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1 Escola e família: parceria para enfrentar os novos tempos

CAPÍTULO 1

Escola e família:

Parceria para enfrentar os novos tempos

Leo Fraiman1 Colaboração: Mariana Gonçalo

Omundo contemporâneo está se tornando cada vez mais complexo. Isso não significa dizer que está se tornando melhor ou pior, mas, sim, que a maneira de viver, as escolhas a serem feitas, os problemas a serem enfrentados e a busca de soluções configuram um emaranhado de informações, conhecimentos, possibilidades e direções.

Para o sociólogo francês Edgar Morin, é essencial reconhecer que o ser humano e, consequentemente, a sociedade são unidades complexas. Em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro, ele argumenta que o indivíduo é formado pelos aspectos biológico, psíquico, social, afetivo e racional, e a sociedade é constituída por dimensões diversas, como histórica, econômica, sociológica e religiosa. Portanto, os desafios próprios do mundo atual são complexos também e só podem ser analisados de um ponto de vista que leve a complexidade em consideração.

1 Leo Fraiman é psicoterapeuta, educador, escritor e palestrante. Bacharel em Psicologia, especialista em Psicologia Escolar e mestre em Psicologia Educacional e do desenvolvimento humano pela Universidade de São Paulo (USP), atua também como orientador familiar e profissional. Criador da metodologia OPEE – Projeto de Vida e atitude empreendedora (FTD) e autor de diversas obras, como A Síndrome do Imperador, Que valor você dá para sua família? (FTD/Autêntica) e Superação e equilíbrio emocional: 35 caminhos para enfrentar os novos tempos (Gutenberg).

As questões comuns a toda a humanidade, como as relacionadas à saúde e às desigualdades, são exemplos dessa complexidade, uma vez que não há uma solução única ou pronta.

Os desafios globais pelos quais o mundo tem passado nos últimos tempos têm atingido especialmente a saúde mental das pessoas. Ao analisar os dados mais de perto, é possível constatar que as condições de saúde mental são responsáveis por uma parcela significativa da carga global de doenças e lesões em pessoas na faixa etária de 10 a 19 anos, que metade de todas as condições de saúde mental começa aos 14 anos de idade, porém, a maioria dos casos não é detectada nem tratada, e que a depressão tem sido uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes2 e também no mundo.3

Em 2018, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) publicou um relatório sobre os transtornos mentais na região das Américas em que apresenta os transtornos depressivos e de ansiedade como as maiores causas de incapacidade e reconhece a saúde mental como uma prioridade global de saúde e desenvolvimento econômico.4

Um exemplo atual desse desafio global é a pandemia da Covid-19, que provocou a necessidade de isolamento social e trouxe tantas inseguranças e incertezas, bem como debates e busca de soluções para aspectos econômicos, sociais, educacionais e também na área da saúde, desde os processos e as inovações na produção de vacinas até o estudo das repercussões na saúde mental das pessoas, com dados que serão coletados inclusive anos mais tarde. A pandemia também escancarou e potencializou desafios antigos da realidade brasileira, tais como aqueles ligados à desigualdade social, às condições de trabalho precárias para muitos trabalhadores, ao discernimento de prioridades, entre outros.

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4 Disponível em: https://livro.pro/e7q3w2. Acesso em: 7 jul. 2020. Disponível em: https://livro.pro/9poe7m. Acesso em: 7 jul. 2020. Disponível em: https://livro.pro/jor933. Acesso em: 7 jul. 2020.

Ao mesmo tempo que é possível observar um aumento de questões preocupantes, nota-se também um movimento de pessoas e instituições que se mobilizam por causas que consideram importantes, seja por iniciativa própria, seja para atender a seu público que tem se tornado cada vez mais exigente, optando por produtos e serviços de marcas e empresas que se posicionam diante de questões de sustentabilidade ambiental e social e atuam com base em seus valores.5

A interconexão e a facilidade de acesso à informação dos novos tempos geram transformações, o que pode nos levar a questionar de maneira dualista: o mundo ou a forma como vivemos hoje é melhor ou pior em relação a outros tempos? Mas é preciso cautela com esse tipo de pensamento. Afinal, transformações podem trazer alegrias e desafios, avanços e retrocessos. Dependendo da perspectiva em que se observa a realidade, é possível encontrar exemplos inspiradores, soluções inovadoras, cooperação e comunidades unidas em torno de causas comuns, ou notar individualismo, angústia, solidão, questões relacionadas a novas doenças e ao envelhecimento que em outras eras, quando a expectativa de vida era bem mais baixa, não existiam, além dos desafios ambientais que hoje são enfrentados em função de hábitos que cultivamos e que impactam direta ou indiretamente o meio ambiente. Novos tempos carregam consigo novos desafios e a busca por novas soluções.

Com isso, adultos que estão na dianteira da formação das futuras gerações têm uma missão significativa, que inclui apresentar maneiras de lidar com a complexidade do mundo atual, com as incertezas colocadas pela vida, como fazer melhores escolhas e tomar decisões mais assertivas. A aliança entre escola e família não é uma alternativa, mas uma necessidade que impera para que se possa nortear, não determinar, o desenvolvimento e o futuro de crianças e jovens.

5 Pesquisa global da Accenture Strategy, 2018, realizada com quase 30 mil consumidores em 35 países. Disponível em: https://livro.pro/qubv6c. Acesso em: 7 jul. 2020.

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