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Angra: Regalo do Rei e da Gente
Texto: Maria Manuel Velasquez Ribeiro
As festas Sanjoaninas 2019 assinalam a efeméride da chegada a Angra do rei D. Afonso VI, ocorrida a 17 de junho de 1669.
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D. Afonso afastado da governação do reino devido à incapacidade que lhe foi atribuída pela fação da aristocracia apoiante do seu irmão, o príncipe regente D. Pedro, e pela impossibilidade em gerar descendência, permanecerá recluso no castelo de S. João Baptista entre junho de 1669 e agosto de 1674.
Período de tensões e movimentações sociais a que a guerra com Espanha e a recentemente readquirida independência nacional não estavam alheias, a necessidade de afirmar a jovem monarquia portuguesa e a supremacia régia face a interesses locais e particulares tem expressão na romântica luta entre dois irmãos (mais uma vez) que tem como palco a cidade de Angra e a sua inexpugnável fortaleza celebrada por, 80 anos antes, ter defendido a soberania nacional face ao ocupante espanhol. A cidade torna-se centro de espionagem e local de propagação de boatos. O receio de que o rei fosse “libertado” e encabeçasse uma tomada do poder fazia a corte, em Lisboa, recear a ilha e todos os que fossem próximos do rei.
Nestas circunstancias, o fanatismo (representado por uma curiosa personagem local – o místico Lázaro Fernandes) e o despotismo (exercido pelo governador do castelo Manuel Nunes Leitão) propagaram-se rapidamente obrigando a coroa a intervir e a transferir o rei para Sintra – mais uma vez numa situação de detenção.
Os angrenses dividiram-se entre a obediência ao príncipe regente, e o respeito pelo rei infeliz, mas a cidade também teve em conta a sua ambição de manutenção (e possível ampliação) dos privilégios e distinções que lhe haviam sido concedidos após a Restauração, aspetos e memórias de que ainda hoje se orgulha, e quando o rei regressa à capital Angra também regressa ao seu viver tranquilo e vagamente embalado pelas ondas do Atlântico.