PONTO
#8 JAN-FEV-MAR 2O15
SOBRE GIBIS, TIRAS E BELAS ARTES FAUZI ARAP E SEUS DISCÍPULOS CONVERSA COM KIARA SASSO
REVISTA PONTO® PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DO SESI-SP #8 JAN-FEV-MAR 2O15
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SESI-SP EDITORA AV. PAULISTA 1313 4º ANDAR O1311-923 SÃO PAULO SP TELEFONE 55 11 3146 7308
A HISTÓRIA DO FIGURINO REVISITADA TRÊS CONTOS DE DOMINGOS PELLEGRINI
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P O N T OD E P A RT I D A
A revista Ponto abre o ano de 2015 tentando o modelo de uma revista atemporal, da mesma forma que a arte de qualidade que buscamos divulgar, comentar e analisar em nossas páginas. Sejam elas artes cênicas, literatura, artes plásticas e invenção que, por ser criativa, também pode ser vista como arte, seja por meio das obras, seja por meio dos artistas. Um pouco de cada, cada um de um tempo, entra na composição do caleidoscópio desta edição. Na matéria de capa, Marcelo Alencar analisa a evolução das histórias em quadrinhos e mostra como, no início, os quadrinistas se inspiraram nos movimentos artísticos dominantes de suas épocas e como, com o passar do tempo, as HQs passam a influenciar a arte. Que o digam Andy Warhol e Roy Lichtenstein! Kiara Sasso estrela a entrevista desta edição. A ganhadora do prêmio Bibi Ferreira 2013/2014, como melhor atriz coadjuvante, por sua interpretação no musical A madrinha embriagada, que ficou em cartaz por cerca de mais de um ano, no Centro Cultural FIESP — Ruth Cardoso, divide com os leitores da Ponto as lembranças de sua formação artística, no Brasil e nos EUA. Conta também como foi sua participação nos principais musicais brasileiros dos últimos anos e fala da experiência de viver Antônia, na nova montagem de O homem de la Mancha. Continuando nas artes cênicas, a seção dedicada aos 50 anos do Teatro Popular do SESI-SP fala do livro organizado por J. C. Serroni, a ser publicado neste início de ano pela SESI-SP Editora, com a história ilustrada dos figurinos do Teatro do SESI-SP; são cerca de 30 figurinistas e mais de 130 figurinos que apresentam um panorama da evolução estética da moda e da arte por meio deste subproduto das peças teatrais que a cada ano ganha mais importância e destaque no processo criativo da dramaturgia brasileira e mundial. Ainda falando de teatro, no contexto do Projeto Fauzi Arap, a Ponto resgata a memória e o talento do extraordinário ator, diretor e dramaturgo que a cena brasileira perdeu em 2013. Aqui poderemos reencontrar essa grande figura, retratada do ponto de vista de três dos seus discípulos: os atores Denise Fraga, Nilton Bicudo e o ator e diretor Elias Andreato. Finalmente, a revista traz uma seção dedicada ao gênio renascentista que é tema de duas iniciativas culturais do SESI-SP: a exposição Leonardo Da Vinci: A Natureza da Invenção, em exibição na Galeria de Arte do SESI-SP até 10 de maio de 2015; e o livro lançado paralelamente à exposição, pela SESI-SP Editora, Leonardo Da Vinci: A Natureza e a Invenção. Ótima leitura e um ótimo ano a todos. O Editor
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A REVISTA PONTO® É UMA PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DA SESI-SP EDITORA, EM PARCERIA COM A DEC (DIVISÃO DE EDUCAÇÃO E CULTURA), COM EDIÇÕES TRIMIESTRAIS
CONSELHO EDITORIAL
PAULO SKAF (PRESIDENTE) WALTER VICIONI GONÇALVES DÉBORA CYPRIANO BOTELHO NEUSA MARIANI
COMISSÃO EDITORIAL
FERNANDO ANTONIO CARVALHO DE SOUZA DÉBORA PINTO ALVES VIANA ALEXANDRA SALOMÃO MIAMOTO ÁLVARO ALVES FILHO RODRIGO DE FARIA E SILVA GABRIELLA PLANTULLI
EDITOR CHEFE
RODRIGO DE FARIA E SILVA
COORDENAÇÃO EDITORIAL GABRIELLA PLANTULLI
CAPA, EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA PAULA LORETO VALQUÍRIA PALMA CAMILA CATTO
MARKETING E VENDAS THAÍS MARQUES PAULO MAMEDE
DIVULGAÇÃO E PROMOÇÃO
RAIMUNDO ERNANDO DE MELO JUNIOR
ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO
VALÉRIA VANESSA EDUARDO EDILZA ALVES LEITE FLÁVIA REGINA SOUZA DE OLIVEIRA MÁRCIO DA COSTA VENTURA
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO ARNALDO NISKIER ANA VILELA CAROLINA CARDOSO DOMINGOS PELLEGRINI LUIZ BRAS MARCELO ALENCAR MARÍLIA FONTANA GARCIA SÉRGIO RIZZO WALTER VICIONI GONÇALVES
REVISÃO
LILIAN GARRAFA
Capa Imagem de escultura em aço envernizado Explosion no 1, de Roy Lichtenstein.
JORNALISTA RESPONSÁVEL
GABRIELLA PLANTULLI (MTB 0030796SP)
PROJETO GRÁFICO ORIGINAL VICENTE GIL DESIGN
TIRAGEM DESTA EDIÇÃO 5 MIL EXEMPLARES IMPRESSÃO NYWGRAF REVISTA PONTO® - PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL NÚMERO 8 – JAN-FEV-MAR DE 2015 SESI-SP EDITORA AV PAULISTA 1313, 4º ANDAR TELEFONE: 3146-7134
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06 ESTANTE DE LIVROS LANÇAMENTOS 08 PONTO ENTREVISTA CONVERSA COM KIARA SASSO 16 PONTO EXPOSIÇÃO PELAS ASAS DE UM VISIONÁRIO 24 PONTO ESPECIAL SOBRE GIBIS, TIRAS E BELAS ARTES 34 TEATRO POPULAR DO SESI FAUZI ARAP E SEUS DISCÍPULOS 42 50 ANOS TEATRO POPULAR DO SESI A HISTÓRIA DO FIGURINO REVISITADA 50 PONTO LEITURA REFLEXÕES SOBRE AS ANTIGAS REFLEXÕES SOBRE O CONTO 58 PONTO DO CONTO POR DOMINGOS PELLEGRINI 64 PONTO DO NOVO CONTO POR LAURA ELIZIA HAUBERT 70 AO PÉ DA LETRA POR ARNALDO NISKIER 74 INSTIGAÇÃO PROCURA E OFERTA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL: OBEDECER OU IGNORAR? 76 EVENTOS DA EDITORA LANÇAMENTOS 82 AGENDA CULTURAL PROGRAMAÇÃO GALERIA DE FOTOS UNIDADES DO SESI
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ESTANTE DE LIVROS
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Abrimos a seção Estante de Livros deste ano com opções para todos os gostos: arte, contos para jovens, literatura infantojuvenil, moda, gastronomia, biografia, enfim, assuntos e gêneros diferenciados com o intuito de ampliar o conhecimento de nossos leitores, trazendo sempre novidades que garantam o entretenimento contínuo. Para conferir o nosso catálogo completo, entre em nossos sites.
DIÁRIO DE BITITA CAROLINA MARIA DE JESUS
LEONARDO DA VINCI: A NATUREZA E A INVENÇÃO ORGANIZADORES PATRICK BOUCHERON E CLAUDIO GIORGIONE
A dura luta cotidiana de uma família negra, nas primeiras décadas do século passado, narrada do ponto de vista de uma menina inteligente e interessada. Esta obra documenta seus esforços para, ainda criança, encontrar trabalho, garantir a sobrevivência material e manter a dignidade, acima de tudo. Um painel da sociedade agrária brasileira, realçado com tintas de injustiça social, preconceito e discriminação.
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A observação minuciosa da natureza fez parte do método de trabalho de Leonardo da Vinci e esteve presente na origem de suas criações artísticas e técnicas. Ele é o exemplo da curiosidade e da imaginação transdisciplinar que marcaram o pensamento renascentista e que, por isso, o aproximam do pensamento contemporâneo. Na maioria dos ensaios deste livro, a ênfase é dada aos seus estudos técnicos e científicos, embora suas inovações na pintura e no desenho também estejam presentes.
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LANÇAMENTOS
A VIDA É LOGO AQUI ORGANIZAÇÃO NELSON DE OLIVEIRA
Os contos reunidos nesta coletânea para jovens nos mostram, cada um à sua maneira, o ponto de vista de 15 adolescentes diante dos horizontes descortinados na passagem para a vida adulta. Certamente, essas ficções falam de felicidade, amor e amizade, mas também de timidez, injustiça e intolerância. Descrevem a perplexidade do indivíduo que se descobre num corpo que já não reconhece como seu. Expõem a angústia de quem percebe que cresceu e precisa fazer escolhas, nem sempre fáceis. Sobretudo, reafirmam a certeza de que a vida não é ontem nem amanhã. Não é lá longe, no passado ou no futuro. A vida é agora. É logo aqui.
O GRANDE LIVRO DAS GAROTAS DO BEM MEIRE DE OLIVEIRA E SOFIA SCHWABACHER Classificação indicativa: Leitor em processo (de 8 a 9 anos)
Brincando, desenhando e escrevendo, mãe e filha criaram uma galeria de personagens adoráveis: as Garotas Do Bem. A cumplicidade desta relação deu origem a este livro, que surgiu de maneira espontânea entre as autoras, da vivência entre elas, cada qual influenciando a vida da outra com suas respectivas experiências. E elas criaram seu próprio grupo de garotas, cada qual com personalidade única e comportamento singular. Abra o livro e venha conhecê-las.
A ARTE DA FERMENTAÇÃO
O MAGO
SANDOR KARTZ ELLIX
J.R.PENTEADO Classificação indicativa: Leitor crítico (a partir dos 12 ou 13 anos)
Sandor Katz inspirou incontáveis pessoas a redescobrir a antiga arte da fermentação com seu best-seller Wild fermentation. Nesta obra, ele oferece um guia completo e definitivo para estimular o leitor a fazer os próprios experimentos de fermentação em casa. Katz apresenta a história, os conceitos e os processos por trás da fermentação com simplicidade suficiente para orientar um iniciante em seus primeiros experimentos e, ao mesmo tempo, com profundidade para ampliar o entendimento e o conhecimento de fermentadores experientes.
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Chamava-se Mago, mesmo não sendo formado em magia. Mago era seu nome de batismo: Mago da Silva. Nasceu, cresceu e envelheceu tentando entender se seus pais sabiam o que estavam fazendo ao lhe darem esse nome. Até que um dia decidiu fazer uma longa viagem a pé, descobrindo regiões desconhecidas e encontrando pessoas pelo caminho. A cada encontro via-se diante de um novo desafio. E quando resolveu voltar ao ponto de partida, em meio a sua jornada da volta, foi conseguindo, passo a passo, entender a sina legada por seus pais.
MISTERO BUFFO DARIO FO
Irreverente e impiedosa, assim é a arte de Dario Fo. O talento deste mestre da sátira política é mundialmente reconhecido e mereceu o Prêmio Nobel de Literatura. Mistero Buffo é uma de suas criações mais importantes. Baseado nos evangelhos apócrifos e em contos medievais, na mais pura tradição da commedia dell’arte, apresenta-se como um jogral contemporâneo, retratando a relação do homem com a religião e suas contradições. É um libelo contra a injustiça social e a burocracia da Igreja.
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SENAI MIX DESIGN PRIMAVERA-VERÃO 2015/16 SENAI-SP
Esta obra traz as macrotendências de comportamento e consumo, inspirações, conexões, aplicação de tendências de forma estratégica e cartela de cores destacável, sempre levando em consideração aspectos globais e locais. Representa uma importante ferramenta, genuinamente brasileira, de difusão do conhecimento para a indústria de moda, gerando o embasamento conceitual e estratégico necessário ao desenvolvimento de produtos.
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QUANDO A MÚSICA ENTRA EM CENA...
Foto: Caio Gallucci
Kiara Sasso é uma das atrizes nacionais mais requisitadas quando o assunto é dramaturgia musical. Em seu currículo já são mais de 20 adaptações de musicais do porte de Hair, O fantasma da ópera, A noviça rebelde, A bela e a fera e Mamma mia.
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Atualmente, ela vem demonstrando todo seu talento – que a transforma numa gigante nos palcos, mesmo com seu 1,63 metro de altura – interpretando Antônia, sobrinha de Miguel de Cervantes, na montagem do musical O homem de la Mancha, escrito por Dale Wasserman e apresentado pela primeira vez na Broadway há 50 anos. Em cartaz no Centro Cultural FIESP— Ruth Cardoso, o espetáculo é dirigido e adaptado por Miguel Falabella e integra o Projeto Educacional SESI-SP em Teatro Musical, que forma atores nessa área e disponibiliza acesso gratuito do público às apresentações. A carioca, que no ano passado ganhou o prêmio Bibi Ferreira como melhor atriz coadjuvante por sua interpretação da personagem Eva, em A madrinha embriagada, conta à revista Ponto sua trajetória pela dramaturgia musical, seu encanto pela literatura e quais personagens gostaria de interpretar. A atriz carioca Kiara Sasso já atuou em mais de 20 produções musicais.
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Se para muitos brasileiros o contato com apresentações de teatro musical se fortaleceu de alguns anos para cá (Em 11 meses de temporada, A madrinha embriagada foi assistida por mais de 150 mil pessoas), com a invasão em massa de espetáculos da Broadway nos palcos do país, para essa atriz de 35 anos, ele aconteceu desde a mais tenra idade. Seus primeiros passos nesse sentido aconteceram ainda na infância, quando morou com a família por alguns anos nos Estados Unidos, e sua voz já era destaque nos corais das escolas onde estudou. Na mesma época, foi descoberta por um agente de atores mirins durante uma festa de Halloween e convidada a participar de comerciais de TV. Sem saber, ela já estava caminhando para uma carreira de sucesso, marcada por sua versatilidade e desenvoltura nos palcos – e também fora deles. QUANDO VOCÊ DESCOBRIU SUA VOCAÇÃO PARA A DRAMATURGIA MUSICAL?
Sempre amei cantar e participar dos corais das escolas onde estudei, nos Estados Unidos. Um dia minha avó percebeu minha facilidade e me perguntou se não gostaria de fazer aulas de canto. Comecei a fazer e a me interessar cada vez mais pelo mundo musical. Aos 11 anos, fui assistir ao Fantasma da ópera e decidi o que queria da minha vida.
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MAS SUA ESTREIA NESSA ÁREA ACABOU ACONTECENDO APENAS AQUI NO BRASIL?
Sim, voltei a morar no Brasil na adolescência e foi quando surgiu a oportunidade de substituir uma atriz no musical Os fantástikos, com Charles Möeller e Claudio Botelho. Já havia assistido ao espetáculo e demonstrado interesse em participar de montagens na área. Quando ela saiu, eles se lembraram de mim. A partir daí, não parei mais. COM UM CURRÍCULO TÃO EXTENSO, AINDA É POSSÍVEL SE ENCANTAR DE
Foto: João Caldas
MANEIRAS DIFERENTES PELOS PERSONAGENS QUE INTERPRETA?
Sim, sem dúvidas. O homem de la Mancha, por exemplo, é uma adaptação livre do musical original, o que dá muito mais liberdade de criação para o diretor e para os atores. Pudemos sentir claramente nos ensaios o crescimento de cada personagem, pois constantemente estávamos tentando descobrir novas possibilidades na atuação. Com o meu personagem, a Antônia, sobrinha interesseira de Cena de O homem de la Mancha, em cartaz no Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso.
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Cervantes, pude encontrar um caminho específico e diferente. Além disso, o Miguel Falabella, que nos dirige, tem alguns toques de comédia que ficaram extremamente interessantes na adaptação. ACHA MAIS INTERESSANTE TER ESSA LIBERDADE DO QUE INTERPRETAR PERSONAGENS QUE DEVEM SER MAIS FIÉIS AOS ORIGINAIS?
Difícil escolher. Gosto muito das duas coisas. Na adaptação de A noviça rebelde, por exemplo, fizemos de acordo com a versão original. Acho tão estimulante e desafiador quanto a adaptação livre. E VOCÊ JÁ HAVIA TRABALHADO COM MIGUEL FALABELLA ANTES?
Sim, no ano passado, quando interpretei a personagem cômica Eva no musical A madrinha embriagada. Gosto muito da maneira como ele trabalha.
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VOCÊ JÁ CONHECIA A OBRA DO MIGUEL DE CERVANTES?
Conhecia e já havia assistido a uma montagem em Los Angeles, com o Raul Júlia como Quixote. Acho a obra linda, mas confesso que, com as modificações da nossa montagem, está infinitamente mais linda. COMO TEM SIDO SUA ROTINA DE ENSAIO? E A CARACTERIZAÇÃO PARA VIVER A ANTÔNIA?
Depois que a peça estreia, como agora, temos, às vezes, ensaios de manutenção, às quartas-feiras à tarde. Para me transformar em Antônia, a real diferença é o cabelo. Uso uma peruca de cabelos negros e enrolados. ESSES DOIS MUSICAIS QUE VOCÊ FEZ COM ELE INTEGRAM O PROJETO DO SESI DE FORMAÇÃO DE ATORES PARA TEATRO MUSICAL. O QUE ACHA DA INICIATIVA?
De extrema importância. O nível de qualidade para adaptações musicais é muito alto e exige uma preparação muito grande dos atores que dela participam. Nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma infinidade de cursos nessa área. Nesse sentido, o Brasil ainda está engatinhando, infelizmente. Além disso, trata-se de uma iniciativa que permite a entrada gratuita ao público, o que ajuda a formar plateias de musicais no país. Pessoas que nunca haviam se aventurado a assistir a peças musicais passam a ter um novo estímulo e um olhar diferente para esse tipo de apresentação.
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NUNCA PENSOU EM ATUAR SOMENTE COMO ATRIZ OU COMO CANTORA?
Sempre quis conciliar as duas coisas, pois o teatro musical me pega pela forte emoção que sinto, quando participo de montagens ou apenas como espectadora. Principalmente depois que ingressei no teatro musical, para mim, não basta apenas cantar, eu me sinto mais completa quando conto a história de um personagem por meio da música.
Foto: João Caldas
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Com a personagem Eva, a atriz ganhou o prêmio Bibi Ferreira de melhor atriz coadjuvante por sua interpretação em A madrinha embriagada.
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VOCÊ JÁ FEZ TEATRO MUSICAL NO BRASIL, NOS ESTADOS UNIDOS E EM PORTUGAL. QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS DE UM PÚBLICO PARA OS OUTROS?
É bem diferente. Por incrível que pareça, o público brasileiro é muito mais contido diante dos musicais, se envolve menos. Já nos Estados Unidos, o público é misto. Tem pessoas que vão a determinados musicais apenas por causa de uma música de que gostam. Mas o espectador que vai aos Estados Unidos se sente muito mais à vontade para cantar junto, por exemplo, e aplaudir os atores em momentos específicos. VOCÊ DUBLOU DIVERSOS DESENHOS INFANTIS DA DISNEY, GRANDE PARTE DELES MUSICAIS. JÁ OS CONHECIA?
Claro! Conhecia todos e adorava. FOI UMA CRIANÇA QUE GOSTAVA DE LER? LEMBRA-SE DE ALGUM LIVRO EM ESPECIAL?
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Sim, lembro que eu adorei O menino no espelho. (O livro é do escritor Fernando Sabino). E HOJE EM DIA?
Adoro romances com narrativas dinâmicas. EXISTE ALGUM PERSONAGEM DA LITERATURA QUE VOCÊ GOSTARIA DE INTERPRETAR?
Sim, a personagem interpretada pela atriz Elizabeth Bennet, em Orgulho e preconceito. (O filme é baseado no livro de mesmo nome, de Jane Austen). VOCÊ COMENTOU QUE GOSTARIA DE PARTICIPAR DE UMA MONTAGEM DO MUSICAL WICKED, DA BROADWAY. QUAIS SÃO SUAS METAS ALÉM DESSA?
Ainda tenho muitos sonhos e no momento um dos maiores é me tornar mãe e construir minha própria família um dia. E quem sabe passar para meus filhos essa vocação para o teatro musical.
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PELAS ASAS DE UM VISIONÁRIO Exposição e livro desvendam um pouco do inventor Leonardo da Vinci
Maquete de nacela voadora, Milão, Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, 1953.
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Imagem que consta no livro da SESI-SP Editora
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Observar o mundo ao redor, os pássaros, os insetos, a sofisticada construção de uma teia de aranha, a aerodinâmica de uma ave em pleno voo, a dança da água e do ar, o corpo humano e seus movimentos. Coisa de poeta começado pelas árvores, desejoso de uma “biografia do orvalho”. Também, mas não somente. A natureza como inspiração foi um dos principais elementos de trabalho de Leonardo da Vinci (1452-1519), o maior gênio criativo da Renascença (1450 a 1600). E o resultado de 40 de seus projetos pode ser conhecido na exposição interativa Leonardo da Vinci: A Natureza da Invenção, na Galeria de Arte SESI-SP.
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A mostra, que reúne objetos históricos produzidos em 1952 por pesquisadores e engenheiros para a celebração do quinto centenário de nascimento do artista, é parte do acervo do Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci (MUST), em Milão, na Itália. Apresentada pela primeira vez na América Latina, traz, ainda, 10 instalações interativas. Dividida em sete módulos temáticos — Introdução, Transformar o movimento, Preparar a guerra, Desenhar a partir de organismos vivos, Imaginar o voo, Aprimorar a manufatura e Unificar o saber —, a exposição é oportunidade única e valiosa de conhecer máquinas, desenhos, projetos e esboços de Da Vinci. O espectador ainda pode interagir, praticamente entrar em sua arte, na obra Journey into a drawing, na qual a imagem do visitante aparece dentro do desenho.
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Além da exposição, foi lançado também o livro Leonardo da Vinci: A Natureza e a Invenção, da SESI-SP Editora, sob a organização de Patrick Boucheron e Claudio Giorgione. Na obra, publicada originalmente em francês, em 2012, em Paris, integrando uma série de eventos paralelos à exposição Leonardo da Vinci, projetos, desenhos, máquinas, são descritas diferentes áreas de interesse e de trabalho de Da Vinci: dos estudos de engenharia mecânica para o voo até o sonho de uma cidade ideal e a pesquisa sobre a pintura sfumato, técnica artística usada para criar graduações de luz e de sombra em um desenho ou em uma pintura. “Foi escrito com a contribuição de muitos estudiosos e está cheio de imagens de obras de Leonardo, pinturas e desenhos”, explica Claudio Giorgione. Tanto a exposição quanto o livro são realizações da Universcience, organização francesa criada em 2010 a partir da fusão da Cidade da Ciência e da Indústria e do Palácio da Descoberta de Paris, em parceria com o MUST, de Milão, com participação do European Aeronautic Defense and Space Company (EADS) e do Deutsches Museum de Munique. DANDO ASAS À IMAGINAÇÃO
Munido, acima de tudo, de um olhar aguçado e de muita curiosidade, Leonardo da Vinci captou ao seu redor o fascínio dos movimentos da natureza, traduzindo-os em desenhos, em projetos de máquinas, invenções à frente de seu tempo. Uniu arte, ciência e engenhosidade em suas criações. Mais que isso. Deu um passo à frente com o uso do que hoje é conhecido como bioinspiração, recente campo de pesquisa que mistura disciplinas científicas diversas, entre elas a Biologia, a Zoologia, a Botânica, a Mecânica, a Robótica etc. A atenção a todos os aspectos da natureza e ao trabalho de outros artistas e inventores, além de um pensamento flexível e transversal, o qual permite a Leonardo encontrar conexões entre as diferentes áreas do conhecimento, são para Claudio Giorgione, também curador da exposição, o que caracteriza a grande genialidade do pintor, escultor, matemático, físico, cientista, cenógrafo, geólogo, engenheiro, arquiteto, botânico, zoólogo, anatomista, filósofo, poeta e músico e, claro, inventor, Leonardo, nascido em Vinci, um vilarejo toscano ligado à República de Florença, em 1452. Sim, Da Vinci, apesar de ser mais conhecido no mundo por suas obras Mona Lisa (1517), A Última Ceia (1498) e Homem Vitruviano (1940), foi um homem de habilidades diversas e, principalmente, um criativo inventor. Co-
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P O N EX TO P O SI Ç Ã O Nacela voadora, Codex Atlantico, f. 860r°, Milão, Biblioteca Ambrosiana, 1487-1490.
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nheceu a tecnologia e as máquinas no canteiro de obras da catedral de Florença. Seus primeiros desenhos de máquinas, traçado ainda incerto e simplificado, datam de cerca de 1478. Isqueiro, máquinas voadoras, armas de guerra, guindastes, máquinas fabris, paraquedas, máquinas de fiar, trivelas, tornos, perfuratrizes, máquina a vapor e até um submarino foram alguns dos objetos pensados por ele. Também inovou a técnica pictórica, com a introdução do sfumato e criou modelos de urbanismo, com a sua città ideale, a cidade ideal. Mas qual era a linha condutora, a unidade de todas as obras de Da Vinci, da pintura às invenções? O desenho, expressão maior resultante de sua inquietude e curiosidade, de seu papel de observador, a representação de um modo particular de ver o mundo ao redor. O vínculo entre arte e ciência. “Pois, em relação a Leonardo, o desenho é ao mesmo tempo instrumento de estudo e de análise da realidade e uma forma de comunicação surpreendentemente eficaz”, diz a introdução de Patrick Boucheron e Claudio Giorgione para o livro Leonardo da Vinci: A Natureza e a Invenção. ENTRE INSPIRAÇÕES
Ler o livro ou ir à exposição Leonardo da Vinci: A Natureza da Invenção é entrar nesse mundo fantástico, porém nada quimérico, pois suas imaginações eram e são realizáveis e capazes de funcionar, apenas eram demasiadamente modernas para a época. Sua balestra ou besta gigante, por exemplo, uma arma de guerra, foi criada para lançar pesadas bolas de pedra contra os inimigos. E a grua rotativa por ele projetada, com uma reprodução com mais de quatro metros de altura, localizada na área de acesso da exposição, contém os mesmo princípios usados nos dias de hoje para a construção desse tipo de engenho: contrapeso dotado de freios com engrenagens dentadas, cabos e roldanas; além disso, representa um significativo avanço na transformação do movimento em força potencial capaz de erguer objetos pesados por meio de mínimo esforço humano ou mecânico. E o carro de guerra inspirado na morfologia das tartarugas? Pode até parecer incongruente se inspirar na natureza em nome da guerra, mas o fato é que o blindado pôs à prova a sua capacidade como engenheiro militar, e deu certo. Da Vinci estudou os desenhos de máquinas e inovações do pintor italiano da Escola Sienesa Francesco di Giorgio Martini (1439-1502), engenheiro de mais de 70 fortificações militares. Uma das mais conhecidas máquinas de guerra de Da Vinci, concebida para o duque de Milão, o carro foi o precursor
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da metralhadora moderna, mas não chegou a ser construído. Tem carapaça resistente e vários canhões dispostos radialmente, com disparos em todas as direções, o que inspirou os tanques de guerra. Na parte superior, uma torre de observação. Para a sua movimentação, seriam necessários oito homens em seu interior, os quais movimentariam manivelas ligadas às quatro rodas por um sistema de engrenagens. Do casco das tartarugas à contemplação de uma aranha construindo, fio por fio, a sua teia. Daí nasceu o tear de Leonardo, com engrenagens diversas a entretecer outras linhas, materializando tecidos e dando margem a uma fixação nascida ainda na infância: assistir às aranhas e ao seu trabalho contínuo e prodigioso. “Nunca o homem inventará nada mais simples e belo do que uma manifestação da natureza. Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais breve em que pode ser produzido”, afirmava o multiartista. Tem, ainda, o sonho de voar, de dar asas ao ser humano. Aqui, a observação máxima da natureza: o voo do pássaro, a “tentativa de traduzir a forma do pássaro em uma estrutura mecânica”, segundo Giorgione. Antes de chegar ao invento parafuso aéreo, foram testadas várias ideias aerodinâmicas. Mas Da Vinci não demorou a compreender que os mecanismos do corpo humano diferem e muito daqueles de um pássaro, o que impossibilitava a movimentação de asas de forma suficiente para erguer uma pessoa. Partiu, então, para um objeto que pairasse. Estudou a qualidade e a espessura do ar, descobrindo a sua resistência, e, para medi-la, desenvolveu o anemômetro. Com o tempo, muitos estudos, pesquisas e tentativas, chegou à sua máquina voadora, também com inspiração na natureza. O foco foram as formas de parafuso helicoidal que ocorrem em sementes de bordo ou de sâmaras ou, ainda, o movimento das cinzas ao vento, transportadas a longas distâncias girando no ar. O projeto não foi concretizado, mas qualquer semelhança entre ele o helicóptero não é mera coincidência. Já a máquina de cardar com movimento alternativo, uma roda de fiar de palhetas móveis que executava simultaneamente as operações de alongamento, torcendo e enrolando os fios, o que antes era feito separadamente, agilizou os processos existentes à época. O sistema por ele inventado foi utilizado na Inglaterra durante a Revolução Industrial, no século XIX. O setor têxtil, aliás, foi um dos que tiveram grande atenção do pintor, que atuou em todos os estágios da produção.
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Serviço LEONARDO DA VINCI: A NATUREZA DA INVENÇÃO
Local: Galeria de Arte do SESI-SP, no Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso (av. Paulista, 1.313, em frente à estação Trianon-Masp do Metrô) Período expositivo: Até 10 de maio de 2015, para o público em geral – diariamente, das 10h às 20h Classificação indicativa: livre Informações: (11) 3146-7405 e 7406 Agendamentos de grupos e escolas: (11) 3146-7396, de segunda a sexta, das 10h às 14h e das 15h às 18h Entrada gratuita. Os espaços têm acessibilidade.
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Foto: Tamma Waqued
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O resultado final, seja de uma viagem pelas páginas do livro, seja de um passeio entre objetos e desenhos em meio à exposição, só pode ser um: o visitante ou o leitor vai se surpreender com o acervo produzido por Da Vinci, que, na verdade, chega a 120 livros. Infelizmente, desmembrados, cortados ou vendidos. Somente um terço foi preservado. E hoje em dia restam apenas dez conjuntos de folhas, chamados códices, em instituições culturais em Milão, Veneza, Londres, Madri e Paris. O que chega ao público é, portanto, uma asa de mariposa, um mínimo daquilo que o poeta das invenções deixou registrado. E mesmo esse pouco é tão fascinante quanto o voo de uma ave ou a construção de uma teia de aranha: a mecânica da natureza, um tanto óbvia a olhos acostumados, mas engenhosa e perfeita aos olhos de um observador minucioso, de um esteta ou de um cientista. Diferentemente do “beato em violetas” Manoel de Barros, que preferia “as máquinas que servem para não funcionar”, porque, “cheias de areia de formiga e musgo – elas podiam um dia milagrar flores”, Da Vinci, o outro sonhador, transmudava as peças da natureza em objetos de serventia, máquinas reinventadas e úteis até os dias atuais, “milagrando” e perpetuando a capacidade inventiva de um visionário.
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O livro da SESI-SP Editora Leonardo da Vinci: A natureza e a invenção, lançado em dezembro de 2014, está à venda nas melhores livrarias do país.
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SOBRE GIBIS, TIRAS E BELAS ARTES POR MARCELO ALENCAR
Existe um debate secular sobre o valor intrínseco das histórias em quadrinhos. Paralelamente à polêmica, que aos poucos vem superando preconceitos acadêmicos, essas narrativas gráficas evoluem intercambiando elementos com as artes “de museu”.
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Entre março e junho de 2007, a artista plástica mineira Rivane Neuenschwander participou, no Museu de Arte Moderna de Nova York, de uma mostra coletiva intitulada Comic Abstraction: Image-Breaking, Image-Making (numa tradução livre, Abstração em Quadrinhos: Desconstrução da Imagem, Elaboração da Imagem). A brasileira expôs, no cultuado MoMa, páginas impressas de gibis nacionais do Zé Carioca recobertas de tinta de forma a manter apenas as molduras dos quadrinhos e dos recordatórios (espaços reservados à narrativa verbal) e os contornos dos balões de fala e pensamento, estes últimos mantidos com fundo branco, porém sem texto. As obras, segundo a própria autora, compuseram uma trilogia dedicada ao malandro disneyano, iniciada com uma grande instalação interativa na Bienal de Arte Contemporânea de Lyon, na França, e concluída num workshop dirigido a crianças e adolescentes a convite do Museu de Arte de Saint Louis, nos Estados Unidos. Na oficina, “sem contar aos estudantes que Zé Carioca é um papagaio, pedi que eles recriassem o personagem desenhando Reprodução do óleo sobre tela Vicki I—I thought I heard your voice!, de Roy Lichtenstein.
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um animal humanizado que, para eles, pudesse representar o Brasil de hoje. As respostas variaram desde um pavão com tênis Nike até um urso-polar e um tamanduá (...). Então, se a reação inicial foi a completa aniquilação da imagem, ela veio seguida por uma profusão de novas imagens e uma tentativa de recriar nosso (anti)herói”. Mas o que, afinal, o conteúdo de publicações baratas, vendidas em bancas, tem a ver com as belas-artes que ocupam galerias e museus conceituados? Mais do que a vã filosofia supõe. AS ORIGENS
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Não há consenso sobre a data e o local precisos do nascimento das HQs. Também conhecidas como Arte Narrativa e Nona Arte, elas remontam às paredes das cavernas de Altamira, na Espanha, e Lascaux, na França, em que ancestrais do Homo sapiens registraram suas caçadas por meio de desenhos fixados na pedra com pigmentos naturais (o ocre, por exemplo). Imagens sequenciais também contaram histórias por meio de hieróglifos, no Antigo Egito, de tapeçarias bordadas, na Europa feudal, e da escrita pictórica dos maias e astecas, na América Pré-Colombiana. Mas os teóricos da área concordam que os quadrinhos, tais quais os conhecemos hoje, surgiram no final do século XIX, quando a popularização da imprensa permitiu que os jornais estampassem personagens cômicos cujas aventuras, reproduzidas em milhares de cópias, fossem contadas por meio de uma linguagem própria que inclui sinais cinéticos, onomatopeias, balões e outros símbolos convencionados ao longo do tempo – como os splashes que representam explosões. O Brasil pleiteia seu quinhão entre os pioneiros, lembrando que As Aventuras de Nhô Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte, de Angelo Agostini, foram publicadas por aqui nas páginas da revista Vida Fluminense a partir de 30 de janeiro de 1969. No entanto, a ausência de balões dificulta a caracterização do material no conceito mais restrito de quadrinhos — isso porque os textos eram aplicados como legendas, sob as ilustrações. Os norte-americanos preferem atribuir a criação dos comics a Richard Fenton Outcault, que, na seção satírica Hogan’s Alley do diário New York World, apresentou um garoto de feições orientais, careca e orelhudo, que se comunicava com os leitores por intermédio de “falas” redigidas em seu camisolão amarelo. A ampla aceitação do Yellow Kid por crianças e adultos, especialmente imigrantes, que se valiam daquelas imagens coloridas e dos escassos textos que as acompanhavam para se alfabeti-
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zarem em inglês, possibilitou o surgimento de outros personagens, esses sim associados a importantes movimentos artísticos. ART NOUVEAU, SURREALISMO, ROCOCÓS...
Em outubro de 1905, o cartunista Winsor McCay enriqueceu o suplemento dominical do New York Herald com o primeiro episódio de Little Nemo in Slumberland, em que um garotinho transitava por cenários oníricos habitados por camas ambulantes, escadas infinitas e girafas capazes de dar um nó no próprio pescoço. Os cenários da série, claramente inspirados nas linhas elegantes do estilo Art Nouveau, impressionavam ainda mais porque os jornais da época ostentavam as generosas medidas de 52 x 40 centímetros! Cada painel do Pequeno Nemo era um delírio visual que convidava os fãs a incursionar pelo Mundo dos Sonhos. E, nesse sentido, o trabalho de McCay antecipou as bases do Surrealismo. Não é absurdo especular que as pinturas e esculturas de Salvador Dalí guardam enorme semelhança com as paisagens da tira de jornal. Na década de 1920, as formas geométricas da Art Déco deram o tom de Pafúncio e Marocas (Bringing Up Father), de George McManus, que mostrava as extravagâncias de uma alpinista social em conflito com o marido beberrão e avesso a badalações. Os detalhes de fundo, como padrões de papéis de parede e os objetos de decoração, assim como o design bem cuidado dos vestidos da personagem e sua filha — adepta do estilo melindrosa — não negavam as fontes da estética do desenhista.
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Sequência psicodélica criada por Victor Moscoso para o gibi independente Zap Comix.
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Nos anos 1930, com a ascensão das tiras de heróis, chamaram a atenção os rococós utilizados por Burne Hogarth para retratar as selvas africanas reinadas por Tarzan. Aliás, o Homem-Macaco dos pulps de Edgar Rice Burroughs ganhou, no bico de pena de Hogarth, gestos e poses maneiristas de quem parece ter a consciência de ocupar a luz dos holofotes. Poucos anos depois, influenciados pelos filmes noir, Will Eisner e Milton Caniff emprestaram ao justiceiro The Spirit e aos militares da série Terry e os Piratas (Terry and the Pirates), respectivamente, ambientações repletas de espaços misteriosos cobertos de tinta nanquim, baseados em técnicas de chiaroscuro. O domínio dos contrastes de luz e sombra rendeu a Caniff o epíteto de Rembrandt dos quadrinhos. No final dos anos 1950 debutou, no semanário francês Pilote, um guerreiro baixinho e narigudo que, impulsionado por uma poção mágica, comandou a resistência de sua aldeia contra o domínio dos invasores romanos liderados por Júlio César. Asterix, o gaulês, fruto da parceria do roteirista René Goscinny e do desenhista Albert Uderzo, embora rabiscado em estilo cartunesco, notabilizou-se pela inclusão de paródias de obras-primas da pintura em suas cenas mais icônicas. No álbum O Adivinho (Le Devin), por exemplo, o protagonista surge em primeiro plano numa releitura da tela A Lição de Anatomia, de Rembrandt, enquanto que em Asterix Legionário (Astérix Legionnaire), um navio pirata afunda à moda de O Naufrágio da Medusa, de Géricault. Os excessos e a rebeldia dos anos 1960, movidos por sexo, drogas e rock and roll, inauguraram o psicodelismo nas HQs. Os comix underground,
Paródia de A Lição de anatomia, de Rembrandt, estrelada pelo gaulês Asterix.
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gibis caseiros impressos em gráficas clandestinas de São Francisco e vendidos de mão em mão nas comunidades hippies, continham, entre outras coisas, o resultado gráfico das experiências lisérgicas de autores como Robert Crumb, Victor Moscoso e Gilbert Shelton. As tramas sem pé nem cabeça refletiam as viagens dos quadrinhistas embaladas por substâncias psicotrópicas. Algo como ler as peripécias de Lucy no Céu com Diamantes. Simultaneamente, muitas galerias de vanguarda passaram a expor pinturas e gravuras da Pop Art, que incorporou ingredientes do cotidiano da sociedade de consumo e os reciclou nas pinceladas de Andy Warhol e Roy Lichtenstein — só para citar os dois representantes desta geração mais afeitos aos quadrinhos. Warhol deu novas cores ao Mickey Mouse e ao Superman em serigrafias de tiragem limitada, enquanto Lichtenstein ampliou em óleos sobre tela passagens de historietas românticas e de guerra. Mocinhas lamuriosas e aviões de caça bombardeando os inimigos foram temas recorrentes em seus quadros, que supervalorizaram as retículas (pequenos pontos coloridos que, combinados, reproduzem todos os tons do espectro cromático). Para desespero de vários quadrinistas, seus desenhos ganharam fama nas reproduções do artista pop e renderam milhões de dólares a ele, enquanto os autores das obras originais não raro permaneceram no anonimato.
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CENÁRIO ATUAL
Muitos quadrinhos contemporâneos gozam do status de literatura. Em grande medida, isso decorre do impacto causado pelos livros Maus, do sueco Art Spiegelman, e Um Contrato com Deus (A Contract with God), de Will Eisner. No primeiro, lançado em capítulos e depois compilado em formato álbum em meados da década de 1970, o autor narra o drama dos pais, sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. E faz isso valendo-se de uma parábola visual em que os prisioneiros judeus são camundongos e seus algozes nazistas, gatos impiedosos. Já a obra de Eisner, publicada em 1978, é considerada o primeiro romance gráfico (graphic novel na expressão em inglês) e aprofunda assuntos densos, como as crenças religiosas, numa abordagem claramente adulta. Um expoente das novas gerações cujo trabalho fala diretamente ao tema deste artigo é o norte-americano Peter Kuper. Celebrizado por desenhar os confrontos da série Spy vs Spy (Espião x Espião) na revista MAD após a aposentadoria do idealizador da tira, o cubano Antonio Prohias, Kuper também se dedica
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à produção de cartuns políticos e HQs engajadas, preferencialmente ilustradas através da técnica de estêncil, uma das favoritas dos grafiteiros. A arte de rua se reflete nas cores fortes e nos respingos da tinta spray nas pranchas do quadrinista, que teve seu álbum O Sistema (The System), de 1996, traduzido para o português dois anos mais tarde. Outro trabalho em estilo graffiti é a adaptação para as HQs do romance The Jungle, de Upton Sinclair, de viés socialista. PARA SABER MAIS
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Carl Barks: Die Ölgemälde, Geoffrey Blum (prefácio e comentários), Ehapa, Colônia, 2012. Comic Abstraction: Image-Breaking, Image-Making, de Roxana Marcoci (curadora), The Museum of Modern Art, Nova York, 2007. Desvendando os Quadrinhos, de Scott McCloud, M. Books, São Paulo, 2005. Faster than a Speeding Bullet: The Rise of the Graphic Novel, de Stephen Weiner, NBM, Nova York, 2003. História em Quadrinhos e Comunicação de Massa, vários autores, Museu de Arte de São Paulo, 1970. Le Voyage de G. Mastorna, de Federico Fellini e Milo Manara, Casterman, Paris, 1996 Lichtenstein, de Janis Hendrickson, Paisagem, Lisboa, 2007. The Aesthetic of Comics, de David Carrie, The Pennsylvania State University Press, Filadélfia, 2000.
FELLINI BY MANARA
Federico Fellini nunca escondeu seu fascínio por quadrinhos — ou fumetti, como são conhecidos no País da Bota. O diretor acalentava o sonho de filmar um longa-metragem com o mago Mandrake, de Lee Falk e Phil Davis, cuja interpretação atribuiria a Marcello Mastroianni, seu galã predileto. O que pouca gente sabe é que Fellini desenhou, em forma de esboços de quadrinhos, seu projeto cinematográfico “maldito”, batizado de Il Viaggio di G. Mastorna. O roteiro, jamais transposto para o acetato, é pontilhado pelo nonsense. Tudo começa com o pouso forçado de um Boeing em frente à Catedral de Notre Dame, em Paris. Giuseppe, o protagonista, um músico pensado sob medida para o ator Paolo Villaggio, flerta com uma das comissárias de bordo e parte com ela, num trenó de neve puxado
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por cães, rumo a um hotel alpino – onde assiste a uma apresentação de dança do ventre que culmina com a bailarina dando à luz um bebê. Esses storyboards rabiscados nos anos 1960, preservados, chegaram às mãos do quadrinista Milo Manara, cujo lápis já delineou as musas mais provocantes das HQs eróticas. O artista não perdeu tempo e transformou sketches em artes-finais em preto e branco com meios-tons de aguada de nanquim. O álbum, lançado em 1996, tem versões disponíveis em italiano (Edizioni Del Grifo) e em francês (Casterman), mas permanece inédito no Brasil.
Cena do storyboard de Il Viaggio di G. Mastorna, no traço do cineasta Federico Fellini...
...e a interpretação dada pelo quadrinista Milo Manara para o mesmo fotograma.
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Embora tenha dado vida a tipos como Tio Patinhas, Professor Pardal, Gastão, Irmãos Metralha e Maga Patalójika, Carl Barks continuava praticamente desconhecido quando se aposentou, já sexagenário, depois de produzir quadrinhos Disney por mais de um quarto de século de modo ininterrupto. Suas HQs elevaram os patamares de venda de publicações como Walt Disney’s Comics and Stories e Uncle Scrooge, best-sellers que ultrapassaram os 2 milhões de exemplares comercializados mensalmente nos Estados Unidos durante a década de 1950. Ainda assim, como seu contrato de trabalho o impedia de assinar as próprias criações, o artista permaneceu anônimo ao longo de toda a carreira editorial. Também não enriqueceu. Ocorre que Barks desenvolveu um jeito único de contar histórias e um traço preciso, pessoal e marcante, ambos de fácil identificação por qualquer leitor minimamente atento. Esse fato, aliado ao movimento de fanzines deflagrado por colecionadores de gibis na década de 1960, ajudou a tirar o Homem dos Patos do ostracismo. Sua identidade foi descoberta e difundida pela comunidade nerd em escala planetária. O assédio dos fãs e o incentivo de um deles, o admirador Glenn Bray, levaram o cartunista a solicitar — e obter — autorização dos Estúdios Disney para produzir e vender quadros a óleo com as imagens antológicas que eternizou nas revistinhas. Inicialmente, cobrou cerca de 100 dólares por pintura (como suporte, escolheu placas de madeira compensada). A gigantesca lista de encomendas que se formou obrigou-o a subir seus preços, na tentativa de desencorajar a multidão ávida por um original seu. Não adiantou. Carl Barks morreu em 25 de agosto de 2000, aos 99 anos de idade. Em suas últimas décadas de existência, pintou quase 200 cenas estreladas pelos patos disneyanos – algumas delas arrematadas por até um quarto de milhão de dólares na prestigiosa casa de leilões Sotheby’s. Ainda é possível encontrar ofertas, na internet, de litografias e serigrafias de tiragem limitada, autografadas, que reproduzem duas dúzias dessas obras.
Capa da revistinha Walt Disney’s Comics and Stories 108, desenhada por Carl Barks em 1949.
O HOMEM DOS (QUADROS DOS) PATOS
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Red Sails in the Sunset, รณleo sobre madeira compensada pintado em 1974 pelo Homem dos Patos.
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FAUZI ARAP E SEUS DISCÍPULOS
Foto: João Caldas
POR SÉRGIO RIZZO
Como ator profissional, Fauzi Arap (1938-2013) trabalhou durante um período relativamente curto, dos 23 aos 29 anos de idade. Destacou-se em montagens do grupo Oficina, sob direção de José Celso Martinez Corrêa, como as de A vida impressa em dólar (1961), do americano Clifford Odetts, sua estreia nos palcos, e de Pequenos burgueses (1963), do russo Máximo Gorki. Participou também de espetáculos dos grupos Arena, dirigido por Augusto Boal, e União, de Antonio Abujamra. No cinema, atuou em O padre e a moça (1966), de Joaquim Pedro de Andrade, baseado em poema de Carlos Drummmond de Andrade, e em Todas as mulheres do mundo (1967), de Domingos de Oliveira. Foi o bastante, no entanto, para se inscrever definitivamente na memória de todos os felizardos que o viram em cena. “Ele virou um mito entre os espectadores e a classe teatral: teria sido o maior ator de sua geração”, afirma o diretor e dramaturgo Aimar Labaki. Apesar de encerrada a carreira como ator, jamais abandonaria os palcos: ao se dedicar à direção, criou um novo padrão para shows de música popular brasileira, com o espetáculo Rosa dos ventos (1971), de Maria Bethânia, e lançou os autores teatrais mais importantes de sua geração, como Plínio Marcos (Dois perdidos numa noite suja, que foi também seu derradeiro trabalho como ator profissional, em 1967), José Vicente (Assalto) e Antonio Bivar (Abre a janela e Deixe entrar o ar puro e o sol da manhã). “Com os anos, ele tornou-se conhecido como grande diretor de atores”, acrescenta Labaki. “Aquele que conseguia tirar de qualquer tipo de ator, de Tônia Carrero a Mário Bortolotto, interpretações únicas, as melhores de suas carreiras.”
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A atriz Denise Fraga na peça Chorinho, de Fauzi Arap.
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Foi também dramaturgo, com 15 textos encenados em vida, mas esse aspecto de sua obra teve alcance mais restrito. O cenário começa a se alterar agora com o lançamento, pela SESI-SP Editora, de quatro de suas principais peças: Mocinhos bandidos (encenada pela primeira vez em 1979), Às margens da Ipiranga (1988), O mundo é um moinho (2003) e Chorinho (2007). Esses livros fazem parte de uma coleção popular, com uma peça por volume, com o objetivo de tornar o mais acessíveis possível seus melhores textos. Neste ano, a editora publicará, em três ou quatro volumes, a Obra teatral completa, incluindo prefácios, com a gênese das obras, fortuna crítica, fotos, documentos e ensaios especialmente encomendados. Além disso, sairá um box com os DVDs dessas peças encenadas no Teatro do SESI-SP. Labaki o considera “um dos maiores dramaturgos brasileiros”. A obra de Fauzi, avalia ele, “é ao mesmo tempo de grande sofisticação intelectual e imensa capacidade de comunicação”, reunindo textos que “dialogam com o grande público e ao mesmo tempo levantam questões que são objeto de reflexão pela intelectualidade da época em que foram escritas, e de agora”. O Projeto Fauzi Arap consistiu também em ocupar o Teatro Popular do SESI com a estreia de A graça do fim (seu último texto, de 2013), com remontagens de suas duas peças anteriores, Chorinho e Coisa de louco (ambas de 2007), com leituras dramáticas de outros textos, depoimentos e debates. A curadoria do projeto foi assinada por Labaki, pelo produtor José Maria, pelos atores Nilton Bicudo e Denise Fraga, e por Fábio Atui, sobrinho do dramaturgo, que assumiu a responsabilidade pela sua obra. DENISE FRAGA, ATRIZ
Sempre me refiro a ele como mestre. Digo que ele era um guru de todos nós. Sempre sentei no escritório dele com essa “discipulinidade”. Eu me sentia muito mais discípula do que amiga. Ele me deu muitos instrumentos de inquietação. Ele nos esticava como artista. O que ele acusava em nós quando estava nos dirigindo, o que ele falava sobre o teatro, fazia muito a minha cabeça, era muito o que eu imaginava do teatro. Ele nos alargava. Quando eu falava “vim pra cá porque você pediu”, ele dizia: “não me obedeça, se aproprie!”. “Denise, não representa!” Ouço o Fauzi em cena o tempo inteiro. Todo o tempo em que estou criando um personagem, penso em coisas que ele falava. E não só sobre o ofício, mas sobre a vida. Era um sábio, com uma extrema capacidade de compreensão do que era o humano, de como retratar isso, de como no teatro a gente não podia mentir.
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Os personagens de seus textos têm sempre um pouco do alter ego dele. Em Às margens da Ipiranga, alguém diz: “eu vim para o teatro para não ser, o que mais me interessa no teatro é não ser”. Eu me identifico com muitas coisas do que ele falava. Tudo o que ele falava para mim parecia que era para eu pensar. Ele te inquietava, te angustiava, te deixava em estado de busca. Falava coisas, mas não dava a receita. “Inventa alguma loucura interpretativa qualquer”, dizia. “O teatro não pode ser banal!”. “A pausa é o que esquenta o nosso ofício”. “Projeta o conteúdo!”. “Não se esqueça do tônus da ideia!”. “Faça cena, não faça a fala!” são coisas que fazem um sentido danado. “Ah, como a TV fez maus atores...”. “Meu Deus do céu, não se iludam com o coloquial!”. Você pegava cada fala e inventava uma loucura qualquer, para deixar dúbio, não entregar de bandeja. Ele te esticava para todos os lados, te deixando em um estado de investigação. Ele me deu uma responsabilidade muito grande, de atingir o inatingível, de ir além, sempre. Às vezes eu falo: “ai, preciso tirar um pouco o Fauzi do ombro”. Ele fica sentadinho no meu ombro, soprando no meu ouvido: “me surpreenda, me desobedeça, mergulhe, viva”. Ele dizia coisas incríveis sobre nós mesmos e sobre os sabotadores que todos nós temos. Sinto que nosso teatro está perdendo mestres como ele, aqueles capazes de mudar a sua vida. Pessoas que, além de estudar teatro, traziam muitos ingredientes sobre o que é ser humano. Você reconhece as “leis de Fauzi” em tudo o que ele diz nos textos, num personagem ou outro. Como diz o Niltinho (Nilton Bicudo), ele tinha uma obsessão por tirar a mentira do mundo, fazer cair a máscara do mundo. Ele quase acreditava nisso. As peças dele tinham um grau de utopia muito grande. O (ator) Pedro Cardoso viu Chorinho e me disse: “É tão bonito ver esse público burguês sair do teatro transformado por uma utopia”. Ele tinha humor, muito humor. A conversa era de uma leveza imensa. Ele ria com uma vontade, uma gargalhada plena. Escrevia com uma simplicidade que é um tapa na cara. Ele dava comunicação a coisas incomunicáveis, de um jeito papo reto. É impressionante o texto dele. O maior valor dele como dramaturgo é a simplicidade, fazer acontecer no teatro uma das coisas mais legais, que é quando o público fala assim: “nossa, obrigado por me dar palavras para aquilo que eu não sei dizer”. Essa capacidade de falar sobre uma coisa que você sente, parece até óbvia, mas que é difusa no meio do cotidiano. Outro dia uma moça falou: “eu queria pegar um papel na bolsa, mesmo no escuro, para anotar o que vocês estavam dizendo”. É o poder da palavra. “Denise, não representa, diz. Não esqueça o tônus da ideia.”
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A vontade que eu tenho é de ligar para todas as escolas de teatro e dizer: “vocês precisam pegar esse bastão”. Ele uma vez falou para mim: “ando tão enjoado do teatro, tá tudo tãão morno”. Uma facada no nosso coração. Ele fez parte de um teatro em que se tinha uma fé, era um ritual sagrado. Tudo o que ele fazia tinha um lugar do sublime. Sinto que vivemos um pouco a morte do sublime, da metáfora. O mundo é um moinho é um texto que deveria ser um livro didático nas escolas, e não só as de teatro. Em toda profissão você sente essa angústia, “o que eu sou”. Quando você olha para você no meio da carreira e diz : “será que estou sendo honesto com o princípio que me fez entrar nessa profissão, estou sendo fiel a mim, ao meu impulso primeiro? “. Esse texto é lindo, é sobre você conseguir chegar perto de si. Fauzi me deixou com a angústia da resposta. Ele não me deu a resposta! Não há receita para isso. A receita é a busca da receita.
Foto: João Caldas
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ELIAS ANDREATO, ATOR E DIRETOR
Comecei a fazer teatro por causa do Fauzi e da Bethânia. Quando eu tinha 17 anos, assisti a Rosa dos ventos, o show, e a partir dali decidi que queria ser um artista. Comecei a fazer teatro amador. Acabei conhecendo o Fauzi, virei assistente dele, mas foi um caminho longo até chegar nele. De qualquer forma, ele é o meu mestre. Na
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minha juventude, estive muito próximo dele, nos encontrávamos sempre, falávamos, ele ouvia minhas angústias como jovem querendo ser artista, ouvia minhas poesias, enfim, foi uma pessoa muito importante não só no sentido artístico, mas no pessoal. Ele me ouvia, dava atenção, era carinhoso. Estava sempre comigo nesses momentos angustiantes da juventude. O que mais me tocava nisso tudo era a poesia com que ele trabalhava. Naquela época o teatro vivia ainda um período de muita secura, de muita violência política, ditadura e o teatro de resistência não cumpria o seu papel. Era muito imediatista, para resolver os problemas sociais. O Fauzi entrava com outro lado, mais poético e grandioso. A poesia do Fauzi não era árida, seca. O teatro dele não era cinza. Era amoroso, falava muito de amor, das relações humanas. Não falava só desse aspecto político. Isso me tocava muito, foi o que ficou para mim. Tudo o que tentei construir na minha vida foi a partir daí. A poesia faz parte do meu cotidiano porque fui ensinado dessa forma. Como dramaturgo, ele foi extremamente antenado com seu momento. Seus personagens falam de política, sim, de uma participação social, mas também são personagens muito poéticos. Ele conseguiu juntar essa duas coisas. Sua obra merece ser estudada, olhada com mais atenção. O projeto no Teatro Popular do SESI possibilitou a novos artistas conhecer a dramaturgia e o pensamento do Fauzi, um autor importante para o momento em que vivemos. O mundo precisa de gente com um olhar agudo sobre o nosso momento, e ele tem isso. As peças que dirigi no projeto (A graça do fim, Coisa de louco) falam sobre a velhice, a solidão, a morte, a TV, o teatro, a tecnologia. Eram temas recorrentes na obra dele e que são muito pertinentes para o momento em que vivemos. É um jeito interessante de pensar o mundo. Você consegue rir, se emocionar, consegue pensar ouvindo aquilo. Hoje a gente quer rir sem pensar, não tem paciência para muita coisa, precisa ser direto e explícito. Os jovens estudantes de teatro querem o sucesso imediato, e estudam muito pouco, se dedicam pouco à leitura de textos, obras. Todo mundo quer ser ator, mas não quer passar por nenhuma dificuldade. E com essa facilidade que temos através das tecnologias... Sem querer ser preconceituoso ou saudosista, é tudo muito rasteiro. É o que chamávamos de “conhecer a orelha do livro”. Como você vai pensar no balé moderno se não entender o balé clássico? Como vai pensar na dramaturgia contemporânea se não estudar os grandes mestres da dramaturgia? Esse legado todo tem que servir para muita coisa. Às vezes a gente está muito preocupada em ser moderna, mas para ser moderna precisa se debruçar sobre o passado. Fauzi é um autor que vale a pena ser conhecido.
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NILTON BICUDO, ATOR
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Fauzi era um mestre, não só para mim, mas para vários atores que passaram na vida dele ou foram dirigidos por ele. No meu caso, desde criança ouvi muito falar dele, mas não imaginei que um dia fosse ficar amigo dele. Ouvia desde criança Pássaro da manhã, um disco da Maria Bethânia, que meus pais tocavam muito. Fiquei fascinando por um poema que ela dizia e que era do Fauzi. Decorei, ficava voltando a fita cassete, escrevi no meu caderno. Devia ter uns 10 ou 12 anos. Depois, viria a entregar ao Fauzi essa folha de caderno que eu tinha guardado. Quando eu tinha 24 ou 25 anos, e começava a fazer teatro profissionalmente, fui me preparar para uma apresentação de O banquete, de Platão. Um dos meus amigos que fazia parte do grupo era amigo do Fauzi e estudava astrologia com ele. Um dia, ele falou: “olha, vou trazer o Fauzi Arap para ver um ensaio, ele vem dar uns palpites”. O ensaio foi no salão de festas do meu prédio, e ele veio, em abril de 1992. Eu esperava um velhinho, que vinha com uma energia de velhinho. Mas, quando ele entrou, parecia um furacão, alto, descabelado. Depois do ensaio, ele disse para o meu amigo que odiou, mas que gostou de mim e que eu poderia ligar para ele. Demorei um ano para ter coragem. Sabia que ele era astrólogo, eu gostava de astrologia também. No dia em que tive a necessidade de falar com alguém mais velho, um mestre, ele não fez cerimônia. “Vem pra cá já!” Fui pra casa dele imediatamente e ali começou uma amizade que durou mais de 20 anos, e que foi muito estreita, eu o acompanhei até a morte dele. Era um homem muito intenso, o mais inteligente que conheci, mas não era uma inteligência intelectualizada, era muito intuitiva. Ele escreveu Coisa de louco para mim, a personagem se chama Firmino José Pato Bicudo. Depois, escreveu A graça do fim e também dedicou a mim e ao Elias (Andreato); a personagem também tem meu nome, Nini, meu apelido de família. Foi um ciclo completo de carinho, dedicação. É uma história emocionante e muito teatral, parece inventada. Esse homem poderoso entrou na minha casa, gostou de mim e me adotou. Estava escrito. Fauzi sempre esteve ligado à dramaturgia brasileira contemporânea. O foco dele era o que o brasileiro estava pensando. Ele buscava isso. Fez uma dramaturgia que não foi muito montada, a não ser por ele mesmo. Agora, com a sua morte, acho que as pessoas vão começar a valorizá-la. Ele diz coisas que as pessoas não costumam dizer em textos. Ele falou muito sobre os vícios que temos hoje, computador, internet, celular, TV, cinema, que anestesiam nossas vidas e nos fazem ficar mais controlados pelo sistema. Homem ideológico e que
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não foi trabalhar para a TV, ele teve a liberdade e a sagacidade de falar o que realmente precisa ser dito. São textos políticos, muito fortes, chamam para o popular, dão voz ao povo. Eles têm a capacidade de ir além da superfície, das máscaras e da hipocrisia social, das personas estabelecidas em sociedade, e buscam o mais profundo e verdadeiro, sendo críticos e poéticos. Os mais jovens vão conhecer a força dos textos que escreveu em virtude da sinceridade e da lealdade a uma ideologia, em um mundo que ficou cada vez mais dominado pelo dinheiro. Fauzi não foi para a TV e quem manda no Brasil é a TV. As pessoas conhecem os atores de TV, com algumas exceções. A geracão dos últimos 30 ou 40 anos é dominada e emburrecida pela TV. Vão ao teatro em busca do ator da TV. Ela nivela tudo por baixo. E por causa disso Fauzi ficou um pouco à margem do sistema. Outra coisa é a personalidade dele. Era, por natureza, retraído, avesso à autopromocão e a qualquer coisa que não fosse de acordo com o que ele estabeleceu para a vida dele, a pesquisa, o estudo. Ele preferia até trabalhar com amadores. Ele tinha vontade de dirigir os próprios textos. Queria fazer do jeito dele. Continuou no radicalismo de quem já abrira mão de muitas coisas desde a juventude. Escrevia como uma forma de expurgar o que vivia, sentia, via do mundo. E teve a sorte de fazer espetáculos bem-sucedidos, como Caixa 2, o que deu a ele uma aposentadoria, um conforto, uma liberdade de não precisar ficar à mercê do mercado. Para conhecê-lo melhor, sugiro a leitura do livro Mare Nostrum — sonhos, viagens e outros caminhos (1998). Um tesouro para quem estuda teatro, e para quem gosta de uma linha mais espiritualizada em uma narrativa. Fauzi conta coisas maravilhosas, as experiências dele com LSD e com psiquiatria, os shows. É um livro poderoso. Não tem nada a ver com dramaturgia, mas faz bem para quem lê.
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Editora lançou, em dezembro de 2014, quatro criações de Fauzi Arap.
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Foto: Ale Catan
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Os 50 anos do Teatro Popular do SESI-SP entram no universo dos figurinos e livro resgata importância da caracterização para a dramaturgia.
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A HISTÓRIA DO FIGURINO REVISITADA
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“É a máscara que esconde o indivíduo-ator. Protegido por ela, pode despir a alma até o último, o mais íntimo detalhe”. A descrição feita pelo ator, diretor e escritor russo Constantin Stanislavski (1863-1938) demonstra um pouco da enorme importância do figurino para a composição de personagens teatrais. Porque a caracterização cênica não apenas ajuda o espectador a mergulhar mais profundamente nas obras às quais assiste, mas também o artista a assumir com mais veracidade a nova vida que ganha nos palcos. “É necessário ter noções de sociologia, história das civilizações, política, artes plásticas, cênicas, psicologia, moda, entre outros, além de ser competente como pesquisador, artista plástico e artesão”, afirma a autora do livro A formação profissional e a atração do figurino cênico, Ylara Hellmeister Pedrosa, sobre os requisitos necessários para o bom desempenho da profissão de figurinista. É importante lembrar que a história do figurino cênico é anterior ao início do surgimento do teatro, ocorrido no século VI antes de Cristo. Tem-se Figurinos originais utilizados no espetáculo Tristão e Isolda.
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conhecimento de sua utilização nas práticas de rituais da pré-história, quando, em atos teatrais, eram utilizadas peles e máscaras com a intenção de incorporar a força dos animais. Em seus 50 anos de existência, o Teatro do SESI-SP foi o cenário para apresentação de centenas de figurinos, muitos deles históricos, componentes fundamentais de espetáculos que marcaram a trajetória do teatro nacional. Agora, eles são as peças centrais de dois projetos pioneiros no país. Com o objetivo de resgatar essas verdadeiras relíquias, que contam boa parte da história da dramaturgia brasileira, o SESI-SP iniciou neste ano a identificação e a catalogação de um acervo que soma cerca de 4 mil figurinos, compostos de vestimentas e acessórios que transportaram, nas últimas décadas, o público às mais variadas épocas e aos mais variados lugares do mundo por meio de peças antológicas. O trabalho tem o intuito de preservar a memória do Teatro. As etapas são identificação, catalogação, higienização e, quando necessário, recuperação das peças, que reúnem obras de alguns dos principais profissionais da área no país, como J.C. Serroni, Flávio Império e Ilo Krugli, de trabalhos que foram desenvolvidos em grandes espetáculos, dirigidos por nomes também consagrados, como Felipe Hirsch, Marco Antonio Braz e Miguel Falabella. Outro diferencial do projeto é o fato de ele ser contínuo. Há alguns acervos importantes no país, como o do Theatro Municipal de São Paulo, que já está exposto ao público, mas nenhum deles é crescente. O espaço que abrigará a coleção, e que ainda não está definido, aumentará a cada peça representada no Teatro do SESI-SP, e assim estará em constante evolução. Para a preservação das características originais das peças, sejam vestimentas ou acessórios, é utilizada uma técnica especial de higienização. LANÇAMENTO DO LIVRO
O trabalho de criação do acervo está sendo conduzido paralelamente a outro projeto, também em comemoração aos 50 anos de existência do Teatro SESI-SP. Sob coordenação do arquiteto, cenógrafo e figurinista J. C. Serroni, a SESI-SP Editora vai lançar um livro, no primeiro trimestre deste ano, que reunirá a história, além de imagens de 300 a 350 figurinos de 28 dos mais importantes espetáculos já apresentados no teatro. Justamente em razão da publicação do livro, a triagem inicial está sendo feita com foco nessas peças previamente selecionadas. “O livro trará um
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resgate inédito da história do figurino teatral no Brasil”, comenta J. C. Serroni. “Estamos selecionando peças que compuseram espetáculos importantes e que renderam premiações renomadas para seus figurinistas”, conta Serroni.
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Foto: Tika Tiritilli
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Imagem da peça Tristão e Isolda, que marcou época também pelos figurinos que apresentou.
Entre as peças que serão representadas por seus figurinos na publicação estão Tristão e Isolda, de Richard Wagner, Maria Borralheira, de Augusto Pessôa, O Casamento Suspeitoso, de Ariano Suassuna, O Colecionador de Crepúsculos e Clarão nas Estrelas, ambas de Vladimir Capella.
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Serroni é considerado uma das principais referências da cenografia e figurino teatral no Brasil e em outros países. Acumula mais de 150 espetáculos adultos e infantis, e trabalhou durante anos com diretores como Antonio Abujamra e Antunes Filho. Em 2014, Serroni venceu o Prêmio Jabuti na categoria Artes e Fotografia pelo livro Cenografia brasileira: notas de um cenógrafo (Editora SESC), lançado em novembro de 2013. Para ele, o livro poderá ajudar a mudar a percepção que o público tem da importância do figurino na dramaturgia. “Não importa o grau de sofisticação das vestimentas e acessórios, o figurino sempre tem um significado de extrema importância para a composição dos personagens e também para trazer o público para dentro da realidade do espetáculo”, comenta. O cenógrafo ressalta, no entanto, que, nos últimos 30 anos, o tripé cenografia/figurino/iluminação passou a ser visto de maneira diferente pelo público. “Hoje o espectador já compreende melhor sua importância dentro da obra”, explica. “Mas essa percepção ainda é mais voltada para a cenografia. O figurino tem que percorrer uma boa estrada para chegar lá”, afirma. Ele comenta que na Europa, onde as primeiras peças teatrais das quais se tem conhecimento já possuem mais de quinhentos anos, é diferente. “Eles têm uma tradição operística muito grande, o que contribui muito para essa relação que o público tem com o figurino”. “Independentemente da simplicidade com que se apresentam as vestimentas de um personagem, há sempre um estudo aprofundado para se chegar àquela caracterização específica”, reforça Serroni. O livro pretende fazer uma retrospectiva da evolução do figurino na dramaturgia nacional. “Será uma maneira de conferir mais visibilidade ao figurino e, ao mesmo tempo, proporcionar um rico material de estudo para pessoas interessadas em teatro e moda”.
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Croqui do figurinista J. C. Serroni durante a elaboração das roupas para a montagem Tristão e Isolda.
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MACUNAÍMA, POR ANTUNES FILHO, FOI UM DIVISOR DE ÁGUAS
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Para o renomado figurinista brasileiro Fabio Namatame, que criou o figurino de inúmeras obras teatrais, como Carmen, Romeu e Julieta e Desmedeia, a adaptação da obra Macunaíma, de Mário de Andrade, feita na década de 70 pelo diretor Antunes Filho, foi um marco para o figurino teatral brasileiro. “O espetáculo percorreu vários países e foi a primeira vez que se investiu em um figurino genuinamente brasileiro, com elementos que remetiam à realidade de nosso país”, comenta. Segundo ele, até então, os profissionais da área do país tinham os olhos muito voltados para tudo o que vinha de fora, especialmente do teatro europeu. Premiado mundialmente, o espetáculo de Antunes Filho pode ser considerado um divisor de águas para o figurino nacional, que passou a ser mais valorizado inclusive por aqui. Namatame destaca novamente os anos 70 como uma época importante porque marcou o fim do auge do teatro político no país, com peças que sempre utilizaram um figurino com elementos muito neutros, ou praticamente inexistentes. “Naquele conceito de teatro, a roupa não contava muito sobre o personagem”, diz. “Já nos anos 80, começou o teatro mais plástico, com trabalhos de Gerald Thomas e Gabriel Vilella, entre outros. O figurino assumiu então um papel extremamente importante na concepção das montagens”, afirma. O figurinista considera a iniciativa do SESI-SP de criar um acervo crescente de figurinos utilizados no País de extrema importância para o resgate histórico da área. “O único acervo que temos hoje onde as peças estão devidamente catalogadas é o do Theatro Municipal de São Paulo”, afirma. “Mesmo assim, desde que ele foi criado já houve muitas perdas, inclusive por um grande alagamento que atingiu peças de montagens muito importantes já realizadas no país”, afirma. “O figurino teatral brasileiro precisa ter sua memória resgatada e preservada”.
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O FIGURINO SOB DIVERSAS PERSPECTIVAS
“No teatro, o figurino tem uma função específica: a de contribuir para a elaboração do personagem pelo ator e constituir, também, um conjunto de formas e cores que intervêm no espaço do espetáculo e devem, portanto, integrar-se a ele”. Jean-Jacques Roubine, escritor francês, autor dos livros A arte do ator e A linguagem da encenação teatral. “O coração do trabalho do figurinista é intensificar, através das possibilidades dramáticas da roupa, os efeitos almejados pelos atores, por meio da descrição da sua personalidade, condição social e desenvolvimento psicológico das personagens”. Michael Holt, escritor inglês, autor do livro Costume and Make-up.
49 “O figurino de uma personagem é apenas um flash de uma trajetória de vida que não vemos ser construída”. J. C. Serroni, cenógrafo e figurinista brasileiro. “De pouco nos valerá que o autor ajunte detalhe sobre detalhe a respeito do seu personagem se, ao final, esse personagem não se configurou como um ser viável, crível, passível de se assenhorear de nossa imaginação e da nossa sede de verdade”. Renata Pallottini, dramaturga brasileira. “O figurino é uma forma específica de ficção. Ele está a serviço de uma narrativa”. Emília Duncan, figurinista brasileira. Fonte das frases: Artigo “A Criação do Figurino no Teatro”, de Renata Perito e Sandra Rech.
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REFLEXÕES SOBRE AS ANTIGAS REFLEXÕES SOBRE O CONTO POR LUIZ BRAS
51 O mundo dos vivos é sempre matizado, jamais em preto e branco. O pessoal da área de humanas percebeu isso milênios atrás e o pessoal de biológicas e exatas, áreas mais jovens, percebeu isso no século passado. Então o desafio mais desgastante em qualquer época é tentar definir o contemporâneo (o tempo atual, o mundo dos vivos). Sempre que ouço alguém definindo, por exemplo, o conto ou o romance contemporâneos, um sinal de alerta começa a piscar em meu cerebelo. Qualquer definição é por definição um enunciado em preto e branco que faz vista grossa para os muitos tons de cinza existentes. O reconhecimento de padrões é isso: selecionar arbitrariamente num cenário caótico poucos pontos estratégicos e formar com eles um desenho reconhecível. O que nós chamamos de literatura contemporânea é na verdade a soma de muitas literaturas diferentes, às vezes antagônicas. Se você colocar um romance de Evandro Affonso Ferreira ao lado de um romance de Adriana Lisboa, ou um conto de Luci Collin ao lado de um conto de Cíntia Moscovich, eles brigarão feio. São temperamentos fortes que não toleram vizinhos de diferente plumagem. Mas certas etiquetas ainda muito usadas hoje em dia — poesia marginal, prosa experimental, romance histórico, literatura engajada, literatura de invenção etc. —, apesar de simplórias, ajudam bastante na rápida identificação
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desses muitos temperamentos. Longe de atrapalhar, esses rótulos ajudam a organizar o caos. Mas devem ser usados com inteligência, sem histerismo. O aspecto mais interessante de parte da literatura contemporânea — falo da parte que mais me desafia e estimula — é a tentativa de voltar às origens. Não se trata de uma tentativa consciente e planejada. Todos nós sabemos que o retorno às origens é algo tecnicamente impossível. O que acontece com parte da literatura contemporânea se parece mais com o fenômeno gravitacional. No início da jornada humana, bem antes da invenção da escrita e da construção das primeiras cidades, todas as artes estavam reunidas. Para a humanidade primitiva, do período paleolítico, as muitas representações do mundo sagrado e profano passavam por uma mistura de música, dança, teatro, pintura, escultura, prosa e poesia. Na pré-história as manifestações religiosas, artísticas, científicas e políticas andavam umas dentro das outras. Mas, com o passar do tempo, essas manifestações foram conquistando autonomia. Hoje, quando teóricos, artistas e escritores falam em desfocar as fronteiras na crítica, na arte e na literatura, eu escuto o chamado silencioso das origens, a força gravitacional tentando nos atrair para aquele núcleo antigo, mais instintivo. Desfocar as fronteiras literárias é permitir que certos procedimentos da poesia trabalhem, por exemplo, num conto ou num romance, e vice-versa. Os escritores modernistas fizeram bastante isso. Do início do século 20 para cá, as categorias da lírica (eu lírico, ritmo, rima, assonância e aliteração, subjetividade e ambiguidade) contaminaram muitas ficções, e as da ficção (narrador, personagem, enredo, tempo, espaço, objetividade e exatidão) impregnaram muitos poemas. O texto científico e o jornalístico também foram convocados pelos poetas e pelos ficcionistas. A palavra de ordem, para esse grupo de escritores, é miscigenação. A fronteira entre as artes também foi desfocada. Poetas e ficcionistas contrabandearam para seus trabalhos literários elementos das artes visuais, da música, do teatro e da publicidade.
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Muitos contistas talentosos teorizaram sobre o gênero, propondo sua receita para a criação de um bom conto. Citarei rapidamente apenas seis: Edgar Allan Poe, Anton Tchekhov, Horacio Quiroga, Ernest Hemingway, Julio Cortázar e Ricardo Piglia. Apesar dos diferentes pontos de vista, todos respeitaram a estrutura de base do conto clássico, hegemônico, deixando de fora a miscigenação.
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Essa abertura para a miscigenação é muito recente, e está restrita a certo nicho alternativo da criação literária. Não pertence ao senso comum. Quando a maioria das pessoas pensa em poemas, contos ou romances, elas ainda têm em mente a forma clássica desses três gêneros literários. Ainda hoje, pra muita gente, a mistura desnorteia. Quanto mais as formas híbridas se afastam das convenções acadêmicas clássicas, menos certeza as pessoas vão tendo da natureza literária dessas obras misturadas. Um exemplo extremo: esse princípio da incerteza literária sempre rondou as narrativas híbridas de Valêncio Xavier, mesmo quando ele publicou parte de sua obra por uma editora de projeção nacional. Afinal o que é um conto? Perguntinha simples, não? Mais ou menos. É como perguntar: o que é o tempo? O que é o amor? Todo mundo sabe o que são essas coisas. Mas se desafiados a definir o tempo ou o amor, logo nos embananamos e gaguejamos, vítimas da tautologia. O que é um conto?
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Para EDGAR ALLAN POE (1809-1849) um bom conto é a revelação de um acontecimento extraordinário e seu ponto principal é o desfecho, o final, que precisa ser surpreendente. Muitas vezes Poe concebia primeiro o final de um conto, para só depois planejar o início e o meio. O clímax deve comandar todo o resto, dizia ele. Outro ponto importante: a extensão ideal. O conto deve ser uma narrativa nem muito curta nem muito longa, sua leitura deve ficar entre meia hora e uma hora e meia. Para Poe tudo num conto deve ser organizado em função do que ele chamava de unidade de efeito. Então o mais importante é a relação entre a extensão do conto — narrativa pra ser lida numa assentada — e o efeito que a leitura deverá provocar no leitor: sentimento de terror, tristeza, compaixão, humor, volúpia etc. Essa é a teoria clássica do conto. A ficção que mais plenamente se manifesta nessa teoria é justamente a de detetive, inventada por Poe em meados do século 19. Esse subgênero literário, mais do que
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qualquer outro, não tem como existir sem um acontecimento extraordinário — o crime — e um final surpreendente — a revelação do criminoso —, manejados para causar no leitor um efeito único e intenso: a surpresa. ANTON TCHEKHOV (1860-1904)
concorda com Poe quanto à extensão ideal e à unidade de efeito, mas discorda totalmente quanto ao acontecimento extraordinário e ao final surpreendente. Os contos de Tchekhov são interessantes justamente por tratarem de acontecimentos banais da vida sem graça de pessoas comuns. São narrativas quase sem ação, em que nada parece acontecer. O acontecimento extraordinário, quando existe, está fora da moldura do quadro. Aconteceu antes, e o que o narrador pretende revelar ao leitor são os efeitos daquele acontecimento desconhecido. Essa é a teoria modernista do conto. Desaparece o conto de enredo e surge o conto de atmosfera.
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HORACIO QUIROGA (1878-1937)
escreveu um irreverente Decálogo do perfeito contista, misturando mandamentos sensatos com disparates. Durante muito tempo eu levei bastante a sério esse decálogo, até ouvir do professor Wilson Alves Bezerra, estudioso da obra do uruguaio, que a intenção de Quiroga nunca foi doutrinar, mas ironizar os manuais que pretendem orientar a prática literária. Quiroga ri do exagero das regras. Seu decálogo, avisa Bezerra, não deve ser lido de modo literal. Ele não é um conjunto pretensioso e questionável de dicas sobre a prática ficcional. É uma obra metalinguística coordenada pela ironia. ERNEST HEMINGWAY (1899-1961)
não concorda com Poe em nada. Nem quanto à extensão, nem quanto ao acontecimento extraordinário, nem quanto ao final surpreendente. Para Hemingway o bom conto tem de ser como um iceberg: o mais importante da história não deve ser contado, deve ficar oculto bem abaixo da superfície da água. A narrativa deve ser construída com o não dito, o subentendido, a alusão. Tchekhov teria concordado com isso.
JULIO CORTÁZAR (1914-1984)
concorda com Poe em quase tudo. Depois de estudar e traduzir para o espanhol todos os contos do mestre estadunidense, Cortázar sintetiza o conceito de conto de Poe: “Um conto é uma verdadeira máquina literária de criar interesse.” De Cortázar, gosto também da comparação que ele estabelece entre conto e romance: o romance está para o conto as-
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sim como o cinema está para a fotografia. O romance é uma arte analítica, que trabalha com a acumulação. O conto é uma arte sintética, que trabalha com a seleção. Também gosto da comparação entre a ficção e o boxe: “O romance vence sempre por pontos, enquanto o conto deve vencer por nocaute.” Ricardo Piglia, escrevendo sobre Tchekhov, Kafka, Borges e Hemingway, conclui que um conto, seja ele clássico ou moderno, sempre conta duas histórias: uma visível e outra secreta. Mas cada uma das duas histórias pode ser revelada de modos diferentes. O talento individual está na maneira como cada contista trabalha a tensão ente as duas histórias, fornecendo ou suprimindo informação. Muitos outros escritores também refletiram sobra a arte do conto, propondo suas próprias regras. Não comentarei aqui as sugestões, por exemplo, de Kurt Vonnegut e Mempo Giardinelli, bastante conhecidas, porque não acrescentam quase nada ao que já foi proposto pelos autores citados anteriormente.
55 É importante notar que a modalidade do miniconto, tão praticada hoje em dia no mundo todo, jamais foi considerada importante pelos principais teóricos do conto. Até mesmo excelentes minicontistas como Kafka, Brecht, Cortázar e Italo Calvino não pareciam interessados em legitimar, em sua época, essa modalidade tão desafiadora. Cortázar é autor de uma das melhores coletâneas de minicontos do século 20: Histórias de cronópios e de famas. Mas qualquer leitor apaixonado pela obra desse gigante da ficção moderna logo percebe que sua definição de conto, muito influenciada pela de Poe, não contempla essas saborosas histórias, todas muito curtas. Tudo indica que Cortázar não classificava suas breves ficções sobre cronópios e famas como contos. E com razão. O miniconto, apesar do parentesco com o conto, é outra história, e ainda aguarda uma teoria particular que o desvincule do irmão mais velho e mais extenso. Hoje uma boa definição de conto precisa incluir as ficções menos ortodoxas. Estou pensando nas narrativas curtas de Valêncio Xavier, Décio Pignatari, Alberto Pimenta e outros, que incorporam literariamente material de natureza não literária: desenhos, fotos, embalagens, cenas de cinema, fragmentos de histórias em quadrinhos, textos de jornal e revista, anúncios antigos etc.
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Poe, Tchekhov, Quiroga, Hemingway, Cortázar, Piglia, Vonnegut, Giardinelli... Existem muitas definições e decálogos do conto. Os especialistas no assunto buscaram uma única teoria e encontraram dezenas, centenas. Num mundo matizado, é assim que as coisas acontecem. Então um bom conselho ao leitor pode ser: não se torture procurando uma resposta definitiva para a pergunta “o que é um conto?” Em vez disso, delicie-se lendo contos. Leia Dalton Trevisan. Leia Clarice Lispector. Leia Lygia Fagundes Telles. Leia a antologia Geração Zero Zero. Outro bom conselho, agora ao escritor iniciante ou veterano, pode ser: não se torture procurando a receita perfeita para a escritura do conto perfeito. Ela pode ser apenas uma utopia impossível. Em vez disso, delicie-se lendo e escrevendo contos. Talvez mais importante e mais fácil do que tentar descobrir o que um conto é, do que tentar encontrar a definição absoluta do conto e suas regras, é tentar descobrir quantos tipos de conto existem. A tipologia do conto parece ser algo bem menos incerto do que a teoria do conto. Um bom começo é a classificação proposta por Carl Henry Grabo, em The art of short story (1913). Para Grabo, há cinco tipos de conto: o conto de ação (centrado no enredo), o conto de personagem (centrado no protagonista ou nos muitos personagens centrais, se houver mais de um), o conto de cenário ou atmosfera (na ambientação, nos objetos, nas sensações), o conto de ideia (nas doutrinas filosóficas, artísticas, científicas, religiosas, políticas etc.) e o conto de efeito emocional (terror, tristeza, compaixão, humor, volúpia, como na teoria do efeito único, de Poe). Não é difícil perceber que este último tipo é bastante problemático, pois está fundado no suposto efeito subjetivo, emocional, que o contista espera que determinado conto provoque no leitor. Outro problema é que este tipo pode se confundir com o anterior, o conto de ideia, causando ambiguidade e imprecisão. A tipologia criada por Grabo no começo do século 20 baseia-se em três categorias da ficção: personagem, enredo e espaço. Sugiro que a gente tente criar uma tipologia do conto usando as cinco principais categorias da ficção: linguagem (considerando também o foco narrativo), personagem (o protagonista ou o narrador-protagonista ou os muitos personagens centrais, se houver mais de um), enredo, espaço e tempo. Também sugiro que a gente esqueça essa história de efeito único, emocional. Ainda não existe um método confiável para avaliar que efeito um conto provocou em leitores muito diferentes.
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Como as cinco categorias estão sempre misturadas, em diferentes porcentagens, é preciso bastante atenção para detectar num conto qual das cinco se sobressai. Um exemplo de cada: um conto de linguagem é O importado vermelho de Noé, de André Sant’Anna; um conto de personagem é Os filhotes, de Mario Vargas Llosa; um conto de enredo é Mestre-de-armas, de Braulio Tavares; um conto de espaço é Chegarão chuvas suaves de Ray Bradbury; e um conto de tempo é Viagem à semente, de Alejo Carpentier. Voltando à questão inicial, das fronteiras desfocadas, borradas, como classificaremos os contos-colagem, em que o material de outras esferas artísticas — desenhos, fotos, embalagens, cenas de cinema, fragmentos de histórias em quadrinhos, textos de jornal e revista, anúncios antigos etc. — são incorporados à estrutura narrativa? Em que categoria colocaremos O mez da grippe e Maciste no inferno, de Valêncio Xavier? Também não podemos esquecer os contos multimídias publicados na web, que incorporam sons, músicas e fragmentos de filmes. Há duas possibilidades: podemos considerá-los contos de linguagem ou criar uma nova categoria para eles. Que nome podemos dar a essa nova categoria? Finalizo estas reflexões deixando essa questão em aberto. Sugestões serão muito bem-vindas.
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LUIZ BRAS nasceu em 1968, em Cobra Norato, MS. É escritor e doutor em Letras pela USP. Já publicou diversos livros, entre eles Procura-se uma Sereia (infantojuvenil), Sozinho no deserto extremo (romance) e Paraíso líquido (contos). Colabora regularmente com a Folha de S.Paulo, resenhando lançamentos do mercado editorial.
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DOMINGOS PELLEGRINI
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TRÊS CONTOS DE
Foto: Think Stock
AVALIADOR DE TEMPESTADES Cheguei à cidadezinha e saí do hotel para ver o poente, bebendo um vinho descansado depois da viagem cansativa. Anotei alguma coisa, o garçom ficou olhando. Anotei mais, ele não aguentou, veio perguntar: _ O senhor é jornalista? Resolvi inventar: _ Sou avaliador de tempestades. Ele passou pano na mesa, coçou a cabeça. _ Avaliador... _ De tempestades. Consulto a meteorologia e viajo para onde estão previstas tempestades. Depois vou à defesa civil, aos bombeiros, hospitais e oficinas, para saber dos estragos causados pela tempestade. Ele balançou a cabeça, piscando para ajeitar os pensamentos. _ E pra que serve avaliar tempestade? _ As companhias de seguros precisam saber se os danos causados pelas tempestades não vão ser exagerados pelos segurados, para receber mais indenizações. Por exemplo, se eu verifico que só três carros foram danificados por queda de árvores, mas aparecem mais carros pedindo indenizações, serão carros que já estavam batidos e os donos querem se aproveitar da tempestade para a seguradora pagar os consertos. Ele balançou a cabeça com olhar esperto, me animando a continuar: _ É lógico que, cruzando os dados da magnitude das tempestades em algumas localidades, como quantidade de chuva e velocidade dos ventos, podemos calcular uma média de estragos noutras localidades que sofrerem tempestades de magnitude semelhante. _ Puxa! – ele olhava através de mim, decerto visualizando torós e vendavais.
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Voltou a me focar, sorrindo: _ Então o senhor deve ganhar bem, né? Mais que escritor, falei, e ele continuou a olhar borrascas e enchentes no horizonte, até falar com os olhos assim perdidos: _ Eu sempre gostei de tempestade, desde menino. Minha mãe conta que uma vez, no meio duma tempestade que chacoalhava a casa, ela deu falta de mim, procurou pela casa toda, eu tinha sumido, tava lá fora no quintal admirando a tempestade. Me encarou com um sorriso bom. _ Admiro o senhor, faz um trabalho que eu queria fazer, mas deve exigir muito preparo, né? Muito, falei, ele precisaria conhecer meteorologia, estatística, sociologia temporal, análise de ventos, correlação de forças tempísticas. _ E onde o senhor fez o curso? Falei que é especialização sem curso, formação autodidata com poucos profissionais no mundo. E voltei a fazer anotações, para ele me deixar só com minhas tempestades. Ele foi servir outras mesas, mas volta e meia me olhava, eu voltava a inventar anotações na caderneta, ele mais intrigado ficava. Resolvi arrolhar o vinho para acabar de beber no hotel. Quando dormi, nem vi quando a tempestade chegou. Amanhecendo, abri a janela, a chuva caía sobre árvores agitadas pelo vento. Batidas na porta, abri, era ele, com capa de chuva, guarda-chuva na mão, botas plásticas. _ Posso ir junto com o senhor? Não atrapalho em nada! Posso ir? Ir aonde, perguntei, ainda meio sonado, e ele abriu um sorriso cúmplice com olhar luminoso: _ Ir com o senhor avaliar a tempestade! Posso ir? E ficou feito menino respirando fundo, esperando eu dizer sim, vamos, vamos avaliar essa tempestade.
A DOAÇÃO Vamos levar livros para a biblioteca do hospital, diz o avô: assim as pessoas doentes terão o que ler.
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N
O neto, com seus quase cinco anos, ajuda a encher caixa de livros, depois se afivela na sua cadeirinha no carro. No hospital, entregam os livros e depois o avô diz que vai fazer outra coisa boa também, doar sangue. O neto pergunta o que é doar. _ É dar. O vô vai dar sangue, como demos livros. Quem precisar de sangue, vai usar o sangue do vô. _ E como vão tirar teu sangue, vô? _ Com uma agulha. O neto estaca no corredor, homenzinho sério: _ Vão tirar todo teu sangue, vô? _ Não, só um pouco, você vai ver. Na sala de coleta, o enfermeiro pergunta se o neto também vai doar sangue, o neto olha para o vô, vai ou não vai doar? Não, o enfermeiro mesmo explica: _ Você ainda está crescendo, precisa do sangue para crescer. Mas, quando ficar grande, vai doar que nem o vô, né? O menino concorda, todo homem. Nem pisca olhando o enfermeiro amarrar o braço do avô, passar algodão com álcool, mas arregala os olhos quando a agulha se aproxima da pele. O enfermeiro sussurra ao avô: - Não demonstre dor, senão perdemos um futuro doador... O avô sorri quando a agulha espeta. _ Não dói, vô?! Nadinha, o vô garante sorrindo. O neto olha fascinado o tubo que vai avermelhando quando o sangue passa do braço para a bolsa coletora. Conforme vai enchendo, a bolsa vai balançando na sua gôndola, o neto continua olhando sem piscar. O enfermeiro vai atender outro doador ali do lado. O homem faz careta e solta um gemidinho quando a agulha espeta. O neto sussurra: _ Nele doeu, vô. O vô também sussurra: _ É que tem gente manhosa, que pensa que vai doer, então geme como se doesse, mas não dói. Quando a bolsa enche e a máquina apita, o enfermeiro volta, retira a agulha, avisa que o lanche espera na sala ao lado. Na lanchonete, o avô diz que quem doa sangue sempre ganha sanduíche quentinho e suco geladinho.
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_ Então você vai doar quando ficar grande, né? O neto mastiga sem responder, olhando longe. _ Hem, você vai doar? O neto diz que então trará o irmão mais velho. _ Pra ele doar primeiro, vô. Aí ele me conta se doer. _ Ah... E, se ele disser que doeu, você não vai doar? O neto balança a cabeça mastigando, não, não vai doar. _ Nem se for uma dorzinha de nada? O neto mastiga pensando. _ Aí, vô... Eu vou doar livros, ué! O avô mastiga sorrindo, até se perguntar em voz alta: _ Será que você vai ser político, guri? O neto lambe o bigodinho de suco antes de perguntar: _ O que é político, vô? _ Ah, ainda é cedo pra você saber. Mas parece que você já é político. O neto vai para o carro caminhando grande. Em casa, anuncia para a mãe: _ Eu sou político, mãe! A mãe encara o avô: _ O que você andou fazendo com meu filho, pai?!
A TATUAGEM Depois de muita discussão, a mãe diz que o filho pode, sim, fazer tatuagem, quantas quiser, até na testa. _ Desde que antes você comece a pagar suas contas, tá, e a arrumar a cama, fazer comida, lavar a roupa, ou arranje empregada, né? Aí pode tatuar até suástica na testa, mas vá viver longe de mim! O filho adoça a voz: _ Mãe, eu tava brincando quando falei de tatuar suástica, só porque você perguntou o que eu quero tatuar, né, mãe, como se eu tivesse de passar pela tua censura... E a liberdade de expressão da Constituição? A mãe diz que ele pode pegar a Constituição e... mas aí morde o lábio, silencia lavando louça. _ Deixa que eu enxugo, mãe.
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_ Aqui em casa, se você prestasse um mínimo de atenção, saberia que não enxugo louça, deixo secar no aparador! _ Que inteligente, mãe! A mãe suspira tão fundo que o filho diz: mãe, se você tivesse bigodes, eles tremiam, hem. A mãe, com voz torcida, diz que se ele tivesse pai em casa... _ O que ele ia fazer, mãe? Entrar na minha cabeça pra eu não gostar de tatuagem? Ele se foi, mãe, e agora o homem da casa sou eu! É, mãe, consegui aquele emprego! Ela amassa o pano de prato nas mãos. _ É, mãe, consegui. Não queria dizer antes, pra ver se você me liberava a tatuagem sem pensar que é chantagem. Ela pousa o pano de prato na pia como se fosse um coração úmido. _ Você... conseguiu o emprego? _ Com bolsa de estudo pra curso superior, mãe, te falei, fui o melhor estagiário! Teu pai ia ficar tão orgulhoso, sussurra a mãe com olhos também úmidos. O filho também sussurra: - E você, mãe, acha que agora ele me deixaria tatuar? A mãe desaba na cadeira, enxugando os olhos com o pano de prato. O silêncio valoriza os suspiros e as fungadas, até que ela fala: - Pode... tatuar o que quiser, filho, onde quiser. - Onde, mãe, você vai escolher. Vou tatuar isto. Ele mostra no celular o desenho de um coração com os nomes do pai e da mãe. Ela olha piscando, mascando os lábios até falar ajoelhando: _ Ah, filho, me perdoa! _ Que isso, mãe, levanta, não é teatro, não, é nossa vida! Abraçam-se como só no Natal e aniversários, aí ela fala na orelha: _ Uma tatuagem dessas, meu filho, no braço ia ser coberta pelo paletó, porque você, do jeito que vai, vai ser chefe ou diretor de empresa, vai usar paletó. No pescoço, ia parecer punk, mas no dorso da mão vai aparecer bem, né? O filho desabraça, olha nos olhos e sorri: _ Que tal na testa, mãe?
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DOMINGOS PELLEGRINI é escritor, com mais de 60 livros publicados de contos, romances, crônicas, teatro, biografia, poesia, juvenis e infantis. Ganhou, entre outros, seis Prêmios Jabuti.
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PONTO DO NOVO CONTO SE VOCÊ É UM AUTOR ESTREANTE E QUER TER SEU TEXTO PUBLICADO AO LADO DE ESCRITORES JÁ CONSAGRADOS NA
N OVO CONTO
PONTO DO
SEÇÃO PONTO DO CONTO, MANDE O MATERIAL PARA AVALIAÇÃO PELO E-MAIL: COMUNICACAO_EDITORA@SESISENAISP.ORG.BR. O MATERIAL DEVE CONTER ENTRE 6 MIL E 8 MIL CARACTERES.
CARONTE “Mas a vida de todo indivíduo não poderia ser uma obra de arte?” Michel Foucault
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A curva à direita era apenas mais uma dentre tantas no seu trajeto matutino que se estenderia até o cair da tarde, ainda assim havia algo nela que o irritava profundamente além das demais. Era aquela curva, aquela maldita, com suas árvores frondosas e os muros altos de prédios com nomes importados de palácios. Não, definitivamente Clóvis sentia a náusea tomar-lhe conta. Virou-se de lado, sentando ereto contra o banco desconfortável de couro que já havia afundado pelo tempo, as barras de metais um dia serviram para o apoiar nas tais curvas, hoje assemelhavam-se somente com uma prisão, a pior de todos: voluntária. Ele abre a caixa do dinheiro desviando os olhos quando a senhora passa o cartão ao lado. Bip. Clóvis se lembrava de uma outra época, onde a cada manhã uma rajada de cumprimentos, de rostos embaraçados, olhares vazios vinha em sua direção, pedidos e conversas, porém depois da invenção ele apenas fora subs-
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tituído, poucos o cumprimentavam, menos ainda o tinham em conta; ele não estava certo do que considerava pior, o silêncio de abismo no qual fora lançado, ou as curvas já tão gastas e conhecidas. Sede homem Clóvis, sede forte! Sua cabeça dizia-lhe enfaticamente os ditos modernos, repetia as palavras das novelas, dos jornais. Clóvis assentia sozinho fingindo balançar com os desníveis do asfalto diante da tristeza de ser um homem perdido em si mesmo, em um ônibus que vai e vem, o dia todo, na mesma hora, e no mesmo caminho. Clóvis, às vezes, não tinha mais certeza do que era, se não havia ainda se transmutado em um ser entre máquina e pele. E olhe que estamos sendo gentis porque nem há de ser ele o motorista, o Caronte de nosso ônibus, o responsável com poder sobre tantas vidas. Clóvis era apenas ele sozinho, perdido lá dentro, mascando o chiclete de menta vindo da caixa pequena, já sem gosto; o canino inferior doía dando-lhe estocadas que faziam-no prender a respiração. Ele bem que gostaria de arrumá-lo, porém havia prioridades na frente, uma mochila irremediável pro filho, o remédio da mulher, a comida de cada dia, a luta pela vida que se continua entre labor e desgraça dentro de todos nós. Os empregos eram difíceis de se arranjar, Clóvis teria de ser agradecido por ter um na condição do país, contudo era inevitável provar do desgosto naquela curva. Outra parada, os pneus encerram a sinfonia, o ônibus todo treme deitando-se e cortando por um milésimo a energia que o estimulava a prosseguir. As vozes alçam voo ao adentrar no lugar. Clóvis arruma o cabelo sem jeito, está ficando velho, o rosto marcado pelo Aion. Sim, ele era apenas um homem cansado e envelhecido tomando consciência do retorno ao mundo, uma tarefa árdua se mostrava a frente. “Olá, bom dia!” A voz doce com caracteres extramundanos atinge-lhe no estômago, o senhor arruma-se no banco abrindo a caixa registradora automaticamente pegando o dinheiro oferecido, o cartão a encostar no pequeno local de reconhecimento. Bip. “Bom dia!” Responde comovido com uma voz rouca. O pouco, o ínfimo, o menor de todos os contatos é suficiente para empedernir a alma do pobre Clóvis que imediatamente se encolhe pasmo ao dar-se conta de que os demais poderiam afinal o notar. O cabelo estava bom? E as roupas? A felicidade da vivência, do reconhecimento o transformou em uma criança. Mas é preciso se notar, uma criança deveras pura, eis o que mais importa.
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A terceira parada, a quarta, alguns sequer passam por ele, alguns sequer o olham, todavia a Clóvis que importa que muitos o reconheçam quando a jovem de olhos gentis e sorrisos exóticos sentada ao primeiro banco pós catraca cantarola despreocupada olhando para fora e, às vezes, escapando até ele. O que Clóvis vê não é apenas o charme corrupto que escorre pelas veias, mas toda a inocência estampada aqui e ali, disposta amarguradamente entre as entranhas disto e daquilo. O ônibus para próximo ao teatro, a moça levanta-se, os cabelos castanhos meio opacos e quebrados, presos com o elástico preto balançam sem graça de cá para lá, o nariz anguloso ajuda a construir numa aparência estranhíssima. Ainda assim, o que Clóvis vê é a beleza que nos é arrancada da alma a cada dia de intempérie, há em cada traço recôncavo, em cada desnível, no queixo inclinadíssimo para frente, ou nos ombros caídos com a bolsa amarela gasta engajada junto ao desenho desmesurado de uma flor a beleza do cotidiano. Não houve nada, apenas um bom-dia, apenas a fagulha insuficiente para iniciar o incêndio, ainda assim Clóvis sente-se mais feliz do que qualquer outra situação em toda semana, porque, afinal de contas, estar ali para admirar com paciência cada uma das tantas belezas que passavam não era para qualquer ente. Precisa-se de requisitos mínimos, de gostos máximos, de um tanto de consciência, coisa tal que Clóvis orgulhava-se muito de ter, ou de achar que possuía, fosse qual fosse a realidade. Foi embalado por essa felicidade mísera de uma captura supérflua de cumprimento que ele chegou junto ao seu ônibus no destino. “Ponto final, desçam todos!”, bradou levantando-se impaciente para esticar as pernas que faltavam sangue por tanto tempo parado. Os últimos três passageiros espalhados içaram seus corpos organizando uma fila para a descida, enquanto Clóvis dava-se a honra de sair pela frente. Era assim seu dia, de cá para lá, do vazio ao nada, de lugar algum até a Cardoso, até a Machado, às vezes destinado a outros ônibus, era Ipiranga e uma Vila, era Santo Amaro e Paulista, cortando onde quer que fosse, permanecia sempre o mesmo homem transeunte e vazio diante do abismo que o olhava, a menos que alguém o salvasse. E naquela manhã, ao menos, a moça que já partira, que descera no teatro para criar uma aura especial, colocara a bandeira branca de redenção
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cravando-a em seus ombros cansados, inclinados à frente, cingidos do dia a dia que não mais se vive, mas se acontece. “Estou faminto!”, diz Carlos, o motorista. Sua gravata está desajeita, o cabelo é ralo e as calças excessivamente apertadas. Clóvis balança a cabeça concordando, sim, a fome também estava a consumir suas entranhas. “Quando teremos a pausa para o almoço?”, Carlos suspirou pesadamente virando de cá para lá, fitando os novos rostos que iria governar pelas ruas da cidade. “Dentro de meia hora!”. “Mas é claro, eu disse a ele que não poderíamos continuar desse jeito, sei que ele entendeu, porém você conhece Pedro, ele...” O trecho da conversa é captado desvanecendo assim que as interlocutoras afastam-se para a entrada do ônibus. Clóvis suspira cansado seguindo atrás para retornar ao seu lugar. Ah minutos preciosos que rapidamente se extinguiam! “Eu já disse, não posso ir hoje, não, não, estou entrando no ônibus ainda...”. “Não posso acreditar, o que você respondeu? É muita cara de pau mesmo viu?”. “É, estou indo para aí agora me espere, já estou chegando...”. Clóvis sorriu ao ouvir essa conversa. Sim, os mentirosos de certa forma eram os seus passageiros preferidos depois das moças encantadoras. Eles tinham sempre uma pressa, uma mentira e um casaco com bolsos, todos eles, mentirosos detectáveis pelas vestes, pelos trejeitos. Clóvis guardou timidamente o sorriso, esquecendo por um minuto seu trajeto de homem-máquina para absorver-se nas vidas que passavam por ele sem notar, a que todos não sabiam que pertenciam, o ser estranho que também coabitava nossos dias, delimitava, poderia assumir o lugar de muitos, mas só assumia o seu mesmo. “Pronto?”, brincou ironicamente Carlos. Clóvis assentiu umedecendo os lábios com a língua seca diante do calor que brotava pelos cantos. “Pronto!”, confirmou agarrando a barra de ferro gelada com a mão, enquanto o ônibus partia mais uma vez para o nada automático das nossas vidas.
LAURA ELIZIA HAUBERT tem 18 anos, é escritora e graduanda de Filosofia da PUC-SP. Dedica seu tempo livre à escrita, que é sua paixão, e aos estudos. Seus trabalhos são publicados geralmente no literatortura.com ou em seu site lehaubert.com
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AO PÉ DA LETRA POR ARNALDO NISKIER DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, VICE-PRESIDENTE DO CIEE NACIONAL E PRESIDENTE DO CIEE/RIO
COMPRA MALFEITA “Mariana foi à Bienal e comprou um livro extra-escolar.” Dessa forma, o livro não acrescentará em nada. Não se usa hífen quando prefixo termina com vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Período correto: “Mariana foi à Bienal e comprou um livro extraescolar.”
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VIAGEM FRUSTRADA “O pneu do microônibus com os estudantes furou no meio do caminho.” Escrevendo dessa maneira, não tem borracheiro que dê jeito. Quando o prefixo termina com vogal, usa-se o hífen, se o segundo elemento começar pela mesma vogal. Período correto: “O pneu do micro-ônibus com os estudantes furou no meio do caminho.”
SUSPENSE “Leandro e Marcelo gostam de ler histórias com muito suspense e tramóias.” Não creio que gostarão dessa leitura. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba). Período correto: “Leandro e Marcelo gostam de ler histórias com muito suspense e tramoias.” BEM GUARDADO “Vou por o livro na estante que foi feita por mim.” Não vai ficar bem guardado. Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Período correto: “Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.”
LIVRO DURADOURO “A capa do livro do Joel é superresistente.” Não vai durar tanto tempo assim! Quando o prefixo terminar em consoante, usa-se o hífen, se o segundo elemento começar com a mesma consoante. Frase correta: “A capa do livro do Joel é super-resistente.”
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L ETRA
AO PÉ DA
VIERAM DE LONGE “Eles vem de Belo Horizonte, para conhecer o Rio de Janeiro.” Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Período correto: “Eles vêm de Belo Horizonte, para conhecer o Rio de Janeiro.” CONFUSÃO “A professora não aprovou os livros anti-pedagógicos.” Nem poderia! Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r, s ou h. Período correto: “A professora não aprovou os livros antipedagógicos.” VESTIMENTA “Júlia iria para a Bienal de mini-saia, mas sua mãe não deixou.” Essa roupa não cai bem mesmo! Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Período correto: “Júlia iria para a Bienal de minissaia, mas sua mãe não deixou.”
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CHEGANDO ATRASADO “Os alunos vieram de Belém em dois vôos, que atrasaram muito.” Que pena! Não se usa mais o acento circunflexo nas palavras terminadas em êem e ôo. Período correto: “Os alunos vieram de Belém em dois voos, que atrasaram muito.” ORTOGRAFIA O X e o CH são motivo de muitas dúvidas: enxarcar ou encharcar? Quando o en é prefixo, usado para se formar uma palavra derivada, respeita-se a grafia da palavra primitiva. Observe: enchente, enchimento (vêm de cheio), encharcar (vem de charco), enchocalhar (vem de chocalho) etc. Em tempo: ortografia quer dizer escrita correta, logo escrever ou dizer “ortografia correta” é redundância.
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REGIMENTO INTERNO “O regimento do colégio do João previa advertências aos alunos que transgridissem as normas de disciplina previstas.” Primeiro deveriam se preocupar com a correção na escrita do verbo transgredir. É um verbo irregular e em algumas pessoas do presente do indicativo e em todo o presente do subjuntivo o e do radical passa para i.
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Observe: transgrido/ transgrides/ transgride/ transgredimos/ transgredis/ transgridem; transgrida/ transgridas/ transgrida/ transgridamos/ transgridais/ transgridam. Entretanto, não é o caso do imperfeito do subjuntivo, não há a troca do “e”, logo a forma correta é transgredissem. Período correto: “O regimento do colégio do João previa advertências aos alunos que transgredissem as normas de disciplina previstas.”
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SUSPENSÃO JUSTA “O atraso constante da funcionária implicou em suspensão por dois dias.” A punição seria mais justa se o complemento do verbo implicar estivesse certo. Este verbo no sentido de acarretar é transitivo direto, logo o seu complemento — objeto direto — não admite preposição. Frase correta: O atraso constante da funcionária implicou suspensão por dois dias. VIAGEM FURADA “Mariana vai para New York fazer compras para a família.” Não é errado utilizar a grafia da cidade estadunidense na sua forma original, mas é recomendável que os topônimos de línguas estrangeiras sejam substituídos pela sua tradução na língua portuguesa. Frase correta: “Mariana vai para Nova Iorque fazer compras para a família.”
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PERFUME DE FLOR “Luciana comprou um buquê de crisântemos muito perfumados.” Perfeito! A palavra proparoxítona crisântemo também admite pronúncia como paroxítona: crisantemo. MERCADO INSTÁVEL “Roberto está apreensivo com a recessão que assusta o emprezariado.” Tem que ter medo mesmo! Empresário se escreve com s, logo, seu substantivo derivado — empresariado — também é escrito com s. A única exceção é catequizar – substantivo derivado de catequese. Período correto: “Roberto está apreensivo com a recessão que assusta o empresariado.”
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L ETRA
AO PÉ DA
O X DA QUESTÃO “Lourdes pediu um mixto-quente, que chegou frio.” Nem poderia estar agradável. Usa-se s e não x depois de i e u, em final de sílaba que não seja final de palavra: mis-to. Frase correta: “Lourdes pediu um misto-quente, que chegou frio.”
Veja: de acordo com o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, as titulações devem ser grafadas com letra inicial minúscula. Marilda escreveu ao senhor doutor Abelardo Fernandes uma carta formal.”
CEDENDO Jonas disse para Angélica: “Ou chegas cedo ou não cedo.” Perfeito! Cuidado com os homônimos perfeitos (palavras de grafia igual e significado diferente). No primeiro caso: cedo é referente ao advérbio de tempo. No segundo caso: cedo é o presente do indicativo do verbo ceder (eu cedo, tu cedes, ele cede, nós cedemos, vós cedeis, eles cedem). AINDA OS HOMÔNIMOS “Cansei de apressar meus funcionários para apreçar os produtos”, disse Jorge ao irmão. Novamente, cuidado com os homônimos homófonos (mesmo som, grafias diferentes). Apressar: dar pressa, agilizar. Apreçar: dar preço, dar valor. CARTA DEVOLVIDA “Marilda escreveu ao Senhor Doutor Abelardo Fernandes uma carta formal.” Aposto como foi devolvida.
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PENSAMENTO FIXO “Por mais que tentasse por a vida para andar, sempre pensava nele.” Nem pode caminhar, dessa forma. Permanece o acento diferencial na forma pôr (preposição) “Por mais que tentasse pôr a vida para andar, sempre pensava nele.”
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INSTIGAÇÃO
Informativo do SESI-SP e SENAI-SP SUP/DR - número 05 - janeiro de 2015
Por Walter Vicioni Gonçalves
Walter Vicioni Gonçalves é formado em Pedagogia pelo Mackenzie, pós-graduado em Administração e Planejamento da Educação pelo International Institute for Educational Planning (IIEP-França) e especialista em Gestão da Qualidade pelo Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC-UNICAMP). Diretor do SENAI-SP, superintendente do SESI-SP e membro titular do Conselho Estadual de Educação de São Paulo. Atua no SENAI-SP desde 1970, onde já exerceu os cargos de diretor de escolas, diretor de Organização e Planejamento e diretor técnico. No SESI-SP foi diretor de operações.
PROCURA E OFERTA DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL: OBEDECER OU IGNORAR?
Como todos sabem, a oferta e a procura constituem a regra primordial de funciona74mento dos mercados. Essa norma vale para bens e serviços e, também, para o próprio emprego. Significa que as variações deste, em quantidade ou qualidade, repercutem, necessariamente, na procura de profissionais também conhecidos como mão de obra qualificada. Disso deve resultar, em relação direta, a procura e a oferta de formação profissional. Tudo se entrelaça, portanto, na dinâmica econômica. A questão que se coloca às instituições de formação profissional é se devem ignorar ou obedecer, até que ponto, esse ditame do mercado. Há defensores tanto da completa subordinação quanto da total independência
da demanda. A experiência tem demonstrado que os extremos são igualmente indesejáveis. Ofertas de cursos sem qualquer conexão verificável com a demanda, contando com benefícios produzidos pela “mão invisível do mercado”, geralmente resultam em fragorosos desastres. Esse tipo de aventura é uma temeridade que, no caso de uso de recurso público, descamba para a irresponsabilidade. Por outro lado, também não parece ser muito viável um rígido atrelamento ao mercado que, cada vez mais, sofre constantes mudanças em direções imprevistas. A esse respeito, continua válida a advertência de Edgar Faure, no estudo Aprender a ser da Unesco, da década de 70:
“Estabelecer um quadro de correspondência entre os graus de formação geral e as atividades profissionais é uma tarefa espinhosa: numa economia em movimento há poucos meios de prever com certeza o número e a natureza dos empregos disponíveis; poucos meios de lhe fazer corresponder uma qualificação profissional precisa; e ainda muito menos quando se trate de economias que esperam desenvolver-se.” (Livraria Bertrand. Lisboa. Difusão Editorial do Livro. São Paulo. 2.ª ed., 1977, p. 31)
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Assim, o recomendável parece ser um ponto de equilíbrio, com viés, em maior ou menor grau dependendo da circunstância, para verificação e atendimento da demanda. Também influi na decisão a ser tomada a natureza da oferta da formação, que pode compreender um ou mais cursos de qualificação profissional inicial, técnicos de nível médio, superiores em geral, incluídos os de tecnologia, e a imensa variedade de formação continuada. Obviamente, os cursos de maior duração requerem redobrada cautela no planejamento e implantação. A seguir, algumas hipóteses a serem consideradas na criação de cursos profissionalizantes. Um curso profissionalizante criado em localidade sem demanda apresenta, em pouco tempo, os seguintes efeitos maléficos: • Baixa procura de candidatos a matrícula; • Alta evasão de alunos matriculados; • Migração de formados para outra localidade, acarretando decadência do local de formação. Nada garante que em novo local haverá boas oportunidades de trabalho; • Aumento de profissionais desempregados; • Desperdício de recursos. Em um curso profissionalizante criado em localidade que tinha demanda, mas, por razões diversas, o setor produtivo encolheu drasticamente ou deslocou-se para outra região, os efeitos acabam sendo os mesmos da hipótese anterior. Um curso profissionalizante criado com currículo e perfil de saída descolados da demanda tem como efeitos inevitáveis: • Baixo aproveitamento de formados no mercado de trabalho;
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Insatisfação do setor produtivo; Queda da autoestima dos egressos; Redução da procura pelo curso; Falta de profissionais com perfis adequados.
São situações que precisam, a todo custo, ser combatidas e evitadas mediante constante observação seja do volume de profissionais demandados, seja das novas e consolidadas exigências do trabalho. Isso requer estratégias de permanente e estreito contato com o mundo do trabalho. Há casos excepcionais em que a formação acaba induzindo a demanda. Uma escola ou curso provocam a criação de negócios e surge um novo polo produtivo. Trata-se, porém, de exceção dificilmente replicável e75 extremamente arriscada. Embora não deva ser descartada, essa hipótese precisa ser muito bem planejada e conduzida. Fica claro, pois, que o farol norteador da oferta de formação deve ser, sempre, a demanda de profissionais no mercado de trabalho. Caso contrário, dois perniciosos males podem ocorrer: excesso de formados sem trabalho ou falta de profissionais, que em situação crítica chega a ser um verdadeiro ”apagão de mão de obra”. Para o estudioso Cláudio de Moura Castro, a oferta de formação é uma questão de “pontaria”, ou seja, é preciso atingir o alvo que é justamente a demanda. Em suma, a formação profissional, que constitui suporte indispensável para o mercado de trabalho, deve seguir a lógica e o rumo do desenvolvimento econômico local, regional e nacional. Caberia como alerta aos que decidem sobre formação profissional um conhecido bordão americano adaptado: é a economia, prezado muar.
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EVENTOS DAS EDITORAS SESI-SP E SENAI-SP
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EV EN ES TO DI TO RA
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O SEGREDO AZUL LIVRARIA DA VILA (SP)
O CONTO QUE NÃO EXISTE LIVRARIA DA VILA (SP)
ENTREGA PRÊMIO JABUTI – CAPA GRAFFITI AUDITÓRIO IBIRAPUERA (SP)
A FEIJOADA E OUTROS CONTOS SESC VILA MARIANA (SP)
KISLANSKY CERÂMICAS LIVRARIA CULTURA (SP)
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EVENTOS DAS EDITORAS SESI-SP E SENAI-SP
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EV EN ES TO DI TO RA
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O GRANDE LIVRO DAS GAROTAS DO BEM LIVRARIA DA VILA (SP)
O GALO E A RAPOSA LIVRARIA SARAIVA (SP)
EDITAIS DE PATROCÍNIO EMPRESARIAL LLIVRARIA CULTURA (SP)
BICHO-PAU BICHO FOLHA ILHABELA (SP)
OS CABELOS DE CRISÁLIDA LIVRARIA DA VILA (SP)
O SEGREDO AZUL LIVRARIA DA VILA (SP)
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CARDÁPIO
CENTRO CULTURAL FIESP – RUTH CARDOSO* AVENIDA PAULISTA, 1313 SÃO PAULO SP EXPOSIÇÃO LEONARDO DA VINCI: A NATUREZA DA INVENÇÃO ATÉ 10/05/2015 DIARIAMENTE, DAS 10H ÀS 20H CURADORIA DE ERIC LAPIE E CURADORIA CIENTÍFICA DE CLAUDIO GIORGIONE
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Quem era Leonardo da Vinci (1452-1519)? Um genial inventor de máquinas incríveis? Um visionário, um precursor das maravilhas dos tempos modernos? A exposição revela esse homem que viveu há mais de 500 anos; dentre muitas capacidades, um artista e engenheiro que permanece como um mito nos dias atuais. O acervo exibido é baseado em uma coleção de maquetes produzidas em 1952 para a celebração do seu quinto centenário de nascimento. Um grupo de pesquisadores e engenheiros mergulhou no estudo e na reinterpretação dos manuscritos do gênio renascentista para construir as maquetes, que foram apresentadas ao público em 1953 e podem ser vistas ainda hoje, no Museo Nazionale della Scienza e della Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão, na Itália. TEATRO PROJETO FAUZI ARAP: ESPETÁCULO “A GRAÇA DO FIM” DE 30/01/2015 A 22/02/2015 SEXTAS E SÁBADOS, ÀS 20H30 E AOS DOMINGOS, ÀS 19H30
O projeto Fauzi Arap faz uma homenagem a esse que foi um dos maiores dramaturgos do Brasil, detentor de uma lista impressionante de prêmios de reconhecimento por sua
Foto: Yara LO Martins Abad Salto
atuação, querido e lembrado mestre das artes cênicas – autor e encenador teatral por excelência. A programação traz textos de destaque de sua rica produção, uma montagem inédita, leituras dramáticas de peças emblemáticas de sua autoria, debates sobre sua obra e lançamento de livros pela SESI-SP Editora. O evento tem a presença de atores com quem Fauzi Arap (1938-2013) trabalhou – Bruna Lombardi, Cláudia Mello, Martha Mellinger, Thaia Perez e Umberto Magnani, entre outros –, alguns artistas revelados por ele e muitos autores e atores de sucesso no teatro brasileiro. Quatro encenadores dirigem os espetáculos e as leituras dramáticas do projeto: Aimar Labaki, Elias Andreato, Mário Bortolotto e Noemi Marinho. A GRAÇA DO FIM (2013) — Última peça escrita por Fauzi Arap, em novembro de 2013, fala da morte. Seu Nini, aposentado, sente a chegada da morte e o fim de seus ideais com o humor cáustico típico da “melhor idade”. Nesses últimos momentos é acompanhado por seu enfermeiro. A cumplicidade dos dois faz o fim da jornada desse homem mais gracioso. Com direção de Elias Andreato, traz no elenco Nilton Bicudo e Cleiton Santos. FICHA TÉCNICA – Texto: Fauzi Arap. Direção: Elias Andreato. Assistência de Direção: André Acioli. Elenco: Nilton Bicudo e Cleiton Santos. Trilha Sonora: Jonatan Harold. Iluminação, Cenografia e Figurinos: Elias Andreato. Produção: Solo Entretenimento. Duração: 50 minutos. Classificação: 12 anos
NÚCLEO EXPERIMENTAL DE ARTES CÊNICAS SANTOS SHAKESPEARE AMARROTADO TUDO O MAIS PERMANECE O MESMO E ELES ERAM ELES MESMOS SP URBAN DIGITAL FESTIVAL DO JEITO QUE VOCÊ GOSTA DO JEITO QUE VOCÊ GOSTA
* Datas e horários sujeitos a alterações. Mais informações no site www.sesisp.org.br/cultura/.
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CARDÁPIO
Foto: Maria Tuca Fanchin
Foto: Heloisa Bortz
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Foto: Heloisa Bortz
Foto: João Caldas
Foto: João Caldas
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GALERIA DE FOTOS
Foto: Ana Gois
Foto: Leandro Cotrim Dias
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Foto: Ana Gois
CARDÁPIO
Foto: Heloisa Bortz
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PEDRO MARIANO RICARDO III RICARDO III NÚCLEO EXPERIMENTAL DE ARTES CÊNICAS VILA DAS MERCÊS E ELES ERAM ELES MESMOS JAIR OLIVEIRA
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NÚCLEO EXPERIMENTAL DE ARTES CÊNICAS SÃO BERNARDO DO CAMPO
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Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso
2015 janeiro-fevereiro
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A Graça do Fim Não perca! 84 Confira toda a programação
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www.sesisp.org.br/cultura Serviço Social da Indústria — Sesi-SP Centro Cultural Fiesp - Ruth Cardoso Av. Paulista, 1.313 – Cerqueira César 01311-923 – São Paulo/SP
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Grande São Paulo: 11 3528 2000 Outras localidades: 0800 55 1000 www.sesisp.org.br/redessociais | www.sesisp. org.br/redessociais
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UNIDADES DO SESI-SP AMERICANA CAT DR. ESTEVAM FARAONE AVENIDA BANDEIRANTES,1000 CHÁCARA MACHADINHO CEP 13478-700 - AMERICANA - SP Tel: (19) 3471-9000 www.sesisp.org.br/americana ARAÇATUBA CAT FRANCISCO DA SILVA VILLELA RUA DR. ALVARO AFONSO DO NASCIMENTO, 300 - J. PRESIDENTE CEP 16072-530 - ARAÇATUBA - SP Tel: (18) 3519-4200 www.sesisp.org.br/aracatuba ARARAQUARA CAT WILTON LUPO AVENIDA OCTAVIANO DE ARRUDA CAMPOS, 686 - JD. FLORIDIANA CEP 14810-901 - ARARAQUARA - SP Tel: (16) 3337-3100 www.sesisp.org.br/araraquara ARARAS CAT LAERTE MICHIELIN AVENIDA MELVIN JONES, 2.600 - B. HEITOR VILLA-LOBOS CEP 13607-055 - ARARAS - SP Tel: (19) 3542-0393 www.sesisp.org.br/araras BAURU CAT RAPHAEL NOSCHESE RUA RUBENS ARRUDA, 8-50 - ALTOS DA CIDADE CEP 17014-300 - BAURU - SP Tel: (14) 3234-7171 www.sesisp.org.br/bauru
CAMPINAS I CAT PROFESSORA MARIA BRAZ AVENIDA DAS AMOREIRAS, 450 CEP 13036-225 - CAMPINAS I - SP Tel: (19) 3772-4100 www.sesisp.org.br/amoreiras CAMPINAS II CAT JOAQUIM GABRIEL PENTEADO AVENIDA ARY RODRIGUEZ, 200 - B. BACURI CEP 13052-550 - CAMPINAS II - SP Tel: (19) 3225-7584 www.sesisp.org.br/campinas2 COTIA OLAVO EGYDIO SETÚBAL RUA MESOPOTÂMIA, 300 - MOINHO VELHO CEP 06712-100 - COTIA - SP Tel: (11) 4612-3323 www.sesisp.org.br/cotia CRUZEIRO CAT OCTÁVIO MENDES FILHO RUA DURVALINO DE CASTRO, 501 - VILA ANA ROSA NOVAES CEP 12705-210 - CRUZEIRO - SP Tel: (12) 3141-1559 www.sesisp.org.br/cruzeiro CUBATÃO CAT DÉCIO DE PAULA LEITE NOVAES AVENIDA COM. FRANCISCO BERNARDO, 261 - JD. CASQUEIRO CEP 11533-090 - CUBATÃO - SP Tel: (13) 3363-2662 www.sesisp.org.br/cubatao
BIRIGUI CAT MIN. DILSON FUNARO AVENIDA JOSÉ AGOSTINHO ROSSI, 620 - JARDIM PINHEIROS CEP 16203-059 - BIRIGUI - SP Tel: (18) 3642-9786 www.sesisp.org.br/birigui
DIADEMA CAT JOSÉ ROBERTO MAGALHÃES TEIXEIRA AVENIDA PARANAPANEMA, 1500 TABOÃO CEP 09930-450 - DIADEMA - SP Tel: (11) 4092-7900 www.sesisp.org.br/diadema
BOTUCATU CAT SALVADOR FIRACE RUA CELSO CARIOLA, 60 – ENG. FRANCISCO CEP 18605-265 - BOTUCATU - SP Tel: (14) 3811-4450 www.sesisp.org.br/botucatu
FRANCA CAT OSVALDO PASTORE AVENIDA SANTA CRUZ, 2870 - JD. CENTENÁRIO CEP 14403-600 - FRANCA - SP Tel: (16) 3712-1600 www.sesisp.org.br/franca
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GUARULHOS CAT MORVAN DIAS DE FIGUEIREDO RUA BENEDITO CAETANO DA CRUZ, 566 - JARDIM ADRIANA CEP 07135-151 - GUARULHOS - SP Tel: (11) 2404-3133 www.sesisp.org.br/guarulhos INDAIATUBA CAT ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES AVENIDA FRANCISCO DE PAULA LEITE, 2701 - JD. CALIFÓRNIA CEP 13346-000 - INDAIATUBA - SP Tel: (19) 3875-9000 www.sesisp.org.br/indaiatuba ITAPETININGA CAT - BENEDITO MARQUES DA SILVA AVENIDA PADRE ANTONIO BRUNETTI, 1.360 - VL. RIO BRANCO CEP 18208-080 - ITAPETININGA - SP Tel: (15) 3275-7920 www.sesisp.org.br/itapetininga
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ITU CAT CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA RUA JOSÉ BRUNI, 201 - BAIRRO SÃO LUIZ CEP 13304-080 - ITU - SP Tel: (11) 4025-7300 www.sesisp.org.br/itu JACAREÍ CAT KARAM SIMÃO RACY RUA ANTONIO FERREIRA RIZZINI, 600 JD. ELZA MARIA CEP 12322-120 - JACAREÍ - SP Tel: (12) 3954-1008 www.sesisp.org.br/jacarei JAÚ CAT RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA AVENIDA JOÃO LOURENÇO PIRES DE CAMPOS, 600 - JD. PEDRO OMETTO CEP 17212-591 - JAÚ - SP Tel: (14) 3621-1042 www.sesisp.org.br/jau JUNDIAÍ CAT ÉLCIO GUERRAZZI AVENIDA ANTONIO SEGRE, 695 - JARDIM BRASIL CEP 13201-843 - JUNDIAÍ - SP Tel: (11) 4521-7122 www.sesisp.org.br/jundiai
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LIMEIRA CAT MARIO PUGLIESE AVENIDA MJ. JOSÉ LEVY SOBRINHO, 2415 - ALTO DA BOA VISTA CEP 13486-190 - LIMEIRA - SP Tel: (19) 3451-5710 www.sesisp.org.br/limeira
OURINHOS CAT MANOEL DA COSTA SANTOS RUA PROFESSORA MARIA JOSÉ FERREIRA, 100 - BAIRRO DAS CRIANÇAS CEP 19910-075 - OURINHOS - SP Tel: (14) 3302-3500 www.sesisp.org.br/ourinhos
MARÍLIA CAT LÁZARO RAMOS NOVAES AVENIDA JOÃO RAMALHO, 1306 - JD. CONQUISTA CEP 17520-240 - MARÍLIA - SP Tel: (14) 3417-4500 www.sesisp.org.br/marilia
PIRACICABA CAT MARIO MANTONI AVENIDA LUIZ RALPH BENATTI, 600 - VL INDUSTRIAL CEP 13412-248 - PIRACICABA - SP Tel: (19) 3403-5900 www.sesisp.org.br/piracicaba
MATÃO CAT PROFESSOR AZOR SILVEIRA LEITE RUA MARLENE DAVID DOS SANTOS, 940 - JARDIM PARAÍSO III CEP 15991-360 - MATÃO - SP Tel: (16) 3382-6900 www.sesisp.org.br/matao
PRESIDENTE EPITÁCIO CIL - CARLOS CARDOSO DE ALMEIDA AMORIM AVENIDA DOMINGOS FERREIRA DE MEDEIROS, 2.113 - VILA RECREIO CEP 19470-000 - PRES. EPITÁCIO - SP Tel: (18) 3281-2803 www.sesisp.org.br/presidenteepitacio
MAUÁ CAT MIN. RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO, 237 - JARDIM ZAÍRA CEP 09320-590 - MAUÁ - SP Tel: (11) 4542-8950 www.sesisp.org.br/maua MOGI DAS CRUZES CAT NADIR DIAS DE FIGUEIREDO RUA VALMET, 171 - BRAZ CUBAS CEP 08740-640 - MOGI DAS CRUZES - SP Tel: (11) 4727-1777 www.sesisp.org.br/mogidascruzes
PRESIDENTE PRUDENTE CAT BELMIRO JESUS AVENIDA IBRAIM NOBRE, 585 - PQ. FURQUIM CEP 19030-260 - PRES. PRUDENTE - SP Tel: (18) 3222-7344 www.sesisp.org.br/presidenteprudente RIBEIRÃO PRETO CAT JOSÉ VILLELA DE ANDRADE JUNIOR RUA DR. LUÍS DO AMARAL MOUSINHO, 3465 - CASTELO BRANCO CEP 14090-280 - RIBEIRÃO PRETO - SP Tel: (16) 3603-7300 www.sesisp.org.br/ribeiraopreto
MOGI GUAÇU CAT MIN. ROBERTO DELLA MANNA RUA EDUARDO FIGUEIREDO, 300 - PARQUE RESIDENCIAL ZANIBONI III CEP 13848-090 - MOGI GUAÇU - SP Tel: (19) 3861-3232 www.sesisp.org.br/mogiguacu
RIO CLARO CAT JOSÉ FELÍCIO CASTELLANO AVENIDA M-29, 441 - JD. FLORIDIANA CEP 13505-190 - RIO CLARO - SP Tel: (19) 3522-5650 www.sesisp.org.br/rioclaro
OSASCO CAT LUIS EULALIO DE BUENO VIDIGAL FILHO AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 401 CEP 06233-020 - OSASCO - SP Tel: (11) 3602-6200 www.sesisp.org.br/osasco
SANTA BÁRBARA D' OESTE CAT AMÉRICO EMÍLIO ROMI AVENIDA MÁRIO DEDINI, 216 - V. OZÉIAS CEP 13453-050 - S. B. D’OESTE - SP Tel: (19) 3455-2088 www.sesisp.org.br/santabarbara
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SANTANA DE PARNAÍBA CAT JOSÉ CARLOS ANDRADE NADALINI AVENIDA CONSELHEIRO RAMALHO, 264 - CIDADE SÃO PEDRO CEP 06535-175 - SANTANA DE PARNAÍBA - SP Tel: (11) 4156-9830 www.sesisp.org.br/parnaiba SANTO ANDRÉ CAT THEOBALDO DE NIGRIS PÇA. DR. ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, 100 - STA. TEREZINHA CEP 09210-550 - SANTO ANDRÉ - SP Tel: (11) 4996-8600 www.sesisp.org.br/santoandre SANTOS CAT PAULO DE CASTRO CORREIA AVENIDA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, 366 - JD. SANTA MARIA CEP 11085-202 - SANTOS - SP Tel: (13) 3209-8210 www.sesisp.org.br/santos SÃO BERNARDO DO CAMPO CAT ALBANO FRANCO RUA SUÉCIA, 900 - ASSUNÇÃO CEP 09861-610 - S. B. DO CAMPO - SP Tel: (11) 4109-6788 www.sesisp.org.br/sbcampo SÃO CAETANO DO SUL CAT PRES. EURICO GASPAR DUTRA RUA SANTO ANDRÉ, 810 - BOA VISTA CEP 09572-140 - S. C. DO SUL - SP Tel: (11) 4233-8000 www.sesisp.org.br/saocaetano SÃO CARLOS CAT ERNESTO PEREIRA LOPES FILHO RUA CEL. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA SALLES, 1325 - V. IZABEL CEP 13570-900 - SÃO CARLOS - SP Tel: (16) 3368-7133 www.sesisp.org.br/saocarlos SÃO JOSÉ DO RIO PRETO CAT JORGE DUPRAT FIGUEIREDO AVENIDA DUQUE DE CAXIAS, 4656 VL. ELVIRA CEP 15061-010 - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP Tel: (17) 3224-6611 www.sesisp.org.br/sjriopreto
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SÃO JOSÉ DOS CAMPOS CAT OZIRES SILVA AVENIDA CIDADE JARDIM, 4389 BOSQUE DOS EUCALIPTOS CEP 12232-000 - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Tel: (12) 3936-2611 www.sesisp.org.br/sjcampos SÃO PAULO – AE CARVALHO CAT MARIO AMATO RUA DEODATO SARAIVA DA SILVA, 110 PQ. DAS PAINEIRAS CEP 03694-090 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2026-6000 www.sesisp.org.br/carvalho SÃO PAULO – CATUMBI CAT ANTONIO DEVISATE RUA CATUMBI, 318 - BELENZINHO CEP 03021000 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2291-1444 www.sesisp.org.br/catumbi SÃO PAULO – IPIRANGA CAT ROBERTO SIMONSEN RUA BOM PASTOR, 654 – IPIRANGA CEP 04203-000 – SÃO PAULO – SP Tel: (11) 2065-0150 www.sesisp.org.br/ipiranga SÃO PAULO – VILA DAS MERCÊS CAT PROFESSOR CARLOS PASQUALE RUA JÚLIO FELIPE GUEDES, 138 CEP 04174-040 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2946-8172 www.sesisp.org.br/merces SÃO PAULO – VILA LEOPOLDINA CAT GASTÃO VIDIGAL RUA CARLOS WEBER, 835 - VILA LEOPOLDINA CEP 05303-902 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 3832-1066 www.sesisp.org.br/leopoldina
SOROCABA CAT - SEN JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES RUA DUQUE DE CAXIAS, 494 - MANGAL CEP 18040-425 - SOROCABA - SP Tel: (15) 3388-0444 www.sesisp.org.br/sorocaba SUMARÉ CAT FUAD ASSEF MALUF AVENIDA AMAZONAS, 99 - JARDIM NOVA VENEZA CEP 13177-060 - SUMARÉ - SP Tel: (19) 3838-9710 www.sesisp.org.br SUZANO CAT MAX FEFFER AVENIDA SENADOR ROBERTO SIMONSEN, 550 - JARDIM IMPERADOR CEP 08673-270 - SUZANO - SP Tel: (11) 4741-1661 www.sesisp.org.br/suzano
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TATUÍ CAT WILSON SAMPAIO AVENIDA SÃO CARLOS, 900 B. DR. LAURINDO CEP 18271-380 - TATUÍ - SP Tel: (015) 3205-7910 www.sesisp.org.br/tatui TAUBATÉ CAT LUIZ DUMONT VILLARES RUA VOLUNTÁRIO BENEDITO SÉRGIO, 710 - B. ESTIVA CEP 12050-470 - TAUBATÉ - SP Tel: (12) 3633-4699 www.sesisp.org.br/taubate VOTORANTIM CAT JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES FILHO RUA CLÁUDIO PINTO NASCIMENTO, 140 - JD. MORUMBI CEP 18110-380 - VOTORANTIM - SP Tel: (15) 3353-9200 www.sesisp.org.br/votorantim
SERTÃOZINHO CAT NELSON ABBUD JOÃO RUA JOSÉ RODRIGUES GODINHO, 100 CONJ. HAB. MAURÍLIO BIAGI CEP 14177-320 - SERTÃOZINHO - SP Tel: (16) 3945-4173 www.sesisp.org.br/sertaozinho
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Reprodução óleo e magna sobre tela Mirror no 6, de Roy Lichtenstein.
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