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votação proporcional para o cargo em outubro
DANILO MIRANDA
Administrador da maior verba de cultura do país, Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo há 35 anos, fez da entidade que comanda modelo de excelência e democratização. Caso os 26 milhões de pessoas que participaram de 37 mil ações no estado em 2018 não sensibilizem o ministro da Economia, que já disse querer “passar a faca” no Sistema S, ele lembra que há de se mudar a Constituição
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POR DADO ABREU FOTOS JOÃO LEOCI
Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP (Serviço Social do Comércio de São Paulo), queria ser padre. Desistiu da batina pouco antes de responder a uma vaga de emprego na entidade que desde 1968 se confunde com sua trajetória profissional. Dizendo-se ligeiramente de esquerda e participante do movimento estudantil, o ex-seminarista não considerava que sob a ditadura explícita dos militares pudesse progredir no processo seletivo. Ademais, eram cerca de mil candidatos para nove vagas. “O questionário perguntava o que eu achava de reforma agrária, monopólio do petróleo, política, educação. Respondi como pensava, por isso tive certeza de que seria eliminado”, lembra, durante o almoço com PODER n’A Figueira Rubaiyat. Para sorte da cultura nacional, o jovem Miranda estava redondamente enganado. Foi contratado e nunca mais deixou a instituição, assumindo a direção do Sesc SP em 1984.
Mas havia muita história até ele virar o mandachuva. Começou no novo emprego no dia 1º de novembro de 1968, numa das três Unidades Móveis de Orientação Social (Unimos), programa volante com três orientadores a bordo de um Kombi equipada com livros, discos, filmes, material esportivo, uma máquina de escrever e um projetor. A turnê on the road corria as estradas do interiorzão paulista com ações socioculturais. “Não se falava nada de política. Tinha uma perspectiva empresarial, mas com muito conteúdo humano”, lembra. Em temporadas de 30 ou 45 dias, os grupos viajavam pelas cidades promovendo feiras de lazer e saúde, cursos, competições, sessões de cinema e outras atividades. “Um pouco do que fazemos hoje, mas em escala menor. Foram tempos divertidos e de aprendizado em plena ditadura.”
Se discutir política não era assunto do novato durante os anos de chumbo, o mesmo não se pode dizer do atualíssimo debate que tomou a pauta. Desde que Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República e o ministro Paulo Guedes falou em “meter a faca” defendendo cortes no orçamento do chamado Sistema S – que engloba organizações como Sesc, Sesi, Senac e Senai, entre outros – Danilo Miranda tem sido convocado a esclarecer de modo decimal o modelo de financiamento da organização que dirige. Criado em 1946, por iniciativa do próprio patronato, a conta é a seguinte: 1,5% sobre a folha de pagamento das empresas do comércio de bens, serviços e turismo é recolhido pela Receita Federal e repassado ao Sesc, o que, em 2018, rendeu um montante de R$ 5 bilhões – o mais abastado dos S. “É constitucional, está no artigo 240. Fala-se muito para vender manchetes, mas não há nenhum fato efetivo, nenhum documento, nenhuma proposta. Quem pensa que dinheiro para cultura é desperdício,
está cometendo um erro gravíssimo”, resume. “Já sofremos esse processo de reafirmação institucional, mas espero que entendam nosso papel e o caráter educativo das ações.” A ponderação serve para o próprio Miranda, entre uma garfada e outra no filé com farofa, fazer autocrítica pelo fato de o Sesc não investir em marketing informativo, o que, segundo ele, “talvez tenha sido um equívoco”.
Só em 2018, em São Paulo, 26 milhões de pessoas passaram pelas 42 unidades em todo o estado em 37 mil ações. Foram 4,6 mil shows, 4,4 mil peças de teatro, 1,4 mil apresentações de dança, 5,1 mil sessões de cinema – sem falar nos seminários, exposições, torneios esportivos, refeições a preços populares, atendimentos odontológicos, além dos mais de 3 milhões de felizardos que aproveitaram dias ensolarados nos parques aquáticos da entidade.
Formado em filosofia e ciências sociais e com MBA na Suíça, Danilo Miranda é direto ao ser questionado qual a razão, então, de, em meio à visão holística da qualidade de vida do ser humano, o Sesc ter virado sinônimo de cultura. “Porque a cultura tem um poder transversal, é transformadora. Ela emociona, provoca, encanta”, diz, ressaltando que a entidade não é, ipsis litteris, cultural. “Usamos também de ações culturais para promover o bem-estar das pessoas, esse, sim, o nosso propósito.”
Além do Sesc, o Sistema S sob o cutelo do ministro Paulo Guedes envolve outras oito entidades, todas com nomes iniciados pela letra S. Embora sejam privadas e administradas por federações e confederações patronais, são todas mantidas pelas contribuições estipuladas em lei. Cada uma, no entanto, com sua própria governança, o que, segundo Miranda, faz do termo Sistema S impreciso, “uma denominação midiática para facilitar o entendimento, mas que dificulta a compreensão mais profunda”. Para ele, melhor seria Conjunto S. “Porque, quando você fala ‘sistema’, dá a impressão de ter uma unidade programática, administrativa, funcional, e nem dentro das unidades o Sesc funciona dessa maneira.”
O homem com a maestria de gerir o maior orçamento destinado à cultura no país naturalmente foi cogitado para se mudar pra Brasília e assumir o finado Ministério da Cultura. Em 2011, durante uma crise enfrentada pela ex-ministra Ana de Hollanda, a Casa Civil do governo Dilma Rousseff recebeu um abaixo-assinado organizado pela atriz Fernanda Montenegro sugerindo o nome de Miranda, “um dos profissionais mais completos na área de gestão e reflexão na cultura”, para suceder a irmã de Chico Buarque. Ainda que jamais tenha conversado formalmente sobre o cargo, ele lamenta a extinção da pasta no governo Bolsonaro, hoje diluída no Ministério da Cidadania, junto dos também exterminados ministérios do Desenvolvimento Social e do Esporte. “É ruim porque tem um caráter simbólico, significa reduzir intencionalmente a importância da cultura, que tem o viés mais transversal das áreas. Há uma carga ideológica também: arte é de esquerda, é pensar contra quem está no poder”, alerta. E vai além. Se existem forças que desejam retroagir, haverá de ter uma reação contrária. “Não estou propagando, só estou analisando os fatos. Veja, por exemplo, a questão de gênero: certamente a próxima edição da Parada LGBT será muito maior e mais forte do que as anteriores.”
Logo depois de completar 76 anos, neste mês, Miranda ganhará seu presente. Ou, melhor dizendo, dará mais um presente aos paulistas. Trata-se da inauguração em maio da primeira unidade do Sesc em Guarulhos, a segunda maior cidade do Estado de São Paulo. Com brilho no olhar, o diretor se anima ao falar sobre o novo orgulho de 34 mil metros quadrados. “Vai ser impactante. Teremos um teatro com capacidade para 364 lugares, parque aquático, salas de atividades físicas, clínica odontológica e um centro de música com energia natural para o tratamento de água e iluminação.”
Pode parecer difícil entender como um sujeito consegue, há três décadas e meia, manter o entusiasmo e a excelência em altos patamares. A receita, para Miranda, é simples e está em sintonia, veja as voltas que o mundo dá, com a nova ética corporativa. Trata-se de colocar propósito, ou, como diz, “fazer algo para a história da humanidade”. Mas a Lusitana nunca para de rodar, e o jovem de cabelos brancos platinados não se vê colado à sua cadeira até a eternidade, mesmo que seu cargo seja indicação expressa do presidente da Federação do Comércio de São Paulo, Abram Szajman, cujos mandatos vêm sendo renovados sucessivamente desde 1984. O atual expira em 2022. “Estou há muitos anos no cargo e gostaria que o quadro se renovasse. Acho que a hora se aproxima, mas enquanto eu estiver no comando vou produzir o máximo e o melhor que puder”, finaliza, num raro momento em que Danilo Miranda conjuga o verbo na primeira pessoa do singular durante o almoço com PODER. n
POR ANA ELISA MEYER
SIMONE SIGNORET E YVES MONTAND Simone Signoret e Yves Montand formaram um casal icônico, unido não só no amor como nas artes e ideologia política. Nascida na Alemanha, em 1921, Simone mudou-se para Paris com a família ainda criança e lá iniciou sua aclamada carreira de atriz. Em 1951, casou-se com o sedutor Yves Montand, cantor e ator italiano naturalizado francês. Durante os 35 anos que permaneceram juntos, contracenaram em cinco filmes, militaram no Partido Comunista francês e lutaram por causas ligadas aos direitos humanos. E Simone ainda atravessou, com dignidade, uma crise conjugal quando do rumoroso caso de Montand com Marilyn Monroe.
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