As fontes do crescimento econômico

Page 1

Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 1

AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO A CIÊNCIA BÁSICA E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA


universidade estadual de campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador Geral da Universidade Alvaro Penteado Crósta

Conselho Editorial Presidente Eduardo Guimarães Esdras Rodrigues Silva – Guita Grin Debert João Luiz de Carvalho Pinto e Silva – Luiz Carlos Dias Luiz Francisco Dias – Marco Aurélio Cremasco Ricardo Antunes – Sedi Hirano

Comissão Editorial da Coleção Clássicos da Inovação Carlos H. de Brito Cruz – Sérgio Queiroz Américo Martins Craveiro – Tamás Szmrecsányi – Marcelo Knobel Conselho Consultivo da Coleção Clássicos da Inovação Tamás Szmrecsányi (coordenador) – Adriano Dias Batista – Eduardo Albuquerque Eliane Bahruth – Fábio Erber – Guilherme Ary Plonski – Jair do Amaral Filho – João Carlos Ferraz José Carlos Cavalcanti – José Miguel Chaddad – Luiz Martins – Mário Possas – Monica Teixeira Paolo Saviotti – Roberto Vermulm – Ruy Quadros de Carvalho – Sergio Bampi

paginas creditos.indd 2

15/08/2014 08:54:23


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 3

Richard R. Nelson

AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO A CIÊNCIA BÁSICA E A INOVAÇÃO TECNOLÓGICA


ficha catalográfica elaborada pelo sistema de bibliotecas da unicamp diretoria de tratamento da informação St67q

Nelson, Richard R. 1930As fontes do crescimento econômico / Richard R. Nelson; tradutora: Adriana Gomes de Freitas. – Campinas, SP: Editora da unicamp, 2005. (Clássicos da Inovação) Tradução de: The sources of economic growth. 1. Desenvolvimento econômico. 2. Inovações tecnológicas – Aspectos econômicos. 3. Instituição social. I. Título.

cdd 338.9 338.06 isbn 85-268-0732-3 301.36 Índices para catálogo sistemático:

1. Desenvolvimento econômico 2. Inovações tecnológicas – Aspectos econômicos

3. Instituição social

338.9 338.06 301.36

The sources of economic growth Original work copyright © 1996 by the President and Fellows of Harvard College Copyright da tradução © 2006 by Editora da Unicamp 1a reimpressão, 2014

Direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização, por escrito, dos detentores dos direitos. Printed in Brazil. Foi feito o depósito legal.

Direitos reservados à Editora da Unicamp Rua Caio Graco Prado, 50 – Campus Unicamp cep 13083-892 – Campinas – sp – Brasil Tel./Fax: (19) 3521-7718/7728 www.editora.unicamp.br – vendas@editora.unicamp.br

paginas creditos.indd 4

07/07/2014 16:17:58


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .........................................................................

7

Parte I – UMA PERSPECTIVA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO E DO AVANÇO TÉCNICO

1

AS PESQUISAS SOBRE O CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE E SUAS DIFERENÇAS: OS BECOS

2

SEM SAÍDA E AS NOVAS PERSPECTIVAS .................................

23

O CAPITALISMO COMO MOTOR DE PROGRESSO .................

89

Parte II – A CONCORRÊNCIA SCHUMPETERIANA 3

SCHUMPETER E AS PESQUISAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE A ECONOMIA DA INOVAÇÃO ............................................... 145

4

POR QUE AS EMPRESAS DIFEREM E QUAL É A IMPORTÂNCIA DISSO? ....................................... 165


Miolo_06_Fontes do crescimento

5

18/4/06

12:11 AM

Page 6

SOBRE A LIMITAÇÃO OU O ENCORAJAMENTO DAS RIVALIDADES NO PROGRESSO TÉCNICO: O EFEITO DAS DECISÕES DO ESCOPO DAS PATENTES ............ 195

Parte III – AS CIÊNCIAS E OS AVANÇOS TÉCNICOS 6

O PAPEL DO CONHECIMENTO NA EFICIÊNCIA DA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO .................................... 239

7

OS VÍNCULOS ENTRE CIÊNCIA E INVENÇÃO: O CASO DO TRANSISTOR.................................................... 259

8

AS UNIVERSIDADES NORTE-AMERICANAS E O AVANÇO TÉCNICO NO SETOR PRODUTIVO ................... 303

Parte IV – DIFERENÇAS E CONVERGÊNCIAS INTERNACIONAIS 9

ASCENSÃO E QUEDA DA LIDERANÇA TECNOLÓGICA NORTE-AMERICANA: A ÉPOCA DO PÓS-GUERRA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA ................................................... 367

10 SISTEMAS NACIONAIS DE INOVAÇÃO: RETROSPECTO DE UM ESTUDO .......................................... 427 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 469


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 7

INTRODUÇÃO

Este volume reúne uma coleção de ensaios sobre crescimento econômico, sobre o avanço técnico como principal força geradora por trás desse crescimento e sobre as instituições sociais que moldam esse avanço técnico e que são, por sua vez, transformadas, como uma parte essencial do processo de crescimento econômico. Juntos, esses ensaios oferecem uma teoria sobre o crescimento econômico que difere, em certos aspectos, das teorias de crescimento neoclássico, as quais vêm dominando o campo da Economia desde o final dos anos 1950. A teoria aqui apresentada encaixa-se todavia muito bem com os escritos sobre o crescimento econômico de autores da História Econômica Geral e de historiadores da tecnologia, das empresas e das instituições sociais. Em sua ênfase sobre a primazia do avanço técnico, algumas das “novas” teorias neoclássicas do crescimento, desenvolvidas durante os últimos anos, têm uma afinidade com as perspectivas aqui apresentadas.Tanto as novas teorias neoclássicas do crescimento como a teoria desenvolvida neste livro são motivadas pelo reconhecimento de que a teoria neoclássica do crescimento lidou, na melhor das hipóteses,

7


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 8

RICHARD R. NELSON

meio sem jeito com as mudanças técnicas.A teoria aqui esboçada difere das novas teorias neoclássicas do crescimento na sua tentativa de abranger os elementos centrais da explicação histórica do avanço técnico e das instituições e atividades relacionadas a ele. A maneira como exponho o problema implica que eu não acredito que as teorias neoclássicas do crescimento tenham atingindo consistência com a realidade empírica. Para que o consigam, suponho que será necessário levar em consideração alguns dos elementos tratados nos ensaios deste livro. A discrepância, óbvia para quem quer que as estude, entre as teorias neoclássicas do crescimento – velha ou nova – e os quadros traçados pelos historiadores econômicos não deve ser considerada uma diferença natural e sem problemas entre os escritos de autores voltados para o desenvolvimento de teorias formais e aqueles preocupados em descrever o que realmente está acontecendo. Certamente, nas ciências naturais a discordância entre a “teoria” e as “observações” é tratada como uma indicação de que alguma coisa estranha está ocorrendo com a teoria ou de que há problemas com as observações, ou ambas essas coisas. Proponho que as diferenças entre o crescimento econômico na teoria neoclássica e sua caracterização pelos historiadores devam ser tratadas como uma indicação de que há algo errado com esse tipo de teoria do crescimento econômico.Além do mais, deve-se reconhecer que as explicações históricas sobre o crescimento econômico são fartas de teorias, embora de uma espécie diversa das usadas no delineamento convencional. Apesar de muito da teorização das explicações históricas permanecer implícito, os ensaios sobre o crescimento econômico aqui apresentados são expressamente teóricos. Eles se concentram em certas variáveis e mecanismos e ignoram outros. Seus argumentos são causais. Ao mesmo tempo, eles parecem estar mais próximos dos trabalhos empíricos detalhados do que muitos dos modelos de crescimento neoclássicos ora existentes, ao fazer uso de palavras e não de fórmulas matemáticas.

8


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 9

AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

Tem havido uma consciência relativamente difundida entre os economistas de que a teoria neoclássica tradicional provou ser um veículo inadequado para organizar nosso entendimento sobre o crescimento econômico. Uma manifestação dessa intranqüilidade tem sido o desenvolvimento de novas teorias neoclássicas sobre o assunto. Contudo, também tem havido outros novos desenvolvimentos, alguns dos quais bem ajustados às posições teóricas aqui apresentadas. Assim, a teoria do crescimento contida nestes ensaios ressalta vários aspectos proeminentes em alguns dos novos escritos teóricos sobre sistemas complexos e dinâmicos. Um deles é a dependência da trajetória.* O que acontece a um sistema hoje pode influenciar profundamente como esse sistema se comportará por um longo período no futuro. Ou, em outras palavras, história é importante. Os historiadores econômicos sempre acreditaram nisso, e agora são os teóricos formais que estão começando a entender que os historiadores provavelmente têm algo a dizer. Os ensaios deste volume apresentam um quadro de processos de crescimento econômico fortemente dependentes de trajetórias históricas. Uma segunda característica de muitos dos novos modelos de sistemas complexos e dinâmicos é a possibilidade da ocorrência de forte interação entre suas variáveis. Praticamente, cada um dos ensaios deste volume contesta, explicita ou implicitamente, a tendência da teoria neoclássica do crescimento, e da contabilidade do crescimento a ela associada, de tentar repartir as causas do crescimento econômico entre fontes diversas, atribuindo parte do crédito ao avanço técnico, parte à crescente intensidade do fator capital, e parte ainda à melhoria do sistema educacional – para ficar apenas nas fontes geralmente consideradas mais importantes. Dentro da perspectiva aqui desenvolvida esse exercício de “divisão” não faz qualquer sentido. De um lado, porque os consideráveis aumentos da intensidade do fator capital – que tem constituído o aspecto característico do crescimento econô* Path dependence, no original. (N.T.)

9


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 10

RICHARD R. NELSON

mico moderno – foram induzidos e tornaram-se relevantes pelo desenvolvimento de novas tecnologias que produtivamente empregaram mais capital por trabalhador. Por outro lado, o desenvolvimento dessas novas tecnologias não teria vingado economicamente sem investimentos físicos que as colocassem em operação. Além disso, desde a última parte do século XIX, o trabalho que levou ao desenvolvimento de novas tecnologias tornou-se crescentemente relacionado a engenheiros treinados e a cientistas aplicados formados pelas universidades. Os avanços técnicos passaram a depender do desenvolvimento de certos tipos de capital humano. Mas não teríamos tido essa vasta expansão do sistema educacional, se a educação não tivesse propiciado significativas vantagens econômicas. Fazendo uso de uma analogia com o esporte, a contabilidade do crescimento representa algo como uma tentativa de descrever o desempenho de uma equipe de basquete ou de futebol em termos do desempenho individual de seus membros, sem levar em consideração o fato de que o desempenho de qualquer jogador freqüentemente só se torna possível através da atuação dos demais, e de que qualquer ação particular por parte de um dos jogadores para ajudar ou prejudicar a performance da equipe tem muito a ver com o grau em que a atuação desse jogador é complementar ao que os demais estão fazendo. Talvez muito mais do que as novas teorias neoclássicas do crescimento, a teoria apresentada neste volume chega a destacar um fator particular como a principal variável subjacente ao crescimento – o avanço técnico. Esta proposição não contradiz a que foi apresentada anteriormente – de que as várias fontes do crescimento precisam ser entendidas como mutuamente apoiando uma a outra. Nosso argumento é de que o avanço técnico constitui simultaneamente a principal força motora e o catalisador da geração e do apoio aos investimentos no novo capital físico e humano indispensáveis à sua realização. Por trás dos bastidores encontra-se um conjunto de instituições características do capitalismo moderno, as quais apóiam e ca-

10


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 11

AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

nalizam a maioria dos componentes do processo de crescimento econômico, um aspecto ao qual deverei retornar em breve. Assinalei há pouco que alguns dos novos modelos de crescimento neoclássico têm assumido a noção da centralidade dos avanços tecnológicos. Contudo, esses novos modelos ainda não chegaram a assimilar o fato de que o avanço técnico deva ser entendido como um processo evolucionário. Isso envolve a geração e teste de uma série de novas alternativas em competição umas com as outras, e com práticas vigentes, as quais produzem uma seleção ex post dos vencedores e perdedores. Essa é uma visão do avanço técnico diferente da contida nas antigas teorias neoclássicas do crescimento ou ainda de qualquer uma das novas, em que se presume que a mudança técnica e o crescimento econômico são processos que envolvem um equilíbrio móvel, cujas trajetórias podem ser e têm sido previstas (exceto no que se refere a eventos aleatórios) pelos atores envolvidos. Alguns poucos novos modelos neoclássicos de crescimento têm incorporado algumas das incertezas que cercam o avanço técnico, mas nenhum deles reconhece que em regimes de avanço técnico contínuo, a economia como um todo encontra-se num contínuo estado de desequilíbrio. Embora possa haver a qualquer momento forças capazes de mover o sistema para uma posição de equilíbrio em dado contexto de estado tecnológico, os avanços e outros impulsos continuamente anulam a ação dessas forças de equilíbrio. Assim, a regularidade e a ordem que os analistas enxergam no crescimento econômico talvez sejam análogas ao “ordenamento espontâneo”, destacado pelo novo trabalho sobre sistemas dinâmicos, mais do que uma ordem que possa ser explicada como um equilíbrio geral móvel de natureza tradicional. A visão apresentada nestes ensaios sobre as instituições econômicas, que cresceram para gerar e apoiar avanços técnicos e outras atividades e investimentos associados com o crescimento econômico, também diverge significativamente do presente quadro padrão da economia. A teoria econômica convencional ressalta a primazia das firmas com fins lucrativos, que concorrem entre si, atuando em

11


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 12

RICHARD R. NELSON

mercados nos quais a oferta e a demanda são balanceadas de forma a determinar o equilíbrio de preços e quantidades. Outros atores econômicos – por exemplo, agências governamentais e órgãos reguladores – são reconhecidos quase como acréscimos em resposta a falhas do mercado. Entidades como as universidades, as sociedades científicas e técnicas ou as associações industriais nem chegam a ser consideradas, ao menos no plano teórico, em contraste com as descrições históricas. Os ensaios deste volume apresentam um quadro diferente, no qual o avanço técnico e o crescimento econômico são vistos em prática por meio de um complexo conjunto de instituições: umas com fins lucrativos, outras privadas mas sem fins lucrativos e outras governamentais. Mesmo entre as entidades privadas com fins lucrativos existem alguma troca e abertura no que se refere à tecnologia e a outras questões sobre rivalidades quanto à propriedade. Os elementos do sistema de instituições que não pertencem ao mercado não são vistos como resultado das respostas a “falhas do mercado”, da mesma forma que instituições mercantis tampouco podem ser explicadas por “falhas do setor público”. Pelo contrário, entende-se que o conjunto vigente de instituições – privadas e públicas, rivais ou cooperantes – evoluiu através de um complexo conjunto de processos que envolvem tanto ações individuais como coletivas. As mudanças institucionais, assim como as tecnológicas, devem ser compreendidas como um processo evolucionário. Disso resulta que o capitalismo moderno constitui um sistema muito complexo. Ao mesmo tempo que existem algumas semelhanças entre as principais nações capitalistas modernas, há também grandes diferenças entre elas. A complexidade do sistema capitalista moderno foi vergonhosamente ignorada por muitos economistas ocidentais nos conselhos dados aos ex-países socialistas, que agora estão se esforçando para desenvolver sistemas capitalistas confiáveis. Enquanto esses países estão aprendendo que existem muitos outros aspectos no capitalismo além das privatizações e questões de mercado,

12


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 13

AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

espera-se que a demora em aprender a respeito da complexidade do capitalismo, em parte porque poucas pessoas lhes contaram como fazê-lo, não faça retroceder todo um esforço de reformas. Meu plano original era o de incluir vários ensaios de caráter mais matemático para ilustrar o contínuo que existe em Economia entre a teoria expressa por escrito e a teoria expressa mais matematicamente. Por uma questão de espaço, no entanto, isso acabou sendo descartado. Meu editor persuadiu-me sobre as vantagens de um livro que, mesmo expresso de forma teórica, aceite abrir mão da matemática. Os atuais economistas precisam reconhecer que, em termos históricos, o modelo padrão da teorização econômica era verbal até recentemente. Adam Smith, David Ricardo, Alfred Marshall, Frank Knight, Joseph Schumpeter, John Maynard Keynes – para citar apenas alguns dos representantes que têm dominado a história do pensamento econômico – usaram palavras e não a matemática como seus principais meios de comunicação teórica. Foi só recentemente que o termo “teoria” passou a significar um argumento expresso matematicamente. Quero defender o argumento de que o atual pensamento convencional em Economia, que apenas aceita como “teoria” aquilo que é apresentado matematicamente e que estabelece uma rígida separação entre a teorização e a exploração ou descrição empírica, é bastante infeliz e errôneo. Acredito firmemente que o que eu e Sidney Winter chamamos de teorização “apreciativa” e teorização “formal” constituam, ambas, partes importantes dos empreendimentos intelectuais em Economia. Quando esses empreendimentos vão bem, os dois elementos trabalham juntos. Ao falar da teorização apreciativa, quero referir-me às descrições e explanações sobre o que está acontecendo apresentadas por economistas que estão prestando atenção aos detalhes do tema em discussão. Apesar de serem menos abstratas que a teorização formal, tais tentativas de descrição do que está ocorrendo certamente constituem um modo de teorizar, embora se trate de uma teorização re-

13


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 14

RICHARD R. NELSON

lativamente próxima ao tema empírico em discussão. A teorização formal é mais abstrata ou mais distante desse tema, e tem o poder de precisar melhor, de corrigir e de orientar a teorização apreciativa. Nos últimos anos a maioria das teorizações formais tem sido matemática. Antigamente, elas eram mais verbais. Mas, quer expressa matematicamente ou verbalmente, quando a teorização formal deixa de prestar atenção ou tem pouco contato com a teorização apreciativa, isso é um sinal de problemas. Os empreendimentos formais tornamse auto-referenciados e perdem muito do seu contato com o objeto de estudo que pretendiam desenvolver. Tendo a acreditar que a separação entre a teoria formal do crescimento e a teorização apreciativa dos escritos de História Econômica tem sido particularmente infeliz.A maioria das teorizações formais do crescimento tem avançado levando em conta basicamente os aspectos quantitativos do processo e as variáveis que lhes são associadas. Entretanto, apenas uma pequena parte do que os pesquisadores empíricos têm aprendido sobre o crescimento econômico veio a ser descrito sob a forma de “números”. Ou, em outros termos, o registro quantitativo do crescimento contido nas estatísticas do Produto Nacional Bruto, nas séries temporais dos insumos de trabalho e de capital, da produção industrial, dos índices de preços, das variações do comércio internacional, representam apenas uma parte relativamente pequena do que os economistas conhecem empiricamente a respeito do crescimento. E, embora seja importante que as teorias do crescimento se ajustem aos registros quantitativos, estes isoladamente não constituem um meio adequado para aferir uma teoria. E gostaria de acrescentar que a maioria dos economistas que têm elaborado teorias formais do crescimento prestou muito pouca atenção aos registros históricos qualitativos. Acredito que as áreas da análise econômica com as quais estou preocupado neste volume têm sofrido bastante nos últimos 25 anos por causa da desconexão entre a teorização formal e a apreciativa. Os autores de teorias formais de crescimento ou de reflexões teóricas so-

14


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 15

AS FONTES DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

bre a natureza das instituições do capitalismo moderno não têm prestado suficiente atenção às teorias mais próximas da realidade dos economistas que têm estudado o processo empiricamente. Por sua vez, os autores envolvidos em trabalhos empíricos detalhados e que, em conseqüência disso, vêm apresentando um relato causal, não têm em geral achado importante chamar a atenção para as diferenças freqüentemente muito grandes entre suas explicações e o que vem sendo indicado na teoria do crescimento formal. Muitos dos meus trabalhos durante esse período podem ser vistos como resultado de minha crescente preocupação quanto à separação entre os trabalhos teóricos formais e os estudos empíricos sobre o tema, e como reflexo de minhas tentativas de reaproximar essas duas partes dos empreendimentos intelectuais. Os ensaios contidos neste volume têm por objetivo construir essa ponte.

15


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 16


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

PARTE I

Page 17


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 18


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 19

UMA

PERSPECTIVA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO E DO AVANÇO TÉCNICO

Desde o início da Economia moderna como campo de estudo, o crescimento econômico freqüentemente tem constituído um tema central de pesquisas ora esquecidas, ora reavivadas. Boa parte do livro de Adam Smith, A riqueza das nações, versa sobre o crescimento econômico. Karl Marx foi basicamente um teórico do crescimento.Apesar de a teoria formal elaborada por Alfred Marshall ter-se preocupado com processos estáticos, muito do que ele escreveu estava voltado para os padrões de desenvolvimento econômico a longo prazo. Contudo, nas primeiras décadas do século XX as preocupações com o crescimento econômico a longo prazo haviam diminuído. Uma das razões, sem dúvida, foi a de que a teoria formal que estava sendo desenvolvida, e para a qual Marshall havia contribuído, estava voltada para a análise do equilíbrio do mercado. Suas preocupações referiam-se ao que estava por trás das curvas de oferta e de demanda, e a como as duas conjuntamente determinavam a configuração da produção, insumos e preços. O problemático período posterior à Primeira Guerra Mundial e, em particular, à Grande Depressão também tendeu a atrair a atenção dos economistas em direção à análise de

19


Miolo_06_Fontes do crescimento

18/4/06

12:11 AM

Page 20

RICHARD R. NELSON

fenômenos de curto prazo, como os desequilíbrios da balança de pagamentos, a inflação e o desemprego. Houve um renascimento do interesse pelo crescimento econômico a longo prazo após a Segunda Guerra Mundial. Uma razão disso estava nos novos dados do Produto Nacional, primeiramente disponíveis para os Estados Unidos, e mais tarde para outras nações industrialmente avançadas, os quais pela primeira vez permitiram aos economistas mensurar o crescimento econômico em âmbito nacional. Antes da disponibilidade dessas séries, que tiveram boa parte de sua origem nos trabalhos conceituais e empíricos de Simon Kuznets, os economistas preocupados com o crescimento tinham de se satisfazer com fragmentos de estatísticas da produção de carvão, ou da produção de aço por pessoa empregada, e assim por diante. A partir daí passaram a dispor de dados agregados relativos às economias nacionais e a suas mudanças no tempo. Com esses novos dados, os economistas começaram a compreender quantitativamente o que já sabiam em termos qualitativos – de que a época em que viviam estava sofrendo um dramático crescimento na produção por trabalhador e na renda per capita. No início dos anos 1950, os trabalhos empíricos usando esses tipos de dados evidenciaram que o crescimento da produtividade industrial total era responsável pela maior parte dos aumentos medidos da produção por trabalhador. O avanço tecnológico passou a ser proposto como a grande força subjacente ao crescimento da produtividade industrial total. Em sua maior parte, essas pesquisas empíricas foram realizadas sem qualquer estrutura teórica elaborada. Ao final dos anos 1950, a teoria neoclássica do crescimento foi formulada e, de certa forma, racionalizou muito dos cálculos feitos pelos pesquisadores empíricos, sem chegar porém a acrescentar grande coisa aos empreendimentos da pesquisa empírica. De qualquer forma, durante esse período houve uma considerável quantidade de pesquisas sobre as fontes do crescimento, e o que foi aprendido então vem se mantendo ao longo do tempo. Na Introdução deste livro, indiquei, no entanto, pelo menos

20


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.