RuBem ALvES a OPeRAcAO De LILI
ilustracoes Veridiana Scarpelli
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Revisora Marta Lúcia Tasso
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Editoração eletrônica Paulo Minuzzo
Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
RUBEM ALVeS (1933-2014) foi teólogo, educador e escritor, seminarista, mestre e doutor em Filosofia. Autor de livros de educação, teologia, crônicas e histórias infantis. Em 2009, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Alves, Rubem, 1933-2014.
A operação de Lili / Rubem Alves ; ilustrações Veridiana Scarpelli. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2016.
ISBN 978-85-96-00406-0
1. Contos - Literatura infantojuvenil
I. Scarpelli, Veridiana. II. Título.
16-03017
Índices para catálogo sistemático:
CDD-028.5
1. Contos : Literatura infantil 028.5
2. Contos : Literatura infantojuvenil 028.5
Este livro foi publicado anteriormente pela Editora Paulinas (1987).
LILI E GReGÓRIO eram muito diferentes.
Lili era uma menina. Gregório, um menino. Lili tinha tromba, orelhas e rabo. Gregório não tinha nada disto, só aqueles olhos grandes...
Lili era uma elefantinha. Gregório era um sapo. Mas eram muito amigos porque os dois adoravam brincar na lagoa. Lili, quando fazia calor, entrava na água de corpo inteiro, enfiava a trombinha lá dentro, enchia a boca, estufava as bochechas, e a água saía feito um repuxo. Gregório gostava de mergulhar, ir até o fundo, enterrar-se na lama macia...
Até que eles descobriram que havia uma brincadeira que podiam fazer juntos: esconde-esconde. Gregório enterrava-se na lama e Lili fazia de conta que era um aspirador de pó: ia com a tromba, no fundo da lagoa, chupando, chupando, até topar com Gregório, que fugia nada ndo, às gargalhadas, porque fazia cócegas...
Um belo dia, no meio da brincadeira, aconteceu um acidente: Lili chupou com força demais. Resultado: Gregório foi sugado pela tromba e ficou lá no meio, entalado, sem poder subir nem descer...
Foi aquele rebuliço. A saparia se ajuntou, gritando, achando que Gregório havia morrido.
Foi preciso que ele, lá de dentro, meio sem ar, gritasse:
— Estou vivo, me tirem daqui!
Os pais de Lili começaram a chorar, imaginando que seria terrível se ela tivesse de passar a vida inteira com um sapo entalado na tromba...
Foram correndo chamar o farmacêutico
Corujão, de óculos na ponta do bico, sério e sabido.
Chegou, apalpou a tromba de Lili e foi dizendo:
— Caso igual a este nunca vi. Quem sabe o sapo sai com pimenta-do-reino...
— Pimenta-do-reino? — todos perguntaram, espantados.
— É. Aquela frutinha preta, bem moída. É só dar um pouquinho pra Lili cheirar. Vem aquele bruto espirro. E é capaz que o sapo saia tromba afora...
Felizmente havia uma pimenteira ali, bem pertinho. Esmagaram umas frutinhas no oco de uma pedra e puseram na tromba de Lili.
Foi aquele espirro de dar gosto. Até umas maitacas que estavam empoleiradas numa árvore distante se espantaram com o barulhão e saíram voando, tagarelando. Mas foi inútil. Gregório estava muito entalado. Nem se mexeu. Ficou no mesmo lugar.