NARRATIVAS E ESPAÇOS FICCIONAIS Uma introdução
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Reitor: Benedito Guimarães Aguiar Neto Vice-reitor: Marco Tullio de Castro Vasconcelos EDITORA DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Conselho Editorial Helena Bonito Pereira (Presidente) José Francisco Siqueira Neto Leila Figueiredo de Miranda Luciano Silva Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira Maria Lucia Marcondes Carvalho Vasconcelos Moisés Ari Zilber Valter Luis Caldana Junior Wilson do Amaral Filho COLEÇÃO LETRAS MACKENZIE Diretora: Helena Bonito Pereira
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NARRATIVAS E ESPAÇOS FICCIONAIS Uma introdução
Cristhiano Aguiar
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© 2017 Cristhiano Aguiar Todos os direitos reservados à Editora Mackenzie. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Mackenzie.
Coordenação editorial: Ana Claudia de Mauro Capa, projeto gráfico e preparação de texto: Ana Claudia de Mauro Revisão: Mônica de Aguiar Rocha Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Aguiar, Cristhiano Narrativas e espaços ficcionais : uma introdução / Cristhiano Aguiar. -- 1. ed. -- São Paulo : Editora Mackenzie, 2017. -- (Coleção Letras Mackenzie ; 3) Bibliografia ISBN: 978-85-8293-464-7 1. Espaço e tempo na literatura 2. Espaço na literatura 3. Narrativas escritas 4. Teoria literária I. Título II. Série. 17-02752 CDD-801
Índice para catálogo sistemático: 1. Literatura : Teoria 801 2. Teoria literária 801 EDITORA MACKENZIE Rua da Consolação, 930 Edifício João Calvino São Paulo – SP – CEP 01302-907 Tel.: (5511) 2114-8774 (editorial) editora@mackenzie.br www.mackenzie.br/editora.html Editora afiliada:
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“Mas diz-me agora tu com verdade e sem rodeios,
por onde vagueaste, a que terras de homens chegaste; fala-me deles e das cidades que eles habitam,
tanto dos que eram ásperos e selvagens como dos justos” Odisseia, Homero
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Prefácio
O gosto pela leitura de textos ficcionais decorre de diversos fa-
tores, sendo um dos mais instigantes a possibilidade de contemplar personagens em espaços e acontecimentos variados, que abrangem
do corriqueiro ao improvável, do anunciado ao insólito, do previsível ao inaudito, em oscilações que correspondem à deriva em que flutuam os destinos humanos.
Para os estudiosos de literatura, entretanto, não basta o mer-
gulho em outras vivências, a descoberta de diferentes mundos, o
desvendamento dos múltiplos significados de um texto primorosamente elaborado. Desejosos de entender e explicar o fascínio exer-
cido pela ficção, tais estudiosos cultivam a teoria e a crítica literária. Para tanto, criam seus instrumentos de análise, recuperam a tradição historicamente acumulada, submetendo-a a sucessivas releituras e,
mediante o exercício crítico, iluminam a superfície e as profundezas do texto e da vida.
Nessa introdução ao estudo de narrativas e de espaços ficcionais,
Cristhiano Aguiar articula instrumentos de análise e releituras da tradição, de modo despretensioso e inovador, para o exame do espaço em sua qualidade de componente essencial de toda narrativa de ficção.
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Narrativas e espaços ficcionais: uma introdução
A originalidade de procedimentos apresenta-se desde o início,
por trazer à tona o conceito de espaço, em sua complexidade, ainda
exterior ao emprego do termo na análise literária. Essa mesma origi-
nalidade permite que as reflexões desencadeadas a partir de versos de
Mario Quintana confluam para outros textos poéticos recuperados da tradição literária medieval, como a Canção de Rolando e as Cento e
uma noites, em um percurso que se direciona para aspectos relevantes da tradição crítica. Quanto a esta última, não poderiam ser mais sig-
nificativos os teóricos escolhidos, com destaque para Eric Auerbach, autor de Mimesis – obra-prima da teorização sobre a representação
ficcional. A discussão fica mais rica pela contribuição de outros auto-
res sobre aspectos diversos associados à temática da representação do espaço literário, dentre eles Ian Watt e Mikhail Bakhtin.
É longo e frutífero o passeio pelas sendas da tradição literária,
com a abordagem da questão do espaço, em diferentes séculos, em obras de origem neolatina: aquelas de tradição italiana com o Deca-
meron (Boccaccio), espanhola com o Lazarilho de Tormes (anônimo)
e, ainda, francesa com “Micromegas” (Voltaire). Só então entram em cena literatos do século XIX, como Honoré de Balzac, este ainda
na perspectiva de Auerbach, e o contraponto que o autor estabelece entre o grande romancista francês e Machado de Assis, exemplificado por meio do conto “Capítulo dos chapéus”, analisado por Alfredo Bosi e Mary del Priori.
A articulação tem sequência com o conto “Amor”, de Clarice
Lispector, primeira dentre outros ficcionistas do século XX a fazer
parte do corpus analisado por Aguiar, já imbuído do aparato teórico que conduz, com muita propriedade, nos capítulos seguintes. Dessa
forma, constituem foco privilegiado as bases teóricas e as perspecti8
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Prefácio
vas críticas sobre espaço, com sólida harmonização – a exemplo da
que foi alcançada na primeira parte do livro – e agora exercendo sua liberdade crítico-criativa.
Acrescentam-se, finalmente, textos de autores que trabalha-
ram a teoria do espaço na literatura, como Gaston Bachelard, Luís A. Brandão e Osman Lins, para subsidiar estudos sobre a narrativa
contemporânea, tendo como objetos de anaálise textos de Milton Hatoum e Luiz Ruffato, dois dos mais relevantes ficcionistas nos
decênios mais recentes da literatura brasileira. Esses estudos, apresentados como “exemplos de leitura”, revelam a maturidade alcançada por Cristhiano Aguiar na complexa ação de analisar e interpretar textos literários.
Ficção e teoria articuladas de modo impecável é o que esta obra,
que certamente é uma contribuição didática aos estudos sobre o es-
paço, proporciona aos estudiosos de narrativa ficcional. Narrativas e
espaços ficcionais: uma introdução é uma despretensiosa introdução à análise do espaço ficcional em narrativas, o exercício crítico se reve-
la com intensidade e brilho, cumprindo seu papel de contemplar a magia da ficção para iluminar a superfície e as profundezas do texto e da vida.
Helena Bonito Pereira
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Este livro consiste em um recorte da fundamentação teórica
da minha tese de doutorado, defendida em dezembro de 2014, na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob orientação da professora
dra. Helena Bonito Pereira. Dessa forma, gostaria em especial de agradecer à minha orientadora pela dedicação, paciência e inteligen-
te interlocução, sem as quais não teria concluído a pesquisa, que se apresenta de modo parcial nesta publicação.
Da mesma maneira, agradeço ao programa de Pós-Graduação
em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, aos meus pro-
fessores e aos funcionários administrativos na pessoa da sua então coordenadora Ana Lúcia Trevisan, por todo o suporte e o apoio necessários a esta caminhada.
Agradeço, igualmente:
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-
rior (Capes) pelo financiamento da pesquisa, mediante a concessão de bolsa de doutorado-sanduíche, que me permitiu estudar e pesquisar, ao longo do ano de 2012, na University of California, em Berkeley. Em seguida, agradeço à concessão de uma bolsa de pesquisa,
pela mesma agência de fomento, quando do meu retorno ao Brasil, subsídio fundamental para a conclusão do trabalho.
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Às professoras Candace Slater e Natalia Brizuela, por terem me
recebido tão bem em Berkeley e terem franqueado o acesso aos seus seminários.
Aos membros da banca examinadora de tese: Eduardo F. Cou-
tinho, Claudio Willer, Glória Carneiro Amaral e Ana Lúcia Trevisan pelas valiosas contribuições em suas arguições.
Aos meus amigos e colegas da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Universidade Federal de Pernambuco e University of
California, em Berkeley, pelo privilégio de debater com todos vocês muitas das ideias propostas neste livro.
Aos meus familiares e a Nina, por todo o amor e carinho.
Dedico, por fim, o livro às minhas avós, Dona Vera e Dona
Ildes (in memoriam), por terem me ensinado a contar histórias.
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Sumário
Introdução
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Espaço e narrativa: breve histórico de um percurso de representação Conversando com Mario Quintana
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A literatura é uma janela para conhecermos cidades e geografias?
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O espaço dos sultões, dos cavaleiros medievais e dos dragões
37
Espaço e o nascimento da literatura moderna: Erich Auerbach, Ian Watt e Mikhail Bakhtin
44
Decameron: os túmulos de Guido Cavalcanti
51
Lazarilho de Tormes: realismo e paródia
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“Micromegas”: o espaço da ciência moderna
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Espaço ficcional em Balzac, Machado de Assis e Clarice Lispector
Espaço: bases teóricas e perspectivas críticas
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103
Forma temporal, forma espacial: G. E. Lessing e Joseph Frank
105
Espacialização da forma e espacialização temática: Osman Lins e Juan José Saer
123
Espaço e teoria literária: algumas abordagens
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Espaço e literatura contemporânea brasileira: um exemplo de leitura
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Cinzas do Norte, de Milton Hatoum, e Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato: uma leitura dos seus espaços narrativos
147
Cinzas do Norte: o espaço da natureza e o espaço da representação
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Eles eram muitos cavalos: São Paulo, o hiperpoema
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Conclusão
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Referências
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Índice
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