia da humilhação foi montada e bem ao lado 12 de gangorras e balanças. Para concluir o espetáculo, 13 três viaturas da polícia apareceram, com suas sirenes a 14 toda, e trataram de “liberar o local”. 15 Diante dessas situações-limite é difícil reagir frente 16 à precariedade da cidadania de certos grupos ou da 17 segregação internalizada que nossos bairros mais 18 centrais carregam, silenciosamente. É nesses 19 momentos, quando a regra democrática é suspensa, 20 que nos sentimos, de alguma maneira, inconfortáveis 21 diante do que mais parece uma aberta demonstração 22 de cumplicidade. Sim, pois por mais que o ritual fosse 23 claramente violento, a saída de todos nós que ali 24 estávamos foi de um profundo e constrangedor silêncio, 25 inclusive desta que aqui escreve. 26 A violência do outro dói, mas dói também o 27 reconhecimento da impotência e da aceitação desse 28 tipo de ato, que já se transformou em “natural”. 29 O sentimento de culpa e de impotência nos assola e 30 levaria a uma reação caso não fôssemos pessoas 31 acostumadas, a longa data, a esse tipo de socialização. 1
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
SCHWARCZ, Lilia Katri Moritz. Prática cotidiana da intimidação. Fonte: <http:// interessenacional.uol.com.br/index.php/ edicoesrevista/ a-culpa-e-sempre-dos-outros/ >. Acesso em: 5 nov. 2014.
O uso da primeira pessoa, ao longo do texto, permite afirmar que a) a articulista já experimentou, inclusive, situações de humilhação e silenciamento por parte da polícia. b) a voz enunciadora se identifica com os valores dos jovens que foram abordados pelos representantes do poder. c) a autora do texto se encontra, ideologicamente, no lugar social daqueles que oprimiram os jovens sem uma razão aparente. d) a locutora convoca o interlocutor do texto a se comprometer com os problemas apresentados e buscar, como cidadão, intervenções imediatas. e) o sujeito enunciador se sente, como ator social, também responsável pela necessidade de consolidação da cidadania e preservação de espaços plurais. 06. (Puc GO) Há pessoas que vivem para destruir. Nasceram no fosso da ignorância e lá construíram o seu mundo de ódio, de desprezo, de traição. Fazem cursos de guerra, especializam-se no manuseio de armas bélicas e exercitam-se diariamente no processo de delação. Têm a língua afiada, pronta para soltar vitupérios e o dedo médio lambuzado de titica e enrijecido de tantas deduragens. São obscuras, raivosas, traidoras, covardes e vivem no anonimato. Têm como lema a destruição. Se não posso ser notável, ser importante, ser escritor, por exemplo, que ninguém o seja. E aí, no laboratório de sua insignificância destilam ódio contra aqueles que estão construindo, mostrando ao mundo que ainda é possível plantar rosas e fabricar perfumes. (TELES, José Mendonça, Crônicas de mim. Goiânia: Kelps, 2011. p. 127.)
Teóricos defendem a ideia de que todo texto é formado de sequências que entram na constituição dos diversos gêneros textuais. O leitor identificará as sequências costumazes, tendo em vista os parâmetros da situação. No trecho “Têm a língua afiada [...] Têm como lema a destruição” depreende-se o seguinte tipo de sequência (marque a alternativa verdadeira): a) Narrativa, pela sucessão temporal dos eventos contados em discurso direto, havendo a predominância de verbos conjugados no pretérito perfeito.
b) Descritiva, pela caracterização dos elementos, indicando propriedades, qualidades, atitudes expostas analiticamente, numa ordenação lógica, com a presença de verbos de estado e situação. c) Injuntiva, por apresentar ações numa sequência logicamente ordenada, marcada por verbos no imperativo e no futuro do presente, expressando preocupações de comando. d) Argumentativa, por apresentar ordenação ideológica, com contra-argumentos, com verbos introdutores de opinião e conectores argumentativos. 07. (UFTM MG) Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava, nas relações com as pessoas, a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e perigosas. (Vidas Secas, Graciliano Ramos.)
No texto, os aspectos descritivos são empregados para a) ridicularizar a forma de Fabiano andar e comunicar-se com as pessoas. b) apresentar fatos ocorridos com Fabiano no meio rural em que vivia junto aos animais. c) enfatizar a eficiência comunicativa de Fabiano com as pessoas, ainda que falasse pouco. d) mostrar que Fabiano conseguia se comunicar bem, pois era homem prolixo. e) caracterizar Fabiano de forma muito próxima aos animais, com os quais se identifica. 08. (Unievangélica GO) A madrugada vinha querendo romper. Os sapos voltaram a cantar. Galos cantaram desanimadamente. Uma neblina densa caiava a Vila, como que prenunciando a manhã. E como o tempo esfriasse, Vicente fechou a janela para dormir, mas de novo lhe voltou à cabeça a história do assassinato do coronel. Então passou a considerar mal a polícia a partir daquele momento. Que tinham matado o velho sem precisão. Achou mesmo muito esquisito quando viu chegar aqueles cadáveres. O velho coronel era violento, brigão, metido a valente, mas era covarde. A noite era de neblina e de tormento. ÉLIS, Bernardo. O tronco. 6. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978. p. 130. (Adaptado).
Verifica-se, no excerto apresentado, menções ao tempo a) psicológico b) histórico c) cronológico d) social 667
FRENTE C Exercícios de Aprofundamento
Construir sociedades plurais no lugar de defender 33 a homogeneidade; valorizar os espaços públicos em vez 34 de gradeá-los; ampliar espaços de encontro das 35 diferenças, em vez de inibi-los, são motivações 36 que fazem parte de uma agenda cidadã e republicana. 37 Não se constrói cidadania entre muros, com a 38 disseminação de políticas de medo e abrindo mão de 39 responsabilidades públicas. 40 Assumir o lugar de atores sociais é, de alguma 41 maneira, opor-se a saídas teleológicas, que definem o 42 futuro como um lugar sempre redentor. Os desafios estão 43 no presente, o que implica propor alternativas, pressionar 44 o Estado e agir coletivamente. 32
arek_malang / Shutterstock.com
FRENTE
D
PORTUGUÊS Por falar nisso Ler, escrever bem e ser capaz de argumentar são ferramentas indispensáveis que avaliam o nível cultural e o conhecimento de mundo de um indivíduo. O uso da linguagem é tão importante que a linha do tempo divide a história em antes e depois da escrita. A escrita é algo que requer habilidade, determinação, paciência e aperfeiçoamento constante. Tais habilidades vão sendo conquistadas de acordo com o hábito da leitura e com a constante busca por informações, cujo objetivo é ampliar a visão de mundo e aprimorar nossa competência linguística. Escrever é um ato pessoal e social que requer planejamento, esforço, atenção e paciência. É um trabalho exigente, que depende de empenho e dedicação. É uma atividade que requer diferentes conhecimentos: sobre a língua, sobre o assunto, sobre o gênero e sobre os interlocutores. O texto é uma manifestação linguística produzida por um locutor. É um tecido verbal estruturado de tal maneira que as ideias formam um todo coeso e coerente. Todas as partes devem estar interligadas e manifestar um direcionamento único. Um texto, seja oral ou escrito, está longe de ser um mero conjunto aleatório de elementos isolados, ou um amontoado de frases. Ele deve apresentar-se como uma totalidade semântica, cujos componentes possam estabelecer, entre si, relações de significação. Estudar os elementos coesivos de um texto nada mais é que avaliar os componentes textuais cuja significação depende de outros componentes dentro do mesmo texto. Assim, a coesão e coerência de um texto é verificada mediante a análise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construção. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas
D13 D14 D15 D16
Coesão e coerência textual............................................................ 670 Texto narrativo............................................................................... 679 Fábula moderna............................................................................. 686 Conto I............................................................................................ 694
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D09
ASSUNTOS ABORDADOS nn Coesão e coerência textual nn Coesão textual nn Os mecanismos de coesão nn Coerência textual nn Mecanismos de coerência
COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL Na construção de um texto, seja oral, seja escrito, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor, a compreensão do que se quer transmitir. As falhas coesivas podem prejudicar a compreensão da mensagem e a construção da coerência textual. Um texto apresenta coesão quando há conexão e harmonia entre as partes que o compõem. O texto bem construído estabelece um todo significativo cujos enunciados estão estritamente interligados: frases, orações e períodos estão muito bem “amarrados”. A utilização de pronomes, advérbios, preposições e conjunções, a escolha e os sinais de pontuação e a seleção do vocabulário tornam os textos mais, ou menos coesos. A essa textura “bem amarrada” chamamos de coesão. Assim, a coesão de um texto é verificada mediante a análise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construção.
Coesão textual Como você percebeu, não se constrói um texto com um amontoado de palavras, frases ou orações. Para se ter um texto coeso, é necessário que haja um conjunto de recursos linguísticos responsáveis pelas ligações que se estabelecem entre os termos de uma frase, entre orações referentes a um período, fazendo com que, esteticamente, os parágrafos se apresentem de forma harmoniosa. É necessário que haja uma articulação de pensamentos e ideias entre orações (coordenadas e subordinadas) que formam os períodos, apresentando uma relação de dependência de significados que se relacionam entre si, formando uma unidade que se prende ao título e ao tema, tornando o texto agradável à leitura. Os elementos de coesão são palavras ou expressões que garantem a transição de ideias, o elo para estabelecer as relações entre frases e parágrafos. São os pronomes, advérbios e conjunções. Assim sendo, empregando os diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição, substituição, associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes, conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases, orações, períodos, que irão apresentar o contexto, daí temos a coerência textual.
ASSOCIAÇÃO
CONEXÃO
Seleção lexical
Estabelecimento de relações sintá co-semân cas
COESÃO
preposições conjunções advérbios respec vas locuções
por antônimos por diferentes modos de relações de parte/todo
REITERAÇÃO paráfrase
Repe ção
repe ção propriamente dita
670
Subs tuição
subs tuição lexical elipse
Opirus/Arte
paralelismo
subs tuição grama cal
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Os mecanismos de coesão Tempo e modo verbais O emprego adequado de tempos e modos verbais contribui imensamente para uma boa coesão. Observe: nn Na
minha infância (passado), eu implorei (pretérito) para que Suzy seja (presente) minha namorada. (desajuste temporal) nn Na minha infância (passado), eu implorei (pretérito) para que Suzy fosse (pretérito) minha namorada. (adequação do tempo verbal)
Elipse É aquela que permite uma conexão de ideias sem a necessidade de repetir uma palavra ou uma expressão, uma vez subentendidas. Ocorre por meio da omissão de uma ou mais palavras, evitando a repetição, sem que isso comprometa a clareza de ideias da oração. Percebam que, no último período, a palavra “projeto” está subentendida. A repetição seria totalmente desnecessária nesse caso. Dessa forma, tem-se uma coesão por elipse. nn Apresentaram
três projetos relacionados ao tema “ecologia” na Câmara dos Deputados. O mais antigo é de 2015, e o mais recente foi apresentado em 2017.
Pronomes
Substituição lexical
O emprego adequado dos pronomes tem a função de dar somatória ao texto, de fazer a costura textual, para não repetir a expressão. Para não repetir uma palavra, recorremos aos pronomes.
Ocorre quando uma palavra é substituída por outro termo equivalente (funciona como um sinônimo) por meio do emprego de pronomes, hipônimos ou heterônimos.
Anáfora Consiste em uma retomada do referente de palavras anteriormente inseridas no texto. Ocorre quando um termo já dito (referente) é recuperado depois por meio de um item coesivo. nn Muito apavorada, Cintia ficou em casa com os amigos.
Ela não quis sair à rua. pessoa que recebe um benefício não deve jamais esquecê-lo.
nn A
Catáfora Tem a função de anunciar o que vai ser dito. É um mecanismo inverso da anáfora. É quando o termo pressuposto (referente) aparece após o termo coesivo. nn Há
três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada, e a oportunidade perdida.
nn Machado
de Assis é considerado o maior escritor brasileiro. O carioca nasceu no dia 21 de junho de 1839 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1908. Gênio maior de nossas letras, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Exemplo Veja agora a importância desses recursos coesivos, para evitar repetições desnecessárias. Compare a redação de ambos os textos a seguir, e fique atento aos recursos utilizados no segundo texto que permitiram o fim da repetição da expressão “aquecimento global”. Texto 1: As catástrofes ambientais já são uma consequência dos efeitos do aquecimento global, tão discutido em conferências internacionais. Essas conferências, até agora, de nada adiantaram. Devemos aceitar o aquecimento global como uma realidade. Conviveremos com a realidade, mas precisamos combater o aquecimento global a fim de as novas gerações sofrerem menos com o impacto do aquecimento global. Texto 2: As catástrofes ambientais já são uma consequência dos efeitos do aquecimento global, tão discutido em conferências internacionais, que, até agora, de nada adiantaram. Devemos aceitá-lo como uma realidade com a qual conviveremos, mas precisamos combatê-lo a fim de as novas gerações sofrerem menos com o seu impacto. D09 Coesão e coerência textual Fonte: Wikimedia Commons
Paulo deu um livro à mãe. → João Paulo deu-o à mãe. nn João Paulo deu um livro à mãe. → O João deu-lhe o livro. nn João estendeu a mão e afagou o lombo do gatinho. → Infelizmente este escapara. nn Os alunos do cursinho foram visitar o Museu da Língua Portuguesa . → Eles foram acompanhados pelos professores da escola. nn João
671
Português
Opirus/Arte
Coerência textual
A coerência textual é um dos principais aspectos a serem compreendidos antes da produção de um bom texto. Ela é responsável pelo sentido envolvendo fatores lógico-semânticos e cognitivos, já que a interoperabilidade do texto depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Para um texto ter sentido para quem o lê, é necessário que esteja coerente, e, um texto para ser coerente é preciso que haja clareza quanto à mensagem que o autor deseja transmitir. Nesse sentido, é necessário planejar, selecionando cuidadosamente as palavras, articulando bem as ideias, de modo a distribuí-las em períodos curtos e adequando-as à modalidade textual, lembrando que um texto não existe em si mesmo. Ele se constrói na relação emissor-receptor. Uma releitura bem cuidadosa é capaz de detectar possíveis falhas ortográficas e gramaticais, como também nos permite acrescentar ou retirar ideias que possam dar clareza e sustentar bem o texto. A coerência depende de uma série de fatores, dentre os quais é importante ressaltar: nn O
conhecimento de mundo e o grau em que esse conhecimento deve ser ou é compartilhado pelos interlocutores; nn O domínio das regras que norteiam a língua. Isso vai possibilitar as várias combinações dos elementos linguísticos; nn Os próprios interlocutores, considerando a situação em que se encontram, as suas intenções de comunicação, suas crenças, a função comunicativa do texto. D09 Coesão e coerência textual
Mecanismos de coerência A coerência textual está ainda ligada à capacidade de se estabelecer um sentido para o texto de acordo com o conhecimento da situação comunicativa. A coerência é fator indispensável nos atos de comunicação, nos quais há um esforço conjunto entre emissor e receptor para que exista, de fato, bom entendimento. Os tipos de coerência textual abaixo relacionados contribuem para a construção de enunciados aceitáveis, seja do ponto de vista semântico, sintático, estilístico, temático, genérico ou pragmático. Existem tipos de coerência, elementos que colaboram para a construção da coerência global de um texto. São eles: 672
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Coerência semântica A semântica está relacionada com as relações de sentido entre as estruturas, ao desenvolvimento lógico das ideias, ou seja, à construção de argumentos harmônicos e livres de contradições. A semântica é a área da Linguística que estuda o significado das palavras, isto é, as relações entre os signos e os seus referentes. Ela é estabelecida entre os significados dos elementos do texto, evitando as ideias contraditórias. Para detectar uma incoerência, é preciso que se faça uma leitura cuidadosa, embasada nos processos de analogia e inferência. Coerência sintática A coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência. Ela diz respeito à adequação entre os elementos que compõem a frase. Tais como: a ordem como eles são dispostos, seleção lexical, coesão e regras de regência e concordância. A função da coerência sintática é eliminar estruturas ambíguas, evitar o uso inadequado dos conectivos e elementos indispensáveis para a coesão textual. Enfim, refere-se aos meios sintáticos para expressar a coerência semântica como, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas nominais definidos e indefinidos. Coerência estilística Diz respeito ao emprego de uma variedade linguística adequada, que deve ser mantida do início ao fim de um texto para garantir a coerência estilística. Tem a ver com a escolha da linguagem que se vai utilizar. A incoerência estilística não afeta o entendimento de um texto, porém, se a linguagem formal for escolhida, ela deverá ser preservada até o final da composição, o mesmo serve para a linguagem coloquial. Coerência temática Todos os enunciados de um texto precisam ser coerentes e relevantes para o tema, com exceção das inserções explicativas, como citações e paráfrases. Para que se consiga a coerência temática, trechos irrelevantes, frases que em nada contribuem para a sequência lógica dos argumentos devem ser evitados. Coerência genérica Está relacionada à escolha adequada do gênero textual, que deve estar de acordo com o conteúdo do enunciado. Existe um gênero disponível para cada ato de fala e escrita: um anúncio, uma crônica, um conto. A ruptura com esse padrão só é admitida nos textos que adotam a linguagem literária.
D09 Coesão e coerência textual
Coerência pragmática Refere-se ao texto visto como uma sequência de atos de fala. Acontece quando as condições do contexto são favoráveis aos atos de fala dos interlocutores. Podemos citar um exemplo prático: quando fazemos uma pergunta para um interlocutor, a coerência pragmática exige que ele elabore uma resposta, dando sequência aos atos de fala e à comunicação. Se essas condições são ignoradas, o resultado é a incoerência pragmática.
673
Português
Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01 e 02
03. (IME SP) ONDE ESTOU?
A chuva salvou o GP Brasil. Vinte minutos de toró, mais uma brilhante corrida de Ayrton Senna, transformaram um passeio de Alain Prost num pesadelo molhado. O francês da Williams foi derrotado pela água[...] Para ganhar a corrida de Interlagos, Senna contou com sorte, perícia, uma tática bem traçada e, sobretudo, uma burrada sem tamanho de Alain Prost. O nanico, que largou na pole, fazia uma prova sem sustos, liderava com tranquilidade e só perderia se um raio caísse em sua cabeça. Aconteceu quase isso. Na 30ª passagem, debaixo de um belo aguaceiro, não parou para colocar pneus “biscoito” e no fim da Reta dos Boxes perdeu o controle do seu carro, batendo no Minard de Cristian Fittipaldi. (Folha de São Paulo, 29 mar. 1993, 5-1)
01. (Fuvest SP) Há no texto várias palavras e expressões ligadas à chuva, como toró, água, molhado, aguaceiro etc. Ao empregá-las, o autor procurou: a) relatar um acontecimento previsível, verificado durante o GP Brasil. b) apresentar a chuva inesperada como único fator da derrota de Prost. c) apresentar dois pontos de vista com relação ao fenômeno da chuva: um, ligado ao vencido, outro, ao vencedor. d) conseguir efeitos estilísticos que tornassem o texto mais preciso e elegante. e) demonstrar que, às vezes, a providência divina faz sua própria justiça. 02. (Fuvest SP) Em todo o texto, os nomes de Alain Prost e Ayrton Senna nunca são retomados expressamente pelo pronome ele. O autor, a) não repetindo pronomes, caracteriza, com precisão, a personalidade de cada um dos pilotos. b) preferindo os recursos utilizados, deprecia Prost e evita D09 Coesão e coerência textual
possíveis ambiguidades. c) empregando a expressão “o francês da Williams”, subestima um possível motivo da superioridade de Prost. d) utilizando esse expediente, dá o máximo de informações sobre os dois pilotos rivais. e) optando por outras expressões, torna o texto propositadamente prolixo e confuso.
674
(Cláudio Manuel da Costa)
Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era: Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! (Obras, 1768) SECCHIN, Antônio Carlos. ANTOLOGIA TEMÁTICA DA POESIA BRASILEIRA – Faculdade de Letras, UFRJ, 1 semestre de 2004.
O lugar a que se refere o autor na primeira estrofe é definido e referenciado pelos elementos sublinhados em a) sítio e contemplá-lo. (versos 1 e 4) b) prado e natureza. (versos 2 e 3) c) diferente e tímido. (versos 2 e 4 ) d) outra e tímido. (versos 3 e 4) e) natureza e esmoreço. (versos 3 e 4) Texto comum às questões 04 e 05 Um casal decide passar as férias numa praia do Caribe, no mesmo hotel onde passou a lua de mel 20 anos antes. Por causa do trabalho, a mulher não pode viajar com o marido. Deixa para ir alguns dias depois. Quando o homem chega a seu quarto do hotel, vê que há um computador com acesso à Internet. Decide então enviar um e-mail à mulher, mas erra uma letra sem perceber e o envia a outro endereço. O e-mail é recebido por uma viúva que acabara de chegar do enterro do marido. Ao conferir seus e-mails, ela desmaia instantaneamente. O filho, ao entrar em casa, encontra a mãe caída perto do computador. Na tela está escrito: Querida esposa, cheguei bem. Provavelmente você se surpreenda ao receber notícias minhas por e-mail. Mas agora tem computador aqui e pode-se enviar mensagens às pessoas queridas.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
rado para você vir na sexta que vem. Tenho muita vontade de te ver, e espero que sua viagem seja tranquila como está sendo a minha. Obs.: Não traga muita roupa. Aqui faz um calor infernal. (Chagas, P. F. Época, 03/07/2006.)
04. (UFMT) Em relação à organização dos componentes coesão e coerência no texto, assinale a afirmativa correta. a) No trecho “Mas agora tem computador aqui e pode-se enviar mensagens às pessoas queridas”, a relação de sentido que emerge entre as orações é de causa-consequência, embora o conector e seja gramaticalmente classificado como aditivo. b) A mistura de pronomes, como em “Tenho muita vontade de te ver e espero que sua viagem seja tão tranquila como está sendo a minha”, não se apresenta como problema de coerência, mesmo no registro formal.
Estão corretas as afirmativas: a) I, II e III, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) I e II, apenas. e) I, II, III e IV. 06. (FGV SP) Peça-chave em qualquer economia desenvolvida, a moeda americana ________________ pode significar um perigo. A excessiva valorização do dólar já provoca mudanças de hábitos de consumo da classe média. Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados Unidos para – além de aproveitar as férias – pagar mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para bebês, entre outros itens. Mas, pela primeira vez em muito tempo, está deixando de ser vantajoso _______________ das férias e fechar negócios em solo americano. Em economias abertas como a brasileira, que dependem do fluxo de comércio internacional, a alta do dólar _________________ uma série de prejuízos.
c) Em “Quando o homem chega a seu quarto de hotel, vê que há um computador com acesso à internet” e em “mas erra uma letra sem perceber e o envia a outro endereço” os pronomes sublinhados retomam, respectivamente, o sentido de casal e homem. d) O conector onde, no trecho no mesmo hotel onde passou a lua-de-mel 20 anos antes, exemplifica o uso inadequado,
(IstoÉ, 19.08.2015. Adaptado)
Considere o trecho: “Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Estados Unidos para – além de aproveitar as férias – pagar mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para bebês, entre outros itens.”
meramente aglutinador de ideias, uma ligação universal.
Assinale a alternativa em que esse trecho está reescrito ade-
e) No trecho “Tenho muita vontade de te ver, e espero que sua
quadamente, considerando-se os aspectos de coesão e coerên-
viagem seja tão tranquila como está sendo a minha”, a presença da vírgula, além da conjunção, justifica-se por enfatizar a ideia de adição e a da progressão do dizer. 05. (UFMT) Sobre o texto acima, analise as afirmativas. I.
II.
mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para bebês, entre outros itens. b) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Esta-
vras e expressões como “aqui, você vir na sexta que vem,
dos Unidos, embora aproveitassem as férias, também paga-
Aqui faz um calor infernal”, faz parte da construção do
ram mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésti-
humor do texto.
cas, roupas e acessórios para bebês, entre outros itens.
Os trechos “Quando o homem chega a seu quarto de
c) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Esta-
hotel, vê que há um computador com acesso à Internet”
dos Unidos para aproveitar as férias e também para pagar
e “Mas agora tem computador aqui e podem-se enviar
mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas,
mação; o uso do verbo ter no segundo deve-se à situação
roupas e acessórios para bebês, entre outros itens. d) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Esta-
de coloquialidade.
dos Unidos, que aproveitaram as férias, inclusive para pagar
O texto engloba três situações, duas verossímeis – férias
mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas,
de um casal e uma senhora recentemente viúva, e uma inverossímil, criada a partir das anteriores. IV.
dos Unidos e aproveitaram as férias, conquanto pagassem
A ambiguidade, intencionalmente criada, de certas pala-
mensagens às pessoas queridas” contêm a mesma infor-
III.
cia textual. a) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram para os Esta-
O texto é construído de forma narrativa, com ação situada no presente, utilizando a técnica do flashback com discurso direto.
roupas e acessórios para bebês, entre outros itens. e) Nos últimos anos, muitos brasileiros viajaram tanto para os Estados Unidos que aproveitaram as férias, inclusive para pagar mais barato por artigos eletrônicos, utilidades domésticas, roupas e acessórios para bebês, entre outros itens.
675
D09 Coesão e coerência textual
Acabo de chegar e já me certifiquei de que está tudo prepa-
Português
Exercícios Complementares 01. (UCS RS)
D09 Coesão e coerência textual
Zilda Arns, a empreendedora social 01 Quis o destino que Zilda Arns morresse enquanto fazia uma palestra numa igreja no Haiti, o país mais pobre 02da América Latina. Como disse seu irmão dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, “foi uma morte 03bonita, pois ela morreu no cumprimento de uma causa na qual sempre acreditou”. O belo exemplo de Zilda Arns é 04um conforto diante das imagens devastadoras de Porto Príncipe após o terremoto que assolou o país na terça-feira 0512 e matou, segundo estimativas do governo local, pelo menos 100 mil pessoas. Nos 26 anos dedicados _____ 06Pastoral da Criança, a médica sanitarista revelou-se uma senhora empreendedora social, capaz de salvar milhões de 07vidas de crianças pobres no Brasil e em mais de 20 países. 08 Sua fórmula de sucesso era simples, como geralmente são _____ ideias vencedoras no mundo dos negócios. 09 Uma empresa precisa conhecer o público-alvo, comunicar-se com ele de forma eficiente e oferecer o produto 10adequado. Zilda Arns fazia tudo isso: falava a língua dos pobres, era compreendida e mudava suas vidas ensinando 11conceitos básicos de alimentação e cuidados diários das crianças. “Leite de mãe é vivo. Leite de mamadeira é 12morto”, era seu slogan para estimular a amamentação. Seu principal produto, o soro caseiro, uma mistura de água, 13sal e açúcar, era ensinado aos pais para o tratamento de desidratação e diarreia, provocando uma mudança de 14hábitos salvadora nas comunidades pobres – muitas mães negavam água _____ crianças doentes, com medo de 15agravar a situação. Para convencê-las, Zilda Arns tinha uma estratégia de marketing infalível: regava flores murchas 16com o soro no início das conversas e mostrava o resultado ao final, a volta do viço. 17 Em Florestópolis, cidade do Paraná onde começou o trabalho, morriam 127 bebês a cada mil nascidos vivos. 18A taxa de mortalidade infantil caiu para 11 nas regiões atendidas pela Pastoral da Criança, abaixo da média nacional, 19de 19,3 por mil. Gastando pouco, ela promoveu uma revolução na saúde e criou uma tecnologia de fácil exportação. 20O custo baixo dos projetos e sua simplicidade atraiu diferentes governos. Daí, sua última viagem, ao Haiti. 21 Como legado, Zilda Arns deixa uma instituição consolidada, com 1,5 milhão de famílias cadastradas em 42 22 mil comunidades carentes. Além de 108 mil gestantes, a Pastoral acompanha quase dois milhões de crianças de até 23 seis anos. Em qualquer fábrica, repetir a mesma tarefa com igual qualidade é essencial. O simples ato de pesar com 24 frequência meninos e meninas define correções em sua alimentação, garantindo a sobrevivência e saúde. A 25coor-
676
denadora não precisou ler manuais de administração para saber que o pós-venda é essencial para manter o 26cliente. Nenhum líder transforma nada sozinho e ela sabia replicar seu trabalho. A Pastoral da Criança atua com 260 27mil voluntários bem treinados. “Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua 28transformação”, escreveu em seu último discurso. Zilda Arns não ganhou o Prêmio Nobel da Paz, mas será lembrada 29para sempre. Sua obra continua viva. (GAMEZ, Milton. Istoé Dinheiro, ano 12, n. 641, p. 90, 20 jan. 2010.)
Analise a veracidade (V) ou falsidade (F) das proposições abaixo. ( ) A palavra senhora (ref. 06) pode, neste contexto, ser considerada polissêmica, pois permite as seguintes leituras: “uma excelente empreendedora” ou “uma mulher madura e experiente na sua área”. ( ) A expressão tudo isso (ref. 10), além de sintetizar as afirmações das refs. 09 e 10, que remetem ao mundo empresarial, anuncia a explicitação de algumas das ações pontuais de Zilda. ( ) O pronome –las(ref. 15) refere-se a crianças doentes (ref. 14). Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo. a) V – V – V b) F – F – F c) V – V – F d) F – F – V e) F – V – F 02. (Fac. Cultura Inglesa SP) __________ muito desgaste nas últimas décadas, os fados voltam a sorrir para a família real britânica. __________ se comemoravam os 60 anos da coroação de Elizabeth 2.ª quando o nascimento de seu bisneto George Alexander Louis, filho do duque e da duquesa de Cambridge, permitiu que às pompas do jubileu se sucedesse nova fase, agora de derretimentos e fofuras. Com uma função afetiva que oscila entre a de símbolo patriótico e a de mascote doméstico, a família real atende às pressões contraditórias de um mundo __________ fronteiras econômicas se dissolvem e barreiras de classe, raça ou nacionalidade permanecem. As origens familiares de Kate Middleton decerto se encaixam nesse contexto. (Folha de S.Paulo, 28.07.2013. Adaptado.)
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Garantem-se a coesão e a coerência textual preenchendo-se as
5
lacunas do texto, respectivamente, com:
afeto varia muito de pessoa para pessoa. Entretanto, 6 essa questão costuma ser negligenciada quando autores populares aconselham o que fazer para fortalecer um romance. 7 Quando presumem que todos se assemelham em termos de personalidade, tais autores adotam a abordagem “tamanho 8 único” para os assuntos afetivos. Como resultado, isso gera frustração entre os parceiros. Desconfie. Qualquer que seja o 9 caso, aqui estão quatro dimensões de personalidade a serem levadas em consideração.
a) Com – Inclusive – o qual. b) Devido a – Também – onde. c) Ante – Logo – cujas. d) Embora – Até – que. e) Depois de – Ainda – em que. 03. (FGV SP)
Parece óbvio que a maneira pela qual expressamos nosso
(HOFFMAN, Edward. Como você demonstra afeto? Seção Conexões da alma. In: Bons fluidos: atitude, bem-estar, autoconhecimento, São Paulo: ed.175, ano 17, n. 10, out. 2013)
Para que o fragmento acima manifeste coerência interna, a sua sequência imediata deve citar, por exemplo,
Levando em consideração os elementos verbais e não verbais dos quadrinhos, em conformidade com a norma-padrão, os termos que garantem coesão e coerência às falas das personagens são, respectivamente: a) este ... Existe b) aquele ... Existem c) esse ... Tem d) este ... Há e) aquele ... Há 04. (Puc Campinas SP) Como os filmes de Hollywood lembram, a maioria de nós pro-
1
cura um amor duradouro, não importa a idade. Psicólogos
2
agora sabem que cada um de nós expressa afeto de maneira diferente. Alguns são fortemente emotivos e convivem quase que 3 diariamente com altos e baixos no humor. Já outros são plácidos e serenos. Enquanto uns apresentam maior dificuldade para 4 revelar seus sentimentos, outros abrem-se para estranhos no ônibus ou avião.
singulares, possibilita relacionamentos duradouros. 05. (FPS PE) O estresse nosso de cada dia Trânsito caótico, pressão no trabalho, conflitos familiares, imprevistos, rotina corrida. Junto a esses problemas vêm também as noites mal dormidas, tensões pelo corpo, distração e irritabilidade. Todos esses fatores podem acarretar estresse, que é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o Mal do Século, atingindo em torno de 9 a cada 10 indivíduos atualmente. De acordo com especialistas, é preciso encontrar uma forma de aliviar esses efeitos, para evitar prejuízos maiores na saúde física e mental das pessoas. “Nos dias de hoje é bastante difícil fugir de situações conflitantes, mas as dificuldades e preocupações não podem interferir no nosso bem-estar. É preciso saber lidar com o estresse de alguma forma, pois ele é um fator de risco para inúmeras doenças que afetam o coração, o cérebro e os sistemas imunológico e gastrointestinal”, alerta a cardiologista Sylvia Andrade. O estresse também está relacionado à memória, à tristeza e, em alguns casos, pode desencadear doenças mentais, como depressão e síndrome do pânico. 677
D09 Coesão e coerência textual
(Dik Browne. Hagar, o Horrível. Folha de S.Paulo, 09.08.2015. Adaptado)
a) diagrama das posições relativas dos planetas e dos signos zodiacais no momento específico do nascimento de um possível parceiro, instrumento para inferir o caráter e os traços de personalidade típicos da conjunção astral. b) classificações de personalidade que determinam o comportamento de um possível parceiro no que se refere especificamente à expressão de afeto. c) relações de perfis que contenham a determinação do padrão a ser adotado por um possível parceiro em demonstrações de afeto, modo esse de fortalecer uma relação afetiva. d) categorias que, abrangendo distintos aspectos psíquicos, possam ser úteis no processo de percepção da individualidade de um possível parceiro. e) elenco de questões que interferem no relacionamento afetivo, cujo estudo, baseado na desconfiança quanto a soluções
Português
Além de, quase sempre, causar danos à saúde, o estresse pode prejudicar o convívio social do indivíduo. “A tendência é a pessoa ficar irritadiça, nervosa, e com isso se afastar dos amigos, dos familiares”, explica Sylvia. A orientação da médica é encontrar uma atividade que proporcione momentos relaxantes. “Seja uma viagem com a família, um passeio, uma atividade manual ou um exercício físico, o ideal é achar o que faz relaxar, desopilar”, diz. “Há estudos que comprovam que um animal de estimação pode ajudar muito no alívio do estresse e até de sintomas de depressão”, conclui. De fato, o estresse, cada vez mais comum entre os habitantes das grandes cidades, pode causar sérios problemas na saúde física e mental das pessoas. (Revista Veja, Edição 2338, 11/09/2013. Adaptado).
O primeiro período do texto rompe com os padrões mais comuns da construção sintática dos períodos, pois: a) reúne palavras ora no singular, ora no plural; sem coerência, portanto. b) constitui uma série de itens nominais apenas, sem um verbo expresso como predicado. c) é destituído de coesão: as palavras estão soltas, sem afinidade semântica. d) não é facilmente interpretável; nem mesmo com a continuação do texto. e) apresenta palavras de classes morfológicas e categorias gramaticais distintas. 06.
07. (IF AL)
http://www.wescleb.com.br
A coerência, como fator importante de significação e de compreensão textual da charge VOTE EM BRANCO!, está presente em razão de a) proporcionar o confronto entre propostas de candidatos diversos e as do candidato Branco. b) tratar a importância do voto por um candidato sincero. c) dispor exemplos das reivindicações de grande maioria da população brasileira. d) demonstrar, expressamente, as consequências do voto em branco. e) estabelecer um trocadilho irônico entre o contexto político atual e o candidato Branco. 08. (ITA SP) A adivinha é um gênero da oralidade popular que formula construções como: “O que é, o que é: tem escamas mas não é peixe, tem coroa mas não é rei? O abacaxi!. Ela consiste num jogo enigmático de perguntas que, por conterdualidades e oposições, leva o ouvinte a pensar. Considerando essa definição, leia o poema abaixo de Orides Fontela. Adivinha O que é impalpável mas pesa o que é sem rosto mas fere
BESSINHA. Disponível em: http://pattindica.files.wordpress.com/ 2009/08/bessinha458904-jpgimage_1245119001858.jpeg (adaptado).
D09 Coesão e coerência textual
As diferentes esferas sociais de uso da língua obrigam o falante a adaptá-la às variadas situações de comunicação. Uma das marcas linguísticas que configuram a linguagem oral informal usada entre avô e neto neste texto é a) a opção pelo emprego da forma verbal “era” em lugar de “foi”. b) a ausência de artigo antes da palavra “árvore”. c) o emprego da redução “tá” em lugar da forma verbal “está”. d) o uso da contração “desse” em lugar da expressão “de esse”. e) a utilização do pronome “que” em início de frase exclamativa. 678
o que é invisível mas dói. (Em: Teia. São Paulo: Geração Editorial, 1996.)
Considere as seguintes afirmações: I. O poema mantém alguns traços formais da adivinha popular. II. Como a adivinha popular, a do poema possui uma única resposta, que é um elemento concreto. III. A adivinha do poema é uma reinvenção da adivinha popular. Está(ão) correta(s) apenas: a) I. d) II. b) I e II. e) II e III. c) I e III.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D10
TEXTO NARRATIVO Desde a nossa infância, estamos cercados por narrações: de histórias infantis até as piadas do cotidiano. É o tipo predominante nos gêneros: conto, fábula, romance, novela, crônica, depoimento, piada, relato, histórias em quadrinhos, letras musicais, poemas narrativos e até diários, como vimos em capítulos anteriores. O texto narrativo é caracterizado por narrar uma história por meio de uma sequência de várias ações reais ou imaginárias, cujo narrador participa ou não da história, em que há uma relação de anterioridade e posterioridade, envolvendo certos personagens.
ASSUNTOS ABORDADOS nn Texto narrativo nn Principais elementos da narrativa nn A estrutura da narrativa nn Tipos de discurso
A narração é um texto dinâmico, que contém vários fatores de dependência que são extremamente importantes para a boa estruturação do texto. Narrar é contar um fato, e como todo fato ocorre em determinado tempo e lugar, em toda narração há sempre um começo, um meio e um fim. São requisitos básicos para que a narração esteja completa. Para que a narração seja dotada de sentido, ela deve contar com a participação de alguns elementos indispensáveis que têm funções primordiais à sua desenvoltura, são eles: narrador, personagens, espaço, tempo e enredo, que é o assunto sobre o qual o texto trata.
Principais elementos da narrativa Narrador é aquele que conta a história, é quem seleciona os fatos narrados e os apresenta de determinada maneira, de acordo com sua intenção. É ele também quem marca o tom da narração, a ordem dos fatos, caracteriza as personagens. Ele pode fazer parte da história, ou apenas contá-la para o leitor. Dependendo da posição do narrador em relação ao fato narrado, a narrativa pode ser feita em primeira ou em terceira pessoa do singular. Temos então o ângulo, o ponto de vista, o foco pelo qual serão narrados os acontecimentos: chamamos, a isso de foco narrativo. 679
Português
Narrador em primeira pessoa
Personagens
No foco narrativo em primeira pessoa, o narrador participa dos acontecimentos. Ele conta a história do ponto de vista da personagem que é ele mesmo. Em outras palavras, o narrador se torna também um personagem, assumindo a condição de narrador protagonista ou narrador coadjuvante. Ele apenas conhece seus próprios pensamentos e as ações que se vão desenrolando, das quais também participa. Os conhecimentos sobre as demais personagens e sobre a totalidade do enredo são limitados. O leitor vai fazendo suas descobertas ao longo da história junto com a personagem.
As personagens são os entes que realizam ação. Constituem os seres reais ou fictícios que vivem os fatos narrados, interagindo com o leitor de acordo com o modo de ser e de agir. Podem ser pessoas, animais ou objetos personificados. São classificadas em principais (protagonista ou antagonista) e secundárias (adjuvantes ou coadjuvantes). Entre as principais, destacam-se o protagonista, aquele que conduz a ação, e o antagonista ou opositor, personagem que se opõe ao protagonista.
A principal característica desse foco é, então, a visão subjetiva que o narrador tem dos fatos: ele narra apenas o que vê, observa e sente, ou seja, os fatos passam pelo filtro de sua emoção e percepção. Nesse caso, a narração em primeira pessoa permite ao autor penetrar e desvendar com maior riqueza o mundo psicológico da personagem. Narrador em terceira pessoa No foco narrativo em terceira pessoa, o narrador preza pela descrição dos personagens sem intervir na história. Nele, o narrador não participa ativamente dos fatos relatados, mas sabe de tudo observando de uma perspectiva do alto, acima de tudo e de todos, tendo em vista que ele fica do “lado de fora”, limitando-se somente a repassar, ao leitor, aquilo que vê. Essa situação lhe permite saber do passado e do futuro, das emoções, sentimentos e pensamentos dos personagens. nn Narrador
onisciente: é o tipo de narrador que conhece toda a história, inclusive o pensamento dos personagens. nn Narrador observador: ao contrário do onisciente, o narrador observador não conhece toda a história, apenas se limita a narrar os fatos à medida que eles acontecem, sem se envolver neles.
Espaço Os acontecimentos da narração sempre se dão em algum lugar. Muitas vezes pode-se deduzir o lugar onde ocorre a ação sem a necessidade de que ele seja especificado pelo narrador. Podem ocorrer em um ambiente físico, ambiente psicológico ou ambiente social. Tempo Nos textos narrativos, a informação se organiza de acordo com uma ordem temporal. O tempo revela sua fundamental importância, pois retrata a duração em que se dá a ação e o desenrolar dos acontecimentos. Retrata o momento em que ocorrem os fatos (manhã, tarde, noite). A narrativa pode evidenciar os fatos refletindo fielmente a ordem em que ocorrem, de tal maneira que se apresentem no início os acontecimentos mais remotos e, no final, os mais recentes. Nesse caso, diz-se que tem um desenvolvimento linear. O tempo pode ser cronológico ou psicológico. nn Cronológico: determinado por horas, dias, anos e da-
tas, revelado por acontecimentos dispostos em uma ordem sequencial e linear: início, meio e fim. nn Psicológico: refere-se às lembranças e vivências das personagens. Aquele ligado às emoções e sentimentos, revelados por momentos imprecisos. Por isso, nele percebemos que muitas vezes há a fusão do presente, passado e futuro.
D10 Texto narrativo
Figura 01 - Grandes escritores da literatura universal, entre eles, Edgar Allan Poe e William Shakespeare.
680
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A estrutura da narrativa Também chamado de intriga, o enredo é composto pelos acontecimentos que ocorrem em um determinado tempo e espaço e são vivenciados pelas personagens. É o conjunto de incidentes que constituem a ação da narrativa. Todo enredo é composto por um conflito vivido por um ou mais personagens, cujo foco principal é prender a atenção do leitor por meio de um clima de tensão que se organiza em torno dos fatos e os faz avançar. Existem ações principais e ações secundárias, dependendo da importância que apresentam na narração. O enredo pode estar fechado, quando é definido e conhecido o final da história, ou aberto, quando não há um final definitivo e conhecido para a narrativa. Muitas vezes, o conflito determina as partes do enredo, que são as seguintes: Introdução A introdução se refere à situação inicial, onde e quando se passa a história. Também chamada de apresentação, é nessa parte da narração que são apresentados os principais elementos da narração: espaço, tempo, personagens, enredo e narrador. É aqui que ficamos sabendo quem são os personagens, quando a ação se desenvolve e onde as personagens estão. Desenvolvimento Durante o desenvolvimento do enredo, ocorrem os conflitos, ou seja, acontecimentos que quebram o equilíbrio apresentado na introdução, modificando essa situação inicial. Ficamos sabendo o que aconteceu e como ocorreu. Esse é o momento da busca de solução do conflito. Uma narrativa pode ter mais de um conflito. Em um romance, por exemplo, muitos são os conflitos desenvolvidos ao longo da história. No desenvolvimento, ocorre também o momento mais tenso e emocionante da história, o clímax. Esse é o momento chave da narrativa. O clímax é o ponto do enredo em que a ação atinge seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável. Deve ser um trecho dinâmico e emocionante, cujos fatos se encaixam para chegar ao desenlace ou à conclusão. Conclusão É a solução do conflito instaurado. Também chamada de desfecho, desenlace ou epílogo, a conclusão é a parte da narração em que se resolvem os conflitos (positiva ou negativamente). Muitas peripécias ficaram pendentes durante o desenvolvimento do texto e agora é hora de solucionar o “quebra-cabeça”. Pode apresentar um final trágico, cômico, triste, ou surpreendente.
Tipos de discurso
D10 Texto narrativo
Na narração, existem três formas de citar a fala dos personagens: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre.
681
Português
Discurso direto No discurso direto, a própria personagem fala, ou seja, por meio do discurso direto, reproduzem-se literalmente as palavras da personagem. É caracterizado por ser uma transcrição exata da fala das personagens, sem participação do narrador. Observamos a presença dos verbos da categoria dicendi, ou seja, aqueles que têm relação com o verbo “dizer”. São chamados de “verbos de elocução”: falar, responder, perguntar, indagar, declarar, exclamar, dentre outros. Podemos observar também a utilização dos sinais de pontuação: travessão, exclamação, interrogação, dois pontos, aspas. Discurso indireto No discurso indireto, o narrador conta-nos aquilo que a personagem pensou ou falou. O narrador interfere na fala da personagem. É caracterizado por ser uma intervenção do narrador no discurso ao utilizar as suas próprias palavras para reproduzir as falas das personagens. Dito de outro modo, o discurso indireto é narrado em 3ª pessoa, apresenta o narrador transmitindo com suas palavras o pensamento ou fala das personagens. As palavras da personagem não são reproduzidas, mas traduzidas na linguagem do narrador. No discurso indireto, algumas vezes são utilizados os verbos de elocução: falar, responder, perguntar, indagar, declarar, exclamar. Uma oração subordinada é introduzida, geralmente, pelas conjunções que e se, que podem estar escondidas (elipse), porém não será utilizado o travessão. Discurso indireto livre É o resultado da mistura do discurso direto e indireto. No discurso indireto livre há intervenções do narrador e das falas dos personagens. É uma combinação dos dois anteriores, confundindo as intervenções do narrador com as dos personagens. Esse tipo de referência exige muita atenção do leitor, porque a fala do personagem não é destacada pelas aspas, nem introduzida por verbo dicendi ou travessão. A fala surge de repente, no meio da narração, como se fossem palavras do narrador. Esse tipo de discurso é muito usado em narrativas modernas, pela fluência e ritmo que dá ao texto.
D10 Texto narrativo
O tempo verbal é fator marcante para determinar os tipos de discursos. Veja o quadro abaixo:
682
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Questão 01. a) Entre os elementos empregados para simular o fluxo de consciência podem-se apontar a reiteração insistente da conjunção aditiva e, a ausência de pontuação e a repetição vocabular. Esses procedimentos contribuem para sugerir o caráter labiríntico do período, buscando imitar a liberdade característica do monólogo interior. b) Há discurso direto, que consiste na transcrição fiel da fala de uma personagem, em “deixe de preguiça menino” e “você não quer mesmo almoçar?”.
Exercícios de Fixação
Luiz Vilela. Eu estava ali deitado.
a) O texto procura representar um “fluxo de consciência”, ou seja, a livre-associação de ideias do narrador-personagem. Aponte dois recursos expressivos, presentes no texto, que foram empregados com essa finalidade. b) Cite, do texto, um exemplo de emprego do discurso direto. 02. (Ufu MG) Em uma entrevista à revista Veja em 17 de janeiro de 2015, Edward Frenkel, um dos maiores pensadores da matemática moderna, ao ser questionado sobre a razão de tanta gente detestar matemática, afirmou: – Existem vários fatores. A principal razão de grande parte das pessoas não gostar de matemática é porque não sabe do que se trata. Mas pensa que sabe, o que é pior ainda, pois foi apresentada na escola a uma fração minúscula do tema, de forma muito ruim, e ficou com um gosto amargo na memória. Uma das missões que me proponho é diminuir o estrago causado pelo sistema de ensino. Seria muito mais fácil se meus leitores nunca tivessem ouvido falar do assunto e eu pudesse explicá-lo partindo do zero. a) Transcreva para o discurso indireto a resposta dada por Frenkel ao jornalista da Veja, de modo que tanto a pergunta quanto a resposta constituam um único texto com sentido completo. b) Parafraseie a resposta dada por Frenkel e, na sequência, redija um exemplo real ou fictício, que corrobore com a ideia de que ”Seria muito mais fácil se meus leitores nunca tivessem ouvido falar do assunto e eu pudesse explicá-lo partindo do zero”. 03. (Unifor CE) Joyce é o único que enxerga um pouco, mas perdeu seus óculos. Só enxerga vultos, silhuetas, esboços, primeiros tratamentos, meias palavras, reticências. (...) Súbito, Borges pega alguma coisa. Uma frase. Ergue a mão que
segura a frase gotejante e pergunta o que é. Um conceito? Uma estrofe? Em que língua? - É Dublin – diz Joyce. (VERISSIMO, Luis Fernando. Mar de palavras. In: _____. A eterna privação do zagueiro absoluto. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.)
Considerando: I. Discurso direto. II. Discurso indireto. III. Discurso indireto livre. O texto apresenta, apenas a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) I, II e III. 04. (Unitau SP) “Nhô Augusto não tirou os olhos, até que desaparecessem. E depois se esparramou em si, pensando forte. Aqueles, sim, que estavam no bom, porque não tinham de pensar em coisa nenhuma de salvação de alma, e podiam andar no mundo, de cabeça em-pé... Só ele, Nhô Augusto, era quem estava de todo desonrado, porque, mesmo lá, na sua terra, se alguém se lembrava ainda do seu nome, havia de ser para arrastá-lo pela rua-da-amargura... O convite de seu Joãozinho Bem-Bem, isso, tinha de dizer, é que era cachaça em copo grande! Ah, que vontade de aceitar e ir também... E o oferecimento? Era só falar! Era só bulir com a boca, que seu Joãozinho Bem-Bem, e o Tim, e o Juruminho, e o Epifânio – todos – rebentavam com o Major Consilva, com o Ovídio, com a mulher, com todo-o-mundo que tivesse tido mão ou fala na sua desgarração. Eh, mundo velho de bambaruê e bambaruá! Eh, ferragem!... E Nhô Augusto cuspiu e riu, cerrando os dentes.” João Guimarães Rosa. A hora e a vez de Augusto Matraga. 1946.
No trecho acima, notamos a presença de a) discurso direto e aliteração em “bulir com a boca” e “Joãozinho Bem-Bem”. b) discurso indireto e aproveitamento de cantigas de congada em “bambaruê e bambaruá”. c) discurso indireto livre e metáfora em “O convite de seu Joãozinho Bem-Bem, isso, tinha de dizer, é que era cachaça em copo grande!”. d) discurso indireto e redundância em “E depois se esparramou em si, pensando forte”. e) discurso indireto livre e antropomorfização em “E Nhô Augusto cuspiu e riu, cerrando os dentes”.
Questão 02. a) Se o candidato retomar a pergunta e empregar adequadamente os elementos do discurso indireto. b) Se o candidato fizer, adequadamente, a paráfrase e o exemplo.
683
D10 Texto narrativo
01. (Fuvest SP) Leia o trecho abaixo, extraído de um conto, e responda ao que se pede. Eu estava ali deitado olhando através da vidraça as roseiras no jardim fustigadas pelo vento que zunia lá fora e nas venezianas de meu quarto e de repente cessava e tudo ficava tão quieto tão triste e de repente recomeçava e as roseiras frágeis e assustadas irrompiam na vidraça e eu estava ali o tempo todo olhando estava em minha cama com minha blusa de lã as mãos enfiadas nos bolsos os braços colados ao corpo as pernas juntas estava de sapatos Mamãe não gostava que eu deitasse de sapatos deixe de preguiça menino! mas dessa vez eu estava deitado de sapatos e ela viu e não falou nada ela sentou-se na beirada da cama e pousou a mão em meu joelho e falou você não quer mesmo almoçar?
Português Questão 03. Calvin perguntou à sua mãe o que era aquilo e disse que lhe parecia horrível. A mãe de Calvin disse que era comida vegetariana e que era bom para ele. Humpty Dumpty exclamou que haviam dado a ele aquela bela gravata como um presente de desaniversário. Alice, sentindo-se muito confusa, pediu a Humpty Dumpty que a perdoasse.
Exercícios Complementares 01. (UFG GO) Em Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, o empre-
– Deram-me esta bela gravata... como um presente de de-
go do fluxo de consciência cria um efeito de fusão da fala
saniversário!
da personagem à do narrador. Esse efeito está explícito no
– Por favor, me perdoe... – disse Alice, muito confusa.
seguinte trecho:
– Não estou ofendido, e você não precisa se desculpar – dis-
a) “’Não esquenta, eu sou médico’. Nunca em sua vida
se Humpty Dumpty.
aquelas palavras tinham soado tão artificiais saindo de
– O que quero dizer, senhor, é... o que é um presente de
sua boca. Eu sou um médico.” (p. 153)
desaniversário?
b) “A mão dela espalhou na pele a gota vermelha que tinha
– Um presente oferecido quando não é seu aniversário, na-
escorrido quase até o umbigo. Hermano gravou a cena toda
turalmente. [...]. Bem, isso demonstra que há trezentos e
mentalmente. Sabia que jamais ia esquecer aquilo.” (p. 142)
sessenta e quatro dias por ano em que você pode receber
c) “Era Naiara, a irmã menor do Bonobo. Ele começou a
presentes de desaniversário.
ver tudo de fora, como uma câmera instalada no teto do
– Certamente – concordou Alice.
quarto.” (p. 139)
– E somente um em que você consegue receber presentes
d) “Hermano fazia de tudo para evitar Naiara em público.
de aniversário, percebe? Esta é que é a glória!
Se afastava imediatamente quando ela aparecia, e se as
CARROLL, Lewis. Alice no país do espelho. Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 115-117.
circunstâncias não permitiam, dava um jeito de não trocarem palavra.” (p. 164) e) “Reconhecia a irracionalidade dessa sensação, mas sabia também que a razão não tem poder sobre certas emoções e portanto cultivou a sensação de traição sem procurar sufocá-la.” (p. 163) 02. (UEPB) Dos enunciados a seguir, adaptados da Revista IstoÉ,
Reescreva os dois primeiros quadrinhos da tirinha e as duas primeiras falas do texto, passando-os para o discurso indireto. 04. (Fuvest SP) “‘Muito!’, disse quando alguém lhe perguntou se gostara de um certo quadro.”Se a pergunta a que se refere o trecho fosse apresentada em discurso direto, a forma verbal correspondente a “gostara” seria:
marque a alternativa em cujo discurso direto o verbo “di-
a) gostasse.
cendi” não está declarado.
b) gostava.
a) Disse Dilma na reunião: “Não queremos tecnologia ultra-
c) gostou.
passada. Nós queremos banda larga.” b) “A antena é velha e a gente já ficou até três dias sem internet”, diz o coordenador de informática. c) “Com a banda larga, nós poderemos falar em inclusão digital”, declara o professor confiante. d) “Não tenho computador com banda larga em casa e isso melhora muito nosso rendimento”, comemoram os alunos. e) “As operadoras estão superando as metas e com isso nós vamos mudar o mapa da inclusão digital no Brasil”, afirma o secretário de Educação a Distância. 03. (UEG GO)
d) gostará. e) gostaria. 05. (FGV SP) Assinale a alternativa em que ocorra discurso indireto. a) Perguntou o que fazer com tanto livro velho. b) Já era tarde. O ruído dos grilos não era suficiente para abafar os passos de Delfino. Estaria ele armado? Certamente estaria. Era necessário ter cautela. c) Quem seria capaz de cometer uma imprudência daquelas? d) A tinta da roupa tinha já desbotado quando o produtor decidiu colocá-la na secadora. e) Era então dia primeiro? Não podia crer nisso.
D10 Texto narrativo
06. (Uniube MG) “Perguntei um dia em que ele tanto pensava e ele respondeu que quando crescesse não ia continuar assim um esfarrapado. Que ia ser médico e importante que nem o WATTERSON, Bill. Calvin e Haroldo. Disponível em: <http://depositodocalvin. blogspot.com/2009/calvin-haroldo-tirinha-537.html>. Acesso em: 6 abr. 2009.
684
doutor Pinho. Caí na risada ah ahah. Ele me bateu mas me bateu mesmo e me obrigou a repetir tudo o que ele disse
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
que ia ser. Não dê mais risadas de mim ficou repetindo não sei
08. (Uel PR)
quantas vezes e com uma cara tão furiosa que fui me esconder no mato com medo de apanhar mais.” (TELLES, Lygia Fagundes. A confissão de Leontina. In: PORTELLA, Eduardo. Melhores contos: Lygia Fagundes Telles.12 ed. São Paulo: Global, 2003, p.104-105)
Durante o conto A confissão de Leontina, a autora utiliza- se do discurso: a) Direto b) Indireto c) Indireto livre d) Direto livre e) Direto e indireto 07. (Ibmec SP) A incapacidade de ser verdadeiro Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio um pedaço de lua, todo cheio
(LAERTE. Piratas do Tietê. Folha de São Paulo. São Paulo, 29 ago. 2010.)
de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de
Passando o texto para a segunda pessoa do singular, sem alte-
queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem a sobremesa como foi
ração de sentido, o diálogo correto é:
proibido de jogar futebol durante quinze dias.
a) – Que dirá, senhora, se eu tirasse a barba?
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas
– Em tua barba reside tua autoridade, tua determinação –
da Terra passaram pela chácara de SiáElpídia e queriam formar
em última análise, a essência de vosso poder.
um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe de-
– Agradeço, senhora.
cidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas aba-
– Não é um elogio, caso não o hajas percebido.
nou a cabeça:
b) – Que dirias, senhora, se eu tirasse a barba?
um caso de poesia. (Andrade , Carlos Drummond de. O sorvete e outras histórias. São Paulo: Ática, 1993)
No texto ocorre o discurso direto. Transposto adequadamente
– Em tua barba reside tua autoridade, tua determinação – em última análise, a essência de teu poder. – Agradeço, senhora. – Não é um elogio, caso não o hajas percebido. c) – Que dirão, senhora, se eu tirasse a barba?
para o discurso indireto, teríamos
– Em sua barba reside vossa autoridade, vossa determina-
a) Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça e disse
ção – em última análise, a essência de vosso poder.
a Dona Coló que não havia o que fazer, pois aquele menino
– Agradeço, senhora.
era mesmo um caso de poesia.
– Não é um elogio, caso não o hajam percebido.
b) Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça dizendo que Dona Coló não há o que fazer, sendo o menino um caso mesmo de poesia. c) Como não haveria o que fazer, após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça olhando para Dona Coló. Esse menino é mesmo um caso de poesia. d) Disse o Dr. Epaminondas, após o exame, que Dona Coló não há o que fazer e que este menino é mesmo um caso de poesia. e) Após o exame, o Dr. Epaminondas lamentou que o menino fosse mesmo um caso de poesia. Dona Coló nada poderia fazer.
d) – Que diz, senhora, se eu tirasse a barba? – Em sua barba reside sua autoridade, sua determinação – em última análise, a essência de seu poder. – Agradeço, senhora. – Não é um elogio, caso não o haja percebido. e) – Que diríeis, senhora, se eu tirasse a barba? – Em sua barba reside sua autoridade, sua determinação – em última análise, a essência de seu poder. – Agradeço, senhora. – Não é um elogio, caso não o hajais percebido. 685
D10 Texto narrativo
- Não há o que fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D11
ASSUNTOS ABORDADOS nn Fábula moderna nn Importância do gênero fábula nn Características das fábulas nn Fábula moderna
FÁBULA MODERNA Bem antes do surgimento da escrita, todo o conhecimento era transmitido oralmente. O ato de contar histórias remete ao tempo em que o homem confiava na sua memória e nas suas experiências, resgatando qualidades tão necessárias ao desenvolvimento humano. Contar histórias é uma das mais antigas artes ligadas à essência humana. No passado, ela expressava a materialização do mundo alegórico por meio das palavras e dos gestos para os espectadores ou ouvintes: a família, a comunidade ou a aldeia. O contador de histórias tinha uma grande importância social e cultural. Ele detinha as experiências e a sabedoria de sua época e as transmitia por meio das fábulas.
Fonte: wikimedia commons
Você sabe o que é uma fábula? Já ouviu, leu ou conhece alguma fábula? As fábulas, do latim fabulare, isto é, conversar, são tão antigas quanto as conversas dos homens, às vezes, nem sabemos quem as criou. Por meio da oralidade eram carregadas como vento de um lado para outro. Hoje as fábulas são normalmente transmitidas pelos pais, professores, avôs e avós e estão presentes em livros, peças de teatro, filmes, como também em várias outras formas de comunicação. Fábula é uma composição literária, construída por histórias ágeis, curtas, bastante simbólicas, falando sobre ou criticando as atitudes humanas, virtudes e defeitos, ou ainda aconselhando as pessoas. Figura 01 - O lobo e o cordeiro.
686
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
A fábula é um gênero que surgiu no Oriente, de onde vem uma vasta tradição, passando depois para a Grécia. Esse gênero foi particularmente desenvolvido por Esopo, autor que viveu no século VI a.C., na Grécia antiga. A Esopo foi atribuído um conjunto de pequenas histórias, de caráter moral e alegórico, cujos papéis principais eram desenvolvidos por animais. Cada animal representa algum aspecto ou qualidade do homem, o leão, por exemplo, representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o trabalho. Quando os personagens são seres inanimados, forças da natureza ou objetos, a narrativa recebe o nome de apólogo, que é diferente da fábula. A fábula mostra explicitamente o que outros textos revelam de forma implícita.
Fonte: Wikimedia Commons
SAIBA MAIS
Figura 02 - Pessoas reunidas contando histórias.
Você sabia que nos tempos remotos as pessoas se reuniam ao redor do fogo para se esquentar, divertir e conversar? Elas contavam e repetiam histórias para conservar suas tradições e sua língua, lembrando acontecimentos vivenciados. Assim, elas transmitiam as histórias e o conhecimento acumulado pelas gerações, as crenças, os mitos, os costumes e os valores a serem resguardados.
Importância do gênero fábula O ato de contar uma história, além de atividade lúdica, expande a imaginação, amplia a capacidade de criar, fantasiar e ajuda a criança a organizar sua fala, por meio da coerência e da realidade. Contar histórias é uma experiência de interação. Estabelece o relacionamento cordial entre as pessoas.
Promove a interação entre a pessoa que conta e os que ouvem a história. Essa interação que se estabelece aproxima as pessoas envolvidas. As boas narrativas enriquecem nosso aprendizado, fazem-nos mais protagonistas na resolução dos problemas e, tornando-nos mais flexíveis para aceitar diferenças. Contar uma história é um meio de ensinar sobre a ética, cidadania, respeito, e outros valores importantes. Serve também para despertar o prazer pela arte, a habilidade de dar lógica aos acontecimentos e, principalmente, estimular o interesse pela leitura. No Brasil, o nosso grande represente fabulista é Monteiro Lobato (1882-1948), que se interessou por esse gênero inicialmente tradicional. Seu projeto imprimia uma literatura voltada para as crianças e jovens. Em 1922, escreveu o livro Fábulas. Nessa obra, Lobato não só reconta em prosa algumas fábulas antigas de Esopo, Fedro e La Fontaine como também exibe outras de sua autoria. Assim como La Fontaine, Lobato utiliza-se das fábulas para criticar e denunciar as injustiças, tiranias, mostrando aos leitores a vida como ela é. Um exemplo é a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo no seu livro Fábulas. Nessa obra, Pedrinho diz: “As fábulas, mesmo quando não valem grande coisa, têm um mérito: são curtinhas”. Já Narizinho acha as fábulas sabidíssimas e Emília as considera uma indireta. Em Sítio do Pica-Pau Amarelo, Lobato serve-se da personagem Emília como um poderoso recurso para criticar a Igreja Católica, os maus funcionários públicos e a burocracia da máquina do Estado. Diferentes verdades vão surgindo e se adaptam aos interesses de cada um, expressando uma possível mudança de valores sociais nos séculos. São encontradas nas versões atuais diferentes e criativas formas de linguagem que evidenciam a inversão de valores literários da época. Humoristas como Millôr Fernandes e Jô Soares já fizeram suas paródias de muitas fábulas tradicionais ou mesmo recriaram várias outras. Millôr Fernandes (1923-2012) desfabulista, humorista, desenhista, tradutor e dramaturgo brasileiro do século XX, investiu no fabulário tradicional, trazendo para a realidade brasileira humor e ironia, criando e recriando as fábulas, evidenciando e refletindo valores e antivalores, satirizando a nossa realidade sociopolítica e econômica. Em seu trabalho como escritor, além de crônicas e contos, adaptou e criou fábulas, reunidas em diferentes obras: Fábulas Fabulosas (1963), Novas fábulas fabulosas (1973), Eros uma vez (1987), e Novas fábulas e contos fabulosos (2007). Em seu estilo moderno de produzir as narrativas, Jô Soares julga que o leitor possa “dar conta” da irreverência e a ironia contidas em suas obras. Soares é humorista, apresentador de talk show, produtor teatral, diretor e músico. Ele utiliza-se do humor para mostrar, por meio de animais, as várias facetas do ser humano, ironizando, desfabulando a fábula de forma humorística. 687
D11 Fábula moderna
É uma narrativa em prosa ou poema épico breve, protagonizada por animais, plantas ou até mesmo objetos inanimados que apresentam características humanas, tais como a fala, os costumes. São histórias geralmente feitas para crianças e apresentam uma breve conclusão moralizadora ou um ensinamento instrutivo em que os animais se tornam exemplos para o ser humano, sugerindo uma verdade ou reflexão de ordem moral.
Português
O ambiente existente nas fábulas tradicionais é um espaço fantasiado pela imaginação humana. É um ambiente que não se pode encontrar no mundo da realidade, apresentando regiões e lugares de pouco movimento humano. O tempo é indeterminado, não expõe dia nem hora obedecendo apenas à mudança de pensamento e à sequência das palavras que se manifestam de maneira relativa, perante um determinado momento. nn Narrativa
alegórica em prosa ou verso;
nn Comportamento antropomórfico (de forma semelhante
ao homem) dos animais; dos aspectos, virtudes, qualidades e defeitos do caráter do homem, por meio do comportamento dos animais; nn Por ser um gênero transmitido oralmente, existem várias versões de uma mesma história; nn Apresentação de uma lição moral no final da história. nn Apresentação
Fábula moderna
Fonte: Wikimedia Commons
Na fábula moderna, o ambiente aparece como suporte para dar apoio à existência dos fatos e das personagens no desenrolar da narrativa. O tempo na narrativa moderna tanto pode ser cronológico, como indeterminado, podendo vir descrito o dia ou não. Leia a seguir recriação moderna da fábula A raposa e as uvas na versão bem humorada de Jô Soares.
D11 Fábula moderna
Figura 03 - A raposa e as uvas.
Passava certo dia uma raposa perto de uma videira. Apesar de normalmente nunca se alimentar de uvas, pois se trata de um animal carnívoro e não vegetariano - o que nos faz desconfiar um pouco da fábula original -, sua atenção foi chamada pela beleza dos cachos que reluziam ao sol. Fenômeno estranhíssimo, uma vez que, geralmente, para desespero dos ecologistas, dos adeptos de alimentos naturais, toda fruta cultivada é revestida por uma fina camada protetora de inseticida e dificilmente pode refletir a luz solar com tal intensidade. Sendo curiosa e matreira como toda a raposa matreira e curiosa, aproximou-se para melhor observar a videira. Os cachos estavam colocados muito acima de sua cabeça, e o animal (sem in688
sulto) não teve oportunidade de prová-los, mas, sendo grande conhecedor de frutas, bastou-lhe um olhar para perceber que as uvas não estavam maduras. “Estão verdes” - disse a raposa, deixando estupefatos dois coelhos que estavam ali perto e que nunca tinham visto uma raposa falar. Aliás, depois dos últimos acontecimentos envolvendo gravadores ocultos, as raposas andavam cada vez mais caladas. Na verdade, seu comentário foi ainda mais espantoso, uma vez que as uvas não eram do tipo moscatel, mas sim pequeninas e pretas, podendo facilmente ser confundidas, à primeira vista, com jabuticabas. Note-se por esse pequeno detalhe aparentemente sem importância o profundo conhecimento que a raposa tinha de uvas ao afirmar, com convicção, que, apesar de pretas, elas eram verdes. Dito isso, afastou-se daquele local e foi tentar mais uma vez comer o queijo do corvo, outra compulsão neurótica, pois sabemos perfeitamente que a raposa odeia queijo. Horas depois, passa em frente à mesma videira outra Canis vulpes (nome sofisticado do mesmo bicho), mais alta do que a primeira. Sua cabeça alcança os cachos e ela os devora avidamente. No dia seguinte ao frutífero festim, o pobre bicho acorda com lancinantes dores estomacais. Seu veterinário, imediatamente convocado, diagnostica uma intoxicação provocada por farta ingestão de uvas verdes. Moral: “Nem todas as raposas são despeitadas”. A raposa e as uvas, na versão de Jô Soares, é mais um exemplo de fábula em que a raposa não consegue as desejadas e convidativas uvas. Jô usa a ironia de tal forma que o leitor se habilita a acreditar na verdade da fala da raposa, mas a rejeita acreditando ser esse motivo do desdém do animal. É importante perceber o processo de desfabulação nesse texto. Jô quando põe em questão elementos característicos da fábula (animais que falam e a ambição da raposa pelas uvas) imprime divertimento e humor ao texto, que perde o efeito moral da fábula tradicional de Esopo. O autor procurou um meio de provocar ironia desmistificando características desse gênero de texto embasando-se nos traços do momento atual. O texto de Soares também é um julgamento que se faz ao comportamento e conhecimento humanos, ratificado com a moral da história “Nem todas as raposas são despeitadas”. Assim, ele diz que nem todas as pessoas são iguais.
Fonte: Wikimedia Commons
Características das fábulas
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Exercícios de Fixação
A CAUSA DA CHUVA Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas não chegavam a uma conclusão. – Chove só quando a água cai do teto do meu galinheiro, esclareceu a galinha. – Ora, que bobagem! – disse o sapo de dentro da lagoa. Chove quando a água da lagoa começa a borbulhar suas gotinhas. – Como assim? – disse a lebre. Está visto que chove quando as folhas das árvores começam a deixar cair as gotas d’água que tem dentro. Nesse momento começou a chover. – Viram? – gritou a galinha. O teto do meu galinheiro está pingando. Isso é chuva! – Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? disse o sapo. – Mas, como assim? – tornava a lebre. Parecem cegos? Não veem que a água cai das folhas das árvores? (FERNANDES, Millôr. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1985.)
Os animais começaram a discutir sobre a chuva porqueestavam preocupados com a falta de água. A fábula escrita por Millôr Fernandes é uma afirmativa de que a) cada animal vê a chuva conforme o ambiente em que vive. b) os animais entendem a dinâmica da chuva na floresta. c) os animais veem a chuva como forma de manter a floresta viva. d) todos os animais têm uma visão intuitiva dos fenômenos naturais. e) o mundo é repleto de cientistas. 02. (Ufam AM) Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela que apresenta uma narração e, por isso, exemplifica o gênero épico: a) Faz a imaginação de um bem amado, Que nele se transforme o peito amante; Daqui vem, que a minha alma delirante Se não distingue já do meu cuidado. b) Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e anjo juntamente: Ser angélica flor e anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara? c) Este lugar delicioso e triste, Cansada de viver, tinha escolhido Para morrer a mísera Lindoia. Lá, reclinada, como que dormia, Na branda relva, e nas mimosas flores, Tinha a face na mão e a mão no tronco De um fúnebre cipreste, que espalhava Melancólica sombra.
d) Ó que pão, ó que comida, Ó que divino manjar, Se nos dá no santo altar Cada dia! Filho da Virgem Maria, Que Deus-Padre cá mandou E por nós na cruz passou Crua morte. e) Eu sou aquele que os passados anos Cantei na minha lira maldizente Torpezas do Brasil, vícios e enganos. E bem que os descantei bastantemente, Canto segunda vez na mesma lira O mesmo assunto em plectro diferente. 03. (Puc MG) “Vais encontrar o mundo”, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. “Coragem para a luta.” Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam. (POMPEIA, Raul. O ateneu. São Paulo, FTD, 1992).
Em relação à estruturação da narrativa, o texto apresenta: a) linguagem e ponto de vista infantis. b) narração em primeira pessoa. c) predomínio do discurso direto. d) voz narrativa distante dos fatos narrados 04. (Puc SP) Trecho A: A ciência deste século é uma grandessíssima tola. E, como tal, presunçosa e cheia de orgulhos dos néscios. ................................................................................................. ................................................................................................. .............................................................. Vamos à descrição da estalagem. Não pode ser clássica, assobiam-me todos estes rapazes de pera, bigode e charuto, que fazem literatura cava e funda desde a porta do Marrare até ao café de Moscou...
689
D11 Fábula moderna
01.
Português
Trecho B: A quem custa é a quem paga para todos esses balões de papel – a terra e a indústria ................................................................ ...................................................................................................... ................................ Este capítulo deve ser considerado como introdução ao capítulo seguinte, em que entra em cena Frei Dinis, o guardião de S. Francisco de Santarém. Ao longo do romance Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, há a utilização de oito espaços compostos por linhas pontilhadas, como os acima referidos. A utilização deles pode ser entendida como a) um recurso de impressão gráfica com o objetivo de destacar as partes principais do enredo e orientar o leitor quanto à mudança de modalidade textual. b) um recurso da linguagem modernista de criação da montagem cinematográfica e visual que caracteriza a obra inteira. c) um recurso gráfico inovador, mas negativo porque desestruturante da sequência da obra e empecilho para o claro entendimento do leitor. d) um corte espácio-temporal que marca a passagem de uma digressão à retomada do fio condutor da narrativa. e) uma forma de subentender a sequência por óbvia ou desnecessária mas que fere a estrutura sempre linear desta narrativa.
05. (Enem MEC) História de assombração Ah! Eu alembro uma história que aconteceu com meu tii. Era dia de Sexta-Feira da Paixão, diz que eles falava pra meu tii não num vai pescá não. Ele foi assim mesmo, aí chegô lá, ele tá pescano... tá pescano... e nada de pexe. Aí saiu um mundo véi de cobra em cima dele, aí ele foi embora... Aí até ele memo contava isso e falava É... nunca mais eu vou pescar no dia de Sexta-Feira da Paixão... COSTA, S. A. S. Narrativas tradicionais tapuias. Goiânia: UFG, 2011 (adaptado).
Quanto ao gênero do discurso e à finalidade social do texto História de assombração, a organização textual e as escolhas lexicais do locutor indicam que se trata de um(a) a) criação literária em prosa, que provoca reflexão acerca de problemas cotidianos. b) texto acadêmico, que valoriza o estudo da linguagem regional e de suas variantes. c) relato oral, que objetiva a preservação da herança cultural da comunidade. d) conversa particular, que favorece o compartilhar de informações e experiências pessoais. e) anedota regional, que evidencia a fala e o vocabulário exclusivo de um grupo social.
Exercícios Complementares 01. (UFG GO) Texto 1 Rita Baiana Zezé Motta
D11 Fábula moderna
Olha meu nego quero te dizer O que me faz viver O que quase me mata de emoção É uma coisa que me deixa louca Que me enche a boca Que me atormenta o coração Quem sabe um bruxo Me fez um despacho Porque eu não posso sossegar o facho É sempre assim Ai essa coisa que me desatina Me enlouquece, me domina Me tortura e me alucina Olha meu nego Isso não dá sossego E se não tem chamego Eu me devoro toda de paixão
690
Acho que é o clima feiticeiro O Rio de Janeiro que me atormenta O coração Eu nem consigo nem pensar direito Com essa aflição dentro do meu peito Ai essa coisa que me desatina Me enlouquece, me domina Me tortura e me alucina E me dá Uma vontade e uma gana dá Uma saudade da cama dá Quando a danada me chama Maldita de Rita Baiana Num outro dia o português lá da Gamboa O Epitácio da Pessoa Assim à toa se engraçou e disse: “Oh Rita rapariga eu te daria 100 miréis por teu amor” Eu disse: Vê se te enxerga seu galego de uma figa Se eu quisesse vida fácil Punha casa no Estácio Pra Barão e Senador Mas não vendo o meu amor
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Ah, ah, isso é que não! Olha meu nego quero te dizer Não sei o que fazer Pra me livrar da minha escravidão Até parece que é literatura Que é mentira pura Essa paixão cruel de perdição Mas não me diga que lá vem de novo A sensação Olha meu nego assim eu me comovo Gabarito questão 01 Agora não No Texto 1, letra de canção, percebe-se Ai essa coisa que me desatina a presença de um narrador-personagem que dialoga com seu interlocutor, fazendo Me enlouquece, me domina uma autodescrição de sentimentos. Os pronomes de primeira e de segunda pesMe tortura e me alucina soas do singular e os verbos em primeira E me dá pessoa são marcas enunciativas que reUma vontade e uma gana dá metem à própria personagem Rita Baiana. No Texto 2, quadrinho, o narrador é onisUma saudade da cama dá ciente. É a terceira pessoa que conta o Quando a danada me chama que vê, mas não participa da cena. Termos como “naquela” e o verbo em terceiMaldita de Rita Baiana ra pessoa marcam esse tipo de narrador. Disponível em: <www.letras.mus.br/zeze-motta/240340/>. Acesso em: 3 out. 2012.
Texto 2
matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordandolhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Rio de Janeiro: Otto Pierre, 1979. p. 110-111.
Explique a diferença entre os tipos de narrador nos Textos 1 e 2, ilustrando sua explicação com exemplos de marcas linguísticas da enunciação. Texto comum às questões 02 e 03 Não era feio o lugar, mas não era belo. Tinha, entretanto, o aspecto tranquilo e satisfeito de quem se julga bem com a sua sorte. A casa erguia-se sobre um socalco, uma espécie de degrau, formando a subida para a maior altura de uma pequena colina que lhe corria nos fundos. Em frente, por entre os bambus da cerca, olhava uma planície a morrer nas montanhas que se viam ao longe; um regato de águas paradas e sujas cortava-as paralelamente à testada da casa; mais adiante, o trem passava vincando a planície com a fita clara de sua linha campinada [...]. BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras. p.175.
02. (UEG GO) Com relação ao tempo narrativo, nota-se que a utilização do pretérito imperfeito a) aproxima o material narrado do universo contemporâneo do leitor. b) confere ao texto um caráter dual, que oscila entre o lírico e o metafórico. c) faz com que o tempo da narrativa se distancie, até certo ponto, do tempo do leitor. d) torna o texto mais denso de significação, na medida em que institui lacunas temporais.
ANTONELLI, Ronaldo; VILACHÃ, Francisco S. O cortiço em quadrinhos. Disponível em: <www.4shared.com/office/8bMdNW59/o-cortiço-em-quadrinhos.html>. Acesso em: 22 out. 2012.
Texto 3 Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas
a) são elaboradas com a finalidade de conferir mais agilidade e maior dinamismo à trama do romance. b) são elaboradas de modo que uma se sobrepõe à outra, o que faz decair a qualidade estética do texto. c) se configuram para melhor caracterizar a atmosfera pessimista e sombria do espaço da narrativa. d) se entrelaçam para melhor situar o leitor diante dos eventos que compõem o enredo. 691
D11 Fábula moderna
03. (UEG GO) No excerto, narração e descrição
Português
Texto comum às questões 04 e 05 O conto que vem a seguir é classificado como fantástico. O conto fantástico se constitui de uma narrativa em que se chocam o plano do natural e o plano do sobrenatural (vocábulo que indica somente o que não é natural, não tem conotação religiosa). Nesse conflito, o âmbito do sobrenatural invade o âmbito do natural, geralmente desestruturando-o. O desfecho de uma narrativa fantástica não deve proporcionar, ao contrário do desfecho da narrativa de mistério, um esclarecimento, no texto, para o fato sobrenatural. 67 Nem luz, nem luar. O céu e as ruas 68 apareciam escuros, prejudicando, de certo 69 modo, os meus desígnios. Sólida, porém, era a 70 minha paciência e eu nada fazia senão vigiar 71 os passos de Cris. Todas as noites, após o 72 jantar, esperava-o encostado ao muro de sua 73 residência, despreocupado em esconder-me ou 74 tomar qualquer precaução para fugir aos seus 75 olhos, pois nunca se inquietava com o que 76 poderia estar se passando em torno dele. A 77 profunda escuridão que nos cercava e a 78 rapidez com que, ao sair de casa, ganhava o 79 passeio jamais me permitiram ver-lhe a 80 fisionomia. Resoluto, avançava pela calçada, 81 como se tivesse um lugar certo para ir. Pouco a pouco, 82 os seus movimentos tornavam-se 83 lentos e indecisos, desmentindo-lhe a 84 determinação anterior. Acompanhava-o com 85 dificuldade. Sombras maliciosas e traiçoeiras 86 vinham ao meu encontro, forçando-me a 87 enervantes recuos. O invisível andava pelas 88 minhas mãos, enquanto Cris, sereno e 89 desembaraçado, locomovia-se facilmente. Não 90 parasse ele repetidas vezes, impossível seria a 91 minha tarefa. Quando vislumbrava seu vulto, 92 depois de tê-lo perdido por momentos, 93 encontrava-o agachado, enchendo os bolsos 94 internos com coisas impossíveis de serem 95distinguidas de longe. 96 Na volta, de madrugada, Cris ia retirando 97 de dentro do paletó os objetos que colhera na 98 ida e, um a um, jogava-os fora. Tinha a 99 impressão de que os olhava com ternura antes 100 de livrar-se deles. *** Alguns meses decorridos, os seus passeios 102 obedeciam ainda a uma regularidade 103 constante. Sim, invariável era o trajeto 104 seguido por Cris, não obstante a aparente falta 105 de rumo com que caminhava. Atingia a zona 106 suburbana da cidade, onde os prédios eram 107 raros e sujos. Somente estacava ao deparar 108 uma casa de armarinho, em cuja vitrina, 109 forrada de papel crepom, encontrava-se 110 permanentemente exposta uma pobre boneca. 111 Tinha os olhos azuis e um sorriso de massa. *** 112 Uma noite — já me acostumara ao negro 113 da noite — constatei, ligeiramente 114 surpreendido, que os seus passos não nos 115 conduziriam pelo itinerário da véspera. (Havia 116 algo que ainda não amadurecera o suficiente 117 para sofrer tão súbita ruptura.)
D11 Fábula moderna
101
692
Nesse dia, o andar firme, seguiu em linha 119 reta. Atravessou o centro urbano, deixou para 120 trás a avenida em que se localizava o comércio 121 atacadista. Apenas se demorou uma vez — 122 assim mesmo momentaneamente — defronte 123 a um cinema, no qual meninos de outros 124 tempos assistiam filmes em série. Fez menção 125 de comprar entrada, o que deveras me 126 alarmou. Contudo, sua indecisão foi breve e 127 prosseguiu a caminhada. Enfiou-se pela rua do 128meretrício, parando a espaços, diante dos 129 portões, espiando pelas janelas, quase todas 130 muito próximas do solo. 131 Em frente a uma casa baixa, a única da 132 cidade que aparecia iluminada, estacionou 133 hesitante. Tive a impressão de que aquele 134 seria o instante preciso, pois, se Cris 135 retrocedesse, não lograria outra oportunidade. 136 Corri para seu lado e, sacando do punhal, 137 mergulhei-o nas suas costas. Sem um gemido 138 e o mais leve estertor, caiu no chão. Do seu 139 corpo magro saiu a lua. Uma meretriz que 140 passava, talvez mo118
vida por impensado gesto, 141 agarrou-a nas mãos, enquanto uma garoa de 142 prata cobria a roupa do morto. A mulher, 143 vendo o que sustinha entre os dedos, se 144 desfez num pranto convulsivo. Abandonando a 145 lua, que foi varando o espaço, ela escondeu a 146 face no meu ombro. Afastei-a de mim. E, 147 abaixando-me, contemplei o rosto de Cris. 148 Um rosto infantil, os olhos azuis. O sorriso de 149 massa. Murilo Rubião. Contos reunidos. p. 133-135.
04. (UECE) Observe o que se diz sobre a técnica da narrativa em foco. I. A narrativa é feita em primeira pessoa, por um narrador que, sendo também personagem, narra somente de sua perspectiva. A narrativa em primeira pessoa é apropriada ao conto fantástico porque quem narra é a mesma pessoa que viveu o episódio narrado. Não o ouviu de terceiros. II. A narrativa é feita por um narrador-personagem onisciente, que penetra no interior das outras personagens e consegue ler seus pensamentos. Essa técnica narrativa não é apropriada ao conto fantástico, uma vez que o narrador, sendo consciente de tudo, sabe qual o mistério que dá sustentação ao sobrenatural. III. A narração é feita da perspectiva da personagem não-narradora. Essa personagem, participando dos acontecimentos, segue as outras personagens e pode narrar tudo o que elas fazem e até prever o que estão escondendo e guardando para ser revelado somente no final, o que aumenta a sensação do mistério. Está correto o que se diz somente em a) I. b) I e III. c) II e III. d) II.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Textos comuns às questões 06 e 07 Muribeca Lixo? Lixo serve pra tudo. A gente encontra a mobília da casa, cadeira pra pôr uns pregos e ajeitar, sentar. Lixo pra poder ter sofá, costurado, cama, colchão. Até televisão. É a vida da gente o lixão. E por que é que agora querem tirar ele da gente? O que é que eu vou dizer pras crianças? Que não tem mais brinquedo? Que acabou o calçado? Que não tem mais história, livro, desenho? E o meu marido, o que vai fazer? Nada? Como ele vai viver sem as garrafas, sem as latas, sem as caixas? Vai perambular pela rua, roubar pra comer? E o que eu vou cozinhar agora? Onde vou procurar tomate, alho, cebola? Com que dinheiro vou fazer sopa, vou fazer caldo, vou inventar farofa? Fale, fale. Explique o que é que a gente vai fazer da vida? O que a gente vai fazer da vida? Não pense que é fácil. Nem remédio pra dor de cabeça eu tenho. Como vou me curar quando me der uma dor no estômago, uma coceira, uma caganeira? Vá, me fale, me diga, me aconselhe. Onde vou encontrar tanto remédio bom? E esparadrapo e band-aid e seringa? O povo do governo devia pensar três vezes antes de fazer isso com chefe de família. Vai ver que eles tão de olho nessa merda aqui. Nesse terreno. Vai ver que eles perderam alguma coisa. É. Se perderam, a gente acha. A gente cata. A gente encontra. Até bilhete de loteria, lembro, teve gente que achou. Vai ver que é isso, coisa da Caixa Econômica. Vai ver que é isso, descobriram que lixo dá lucro, que pode dar sorte, que é luxo, que lixo tem valor. Por exemplo, onde a gente vai morar, é? Onde a gente vai morar? Aqueles barracos, tudo ali em volta do lixão, quem é que vai levantar? Você, o governador? Não. Esse negócio de prometer casa que a gente não pode pagar é balela, é conversa pra boi morto. Eles jogam a gente é num esgoto. Pr’onde vão os coitados desses urubus? A cachorra, o cachorro? Isso tudo aqui é uma festa. Os meninos, as meninas naquele alvoroço, pulando em cima de arroz, feijão. Ajudando a escolher. A gente já conhece o que é bom de longe, só pela cara do caminhão. Tem uns que vêm direto de supermercado, açougue. Que dia na vida a gente vai conseguir carne tão barato? Bisteca, filé, chã-de-dentro - o moço ta servido? A moça? Os motoristas já conhecem a gente. Têm uns que até guardam com eles a melhor parte. É coisa muito boa, desperdiçada. Tanto povo que compra o que
não gasta - roupa nova, véu, grinalda. Minha filha já vestiu um vestido de noiva, até a aliança a gente encontrou aqui, num corpo. É. Vem parar muito bicho morto. Muito homem, muito criminoso. A gente já tá acostumado. Até o camburão da polícia deixa seu lixo aqui, depositado. Balas, revólver 38. A gente não tem medo, moço. A gente é só ficar calado. Agora, o que deu na cabeça desse povo? A gente nunca deu trabalho. A gente não quer nada deles que não esteja aqui jogado, rasgado, atirado. A gente não quer outra coisa senão esse lixão pra viver. Esse lixão para morrer, ser enterrado. Pra criar os nossos filhos, ensinar o nosso ofício, dar de comer. Pra continuar na graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não faltar brinquedo, comida, trabalho. Não, eles nunca vão tirar a gente deste lixão. Tenho fé em Deus, com a ajuda de Deus eles nunca vão tirar a gente deste lixo. Eles dizem que sim, que vão. Mas não acredito. Eles nunca vão conseguir tirar a gente deste paraíso. FREIRE, Marcelino. Muribeca. In:_____. Angu de sangue. São Paulo: Ateliê, 2000. p. 23-25.
Texto II Nem luxo, nem lixo Como vai você? Assim como eu Uma pessoa comum Um filho de Deus Nessa canoa furada Remando contra a maré Não acredito em nada Até duvido da fé Não quero luxo, nem lixo Meu sonho é ser imortal Meu amor! Não quero luxo, nem lixo Quero saúde pra gozar no final LEE, Rita Lee; CARVALHO, Roberto de. Nem luxo, nem lixo. In: LEE, Rita. Rita Lee. [LP]. Brasil: Som Livre, 1980.
06. (UFJF MG) No conto de Marcelino Freire (Texto I), o tema central, que motiva o drama do narrador-personagem, corresponde ao seguinte elemento da narrativa: a) tempo. b) espaço. c) protagonista. d) foco narrativo. e) narrador. 07. (UFJF MG) Tanto o narrador do conto “Muribeca” (Texto I), quanto o eu lírico da canção “Nem luxo, nem lixo” (Texto II) constroem seus discursos através do seguinte recurso em comum: a) a interlocução com uma segunda pessoa. b) a argumentação racional e lógica. c) o apelo emocionado que indica desespero. d) a indiferença em relação aos valores materiais. e) a esperança em dias melhores. 693
D11 Fábula moderna
05. (UECE) O conto apresenta uma série de indefinições: não se sabe quem é a personagem narradora nem o Cris; também não se sabe o motivo de o narrador segui-lo e, por fim, matá-lo. Com essas lacunas o locutor tem a intenção de obscurecer os limites entre o real e o sobrenatural, e I. atingir o leitor que será levado a confundir ficção com mentira. II. dar oportunidade ao leitor de preencher as lacunas e, assim, fazê-lo assumir a função de coenunciador. III. aumentar o suspense e dar força ao fantástico. Completa corretamente a afirmação o que se diz em a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) I e III apenas. d) I, II e III.
FRENTE
D
PORTUGUÊS
MÓDULO D12
ASSUNTOS ABORDADOS nn Conto I nn Características principais nn Estrutura do conto nn Classificação nn Conto e música
CONTO I O conto é uma narrativa curta, uma pequena história em prosa, com raiz na tradição cujo início se deu há muitos séculos quando era feita de forma oral. Vem do latim computus, derivação do verbo latino contar, computare. O conto popular não surgiu nas camadas mais cultas da sociedade, mas sim no povo. Estudiosos dizem que talvez venha daí o fato de o conto, originalmente, não ser escrito, pois poucas eram as pessoas que sabiam ler. O conto foi passando de geração em geração e, por essa razão, muitas vezes há versões diferentes. Daí a frase: “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Seguindo essa trajetória, com a evolução dos tempos, os contos passaram a receber várias classificações, resultando nas chamadas antologias, as quais reúnem os contos por nacionalidade: brasileiro, russo, francês. Também por categorias relacionadas ao gênero, conhecidas como: contos maravilhosos, contos de terror e mistério e contos fantásticos. Ainda há outras classificações como: tradicional, moderno e contemporâneo.
Fonte: Evgeny Atamanenko / Shutterstock.com
Características principais
Figura 01 - Mãe lendo um conto para sua filha antes de dormir.
694
O conto é o ato de narrar acontecimentos reais ou fictícios. É uma narrativa linear, concisa, curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa. Não faz rodeios, vai direto ao assunto. Seu enredo gira em torno de um só conflito, com poucos personagens. nn A
linguagem deve ser objetiva, simples e direta, não se utilizam muitas figuras de linguagem ou de expressões com pluralidade de sentidos para facilitar a compreensão do leitor; nn Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho; nn Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação; nn As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito;
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
nn A habilidade com as palavras é muito importante, principalmente para se utilizar
de alusões ou sugestões, frequentemente presentes nesse tipo de texto. No conto tudo importa: cada palavra é uma pista importante; nn Além de fecundo na diversidade temática, os contos brasileiros o são na produção. É provável que isso aconteça porque os contos produzidos por autores brasileiros, especialmente a partir do modernismo, têm adquirido identidade própria e se manifestam das mais diversas maneiras; nn As personagens principais são, de modo geral, anônimas e poucas, envolvendo classes sociais diferentes. Reduzem-se, muitas vezes, a três elementos: a heroína, o herói e o elemento representativo do mal. nn O espaço e o tempo são muito vagos ou quase nulos, indefinidos ou indeterminados; nn O discurso deve ser, quanto possível, dialogado. Como os conflitos residem nas falas das personagens, sem dialogo não há discórdia, desavença ou mal-entendido. Se não há conflito, não há ação.
Estrutura do conto Fonte: vipma / Shutterstock.com
A estrutura do conto é, basicamente, desenvolvida em cinco momentos distintos: nn A apresentação da situação; nn O acontecimento perturbador; nn Os acontecimentos e peripécias vividos pelo herói; nn O aparecimento do motivo perturbador; nn A conclusão. Dos gêneros narrativos cobrados no vestibular, um dos mais recorrentes é o conto. Independente de suas peculiaridades, é bom lembrar que, como narrativa, o conto tem os elementos fundamentais do tipo de texto: narrador, personagem, tempo, espaço e enredo. Conto popular e conto literário
Figura 02 - Livros de conto em uma estante.
D12 Conto I
Os contos são comumente divididos em contos populares (da tradição oral) e os contos literários. nn Conto popular: é o relato produzido pelo povo e transmitido geralmente por meio da linguagem oral. O que mais se destaca é o conto folclórico, também chamado de estória ou causo. Eles apresentam temas variados, mostrando a riqueza e criatividade do povo brasileiro.
695
Português
nn Conto
literário: é um tipo ficcional que já nasce com uma formatação escrita, e com uma autoria definida. Por se tratar de uma obra de curta extensão, as personagens e as situações são menos complexas do que o romance e a novela.
Classificação Enredo O enredo é o encadeamento dos fatos narrados em um texto. Consiste na história em que os fatos são organizados de acordo com uma sequência lógica de acontecimentos. É o conteúdo em que a narrativa se constrói. É a trama, é a sequência dos fatos, são as situações vividas pelos personagens durante o desenrolar de uma história. A introdução ou apresentação constitui o começo da história, na qual o narrador apresenta os fatos iniciais, o cenário, revela os protagonistas e eventualmente demarca o tempo e/ou espaço. A complicação ou desenvolvimento é a parte do enredo em que se desenvolve o conflito.
tar no momento em que estão acontecendo, no presente ou no passado, quando os fatos já aconteceram. Já o tempo psicológico não obedece à cronologia, ou seja, não mantém nenhuma relação com o tempo propriamente dito. Ele transcorre no interior de cada personagem e é revelado pelas emoções, desejo ou imaginação e pelas lembranças do passado do personagem (ou narrador), de acordo com suas vivências subjetivas, angústias e ansiedades. Podemos perceber que, nessa ocorrência, a tendência dos acontecimentos é fugir da ordem natural, o que, muitas vezes, ocorre por meio do flashback. O flashback é uma técnica narrativa cuja ação é interrompida momentaneamente para mostrar outra ação ou situação do passado, relacionada com o que ocorre no presente. Consiste em voltar rapidamente para algo. Em outras palavras, o flashback é um fato acontecido no passado, inserido em um momento atual, por meio da lembrança das pessoas. É uma palavra inglesa que significa retrospecto, narração de fatos precedentes.
Fonte: lassedesignen / Shutterstock.com
O clímax é o ponto culminante da história, o de maior tensão, o momento em que o conflito atinge seu ponto máximo. O desfecho ou conclusão é a parte final do texto. É o momento de encaminhar para a solução dos fatos apresentados e, possivelmente, surpreender o leitor.
Figura 03 - Tempo se esvaindo.
Tempo
D12 Conto I
O tempo revela o momento em que os fatos acontecem. Está relacionado à época em que se passa a história e pode ser classificado em cronológico e psicológico. O tempo cronológico é marcado pela ordem natural dos acontecimentos, dos fatos do enredo, ou seja, é determinado de acordo com o ritmo do relógio, pelo movimento do Sol, pelo calendário, estações do ano, pelos dias, meses, anos, séculos. No tempo cronológico os fatos podem se apresen696
Fonte: Dizain / Shutterstock.com
O conflito é o elemento de tensão em torno do qual são organizados os fatos e seu desenvolvimento. É a parte elementar de toda essa trama, pois é o conflito que confere motivação ao leitor, estimulando-o a se envolver cada vez mais com a história. Por ser o elemento que mais prende a atenção do leitor, o conflito, de maneira geral, determina as parte do enredo.
Figura 04 - Técnica narrativa.
Espaço O espaço revela onde os fatos ocorreram. É um fator essencial na constituição da narrativa e pode ser classificado em espaço físico e psicológico. O espaço físico é o lugar em que as personagens circulam e onde se passam os fatos, é a ambientação onde as ações se realizam. Pode ser analisado como interno e externo. No espaço interno as ações se dão dentro de um lugar fechado ou de um cômodo (casa, quarto, igreja, hospital). Já no espaço externo, as personagens circulam em ambientes abertos (praia, rua, praça, campo de futebol). O espaço psicológico é definido como a esfera interna dos seres fictícios, o universo da nossa vivência subjetiva, pessoal, cheio de sonhos e desejos. Ele abrange as experiências, os pensamentos e as emoções dessas personagens. Foco narrativo O foco narrativo é um elemento estrutural nos textos narrativos que compreende a perspectiva por meio da qual se conta uma história. É ele que designa o tipo de narrador e seu ponto de vista. O foco narrativo representa a “voz do texto”. De acordo com o ângulo que o narrador escolhe para contar a história, o foco narrativo assume distintas funções, entre as quais podemos citar:
Foco narrativo de terceira pessoa – quando o narrador não é uma personagem. Nele, o narrador não participa ativamente dos fatos relatados. Nessa perspectiva, a narrativa assume um caráter mais objetivo, tendo em vista que o narrador permanece “do lado de fora”, limitando-se somente a nos repassar o que vê. Assim sendo, ele se manifesta sob dois aspectos: narrador onisciente e narrador observador. nn Narrador observador – é o que presencia a história e tem a visão de apenas um ângulo. Ele testemunha os fatos, mas não participa deles, apenas reproduz as ações que vê, partindo do ângulo de visão. Não tem conhecimento da personalidade das personagens, não sabe a respeito da vida, pensamentos, sentimentos delas. nn Narrador onisciente – significa aquele que sabe tudo. É o tipo de narrador que conhece a totalidade do enredo, sabe absolutamente tudo o que acontece na história, bem como todos os personagens que a constituem. Ele participa ativamente dos fatos e descreve pensamentos e sentimentos. Conta a história predominantemente em terceira pessoa, mas às vezes permite algumas intromissões narrando em primeira pessoa, revelando suas vozes interiores. Foco narrativo de primeira pessoa – é aquele que participa do enredo contando a história por meio de uma perspectiva de dentro da própria história. O narrador é uma personagem e, por isso, participa da história, assumindo a condição de narrador protagonista ou narrador coadjuvante ou testemunha. Por esse motivo, é natural que traços subjetivos tendem a se manifestar, tendo em vista o envolvimento emocional no desenrolar dos fatos.
Fonte: wikimedia commons / Flávio Colker
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Figura 05 - Cantor e compositor Renato Russo.
Geni e o Zepelim nn O texto é também narrado em 3ª pessoa e o narrador apenas observa a história. nn As personagens principais são Geni e Zepelim. nn O espaço é uma pequena cidade, possivelmente uma vila. nn Nessa canção, Chico Buarque critica a sociedade e revela a hipocrisia e o preconceito com as classes menos favorecidas. nn São criticadas as seguintes instituições: Estado (representado pelo “prefeito de joelhos”), a Igreja (representada pelo “bispo de olhos vermelhos”) e os bancos (representados pelo “banqueiro com um milhão”).
O conto tenta criar um efeito no seu leitor: surpresa, encanto, medo, desconcerto. Assim, podemos afirmar que todos os elementos da narrativa, os recursos linguísticos e até o tipo de compactação estão a serviço desse efeito. Trata-se de uma das formas mais breves e simples das narrativas, centrada em um episódio da vida. Os textos se apresentam, normalmente, em prosa. Podemos, porém, citar dois exemplos de narrativa moderna em versos: Faroeste caboclo, escrita por Renato Russo e Geni e o Zepelim, composta por Chico Buarque. São histórias que contêm todos os elementos originalmente pertencentes à prosa narrativa como: enredo, personagens, tempo, espaço, foco narrativo, clímax.
Figura 06 - LP de Chico Buarque de Hollanda.
SAIBA MAIS Após ler a análise das canções, procure ouvi-las e acompanhá-las seguindo sua letra. Para a canção “Geni e o Zepelim”, pesquise a interpretação feita por Letícia Sabatella, que realiza uma performance, combinando elementos musicais (o canto), literários (a poesia) e teatrais (a interpretação). Nessa excelente apresentação, a atriz e cantora passa para as palavras as emoções e o drama que a protagonista, Geni, viveu e sofreu.
D12 Conto I Fonte: wikimedia commons
Faroeste Caboclo nn O texto é narrado em 3ª pessoa e apresenta um narrador onisciente; nn A personagem principal, João de Santo Cristo, é apresentada como um rapaz pobre que morava em uma “sertania”; nn O espaço urbano é Brasília; nn O enredo apresenta tempo cronológico e trata da guerra pelo tráfico de drogas no Distrito Federal; nn Personagens apresentados no decorrer da música: João, Maria Lúcia, Jeremias, Pablo.
Fonte: wikimedia commons
Conto e música
697
Português
Exercícios de Fixação Texto comum às questões 01 e 02 Agachado atrás dum muro, José Lírio preparava-se para a última corrida. Quantos passos dali até à igreja? Talvez uns dez ou doze, bem puxados. Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. “Tenente Liroca - dissera-lhe o coronel, havia poucos minutos - suba pro alto do campanário e fique de olho firme no quintal do Sobrado. Se alguém aparecer pra tirar água do poço, faça fogo sem piedade.” [...] Os segundos passavam. Era preciso cumprir a ordem. Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. Sim, covarde. Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo. Estava metido naquela revolução porque era federalista e tinha vergonha na cara. Mas não se habituava nunca ao perigo. Sentira medo desde o primeiro dia, desde a primeira hora − um medo que lhe vinha de baixo, das tripas, e lhe subia pelo estômago até a goela, como uma geada, amolecendo-lhe as pernas, os braços, a vontade. Medo é doença; medo é febre. (VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento. In: O Continente, parte 1. São Paulo: Círculo do livro, 1997. p. 9)
D12 Conto I
01. (Puc Campinas SP) Ao contar a história para o leitor, o narrador, nesse trecho, a) cria uma cena de espera em que está envolvido José Lírio, valendo-se, predominantemente, de pensamentos, percepções e sentimentos dessa personagem. b) usa o recurso de falar de si próprio em terceira pessoa, relatando assim sua própria história; só um narrador-protagonista poderia informar tantos detalhes como os vistos no trecho acima. c) revela-se como participante dos fatos relatados, pois somente como personagem ele poderia ter tido acesso ao que o coronel dissera a José Lírio e às reações deste último. d) acompanha segundo a segundo a trajetória de José Lírio e relata os fatos presenciados na ordem cronológica em que se deram, recurso que aproxima o leitor do mundo da personagem. e) privilegia a expressão de seu próprio juízo sobre José Lírio, como se nota, por exemplo, em Sim, covarde, sem deixar-se contaminar com o que vai no mundo interior da personagem. 02. (Puc Campinas SP) O segmento em que uma forma verbal indica ação passada que se deu anteriormente a outra ação igualmente passada é: a) José Lírio preparava-se para a última corrida. b) Era preciso cumprir a ordem.
698
c) Recebera ordens para revezar o companheiro que estava de vigia no alto duma das torres da Matriz. d) Liroca não queria que ninguém percebesse que ele hesitava, que era um covarde. e) Podia enganar os outros, mas não conseguia iludir-se a si mesmo. 03. (Puc Campinas SP) Você vai para a escola todo dia mesmo sem vontade e sem ter feito a lição de casa. Seus pais dizem que é preciso, que é obrigação. Eles estão certos. Mesmo que os pais quisessem atender ao capricho do filho que não quer ir à escola, eles não poderiam. Toda criança deve ir à escola: isso é lei. Um dia, quando você for grande e já tiver saído da escola, pode ser que perceba que foi realmente necessário ir todo santo dia e não só quando dava vontade. O problema é que seus pais decidiram ser superpais. Para eles, não basta a escola: agora é preciso ficar lá mais tempo, aprender línguas, fazer outros cursos e até mais. E sabe por que agem assim? Porque acreditam que vai ser bom para o seu futuro. Mas alguns exageram porque, pensando demais no futuro, esquecem que o filho precisa viver o tempo de agora, o presente. Ser criança. E não dá para ser criança sem tempo livre. [...] Se você acha que está fazendo coisas demais, que está sem tempo para brincar, ficar sossegado sem nenhuma obrigação, é hora de criar coragem e conversar com seus pais. Mas conversar de verdade: sem reclamação, chororô, drama. Desse modo, fica mais fácil eles prestarem atenção a suas palavras e a suas emoções. [...] Papo sério de filho para pais! (Folha de S.Paulo, folhinha, 22 de março de 2014, coluna 3, Quebra-Cabeça com Rosely Sayão)
No texto acima, a autora a) busca prioritariamente persuadir seu interlocutor acerca da importância de ir à escola e estudar, motivo pelo qual alinha, em linguagem apropriada a uma criança, distintos argumentos cedidos pela pedagogia. b) cria ilusão de intimidade com o leitor almejado, por meio do uso da segunda pessoa, construindo desse interlocutor a imagem de ser uma criança a quem as obrigações podem pesar. c) convence, pela solidariedade que lhe manifesta – Mas alguns exageram; E não dá para ser criança sem tempo livre – o estudante-criança a cumprir a tarefa sugerida por especialista adulto: persuadir os pais de que a escola basta para educar plenamente uma pessoa.
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
d) revela amplo conhecimento tanto da psicologia infantil – Mas conversar de verdade: sem reclamação, chororô, drama – quanto da linguagem típica da criança − como se nota em ir todo santo dia ou superpais –, o que confere credibilidade à tese que defende. e) induz a criança a assumir responsabilidades pertinentes à idade infantil, tanto no sentido de decidir, passo a passo, o que é melhor para si, quanto no sentido de impor seu ponto de vista de modo adulto, como o comprova a atraente inversão da frase Papo sério de filho para pais!
um golpe bem dado. (Adaptado de: SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, cap. 1, A roupa nova do rei: reflexões sobre a realeza, que reproduz o conto de Hans Christian Andersen. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 25 a 27)
04. (Puc Campinas SP) Infere-se corretamente acerca do aproveitamento do conto de Andersen, numa obra que examina a biografia do imperador brasileiro: a narrativa, de maneira original, a) possibilita indiciar o aspecto teatral, a dimensão simbólica
Texto comum às questões 04 e 05
do poder político.
Há muitos anos atrás, em um reino bem distante, 2vivia um
1
imperador mais conhecido por seu orgulho e 3elegância do que
b) evidencia que regimes políticos, monárquico, ou não, determinam imutáveis rituais de glorificação. c) denuncia o caráter impenetrável da camada que funde es-
por seus feitos e atos de bondade. Certo dia o pequeno vilarejo saiu de sua monotonia 5habitu-
4
al. Foi noticiada a chegada de dois visitantes 6renomados, reconhecidos como os mais habilidosos alfaiates 7que já tinham
sência e aparência. d) condena cerimoniais que envolvem chefes de estado por implicar luxos desmedidos. e) propicia clara compreensão de que ritos de consagração são
vestido impecavelmente reis e imperadores. Mas desta feita o traje havia de ser especial, para 9o mais es-
pecial dos reis. O material a ser empregado era 10tão precioso, que continha um segredo: somente os mais 11sábios, os mais inteligentes poderiam ver o esplendor 12das novas vestes. (Eis
nocivos, seja qual for o consagrado. 05. (Puc Campinas SP) Análise da estrutura do texto legitima o seguinte comentário:
enfim o maior prêmio para o nosso 13rei vaidoso: uma roupa
a) A indeterminação de tempo e espaço, ao lado da caracte-
cujos limites entre o visível e o 14invisível estariam só fragil-
rização também fluida das personagens, constitui organiza-
mente delineados.)
ção típica de conto de fadas, o que prescreve que o relato
15
Começaram os preparativos. Os trabalhos evoluíam 16bem
e houve a primeira prova. O rei, ansioso, entrou
17
pontu-
indique explicitamente sua moral: ela vem no parágrafo 3, inovadoramente entre parênteses.
Com gestos
b) O objeto mágico, de presença constante em contos e lendas,
monarca. O
surge nesta narrativa de modo singular, pois está a serviço
contentamento inicial do rei transformava-se 20rapidamente
de farsantes, e não do herói, motivo pelo qual não se pode
almente no ateliê. Era hora de iniciar o ato.
18
refinados, os artífices começaram a vestir o
19
em apreensão, à medida que notava que não via nada, a 21
atribuir ao relato a natureza de conto de fadas.
não ser seus já conhecidos trajes de 22baixo. Porém, como
c) O jogo entre formas verbais que indicam ações passadas
seus serviçais não diziam nada − ao 23contrário, soltavam ex-
contínuas (como admiravam e começava) e formas verbais
clamações de admiração diante de 24tão magnânima veste −,
que indicam fatos ocorridos em determinado momento do
o rei resolveu se calar, ou melhor, achou por bem assumir a
passado (como ocorreu e exclamou) denota que há passa-
atitude geral, que estava 26mais para a consagração do que
gem narrativa exclusivamente a partir do parágrafo 5.
25
d) É reconhecível na narrativa o movimento típico do gênero:
para o questionamento. Chegou o dia de o monarca desfilar diante de todos 28os súdi-
é dada uma situação de equilíbrio (entendida como uma
tos as já famosas “novas vestes do rei”. A princípio, nas ruas,
ordem habitual), que é rompida (fato motivador do relato),
tudo correu bem: todos admiravam 30as vestes, e o rei, mais
e, ao final, se instaura novamente o equilíbrio (normalidade
27
29
seguro, começava a comportar-se com desenvoltura. 31
que não se confunde com a ordem inicial).
Até que ocorreu o inesperado. Um menino que 33não havia sido
e) Na organização do enredo, nota-se que a narrativa segue
informado sobre as histórias que cercavam 34as vestes do rei, ex-
uma ordem linear, apresentando os fatos na ordem cro-
clamou em alto e bom som: 35”O rei está nu”. Esse foi só o início,
nológica em que se deram; no que se refere à descrição:
pois, após o primeiro toque, a multidão, até então contida, pas-
para reforçar os efeitos, os traços descritivos, das perso-
sou a gritar e 37gargalhar diante da nudez inesperada do rei.
nagens, do ambiente e das ações, foram todos concentra-
32
36
O monarca e sua corte, desnudados diante dos aconteci-
38
39
dos no parágrafo 4.
mentos, voltaram ao palácio, vexados e humilhados. 40Os al699
D12 Conto I
8
faiates farsantes já estavam bem longe, felizes 41com a sorte de
Português
Exercícios Complementares 01. (Unievangélica GO) Em termos de estrutura da narrativa, o trecho faz menção a um tempo a) psicológico b) social c) cronológico d) indefinido 02. (Unievangélica GO) O excerto apresenta um narrador a) em primeira pessoa b) em terceira pessoa c) heterogêneo d) onipresente 03. (Unievangélica GO) Havia oito dias que Lúcia não andava boa. A fresca e vivace expressão de saúde desaparecera sob uma langue morbidez que a desfalecia; o seu sorriso, sempre angélico, tinha uns laivos melancólicos, que me penavam. Às vezes a surpreendia fitando em mim um olhar ardente e longo; então ela voltava o rosto de confusa, enrubescendo. Tudo isto me inquietava; atribuindo a sua mudança a algum pesar oculto, a tinha interrogado, suplicando-lhe que me confiasse as mágoas que a afligiam.
Texto comum às questões 04 e 05 O milagre das folhas Não, nunca me acontecem milagres. Ouço 2 falar, e às vezes isso me basta como 3 esperança. Mas também me revolta: por que 4 não a mim? Por que só de ouvir falar? Pois já 5 cheguei a ouvir conversas assim, sobre 6 milagres: “Avisou-me que, ao ser dita 7 determinada palavra, um objeto de estimação 8 se quebraria”. Meus objetos se quebram 9 banalmente e pelas mãos das empregadas. 10 Até que fui obrigada a chegar à conclusão 11 de que sou daqueles que rolam pedras durante 12 séculos, e não daqueles para os quais os seixos 13 já vêm prontos, polidos e brancos. Bem que 14 tenho visões fugitivas antes de adormecer – 15 seria milagre? Mas já me foi tranquilamente 16 explicado que isso até nome tem: cidetismo 17 (sic), capacidade de projetar no alucinatório as 18 imagens inconscientes. LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Organização e introdução. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187.
05. (UECE) Geralmente, em um texto, detectam-se outras vozes além da voz do enunciador, contradizendo-o ou concordando com ele. Às vezes, essas vozes vêm marcadas por um verbo discendi e por sinais gráficos, tais como dois pontos, aspas, travessão, etc. Isso acontece, principalmente, na narrativa dita tradicional. Outras vezes, essas vozes aparecem muito sutilmente e exigem maior atenção do leitor. Pondere sobre o seguinte excerto: “Pois já cheguei a ouvir conversas assim, sobre milagres: Avisou-me que, ao ser dita determinada palavra, um objeto de estimação se quebraria.” (linhas 4-8). Nesse trecho da crônica, ouve-se mais de uma voz camuflada pela voz do enunciador. Reconheça a única voz que NÃO se manifesta no trecho destacado. a) A primeira voz é a do enunciador da crônica que relata o que lhe foi dito por alguém. b) Para fazer o relato do que lhe foi dito ele se vale do discurso indireto. c) A segunda voz é a de alguém que fala sobre milagre ao enunciador da crônica. d) Ouve-se a voz de quem, como terceira voz, deu à segunda voz informações sobre milagre.
O fragmento apresenta uma voz narrativa a) em primeira pessoa b) em terceira pessoa c) ambígua d) hermética
1
D12 Conto I
LISPECTOR, Clarice. In: SANTOS, Joaquim Ferreira dos. Organização e introdução. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 186-187.
04. (UECE) Os dois últimos parágrafos do texto constituem uma sequência a) argumentativa, que dá um toque de intelectualidade ao texto. b) descritiva, que confere a tonalidade de leveza exigida pelo gênero crônica. c) narrativa, que empresta ao texto o cunho do cotidiano, imprescindível para a crônica. d) injuntiva (exprime uma ordem), que torna a crônica mais ágil, porque põe as personagens em interação.
ALENCAR, José de. Lucíola. Disponível em: <http://www.biblio.com.br/defautz.asp?link=http://www.biblio. com.br/Josedealencar /luciola.htm>. Acesso em: 03 set. 2013.
700
Milagre, não. Mas as coincidências. Vivo de 20 coincidências, vivo de linhas que incidem uma 21 na outra e se cruzam e no cruzamento formam 22 um leve e instantâneo ponto, tão leve e 23 instantâneo que mais é feito de pudor e 24 segredo: mal eu falasse nele, já estaria falando 25 em nada. 26 Mas tenho um milagre, sim. O milagre das 27 folhas. Estou andando pela rua e do vento me 28 cai uma folha exatamente nos cabelos. A 29 incidência da linha de milhões de folhas 30 transformadas em uma única, e de milhões de 31 pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso 32 me acontece tantas vezes que passei a me 33 considerar modestamente a escolhida das 34 folhas. Com gestos furtivos tiro a folha dos 35 cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais 36 diminuto diamante. 37 Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro 38 entre os objetos a folha seca, engelhada, 39 morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche 40 morto como lembrança. E também porque sei 41 que novas folhas coincidirão comigo. 42 Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei 43 Deus de uma grande delicadeza. 19
FRENTE
D
PORTUGUÊS
Exercícios de Aprofundamento 01. (Ufscar SP) ONU prevê que Brasil deverá ter redução da população até 2100 A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou dados da evolução da população mundial que incluem uma projeção de que o Brasil deverá ter queda no número de habitantes até 2100. O país, que atualmente tem 207,8 milhões de pessoas, passará, de acordo com essa previsão, a ter 200,3 milhões em 2100. O provável decréscimo da população do Brasil contraria a tendência global de crescimento. A previsão é de que a população total da Terra, atualmente em 7,3 bilhões, deverá aumentar, atingindo 11,2 bilhões em 2100. (http://g1.globo.com, 29.07.2015. Adaptado)
Segundo previsão da ONU, a população mundial aumentará até 2100, ___________ a população do Brasil deverá ter redução. De acordo com as informações do texto, a lacuna dessa frase deve ser preenchida com: a) após isso b) por isso c) portanto d) para tanto e) enquanto 02. (UEPG PR) Consumo também é ato político Diz o “Houaiss” que o capitão Charles C. Boycott (1832-1897), um rico proprietário irlandês, no outono de 1880, recusando-se a baixar o preço que cobrava pelo arrendamento de suas terras, foi vítima de represália, tendo os agricultores da época se articulado para não negociar com ele. Daí a palavra “boycott” e, em português, boicote. Quase 130 anos depois, o termo em inglês ganhou uma espécie de antônimo, o “buycott”. Numa livre tradução seria a compra orientada de produtos. A partir disso, a pesquisadora Michele Micheletti, da Karlstad University, na Suécia, defende que o ato de consumo pode se transformar em ativismo político, pois, segundo ela, a falta de uma regulamentação global transferiu para os consumidores parte da responsabilidade sobre o mercado. Por meio de “boycotts” e de “buycotts”, é possível aos consumidores forçar mudanças no sistema produtivo e colaborar, utilizando o seu poder de compra, a fim de atenuar problemas como a exploração da mão de obra, o desrespeito ambiental e os desvios éticos e políticos de grandes empresas.
O “buycotter” é o consumidor politizado, informado, responsável. Micheletti cita estudos que mostram que, na Suécia, o percentual de cidadãos que se envolveu em algum tipo de “consumo politizado” nos 12 meses anteriores à pesquisa era de 50%. No Brasil, não chegava a 7%. A pesquisadora concluiu que o resultado está vinculado ao nível de informação e aos recursos disponíveis dos consumidores. “É um movimento basicamente da classe média”, afirma. Adaptado de: https://br.noticias.yahoo.com/blogs/plinio-fraga/consumo-tambem-e-ato-politico-130126426.html. Acesso em 30/03/2015.
Sobre os recursos coesivos utilizados no terceiro parágrafo, assinale o que for correto. 07 01. “A partir disso...”, no início do terceiro parágrafo, retoma informações dos parágrafos anteriores. 02. “...pois...” no trecho: “...defende que o ato de consumo pode se transformar em ativismo político, pois, segundo ela, a falta de uma regulamentação global transferiu para os consumidores parte da responsabilidade sobre o mercado.” introduz uma explicação. 04. “...a fim de...” no trecho: “...utilizando o seu poder de compra, a fim de atenuar problemas como a exploração da mão de obra, o desrespeito ambiental e os desvios éticos e políticos de grandes empresas.” relaciona os “boycotts” e os “buycotts” a uma finalidade. 08. “...para...” no trecho: “...a falta de uma regulamentação global transferiu para os consumidores parte da responsabilidade sobre o mercado.” relaciona um fato “a falta de uma regulamentação global” a uma concessão. 03. (Unievangélica GO) Analise a chamada e leia o texto a seguir.
Chamada de abertura do portal globoesporte.com. Disponível em: <www.globoesporte.com>. Acesso em: 09 set. 2014.
701
Português
Após “tirar” o pai de Barcelona 1992, Raulzinho brilha pelos dois no Mundial Mesmo antes de nascer, em 1992, o atleta mais novo do elenco do Brasil foi decisivo na carreira do pai. Convocado para a pré-lista do então técnico José Medalha para os Jogos de Barcelona do mesmo ano, Raul Filho desistiu do torneio poucas horas antes de embarcar de Minas para São Paulo, por causa do nascimento de seu filho do meio. No saguão do hotel de Madri, onde a delegação brasileira está hospedada para a fase final da Copa do Mundo, o cestinha da vitória contra a Argentina, com 21 pontos, brincou com a reportagem do GloboEsporte.com, dizendo que “tirou” o pai da competição mais importante do esporte. – É uma história engraçada. O meu pai me disse que estava indo para o aeroporto para se apresentar à seleção, mas quando chegou lá e abriu o porta-malas para pegar a bagagem, desistiu. Ele brinca que agora tenho dois motivos para ir bem, jogar por mim e por ele contou o camisa 5 canarinho. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/basquete/noticia/2014/09/ apos-tirar-o- pai-de-barcelona-1992-raulzinho-brilha-pelos-dois-no-mundial.html>. Acesso em: 09 set. 2014. (Adaptado).
O último parágrafo do texto é elaborado a partir do seguinte procedimento textual: a) discurso livre b) discurso indireto c) discurso figurado d) discurso direto Leia o texto e a charge e responda às questões de 05 a 08 Texto I
FRENTE D Exercícios de Aprofundamento
Pau de Dois Bicos Um morcego estonteado pousou certa vez no ninho da coruja, e ali ficaria de dentro se a coruja ao regressar não investisse contra ele. – Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, sabendo que odeio a família dos ratos? – Achas então que sou rato? Não tenho asas e não voo como tu? Rato, eu? Essa é boa!... A coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou-lhe a pele. Dias depois, o finório morcego planta-se no casebre do gato-do-mato. O gato entra, dá com ele e chia de cólera. – Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, sabendo que detesto as aves? – E quem te disse que sou ave? - retruca o cínico - sou muito bom bicho de pelo, como tu, não vês? – Mas voas!... – Voo de mentira, por fingimento... – Mas tem asas! – Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu penas em morcego? Sou animal de pelo, dos legítimos, e inimi702
go das aves como tu. Ave, eu? É boa... O gato embasbacou, e o morcego conseguiu retirar-se dali são e salvo. Moral da Estória: O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o branco! (MONTEIRO LOBATO, José Bento. Fábulas. 45. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 49.)
04. (Uel PR) O texto Pau de dois bicos é uma fábula, a) pelo predomínio do discurso direto, com consequente apagamento da figura do narrador. b) pois o tempo cronológico é marcado pela expressão “certa vez” e pelos verbos no passado. c) pois apresenta trama pouco definida e trata de problemas cotidianos imediatos, o que lhe confere caráter jornalístico. d) por utilizar elemento fantástico, como o fato de os animais falarem, para refletir sobre problemas humanos. e) por resgatar a tradição alegórica de representação de seres heroicos que encarnam forças da natureza. 05. (Uel PR) Considerando o trecho em negrito no texto Pau de dois bicos, assinale a alternativa correta. Nos dois casos, apalavra “mas” a) opõe-se ao argumento “sou muito bom bicho de pelo”. b) revela a causa do “voo de mentira”. c) expressa a consequência dos fatos narrados. d) marca a condição do “voo de mentira”. e) explica o argumento “sou muito bom bicho de pelo”. 06. (Uel PR) A charge de Sassá refere-se a um problema que afeta a cidade de Londrina e muitas outras cidades brasileiras: o risco de contrair doenças transmitidas pelas pombas que vivem na região urbana. O que permite ao morcego,da fábula, e à pomba, da charge, disfarçarem sua condição é a) o fato de suplicarem pela vida e pela misericórdia de seus inimigos. b) a postura corporal, visto que um imita o comportamento do outro. c) o uso de recursos argumentativos presentes na fala. d) a confiança na consciência ambiental dos interlocutores. e) a esperteza simbolicamente atribuída a esses animais.