Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Adriana Dorfman Organizadora

LETRA1 SERVIÇOS EDITORIAIS


Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Adriana Dorfman (org.) Cátia Cilene Pereira Froehlich Lucas Stanislawski Silva Rafael Zilio Fernandes Raquel Chites Rodrigo Costa de Aguiar Cartografia Isabel Rekowsky Ilustrações Eloar Guazzelli


Com a colaboração de Alice Seben Campana Amanda Bahi de Souza Bruno José Barbosa Daniele Machado Vieira Débora Schardosin Ferreira Éverton de Moraes Kozenieski Felipe de Sousa Gonçalves Fernando Weiss Xavier Helena Bonetto Jurley Colares Ribeiro Lucas Porfírio Schneider Lucimar Fátima Siqueira Mario Leal Lahorgue Pâmela Bergonci Paulo Roberto Rodrigues Soares Pierre Souza Medeiros Rodrigo Rodrigues Silveira Samuel Martins Tielle Soares Dias


2015 Permitidas a cópia e o compartilhamento, desde que citada a fonte. Proibidas alterações e a comercialização. http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/ Preparação dos originais Cátia Cilene Pereira Froehlich Revisão Tadeu Rossato Bisognin Ilustrações Eloar Guazzelli Cartografia Isabel Rekowsky Projeto gráfico e diagramação Ronaldo Machado | Letra1 Impressão Gráfica da UFRGS

Dados Internacionais de Publicação Bibliotecária Ketlen Stueber CRB: 10/2221 T323

Versão digital disponível para donwload: http://www.ufrgs.br/propesq/publicacoes

Territórios e lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre / organizado por Adriana Dorfman; cartografia de Isabel Rekowsky; ilustrações de Eloar Guazzelli – Porto Alegre: Editora Letra1; Instituto de Geociências/UFRGS, 2015. 156p. isbn 978-85-63800-11-4 [impresso] isbn 978-85-63800-14-5 [e-book] 1. Geografia. 2. Porto Alegre e Região Metropolitana. 3. Vivência urbana. I. Dorfman, Adriana. II. Rekowsky, Isabel. III. Guazzelli, Eloar. IV. Título CDU 913 (816.51)

Este livro foi publicado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS, e do Programa de Difusão da Ciência da Pró-Reitora de Pesquisa – PROPESQ/UFRGS

LETRA1 SERVIÇOS EDITORIAIS

j.l. da r. machado – editora CNPJ 12.062.268/0001-37 letra1@editoraletra1.com +55(51)3372 9222 +55(51)9612 7754 porto alegre - brasil

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Territ贸rios e Lugares da Regi茫o Metropolitana de Porto Alegre


Sumário Apresentação Parte 1

Conhecer o espaço para nele atuar

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A formação e a dinâmica atual da Região Metropolitana de Porto Alegre

1 ● A EXPERIÊNCIA METROPOLITANA 12 2 ● A CIDADE E A URBANIZAÇÃO 14 • O sítio urbano 14 • Os territórios e as cidades 15 • Participação política e juventude 20 • Sítio e situação 21 3 ● AS ORIGENS DA CIDADE DE PORTO ALEGRE E DA RMPA 23 • Os povoadores de Porto Alegre 25 • O crescimento da metrópole 27 • Territórios negros urbanos em Porto Alegre 30 • Patrimônio, lugar de memória e refuncionalização 32 4 ● A ESTRUTURA INTERNA DA CIDADE 33 • Paisagens e conteúdo social dos bairros residenciais 33 • Divisão social do espaço urbano 35 • Condomínios fechados e bairros planejados 37 • Divisão técnica do espaço 38 • O que observar, descrever e investigar na saída de campo? 41 • Os agentes que produzem o espaço urbano 43 • Plano diretor 48 5 ● A REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE 49 • A criação da Região Metropolitana de Porto Alegre 49 • A Metropolização 52 • Hierarquia urbana 52 • Emancipações municipais no Brasil 53 • Teoria dos lugares centrais 54 • Porto Alegre, metrópole contemporânea 57 • Outras aglomerações urbanas do RS 59 • Fatores locacionais e sistemas locais de produção 61 • Conhecendo a metrópole a partir de exercícios 62


Parte 2

Desafios da gestão metropolitana

6 ● HIDROGRAFIA DA RMPA 73 7 ● UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 81 8 ● O RURAL METROPOLITANO 85 9 ● LIXO: POLUIÇÃO OU GERAÇÃO DE RENDA? 87 10 ● ÁREAS VERDES, ESPAÇOS DE LAZER E CULTURA 93 11 ● A SEGURANÇA E A CONVIVÊNCIA 95 12 ● TRANSPORTE E CIRCULAÇÃO 99 13 ● A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO PARA A COPA 102

Parte 3

Conhecendo cidades da RMPA

● ALVORADA 108 ● CANOAS 112 ● ELDORADO DO SUL 116 ● ESTEIO 119 ● GRAVATAÍ 121 ● GUAÍBA 124 ● NOVO HAMBURGO 127 ● PORTO ALEGRE 130 ● SÃO LEOPOLDO 134 ● SAPUCAIA DO SUL 137 ● VIAMÃO 141 147 Referências

Sobre os autores 152 154 Índice de figuras, quadros e tabelas


Apresentação Conhecer o espaço para nele atuar

Os textos e exercícios sobre Geografia Urbana disponíveis para estudante e professores são, em geral, pensados por autores e para alunos moradores das metrópoles nacionais. As obras são organizadas em torno de questões, dados e exemplos do centro do país, dificultando aos alunos que vivem na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) o exame dos “fatos” apresentados. Os lugares percorridos cotidianamente pelos estudantes não são problematizados nesses textos1. Como propor aos alunos numa posição de produtores de conhecimento e atores em seu espaço vivido? Como despertar nos jovens cidadãos o entendimento de que a cidade pode ser mudada pela atuação dos que nela vivem? O propósito deste livro é encarar tais desafios ao apresentar informações e análises que subsidiem a discussão das experiências urbanas em sala de aula, de modo a incentivar a identificação, a cidadania e a participação dos estudantes no dia a dia de suas comunidades. Queremos também registrar o resultado de um esforço concreto e compartilhado de ensino de Geografia Urbana. Escolhemos o título “Territórios e lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre” porque queremos explorar a experiência afetiva e a distribuição do poder no espaço integrado de Porto Alegre e das cidades de sua região. Depois de uma primeira redação ficou claro que a questão ambiental urbana também se impunha como um eixo vertebrador da discussão. Assim, nos propomos a reunir informações para analisar o espaço urbano através dos conceitos de território, espaço demarcado nas relações de poder entre os agentes, e lugar, entendido como a dimensão cotidiana e horizontal de uma unidade geográfica com continuidade histórica2. Dentre os muitos gêneros de escrita escolar (folha, apostila, polígrafo, caderno de exercícios ou de mapas, livro didático ou paradidático, atlas, manual), à cartilha se reserva o caráter de introdução de um assunto, com as primeiras lições de um tema. Durante um bom tempo este livro foi chamado “cartilha”, e até hoje recebe entre nós esse apelido. Isso porque nosso projeto é combinar exercícios sobre a base cartográfica da RMPA com discussões de caráter mais conceitual no campo da Geografia Urbana. Muitas considerações podem ser feitas a respeito do trabalho aqui resumido. Em primeiro lugar, gostaríamos de valorizar o trabalho do professor como pesquisador e autor, uma vez que a criação de atividades didáticas é um processo que inicia com a colocação de questões teóricas, sua elucidação a partir de pesquisa bibliográfica e da discussão com os pares, ensejando a tradução da teoria em metodologias adequadas aos diferentes grupos de alunos. Ao aplicar-se a atividade, passa-se à avaliação dos resultados obtidos, analisando-se o produto gerado pelos discentes, o que revela muito mais do que em notas ou conceitos atribuídos em avaliações e pareceres, mostra as opiniões emitidas, as respostas insólitas e criativas que surgirão. Infelizmente, aí se encerra, geralmente, o trabalho do professor, que não historia ou documenta suas conclusões ou aquelas de seus alunos, tornando efêmero todo esse esforço de pesquisa. 1 Estamos falando de livros didáticos. As obras de Roberto Lobato Correa, Sandra Lencioni e outros mestres da Geografia Urbana brasileira são referência para este estudo. Alguns trabalhos sobre o Ensino de Geografia Urbana se assemelham a esta proposta, ao combinarem reflexões teóricas e orientações para trabalhos práticos, entre os quais destacamos CAVALCANTI, Lana de Souza. A Geografia Escolar e a cidade. São Paulo: Papirus, 2008; VASCONCELLOS, Luiz Gonzaga Falcão (org.). Lugar e educação urbana. Uberlândia: PROEX/UFU; PEIC 2007; Inst. de Geografia, 2008. 2 SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 2002, p. 166.


Conhecer o espaço para nele atuar

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O compromisso resultante do trabalho em grupo pode levar os professores a perseverar no registro de sua produção em diferentes formatos, entre os quais se encontra o presente livro. Daí depreende-se que o trabalho em grupos de professores para dar conta de temáticas que os motivem é capaz de gerar resultados mais profundos e duradouros. Ainda assim, cabe notar que a experiência aqui relatada não se restringiu aos autores, mas deu-se na interface de diferentes órgãos de pesquisa e ensino, envolvendo a infraestrutura e os programas de pesquisa e apoio à docência em curso no Colégio de Aplicação da UFRGS; investigações e resultados produzidos pela FEE; pelo Departamento de Geografia e Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS e pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da PUCRS. Em se tratando de Geografia Urbana, do estudo do espaço compartilhado, não é difícil que nos encontremos diante de um trabalho com propostas abertas, portanto enfatizar a escuta das conclusões avançadas pelos alunos ao longo dos estudos é especialmente produtivo. As respostas colocadas pelos discentes aos desafios de pesquisa demonstram grande criatividade e liberdade e muitas vezes deslocam o curso previamente traçado pelo professor. De fato, nessas situações, a produção dos alunos supera a troca “bancária”. O registro e a reflexão sobre a obra que emerge do grupo é capaz de revelar aspectos novos para a compreensão da eterna questão urbana. ● A origem deste texto se encontra em práticas elaboradas pelos autores em suas vivências didáticas e nas pesquisas que realizam sobre seus espaços vividos. Tudo começou em 2008, quando alguns estagiários aceitaram o desafio de produzir materiais didáticos para a 2ª série do Ensino Médio, do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, escola criada para discussão de práticas e teorias para o ensino, onde os professores da casa (como eu era então) acolhem e orientam estudantes de graduação (no caso, Lucas Stanislawski Silva, Rafael Zílio, Raquel Chites, Rodrigo Aguiar e Rodrigo Rodrigues Silveira, que realizavam seus estágios docentes) e professores em formação continuada (como João Quadros e Elga Medeiros). Por localizar-se no limite entre Porto Alegre e Viamão, por ser qualificada, pública e gratuita, com ingresso por sorteio, a escola atrai alunos de toda a Região Metropolitana, colocando em pauta esse recorte espacial, ao mesmo tempo em que torna tênue a identificação com uma comunidade situada em um bairro específico. Assim, algumas das atividades aqui apresentadas foram aplicadas em 2008, tendo sido acrescidas de experiências realizadas em 2009. Algumas são adaptações de propostas de outros autores, e tivemos o cuidado, pouco frequente no ensino básico, de respeitar a origem desses materiais, ainda que os adaptando aos contextos específicos. Fica clara a importância da construção coletiva no trabalho pedagógico, o que permite a divisão de tarefas e o diálogo, ampliando o compromisso com os resultados e permitindo sua visualização. Além dos trabalhos gerados no CAp-UFRGS, contamos com a qualificada contribuição de geógrafos e professores de Geografia como Amanda Bahi de Souza, Daniele Machado Vieira, Débora Schardosin Ferreira, Felipe de Sousa Gonçalves, Fernando Weiss Xavier, Helena Bonetto, Jurley Colares Ribeiro, Lucas Porfírio Schneider, Pâmela Bergonci, Rodrigo Rodrigues Silveira, Samuel Martins e Tielle Soares Dias. Esses pesquisadores nos cederam seus materiais, muitas vezes inéditos, produzidos para seus trabalhos de conclusão, investigação e ação profissional.


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Temos ainda a felicidade de contar com contribuições de Everton de Moraes Kozenieski, de Lucimar Fátima Siqueira, de Mario Leal Lahorgue e de Paulo Roberto Rodrigues Soares, pesquisadores experientes, os dois últimos professores do Departamento de Geografia da UFRGS. Esse trabalho foi levado adiante graças ao esforço de Raquel Chites, contemplada com uma bolsa de Difusão da Ciência da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS, da qual Lucas Stanislawsky, Paula Vanacor e Helena Bonetto também desfrutaram. A finalização seria impossível sem a tenacidade de Cátia Cilene Pereira Froehlich, a quem coube preparar os originais. A cartografia ficou a cargo de Isabel Rekowsky. O esforço de organizar diferentes materiais de tantas origens levou a um texto em que as autorias individuais foram sendo substituídas por um texto polifônico, que de certa maneira representa a vida da metrópole. A ilustração é de Eloar Guazzelli. A revisão ortográfica ficou a cargo de Tadeu Bisognin. O projeto gráfico é obra de Ronaldo Machado, da Editora Letra1. A interação com os profissionais da publicação tão qualificados foi possibilitada pelo Auxílio à edição e publicação outorgado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior) e FAPERGS (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul). A todos os colaboradores e instituições, nosso mais sincero agradecimento pela participação e paciência. Agradeço também o apoio cabal de Liana Leventhal. ● O livro foi estruturado em três planos textuais: capítulos mais gerais; caixas que abordam temas conexos; exercícios voltados à leitura de mapas, bem como à aproximação entre teorias e a práticas dos estudantes (perguntas e roteiros de saídas de campo). Na primeira parte, os textos abordam a origem histórica, as características internas e da rede urbana da Região Metropolitana de Porto Alegre, ao mesmo tempo em que apresentam os conceitos básicos de geografia urbana necessários para a análise da RMPA. Na parte 2, tratamos, por sugestão da professora Neiva Schäffer, de alguns desafios da gestão contemporânea do espaço metropolitano. Na terceira seção apresentamos capítulos dedicados às cidades mais populosas da nossa metrópole. Se sua cidade não aparecer aqui, reúna um de grupo de colegas, elabore seu capítulo e o incluiremos na versão digital, disponível em <http://www.ufrgs.br/propesq/publicacoes>. O email para envio e contato é igeo@ufrgs.br, aos cuidados de Adriana Dorfman. Vale lembrar que o contexto educacional muitas vezes sobrevaloriza a produção científica e desvaloriza a capacidade dos professores de se apropriarem e construírem conhecimentos científicos em sala de aula, restando a eles somente a reprodução ou a supervisão de trabalhos previamente prescritos pelos livros didáticos. As atividades deste livro foram elaboradas numa perspectiva de apropriação e reconstrução dos conhecimentos e saberes em sala de aula, considerando todos os agentes como sujeitos ativos nesse processo, com destaque para a ação dos alunos, cujos saberes prévios são fundamentais para o andamento dos trabalhos escolares. Esperamos que nossa contribuição seja base para mais e melhores propostas para o debate de temas urbanos na sala de aula, para a transformação das cidades em lugares que expressem o desejo e os projetos dos seus moradores. A criatividade do professor e o diálogo com os alunos é que estabelece o uso a ser dado a essas propostas. Dra. Adriana Dorfman, Professora do Departamento de Geografia Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Parte 1 A formação e a dinâmica atual da Região Metropolitana de Porto Alegre


Figura 1: Mapa dos municĂ­pios da RegiĂŁo Metropolitana de Porto Alegre (2015). Fonte: IBGE 2012. Elaborado por Isabel Rekowsky


1 – Alvorada 2 – Araricá 3 – Arroio dos Ratos 4 – Cachoeirinha 5 – Campo Bom 6 – Canoas 7 – Capela de Santana 8 – Charqueadas 9 – Dois Irmãos 10 – Eldorado do Sul 11 – Estância Velha 12 – Esteio 13 – Glorinha 14 – Gravataí 15 – Guaíba 16 – Igrejinha 17 – Ivoti 18 – Montenegro 19 – Nova Hartz 20 – Nova Santa Rita 21 – Novo Hamburgo 22 – Parobé 23 – Portão 24 – Porto Alegre 25 – Rolante 26 – Santo Antônio da Patrulha 27 – São Jerônimo 28 – São Leopoldo 29 – Sapiranga 30 – Sapucaia do Sul 31 – Taquara 32 – Triunfo 33 – Viamão


1 A experiência metropolitana

O estudo do espaço urbano adquire destaque devido ao fato de que mais de 80% da população brasileira reside nas cidades, quase sempre nas regiões metropolitanas. Além disso, as principais decisões políticas e econômicas sobre o território são tomadas nas metrópoles, sendo também aí que ocorrem efetivamente a produção, apropriação e circulação da riqueza3. Ainda mais, é na metrópole que a cultura e a moda são produzidas, e esse é o palco em que surgem as ideias que organizam a sociedade toda. Daí a necessidade de se trabalhar temas da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em salas de aula. Partimos da escala local, através do estudo do espaço intraurbano, discutindo o conteúdo dos bairros da cidade – o que eles oferecem em termos de condições de moradia, de lazer, o que lhes falta, que papel desempenham para o conjunto urbano – para posteriormente compreender o contexto metropolitano regional, em um movimento constante de articulação de escalas. O global é discutido ao abordarmos as transformações pelas quais as áreas metropolitanas estão passando em sua relação com a reestruturação econômica ligada à globalização. A expansão das redes técnicas tornou o cinturão da metrópole mais competitivo, levando à relocalização de serviços e atividades industriais, valorizando as periferias e atraindo população. No chamado “Terceiro Mundo”, esse processo se acelerou a partir da década de 1990 e produziu modificações radicais na organização e funcionamento das áreas metropolitanas, desconcentrando a produção e a moradia4. Portanto, não podemos limitar nossa análise à cidade ou ao município principal, temos que tratar do conjunto metropolitano, com suas características específicas de funções, acesso e preço da terra, entendendo também como a metrópole se articula através de redes de transporte e atividades produtivas.

DA TEORIA A PRÁTICA POSICIONAR-SE a] Em qual bairro e município você mora? b] Você gosta de morar no seu bairro? Por quê? c] Você já se mudou? d] Por quê? e] E quais foram as diferenças entre esses lugares de residência? f] Em qual bairro e município você estuda? g] Se for diferente do bairro de moradia, por que se desloca? h] Quais as diferenças entre esses dois lugares e como elas podem ser notadas? (Essa pergunta também pode ser respondida considerando o lugar de trabalho.) i] Qual é o meio de transporte que você utiliza para se deslocar da sua casa até o seu local de estudo? j] Quanto tempo você demora para fazer esse percurso? k] Localize no mapa o município em que você estuda, aquele em que você mora e aqueles que você já visitou. l] Liste as razões que o levaram a esses municípios, o meio de transporte que você usou e descreva o que você viu neles. 3 CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989. 4 MATTOS, Carlos A. de. Redes, nodos e cidades: transformação da metrópole latino-americana. In: RIBEIRO, L. C. de Queiroz (org). Metrópoles: entre a coesão e a fragmentação, a cooperação e o conflito. São Paulo: Perseu Abramo, 2004.



2 A cidade e a urbanização

A palavra cidade evoca uma paisagem muito conhecida: prédios altos e ruas enfumaçadas, ruidosas e agitadas pelo movimento de pessoas e carros velozes. A ideia de cidade se constrói, de modo geral, opondo-se à imagem do campo, que é idealizado como um lugar verde e calmo. A cidade aparece toda construída pelos homens, enquanto o campo surge como a natureza pouco modificada. Claro que essas visões não resistem a uma olhada pela janela, que revela diferentes densidades de construção do espaço, tanto na cidade quanto no campo. A geógrafa Sandra Lencioni afirma que uma cidade pode ser conceituada a partir da ideia de aglomeração: concentração de casas, de pessoas, geralmente desenvolvendo atividades não agrícolas, mercados para circulação de produtos, levando à centralização da riqueza e das decisões estratégicas5. Segundo ela, o que realmente não pode faltar a uma cidade é este último elemento, a centralização de poder político e econômico, com certo grau de autonomia na organização do espaço delimitado. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diz que cidade é a área construída que funciona como sede de um município, definição que também destaca o aspecto político da cidade. A urbanização é o processo pelo qual os valores e práticas urbanas ganham importância e são disseminados para o conjunto da sociedade. O indicador mais usado é o aumento da população relativa morando nas cidades – o percentual de população urbana, denominado de taxa de urbanização. Também são observados a difusão dos hábitos urbanos e os fluxos de acumulação e concentração – onde se aplica a riqueza e se instala o poder político. Outro uso da expressão “urbanização” refere-se à construção de benfeitorias, especialmente arruamento, redes de luz, água e esgoto em terrenos, inserindo-os no mercado de terras urbanas ou regularizando assentamentos irregulares. O sítio urbano Uma das principais características de um determinado assentamento urbano é o sítio. Segundo Tânia Strohaecker, sítio é a localização absoluta de uma cidade, a base física na qual se assenta a cidade6. O sítio apresenta-se, por exemplo, como um terreno fluvial sobre uma planície sedimentar e é normalmente representado em mapas de grande detalhe. O sítio é muito importante no início da história de um núcleo urbano, em função dos recursos e dificuldades nele presentes. Ao longo dos anos, o sítio tende a ser modificado com aterros, desmontes, canalizações e outras formas de produção do espaço urbano. A cidade de Porto Alegre, por exemplo, localiza-se a leste do lago Guaíba. Dentre seus principais cursos d’água, destacam-se o arroio Cavalhada e o arroio Dilúvio – em partes canalizados. A cidade ainda é cortada por uma cadeia de morros graníticos, dentre os quais o morro Santana, o morro da Polícia e o morro do Osso. A região hidrográfica do Guaíba é uma das características marcantes do sítio dos demais municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Trata-se de um conjunto de cursos d’água: os principais 5 LENCIONI, Sandra. Concentração e centralização das atividades urbanas: uma perspectiva multiescalar. Reflexões a partir do caso de São Paulo. Revista de Geografía Norte Grande, Santiago do Chile, n.39, p. 7-20, 2008. Disponível em < http://dx.doi.org/10.4067/S0718-34022008000100002>. Acesso em 20 fev. 2015. 6 STROHAECKER, Tania Maria et al. Caracterização do uso e ocupação do solo dos municípios do litoral norte do estado do Rio Grande do Sul. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Curitiba, n. 13, p. 75-98, jan./jun. 2006.


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rios são o Gravataí, o Caí, o Sinos, o Jacuí – todos desembocando no Guaíba. Nessa região hidrográfica corre a mais importante hidrovia do Rio Grande do Sul, por onde passa 85% do produto interno bruto (PIB) gaúcho. Os principais municípios da região hidrográfica do Guaíba são, além da capital, São Leopoldo e Novo Hamburgo, e outros que não pertencem à RMPA, como Caxias do Sul. Os territórios e as cidades O que é o território? É a materialização do poder em uma sociedade, a face concreta das configurações de poder atuais e passadas, é o espaço agenciado, hierarquizado e conectado segundo o interesse de um indivíduo ou grupo de pessoas. Mas o que é o poder? É parte de toda relação social. As configurações de poder provocam a submissão de algumas pessoas a outras e a transferência do produto do trabalho de uns para outros, processo que podem gerar conflitos entre projetos próprios e alheios. O controle do território vem de uma espécie de instinto territorial: o espaço é necessário à reprodução dos animais, é nele que se caça e arregimenta parceiros que gerarão descendência. Assim, o desejo de controle do espaço não é somente um produto cultural ou histórico. A ideia de instinto territorial foi trazida da Biologia para as Ciências Humanas pelos geopolíticos, aqueles teóricos que se ocupavam em pensar o território do estado. Assim, o instinto territorial transmutou-se em Lebensraum, como dizia o alemão Friedrich Ratzel, e que se traduz por espaço vital. Espaço vital é aquela porção de terra necessária à existência de uma nação. Não há maiores problemas nessa concepção, a não ser que a nação possua menos terra do que julga necessário, o que tem sido usado como justificativa para guerras por território e mesmo para o extermínio dos povos que ali estão. É comum pensar em território como sinônimo de "território estatal nacional". Mas é evidente que existem muitas outras formas de território além daquele do estado, tanto em escalas mais abrangentes, mundiais, como em recortes mais restritos: sempre que há controle de um espaço por um grupo, temos a formação de um território, dita territorialização. É a mais evidente manifestação de poder humano no espaço. A territorialização pode ser a posse efetiva, a propriedade; mas pode ser também a capacidade de apresentar um lugar à sociedade dentro de um esquema de valores: representar um espaço é apropriá-lo7. Mas como o poder se torna concreto para os habitantes desse território? Como o espaço é recriado por elementos políticos? Uma das formas mais claras de domínio é controlar o acesso a um espaço. Isso fica evidente quando pensamos na interdição, na proibição da passagem, que pode ser feita através de muros ou fronteiras. Mesmo quando não existe um cadeado ou uma cerca de arame farpado eletrificado com uma placa dizendo NÃO ULTRAPASSE, vários outros sinais podem limitar o acesso a partes de um território. Balcões, portarias, o meio-fio, as entradas e elevadores sociais – em oposição às áreas de serviço – o banheiro masculino e o feminino, a sala dos professores e a sala do grêmio estudantil e quase qualquer lugar são acessíveis a uns e interditados a outros. O controle de certos pontos do território, como as encruzilhadas, há muito tem sido considerado como estratégico. Isso já foi estudado pela Geopolítica com o nome de área core, coração, Heartland, pivô. Essas eram abordagens que davam ênfase aos nós das redes: “a Boêmia é uma fortaleza construída por Deus no centro da Europa. Aquele que a controlar, será o dono da Europa”, dizia Otto von Bismarck. Halford 7 RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. p. 144



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Mackinder completou: “aquele que possuir a Europa Ocidental comandará o Heartland, quem comandar o Heartland, controlará a ilha-mundo, e quem comandar a ilha, dominará o mundo todo”. Experimente essa estratégia substituindo a “Europa Ocidental“ por controle-remoto e “mundo todo” por família. Esse tipo de pensamento, mais tático que estratégico, explica por que as manifestações de diferentes grupos escolhem as grandes vias e o centro da cidade para serem escutadas. Interromper o trânsito é uma forma de luta que dá muita visibilidade: além de romper com a ordem cotidiana, simboliza a interrupção da circulação de mercadorias necessária para o capitalismo funcionar. Outros lugares importantes na estratégia politica são os mirantes, pois os lugares altos permitem observar as áreas no entorno, como bem sabem os olheiros de diferentes grupos e as câmeras de segurança instaladas por agentes públicos e privados. Ver e ser visto é comunicar e controlar. A propriedade fundiária é um caso claro de acesso seletivo ao espaço. Mas é mais do que isso: a posse de terras permite produzir, seja em atividades rurais, seja nas urbanas. Nem seria necessário dizer que a propriedade é privada na nossa sociedade, capitalista. Por isso há muitos conflitos, e um exemplo é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. O que você acha, a terra tem que ser distribuída entre aqueles que desejam nela produzir ou não? O que é mais importante? A propriedade ou a produção? Falando das cidades, você já ouviu falar do Movimento Nacional pela Reforma Urbana? Eles falam em caráter social da propriedade, o que aliás está na Constituição Brasileira de 1988. Isso quer dizer que deve existir uma certa ética na defesa da propriedade privada: se uma pessoa precisa morar, não é justo que outras mantenham casas vazias apenas para lucrar com uma valorização futura, da qual não dependem para sobreviver. A construção de redes de transporte e comunicações, que possibilitam ou dificultam o relacionamento entre lugares e o escoamento da produção deste, torna algumas regiões mais acessíveis que outras. Tudo muda quando uma rua é asfaltada, quando se constrói uma estrada nova, cidades surgem por causa disso; às vezes a população de um bairro passa a transitar por esse novo caminho, atraída pelas atividades econômicas mais intensas no centro comercial que surge. Assim, rodovias, ferrovias, redes bancárias, circuitos financeiros ou de informações fazem parte de projetos para organizar o território segundo o interesse de um ou outro agente. Outro tipo de organização do espaço pelo poder é a polarização ou a constituição de um esquema centro/periferia. Assim, podemos dizer que os elementos básicos do território são centro, periferia e redes. De fato todas as sociedades se representam como umbigo ou centro do mundo: Cusco, no Peru; Rapa Nui, a Ilha da Páscoa; Delfos, da Grécia Clássica, são todos nomes que se traduzem como “umbigo do mundo”; Jerusalém era considerada a encruzilhada do mundo; a China e o Japão clássicos se autointitulam o Império do Meio. São variações que hoje parecem etnocêntricas, mas que sobrevivem na ideia de que estamos certos e de que os outros são os bárbaros, os grossos, os selvagens, os subdesenvolvidos. Outros tipos de centralidade são a praça principal reunindo prefeitura, igreja, escola, correio, rodoviária e a sinaleira; os lugares sagrados e de peregrinação; as metrópoles mundiais; Wall Street e outras sedes de empresas e instituições internacionais. O centro é frequentemente visto como a imagem de todos os poderes. Nesses lugares há monumentos, pois os poderosos gostam de se retratar no espaço, através da construção de edifícios enormes, estátuas de heróis a cavalo, nomes de logradouros. O respeito por sua força é multiplicado por esses objetos. As pichações incomodam por isso, porque não reconhecem a importância desses símbolos.



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Quando se fala de cidades e territórios, é importante lembrar da capital do país, centro definido pelo estado e reproduzido em suas subunidades federadas. Aí se fala a língua correta, se definem as modas e tradições. Aos grupos mais poderosos, às capitais, cabe estabelecer também quem faz parte e quem está excluído da nação. Nós não optamos por ser ou não ocidentais, latino-americanos, brasileiros, gaúchos, porto-alegrenses. Algumas dessas identidades geográficas serão reforçadas, outras abafadas, num jogo que envolve a cultura, a história, a mídia e a educação. Quem sai ganhando com isso? Aqueles que podem manipular o conjunto dos habitantes do lugar para reivindicar benefícios ou esforços de guerra. “É bom morrer pela pátria!” dizia o velho refrão. Como sabemos, a produção não acontece apenas nos lugares mais centrais e valorizados, mas as sedes das empresas estão aí. Então a periferia não é autônoma, depende do centro de decisão. Por outro lado, a capital se apoia em grandes espaços. Nenhuma capital possui os recursos necessários ao exercício do poder, ela pode reunir, drenar ou coletar recursos úteis, mas é pouco capaz de gerá-los por si mesma. A periferia, na sua essência, é um lugar relativo que tensiona o centro e que é por ele rejeitado. Os pobres pertencem e não pertencem à cidade: deles depende o poder econômico, mas eles são rejeitados, mandados à periferia, às margens, marginalizados. Por isso é considerado bacana morar em Porto Alegre, muito mais que em Cachoeirinha. Por isso, também, se pensa que o crime está na periferia, onde mora (mitologicamente) o pecado e o perigo. A capacidade de legislar e aplicar as leis cria marcas no espaço. A autoridade reconhecida possui instrumentos como a polícia, o exército, os regulamentos e os “pardais”. Todos sabemos que o governo não é neutro nem é o único a fazer política. Em primeiro lugar temos que observar que são várias as escalas de governo: federal, estadual e municipal. Outros agentes são as empresas privadas, os grupos políticos organizados em torno de questões específicas e cada um de nós, como cidadãos. Segundo Sheila Villanova Borba, na Região Metropolitana de Porto Alegre se destacam na gestão do território vários órgãos como a Metroplan (Fundação de Planejamento Metropolitanos e Regional do RS), os Coredes (Conselhos Regionais de Desenvolvimento) e a FAMURS (Federação das Associações de Municípios do RS)8. A Metroplan é o órgão gestor metropolitano fundado em 1975, que se encarrega do planejamento do desenvolvimento integrado – querendo dizer, reunindo os diferentes municípios – da metrópole, inclusive do transporte intermunicipal dentro da RMPA, conhecido como Sistema de Transporte Metropolitano Coletivo de Passageiros. Os Coredes foram instituídos pela Constituição Estadual de 1989 e visam promover a redução de desigualdades e promoção de desenvolvimento sustentável no estado. São compostos por prefeitos e presidentes de câmaras municipais, entre outros representantes da população. Sua função é indicar prioridades nos investimentos das regiões. O objetivo dos conselhos é promover estratégias de desenvolvimento regionais e não apenas municipais. Na RMPA encontramos 5 Coredes: Metropolitano – Delta do Jacuí; Centro – Sul; Paranhana – Encosta da Serra; Vale do Caí e Vale do Rio dos Sinos. Os Coredes têm um papel mais relevante no interior do estado, uma vez que a RMPA é reconhecida formalmente como uma região integrada. 8 BORBA, Sheila Villanova. A Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA): condições institucionais para a gestão metropolitana e a cooperação entre os municípios. In: MAMMARELLA, R. (org.). Como anda Porto Alegre. Rio de Janeiro: Letra Capital; Observatório das Metrópoles, 2009.


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A FAMURS é formada por 25 associações regionais que representam todos os municípios gaúchos. O objetivo é a discussão de assuntos comuns e a representação frente aos governos estadual e federal. Os municípios da RMPA estão agrupados em 5 associações: Grande Porto Alegre (Granpal), Vale do Rio dos Sinos, Região Carbonífera, Vale do Caí e Litoral Norte. Além desses, temos comitês de bacias hidrográficas e conselhos municipais de saúde, assistência social, da criança e do adolescente, do FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) e do trabalho e emprego. Esses fóruns foram estabelecidos como exigência da esfera federal para promover a participação política da população e validar as decisões dos poderes representativos. Participação política e juventude

por Helena Bonetto

Para muitas pessoas, a participação política é algo que está distante do seu cotidiano. No entanto, ela está mais próxima do que imaginamos. A participação política, conforme afirma Lucia Avelar, é o envolvimento dos cidadãos em diferentes atividades da vida política9. Ela se dá desde as formas mais simples – tais como conversar com os colegas de estudo com o objetivo de transferir o dia da prova ou de reivindicar mais atividades esportivas – até as mais complexas, como envolver-se em grandes mobilizações para protestar contra a fome no mundo ou contra a violência nas grandes cidades; ou ainda engajar-se em partidos políticos, votar e fazer parte do governo. Cabe esclarecer que, em termos de política, podemos distinguir representação e participação: no primeiro caso, votamos e delegamos nosso poder cidadão aos representantes no executivo e no legislativo; nos processos participativos, estamos juntos tomando as decisões e participando em sua execução e fiscalização. Na história recente do Brasil, encontramos diferentes formas de participação política da nossa população. Entre elas estão os movimentos contra a ditadura militar nas décadas de 1960 a 1980 e a organização do movimento estudantil para o impeachment do Presidente Fernando Collor, em 1991, que ficou conhecido como Movimento dos Caras Pintadas. Essas mobilizações nos chamam atenção por terem grande participação da juventude. A cidade de Porto Alegre e a Região Metropolitana foram sede do Fórum Mundial Social (FSM), um dos eventos mais expressivos em escala global no que tange à participação política dos cidadãos, à discussão de alternativas ao sistema em que atualmente vivemos. A primeira edição do FSM aconteceu em 2001 e promoveu mundialmente o nome de Porto Alegre. Aproximadamente a cada dois anos, o FSM volta à cidade. Porto Alegre e a Região Metropolitana tornaram-se sede do FSM por terem adotado o Orçamento Participativo (OP), um mecanismo inovador no âmbito da participação dos cidadãos na gestão dos recursos financeiros das cidades. Contudo, os estudos realizados sobre o OP de Porto Alegre mostram que a participação dos jovens é muito pequena. É importante destacar que existem outras formas de participação política que mobilizam a juventude de nossas cidades e que possibilitam espaços de diálogo, reivindicação, denúncia, os quais contribuem para 9 AVELAR, Lucia. Participação política. In: AVELAR, L. & CINTRA, A. Sistema político brasileiro: uma introdução. São Paulao: UNESP, 2007


A Cidade e a urbanização

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transformação dos cenários de precariedade das nossas periferias. Entre elas encontramos trabalhos de conscientização e participação através das artes. A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, que atualmente tem projetos em diferentes bairros de Porto Alegre, coloca como principal objetivo a sensibilização para o fazer teatral dentro de uma perspectiva do teatro como instrumento de indagação, de formação e transformação social. Além disso, a juventude tem cada vez mais se apropriado dos domínios virtuais – a Internet – para a constituição de rádios comunitárias, jornais, criação de páginas na Internet para denunciar os problemas em suas comunidades, para mobilização de pessoas para manifestações contra práticas preconceituosas, contra o abuso no aumento de tarifas de ônibus e outros serviços públicos. As ações realizadas por grupos de jovens que utilizam a Internet como instrumento de mobilização e intervenção nos espaços urbanos têm contribuindo para dar visibilidade às precariedades, para divulgação de eventos culturais e reivindicações, entre outras necessidades dessas comunidades. Além disso, o uso da Internet tem possibilitado outras formas de participação política, as quais ainda são muito recentes e precisam ser estudadas e compreendidas. Muitos são os problemas que a juventude enfrenta, pois são essas pessoas que têm que buscar um lugar para morar, um meio de vida que lhe permita se sustentar e realizar seus projetos. A sociedade é definida, em grande parte, pelos mais velhos, pessoas que estão na faixa de idade de 50 anos, que têm muito a ensinar, mas que desconhecem a perspectiva daqueles que estão agora entrando na vida adulta, protagonistas do presente e do futuro.

SÍTIO E SITUAÇÃO Na Geografia Regional, ao descrever-se a posição de uma cidade, pensamos no seu sítio e na sua situação. Falamos em sítio quando nos atemos aos aspectos físicos de um lugar: se é banhado por um rio ou mar, se fica numa baixada inundável ou numa elevação... Já a ideia de situação examina as relações sociais ou econômicas que surgem da localização. É comum distinguir-se sítio e situação dizendo que o primeiro é a posição absoluta, enquanto o segundo aponta para a posição relativa de uma cidade ou lugar. Em outras palavras, sabemos a situação de uma cidade ao responder: quais são as relações que surgem da posição da cidade dentro de sua região? Por exemplo, se uma cidade for construída na beira de um rio e possuir um bom ancoradouro, ela está numa situação favorável ao comércio com outras cidades da mesma bacia hidrográfica. O sitio pode mudar com obras de drenagem de pântanos, canalização de rios ou o assoreamento (depósito de sedimentos) de canais de navegação. Tais mudanças implicam novos usos para os lugares. Maria Laura Silveira lembra que a situação também depende da história, já que mudanças políticas ou inovações técnicas modificam a dinâmica de uma região e criam novas situações, valorizando ou desvalorizando certas posições no espaço. Na RMPA, um bom exemplo pode ser dado pela mudança da capital gaúcha, do sítio mais defensivo de Viamão para aquele com melhor situação em relação à navegação, em Porto Alegre. Mais recentemente, a decadência do porto de Porto Alegre levou a uma diminuição da importância do Centro Histórico. referência:

SILVEIRA, Maria Laura. Uma situação geográfica: do método à metodologia. Revista Território. Rio de Janeiro, ano IV, nº 6, jan./jun. 1999.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA OBSERVANDO O SÍTIO a] Como é o sítio em que você estuda: descreva os aspectos físicos do lugar em que foi construído o prédio. Como é o sítio do bairro em que você mora? b] Quais são os recursos e dificuldades que ele apresenta e que estão ligados à base física onde surgiu o bairro? c] Houve grandes alterações nos últimos 50 anos? d] Quais? (Procure esta resposta conversando com antigos moradores do bairro).


3 As origens de Porto Alegre e da Região Metropolitana Bem antes de ser decretada a criação da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), já existiam relações de dependência entre os vários núcleos de povoamento que hoje estão incluídos nos limites metropolitanos. Esses núcleos gradualmente aumentaram sua população e importância econômica, organizaram-se politicamente e reivindicaram sua emancipação ao município de Porto Alegre, dando origem às cidades vizinhas e interligadas que, hoje reunidas, compõem a metrópole gaúcha. O povoamento da região por europeus iniciou-se no ancoradouro natural formado pela chegada do promontório (elevação onde hoje estão a Av. Independência e a Rua Duque de Caxias) ao lago Guaíba (figura 2). O sítio era favorável porque o relevo protegia os barcos dos ventos fortes de sudoeste e as águas eram profundas. A função portuária tem sido central para a cidade, e isso fica marcado nos sucessivos nomes dados à povoação: Porto do Dorneles, Porto de Viamão, Porto dos Casais, Porto Alegre. Cinco momentos na história da ocupação de Porto Alegre e região foram identificados por Célia Ferraz de Souza e Dóris Müller10. Segundo elas, a ocupação do sítio, a evolução urbana de Porto Alegre, se divide em cinco fases, referentes aos períodos históricos sintetizados a seguir. 1º período – corresponde à ocupação do território, entre 1680 e 1772, fase em que o Rio Grande do Sul foi incorporado ao território brasileiro, então colônia portuguesa. A partir da formação do caminho para a Colônia do Sacramento, surgiram alguns povoados ao lado dos campos de Tramandaí e Viamão. Essa fase refere-se à chegada dos colonos açorianos ao Porto de Viamão e à mudança do nome para Porto dos Casais. A ocupação Vale do Jacuí tornou propício o desenvolvimento da região. 2º período – entre 1772 e 1820, corresponde à fase caracterizada pela crescente produção tritícola pelos açorianos na região do Jacuí. O trigo era escoado através de Porto Alegre para ser exportado para outras regiões, o que estimulou o desenvolvimento portuário acompanhado de crescimento urbano. 3º período – entre 1820 e 1890, marcado por diversos problemas: estagnação econômica, quebra da produção do trigo, a Guerra dos Farrapos etc. No entanto, também se caracteriza por um efetivo desenvolvimento portuário. A partir de 1824, é grande a imigração europeia, com apenas uma interrupção, entre 1834 e 1850, período em que a região passava por maus momentos. A retomada da imigração contribuiu de maneira decisiva ao desenvolvimento local e regional na segunda metade do século XIX. 4º período – entre 1890 e 1945, a partir do desenvolvimento econômico que ocorreu na fase anterior, consolidando um mercado consumidor, a cidade inicia a substituição de produtos importados, e insere-se na fase industrial. É o período marcado pela forma de governo republicano, pela valorização da cidade, pelo desenvolvimento da burguesia urbana e pela adaptação da cidade aos novos tempos. 5º período – entre o ano de 1945 e os dias atuais, temos o período marcado pelo processo de metropolização, em que o desenvolvimento industrial provocou consequências de diversas ordens à cidade e à sua região. Um grande crescimento populacional, ocasionado pelo êxodo rural e pela transferência 10 SOUZA, Célia Ferraz & MÜLLER, Dóris Maria. Porto Alegre e sua evolução urbana. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2007.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 2: Mapa com o limite municipal e os núcleos iniciais do povoado de Porto Alegre (1810) e gráfico demográfico.

Fonte: SOUZA & MÜLLER, 2007, p. 32.


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As origens de Porto Alegre e da Região Metropolitana

das indústrias para a periferia de Porto Alegre, além do fato de terem surgido e se fortalecido núcleos na região, levaram o polo do estado à extravasar a capital, incluindo municípios vizinhos. Esse espaço acabou sendo reconhecido como uma unidade pela lei federal que estabeleceu a Região Metropolitana. O quadro a seguir resume essa história. Quadro 1: Períodos da evolução de Porto Alegre e região. Fatores Período

Populacionais e socioculturais

Antes de 1680 de 1680 a 1772

ocupação do território e início do povoamento

imigração estrangeira

de 1890 a 1945 de 1945 até hoje

Político-administrativos

antecedentes

de 1772 a 1820 de 1820 a 1890

Econômicos

Êxodo rural, urbanização do estado

definição da fronteira e gestão pelo Rio de Janeiro plantação de trigo

sede do governo provincial

diversificação da produção agrícola

Guerra dos Farrapos, Bispado

Industrialização

administrações modernizadoras

economia dependente do Brasil

metropolização

Fonte: SOUZA & MÜLLER, 2007, p. 20.

DA TEORIA À PRÁTICA

ORIGENS DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE a] Pesquise numa planta de Porto Alegre onde fica o promontório que formava o ancoradouro natural no lago Guaíba. b] Como a cidade de hoje é influenciada pela existência desse antigo porto? c] De que maneiras ele é usado hoje? d] Observe os nomes de núcleos iniciais de ocupação que aparecem na figura 2 e relacione-os com os nomes de municípios que existem hoje. e] Também na figura 2, observe o contorno do município em 1810 e compare com o tamanho do município de Porto Alegre hoje. Apresente hipóteses sobre o que causou a mudança na área.


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O crescimento da metrópole Em 1869, inicia-se a construção de uma estrada de ferro em direção a São Leopoldo e a Novo Hamburgo, no traçado hoje ocupado pelo Trensurb (figura 3). Na década de 1930, uma nova política de transporte dá inicio à construção de rodovias pavimentadas entre Porto Alegre, São Leopoldo e Gravataí, seguindo depois para o litoral, em direção a Tramandaí (figura 4). Em 1958, constrói-se a ponte sobre o Guaíba, facilitando as ligações rodoviárias com o sul do Rio Grande do Sul (figura 5). Essas mudanças nos meios de transporte foram muito importantes. Elas direcionaram o crescimento da metrópole, criando novos bairros para a instalação de população migrante que não consegue pagar o preço de morar no centro. O transporte mais fácil também atrai indústrias, em busca de terrenos maiores, menos restrições à poluição e melhor acesso ao mercado consumidor no Sudeste do Brasil. Até hoje a metrópole traz as marcas das vias que a articulam: os municípios são mais numerosos ao longo do eixo norte-sul, eles são em maior número, têm as maiores densidades demográficas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da mancha urbana em direção ao leste só aconteceu a partir da criação da BR-290 (Free Way).

Figura 3: Mapa dos acessos de longo curso e crescimento da metrópole até 1940.

Fonte: SOUZA & MÜLLER, 2007, p. 103.


As origens de Porto Alegre e da Região Metropolitana

Figura 4:: Mapa dos acessos de longo curso e crescimento da metrópole de 1940 a 1960.

Fonte: SOUZA & MÜLLER, 2007, p. 103. Figura 5: Mapa dos acessos de longo curso e crescimento da metrópole a partir de 1960.

Fonte: SOUZA & MÜLLER, 2007, p. 103.

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Os povoadores de Porto Alegre A situação de Porto Alegre permitia-lhe funcionar como um entreposto comercial, que concentrava e exportava a produção agrícola (e depois a industrial) da região e importava e distribuía a mercadoria para os povoados na colônia. O porto vai sendo reformado e modernizado e, durante todo o século XIX, o intercâmbio era feito principalmente por via fluvial. O sítio urbano, na reunião dos rios Jacuí, Caí, dos Sinos e Gravataí, e dos arroios Dilúvio, Cavalhada e Salso (figura 6) beneficiou a articulação dos núcleos de povoamento. Os grupos de migrantes se instalaram ao longo desses rios: ao sul do Jacuí e ao longo do Gravataí ficaram os açorianos e lagunistas; no norte, ao longo do Caí e do rio dos Sinos assentaram-se os imigrantes alemães, a partir de 1824; depois de 1875, os italianos estabeleceram-se nos divisores de águas do rio Caí e Taquari. Cabe lembrar que os migrantes não podiam ter escravos, afinal tinham vindo para o Brasil para substituí-los e cabe lembrar também que o próprio estado era dono de muitos escravos, que se concentravam, por exemplo, na feitoria do Linho Cânhamo, situada em São Leopoldo. Até a abolição da escravidão em 1888, os negros moravam nas casas de seus senhores; depois nas áreas menos favorecidas do sítio e nas periferias do centro. Na segunda metade do século XIX, a maioria da população negra se encontrava no entorno da cidade, ocupando as áreas do Areal da Baronesa, a Cidade Baixa, a Colônia Africana (atual bairro Rio Branco) e a “Bacia”, hoje formada pelos bairros Mont’Serrat e Três Figueiras. Na passagem do século XIX para o XX, as ruas foram redesenhadas, eliminando becos e vielas e pondo abaixo muitas casas de madeira de um pavimento. Isso se traduziu em empecilhos para a estada da população mais pobre na área central, em grande parte formada por negros e ex-escravizados. No período após a abolição da escravatura (1888), muitos negros saíram ou foram expulsos do centro de Porto Alegre. Figura 6: Mapa com os principais rios e arroios da área central da Região Metropolitana de Porto Alegre (fim do século XVIII).

Fonte: SOUZA & MÜLLER, 2007, p. 32.



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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

TERRITÓRIOS NEGROS URBANOS EM PORTO ALEGRE por Daniele Machado Vieira Até meados do século XIX a cidade de Porto Alegre ocupava a área que hoje chamamos de Centro. Nesta época, os negros (escravizados ou livres) já faziam parte da rotina da cidade, desempenhando funções diversas: quituteiras, carregadores, marinheiros, aguadeiros, lavadeiras, ferreiros, estivadores, etc. Na passagem do século XIX para o XX, as ruas do Centro foram redesenhadas, eliminando becos e vielas, pondo abaixo muitas casas de madeira e proibindo casas de um pavimento. Isso se transformou em empecilhos para a estada da população mais pobre na área central, em grande parte formada por negros ex-escravizados. No período após a abolição da escravatura (1888), muitos negros saíram ou foram expulsos do centro de Porto Alegre. Esta população migrou para o entorno do centro, ocupando as áreas do Areal da Baronesa, a Cidade Baixa, a Colônia Africana (atual bairro Rio Branco) e a “Bacia”, uma área baixa formada por parte dos bairros Mont’Serrat e Auxiliadora. Estes espaços não foram ocupados somente por negros, pois moravam lá também pessoas brancas pobres. Diversos são os locais entendidos como territórios negros, tanto no passado como no presente, por serem espaços de expressão da cultura afro-brasileira. Os territórios negros caracterizam-se por serem locais de manifestações socioculturais da comunidade negra e pela concentração de população negra, que historicamente foi submetida à exclusão social. São exemplos de territórios negros: casas de religião de matriz africana, rodas de samba e capoeira, escolas de samba e blocos de carnavais, associações e clubes negros, quilombos. Os quilombos são lotes de terras onde há uma ocupação histórica de ancestralidade negra, frequentemente organizada em torno de uma família. Hoje, na cidade de Porto Alegre, existem quatro comunidades quilombolas reconhecidas: Alpes, Areal da Baronesa, Família Fidélix e Família Silva. O Quilombo dos Silva foi o primeiro quilombo urbano reconhecido legalmente do Brasil. Ele está localizado no bairro Três Figueiras, uma área que se modificou muito, atualmente cercada por bairros nobres. Na RMPA, muitos outros quilombos foram reconhecidos e estão sendo demarcados. Você já foi a um quilombo? O Mercado Público, localizado no Centro Histórico, é outro lugar importante para a comunidade negra. O Mercado é um ponto de referência para os adeptos das religiões afro-brasileiras, pois em seu centro está localizado o assentamento do Bará. Muitos questionam o que foi enterrado no local que chamamos de assentamento; não se sabe ao certo, pode ter sido uma pedra ou outro objeto. A história desse monumento tem duas versões. A primeira afirma que o assentamento teria sido feito pelos negros escravizados que trabalhavam na construção do Mercado Público, iniciada em 1864 e concluída em 1869. A segunda versão conta que o assentamento teria sido realizado pelo príncipe Custódio, um importante líder religioso vindo do Benin, que morou em Porto Alegre no começo do século XX. Independente de qual versão seja a verdadeira, este tornou-se um local de saudação ao Bará – orixá da fartura, da riqueza e da “abertura de caminhos”. referência: BITTENCOURT JR., Iosvaldyr Carvalho. Territórios Negros. In: SANTOS, Irene (Org.). Negro em Preto e Branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre. Porto Alegre: do Autor, 2005. p. 36–57. Disponível em <http://www.irenesantos.fot.br/pdf/negro%20pb.pdf> Acesso em 20 fev. 2015; VILASBOAS, Ilma Silva; BITTENCOURT JR., Iosvaldyr Carvalho & SOUZA, Vinícius Vieira de. Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre. Porto Alegre: Vinicius Vieira de Souza, 2010.


As origens de Porto Alegre e da Região Metropolitana

Figura 7: Mapa do deslocamento dos territórios negros em Porto Alegre.

Fonte: VIEIRA , Daniele Machado. Percursos negros em Porto Alegre: estratégias geográficas para educação. TCC (Licenciatura em Geografia) – UFRGS, Porto Alegre, 2012.

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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA O POVOAMENTO Responda às perguntas, usando os conceitos de sítio e situação: a] Por que os açorianos se instalaram ao sul do rio Jacuí e ao longo do rio Gravataí? b] Por que os alemães ocuparam as margens dos rios Caí e dos Sinos? c] Divisor de águas é a linha que une os pontos mais altos do relevo. Por que os italianos se assentaram nos divisores de águas? d] Que terras couberam aos negros? e] O que são quilombos urbanos?

PATRIMÔNIO, LUGAR DE MEMÓRIA E REFUNCIONALIZAÇÃO Certos lugares perdem sua função original, como ocorreu com o Cais do Porto no Centro de Porto Alegre, que foi muito importante para o transporte de pessoas e mercadorias até ser suplantado pelo transporte rodoviário. Os prédios e os guindastes se mantêm em pé, mas não há hoje o movimento que marcava esse lugar no passado. Alguns eventos, como a Bienal de Artes do MERCOSUL e a Feira do Livro, ocupam os armazéns por períodos curtos, alguns barcos ainda atracam no porto, mas a sensação geral é de abandono. O destino de lugares como o Cais do Porto pode ser a demolição para construção de outras estruturas mais valorizadas, mais compatíveis com a função do bairro no presente. Quando se considera que os prédios têm importância histórica, estética ou cultural, pode-se defini-los como patrimônio histórico ou cultural. O poder público passa a conservá-los porque considera que eles ajudam a construir a memória e a identidade da cidade e de seus habitantes. O historiador francês Pierre Nora (1993) cunhou o conceito de lugar de memória, pondo em evidência o fato de que os lugares adquirem carga afetiva, passando a compor a imagem de um grupo social. Assim, os lugares concretizam significados dados por seus frequentadores. As atividades ou eventos nele ocorridos viram referência de práticas de um passado mais-que-perfeito. Muitas vezes, os lugares de memória ligam-se às classes populares. A refuncionalização ou reconversão também pode acontecer: a estrutura física do prédio ou do bairro – ou parte dela – é mantida, mas a atividade que se desenvolve muda completamente: de fábrica, pode tornar-se um centro comercial, no antigo porto surge uma área de lazer, o centro da cidade perde as lojas prestigiosas e, em seu lugar, surgem vendedores ambulantes... Mudanças na situação explicam a refuncionalização. referência: NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo,

n. 10, 1993.

DA TEORIA À PRÁTICA MONUMENTO E MEMÓRIA URBANA a] Cite um exemplo de lugar de memória no seu local de estudo. O que ele representa? b] Cite um exemplo de refuncionalização de um prédio no centro de Porto Alegre: qual foi a sua função no passado e qual é o uso dado hoje?


4 A estrutura interna da cidade

As cidades são formadas por diferentes partes. Esses pedaços da malha urbana apresentam paisagem diferenciada, usos particulares e população específica. Mesmo se falarmos de bairros residenciais, encontraremos aqueles destinados à população rica e outros que abrigam pessoas com menor poder aquisitivo. Há uma tendência de diferentes classes sociais se localizarem em diferentes espaços residenciais. É a forma espacial da estratificação social, ou seja, da diferença de classes sociais. Os contrastes entre essas partes da cidade resultam em grandes deslocamentos, tanto em distância quanto em número de pessoas. Paisagens e conteúdo social dos bairros residenciais As grandes cidades apresentam diferentes aspectos visuais. Certas partes do tecido urbano são bem cuidadas com jardins, calçadas limpas e sem buracos, ruas asfaltadas, áreas de lazer etc. Os serviços públicos nesses lugares são de boa qualidade: não faltam lâmpadas nos postes, guardas nas esquinas, o lixo é recolhido frequentemente. Também a população desses espaços se apresenta mais “bem cuidada”: cachorros recém-banhados na pet shop; roupas, celulares e carros da moda adornam corpos ágeis e atraentes que circulam entre vitrines reluzentes e escritórios de aço e vidro. É raro ver um vendedor ambulante. Sem querer caricaturar, parece que estamos em uma propaganda ou em uma cidade global em qualquer lugar do mundo ocidental. Os bairros ricos, no geral, encontram-se nos melhores sítios urbanos. Também se encontram em melhor situação, isto é, possuem uma boa posição relativa dentro da cidade. Eles representam lugares de status e os eventos que aí ocorrem têm bastante repercussão. Eles têm melhor acesso aos serviços urbanos, à infraestrutura e aos equipamentos urbanos. Equipamentos urbanos são estruturas necessárias ao funcionamento da cidade e que são instalados nos espaços públicos. A legislação brasileira lista como equipamentos urbanos as instalações para abastecimento de água, serviços de esgotos, energia elétrica, coletas de águas pluviais, rede telefônica e gás canalizado. Em acepções mais abrangentes, tudo que for construído na cidade e que permite a circulação e o transporte; a cultura e a religião, o esporte e o lazer; a segurança pública e a proteção; a saúde e a assistência social também são considerados equipamentos urbanos. Outras partes da cidade apresentam uma mistura de pessoas: crianças e idosos, prestadores de serviços e moradores de rua, estudantes e panfleteiros se acotovelam em calçadas que apresentam suas armadilhas na forma de buracos, poças d’água e lixo esparramado. Nesses lugares as pessoas se cruzam porque estão em busca de diferentes serviços ou funções, podendo ser moradores da vizinhança ou consumidores dos serviços ali situados. As praças são numerosas e movimentadas, prédios velhos e novos se misturam. Os bairros de classe média possuem características que ora se aproximam das classes altas, ora das classes baixas. Nos bairros ocupados pelas populações de baixa renda, a precariedade de serviços urbanos decorre da falta de atuação do poder público no sentido de solucionar as demandas das populações.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Alguns pedaços da cidade se mostram com ruas sem pavimento e muitas vezes sem diferenciar espaços para pedestres e carros. Nesses lugares ao invés de termos o lixo recolhido duas vezes por dia, temos o despejo dos resíduos da cidade. Esses lugares são menos visíveis, não representam a cidade sonhada nem a cidade real: é a cidade varrida para debaixo do tapete, presente apenas nas páginas policiais do jornal. A violência letal aparece frequentemente e é reprimida duramente pela polícia. Serviços como escolas e postos de saúde têm grande importância porque atendem a carências muito sérias. Os espaços de lazer são informais, havendo poucas praças e parques urbanizados. Em Porto Alegre é fácil contrastar bairros como Vila Assunção, Vila do IAPI e Vila Mário Quintana. Ainda assim todos são bairros residenciais. Vale ainda lembrar que existem populações que vivem em condições irregulares, como no caso das “vilas” ou “favelas”, ou de casas luxuosas que ocupam terrenos de forma irregular. O quadro abaixo resume esses contrastes. Quadro 2: Características sociais de bairros habitacionais.

Classe social

Conteúdo social

Características

Alta

Donos dos meios de produção e assalariados muito bem pagos

Áreas amenas Boa infraestrutura Construções de luxo Elevados preços dos terrenos

Média

Composição heterogênea

Mistura algumas características de bairros ricos e outras de bairros pobres 1 – Subúrbios e periferias: Menos amenidades Deficiente infraestrutura Menor valor dos terrenos

Baixa

Assalariados mal remunerados, subempregados e desempregados. Locais de recebimento de migrantes (êxodo rural e migrações internacionais)

2 – Favelas (“vilas”): Terrenos “indesejáveis” para o capital e que aparecem em todo o espaço urbano. 3- Bairros antigos e deteriorados muito próximos ao Centro da cidade.

Fonte: CORREA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 1989. Modificado por Rodrigo C. de Aguiar

Transformações no sítio ou na situação podem levar à valorização do solo urbano numa determinada área, culminando na saída da população de baixa renda. Isso pode ocorrer pela venda dos terrenos agora mais valiosos, consequência do aumento do custo de vida e dos impostos associados à valorização do terreno. Além de fatores estritamente econômicos, a valorização do solo urbano pode ocorrer também pela intervenção do poder público: higienização, remoções e regularização são termos mais usados para descrever essas operações de ordenamento da ocupação e de expulsão dos moradores irregulares.


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Esse processo se dá em função da lógica de produção da cidade ser basicamente capitalista, ou seja, privilegia o lucro dos empresários do setor imobiliário. Os agentes imobiliários responsáveis pela expansão urbana têm como principal foco consumidor as classes com maior poder aquisitivo, que podem comprar imóveis mais caros e dar maiores lucros. O município de Porto Alegre apresenta um alto grau de segregação urbana. Os bairros próximos ao Centro Histórico da cidade rumo ao leste e na Zona Sul, junto à orla do Guaíba, possuem os melhores níveis de renda e escolaridade do município, bem como um número reduzido de população jovem (7 a 14 anos). Quanto mais nos afastamos do Centro, mais esses índices vão mudando. Mais da metade da área física de Porto Alegre está enquadrada no pior nível de renda e escolaridade da cidade, possuindo também um grande número de população jovem. Essas áreas correspondem à zona periférica, abrangendo bairros do norte, as Ilhas do Guaíba e uma grande parte no sul do município11. A segregação urbana pode ser entendida como a tendência de diferentes classes sociais morarem em diferentes partes da cidade. Existem ainda lugares com grande concentração de bares e vida noturna, outros onde há filiais bancárias lado a lado, outros ainda que são distritos industriais ou concentrações de lojas. A cidade apresenta segregação espacial e divisão funcional. Divisão social do espaço urbano Ao movimento de separação das classes sociais e das funções no espaço urbano chamamos de segregação sócio-espacial. Cada personagem da cidade encontra seu lugar específico e parece deslocado em outras partes da cidade. A infraestrutura se apresenta de maneiras diferentes nos bairros ricos, remediados e pobres. Nem sempre temos placas sinalizando a segregação racial descarada e violenta presentes em situações de apartheid. Raquel Rolnik chama a atenção para as cercas reais e imaginárias que definem “o lugar de cada coisa e de cada um”: os muros da escola, o “saber o seu lugar” das leis sociais. A segregação se manifesta também no caso dos condomínios fechados: em nome da segurança”surgem muros de verdade, além de controles eletrônicos e patrulhas armadas. Isso significa o controle minucioso das trocas daquele lugar com o exterior. Dessa forma, serviços e redes de infraestrutura só se tornam disponíveis àqueles que moram nesses bairros fechados12. Considera-se que o direito à mobilidade – poder circular sem controles rígidos, nem alto custo de tempo ou de dinheiro – é essencial para uma experiência urbana mais rica, com pessoas diferentes entrando em contato e se pondo em questão: assim nasce o cosmopolitismo, a vida urbana como possibilidade de crescimento pessoal e coletivo, estimulando as expressões de cada um e a formação das “tribos urbanas”. Raquel Rolnik também chama a atenção para a existência de bairros-dormitório e de regiões comerciais e bancárias em pontos diferentes da cidade: a população se desloca entre esses dois pontos, e eles ficam desertos em grande parte do dia, com usos muito diferentes dentro e fora do horário comercial. Por essa 11 STROHAECKER, Tania Maria et al. Caracterização do uso e ocupação do solo dos municípios do litoral norte do estado do Rio Grande do Sul. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Curitiba, n. 13, p. 75-98, jan./jun. 2006. 12 ROLNIK, Raquel. O que é cidade. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988, p. 40-43



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razão também, a questão do transporte coletivo é tão importante nas grandes cidades, pois articula esses espaços com diferentes funções. Assim, o espaço urbano se forma a partir dos diferentes espaços justapostos e sobrepostos entre si. Ele é simultaneamente fragmentado e articulado. Fragmentado em função dos usos, definindo áreas, como o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão; áreas industriais; diferentes tipos de áreas residenciais, em termos de forma e conteúdo social; de lazer e, entre outras, aquelas reservadas para futura expansão. O espaço é articulado pelas relações de diferentes intensidades que as partes mantêm entre si. Essas relações materializam-se em fluxos de pessoas, objetos e informação: redes de transporte, fluxos de mercadorias, deslocamentos cotidianos entre áreas residenciais e locais de trabalho, deslocamentos menos frequentes para compras no centro da cidade, nas lojas do bairro, visitas sociais e locais de lazer ou culto religioso etc.13 O poder também circula pela cidade: as decisões são tomadas em lugares centrais e abrangem o conjunto da cidade. Os investimentos se concentram nessas mesmas áreas centrais, onde haverá maior número de monumentos, praças, prédios administrativos, serviços, quando comparados com a periferia. As relações espaciais integram, ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unindo-as em um conjunto articulado cujo núcleo tem sido, tradicionalmente, o centro da cidade. Novas centralidades decisórias, na forma de bairros de gestão financeira e comércio especializado, têm surgido em diferentes metrópoles do mundo, mas não é o caso em Porto Alegre. Em Viamão, por outro lado, há maior concentração de atividades comerciais no bairro Santa Isabel que no Centro.

CONDOMÍNIOS FECHADOS E BAIRROS PLANEJADOS A expansão da moradia em condomínios horizontais é uma das tendências da urbanização da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Justificados pelo aumento da violência nas grandes áreas metropolitanas e pela poluição dos centros urbanos, os condomínios constituem-se como um conjunto de casas ou prédios cercados que, na sua maioria, possuem equipamentos urbanos em comum: sistemas de segurança (câmeras, cercas, portaria...), playground, áreas de preservação natural, quadras etc. A grande maioria deles são construídos afastados das partes consolidadas da cidade. Os agentes imobiliários positivam essa situação afastada do centro apresentando-a como uma volta à natureza. Grande parte dos moradores desses condomínios possui automóveis, o que lhes confere maiores possibilidades de deslocamento para outras partes da cidade. Somente uma parte pequena da população pode adquirir uma casa em um condomínio fechado e pagar a mensalidade para seu uso. Por isso, possuir uma casa em um condomínio confere status e diferenciação social aos seus moradores. Uma consequência disso é que a qualidade de vida numa cidade (a segurança, a limpeza, a manutenção dos parques) deixa de interessar aos setores mais ricos e influentes de sua população, levando a um abandono do espaço público. No caso da RMPA, a maioria desses condomínios é construída em Porto Alegre (Zona Sul), Canoas, Novo Hamburgo, Gravataí e São Leopoldo. Essas comunidades muradas foram construídas em áreas que eram ocupadas por áreas verdes ou propriedades agrícolas. Assim, ao mesmo tempo em que se urbanizam essas áreas, diminui a cobertura vegetal na região metropolitana. 13 CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.


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DA TEORIA À PRÁTICA SEGREGAÇÃO ESPACIAL a] Resuma os contrastes que distinguem os bairros da Restinga e da Bela Vista, ou um bairro popular e um bairro de elite de sua cidade. b] Liste quais são as diferentes partes que compõem uma cidade como Porto Alegre. c] Compartilhe: você já viveu ou presenciou situações em que o comportamento das pessoas estava deslocado, “fora do lugar”? Se viu, conte como e onde foi. d] Você conhece lugares onde os comportamentos mudam com a hora e o dia da semana? Relate. e] Dê um exemplo de uma fronteira concreta e de uma fronteira imaginada existentes nos lugares em que você circula. f] Você conhece algum condomínio fechado em sua cidade? Você acredita que qualquer família pode morar em um? Por quê? g] Por que muitos condomínios fechados localizam-se afastados do centro? Como eles contribuem para a transformação do espaço urbano? Divisão técnica do espaço Existem também divisões que levam em conta as atividades econômicas que a cidade abriga. A divisão técnica do espaço relaciona características da situação (bons transportes, proximidade com os mercados consumidores ou com a moradia dos trabalhadores) e do sítio (acesso a matérias-primas, à água, por exemplo) às características de cada tipo de atividade. Encontramos, principalmente, áreas comerciais e áreas industriais. As áreas comerciais e de serviços se dividem em dois tipos. O distrito central de negócios, o “Centro” de Porto Alegre (ou Wall Street em Nova Iorque, a City em Londres, a Cidade no Rio de Janeiro) constitui o ponto central da vida econômica da cidade, concentrando comércio atacadista (isto é, de grandes quantidades), serviços, sedes de bancos, escritórios de indústrias, sede dos órgãos do estado e pontos finais das linhas de transporte. Também conhecido com CBD (uma sigla para central business district ou área central de negócios), esse pedaço da cidade apresenta alto valor dos terrenos, o que leva à verticalização das construções. Uma característica interessante é a mudança radical e intermitente de usos, alternando os frequentadores e as atividades presentes no dia e na noite. Outro tipo de área comercial ou de serviço são os centros secundários de comércio e serviços, os “subcentros”. Aparecem nas cidades de maior porte. Resultam do crescimento da população e da área da cidade, que leva a uma descentralização de algumas atividades do centro. Os subcentros concentram filiais de grandes lojas, consultórios médicos, agências bancárias e algum comércio atacadista e atendem aos moradores dos bairros mais próximos e já distantes do centro, adquirindo características correspondentes à segregação socioespacial, isto é, serviços e lojas se voltam para esse ou aquele tipo de consumidor, segundo a renda das pessoas que residem nas imediações. Certas áreas apresentam especialização em um ramo de lojas, como móveis, lustres ou autopeças. Ao contrário do que se imagina, as lojas se favorecem ao se instalarem ao lado de competidoras, porque os consumidores buscarão essas áreas conhecidas quando forem realizar compras comparadas de itens especializados.


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Os shoppings centers são subcentros que aparecem como iniciativa de grandes empreendedores e que muitas vezes produzem novos espaços urbanos, transformando áreas pobres ou pouco ocupadas em bairros valorizados. Segundo Neiva Schaeffer, as implicações desse tipo de lugar de vendas são muito amplas, seja no comportamento do consumidor, seja nas alterações, facilmente identificáveis, do espaço edificado14. Os shoppings são, normalmente, relacionados ao transporte em carro particular. Observe, na imagem abaixo, quanto terreno é dedicado a estacionamento e vias de acesso. Figura 8: Imagem aérea do Shopping Iguatemi, Porto Alegre (2015).

Fonte: Google Maps. Acesso em 20 de fev. 2015. Elaborado por Cátia Cilene P. Froehlich

O bairro Chácara das Pedras, localizado na Zona Norte da cidade de Porto Alegre, foi muito transformado pela construção desse shopping. A ocupação do bairro começou no fim do século XIX, e desse período até as décadas de 1940-1950, a região foi pouco habitada. A construção do Shopping Iguatemi, em 1983, localizado a cerca de 6 km do centro, pode ser identificada como origem das rápidas alterações do espaço residencial próximo. A construção valorizou a área, prédios e condomínios surgiram, e até mesmo um novo bairro foi criado para aproveitar o renome dessa área14. Outra consequência foi a intensificação do uso comercial e de serviços das ruas que levam ao bairro, refuncionalizando a Avenida Carlos Gomes com a construção da Terceira Perimetral. Nessa avenida tradicional, cheia de mansões vistosas, o trânsito tornou-se intenso e o uso acabou se transformando: saíram as famílias chiques, chegaram os consultórios, as filiais de bancos, hotéis e serviços especializados. A verticalização das construções e os serviços para veículos (postos, estacionamentos e mecânicas) também demonstram essa transformação. Na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) temos exemplos de shopppings que se localizam ao longo da linha do Trensurb, buscando clientes entre os comutadores, pessoas que realizam a migração pendular diariamente em função de trabalho, estudo etc. Um exemplo desse processo é o Canoas Shopping. Por outro lado, o Shopping de Novo Hamburgo foi construído antes do trem, o que acabou por definir a localização de uma estação em suas proximidades. 14 SCHAEFFER, Neiva Otero. Estudos Urbanos: Porto Alegre e seu planejamento. Porto Alegre: UFRGS, 1993.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA BAIRROS, PAISAGENS E PORQUÊS O quadro abaixo traz alguns bairros de Novo Hamburgo e suas características em termos de paisagem, divisão social e funcional. Quadro 3: Divisão social e funcional de Novo Hamburgo Bairro

Função

Habitações

Comércio

Paisagem

Vila Kephas

Residencial

Casas simples

Pequenas lojas, bares e armazéns.

Parte da vegetação desmatada pela ocupação humana

Hamburgo Velho

Residencial

Edifícios e casas de alto padrão

Lojas de departamento, lojas de grifes

Praças arborizadas, patrimônio histórico

Comercial

Predomínio de edifícios

Lojas de departamento, shopping center, comércio variado

Urbanizada

Centro

Fonte: Elaborado por Raquel Chites a partir de CÂMARA, Marcelo. O olho que veio do fundo da terra. In: REGO, Nelson et al. (org.). Saberes e práticas na construção de sujeitos e espaços sociais. Porto Alegre: UFRGS, 2006. ● Seguindo o exemplo, preencha o quadro com as características dos bairros em que você mora,

se diverte e estuda. Nome do bairro

Função

Habitações

Comércio

Paisagem

Na divisão técnica do espaço encontramos ainda as áreas industriais. Pequenas indústrias estão espalhadas por toda a cidade, mas as grande plantas concentram-se no norte da mancha metropolitana, pois o Plano Diretor de Porto Alegre não permite que as indústrias (poluentes, sobrecarregando vias de transporte) estejam junto a bairros residenciais. O que se vê na capital é a concentração junto aos pontos e terminais de transporte interurbano e internacional, junto às vias de saída da cidade. Distritos industriais são áreas de concentração de fábricas, e junto à elas costumava haver vilas operárias. Na RMPA, podemos citar o exemplo do 4º Distrito de Porto Alegre, hoje composto pelos bairros Floresta, São Geraldo, São João e Navegantes. Mesmo que as indústriais tenham se mudado, as antigas famílias operárias se mantiveram no bairro por um bom período.


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Polos industriais são áreas planejadas pelo estado, através de subsídios, como a doação de terrenos, isenção de taxas, exceções nas regras ambientais etc. Exemplos podem ser encontrados no Polo Petroquímico de Triunfo ou no Polo Industrial da Restinga, um muito consolidado, outro menos expressivo. A administração do município procura dar conta da “necessidade de revitalizar” os bairros onde historicamente se concentrou o setor industrial através de dispositivos no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental – PDDUA, que possibilitem atrair novos investimentos imobiliários15.

O QUE OBSERVAR, DESCREVER E INVESTIGAR NA SAÍDA DE CAMPO Primeiro, é preciso pesquisar a história e as características do lugar a ser visitado. Depois, pense que você vai apresentar o lugar ao aluno, ao professor, a um amigo ou turista. Escolha os principais pontos de interesse, que contenham: ● belas paisagens ou construções, ● os serviços e as atividades de maior destaque, ● o lugar que é tido como a origem ou que se constitui como lugar de memória, ● ruas típicas das funções presentes no lugar, que são “sua cara”, ● o cenário de um caso, lenda ou história pitoresca, ● obras de arte como grafites e monumentos, ● lugares onde há transporte coletivo, ● lugares que revelam situações conflitivas ou problemáticas, ● outros pontos de interesse, sejam eles belos, bizarros ou surpreendentes. Coloque num mapa (seja ele feito à mão, trabalhado no computador, fotocopiado...) esses pontos, ligue-os num percurso que seja aprazível (ou pelo menos viável) e descreva o que deve ser notado em cada atração elencada. Faça com que o visitante veja, note e valorize o lugar em sua história e peculiaridade. Pense em um lugar com banheiros e água. Reserve a atração melhor para a parada final. Preparação e conclusão em sala de aula Nas aulas anteriores são dados os avisos a respeito da data, do preço cobrado pelo ônibus, horário de saída e retorno da sala de aula. É apresentado o roteiro de campo, bem como o que deve ser observado durante a saída. Depois da excursão, realiza-se uma retomada dos temas vistos em campo, através da realização de exercícios e questões problematizadoras. Materiais necessários: ● Roupas adequadas e proteção solar; ● Câmera digital ou de telefone celular; ● Lápis e prancheta de campo; ● Roteiro de atividades/relatório. Sugerimos que o relatório seja feito durante o trabalho de campo e sua entrega ocorra ao final da atividade. 15 FERNANDES, Ana Clara. Legislação municipal e revitalização em Porto Alegre. Disponível em: <http://www2. ufpel.edu.br/ifisp/ppgs/eics/old/dvd/documentos/gts_llleics/gt14/gt14anaclara.pdf> Acesso em: 20 fev. 2015.


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DA TEORIA À PRÁTICA SAÍDA DE CAMPO 1 Para conhecer a estrutura interna de Porto Alegre, faça uma saída de campo com orientação, observação, conversação, roteiro de atividades e fotografias de vários ângulos (360º). Bússolas serão usadas. Antes de cada parada, faça uma síntese daquilo que você viu. Roteiro Saída do local de ensino. Parada 1: Templo Positivista: momento interdisciplinar com as disciplinas de História e Filosofia. Questão: a] Identifique elementos do templo (escritos, formas, adornos etc.) que traduzem aspectos políticos e ideológicos da corrente de pensamento positivista. Parada 2: Centro Histórico de Porto Alegre: caminhada da Praça da Matriz até o Cais do Porto. Na Praça da Matriz: Sedes do poder público, Catedral Metropolitana – função administrativa do Centro. Questões: b] Quais são os prédios que você está observando a sua volta? c] Tendo em vista a organização interna da cidade de Porto Alegre, qual é a função que os prédios cumprem? Por que estão ali localizados? Na “Rua dos Sebos” – concentração de atividades comerciais: d] Cite dois exemplos de ruas que concentram predominantemente uma mesma atividade comercial. No Cais do Porto – sítio, situação, relação entre urbanização e transporte. e] Você considera que a localização do Guaíba foi um fator determinante para a instalação das primeiras atividades econômicas, comerciais e residenciais da cidade ou não? Por quê? Parada 3: Morro da Pedra Redonda: caracterização de algumas paisagens – urbanização densa e rarefeita – de Porto Alegre e de seu sítio urbano. Atividade: f] Observe e caracterize a paisagem de Porto Alegre, diferenciando entre a Zona Norte e Zona Sul. Após a orientação quanto ao uso da bússola, com o auxílio de documentação cartográfica, os alunos serão divididos em oito grupos, cada um se incubindo de 1 ponto cardeal ou colateral. g] Cada grupo deverá fotografar, observar, descrever e relacionar ao conteúdo da aula as paisagens vistas a partir do Morro da Pedra Redonda. Relacione o que está observando com as diferentes áreas da cidade e a sua estrutura interna. Retorno ao local de ensino. Depois da saída: Análise das anotações e das fotografias obtidas, retomada e reflexão sobre a atividade. Nessa aula também serão feitas as legendas das fotos. As fotos podem ser expostas na parede, na mesma perspectiva de 360º conforme foram fotografas em campo.


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Os agentes que produzem o espaço urbano Segundo Roberto Lobato Correa, o espaço urbano é um produto social, resultado de ações acumuladas no tempo, de agentes que produzem e consomem espaço. Isso quer dizer que os diferentes grupos que viveram e vivem na cidade têm projetos para esse lugar, o que pode gerar conflitos e alianças entre os grupos16. Tomando como referência as teorias propostas pelo autor, os principais agentes do espaço urbano, numa análise que destaca as relações econômicas são: a. os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais (os patrões); b. os proprietários fundiários (os donos das terras); c. os promotores imobiliários (donos de construtoras e empreiteiras etc.); d. o estado em suas diferentes escalas (municípios, estado, país); e. os habitantes da cidade, em suas diferentes inserções sociais. Vamos discutir quem são e como agem esses grupos e instituições. Os proprietários dos meios de produção

São proprietários industriais e de empresas comerciais. Em razão da dimensão de suas atividades, são grandes consumidores de espaço, têm requisitos locacionais especiais – junto ao porto, às vias férreas ou em locais onde a população chega facilmente etc. A terra urbana tem aqui um duplo papel: o de suporte físico (sítio) e o de ajudar economicamente as atividades nele desenvolvidas, facilitando o acesso dos fornecedores e consumidores, o que muitas vezes leva ao surgimento de distritos industriais e centros comerciais (situação). Os proprietários fundiários

Os proprietários de terras querem tirar a maior renda de suas propriedades e pagar os menores impostos. Eles buscam o uso mais bem remunerado possível. Muitas vezes agem transformando terra rural em terra urbana, ou seja, têm interesse na expansão da mancha urbana, já que a terra urbana é mais valorizada que a rural. Isso significa que estão fundamentalmente interessados no valor de troca da terra e não no seu valor de uso. A especulação fundiária aumenta o preço da terra, gerando conflitos: os proprietários fundiários agem reservando terras, diminuindo a oferta e aumentando seu preço. Os proprietários dos meios de produção querem terra barata para construir seus prédios. Esses industriais e comerciantes precisam de terras baratas também para diminuir os gastos dos seus trabalhadores com moradia, permitindo-lhes pagar menores salários. Os donos de indústrias e comércios agem em conjunto com os proprietários fundiários pressionando para que o estado desaproprie terras, instale a infraestrutura necessária às suas atividades e facilite a construção de casas baratas. Os promotores imobiliários

Os promotores imobiliários realizam, parcialmente ou totalmente, as seguintes operações: 1. incorporação, ou seja, a transformação de áreas rurais ou terrenos não usados em terra urbana, que é a operação-chave da promoção imobiliária; o incorporador transforma capital-dinheiro em capitalmercadoria, em imóvel. A localização, o tamanho das unidades e a qualidade do prédio a ser construído 16 CORREA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 1989.


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são definidos na incorporação, assim como a escolha de quem vai construí-lo, a propaganda e a venda das unidades. 2. financiamento, ou seja, a reunião de capitais para a compra do terreno e a construção do imóvel; 3. estudo técnico, realizado por engenheiros e arquitetos, adequando o projeto ao código de obras; 4. construção ou produção física do imóvel, definindo e aprovando o projeto, contratando serviços e equipamentos; empregando operários, máquinas, entre outros elementos; 5. comercialização ou transformação do capital-mercadoria em capital-dinheiro, agora acrescido de lucros. Os corretores, os planejadores de venda e os profissionais de propaganda são os responsáveis por essa operação. Essas operações irão originar diferentes tipos de agentes concretos, incluindo o proprietárioconstrutor do terreno, um agente clássico e que ainda persiste produzindo poucos e pequenos imóveis, as firmas exclusivamente incorporadoras, aquelas que se especializam na construção ou em uma etapa do processo produtivo, como a concretagem de cimento, outras que incorporam e constroem, outras mais especializadas na corretagem e aquelas que concentram em suas mãos todas as operações: algumas dessas últimas controlam também outras atividades fora do setor fundiário imobiliário. Hoje há empresas capazes de construir bairros inteiros, tanto em seus aspectos materiais quanto através de campanhas publicitárias e negociações com os poderes públicos, necessárias para a criação de partes novas da cidade. O estado

A ação do estado capitalista não é socialmente neutra, como se o estado fosse uma instituição que governasse em busca do interesse comum e do equilíbrio social, econômico e espacial, pairando acima das classes sociais e de seus conflitos. Sua ação é marcada pelos conflitos de interesses dos diferentes membros da sociedade de classes, bem como das alianças entre eles. O estado tende a privilegiar os interesses do segmento da classe dominante que está no poder. Ao mesmo tempo, o estado se ocupa dos setores menos lucrativos da economia, regula os serviços públicos e arrecada impostos. Portanto, o estado é um agente muito complexo. Em primeiro lugar, está o fato de que temos três escalas de governo (o município, o estado e a federação) e, em cada uma delas os 3 poderes (executivo, legislativo, judiciário), e diferentes órgãos atuando de diferentes formas em diferentes momentos. Há situações em que o estado funciona como o proprietário industrial, consumindo espaço e localizações específicas. Por exemplo, ao implantar uma refinaria de petróleo, o estado está organizando diretamente o espaço urbano, ao mesmo tempo em que interfere, dada a natureza da atividade industrial, no uso da terra das áreas próximas, que não poderão ser usadas para morar. Outras vezes, o estado se parece com o proprietário fundiário. As terras públicas são uma reserva fundiária que o estado pode acionar para usos diversos, inclusive para negociações com outros agentes sociais. Através de órgãos como a COHAB (Companhia de Habitação), por outro lado, o estado tornase promotor imobiliário. Um exemplo disto é o Programa Minha Casa Minha Vida, uma parceria entre promotores imobiliários, agências financiadoras de crédito e o estado para construção de casas populares17. 17 NASCIMENTO, Sheylla P. G. do & SANTOS, James R. U. A importância dos agentes sociais nas R.A.s que compreendem o Tabuleiro – parte alta da cidade de Maceió (AL). Revista Geonorte, Edição Especial, v.1, n.4, p. 340-348, 2012. Disponível em <http://www.revistageonorte.ufam.edu.br/index.php/edicao-especial-geografia-fisica-1>. Acesso em: 20 fev. 2015.


CapĂ­tulo

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O estado sempre é o responsável pelas leis vigentes no espaço urbano e pela implementação delas, dispondo de um conjunto de instrumentos que pode empregar para gerir o espaço urbano, como o direito de desapropriação e a precedência na compra de terras. São suas a regulamentação das atividade possíveis em cada parte da cidade e a fiscalização de tais regras em diferentes graus. O controle dos preços de terras, a limitação da extensão de terra de que cada um pode se apropriar, a taxação e cobrança de impostos fundiários e imobiliários, que podem variar segundo a dimensão do imóvel, uso da terra e localização, além da taxação de terrenos livres, são prerrogativas do poder público para otimizar o uso do espaço urbano. O estado administra a oferta de crédito à habitação e controla a produção e o mercado dos materiais de construção. Além disso, o estado pode mobilizar reservas fundiárias públicas, afetando o preço da terra e direcionando o crescimento da cidade. Melhorias no sítio e transformações na situação ocorrem através do investimento público na produção do espaço, com obras de drenagem, desmontes, aterros e implantação de infraestrutura. O estado também produz chão, espaço tecnicamente passível de ocupação, via obras de drenagem, desmontes e aterros. Em Porto Alegre, os aterros realizados na década de 1920 para a instalação do Cais do Porto e, em 1978, para ampliar o bairro Praia de Belas (onde hoje temos o parque Marinha do Brasil e a Av. Beira-Rio), são exemplos de produção de chão pelo estado, atendendo a vários propósitos imediatos. Esses são alguns dos tipos de atuação do estado no espaço urbano. Ao estado se dirigem os movimentos sociais urbanos, pressionando por ações estatais para a garantia do caráter social da propriedade fundiária e para assegurar o direito à cidade e o direito à circulação. Os habitantes da cidade, em suas diferentes inserções sociais

No capitalismo, as diferenças sociais são muito grandes, e elas influem no acesso aos bens e serviços. Nas cidades, os contrastes entre ricos e pobres se materializam na segregação socioespacial. A habitação é um desses bens cujo acesso é seletivo: parcela enorme da população não tem acesso, quer dizer, não possui renda para o aluguel de uma habitação decente e, muito menos, para comprar um imóvel. Esse é um dos mais significativos sintomas de exclusão que se somam à subnutrição, às doenças, ao baixo nível de escolaridade, ao desemprego, subemprego e empregos malremunerados. A maioria das pessoas mora em conjuntos habitacionais produzidos pelo estado ou em loteamentos, em casas levantadas no sistema de autoconstrução etc. Nesses casos, a população influi na produção do espaço urbano apenas como construtora de suas casas, à custa de muito sobretrabalho. É na vila ou favela, em invasões de terrenos públicos ou privados, que os grupos sociais excluídos se tornam produtores de seu próprio espaço, na maioria dos casos, apesar dos outros agentes. A produção desse espaço é uma estratégia de sobrevivência e, ao mesmo tempo, uma forma de resistência dos pobres às expulsões a que são submetidos: do campo, das áreas urbanas que se valorizam em operações de renovação, das terras que passam a usos que excluem os antigos moradores. Muitas vezes, os terrenos ocupados são inadequados para os outros agentes da produção do espaço, podem ser encostas íngremes ou áreas alagadiças, margens de estradas, de rios, áreas poluídas ou de proteção ambiental. As vilas mais próximas do centro facilitam o acesso ao local de trabalho. A progressiva urbanização da favela até tornar-se um bairro popular é feita pelos próprios moradores que vão aos poucos melhorando suas residências e implantando atividades econômicas diversas. O estado, pressionado pelas organizações de moradores, em momentos eleitorais, em busca de metas de qualidade de vida, implanta infraestrutura urbana. Essa urbanização pode levar à valorização dos terrenos do bairro,


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atraindo novos moradores e expulsando alguns dos antigos. Assim, o processo se repete, as pessoas ficam sem ter onde morar e buscam áreas novas, mais afastadas, às vezes nos municípios vizinhos. Muitas vezes, esses agentes não atuam separadamente. Em Porto Alegre, por exemplo, o mercado de terras desde o final do século XIX é movido pela junção de vários agentes públicos e privados. Segundo Tania Strohaecker, a partir de 1860, a capital se impõe como polo comercial passando a ser alvo de maciços investimentos. Começaram a ocorrer alianças entre grandes capitalistas de diversos segmentos econômicos (proprietários fundiários, banqueiros, grandes comerciantes, políticos) para a constituição de companhias de exploração de serviços públicos, companhias de loteamento, além de companhias de seguros, fábricas e instituições financeiras18. O emergente setor imobiliário de Porto Alegre teve no estado um forte aliado. De fato, as mínimas restrições legais impostas pelo poder público municipal, proporcionaram ampla liberdade de ação aos empreendedores. O estudo das principais companhias de loteamento que atuaram no mercado de terras de Porto Alegre no período de 1890 a 1950 comprovou que, na realidade, seus acionistas majoritários atuavam em setores estratégicos da economia urbana, como empresas de transporte urbano, além de ocuparem cargos no setor público. A atuação do poder econômico dos detentores de grande capital indica que eles moldaram e moldam a cidade de acordo com seus interesses18.

18 STROHAECKER, Tania Maria. Atuação do público e do privado na estruturação do mercado de terras de Porto Alegre (1890-1950). Scripta Nova, Barcelona, v. IX, n.194, p. 194-199, 2005.


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PLANO DIRETOR O Plano Diretor Municipal é um documento que apresenta as principais regras para o uso do solo de um município. É ele que determina, por exemplo, as áreas prioritariamente destinadas a diferentes tipos de comércio, indústria e residência. Para este último uso determina os índices de parcelamento do terreno (percentual de área que pode ser urbanizada) e o gabarito (altura máxima dos prédios). O Plano deve levar em conta aspectos tanto ambientais como sociais. Por exemplo, em uma área com elevado patrimônio ambiental, um Plano Diretor deve determinar um baixo índice de aproveitamento do solo, com pouca área a ser construída e um baixo gabarito para evitar a ocupação intensa da área. Também é o plano que, por exemplo, que indústrias poluidoras devam estar afastadas das áreas residenciais. Esse documento é construído por representantes de diferentes segmentos da sociedade, mas alguns têm mais organização e clareza da importância dessa lei, se mobilizando para participar e acabam tendo sua voz ouvida. Muitas vezes o plano diretor municipal privilegia somente os interesses dos grandes empresários do setor imobiliário. Nesse sentido, é necessária a participação da população na elaboração do Plano Diretor, de forma a ser construído para atender as necessidades de mais pessoas. A constituição brasileira exige que toda cidade com mais de 20 mil habitantes tenha um plano diretor. Encontre o plano diretor de sua cidade e participe de sua discussão.

DA TEORIA À PRÁTICA AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO URBANO Responda às questões abaixo. a] Quem construiu sua casa? Ela foi feita no sistema de autoconstrução? b] Qual dos agentes, na sua opinião, possui maior influência na transformação do espaço? Por quê? c] O que é especulação fundiária? Todos os capitalistas se beneficiam do aumento do preço da terra? d] Você acha que o estado consegue planejar o crescimento da cidade? e] Você tem ideias para melhorar a vida na cidade, organizando a moradia e o transporte? f] Onde você imagina que vá morar e por que se vê nesse bairro? Escolha um município, pesquise e responda às questões abaixo (Dica: a parte 3 do livro apresenta textos sobre várias cidades da RMPA). g] Qual é a principal característica do município? h] Quais são os principais equipamentos urbanos disponíveis? Quais as deficiências desses equipamentos e a quem cabe a ação para solucionar ou sanar tais deficiências? i] Observando os pontos cardeais identifique para qual direção a cidade cresce? Por quê? j] Quais agentes modeladores do espaço estão atuando? Que ações eles desenvolvem? k] Que projetos estão em execução e quais transformações estão previstas para a região que os cerca?


5 A Região Metropolitana de Porto Alegre A Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) foi instituída por lei em 1973. Assim como em outras capitais do Brasil, o famoso êxodo rural levou a um aumento enorme da população urbana, que não se limitou à capital do RS, transbordando para as cidades do entorno, especialmente aquelas com boas ligações de transporte. Formaram-se as cidades-dormitório, os loteamentos populares, as ocupações de terrenos. A RMPA nasceu da necessidade de gerir conjuntamente a capital e as cidades do entorno, do reconhecimento de que os transportes, a saúde e o mercado de trabalho dessas cidades estão entrelaçados e demandam estratégias combinadas. Neste capítulo trataremos de processos na escala da Região Metropolitana de Porto Alegre. Falaremos dos processos políticos, das atividades econômicas e dos fluxos de pessoas dentro da metrópole. A criação da Região Metropolitana de Porto Alegre As regiões metropolitanas brasileiras são fruto do planejamento pelo estado. Elas foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional, em 1973, que as definiu como um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infraestrutura comum, que deveriam ser reconhecidos pelo IBGE. A Constituição de 1988 passou a esfera estadual o reconhecimento legal das metrópoles, conforme o artigo 25, parágrafo 3º: Os estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. A Região Metropolitana de Porto Alegre foi delimitada administrativamente pela lei complementar nº 14, que criou a aglomeração em 1973, inicialmente com 14 municípios. Atualmente, os 33 municípios que compõem a Região Metropolitana de Porto Alegre são Alvorada, Araricá, Arroio dos Ratos, Cachoeirinha, Campo Bom, Canoas, Capela de Santana, Charqueadas, Dois Irmãos, Eldorado do Sul, Estância Velha, Esteio, Glorinha, Gravataí, Guaíba, Igrejinha, Ivoti, Montenegro, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo, Parobé, Portão, Porto Alegre, Rolante, Santo Antônio da Patrulha, São Jerônimo, São Leopoldo, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Taquara, Triunfo e Viamão. O número de municípios da RMPA chegou a 33 por diferentes razões. Novos municípios surgiram por desmembramento dos primeiros e, além disso, algumas cidades vizinhas passaram a ser reconhecidas como integradas à metrópole, o que resultou na extensão da área considerada metropolitana, ainda que haja vazios e áreas rurais no seu interior. Para o município, a inclusão na Região Metropolitana é interessante, pois abre linhas de crédito e acesso a programas de financiamento nas esferas estadual e federal. Hoje, a população da região metropolitana é de cerca de 4 milhões de habitantes.


Figura 9: Mapa dos municĂ­pios da RMPA (2015). Fonte: IBGE. Elaborado por Isabel Rekowsky


1 – Alvorada 2 – Araricá 3 – Arroio dos Ratos 4 – Cachoeirinha 5 – Campo Bom 6 – Canoas 7 – Capela de Santana 8 – Charqueadas 9 – Dois Irmãos 10 – Eldorado do Sul 11 – Estância Velha 12 – Esteio 13 – Glorinha 14 – Gravataí 15 – Guaíba 16 – Igrejinha 17 – Ivoti 18 – Montenegro 19 – Nova Hartz 20 – Nova Santa Rita 21 – Novo Hamburgo 22 – Parobé 23 – Portão 24 – Porto Alegre 25 – Rolante 26 – Santo Antônio da Patrulha 27 – São Jerônimo 28 – São Leopoldo 29 – Sapiranga 30 – Sapucaia do Sul 31 – Taquara 32 – Triunfo 33 – Viamão


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

A Metropolização A formação da metrópole tem tudo a ver com a necessidade de moradia para mais e mais pessoas e com o aumento na disponibilidade de meios de transporte. A metropolização se forma por conta das trocas intensas entre diferentes municípios, já que o trabalho ou estudo está no núcleo metropolitano, mas a moradia se situa nas cidades do entorno, gerando migrações pendulares (deslocamentos diários entre municípios de residência e de trabalho ou estudo). A metropolização também é um processo econômico, pois a moradia, a atividade industrial e os serviços se situam em espaços cada vez mais dispersos. A conurbação (a fusão da mancha urbana de duas cidades, em função do crescimento de uma em direção à outra) não é imprescindível para que haja uma metrópole. Essa fusão concreta e visível geralmente existe, mas o indispensável na metropolização é a ligação entre a cidade principal e as outras através do fluxo de pessoas, principalmente de trabalhadores e estudantes (movimento pendular diário) e da influência econômica da cidade principal sobre a região, ou até mesmo sobre um país, como no caso das metrópoles nacionais. Hierarquia urbana As cidades são classificadas numa hierarquia, ou seja, em uma ordem de importância dada pela quantidade e qualidade dos serviços que nela se encontram e pelos fluxos de informações, pessoas e dinheiro por elas organizadas. No território, isso se expressa em redes de transporte e comunicação e em áreas de influência econômica e política. O IBGE tem realizado, desde 1966, um estudo sobre as áreas de influência das cidades brasileiras. A última edição desse estudo foi publicada em 2007 e se chama Regiões de Influência das Cidades Brasileiras, REGIC 200719. Nessa pesquisa, o IBGE organiza dados sobre a administração federal e a gestão empresarial, combinados com informações sobre a existência de equipamentos e serviços. O resultado é uma classificação que mostra as cidades em que se tomam decisões que afetam uma rede de cidades, atingindo uma área muito maior que o munícipio do qual são sedes. O REGIC 2007 lista 12 metrópoles como os principais centros urbanos do País, com grande área de influência direta e fortes relações entre si. Além da grande metrópole nacional (São Paulo), são identificadas duas metrópoles nacionais (Rio de Janeiro e Brasília) e 9 metrópoles (Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre). Além dessas 12 cidades, são listadas 70 capitais regionais, que polarizam e organizam áreas de influência de âmbito regional abrangendo numerosos municípios. As capitais regionais são, então, divididas em 3 grupos de importância, e no segundo grupo desse nível, no RS, temos Santa Maria, Caxias do Sul e Passo Fundo; no terceiro grupo aparecem Ijuí, Novo Hamburgo-São Leopoldo e Pelotas-Rio Grande. Aparecem no estudo do território brasileiro outros 169 centros sub-regionais, com atividades de gestão menos complexas, menores áreas de influência e vínculos externos apenas com as 3 metrópoles nacionais. No RS, os centros sub-regionais A são Bento Gonçalves, Erechim, Santo Ângelo, Bagé, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Santa Rosa e Uruguaiana e os centros sub-regionais B são Carazinho, Frederico Westphalen e Cruz Alta. 19 IBGE. Regiões de influência das cidades, 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2008. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/regic.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2015.


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A Região Metropolitana de Porto Alegre

EMANCIPAÇÕES MUNICIPAIS NO BRASIL por Helena Bonetto Existem diferentes formas de constituição de municípios. Entre elas encontramos a emancipação. No Brasil, o aumento das emancipações acompanha os períodos democráticos: frequentes na década de 1930, se intensificaram em 1950 e 1960 e foram restringidos durante a ditadura militar. Com a Constituição Federal de 1988, os municípios ganharam um novo papel na administração pública brasileira: municípios podem arrecadar taxas (IPTU, taxa de lixo etc.) e participam na redistribuição de impostos recolhidos pela União e pelos estados. Em contrapartida eles devem prestar serviços públicos essenciais como educação infantil, saneamento etc. O novo município se instala quando o primeiro prefeito é eleito. Entre 1984 e 2000 surgiram 1.045 novos municípios no Brasil, sendo que as regiões Sul e Nordeste são aquelas que mais contribuíram para esse processo. Mas por que os municípios querem se emancipar? Estudos realizados a partir da década de 1990 apontam algumas das principais razões elencadas para a emancipação: um sentimento de descaso por parte da administração do município de origem, a existência de forte atividade econômica local, a grande extensão territorial do município de origem e o aumento da população local. A maioria da população consultada sobre a emancipação nessas pesquisas acredita que a emancipação é necessária para o desenvolvimento local e que vai melhorar sua qualidade da vida. Entretanto, muitos municípios emancipados têm dificuldades financeiras, pois apresentam baixa arrecadação dos impostos que serviriam para pagar os gastos municipais. Mas nem todos são favoráveis à multiplicação dessa unidade de governo local: muitos acreditam que isso leva a um custoso inchaço da máquina pública, ou que reforça as elites locais. Em sua opinião, a emancipação é uma alternativa viável para melhorar as condições dos cidadãos? Procure pesquisar como ocorrem as emancipações e quais foram os municípios da RMPA recentemente emancipados. referência: Adaptado de MAGALHÃES, João Carlos. Emancipação Político-Administrativa de Municípios no

Brasil. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/Capitulo1_30. pdf> Acesso em: 20 fev. 2015.

Por fim, temos 556 centros de zona, que são cidades que prestam serviços e concentram a riqueza apenas em sua área imediata. As outras 4473 cidades brasileiras são consideradas centros locais, e têm influência apenas no perímetro do município. É muito importante notar que a área de influência não se restringe aos municípios ou estados. A rede polarizada em Porto Alegre abrange o sul de Santa Catarina. No caso das cidades da fronteira, a área de influência pode mesmo ultrapassar os limites do país. Esse sistema de relações conhecido como rede urbana corresponde às dinâmicas de acumulação do capital no espaço.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

TEOrIA DOS LUGArES cEnTrAIS A discussão sobre hierarquia das cidades é antiga. Uma das primeiras propostas de explicação dos processos que fazem com que uma cidade seja maior e imante as áreas em torno foi dada por geógrafos como Walter Christaller, Auguste Lösch e Jacques Boudeville, no início do século XX. A teoria dos lugares centrais se propõe a explicar a forma e a formação das redes urbanas. Segundo os autores, as cidades são lugares centrais por excelência e oferecem serviços à população que mora em seu entorno. A região servida pelas cidades é limitada pela distância que o usuário dos serviços está disposto a percorrer, o que vai mudando de acordo com os transportes disponíveis e a especialização dos serviços buscados. Os hexágonos da figura a seguir representam as áreas de influência urbana – hinterlândia – numa planície homogênea e ideal (a planície isotrópica), ou seja, sem características diferenciadas de relevo, recursos naturais, transportes, densidade demográfica etc. As cidades no topo da hierarquia têm área de influência que se sobrepõe àquela das cidades menores, dada a maior diversidade de serviços oferecidos. O modelo dificilmente se materializa, uma vez que o espaço concreto não é “uma planície isotrópica”. Figura 10: Diagrama representativo das localidades centrais de Christaller.

rEfErêncIA: PITTE, Jean-Robert. Geografia: a natureza humanizada – Ensino Médio. São Paulo: FTD, 1998.


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A Região Metropolitana de Porto Alegre

Sandra Lencioni, falando do caso brasileiro, diferencia metrópole moderna e metrópole contemporânea20. Na modernidade, a concentração era importante, a produção era feita em grandes volumes, homogeneizada, em moldes fordistas. Na metrópole moderna, típica de grande parte do século XX, a industrialização e as multinacionais foram importantes para o desenvolvimento dos serviços produtivos e, consequentemente, para a centralidade da metrópole. O que caracteriza a metrópole contemporânea, além de transportes e comunicações muito intrincados, é a presença dos grupos econômicos, notadamente a gestão desses grupos. O quadro abaixo ajuda a comparar a metrópole moderna com a metrópole contemporânea. Quadro 4: A metrópole moderna e metrópole contemporânea . Metrópole Moderna

Metrópole Contemporânea

Modelo Industrial

fordista

pós-fordista

Aglomeração

Concentrada

Dispersa

Espaço

Mais dos lugares que dos fluxos

Mais dos fluxos que dos lugares

Extensão territorial

Metrópole coesa

Metrópole difusa, mais espalhada

População/superfície

Alta densidade

Densidade em declínio

Forma

Contínua

Fragmentada

Mobilidade

Integração no percurso

Percurso sem integração

Desenho

Crescimento radiocêntrico

Crescimento mais linear

Limites

Definidos

Indefinidos

Centralidade

Policêntrica

Intensificação do policentrismo

Renovação urbana

Planos de recuperação

Planos estratégicos

Redes

Hierárquicas

Anastomosadas

Capital

Produção

Gestão

Processo

Urbanização

Metropolização

Fonte: Adaptado de LENCIONI, 2008.

Vamos explicar alguns termos do quadro. O transporte de bens e pessoas e os fluxos de informação, pessoas e mercadorias marcam a dinâmica das grandes cidades, por isso a metrópole contemporânea se caracteriza pela importância dos fluxos, pela dispersão de sua aglomeração, pela extensão difusa, com densidades em declínio e sem limites definidos. Trata-se de concentrar capitais e decisões, mas também de multiplicar as redes e os subcentros. 20 LENCIONI, Sandra. Concentração e centralização das atividades urbanas: uma perspectiva multiescalar. Reflexões a partir do caso de São Paulo. Revista de Geografía Norte Grande. Santiago do Chile, n.39, p. 7-20, 2008. Disponível em <http://dx.doi.org/10.4067/S0718-34022008000100002>. Acesso em 20 fev. 2015.



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A Região Metropolitana de Porto Alegre

Esse é o sentido de anastomosado: ramificado em múltiplas bifurcações e convergências, sem um único polo de origem. Ao centro cabe gerir os capitais, propor planos estratégicos de investimento e renovação de áreas da metrópole. E a mancha urbana não é o principal indicativo da influência da metrópole contemporânea: a lógica metropolitana passa por uma dispersão das atividades de produção e por um espalhamento do investimento, pelo surgimento de bairros residenciais mais distantes e de muitos subcentros comerciais. É preciso, portanto, diferenciar metropolização e região metropolitana. Metropolização é esse processo de espalhamento das atividades nas cidades com importância econômica, em função da escala e complexidade da sociedade contemporânea. Porto Alegre, metrópole contemporânea por Paulo Roberto Rodrigues Soares & Lucas Porfírio Schneider Porto Alegre, metrópole periférica do capitalismo brasileiro, apresentou um desenvolvimento socioespacial peculiar ao longo da segunda metade do século XX. A metropolização porto-alegrense remonta à década de 1960, quando em seu entorno aparecem núcleos industriais, cidades-dormitório e núcleos com função industrial e de serviços, num arranjo socioespacial bastante complexo. Essa característica distinguia Porto Alegre de algumas regiões metropolitanas institucionalizadas na década de 1970: enquanto muitas regiões metropolitanas foram institucionalizadas a partir da simples constatação da extensão da malha urbana, do extravasamento da grande cidade para além dos seus limites administrativos, Porto Alegre já se constituía como uma típica “área metropolitana”, uma “verdadeira metrópole regional”21. Entre os anos 1960 e a década de 1980, grandes projetos industriais estatais e privados foram realizados na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). A Refinaria de Petróleo Alberto Pasqualini (Canoas), a Companhia Siderúrgica Riograndense (Sapucaia do Sul), a Aços Finos Piratini (Charqueadas), a Rio Grande Companhia de Celulose – Riocell (Guaíba) e o Polo Petroquímico (Triunfo) favoreceram a concentração industrial no entorno da capital. Essas indústrias, associadas à expansão do setor comercial e de serviços na cidade de Porto Alegre, contribuíram para a constituição de uma aglomeração urbana com características de área metropolitana industrial fordista, isto é, baseada na grande indústria com grande número de operários, relativo nível tecnológico e forte divisão técnica e funcional do trabalho. Configura-se assim, um centro e uma periferia: uma metrópole concentradora de serviços e os subúrbios onde se localizam os setores dinâmicos da indústria (metalúrgico, metalmecânico, elétrico, químico) e os espaços residenciais da força de trabalho. No final do século XX e na primeira década do século XXI, a RMPA continuou crescendo, incorporando municípios à periferia metropolitana e ampliando sua população. A Região Metropolitana de Porto Alegre concentra cerca de 45% do Produto Interno Bruto (PIB) total e metade do Produto Interno Bruto industrial do estado. Essa participação vem apresentando pequenas oscilações ao longo dos últimos 20 anos, especialmente quanto ao PIB industrial. Nesse sentido, na metade da década de 1990, as políticas públicas estaduais (reduzidas praticamente à distribuição de subsídios e à renúncia fiscal) induziram a localização de alguns dos maiores investimentos industriais realizados no estado, privilegiando a localização metropolitana. Referimo-nos às plantas da General Motors em Gravataí, da 21 GEIGER, Pedro P. Evolução da Rede Urbana Brasileira. Rio de Janeiro: INEP/MEC, 1963.


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Souza Cruz em Cachoeirinha e da John Deere em Montenegro, esta última com uma localização que pode ser considerada perimetropolitana. No quadro brasileiro, Porto Alegre ainda hoje aparece como um centro de gestão do capitalismo. Veja os dados: em 2008, o Rio Grande do Sul sediava 117 das 500 maiores empresas da região Sul do Brasil, sendo Porto Alegre a sede de 35 dessas empresas22. Em termos de produção industrial, a Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) se destaca como a terceira maior concentração industrial do país, reunindo importantes ramos industriais dinâmicos (metalmecânico, automobilístico, siderúrgico, petroquímico, químico, plásticos) aos quais se justapõem setores industriais tradicionais (coureiro-calçadista, alimentício, têxtil), presentes em sua estrutura fabril desde o final do século XIX. No entorno da RMPA se desenvolve uma potente economia industrial. Ainda que apresente um caráter difuso e disperso, essa industrialização tem formado novas aglomerações. Essas estão frequentemente associadas aos sistemas locais de produção, cuja origem remonta aos traços distintivos da industrialização em território gaúcho conforme explicamos no primeiro capítulo. A nova organização industrial, chamada pós-fordista ou toyotista, produto da revolução tecnológica e informacional, traz consigo uma relação nova, mais autônoma, entre a localização industrial e o território. Diminui o tamanho das plantas industriais, bem como o número de operários necessários para o seu funcionamento. A reestruturação metropolitana tem sua expressão espacial na dispersão e difusão do urbano, na qual o tecido metropolitano se espalha sobre o território e elabora novas formas espaciais no processo de “metropolização do espaço”. A seguir, apresentamos dados de participação da região metropolitana no conjunto do Produto Interno Bruto (PIB, ou a soma da riqueza produzida num dado território) do RS. Observamos que a região metropolitana vem ampliando sua participação no PIB estadual. Cabe lembrar que a ampliação no número de municípios que compõem a RMPA (de 14 para 33 entre 1974 e 2011) se deu pela incorporação de grande número de municípios industriais ao território da RMPA, especialmente os vinculados à indústria calçadista. Entretanto, também é possível notar a diminuição da participação da indústria no PIB metropolitano como um todo, que se reduziu de 55% para menos de 30%. É importante indicar que em 2010, a RMPA concentrava 305 mil trabalhadores na indústria de transformação, o que representava 16,71% da população ocupada, enquanto que o setor de comércio/serviços concentrava 71,10% da força de trabalho ocupada da RMPA (FEE, 2010). Tabela 1: Participação da Região Metropolitana no PIB do Rio Grande do Sul % do PIB do estado

% do PIB industrial do estado

% Participação da indústria no PIB da RMPA

1985

33,92

46,92

54,99

1990

39,00

49,26

53,27

2000

43,70

51,98

45,66

2004

40,22

49,11

49,39

2007

44,92

48,49

28,73

2008

43,88

46,61

28,17

Fonte: Dados brutos: FEE e IBGE.

22 Revista Amanhã. 500 Maiores do Sul. Porto Alegre, 2008.


A Região Metropolitana de Porto Alegre

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O “peso” do município de Porto Alegre na economia industrial metropolitana cai de 26,52% em 1985 para 13,14% em 2008, o que se atribui às isenções fiscais dadas pelas prefeituras de outros municípios metropolitanos, somadas às regulações urbanas mais restritivas em termos de localização industrial no município de Porto Alegre e à entrada de novos municípios industrializados na RMPA. Nos últimos anos, algumas políticas públicas se orientaram para a atração de indústrias de alta tecnologia para a capital, visando reverter a queda do produto industrial sem, entretanto, afetar a qualidade ambiental do território municipal. Apesar da perda de participação no produto interno bruto estadual, Porto Alegre permanece como um centro econômico dinâmico e diversificado. O PIB municipal, da ordem de R$ 43 bilhões era o 7º do país em 2010, segundo o IBGE. A participação da indústria no PIB municipal é de apenas 15,58%, com o setor concentrando mais de 50 mil trabalhadores, especialmente na construção civil. Na região metropolitana e no entorno de Porto Alegre temos outras importantes concentrações industriais. Os municípios de Novo Hamburgo, São Leopoldo e Gravataí constituem-se em tradicionais polos industriais no interior da região metropolitana, sendo Novo Hamburgo também um polo de serviços. Desde a construção da fábrica da General Motors em 1998, Gravataí tem aumentado sua fatia no “bolo” da economia industrial da RMPA, concentrando 5,25% do PIB industrial do estado, do qual é o 5º município mais industrializado. As aglomerações urbanas do Rio Grande do Sul são espaços industrializados, nas quais se localizam importantes sistemas locais de produção, bem como uma importante força de trabalho fabril, e essas características funcionam como fatores de atração para novas implantações industriais. Além dessas concentrações, encontramos uma industrialização difusa entre a região metropolitana de Porto Alegre e outras aglomerações urbanas do RS. Na industrialização difusa, as unidades fabris e agroindustriais se organizam junto aos pequenos núcleos urbanos, com formas de produção flexível e intensivas em mão de obra. Essa industrialização também se vincula aos sistemas locais de produção, especialmente à economia calçadista e agroindustrial. Por fim, cabe considerar a nova economia de serviços presente na metrópole de Porto Alegre, da mesma forma que no mundo todo. Nos dias atuais, a economia da metrópole está concentrada nos serviços, muitos dos quais não são dirigidos apenas para a população metropolitana e sim de todo o estado. Serviços avançados na área de saúde e educação têm um peso cada vez maior na economia da metrópole, assim como os serviços às empresas. Serviços financeiros, empresas de consultoria, marketing, escritórios de assessoria jurídica e atuarial, bem como facilidades “auxiliares”. Hotéis de categoria internacional, shopping centers, centros de convenções e o próprio aeroporto internacional são a expressão de um processo de inserção e integração da economia metropolitana e gaúcha na economia global. Outras aglomerações urbanas do RS No Rio Grande do Sul, a Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) não é a única concentração urbana do estado. Segundo o IBGE, as aglomerações urbanas são grandes concentrações de municípios na sua maioria conurbados (com ligação entre as suas áreas urbanas) e com elevado grau de dependência entre si. As pequenas cidades do estado possuem elevadas distâncias entre os seus centros urbanos, não chegam a formar uma aglomeração. Além da RMPA, no RS existe a Aglomeração Urbana do Sul, do Nordeste e do Litoral Norte.



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A Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA OUTRAS AGLOMERAÇÕES URBANAS Observe o quadro a baixo que apresenta os principais municípios de cada aglomeração urbana. Pesquise características de cada aglomeração e preencha o quadro. Aglomeração Aglomeração Urbana do Sul

Aglomeração Urbana do Nordeste

Aglomeração Urbana do Litoral Norte

Principais Municípios

Características

Pelotas, Rio Grande, Capão do Leão, Arroio do Padre e São José do Norte. Caxias do Sul, Farroupilha, Garibaldi e Bento Gonçalves. Osório, Torres, Tramandaí, Capão da Canoa, Imbé e Maquiné

Dicas de sites para pesquisa: http://dados.fee.tche.br http://www.seplag.rs.gov.br http://www.metroplan.rs.gov.br http://biblioteca.fee.tche.br http://www.observatoriodasmetropoles.net

FATORES LOCACIONAIS E SISTEMAS LOCAIS DE PRODUÇÃO Segundo Georges Benko, analisar os fatores que influem na escolha da localização de uma indústria não é buscar leis científicas, mas reconhecer elementos espaciais na distribuição das fábricas e empresas. A importância da atividade industrial justifica essa discussão: atraindo mão de obra, consumindo matéria-prima, gerando riqueza e poluição, a indústria tem grande impacto no lugar em que se instalar. Também por isso, os industriais conseguem reduzir impostos, mudar leis trabalhistas e ambientais e influir no traçado de estradas, na construção de usinas de energia, etc. Mas afinal, o que interfere na localização industrial? O que faz com que uma firma escolha um determinado lugar para construir sua nova fábrica, ou decida fechar uma planta industrial já existente? Depende! Se a indústria consome muita matéria-prima (como ocorre com siderúrgicas, que transformam montanhas de carvão e toneladas de minério de ferro em aço) vale a pena instalarse perto das fontes desses materiais: para que carregar por quilômetros o carvão, se o mesmo desaparecerá após a queima? Se um dos elementos importantes for a água (numa fábrica de refrigerantes, por exemplo) não vale a pena construí-la longe do mercado consumidor e ter que transportar água engarrafada para cá e para lá: é melhor instalar-se junto às metrópoles e transportar apenas as essências até ali. Se a indústria trabalhar com pouca matéria-prima e esta for muito valiosa, cabe instalar sua fábrica em pleno bairro chique: assim se dá com fábricas de joias exclusivas em grandes centros urbanos, que também funcionam como vitrines e decoração de poder das marcas prestigiosas. continua >>>


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

>>> continuação O clima e as características dos consumidores também são importantes, como prova a clássica expressão “tão inútil como vender geladeira para esquimós”. Se a matéria for muito perecível, a indústria se instalará junto às plantações: essa é a lógica da agroindústria. O número, a qualificação e os direitos dos trabalhadores também são fatores locacionais. As indústrias que empregam muitas pessoas se instalarão em lugares onde os salários e os direitos sejam menores, enquanto aquelas que dependem de trabalhadores especializados terão que arcar com os custos elevados das cidades maiores ou gerir ambientes inovadores como polos tecnológicos. Em resumo, a importância de um ou outro fator dependerá do ramo da indústria e de sua capacidade de deslocar-se. Os principais fatores locacionais são: – a disponibilidade de matéria-prima e as dificuldades no seu transporte – a disponibilidade e o custo do transporte – o preço e as redes de energia e comunicação – o tamanho e as características do mercado consumidor – o custo (salários e direitos) e o tipo de mão de obra. Muitas vezes se atribui aos custos de mão de obra à desindustrialização dos países do norte, deixando apenas aquelas que exigem mão de obra qualificada. – os impostos, incentivos fiscais e o valor do terreno: esses são os principais alvos das políticas industriais. Impostos à importação favorecerão as indústrias instaladas no país (mesmo as filiais de multinacionais). A “guerra fiscal” reduz a arrecadação ou oferece terrenos públicos a empresas privadas em nome da geração de empregos. – a proximidade de outras indústrias. A presença de indústrias do mesmo ramo também é outro fator de atração locacional: partes produzidas numa podem ser usadas por outa fábrica, a mão de obra é experiente no ramo, a assistência técnica pode ser compartilhada e o próprio lugar fica famoso por seu produto. Às vezes um ramo da indústria ganha tanta importância que a cidade reivindica para si títulos como: “a capital do calçado”, “ a capital da roupa íntima” ou “princesa dos vinhedos”. A essas concentrações especializadas chamamos sistemas locais de produção. A quantidade e a qualidade dos fatores locacionais presentes em algumas metrópoles as torna muito atraentes para a indústria. Essas são “as condições gerais de produção” a que se refere Sandra Lencioni. referência: BENKO, Georges. Economia, Espaço e Globalização na aurora do século XXI. São Paulo: Hucitec, 1996, p.

226; LENCIONI, Sandra. Concentração e centralização das atividades urbanas: uma perspectiva multiescalar. Reflexões a partir do caso de São Paulo. Revista de Geografía Norte Grande, Santiago do Chile, n.39, p. 7-20, 2008. Disponível em <http://dx.doi.org/10.4067/S0718-34022008000100002>. Acesso em 20 fev. 2015.

Conhecendo a metrópole a partir de exercícios A seção que segue busca exercitar suas capacidades de leitura de mapas e ao mesmo tempo, dar-lhe informações para conhecer a metrópole de Porto Alegre.


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A Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA A PRÁTICA COMPARANDO MUNICÍPIOS DA RMPA A tabela 2 apresenta dados dos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), como população, área, densidade demográfica e ano da criação. Tabela 2: Dados demográficos e de extensão dos municípios integrantes da RMPA. Municípios Alvorada Cachoeirinha Campo Bom Canoas Estância Velha Esteio Gravataí Guaíba Novo Hamburgo Porto Alegre São Leopoldo Sapiranga Sapucaia do Sul Viamão Dois Irmãos Eldorado do Sul Glorinha Ivoti Nova Hartz Parobé Portão Triunfo Charqueadas Araricá Nova Santa Rita Montenegro São Jerônimo Taquara Arroio dos Ratos Santo Antônio da Patrulha Capela de Santana Rolante Igrejinha RMPA

Ano de entrada na RMPA

População Absoluta

Área (km²)

1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1973 1989 1989 1989 1989 1989 1989 1989 1989 1994 1998 1998 1999 1999 1999 2000 2000 2001 2010 2011

196.890 119.071 60.499 325.514 43.007 80.999 257.398 95.518 239.738 1.414.104 215.606 75.492 131.728 240.567 27.874 34.740 6.947 20.111 18.556 51.965 31.264 25.996 35.598 4.910 23.064 59.773 22.251 54.830 13.638 39.829 11.704 19.585 31.961 4.030.727

70,8 43,8 61,4 131,1 52,4 27,5 463,8 377,0 223,6 496,8 102,3 137,5 58,6 1.494,3 65,2 509,7 323,6 63,1 62,6 109,0 160,0 823,4 216,5 35,3 218,0 420,0 937,0 457,0 426,0 1.048,0 184,0 297,0 136,8 10.233,1

Densidade Demográfica Ano de Criação (nº hab/km2) 2.752,0 2.662,0 975,0 2.425,0 821,0 2.940,0 555,0 253,0 1.072,0 2.846,0 2.107,0 549,0 2.246,0 161,0 427,8 68,0 21,5 318,5 296,6 476 195,5 31,6 164.4 138,0 106,0 142,0 24,0 120,0 32,0 38,0 63,6 66,0 233,6 393,9

1965 1965 1959 1939 1959 1954 1880 1926 1927 1808 1846 1954 1961 1880 1959 1988 1988 1964 1987 1982 1963 1831 1982 1995 1992 1873 1860 1886 1964 1809 1987 1954 1964 1973

Fonte: FEE, 2011.

Seguem perguntas cujas respostas se encontram na tabela acima: a] Qual é o ano de criação do município mais antigo da RMPA? Que município é esse? E do mais novo? Qual é ele? b] Compare o ano de criação e o ano de entrada na RMPA dos seguintes municípios: Eldorado do Sul, Glorinha e Nova Hartz X Montenegro, Santo Antônio da Patrulha e São Jerônimo. Qual é a característica do primeiro grupo? E do segundo? c] Quais municípios possuem densidade demográfica abaixo de 50 habitantes/km²? Explique por que a densidade demográfica de Guaíba e Viamão são mais baixas que a média da RMPA.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA OBSERVANDO O MAPA DA RMPA Observe a figura 11, com aspectos da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) para conhecer um pouco sobre o espaço da RMPA.

Figura 11: Mapa da Região Metropolitana de Porto Alegre: municípios, transporte e hidrografia (2012).

Fonte: IBGE, 2012. Modificado por Bruno Barbosa e Alice Campana.

a] Qual é a distância real entre o ponto A e o ponto B? b] Qual é o nome do lago que banha a RMPA e do rio que corta sua porção oeste? c] Quais são os principais eixos viários que articulam a RMPA? d] Para onde convergem os eixos viários e os rios que cortam a RMPA? e] Onde se situa o principal município da RMPA? f] O tamanho dos municípios que compõem a RMPA varia muito. Onde se situam os municípios pequenos e onde se encontram os grandes? g] Pensando na industrialização, você tem alguma hipótese que explique essa situação? Qual? Responda levando em consideração a localização do mercado consumidor e os eixos de transporte.


A Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA DINÂMICAS DA CONURBAÇÃO Observe a figura 12 e responda às questões depois dele, sobre a mancha urbana da RMPA e os aspectos do transporte que a ela se relacionam. Podemos também detectar casos diferenciados no conjunto metropolitano. Figura 12: Mapa da Região Metropolitana de Porto Alegre: limites, principais vias de transporte, área urbanizada e hidrografia (2012).

Fonte: IBGE, 2012. Elaborado por Isabel Rekowsky

Examinando as figuras 11 e 12, responda: a] Quais são os eixos viários que foram e continuam sendo vetores de expansão econômica e demográfica na área metropolitana? Cite exemplos de rodovias que ligam Porto Alegre a outros municípios da RMPA. b] Cite três exemplos de cidades conurbadas. c] Cite três exemplos de cidade que não estão conurbadas. d] Examinando a tabela 2, relacione densidades demográficas abaixo de 50 habitantes/km² e distância à Porto Alegre. Apresente duas razões para essa relação.

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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA DENSIDADES DEMOGRÁFICAS Observe o mapa abaixo, que mostra a densidade demográfica dos municípios da RMPA por setor censitário para descobrir onde ficam as áreas mais densamente povoadas na metrópole. Figura 13: Mapa da RMPA: densidades demográficas por setor censitário nos municípios (2010).

1 – Alvorada 2 – Araricá 3 – Arroio dos Ratos 4 – Cachoeirinha 5 – Campo Bom 6 – Canoas 7 – Capela de Santana 8 – Charqueadas 9 – Dois Irmãos 10 – Eldorado do Sul 11 – Estância Velha 12 – Esteio 13 – Glorinha 14 – Gravataí 15 – Guaíba 16 – Igrejinha 17 – Ivoti 18 – Montenegro 19 – Nova Hartz 20 – Nova Santa Rita 21 – Novo Hamburgo 22 – Parobé 23 – Portão 24 – Porto Alegre 25 – Rolante 26 – Santo Antônio da Patrulha 27 – São Jerônimo 28 – São Leopoldo 29 – Sapiranga 30 – Sapucaia do Sul 31 – Taquara 32 – Triunfo 33 – Viamão

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010 - elaborado por Isabel Rekowsky

Responda: a] Pesquise o significado da expressão “setor censitário”. b] Qual é a diferença entre as figuras 12 e 13? Comparando as duas, indique 2 municípios nos quais a densidade demográfica dentro da mancha urbana é baixa. c] Essas densidades demográficas acompanham a rede de transporte ou não? Por quê? d] Você acha que o preço da passagem faz diferença na integração metropolitana (cidades-dormitório) e acesso aos serviços (polaridade metropolitana)?


A Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA HIERARQUIA URBANA Observe o mapa abaixo para conhecer as relações de dependência e polarização entre os municípios da RMPA. Esse mapa representa o fluxo diário de passageiros e relações entre empresas situadas na RMPA. Figura 14: Mapa da RMPA: Hierarquia urbana e ligações dominantes (2003).

Fonte: METROPLAN. Atlas Social da Região Metropolitana de Porto Alegre. 2003.

Responda: a] O que o mapa representa na legenda? b] Por que as flechas convergem para Porto Alegre? c] Existem flechas que não apontam para Porto Alegre?

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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA A DIVISÃO FUNCIONAL DA RMPA A produção econômica e o trabalho podem ser classificados em três setores: o setor primário, que reúne agricultura, pecuária e extrativismo, o setor secundário, aquele da indústria e da construção civil, e o setor terciário, que compreende o comércio e os serviços. Ainda que as muitas facetas do trabalho humano sejam mais complexas do que a divisão em setores da economia dá a entender, usamos esse esquema para descrever a população e sua inserção no processo produtivo. Observe as figuras 15, 16 e 17 a seguir, que mostram a distribuição da população residente ocupada em cada setor da economia na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Responda: a] Quais são os municípios que apresentam mais de 16% da população ocupada no setor primário? b] Quais são os municípios que apresentam mais de 41% da população no setor secundário? c] Quais são os municípios que apresentam mais de 61% da população no setor terciário? d] Comparando os mapas, você observa alguma relação entre o tamanho do município e a atividade econômica desenvolvida pela maioria da população? Explique numa frase sua resposta. e] Comparando os mapas e a tabela 2 (página 63), você observa alguma relação entre a atividade econômica e a densidade demográfica do município? Pesquise: f] Quais são os municípios da RMPA onde estão se instalando novas indústrias? g] Quais são os fatores locacionais que atraem esses empreendimentos? Figura 15: Mapa da População ocupada no setor primário (%) (2010).

Fonte: SIDRA, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky


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A Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 16: Mapa da população ocupada no setor secundário (%) (2010).

1 – Alvorada 2 – Araricá 3 – Arroio dos Ratos 4 – Cachoeirinha 5 – Campo Bom 6 – Canoas 7 – Capela de Santana 8 – Charqueadas 9 – Dois Irmãos 10 – Eldorado do Sul 11 – Estância Velha 12 – Esteio 13 – Glorinha 14 – Gravataí 15 – Guaíba 16 – Igrejinha Fonte: SIDRA, 2010. 17 – Ivoti Elaborado por Isabel Rekowsky 18 – Montenegro 19 – Nova Hartz 20 – Nova Santa Rita 21 – Novo Hamburgo Figura 17: Mapa da população ocupada no setor terciário (%) (2010). 22 – Parobé 23 – Portão 24 – Porto Alegre 25 – Rolante 26 – Santo Antônio da Patrulha 27 – São Jerônimo 28 – São Leopoldo 29 – Sapiranga 30 – Sapucaia do Sul 31 – Taquara 32 – Triunfo 33 – Viamão

Fonte: SIDRA, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky



Parte 2

Desafios da gest達o metropolitana



6 Hidrografia da RMPA por Raquel Chites

Os aspectos ambientais do espaço urbanizado costumam passar despercebidos, até ocuparem as manchetes dos jornais com notícias de tragédias. A importância do sítio já foi amplamente discutida aqui e é hora de aprofundar outros temas da paisagem e da natureza da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Começaremos com a hidrografia da RMPA.Questões sociais como a gestão, a convivência, a circulação e a segurança também serão abordadas adiante. Uma bacia hidrográfica é uma área delimitada onde ocorre o escoamento natural das águas das chuvas (ou pluviais) através de um rio principal e seus afluentes ou tributários. Os limites de uma bacia hidrográfica são chamados de divisores de água, ou seja, são os pontos mais altos do relevo que a circundam. Já a porção mais baixa é denominada de planície de inundação, onde em épocas de cheias, o rio transborda, ocupando essa área além do seu leito normal. As bacias podem ser divididas, para fins de estudo e planejamento, em sub-bacias e microbacias. O rio é um agente modificador da paisagem e do relevo à sua volta. A força e o volume das águas provoca erosão do leito, aprofundando-o, e das margens, alargando-as. A erosão é o desgaste de uma superfície por agentes externos, tornando-a frágil e suscetível à instabilidade. A porção inicial do rio é chamada de montante, já a final é a jusante. Todo rio é formado por partes bem definidas: a nascente ou cabeceira, o leito ou talvegue e a foz ou exutório, que é o local onde ele vai terminar seu percurso (pode ser no oceano, numa lagoa, num lago ou em outro rio). A nascente de um rio normalmente será nas porções de maior altitude do relevo. Nesse ponto o leito é mais estreito e conforme vai recebendo volume de água dos seus afluentes, o rio passa a aprofundar o talvegue e vai erodindo suas margens, aumentando a largura do leito. Quando atinge uma porção mais baixa do relevo, as águas fluviais passam a ter menor poder de erosão, ou seja, passam a depositar os sedimentos, formando ilhas, barras de meandros etc. Já próximo à foz, as águas são calmas e o leito é largo e profundo. Quando desemboca em outro corpo d’água, os sedimentos carregados pelo rio podem formar ilhas, conhecidos como deltas23. A Região Metropolitana de Porto Alegre é banhada por oito bacias hidrográficas: baixo Jacuí, Gravataí, Caí, Sinos, Lago Guaíba – tratadas com maior detalhe a seguir – Taquari-Antas, Litoral Médio e Camaquã. Com exceção da bacia do Litoral Médio e Camaquã, que fazem parte da Região Hidrográfica do Litoral, as demais bacias fazem parte da Região Hidrográfica do Guaíba. Os rios destas bacias foram de grande importância para o desenvolvimento da região. O povoamento está diretamente ligado a essas águas: ao longo do Gravataí, as margens foram povoadas por índios guaranis remanescentes das Missões Jesuíticas; os açorianos chegaram à região que, posteriormente, seria Porto Alegre e propagaram-se ao longo da bacia, no rumo do Jacuí e do Vacacaí. Os alemães espalharam-se pela região que é conhecida hoje como Vale do Sinos, seguindo o rio de mesmo nome, e também subiram o planalto pelo Jacuí; a colônia italiana instalou-se ao longo do Rio das Antas, chegando ao planalto Gaúcho 24. 23 FLORENZANO, Tereza Gallotti. Geomorfologia, conceitos e tecnologias atuais. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 24 PRÓ-GUAÍBA. Baía de todas as águas: preservação e gerenciamento ambiental na Bacia Hidrográfica do Guaíba. Porto Alegre, Secretaria Executiva Pró-Guaíba, 1998.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Todo o aglomerado urbano, assim como as indústrias e a agricultura, impacta os rios que banham a RMPA. Os problemas vão desde o esgoto doméstico, quase sem tratamento, passando por enormes quantidades de esgoto industrial, pelo uso pouco criterioso do agrotóxico, pelo desmatamento às margens dos rios, pela erosão do solo e consequentemente assoreamento dos cursos d’água, até a retirada de areia para construção. O rio dos Sinos tem sua nascente no município de Caraá e deságua no Guaíba, sendo o principal recurso hídrico da região do Vale do Sinos, junto com seus afluentes, os rio Rolante, o rio da Ilha e o rio Paranhana. A área da bacia é estimada em 4.000 km2 com 190 quilômetros de extensão. Envolve 32 municípios, compreendendo uma população de mais de dois milhões de habitantes25. O povoamento e a industrialização do Vale dos Sinos impactou gravemente o rio, principalmente pelo crescimento desordenado das cidades e pelo lançamento de esgotos in natura, tanto de origem doméstica como industrial. Isso conduziu a um conjunto de problemas ambientais bastante sérios, comprometendo a qualidade da água utilizada para o abastecimento. Em 2006, um crime ambiental que causou a morte de mais de um milhão de peixes foi notícia internacional por ser considerada a maior tragédia ambiental dos últimos 40 anos no Rio Grande do Sul. A mortandade ocorreu por causa do despejo irregular de esgoto cloacal e de resíduos industriais. O rio Caí nasce no município de São Francisco de Paula, fora da RMPA, próximo ao litoral norte do Rio Grande do Sul. Vários arroios do município se juntam para formar o rio que, no seu curso superior, tem o nome de Santa Cruz. Adiante, já no município de Canela, o rio passa a ser conhecido pelo nome de Caí. Ao chegar na RMPA, o rio sofre principalmente com a poluição oriunda da atividade agrícola, como os agrotóxicos, e da indústria, com destaque à metalurgia e aos curtumes. O baixo Jacuí é marcado pela intensa extração de carvão na área da bacia, causando significativo impacto ambiental, principalmente em Charqueadas e São Jerônimo. Outra característica é o uso intensivo do solo para pecuária e agricultura. No curso inferior, o rio sofre devido ao uso industrial, já que a região é destaque pelos ramos de química, plástico, metalurgia, siderurgia, borracha e produtos alimentares26. A bacia hidrográfica do rio Gravataí possui uma área de aproximadamente 2.020 km², abrangendo os municípios de Santo Antônio da Patrulha, Glorinha, Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada, Viamão, Canoas, Porto Alegre e pequena área de Taquara. O rio Gravataí é a principal alavanca para o desenvolvimento de toda a região que ele banha. A captação de água para o abastecimento público de quase um milhão de pessoas é realizada neste manancial hídrico. A água que abastece as indústrias dos mais diversos ramos na região é retirada do Rio Gravataí. As lavouras de toda a bacia, a criação de gado, as atividades de lazer e recreação também utilizam as águas deste manancial. Devido a esse uso intenso e à poluição por esgoto doméstico e pela indústria, o Gravataí é um dos rios mais poluídos do Brasil. A bacia hidrográfica do lago Guaíba possui a característica de ser receptora das águas drenadas pelas bacias à montante, fazendo com que a qualidade das águas do lago Guaíba seja influenciada pelas atividades nas bacias dos rios que a ele afluem. O aporte de carga dos rios formadores, principalmente dos 25 FEPAM. Qualidade das águas da bacia hidrográfica do rio dos Sinos. Disponível em <http://www.fepam.rs.gov.br/ qualidade/qualidade_sinos/sinos.asp> Acesso em 20 fev. 2015. 26 FEPAM. Qualidade ambiental – Região hidrográfica do Guaíba. Disponível em: <http://www.fepam.rs.gov.br/ qualidade/guaiba.asp> Acesso em 20 fev. 2015.


Hidrografia da região metropolitana

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rios Gravataí e Sinos, bem como o contínuo lançamento de efluentes doméstico e industrial provocam um progressivo decréscimo da qualidade das suas águas que, associados a situações de conflito, vem gerando problemas de disponibilidade hídrica nas regiões agrícolas que integram a bacia hidrográfica do lago Guaíba27. De acordo com uma pesquisa do IBGE sobre o Índice de Qualidade da Água dos rios brasileiros, em 2012, três rios que banham a RMPA estão entre os dez mais poluídos do país: Rio do Sinos em 3º lugar, Gravataí em 4º e Caí em 8º28.

DA TEORIA À PRÁTICA HIDROGRAFIA DA RMPA Observe o mapa das bacias hidrográficas da RMPA, para se localizar nelas, e responda: a] Qual bacia hidrográfica banha sua cidade? Quais os principais usos da água observados nela? b] Comparando as bacias hidrográficas indicadas nos textos, quais são os tipos de uso da água com maior e menor ocorrência? c] Você costuma se banhar nos rios da sua cidade? Por quê? De qual bacia hidrográfica você escolheria um rio para passar uma tarde de recreação com seus amigos? Escolheria um ponto mais à montante ou à jusante do rio? Por quê? d] Se você fosse convidar sua família para realizar uma atividade em algum rio da bacia do Gravataí, qual atividade seria? Por quê? e] Quais os usos da água você acha que mais poluem os rios? Essas atividades são encontradas em todas as bacias hidrográficas da RMPA?

27 GUERRA, Terezinha. O comitê de gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba. Centro de Ecologia – Instituto de Biociências/UFRGS. Disponível em <http://www.ecologia.ufrgs.br/ecologia/ea/comite_lago_guaiba. pdf> Acesso em 20 fev. 2015. 28 EcoD. Dados do IDS destacam os 10 rios mais poluídos do Brasil. Disponível em <http://www.ecodesenvolvimento. org/posts/2012/marco/dados-do-ids-destacam-os-10-rios-mais-poluidos-do> Acesso em 20 fev. 2012.


Figura 18: Mapa das bacias hidrogrรกficas da RMPA (2014).


Fonte: IBGE. Elaborado por Isabel Rekowsky


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

GUAÍBA: RIO OU LAGO?

por Lucas Stanislawski Silva

Uma pergunta que sempre volta à mente dos moradores da RMPA é: afinal, o Guaíba é um rio, como se diz, ou um lago, como está escrito nos mapas? Para responder, cabe definir o que é um rio, o que é um lago, examinar as características do Guaíba e, primeiramente, se perguntar sobre as questões urbanas que entram em discussão nesse debate. Na definição de Juremir Machado da Silva “lago é uma porção de água cercada de interesses econômicos e políticos por todos os lados”. A lei federal 4.771/1965 estabeleceu a necessidade de áreas de preservação permanente destinadas a conservar “os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da flora e da fauna, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Tal lei diferencia a faixa de preservação para as margens dos rios e lagos. No caso dos rios, 500 metros da margem tem que ser preservados, enquanto as beiras dos lagos contam com apenas 50m de área protegida. Segundo Henrique Wittler, chamar o Guaíba de lago criaria a possibilidade de utilizar um espaço dez vezes maior para especulação de uma área extremamente valorizada por oferecer uma paisagem atraente e ambiente natural. Os frutos dessa política já foram concretizados em shoppings centers e empreendimentos residenciais de alto padrão planejados por grandes construtoras e empresas imobiliárias com o consentimento da prefeitura. Segundo o Dicionário Geológico-Geomorfológico, de Antônio T. Guerra , um rio é uma corrente líquida resultante da concentração do lençol de água num vale. Um curso de água pode, em toda sua extensão, ser dividido em três partes: 1 – curso superior, 2 – curso médio, e 3 – curso inferior. Pode ser definido pelo talvegue, pelas vertentes e pelos terraços. Um rio constitui, por conseguinte, a reunião do lençol de água numa calha cujo declive contínuo permite uma hierarquização na rede hidrográfica. Os rios possuem várias cabeceiras que dão origem ao seu curso e recebem vários afluentes. São limitados lateralmente pelas margens e pelas vertentes às quais dão a forma. Ainda segundo Antônio T. Guerra, um lago é uma depressão produzida por causas diversas e cheia de águas confinadas, mais ou menos tranquilas, pois dependem da área ocupada pelas mesmas. As formas, as profundidades e as extensões dos lagos são muito variáveis. Geralmente são alimentados por um ou mais rios afluentes. Possuem também rios emissários que evitam o seu transbordamento. O Guaíba apresenta alguns elementos descritivos de três tipos de ambientes: rio, lago e estuário. Dentre os parâmetros descritivos, a forma, a dinâmica das águas e dos sedimentos usualmente são utilizados para uma classificação por pesquisadores, mas geram resultados controversos. Mesmo os estudiosos mais renomados de suas áreas discordam quanto à definição precisa do Guaíba; isso porque ele possui características tanto de rio como de lago, sendo a hierarquia desses critérios controversa. A maior parte do esgoto de Porto Alegre é despejada in natura no Guaíba, na altura da chaminé do Gasômetro, considerando a existência de correnteza rio abaixo. Desse debate, fica claro que o que importa é defender a sustentabilidade e o uso público desse corpo d’água, independente do nome com que seja identificado. referência: GUERRA, Antônio José Teixeira. Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 1997; SILVA, Juremir Machado da. Marx e os Lagos. Correio do Povo, Porto Alegre, p. 2, 02 mar. 2009 Disponível em <https://poavive.wordpress.com/2009/03/03/marx-e-os-lagos/> Acesso em 20 fev. 2015; WITTLER, Henrique. A história de uma grande farsa. Slideshow disponível em <https://poavive.wordpress. com/2009/04/06/guaiba-rio-ou-lago/>. Acesso em 20 fev. 2015.


CapĂ­tulo

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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

DA TEORIA À PRÁTICA A POLÍTICA DA ECOLOGIA a] Observe o quadro abaixo. Pesquise os termos que você não conhece. b] Decida: como devemos chamar o Guaíba? Por quê? c] Como você usa o Guaíba? Considere as possibilidades listadas nas legendas do mapa das bacias hidrográficas da RMPA. d] Quais são os rios que desaguam no Guaíba? Quadro 5: Guaíba: rio ou lago? Argumentos para a denominação de rio

Argumentos para a denominação de lago

Desnível entre a cabeceira e a foz

Não possui as três divisões de um rio ao longo do curso (superior, médio e inferior)

Constante fluxo das águas dos seus afluentes pelo seu leito até desaguarem na Lagoa dos Patos

Mudanças de nível conforme a intensidade do vento sul invertem a direção do fluxo

Correnteza que causa assoreamento nos canais, exigindo constante dragagem a fim de possibilitar a navegação de maior porte

Possui também correntes transversas Possui sedimentação e vegetação de margem características de lago

Antes de atingir a foz, o rio faz uma curva acentuada para leste, provocando erosão e maior profundidade: este padrão de curva está presente na maioria dos rios

Preenche uma falha do maciço granítico Alargamento do corpo d’água em certos pontos 85% da água do Guaíba não fluem, ficam retidas

Fonte: MENEGAT, Rualdo & CARRARO, Clóvis. Manual para saber por que o Guaíba é um lago. Porto Alegre: Armazém Digital, 2009. Modificado por Lucas Stanislawski Silva


7 Unidades de Conservação

As Unidades de Conservação (UCs) são áreas destinadas à preservação dos ecossistemas naturais, possuem limites definidos e existem sob um regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção29. É por Raquel Chites a principal proposta para diminuir os efeitos de degradação de ecossistemas, no Brasil. Essas áreas são criadas para manter a diversidade biológica e os recursos genéticos no país, proteger as espécies ameaçadas de extinção, preservar e restaurar a diversidade de ecossistemas naturais e promover a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. As UCs podem ser criadas pelo poder público, em suas esferas federal, estadual e municipal. Elas podem ser unidades de proteção integral ou unidades de conservação de uso sustentável. As unidades de proteção integral não podem ser habitadas pelo homem, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, em atividades como pesquisa científica e turismo ecológico, por exemplo. Existem cinco tipos de unidades de conservação de proteção integral: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Natural, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. Cada categoria tem uma função diferente: na “reserva biológica”, só são permitidas atividades de pesquisa; na categoria “estação ecológica”, são permitidas atividades de pesquisa e educação ambiental em somente 5% de toda a sua área; já nos “parques” são permitidas atividades de pesquisa, educação ambiental e turismo, conforme o zoneamento definido nos planos de manejo30. Todas as unidades de conservação necessitam de planos de manejo para o seu melhor funcionamento. Esses planos definem o zoneamento da unidade, caracterizando os usos possíveis. As unidades de conservação de uso sustentável admitem a presença de moradores. Elas têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais31. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de conservação: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural. Essas áreas visam conciliar a exploração do ambiente com a garantia de perenidade dos recursos naturais renováveis considerando os processos ecológicos, de forma socialmente justa e economicamente viável32. As Áreas de Proteção Ambiental e Reserva Particular de Patrimônio Natural são as únicas unidades que podem ser criadas em áreas dentro de propriedades privadas, onde, por lei, as restrições de uso são grandes, sendo permitidas somente atividades não degradadoras do ambiente. No mapa a seguir, podemos visualizar as Unidades de Conservação existentes na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). 29 Ver também: ASSOCIAÇÃO O ECO. O que são unidades de conservação. Disponível em <http://www.oeco.org. br/especial/27099-o-que-sao-unidades-de-conservacao> Acesso em 20 fev. 2015. 30 PATRIOTA, Patrícia. A importância das Unidades de Conservação para a biodiversidade. Disponível em <http://ambientalsustentavel.org/2011/a-importancia-das-unidades-de-conservacao-para-a-biodiversidade/> Acesso em 20 fev. 2015. 31 SILVEIRA, Alex. Unidades de conservação de uso sustentável. Disponível em <http://www.wwf.org.br/ natureza_brasileira/questoes_ambientais/unid/unid_us/> Acesso em 20 fev. 2015. 32 INSTITUTO CHICO MENDES. Unidades de Conservação. Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/portal/ biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros.html>. Acesso em 20 fev. 2015.


Figura 19: Mapa das Unidades de Conservação na RMPA (2014) Fonte: IBGE – elaborado por Isabel Rekowsky



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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Observa-se na RMPA quatro Unidades de Conservação de Proteção Integral: Parque Estadual de Itapuã, criado com o objetivo de proteger uma das últimas amostras dos ambientes originais da Região Metropolitana de Porto Alegre, como campos, dunas, lagos, ilhas, praias e morros; Parque Estadual do Delta do Jacuí, composto por 30 ilhas e áreas continentais, tem como objetivo preservar os ecossistemas naturais, promover pesquisas científicas, realizar educação ambiental e desenvolver turismo ecológico; Parque Natural Municipal Morro do Osso, faz parte da cadeia dos morros graníticos existentes em Porto Alegre e localiza-se próximo à margem do Lago Guaíba. Possui 220 hectares de área natural e constitui-se num importante reduto biológico; Reserva Biológica do Lami José Lutzemberger, abriga matas ciliares, banhados, juncais, matas de restinga, maricazais, vassourais e campos arenícolas, contribui também para variedade de espécies de flora e fauna, permitindo o crescimento de mais de 300 espécies vegetais nativas e um número muito superior de espécies animais. São também encontradas seis Unidades de Conservação de Uso Sustentável, sendo quatro Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) (Capão Grande, Mariana Pimentel, Costa do Serro e Rincão das Flores) e duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs). A APA do Banhado Grande é uma das áreas úmidas mais importantes do Rio Grande do Sul, conhecida pela grande diversidade de aves, especialmente as migratórias, sendo considerada por especialistas como de relevância para a conservação global; e a APA do Delta do Jacuí, que é constituída de terras públicas e privadas, com ecossistemas característicos de banhados, matas e campos inundáveis. Esta APA envolve as ilhas da Pintada, Grande dos Marinheiros, Flores e Pavão e regiões continentais do Baixo Jacuí, habitadas por populações tradicionais do Delta, em sua maioria pescadores, e apresenta sobreposição de área com o PE do Delta do Jacuí. No mapa da página anterior, também podemos observar uma área de terras indígenas, a reserva do Cantagalo, de etnia mbyá-guarani. A RMPA abriga várias áreas de reservas e aldeias indígenas de etnias kaingang, charrua e mbyá-guarani. As reservas indígenas são terras demarcadas e legalizadas, onde é possível a preservação dos usos e costumes da tribo que ali habita. Há áreas ocupadas por índios que não são reservas reconhecidas ainda por decreto de lei. Muitas aguardam regularização dos governos ou estão em disputas judiciais pela posse das terras. Algumas aldeias localizam-se em acampamentos nas margens de estradas, como é o caso de assentados guaranis em Viamão e Barra do Ribeiro. Em Porto Alegre podemos destacar, além da reserva do Cantagalo, as aldeias de etnia mbyá-guarani da Lomba do Pinheiro, Lami e Itapuã (esta pertencente ao município de Viamão). De etnia kaingang podemos citar as aldeias do Morro do Osso, do bairro Agronomia e também da Lomba do Pinheiro. Já os charruas estão assentados na aldeia Polidoro, no extremo sul de Porto Alegre33.

33 GEHLEN, Ivaldo & SILVA, Sergio Baptista da (coords.) Estudo quantitativo e qualitativo dos coletivos indígenas em Porto Alegre e regiões limítrofes. Porto Alegre: Laboratório de Observação Social-LABORS; Núcleo de Antropologia das Sociedades Indígenas e Tradicionais-NIT – IFCH/UFRGS, 2008. Disponível em: <http://lproweb. procempa.com.br/pmpa/prefpoa/fasc/usu_doc/relatoriofinal2.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2015


8 O rural metropolitano por Éverton de Moraes Kozenieski

A Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) apresenta traços marcantes em suas dinâmicas urbanas, em que se destacam as atividades econômicas e formas urbanas de viver. Cabe considerar, contudo, que a RMPA não é caracterizada apenas pelas dinâmicas urbanas, pois, por mais contraditório que possa parecer, os espaços rurais estão presentes e têm importantes significados. Você já parou para pensar de onde vêm os alimentos que você consome? Em que local é produzida a alface de nossas refeições? O arroz e tantos outros alimentos que encontramos nos mercados, quem os produz? Prestar atenção nos aspectos rurais da RMPA traz pistas para essas questões. O primeiro aspecto que podemos destacar sobre o rural da RMPA é que ele apresenta uma série de particularidades, resultado de processos históricos, econômicos, culturais e ecológicos. Muitos bairros que hoje compõem a malha urbana da RMPA foram, em um passado recente, localidades com características rurais, transformados em função da expansão urbana. O bairro da Azenha em Porto Alegre, atualmente importante subcentro comercial da cidade é um exemplo, pois abrigou migrantes açorianos no século XVIII que, entre outras atividades, ali cultivavam trigo. O nome do bairro é uma alusão aos moinhos (azenhas) de trituravam o trigo, transformando-o em farinha. Outros bairros ou comunidades conservam nomes que remetem ao seu passado rural, características que conferem identidade diferenciada a cada um. Para além das particularidades, existem aspectos comuns entre os estabelecimentos rurais da RMPA. A estrutura fundiária, por exemplo, apresenta unidades de produção de pequenas dimensões, pois, conforme o Censo Agropecuário de 2006, dos 58.838 estabelecimentos rurais existentes, quase 51% apresentam dimensões inferiores a 10 hectares e apenas cerca de 8% possuem área maior que 50 hectares34. Cabe ressaltar que 87,25% dos estabelecimentos contam com o produtor residindo na unidade de produção, e 84,362% dos estabelecimentos tem o produtor como proprietário. Modalidades como assentados sem titulação definitiva, arrendatários, parceiros, ocupantes e produtores sem área apresentam menor expressividade. Essas informações caracterizam um espaço rural que, para além de espaço de produção de bens e serviços, é lugar de vida para muitos dos 167.106 habitantes da área rural da RMPA. Do ponto de vista das atividades econômicas desenvolvidas, destaca-se o rural com características produtivas, no qual há centralidade nas práticas agropecuárias. A figura 12 (página 65) nos auxilia a identificar onde tais atividades têm maior importância. Destacam-se as áreas a leste e a oeste, naqueles municípios de maior extensão territorial, enquanto o eixo norte-sul, é voltado a indústria e serviços. As lavouras temporárias, comparado com as demais atividades agropecuárias, têm significativa presença na RMPA, pois 23.783 estabelecimentos rurais têm como principal atividade econômica o cultivo de gêneros alimentícios desse tipo, entre os quais se destacam: milho em grão, mandioca e feijão preto, do ponto de vista da expressiva presença produtiva em estabelecimentos; arroz em casca e o fumo em folha seca, devido ao valor da produção; e o arroz em casca e milho em grão, devido à área colhida. A pecuária e criação de outros animais também têm destaque, pois se estima que existam 19.990 estabelecimentos nesse grupo de atividades econômicas. Encontram-se na RMPA, por exemplo, 15.694.837 aves, 793.233 cabeças bovinas e 396.257 suínos. 34 Um hectare equivale a 10.000m², dimensões aproximadas de um campo de futebol.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

A horticultura, apesar de ser menos significativa do ponto de vista da principal atividade econômica dos estabelecimentos, também está presente. A RMPA produz mais de dez mil toneladas de alface, batatadoce, cenoura, couve-flor, repolho e mudas para propagação de outras culturas por ano. A produção chega até o consumidor através de diferentes cadeias produtivas. Parte dos produtos é comercializada nas Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (CEASA), local onde os supermercados e restaurantes adquirem os alimentos. Outra parte é, contudo, integrada diretamente a agroindústrias que beneficiam os produtos, como no caso do arroz. Existe também um conjunto de iniciativas que buscam a venda dos produtos agrícolas em cadeias produtivas mais curtas, ou seja, apostam na redução de intermediários entre o produtor e o consumidor, que podem ser exemplificadas por cadeias de supermercados que compram diretamente do produtor ou, pelas feiras livres, onde o consumidor adquire os produtos agropecuários diretamente com o "chacreiros”35. O rural não é apenas o local de produção primária. Nele há também espaços destinados ao lazer, ao turismo rural e à segunda residência (sítios usados em fins de semana). Em diversas situações os moradores da cidade buscam fugir da rotina, do ritmo frenético das cidades e encontram, no rural locais com amenidades, nos quais é possível descansar e se divertir. Inúmeros sindicatos e associações de empregados possuem, por exemplo, sedes campestres, em que realizam confraternizações entre seus filiados. As escolas também costumam realizar passeios e atividades pedagógicas nesses espaços. Nesse mesmo sentido, o turismo rural configura-se como uma importante fonte de renda para os moradores do campo da RMPA, como é o caso dos Caminhos Rurais em Porto Alegre. Na área rural da RMPA estão presentes também diversas ações que visam a proteção do ambiente, a conservação de espécies raras e nativas. As formas de intervenção dos agricultores da RMPA, ao longo de séculos, proporcionaram a preservação de diversas características naturais, diferentemente dos que ocorreu no urbano. Hoje, existem nos morros de Porto Alegre, fauna e flora preservadas (com destaque para os bugios). Há no espaço rural um patrimônio ambiental significativo como refúgio da biodiversidade da RMPA. A importância do rural da RMPA é notória, contudo são muitos os aspectos que vêm contribuindo para a transformação desses espaços. Podemos citar o papel da especulação imobiliária, da valorização do solo e da incorporação de diversos espaços rurais à cidade. Os agentes produtores do espaço urbano atuam não apenas nas cidades, eles buscam também, junto às franjas das cidades, incorporar novas áreas à produção do espaço urbano. Nas últimas décadas diversas unidades habitacionais, destinadas a diferentes níveis de renda, desde habitações de interesse social aos grandes condomínios fechados de luxo, foram construídas no que, até então, designava-se como rural, evidenciando as transformações dos espaços rurais. Assim, os espaços rurais vêm reduzindo sua área em prol da expansão urbana. Essas transformações colocam em xeque a produção agropecuária da RMPA. Tal circunstância por si torna-se alarmante, pois dificulta a manutenção de uma atividade econômica essencial a todos e que está nas bases da história de nossa região metropolitana. Além disso, a diminuição do rural impacta nos modos de vidas da população, nas relações sociais e culturais que caracterizam as áreas rurais, além de colocar sob tensão o patrimônio ambiental da RMPA36. 35 Forma pela qual muitos agricultores são conhecidos. Tem origem na designação local dada aos estabelecimentos rurais, as "chácaras". 36 KOZENIESKI, Éverton de M. O Rural agrícola na metrópole: o caso de Porto Alegre/RS. Dissertação (Mestrado). PPG-Geografia, Instituto de Geociências, UFRGS, Porto Alegre, 2010. Disponível em <http://hdl.handle.net/10183/25549>. Acesso em 20 fev. 2015.


9 Lixo: poluição ou geração de renda?

por Raquel Chites

O Brasil produz aproximadamente 230 mil toneladas de resíduos por dia. Cada brasileiro gera, em média, 500 gramas de resíduos diariamente, podendo chegar até a mais de 1 kg, dependendo do poder aquisitivo e local em que mora37. Segundo Liz Sobarzo, resíduo sólido pode ser classificado, segundo sua origem, como: domiciliar: originário das residências, sendo em sua maioria restos de alimentos, embalagens, papéis, garrafas e uma grande diversidade de outros itens; comercial: originado dos diversos tipos de estabelecimentos comerciais e de serviços; industrial: correspondem aos resíduos gerados nos diversos tipos de indústrias de processamentos; público: coletados pelos serviços de limpeza pública urbana, incluindo resíduos de varrição de vias públicas, podas de árvores etc; hospitalar: são resíduos oriundos de serviços de saúde, contém ou podem conter germes patogênicos; de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: são constituídos por material de higiene, alimentação, de pessoas que utilizaram esses serviços. Podem conter germes patogênicos e veicular doenças para outros estados ou países; agrícolas: resíduos sólidos das atividades agrícolas e da pecuária, como embalagens de adubos, de defensivos agrícolas e de ração, restos de colheita etc. entulho: resíduos da construção civil – demolições e restos de obras, solos de escavações etc.38 Para tentar solucionar o problema do lixo gerado, a reciclagem de resíduos sólidos se apresenta como uma das principais alternativas. Ao invés de retirar a matéria-prima da natureza, reciclam-se materiais já existentes que foram descartados e, a partir desses, obtém-se um novo produto. Além disso, a reciclagem contribui para a diminuição da poluição, evitando o descarte. A reciclagem também gera renda para os trabalhadores. Segundo dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (CEMPRE), o volume de lixo urbano reciclado aumentou nos últimos anos, chegando atualmente a 13% dos resíduos gerados nas cidades. A maior parte dos resíduos coletados nas áreas urbanas no Brasil tem como destino final aterros sanitários e uma parte significativa vai para lixões. O lixão é uma área a céu aberto em que simplesmente se joga o lixo em grandes quantidades, sem nenhum tratamento. Esse é o pior lugar para se destinar os resíduos e deve ser extinto, pois se torna foco de doenças, polui o entorno e o lençol freático. 37 Impactos socioambientais do lixo produzido no município de Pau dos Ferros/RN. Disponível em: <http://www. slideshare.net/aldrichgodeiro/artigo-impactos-socioambientais-do-lixo> Acesso em 20 fev. 2015. 38 SOBARZO, Liz Cristiane Dias. Resíduos Sólidos: do conhecimento científico ao saber curricular – a releitura do tema em livros didáticos de Geografia. 2008. 344 p. Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, 2008.



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Lixo: poluição ou geração de renda?

A organização de pessoas em associações ou cooperativas com o objetivo de separar o material reciclável e depois vendê-lo é uma opção de geração de trabalho e renda para uma parcela da sociedade, em geral carente de melhores opções de trabalho. Existem catadores de lixo independentes e grupos não legalizados que separam individualmente volumes pequenos, mas que somados acabam se tornando significativos. Eles se especializam em latas de alumínio, papel e outros tipos de resíduos mais valorizados. Os grupos de reciclagem legalizados podem ser associações, cooperativas ou microempresas, com diferentes possibilidades de vincular-se a empresas e prefeituras. Tabela 3: População X Média mensal de material reciclado Cidade

Média mensal de material reciclado

População

Média por habitante

Campo Bom

122.505 Kg

60.081

2,03 Kg

Canoas

27.643 Kg

324.025

0,08 Kg

Dois Irmãos

81.457 Kg

27.572

2,95 Kg

Nova Hartz

37.647 Kg

18.346

2,05 Kg

São Leopoldo

17.584 Kg

214.210

0,08 Kg

Sapiranga

173.873 Kg

75.020

2,31 Kg

Fonte: REDE PARCEIRA SOCIAL. Relatórios Fundação Vonpar (2009).

Na tabela 3, observamos grandes diferenças na quantidade de material reciclado entre os municípios, que se devem às diferentes formas de organização da coleta e reciclagem. As prefeituras contam, geralmente, com departamentos de limpeza urbana, como o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) em Porto Alegre. A coleta seletiva do lixo urbano pode ser feita também através de empresa terceirizada, como na grande maioria dos municípios, ou ainda pelas próprias cooperativas de reciclagem. A cidade de Porto Alegre possui um dos melhores programas de coleta seletiva do Brasil. O programa foi iniciado em 1990. A coleta seletiva de lixo é hoje realizada por empresa terceirizada e o material coletado é entregue para associações/cooperativas de recicladores existentes no município. A coleta de lixo domiciliar (orgânico) em Porto Alegre é feita por empresa terceirizada, que recolhe para a Estação de Transbordo da Lomba do Pinheiro uma média diária de 1.100 toneladas de resíduos. Nessa estação existe uma associação de reciclagem que separa os recicláveis misturados no lixo orgânico. Também existe no local um sistema de reaproveitamento dos resíduos orgânicos pelo método da compostagem. Esse processo é um modo natural de decomposição da matéria orgânica, que gera um composto que pode ser utilizado na jardinagem e na agricultura para melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. O restante vai para o aterro sanitário de Minas do Leão. Na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), Canoas foi uma das pioneiras na organização de alternativas geradoras de renda através da coleta de lixo seletivo: em vez de pagar uma empresa terceirizada para fazer a coleta, entregou-a, em 2010, às cooperativas de reciclagem do município. Para executar esse


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

serviço, as cooperativas recebem apoio financeiro da prefeitura. Desde a mudança, a coleta melhorou, chega mais e melhor material nos grupos. Em 2009, a média de material separado variou entre 20 e 40 toneladas, dependendo do grupo. Dois Irmãos é outra cidade modelo nesse sentido. O grupo de cooperativas faz a coleta dos resíduos sólidos na cidade, faz a triagem do material e, além disso, beneficia os resíduos plásticos. Ao invés de venderem os plásticos para empresas beneficiarem, eles mesmos fazem o processo, o que lhes permite aumentar os ganhos com o trabalho. Na região, as cooperativas de Campo Bom e Nova Hartz também beneficiam materiais plásticos. Outras cidades da RMPA não possuem coleta seletiva, como é o caso de Campo Bom. A coleta do lixo no município é mista (resíduos sólidos e orgânicos juntos), porém existem pontos de entrega voluntários, onde os moradores podem deixar os resíduos sólidos, que serão destinados diretamente para a cooperativa. Mesmo não havendo coleta seletiva, a quantidade de material separado para ser reciclado é representativa (ver tabela 3, na página anterior).

DA TEORIA À PRÁTICA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS Responda às questões abaixo. a] O seu município possui coleta seletiva? Você sabe o destino do lixo gerado na sua cidade? Pesquise. b] Você costuma separar o lixo entre orgânico e seco? E no lugar em que você estuda, há essa preocupação? c] Qual a importância de separarmos o lixo? Qual o destino correto para cada tipo de lixo?


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Lixo: poluição ou geração de renda?

ATErrO SAnITÁrIO E ATErrO cOnTrOLADO O aterro sanitário de Minas do Leão é o principal destino do lixo que não pode ser reciclado na RMPA. Ele está localizado a 80 Km de Porto Alegre, em uma área de 500 hectares, dos quais 40 estão sendo utilizados na operação. O destino dado ao lixo que não pode ser reciclado é de extrema importância, pois sua disposição incorreta pode gerar danos ao ambiente. O aterro sanitário é a melhor opção, mas também observamos a ocorrência de aterros controlados e lixões. Os aterros sanitários (figura 20) contam com um sistema de drenagem de efluentes líquidos (conhecido como chorume) acima de uma camada impermeável de plástico (polietileno de alta densidade) que cobre o solo compactado. São cuidados que visam impermeabilizar o fundo do aterro, evitando a contaminação dos lençóis freáticos, rios, solo etc. O aterro deve contar ainda com um sistema de drenagem de gases que possibilite a coleta do biogás formado pela decomposição dos resíduos. Figura 20: Aterro Sanitário.

Fonte da figura: MENEGAT, Rualdo. Atlas ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.


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10 Áreas verdes, espaços de lazer e cultura

por Raquel Chites

É comum ouvirmos comparações entre a qualidade de vida das cidades tendo como parâmetro os índices de arborização. As áreas verdes urbanas são importantes, pois proporcionam melhorias no ambiente excessivamente impactado das cidades e benefícios para os seus habitantes. São consideradas áreas verdes os locais onde há o predomínio de vegetação arbórea, englobando as praças, os jardins públicos e os parques urbanos. São vários os benefícios dessas áreas, ecologicamente falando. A presença da vegetação, do solo não impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada promovem melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo. Além disso, há a função social, pois promovem o lazer39. As áreas verdes também são importantes como espaços públicos, lugares de encontro, lazer, cultura e práticas de cidadania. A vida urbana está intimamente relacionada com a quantidade, a qualidade e a distribuição de parques, praças e áreas públicas dentro da malha urbana. Podemos ter um alto índice de áreas verdes em uma determinada cidade, mas quando vamos observar onde estão localizadas essas áreas, constatamos que a grande maioria delas está nos bairros de classe alta. Além disso, moradores da periferia, onde há uma carência maior dessas áreas, não possuem acesso a clubes de lazer particulares e seus quintais internos são pequenos ou mesmo inexistentes, tendo muitas vezes que praticar esporte ou desenvolver algum tipo de recreação nas ruas do seu bairro. Analisando as áreas verdes em Porto Alegre, percebe-se sua distribuição desigual na cidade. Na região central e proximidades, as áreas verdes são abundantes e bem distribuídas. A menor quantidade de praças e parques é evidente nas extremidades ao sul da cidade, em bairros como Belém Novo, Lami, Chapéu do Sol, Ponta Grossa e Lajeado. No entanto, deve-se ressaltar que isso é devido ao perfil rural da região, que pode ser conhecido através do roteiro turístico dos Caminhos Rurais. Já na região Nordeste há uma quantidade menor de áreas verdes do que no conjunto geral, mas sem o perfil rural da região extremo sul. Percebe-se no município de Porto Alegre que nos locais mais afastados do centro e na periferia o número e o tamanho dos parques e praças diminuem. Mesmo a zona Sul, de perfil rural, tem uma população numerosa, com grande número de crianças e adolescentes, que costumam utilizar mais essas áreas. Algo semelhante é verificado no município de Novo Hamburgo. Considerando a área urbana da cidade, ela possui poucos parques e um número razoável de praças. Porém, analisando a localização delas verifica-se que a grande maioria fica próxima ao centro da cidade. Já nos bairros periféricos, com grande concentração populacional, essas áreas são poucas e algumas vezes mal preservadas. Como em tantos aspectos da vida urbana, observa-se a transformação gerada pelo transporte individual. Em primeiro lugar, é comum a transformação de áreas de lazer em estacionamentos. As avenidas de trânsito intenso expulsam as crianças das ruas, extinguem o futebol de várzea. Alegando ameaças à 39 CAPOROSO, Danúbia & MATIAS, Lindon Fonseca. Áreas Verdes Urbanas: avaliação e proposta conceitual. 2008. Rio Claro. Anais. 1º Simpósio de Pós-graduação em Geografia do Estado de São Paulo SIMPGEO/SP. Rio Claro, 2008.


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segurança, grande parte das atividades de lazer deixa de acontecer em espaços de acesso livre e gratuito e passa para as áreas verdes dos condomínios fechados ou para as praças de alimentação e de recreação em shopping centers. A privatização e a mercantilização dos espaços de lazer leva a um abandono do espaço público, à polarização entre as exclusivas áreas desejadas e as áreas perigosas e cada vez mais negligenciadas.

DA TEORIA À PRÁTICA ESPAÇOS DE LAZER 1. A partir da realidade do seu bairro, responda: a] Há uma grande quantidade de áreas verdes? Liste as principais. b] Para que fins elas são utilizadas? Possuem locais para lazer? Brinquedos? Espaço para a prática de esportes? c] Onde você se diverte? Você paga para entrar nesses lugares? c] Elas são perigosas? Existem horários em que é melhor não frenquentá-las? 2. Elabore um plano de implantação de uma área verde em seu bairro. Pense no local, e nos equipamentos e na justificativa que você vai dar para sua criação.


11 A segurança e a convivência

por Pâmela Bergonci

Entre os desafios atuais das regiões metropolitanas, encontra-se a questão da segurança. A violência acontece em todos os espaços, vem de todos os lados, afeta ricos e pobres, mesmo que de formas diferentes. Ainda assim, os programas de combate à violência visam às populações com menos recursos. Hoje, há diversas formas de lutar contra a violência, e a mais comum é através do chamado controle social. O controle social é formado, por exemplo, pela presença das polícias nas ruas, pelo combate ao crime organizado, pelas fiscalizações contínuas, pelas câmeras de vigilância, entre outros. Essa forma é a mais convencional e a que, acredita-se, dê mais resultado em curto tempo. Você acha que a forma, a iluminação, os usos ou a idade das pessoas que frequentam faz diferença na segurança que se sente em um lugar? Essa é a ideia que guia as intervenções na cidade, de certa forma materializando a ideia de que “a situação faz o ladrão”. Maria Julieta Souza e Rose Compans (2009) citam a iluminação pública, o traçado das vias, a redução do tamanho de quadras, a ampliação dos usos, o cercamento de áreas, a diversificação de usos, os cuidados com a qualidade da paisagem, como ajardinamento e pavimentação de calçadas, e a ampliação de janelas e aberturas como intervenções nas ruas e construções capazes de aumentar a segurança de seus frequentadores40. Teorias mais complexas sobre a relação entre segurança e espaço público combinam ações sobre o espaço físico com o reconhecimento da importância da comunidade, buscando associar: a. a vigilância, transmitindo ao delinquente a sensação de estar sendo vigiado; b. o aumento na permanência e movimentação de pessoas no local; c. o reforço à identificação da comunidade com o espaço por ela habitado e, finalmente, d. o controle comunitário e estatal das entradas e da permanência de pessoas nos lugares a serem assegurados. Outra forma bem conhecida de lutar contra a violência é através dos projetos sociais. Eles buscam combater a violência indiretamente, evitando que o jovem se insira em um universo de crimes. A faixa etária alvo desses projetos encontra-se entre os 12 e os 24 anos, idade em que se considera possível “resgatar” esses jovens, mostrando-lhes outros caminhos a serem seguidos. Os “Territórios da Paz” e as “Unidades de Pacificação” são exemplos de políticas com esse carácter. Os projetos sociais buscam encaminhar esses jovens para programas de qualificação profissional, ensino de línguas estrangeiras, encaminhamento do primeiro emprego, aulas de esportes, de música, de dança e lições de cidadania, como os direitos e deveres de cada um de nós. Assim dá-se a chance ao jovem de, conhecendo as possibilidades e outros caminhos possíveis, fazer uma escolha em relação ao seu futuro. O Território da Paz de Guajuviras, em Canoas, é uma dessas ações. Aí observamos a ação da prefeitura, não só com a instalação de câmeras, como também com projetos para a população local. A questão da segurança e as formas encontradas para melhorá-la estão cercadas de preconceitos, muitos deles espaciais. Quando falamos em segurança e violência logo pensamos em assaltos, armas, homicídios e em locais pobres e degradados. Devemos cuidar para não criminalizar populações inteiras com base em seu endereço. 40 SOUZA, Maria Julieta Nunes de Souza & COMPANS, Rose. Espaços urbanos seguros: a temática da segurança no desenho da cidade. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. v. 11, n. 1, maio 2009.



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A segurança e a convivência

E as outras violências? Aquelas que já foram absorvidas no nosso dia a dia? Em diferentes escalas promovemos violências de muitas formas, seja negando o lugar do idoso no ônibus, explorando o trabalho das esposas e mães ou ficando indiferente diante dos grandes roubos de dinheiro público. Infelizmente, em nosso país, a questão da segurança não é vista ainda na sua profundidade: tudo é uma questão de respeito, respeito por si e pelos outros. Para evitar que a violência cresça cada vez mais precisamos refletir sobre nossos próprios erros e o quanto o nosso olhar está viciado em rotular as pessoas pela cor e o local onde moram. Assim temos que tentar tratar as pessoas para além das suas roupas ou bens materiais ou endereço, mas sim pelo respeito que todo o ser, humano ou não, merece. Precisamos ainda entender que a construção da sociedade e da cidadania se faz pelos laços que a convivência na cidade proporciona. Todas as práticas de segregação urbana e de produção de um espaço urbano injusto provocarão reações tão violentas quanto as exclusões que a própria cidade gera.

DA TEORIA A PRÁTICA SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA Observe o mapa abaixo: Figura 21: Mapa de homicídios na RMPA (2014).

Fonte: DEC-SSP/RS. Elaborado por Jurley Ribeiro

Responda: a] Segundo o mapa, quais são os municípios com mais homicídios consumados a cada 100 mil habitantes na RMPA (consulte outros mapas deste livro)? b] Como os homicídios se relacionam à segregação socioespacial? c] Pesquise iniciativas para a redução da criminalidade nesses municípios. Pesquise: Qual é o número de homicídios por 100 mil habitantes considerado normal pela Organização Mundial de Saúde (OMS)?



12 Transporte e circulação por Rodrigo Rodrigues Silveira

Ao olharmos o mapa da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) e sua mancha urbana, fica evidente um eixo sul-norte a partir de Porto Alegre até os municípios de Ivoti, Dois Irmãos e Sapiranga. Essa mancha urbana se acomoda à geomorfologia da região, ocupando em sua maior parte a planície do rio dos Sinos. O espaço metropolitano tem sido articulado pela ligação férrea entre Porto Alegre e São Leopoldo e seus eventos desde 1824 até os dias atuais. Analisaremos os seguintes períodos: De 1824, quando se estabelece a colônia alemã no Vale dos Sinos, até 1874, com a conclusão da ferrovia São Leopoldo – Porto Alegre; De 1874, início da operação de transporte férreo, até 1980 com a desativação do trecho; De 1980, início da construção da linha 1 do Trensurb e sua operação, a partir de 1985, até 1997, quando o trecho compreendia Porto Alegre – Sapucaia do Sul; De 1997, início da extensão da linha para São Leopoldo, concluída em 2000, e sua continuidade até Novo Hamburgo no presente. Considera-se o ano de 1772 como marco da fundação de Porto Alegre, quando o povoamento primitivo foi reconhecido como freguesia pela colônia. Por outro lado, com a criação da colônia alemã, em 1824, no vale médio do Rio dos Sinos, o povoamento se concentrou perto do rio, a fim de aproveitá-lo para o transporte fluvial, configurando-se assim o espaço, que por razões comerciais, tornou-se o centro do povoado. Rapidamente, a colônia alemã prosperou e passou a ser o celeiro da Capital da Província, Porto Alegre, produzindo alimentos e alguns artigos manufaturados. Porém, todo o transporte de mercadorias era feito pelo rio dos Sinos, o que limitava o desenvolvimento e a expansão da emergente colônia. Em abril de 1874, na seção da estrada entre Porto Alegre e São Leopoldo, foi inaugurada a linha férrea com 33,7 km de extensão e com seis estações. Eram elas: Porto Alegre, Navegantes, Gravataí (posteriormente denominada Augusto Pestana), Canoas, Sapucaia e São Leopoldo41. Ou seja, tanto para escoar quanto para receber mercadorias e pessoas, a Capital dependia do trecho original entre ela e a colônia alemã. Esse é um fato que reforça a centralidade e a estruturação da futura RMPA no seu eixo norte. Nesse momento, em 1875, chegam os colonos italianos estabelecendo-se ao norte da colônia alemã, no planalto. Para lá se dirigiu a via férrea, tornando este eixo cada vez mais denso e estruturante. O ano de 1959 representa o auge da malha da Viação Férrea do estado do Rio Grande do Sul. Ele precede a inauguração de Brasília, em 1960, marco da modernização e do desenvolvimentismo brasileiro. A partir de então, assistimos a aceleração da mudança na matriz de transporte brasileira, seja de carga ou de pessoas, que passa a priorizar os transportes rodoviários. Isso resultou na precarização e mesmo 41 PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO DO RIO GRANDE DO SUL. Inventário das Estações: 1874-1959. 2002, p. 55.


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na desativação da linha férrea no trecho Porto Alegre – São Leopoldo, em 1980, marcando o final do segundo período. A abertura do terceiro período é também o da emergência para o transporte de massas dentro da RMPA no seu eixo histórico compreendido entre Porto Alegre e São Leopoldo. A Linha 1 do Trensurb, que iria de Porto Alegre até Novo Hamburgo, mas que acabou chegando apenas a Sapucaia do Sul, foi construída sobre o trajeto da antiga linha férrea entre a Capital e a antiga colônia alemã sediada em São Leopoldo. O Trensurb atualmente é administrado pela Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. Na construção do Trensurb, implantou-se a via em superfície, dividindo ao meio as cidades da RMPA entre Porto Alegre e São Leopoldo. A nova linha férrea não tem toda a sua extensão murada, não respeita o traçado nem a vida das cidades. Os trilhos do Trensurb pararam em Canoas porque a comunidade leopoldense não permitiu a divisão da cidade e também a alteração do sítio histórico da primeira estação férrea do interior do estado, construída em 1874. Após 22 anos de debates e discussões sobre a continuidade do sistema de transporte urbano, Trensurb, até São Leopoldo e posteriormente até seu objetivo inicial que seria Novo Hamburgo, em 1997, chega-se a um consenso da construção da via férrea em via elevada e preservando o sítio histórico da estação São Leopoldo. Esse evento caracterizou uma nova modernização, nesse caso no sistema técnico construtivo da via, marcando o início do quarto e último período. Esse quarto período teve seu início com o acordo entre a comunidade de São Leopoldo e a direção da Trensurb, o que gerou uma nova modernização, assim classificada por nós, no sistema técnico construtivo da via férrea tornando-a toda elevada a partir do trecho da Unisinos até a estação São Leopoldo, junto à antiga estação férrea de 1874. Essa modernização, não mais dividindo as áreas urbanas do eixo norte da RMPA, permitiu levar o Trensurb até Novo Hamburgo, finalizando em 2014, o que era o trajeto histórico da linha férrea do século XIX, trajeto que deu origem ao sistema ferroviário do Rio Grande do Sul. No capítulo a seguir, discutiremos outros meios de transporte e sua relação com o desenvolvimento da metrópole.


Transporte e circulação

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DA TEORIA À PRÁTICA SAÍDA DE CAMPO 2 Trensurb Local de encontro: Centro de Porto Alegre, Mercado Público. Estações para observações: – Se possível, vista elevada do vale do rio dos Sinos do Terraço do edifício do SESI. Parada 1: Estação Mercado (embarque): análise do início da urbanização de POA. crescimento da área portuária (hoje abandonada). Parada 2 :Estação São Pedro ou Anchieta (plataforma): crescimento da antiga área industrial de POA e suas formas e usos atuais. Vista de perfil do eixo da 3° perimetral. Parada 3: Estação Niterói (plataforma): análise do início da RMPA junto ao trem e à BR-116 (sua importância no surgimento e desenvolvimento das cidades junto ao trem). Geomorfologia (planície fluvial, antiga plantações de arroz), urbanização (construções de tamanho pequeno e médio), função (residencial). Parada 4: Estação Canoas/Unilasalle (saída da estação): antiga estação férrea (museu) e demais aspectos. Parada 5: Estação Sapucaia (plataforma): cidade-dormitório. Dependência de POA. *Observação do trecho entre as estações Sapucaia e Unisinos: trecho de recente processo de conurbação. Parada 6: Estação São Leopoldo (saída da estação): Museu do trem. Caminhada pelo centro da cidade. Imigração alemã.


13 A produção do espaço urbano para a Copa do Mundo por Mario Leal Lahorgue e Lucimar Fátima Siqueira

O espaço das cidades é o resultado de múltiplas forças e agentes: estado, capital, diferentes classes sociais, interesses imobiliários etc. Essa multiplicidade torna a cidade e as formas de ocupação de seu território algo dinâmico e em constante mudança. No entanto, existem momentos na cidade em que uma conjunção de forças e/ou eventos tem o poder de influenciar a maneira pela qual os habitantes ocupam o espaço e vivem suas vidas. Em Porto Alegre, assim como em outras cidades do Brasil, podemos afirmar que estamos passando por um desses momentos. Isso porque a cidade foi escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo FIFA 2014. Que efeitos e consequências isso traz para a cidade e os porto-alegrenses? As obras No dia 13 de janeiro de 2010, a União, por intermédio do Ministério do Esporte, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre assinaram um documento intitulado Matriz de Responsabilidades, com o objetivo de viabilizar a execução de ações governamentais consideradas necessárias à realização da Copa do Mundo. Na cláusula terceira, “das responsabilidades dos partícipes”, é possível ler que ao estado e/ou Município compete executar e custear obras referentes a: a) mobilidade urbana; b) entorno dos estádios; c) entorno dos aeroportos; d) entorno de terminais turísticos portuários. Quanto à União cabe executar e custear intervenções em: a) aeroportos: terminais de passageiros, pistas e pátios; b) portos: terminais turísticos. Uma coisa já chama a atenção, mesmo antes de se examinar as obras projetadas: mobilidade é sem dúvida a principal preocupação e alvo das intervenções das autoridades governamentais, seja porque aparece em primeiro lugar o item mobilidade urbana, seja porque se projetam obras no entorno de áreas concentradoras de população em trânsito. Em Porto Alegre as intervenções diretas da União ocorrem principalmente na ampliação e aumento da capacidade do aeroporto Salgado Filho. A maioria das obras está sob a responsabilidade direta do estado/município. Pois então, que obras foram acordadas pela Matriz de Responsabilidades? Ela está dividida em apenas duas partes: anexo A “mobilidade urbana” e anexo B “Estádio/Arena”. Como a reforma do Estádio Beira-Rio é uma obra privada, de responsabilidade do Sport Club Internacional e com pouca capacidade de alterar o espaço da cidade como um todo, não será objeto de atenção aqui.


A produção do espaço urbano para a Copa do Mundo

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O anexo A compreende obras no valor total previsto no início de 2010 de R$ 524,9 milhões (aproximadamente 340 milhões de dólares, pelo câmbio de julho de 2011), um volume de dinheiro para intervenções urbanas como há muito não se tinha notícia em Porto Alegre. Trata-se dos seguintes alargamentos e ampliações de vias, com seus respectivos valores: a) Corredor Avenida Tronco, com total de R$ 133,6 milhões: alargamento de via com extensão de 3,4 Km, contemplando 3 pistas para automóveis em cada sentido mais corredor exclusivo para ônibus. A Prefeitura considera remoções de mais de 1.500 famílias para a realização da obra. b) Duplicação da Av. Edvaldo Pereira Paiva com total de 5,8 Km e custo previsto de R$ 78,2 milhões. A avenida é uma importante via de ligação entre o centro da cidade e o estádio Beira-Rio, servindo também como alternativa de trânsito para automóveis que se dirigem para a zona sul da cidade. c) Corredor da Rua Voluntários da Pátria e terminal de ônibus São Pedro: R$ 30 milhões; via antiga e em alguns pontos deteriorada, de ligação entre o centro e a zona norte da cidade. Prevista a duplicação (alargamento) de 3,5 km. Deverá ser uma via alternativa em relação à principal avenida de acesso rodoviário a Porto Alegre, a Avenida da Legalidade, antiga Avenida Castelo Branco. d) Prolongamento da Av. Severo Dullius, com custo de R$ 24 milhões. Tem como objetivo melhorar e qualificar o acesso entre a Avenida Assis Brasil e o Aeroporto Internacional Salgado Filho, com aproximadamente 2 Km de extensão. e) Complexo da Rodoviária, com valores de R$ 21 milhões. Execução de um viaduto ligando a Avenida Júlio de Castilhos à Legalidade, a instalação de uma parada de ônibus no canteiro central em frente à Rodoviária e outras pequenas intervenções para resolver o “conflito” entre ônibus e automóveis existente no local. f) Corredor da 3ª Perimetral, com total de R$ 120,4 milhões. Pretende-se facilitar o tráfego e diminuir a lentidão e saturação da via com a construção de dois viadutos e três passagens de nível em importantes cruzamentos da Avenida. Além dessas intervenções, a Matriz de Responsabilidades também prevê a implantação de um sistema para qualificação do transporte coletivo da cidade conhecido como BRT (Bus Rapid Transit). Um dos objetivos, além de modernizar a frota e o sistema de transporte público, é diminuir o volume de viagens em direção ao centro, pois se considera que muitos ônibus chegam subutilizados ao centro, somente contribuindo com os engarrafamentos. Assim, os passageiros procedentes dos bairros da Capital e da Região Metropolitana deverão desembarcar nos Portais (localizados em pontos estratégicos) e no terminal Triângulo (zona Norte da cidade). A partir daí, tomarão ônibus articulados especiais para seguir viagem dentro da cidade até o centro. As obras do BRT estão divididas em três trajetos básicos que levam o nome da principal avenida onde ocorrerá a implantação do sistema: a) BRT Assis Brasil de R$ 28 milhões, compreendendo sete estações a partir do terminal Triângulo em direção ao centro com extensão de 4,4 km; b) BRT Protásio Alves, obra de R$ 53 milhões prevendo 11 estações a partir da confluência da Terceira Perimetral até a estação rodoviária com extensão total de 9,4 km; c) BRT Bento Gonçalves, projeto de R$ 23 milhões com 12 estações e 6,5 km de extensão. Nesse mesmo conjunto de obras estão previstas as construções dos Portais Azenha (no bairro de mesmo nome e próximo ao centro) e Antônio de Carvalho (na zona Leste em direção ao Campus do Vale da UFRGS e à cidade de Viamão). Deve-se salientar que esses Portais estão localizados em antigas estações de transbordo


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construídas durante a década de 80 para um Sistema Integrado de Transporte que foi desativado pouco tempo depois de sua inauguração, alvos de muita reclamação dos usuários e considerados ineficientes. Assim, não haverá custos de desapropriação e sim adequação de áreas pré-existentes e atualmente subutilizadas. Consequências das transformações urbanas Mesmo que as obras ainda não estejam prontas, é possível apontar consequências de sua realização? Sim, e podemos explicar por quê. Primeiro, uma coisa interessante e pouco comentada: a Matriz de Responsabilidades não menciona questões habitacionais como parte do pacote de Copa. Mas algumas das obras viárias previstas afetampopulações que são obrigadas a sair do lugar onde vivem. Assim, em 28 de dezembro de 2010 a Prefeitura Municipal publica no Diário Oficial a lei complementar nº 663 que institui áreas que atendem à Demanda Habitacional Prioritária (pelo Plano Diretor de Porto Alegre, isso significa atender a demanda por moradia da população que ganha até cinco salários mínimos) associadas ao Programa Minha Casa Minha Vida do governo federal. Mesmo que não apareça diretamente na redação da lei, a ligação disso com as obras da Copa, os movimentos sociais da cidade passaram a tratar essas áreas como as áreas especiais de interesse social, as “AEIS da Copa”, pois a própria prefeitura anunciou que remoções provocadas pelos novos empreendimentos poderiam ser destinadas a essas localidades. O fato de reassentamentos não aparecerem na Matriz de Responsabilidade – mas serem uma consequência de fato das intervenções no espaço urbano – dá uma medida da ordem de prioridades de um evento como a Copa do Mundo: primeiro, mobilidade, depois, habitação. Na verdade, com exceção da reforma do estádio Beira-Rio, todas as obras listadas e previstas dizem respeito à mobilidade. E essa mobilidade, na prática, significa obras viárias, alargamento e prolongamento de avenidas e novos viadutos com o propósito de fazer transitar de modo mais fácil os automóveis. Com a melhora nas condições econômicas do país e de vida da população nos últimos anos, o fenômeno da proliferação de carros particulares nas cidades brasileiras tem sido enorme. No caso de Porto Alegre, a frota de veículos em circulação cresceu de 527.131 em 2004 para 805.755 em dezembro de 2014, segundo dados do Departamento de Trânsito estadual (DETRAN/RS). Isso representa um aumento percentual próximo a 53% no período e mais de 278 mil veículos. Enquanto isso é importante relembrar, a população entre 2000 (Censo IBGE) e 2014 (estimativa IBGE) teve um acréscimo de pouco mais de 111 mil pessoas, aumento percentual de pouco mais de 8%. O resultado prático é uma média muito próxima de um carro para cada dois habitantes na capital gaúcha atualmente. O que se tem, então, é uma resposta circular do poder público: aumento de automóveis significando aumento de investimentos na quantidade de vias, que tem como consequência mais estímulo à compra de automóveis, que faz novamente o círculo se fechar: mais investimentos em elevadas, avenidas, alargamentos e extensões de ruas. E é exatamente isso que as obras listadas para a Copa parecem fazer: perpetuar o círculo vicioso de investimentos destinados à locomoção individual e à classe média. Isso tudo não é contraditório com o fato de haver investimentos previstos também para o transporte coletivo a partir da proposta de implantação dos BRTs. Um primeiro indicador é o monetário: a verba para a adequação das três vias previstas no projeto dos BRTs corresponde a R$ 104 milhões, um pouco menos de 1/5 do custo estimado total das obras, 524,9 milhões de reais (lembrando também que nessa despesa


A produção do espaço urbano para a Copa do Mundo

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não está contabilizada verba de reforma/ampliação do Aeroporto Salgado Filho). O segundo indicador relaciona-se exatamente com o fato de ser adequação de vias, decorrência de as avenidas onde passarão os BRTs já possuírem corredores exclusivos para ônibus. Portanto, por ser uma reforma de corredores exclusivos para ônibus já existentes, por um lado, pode-se dizer que não há alteração significativa no território onde passarão os novos coletivos, por outro lado, os BRTs afetarão quem mora mais longe do centro histórico da capital. Um dos motivos da reforma – como já citado no início deste texto – é reduzir o volume de ônibus que se deslocam por dia ao centro da cidade, 33 mil em média. Para que isto possa acontecer, os passageiros de ônibus procedentes dos bairros da Capital e da Região Metropolitana desembarcarão nos portais e no terminal Triângulo. Desse terminal, tomarão ônibus articulados especiais para seguir viagem dentro da cidade. É uma solução que pretende eliminar problemas de congestionamento e baixa velocidade (principalmente nos horários de pico do trânsito) criando uma rede de linhas troncais e alimentadoras. Temos um aparente paradoxo, portanto: o número de veículos aumenta em velocidade muito maior que a população e a solução empregada visa reduzir o número de ônibus e não de carros particulares. E para que isso aconteça, os habitantes de bairros periféricos e provenientes de cidades da Região Metropolitana terão que tomar mais de uma condução para chegar ao centro de Porto Alegre, visto que a partir da inauguração do sistema, muitas linhas não se dirigirão mais para o centro e sim para algum dos Portais. Em termos de localização, quanto mais longe se mora, maior número de veículos será necessário para deslocamento dentro da cidade. Em resumo: a maior parte dos gastos com obras priorizam o automóvel e áreas da cidade que já possuem boa infraestrutura. Os habitantes mais pobres da cidade só aparecem como estorvo, como moradores que serão deslocados para áreas periféricas, distantes do centro e com infraestrutura (escolas, posto de saúde, abastecimento de água/esgoto) deficiente. Com o pretexto de melhorar e embelezar a cidade, as obras mostram que carro é mais importante que habitação. Será que essa deve ser a prioridade?

DA TEORIA À PRÁTICA HABITAÇÃO OU TRANSPORTE? a] Como você se desloca entre seu lugar de moradia e seu lugar de estudo? b] O deslocamento é fácil? É barato? c] Tempo é dinheiro! Calcule quanto tempo você gasta nos seus deslocamentos ao longo de um mês e multiplique o número de horas por R$ 10,00 (valor médio pago por hora de trabalho em Porto Alegre). Calcule quanto você gasta por mês com passagens. Pesquise em qual bairro você poderia alugar uma moradia com o valor obtido com a soma do tempo e das passagens gastas. d] Por que o transporte é uma questão tão importante na metrópole? e] Liste e explique três razões que fazem com que o número de veículos particulares em Porto Alegre tenha aumentado em 46% em 2004 e 2014, enquanto a população da cidade aumentou 3,6% entre 2000 e 2010. f] Relacione as novas tendências de expansão urbana da metrópole às obras de transporte e circulação construídas ou planejadas.


Parte 3

Conhecendo cidades da RMPA


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Para conhecermos um pouco mais sobre algumas cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), dedicamos capítulos às mais populosas. Caso sua cidade não apareça aqui, reúna seus colegas e redija uma contribuição a esse livro e a incluiremos na versão digital, disponível em <http://www.ufrgs.br/ propesq/publicacoes>. O email para envio e contato é igeo@ufrgs.br, aos cuidados de Adriana Dorfman. Todos os municípios aqui trabalhados apresentam um mapa, onde são mostradas a hidrografia, ferrovias, arruamento, rodovias e as áreas urbanas. Esta última corresponde aos setores censitários de situação urbana, do IBGE.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Alvorada

por Tielle Soares Dias

O município de Alvorada faz divisa com a capital do estado, Porto Alegre, da qual tem uma distância rodoviária de 16 km. O município apresenta 71,3 km² de extensão territorial, localiza-se a leste da capital, na margem esquerda do rio Gravataí. Faz divisa com Cachoeirinha e Gravataí, ao norte; Viamão e Porto Alegre, ao sul; Gravataí e Viamão, a leste, e Porto Alegre, a oeste. Apresenta densidade demográfica de aproximadamente 2.700 habitantes por quilômetro quadrado.

Figura 22: Mapa do município de Alvorada (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky


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Processo de ocupação O povoamento do que viria a ser a cidade de Alvorada ocorreu com a sesmaria entregue a João Batista Feijó, em maio de 1776. Entre as famílias que iniciaram o povoamento das áreas podem ser destacadas as de nome Feijó, Barcellos, Souza, Garcia, Malta, Dihi, Godoy. Uma das versões para a origem do nome de Alvorada tem um significado econômico e cultural, representando a migração pendular e a prática diária dos habitantes da cidade de acordarem cedo para trabalhar, tendo que sair diariamente do município ao nascer do sol. Antes da emancipação, em 1965, a área chamava-se Passo do Feijó e era um distrito de Viamão. Através da Lei Estadual n.º 5.026, de 1965, o distrito foi elevado à categoria de município, desmembrado de Viamão, com a denominação de Alvorada. Em 1969, foi criado o distrito de Estância Grande e anexado ao município de Alvorada, assim em divisão territorial datada de 1979, o município ficou constituído por dois distritos: Alvorada e Estância Grande42. Tendo em vista que Porto Alegre mantinha até a primeira metade do século XX atividades comerciais mais intensas com os municípios do seu eixo norte, devido às rotas de acesso (estrada de ferro e a atual BR 116), a ocupação dos municípios a leste da capital era predominantemente rural, excetuando-se suas sedes. A partir da década de 1950, com o incremento dos fluxos migratórios em direção aos centros urbanos mais dinâmicos, fenômeno que ocorreu em todo Brasil, iniciou-se de forma mais intensa o processo de ocupação das áreas do entorno de Porto Alegre. A partir da década de 1970 com a construção da rodovia BR-290, que ligava Porto Alegre à rodovia BR-101, houve o incremento da industrialização dos municípios do eixo leste, dentre eles Alvorada. A expansão da cidade ocorreu, principalmente, por esta se tornar uma opção de moradia para os migrantes que vinham do campo pela Revolução Verde. Em virtude do adensamento e principalmente da evidente valorização imobiliária na capital do estado e em outros centros urbanos já consolidados, as populações migrantes ocuparam áreas nos municípios do entorno, nos quais o acesso à terra era mais facilitado. Assim, o município de Alvorada teve um rápido e desordenado crescimento urbano. Nesse período, foram criados diversos loteamentos financiados, destinados às classes de trabalhadores. Bairros, como o Jardim Porto Alegre, Jardim Algarve e Jardim Aparecida, receberam um grande contingente de moradores das mais diversas partes do estado que, em sua maioria, vieram em busca de trabalho e melhores condições de vida na capital e ocuparam outros pontos da região metropolitana. Juntamente com esses bairros surgiram em sua periferia áreas de ocupação irregular, localizadas nas margens de cursos de água e nas áreas verdes. Vilas como a Intersul, que fica no entorno do Jardim Porto Alegre, tiveram sua instalação possível devido à infraestrutura dos bairros contíguos, como abastecimento de água, distribuição de energia elétrica, transporte coletivo e outros serviços oferecidos. Simultaneamente à consolidação das áreas urbanas, dado ao crescimento industrial e residencial, ocorreu o crescimento de áreas irregulares e carentes. Junto às áreas regulares do município e nas margens das principais avenidas concentram-se a maior parte dos serviços de infraestrutura e atividades de comércio e serviços. A expansão comercial do município ocorreu, predominantemente, junto à Avenida Presidente Getúlio Vargas, principal via que atravessa o centro da cidade. 42 PREFEITURA MUNICIPAL DE ALVORADA. Disponível em <http://www.alvorada.rs.gov.br/> Acesso em 20 fev. 2015.


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População Desde sua criação, o município de Alvorada apresenta um incremento populacional acelerado, como é possível destacar entre 1960/1970, década na qual a população aumentou 197,2%, e entre 1970/1980, quando aumentou 126,6%. Embora mantenha o incremento populacional, as taxas de crescimento diminuíram significativamente nas décadas mais recentes. Atualmente Alvorada conta, segundo dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE de 2010), com aproximadamente 195 mil habitantes, ocupando toda a área urbana do município. De acordo com os dados do Censo (IBGE, 2010), em Alvorada a população de até 19 anos (jovens) constituía 35,7% do total dos habitantes, enquanto que a população entre 20 e 59 anos (adultos) correspondia a 55,4%. Aquela com mais de 60 anos (idosos) correspondia a 9%. Segundo o Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), o município de Alvorada possui um nível de desenvolvimento médio (0,721). O Idese apresenta quatro blocos: educação, saneamento, renda e saúde. Alvorada apresentou melhor desempenho nos blocos de educação e saúde. Mesmo assim figura entre as últimas posições no estado. O índice aponta como maiores déficits os blocos de renda e saneamento. Neste último, embora com um índice de 0,662, o município está colocado entre os 20 primeiros municípios do estado. Elementos econômicos O Produto Interno Bruto (PIB) no ano de 2009 era de R$ 1.187.824 e as principais atividades econômicas do município estão relacionadas ao comércio no setor de serviços, com 80,9%, seguido pelas atividades industriais, com 18,9%, e a agropecuária como menos representativa, correspondendo a 0,2% do PIB do município43. Alvorada possui um Distrito Industrial onde estão localizadas diversas indústrias, contribuindo de forma direta para o movimento econômico através da geração de emprego e renda, além da arrecadação em impostos. Dentre as empresas instaladas no Distrito Industrial, podem-se destacar: Farias Indústria e Comércio Alimentos; Automasafety e Indústria Petroquímica do Sul. Ainda assim, um grande número de pessoas que reside em Alvorada trabalha e/ou estuda em outros municípios, fato que se manteve principalmente pela falta de oportunidade de trabalho no município44. Fenômenos e lugares importantes Dentre os lugares de destacado interesse no município, pode-se citar a Lagoa do Cocão; a Praça João Goulart (Praça da 48) e o arroio Feijó. A lagoa do Cocão é um importante ponto de lazer utilizado pela população e que teve uso intenso como balneário. No entanto, nos anos recentes, encontra-se deteriorada, com acúmulo de lixo, ainda que sejam frequentes as tentativas de limpeza. Em 2006, foram realizadas obras 43 FEE - FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Resumo Estatístico RS. Porto Alegre: FEE, 2011. Disponível em: <http://cdn.fee.tche.br/resumo/resumo-rs-2011_site.pdf>. Acesso em: jan. 2012. 44 IBGE. Síntese de Indicadores Sociais 2010. Estudos e Pesquisas - Informação Demográfica e Socioeconômica. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/ sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf>. Acesso em: jan. 2012.


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Figura 23: Gráfico da população residente em Alvorada, de 1960 a 2010.

Fontes: Década de 1960: Carrion, 198945; de 1970 a 2010: Censo Demográfico IBGE, 201046 Elaborado por Tielle Soares Dias

de revitalização, na qual foram instalados equipamentos para uso de população, como pista para caminhada e brinquedos. A Praça João Goulart é um ponto de referência no município em relação ao lazer. Nela acontecem os principais eventos do município, como a Feira do Livro e o Acampamento Farroupilha, bem como diversas apresentações durante o ano. A praça conta com equipamentos urbanos como lixeiras, bancos, pistas para caminhada e um palco fixo. O Arroio Feijó, marco de divisa entre o município e a capital, apresenta-se bastante degradado. Seu curso passa por três municípios: Porto Alegre, Viamão e Alvorada, estando neste último sua parte final, que deságua no rio Gravataí. É também desse rio que é captada a água para abastecimento público do município de Alvorada. Dentre outras, essa é uma importante questão para nortear a preservação dos arroios que nele deságuam. O arroio Feijó escoa boa parte dos efluentes gerados em Alvorada, tendo em vista a deficiência do serviço de saneamento. Dentre as principais atividades desenvolvidas no município, algumas têm grande destaque em número de participantes e representatividade entre a população alvoradense, tais como o Desfile de Carnaval, a Feira do Livro e o Acampamento Farroupilha.

45 CARRION, Otilia Beatriz K. Mercado Imobiliário e Padrão Periférico de Moradia. Porto Alegre e sua Região Metropolitana. Ensaios FEE. Porto Alegre, 1989. 10(2), p. 225-250. Disponível em:<http://revistas.fee.tche.br/ index.php/ensaios/article/download/1376/1741>. Acesso em 20 fev. 2015. 46 IBGE. Censo 2010. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em 20 fev. 2015.


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Canoas

Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

por Débora Schardosin Ferreira

Canoas faz parte da região hidrográfica do Guaíba, nas bacias dos rios Sinos e Gravataí e lago Guaíba. É banhada pelo rio dos Sinos, a oeste, limite com o município de Nova Santa Rita, e pelo Gravataí, ao sul, limite com a capital do RS, Porto Alegre. Ainda limita-se ao norte com o município de Esteio e a leste com Cachoeirinha. Assim, está localizada no centro da Região Metropolitana da Grande Porto Alegre – RMPA. O relevo insere-se na depressão central, embora esteja na área de transição entre a planície costeira e o planalto central. Sua altitude média é de aproximadamente 8m, apresentando vegetação de banhado, além de matas arbustivas e, na beira dos rios, a mata ciliar. Figura 24: Mapa do município de Canoas (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky


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Origens de Canoas O município de Canoas origina-se da área de sesmaria, propriedade de Francisco Pinto Bandeira, ocupada na década de 1730. Localizada na margem direita do rio Gravataí, foi denominada “Fazenda Gravataí”. No entanto, o povoamento da região somente iniciou em 1871, no entorno da estação da estrada de ferro criada para ligar São Leopoldo a Porto Alegre. Naquele período, a área do atual município ainda pertencia a Gravataí e São Sebastião do Caí. As características dessa região começaram a se modificar no fim de século XIX. Com a prática de veraneios na região, conhecida então como Capão das Canoas, a Fazenda Gravataí foi vendida em lotes e logo outras áreas foram também surgindo como pequenas propriedades, chácaras ou granjas. Já no início do século XX, foi elevada à capela curada com o nome de São Luís Gonzaga e contava com indústrias frigoríficas e de graxa. Na década de 1930 já era o distrito mais populoso e com a maior arrecadação do município de Gravataí. Em 1935 foi instalada a luz elétrica no centro do distrito Com a instalação do 3º Regimento de Aviação Militar, em 1937, várias famílias se instalaram e seria mais conveniente para os militares negociarem com uma administração mais próxima do que em Gravataí. Assim, houve um forte movimento pela emancipação, liderado por Victor Hugo Ludwig, antigo prefeito de Gravataí. Consequentemente, em 1938, foi declarada vila e, no ano posterior, cidade e sede de município. Em 1940, Canoas foi instalado oficialmente como município, tendo como prefeito Edgar Braga da Fontoura, antigo funcionário da administração pública pelotense. Convém destacar que foi, como o município de Sarandi, no noroeste do estado, um dos dois municípios estabelecidos no período do Estado Novo (1937 -1945) no Rio Grande do Sul. Evolução urbana A população de Canoas em 2010 era de 323.827 habitantes segundo o Censo IBGE, colocando o município como o segundo mais populoso da região metropolitana. Classificado atualmente como totalmente urbano, o município apontou seu crescimento nesse sentido a partir de 1945. Com sua emancipação, no inicio da década de 1940, planos urbanísticos, principalmente para o centro, foram efetivados visando consolidar o município. Foi rápido e intenso o seu crescimento populacional, pois de aproximadamente 18.000 habitantes em 1940 passou para 100.000 na década de 1960, com a terceira maior densidade demográfica do estado. O caso de Canoas acompanha o processo histórico de modernização e de uma intensa migração para as áreas urbanas do país nesse período. Na década de 1940 a cidade já abrigava empresas de médio e grande porte, e a intenção dos planejamentos para o recente município era a de transformar a cidade de veraneio em uma cidade industrial. A situação geográfica, favorecendo uma cidade satélite industrial de Porto Alegre no caminho para a Serra e para o mercado brasileiro de maneira geral. Também a criação da Avenida Farrapos em Porto Alegre (1940) e da Avenida Getúlio Vargas em Canoas (1945) facilitaram a expansão industrial e populacional da capital em direção ao município. Canoas se configurou, como os demais municípios próximos da capital, como uma cidade-dormitório. Assim, a partir de 1960 houve a consolidação das ações para sua transformação em cidade industrial. Para esse fim foram atraídas grandes empresas através de isenções fiscais. A principal empresa instalada neste


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

período foi a Refinaria Alberto Pasqualini, no ano de 1968, grande propulsora do desenvolvimento no município. Podemos considerar que a geografia da cidade esteve sempre explícita na relação com seu desenvolvimento populacional. Já em 1941 as áreas mais periféricas sofreram com uma grande enchente que “expulsou” os moradores, principalmente operários, de suas casas na zona sul do município. Esse era um indício da configuração populacional que se estabeleceria no território do município a partir de 1950, ano do início de instalação de grandes loteamentos. Devido ao relevo da cidade, as ocupações nas áreas mais altas criaram uma melhor estrutura, que hoje são os bairros Igara, São Luís (atualmente parte é o São José) e o Nossa Senhora das Graças. Já as antigas áreas operárias, atuais bairros Rio Branco e Niterói, assim como o atual Mathias Velho, com sítios sujeitos a constantes inundações pela proximidade com os rios que banham a cidade, dispuseram de menor infraestrutura e, consequentemente, exigiam um menor poder aquisitivo para compra. A partir da segunda metade da década de 1970, com a presença de grandes empresas, principalmente metalúrgicas, Canoas tornou-se um grande atrativo para os desempregados provenientes de áreas rurais do estado. Com o contínuo processo de êxodo rural e a supervalorização da propriedade nos grandes centros urbanos, o contexto era de indisponibilidade de moradias para a população de baixa renda. Incentivados pelo momento de abertura política no país, houve grandes movimentos ocupacionais na década de 1980, principalmente em terras de propriedade pública no município. Desses podemos destacar as vilas União dos Operários, no bairro Mathias Velho; Santo Operário, no Harmonia, e o atual bairro Guajuviras. Consequências Atualmente, Canoas procura regularizar algumas dessas áreas estabelecidas há um longo tempo. Entretanto, ainda encontramos no município áreas recentemente invadidas e extremamente precárias. Continua sendo um grande desafio à administração do município conter as ocupações irregulares, já que é historicamente visado para moradia por sua localização e pelas oportunidades de trabalho que oferece. Assim, a configuração histórica dos bairros se reflete na distribuição atual de seus habitantes e nas densidades demográficas. Observando as oito maiores densidades demográficas do município notamos que os bairros Mathias Velho e Harmonia, caracterizados por ocupações irregulares históricas, se destacam. Situação semelhante observamos quanto à população absoluta, pois se ordenássemos em ordem crescente, teríamos Mathias Velho, Guajuviras, Harmonia e Niterói, bairros que historicamente se configuraram como os mais populosos (tabela 4). No entanto, se considerarmos o crescimento populacional nos últimos anos, Canoas, com 18 bairros, apresenta uma evolução em sua mancha urbana para áreas antes não exploradas pelo capital imobiliário. Na tabela 5 temos a quase total inversão dos bairros em relação às maiores populações (tabela 4) quando consideramos as maiores taxas de crescimento geométrico anual. Esse crescimento se deve principalmente aos novos empreendimentos imobiliários, sejam particulares, na forma de grandes condomínios fechados, sejam empreendimentos públicos, principalmente os do programa habitacional federal Minha Casa Minha Vida.


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Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Tabela 4: Canoas – Densidade demográfica em bairros selecionados – 2010. BAIRRO

POPULAÇÃO 2010

DENSIDADE (hab/Km²)

Mathias Velho

48.806

8.127

Harmonia

39.073

7.819

Estância Velha

26.633

6.822

Niterói

38.478

6.603

Rio Branco

28.384

6.148

Centro

15.067

5.015

São José

9.972

4.338

Guajuviras

39.526

4.086

Fonte: IBGE. Censo 2010 e Instituto Canoas XXI. Elaborado por Débora Schardosin Ferreira.

Tabela 5: Canoas – taxa de crescimento demográfico em bairros selecionados – 2000/2010.

BAIRRO

POPULAÇÃO

TAXA MÉDIA GEOM.

2000

2010

CRESC. ANUAL (%)

Mato Grande

5.527

11.223

7,30

São José

5.993

9.972

5,20

Olaria

7.346

10.885

4,00

Marechal Rondon

9.049

11.002

2,00

Fátima

10.447

12.662

1,90

Estância Velha

23.158

26.633

1,40

Igara

9.238

10.400

1,20

Guajuviras

36.261

39.526

0,90

Fonte: IBGE. Censos 2000 e 2010. Elaborado por Débora Schardosin Ferreira.


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Eldorado do Sul

Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

por Amanda Bahi de Souza

O município de Eldorado do Sul faz limite com a capital do estado, Porto Alegre, da qual tem uma distância rodoviária de 12 km. Faz limite também com os municípios de Charqueadas, Guaíba e Arroio dos Ratos. Eldorado do Sul possui uma área de 509,728 km², 70% da qual é área urbana, com uma população de 30.800 habitantes. A área rural corresponde a 29,43%, com população de 3.543 pessoas. A população total é de 34.343 habitantes (IBGE/Censo 2010). A altitude média da cidade é de 19 metros acima do nível do mar. Processo de Ocupação O território onde está situado o município de Eldorado do Sul foi inicialmente ocupado por estancieiros açorianos pertencentes ao grupo pioneiro de Jerônimo de Ornellas, na metade do século XVIII. A partir de 1930, a região à margem direita do Guaíba passou a servir de balneário turístico à população de Porto Alegre e de porto para os barcos que iam para a Capital, como meio de transporte. Por volta de 1960, a área passou a ser habitada por colonizadores de origem alemã, que deram à localidade o nome de Balneário Sans Souci (que quer dizer, em francês, “sem preocupação”). O crescimento populacional nessas regiões foi intenso na década de 1970 e 1980. Após anos de reivindicações, em 1985, começaram os movimentos formais de emancipação da cidade, que buscavam a melhoria das condições e o desenvolvimento urbano para os bairros Medianeira, Itaí, Bom Retiro, Sans Souci, Picada e Guaíba Country Club. Após anos de mobilização, o trabalho de conquista da emancipação foi recompensado com o desmembramento dessas áreas do município de Guaíba. Em 08 de junho de 1988 foi criado o município de Eldorado do Sul. Elementos em destaque Eldorado do Sul é um dos municípios que está inserido dentro dos limites do Parque Estadual do Delta do Jacuí, apresentando as características de vegetação exuberante do Parque. A cidade possui estrutura urbana recente e seu potencial turístico e cultural está mais associado ao ecoturismo, como trilhas ecológicas, balneário à margem do Guaíba e campings. Não possui atrativos de lazer urbanos como shoppings, cinemas ou teatros, mas possui duas praças na cidade. As atividades comerciais não estão concentradas em apenas uma localidade na cidade, apresentam-se dispersas pelos bairros Medianeira, Cidade Verde, Itaí e Centro. Por possuir grande território e o município ser relativamente novo (26 anos), os bairros são afastados entre si, havendo grandes vazios urbanos e pequenos bairros entre eles. O município conta com um assentamento do Movimento Sem Terra (MST), onde o uso do solo é intensivo e os produtos são vendidos na feira livre. Também tem atraído empreendimentos imobiliários como condomínios residenciais à beira do Guaíba, entre os bairros Itaí e Sans Souci. Esses estabelecimentos possuem atrativo


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

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ecológico, pela localização no Parque Estadual do Delta do Jacuí, ao mesmo tempo permitindo acesso rápido a Porto Alegre e facilitando ao morador as atividades na capital e o descanso e lazer na moradia atrelados à natureza. Economia Eldorado do Sul apresenta muitas indústrias. Possui unidades da Oderich, Olvebra, Kenko, Dell, Linck, Sinarodo, entre outras. O município se destaca pela produção de arroz e ainda conta com uma Estação Agronômica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um Instituto de Pesquisas Veterinárias, da Secretaria Estadual da Agricultura (Fepagro), ambos para o desenvolvimento da produção de soja, arroz e criação de gado. Recentemente foi instalada uma unidade da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O setor de serviços destaca-se como sendo o principal setor de Eldorado do Sul, representando aproximadamente 64% do PIB do município. A indústria é responsável por mais de 30% do PIB, seguida pela agricultura, representando aproximadamente 6% do PIB municipal.

Figura 25: Mapa do município de Eldorado do Sul (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Pontos turísticos O município possui alguns atrativos turísticos associados a lazer de pesca e balneários. Pode-se citar alguns como: Prainha da Sans Souci (1), campings (2), Antiga Fábrica de Papel Pedras Brancas (3). Figura 26: Praia Sans Souci.

Figura 27: Camping Hawai Pesca Club.

Fotografia: Pierre Medeiros, 2015.

Fotografia: Pierre Medeiros, 2015.

1 - Praia Sans Souci – localizada no bairro de mesmo nome e banhada pelo Guaíba. A praia é um dos atrativos da população nos dias de calor. 2 – Camping Hawai Pesca Club – Centro de lazer localizado na Estrada Santa Maria, próximo à divisa com o município de Guaíba. Oferece opções de lazer e pesca em lago. 3 – Antiga Fábrica de Papel Pedras Brancas – Localizada no bairro Bom Retiro, restam apenas as ruínas da Fábrica de Papel Pedras Brancas. Pioneira no Rio Grande do Sul, a fábrica funcionou entre 1880 e 1962. Atualmente, o local possui uma estrutura de lazer, composta por pracinha, quiosque e trilhas ecológicas. Figura 28: Antiga fábrica de papel Pedras Brancas.

Fotografia: Pierre Medeiros, 2015.


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Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Esteio

por Raquel Chites

Esteio localiza-se a 17 km de Porto Alegre e faz divisa com as cidades de Canoas, Sapucaia do Sul, Gravataí, Cachoeirinha e Nova Santa Rita. O município é pequeno, estende-se por uma área de 28 km², e sua população é de 80.755 habitantes. É o município com maior densidade demográfica no RS47. A população de Esteio cresceu muito nos últimos 30 anos, principalmente entre a década de 1980 e 1990. Quase o total de habitantes do município reside na área urbana, com exceção de poucos moradores da área rural, como pode ser visto na tabela 6, na página seguinte. História A área onde hoje se localiza o município de Esteio era chamada de “Fazenda do Areião do Meio”e caracterizava-se por ser uma área de banhado. Inicialmente essas terras pertenciam ao município de São Leopoldo. Em 1873, a fazenda foi dividida ao meio com a construção da ferrovia ligando Porto Alegre a Novo Hamburgo (que na época pertencia a São Leopoldo). O progresso de Esteio, desde o século passado, parece predestinado a acompanhar a ferrovia. O próprio nome “Esteio” deriva do equipamento ferroviário que serve de apoio aos trilhos e o povoado que viria a originar Esteio nasceu com a cosntrução da Ferrovia. Os trabalhadores da estrada de ferro se instalaram nas proximidades dos trilhos com suas famílias formando um pequeno vilarejo. Em 1905 surgiu a pequena estação da estrada de ferro (posteriormente demolida para a implantação do Trensurb) e que seria o primeiro marco do município, seguido da construção de algumas casas, cercados, vendas e da abertura de algumas ruas. A partir da década de 1930, empresários da região fundaram a empresa Cia. Geral de Obras de Esteio Ltda, que começou a comprar terras e lotear a região. Um dos sócios acabou não vendendo sua parte, ficando com o terreno entre a estrada de ferro e o Rio dos Sinos. Parte dessa área corresponde atualmente ao Parque de Exposições Assis Brasil. Em 1933, com o início da construção da BR-116 interligando Porto Alegre a São Leopoldo, a região ganhou um novo impulso. A população aumentou por conta da contratação de operários para a obra, e a localidade cresceu a ponto de ser responsável por boa parte da arrecadação de impostos de São Leopoldo. Devido a seu crescente progresso e ao descontentamento com o tratamento dispensado pela sede administrativa (São Leopoldo) aos habitantes do que viria a ser o futuro município, começou um movimento que, a princípio, não foi recebido com muita importância, mas que, com o aumento de adeptos, culminou com uma reunião em 1952, quando foi oficialmente registrada a tendência do povo com referência à emancipação. O movimento dos moradores conseguiu criar o município de Esteio no dia 15 de dezembro de 1954, com a posse do primeiro prefeito em 28 de fevereiro de 195548. 47 IBGE. População residente, por sexo e situação do domicílio, população residente de 10 anos ou mais de idade, total, alfabetizada e taxa de alfabetização, segundo os municípios. Disponível em <http://www.ibge.gov. br/home/estatistica/populacao/censo2000/universo.php?tipo=31o/tabela13_1.shtm&paginaatual=1&uf=43&letr a=E> Acesso em 15 fev. 2015. 48 PREFEITURA MUNICIPAL DE ESTEIO. História. Disponível em: <http://www.esteio.rs.gov.br/index. php?option=com_content&view=article&id=21&Itemid=186> Acesso em 15 fev. 2015.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 29: Mapa do município de Esteio (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky Tabela 6: Crescimento populacional de Esteio entre 1980 e 2010. Censo 1980 Censo 1991 Contagem 1996 Censo 2000 Censo 2010

População total 50.967 70.547 75.233 80.048 80.755

População urbana 50.208 70.468 75.159 79.961 80.643

População rural 759 79 74 87 112

Fonte: IBGE. Elaborado por Raquel Chites

Economia O principal setor da economia de Esteio é representado pelos serviços, que somam quase 80% do PIB da cidade, seguido pela indústria, com 20%, e a agricultura com pequena importância, já que expressa menos de 1% do PIB49. As indústrias localizadas no município produzem alimentos, cimentos, plásticos, distribuição de combustíveis, entre outros. Destaca-se, no município, a refinaria de petróleo Alberto Pasqualini (REFAP S/A). A REFAP começou a operar em 1968, como subsidiária da Petrobrás, dentro da proposta de independência energética brasileira. Hoje é uma empresa de capital aberto que beneficia 900 milhões de litros por mês, entre diesel, gasolina, querosene, óleo combustível, gás etc. A importância da REFAP para Esteio está nos 500 empregos diretos e no grande volume de impostos que recolhe, aumentando a arrecadação do município. 49 IBGE. Cidades - Esteio. Disponível em: <http://cod.ibge.gov.br/3PKTC>. Acesso em 15 fev. 2015.


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Gravataí

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por Raquel Chites

Gravataí possui uma população de 257.398 habitantes (FEE, 2011). A área do município é de 463,8 Km² e a densidade demográfica é de 555 hab/Km². Aproximadamente 76% da área do município é considerada rural. Mesmo com grande área rural, a taxa de urbanização do município chega a 95%. Está localizada a uma distância de 22 quilômetros de Porto Alegre, capital do estado. O município é banhado pelo Rio Gravataí e por mais de uma dezena de córregos e arroios que pertencem à sua bacia hidrográfica. Gravataí possui limites territoriais com os municípios de Cachoeirinha, Alvorada, Viamão, Novo Hamburgo, Glorinha, Taquara e Sapucaia do Sul. Ele está subdividido em cinco distritos: Sede, Barro Vermelho, Morungava, Itacolomi e Ipiranga. História Segundo Eni Barbosa, o município de Gravataí correspondia a uma área de sesmaria no século XVIII. A história de Gravataí começa oficialmente em 1763, com a fundação da Aldeia de Nossa Senhora dos Anjos e com a chegada de índios missioneiros à região50. A primeira leva de índios missioneiros chegou aos campos de Gravataí em 1763, conduzidos pelo Capitão de Dragões Antônio Pinto Carneiro e procedentes das aldeias do Rio Pardo, composta por mais de mil índios, que deram origem aos fundamentos da aldeia, sob invocação da Nossa Senhora dos Anjos. Em 29 de dezembro de 1769 foi oficializada a criação do Povo de Nossa Senhora dos Anjos e, a partir de então, foram tomadas as primeiras medidas com o objetivo de urbanizar a aldeia. Segundo Ana Clara Fernandes apesar de esforços para melhorar as povoações, a Coroa portuguesa se voltou, durante o século XIX, para a garantia da região da fronteira oeste, deixando um pouco à própria sorte as áreas já conquistadas. Se por um lado Gravataí era obscurecida pelo crescimento da sede municipal (Porto Alegre), por outro, era marginalizada pela política expansionista de ocupação de “áreas livres” no oeste do estado que necessitavam ser ocupadas51. No transcorrer do século XX, Gravataí gradualmente se modificou, com melhor acesso à capital, através da criação de linha de ônibus, instalação de linha telefônica, energia elétrica e abastecimento de água. As condições administrativas e seus limites também sofreram modificações. Desmembrada de Porto Alegre em 1880, passou à categoria de vila. Sua área se reduziu devido aos desmembramentos ocorridos e que deram origem aos municípios de Canoas, Cachoeirinha e Glorinha. 50 BARBOSA, Eni. Gravataí no contexto administrativo do século XVIII. In: História e Cultura. 1989. Gravataí. Anais. I Simpósio Estadual sobre a cultura Gravataiense. 2º edição. Gravataí, 1989. 51 FERNANDES, Ana Clara. A cidade esparramada: considerações sobre o espaço urbano industrial em Gravataí Região Metropolitana do RS. 186 p. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 30: Mapa do município de Gravataí (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky

O quadro 6, na página seguinte, mostra os principais fatos da formação do município. A cidade de Gravataí tem sido palco de grandes transformações nas últimas décadas. Abriga loteamentos originados do desmembramento de áreas rurais que permanecem na mesma condição. Outros loteamentos, inicialmente irregulares, se transformaram em área urbana. Conjuntos habitacionais foram implementados pelas políticas nacionais de desenvolvimento urbano através do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Mais recentemente, condomínios verticais e principalmente horizontais se tornaram o padrão para construção de moradias, voltadas a diferentes estratos sociais52.

52 FERNANDES, Ana Clara. A cidade esparramada: considerações sobre o espaço urbano industrial em Gravataí - Região Metropolitana do RS. 2008. 186 p. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008.


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Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Quadro 6: Formação administrativa de Gravataí. Ano

Medida Administrativa

Fato

1809

Provisão de 7 de outubro

Freguesia do município de Porto Alegre

1880

Lei nº 1247 de 11 de junho

Vila e sede do município (desmembrada de Porto Alegre)

1880

Instalação do município em 23 de outubro

Início efetivo do governo local com a atuação da 1º Câmara Municipal

1938

Decreto nº 7199 de 31 de março

Elevação à categoria de cidade 1º desmembramento territorial: criação do município de Canoas com

1939

Decreto nº 7839 de 27 de junho

as áreas do 4º distrito de Gravataí (Canoas) e do 6º distrito de São Sebastião do Caí (Santa Rita) 2º desmembramento territorial: criação do município de Cachoeirinha

1965

Lei nº 5090 de 9 de novembro

1988

Plebiscito realizado em 10 de abril

Economia

(até então, 2º distrito de Gravataí) 3º desmembramento territorial: emancipação dos distritos de Glorinha e Dom Feliciano

Fonte: FERNANDES, 2008.

Até a década de 1960, Gravataí configurava-se como um município essencialmente agrícola, o que começou a mudar com esforços políticos. Segundo Fernandes, o processo de industrialização do município se configura a partir de políticas de âmbitos federais, estaduais e municipais a fim de instalar um parque industrial na cidade. A proximidade territorial com a capital também foi um fator determinante para esse início da industrialização do município. Na década de 1970, várias indústrias deixaram Porto Alegre e se transferiram para municípios limítrofes da capital do RS. Essa migração foi impulsionada pelo crescimento urbano que passou a inviabilizar atividades industriais na capital, além das vantagens fiscais oferecidas pelos municípios vizinhos. Na década de 1980 se consolidou um importante parque industrial no município, que recebeu nos anos 1990 o Complexo Industrial da General Motors, um grande marco no desenvolvimento de Gravataí. Essa grande empresa veio se juntar ao Parque Industrial de grande porte e ao comércio bastante desenvolvido da cidade. O reflexo desse processo de industrialização pode ser percebido nos dados estatísticos: o setor industrial representa mais de 57% do PIB e responde por praticamente metade dos empregos formais na cidade. O setor de serviços também é importante para Gravataí, representando aproximadamente 42% do PIB da cidade53. A zona rural representa 76% da área total do município e é caracterizada pela presença de pequenas e médias propriedades onde prevalecem a pecuária leiteira e a produção de hortifrutigranjeiros, mas representam apenas 1% no PIB do município.

53 IBGE. Infográficos: dados gerais do município de Gravataí/RS. Disponível em <http://cod.ibge.gov.br/3PNH3> Acesso em 20 fev. 2015.


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Guaíba

Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

por Raquel Chites

O município de Guaíba tem uma população de 95.518 habitantes e uma área de 377 km², com densidade demográfica de 253 hab/km². Os limites do município são Barra do Ribeiro e Mariana Pimentel, ao sul, Eldorado do Sul, ao norte e oeste, e o lago Guaíba, a leste. História No atual território do município de Guaíba, encontramos sítios arqueológicos representativos da cultura Guarani. Segundo Laroque (2002), os tupis-guaranis ocupavam as várzeas dos grandes rios como Uruguai, Jacuí e seus afluentes ou junto à Laguna dos Patos54. É possível afirmar que nas terras onde temos o município de Guaíba ocorreram muitos confrontos entre índios e colonizadores, tanto espanhóis como portugueses. A distribuição das sesmarias foi um sistema utilizado pela coroa portuguesa durante o Brasil Colônia para que terras devolutas, no sul do Brasil fossem ocupadas. A origem histórica de Guaíba remonta ao ano de 1790, quando foi concedida uma sesmaria a Antônio Ferreira Leitão. Logo após, foi construída a sede da “fazenda Pedras Brancas” ainda hoje existente e que passou a pertencer a José Gomes de Vasconcellos Jardim55. O então povoado das Pedras Brancas, ao que tudo indica, teve início na segunda metade do século XIX, por ser ponto de parada obrigatória para o gado. Assim, surgiram as charqueadas, com presença da mão de obra escrava, de peões campeiros, de tropeiros e tropas de gado na região. Cria-se uma pequena vila com infraestrutura voltada para a economia pastoril. Ao mesmo tempo, as terras do atual município de Guaíba eram passagem para todos aqueles que, da região Sul e Oeste, desejassem chegar até Porto Alegre. A travessia era feita pelas águas do Guaíba. Para o escoamento da produção e transporte de passageiros foram utilizados, inicialmente, pirogas (embarcações indígenas), canoas, barcos a vela e, na segunda metade do século XIX, o barco a vapor56. No ano de 1860 realizam-se as primeiras demarcações de lotes com os respectivos nomes de ruas, caracterizando assim o início do processo de urbanização. O ano de 1926 foi o ano da emancipação política do então 9º distrito de Porto Alegre – Pedras Brancas. O desejo de emancipação expressou o sentimento de autossuficiência econômica e política. O município, criado em 14 de outubro de 1926, foi batizado de Guaíba em homenagem às águas que o cercam. Emancipado, o município teve uma significativa transformação, com melhorias nos seus núcleos urbanos. Um período de expansão ocorreu com a inauguração da ponte Getúlio Vargas em 1958, ligando a capital do estado às demais regiões separadas pelo lago Guaíba e afluentes do delta. Na época, houve 54 LAROQUE, Luís Fernando da Silva. Guaíba no Contexto Histórico-Arqueológico do Rio Grande do Sul. Guaíba: Edição do Autor, 2002. 55 PREFEITURA MUNICIPAL DE GUAÍBA. História. Disponível em <http://www.guaiba.rs.gov.br/Conheca_ Guaiba/index.html>. Acesso em 15 fev. 2015.


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Figura 31: Mapa do município de Guaíba (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky

uma mobilização do poder público no sentido de investir em infraestrutura urbana, como energia elétrica, abastecimento de água, transporte, comunicação, etc.56 Economia A intenção da administração pública era atrair investimentos industriais que estavam se localizando na Região Metropolitana de Porto Alegre na década de 1970. As primeiras indústrias a se instalarem na cidade foram Integral Arroz, hoje Éffen, os Moinhos Guarani, o Engenho Esperança, os elevadores Sûr e a Companhia Geral de Fogões. Nessa ocasião, houve um movimento acentuado de migração do meio rural para o núcleo urbano57. 56 CALCANHOTTO, Flávio Abreu. Diagnóstico e análise de sistemas de produção no município de Guaíba/RS: uma abordagem agro-econômica. 218 p. Dissertação de mestrado. Faculdade de Ciências Econômicas. Curso de PósGraduação em Economia Rural. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Ao mesmo tempo, acontecia na área rural começou uma mudança na base técnica da agricultura, principalmente na região com áreas planas, facilitando a mecanização. Com isso, nessas áreas também aumentou a utilização de insumos químicos. Uma das maiores expansões na época foi na cultura do arroz irrigado. A agricultura familiar se concentrou onde o relevo é mais acidentado e a mecanização mais difícil. Outra atividade que sofreu impactos da modernização foi a celulose. Inicialmente, as atividades de produção de celulose estavam vinculadas à área rural do município. Essa atividade se expandiu na década de 1970 com a aparição de uma empresa que se tornaria a maior expressão econômica de Guaíba, a Borregard, que foi se modernizando e mudando de razão social, denominando-se sucessivamente Riocell, Aracruz, Aracel e Celulose Riograndense. Atualmente, na economia do município destaca-se o setor industrial, que corresponde a aproximadamente 57% do PIB de Guaíba, seguido pelos serviços e comércio, com mais de 40% e com menor representatividade a agricultura57.

57 IBGE. Infográficos: dados gerais do município de Guaíba/RS. Disponível em <http://cod.ibge.gov.br/3PGCN> Acesso em 20 fev. 2015.


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Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Novo Hamburgo

por Raquel Chites

Situada a 40 quilômetros de Porto Alegre, o município de Novo Hamburgo fica localizado no Vale do Rio dos Sinos. A área municipal é de 223,6 quilômetros quadrados, sua população em 2010 era de 238.940 habitantes, com densidade demográfica de 1.068 habitantes por km²58. A população do município teve um crescimento significativo entre as décadas de 1970 e 1990 (como podemos ver na figura 32), principalmente devido ao crescimento econômico dessa fase, com a expansão da indústria do calçado. Figura 32: Gráfico da evolução populacional de Novo Hamburgo no período de 1970-2000

Fonte: http://web.observatoriodasmetropoles.net/planosdiretores Acesso em: 18 de junho de 2011.

A maior parte da população reside na área urbana, que equivale a 1/3 do território total do município. O distrito de Lomba Grande, área rural, abrange 156 km², contendo cerca de 2/3 da área territorial de Novo Hamburgo (como podemos ver na figura 33). É também considerada a área com maior potencial turístico do município. Novo Hamburgo faz limites com São Leopoldo, Estância Velha, Ivoti, Dois Irmãos, Sapiranga, Taquara, Campo Bom e Gravataí. Processo de ocupação A ocupação da região se deu com a chegada dos imigrantes alemães à região em 25 de julho de 1824, fundando-se a cidade de São Leopoldo. Logo após, os imigrantes chegaram ao local onde hoje se situa Hamburgo Velho, criando Hamburger Berg. O povoado teve origem nas lojas e oficinas que se estabeleceram por causa da situação privilegiada: o entroncamento de importantes estradas. Passavam por lá pessoas a caminho de São Leopoldo, de Porto Alegre e da Campanha. 58 IBGE. Infográficos: dados gerais do município de Novo Hamburgo/RS. Disponível em <http://cod.ibge.gov. br/9LHT> Acesso em 15 fev. 2015.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 33: Mapa do município de Novo Hamburgo (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky

Os colonos realizavam trabalhos artesanais e manufaturas aprendidos na Europa. Dentre os artesãos, se destacaram os que trabalhavam com couro, produziam tamancos, arreios de cavalo etc. Devido a esse trabalho, começaram a se desenvolver curtumes na região. Um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento econômico foi, sem dúvida, a construção da estrada de ferro de Porto Alegre a Novo Hamburgo (que na época continuava sendo um distrito de São Leopoldo), concluída em 1876, a primeira construída no estado. A estrada de ferro, na época, deveria ter sido construída até onde hoje se situa Hamburgo Velho, centro comercial do distrito, porém problemas financeiros e na construção da obra acabaram impedindo que chegasse até seu destino, e o ponto final acabou sendo onde hoje se situa a rua 1º de Março. Esse fato deslocou o centro comercial da cidade para sua localização atual.


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A emancipação de Novo Hamburgo ocorreu em 5 de abril de 1927, após três anos de empenho de políticos do distrito59. O município se emancipou de São Leopoldo, ficando com uma área de 62 km² e população de 8.500 habitantes. Várias indústrias coureiro-calçadistas começaram a surgir no município e, devido a isso, toda a economia local também começou a crescer. Nos anos 1960 começaram as exportações de calçados, principalmente para os Estados Unidos. Graças também aos incentivos fiscais, houve uma expansão industrial. O crescimento econômico começou a atrair trabalhadores de várias localidades do estado, que migravam para Novo Hamburgo em busca de emprego. Esse fato fez aumentar a população do município. Porém, no início dos anos 1990, a cidade passa pela maior crise financeira da sua história, em virtude da abertura da economia, da redução de apoio governamental, com as políticas neoliberais, e a concorrência com a China. A China começou a fabricar calçados, mas com um grande diferencial do calçado hamburguense: o preço. Devido à mão de obra barata e aos escassos direitos trabalhistas, as empresas chinesas conseguem fabricar calçados com preços muito menores que os de Novo Hamburgo e, com isso, os compradores americanos começam a importar da China os calçados antes comprados aqui. Outro fator que tornou o setor instável foi a grande dependência do valor do dólar. Com a crise, muitas empresas faliram e, devido ao grande número de desempregados, intensificou-se o surgimento de vilas irregulares. Apesar da crise, o comércio da cidade estava crescendo. Criou-se o shopping da cidade e, mesmo com os problemas econômicos, o comércio conseguiu se manter forte. Hoje em dia, o setor de serviços tem grande destaque na cidade, pois Novo Hamburgo, por ser a principal cidade do Vale do Rio dos Sinos, acabou se tornando um centro comercial da região. Pessoas de cidades vizinhas vêm para a cidade à procura de grandes lojas e de lazer. Percursos pela cidade Um percurso interessante de se fazer em Novo Hamburgo é visitar o bairro de Hamburgo Velho, onde se deu o início da ocupação da cidade, mostrando o local e as residências históricas, também destacando a produção do espaço urbano ao longo das décadas e como o novo convive com o antigo. Outro percurso importante esta no centro da cidade, apresentando o ponto final da linha do trem que ligava Novo Hamburgo a Porto Alegre, mostrando sua influência na localização da área central do município. Com a extensão da linha do metrô até Novo Hamburgo, é importante conhecer as estações e destacar os impactos causados por ela na cidade. Por último, uma saída de campo em Lomba Grande mostra a parte rural do município e as diferenças do urbano e rural.

59 PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO. Novo Hamburgo, passado e futuro. Disponível em: <http://www.novohamburgo.rs.gov.br/modules/catasg/novohamburgo.php?conteudo=70> Acesso em 15 fev. 2015.


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Porto Alegre

Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

por Fernando Weiss Xavier

Conforme indica o último Censo do IBGE (2010), o município de Porto Alegre apresenta uma área de 496,8 km2 e uma população de 1.409.351 pessoas. Estudo recente confirma que Porto Alegre, há alguns anos, tem se inserido plenamente em um contexto de reestruturação metropolitana, consolidando sua transformação em uma cidade mundial. Caracterizada pelo modelo de gestão empresarial do espaço urbano, o qual atende, essencialmente aos interesses do capital imobiliário e comercial, este processo se desenrola desde as últimas décadas do século XX. Recentemente tem ocorrido uma grande transferência de indústrias de Porto Alegre para a sua região metropolitana e outros polos de atração das mesmas, passando a predominar, na capital dos gaúchos, o setor de serviços60. Com tantas mudanças, foi necessária a construção de novas infraestruturas de mobilidade para conectar as novas centralidades (aeroporto, universidades, hospitais, áreas de concentração de escritórios e centros de negócios) e os novos espaços de moradia das classes altas e médias, com destaque para os chamados condomínios fechados, que foram implementados nas zonas Sul e Norte do município61. Desse modo, em Porto Alegre verificam-se os processos característicos da reestruturação metropolitana: a formação de novas centralidades e a fragmentação. As novas centralidades surgem por demandas de empresas e profissionais dos setores mais modernos da economia. Elas mudam o uso de antigas áreas industriais, portuárias e ferroviárias até então abandonados ou em processo de degradação, e as transformam em museus e centros culturais, além de diversos tipos de empreendimentos imobiliários: shopping centers, hotéis de luxo, complexos esportivos, de eventos e empresariais, torres comerciais, condomínios fechados (horizontais e verticais) destinados a moradores das classes alta e média, entre outros. Observa-se, em diversas cidades do mundo, que esses tipos de empresas e profissionais se localizam fora da antiga área central urbana enquanto essa permanece degradada e que, mais recentemente tais profissionais tem buscado o centro “revitalizado”, “gentrificado” (isto é, recuperado para tornar-se lugar de habitação e trabalho de moradores ricos e geralmente jovens)62. O segundo processo, a fragmentação, é consequência do primeiro. Nele se combinam proximidade espacial e distância social, pois as empresas de ponta e os profissionais ricos acabam se transferindo para áreas em que vivem trabalhadores que ganham baixíssimos salários. 60 XAVIER, Fernando Weiss. O Planejamento Estratégico da Cidade de Porto Alegre na Conjuntura Prévia à Copa do Mundo de 2014. 288p. Dissertação (mestrado). Faculdade de Arquitetura. Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013. 61 SOARES, Paulo Roberto R. Metamorfoses da Metrópole Contemporânea: considerações sobre Porto Alegre. Geousp Espaço e Tempo. nº 20, 2006, Disponível em <http://citrus.uspnet.usp.br/geousp/ojs-2.2.4/index.php/geousp/ article/view/313/166> Acesso em 20 fev. 2015.; UEDA, Vanda. Os novos empreendimentos imobiliários e as transformações recentes no espaço urbano de Porto Alegre. In: ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA LATINA, 10, 2005. São Paulo, Anais. São Paulo: Departamento de Geografia/FFLCH/USP, 2005. 62 BIDOU-ZACHARIANSEN, Catherine; HIERNAUX-NICOLAS, Daniel; RIVIÈRE D’ARC, Helène. (orgs.). De volta à cidade: dos processos de gentrificação às políticas de “revitalização” dos centros urbanos. São Paulo: Annablume, 2006.


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As transformações no município de Porto Alegre têm ocorrido, principalmente, a partir do início do século XXI. O atual período se inicia com a aprovação do 2º Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, alinhado com os interesses do capital imobiliário através da flexibilização da legislação de uso e ocupação do solo, estímulo às parcerias público-privadas etc. No contexto da preparação da cidade para sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014, tais processos se intensificaram dentro da estratégia de megaeventos como oportunidade de promoção da imagem da cidade para o mundo. As tendências predominantes do urbanismo contemporâneo podem ser encontradas na zona Sul de Porto Alegre, na forma de empreendimentos residenciais horizontais de caráter residencial, voltados para as classes média e alta, nos bairros Cristal, Restinga, Hípica, Cavalhada etc. O bairro Cristal, especialmente, tem adquirido bastante centralidade a partir da construção de um shopping center, o Barra Shopping Sul, e do edifício comercial adjacente a ele, uma estratégia recorrente nos setores imobiliário e comercial. No Centro Histórico, diversas operações de revitalização se somam, como a restauração e recuperação do Mercado Público, a construção de equipamentos culturais, como o Memorial do Rio Grande do Sul (iniciativa do poder público) e o Centro Cultural Santander (iniciativa privada) e a reconversão da orla portuária em polo turístico e comercial, através do Projeto Cais Mauá63. A zona Norte compreende a “cidade radiocêntrica” e a “cidade xadrez” (conforme o modelo espacial do 2º Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre (2º PDDUA), lugar de uma política de densificação, com a expansão da construção de edifícios de alto padrão, especialmente nos bairros Bela Vista e Petrópolis, onde os setores emergentes da cidade preferem morar, constituindo uma nova centralidade urbana (figura 35, página 133). Outra área importante em que se verifica o processo de reestruturação intraurbana refere-se ao entorno do Shopping Iguatemi, inaugurado em 1984, o qual atraiu inúmeros empreendimentos residenciais de alto padrão, com destaque para o Jardim Europa, um novo bairro, planejado e voltado para a classe alta. Por último, é interessante citar o Bairro Humaitá, centro geográfico da região metropolitana de Porto Alegre e estratégico para a política de integração metropolitana (conforme exposto nas estratégias do 2º PDDUA). Nesse bairro foi construída a Arena do Grêmio e, no mesmo projeto, está prevista a construção de outros empreendimentos imobiliários (shopping center, hotel de luxo, centro de eventos, entre outros), constituindo uma importante centralidade na metrópole, em área adjacente à vila Farrapos, onde se concentra população de baixa renda e em situação social precária. Percursos pela cidade Para conhecer os processos e lugares destacados anteriormente, sugere-se: partir da zona Sul do município, seguir o eixo que inicia com a Av. Edgar Pires de Castro, no sentido bairro-centro, observando a paisagem composta por diversos condomínios horizontais de alto padrão lado a lado com as moradias de pessoas de baixa renda. Passando pelas Avenidas Icaraí, Chuí e uma parte da Padre Cacique, considerar, por um lado, a centralidade que a região vem adquirindo com a construção do Barra Shopping Sul, do Museu Iberê Camargo, a expectativa de construção de um complexo de edifícios comerciais na Ponta do 63 SOARES, Paulo Roberto R. Metamorfoses da Metrópole Contemporânea: considerações sobre Porto Alegre. Geousp Espaço e Tempo. nº 20, 2006, p. 139. Disponível em <http://citrus.uspnet.usp.br/geousp/ojs-2.2.4/index. php/geousp/article/view/313/166> Acesso em 20 fev. 2015.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 34: Mapa do município de Porto Alegre (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky

Melo, dos empreendimentos na área do Beira-Rio e da própria Av. Tronco e, por outro lado, a presença de diversas vilas no Bairro Cristal. Depois, seguir pela Av. Edvaldo Pereira Paiva, chegando ao centro histórico, para observar os prédios reformados e os equipamentos culturais recém-construídos, entre outras intervenções urbanísticas, bem como a área portuária e seu entorno e verificar se a região vem readquirindo centralidade, no sentido de atrair atividades e moradores de mais alta renda. Após esse trajeto, seguir pelo eixo rodoviário da Avenida da Legalidade até chegar ao extremo norte do município, no bairro Humaitá, onde é possível observar a Arena Gremista, recém-inaugurada, e, em seu entorno, as diversas obras de infraestrutura rodoviária de iniciativa do Governo Federal, estratégicas para promover a integração regional. Observar, também, a região do bairro Humaitá-Navegantes, onde foi implementado o Programa Integrado Entrada da Cidade (PIEC), e a situação socioespacial da Vila Farrapos.


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A partir desse local, seguir até o bairro Jardim Europa, passando pelas Avenidas Carlos Gomes e Dr. Nilo Peçanha, importante eixo de desenvolvimento imobiliário e de implementação de empreendimentos comerciais. Depois, finalmente, seguir para os bairros Bela Vista e Petrópolis, para observar, em suas paisagens, a predominância dos condomínios fechados verticais e de outros tipos de edifícios sobre as residências de caráter unifamiliar que ainda persistem. Figura 35: PPDUA - Unidades de estruturação urbana – UEUs (1999).

Fonte: Prefeitura Municipal de Porto Alegre (1999)64 64 PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Informações úteis sobre como aplicar o Regime Urbanístico Previsto no PDDUA (Plano diretor de desenvolvimento urbano ambiental). Porto Alegre: Secretaria do Planejamento Municipal, 1999, p. 4. Disponível em <http://www.portoalegre.rs.gov.br/planeja/manualpddua.pdf> Acesso em 20 fev. 2015.


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São Leopoldo

Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

por Raquel Chites

São Leopoldo faz parte do Vale do Sinos, situando-se a 34 km da capital gaúcha, através da rodovia BR116. O município faz divisa territorial com Estância Velha, Sapucaia do Sul, Novo Hamburgo e Portão e possuía, em 2010, uma população de 214.210 habitantes, com taxa de urbanização de 99,7%. A área total do município é de 102,31 Km², sendo 69,87% de área urbana, 14,84% área rural e 17,60 de área de preservação65. História e ocupação São Leopoldo é considerado o berço da colonização alemã no estado. O Rio Grande do Sul encontravase, no século XIX, ainda pouco povoado. Com 283 mil km² de território, contava com, aproximadamente, 450 mil habitantes. Havia solo fértil e vias de comunicação favoráveis, mas faltava mão de obra. Por isso, Dom Pedro I decidiu trazer população de fora, dando preferência para os de origem germânica. Em virtude da dificuldade de transporte e das difereças culturais, a migração espontânea era difícil. A solução foi oferecer diversas vantagens em dinheiro ou espécie, além de pagar os custos da viagem66. Muitos alemães, buscando melhores condições de vida, rumaram para o Brasil. Após semanas de viagem, chegavam a Porto Alegre, onde eram levados até o porto do Rio dos Sinos, alojando-se no barracão da desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo, um estabelecimento agrícola do governo. Foram concedidos, pelo presidente da província, 38 lotes para os germânicos, sendo esse o primeiro núcleo da colonização alemã em São Leopoldo. Os imigrantes foram colonizar um espaço que já era parcialmente ocupado por brasileiros, descendentes de portugueses e de escravos africanos, em conflito com a população indígena, nativa da atual região do Vale do Rio dos Sinos67. A distribuição entre brasileiros e imigrantes alemães na Vila de São Leopoldo, no ano de 1853, era de 653 alemães e 222 brasileiros67. São Leopoldo teve seu desenvolvimento a partir do rio dos Sinos e seus afluentes. A relativa facilidade de comunicação interna e o rápido deslocamento até Porto Alegre asseguraram a São Leopoldo prosperidade agrícola, favorecendo o desenvolvimento de vilas-mercados, que se tornaram povoações semirrurais, ou até mesmo centro urbanos industriais. Essa região (São Leopoldo e Novo Hamburgo) 65 Plano diretor de São Leopoldo, 2006. In: BORGES, Viviane Florindo. (Re) Produzindo lugares: Reflexões sobre os programas habitacionais de interesse social em comunidades do município de São Leopoldo/RS. 172 p. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011. 66 FILHO, Hermógenes Saviani. O processo de colonização no Rio Grande do Sul: o caso de São Leopoldo no século XIX. 230 p. Tese (doutorado). Programa de Pós-Graduação em Economia. Faculdade de Economia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008. 67 LICHT, 2005 apud FILHO, Hermógenes Saviani, 2008.


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

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Figura 36: Mapa do município de São Leopoldo (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky

sofreu as mais profundas transformações e a evolução mais completa. Inicialmente o rio, depois a via férrea e por fim a estrada de rodagem foram os elementos fundamentais da atividade e progresso da região. O desmembramento do território de Porto Alegre permitiu a constituição do Município de São Leopoldo em 1º de abril de 1846, ato extensivo à criação do distrito. Em 12 de abril de 1864, foi elevada à categoria de cidade. Anos depois, na divisão administrativa de 1911, São Leopoldo figurou com seis distritos: São Leopoldo (sede), Novo Hamburgo, Bom Jardim, Dois Irmãos, Sapiranga e Lomba Grande. A partir de então, sofreu várias reduções territoriais, chegando ao censo de 1960 com o Distrito-Sede e o de Sapucaia.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Economia Os municípios de São Leopoldo e Novo Hamburgo especializaram-se no setor coureiro-calçadista, junto com outras cidades do entorno, criando um pólo econômico, inicialmente para o mercado interno, depois para o mercado externo68. A partir de 1970, o município foi tocado significativamente pelo desenvolvimento do setor calçadista, associado ao metal-mecânico. A evolução da malha viária na região e a chegada do Trensurb a São Leopoldo, alimentadas pelo processo de industrialização, impulsionaram a migração para o vale do rio dos Sinos. O crescimento das indústrias foi o principal responsável pelo crescimento urbano do município. Entre 1970 e 1991, a população da cidade quase triplicou. Porém, no início da década de 1990 uma crise assolou a região. Nos anos de 1990, o setor coureiro calçadista enfrentou dificuldades, em virtude da abertura da economia, da redução de apoio governamental, com as políticas neoliberais, a emergência de concorrentes poderosos como a China, e também pela busca de locais com custos de produção mais baixos, ou seja, o movimento em direção à região nordeste brasileira. Essa crise foi responsável pela falência de diversas indústrias e muitas pessoas perderam seus empregos. Nos dias atuais São Leopoldo possui um diversificado parque industrial, além de expressivo setor de serviços. Há diversas multinacionais instaladas na cidade, como as alemãs Stihl, SAP, Ensinger e Gedore. A cidade possui um dos primeiros Parques Tecnológicos do País, que abriga mais de 40 empresas de informática ou de alta tecnologia e conta com mais de 600 colaboradores. A diversidade do comércio de São Leopoldo também é outro atrativo da região e mais um dos importantes aspectos econômicos da cidade. Saídas de campo no município Uma saída de campo interessante é a visita realizada com o barco Martin Pescador. O barco foi construído para ser uma sala de aula flutuante. Através de um passeio no rio dos Sinos é possível conhecer a jornada vivida pelos imigrantes alemães que chegaram à cidade navegando pelo rio. Outra opção é uma visita à Casa do Imigrante, localizada no bairro Feitoria. Essa casa, símbolo da imigração alemã, abrigou os primeiros imigrantes em 1824. Construída em 1788, nela funcionava a Feitoria do Linho Cânhamo, estabelecimento agrícola estatal criado para a plantação desse vegetal para fabricação de cordas para os navios à vela. O prédio foi tombado pelo patrimônio histórico em março de 1992. No centro da cidade há dois museus que ajudam a contar a história do município: o Museu do Trem e o Museu Histórico Visconde de São Leopoldo. O Museu do Trem mostra a antiga estação ferroviária de São Leopoldo e primeira estação construída no Rio Grande do Sul. Já o Museu Histórico Visconde de São Leopoldo, fundado em 1959, possui acervo histórico com mais de mil peças e biblioteca com oito mil volumes sobre história, geografia, artes, folclore e tradição do Rio Grande do Sul e imigração alemã69.

68 BARCELO & JARDIM apud BORGES, Viviane Florindo. (Re) Produzindo lugares: Reflexões sobre os programas habitacionais de interesse social em comunidades do município de São Leopoldo/RS. 172 p. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geografia. Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011. 69 As saídas de campo foram propostas a partir das sugestões do site da Prefeitura Municipal de São Leopoldo.


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Sapucaia do Sul

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por Felipe de Sousa Gonçalves

Sapucaia do Sul está situada a 25 km de Porto Alegre, numa região de topografia com predominância de colinas, cortada por cinco arroios que são tributários do rio dos Sinos. A altitude varia de 1m junto ao rio dos Sinos a 306m no morro do Paula, sendo a altitude média de 35m na região da Prefeitura Municipal. O município se limita ao norte com São Leopoldo, ao sul com Esteio, a leste com Gravataí e Novo Hamburgo, a oeste com Nova Santa Rita e Portão, conforme a figura 37, totalizando 59 km². Formação territorial Parte do que é hoje o território de Sapucaia do Sul foi conhecida como a “Fazenda do Cerro”, fundada em 1737 pelo retirante da Colônia de Sacramento, o português Antônio de Souza Fernando, localizando-se no sopé do Morro Sapucaia. A estância se estendia desde o rio Gravataí até o rio dos Sinos. No final do Século XIX, foram surgindo os matadouros na região e, no início do século XX, oito estavam em atividade, abastecendo inclusive Porto Alegre. Nesse período, as fazendas deram lugar a grandes invernadas, que recebiam o gado de outros lugares, das tropas e dos trens, em vagões especialmente preparados para tal. Por volta de 1930, surgiu a prática, entre as famílias mais ricas da capital, de ter uma casa no campo, conforme Eni Allgayer70. O distrito de Sapucaia distava apenas 25 km de Porto Alegre, sendo ligado à capital pelo trem, que fazia duas viagens diárias, tornando-se o local ideal para os sítios de lazer. Nos fins de semana, as famílias se deslocavam de Porto Alegre para usufruir os “bons ares” de Sapucaia e região. A era da industrialização iniciou em 1940, com a construção da BR2, hoje BR-116. O Governo do Estado do RS e o Município de São Leopoldo concederam isenções de tributos a todas as empresas que viessem a se estabelecer na região. A primeira grande empresa a chegar ao distrito de Sapucaia foi a Vacchi e Cia. Ltda., de beneficiamento de couros. Logo depois, em 1946, chegava o Lanifício Riograndense S.A, hoje denominado de Paramount Lansul S.A. Em 1945 foi a vez do Lanifício Kurashiki do Brasil S.A, empresa que motivou a instalação de uma comunidade japonesa no município. Em 20 de agosto de 1961 ocorreu um plebiscito no então distrito de São Leopoldo, no intuito de consultar a população da região, cujo resultado foi pelo desmembramento de São Leopoldo e pela emancipação de Sapucaia do Sul. No dia 14 de novembro de 1961 foi assinado o decreto que criou o Município de Sapucaia do Sul. O primeiro nome da cidade foi apenas Sapucaia, nome de uma árvore que dá fruto parecido com um porongo arredondado. Esse fruto é semelhante ao formato do morro-testemunho na cidade denominado de morro Sapucaia. Todavia, com um Decreto Federal proibindo nomes iguais de cidades no Brasil, Sapucaia decidiu adotar um nome indígena, já que era a sugestão dada por essa lei. Do tupi-guarani, Sapucaia passou a ser Guyanuba, que significa “ilha de campo dentro do mato”. Com outra portaria federal autorizando as cidades a adotarem a expressão “do Sul”, a administração resgatou o nome Sapucaia adicionando a expressão autorizada e passou a denominar-se Sapucaia do Sul71. 70 ALLGAYER, Eni. História de Sapucaia do Sul. Porto Alegre: Mercosul, 1992.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Figura 37: Mapa do Município de Sapucaia do Sul (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky

Sapucaia do Sul chegou a ser o 7º município no ranking de arrecadação de ICMS do estado. As indústrias atraíram milhares de pessoas de todos os lugares. Em 1920, Sapucaia do Sul tinha 880 habitantes. Em 1960, a população já alcançara a casa dos 18.000 habitantes. Atualmente, o município possui 131.988 habitantes72. A densidade demográfica é pouco superior a 2000 habitantes por quilômetro quadrado. Ao longo desses anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) chegou a 0,806, segundo o levantamento do PNUD/2000, índice considerado elevado.

71 SAPUCAIA DO SUL. Lei n. º 2.896, de 11 de outubro de 2006. Institui o Plano Diretor, suas diretrizes, adequando-o ao Estatuto das Cidades e dá outras providências. Prefeitura Municipal de Sapucaia do Sul, 2006. Disponível em < http://www.sapucaiadosul.rs.gov.br/wp-content/uploads/2013/09/novo_plano_diretor_lei_municipal_n2.896_ de_11-10-2006.pdf> Acesso em 20 fev. 2015. 72 IBGE. Censo 2010. Disponível em <http://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em 20 fev. 2015


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

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Evolução urbana A ocupação do que hoje é Sapucaia do Sul está diretamente ligada à sua economia. Nesse processo, o início da ocupação urbana se deu em dois locais que se destacavam em população. Um deles era no entorno da Estação de Sapucaia, inaugurada em 1874, fazendo parte da linha Porto Alegre - Caxias do Sul. O local dessa estação na cidade é hoje o da Estação Sapucaia do Trensurb e é também o centro comercial do município. Com a implantação da BR-116, o distrito de Sapucaia ensaiou uma industrialização, na região onde hoje fica a confluência entre a BR-116, a ERS-118, o rio dos Sinos e a BR-448, a Rodovia do Parque. A partir de 1958, a chegada da Siderúrgica Rio-Grandense mudou a paisagem de Sapucaia. Nessa época, o litoral sul de Santa Catarina se apresentava pouco desenvolvido e com poucas indústrias. Por conta disso, inúmeros catarinenses daquela região migraram para Sapucaia do Sul. Para atender esse público, diversos loteamentos foram surgindo pelo território do município. Primeiro, próximo ao centro da cidade e, depois, se estendendo em direção ao Morro Sapucaia, extremo leste do município. Hoje, não é raro conversar com uma pessoa na cidade e logo depois descobrir que ela é catarinense ou descendente de um deles. Na década de 1970, cogitou-se inclusive abrir uma agência do hoje extinto Banco do Estado de Santa Catarina, o BESC, na cidade, visto que muitos trabalhavam aqui e ainda mantinham famílias no estado vizinho. Até o sotaque dos “barrigas-verdes” resiste na cidade. Todavia não foram só catarinenses que ocuparam essas terras. Nas décadas de 1950/60, terrenos de baixo custo sem a mínima infraestrutura eram oferecidos na cidade. Somada à crescente industrialização, a oferta de terras baratas contribuiu para a chegada de imigrantes do interior do estado. Sapucaia do Sul, junto com os municípios de Esteio, de Cachoeirinha e de Gravataí, por exemplo, são hoje grandes concentrações urbanas em que pessoas de diversas cidades do Rio Grande do Sul e de outros estados, com destaque para Santa Catarina, se instalaram em busca de vidas melhores por conta dos novos empregos que surgiam a cada dia, e que ainda hoje são oferecidos. Consequências Desde há um bom tempo, Sapucaia do Sul carrega consigo o título de cidade-dormitório, ou seja, os seus habitantes vão para a cidade tão somente para dormir. Por conta disso, muitas vezes Sapucaia do Sul é comparada ao município de Alvorada, também na Região Metropolitana de Porto Alegre. Argumentase, entretanto, que a diferença entre as duas cidades é que Sapucaia do Sul teve a particularidade de ser cortada por uma linha de trem metropolitano, auxiliando seu desenvolvimento. Pelos dados do Trensurb, é possível ter uma ideia da saída diária de sapucaienses para outras cidades da região. Em novembro de 2010, a empresa fez uma pesquisa quantitativa para saber quantos passageiros eram transportados por dia e qual era a estação de origem desses usuários. Os dados são apresentados na tabela 7, na página seguinte.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Tabela 7: Estação de origem dos usuários da Trensurb, por dia (novembro/2010). Estação de origem Mercado Canoas/La Salle Mathias Velho Sapucaia Rodoviária

Passageiros 29.175 19.940 16.424 13.277 12.995

Fonte: Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre, 201073.

As estações Mercado e Rodoviária têm maior movimento por ficarem em Porto Alegre. Dos trabalhadores que saem das cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, grande número trabalha ou estuda na capital. A explicação para o movimento das estações Mathias Velho e Canoas/La Salle está no fato de para elas convergirem os moradores dos populosos bairros Mathias Velho e Guajuviras de Canoas e por estarem no centro da segunda maior cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre. A estação Sapucaia, que fica no centro da cidade, é por onde grande parte da população sapucaiense passa antes de ir para os outros municípios, diariamente, ficando em quarto lugar de um total de 17 estações. Ocupada sem planejamento, Sapucaia do Sul tem sérios problemas de infraestrutura e habitação. Estima-se que há um déficit habitacional de 13.000 moradias. Aos poucos esse número vai reduzindo, haja vista que programas como o Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal, vem ajudando a minimizar esta situação. Esses todos são fatores que, interligados, influenciam na economia de um município no tempo presente, podendo mudar a sua história. Diante da situação exposta, será muito difícil ocorrer uma reordenação do espaço urbano. É possível amenizar a situação oferecendo qualidade de vida às pessoas que vivem nessa cidade apenas nos finais de semana, já que ficam grande parte dos dias fora trabalhando e/ou estudando.

73 EMPRESA DE TRENS URBANOS DE PORTO ALEGRE. Pesquisa quantitativa de usuários do metrô de Porto Alegre. Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. 2010.


Conhecendo cidades da Região Metropolitana

Viamão

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por Samuel Martins

Ocupando 1.497 km², o município de Viamão é o mais extenso da Região Metropolitana de Porto Alegre. Localizado a leste de Porto Alegre, é banhado pelas águas da Lagoa dos Patos e pelo Guaíba74. Em seu território podemos encontrar diferentes paisagens, caracterizadas principalmente por morros graníticos, planícies, várzeas, paleodunas e lagoas, além das áreas urbanizadas. Dominam os campos entremeados por capões, restingas e remanescentes de Mata Atlântica, com influências marinha e fluviomarinha75. No município residem cerca de 250.000 pessoas (dados de 2014), o que o coloca como o sétimo mais populoso do estado do Rio Grande do Sul. A distribuição dessa população está longe de ser uniforme, se concentrando ao longo da ERS-040, que liga o centro da cidade a Porto Alegre. Ocupação O início de sua ocupação remonta à primeira metade do século XVIII, sendo imperativo associar esse processo histórico à figura dos chamados “Campos de Viamão”, terras compreendidas entre o litoral norte do Continente de São Pedro e o Guaíba, limitadas pela Lagoa dos Patos e a escarpa do planalto76. Eram áreas relativamente planas encontradas nos arredores dos caminhos que ligavam a planície costeira ao interior, desempenhando papel relevante no ciclo das mulas, no tropeirismo e na efetiva ocupação humana com posse de terras na região, consolidando a construção, ao longo de mais de 200 anos, da cidade de Viamão e de outras vizinhas, incluindo a capital do estado. Pouco antes do Tratado de Madrid, as primeiras sesmarias foram concedidas na região, para fixar povoamento e ocupar as terras. Esse povoamento era necessário para garantir o domínio sobre os caminhos de transporte de gado para o mercado consumidor de São Paulo. A coroa portuguesa, por sua vez, estimulava o envio de imigrantes açorianos para o novo domínio. Com a demora nas demarcações das terras que receberiam, os açorianos acabaram permanecendo em diversas localidades, como Rio Grande e Viamão. Criada em 1747, a Freguesia de Viamão (muito mais extensa do que o atual município) experimentou rápido crescimento econômico e populacional. Outras freguesias logo se desmembrariam da de Viamão: Triunfo, Santo Antônio e Porto Alegre. Em menos de 20 anos, a localidade já havia experimentado crescimento populacional considerável e tornava-se a capital da Capitania do Rio Grande do Sul. O status de centralidade política perdurou de 1763 a 177377. 74 IBGE. Cidades. Rio Grande do Sul, Viamão, infográfico: dados gerais do município. Disponível em <http://cod. ibge.gov.br/DV4>. Acesso em 20 fev. 2015. 75 FUJIMOTO, Nina S. V. M. Implicações Ambientais na Área Metropolitana de Porto Alegre - RS: um estudo geográfico com ênfase na Geomorfologia Urbana. Geousp Espaço e Tempo, 12, São Paulo, 2002. Disponível em: <http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/Geousp/Geousp12/Geousp12_NinaFujimoto.htm>. Acesso em 20 fev. 2015. 76 ELY, Nilza H. Os Caminhos de Viamão. In: BARROSO, Vera Lucia Maciel (org.). Raízes de Viamão. Porto Alegre: EST, 2008; KÜHN, Fábio. Os Campos de Viamão: uma fronteira do império luso-brasileiro. In: BARROSO, op. cit. 77 SOUZA, Celia Ferraz de. A Evolução Urbana de Viamão: de capela à cidade. In: BARROSO, Vera Lucia Maciel (org.). Raízes de Viamão. Porto Alegre: EST, 2008.


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Figura 38: Mapa do município de Viamão (2010).

Fonte: IBGE, 2010. Elaborado por Isabel Rekowsky


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O porto de Viamão, porém, ficava um tanto distante. Localizava-se na sesmaria de Jerônimo de Ornellas, junto ao Guaíba. Em virtude da facilidade de acesso náutico, a localidade logo se desenvolveu, suplantando Viamão em importância. Porto Alegre, a nova cidade, tornou-se capital em 1772. Até 1773, ainda realizaram-se sessões da Câmara em Viamão, quando o declínio político e econômico se materializou, até que, em 1809, a freguesia de Viamão passou à condição de vila de Porto Alegre. Após 1835, durante a Revolução Farroupilha, Viamão foi ocupada pelos farrapos, passando a se chamar Vila Setembrina, lembrando a data de 20 de setembro, marco da revolução. Com o final do conflito, voltou ao status anterior. Somente em 1872, um século depois de deixar de ser capital, Viamão passou a ser distrito de Porto Alegre para, oito anos mais tarde, em 11 de junho de 1880, ser elevada à categoria de vila, como sede de município. Com a chegada do século XX, aos poucos foram sendo instaladas mais casas de comércio e algumas indústrias. Gradativamente, a estrutura fundiária se consolidava. Farinha e couro começaram a ser exportados. A maior receita de Viamão, até esse momento, vinha da produção de farinha de mandioca. Porém, mais mudanças estavam a caminho. Porto Alegre contava, em 1924, com um novo porto, fato que alavancou sua industrialização. No entanto, o avanço industrial se propagava na direção de São Leopoldo, Novo Hamburgo e Caxias do Sul, mantendo Viamão fora do novo eixo de desenvolvimento. Isso explica, em parte, o retardo no ritmo de crescimento do município, que não viu novas comunidades crescendo ou buscando autonomia, mantendose como o mais extenso município da região metropolitana. Apenas em 1938 o governo mandou construir a estrada Porto Alegre – Viamão, ligação efetivada em 1942 em traçado onde hoje está a ERS-040. Até então, Viamão crescia economicamente e já havia boas opções de serviços e atividades culturais. Em meados do século XX, a economia do país buscava apoiar-se mais na indústria, e a modernização da agricultura era uma tendência concreta. Com a economia baseada na pecuária extensiva, Viamão viu-se mais afastada do progresso vislumbrado como plano nacional. O primeiro Plano Diretor de Porto Alegre (1959), agindo para organizar e disciplinar o uso e a ocupação do solo na capital, teve consequências em Viamão. Com a elevação do preço da terra em Porto Alegre, a população com menor renda passou a procurar na periferia o seu espaço e a ocupar os municípios próximos. Há várias décadas verifica-se um grande movimento pendular entre Porto Alegre e Viamão, que passou a ser, assim como outros vizinhos da capital, classificado como “dormitório”78. O município ainda não deixou de ter na agropecuária, principalmente na criação de gado e no cultivo de arroz, a atividade que ocupa a maior parcela do território, mas com participação de apenas 6% no PIB municipal. Atualmente, quase 94% da população é urbana, com a indústria respondendo por 24% do PIB, enquanto o comércio e os serviços já representam 70%. Uma das tentativas para auxiliar o incremento da atividade industrial foi a implantação de um distrito industrial em conjunto com o município de Alvorada, ainda subutilizado. Fora dele encontramos as indústrias de maior destaque, como as fábricas da Ambev (cervejaria) e da Mumu (alimentos, em processo de desativação). 78 CARRION, Otilia Beatriz K. Mercado Imobiliário e Padrão Periférico de Moradia. Porto Alegre e sua Região Metropolitana. Ensaios FEE. Porto Alegre, 1989. v.10, n.2. p. 225-250. Disponível em: <http://revistas.fee.tche.br/ index.php/ensaios/article/viewFile/1376/1741>. Acesso em 20 fev. 2015; RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz (org.). Hierarquização e Identificação dos Espaços Urbanos. Rio de Janeiro: Letra Capital; Observatório das Metrópoles, 2009.


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Turismo O turismo, ainda incipiente, apoia-se principalmente nas características históricas e naturais locais, destacando-se os parques e os sítios de lazer que oferecem opções de turismo rural. Envolto pela malha urbana e pressionado pela ocupação que o ameaça com a deterioração ambiental, está o Parque Natural Saint-Hilaire, na divisa com o município de Porto Alegre, que o administra79. Lá estão as nascentes do arroio Dilúvio, que corta a capital gaúcha, a represa Lomba do Sabão e porções de vegetação nativa preservadas. Mais afastado da zona urbana está o Parque Estadual de Itapuã. Com mais de cinco mil hectares, abriga a melhor amostra natural da Região Metropolitana de Porto Alegre. Estrategicamente localizada no encontro do Guaíba com a Lagoa dos Patos (onde encontramos o Farol de Itapuã), a área foi local de confrontos durante a Revolução Farroupilha. Aberto à visitação com restrições, conta com diversas trilhas por morros e mata atlântica, além de lindas praias, como a das Pombas e a da Pedreira. Outra unidade de conservação é o Refúgio da Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, onde predominam, junto às paleodunas da coxilha das lombas, banhados e matas de restinga. É onde encontramos as nascentes do rio Gravataí, em processo de recuperação das áreas degradadas. No centro da cidade, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, imponente templo fortificado erguido por volta de 1770, e que foi referência para a ocupação local, pode ser visitada. O estilo barroco português aliado às espessas paredes confere à edificação referências diretas à história de Viamão e do Rio Grande do Sul. Também na área central, encontramos um casario remanescente do período de maior influência açoriana, misturado com as novas edificações. Outra referência do centro de Viamão é o Lago Tarumã, cujo entorno já está dominado pela urbanização. Tarumã também é o nome do autódromo internacional localizado a poucos quilômetros do centro. Apesar de ser privado, constitui-se em um espaço de lazer e entretenimento, tendo sediado etapas de importantes categorias do automobilismo e podendo ser utilizado pelo público em geral. Viamão ainda tem um longo caminho para superar as dificuldades econômicas e de infraestrutura e os problemas do crescimento urbano desordenado, mas também seu longo caminho histórico e sua riqueza ambiental são elementos que, no cenário regional, reafirmam a importância do município.

79 PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Parque Natural Municipal Saint’Hillaire. Disponível em <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smam/default.php?p_secao=157>. Acesso em 15 fev. 2015.


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DA TEORIA À PRÁTICA SAÍDA DE CAMPO 3 Saída de Campo: Geografia Urbana de Viamão O objetivo deste trabalho de campo é percorrer quatro pontos de Viamão, evidenciando a divisão técnica e social da cidade, bem como a paisagem variada que conta com áreas mais ou menos densamente ocupadas com usos que variam entre o residencial, comercial, rural e lazer. Os conceitos de subcentro e de patrimônio histórico serão exemplificados. Processos de ocupação impulsionados por agentes privados e por grupos populares serão conhecidos, proporcionando aos alunos a experiência com projetos e preconceitos vividos na cidade. Saída do local de ensino: 8h Parada 1: Bairro Santa Isabel (Praça na esquina da Av. Liberdade com a Rua Santa Isabel). Objetivos: Conhecer esse subcentro e observar a importância da situação próxima de Porto Alegre. Descreva a paisagem (aspectos sensoriais). Descreva o sítio (as características físicas do lugar) em que estamos. Dê detalhes sobre as edificações (altura, qualidade, finalidade). Observe e registre o tipo de comércio, a densidade das construções, a infraestrutura disponível, os vazios urbanos, a vegetação... Observe e descreva as manifestações artísticas presentes nesse sítio, registrando-as em fotografia, se possível. O que você acha que seus autores desejam manifestar com as obras? Deslocamento dentro do ônibus I Observe e relate as modificações na paisagem e os diferentes usos do solo ao longo do percurso até a próxima parada. Liste placas informativas e de propaganda que surgem pelo caminho. Em casa, pesquise por que uma rua é chamada “Caminho do Meio”. Registre nomes de casas comerciais que sejam sobrenomes de pessoas. Observe qual a predominância desses sobrenomes e de que países são originários. Parada 2: Associação Comunitária e Habitacional dos Moradores do Jardim do Castelo Objetivo: conhecer um loteamento em processo de regularização fundiária; tomar contato com as dificuldades e desafios enfrentados pelos moradores; desconstruir preconceitos vinculados à imagem da marginalidade da ocupação irregular. Relate, brevemente, a razão da luta empreendida pelos moradores do Jardim do Castelo. Essas terras já tiveram outros usos? Quais? Parada 3: Centro de Viamão Objetivo: Conhecer o ponto mais antigo de ocupação de Viamão; compreender os conceitos de patrimônio histórico, de arte urbana e centralidade. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição: Identifique o estilo arquitetônico da igreja e descubra sua data de construção e o motivo de sua semelhança com uma fortificação. continua >>>


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>>> continuação Observe o centro de Viamão e compare-o com as suas descrições sobre o bairro Santa Isabel. Em que eles se assemelham? E no que se diferenciam? Deslocamento dentro do ônibus II Objetivo: Observar os contrastes e mudanças entre as paisagens urbana e rural. Observe e relate as modificações na paisagem e os diferentes usos do solo que aparecem ao longo do percurso entre o centro de Viamão e a próxima parada. Compare esse percurso com o descrito no item 2. Parada 4: Empreendimento privado Vila Ventura Objetivo: Conhecer um resort para clientes de alto poder aquisitivo; questionar as suas relações com a vizinhança e a cidade. Descreva a paisagem (aspectos sensoriais). Descreva o sítio (as características físicas do lugar) em que estamos. Dê detalhes sobre as edificações (altura, qualidade, finalidade). Descreva a função do estabelecimento e a que tipo de atividade e público ele se destina. Reflita sobre a ocupação desse empreendimento sem fins agrários em um espaço predominantemente rural. Escreva suas conclusões. Compare esse tipo de ocupação do espaço com o loteamento irregular da Vila Castelo. Em casa, complete suas questões, escolha até três fotos que possam ser usadas para ilustrar o trabalho e escreva suas legendas.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Sobre os autores Adriana Dorfman é licenciada e bacharel em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com estágio doutoral na EHESS, Paris, França. Professora do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS. Concentra seus estudos e pesquisas na área de Geografia, com ênfase em Geografia Política, Estudos Fronteiriços e Ensino de Geografia. Coordena o projeto UnbraL Fronteiras Portal de Acesso Aberto das Universidades Brasileiras sobre Limites e Fronteiras e o Grupo de Pesquisa Espaço, Fronteira, Informação e Território. Alice Seben Campana é estudante de Geografia/ bacharelado na UFRGS (quinto semestre), bolsista no Centro Polar e Climático (CPC) – UFRGS, com ênfase em estudos comportamentais de geleiras na Antártica. Amanda Bahi de Souza possui Licenciatura em Geografia e é mestranda do Programa de PósGraduação em Geografia da UFRGS, tendo desenvolvido sua pesquisa sobre moradia em unidades de conservação. Bruno José Barbosa é estudante de Engenharia Cartográfica na UFRGS (oitavo semestre), estagiário na empresa Ecoplan Engenharia, setor de Geoengenharia, com ênfase na área de cartografia. Cátia Cilene Pereira Froehlich é graduanda em Licenciatura em Geografia na UFRGS e bolsista de Iniciação Científica BIPOP/BIENC. Daniele Machado Vieira é licenciada em Geografia pela UFRGS, realiza pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da mesma universidade sob orientação da Profa. Dra. Adriana Dorfman. Dedica-se ao estudo das territorialidades e memórias negras no espaço urbano; articulação entre educação, geografia e relações étnico-raciais. Débora Schardosin Ferreira é Mestre em Geografia pela UFRGS, Especialista no Ensino da Geografia e da História, Professora de Geografia na Educação Básica. Eloar Guazzelli é ilustrador, quadrinista, diretor de arte para animação. Bacharel em Desenho e Mestre pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Reside em São Paulo. Foi

premiado em Mostras de Artes Gráficas e Festivais de cinema Brasília, Buenos Aires, Cintra, Lisboa, Piracicaba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teerã e Tóquio. Participou de exposições e mostras na Argentina, Alemanha, Bélgica, Brasil, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Itália, Japão, México, Portugal, Porto Rico, Turquia e Uruguai. Éverton de Moraes Kozenieski é Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Possui graduação em Bacharelado em Geografia pela UFRGS (2007) e mestrado em Geografia pela mesma Universidade (2010). Atualmente é Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFRGS). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Humana, atuando principalmente com sub-área Geografia Agrária. Felipe de Sousa Gonçalves é Mestre, Licenciado e Bacharel em Geografia pela UFRGS e Técnico em Transformação de Termoplásticos pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), campus de Sapucaia do Sul. É gestor de Estudos e Pesquisas do Instituto Canoas XXI – Prefeitura Municipal de Canoas, desenvolvendo estudos para o planejamento urbano, dados socioeconômicos, articulação regional, bem como a gerência de Estatística e Informação. Fernando Weiss Xavier possui graduação em Geografia/Bacharelado (2009) pela UFRGS e mestrado em Planejamento Urbano e Regional (2013), na linha de pesquisa “Cidade, Cultura e Política”, pela mesma universidade. Desde o início de sua trajetória acadêmica e profissional, dedicase à pesquisa sobre o desenvolvimento urbanometropolitano e territorial de Porto Alegre. Helena Bonetto é Licenciada em Ciências Sociais pela UFRGS (2009) e Mestre em Geografia pela mesma Universidade (2013), onde, também, é discente do Curso de Doutorado. Aborda em suas pesquisas periferia, práticas socioespaciais, lugares topofílicos e topofóbicos, memória, imaginários urbanos e métodos qualitativos de pesquisa. Isabel Rekowsky é licenciada e bacharel em geografia pela UFRGS. Possui experiência em ferramentas de geoprocessamento com atuação em projetos de licenciamento ambiental e planos de bacia hidrográfica.


Sobre os autores

Jurley Colares Ribeiro é graduando em Geografia (Bacharelado) pela UFRGS. Como bolsista de extensão integrou a equipe da PROJETO RONDON – Operação Guararapes, no município de Pedras de Fogo, na Paraíba. Técnico em Informática pelo (IFSul), campus Porto Alegre. Lucas Stanislawski Silva é professor da Rede Estadual de Ensino Público do RS, licenciado em Geografia e graduando em Educação Física pela UFRGS. Foi bolsista de Difusão e Popularização da Ciência da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS. Realizou estágios nos órgãos METROPLAN e Secretaria do Planejamento do RS. Lucas Porfírio Schneider é geógrafo pela UFRGS e mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia (UFRGS). Atuou na área de Geografia Urbana, como experiência e destaque à desconcentração industrial e metropolitana no Rio Grande do Sul. Atualmente dedica-se também à pesquisas que envolvem memórias da paisagem sobre perspectivas fenomenológicas. Lucimar Fátima Siqueira é Geógrafa graduada pela UFRGS. Mestre em Engenharia Civil pela UFSC e pesquisadora do Observatório das Metrópoles – Núcleo Porto Alegre. Atuante em movimentos sociais de luta pela reforma urbana e pelo direito à cidade. Mario Leal Lahorgue é professor dos programas de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da UFRGS, doutorou-se na área de Desenvolvimento Regional e Urbano na UFSC. Tem pesquisado e participado de grupos de pesquisa na temática urbana, olhando com especial atenção para as recentes dinâmicas e transformações de Porto Alegre. Além disso, seus interesses e aulas estão ligados a estudos de população e à epistemologia da Geografia. Pâmela Bergonci é Bacharel e Licenciada em Geografia pela UFRGS. Técnica em Monitoramento e Controle Ambiental pela mesma Universidade. Trabalhou como Geógrafa no Observatório de Segurança Pública do Município de Canoas. Hoje atua como Extensionista Rural Social pela EMATER– RS no município de Gramado Xavier. Paulo Roberto Rodrigues Soares é Doutor em Geografia Humana pela Universidad de Barcelona (2002). Graduado em Geografia pela UFRGS (1987). Professor Associado do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS. Concentra seus estudos e pesquisas

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na área de Geografia, com ênfase em Geografia Urbana e Regional, atuando principalmente nos seguintes temas: geografia urbana, metropolização, reestruturação urbana, desenvolvimento urbano e regional, geografia econômica e planejamento urbano e regional. Participa, como pesquisador, do Núcleo Porto Alegre do Observatório das Metrópoles (INCT/CNPq). Pierre Souza Medeiros é licenciado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS,) professor da rede pública estadual de educação do Estado do Rio Grande do Sul e fotógrafo profissional de eventos sociais. Rafael Zilio Fernandes é doutorando em Geografia na UFRJ. Possui mestrado em Geografia pela UFRJ, Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela UFRGS. Realiza pesquisas na área de Geografia Política e Geografia Regional no âmbito do Núcleo de Pesquisas Sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial – NUPED/UFRJ. Raquel Chites é licenciada em geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é mestranda do Programa de PósGraduação em Geografia da UFRGS, e professora da rede municipal de Novo Hamburgo. Rodrigo Costa de Aguiar é licenciado (2009) e bacharel (2011) em Geografia pela UFRGS. Atua em pesquisas sobre urbanizações fechadas, reestruturação urbana e ocupações irregulares na Região Metropolitana de Porto Alegre. Professor de Geografia de pré-vestibulares, e escolas públicas e privadas da Região Metropolitana de Porto Alegre. Rodrigo Rodrigues Silveira é licenciado em Geografia pela UFRGS e professor da rede municipal de Porto Alegre. Samuel Martins é Geógrafo e Licenciado em Geografia pela UFRGS. Mestre em Geografia pela mesma Universidade. Professor da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Pesquisa novas formas de crescimento urbano, principalmente na Região Metropolitana de Porto Alegre. Tielle Soares Dias possui graduação em Licenciatura (2009), Bacharelado (2011) e mestrado em Geografia (2014) pela UFRGS. Durante a graduação e o mestrado a principal área de atuação e pesquisa foi a geomorfologia. Atualmente é Técnica em Trânsito e Transporte da Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre.


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Territórios e Lugares da Região Metropolitana de Porto Alegre

Índice de figuras, quadros e tabelas Figura 1 – Mapa dos municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (2015) 10 Figura 2 – Mapa com o limite municipal e os núcleos do povoado de Porto Alegre em 1810 e gráfico demográfico 24 Figura 3 – Mapa dos acessos de longo curso e crescimento da metrópole 1940 26 Figura 4 – Mapa dos acessos de longo curso e crescimento da metrópole entre 1940 e 1960 27 Figura 5 – Mapa dos acessos de longo curso e crescimento da metrópole a partir de 1960 27 Figura 6 – Mapa com os principais rios e arroios da área central da RMPA (fim do século XVIII) 28 Figura 7 – Mapa do deslocamento dos territórios negros em Porto Alegre 31 Figura 8 – Imagem área do Shopping Iguatemi, Porto Alegre (2015) 39 Figura 9 – Mapa dos municípios da RMPA (2015) 50 Figura 10 – Diagrama representativo das localidades centrais de Christaller 54 Figura 11 – Mapa da RMPA: municípios, transporte e hidrografia (2012) 64 Figura 12 – Mapa da RMPA: limites, principais vias de transporte, área urbanizada e hidrografia (2012) 65 Figura 13 – Mapa da RMPA: densidades demográficas por setor censitário nos municípios (2010) 66 Figura 14 – Mapa da RMPA: Hierarquia urbana e ligações dominantes (2003) 67 Figura 15 – Mapa da população ocupada no setor primário (%) (2010) 68 Figura 16 – Mapa da população ocupada no setor secundário (%) (2010) 69 Figura 17 – Mapa da população ocupada no setor terciário (%) (2010) 69 Figura 18 – Mapa das bacias hidrográficas da RMPA (2014) 76 Figura 19 – Mapa das Unidades de Conservação na RMPA (2014) 82 Figura 20 – Aterro Sanitário 91 Figura 21 – Mapa de homicídios na RMPA (2014) 97 Figura 22 – Mapa do município de Alvorada (2010) 108 Figura 23 – Gráfico da população residente em Alvorada, de 1960 a 2010 111 Figura 24 – Mapa do município de Canoas (2010) 112 Figura 25 – Mapa do município de Eldorado do Sul (2010) 117 Figura 26 – Praia Sans Souci – Eldorado do Sul 118 Figura 27 – Camping Hawai Pesca Club – Eldorado do Sul 118 Figura 28 – Antiga fábrica de papel Pedras Brancas – Eldorado do Sul 118 Figura 29 – Mapa do município de Esteio (2010) 120 Figura 30 – Mapa do município de Gravataí (2010) 122 Figura 31 – Mapa do município de Guaíba (2010) 125 Figura 32 – Gráfico da evolução populacional de Novo Hamburgo no período de 1970-2000 127 Figura 33 – Mapa do município de Novo Hamburgo (2010) 128 Figura 34 – Mapa do município de Porto Alegre (2010) 132 Figura 35 – PPDUA – Unidades de estruturação urbana – UEUs (1999) 133 Figura 36 – Mapa do município de São Leopoldo (2010) 135 Figura 37 – Mapa do Município de Sapucaia do Sul (2010) 138 Figura 38 – Mapa do município de Viamão (2010) 142


ìndice de figuras, quadros e tabelas

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Quadro 1 – Períodos da evolução de Porto Alegre e região 25 Quadro 2 – Características de bairros habitacionais 34 Quadro 3 – Divisão social e funcional de Novo Hamburgo 40 Quadro 4 – A metrópole moderna e a metrópole contemporânea 55 Quadro 5 – Guaíba: rio ou lago? 80 Quadro 6 – Formação administrativa de Gravataí 123 Tabela 1 – Participação da Região Metropolitana no PIB do Rio Grande do Sul 58 Tabela 2 – Dados demográficos e de extensão dos municípios integrantes da RMPA 63 Tabela 3 – População X Média mensal de material reciclado 89 Tabela 4 – Canoas – Densidade demográfica em bairros selecionados – 2010 115 Tabela 5 – Canoas – taxa de crescimento demográfico em bairros selecionados – 2000/2010 115 Tabela 6 – Crescimento populacional de Esteio entre 1980 e 2010 120 Tabela 7 – Estação de origem dos usuários da Trensurb, por dia (novembro/2010) 140



Apoio ISBN 978-85-63800-11-4


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