Leia um trecho - Par Perfeito (Eleanor Prescott)

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À procura de um grande amor, de um par perfeito? Consulte uma especialista. Para Alice, nunca foi tão fácil encontrar um dois muitos! Alice Brown, até que provem o contrário, tem o melhor emprego do mundo. Ela é o que antigamente se chamava de casamenteira, uma profissional especializada em encontrar a tão sonhada outra metade da laranja, o grande amor da sua vida, o fogo e a paixão. Alice passa os dias devaneando pela janela, quer dizer, ajudando mulheres a se apaixonar loucamente. Suas clientes, e... ELA TAMBÉM, é claro, estão ansiosas para conhecer um príncipe encantado. O problema é que é muito mais fácil encontrá-lo para as clientes. E, por falar nelas, a última que apareceu, Kate, está a exatos 569 dias de fazer 35 anos e há exatos cinco anos atrasada nessa missão de vida. A dificuldade é que seus, digamos, padrões, estão fora dos padrões. Desesperada, isso mesmo, DESESPERADA para encontrar aquele deus grego, lindo, perfeito, romântico, carinhoso, rico, inteligente, bom de cama, atencioso, gostosão e charmoso ––– UFA, acho que Kate procura um alien! ––– , ela sabe que sua última esperança chama-se Alice. Enquanto isso, a própria Alice está tendo problemaços para lidar com sua terrível chefe, a bruxa velha, a megera, a mocreia (mas, argh, ao que tudo parece, muito bem casada) da Audrey, e probleminhas para se deixar apaixonar. E se nada der certo? E se ela falhar com Kate? E se, justamente ela, estiver precisando de uma ajudinha profissional?


PAR PERFEITO


P R R E S COT T O N A E L E

PAR PERFEITO o a mo r, à s ve zes, p rec isa d e uma mã ozin h a !

t r a d u ç ão

Sibele Menegazzi

Rio de Janeiro, 2014 1a edição



Para Nigel, sem você…

INTRODUÇÕES

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adê os homens? — sussurrou Kate, segurando seu suco de laranja e olhando em volta com nervosismo. Tentava não deixar a decepção transparecer em seu rosto. — No bar, com os seres humanos normais — bufou Lou, alto. Apesar de já ter uma taça cheia de vinho na mão, Lou se atirou na direção da bandeja de drinques que passava e apanhou mais uma. — Jesus amado, Kate, que diabo nós estamos fazendo aqui? Kate já começava a se perguntar a mesma coisa. Parecera ser uma boa ideia, em princípio. Mas agora que estava ali, no salão calorento do Hotel Holly Bush, já não tinha tanta certeza. — Sou super a favor de fazer determinadas coisas só para dar risada, mas isto aqui já está além de qualquer piada — observou Lou secamente. — Só tem gente esquisita! — Shhh!... Você prometeu que ia se comportar! — Kate, aflita, tentou fazer Lou ficar quieta. Procurou ver o lado positivo; afinal, não tinha mesmo esperado encontrar um cara esta noite. — São apenas pessoas — racionalizou, alegremente. — Como nós. Estamos todos no mesmo barco. — Nós absolutamente não estamos no mesmo barco — insistiu Lou. — Nós somos garotas que andam de iate, Kate: de lancha, de catamarã. Este povo aqui está mais para o cruzeiro da menopausa, e num navio sem leme. Jesus, não me admira que não consigam comer ninguém. Olha o estado daquele ali! Lou apontava para um dos poucos homens no salão. Kate não o notara


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antes. Miúdo e cinquentão, ele se agarrava à taça de vinho como se fosse a última boia do Titanic. O cara era completamente bege; até a pele era cor de mingau de aveia. Sua única característica peculiar era uma fina camada de suor no lábio superior. Quando Kate olhou, ele se virou para ela e o contato visual durou o suficiente para mostrar que ele as tinha escutado. Kate sentiu o coração na boca e o rosto quente de vergonha. Rapidamente, empurrou Lou para um canto do salão. Devia saber que trazê-la seria má ideia. Mas eram tempos difíceis, e para grandes males só grandes remédios. Enquanto Lou se ocupava com seus copos de vinho e ninguém vinha bater discretamente em seu ombro para pedir que se retirassem, Kate se permitiu relaxar numa certa normalidade. Aventurou-se a olhar novamente pelo salão. Afinal, que tipo de gente ia a uma palestra sobre “O Segredo Para Encontrar Seu Par Perfeito”? Observou as cabecinhas reunidas em volta da mesa de aperitivos. Na maioria, cabeças de trinta e tantos ou quarenta e poucos anos, de aparência profissional, embelezadas por discretos reflexos louros e, ocasionalmente, uma tintura mais cara em tons outonais. Além dessas, havia as cabeças exaustas, a-ponto-de-desistir-de-tudo, cujo cabelo fora penteado naquela manhã e, depois, completamente esquecido, no máximo enfiado atrás da orelha ou preso num rabo de cavalo torto. E, finalmente, havia o esquadrão do cabelo bufante: as cinquentonas firmemente decididas, cheias de batom, com a peruca modelada à base de muito laquê. Além disso, em meio ao mar de cabelos, boiavam algumas carecas lustrosas sob a luz das lâmpadas tubulares, elevando a cota local de homens a um reles punhado. E, fumegando em meio àquilo tudo, uma mulher de bochechas vermelhas, com um halo de cabelo crespo laranja, dizia a todos em voz alta para visitar rapidinho “le toilette” porque a palestra iria começar dentro de cinco minutos. Kate seguiu com os olhos algumas costas tímidas que se apressavam a procurar pelo banheiro. Olhou para o corredor, lá fora. Perguntou-se como seriam vistos pelo mundo exterior. Será que alguém passando ali em frente poderia saber que ninguém naquele salão conseguia arrumar namorado? Vazaria dali algum aroma de desespero sexual que revelasse seu segredo? — Temos que encarar a realidade, Lou — declarou racionalmente, embora não soubesse muito bem se tentava animar a amiga ou a si mesma. — É neste nível que nós estamos. Deve haver uma razão pela qual nunca temos namorado; não pode ser só azar.Talvez a gente seja intimidante; talvez a gente passe a impressão errada, ou procure nos lugares errados. Seja o que for, assim como ele — ela inclinou seu suco de laranja discretamente na direção do homem bege —, tem alguma coisa que não estamos fazendo


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direito, e precisamos descobrir o que é. — Fale por você — retrucou Lou secamente. — Só estou aqui pela birita grátis. E se o Pé de Valsa ali realmente é do meu nível, então não ha­ verá birita suficiente neste mundo. Vou me conformar em ter uma relação íntima com a minha mão direita pelo resto da vida, e ainda vou achar que dei sorte. No outro lado do salão, Alice apertou o cardigã em volta do corpo e contemplou com alegria o grupo de rostos ansiosos. Adorava assistir às palestras de Audrey e era sempre a primeira (e única) pessoa da equipe a se oferecer para ajudar. Tinha chegado cedo para arrumar o salão, desempilhar as cadeiras, servir o vinho e verificar que a iluminação de Audrey fosse boa e que seu microfone estivesse funcionando. Depois, abrira os pacotes de biscoitos e de minienroladinhos de salsicha, e arrumara os folhetos, antes de receber cada membro da plateia com um cumprimento e um sorriso. Ela os tranquilizaria com relação a suas preocupações e daria respostas reconfortantes a suas perguntas tensas. Apesar das ordens que Audrey lhe berrava regularmente — e do fato de que ela nunca lhe entregava a chave da sala de conferências antes das dez —, Alice sempre ia para casa com o coração leve e uma sensação eufórica de borboletas no estômago que era quase como estar bêbada, só que um milhão de vezes melhor. Este era o tipo de noite para as quais ela vivia; era o tipo de noite capaz de mudar tudo. — Os banheiros ficam no saguão — insistiu Audrey em voz alta. — Circulando, circulando; vocês têm o resto da vida para bater papo. A palestra vai começar às sete e meia em ponto. O Cupido não espera pelos retardatários. O sorriso de Alice vacilou por um momento, mas, então, sua mente fantasiou, deleitada. Quantos daqueles rostos ela veria novamente, perguntou-se. Quantos iriam ao escritório na semana seguinte? Um monte, esperava ela; tantos quanto fosse possível pôr na agenda sem transbordá-la. De repente, ela imaginou a plateia fazendo uma fila que começava em sua mesa e continuava porta afora do escritório, serpenteando à volta do quarteirão inteiro: uma linha de amantes esperançosos, risonhos e falantes, esperando para conhecer sua cara-metade. Quem sabe? Talvez o romance pudesse surgir até mesmo enquanto estivessem aguardando na fila! Enquanto sonhava acordada, a multidão que pairava entre a mesa de aperitivos e a porta de saída se espaçou e Alice, subitamente, vislumbrou duas mulheres jovens, isoladas num canto. Uma era bem atraente, de cabelos escuros, e parecia estar tomando dois copos de vinho ao mesmo tempo;


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mas foi a outra que chamou a atenção de Alice. Mais baixa e com uma aparência mais delicada do que a amiga, ela usava um tailleur elegante e sapatos de salto alto. Contudo, as roupas sofisticadas não combinavam com a expressão em seu rosto. Sob o cabelo lustroso e a franja reta e obediente, seu sorriso era rígido. Alice conhecia bem aquele sorriso. Já o vira muitas vezes, e pelo menos uma pessoa sempre o exibia em noites como aquela. Traduzido, dizia: Pense positivo; respire fundo; relaxe. Era um sorriso que continha esperanças confusas, decepções e a determinação desesperada de levar a cabo uma tarefa. Instintivamente, Alice saiu de trás dos biscoitos recheados e começou a ir em sua direção. Aquela mulher era interessante. Era mais do que interessante: era exatamente a razão pela qual ela se oferecia para organizar esse tipo de noite. Precisava falar com ela, tranquilizá-la, garantir que ela fosse uma das pessoas que compareceriam ao seu escritório na semana seguinte. — Alice! — sibilou Audrey violentamente, vinda do nada e fazendo Alice pular de susto. — As luzes! Com relutância, Alice vacilou. A multidão se movimentou novamente e a mulher desapareceu de seu campo de visão. — Tudo a seu tempo... — Audrey estava olhando feio para ela. Alice se voltou para o painel de controle eletrônico, escondido discretamente por trás da mesa de aperitivos, e começou a diminuir as luzes da sala. A plateia imediatamente parou de conversar e se adiantou para as fileiras de cadeiras vazias. Ela aumentou a intensidade do refletor cor de damasco posicionado acima do púlpito de Audrey, e sua chefe se iluminou, revelando-se à sala. Alice procurou na escuridão para ver onde a mulher do sorriso tinha se sentado. Iria se certificar de falar com ela mais tarde. Alice acreditava piamente em seguir seus instintos, e todos os seus instintos lhe diziam que ela podia ajudar a mulher com o tailleur elegante e o rosto delicado. De forma teatral, Audrey pigarreou e levou a mão ao peito. Todos estavam sentados e em silêncio; a sala era toda dela. Alice acionou um último interruptor e o microfone de Audrey zumbiu gentilmente, cobrando ação. Como se esperasse o momento certo, a plateia se inclinou para a frente em tensa expectativa, preparando-se para descobrir os segredos esquivos para se encontrar o Par Perfeito.


ELEANOR PRESCOTT é apaixonada por chick lit. Trabalhou na MTV (música é mais uma de suas grandes paixões) e depois por dez anos como assessora de comunicação. Vive em Kent, na Inglaterra, com o marido, um filho e duas filhas. Par Perfeito é seu romance de estreia. Visite eleanorprescott.com e descubra mais sobre essa divertida e espirituosa autora.

capa e ilustração: Carolina Vaz


A vida fica muito mais divertida quando abrimos as portas do coração para surpresas. Não está sendo fácil encontrar o homem dos seus sonhos? Pois bem, então pare de sair por aí batendo cabeça, entrando em roubadas homéricas e espatifando a cara a cada encontro. Está mais do que na hora de você procurar uma profissional na curiosa arte de encontrar o PAR PERFEITO.


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