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com isso, o FOMO é a síndrome do momento
COMO NOSSOS PAIS
Muito se fala das mudanças radicais que o mundo está passando com a tecnologia. A cada dia uma novidade. A cada instante surge uma nova empresa que vai disruptar o seu setor. A cada piscar de olhos um novo produto e serviço que vai atrair multidões.
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Os adeptos da utopia digital acham que a tecnologia vai trazer abundância e resolver todos os problemas da humanidade. Nossa vida será melhor, nossas empresas mais lucrativas e responsáveis e o planeta será salvo. Os potenciais problemas – como perda de empregos, concentração de renda e diferença entre nações – são em geral minimizados pelo bem geral e pelo admirável mundo que está nascendo.
Quem está apenas concentrado nas mudanças digitais está perdendo uma revolução ainda mais relevante que está acontecendo no mundo. Há um novo ser habitando a terra. Em verdade não é um ser, FOTO DIVULGAÇÃO mas uma multidão de pessoas singulares, diversas, surpreendentes e maravilhosamente confiantes na invenção de um mundo diferente do que receberam dos seus pais. Se Belchior e Elis Regina estivessem vivos teríamos uma nova letra e uma nova interpretação para Como Nossos Pais, que seria, mais ou menos, assim: “Meu prazer é perceber. Que fizemos tudo que quisemos. E já não somos mais os mesmos. Nem vivemos como nossos pais.
Nossos ídolos também não são os mesmos. Nem mesmo sabemos se ídolos temos”.
Quando o empresário Jorge
Paulo Lemann disse, ano passado, que era um dinossauro apavorado, estava antecipando as crises recentes que as organizações lideradas pelo 3G, seu fundo de investimento, passariam como foi noticiado recentemente. Não foi nenhum novo
Google ou Facebook da cerveja e da comida o causador das desventuras. Foram pessoas, milhões de nós, que preferimos cerveja artesanal às grandes marcas, alimentos frescos e orgânicos à comida industrialmente processada e slow food à fast-food. Se a tecnologia tem um papel nesse imbróglio foi em potencializar pelas redes sociais o papel desses novos influenciadores de comportamento.
Também na mesma entrevista, Lemann se referiu ao fato de que seu modelo de negócios baseado em corte de custos e uma meritocracia agressiva, antes um modelo de gestão admirado, estava sofrendo pesadas críticas. A novidade é que há uma nova e brava gente brasileira (e mundial) que acha que as corporações têm que ter um papel social e que não tem interesse em perseguir uma carreira em que as relações sejam abrasivas
ou a empresa não tenha o tal, famigerado, propósito. É razoável discordar e até argumentar que, em um regime capitalista, as empresas não foram feitas para fazer o bem, mas, sim, para crescer e ter lucro. Não é possível, porém, ignorar que uma parcela crescente dessas novas pessoas não quer, nem aceita, mais esse tipo de capitalismo.
Silvio Genesini é mentor de empresas inovadoras. Foi presidente do Grupo Estado, da Oracle do Brasil e sócio-diretor da Accenture. É também conselheiro do Grupo Glamurama.