A escrita e o livro da imaginação ao digital

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A Escrita e o L i v ro Da imaginação ao digital

Textos de: Margaret Bakos - Alberto Manguel - Ladisla Mandel - Renata Dariva Naieri Ferraz - Maria Thaizza - Caline Galvão - Charles Higounet Pedro Corrêa do Lago - Ellen Lupton - Michael Polland

Editor: Allan Gonçalves de Santana Prefacio: Allan Gonçalves de Santana

Editora Objetiva, São Paulo, Dezembro de 2016


Copyright © 2016 By Allan Gonçalves de Santana

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Todos os direitos reservados. Nenhuma

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da editora Objetiva LDTA. Revisão: Talitha Tiyomi Lima Capa: Alberto Alves Editoração eletronica: Fabricio Vilela Objetiva Editorial, São Paulo, Dezembro de 2016


“A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exatidão” Francis Bacon



D edico a memória de meu falecido pai Nilo Pereira, que tanto sonhou

em escrever um livro, mas nunca pôde. Dedico aos meus familiares que compreenderam a minha ausência e noites perdidas de sono para produzir esta obra. Dedico aos meus colegas Alberto e Fabrício que tanto colaboraram e correram contra o tempo junto comigo para finalizarmos esse livro. Dedico a minha querida noiva Kelly, que leu os textos e sugeriu novas ideias. Dedico a Talitha Lima que nos ajudou com todas as correções e revisões de textos. Dedico aos meus colegas Washington e Peterson pela força e ideias para o projeto durante a produção inicial desta obra.



Prefácio

A escrita, uma das ferramentas mais importantes para o desenvol-

vimento da humanidade, possui uma história e uma trajetória extensa e rica, surgindo na Pré-História de forma rudimentar em pinturas rupestres, que passaram a representar símbolos, que se tornaram alfabetos, e com a junção das letras, foi possível formar palavras e textos que são utilizados na atualidade em escala mundial. Durantes os anos, junto da evolução humana, a escrita se espalhou pelo mundo e foi adaptada a diferentes civilizações e culturas, que desenvolveram sistemas simbólicos e alfabetos próprios. Neste livro, de forma resumida, o editor dos diversos textos Allan Santana, tenta levar ao leitor uma nova forma de história da escrita e do livro. Onde direciona a história para o Brasil a partir do século XIX. Pois muitos não contam a participação do livro e da escrita de forma ampla, contando a mesma muitas vezes levianamente na América do Sul. Sabemos que quase tudo relacionado à literatura impresssa, aconteceu entre o Oriente Médio e a Europa. Portanto a América do Sul aparece mais tarde com a participação de alguns países como Peru e México no século XVI e o Brasil após o século XVIII, com o primeiro livro impresso em solo nacional.

Boa Leitura.



Sumário Introdução

15

Pré-história

19

A imaginação e a arte rupestre

22

Os registros mais antigos da pintura rupestre

25

O lado espiritual da pintura rupestre

26

Pintura rupestre e a semiótica

27

Como surgiu a pintura rupestre e os primeiros suportes para a arte

30

Idade Antiga

35

As escritas mais antigas do Mundo

38

Uso dos Hieróglifos

41

Alfabeto Hieróglifo

42

Os tabletes de argila como suporte de escrita

44

O papiro como suporte de escrita

45

Os suportes de escrita até o pergaminho

46

A escrita após os hieróglifos e a cuneiforme

50

O Alfabeto Fenício

52

Alfabeto Grego

54

Alfabeto Romano

58

Origem e desenvolvimento

60


Idade Média

63

Origem do papel na China

66

Os códices

68

Os manuscritos

74

Caligrafia e iluminura

76

Os Escribas e a escrita

78

Carolíngia século VIII

80

Origem da Carolíngia

82

Fim da Letra Carolíngia e o surgimento da Gótica

85

Idade Moderna

89

Antes da Imprensa

92

Os primeiros impressores chineses e os livros na Europa

94

O tipo Móvel

98

Processo de impressão

100

A Bíblia de Gutenberg

102

Após a invenção da imprensa

104

Estilo Humanista

106

Itálico

110

Diferenças entre fontes itálicas e fontes romanas

112


Idade Contemporânea

115

Os tipógrafos do século XVIII

118

Tipografia e o livro no Brasil

120

Encadernação no Brasil

124

Revolução Industrial

126

Reforma e revolução no século XX

130

A segunda Revolução Industrial

134

A escrita e o Livro no século XXI

136

Grafite, pichação e Handmade

140

Escrita de internet uma nova visão

144

A importância da tipografia hoje

148

Glossário:

151

Bibliografia

157



Introdução

U ma das habilidades que o homem desenvolveu desde o início dos tempos, foi a prática

da sobrevivência. Para sobreviver, era preciso recorrer a métodos arriscados e que muitas vezes não eram bem-sucedido. Para obter mais sucesso nas suas caçadas o homo sapien começou a inventar armas para serem usadas contra animais que eram mais fortes que ele. Naquele período da Pré-História, os seres humanos viviam em cavernas e começaram a desenvolver a imaginação, e buscar meios de representar o seu cotidiano nas paredes da caverna. Essa representação nas paredes das cavernas, hoje em dia conhecemos como pintura rupestre, que é reconhecida como a primeira tentativa de escrita por símbolos pictográficos. Surge, ainda na Pré-História a necessidade de se criar registros, sendo assim a invenção da escrita e o seu desenvolvimento, de suma importância para suprir as necessidades de registro dos seres humanos e foi graças a ela que ocorreu a evolução da nossa espécie, já que é preciso

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conhecer o passado para se construir novas tecnologias e continuar o desenvolvimento. Podemos afirmar então que a evolução da escrita e a história e desenvolvimento da humanidade, estão intimamente entrelaçados, formando uma unidade. Esses laços foram atados de tal forma na evolução humana, que até pode-se estabelecer uma analogia entre a história da humanidade e a aprendizagem da escrita de um indivíduo, pois do Paleolítico ao contemporâneo o homem mantém uma relação com as inscrições de forma semelhante à aprendizagem da escrita na infância. Ou seja: assim como a criança tem seu primeiro contato com a forma de comunicação não verbal através dos seus primeiros rabiscos, desenhando e reconhecendo figuras, os homens das cavernas começaram a registrar sua história através de desenhos e rabiscos. A escrita, causou uma revolução tão significativa nas comunicações, que os historiadores estabeleceram o encerramento da Pré-História e o nascimento da História no período em que o homem começou a escrever. Mas essa passagem histórica não se deu ao mesmo tempo em todas as partes do mundo. Somente muitos milênios depois foi que a Pré-História findou na América, na África Central e na Austrália, com a conquista dessas regiões pelos europeus, a partir do século XV. Isso demonstra que por mais de cinco mil anos, a escrita manteve-se na vanguarda.

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Podemos dizer que o fim da Pré-História ocorreu primeiramente no Oriente Médio, com o surgimento da escrita ligado à evolução das primeiras civilizações urbanas, na região entre os rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia, cerca de 40 séculos antes da Era Cristã. Buscando sempre novas maneiras de facilitar a vida desde a época da Pré-História, por volta de 4000 a.C., o homem passou a utilizar objetos pontiagudos para marcar pedras e blocos de argilas, dando origem aos primeiros símbolos que mais tarde seria conhecido como a escrita cuneiforme na Mesopotâmia. Em paralelo no Egito, os egípcios exploravam uma outra maneira de escrita chamado hieróglifos. Ao longo dos séculos, após a difusão da escrita, surge os primeiros alfabetos, e este se espalha na Europa onde o estilo gótico predomina na idade média após a escrita Carolíngia. Surge ainda diversos empregos que foram chamados de copistas, onde a Igreja Católica teve uma grande influência. Desde então, a necessidade de ter livros, e de se comunicar com o uso da escrita, levou a um grande inventor, a ter uma ideia considerada por muitos “genial”, a invenção da imprensa tipográfica com tipos móveis, que facilitou reproduzir diversas cópias iguais de um mesmo livro. Mas ainda no final da Idade Média, o processo de impressão era demorado, mas acabou por extinguir o trabalho dos copistas que levavam anos para reproduzir uma única cópia de um livro. Após a invenção da imprensa, a importância do livro se tornou fundamental para representar status, onde os ricos ou as pessoas importantes davam livros de presentes, e tinham diversos livros nas suas bibliotecas pessoais para demonstrar o poder intelectual de suas famílias. No século XV surge o estilo itálico, se difunde amplamente o estilo humanista e é nesse mesmo período que surge a demanda em grande escala de livros impressos. Atualmente, com a chegada da internet que entrou na vida humana após o século XX, nos leva a uma nova forma de escrita, onde temos a tecnologia que influencia todo o processo de comunicação verbal, escrito e gestual. De tal forma podemos dizer que a história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a partir da escrita.

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CAPÍTULO

1

PRÉ-HISTÓRIA *Representação da palavra Pré-Historia baseada no alfabeto Ugarit


PRÉ-HISTÓRIA


Arte rupestre – Europa Ocidental Aproximadamente 40.000 – 35.000 A.C

Arte rupestre – Ásia (Indonésia) Aproximadamente 40.000 – 35.000 A.C

Arte rupestre – França Aproximadamente 40.000 – 35.000 A.C


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A imaginação e a arte rupestre

A busca pelo conhecimento é uma atividade exclusivamente humana. Conhecer não signi-

fica apenas perceber, mas apreender e interpretar. Conhecer pressupõe a existência de sujeitos, objetos ou fatos que serão investigados, e uma compreensão final sobre o algo ou o acontecimento. Desde os primórdios o homem teve a necessidade de apreender, o interesse em buscar conhecimento o fez evoluir. Uma informação por si só não gera conhecimento, como também não significa comunicação. Para que ela se transforme em comunicação, deve ser compreendida pelo receptor que a decodifica e chega a uma conclusão. A informação só produz conhecimento quando quem a recebe sente a necessidade de compreendê-la. Compreender é buscar conhecer a informação através do ato investigativo. Os estudos científicos sobre a evolução humana nos mostram o quanto o homem buscou questionar a realidade introduzindo novos conceitos sobre ela e novas técnicas para encará-la. Foi

24


P ré H istória

através da não aceitação dos fatos que o homem passou a produzir novidades e facilitar a própria vida. Isso pode ser identificado quando nossos ancestrais deixaram de caçar com as próprias mãos e passaram a caçar com lanças, por exemplo. É interessante perceber que dentro desse processo evolutivo, o homem se apropriou de uma técnica que é intrínseca a ele: a arte de imaginar. Para Chauí (2000), a imaginação pode ser uma grande aliada do conhecimento, pois através dela o homem tem capacidade de não apenas reproduzir fatos e imagens, mas de criar algo que não existe. A imaginação está estritamente vinculada ao conhecimento no processo investigativo, na formulação de dúvidas, incertezas e busca pela “verdade”. O ato da busca pelo conhecimento compreende inicialmente a percepção e a imaginação. Embora possamos fazer as duas coisas ao mesmo tempo, a percepção e a imaginação são atividades humanas distintas. O homem percebe um objeto, ele o observa, mas diante de uma situação em que este objeto não está presente, ele cria a sua imagem na mente. O mesmo acontece com uma situação: durante uma luta, o homem percebe os passos do inimigo e reage. Distante dessa realidade, ele pode criar possibilidades de ataque em uma luta imaginária, pode criar cenas fantasiosas na mente e reproduzir em formas de símbolos, no qual, milênios depois, chamaríamos de pictogramas.

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P ré H istória

Os registros mais antigos da pintura rupestre

P odemos perceber nas pinturas rupestres reproduções de lutas entre

homens e ataques a animais. Para que o homo sapiens tivesse condições de desenhar essas cenas, ele teve que passar pelo processo imaginativo. De acordo com Chauí (2000), a imaginação quando age de maneira reprodutora, reflete algo que de fato aconteceu ou algum objeto que existe. Essas pinturas de ações humanas, então, podem significar reproduções de acontecimentos passados que estavam na memória do criador da arte. Contudo, essas pinturas rupestres também podem fazer parte da imaginação criadora, em que as ações de fato não aconteceram, mas o homem passou a raciocinar a possibilidade delas ocorrerem. Quando o homem usa a imaginação criadora, ele se apropria de atos perceptivos, da memória, da imaginação reprodutora (porque analisa o que já aconteceu para poder criar novas possibilidades), e de ideias inexistentes para formular a possibilidade real de uma ação. Nas pinturas rupestres também podemos compreender que o homem utilizou a imaginação evocadora, Chauí (2000), representada por imagens carregadas de simbologia emotiva. Essas imagens remetem a algo que está distante ou que por algum motivo deixou de existir. A intensidade dos traços, a firmeza e o diâmetro de algumas imagens demonstram o quanto o homem pré-histórico tinha a necessidade de recriar o que desejava, de aproximar de si algo que ansiava e que estava distante.

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O lado espiritual da pintura rupestre

É interessante notar que, seguindo o pensamento de Chauí (2000), a imaginação fabuladora

começou a acompanhar o homem na medida em que, em busca da verdade, ele passou a questionar o fim da vida, “o além”. Foi quando começou a surgir o sentimento pelo espiritual. Algumas das imagens rupestres são carregadas de simbologia espiritual. O homem passou a rejeitar a morte, rejeitar o fim e a acreditar no “pós-morte”. Rituais religiosos passaram a ser pintados. Somente através da imaginação humana em busca do conhecimento é que foi aberta a possibilidade de se conceber o sobrenatural, a duvidar do que está perceptível aos olhos. Por isso, o surgimento da religião é um marco importante na evolução da mente humana. Vale salientar que o imaginário reprodutor, quando utilizado em demasia, pode provocar o bloqueio da capacidade criadora e, consequentemente, da necessidade de investigar a fim de alcançar conhecimento. O ato de apenas reproduzir a realidade sem questionar atrofia nossa capacidade de apreensão. Existem pinturas rupestres, que talvez representariam um ato de espiritualidade, portanto, os estudos não foram o suficientes para comprovar se eram verídicas ou não.

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P ré H istória

Pintura rupestre e a semiótica

A comunicação pode ser um ato intrapessoal (mais defendido pela psicologia, pois se refere

ao fato de podermos conversar com nós mesmos), um ato interpessoal (quando em diálogo entre duas pessoas), um ato grupal (em que um emissor fala ao público ou o público questiona o emissor) ou um ato mediático (através dos meios massivos de comunicação). Mas, sobretudo, a comunicação é um ato social. Há inúmeras escolas que estudam a comunicação, mas a semiótica é o formato ideal para compreendermos a comunicação desenvolvida pelos povos pré-históricos através das pinturas rupestres. É interessante ressaltar que em solo brasileiro as pinturas em pedra continuaram sendo muito difundidas pelos índios, que embora fossem modernizando seu modo de se expressar (através de símbolos mais estruturados), continuaram a usar a pintura como um dos meios mais importantes de comunicação. Nossos índios só entraram em contato com a escrita, de fato, depois da colonização no século XVI.

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A semiótica é uma ciência que estuda os signos e valoriza todo o processo pelo qual uma mensagem pode ser interpretada. É uma forma de compreender o processo comunicacional valorizando a lógica que compreende o ato de realização da informação transferida pelo emissor (codificação), o ato da interpretação dessa informação (decodificação) e a conclusão a que chega o receptor (recodificação). A semiótica tem como característica principal a compreensão dos signos e das significações para uma cultura. Segundo Machado (2010, p.281), “ entende por signo qualquer coisa que sugere a presença ou existência de um fato, condição ou qualidade ”. O signo representa algo para alguém, e este algo está em lugar de alguma coisa. Por exemplo, uma pintura é um signo. O receptor desta imagem irá, através do significante, interpretar o signo e finalmente chegará a um significado para aquele signo. Vale salientar que um signo para alguém pode não significar o mesmo para outra pessoa. O significado de um signo para um indivíduo ou para uma comunidade pode não ser o mesmo em uma cultura diferente. Um exemplo de como um signo no Brasil pode ter um significado bem diferente em outras nações é quando tratamos de religião. Quando observamos o desenho de uma casa com uma cruz no alto, logo identificamos uma igreja, ou seja, aquela imagem é um símbolo religioso. Nossa referência cultural leva-nos a crer que aquela figura é carregada de significado religioso. Contudo, em nações onde a cultura cristã inexiste, a imagem de uma casa com uma cruz no alto nada significa, pois não há significante naquela cultura que faça o receptor conceder um significado àquela figura. A semiótica trabalha com o imaginário do homem. Tudo o que fornece sentido faz parte da semiose. Não falamos sem imaginar o objeto ou a cena através da qual nos basearemos para iniciarmos uma comunicação.

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P ré H istória f i g u ra h u m a n a uma

Esse objeto é representado através de uma palavra, esta palavra é um signo, consequentemente é carregada de significado. Mas não necessariamente um signo é uma palavra. Qualquer coisa que represente algo para alguém é considerada signo. Uma pessoa que sorri abanando uma das mãos tem um significado. Esse ato é um signo que significa dizer “oi” ou “tchau”. Contudo, uma pessoa que desconhece esse código, não pode compreender o ato, que automaticamente perde sentido, e ao invés de ser considerado signo, passa a ser tratado apenas como um ato irracional. Um signo representa uma coisa que está no lugar de outra. O homem pré-histórico não podia pendurar um mamute em uma pedra, mas poderia desenhar este animal na pedra. O desenho é o signo que representa o mamute, mas que não é o mamute, porém é uma interpretação sob determinada ótica. Esse signo (a pintura do mamute) tem um significado (que é o mamute), mas precisa ser decodificado pelo receptor para que, para este, o signo tenha sentido.

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Como surgiu a pintura rupestre e os primeiros suportes para a arte

E

m uma matéria da revista Nature , cita que é possível que a arte rupestre tenha surgido simultaneamente na Ásia (Indonésia) e na Europa Ocidental. Outros estudos apontam que na França também tenha surgido a arte rupestre com datas aproximadas a 38 mil a.C., mas a arte rupestre surge como manifestação artística durante o Paleolítico Superior, prolongando-se ao longo dos tempos e até aos dias de hoje, como se pode ver em algumas gravuras do Vale do Côa. Este tipo de arte pode surgir-nos em grutas ou ao ar livre, nos tetos ou nas paredes, em zonas públicas e de fácil acesso ou nos cantos mais escondidos das grutas, sob a forma de pintura ou de gravura. As gravuras podiam ser feitas segundo várias técnicas, como a abrasão, a picotagem ou a incisão, as designadas gravuras filiformes.

A arte rupestre compõe-se de diversas lingua-

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gens visuais, conceitos e símbolos com variados valores e crenças. Era uma maneira de comunicação escrita entre os indivíduos e, também, usada para expressar a moral e os valores nos quais uma determinada comunidade vivia. Muitos estudiosos afirmam que a arte pré-histórica possui funções e características comparáveis às da arte que conhecemos hoje. Era a máxima expressão, não somente do indivíduo, mas também de afirmação de um grupo.

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A arte rupestre possui variados estilos, técnicas

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e materiais e, geralmente, são as representações de animais, da Natureza e das pessoas. Reconhecida, também, pela sua característica de linguagens com sinais gráficos e suas mensagens abstratas através de desenhos, a arte rupestre possui uma interpretação difícil, pois está cheia de controvérsia. No entanto, os estudiosos entram em consenso quando pensam que o mais correto é que a arte feita naquela época era a necessidade do homem de expressar-se e expressar tudo o que existe à sua volta, reagindo às coisas e à realidade que vive. As ilustrações encontradas, na maior parte dos casos, são representações da vida cotidiana, da caça, de rituais religiosos.

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A nível da pintura, os materiais mais utilizados na sua elaboração são as rochas, que funcionavam como painéis de suporte à arte, o carvão, o óxido de ferro (ocre), argila e outros pigmentos naturais que misturados com resina ou gordura funcionavam como tintas. As pinturas eram feitas com os dedos, com pincéis rudimentares, canas ou pequenos paus que seriam utilizados como lápis. Por vezes era também usado o relevo natural das rochas para dar a sensação de volume ao corpo do animal que se pretendia representar. É muito comum a representação de animais, como os cavalos, cervos, mamutes, bisontes, etc. Estes podem surgir isolados, em conjunto ou até mesmo sobrepostos, organizando-se de acordo com as suas superfícies de suporte, as paredes das rochas. Para Ladisla Mandel, o modo de escrita por nós utilizado atualmente não é o primeiro do gênero. Entre os diversos sistemas de anotações do pensamento que precederam a escrita,

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P ré H istória

somente alguns conseguiram chegar ao que hoje em dia chamamos de escrita. É evidente que em lugares e em tempos diferentes, porém levados pelas mesmas necessidades de proteger suas vidas e de assegurar sua perenidade, os homens aprenderam a ler os sinais do meio ambiente biológico: conhecer a vida animal, a vegetal, as estações etc. De tal forma, eles sacralizaram os lugares, ou objetos por meio de marcações gráficas como entralhes, gravuras, pinturas, e outras formas de representação gráfica. Sabemos que os sinais e símbolos que já duraram mais que trinta mil anos, foram os primeiros traços de comunicações para o homem pré-histórico. Portanto para muitos, foram considerados como escrita não verbal, assim como v afirma que através das primeiras anotações gráficas que possibilitariam naturalmente a necessidade de aprimorar a forma verbal e não verbal através de símbolos.

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CAPÍTULO

2

*

IDADE ANTIGA *Representação da palavra Idade Antiga baseada no alfabeto Hieroglifo


IDADE ANTIGA


Papiro – Egito

Aproximadamente 3.000 – 2.000 A.C

Hieróglifos – Egito Aproximadamente 4.000 – 3.000 A.C

Grego 1.000 A.C

Cuneiforme Mesopotâmia (Iraque) 4.000 – 3.000 A.C

Alfabeto Romano 700 A.C

Pergaminho Cidade de Pérgamo (Turquia) 200 A.C

Acadiano - Cidade de Acádia (Iraque)

3.000 – 2.000 A.C

Escrita babilônica Capital da Suméria 3.000 – 2.000 A.C

Aramaico

Hebraico

Árabe

Fenício

1.000 A.C

1.000 A.C

1.000 A.C

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As escritas mais antigas do Mundo

O s registros apontam que a escrita cuneiforme e os hieróglifos são os mais antigos, onde acontece a ruptura da pré-história no quarto milênio. Porém a escrita é muito mais antiga, conforme Katia Pozzer (1998, p. 41) “ a ideia de escrita surgiu ainda na pré-história, pois,

desde o período neolítico e durante milênios, o homem praticou sistemas de contabilidade utilizando símbolos numéricos que serviam de auxílio na administração do templo e do palácio ”. Nasceu na mesopotâmia a escrita cuneiforme que é o resultado da incisão de um estilete, impressa na argila mole, com três dimensões (altura, largura e profundidade). A escrita cuneiforme foi utilizada para se gravar em paredes de rochedos, corpos de estátuas e grandes monumentos, sendo sempre as inscrições um decalque do texto escrito no tablete de argila. Lê-se um texto em escrita cuneiforme da esquerda para a direita e de cima para baixo, como em português. E como suporte de escrita foram criados os tabletes de argila que possuía, em geral, 10 cm (a dimensão da palma da mão), mas pode variar de 3 cm a mais de 50 cm.

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Um livro com placas de argilas, consistia de várias dessas tabuletas, mantidas talvez numa bolsa ou caixa de couro, de forma que o leitor pudesse pegar tabuleta após tabuleta numa ordem predeterminada. É possível que os mesopotâmicos também tivessem livros encadernados de modo parecido ao dos nossos volumes: monumentos funerários de pedra neo-hititas representam alguns objetos semelhantes a códices - talvez uma série de tabuletas presas umas às outras dentro de uma capa, mas nenhum livro desses chegou até nós. Nem todos os livros da Mesopotâmia destinavam-se a ser segurados na mão. Existem textos escritos em superfícies muito maiores, tais como o Código de Leis da Média Assíria, encontrado em Assur e datado do século XII a. C., que mede 6,2 metros quadrados e traz o texto em colunas de ambos os lados. Obviamente, esse “livro” não se destinava a ser carregado, mas erguido e consultado como obra de referência. Nesse caso, o tamanho devia ter também um significado hierárquico: uma tabuleta pequena poderia sugerir um negócio privado; um livro de leis nesse

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formato tão grande com certeza aumentava, aos olhos do leitor mesopotâmico, a autoridade das leis. Independentemente do que um leitor pudesse desejar, o formato de um livro era limitado, claro. Já os hieróglifos que surgiram no Egito, graças as referências simbólicas ligadas as realidades cósmicas, numéricas e divinas, os egípcios podiam expressar os mistérios divinos. Hieróglifo é a junção de duas palavras gregas: ἱερός (hierós) “sagrado”, e γλύφειν (glýphein) “escrita”. A escrita hieroglífica constitui provavelmente o mais antigo sistema organizado de escrita no mundo, e era vocacionada principalmente para inscrições formais nas paredes de templos e túmulos. Com o tempo evoluiu para formas mais simplificadas, como o hierático, uma variante mais cursiva que se podia pintar em papiros ou placas de barro, e ainda mais tarde, com a influência grega crescente no Oriente Próximo, a escrita evoluiu para o demótico, fase em que os hieróglifos iniciais ficaram bastante estilizados, havendo mesmo a inclusão de alguns sinais gregos na escrita. Apenas os sacerdotes, membros da realeza, altos cargos, e escribas conheciam a arte de ler e escrever esses sinais “sagrados”. Para Ladislas Mandel, o clero egípcio, detentor dos mistérios e do saber, há milênios associados ao poder, não tinha nenhum interesse em dessacralizar a escrita tornando-a acessível ao povo.

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I dade A ntiga

Uso dos Hieróglifos

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a antiga língua do povo egípcio. Existem inscrições desde três mil a.C. até por volta do século IX d.C., data aparente da última inscrição hieroglífica, numa parede no templo da ilha de Philae. Durante os mais de três milênios em que foram usados, os egípcios inventaram cerca de sete mil sinais. Um texto escrito nas épocas dinásticas não continha mais do que setecentos sinais, mas no final desta civilização já eram usados milhares de hieróglifos, o que complicava muito a leitura, sendo isso mais um dos fatores que tornavam impraticável o seu uso e levaram ao seu desaparecimento.

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Representação dos hieróglifos

Tabela Comparativa

Alfabeto Hieróglifo

O primeiro alfabeto consonantal conhecido foi elaborado com a seleção de cerca de vinte

e seis hieróglifos que eram signos uni consonantais, ou seja, o primeiro alfabeto foi elaborado pelos escribas egípcios, e era consonantal, só representando o som de consoantes. Como todos os alfabetos posteriores derivam deste, inclusive o fenício, algumas letras usadas por nós são simplificações das imagens usadas nos hieróglifos originais, a letra “T” deriva de um hieróglifo semelhante a uma cruz, também notável é a letra “M” que derivou do hieróglifo que era usado para simbolizar a água, e que pode ser facilmente reconhecido, pois graficamente é simplesmente a junção de três letras “M” A escrita chinesa também se desenvolveu na fase ideográfica, porem a sua origem é desconhecida.

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A Pedra de Roseta é um texto do Antigo Egito escrito em hieróglifos,

grego e demótico egípcio em um grande bloco de granito, facilmente confundido com basalto. Esse texto foi descoberto em 1799 por homens sob o comando de Napoleão Bonaparte enquanto cruzavam a região de Roseta, Egito. Esse texto foi fundamental para a compreensão dos hieróglifos atualmente. Ele foi compreendido pela primeira vez por Jean François Champollion em 1822 e por Thomas Young em 1823, comparando a versão em hieróglifos com a em grego, sendo que ambos eram profundos conhecedores da língua grega. Ela refere-se a um decreto de Ptolomeu V Epifânio, do Egito ptolomaico. Hoje, a pedra encontra-se no Museu Britânico, Londres, sendo que foi cedida às autoridades militares britânicas em 1801, graças ao Tratado da Capitulação. A pedra está escrita em três textos diferentes: Hieróglifos, Grego Antigo e Demótico.

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Os tabletes de argila como suporte de escrita

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Pozzer, afirma que os tabletes pictográficos o princípio é baseado pela semelhança do objeto e do símbolo, não há necessariamente uma abstração do número, isso irá ocorrer com o desenvolvimento da escrita. “Na etapa pictográfica realizaram-se representações picturais dos objetos. O pictograma ainda não era uma escrita porque ele simbolizava uma coisa e não uma palavra. Ou seja, o sumério é uma língua aglutinante, que não tem origem em nenhuma família linguística conhecida. Cada ideia ou objeto é registrado por um ideograma. Portanto, podemos concluir que o sumério tem como base a iconografia, ou seja, o desenho, que com o passar do desenvolvimento da escrita também irá evoluir. Tendo suas silabas (nominais e verbais) estáveis ou formadas de várias sílabas.


I dade A ntiga

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O papiro como suporte de escrita

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O papiro é uma erva aquática ( Cyperus papyrus ) que forma touceira de caules trian-

gulares altos e flexíveis, com catafilos na base, e tufo de folhas no ápice, entre as quais brotam pequenas espigas. Essas ervar eram utilizadas para formar o papiro no qual permitia escrever de início a escrita hieróglifo. As folhas prontas, que nunca excediam cerca de quarenta e oito centímetros de comprimento por aproximadamente quarenta e três centímetros de largura (48 cm X 43 cm), eram coladas umas nas outras para formar longas tiras que eram enroladas com a face de fibras horizontais voltadas para dentro. Uma vareta de papiro mais longo encontrado até hoje pelos arqueólogos é um Livro dos Mortos, conhecido como papiro Greenfield, e mede quarenta e nove centímetros de largura. O mais extenso, chamado de Grande Papiro Harris, mede quarenta e um metros de comprimento. O papiro em rolo era um dos principais produtos de exportação do Egito antigo, e foi um dos maiores legados da época faraônica a civilização.

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Os suportes de escrita até o pergaminho A argila era conveniente para fazer tabuletas e o papiro (as hastes secas e divididas de uma espécie de junco) podia ser transformado em rolos manuseáveis; ambos eram relativamente portáteis. Mas nenhum dos dois, era próprio para a forma de livro que substituiu tabuletas e rolos: o códice, ou feixe de páginas encadernadas. Um códice de tabuletas de argila seria pesado e impraticável, e, embora tenha havido códices feitos de papiro, esse material era quebradiço demais para ser dobrado em brochuras. Por outro lado, o pergaminho ou o velino (ambos feitos de peles de animais, mediante procedimentos diferentes) podiam ser cortados ou dobrados em diversos tamanhos. Pergaminho do grego pergaméne e do latim pergamina , é o nome dado a uma pele de animal, preparada para nela se escrever. Designa ainda o documento escrito nesse meio. O seu nome lembra o da cidade grega de Pérgamo, na Ásia Menor, onde se acredita que possa ter se originado ou distribuído. Conta-se que o nome foi dado por Eugenes II, rei de Pérgamo.

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Quando feitos de peles delicadas de bezerros ou cordeiros, eram chamados de velino. Estas peles davam um material de escrita fino, macio e claro, usado para documentos e obras importantes. Esse importante suporte da escrita também foi largamente utilizado na antiguidade ocidental, em especial na Idade Média, até a descoberta e consequente difusão do papel, uma invenção dos chineses. Nos mosteiros cristãos eram mantidas bibliotecas de pergaminhos, onde monges letrados no período se dedicavam à cópia de manuscritos antigos, devendo-se a essa atividade monástica a sobrevivência e divulgação dos textos clássicos da cultura grega e latina no Ocidente, principalmente à época do Império Bizantino. Segundo Plínio, o Velho, o rei Ptolomeu do Egito, desejando manter como segredo nacional a produção do papiro, a fim de favorecer sua biblioteca de Alexandria, proibiu a exportação do produto, forçando assim seu rival Eumenes, soberano de Pérgamo, a descobrir um outro material

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Pergaminho da Torá

para os livros de sua biblioteca. A crer em Plínio, o édito do rei Ptolomeu levou à invenção do pergaminho em Pérgamo no século II a. C., embora os documentos mais antigos em pergaminho que conhecemos hoje datem de um século antes. Esses materiais não eram usados exclusivamente para um tipo de livro: havia rolos feitos de pergaminho e, como dissemos, códices feitos de papiros, mas eram raros e pouco práticos. No século IV e até o aparecimento do papel na Itália, oito séculos depois, o pergaminho foi o material preferido em toda a Europa para fazer livros. Não só era mais resistente e macio que o papiro, como também mais barato, uma vez que o leitor que quisesse livros escritos em papiro (apesar do decreto de Ptolomeu) teria de importá-los do Egito a um custo considerável.

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Lecionário dos apóstolos em pergaminho século XIII

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O Lecionário dos Apóstolos, escrito em perga-

minho na segunda metade do século XIII, é uma das fontes linguísticas mais importantes que delimita a redação antiga (Preslav) da posterior (Athonita) deste livro litúrgico. O lecionário contém trechos da escritura, as lições, para serem lidos em cultos divinos em determinados dias do calendário da igreja. Este manuscrito é notável por conter a totalidade das leituras dos Atos e das Epístolas dos Apóstolos, e por seu detalhado menológio, um calendário mensal indicando os dias de festa dos santos, que era muito importante para a cultura religiosa e história da Bulgária medieval.

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A escrita após os hieróglifos e a cuneiforme

E m torno do século XVI a.C., a escrita cuneiforme começou a representar

silabários de fala suméria. Também neste período, a escrita cuneiforme tornou-se de uso geral para logogramas, silabários e números, e esta escrita foi adaptada para outra língua mesopotâmica, a acádia e dali para outras tais como a outra que foram sendo formadas em diferentes locais e culturas. Escritas similares em aparência incluem aquelas usadas na ugarítica e persa antiga. Ao contrário do sumério o acadiano é uma língua flexionada. Sua composição também se dá na estrutura sujeito complemento verbo. No acadiano temos as mesmas vogais que no sumério: a, e, i, u, as semi vogais são w, y; e as consoantes, d, g, k, l, m, n, p, q, r, s, t, z, h, š, s, t e o sinal ‘’” . Segundo Pozzer (1998, p. 50-51). Os acádios, então sistematizaram o emprego da escrita fonética, redigindo por silabas, que eles haviam herdado do velho sistema sumério. Com isso, eles esvaziaram os ideogramas de seu sentido e os reduziram a simples grafias fonéticas. A palavra acadiana tem sua origem na cidade de Akkad (onde, ainda não se sabe a localização exata, entretanto, acredita-se que ela se encontra próximo a região de Bagdá. Podemos dizer que o acádio possui três grandes dialetos: acádio antigo, babilônico e assírio.

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Sistema de Numeração Babilônico

Alfabeto Árabe

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Alfabeto Ugarítico

O Alfabeto Fenício

A origem da escrita fonética remota a um antigo povo denominado fenícios. Conhecidos como

o povo do mar, esta civilização ficou famosa pela realização de um poderoso comércio marítimo baseado na exportação de cedro, artesanato e púrpura. O fato de serem grandes comerciantes forçou este povo a desenvolver uma escrita fonética que, pela primeira vez apresentou um alfabeto silábico, diferente dos hieróglifos ou escrita cuneiforme, cujos desenhos representam uma ação ou analogia a um objeto. Foi baseado na escrita deste antigo povo, que os gregos desenvolveram seu alfabeto: adaptaram o alfabeto fenício e inseriram as vogais. Da mesma forma, posteriormente, os romanos vieram a se apropriar da escrita grega. No alfabeto fenício, estes fonemas ou letras eram representados não mais pelos símbolos abstratos como nos hieróglifos ou no primeiro alfabeto cuneiforme de Ugarit, que não sobreviveu, mas pela figuração de seres animados e de objetos familiares de fácil memorização, possuía o mesmo nome nas diferentes línguas semíticas.

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Alfabeto FenĂ­cio

Alfabeto Hebraico

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Alfabeto Grego

S egundo Heródoto, um fenício chamado Cadmos, que viveu de 1350

a 1209 a.C., instalou-se na Boécia, onde fundou Tebas e começou a escrever grego com 16 caracteres fenícios. Conta-se também que, durante a guerra de Tróia, surgiram quatro novas letras, introduzidas por Palamedes. O alfabeto grego teria sido completado pelo poeta Simônides de Ceos (556-468 a.C.) com mais quatro letras. É difícil distinguir a história da lenda. O fato de colocar letras representando consoantes e vogais, umas ao lado das outras, compondo as sílabas, deu ao sistema de escrita o verdadeiro alfabeto. É por isso que muitos estudiosos dizem que o alfabeto propriamente dito foi inventado pelos gregos. Esta afirmação dá ênfase à função das letras na representação dos segmentos das sílabas e deixa de lado, de certo modo, a própria natureza das letras, tal qual existia na escrita semítica. São duas concepções diferentes do que é uma escrita alfabética. No esforço para adaptar à sua língua o sistema de escrita já estabelecido para os fenícios, os gregos seguiram o mesmo princípio acrofônico da escrita fenícia. Começaram adaptando os nomes das letras lendo-os à moda grega. Assim, ale passou a se chamar alfa , Beth passou a se chamar beta , e assim por diante. O conjunto das letras recebeu um nome composto pela soma das duas primeiras, ou seja, alfabeto. Algumas letras dos fenícios representavam sons inexistentes em grego. Passaram então, a representar sons que existiam em grego, mas não nas línguas semíticas. As novas letras inventadas baseavam-se no estilo gráfico das já existentes. O documento mais antigo que temos é a inscrição no vaso Dipylon (entre os séculos IX e X a.C.). Outros exemplos são as inscrições de Yehimelek, Tera, Melos e Creta. Somente no século IV a.C. foram uniformizados os diferentes usos das letras num alfabeto de 24 letras, com uma ortografia estabelecida, formando a escrita do grego clássico. As marcas de acento e alguns sinais de pontuação, acompanhando

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Alfabeto grego

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a escrita das palavras, foram introduzidas por Aristófanes de Bizâncio (250-180 a.C.) e pelo grande Aristarco. O documento mais antigo com essas marcas é o papiro Bacchylides, que data do século I a.C., mas os sinais diacríticos só se tornariam obrigatórios na escrita a partir do século IX de nossa era. O tipo atual dos caracteres gregos foi lançado em 1660 por Wetstein na Antuérpia. Os antigos costumavam escrever as palavras sem separação, emendando umas nas outras. Para evitar ambiguidades, ou simplesmente destacar palavras, usavam um ponto separando-as. Os gregos começaram a escrever na forma bustrofedom (em grego, “caminho do boi”), compondo uma linha da esquerda para a direita e a seguinte da direita para a esquerda, invertendo a direção dos caracteres, e assim sucessivamente a cada nova linha. Alguns dos povos semitas, como os egípcios, os assírios e os babilônicos, tinham uma grande civilização e contaram com sistema de escrita próprios e bem estabelecidos. Outros povos menores, que viviam no Oriente Médio, passaram a escrever somente depois do surgimento da escrita alfabética. A adaptação do sistema existente a essas línguas ágrafas procurava manter as funções das letras, com variações locais na forma gráfica de alguns caracteres, mas sem grandes modificações, como as que ocorreram entre os gregos.

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Alfabeto Romano

O s romanos criaram seu alfabeto por volta de 700 a.C, com base

no alfabeto grego, que chegou até eles pelos etruscos. Os romanos, então, mudaram a forma de algumas letras e acrescentaram outras. Em Roma, as letras eram pintadas com um pincel chato, no mármore, antes de serem inscritas com martelo e cinzel. As diferenças de espessura no seu traçado, advindas do ângulo de inclinação do pincel, permaneceram nas formas entalhadas. O alfabeto latino, também conhecido como alfabeto romano, é o sistema de escrita alfabética mais utilizado no mundo, e é o alfabeto utilizado para escrever a língua portuguesa e a maioria das línguas da Europa ocidental e central e das áreas colonizadas por europeus. Ao longo dos séculos XIX e XX, o alfabeto latino tornou-se também o alfabeto preferencialmente adotado por um número considerável de outras línguas, em especial pelas línguas indígenas de zonas colonizadas por europeus que não tinham sistemas de escrita próprios.

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Evolução do Alfabeto Romano

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Origem e desenvolvimento

O alfabeto latino, utilizado pelos romanos a partir do século VII a. C.,

derivou do alfabeto etrusco, que por sua vez evoluiu a partir do alfabeto grego. Das 26 letras etruscas, os romanos adotaram 21: A, B, C, D, E, F, Z, H, I, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, V, X. A letra (C) era uma variação do gama, usada indistintamente pelos etruscos para representar os sons /k/ e /g/. Durante o século III a.C., o Z deixou de ser considerado parte do alfabeto, por não representar nenhum som da língua romana; em seu lugar, foi introduzido o (G), uma versão modificada do (C), desenhada por Spurius Carvillius para representar apenas a variante sonora /g/. No século I a.C., com a conquista romana da Grécia, as letras (Y) e (Z) foram re-adotadas e postas no fim do alfabeto, para escrever palavras com radicais gregos.

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Durante a Idade Média, três letras ainda foram introduzidas. O (J) surgiu como uma variação do (I), alongado nos manuscritos do século XIV para indicar uso consonantal, especialmente em início de palavras. O (U), de forma similar, diferenciou-se do (V) para representar seu som vocálico. O (W), originalmente uma ligatura de dois V’s, foi adicionado para representar sons germânicos. O alfabeto usado pelos romanos consistia somente de letras maiúsculas (ou caixa alta). As letras minúsculas, ou de caixa baixa, surgiram na Idade Média a partir da escrita cursiva romana, primeiro como uma escrita uncial, e depois como minúsculas. As antigas letras romanas foram mantidas em inscrições formais e para dar ênfase em documentos escritos. As línguas que usam o alfabeto latino geralmente usam maiúsculas para iniciar parágrafos, sentenças e nomes próprios. As regras de uso de maiúsculas mudaram com o tempo, e variam um pouco entre idiomas diferentes. O inglês, por exemplo, costumava pôr todos os substantivos iniciados em caixa alta, como o alemão ainda faz atualmente.

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CAPÍTULO

3



Uncial - Europa 300

Carolíngia - Europa 800

Xilogravura - China 600

Papel - China 200

Góticas - França e Bélgica 1.100


Origem do papel na China

S egundo Maria Thaizza, a chamada “invenção do papel” se deu origem

na China como suporte de escrita. O papel tinha um custo menor que o papiro e o pergaminho. Em meados do século II da era cristã, ainda na China, foram realizados experimentos com novas matérias primas para a fabricação do papel. Foram utilizados materiais como cascas de plantas, resíduos de algodão e outros, dentre eles as fibras de celulose, que forma o papel que utilizamos hoje, mas naquela época ainda era utilizada de forma artesanal e rustica. O papel só foi produzido em larga escala depois que chegou em território europeu, e este processo foi custoso, pois havia grandes preconceitos sobre o papel, pelo fato de ser frágil e com durabilidade inferior ao pergaminho. Ainda, os manuscritos haviam continuado a ser transcritos em pergaminho pelos estudantes e pelos copistas. E mesmo com as resistências dos europeus os chineses introduziram fábricas de papel em países orientais, e os árabes conseguiram fazer a intermediação do produto com países europeus como Espanha, Itália, França Inglaterra e Holanda. O livro de Johann Gutenberg escrito por Michael Polland, nos conta que a difusão do papel se deu por volta do século XI, e antes da invenção da imprensa ele já existia em larga escala.

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Os códices

O s códices ou codex, eram os manuscritos

gravados em madeira, em geral do período da era antiga tardia até a Idade Média. Com o passar do tempo os manuscritos passaram a ser escritos em pergaminho, que substituiu o papiro e o papel substituiu o pergaminho. O códice é um avanço do rolo de pergaminho, e gradativamente substituiu este último como suporte da escrita. O códice, por sua vez, foi substituído pelo livro. Antes do papel, o códice de pergaminho logo se tornou a forma comum dos livros para autoridades e padres, viajantes e estudantes na verdade, para todos aqueles que precisavam transportar em boas condições seu material de leitura de um lugar para o outro e consultar qualquer parte do texto com facilidade. Ademais, ambos os lados da folha podiam conter texto e as quatro margens de uma página de códice facilitavam a inclusão de glosas e comentários, permitindo ao leitor pôr seu dedo na história, ação que era muito mais difícil na leitura de um rolo. A própria organização dos textos, antes divididos conforme a capacidade de um rolo (no caso da Ilíada de Homero, por exemplo, é provável que a divisão do poema em 24 livros tenha resultado do fato de que ele normalmente ocupava 24 rolos), mudou. O texto agora podia ser organizado segundo seu conteúdo, em livros ou capítulos, ou tornar-se ele mesmo um componente, quando

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O Códex Alexandrinus, também conhecido

como Manuscrito ‘A’, pertence à primeira metade do século V. Este códice contém a Septuaginta e grande parte do Novo Testamento. Juntamente com o Códex Sinaiticos e com o Códex, este é um dos mais completos manuscritos gregos antigos da Bíblia. Este manuscrito recebe o nome de Alexandria, lugar onde se acredita que ele foi originalmente escrito. O texto deste códex foi escrito em grego uncial, disposto em duas colunas, com 46 a 52 linhas por coluna e 20 a 25 letras por linha. As linhas iniciais de cada livro são escritas em vermelho e cada uma das seções é marcada com uma grande letra na margem.

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várias obras menores eram convenientemente reunidas em um volume único de fácil manejo. Os desajeitados rolos possuíam uma superfície limitada - desvantagem da qual temos hoje aguda consciência, ao voltar a esse antigo formato de livro em nossas telas de computador, que revelam apenas uma parte do texto de cada vez, à medida que “rolamos” para cima ou para baixo. O códice, por outro lado, permitia que o leitor pulasse rapidamente para outras páginas e assim retivesse um sentimento da totalidade - sentimento composto pelo fato de que em geral o texto inteiro permanecia nas mãos dele durante toda a leitura. O códice tinha outros méritos extraordinários: destinando-se originalmente a ser transportado com facilidade e, portanto, sendo necessariamente pequeno, cresceu em tamanho e número de páginas, tornando-se, senão ilimitado, pelo menos muito maior do que qualquer livro anterior. As vantagens do códice prevaleceram: por volta do ano 400 d.C., o rolo clássico estava quase abandonado e a maioria dos livros era produzida como folhas reunidas de formato retangular dobrado uma vez. O pergaminho tornava-se um fólio; dobrado duas vezes, um in-quarto: dobrado mais uma vez, um in-octavo. No século XVI, os formatos das folhas dobradas já haviam se tornado oficiais: na França, em 1527, Francisco I decretou tamanhos padrões de papel em todo o reino; quem infringisse a regra era jogado na prisão.

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O Códex Vaticanus , é um dos mais antigos

manuscritos existentes da Bíblia grega (Antigo e Novo Testamento) e um dos quatro grandes códices unciais. O nome do códex deve-se ao fato de estar guardado na Biblioteca do Vaticano, pelo menos desde o século XV. Escrito em 759 folhas de velino em letras unciais, foi datado palaeograficamente como sendo do século IV.

De acordo com Alberto Manguel, de todas as formas que os livros assumiram ao longo do tempo, as mais populares foram aquelas que permitiam ao leitor mantê-lo confortavelmente nas mãos. Mesmo na Grécia e em Roma, onde os rolos costumavam ser usados para todos os tipos de texto, as cartas particulares eram em geral escritas em pequenas tabuletas de cera reutilizáveis, protegidas por bordas elevadas e capas decoradas. Com o tempo, as tabuletas cederam lugar a folhas reunidas de pergaminho fino, às vezes de cores diferentes, usadas para rabiscar anotações rápidas ou fazer contas. Em Roma, por volta do século III esses livretes perderam seu valor prático e passaram a ser estimados em função da aparência das capas. Encadernados em chapas de marfim finamente decoradas, eram oferecidos como presente a altos funcionários, quando de sua nomeação; acabaram se tornando presentes particulares também, e os cidadãos ricos começaram a se presentear com livretes nos quais escreviam um poema ou uma dedicatória. Logo, livreiros empreendedores começaram a fazer pequenas coleções de poemas - pequenos livros de presente cujo mérito estava menos no conteúdo do que na elaborada ornamentação. O tamanho de um livro, fosse um rolo ou um códice, determinava a forma do lugar onde seria guardado. Os rolos eram armazenados em caixas de madeira (semelhantes a caixas de chapéu), com rótulos de argila no Egito e de pergaminho em Roma, ou em estantes com etiquetas (o index ou titulus ) à

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mostra, para que o livro pudesse ser facilmente identificado. Os códices eram guardados deitados, em prateleiras feitas com esse objetivo. Descrevendo a visita a uma casa de campo na Gália por volta do ano 470 d.C., Caio Sólio Apolínário Sidônio, bispo de Auvergne, mencionou várias estantes de livros que variavam segundo o tamanho dos códices que deviam guardar: “Havia também livros em quantidade; poderias ter a impressão de estar olhando para aquelas prateleiras à altura do peito ( plantei ) que os gramáticos usam, ou para as estantes em forma de cunha ( cunei ) do Ateneu, ou para os armários ( armaria ) lotados dos livreiros”. De acordo com Sidônio, os livros que encontrou lá eram de dois tipos: clássicos latinos para os homens e livros de devoção para as mulheres.

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O Codex Gigas é considerado o maior manuscrito medieval exis-

tente no mundo. Foi criado no início do século XIII, presumivelmente no mosteiro beneditino de Podlažice na Boémia (atual República Checa), e agora está preservado na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo. É também conhecido como a Bíblia do Diabo, devido a uma grande figura do diabo no seu interior e da lenda em torno da sua criação. O códice tem capas de madeira, revestidas de couro e ornamentadas com motivos metálicos. Com 92 cm de altura, 50 cm de largura e 22 cm de espessura, é o maior manuscrito medieval conhecido. Atualmente é constituído por 310 folhas de velino (uma espécie de pergaminho), mas há indícios de algumas páginas terem sido retiradas da versão original.

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Os manuscritos

O manuscrito, do latim manu = mãos e scriptus = escrever, é um documento escrito ou copiado

à mão sobre um suporte físico utilizando um instrumento (pena, cálamo, lápis, caneta, esferográfica, etc.) e um meio (tinta). O manuscrito não deve ser confundido com outras formas de escrita, como o dactiloscrito, isto é, um documento escrito ou copiado através da utilização de uma máquina de escrever. O termo manuscrito também é usado para o texto original de um autor (escritor, poeta, ensaísta etc.), em oposição ao texto revisto ou editado posteriormente por outras pessoas que não o autor. Quando escrito pela mão do autor o manuscrito designa-se por manuscrito autógrafo. Durante todo o período da Idade Média, houve milhares de manuscritos em diversas escritas. Como já existiam vários alfabetos diferentes em diversas regiões, houveram várias formas

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e técnicas para escrever os manuscritos, sendo que os suportes mais comuns ainda eram o papiro e o pergaminho. Houve também a necessidade de raspar um texto escrito no papiro ou pergaminho, para escrever novamente no mesmo suporte utilizado. Tal prática foi adotada entre os séculos VII e XII, devido ao elevado custo do pergaminho. A eliminação do texto era feita através de lavagem, ou de raspagem com pedra pomes. Nos nossos dias atuais, essa pedra serve para raspar a calosidade dos pés. A reutilização do suporte de escrita conduziu à perda de inúmeros textos antigos, desde normas jurídicas em desuso até obras de pensadores gregos pré-cristãos. A recuperação dos textos eliminados tem sido possível em muitos casos, através de tecnologias modernas.

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a Iluminur

Caligrafia e iluminura

O trabalho de cópia dos manuscritos na Idade Média era realizado no interior dos mosteiros,

em um quarto chamado scriptorii, que eram oficinas de escrita, em que os textos sagrados eram copiados. Os monges encarregados deste trabalho de cópia dos textos dividiam-se em grupos. Uns estavam encarregados de escrever os códices (pendolistas) e outros, de iluminá-los (miniaturistas). O extremo cuidado requerido para a elaboração dos manuscritos foi fruto da preferência do cristianismo pela adoção de letras distantes das empregadas na Roma Antiga (como a versal clássica), pois esta escrita era considerada pagã. Então, os mosteiros privilegiaram a uncial. Nesses tempos, a caligrafia estilizada dos documentos oficiais merovíngios, caracterizada pelo prolongamento das letras acima e abaixo, serviu de modelo para os manuscritos dos mosteiros.

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Unciais utilizadas pelos escribas latinos e gregos até o século VIII

À medida que os manuscritos se multiplicavam, crescia a necessidade de tornar a escrita uniformizada, a fim de torná-la inteligível; e a minúscula carolíngia personificava a melhor opção para atingir este objetivo. A letra gótica, completamente distinta do modelo carolíngio, teve origem por volta do século XI, na Bélgica e no norte da França. No livro “ El Arte De La Escritura ”, organizado pela UNESCO (Paris: Editora da UNESCO, 1965, p.29), há uma comparação entre as escritas carolíngia e gótica e as arquiteturas românica e gótica: “Enquanto a minúscula carolíngia correspondia à arquitetura românica, a gótica apresenta as linhas angulosas e delgadas do estilo gótico. As curvas se estiram e se quebram; os extremos superiores dos traços se prolongam em espátula, finos perfis angulosos unem entre si os traços generosos”.

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Os Escribas e a escrita

N a Idade Média entre o ano 476 a 1.453 d.C., a escrita caligráfica ficou

sob o domínio de monges escribas. Ornada de iluminuras, a escrita era copiada e comparada, com o objetivo de ser o mais fidedigno possível. Os livros eram produzidos em grandes formatos e ficavam somente dentro das bibliotecas. Segundo Robert Bringhurst (2005, p. 134-135), “Os escribas monásticos que também eram desenhistas, copistas e arquivistas mantiveram vivas muitas das letras antigas”. Estas eram utilizadas em títulos, subtítulos e iniciais, no entanto, os textos corridos eram com escritas novas e bem compactas. Ainda segundo Bringhurst, muitas convenções dos escribas continuam sendo utilizadas até hoje, como por exemplo: letras maiores e formais nos títulos; grandes iniciais no início de capítulos ou seções; e maiúsculas pequenas no início de uma frase. Já naquela época, letras com desenhos diferentes eram utilizadas para escrever escrituras sagradas, leis, romances, cartas e textos de negócios. As letras ‘Unciais’ eram cursivas pequenas, e as ‘Semiunciais’ marcaram a formalização da escrita cursiva em caixa baixa, cheias de ascendentes e descendentes. Mas as letras Carolíngias é que fixaram o padrão da caligrafia no final do séc. VIII e início do séc. IX d.C., inclusive o uso de capitulares e pontuação.

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Carolíngia

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Carolíngia século VIII

C om a grande evolução da escrita a partir do alfabeto romano, cada

vez mais se sentia a necessidade de colocar ordem nas diversidades das escritas por Ladislas Mandel, 2006. Foi nos scriptorii , que começou a surgir a pré-carolíngia e pôr fim a carolíngia no século VIII. A Carolíngia é uma escrita clara, de fácil leitura, que foi instituída por Carlos Magno como parte de uma reforma educacional. Quando redescoberta e refinada na Renascença Italiana pelos humanistas, a escrita Carolíngia sobreviveu como base para as minúsculas e maiúsculas atuais Romanas. Segundo Ladislas, lentamente, através dos séculos, o desejo de unificação do mundo cristão se concretizou na unificação da língua latina e da sua escrita. Foi assim que a minúscula carolíngia, soma das escritas livrescas mais legíveis da época, foi imposta por Carlos Magno no século VIII, em todas as escolas, mosteiros e outros locais que compreendiam toda Europa Ocidental. A carolíngia foi criada para fazer desta escrita marca de força e clareza, de simplicidade e legibilidade, um instrumento de unificação do pensamento do Ocidente cristão. Ladisla Mandel, 2006.

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Manuscrito Françes escrito em carolingia segunda metade do século VIII

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Origem da Carolíngia

A Escrita Carolina já existia antes de Carlos Magno ascender ao trono e antes de vir

a ser a «Corporate Typeface» no seu reino; este tipo de letra deriva das primeiras minúsculas caligráficas francesas. A primeira destas escritas nasceu em Luxueil, traz o nome desta fundação monástica irlandesa e atingiu o seu pico por volta do ano de 700 d.C. A Carolina retomou algumas formas das letras unciais e semiunciais. As características, letras redondas, regulares, suficientemente separadas, asseguram (ainda hoje) ao leitor uma ótima legibilidade e ao escriba, um traço fluido e fácil. Contrariamente ao que o nome sugere, a «Minúscula Carolina» integrou letras maiúsculas em muitos textos; além disso, era frequente os monges copistas combinarem esta letra com

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Visigótica por Paulo Heitlinger

Visigótica Imperatorum, estilo de letra

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a Capitalis quadrata e com a Capitalis rústica ou com alfabetos unciais, obtendo harmoniosos contrastes gráficos. Na Península Ibérica, a Carolina entrou muito tarde (século XI-XII); só então se produziu a transição da Visigótica. O novo sistema de escrita penetrou pelo Caminho de Santiago e pela entrada da ordem francesa de Cluny no reino de Leão – ao qual pertencia nessa época a Galiza. A Carolina expandiu-se mais célere por urbes, como Santiago de Compostela; o mundo rural, fora das correntes inovadoras, deu permanência à Visigótica. A Carolina foi usada desde o século IX até ao XIV, existindo belíssimos exemplos da expressão tardia desta letra, quando a Idade Média, já no seu termo, tinha a Renascença à porta.

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Fim da Letra Carolíngia e o surgimento da Gótica

A pós séculos, a escrita carolíngia, com eixo

obliquo, já continha todos os ingredientes da melhor legibilidade até hoje conhecida, por Ladislas Mandel, 2006. Em seguida a desagregação do Império Carolíngio, duas grandes correntes de pensamentos dividiram a Europa. Encontramos no final do século XI no reino anglo-normando esse espirito refletido na escrita: as hastes tornam-se pesadas e comprimem-se, as curvas angulosas, a verticalidade se afirma e endireita o eixo oblíquo e dinâmico da carolíngia. Nasce uma nova escrita. Segundo Mandel, no século XII, esta escrita carolíngia de tendência gótica, ou minúscula gótica primitiva, espalha-se pela França, Inglaterra e Alemanha. A letra Gótica, com letras comprimidas, angulosas e verticais, se desenvolveu, aos poucos, com o objetivo de apertar as letras para aproveitar os espaços disponíveis. A pena era mantida em ângulo perpendicular ao manuscrito e, segundo Ribeiro (2003, p. 42), no fim do séc. XV, a escrita já estava tão cheia de ornamentos que a leitura já era bem difícil. A escrita gótica, é dominante, afirmando uma identidade forte e voluntaria, não possui serifas

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R evelações de Santa Brígida (ou Bridget)

da Suécia (por volta de 1303 a 1373) é uma das obras mais importantes e influentes da literatura medieval sueca. O códice compreende 69 folhas de pergaminho em uma encadernação contemporânea. Em 1717, o manuscrito foi comprado pelo Arquivo Sueco de Antiguidades em um leilão. Em 1780 foi adquirido pela Biblioteca Nacional da Suécia, que também mantém outras primeiras cópias das Revelações.

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I dade M édia

Escrita Devanagari

e em oposição a humanística, é contraria a espiritualidade do Devanagari dos textos sânscritos e do hebreu, que se assemelham de uma certa maneira. Nestas duas escritas, as letras, com suas variantes, encontram-se como que suspensas em uma linha horizontal infinita, em uma espécie de fio do destino ou linha do céu, que percorre por todo seu comprimento no alto da linha da escrita que ela domina, por Ladislas Mandel, 2006. Com o surgimento do papel e dos humanistas, es escritos propagam-se no século XIV, a escrita de tendência gótica chega a Itália. Mas na França houve recusa em adotar a gótica, dando preferência a uma gótica redonda, sem serifas na base, próxima da redonda tradicional de Benevento, até que os humanistas definissem sua própria identidade.

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CAPĂ?TULO

4

Idade Moderna


Idade Moderna


Invenção da Imprensa - Alemanha Século XV Itálico - Itália Século XVI Estilo Humanístico - Europa Século XV

Livros de Bolso - Itália Século XVI Romana do Rei - França Século XVII Grandjean- França Século XVIII


a ist eC op O Mong

Antes da Imprensa

H oje em dia, não pensamos em viver sem a impressão, que é um recurso utilizado no mundo

todo com destaque para os meios de comunicações como jornais e revistas, embalagens de produtos, identidades visuais de uma empresa, consolidação de documentos, etc. Atualmente onde a tecnologia domina os processos que antes eram manuais, temos a redução de horas de espera para ter um único exemplar de peça gráfica em mãos, já que esses processos de cópia manuais foram automatizados com o surgimento da imprensa, que consegue reproduzir fielmente milhares de exemplares da mesma unidade em um curto período de tempo. Como exemplo podemos pensar na produção de uma revista ou jornal, onde existe uma impressora capaz de imprimir, refilar e embalar de um dia para o outro milhões de cópias do mesmo projeto editorial. Antes, ainda no auge da Idade Média, os copistas ou os escribas, demoravam dias ou meses para reproduzir um único livro. Podemos dizer que uma invenção tão importante como essa, possui apenas 560 anos, um pouco mais velha que a descoberta do Brasil.

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I dade

moderna

Sabemos que mesmo sem a impressão até metade do século XV, a maior parte das grandes obras foram escritas antes da invenção da imprensa, Pollan, 1992. Podemos citar principalmente os textos bíblicos que foram manuscritos em pergaminhos, papiro e outros suportes que se perderam durante o tempo, além da própria tradução da bíblia em latim que foi realizada por São Jerônimo no século III. Voltando um pouco no tempo, na Idade Média, as cortes reais e os castelos, assim como todos os mosteiros, armazenavam centenas de livros, todos eles reproduzidos a mão em um pergaminho. Os copistas com frequência atenuavam o trabalho repetitivo fazendo ilustrações e enfeites no texto, um estilo que foi copiado pelos primeiros tipógrafos, relata Pollan, 1992. A cópia a mão era uma tarefa longa. Quem encomendasse um livro teria que esperar bastante para vê-lo pronto. Na época o trabalho dos copistas era cansativo e mal remunerado. Além dos erros que os copistas podiam cometer, por trabalhar sobre luz fraca ou cometidos pela exaustão. Outros ainda usavam um sistema particular de abreviações, no qual muitas copias foram “corrompidas”. Diversos textos, apresentavam erros, trechos omitidos ou passagens a mais. Quando os livros tinham de ser traduzidos ou copiados ao mesmo tempo, do latim para o inglês, por exemplo, então os erros aconteciam com muito mais frequência, Pollan, 1992.

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Iluminuras em códices

Os primeiros impressores chineses e os livros na Europa Os verdadeiros inventores da impressão, foram os chineses. Por volta do século IX, seiscentos anos antes dos europeus, eles já entalhavam páginas inteiras sobre blocos de madeira e tiravam cópias. Tempos depois, talharam letras do alfabeto chinês em blocos separados, que podiam ser usados repetidas vezes. Mas a ideia da impressão não foi divulgada sob o império chinês, pois havia pouca comunicação entre a China e o resto do mundo. Além disso, seu alfabeto é muito diferente daqueles usados pelas civilizações ocidentais e do Oriente Médio: assim tal método de impressão não foi adotado com facilidade. Porém, um outro produto da criatividade chinesa, o papel, se difundiu pela Europa durante o século XI e XIII. Nos tempos de Gutenberg, ele já se fincara no mercado e tornara possível os projetos de impressão em larga escala, Pollan, 1992. Antes do Renascimento, o mercado de livros entrou em crise, com o aumento da demanda

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I dade

moderna

Lutrell Psalter - SĂŠculo XIV contĂŠm os salmos, calendĂĄrios e as festas da Igreja e seus festivais dias dos santos.

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Folio 92v - Salmo XXVI

por obras literárias, os copistas não davam conta de atender aos pedidos, deixando o mercado desfalcado. Inúmeras Igrejas e mosteiros, necessitavam de sua própria cópia da Bíblia, além dos livros de orações e salmos, e muitas famílias nobres também requisitavam obras que lotassem as bibliotecas de suas mansões, pois uma família rica era avaliada pela quantidade de terras que possuía e pelo tamanho de suas bibliotecas, que iriam demonstraro quão culta e sábia aquela família era, Pollan, 1992. Segundo Alberto Manguel, boa parte da vida dos europeus da Idade Média passava-se em Ofícios religiosos, não surpreende que um dos livros mais populares da época fosse o livro de orações pessoais ou livro de horas, comumente representado em pinturas da Anunciação. Escrito em geral à mão ou impresso em formato pequeno, em muitos casos iluminado com requinte e opulência por mestres da arte, continha uma coleção de serviços curtos denominada “oficio menor da abençoada Virgem Maria”, recitados em vários momentos do dia e da noite.

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moderna

Folio 97v - Salmo XLI

I dade

Tendo por modelo o oficio divino - os serviços completos ditos diariamente pelo clero, o oficio menor compreendia os Salmos e outros trechos das Escrituras, bem como hinos, o oficio dos modos, orações especiais para os santos e um calendário. Esses volumes pequenos eram eminentemente instrumentos portáteis da devoção, podendo ser usado pelo crente tanto em serviços públicos da igreja como em orações privadas. A decoração dos livros de horas era luxuosa, mas variava de acordo com o cliente e o que ele podia pagar. Muitas representavam o brasão da família ou um retrato do leitor. Esse formato de liturgia, surgiu no século VIII quando um dos abades de Carlos Magno, Bento de Aniane, elaborou um complemento ao ofício canônico, a cerimônia preceituada para o culto diário da vida consagrada. O livro englobava o Pequeno Ofício da Abençoada Virgem Maria e continha uma compilação de cerimônias curtas a ser recitadas ao longo do dia em intervalos específicos, Manguel, 1997.

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O tipo Móvel

S egundo Michael Polland, com a grande demanda de livros que surgiam

aos copistas, deve ter ocorrido a muitas pessoas pesquisarem sobre meios de produzir livros com custo baixo, e rapidamente. Mas, como faziam os experimentos por conta própria, não deixavam registros, pois antes, não havia leis que evitassem fazer copias das invenções. Para a invenção da imprensa, foram discutidos entres os historiadores, que um holandês Laurens Coster, foi o primeiro a usar tipo móvel em 1423. Mas, o grande mérito foi dado ao Johann Gutenberg, após avaliar que, foi Gutenberg quem primeiro imprimiu um livro usando tipo móvel. E o crescimento e a difusão da impressão pela Europa e América do Norte podem ser claramente atribuídos a seu trabalho em Mains, Alemanha, Pollan, 1992. Gutenberg, mudou-se para Estrasburgo após a morte de seu pai. Conta-se que a família de Gutenberg era uma das famílias mais ricas da cidade e seu pai, Friele. Seu pai e seu tio eram funcionários da casa da moeda, portanto, acredita-se que ainda pequeno, Gutenberg teria presenciado a fundição do ouro com a prata para a fabricação de moedas e teria observado também todos os processos de cunhagem, resfriamento e o polimento o que teria sido a provável causa do surgimento do interesse por mecanismos de impressão em materiais. Começou a trabalhar no projeto do tipo móvel em 1428, Pollan, 1992. Michal Polland, relata que Gutenberg era um homem cheio de dívidas e que nunca conseguiu se livrar de processos na justiça. Em 1448, fez um empréstimo e procurou uma pessoa que o levaram a Johann Fust, e este ajudou-o com os investimentos para o tipo móvel.

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I dade

Durante os anos seguintes, Gutenberg aperfeiçoou sua própria dedicação e começou a imprimir o trabalho escolhido, a Bíblia. Uma das características mais notáveis de todo o trabalho de Gutenberg, era o alinhamento perfeito das letras, onde muitos tentaram inicialmente com tipo móvel de madeira, mas fracassaram. Outra característica que Gutenberg trabalhou muito foi a profundidade de cada tipo para não haver diferença na impressão, deixando um caractere impresso com mais força que outros. No seu projeto, Gutenberg utilizou milhares de caracteres, incluindo letras, sinais de pontuação e intervalos em brancos para os espaços entre palavras. Uma página dupla da Bíblia com quarenta e duas linhas, exigiam cerca de seis mil caracteres, Pollan, 1992.

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Processo de impressão

A s primeiras prensas eram feitas de madeira.

A fôrma era colocada na vase, conhecida como “cama”; com uma almofada de couro, passava-se tinta sobre a superfície dos tipos, o impressor colocava uma folha de papel cuidadosamente sobre a fôrma e acionava um segundo bloco de madeira através de um grande parafuso de dois braços, com um homem em cada um deles, pois a tarefa era pesada. Uma vez impresso, estendia-se o papel para a secagem. Com os vultosos empréstimos de Fust, Gutenberg começou a imprimir a Bíblia provavelmente no início de 1450. Ainda em 1452, alguns historiadores afirmam o processo de impressão ainda estava em processo, pois fazer folha por folha impressa era uma tarefa gigantesca e demorada, pois cada letra era montada a mão, cada folha de papel era cuidadosamente colocada na prensa, impressa, retirada e posta para secar e então novamente impressa do outro lado, Pollan, 1992.

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Desenho de uma pessoa utilizando uma prensa

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A Bíblia de Gutenberg

uitos historiadores, contam que Fust e Gutenberg se desentenderam, porque Fust levou Gutenberg a justiça para reaver o empréstimo que foi realizado antes do início da impressão da bíblia para investir na prensa, no chumbo para os tipos móveis e nos papéis, e as despesas durante o processo de produção das cópias da Bíblia. O processo foi longo, e Gutenberg ainda não tinha conseguido um retorno financeiro para devolver o dinheiro a Fust. Michael Polland, conta que, Fust confiscou a prensa, as composições e as bíblias completas como pagamento pelo débito. O que Gutenberg produziu, ficou conhecido como “a Bíblia de 42 linhas”, porque quase todas as páginas continham 42 linhas em duas colunas, embora algumas fossem uma ou duas linhas menores. A bíblia possuía 1.282 páginas, encadernadas em dois volumes, mas provavelmente a encadernação foi feita em algum outro lugar. Das trezentas e tantas cópias impressas da bíblia, cerca de quarenta ainda podem ser encontradas em museus e bibliotecas, incluindo a biblioteca pública de Nova York, Biblioteca do Museu Britânico, em Londres, e o Museu Gutenberg, em Mainz, Pollan, 1992. As cópias não eram totalmente iguais, pois em algumas, grandes iniciais maiúsculas no começo dos capítulos foram pintadas a mão, e em outras utilizou-se o tipo. Após Gutenberg ser levado ao tribunal, sendo o único relato escrito das acusações de Fust contra o tipógrafo, está salvo na biblioteca a Universidade de Gottingen, na Alemanha. Nele, Fust afirma que no início concordou em emprestar ao sócio uma soma em dinheiro a seis por cento em juros. Mais tarde, dobrou a quantia, e queixou que Gutenberg não pagou nem os juros nem o empréstimo e insistia a quitação de ambos. O valor emprestado por Fust, envolvia cifras extremamente altas, Pollan, 1992. Como sentença, Gutenberg teve que restituir com juros, o primeiro empréstimo de Fust. Mas como tinha gasto investindo no projeto, foi obrigado a ceder todo o trabalho que realizou durante anos. Assim, todo o esforço o levou a ruina financeira.

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PĂĄgina de gĂŞnesis capitulo 1 da BĂ­blia de 42 linhas

I dade moderna

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Após a invenção da imprensa

epois da questão judicial de 1455, Fust tinha todos os equipamentos necessários para a impressão, mas não tinha experiência no negócio e contratou Peter Schoeffer. A partir de 1455, Fust e Schoeffer, passou a nomear alguns trabalhos e foram os primeiros tipógrafos a fazê-lo, por Pollan, 1992. A Bíblia de 42 linhas evidentemente vendeu rapidamente, e proporcionou dinheiro suficiente para o primeiro trabalho de Fust e Shoeffer – o Livro dos Salmos. O livro foi impresso várias vezes usando o mesmo tipo até 1516. Fust, ainda viveu até 1466, no qual imprimiu cerca de 115 livros, incluindo a Bíblia de 48 linhas. Schoeffer continuou o trabalho e o expandiu até abranger toda Europa. Os efeitos da invenção de Gutenberg foram instantâneos e de alcance extraordinário, pois quase imediatamente muitos leitores perceberam suas grandes vantagens: rapidez, uniformidade de textos e preço relativamente barato. Poucos anos depois da impressão da primeira Bíblia, máquinas impressoras estavam instaladas em toda a Europa: em 1465 na Itália, 1470 na França, 1472 na Espanha, 1475 na Holanda e na Inglaterra, 1489 na Dinamarca. (A imprensa demorou mais para alcançar o Novo Mundo: os primeiros prelos chegaram em 1533 à Cidade do México e em 1638 a Cambridge, Massachusetts), Manguel, 1997. Calculou-se que mais de 30 mil incunabula (palavra latina do século XVII que significa “relacionado ao berço”, usada para descrever os livros impressos antes de 1500) foram produzidos nesses prelos. Visto que as edições do século XV costumaram ser de menos de 250 exemplares e dificilmente chegavam a mil, a façanha de Gutenberg deve ser considerada prodigiosa. De repente, pela primeira vez desde a invenção da escrita, era possível produzir material de leitura rapidamente e em grandes quantidades, Manguel, 1997.

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moderna

Iluminuras de Schoeffer

Pagina dos Livros dos Salmos-

I dade

Talvez seja útil não esquecer que a imprensa, apesar das óbvias previsões de “fim do mundo”, não erradicou o gosto pelo texto escrito à mão. Ao contrário, Gutenberg e seus seguidores tentaram imitar a arte dos escribas, e a maioria dos incunabula tem uma aparência de manuscrito. No final do século XV, embora a imprensa estivesse bem estabelecida, a preocupação com o traço elegante não desaparecera e alguns dos exemplos mais memoráveis de caligrafia ainda estavam por vir. Ao mesmo tempo em que os livros se tornavam mais acessíveis e mais gente aprendia a ler, mais pessoas também aprendiam a escrever, frequentemente com estilo e grande distinção; o século XVI tornou-se não apenas a era da palavra escrita, como também o século dos grandes manuais de caligrafia. É interessante observar a frequência com que um avanço tecnológico -como o de Gutenberg - antes promove do que elimina aquilo que supostamente deve substituir, levando-nos a perceber virtudes fora de moda que de outra forma não teríamos notado ou que consideraríamos sem importância. Em nosso tempo, a tecnologia dos computadores e a proliferação de livros em CD-Rom não afetaram – até onde mostram as estatísticas - a produção e venda de livros na antiquada forma de códice. Manguel, 1997.

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Estilo Humanista

A escrita humanística parece ter tido inicialmente um aspecto contes-

tatório, diante da gótica dura e autoritária. Na estrutura morfológica das escritas humanísticas, as capitulares estáticas, monumentais e cerimoniais respondem perfeitamente a solenidade da sua função de titulação, Manguel, 1997. Diferentemente, as caixas baixas, cuja função é compor o texto geral, são dinâmicas, oriundas do movimento dos modelos de capitulares lapidares através dos tempos e pelo gestual rápido da mão do escriba. Elas são compostas por uma sucessão de curvas quase sensuais, em que as letras de eixo obliquo só encontram seu equilíbrio no movimento dextrogiro do traçado, preservando o gestual dos traços, ligados uns aos outros, exibindo-os nas palavras e na linha, Mandel, 2006. As ascendentes e as descendentes, relativamente longas asseguram a silhueta marcada de cada palavra ideograma, garantindo uma perfeita identificação. As formas redondas e suaves destas escritas revelam bem o espirito de tolerância do humanismo da Renascença italiana, nascido no ambiente mediterrâneo acolhedor. O modelo para os primeiros tipos móveis foi a escrita gótica, uma pesada, negra, às vezes quase ilegível que foi comum durante a Idade Média. Já os tipos Humanistas apareceram por volta de 1460 e 1470, e não foram inspirados na linguagem gótica negra como textura, mas sobre formas mais leves e abertas dos escritores humanistas Italianos. Existem outros relatos, que na década de 1450, um tipógrafo de Mainz desenvolveu um tipo “humanista”, usado no Mainzer Catholicon, datado de 1460. Embora muitos especialistas atribuam esta impressão deste dicionário do latim a Gutenberg, alguns afirmam que não foi impresso antes de 1469 ou mais tarde, muito provavelmente por Peter Schoeffer.

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Impresso em velino e iluminado por Ulrich Schreier. Mainz, Peter Schoeffer, 23 Nov. 1473

I dade moderna

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Caracteres Humanistas

O estilo humanístico se fortaleceu e durante o final do século XV e início do século XVI, houve preocupação dos letrados e dos pioneiros de tipografia: a codificação da ortografia e das regras gramaticais. Houve também a necessidade de criar alguns novos caracteres para complementar o alfabeto. A partir de 1531, foram criados os acentos para marcar as silabas tônicas, os ditongos, a cedilha, o trema, e o apóstrofe, se estabeleceu diferença entre I e J, U e V, o G duro, GH mole, o C duro e o C mole, Mandel, 2006. O sucesso dos caracteres venezianos deveu-se ao fato de refletirem o pensamento humanístico como ideologia. Todavia, a gótica continuou sendo a escrita dos textos litúrgicos e jurídicos até o primeiro terço do século XVI, enquanto a humanística, como suporte dos textos clássicos de difusão das ideias generalizou-se. Ao longo dos anos, o estilo humanístico marcou a tipografia com estigmas próprios de cada época: ora mais rigor, ora mais tolerância ou maleabilidade. A diferença entre estas escritas, a exemplo das humanísticas, nos vários países, era multas vezes considerável, pois um estilo é um modelo ideal, a realização de um sonho coletivo, que cada

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moderna

Konrad Berner, Frankfurt, 1592

Catalogo com o tipo Garamond,

I dade

gravador ou artista tende a levar a perfeição, mas modula conforme sua geografia e sua história, conforme sua cultura e seu temperamento pessoal. Diversos tipógrafos, que participaram do estilo humanista deve sua colaboração na evolução da escrita atualmente. Dentre eles podemos citar Nicolas Jenson, Claude Garamond, Willian Caslon, Jonh Baskeville, Gian Battista Bodoni, Eric Gill entre outros. No ano de 1458, Nicolas Jenson – então mestre da Casa da Moeda francesa – foi enviado pelo Rei Charles VII, para Mainz (Alemanha), com a missão de aprender as novas técnicas de impressão nas oficinas de Gutenberg – onde teria sido colega de Sweynheym e Pannartz. Mais tarde, já na Itália, trabalhou na criação de um novo tipo que se tornou o modelo de alfabeto romano conhecido até hoje. Nicolas eliminou as irregularidades típicas do manuscrito em littera antiqua formata – ainda presentes no híbrido de Sweynheym e Pannartz – e deu a seus glifos características lapidares das maiúsculas romanas. Estabeleceu, assim, o primeiro tipo de metal baseado em ideais tipográficos escultóricos, rejeitando representações formais de modelos manuscritos. Pela primeira vez, as serifas das caixas altas lapidares foram introduzidas nas minúsculas e harmonizadas no conjunto do alfabeto, OGG, 1962. O tipo de Jenson foi impresso pela primeira vez em 1470, na obra De Evangélica Praeparatione .

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Itálico

À medida que as bibliotecas particulares cresciam, os leitores come-

çaram a achar os volumes grandes não apenas difíceis de manusear e desconfortáveis para levar de um lado a outro, como inconvenientes para guardar. Em 1501, confiante no sucesso de suas primeiras publicações, Aldus respondeu à demanda dos leitores produzindo uma coleção de livros de bolso in-octavo - metade do tamanho do in-quarto , impressos com elegância e editados meticulosamente. Para manter baixos os custos da produção, decidiu imprimir mil exemplares de cada vez, e, para usar a página de forma mais econômica, utilizou um tipo recém desenhado, o itálico ou glifo, criado pelo talhador e fundidor de tipos Francesco Griffo, que também talhou o primeiro tipo romano no qual as maiúsculas eram menores do que as letras ascendentes (altura total) da caixa baixa, a fim de assegurar uma linha mais equilibrada. O tipo itálico de Griffo (usado pela primeira vez numa xilogravura que ilustrava uma coleção de cartas de santa Catarina de Siena, impressa em 1500), atraía gentilmente a atenção do leitor para a delicada relação entre as letras; de acordo com o crítico inglês moderno sir Fracis Meynell, os itálicos diminuíam a velocidade dos olhos do leitor, “aumentando sua capacidade de absorver a beleza do texto”, Manguel, 1997. A separação entre a função livresca e a função escritural, não foi tão rigorosa como se pode crer. Os livros chamados “ livro de bolso” para uso dos estudantes e letrados da época, se difundiram entre os anos 1500 e 1505. Os novos livros eram compostos por caracteres novos, gravados por Francesco Griffo, imitando a escrita praticada pelos estudantes, Manguel, 2006. O uso da itálica difundiu com rapidez, pois os livros poderiam ser estudados e lidos por todos e em todos os lugares. Nota-se que nas imitações das Aldinas, Garamond permaneceu bastante sóbrio e rigoroso, embora mais elegante e mais fluido, respondendo

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Aldus Manutius, escrita de 1501

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La Operina, Manual de Caligrafia de 1522

I dade

perfeitamente a esta primeira função dos livros de estudos compostos com itálicas, mas na França a censura real tornava-se cada vez mais repressora por volta da metade do século, Manguel, 2006. O itálico teve sua evolução a partir de 1530, observando o aparecimento de vários itálicos mais inclinados, mais ornados e de elegância poética. Neles os movimentos das mãos, enfáticos e floridos, cheios de preciosismos forma inspirados nos tratados de escritas de Castiglione, de Arrighi e de Tagliente, Manguel, 2006. Estas novas itálicas completadas por capitulares ornamentadas, ou melhor, por maiúsculas caligráficas, eram destinadas a composição de obras poéticas, pois exprimiam melhor que a romana de um certo eco musical da palavra falada. A esta altura e economia de papel nas margens não tinham mais importância. Presume-se que a partir de 1560, as itálicas de Granjon, espalharam-se pela Europa e são utilizadas com as romanas de Garamond.

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Diferenças entre fontes itálicas e fontes romanas

U ma das diferenças perceptíveis entre as fontes romanas e as

fontes itálicas consiste no fato de que as romanas são eretas (90°) e as itálicas são levemente inclinadas para a direita. No entanto, a principal diferença é o fluxo e não a inclinação. As fontes itálicas possuem estrutura cursiva e contínua, diferente das romanas. As serifas itálicas são frequentemente transitivas: são traços na entrada e saída da letra, tendendo a inclinar-se em ângulo natural da escrita. Algumas itálicas podem ser mais cursivas que outras, assim como as romanas podem, vez ou outra, conter traços caligráficos. No entanto, toda fonte itálica tende de ser muito mais cursiva que as romanas. As primeiras itálicas produzidas eram pouco inclinadas e eram desenhadas para ser utilizadas com romanas maiúsculas eretas. Há exemplos de itálicas manuscritas do século XV sem inclinação. As fontes romanas e itálicas foram bastante independentes até o século XVI. Antes disso, muitos livros eram compostos ou com tipos itálicos ou com tipos romanos, nunca os revezando. No Renascimento, as duas versões foram utilizadas no mesmo contexto. Normalmente, as romanas eram utilizadas no texto principal, e o itálico era utilizado nos prefácios e nas notas laterais, versos e em citações blocadas. Foi dado o costume de deixar a romana como principal e itálico para enfatizar e especificar determinadas informações, desenvolveu-se no século XVI e estabilizou no século XVII. Os tipógrafos barrocos admiravam a mistura

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I dade

moderna

Itálico e Romano

das romanas e itálicas, pois as mesmas foram úteis a editores e autores. A modulação e uso de ambos acabou se tornando “regra”. Desde o século XVII, houve tentativas falhas de neutralizar a natureza cursiva do itálico, redesenhando um tipo de segundo molde de romano o que são chamados de “romanos desenhados”, o que não passam de romanos inclinados conhecidos também, como oblíquos. Aos poucos os tipos itálicos minúsculos foram sofrendo alteração e se tornando romanos inclinados, e suas proporções foram alteradas. Por isso, muitos itálicos são de 5% a 10% mais estreitos que os romanos. Porém, muitos romanos inclinados (menos os desenhados por Eric Gill) são bem mais largos que os seus companheiros romanos.

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CAPÍTULO

5

IDADE CONTEMPORÂNEA


Avantgarde - EUA Século XX

Evolução da encadernação Brasil/Portugal Século XIX

Monotype - EUA Século XIX Internet - EUA Século XX

Tipografia no Brasil Rio de Janiero

Adobe - EUA

Século XVIII

Século XX

Era Diigtal - Mundo Século XXI

IDADE CONTEMPORÂNEA


Caslon – Inglaterra Século XVIII

Baskerville – Inglaterra Século XVIII Fontes Egípcias Século XIX

Revolução Industrial – Europa Século XIX

Emoji - Japão Século XXI

Bodoni – Itália Século XIX

Linotype – Alemanha Século XIX Bauhaus – Alemanha Século XX

Futura – Alemanha Século XX


Os tipógrafos do século XVIII

O s artistas do Renascimento buscaram

padrões proporcionais em corpos humanos idealizados. Em 1529, o designer e tipógrafo francês Geofroy Tory publicou uma série de diagramas que vinculavam a anatomia das letras à do homem. Uma nova abordagem, distanciada do corpo, despontaria na era do Iluminismo científico e filosófico, por Lupton, 2013. Em 1693, um comitê francês nomeado por Luis XIV pôs-se a construir letras romanas em um diagrama finamente tramado. Ao contrário dos diagramas de Tory, que eram gravados em madeira, as representações da r o m a i n d u r o i (alfabeto do rei) eram buriladas em chapas de cobre. As fontes de chumbo derivadas desses diagramas de grande formato refletem o caráter linear do processo e a atitude científica do comitê real, por Lupton, 2013. A primeira obra a utilizar a Romana do Rei, As Condecorações, foi publicada em 1702. O gravador Grandjena inspirou-se bastante nos trabalhos da comissão, dos quais reteve o essencial. Serifas horizontais, colocadas no alto das ascendentes do b, d, h, k, l, petrificam as letras tornando-as imóveis e estáticas, por Mandel, 1998.

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Tipografia de baskerville


Tipografia de Caslon

i dade C onteMPorÂnea

As letras entalhadas, cujas linhas fluidas não se atêm ao diagrama mecânico da prensa tipográfica, ofereciam um meio apto à letragem formal. Reproduções entalhadas da arte caligráfica disseminaram a obra dos grandes mestres calígrafos do século XVIII. Livros como The Universal Penman (1743), de George Bickham, traziam letras romanas - cada qual gravada como um caractere único - e manuscritas profusamente curvas. por Lupton, 2013. A tipografia do século XVIII foi influenciada por novos estilos manuscritos e suas reproduções gravadas. Impressores como William Caslon, na década de 1720, e John Baskerville, na de 1750, abandonaram a rígida pena humanista em favor da pena metálica flexível e da pena de ave com ponta fina - instrumentos que produziam linhas fluidas e ondulantes. Baskerville, um mestre calígrafo, teria admirado as linhas finamente esculpidas que apareciam nos livros de escrita entalhada. As fontes que ele criou eram tão definidas e contrastadas que seus contemporâneos o acusaram de “cegar os leitores do País, pois os traços de suas letras, de tão finos e estreitos, machucam os olhos.” Para aumentar a impressionante precisão de suas páginas, Baskerville fazia suas próprias tintas e passava a ferro suas páginas após imprimi-las, por Lupton, 2013

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Tipografia e o livro no Brasil

A expansão do livro e da gravura no país a partir

de 1808 oferece ao estudioso um campo extenso e a fascinante oportunidade de acompanhar a formação e a disseminação de veículos fundamentais da cultura brasileira. Entre as grandes nações ocidentais, o Brasil viveu uma situação exclusiva: foi proibido pelos reis de Portugal, ainda no século XVI, a publicação de livros no Brasil, e consequentemente proibiram a tipografia no país até o começo do século XIX. Com isso o país perdeu a oportunidade de imprimir livros ao longo de mais de duzentos anos ao contrário do Peru e do México, por Lago, 2009. No século XVIII. Um breve cochilo das autoridades portuguesas resultou num único livro impresso no Rio de Janeiro, sob o governo do Conde de Bobadella pelo impressor português Isidoro da Fonseca. Um exemplar desta raríssima publicação que pode ser considerada o primeiro livro brasileiro, faz parte da Brasiliana Itaú , mas o prelo no qual foi fortuitamente impresso este único produto da atividade do primeiro impressor do Brasil logo foi lacrado e devolvido a Portugal, por Lago, 2009. Somente com a chegada de D. João VI acaba finalmente autorizada a publicação de livros

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O primeiro Livro Impresso no Brasil

O s estudiosos consideram este folheto de

vinte e duas páginas impressas, o primeiro livro brasileiro. Não há registros da existência de tipografias no Brasil antes de 1747, contrastando com a situação de colônias espanholas e mesmo outros territórios portugueses. Antônio Isidoro da Fonseca é, portanto, considerado o primeiro impressor do Brasil, e este é o impresso mais antigo cuja existência é comprovada no país.

no Brasil, com o decreto de criação da Impressão Régia (também chamada de hoje de Imprensa Régia), cujo objetivo principal foi inicialmente publicar documentos oficiais do governo: decreto, alvarás, leis etc. A Imprensa Régia também se encarregou da impressão de ensaios sobre assuntos diversos e obras de literatura, e com isso teve início a divulgação do conhecimento criado em português no próprio país por autores ou tradutores brasileiros, por Lago, 2009. Fora do Brasil, os grandes colecionadores internacionais sempre valorizaram de forma especial a produção tipográfica ocorrida ao longo dos primeiros cinquentas anos da história do livro na Europa, ou seja, as cincos últimas décadas do século XVI, durante as quais a imprensa se expandiu com grande velocidade por todo o continente. De foto, nas décadas seguintes a invenção por Gutenberg da prensa de tipos móveis, imprimiu-se milhares de títulos hoje referidos como incunábulos, isto é, livros impressos até 1500. Mesmo que a imprensa tenha levado mais de três séculos para chegar ao Brasil, ainda assim logrou produziu dezenas de milhares de títulos de grande qualidade ao longo do primeiro século entre nós, por Lago, 2009.

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Após a liberação da imprensa no Brasil em 1808, na metade do século XIX são muitas dezenas as tipografias atuantes no Rio de Janeiro, e quase todos os estados brasileiros tem também nesse momento editoras e impressoras ativas. Com a autorização de D. João VI que funcionassem tipografias privadas no Brasil, surgiu naturalmente os primeiros jornais impressos. O primeiro jornal foi a Gazeta do Rio de Janeiro, um tipo de diário oficial com alguns anúncios particulares que relatava os principais eventos da Corte e do Governo e registrava as principais ocorrências do mundo que importavam as autoridades portuguesas. Foi claramente um instrumento político a serviço da administração colonial, mas por meio de seus avisos e anúncios também desempenhou um papel importante na comunicação no espaço da Corte. Após quatorze anos, a Gazeta do Rio de Janeiro mudou de nome para Diário do Governo e mais tarde para Correio Oficial e Gazeta Oficial do Império do Brasil, e continuou a registrar os principais eventos e atos do governo. Hoje em dia conhecemos como Diário Oficial da União, por Lago, 2009. A literatura brasileira foi também uma grande influência após a liberação da imprensa no Brasil. Grande autores surgem no século XIX e deixam inúmeras obras literárias que se tornaram importantíssimas para as bibliotecas privadas. Ícones consagrados dos séculos XIX e XX foram Alvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves Machado de Assis dentre outros.

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O primeiro Jornal do Brasil

Machado de Assis - Dom Casmurro, 1899

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Provedoria, ALVES, Joaquim Augusto Ferreira - 1875

Consolidação das leis relativas ao Juízo da

Sul da América, TITÁRA, Ladisláo dos Santos - 1852

Memorias do Grande Exercito Alliado Libertador do

Encadernação no Brasil Ao contrário da Europa, onde as encadernações fazem sempre parte das peças cobiçadas pelos grandes bibliófilos, os colecionadores brasileiros não tiveram tradicionalmente grande preocupação com as encadernações ao constituírem suas bibliotecas. Todos, naturalmente, apreciavam uma bela roupagem para as obras que colecionavam, mas a diferença de valor entre um exemplar comum e um exemplar excepcionalmente encadernado não costumava chegar a mais de um para dois, enquanto na Europa a diferença pode ser de um para vinte ou de um para cinquenta. Entre o século XVIII e XIX, surge a formação de ateliês onde ocorreu a evolução da encadernação e mais tarde no século XX, nasce o designer, que criava projeto de decoração em couro depois de executado por um hábil operário, por Lago, 2009. Um dos mais apreciados encadernadores, foram Devauchelle na França e enca dernadores do século XX, como Paul Bonet ou Pierre-Louis Martin, que apenas usavam encadernadores de extraordinária habilidade para executar desenhos com numerosas incisões de couro e qualidade diferentes, por Lago, 2009.

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de Pedro II, BERQUÓ, João Maria da Gama - 1883

Chorographia do Brazil do Externato do Imperial Collegio

These para o concurso da cadeira de Historia e

JAGUARIBE FILHO, Domingos José Nogueira - 1880

Os herdeiros de Caramurú: romance histórico,

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Desde o século XV, a encadernação era altamente valorizada pelos compradores de livros. Mas é, sobretudo, no final do século XVIII que as encadernações passam a exibir uma grande riqueza de decorações múltiplas. As encadernações de Portugal, também se desenvolveu no século XIX, pois a maioria eram toscas e apenas utilitária, com exceções em exemplares destinados a figuras de poder ou da própria Família Real, por Lago, 2009. Naturalmente, quanto maiores as decorações mais caras era a mão de obra. Portanto, com a vinda da Família Real ao Brasil, esta influenciou também as encadernações, onde muitas estão guardadas em grande bibliotecas e museus em todo o Brasil. As mais belas e importantes encadernações de livros realizados no Brasil eram geralmente a revestir exemplares da Família Real. A Brasiliana Itaú, reuniu diversos exemplares que é talvez a melhor coleção existente no país depois da Biblioteca Nacional.

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Revolução Industrial

N a virada do século XIX, o severo vocabulário de Baskerville foi levado

ao extremo por Giambattista Bodoni na Itália e Firmin Didot na França. Suas fontes, com eixos totalmente verticais, contraste extremo entre traços grossos e finos e serifas nítidas como lâminas, foram a porta de entrada para uma visão da tipografia desvinculada da caligrafia. Embora Bodoni e Didot tenham abastecido seus projetos com os hábitos caligráficos de seu tempo, eles criaram formas que colidiam com a tradição tipográfica e desencadearam um estranho mundo novo, no qual os atributos estruturais da letra - serifa e haste, traços grossos e finos, ênfase vertical e horizontal - seriam submetidos a experimentos bizarros. Perseguindo uma beleza tão racional quanto sublime, ambos criaram um monstro: uma abordagem abstrata e desumanizada do desenho de letras, por Lupton, 2013. Com a ascensão da industrialização e do consumo de massas no século XIX veio a explosão da propaganda - uma nova forma de comunicação que exigia novas formas tipográficas. Fontes grandes e pesadas foram feitas com a distorção dos elementos anatômicos das letras clássicas. Fontes com altura, largura e profundidade assombrosas apareceram: expandidas, contraídas, sombreadas, vazadas, engordadas, lapidadas e floreadas. As serifas deixaram de ser acabamento para tornarem-se estruturas independentes e a tensão vertical das letras tradicionais enveredou por novos caminhos, por Lupton, 2013. Nos tipos de Didot encarnavam perfeitamente o espirito do Império Napoleônico pelos extremos contrastes de espessura de suas hastes, por sua verticalidade fria e geométrica, por seu rigor de um absolutismo perfeito. A Revolução Francesa não modificou fundamentalmente o livro, o universo de leitores permaneceu quase inalterado, por Mandel, 1998.

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Exposição La fabbrica del libro perfetto

Foto de rascunho feito a mão por Bodoni na

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Com a Revolução Industrial se interessando mais ela educação do cidadão do que pela instrução, a difusão do pensamento através do livro foi regada ao segundo plano, mas preocupações da sociedade no início da revolução industrial. O reinado da nova burguesia industrial no poder privilegiara o maquinário, a produção e a distribuição dos novos produtos industriais. As cidades serão impulsionadas pela contribuição vinda de uma população operaria das manufaturas dos subúrbios, por Mandel, 1998. A atividade publicitaria, procurando imitar os gritos da rua e os signos que ela gostaria de substituir, recobriu, pouco a pouco os muros das cidades, a fachada das casas comerciais, acompanhadas de imagens sugestivas, penetrou até nos lares ampliando seu alcance. Os caracteres da publicidade, escritas para ver, não possuem um estilo particular: as Egípcias com serifas pesadas e espessas, as Grotescas apertadas, pretas, completamente sem serifas, as Fat Faces redondas, pesadas, dentre outras tipografias, estimula um novo processo que tem a finalidade de provocar um choque visual.

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Com a chegada da publicidade, elas invadem os jornais, e revistas e até mesmo as páginas de rosto e capa de livros para provocar a atenção e suscitar desejos de consumo dos novos produtos industriais. Mais adiante, o desenvolvimento da indústria e do comércio encontrou na máquina de escrever um meio revolucionário para satisfazer esta extraordinária procura de quantidade com uma escrita de padrão internacional para o uso administrativo, que substituiu gradativamente a bela tipografia Copperplate. No final do século XVIII, as novas invenções da indústria tipográfica, que foram as fundidoras e compositoras eletromecânicas Linotipo que surgiu nos EUA e a Monotipo na Inglaterra modificaram radicalmente toda a produção tipografia no mundo, por Mandel, 1998.

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Cartaz com fonte Egipcias do século XIX

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Cartaz da Bauhaus

Reforma e revolução no século XX

M uito rapidamente transformadas em verdadeiros impérios, a Monotype e a Linotype dividiram

quase a totalidade da produção tipográfica no mundo: a Monotype reinando sobre a produção tipográfica de livros e a Linotype sobre a imprensa, nos cinco continentes. Infelizmente, esta mecanização teve efeitos desastrosos sobre as fundições tipográficas. Elas tiveram que reduzir a produção de tipos para textos corrido e voltar-se para a fabricação dos caracteres de titulação, utilizados em cartazes e na publicidade. Essas novas técnicas de composição permitiram uma produção acelerada de novos caracteres. Os seus fabricantes não estavam interessados na criação de novos estilos de escritas tanto quanto na recriação dos estilos clássicos, abundantes entre as duas guerras mundiais, por Mandel, 1998. Nas grandes épocas da tipografia, do século XVI ao XIX, cada cultura tinha sua escrita adaptada as diferentes funções do texto que, como um espelho, refletia seu pensamento e sua psicologia. Com a produção industrial dos caracteres, a escrita tornou-se uma mercadoria de destinação universal.

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Caligrafia_Edward_Johnston

Logo após a primeira guerra mundial, a Alemanha, alijada de suas colônias e empobrecida, colocou sua produção industrial sobre um novo caminho, a racionalização obcecava os espiritos; ela atingiu até mesmo as artes onde a Bauhaus, pregando a integração de todas as artes, banindo qualquer estetismo, adotando formas funcionais, mecânicas e modulares, confundia tipografia e arquitetura, por Mandel, 1998. Alguns designers consideravam a distorção do alfabeto grosseira e imoral, ligada a um sistema industrial destrutivo e desumano. Em 1906, Edward Johnston reanimou a procura por um alfabeto essencial e padronizado, alertando para os “perigos” do exagero. Inspirado no movimento Arts and Crafts do século XIX, Johnston voltou-se para o Renascimento e para a Idade Média em busca de letras puras e não corrompidas, por Lupton, 2013. Embora reformadores como Johnston permanecessem romanticamente ligados à história, eles redefiniram a figura do designer como um intelectual distanciado do comércio.

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O moderno reformador do design era um crítico da sociedade, esforçando-se para criar objetos e imagens que desafiariam e revisariam hábitos e práticas dominantes. Os artistas de vanguarda do início do século XX rejeitaram as formas históricas mas adotaram o modelo do crítico outsider . Membros do grupo De Stijl na Holanda reduziram o alfabeto a elementos perpendiculares. Na Bauhaus, Herbert Bayer e Josef Albers construíram alfabetos com formas geométricas básicas - círculo, quadrado e triângulo -, que consideravam elementos de uma linguagem universal da visão, por Lupton, 2013. Tais experimentos entendiam o alfabeto como um sistema de relações abstratas. Assim como os impressores populares do século XIX, os designers de vanguarda abandonaram a busca por um alfabeto essencial e perfeitamente conformado, mas ofereceram alternativas austeras e teóricas em lugar das novidades solícitas da grande propaganda. Montados como máquinas, com componentes modulares, esses projetos experimentais imitavam a produção fabril. Mas a maioria deles foi produzida à mão e não chegou a ter versões mecânicas (embora muitos estejam disponíveis em meio digital). A Futura, projetada por Paul Renner em 1927, encarnou as obsessões da vanguarda em uma fonte multifuncional e comercial. Embora Renner rejeitasse o movimento ativo da caligrafia em favor de formas mais “tranquilizadoras” e abstratas, ele temperou a geometria da Futura com variações sutis em seus traços, curvas e proporções. Renner deu à Futura diversos pesos, vendo-a como uma ferramenta artística para construir páginas com gradações de cinza, por Lupton, 2013.

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Bauhaus e a desconstrução de tipos

Dadaísmo e a tipografia

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Futura de Paul Renner

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A segunda Revolução Industrial

A pós a segunda guerra mundial, as necessidades de troca e de comuni-

cação através do mundo nas áreas comerciais, científicas, administrativas e culturais romperam os cenários tradicionais da sociedade, as fronteiras geográficas, políticas e culturais. Para responder a estas novas necessidades sem precedentes, novas técnicas foram desenvolvidas, revolucionando completamente os meios de comunicação até então conhecidos. Entretanto, ao lado das novas técnicas do som e da imagem televisiva, a escrita permaneceu como o meio privilegiado de comunicação do mundo moderno. Após trinta mil anos de sinais e símbolos pintados ou gravados, quatro mil anos de escrita à mão e quinhentos anos de tipografia, a fotocomposição, que há muito tempo já amadurecia nos espíritos, finalmente achou um terreno favorável para sua eclosão, seu desenvolvimento e sua produção em escala industrial, por Mandel, 1998. Com a fotocomposição, a tipografia finalmente liberada das dificuldades impostas pelo chumbo, entraria numa nova era de expansão. Não haveria mais gravação em buril, nem armazenagem para toneladas de tipos para reimpressão e nem fundição de tipos. Por outro lado, também não haveria mais dificuldades para a composição de textos em negativos, ou problemas de justificação de linhas e espacejamento, e passando para o sistema de impressão offset, nem as distorções pelo embolsamento do papel e do entintamento. Desde o início, graças as possibilidades de ampliação e redução, um único desenho era adotado para todos os corpos, rompendo

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radicalmente com a compensação dos desenhos que, os tipógrafos consideravam essencial para a legibilidade, primeiro objetivo de qualquer escrita, por Mandel, 1998. As primeiras maquinas fotocompositoras começaram a funcionar há cinquenta anos apenas e, desde então, a tecnologia da escrita não parou de evoluir em etapas sucessivas, passando pela composição foto-eletro-mecânica com suporte matriz até a composição com tubos catódicos, depois a laser em suporte imaterial, as escritas nas telas e as impressoras ultra-rápidas. Hoje em dia, as maquinas leem os textos impressos, manuscritos e mesmo os ditados em voz alta, os corrigem, os traduzem em outras línguas, os apuram, os condensam, os manipulam sob controle, os compõem com caracteres os mais variados, que elas esticam e distorcem a vontade e os arranjam na página com velocidade vertiginosa, para nos restituí-los, mesmo à distância, sob forma de páginas impressas, por Mandel, 1998.

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Fotografia de Vanessa Volk

Eletrônico com livro digital

A escrita e o Livro no século XXI

A pós quatro séculos de trabalho artesanal tipográfico, acompanhamos uma grande evolução

da escrita e do livro. A transição das pedras de argila e o papiro para o pergaminho, do pergaminho para o códice, do códice para o livro paginado, notamos uma evolução impressionante. Assim como a escrita desde a pintura rupestre, que evoluiu para a cuneiforme e os hieróglifos, depois para a escrita fenícia, grega, romana, gótica e humanística até a escrita atual. Tanto o livro e a escrita, são fundamentais para a vida humana, pois mesmo quem não gosta de ler, está sempre em contato com os livros didáticos, os livros de romances, os quadrinhos chamados HQ´s dentre diversas outras formas. A escrita continua a evoluir nos dias atuais, pois com a evolução tecnológica, estamos chegando ao ponto em que tudo o que era físico transformamos em digital. Podemos falar que tudo o que foi criado a 40 mil anos atrás, ainda na pré-história, hoje temos a facilidade de acessar tudo pelo computador ou equipamentos eletrônicos portáteis.

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a leitura de eBooks

Aparelhos Eletrônicos que permitem

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No Livro de Alberto Manguel, ele cita: “Minhas mãos, escolhendo um livro que quero levar para a cama ou para a mesa de leitura, para o trem ou para dar de presente, examina a forma tanto quanto o conteúdo...” Aqui, o autor mostra a preocupação da propriedade física de um livro, o sentir e apreciar com os olhos e com o tátil a beleza de um projeto editorial ou manual. Para a escrita, a forma digital conseguiu uma grande evolução em um curto período de tempo, mais curto ainda que a invenção da imprensa na metade do século XV. Podemos dizer que, em apenas metade de um século novamente, a internet consegue atingir bilhões de pessoas mudando totalmente a forma de vida e facilitando os meios de comunicações. Ladislas Mandel, nos diz que a existência de uma cultura, a prática de uma língua e de uma escrita, molda os espíritos, desenvolve os mecanismos psicológicos, que agem sobre o comportamento social e sobre a maneira de assimilar o universo. Durante toda a história, os conquistadores, para hostilizar um povo submisso, tentaram utilizar a escrita e a língua a favor deles. Assim como Carlos Magno, para criar a unidade do

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Os livros não deixaram de existir livraria Saraiva

pensamento do Ocidente cristão, impôs a prática do latim e da carolíngia, também ocorreu com a imposição do árabe pelo Islamismo, do cirílico pela Igreja Ortodoxa, da gótica pela Igreja Luterana e o latim mantido como língua sagrada da Igreja Católica, sem falar que outros colonizadores também utilizaram o mesmo propósito de imperialismo cultural, por Mandel, 1998. Os Livros passaram por diversas transformações e evoluiram ao lado da escrita, adquiriu tecnologia própria e os formatos e mudanças atuais já não são mais novidades. A chegada dos livros digitais chamados eBooks , possibilitou o acesso à leitura a um nível ainda mais abrangente e de uma maneira extraordinária. Centenas de livros e documentos importantes, e muitas vezes dispersos, podem ser acessadas com um simples clique. Dentre as características mais importantes nos eBooks , são os marcadores de páginas, bloco de anotações, controle de brilho e contraste, controle de luminosidade, busca por palavras, permite sublinhar ou marcar trecho importantes e diversas funções que antes não era permitido. Agora

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Sorveteiro - Fonte criada por Diego Maldonado

o leitor tem acesso a livrarias digitais e bibliotecas digitais, com a possibilidade de aquisição de obras gratuitas. O leitor pode também publicar seu eBook, importando para as ferramentas de sistema próprio sendo que o tablet ou Kindle que possibilita todas essas vantagens e muito mais, pesa em torno de trezentas e setecentas gramas. Comparado a um livro físico, vemos a enorme evolução do livro impresso desde a época dos códices, para o digital. Ainda vemos atualmente que os livros impressos não deixaram de existir e ainda continuam acompanhando a evolução da tecnologia impressa, com os mais variados tipos que conhecemos hoje. Desde a impressão digital, impressão a laser, rotogravuras, serigrafias, tipográfica, flexografia entre outras, os livros sempre estão presentes com algumas destas características. Já a tipografia teve um grande impacto tanto na era digital, quanto na arte gestual. Diversos autores especialistas no assunto como Priscila Farias, Ellen Lupton, Robert Bringhurst e outros, discutem os padrões de legibilidade e mostram as características de fontes, outros artistas buscam o lado artístico da tipografia, explorando os traços e os contornos de cada letra.

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Grafite, pichação e Handmade

O grafite é uma forma de arte contemporânea

de características essencialmente urbanas. São pinturas e desenhos feitos nos muros e paredes públicos. Não é simplesmente uma pichação, mas uma expressão artística. Tem a intenção de interferir na paisagem da cidade, transmitindo diferentes ideias. Não se trata, portanto, de poluição visual. Em muitos grafites, existem letras distorcidas, com cores berrantes ou não, que expressam pensamentos e visões muitas vezes pessoais. Grafia é a escrita. Nas artes plásticas, a palavra grafite, ou graffito (em italiano), significa marca ou inscrição feita em um muro, e é o nome dado às inscrições feitas em paredes desde o Império Romano. Grafismo, por sua vez, é a maneira de traçar linhas e curvas sob um ponto de vista estético. Pichação é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, ou monumentos, usando tinta em spray aerossol, dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta. No geral, são escritas frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor, embora a pichação seja também utilizada como forma de demarcação de territórios entre grupos – às vezes gangues rivais.

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Pichações na cidade de São Paulo

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Por isso difere-se do grafite, uma outra forma de inscrição ou desenho, tida como artística. Já outra forma de arte, são os trabalhos feitos à mão, designers, artistas e profissionais resgatam processos handmade em seus mais variados projetos, colorindo diversos tipos de superfícies, desde muros na rua até pôsteres e outras ilustrações. E você já parou para pensar na diferença entre caligrafia, lettering, handlettering e tipografia? A caligrafia é um tipo de arte visual, muitas vezes chamada de “a arte da escrita bela”. É escrever à mão e dar forma aos sinais de uma maneira harmoniosa, expressiva e habilidosa, tornando qualquer trabalho mais artesanal e exclusivo. O lettering é o desenho de letras e palavras com um propósito, podendo ser feito com caligrafia, desenho à mão ou tipografia digital. O lettering feito à mão também é chamado de handlettering. Já a tipografia está relacionada aos tipos de letras (fontes) que já conhecemos e também a criação de novas letras. Ela engloba a organização, estilo e aparência.

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T ipocali combina tipografia e caligrafia com

arte e design. É a maneira que Thiago Reginato achou para divulgar seu nome e seus serviços criativos oferecidos. Sua essência é promover todo tipo de projeto, exposição, site, livros, eventos, materiais e outras atividades relacionadas ao mercado tipocaligráfico. Thiago está sempre experimentando novas descobertas no universo do design e da arte.

A ndrea

Kulpas, é designer gráfico e uma daquelas pessoas supertalentosas. Em 2006, começou a estudar a tipografia e a trabalhar com a rotulação para logotipos. Em dezembro de 2012, um amigo a presenteou com um estojo de sharpies. Quando entrou na faculdade de design, pensou que gostaria de projetar cadeiras para o resto de sua vida, mas descobriu sua paixão pelo design gráfico, e mais tarde, tipografia, caligrafia, projeto de tipo, e o maior de todos: a rotulação! Seu foco ultimamente é exclusivamente em letras (e ornamentos), que virou sua especialidade.

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M arina é absolutamente apaixonada por letras. Quando entrou na faculdade de design, pensou que gostaria de projetar cadeiras para o resto de sua vida, mas descobriu sua paixão pelo design gráfico, e mais tarde, tipografia, caligrafia, projeto de tipo, e o maior de todos: a rotulação! Seu foco ultimamente é exclusivamente em letras (e ornamentos), que virou sua especialidade. Ela sempre foi freelancer e durante 13 anos trabalhou para vários clientes além de escolas diferentes, ainda dá palestras, oficinas e conferências.

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Escrita de internet uma nova visão

M uito se fala e se censura sobre as formas

de escrita adotadas pelos jovens nas vias de comunicação do meio virtual. Alguns profissionais criticam duramente as abreviações, enfatizando que as mesmas prejudicam as formas cultas da língua, além de caracterizar os adeptos da linguagem como vândalos gramaticais, palavras ditas pelo radialista e apresentador inglês, John Humphrys. Porém, pesquisas recentes comprovam que crianças e adolescentes que cresceram se comunicando na internet, nas salas de bate papo, enviando e recebendo mensagens de celular, apresentam uma escrita mais desenvolta e rica em detalhes. Sabe-se que o exercício da escrita leva o sujeito a desenvolver melhor suas habilidades ortográficas, gramaticais e criativas. Para a pedagoga Jusssara Barros, escrever, mesmo que conversando com amigos, é uma forma de expressar melhor suas ideias e exercitar a destreza da escrita de um bom texto. Nas escolas, a escrita abreviada e em códigos, a que denominamos como internetês, não é mais considerada um problema. Isso porque as formas gramaticais e cultas da língua não são deixadas de lado. Os professores

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A nova escrita da internet

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Emoticons do whatsapp

têm programas a serem cumpridos e exigem dos alunos os conhecimentos necessários, seja durante as aulas, durante as provas ou nas redações. Além disso, o papel social da escola é o de formar sujeitos capazes de se integrar ao mundo. “Nos dias atuais, é importante ressaltar que não adianta lutar contra a comunicação de internet, mas repensar que essa prática também apresenta seu lado positivo, além de que a informatização é um excelente recurso educativo. ” Afirma a pedagoga Jussara. Segundo a professora Cássia Batista, em sua pesquisa de mestrado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

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da USP, as principais proximidades dos textos falados e escritos são: informalidade e respostas curtas. A professora ressalta que não há motivos para preocupação, desde que a escola norteie o aluno em relação aos usos adequados das diferentes linguagens e que a sociedade aceite que o computador faz parte da vida dos jovens. Hoje através de aplicativos e conversas de bate papo, abreviamos as palavras, trocamos os sentidos das letras. O você abreviado fica “vc”, o também “tbm”, e não fica “N”, “Naum” ou “Nem”. A forma da nova escrita que influencia as gerações atuais e as futuras são algo para refletimos onde chegaremos com essa nova evolução errônea do uso das palavras. Também é interessante que hoje em dia utilizasse muitos símbolos chamados emoticons e símbolos que estão a todo vapor nos aplicativos como Whatsapp, Messenger, Facebook entre outros. Essa escrita cheia de símbolos e abreviações, talvez seja um marco para uma nova criação de linguagem dos dias atuais. Assim, pode-se imaginar que mais algumas décadas futuras, haverá outros designers escrevendo sobre a nossa época atual, assim como muitos fizeram desde os tempos antigos.

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A importância da tipografia hoje

A tipografia foi a responsável pela chegada

e pelo desenvolvimento da imprensa em grande parte do mundo. Segundo Marcos Mello, ela pode ser definida como a alma gráfica e, por isso, precisa ser conhecida e valorizada por designers e outros profissionais que hoje atuam no setor. “Devemos resgatá-la para que a memória gráfica não se perca. A tipografia é a essência de tudo, nunca podemos nos esquecer que o gráfico nasceu em uma oficina tipográfica. ” Para Ladisla Mandel, a renascimento da caligrafia, hoje em dia, é uma manifestação de que o fazer e mais importante do que seu uso como meio de comunicação. Na escola a escrita perdeu seu papel de integrar a criança a sociedade. Não tendo mais modelo, procuramos reencontrar nossa imagem neste último recurso de afirmar nossa personalidade por meio do gesto escritural. Pois o ato de escrever conserva, ainda hoje, seu caráter magico, por Mandel, 1998. A caligrafia ou a bela escrita pode encontrar atualmente outras fontes de inspiração dentro de cada um de nós, ancoradas nas realidades atuais e portadoras de novas aspirações.

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Sistema de escrita no mundo

A linguagem falada nos fez esquecer a linguagem escrita e gestual que a precederam. A linguagem falada não é feita de palavras reconstituídas a partir de módulos vocais produzidos por um computador, neutros e impessoais. Nossa linguagem falada é constituída por voz, reconhecível entre milhares de outras, composta por uma altura e tom, de um timbre, de uma sonoridade, de uma melodia, acompanhada de um gesto, de uma mimica, e de todo o corpo, que são inseparáveis do discurso, por Mandel, 1998. É inegável que se nossa escrita fosse puramente simbólica e objetiva, como era o primeiro alfabeto cuneiforme de Ugarit, o Morse, o Braile que limita a restrita tradução verbal do texto, ela seria muito mais pobre do que a linguagem falada, por Mandel, 1998.

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Glossário: A Acrofônia: sistema gráfico antigo, evolução da escrita hieroglífica, que consistia em atribuir ao desenho ou ao ideograma de um objeto o valor fonético da letra ou da sílaba inicial do nome desse objeto. Agrafas: Característica de uma língua que não tem escrita.

B Brochura: Tipo de acabamento em que o miolo do livro é coberto por uma capa mole, de papel ou cartolina, colada ao dorso.

C Caixa Alta: Letras em maiúsculas. Caixa Baixa: Letras em minúsculas.

Códice: Volume antigo manuscrito (particularmente se trata de história) organizado em cadernos, solidários entre si por cosedura e encadernação. Copista: Pessoa que tinha por função copiar textos manualmente, antes da invenção ou da divulgação da imprensa. Cuneiforme: Que tem forma de cunha. Diz-se da antiga escrita persa, meda e assíria formada de caracteres em forma de cunha. Cunhagem: Derreter; lançar (a fusão) no molde. Cursivo: Que é escrito à mão, geralmente de forma ligeira, sem uso de técnicas de caligrafia.

D Datilografia: Arte de escrever à máquina.

Capitular lapidares: Letras gravadas em pedra.

Decalque: Processo que permite transferir por pressão imagens para outra superfície.

Caracteres: Forma escrita de um símbolo, letra ou número. Símbolo, dígito.

Demótico: Diz-se de ou língua falada pelos antigos egípcios.

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E Eixo Oblíquo: Inclinado ou que não é proporcional. Entalhe: Chanfradura ou corte na madeira para facilitar a entrada de instrumento cortante. Escriba: Notário; escrivão; escrevedor; mau escritor. Escrita Gótica: É o nome pelo qual é chamada o tipo de letra angulosa e com linhas quebradas, originada entre os séculos XII e XIII.

F Flexografia: É um processo de impressão gráfica em que a fôrma, um clichê de borracha ou foto polímero, é relevo gráfico. Fólio: Livro numerado por folhas; as duas laudas de uma folha; número que indica a paginação de uma publicação. Fonética: Parte da linguística que trata dos sons articulados, considerados do ponto de vista físico, acústico e articulatório, como elementos dos vocábulos.

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Fotocomposição: Processo de composição a frio que utiliza técnicas fotográficas ou eletrônicas para a produção de textos, a partir de fontes (“conjunto de letras”) gravadas em filme, fita magnética, disco etc. Fundição: Derreter-se; sumir-se; incorporar-se. Derreter; lançar (a fusão) no molde.

G Glifo: Figura que dá um tipo de característica particular a um símbolo específico. Glossas: Breve interpretação (de um texto). Comentário; anotação. Poesia feita sobre um mote. Crítica; censura. Gravura: Ação ou efeito de gravar.

H Hierático: Relativo às coisas sagradas ou religiosas. Pertencente aos sacerdotes ou que tem as formas de uma tradição litúrgica.

I Iconografia: Ciência das imagens produzidas pela pintura, pela escultura e pelas outras artes plásticas. Conjunto de imagens relativas a um assunto determinado.


Ideografia: Representação das ideias por imagens ou símbolos. Ideograma: Sinal que não exprime som nem articulação, mas ideias. Iluminuras: Pintura a cores (nos livros da Idade Média). Ornados das letras maiúsculas. Aplicação de cores vivas em estampas. Incunábulos: Diz-se de ou livro impresso que data dos primeiros tempos da imprensa (até o ano de 1500). In-octavo: Diz-se da folha de impressão dobrada quatro vezes, de que resulta um caderno com oito folhas ou dezesseis páginas. In-quarto: Diz-se da folha de impressão dobrada duas vezes, de que resulta um caderno com quatro folhas ou oito páginas.

L Livro de Bolso: Livro em formato pequeno, formulado para uma leitura prática e para o barateamento de seu custo.

M Mesopotâmia: Região situada entre dois rios (Rio Tigre e Rio Eufrates). Monástica: Vem do termo “monastério”,

mosteiro = comunidade de monges ou freiras.

O Ornamentar: Adornar com ornamentos. Adorno tendente a dar imponência.

P Paleografia: Escritos antigos ou estudos de escritos antigos. Paleolítico: Relativo à idade chamada da Pedra Lascada. Palimpsesto: Manuscrito em pergaminho que os copistas na Idade Média apagaram, para nele escrever de novo, e cujos caracteres primitivos a arte moderna não conseguiu fazer reaparecer. Pictograma: Desenho, sinal de uma escrita pictográfica. Pinceis rudimentares: relativo a rudimento; simples, cru, sem embelezamentos; primitivo, não desenvolvido. Pintura Rupestre: Inscrito ou desenhado nas rochas. Prefácio: Servir de introdução. Prelo: Máquina tipográfica para imprimir; prensa; obra no prelo: que se está a imprimir.

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Prensas: Aparelho manual ou mecânico para comprimir uma coisa entre as suas duas peças principais.

R Rotogravuras: Processo de heliogravura que utiliza fôrma cilíndrica de cobre para impressão rotativa; heliogravura rotativa. Estampa ou qualquer trabalho impresso obtido por esse processo.

S Semiótica: A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido. Serifa: Forma de letra conhecida também por grifo. Diz-se de ou forma de letra inclinada para a direita. Serigrafia: Serigrafia ou silk-screen é um processo de impressão no qual a tinta é vazada pela pressão de um rodo ou puxador, através de uma tela preparada.

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Simbologia: Conjunto ou sistema de símbolos. Sumério: Primeiros povos que habitaram a região da Mesopotâmia.

T Tipografia: É a arte e o processo de criação na composição de um texto, física ou digitalmente. Assim como no design gráfico em geral, o objetivo principal da tipografia é dar ordem estrutural e forma à comunicação escrita. Tipografo: Aquele que conhece ou exerce a arte tipográfica.

X Xilogravura: Gravura aberta na madeira.


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Capa por Alberto Alves diagramado por Fabricio Vilela de Oliveira Capa impressa em serigrafia em papel Fedrigoni – Ispira Marrone Fascino 250g/m2 na Plena Serigrafia Miolo impresso em papel Fedrigoni - Vergê branco diamante 80g/m2 na gráfica Agiliga Encadernação costura Copta Em Novembro de 2016 Fontes utilizadas nas entradas de capítulo ARTE CONTEMPORÂNEA Fonte: Bifur Designers: Richard Kegler, Adolphe Mouron Cassandre Design date: 2004 Publisher: IHOF MyFonts debut: Oct 11, 2004 Link: http://www.myfonts.com/fonts/ihof/p22-bifur/ IDADE MODERNA Fonte: Bodoni Designers: Giambattista Bodoni, Morris Fuller Benton Design date: 1907 Publisher: Bitstream Design owner: ATF MyFonts debut: Jan 1, 2000 Link:http://www.myfonts.com/fonts/bitstream/atf-bodoni/




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