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O CÉU NÃO É O LIMITE

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OPINIÃO

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Raro setor imune à crise, aviação executiva apresenta seus novos trunfos na Labace, maior feira do setor, em São Paulo

POR EVANILDO DA SILVEIRA

o contrário de grande parte da economia brasileira, a aviação executiva nacional passou por cima da crise e acelerou durante a pandemia. Segundo dados da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), em 2021 o volume de operações foi de 350 mil pousos e decolagens, o que representa um crescimento de 3,5% em relação a 2019, antes da irrupção da Covid. O crescimento foi ainda maior nos seis primeiros meses de 2022 em relação a igual período de 2019, 12,7%. Além do aumento da movimentação, houve crescimento da frota da aviação geral. Os números ajudam a gerar expectativa pela próxima Labace, maior feira da aviação de negócios da América Latina, cuja 17ª edição acontece agora, entre os dias 9 e 11 de agosto, em São Paulo. Flavio Pires, diretor da Abag, entidade que organiza o evento, também destaca o crescimento “ainda mais expressivo” de jatos executivos. “Em abril de 2021 eram 689, e até abril deste ano 60 novos jatos foram integrados à frota brasileira.” Para Luiz Sandler, managing partner da IJT, uma das expositoras da Labace, empresa fundada na Flórida há 35 anos e há mais de duas décadas com escritório

em São Paulo, o momento é de fato “muito aquecido e dinâmico”. “No mundo, a aviação executiva acelerou muito desde o terceiro trimestre de 2020, com elevação de preços nos últimos nove meses devido à escassez provocada pela intensa procura”, diz. “Mas nos últimos 45 anos há uma aparente tendência de estabilização ou mesmo de ajuste.”

O crescimento do mercado de aviação executiva também fica evidente por outro dado: o tempo de espera para receber uma aeronave nova adquirida dos fabricantes. “Hoje a fila está entre um e dois anos”, conta Marcos Amaro, fundador e CEO da Amaro Aviation, que trabalha no regime de propriedade compartilhada dos aparelhos. “Nós, por exemplo, compramos um Phenom 300, da Embraer, que só vamos receber no quarto trimestre de 2024.”

Essa longa espera pela entrega de aeronaves novas inflacionou o mercado. “Os aviões com um ou dois anos de idade podem chegar a ter preço até maior do que um novo, já que muitos clientes não podem aguardar a entrega por muito tempo”, explica Anderson Markiewicz, diretor de vendas e aquisições de aeronaves da Líder Aviação.

Diante desse quadro, as empresas do segmento não têm do que se queixar. No caso da Líder, por exemplo, a demanda por fretamento de voos privados voltou aos patamares pré-pandemia, caso se compare janeiro a junho de 2019 com o mesmo período de 2022. “Embasados nesses dados, percebemos que houve novos entrantes na aviação executiva”, diz Bruna Assumpção, superintendente das unidades de manutenção executiva, fretamento e gerenciamento de aeronave da empresa. “Ou seja, pessoas que nunca haviam vivido essa experiência estão cada vez mais dispostas a investir nos benefícios que a aviação executiva oferece, seja na compra de aparelhos ou no táxi aéreo.” A Líder agora espera crescimento dos negócios da sua unidade de manutenção executiva. A previsão para este ano é de aumento na demanda de serviços em relação a 2019. “Para os de manutenção programada, a expectativa de crescimento é de 23,5 % e de 12% nos não programados”, estima Bruna.

VOAR PARA O TRABALHO

Há vários fatores que explicam esse crescimento do setor. De acordo com Junia Hermont, Chief Operating Officer (COO) da Líder, a maioria dos clientes que utilizam os serviços da empresa tem a aviação executiva como importante ferramenta de trabalho, já que a maior parte dos voos é nos dias úteis. “Claro que existe a demanda por lazer também, mas a própria Abag aponta que 83% das 100 maiores empresas do país utilizam aviação executiva para deslocamentos profissionais”, explica.

Isso fica ainda mais claro quando se pensa que, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), das mais de 3.200 pistas de pouso no Brasil, pouco mais

Nas fotos desta e da pág. oposta, aviões HondaJet Elite S com capacidade de 6 a 7 passageiros da Líder Aviação

Aeronaves da Pilatus da Amaro, empresa que atua no modelo de compartilhamento

‘‘Percebemos uma mudança, de se aproveitar o agora. As preocupações sanitárias e com a qualidade do transporte aéreo regular também contribuiram para o mercado”

Luiz Sandler, managing partner da IJT

de 100 atendem voos regulares. “Assim, a aviação executiva chega aos demais pontos do país, atuando como elo entre os centros de produção e os de negócios, exercendo papel fundamental no crescimento do Brasil e cumprindo a função que a comercial não tem condições de atender”, acrescentar Junia. “Essa demanda aumentou ainda mais com a pandemia e com as restrições impostas à aviação comercial.”

Sandler, da IJT, mesmo especulando que a “euforia pode estar arrefecendo”, conta que seu grupo tem novidades. Desde 2021, com a chegada de Luiz Gustavo Ribeiro, sócio especializado no mercado de táxi aéreo e administração de aeronaves, foi adicionada à companhia a IJM – International Jet Management. “Queremos atuar como butique, prestar um serviço altamente personalizado, provendo máxima disponibilidade das aeronaves.” Sandler diz que o comportamento de seu cliente mudou com a pandemia e com o “confronto com a vulnerabilidade e a finitude” trazida especialmente em 2020. “Percebemos uma mudança de se aproveitar o agora. Fora isso, as preocupações sanitárias e com a qualidade do transporte aéreo regular contribuíram com o mercado de aviação executiva.”

Com tudo isso, a expectativa é que esta Labace seja maior que a anterior, de 2019, tanto pelo aquecimento do mercado quanto pelas novidades que chegam no setor. “Estamos com 100% dos espaços comercializados”, conta Pires, da Abag. “São mais de 70 expositores confirmados, incluindo empresas como Embraer, Dassault, Boeing, Tam Aviação Executiva, entre outras. Uma das novidades deste ano é o

segundo hall de exibição, que tem atraído muitos expositores. São mais de 50 empresas interessadas em participar. As fabricantes também apresentam seus lançamentos durante a feira”, diz Flavio Pires, diretor da Abag.

A apresentação dos eVTOLs, aeronaves elétricas de decolagem e pouso verticais, que devem chegar às grandes cidades ainda nesta década, será outra atração da feira, junto com as empresas de compartilhamento de aeronaves, modelo no qual o cliente divide os custos operacionais com outros sócios. O compartilhamento é uma opção viável para clientes que voam acima da média, mas que não querem possuir um avião de uso exclusivo, um mercado certamente promissor.

É nesse segmento que atua a Amaro Aviation. A empresa fraciona a propriedade das aeronaves em até 16 cotas, que podem ser adquiridas separadamente pelos interessados, que aí compartilham o tempo de uso dos aviões. “Hoje temos seis aviões contratados, dos quais dois em operação, e cerca de 30 clientes.” “No ano que vem vamos receber mais três aparelhos e esperamos vender pelo menos R$ 100 milhões em cotas. Em 2024, teremos mais um avião em nossa frota.”

Para Pires, o setor de aviação de negócios se destacou durante a pandemia por seu crescimento e por substituir parcialmente a malha aérea comercial, submetida às restrições de demanda. “Foi ele que garantiu o transporte de doentes, levou oxigênio na crise de Manaus e vacinas aos lugares mais distantes para garantir a imunização de todos”, diz. “Além disso, as pessoas começaram a optar pelo transporte privado, para viagens a trabalho, lazer ou atender uma emergência.” n

Gulfstream G550 da IJT, outra empresa que mostra seus aviões na Labace

A Labace, maior feira de aviação civil do Brasil, que volta agora a São Paulo após interrupção por conta da pandemia, e um eVTOL

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