O HeroĂsmo de
Rama
Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo
O Heroísmo de
Rama
Um avatar do Supremo (Versão em cordel do épico “O Ramayana”)
Ilustrações
Severino Ramos
1a edição São Paulo / 2014
EDITORA AQUARIANA
Apresentação O Ramayana, o mais popular dos livros da Índia ao lado do Maabárata, narra a jornada heroica de Rama, rei de Ayódia, fundada por Manu, o pai do gênero humano segundo o hinduísmo. A sua própria concepção se deu de forma milagrosa. Seu pai Dasárata, sem um herdeiro que garantisse a continuidade de sua linhagem no trono, viu-se obrigado a fazer um sacrifício aos deuses, o Putrakameshti Yagna. Depois de aspirar aos vapores de uma fogueira onde fora lançado um cavalo abatido, uma aparição lhe entrega um alimento celestial que será consumido por suas três esposas: Kosalya, Kaiquéi e Sumitra. Da primeira nasceu o bem-aventurado Rama, predestinado a tornar-se o maior de todos os guerreiros. Da segunda, Bárata, cujo nome é o mesmo da primitiva Índia. Da terceira nasceram os gêmeos Lakchámana e Satruna. A primeira grande empresa do herói foi o combate aos rakcháças, demônios que atrapalham nos exercícios de meditação do sábio Visvámitra. Depois de seis dias de vigília ao lado do sábio, nos quais permaneceu de pé, é atacado por um grupo de violentos demônios, comandados por Maricha e Subau, que são abatidos pela flecha certeira do jovem herói. Depois da vitória, Visvámitra se torna uma espécie de conselheiro de Rama. É dele a exortação para que Rama se desloque até Mitila, onde o rei Janaka promoverá um grande sacrifício em honra dos deuses. E ao herói que conseguir erguer e dobrar o arco celeste, presente do deus Shiva, será concedida a mão de sua filha Sita, a mais bela das mortais.
7
Sita também nascera de forma miraculosa: brotara de um sulco aberto por seu pai na terra. Rama consegue levantar o arco divino e quebrá-lo, para espanto de toda a corte de Mitila. Vencida esta prova, Rama ainda terá muitos desafios pela frente, como o ódio da rainha Kaiquéi, que trama para que ele não assuma o trono a que tem direito, enganando, para isso, o rei Dasárata, de quem cobra o cumprimento de uma promessa. Assim, é o virtuoso Bárata que é ungido rei, enquanto Rama, coberto de opróbrio, vai para o exílio, que durará 14 anos. A paz, no entanto, não durará muito, pois enfrentará o maior de todos os desafios: resgatar a sua amada Sita, raptada por Rávana, o rei-demônio de Lanka, comandante de um exército monstruoso. É acompanhado nesta aventura por Hanuman, homem-macaco, filho de Vayu, deus do ar.
8
Do épico hindu para o cordel O tema central do Ramayana é muito antigo, mas os historiadores admitem que sua redação se deu no quinto século antes de Cristo. Seu autor teria sido o sábio Valmiqui. A obra é composta de 24.000 mil slokas (na métrica de 32 sílabas conhecida como Anustubh), distribuídos por sete livros. Escrito em sânscrito, o Ramayana é mais que um texto literário: é um dos livros sagrados da Índia, sendo o seu protagonista considerado uma das grandes divindades do país e das nações que adotaram o hinduísmo. O rapto de Sita, que deflagra a guerra entre Ayódia e a ilha de Lanka), lembra muito a Ilíada, o grande poema clássico da Grécia antiga, atribuído a Homero, que narra a sangrenta guerra de Troia, cujo estopim teria sido outro rapto: o da rainha Helena, de Esparta, pelo príncipe troiano Páris. Já o episódio do arco, que mostra a força sobrenatural de Rama, assemelha-se à passagem narrada em outro épico grego, a Odisseia, também atribuído a Homero, no qual o herói Ulisses, retornando à sua ilha natal Ítaca, consegue dobrar um arco, para, em seguida, pôr fim à vida de todos os pretendentes à mão de sua fiel esposa, Penélope. A versão em cordel, assinada pelos irmãos poetas Rouxinol do Rinaré e Evaristo Geraldo, condensa o épico, conservando dele os episódios mais marcantes, imprimindo agilidade à milenar narrativa. Relido em sextilhas de sete sílabas poéticas, a grande aventura de Rama, apesar das referências às antigas crenças da veneranda Índia, se concentra nas fa-
9
çanhas do herói, valorizando mais o seu lado humano, sem negligenciar a sua origem divina. O título do livro (O heroísmo de Rama) enfatiza a humanidade do herói, ao passo que o subtítulo (Um avatar do Supremo) lembra que ele é a sétima encarnação terrena do deus Vishnu. Como o cordel é um gênero poético escrito para ser lido em voz alta, os autores se esmeram por chamar a atenção dos leitores-ouvintes: Uma história com perigos Que desafiam valentes: Batalhas mágicas, demônios, Macacos inteligentes, Gigantes, suspense e lutas, Com cenas surpreendentes! E, assim, despertam a curiosidade para a grande história que virá a seguir.
Marco Haurélio
Certa vez cantei um mantra, Conforme a mística indiana, Meu espírito mergulhou Num estado de nirvana E assim narrei essa história Do antigo Ramayana. Valmiki, sábio poeta, Com os deuses conviveu E “O caminho de Rama”, Ou Ramayana escreveu, O mais belo dos poemas Que nem o tempo venceu! Uma história com perigos Que desafiam valentes: Batalhas mágicas, demônios, Macacos inteligentes, Gigantes, suspense e lutas, Com cenas surpreendentes!
11
Trata-se de um épico hindu Antigo e muito famoso, Com romance, intrigas, monstros, Um enredo grandioso Que exalta os feitos de Rama, Um herói maravilhoso. Rama veio a essa Terra Há quase um milhão de anos. Príncipe, filho de Dasárata, Nasceu ele entre os humanos, Era o Senhor encarnado Pra cumprir divinos planos. Foi guerreiro valoroso, Com o vigor da juventude, Com muita força e coragem; Um herói em plenitude Que em seu espírito trazia A essência da virtude! Rei Dasárata, pai de Rama, Que em Kosala reinava, Vivia com três rainhas, Com justiça governava; Dos quatro filhos que tinha Rama era o que mais amava.
13
Sobre os autores Rouxinol
do
Rinaré é o nome artístico de Antonio Carlos
da Silva. O nome artístico vem da localidade em que nasceu, no município de Quixadá, Ceará. Sua formação como leitor e autor tem por base os cordéis que ouvia ler quando criança e as rodas de histórias, comuns no sertão em outros tempos. Seu primeiro folheto de cordel, O valentão Chico Tromba, foi publicado pela Editora Tupynanquim, de Fortaleza, em 1999. Tem mais de 80 cordéis publicados e 20 livros (infantis e juvenis por várias editoras do país). Vencedor do I Concurso Nacional de Cordel, promovido pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), tem livros selecionados para programas educacionais em vários estados. É autor, entre outros, de O alienista em cordel (Nova Alexandria), Cordel: criar, rimar e letrar (IMEPH), em parceria com Arlene Holanda, e O matador de dragões (Luzeiro). Seu trabalho aparece citado na França, em revistas como Quadrant, Latitudes e Infos Brèsil.
Evaristo Geraldo nasceu em Quixadá (CE). É poeta cordelista com dezenas de trabalhos publicados, boa parte pela tradicional Tupynanquim, editora de folhetos com sede em Fortaleza. Em 2006, seu cordel A incrível história da imperatriz Porcina foi adotado pela Secretaria da Educação do Estado do Ceará — SEDUC, para educação de jovens e adultos; em 2008, seu livro infantojuvenil João e Maria (Editora
IMEPH) foi selecionado pelo PAIC — Programa de Alfabetização na Idade Certa. Adaptou para a coleção Clássicos em Cordel, da Editora Nova Alexandria, A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho (selecionado para o PNBE 2012). Ministra oficinas sobre a literatura de cordel em cidades do Ceará e de outros estados, sozinho ou em parceria com seu irmão também cordelista, Rouxinol do Rinaré, seu parceiro nesta adaptação do Ramayana.
Sobre o ilustrador Severino Ramos nasceu em Areia, município do Brejo Paraibano, dia 1º de abril de 1963. Iniciou o curso de desenho industrial na Universidade Federal da Paraíba, mas desistiu para se dedicar exclusivamente às artes plásticas. Ainda em seu estado natal, participou de várias exposições no Museu Assis Chateaubriand, em Campina Grande. Radicado em São Paulo desde 1987, expôs suas obras durante muitos anos na Galeria de Arte Brasileira.
A arte Ilustrador de livros infantis e folhetos de cordel, seu estilo é uma releitura da xilogravura popular. Seu traço pode ser conferido em obras como O conde Pierre e a princesa Magalona (Luzeiro), de Antônio Teodoro dos Santos, Hamlet em cordel (Nova Alexandria), de Rafael de Oliveira, e Contos e fábulas do Brasil (Nova Alexandria), de Marco Haurélio.