A terra dos meninos pelados - Degustação

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A terRA dOS mENINOS pelados

ilustrações

Lumina Pirilampus

Graciliano Ramos

A terRA dOS mENINOS peladoS

ilustrações

Lumina Pirilampus

Graciliano Ramos

A terRA dOS mENINOS peladoS

Copyright © FTD, 2024

Copyright das ilustrações © Lumina Pirilampus, 2024

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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ED ITORA FTD .

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diretor - geral Ricardo Tavares de Oliveira

diretor de conteúdo e n egócios Cayube Galas

gerente editorial Isabel Lopes Coelho

editor Estevão Azevedo

editoras - assistentes Camila Saraiva e Carla Bettelli

analista de relações internacionais Tassia R. S. de Oliveira

coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno preparadora Marina Nogueira revisoras Kandy Saraiva e Lívia Perran estabelecimento de texto e n otas Rodrigo Jorge Ribeiro Neves e Isabela Goulart

editores de arte Camila Catto e Daniel Justi projeto gráfico Daniel Justi

diretor de operações e p rodução gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ramos, Graciliano, 1892-1953 A terra dos meninos pelados / Graciliano Ramos; ilustrações de Lumina Pirilampus. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2024.

ISBN 978-85-96-04296-3

1. Literatura infantojuvenil I. Pirilampus, Lumina. II. Título.

24-191161

Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5

2. Literatura infantojuvenil 028.5

Eliane de Freitas Leite — Bibliotecária — CRB-8/8415

CDD-028.5

Nota edItorial

A presente edição tem como base a primeira edição de A terra dos meninos pelados, publicada em 1939 pela editora Livraria do Globo, de Porto Alegre. O cotejo foi feito com a primeira edição de Alexandre e outros heróis, da Livraria Martins Editora, de 1962, e com a segunda edição do exemplar único publicado em 1975 pela editora Garatuja, de Porto Alegre, e pelo Instituto Nacional do Livro.

Buscou-se estabelecer um texto fidedigno, ou seja, o mais próximo possível do que foi fixado em vida pelo autor. Por isso, alguns termos que aparecem modificados nas edições posteriores, como “bolem”, “vitrola” e “aeroplanos”, foram mantidos, considerando que a sonoridade das palavras é um elemento importante para a dimensão lúdica das histórias infantis e que alguns desses termos ainda são utilizados em certas regiões do país. Algumas palavras e expressões menos usuais foram destacadas ao longo do texto e contextualizadas na seção Glossário.

A ortografia foi atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009. As normas gramaticais também foram aferidas conforme os padrões vigentes, embora tenham sido mantidas variações na colocação da vírgula em alguns vocativos, a fim de manter o ritmo da oralidade presente na narrativa.

A terRA dOS mENINOS peladoS

Havia um menino diferente dos outros meninos: tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os vizinhos mangavam* dele e gritavam: — Ô pelado!

Tanto gritaram que ele se acostumou, achou o apelido certo, deu para se assinar a carvão, nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. Era de bom gênio e não se zangava; mas os garotos dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se por detrás das árvores da rua, mudavam a voz e perguntavam que fim tinham levado os cabelos dele. Raimundo entristecia e fechava o olho direito. Quando o aperreavam demais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo. E a cara ficava toda escura.

Não tendo com quem se entender, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando.

Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul.

* Para saber mais sobre as palavras em destaque, consulte o Glossário, na página 54.

Um dia em que ele preparava com areia molhada a serra de Taquaritu e o rio das Sete Cabeças, ouviu os gritos dos meninos escondidos por detrás das árvores e sentiu um baque no coração.

— Quem raspou a cabeça dele? — perguntou o moleque do tabuleiro.

— Como botaram os olhos de duas criaturas numa cara? — berrou o italianinho da esquina.

— Era melhor que me deixassem quieto — disse Raimundo baixinho.

Encolheu-se e fechou o olho direito. Em seguida, foi fechando o olho esquerdo, não enxergou mais a rua. As vozes dos moleques desapareceram, só se ouvia a cantiga das cigarras. Afinal as cigarras se calaram.

Raimundo levantou-se, entrou em casa, atravessou o quintal e ganhou o morro. Aí começaram a surgir as coisas estranhas que há na terra de Tatipirun, coisas que ele tinha adivinhado, mas nunca tinha visto. Sentiu uma grande surpresa ao notar que Tatipirun ficava ali perto de casa. Foi andando na ladeira, mas não precisava subir: enquanto caminhava, o monte ia baixando, baixando, aplanava-se como uma folha de papel. E o caminho, cheio de curvas, estirava-se como uma linha. Depois que ele passava, a ladeira tornava a empinar-se e a estrada se enchia de voltas novamente.

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