Revista Ponto #6 - JUN 2014

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PONTO

O BRASIL NA COPA DO MUNDO EM 1950 E EM 2014 AS FEIRAS DE LIVROS COMO VITRINE DE PRODUÇÃO LITERÁRIA CONVERSA COM LUIZ VILELA 50 ANOS DO TEATRO POPULAR DO SESI ESPECIAL 19º CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL

REVISTA PONTO® PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DO SESI-SP #6 JUNHO 2O14 SESI-SP EDITORA AV. PAULISTA 1313 4º ANDAR O1311-923 SÃO PAULO SP TELEFONE 55 11 3146 7308

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Na página anterior, ilustração de André Letria para o livro Domingo vamos à Luz, de José Jorge Letria, lançamento da SESI-SP Editora.

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P O N T OD E P A RT I D A

Entendendo o futebol como um fenômeno sociológico intrinsecamente ligado à nossa formação cultural, no mês da copa convidamos o jornalista Roberto Muylaert para escrever sobre as Copas de 1950 e de 2014. Ele nos mostra as diferenças e semelhanças desses dois momentos de nossa história, repletos de matizes sociais e políticos, do comportamento das torcidas aos bastidores culturais dessas épocas, separadas por mais de seis décadas, além de levantar o número sobre a polêmica reforma do palco principal dessas duas copas, o estádio do Maracanã. Ainda na esteira do futebol, convidamos para a seção Ponto do Conto deste número o escritor, editor e, reza a lenda, o melhor boleiro das letras nacionais, o paranaense Rogério Pereira. O entrevistado da sexta edição da Revista Ponto é o premiado escritor mineiro Luiz Vilela, que nos conta sua trajetória, permitindo que conheçamos um pouco mais sobre o mestre dos diálogos. O último título a engrossar sua vasta bibliografia acaba de ser lançado pela SESI-SP Editora, A feijoada e outros contos, que tem a condição humana como fio condutor dos 13 contos em uma escrita leve, direta e rápida. O livro comporá a coleção Quem lê sabe por quê, na sua vertente juvenil e vai ajudar a fomentar a leitura entre os jovens do ensino médio. Ainda para incitar a literatura temos uma surpresa neste número: um espaço destinado a contistas estreantes que apresentam textos maduros o bastante para publicação, autores em formação profissional que buscam um espaço dentro do tumultuado mercado editorial. O mercado editorial ganhou justamente espaço nesta edição: temos uma matéria sobre a importância das Feiras de Livros, como a 23a Bienal de São Paulo em agosto, e outra sobre o crescente, curioso e cheio de possibilidades mercado de audiolivros. Em linha com a parceria que a SESI-SP Editora tem com a Associação de Leitura do Brasil, trazemos nesta edição, que circulará no 19o Congresso de Leitura do Brasil (Cole), um resgate dos congressos anteriores e uma análise dos caminhos da educação e leitura no país. O Teatro Popular do SESI, que completa 50 anos, será destaque nesta e nas edições subsequentes. Cada número trará alguma reportagem para mostrar a importância desse espaço na formação do teatro brasileiro. Para abrir essa seção colhemos depoimentos de alguns dos atores que fizeram parte da história do teatro e contribuíram para seu sucesso. Aproveitem esta edição!

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#6 JuNhO 2O14

A REVISTA PONTO® É UMA PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DA SESI-SP EDITORA, COM EDIÇÕES TRIMESTRAIS

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Capa Fotografia de Thomaz Farkas — Acervo Instituto Moreira Salles.

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REVISÃO

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JORNALISTA RESPONSÁVEL

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PROJETO GRÁFICO ORIGINAL viceNTe gil DesigN

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06 estante de livros lançamentos 10 ponto Entrevista luiz vilela fala de sua vida e obra 20 Ponto mercado Feira de Livros: do físico ao digital, em constante evolução 28 ponto especial COPA DO MUNDO 1950 X 2014 40 TEATRO POPULAR Teatro do Sesi-SP: Há cinquenta anos levando cultura e arte à população brasileira 50 SELO AUDIOVISUAL AUDIOLIVRO: UM MERCADO AINDA A SER EXPLORADO 68 ARTIGO Patrocínio empresarial levado a sério 74 PONTO DO CONTO mãos vazias, POR ROGÉRIO PEREIRA 82 PONTO DO NOVO CONTO por mahana cassiavillani 86 ao pé da letra POR ARNALDO NISKIER 92 EVENTOS DAs EDITORAs LANÇAMENTOS 96 AGENDA CULTURAL PROGRAMAÇÃO GALERIA DE FOTOS UNIDADES DO SESI

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EstANtE dE livrOs

C rô n i C a s de C ava l e i ro s e dr ag õ e s

Crôn ic a s de c ava le i ros e dr ag ões o tesouro dos n ib e l un g os

Paulo Rogério Lopes

Paulo Rogério Lopes

HumOr PaulisTaNO TONINHO MENDES

crôNicas De cavaleirOs e Dragões – O TesOurO DOs NibeluNgOs

a revOluçãO DOs ebOOKs EDNEI PROCÓPIO

PAULO ROGÉRIO LOPES

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Suas publicações consagraram personagens marcantes dos quadrinhos: o militante de esquerda, o machista inveterado, o roqueiro drogado, o punk contestador, o casal neurótico, a secretária ninfomaníaca, os homens solitários, todos que entraram, e ainda permanecem, em nosso imaginário e na história do humor brasileiro. Este livro conta a trajetória dos 30 anos da Circo Editorial, editora de histórias em quadrinhos criada por Toninho Mendes nos anos 1980, que consagrou nomes como Angeli, Laerte, Glauco, Chico e Paulo Caruso, Luis Gê, entre outros.

Mestre da transformação da oralidade em escrita, Tatiana Belinky lançou, em 1994, o livro “A Saga de Siegfried – O Tesouro dos Nibelungos”, apresentando às crianças e adolescentes brasileiros os seres imaginários e mágicos que lembrava ouvir ainda criança. Fascinado não só pela escritora, mas por esta, que é uma das mais marcantes fábulas medievais do mundo, o autor adaptou a linguagem e escreveu o texto do espetáculo “Crônicas de Cavaleiros e Dragões – o Tesouro dos Nibelungos”, que foi exibido no Teatro do SESI-SP em 2013.

Aos que desejam conhecer mais sobre a história e o futuro dos livros face à revolução causada pela internet, esta publicação desmistifica o tema, usando conceitos básicos que ajudarão os interessados a explorar o que o especialista considera um cenário único de oportunidades, e que ocorre em um momento histórico, de perda da hegemonia do mercado editorial mundial sobre o processo de publicação e exploração comercial dos livros.

COM É DI A S U R BA NA S Leonardo Cortez

Com édi as u r ba nas Leonardo Cortez

ISBN 978-85-8205-291-4

9 788582 052914

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150 aNOs De fuTebOl – faNTasia

150 aNOs De fuTebOl – geNTe

cOméDias urbaNas

JOSÉ EDUARDO DE CARVALHO

JOSÉ EDUARDO DE CARVALHO

LEONARDO CORTEZ

O futebol é uma atividade de grande apelo emocional e fonte de variadas experiências estéticas. Em destaque, há a beleza pura do corpo humano em movimento, que evoca coreografias e encontra paralelos nas artes visuais. Há também os tipos humanos, que inspiram personagens na literatura e no cinema. E a música é “irmã de sangue”, celebrando conquistas, exaltando equipes e documentando emoções. É esta conexão especial entre esporte e manifestações artísticas que constrói o imaginário do futebol e cria condições para que ele seja percebido, para além da razão, como vivência mística.

Inúmeros recursos têm de ser mobilizados para o espetáculo do futebol acontecer. Mas, acima de tudo, o futebol precisa de gente. Este volume da série 150 anos de futebol analisa todos os personagens desse espetáculo que acelera corações e mentes. Há os protagonistas elementares, jogadores e torcedores, que estão sempre no foco da cena. Mas há também coadjuvantes. Todos eles juntos fazem a roda girar.

O livro reúne quatro textos do dramaturgo paulistano: “Maldito benefício”, “Rua do medo”, “O rei dos urubus” e “Escombros”, encenadas entre os anos de 2005 e 2013. Ao deixar de lado as correntes experiências formais com a linguagem, ou com os processos de constituição da cena, Cortez resgata a tradição da comédia de costumes e se afirma como um crítico feroz da degradação moral que, no âmbito da classe média brasileira, insidiosamente corrói as relações e as atitudes.

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lAnÇAMEnTos

cabeça Oca, cabeça seca FRANCO VACCARINI Classificação indicativa: Leitor em processo (de 8 a 9 anos)

Este livro, publicado em edição bilíngue tupi-guarani/português, é baseado nas lendas que se contam sobre o Caipora ou Curupira, um personagem menino da selva amazônica que persegue os caçadores que se deixam levar pela ambição, interpretadas com liberdade e respeito pelo autor e ilustrador. A cultura tupi-guarani foi incorporada na linguagem cotidiana dos latino-americanos por meio de sabores, cores e personagens. Poucos sabem que quando dizem jacaré, tucano, piranha, maracujá ou mandioca estamos falando a língua tupi-guarani.

a NaTureza NO PrOcessO De DesigN e NO DeseNvOlvimeNTO DO PrOjeTO EDUARDO DIAS

A relação entre o homem e a natureza existe desde os primórdios da existência humana quando a maravilha do meio ambiente despertou a necessidade e a vontade de decifrá-lo, se apropriar dele e passar a utilizá-lo em proveito próprio. Nesta obra, o autor nos oferece uma visão dessa relação apropriada pela arte e pela técnica a partir de muita observação e análise de suas características essenciais.

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O caPiTãO PaNfíliO ALEXANDRE DUMAS Classificação indicativa: Leitor crítico (a partir dos 12 ou 13 anos)

Típico pirata romanesco que vai transitando com ímpeto de uma aventura para outra, capitão Panfílio passa por cima de quem atravessa seu caminho. Às vezes, buscando minimamente sobreviver, pode se fingir de humilde e submisso ou, em busca de um bom negócio, pode se valer de sedução e civilidade. Mas, em boa parte das vezes, sua arrogância não tem limite e seu argumento nada sutil é um canhão instalado na proa do navio. O ritmo das aventuras aqui narradas é acelerado, divertido e instigante, com as voltas e reviravoltas do romance do século XIX.

O caDerNO vermelHO Da meNiNa KaraTeca ANA PESSOA Classificação indicativa: Leitor crítico (a partir dos 12 ou 13 anos)

Esta publicação é sobre uma garota de 14 anos, a N (a segunda letra de seu nome), que começou a escrever um diário, mas não um diário qualquer. Em seu caderno vermelho, ela escreve histórias reais ou inventadas, sobre a escola, os amigos, as aulas de karatê e sobre seu maior sonho, que é ser faixa-preta. Esta é a primeira obra de Ana Pessoa, que venceu o prêmio Branquinho da Fonseca — Expresso/Gulbenkian, na modalidade juvenil.

TesOurO Das favas e flOr Das ervilHas CHARLES NODIER Classificação indicativa: Leitor crítico (a partir dos 12 ou 13 anos)

Os contos deste livro são parte de uma busca por uma filosofia de vida em que a imaginação deve ter papel fundamental, por isso são repletos de fantasia. Mas não se trata da fantasia sobrenatural de boa parte da obra de Nodier, e sim de uma fantasia sutil, mostrando um ser humano adorável, mesmo com suas imperfeições, e que busca, nas relações, o tom amável, puro e delicado. A dedicação e o respeito pelo outro permeiam as relações humanas nesta narrativa leve, agradável e instigante. Porém, em vez de criar ansiedade, ela acalma e alivia nossa percepção do mundo e das coisas.

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O maiOr lugar DO muNDO GUGA SHULTZE Classificação indicativa: Leitor em processo (de 8 a 9 anos)

Em um final de verão, acontecem as descobertas de uma menina e seu cãozinho em uma praia deserta: procurando bichos, encontrando conchas, escrevendo na areia, conhecendo as gaivotas e... superando a tristeza. Com ilustrações pra lá de requintadas, Guga Schultze, que também é o autor desta obra, nos apresenta e revela a história dessas grandes aventuras.

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Em sua segunda edição, Prata da Casa é uma série das Editoras SESI-SP e SENAI-SP que estimula a produção técnica, literária e acadêmica de professores e técnicos da rede SESI-SP e SENAI-SP. Os trabalhos submetidos são selecionados conforme critérios técnicos e servem como um estímulo à produção intelectual e literária dos funcionários, bem como o reconhecimento de seus talentos.

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lAnÇAMEnTos

PRATA DA CASA

aPlicaçãO De amôNia em sisTemas De refrigeraçãO iNDusTrial

ciêNcia e cOmuNicaçãO eNTre fausTO e fraNKeNsTeiN

MARCOS GREGÓRIO DA SILVA

ALEXANDRE DIAS PAZA

Esta publicação traz aspectos técnicos utilizados nos sistemas de refrigeração que explicam o uso de amônia nas instalações de refrigeração industrial, onde é muito utilizada devido ao seu custo-benefício, acessibilidade e facilidade de manutenção.

Analisar as trajetórias da Ciência da Comunicação, debater sobre as bases epistemológicas do discurso e discutir os limites da superação de um pensamento europeu, ainda com vitalidade, são alguns dos objetivos desta obra, que surgiu da necessidade de contextualizar os estudos de comunicação fixados como Ciência.

DissemiNaçãO seleTiva Da iNfOrmaçãO cOm fOcO em NegóciOs Para a área auTOmOTiva DANILA RODRIGUES BARRETO

O DeclíNiO DOs riTOs De Passagem e suas cONsequêNcias Para Os jOveNs Nas sOcieDaDes cONTemPOrâNeas PAULO ROGÉRIO BORGES

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requisiTOs e resTrições Na mODelagem (caD) De suPerfícies cOmPleXas Para O fresameNTO em 5 eiXOs simulTâNeOs, cOm aPlicaçãO em TurbOmáquiNas FABIANA ELOISA PASSADOR

A informação é uma importante base para a tomada de decisão, tanto gerencial como operacional, e otimizá-la trará inúmeras vantagens ao ambiente empresarial. Este livro trata da Disseminação Seletiva da Informação (DSI) com foco em negócios para a área automotiva, e aborda, de forma clara e objetiva, a experiência de implantação do serviço em empresas automotivas.

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Há momentos cruciais pelos quais todos os seres humanos passam, como ruptura com situações preestabelecidas, transição de uma situação social e econômica para outra, mudanças físico-biológicas, entre outros momentos que aos olhos da antropologia são definidos como “ritos de passagem”. Esta obra aborda o declínio desses ritos e os impactos causados na formação dos jovens.

No fresamento em 5 eixos simultâneos, descontinuidades geométricas nas superfícies fazem com que a operação de usinagem transcorra de maneira brusca, ficando sujeita a solavancos, deformações na peça e até trazendo o risco de colisão. Este livro analisa restrições e requisitos nas construções CAD para a fabricação de peças com superfícies complexas.

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LUIZ VILELA fala de sua vida e obra

Arquivo pessoal de Luiz Vilela

Para fugir das perguntas a que um escritor está acostumado a responder (não de todas, é verdade) e também para poupar o escritor Luiz Vilela de repetir as respostas que já deu inúmeras vezes ao longo de sua carreira, a Revista Ponto optou por lhe fazer as perguntas a partir de algumas de suas respostas.

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Numa resumida apresentação, Luiz Vilela nasceu em 1942, em Ituiutaba, Minas Gerais, cidade onde atualmente reside. É formado em Filosofia, pela Universidade Federal de Minas Gerais, e foi redator e repórter do Jornal da Tarde, de São Paulo. Adaptado para o cinema, o teatro e a televisão, e traduzido para várias línguas, Vilela é autor de 15 livros, todos de ficção: romances, novelas e contos, além de mais de uma dúzia de antologias de seus contos. Seu romance Perdição, publicado em 2011, recebeu o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2012.

O mineiro Luiz Vilela em seu mais recente retrato.

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Criado numa família em que todos, seus pais e irmãos, liam muito e cada um tinha a sua biblioteca, você disse que sentia tanta vontade de ler, que aprendeu a ler sozinho. Você preferia os livros aos brinquedos?

Não, não havia preferência. Eu gostava muito de ler e gostava muito de brincar. Eu brinquei de tudo o que um menino de meu tempo podia brincar. Quanto aos livros, eu li, naturalmente, os adequados à minha idade. Você disse que leu também pilhas de histórias em quadrinhos...

Pilhas, a palavra é essa. Das infantis, com o Pato Donald, Pernalonga e outros, às juvenis, com o Capitão Marvel, Zorro e outros, chegando, mais tarde, às histórias de terror e, em outro nível, à Edição Maravilhosa, na qual tomei contato, pela primeira vez, com alguns clássicos da literatura mundial, como Moby Dick .

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Quando você começou a escrever, aos 13 anos, você escrevia para você mesmo ou já pensava nos leitores?

Eu já pensava nos leitores, pois, nessa idade, eu não só comecei a escrever, como também a publicar. Minha primeira publicação se deu num jornal de estudantes, que eu ajudei a criar, A Voz dos Estudantes. Nele publiquei um pequeno artigo com o título de “A boa leitura”. Lá, eu dizia: “As vantagens da boa leitura são variadíssimas e todas excelentes: dissipa as mágoas, eleva o espírito, ensina a ortografia e a construção de frases”. Falou, no caso, quem podia, pois, no fim do ano, eu anotei num pequeno diário a relação dos livros que eu lera naquele ano: 29 livros — de As aventuras de Sherlock Holmes, de Conan Doyle, à Autobiografia, de Benjamin Franklin, passando por vários de Malba Tahan e incluindo Como evitar preocupações e começar a viver, de Dale Carnegie, um dos maiores sucessos mundiais da época... Aos 14 anos você publicou, pela primeira vez, um conto, num dos jornais da cidade...

Sim. Foi no Correio do Pontal. O conto se chamava “Escola de roça” e falava de uma escola rural que, por ordem do governo, ia ser fechada para dar lugar à construção de uma fábrica de laticínios. A medida causa grande tristeza nos alunos e, de desgosto, leva à morte o velho professor. Lembro-me que eu não parti de nenhum fato, o conto foi pura imaginação minha. Agora, quase 60 anos

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depois, leio, na Folha de S.Paulo, uma reportagem de página inteira sobre as escolas rurais. O título: “País fecha oito escolas por dia na zona rural”. Você contou que nesse mesmo ano seu professor de português no ginásio escreveu na margem de sua redação, feita na sala de aula, numa prova: “Você tem pinta de bom escritor”.

É. Como já contei também em outras oportunidades, no ano seguinte, em Belo Horizonte, para onde fui, na continuação de meus estudos, outro professor de português, no colégio, comentando também uma redação minha, também feita na sala de aula, numa prova, disse que ela estava “um colosso” e que havia anos que ele não lia uma redação como aquela. É fácil imaginar o efeito que tais comentários tiveram sobre o jovem escritor. Aliás, as redações foram, na verdade, dois pequenos contos que eu escrevi na hora, de improviso. Tanto que o primeiro deles, eu, com algumas pequenas alterações, publicaria pouco depois num jornal. O segundo ficou no colégio, mas dele eu me lembro perfeitamente: uma professora, na sala de aula, pinta, com cores sombrias, o vício do fumo, e um dos alunos fica impressionado; um dia, por acaso, numa festinha, ele a vê pitando tranquilamente seu cigarrinho...

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Seguindo a sua trajetória, você, aos 15 anos, se tornou colaborador do principal jornal de sua cidade, a Folha de Ituiutaba ...

Isso. Eu mandava semanalmente, de Belo Horizonte, uma crônica para o jornal, sobre os mais variados assuntos. Cheguei a publicar nele 11 crônicas. No final, eu ainda publiquei dois contos. Foi uma fase muito importante no meu aprendizado de escritor. Recusado pelos editores, você, em 1967, aos 24 anos, publicou à própria custa seu primeiro livro, de contos, Tremor de terra. Em seguida o enviou a um concurso literário, em Brasília, e ganhou o Prêmio Nacional de Ficção, na época o maior prêmio literário do país, derrotando 250 escritores, entre os quais vários consagrados. Olhando hoje para trás, você faria a mesma coisa?

Claro, claro que eu faria, não só porque publicar um livro era então o meu maior sonho, mas também por tudo de bom que em seguida e pelos anos afora aconteceu com o livro que eu publiquei: críticas, cartas, traduções, adoções,

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adaptações e sobretudo novas edições. A propósito, quando saiu uma destas, a 3 , em 1973, como eu dispunha de alguns exemplares, resolvi mandá-los para algumas figuras ilustres de nossas letras. Delas, só uma me respondeu, agradecendo: Clarice Lispector. Ela o fez por meio de um telegrama: “Obrigada livro ótimo. Peço escrever-me”. Escrevi? Não, não escrevi — mas isso já é outra história...

Arquivo pessoal de Luiz Vilela

Telegrama que o escritor recebeu de Clarice Lispector, em 1973.

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Arquivo pessoal de Luiz Vilela

Cartão que Carlos Drummond de Andrade enviou a Luiz Vilela, em 1973.

A que você atribui o seu domínio literário para ter sido premiado com o livro de estreia?

O domínio, em qualquer área, se adquire com a prática. Foi o meu caso. Tendo começado a escrever aos 13 anos, eu tinha atrás de mim dez anos de trabalho, de dedicação absoluta à literatura. Não foi, portanto, sem razão, que

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várias pessoas comentaram na época que o livro nada tinha de um estreante. Hoje, mais de meio século depois, e tendo atravessado incólume todo esse tempo, o Tremor já é, por muitos, considerado um clássico.

Lançamento do Tremor de terra, Belo Horizonte, 1967.

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Você ganhou depois, com outro livro de contos, O fim de tudo , publicado em 1973, o Prêmio Jabuti de melhor livro de contos do ano. O que esse prêmio significou para você?

Ganhar um prêmio como o Jabuti significou muito, é claro. Mas, semelhante ao que acontecera com o Tremor, uma das coisas que mais alegria me deu com a publicação do Fim foi um cartão que recebi do Carlos Drummond de Andrade. Três anos antes, quando eu publicara meu terceiro livro, Tarde da noite, ele já me havia escrito uma cartinha simpática, chamando os meus contos de “sempre novos, que deixam marcas no leitor”, e seis anos depois me mandaria um cartão agradecendo o Lindas pernas, “que mantém a qualidade de sua oficina de contista”. Quanto ao Fim de tudo, depois de agradecer pelo livro, que eu lhe enviara, ele disse sobre um dos contos: “Achei ‘A volta do campeão’ uma obra-prima”. Você está nas principais antologias de contos, entre as quais

O conto brasileiro contemporâneo , organizada por Alfredo

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Bosi, e Os cem melhores contos brasileiros do século, organizada por Ítalo Moriconi. Você se sente reconhecido com essas escolhas dos críticos?

Sim. Ser incluído numa antologia é, para um autor, uma das mais importantes formas de reconhecimento. Aliás, para nós, escritores brasileiros, qualquer forma de reconhecimento é muito importante, já que vivemos num país em que nossos livros, para usar a imagem popular, parecem valer menos que o cocô do cavalo do primo do bandido. Você costuma se surpreender com as interpretações de suas narrativas?

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Sim, mas infelizmente, de forma negativa. É raro, muito raro, que a interpretação de alguma coisa minha me satisfaça por completo. Já não falo das interpretações dos críticos ou das interpretações dos acadêmicos, mas das interpretações do leitor comum mesmo. Você tem, entre os seus livros, algum preferido?

Não, não tenho. Eu gosto igualmente de todos. O que não impede, é claro, que as pessoas que me lerem gostem mais de uns do que de outros, ou até que não gostem de nenhum. Alguns anos depois de trabalhar como redator e repórter no

Jornal da Tarde, você publicou o romance O inferno é aqui mesmo, baseado nele. O livro causou muita polêmica, principalmente entre os seus antigos colegas de redação...

Sim, houve isso. Relendo recentemente, em meus arquivos, alguns recortes da época, dei com um, de um jornal de Florianópolis, que diz que o livro “está sendo lido com avidez para se descobrir quem é quem”. No mesmo dia, no próprio Jornal da Tarde, um crítico sentenciava: “Este não é um romance. É uma vingança pessoal cheia de chavões”. Não foi ele o único a falar mal do livro, outros também falaram, mas a maioria falou bem, o Inferno teve nova edição e algum tempo depois foi publicado pelo Círculo do Livro. Quanto à “vingança”, volto a dizer aqui o que eu desde então sempre disse: que o livro não é uma vingança contra ninguém nem contra nada, e que eu guardo de meus tempos no jornal as melhores lembranças. Por fim, e mudando o foco, agora que o jornal acabou e que alguns jornalistas que nele trabalharam já morreram, não seria a

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hora de alguém começar a pensar em escrever a sua história? Mas que o livro não seja um livro chato, pois chato é tudo o que o JT não era. Você se formou em filosofia: por que escolheu esse curso?

Meus pais eram formados, quatro de meus irmãos já haviam se formado e um estava para se formar. Então eu, o caçula dos seis filhos, para não fazer feio, me senti obrigado a me formar também. Meu interesse era então, como até hoje é, unicamente a literatura. Mas, como eu gostava muito de ler filosofia e como também, dos cursos à minha escolha, o de Filosofia me parecia o menos chato, eu escolhi o curso de filosofia. A propósito, algumas informações biográficas que circulam a meu respeito dão-me como filósofo. Eu não sou filósofo. Sou apenas um bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas Gerais, atual Universidade Federal de Minas Gerais, turma de 1964. Turma, para ser preciso, de duas pessoas: eu e uma moça. Outro detalhe: cancelada, por ordens superiores, a solenidade de formatura (da qual, de qualquer modo, eu não tinha nenhuma intenção de participar), o bacharel nem se dignou depois a pegar o seu diploma, que deve estar hoje mofando em algum escaninho da universidade, se é que já não virou cinza...

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Conhecido como mestre dos diálogos, você revelou que os lê em voz alta para você mesmo, a fim de perceber se eles soam naturais...

Eu aprendi isso com Flaubert, ao ler, ainda na adolescência, uma pequena biografia dele. Não são apenas os diálogos que eu leio em voz alta, é todo o texto, mesmo quando se trata de um texto longo, como foi o caso de meu romance Perdição, de 400 páginas. Eu o li em voz alta, de ponta a ponta, página por página. Não de uma só vez, evidentemente, mas ao longo dos dez anos que eu levei para escrevê-lo. E a leitura em voz alta de seus textos para o público, nesses encontros literários, ela o atrai?

Sim, atrai, eu gosto muito. Já fiz várias leituras em diferentes cidades do Brasil e também do exterior, como a Cidade do México e Berlim, para citar duas delas. Algumas de minhas leituras foram gravadas e podem ser encontradas na internet. Há também um CD do Instituto Moreira Salles, da série “O escritor por ele mesmo”, em que leio textos meus.

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os jogadores, o que leva a crer que nem todos tiveram as mesmas atribulações. Claro que, hoje, o controle de quem pode ter contato com a seleção é rigoroso, mas ninguém impede os jogadores de assistir à TV, o que traz as expectativas ampliadas pela imprensa para dentro da própria concentração. A conclusão de todos esses argumentos comparativos é que assim como a Copa de 50 foi um sucesso total, mesmo sem a vitória do Brasil, a de 2014 também será, com a diferença de que, naquele longínquo 1950, o Brasil era um país rural, onde reinava o café, gerador de divisas, mas sem uma infraestrutura que ligasse nem mesmo o Sudeste com o Nordeste, onde a única opção era ir de barco, os chamados Ita. E segundo o dramaturgo Nelson Rodrigues, havia no país o “complexo de vira-latas”, porque o brasileiro achava que não tinha possibilidade de ganhar nada numa competição internacional. Em 2014, o “vira-latas” se transformou num cão de raça futebolístico, que entra na Copa como o país com o maior número de títulos mundiais, cinco. Uma derrota (Deus nos livre!) não teria impacto sobre o orgulho nacional. Muito distante da tragédia de 50.

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O estádio jornalista Mário Filho, o Maracanã, em partida realizada em dezembro de 2013.

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ria que se compare a uma criação de galinhas”. Você se imagina um dia dizendo uma frase dessas?

Que minhas vacas, se algumas delas ainda existirem em algum lugar, não vejam nisso uma ingratidão de minha parte, mas acho que eu não chegaria a dizer uma frase assim. Dizê-la seria negar tudo o que eu fiz e fui ao longo da vida, não é mesmo? Mas, falando em vacas e no meu amigo Raduan, em 1983 escrevi a ele uma carta, contando de alguns problemas com meus editores. Ele me respondeu contando também de alguns problemas com os editores dele. Então contou que perdera, no sítio, dois garrotes, pela ingestão de uma erva venenosa. E comentou: “A morte desses boizinhos me dói mais que saber que meus livros não estão nas livrarias”.

Arquivo pessoal de Luiz Vilela

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Luiz Vilela em seu sítio, em 1984.

Uma antologia de seus contos, A feijoada e outros contos , acaba de ser lançada pela SESI-SP Editora. O que você poderia dizer sobre ela?

O que eu poderia dizer é que para ela eu fiz, entre todos os meus livros de contos publicados até hoje, uma cuidadosa seleção pensando sobretudo no jovem leitor da coleção Quem lê sabe por quê.

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Feira de Livros: do físico ao digital, em constante evolução

Foto: divulgação Bologna Children's Book Fair

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Um lugar, um produto e um mesmo objetivo: explorar as múltiplas possibilidades mercadológicas do livro. É por meio das feiras de livros que isso acontece, pois são nelas que os agentes da cadeia produtiva compartilham experiências, informações e tendências. O mercado editorial se transformou, especialmente com o avanço tecnológico, mas as feiras de livros não perderam sua importância e continuam sendo a principal vitrine para a produção literária em escala local e global. Visitantes conferem as novidades da Feira do Livro Infantil de Bolonha.

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Foto: divulgação Frankfurt Book Fair/Marc Jacquemin

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Antes de chegar às prateleiras das lojas ou à estante do leitor, o objeto livro passa por uma série de etapas. Primeiro, o autor transforma a ideia em texto. Depois, os agentes literários levam o material para a editora que publicará a obra, seguindo para impressão, distribuição, comercialização e, finalmente, chegando ao alcance do consumidor. Os responsáveis por fazer esse círculo virtuoso operar, no entanto, agem de maneira isolada e independente - e o principal lugar para fazê-los conversarem entre si é por meio das feiras de livros. Atualmente, existe pelo menos uma feira dedicada ao setor em cada continente, o que ilustra a imensidão desse mercado. E elas seguem uma estrutura que não se difere muito a das realizadas para outros setores: o objetivo é atrair todos os profissionais envolvidos na cadeia produtiva e promover uma interação entre eles. Negociações comerciais e de serviços, que abrangem o trabalho de produção e venda do livro e de direitos autorais, conhecimento de novas tecnologias, oportunidades de negócios, distribuição, contato com clientes e fornecedores são alguns dos motivos que aproximam editores, livreiros, agentes literários, entre outros profissionais nesses eventos. O consultor editorial Carlo Carrenho, que também é fundador do site PublishNews, especializado no setor, define as feiras de livros como “um grande market place”. “É um lugar onde você dá um aspecto humano às conversas de indústria, principalmente na parte de venda e compra de direitos, que foram realizadas só por e-mail o ano inteiro. A indústria se encontra e estuda tendências e o que estão produzindo em outros lugares no mundo. Acredito que essa é a grande importância de uma feira de livros para o mercado editorial”, afirma. A gerente executiva do Brazilian Publishers - projeto da Câmara Brasileira do Livro em parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) -, Dolores Manzano, destaca as vantagens para quem expõe. “São espaços privilegiados, onde as editoras podem mostrar o melhor de sua produção e conhecer as tendências do setor, além da participação em fóruns e mesas de debates. Mas, primordialmente, são neles que acontecem os negócios. O contato pessoal com os diversos profissionais e representantes dos mercados e das empresas já prospectados ou não é muito rico, pois é nesses bate-papos que todo tipo de dúvidas são esclarecidas”, sublinha Manzano. Na Inglaterra, um dos grandes mercados globais para o setor editorial, a Feira do Livro de Londres que chegará, em 2014, a sua 43 edição, tem um caráter essencialmente mercadológico. São mais de 25 mil visitantes pro-

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fissionais das áreas de criação, distribuição, venda e tratamento de conteúdo de mais de 100 países. Os expositores dessa feira são desde gigantes do setor até as independentes, passando também pelos produtores de livros infantis e as chamadas graphic novels. No total, são mais de mil empresas que, juntas, representam 50 países em 25 pavilhões internacionais. Esse viés mercadológico, no entanto, vem cedendo um pouco de espaço para aqueles que são diretamente afetados pelas movimentações da indústria: os leitores. Os exemplos estão por toda parte. Nos Estados Unidos, a BookExpo America (BEA) – maior evento editorial daquele país – destinou seu último dia para a visitação do público em geral. Incluindo os profissionais do setor, foram 20 mil pessoas que prestigiaram o evento. Realizada no ano passado, a edição contou com mais de mil expositores, sendo que 272 deles vieram de outros países.

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Em 2013, o estande brasileiro na Feira do Livro de Frankfurt ficou repleto de leitores de todas as idades.

Realizada na Alemanha, a Feira Internacional do Livro de Frankfurt, maior e mais importante evento para o mercado editorial no mundo, atraiu, em 2013, 7,3 mil expositores de 100 países e um público que ultrapassou a marca de 276 mil pessoas – entre profissionais e visitantes. Segundo Ricardo Costa, associate partner para o Brasil e América Latina da Frankfurter Buchmesse, organizadora do evento, o perfil básico de público para esse evento abrange desde publishers até diretores e gerentes de direitos autorais.

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Naquela edição, o Brasil foi o país convidado de honra e, por essa razão, obteve um grande destaque no evento. A participação brasileira foi organizada pelo Ministério da Cultura, pelo Ministério das Relações Exteriores, pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN), pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) e pela CBL. A CBL também foi a responsável pelo estande coletivo que levou 168 editoras para Frankfurt. A presidente da entidade, Karine Pansa, reforça a importância do trabalho desempenhado na promoção da literatura brasileira, destacando a atuação do Brazilian Publishers. “O objetivo do BP, que atualmente conta com editoras dos segmentos infantojuvenil, científico, técnico e profissional, religioso e de obras gerais, é incentivar a venda de direitos autorais e de livros, por meio da participação das editoras nas principais feiras internacionais, promover a vinda de compradores e formadores de opinião ao País, fomentar a capacitação dos empresários e realizar estudos de inteligência comercial e de iniciativas para prospecção de mercados”, explica a presidente. Uma das participantes da comitiva brasileira, a Cosac Naify explorou o intercâmbio com outros editores durante o evento. Bernardo Ajzenberg, diretor-executivo da Cosac Naify, mostrou o que a editora procura em feiras como as de Frankfurt. “Buscamos aquelas com público mais definido, mais potencialmente afeito ao nosso catálogo, e aquelas voltadas também para o próprio mercado, mais do que para o público em geral”, esclarece. Feiras de livros ou literárias?

É importante fazer, aqui, um esclarecimento crucial: feiras de livros e feiras literárias não têm o mesmo objetivo – enquanto a primeira é voltada ao mercado, a segunda é focada na interação com o público. Apesar de serem genuinamente diferentes, se forem cuidadosamente organizadas, uma pode se misturar com a outra. É o caso da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL), realizada no México, que atraiu, em 2013, mais de 750 mil visitantes – um aumento de 7% em relação a 2012. Desse total, 20.386 eram profissionais e 1.932 eram editoras vindas de 43 países. Mesclando negócios e varejo, o evento disponibilizou o “Centro de Direitos” para a realização de contratos entre 120 empresas. No tocante à comercialização, relatórios de editoras revelaram um crescimento de 15% nas vendas. Um dos países que marcaram presença na FIL Guadalajara 2013 foi o Brasil, cujo estande coletivo ocupou 144 metros quadrados. Promovido e organizado pelo Brazilian Publishers, o espaço mostrou a pluralidade do mercado editorial brasileiro – que vem registrando um constante crescimento. Em 2010, as editoras

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participantes do projeto venderam US$ 1,65 milhão em livros físicos para o exterior. No ano seguinte, o valor passou para US$ 1,85 milhão e, em 2012, atingiu US$ 2,4 milhões. Já as exportações de direitos autorais passaram de US$ 495 mil em 2010 para US$ 880 mil em 2011 e para US$ 1,2 milhão em 2012, um incremento de 143%. Vimos, até aqui, que as feiras de livros estão possibilitando, gradativamente, o acesso do público em geral. Mas, afinal, qual é o papel desses eventos? “Uma feira de livros pode ter diversos papéis, isso depende da região onde está localizada e dos objetivos dos organizadores”, pontua Ricardo Costa. “Por exemplo, a Feira do Livro de Frankfurt tem o seu foco nos negócios do mercado editorial e é mais internacional. Outro exemplo oposto são as bienais de São Paulo e do Rio, que têm o seu foco no fomento cultural e da leitura, e falam primariamente com o público geral”, explica. A Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que chegará neste ano a sua 23 edição, é conhecida nacionalmente por permitir ao público o contato direto com os principais autores, editoras, livrarias e distribuidoras do País. A 22 Bienal de São Paulo, realizada em 2012, reuniu 346 expositores nacionais, representando 1.100 selos editoriais, além de outros 134 vindos de Alemanha, Suíça, França, Espanha, Bélgica, China, Coreia, Japão, Colômbia, Peru e Canadá. Foram investidos R$ 2 milhões na programação cultural, que teve o total de 1.340 horas de atrações realizadas nos espaços culturais, para atender o público visitante, que ultrapassou 753 mil pessoas.

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Avanço tecnológico

As feiras de livros refletem tendências. Conforme o mercado editorial vai se atualizando, elas mudam sua estrutura para transmitir aquilo que é inovador no setor. Dessa maneira, o avanço tecnológico trouxe mudanças significativas para as feiras de livro, que abriram espaço para grandes empresas de tecnologia como Apple, Google e Kobo. O diretor de desenvolvimento de negócios da Kobo, Samuel Vissotto, salienta a importância dessa transformação nos eventos literários. “As feiras são encontros fantásticos que abrem oportunidades para toda uma indústria explorar, fazer networking, identificar tendências, descobrir novos negócios. As internacionais permitem interagir com entidades globais, com maior diversidade de conteúdo, enquanto as nacionais oferecem a visão e melhor entendimento do mercado local”, analisa o executivo. Ricardo Costa, da Frankfurter Buchmesse, enxerga dois impactos fundamentais nas feiras de livros. “O primeiro é a redução nos espaços dos estan-

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des, uma vez que se tem a possibilidade de apresentar muitos produtos digitalmente. Mas, ao mesmo tempo, temos mais editoras e empresas diversas participando das feiras. E este é o segundo impacto principal: a participação de empresas voltadas para a tecnologia”, explica Costa. Acompanhando essa movimentação do setor, a norte-americana BEA oferece dois espaços para aprofundamento no tema: o IDPF Livro Digital, conferência de dois dias para executivos que pretendem dar parâmetros para a criação de soluções viáveis ao mercado editorial; e “Zona da Descoberta Digital”, que explora os principais fornecedores na área possibilitando o contato com dispositivos e aplicativos para o livro digital. Outro evento que abriu espaço para a tecnologia foi a FIL Guadalajara, que promoveu a “Área do Livro Eletrônico”, cujo dia de visitação recebeu mais de 30 mil pessoas. Para a gerente de relações com editoras no Brasil da Kobo, Camila Cabete, essas feiras têm um significado maior para o mundo digital do que para o analógico. “As feiras são locais de convivência, de trocas, de contato pessoal. Em relação a marketing e merchandising, ainda sinto as coisas bem engessadas. Poderiam fazer muitas coisas, mas por limitação contratual, e até por paradigma, as empresas permitem ousar quase nada”, opina. A Feira do Livro de Bolonha, na Itália, também valoriza as inovações desenvolvidas para o mercado de livro digital. Um exemplo é o “Café Digital”, que em 2013 chegou a sua segunda edição acumulando mais de vinte palestras e painéis de discussão. Da mesma maneira, vale citar a conferência “Tools of Change for Publishing”, que visa olhar para as transformações verificadas na industrial editorial, incluindo o digital, e discutir seus impactos e soluções. Na Ásia, a e-Book Expo Tóquio, realizada na capital japonesa, é conhecida mundialmente como líder na difusão de conteúdos e novas tecnologias para o livro digital. Na última edição da feira, participaram mais de 1.300 empresas, oriundas de países como Austrália, Brasil, França, Índia e Itália, que apresentaram seus mais recentes dispositivos, soluções e serviços para mais de 62 mil profissionais do mercado editorial. Ampliando os horizontes: as feiras segmentadas

O livro físico e digital não são os únicos segmentos a receber destaque em feiras pelo mundo. Nos Estados Unidos, existem também a Feira do Livro de Arte de Nova York – cujo assunto já foi abordado, do mesmo modo, em Los Angeles, Cinga-

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pura, Vancouver (Canadá), Dublin (Irlanda), Beirute (Líbano) e Tóquio (Japão) – e a Feira do Livro Gastronômico realizada no bairro do Brooklyn. Na FIL Guadalajara, foi promovido um debate sobre outros segmentos, tais como o infantil – pela FIL Crianças – e o juvenil – por intermédio do Programa FIL Jovens. Quando falamos de feiras de livros para o público infantil, o nome mais conhecido é a Feira do Livro Infantil de Bolonha, na Itália – o mais importante evento dedicado aos jovens leitores. Autores, ilustradores, agentes literários, distribuidores, livreiros e bibliotecários se reúnem anualmente para vender e comprar direitos autorais, encontrar o melhor da edição e produção multimídia para esse público e debater as últimas tendências. Com foco na promoção de negócios, os visitantes dessa feira são, majoritariamente, representantes comerciais de vários lugares do mundo. Na última edição, realizada em 2013, o evento atraiu 25 mil visitantes – um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Na ocasião, foi registrada a participação de cerca de 1.200 expositores de 75 países. As novidades na literatura infantil são o foco da Feira Internacional do Livro Infantil de Xangai (CCBF, na sigla em inglês). O objetivo do evento é o comércio de direitos autorais bem como sua promoção em escala global. Em 2013, foram recebidos aproximadamente 17.400 mil visitantes, oriundos de 26 países. Assim como em Bolonha, prevalece nessa feira a realização de contratos de negócios, especialmente com o leque de 154 expositores que a organização dispõe, de mais de dez países. Na capital francesa, a Feira do Livro Gastronômico de Paris é uma das maiores sobre livros de culinária e reúne chefs, sommeliers, pesquisadores, editores e autores. Consolidada como um importante ponto de encontro, atrai delegações da China, do Canadá, do Japão, do México, para citar alguns exemplos. A Gourmand International, responsável pelo evento, promoverá um segundo ambiente para o fomento do livro gastronômico em 2014, com a primeira Feira do Livro Gastronômico de Pequim, capital da China, que seguirá os mesmos moldes e propósitos da versão parisiense. Independente do formato ou do conteúdo, o mercado editorial busca, incessantemente, fazer da leitura uma experiência cada vez mais prazerosa. E quem tem mais a ganhar é o público – e suas estantes.

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Copa do Mundo 1950 x 2014 POR Roberto Muylaert

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Foto: Renan Bacellar

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A década de 1950 pode ser chamada de Anos Dourados, se for preciso glamurizar aquela época para uma novela. Mas também de Década do Silêncio, para quem viveu o período, em que se realizou a IV Copa do Mundo no Brasil. Para alguns adolescentes de São Paulo, era uma mistura de timidez, pudor, falta de cores, aceitação do status quo e nenhuma transgressão. A não ser pelo rebolado provocante de Elvis Presley. Até na comportada massa humana presente ao Maracanã era fácil perceber que os homens só vestiam cores discretas: cinza, branco, azul-claro, bege. Um público tão educado que teve forças para aplaudir o Uruguai como campeão do mundo de 1950, ainda no Maracanã, em seguida à derrota do Brasil.

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Vista atual do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã.

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Em São Paulo, no Pacaembu, desde 1940, ano de inauguração do estádio (e do nascimento de Pelé), o chapéu social era indispensável para o público das arquibancadas, como mostram as fotografias de Thomaz Farkas. A torcida se comporta bem: levantar, só na hora do gol. Ainda não havia o hábito de levar bandeiras aos estádios, cada vez maiores ao longo dos anos, de tal forma que agora, os torcedores fanáticos preferem ficar algum tempo sem visão do campo, para que o símbolo do time apareça em toda a sua grandeza. Não existia a atitude de saltar o tempo todo no mesmo lugar, para apoiar o time, como é comum nas torcidas dos grandes times, o que acabou por exigir reforço de estrutura em alguns estádios, como no Morumbi.

30 A arquibancada do estádio do Pacaembu, em 1946, era frequentada por público usando chapéu social.

Foi nesse ambiente nada preocupante em matéria de segurança total e de manifestações inexistentes que São Paulo recebeu Brasil x Suíça, jogo válido pelas oitavas de final da Copa de 1950. A capital paulista teria pelo menos mais um jogo do então chamado escrete (scratch) nacional. O bairro do Pacaembu era um lugar tranquilo, com prédios espaçados e poucos carros, então um artigo de luxo, quando o normal era andar de ônibus ou bonde. Era uma cidade limpa e clara, com jardins bem delineados como no Anhangabaú, onde era possível apreciar o conjunto projetado com

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Foto: Thomaz Farkas – Acervo Instituto Moreira Salles

arte e equilíbrio, do alto de um dos prédios neoclássicos de oito a dez andares, que ladeavam a avenida principal. O local da construção do Pacaembu era o mais apropriado possível, bastando apoiar as arquibancadas sobre duas inclinações naturais do terreno, enquanto o campo de jogo ficava na área plana que vinha da Avenida Pacaembu. Um estádio em que bastava apoiar as laterais sobre os taludes naturais, sem necessidade de estruturas de sustentação, bastando o fechamento da entrada do estádio, nos chamados “portões monumentais”. Para o jogo Brasil x Suíça, o Estádio Municipal brilhava, com o sol refletido na construção toda branca, em dia de festa, com as bandeiras dos 13 países participantes hasteadas logo na entrada, na parte mais alta, voltada para a praça Charles Miller. Destaque especial para o projeto arquitetônico, no padrão neoclássico de Albert Speer, o arquiteto de Hitler. Na época, não era difícil admirar os ambiciosos e gigantescos projetos alemães (nunca realizados), quando muita gente imaginava a Alemanha como conquistadora do mundo, a partir da velocidade e facilidade com que tinha ocupado a Europa Ocidental. Também as arenas de Mussolini em Roma influenciaram o projeto do Pacaembu: no entorno do campo de futebol havia uma estátua de David, de Michelangelo em tamanho natural, ao lado da concha acústica do estádio, que dava harmonia ao conjunto, mas que foi trocada pelo atual tobogã. Como as desistências de países tinham sido muito grandes, até a última hora, os grupos para chegar às quartas de final foram formados de maneira improvisada, com participantes convidados às pressas, o que resultou na criação de grupos desequilibrados, em que o Uruguai jogaria apenas com a Bolívia para se classificar, enquanto o Brasil deveria passar por México, Iugoslávia e Suíça. Foram classificados Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia para a fase de mata-mata, que, em vez das eliminatórias, virou quadrangular de todos contra todos, por pontos, pela primeira e última vez em Copas do Mundo. O que se habituou chamar de “final de 50”, era o último jogo da tabela, com a ordem dos jogos do quadrangular sendo sorteada, e não uma final surgida de eliminatórias. Por isso, o Brasil nessa “final” levava um ponto de vantagem, podia empatar, e ainda seria campeão. O regulamento foi modificado pelo medo de que o Brasil tinha de cair fora na semifinal, se houvesse eliminatórias. Não queria decepcionar o enorme público presente no Maracanã, 200 mil pessoas, ou dez por cento da

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população do Rio. Um estádio equivalente construído hoje em São Paulo teria capacidade para um milhão e duzentas mil pessoas... E a estratégia quase deu certo, com o Brasil dando show contra Suécia e Espanha, no Maracanã lotado, o que fez aumentar o otimismo em relação ao último jogo, contra um time de camisas azul-celeste, que pareciam até desbotadas, mas que acabariam levando a Copa. Antes disso, a partida que o Brasil disputou contra a Suíça no Pacaembu foi um anticlímax, tendo o técnico Flávio Costa trocado alguns jogadores para agradar os paulistas, sendo que o time que jogou nunca havia entrado em campo antes. A Suíça era um time sem muita técnica nem tradição, mas tinha vindo ao Brasil porque a Copa do Mundo seguinte, a de 1954, seria disputada em seu país, e era preciso fazer relações públicas. Apesar de ser um time sem perspectivas para enfrentar o Brasil em São Paulo, o fato é que o Brasil jogou mal e o resultado foi um empate por 2x2. Pior que isso, o segundo gol do Brasil foi feito por Baltazar, centro-avante do Corinthians convocado por isso mesmo. Só que a bola cruzada para sua cabeçada havia saído bastante pela linha de fundo, mas o árbitro não deu bola fora. A torcida de São Paulo, com razão, vaiou o time nacional. Por isso, a cidade não recebeu mais nenhum jogo do Brasil naquela Copa, e os paulistas foram taxados de maus brasileiros, enquanto os cariocas tiveram um sucesso atrás do outro no Maracanã, exceto no último jogo. A partir dali, só alegria, com as vitrines do Centro do Rio ostentando o pôster da “Taça do Mundo”: um meião de jogador com vinte e oito bandeiras de países participantes. Vieram onze, o restante desistiu. Premonitório, o pé do jogador não chutava, já pisava na bola. O cartaz de 2014, que ninguém viu, tem a mesma ideia, mas é andrógino, exibe duas pernas meio femininas de meiões rendados e bola do mesmo padrão, disputando a bola com delicadeza. No Maracanã lotado só dava para sentar forçando a traseira como uma cunha entre dois torcedores já espremidos, aos brados de “brasileiro sempre cabe mais um...”. Vitórias acachapantes: 7x1 na Suécia, 6x1 na Espanha. Todas cantando em uníssono, e arrepiando com o Hino Nacional, numa época em que

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33 Cartazes oficiais das Copas do Mundo no Brasil: em 1950, à esquerda; e em 2014, à direita.

era obrigatório o ensino de canto orfeônico nas escolas (implantado por Heitor Villa-Lobos no governo de Getúlio Vargas), onde passava de ano quem soubesse o hino sem vacilação, primeira e segunda partes. Quem esteve no Maracanã naqueles dias nunca mais se esquecerá do espetáculo que representava a massa compacta, com as pessoas sentadas sobre as arquibancadas de concreto, sem nenhum tipo de assento, o que possibilitou que se reunisse um público daquela dimensão, como nunca antes e nunca mais depois. Era um público comportado e bem-educado, numa época em que as torcidas iam ao estádio para se divertir, sem que houvesse uma conotação bélica, como ocorre hoje no Brasil. Na Inglaterra, a situação era semelhante até que a polícia resolveu dar um jeito fichando os hooligans, baderneiros, e o problema acabou. O que acabou perturbando a calma dos jogadores concentrados em São Januário, campo do Vasco da Gama, foi a enxurrada de políticos que queriam fazer média com os jogadores e os eleitores, importando pouco os assuntos ligados ao esporte.

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Até no dia da final houve político entrando na concentração para fazer discurso. Era a sucessão de Getúlio Vargas, deposto após o movimento militar que acabou com quinze anos de ditadura. A lógica era clara: como poderia permanecer no poder o ditador brasileiro, quando os próprios pracinhas da FEB foram combater na Itália pela volta da democracia ocidental, ameaçada pelas invasões nazistas? Os políticos prometiam empregos e cargos públicos aos jogadores, que teriam o futuro garantido como Campeões do Mundo (não como vice-campeões). O auge do abuso foi um fotógrafo carregando uma série de cópias do time que ia entrar em campo, para que todos assinassem as fotografias, sob o título “Brasil Campeão do Mundo”. Quando esse aproveitador foi expulso da concentração, muitos já tinham assinado as fotos, sem perguntar nada. A inexistência de uma política de marketing para enfrentar uma situação daquelas não existia, e quem precisasse fazer uma divulgação junto ao time da Copa, só precisava se apressar. Até candidato a presidente da República se apresentou para discursar para os jogadores, como foi o caso de Adhemar de Barros, político de São Paulo. Mas o auge da falta de critério e bom senso foi o discurso pelos alto-falantes do Maracanã, no jogo final, quando o responsável pela construção do estádio-gigante, General Ângelo Mendes de Morais, lançou um palavrório politicamente muito incorreto, o último dos maus agouros:

Acervo SUDERJ

Vós, jogadores, que a menos de poucas horas sereis proclamados campeões por milhões de compatriotas. Vós, que não possuís rivais em todo o hemisfério, Vós, que superais qualquer outro competidor! Vós que eu já saúdo como vencedores! Cumpri minha promessa construindo este estádio. Agora fazei o vosso dever, ganhando a Copa do Mundo! Ele iria reincidir na patriotada fora de hora no momento em que os brasileiros se preparavam para entrar em campo quando mandou um emissário bater à porta do vestiário, para discutir detalhes com o técnico Flávio Costa sobre o Carnaval pelas ruas da cidade, que se seguiria à vitória. Foi tocado porta afora. O estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, em 1950.

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O resto, todo mundo sabe: a sequência do segundo gol do Uruguai, de cinegrafista ignorado, é exibida à exaustão na TV brasileira: o excelente Museu do Futebol, que fica no estádio do Pacaembu, comete uma injustiça quando cria uma sala escura para a Copa de 50, que mais parece um velório, com o gol de Ghiggia se repetindo à exaustão num telão, como se aquele momento dramático fosse um resumo de tudo o que aconteceu com o Brasil na Copa. Na verdade, houve momentos de grande alegria, de emoção e de patriotismo na medida certa nos três jogos do quadrangular final em que o Brasil ganhou. No 6x1 contra a Espanha houve um momento em que o estádio, com recorde de público até então, começou a acenar com lenços brancos, despedindo-se do adversário goleado, e a cantar, de improviso, um marcha de Carnaval que todo mundo conhecia, como era comum naquela época. Foi “Touradas de Madrid”, surgiu de forma espontânea e sem ensaio, um dos maiores corais do mundo, para euforia de quem estava lá. Na letra havia a palavra Catalunha, que pronunciada em uníssono por aquele público enorme soava como uma sirene. No meio da euforia esfuziante, só um torcedor chorava, emocionado. Era Braguinha, o compositor da música que de repente tinha virado hino nacional naquele jogo. Ao vê-lo chorar, um torcedor não perdoou: “Todo mundo feliz e só esse maldito espanhol chorando...”. Embora entre 1950 e 2014 haja um abismo de diferenças, o fato é que não é difícil descobrir também semelhanças: uma é a crescente convicção de que vamos ganhar. A euforia crescente virá de todos os meios de comunicação somados e pode tomar conta da cabeça dos jogadores, como aconteceu em 1950. Há também a coincidência da final da Copa ser em julho e a eleição presidencial em outubro. Em 1950, os políticos entravam na concentração em São Januário sem-cerimônia, interrompendo até o almoço dos “craques” no dia da final, para discursar. Segundo o goleiro Barbosa, com tanto tumulto, não houve possibilidade nem de almoçar direito, sendo que o técnico serviu sanduíches quando o grupo já estava no estádio, no aquecimento para o jogo. Essa versão não é de todos

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Quando foi confirmada a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, o estádio não servia mais. O Maracanã era o único estádio tombado do Brasil, inscrito, desde o ano 2000, no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. E com imóvel tombado pelo Iphan, ninguém mexe. A FIFA é inimputável, está acima da soberania dos países que topam a empreitada de sediar uma Copa, isentando impostos, e anulando tombamentos, como

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se verifica agora. Iniciada a derrubada, o Conselho do Iphan, em 2011, classificou a reforma como “crime”, conforme matéria na Folha de S. Paulo, caderno Ilustríssima, de 25 de novembro de 2012. Em resumo, o Rio de Janeiro tinha um estádio em plena condição de uso e precisava de um mais moderno, de acordo com a FIFA. Em vez de construir um novo, por R$ 860 milhões, e conservar o Maracanã, a opção foi ficar com um estádio só, pelo preço das duas reformas

A lógica de quem fez a escolha deve ser “pague dois e leve um”.

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Foto: Filipe Costa

somadas, de R$ 1,46 bilhão.

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os jogadores, o que leva a crer que nem todos tiveram as mesmas atribulações. Claro que, hoje, o controle de quem pode ter contato com a seleção é rigoroso, mas ninguém impede os jogadores de assistir à TV, o que traz as expectativas ampliadas pela imprensa para dentro da própria concentração. A conclusão de todos esses argumentos comparativos é que assim como a Copa de 50 foi um sucesso total, mesmo sem a vitória do Brasil, a de 2014 também será, com a diferença de que, naquele longínquo 1950, o Brasil era um país rural, onde reinava o café, gerador de divisas, mas sem uma infraestrutura que ligasse nem mesmo o Sudeste com o Nordeste, onde a única opção era ir de barco, os chamados Ita. E segundo o dramaturgo Nelson Rodrigues, havia no país o “complexo de vira-latas”, porque o brasileiro achava que não tinha possibilidade de ganhar nada numa competição internacional. Em 2014, o “vira-latas” se transformou num cão de raça futebolístico, que entra na Copa como o país com o maior número de títulos mundiais, cinco. Uma derrota (Deus nos livre!) não teria impacto sobre o orgulho nacional. Muito distante da tragédia de 50.

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O estádio jornalista Mário Filho, o Maracanã, em partida realizada em dezembro de 2013.

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Foto: Sérgio Eluf

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Teatro do Sesi-SP: Há cinquenta anos levando cultura e arte à população brasileira

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Já se passaram 50 anos desde a estreia da montagem A Cidade Assassinada, de Antônio Callado, o primeiro espetáculo da história do Teatro Popular do Sesi, ainda no Teatro Maria Della Costa, na capital paulista. Mesmo tanto tempo depois, o projeto, idealizado pelo diretor e crítico teatral Osmar Rodrigues Cruz, continua a desempenhar um papel de extrema importância na disseminação e democratização das artes cênicas, e da cultura como um todo, no país. A Cidade Assassinada foi o primeiro espetáculo da história do Teatro Popular do Sesi.

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Com acesso gratuito para o público, o teatro é considerado referência na formação de plateias não apenas por permitir que as camadas menos favorecidas da sociedade tenham oportunidade de assistir a peças teatrais, mas pela alta qualidade das montagens – clássicas e contemporâneas – que apresenta, formando assim um público cada vez mais criterioso. A inauguração do teatro-sede, na Avenida Paulista, aconteceu em 1977 com o espetáculo sobre o compositor carioca Noel Rosa, O Poeta da Vila e Seus Amores, de Plínio Marcos. Já a partir da década de 80, estabeleceram-se os Núcleos de Artes Cênicas nas sete unidades do Sesi-SP, que contam com salas de espetáculos.

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“Tive o prazer de interpretar Noel Rosa no musical que inaugurou a sede do teatro na Avenida Paulista. Graças ao papel, ganhei o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor ator, em 1977”, comenta o ator Ewerton de Castro. “Com certeza foi um acontecimento que marcou minha carreira”, diz. Assim como aconteceu com Ewerton, o Teatro do Sesi-SP foi - e continua a ser - o cenário de espetáculos que são verdadeiros marcos na carreira dos atores mais prestigiados do país. Conheça um pouco mais da história desse projeto pioneiro no Brasil pelos olhos daqueles que ajudaram a construí-lo. GUILHERME WEBER

“O Teatro do Sesi-SP sempre buscou excelência em sua programação, com a apresentação de grandes espetáculos.” A Sutil Companhia de Teatro, fundada por mim e pelo diretor Felipe Hirsch, estabeleceu uma duradoura parceria com o Teatro Popular do Sesi, um dos maiores orgulhos de nossos 20 anos de atividades profissionais. Criamos diversos espetáculos inéditos especialmente para o teatro. Entre eles, está Educação Sentimental de um Vampiro, baseado em contos do escritor paranaense Dalton Trevisan, com o qual ganhei o prêmio APCA de melhor ator de teatro. Um dos grandes trunfos do Teatro do Sesi-SP é atuar como formador de plateia, atividade fundamental para a consolidação da cultura de um país.

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Foto: divulgação

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Foto: João Bittar

A montagem O Poeta da Vila e seus Amores teve casa lotada durante os dois anos em que ficou em cartaz.

Foto atual do Teatro do Sesi-SP, que fica na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo.

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A importância da acessibilidade promovida pelo Teatro Sesi-SP é mais do que generosa, pois seus mantenedores sempre buscaram excelência em sua programação, ao fomentar e patrocinar grandes espetáculos, obrigando o espectador a elevar seu nível de recepção. Além disso, o teatro sempre recebe em seu palco grandes atores, com performances memoráveis. BÁRBARA PAZ

“No Teatro do Sesi-SP apresentei a peça Hell, um divisor de águas na minha carreira.” A primeira peça com a qual me apresentei no Teatro Sesi-SP foi A Farsa, no ano 2000; depois vieram Subúrbia, em 2001 e, por fim, Hell, em 2010, um espetáculo que foi um verdadeiro divisor de águas na minha carreira. Tanto que continuo a fazer a peça pelo país e não pretendo parar tão cedo. É um espaço cultural muito bem organizado, com infraestrutura que poucos teatros têm no Brasil. E o mais importante: conta com uma equipe que realmente ama fazer teatro e isso faz toda a diferença para os atores e para o público. Considero o Teatro do Sesi-SP de fundamental importância, não apenas para a população paulista, mas para toda a população brasileira. O acesso gratuito a espetáculos teatrais deveria acontecer em muitos teatros e cidades do país. A possibilidade de nós, atores, nos apresentarmos para um público carente, sedento de cultura, com casas lotadas todas as noites, não tem preço.

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EWERTON DE CASTRO

Foto: João Caldas

“Participei do musical sobre Noel Rosa que inaugurou a sede do teatro na Avenida Paulista.” O Teatro Sesi-SP foi o palco do primeiro musical em que atuei como ator profissional: O Patinho Preto, de Walter Quaglia, ainda na década de 70. Também tive o prazer de interpretar Noel Rosa no musical que inaugurou a sede do teatro na Avenida Paulista e com o qual ganhei o prêmio APCA de melhor ator, em 1977. Posso dizer, com toda certeza, que o Teatro do Sesi-SP é um dos mais importantes formadores de plateias do teatro paulista. Um projeto que A atriz Bárbara Paz na peça Hell, terceiro espetáculo em que se apresentou no Teatro do Sesi-SP.

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não conquista o público por oferecer ingressos gratuitos, mas pela ótima qualidade de seus espetáculos. A peça O Poeta da Vila, da qual participei, teve casa lotada durante os dois anos em que ficou em cartaz, e éramos aplaudidos pelo público em pé ao final de cada sessão. Eu sou frequentador assíduo do teatro e era mesmo antes de me profissionalizar. Lá assisti a grandes montagens, como Noites Brancas, Senhora, Chiquinha Gonzaga, Feitiço, Onde Canta o Sabiá, entre muitas outras. DOMINGOS MONTAGNER

“O Teatro do Sesi-SP sempre foi uma experiência exemplar da linguagem de teatro popular.”

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A maior importância do Teatro do Sesi-SP vai muito além da acessibilidade de seus espetáculos gratuitos. Ela está na valorização que confere ao teatro popular e às linguagens dramatúrgicas que constroem um público cativo e criterioso. Vou ao Teatro do Sesi-SP desde o tempo da Companhia de Repertório (grupo teatral fundado em 2001). Sempre gostei do teatro popular, épico comunicativo, e o Sesi foi uma experiência exemplar dessa linguagem. Lá, encenei peças que tiveram muita importância na minha carreira, não apenas pela experiência de construção e de compreensão de meu ofício de ator mas, no meu caso, que ainda sou produtor, também pelo enriquecimento do diálogo com o público. Entre elas, Flor de Obsessão, em 1998, Farsa Quixotesca, em 2000, Piratas do Tietê, o Filme, em 2003, O Médico e os Monstros, em 2008, e Mistero Buffo, em 2012. MARCO RICCA

A peça Boca de Ouro, que apresentei no Teatro do Sesi-SP, foi a primeira obra de Nelson Rodrigues em minha carreira. Um clássico brasileiro que, para mim, foi de grande importância. Além disso, foi uma oportunidade de fazer uma grande produção em um teatro que oferece toda a infraestrutura necessária, ou seja, é bom para quem faz e bom para quem assiste.

Foto: Carlos Gueller

“Foi onde encenei pela primeira vez uma peça de Nelson Rodrigues.”

O Médico e os Monstros, do grupo La Mínima, apresentou-se, em 2008, no palco do Sesi.

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Apresentar-se para um público popular, mas altamente crítico e ávido por cultura, é uma experiência teatral única. Lembro-me ainda do primeiro espetáculo a que assisti no Teatro Sesi-SP, o O Santo Milagroso, de Lauro César Muniz, sob direção de Osmar Rodrigues Cruz. Depois dele, foram tantos outros, clássicos e contemporâneos, que fizeram parte de minha formação como ator. Deveríamos ter políticas públicas que, a exemplo do Sesi-SP, apoiassem e incentivassem montagens que auxiliam na formação do público de teatro. MARCOS DAMIGO

“A primeira peça a que assisti no Teatro Sesi-SP influenciou minha escolha profissional pelo teatro.” Trabalhar no SESI sempre foi muito gratificante. Um teatro tecnicamente impecável, com uma equipe maravilhosa, e um público generoso. Das experiências que tive, a mais marcante foi Hamlet, que me deu a oportunidade de experimentar, ao vivo, a popularidade de Shakespeare. Para mim, o teatro Sesi-SP comprova que as pessoas têm, sim, interesse em arte e teatro, mas muitas vezes não frequentam por falta de condições financeiras. Fiquei impressionado desde a primeira vez em que assisti a uma peça lá, um Molière, no início dos anos 90. Fiquei admirado com a qualidade do espetáculo, que influenciou profundamente minha escolha profissional pelo teatro.

Foto: Leo de Leo

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LEOPOLDO PACHECO

“Vivi no Teatro do Sesi-SP uma experiência que vou levar para o resto da vida.” Já participei de vários espetáculos no Teatro Sesi-SP, não apenas como ator, mas também como figurinista, maquiador e cenógrafo. E sempre digo que, mais do que os personagens, fazer grandes montagens com grandes elencos é uma experiência em extinção, e foi o que tive no Teatro do Sesi-SP. Guardo a lembrança de ter trabalhado com equipes técnicas e artísticas da melhor qualidade, para um público ávido por montagens de textos que hoje quase não vemos. Lembro-me do último dia em que encenamos o espetáculo O Mambembe, depois de meses em cartaz, quando cada um de nós do elenco entrava em cena: tomamos um susto, pois o público falava os textos de cada personagem. Foi uma maneira de retribuírem e demostrarem o amor que tinham pelo espetáculo. Uma experiência que vou levar para o resto da vida.

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WALTER BREDA

“Os personagens que representei no Teatro do Sesi-SP me ensinaram sobre o caráter e os mistérios do ser humano.”

Foto: Paulo Torma

Entre os anos de 1991 e 1997, participei de grandes montagens no Teatro do Sesi-SP, que tem uma enorme importância nas artes cênicas do País na difusão da cultura por meio de espetáculos teatrais. Posso citar, entre os mais marcantes, Escola de Maridos, O Inspetor Geral, Auto de Natal, O Mambembe e Assembleia de Mulheres. Foram personagens que me ensinaram sobre o caráter, a personalidade e os mistérios do ser humano. Apesar de eu ser contra o acesso gratuito ao teatro, acredito que o país precisa de muitos outros projetos como o Teatro do Sesi-SP, para levar peças teatrais e também outras manifestações culturais às camadas mais carentes de cultura da sociedade.

Dois textos de Shakespeare encenados nestes 50 anos: À esquerda, montagem de Romeu e Julieta e, à direita, Hamlet.

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Uma árdua caminhada, a julgar que o brasileiro lê, em média,

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AUDIOLIVRO: UM MERCADO AINDA A SER EXPLORADO

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apenas quatro livros por ano, segundo dados da terceira pesquisa “Retratos de Leitura no Brasil”, recém-divulgados pelo Instituto Pró-Livro e IBOPE Inteligência. Um nicho com grande potencial de crescimento, levando em conta que o País soma 88,2 milhões de leitores ativos e que 54% dos mais de cinco mil entrevistados em 315 municípios nacionais alegaram ter apreciado o contato com livros digitais, de acordo com o mesmo levantamento. Esse é o universo no qual floresce a passos comedidos o audioli-

Foto: Think Stock

vro – ou audiobook – no Brasil. O livro falado, para alguns; o livro falante, para outros, no qual o texto original é narrado por um locutor, com ou sem auxílio de recursos sonoros e de teatralização.

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Explica-se: primo pobre do ebook e incluído na seara dos chamados suportes digitais à disposição do leitor, o audiobook ainda é considerado, no Brasil, uma ferramenta para auxiliar deficientes visuais, da mesma forma que um livro em braile. Ainda assim, somados ao contingente de leitores cegos – estimado em 6,5 milhões de pessoas, segundo Ricardo Soares, gestor de Produtos Acessíveis da Fundação Dorina Nowill para Cegos (FDNC) –, no Instituto Pró-Livro calcula-se que outros 2,9 milhões de brasileiros saboreiem, hoje em dia, obras literárias em áudio. Para dar impulso a esse comportamento, evocam-se motivos tão díspares quanto os engarrafamentos de trânsito, amenizados pelo livro em CD ouvido no carro; a boa aceitação, por parte do público infantojuvenil, do velho hábito de contar histórias e a facilidade de baixar obras em MP3 (Movie Pictures Expert Group nível áudio 3). No entanto, o número de editoras especializadas se conta nos dedos de uma mão. Algumas já fecharam, a exemplo da Plugme, que se beneficiava do fôlego financeiro da Ediouro; e, na Câmara Brasileira do Livro, não existem dados sobre o mercado, que recebe, a cada ano, entre 30 e 50 novos títulos para venda, segundo estimativas dos próprios produtores. Para o público formado por deficientes visuais, “são convertidos, paralelamente, cerca de 1.200 títulos anuais, de um total de 20 mil obras em papel colocadas no mercado”, avalia Soares. Mais: premidos pela concorrência com os livros tradicionais, os audiobooks ainda não desfrutam da atenção das livrarias, que continuam dando preferência ao formato clássico, e têm um custo de produção bastante elevado: para o técnico de informática Marco Giroto, que em 2006 criou a Audiolivro, uma das maiores editoras do setor, “o custo de produção de um audiolivro é de pelo menos três vezes o de um livro em papel”. Além dos direitos autorais de praxe, e de eventual tradução, a produção de um audiobook requer, segundo o gestor da Fundação Dorina Nowill, cerca de 200 horas em estúdio e o equivalente a R$ 3 mil por narração, em se tratando de um locutor não conhecido do grande público. Amparada pela lei, a FDN está isenta, todavia, de pagar direitos autorais. Quanto mais prestigiado for o narrador – e, nos últimos anos, a função vem sendo delegada cada vez mais a atores do porte de um Antônio Abujamra ou de um Cid Moreira, para tornar o produto final mais atraente –, mais cara é a leitura.

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Um dos pioneiros da área, Marco Giroto relata que teve a ideia de montar uma editora de livros narrados durante uma de suas “viagens diárias” entre São Paulo, onde morava, e Barueri, onde trabalhava na sede de uma multinacional. “Eu perdia três horas por dia nesse trajeto. E pensei que devia haver um jeito melhor de aproveitar esse tempo”, lembra. Dito e feito: com apoio da esposa e do sogro, que era músico, o proprietário da Audiolivro investiu todas as suas economias na montagem de um estúdio e passou a produzir, sozinho, alguns títulos. No primeiro ano, lançou seis. “Convidei vários autores para gravarem suas obras, mas ninguém acreditava no formato”, rememora. Comprar os direitos autorais de obras conhecidas e gravá-las no pequeno estúdio foi a solução encontrada por Giroto para driblar o impasse. Passado algum tempo, a produção de Código da Vinci, do norte-americano Dan Brown, lhe abriu as portas para os primeiros contratos de distribuição com grandes livrarias. Hoje, a Audiolivro tem em catálogo O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que lhe rendeu, sozinho, a comercialização de 20 mil exemplares: um autêntico best-seller.

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“O mercado de audiolivros no Brasil é muito pequeno e ainda não decolou por falta de investimento. Crescimento? Essa é uma perspectiva que só se concretizará se alguma empresa entrar no mercado com muito dinheiro. Caso contrário, ele continuará sendo um mercado de nicho, onde quem compra são apenas as pessoas interessadas em aproveitar melhor o tempo”, lamenta Marco Giroto, que conta ter colocado no mercado, até hoje, cerca de 150 títulos, ao preço médio de R$ 29,90 por exemplar. “Com isso não se ganha pão”, justifica, explicando que a produção do produto final consome, sozinha, 20% desse valor.

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O poder do narrador

Proprietária da Livro Falante, Sandra Silvério é declaradamente “apaixonada” por literatura e pelos audiobooks: “No tempo das fitas cassetes, eu já escutava contos e romances de autores consagrados em inglês”, explica a ex-jornalista, para quem não houve nada mais gratificante do que acompanhar a evolução da

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Foto: Editora Livro Falante

antiga mídia até o CD e, por fim, testemunhar o advento do download de arquivos no computador através do MP3. As novas facilidades técnicas, associadas a um custo menos proibitivo e impulsionadas pelo crescente sucesso dos ebooks abrindo o leque de alternativas de leitura, permitiram que Sandra realizasse, a partir de 2006, “o sonho de poder ouvir grandes clássicos em português”. Por trás dessa motivação, um exemplo prático bastante tentador: “Conheci a Audible”, justifica ela, a maior produtora e vendedora de audiolivros dos Estados Unidos, adquirida em 2008 pela Amazon.com e com capacidade para produzir cerca de 10 mil obras gravadas, empregando nada menos que 2 mil atores por ano. Depois de se desfazer de um título de jornal em Alphaville para fazer caixa e de investir na própria capacitação – mergulhando em cursos de áudio, acústica, dublagem, direção teatral e de literatura na própria Câmara Brasileira do Livro –, Sandra conta hoje com 40 títulos em catálogo, à razão de seis lançamentos por ano. Entre seus best-sellers, enumera O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec – uma das áreas mais rentáveis de sua empresa –, contos de Fernando Sabino e Moacyr Scliar, clássicos de Machado de Assis e Jorge Amado, além da coleção A História da Música, de Irineu Franco Perpétuo. Como diferencial, seus livros falados são igualmente lançados no formato de CD de áudio, embora o custo final da mídia seja mais caro. “Nem todo mundo tem tocador de MP3”, explica. Eles também são necessariamente gravados por atores renomados, como Rafael Cortez, ex-integrante do CQC, da TV Bandeirantes. “Bons narradores são difíceis de achar. Uma boa leitura, articulada, ritmada, e uma dicção correta, emprestam ambientação à narrativa e dão alma ao texto”, explica Sandra. Tamanho esforço, porém, está longe de fazer tilintar a caixa registradora, no Brasil, insiste a empresária. Na opinião dela, apesar de o preço do livro digital ser mais acessível, “ele nunca vai vender mais que o livro impresso”. Exemplo: nos Estados Unidos – onde o setor já está consolidado e a receita de audiolivros cresceu 22% em 2012, em comparação com 2011 –, “alguns títulos chegam a vender 10% do livro impresso. No mercado nacional, esse percentual é de, no máximo, 5%”.

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SEL OA U D I OV I SU A L O ator Marcos Damigo, após gravação de audiolivro, ao lado de Sandra Silvério, da Livro Falante.

Longe das preocupações com a questão custo-benefício, a Fundação Dorina Nowill é uma verdadeira linha de produção de audiolivros, à razão de 380 a 400 títulos por ano e tiragem de 10 a 20 exemplares por obra. “Basta um livro estar em voga ou há mais de quatro semanas no ranking dos mais lidos que nós o convertemos para audiobook e o colocamos na nossa biblioteca”, informa Ricardo Soares, para quem a expectativa de crescimento do setor é de “apenas 1%, e isso graças aos engarrafamentos de trânsito, sobretudo”. Segundo o gestor, autoajuda e religião são as áreas que mais têm procura, sem esquecer os grandes best-sellers da atualidade: Harry Potter, O Senhor dos Anéis e a trilogia do Crespúsculo, de Stephenie Meyer. Ao todo, em 2012 foram produzidos nos estúdios da FDNC 395 novos títulos em áudio e distribuídos mais de 100 mil exemplares de livros e revistas nesse formato, o que representa a gravação de quase 100 mil páginas. No acervo da biblioteca, os sócios encontram mais de 2.200 títulos em áudio para empréstimo ou até mesmo doação. Nomes como o da locutora da rádio Transmundial, Nilceia Parize, e da Alpha, Valquíria Brito, emprestam a voz aos produtos da casa, e empresas como Samsung, Banco Safra, Bradesco e Microsoft alocam recursos de patrocínio em novos projetos. Ainda assim, garante Ricardo Soares, há muito o que fazer: “Basta lembrar que o universo de deficientes visuais, que tradicionalmente consome audiolivros e ao qual poderíamos dirigir nossos produtos, está estimado em 150 mil pessoas, e nós só conseguimos atender 5 mil, sendo que eles não leem mais do que nove livros por ano”.

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Contar e ouvir histórias sempre foi um ritual de convívio social. Dos primitivos alfabetos cunhados no barro às mídias eletrônicas atuais, a transmissão de ideias nem sempre se perpetuou através do papel, e vários povos, em tempos remotos, usaram vegetais e minerais, como os pergaminhos e as tintas, para se expressar. Na Idade Média, a leitura em voz alta era muito apreciada: livros e cartas uniam familiares em torno da lareira, em especial pais e filhos, até que estes adormecessem. Com o teatro itinerante, poetas do verso e da prosa dedicaram-se a declamar em público. A gravação de obras literárias surgiu pouco depois da Primeira Guerra Mundial, para entreter soldados que perderam a visão durante o confronto. Com a tecnologia, surgiram o rádio e as radionovelas, repletas de efeitos sonoros. Era tal a capacidade de envolvimento dos programas de áudio que, em 1938, a sociedade norte-americana vivenciou um surto de pânico coletivo durante o anúncio da invasão da Terra por ETs. Era apenas uma transmissão radiofônica intitulada A Guerra dos Mundos, de Orson Welles. Esclarecido o mal-entendido, os americanos, assim como os canadenses e os ingleses, se debruçaram sobre a produção de uma enorme variedade de peças em áudio, incluindo desde os discursos do ex-presidente John Kennedy até clássicos da poesia inglesa. Em seguida, apareceram os romances gravados em fita cassete, os livros de autoajuda em DVD, os cursos de idiomas em CD, os manuais de apoio profissional para download pela web. Hoje, os audiobooks são preferencialmente gravados em MP3 ou WMA e comercializados em CDs ou por download. Basta o consumidor carregar o arquivo no iPod, no tocador de MP3 ou no celular – o que torna a mídia extremamente versátil e acessível. Nos EUA, a popularização do formato, a partir dos anos 80, resultou na consolidação do maior mercado de audiolivros do mundo, com mais de 18 mil títulos disponíveis. Segundo a Audio Publishers Association, o segmento vem crescendo a uma taxa de 10% ao ano e já movimenta mais de US$ 800 milhões ao ano, ou 9% do mercado editorial. Tamanho é o interesse pelo formato que os lançamentos editoriais contemplam, simultaneamente, a versão impressa e em áudio. Os arquivos de áudio podem ser gratuitos ou pagos. No Brasil, a versão gratuita é, na maioria das vezes, destinada ao deficiente visual e incorpora uma variedade de obras para download, de domínio público ou copyleft, narradas por

Foto: Editora Livro Falante

HISTÓRICO

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voluntários. A versão paga, em contrapartida, conta com a narração de locutores profissionais e agrega, em geral, efeitos sonoros. Destina-se a quem não tem tempo para abrir um livro. PERSONAGEM

Tão inesquecível quanto um parágrafo de Vidas Secas, de Graciliano Ramos – lido e relido ao sabor do prazer que proporciona –, é a voz do apresentador Cid Moreira declamando trechos da Bíblia em audiovídeos para a Casa Publicadora Brasileira, editora oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia, da qual é simpatizante. Igualmente marcante é a narração de Meu Pé de Laranja Lima, do ex-CQC Rafael Cortez, para a Editora Livro Falante – um projeto que retoma, de certa forma, segundo ele, “o recital levado para os palcos de São João del Rey, Paraty e Curitiba, a partir de uma leitura apaixonada do texto original de José Mauro de Vasconcelos, entremeada de acordes de violão”. Para o ator e jornalista, “um mergulho na infância”. Arrebatamentos emocionais, no entanto, não fazem parte da técnica de narração de audiolivros. Principalmente se eles estiverem voltados para o deficiente visual.

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“A fluência na voz e uma dicção perfeita são indispensáveis em qualquer circunstância”, lembra Cortez. “Pois o importante, nesse trabalho, não é o narrador, e, sim, o texto.”

O ator Rafael Cortez durante gravação do audiolivro Meu Pé de Laranja Lima.

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Na atividade desde 2007, por ocasião de uma parceria com Sandra Silvério, proprietária da Livro Falante, Rafael Cortez conta que narrou quatro livros de Machado de Assis, a pedido da empresária, antes de sugerir um dos títulos que mais marcaram a sua adolescência. “Em um primeiro momento, tive uma aproximação mesquinha com a arte”, confessa, “pois eram projetos que me permitiriam perpetuar o registro da minha voz para a posteridade”. Arroubos do ego à parte, Cortez acabou descobrindo a importância da mídia: “Aposto no audiolivro. Ele tem seu papel”, afirma, revelando a fórmula que, na sua opinião, garante o sucesso do produto final: um perfeito casamento entre voz e texto. lisTa DOs 10 mais PeDiDOs Na bibliOTeca circulaNTe Da fuNDaçãO DOriNa NOwill

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Para cegOs, em 2013:

trILogIA cINQUENtA toNs dE cINZA, E. L. JAMES Um Amor pArA rEcordAr, NICHOLAS SPARKS ágApE, PADRE MARCELO ROSSI A cAbANA, WILLIAM P. YOUNG ANJos E dEmÔNIos, DAN BROWN NUNcA dEsIstA dE sEUs soNhos, AUGUSTO CURY A FANtástIcA FábrIcA dE chocoLAtE, ROALD DAHL E EU VENcI AssIm mEsmo, DORINA DE GOUVEA NOWILL NINgUÉm É dE NINgUÉm, ZIBIA DE GASPARETTO rEFÚgIo, HARLAN COBEN

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cOle 19º ConGREsso DE leiTura DO brasil ALB: M������� - E���������� T����� � T����� L����� L���� M����� �� S���� (FE/UNICAMP) L������ M������ �� O������� (FE/PUC-C�������) S���� M����� T�������� (FE/UNICAMP) A Associação de Leitura do Brasil completou recentemente 30 anos e comemorou seu aniversário no 18º Cole, ocorrido em julho de 2012. Uma vida marcada pelo esforço coletivo e solidário, pela mobilização de pessoas de vários campos do conhecimento e instâncias que lutam pela melhoria da educação e da leitura em nosso país. Sua participação na discussão das políticas públicas ligadas ao livro e à leitura mantém, defende e dissemina uma postura sempre crítica, ética e combativa. É promotora de eventos e publicações significativas, reunindo um número expressivo de associados em todo o país. Nossa participação na história da entidade, desde seus primeiros momentos, anima o desenvolvimento de projeto de pesquisa que visa reunir, organizar e tornar acessível um amplo e variado conjunto de documentos que possam ser tomados como fontes para a produção de suas memórias. Assim como a consciência da importância de tais acervos para o conhecimento de nosso patrimônio, quer seja educacional, cultural ou histórico.

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Esses documentos, gerados no cotidiano da entidade, uma vez recuperados, organizados e interrogados, podem ajudar a compreender seus itinerários no tempo, como também registrar e/ou trazer vestígios e marcas de modos de fazer, de dizer, formas de pensar, valores, pontos de vista que contribuem para uma história da leitura no Brasil. Nesse sentido, o significado desse esforço nos parece duplamente relevante, porque representa uma conquista para o campo da leitura ao oferecer para o exame materiais primários disponíveis em arquivos, que resultam de todos os eventos e publicações que a ALB promoveu. Muito embora reconheçamos, de imediato, que muitas ações semelhantes a essa já vinham ocorrendo na entidade, cujos registros agora vêm sendo recuperados, nosso esforço na direção dessa organização iniciou-se em 2009. Ele tem significado um campo de experiência prática, coletiva e formativa em que se articulam não só ações concretas de constituição do arquivo como de re-

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flexão sobre a importância, o significado e o alcance dessa ação na contemporaneidade. Envolvem-se nesse trabalho alunos da graduação e da pós-graduação da Unicamp. Desde sua fundação, a ALB vem guardando, e procura conservar, inúmeros documentos (escritos, iconográficos, sonoros) que registram sua comunicação com diferentes interlocutores, em distintas situações, assim como suas realizações, publicações etc. Parte desse fundo é a massa documental pertencente aos Congressos de Leitura do Brasil, existentes desde 1978 e que representam, conforme os estatutos em vigor, a primeira atribuição da entidade. Esse conjunto contém projetos de evento, solicitações para financiamento, orçamentos, correspondência, relatórios técnicos, fotografias, fitas em áudio, fitas em VHS, imagens digitalizadas, folhetos de divulgação, programas acadêmicos, programações culturais, cartazes, materiais de identificação dos congressistas e dos organizadores, camisetas, anais e cadernos de resumos etc. São documentos marcados por condições de produção diversas, pois ao longo dos anos de realização do Cole ocorreram muitas mudanças nas formas de divulgação, inscrição e registro das atividades. Torná-los acessíveis em seus conteúdos, organizados e catalogados tem sido um de nossos principais objetivos. Logotipo vencedor do concurso criado em julho de 2012 em comemoração aos 30 anos da ALB. Autoria: Chris Ramel

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CONGRESSOS DE LEITURA DO BRASIL (1978 – 1981): OS PRECURSORES DA ALB

Cartaz do 1o Cole. Autoria: Paulo Antonio Nilson

1º COLE - LEITURA PARA TODOS E FEIRA DO LIVRO A ALB só veio responder formalmente pela organização dos Congressos de Leitura do Brasil após sua fundação em 14 de novembro de 1981, já durante as atividades do 3º Cole. Até então era o Departamento de Metodologia de Ensino, da Faculdade de Educação da Unicamp, que se responsabilizava por essa realização, em parceira com a Secretaria de Cultura da cidade de Campinas (SP) e a colaboração de outros organismos, entre eles, da (hoje extinta) Associação Campineira dos Bibliotecários. A Associação de Leitura aparece citada no Plano Bianual do Departamento de Metodologia de Ensino 1978-1979 – numa versão preliminar, de março de 1978, como parte de um Centro de Leitura (CELE) que contemplava a criação de uma clínica de leitura.

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Cartaz da Feira do Livro. Autoria: Darius Augustus Corbett Jr. (Guto).

Embora não tenhamos encontrado qualquer evidência ou vestígio quanto à concretização desse Centro, ele é citado novamente como sendo responsável pela apresentação do anteprojeto para uma feira do livro em Campinas, de autoria do professor Ezequiel Theodoro da Silva, docente da Faculdade de Educação e do Departamento, também provável coordenador do centro. No anteprojeto, encontramos uma passagem sugestiva do pensamento do Departamento naquele momento. Ele era atravessado pelo desejo de uma atuação junto à sociedade, sobretudo junto aos segmentos menos favorecidos, já que se amenizava a coerção instaurada pela ditadura militar em 1964, que brutalmente havia interrompido um importante itinerário da educação junto a essa população. Sua preocupação maior era uma “volta imediata à realidade”, o que daria ênfase ao caráter de prestação de serviços à comunidade pela universidade. Sendo assim, “o pessoal encarregado do Projeto Cele estaria

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disposto a colaborar com instituições que se interessam pela promoção do livro junto à comunidade” (Anteprojeto da Feira do Livro – 1978). O anteprojeto propunha que se agregasse a esse evento, que apresentava um contorno exclusivamente comercial, um acontecimento também acadêmico – o congresso de leitura – ao lado de atividades culturais, de lazer e outras: filmes e peças teatrais, concerto, bingo do livro, orientação de leitura, troca de livros, laboratório de leitura, tarde de autógrafos, inovações em biblioteca. A proposta foi aceita, firmando-se uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Campinas (Secretaria de Cultura) e a Universidade Estadual de Campinas (Faculdade de Educação – Departamento de Metodologia de Ensino), que vigoraria por muito tempo. O 1º Cole parece ter sido, pois, pensado, planejado e realizado como parte de uma Feira de Livros da cidade, evento de caráter popular. Com isso, aproxima-se de sua vontade política de integrar as discussões sobre o livro, a literatura e a cultura com o público em geral. Seu Temário Geral – Leitura para Todos reforça sua busca de popularização ou democratização da leitura. Realizou-se entre os dias 23 e 24 de setembro de 1978, nas dependências do Centro de Convivência Cultural de Campinas (SP) junto de uma Feira do Livro, que se esparramava pelas galerias do teatro. Com isso, buscava-se também “popularizar” esse espaço que se elitizara na cidade, contrariando as aspirações para com esse local.

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A pauta de discussões do congresso encontrou sua tônica nas questões relativas à necessidade de um posicionamento crítico em face de uma sociedade desigual, marcada pela experiência do autoritarismo. Após quase duas décadas de regime ditatorial ansiava-se por isso, não apenas com respeito ao livro e à leitura, mas à educação e à cultura. O momento era encorajador e ensejava essa disposição. No instrumento de avaliação do evento, vamos encontrar mais uma referência à Associação de Leitura. O último item do questionário comunica o desejo do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educação em organizar uma associação e um centro de leitura. Indica as atividades previstas para essa entidade, inquire os participantes do 1º Cole sobre o interesse em participar e o preço que sugerem para taxa de inscrição, além de solicitar sugestões de atividades. 2º COLE - PEDAGOGIA DA LEITURA E FEIRA DAS FEIRAS Um ano depois, no período de 22 a 28 de outubro de 1979, também no Centro de Convivência Cultural de Campinas, realiza-se o 2º Cole, com o tema Pedagogia da Leitura. Mantinha-se a parceria entre Unicamp e Prefeitura; a realização de uma feira – dessa vez, uma Feira das Feiras, que colocava ao lado do livro, outros produtos, que, desprovidos de seu valor de prestígio, como o sorvete, o disco, o artesanato etc., podiam significá-lo numa posição de maior popularidade.

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Cartaz do 2o Cole. Autoria: Darius Augustus Corbett Jr. (Guto)

Se no cartaz da Feira do Livro, no congresso anterior, os livros surgem empilhados, maximizados em seu tamanho e equilibrados pelo leitor, no cartaz da Feira das Feiras, os livros se amontoam num carrinho de feira, ao lado dos demais produtos. Esse deslocamento pode nos fazer pensar num esforço de representação da cultura como não sendo exclusivamente letrada, mas identificada com outros múltiplos objetos e outras possibilidades. A programação do evento era marcadamente vinculada ao ensino, à escola, às questões de ordem metodológica e pedagógica: leitura para o estudo, ensino experimental, biblioteca escolar, imprensa pedagógica, ideologia presente em materiais didáticos, relatos de experiência escolar, apresentação de propostas etc. Os organizadores procuravam responder às críticas e sugestões feitas no congresso anterior (citando seu formalismo, o tom por demais acadêmico das apresentações etc.) integrando aos estudos apresentados, relatos

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Cartaz da Feira das Feiras. Autoria: Darius Augustus Corbett Jr. (Guto)

de práticas vivenciadas por professores, exame de materiais didáticos, e ampliando a discussão, ainda mais, para as questões de cunho político e social. O cartaz do congresso pode ter como significado uma representação desse profissional perdido e aflito em meio a uma multiplicidade de informações, clamando por uma orientação mais clara e objetiva, aquela a ser fornecida pelo congresso. Na apresentação de uma síntese dos dois primeiros congressos na 32ª Reunião Anual da SBPC, ocorrida em julho de 1980, Ezequiel Teodoro da Silva e Lilian Lopes Martin afirmam que um Congresso de Leitura deveria se transformar num Congresso de LEITURA POPULAR, que defendesse os leitores postergados e esquecidos pelo sistema e pela discriminação, que deveria lutar pela conquista da CULTURA DEMOCRÁTICA.... enfim, lutar não só pelo direito de dizer coisas, mas pelo direito de dizê-las PARA TODOS! (“Síntese 1º e 2º Cole e perspectivas...” 32ª Reunião Anual da SBPC – julho/1980).

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A democratização da leitura fez-se, então, palavra de ordem para a mobilização dos pesquisadores das academias, professores que discutiam suas práticas pedagógicas e questionavam o modelo de ensino existente, profissionais ligados ao livro e ao acesso ao livro, setores que aglutinavam nos domínios da leitura e nos Congressos de Leitura suas inquietações e seus anseios na projeção de uma sociedade democrática e participativa.

3º COLE - LUTAS PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA LEITURA NO BRASIL O 3º Cole acontecerá entre 13 e 15 de novembro de 1981, também nas dependências do Centro de Convivência Cultural de Campinas. Seu tema geral se faz representar no cartaz do evento, por uma imagem em que se cria uma “equivalência” entre o livro e a TV, sabidamente um meio de comunicação de grande alcance. A esse tema geral se associam os subtemas: Leitura e Realidade Brasileira, Leitura Escolar, Leitura e Literatura, Leitura e Cultura Popular; O Livro e as Bibliotecas.

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Cartaz do 3o Cole. Autoria: Darius Augustus Corbett Jr. (Guto)

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Sua programação parece articular, assim, uma pauta que contempla aspectos do ensino escolar, outra mais diretamente vinculada à cultura popular e uma realidade que se deseja transformar. Traz, como um de seus participantes mais ilustres, Paulo Freire, recém-chegado do exílio, e que fará uma conferência, hoje bastante conhecida, intitulada “A Importância do Ato de Ler”. Essa edição do congresso também vai protagonizar a fundação da Associação de Leitura do Brasil, desejo anunciado desde o 1º Cole, em 1978. A criação da entidade, nesse momento, não pode ser desligada dos movimentos pela redemocratização do país que haviam se iniciado já nos anos finais da ditadura militar, que se encerraria em 1985. Também não pode ser desvinculada da ação de inúmeras outras entidades similares, como o Centro de Estudos “Educação e Sociedade” – CEDES (1979), Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ (1968), Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior – ANDES (1981), Associação dos Professores de Língua e Literatura – APLL (1978) entre outras, que, em conjunto, vão constituir importante rede de conquistas cada vez mais democráticas. Nem tampouco dos dois congressos de leitura anteriores e dos contornos do ambiente universitário nesse período, do qual a Faculdade de Educação e a Unicamp faziam parte. Reforçam esse quadro de realidade, algumas das moções aprovadas na assembleia

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final do congresso: moção de pesar pelo fechamento do jornal Movimento, periódico identificado com a esquerda política à semelhança de outros impressos surgidos no contexto da recente abertura política; moção de apoio ao Centro de Memória Sindical, por sua capacidade de resistência ao sistema e atuação na afirmação da identidade do trabalhador brasileiro, à comunidade da Unicamp, pela luta que empreende em favor da autonomia universitária e contra as diversas formas de intervenção pelas quais tem passado, moção de repúdio às condições de vida profissional dos professores. Desde então, a ALB teve outras 16 diretorias eleitas e ocupa atualmente um lugar consolidado e de destaque no cenário nacional. Movimenta, desde sua fundação e através de suas múltiplas realizações e ações, a reflexão e a discussão sobre a leitura, e, assim, não pode ser desligada de uma história dessa prática em nosso país. A veiculação dos trabalhos realizados pelos pesquisadores, as experiências dos professores em sala de aula e de outros profissionais da área foram concretizadas por meio da publicação da revista Leitura: Teoria e Prática, cujo número inaugural é de 1982. Desde o ano de 2013, essa revista é coeditada pela SESI-SP editora. O editorial do número zero da revista concretiza o primeiro ciclo da fundação da ALB e a diretoria provisória assume, nesse momento, o papel de mobilizadora dos grupos que surgiam dessas discussões, viabili-

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zando um conjunto de medidas que dinamizaram as discussões sobre a leitura e o livro. A revista tornou-se um importante veículo de comunicação para aqueles que trabalhavam no anonimato, ainda que na condição de protagonistas de um cenário complexo do sistema educacional. Tal via de acesso à atuação dos “anônimos” foi assumida como um “resgate” da “história de lutas pelo direito de ler do povo brasileiro”. Passados 36 anos, uma das atividades principais da Associação de Leitura do Brasil continua sendo a organização do Congresso de Leitura do Brasil. O 19º Cole, realizado

neste ano de 2014, cuja temática é leituras sem margens, segue politicamente com os movimentos de inclusão e de reexistência que a leitura pode significar às pessoas. Escolhe como um lugar privilegiado a afecção pelas artes, pela literatura e pela educação. Aposta que os acontecimentos da história estão sempre em um processo de atualização no tempo presente, que é desejoso do futuro e, ao mesmo tempo, construtor das nossas memórias.

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ias sociais

tre Bakhtin e Vygostsky

s dinâmicas de produção de texto sentido

Maldoror

pelo grito arquivista...

Leitura: Teoria & Prática

ratura infantil brasileira

m rede, desafios para educação

s na escola

Ano 32 • Junho 2014

Leitura: Teoria & Prática

Conheça mais do trabalho da ALB em parceria com a SESI-SP Editora na revista Leitura: Teoria & Prática. Site da ALB: www.alb.com.br Blog comemorativo dos 30 anos da ALB: www.alb30anos.blogspot.com.br

revista semestral da associação de leitura do brasil

Ano 32 • Junho 2014

issn 0102-387x

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33 ANOS DE ALB - ASSOCIAÇÃO DE LEITURA DO BRASIL DIRETORIAS

1º Secretário: L������ M������ �� O�������

1981-1983 – D�������� P��������� �� ALB

2º Secretário: M���� I����� S������

Presidente: E������� T������� �� S����

1º Tesoureiro: C����� V���� F�����

Vice-presidente: O��� M�����

2º Tesoureiro: M���� �� R������ L���� M�������

1º Secretário: R����� M���� �� A������ P����

BIÊNIO 1992-1993

2º Secretário: M���� P���� A����������

Presidente: J��� E������ �� A������, R��� B������ P�����

1º Tesoureiro: H������ F���������

Vice-presidente: R��� B������ P�����, B���������� �� B����

2º Tesoureiro: L����� L���� M����� �� S����

1º Secretário: J��� B������ R����, C���� A������ C�����

BIÊNIO 1984-1985

2º Secretário: L���� F��������

Presidente: E������� T������� �� S����

1º Tesoureiro: M������ R���� G����

Vice-presidente: O��� M�����

2º Tesoureiro: B���������� �� B����, J��� E������ ��

1º Secretário: R����� M���� �� A������ P����

A������

2º Secretário: M���� P���� A���������

BIÊNIO 1994-1995

1º Tesoureiro: H������ F���������

Presidente: L��� P������� L��� �� B�����

2º Tesoureiro: L����� L���� M����� �� S����

Vice-presidente: M����� A������ A����

BIÊNIO 1986-1987

1º Secretário: N��� R�������� E������

Presidente: E������� T������� �� S����

2º Secretário: L���� F��������

Vice-presidente: O��� M�����

1º Tesoureiro: M������ R���� G����

1º Secretário: R����� M���� �� A������ P����

2º Tesoureiro: W����� J��� M������

2º Secretário: M���� P���� A���������

BIÊNIO 1996-1997

1º Tesoureiro: H������ F���������

Presidente: L��� P������� L��� �� B����

2º Tesoureiro: L����� L���� M����� �� S����

Vice-presidente: M����� A������ A����

BIÊNIO 1988-1989

1º Secretário: W����� �� R���� D’A������

Presidente: J��� W�������� G������

2º Secretário: V����� B�������

Vice-presidente: L����� L���� M����� �� S����

1º Tesoureiro: G������ M���� P�����

1º Secretário: O��� M�����

2º Tesoureiro: M���� J��� N������

2º Secretário: M���� �� R������ L���� M�������

BIÊNIO 1998-1999

1º Tesoureiro: H������ F���������

Presidente: L��� P������� ���� �� B����

2º Tesoureiro: A�� L���� B��������� S�����

Vice-presidente: M����� A������ A����

BIÊNIO 1990-1991

1º Secretário: W����� �� R���� D’A������

Presidente: E������� T������� �� S����

2º Secretário: V����� B�������

Vice-presidente: J���� P������ M����, E��� B������ M��-

1º Tesoureiro: G������ M���� P�����

���� V����

2º Tesoureiro: M���� J��� N������

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BIÊNIO 2000-2001

1º Tesoureiro: H������ F���������

Presidente: L��� P������� ���� �� B����

2º Tesoureiro: G�������� �� V�� T����� P����, A�� B������

Vice-presidente: M����� A������ A����

�� A����� L������

1º Secretário: W����� �� R���� D’A������

BIÊNIO 2009-2010

2º Secretário: V����� B�������

Presidente: N���� S����� �� A������ F�������

1º Tesoureiro: G������ M���� P�����

Vice-presidente: M���� R��� R�������� M������ �� C������

2º Tesoureiro: M���� J��� N������

1º Secretário: H����� G����

BIÊNIO 2002-2003

2º Secretário: G������� F����� R������

Presidente: L��� P������� L��� �� B����

1º Tesoureiro: L����� L���� M����� �� S����

Vice-presidente: G�������� �� V�� T����� P����

2º Tesoureiro: R����� S���� F���

1º Secretário: S������ S����

BIÊNIO 2011-2012

2º Secretário: N���� S����� �� A������ F�������

Presidente: A������ C����� R�������� �� A�����

1º Tesoureiro: G������ M���� P�����

Vice-presidente: G������� F����� R������

2º Tesoureiro: R��� M���� N���

1º Secretário: A��� W�����

BIÊNIO 2004-2005

2º Secretário: A�� L���� H���� N�������

Presidente: L��� P������� L��� �� B����

1º Tesoureiro: D����� M������

Vice-presidente: G�������� �� V�� T����� P����

2º Tesoureiro: U�������� A������ R��������

1º Secretário: R��� M���� N���

BIÊNIO 2013-2014

2º Secretário: N���� S����� �� A������ ��������

Presidente: A������ C����� R�������� �� A�����

1º Tesoureiro: G������ M���� P�����

Vice-presidente: A�� L���� H���� N�������

2º Tesoureiro: P���� M������

1º Secretário: A��� W�����

BIÊNIO 2006-2007

2º Secretário: D����� M������

Presidente: L��� P������� L��� �� B����

1º Tesoureiro: A��� R����� T������ R��������

Vice-presidente: G�������� �� V�� T����� P����

2º Tesoureiro: U�������� A������ R��������

1º Secretário: R��� M���� N��� 2º Secretário: N���� S����� �� A������ �������� 1º Tesoureiro: G������ M���� P����� 2º Tesoureiro: P���� M������ BIÊNIO 2007-2008 Presidente: E������� T������� �� S���� Vice-presidente: G������ M���� P�����, H����� G���� 1º Secretário: N���� S����� �� A������ F������� 2º Secretário: R��� M���� N���, L����� L���� M����� �� S����

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PaTrOcíNiO EMPREsARIAL LEVAdo A sÉrIo 68

eMPResas deVeM aPoiaR a cultuRa e o esPoRte de foRMa estRatÉgica, e NÃo aPeNas Pelo BeNefício fiscal das leis de iNceNtiVo. por LárcIo bENEdEttI

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P O N a TO RT I o

O patrocínio empresarial é uma ferramenta que cresce mundialmente ano a ano. Segundo o International Events Group (IEG), o investimento global, que era de US$ 0,5 bilhão em 1982, superou em 2012 a marca de US$ 50 bilhões. Pesquisas indicam que ele representa mais de 20% do orçamento de marketing e comunicação das empresas que o adotam. Tal fenômeno é acompanhado pela tendência mundial de menor participação do poder público no apoio a projetos de patrocínio. Para reduzir seus investimentos, os governos vêm criando, desde os anos 1980, instrumentos para atrair o empresariado para o financiamento de atividades patrocinadas. Esses instrumentos são as chamadas leis de incentivo. Implicam a renúncia de receita de impostos pelo Estado que será utilizada por empresas para patrocinar projetos que, em teoria, não seriam realizados sem o apoio de fontes externas. Existe, porém, uma diferença importante entre as leis de incentivo vigentes no Brasil e aquelas adotadas em outros países. Em todo o mundo, na maioria dos casos, o subsídio do Estado ocorre com a possibilidade de a empresa lançar o investimento em patrocínio como despesa dedutível na hora de declarar sua renda. Imaginemos que uma empresa pague 25% de imposto. Se ela investir R$ 100 em patrocínio, terá uma dedução de R$ 25, já que este valor não será engolido pelo fisco. Ou seja, a empresa arca com R$ 75 e o Estado com R$ 25. O efeito é parecido quando nós, pessoas físicas, lançamos no nosso Imposto de Renda as despesas médicas ou com educação, por exemplo. O que ocorre no Brasil é bem diferente. As principais leis de incentivo - como a Lei Rouanet, Lei do Audiovisual, ProAC, Lei de Incentivo ao Esporte, entre outras - possibilitam que o valor do investimento seja deduzido diretamente do valor do imposto a pagar. Isso significa que a empresa que patrocina com R$ 100 terá um desconto dos mesmos R$ 100 quando for prestar contas ao erário. O governo arca com tudo - nada sai do bolso do patrocinador1.

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ceNáriO

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1 O benefício para empresas que apoiam o cinema brasileiro supera os 100%. Isso porque a Lei do Audiovisual permite uma dupla jogada contábil: o patrocinador lança o valor investido como despesa no cálculo do IR e ainda abate todo o investimento do montante do imposto a pagar. O ganho real pode superar 130%.

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PrOblema

O benefício fiscal de 100% aos patrocinadores prejudica, a médio e longo prazos, todas as partes envolvidas. Ao ter que financiar integralmente os patrocínios das empresas, o Estado dispõe de menos recursos para o apoio direto a projetos. O meio cultural e o esportivo têm que bater de porta em porta nas empresas para tentar captar recursos, mesmo que suas propostas não tenham apelo empresarial. A solução encontrada, muitas vezes, é desfigurar os projetos para que possam atrair potenciais patrocinadores, conforme apontado pela atriz Camila Pitanga em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (dezembro/2013):

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“Não pode ser tudo calcado na Lei Rouanet. As deformações surgem porque ela é a única guardiã. Existem pessoas que não fazem um projeto artístico, apenas projetos para ganhar o incentivo da lei. Esse tipo de distorção é muito pernicioso para a cultura brasileira”. A população também sai perdendo. No modelo de financiamento brasileiro, o uso de recursos públicos não necessariamente resulta no atendimento ao interesse público. Na área cultural, por exemplo, o acesso da população à produção artística ainda é extremamente limitado. A pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros, conduzida pelo IBGE em 2012, revela a existência de cinemas em apenas 11% dos municípios brasileiros, teatros/salas de espetáculo em 22% e museus em 25%. Então, os únicos beneficiados pelo modelo de isenção fiscal são as empresas patrocinadoras? Nem elas! Externamente, empresas que patrocinam apenas em função do benefício tributário correm o risco de verem manchadas sua imagem e reputação. De tempos em tempos, pipocam na imprensa exemplos de projetos essencialmente comerciais autorizados a captar recursos junto às empresas por meio de leis de incentivo - como Cirque du Soleil, Rock in Rio e desfiles de moda. Esse último caso, que virou polêmica em agosto de 2013, motivou a psicanalista e ensaísta Maria Rita Kehl a redigir uma carta aberta à ministra da cultura, cujo final resume a essência da questão: “Termino com uma afirmação que me parece até banal: em um país tão desigual quanto o nosso, fundos públicos só deveriam ser

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P O N a TO RT I G o

utilizados para possibilitar o crescimento de quem não tem acesso ao dinheiro privado. Tão simples assim. [...]”. Internamente, 100% de dedução pode ser um convite à acomodação, à falta de comprometimento, ao discurso do “vamos apoiar qualquer coisa só para não perdermos o benefício fiscal”. Como resultado, a atuação é frágil, sem impacto, dependente do planejamento tributário da empresa e, portanto, constantemente ameaçada. Fica impossível estabelecer uma visão de longo prazo. sOluçãO

Felizmente, há empresas que enxergam a renúncia fiscal como apenas um dos muitos benefícios que o patrocínio pode oferecer. Tais empresas fazem, sim, o uso de leis de incentivo (afinal, se elas existem devem ser utilizadas), mas, conscientes da responsabilidade do que isso significa, adotam princípios éticos para a gestão do recurso público, e ainda investem recursos próprios para planejamento, gestão, ativação e aferição de seus programas de patrocínio – além, é claro, do apoio direto a projetos não aprovados pelas leis ou não cobertos por 100% de isenção. São casos em que o patrocínio deixa de ser uma forma de mero aproveitamento fiscal e passa a estar integrado às demais ferramentas de comunicação institu-

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cional ou de marca. Ganha, assim, conotação estratégica defendida por Nicholas Alexander, da Universidade de Aberystwyth (Reino Unido): “Patrocínio é um método potencialmente poderoso de transmitir identidade corporativa e organizacional, afetar reputação, gerir percepções de partes interessadas e estabelecer uma promessa de marca situada no coração da comunicação corporativa”.

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Mas como as empresas chegam a esse estágio tão avançado de patrocínio? A resposta está confirmada numa pesquisa conduzida há alguns anos pela European Sponsorship Association (ESA). Os 385 profissionais ouvidos no estudo indicaram a elaboração de uma estratégia de patrocínio e o bom planejamento como os dois principais fatores para uma atuação empresarial bem-sucedida no tema. A estratégia de patrocínio, além de crucial, é o primeiro passo a ser dado. Ela apresenta o papel do patrocínio dentro da estratégia de comunicação corporativa ou da marca e define objetivos, públicos-alvo, áreas de atuação, abrangência geográfica, benefícios esperados, orçamento, plano de comunicação etc. São inúmeros os objetivos que uma empresa pode querer alcançar por meio de patrocínio: do estreitamento de vínculos com a marca ao aumento da motivação de funcionários, da gestão de reputação ao fortalecimento de plataformas de marketing, do relacionamento business to business ao motivo para ações promocionais, da relação com a comunidade a programas de incentivos comerciais. Em relação a públicos-alvo, os patrocínios podem ser direcionados a clientes, consumidores, acionistas, funcionários, fornecedores, governo, comunidades, formadores de opinião, imprensa etc. Tantas possibilidades fazem do patrocínio uma ferramenta que pode ser adotada por qualquer empresa - inde-

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P O N a TO RT I G o

pendente de tipo, porte e área de negócio. Mas, para isso, a empresa precisa estar disposta a se posicionar no universo estratégico do patrocínio, situado bem longe do simples aproveitamento de incentivos fiscais. Tão simples assim. Para aprofundar a questão do patrocínio estratégico, seleção de projetos e explicar o porquê das empresas escolherem, cada vez mais, seus patrocínios por meio de editais, e como vem fazendo isso, a SESI-SP Editora lança Editais de patrocínio empresarial. A obra estimula a boa prática de editais e apresenta os instrumentos que auxiliam a gestão desse processo formal e organizado de seleção, aberto a todos os proponentes de projetos interessados.

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Capa do livro Editais de patrocínio empresarial, da SESI-SP Editora.

LÁRCIO BENEDETTI é administrador de empresas pela FEA-USP e mestre em marketing pela Universidade de Budapeste. Atua desde 2000 em gestão de marketing e comunicação com foco em patrocínio empresarial. Foi gerente no Instituto Votorantim e consultor na Edelman Significa, na qual elaborou e implementou políticas de patrocínio para Petrobras, Natura, Pepsico, Votorantim, Bridgestone, Nestlé e Philips. Trabalhou na área de marketing da Colgate-Palmolive e foi consultor da Accenture. É autor do livro Editais de Patrocínio Empresarial, a ser lançado em 2014 pela SESI-SP Editora.

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P O N D TO O C ON TO

MÃOS VAZIAS POR ROGÉRIO PEREIRA 1. Encontramos o pai estirado no chão de terra. De boca para baixo. A poeira aspirada com sofreguidão. O corpo não aguentou o repuxo da subida. Patinou e estatelou-se. “O pai de vocês está caído lá na rua.” Fomos eu e o irmão. O pai bufava, sem forças para rastejar até em casa. A derrota a poucos metros da linha de chegada. Um leão-marinho encalhado na aridez de C. — esta cidade para onde o pai nos arrastou. Os olhos injetados de pavor nada diziam. Ou talvez pedissem um socorro envergonhado. Um de cada lado — gruas desajeitadas —, carregamos o pai. Sopesava o corpo que me gerara. Pesava muito para meus braços de criança. O irmão era mais forte. Parecia não se importar com a incômoda carga. Empreguei muita força para sustentar mais aquela vergonha. É muito difícil desencalhar um leão-marinho doméstico.

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2. Os operários chegaram logo cedo. Aos trancos, o caminhão alcançou a encosta lateral a nossa casa. A notícia nos inquietara durante meses. Um zunzum percorria as ruas. A igreja evangélica estampou uma faixa “Cristo está chegando”. Quase uma ironia. Iriam colocá-lo no alto do morro. Ideia do novo prefeito. Seria algo grandioso, ao alcance de todos os fiéis. Um Cristo a nos proteger dia e noite dos males do mundo. Isolaram o local. Ninguém podia chegar perto. Acompanhamos à distância a construção do nosso protetor. A mãe parecia aliviada, até um pouco feliz. O pai apenas amaldiçoava com seu bafo azedo: “Estátua de merda”.

Foto: Think Stock

3. Lembro-me do gosto adocicado. Homens e mulheres sempre se reuniam aos domingos para beber e conversar. O pai enchia de vinho amargo o copo. A mãe colocava açúcar e mexia com rapidez. Não desconfiava da maldição que a acompanharia. Em redemoinho, as partículas brancas cambaleavam

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a carregar uma Alice inexistente. O líquido viscoso era bebido com alegria. Baco festejado na miséria. As crianças ficávamos à volta, correndo, brincando, perturbando a diversão adulta. Eu tinha quatro anos. Sorrateiro, entre os pés da mesa e das cadeiras, emborquei os restos abandonados pelos adultos nos copos. A gosma de açúcar e álcool descia pegajosa goela abaixo. Poucos tragos surrupiados e conheci o primeiro porre. A mãe cuidou de mim — uma criança bêbada num domingo à tarde.

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Encontraram o avô paterno morto. Estatelado na rua. Não deu tempo de arrastá-lo para baixo do chuveiro. Na roça, o chuveiro era uma lata furada com prego. A água despejada com balde ou chaleira. Dar banho no pai é sempre mais complicado às margens do fim do mundo. O avô foi levado direto pro cemitério. Acho que o banharam antes do enterro. Trabalho desnecessário. Carne limpa também apodrece no caixão.

5. Estou sobre o cavalo de madeira. Meu corpo projeta uma esquálida sombra de apenas cinco anos — um Dom Quixote infantil. Carrego a única fotografia da infância entre os livros escolares. Ela conhece todos os meus segredos. Cuido para que não se desintegre. É o único exemplar capaz de comprovar nossa extinção. O inerte cavalo de pelo ralo ampara uma carrocinha cujas rodas são de bicicleta. Minha irmã ocupa o assento de ripas. Tem quatro anos. Meu irmão está em pé ao seu lado — guardião de um tesouro inexistente. Com eles, a sombra se avoluma sobre o chão de terra ressecada. No canto da foto, ramos de guanxuma despontam. Era difícil acabar com as guanxumas que tentavam invadir a casa de madeira. Nossas mãos de criança não davam conta de arrancá-las. Às vezes, uma enxada faz falta. Na foto ainda não tínhamos aprendido a sorrir. Suponho que trajamos nossas melhores roupas. Eu e meu irmão de calças iguais de tergal azul. A barra é extremamente larga. Quando a mãe sentava à velha máquina — hoje abandonada nesta casa de madeira cujo fim é alimentar cupins —, tinha o cálculo da necessidade bem definido: bastava ir desfazendo a barra conforme os filhos deixavam a infância para trás. Ela sabia que não engordaríamos. Crescíamos feito esquálidos pés de bambu. Nossas calças ostentavam a passagem do tempo nas canelas. As camisetas não com-

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binavam com as calças vincadas e os sapatos sem cadarço. Éramos homens estropiados da cintura para baixo; crianças malvestidas da cintura para cima. A minha camiseta é azul e branca. A gola está laceada. A do meu irmão é branca. No peito há um surfista. O que faz um surfista perdido a centenas de quilômetros do mar? Desliza por uma onda em direção à barriga magra do meu irmão. O desenho é de um traço bisonho — um espantalho salgando os pés sobre a prancha de mentira. Logo acima do inacreditável surfista, a irônica frase: “As feras radicais”. Não sabíamos ler. Nossos pais muito pouco. Não conhecíamos o mar. Não tínhamos a menor ideia de que existia algo chamado surfe. De onde vieram aquelas camisetas? Ganhamos? Compramos? Não somos feras radicais. Somos crianças assustadas, tímidas e sérias. As calças são obra da genialidade da mãe. Mas e os sapatos velhos, desbotados no bico, sem cadarços? As meias do meu irmão são vermelhas. Não combinam com o sapato preto e a calça azul. As minhas são azuis. Perfeitas, não fossem os sapatos deformados. O conjunto: sapato velho, calça nova, camiseta velha. Em sua monstruosidade, o quadro é harmonioso, de uma harmonia risível, em contraste à seriedade das três crianças na fotografia. Tudo exala solidão. Somos apenas nós três e o pangaré imóvel a puxar uma carrocinha. Sobre ela uma futura morta. A menininha de quatro anos não suportou o mundo e morreu pouco tempo depois. Sua lápide não tem nenhuma palavra escrita. Esta fotografia é seu túmulo. Além do chão de terra batida e a intrusa guanxuma, surgem ao fundo uma lasca da casa de madeira, a cerca de frestas obscenas e o portão desbenguelado. Não há mais ninguém no retrato. Nem um cachorro enxerido. Onde está a mãe? Onde está o pai? Não tínhamos animais de estimação. Somente pais. Hoje, a foto está no papel. O lambe-lambe entregou-a à mãe aprisionada num pequeno binóculo azul. Ao projetá-lo contra a luz, os filhos presos ao negativo não sorriam. Eu galopava um cavalo imóvel. Desbravava uma terra estéril onde somente a guanxuma sobrevivia. Minha irmã aguardava a morte. Meu irmão não nos protegia de nada. É fácil aprisionar a infância num invólucro vagabundo de plástico. Basta não ter nenhuma outra alternativa.

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6. Não gosto de praia. O movimento constante das ondas parece desequilibrar o mundo. Conheci o mar quando o pai nos trouxe para C. Na foto,

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o pai, sem camiseta, sustenta um cigarro entre os lábios e uma cerveja na mão direita. A toalha branca sobre o ombro esquerdo. É a única fotografia que restou daquela viagem ao litoral. Engraçado, não estamos em lugar algum. Talvez as demais imagens tenham se perdido em cima do guarda-roupa. Protegemos nossa história das traças em caixas vazias de sapato. Da viagem à praia, lembro de que escalamos um barco de pesca. Almoçamos pedaços de frango frito, embalados em pacotes plásticos. A viagem os esfriara. Não havia farofa. Lavamos os dedos sujos de gordura na água de sal. O máximo contato que tivemos. Ninguém se aventurou a entrar naquela imensidão. Molhamos apenas os pés sem sapatos. Ficamos boa parte do tempo sobre o barco imóvel — os três irmãos olhando o mar, a quantidade absurda de areia. Era-nos impossível saber como chegamos até ali, como abandonamos o terreiro de guanxumas, o paradeiro do cavalinho de madeira. Onde estariam as calças de tergal, os sapatos furados e a camiseta do surfista?

78 7. Seremos sempre a lembrança de um leão-marinho encalhado.

8. Depois da morte da irmã, abandonei o colchão espremido no chão do quarto. Ganhei a parte debaixo do beliche. Com o tempo, o colchão perdeu o molde do corpo franzino da menina morta. Noite após noite, meus ossos tomaram conta da espuma insignificante. O irmão seguia no estrado de cima, sem qualquer intenção de dividi-lo comigo. No quarto ao lado, a mãe suportava o cheiro podre do pai. A cozinha e o banheiro completavam a casa. O grito nos acordou num susto na madrugada fria. Encontramos a mãe caída ao lado do fogão. A mão no rosto não conseguia deter o riacho de sangue a brotar no lado direito. À porta, o pai escorado com os olhos acesos de demônio.

9. Nunca odiei tanto o pai. Eu o esperava na porta de casa. Ele descia a rua de pedregulhos. Havia pouco tempo deixáramos a roça. Agora, tínhamos de cavar um chão de concreto e asfalto. Trocamos a companhia de bois vagarosos pela insana voracidade de carros e ônibus. Atrás da casa de madeira, construímos nosso estádio — um estropiado Maracanã ladeado por cedros e uma tímida valeta. Nossa rede, as ancas do paiol em cujas vísceras dormiam ratos pançudos.

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O pai carrega o pacote. E vem em minha direção. Eu o espero. A ansiedade a pulsar nas vértebras do pescoço. Um nó prestes a estourar no urro do animal ancestral. Ele caminha devagar, como se ambicionasse congelar o tempo, paralisar o momento de entregar ao filho o pão que jamais saciaria a fome a arranhar as costelas delicadas. Te odiei tanto, pai, na tarde sem fim. A mãe ali por perto. Eu já havia anunciado aos amigos. A minha espera era a espera deles. Éramos uma horda de gnus à beira de um rico seco, sem crocodilos. Correríamos em disparada ao nosso estádio de mentira. Seríamos, enfim, pequenos deuses capazes de milagres indecentes. Bastava o pai me estender as mãos grossas, calosas, herança de uma roça arcaica e indesejada. O pai estendeu-me as mãos. Sobre elas, o pacote. Um simulacro de Papai Noel, cujas vestes tornavam risível a triste silhueta. Toma, filho. Agarrei com todas as minhas forças de nove anos. Davi e Golias trocando carícias e gentilezas. Rasguei o papel esverdeado feito o esfomeado a estraçalhar o vestido da amante. À minha volta, pares de olhos em febre. Enfim, abandonaríamos a bola de plástico emprestada. Teríamos nossa bola: grande, branca, de capotão. Do papel amassado, a desilusão. Uma bola pequena, de cor escura, de borracha, fincava espinhos na palma da minha mão. Gostou, filho? A pergunta do pai se perdeu no silêncio indestrutível. Quietos e resignados, rumamos ao nosso estádio. Eu carregava o ódio debaixo do braço.

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10. — Nós vamos subir de joelhos. A decisão da mãe nos atormentou durante dias.

11. A mãe separou duas velas brancas. Vocês levarão elas acesas. Eu levarei o rosário. O dia surgia entre as árvores. Vestimos o calção puído do futebol. A mãe vestiu uma calça azul de agasalho. Todos os três de camiseta. Nenhum surfista estampado. O calor da manhã ainda não nos incomodava. Chegamos cedo ao pé da escadaria. Uma placa de bronze com o nome do prefeito nos informava o tamanho da fé da mãe: 127 degraus. Acendemos as velas e nos ajoelhamos. Ladeada por nós — dois insignificantes apóstolos —, a mãe iniciou a reza. Puxou um Pai-Nosso, seguido da Ave-Maria. Repetimos quase em silêncio o pedido de socorro da mãe. Começamos a subir. Deus nunca me pareceu tão distante. Ao pé do Cristo, os joelhos esfolados, em brasa, o corpo úmido de suor,

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rezamos com uma força inexistente. Uma novena inteira. O rosário preso aos dedos da mãe feito a corda do suicida diante do abismo. À nossa frente, o Cristo de concreto, recém-construído, a exalar o cheiro do cimento, dos tijolos, do ferro que o sustenta. Um gigante a proteger todos nós. Os braços abertos, as mãos espalmadas, vazias, sem as marcas dos pregos na cruz de madeira. No rosto da mãe, a cicatriz, o corte impreciso da faca banguela. O pai acertou meio de lado, um risco entre a orelha e a beirada da boca. Um trajeto sem métrica, sem sincronia. Trabalho de quem já perdeu o rumo do próprio corpo.

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Um dia, o pai caiu diante da porta. Alcançou o portão e trambalhou. Por pouco, não arrebentou a boca no degrau da escada. Ficou ali bufando. Os vizinhos olhavam sem espanto. Havia tempo, deixaram de se preocupar com o pai. Tinham pena da mãe e de nós. Mas já não nos ajudavam. O pai correra atrás de quase toda a vizinhança. Faca na mão, o diabo nos olhos. Ninguém mais se aproximava. Quando chegamos perto, o barulho da boca era assustador. Logo, a golfada de vômito lambuzou nossos pés descalços. O corpo também tentava expulsar o pai. Não o suportava mais. O vômito veio numa erupção constante, com força, a balançar a cabeça do pai para os lados. Em seguida, a urina escorreu pela virilha. Lavamos tudo com muito cuidado. Naquele tempo, o Cristo ainda não tinha chegado para nos proteger.

13. — Mãe, estamos rezando pelo pai? É pelo pai que estamos aqui? — Não, filho. É por nós.

14. Colocamos o pai debaixo do chuveiro. Tivemos de encostá-lo à parede sem azulejo. Ficou sentado no chão frio, recostado a um canto. O equilíbrio era delicado. O irmão cuidava para que não caísse de cara no piso. Eu lavava o pai. Jogava água fria na cabeça. Ele cabeceava — boi insatisfeito com o matadouro —, tentando negar a ajuda inevitável. Enchia as mãos em concha e atirava contra o rosto e o peito. De cueca, o pai parecia ainda mais desprotegido. Na cozinha, a mãe fazia café bem forte. Eu temia que o pai vomitasse. Daria ainda mais trabalho. Eu e o irmão não falávamos, resignados com a maldição. A água

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escorria pelo corpo do pai. Eu evitava olhar para o sexo flácido, escapando pela cueca molhada. Sempre soube como o pai havia me colocado dentro da mãe. Vi numa revista. O homem e a mulher pareciam sofrer para fazer um filho. Até achava que o ditado “ser mãe é padecer no paraíso” fazia algum sentido. Sou parecido com a mãe. O irmão, com o pai. A irmã está morta. Pelo vitrô entreaberto, vejo parte do Cristo, iluminado na noite silenciosa. O facho de luz jorra sobre a mão espalmada. É a esquerda. Os dedos pontiagudos são bem acabados. O artista caprichara no entalhe. A retidão das linhas tira-lhe um pouco da humanidade. Continuo a lavar o pai. Ele já se entregou aos nossos cuidados. Na cozinha, a mãe agora está em silêncio. O cheiro do café preenche a casa. O irmão segue ali, aparentemente sem se importar com a companhia dos fantasmas. De repente, o pai cabeceia. Olha-nos espantado. Uma golfada de vômito esquenta minhas mãos. O irmão me olha e sorri resignado. Pelo vitrô, o Cristo nos observa.

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ROGÉRIO PEREIRA é escritor, jornalista e editor. Autor do romance Na Escuridão, Amanhã (Cosac Naify). Tem contos publicados no Brasil, na Alemanha e na França. É editor e escreve crônicas semanais para o site Vida Breve (www.vidabreve.com.br) e há 14 anos edita o jornal Rascunho (www.rascunho.com.br) — uma das raras publicações literárias do Brasil. Desde 2011, é diretor da Biblioteca Pública do Paraná. Vive em Campo Largo (Paraná).

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PONTO DO NOVO CONTO A partir desta edição, a Revista Ponto passa a divulgar contos de autores estreantes que queiram ter seu texto publicado ao lado de escritores já consagrados na seção Ponto do Conto. O material deve conter entre 6 e 8 mil caracteres e ser submetido para avaliação pelo e-mail: comunicação_editora@sesisenaisp.org.Br

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O que faz um farol Saindo com o carro, já penso no farol. Estou sozinha, espero que não esteja fechado. O cruzamento ao lado do mercado é desconfortável. Um bom ponto para reforçar a culpa. Logo após as compras, nem 50 centavos para o velho de muletas? Como não recompensar os malabarismos malfeitos da criança? E quanto ao jovem esforçado que todos os dias chega cedo para vender doces? Sinal vermelho. É claro. Fecho os vidros. Não sou um monstro, quando passam por mim, ensaio um não com expressão sentida. Ao esverdear da luz, abro os vidros e aumento o volume da música que fala de amor. O mundo é mesmo um lugar sem graça. Chegando à garagem, desligo o rádio, se não me concentrar, o carro vai ficar ainda mais ralado. Fecho os vidros caso algum vizinho esteja por perto. No subsolo, tudo é escuro e as luzes nunca se acendem. Pelo menos não para mim. Subir as escadas é trabalhoso, devido à falta de espaço, os degraus são altos demais. Entro na casa abafada apesar das janelas abertas. Quero conversar, mas não há o que dizer. Não consigo ler, olho o celular insistentemente à procura de mensagens. Nada. A citação postada no Facebook é um pedido de atenção, o próximo passo são pequenas confissões. Melhor comer alguma coisa. Depois do jantar, jornal. Sangue, corrupção, classe média, impostos,

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animais fofinhos e brincalhões. Sangue. A sensação de desamparo se perde ante as fortes emoções dos últimos capítulos da novela. Não. Prefiro me apegar ao vazio que não vem de fora. O teto do quarto é sujo e cheio de pernilongos. O chão está quente, a cabeça e as costas doem. Ao lado, um tufo de poeira sendo perseguido pelos olhos do gato esparramado pelo corredor. Até ele prefere não se mexer. Tento pensar, mas só consigo sentir. Não, não chega a isso. Nem a isso. Um nó no peito, costumam dizer. Já ouvi falar em obsessão, inveja, trabalho. Até de cachorro preto já chamaram. Coitado do cachorro. Depressão, bile negra, melancolia. Frescura, de acordo com meu querido pai. Minha irmã só se preocupa se for de longe. Minha mãe pede ajuda sobre como ajudar. Eu não entendo. Talvez não deva ser entendido. Ninguém vê, mas todos sabem qual é a causa. Eu estou apaixonada. Sou egocêntrica. Não me amo o suficiente. Me amo demais. Sou tímida. Não, não sou tímida. Ponho muito peso nas coisas. Penso demais. Não penso direito. Talvez. Fica tarde, vou para a cama. Os pensamentos são os mesmos. Minto. Não são pensamentos. Não sei o que são. Não durmo, engulo o comprimido, ganho duas horas de olhos fechados e uma dor de cabeça. É assim.

N OVO CONTO

PONTO DO

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A vida sempre sem graça de Sandra Tinha sido um ano bom. Não ficara o tempo todo trancada dentro de casa. Finalmente superara o medo de dirigir, há oito meses usava o carro quase todos os dias. Com oito anos de carta, era uma motorista inexperiente. Não importava, agora se virava no trânsito. Sandrinha era muito tímida. Atividades as mais banais a torturavam. Parecia uma adolescente. Morria de vergonha de perguntar o preço das coisas. Pedir uma pizza, então, era tarefa impossível. Era incapaz de manter uma conversa por mais simples que fosse. Nem sobre o tempo conseguia falar. Sentia-se sempre inadequada. Não havia jeito. Era a vida. A vida sempre sem graça de Sandra. Um dia a inadequação se intensificou. Não pega bem ir ao trabalho depois de três dias sem tomar banho. Nem chegar ao escritório de chinelo. Cada vez mais esquisita, Sandra foi obrigada a procurar um médico. O primeiro remédio

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não funcionou, o segundo também. O terceiro, depois de três doses aumentadas, surtiu efeito. Vieram insônias e enxaquecas. Tudo bem, agora Sandrinha sempre calçava sapatos apropriados. Depois das sete pílulas diárias de três espécies diferentes, Sandrinha estava em paz. Nunca chorava mais que duas vezes por semana escondida no banheiro do escritório. Sentia-se forte. Deixava o serviço em dia. Começou até a usar maquiagem. Todas as manhãs rebocava o rosto na tentativa de esconder rugas que ainda não se tinham formado. Quase conseguia sorrir. Num domingo de tédio resolveu mandar uma mensagem para uma amiga do ensino médio. Não, não. Amiga é um termo muito forte. Uma colega do ensino médio. Logo se arrependeu. Tarde demais. Iriam se encontrar na semana seguinte. A tortura durou sete dias. Na adolescência, não era nada demais. Não tirava notas ruins. Nem boas. Não era popular. Não bebia muito. Não fazia parte de nada. Não fazia nada. A colega também era dessas. Sandra soube que se casara. Tinha feito alguma coisa. Trabalhava também. Devia ganhar mais que ela. Sobre o que conversariam? Não teriam nada em comum. Nem antes tinham. Eram apenas as sobras. No dia do encontro acordou com palpitações, sem falar na dor de barriga. Sandra seria lembrada de todos os seus fracassos. A colega não era um pouco sem graça. Muito comum, na verdade, mas ultrapassava Sandra em todos os sentidos. Sabia que se sentiria mais feia, mais chata, mais burra e mais inútil que normalmente. Tentou imaginar uma desculpa boa. Não teve criatividade para tal. Marcaram na catraca da estação. Aquele lugar tão amplo e tão lotado deixava Sandra tonta. Chegara 20 minutos antes da hora, tinha esquecido o hábito da colega de sempre se atrasar, e estava impaciente. Meia hora depois, Sandrinha sorriu. Quase não enxergava a jovem de outrora na mulher caminhando em sua direção. Ela estava gorda. Almoçaram, andaram pelo shopping, tomaram sorvete. Relembraram histórias nunca vividas. Durante toda a tarde Sandrinha sorriu. Tati, era esse o nome da colega, estava casada e tinha dois filhos. Atendente de telemarketing, trabalhava fora por meio período. No restante do tempo, servia ao marido e às crianças. Mentia-se feliz e, a cada mentira da outra, Sandrinha se sentia mais forte, mais capaz, mais cheia de vida. Nunca uma tarde havia sido tão revigorante. Na semana seguinte, ao receber o pagamento, Sandrinha foi ao cabeleireiro e pediu um corte que diminuísse o frizz de suas mechas indefinidas.

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Saiu satisfeita, não bonita. Sua confiança só aumentava. Olhando uma vitrine próxima cobiçou um vestido. Ele era rosa-choque com grandes flores verdes pintadas com primor. Era um tubinho. Sandra hesitou, aquela roupa vibrante não combinava com seu jeito bege de ser. Ia embora e então se lembrou. Gorda. Tati era gorda. Era gorda e usava vestidos curtos e saltos altos. Comprou a peça e a usou para ir ao trabalho. O sucesso fez com que se sentisse encorajada. Notou olhares. Um segurança do prédio a fitava descaradamente. Sandrinha decidiu que era hora de conhecer alguém. Não podia mais negar sua sexualidade. Era um ser sexual. Precisava de calor. Precisava de sexo. Não era ingênua, sabia que sua beleza não faria com que fosse cortejada. Teria que tomar a iniciativa. Passou a tarde no banheiro do escritório tentando expelir seu medo de rejeição. O desespero entrava e saía em ondas violentas que se formavam em seu abdômen. Não podia murchar antes mesmo da primeira flor. Pensava e pensava, buscando uma solução. Superar a timidez não soava como realidade possível. Voltou à mesa do escritório. Desanimada, desgostosa, desesperançada. Lembrou-se do vestido. Tão lindo. Tão perfeito. Não. Não podia desistir. Vasculhou a internet à procura de uma salvação. Psicólogos. Sites de relacionamentos. Florais de Bach. Praias de nudismo. Rituais de umbanda. Simpatias do pai Didi. Nada disso servia. Cansada, com fome e dores nas costas, Sandra estava prestes a desistir e se jogar na cama com seu melhor amigo, um cachorro de pelúcia chamado Ted, quando leu uma sugestão interessante. Aulas de teatro. Passou uma semana entre sonhos de estrelato em horário nobre e períodos no mais privado dos cômodos de qualquer residência ou estabelecimento comercial. Por fim decidiu-se. A escola, ou melhor, a academia de teatro era caríssima. Sandra não se importou, sabia que nenhum valor era alto demais quando se tratava de buscar a felicidade. Pagou uma parte no débito e o restante, parcelou no crédito. As aulas começariam no mês seguinte. Sandrinha brilhava, não só devido ao óleo acumulado em sua face, mas também ao gozo futuro e imaginado. Cantava alto enquanto dirigia pela marginal. Estava feliz. Tão feliz que não viu o carro da frente parar de forma brusca. Nem o caminhão se aproximando de seu pequeno Fiat.

N OVO CONTO

PONTO DO

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MAHANA PELOSI CASSIAVILLANI nasceu em 18 de agosto de 1983, em Santo André (SP). É formada em Letras pela Universidade de São Paulo. “Nunca publiquei nada, mas escrevo intermitentemente desde os setes anos.”

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AO PÉ DA LETRA por Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras

Ortografia, um desafio! A começar pelo próprio termo, ortografia gera controvérsias, desconhecimento. Talvez a maioria das pessoas não saiba o seu significado. Quanto à origem, ortografia vem do grego orthographia, orthós, que quer dizer reto, e graph, raiz de grafo, escrever, mais o sufixo ia, logo – ortografia = escrita correta. Tenha ortografia e jamais diga “ortografia correta”. Uma redundância desnecessária.

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Sucesso educacional “O governo deve emitir parte do dinheiro arrecadado com os impostos em educação.” Talvez esse seja um dos motivos do fracasso educacional, que vemos dia a dia. “Emitindo dinheiro” não haverá melhoras na educação. Observe: emitir – lançar fora imitir – investir Atenção: os verbos emitir e imitir são chamados de parônimos, isto é, grafia e som parecidos. Frase correta: O governo deve imitir parte do dinheiro arrecadado com impostos em educação. Perigo no ar “Um gavião deu um voo razante sobre o condomínio de um bairro na zona rural.” Um susto grande! Qualquer ave que der um voo “razante” poderá cair. Rasante vem de raso, é portanto com s.

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Lembre-se: o “s” entre vogais tem som de “z”. Frase correta: Um gavião deu um voo rasante sobre o condomínio de um bairro na zona rural. Fim de noivado “A moça ficou com hogerisa ao noivo.” Coitado do rapaz! Escrito dessa maneira ele nem vai saber que sentimento é esse. A palavra correta é ojeriza (sem h, com j e z) e quer dizer: aversão, antipatia à pessoa ou coisa. Frase correta: A moça ficou com ojeriza ao noivo. Mau trabalhador “O patrão está insatisfeito com o empregado, pois o serviço ficou mal-feito.” Certamente, quem faz um serviço “mal-feito” merece ser despedido. Esta palavra não admite o hífen – malfeito é a forma correta. Atenção: mal só se separa com hífen quando o segundo elemento começar com vogal

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L ETRA

AO PÉ DA

(mal-amado), h ( mal-humorado) ou l (mal-limpo). Período correto: O patrão está insatisfeito com o empregado, pois o serviço ficou malfeito. Troca-troca “Os patinadores faziam suas evoluções no centro do ringue, enquanto os lutadores brigavam no rinque.” Isso não poderia dar certo! Observe a diferença: ringue – tablado onde se realizam diferentes tipos de luta rinque – pista de patinação Período correto: Os patinadores faziam suas evoluções no centro do rinque, enquanto os lutadores brigavam no ringue. Saudação “O diretor saldou seus funcionários, mas eles não responderam.” Com certeza não entenderam. O verbo “saldar” foi mal-empregado. Atenção ao significado dos verbos: saldar – pagar, quitar uma dívida saudar – cumprimentar Período correto: O diretor saudou seus funcionários, mas eles não responderam. Você precisa saber Na língua escrita, não comece uma frase com um pronome pessoal oblíquo. Escreva: passe-me o livro / dê-me um pouco de atenção/ faça-me um favor.

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Frustração “O rapaz respondeu certo à pergunta do programa de televisão, mas não recebeu o bonus prometido.” Pode até ter sido propaganda enganosa, mas “bonus” escrito sem acento contribuiu, para a tristeza do concorrente. As palavras paroxítonas (a sílaba tônica é a penúltima) terminadas em “i” e “u” seguidos ou não de “s” são acentuadas – bônus. Outros exemplos: táxi, lápis, tônus etc. Período correto: O rapaz respondeu certo à pergunta do programa de televisão, mas não recebeu o bônus prometido.

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Entretenimento “A mãe não conseguia enterter o filho com o brinquedo que comprara para ele.” Nenhuma criança conseguiria. O verbo “enterter” não existe. A ação que diverte, que proporciona entretenimento, é entreter. Uma criança se entretém com qualquer coisa. Período correto: A mãe não conseguia entreter o filho com o brinquedo que comprara para ele. Espetacular “Uma artista, dando uma entrevista sobre sua maneira de se vestir, disse que tem sapatos espetaculosos.” Falar feio causa má impressão. Existe o adjetivo espetaculoso, como também o vocábulo espetacular. Entretanto, observe a melhor maneira de usá-los: espetaculoso – aquilo que constitui espetáculo

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espetacular – muito bom, excelente. Eram sapatos espetaculosos ou sapatos espetaculares? Depende de quem vai usá-los. Curiosidade O verbo xaropear significa aborrecer, amolar, chatear. Xaropear as pessoas é uma forma de afastá-las de você. Não xaropeie seus amigos!

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Convencimento “O dono da loja era um pretencioso, achando que todas as clientes se apaixonariam por ele.” Será? Quem escreve “pretencioso” com “c” corre o risco de não ter sucesso com as moças. A grafia correta desta palavra é com “s” – pretensioso. Período correto: O dono da loja era um pretensioso, achando que todas as clientes se apaixonariam por ele.

Claro! O funcionário deve ter dado motivos, mas, além disso, a palavra “despensa” foi usada inadequadamente. Observe: despensa – parte da casa onde são guardados os mantimentos dispensa - pedir afastamento, licença Frase correta: A dispensa do funcionário será providenciada com a máxima rapidez. Final feliz? “Frente à frente à moça, que mal conhecia, pediu-a em casamento.” Será que ela aceitou? Difícil aguentar a expressão “frente à frente”. As expressões de palavras repetidas não admitem a crase – frente a frente é o correto. Período correto: Frente a frente à moça, que mal conhecia, pediu-a em casamento.

Excesso de sensibilidade “O rapaz se queixa da namorada, alegando que ela é super-sensível.” Tudo é possível, mas uma pessoa “super-sensível” deve ser, de fato, intragável. Não se admite o hífen depois do prefixo super quando o segundo elemento começa com a letra “s” - supersensível. Período correto: O rapaz se queixa da namorada, alegando que ela é supersensível.

Amizade duvidosa A moça recomendou ao irmão: “Você tem que fazer tudo para voltar a amar ela”. Além do cacófato “amarela”, o pronome pessoal do caso reto (ela) só deve ser usado como sujeito da oração e no caso, “ela” está na função de objeto direto. O verbo amar é transitivo direto, mas o seu complemento (objeto direto) jamais seria um pronome pessoal (ela) e sim – amá-la. Período correto: Você tem que fazer tudo para voltar a amá-la.

Perda do emprego “A despensa do funcionário será providenciada com a máxima rapidez.”

Pobreza em excesso “A menina pediu ao pai que desse uma esmola ao mendingo.”

Ali

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Que horror! A pobreza é uma tristeza, mas usando o termo “mendingo” a torna ainda maior. Não existe esta palavra. O certo é mendigo. Período correto: A menina pediu ao pai que desse uma esmola ao mendigo. Futebol “Jogar bola é o passa-tempo preferido da maior parte dos meninos e rapazes.” Lamentável! Assim não vão conseguir brincar à vontade. A palavra é passatempo – uma palavra só, sem hífen, conforme determina o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa / VOLP, da Academia Brasileira de Letras/ ABL. Período correto: Jogar bola é o passatempo preferido da maior parte dos meninos e rapazes.

Decepção “A velha senhora vive triste por quanto não aproveitou bem a vida.” Coitada! Dupla decepção! A expressão “por quanto” foi usada indevidamente. Atenção ao uso correto: por quanto (separado) – deve ser usado em frases interrogativas – Por quanto tempo a velha senhora viverá? porquanto (uma só palavra) = porque (conjunção) Período correto: A velha senhora vive triste porquanto não aproveitou bem a vida.

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Instigação

Informativo do SESI-SP e SENAI-SP SUP/DR - número 03 - junho de 2014

Desinformação ou Desalento à Procura de Emprego? Neste número, vamos examinar o bônus demográfico, colocando-o em uma perspectiva histórico-cultural.

A População de 25-34 anos Frequentemente, temos visto nos meios de comunicação de massa mensagens tentando explicar o comportamento da população chama90da “nem-nem” – aquela que nem estuda, nem trabalha. O que estaria acontecendo com esses jovens? A imersão deles na barafunda de informações da internet os colocaria diante de muitas alternativas que os confundiria? Ou a coleta e divulgação de informações sobre o fenômeno precisaria ser aprimorada? Os sociólogos e demógrafos não têm encontrado respostas fáceis ao fenômeno. Técnicas de pesquisas sempre podem ser aprimoradas. Contudo, quando verificamos dois tipos de levantamento – Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), cuja unidade de coleta é o domicílio e o confrontamos com os dados da

Relação Anual de Informações Sociais (Rais), cuja unidade de coleta é o estabelecimento empresarial ‒, verificamos a mesma tendência. No caso da Rais, constata-se que a faixa de idade de 25-34 anos tende, cada vez mais, a sair do mercado de trabalho formal, principalmente na indústria. A Pnad evidencia a tendência similar para a mesma faixa de idade. Para levantar algumas hipóteses, faz-se necessário uma visão interdisciplinar que busque identificar o que esta parcela da população “desalentada” procura e não acha e, como isso pode ser visto do ponto de vista dos processos psicológicos, culturais e sociais. Não é tarefa fácil, mas urge empreendê-la para que a sociedade possa superar esse problema.

Por que as condições atuais do mundo do trabalho formal atraem pouco o jovem? Esta é uma pergunta que poderemos nos fazer para tentar entender o fenômeno. As taxas de desemprego não são altas, por outro lado a procura por trabalho tem diminuído. Quais seriam as razões para esse desalento? Uma das possíveis respostas é que as condições de trabalho formal no Brasil já não são tão atraentes para os jovens, numa faixa expandida de 15 a 35 anos. O acesso às informações abre muitas trilhas possíveis de serem seguidas. Isso dificulta os processos de tomada de decisão sobre os rumos de vida a tomar. Um dos sinais que corroboram essa hipótese é a quantidade de jovens brasileiros de todas as

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camadas sociais que anseiam por oportunidades no exterior. Isso pode ser entendido como salutar, pois se trata da faixa de idade certa para se “aventurar”, para abrir novos horizontes. Contudo, dependendo do volume dessa dispersão, estaríamos jogando fora a oportunidade do bônus demográfico e, ao mesmo tempo, sobrecarregando as atividades laborais dos mais velhos. Outra hipótese plausível é a de que a formação profissional e acadêmica tem o público-alvo equivocado, ou não bem orientado. Outra hipótese, esta historicamente comprovada, é a ideia do bacharelismo. Todos querem ser doutor, buscando ascensão social. A baixa valorização do trabalho qualificado não universitário no Brasil gera distorções das mais graves, tanto para a economia como nas escolhas das profissões. E quais mecanismos poderiam ser criados para captar e orientar a motivação dos jovens? Um deles, sem menor dúvida, é a informação vocacional e profissional.

A ausência de informação vocacional e profissional Há muito tempo que alguns educadores têm defendido o estabelecimento de mecanismos de informação profissional para os jovens e adultos. O país tem caminhado nesse sentido com a oferta serviços de emprego do setor públicos. Ao comparar o Sistema Nacional de Emprego (Sine) do Brasil com os seus congêneres em outras partes do mundo, é notório que há muito espaço para melhorias. A começar pelo atendimento face a face. Em países como o Canadá e a França há bons exemplos de serviços de orientação a estudantes e de colocação profissional a quem procura emprego. Além de oferta desses serviços via internet, aberta ao público, o ponto crucial é o atendimento face a face. Geralmente, ele é feito por psicólogos, educadores aposentados, gente com experiência em orientar e fazer a interlocução. Não adianta colocar no atendimento um contingente de pouco preparo para essa tarefa, o que é o usual no Brasil. Como consequência, os serviços têm baixa efetividade.

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Os serviços de informação profissional deveriam ser mecanismos públicos oferecidos a todos 91 os jovens no início do ensino médio. Ao depender do que o motiva, do que o interessa, o orientador pode ajudá-lo a se planejar. Escolher o caminho mais fácil – fazer o curso que não exija esforço para passar no vestibular e outras formas de avaliação não é a decisão mais inteligente. Entretanto, esse tem sido o caminho de muitos jovens brasileiros. Depois do curso concluído, pago a duras penas, não há colocação no mercado de trabalho, uma das causas do desalento. A informação profissional seria um primeiro e relevante passo para a construção de um sistema de orientação vocacional. Os jovens em busca do primeiro emprego precisam de informações confiáveis sobre as ocupações, as oportunidades de trabalho e as ofertas de formação. Isso tudo pode ser veiculado em escala massiva pela internet ou, com atendimento especializado, nas redes de ensino ou em centros estruturados para essa finalidade.

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EVENTOS DAS EDITORAS SESI-SP E SENAI-SP

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E VE N ES TO DI TO RA

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Mãos mágicas Livraria da Vila (SP)

A vida é um trem Livraria Saraiva do Shopping Anália Franco (SP)

Não, Sim, Talvez Livraria Novesete (SP)

Vítor e o invisível Livraria da Vila (SP)

Receitas de terra e mar Shopping Barra Gourmet (BA)

Garoto, o gênio das cordas Sala de Artes Paulistanas Instituto Histórico e Geográfico (SP)

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EVENTOS DAS EDITORAS SESI-SP E SENAI-SP

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E VE N ES TO DI TO RA

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Crônicas de cavaleiros e dragões Livraria da Vila (SP)

Matintapereira e A lenda do Batatão Livraria Novesete (SP)

Humor Paulistano Livraria Cultura (SP)

A revolução dos eBooks Livraria Martins Fontes (SP)

O teatro de revista no Brasil Livraria da Travessa (RJ)

Na trilha dos saberes Teatro do SESI (Campinas)

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cARDáPIo

ceNTrO culTural fiesP – ruTH carDOsO* AvEnIDA PAuLIsTA, 1313 sÃo PAuLo sP TEATRo MusICAL a maDriNHa embriagaDa aTé 29/06/2014

Com texto original de quatro canadenses, tradução e direção de Miguel Falabella, elenco de 25 atores, orquestra com 15 músicos, Stella Miranda como atriz convidada, a produção deste musical teve orçamento de R$ 12 milhões. Durante 11 meses, serão realizadas 325 sessões do musical com ingressos gratuitos, para ampliar e democratizar o acesso do público. TEATRo ConTEMPoRÂnEo vermelHO céu e 52 Hz aTé 20/07/2014

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Os dois espetáculos foram unidos por representarem um antagonismo, por serem, de certo modo, opostos complementares e trabalharem diversos contrastes, o frio e o quente, o mergulho e a expansão, o toque e a pancada, a suíte e o hardcore. 52 Hz, de Carla Kinzo, é azul, líquido, denso, profundo. A cor da memória, da interioridade. Nela há o mar, uma expressão lírica, uma profunda tristeza, melancolia. O azul aponta para o infinito, para o que está além da lógica mundana. Do outro lado está VermelhoCéu, de Rafael Augusto. O vermelho árido, intenso. Cor de sangue e de fúria. Porque nele há secura, que se expõe em uma trágica comicidade. Mas o vermelho também aponta para o infinito, para o que está além da lógica costumeira. Os elementos cênicos forjados na dramaturgia exigem da encenação a clara e franca utilização dos recursos teatrais. Neles são requisitados com contundência a sonoplastia apurada, o espaço planejado, a iluminação específica e atores sensíveis com um repertório variado de recursos técnicos que expressam a sutileza e tipificação de seus personagens. Vem daí a contemporaneidade desses textos, apresentados em sessão com duração de 90 minutos, incluindo um intervalo. Oportunidade para seus autores experimentarem a linguagem teatral, friccionando forma e conteúdo. Dois espetáculos antagônicos e, ao mesmo tempo, complementares, assim como são os contrastes.

baNDa siNfôNica DO esTaDO De sãO PaulO 25/06/2014

l’illusTre mOliÈre

A Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, sob a regência do maestro Marcos Sadao Shirakawa, apresenta um novo concerto da série Pra Ver a Banda Tocar!. Nesta oportunidade executando peças de expoentes da música clássica, como Festive Overture – opus 96, de Dimitri Shostakovich (1906-1975), a Suíte Klezmer para contrabaixo solo, de Alexandre Travassos (1970), a Suíte do Balé Romeo e Julieta, de Serguei Prokofiev (1891-1953), e a Suíte Quebra Nozes, de Peter I. Tchaikovisky (1840-1893). Os concertos incluem um momento interativo com a plateia, denominado Canja Sinfônica, quando algum músico-espectador sobe ao palco com o seu instrumento de sopro e excuta uma canção com os 82 profissionais da formação.

sesi camPiNas i 13, 14 e 15/06

ciNePiaNO 06/07/2014

O cinema mudo nunca foi totalmente mudo. Normalmente, as projeções cinematográficas do período inicial da sétima arte eram acompanhadas por músicas executadas ao vivo. Desafiador exercício de improvisação e sincronismo, a performance musical de filmes em tempo real é uma experiência única. Cinepiano é uma apresentação que promove um resgate dessa pouca conhecida faceta do cinema. Durante a exibição de películas do cinema mudo, Tony Berchmans cria a trilha sonora musical ao piano, misturando excertos de temas clássicos com músicas originais de sua autoria compostas nos estilos da época, ragtime e jazz tradicional, sempre em sincronismo com a ação e os momentos de emoção do filme. Autor do livro A Música do Filme — Tudo o Que Você Gostaria de Saber sobre a Música de Cinema, Tony Berchmans atua também como produtor de áudio e pesquisador de composições para o cinema mudo.

MÚsICA EM CEnA PaOla barON 15/06/2014

No Arco das Sonoridades: Percurso musical no repertório para Harpa. A premiada harpista italiana Paola Baron, membro da Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP), escolheu para este concerto obras que retratam vários períodos da música ocidental erudita para harpa. A musicista de larga experiência transfere para o instrumento toda a musicalidade, graça e beleza de um repertório cheio de nuances e toques de criatividade e técnica apurada, apresentando obras do século XVII ao XX.

cisNe NegrO – caluNga sesi TaubaTé 2 e 3 De agOsTO sesi iNDaiaTuba 9 e 10 De agOsTO sesi juNDiaí 16 e 17 De agOsTO sesi bOTucaTu 30 e 31 De agOsTO

cONeXãO culTural urbaNa sesi fraNca aTé 28 De fevereirO De 2016

malDiTO beNefíciO sesi camPiNas De 18 a 20 De julHO

marTiN lazarOv sesi camPiNas 25 De julHO

OficiNa De cOrDas De camPiNas sesi iTaPeTiNiNga 22 De agOsTO

OrquesTra saNfôNica De sãO PaulO sesi iTaPeTiNiNga 23 De agOsTO

* Datas e horários sujeitos a alterações. Mais informações no site www.sesisp.org.br/cultura/.

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cARDáPIo

gALErIA DE fOTOs cONeXãO culTural urbaNa cisNe NegrO - caluNga OrquesTra saNfôNica De sãO PaulO malDiTO beNefíciO l'illusTre mOliÈre marTiN lazarOv OficiNa De cOrDas De camPiNas

Foto: Pablo de Sousa Foto: R Thomaz

Foto: Calunga

Foto: Divulgação

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Foto: Ronaldo Gutierrez

Foto: Paulo Gomes Foto: Divulgação

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GALERIA DE FOTOS Banda sinfônica do estado de são Paulo A madrinha embriagada cinepiano Circo de bonecos

Foto: Paulo Heise

Foto: Divulgação

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Foto: Suzane Medeiros Vianna

Foto: Bruno

Foto: Fernando Bergamini

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Foto: Divulgação

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Foto: Divulgação

vermelHO céu e 52 Hz braziliaN guiTar quarTeT cONjuNTO De música aNTiga eca-usP

Foto: Bruno Schultze

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Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso

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unIDADEs Do sEsI-sP americaNa cat dR. esteVaM faRaoNe aVeNida BaNdeiRaNtes,1000 cHÁcaRa MacHadiNHo ceP 13478-700 - aMeRicaNa - sP tel: (19) 3471-9000 www.sesisp.org.br/americana araçaTuba cat fRaNcisco da silVa Villela Rua dR. alVaRo afoNso do NasciMeNto, 300 - J. PResideNte ceP 16072-530 - aRaÇatuBa - sP tel: (18) 3519-4200 www.sesisp.org.br/aracatuba araraquara cat WiltoN luPo aVeNida octaViaNo de aRRuda caMPos, 686 - Jd. floRidiaNa ceP 14810-901 - aRaRaQuaRa - sP tel: (16) 3337-3100 www.sesisp.org.br/araraquara araras cat laeRte MicHieliN aVeNida MelViN JoNes, 2.600 - B. HeitoR Villa-loBos ceP 13607-055 - aRaRas - sP tel: (19) 3542-0393 www.sesisp.org.br/araras bauru cat RaPHael NoscHese Rua RuBeNs aRRuda, 8-50 - altos da cidade ceP 17014-300 - BauRu - sP tel: (14) 3234-7171 www.sesisp.org.br/bauru

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LIMEIRA CAT MARIO PUGLIESE AVENIDA MJ. JOSÉ LEVY SOBRINHO, 2415 - ALTO DA BOA VISTA CEP 13486-190 - LIMEIRA - SP Tel: (19) 3451-5710 www.sesisp.org.br/limeira

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MARÍLIA CAT LÁZARO RAMOS NOVAES AVENIDA JOÃO RAMALHO, 1306 - JD. CONQUISTA CEP 17520-240 - MARÍLIA - SP Tel: (14) 3417-4500 www.sesisp.org.br/marilia

PIRACICABA CAT MARIO MANTONI AVENIDA LUIZ RALPH BENATTI, 600 - VL INDUSTRIAL CEP 13412-248 - PIRACICABA - SP Tel: (19) 3403-5900 www.sesisp.org.br/piracicaba

MATÃO CAT PROFESSOR AZOR SILVEIRA LEITE RUA MARLENE DAVID DOS SANTOS, 940 - JARDIM PARAÍSO III CEP 15991-360 - MATÃO - SP Tel: (16) 3382-6900 www.sesisp.org.br/matao

PRESIDENTE EPITÁCIO CIL - CARLOS CARDOSO DE ALMEIDA AMORIM AVENIDA DOMINGOS FERREIRA DE MEDEIROS, 2.113 - VILA RECREIO CEP 19470-000 - PRES. EPITÁCIO - SP Tel: (18) 3281-2803 www.sesisp.org.br/presidenteepitacio

MAUÁ CAT MIN. RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO, 237 - JARDIM ZAÍRA CEP 09320-590 - MAUÁ - SP Tel: (11) 4542-8950 www.sesisp.org.br/maua MOGI DAS CRUZES CAT NADIR DIAS DE FIGUEIREDO RUA VALMET, 171 - BRAZ CUBAS CEP 08740-640 - MOGI DAS CRUZES - SP Tel: (11) 4727-1777 www.sesisp.org.br/mogidascruzes

PRESIDENTE PRUDENTE CAT BELMIRO JESUS AVENIDA IBRAIM NOBRE, 585 - PQ. FURQUIM CEP 19030-260 - PRES. PRUDENTE - SP Tel: (18) 3222-7344 www.sesisp.org.br/presidenteprudente RIBEIRÃO PRETO CAT JOSÉ VILLELA DE ANDRADE JUNIOR RUA DR. LUÍS DO AMARAL MOUSINHO, 3465 - CASTELO BRANCO CEP 14090-280 - RIBEIRÃO PRETO - SP Tel: (16) 3603-7300 www.sesisp.org.br/ribeiraopreto

MOGI GUAÇU CAT MIN. ROBERTO DELLA MANNA RUA EDUARDO FIGUEIREDO, 300 - PARQUE RESIDENCIAL ZANIBONI III CEP 13848-090 - MOGI GUAÇU - SP Tel: (19) 3861-3232 www.sesisp.org.br/mogiguacu

RIO CLARO CAT JOSÉ FELÍCIO CASTELLANO AVENIDA M-29, 441 - JD. FLORIDIANA CEP 13505-190 - RIO CLARO - SP Tel: (19) 3522-5650 www.sesisp.org.br/rioclaro

OSASCO CAT LUIS EULALIO DE BUENO VIDIGAL FILHO AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 401 CEP 06233-020 - OSASCO - SP Tel: (11) 3602-6200 www.sesisp.org.br/osasco

SANTA BÁRBARA D' OESTE CAT AMÉRICO EMÍLIO ROMI AVENIDA MÁRIO DEDINI, 216 - V. OZÉIAS CEP 13453-050 - S. B. D`OESTE - SP Tel: (19) 3455-2088 www.sesisp.org.br/santabarbara

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SANTANA DE PARNAÍBA CAT JOSÉ CARLOS ANDRADE NADALINI AVENIDA CONSELHEIRO RAMALHO, 264 - CIDADE SÃO PEDRO CEP 06535-175 - SANTANA DE PARNAÍBA - SP Tel: (11) 4156-9830 www.sesisp.org.br/parnaiba SANTO ANDRÉ CAT THEOBALDO DE NIGRIS PÇA. DR. ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, 100 - STA. TEREZINHA CEP 09210-550 - SANTO ANDRÉ - SP Tel: (11) 4996-8600 www.sesisp.org.br/santoandre SÃO BERNARDO DO CAMPO CAT ALBANO FRANCO RUA SUÉCIA, 900 - ASSUNÇÃO CEP 09861-610 - S. B. DO CAMPO - SP Tel: (11) 4109-6788 www.sesisp.org.br/sbcampo SÃO CAETANO DO SUL CAT PRES. EURICO GASPAR DUTRA RUA SANTO ANDRÉ, 810 - BOA VISTA CEP 09572-140 - S. C. DO SUL - SP Tel: (11) 4233-8000 www.sesisp.org.br/saocaetano SANTOS CAT PAULO DE CASTRO CORREIA AVENIDA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, 366 - JD. SANTA MARIA CEP 11085-202 - SANTOS - SP Tel: (13) 3209-8210 www.sesisp.org.br/santos SÃO CARLOS CAT ERNESTO PEREIRA LOPES FILHO RUA CEL. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA SALLES, 1325 - V. IZABEL CEP 13570-900 - SÃO CARLOS - SP Tel: (16) 3368-7133 www.sesisp.org.br/saocarlos SÃO JOSÉ DO RIO PRETO CAT JORGE DUPRAT FIGUEIREDO AVENIDA DUQUE DE CAXIAS, 4656 VL. ELVIRA CEP 15061-010 - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP Tel: (17) 3224-6611 www.sesisp.org.br/sjriopreto

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SÃO JOSÉ DOS CAMPOS CAT OZIRES SILVA AVENIDA CIDADE JARDIM, 4389 BOSQUE DOS EUCALIPTOS CEP 12232-000 - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Tel: (12) 3936-2611 www.sesisp.org.br/sjcampos SÃO PAULO – AE CARVALHO CAT MARIO AMATO RUA DEODATO SARAIVA DA SILVA, 110 PQ. DAS PAINEIRAS CEP 03694-090 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2026-6000 www.sesisp.org.br/carvalho SÃO PAULO – CATUMBI CAT ANTONIO DEVISATE RUA CATUMBI, 318 - BELENZINHO CEP 03021000 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2291-1444 www.sesisp.org.br/catumbi SÃO PAULO – IPIRANGA CAT ROBERTO SIMONSEN RUA BOM PASTOR, 654 – IPIRANGA CEP 04203-000 – SÃO PAULO – SP Tel: (11) 2065-0150 www.sesisp.org.br/ipiranga SÃO PAULO – VILA DAS MERCÊS CAT PROFESSOR CARLOS PASQUALE RUA JÚLIO FELIPE GUEDES, 138 CEP 04174-040 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2946-8172 www.sesisp.org.br/merces SÃO PAULO – VILA LEOPOLDINA CAT GASTÃO VIDIGAL RUA CARLOS WEBER, 835 - VILA LEOPOLDINA CEP 05303-902 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 3832-1066 www.sesisp.org.br/leopoldina

SOROCABA CAT - SEN JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES RUA DUQUE DE CAXIAS, 494 - MANGAL CEP 18040-425 - SOROCABA - SP Tel: (15) 3388-0444 www.sesisp.org.br/sorocaba SUMARÉ CAT FUAD ASSEF MALUF AVENIDA AMAZONAS, 99 - JARDIM NOVA VENEZA CEP 13177-060 - SUMARÉ - SP Tel: (19) 3854-5855 www.sesisp.org.br SUZANO CAT MAX FEFFER AVENIDA SENADOR ROBERTO SIMONSEN, 550 - JARDIM IMPERADOR CEP 08673-270 - SUZANO - SP Tel: (11) 4741-1661 www.sesisp.org.br/suzano

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TATUÍ CAT WILSON SAMPAIO AVENIDA SÃO CARLOS, 900 B. DR. LAURINDO CEP 18271-380 - TATUÍ - SP Tel: (015) 3205-7910 www.sesisp.org.br/tatui TAUBATÉ CAT LUIZ DUMONT VILLARES RUA VOLUNTÁRIO BENEDITO SÉRGIO, 710 - B. ESTIVA CEP 12050-470 - TAUBATÉ - SP Tel: (12) 3633-4699 www.sesisp.org.br/taubate VOTORANTIM CAT JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES FILHO RUA CLÁUDIO PINTO NASCIMENTO, 140 - JD. MORUMBI CEP 18110-380 - VOTORANTIM - SP Tel: (15) 3353-9200 www.sesisp.org.br/votorantim

SERTÃOZINHO CAT NELSON ABBUD JOÃO RUA JOSÉ RODRIGUES GODINHO, 100 CONJ. HAB. MAURÍLIO BIAGI CEP 14177-320 - SERTÃOZINHO - SP Tel: (16) 3945-4173 www.sesisp.org.br/sertaozinho

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Ilustração de André Letria para o livro Domingo vamos à Luz publicado pela SESI-SP Editora.


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