EDUARDO SRUR - Manual de Intervenção Urbana

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Srur, Eduardo Manual de intervenção urbana / Eduardo Srur. -São Paulo : Bei Comunicação, 2012. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Bibliografia. (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ISBN 978-85-1850-092-4 Srur, Eduardo 1. Cidades 2. Desenvolvimento sustentável Manual de intervenção urbana / Eduardo Srur. -3. Espaços urbanos 4. Geografia urbana São Paulo : Bei Comunicação, 2012. 5. Planejamento regional 6. Planejamento urbano Bibliografia. 7. Urbanismo I. Título. ISBN 978-85-1850-092-4 1. Cidades 2. Desenvolvimento sustentável 3. Espaços urbanos 4. Geografia urbana 5. Planejamento regional 6. Planejamento urbano 7. Urbanismo I. Título.

12-12301

CDD-918

12-12301

CDD-918 Índices para catálogo sistemático: 1. Projeto utópico de intervenção urbana : Cidade Índices para catálogo sistemático: e1. urbanismo : Geografia urbana 918 Projeto utópico de intervenção urbana : Cidade e urbanismo : Geografia urbana 918


EDUARDO SRUR MANUAL DE INTERVENÇÃO URBANA



MANUAL DE INTERVENÇÃO URBANA ÍNDICE

Introdução

7

1 Conheça o Território

9

2 Meios de Transporte

25

3 Pesquisa e Uso de Materiais

37

4 Pesquisa e Uso da Cidade

87

Diário de Bordo

149

Créditos

248



MANUAL DE INTERVENÇÃO URBANA INTRODUÇÃO

Este é um manual de procedimentos e possibilidades na cidade. Serve ao leitor do mesmo modo que tem servido ao artista. Em 16 anos de produção – aqui documentada –, Eduardo Srur tem construído ferramentas, ações e uma forma particular de engajamento diante da experiência da vida urbana no que ela oferece como expansão ou limite ao transformar a imaginação de seus habitantes. Sobretudo naquilo que é, ou se pensava ser, a natureza. Esta publicação registra a atuação artística de Srur, evidenciando de que modo o espaço e o lugar onde se vive é um campo aberto, infinito e apto a ser transformado. O manual e a cidade são para o uso de qualquer um.



1 CONHEÇA O TERRITÓRIO


10

VEÍCULOS 1996 A 2001


11

Registros fotogrĂĄficos e primeiras pinturas da sĂŠrie


Aprenda


a dirigir


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VEÍCULOS 1996 A 2001

INICIAÇÃO

Família 1997 Óleo sobre tela 110 x 190 cm

Em 1996 dei início a minha primeira série de pinturas a óleo. Após uma viagem pela costa do Pacífico e pela cordilheira dos Andes, voltei para a cidade de São Paulo e, com base em meus registros fotográficos, fiz composições realistas com veículos velhos e abandonados nas paisagens naturais. As pinturas remetiam à atmosfera introspectiva e solitária das viagens. Os veículos eram símbolos de passagem, elementos transitórios das vivências iniciáticas.


SEM ÁGUA, NO DESERTO Um longo dia de caminhada, exausto e sem água no meio do deserto de Trujillo, litoral norte do Peru. Peço carona para o único carro do lugar. O carro quebra e tenho que ficar no deserto. A foto desse dia originou minha primeira pintura conceitual, O efêmero (1996).

NO ALTO DA PÁGINA

PÁGINAS 16-17

Marte 2000 Óleo sobre tela 130 x 200 cm

O efêmero 1996 Óleo sobre tela 40 x 60 cm








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PACHA MAMA 1998

O QUE É PACHA MAMA? SIGNIFICA “MADRE TIERRA” (MÃE-TERRA) EM QUÉCHUA, LINGUAGEM DOS ANTIGOS HABITANTES INDÍGENAS DOS ANDES. É A DIVINDADE MAIOR E ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA COM AS FORÇAS DA NATUREZA.

PÁGINAS 20-21: Pacha Mama Praia de Camburi (São Paulo), 1998 Cerâmica e tinta acrílica 400 peças 15 x 6 x 8 cm cada peça

O QUE É O MEU PACHA MAMA? É UMA PEQUENA ESCULTURA DE CERÂMICA PINTADA COM TINTA ACRÍLICA QUE SURGIU A PARTIR DE UMA PINTURA DA SÉRIE “VEÍCULOS”.


23

COMO SE FAZ UM PACHA MAMA? PRIMEIRO, COM ARGILA. DEPOIS, VOCÊ FAZ UM MOLDE DE GESSO PARA MULTIPLICAR A PEÇA. TRANSFORME, ENTÃO, A ARGILA EM CERÂMICA NO FORNO DE QUEIMA. A PARTIR DAÍ, VOCÊ PINTA COM PINCEL E TINTA ACRÍLICA COMO QUISER. POR QUE FAZER UM PACHA MAMA? É UM PROCESSO MANUAL QUE PERMITE TRABALHAR A FORMA COM O BARRO. ATÉ ONDE SE PODE IR COM UM PACHA MAMA? ATÉ ONDE VOCÊ ACREDITAR.



2 MEIOS DE TRANSPORTE


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CONTÊINERES 2001 A 2002

O MISTÉRIO

Em 2001, uma viagem a um porto alfandegário da Argentina transformou os elementos centrais de minhas pinturas. Os contêineres assumiram o primeiro plano e o cenário realista sofreu alterações graduais devido ao uso da câmera digital e de recursos gráficos no processo de trabalho. O horizonte permanecia na paisagem, mas o realismo foi lentamente substituído pela abstração. O contêiner é um mistério. Você não sabe o que ele guarda. Não sabe se está cheio ou vazio. Contêineres #01 2001 Óleo sobre tela 90 x 100 cm PÁGINAS 28 E 29 Contêineres #02 2001 Óleo sobre tela 135 x 195 cm Celestial #09 2003 Óleo sobre tela 140 x 170 cm


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28

Céu


Terra


Celestial #12 (detalhe) 2003 Ă“leo sobre tela 170 x 280 cm (dĂ­ptico)


O HORIZONTE DESAPARECE Celestial foi minha terceira série de pinturas e nela assumi o interesse pela cor e pela abstração. Eu fotografava fragmentos do céu depois de tempestades e utilizava as imagens para compor o fundo. As formas biomórficas dominam a composição dos trabalhos, e espessas camadas de tinta a óleo constroem na tela uma nova perspectiva captada pela lente digital. O horizonte desaparece e surgem fragmentos do céu. Contêineres dourados flutuam no espaço colorido e enigmático, que remete a planos cartográficos e imagens de satélite.



RESUMO DOS FATOS



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NINGUÉM VAI TE PEDIR PARA PINTAR. NINGUÉM VAI TE PEDIR PARA SER ARTISTA. Meu ateliê, 2003



3 PESQUISA E USO DE MATERIAIS


ACRÍLICO AÇO A ALUMÍNIO ARGI CHUMBO COBRE ESPUMA FERRO LÁTEX LYCRA N PLÁSTICO VINIL PÓLVORA VIDRO


ALGODÃO CERA ILA BORRACHA E COLA CORDA O ISOPOR PAPEL NYLON MADEIRA L AREIA PEDRA O RESINA TINTA


40

SALA DE AULA 1998

50 CADEIRAS E 50 MESAS DE MADEIRA Escola Municipal Fernão Dias Paes, São Paulo

PERÍODO DE FORMAÇÃO Durante o estágio obrigatório numa escola pública, encontrei dezenas de cadeiras e mesas velhas de madeira, abandonadas e em estado de deterioração à vista dos alunos. Decidi me apropriar dos objetos e, com os estudantes, fazer composições minimalistas no pátio do colégio. Foi minha primeira intervenção política.




43

Escola Municipal Fernão Dias Paes, São Paulo



INTERVENÇÕES/ POLÍTICA


46

OUTDOORS 1998

2 X 5 M CADA PEÇA TINTA ACRÍLICA SOBRE LONA DE VINIL Marginal Pinheiros, São Paulo

SCANEAR


SCANEAR




50

ÂNCORA 2004

BORRACHA, MADEIRA, MASSA ASFÁLTICA, PÓ DE FERRO, CORDA DE SISAL E CABO DE AÇO 2,50 X 0,50 X 3,20 M Monumento às bandeiras, São Paulo Intervenção não autorizada. Mesmo sem a aprovação da Prefeitura, a Âncora permaneceu 12 dias no local. Ao tentar retirar o objeto, fui impedido pela polícia, que alegou estar defendendo o patrimônio histórico da cidade. ASSISTA O VÍDEO >>


51




54

ANTENAS 2006

200 ANTENAS DE ALUMÍNIO, SUPORTES DE METAL, TRIPÉS DE FIXAÇÃO E PARA-RAIOS Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), São Paulo





58

ESCORAS 2007

CENTENAS DE PONTALETES DE MADEIRA Projeto não realizado no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp)


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62

PALMITOS 2008

3 MIL VIDROS COM PALMITOS EM CONSERVA, FITA ISOLANTE, ANDAIME E CABOS DE AÇO 8,00 X 1,30 X 4,00 M Parque Villa-Lobos, São Paulo Intervenção com palmito ilegal apreendido pela Polícia Ambiental. O alimento foi incinerado após a exposição.





66

BICICLETAS 2008

SEIS BICICLETAS, ROLDANAS, CABOS DE AÇO, BOX TRUSS E SISTEMA MOTORIZADO PARA MOVIMENTAR AS PEÇAS Avenida Paulista, São Paulo





70

LABIRINTO 2012

400 FARDOS DE MATERIAL RECICLÁVEL, ESPELHOS DE ACRÍLICO E CABOS DE AÇO 20 X 20 X 2,30 M Parques Villa-Lobos e Ibirapuera, São Paulo ASSISTA O VÍDEO >>





74

SUPERMERCADO 2012

PERFORMANCE DENTRO DE UM SUPERMERCADO VÍDEO: 07’49” COAUTORIA: FERNANDO HUCK ASSISTA O VÍDEO >>



O material e


stรก em tudo


Aten


ntado


80

ATENTADO 2004 AÇÕES REGISTRADAS EM VÍDEO 03’38” São Paulo, 2004 ASSISTA O VÍDEO >>

O QUE É? INTERVENÇÃO SUBVERSIVA SOBRE DEZENAS DE OUTDOORS DE PROPAGANDA.


81


82

ATENTADO 2004

COMO É? AS AÇÕES REPRESENTAM UM CONTRA-ATAQUE AO BOMBARDEIO VISUAL DA MÍDIA NA PAISAGEM URBANA.


83

ONDE É? NA CIDADE.


84

ATENTADO 2004


85

POR QUE É? ATENTADO É A RESPOSTA DE UM ESPECTADOR QUE CANSOU DE SER PASSIVO. É UMA ACTION PAINTING NAS RUAS.



4 PESQUISA E USO DA CIDADE



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ACAMPAMENTO DOS ANJOS

SÃO ANJOS ACAMPADOS EM LOCAIS SUSPENSOS SÃO FIGURAS ACESSÍVEIS, COMO OS LIVROS E OS GRANDES PINTORES NOS MOSTRAM SUA REPRESENTAÇÃO HUMANA, COM ASAS E SEMBLANTE DIVINO SÃO PERSONAGENS PRÓXIMOS E FAMILIARES


90

ACAMPAMENTO DOS ANJOS 2004

BARRACAS DE CAMPING, TECIDO DE NYLON IMPERMEÁVEL, FITAS DE POLIPROPILENO, ILHOSES E CABOS DE AÇO, LÂMPADAS FLUORESCENTES E CABEAMENTO ELÉTRICO 2,10 X 2,10 X 1,30 M CADA PEÇA

Porte des Allemands, 2005 Metz, França PÁGINA 88 Marginal Pinheiros, 2002 São Paulo PÁGINAS 92, 93, 94 E 95 Construção abandonada na Avenida Dr. Arnaldo, 2004 São Paulo




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ENERGIA Uma obra poética e espiritual que nasceu na fachada de minha casa para proteger o lar e as pessoas que amava. Imaginei os anjos como entidades de energia, presentes em qualquer lugar. Minha percepção de anjos acampados em locais suspensos atingiu a sublimação na construção abandonada por mais de dez anos na cidade de São Paulo, com 40 esculturas coloridas e iluminadas à noite.

ASSISTA O VÍDEO >>


94

ACAMPAMENTO DOS ANJOS 2004




97

Temple Neuf, 2005 Metz, Franรงa

Catedral Saint Etienne, 2005 Metz, Franรงa



AGORA, A ÁGUA E A TERRA


CAIAQUES XXXX


101

CAIAQUES O QUE É? INTERVENÇÃO COM DEZENAS DE CAIAQUES TRIPULADOS POR MANEQUINS SOBRE AS ÁGUAS POLUÍDAS DO RIO PINHEIROS, EM SÃO PAULO. POR QUE É? ERA NECESSÁRIO REATIVAR UM RIO MORTO E ESQUECIDO PELOS HABITANTES DA CIDADE, FAZÊ-LOS LEMBRAR DE SUA EXISTÊNCIA. POR QUE LÁ? PORQUE É O RIO QUE ESTÁ EM FRENTE À JANELA DA MINHA CASA. PARA ONDE VÃO? A LUGAR NENHUM. PARA ONDE DEVERIAM IR? PARA TODOS OS RIOS MORTOS DO MUNDO.


102

CAIAQUES 2006


103

ÁREA ABERTA E PROIBIDA Para a psicogeografia, o espaço urbano é composto não apenas de edifícios, vias, viadutos e avenidas. O que percorre essa descrição mais evidente de uma cidade é algo menos palpável. As cidades podem ser imaginadas, projetadas, executadas, mas seu funcionamento, seus regimes de força são determinados por uma cartografia emocional. O que é amado ou detestado – a área proibida ou francamente aberta – é determinado por questões que avançam para além das estruturas físicas, expandem-se em um horizonte muito maior do que aquele que os olhos alcançam.

Rio Pinheiros, São Paulo


104

CAIAQUES 2006

100 CAIAQUES DE POLIETILENO E REMOS DE ALUMÍNIO, 150 MANEQUINS DE PLÁSTICO, ROUPAS DE TACTEL, PARAFUSOS E CABOS DE AÇO, CORDAS DE NYLON E POITAS DE CONCRETO. 2,70 X 0,66 X 1,10 M (CAIAQUE SIMPLES) E 3,60 X 0,78 X 1,10 M (CAIAQUE DUPLO) Rio Pinheiros, São Paulo





Politereftala


to de etileno




112

PETS 2008

INFLÁVEL DE LONA VINÍLICA, ACRÍLICO, PLATAFORMA DE FLUTUAÇÃO, SISTEMA DE ANCORAGEM, CABEAMENTO E SISTEMA ELÉTRICO COM LÂMPADAS FLUORESCENTES E CABOS DE AÇO 12 X 3,5 M CADA ESCULTURA

PÁGINAS 110-111 Lago Taboão, Bragança Paulista, 2011

Rio Tietê, São Paulo, 2008





116

PETS 2008


117

Praia do Sol, 2012 Represa Guarapiranga, SĂŁo Paulo



PETS MONUMENTAL RIO TIETÊ METRÓPOLE MATERIALIDADE


120

PETS 2008

NAVEGAÇÃO


121

Para onde se dirige uma cidade, quando esta se parece com uma embarcação à deriva? PETS foi um desdobramento dos Caiaques, e nasceu da fascinação, do desconforto e da dúvida sobre os rumos da cidade de São Paulo. Reciclar o olhar do espectador e a forma como enxergamos a paisagem urbana, o modo como nos relacionamos com a natureza. Mais de 1 milhão de pessoas, em suas idas e vindas diárias pelas margens do rio, viram a exposição. A ação educacional levou 3 mil alunos, acompanhados de seus professores, para navegar nas águas poluídas do Tietê. Navegação no espaço e no resíduo produzidos pela coletividade. ASSISTA O VÍDEO >>



TRANSCENDER O SISTEMA ARTÍSTICO





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PÁGINAS 124-125 Monumento a Ramos de Azevedo

SOBREVIVÊNCIA Monumento a Duque de Caxias José Bonifácio de Andrada e Silva

Intervenção urbana com coletes salva-vidas em 16 monumentos da cidade de São Paulo. O trabalho foi realizado em esculturas do século XX que glorificam heróis da história nacional. A ocupação do patrimônio histórico na capital paulista se integra à obra com a proposta de reativar visualmente elementos da história, da arquitetura e do convívio social da cidade – territórios abandonados pela imaginação urbana.


128

SOBREVIVÊNCIA 2008

25 OBJETOS DE ESPUMA DE POLIURETANO, ALUMÍNIO, FITA REFLEXIVA, FITA DE POLIPROPILENO, MANTA SINTÉTICA, ISOPOR, RESINA ACRÍLICA E CABOS DE AÇO DIMENSÕES VARIADAS Monumentos públicos da cidade de São Paulo

Monumento à Independência



130

PÁGINA 131 Borba Gato

Monumento a Carlos Gomes

SOBREVIVÊNCIA 2008



132

Anhanguera

SOBREVIVÊNCIA 2008

Armando de Salles Oliveira

Camões


133

Ibrahim Nobre, o Tribuno

Cristรณforo Colombo

O semeador


A arte


salva




138

A ARTE SALVA 2011

360 BOIAS SALVA-VIDAS DE PLÁSTICO, ADESIVO VINÍLICO, CAPAS DE CHUVA E 200 PARTICIPANTES Congresso Nacional, Brasília ASSISTA O VÍDEO >>


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A ARTE SALVA 2011

O JOGO DO POLÍTICO FAÇA UMA AÇÃO COM PODER / TOME O ESPAÇO PARA SI / CONSTRUA UMA CAUSA QUE SEJA DE TODOS / JOGUE OS DADOS E AVANCE CINCO CASAS / CONVOQUE A COMUNIDADE PARA VIVENCIAR A DIFICULDADE E A ALEGRIA / DOMINE A TÉCNICA DIANTE DE TODOS OS OBSTÁCULOS / DEIXE FLUTUAR SOBRE A ÁGUA / PERMITA QUE TODOS PARTICIPEM DA ARTE / JOGUE OS DADOS E AVANCE ATÉ O INFINITO



Não é dom


mesticรกvel




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TOURO BANDIDO 2010

DUAS ESCULTURAS DE ISOPOR, FIBRA, RESINA E TINTA ACRÍLICA 2,30 X 0,90 X 2,20 M CADA PEÇA Avenida Paulista e Avenida Faria Lima, São Paulo O Touro bandido é um personagem do imaginário brasileiro, um animal que nunca foi domado e virou lenda nacional. O touro faz uma inseminação artística na vaca. A intervenção subversiva nas vacas da Cow parade durou sete horas e terminou com a apreensão das peças e inquérito policial. ASSISTA O VÍDEO >>



148

Avenida Paulista e Avenida Faria Lima, São Paulo

TOURO BANDIDO 2010


EDUARDO SRUR DIÁRIO DE BORDO Esta é a seção que apresenta os principais movimentos do artista. Aqui se encontram a memória, os nomes, os fatos, os dados, as imagens e as reações às propostas e ações artísticas que tiveram a cidade como cenário e as pessoas como elemento central da ação. No jogo estabelecido entre o artista, o público e as instâncias de poder, outra produção e outra reflexão emergem. Esta é a documentação desse processo.



TOURO BANDIDO


152

TOURO BANDIDO

16.3.2010 Touro bandido Estudos

Na manhã seguinte à ação do Touro bandido, vou até a banca e descubro que a intervenção está na primeira página do jornal, com o título: “Aonde a vaca vai...”. A entrevista deixa claro o objetivo contestador da obra. Durante o dia, os portais da web noticiam o fato e a história torna-se top trend nas discussões pela internet. Me preparo para o contra-ataque.


153

1ÂŞ pĂĄgina do jornal Folha de S.Paulo publicado em 16.3.2010


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TOURO BANDIDO

29.4.2010 Recebo uma intimação pelo correio para comparecer à 15ª Delegacia de Polícia. Descubro que os touros foram apreendidos pelos organizadores do evento Cow parade e que tornaram-se “fiéis depositários” das peças. Contrato um advogado criminalista.

5.5.2010 Meu advogado entrega uma cópia do B.O. – Boletim de Ocorrência –, no qual sou acusado por ato obsceno, difamação e danos materiais. Respondo a inquérito policial.

13.5.2010 Compareço à delegacia para depor no caso do Touro bandido. Durante o depoimento, sou inquirido pelo delegado e pela escrivã, que, depois de ouvirem minha defesa, comovem-se com a história.


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TOURO BANDIDO

DECLARAÇÃO DO ARTISTA AOS 13 DE MAIO DE 2010, nesta cidade de São Paulo/SP, no 15º Distrito Policial – Itaim Bibi, onde se achava o Dr. Germano S. Willveit, Delegado de Polícia, comigo Escrivã de seu cargo, ao final assinado compareceu: EDUARDO SANCHEZ LORIA GUIMARÃES SRUR – RG 10.998.068-2/ SSP, filho de Jorge Guimarães Srur e de Elvira Ester Sanchez Loria Guimarães Srur, natural de São Paulo. Nascido aos 15/05/1974, residente à Rua Hungria, 696 – Pinheiros – 8º andar. Sabendo ler e escrever, acompanhado do seu advogado Dr. Pedro Augusto de Pádua Fleury – OAB 292.305, com escritório à Rua Augusta, 2763 – conjunto 22 – Jd. Paulista, que o declarante é artista plástico há cerca de 15 anos, sendo que apresentou junto à Prefeitura de São Paulo trabalhos manuais que interagiram com o meio ambiente e construções de São Paulo, cujos projetos visavam chamar atenção da população para a paisagem urbana da cidade, ocupando espaços públicos, sempre em obediência às Leis, buscando das Autoridades constituídas autorização para exposição dos seus trabalhos, muitas vezes autorizados. Que esclarece que já teve expostos dois trabalhos não autorizados pela Prefeitura, um primeiro trabalho que se chama “ÂNCORA”, tratando-se de um objeto que representava uma âncora exposto no Monumento às bandeiras, cujo objetivo era complementar a composição da obra; a segunda obra chamava-se “ATENTADO”, onde antes da Lei Cidade Limpa o declarante colocava bexigas cheias de tinta em outdoor, que após estourarem espirravam a tinta, visando criticar o grande numero de anúncios em outdoor que poluíam o visual da cidade, que tais obras foram expostas no ano de 2004; que a finalidade de todas as suas obras é a crítica com dose de ironia, procurando uma reflexão do público; que com relação aos dois touros intitulados “TOURO BANDIDO”, expostos no dia 15 do mês de março do ano em curso, por cerca de sete horas aproximadamente, junto a duas vacas da Cow parade, foram expostas pelo próprio declarante


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exatamente para dar continuidade a uma reflexão do público, visando mostrar o que é a arte nos espaços urbanos da cidade de São Paulo; que não existiu intenção do declarante de depreciar o trabalho do artista que confeccionou e pintou as vacas, e sim de questionar o conceito da exposição; que o trabalho das vacas da Cow parade já recebeu críticas anteriores ao conceito da exposição, ou seja, tal trabalho se considera o maior evento de arte pública do mundo, porém críticos e artistas diversos do Brasil e de outros países não a consideram assim, tendo ocorrido inclusive em Estocolmo um “sequestro” de uma das “vacas” em exposição, exigindo uma assinatura dos organizadores de que aquilo não era um evento de arte, que na data de 4 de março do ano em curso, a Cow parade foi notificada pela comissão da Lei Cidade Limpa, alegando que boa parte das esculturas fazia propagandas de produtos e alusão direta a seus patrocinadores, gerando ao declarante o interesse de fazer uma manifestação artística sobre o papel do evento como arte pública, colocando assim a exposição do “TOURO BANDIDO” junto à vaca; o declarante esclarece que esculpiu o “touro bandido” em pé e posicionou-o atrás das vacas, intencionando uma crítica ao conceito da exposição e mostrar que “o touro faz uma inseminação artística em um objeto que se

tornou estéril como papel transformador que a intervenção urbana deve ter em sociedade” (sic), ou seja, “o touro complementa a vaca” (sic). Que em nenhum momento o declarante teve intenção ou provocou dano material na obra das vacas, que a instalação e montagem foi criteriosa, o touro era feito de isopor e o local de contato com a vaca tinha uma camada de espuma entre os objetos de forma que não danificasse as mesmas, que o touro tinha uma base própria e, por ter sido esculpido nas proporções das vacas, o mesmo foi tão somente apoiado nas costas das vacas; deseja esclarecer que em nenhum momento desejou provocar conotação sexual explícita, pois o touro bandido não possuía falo, ou seja, pênis, tendo apenas o escroto, para demonstrar que era um touro, assim como a vaca possui “tetas” para diferenciar do touro; que nesta data o declarante apresenta cópias de matérias exibidas pelos veículos de comunicação, visando provar o alegado, que o declarante não buscou autorização legal para expor o “TOURO BANDIDO”, por ser uma estratégia de artista necessária para a própria exposição pública da obra, entendendo que se buscasse autorização dos órgãos públicos competentes, não haveria tempo hábil para realizar o seu trabalho. Nada mais. Lido e achado conforme vai devidamente assinado por todos e por mim Escrivã que o digitei.



A ARTE SALVA


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A ARTE SALVA

17.10.2011 Desenvolvo o projeto visual com uma imagem de satélite do Congresso. Contato a coordenação do Centro Acadêmico de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB) e peço suporte para ministrar uma palestra sobre intervenção urbana.


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21.11.2011 Chego a Brasília para reconhecimento de área. Visito o prédio do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB). No mesmo dia, distribuo cartazes pela universidade e exponho nas classes minha ideia de intervenção na cidade. No dia seguinte ministro a palestra para alguns alunos e professores. Volto para São Paulo e começo a negociação com a fábrica das boias. Faço o levantamento de custos operacionais, prevendo utilizar 360 objetos. INTERVENÇÃO URBANA NO CONGRESSO

INTERVENÇÃO URBANA NO CONGRESSO

Nesta 5ª feira, dia 8 de dezembro, às 12 horas, haverá uma concentração na Maquete (em frente a FA), para realizar uma manifestação artística em frente ao Congresso Nacional. Haverá quatro ônibus no local para levar até 200 pessoas, e trazer de volta a UnB, as 16 horas.

Nesta 5ª feira, dia 8 de dezembro, às 12 horas, haverá uma concentração na Maquete (em frente a FA), para realizar uma manifestação artística em frente ao Congresso Nacional. Haverá quatro ônibus no local para levar até 200 pessoas, e trazer de volta a UnB, as 16 horas.

Precisa-se de voluntários para participar da ação, colocando as bóias no espelho d’água do Congresso Nacional.

Precisa-se de voluntários para participar da ação, colocando as bóias no espelho d’água do Congresso Nacional.

O obra tem por objetivo propor a arte como possibilidade de salvamento e de resgate da consciência. Salve!

O obra tem por objetivo propor a arte como possibilidade de salvamento e de resgate da consciência. Salve!

INTERVENÇÃO URBANA NO CONGRESSO

INTERVENÇÃO URBANA NO CONGRESSO

Nesta 5ª feira, dia 8 de dezembro, às 12 horas, haverá uma concentração na Maquete (em frente a FA), para realizar uma manifestação artística em frente ao Congresso Nacional. Haverá quatro ônibus no local para levar até 200 pessoas, e trazer de volta a UnB, as 16 horas.

Nesta 5ª feira, dia 8 de dezembro, às 12 horas, haverá uma concentração na Maquete (em frente a FA), para realizar uma manifestação artística em frente ao Congresso Nacional. Haverá quatro ônibus no local para levar até 200 pessoas, e trazer de volta a UnB, as 16 horas.

Precisa-se de voluntários para participar da ação, colocando as bóias no espelho d’água do Congresso Nacional.

Precisa-se de voluntários para participar da ação, colocando as bóias no espelho d’água do Congresso Nacional.

O obra tem por objetivo propor a arte como possibilidade de salvamento e de resgate da consciência. Salve!

O obra tem por objetivo propor a arte como possibilidade de salvamento e de resgate da consciência. Salve!

Flyer 10 x 15 cm para convocação dos alunos na UnB


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A ARTE SALVA

30.11.2011 As boias estão a caminho de Brasília. Defino as diretrizes da intervenção: convocação dos alunos nos cursos de Artes Visuais, Cênicas, História e Filosofia; realização de dois dias de oficina preparatória nos ateliês da Universidade de Brasília (UnB); locação de ônibus para deslocamento do grupo até o Congresso em horário não divulgado. Escrevo o release do projeto para ativar a mídia.

CONGRESSO NACIONAL GANHARÁ INTERVENÇÃO COM BOIAS SALVA-VIDAS EDUARDO SRUR E ALUNOS DA UNB UTILIZARÃO O ESPELHO D’ÁGUA PARA CRIAR OBRA ARTÍSTICA Na próxima 5ª feira, dia 8 de dezembro, 360 boias salva-vidas marítimas ocuparão os espelhos d’água em frente ao Congresso Nacional, em Brasília. Em novembro, o artista visitou a cidade e fez uma palestra na Universidade de Brasília, convocando os estudantes para participarem da intervenção. A obra ocupará o Congresso para dar forma à primeira intervenção colaborativa de Srur. Os objetos de plástico laranja serão numerados e adesivados com a frase “A ARTE SALVA”. “Preciso de 200 voluntários para realizar esta manifestação artística no Congresso e mostrar a arte como uma possibilidade de salvamento, um caminho para resgatar a consciência.” O artista não pedirá autorização porque acredita que a utilização do espaço público para fazer arte é um direito democrático e legítimo. “O Congresso é a Casa do Povo e a arte transcende a política. Esta intervenção é apartidária; é um chamamento da sociedade para o Congresso Nacional.” Eduardo Srur que já espalhou gigantescas garrafas PET à beira do rio Tietê, vestiu o monumento do Borba Gato com colete salva-vidas, instalou dezenas de caiaques tripulados por manequins no poluído rio


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Oficinas da UnB

Pinheiros e atacou as vacas da Cow parade com o Touro bandido, desta vez amplia sua pesquisa de intervenção urbana, realizando oficinas preparatórias da obra na UnB Universidade de Brasília - para todos que tiverem interesse em fazer parte do processo criativo e construtivo da ação. Será uma obra aberta; eu planto a ideia, porém o resultado será coletivo. Vou orientar os participantes a fotografar e postar a obra nas redes sociais, complementando a frase “A ARTE SALVA” com sua própria mensagem. Tudo depende da capacidade de acreditar na arte como ferramenta de transformação. As oficinas e conversas preparatórias com o artista serão realizadas na Maquete (área de oficinas artísticas do Instituto de Artes da UnB), nos dias 6 e 7 de novembro. “A troca de informações com os estudantes de Artes provavelmente será a operação mais enriquecedora da obra.” No dia 8, a partir das 13h, o projeto disponibilizará quatro ônibus para levar os primeiros 200 integrantes para o Congresso Nacional.


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A ARTE SALVA

8.12.2011 12h: estou no ponto de encontro e vejo poucas pessoas. 13h: horário de saída dos ônibus rumo ao Congresso. Somos menos de 40 e fico preocupado. Começo um discurso para o grupo presente, relembrando as diretrizes da ação. 13h30: dentro do ônibus, vestimos as capas de chuva laranja. 14h: chegamos em frente ao Congresso. Vejo muitas pessoas que foram direto para participar da ação. Somos quase 200 e há mais voluntários chegando. A polícia já está no local e pede reforços quando avista o grupo formando o pelotão de frente. A adrenalina toma conta. Avançamos pelo gramado. Alguns começam a correr, outros arremessam as boias. Pessoas pulam no espelho d’água. O grupo permanece por 4 horas em frente ao Congresso.


165

O DIA DA AÇÃO



SOBREVIVÊNCIA



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PESQUISA HISTÓRICA 18.1.2008 Marco uma reunião com a coordenação do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Apresento minha ideia de instalar coletes salva-vidas nos monumentos públicos da cidade e solicito material para começar a pesquisa do projeto. Descubro que existem dezenas de monumentos desaparecidos na cidade.

Monumento a Duque de Caxias, 1960 Monumento desaparecido, sem data


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SOBREVIVÊNCIA

FONTE MONUMENTAL Inaugurada em 1927, na praça Júlio Mesquita, foi o símbolo da era de ouro da avenida São João nas décadas de 1920 a 1940. O monumento era composto por duas bacias circulares adornadas por conchas e flores de mármore, máscaras de mulher e lagostas de bronze. No alto, um jovem pescador sobre um rochedo é rodeado por sereias que tentam seduzi-lo. A partir dos anos 1960, a fonte não resistiu às mudanças da região central de São Paulo e tornou-se um ícone da degradação urbana da cidade.



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SOBREVIVÊNCIA

3.10.2008 CORPO DE BOMBEIROS 8h: após dois meses de negociação, o Corpo de Bombeiros decide prestar apoio operacional para instalar o colete salva-vidas no Monumento a Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel. Considerada a maior estátua equestre do mundo, mede 41 metros de altura. Utilizamos o maior guindaste com braço extensor e cesto aéreo da coorporação para atingir o topo do cavaleiro e tirar medidas para a produção da escultura.



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SOBREVIVÊNCIA

5.10.2008 10h da manhã: a equipe de montagem chega ao Monumento à Independência, no bairro do Ipiranga. Descobrimos um alçapão no interior da capela imperial que dá acesso ao grupo escultórico superior. A operação dura aproximadamente 3 horas. Ocupamos oito personagens históricos, entre eles Tiradentes, o índio e o próprio Dom Pedro I, representado no centro do alto-relevo em bronze, na face norte do conjunto.


MAPEAMENTO 8.10.2008 A operação de montagem é desenvolvida de acordo com as técnicas verticais e os equipamentos necessários para instalação dos coletes em cada local. O objetivo é ocuparmos 25 monumentos em três dias.

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10.10.2008 Durante o teste de montagem no Borba Gato, fotógrafo registra momento inusitado de Felipe Matsumoto (técnico e especialista em montagens verticais) no trabuco do personagem. A imagem estampa a 1ª página do jornal que também anuncia a quebra da bolsa de Nova York.


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18.10.2008 Sou entrevistado ao vivo pela primeira vez na TV. Sinto a adrenalina da situação, mas me defendo de perguntas fáceis ou que possam distorcer o conceito da exposição. Procuro manter um discurso objetivo e acessível para o grande público. A mídia é uma ferramenta a serviço do artista e ele deve usá-la para ampliar a presença da arte no sistema.


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SOBREVIVÊNCIA

DESDOBRAMENTOS 8.12.2008 A exposição provoca reações diversas, construindo um vasto campo de interpretações e relações com o público. É uma propriedade da intervenção urbana. Recebo um e-mail com a ilustração do cartunista argentino Liniers sobre a obra no centro da cidade.


10.12.2008 Menino retira a boia do pescoço do cavalo que faz parte do conjunto escultórico a Carlos Gomes. Ele a utiliza para brincar e banhar-se na fonte da praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal. A polícia obriga-o a sair da fonte e colocar a boia novamente no cavalo. No dia seguinte, a boia desaparece.



PETS


ZONA MORTA 6.3.2007 Estaciono o carro em local proibido e invado a margem do rio Tietê para ver de perto as condições do terreno. Fico impressionado com o declive do talude de concreto e a perspectiva da cidade, vista de dentro do rio. Imagino uma intervenção na maior “zona morta” da cidade de São Paulo.



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PETS

16.4.2007 Faço o mapeamento de todas as pontes que cruzam o rio Tietê. Defino a área urbana entre a ponte do Limão e a da Casa Verde, na zona Oeste da cidade, como a mais adequada e de maior potencial para a intervenção. Procuro uma empresa de infláveis para desenvolver uma escultura monumental na forma de uma garrafa de refrigerante.


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PETS

25.9.2007 O local não tem pontos de energia nas imediações. O abastecimento das peças exigirá mais de 4.000 metros de cabos elétricos e diversos quadros de distribuição nas margens do rio, conforme o projeto de luminotécnica apresentado.

27.9.2007 Recebo a carta de autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) e da Subprefeitura Casa Verde. Negocio com engenheiros a implementação do protótipo em área de pouca visibilidade nas margens do Tietê e definimos a barragem do Cebolão. Durante a visita, descubro moradores em locais improváveis do rio.



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1ª página do jornal Diário de S. Paulo publicado em 23.1.2008


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TESTE DE PROTÓTIPO 22.1.2008 Durante o teste do protótipo, a equipe constata a necessidade de ajustes técnicos para atender à complexidade dos agentes externos na área de exposição: vento, chuva, poluição e, principalmente, a correnteza do rio Tietê. A operação é noticiada em mídia popular e decidimos acelerar a produção.


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PETS

PESQUISA DE MATERIAIS 15.2.2008 Visito a fábrica da empresa Formatto, na cidade de São Carlos. Os engenheiros desenvolvem uma plataforma flutuante com 2.400 garrafas de refrigerante PET. O objetivo é proteger o inflável e funcionar como uma balsa sobre a água, em caso de elevação do nível do rio.

22.2.2008 Vou à indústria Sansuy acompanhar a produção da membrana vinílica que será utilizada nos infláveis gigantes. Por tratarse de um material fora dos padrões de mercado, é necessário desenvolver um produto exclusivo com características de resistência, translucidez e intensidade cromática.


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Plataforma de flutuação

Planta industrial da máquina utilizada para produção do vinil

Produção do vinil na fábrica


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1ÂŞ pĂĄgina do jornal Folha de S.Paulo publicado em 10.5.2008


PETS

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INAUGURAÇÃO

25.3.2008 O impacto da obra é imediato na cidade. Diversos veículos de informação noticiam a intervenção. Utilizo a mídia para potencializar a mensagem da obra. Busco não reduzir o conceito da exposição a questões ambientais e crio a expressão “reciclagem do olhar”. Manifesto meu interesse em integrar a produção artística à vida cotidiana e defendo a arte como ferramenta de transformação da paisagem urbana.


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PETS

30.6.2008 Resultado obtido na mídia impressa, eletrônica e digital. O espaço de mídia espontânea conquistado pela obra é avaliado em comparação ao espaço publicitário, pago por empresas e agências de publicidade. No caso da mídia impressa (jornais e revistas), o cálculo é auferido pela centimetragem; na mídia eletrônica (televisão e rádio), pela minutagem; e na mídia on-line, o cálculo é obtido por pixel (espaço web) e custo de banner (Full Banner Home). O page view define a quantidade de público na internet. A exposição PETS, no rio Tietê, supera R$ 12 milhões em mídia espontânea positiva. ASSISTA O VÍDEO >>

RESULTADO ACUMULADO POR EMISSORA - TV QUANTIDADE

PUBLICIDADE GLOBO R$ 2.905.600,00 BAND R$ 484.830,00

GLOBO 4

BAND 4

REDE TV 3

BAND NEWS 3

CULTURA 3

GAZETA 1

REDE TV R$ 72.650,83 BAND NEWS R$ 7.207,20 CULTURA R$ 35.720,00

TEMPO

GAZETA R$ 19.494,93

GLOBO 0:10:33

BAND 0:09:47

REDE TV 0:01:30

BAND NEWS 0:02:34

CULTURA 0:05:42

GAZETA 0:01:28

PUBLICIDADE TOTAL: R$ 3.525.502, 97


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RELATÓRIO DE ANÁLISE DE MÍDIA RESULTADO COMPARATIVO POR TIPO DE MÍDIA MíDIA

QTDE

R$ VALOR

US$ VALOR

Jornal Revista Web Rádio TV

69 25 130 18 18

1.241.553,86 129.243,07 7.505.198,58 202.148,03 3.525.502,97

620.776,93 64.621,54 3.752.599,29 101.074,02 1.762.751,48

TOTAL

260

12.603.646,51

6.301.823,26

QUANTIDADE

RÁDIO 7%

VALOR PUBLICIDADE TV 7% JORNAL 26%

REVISTA 10%

WEB 50%

JORNAL 10% TV 28%

REVISTA 1%

RÁDIO 2%

WEB 59%


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RESÍDUO ZERO 2.12.2008 Todo o material utilizado na produção das esculturas gigantes é transformado em mochilas escolares. O design da peça é concebido por Jum Nakao. As peças são doadas para as crianças que participaram da ação educacional no rio Tietê.


PETS

FORMAÇÃO DO OLHAR 7.7.2009 Realizo palestras sobre intervenções urbanas em escolas. Desmistifico o artista, apresentando-o como uma pessoa que vê o que todos veem, mas de outra forma. No Brasil, o artista deve ter um papel de formação com o seu trabalho, e preparar as futuras gerações para uma aproximação com o universo da arte contemporânea. Recebo de presente desenhos de alguns alunos.

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CAIAQUES


200

Barco a remo de madeira utilizado em São Paulo na década de 1920

Rio Pinheiros, década de 1920

CAIAQUES


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PESQUISA 30.10.2005 Visito o Centro Pró-Memória Hans Nobiling e encontro no acervo fotografias que mostram o rio Pinheiros limpo e navegável. Fico fascinado com os modelos de barcos de madeira utilizados para a prática de remo, atividade esportiva comum na década de 1920, quando os atletas competiam em regatas nos rios Pinheiros e Tietê, na cidade de São Paulo. O cocho (antiga piscina) do clube Germania (hoje, clube Pinheiros), ficava na margem do rio.


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CAIAQUES

23.11.2005 PÁGINA 203 Usina Elevatória de Traição

Vista do ateliê

Da minha casa, que fica em frente à marginal Pinheiros, faço um registro panorâmico do rio. Nas semanas seguintes, percorro as estações de trem ao lado do rio e começo a ter a ideia de ocupar o espaço com dezenas de caiaques. Peço autorização para conhecer a Usina Elevatória de Traição e caminho pelas margens do rio. Descubro que o curso natural da água é invertido pelas turbinas da usina, e a água contaminada chega na represa Billings, onde é tratada e utilizada para o consumo em São Paulo. O cheiro do rio é insuportável. Um esgoto a céu aberto.


203


204

CAIAQUES

Plano de intervenção Ponte Cidade Jardim

Jockey Club

NÚCLEO 1

NÚCLEO 2 Ponte Cidade Jardim

Estação de trem Cidade Jardim

23.7.2006 Tratativas com os orgãos responsáveis pela área do rio Pinheiros cedem autorização para o projeto. Defino como pontos estratégicos da composição da obra áreas próximas à pontes e estações de trem.


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28.8.2006 Pesquiso as fábricas de caiaques e manequins. Defino dois modelos de escultura e desenvolvo os pontos de fixação entre os elementos da obra: caiaque, manequim, remo e vestimentas. Tento fazer esculturas realistas que impactem o público à primeira vista, recriando uma regata surrealista na paisagem de São Paulo.

Ponto de fixação dos remos Parafuso e abraçadeira de 1/4’’

ESCULTURAS

Prensa-cabo 3/8’’

Vergalhão de alumínio 3/8’’ Argolas de aço Fita Hellermann Cabo de aço 2 mm Guarda-cabo Nicopress Parafuso e arruela de aço inox


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CAIAQUES

MUDANÇA DE CURSO

Matéria do jornal O Estado de S. Paulo, na seção Cidades/ Metrópole em 21.10.2006

20.10.2006 A exposição, inaugurada em 2 de outubro, tem um desfecho inesperado. As fortes chuvas e a inversão do curso da água arrastam uma enorme quantidade de lixo sobre a superfície aquática. A composição da obra é alterada radicalmente, formando uma gigantesca ilha de resíduos sólidos junto com as esculturas. Declaro publicamente que a intervenção tornou-se coletiva, feita pelo lixo dos habitantes da cidade. A obra atinge seu ponto máximo e, novamente, o público transforma-se em elemento ativo da intervenção.


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1ÂŞ pĂĄgina do jornal O Estado de S. Paulo publicado em 21.10.006



ACAMPAMENTO DOS ANJOS


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ACAMPAMENTO DOS ANJOS

26.9.2003 Subo a ladeira em frente à construção de concreto abandonada. Faz alguns meses que caminho por São Paulo procurando um lugar para o Acampamento dos anjos. Vejo o edifício da avenida Dr. Arnaldo, em frente ao cemitério do Araçá. Um fantasma de concreto sujo e imenso. Começo a pesquisa e tomo conhecimento de que o prédio pertence a um orgão público estadual, a Secretaria da Saúde. Um lugar que deveria salvar vidas, desativado por mais de uma década, no coração da cidade e no ponto geográfico mais alto.


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ACAMPAMENTO DOS ANJOS

ADAPTAÇÕES TÉCNICAS

Sistema elétrico da peça

20.3.2004 PÁGINA 213 Materiais de adaptação e técnicas de montagem

Um artista-pintor com pouca experiência em negociações procura pessoas fora do sistema da arte e consegue autorização para instalar a obra. Preciso montar a equipe de trabalho, comprar as barracas, criar as esculturas. As peças sofrem diversas adaptações para resistirem à intempéries da paisagem urbana. Barracas com uma nova função, um novo significado.


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A ESCULTURA Medidas: 210 x 210 x 130 cm Peso: 3,8 kg Material: nylon impermeável 190T para o piso de polipropileno

Vergalhão de alumínio Barra de alumínio maciço de 3/8” estrutura e molda a peça com segurança e flexibilidade

Cabo de aço 3/8”

Nylon reforçado 50 mm (utilizado para cinto de segurança automobilístico)

Reforço de costura em todosos pontos de contato

Ilhoses dentilhados de latão para instalação do cabo de aço


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ACAMPAMENTO DOS ANJOS

EQUIPE DE TRABALHO Video makers

Produtor

Artista

Assistentes de montagem

Fotógrafo

Coordenador de montagem

Cinto de montagem

Caixa de ferramentas

Mesa de trabalho

5.4.2004 É noite e pela primeira vez vejo a obra iluminada. São 40 barracas coloridas instaladas verticalmente nos vãos de concreto. As barracas estão em suspensão na arquitetura. A pintura ganhou luz própria.


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1ÂŞ pĂĄgina do jornal Folha de S.Paulo publicado em 6.4.2004


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ACAMPAMENTO DOS ANJOS

INVASÃO E EVASÃO 21.4.2004 Da janela do meu apartamento, vejo alguns edifícios do famoso “Espigão da Paulista”, que ficam bem bonitos de noite, com as luzes acesas. Um deles, contudo, sempre me incomodou visualmente – é daqueles esqueletos de obra pública, grande volume de concreto cinzento e vazio, que se levantam no horizonte como uma advertência inútil contra o desperdício do dinheiro do contribuinte. Aliás, só o fato de sugerir o lugar-comum que acabo de escrever já seria argumento suficiente para implodir esse prédio, que estava, se não me engano, projetado para ser um instituto em prol da saúde da mulher. Vão retomar a obra. Mas, enquanto isso não acontece, o artista plástico Eduardo Srur montou ali uma espécie de instalação vertical, a que chamou de Acampamento dos anjos. São umas vinte barracas de camping de várias cores, iluminadas por dentro com luz fria, saindo das sacadas do prédio; parecem lanternas japonesas, ou talvez uma decoração de Natal. Só que uma decoração de Natal seria muito mais carregada e em pisca-pisca. Assimétricas e esparsas, as barracas ocupam o prédio com muita delicadeza e, mais importante do que isso, sem motivo – surgiram do nada, de repente, e se de noite, de longe, como as vejo do meu apartamento, têm algo de infantil ou de naïf, dão uma espécie de susto quando a gente as vê de perto. Quem sai das imediações do estádio do Pacaembu e se encaminha em


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direção à avenida Paulista é forçado a subir um ladeirão, quase sempre congestionado, que se chama rua Major Natanael. É uma rua larga, entre duas espécies de abismo: à esquerda, a boca de um túnel, do qual saem carros em contramão; à direita, o compridíssimo muro de um cemitério.

no carro em frente, tive uma sensação de surpresa muito feliz – uma surpresa de ordem “respiratória”, por assim dizer – quando o tal edifício de repente pareceu atrair minha atenção. Levantei os olhos e vi aqueles andares, sempre vazios, como que habitados de forma ao mesmo tempo fantasmagórica e festiva.

Algum artista do passado lembrou-se de colocar, num nicho desse muro, a estátua de Cronos: um velho sentado, de barba comprida, tendo em mãos uma ampulheta. Seria para nos lembrar da Morte, da Velhice e do Tempo, mas como há um semáforo interminável no alto dessa ladeira, a tendência do paulistano que repara na escultura é das menos contemplativas: buzina e bufa, pensando no compromisso a que chegará, mais uma vez, com grande atraso.

Posso estar sugestionado, é claro, pelo título da obra. O próprio movimento do olhar, para quem chega no fim da ladeira, é ascensional; e que os anjos acampem num prédio logo em cima do cemitério, eis o que não deixa de ser boa notícia. Digo isso para esconjurar uma interpretação mais sinistra desse trabalho, que seria de mau gosto mencionar aqui.

Essa ladeira dá de cara com o prédio em que foi montado o Acampamento dos anjos – e é então que a obra de Eduardo Srur provoca no motorista (quase não há pedestres por ali) seu maior impacto. Com os olhos grudados

O mais raro, de qualquer modo, é que num ambiente tão congestionado como a cidade de São Paulo seja ainda possível acrescentar alguma coisa. Qualquer nova intervenção, ainda que bonita, tende sempre a parecer uma poluição a mais, um distúrbio visual indesejado. Aquelas barracas vazias, suspensas no prédio, dão, ao contrário, uma sensação de leveza, de gratuidade, de oxigenação para os olhos.


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ACAMPAMENTO DOS ANJOS

E se barracas de acampamento – ainda mais nas imediações da avenida Paulista, palco permanente de protestos – evocam a ideia de uma invasão dos sem-terra ou dos sem-teto, há uma espécie de “gentileza” irônica, de mesura estética, nessa ocupação angelical. Bem punk, ao contrário, e nada artística, é outra intervenção urbana que eu queria comentar. Está no elevado Costa e Silva, o popular “Minhocão”. Passo com frequência por esse outro tipo de monumento ao gasto público disparatado e predatório; uma longa extensão de prédios-fantasmas, de tugúrios inabitáveis, de redondezas degradadas, formou-se com a construção dessa via expressa – que apesar de tudo me fascina. Os prédios à margem do Minhocão parecem servir para pouco mais além de suportar alguns outdoors modernosos, anúncios de cueca e mortadela. Eis que, no meio desses cartazes, uma verdadeira instalação foi concebida. É um outdoor tridimensional, divulgando um aerossol para matar baratas. Construíram uma barata gigante, dentro de um cano de plástico transparente. Ela sobe e desce, como se tentasse sair pelo ralo. Ah, mas tampando o ralo está o poderoso Baratok, ou que nome tenha. A barata volta às profundezas. A coisa é tão bem-feita que ocupa o flanco inteiro de um edifício, e o outdoor reproduz, para dar ideia do perigo que nos espreita do fundo de uma pia ou tanque de lavar, várias camadas do subsolo urbano: asfalto, pedrinhas, terra, raízes de árvores são retratadas


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com realismo. Pobre inseto! Quer sair, quer ver a luz, quer aflorar do encanamento como um inconsciente freudiano ou como os habitantes humanos que se espremem ali mesmo, debaixo do viaduto. Não poderiam ser mais diferentes o anúncio da barata e a instalação dos anjos; mas talvez estejam dizendo a mesma coisa. O quê, exatamente? Penso numa palavra que combinasse as ideias de invasão e de evasão; algo que tivesse a ver com a vontade de fugir daqui – mas também com a esperança de descobrirmos aqui mesmo, de repente, que tudo se transformou num lugar novo, diferente, iluminado e mais bonito. Acredito que instalações – obras de arte em geral – servem para isso. Mas sou forçado a admitir que inseticidas também. Marcelo Coelho - Ilustrada - Folha de S.Paulo

Publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo, na seção Ilustrada de 21.4.2004



ESCORAS ANTENAS


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ESCORAS

18.5.2006 Leio uma matéria sobre o corte de luz no Museu de Arte de São Paulo (Masp). O museu fica às escuras durante a exposição do impressionista Degas. Procuro a diretoria do museu para propor uma intervenção no vão livre, com centenas de pontaletes de madeira. Consigo a autorização, mas tenho dificuldade em viabilizar a intervenção devido à presença de comerciantes de antiguidades durante os fins de semana no vão livre.


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Aquarela sobre impressĂŁo em papel 20 x 29 cm

Projeto na planta baixa do Masp


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ESCORAS


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DEFINIÇÃO DE DICIONÁRIO es.co.ra sf (hol med schore, via fr ant escore) 1 Peça de madeira ou de ferro, que ampara ou sustém; espeque, esteio, pontalete. 2 Arrimo, amparo. 3 Espera com o intuito de atacar; tocaia. 4 Bot Raiz adventícia dos mangues e outras plantas de lugares pantanosos.

Matéria publicada na revista Veja São Paulo de 25.7.2007


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ANTENAS

O ARTISTA É UMA ANTENA


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7.8.2006 Recebo um convite para expor no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE). Na ocasião, o museu passava por uma crise institucional. Proponho a ocupação total do teto com dezenas de antenas de alumínio. A ideia era sintonizar novamente o espaço como instituição cultural e criar uma intervenção capaz de romper as paredes museológicas.


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Projeto na planta baixa do MuBE

ANTENAS


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12.9.2006 Antenas, do artista plástico Eduardo Srur, prevê a instalação de um conjunto de estruturas metálicas semelhantes a antenas no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE). É uma obra que procura representar a instituição cultural como um local de transmissão e recepção de informações para a sociedade, tal como define o próprio artista. Se o museu ainda hoje é identificado como um local de fruição de informações sofisticadas por parte de uma elite, as antenas de TV apontam para uma idéia mais democrática de disseminação das informações para um público de massa. Srur é um artista cuja produção vem se caracterizando pelo diálogo com as estruturas urbanas e arquitetônicas das grandes cidades. Seu projeto para o MuBE, além de dialogar com as formas arquitetônicas do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, estabelece ainda um vínculo com o espectador que se encontra de passagem pelas proximidades do museu, relacionando as massas da arquitetura de concreto com a comunicação etérea e imaterial captada pelas antenas. Mario Ramiro Artista plástico e um dos curadores do Motomix 2006



LABIRINTO SUPERMERCADO


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Estudo de planta baixa da composição da obra

PÁGINA 233 Maquete caixas de fósforo, tinta acrílica, resina, compensado naval e cavaletes de madeira 100 x 70 cm

LABIRINTO

O PÚBLICO É A OBRA 12.5.2012 No ateliê, desenvolvo uma maquete para orientar a construção da obra e facilitar o trabalho das equipes de montagem. Deixo a maquete em exposição e descubro a importância da peça quando vejo o interesse do público.




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LABIRINTO

25.5.2012

As intervenções urbanas dos parques VillaLobos, Juventude, Ecológico do Tietê e Ibirapuera foram construídas com mais de 100 toneladas de materiais recicláveis captadas em cooperativas municipais. Hoje, a capital paulista produz 15 mil toneladas de lixo e somente 1% é reciclado pela população. O restante é descartado em aterros, rios e ruas da cidade.

PÁGINA 234 Vista interna de um corredor sem saída da obra Labirinto no Parque Ibirapuera

Visita em lixão da cidade de Itu


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SUPERMERCADO

IMPULSO DE CONSUMO 8.6.2006 PÁGINA 237 Estudo do percurso a ser realizado no local

Pesquisa revela que o consumidor compra sem pensar, compra por impulso. O projeto consiste em fazer uma performance dentro de um supermercado onde despejarei sobre o meu corpo uma enorme quantidade de produtos industrializados. Durante a ação, imagino jogar as embalagens vazias no carrinho e, no final, pagar somente pelas embalagens vazias. Faço registros escondidos das gôndolas e corredores para elaborar a estratégia da ação. Desisto da ideia.


237 PLANTA CORREDORES - PRODUTOS


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SUPERMERCADO

O CORPO COMO SUPORTE

17.10.2011 Cinco anos depois, retomo as tratativas para viabilizar a performance. As tentativas na capital paulista são frustradas. Negocio com redes menores do interior e consigo uma autorização para fazer a intervenção com o supermercado aberto e a presença do público espontâneo. Às oito horas da noite, começamos as filmagens, que se estendem por mais de quatro horas. Os primeiros produtos consumidos são líquidos (refrigerantes), depois os pasteurizados e condimentos (iogurtes, coberturas, leite condensado, mostarda, ketchup). Os sólidos (açúcar, farinha, achocolatados, doces e guloseimas) complementam a composição. Lembro de minhas pinturas a óleo. Uma semana depois da ação, ainda sinto o cheiro dos produtos consumidos.


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ATENTADO ÂNCORA


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ATENTADO

A CIDADE É A GALERIA

20.4.2004 Começo a série de atentados nos outdoors da cidade de São Paulo. Mais de 30 peças publicitárias, localizadas em diversos pontos da metrópole, recebem interferências visuais com bombas de tinta produzidas no ateliê. As intervenções são registradas em fotos e em vídeo.


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244

ANCORA

A OCUPAÇÃO

16.9.2004 Desço a serra do Mar rumo ao Museu do Porto, na cidade de Santos. Pesquiso âncoras velhas de navios. Na região portuária, descubro que pesam mais de 3 toneladas e desisto da ideia. No ateliê, vejo as fotos da pesquisa e decido construir minha própria Âncora. Começo a produção da escultura com borracha e massa asfáltica. A Âncora participa da exposição Lord Palace, no hotel decadente do bairro de Santa Cecília. Durante a exposição, vejo o Monumento às bandeiras, na região do Ibirapuera, como local definitivo da obra.

10.12.2004 10h: eu e dois amigos chegamos ao local. A ação é rápida e, em menos de 15 minutos, o objeto está instalado no piso de granito. A corda de sisal é fixada no interior do barco com sacos de areia. A guarda civil aparece e eu digo que faz parte da composição. No dia seguinte, o jornal noticia o fato com a minha frase: “Foi como pintar um bigode na Monalisa paulistana”, fazendo referência irônica a Duchamp. O Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) visita o monumento e não identifica nenhum dano ao patrimônio. A intervenção, não autorizada, permanece por duas semanas.


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1ÂŞ pĂĄgina do jornal Folha de S.Paulo publicado em 11.12.2004


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ANCORA

25.12.2004

A FAMÍLIA Domingo de sol. Vou fotografar a intervenção. O monumento está cheio de gente e sou agraciado com a cena espontânea de uma família sobre a Âncora.


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A RETIRADA Resolvo buscar a Âncora. Quando chego ao local, sou impedido pela guarda municipal que alega estar defendendo o patrimônio da cidade. Insisto em retirar o objeto, argumentando que a peça foi instalada sem autorização. Os policiais fazem uma barreira humana em frente à Âncora para impedir a retirada. Vou embora. Na semana seguinte, descubro que a Âncora desapareceu do Monumento às bandeiras. Nunca mais foi encontrada.


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CRÉDITOS Bicicletas 64-65 Fernando Huck 67 Agência Estado Labirinto 68-69 André Pera 70 e 71 Dong Hyun Sung Supermercado 72-73 Dong Hyun Sung 74 e 75 Fernando Huck (frames) Atentado 80, 81, 82, 83, 84, 85 Fernando Huck (frames) Acampamento dos anjos 91 Rémi Villagi 92, 93 e 95 Rogerio Canella 96 Rémi Villagi Caiaques 100-101, 102-103 Wagner Kiyanitza 104 Rogério Canella 105 e 106 Eduardo Nicolau PETS 110-111 Guilherme Yuji

113 Cássio Vasconcellos 114-115, 116-117 Carolina Scatena 120-121 Cia. de Foto Sobrevivência 124-125, 126, 127, 128, 129, 131, 132 e 133 Hilton de Souza A arte salva 136-137 Sérgio Lima/Folhapress 138 e 139 Dong Hyun Sung 140 Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil 141 Dong Hyun Sung Touro bandido 146, 147 e 148 Kana Filmes (frames)


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DIÁRIO DE BORDO Touro bandido 152 Heitor Morrone (desenhos) A arte salva 163 Dong Hyun Sung 165 Carlos Ramirez Sobrevivência 168 e 169 Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) 170-171 Acervo de Arquivo Histórico de São Paulo 173 Hilton de Souza 178 Liniers (ilustração) PETs 190 Formatto Coberturas Especiais 196 Cia. de Foto Caiaques 200-201 Centro Pró-Memória Hans Nobiling Supermercado 238 e 239 Fernando Huck (frames) Âncora 247 Fernando Huck (frames) Todas as outras fotos são de Eduardo Srur.


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Coordenação Geral: Eduardo Srur Projeto editorial, edição e texto da página 103: Marcelo Rezende Criação e Projeto: Pequeno Comitê Projeto gráfico: Campo Revisão: Todotipo Editorial Assessoria Jurídica: Rangel Associados Tipografia: Helvetica Neue LT Std Bold Condensed e Akkurat Pro Papel: Eurobulk 135 g Digitalização e tratamento de imagens: Gráfica Ipsis Tiragem: 2.000 exemplares

AGRADECIMENTOS Jorge Guimarães Srur (in memoriam) Pirita Sanches Loria Guimarães Srur (in memoriam)

André Paes de Barros Carolina Scatena Cristina Yamazaki Dong Hyun Sung Eduardo Brandão Felipe Matsumoto Fernando Huck Kana Filmes Leonardo Corvo Luis Alvim

Maria Alice Srur Mariana Lanari Martin Grossmann Monica Srur Nelson Leirner Rogério Canella Ronaldo Severino Itaú Cultural


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Direção editorial: Marisa Moreira Salles e Tomas Alvim Editorial: Laura Aguiar Estagiária: Isabela Talarico Direção de arte: Marisa Moreira Salles Arte: Alexandre Costa Produção gráfica: Luis Alvim Direção comercial: Tomas Alvim Comercial: Fernanda Gomensoro Administrativo: Ana Paula Guerra e Gercilio Corrêa Direção executiva: Mauricio Castro da Silva

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