Revista Ponto #3 - AGO 2013

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PONTO

30 ANOS DE HUMOR PAULISTANO

#3 AGOSTO 2O13

TEATRO MUSICAL A CONSAGRAÇÃO NO BRASIL POR DENTRO DE HELIÓPOLIS NA TRILHA DOS SABERES REVISTAPONTO® PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DO SESI-SP #3 AGOSTO 2O13

editora@sesisenaisp.org.br www.sesispeditora.com.br www.facebook.com/sesi-sp-editora

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#3 AGOSTO 2O13

SESI-SP EDITORA AV PAULISTA 1313 4º ANDAR O1.311-923 SÃO PAULO SP TELEFONE 55 11 3146 7308

CONVERSA COM ANTONIO ABUJAMRA INTELIGÊNCIAPONTOCOM A CULTURA FACE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS

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Na página anterior, ilustração de Glauco – capa da revista Geraldão 7, agosto de 1988.


P O N T OD E P A RT I D A

A Revista Ponto, nesta quarta edição, define sua identidade editorial, e se posiciona entre as revistas culturais paulistanas e, mesmo privilegiando as atividades de cultura promovidas pelo SESI-SP e os conteúdos propostos pelas publicações dessa editora, não representa um veículo puramente institucional, pois amplifica e aprofunda essas ações ao integrá-las ao cenário cultural mais amplo de nossa sociedade. O SESI-SP é um espelho de nossa vida cultural e, como disse o grande Antonio Abujamra em entrevista publicada neste número, “o SESI-SP não é só São Paulo, é o Brasil inteiro que recebe os pensamentos de profissionais escolhidos com todo o cuidado”. Assim, apresentamos aqui uma ponte segura construída por essa instituição para a indústria do entretenimento, representada no teatro musical, que cresce velozmente no cenário cultural brasileiro e terá uma escola profissionalizante nos moldes das grandes escolas europeias e americanas, ajudando o setor a alcançar seriedade e profissionalização. Mas uma entidade que enxergue a cultura de modo sério não pode olhar o futuro sem refletir sobre o passado, e por isso a seção Ponto Especial apresenta o resgate de nossa sociedade espelhada nas histórias em quadrinhos produzidas nos anos 1980 por nomes como Angeli, Laerte, Glauco e os irmãos Caruso, apresentando o próximo livro da coleção Memória e Sociedade, intitulado Humor paulistano e que está em fase final de edição. Em contraponto às projeções futuristas do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica –, com depoimentos de seus curadores, apresentamos a importância da leitura no texto do acadêmico Arnaldo Niskier, que apresenta a recente parceria estabelecida pela SESI-SP Editora e a ABL – Associação de Leitura do Brasil – para a publicação da revista Leitura: Teoria e Prática.

O Editor


#3 aGOsTO 2O13

A REVISTAPONTO® é uMA PuBlIcAÇÃO lITERáRIA E culTuRAl DO sEsI-sP, cOM EDIÇÕEs TRIMEsTRAIs.

CONSElhO EDITORIAl PaUlO sKaF (PresiDeNTe) WalTer viciONi GONçalves DéBOra cyPriaNO BOTelHO NeUsa mariaNi COmISSãO EDITORIAl FerNaNDO aNTONiO carvalHO De sOUZa DéBOra PiNTO alves viaNa aleXaNDra salOmãO miamOTO álvarO alves FilHO rODriGO De Faria e silva JUliaNa Farias GaBriella PlaNTUlli EDITOR ChEfE rODriGO De Faria e silva EDITORAS ASSISTENTES JUliaNa Farias aNa lUcia saNT’aNa DOs saNTOs EsTAGIáRIA BeaTriZ Biella marTiNs De sOUZa CAPA, EDITORAçãO E PRODuçãO gRáfICA PaUla lOreTO valQUíria Palma camila caTTO COmuNICAçãO EDITORIAl GaBriella PlaNTUlli DIVulgAçãO E PROmOçãO valéria vaNessa eDUarDO ADmINISTRATIVO E fINANCEIRO raimUNDO erNaNDO De melO JUNiOr FeliPe aUGUsTO Ferreira De Oliveira Flávia reGiNa sOUZa De Oliveira márciO Da cOsTa veNTUra COmERCIAl vaNessa BUZeli BONOmO viceNTe COlABORADORES arNalDO NisKier lUiZ rUFFaTO PaUlO De camarGO ricarDO viveirOs - OFiciNa De cOmUNicaçãO maGU cOmUNicaçãO REVISãO mUiraQUiTã eDiTOraçãO GráFica

Capa Ilustração de Laerte. Detalhe da HQ O jacaré do Tietê, revista Piratas do Tietê, outubro de 1990.

PROJETO gRáfICO ORIgINAl viceNTe Gil DesiGN JORNAlISTA RESPONSáVEl GaBriella PlaNTUlli (mTB 0030796SP) TIRAgEm DESTA EDIçãO 5.000 eXemPlares ImPRESSãO NyWGraF

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06 estante de livros lançamentos

O8 ponto Entrevista conversa com ANTONIO ABUJAMRA

16 PONTO EXPOSIÇÕES FILE SP 2013, INTERATIVIDADE À FLOR DA PELE

26 ponto especial 30 anos de HUMOR PAULISTANO

36 contraponto NA TRILHA DOS SABERES

46 teatro popular Música e teatro: o casamento perfeito

54 teM, MAS ACABOU INTELIGênciapontocom

56 ponto leitura a maior invenção da história

62 ponto do conto UMA TARDE EM HAVANA, DE LUIZ RUFFATO

72 ao pé da letra o novo acordo ortográfico

74 cardápio agenda cultural 78 galeria de fotos 80 eventos das editoras sesi-sp e senai-sp


ESTANTE DE livrOs DA REDAçãO

A SESI-SP Editora e a SENAI-SP Editora lançam novos títulos neste mês, novidades em conhecimento e entretenimento. A grande variedade de temas abordados em nossas publicações oferece aos leitores novos olhares sobre tecnologia, ensino profissional, esportes, educação, economia, artes e design. 6

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PÃES Este livro é dedicado a Zaba Moreau, a Gisela Moreau e a todas as Criaturas que habitam A NOSSA CASA! Lugar onde nasceu esta obra e que abriga a todos que amam incondicionalmente pessoas, criaturas e seres de todos os tipos. Com amor...

ISBN 978-85-8205-109-2

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Receitas saborosas, simples e diferenciadas de pães salgados, pães doces, pães de sabores suaves (como pão de mandioquinha e pão de água) e pães que encontramos pelo mundo (como pão austríaco e pão sueco). A publicação traz também a história e as curiosidades sobre o universo do pão – como ele ter sido o primeiro alimento elaborado pelo ser humano –, além de orientações, materiais indispensáveis e dicas preciosas para prepará-los de modo que as receitas sejam sempre um sucesso.

criaTUras lu lOPEs

A autora de livros infantis Lu Lopes apresenta-nos nesta publicação diversas criaturas, cada qual com suas próprias características, particularidades e vontades, que, assim como todas as pessoas, estão sempre em construção, em transformação, encontrando-se e desencontrando-se.

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lAnÇAMEnTOs

ta. Formado em Desenho Industrial e pós-graduado em Multimídia, possui mais de 100 livros publicados. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão os livros Ser criança é..., Sob controle, O livro do lobisomen e Em busca da meleca perdida, este último em parceria com a escritora Fátima Mesquita. Atualmente, além de ilustrar e

fazer é pensar

escrever, também ministra cursos e oficinas em instituições como o Sesi-SP (Programa Literatura Viva), a Prefeitura de São Paulo e em diversas escolas públicas pelo Brasil.

Construindo Casas e móveis C l au d io d e M o u r a Cas t ro

Tio Rubens achou que poderia manter seu segredo preservado, assim como fazia com as obras de arte que estavam sob seus cuidados no museu Grimaldi. Mas seus curiosos sobrinhos, Sinval e Marta, interessados em descobrir os mistérios por trás do acervo dos Grimaldi, trazem à tona um passado repleto de intrigantes acontecimentos, ocorridos durante uma das épocas mais movimentadas do mundo da arte, a Semana de Arte Moderna de 1922. Em meio à tela inacabada, réplica de obras famosas e uma estranha família de colecionadores, os irmãos mergulham em uma história que passeia pelos principais nomes da arte brasileira.

O colecionador de histórias Pintura Edison Rodrigues Filho Ilustrações: Fábio Sgroi

O colecionador de histórias Pintura

fazer é pensar

em 1973. É ilustrador, escritor e quadrinis-

Edison Rodrigues Filho

Claud io d e M o ur a Cas tro Fábio Sgroi nasceu na cidade de São Paulo,

Edison Rodrigues Filho nasceu em 1960, em Porto Alegre, formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS), e pós-graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/SP). É autor de livros paradidáticos, romances e participante de coletâneas de contos, tendo sido vencedor do VII Prêmio Jorge Andrade da Academia Barretense de Cultura, na edição de 1996 e medalha de prata na categoria estrangeiros do Premio Letterario Internazionale Maestrale – San Marco, Marengo D’oro, Sestri Levante, Genova, Itália. Como autor de literatura juvenil e de projetos de preservação da memória, publicou pela Editora Melhoramentos os romances O Segredo da Chave, O Segredo da Invisibilidade, O Segredo da Longevidade, Jardim do Céu, Meio Circulante e coletânea de contos Internautas, e pela Editora Nova Bandeira, o Anedotário do Rádio Brasileiro, com depoimentos de radialistas de várias partes do Brasil.

ISBN 978-85-65418-87-4

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ISBN 978-85-8205-091-0

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FaZer é PeNsar – cONsTrUiNDO casas e móveis CLAUDIO DE MOURA CASTRO

Resultado de uma construção que ainda não aconteceu, Claudio de Moura Castro apresenta as peripécias na arte de construir, consertar, reformar e transformar sua própria moradia. Enquanto planejava sua próxima empreitada, a construção de uma casa de campo com suas próprias mãos, o autor decidiu relatar os prazeres e desafios que encontrou durante a construção e reforma de suas cinco casas anteriores. Além disso, conta como começou a fabricar seus móveis, inclusive todos os da casa nova, que ainda permanece em projeto.

CELULOSE

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Outros títulos da série Informações Tecnológicas

Área Celulose e Papel

Tio Rubens achou que poderia manter seu segredo preservado, assim como fazia com as obras de arte que estavam sob seus cuidados no museu Grimaldi. Mas seus curiosos sobrinhos, Sinval e Marta, interessados em descobrir os mistérios por trás do acervo dos Grimaldi, trazem à tona um passado repleto de intrigantes acontecimentos, ocorridos durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Em meio à tela inacabada, réplicas de obras famosas e uma estranha família de colecionadores, os irmãos passeiam pelos principais nomes da arte brasileira.

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Cris Eich

Calibração de Instrumentos de Medição

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Uma borboleta em seu voo fugidio aproxima duas crianças, que se descobrem ao buscá-la num jogo de esconde-esconde em meio a uma cidade só delas.

Diagnósticos e Regulagens de Motores de Combustão Interna Eletrônica de Potência Aplicada no Acionamento Eletrônico de Máquinas Elétricas

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Os materiais nobres e raros das joias pressupõem um consumidor que busca o luxo. Mas o consumidor contemporâneo não quer só isso, ele procura estilo também. Esta obra apresenta uma diversidade de peças com as novas tendências da temporada 2013-2014, incorporadas com a influência dos dias atuais. Uma entre tantas particularidades do universo das joias é que elas surgem de forma mais lenta e ficam em evidência por mais tempo, por isso este é um livro atual e que poderá servir de referência por um longo período.

Cris Eich

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A experiência dos docentes do SENAI-SP no curso técnico de Celulose e Papel constitui a base deste livro, que trata de modo específico a celulose. O objetivo principal desta obra é oferecer a profissionais e estudantes um texto de referência, que aborda, de forma didática, os fundamentos dos processos industriais de produção da celulose.

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Os processos industriais de produção de celulose e papel são empreendimentos de grande porte e alto nível de automação. Para sua operação e gestão são necessários profissionais sempre atualizados e bem preparados.

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JOias: TraDUçÕes & iNsPiraçÕes SENAI-sP

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Com uma linguagem simples e didática, Celulose tem o intuito de facilitar o aprendizado necessário para compreender os fundamentos dos processos industriais de produção de celulose. Valendo-se da experiência dos docentes do SENAI-SP, o livro é destinado a profissionais e estudantes de nível técnico. O Brasil é um dos grandes produtores mundiais de celulose e papel e um dos fatores que contribui para isso é a competência das fábricas brasileiras. Para manter o alto nível de automação que esse processo fabril requer é preciso que os profissionais que nela atuem estejam sempre atualizados e bem preparados. E a proposta desta obra é oferecer esses subsídios, com conteúdo de extrema qualidade.

Manifestação artística que foi ganhando as ruas e espaço nos muros, o grafite trouxe cor, formas diferenciadas e criatividade ao cotidiano das cidades, em contraste ao cinza predominante do concreto. Graffiti Fine Art é uma publicação sobre esta arte urbana. Em parceria com o Museu Brasileiro de Esculturas (MuBE), este livro apresenta os mais relevantes grafiteiros mundiais ao lado de seu principal meio de expressão. As inspirações desses artistas estão refletidas em suas obras, seja em seu traço de cores fortes, seja em temas recorrentes utilizados em seus trabalhos.

O que começou como um mero exercício de Cris Eich em desenhar fachadas e platibandas de casas do interior evoluiu para uma narrativa marcada por simbolismos, expressas por meio da técnica de aquarela, em 32 ilustrações. A curiosidade entre uma menina e um menino, a descoberta das diferenças e da sexualidade surge enquanto brincam de pega-pega.

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Abu, um homem liberto

Foto: Jair Magri / TV Cultura

À frente do mais pessoal projeto de toda a sua carreira, o ator e diretor Antonio Abujamra falou com exclusividade à revista Ponto

Abujamra aproveita-se de sua privilegiada inteligência, aliada a imensa, gigante e pesadíssima bagagem cultural, para desafiar a estrutura. Foi assim desde o começo. Hoje – ainda que se apresente como “um velho triste” (o que esta repórter se permite duvidar, ao menos em certo grau) – Antonio Abujamra segue desafiando, provocando a estrutura. É esse papel que o ator e diretor mantém como anfitrião do programa de entrevistas Provocações, exibido às terças-feiras, pela TV Cultura de São Paulo. Um pouco por reflexo de sua postura como entrevistador, Abu ganhou fama de “mal-humorado”. Mentira. Ele não é. É apenas um gigante, que assusta pelo tamanho de sua personalidade. “Não sou mal-humorado”, declara. E defende o sucesso do programa, no ar há 12 anos. “Fazer televisão entrevistando as pessoas e mostrar como são de verdade é o que interessa para o espectador inteligente.” Bem antes da TV e do cinema, onde também deixou marcado seu rastro de talento, Abu subiu aos palcos pela primeira vez quando passara um pouco dos 20 anos. Era o final da década de 1950. Ele fez duas graduações – a de jornalismo e a de filosofia –, ambas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Já trabalhava como crítico teatral, quando, paralelamente, fez suas primeiras incursões pelo Teatro Universitário, em montagens de autores como Luigi Pirandello, Fernando Pessoa, Tennessee Williams, Eugène Ionesco e Georg Büchner. Antonio Abujamra hoje.

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Fotos: Jair Bertolucci/TV Cultura

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Só que o jovem nascido na paulista Ourinhos descobriu rapidamente seu espaço do lado de lá da cortina: tornou-se um diretor pelas próximas quatro décadas. Antes, viajou para a Europa como bolsista. Estudou a língua e a literatura espanholas, em Madri. Fez estágio com os diretores Roger Planchon e Jean Vilar, na França, e no célebre Berliner Ensemble, na Alemanha, então Oriental. De volta ao Brasil, já como profissional, Abujamra começou a construir sua trajetória em palcos que se tornaram marcos históricos da cena brasileira, começando pelo Teatro Cacilda Becker, onde estreou com Raízes, de Arnold Wesker, e companhias antológicas, como Teatro Oficina, Teatro de Arena e Teatro Livre. Passariam por suas mãos – em necessária desordem de fatores, o que não altera absolutamente os resultados – os textos de Augusto Boal, Carlos Henrique Escobar, Máximo Gorki, Jean Genet, Antonio Bivar, Federico García Lorca, Millôr Fernandes, Giovanni Testori, Dario Fo, Nelson Rodrigues, Tennessee Williams. Entre os talentos que o cercariam, veríamos gente como a produtora Ruth Escobar, com quem fez, a partir de 1962, uma série de montagens, Nicette Bruno e Paulo Goulart, parceiros na montagem de espetáculos, o dramaturgo Bráulio Pedroso, a atriz Denise Stoklos, muitos e muitos nomes, que renderiam laudas de texto. Sua primeira companhia foi o Grupo Decisão, fundada em 1963, em associação com Antonio Ghigonetto e Emílio Di Biasi. O objetivo era ter as técnicas de Bertolt Brecht como base para as produções do teatro de mobilização política. Portanto, um ano antes da tomada do poder pelos militares, Abujamra e sua trupe estavam encenando na periferia de São Paulo textos como Sorocaba, Senhor, adaptação de Fuenteovejuna de Lope de Vega, ou Terror e miséria no III Reich e Os fuzis da sra. Carrar, do próprio Brecht. Em 1964, tendo se transferido para o Rio de Janeiro, o grupo conquistou seu primeiro sucesso com O inoportuno, de Harold Pinter. No ano seguinte, Electra, de Sófocles, com Glauce Rocha como protagonista, reforçou o retorno positivo da crítica.


Na época, o grupo também passou a sofrer intervenções da censura imposta pelo governo militar. A peça O berço do herói, de Dias Gomes, em 1965, foi interditada pela censura em pleno ensaio geral; uma década depois, proibiu-se a estreia de Abajur Lilás, de Plínio Marcos. Engajado no Teatro da Resistência – as produções que, a despeito do regime de exceção, procuravam dar prosseguimento a uma dramaturgia de motivação social –, Abujamra dirigiu o monólogo Muro de arrimo, de Carlos Queiroz Telles, com Antonio Fagundes. Abu conquistaria diversos prêmios por seu trabalho, então mais fácil mencionar apenas o primeiro deles: o Molière, pela direção de Roda cor de roda, de Leilah Assumpção. Então Antonio, o diretor, se tornaria Antonio, o ator. Só que antes disso, no começo dos anos 1980, ele se lançou em um projeto de fôlego: recuperar o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Estruturalmente, novas salas foram inauguradas. Artisticamente, a iniciativa resultou no surgimento de novos autores e diretores. Foram sete anos de intensa atividade, de descobertas e reconhecimentos. “Fizemos espetáculos muito bonitos, com artistas famosos como Antonio Fagundes, Berta Zemel, Wolney de Assis, Clarisse Abujamra, entre outros, mas não sou um grande empresário e, no fim, tive que dar de presente o teatro, porque os donos do prédio queriam transformá-lo num grande supermercado e não aguentaríamos tudo isso dentro de nossa alma”, lamenta Abu. Foi naquele período que o diretor redescobriu seu espaço imediatamente abaixo dos refletores. Aos 55 anos de idade, Abujamra iniciou sua carreira de ator, o que, de saída, lhe valeu um prêmio pelo desempenho no monólogo O contrabaixo, de Patrick Süskind (1987). “Ser ator é momento do teatro. O ser ator é que sempre me interessou e ter dirigido muito foi uma espécie de grandes estudos verdadeiros para o ser ator. Me sinto numa grande felicidade quando estou a espera de abrir o pano e desenvolver a minha cabeça com os gestos e os pensamentos de um ator”, declara Abujamra. Em 1991, Abu criou a companhia Os Fodidos Privilegiados, para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro, estreando com a montagem Um certo Hamlet, adaptação do texto de William Shakespeare. Tudo bem, vale uma segunda menção: a peça levou outro Prêmio Molière pela direção. E nos próximos anos, por ali passariam autores de diferentes gerações, gente que despontou naquele palco e vive hoje o auge do reconhecimento. A direção artística do gru-

O anfitrião com seus convidados no Provocações, da TV Cultura.

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po, Abu dividiu com o colega João Fonseca, para quem passou o bastão quando deixou a companhia em 2000. Questionado sobre em que medida existem, no teatro brasileiro da atualidade, elementos como inovação, criatividade, inventividade, ele sintetiza: “Sempre que existirem artistas com talento, a inovação, a criatividade e tudo o mais farão com que o teatro seja uma das principais artes para o povo brasileiro”. “...Me sinto numa grande felicidade quando estou a espera de abrir o pano e desenvolver a minha cabeça com os gestos e os pensamentos de um ator.”

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Desde os anos 1960, Abujamra já atuava na televisão, muito mais como diretor. Depois que imprimiu vida ao ator, participou mais ativamente de novelas, especiais, programas educativos e teleteatros. Ficou na memória dos telespectadores o seu Ravengar, da global Que rei sou eu? (1989). Ele também atuou no cinema, com destaque para a recente produção do diretor Marcos Paulo, Assalto ao Banco Central (2011), Quem matou Pixote? (José Joffily/1996) e Carlota Joaquina, princesa do Brazil (Camurati/1995). Para Abu, essas experiências representam um aprendizado. “Todos os momentos artísticos em que estive dentro, sempre a minha cabeça se organizava para o ator que havia dentro de mim. E virei um bufão que me levou a ferocidade do gestual do ator a me sentir em todos os lugares do mundo, de Luxemburgo até Osasco, e educar sempre a minha integridade e carinho pelo ser humano”, afirma. Ainda sobre o cinema, e o mercado que existe para os diferentes tipos de produções da indústria nacional, ele avalia que há espaço para todos os momentos em que a arte quer se apresentar. “O cinema brasileiro ainda está à procura de ser de uma utilidade fantástica para o povo. Claro que a ditadura militar deixou muito tempo o cinema ficar longe da beleza que deveria ter e só a clandestinidade atingia momentos em que o povo podia reconhecer que a arte cinematográfica um dia seria de um valor incontestável para o país inteiro se reconhecer dentro de si mesmo”. Assim como o encerramento do projeto TBC marcou o início da carreira de ator, o final do projeto com a companhia Os Fodidos Privilegiados deu espaço para surgir Antonio, o entrevistador.


Foto: Jair Bertolucci/TV Cultura

Em 2000, estreou na TV Cultura o programa Provocações, conduzido por Abu, em um formato totalmente único – o que muito provavelmente se deve ao seu apresentador – e que, além das entrevistas, abre espaço para a poesia e a leitura de textos inéditos de autores conhecidos ou não. Instigante, controverso, inteligente, o programa já recebeu gente como a ex-chacrete Rita Cadillac, a cantora de rock Pitty e a atriz Marisa Orth. Embora estejam em maior número, não são apenas os artistas os privilegiados com este encontro. Dom Paulo Evaristo Arns, Miguel Arraes, Luiza Erundina e Maguila também já passaram por lá. Em 2008, as provocações ganharam os palcos. Agora, Antonio se transforma no ator-autor-diretor-entrevistador. Abu é, afinal, ele mesmo. O homem liberto. Utilizando a comédia, o monólogo A voz do provocador, criado, dirigido e protagonizado por Abujamra, procura compreender os brasileiros, com o objetivo de mostrar que a vida deve ser provocada a todo instante. Projeto mais pessoal de toda a sua carreira, o espetáculo reúne trechos em vídeo, como a leitura do discurso de Cristovam Buarque sobre a internacionalização

Abujamra durante gravação de seu programa.

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Fotos: Jair Bertolucci/TV Cultura

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da Amazônia, e um apanhado de citações de artistas e pensadores, sob o liame da visão de mundo do autor. E o que sintetizar de A voz...? Nada menos do que seria de se esperar de Abu: temas insólitos, proposições inteligentes e mordazes; uma pitada de tragédia e outra de comédia; ironia de mãos dadas com humor corrosivo. Em 2012, o espetáculo percorreu várias capitais brasileiras e cidades do interior paulista, além de passar por diversos CEUs – o modelo de Centro Educacional Unificado, que se multiplicou na cidade de São Paulo a partir de meados dos anos 2000. Ao ver espetáculos dessa qualidade encenados em espaços que acolhem a população de maneira abrangente, a impressão que fica é a de que mais gente vai ao teatro hoje. Teatro, para muitos, tinha, até alguns anos atrás, aquela aura de “coisa de gente intelectual”. Hoje vemos mais pessoas indo aos espetáculos a preços populares, às encenações de rua. “A aura do teatro para gente rica ou pobre sempre existirá. Esquerda, direita, ou qualquer outro nome, sempre deixarão o teatro como um dogma com impulsos emocionais que nunca deixarão de existir dentro do artista com a coragem de enfrentar essa maravilha que é ter esses segundos de grandes momentos, que talvez só as putas devem ter em determinados momentos”, afirma Abu. Em declaração dada ao jornal O Estado de S. Paulo (janeiro/2012), Abujamra deixou claro, com o tom de ligeira ironia que lhe é peculiar: “Fiz 21 espetáculos pelos CEUs. Fui ovacionado. Sou o rei da periferia. É uma plateia que não tem a arrogância da Augusta nem da Paulista (...) É um público livre. São jovens de 15, 16 anos. Fazem o que querem. Ficam atentos, querem aprender”. A nós, ele conta como foi a experiência de levar A voz do provocador para os espaços públicos. Perguntamos: terá continuidade? “Terá. A periferia ainda é a verdadeira plateia. E nos CEUs tem que continuar. Isso deveria ter acontecido há duzentos anos. Quem sabe agora, não vai parar”. E não parou. Ele voltou. Em 2013, A voz do provocador começou a percorrer os teatros do SESI em todo o estado de São Paulo. Rio Claro, Itapetininga, Sorocaba, Campinas, Franca, São Bernardo do Campo foram algumas das cidades que puderam assistir ao espetáculo de Abu, que aniversaria em 13 de setembro, completando 81 anos de vida... e de provocações.


O trabalho do SESI-SP por Antonio Abujamra

"O SESI-SP é de uma profundidade imbatível. Há anos venho presenciando momentos transcendentais, em que as escolas e o público em geral são rodeados de uma áurea extasiada, aparentando disposição em melhorar sua vida de inteligência e agradecimento pelo trabalho audacioso feito por pessoas que sabem muito bem a diferença entre um baile popular e as demonstrações das acrobacias intelectuais. Meu trabalho com o SESI-SP vem de muito longe, quase 30 anos, e nunca o ridículo nos acompanhou, pois as escolas mandavam seus alunos e tínhamos que demonstrar que eram pessoas que podiam evoluir com suas cabeças dentro dos ensinamentos feitos com exclusividade para eles. Uma comunicação fantástica entre os dirigentes do SESI-SP e longe das blasfêmias dos maus políticos culturais que sempre querem tomar a vanguarda dos ensinamentos e arriscam hipóteses falsas como uma forma de ficarem dentro das histórias gregas e poderem se comparar a instituições, Aristófanes e todos os geniais autores que a Grécia generosamente concedeu ao mundo. O SESI-SP não é só São Paulo. É o Brasil inteiro que recebe os pensamentos de profissionais escolhidos com todo o cuidado. As cidades do interior ficam ávidas aguardando o que irão receber, o novo saber para não ficarem longe das universidades, partidos políticos, associações cívicas, para que saibam que o ser brasileiro é capaz de melhorar sempre e fazer deste um país necessário para suas inteligências. O SESI-SP é contra as catarses do desespero, completamente inútil para os que querem a liberdade e a justiça funcionando longe dos países onde a polícia reprime as manifestações dos pensamentos mais liberais e inteligentes, para demonstrar que o brasileiro saberá o que é ser brasileiro e o SESI-SP os levará juntos para a beleza da vida e suas grandes possibilidades de existência dentro dela. O SESI-SP é imbatível, como comecei este artigo, e saibam que está sempre à disposição para todos os talentos que aparecerem para melhorar nosso país. Sou um artista apaixonado pelos seus trabalhos e contribuí bastante para sua elegância e apresentações maravilhosas para o nosso povo."

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Foto: Julia Moraes

FILE SP 2013, INTERATIVIDADE À FLOR DA PELE


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Quem nunca quis tocar Esta e outras experiências interessantes foram vivenciadas pelos visitantes do FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – 2013, que, em sua 14ª edição, foi sucesso de público e crítica.

Foto: Julia Moraes

A obra Pink Clouds tem projetada a imagem de um céu azul em um painel de tecido.

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Dos dias 23 de julho a 11 de agosto, quatro espaços do Centro Cultural FIESP Ruth Cardoso (Galeria de Arte, Galeria de Arte Digital do SESI-SP – fachada do prédio –, Espaço FIESP e Espaço Mezanino), além da Estação do Metrô Trianon-Masp, foram tomados pelo FILE e abrigaram uma grande variedade de instalações interativas, animações, aplicativos para tablets, machinimas, experiências sonoras, net e videoarte, workshops e simpósios. O festival contemplou alguns alinhamentos (clusters). São eles: FILE Instalações Interativas, FILE LED SHOW, FILE Games, FILE Maquinema, FILE Anima+, FILE Tablet, FILE Media Art, File Metrô, FILE Hipersônica e FILE Symposium e Workshop. Todos representando conexões entre a arte e a tecnologia. Apesar de o festival ter tido mais de mil inscritos, algumas das obras ficaram na memória do público. Entre elas destacou-se a sul-coreana Pink Clouds, onde um grande painel de tecido, esticado pouco acima da cabeça dos visitantes, tem projetada a imagem de um céu azul. Ao tocar o pano, surgem as nuvens rosa que vão sendo desenhadas pelo próprio visitante. “A interatividade é a chave para o sucesso da arte tecnológica com o público”, explica Paula Perissinotto, curadora do evento. Balance From Within, destaque dos Estados Unidos, é outro exemplo curioso de instalação. Um sofá de 170 anos é colocado na vertical sobre um de seus pés, controlado por um mecanismo robótico. O equilíbrio é delicado e, às vezes, ele desmorona, em uma referência aos relacionamentos humanos. A ideia de o sofá representar os relacionamentos humanos e sua instabilidade, segundo o autor, “vem do fato de todas as nossas interações sociais serem feitas nesta humilde peça de mobília: jantar, conversar, fazer sexo e, até mesmo, morrer”. Segundo Ricardo Barreto, curador do FILE, “com o boom da tecnologia a arte interativa passa a ser parte do cotidiano das pessoas, em redes sociais, celulares, computadores, smart TVs. Assim, a arte eletrônica passa a ser democrática, deixa de ser arte elitizada”. E não pode haver nada mais democrático do que a obra do 1024 Architecture da França foi apresentada na faixada gigante de LED no próprio prédio da FIESP (FILE LED SHOW). Os transeuntes da Avenida Paulista puderam mudar as imagens do painel por meio do som de suas vozes ou quando cantarolavam uma canção. Os parâmetros do programa, tais como cor, formas, densidade e ritmos, são mudados pelo som. Interatividade à flor da pele. (para mais informações: www.file.org.br)


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COM A PALAVRA OS CURADORES DO FILE: Õ

ES Ricardo Barreto, formado em filosofia e arte Qual o critério de seleção dos trabalhos e dos artistas para o FILE?

A seleção é feita por meio de um edital internacional. O FILE, ao longo destes 14 anos, conquistou notável reconhecimento fora do Brasil. Abrimos espaço para várias categorias: Animação Games, Arte, Arte Interativa, Arte Eletrônica. O critério é inovação, com prioridade para novos artistas. A ideia é dar espaço para as pessoas que estão inventando coisas diferentes no mundo contemporâneo. Na sua opinião quais são as obras mais significativas da edição 2013?

Todos os trabalhos expostos têm algum aspecto de inovação relevante, não destacaria uns em relação a outros. Conseguimos selecionar trabalhos interessantes mesmo com a limitação de espaço e de transporte. Todos acrescentam algo. Se comparada à arte mais tradicional (pintura, escultura) como se posiciona a arte tecnológica? Há preconceito por parte do público? Como é a penetração entre apreciadores de arte em geral? Por ser voltada à tecnologia e utilizar dispositivos eletrônicos, é uma arte restrita ao público jovem?

Pelo contrário. A arte contemporânea está presa a um código próprio do nicho. A arte eletrônica, embora tenha códigos digitais, é interativa. As pessoas usufruem da obra nessa relação imediata. A arte eletrônica é sucesso. O FILE é sucesso de público há anos, de A a Z, entre todas as faixas etárias. No início a crítica dizia que era uma arte elitizada. Com o boom da tecnologia, ela faz parte do dia a dia de todas as pessoas, em redes sociais, celulares, computadores, smart TVs. As pessoas começaram a conviver com isso.

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Qual o destino final dos trabalhos? Existe algum tipo de comercialização dessa arte?

Arte nova. Já existem galerias que vendem essas obras e museus que as colecionam, geralmente ligados a grandes empresas digitais que reconhecem a importância dessa arte. Muitos desses artistas são programadores, que criam aplicativos para dispositivos eletrônicos para bibliotecas digitais, nas quais obtêm retorno financeiro. Outros são financiados por universidades e laboratórios de empresas. O mundo digital é interconectado. Um mesma coisa pode atender a diferentes objetivos. Uma nova interface pode virar brinquedo, game comercial, etc. Muitos começam a produzir animações interativas, games, mappings (os melhores do mundo). Qual a importância e a repercussão de um evento desse tamanho promovido pelo SESI?

20 O SESI-SP e a FIESP representam inovação. A FIESP, que é um sindicato patronal, tem repercussão mundial por meio do FILE. As pessoas passam a conhecer São Paulo, a Avenida Paulista e especificamente o prédio da FIESP (com o novo painel de LEDs). Agrega valor aos patrocinados e ajuda na viabilização desse trabalho no Brasil, que não tem uma produção muito relevante. Com a repercussão internacional, o evento capta novidades do mundo inteiro. As novidades saem pelo ladrão após conquistar a plataforma mundial. A FIESP e o SESI-SP são a base para a construção desse evento enorme. É possível antecipar novidades para a 15ª edição?

Foto: Julia Moraes

A próxima edição está sendo produzida agora, com pessoas conectadas à rede. Dezembro e janeiro começa a abertura do edital. Ano passado veio uma comitiva de japoneses para entender como fazemos essa ligação entre a rua, o metrô, o prédio da FIESP. Vieram buscar um exemplo de evento que extrapolou o limite físico da exposição e invadiu a cidade.

Espectadora observa Balance From Within, no File.


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Paula Perissinoto, artista plástica

Qual o critério de seleção dos trabalhos e artistas para o FILE?

Alguns critérios mínimos: receber uma série de projetos e julgar o uso criativo e original da ferramenta digital. Há, porém, muitas variáveis, como custo de transporte e limitação de espaço físico. O que a gente mostra não é necessariamente o que mais gostaríamos de expor. Os fatores operacionais têm de ser avaliados. Na sua opinião quais as obras mais significativas da edição 2013?

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Não sei se esse é o termo. Há alguns projetos muito expressivos. O projeto do sofá é uma pesquisa acadêmica muito especial, inédita. Esse trabalho está sendo lançado mundialmente através do FILE. Destacaria o aplicativo dos japoneses o ArArte, animação das obras de arte tradicionais. São linguagens completamente diferentes. Linguagem escultórica que trabalha com o desafio da realidade, com a robótica, com a linguagem dos dispositivos móveis. Tornou-se ferramenta estética que virou obra de arte. Não só os tablets, mas aplicativos com abordagem estética. Essa edição está muito escultórica, se comparada às edições anteriores, que tinham muita imagem projetada. As obras estão ganhando caráter de escultura, que são praticamente objetos com o uso da ferramenta digital numa outra abordagem de interface. Participação de brasileiros, nessa edição são 5, com obras e pesquisas diversificadas, com a obra da Regiane Cantone (celulares nos tripés com microfones), obra do Ricardo com a Maria tátil, Bernardo travesseiro com o tato, obra da Anna Barros, da velha guarda da arte e tecnologia, com lançamento do livro, Gisela Motta e Leandro, dois artistas brasileiros do mercado de galeria que têm uma pesquisa com tecnologia, não no sentido de interação, mas de solução plástica muito bem resolvida, com sensores. Se comparada à arte mais tradicional (pintura, escultura) como se posiciona a arte tecnológica? Há preconceito por parte do público? Como é a penetração entre apreciadores de arte em geral? Por ser voltada à tecnologia e utilizar dispositivos eletrônicos, é uma arte restrita ao público jovem?


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A parceria com o SESI-SP é importantíssima. São 10 edições patrocinadas. Até então tirávamos água de pedra, com parceria de equipamento, mas não com o suporte de uma instituição. O espaço em questão tecnológica era restrito à internet discada, mas em seguida o FILE conquistou parceria com instituições e, assim, chegou ao SESI. A galeria da Avenida Paulista tem acesso de transporte, metrô, o que facilita a chegada do público. É possível antecipar novidades para a 15ª edição?

Por enquanto ainda não.

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desse tamanho promovido pelo SESI?

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Qual a importância e a repercussão de um evento

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Este não é o papel do festival e ele nem sem propõe a isso. Há algumas galerias interessadas. Não sei informar se há colecionadores. Na exposição há artistas que têm obras já adquiridas por colecionadores. A Regiane tem galeria, o Daniel Canogard (espanhol) tem galeria.

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tipo de comercialização dessa arte?

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Qual o destino final dos trabalhos? Existe algum

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O público em geral aceita muito mais a arte tecnológica, por conta da interação. Mesmo prejudicados pela mídia no sentido de divulgação. Ainda há resistência por parte dos museus tradicionais. Como ele recebe a arte tecnológica? Algumas instituições no Brasil enfrentaram essa barreira desse universo específico. É muito diferente pendurar um quadro na parede, mesmo com todo o custo de transporte e seguros; mas no caso da arte tecnológica tem como base uma máquina que fica ligada, com variações e desgaste, que exige instalação. Trata-se de um novo tipo de inteligência interativa que dialoga com a sociedade contemporânea. É um universo que exige estímulo e suporte de instituições. Os artistas que vão por esse caminho precisam de suporte. O FILE lança e expõe artistas de diversas partes do mundo. Um ambiente de arte tradicional e arte contemporânea exige conhecimento prévio. O FILE pode receber todos os públicos. O especialista e o estudioso, mas a linguagem interativa aproxima as pessoas. A exposição é instrumento de inclusão para pessoas que nunca entraria num universo de arte.

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ARTE ENTRE PARTÍCULAS

A proposta da curadoria do festival vem ao encontro da relevante produção de Anna Barros: “Valorizamos a exposição de trabalhos que tenham a pesquisa acadêmica como base aliada à originalidade no uso das ferramentas digitais. A obra de Anna Barros, da velha guarda da arte tecnológica, é um dos destaques da coletânea exposta na 14a edição do FILE com lançamento do Nanoarte”, explica Paula. Durante a abertura da festa de lançamento do livro , realizada no dia 23 de julho, a autora ressaltou a importância e originalidade da obra publicada: “Este livro pioneiro, o primeiro sobre nanoarte no Brasil, traz os resultados do trabalho de pesquisa dos últimos anos sobre arte e ciência, com textos apresentados em congressos. Agradeço ao SESI pela viabilização da publicação e ao FILE pelo espaço e relevância dispensados a este lançamento”. Além das imagens produzidas, a publicação traz relatos sobre o processo criativo da artista, totalmente inserida nas transformações da sociedade contemporânea.

24 “Toda arte e toda ciência acontecem em um contexto específico de coordenadas socioculturais. A maneira como arte e ciência têm interagido ao longo do tempo é proveniente, principalmente, das mudanças dessas coordenadas nas diferentes épocas” (trecho extraído do texto “Ciência e magia na Nanoarte”, página 59). A percepção da imagem entre fragmentos do universo microscópico é a matriz usada por Anna Barros no processo criativo que mistura ciência e arte com maestria e pioneirismo. Pouco se fala sobre a percepção gráfica e artística do universo das partículas invisíveis a olho nu. A Nanoarte, ensaio gráfico e animado sobre o microuniverso, é o que fascina a pesquisadora Anna Barros há anos. Curadora e artista multimídia, iniciou sua carreira no campo da dança de improvisação de Rudolf Laban e passou pelo Connecticut College, onde desenvolveu a percepção sobre o movimento humano ao lado de mestres como Maria Duchenes, Doris Rudko e Robert Dunn. Apropriou-se da luz como fenômeno sujeito e objeto para compor parte de sua obra original. Como desdobramento, desenvolveu animações computadorizadas em 3D e em VRML (Virtual Reality Modeling Language). Numa combinação de arte e ciência, a pioneira brasileira anima imagens captadas por microscópio e gera sequências de frames sem precedentes. A partir


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Livro Nanoarte, de Anna Barros, coleção Exposições, SESI-SP Editora, 2013.

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da observação das partículas, Anna propõe a desmaterialização da arte, numa forma de interação híbrida com a ciência, num universo onde material e imaterial perambulam pelo espaço dominado pelas funções quânticas. “Anna Barros transita entre os dois universos, Ciência e Arte, desafiando as certezas científicas quando assume o foco na física quântica”, explica no prefácio do livro Nanoarte a artista plástica e pesquisadora Paula Perissinoto, curadora do FILE. A obra de 96 páginas apresenta uma miscelânea de produção científica e artística com pinceladas de episódios da vida pessoal de Anna. A “história ainda em construção” mostra a integração sensorial como caminho para um sistema perceptivo que, atrelado a equipamentos que capturam a realidade nanométrica como microscópios e computadores, potencializa a compreensão do mundo. Divide-se a análise apresentada em dois subtemas: o mundo mecanicista e industrial de Eric Drexler — cientista e engenheiro norte-americano responsável pela popularização do termo nanotecnologia, com trabalhos voltados à indústria — e o mundo biológico de James Gimzewski — físico escocês que combina arte e ciência em estudos nanotecnológicos. Apropriando-se de fragmentos vegetais e tecidos do corpo humano expostos à realidade aumentada da escala nanométrica, gera-se uma combinação de texturas e cores de extrema riqueza. “A tridimensionalidade observada nos tecidos que exibem topografia própria gera uma percepção tátil resultante da força eletromagnética da ponteira do microscópio e o material da mostra”, explica Paula. Para Barros, todo o universo está inserido na escala nano.

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trinta anos de humor paulistano

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As histórias em quadrinhos no Brasil praticamente nasceram estrangeiras. Não que não houvesse no país talentos capazes de produzir as também chamadas “bandas desenhadas”. Na verdade, o humor gráfico existia, mas se apresentava muito mais na forma de charges e caricaturas publicadas nos jornais e revistas. O que não havia – como não há até os dias de hoje – era uma indústria consolidada, um mercado estruturado, como se vê, sob diferentes enfoques de negócios, em países como os Estados Unidos, Japão, Itália e França, para citar apenas os maiores. Ilustração de Angeli – detalhe do desenho Rê Bordosa 24 horas, revista especial Rê Bordosa Memórias de uma Porraloca, outubro de 1995.


1 REIS, Dennys da Silva. Tradução e formação do mercado editorial dos quadrinhos no Brasil. Universidade de Brasília, 2012. Capa 1: Chiclete com Banana 1, de Angeli, outubro de 1985 Capa 2: Revista Circo 1, outubro de 1986 Capa 3: Revista Geraldão 1,de Glauco, junho de 1987 Capa 4: Revista Piratas do Tietê 7, de Laerte, dezembro de 1990

Foto: arquivo Circo Leonardo Crescenti/arquivo Circo

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Desde o século XIX, os jovens brasileiros – e os adultos, por que não? – aprenderam a apreciar os artistas dessas e de outras origens. Por aqui, as histórias em quadrinhos chegam em 1869 com a publicação, na revista Vida Fluminense, de As Aventuras de Nhô Quim, de Angelo Agostini, um italiano radicado no Brasil1. As revistas só viraram uma tradição em 1905, com o lançamento de Tico-Tico, que trazia as histórias de Buster Brown, do americano Richard F. Outcault. É curioso saber que, a partir desse período, surgiu um amplo campo de trabalho para tradutores. O poeta e jornalista Olavo Bilac foi um dos que trabalharam com a versão de quadrinhos para o português. O auge das HQs no Brasil teve lugar no momento em que editoras como a Abril e a Globo passaram a negociar fortemente como os syndicates, as agências estrangeiras especializadas na venda de quadrinhos, como o King Feature Syndicate, Warner Brother/Western Printing & Lithographing Company, entre muitos outros. Aliás, foi graças ao Pato Donald que a Editora Abril lançou-se no mercado, transformando-se na grande corporação que é hoje. Fosse como fosse, a verdade é que Batman, Superman, Mandrake, Fantasma e muitos outros personagens integravam um universo de fantasia e delírio para garotos como Antônio de Souza Mendes Neto. Desde pirralho, o moleque da Casa Verde, bairro da zona norte da capital paulista, era um apaixonado pelos gibis. Tanto que com 12 anos chegou a trabalhar na feira, numa banca de venda e troca de HQs. Toninho estabeleceu assim sua primeira relação comercial com o mundo das publicações. Era o final dos anos 1960 e ele tinha amizade com um vizinho, um garoto dois anos mais jovem: Arnaldo Angeli Filho, o Dinho.


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29 Da esquerda para a direita: os cartunistas Chico Caruso e Angeli; o artista gráfico Hélio de Almeida e o editor Toninho Mendes, na praça Roosevelt, setembro de 1985.

Glauco, Angeli e Toninho Mendes no estúdio de Leonardo Crescenti, abril de 1986.


HQ brasileira

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Os dois garotos da Casa Verde ainda não sabiam, mas iriam fazer história com os quadrinhos. Ambos seriam influenciados por horas e horas de leitura, não apenas dos gibis de super-heróis americanos, mas por toda uma cultura gerada por artistas gráficos brasileiros ou não. Toninho cita ao menos dois artistas da década de 1940 que foram importantes para ele: Péricles de Andrade Maranhão, com o célebre O Amigo da Onça, e Carlos Estevão, com o Dr. Macarra, os dois criados para a revista O Cruzeiro, respectivamente, em 1943 e 1962. Os dois desenhistas tinham nos comportamentos humanos e nas relações sociais seu principal material de trabalho. Na verdade, o alvo prioritário dos artistas gráficos era a política e os políticos. Considerada a primeira charge impressa no país feita por um brasileiro, “A campainha” foi realizada em 1837 por Manuel de Araújo de Porto-Alegre, o Barão de Santo Ângelo. A charge criticava a corrupção e o servilismo da imprensa em relação ao governo. Na conturbada década de 1960, especialmente após o golpe militar de 1964, o humor político passou a predominar nos jornais e nas publicações alternativas. Lançado em junho de 1969, o semanário O Pasquim (que depois viraria apenas Pasquim) não tinha grandes pretensões. Criado por Tarso de Castro, Jaguar, Millôr Fernandes, Fortuna, Ziraldo, Claudius, Carlos Prósperi, Sérgio Cabral e outros, recebendo depois reforço de pessoas como Henfil, o jornal tornou-se um dos principais porta-vozes contra a ditadura. De alguma forma, aquele semanário anárquico traduzia para o português o momento revolucionário pelo qual os jovens do resto do mundo passavam. Com palavrões na manchete, caricaturas de governantes e gozações insolentes, foi uma das principais encarnações em papel-jornal da oposição ao regime militar. Enquanto isso, lá fora, o mundo vivia sob influência da Guerra Fria e de movimentos que pediam liberdades sociais, paz, direitos humanos. Todo esse caldo servia de inspiração para artistas gráficos de quadrinhos inseridos no chamado underground: Robert Crumb, Gilbert Shelton, Guido Crepax e Georges Wolinski, para citar alguns. Aqui dentro, a HQ nacional não atingia um grande público. Mauricio de Sousa, em uma entrevista à Revista Vozes de julho de 1969, falou sobre a dificuldade da profissão de desenhista de quadrinhos. “No começo foi duro. (...) Os jornais, os diretores de jornais, não acreditavam que o público aceitasse


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Ilustração de Alcy – detalhe da HQ, Odilon revista Circo 1, outubro de 1986.

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as histórias brasileira”, diz Toninho Mendes, nosso assíduo leitor de quadrinhos. Para ele, isso resulta, basicamente, de uma questão de ordem econômica e cultural. “Os Estados Unidos são os donos da maior indústria de cultura do mundo, há mais de 80 anos”, mas ele cita exemplos de outros países. “Não vou nem mencionar o Japão, porque é um negócio monstruoso, mas na França você tem um personagem do tamanho do Tintim. O Hergé [que, na verdade, é belga de nascimento] fez mais de 40 álbuns durante 45 anos de sua vida profissional. Os jornais pagavam e por isso ele pôde fazer. Virou filme, camiseta, bolsa, boné...”. É tudo assim tão comercial? Sim e não. Toninho faz questão de lembrar que mesmo em torno dos quadrinhos mais “cabeça”, mais difíceis de ler, como os de Georges Wolinski, existe um universo econômico. “Do mesmo jeito que tem em volta do [Robert] Crumb, nos Estados Unidos. Ele é contra o sistema americano, mas é ‘falsamente’ contra, porque também acabou fazendo parte de um negócio. Ele é um gênio do desenho, mas é também um grande entendedor da espécie humana”, explica. Ele, porém, defende que, nos dias de hoje, existe muito mais uma “mitologia” do que uma real dificuldade de se fazer quadrinhos no Brasil. “Há 20 ou 30 anos, a grande questão era o que fazer com os quadrinhos depois de desenhados. Hoje você nã0 tem essa questão tão aflorada. Com a mudança nos meios de comunicação, a pessoa começa a colocar na internet e acaba fazendo um livro. Apesar disso, o Brasil e a América Latina não tem mesmo uma indústria dos quadrinhos, um mercado que dê sustentação a isso. Nunca teve. Não é como nos Estados Unidos ou na Europa. Quando o Guido Crepax [autor do sucesso Valentina] lançou aquilo, nos anos 60, já havia um mercado que dava sustentação. As editoras investiram e permitiram a ele lançar outros livros. E eles exportam isso corretamente. Portanto, não é questão de talento ou capacidade, é falta de indústria. E só para fins de comparação com os brasileiros, cito apenas dois dos que conseguiram criar um grande negócio: o Mauricio [de Sousa] e o Ziraldo. Eles são completos por terem transformado sua arte e seu conteúdo em um grande negócio.”

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Circo mágico

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Influenciado por tanta coisa boa, Toninho Mendes poderia ter sido um desenhista, mas a vida acabou conduzindo-o para uma atividade “paralela”, tornou-se editor, graças à experiência que adquiriu trabalhando na mídia. Seu trabalho na imprensa independente, nos jornais Movimento e Versus, lançados em 1975, em plena didatura militar, foi seu maior aprendizado. E foi no jornal Versus que encontrou um dos seus maiores incentivadores, o jornalista Marcos Faerman, e também onde estreitou suas relações com praticamente todos os artistas envolvidos dez anos depois na criação da Circo Editorial: Luiz Gê, Chico e Paulo Caruso, Alcy e outros desenhistas. Sua primeira editora, criada em 1980, foi a Marco Zero, que lançou três livros em sequência, sendo o primeiro deles A confissão para o Tietê, do próprio Toninho, uma elegia ao rio de sua infância, que demorou dez anos para ser escrita. E parou por aí. Reveses fizeram com que o negócio não tivesse continuidade. Mas a verdade é que seu grande sonho era criar uma editora de humor em quadrinhos. E a influência de O Pasquim fora avassaladora, não apenas no editor, mas em todos os artistas que o cercavam, como seu próprio amigo de infância, o Dinho, que agora, já atuando como profissional, era mais conhecido como Angeli.


L IA EC ES TO P Humor Paulistano

Se a crítica social sempre foi um dos principais temas abordados pelos artistas gráficos brasileiros, esta sempre teve um viés essencialmente carioca – talvez pela origem da maioria dos autores que se lançaram no mercado até aquele período. Chegara a vez de o humor paulistano desafiar os novos costumes de uma sociedade que acabava de deixar a prisão da censura militar. A década de 1980 não se caracterizou apenas pela volta à normalidade democrática, mas foi também um período marcado pela crise econômica, que fez a inflação disparar e sair do controle, pelo crescimento do movimento operário, pela maior participação da mulher na vida social, pela disseminação do vírus HIV, que vitimou milhares de pessoas, e pelo aumento da violência urbana e da deterioração das grandes cidades, como São Paulo. Todas essas questões são abordadas nas publicações da Circo Editorial – com uma visão peculiar, o olhar paulistano.

Detalhe da HQ, Futboil de Luiz Gê, revista Circo 1, outubro de 1986.

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E assim surgiu a Circo Editorial, fundada oficialmente em 1984, exatamente em 25 de abril, data histórica que marca o fim da campanha pelas Diretas Já, quando o pleito foi derrubado pelo Congresso – mais uma vez a política influenciando o humor brasileiro. “Em um dado momento, você tinha o quadrinho de terror, o de putaria e o super-herói americano. Aí chega O Pasquim que representa uma alternativa de mercado em grande nível. Não havia nada parecido. E, então, surgimos nós. Digo que a Circo está para os anos 1980 assim como O Pasquim esteve para os anos 1970. É uma tese acadêmica que estou ajudando a construir”, diz o editor Toninho Mendes. Com apoio fundamental de Chico Caruso, o primeiro lançamento foi uma coletânea das tirinhas que Angeli publicava na Folha de S.Paulo, com personagens como Bob Cuspe, Rê Bordosa e Benevides Paixão, intitulada Chiclete com Banana, Bob Cuspe e outros inúteis, com tiragem inicial de três mil exemplares. O segundo livro da Circo foi Não tenho palavras, de Chico Caruso, lançado em setembro. Ambos se deram muito bem nas livrarias. “Eu diria que os artistas da Circo estão mais perto do Crumb e do Wolinski. A grande diferença da Circo é o conteúdo, uma afronta com o que se produziu antes e depois no Brasil. É único. Tinha algo antes, mas é muito esparramadinho. Teve depois, mas, de novo, ficou esparramadinho”, define seu criador.

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Cidade multicultural e cosmopolita, São Paulo – aquela da feia fumaça que sobe apagando as estrelas, da força da grana que ergue e destrói coisas belas, como disse Caetano – gerou um humor distinto, da mistura de raças, etnias, credos, tribos e ambições. E no humor paulistano da Circo Editorial, essa megalópole múltipla é habitada por personagens como o eterno militante de esquerda, o machista inveterado, o roqueiro lisérgico, o punk contestador, a solteirona porra-louca, o casal estressado, a secretária ninfomaníaca, os homens solitários fazem das mesas dos bares – a praia paulistana – sua casa, sua âncora, sua razão de viver, e, claro, os piratas que navegam pelo Tietê. Os edifícios, as ruas, os carros, o trânsito engarrafado, a poluição, a ganância, a crítica social, com grandes pinceladas de contestação política – tudo está ali exposto, na arte de um time de gênios. É preciso ressaltar também que essa concepção de humor, nascida em São Paulo, não se restringiu à cidade ou à década de 1980. Quadrinistas das gerações seguintes e de outras partes do país foram fortemente influenciados pelas publicações da Circo Editorial no desenvolvimento de seus cartuns, charges e histórias em quadrinhos. Publicitários, humoristas de rádio, da televisão e do cinema também beberam nessas fontes e passara a inovar o humor, tornando-o mais crítico e menos condescendente. Magia resgatada

Ao lado de todo o sucesso editorial, o grande problema que a Circo enfrentou desde seu surgimento em 1984 foi a inflação – e só quem viveu naquele período pode entender o verdadeiro inferno que eram as tentativas de estabilizar a moeda, que mais complicavam que ajudavam. Somado a isso, problemas de gestão acabaram levando a Circo a funcionar também como um estúdio, produzindo ilustrações para livros de outras editoras. Em 1991, Toninho Mendes voltou ao mercado de trabalho e participou, a convite de Augusto Nunes, da reforma gráfica que introduziu a cor no jornal O Estado de S. Paulo. O pique da Circo tinha acabado. Seu criador comercializou de várias formas o encalhe da editora por dois anos. Eram cerca de 100 mil revistas. Mandava de volta para as bancas, juntava e fazia promoções especiais. Aí teve que entregar a casa onde mantinha o estoque e levou tudo para o galpão de um amigo na Baixada do Glicério. Em 1999, uma das poderosas enchentes históricas da cidade de São Paulo transformou em uma pasta disforme todos os exemplares que restavam – os Piratas do Tietê reivindicaram seu espólio de guerra!


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Toninho seguiu trabalhando na área editorial de diversas empresas. Em 2000, em parceria com a Devir, criou o selo Jacaranda e voltou a editar autores da Circo. Em 2006, preparou para a L&PM uma coleção da mesma gangue. E, em 2010, abriu a Peixe Grande, que já lançou seis livros, com o propósito de contar a história do humor, dos quadrinhos, da pornografia e da censura no Brasil. No momento, desenvolve o projeto A História em Quadrinhos no Brasil – Os desenhistas de A a Z. “Esta é a magia da Circo, ela veio para ser o que fosse - ninguém estava a fim de nada sério, ou de mudar, de impor conceitos”, declara Toninho Mendes. Essa magia foi capturada e editada em um volume com mais de 400 páginas do livro Humor paulistano - A experiência da Circo Editorial 1984/1995, organizada pelo próprio Toninho, e que será lançada pela Sesi-SP Editora. O cartunista Jaguar chama Toninho de “o Brian Epstein do quadrinho brasileiro”, referindo-se ao famoso empresário que “criou” os Beatles. Há quem diga que o time da Circo é comparável à Seleção Brasileira de Futebol de 1970 – um grande técnico para uma porção de craques –, mas com um Garrincha de extra (no caso, o cartunista Glauco Vilas Boas). “Todos eles juntos eram um bicho. Todo mundo criado na ditadura, com um arquivo morto que não podiam publicar. E isso desembocou comigo, não é que fiz as coisas que prestam, eu apenas estava lá. Não tenho culpa se tenho tantos amigos gênios”, conclui Toninho.

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NA TRILHA DOS SABERES

Ilustração: Vanessa Prezoto

Por Paulo de Camargo


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Foto: Marcelo Soubhia

Ilustração: Vanessa Prezoto

O Programa SESI-SP Na Trilha dos Saberes é realizado na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, desde 2007. Atuar nesse vazio que existe entre o ensino regular e as reais possibilidades de aprendizagem de crianças e adolescentes foi justamente o espaço de atuação escolhido pelo SESI-SP. Não se trata de reforço escolar, nem de atividades livres. Antes, é um projeto educativo de educação não formal que oferece aos alunos a possibilidade de pesquisar, investigar, desenvolver conhecimentos aplicados a situações reais e, principalmente, ligadas à vida da comunidade. Em projetos anuais, envolvendo especialmente a área de Lin-

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O ano de 2013 começou como uma grande janela aberta para o futuro para a menina Sara Kaly Santiago de Lima. Recém-admitida em um curso do SENAI, ela comemorou sua aprovação com um olho no futuro e outro no passado. À frente, ela vê a possibilidade de seguir adiante, ter uma profissão, conseguir se graduar, viajar pelo mundo como sempre sonhou. Atrás, Sara enxerga uma trajetória de autossuperação, marcada por dificuldades de aprendizagem progressivamente superadas a partir do momento em que entrou no Programa SESI-SP Na Trilha dos Saberes, que o SESI-SP realiza na comunidade de Heliópolis, em São Paulo, desde 2007. Foi nesse projeto do SESI-SP que Sara reencontrou o prazer de aprender, a curiosidade natural das crianças e a confiança de que era capaz de avançar nos estudos. Tornou-se um exemplo – entre centenas – de crianças e adolescentes que ganharam novas perspectivas de futuro passando pelas salas de aula que o SESI mantém em cada um dos Centros da Criança e do Adolescente (CCA) da região, oferecendo novas oportunidades de aprendizagem no contraturno do ensino regular. “Quando não aprendi em minha escola, fiquei pensando que o problema era meu e não de quem não soube me ensinar”, lembra a garota. Ela não está sozinha nesse sentimento. A diferença entre ler e não ler, saber e não saber, pode parecer uma simples questão de conteúdos e conhecimentos. Esse é um grande engano, que muitas vezes surge na visão leiga da educação. Entre o aprender e o não aprender, há um mundo de exclusão, destruição de autoestima, limitação de expectativas de progresso – definição de destinos.

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guagem e Matemática, os alunos realizam uma viagem pelo conhecimento – daí o nome Trilhas dos Saberes. Em 2012, por exemplo, os alunos trabalharam sobre o tema Mídia, o que permitiu abordagens sobre as diferentes linguagens da comunicação – gibis, TV, livros, desenho, música – e uma compreensão mais ampla sobre o ambiente cultural em que todos vivemos no mundo contemporâneo. Divididos em grupo, crianças e jovens produziram propagandas, testaram produtos, criaram jingles, falaram, escreveram, fizeram operações matemáticas, produziram conhecimento. Partindo sempre dos conhecimentos prévios dos alunos, as atividades desenvolvidas no âmbito dos projetos interdisciplinares conferem sentido e significado para conteúdos típicos do currículo escolar que precisam ser, muitas vezes, reconstruídos – como, por exemplo, a linguagem escrita da norma culta ou as operações matemáticas. O mais importante é que tudo acontece em um ambiente de aposta na capacidade dos alunos. “Eu acho que essa é a principal transformação trazida pelo projeto: o fortalecimento da autoestima dos alunos e do reconhecimento da capacidade que todos têm de aprender”, diz a coordenadora Carla Govêa. História

Quem anda hoje pelas 9 unidades dos CCAs, estruturas municipais ali geridas pela organização social União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e São João Clímaco (UNAS), observa uma rotina tranquila e planejada. As aulas sob responsabilidade do SESI-SP se inserem na matriz de cada CCA, que inclui atividades diversas de esportes, artes, teatro, entre outras possibilidades. Há grande integração entre as professoras do SESI-SP e as educadoras sociais, gestores e coordenadores pedagógicos que constituem a equipe da UNAS. Mas, por trás desse modelo que vem se consagrando e segue em aperfeiçoamento, há uma trajetória de implantação de uma tecnologia social de grande sensibilidade. Tudo começou com a aproximação entre o SESI-SP e a UNAS, promovida pela educadora e voluntária em Heliópolis, Regina Barros, em 2007. Do lado de Heliópolis, havia uma convicção já formada de que a educação era a saída para uma comunidade que sofria com a violência do tráfico e as lacunas deixadas pelo poder público; pelo SESI-SP, havia a consciência de que era possível colocar o peso de uma instituição erigida sob o valor do conhe-


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cimento a serviço de um projeto de longo prazo. Imediatamente encampada pela diretoria, na figura do presidente Paulo Skaf e de Walter Vicioni Gonçalves, então diretor de operações e atual superintendente do SESI-SP, o projeto teve um start veloz, marcado por uma série de reuniões objetivas, e decolou. “A comunidade ouvia falar da qualidade do SESI, mas não acreditava que um dia isso poderia vir a fazer parte da vida deles. Para esse povo, que se sentia abandonado, saber que o SESI vinha para a comunidade era um sinal de que instituições importantes estavam lhes dando importância”, lembra a fundadora da UNAS, Genésia Ferreira da Silva Miranda. A implantação da proposta pedagógica coube à gerente de Educação Básica, Maria José Zanardi Dias Castaldi. Não se pensa em metodologias fechadas e aplicadas de cima para baixo. Trilhas dos Saberes foi uma construção feita em diálogo, a partir dos princípios pedagógicos propostos pelo SESI – uma educação baseada na valorização da autonomia, na interdisciplinaridade e no desenvolvimento das competências básicas em Língua Portuguesa e Matemática, principalmente. “Não podemos esquecer que era uma experiência nova para o SESI-SP também, e por isso esse projeto foi uma produção coletiva, que foi se ajustando às necessidades da comunidade”, lembra Maria José. O programa foi desenhado no segundo semestre de 2007 e começou a ser implantado em 2008, inicialmente em uma unidade com 120 alunos e depois estendido para, aproximadamente, mil crianças e adolescentes. Hoje, o projeto atende crianças de 6 a 10 anos e adolescentes de 11 a 14 anos, divididos em turmas de 15 alunos e com aulas diárias de 1h30. Quando chegam ao CCA, os alunos passam por uma avaliação diagnóstica, que permite a organização dos grupos e, principalmente, oferece aos professores um olhar integral do aluno, inclusive nos aspectos sócio-emocionais. Afinal, o olhar individualizado é uma das fortalezas do programa. Não há notas ou avaliações formais – e nada mesmo que lembre o cotidiano da escola regular. As professoras do SESI buscam atrair os alunos para o prazer da aprendizagem, tornando-se muito próximas e construindo vínculos que duram muito além do período em que as crianças e jovens passam nos CCAs. Na rotina de trabalho em sala, as estratégias também diferem das classicamente adotadas nas escolas. Os alunos fazem muitas pesquisas,

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Foto: Marcelo Soubhia

“Eu não sei se o SESI-SP tem ideia do quanto contribuiu para o desenvolvimento de Heliópolis”, avalia a atual diretora da UNAS, Antônia Cleyde Alves. “As crianças estão melhorando muito. A aprendizagem nos projetos avança. Há agora uma cultura de escuta das crianças”, resume.

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rodas de leitura, dramatização, fórum de debates, artes, jogos pedagógicos e sempre se busca a mobilização dos conhecimentos em atividades reais e ligadas ao exercício da cidadania no contexto em que vivem. Os alunos fazem também saídas pedagógicas, como visitas a exposições de arte, apresentações teatrais e outros espetáculos, ampliando seu repertório cultural. Os resultados são palpáveis e podem ser ilustrados pelas dezenas de histórias de crescimento e transformação. É o caso de Jéssica Vizacre de Lira, que não sabia ler até 2011, quando chegou ao CCA Sacomã. Sentia-se excluída e desvalorizada, até mesmo no ambiente familiar. “Eu me sentia muito mal. Escrevia tudo errado. Eu chorava. Nem meus irmãos ligavam pra mim”, lembra. Hoje, vive de livro na mão e avança com segurança em sua escolaridade regular. Foi com a professora do SESI-SP, Luana Etelvina de Abreu, que Jéssica começou a se soltar e acreditar em si. Agora, sonha em ser policial e médica: policial para prender aqueles que cometem crimes; médica para salvar pessoas. Os professores têm consciência de seu papel e sabem que vai muito além das questões pedagógicas. “Essas crianças e jovens se ressentem muito da impessoalidade com que são tratados, dos professores que não conhecem o nome. Ficam muito felizes quando a gente sabe o nome deles e demonstram isso”, reflete Luana. Para a pedagoga Rosélia Maria Pereira Vioto, a equipe do SESI-SP é formada por educadores experientes, que entendem as especificidades do trabalho social. “Esse que é o ponto fundamental: como é trabalhar com as crianças que vivem essa vulnerabilidade. Não se trata só do aprendizado, mas de todas as condições sociais e psicológicas envolvidas”, lembra. Por isso, há uma troca intensa de informações e um olhar global para o desenvolvimento.

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Heliópolis: um bairro educador

Crianças durante atividade no Programa SESI-SP Na Trilha dos Saberes

Foto: Marcelo Soubhia

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No início da década de 1970, 150 famílias foram transferidas da Vila Prudente para uma área então pertencente ao INSS. Era para ser provisório, mas em um ambiente econômico marcado pela desigualdade e pela pobreza, por grandes contingentes populacionais que migravam para a capital, rapidamente Heliópolis se tornou uma grande favela – com todas as características de comunidades sem acessos a direitos básicos: violência extrema, tráfico de drogas, ausência de escolas, postos de saúde, falta de condições mínimas para o exercício da cidadania. Ainda hoje Heliópolis carrega esse estigma – mas cada vez mais injustamente. A comunidade tem agora quase 200 mil moradores, em uma área de 1 milhão de metros quadrados. Com a maior parte das ruas asfaltadas, casas de alvenaria, Heliópolis pouco lembra aquele espaço conflagrado de duas décadas atrás – embora ainda a violência persista, bem como bolsões de miséria. A principal marca da comunidade, no entanto, agora é outra: tornou-se uma comunidade voltada para a educação, com inúmeras iniciativas sociais com foco no desenvolvimento de crianças e jovens – e assim vem atraindo a atenção da mídia, inclusive de outros países. Como bairro educador, Heliópolis hoje trabalha pela qualidade de ensino para todas as crianças e jovens. “Nós pagamos impostos que sustentam universidades como a USP. É natural que nossos meninos e meninas possam sonhar em um dia estudar lá”, ambiciona o líder comunitário João Miranda. O caminho está traçado.


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Foto: Marcelo Soubhia

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A experiência do SESI-SP em Heliópolis será contada no livro Na Trilha dos Saberes – Uma possibilidade de educação para além do reforço escolar, editado pela SESI-SP Editora, com análise do Prof. Walter Vicioni Gonçalves, superintendente da instituição, coidealizador e grande incentivador do projeto. A publicação descreve os cinco primeiros anos da implantação do projeto, em um exercício de reflexão que subsidiará outras iniciativas em curso. Com depoimentos de alunos, professores, pais, líderes comunitários, entre outros, a obra permite uma visão abrangente de como o projeto se desenvolveu, como forma de compartilhar a experiência com a sociedade. O trabalho foi ilustrado com belas imagens do fotógrafo Marcelo Soubhia, que retratam o cotidiano das crianças e adolescentes no projeto. Em uma linguagem acessível, Na Trilha dos Saberes é destinado não apenas a educadores, mas a todos os que se interessam pelo trabalho do SESI-SP, por experiências de inovação pedagógica e pelo desenvolvimento de vivências urbanas, como a da comunidade de Heliópolis.

Capa do livro Programa SESI-SP Na Trilha dos Saberes - Uma possibilidade de educação para além do reforço escolar que será lançado pela SESI-SP Editora.


A mais tradicional associação de críticos de arte no país, a APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), elegeu Observadores – Fotógrafos da Cena Britânica de 1930 até Hoje como a melhor exposição na categoria Artes Visuais/Fotografia na premiação dos melhores espetáculos e manifestações artísticas de 2012. Fruto da parceria entre o SeSi-SP e o British Council, a mostra foi produzida na Galeria de Arte do SeSi-SP com fotos que retratam a sociedade, a cultura, lugares e pessoas da GrãBretanha. Foi a primeira exposição realizada no Brasil traçando um perfil da fotografia britânica nos tempos modernos, contando com fotos que compõem o acervo de renomadas galerias, como a National Portrait Gallery e a Tate Gallery, ambas em Londres. Pela importância da exposição, que relembrou mais de 80 anos de fotografia britânica e apresentou obras de alguns dos mais célebres e influentes fotógrafos do período, a SeSi-SP editora lançou o livro, de mesmo nome.

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Música e teatro: o casamento perfeito 46

Assistir a um espetáculo musical é mais do que apenas ouvir. É ver, sentir, aguçar todos os sentidos para mergulhar nas profundezas e belezas das notas musicais. O teatro, como representação dos sentimentos e pensamentos universais, traz à música uma sintonia que perdura até hoje.


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Elementos que se completam, mas que não eram tão íntimos quanto são atualmente. Esse é o enredo da história da música e do teatro através do tempo. Para entendermos melhor quando ela se inicia, devemos remeter para a Grécia Antiga, onde o canto era um dos recursos mais utilizados nos espetáculos teatrais. A união foi tão certeira que o filósofo Aristóteles, ao elencar os elementos das tragédias gregas, não deixou de citar a música como um dos principais. Mais tarde, na Idade Média, a parceria foi mantida em outras representações, como os jograis, nas quais eram mescladas a linguagem dramática e musical. Na época do renascimento e do barroco, afinal, nasceu o primeiro fruto dessa combinação: a ópera. Utilizando os mesmos recursos do teatro (ou seja, cenário, vestimentas e atuação), a ópera inovou na maneira de contar a história, substituindo a fala pelo canto. Tendo a música como fio condutor, a ópera sofreu diversas mudanças, numa aparente tentativa de encontrar a “fórmula perfeita”. Algumas delas foram a festa teatral (de duração breve e com apelo mitológico e alegórico), a ópera-séria (como o próprio nome induz, é uma forma mais rígida do gênero, considerado o grande espetáculo lírico do século XVIII) e a ópera-bufa (versão da ópera-cômica italiana que mistura, em contraponto à ópera-séria, tons de voz agudos e graves trazendo mais comicidade e imprevisibilidade). Países como França e Alemanha também fizeram suas adaptações teatrais, incorporando as nuances de cada nação. Um dos destaques dessas variações é o cabaret – gênero que reunia elementos de ostentação e que ganhou notoriedade durante a Belle Époque francesa (entre o final do século XIX e a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914). Naquela época, principalmente durante a ascensão da ópera-séria, a música sobressaiu ao teatro, adquirindo o status de elemento crucial para um bom espetáculo. Quem corrobora essa relevância são os estudiosos saudosistas do início do século XIX, que acreditavam que um texto poderia até ser ininteligível, desde que a música fosse bem trabalhada. Todos esses impasses sobre o que deveria ter mais destaque em um espetáculo – se a música ou a interpretação – germinou o que hoje conhecemos como teatro musical.

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Teatro musical à brasileira

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Foi pelos mares que chegaram as primeiras manifestações de teatro musical no Brasil. Em meados do século XIX, a música teve condições de se desenvolver em terras latino-americanas, sobretudo durante o Segundo Reinado (que compreende o período entre 1831 até a proclamação da República brasileira em 1889). As primeiras casas de espetáculo, por sua vez, surgiram a partir de 1844 e recebiam espetáculos líricos de várias origens – principalmente da Itália, os preferidos da corte portuguesa. Desde então, o público brasileiro teve a oportunidade de presenciar um repertório operístico maior, com abundância de títulos e de autores, mas com participação menor das óperas cômicas – que foram o embrião do teatro musical brasileiro anos mais tarde. Na temporada que durou até 1860, foram encenadas as peças L’elisir d’amore (“O elixir de amor”, em tradução livre), La fille du régiment (“A filha do regimento”) – ambas de Gaetano Donizetti – e La Centerola, ossia La bontá in trionfo (“A Cinderela, ou seja, o triunfo da bondade”) – do compositor Gioacchino Rossini. Nesse período, é possível observar que a vinda da música e da opereta ao Brasil influenciou não somente nos aspectos dramático e lírico mas, também, no ritmo que o enredo poderia explorar e no jogo entre os personagens. O teatro de opereta no Brasil cedeu espaço para uma variante com características mais nacionais. Durante a primeira metade do século XX, surgiu um dos gêneros dramáticos mais persistentes na cena brasileira, chamado de teatro de revista tema do livro que a Sesi-SP Editora lançou recentemente, de Neyde Veniziano, uma das grandes especialistas no assunto. Mais do que uma maneira de difusão dos modos tipicamente brasileiros, foi um retrato sociológico daquela época, com textos alegres, irônicos, de duplo sentido, e canções por vezes consideradas “apimentadas”, com forte apelo sensual. O dramaturgo maranhense Arthur Azevedo (1885-1908) foi o grande ícone desse gênero, mas não o único a fazer sua contribuição. Fazem parte da lista compositores consagrados, como Carlos Gomes (1836-1896) e Chiquinha Gonzaga (1847-1935). A produção do teatro de revista transitava por várias vertentes internacionais que receberam, com o passar do tempo e a necessidade do público, versões com características cômicas – o que virou um marco da história teatral do Brasil. Tivemos a paródia das operetas europeias (um exemplo é Orfeu na roça, primeira adaptação brasileira feita pelo dramaturgo Francisco Correa Vasques para a francesa Orphée aux Enfers – em português, “Orfeu no submundo”), a burleta (comédia de costumes curta e musicada), a comédia-opereta (como A capital federal, escrita


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Foto: Caio Galucci

Atores durante a apresentação do musical A madrinha embriagada.

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Quando as cortinas se fecharam para o teatro de revista, outro gênero estava nos bastidores aguardando sua vez de brilhar. Em meados da década de 1950, apareceram novas gerações de autores, diretores e intérpretes que deram um novo rumo às produções musicais, prevalecendo os propósitos

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Os musicais na ditadura militar

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em 1897, por Arthur Azevedo) e a revista (ilustrada pela peça O tribofe, também de Arthur Azevedo). Percebendo o tamanho da receptividade do público, o teatro de revista foi ajustado em três tipos básicos, conforme apontou a pesquisadora Neyde Veneziano, pioneira no estudo do teatro brasileiro: revista de ano, revista carnavalesca e revista feérica. Os acontecimentos sociais e políticos eram os assuntos empregados na revista de ano, que considerava, como o próprio nome diz, o ano anterior à encenação da peça. A revista carnavalesca veio na sequência, para substituí-la, já nas primeiras décadas do século XX, e privilegiava os maxixes, sambas e marchas com vistas à festa popular. Por fim, a revista feérica sustentava-se no luxo, com impacto sobre os olhos e ouvidos da plateia. Com formato apoiado em modelos norte-americanos e franceses, esse gênero acabou sendo autodestrutivo devido aos altos custos que as montagens requeriam, principalmente para manter o padrão dos efeitos visual e sonoro. Outro fator que culminou no sepultamento do gênero foi o apelo, cada vez mais frequente, ao escracho (recorrendo por vezes ao nu explícito), que se distanciava da sua origem: a comicidade. Apesar dos pesares, esse movimento foi crucial para que o Brasil conseguisse se emancipar culturalmente. Nas palavras de Neyde Veneziano: “Ao se falar em teatro de revista, que nos venham as ideias de vedetes, de bananas, de tropicália, de irreverência e, principalmente, de humor e de música – muita música. Mas que venha também a consciência de um teatro que contribuiu para a nossa descolonização cultural, que fixou nossos tipos, nossos costumes, nosso modo genuíno do ‘falar à brasileira’. Pode-se dizer, sem muito exagero, que a revista foi o prisma em que se refletiram as nossas formas de divertimento, a música, a dança, o carnaval, a folia, integrando-os com os gostos e os costumes de toda uma sociedade, bem como as várias faces do anedotário nacional combinadas ao (antigo) sonho popular de que Deus é brasileiro e de que o Brasil é o melhor país que há”.

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Foto: acervo Davi Barata Junior

50 políticos. Esse objetivo foi ainda mais ratificado nas décadas seguintes (1960 e 1970), quando floresceu um dos períodos mais férteis dos musicais brasileiros. O regime militar que governava o país nessa época foi o principal alvo das produções teatrais, cujas armas eram a melodia e o humor que incitavam seu poder autoritário. As soluções estéticas utilizadas nessa fase foram inspiradas tanto no teatro de revista, quanto no teatro épico (representado pelos alemães Erwin Piscator e Bertolt Brecht), e mostraram ser capazes de envolver o público em um enredo político-social. Os primeiros musicais nessa linha foram a Revolução na América do Sul (dirigido em 1960, no Rio de Janeiro e depois em São Paulo), do dramaturgo Augusto Boal, e A mais-valia vai acabar, seu Edgar, de Oduvaldo Vianna Filho (encenado no mesmo ano, também na capital fluminense). Em 1961, sob o impulso da peça de Oduvaldo Vianna Filho, criou-se o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, no qual também predominavam os musicais. Além de registrar o momento histórico, os textos produzidos naquele período fixaram tendências que transcenderam o tempo, com lições estéticas que são aproveitadas atualmente (como, por exemplo, a maneira pela qual a música se insere no enredo e os diálogos em versos). Destacam-se também, no que diz respeito à resistência política, os musicais Roda viva, Calabar, Gota d’água, Ópera do malandro, todos de autoria do músico Chico Buarque. Apoteose da revista Muié macho sim sinhô. Teatro Recreio, Rio de Janeiro, 1950. Imagem que compõe o livro: O teatro de revista no Brasil: dramaturgia e convenções.


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Grandes musicais no Brasil

Figura na lista de resultados positivos do regime militar a vinda dos musicais de grande porte, nos idos da década de 1960, através das montagens e sucessos já consolidados na Broadway – berço do gênero até hoje. As primeiras tentativas de se abrasileirar o teatro musical surgiram da iniciativa da atriz Cláudia Raia, que importou características americanas e adicionou um tempero mais nacional. Mas foi com a criação dos musicais biográficos que a história mudou de vez. O diretor Antonio de Bonis foi o responsável pela façanha com o musical Lamartine para inglês ver (1989), retomou o assunto com Lamartine II – O resgate (1993), e preparou o terreno para novas histórias e autores – como o espetáculo Pixinguinha (1995), de Fátima Valença; Metralha (1996), de Stella Miranda, cujo enredo fala sobre a vida de Nelson Gonçalves; Somos Irmãs (1998), de Sandra Louzada, que conta a história das cantoras Linda e Dircinha Batista; e Ô Abre Alas (1998), de Maria Adelaide Amaral, sobre Chiquinha Gonzaga. A aceitação do público comprovou que se tratava de um nicho de mercado promissor. O segredo do sucesso, então, saltou aos olhos de Antonio de Bonis e da dramaturga Fátima Valença: destacar um ídolo nacional, contar episódios de sua história embalados por músicas de seu repertório. Assim nasceram Dolores (1999), de Douglas Dwight e Fátima Valença, sobre Dolores Duran; Crioula (2000), de Stella Miranda, sobre Elza Soares; e Orlando Silva, o Cantor das Multidões (2004). Quando se fala na evolução dos musicais no Brasil é difícil não citar os produtores Charles Möeller e Cláudio Botelho. A atriz Mirna Rubim, doutora em Voice Performance (Performance Vocal, em tradução livre) pela Universidade de Michigan (EUA), explica em artigo publicado na Revista Poiésis, da Universidade Federal Fluminense (UFF), qual foi a contribuição de ambos para a construção de musicais. “Assim como a ópera só se estabeleceu na Inglaterra depois que foi vertida para o inglês, acredito que o mesmo aconteceu com os musicais em nosso país. Teatro é texto, história a ser contada. O teatro musical certamente deve seu sucesso às versões bem-sucedidas de Cláudio Botelho. A dupla começou seu trabalho com As malvadas (1997), Ó Abre Alas (1998) e Candide, Cole Porter – Ele nunca disse que me amava (2000) e Company (2000). Segundo o próprio Charles, Cole Porter foi o seu primeiro grande sucesso e deflagrou uma cascata de novos sucessos tanto no lançamento de musicais como de grandes cantores”, conclui a atriz.

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Paralelamente a tantas descobertas, os sucessos de bilheteria de grandes musicais como Les Misérables (2001), Chicago (2004) e O fantasma da opera (2005), especialmente na cidade de São Paulo, mostrou o potencial do Brasil para receber e fazer parte de produções desse nível. Teatro musical: público e formação

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Não foi fácil para o teatro musical brasileiro chegar ao patamar em que está atualmente, algumas dificuldades como a produção das pesquisas em voz falada e cantada com base científica comprovada, a economia instável, a recente ascensão informática e a elevação do nível técnico mundial - decorrentes da evolução intelectual e tecnológica – bloquearam esse crescimento na década de 1980. Mas ainda persistem duas esferas cruciais que ainda não recebem o devido respaldo: o público e os profissionais. De olho nesse déficit do gênero, o Sesi-SP lançou, em maio deste ano, o Projeto Educacional em Teatro Musical, que combina a capacitação profissional de atores e formação de público específico com o desenvolvimento do potencial criativo dos alunos da rede Sesi de ensino. A iniciativa consiste em promover, qualificar e valorizar aqueles que fazem e assistem o espetáculo. Para apresentar o mundo do teatro musical aos estudantes, será organizada a primeira turma das Oficinas de Vivência Cultural no Centro de Atividades do Sesi Vila Leopoldina, em São Paulo. Com início previsto para a primeira quinzena de agosto, as aulas proporcionarão o acesso à linguagem desse gênero teatral, complementando seu desenvolvimento cognitivo e motor. Serão três turmas de faixas etárias que variam entre 12 e 15 anos, 16 e 17 anos e acima de 18 anos, totalizando 90 vagas. No que compete ao aprimoramento do ator de musical, o Sesi oferecerá, a partir de março de 2014, o curso pioneiro de Formação de Atores em Teatro Musical, que terá a duração de 3 anos e 90 vagas disponíveis, com seleção através de audições. Um extenso trabalho de pesquisa foi realizado com mais de 50 personalidades da área no Brasil e em universidades dos Estados Unidos (como a University of Florida e Tisch School of The Arts), e na Inglaterra (Royal Academy of Music e Urdang Academy), para definir a estrutura e disciplinas necessárias para a formação desse profissional. Com início em 15 de agosto, a terceira área beneficiada pelo projeto afetará justamente o motivo de toda e qualquer encenação: o público. Após esse dia, e ao longo de 11 meses, serão realizadas 325 sessões gratuitas do musical A madrinha embriagada, dirigida e adaptada pelo ator e diretor Miguel Falabella.


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Foto: Ayrton Vignola/FIESP

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53 O elenco terá 25 atores com larga experiência em musicais, orquestra de 15 músicos e será dividido em oito sessões semanais, sendo duas para escolas e instituições de ensino públicas e privadas, no período da tarde. Mais de 150 mil espectadores acompanharão a temporada, segundo estimativas do Sesi. Público e profissionais terão, enfim, uma oportunidade de requintar o que entendem por teatro musical sem precisar atravessar oceanos, assim como o gênero precisou fazer séculos atrás. Teatro e música comprovam, depois de tantos anos, que são verdadeiras almas gêmeas.

Elenco ensaia para o espetáculo, que fica em cartaz até junho de 2014.


InteligênciaPontoCom reúne especialistas para discutir cultura face às novas tecnologiaS

Foto: divulgação

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Começaram em meados de 1920 as primeiras discussões sobre a democratização da cultura e o quanto ela poderia enriquecer o senso crítico daqueles que não tinham acesso ao que era produzido. Os avanços tecnológicos presenciados pela sociedade acarretaram um mix de mídias de massas que complementaram umas às outras. As transmissões televisivas e radiofônicas adicionaram um elemento que os meios impressos não proporcionavam com tanta maestria: a capacidade de envolvimento emocional do indivíduo. Quanto mais a tecnologia crescia e se incorporava ao cotidiano social, mais ela se tornava indispensável para o intercâmbio de opiniões em nível global. Mesmo em uma sociedade em rede solidificada, os desafios atrelados à propagação das manifestações culturais estão cada vez mais difíceis. Isso porque ainda faltam políticas canalizadas na reformulação dos objetivos da democratização cultural, equilibrando os serviços públicos com a demanda da população e contemplando as novas tecnologias e mediação cultural.


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Gregório Bacic e Ugo Giorgetti durante debate do InteligênciaPontoCom.

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Valendo-se dessas novas tecnologias e buscando levar cultura, informação e conhecimento para o nosso público, o Sesi-SP criou o projeto InteligênciaPontoCom – que reúne nomes consagrados da literatura, teatro, cinema, dentre outras áreas, para trazer ao conhecimento do público as peculiaridades que circundam uma produção cultural. Ao conceder duas formas ambivalentes para discussão – a física e a virtual, por meio das redes sociais – o projeto aproxima não somente o público interessado em um assunto específico como, também, aqueles que anseiam conhecer mais sobre o universo cultural. “O InteligênciaPontoCom tem como características marcantes a promoção de tendências e o compartilhamento de ideias e experiência.” define o gerente de projetos culturais do Sesi, Álvaro Alves Filho. Em linha com a relevância dessas discussões, a Sesi-SP Editora está preparando uma coleção de DVDs com diversas edições do projeto. O período de captação do material iniciou-se em julho, em um debate que teve a participação do cineasta, produtor e roteirista Ugo Giorgetti e do documentarista, escritor, radialista e jornalista Gregório Bacic, cujo tema foi a utilização da cidade de São Paulo como pano de fundo das produções cinematográficas brasileiras. Além de ambos serem paulistanos, Giorgetti e Bacic se assemelham na análise que fazem do projeto do Sesi. Para Ugo Giorgetti, que usou o cenário da capital paulista em grande parte de seus filmes, “colocar ideias em debate é uma das medidas mais eficientes para que se ampliem os horizontes culturais do público”. Gregório Bacic, por sua vez, sintetiza a funcionalidade do InteligênciaPontoCom afirmando que é uma maneira de estimular a reflexão não somente do Brasil como, também, do mundo, das pessoas e de tudo o mais que nos cerca. Se antes a discussão era sobre a massificação ou não da cultura, hoje a pergunta é bem outra: como podemos aprimorar a capacidade de alcance e qualidade do que é produzido e veiculado? Com projetos bem pensados, talvez fique comprovado, afinal, que tecnologia e democratização cultural podem andar de mãos dadas.

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A MAIOR INVENÇÃO DA HISTÓRIA POR Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras, Presidente do CIEE/RJ e ex-Secretário de Estado de Educação e Cultura do RJ

O brasileiro está lendo menos. É isso que revelou a última pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Ibope Inteligência. De acordo com o levantamento nacional, o número de brasileiros considerados leitores – aqueles que haviam lido ao menos uma obra nos três meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões (55% da população estimada), em 2007, para 88,2 milhões (50%), em 2011. Foram ouvidas 5.012 pessoas, com idade superior a 5 anos de idade, em 315 municípios. A margem de erro é de 1,4 ponto percentual. O levantamento reforça um traço já conhecido entre os brasileiros: o vínculo entre leitura e escolaridade. Entre os entrevistados que estudam, o percentual de leitores é três vezes superior ao de não leitores. Já entre aqueles que não estão na escola, a parcela de não leitores é cerca de 50% superior à de leitores. Uma das razões que podemos apontar para a queda no hábito de leitura entre o público infantojuvenil é a falta de estímulos vindos da família. Se em casa as crianças não encontram pais leitores, reforça-se a ideia de que ler é uma obrigação escolar. Se existe uma queda no número de leitores adultos, isso se refletirá no público infantil. As crianças precisam estar expostas aos livros antes mesmo de aprender a ler. Assim, elas criam uma relação afetuosa com as publicações e encontram uma atividade que lhes dá prazer. Outro indicador revela a queda do apreço do brasileiro pela leitura como hobby. Em 2007, ler era a quarta atividade mais apreciada no tempo

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livre; quatro anos depois, o hábito caiu para sétimo lugar. Antes, 36% declaravam enxergar a leitura como forma de lazer, parcela reduzida a 28%. À frente dos livros, apareceram na sondagem assistir à TV, escutar música ou rádio, descansar, reunir-se com amigos e família, assistir a vídeos/ filmes em DVD e sair com amigos. No século XXI, o livro disputa o interesse dos cidadãos com uma série de entretenimentos que podem parecer mais sedutores. Ou despertamos o interesse pela leitura, ou perderemos a batalha. Uma das razões que podemos apontar para a queda no hábito de leitura entre o público infantojuvenil é a falta de estímulos vindos da família. Se em casa as crianças não encontram pais leitores, reforça-se a ideia de que ler é uma obrigação escolar.

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O papel da escola agiganta-se diante da importância da leitura para a educação, como espaço formal de trabalho. É preciso colocá-la em posição privilegiada e há muito que ser renovada no conteúdo e na prática. Quanto ao professor, o que esperamos é que seja, antes de tudo, um leitor. É necessário que ele avalie os conceitos e a natureza desse trabalho, com seriedade e segurança – que ele saiba escolher bons textos de várias naturezas e saiba explorá-los, incentivando a criatividade, a liberação do imaginário em seus alunos. A poesia, por exemplo, o caminho literário do sonho, é muitas vezes esquecida, quando deveria estar presente no espírito de cada estudante, especialmente dos jovens, como elemento transformador de ideias, unindo a beleza do lirismo à compreensão da vida. Poemas como os de Carlos Drummond de Andrade ou Vinicius de Moraes poderiam levar entusiasmo e polêmica às aulas de leitura. A liberdade de decifrá-los transportaria o ato de ler a novas dimensões antes não calculadas. O exercício da leitura representa um papel essencial, da máxima importância para a formação de um povo. Desconheço um país desenvolvido que não seja um país de leitores, de pessoas que desde os primeiros anos da infância adquiriram o gosto de ler. Vale repetir a afirmação de Darcy Ribeiro que o livro foi a maior invenção da História e a base de todas as outras conquistas da civilização. Por isso, se queremos um ensino realmente democrático, é preciso, no mínimo, facilitar o acesso ao livro e motivar o aluno nesse sentido mais amplo que é o refletir, pois, afinal, a verdadeira função da escola é fazer pensar.


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Um programa de alfabetização continuada, incluindo a formação imediata do hábito de ler, projetos de incentivo à leitura como concursos, maratonas, oficinas literárias e a edição de livros de literatura de baixo custo em larga escala para distribuição em nossas escolas seriam estratégias louváveis, representariam uma centelha de esperança. O escritor italiano Italo Calvino dizia que clássicos são os livros que propagam valores universais e despertam emoções que, a despeito do tempo decorrido desde a leitura, jamais são esquecidos. Constituem uma riqueza para quem os tenha lido. Cientes dessa riqueza, geração após geração, muitos pais se preocupam em reunir esse tesouro em uma estante, presenteando os filhos com uma seleção dos melhores livros. A tecnologia vem adicionar, de maneira crescente, uma questão a essa tarefa: franquear aos filhos uma coleção de livros ou um tablet, aos quais clássicos e outras tantas obras podem ser adicionados. A ideia de tirar o tradicional livro impresso das mãos das crianças e trocá-lo por um iPad ou similar pode assustar os pais. Mas não causa a mesma reação nos estudiosos. Para estes, não existem restrições para leitura na nova plataforma. O meio não é a mensagem. A forma como o conhecimento chega ao ser humano é irrelevante. O que importa é a excelência do conteúdo e não o seu intermediário. O universo digital exerce fascínio nos jovens e, com a ajuda dos tablets, pode apresentar a leitura para esse público de forma surpreendente. Vivemos um tempo de transição, quando é necessário considerar a existência de novos valores e a presença de crianças que são nativas digitais. As escolas, até aqui, foram praticamente as únicas provedoras de conteúdo. Isso hoje foi superado pela existência de uma sofisticada parafernália tecnológica, que veio para ficar. Além de passar valores aos nossos alunos, os estabelecimentos de ensino devem se orientar no sentido de colaborar para a solução de problemas do cotidiano. É uma visão comportamental que se ajusta à educação moderna. Temos possibilidades incríveis de expansão do conhecimento, mas isso não começa nas universidades e sim nos primeiros anos de escolaridade. Inovação é um conceito muito amplo, que não pode ser introjetado na cabeça dos estudantes de repente, numa determinada série. Isso vem desde cedo, com professores bem preparados e estimulados a valorizar as conquistas científicas e tecnológicas. Temos é que formar de modo competente os nossos jovens, com uma educação de primeira classe. Imaginar que a importação de cérebros estranhos à nos-

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sa realidade seja uma boa solução é tentar resolver o problema pelo facilitário. Educando os jovens, certamente, eles irão influenciar os pais – e assim se forma a equação do nosso progresso. Cérebro e computador não podem caminhar dissociados. Melhorar a educação brasileira, de um modo geral, pode ser uma utopia? Depende, naturalmente, da existência de uma política séria, no setor, conduzida por pessoas competentes e desinteressadas de proveito pessoal ou político. A boa escola deixará de ser uma utopia quando esse quadro se modificar. Fala-se muito em gastos com a educação, expressão que deve ser condenada. Gasto é sinônimo de desperdício. Entendemos a educação como investimento. Assim ela deve ser compreendida. Refletir é o que nos permite abrir as portas da percepção e da compreensão crítica. Quando movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova constantemente, tornando-se mais apto a estar no mundo, capaz de compreender as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está inserido. Assim, temos ampliada nossa visão de mundo e seu horizonte de expectativas. Ler é, acima de tudo, compreender. Precisamos manter um posicionamento crítico sobre o que é lido. Quando o leitor se projeta no texto, leva para dentro dele sua vivência pessoal, conseguindo ser tocado pela leitura. Isso é o que afirma Roland Barthes, comparando o leitor a uma aranha: “O texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido - nessa textura - o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia”. O único limite para a amplidão da leitura é a imaginação. Ao conhecermos mais do mundo em que vivemos, experimentamos novas experiências, o que nos permite afirmar que a leitura se configura como um poderoso e essencial instrumento libertário para a sobrevivência do homem. Ler e pensar são atos homólogos e, quando lemos, estamos nos envolvendo com a expressão de outrem, ao mesmo tempo em que nos revelamos, partilhando ideias e sentimentos. A literatura exige a mudança, o posicionamento instaurado pela emoção do leitor. Na realidade, não importa tanto o que o autor diz, mas como é interpretado no seu universo linguístico. O encanto das palavras remete o leitor para além de si mesmo, enriquecendo o seu mundo e as suas expectativas. É esse o sentido pedagógico da leitura. Formar leitores, especialmente entre os mais jovens, é oferecer uma ferramenta fundamental para ampliar a sua concepção do mundo e até alterá-la, transferindo-a para situações do seu interesse.


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No ano de celebração dos 30 anos da Associação de Leitura do Brasil (ALB), a SESI-SP Editora é sua nova parceira na revista semestral Leitura: Teoria & Prática (LTP). As contribuições começaram na edição vigente, número 60, de junho de 2013, que já saiu com novo layout e diagramação. Para o presidente da ALB, Antonio Carlos Amorim, a parceria tem um significado especial. “A diretoria da ALB agrega um valor inestimável ao novo projeto editorial da LTP, desenhado pela edição com a SESI-SP Editora, pelo fato de a revista ser doada aos professores da área de língua e literatura e às bibliotecas do Sistema SESI-SP de Ensino. Essa ação resultante da parceria endossa a nossa proposta de fazer circular, entre os professores da educação básica, material de qualidade reflexiva e crítica.” Única publicação brasileira específica da área da leitura, a LTP é composta de textos inéditos, em português ou espanhol, escritos por pesquisadores, professores de diferentes universidades brasileiras e estrangeiras, e profissionais da educação básica. A revista Leitura: Teoria & Prática representa um avanço na proposta que visa compor a vertente teórica da coleção infantojuvenil Quem lê sabe por quê, da SESI-SP Editora. Site da ALB: www.alb.com.br

editorial eitura, território multifacetado

artigo internacional a na literatura juvenil portuguesa contemporânea

Leitura e riso

ro jesuíta na América Portuguesa

cotidianos escolares: afirmando a complexidade e a es de conhecimentos dos sujeitos praticantes

tos interpessoais e as regras na escola

entidos que emanam de materiais didáticos de língua inglesa

o entre formação de leitores e produção de conhecimento

o: o trabalho de não dizer as palavras do outro

ações do texto-oral na relação com um corpo em performance

ensaio o e dança: matéria-prima e criação

literário Quatro poemas inéditos

Ano 31 • Junho 2013

resenha Queirós: um compartilhar de leituras e desejos

60 Leitura: Teoria & Prática

artigos rita de crianças do Ensino Fundamental (Ciclo ii)

Leitura: Teoria & Prática

revista semestral da associação de leitura do brasil

Ano 31 • Junho 2013

ISSN 0102-387X

9 770102 387002

issn 0102-387x

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Edição número 60, de junho de 2013, da revista semestral Leitura: Teoria & Prática.

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UMA TARDE EM HAVANA, DE LUIZ RUFFATO PARA M.R.

Cuba em agosto arde e para proteger minha pele muito clara, que exposta ao tempo ganha uma coloração avermelhada, me lambuzo de protetor solar e me enfio numa camiseta de malha branca, mangas compridas. Havia desembarcado em Havana na sexta-feira à noite e no sábado de manhã atravessei o amplo saguão do Hotel Riviera, e, após titubear entre caminhar pela orla ou por dentro de El Vedado, deixei-me seduzir pelas ruas arborizadas do bairro. Mal venci três quadras, no entanto, me deparei com um homem de cerca de quarenta anos, que, abaixado, tosca enxadinha na mão, capinava o mato que crescia num canteiro desenhado na calçada. Ao me ver, num salto se pôs à minha frente, Are you american? Français? Italiano? Embora assustado, sorri, e disse, em espanhol, Sou brasileiro. Brasileiro?!, repetiu. Brasileiros e cubanos são irmãos, declamou, tentando ser agradável, para, em seguida, de súbito, indagar, O senhor não quer me dar essa camiseta de presente? Surpreso, olhei-o. Vestia uma gasta guayabera bege, uma bermuda puída e calçava algo que um dia foram chinelos de couro. Você quer minha camiseta?, insisti, incrédulo. Ele assentiu, olhando para os lados, aflito. Eu falei, Tudo bem, mas precisaria voltar ao hotel para trocar de roupa, não posso andar por aí sem nada. Ele disse, ansioso, Não tem problema, eu espero, mas o senhor volta, não volta? Respondi que sim e perguntei por que ele não me acompanhava. Balançando a cabeça com veemência, Não, senhor, não posso, não posso, verificou se estávamos sendo observados, Mas vou estar aqui, certo?, bem aqui! Atônito, regressei ao quarto, peguei uma muda idêntica, coloquei-a numa sacola de papel, e desci. Fui achá-lo no mesmo lugar, sentado no meio-fio, a enxadinha posta de lado, o olhar agoniado mirando a esquina por onde eu havia desaparecido. Correu ao meu encontro, tomou a sacola de minhas mãos, tirou a camiseta, cheirou-a, Que olor! Que olor!, e agradeceu, Obrigado, senhor, muito obrigado, empurrando-me para que me afastasse. Enquanto me distanciava, ainda ouvi sua voz, Nunca esquecerei, senhor, nunca esquecerei... Refletia sobre esse episódio, empoleirado numa banqueta no bar do hotel, os braços apoiados no balcão de madeira, um desfile interminável de clipes Dedicatória de Ernest Hemingway pendurada na parede do famoso bar de Havana, La Bodeguita del Medio.

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de ritmos caribenhos na televisão a cabo, meu rosto estilhaçado nos espelhos que recobrem o fundo da prateleira colorida de garrafas de bebidas, quando o barman perguntou se desejava outro mojito. Havia andado sem pressa por quase duas horas, calor de trinta graus. Num terreno baldio parara para espiar um treino de beisebol, esporte que não compreendo regra alguma. Depois, entrei numa tienda para comprar água, do lado de fora alguns velhos, debruçados sobre uma mesa improvisada, jogavam uma partida de dominó e discutiam com entusiasmo sobre algo que não percebi. Mais à frente, cruzara com dois times de garotas praticando remo, as pás roçando harmônicas a lâmina esverdeada. Voltei ao quarto, fiz a barba, tomei banho, coloquei um traje leve, e só quando o barman, indicando a taça vazia, me perguntou se queria mais um mojito, é que me dei conta de que ela me olhava fixamente. Ao meu lado, um americano, alto e corpulento, encharcava-se de daiquiri, e ouvia, grunhindo interjeições e exclamações, um mexicano, que, bebericando seu mojito, tagarelava, em spanglish, que vinha com frequência a Cuba e se hospedava sempre naquele hotel, Verdad?, Goyo, invocava o testemunho do garçom, que, risonho, adivinhando a generosa gorjeta ao final da carraspana, confirmava, Verdad!, compay. E que certa feita participara de uma recepção em que Fidel Castro também estava, não chegou a vê-lo, mas todos disseram que o Comandante comparecera, etc. etc. Na ponta oposta do balcão, um sujeito, magro e pálido, envergando flamejante terno amarelo, gravata listrada da mesma cor, examinava-nos, com desprezo ou complacência, sorvendo paciente seu copo de rum, envolvido na espessa fumaça de um Gran Corona. Do outro lado do vidro, duas mulheres de meia-idade, desbotadas, provavelmente europeias, maiôs enormes, elegantes chapéus de palha, imensos óculos escuros, conversavam animadamente, esticadas em espreguiçadeiras. Virei o rosto e atrás de mim, no salão repleto de mesas desocupadas, uma mulher sentada sozinha, trinta anos, poucos mais talvez, nem feia nem bonita, cabelos e olhos castanhos. Trocamos olhares, e ela esboçou um sorriso que me pareceu tímido, encabulado, quase pueril. De natural reservado, em dois tragos engoli o segundo mojito e avancei até onde ela se encontrava. Perguntei se lhe podia fazer companhia. Espreitando à volta, ela falou, Claro. Puxei uma cadeira, sentei, ela indagou, Italiano? Brasileiro, respondi. Brasileiro!? Me encantam os brasileiros!, são tão simpáticos! Vamos beber alguma coisa?, propus. Ela disse que, se não fosse incomodar, tomaria uma Cristal. Sinalizei para o tal Goyo, ele se aproximou, pedi a cerveja para ela e um terceiro mojito para mim. Estendi a mão, declinei meu nome, ela a apertou, Nádia... Nádia?! É nome russo, não é?, puxei conversa, e ela, estimulada pela minha curiosidade, contou, Sou


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polovinka, mestiça, meu pai era russo... Médico... Viveu aqui alguns anos... Depois voltou para a terra dele... deixou minha mãe... eu era pequena... Ele se chamava... chama... Oleg... De repente, silenciou, alheada. Você tem biquíni?, perguntei, Podíamos ir para a beira da piscina... Ela retrucou, sem graça, que não, na verdade não podia frequentar a piscina... Por quê?, questionei, indignado. Goyo chegava com as bebidas, ela se calou. Com vagar, depositou a garrafa, os copos e o cinzeiro sobre a mesa, e demorou-se, rodeando em desnecessária função, até ser convocado com estardalhaço pelo mexicano, que o queria como avalista de alguma nova história. Quando se distanciou, pensei em retomar o assunto da piscina, mas Nádia antecipou-se, Quer ver uma coisa?, e tirou da bolsa surrada, napa imitando couro, um saco plástico que envolvia, cuidadosamente, um pequeno álbum. Desembrulhou-o e me entregou. Abri e, para minha surpresa, surgiram sete ou oito fotografias, tamanho dez por quinze, pareciam reveladas há algum tempo, mostrando-a de calcinha e sutiã vermelhos em poses pretensamente eróticas, deitada numa toalha estendida no chão, abraçada a árvores, mirando lânguida a câmera... Imagens amadoras, desfocadas, nas quais Nádia forçava uma naturalidade impossível, denunciada por seu embaraço, pelas mãos trêmulas de quem as tirou, pelo abandono do cenário, um quintal de mato alto e entulhos ao fundo. Eu repassava as páginas do álbum, constrangido, quando ela, percebendo que Goyo retornava, arrancou-o da minha mão, embrulhou-o no saco plástico e devolveu-o rapidamente à bolsa surrada. O garçom, olhando-a de esguelha, perguntou-me se queria mais alguma coisa. Pedi que nos trouxesse uns tostones para picar. Ele assentiu, voltou a fitar Nádia e se foi, moroso. Ela falou, Meu sonho é ser modelo, por isso ando com essas fotos... Você acha que levo jeito? Eu a contemplei com carinho, Claro, Nádia, claro que sim. Seus olhos brilharam por instantes, mas em seguida embaciaram-se novamente, pois sabia que ambos mentíamos. Tomei outro mojito, ela mais uma cerveja, falamos sobre o Brasil, tema pelo qual ela demonstrou genuíno interesse, especulando sobre como as pessoas viviam, o que comiam, o que vestiam, como se divertiam, etc. Passava da uma hora, convidei-a para almoçar, ela disse, sempre sondando furtivamente Goyo, que não tinha apetite, mas que se eu gostasse poderia me guiar, conhecia bons paladares onde comer. Eu aceitei a sugestão, acrescentando que depois passearíamos pela cidade, e seu rosto corou de contentamento. Expliquei que antes precisava ir ao quarto, pegar boné, documentos, dinheiro, e cogitei que ela me seguisse. Nádia replicou, amedrontada, Não, não posso, Eles, e disse vagamente “eles” como algo intangível, invisível, todavia presente, concreto, me impediriam. Eu retruquei, Mas você está comigo... Então, em pânico, implorou, Não, por favor, não insista, por favor!


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Logo que entramos no almendrón, um Chevrolet Bel Air 1956, azul, o falante taxista Reyes perguntou o que estava achando de Cuba. Respondi que era meu primeiro dia no país e que, embora tivesse vindo a trabalho, pretendia visitar alguns lugares, como, por exemplo, o Museu Hemingway. Quando disse Hemingway, ele demonstrou imensa satisfação, Sou fã de Hemingway, comentou, Li tudo dele! O senhor não pode deixar de conhecer La Bodeguita del Medio, onde ele se emborrachava de mojito, nem La Floridita, onde ele se emborrachava de daiquiri, completou, gracejando. Meu livro preferido é “O velho e o mar”, que se passa aqui, em Cuba... E o do senhor? “Por quem os sinos dobram”, revelei. Ah, então é obrigatório ir ao quarto dele no Hotel Ambos Mundos! Foi lá que ele escreveu esse romance! E, enquanto nos conduzia para Habana Vieja, o carro percorrendo lentamente o Malecón, o infindo mar azul-turquesa à nossa esquerda, Reyes discorria sobre personagens e tramas de Hemingway, intercalando exclamações, Grande escritor! Grande homem! Gostava de bebida e de mulheres, as melhores coisas da vida, disse, para em seguida corrigir, filosofando suspiroso, Na verdade, as únicas coisas boas da vida... Quando nos desembarcou, perto da Plaza de la Catedral, fez com que prometesse que iria contratá-lo para levar à Finca Vigía, onde se situa o museu. Me emociono todas as vezes que vou lá, confessou, ao nos despedirmos. Nádia permaneceu quieta durante todo o trajeto e quando seguíamos na direção do paladar, pela pequena rua sem saída que corre transversal à praça, me fez explicar quem era afinal a pessoa da qual falávamos com tanta consideração. Fomos encaminhados ao único lugar disponível, no fundo do restaurante. Para tentar abrandar a sensação de calor, que os ventiladores não conseguiam, pedi uma cerveja Bucanero bem gelada, e Nádia uma TuKola, o refrigerante local. Com paciência, me ouviu recitar os pratos, poucos, presentes no cardápio, e, embora repisasse que não estava com fome, quando o garçom voltou com as bebidas ignorei sua teimosia e solicitei duas ropa vieja, espécie de carne de boi desfiada com molho de tomate, sobre o qual ela comentara com raro arrebatamento. Depois que ele se afastou, permanecemos calados, sufocados pela algazarra das vozes e o barulho dos talheres raspando na louça. Eu examinava as outras mesas, todas ocupadas por estrangeiros. Ela, contemplando, longínqua, os relógios de pêndulo que decoram as paredes, anelava uma mecha do cabelo com o dedo indicador da mão esquerda, enquanto a direita, unhas de esmalte vermelho descascadas, jazia desamparada sobre a toalha branca. De repente, virando-se para mim, Quantos anos você acha que eu tenho? Eu a encarei, Essa não é uma pergunta que se faça a um homem, Nádia! Quantos anos?, insistiu. Contrariado, falei, Vinte e oito, para contentá-la. Vinte e cinco,

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murmurou, sem demonstrar decepção, frustração, desagrado, mas amargura. Pensei em me retratar, mas irritei-me com o que soava como óbvia mentira. Desconversei, Você é daqui mesmo de Havana? Ela disse que sim. Nádia reparava num grupo de turistas que aguardava na porta. Então questionou, distraída, se era verdade que no Brasil havia índios. Respondi afirmativamente, e ela indagou se eu já tinha namorado alguma índia. Com má vontade, falei que não, e mergulhamos de novo no desconfortável silêncio. Após alguns minutos, ela disse, jovial, Sabe que quase casei com um brasileiro?!... O nome dele é Rafael... No ano passado, esteve aqui, ficou apaixonado por mim... Pegou meu endereço, falou que ia me escrever, nos casaríamos e ele ia me levar para viver no Brasil... Onde ele mora?, perguntei, burocrático. Em São Paulo. E o que ele faz? É advogado... Ela quedou pensativa. Nunca mais deu notícia... Deve ter perdido o endereço... Também, estava anotado num papelzinho tão pequenininho... É, é possível, concordei. Os brasileiros são simpáticos, repetiu. Os espanhóis também, mas eles e os italianos não tencionam casar, só querem jarana. Eu ignorava o significado da palavra, ela explicou, com gestos, algo que entendi como farra, bagunça. O garçom surgiu com a comida, pedi outra TuKola para Nádia. Durante o almoço permanecemos ensimesmados, embora, percebi, ela saboreasse com prazer cada garfada de ropa vieja. Depois, sem que precisasse convencê-la, aceitou a sobremesa, flan de piña. Paguei a conta e, assim que pusemos os pés na rua, ela, mudando de humor, me deu a mão, e, para demonstrar sua felicidade, beijou meu rosto, colegialmente, segredando, Você não é igual aos outros. Não sou? Não, não é... Você não tem vergonha de mim... Não perde a paciência comigo... Você é... sentimental... Eu ri e contrapus, Hemingway escreveu que os sentimentais estão sempre sendo traídos... Ela adiantou-se, barrando a minha frente, E você concorda com ele? Mirando o céu azulíssimo, sem nuvens, respondi, Sim, Nádia, acho que ele tem toda razão... Enquanto me deleitava com a magnífica portada barroca da Catedral de campanários assimétricos, a camisa e o boné ensopados de suor, Nádia permaneceu distante. Depois, penetramos respeitosos a nave principal e estaquei suspenso no meio do edifício, absorvido pelas nuanças do conjunto arquitetônico. Percorri as capelas laterais, os pés deslizando suaves o mármore preto e branco do piso, admirei as grossas colunas de pedra, tentando localizar os corais usados no material de construção original. Finda a inspeção, busquei-a por entre as poucas pessoas que circulavam pela igreja àquela hora e fui descobri-la sentada no banco de madeira próximo ao altar principal. Sem que notasse, ajeitei-me duas fileiras atrás e observei que reverenciava, com sincera e insuspeitada devoção, a imagem da Purísima Concepción. Poderia jurar que seus olhos achavam-se marejados. Desta maneira se manteve, como em


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êxtase, por largos minutos, até que, repentinamente, levantou-se, procurando-me aflita. Acenei para ela, pus-me de pé, emparelhamos no corredor central e saímos, a luz intensa castigando a vista desacostumada. Seguimos sem pressa pela abarrotada rua San Ignácio, todo o tempo abordados por insistentes mas discretos vendedores de artigos os mais diversos, de charutos a cedês, de garrafas de rum a notas de pesos cubanos antigos com assinatura de Che Guevara quando presidente do Banco Central. No trajeto, indaguei, para fazer conversa, se ela era religiosa, mas ao invés de responder, devolveu a pergunta. Eu disse que me considerava um católico não praticante, com influência pascalina. Nádia não me pareceu interessada em destrinchar o “católico não praticante com influência pascalina”, mas eu, no afã talvez de impressioná-la, argumentei: Se eu pratico o bem e Deus existe, minha alma está salva. Se eu pratico o bem e Deus não existe, pelo menos fui um homem bom. Ela continuou ausente, até que, de forma inesperada, encarou-me, estática, e não disse nada. Durante o passeio pela feira de antiguidades da Plaza de Armas, Nádia mostrou-se descontraída. Havana inteira exala um aroma de fumo, eu disse. Lembra minha infância. Ela, aspirando o ar quente, falou, alegre, Com o tempo a gente se acostuma, mas é bom mesmo... E entrelaçando nossos braços, encostou a cabeça no meu ombro. Andamos assim, à sombra das árvores, até que perguntou se eu era casado. Respondi, Viúvo. Viúvo?!, e aninhou-se mais ao meu corpo, emotiva. Sim, me casei seis vezes e seis vezes fiquei viúvo. Assustada, Nádia se desprendeu de mim. Você ficou viúvo seis vezes?! É... Todas as minhas esposas morreram de maneira estranha... como se tivessem sido envenenadas... Ela teve um acesso de riso, murmurou, dengosa, Tonto! E agarrou-me de novo. Você é mulherengo? Não, acho que não... O que me atrai nas mulheres é a forma. A forma? Sim, a beleza do corpo feminino. Emudeceu, meditativa. E você me considera... bonita? Sim, muito! Continuamos circulando por entre as inúmeras barracas. Comprei dois títulos de Alejo Carpentier, “La ciudad de las Columnas” e “El siglo de las luces”, e um bottom para ela, o ursinho Misha, símbolo das Olimpíadas de Moscou. Também descobri, contente, uma edição de “Hemingway en Cuba”, de Norberto Fuentes. Você quer saber mais sobre Hemingway? E entreguei-lhe o grosso volume, quase quatrocentas páginas. Ela o sopesou, folheou, e, talvez convencida pelo caderno interno de fotografias, respondeu, Quero. Mas, no momento mesmo em que pagava o preço exorbitante pedido pelo vendedor, intuí que ela não o leria jamais. Consultei o relógio, passava das seis horas, embora o sol ainda alto e o calor insuportável. Eu atentava curioso para uma coleção de moedas raras, quando Nádia perguntou, de chofre, Quer casar comigo? Respondi, jocoso, E o... como é mes-

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mo o nome dele? De quem? Do seu pretendente brasileiro... Sinceramente ofendida, afastou-se. Cabisbaixa, conservou-se ao largo, me aguardando. Ainda bisbilhotei duas ou três bancas de livros velhos, antes de me juntar a ela. O que fazemos agora?, perguntei, enfastiado. Nádia disse, Vamos pegar um táxi. Eu a segui, tomamos um almendrón, ela anunciou um endereço, o carro alcançou o Malecón, no sentido oposto ao do hotel, para em seguida desviar para um bairro de casas humildes e uma infinidade de gente nas ruas. Ela manteve-se todo o tempo apartada, encerrada num paiol de silêncio. O motorista aumentou o som do rádio e acompanhou, em voz alta, cada uma das salsas que tocaram durante os quase quinze minutos do trajeto. Próximo a um enorme terreno baldio, Nádia mandou que estacionasse e desceu de imediato. Ansioso, acertei o valor combinado. Ela disse, Não ande junto comigo, mas atrás e a certa distância. Por quê?, perguntei. Respondeu, ríspida, Faça deste jeito, para não me criar problema... Prosseguimos por uns cinco minutos. Chegando em frente a uma porta, bateu, surgiu uma cabeça que olhou na minha direção, e ambas entraram. Eu fiquei parado, sem saber como agir. Cumprimentei desconhecidos, amarrei e desamarrei o cadarço do mocassim, analisei com denodo as características das folhas, dos frutos, da casca e dos galhos de uma pequena árvore sob a qual havia me recolhido, repassei impaciente as páginas dos livros que trazia dependurados numa sacola plástica, até notar alguém me fazendo sinais. Precipitei-me agoniado, o coração aos coices. Introduzi-me na modesta casa, úmida e escura. Na sala, um homem grisalho, alto e forte, suava sentado sem camisa vendo uma velhíssima televisão preto e branco. Imaginei se devia cumprimentá-lo, mas a mulher, uma bonita mulata meio gorda, me impeliu, pouco simpática, indicando o final do corredor estreito, de paredes mofadas. À esquerda, um quarto desarrumado, um banheiro cheirando a urina, outro quarto, a porta cerrada. Entreabri a cortina de miçangas e me deparei com um cômodo pequeno, guarda-roupa e cama de casal, e, sob um lençol amarelado, Nádia. Vem, sussurrou, a voz ridiculamente rouca. Não consigo assim, falei, imaginando o homem e a mulher postados a poucos passos de nós. Ela, canhestros bocas e olhares de sedução, descobriu-se, Vem... Um irritante galo cacarejava no quintal, atrás da janela fechada, e em algum lugar um velho, doente, tossia, tossia, tossia. Eu não consigo, repeti. Nádia ergueu-se nua, enlaçou-me, tentando beijar minha boca, as mãos desabotoando minha camisa, mas eu a afastei, Para com isso... Ela jogou-se sobre o colchão, esticando-se pretensamente lasciva, a pele magoada, marcas vermelhas e roxas de outros encontros. Enfiei a mão no bolso, tirei todo o dinheiro da carteira, contei, Tenho aqui cento e trinta e cinco CUCs, está bom? Nádia enrolou-se no lençol, e, voltada para a parede, murmurou, É muito... Deixei as notas sobre o


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Luiz Ruffato – Autor de Eles eram muitos cavalos (2001, Prêmio APCA e Prêmio Machado de Assis), De mim já nem se lembra (2006), Estive em Lisboa e lembrei de você (2009) e da série Inferno Provisório, composta por cinco volumes: Mamma, son tanto felice (2005, Prêmio APCA), O mundo inimigo (2005, Prêmio APCA), Vista parcial da noite (2006, Prêmio Jabuti), O livro das impossibilidades (2008) e Domingos sem Deus (Prêmio Casa de las Américas). Seus livros estão publicados na França, Itália, Portugal, Alemanha, Argentina, Colômbia, México e Cuba.

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criado-mudo, debaixo do exemplar de “Hemingway en Cuba”, e, antes de transpor a cortina de miçangas, escutei-a lastimar-se, Isso é o que restou de mim... Atravessei o corredor, tornei à sala, o homem sem camisa interceptou-me, mas lá de dentro Nádia gritou, Está bem, Jesús! Ele, sem me olhar, cedeu a passagem. Assim que me vi na calçada, ocorreu que não tinha ideia de onde me encontrava e não possuía sequer um centavo para sair dali. Exausto, frustrado, furioso, não lembro como cheguei à orla e nem quanto tempo levei caminhando pelo Malecón, mas sei que, à medida em que andava, a luz do sol esmaecia. Ainda agora ouço o barulho das ondas explodindo nas pedras, a noite dissolvendo suavemente a paisagem em treva. Recordo também que, mergulhado na penumbra, percebi uma mulher vir ao meu encontro e, de repente, sacar algo da bolsa, e eu quedar, em pânico, paralisado, enquanto ela oferecia, Amendoins, senhor? Amendoins torrados? Nesse momento, aliviado, enxerguei, cem metros à frente, a fachada do hotel. Cruzei depressa o saguão, entrei no bar, descobri uma rara mesa disponível, depositei a sacola plástica com os livros sobre a toalha, puxei uma cadeira, sentei e solicitei um mojito. Ajeitando-me, peguei “La ciudad de las Columnas” para folhear, mas, antes de abri-lo, rastreei desatento o entorno, quando divisei todos os lugares ocupados por casais ou grupos de amigos, só eu sozinho. Então, pouco a pouco, o burburinho engolfou meu corpo, puxando-o para profundezas abissais. Quando, sem fôlego, voltei à tona, era apenas destroços, um homem que avançava célere para os sessenta anos e sabia que, naquele exato instante, não ocupava o pensamento de nenhuma pessoa em lugar algum do mundo. Que quando voltasse para casa não haveria ninguém me aguardando, nem mulher, nem filhos, nem parentes, nem sequer um gato ou um cachorro. Que, caso morresse ali, agora, ninguém lamentaria minha ausência. E que, irredutível, a velhice afagava o tempo malbaratado. O garçom depositou o mojito no tampo, agradeci, bebi um gole com sofreguidão, e pensei que necessitava urgentemente tomar um banho, um longo banho para me livrar daquela crosta grossa que se acumulava sobre minha pele.

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AO PÉ DA LETRA por Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras

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A VINDA DO PAPA "A presença do Papa Francisco, no Rio de Janeiro, levou os jovens em particular e a população em geral à autorreflexão, o que certamente ajudará na melhoria do dia a dia da vida do povo brasileiro." Perfeito! Nossa população precisa de dias melhores e a língua portuguesa agradece a ortografia (grafia correta). autorreflexão – quando o prefixo termina em vogal (auto) e a segunda palavra começa com R (reflexão), este R precisa ser duplicado. dia a dia não tem mais hífen. JORNADA DA JUVENTUDE "Milhares de fieis participaram de um encontro com jovens de diversas partes do mundo." Consideramos um excelente movimento de congregação religiosa, mas "fieis" tem que ser escrito com acento agudo – fiéis –, porque as oxítonas terminadas nos ditongos éi ou éis são acentuadas, conforme determina o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa/ AOLP. Frase correta: Milhares de fiéis participaram de um encontro com jovens de diversas partes do mundo.

VOCÊ PRECISA SABER "Os participantes do encontro vieram dos mais diferentes locais." Observe: nomes de lugar (topônimos) que devem ser escritos com hífen: iniciados por verbo – Passa-Quatro; iniciados com os adjetivos grão e grã – Grã-Bretanha, Grão-Pará; com os nomes ligados por artigo – Baía-de-Todos-os-Santos, Trás-os-Montes. Atenção: nos demais lugares não se usa o hífen – América do Sul, Feira de Santana, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Mato Grosso do Sul, América do Norte etc. VISITANTEs INTERNACIONAIS " Um grupo luso britânico se reuniu para conhecer os pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro." São muito bem-vindos, mas é preciso grafar corretamente: luso-britânico. Nas palavras compostas nas quais o primeiro elemento é reduzido (luso) usa-se o hífen. Período correto: Um grupo luso-britânico se reuniu para conhecer os pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro.


LOCAL PRIVILEGIADO "O espaço recém concluído, em Guaratiba, para o encontro religioso ficou muito bonito." É verdade, mas a forma "recém concluído" está incompleta, pois falta o hífen: recém-construído – os nomes compostos cujo primeiro termo é recém exigem o hífen. Frase correta: O espaço recém-concluído, em Guaratiba, para o encontro religioso ficou muito bonito. ACOLHIMENTO "As famílias que se predispuseram a receber peregrinos em suas casas fizeram tudo para o bem estar de seus hóspedes." Claro que sim, mas o advérbio bem deve ser seguido por hífen em inúmeras palavras, como: bem-estar, bem-conformado, bem-ditoso, bem-vindo etc. Já o advérbio mal só admite o hífen quando o segundo elemento começa com vogal, h ou l. Citamos: mal-acostumado / mal-humorado / mal-limpo / malfadado etc. Período correto: As famílias que se predispuseram a receber peregrinos em suas casas fizeram tudo para o bem-estar de seus hóspedes. CURIOSIDADE Hagiônimo é a designação dada aos nomes sagrados, sendo facultativo o uso de letras maiúsculas. Exemplo: muitos católicos são devotos de Santo (ou santo) Antônio, de São (ou são) Judas Tadeu, entre outros, mas todos acreditamos em Deus.

Simplicidade "Sua Santidade, o Papa Francisco, dispensou a blindagem no veículo que o transportou durante sua estada no Rio de Janeiro." Observe: Sua Santidade ou Vossa Santidade são expressões de reverência usadas tradicionalmente e restritas aos papas e podem ser abreviadas S.S. e V.S. respectivamente. Bullying? "O jovem ficava muito triste quando os colegas da excursão diziam que ele era um João ninguém." De fato, uma situação muito desagradável e ainda errada. Quando um nome próprio se torna um substantivo comum deve ser escrito com letra minúscula, como qualquer outro. Nesse caso, ainda há o hífen: um joão-ninguém. Período correto: O jovem ficava muito triste quando os colegas da excursão diziam que ele era um joão-ninguém. Interesse "Qualquer pessoa se detem para observar as belezas da cidade que se preparou para receber os visitantes." Escrito desse jeito não desperta a vontade esperada. O verbo deter é derivado do verbo ter e na 3a pessoa do singular do presente do indicativo tem acento agudo (oxítona terminada em -em): detém. Período correto: Qualquer pessoa se detém para observar as belezas da cidade que se preparou para receber os visitantes.

L ETRA

AO PÉ DA

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cARDáPIO

ceNTrO cUlTUral FiesP* AvEnIDA PAulIsTA, 1313 sÃO PAulO sP EXPOsIÇÃO File – FesTival iNTerNaciONal De liNGUaGem eleTrôNica aTé 01/09

Realizado, anualmente, pelo SESI-SP, chega à sua 14a edição o FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), o maior encontro do país sobre arte digital. Entre as atrações estão animações, instalações interativas, aplicativos para tablets, games, performances, workshops, mesas-redondas, encontros com artistas internacionais e maquinemas – filmes que mesclam a estética dos games com as técnicas de produção cinematográfica. TEATRO QUaDrO FOGO aZUl De Um miNUTO 29/08 a 08/12

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Um grupo de quatro pessoas, que fazem parte de uma organização denominada REDE, chega a CINE interferindo no cotidiano do local com atos que buscam causar impacto, mas não violência. Porém algumas coisas saem do controle. Ao mesmo tempo vemos a apresentação de um mito feminino – YVES – uma mulher misteriosa. Trata-se de um jogo de muitas vozes onde tempos e espaços distintos se sobrepõem e se intercruzam TEATRO MusIcAl a maDriNHa emBriaGaDa 15/08/2013 a 29/06/2014

Com texto original de quatro canadenses, tradução e direção de Miguel Falabella, elenco de 25 atores, orquestra com 15 músicos, Stella Miranda como atriz convidada, a produção deste musical teve orçamento de R$ 12 milhões. Durante 11 meses, serão realizadas 325 sessões do musical com ingressos gratuitos, para ampliar e democratizar o acesso do público. MúsIcA EM cEnA óPera POrTáTil 01/09 DOMInGO 12h

O enredo traz Rita, a dona de uma hospedaria que maltrata Beppe, seu segundo marido. De repente, surge seu primeiro marido, Gasparo, que todos achavam que havia morrido em um naufrágio. Na realidade, ele havia fugido para o Canadá, acreditando que Rita estava morta devido a um incêndio na aldeia onde ela vivia. MúsIcA EM cEnA DUO siQUeira-lima 08/09 DOMInGO 12h

O ponto de partida do trabalho está no vasto universo da música escrita para dois violões dos séculos XX e XXI. De mesma formação, porém em países diferentes, esses dois músicos têm em comum o objetivo de romper barreiras, de alcançar sonoridades e harmonias que revelam sua maneira de ser e de encarar o desafio de expressar-se musicalmente. O encontro resultou em uma nova maneira de tocar, uma nova roupagem que dá novas cores e nuances a cada composição, enriquecendo-as em detalhes rítmicos e melódicos.

MúsIcA EM cEnA PrOJeTO B 15/09 DOMInGO 12h

MúsIcA EM cEnA QUarTeTO Nó Na maDeira 25/08 DOMInGO 12h

A Viagem de Villa-Lobos - Em sua primeira viagem a Paris, em 1923, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) encontra uma cidade que não é mais vanguarda. Artistas e intelectuais estão com olhos e ouvidos voltados aos compositores russos que produzem música original, moderna e de caráter nacionalista.

Seu repertório abrange os mais diversos compositores, como J. S. Bach, Jean Françaix, H. Villa-Lobos, Hermeto Pascoal, Astor Piazzolla, Radamés Gnattali, Pixinguinha e Moacir Santos.

MúsIcA EM cEnA QUarTeTO iPê amarelO 22/09 DOMInGO 12h

Uma das grandes composições emblemáticas do século XX, Suíte para Flauta e Piano Jazz, do francês Claude Bolling, dá nome ao espetáculo do Quarteto Ipê Amarelo, que propõe inovadoras possibilidades sonoras e harmônicas para a música instrumental contemporânea. MúsIcA EM cEnA BaNDa siNFôNica DO esTaDO De sãO PaUlO 28/08, 25/09 e 30/10

Sob a regência do maestro Marcos Sadao Shirakawa, apresenta um novo concerto da série Pra Ver a Banda Tocar!, nesta oportunidade executando peças de expoentes da música clássica, como Festive Overture – opus 96, de Dimitri Shostakovich (1906-1975), a Suíte Klezmer para contrabaixo solo, de Alexandre Travassos (1970), a Suíte do Balé Romeo e Julieta, de Serguei Prokofiev (1891-1953), e a Suíte QuebraNozes, de Peter I. Tchaikovisky (1840-1893). MúsIcA EM cEnA TriO sOsPiraTe 29/09 DOMInGO 12H

Com base no vasto e fascinante tema do amor e em alguns de seus diversos aspectos, como o amor platônico, o amor condicional, o amor sedutor, a ira do amor não correspondido e, finalmente, o amor realizado, o Trio Sospirare apresenta repertório dos séculos XVI e XVII por meio do canto, da flauta doce e do alaúde. MúsIcA EM cEnA WaON 06/10 DOMInGO 12h

Nikkura – Uma Viagem ao Japão Erudito O maestro e os instrumentistas dedicam longa e séria pesquisa de repertório e experiência internacional ao grupo paulista Waon, cuja performance resgata canções e instrumentos típicos japoneses, mesclando-os a outros da tradição ocidental. MúsIcA EM cEnA JOsé milTON vieira 13/10 DOMInGO 12h

* Datas e horários sujeitos a alterações. Mais informações no site www.sesisp.org.br/cultura/.

MúsIcA EM cEnA FáBiO cUry e alessaNDrO saNTOrO 20/10 DOMInGO 12h

Desde a consistência do repertório, de seu ineditismo na formação, da relevância de divulgar esses raros instrumentos e os conceitos de interpretação pouco difundidos entre os estudantes brasileiros, e a contrapartida pedagógica cuidadosamente planejada, ganha substância a iniciativa desses dois expoentes em seus instrumentos no Brasil, musicistas de reconhecido valor. MúsIcA EM cEnA maDeirarTe 27/10 DOMInGO 12h

O duo interpreta obras para fagote e clarinete do estilo barroco ao contemporâneo, originalmente escritas por mestres da música erudita, como Ludwig van Beethoven, além de transcrições para as Invenções a Duas Vozes, de Johann Sebastian Bach. DEBATE / BATE-PAPO iNTeliGêNciaPONTOcOm 17/09 e 15/10 TERÇA-fEIRA 20h

Grande sucesso da programação em anos anteriores, volta com bate-papos mensais entre o público e os principais criadores e pensadores das artes, cultura, sociedade e mundo. Nomes expressivos da literatura, artes visuais, cinema, filosofia, sociologia, esporte, teatro e música participam da programação. DRAMATuRGIA 5º ciclO DO NúcleO De DramaTUrGia sesi-BriTisH cOUNcil 23/09 a 10/10

O ciclo convida a pensar o trabalho de dramaturgos que combinam seus escritos com pesquisa estética e de conteúdo.


CARDÁPIO

UNIDADES DO SESI-SP teatro* DOENTE

O GIGANTE EGOÍSTA

SÃO PAULO SESI A.E.CARVALHO DE 15/08 A 18/08 E DE 29/08 A 31/08

Divulgação

MALDITO BENEFÍCIO

CONCERTO DA BACHIANA FILARMÔNICA SESI-SP

VILA DAS MERCÊS CAT VILA DAS MERCÊS DE 15/08 A 18/08 E DE 29/08 A 31/08

F. Barella

Divulgação

MIRABOLANTE

CAT MARÍLIA 16/08 E 17/08 CAT - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO 26 E 27/08 CAT – BIRIGUI DE 28/08 A 29/08 SÃO PAULO CAT – VILA LEOPOLDINA DE 10/10 A 11/10 CAT – ITAPETININGA DE 29/10 A 30/10 CAT – SOROCABA 31/10

Fernando Mucci

A ODISSeIA DE JUVENAL E O DRAGÃO DA GRUTA DO MAL

SÃO PAULO CAT VILA LEOPOLDINA DE 15/08 A 18/08 E DE 29/08 A 31/08 SÃO PAULO CAT VILA DAS MERCÊS DE 10/10 A 13/10 SÃO PAULO CAT A.E. CARVALHO DE 17/10 A 20/10

Rodrigo Schimidt

CAT RIO CLARO 17/08 E 18/08 CAT VILA DAS MERCÊS 25/08 CAT – MAUÁ 29/08 E 30/08

Divulgação

Ligia Jardim

A NOIVA DO CONDUTOR

CAT BIRIGUI 16/08 e 17/08 CAT FRANCA 26/08 E 27/08 CAT RIO CLARO 28/08 E 29/08 CAT CAMPINAS 11/10 E 12/10 CAT ITAPETININGA 18/10 E 19/10 CAT SÃO BERNARDO DO CAMPO 29/10 E 30/10 SÃO PAULO VILA DAS MERCÊS 31/10

* Datas e horários sujeitos a alterações. Mais informações no site www.sesisp.org.br/cultura/.

SÃO PAULO CLUBE PAINEIRAS DO MORUMBY 24/08 TEATRO BRADESCO 10/09 E 22/10 SALA SÃO PAULO 14/09

LIMEIRA GINÁSIO DO CAT 20/09

SANTA BáRBARA D’OESTE GINÁSIO DO CAT 21/09

ITU GINÁSIO DO CAT 22/09

SANTOS JARDINÓPOLIS 06/09

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unIDADEs DO sEsI-sP música POPUlar* alaíDe cOsTa

ieDa crUZ e BaNDa

marcelO JeNeci

cHicO TeiXeira

Ligiane Braga sãO PaUlO sesi a.e. carvalHO 23/08 caT OsascO 24/08 caT marília 24/10 sãO PaUlO caT vila Das mercês 26/10

caT saNTOs 23/08 sãO PaUlO caT vila leOPOlDiNa 24/08

caT PiracicaBa 26/10

OrQUesTra saNFôNica De sãO PaUlO

Thomas Rnagel

leO GaNDelmaN

marcelO NOva

Marcos Vitachi

caT PiracicaBa 23/08 caT iTaPeTiNiNGa 24/08 caT sOrOcaBa 25/10 caT camPiNas (amOreiras) 26/10

Jay vaQUer

caT camPiNas (amOreiras) 25/10 caT iTaPeTiNiNGa 26/10 caT PiracicaBa 27/10 caT sãO BerNarDO DO camPO 28/10

Divulgação

Marcos Herme

cHicO césar

João Wainer

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caT saNTO aNDré 24/08

Divulgação

caT sãO JOsé DOs camPOs 24/08 caT PiracicaBa 25/08 caT sãO BerNarDO DO camPO 31/10

Ariel Martini

Eugênio Goulart

NêGa maDame

caT PiracicaBa 30/08

* Datas e horários sujeitos a alterações. Mais informações no site www.sesisp.org.br/cultura/.

caT sOrOcaBa 24/08


cARDáPIO

TeTê sPiNDOla

caT sãO JOsé DO riO PreTO 23/08

Cláudio Kawasaki

vâNia BasTOs

Rafael Saar

Divulgação

selma reis

caT FraNca 23/08 caT camPiNas (amOreiras) 22/10

sãO PaUlO caT vila leOPOlDiNa 19/10 caT saNTOs 26/10

77 Centro Cultural FIESP - Ruth Cardoso

Digital

Serviço Social da Indústria — SESI-SP Centro Cultural FIESP - Ruth Cardoso Av. Paulista, 1.313 – Cerqueira César CEP 01311-923 – São Paulo/SP

Grande São Paulo: 11 3528 2000 Outras Localidades: 0800 55 1000 www.sesisp.org.br/redessociais


GALERIA DE FOTOS

Vivian Fernadez

Carlos Oliveira

Zarella Neto

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Lenise Pinheiro


Antonio Frugiele

CARDÁPIO

João Caldas

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Crônicas de cavaleiros e dragões sesi vila leopoldina

zabomba sesi vila leopoldina

mostra brasil alemanha centro cultural ruth cardoso

ana não está centro cultural ruth cardoso

lampião e lancelote Bumba Meu Fusca

inteligênciapontocom centro cultural ruth cardoso

bienal no sesi centro cultural ruth cardoso

mostra play

Divulgação

Divulgação

pac man


Imagem de Acervo

Imagem de Acervo

EVENTOS DAS EDITORAS SESI-SP E SENAI-SP

Imagem de Acervo

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Imagem de Acervo

Imagem de Acervo


CARDÁPIO

Imagens de acervo

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I Feira de Livros das editoras SESI-SP E SENAI-SP Centro Cultural Ruth Cardoso

Segredos do design automotivo Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi

Kislansky Cerâmicas – Argilas do Brasil Palacete das Artes, em Salvador (BA)

FAZER é pensar teatro positivo, curitiba (pr)

Nanoarte Centro Cultural Ruth Cardoso

O teatro de revista no Brasil sesi campinas

Contação de história Ação Global Nacional

Caminhos da inclusão centro paula souza

Receitinhas para você: pães FIPAN 2013

Sander Ferreira

Imagem de Acervo


UNIDADES DO SESI-SP AMERICANA CAT DR. ESTEVAM FARAONE AVENIDA BANDEIRANTES,1000 - CHÁCARA MACHADINHO CEP 13478-700 - AMERICANA - SP Tel: (19) 3471-9000 www.sesisp.org.br/americana ARAÇATUBA CAT FRANCISCO DA SILVA VILLELA RUA DR. ALVARO AFONSO DO NASCIMENTO, 300 - J. PRESIDENTE CEP 16072-530 - ARAÇATUBA - SP Tel: (18) 3519-4200 www.sesisp.org.br/aracatuba

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ARARAQUARA CAT WILTON LUPO AVENIDA OCTAVIANO DE ARRUDA CAMPOS, 686 - JD. FLORIDIANA CEP 14810-901 - ARARAQUARA - SP Tel: (16) 3337-3100 www.sesisp.org.br/araraquara ARARAS CAT LAERTE MICHIELIN AVENIDA MELVIN JONES, 2.600 - B. HEITOR VILLA LOBOS CEP 13607-055 - ARARAS - SP Tel: (19) 3542-0393 www.sesisp.org.br/araras BAURU CAT RAPHAEL NOSCHESE RUA RUBENS ARRUDA, 8-50 - ALTOS DA CIDADE CEP 17014-300 - BAURU - SP Tel: (14) 3234-7171 www.sesisp.org.br/bauru

CAMPINAS I CAT PROFESSORA MARIA BRAZ AVENIDA DAS AMOREIRAS, 450 CEP 13036-225 - CAMPINAS I - SP Tel: (19) 3772-4100 www.sesisp.org.br/amoreiras CAMPINAS II CAT JOAQUIM GABRIEL PENTEADO AVENIDA ARY RODRIGUEZ, 200 - B. BACURI CEP 13052-550 - CAMPINAS II - SP Tel: (19) 3225-7584 www.sesisp.org.br/campinas2 COTIA OLAVO EGYDIO SETÚBAL RUA MESOPOTÂMIA, 300 - MOINHO VELHO CEP 06712-100 - COTIA - SP Tel: (11) 4612-3323 www.sesisp.org.br/cotia CRUZEIRO CAT OCTÁVIO MENDES FILHO RUA DURVALINO DE CASTRO, 501 - VILA ANA ROSA NOVAES CEP 12705-210 - CRUZEIRO - SP Tel: (12) 3141-1559 www.sesisp.org.br/cruzeiro CUBATÃO CAT DÉCIO DE PAULA LEITE NOVAES AVENIDA COM. FRANCISCO BERNARDO, 261 - JD. CASQUEIRO CEP 11533-090 - CUBATÃO - SP Tel: (13) 3363-2662 www.sesisp.org.br/cubatao

BIRIGUI CAT MIN. DILSON FUNARO AVENIDA JOSÉ AGOSTINHO ROSSI, 620 - JARDIM PINHEIROS CEP 16203-059 - BIRIGUI - SP Tel: (18) 3642-9786 www.sesisp.org.br/birigui

DIADEMA CAT JOSÉ ROBERTO MAGALHÃES TEIXEIRA AVENIDA PARANAPANEMA, 1500 TABOÃO CEP 09930-450 - DIADEMA - SP Tel: (11) 4092-7900 www.sesisp.org.br/diadema

BOTUCATU CAT SALVADOR FIRACE RODOVIA MARECHAL RONDON, KM 247,4 - PQ. RES. CONVÍVIO CEP 18605-900 - BOTUCATU - SP Tel: (14) 3811-4450 www.sesisp.org.br/botucatu

FRANCA CAT OSVALDO PASTORE AVENIDA SANTA CRUZ, 2870 - JD. CENTENÁRIO CEP 14403-600 - FRANCA - SP Tel: (16) 3712-1600 www.sesisp.org.br/franca

GUARULHOS CAT MORVAN DIAS DE FIGUEIREDO RUA BENEDITO CAETANO DA CRUZ, 566 - JARDIM ADRIANA CEP 07135-151 - GUARULHOS - SP Tel: (11) 2404-3133 www.sesisp.org.br/guarulhos INDAIATUBA CAT ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES AVENIDA FRANCISCO DE PAULA LEITE, 2701 - JD. CALIFORNIA CEP 13346-000 - INDAIATUBA - SP Tel: (19) 3875-9000 www.sesisp.org.br/indaiatuba ITAPETININGA CAT - BENEDITO MARQUES DA SILVA AVENIDA PADRE ANTONIO BRUNETTI, 1.360 - VL. RIO BRANCO CEP 18208-080 - ITAPETININGA - SP Tel: (15) 3275-7920 www.sesisp.org.br/itapetininga ITÚ CAT CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA RUA JOSÉ BRUNI, 201 - BAIRRO SÃO LUIZ CEP 13304-080 - ITÚ - SP Tel: (11) 4025-7300 www.sesisp.org.br/itu JACAREÍ CAT KARAM SIMÃO RACY RUA ANTONIO FERREIRA RIZZINI, 600 JD. ELZA MARIA CEP 12322-120 - JACAREÍ - SP Tel: (12) 3954-1008 www.sesisp.org.br/jacarei JAÚ CAT RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA AVENIDA JOÃO LOURENÇO PIRES DE CAMPOS, 600 - JD. PEDRO OMETTO CEP 17212-591 - JAÚ - SP Tel: (14) 3621-1042 www.sesisp.org.br/jau JUNDIAÍ CAT ÉLCIO GUERRAZZI AVENIDA ANTONIO SEGRE, 695 - JARDIM BRASIL CEP 13201-843 - JUNDIAÍ - SP Tel: (11) 4521-7122 www.sesisp.org.br/jundiai


LIMEIRA CAT MARIO PUGLIESE AVENIDA MJ. JOSÉ LEVY SOBRINHO, 2415 - ALTO DA BOA VISTA CEP 13486-190 - LIMEIRA - SP Tel: (19) 3451-5710 www.sesisp.org.br/limeira

OURINHOS CAT MANOEL DA COSTA SANTOS RUA PROFESSORA MARIA JOSÉ FERREIRA, 100 - BAIRRO DAS CRIANÇAS CEP 19910-075 - OURINHOS - SP Tel: (14) 3302-3500 www.sesisp.org.br/ourinhos

MARÍLIA CAT LÁZARO RAMOS NOVAES AVENIDA JOÃO RAMALHO, 1306 - JD. CONQUISTA CEP 17520-240 - MARÍLIA - SP Tel: (14) 3417-4500 www.sesisp.org.br/marilia

PIRACICABA CAT MARIO MANTONI AVENIDA LUIZ RALPH BENATTI, 600 - VL INDUSTRIAL CEP 13412-248 - PIRACICABA - SP Tel: (19) 3403-5900 www.sesisp.org.br/piracicaba

MATÃO CAT PROFESSOR AZOR SILVEIRA LEITE RUA MARLENE DAVID DOS SANTOS, 940 - JARDIM PARAÍSO III CEP 15991-360 - MATÃO - SP Tel: (16) 3382-6900 www.sesisp.org.br/matao

PRESIDENTE EPITÁCIO CIL - CARLOS CARDOSO DE ALMEIDA AMORIM AVENIDA DOMINGOS FERREIRA DE MEDEIROS, 2.113 - VILA RECREIO CEP 19470-000 - PRES. EPITÁCIO - SP Tel: (18) 3281-2803 www.sesisp.org.br/presidenteepitacio

MAUÁ CAT MIN. RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO, 237 - JARDIM ZAÍRA CEP 09320-590 - MAUÁ - SP Tel: (11) 4542-8950 www.sesisp.org.br/maua MOGI DAS CRUZES CAT NADIR DIAS DE FIGUEIREDO RUA VALMET, 171 - BRAZ CUBAS CEP 08740-640 - MOGI DAS CRUZES - SP Tel: (11) 4727-1777 www.sesisp.org.br/mogidascruzes

PRESIDENTE PRUDENTE CAT BELMIRO JESUS AVENIDA IBRAIM NOBRE, 585 - PQ. FURQUIM CEP 19030-260 - PRES. PRUDENTE - SP Tel: (18) 3222-7344 www.sesisp.org.br/presidenteprudente RIBEIRÃO PRETO CAT JOSE VILLELA DE ANDRADE JUNIOR RUA DOM LUÍS DO AMARAL MOUSINHO, 3465 - CASTELO BRANCO CEP 14090-280 - RIBEIRÃO PRETO - SP Tel: (16) 3603-7300 www.sesisp.org.br/ribeiraopreto

MOGI GUAÇU CAT MIN. ROBERTO DELLA MANNA RUA EDUARDO FIGUEIREDO, 300 - PARQUE RESIDENCIAL ZANIBONI III CEP 13848-090 - MOGI GUAÇU - SP Tel: (19) 3861-3232 www.sesisp.org.br/mogiguacu

RIO CLARO CAT JOSÉ FELICIO CASTELLANO AVENIDA M-29, 441 - JD. FLORIDIANA CEP 13505-190 - RIO CLARO - SP Tel: (19) 3522-5650 www.sesisp.org.br/rioclaro

OSASCO CAT LUIS EULALIO DE BUENO VIDIGAL FILHO AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 401 CEP 06233-020 - OSASCO - SP Tel: (11) 3602-6200 www.sesisp.org.br/osasco

SANTA BÁRBARA D' OESTE CAT AMÉRICO EMÍLIO ROMI AVENIDA MÁRIO DEDINI, 216 - V. OZÉIAS CEP 13453-050 - S. B. D OESTE - SP Tel: (19) 3455-2088 www.sesisp.org.br/santabarbara

SANTANA DE PARNAÍBA CAT JOSÉ CARLOS ANDRADE NADALINI AVENIDA CONSELHEIRO RAMALHO, 264 - CIDADE SÃO PEDRO CEP 06535-175 - SANTANA DE PARNAÍBA - SP Tel: (11) 4156-9830 www.sesisp.org.br/parnaiba SANTO ANDRÉ CAT THEOBALDO DE NIGRIS PÇA. DR. ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, 100 - STA. TEREZINHA CEP 09210-550 - SANTO ANDRÉ - SP Tel: (11) 4996-8600 www.sesisp.org.br/santoandre SÃO BERNARDO DO CAMPO CAT ALBANO FRANCO RUA SUÉCIA, 900 - ASSUNÇÃO CEP 09861-610 - S. B. DO CAMPO - SP Tel: (11) 4109-6788 www.sesisp.org.br/sbcampo SÃO CAETANO DO SUL CAT PRES. EURICO GASPAR DUTRA RUA SANTO ANDRÉ, 810 - BOA VISTA CEP 09572-140 - S. C. DO SUL - SP Tel: (11) 4233-8000 www.sesisp.org.br/saocaetano SANTOS CAT PAULO DE CASTRO CORREIA AVENIDA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, 366 - JD. SANTA MARIA CEP 11085-202 - SANTOS - SP Tel: (13) 3209-8210 www.sesisp.org.br/santos SÃO CARLOS CAT ERNESTO PEREIRA LOPES FILHO RUA CEL. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA SALLES, 1325 - V. IZABEL CEP 13570-900 - SÃO CARLOS - SP Tel: (16) 3368-7133 www.sesisp.org.br/saocarlos SÃO JOSÉ DO RIO PRETO CAT JORGE DUPRAT FIGUEIREDO AVENIDA DUQUE DE CAXIAS, 4656 - VL. ELVIRA CEP 15061-010 - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP Tel: (17) 3224-6611 www.sesisp.org.br/sjriopreto

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Este livro explica também como a natação se desdobrou, nos últimos anos, em novas modalidades esportivas, igualmente olímpicas. Você está convidado a mergulhar nestas águas.

PONTO

NATAÇÃO

SALTOS ORNAMENTA POLO AQUÁTICO NADO SINCRONIZAD liT

ISBN 978-85-8205-037-8

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS CAT OZIRES SILVA AVENIDA CIDADE JARDIM, 4389 BOSQUE DOS EUCALIPTOS CEP 12232-000 - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Tel: (12) 3936-2611 www.sesisp.org.br/sjcampos

SUMARÉ CAT FUAD ASSEF MALUF AVENIDA AMAZONAS, 99 - JARDIM NOVA VENEZA CEP 13177-060 - SUMARÉ - SP Tel: (19) 3854-5855 www.sesisp.org.br SUZANO CAT MAX FEFFER AVENIDA SENADOR ROBERTO SIMONSEN, 550 - JARDIM IMPERADOR CEP 08673-270 - SUZANO - SP Tel: (11) 4741-1661 www.sesisp.org.br/suzano

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REVISTAPONTO® Publicação literária e cultural Do SeSi-SP #2 abril 2o13

150 anos de

SeSi-SP eDitora av PauliSta 1313 4º anDar o1.311-923 São Paulo SP telefone 55 11 3146 7308

editora@sesisenaisp.org.br www.sesispeditora.com.br www.facebook.com/sesi-sp-editora

Uma borboleta em seu voo fugidio aproxima duas crianças, que se descobrem ao buscá-la num jogo de esconde-esconde em meio a uma cidade só delas.

CAPA-2.indd 7-9

TO DA

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Com a proximidade dos primeiros Jogos Olímpicos na América Latina, o SESI-SP documenta, pelo trabalho de fotógrafos consagrados e também de fotógrafos amadores com deficiência visual, os feitos de atletas masculinos e femininos da instituição, distribuídos em 12

Longas sombras_capa.indd 1-3

modalidades. Suas performances e conquistas são mais do que um exemplo: são um incentivo para a formação de jovens campeões para as Olimpíadas do Rio, em 2016.

ISBN 978-85-8205-096-5

9 788582 050965

O JOGO

Às vezes os armários tiva dos 150 anos do Futebol, José Eduardo deguardam Car- segredos, às vezes é a imaginação da gente que guarda segredos dentro do armário, valho faz uma análise detalhada do esporte que tem SÃO PAULO – VILA LEOPOLDINA VOTORANTIM e outras vezes temos mesmo cutias falantes, macacos, o poder de fazer o mundoCAT parar. por saposConsiderado eERMÍRIO emas dançantes em nossosFILHO quartos. Toda históCAT GASTÃO VIDIGAL JOSÉ DE MORAES alguns como uma oportunidade de ascensão soria que tem começo pode ter final a partir da imaginação, RUA CARLOS WEBER, 835 - VILA LEORUA CLÁUDIO PINTO NASCIMENTO, num de armário, escondida dentro de uma mala. cial, e por outros como um140 instrumento alienaPOLDINA -guardada JD. MORUMBI ideológica, controvérsias que CEP 05303-902ção - SÃO PAULO - SPo futebol provoca CEP 18110-380 - VOTORANTIM - SP Tel: (11) 3832-1066 (15) 3353-9200 envolvem a própria vivênciaTel: humana, a economia, a www.sesisp.org.br/leopoldina www.sesisp.org.br/votorantim política e as relações internacionais. Vanessa Prezoto vive em São Paulo. Estudou Desenho

Industrial e já trabalhou em várias agências de propa-

SERTÃOZINHO ganda e design. CAT ABBUD JOÃO DesdeNELSON pequena adorava desenhar e resolveu se dedicar a issoJOSÉ novamente depois de muitos anos trabalhando ISBN-978-85-65025-39-3 RUA RODRIGUES GODINHO, 100 como designer gráfica. CONJ. HAB. MAURÍLIO BIAGI Hoje Vanessa se divide entre os projetos de design e as CEP 14177-320 ilustrações para livros. - SERTÃOZINHO - SP 9 788565 025393 Ela ficou por ilustrar as Histórias mal contaTel: (16)superfeliz 3945-4173 das e achou muito divertido participar da imaginação www.sesisp.org.br/sertaozinho da Glória Bárbara.

ISBN 978-85-8205-024-8

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P ROVA

A disputa de dois times no teatro entre as linhas TAUBATÉ SÃO PAULO –do VILA DAS MERCÊS CAT LUIZ DUMONT VILLARES gramado pode ser encarada como uma metáfora CAT PROFESSOR BENEDITO daCARLOS própriaPASQUALE vida: a luta diáriaRUA de VOLUNTÁRIO cada um de nós pela SÉRGIO, RUA JÚLIO FELIPE GUEDES, 138à custa de esforço 710 - B.e ESTIVA sobrevivência sacrifício, e tamCEP 04174-040 - SÃO PAULO - SP 12050-470 - TAUBATÉ - SP bém de muita criatividade eCEP esperteza. Tel: (11) 2946-8172 Tel: (12) 3633-4699 Em O JOGO, livro que abre a coleção comemorawww.sesisp.org.br/merces www.sesisp.org.br/taubate

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TATUÍ CAT WILSON SAMPAIO AVENIDA SÃO CARLOS, 900 - B. DR. LAURINDO CEP 18271-380 - TATUÍ - SP Tel: (015) 3205-7910 www.sesisp.org.br/tatui

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SÃO PAULO – IPIRANGA CAT ROBERTO SIMONSEN RUA BOM PASTOR, 654 – IPIRANGA CEP 04203-000 – SÃO PAULO – SP Tel: (11) 2065-0150 www.sesisp.org.br/ipiranga

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150 ANOS DE FUTEBOL

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SÃO PAULO – CATUMBI CAT ANTONIO DEVISATE RUA CATUMBI, 318 - BELENZINHO CEP 03021000 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2291-1444 www.sesisp.org.br/catumbi

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SOROCABA CAT - SEN JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES RUA DUQUE DE CAXIAS, 494 - MANGAL CEP 18040-425 - SOROCABA - SP Tel: (15) 3388-0444 www.sesisp.org.br/sorocaba

#2 abril 2O13

SÃO PAULO – AE CARVALHO CAT MARIO AMATO RUA DEODATO SARAIVA DA SILVA, 110 PQ. DAS PAINEIRAS CEP 03694-090 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2026-6000 www.sesisp.org.br/carvalho

fazer é pensar

POLO AQUÁTICO & NADO SINCRONIZADO

primórdios da humanidade se transformaram em um esporte de alto rendimento, em que campeões, como o fenomenal Michael Phelps e o brasileiro Cesar Cielo, estabelecem recordes e marcas espetaculares que valem de ouro, prata e bronze.

OLHA

JOSÉ ED PR


Vela, Remo & Canoagem resgata a história da navegação esportiva. Afinal, competir a bordo de um veleiro, de um barco a remo ou de um caiaque nada mais é do que se integrar com o elemento que ocupa três quartas partes do planeta. Nós, brasileiros, vivemos em um país das águas. A costa tem 8.500 quilômetros, metade dos quais navegáveis. Em 21 mil quilômetros da rede hidrográfica, poderiam circular milhares de embarcações.

AÇÃO PONTO

a, remo & canoagem

fazer é pensar

Quando percebeu que uma folha côncava e de bico fino era levada pelas águas com mais rapidez do que qualquer objeto achatado e quadrado, o homem descobriu a navegação. Mares e rios foram protagonistas na construção de nações e culturas, funcionaram como vias de transporte e rotas de desenvolvimento, uniram e separaram povos. Dominar as águas tornou-se sinônimo de poder, prova do desenvolvimento da espécie, até que o homem descobrisse que navegar também é um prazer, é lazer e competição. É esporte.

fazer é pensar

AMENTAIS, QUÁTICO & Ao navegar conosco por estas páginas, você entenderá Construindo Casas e móveis por que o Brasil, que já conquistou tantas medalhas olímpicas RONIZADO liTeraTura iNfaNTil: com a Vela, poderá ser uma potência olímpica se associar

C l aud i o d e M o u ra Cas t ro

a cultura náutica ao esporte. aPenaS Para menoreS?

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Vela,

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remo & canoagem

o teatro De reviSta braSileiro a memÓria DO esPleNDOr

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LONGAS SOMBRAS

de FUTeBoL

Cris Eich

Cris Eich

#2 abril 2O13

#2 abril 2O13

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07/05/13 18:39

O L H A R

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O JOGO

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JOSÉ EDUARDO DE CARVALHO PREFÁCIO TOSTÃO

Em apenas dois anos de história, a SESI-SP Editora e a SENAI-SP Editora já produziram grandes feitos. Em números, foram mais de 100 títulos distribuídos em diversas coleções que compõem seus respectivos catálogos; em palavras, o conteúdo de qualidade de nossos livros que têm o compromisso de contribuir para a formação de um leitor diferenciado e bem informado.

Claudio Fragata nasceu em Marília, no interior de São Paulo, em 1952, mas mora na capital desde os 17 anos. Formado em jornalismo, trabalhou como editor em revistas como Galileu e Recreio e criou o projeto editorial dos Manuais da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. Já escreveu vários livros para crianças e jovens, entre eles Zé Perri: a passagem do Pequeno Príncipe pelo Brasil; Uma história bruxólica; Adorada; As filhas da gata de Alice moram aqui, e Jura? Hoje, além de escrever livros e dar aulas, ainda arruma tempo para cuidar dos gatos Sofia e Fellini e também de um pé de ipê branco que ele pretende ver dando flor em cinco anos.

www.senaispeditora.com.br

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400

O Humor Paulistano e a experiĂŞncia da Circo Editorial 1984-1995


Ilustração de Laerte – detalhe da HQ, A noite é uma criança estúpida e malcriada, 403 Revista Piratas do Tietê 7 de Laerte, dezembro de 1990.

O Humor Paulistano e a experiência da Circo Editorial 1984-1995


Ilustração de Glauco – capa da revista Geraldão 5, fevereiro de 1988


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20/08/13 15:05


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