LUANA CHNAIDERMAN DE ALMEIDA
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Posfácio Rita Chaves
ISBN 978-85-96-01053-5
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CONTOS DE MOÇAMBIQUE
CHRISTIAN PIANA
Era uma vez um fotógrafo em busca de histórias: contos, mitos e lendas enraizados no ar, nascidos da experiência, que saltam de boca em boca e serpenteiam pela terra através de gerações. Com vontade de viver aventuras, resolveu viajar para um país distante — e ao mesmo tempo próximo. Chegou a Moçambique. Na vila sem ruas asfaltadas, de cabanas de barro e palha e cercada pela savana, um costume ameaçado pela modernidade ainda sobrevivia: o das histórias contadas embaixo de árvores, ao entardecer, para crianças e jovens. Este livro traz as narrativas recolhidas por esse viajante, Christian Piana, e fotografias dos lugares onde vivem os contadores e suas mágicas criações: a moça que se casa com um pombo, os cães que fazem os serviços domésticos, a bruxa que rói os baobás com seu único dente, a jovem aprisionada dentro de um tambor e muitas outras.
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1a edição
São Paulo | 2017
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Copyright © Luana Chnaiderman de Almeida e Christian Piana, 2017 Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br E-mail: projetos@ftd.com.br
Diretora editorial CECILIANY ALVES Gerente editorial ISABEL LOPES COELHO Editora DÉBORA LIMA Editor assistente ESTEVÃO AZEVEDO Supervisora de arte KARINA MAYUMI AOKI Projeto gráfico e diagramação MARIANA BERND Editoração eletrônica HEIDY CLEMENTE Diretor de operações e produção gráfica REGINALDO SOARES DAMASCENO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Almeida, Luana Chnaiderman de Contos de Moçambique / Luana Chnaiderman de Almeida e Christian Piana ; fotografias Christian Piana. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2017. ISBN: 978-85-96-01053-5 1. Contos moçambicanos I. Piana, Christian. II. Título. 17-04129
CDD-869.3 Índices para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura moçambicana 869.3
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Sumário
histórias contadas ao pé da árvore ou ao redor do fogo Christian Piana 9 O CAÇADOR, OS CÃES E A BRUXA 20 CONDIA E O BATUQUE 25 O ACORDO ENTRE O HOMEM E O LEÃO 32 COMO OS ANIMAIS FORAM VIVER COM OS HOMENS 44 MBEMBA E O GULOSÃO NTCHOMBE 51 A GATA, A CADELA E A DONA DA CASA GRÁVIDAS 57 QUANDO O HOMEM FALAVA COM OS ANIMAIS E AS PLANTAS 66 NTSAI NÃO QUER CASAR 71 PRIMEIRO VÊM OS CÃES, DEPOIS A GENTE! 74 OS MACACOS E OS CÁGADOS 78 as formas de resistência num país de muitas culturas Rita Chaves 89 SOBRE OS AUTORES 93 agradecimentos 95
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histórias contadas ao pé da árvore ou ao redor do fogo Christian Piana
Era uma vez um fotógrafo em busca de histórias: contos, mitos e lendas enraizados no ar, nascidos da experiência, que saltavam de boca em boca e serpenteavam pela terra através de gerações. Queria banhar-se em palavras, de preferência as ditas por pessoas velhas e sábias. Esse fotógrafo era eu. Cansado do dia a dia de São Paulo, eu andava para cima e para baixo em minha moto, mas parecia não encontrar lugar onde pudesse, de fato, descansar. A vontade de explorar e viver aventuras foi crescendo mais e mais. Então, resolvi viajar para um lugar distante — e ao mesmo tempo próximo — do país em que morava para um lugar que desde criança sonhava em conhecer. Juntei coragem e decidi partir para o continente africano. Lá, queria conhecer pessoas e colher palavras e imagens para depois — quem sabe? — plantá-las em um livro. Queria saber se ainda havia velhos e velhas que contavam histórias embaixo de árvores, ao entardecer, para as crianças e os jovens. Queria saber quais histórias ainda estavam vivas, como eram transmitidas, quem as contava. Queria ver e
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fotografar novas paisagens, ouvir e gravar novas vozes e talvez descansar um pouco e encontrar a mim mesmo. A África é muito grande e diversa. Eu poderia ir para o norte ou para o sul, conhecer as águas do Índico ou do Atlântico, andar por savanas ou desertos. Por querer conversar com as pessoas, eu, italiano que falava até que bem o português, optei por um país lusófono. Depois de muito pesquisar, conheci o Consorzio Associazioni con il Mozambico (CAM), ONG italiana que atua na província de Sofala, no interior de Moçambique. Demorei dois anos para juntar o dinheiro e fazer os preparativos que tornaram a viagem possível. No dia 12 de janeiro de 2014, parti com destino a Johanesburgo, na África do Sul. De lá, sabia apenas que tomaria um ônibus até Maputo, capital de Moçambique, e, então, outros até a vila rural de Caia, na província de Sofala. Deixei para descobrir mais no caminho... Em 17 de janeiro de 2014, cheguei a Caia. A pequena vila surgiu à beira do grande rio Zambeze e ao longo da única estrada nacional, a N1, que conecta o sul ao norte do país. Ao contemplá-la, percebi que estava em uma África parecida com a que eu, de menino, imaginava. A vila, sem ruas asfaltadas, conta com saneamento básico e luz elétrica em algumas ruas centrais. É quase toda composta de cabanas, feitas de barro e palha, habitadas por famílias que vivem de pequenos cultivos. Ao redor da vila, há a savana. O povo vai e volta por estradas e trilhas de areia. As mulheres fazem fila nos poços e transportam baldes de água e todo tipo de objeto na cabeça. Os homens carregam caixas pesadas, sacos de alimento, animais, seja o que for, em suas bicicletas. As crianças são numerosíssimas; seguem as mães ou andam livres. Em Moçambique, há diversas etnias, cada uma com língua própria. Na região de Sofala, um dos idiomas utilizados na vida cotidiana é
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o chisena. A maioria das pessoas fala português, a língua do colonizador, ensinada nas escolas, e a utiliza apenas em situações formais ou conosco, os estrangeiros. Por isso gravei as histórias primeiro em chisena e depois em português. Mesmo em uma pequena vila como Caia, a tradição de contar histórias está se perdendo. A maioria das pessoas não sabe explicar o porquê, mas supõe-se que tem a ver com a chegada da modernidade. A seguir, conto quais foram os guias nesse meu mergulho em uma tradição ameaçada. O jornalista José Chico Simbe, de 51 anos, trabalha na rádio comunitária, único meio de informação de Caia, e conta histórias populares em sua emissão. Quando ele era menino, o avô as contava em frente ao fogo. O avô muitas vezes lhe dizia: “Está vendo aquilo? Quero que me faça um conto sobre aquilo”. E assim ele foi aprendendo a compor as histórias. Foi Simbe quem me explicou que as histórias são feitas quando há um conflito familiar, uma disputa entre vizinhos etc., para ensinar a comunidade sobre valores, convívio comum e ética. No lugar dos envolvidos, o conto ou a fábula traz personagens que vivem situações similares e as resolvem. Rui Fernando Mortar é um homem pequeno e esbelto. Às vezes parece duplicar de volume quando sorri ou brinca. Sua força está na simpatia. Em um domingo tórrido, sentamo-nos à sombra de uma grande árvore e ele me contou que, desde a infância, o espírito do avô o procurou para iniciá-lo na prática do curandeirismo. Falou do respeito que as pessoas têm pelos curandeiros e dos perigos a que estão sujeitos, pois os curandeiros maus, para possuírem os poderes dos mais experientes, como ele, fazem feitiços que podem ser mortais. Falou, ainda, de raios que se transformaram em lagartos prateados, de galhos que viraram cobras protetoras das casas, de areia transformada em açúcar.
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Nas infinitas áreas sem nenhum hospital ou posto de saúde de “medicina moderna”, os curandeiros são muitas vezes a única alternativa. Gabriel Felipe Maguame é um professor de 36 anos. Leciona na escola primária da comunidade de N´Jezerra, de estrutura muito precária. É o meu primeiro interlocutor plenamente consciente de que a narração é muito mais que um velho costume: é um patrimônio cultural sofisticado e em via de extinção. Preocupa-se com o destino dessa prática, ameaçada por telefones celulares, internet, televisão etc., e me conta belíssimas histórias. Aprendeu-as com o avô quando, diante da fogueira, passavam as horas antes de dormir. Agora as usa nas aulas, com turmas sem acesso a material pedagógico. Ibraimo Albaini foi uma das minhas mais agradáveis surpresas: mesmo tendo apenas 32 anos, contou com incrível riqueza de detalhes seis histórias. Sua gentileza e sua disponibilidade foram surpreendentes, e sua forma de contar me fascinou: gesticulou, imitou animais, cantou músicas e fez as vozes de crianças, mulheres e homens. Dona Nhale, chefe de um grupo de uma dança tradicional chamada Utzi, preparou para mim interpretações teatrais e apresentações de canto e dança. Grupos como o dela são chamados para festas e eventos ou contratados quando uma moça da família entra na puberdade. As apresentações, de até três dias, preparam a jovem para a vida adulta: escolha de namorado, execução de tarefas domésticas, comportamento na casa dos sogros...
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