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ENTRE LENÇÓIS

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HORÓSCOPO

HORÓSCOPO

POR ROBERTA SENDACZ Verbetes precisos

Entre as décadas de 1750 e 1770, quando era necessário compilar o conhecimento e torná-lo acessível, foi lançada a Enciclopédia. Os filósofos franceses Denis Diderot, JeanBaptiste Le Rond d’Alembert, Jean-Jacques Rousseau e Voltaire foram alguns dos autores que se debruçaram nessa missão ao lado de outros nomes proeminentes da época e criaram a publicação com cerca de 300 verbetes dividida em seis volumes: Discurso Preliminar e Outros Textos; Os Sistemas dos Conhecimentos; A Ciência da Natureza; Política; Sociedade e Artes; Metafisica. Nem sempre um verbete é explícito de amor ou sexo, a exemplo de “delírio”, que chega como verbete da medicina. Eles se confundem entre exemplos literais ou figurados: delírio é, ao mesmo tempo, um estágio febril médico e um ápice de patologia circunscrita no erotismo. Vamos a alguns deles.

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Adultério: “O adultério pode prejudicar extremamente as crianças que dele provém, porque elas não terão nem os efeitos da ternura materna, da parte de uma mulher que vê as crianças somente como objetos de inquietude ou castigo pela infidelidade, nem qualquer vigilância sobre seus costumes, da parte de uma mãe que não possui mais costumes e que perdeu o gosto pela inocência”.

Fornicação: “Traduziu-se pela palavra fornicação as impiedades do povo judeu em relação aos deuses estrangeiros, porque entre os profetas tais impiedades são chamadas impurezas, sujeiras [...]. A fornicação, enquanto união ilegítima de duas pessoas livres e sem parentesco, é propriamente um comércio carnal cuja permissão não foi dada por um padre”. Galanteria: “A galanteria considerada como um vício do coração é apenas libertinagem a qual se deu um nome honesto. Em geral os povos não perdem a oportunidade de mascarar os vícios comuns por denominações honestas. As palavras galante e galanteria possuem outras concepções”.

Gozo: “Gozar é conhecer, provar, sentir as vantagens de possuir. Com frequência, possuímos sem gozar. De quem são estes magníficos palácios? Do soberano. Quem plantou estes jardins imensos? O soberano. Quem desfruta deles? Eu”.

Casamento: “É a primeira, a mais simples de todas as sociedades e é a sementeira do gênero humano. Uma mulher, filhos, são como uma garantia que o homem dá a fortuna, são como novas relações e laços ternos que começam a germinar em sua alma. [...]. As moças que são conduzidas à liberdade pelo casamento, que têm um espírito que não ousa pensar, um coração que não ousa sentir, olhos que não ousam ver, ouvidos que não ousam escutar, condenadas sem trégua, a preceitos e as bagatelas, vão necessariamente para o casamento”.

Sensibilidade, sentimento: “Sensibilidade é a faculdade de sentir, o princípio sensitivo ou o sentimento mesmo das partes, da base e do agente conservador da vida, a animalidade por excelência, o mais belo, o mais singular fenômeno da natureza etc. A sensibilidade é, no corpo vivo, uma propriedade que certas partes têm de perceber impressões dos objetos externos e, em consequência disso, produzir movimentos proporcionais ao grau de intensidade da percepção”. n

ROBERTA SENDACZ É FORMADA EM JORNALISMO E FILOSOFIA, ESPECIALIZADA EM FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA E EROTISMO

FOTO FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND

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