Yoga Terapia

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Nilda Feernandes

Sobre a autora

Leia da mesma autora

YOGA UMA PRÁTICA DE ALONGAMENTO

Yoga Terapia chega com nova edição, moderna e repaginada. Mas

Nilda Fernandes, professora de Geografia e História com especialização em Antropologia Cultural, conheceu o Yoga em 1954. A partir de então, dedicou-se a uma busca incessante, da qual fizeram parte cursos de formação em vários países como Índia e França. Em 1974 fundou, em Brasília, o Ceyrama (Centro de Estudos de Yoga Ramana Maharishi), formando novos professores nesta prática milenar. Criou também o Programa de Yoga para Doentes Mentais, implantado no Instituto de Sáude Mental, em Brasília. Cada vez mais entusiasta desta ferramenta de saúde e crescimento individual, aos 90 continua suas atividades. Agora em Santos, dá aulas para grupos menores, com foco em problemas específicos. Termina de escrever um livro de Yoga para pessoas com deficiências e limitações físicas que visa trazer a volta da saúde através da retomada de contato e consciência do próprio corpo.

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a verdadeira celebração destes 20 anos de publicação é que o Yoga tem sido cada vez mais estudado e praticado. Se por um lado virou moda, com multiplicação de tipos de práticas e chegando até mesmo a fazer parte do currículo de Educação Física, o livro Yoga Terapia tem atravessado o tempo sem perder seu cunho de atualidade. Professores e instrutores de Yoga têm nesta obra seu espaço de consulta sobre o aspecto terapêutico, benefícios e indicações de cada postura, além do estudo acurado da anatomia solicitada para sua execução. A descrição dos benefícios propicia que o foco de atenção dos praticantes se volte para o próprio corpo, como um elemento indispensável para a manutenção da saúde e bem-estar. Um confiável e prático livro de consulta que possibilita a qualquer pessoa tomar conhecimento e se familiarizar com a importância desta filosofia milenar, com a sistematização de Patanjali através de seus aforismos, assim como a Mitologia, que conta como os deuses regem os homens ou como os homens concebem os deuses.

Alongamento inconsciente faz parte do nosso cotidiano. Alongamento consciente traz todos os benefícios do movimento harmônico do corpo humano: flexão e estiramento simultâneos. Neste livro, a professora Nilda Fernandes mostra como melhorar e controlar sua flexibilidade através dos asana de Yoga em alongamento usando a concentração e o controle da respiração. Os movimentos executados podem fortalecer os músculos e proporcionar um grande bemestar ao praticante. O alongamento bem orientado pode reduzir as dores no corpo, aumentando a mobilidade, mantendo-o jovem, saudável e flexível.

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Nilda Fernandes

Yogaterapia o caminho da saúde física e mental

5ª edição revista São Paulo, 2014

EDITORA GROUND


Apresentação à 5ª edição Nilda e a Luz do caminho O livro Yogaterapia, de autoria de minha mãe, Profa. Nilda Fernandes, ganha nova edição, revisada e repaginada. Prefaciá-lo se transforma numa celebração e também num tempo de reflexão sobre a Vida e sobre o Yoga, que conheci e vivenciei através dela. Passaram-se mais de vinte anos desde a primeira edição do Yogaterapia, escrito com o fito de difundir o Yoga e seus benefícios para o corpo e a alma, através das práticas físicas. As práticas físicas, Hatha-Yoga, são um dos caminhos para alcançar o Yoga, a união com o supremo, a união corpo-mente, o silêncio da mente e o autoconhecimento. Na vida moderna, onde se perde a consciência da importância do corpo, esta obra tem um valor inestimável. Uma obra de fôlego e conhecimento, onde cada postura é estudada e descrita em sua execução, assim como a relação dos músculos ativados, trabalhados e em repouso, os órgãos estimulados, além dos benefícios terapêuticos e até aspectos estéticos atingidos em cada uma. O poder transformador da respiração e dos Pranayama possibilita aos praticantes entender sua dimensão energética. A convivência com este livro possibilita a qualquer pessoa tomar conhecimento e se familiarizar com a importância desta filosofia milenar, com a sistematização de Patanjali através de seus aforismos, assim como a Mitologia, que conta como os deuses regem os homens ou como os homens concebem os deuses. Um confiável e prático livro de consulta para professores e instrutores, para apoio de suas aulas e respaldo de conhecimentos. Este trabalho minucioso, traduz o modo como minha mãe vive sua missão em relação ao Yoga e ao amor ao próximo. Seus primeiros anos de estudo do Yoga acabaram por determinar uma grande transformação... Trabalhou durante boa parte de sua vida como professora de Geografia, História e Antropologia, o que fez com que se tornasse praticamente uma andarilha, disposta a conhecer a riqueza da diversidade cultural de diferentes povos. Fez a primeira viagem à Índia em 1973, em uma excursão com o professor Jean-Pierre Bastiou, tendo como foco a Antropologia. Seu interesse a levou a passar um tempo no ashram de Sivananda. Ali, revelaram-se para ela a atração e a paixão, talvez ancestral, pela Índia. Era como uma volta ao lar, uma resposta de paz e serenidade dentro de si. Nesta e em outras peregrinações pela Índia, pelo Tibete, ela foi conhecendo in loco a origem destes conhecimentos milenares. Encontrou seu mestre, Vayuananda, aquele que ela mesma diz, seria o “farol” a sinalizar seu caminho em direção à sabedoria do bem viver e da saúde completa.


A sabedoria de Gandhi, de Sri Aurobindo e do seu amado mestre Sri Baghavan Ramana Maharishi tem sido as luzes que iluminam seu caminho com uma filosofia baseada na simplicidade, na profundidade do viver e na crença arraigada de que cada um pode criar sua própria saúde e bem-estar e vivenciá-las prazerosamente. Para minha mãe, o Yoga é sua própria vida. Tudo o que faz é em relação ao Yoga. Hoje, aos 89 anos, cada vez mais entusiasta deste conhecimento de saúde e crescimento individual, continua a dar aulas para grupos menores, em Santos-SP. Sempre se renovando, acaba de concluir o livro Yoga para pessoas com limitações físicas, visando trazer a estas pessoas os benefícios da prática do Yoga e a retomada de contato e consciência do próprio corpo perdida em algum momento físico, mas sempre presente no espírito. Para mim e para minha mãe, a verdadeira celebração dos mais de 20 anos de publicação deste livro, é que o Yoga tem sido cada vez mais buscado, estudado e praticado como um caminho a ser trilhado em direção ao encontro com o próprio ser. Este livro tem atravessado o tempo como um raio de Sol.

Alice Mesquita


Sumário Introdução, 17

1. Yoga e Filosofia, 21

Aspectos históricos, 21

Sistemas filosóficos indianos

Sistema Nyaya, 22 Sistema Vaisheshika, 23 Sistema Samkhya, 24 Sistema Yoga, 26 Sistema Mimansa, 30 Sistema Vedanta ou Mimansa Uttara, 30

2. Yoga e Ciência, 33 3. Asana e músculos, 37 Principais músculos que trabalham em alguns Asana

Os pés e seus músculos , 39 Eretores da espinha e sacroespinhal, 41 Extensores da ráquis, 43 Parede anterior do tronco, 44 Regiões vertebrais e abdominais, 45 Que atuam sobre a posição da cabeça, 46 Do tronco ligados aos membros inferiores, 47 Que provocam a rotação dos quadris, 49 Principais músculos das pernas e dos pés, 50 Do tronco e membros superiores, 51 Que ligam o tronco aos membros superiores, 53 Superiores, 53

4. Asanaterapia, 57 Posturas em pé

Chandrasana, 57 Garudhasana, 59 Maha Sakti Asana, 60 Natarajasana, 62 Parshva Uttanasana, 63 Thalasana, 65 Uttanasana, 66 Utthita Parshva Konasana, 69


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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental Utkatasana, 71 Utthita Trikonasana, 73 Virabhadrasana, 75 Vrkasana, 78 Posturas ajoelhadas Cakravakasana, 79 Ustrasana, 82 Vajrasana (estática), 83 Vajrasana (dinâmica), 85 Posturas meditativas Baddha Konasana, 87 Padmasana, 89 Siddhasana, 91 Sukhasana, 93 Virasana, 94 Posturas sentadas Akarna Dhanurasana, 96 Ardha Matsyendrasana, 98 Catushpada Pitham (Tchatushpada), 100 Dandasana, 102 Gomukhasana, 104 Janu Shirshasana, 106 Kurmasana, 108 Maha Mudra, 109 Marichyasana, 112 Paripurna Navasana, 114 (Navasana Ardha – Variante da Paripurna), 117 Parvathanasana, 117 Paschimottanasana (Paschimattanasana), 119 Poorvothanasana, 122 Sanmukhi Mudra, 124 Simhasana, 125 Upavistha Konasana, 127 Vistrita Pada Parshva Bhunamaskarasana, 128 Yoga Mudra, 130 Posturas deitadas: Adho Mukha Svanasana, 132 Ananthasana, 134 Apanasana, 135 Bhujangasana, 138 Chakrasana, 140 Dhanurasana, 143 Dvipada Pitham (Dwipada Pitham), 145 Jathara Parivritti (Parivarthanasana), 148


Yoga e Filosofia Matsyasana, 150 Shalabhasana, 152 Supta Vajrasana, 155 Urdhva Mukha Svanasana, 156 Urdhva Prasrita Padasana, 158 Vasishthasana, 160 Posturas de inversão: Halasana, 163 Sarvangasana, 164 Viparita Karani, 168

5. Mudra – Bandha – Kriya, 173 Mudra e Bandha Jalandhara Bandha, 173 Khecarí, 175 Maha Bandha, 175 Maha Mudra, 175 Maha Veddha, 175 Mula Bandha, 176 Sakticalana e Vajroli Mudra, 176 Uddhiyana Bandha, 176 Viparita Karani, 178 Kriya Basti, 178 Neti, 178 Dhauti e sua divisão, 179 Trataka, 180 Sambhavi Mudra, 182 Nasagra Drishti, 182 Nauli, 182 Kapalabhati, 181

6. Respiração, 185,252 7. Pranayama, 191 Fases do Pranayama Cuidados com o Pranayama, 195 Anuloma Pranayama, 196 Bhastrika Pranayama, 197 Bhramarin Pranayama, 198 Pranayama Completo ou Integral, 200 Pranayama Diafragmático ou Abdominal, 201 Nadi Sodhana Pranayama (Shodhana), 202 Pratiloma Pranayama, 205 Purificador Pranayama, 205

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Yoga e Filosofia 9. A mulher e o Yoga, 257

A mulher dos 13 aos 30 anos, 258 Regras ou menstruação, 258 A mulher dos 25 aos 40 anos, 259 Gravidez, 261 Menopausa, 266

10. Terceira Idade, 267

Movimentos antirreumáticos, 270 Movimentos antigástricos, 271

11. Estética e Yoga, 273

Posturas e movimentos para o abdome fraco, distendido e gordo, 273 Movimentos para fortificar a bacia pequena, 275 Coluna: Movimentos para a flexibilidade, 275 Movimento intenso de torsão, 276 Posturas para a coluna vertebral, membros inferiores e região lombar, 276 Corpo: Movimentos para afinar e torná-lo flexível, 277 Movimentos para alongar, 278 Posturas para flexibilidade e fortalecimento, 278 Costas: Movimentos para o fortalecimento, 279 Posturas para a flexibilidade das costas, membros inferiores, tórax e pulmões e fortalecimento dos músculos do pescoço. Fadiga nas espáduas de dia ou à noite. Corcunda. Correção das costas e da bacia, 280 Postura e movimento de força e flexibilidade para as costas e a coluna vertebral, 280 Posturas para coxas fracas, andar incerto e falta de confiança em si mesmo, 281 Posturas para fadiga mental e física, 281 Posturas para os membros inferiores, 282 Posturas para a nuca tensa com estiramento moderado, 282 Movimentos para os ombros, 283 Movimentos para o períneo e pequena bacia, 283 Postura para pernas em alongamento e equilíbrio, 284 Posturas e movimentos para diminuir os quadris, 284 Postura para o sistema nervoso simpático fraco, mau funcionamento dos rins com formação de cálculos e coluna enrigecida, 284 Movimento para tireoide deficiente, 284 Movimentos para tornozelos fracos e instáveis, falta de segurança, inquietação, ansiedade e timidez, 285 Trabalho de torção Ventre: Fortalecimento e flexibilidade dos membros inferiores, 286

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Introdução A ideia de escrever um livro de Yoga foi se formando através de quase quarenta anos de estudo desta matéria. O meu interesse aumentou ao ministrar aulas de Antropologia Cultural sobre a cultura não-material de diversos povos da antiguidade. Tema rico de nuances não só religiosas como filosóficas, que desperta a curiosidade de todos os que estão na busca incessante da libertação espiritual. A procura de material e cursos para tal foi realmente um longo caminho. Muitas vezes pensei em desistir, mas algo dentro de mim levava-me à frente. Talvez tenha sido a força do destino, que nos impele para um caminho do qual não se tem retorno, a responsável pela conclusão desta obra. A compulsão de alguma bibliografia em português, lida e relida a cada linha, a cada folha, foi o trabalho diário na esperança de encontrar o conhecimento que ansiava. Porém, as coisas não são bem assim; é preciso muito mais, uma persistência grande, força de vontade enorme e, acima de tudo, muita paciência. Munida destas três virtudes comecei o longo caminho pela senda do verdadeiro Yoga, tentando aperfeiçoar-me neste campo. Conclui que o caminho para o conhecimento deveria partir de sua própria fonte. Para que pudesse senti-lo de perto, parti para a Índia em busca das bases e raízes deste assunto tão fascinante. Andei por vários lugares, em locais onde o Yoga ainda era preservado sem fanatismo nem faquirismos. Estes contatos com a pureza do Yoga, a sua simplicidade e, ao mesmo tempo, a grandiosidade de sua filosofia sem alardes, provocaram um aprofundamento dentro de mim mesma. Foi uma das coisas mais extraordinárias que me poderia ter acontecido. Os cursos eram ministrados com os alunos sentados ao chão, sem requintes ou conforto, mas os ensinamentos eram puros e grandiosos: justamente o que estava procurando há muito tempo. Os valores novos que foram sendo ensinados, a maneira de encarar a vida, a alimentação vegetariana, o trabalho de higiene, as leituras além das aulas, fizeram-me repensar a vida. A visita feita a um grande centro de Yoga científico, com aparelhagem especializada para medir todas as reações do homem durante os diversos trabalhos yogins, seja na postura, nas respirações, no relaxamento, e mesmo nas meditações, revelou-me o caráter científico do tema. Naquele centro funciona um hospital cujo tratamento completo tem por base o Yoga: alimentação, Asana, Pranayama etc., supervisionado por médicos doutorados em várias especializações. Participei da vida dos Ashram em diversas cidades, onde cantávamos os kirtan, meditávamos e recebíamos os ensinamentos do Vedanta. Nessa viagem consegui reunir uma extensa bibliografia até hoje inédita no Brasil.


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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental Da França trouxe uma técnica muito especial, pois lá existem vários Centros de Yoga que desenvolvem diversos trabalhos a respeito de músculos em alongamento. Após tantos anos de estudo com um vasto material, achei que deveria dividir os conhecimentos adquiridos com outras pessoas que também se dedicam ao Yoga, mas não têm ou talvez não terão a mesma oportunidade de viajar pelo mundo do Yoga. O primeiro capítulo deste livro foi dedicado à filosofia, já que em momento algum podemos esquecer que o Yoga é uma filosofia que procura indicar o caminho da felicidade para o homem, o aperfeiçoamento do ser e a sua fusão com o cosmos. Pode-se afirmar, ainda, que o Yoga é uma ciência, com seus métodos próprios, objetivando a saúde física e mental. O Jnana Yoga, apesar de ser o caminho do Yoga mais filosófico, constitui uma psicoterapia profunda, revelando os complexos e os eliminando gradualmente. Já o Sutra de Patanjali, considerado a coluna vertebral do Yoga clássico, é um compêndio de saúde e responde aos anseios daqueles que buscam o caminho da espiritualidade. Dediquei um capítulo aos músculos pela sua importância na execução dos Asana e Pranayama. Observamos que, estando os músculos endurecidos ou sem resistência, o trabalho corporal torna-se difícil, chegando a produzir um desequilíbrio físico. No Asana Terapia tentei demonstrar, da maneira mais simples possível, o trabalho do corpo, com desenhos e esquemas. O sistema de trabalho obedece a uma ficha padronizada, objetivando o bom desempenho do praticante. Os capítulos referentes à respiração e Pranayama constituem, a meu ver, um dos principais capítulos deste trabalho, haja vista sua importância na saúde do homem. É muito comum chegar alguém para a aula e, durante a sessão de Yoga, dar-se conta de que não sabe respirar, pois tem o diafragma endurecido ou flácido demais. Respirar, ao contrário do que se pensa, não é um ato fácil. Todos respiramos, é verdade. Todavia, saber respirar, poucos sabem. A seguir, veremos que Bandha e Mudra trabalham juntamente com os Asana, melhorando a performance do praticante. As Kriya constituem, por sua vez, a limpeza física e primordial no Yoga e, aliadas às Bandha contribuem para a desobstrução dos canais energéticos do corpo humano. Abordando algumas patologias mais frequentes, procurei dar uma orientação, não só quanto à prática do Yoga como também quanto à alimentação e, muitas vezes, quanto a regras de vida que conduzem a uma melhora mais rápida e segura. Em relação à mulher, há muitos pontos de real importância, mesmo porque ela é bastante beneficiada com o Yoga, talvez por ser mais persistente. As três fases mais importantes da vida de uma mulher foram abordadas: a adolescência, quando se manifestam as primeiras transformações hormonais, provocando uma série de distúrbios físicos e emocionais; a gravidez, em que todo o corpo sofre modificações; e, finalmente, a menopausa, muito traumatizante para a maioria das mulheres, pois, ao terminarem as regras, os hormônios se transformam, modificando o temperamento e o sistema nervoso. Através do Yoga, todos estes problemas são contornados, ficando a mulher apta a enfrentar estes estágios que a vida lhe impõe.


Introdução A terceira idade requer um trabalho muito especial por parte do professor de Yoga. Trata-se de um programa bastante humano, uma vez que a sociedade ocidental tem encarado o idoso como um “velho”, posto de lado pela família, pela comunidade e pelo Estado. O Yoga contribui para a solução deste problema, emprestando-lhe uma nova dimensão de vida, deixando desabrochar toda a experiência e conhecimento do idoso. Tem-se, aí, o renascer para uma vida digna e a abertura para o amanhã. Este livro termina com um capítulo sobre estética, o que naturalmente seria adverso ao pensamento do Yoga. Porém, quero encará-lo não como uma mera vaidade ou frivolidade, mas como um ressaltar da alegria na conquista do domínio corporal, encontrando resposta imediata no seu físico. É motivo de grande satisfação quando se consegue executar um Asana com perfeição, como em paschimottanasana, que, ao encostar a cabeça no joelho a pessoa sente que dominou seu corpo. Esta é a diretriz que se quer dar ao Yoga Estético, além de conseguir algumas recuperações no corpo, como uma lordose ou um abdome protuberante, faz com que sejam superados pequenos problemas que frustram e entristecem as pessoas. Ao final destes capítulos, encontra-se o alfabeto sânscrito de Panini, antigo gramático da Índia, com a pronúncia de algumas palavras, e um glossário de termos em sânscrito. Todo o livro foi escrito objetivando o ser humano, no seu aspecto mais completo, isto é, saúde, felicidade, paz e, acima de tudo, ajudá-lo a encontrar o caminho da própria liberação. Oxalá consiga passar para o leitor esse objetivo primordial do meu trabalho. Não se trata de um romance, mas de um relato sobre anos de pesquisa, estudo e prática do Yoga. Estamos atravessando um momento crucial e, portanto, aflitivo da vida material, quando todo o Universo se encontra em transformação. E nós, seres humanos, também nos ressentimos dessas modificações. É de suma importância, pois, que o desenvolvimento espiritual de cada um se processe de maneira muito rápida, e um dos caminhos é o Yoga. SAHA VIRYAM KARAVAVAHAI OM SHANTIH, SHANTIH, SHANTIH

“Que Ele nos conceda a alegria da liberação final Om. Paz, paz, paz.”

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1 Capítulo

Yoga e Filosofia Aspectos históricos

Através dos tempos o homem sempre se preocupou com problemas filosóficos, seja de natureza concreta, existencial ou intelectual. Problemas como a matéria e realidade, alma e sua imortalidade, origem do universo e sua ordem, identidade cósmica, unidade de Deus etc., são temáticas que sempre acompanharam o homem desde as civilizações antigas orientais e ocidentais, dentro da variação de cada povo. Inicialmente a filosofia e a religião tinham a mesma fonte. Na civilização contemporânea, deu-se o cisma formando correntes separadas na resolução dos problemas ontológicos. Na Índia, religião e filosofia sempre andaram juntas. A religião indiana se perde nos tempos, talvez seja a mais antiga do mundo. Os árias, provenientes do Norte, invadiram a Índia no ano 2.000 a.C., pondo fim à civilização dravidiana. Trouxeram consigo seus costumes, literatura, pensamentos, religião e a escrita sagrada – o sânscrito. O culto das forças naturais, os ensinamentos e ritos consignados nos livros sagrados, com o tempo, transformaram-se no Bramanismo, substituindo o Vedismo que era uma religião complexa. Os sacerdotes brâmanes continuaram, no entanto, pesquisando nos Veda como manter o equilíbrio do universo, utilizando-se dos Upanishad (O Livro de Interpretação dos Veda). A antiga civilização indiana, com seu imenso território, apresenta uma multiplicidade de tipos antropológicos, com grupos linguísticos diferentes e comunidades com experiência social variada, formando um mosaico étnico e cultural. Dada sua forma geográfica de grande península, os invasores percorreram facilmente seu território, semeando sempre um pouco de sua cultura. Assim foi com Alexandre, o Grande, que permaneceu durante muito tempo nesta região, apreciando o conhecimento dos rishi – os sábios. Muitos dos seus soldados ali se estabeleceram, constituindo família e, consequentemente, introduzindo seu modo de vida e cultos religiosos, que acabaram sendo assimilados pelos indianos. O século VI a.C. marcou o fim dos Veda, provocando uma crise filosóficoreligiosa. Do Bramanismo ou Vedismo nasceu o Hinduísmo. A história da Índia está intimamente ligada a esta religião desde 4.000 a.C. É uma regra de vida, mais do que uma religião, dominando até hoje pelo grande número de seus adeptos. O seu pavilhão é repleto de deuses, formando para o leigo um verdadeiro festival colorido,


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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental com ritos, sons e pessoas. Posteriormente, outras religiões se formaram, dentre elas o Jainismo e o Budismo. Aquele se baseava na antiga sabedoria dos Veda, pregando a encarnação, o karma e a liberação humana. Como a maioria dos sistemas filosóficos hindus, a doutrina jainista visa libertar a alma da alternância perpétua de nascimento e morte, terminando a Samsara e conduzindo à Libertação. Os seus praticantes aceitavam o Sistema de Castas, a Lei do Karma e a transmigração da alma. Os deuses principais formam uma tríade: Brahma – o Criador, Vishnu – o Conservador e Shiva – o Destruidor. Estes deuses realizam maravilhas, sendo considerados heróis pelos seus feitos, ora como deuses, ora como homens. Na Índia, como em todas as civilizações, a necessidade de explicar os fatos relativos às crenças, à ética e à vida foram as primeiras especulações dos sábios com a finalidade de encontrar as soluções. Os primeiros ascetas, antes da codificação de Patanjali, observavam os animais e as plantas, transferindo para os homens os seus movimentos e formas, a fim de obterem a flexibilidade dos corpos, a calma e o repouso mental. Recorriam aos deuses e aos sábios para dar nome aos Asana. Yoga é um sistema filosófico, organizado e codificado por Patanjali, que o denominou Yoga Sutra, onde reuniu toda a tradição escrita e oral, em um tratado doutrinal técnico. A filosofia em seus primórdios era ensinada oralmente de mestre para discípulo, tendo suas raízes na mitologia e na religião. Baseando-se nos Shruti (veda), os pensadores indianos construíram suas escolas filosóficas ou sistemas – Darshana, a partir das lendas e rituais religiosos, cujo objetivo principal era a felicidade humana. Cada escola filosófica ou sistema teve um mestre fundador (rishi) que escreveu os seus ensinamentos em aforismos (Sutra) lacônicos e esotéricos. Para a interpretação destes Sutra, eram necessários estudos profundos, pois, à primeira vista, são ininteligíveis. Esta técnica de escrita tinha como finalidade preservar os conhecimentos do uso inescrupuloso desses conceitos tão importantes para a iluminação do homem.

Sistemas filosóficos indianos Sistema Nyaya “O que prende o Homem à Dor (Bandha) é a Ignorância (Sukna). Somente através da Sabedoria (Jnana) ele vence a Ignorância (Moha).” Este sistema é constituído por cinco compêndios de aforismos, um verdadeiro tratado de lógica. Seu autor é Gautama ou Aksâpada, que o compôs há cerca de 2.000 anos a.C., partindo da teoria de que nenhuma ação é isenta de causa. O karma (ação), conceito básico em todas as escolas filosóficas indianas, é que determina que o homem, pela sua ação física e mental, provoque efeitos no cosmos. No karma estaria a raiz dos ciclos dos renascimentos, e o homem seria liberto quando houvesse um esforço espiritual e uma conduta ética rigorosa. A compreensão da vida


Yoga e Filosofia para a libertação final seria o objetivo da existência. A alma impregnada da matéria torna-se karma. Cada ação é como uma semente cujos frutos só serão colhidos pelo semeador. A Lei do Karma é regida pela matéria acumulada que submete os homens e os escraviza ao desejo e à dor. São as ações humanas que condicionam o aparecimento e a influência das substâncias materiais. A Lei do Karma determina, assim, a Roda da Vida, o Renascimento (samsara). Para chegar à liberação do karma e evitar os conhecimentos errados, o homem deveria basear-se na lógica.

Sistema Vaisheshika Este sistema, um legado de Kânada, provável autor lendário, tem como fundamento o estudo da doutrina cosmológica; dedica-se ao conhecimento das coisas do universo sob um ponto de vista individual e distinto, estudando os seis “Aspectos Fundamentais da Existência” (Padarthas). 1. SUBSTÂNCIA (DRANYA) – O cosmos é composto por nove elementos ou substâncias, dos quais cinco são conhecidos na doutrina hindu: o éter (akasha); o ar (vayu); o fogo (tejas); a água (apa); a terra (prithvi). O éter é o primordial, seguindo-se os outros elementos na ordem apresentada. O Sistema Vaisheshika estabelece uma correspondência entre estes cinco elementos e os cinco sentidos da seguinte forma: Éter Ar Fogo Água Terra

= Audição (srota) = Tato (twach) = Visão (chakshu) = Gosto (rasana) = Olfato (ghrana)

As quatro substâncias restantes estudadas neste sistema são: espaço (dik); alma (atma); tempo (kala) e mente (manas). 2. QUALIDADE (GUNA) – está presente em todas as substâncias. Os hindus dão grande importância à Teoria das Guna, designando as qualidades constitutivas dos seres considerados em seus diferentes estados de manifestação, provindo de um princípio substancial chamado Prakriti, em perfeito equilíbrio. A modificação da substância representa uma ruptura deste equilíbrio. As três guna são: Sattwa, Tamas e Rajas. Sattwa – guna positiva, com tendência ascendente, dominando o fogo. Indica quietude, pureza, harmonia, elevação e equilíbrio. Tamas – corresponde à gravidade da Terra, com tendência descendente. Indica inércia, crueldade, erro, ilusão e estagnação. Rajas – guna intermediária entre Sattwa e Tamas, com expansão horizontal, dominando o ar. Indica impureza, paixão, força, violência, agitação e dinamismo.

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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental 3. AÇÃO (KARMA) – manifesta-se por uma modificação constante de sua estrutura, obedecendo à “Lei de Causa e Efeito”. 4. GENERALIDADE (SAMANYA) – torna os indivíduos semelhantes, reunidos num mesmo gênero, com um conjunto de traços comuns a todos. 5. PARTICULARIDADE (VISHESHA) – torna o indivíduo inconfundível em relação aos demais pela substância com atributos. 6. CORRELAÇÃO ou INSEPARABILIDADE (SAMAVAYA) – propriedade de existir uma coisa em outra, união; qualidade pela qual não se pode separar daquilo de que se faz parte integrante. Este sistema dedica-se ao conhecimento do homem em relação com o cosmos através de seus elementos formadores.

Sistema Samkhya O autor desta doutrina, Kápila, usou uma linguagem simples, baseando-se numa filosofia prática. Estuda a natureza do universo e do homem, mas não menciona Deus, razão pela qual foi considerado um sistema ateu, ainda que dualista, cosmológico e psicológico. Tem como ideia central liberar a alma humana da dor e do sofrimento, o que pode ocorrer de três maneiras: – provocada pelo próprio ser, sob forma de doenças psicossomáticas – motivada por agentes externos como o frio, acidentes etc. – causada por seres e vibrações sobrenaturais Esta escola dá ênfase à Teoria dos Elementos. A transformação de Prakriti (substância universal – a Natureza) é puramente acidental na relação com Bhutta (o Ser Manifestado, tudo o que é). Purusha (a Alma Universal), um terceiro elemento, interage com Prakriti que provoca um desequilíbrio. Purusha apresenta-se formada por um número infinito de “almas individuais”, que carregam a perfeição, a eternidade, que vai além das dores e dos prazeres, infinita e livre, mas oprimida pelo mundo de Prakriti que é seu corpo, suas emoções e seus pensamentos. A alma individual presa a Prakriti, nasce, morre e renasce. Apresenta-se sob três aspectos: vigília, sonho e sono profundo. O estado de vigília ou de consciência plena, encontra-se ligado a Sthula Sarira (corpo grosseiro). Este, nascido do Karma ou de ações do passado para a experiência do prazer e da dor, está integrado à matéria de Shadvikaras que são as seis modificações: existência, nascimento, crescimento, transformação, decadência e morte. No estado de sonho obtém-se o poder de agir e de se manifestar no Sukshma Sarira (corpo sutil), através das boas ações do passado (Satkarma). Este corpo sutil compõe-se de cinco Jnana Indrya (sentidos do conhecimento), cinco Karma Indrya


Yoga e Filosofia (órgãos da ação), cinco Prana (ares vitais), junto com Manas (mente), Buddhi (intelecto) e Kalas (categorias ou Yama). Jnana Indrya: srota (audição), vach (tato), chakshu (visão), jihva (paladar) e ghrana (olfato). Karma Indrya: vak – boca (linguagem), pani – mão (tato), pada – pés (locomoção), payu – ânus (excreção), upastha – genitais (prazer). No estado de sono profundo, manifesta-se Karana Sarira (corpo causal), campo livre da consciência, indescritível, liberto de qualquer apego, tendo como objetivo principal equilibrar as três guna. Segundo o Sistema Samkhya, o princípio Tanmatra é a própria matéria física constituída de substância grosseira, composta de medula, ossos, carne, sangue, pele, tronco, braços, pés e cabeça. Ao lado de Tanmatra, nasceram os Jnana Indrya ou órgãos dos sentidos, assim como os Karma Indrya ou órgãos da ação. Buddhi (o intelecto), junto com Bhutta (a Manifestação), aparece em primeiro lugar por ser a faculdade discriminadora, desta nascendo Manas (a mente), com a propriedade de pensar, dando origem então a Ahamkara (egoísmo). “O Homem só chegará à Moksha (Liberação), libertando-se da Ignorância e adotando a Sabedoria.” Neste caminho da Liberação para chegar a Deus é preciso libertar-se das cinco coberturas, envelopes ou invólucros, conhecidos como Pancha Kosa, que fazem parte do percurso para o desenvolvimento intelectual. Annamaya Kosa ou corpo físico (a primeira cobertura) é formado pelo alimento, cresce sob sua influência, dissolve-se na terra e transforma-se em alimento novamente. Pranamaya Kosa ou corpo vital (a segunda cobertura), é formado pelos cinco Prana vitais: Apana, Prana, Udana, Samana e Vyana. Cada um deles atuando numa parte do organismo e nos cinco órgãos da ação. Manomaya Kosa ou corpo mental, (terceira cobertura), é constituído pelos cinco sentidos do conhecimento e pelas substâncias mentais Manas e Chitta. Vijnanamaya Kosa ou corpo intelectual Buddhi (a quarta cobertura), é formado pelo intelecto e pelos cinco sentidos do conhecimento. Anandamaya Kosa ou corpo causal (a última cobertura) é composto por Avidya (ignorância), que pertence ao corpo causal, de Malina Sattwa, misturado com impurezas de Rajas e Tamas, no qual existem os Vritti ou modificações mentais, chamadas Prya ou afeição, moda ou encanto e Pramoda ou intensa sensação de satisfação e alegria. Desfeitos estes invólucros, o homem encontrará a satisfação interna e a felicidade – a Bem-Aventurança (Ananda).

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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental Sistema Yoga O Sistema Yoga, um dos seis Darshana, tem resistido aos séculos e seu objetivo é a Educação Integral do Ser, procurando atingir o perfeito desenvolvimento Corpo-Mente. Patanjali, aproximadamente no século II a.C., foi o compilador de todo o conhecimento do Sistema Yoga, sintetizando a essência da filosofia yogin, harmonizando-a à técnica através de profundos estudos. Destas observações originaram-se os principais caminhos do Yoga (Hatha, Jnana, Karma, Bakti e Raja). Do Hatha Yoga, conhecido como o Yoga do físico, foram tiradas as práticas dos Asana, Pranayama e Pratyahara (abstração dos sentidos). Estas são as bases para a eliminação das perturbações causadas à mente pelo corpo físico, com o objetivo de chegar ao Yoga Superior. Do Jnana Yoga, o caminho do autoconhecimento através da filosofia, foram tiradas as práticas de Viveka (discernimento), que é a discriminação entre o real e o irreal, o permanente e o transitório, o self e o não-self. Também deste caminho do Yoga foram tiradas as práticas de Vairagya (desapego). “DRSTANUSRAVIKA VISAYA VITRSNASYA VASIKARA SAMJNA VAIRAGYAM.” (Cap. I, Sutra 15) “O desapego é a ausência total de aspiração, o perfeito estado de domínio consciente.” Do Karma Yoga, caminho da ação, trabalho desinteressado, foi utilizado o princípio de ação generosa, ultrapassando o plano dos desejos inferiores. O homem, ao conseguir o autodomínio, não sofrerá nenhuma influência externa; seu trabalho trará a felicidade, pois toda sua ação será dedicada a Deus. Do Bakti Yoga, o Yoga da devoção, foi tirada a técnica da autoentrega e devoção a Deus. (Cap. I, Sutra 23) “Pode-se alcançar a concentração também através da devoção a Isvara (Senhor)”. Do Raja Yoga, o Yoga da mentalização, Patanjali baseou-se não só na meditação para chegar ao Samadhi, como também no estudo do corpo, considerando este como o veículo de toda a energia espiritual. O Sistema de Patanjali, progressivo e sistemático, denominado Yoga Sutra, é constituído de 195 aforismos, distribuídos em quatro capítulos: Samadhi Pada – apresenta a teoria do Yoga e sua técnica; Sadhana Pada – exercícios preliminares, objetivando o preparo do sadhaka (discípulo) para o Yoga Superior; Vibhuti Pada – práticas que orientam a meditação; Kaivalya Pada – capítulo onde são colocados os problemas filosóficos para que o praticante alcance, através do estudo e das práticas, o caminho desejado: a Liberação.


Yoga e Filosofia O Yoga Sutra é também conhecido como Ashtanga ou Oito membros, como é enunciado no Cap. II, Sutra 29. “YAMA MYAMA ASANA PRANAYAMA PRATYAHARA DHARANA DHYANA SAMADHAYO STAVANGANI.”

“Abstenções, observâncias, prática de exercícios físicos, prática de exercícios respiratórios, qualidade dos sentidos, concentração, meditação, integração completa com o objeto da compreensão.” BAHIRANGA – YOGA EXTERNO YAMA

abstenções

NYAMA

observâncias

ASANA PRANAYAMA PRATYAHARA

– – – – – – – – – – – – – –

Ahimsa (não-violência), ou Asteya (não-roubar) Satya (não-mentir) Brahmacharya (abstinência) Aparigraha (não desejar nada) Saucha (pureza), ou Santosha (contentamento) Tapas (austeridade) Svadhyaya (estudo das Escrituras Sagradas) Svarapranidhana (entrega a Deus) Meditativas Culturais Controle da respiração Abstração dos sentidos

ANTARANGA – YOGA INTERNO DHARANA DHYANA SAMADHI

– Concentração – Meditação – Absorção total

Estes oito aspectos são examinados e estudados nos seguintes aforismos: “AHIMSA SATYASTEYA BRAHMACHARYA APARIGRAHA YAMAH.” (Cap. II, Sutra 30)

Este Sutra refere-se ao Yama: “Evitar ferir em palavras ou ações qualquer ser vivente; não mentir, não furtar, não ter ganância.” Yama é um mandamento de moral universal de inofensividade, autodomínio e disciplina, ética. É o primeiro grau do Yoga, dividido em cinco resoluções: AHIMSA – a não violência. Ser inofensivo em ações, pensamentos e palavras.

Muitas vezes o homem torna-se violento na defesa de seus interesses ou de sua dignidade, porém a presença da divindade dentro de si, o leva a nada temer. A violência é gerada pelo medo e pela ignorância, mas o autoconhecimento leva-o a sentir sua força interior, conquistando um sentimento de tranquilidade.

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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental ASTEYA – não se apropriar indevidamente de qualquer objeto, ou mesmo de ideias

alheias. É não abusar da confiança. SATYA – ser verdadeiro sempre. A verdade protege das ilusões. Verdade em pensamentos, gestos, na palavra escrita e falada, principalmente nesta, porque a mentira quebra a harmonia de quem pretende a perfeição do Ser. BRAHMACHARYA – moderação em todas as ações, porque o desejo (kama) perturba a mente. Renunciando aos prazeres pelo desapego, o Sadhaka pode crescer internamente, desenvolvendo sua energia e vitalidade, chegando mais facilmente à ascensão espiritual. APARIGRAHA – mediante a observância do Yama, o yogin procura ter uma vida simples, não desejando o que não é seu, nem sentindo falta de coisa alguma. “JATI DESA KALA SAMAYANAVACCHINNAH SARVABHAUMA MAHA VRATAM.”

(Cap II, Sutra 31) “A adoção destas atitudes forma um compromisso que será praticado sem restrições de tempo, lugar, situação social, cultural, intelectual ou individual, sendo simplesmente irredutíveis.” “SAUCA SANTOSA TAPAH SVADHYAYESVARA PRANIDHANANI NIYAMAH.”

(Cap. II, Sutra 32). Este Sutra refere-se ao Nyama, segundo grau do Yoga, composto de cinco resoluções: “Os Nyama são regras escritas de conduta, aplicadas à disciplina do indivíduo, constituídas de pureza, satisfação, austeridade, estudo profundo e entrega completa a Deus.” SAUCA ou SAUCHA – a limpeza do corpo e do ambiente em que se reside faz parte

da limpeza física. No entanto, o mais importante é a limpeza moral: abolir os sentimentos causadores de transtornos emocionais como o ciúme, ódio, ira, luxúria, paixão, orgulho, vaidade. O que é conseguido através da meditação e da purificação interior. SANTOSA ou SANTOSHA – a conquista espiritual. Satisfação interior do homem ao se abster do desejo material, obtenção da paz ao chegar a Deus. TAPAS – trabalho de austeridade, feito com esforço consciente para o aperfeiçoamento. É a transmutação da natureza inferior em Eu Superior, através de um processo de autodisciplina muito rígido. SVADHYAYA – estudo das Escrituras Sagradas. Aperfeiçoamento próprio e conhecimento interno por métodos e práticas como a reflexão e a meditação, que possuem a propriedade de abrir o canal da mente inferior à mente superior. SVARAPRANIDHANA – princípio do Bakti Yoga, a entrega a Deus, completa e sem restrições com dedicação nas ações e pensamentos. Para que o estudante de Yoga tenha um bom êxito no trabalho com as práticas de Yama e Nyama em sua vida diária, quando sentir que seus pensamentos estão


Yoga e Filosofia tomando rumos impróprios aos princípios a que se propôs no Yoga, é aconselhável pensar constantemente nos opostos. “VITARKABADHANE PRATIPAKSABHAVANAM.” (Cap. II, Sutra 33)

“Quando a mente está perturbada por pensamentos impróprios, cultivar pensamentos sobre os contrários.” Asana ou postura é a prática de exercícios físicos. Terceiro grau do Yoga. “STHIRASHUKHAMASANAM.” (Cap. II, Sutra 46) “Asana é permanecer numa posição firme, mas sem tensões.” Ao manter-se numa postura, confortavelmente, encontra-se o equilíbrio mental, evitando a instabilidade da mente. O Asana implica movimentos corporais que, quando praticados corretamente, deixam os discípulos vigilantes, relaxados e sem dores. “TASMIN SATSVASA PRASVASAYOR GATIVICCHEDAH PRANA YAMAH.”

(Cap. II, Sutra 49) Pranayama é a regularização consciente e deliberada do “sopro”, substituto das formas inconscientes de respiração. Quarto grau do Yoga. Patanjali observa que um “Pranayama executado corretamente destroi todas as doenças, mas uma prática incorreta engendra todas as doenças”. Esta é a razão pela qual compete ao instrutor de Yoga trabalhar inicialmente apenas com os ritmos de respiração e, só mais tarde, executar os Pranayama. No Cap. II, Sutra 50, Patanjali determina o tempo e o número de respirações, e se prolongadas ou sutis. O tempo pode ser determinado pelo clima e pelos alimentos, enquanto o número se desenvolve com uma prática cautelosa e persistente. Pratyahara é a abstração dos sentidos, o quinto grau do Yoga. Está intimamente ligado aos ritmos da respiração. Quando se consegue o domínio dos Pranayama, os sentidos são canalizados para o interior do indivíduo. “SVA VISAYASAMPRAYOGE CITTASYA SVARUPANUKARA IVENDRIYANAM PRATYAHARAH.” (Cap. II, Sutra 54)

“A submissão dos sentidos ao mental leva a uma direção escolhida e eles se desviam dos objetos circunvizinhos e seguem fielmente a orientação do mental.” “TATAH PARAMA VASYATENDRIYANAM.” (Cap. II, Sutra 55)

“Então se obtém o máximo de domínio sobre os sentidos.” Com o domínio completo dos sentidos e a centralização da mente em determinado ponto, termina o Bahiranga ou Yoga Externo, ficando o sadhaka capacitado a começar a etapa Antaranga ou Yoga Interno. Dharana – reflexão, concentração, orientação da mente para uma só direção. Sexto grau do Yoga, a etapa que leva o praticante à meditação.

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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental “DESA BANDHAS CITTASYA DHARANA.” (Cap. III, Sutra 1)

“Concentração é manter a mente dentro de uma área mental limitada.” Dhyana significa meditação, sétimo grau do Yoga. A concentração não deve ser interrompida, caso contrário a mente se distrai e começa a divagar, acabando com o processo inicial. “TATRA PRATYAYAIKATANATA DHYANAM.” (Cap. III, Sutra 2)

“Quando toda a atenção é levada para um único ponto e a concentração é ininterrupta, este ponto é dhyana.” Samadhi é a união do espírito com o objeto da meditação, num processo perfeito de interiorização e aprofundamento, atingindo o estado de nanda. O corpo e os sentidos estão em repouso, mas a mente e a razão estão abertas e ativas. É o despertar além da consciência. A pessoa em Samadhi está plenamente consciente e perfeitamente alerta. O oitavo grau do Yoga. “TAD EVARTHAMATRA NIRBHASAM SVARPASNYAM IVA SAMADHIH.” (Cap. III, Sutra 3)

“A pessoa fica de tal modo absorvida naquele ponto que nada mais o distrai, como se tivesse perdido a sua própria identidade. Esta integração completa é Samadhi.” Estão contidos no Sutra de Patanjali todos os princípios básicos do Sistema Yoga. Este compêndio, apesar de elaborado há tantos séculos, é absolutamente atual, sendo considerado o caminho certo para o aperfeiçoamento do Ser Humano.

Sistema Mimansa Este Darshana tem uma visão ritualística do mundo. É considerado como a ciência da religião, abordando o conhecimento metafísico pelo trabalho de investigação anterior em que o Ser Supremo deu origem ao Universo. O autor deste Sistema é Gianini ou Janini.

Sistema Vedanta ou Mimansa Uttara Vedanta é uma escola filosófica do Hinduísmo, conhecida também como Vedanta Darshana ou Brahma Sutra, cujo compilador foi o sábio Vyasa. O pensamento central é Advaita, isto é, o não dualismo. O autor Badarayana baseou-se no Hinduísmo e nos Upanishad, formando um sistema com 555 aforismos, onde se encontra o Vedanta como primeira exigência para aprender o Essencial, o Eterno e o Todo. A segunda é observar e inquirir, sendo fundamental a necessidade de desenvolver o autodomínio, a paciência e a tranquilidade acima das tentações materiais.


Yoga e Filosofia Esta escola compreende duas grandes divisões: a primeira Monista – Advaita e a segunda Dualista – Dvaita. A figura de maior destaque desta filosofia foi Shamkarâ, que viveu no sul da Índia no século VIII d.C. Grande reformador da sua pátria, mestre da Filosofia Vedanta, pertenceu à corrente Monista (Advaita), deixando inúmeros escritos filosóficos, além de uma vida envolta em lendas. Conta-se que, aos 32 anos foi para Cachemira e, em Kedaranath, no Himalaya, entrou numa caverna e daí em diante nada mais se conhece a seu respeito. Seus seguidores acreditam que ele não morreu, apenas se retirou do mundo. Deixou um grande legado que até hoje serve de base para estudos de Filosofia, principalmente da Liberação (Moksha), objetivo primeiro do homem, que começa pelo desapego e pela renúncia – um árduo caminho a percorrer para a plena Libertação. Para que se possa entender bem este princípio da Libertação é preciso compreender as formas dos três corpos: grosseiro, sutil e causal. Ahamkara, o corpo sutil apresenta-se com cinco envoltórios que o recobrem: 1 – vive pelo alimento e morre sem ele. 2 – formado pelo alento vital. Por seu intermédio o primeiro corpo move-se em todos os atos corporais, guiados pelo Eu. 3 – formado pelo mental. A mente predomina na consciência da vigília, escraviza o homem e ela mesma o liberta. 4 – o envoltório da inteligência com os seus poderes. É a causa do ciclo humano de nascimento e morte (samsara) e através dos vários renascimentos adquire experiência. 5 – é a Beatitude, uma forma iluminada pelo reflexo dela própria. A sua natureza é de felicidade e de alegria. Revela-se no sono profundo como no Eu, porque é uma manifestação da natureza objetiva. O Eu verdadeiro forma uma iluminação permanente e inatingível. Na doutrina Advaita, Brahman não cria, sendo ele a pura consciência, sem atributos, com forma imutável e eterna, estando além dos desejos e fora do alcance dos sentidos. Há dois atributos que precisam ser destruídos para alcançar a absorção em Brahman: a ignorância – avidya e a ilusão – maya. Avidya e Maya representam os lados objetivo e subjetivo da “Grande Ilusão” pela qual o intelecto supõe conhecer o real. Por meio destes atributos vê-se a multiplicidade de objetos e fluxos de mudanças. Na realidade só existe um Ser: Brahman, a Realidade Universal. No que diz respeito ao aspecto filosófico da doutrina advaita, o importante é encontrar a essência de “causa e efeito” em Brahman, porque fora dela nada existe e o que parece existir nada mais é do que Ilusão. A doutrina dvaita encara o mundo sob um ponto de vista dualista. Foi apresentada no séc. XI por Nimbarka e mais tarde adotada por Madhva. Considera Brahman o universo, e as almas suas manifestações.

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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental Na Índia, a busca incessante do homem pela sua felicidade, acreditando na imortalidade da alma e sua reencarnação, gerou uma filosofia rica em ensinamentos para o desenvolvimento do Ser Humano, conduzido através de caminhos segundo o temperamento de cada um, que podem ser: práticas físicas (Hatha Yoga), mentais (Raja Yoga), ações (Karma Yoga) e devoção (Bakti Yoga). Observamos neste capítulo toda a síntese da filosofia yogin. Passaremos agora a analisar os aspectos científicos contidos nesta doutrina.


2 Capítulo

Yoga e Ciência

As perguntas ontológicas formuladas através da filosofia passaram a ser respondidas em épocas mais recentes pela ciência, que se utiliza de vários métodos para a definição e a comprovação de seu objeto de estudo. A finalidade destes métodos é, ainda, a de aumentar a quantidade de informações e a probabilidade de comprovação de teorias daí decorrentes. Dentre esses métodos vale ressaltar o da experimentação; o “ver acontecer” afim de comprovar teorias hipotéticas. Neste momento, em que a ciência procura estabelecer as suas bases, percebemos a sua junção inevitável com o Yoga, que nos dá uma série de informações baseadas em observações e experimentos. O Yoga é um método de experimentação científica que estuda o corpo humano e suas reações, o que pode ser comprovado por instrumental técnico-científico adequado. A Vectografia é um método que explora o campo elétrico cardiográfico, fornecendo uma representação sintética do fenômeno bioelétrico sobre os três planos: frontal, horizontal e vertical, tendo o coração como centro. As alterações decorrentes da adoção de posturas diferentes, como deitada ou sentada, são suscetíveis de registros não somente dos eixos elétricos, mas também da condução auriculoventricular. Nos tratados originais de Yoga estão descritas a teoria e algumas explicações acerca desses fenômenos, embora de maneira muito sumária, e, ainda, observações sobre a fisiologia do praticante em cada postura. A variação de comportamento ante as posturas do Yoga está estritamente ligada às aptidões e às capacidades específicas de cada praticante. Nem todas as pessoas apresentam a mesma atitude frente a uma sessão de Yoga. Ao observador é possível distinguir, com bastante nitidez, uma variação seletiva entre os diversos praticantes. Em Siddhasana, “postura meditativa”, o corpo forma um triângulo equilátero simbolizando a simetria do Asana. Através do vectograma pode-se verificar uma amplificação do campo elétrico com melhor contorno. A contração cardíaca se mantém em ótimas condições. Em Padmasana, outra “postura meditativa”, há um registro de amplificação vectográfica mais importante do que a verificada na postura anterior. Em Bhujangasana, durante a tomada da postura, os movimentos musculares culminam em uma configuração do tipo estrela, e, finalizando, já o praticante em completa imobilidade, o vectograma indica uma ampliação do campo elétrico. Essas experiências se estenderam aos Pranayama, nas suas diversas fases: Puraka (inspiração), Antara Kumbhaka (retenção de ar com os pulmões cheios), Rechaka (expiração), Bhaya Kumbhaka (retenção da respiração com os pulmões vazios).


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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental Os impulsos nas diversas fases respiratórias modificam os movimentos cardíacos, variando de acordo com a respiração. Em Kumbhaka, produz-se a interferência da contração muscular; as pulsações sofrem igualmente modificações profundas, gerando uma hipotomia (enfraquecimento da tensão muscular) com repetições periódicas de tonicidade. Na experiência com Uddhiyana Bandha, a expiração forçada ao extremo, com contrações vigorosas dos grandes retos do abdome e elevação das costelas pela contração muscular escapulocervical, vislumbram-se fenômenos fisiológicos dos mais importantes, tais como a restrição dos movimentos cardíacos. Em Halasana, na fase da imobilidade postural, o vectograma horizontal mostra uma dupla modificação: uma parte morfológica envolve os campos elétricos, que tomam a forma de um triângulo equilateral, enquanto a superfície se reduz à metade. Muitas experiências são vivenciadas no Centro de Lonavla, como, por exemplo, as diversas radiografias tiradas do abdome em estado normal depois da aplicação de uma solução de contraste, o que permitiu estudar diferentes fases do Nauli (movimentos abdominais) com seus efeitos no cólon. O mesmo experimento foi testado com Uddhiyana Bandha, sentado, abaixado ou em pé, para estudar a posição normal do cólon durante aquele movimento. Essas e muitas outras experiências foram publicadas já em 1963. Hoje, com aparelhagem mais moderna e sofisticada, as informações podem ser muito mais precisas, indicando, por exemplo, os músculos que trabalham com mais vigor em determinadas posturas. Através da prática do Yoga é possível manipular o corpo humano, utilizando-se apenas de suas potencialidades, chegando a resultados que a medicina convencional só logra alcançar através de aparelhos. Exemplificando: as lavagens do reto e da bexiga que, pelo Yoga, podem ser feitas sem uso de instrumentos, apenas aspirando pelos seus orifícios naturais. Este movimento implica numa ação voluntária das fibras lisas, combinadas com as contrações externas e com os músculos abdominais, pélvicos e diafragma. Após uma contração muito forte, segue-se um relaxamento, o que permite ao yogin agir sobre as suas cavidades vesicais e anais como se fosse de borracha. A contração e a descontração idênticas fazem parte desta técnica. As contrações alternadas dos grandes retos do abdome formam parte das contrações isoladas de músculos ou grupos deles realizadas de acordo com a sua vontade, dissociando o número de sinergias (ação simultânea em diversos músculos) habituais. Em Yogaterapia foram publicados inúmeros artigos sobre os vários tipos de tratamento, como “A Reabilitação dos Asmáticos pelos Métodos do Yoga”, terapia usada pelo Dr. M.V. Bhole, então diretor de pesquisas científicas do Colégio de Yoga. Ainda outros trabalhos vieram à tona, como “Possibilidade de Jnanaterapia”; “A Teoria da Conexão entre Complexos do Inconsciente e Doenças Crônicas”; “Jnana Yogaterapia para Doenças Psicossomáticas Crônicas e Doenças Mentais” do Prof. Udhav A. Asrani, ex-professor de Física da Universidade de Bombaim e da Universidade Rindu de Benares. O Instituto de Yoga de Santa Cruz, em Bombaim, aborda a parte científica do Yoga sem perder de vista o aspecto filosófico. Alguns trabalhos apresentados em suas revistas, como “A Úlcera Péptica e o Yoga”; “Yoga Ajuda a Curar Amnésia”; “Método


Yoga e Ciência de Yoga no Tratamento de Pacientes de Ortopedia”. Estes trabalhos mostram o interesse terapêutico pelo Yoga e o seu grande desenvolvimento. Na França, o Yoga Terapêutico também tem sido bastante divulgado, através de obras como “Yoga dos Olhos”, de Margaret Darst Corbertt; “Yoga Terapêutico”, do Dr. Pierre Jacquemart, e muitas outras de igual teor. Experiências feitas na Rússia com meditação têm sido estudadas e aplicadas com grande êxito. B. Smirnov, um dos introdutores do Yoga na Rússia, desenvolveu um belíssimo trabalho voltado para a terceira idade, procurando novos rumos para os estudos das doenças respiratórias dos idosos. Para tanto, B. Smirnov estudou textos filosóficos, dos quais publicou comentários, onde explana a percepção básica do Yoga do ponto de vista da moderna ciência médica. O Yoga tornou-se parte de um sistema de exercícios, desenvolvidos por médicos soviéticos, visando a cura de doenças da coluna, olhos, estômago e outras patologias. Existem hoje inúmeros Centros de Yoga na Rússia, como as Clínicas de Tratamento de Asma no Báltico: Hospital para Nervosos, perto do Mar Negro; Hospital No 08, em Moscou, para doenças neurológicas, onde foram introduzidos em 1978 os Asana e Pranayama para a cura de 20.000 pessoas. O Dr. B.S. Chugunov, chefe da clínica do hospital, declarou: “Nós tratamos todos os tipos de doenças, incluindo as gástricas, alergias, asma e até mesmo pneumonia; mas, nossa principal especialização são as enfermidades neurológicas”. Em todas as ciências há conceitos básicos que precisam ser estudados para que o seu conjunto venha a ser plenamente compreensível e aceitável. Nos milenares Sutra de Patanjali encontram-se os princípios científicos do Yoga, expondo uma prática muito completa, que se tornou base para muitas experiências de laboratório, tanto no Ocidente como no Oriente. Os Sutra são ligados entre si e, apesar de sua forma reduzida, representam todo o conhecimento filosófico profundo e científico quando tratam do homem a nível psicológico e preventivo. Na parte relativa aos Asana e Pranayama, observa-se o valor da ciência do Yoga como terapia preventiva. Dentre os seus muitos ensinamentos, vale destacar, por oportunos: YOGAS CITTA VRITTI NIRODHAH

“Yoga é a aptidão de dirigir a mente exclusivamente para o objeto e sustentá-la naquela direção sem nenhuma distração.” (Cap. I, Sutra 2) CITTA é a mente da psicologia moderna, porém com maior amplitude imaterial, recebendo influência da matéria. A mente, para funcionar, necessita de Purusha e Prakriti (consciência e matéria), objetivando um equilíbrio físico, mental e espiritual do indivíduo. “A busca do equilíbrio” tornou-se hoje um ponto crucial para a humanidade. PRAMANA VIPARYAYA VIKALPA NIDRA SMRTAYAH

“As cinco atividades são: compreensão, engano, imaginação, sono profundo e memória.” (Cap. I, Sutra 6)

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Yogaterapia – o caminho da saúde física e mental Cada uma dessas atividades apresenta características próprias. Mesmo que não sejam sempre evidentes, elas são reconhecidas individualmente. A predominância, a frequência, os efeitos sobre o comportamento das pessoas e atitudes combinadas constituem a personalidade do indivíduo. HEYAM DUHKHAM ANAGATAM

“A dor que ainda não chegou pode ser evitada.” (Cap. II, Sutra 16) Pode-se interpretar este aforismo no campo da terapia preventiva. Se a prática for feita com consciência, o corpo fica imunizado para as “dores” ou enfermidades. A “dor” no Yoga é sinônimo de sofrimento humano. As práticas de Yoga visam atenuar e mesmo suprimir este estado de dor, que se apresenta ao homem sob três formas: Adhyatmika – dor interior, doenças do corpo e do espírito Adhibhautika – dor causada pelo homem e por animais Adhidaivika – dor causada pelos elementos naturais Todo sofrimento, dor física ou insatisfação emocional, em sua forma sutil ou não, é universal. Este conceito de que “a dor é universal”, uma característica do Budismo é considerada uma fusão necessária do mundo. No Bramanismo, a dor é um atributo da existência nos seus aspectos contingentes. As práticas do Yoga, os Asana, promovem a estabilidade do corpo, fazendo desaparecer as dores e aumentando a liberdade de movimentos. Pode-se, pois, definir a finalidade científica do Yoga como sendo a de alcançar o sucesso sobre a dor. O Yoga no Oriente é, assim, igualmente considerado como ciência, o que se comprova pelas inúmeras pesquisas feitas em grandes centros, como o de Lonavla, onde se publicam livros devotados à Ciência do Yoga.


Nilda Feernandes

Sobre a autora

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Yoga Terapia chega com nova edição, moderna e repaginada. Mas

Nilda Fernandes, professora de Geografia e História com especialização em Antropologia Cultural, conheceu o Yoga em 1954. A partir de então, dedicou-se a uma busca incessante, da qual fizeram parte cursos de formação em vários países como Índia e França. Em 1974 fundou, em Brasília, o Ceyrama (Centro de Estudos de Yoga Ramana Maharishi), formando novos professores nesta prática milenar. Criou também o Programa de Yoga para Doentes Mentais, implantado no Instituto de Sáude Mental, em Brasília. Cada vez mais entusiasta desta ferramenta de saúde e crescimento individual, aos 90 continua suas atividades. Agora em Santos, dá aulas para grupos menores, com foco em problemas específicos. Termina de escrever um livro de Yoga para pessoas com deficiências e limitações físicas que visa trazer a volta da saúde através da retomada de contato e consciência do próprio corpo.

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a verdadeira celebração destes 20 anos de publicação é que o Yoga tem sido cada vez mais estudado e praticado. Se por um lado virou moda, com multiplicação de tipos de práticas e chegando até mesmo a fazer parte do currículo de Educação Física, o livro Yoga Terapia tem atravessado o tempo sem perder seu cunho de atualidade. Professores e instrutores de Yoga têm nesta obra seu espaço de consulta sobre o aspecto terapêutico, benefícios e indicações de cada postura, além do estudo acurado da anatomia solicitada para sua execução. A descrição dos benefícios propicia que o foco de atenção dos praticantes se volte para o próprio corpo, como um elemento indispensável para a manutenção da saúde e bem-estar. Um confiável e prático livro de consulta que possibilita a qualquer pessoa tomar conhecimento e se familiarizar com a importância desta filosofia milenar, com a sistematização de Patanjali através de seus aforismos, assim como a Mitologia, que conta como os deuses regem os homens ou como os homens concebem os deuses.

Alongamento inconsciente faz parte do nosso cotidiano. Alongamento consciente traz todos os benefícios do movimento harmônico do corpo humano: flexão e estiramento simultâneos. Neste livro, a professora Nilda Fernandes mostra como melhorar e controlar sua flexibilidade através dos asana de Yoga em alongamento usando a concentração e o controle da respiração. Os movimentos executados podem fortalecer os músculos e proporcionar um grande bemestar ao praticante. O alongamento bem orientado pode reduzir as dores no corpo, aumentando a mobilidade, mantendo-o jovem, saudável e flexível.

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