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DESIGUALDADES E COMBATE ÀS ASSIMETRIAS
MOÇÃO DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA Eduardo Vitor Rodrigues 2022
Vamos bater-nos pela realização de um novo referendo e pela vitória do sim, mas
teremos de ter soluções caso o desfecho seja contrário às nossas aspirações. Tais
soluções passam por uma reforma das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento,
com o reforço do seu papel e competências, e, como planeado pelo Governo, com a
integração progressiva dos serviços desconcentrados de natureza territorial, “bem como dos órgãos de gestão dos programas operacionais regionais e demais fundos de
natureza territorial, sem prejuízo da descentralização de algumas destas competências para as comunidades intermunicipais e áreas metropolitanas” (Programa do XXIII Governo Constitucional).
De resto, descentralização e regionalização não se excluem mutuamente. Bem pelo
contrário, elas completam-se e complementam-se. Em muitos países da Europa, a
criação de regiões foi acompanhada da descentralização para as autarquias locais, com
uma transferência de competências multinível. O gradualismo é um caminho possível
para o horizonte da regionalização. Importa, portanto, ao mesmo tempo advogar a
criação de regiões administrativas, dar seguimento à transferência de competências
para o poder local e explorar a migração de responsabilidades e meios adicionais desde a administração central para as Comunidades Intermunicipais, a Área Metropolitana do
Porto e os municípios, e destes para as freguesias, sempre com o objetivo maior do
desenvolvimento e amadurecimento da nossa democracia.
DESIGUALDADES E COMBATE ÀS ASSIMETRIAS
O princípio da igualdade e da não discriminação está presente no nosso ordenamento
jurídico desde a Constituição da República Portuguesa de 1976 (artigo 13.º). Assim, a
promoção da Igualdade de Género é uma das tarefas fundamentais do Estado (alínea h
do artigo 9.º), sendo a participação direta e ativa de homens e mulheres na vida política
considerada como condição e instrumento fundamental de consolidação do sistema
democrático (artigo 109.º).
MOÇÃO DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA Eduardo Vitor Rodrigues 2022
A Agenda da Igualdade assenta numa vasta legislação e em medidas políticas que muito
contribuem para a consolidação do sistema democrático, garantindo desenvolvimento,
competitividade e maior justiça social. A concretização dos direitos e garantias previstos
a nível constitucional, internacional e comunitário, deve implicar a centralidade das
políticas de género na estrutura de governação e a sua transversalidade em todos os
domínios de ação política.
Numa dimensão macro, a garantia deste princípio constitucional inclui o combate à
pobreza como forma de minimizar as desigualdades e apostar na coesão territorial.
O desenvolvimento sustentável de qualquer território ou região é diretamente
proporcional com este princípio e implica:
1. Alcançar a Igualdade de Género e empoderar todas as mulheres e raparigas;
2. Integrar a dimensão de género – designadamente na área da saúde e bem-estar para
tod@s, educação de qualidade, emprego digno e crescimento económico inclusivo,
redução das desigualdades nas cidades e comunidades sustentáveis e, ainda, o combate
as alterações climáticas;
3. Uma perspetiva de interseccionalidade, considerando a natureza multidimensional
que está na base das desigualdades, entrecruzando a discriminação em razão do sexo
com outros fatores de discriminação, como a origem racial e étnica, a nacionalidade, a
idade, a deficiência, a religião, a orientação sexual e a identidade de género e até os
territórios onde se fixam. Importa aprofundar a dimensão da análise integrada das
discriminações múltiplas nos instrumentos estratégicos de promoção da igualdade e da
não discriminação ajustados aos diferentes territórios, tendo em conta as fortes
assimetrias do nosso distrito e na nossa região.
O Partido Socialista lança como desafio estratégico no atual programa do governo as
“Desigualdades – Mais e Melhores Oportunidades para todas as pessoas - sem discriminação.” Portugal é, hoje, um país menos desigual, em que têm sido eliminadas
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ou reduzidas as desigualdades de direitos, mas em que persistem níveis significativos de
desigualdades económicas e sociais. A crise pandémica e as suas consequências
económicas e sociais vieram exacerbar as desigualdades existentes e revelaram novas
dimensões da desigualdade que é preciso combater, designadamente no que respeita à
correção das desigualdades regionais, promovendo a coesão territorial.
A Federação Distrital do Partido Socialista do Porto não fica indiferente a esta realidade. Defendemos um país justo, onde ninguém fica para trás.
Num território tão abrangente como é o distrito do Porto, importa perceber que regiões
e municípios do país são mais inovadores, quais são aqueles onde há maior pobreza e
como é que o bem-estar de todas as pessoas é influenciado pela escolaridade ou pelo
ambiente. Um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos faz uma
caracterização dos perfis de bem-estar e as desigualdades sociais dos municípios
nacionais.
Consideramos o Porto um distrito com diferentes territórios - onde tod@s contam e têm a importante função de afirmar e dar voz ao Norte e à região. Olhar o distrito com todas as suas assimetrias, litoral e interior, meio urbano e rural, territórios de alta e baixa densidade. Contudo, é nessa diversidade que incide o olhar desta moção.
É fundamental olhar pelo bem-estar dos territórios no combate às desigualdades e na
promoção da coesão social, sendo cada vez mais evidente que o crescimento económico
é insuficiente para medir e avaliar o progresso social.
Vários estudos demonstram que a segurança e a qualidade ambiental do local onde
vivemos, as possibilidades de gestão dos tempos da vida familiar e de trabalho, o acesso
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à habitação e a serviços de educação, saúde e transportes, a par do envolvimento nas
comunidades, são alguns dos fatores que mais influenciam a perceção e a experiência
de bem-estar das pessoas, sofrendo grandes variações entre territórios.
O nosso propósito e o projeto que queremos para o distrito é o bem-estar e redução
dessas assimetrias. E nele estão contidas a dimensão de bem-estar referente ao
trabalho digno, a dimensão de bem-estar no equilíbrio trabalho-família, a dimensão
da qualidade ambiental, a dimensão de bem-estar da habitação, a dimensão
de bem-estar social relacionada com a participação cívica e o combate ao isolamento.
O mundo, a Europa e Portugal estão em acelerada mudança, por vezes difíceis
de acompanhar e interpretar, ademais agora perante uma nova crise à escala global,
que para já reconfigurou a forma como nos relacionamos mutuamente nas experiências
quotidianas, cada um consigo mesmo, com os seus próximos e com os contextos mais
abrangentes. Os problemas sociais contemporâneos são amplos, complexos, exigentes,
e apelam para uma perspetiva global e territorialmente localizável, capaz
de providenciar os melhores ângulos de compreensão científica, mas também de
estratégia e ação política sobre os desafios com que nos defrontamos.
Importa por isso ter em conta que nos territórios de baixa densidade, como é o caso de
Baião e, de forma parcial, Amarante e Marco de Canaveses, é urgente realçar a
importância da educação e da formação na atual sociedade do conhecimento e da
aprendizagem. Este conhecimento é criado e difundido como um fator importante na
produção, assente na inovação tecnológica e exigindo uma atualização permanente e
contínua face às mudanças económicas e sociais no quadro da globalização.
Os territórios têm um papel importante no seu desenvolvimento, pela utilização
criteriosa dos seus recursos específicos, materiais e imateriais, na criação de novas
forças produtivas, pela valorização do seu património, recursos endógenos e pela
formação e valorização do capital humano. Novos conhecimentos, progresso e bem-
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estar têm conquistado o território nacional, nas últimas décadas, mas não de uma forma
homogénea.
Algumas regiões conseguem manter-se na vanguarda, mas um número significativo
começa a acusar a existência de um fosso que as separa, ficando cada vez mais longe e
esquecidas. Um dos objetivos desta moção, através de alguns eixos de ação, é mostrar
que os territórios designados de “áreas de baixa densidade” possuem capacidades para se tornarem autossustentáveis, com uma resiliência extraordinária, desde que lhes
sejam criadas condições para relançarem a sua economia e competitividade, que passa
pela educação e pela formação de recursos humanos.
De referir que para muitas mulheres, as novas políticas de educação nestes territórios,
que passaram por exemplo pela criação de cursos profissionais, reduziram a taxa de
abandono escolar, aumentou o seu sucesso e, a longo prazo, favoreceu a
autonomização. As Escolas Profissionais muito têm contribuído para fomentar a
Educação em territórios de baixa densidade. A formação aí recebida tem permitido aos
jovens ingressar na vida ativa como profissionais qualificados ou no prosseguimento de
estudos superiores.
Por parte do tecido empresarial, a existência de recursos humanos, na sua maioria
mulheres, permite-lhes recrutar profissionais qualificados para os quadros das suas
empresas. Esse é também um dos objetivos desta moção e da nossa estratégia de
empoderamento das mulheres e da sua afirmação. Este posicionamento é fundamental
para a constituição de uma voz forte para o distrito e para a região Norte.
Reconhecendo a necessidade de discriminar positivamente os territórios de baixa
densidade, assim como de olhar com especial atenção para os meios rurais, o Partido
Socialista no distrito do Porto concebe um desenvolvimento integrado e harmonioso do
território, sem preconceitos de natureza geográfica. O nosso distrito trata-se de um
território em que os municípios se complementam, mas onde ainda existem contrastes