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a apresentadora
De volta ao futuro
Home office, ioga na sala de TV, salão de beleza delivery. Estamos fazendo cada vez mais atividades dentro do conforto da nossa casa. Mas como isso reflete na vida social?
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POR VICTOR SANTOS
FOTO GETTY IMAGES
Uma sala que vira home office, a cozinha americana aberta para o living, receber amigos em vez de sair. O nosso cotidiano segue em constante transformação e o avanço tecnológico tem consequência direta nos nossos costumes e na relação com a casa. Podemos pedir por aplicativos de celular serviços de entrega de legumes orgânicos, o salão pode ser trocado por uma cabeleireira que corta o cabelo a um clique e a meditação guiada por um fone de ouvido virou hit – assim como o exercício físico com seus milhares de tutoriais no YouTube e nos apps.
Essa configuração caseira está cada vez mais impactada pelas demandas de uma vida agitada e típica de grandes centros urbanos. Impulsionada, claro, por novas formas de trabalho, em que uma reunião dispensa o encontro presencial, por exemplo. Além disso tudo, a geração millennial – jovens de 25 a 40 anos – tem preferido trazer o social para dentro de casa e não sair à sua procura. O Tinder está aí para provar.
Nesse panorama, a pergunta que fica é: será que estamos ficando cada vez menos sociáveis? Bom, não é bem assim. O que está acontecendo é que agora ressignificar a socialização passa por uma transformação do bom e velho lar, doce lar.
Esse atual comportamento aparece numa recente pesquisa da WGSN Mindset Latam – empresa de consultoria sobre tendências de mercado – intitulada “A economia doméstica da Geração do Milênio”. O material analisou um grupo de millennials e como suas atitudes podem ganhar o mainstream. “Essa é uma geração que, de repente, viu a tecnologia invadir a vida de todo mundo. Ela não é nativa digital como a ‘Geração Z’ [nascidos a partir de 1990] e chegou a viver sem tecnologia. Só que foi inundada por essa questão tecnológica e se tornou ‘tech addicted’. Esse é o ponto que explica a chamada ‘economia doméstica’: com o avanço da tecnologia e a acessibilidade a ela, fazer tudo em casa se torna mais prático”, explica o consultor da WGSN Stefano Arpassy. Se você nasceu antes dos anos 1980 e esse tipo de raciocínio te incomoda, não se preocupe: isso só deixa claro que sua sanidade mental está em dia e as transformações andam rápidas demais. E, de acordo com Arpassy, essas mudanças não querem dizer que a socialização está em risco, mas que ela foi levada para um outro espaço: o caseiro. “Há uma questão de muito apego individual ao seu próprio universo e o celular contribui muito. Nem em espaços de convívio social as pessoas estão se olhando. Mas um aspecto importante é que os humanos são seres sociáveis e se antigamente encontrávamos nossos amigos e socializávamos em certos lugares, estamos substituindo pela possibilidade de fazer isso em casa, seja virtualmente ou fisicamente”, analisa. Além disso, a pesquisa relata uma procura maior por cursos amadores de gastronomia e mixologia, voltados a preparar uma bela refeição ou bons drinques para convidados, como também a busca por novos jogos de tabuleiro, ou um cuidado maior com o banheiro de casa que ganha um clima mais intimista e zen, entre outras mudanças. Essa geração da pesquisa também foi afetada pelos males causados por uma cultura de informação ilimitada. Mas parece que o tal do FOMO (Fear of Missing Out), a sensação de se estar perdendo algo, está se adaptando pelo JOMO (Joy of Missing Out). “A lógica é: se estou sempre procurando me manter informado, eu entendo que não vou nunca dar conta disso. Então, vou abrir mão de forma consciente, e aproveitar um momento de mais ref lexão, introspecção”, conta Arpassy. Gostou da ideia, mas ainda não adaptou a casa para essas novas demandas do dia a dia, J.P aproveitou o espírito renovador do início do ano e conseguiu dicas de como entrar nessa onda e preparar a morada para 2020. CAMILA BUCIANI, da RCB Arquitetura
“Flores podem trazer uma outra dimensão para os diferentes espaços e as velas são ótimas para dar um caráter mais aconchegante. Um outro conselho? Para receber, deixe um aparador com o serviço de bar montado, tudo à vista. Aposte em mesas de apoio ou pufes: no dia a dia, as mesinhas servem de decoração no living, mas podem mudar de lugar e ser levadas para onde precisar, já os pufes são leves e transitam pela casa.”
JULIA BARROS, da Now Arquitetura “Para receber os amigos e a família, aposte em espaços integrados e amplos, que possam ser versáteis e flexíveis, como uma porta de correr que pode separar ou integrar a cozinha da sala, ou até mesmo tornar o terraço parte efetiva da sala. Criando assim um espaço maior de convivência. É possível combinarmos as cores neutras, cinza e branco, com um toque de cor ousado, o laranja”.
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