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A teoria políti ca de Nicolau Maquiavel no contexto do Renascimento

FRENTE A

MÓDULO A01

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ASSUNTOS ABORDADOS

n A teoria política de Nicolau Ma-

quiavel no contexto do Renascimento

n O Príncipe, de Maquiavel

SAIBA MAIS

Figura 01 - Capa da obra Vite, de Giorgio Vassari.

Giorgio Vasari foi um pintor e arquiteto italiano conhecido principalmente por suas biografias de artistas italianos. Nasceu em Arezzo, no dia 30 de julho de 1511 e faleceu em Florença, em 27 de junho de 1574. Vasari é tido como o primeiro historiador da Arte por meio de seu livro intitulado Vite (ou Vite de’ più eccellenti pittori, scultori e architettori). Nessa obra, ele biografou os principais artistas do Renascimento. Publicado pela primeira vez em 1550, o livro incluía, além das biografias, um valioso tratado das técnicas empregadas. Teve uma revisão em 1568, acrescida de retratos dos biografados. Apesar do pouco rigor metodológico e historiográfico de Vassari, sua obra é tida como uma importante fonte para a História da Arte do início da modernidade.

FILOSOFIA

A TEORIA POLÍTICA DE NICOLAU MAQUIAVEL NO CONTEXTO DO RENASCIMENTO

O termo “Renascimento” (Rinascenza) indica o florescimento tardio, na Europa, de atividades artísticas e científicas, resultando numa mudança de mentalidade que caracterizou o início da modernidade. O primeiro uso desse termo foi feito pelo historiador italiano, Giorgio Vasari (1511 - 1574), no Vite, publicado em 1550. Posteriormente, historiadores como Jules Michelet (1798-1784) e Jacob Burkhardt (1818-1897) passaram a utilizá-lo com maior propriedade para indicar uma pluralidade de transformações ocorridas, inicialmente na Itália, e depois expandida por toda a Europa.

De forma sintética, o Renascimento pode ser concebido de duas maneiras. Primeiramente, como uma “redescoberta” dos textos clássicos e antigos, além da aprendizagem, com suas aplicações nas artes e nas ciências. Em outras palavras, representa uma busca, por utilizar-se do pensamento filosófico e científico mais próximo de sua origem temporal, divorciada da releitura cristã, operada na Idade Média por patrísticos e escolásticos. Depois, enquanto resultado dessas atividades intelectuais que promoveram uma mudança de mentalidade, promovendo uma revitalização da cultura europeia distanciada de sua acepção estritamente cristã.

Embora o Renascimento em suas amplas acepções tenha impulsionado toda uma gama de revisões paradigmáticas e comportamentais na Europa, é preciso considerar que ele não simbolizou um movimento isolado tão somente de sua época. Historiadores como Charles H. Haskins (1870) defendem, por exemplo, um renascimento que já ocorria no crepúsculo da escolástica, fruto das reformas carolíngeas. Assim, muitos dos valores (éticos ou técnicos) presentes em tal movimento já encontravam guarida numa reformulação e experimentalismo epistemológico e estético presentes, na cultura europeia desde o Humanismo.

Fonte: Wikimedia Commons

Dessa forma, para compreender o Renascimento, devemos lançar o olhar para a base das ideias, em seu conjunto, que configuraram justamente essa reorientação de valores e mentalidades. Em outras palavras, precisamos entender o que foi o Humanismo - a base intelectual do Renascimento Cultural.

Em linhas gerais, o Humanismo (studia humanitatis) foi a filosofia-base do(s) Renascimento(s). Caracterizou-se pela ênfase dada à capacidade humana de regular sua vida moral e social, tomando como base a racionalidade intrínseca da sua condição existencial. No campo político, representou a defesa de ideais republicanos; o resgate da noção antiga de cidadania; a recusa da tutela religiosa, por consequência, uma defesa irrestrita do laicismo - a separação objetiva entre Igreja (poder espiritual) e Estado (poder temporal).

A fundação do referido movimento é atribuída a Francesco Petrarca, enquanto contraposição à dominância da tradição (teológica) escolástica, justamente por buscar um retorno mais sistemático aos textos clássicos (litterae), diferentemente do que tinha sido feito até então pelos cristãos. O cerne da cisão estava na forma de como se retomar e interpretar a filosofia/literatura antiga (greco-romana). Para os humanistas, a perspectiva deveria resgatar a dimensão antropológica cara do essencialismo da tradição socrático-platônica. Para os escolásticos, era necessário o deslocamento dessa questão antropocêntrica, uma vez que a única mediação interpretativa possível entre o homem e o mundo dava-se pelo instrumental teológico. Em síntese, o Humanismo resgatou a dimensão antropocêntrica em detrimento da perspectiva teocêntrica, que havia dominado a Europa Medieval até então.

Figura 03 - Portrait of Francesco Petrarca (1304-1374). Autoria: Desconhecida.

Fonte:

Francesco Petrarca foi um intelectual, poeta e humanista italiano, famoso, principalmente, devido ao seu romanceiro. Como humanista, creditava à filosofia e à literatura antiga um imenso valor e instrumental capaz de influir no desenvolvimento da moralidade humana. Embora muitos pensadores associem o Humanismo a uma vertente secular (laica), Petrarca era um devoto cristão e não via conflitos entre a realização do potencial humano e a fé religiosa.

Uma importante dimensão filosófica surgida nesse tempo dizia respeito à oposição entre as chamadas “vita contemplativa” (preconizada pelos cristãos desde a Patrística) e “vita activa” (dimensão prática da ação política). Petrarca buscou um equilíbrio entre as duas esferas, enfatizando a primeira em relação à segunda, afirmando ser de fundamental importância a solidão e o estudo. Já para outros humanistas de seu tempo, como o político e pensador Leonardo Bruni, a vida ativa devia estar no cerne das reflexões humanistas (Daí o termo “Humanismo Cívico”), uma vez que a principal característica do movimento era justamente o resgate das perspectivas teóricas e práticas do mundo antigo.

Embora os principais teóricos do Humanismo tenham vivido ainda no século XIII, suas teses demoraram muito a vigorarem. Somente na aurora do Renascimento italiano do século XV, é que o suas ideias inovadoras ganharam relevância. No entanto, mesmo não provocando mudanças imediatas, foram fundamentais por iniciarem uma lenta e profunda transformação no campo da teoria política - o que viria a se materializar nos séculos seguintes, sobretudo quando o Estado Moderno passou a sobressair-se em relação ao poder papal.

Dessa forma, autores como Dante Alighieri (de A Divina Comédia) e Marsílio de Pádua foram seminais do resgate do Republicanismo - um poder fundado não na autoridade divina, mas, antes, na vontade do povo. Para Dante, Deus teria nos concedido o “livre raciocínio e vontade”- condições suficientes e necessárias para a perfeita condução da vida política. Marsílio, de modo mais radical, rejeita o cesaropapismo de sua época, recusando assim a tutela religiosa e a mediação papal. Ambos defendem que a razão, a vontade e o livre-arbítrio (características fundamentais da condição humana) configuravam-se como condições pré-políticas adequadas ao exercício da cidadania (aos moldes republicanos).

Com os humanistas, a política voltou a ser vista como a mais importante das artes humanas, a atividade capaz de proporcionar aos homens o mais elevado de todos os bens. Essa valorização da atividade política foi acompanhada pelo elogio da república. Para Bruni, por exemplo, o que os gregos chamavam de política deveria ser denominado “preceitos sobre a república”, pois seu objetivo era a realização de um bem comum, que só se dava numa verdadeira república, ou seja, numa sociedade política bem ordenada em que os cidadãos alternam-se nos cargos públicos e participam ati-

vamente do governo. A república não era vista apenas como o lugar de proteção e de satisfação das necessidades materiais, mas também onde os cidadãos partilhavam de leis, costumes, magistraturas, cerimônias religiosas e públicas, experimentando relações de amizade e solidariedade.

Embora haja um reconhecimento por parte da historiografia do Humanismo que desde o século XIII a questão da república já era tematizada (SKINNER, 1996), é fato que só podemos conceber a pujança do ideário republicano apenas após o século XV, na Itália renascentista. E o nome por excelência - e indubitável - nesse contexto, é o de Nicolau Maquiavel. Sem sombra de dúvidas, é com o pensador florentino que o ideário republicano (e sua problematização) encontrará suas feições modernas.

A Ciência Política nasce com Maquiavel. Essa é uma assertiva consensual entre os principais estudiosos, não somente do Humanismo, quanto da moderna teoria política que desenhou-se na Europa após o declínio da Idade Média. O pensador florentino foi responsável por conceber a política a partir de uma análise denominada “realista”, focada na experiência concreta e na observação histórica, diferindo-se da forma essencialista dos filósofos desde os primórdios da tradição socrático-platônica.

Enquanto estudioso da res publica (“coisa pública”), destacou-se por fundamentar sua teoria política de modo experiencial. Isto é, partir dos fatos (“como as coisas são”) e não de uma perspectiva ideal e metafísica, tais quais a perspectiva socrático-platônica ou mesmo cristianizada. O pensador florentino procurou tecer suas considerações sobre a política, observando atentamente as diversas disputas engendradas entre os diversos reinos espalhados por toda a Península Itálica. A partir daí, desenvolveu um “diagnóstico” das situações, procurando teorizar sobre as melhores formas de garantir a manutenção do poder, visando ao “bem público”.

Em suma, o vigor da obra de Maquiavel está em demonstrar que a ação política é efetivamente balizada por uma moralidade pragmática e direcionada para a realização de fins e valores sociais (relativos a cada contexto histórico ou localidade), e não por princípios éticos absolutos, fundados, a priori, pela moralidade cristã.

O Príncipe, de Maquiavel

“Os fins justificam os meios”. Seguramente, essa é uma das frases mais impactantes da modernidade a entrar no rol da linguagem popular. “Maquiavélico” também tornou-se um adjetivo para (des) qualificar a intenção e a ação (i)moral de alguém. Em suma, ambos se conectam para designar um tipo de pessoa sem escrúpulos, incapaz de medir as consequências de seus objetivos, uma vez que o que importa é o seu sucesso em atingi-los. No entanto, o pensamento de Maquiavel não pode ser reduzido a essas premissas comportamentais. Ainda que suas obras sejam vistas como “manuais” para o exercício do domínio, seja no âmbito político (ou até mais recentemente, empresarial), as teorias de Maquiavel estão dois passos à frente desse reducionismo; ou melhor, da má interpretação de seu (complexo) pensamento.

Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, no dia 3 de maio de 1469. A bem da verdade, pouco se sabe sobre sua infância e juventude, a não ser que era oriundo de uma família toscana, sendo o terceiro (de quatro) filho (s) de Bernardo e Bartolomea di Nelli. Embora de condição pobre, pôde estudar aos sete anos o Latim e fundamentos do grego antigo e ábaco. No entanto, se formos comparar com outros influentes pensadores de sua época, Maquiavel teve uma formação intelectual bastante modesta, dado os limitados recursos familiares.

Em 1498 inicia sua vida pública e política, na condição de Chanceler. Primeiro, torna-se responsável pela política externa e pela correspondência internacional. Depois, assume a secretaria da Segunda Chancelaria de Florença, aos 29 anos. Ocupava-se de assuntos de guerra e da política interna, em atividades que variavam de tarefas burocráticas e de assessoria política até a diplomacia e de comando no “Conselho dos Dez” - comité executivo e judicial responsável pela segurança de Estado.

Após 14 anos de atividade pública direta, Nicolau Maquiavel foi preso e torturado, acusado de ligação com governo republicano que tramava uma conspiração contra o governo Médici. É justamente dessa experiência com a vida pública florentina, que Maquiavel encontrará subsídios intelectuais para escrever suas seminais obras, com destaque para O Príncipe que, embora escrito em 1513, foi publicado apenas em 1532.

Em vida, pôde contemplar apenas a publicação de duas de suas obras: A Mandragola (A Mandrágora), uma comédia de 1515, publicada em 1524, e Arte della guerra (A Arte de Guerra), escrita entre 1519 e 1520, que tem como cenário as reuniões intelectuais dos Ortii Oricellari (Jardins de Rucellai), local onde reunia-se a Academia Florentina.

Maquiavel morreu em Florença, no dia 21 de Junho de 1927. Após seu falecimento, sobretudo a partir de 1931, diversas de suas obras foram publicadas, com destaque para Discorsi sopra la prime deca di Tito Livio (Discursos sobra a primeira década de Tito Lívio), escritos em 1517 e publicados em 1531; Vita di Castruccio Castracani (1520), um condottieri que governou Lucca de 1316 a 1328, uma Istorie Fiorentine (escrita entre 1520 e 1525), as comédias Clizia (escrita por volta de 1524) e Andria, o conto Belfagor, e - como já aludido - a sua mais conhecida obra Il Principe (O Príncipe). Esta é um tratado político escrito em 25 capítulos, com uma conclusão que sugere a libertação do território florentino das intervenções francesas e espanholas. Em que pese o fato de ter sido acusado de conspirar contra o Governo, a obra fora dedicada a Giuliano de Médici. Posteriormente, em 1516 passou a ser dedicada ao sobrinho deste, Lorenzo, antes dele se tornar duque de Urbino.

Em relação ao título do livro (e seu endereçamento), o termo “Principe” refere-se a qualquer tipo de governante ou modelo de Estado. Não se trata, estritamente, de uma defesa de um regime específico, tal qual a monarquia absolutista.

A obra inicia com Maquiavel operando uma distinção entre as formas de Estado existentes. Segundo ele, todos os que existiram e existem foram (ou são) formados por principados ou repúblicas. Esses podem ser regidos por duas categorias de detenção do poder: ou um só governa, ou um conjunto de cidadãos. A partir dessa distinção, o teórico político florentino analisa as condições para a ação política, seus limites e possibilidades a partir da atuação de um Príncipe.

E é precisamente aqui que Maquiavel se distanciará em definitivo da tradição política (clássica ou medieval) e até mesmo dos primórdios do Humanismo. A primeira, tendia a conceber a teoria política numa dimensão “normativa” e “prescritiva”, isso é, suas abstrações filosóficas buscavam estabelecer, filosoficamente, as normas morais/virtudes adequadas (e ideais) para a atuação do governante, ao mesmo tempo em que cada uma, a seu modo, definia qual o melhor regime de governo para se atingir o bem comum - um valor moral/social absoluto e universal. Seja ele fundado na razão ou na axiologia cristã, tais valores deveriam guiar a prática política, e excluir tudo aquilo (comportamento ou regime) contrário a esse desiderato. Já no Humanismo, seguia-se a noção da necessidade de um homem virtuoso para a condução política e a inserção na própria vida cidadã. Segundo Alberto de Barros (2012, p.80):

Na linguagem dos humanistas, o homem olítico (politikós) assume as feições do cidadão virtuoso (civitas vir), cujas qualidades devem estar a serviço da república. Para realizar seu dever de conduzir a república à finalidade para a qual foi instituída, o cidadão deve ser virtuoso, isto é, temperante, corajoso, prudente e justo. Graças a essas virtudes, o cidadão é capaz de cuidar do bem comum, preservando a coisa pública e garantindo as condições de realização do bem viver.

Assim, Maquiavel caminha na contramão dessas concepções e rejeita as virtudes principescas celebradas pela tradição. Não se trata, portanto, de se estabelecer valores antagônicos ou mesmo uma amoralidade. Ao contrário disso, o filósofo apenas sustenta que a política reclama uma moralidade própria, não podendo, portanto, ser tipificada a partir de critérios universais para todos os campos da ação humana, como pretendia a tradição. Em suma, a política possuiria seu próprio sistema normativo, regulada por um espírito pragmático fundado nos critérios de eficiência da manutenção do poder e da responsabilidade em cumprir as demandas do “bem público”. A virtude principesca é, para Maquiavel, não um dado, a priori, de comportamento idealizado. Um bom governante é aquele, novamente, que conquista/sustenta o poder e garante a manutenção da ordem pública e a preservação do “bem público”.

Nicolau Maquiavel defende que a ação política deve ser norteada, levando-se em consideração a responsabilidade e a eficácia. É uma visão, portanto, pragmática. Toda ação política fundada em modelos ideais ou em princípios rígidos tendem a não levar em consideração a dimensão dinâmica, mutável da sociedade. Por essa razão, um príncipe deveria, sempre, levar em consideração o que ele denominava por ”fortuna” - aquilo que o teórico florentino denominava ao conjunto de circunstâncias imprevisíveis que acometem a sociedade e toda forma de organização. Para Maquiavel, a ordem (e também a desordem) das coisas em todas as dimensões da realidade influenciam a política. Assim, o bom governante não é aquele que confia na providência divina, mas que observa a Fortuna e aprende com ela. Do domínio dessa dimensão, nasce a Virtú. Segundo Alberto Barros (Idem, p.83):

Aquele que é capaz de obter o êxito dentro do quadro estabelecido pela fortuna é considerado um homem de virtú. Virtú é o termo empregado por Maquiavel para indicar um conjunto de qualidades - sentido de realidade, compreensão das circunstâncias, habilidade de avaliação do momento, aptidão para se adaptar às diferentes situações, capacidade de adotar medidas extraordinárias - que não se confundem com as virtudes consagradas pela tradição filosófica e que permitem aos homens realizarem seus objetivos a partir do que é dado pela fortuna.

Em que pese a associação feita - as teorias absolutistas que vigorarão após Maquiavel - é um erro creditar ao filósofo político uma associação irrestrita à ideia de um poder autoritário e autocrático, tal qual configuraram-se as monarquias (nacionais) absolutistas que se formavam àquela época. Maquiavel escreve como teórico que analisa a política como ela é, e não como ela deveria ser, necessariamente, a partir de critérios morais tradicionais. O único critério que justifica a manutenção do poder em Maquiavel - ainda que valendo-se de dispositivos extremos, como a força e o domínio - é o “bem público”, a necessidade premente de cada contexto histórico social.

Mesmo produzindo uma obra que seria apropriada por adeptos dos principados, Maquiavel é um filósofo humanista e, por consequência, republicano. Se isso não se exprime objetivamente em textos como “O Príncipe”, a leitura de sua obra dá os fundamentos necessários para essa assertiva. Em “Discurso sobre a primeira época de Tito Lívio”, o secretário florentino é incisivo em dizer que as repúblicas são consideradas superiores aos principados porque possuem uma longevidade maior. Isto posto, pois são capazes de melhor adaptarem-se as circunstâncias da fortuna, em razão da variedade de seus cidadãos partícipes da vida pública. “(…) Elas podem resistir melhor ao inevitável declínio de todas as coisas, porque a habilidade de muitos é maior do que a de um homem só”, declara Maquiavel (2007a, III, p.9). A esse respeito, conclui-se com a perspectiva de Alberto de Barros (2012, p.92):

#DicaCine Filosofi

Fonte: Wikimedia commons

Gabarito questão 01 Em linhas gerais, o Humanismo foi a filosofia-base do(s) Renascimento(s). Caracterizou-se pela ênfase dada à capacidade humana de regular sua vida moral e social, tomando como base a racionalidade intrínseca da sua condição existencial. No campo político, representou a defesa de ideais republicanos; o resgate da noção antiga de cidadania; a recusa da tutela religiosa, por consequência, uma defesa irrestrita do laicismo - a separação objetiva entre Igreja (poder espiritual) e Estado (poder temporal).

Gabarito questão 02 Os elementos da cultura clássica, como a filosofia, a retórica, os conhecimentos matemáticos e inclusive as línguas (grego e latim), foram de fundamental importância para o Humanismo e tiveram grande impacto nas obras de arte e no pensamento político do Renascimento. Gabarito questão 03 Antes de Maquiavel, todo e qualquer governante estava sujeito às determinações morais da Igreja. O príncipe, portanto, era um coadjuvante na política frente ao poder do Deus cristão. Porém, na perspectiva de Maquiavel, este soberano agora deveria tornar-se protagonista da ação política, não se prendendo a uma rígida hierarquia moral. Gabarito questão 04 Virtú deve ser entendida por força, potência, merecimento ou competência de um governante em conquistar e/ ou manter o poder, fazendo o que for preciso, diante das necessidades, para alcançar um objetivo.

Exercícios de Fixação

Além de defender a superioridade das repúblicas sobre os principados, Maquiavel declara sua preferência pelas repúblicas Documentário com base na obra de Nicolau populares. O desejo do povo de não ser doMaquiavel, O Príncipe, da série “Grandes Li- minado lhe parece mais próximo da libervros”, da Discovery Channel, aborda uma das dade, porque revela uma face importante maiores obras literárias da História e, segura- de sua manifestação, que é a ausência da mente, um dos mais importantes tratados po- ambição de poder. Como não deseja se líticos já escritos. Obra de extrema importância apropriar do poder, mas apenas viver livre, para a compreensão da construção do conceito o povo é capaz de salvaguardar melhor a de Estado como modernamente conhecemos. liberdade, pois seu interesse não se opõe à Entre outras coisas, o livro - descrito nesse do- existência de um governo livre. Por ter voncumentário - descreve as maneiras de conduzirtade maior de viver livre e uma propensão -se nos negócios públicos internos e externos, e menor de violá-la, o povo deve ser então o fundamentalmente, como conquistar e manter o poder político (um principado). guardião da liberdade. O pensamento do filósofo introduziu

Ficha Técnica:

Título: Great books: The prince novas abordagens à temática do poder, Gênero: Documentário da natureza humana e da vida política. É Duração: 51 min. bem da verdade que ele tratou de temas Produção: Discovery Channel já abordados anteriormente pelos humanistas que o precederam. Contudo, é com Maquiavel que a Ciência Política ganha seu contorno mais definido na aurora da Idade Moderna. Ele não somente funda uma teoria sobre as condições e limites da ação política, como abre as portas para se pensar e operacionalizá-la a partir de prismas completamente novos. A modernidade política também nasce com Maquiavel.

BIBLIOGRAFIA

BARROS, A. R. G. Republicanismo. In: FRATESCHI, Y; MELO, R; RAMOS, F. (Org.) Manual de Filosofia Política. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.

Burckhardt, Jacob. A civilização do Renascimento na Itália, traduzido pelo SGC Middlemore. Nova Iorque: Penguin, 1990.

Haskins, Charles Homer. O Renascimento do século XII. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1972

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ______. Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes, 2007a.

SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

01. Defina o conceito de humanismo.

02. Além dos temas cristãos, herdados da Idade Média, o Humanismo incorporou decisivamente outros elementos. Utilizando seus conhecimentos sobre o Humanismo e embasados nas leituras dos textos, responda quis foram esses elementos?

03. De que forma Nicolau Maquiavel define a condição política do Príncipe? 04. Discorra sobre os conceitos de virtú no âmbito dos valores e práticas que devem ser trabalhadas pelo Príncipe.

05. Caracterize os tipos de formas de Estado para Maquiavel, estabelecendo uma comparação entre as formas de aquisição e usurpação dos principados.

Exercícios Com plem entares

01. (Unama PA) “Humanismo é uma palavra inventada no século XIX para descrever o programa de estudos, e seu condicionamento de pensamento e expressão, que era conhecido desde o final do século XV”.

HALE, John. Dicionário do renascimento italiano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. p. 187.

De acordo com o trecho anterior e, por meio de seus estudos históricos, é correto afirmar que o programa humanista: a) Era encabeçado por reis e papas (os mecenas), os quais auxiliavam, humanitariamente, os artistas do século XIX a compreender as formas artísticas do Renascimento. b) Atrelava-se ao modo de pensar renascentista, no qual o homem e a natureza passavam a ser valorizados na construção do conhecimento mundano. c) Era marcado por uma valorização de temas naturalistas, opondo-se aos temas religiosos e sua ligação e proximidade com a Igreja católica e a protestante do século XIX. d) Constituía-se por uma aproximação com o mundo grego e romano, valorizando o equilíbrio das formas e proporções, num exemplo de arte barroca (humanista) do século XV. e) A valorização de ideias como a coletividade e a expropriação da propriedade privada.

02. (Enem MEC) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais. e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. 03. (Enem MEC) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado).

Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o Humanismo renascentista ao a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana. d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem. e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão.

04. (Enem MEC) O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente de outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levam ao assassinato e ao roubo.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009.

No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre a Monarquia e a função do governante. A manutenção da ordem social, segundo esse autor, baseava-se na a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários. c) compaixão quanto à condenação de transgressões religiosas. d) neutralidade diante da condenação dos servos. e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe

05. (UEL) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Maquiavel acerca da relação entre poder e moral, é correto afirmar. a) Maquiavel preocupa-se em analisar a ação política, considerando tão somente as qualidades morais do Príncipe que determinam a ordem objetiva do Estado. b) O sentido da ação política, segundo Maquiavel, tem por fundamento originário e, portanto, anterior, a ordem divina, refletida na harmonia da Cidade.

c) Para Maquiavel, a busca da ordem e da harmonia, em face do desequilíbrio e do caos, só se realiza com a conquista da justiça e do bem comum. d) Na reflexão política de Maquiavel, o fim que deve orientar as ações de um Príncipe é a ordem e a manutenção do poder. e) A análise de Maquiavel, com base nos valores espirituais superiores aos políticos, repudia como ilegítimo o emprego da força coercitiva do Estado.

06. (FGV SP) “Daqui nasce um dilema: é melhor ser amado que temido, ou o inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as coisas, mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me muito mais seguro ser temido do que amado, se só se pode ser uma delas [...]”

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Ed. Europa-América, 1976. p. 89.

A respeito do pensamento político de Maquiavel, é correto afirmar que: a) Mantinha uma nítida vinculação entre a política e os princípios morais do cristianismo. b) Apresentava uma clara defesa da representação popular e dos ideais democráticos. c) Servia de Base para a ofensiva da Igreja em confronto com os poderes civis na Itália. d) Sustentava que o objetivo de um governante era a conquista e a manutenção do poder. e) Censurava qualquer tipo de ação violenta por parte dos governantes contra seus súditos.

07. Nicolau Maquiavel (1.469 - 1527) assim se expressara em sua obra O Príncipe: ―(...) O mesmo acontece com a fortuna, que demonstra sua força onde não encontra uma virtú (virtude) ordenada, pronta para resistir-lhe e volta seu ímpeto [impulso; força] para onde sabe que não foram erguidos diques ou barreiras para contê-las. Se considerares a Itália, que é sede e origem dessas alterações, verás que ela é um campo sem diques e sem qualquer defesa; caso ela fosse convenientemente ordenada pela virtú, como a Alemanha, a

Espanha e a França, ou esta cheia não teria causado as grandes mudanças que ocorrem, ou estas nem sequer teriam acontecido.

(MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p109.)

Sobre o conceito de Virtú, peça chave para se entender as ações de um governante (ou príncipe), CONSIDERE as assertivas abaixo: I. A virtú é a qualidade dos oportunistas, que agem guiados pelo instinto natural e irracional do egoísmo e almejam, exclusivamente, sua vantagem pessoal. II. O homem de virtú é antes de tudo um sábio, é aquele que conhece as circunstâncias do momento oferecido pela fortuna e age seguro do seu êxito. III. Mais do que todos os homens, o príncipe tem de ser um homem de virtú, capaz de conhecer as circunstâncias e utilizá-la a seu favor. IV. Partidário da teoria do direito divino, Maquiavel vê o príncipe como um predestinado e a virtú como algo que não depende dos fatores históricos. ASSINALE a ÚNICA alternativa que contém as assertivas verdadeiras: a) I, II, III b) II e III c) II e IV d) II, III e IV e) I, II e IV

08. (UEL) O maquiavelismo é uma interpretação de O Príncipe, de

Maquiavel, em particular a interpretação segundo a qual a ação política, ou seja, a ação voltada para a conquista e conservação do Estado, é uma ação que não possui um fim próprio de utilidade e não deve ser julgada por meio de critérios diferentes dos de conveniência e oportunidade.

(BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. Trad. de Alfredo Fait. 3.ed. Brasília: Editora da UNB, 1984. p. 14.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, para Maquiavel o poder político é: a) Independente da moral e da religião, devendo ser conduzido por critérios restritos ao âmbito político. b) Independente da conveniência e oportunidade, pois estas dizem respeito à esfera privada da vida em sociedade. c) Dependente da religião, devendo ser conduzido por parâmetros ditados pela Igreja. d) Dependente da ética, devendo ser orientado por princípios morais válidos universal e necessariamente. e) Independente das pretensões dos governantes de realizar os interesses do Estado.

09. (UEL) A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância: os ministros serão bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar. A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência, é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se sempre considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta, pode-se sempre dele fazer mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores‖.

(MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Trad. de Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 136.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre Maquiavel, é correto afirmar: a) As atitudes do príncipe são livres da influência dos ministros que ele escolhe para governar. b) Basta que o príncipe seja bom e virtuoso para que seu governo obtenha pleno êxito e seja reconhecido pelo povo. c) O povo distingue e julga, separadamente, as atitudes do príncipe daquelas de seus ministros. d) A escolha dos ministros é irrelevante para garantir um bom governo, desde que o príncipe tenha um projeto político perfeito. e) Um príncipe e seu governo são avaliados também pela escolha dos ministros.

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