Jornal da UFU - abril 2014 - nº 151

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EDITORIAL

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Um incauto em seara alheia: um ano de Dirco Por incrível que pareça, a atual Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) foi nomeada em 1º de abril de 2013. Pois é, faz um ano! A princípio, reorganizar a Dirco não parecia tarefa tão difícil. Todavia, os meandros da comunicação pública requerem de nossa instituição uma postura que foge aos parâmetros mercadológicos dos meios de comunicação privados. É lógico que alguns pontos devem ser ressaltados. Como historiadora de ofício, a imprensa tem sido foco das análises e críticas de nossas pesquisas, posto que são evidências documentais do tecido histórico. Outro aspecto é a arte de fazer, de narrar com texto ou imagens, com um compromisso de pensar uma UFU plural e coletiva, aberta à multiplicidade de pesquisas, de concepções políticas diversas, de ações extensionistas e culturais comprometidas com o lugar que a universidade ocupa no cenário nacional. Poderíamos afirmar que essa diretoria encontrava-se praticamente desativada há quase quatro anos e meio. Antes de tudo, foi possível perceber que a UFU padece de uma cultura de comunicação. Porém, mais que isso, como parte integrante do Fórum de Comunicação Social da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), percebemos que esse não é um caso específico e que os modelos e os atropelos se disseminam pelas universidades públicas do país, ao sabor de interesses de gestões que se sucedem. A UFU, ao traçar a sua política de comunicação social, teve um aceno positivo da atual gestão para incluir no nosso métier não só a assessoria às ações administrativas e a divulgação de suas conquistas, mas também das dificuldades, reivindicações e críticas enfrentadas no cotidiano de qualquer lugar que se pretenda público e democrático. Em busca da qualidade e em parceria com a Fundação Rádio e Televisão Educativa de Uberlândia (RTU), visitamos outras instituições congêneres, realizamos um curso de treinamento em gerenciamento de crise e sensibilização pela Somma Empreendimentos, reafirmamos nossos laços

com o Curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo e com as Secretarias Municipais de Cultura, Comunicação e Educação. Dentro de nosso planejamento estratégico estão delineadas muitas atividades em desenvolvimento. Entre elas, ressaltamos o lançamento do portal de notícias da UFU, comunica.ufu.br, moderno, funcional, interligado às mídias globais, permitindo em tempo real o acesso à Rádio Universitária FM 107,5, à TV Universitária e ao Jornal da UFU. As campanhas de outdoor, o jornal impresso mensal e o programa semanal de Rádio e TV UFU no Plural, aberto a toda a comunidade, têm cumprido seu papel de abrir a Dirco ao diálogo político atual e aos resultados de pesquisas e eventos. Também produzimos o vídeo institucional da UFU do ano de 2013. Outras conquistas não podem deixar de ser mencionadas, como o Projeto Ginga Brasil, classificado em quinto lugar entre 10 universidades, com verba de R$ 500.000,00. Por meio deste projeto e em convênio com a Engenharia Elétrica, estamos organizando um laboratório e aplicativos de interatividade e nos preparando para a implantação da TV Digital em 2015. Também a concessão de Rádio Universitária FM 105,9 MHZ em Ituiutaba, a torre retransmissora de TV Universitária para Patos de Minas e habilitação do canal digital de TV 36 para Uberlândia e região pelo Ministério das Comunicações são vitórias expressivas para a UFU. Vale dizer que todas essas ações só têm sido possíveis pela disposição de nossos funcionários, pelo seu desempenho com ética e proatividade, pela conexão real entre rádio, TV, internet e jornalismo impresso e também pelo clima de respeito entre nós. O caminho tem sido menos árduo e mais efetivo.

Maria Clara Tomaz Machado Diretora de Comunicação Social

EXPEDIENTE ISSN 2317-7683 O Jornal da UFU é uma publicação mensal da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Av. João Aves de Ávila, 2121, Bloco 1S, Santa Mônica, 38.400-902, Uberlândia-MG. Telefone: 55 (34) 3239-4350. www.dirco.ufu.br | jornalismo@dirco.ufu.br. Diretora de Comunicação Maria Clara Tomaz Machado Coordenador de Jornalismo Fabiano Goulart Coordenador de Conteúdo Cairo Mohamad Ibrahim Katrib Equipe de Jornalismo Diélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto, Jussara Coelho, Marco Cavalcanti e Renata Neiva Estagiários em Jornalismo Aline Pires e Júnior Barbosa Editora Eliane Moreira (RP525/RN) Projeto gráfico Elisa Chueiri Capa/Designer Brunner Macedo Diagramação Luciano Franqueiro Revisão Diélen Borges e Maria Clara Tomaz Machado Fotografia Milton Santos Impressão Imprensa Universitária - Gráfica UFU Tiragem 3000 exemplares Docente colaborador Eduardo Macedo Reitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor: Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de gabinete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de Graduação: Marisa Lomônaco de Paula Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Oliveira Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor de Planejamento e Administração: José Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos Humanos: Marlene Marins de Camargos Borges | Prefeito Universitário: Reges Eduardo Franco Teodoro


PESQUISA

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Equipe da Engenharia Mecânica propõe processos para destinação de pneus Sob coordenação de Renan Billa, estudantes apresentam soluções para reaproveitamento de material texto Renata Neiva foto Milton Santos A frota de veículos no Brasil cresce em ritmo acelerado. Pelas ruas e rodovias do país, circulam aproximadamente 80 milhões de unidades, entre carros, motos e caminhões – um aumento de 123% no período de 2001 a 2012. Com isso, em 2013, foram fabricados cerca de 68,8 milhões de pneus. Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), foram recolhidas 404 mil toneladas, o equivalente a 81 milhões de pneus de carros de passeio. Um dos problemas que inquietam o setor é a destinação final desses produtos. O que fazer com pneus usados? Qual a melhor forma de reaproveitá-los? As respostas estão com uma equipe da Faculdade de Engenharia Mecânica da UFU. O trabalho é orientado pelo professor Renan Billa e está sendo desenvolvido pelos estudantes André Santana de Mesquita, Marcelo Garcia Marques, Matheus Mendes Moreti e Roger Brenno Gonçalves Machado. O tema central da pesquisa é Logística Reversa de Pneumáticos Inservíveis. De acordo com Billa, a motivação do projeto é a necessidade de enquadramento na Resolução nº 416/09 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) para a correta destinação dos pneus inservíveis (disponíveis para descarte). O resultado foi o direcionamento dos estudos para a pesquisa de materiais e as formas de inserção dos resíduos em outras cadeias produtivas. O projeto apresenta propostas que incluem análise da metodologia

de recepção, classificação e armazenagem; desenvolvimento de maquinário para processamento; otimização do transporte e análise de viabilidade de instalação de uma planta de reciclagem. As atividades começaram na disciplina optativa de Logística Reversa. A conclusão dos trabalhos está prevista para agosto deste ano. A equipe reforça que os pneus inservíveis, quando descartados de forma inadequada, prejudicam o meio ambiente. Além de provocar poluição, há o risco de proliferação de doenças, como a dengue. Nas carcaças, são encontrados focos do mosquito Aedes aegypti e animais peçonhentos. A disposição em aterros sanitários também é inviável, pois os pneus são objetos de difícil compressão. O material, que forma um resíduo volumoso, não sofre biodegradação. Outro transtorno é ocasionado pela queima total a céu aberto, uma prática comum que resulta em um grande impacto ambiental. Para minimizar os problemas, o Conama instituiu a Resolução nº 258/99, que proíbe o descarte de pneus em rios, aterros sanitários, lagos, terrenos baldios, assim como a queima a céu aberto. Em 2009, a Resolução nº 416 atribuiu aos fabricantes e importadores a responsabilidade pelo ciclo total dos pneus: a coleta, o transporte e a destinação final. Para cada pneu importado ou produzido deve ser reaproveitado um pneu inservível. As empresas precisam implementar pontos de coleta em municípios com mais de 100 mil habitantes. A resolução também preconiza a promoção de estudos e pesquisas para o desenvolvimento de técnicas de reutilização e reciclagem.

Daí surgiu a necessidade de aplicação dos conceitos de logística reversa à indústria de pneus. Os pneus são compostos, basicamente, por borracha, nylon e aço. A borracha pode ser reutilizada, por exemplo, na mistura de massa asfáltica e na fabricação de artefatos. O reaproveitamento do nylon ocorre na indústria têxtil e o aço tem a possibilidade de ser reprocessado em indústrias siderúrgicas. O pneu também pode ser reaproveitado, em sua forma inteira, em muros de contenção e de arrimo, contenção de erosão do solo, fabricação de móveis decorativos e de quebra-mar. Hoje, no Brasil, a maior parte dos pneus inservíveis reaproveitados destina-se à utilização como combustível na indústria de fabricação de cimento. Os pneus são queimados inteiros ou triturados. Esta aplicação é significativa em Minas Gerais, maior estado produtor de cimento, com 24% da produção nacional concentrada em 14 fábricas. O projeto desenvolvido na UFU tem diferentes linhas de trabalho. Uma delas refere-se ao layout de recepção e

à técnica de envelopamento (colocar um pneu dentro do outro, incluindo os de uso agrícola) para reduzir os custos logísticos. Em determinadas regiões do país, alguns caminhões percorrem até 1450 quilômetros rumo à indústria de cimento. Os pesquisadores chamam a atenção para a dificuldade em carregar esses pneus devido ao grande volume. Um dos grupos apresenta, portanto, uma solução para transportar o pneu inteiro envelopado ou triturado. “A nossa proposta é levar pouco ar e muito pneu”, resume Billa. As outras fases do projeto estão relacionadas ao desenvolvimento de maquinário para processamento de pneus, que inclui também um triturador móvel que poderá ser acoplado a um caminhão. “O veículo poderá, por exemplo, sair de um ecoponto [local onde pneus são armazenados temporariamente] de Macapá com toneladas de pneus granulados em direção a uma planta de reciclagem”, explica o estudante Marcelo Marques. Essa planta de reciclagem, segundo o professor Billa, é considerada o ponto alto do projeto. Valorização energética De acordo com o professor Billa, o pneu é uma excelente fonte alternativa de combustível. O poder calorífico do pneu inservível é considerado altamente competitivo quando comparado com os combustíveis fósseis não renováveis. O óleo combustível apresenta um poder calorífico de 10.000 kcal/kg em comparação aos 7.667 kcal/kg dos pneus e às 620 kcal/kg do gás natural. Esses dados fazem parte da pesquisa de Carlos Alberto F. Lagarinhos e Jorge Alberto S. Tenório, do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Epusp).


CEPES

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Como moramos? Publicação analisa qualidade de moradias e déficit habitacional em Uberlândia texto Eliane Moreira fotos Milton Santos “Esse negócio de pagar aluguel mata a gente”. O desabafo é do açougueiro Fernando Ferreira, que compromete 30% de sua renda para morar em uma casa de três cômodos, no Bairro Celebridade, na zona Leste de Uberlândia. Casado e com três filhos, ele é personagem da realidade abordada na publicação Qualidade das Moradias, produzida pelos economistas Henrique Barros e Sara Cunha, do Centro de Estudos Pesquisas e Projetos Econômico-Sociais (Cepes) da UFU. Em 2010, para atender à necessidade do déficit habitacional em Uberlândia, de acordo com o estudo, seriam necessários 17.961 domicílios. A publicação, com 113 páginas, foi desenvolvida no decorrer de 2013 e dividida em três seções: qualidade dos domicílios, déficit habitacional e características urbanísticas. A primeira, segundo Barros, tem “o olhar mais próximo do domicílio” e observa itens como coleta de

lixo, esgotamento sanitário, banheiro e distribuição dos domicílios em relação à renda. “Algumas variáveis são condicionadas à situação econômica dos moradores. Cruzando as informações, tenho ideia do que é o ambiente e como as variáveis se relacionam”, diz o economista. A segunda seção trabalha o conceito de déficit habitacional. “Uma informação importante para nortear a formação de políticas públicas para o município”, ressalta o pesquisador. Os dados, derivados do Censo, foram trabalhados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Sistematizamos para pautar o debate”, explica Barros. A publicação apresenta não só a estimativa total do déficit, mas também seus componentes. Com isso, pode-se saber, por exemplo, que havia cerca de 1.400 domicílios precários e quase nove mil famílias gastando mais de 30% da sua renda com aluguel. De acordo com Henrique, pessoas que comprometem esse percentual de renda com aluguel estão em condição de vulnerabilidade, pois prejudicam despesas com outras necessidades como saú-

de e alimentação. “Essa foi uma variável muito significativa”, destaca o economista. O porteiro Manoel Messias vive uma realidade definida na publicação como coabitação – mais de uma família no mesmo domicílio –, outra componente daquele déficit. Ele mora “de favor” na casa da cunhada. Foi a saída que encontrou para economizar e concluir a construção da moradia, que fica no acampamento Santa Clara, zona Leste da cidade. Com uma renda de pouco mais que dois salários mínimos, Manoel adquiriu o material e, nas folgas, trabalha na construção da casa própria, que tem dois quartos, banheiro, sala e cozinha. “Comprei o material a prestação. Como a mão de obra é ‘puxada’, eu mesmo construo nas horas de folga”, explica o porteiro. Na terceira seção da pesquisa, foram analisadas as características urbanísticas no entorno dos domicílios pesquisados, entre elas, pavimentação, arborização, lixo acumulado,

rampa para cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção. Esta última apontou que 90% das residências não possuem rampa. Outra informação preocupante foi a de que mais de 25 mil domicílios convivem com lixo acumulado em seu entorno. “Observando as variáveis conseguimos ter uma ideia do espaço urbano”, esclarece Barros. A publicação é a primeira do observatório de qualidade de vida, uma plataforma do Cepes que agrega pesquisadores em torno da temática da qualidade de vida na cidade de Uberlândia, especialmente sobre a qualidade das moradias. “Com esta publicação podemos, também, comparar Uberlândia com municípios de porte semelhante, já que está entre os 23 municípios brasileiros com população estimada entre 500 mil e um milhão de habitantes. Isso é muito importante para situar a cidade em sua capacidade de enfrentar desafios que são comuns em cidades desse porte”, ressalta o economista.

Manoel Messias trabalha nas horas de folga na construção da casa própria

O açougueiro Fernando Ferreira compromete 30% da renda com aluguel


INTERNACIONALIZAÇÃO

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UFU é destaque no Inglês sem Fronteiras Desde o final de 2013, instituição é centro de aplicação do exame de proficiência TOEFL

texto Cíntia Sousa

“O Inglês sem Fronteiras é importante, pois cria a oportunidade para qualquer aluno aprender a língua inglesa sem nenhum custo, além de promover a disseminação do inglês entre os brasileiros”. Essa é a opinião de Jocival Junior, aluno do curso de Sistemas de Informação da UFU, que participa do programa Inglês sem Fronteiras (IsF). Já a estudante Camila Zanetoni Martins, de Engenharia Química, almeja realizar intercâmbio para os Estados Unidos, por isso, ela participa das aulas para aprimorar os conhecimentos em língua inglesa. A UFU apresenta o maior número de inscritos no IsF dentre as 43 universidades envolvidas no projeto. Ao todo, participam do programa 1.197 estudantes de graduação e pós-graduação da instituição. A UFU foi a única universidade do país que conseguiu oferecer e completar turmas de aulas presenciais para mais de 30% do seu público inscrito no My English Online (MEO). O MEO é um curso de inglês online gratuito ofertado pelo Ministério da Educação (MEC) aos universitários brasileiros. Para participar das aulas presenciais do IsF, o aluno precisa estar matriculado e realizar as atividades da plataforma. Na UFU, cerca de seis mil estudantes acessam ativamente o MEO.

Gyzely Lima, uma das professoras do projeto, explica que as aulas presenciais, além de auxiliar nas atividades da plataforma online, preparam o aluno para os testes de proficiência, seja o TOEFL ou o IELTS, exames que qualificam o estudante para a realização de intercâmbio, por meio do Ciências sem Fronteiras. “As aulas são baseadas no desenvolvimento das quatro habilidades linguísticas da língua: ler, falar, escrever e ouvir. Trabalhamos atividades em que abordamos especificamente a estrutura do TOEFL e tarefas que se referem à vida acadêmica, como a apresentação de uma palestra em inglês sobre uma área de pesquisa”, ilustra a professora. Marco Aurélio Costa Pontes, estudante do último período de Letras e professor do projeto, acredita que as aulas permitem que os alunos sejam mais autônomos. “Não é somente uma forma de preparar os alunos para

uma prova de proficiência internacional, e sim, uma forma de torná-los cidadãos críticos e reflexivos, que conseguem dialogar em um mundo globalizado, em sua maioria, por meio do inglês”, opina Pontes. Nessa primeira edição do Isf, os encontros acontecem apenas nos campi Santa Mônica e Umuarama. Ivan Ribeiro, um dos coordenadores do projeto, explica que as aulas do programa não são realizadas nos campi fora de sede devido à dificuldade de encontrar profissionais qualificados e que tenham vínculo com a instituição nas cidades de Ituiutaba, Patos de Minas e Monte Carmelo. O professor espera que, na próxima chamada do programa, que deve acontecer no mês de julho, os campi avançados possam ser atendidos com as aulas presenciais. O IsF na UFU conta com 20 professores, cada um responsável por três turmas de 10 a 20 alunos. Os professores têm o auxílio de quatro assistentes nativos de língua inglesa, os English Teaching Assistants (ETAs). A previsão de término dessa primeira etapa é final do mês de maio.

Aplicação do TOEFL ITP na UFU “Além de preparar para o TOEFL ITP, nós somos um centro aplicador, lugar onde o próprio aluno da instituição pode fazer o teste. Antes, o aluno tinha que se deslocar ou esperar a vaga para fazer o teste em Brasília, Belo Horizonte, Campinas, São Paulo, e eram poucos os lugares oferecidos, mas hoje a UFU oferece esse teste para os alunos”, destaca Ribeiro. O exame é gratuito e qualifica o aluno para o intercâmbio. Podem participar estudantes de graduação, mestrado e doutorado da UFU. Neste ano, a UFU já realizou testes nos meses de fevereiro, março e abril. O IsF é um trabalho em conjunto entre o MEC, a Secretaria de Educação Superior (SESu), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e os Núcleos de Línguas (NucLi) de cada instituição participante. Na UFU, os coordenadores responsáveis pelo projeto são professores do Instituto de Letras e Linguística (Ileel): Waldenor Barros Moraes Filho, Valeska Virgínia Soares Souza, Ernesto Sérgio Bertoldo e Ivan Marcos Ribeiro.


PODER

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Corrupção: nós somos culpados? “Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto.” Marquês de Maricá

A corrupção no setor público indica o uso ou a omissão do poder, concedido por lei ao servidor – funcionário de carreira ou concursado –, em busca de vantagem indevida para si ou para terceiros. Segundo sociólogos, a corrupção está associada à fragilidade dos padrões éticos de determinada sociedade, os quais se refletem também na ética do servidor público. Os tipos de corrupção mais comuns nesse setor são a apropriação indébita, peculato, concussão, corrupção ativa e corrupção passiva. Acontece crime de peculato quando há

texto Jussara Coelho foto freeimages.com

desvio de dinheiro público por funcionário que administra verbas públicas. A concussão é a extorsão cometida por um servidor público. A corrupção passiva, segundo o Código Penal, é “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”. Já a corrupção ativa, segundo esse código, é “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”.


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No Brasil, a cada dia, descobrem-se novos casos de corrupção. O país passa por um período em que a população acredita cada vez menos no poder público e nas pessoas que o administra. No chamado Índice de Percepção da Corrupção, pesquisa realizada pela organização não governamental (ONG) Transparência Internacional, que listou 177 países, o Brasil, em 2013, ficou em 72º lugar no ranking, com 42 pontos. Já no estudo do Bribe Payers Index (Índice de Pagadores de Suborno, em tradução livre), o país aparece em 17° lugar e, no ranking dos países que mais pagam propina, o Brasil ocupa a 5ª posição. De acordo com Fernando Martins, promotor de justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) e professor de direito da UFU, juntamente com a impunidade, outro fator que incentiva a corrupção é o fato de os habitantes do país não perceberem que, em pequenos atos, cometidos por pessoas comuns, que não detêm poder político ou econômico, também se encontra a corrupção. Segundo Martins, o brasileiro pratica atos de corrupção moral, mentindo para obter vantagem, furando fila, cometendo pequenos furtos no setor público e privado, adulterando documento para não se prejudicar e adquirindo produtos de origem criminosa. “Ele vai roubar uma fruta ou lata de óleo do restaurante universitário como vai roubar o caixa de uma fundação”, exemplifica o promotor. A corrupção também ocorre por parte daqueles funcionários que fazem o contrário do que a lei determina: ele não rouba, porém, não trabalha ou é ineficiente. De acordo com Martins, as leis que punem a improbidade administrativa e a corrupção precisam ser mais efetivas, propiciando melhor julgamento. “O corrupto não poderia ter o regime semiaberto, deveria ser somente regime fechado”, opina Martins. Ele ainda assegura que o pior crime é o de lesa-majestade, aquele que vai contra os cofres públicos, pois “quando o sujeito saca o dinheiro da população, ele está matando e colocando bandido na rua”, uma vez que ele está tirando a possibilidade de melhorias na saúde e educação. A sociologia da corrupção Segundo o professor Sidartha Sória e Silva, doutor em Sociologia e professor da UFU, a corrupção é um fenômeno que está presente em todas as sociedades estratificadas (diferenciação social por estamentos: nível social, religiões, classes ou por níveis de rendas). Sempre que há estratificação, a sociedade é potencialmente corrupta, pois há indivíduos que não aceitam a posição atualmente ocupada na sociedade e querem contornar e alcançar posição de poder ou de riqueza material. Quanto mais desigual a sociedade, mais potencialmente corrupta. Outro fator que incentiva a corrupção, segundo o sociólogo, é a impunidade. Em um sistema de justiça ineficiente e incompetente, as práticas corruptas acontecem com mais frequência porque não existe temor à sanção. “A percepção da população sobre corrupção é de que só punem a minoria: mulher, pobre e negro. Assim, o rico, o branco e o homem são sempre protegidos”, afirma o sociólogo.

Sidartha ainda acrescenta que o problema cultural no Brasil tem uma especificidade: a questão do mandonismo. É a famosa frase: “você sabe com quem está falando?”. A sociedade brasileira, mais que as outras sociedades capitalistas, é, historicamente, desigual. Essa estrutura social e econômica corresponde a uma cultura da hierarquização – o dominante e o dominado. O mandonismo é a prática pela qual o indivíduo reivindica a desigualdade. Sidartha explica: “se você está em uma fila de banco e chega uma autoridade, um artista ou um amigo do caixa, os laços pessoais irão prevalecer sobre a impessoalidade da lei que determina a igualdade”. Em um país em que se valoriza essa prática social autoritária e hierarquizada, a lei tem eficácia duvidosa. Ora vale, ora não. A eficácia da lei fica comprometida por “a quem ela vai se aplicar”. “Esse é nosso problema cultural, que está enraizado por toda parte”, afirma o sociólogo. Existe, conjuntamente com os demais fatores, a institucionalização dos hábitos. Sidartha elucida que todos os indivíduos, por economia de energia psíquica, tendem a valorizar hábitos, por exemplo, guardando os objetos sempre no mesmo lugar para economizar tempo e energia. Assim também são as regras sociais. Convencionamos que se dirige sempre pela direita, mas na Inglaterra, a convenção é outra. Os hábitos se tornam institucionalização de comportamentos. O mesmo vale para pequenas práticas desonestas que vêm do mandonismo. A corrupção, a cultura do “quem pode mais manda mais” e do “você sabe com quem está falando” é uma instituição brasileira. Para Sidartha, temos que quebrar esta instituição cultural que é tão antiga quanto a própria sociedade brasileira. E como combater a corrupção? Há sinais de que é possível mudar esta situação: quando as instituições legais dão bom exemplo, quando o rico vai para a cadeia, não importando a cor ou a influência que o indivíduo possua na sociedade, enfatiza Sidartha. Ele cita o caso do Mensalão, em que os indivíduos participantes foram condenados e estão presos. “Se a justiça começar a funcionar de forma mais equânime estaremos no caminho para a moralização nas instituições”, ressalta o sociólogo. O promotor Fernando Martins propõe melhorar os sistemas político, econômico e jurídico, fazendo com que os três funcionem conjuntamente. Ele afirma também que é necessário aumentar o nível da educação e sugere uma iniciação científica da ética dentro das universidades. Sidartha ainda avalia que outro caminho é o das práticas individuais. É importante combater as pequenas práticas corruptas da população. No trânsito, quando um indivíduo para em uma vaga para idoso ou para pessoa com deficiência, exemplifica. Educando os filhos para que sejam respeitadores das leis e mostrando que todo ato tem consequência. As pessoas que cometem pequenos delitos tendem a cometer grandes quando o poder lhes é dado, por terem naturalizado um comportamento de desrespeito às regras. É necessário combater todas as manifestações, desde as pequenas infrações até as maiores.


COMUNICAÇÃO

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Fazemos a TV que você vê, tocamos a alma com a rádio que você ouve Conheça a programação da rádio Universitária FM e da TV Universitária texto José Amaral Neto fotos Milton Santos

Grade de programação da Universitária FM 107,5 - (34) 3239-4345 PHD - Programação Hiperdinâmica PROGRAMAÇÃO DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA 5h às 6h

Raiz Brasil - Sertanejo Raiz, música caipira e informação sobre agronegócio

6h às 11h

PHD – Programação Hiperdinâmica - MPB, pop nacional, pop internacional, informações jornalísticas, culturais, de saúde e entretenimento Apresentação: Victor Hugo

11h às 12h

Trocando em Miúdos - Jornalismo inteligente de interesse público Apresentação: Márcio Alvarenga

12h às 18h

PHD – Programação Hiperdinâmica - MPB, Pop Nacional, Pop Internacional, informações jornalísticas, culturais, de saúde e entretenimento Apresentação: Sérgio Moreno e Jorge Chamberlain

18h às 19h

Sintonia Brasil - O melhor do MPB com programação de Alexandre Heilbuth Apresentação: Jorge Chamberlain

* Toda sexta-feira, A Música no Cinema às 18h Apresentação: Márcio Alvarenga 20h às 21h

Uma pesquisa realizada em 2013 pela empresa júnior Apoio Consultoria, do curso de Administração da UFU, mostrou que a Rádio Universitária FM é a terceira mais ouvida em Uberlândia. Outra pesquisa – a International Perceptions of TV Quality, realizada pela Populus para a BBC de Londres em 14 países, no final de 2013 – colocou o padrão de qualidade da TV Cultura de São Paulo no segundo lugar, atrás apenas da BBC de Londres. A excelência da TV Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que é parceira da TV Universitária de Uberlândia, ficou à frente do SBT, da Bandeirantes e da Record. Os anos 2000 têm sido um período de consolidação do trabalho de pioneiros que, nas décadas de 1960 e 1970, plantaram a semente do que conhecemos hoje como a rádio Universitária FM e a TV Universitária, da UFU.

Entretenimento, notícias, programas especiais e uma maneira de levar os trabalhos das Instituições de Ensino Superior, através de suas unidades acadêmicas, têm sido o motor que faz girar a existência da rádio e da TV Universitária da UFU. Com espaços dedicados ao entendimento das questões que envolvem a cultura estudantil, o universo dos professores de Ensino Superior, a acessibilidade aos níveis intelectuais das pós-graduações e a consolidação de atividades em apoio à cultura são diretrizes que norteiam essas emissoras. A Diretoria de Comunicação Social da UFU faz parte desse contexto de informação e traz aqui a agenda de programação que vem fazendo a diferença na cidade de Uberlândia e que, em pouco tempo, estará em Ituiutaba.

Programas especiais com temas variados (veja no final)

21h à 0h

PHD – Programação Hiper Dinâmica MPB, pop nacional, pop internacional, informações jornalísticas, culturais, de saúde e entretenimento Apresentação: Jorge Chamberlain

0h às 5h

Uniclass – As canções que você jamais esquece

* 7h/13h30/21h30 UFU no Plural – Exibido toda segunda-feira PROGRAMAÇÃO DE SÁBADO 5h às 6h

Raiz Brasil - Sertanejo raiz, música caipira e informação sobre agronegócio

6h às 16h

PHD – Programação Hiper Dinâmica - Sábado Brasil MPB, pop nacional, informações jornalísticas, culturais, de saúde e entretenimento Apresentação: Sérgio Moreno e Jorge Chamberlain

16h às 18h

Roda de Samba – Programa popular tradicional com nova roupagem Apresentação: Vitor Hugo e José Luiz Caetano

18h às 20h

Sala dos Espelhos – Programa Rock and Roll apresentado ao vivo Apresentação - Álvaro Júnior e convidados

20h às 22h

107 Mix – Músicas internacionais dos anos 1970, 1980 e 1990 apresentadas com nova dinâmica em ritmo de festa Apresentação: DJ Edinho Borges

22h à 0h

107 Lounge Apresentação: Sérgio Moreno


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PROGRAMAÇÃO DOMINGO 0h às 5h

UNICLASS - As canções que você jamais esquece

5h às 6h

Raiz Brasil - Sertanejo raiz, música caipira e informação sobre agronegócio

6h às 7h

PHD – Programação Hiper Dinâmica - MPB, pop nacional, pop internacional, informações jornalísticas, culturais, de saúde e entretenimento

7h às 8h

Brasil Regional - Programa cultural de entrevistas e músicas da Rádio Senado

8h às 9h

Volta ao Mundo em 60 Minutos - Programa de recados e músicas variadas Apresentação: Nininha Rocha

10h às 11h

Canta Nordeste – Programa temático, educativo com informação ao vivo. Apresentação: Alcides Mello

9h às 17h

PHD – Programação Hiper Dinâmica - MPB, pop nacional, pop internacional, informações jornalísticas, culturais de saúde e entretenimento

17h às 18h

A Hora do Choro - Programa especializado Apresentação: Rogério Motta

18h às 19h

Escala Brasileira – Programa especializado em MPB da Rádio Senado

19h às 20h

Jazz by Jazz Apresentação: Ronaldo Albenzio

20h às 22h

PHD – Programação Hiper Dinâmica - MPB, pop nacional, pop internacional, informações jornalísticas, culturais, de saúde e entretenimento

22h às 23h

Aplauso – Programa de entrevista com compositores e intérpretes de nível nacional e internacional da Rádio Câmara

23h à 0h

Na Era do Rádio – Programa de época destacando grandes astros da música brasileira e internacional da Rádio Câmara

PROGRAMAS ESPECIAIS Segunda-feira 20h às 21h Terça-feira 20h às 21h

Música é Vida – Programa erudito destacando músicas e comentários do departamento de Música da UFU Apresentação: Prof.ª Viviane Taliberti Pegada Brasileira – Instrumental nacional Apresentação - Prof. Gustavo Belan

Quarta-feira 20h às 21h

A Música no Tempo – História da música clássica Apresentação - Prof. Waldir Figueiredo

Quinta-feira 20h às 20h30

Poesia nas Asas do Tempo – Jogral Qualquer Lua

Grade de programação da TV Universitária – (34) 3239-4343 9h 18h 18h30 0h30

9h 18h30 22h00 22h30 22h40

SEGUNDA-FEIRA Câmara Municipal de Uberlândia Talentos da Terra (reprise) TVU Notícias Câmara Municipal de Uberlândia TERÇA-FEIRA Câmara Municipal de Uberlândia TVU Notícias Cultura Popular (inédito) Chorinho No Coreto (Dicult) Câmara Municipal de Uberlândia

9h 18h 18h30 22h 22h30 22h40

QUARTA-FEIRA Câmara Municipal de Uberlândia Uberlândia de Ontem e Sempre TVU Notícias UFU no Plural (inédito) Destaques TVU Notícias Câmara Municipal de Uberlândia

9h 18h30 22h 22h30 22h40

QUINTA-FEIRA Câmara Municipal de Uberlândia TVU Notícias Cultura Popular Destaques TVU Notícias Câmara Municipal de Uberlândia

9h 18h30 22h30

SEXTA-FEIRA Câmara Municipal de Uberlândia TVU Notícias Destaques TVU Notícias

22h40

Câmara Municipal de Uberlândia

13h30 14h 14h30 15h30 16h 18h

SÁBADO Ladeira Metálica (Dicult) UFU no Plural (reprise) Uberlândia de Ontem e Sempre (inédito) Cultura Popular (reprise) Câmara Municipal de Uberlândia Talentos da Terra (inédito)

Em Algum Lugar do Passado - História, release de músicos do Quinta-feira passado que fizeram e fazem história 20h30 às 21h30 Apresentação - Luiz Alberto Tomé e Sérgio Moreno Sexta-feira 20h às 21h

Muito Prazer Brasil – Compositores e intérpretes de grandes sucessos e talentos ainda desconhecidos. Na ultima sexta-feira do mês o programa tem edição regional, com artistas de Uberlândia e municípios vizinhos Apresentação: Alexandre Heilbuth

Estúdio TV Universitária


UFU

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Região Metropolitana do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba: cooperação para o desenvolvimento Vice-reitor apresenta estudo de viabilidade do projeto de implantação texto Fabiano Goulart fotos Milton Santos

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) apresentou no dia 25 de abril, durante uma audiência pública, na sede do Parque Tecnológico de Uberaba, um estudo de viabilidade da criação da região Metropolitana do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba RMTRIAL. A abordagem do documento que dá subsídios técnico-científicos ao projeto foi feita pelo vice-reitor, Eduardo Nunes. Além do empresariado da cidade, autoridades políticas estavam presentes, entre elas o superintendente estadual de Planejamento e Apoio ao Desenvolvimento Regional, Weslley Monteiro Cantelmo. Eduardo Nunes Guimarães durante a apresentação do Documento

Prefeitos Paulo Piau (Uberaba) e Gilmar Machado (Uberlândia), deputada estadual Liza Prado e o vice-reitor da UFU, Eduardo Nunes Guimarães, durante a apresentação do Documento

Oito pesquisadores da UFU, do Instituto de Geografia e Economia participaram do estudo. Uma das recomendações do relatório é que a proposta de criação da RMTRIAL, seja feita, inicialmente, com apenas 16 municípios, e, em um segundo momento, a inclusão de dois colares (conjunto de municípios) no entorno da região central – Uberlândia, Uberaba e Araguari –, que abriga mais de um milhão de habitantes.

Esta sugestão foi apoiada por unanimidade. “Temos a palavra do Governador Anastasia favorável à criação da região metropolitana com os 66 municípios, embora tenhamos chegado à definição de 16 municípios, nesse primeiro momento, para não dificultar a aprovação e garantir o quórum para votar o projeto” disse a deputada estadual Liza Prado (PROS), autora do projeto de lei. O próximo passo é encaminhar a proposta para a


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apreciação da Comissão de Justiça da Assembléia Mineira e da Superintendência Estadual de Planejamento. Justificativa e benefícios A análise dos dados dos municípios que formam a mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, que reponde por aproximadamente 15% da riqueza do Estado de Minas Gerais, revelou diversos aspectos que reforçam sua unidade, mas que também revelam diferenças e desafios aos prefeitos destes municípios. Segundo o Eduardo Guimarães, coordenador do estudo, a implantação da RMTRIAL “cria uma unidade institucional que falta no

país para intermediar as esferas de poder municipal estadual e federal, como uma agência de desenvolvimento, que passa a receber recursos das três esferas administrativas e que permite planejar conjuntamente as ações de ampliação de infraestrutura para educação, saúde, transporte, dentre outras demandas dos municípios e proporcionar melhor a qualidade de vida para as pessoas da região”. Após a discussão sobre o potencial de crescimento e desenvolvimento da região apontado no estudo de viabilidade, o prefeito de Uberaba, Paulo Piau, reafirmou a “necessidade de estruturarmos a região metropolitana, exatamente para que o planeja-

mento regional aconteça de fato, para atender a todos os municípios”. Outros benefícios ainda foram destacados pela deputada Liza Prado, como o aumento o teto para as verbas federais destinadas a programas como o de erradicação do trabalho infantil e minha casa minha vida, além de financiamentos mais acessíveis para as prefeituras, dentre outros. Após agradecer a parceria com a UFU, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro (IFTM), o prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado, afirmou que “nossa região desenvolveu a força que tem hoje, graças também às nossas Instituições

Relatório técnico sobre a RMTRIAL elaborado pela UFU segue para o legislativo mineiro.

Federais de Ensino” e completou ressaltando a importância do trabalho conjunto entre os municípios. “Cada vez mais as decisões têm que ser tomadas conjuntamente, como consórcios. Sozinho não tem jeito, nós precisamos uns dos outros”, disse Machado. A implantação A expectativa é de o projeto seja aprovado ainda este ano. “Como o representante do governo que vai analisar o projeto esteve presente nesta audiência e assistiu à apresentação do Plano de Viabilidade apresentado pela UFU e pode tirar suas dúvidas, então estamos muito bem encaminhados” destacou a autora Liza Prado.


OPINIÃO

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UFU, um bem público a serviço do Brasil Nosso campus em Patos de Minas texto Eduardo Nunes Guimarães (Vice-reitor no exercício do cargo de Reitor da UFU) foto Fabiano Goulart

Este artigo tem o objetivo de esclarecer a comunidade de Patos de Minas e região sobre dois pontos específicos relacionados à construção do campus da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) nesta cidade. O primeiro ponto procura reafirmar o princípio da transparência que norteou o processo de chamamento público para a doação de terreno de particulares, ocorrido recentemente e ainda não concluído. O segundo refere-se às tratativas envolvendo a UFU, o Governo do Estado de Minas e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas para a doação de uma fração da área da EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) de, no mínimo, 50 ha para a construção imediata do campus Patos de Minas. Os dois pontos estão interrelacionados na medida em que o chamamento para a doação de terreno por particulares foi motivado por uma manifestação do Ministério Público Estadual contestando a doação do terreno da EPAMIG à UFU. Assim, cabe esclarecer por qual razão a UFU procurou, primeiramente, a doação da área pública antes de realizar o chamamento público para a doação de particulares. Diante da pendência judicial estabelecida no primeiro processo de doação ocorrido em 2011 e considerando a indubitável necessidade de solução para o estabelecimento do campus da UFU em Patos de Minas, dado que, nessa cidade, implantamos três cursos de graduação utilizando instala-

ções provisórias, consideramos que a doação de um terreno público da EPAMIG (Estado) para UFU (União) configurasse uma solução isenta de contestação judicial, haja vista o interesse público que envolve essa questão. Entretanto, o Ministério Público Estadual não teve o mesmo entendimento. Quando as tratativas com o Governo de Minas já estavam avançadas e equipes da UFU já haviam visitado o terreno e iniciado algumas projeções para o aproveitamento de suas potencialidades, fomos levados a paralisar o processo e construir um edital de chamamento público para a doação de área por particulares. Neste sentido e em face das interveniências, a Administração Superior da UFU, por meio de sua Procuradoria, iniciou o

processo de elaboração do referido edital de chamamento para a arrecadação de outra(s) área(s) destinada(s) à construção do campus Patos de Minas. Em que pese esse esforço de atendimento às exigências do Ministério Público Estadual e ainda o fato de que o edital tenha sido amplamente discutido na comunidade acadêmica e aprovado pelo CONSUN (Conselho Universitário da UFU), alguns questionamentos sobre esse novo encaminhamento vieram recentemente a público por meio da mídia de Patos de Minas. Diante destes questionamentos, mesmo que tenham vindo após o prazo definido para a apresentação de propostas, é importante prestar esclarecimentos à comunidade de Patos de Minas e região para que não pairem dúvidas sobre a con-

dição de transparência que nos orientou na elaboração do edital. Dentre os pontos mais relevantes do referido edital cabe destacar: 1) o modelo de processo licitatório utilizado pela UFU não é inédito no Brasil, tendo sido aplicado em outras Universidades como as de Goiás, Bahia, Maranhão e Espírito Santo, dentre outras; 2) houve tempo regimental para contestação do edital que, embora pudesse ser feito por qualquer pessoa que discordasse dos termos e/ou parâmetros dele, não houve qualquer manifestação contrária ao processo; 3) o edital cumpriu todos os prazos legais de publicidade, sendo veiculado em jornais de expressiva circulação na cidade e no estado; 4) o edital, depois de apreciado e validado pelo CONSUN, foi submetido ao Ministé-


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rio Público de Patos de Minas, que não identificou irregularidades e não manifestou qualquer discordância; 5) com o objetivo de dar celeridade ao processo, o edital explicitou claramente a exigência de que as áreas a serem doadas estivessem livres e desimpedidas para a imediata construção dos prédios no campus; 6) a cláusula de doação irrevogável de área também se justificou em razão de evitar a concorrência entre os possíveis doadores e o risco de alguma interpretação subjetiva sobre os critérios da escolha que poderiam resultar em outra disputa judicial, levando, mais uma vez, ao adiamento no processo de implantação do campus da UFU em Patos de Minas, com notórios prejuízos principalmente aos alunos já matriculados na cidade; 7) o edital não foi direcionado somente aos grandes doadores, pois suas cláusulas permitiam também que pequenos doadores pudessem apresentar propostas de junção de áreas, formando uma só proposta de doação, bem como outras formas de consórcio, garantindo, assim, maior participação democrática no processo e o atendimento equiparável dos diversos interesses. Contudo, terminado o prazo legal de apresentação de propostas de doação, foi constatado que a Universidade recebeu apenas uma proposta e não várias, como era a tese defendida pelos partidários do chamamento público e contrários à doação do terreno da EPAMIG. O resultado do chamamento é conhecido da comunidade, sendo que a única proposta de doação é coincidentemente formada pelos exatos 15 ha da mesma área doada à UFU em 2011, localizada na região dos “30 Paus”, acrescida de um complemento de outros 15 ha. Essa área, embora entendida pela UFU como impedida de participar por não atender as cláusulas do edital em razão das pendências judiciais, foi aceita mediante liminar judicial movida pelo doador.

Assim, levando-se em consideração os termos do edital de chamamento e seus trâmites legais, é preciso esclarecer a comunidade acadêmica e a sociedade que o processo ainda não foi encerrado e, consequentemente, não há, ainda, um resultado final. Esse somente poderá ser homologado após a apresentação do relatório da comissão técnica de avaliação instituída pela UFU. Entretanto, causou muita surpresa à comunidade UFU uma recente notícia veiculada na mídia reportando a eventual doação da totalidade do terreno da EPAMIG para uma instituição de ensino superior de Patos de Minas. Ou seja, considerando que o processo de doação não está concluído e que a UFU continua sujeita às inseguranças e incertezas sobre seu futuro na cidade de Patos de Minas, causou enorme estranheza à nossa comunidade universitária o fato da área da EPAMIG, anteriormente prometida pelo Governador do Estado de Minas Gerais à UFU e ratificada pelo Conselho Curador da EPAMIG, ter sido oferecida, em sua totalidade, como doação, a outra instituição de ensino. Como é do pleno conhecimento da comunidade UFU e das lideranças políticas de Patos de Minas, a referida área da EPAMIG continua sendo de nosso interesse, pois conforme as análises das equipes técnicas da UFU, ela corresponde aos interesses acadêmicos, atende às necessidades de consolidação dos cursos já iniciados e corrobora para a permanência da UFU em Patos de Minas. Ela é, portanto, considerada importante e estratégica para o futuro do Campus da UFU nessa cidade. Vale ressaltar que, na condição de instituição pública voltada ao ensino, à pesquisa e à extensão de qualidade, não interessa à UFU gerar qualquer forma de conflito ou competição com as demais instituições de ensino superior de Patos de Minas e região, cuja importância e contribuição para a

comunidade regional estão sobejamente reconhecidas. Muito pelo contrário, a parceria entre a UFU e demais instituições de ensino superior (públicas e privadas) que atuam diretamente nas cidades do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba deve ser um dos objetivos a ser fomentado, visando ofertar à comunidade as melhores condições de ensino, pesquisa, extensão e inovação tecnológica em prol do desenvolvimento regional. A presença de uma instituição de ensino superior como a UFU em Patos de Minas, Ituiutaba e Monte Carmelo, sem dúvida, não só contribui para promover nacionalmente (e com potencial internacional) a identificação geográfica destes municípios, mas também cumpre importante papel na formação de quadro de professores e pesquisadores e na formação de profissionais qualificados para atuarem no mercado de trabalho regional e nacional. A comunidade local sabe que a cidade de Patos de Minas e região tem muito a ganhar com a sólida presença da UFU em seu território, por isso, a definição de uma boa localização para o campus da Universidade, com fácil acesso a rede urbana regional e com área suficiente para futuros investimentos e implantação de novos cursos, representa um desafio não só para a administração superior (Reitoria) da UFU, mas para toda a comunidade de Patos de Minas e região. Guiados por este firme propósito, a atual gestão da UFU, em parceria com a prefeitura de Patos de Minas, iniciou, ainda no primeiro semestre de 2013, as negociações com o Governo de Minas e com a EPAMIG para encontrar uma rápida e duradoura solução para a presença da UFU em Patos de Minas. Em seguida, o Reitor da UFU esteve em Belo Horizonte com o governador do Estado para tratar da doação do terreno da EPAMIG à UFU e obteve uma manifestação clara e objetiva de compreensão

da importância do ato para o desenvolvimento de Patos de Minas e região. É preciso, pois, deixar claro à comunidade de Patos de Minas que a UFU, em momento algum, declinou de seu interesse pelo terreno da EPAMIG e temos certeza que o Ministério Público Estadual dará a esta questão o mesmo tratamento solicitado anteriormente à UFU. Neste sentido, entendemos que dada a manifesta disposição do Estado de Minas em doar o terreno da EPAMIG, conforme noticiado pela imprensa, é importante que todos, estudantes, servidores, comunidade em geral, lideranças políticas e empresariais, mobilizem-se em prol da UFU nesta busca de um espaço para a sua consolidação em Patos de Minas para que, nele, sejam realizados investimentos de ensino, pesquisa e extensão, importantes para o desenvolvimento da comunidade regional. Não é difícil constatar que, apesar dos imensos esforços empreendidos até aqui no sentido de tornar mais suave a implantação do Campus Patos de Minas, a presença da UFU na cidade encontra-se ainda em condições muito incertas, colocando em risco a reputação da nossa Instituição; comprometendo as condições de trabalho dos servidores; impondo-nos limitações para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão e dificuldades para planejarmos as nossas ações e os investimentos futuros que pretendemos certamente realizar. Há nisso notórios prejuízos para todos, especialmente para os estudantes, vindos de diferentes lugares, que acreditaram nesse projeto e que depositaram em nós seus sonhos e suas expectativas. Um esforço coletivo, capaz de superar interesses particulares e partidários é, portanto, urgente e necessário para que a UFU, esse Bem Público do Brasil, possa consolidar-se definitivamente em Patos de Minas.


EXTENSÃO

14 Jornal da UFU

Teatro na superação da timidez Projeto ComUFU atende todas as faixas etárias da sociedade texto Ana Beatriz Tuma fotos Milton Santos

“Eu não conseguia falar em público. Não conseguia conversar focando o olhar na pessoa. Agora, já consigo me expressar mais”. Esse é o relato da estudante Ludmilla Rodrigues, 16 anos, sobre como está superando a timidez por meio das aulas de teatro oferecidas gratuitamente no projeto de extensão Comunidade na UFU (ComUFU), do curso de graduação em Teatro da universidade (veja outros projetos no quadro). 2006 foi o ano em que o ComUFU começou, tendo apenas uma turma aos sábados, quando não era, ainda, um projeto de extensão. Segundo a professora Maria De Maria, uma das orientadoras do projeto, naquela época, o projeto atendia à demanda dos alunos de licenciatura que precisavam dar aulas de teatro, como estágio supervisionado. “Antigamente, tinham poucas escolas da rede [de educação básica] com professores de teatro. Isso dificultava ao aluno ter uma prática de observação, ou mesmo uma experiência mais efetiva”, relembra. Hoje, o ComUFU é um projeto de extensão vinculado às disciplinas de Estágio Supervisionado III e IV e Oficina de Montagem I e II. Em sua última edição, que terminou em fevereiro deste ano, teve onze turmas divididas por diferentes faixas etárias (de crianças a idosos). Além disso, esse projeto “tem outro direcionamento, pois não passa a ser só para suprir a ausência de professores na rede [de educação básica], mas também para atender a comunidade e mostrar

diferentes espaços de educação”, explica a professora. Leandro Alves, aluno do sétimo período do curso de Teatro, ministrou uma das oficinas da última edição junto com outra aluna, Rosie Martins. Ele conta que dar aulas no ComUFU é importante, primeiramente, devido à responsabilidade de conduzir um processo de criação, ou seja, à autonomia de poder criar junto aos participantes. “Existe a orientação do professor, mas a turma foi conduzida o tempo inteiro por nós dois”, comenta. No entanto, o estudante revela que essa importância vai além, pois está no “contato com as pessoas que não são do universo teatral ou que não têm muito contato com ele, que têm uma outra visão, [diferente] de quem já faz teatro há algum tempo”. Segundo Leandro, o ComUFU é uma experiência enriquecedora. Os processos ou produtos realizados, de acordo com Maria, são compartilhados com o público em um evento chamado “Encontrão”, cuja última edição aconteceu em fevereiro. “Não necessariamente se chega a um produto final, mas se investiga também esse lugar do en-

cenador-pedagogo, onde o processo é tão importante quanto chegar a um produto final”, explica a professora. Nesse evento, Maria conta que houve, também, um momento de mediação entre os alunos e o público, em que eles estudam uma maneira de diálogo com a comunidade e refletem sobre as propostas apresentadas em relação à cena. As pessoas que desejam participar das aulas oferecidas nesse projeto de extensão devem se inscrever no início do primeiro ou

segundo semestre letivo da UFU, quando o período de matrículas estiver aberto. Geralmente, são oferecidas oficinas de iniciação teatral ou de alguma linguagem específica, como teatro de sombras, intervenções urbanas e melodrama. Quem já participou do ComUFU pode se inscrever novamente. Para saber mais sobre as inscrições, acompanhe o portal de notícias da UFU (comunica.ufu. br) e a página do Instituto de Artes (www.iarte.ufu.br).

Extensão no Teatro da UFU Projeto

Sobre

Pediatras do Riso

Desde 1999, conta com palhaços atuando, às sextas-feiras, especialmente no setor de Enfermaria no Hospital de Clínicas de Uberlândia (HCU/UFU). O grupo sofreu interrupção em 2011, mas foi retomado em 2013.

Criado em 2013, tem o propósito de potencializar a legitimação e o estabelecimento da área de teatro na escola básica. Por meio de uma Partilhas, ateliês e redes de pedagogia de projetos, tem trabalhado para cooperação – aprendizagens que os educadores de um grupo de escolas teatrais na escola básica parceiras de Uberlândia viabilizem suas práticas e encontrem possibilidades de compartilhamento e de ressonância.

Fonte: Vilma Campos, professora da graduação em Teatro e da pós-graduação em Artes


OPINIÃO

Jornal da UFU 15

Um Brasil na Copa texto Eduardo Macedo foto freeimages.com

Manhã do dia 14 de Julho de 2014, em pleno inverno, uma nação desperta para mais um dia. Quais seriam as manchetes nos principais veículos de informação? Afinal, encerrou-se no Brasil um dos maiores eventos mundiais, a vigésima edição da Copa do Mundo FIFA. Com certeza, torna-se impossível prever as principais

Realizada pela quinta vez na América do Sul, e segunda vez no Brasil, a Copa do Mundo tornou-se, nos últimos anos, um indecifrável e incômodo estorvo aos países escolhidos para sediá-lo, em especial, África do Sul (2010) e Brasil, lançando definitivamente um alerta e uma desconfiança sobre a utilidade e necessidade do acolhimento deste evento. Sobre a relevância em nível mundial, a Copa do Mundo, a

da de uma série de condicionantes e exigências. No Brasil, após cinco anos da sua ratificação, sancionou-se a Lei nº 12.663, conhecida com a Lei Geral da Copa, em junho de 2012, que dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013 e à Copa do Mundo FIFA 2014. Evidenciou-se, neste processo, uma série de questões relacionadas à FIFA e ao país-sede. Termos como soberania, autono-

notícias neste dia. É certo, porém, que os brasileiros, neste contexto, levando-se em consideração o trajeto iniciado em Zurique, Suíça, no dia 30 de outubro de 2007, data da ratificação do Brasil como país-sede desta competição, acompanharam um processo repleto de contradições, dúvidas, protestos e questionamentos.

cada quatro anos, transformou-se no evento esportivo mais popular do mundo. A instituição responsável pela sua realização e organização, a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), com 209 países associados, supera, por exemplo, neste quesito, a Organização das Nações Unidas (ONU). A escolha do país-sede é precedi-

mia, constituição e estatutos jurídicos diversos foram relativizados em função das diretrizes, princípios e exigências da FIFA. Sem dúvida, à margem das questões eminentemente esportivas, a Copa tornou-se refém de interesses poderosíssimos, envolvendo-se principalmente patrocinadores e, obviamente, a própria FIFA, que,

de tão poderosa, passou a atropelar os países elencados para sua realização. Ocorre que o contexto do Brasil, em 2007, era totalmente diferente, em especial, comparado aos dois últimos anos. Naquele ano, após a reeleição do então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, o país encontrava-se numa situação favorável, com taxas de crescimento econômico e aprovação da população consideradamente sustentáveis. Entretanto, concomitantemente ao complexo processo iniciado após a definição do Brasil como sede da Copa do Mundo, desde 2007, observou-se uma tensão entre a sociedade e os organizadores, tornando-se o respectivo evento o centro das atenções, como símbolo das insatisfações geradas pela insegurança das perspectivas no país. Ressalta-se, porém, uma coincidência entre fatos históricos: de um lado, a realização de um evento esportivo inestimável e indecifrável, capitaneado por uma poderosa instituição (FIFA) e leiloado por um governo, à revelia de sua população; de outro, um desgaste da conjuntura estabelecida em um país como o Brasil. Apesar disso, cumpre ressaltar que a Copa do Mundo, via FIFA, transformou-se numa poderosa e autônoma instituição, embalada por um sistema econômico voraz e ilimitado, que passou a desconhecer culturas, países e quaisquer limitações. Na verdade, podemos considerar a existência de um Brasil na Copa, em que o centro não é o país, mas uma insaciável instituição, transformando-nos em meros coadjuvantes. Aqui, com certeza, socializaremos os prejuízos e as heranças; os lucros, porém, todos sabem para quem serão endereçados. Com efeito, seria previsível – dadas as circunstâncias e diante de um país repleto de carências, demandas e injustiças – um litígio entre as partes.


GENTE DA GENTE

16 Jornal da UFU

Milton Santos: Patrimônio humano da UFU O olhar deste profissional conta a história da instituição texto Frinéia Chaves foto Paulo Augusto

Novos desafios

Em terras brasileiras, quem é bom de bola tem chances de se dar bem na vida. É preciso, porém, ser aprovado por um olheiro. Assim foi com Milton Santos. No ano de 1977, ele integrava o XVI de novembro, time patrocinado pela UFU. Como zagueiro, era craque de bate-papo e, por isso, conquistou a amizade de José de Paula de Carvalho, reitor pro tempore da UFU na época. Daí surgiu o convite para trabalhar na instituição como fotógrafo. Foi uma grande reviravolta na vida profissional. Milton ensaiou os primeiros dribles tirando fotos de fotos. Naquele tempo, o retroprojetor era o recurso tecnológico mais utilizado por professores. “Eu fotografava páginas de livros ou gravuras de revistas e transformava isso em slides”, lembra. A de-

EDUFU

manda era grande. Fazer gol significava uma produção média de 1.200 slides por mês. E como a rede balançava... Curioso, o novo fotógrafo foi aos poucos desvendando os segredos da máquina. Aprendeu também a lidar com soluções de revelação e se lembra bem da transição do preto e branco para o colorido.

Ah! Mas não bastava só fotografar e revelar. Perpetuar fatos é fazer história e, por isso, foi preciso também aprender a lidar com arquivo e as implicações de segurança que os novos tempos vão impondo. A estratégia do jogo muda e entra um novo trabalho em campo: retratar os avanços de uma instituição que ganhava fôlego. O cerrado foi abrindo espaço para construção de novos blocos, veio a aprovação de novos cursos, a chegada de mais alunos. Hospitais, fazendas, reuniões, congressos, formaturas, licitações, confraternizações, expedições... Nada da rotina acadêmica escapou da marcação de Milton Santos. O acervo de mais 500 mil fotos resultou em mais de dez exposições e no livro “Amante da Natureza”. “É o primeiro de muitos. Uma forma de fazer o meu olhar chegar a outros”, define o fotógrafo. Os registros são marcados por contradições. De famosos a gente simples, da beleza à desgraça, da vida à morte, da educação à ignorância, da natureza ao surreal... Um profissional que se orgulha por ter transitado em todas as áreas das ciências. Nas exatas, aprendeu a calcular espaço e tempo, ajustes de lentes, princípios da química e até a quebrar a máxima da física. “Parece ilusão de ótica, mas às vezes ocupo dois lugares ao mesmo tempo”, garante sorrindo. Nas engenharias, aprendeu a produzir mais com menos, ser elétrico, às vezes ir e noutras se deixar levar. A paixão pela natureza diz muito das ciências agrárias e da terra. Nas biológicas, descobriu que gente e bicho, muitas vezes, trocam de lugar. “A foto que fiz de um incêndio na Reserva do Panga é um registro da capacidade do bicho-homem”, exemplifica. Cuidar-se, fazer o que gosta e ouvir o coração são conceitos das ciências da saúde. Nas sociais aplicadas, entendeu como administrar, planejar, arquitetar ideias e comunicar sonhos. Nas humanas, como ser político, psicólogo, historiador. E para fechar com linguística, letras e artes, não precisa dizer nada. O trabalho deste homem mostra o quão artista ele é. Com quase 60 anos de idade e chegando aos 40 como fotógrafo da instituição, Milton continua batendo um bolão. De tão conhecido, tornou-se famoso. Se tem dinheiro, não assume, mas confessa que é feliz e que, apesar de já ter condições de se aposentar, nem pensa nisso por enquanto.

Enunciação e atividade da linguagem

O mundo interior

Dominique du Card

Raimundo de Farias Brito

Este livro é um marco para todos os que se interessam pela enunciação. Com ele, suprimos uma ausência injustificada até hoje: estudos que se ocupem da teoria de Antoine Culioli. Com a leitura de capítulos como O grafo do gesto mental na teoria enunciativa de A. Culioli, A calafetagem e outros gestos de ajustamento na teoria das operações enunciativas e Traço e marcador, teremos testemunhado momentos brilhantes de síntese. Estão reunidos aqui textos que versam sobre temas absolutamente originais na pesquisa linguístico-enunciativa que é feita entre nós, e seu autor é um dos pensadores mais instigantes da linguística enunciativa na atualidade. Por tudo isso, acreditamos que os interessados em enunciação contam, a partir de agora, com mais uma publicação que vem somar no já adiantado processo de consolidação da pesquisa enunciativa no Brasil.

Último trabalho completo de uma obra filosófica de seis volumes lançados em vida, O mundo interior teve a sua primeira edição publicada em 1914, no Rio de Janeiro, pela Livraria da Revista dos Tribunais. Anunciado desde a obra anterior, A base física do espírito (1912), como Ensaio sobre os dados gerais da filosofia do espírito, este nome passou a ser subtítulo. Com base na edição original, organizamos esta edição crítica. As duas reedições brasileiras (Rio de Janeiro: INL, 1951; Brasília, DF: Senado Federal, 2006) reproduziram fielmente a primeira, se não contarmos a atualização ortográfica em 1951. A terceira edição (Lisboa: INCM, 2003) apresenta, como novidade, uma introdução filosófica e referências bibliográficas de e sobre o autor, além de uma cronologia. Como Apêndice, foi acrescentado, pelo editor português, António Braz Teixeira, o incompleto Ensaio sobre o conhecimento, também prometido desde 1912 sob o título Ensaio sobre o conhecimento e a realidade, também aqui reproduzido.


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