EDUARDO MARCHESAN
FUI PRA
CUBA
Apresentação - FUI PRA CUBA A História latino-americana quase que passa despercebida pelos nossos livros didáticos. Na escola é praxe estudarmos a História Oriental e Ocidental, mais precisamente, a Histó Me lembro bem que ao estudar o período pré-golpe militar no Brasil, em 1964, a Marcha da Família me chamou a atenção ao ver fotos de multidões carregando uma série de faix tudamos sobre a Guerra Fria, a polarização entre Estados Unidos e União Soviética e sabíamos que Cuba era uma ilha da América Central apoiada pelos soviéticos e inimiga dos A fotografia foi a forma que encontrei para expressar o meu ponto de vista da História. Neste processo de estudar, trabalhar e lecionar com Fotografia, eu me dediquei a fotografa percorri toda a trilha Inca para registrar o dia-a-dia dos índios peruanos e fui da nascente à foz do Rio São Francisco testemunhando como vivem as comunidades ribeirinhas po Em junho de 2013, uma ebulição de movimentos sociais eclodiu no Brasil. Como de hábito, lá estava eu registrando as demandas que as pessoas estavam reivindicando para suas uma nova Cuba”. Logo, àquelas lembranças da época de escola retornaram a minha cabeça e uma série de questionamentos voltou a me importunar. Por que Cuba incomoda tan relações sociais? COMO VIVEM OS CUBANOS? Não tive dúvida, fui para Cuba! Passei trinta dias registrando a vida dos cubanos sob a perspectiva de quem vive em Havana. Por sorte, destino ou coincidência, presenciei e registrei um momento que, certame aram laços diplomáticos! Espero que gostem do que vi.
ória européia, da America do Norte e a brasileira. xas e cartazes com os seguintes dizeres: “O Brasil não será uma nova Cuba”. Bom, aquilo nunca me saiu da cabeça. A gente até tinha estudado “qualquer coisa” sobre Cuba. Ess Estados Unidos. Só isto. ar a vida de pessoas. Sim, o modo de viver das pessoas me fascina! Fui fotografar como os africanos vivem em Angola, retratei o cotidiano da Aldeia Xavante no Mato Grosso, or todo trajeto do Velho Chico - os dois últimos trabalhos se desdobraram em exposições realizadas no Brasil e na Alemanha. s vidas. Após as jornadas de junho de 2013, antigas expressões se reavivaram. Neste período me deparei com pessoas erguendo faixas, cartazes e bradando: “O Brasil não será nto? Não queremos que o Brasil se transforme em uma nova Cuba porque lá é muito ruim? Ruim como? Qual o cotidiano dos cubanos? Como eles trabalham? Quais suas
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A História latino-americana quase que passa despercebida pelos Em junho de 2013, uma ebulição de movimentos sociais eclodiu ente, estará nos livros de História dos próximos anos: eu estava em Cuba no dia 17 de dezembro de 2014! O dia em que Estados Unidos e Cuba deixaram de ser inimigos e reatnossos livros didáticos. Na escola é praxe estudarmos a História no Brasil. Como de hábito, lá estava eu registrando as demanOriental e Ocidental, mais precisamente, a História européia, da das que as pessoas estavam reivindicando para suas vidas. Após America do Norte e a brasileira. as jornadas de junho de 2013, antigas expressões se reavivaram. Neste período me deparei com pessoas erguendo faixas, Me lembro bem que ao estudar o período pré-golpe militar no cartazes e bradando: “O Brasil não será uma nova Cuba”. Logo, Brasil, em 1964, a Marcha da Família me chamou a atenção ao àquelas lembranças da época de escola retornaram a minha ver fotos de multidões carregando uma série de faixas e cartazes cabeça e uma série de questionamentos voltou a me importunar. com os seguintes dizeres: “O Brasil não será uma nova Cuba”. Por que Cuba incomoda tanto? Não queremos que o Brasil se Bom, aquilo nunca me saiu da cabeça. A gente até tinha estuda- transforme em uma nova Cuba porque lá é muito ruim? Ruim do “qualquer coisa” sobre Cuba. Estudamos sobre a Guerra Fria, como? Qual o cotidiano dos cubanos? Como eles trabalham? a polarização entre Estados Unidos e União Soviética e sabía- Quais suas relações sociais? COMO VIVEM OS CUBANOS? mos que Cuba era uma ilha da América Central apoiada pelos Não tive dúvida, fui para Cuba! soviéticos e inimiga dos Estados Unidos. Só isto. Passei trinta dias registrando a vida dos cubanos sob a perspecA fotografia foi a forma que encontrei para expressar o meu tiva de quem vive em Havana. Por sorte, destino ou coincidênponto de vista da História. Neste processo de estudar, trabalhar cia, presenciei e registrei um momento que, certamente, estará e lecionar com Fotografia, eu me dediquei a fotografar a vida de nos livros de História dos próximos anos: eu estava em Cuba no pessoas. Sim, o modo de viver das pessoas me fascina! Fui fo- dia 17 de dezembro de 2014! O dia em que Estados Unidos e tografar como os africanos vivem em Angola, retratei o cotidi- Cuba deixaram de ser inimigos e reataram laços diplomáticos! ano da Aldeia Xavante no Mato Grosso, percorri toda a trilha Inca para registrar o dia-a-dia dos índios peruanos e fui da na- Espero que gostem do que vi. scente à foz do Rio São Francisco testemunhando como vivem as comunidades ribeirinhas por todo trajeto do Velho Chico os dois últimos trabalhos se desdobraram em exposições realizadas no Brasil e na Alemanha. Eduardo Marchesan
Ir ou não ir para Cuba? Quem quer ir e quem não quer ir? Por que ir e por que não ir? Ditadura no governo e democracia nos direitos? Pobreza, mas sem fome! Pobreza, mas com educação! Pobreza, mas com mortalidade infantil erradicada! Pobreza, mas com saúde! Pobreza, mas 100% da população tendo acesso a água potável! Pobreza, mas com saúde! Pobreza, mas nenhuma criança dormindo ao relento! Pobreza material, mas com riqueza social! Cuba e suas contradições. No entanto, as contradições cubanas tornaram-se caso único na recém história do capitalismo.
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Cuba e Haiti são ilhas vizinhas e tiveram processos históricos muito similares. Ambos os países foram colonizados da mesma forma, possuem o mesmo tipo de terreno para produção agrícola e receberam o mesmo tipo de tratamento no que tange ao povoamento de seu território. Tanto Cuba quanto o Haiti possuíam o mesmo destino quando os dados foram jogados pelos colonizadores. Ambos os países seriam irmão univitelinos eternos em seus desenvolvimentos sociais, políticos e econômicos. Bom, como disse o poeta brasileiro Vinicius de Moraes: “que seja eterno enquanto dure” e esta irmandade durou, mas só até 1959. À partir de 1959 a ilha cubana corta seus laços intrínsecos com a História que lhe prometeram, junto ao Haiti, e toma em suas mãos as rédeas de seu próprio destino. Não nos cabe aqui, discutir se esta decisão foi acertada ou não. Nem acredito que este seja o objetivo de Eduardo Marchesan. Creio eu que a reflexão que o autor nos traz, com este livro de registros fotográficos, supera este olhar dicotômico. As fotos que constam neste livro nos levam a considerar algo muito mais relevante, ou seja, a despeito de suas contradições, há vida em Cuba! Pessoas vivem! Sorrisos ou semblantes fechados, estas são feições de pessoas vivendo. Eduardo Marchesan, com suas imagens, nos faz refletir sobre isto. Carlos Eduardo Tauil Dezembro de 2015 Carlos Eduardo Tauil é professor universitário e estudioso das relações humanas. Possui Graduação em Direito, Pós-Graduado em Política e Relações Internacionais , Mestre em Ciências Sociais e é Doutorando em Ciência Política
Eduardo Marchesan www.edumarchesan.com.br