MUNDO NOVO VERSÃO PARA IMPRESSAO

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MUNDO NOVO

VERSÃO PARA IMPRESSÃO

Paolo Andreani

Este livro trata da vida de famílias de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no período entre o fim do século XIX até o inicio do século XX; suas vidas no Brasil até quase a atualidade, passando pela primeira e segunda guerra mundial e o efeito que elas causaram nessa colônia e seu comportamento tanto no país de origem como no de adoção. O autor, que é parte da terceira geração dessas famílias, foi um dos diversos entre eles que voltaram para viver no país de origem e que por isso acabou conhecendo quase todos os membros das quatro famílias, formadas pêlos quatro avós, narra o que eles pensavam do Brasil, o que achavam do brasileiro propriamente dito, do negro, dos outros imigrantes, que como eles escolheram o Brasil como país para viver; e de quebra como viam os Italianos tanto de lá das diversas regiões da Itália, como os que, como eles, para cá imigraram. Ao escrever esse livro fiquei diversas vezes em dúvida em qual língua escrever, se em Italiano ou em Português, visto que tendo estudado tanto no Brasil como na Itália, tenho perfeito domínio de ambos os idiomas. Finalmente optei pelo português, achando que sem dúvida os mais interessados deveriam ser os brasileiros, sobretudo os "oriundi"; (os descendentes). Quero deixar bem claro ao leitor que as idéias fixas dos "antenati" (antepassados) e seus modos de pensar e se expressar são verdadeiros e não criação literária, como por exemplo: "os hungareis (húngaros) son tutti corno, as hungaresa son tudo mulher fácil, e são linda né? Dá até gosto". Inclusive esclarecer que eles pensavam assim e não eu, que era criança ou ainda não havia nascido na época citada. Muitos dos fatos citados me foram transmitidos pelos meus pais, tios e em grande maioria pelos primos de meus pais que tem a mesma faixa etária deles e com os quais convivi na Itália muito tempo. Paolo Andreani São Paulo, 1996

Capítulo 1 A ITÁLIA DO SÉCULO PASSADO Embora todos nós saibamos que a Itália é um país milenar, de alta cultura, e de lá emanou a cultura do ocidente, etc e tal, e que Roma foi o centro do mundo e outras coisas mais; a Itália como país uno como é hoje é mais nova que o Brasil. Tendo em conta o Brasil, que se separou de Portugal em 1822, a Itália só se libertou das dominações estrangeiras e se unificou sob um mesmo comando em 1861, portanto 39 anos depois do Brasil. Sem dúvida, como país é mais novo, por incrível que pareça. A Itália do século passado era um país dominado pela França, Espanha e Áustria. Esta última só entregou certos territórios italianos após a primeira guerra mundial, isto em 1918. Aqui está a chave de um problema que assola os americanos há anos, que perguntam a si "como Christoforo Colombo ou Cristobal Colón, ou ainda Cristovão Colombo, era genovês e espanhol ao mesmo tempo, se Genova é na Itália? simples, a Itália não existia, Genova está numa região que se chama Ligúria e esta era um protetorado espanhol, ou melhor, na época era um território espanhol. Por isso ele era espanhol e não italiano. Alem da Ligúria parte da região do Piemonte e da Lombardia, também era da Espanha, o reino das duas Sicílias que compreendiam a Sicília propriamente dita e quase todo o sul da atual 1


Itália, principalmente Nápoli, também estavam sob o jugo espanhol, haviam os estados pontifícios que dominavam o que hoje se conhece como Lazio, Toscana, Úmbria, Le Marche e parte da Reggio Emília. Parte da Toscana, parte da Reggio Emilia, Romagna e parte da Lombardia estavam sob jugo Francês. Todo o Vêneto, Venezia Giuglia, Trentino e Alto Ádige era território da Austria. Trieste era um porto do Império Austro-Ungaro, a Cidade de Veneza era autônoma, mas dominada totalmente pela Áustria. Dois personagens foram famosos na época, Giuseppe Garibaldi e o Conde de Cavour, foram eles que fizeram o movimento de unificação italiana, Cavour como o intelectual e mentor e Garibaldi como executor das façanhas. Escolheram a Vittorio Emmanuele para ser o primeiro rei da recente formada união italiana. Garibaldi deveria adorar uma confusão, andou aqui pelo Brasil e participou da revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, casou com uma brasileira que se chamava Anita, esta, era natural de Santa Catarina. Vittorio Emmanuele era o Duque do Piemonte, falava Francês e Piemontês, mas não Italiano. Talvez tenha aprendido depois com o passar dos anos. Não vamos entrar em mais detalhes, senão fica um compêndio de história sobre a formação do estado Italiano. Como dá para ver, a Itália entre os anos de 1870 até 1918 era um país que não possuía ainda uma formação própria de seu nacionalismo, para se ter uma idéia de como eram as coisas, eles siquer falavam a mesma língua, assim os toscanos falavam Toscano, que é por escolha a atual língua oficial da Itália, os napolitanos falavam o Napolitano, e assim por diante. Para termos uma idéia de como eram desiguais as línguas entre si, aqui no Brasil quando dois italianos de regiões diferentes se encontravam falavam naquele português macarrônico típico do linguajar deles, ao invés de italiano. Dá para se ter uma idéia bem clara que eles possuíam também caráter e culturas diversas, além da língua; naquela época não se deveria dizer que eram simplesmente italianos, dever-se-ia usar um qualificativo junto, assim: por exemplo, um Italiano Calabrês, ou um Italiano Vêneto, eles eram tão diferentes entre si na época, como se um fosse espanhol e outro grego. O Idioma Italiano Sem querer entrar muito em história, vamos explicar de forma breve a origem do idioma italiano. Com a queda do império romano no decorrer do século VI (6º) a Europa e o oriente médio se fragmentou todo. Nessa época somente dois idiomas tinham escrita e gramática correta e era o que se usava na Europa, e eram o Latim e o Grego. No oriente o Aramaico e o Árabe. Existiam outros idiomas, mas não escritos. Esse estado de coisas durou até o século XI (11º) quando os primeiros idiomas começaram a surgir e a serem escritos com caracteres latinos ou gregos. E dessa forma e desse mesmo jeito apareceram as línguas na península itálica, lá havia centenas de condados, ducados, estados pontifícios e outros tipos de demarcações territoriais. Não se tem conhecimento de quem escreveu pela primeira vez em um idioma que seria com o tempo o idioma italiano. O livro que existe até hoje e que é de 1347 aproximadamente, foi escrito por Giovanni Boccaccio. Chama-se, Decamerone e ainda é lido por muita gente. Foi escrito em toscano arcaico e foi algumas vezes atualizado no próprio idioma toscano. O livro mais famoso da Itália é “La Divina Commedia” e foi escrita por Dante Alighieri também em toscano e assim está até hoje e data de 1304 a 1321 aproximadamente. As suas publicações se deram depois do advento da imprensa de tipos móveis em 1450. Outro livro famoso escrito em toscano e que ainda se mantém na versão original é “Il Principe” de Niccoló Machiavelli e data de 1500 aproximadamente. Todos esses escritores eram Toscanos da cidade de Florença onde nasceu a renascença, acabando de vez com o obscurantismo que reinava na Europa há séculos. Toscanos também foram Galileo Galilei, Torricelli, Leonardo Da Vinci, Michelangelo Bonarotti e outros também famosos e todos eles entre os séculos 14 e 16. A maior prova da não existência de uma língua oficial na Itália da época é a Basílica de São Pedro no Vaticano (Roma). Construida nos séculos XV e XVI. 2


Essa basílica foi construída propositadamente no sentido norte/sul sendo a frente voltada para sul de modos que a sua direita para quem entra fica a leste (oriente) e a esquerda a oeste (ocidente). Ao entrarmos na mesma nota-se que as escritas do lado oriental são todas em grego e a do lado ocidental todas em latim. Por que? Resp. - não haviam definido a língua oficial da igreja ainda. Os católicos do rito oriental são ortodoxos e rezam em grego e os católicos ocidentais são romanos e rezam em latim. Somente nos anos 60 do século 20 é que os católicos romanos começaram a rezar em sua língua natal. Os ortodoxos ainda rezam em grego. Com a formação do estado italiano em 1861, foi necessária a adoção de um idioma oficial, como o idioma mais antigo escrito e conhecido era o toscano como já citado acima, resolveu-se adota-lo como língua oficial da Itália. Curiosidade. Na Itália assim como na Suiça existem três línguas oficiais, a saber: Italiano, Francês e Alemão. O francês falado no Val da Osta noroeste da península, e o Alemão, falado no Trentino/Alto Adige a nordeste da península. Os documentos oficiais podem ser escritos nessas três línguas. Os italianos continuaram a falar seus respectivos dialetos e mais, o italiano, até o domínio do Fascismo na Itália, onde uma lei proibia a conversação em público em língua que não fosse o Italiano. Exceção feita a estrangeiros. A literatura italiana é bem extensa e muita coisa é dialetal, mas atualmente quase todos os livros conhecidos já estão no idioma oficial como, por exemplo, “I promessi Esposi” e “ Cuore” livros clássicos e que seu estudo é obrigatório nas escolas. Linguas da Europa. A Europa possui quatro ramos lingüisticos diferentes, a saber: Latinos: Italiano, Espanhol, Francês, Português, Catalão, Provençal e Ladino. Anglo/Saxão: Alemão, Holandês, Inglês, Sueco, Norueguês, Dinamarquês e Flamengo. Eslavos: Búlgaro, Russo, Sérvio, Croata, Polonês, Tcheco, Ucraniano, Letôniano, Estoniano. Greco: Macedônio, Montenegrino, Albanês. De origem mista e desconhecida: Romeno, Finlandês, Húngaro, Lituâno e Basco. Na Itália ainda hoje se ouvem pessoas falando em dialetos, no sul do país existe uma forte influência do espanhol e do árabe. No norte do francês. Existe também influência de dialetos gregos nas ilhas do sul da Itália, inclusive na Sicília. Sistema de Governo O sistema de governo na época era o de reinado absolutista, portanto havia a côrte com todos os seus agregados como sói acontecer nesses regimes. A propriedade privada era discutível, sempre tinha alguém que se achava dono da terra, o que na realidade era complicado, tendo em vista que estava cheio de duques, condes, barões e outros nobres e eram eles os donos da terra e passavam de pai para filho por gerações, da mesma forma como se vê em filmes da época, sem tirar nem por. A população ou o povo, como queiram, estava cansado de ser dominado, tanto pelos estrangeiros como pelo próprio conterrâneo, não se sentia a vontade, não podia possuir terras, na época, tão almejadas, pois o único destino era ser sempre um aldeão e servo por toda a vida, com raríssimas exceções. Somente as famílias abastadas tinham chances, e não muitas, os únicos senhores eram os de sangue azul. Isso era como uma espada de Dêmocles sobre a cabeça dos italianos, que por natureza é um povo de idéias novas e livres, são empreendedores, e o tempo provou isso. Surgia na Itália a idéia do anarquismo, dos libertários, dos iluministas, esta última de cunho maçônicojudaico. Todos pregavam a liberdade de pensamento e a derrubada da monarquia e junto com ela seus súditos. O clero, como era de se esperar, ficava sempre ao lado do poder, e pregava a monarquia, sendo como sempre foi na vida, um parasita dos governos. Vivem em simbiose, um ajuda o outro a sugar o povo, ou melhor, um convence o povo a ser sugado e o outro suga, depois vem de volta o primeiro e diz que Deus quer assim, e tenta convencer o povo. Nunca na época, estendeu um dedo se quer para o povo, a mesma coisa aconteceu na revolução francesa. 3


Daí nasceu a revolta contra a igreja católica que na época era a única, quer se pensar em protestantismo. Havia poucos judeus na Itália, os que haviam, estavam em sua maioria em Trieste, Roma e por incrível que pareça em Livorno, digo isso porque o judeu sempre se estabelece em cidades de grande população e onde há comércio. Em Livorno nada disso existe. É uma cidade portuária, cerca de 350.000 habitantes, pouco comércio, não é turística, enfim a única coisa de excepcional que por lá existe é a academia naval da Marinha Italiana. Por que então se estabelecerem lá? Os italianos da época começaram a se revoltar contra a igreja e em última análise contra Deus. Então se tornou um povo sem Deus, sim, Deus estava contra eles, por essa razão existe na Itália e só na Itália uma forma de xingar Deus; lá se chama "bestemiare", mais ou menos blasfemar em português. Estavam de mal com Deus, com eles e com o mundo. Queriam mudar as coisas, talvez a solução seria instituir-se na Itália da época, uma república, como existia há muito na Suíça, e agora na França, com seu slogan revolucionário/maçon "Liberdade, Igualdade, Fraternidade." Era a idéia fixa da maioria dos italianos do recém formado reino onde o rei nem falava a língua do país, os nobres eram em sua maioria os mesmos que serviram aos dominadores estrangeiros e a vida do povo após a unificação continuou a mesma ou pior, e ainda sem chances de mudanças em curto prazo. O que fazer? Sem dúvida procurar um outro país para viver. E foi o que muitos fizeram, e assim começou a imigração italiana. Não se sabe exatamente qual o país que primeiro aceitou os italianos como imigrantes, parece ter sido a Rússia Czarista, necessitavam mão-de-obra semiqualificada para trabalharem na ferrovia transiberiana, e de fato os italianos foram em grande quantidade para lá. E mais, montaram a transiberiana, até hoje a ferrovia mais longa do mundo, cerca de 6.000 km. Líbia e Egito também receberam imigrantes no século XIX, mas não se sabe quantos, até hoje as colônias italianas de lá são expressivas. Em seguida vem as Américas. Quase todos os países da América tem italianos, não se deve esquecer que o nome "América" deriva do nome italiano Amerigo, foi Amerigo Vespucci ou em português Américo Vespúcio, um grande navegador que cá esteve nos idos de 1503 junto com Colombo, e também com os portugueses, e de seu nome vem o nome do novo mundo. Ele foi tão notório ou mais que Colombo. Talvez por essa razão as Américas receberam o maior número de imigrantes italianos do que qualquer outra parte do mundo. Chegou-se a dizer que a maior cidade italiana era Nova York, de tantos italianos que para lá imigraram. Capítulo 2 A IMIGRAÇÃO NO BRASIL Pode-se dizer tranqüilamente que no Brasil existiram dois tipos bem distintos de imigração, o compulsório e o voluntário. Acredita-se que os primeiros imigrantes compulsórios foram os chamados degredados da metrópole, entre eles se encontravam criminosos e perseguidos, o tipo de crime não se sabe, mas os perseguidos eram em sua maioria "marranos" ou cristãos novos que voltaram a professar sua religião de origem, isso durante a Inquisição, que erroneamente insistem em chamar a Santa Inquisição, se era santa, então os atuais terroristas são verdadeiros anjos e querubins. Visto que aqueles eram piores que estes últimos. Os negros, trazidos de diversas regiões da África, em barcas a vela e galeões; eram trazidos como animais para trabalho escravo, e assim mantidos. Vale ressaltar que a Igreja Católica Apostólica Romana apoiava em gênero e número a atitude da sociedade portuguesa da época. Para eles os negros não possuíam alma, assim como os animais...! Para quem acredita em alma, espírito, e outras coisas mais, é duro de se imaginar um ser humano sem alma; mas dos portugueses podese esperar um tal raciocínio, aliás bem típico da raça. 4


Quando muito, os bispos permitiam que alguns poucos se batizassem e professassem o catolicismo, talvez lhes emprestassem uma alma para essas exceções, em geral os empregados domésticos; se possível às mucamas, e isso tinha uma razão especial, através da confissão, o clero ficava sabendo com quem os senhores da época estavam mantendo relações íntimas, e através dessas informações obtinham vantagens. Era sem dúvida um mundo sem Deus. Os primeiros imigrantes voluntários foram Suíços, instalaram-se na região montanhosa do estado do Rio de Janeiro, onde mais tarde veio a aparecer a cidade de Nova Friburgo. Em que data isso dse deu não sei informar. Os segundos voluntários foram alemães, e se estabeleceram onde hoje fica Santa Catarina e mais exatamente em Joinville. A Alemanha, como país unido é ainda mais novo que a Itália, essa união se deu em 1871, ou seja, 10 anos após a italiana, o país não estava dominado por estrangeiros, mas era dividido em países como a Bavária, Renânia, Silésia, Saxsônia, Prússia e outros. A unificação se deu após a guerra Franco—Prussiana em 1870, foi daí que o Kaiser(rei) da Prússia anexou as demais regiões e se formou a Alemanha quase igual a que se conhece hoje, um pouco maior na verdade. O que se disse sobre a situação dos italianos na recém formada pátria, vale em termos também para os alemães, por isso emigraram. D.Pedro I era casado com uma Austríaca de nome Leopoldina, seu filho D. Pedro II era casado com uma napolitana (não existia Itália ainda) teve duas filhas, uma se chamava Isabel que se casou com o Conde D'Eu que era francês, - a que assinou a lei Áurea- e Leopoldina ( mesmo nome da avó, esposa de D.Pedro I) esta se casou com o duque de Saxe que era o "Príncipe Augusto de Saxe Coburgo e Gotha", que era austríaco, logo na nossa corte se falava francês, alemão, italiano e talvez o português, talvez seja esse o motivo dessa imigração ser alemã, era mais fácil de se entenderem. Os alemães vieram para cá para tapar um vazio que existia no nosso litoral e de certa forma no estado de Sta Catarina. Os primeiros imigrantes voluntários foram os suíços e alemães, isso em 1824, logo depois da declaração de nossa independência, se instalaram onde é hoje Joinville em Sta Catarina. Essa talvez tenha sido a razão pela qual os paraguaios queriam uma saída para o mar exatamente por aí. Por esse motivo se deu a guerra. Como já referido anteriormente, a Rainha Teresa Cristina era italiana por tabela, por esse motivo eles foram o segundo povo escolhido. A primeira viagem de imigrantes italianos se deu em janeiro de 1871, saíram de Gênova, o navio era a vela e se chamava "La Sofia", chegou em fevereiro do mesmo ano com 386 pessoas. Entretanto só foi considerada a imigração oficial em 1875 com a chegada do navio de bandeira francesa "Rivadávia" que trouxe 150 famílias. Estas foram para o estado do Espirito Santo, para as cidades de Santa Leopoldina, Timbui e Santa Teresa. Vale ressaltar que devemos identificar de que regiões vieram. Em forma genérica, os da Toscana e Campânia para os estados do Espirito Santo, São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, sempre para o interior. Para o Rio Grande do Sul e o oeste Catarinense os Vénetos e Trentinos; lógico, entre eles tinham os de outras regiões, porém em menor número. Os italianos vieram para substituir os negros que haviam sido libertados, e por essa razão eles nem pensavam em pegar no batente novamente, mesmo a soldo. Principalmente para cultura e colheita do café. No Rio Grande do Sul a coisa foi um pouco diferente, vieram para começar vida nova e explorar o inexplorado, que na época era a serra gaúcha. Começaram com agricultura de subsistência e o plantio das primeiras parreiras, isso para se fazer o vinho. No Rio Grande não havia quase negros, muito poucos para lá foram, até hoje eles são minoria inexpressiva. Nos pampas dessa época existia cultura de subsistência e pecuária, esta última bem desenvolvida e os gaúchos tinham sua economia voltada para esse tipo de atividade. 5


Os imigrantes italianos logo se deram conta que estava faltando uma perna na economia da região; era a lavoura propriamente dita, e a desenvolveram e começaram a ganhar dinheiro com ela, sendo que alguns fizeram fortuna. No estado de São Paulo os toscanos foram também trabalhar na lavoura, mas estes diferentes dos vénetos não possuíam uma tradição agrícola em sua origem. Na época da emigração só havia videiras e olivares, além da cultura de subsistência. Dessa forma a tendência de deixar a lavoura para se dedicar ao comércio e à indústria, eram bem pronunciados. Os Toscanos são exímios artesãos, lembrem-se que Michelangelo Bonarotti, Leonardo Da Vinci, Rafaello, Bernini, Bruneleschi e outros menores, mas também famosos, eram todos dessa região. A tendência para as artes se reverteu para a indústria com o passar dos anos. Os italianos têm uma anedota boa a respeito dessa habilidade dos toscanos para a arte e o comércio; eles contam que quando Cristoforo Colombo chegou à América e desceu na praia, encontrou um toscano vendendo estatuetas de mármore. Artesanato típico da região; é difícil não se ver numa casa de um italiano uma estatueta, sobretudo de algum santo ou uma Madonna. Com o correr dos tempos, o Brasil recebeu imigrantes da Polônia, Rússia, Lituânia, Letônia, Estônia, Eslováquia, Hungria e outros países do leste Europeu. Com exceção dos poloneses, que se fixaram sobremaneira no leste paranaense, os demais foram para os estados que hoje se convencionou chamar de sudeste. A imigração japonesa é um caso especial, começaram já no século XX, exatamente em 1908, e se fixaram parte no interior de São Paulo, de modo mais expressivo no noroeste do estado e também no norte do Paraná. Nunca consegui saber se a escolha de onde ficar era parte de acordo entre os governos dos países de origem, do Brasil ou se era uma livre escolha entre os imigrantes. Uma coisa fica clara; como o país estava no ciclo do café, parece que todos - com exceção dos vénetos da serra gaúcha - iam para as regiões do plantio do café. Para se ter uma idéia de como foi boa a imigração, nota-se claramente que as regiões onde os imigrantes se fixaram, desenvolveram-se mais que as outras. É simples a explicação: os europeus e os japoneses tinham muito mais cultura do que os brasileiros da época. Devido ao regime coronelista que dominava a política da época, eles não tinham interesse nenhum em deixar a população se aculturar. Para eles, quanto mais imbeciis fossem, melhor seriam dominados. Mas com os imigrantes a história foi diferente, eles não iam à escola, mas a tinham em casa, porém na língua de origem, e junto com a alfabetização vinha o aprendizado das tradições dos povos europeus e no caso dos japoneses, a sua cultura toda especial. Não adiantava suprimir as escolas ou dificultá-las, eles aprendiam tudo com os pais e com os avós. No Brasil de hoje nota-se claramente essa diferença de cultura, divida, de forma imaginária, o norte do sul e veja a diferença de nível social, padrão de vida e educação entre as duas regiões. A do norte com uma mentalidade tacanha, obtusa, e ainda coronelista e o sul todo desenvolvido. Parte de Minas Gerais (sul), Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e os demais estados do sul, receberam imigração estrangeira, o resto do país ficou sem eles e acabou ficando como é, atrasado. Também ajudou essa imigração, portugueses, espanhóis e árabes, estes, porém não foram para a lavoura e sim para o comércio das grandes e médias cidades. Não ajudaram muito como os japoneses e os italianos, aos quais devemos realmente nosso desenvolvimento. Mas de uma forma ou de outra também contribuíram ao longo de sua permanência em solo brasileiro. Muitos se tornaram excelentes profissionais liberais. Durante o século XX, o Brasil recebeu uma infinidade de imigrantes de todas as partes do mundo, mas não para agricultura ou pecuária como era de se esperar, mas, sobretudo para o comércio e a pequena e média indústria, salvo algumas exceções. Os imigrantes vieram em grande parte do leste europeu, sendo uma parte de judeus, que no inicio do século estavam sendo perseguidos lá na Europa do leste, sobretudo na Rússia, onde havia um programa de governo de nome "Pogrom" que tinha uma finalidade única: dar cabo dos judeus da região. Muitos então vieram para o Brasil. 6


Outros perseguidos na Europa foram os armênios, conhecidos pela alcunha de judeus cristãos, parte deles foi dizimada pelos turcos na primeira guerra mundial, parte do que sobrou também veio para o Brasil. Chineses, estes também vieram para cá depois da 1º guerra, mas queriam fazer do Brasil um trampolim para os USA, uns conseguiram, mas a maioria não, e por aqui ficaram montando pastelarias e restaurantes, pouco foi a ajuda que essas três raças (judeus, armênios e chineses) trouxeram para o Brasil, eles são tremendamente racistas, não se misturam com nossos conterrâneos nem a pau, mantém suas tradições religiosas, seus costumes e com isso acabam formando um núcleo ou uma colônia dentro da sociedade, que ao cabo de algum tempo o povo acaba se enchendo o saco com eles e os desprezando ou então os preterindo de uma forma ou outra. Daí eles começam a dizer que somos nós brasileiros que somos racistas. Brasileiro se mistura com qualquer raça, não tem a menor cerimônia em manter relações íntimas com negros, japoneses, europeus, até se sentem atraídos pela aventura, e daí nascem os casamentos entre raças diferentes, dando uma coloração toda especial a nossa gente, - haja vista às mulatas-, que nada mais é que uma invenção portuguesa, não produto de pesquisa, mas do acaso e da sacanagem. Sul-americanos, sobremaneira argentinos, chilenos e paraguaios, passaram a imigrar para o Brasil após a 2º guerra, não sei porque, mas vieram e não foram poucos os que vieram. Eles se dedicaram a artesanato, comércio, e alguns profissionais liberais, também esses, pouco ou nada ajudaram o país, não trouxeram nenhuma inovação, seja tecnológica ou social. Capítulo 3 A VINDA DOS QUATRO AVÓS A primeira a chegar foi a minha avó materna, era austríaca de nacionalidade, mas com nome italiano, portanto de origem italiana, era da província de Trento, Altipiano di Lavarone, que na época era Áustria. Chegou ainda criança, com os pais, se fixaram na Freguesia do Ó, que era realmente uma freguesia, ou seja, coisa menor do que uma vila, e não era São Paulo, sua única ligação com a capital da província era a estrada de Santa Marina, para se chegar lá, devia-se passar o rio Tietê a vau. Isso foi em 1889, ela nasceu em 1881, portanto tinha 8 anos de idade. Com a proclamação da república em 15 de novembro 1889 foi feita uma lei que dizia: todos os estrangeiros residentes no país anteriormente à data da proclamação devem ser considerados brasileiros natos para efeitos legais de qualquer ordem.Tinha por finalidade essa lei de transformar as autoridades governantes da época que eram portuguesas, embora nascidas no Brasil, em brasileiros autênticos. E minha avó entrou nessa, então ela era uma brasileira nata, austríaca de nacionalidade e italiana de raça, tá vendo a confusão? Três nacionalidades em uma só pessoa. Ela optou pela nacionalidade brasileira até casar com um italiano, e pela lei italiana ela se tornou uma italiana, mas no Brasil era brasileira. Possuía identidade brasileira e votava. Falava português sem sotaque algum. A segunda a chegar foi minha avó paterna chegou dentro do ventre da mãe, e com três meses de Brasil nasceu. Pela lei brasileira, era brasileira nata. Nasceu em Bebedouro, sua mãe faleceu quando ela ainda era criança, e o meu bisavô se casou com a cunhada, que era irmã da falecida. Tive a oportunidade de conhecer o bisavô, ele faleceu com 96 anos de idade, era da cidade de Lucca mais exatamente de um vilarejo chamado Verciano. Era ateu, totalmente contra a religião, na época a católica era a igreja oficial, portanto era contra os católicos, brigou com a família por isso, e se mudou de casa com 16 anos e foi viver em Cágliari na Sardenha. Ao completar 19 anos se alistou na legião estrangeira (leia-se Francesa) e foi para a África do norte por 5 anos. Aprendeu a falar árabe e francês. Era alfaiate de profissão, e nunca necessitou usar óculos. Falava português bem, com muito pouco sotaque. Minha avó quando ainda criança voltou para a Itália, exatamente para Verciano, e de lá regressou a Bebedouro com 16 anos, se casou aos 17 com um outro italiano, mas este de Pisa.

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O terceiro a chegar foi meu avô materno, era de Capanori, província de Lucca, Itália. Fixou moradia na Lapa, nessa época um bairro distante de São Paulo, quase uma vila separada. Perto da Freguesia do Ó, onde viria conhecer com o passar do tempo minha avó, que lá morava. Foi trabalhar num porto de areia na Água Branca, perto da estrada de Santa Marina, na época propriedade de seu futuro sogro austríaco/italiano. Com a instalação da Vidraria Santa Marina, na época, de propriedade do conde Prado e em parcerias com belgas e franceses, foi trabalhar lá, dado que seu futuro sogro vendeu o porto de areia por uma pequena fortuna na época, exatamente para a vidraria. Parte da areia da vidraria saia de lá. Nessa época casaram-se e fixaram residência na Lapa. O sogro voltou para a Áustria e com o dinheiro, comprou propriedades que existem ainda hoje em Lavarone; e é conhecida como "Frazione Bertoldi". Esse Bisavô foi o primeiro da família a ganhar dinheiro no Brasil, o segundo, meu avô, seu genro, os demais da família sempre tiveram uma vidinha insignificante, porém sem miséria e necessidades. O quarto e último a chegar foi meu avô paterno, era de Bagni de San Giugliano, hoje conhecida como "San Giuliano Terme" província de Pisa. Chegou ao Brasil em 1900, com 16 anos de idade, foi para Jabuticabal, depois para Bebedouro. Aos 20 anos casou-se com minha avó, escondido da família dela, ele não tinha família aqui no Brasil, e foram morar em Monte Alto. Lá nasceu meu pai.Não tinha profissão definida, mas um senhor, também italiano, que abrigou o casalzinho fujão, era relojoeiro e ensinou a profissão ao rapaz, durante toda sua vida viveu disso, nunca ganhou muito, mas sempre deu para viver uma vida descente com sua família. Em 1910 se transferiu para a Lapa, nesse bairro, depois de certo tempo, meus pais viriam a se conhecer. Notas pitorescas da viagem do velho mundo para o novo mundo. Minha avó lembra-se que viajou em navio a vela, a viagem durou mais de 40 dias, saíram de Trieste, pararam em Cadiz na Espanha, depois em Salvador na Bahia, Rio de Janeiro e finalmente Santos. Lembrava-se de uma tempestade que tiveram que enfrentar, não podiam comer nesses dias e a água era racionada a bordo, dizia ela que eles bebiam água mamando uma chupeta atada em um barril e cada vez que uma pessoa mamava, elas passavam álcool na chupeta até a próxima mamada. A comida era péssima, não lembrava bem o que era, mas sempre um certo mingau sem gosto. A nacionalidade do navio não se lembra, mas acha que era Austríaco, porque a tripulação, falava alemão. A Áustria naquela época era potência marítima, hoje nem mar se quer tem. Meu avô, que foi mais tarde marido dela, se lembra pouco da viagem, mas veio com navio a vapor de bandeira inglesa. A viagem começou em Gênova, com parada em Barcelona na Espanha, Daccar no Senegal, África, Rio de Janeiro e finalmente Santos (São Paulo). A comida a bordo também era ruim, então quando chegou ao Rio de Janeiro ele e companheiros de viagem foram comer num restaurante. Lógico, pediram macarrão, como bons italianos que eram e que servido à mesa, encheram com o que pensavam ser queijo ralado, e tinha muito na mesa, até se admiraram, mas era na realidade farinha de mandioca, que para eles era uma coisa desconhecida. Levando a comida à boca logo vem a expressão "que queijo mais filho da puta é esse?", logo em seguida o garçom explicou e fez o obséquio de serví-los outra vez, sem cobrar pela gafe cometida. Do mais se lembrava muito pouco, somente que se admirou da viagem de trem de Santos até São Paulo, disse nunca ter visto uma obra de engenharia de tal envergadura. E realmente era; a estrada de ferro "The San Paulo Railway" subia a serra através de cabos de aço num sistema de planos inclinados, era a única do mundo desse tipo, realmente uma grande obra de engenharia para a época, foi construída em 1865. Capítulo 4

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O BAIRRO DA LAPA Foi no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, que quase tudo aconteceu. A Lapa era um bairro distante da cidade de São Paulo no inicio do século, era quase uma vila separada. Era ligada ao centro pela Rua Guaicurus, que existe ainda. Em 1910 começaram os bondes a passar por lá. Outro acesso era a estrada da boiada, que ligava esse bairro ao de Pinheiros; tinha ainda a estrada do Piqueri, que passava o rio Tietê a vau e ia-se para a Freguesia do Ó. Começava na Lapa a estrada que ia para Campinas, ela existe ainda hoje, mas não é a via Anhanguera, é a que hoje leva a Pirituba, Taipas, Caieiras, etc e tal. A Lapa apareceu no mapa por obra dos ingleses que escolheram esse local para instalar as oficinas de manutenção da ferrovia Santos a Jundiaí, que se chamava "The San Paulo Railway". Os primeiros habitantes eram ingleses de todos os níveis sociais e culturais, tanto que nesse bairro se encontram muitas ruas com nomes de ingleses como: George Smith, Dronsfield, Felix Guilhem e outros mais. E em seguida vêm os italianos, que eram em sua maioria da Toscana, exerciam as profissões de carvoeiro e açougueiro, e alguns da baixa Itália que possuíam o que se chamavam antigamente de armazéns ou empórios, eram lojas que vendiam quase tudo para a época. Eles também têm ruas com nomes por lá, como Av. Ermano Marchetti, Matteo Forte, Giaccomo Zanella e outros tantos mais. E ainda alguns brasileiros notórios na época como o médico emérito Dr. Cincinato Pamponet, que também foi juiz de paz. O avô do Doutor era fugitivo de perseguição política do Haiti, daí seu sobrenome francês. Parece que a política corria nas veias dos Pamponet, seu pai foi prefeito da cidade de São Félix na Bahia. O Dr. Pamponet era o presidente do PRP (Partido Republicano Progressista) da Lapa naquela época. Quase todos se conheciam naquela época, e então, os fatos corriam de boca em boca, assim como em cidade pequena do interior. O bairro se desenvolveu e ficou sendo o que é hoje, uma enormidade, um dos bairros bem conhecidos da capital paulista. Em volta dele cresceram outros bairros e a coisa foi aumentando. Hoje ele é um bairro com centenas de ruas e se comunicando em todas as direções com os demais bairros. Tornou-se bairro comercial, e na atualidade possui uma grande quantidade de marreteiros que denigrem seu comércio. É, pode-se dizer, um bairro de classe média baixa atualmente. Já teve tempos melhores, os mais bem de vida se mudaram para o alto da Lapa ou então para City Lapa. Capítulo 5 UMA FAMÍLIA ATRAPALHADA E CONFUSA Isso mesmo, era uma família com hábitos excêntricos e que não condizia nem com os brasileiros natos, e muito menos com os italianos, era única em seus modos de pensar e agir, e dessa forma criava problemas tanto para eles próprios como com seus vizinhos ou ainda com quem eles se relacionassem . O casal teve 8 filhos, espaçados de mais ou menos 2 anos entre eles de forma que existia grande diferença entre o mais velho, que era meu pai, e o mais novo, cerca de 20 anos. O regime era matriarcal, meu avô pouco dava palpite, achava mais cômodo ficar quieto e deixar o barco correr. Dessa forma tudo ficou sem rumo e todos os filhos e filhas, com exceção do caçula, nem se quer estudaram, quando muito o curso primário incompleto. Enfim uma "orda" de burros despreparados. A gente começa a ter um pouco de compreensão das coisas do mundo com cerca de 10 anos. Nessa época comecei a perceber que eles viviam de forma esdrúxula e desconcertante com relação às demais. A vida deles, eu nunca entendi, uns se casaram outros não, com exceção de meu pai, todos os outros casamentos foram desastrosos, o outro melhorzinho, foi de uma tia que se casou com um tipo muito simpático, porém "Bon Vivant", um meio "Casanova", em palavras mais objetivas era um simpático vagabundo do tipo parasitário e oportunista, e para se conseguir viver assim é necessário esperteza e cara 9


de pau, e isso ele tinha de sobra. Somando a isso tudo era um putanheiro contumaz, não podia ver um rabo de saia que largava tudo e ia atrás. Tinha uma dívida consigo, nunca tinha conseguido "faturar" uma freira, ele achava que seria a coroação de suas conquistas de "Casanova", que se achava. Teve dois sucessos na vida: um foi fazer um produto químico o Trisilicato de Chumbo, sem ser químico e o outro, inaugurou no Brasil as danceterias criando a Boate STAR DUST. Foi um sucesso na época. Ele foi o primeiro estrangeiro a se casar com os de origem italiana, ele era espanhol da Galícia, e chegou ao Brasil ainda criança. Os demais, com exceção do caçula, foram medíocres indômitos, seus casamentos falidos e suas vidas, idem. A casa em que viviam era uma bagunça organizada e limpa. Com a morte de minha avó tudo ficou pior, virou uma bagunça suja e mal cheirosa. Assim vivem ainda os remanescentes do clã. Era hábito da casa, acordarem lá pelas dez da manhã e ir dormir entre 2h30 às 3h da manhã do dia seguinte, ora,... desse jeito... Quem agüenta viver com saúde boa? Todos tinham algum problema de saúde, uns com problemas de ferida nas pernas, diziam ser devido a varizes, outros com outras complicações diversas, mas em comum todos eram excessivamente obesos, comiam como loucos e do bom e do melhor, o almoço era mais ou menos pelas três da tarde, era uma festa sempre, e junto com a obesidade as complicações que advém como o diabetes, níveis de triglicerídeos e colesterol elevado e gota, muita gota. Enfim, uma família diferente mesmo, hábitos estranhos. Dois acontecimentos abalaram profundamente a família: 1º o falecimento de um de meus tios, era o que cuidava da relojoaria na época, meu avô já se achava velho e pouco trabalhava, tinha cerca de 65 anos na época; na realidade estava era doente, uremia, provocada por tumor no rim. Então quem cuidaria da loja agora? A escolha foi péssima, recaiu sobre o caçula, o único que estudava e que prometia ser alguma coisa, largou o estudo e foi ser o relojoeiro, e o mantenedor da família desastrada. Mais um desastre sem dúvida. O 2º, foi o casamento do caçula com uma preta, imaginem só, os italianos de persi são bem racistas, acham que só eles prestam (quando prestam), imaginem um pouco o filho querido, o arrimo da família trapalhona, casar com uma preta, e que além de preta, era - diziam as más línguas - arroz de festa, isso mesmo era mulher de segunda mão, ou mais mãos. Foi um verdadeiro desastre, minha avó esconjurou, meu avô ficou passado, os irmãos detestaram, sobretudo o meu pai, que só de ouvir falar em preto fica arrepiado, diz que é uma raça de merda, isso mesmo, já tem a cor de merda, diz ele ainda hoje. Meu pai afirma com toda a convicção que tudo que precisa lei de proteção, é porque não presta, se fosse bom, tomaria pé sozinho; tem proteção de lei, como por exemplo "o cinema brasileiro", a "zona franca de Manaus", a "Sudene no nordeste", e agora, o preto também está protegido por lei, e essa é uma prova irrefutável que não presta. (Nota do autor) - Os Italianos vieram para o Brasil após a abolição da escravatura, substituir a mão de obra escrava, que era de negros, lembrem-se que os negros estavam livres para tudo, inclusive trabalhar se quisessem, mas os recem-chegados viam no negro da época seu grande concorrente, alias, o único. Daí essa bronca com os pretos, de forma gratuita, e de certa forma ela perdura até hoje, mas a raiz do conflito foi essa, simplesmente a concorrência no trabalho. Com o tempo eles notaram que os "de côr" não eram páreo para eles, os superaram e de longe. Que me lembre, minha avó nunca chamou a preta pelo seu nome, e lógico ela tinha nome, a chamava de "Scicerbita" em dialeto toscano quer dizer uma pessoa cheia de frescura, enfim uma pessoa fresca. Também chamava a infeliz de "Rinfrosina", que em dialeto quer dizer: uma mulher inconveniente, chata; e mais comumente de "a preta", as duas nunca se falaram, embora tenham vivido anos em família. Meu tio, pelo jeito, gostava muito da preta, viveu com ela cerca de 18 anos, quando ela veio a falecer por motivo de doença. Ela deveria ser gente boa, tanto que na época em que viveram juntos foi quando ele esteve melhor de vida, conseguiu fazer um pé de meia, ter propriedades, enfim melhorou de vida. Após a morte da Scicerbita, as coisas começaram a ir mal, ele começou a perder o que possuía, casou-se novamente, viveu mais dois anos e faleceu também de doença, e relativamente novo. Dos filhos que tiveram não vale a pena falar, sem tirar nem pôr, duas grandes cavalgaduras. 10


Uma das tias também teve um filho, que por sua vez, era filho de um primo de minha mãe, o casal se conheceu no casamento de meus pais. Outro desastre, tanto o casal como o filho, se separaram logo e ambos tiveram uma vida de conflitos durante 40 anos no mínimo, o filho, o único a se formar na família desastrada, é bacharel em direito, e advoga do mesmo jeito que a família, ou seja, uma bagunça só. É super obeso, vive doente e deixa os clientes também doentes, de medo de perder as causas. Ele é criminalista, tem uma cabeça que é o próprio código penal, sabe tudo de cor, só que eu acho que não faz bom proveito dessa qualidade. Enfim uma família lamentavelmente enferma, tanto física como mental. E eu também sou descendente direto dessa raça e talvez tenha herdado umas esquisitices também, aliás, diz o ditado “Quem puxa aos seus, não degenera”, mas nesse caso vale à pena degenerar um pouco. Uma única coisa aprendi com meu avô, ele dizia que o Brasil não era o país do futuro, mas sim do passado. Quando ele chegou aqui tudo era bom, não havia malandragens, os habitantes eram íntegros e honestos, mas depois que um tal de Getúlio Vargas assumiu o poder pela força, tudo ficou uma merda, encheu São Paulo de gaúchos e nortistas e que essa gente não prestava, eles estragaram o país que era bom. Depois de Getúlio o país apodreceu em moral e costumes, ele acabou com as colônias estrangeiras existentes e pôs toda essa gente a perder. Inclusive se apropriando de seus bens e deixando-os na penúria. Eu mesmo me lembro disso, conheci muitos estrangeiros que tiveram seus bens confiscados sem uma razão qualquer, e já velhos e desamparados morreram na penúria. Foi o que fez esse brasileiro safado com os imigrantes que ajudaram a construir o que tem de bom no país. Disse mais, volta para a Itália, ainda estão lá os bens da família, faça vida nova como eu quis fazer, lá, por certo vai ficar melhor do que aqui, o Brasil está acabado, nunca mais isso vai tomar jeito, nunca mais vão conseguir tirar o país das mãos dos paus de arara. Eles é que irão mandar aqui e sem dúvida levarão o país à ruína, eles são mesquinhos e só enxergam a si próprios, vão arruinar o país, talvez de forma irrecuperável. E realmente isso está acontecendo. Capítulo 6 UMA FAMÍLIA CERTINHA Sem dúvida eles eram bem mais certos dos que os outros citados, era uma família tipicamente italiana, era um feudo Patriarcal. O casal teve 8 filhos espaçados de cerca de 2 anos entre si, porém a gripe espanhola que assolou o pais em 1918 levou um deles, ficaram 7, todos tinham nomes que começavam com A, o que faleceu por acaso não, uma infeliz coincidência. Na casa falava-se o toscano - atual língua oficial da Itália-, e foi essa também que eu desde pequeno aprendi, não com meus pais, mas com meus tios, depois eu explico porque. Minha avó embora fosse austríaca, falava o dialeto Véneto/Trentino, e alguma coisa em alemão, mas o marido exigia que todos falassem língua de gente e não de caipira, e gente que era gente tinha que falar Toscano, e a coisa ainda ficou pior quando Benito Mussolini "Il Duce" (o duque, o que manda, o que governa) se tornou primeiro ministro da Itália, o Duce obrigou todos a falarem "Italiano", ou seja, o toscano, e aqui no Brasil sobrou a rebarba da nova ordem e se tornou feio na colônia falar dialeto. As duas famílias, a atrapalhada e a certinha tinham uma coisa em comum, eram Fascistas, isso mesmo, achavam que Mussolini iria salvar o mundo, e eles junto, apoiavam em gênero e número o ditador bufão. Nessa família não tinha um torto, isso no sentido de um qualquer sem rumo na vida e também sem moral ou estudo. Todos estudaram pelo menos o curso primário, que na época era o suficiente para se ter uma vida de bom nível. Um dos tios meus era um auto didata, conhecia um monte de coisas sem nunca ninguém ter lhe ensinado, por exemplo: tocava violino, inclusive na orquestra do tempo do cinema mudo, aprendeu inglês na San Paulo Railway, onde trabalhou durante anos, só de ficar ouvindo os gringos falarem daquele jeito, inclusive escrevia inglês, aprendeu a tirar "photographias" - assim se escrevia - sozinho, e naquela época 11


quem tirava as fotografias deveria revelar as "chapas" que eram de vidro, e copiá-las, enfim fazia de tudo um pouco. E o que fazia, fazia bem feito. Minha mãe, entretanto, dizia ser ele quando mais jovem um ranheta e de gênio forte, criando caso e mandando com se fosse meu avô, ele era o mais velho e a tradição italiana manda que o mais velho assuma o poder do pai em sua ausência, e ele de fato o fazia e com mão de ferro. Eu o conheci e tinha grande admiração por ele, em minha opinião ele e o seu filho foram sem dúvida os mais inteligentes da família. Meu tio durou muito, viveu lúcido até os 93 anos, e sem problemas físicos, um pouco de labirintite as vezes, ele morreu porque quis morrer, quando faleceu a esposa, ele disse que a vida sem ela não tinha mais sentido, foi definhando aos poucos e 6 meses após a morte dela, ele se foi. Outra tia que também era ranheta - e eu vivia na casa dela - tocava bandolim, também no cinema mudo, e que eu saiba nunca foi aprender a tocar. Não era inteligente, era esperta e sovina, era a mais mão de vaca da família, aliás, nessa família, essa era uma característica intrínseca, e sem dúvida uma herança genética do meu avô, como eu morei na Itália com membros da família dele, dava para notar claramente de onde vinha esse pecado capital.. Com os outros membros da família, eu não tive muito relacionamento, embora a família se visitasse amiúde. Eram de bom caráter e levavam uma vida normal, a exceção de uma esposa de um tio, que era meio biruta e costumava dar uns escândalos, se dizia doente do coração, mas durou mais que o marido, que embora tenha morrido de desastre, não morreu tão moço. Um tio todo especial; ele não era tio de consangüinidade, e sim por ter se casado com a tia ranheta do bandolim. Ela o tratava de cima para baixo, por que razão eu nunca soube, soube sim que era o seu segundo casamento, talvez o primeiro marido tenha sumido do mapa por não agüentá-la mais. Ele era também toscano, exatamente de Alto Pascio, província de Lucca na época. Eram casados só no religioso, na Itália isso era comum, hoje nem tanto, eles também estão criando juízo. De estatura mediana, sempre alegre, e transmitia simpatia a todos, sua profissão eu nunca soube exatamente, era político na Itália, veio para o Brasil como caçador profissional do Zoológico de Roma, foi direto para o Pantanal Mato Grossense, lá entre muitos, conheceu o Capitão Rondon, isso lá pelos anos 20 ou 30, meu tio o achava um indômito, desbravador, mas o capitão tinha a mania de pedir dinheiro emprestado a todos em nome de suas necessidades e que se saiba nunca devolveu coisa alguma a ninguém. Ele era Fascista fanático, no mundo, depois de Deus, estava Benito Mussolini. O Duce iria salvar a Itália e levá-la ao esplendor do império romano, o mar mediterrâneo voltaria a se chamar "Mare Nostrum" (nosso mar). Ele acreditava piamente nisso, e punha isso na cabeça dos parentes e amigos, eu era um deles, em sua casa tinha a bandeira italiana na parede e logo abaixo, o busto do Duce, em madeira lavrada. Ele chamava aquilo de altar da pátria, e eu lógico, criança na época, achava que era assim mesmo. Em sua casa se falava só italiano, e eu que vivia mais lá do que em minha casa, que por sua vez era no mesmo terreno que a dele, uma casa na frente outra atrás, aprendi a falar italiano desde criança. Quando aprendida dessa forma a gente nunca esquece a língua. A maioria dos presentes que ganhei nos Natais e aniversários, foi ele quem deu, até hoje guardo com carinho uma miniatura de carroça de padeiro que ele me deu no natal de 1944, e agora já estamos em 1996. Aos domingos íamos à missa dos italianos na igreja de São Bento, no largo do mesmo nome, e depois íamos ao bar do Calegari, na esquina da Rua Libero Badaró com São Bento, os amigos de então iam beber Passarella, era Vinella com uva passa dentro e eu sempre tomava um golezinho. Vale a pena lembrar que o filho do dono do bar, o Calegari, o Luciano, é o atual superintendente do SBT, e também foi o Luciano quem deu o primeiro cachorro que tive. Existia uma certa aproximação entre os italianos da época. Essa era uma delas, mas acabou. A DISCUSSÃO O ano era 1947, fazia dois anos que a guerra na Europa havia acabado. Os italianos e seus descendentes já estavam voltando a falar o seu idioma novamente porque havia sido proibido durante os anos em que o Brasil participou da guerra contra o Eixo que incluía Itália, Alemanha, Japão que eram 12


conhecidos como “Roberto” ou Eixo. Roberto de um anagrama de Roma, Berlin e Tokio. Os demais países como Turquia, Romênia, Áustria e o que viria a ser a Iugoslávia não se contava. São Paulo da época era uma cidade cosmopolita, cheia de estrangeiros de toda a parte do mundo, passando pelas suas calçadas se ouvia tudo que era idioma. Já havia bairros característicos de certas raças. O Bexiga, o Brás, a Mooca, eram redutos de italianos, a Liberdade de japoneses, o Jabaquara e Casa Verde de Portugueses, o Bom Retiro de Judeus de todas as procedências, o Glicério e Ypiranga de árabes e assim muitos outros também. Existiam festas e eventos das colônias umas anuais, outras semanais como era o caso das missas, na Vila Alpina tinha a dos Russos ortodoxos, no bairro do Paraíso dos católicos Coptas e assim por diante entre os descendentes de estrangeiros. No Mosteiro de São Bento havia às 9 horas da manhã de todo o Domingo à missa dos italianos. O mosteiro de São Bento fica ainda hoje no largo de mesmo nome e é bem no centro da cidade, dista quando muito 1000 metros da Praça da Sé que é o centro oficial da cidade de São Paulo. Esse mosteiro é uma obra de arte em cantaria, inaugurado no inicio do século XX está lá como se tivesse sido construído ontem. Abriga a ordem dos beneditinos que são padres ou frades (sei lá) de filosofia alemã e de rito alemão também. Sente-se no ar a ortodoxia típica da raça. Tudo muito bem cuidado, arrumado, limpo, os ritos obedecem a horários rígidos, a ponto de que seu relógio com campanário serviu até 1986 como o horário padrão da cidade e era transmitido radiofonicamente para todo o estado. Daí veio o relógio atômico da USP e passou a ser ele o horário oficial. O largo de São Bento era um centro de transportes na época, por lá passavam uma série de linhas de bonde, e todas as ruas que iam dar ao largo passavam bondes e eram ou melhor são: Rua São Bento, Rua Florêncio de Abreu, Rua Boa Vista, Rua Líbero Badaró, e o viaduto Sta Ifigênia. O largo era calçado com paralelepípedos de granito cinza e que muitos os chamavam de macacos (não havia semelhança alguma). O largo tem um aclive na direção da Rua Líbero Badaró e bem na esquina dessa rua com o largo ficava uma bodega que vendia bebidas italianas, entre elas a famosa “Passarella” que era uma efusão de uvas passas em aguardente de uva, conhecido em italiano como “Grappa” ou “AcquaVite”. As demais bebidas eram a Sambuca, Campari, Martini, Cinzano, Brandy Etichetta Nera, Vinella, Aniz e outras que não me ocorre o nome. Um grupo de amigos ao sair da missa se reunia nessa bodega para beber e fumar, muitos com piteira, que era elegante na época ou então cigarros com “Ambré” ou filtro como é conhecido hoje, era o lugar ideal para ostentação. Pelo traje e riquifofes, possuídos pelo indivíduo, sabia-se sua posição social e a grana que tinha a seu dispor. Eu era criança, na época tinha 9 anos de idade, e ia com meu tio de nome Mário Pistoresi, tanto na missa como no dito local, ele sempre me dava vinella prá beber, é o que o espanhol chama de sangria, é vinho com água e açúcar e as vezes com frutas secas dentro; e quando muito me deixava dar uma bicada na passarella ou então comer as uvas passa daquela aguardente doce. Lembro-me que adorava aquele ambiente, eu me achava importante estar ali no meio de gente rica e importante, alguns italianos notórios da época iam lá como “Menotti Del Picchia, Chichilo Matarazzo, Archimede Buzzacca, Ermano Marchetti e outros que não me lembro o nome só a fisionomia. Num desses domingos adentram ao local, dois negros, falando alto para chamar a atenção, e dizendo – vamo vê qui qui esses carcamano bebim aqui – daí um deles falou para o outro, -irmão só tem merda aqui, vamu imbora- um dos italianos, se chamava Aldo Fanucchi disse: merda são vocês, basta ver pela cor que é merda pura. A coisa engrossou, o crioulo ficou doido, e queria partir pra porrada, mas o dono que era o Sr. Calegari disse: – se quiser engrossar vou te comer no cassete e mostrou um cassetete que possuía embaixo do balcão. O negrão deu uma maneirada, mas disse: isso aqui não é Brasil, vocês são gringos e precisam respeitar os brasileiros. Meu tio disse:- quem é brasileiro aqui? Vocês? Nunca... Vocês são africanos e exescravos, e como tal é bom calar o bico aqui dentro. Vieram para cá como bichos amontoados numa galé e agora querem por banca? Vão te catá... A coisa começou a esquentar de novo, o dono novamente interveio e disse: é melhor vocês irem embora antes que a coisa piore. 13


Um dos negros retrucou - nois também é gente - E o Enzo Ristore disse: onde? Dentro do banheiro só, daí não se vê quem é e se acha que tem gente senão diz que tem negro. Um dos crioulos voou em cima do Aldo, mas de imediato o Calegari pegou o cassetete e disse:- põe a mão nele e eu te quebro de pau aqui mesmo. O negrão puxou uma faca e de imediato tomou uma cassetada tão grande que ficou estirado na hora. O outro disse: - Oia o que oceis fizeram com meu amigo, o Calegari disse: - Se manda ou vai levar outra, o negrão se mandou. Naquele momento ninguém sabia o que fazer, O Del Pícchia, que era advogado e dono de cartório disse: - Fecha a porta e não deixa ninguém mais entrar até esse merda acordar... E nada do cara acordar... Alguém disse joga água nele... Outro retrucou não nada disso, deixa ele dormir um pouco, se fosse golpe letal sairia sangue pela boca ou ouvido, no máximo vai lhe nascer um galo. O Dr. Buzzacca que era médico disse: - Deixa eu ver... Apalpou o cara e disse: - Ele só está desacordado, isso passa... Enquanto o crioulo estava nos braços de Morfeu, começaram os comentários. E Diziam:- Negro é isso aí mesmo, só serve pra dar dor de cabeça. Outro retrucou: - É como bicho, não tem educação de berço. Daí o Marchetti que era político disse:- O que vocês querem... Os coitados foram tirados lá da África como animais selvagens eles estavam na idade da pedra e foram trazidos para o nosso mundo e vocês acha que em 400 anos ele irá evoluir... Nunca... Faltam no mínimo 6 mil anos de civilização para eles. Nós tivemos os Egípcios, os Gregos, os Romanos a idade média, a renascença os grandes descobrimentos e a época contemporânea eles não, foram trazidos para a civilização de uma hora para outra de forma brutal e grosseira. Leva ele pra casa e ensina isso tudo que você disse pra ele, disse em tom de pilhéria o Fanucchi, e o Marchetti retrucou ... É você tem razão, eu vou fazer um cercadinho no fundo do quintal e vou criá-lo, quem sabe se ele consegue aprender alguma coisa vivendo certo tempo com gente evoluída. Um outro que estava lá chegou perto para ver se o animal ferido dava sinal de vida quando disse:puta merda! Como fede essa coisa, eu nunca tinha chegado perto de um negro, eu só ouvia dizer que eram fedidos agora tenho certeza disso. Foi quando o negrão começou a acordar e disse: - Onde estou? E alguém gritou... Na Itália... E acho bom você ir embora pra tua terra se não vai levar outra porrada. O negro levantou meio cambaleante... O Calegari pegou-o pelo braço levou-o até a porta pose-o para fora e trancou novamente a porta. Foi uma risada geral, só o Calegari não riu e disse:- pensei que tivesse matado o filho da puta, já estava ficando preocupado. Bela merda disse o outro, que diferença faz? Eles não valem nada... Respondeu o Calegari...: - O problema é que eles não valem nada para nos, mas para a polícia e justiça eles são considerados gente como nós, aí é que está a merda, você tem que pagar merda a preço de ouro. Meu tio se despediu dos demais alegando que já era hora do almoço e que estava com uma criança (eu) e que precisava ir embora. Andamos dois quarteirões a pé, fomos até a Praça do Correio, lá era o ponto inicial do bonde 38 – Perdizes. Tomamos o bonde e fomos para casa. No trajeto ele comentou o seguinte. Enquanto os brancos tem de um a no máximo três filhos essa negrada tem de oito a doze filhos e desse jeito como vão as coisas o Brasil vai ficar um país de maioria negra, e vai ficar uma porcaria, até governantes negros vamos ter, e como eles não sabem fazer nada na vida, vão deixar o país numa pinimba de fazer dó, você vai ver isso acontecer, eu não, ou eu morro antes ou volto para a Itália, no meio de negros desse tipo é que não vou viver. E assim acabou o assunto. Nesse conto nota-se claramente a intolerância dos italianos pelos negros naquela época e também mostra que após a guerra a negrada começou a pôr as manguinhas de fora. Até então o negro conhecia sua verdadeira posição de inferioridade. 14


Nota: O que estou aqui escrevendo realmente se deu, portanto não é criatividade literária ou coisa assim, só que na época eu mal sabia ler e escrever e passados mais de 50 anos o fato me veio em mente e resolvi por no papel. Esse tio fez muitas vezes o papel que deveria ser de meu pai, que sem tirar nem por era uma grande cavalgadura, igual a família dele. O meu tio levava os sobrinhos a passeio, fazia os riquifofes, as brincadeiras que as crianças tanto adoram, não existia Páscoa ou Natal que a sobrinhada não fosse dormir na casa dele, ele era o coelho da páscoa e também o Papai Noël, era presente na certa, e lógico criança adora isso. O casal não teve filhos por isso talvez se dedicasse tanto aos sobrinhos. Mas como na vida nada é perfeito e duradouro, ele se foi quando eu tinha 15 anos, fiquei de certa forma meio órfão, lógico, era ele quem atendia a gente e não quem deveria. Ele teve uma morte serena - morreu de ataque cardíaco e fulminante- mas muito desastroso para a família; morreu dirigindo seu carro, que era seu xodó, um "Lancia Aurelia", na praça do Correio, bem em frente ao antigo correio, os assaltantes deram uma limpeza geral no carro antes da polícia chegar, quando esta chegou, ele era nada mais que um desconhecido indigente. Por fatalidade do destino, um primo que passava no local reconheceu o carro e avisou a polícia que ele era parente, e indentificou a vítima, mesmo assim foi levado para exame de corpo de delito e outras coisas mais e só um dia depois meu pai conseguiu liberar o corpo para enterro. Minha tia não teve direito legal nenhum por ser casada simplesmente na Igreja. Enfim, um tremendo problema para a família. Seu empregador na época, vou até citar o nome do filho da puta, era o dono do Moinho Fanucchi, que como este, se chamava Fanucchi, teve o desplante de pedir à minha tia viúva que o indenizasse do dinheiro que portava em seu carro por ocasião do falecimento. A soma certa ninguém nunca soube, mas alegava-se em cerca de 3.000 dólares. Minha tia ranheta não se abalou nem um pouco, como não era esposa legal perante a justiça e isto lhe estava dando problemas quanto à indenização e a aposentadoria e outra coisa mais mandou seu Fanucchi ir cobrar do morto ou então de quem o havia roubado. A gente só conhece realmente as pessoas nas horas amargas, e esse é um caso bem típico do que foi capaz seu grande amigo e correligionário do partido Fascista. Meu tio na época era vendedor e também recebedor do Moinho Fanucchi. As vezes ele me levava consigo para eu conhecer os moinhos e padarias que visitava, e eu adorava essas visitas, eu adorava máquinas e lá estavam, cheias dela. No tempo da 2ª guerra, no Brasil não havia combustível, que era importado, e tudo era tocado a lenha, então existiam nas fábricas os locomóveis a vapor que queimavam lenha, e essa era minha máquina preferida, talvez por isso até hoje eu sou fissurado em máquinas a vapor, até os trens queimavam lenha, tudo era tocado a vapor e queimando lenha, e com isso queimaram as madeiras de meio Brasil em fornalhas de máquinas a vapor em nome do progresso. Simplesmente uma ignorância sem par. Foi meu querido tio que me mostrava tudo isso, dizia, são os americanos que forçam a isso, eles querem dominar o mundo fazendo com que o mundo devaste suas florestas e fiquem cada vez mais na sua dependência de petróleo, o Brasil, dizia, tem muito petróleo, mas os Gangsters americanos não permitem que se extraia, senão eles não mandam mais aqui. Mas um dia isso acaba, e realmente acabou, e era verdade o que dizia, hoje sabemos. Capitulo 7 AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS E suas influências nos "oriundi" A Europa do inicio do século XX era uma verdadeira colcha de retalhos, com relação aos países existentes hoje, e ficou pior ainda após a primeira guerra mundial (melhor dizer européia). Mas o que determinou que ela eclodisse? Simples, arrogância, soberba, e poder de mando da classe dominante. 15


A classe dominante na Europa eram os antigos nobres que por tradição de família iam cursar escolas militares e acabavam sendo os oficiais que mandavam no Exército e Marinha. (não existia Aeronáutica ainda). Esses oficiais e suas famílias é que mandavam em tudo, inclusive nos reis da época. A nobreza se apoiava nas forças militares. Quatro potências dominavam a Europa; Inglaterra, Alemanha, Rússia e o Império Austro-Húngaro. A Alemanha e a Austro-Hungria se uniram e formaram um bloco sob seus domínios, por outro lado a Inglaterra se sentia humilhada diante de tanta grandeza, e com a possibilidade, embora remota, de ver seu império mundial ameaçado, acabou se aliando a Rússia Czarista, contra uma eventual expansão do bloco germânico tanto na Europa como sua influência no mundo. Dois grandes iriam se confrontar, era só uma questão de tempo, e mais, na época lutar era sinônimo de bravura e honradez, hoje todos sabem que é burrice e perda de tempo. Vendo as nuvens "Cúmulus Nimbus" da guerra eminente; se agigantarem para iniciar a tormenta, grupos menores começaram a tomar partido e proveito da situação. A Itália e a França se unem para tirar partido disso. A Turquia idem, e esse foi o começo do fim do império Otomano. Dois grupos políticos merecem especial destaque nessa guerra infame que assolou a Europa e parte do oriente médio. O grupo Comunista- Leninista, e o Grupo Sionista. Os comunistas são notórios e todos sabem o que aconteceu com eles, e o que é público e notório não necessita de confirmação e explicação. Falar sobre comunismo aqui, é chover no molhado; falaremos sim sobre sua influência no governo italiano do pós-guerra (a 2ª). Sobre o grupo sionista sim, estes poucos conhecem, começou antes do comunista e no início, eles tinham vínculos. Tudo começou na segunda metade do século XIX na Rússia e demais países limítrofes de raça eslava, como Ucrânia, Bielo-Russia, Estônia, Lituânia, Letônia, Polônia, e outros de menor expressão. A aristocracia russa apoiada pelo Czar e seus Boiardos, resolveram dar cabo dos judeus que moravam em seus territórios. O programa não era o extermínio, mas a expulsão da terra e o confisco dos bens (talvez males também). E então para onde ir? Uma das metas era os Estados Unidos da América, mas muitos achavam que havia chegado a hora de voltarem para a terra prometida ou simplesmente "Israël". A esse movimento se deu o nome de Sionismo, devido a um monte nas cercanias de Jerusalém de nome Sion. Seus líderes foram Theodor Hertzl e Chain Weitzmann. Ambos judeus russos e que como Lenin fizeram todo o movimento na Suíça, e o exportaram para o mundo. Os russos chamaram ao movimento de execração de "Pogrom". Em poucas palavras o pogrom gerou o sionismo e de certa forma acatou as teorias do alemão judeu Karl Marx. Por isso no inicio os bolchevistas e sionistas eram ligados, e sua grande maioria eram judeus, tanto uns como os outros. Na revolução Bolchevista de 1917 na Rússia 80% dos líderes eram judeus. Era um revanchismo ao Pogrom, antes de mais nada. Não queriam salvar a Rússia das garras dos Czaristas, mas sim dar o troco a quem os perseguia. Acharam que daria certo e como sabemos hoje, se estreparam todos. A Rússia, a Grande Rússia como a conhecemos hoje é racista e não admite ninguém que não seja eslavo no seu meio. Enfim a novela estava escrita, agora faltava somente abrir o pano de boca e iniciar o espetáculo. O espetáculo se inicia, arrumaram uma desculpa besta, assassinar algum peso pesado da administração de um dos reinos e esse seria o estopim da guerra que tanto almejavam. E assim fizeram, a vítima foi Franz Ferdinand, Grão Duque da Áustria e herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. Foi assassinado em Sarajevo - a mesma que está agora (1996) causando problemas na Europa com o desmantelamento da Jugoslávia-. Até parece que lá que moram as encrencas, já foi estopim do primeiro conflito e agora estão se matando outra vez. Dessa vez a Itália ficou do lado certo da briga e saiu lucrando com isso, ela se aliou a Inglaterra, França e Rússia; do outro lado ficaram, Alemanha, Austro-Húngria e Turquia. 16


A guerra durou 4 anos ,de 1914 a 1918, morreu gente prá burro, e deu no que deu, a Alemanha se rendeu incondicionalmente assinando o tratado de Versailles que era uma vergonha para ela, mas naquela altura não havia outra saída. Perdeu os territórios da Alsácia e Lorena para a França, os territórios de Gdansky para a Polônia (o corredor polonês) e os sudetos da Tchecoslováquia para a própria Tchecoslováquia, que era um país novo que se formava com o desmembramento do Império ÁustroHúngaro. O império acima citado se desfez em países como Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, parte da Romênia, Jugoslávia e suas confusas republiquetas que ainda vão dar muita dor de cabeça para a Europa e o mundo. A Turquia perdia todo seu domínio do mundo Árabe, a saber: Pérsia, Iraque, Síria, Líbano, Palestina, e toda a península arábica, que se transformaram em novos países como Iemem, Arábia Saudita e outros. As ilhas de Creta e Chipre ficaram para os Gregos, seus inimigos seculares. A França ganhou a Alsácia e a Lorena, a Itália tomou do império, parte do Vêneto, o Trentino-Alto Adige e a Ístria. A Inglaterra tomou a colônia africana "África Ocidental Alemã" e a transformou em Namíbia. Os únicos que realmente lucraram foram os Italianos, conseguiram reconquistar velhos territórios sob domínio Austríaco e os incorporaram ao país. Conquistaram a Líbia, Tripolitânia, Somália e posteriormente, só em 1936 a Abssinia ou Etiópia. A Itália entrou na guerra de forma sorrateira e bem egoísta, seu único propósito era conquistar o que achava que era já seu território e simplesmente o queria de volta, uns acham que tinha razão outros não. A Itália declarou guerra ao Império Austro-Húngaro em Maio de 1915, e a guerra tinha começado em agosto de 1914, muita gente já havia morrido e a situação já pendia para os aliados, ela entrou de certa forma com a situação definida e os tratados com os aliados já feitos. Seu único propósito era "aumentar seu território", e conseguiu, perdeu muita gente em batalhas sangrentas cerca de 250.000 soldados, fora os civis, seu exercito era de 900.000 homens. Não sei se valeu à pena morrer tanta gente para conseguir o que de certa forma viria a ser dela de uma forma ou outra. Enfim mais uma palhaçada dos europeus, somente para se sentirem heróis. Os demais vencedores pouco conseguiram, daí inventaram o tratado de Versailles que obrigava os vencidos a pagarem a conta, dos vencedores, de forma como entrou, só a Alemanha saiu inteira ou quase inteira, perdeu pouco, de forma que só ela assumiu a conta, e disso gerou um sentimento de revanche que gerou o nazismo que deu o trabalho que deu, e outras coisas tão desastrosas quanto eles. O terrorismo, por exemplo, que surgia logo depois do fim da primeira guerra. Uma coincidência sem par na historia aconteceu comigo. No mesmo quarteirão que eu habitava na minha infância e puberdade, ficava a casa do Monsenhor Deusdedit de Araujo, lá trabalhava uma senhora que era conhecida como Da. Perpétua, outros por piada a chamavam de "a mulher do padre". Nessa residência grande e de quintal maior ainda, havia um pomar cheio de frutas, e a criançada ia lá para catar as frutas, e ela dizia: "No breciza rubá ,badre Ulissi diz bra dá pra criança as fruta". Falava enrolado, mas era uma boa pessoa. E realmente ela apanhava as frutas e dava para a molecada, e lógico, a gente contava para dividir entre nós a prenda recebida, e ela dizia: "Não conta, não conta, tudo qui dá bra cuntá é poco." Naquela época eu não entendia o que ela queria dizer, mas hoje eu me lembro de como ela tinha razão em dizer isso. Após seu falecimento é que vim saber que aquela senhora de idade era jugoslava, e tinha sido a esposa do assassino do Príncipe Franz Ferdinand. Após o assassinato, por medo de revanche, se refugiou numa igreja, e os padres a levaram para bem longe dali, simplesmente para o Brasil. E eu a acabei conhecendo, é... o mundo as vezes é pequeno e não parece. Finda a guerra os Italianos se sentiram mais Italianos, tinham lutado como heróis, como italianos, vencendo e conquistando territórios almejados. Vale lembrar que o país Itália, pela primeira vez se sentia unido sob uma mesma bandeira, agora só faltava falar a mesma língua. Trieste que sempre foi Itália, dessa vez passou a ser Itália mesmo, durante séculos foi território de outros, mas dessa vez passou a ser definitivamente Itália. E espero eu que assim continue. 17


Capítulo 8 A INFLUÊNCIA DA 1ª GUERRA NO BRASIL PARA OS ITALIANOS Sem dúvida a colônia italiana estava eufórica, tinham ganhado a guerra contra o "Tcheco Bepo" (Cecco Beppo) apelido em véneto para - Franz Josef- imperador da Áustria, este que durante tanto tempo não quis fazer acordo algum para devolver os territórios ocupados desde o século anterior à Itália. Dessa vez foi na marra. Acontece que naquele tempo não existia nem rádio nem televisão para que se conhecesse os horrores da guerra e os "oriundi" achavam que tinha sido uma moleza, não tinham nem de longe idéia do que havia se passado na Europa e em especial na Itália, os jornais brasileiros se preocupavam só com o que acontecia com a Alemanha e França, e de muito longe com a Inglaterra e demais países envolvidos; sobre a Itália pouco ou nada se sabia ou se soube, somente quem voltou para lá -caso do meu bisavô- é que soube que tinha havido uma verdadeira carnificina. Vale ressaltar que já naquela época a imprensa internacional era dominada por judeus, em sua maioria Ingleses e Americanos, então como eles sempre tiveram uma picuinha com os alemães, só davam em manchete as derrotas dos teutos, poucos sabiam até que os Estados Unidos haviam participado de forma marcante na guerra. De forma que a colônia se rejubilava no Brasil enquanto na Itália se choravam os mortos. E não foram poucos, como já disse em paragrafo anterior 250.000 soldados e cerca de 100.000 civis, isto em um país com cerca de 20 milhões de habitantes. Mais de 1% da população, não é brincadeira, quase toda família tinha um morto a lamentar. A minha só tinha um tio de minha avó que era "Oberstleutnant" ÁustroHúngaro, ou seja, tenente-coronel Austríaco. Como já disse minha avó materna era Austríaca. No Brasil a colônia tomou pé, ficou mais confiante, começou a peitar os brasileiros abastados, que por sua vez estavam em decadência, devido à Inglaterra enfraquecida, os brasileiros seus semi-súditos sim, aqui tudo estava em mão inglesas ou americanas, daí a italianada começou a ganhar terreno e se fortificar, apareceram os primeiros ricos italianos como os Matarazzo, Ometto, Dedini, Crespi, Biaggio, Lunardelli, Morganti, Martinelli e outros do mesmo nível. E curioso, todos em São Paulo, foram eles que fizeram São Paulo ficar rico em relação a outros estados. O Conde Francisco Matarazzo montou a primeira refinaria de petróleo no Brasil, os americanos ficaram loucos da vida, fizeram tudo que puderam para fechá-la e conseguiram, ficava em São Caetano onde hoje fica um depósito de graneis líquidos da Petrobrás. Ometto, Dedini e Biaggio se meteram com a indústria açucareira e tiveram que lutar com os - paus de arara (nordestinos)- para conseguirem se firmar nesse ramo, o nordeste dominava até então essa atividade, os italianos a superaram. O conde Crespi se firmou com a indústria do vidro. Lunardelli e Morganti com a cafeicultura, a família Lunardelli era conhecida como os reis do café. Martinelli com imobiliária, transporte marítimo e turismo. Existiram outras famílias notórias que ficaram abastadas com outras atividades, mas não me ocorrem os nomes no momento. Finalizando, a 1ª guerra foi benéfica para a colônia italiana no Brasil e no mundo. Capítulo 9 A 2ª GRANDE GUERRA, UM DESASTRE PARA A ITÁLIA E PARA A COLÔNIA NO BRASIL. Não se pode falar em 2ª guerra sem se falar em Fascismo e Nazismo, o segundo, filho do primeiro. Este será um capítulo a parte neste livro; bem como a influência desses regimes no Brasil.

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A segunda guerra mundial começou em 1º de setembro de 1939, era nada mais do que a continuação da primeira, no inicio, daí descambou para o incógnito, o inexplicável, e para as perseguições raciais, e outras coisas mais. Vou dar ênfase à questão italiana e lógico, sua relação com os outros. O tratado de Versalles obrigava a Alemanha a pagar uma soma impossível de ser quitada mesmo em longo prazo, eram bilhões e bilhões de dollares isso em 1918 ( nessa época uma Coca-Cola custava 1 centavo de dollar). E a coisa foi crescendo, assim como a dívida brasileira, afinal os credores são os mesmos, uma turminha franco-anglo-americana. Atualmente se chama IMF ou FMI (International Monetary Found). Para se ter uma idéia da soma, um comentário do jornal alemão editado no Brasil (Deutsche Nachrichten) em 1929 dizia - se colocarmos as moedas de Dollares que devemos como indenização de guerra, lado a lado, sendo ela do diâmetro de 20 mm aproximadamente, cobriremos diversas vezes a distância da Terra a Lua. Os Alemães que sem tirar nem pôr, são portugueses que foram a escola, ou seja, "burros aculturados", trabalham e produzem como poucos países no mundo, mais ou menos o Japão de hoje em dia. Os alemães criaram em 20 anos, uma potência industrial sem igual na Europa, mas se esqueceram que havia USA - United States of América. (burros!!!). Se o Hitler tivesse tido a oportunidade de ler o "Almanaque do Biotônico Fontoura" que era um libreto escrito por Monteiro Lobato, nesse libreto trazia uma série de dados curiosos como, por exemplo, as produções mundiais de aço, soda cáustica, ácido sulfúrico e outros produtos, que é a matéria básica para todas as atividades industriais. Eu era criança e minha mãe gostava que eu lesse o almanaque, porque contava a história do Jeca Tatu, um caipira cheio de verminoses e que vivia sempre cansado. Mas o que eu gostava de ler eram as estatísticas mundiais, como: a maior cidade do mundo, o maior edifício do mundo, o maior navio etc e tal. Nesse almanaque, eu me lembro que a produção de aço, petróleo, ácido sulfúrico e soda cáustica dos Estados Unidos eram maiores que toda a produção mundial junta; ora, se Hitler tivesse lido esses dados, não seria tão burro de fazer uma guerra como fez, é impossível ganhar uma guerra sem potencial de produção, é entrar e perder, que foi o que aconteceu. A Itália entra na guerra: Talvez seja essa a maior burrice já feita pelos italianos, não posso garantir que foram os italianos, mas os fascistas italianos que na época dominavam o poder na Itália. No dia 10 de junho de 1940 a Itália entra na guerra atacando com 500.000 soldados da guarnição italiana na Líbia, a guarnição inglesa do Egito. E assim começava a batalha do norte da África. Os ingleses tinham 50.000 soldados, e pasmem senhores, deu um pau nos italianos que eles se ressentem até hoje dessa derrota vergonhosa. Como dá para notar os italianos entraram na guerra do lado errado, e sem vontade de lutar, ou seja, ao invés de entrarem do lado de seus antigos aliados, entraram do lado dos antigos inimigos, parece coisa de português!!!. E assim foi derrota após derrota, enfim numa vergonha nacional; daí em 25 de julho de 1943, vendo que tudo já estava perdido, o Rei Vittorio Emmanuele destituiu o primeiro ministro Benito Mussolini e nomeou o velho general Badoglio para primeiro ministro, e este fez um armistício com os aliados em 3 de setembro de 1943; daí sim que a coisa ficou preta para a Itália. Imaginem, a Itália estava cheia de soldados alemães que eram seu aliados, de uma hora para outra eles viraram casaca, como ficou a coisa? Lógico, uma merda só, não se sabia mais quem mandava no país, de um lado ficaram os alemães aliados com os fascistas italianos, e do outro, o restante dos italianos, os militares não sabiam a quem obedecer, e muitos tiraram seus uniformes e se transformaram em guerrilheiros, lá se chamavam "Partigiani" muitos civis aderiram a eles, principalmente os comunistas e os perseguidos pelo antigo partido Fascista que ora se esfacelava. Foi a situação mais calamitosa que um pais europeu teve naquele período, mais ou menos o que aconteceu no esfacelamento da Jugoslávia, lá perseguiam os muçulmanos, e na Itália se perseguia quem era simpatizante dos fascistas; se mataram uns aos outros como nunca. 19


Os alemães invadiram com mais tropas ainda a infeliz Itália, isto para evitar uma invasão que sem dúvida viria pelo sul, Sicília e Calábria, e como provou a história realmente veio e foi a salvação da Itália e de certo modo da Europa pelo jugo Nazista que tinha assumido proporções assustadoras. Os americanos com a desculpa de desalojar os alemães jogaram milhares de toneladas de bombas sobre a malfadada Itália, sem tirar nem por uns grandes desgraçados, não era necessário isso, bastaria a infantaria blindada de Patton para desalojá-los, mas não, queriam mostrar seu poderio, e com isso destruíam incalculáveis obras de arte, talvez eles não saibam o que isso significa para um italiano. Para se ter uma idéia do horror dos bombardeios, os filhos da puta bombardearam Florença e Pisa, não existia indústria nesses locais, e se existissem alemães, estavam em bem menor número que os italianos, e de certa forma já acuados pelos partigiani. Só mataram civis e destruíam monumentos da humanidade, coisas impossíveis de se recuperar, destruíam parte da história italiana. A torre de Pisa que é um dos símbolos da Itália só não veio abaixo porque Deus não quis, mas ficou cheia de estilhaços de granadas e bombas. Em Florença derrubaram quase todas as pontes, algumas milenares. Para evitar o que? que tropas alemãs passassem por lá? Só sendo muito ignorante; nessas pontes velhas só passavam gente e carroças, não agüentariam tropas e blindados. Minha prima que morava em Florença, ouviu o canto das sereias de alarme de bombardeio aéreo e se rufugiou nos abrigos que havia para isso, houve o bombardeio, quando soaram novamente pelo fim do bombardeio, havia caído uma bomba bem em sua casa, lá não existia mais nada a não ser escombros; seu marido estava na guerra no norte da África, e notícias não vinham, só se sabia que estavam levando a pior. Dois primos meus foram soldados italianos um no norte da África e outro na frente russa junto com os alemães. O primeiro foi logo feito prisioneiro dos ingleses e passou o resto da guerra, ou seja, de 1941 a 1945 em um campo de concentração inglês na ilha de Malta, que fica entre a Itália e a África. O outro estava já de saco cheio com os alemães quando veio o armistício em 1943 daí o mandaram para um campo de concentração alemão como prisioneiro de guerra, e bem conhecido, se chamava "Auschwitz". Ambos embora fossem meus primos e ambos toscanos não se conheciam, visto que o primeiro era de Florença e passou a ser meu primo por casamento com minha prima, já era casado quando foi convocado e já tinham um filho. Chamava-se Mário Masi e passou horrores no campo de concentração inglês, adquiriu doença crônica intestinal devido aos maus tratos recebidos e fome que passou, os ingleses tratavam tão bem os italianos quanto aos alemães os judeus, muitos morreram de doenças e de fome, comiam quando muito uma vez por semana, e sempre uma comida azeda e estragada, nada mais do que as sobras das tropas que sobravam em uma semana. Ele ficou com psicose de guerra e não podia ouvir som de sereia ou uma discussão, que ele entrava em pane, quando tocava uma sereia ele se enfiava em qualquer buraco que achasse. E sempre com uma espécie de diarréia, ou melhor, uma incontinência de fezes que não o permitia ter uma vida normal, carregou isso a vida toda até falecer em 1986. O outro era de Pisa, esse foi para o front russo, dizia ele que era melhor desertar e ficar com os russos do que em companhia dos alemães, quando o armistício entre a Itália se consumou ele foi feito prisioneiro e mandado para Auschwitz, prisioneiro sim, mas como auxiliar e taifeiro, aproveitou-se dessa pequena regalia, escolheu um soldado alemão com seu mesmo porte e o matou, se vestiu com a farda e fugiu do campo de concentração. Ele era enorme tinha 1,91m de altura e pesava mais de 100 Kg e era do tipo atlético, detestava alemães, quando chegou de volta em sua Cidadezinha de nome San Giuliano Terme, soube das atrocidades que os alemães haviam feito com sua família, inclusive não permitindo que sua cunhada, casada com o irmão mais velho, tivesse um parto normal, a confinaram em uma estrebaria e ela teve a criança lá. Ficou louco da vida. Sabem o que aconteceu? Matou a pequena guarnição que era de apenas 6 alemães na cidade, e crucificou o tenente comandante em uma porta e o deixou morrendo de um dia para o outro. Os partigiani os ajudaram nessa façanha, também prendeu o "Federale",que era o chefe fascista de cidade que estava junto com a guarnição alemã. 20


No tempo do fascismo na Itália era comum os chefes fascistas darem óleo de rícino (meio litro ou mais) a quem não comungava com seus modos de agir e ainda batiam na pessoa com cacetete de madeira, a deixando bem machucada. Meu primo pegou o federale o fez beber um vômito de óleo de rícino de mais de 10 anos guardado em uma garrafa que um seu amigo tinha tomado e vomitado devido ao ritual "Olio e Manganello" (óleo e cacetete). Mas não o matou, eu conheci ambos quando ia visitar San Giuliano, na época que estudava na Universidade de Florença, isso nos anos 60. Após a guerra se tornou líder político, era socialista, nunca quis se candidatar a cargo eletivo, mas era o secretário do partido em sua cidade. Era do tipo alegre e sem ressentimentos com todos, mas com os alemães ele tinha uma picuinha, não podia nem ouvir falar deles, e dizia:- eu vi o que faziam com os prisioneiros em Auschwitz, e não era só com os judeus não, era com todos, eram uns animais ferozes, loucos varridos. Após a guerra ele se estabeleceu com o irmão numa firma que fazia pisos de mármore e de cacos de mármore, a região é bem propícia para isso; lá perto ficam as cidades de Massa e Carrara, que são as maiores e mais famosas fontes de mármore da Europa. Ele era entre outras coisas o motorista do próprio caminhão que possuía, sabem o que fazia quando via um carro com placa da Alemanha? Fácil saber, batia o caminhão no carro, se possível de forma a danificá-lo para sempre. A polícia local já o conhecia e acabava por contornar a situação, sabiam o que ele havia feito e por o que havia passado, e o consideravam psicótico de guerra, seria inútil processa-lo a justiça da época era sempre clemente com os que tinham psicose de guerra, por outro lado tinham medo que ele se rebelasse e acabasse com a guarnição da cidade como já havia feito com os alemães. Diziam, com o Franco não se brinca é perigoso. Dessa forma o leitor pode ter uma idéia de como ficou a Itália durante a guerra, sem dúvida a pior situação por que ela já passou, estavam se matando entre si. No norte da Itália, precisamente na região do trentino, na cidade de Lavarone, mais duas primas participaram da guerra, mas desta vez, foram bem tratadas pelos alemães. Como já disse no começo do livro que o trentino era austríaco antes da primeira guerra, talvez devido a isso os alemães tratavam os habitantes locais com deferência achando que eram italianos na marra, mas de raiz austríaca, de certa forma o eram. O pessoal do trentino era bilíngue, falavam tanto alemão como italiano, sei disso porque meus primos e eu também falamos as duas línguas, era comum isso no pós guerra, depois com o tempo foi sumindo o hábito, muitos de origem realmente tirolesa ainda falam o alemão. Talvez por essa razão a Alemanha colocou um hospital militar lá nos Alpes, o altiplano de Lavarone fica a mais de 2.000 metros acima do nível do mar. E minhas primas trabalharam lá no hospital, nunca foram molestadas, pelo contrário sempre respeitadas. Uma delas se casou com um da terra, este chegou a servir na guerra como se fosse austríaco, por pouco tempo, não me lembro quanto, para os alemães, os do Trentino-alto Adige eram considerados não italianos. A outra se casou com um meridional, ele veio se tratar de um ferimento a bala do combate, havia perdido um pulmão, veio morar no trentino e ela não foi para o sul. Tiveram filhos com os quais me dou bem até hoje, e que eu saiba nunca tiveram ressentimentos com os alemães. Quando vou para a Itália fico na casa deles, a região é linda, fica em cima dos Alpes Como dá para notar, até hoje a Itália é meio regionalista e cada região se recente de forma diferente aos acontecimentos. A 2ª guerra terminou dia 8 de maio de 1945, com a Itália toda tomada pelos americanos e demais aliados deste, inclusive brasileiros que se fixaram na região de Lucca e Pistoia. Os piores e mais desastrosos soldados que por lá estiveram foram os marroquinos, só aprontavam, eram os reis dos estupros, e pior ainda eram negros e mulatos, que para os italianos não eram gente como eles. A fome começava a bater a porta de casa, uma das maneiras de se ter domínio da população é controlar o que comem, e nisso os americanos eram artistas, confiscaram tudo o que puderam, e 21


começaram a racionar os alimentos, como se sabe, a grande diferença entre os italianos e os outros povos do mundo é que todos comem para viver, e os italianos vivem para comer, imaginem agora como ficaram os italianos com o racionamento de víveres? Foi um desastre total, comida custava o olho da cara, e para as moças coitadas, o outro também, a moeda nacional passou a ser o cigarro, tudo era relacionado ao cigarro tudo tinha um preço relativo ao cigarro. Os italianos não eram fumadores inveterados antes da guerra, foram as tropas aliadas que meteram na cabeça deles que o quente era fumar, fumar muito, era elegante, dava status, enfim os aliados e sobremaneira os americanos viciaram os "mangia pizza" de forma incrível, aliás não só os italianos mas todos os países que foram invadidos e que tinham tropas de ocupação. Na Alemanha e Áustria a história era a mesma. Junto com a miséria que se seguiu chegou a prostituição, aliás, são irmãs gêmeas a séculos, as mulheres davam no inicio por ter o que comer e logo se viciaram, afinal sexo não é coisa de se rejeitar, toda a Itália virou um grande puteiro, achar uma virgem nessa época era mesmo que achar agulha em palheiro. Mais ou menos o que está acontecendo no litoral do nordeste brasileiro hoje, até prostituição infantil havia. Uma vergonha para um país tão tradicional e ortodoxo em sua conduta como era a Itália antes da guerra. Felizmente com o passar dos anos e com a ida dos invasores, a coisa foi se normalizando e cedendo lugar as antigas tradições, mas lógico nunca voltou a ser o que tinha sido antes. A Itália de hoje é bem mais liberal do que antes. O mundo todo mudou nesse sentido, e até os puritanos dos americanos acabaram por ver suas filhas dando por aí. Os italianos começaram a se sentir humilhados por ver aquela vergonha tomar conta do país, tentavam sem fundamento justificar que era uma conseqüência da guerra, mas no seu íntimo eles sabiam que estavam errados, e felizmente se recuperaram do trauma, hoje a Itália voltou a ser um país com moral e dignidade, a qual, os aliados invasores tinha posto a perder. Nesse ponto os aliados foram tão imorais quanto os nazistas. Para finalizar, tenho a dizer que nada abalou tanto a Itália como perder a 2ª guerra e ter que arcar com essa conseqüência vergonhosa. Ela nunca deveria ter entrado nessa. CAPÍTULO 10 AS CONSEQUÊNCIAS DA 2ª GUERRA NO BRASIL PARA OS ESTRANGEIROS RESIDENTES Havia três colônias de grande porte no Brasil, a italiana, a japonesa e a alemã. Todas se instalaram no sudeste e sul. Vale lembrar que o “EIXO ROBERTO” que significava ROMA-BERLIN-TOQUIO eram considerados no mundo as nações agressoras, ou seja, a Itália, a Alemanha e o Japão. Não sei explicar porque elas se uniram, e muito menos a finalidade dessa união. Se tiver explicação garanto que não é convincente. Mas por ironia do destino eram exatamente as colônias de maior vulto no Brasil. Pela lógica, o Brasil deveria pender para esse lado devido ao peso e influência dessas colônias, mas isto não aconteceu, e felizmente tivemos sorte com o acaso, caso contrário sei lá o que poderia ter acontecido com o país. O Brasil acabou entrando na guerra para defender a democracia, estava sob regime de ditadura declarada desde 1937, e de ditadura encoberta desde 1930. Em 1930 houve eleição no Brasil para se eleger o presidente da república, mas como ganhou quem não convinha, que era Julio Prestes, um ex-ministro da agricultura de Washington Luiz (presidente em fim de mandato) de nome Getulio Dorneles Vargas, arrumou um jeito de convencer as forças armadas de que as eleições haviam sido fraldadas, e conseguiu um golpe militar seguido de pequena revolução e tomou o poder a força. Esse indivíduo de poucos brios, e vira-casaca contumaz, assumia sem respaldo político, mas com respaldo militar.

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Nessa época da república, a política era conhecida como de Café com Leite. Isto porque sempre os presidentes eram paulistas ou mineiros, e mais raramente fluminenses. De modo que Getúlio começou a perseguir os paulistas e mineiros. Os paulistas foram os mais perseguidos, isto porque São Paulo tinha poder político e financeiro, e isto devido a colônia italiana como mencionei anteriormente. São Paulo ficou rico com o ciclo do café e os italianos ajudaram muito nisso. Depois vinha a indústria emergente, que também era de italianos. Vargas era gaúcho de São Borja, quase limite com a Argentina, mas a oeste do estado, a margem do rio Uruguay, parece que detestava tudo que era de São Paulo. E por tabela o que era italiano ou de outra colônia qualquer. Sem dúvidas já as teriam perseguido, se houvesse uma razão. Em 1937 Getúlio assume como ditador o que ele chamava de "Estado Novo" e toma a conduta de Hitler e Mussolini, permite que no Brasil se instale o Partido Integralista chefiado por Plínio Salgado, de cunho nitidamente nazista, inclusivemente fazia a famosa sudação romana tipo "Ave Caesar", mas que se tornou o símbolo da saudação "Heil Hitler". Talvez fosse até simpatizante deste. A colonia judaica se assusta, os alemães e italianos se rejubilam, chega até a receber ajuda do partido Fascista italiano para instituir "La Carta Del Lavoro" que aqui tomou o nome de "Lei Trabalhista" e que lamentavelmente perdura até hoje. Tenho a impressão que os de esquerda no Brasil de hoje, como a CUT, PT, PC do B e PCB não sabem que estão defendendo idéias fascistas quando defendem tão arduamente as nossas leis trabalhistas que nada mais é que uma lei italiana fascista de 1924. Getúlio inaugurou o trabalhismo nacionalista no Brasil, tentava com isso conseguir a simpatia das classes trabalhadoras para se firmar no governo. E pena, conseguiu! O estado de São Paulo se revolta e faz a revolução constitucionalista de 1932, mas perde vergonhosamente, e isso dá ao futuro ditador declarado mais força ainda. O mundo ainda estava ressentido da bancarrota americana de 1929, e a economia mundial ia de mal a pior, no Brasil o ciclo do café estava acabando, já havia café de outros lugares, e a balança comercial brasileira estava uma porcaria, o café perdia preço dia a dia, então o seu Getúlio inventa o Instituto Brasileiro do Café; cabide de emprego para não paulistas para complicar ainda mais o já dificil comércio de café que era feito pelos próprios cafeicultores, com a introdução do Instituto só o governo é que poderia negociar com café. Os paulistas entraram em pane, o vale do Paraíba que era puro café de uma hora para outra passou a ser plantação de arrôz, sabe o que o safado inventou para acabar com a rizocultura? Imaginem só... Mandou trazer de Portugal uma leva de Pardais, isso mesmo, esse passarinho tão comum em nossos dias, tinham dito a ele que os pardais prejudicavam demais as culturas de grãos, isso lá na "rica terra" (Portugal). Felizmente a praga não pegou não se sabe por que cargas d'água, o pardal preferiu as cidades ao invez dos campos, e assim ganhamos uma espécie européia em nossa fauna e a rizocultura ficou protegida dessa praga voadora, hoje em dia só faz cagar nossos carros se o deixarmos embaixo de árvores. Um presente póstumo de Getúlio Vargas. Ele se enraíza no poder, inaugura a corrupção no Brasil, inaugura também a estabilidade no emprego e ainda a estabilidade vitalícia para o funcionário público. Começa a empregar cupinchas despreparados para as funções de mando. Enfim inaugura no Brasil a era dos funcionários protegidos que perdura até nossos dias. Para se sintetizar, esse governo ditatorial, aliás, o primeiro da república, inaugura tudo que existe até hoje de vícios na administração pública, essa mesmo, que diversos governos querem mudar e não conseguem. Praga quando pega é difícil de ir embora, é mais ou menos como herpes ou lepra, além de contagiosa é pertinaz. Uma das pragas semeadas por ele é a "Hora do Brasil" que assola nossos programas de rádio há quase 60 anos é uma boa testemunha do que estou relatando. Diz o ditado de que: praga de puta pega. Acho que sim, Getúlio foi uma delas e suas pragas pegaram, veja a hora do Brasil... Que merda... E tantas outras coisas que nos incomodam nesse país, tudo obra desse cara. Lógico que estou falando mal desse indivíduo, ele como bom vira- casaca, durante a guerra, assim que viu o Eixo ir para o beleléu declarou guerra ao Eixo, mudando sua política de Fascista para Democrata, mas ele continuava como ditador. Que contrasenso, podia ter ficado neutro, pelo menos não teria enviado 23


tropas para o front europeu, e como eram despreparados, morreram como moscas nas mãos dos aliados contra os alemães. Para castigar os paulistas, as tropas eram em sua grande maioria de quarteis sediados no estado de São Paulo, dessa forma ele fornicaria não só os paulistas mas também os filhos e netos de italianos, e alguns alemães também, que na época eram quase maioria nos regimentos que foram convocados para o front. Os oficiais eram na maioria fluminenses e o alto comando gaúcho. Deu no que deu, morreu gente prá burro, só na batalha de Monte Castelo 24 alemães mataram 254 brasileiros, estavam todos enterrados juntos em Pistoia, eu vi com meus próprios olhos esse cemitério. Tudo culpa desse louco. Após ter declarado guerra ao Eixo, isto em 1944, o celerado começou a perseguir os italianos, alemães e japoneses, que por azar estavam em São Paulo e norte do Paraná. Confiscou bens, prendeu até quem já era naturalizado, a culpa do imigrante era a de ter nascido italiano, ou alemão ou japonês e ter escolhido o Brasil para viver, não foram os de cá que fizeram a guerra, eles vieram para cá antes da 1ª guerra e agora estavam sendo presos e confinados como se fossem os culpados de tudo. A razão disso? Simples, confiscar os bens deles em benefício dos cupinchas políticos, muita gente ficou rica com o dinheiro que os imigrantes ganharam com seu trabalho honesto, que seja de meu conhecimento nunca mais devolveram, nem ao menos indenizaram os infelizes que escolheram o Brasil como sua pátria. Lembro-me bem de um deles, seu sobrenome era Lusso, era joalheiro, e gravador, teve tudo confiscado, e ainda o filho morto em combate na Itália. Morreu na miséria, sustentado por amigos pelo pão de cada dia; tinha 65 anos nessa época, não dava mais para começar de novo. Morreu tempos depois de desgosto. Esse era o Brasil de Getulio Vargas, acha que algum Brasileiro descendente dessas três perseguidas raças podem ter alguma simpatia por Getúlio? Só se for louco. Depois que o Brasil declarou guerra ao Eixo, tudo ficou racionado, até para comprar pão e leite, necessitava-se de uma ficha dada pelo governo, essa ficha era perfurada cada vez que se ia buscar pão. Uma vergonha para um país com abundância como Brasil. Diziam que era economia de guerra, e que o material ia para o front para sustentar nossas tropas, pura mentira, nossas tropas eram diminutas e nunca iriam pesar tanto a ponto de se racionar comida para enviar a elas. Outra desculpa era que o trigo vinha da Argentina e os submarinos alemães estavam afundando os navios brasileiros, portanto esses não podiam trazer trigo. Mas gozado, no Rio de Janeiro não existia racionamento, isto, diziam, era por ser a Capital da República, as demais cidades eram por ser muito pequenas, então a coisa era mesmo com São Paulo! A verdade talvez nunca irei saber. Na época fazia-se exercício de "Black Out" contra ataques aéreos dos alemães. Coisa de doido, naquela época e talvez ainda hoje não existem aviões capazes de voarem de ida e volta a Alemanha e ainda de sobra bombardearem o país; pois os alemães não possuíam navios aeródromos em sua armada. Mais uma mentira vergonhosa do seu Getúlio. Só sei dizer que os estrangeiros e filhos de estrangeiros pastaram com o governo nessa época de guerra, os mais mal tratados foram os japoneses, depois os alemães e finalmente nós, os "oriundi". Lembro-me bem disso, na escola nos chamavam de carcamano, e eu bobo, por orientação de minha mãe ficava quieto. Já quando fazendo o serviço militar, mais precisamente o CPOR, centro de preparação de oficiais da reserva, um brasileirinho metido a besta quis tirar um sarro com minha descendência, ameacei dar-lhe um murro e tudo ficou por aí e nunca ninguém mais me encheu o saco com isso. Sem dúvida um restício de Getulismo e seu nacionalismo besta. Para os alemães tinham feito um campo de concentração em Pindamonhangaba, a maioria das pessoas confinadas lá eram as de um navio de nome WINDHUCK, esse navio era alemão, e estava na África Oriental, atual Namíbia, cuja capital tem o nome do navio. Quando os ingleses iam aprisionar o navio eles zarparam da África e queriam chegar a Buenos Aires, que na época era um reduto de nazistas, mas o combustível acabou e vieram ter em Santos, o navio foi aprisionado, e tripulação e passageiros confinados em um campo lá em Pindamonhangaba, mas como sabemos não era um campo tipo Treblinca ou Auschwitz, era no Brasil, e entre mortos e feridos todos se salvaram no fim da guerra. Uns voltaram, mas a maioria ficou por aqui mesmo, conheci um deles pessoalmente, e em São Paulo existe um restaurante típico alemão com o nome de Windhuck, o mesmo do navio; e seu proprietário era um dos viajantes que ficaram nesse campo de concentração. 24


Para os japoneses também queriam fazer um campo, mas que seja de meu conhecimento nunca foi feito, mas muitos ficaram cerca de dois anos presos em cadeias do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), eram maltratados e espoliados de seus bens, que saiba nunca sequer pediram desculpas formais por isso. O Japão declarou guerra aos EUA e não a nós, então por que isso? Os japoneses receberam de presente duas bombas atômicas por seus feitos de guerra, em guerra ninguém é flor que se cheire, muito menos japoneses e seus fanatismos. Mas perseguir um japa que já está aqui a anos e que se quer tem idéia que o governo de seu país de origem pensa e quer fazer, me desculpem, mas os brasileiros foram desonestos com os imigrantes, desonestos é pouco, foram canalhas, por terem feito o que fizeram, e pior, nunca pagaram por isso, e as vezes os tontos dos nossos conterrâneos vão ao exterior e perguntam, por que será que brasileiro é tão mal visto lá fora? é simples eles esquecem o que fizeram aqui com os imigrantes, mas quem tem memória não esquece, e japoneses e europeus não vão esquecer tão cedo o que fizeram a seus ex- patrícios. Esse foi o Brasil durante e no pós- guerra, mas tenho certeza, foi política getulista e respaldada por brasileiros não-paulistas, metidos no governo por Getulio Vargas. CAPÍTULO 11 A INVASÃO NORDESTINA Finda a guerra em 1945, essa em nome da democracia, voltaram os pracinhas brasileiros no segundo semestre de 45, começaram a chegar em julho. Fizeram desfile para eles, e aos gritos de viva a democracia! Eram recebidos. Entretanto quem mandava no país era Getúlio Vargas, um ditador, ele de dentro do palácio do Catete com seus cupinchas, decretavam as coisas mais absurdas, mas desta vez alguém lhe soprou no ouvido, Dr..... a turma lá fora está gritando "Democracia", "Liberdade de Imprensa", "Liberdade para os presos políticos" e outras coisas mais típicas do regime democrático; que vamos fazer? A turma que tinha o poder resolveu fácil a questão, vamos fazer o seguinte, vamos dar um golpe, nomear o presidente do supremo tribunal como presidente interino, este convoca eleições, e a gente elege algum dos nossos. Ele fica aí 5 anos e depois o Sr. volta, e volta como presidente eleito. Não deu outra, depuseram Vargas, nomearam Carlos Luz, este (pau mandado) convocou eleições, apareceram os partidos políticos, e as eleições foram feitas, e se elegeu Eurico Gaspar Dutra, que nada mais era do que o Ministro da Guerra (hoje exército) do tempo da ditadura. Estava na cara que era coisa arrumada. Os partidos da época eram: PSD - Partido Social Democrático - UDN- União Democrática Nacional - PC - Partido Comunista - PI - Partido Integralista, e outros talvez, mas sem expressão. Seus chefes eram PSD - General Dutra, UDN - Brigadeiro Eduardo Gomes, (ministro da aeronáutica de Vargas), PC - Luiz Carlos Prestes, PI - Plínio Salgado, (ex-chefe de gabinete de Vargas). Como dá para notar, o único que não era da turma era o Prestes, lógico, a situação iria sem dúvida ganhar as eleições. Ganhou o Dutra, como já citado. Que democracia heim....?! Aliás, vale lembrar que: A Alemanha Comunista se chamava "República Democrática Alemã", a China Comunista também, seu nome é: "República Popular Democrática da China". É... assim até eu sou um democrata, ou melhor qualquer ditadura pode ser democrata, não sei não, mas é possível que Cuba (a do Fidel) também seja uma democracia. Pelo jeito democracia deve ser um regime bem elástico, ou melhor, bem moldável, como argila mais ou menos, cada um lhe dá a forma que mais lhe convir. No tempo de Dutra os "oriundi" se sentiram um pouco mais a vontade, nada aconteceu de bom, mas, as relações com a Itália foram restabelecidas, muitos Italianos puderam ir ver o estrago que a guerra tinha feito em seu país, a perseguição acabou, mas ficou o ranço. Depois da guerra, os Italianos perderam a crista, eram achincalhados, destratados, desprezados e outras coisas mais, seus descendentes idem, bastava ter um nome italiano e já vinha a gozação. 25


Por incrível que pareça ainda hoje no Rio de Janeiro os italianos são considerados de segunda classe, imaginem os Srs. logo no Rio, onde tem mais vagabundo e malandro que qualquer outra cidade do Brasil. Depois de ver muitos de seus empreendimentos irem água a baixo no antigo regime, os "oriundi" ficaram mais espertos, começaram a se formar, a assumir postos de mando como Juízes, Fiscais Federais, Delegados de Polícia, Oficiais das Forças Armadas e etc e tal, dessa forma começaram a disputar e levar para casa o que antes era privilégio só de brasileiros de 400 anos. Daí para os de casa, (os quatrocentões) a coisa começou a ficar mais complicada para poder abusar dos "oriundi". Adiantou pouco de certa forma, passados 5 anos, quem ganha as eleições? Imaginem só a surpresa? Getúlio Vargas. Já era de se esperar, e de novo a perseguição continuou. Desta vez contra os paulistas, que na cabeça de merda de Getúlio era sinônimo de italianos. Arrumou um jeito inteligente de por tudo a perder, começou a incentivar os nordestinos a virem para São Paulo, será que preciso contar o que acabou acontecendo com a cidade, depois dessa invasão de bárbaros? Todos já sabem, a cidade se tornou o que é hoje, uma tremenda confusão e cheia de favelas, as mesmas que é a marca registrada do Rio de Janeiro. Para que o leitor tenha idéia dessa perseguição, que muitos acham que está só na minha cabeça, o safado, sim o Baixinho, mandava cortar a energia elétrica de nossa cidade das 10:00 as 16:00 horas todo dia útil. Quem tem mais de 50 anos e boa memória deve se lembrar disso. Foram nos anos de 1951 a 1954, data da comemoração do quarto centenário da cidade de São Paulo. A cidade não tinha energia ele mandava dizer que era tempo de seca, seca na cabeça dele, só em São Paulo tinha racionamento, no Rio nunca, e a energia era gerada em Cubatão e ia para lá!!!! Foi um desastre para a indústria local, mas os paulistas começaram a montar geradores tocados a óleo ou a lenha e acabaram superando o racionamento propositado. O gerador mais lindo que eu conheci na época era o do pai do Sr. Paulo Maluf, ele se chamava Salim Fará Maluf, e era dono da serraria Americana, que ficava na Av. Água Branca, hoje Francisco Matarazzo, e no local onde hoje se localiza a firma Eucatex. A chaminé da máquina ainda está lá, era a vapor e queimava as sobras da serraria, era enorme, tocava a serraria inteira e esta tinha cerca de 5.000 m2 de área construída. Mas com a história de queimar lenha, acabou se queimando o resto de nossas matas, sejam elas atlânticas ou não. Um tio meu já havia avisado que isso iria acontecer em capítulo anterior. Como ele não podia controlar o consumo de óleo combustível para poder controlar o crescimento descontrolado da indústria paulista, o óleo estava nas mãos dos americanos e ingleses, ele teve outra idéia genial, criou a Petrobrás, e esta cobrava bônus compulsório na venda dos combustíveis e que depois iriam se tornar ações da recém criada autarquia. O tipo era maligno, mas sem dúvida tinha idéias geniais para poder controlar os outros. No seu tempo de ditadura disfarçada em democracia, criou e ainda perdura em nossos dias, uma intricada malha de controle fiscal de arrecadação de impostos, inclusive o imposto de renda foi coisa dele. Imposto de vendas e consignações idem. Os institutos de aposentadoria foram todos filhos de sua política trabalhista. Eu era moleque nessa época, mas me lembro bem de seus discursos, certa vez ao anunciar os institutos de aposentadoria disse sem perceber, ou talvez por galhofa; - Brasileiros... Trabalhadores do Brasilll... Foi criado por decreto meu, um imposto de aposentadoria para os Srs. pagarem e nunca mais receberemmmm. É o homem tinha visão, em geral é isso que acontece, a gente paga e não sabe se vai receber ou quanto e quando vai receber. Obra monumental de Getúlio. Existiu felizmente um jornalista sensacionalista de um jornal do Rio de Janeiro de nome "Tribuna da Imprensa" que começou a notar que tinha chegado a hora de acabar com o Getulismo, seu nome era Carlos Lacerda. As intenções eram duas, 1º, abrir lugar para mais alguém dentro do governo, inclusive ele, que estava doido por ser alguém na vida, mas a turma do Getúlio não deixava ninguém entrar na panelinha. 2º, limpar 26


um mar de lama que assolava o país, - palavras dele, Carlos Lacerda-, essa lama era a corrupção, estava igual ou pior que hoje. Fez tantas esse jornalista que acabou sofrendo um atentado, conhecido como o atentado da Rua Toneleros, onde morreu um major da aeronáutica, daí a coisa engrossou, as forças armadas começaram a tirar o suporte ao governo, a situação ficou insustentável, como o Getúlio não queria renunciar, acabaram por suicidá-lo, isso mesmo forjaram um suicídio, e mais, deixaram uma carta testamento escrita a máquina, coisa que ele não sabia fazer com perfeição como estava, e sem assinatura, nem mesmo falsificada, dizendo que deixava a vida para entrar na história; até na morte esse sacana veio com embustes. Assim acabou o Getúlio, mas não o getulismo, depois dele veio João Goulart, que era seu filho ilegítimo, e o cunhado deste, que nos aborreceu por bom tempo com suas idéias vira-casaca e estapafúrdias, o Sr. Leonel Brizola. Mas felizmente está no fim, acho que até o ano 2001 iremos nos livrar do getulismo que ainda assola o país. Dizer que não fez nada de bom seria uma mentira, fez sim, fez coisas boas, mas estou aqui para falar mal dele, e não bem, não quero citar nada que diminua o desprezo que a colônia italiana e seus descendentes teve e tem por esse homem que nos perseguiu a troco de nada. Capítulo 13 O CHOQUE DE CULTURA BRASIL ITÁLIA Como era de se esperar a educação brasileira e a italiana não eram as mesmas nem de longe, isto durante a chegada dos imigrantes ao Brasil. O único ponto em comum era a religião católica, esta muito mais professada no Brasil do que na Itália daquela época. A França exportava na época para o mundo o seu modo de ser, e a educação tinha muito a ver com a França, nesse ponto tanto brasileiros como italianos tinham a etiqueta francesa como o padrão de educação, mas entre o padrão e a realidade existia um mar de distância. Um pequeno exemplo prático a observar, tanto naquela época como na atual: o cumprimentar, os italianos seguem a regra francesa, ou seja, os mais velhos recebem sempre o cumprimento quando são todos do mesmo nível hierárquico ou social, ou então em uma organização qualquer, os menos graduados sempre cumprimentam os mais graduados, ou melhor, os subordinados cumprimentam os chefes; aqui no Brasil não, quem deve cumprimentar é sempre quem chega depois, quem está lá é que recebe o cumprimento, é estranho mas é verdade, é exdrúxulo, imaginem só o Coronel prestar continência ao soldado, pela simples razão deste estar lá no quartel a mais tempo, não fica esquisito? Pois é, brasileiro age assim, e ainda acha que é certo, e que o cara é orgulhoso e mal educado ele sequer me cumprimentou, entrou aí como um burro saiu como um cavalo e nem tchum... Os patrícios esquecem que a verdadeira educação manda o mais jovem ou o menos graduado cumprimentar o de mais posição. O brasileiro acha a coisa mais mal educada do mundo uma pessoa cuspir, acham isso de uma falta de tato sem precedentes, mas em compensação os homens brasileiros acham muito normal ficarem coçando o saco em público, mesmo em frente das donzelas, imaginem só se um italiano faz isso, para ele essa é uma grosseria incomensurável. O respeito ao mais velho é uma coisa muito observada na Itália, existe até hierarquia familiar, o irmão mais velho é quem assume o lugar do pai em sua ausência. Aquiiiii... Que se danem os mais velhos... Muitos não respeitam sequer pai e mãe, imaginem os mais velhos. Até os anos 60 na Itália, o chefe de família tinha poderes demais, por exemplo, ele podia surrar os filhos e a mulher sem que eles tivessem respaldo legal para se defenderem, agora a coisa mudou, mas ainda é comum o pai sentar a mão nos filhos e esposa se essas aprontarem alguma fora do raciocínio deles. No que resultou isso, até hoje é o pais de 1º mundo com menor índice de delinqüência juvenil, se um cara lá mijar fora do pinico leva uma porrada que nunca mais se esquece. Desobedecer pai e mãe, acho que o mundo se acaba, nem pensar, enquanto vivem sob o mesmo teto quem manda são eles. Precisa pedir ordem pra tudo. Sair de casa sem ser por casamento ou serviço militar, irá causar um trauma na família que 27


durará toda a vida. Ainda mais se fôr mulher, logo vem um comentário, "si, senzaltro una putana" (sem dúvida uma puta). Não é fácil viver dessa forma aqui no Brasil, mas no início da colonização as famílias se comportavam assim. Ver os brasileiros com toda aquela liberdade era um espanto para eles. Outra coisa que os italianos nunca se adaptaram foi com os horários; a bem da verdade no Brasil, seja daquela época, ou a de hoje, só existe horário em escolas e fábricas organizadas, nesses estabelecimentos realmente se respeitam os horários de entrar e sair, mas no mais nada tem horário, nem em quartéis, nesse só tem o de entrar, de sair é uma suposição, nas demais atividades o horário é um propósito ou seja ,existe realmente a vontade de se realizar as coisas naquele horário se der tudo bem, se não? ... o que se vai fazer? Mas tudo é assim, ônibus, trens, aviões ninguém obedece horário. Marcar um encontro com alguém, ou uma reunião de negócios, o horário é uma suposição, os mais descumpridores de horários são os médicos, estes então nem sei porque marcam hora, se nunca cumprem o combinado. Para um italiano que realmente sabe o que é horário, a coisa fica revoltante. Para se ter uma idéia de que é horário, na Itália naquela época, nossos queridos avós marcavam a hora pela passagem do trem, como eram pobres, relógio coisa de rico, na época, saber a hora era pelo trem. Imaginem os Srs. fazer isso aqui, não daria de jeito algum. Os imigrantes chegam aqui e ficam assombrados com os horários brasileiros que são assim: de manhã bem cedo, de manhã, antes do almoço, na hora do almoço, depois do almoço, a tarde, a tardinha, a noitinha, na hora da janta, depois da janta, na hora da novela, depois da novela, a noite, depois da meia noite, madrugada, alta madrugada, de manhã bem cedo e tudo começa de novo. Parece piada, mas é verdade, até parece que não se conhece relógio aqui no Brasil. Hora marcada é coisa de doido. Outra diferença marcante entre eles é a comida. Como já citei no início do livro a Itália é regionalista, embora bem menor que o Brasil, a Itália é mais regionalista que o Brasil, mesmo havendo regionalismos no país. Na região do Véneto, a comida diária ou típica é a polenta com lingüiça, Lombardia, Ligúria e Piemonte o Risoto com carne, daí para o sul o macarrão, porém todas as regiões comem muita verdura seja cozida que crua, comem peixe, caças como coelho, pombo, cabrito, faisão e outras e isso no dia a dia, não precisa ser festa. No Brasil de norte a sul se come feijão com arroz, eles só não aparecem nos locais onde existe fome como é o caso do nordeste, onde o arroz é substituído pela farinha de mandioca. O verdadeiro Brasil são os estados que não receberam influência estrangeira, exclui-se aí as regiões sul, sudeste e Mato Grosso do Sul, do resto os hábitos são bem brasileiros, e receberam influências portuguesas e africanas, e solidificaram tanto os hábitos que creio eu que nunca mais mude. Por incrível que pareça, além do Brasil, somente o México tem o mesmo hábito do feijão com arroz, não em todo o país, mas em boa parte dele. Deu certo o feijão com arroz, porque o feijão é fonte de proteína, e o arroz só carbohidratos, de forma que fica um certo balanço, fica faltando as fibras, que às vezes a mandioca supre. Do ponto de vista do sabor, para um italiano ou um europeu qualquer é horrível, brasileiro só sabe condimentar com alho e cebola, aliás, muita cebola, e isso dá a comida um gosto forte, tirando às vezes o sabor do alimento em detrimento da cebola. Existe no Brasil quem tempere macarrão com cebola e ainda tem o desplante de oferecê-lo a um italiano. Tem um sabor horrível, na Itália macarrão do todo o dia é feito com molho de tomate e mangerona, e alguns usam o óleo das frituras da carne para adicionar no molho, mas cebola, nunca. A cozinha italiana é bem conhecida de todos os brasileiros do sul e sudeste, portanto não creio que seja necessário aqui explicar como ela é. Pizza é um exemplo, comida típica da região conhecida como Campania, cuja capital é Nápoli, está difundida em todo o mundo, mas sem dúvida a cidade de São Paulo é a maior fabricante de pizza do mundo todo, digo isso com certeza, a segunda é Nova York seguida de Chicago, como dá para notar a cozinha italiana é conhecida no mundo inteiro. E a brasileira? Quem sabe? 28


Fora daqui realmente ninguém conhece. Se tivéssemos um prato ao menos do conhecimento mundial, mas nem isso, a nossa feijoada é boa, boa para nós, para europeu nem tanto, uns gostam, mas a maioria não. Começando pelo aspecto, realmente tem cor de merda, por isso já se torna pouco atrativa, o gosto forte demais, parece comida indiana, eles também tem um tipo de comida assim como feijoada, mas não sei como se chama, mas não é com porco é com cabra ou carneiro, para nós horrível, e para eles nossa feijoada é um pecado dado que não comem porco por ser animal imundo. Agora imaginem os imigrantes comendo arroz e feijão todo dia, para eles foi um desaforo, logo começaram a plantar as verduras e a comê-las cruas, refogadas ou nas sopas, isso com arroz, macarrão e as vezes até com feijão, mas do branco, não o roxinho. Em poucas palavras, italiano ou descendente de italiano, está convicto de que brasileiro não sabe comer, mas com certeza, brasileiro não pensa o mesmo dos italianos, a prova disso é a imensa quantidade de restaurantes italianos no Brasil todo. Capítulo 14 OS ITALIANOS E OS OUTROS IMIGRANTES Os italianos tem por caráter nato criticar tudo que os envolve, ou melhor, tudo que está em torno deles; a razão disso é serem tremendamente observadores, e o arremedo para eles é uma coisa normal, daí serem críticos pertinazes, talvez os melhores do mundo. Com essa óptica, eles acham que tudo e todos têm defeitos, e o que tem defeito, merece crítica e deve ser desdenhado, e assim o fazem. Para os italianos de certa forma ninguém presta, tanto fisicamente como moralmente, sempre alguém tem um defeito, ou é manco ou zarolho, ou então anda de um jeito esquisito, sei lá, tem sempre qualquer coisa que não agrada; na melhor das hipóteses tem um gênio filho da puta, ninguém agüenta um cara assim... dizem. Com essa forma de ver as coisas, lógicos, todos os outros imigrantes tem defeitos ou não prestam. Os húngaros, ou ungareis, como os italianos os chamavam, foram os primeiros europeus a terem contato com os italianos aqui em São Paulo, exceção feita aos portugueses que já habitavam o país desde sua criação, dessa forma foram os primeiros a serem criticados. Os húngaros, para eles era um povo bom e trabalhador, mas eram todos cornos, as ungarezas eram mulheres fáceis, e lindas.... , de dar gosto. A comida deles era sempre um ensopado de alguma coisa, e era muito gordurenta, num sei como eles não têm caganeira sempre, de comer essas comidas quentes e pesadas, ainda mais com um clima quente como o brasileiro, eles deveriam comer coisas mais leves e frescas, não coisas pesadas e quentes. Nota do autor: vale ressaltar que comida leve quer dizer; caldo de galinha, saladas de verduras cruas, purê de batatas, enfim comida de hospital. Comida pesada significa; carnes de porco, e carne de vaca com gordura, e as comidas feitas com isso, também demais comidas excessivamente condimentadas. Estas às vezes recebem também a alcunha de comidas fortes ou quentes, isso mesmo, carne de porco e chocolate, eles chamam de quentes. Comidas fresquinhas eles chamam os legumes cosidos, como abobrinha (zucchini), vagens refogadas e assemelhados. Essa conotação é ítalo-brasileira e não italiana, e de onde vieram esses apelidos das comidas, não tenho a menor idéia. Continuando... para os italianos, os ungareses eram gordos, disformes, mas gente forte e que trabalhava muito. Entre eles, dificilmente se casavam, os italianos achavam também que eram gente de categoria inferior e de pouca cultura, mas na realidade ambos eram analfabetos e mal educados, o que os italianos tinham eram a cultura que fluem normalmente em seu sangue, os italianos amam as artes, as músicas, e enfim tudo o que é arte, sem mesmo terem ido as escolas aprenderem isso, os ungareses pouco ou nada sabiam que arte existisse. Daí a exclusão. 29


Muitos dos húngaros eram excelentes artesãos, sobretudo em marcenaria fina e ferramentaria, mas para os italianos eram infelizes maus aprendizes. Ciumeira pura. Sobre os ingleses. Os ingleses eram antes de mais nada seus patrões, seus mestres ou então chefes, portanto tinham quer ter cuidado em suas críticas. Na Lapa d'aquela época, as oficinas de manutenção ferroviária da "The San Paulo Railway" davam muito emprego aos italianos, e eram os ingleses os donos do pedaço e não os "mangia pasta". Daí o respeito, se não... Mesmo assim os italianos não os criticavam diretamente, mas sim as suas esposas, em sua maiorias tinham hábitos estranhos de "troiaia" - em toscano quer dizer "biscate". Nada elegante para a época, se fosse hoje todas seriam biscates dado que elas fumavam e dirigiam seus automóveis e saiam sòzinhas para cá e para lá. Então eram "civette" traduzindo "galinhas". Fora isso, achavam os ingleses íntegros e de boas maneiras, e para eles (italianos) ter amizade com um deles era uma honra, os italianos consideravam os ingleses, gente de posição mais alta que eles e mais bem educados, e realmente o eram. Conviveram durante anos no mesmo bairro, sem nunca ter havido qualquer tipo de rixa. Que seja de meu conhecimento casamento entre as duas raças não aconteceu, e se aconteceram foram tão poucos a ponto de se tornar inexpressivo. Sobre os alemães. Eis alguns qualificativos bem expressivos – Pignolli (pinholi, em português teimosos) - Uggiosi (tediosos) – Permalosi (desdenhosos) - Hanno la puzza sotto il naso (de nariz em pé, pretensiosos) - Testa di merda (cabeça de merda) e outros até piores. Pelos adjetivos nota-se que não se bicavam, nem na pátria de origem bem como aqui no Brasil, isso tem origem devido a permanência por logo período dos "Tedeschi" (tedesqui, significa gente de fala alemã) em território italiano, já expliquei isso em capítulo anterior, ficaram na Itália mais de dois séculos. Nota-se claramente que os italianos emigrados não gostavam dos alemães devido ao já mencionado, e esse sentimento atravessou o Atlântico e veio para o Brasil junto com eles. Entretanto com o passar do tempo a rixa secular foi se amainando, as arestas se moldando e mais, começaram a acontecer casamentos entre eles, e lógico, começaram a se conhecer melhor, e embora houvesse diferenças culturais profundas entre eles, conseguiam se entender muito bem, fora as rusgas de vez em quando apareciam. Em linhas gerais se respeitavam mutuamente, mas preferiam ficar cada um de cada lado, lógico, os alemães também achavam os italianos uma porcaria de gente, sem educação e sem modos polidos. De certa forma eles tinham razão. Os italianos que emigraram eram camponeses semi-alfabetizados, já os alemães, embora também camponeses, eram bem alfabetizados e muito mais ilustrados desde aquela época. Quanto à educação, não resta a menor dúvida, os alemães são os mais cultos da Europa. Os portugueses. Para a colônia italiana, os portugueses eram os mais chegados, embora os achassem burros e sem cultura, os tinham como gente de boa índole e de raça semelhante, tinham hábitos em comum como o de tomar o bom vinho, os assados, as verduras e umas coisas mais, mas quanto a asseio, embora italiano não seja nenhum exemplo, os portugueses eram tidos como bem mais sujos. Para os italianos, os portugueses eram os únicos que conseguiam trabalhar tanto ou mais do que eles. Os Espanhóis. Que raça de merda, vagabunda, não pensam em trabalhar de fato, só tem negócios de ferro velho, só acumulam porcaria... Embora a definição fosse essa, os Espanhóis assim como os portugueses eram chegados aos italianos, muitos hábitos semelhantes, religião, modo de agir com os outros, e outras coisas mais, aproximavam as duas raças. Os Espanhóis ficaram conhecidos pela colônia italiana, como "ferro velho"; mas era tudo da boca para fora, na realidade não existia intolerância ou animosidade, muito pelo contrario, havia muita amizade e muitos casamentos entre eles. O primeiro de minha família fora da raça foi com espanhol. E essa é uma prova irrefutável do que descrevo. Para os italianos, espanhol é raça inferior e de baixa cultura, assim como os portugueses. Isso se deu porque os imigrantes Espanhóis que vieram para o Brasil d'aquela época eram realmente de muita má qualidade. Já os que vieram depois da 2ª guerra, em sua maioria catalões, eram de excelente estirpe. 30


Os japoneses. Para os italianos eram gente complicada, difícil de entendê-los, não só pelo modo de falarem, mas por seus hábitos estranhos e totalmente diferentes dos europeus, foi a primeira vez na vida que italianos conheciam gente que não era européia, não era cristão, não tinha a cara deles e daí por diante; lógico foram segregados, mantinham-se afastados, embora se admirassem mutuamente pela simples razão de que sabiam medir força de trabalho, os italianos sabiam que japonês era páreo duro no que se diz respeito a serviços de qualquer natureza. Com o passar dos anos foram se aproximando, mas as amizades eram distantes, casamentos entre eles, que eu saiba nunca aconteceu. Os italianos críticos como sempre são, tinham que arrumar alguma alcunha para os japa, então diziam que eram muito sujos e bagunceiros e para compensar o desdém, contrabalançavam, mas é gente íntegra e de palavra, não se vê um vagabundo, um bêbado entre eles. Nota do autor: Vale lembrar que os italianos mediam os outros por alguns itens, a saber: Força de trabalho (ou era trabalhador ou vagabundo, não existia meio termo): De palavra, com isso avaliavam se eram antes de mais nada, caloteiros, e daí, se eram cumpridores das responsabilidades assumidas, se cumpriam horário: íntegros, se eram ligados a família, se não andavam a dar voltinhas por aí com as biscates, a beber a se divertir sem ter com que pagar: Não ser jogador. Os Turcos. Como já explicado em capítulo anterior, os árabes no Brasil eram conhecidos como turcos porque chegaram aqui com passaportes turcos, isso devido a que, antes da 1ª guerra não existia Síria, Líbano, Palestina, Jordânia e outros países árabes tudo era Turquia. Quando nos referimos aos turcos estamos falando dos árabes, para os italianos da época da imigração eles eram turcos o não árabes, sequer o termo existia. Era gente da pior espécie possível, muitos não eram cristãos, tinham hábitos esdrúxulos, eram sujos, mal cheirosos, gente sem palavra, vagabundos e outros atributos mais. A colônia os classificavam assim, pelo simples fato de que os turcos como os italianos foram para o interior do estado, para pegar em rabo de enxada e carpir lavoura; mas ao invés disso, não faziam o serviço, talvez muitos deles nem sabiam o que era lavoura, e muito menos enxada. Por definição da colônia eram os perfeitos vagabundos, e mais, adoravam uma jogatina, isso para italiano é uma porcaria de gente, ao invés de trabalhar vão tentar a sorte no jogo. Os árabes eram dados ao comércio, e começaram a trabalhar de fato somente quando lhes foi permitido ser mascates (vendedor ambulante), inauguraram a prática no Brasil. Para a colônia eram gente de segunda ou talvez de terceira classe, não serviam a nada, eram caloteiros e sem palavra. Portanto trocados por merda eram caros. Que seja do meu conhecimento não havia amizades entre eles, eram água e óleo. O russo da prestação. Assim eram conhecidos os judeus no início do século, fugidos do "Pogrom" como já explicado em capítulo anterior; os judeus que vieram para o Brasil eram em sua maioria da Rússia e de seus domínios europeus, como a Bessarábia por exemplo. Falavam "Iídische" um dialeto todo particular deles. Os Italianos não conheciam direito os judeus, embora na Itália existissem judeus, os de lá são muito diferentes dos judeus da Europa Oriental. É difícil na Itália se identificar um judeu de um não judeu, tanto pelo aspecto físico como pela sua conduta. Na Itália eles não eram perseguidos ou confinados em Guetos como no resto da Europa. Portanto judeu ou não, pouco importa para os italianos, é uma questão cultural, por serem diferentes aqui no Brasil foram juntamente como os árabes e japoneses, segregados, e considerados uma raça de merda. Com o passar dos anos é que foram se conhecendo melhor e se tolerando melhor, daí começaram algumas amizades interesseiras tanto de um lado como de outro, as duas raças, seja italiana que judia, são interesseiros demais em tudo o que fazem. Existe em São Paulo um bairro de nome Bom Retiro, foi fundado por italianos no inicio do século, tem até uma rua com o nome de "Rua dos Italianos", não sei por que cargas d'água, os judeus se fixaram por lá, e por muito tempo o Bom Retiro ficou conhecido como o bairro dos judeus, atualmente gregos e coreanos 31


estão tomando conta do bairro, e assim como os italianos foram saindo do bairro, atualmente são os judeus que estão deixando o bairro e se fixando sobremaneira em Vila Buarque e Jardim América. Não existe intolerância ou animosidade entre judeus e italianos imigrantes, eles se consideram se respeitam, mas se desconsideram também, um acha que o outro é raça inferior. Por isso se desprezam mutuamente. Casamento entre eles nem pensar, os judeus são tremendamente racistas quanto a isso, só admitem se casar entre eles. Capítulo 15 O FIM DO CORONELISMO NO ESTADO DE SÃO PAULO O coronelismo é uma forma de administração pública que imperou no Brasil durante séculos e que neste fim de século XX está em seus últimos dias. Ainda existe em alguns rincões do norte e nordeste. O regime se baseia no poder dos coronéis, que eram nomeados pela corte lusitana e posteriormente pela brasileira, era título de coronel da guarda nacional, posteriormente "Forças Públicas" e depois Polícias Militares, enfim tudo merda da pior espécie. O coronel era um título de nobreza, o mais baixo deles, mas já nobre e eles de certa forma podiam tudo, estavam acima da Lei, ou melhor, eram a própria lei. Mais ou menos um sistema feudal da idade média européia dos tempos modernos e contemporâneos. Seus súditos? Os infelizes índios, os mais infelizes negros escravos, trazidos para o Brasil como animais e também tratados como tais. Vale lembrar que eram povos cuja evolução mental era do da idade da pedra lascada ou pedra polida quando muito, sem um único pingo de cultura e sentimento; isso ainda não havia se estabelecido em suas almas "que talvez não as tivesse" como afirmavam os religiosos da época. Os coronéis eram respaldados pelos seus capangas ou cabras como se diz no nordeste. Eram em geral pessoas de boa cultura e de má índole. Em geral iam estudar na Metrópole ou em Paris se fossem mais abastados. Voltavam cheios de idéias que mirravam tão logo voltavam aos seus lugares de origem. Tornavam-se verdadeiros carrascos com relação ao tratamento humano. É público e notório o que faziam com os escravos. Ao ser abolida a escravatura, ao invés de acolherem a negrada e mante-los a soldo, preferiram expulsa-los de suas terras e importarem mão de obra um pouco mais qualificada, afinal de contas iam ter de pagar por ela. Aos negros restou ficarem vagando de terra em terra até nossos dias, por isso nunca se desenvolveram devidamente, outro motivo é a falta de estímulo e também um gene que carregam no sangue que é do tempo pré-histórico, e não vai ser uma meia dúzia de anos que irá modificá-lo. A miscigenação tem ajudado a amenizar os efeitos de tão nefasto gene. O italiano foi o segundo povo que habitou o Brasil no fim do século XIX, como já citado em capítulo anterior, o Alemão foi o primeiro. Os italianos vieram em grande quantidade para o estado de São Paulo. Os primeiros italianos a virem eram da região chamada de "Vêneto" depois os da "Toscana". Eram trabalhadores desqualificados e de zonas predominantemente agrícolas lá na Itália. Eram de caráter dócil, falavam mais do que faziam, principalmente os toscanos, que mal comparando são os Cariocas da Itália. De uma forma ou outra se submeter aos caprichos do coronelismo, revoltados, mas não reagiram ao regime de mando medieval a que foram submetidos. Achavam que seria uma questão de tempo e tudo iria se findar. - Doce Ilusão -. Os coronéis do sertão nunca precisaram lutar pelos seus direitos, nunca pegaram em armas para lutar contra quem quer que seja. Eles simplesmente mandavam e os outros cumpriam, era o regime e o hábito 32


da terra. Nunca tiveram uma sublevação em São Paulo. A mais próxima era em Sergipe - Quilombo dos Palmares- a três mil quilômetros de distância. Mas um presente de grego estava chegando ao sertão paulista, era uma leva de imigrantes italianos originários da Calábria e Sicília. Como já citado em capítulo anterior, eles eram e são até hoje muito diferente dos Vênetos e Toscanos. São gente de uma miscigenação esdrúxula; em suas veias correm sangues de origens diversas como: latinos, gregos, egípcios, sarracenos e celtiberos. Todos de raça guerreira que foram invadindo e se estabelecendo ao sul da península Itálica. Sangues quentes, irrequietos, habitam lugares áridos como o nosso nordeste, e como os nordestinos adoram dar umas facadas nos outros, uma vez contrariados. Povo de tradição guerreira, desde os áureos tempos até nossos dias viveram sempre em litígio, quando estão sem inimigos comuns brigam entre si. Foram os inventores da guerra de guerrilhas, da Máfia, da Cosa Nostra, dos Magliari, da Camorra e veneram a "vendeta" - vingança em português -. Pois é... Esse povinho maravilhoso foi importado pelo governo brasileiro que sequer desconfiava do que estava trazendo para o país. Foram levados ao interior paulista para trabalharem na lavoura de café. E os coronéis mandando e desmandando. Tão logo perceberam na arapuca que haviam caído, se organizaram em grupos de trabalho - assim se chamam os grupos mafiosos - cuja finalidade era a de desmontar o sistema para poderem viver ao seu modo. Pobres coronéis, sem nenhum preparo militar, sem tradição bélica, iriam competir em uma luta às escuras com um dos maiores grupos criminosos do mundo, tradição e hábitos milenares de luta subversiva. Lógico, iam se danar em muito pouco tempo. E foi o que aconteceu. Sem que, nem por que, começaram matando de tocaia os guarda costas dos coronéis mesmo que fossem policiais oficiais ou não. Em geral a facadas e às escuras, sem que ninguém pudesse testemunhar coisa alguma e avisavam, se testemunharem morre também. Os coronéis começaram a morrer também, arrumaram um jeito suis generis para dar cabo deles; conquistavam a cafetina do bordel que o coronel freqüentava, esperavam o chefão ir para lá e arrumavam uma morte súbita para eles, em geral asfixiado com um travesseiro na cara. A família tinha uma vergonha tremenda naquela época de se expor ao ridículo dizendo que o coronel morreu no bordel, e por isso não punham a boca no mundo, achavam que os bajuladores e capangas iriam resolver o problema, puro sonho desfeito, ninguém mais se aventurava a acusar fulano, sicrano ou beltrano, pois que os calabreses fariam o serviço com quem ajudasse a família do morto. O único jeito era vender as terras e se mudar para lugar mais seguro, onde ainda havia um coronel que lhes desse proteção, até que esse também fosse suicidado. Dessa forma interessante e por que não esquisita de ser dos calabreses e sicilianos, de uma certa forma ou outra nos livraram dos coronéis do sertão que assolou por séculos o Brasil. Os demais imigrantes que se importavam mais em trabalhar do que matar os outros, afinal já havia quem o fizesse, tinham mais dinheiro e foram comprando as terras das viúvas. Algumas viúvas e filhos foram assassinados, nunca de forma brutal, sempre de modo a deixar dúvidas em quem seriam os autores. O melhor jeito que achavam era o de haver uma disputa dentro da família dos coronéis daí aparecia um morto e muitos suspeitos. Dessa forma os Calabreses e Sicilianos ganharam a fama de gente ruim, de traiçoeiros, enfim um monte de alcunhas, mas na verdade nos livraram de forma objetiva e simples o que poderia ter se tornado um grande empecilho para o desenvolvimento de São Paulo. Tome como exemplo o nordeste, que ainda tem uns caras metidos a coronéis, veja que desenvolvimento fabuloso que existe por lá. Capítulo 17 33


MISERAVEIS POR RAZÕES GENÉTICAS Acredito estarem os italianos entre os povos mais miseráveis e mesquinhos da Europa. A razão verdadeira disso não se sabe, é que eles não se sentem assim. Ser miserável está tão íntimo no ser deles que essa é sem dúvida a maneira certa de ser. Esse sentimento que é uma filosofia de vida e não uma necessidade, eles trouxeram para o Brasil e difundiram entre os descendentes. Talvez tenham passado horrores de miséria em ocasiões anteriores a emigração e aquele sentimento horrível calcou a alma de forma muito profunda, talvez indelével. Tanto na Itália como aqui no Brasil eles agem da mesma forma. Pontos característicos que mostram serem eles bem mesquinhos: Usam lâmpadas que pouco ou nada iluminam, isso para economizar energia elétrica. As torneiras saem pouca água, isso para não gastarem água (como se fossem refugiados nordestinos) Tomam banho (quando tomam) em meia dúzia de pingos d'água para economizar energia e água. Sobra de comida nem pensar, cozinham na quantidade absolutamente certa. Se por acaso sobrar, guardam de uma forma ou outra para a janta ou então para o dia seguinte. Jogar pão fora por estar seco? Nem por sonho, se por acaso não der para comer eles os torram e os comem como torrada, ou ainda tritura para fazer o que chamam de farinha de rosca para se preparar o bife a Milanesa Jogar pão fora é pecado, ele representa o corpo de Cristo, mesmo sem estar consagrado, essa foi à maneira de exercer a miséria de forma elegante e cristã. Outra mania bem difundida e característica é guardar tudo que não presta, dizem que quem sabe um dia poderá ser útil. Exemplos de coisas inúteis guardadas: panelas e baldes furados e às vezes tentados os consertos com produtos e peças de que custam mais caro que a peça nova, porém não ficam com a dor na consciência de terem jogado um objeto de tanta utilidade. Mangueiras e fios elétricos, às vezes têm mais remendos do que partes boas, mas lhes doe o coração dar um fim naquilo. Peças velhas de outomóveis, sobretudo pneus, correias gastas, filtros de ar e óleo usados e vencidos, o próprio óleo usado, um dia a gente pode precisar, dizem; em que, eu não sei! Remendam tudo, por começar pela meias, sai mais caro o remendo do que a meia nova, chegam a cerzir os buracos colocando um ovo de madeira dentro delas. Custa uma fortuna o serviço, mas não incorrem no pecado de jogar a coisa fora. Alem do caroço que fica na meia e que faz ferida no pé, o mais o remédio para passar mo machucado, quanto custa a miséria deles? Me lembro de quando era criança que ao ir a casa de um brasileiro eu achava estranho a garagem tão limpa e bem cuidada, a dos meus parentes tinha um verdadeiro museu histórico de todos os carros que tinham possuído. Tanto no Brasil como na Itália a garagem é sempre um depósito de bagulhos inúteis. As baterias velhas eram uma verdadeira preciosidade, eram feitas de chumbo, e chumbo custava uma fortuna; esqueciam que dentro tinha ácido, o vaso da bateria com o tempo ressecava rachava e o ácido comia o chão, fosse cimento ou ladrilhos que na época eram tão comuns. O conserto do piso custava uma nota preta, em geral não encontravam o ladrilho do mesmo padrão, e lá ficava um remendo para a posteridade para lembrar o sentido incomensurável de miséria reprimida e que na realidade gerava despesas imensas. Tanto lá como cá catam na rua, porcas a arruelas e guardam, até pregos as vezes enferrujados eles põem um vidro com querosene, dizem que recupera o prego, nunca entendi como. CONSTRUTORES DE CORTIÇOS

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Dependendo da forma que como se observa a arquitetura italiana, a maior parte das cidades anteriores a 2º guerra mundial eram cortições. Isso no conceito brasileiro da palavra cortiço; o que é um cortiço? Para os brasileiros é um casarão ou uma vila de casa onde a área de trânzito é comum, sanitários, tanques de lavagem, e locais para estender a roupa lavada também é igualmente usada por todos os que habitam nesses locais. Pense bem, se não é exatamente isso que os imigrantes trouxeram para o Brasil. Os negros introduziram a favelas e os italianos a promiscuidade dos cortiços. Na Itália é uma coisa tão comum que eles siquér dão conta de que moram em tais condições, tudo lá era partilhado, até que com a perda da guerra veio a influência americana, e que felizmente pôs fim a pocilga em que viviam. Os americanos fizeram isso para evitar doenças endêmicas que costumava dizimar a Europa devido a este sistema habitacional em que a Itália a França do sul e os países dos Balkans adotaram. A Manutenção das residências na Itália é uma coisa horrorosa, eles nunca fazem reforma, compram as novidades, mas nunca consertam as partes danificadas das casas. Ainda existe lá nas paredes projetís (balas) da revolução Garibaldina, as da 1ª e da 2ª guerra mundial, reboco rachado devido a isso é marca registrada das cidades italianas. Os imigrantes trouxeram essas mesmas manias para o Brasil, portanto a falta de manutenção dos bairros, típicos dos italianos, se deve ao fato de que não está na cultura deles conservar nada, apenas remendar da forma mais pobre, porca e barata possível, afinal -dizem- já estou velho e já fiz muito, meus filhos que cuidem disso. "Quando campo mi in culo chi resta" é o jargão famoso do descaso pelas coisas. Acontece que o filho pensa de forma igual e tudo vai ficando totalmente sem restauração. Os italianos não tem por hábito fazer jardins, mas sim canteiros com hortaliças, acham um desperdiço de terreno plantar coisas que não se comem , afinal é sempre bom ter no quintal algo que se possa comer em uma emergência , isso denota claramente a falta de segurança que sentem no seu dia a dia, sempre como se o mundo fosse se acabar de uma hora pra outra. Isso é evidente na casa dos italianos, pouco jardim, horta e frutíferas, e um desleixo com o aspecto do ambiente que deixa muito a desejar. Muita tralha empilhada a ponto deles não saberem nem de longe o que guardam ali... E va mexer no monturo, é arrumar briga na certa. Meu pai especificamente transformou parte de suas propriedades em cortiços, mas nunca admitiu isso, três residências em um único terreno ele construiu duas, quatro residências em outro, e duas ainda em outro, todas dando problemas de rixa entre inquilinos. Prédio com menos sanitários do que o necessário enfim herança típica do país de origem.

FIM

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