Um evento inesquecível

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Fernando Carraro EstúdioIlustraçõesRebimboca 1a edição São Paulo — 2022

Copyright © Fernando Carraro, 2022 Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 www.ftd.com.br | central.relacionamento@ftd.com.br Diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira Diretor de conteúdo e negócios Cayube Galas Gerente editorial Isabel Lopes Coelho Editor Estevão Azevedo Editoras assistentes Bruna Perrella Brito e Carla Bettelli Colaboração de conteúdo Rosa Visconti Assistente de internacionaisrelações Tassia Regiane Silvestre de Oliveira deCoordenadorproduçãoeditorial Leandro Hiroshi Kanno Preparadora Kandy Saraiva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantojuvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5 Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427 Carraro, Fernando Um evento inesquecível / Fernando Carraro; ilustrações de Estúdio Rebimboca. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2022. ISBN 978-85-96-03677-1 1. Literatura infantojuvenil I. Rebimboca, Estúdio. II. Título. 22-116201 CDD-028.5 Tudo aquilo que se compartilha se multiplica. Papa Francisco Discurso proferido durante visita à comunidade de Varginha, no Rio de Janeiro, na Jornada Mundial da Juventude, realizada no Brasil em 2013. O criador de panelas Uma surpresa no trabalho Na prateleira do supermercado A professora Laura e a aula sobre a fome Panelas em ação Será a mesma panela? Roda de conversa Uma ótima sugestão A turma se organiza O grande evento Muitas emoções Epílogo 5 6 10 11 13 16 19 23 25 27 29 31 Sumário Revisoras Elisa Martins e Patrícia Cordeiro Editores de arte Camila Catto e Daniel Justi Projeto gráfico Estúdio Rebimboca Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo DamascenoSoares

João ficava impressionado enquanto cozinhava. Olhava para dentro da panela e pensava como podia um utensílio tão simples fornecer comida para tanta gente.

João sempre gostou de cozinhar. Aprendeu com a mãe, Dona Maria, e com o pai, Seu Francisco, que trabalhavam como volun tários preparando comida para distribuir para famílias e pessoas carentes, algumas que nem sequer tinham onde morar.

Ele trabalhava em uma olaria — uma fábrica que produzia pane las de barro: primeiro ele amassava a argila, depois a modelava, criando panelas dos mais variados formatos.

Seus pais lhe ensinaram que cozinhar é um gesto de partilha: os alimentos e produtos comprados individualmente no merca do poderiam render verdadeiros banquetes, que alimentariam muitas e muitas pessoas. Para isso, Seu Francisco sempre dizia que bastavam duas coisas: uma panela e vontade de ajudar.

Era disto que ele mais gostava em seu trabalho: saber que estava contribuindo, de alguma forma, para alimentar as pessoas.

Todos os dias, depois de tomar o café e despedir-se da esposa, Márcia, João colocava a filha, Larissa, na garupa da bicicleta para deixá-la na escola e seguir então para o trabalho.

O criador de panelas

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João produzia dezenas de panelas por dia, sempre com o maior capricho, pois, enquanto fazia cada uma, imaginava o momento em que ela estaria sobre a mesa, servindo saborosas comidas.

— Ei, João, tá me ouvindo? Tô falando com você — insistiu a voz. João ficou atordoado, mas permaneceu quieto. Não podia fazer alarde para que ninguém percebesse.

— Sei que você não deve estar entendendo nada — tranquilizou a voz —, mas saiba que acabou de fazer uma panela especial.

— Sim, mas uma panela, por si só, não mata a fome de ninguém, não é? Por falta de comida, muitas panelas permanecem vazias.

— Calma, João! Fui criada pra matar a fome de muitas pessoas — disse a voz que vinha da panela.

— Como assim?! — sussurrou João para si mesmo. — Não é possível eu ter feito uma panela falante! Isso não existe!

Certo dia, João achou que estava ficando maluco. Enquanto termi nava de dar acabamento a uma panela, suspeitou ter ouvido uma voz, que parecia vir de dentro do utensílio.

João enfim cedeu à situação e cochichou para a panela:

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— Você não tá doido, João! Em breve vai entender. A fábrica soou o sinal do fim da jornada de trabalho, e todos foram embora.

— Que história mais maluca — disse João. — Não acredito que criei uma panela especial. Acho mesmo que endoideci de vez e dei asas à minha imaginação, acreditando que estou conversando com uma panela!

Uma surpresa no trabalho

— Oi, João! Obrigada por me criar. Estava esperando muito por esse momento. Sem saber se acreditava ou não, continuou trabalhando na peça como se nada estivesse acontecendo.

— Mas todas as panelas que eu faço não deveriam ser usadas para essa finalidade?

— Ela quem? — quis saber a esposa, confusa.

— Oi, João! Oi, minha filha! Que bom que chegaram. Como foi o dia de vocês? — ela perguntou.

— Então vamos jantar e agradecer o privilégio de podermos nos alimentar enquanto muitos não têm o que comer. É o que eu falo todos os dias, não é? — completou Márcia.

Após o jantar, ele avisou que iria deitar mais cedo. Quem sabe uma boa noite de sono não faria as coisas voltarem ao normal no trabalho?

— Foi tudo bem — João afirmou, distraído.

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— Nada, não! — João desconversou.

— Ah, uma pessoa que foi visitar a fábrica — João disfarçou.

— Tá preocupado com alguma coisa? Tenho a impressão de que tá com a cabeça em outro lugar — questionou a esposa.

No caminho para casa, João buscou a filha na escola, como de costume. Mas nesse dia ele voltava com a cabeça muito confusa. Márcia os aguardava com a janta quase pronta.

— Bem! — respondeu prontamente a menina.

— Tá certo! É isso mesmo! Agradecer nosso alimento porque muitos não têm o que comer, ela disse isso também — João falou baixinho.

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