Ed 01 manifesto issuu

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Profissão

Saiba como lidar com o machismo e o assédio no trabalho

manifesto.com.br ano I – out/2016 edição 01

GAME É C O I S A D E M U L H E R S I M ! Veja como o público feminino vem crescendo significativamente nessa modalidade

EDU C AÇÃO VE M D E C A S A Saiba como introduzir um pensamento igualitário na educação das crianças


LUSH


carta

de

apresentação

Olá, Este é um projeto que busca trazer à tona a opressão e o descaso sofrido pelas mulheres, sejam elas cis, trans, lésbicas ou travestis. O nosso objetivo é conferir visibilidade à luta pelo fim do machismo e à homofobia. A revista Manifesto é um espaço voltado à dar voz as mulheres. Sejam todos muito bem vindos! Com carinho, A Redação


curiosidade

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Mulheres no mundo dos Games

s u m á r i o

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00

Contra o machismo no trabalho e no seu dia-dia

22 8 36

O Movimento LGBT brasileiro

O Medo medido em quilômetros

Mulheres no Poder

34

Contra o machismo no trabalho e no seu dia-dia

CRM 32

44

Educação livre de preconceitos

41

28 32 Mulheres ao volante

Influenciadoras digitais


editorial

A revista Manifesto é uma publicação independente idealizada e produzida pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade

manifesto.com.br

Paulista para fugir dos padrões convencionais das revistas femininas.

Novembro 2016

Nossa missão é discutir questões de gênero e promover debates sobre o papel da mulher na sociedade, com a quebra de tabus e padrões de comportamentos impostos pela mídia tradicional. A ideia é gerar mais visibilidade ao movimento

Diretores e idealizadores: Ingrid Fiel Felipe Oliveira

feminista e destacar a luta pelos direitos das mulheres através de empoderamento feminino e explorando interesses do movimento.

Orientadora: Tânia Trajano

Nossas matérias abordam de forma clara e objetiva assuntos sociais como o machismo e as dificuldades do público LGBT. Cedemos espaço para que as pessoas

Diagramação: Eduardo Garcia

possam compartilhar suas experiências e com isso ajudando e levando conhecimento sobre como lidar com as situações do cotidiano para as pessoas que têm pouco acesso à informação.

Manifesto foi produzida como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo (Unip).

Para vocês, reservo minha gratidão e a satisfação pela realização deste trabalho. Muito obrigada e uma ótima leitura, Ingrid Fiel

Impressa na Alphagraphics Av. Brigadeiro Faria Lima, 2941 Cep 01452-000, São Paulo – SP


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I GUAL

D AD http://all-free-download.com/

MP R E SE E ! 7 MANIFESTO.COM.BR

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Mulheres no Poder

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Por Felipe Oliveira

No Brasil as mulheres são a maioria da população, ocupam cada vez mais espaço no mercado de trabalho, são responsáveis por grande parte do sustento de suas famílias. Porém, quando o assunto é política, a participação feminina nos cargos políticos está abaixo dos 30%, estipulado como mínimo pela legislação eleitoral. Os partidos alegam que têm dificuldades em atrair as mulheres para

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seus quadros, embora representem 51,7% dos eleitores. Em São Paulo, apenas 9% da Câmara Municipal é ocupada por mulheres. Sâmia Bonfim é feminista atuante, militante e candidata a vereadora de São Paulo. Nessa entrevista nos contou um pouco sobre sua luta para mudar a representatividade feminina na política brasileira.

M: Qual a sua ligação com o movimento feminista? SB: Sou uma das fundadoras do movimento Juntas. Estive na organização de algumas campanhas como “Eu apoio a legalização do aborto”, “Eu luto contra a cultura do estupro”, além de ajudar nas organizações das marchas contra o Cunha, o 8 de março e as mobilizações contra o estupro e a violência.


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M: Como você vê o atual momento do movimento feminista? SB: O movimento feminista está em forte ascensão. Nesse momento de forte crise econômica e política, as mulheres são protagonistas das reivindicações por mudanças e mais direitos. M: Qual a sua opinião sobre a atuação dos movimentos na internet? Acredita que esses meios têm ajudado o movimento feminista? SB: As redes sociais e as novas ferramentas de comunicação facilitam a troca de informações e a criação de

rede de apoio, de solidariedade e de encorajamento para que outras mulheres também falem sobre o machismo, experiências pessoais. Hoje têm mais facilidade para criar campanhas, fazer denúncias e convocar manifestações. Com tudo isso, o movimento feminista e ganha cada dia novas adeptas. M: Como você vê o espaço dado pela mídia atualmente ao movimento feminista? SB: O feminismo tem conquistado espaço na mídia devido à força e a audiência do debate nas redes sociais e nos espa-

ços da juventude. Se não cobrir o tema, os veículos de comunicação tradicional perdem espaço. M: Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher? SB: Infelizmente, sim. Desde os primeiros dias de nossas vidas sofremos com as desigualdades entre os gêneros, pois a sociedade projeta para homens e mulheres diferentes papeis sociais a serem cumpridos. M: Também existe machismo no meio político? SB: Atualmente sinto muito preconceito na política. Os homens ainda acham que as mulheres não têm a mesma capaci-

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Desde os primeiros dias de nossas vidas sofremos com as desigualdades entre os gêneros, pois a sociedade projeta para homens e mulheres diferentes papeis sociais a serem cumpridos 9 MANIFESTO.COM.BR

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“Defendo a criação de uma rede de combate à violência, que envolva Centro de Referência.”

dade que eles para atuar politicamente. Mas na verdade um dos problemas da crise política atual é justamente a falta de representatividade feminina

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M: Qual a importância do trabalho de uma mulher na Câmara? SB: Primeiro, é importante do ponto de vista da representatividade, pois isso estimula outras mulheres a ocuparem o mesmo espaço, para dar “uma lição” à sociedade, de que é possível ser mulher

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e liderança política. Mas principalmente para podermos levantar pautas e bandeiras que são historicamente ignoradas: desigualdade salarial, violência machista, cultura do estupro, creche etc. M: Quais os projetos, ações que você julga importantes para melhorar a qualidade de vida das mulheres do seu município? SB: Defendo a criação de um a rede de combate à violência, que envolva Centro

de Referência que garanta apoio psicológico, jurídico, médico e financeiro às vítimas de violência e também medidas preventivas e de conscientização sobre o machismo. Abertura de vagas nas creches. Mecanismos de fiscalização das empresas para combater a desigualdade salarial. M: Qual a dica para uma mulher diante de uma situação de machismo? SB: Denuncie sempre. Disque 180. Conte sempre com a ajuda de outras mulheres feministas para poder superar a situação de violência ou constrangimento na qual está inserida.


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Homens contra o Machismo

Divulgação

Por Ingrid Fiel

Conversamos

com homens que vão

contra os pensamentos patriarcais e contribuem para a desconstrução de paradigmas sociais.

Está mais do que claro como a desigualdade de gênero ainda é bem presente em nossa sociedade. O machismo sempre foi imposto como algo completamente normal, fazendo com que homens fossem privilegiados com

isso por toda a história da sociedade. Com o acesso a informação aos poucos as mulheres foram refletindo e indo a luta por seus direitos. Hoje em dia com acesso a tanta informação e com uma sociedade teoricamente mais moderna, reproduzir o machismo significa a escolha de homens que querem manter privilégios e de mulheres que simplesmente não enxergam

essa ideia distorcida de obrigações e deveres que lhe é imposta desde a infância. Sobre o movimento feminista O movimento é visto de fora de forma bem “caricata”, como um bando de mulheres que querem mandar nos homens, querem privilégios na sociedade ou como o “contrário do machismo” e

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“Contribuo na minha maneira de viver, sempre respeitando o próximo. Passo adiante as lições aos colegas, quando necessitam correção. Questão de respeito, questão de fazer sua parte. O mundo já está sujo demais, não sejamos mais um lixo.”

com estereótipos de tipos de feministas muito radicais. Como em tudo nessa vida existem extremistas e pessoas que se aproveitam de uma ideia para sua própria vantagem, isso é reforçado por machistas para afastar futuros simpatizantes das causas do movimento. A maioria dos homens e até das mulheres não conhece a fundo a luta feminista, porém sem saber contribuem para essa luta diária. Conversamos com alguns rapazes em relação a luta feminista e assim como há mulheres que reproduzem o machismo também existem homens que ajudam nessa desconstrução com atitudes simples, porém que fazem diferença no dia-dia. Todos os nossos entrevistados mostram-se favoráveis ao movimento feminista. “Só não gosto de exageros.”, diz Rafael Americo, publicitário, 24 anos. Michael Gonçalves, gerente comercial, 27 anos, admite que não conhece muito sobre o movimento. Para ele, é preciso tomar cuidado com as atitudes no dia a dia. “Contribuo na minha maneira de viver, sempre

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respeitando o próximo. Passo adiante as lições aos colegas, quando necessitam correção. Questão de respeito, questão de fazer sua parte. O mundo já está sujo demais, não sejamos mais um lixo.”, diz. Felipe Torres, assistente de suporte, 27 anos, conhece a luta do movimento feminista e explica como aplica esse conhecimento no convívio diário. “Acre-

Pequenos gestos que valem muito Podemos citar pequenas atitudes diárias que qualquer homem pode ter para ajudar e muito na luta pela igualdade: • Não tratar mulheres como objeto • Não assediar ou constranger mulheres, em nenhuma situação, respeitar quando ela diz “não” e repreender os amigos que cometem esses e outros tipos de abuso. O publicitário, Rafael Americo, 24 anos, conta que não entra em discussão. Dar o exemplo já é muito importante para mudar a forma de pensar dos colegas. “Recuso-me a seguir os padrões

“Acredito que contribuo da forma que todo homem consciente da luta das mulheres deveria contribuir, que é reconhecer as próprias falhas, corrigi-las, botar em prática novos hábitos e passar adiante para os outros homens do seu convívio a ideia certa.” Felipe Torres Assistente de suporte

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Michael Gonçalves Gerente comercial

dito que contribuo da forma que todo homem consciente da luta das mulheres deveria contribuir, que é reconhecer as próprias falhas, corrigi-las, botar em prática novos hábitos e passar adiante para os outros homens do seu convívio a ideia certa.”, relata.


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“Combati as piadinhas ‘inofensivas’ e se a qualquer momento em sala de aula escuto algum comentário irei interromper para falar sobre. No máximo termino a atividade e certeza que a próxima aula será uma debate para conversar sobre o machismo nosso de cada dia que pode e deve ser evitado.” Divulgação

Gerry Duarte Professor de arte

de machão que são impostos pela sociedade. Ser homem vai além disso. Respeito como meus colegas são e não tento desconstruí-los”, explica. • Não compartilhar fotos vazadas Aquele “nude” compartilhado em grupos de Whatsapp com os amigos, normalmente trata-se de uma foto íntima compartilhada sem o consentimento da vítima. O fato de uma pessoa lhe mandar uma foto íntima não lhe dá o direito de compartilhá-la com outras pessoas. “Tento sempre dar exemplo aos meus amigos, até porque não gosto de falta de respeito, então não quero isso andando do meu lado.” Argumenta Michael.

muito em situações no trabalho, ou em discussões nas quais há mais homens envolvidos. É uma tática para tirar a credibilidade do discurso feminino. “Tenho colegas muito machistas ainda e sempre que percebo atitudes machistas deles, posiciono-me de forma firme, como repreendendo uma piada que deprecia a mulher ou a figura femini-

na. No meu cotidiano, nas minhas redes sociais, sempre que posso dou uma força para as mulheres.”, comenta Felipe. • Descontruir desde a infância Crianças são como esponjas. Estão na fase de moldar suas personalidades e grande parte dela é o reflexo do que aprendem com os mais velhos. Passando a idéia de igualdade e ensinando as crianças a respeitarem seus colegas e lidar com as diferenças contribui e muito para uma sociedade melhor. “Combati as piadinhas ‘inofensivas’ e se a qualquer momento em sala de aula escuto algum comentário irei interromper para falar sobre. No máximo termino a atividade e certeza que a próxima aula será uma debate para conversar sobre o machismo nosso de cada dia que pode e deve ser evitado”, conta o professor de artes, Gerry Duarte, 28 anos, da E.E. Dr. Alberto Cardoso de Mello Neto.

“Recuso-me a seguir os padrões de machão que são impostos pela sociedade. Ser homem vai além disso. Respeito como meus colegas são e não tento desconstruí-los”

• Respeitar o lugar de fala das mulheres Rafael Americo Publicitario

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Ouvir o que uma mulher tem a dizer, sem silenciá-la ou associar sua opinião com o emocional. Isso acontece

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O Movimento LGBT brasileiro: a questão da visibilidade na construção de uma sociedade igualitária

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Por Ingrid Fiel

Recorde

de público na parada gay,

beijo gay na novela das nove.

Apesar do

espaço que vem sendo conquistado o

Brasil ainda é um dos países que mais matam homossexuais diariamente.

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A luta contra a homofobia ou LGBTfobia não é recente, no entanto, infelizmente ainda vivenciamos situações de violência real e simbólica contra os homossexuais todos os dias. Lembre-

mos que omitir a violência também é uma forma de mantê-la. “Acho que é uma questão de cultura, aos poucos isso será aceito, a geração antiga está começando a envelhecer


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e com a tecnologia tem mais acesso a informação, o que está facilitando a aceitação de coisas que antes eram tidas como abomináveis.”, explica Elisson Thiago, 23 anos, publicitário. Quebra de gêneros e respeito na infância

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Questões como a quebra de estereótipos de gêneros desde a infância, ensinar o indivíduo a respeitar as diferenças desde pequeno devem ser abordadas na educação das crianças. Os meninos são forçados agir com agressividade e encorajados a descobrir o sexo muito cedo e meninas reprimidas quanto ao sexo oposto por uma educação machista e misógina. Incentivadas a serem frágeis e delicadas. As crianças têm que ser encorajadas em serem como são. “Acabar com a heteronormatividade.”, argumenta Aricléia Oliveira 29 anos, designer. Ensinar as crianças a respeitarem os colegas que fogem do padrão comum e a conviver com as diferenças é um grande passo para criar uma sociedade harmoniosa. Casais lésbicos são mais aceitos que gays? “É normal no dia a dia ao caminhar com minha companheira, olhares e comentários de desaprovação, e pequenas atitudes como essas de discriminação. Uma vez fui expulsa de um estabelecimento por causa de um beijo, e ao questionar o motivo, já que havia um casal hétero no mesmo local trocando beijos e caricias bem, digamos assim, ousadas, responderam que era normal, eles eram um casal normal e que não havia problema, o problema éramos nós,

e que estávamos desrespeitando o local e os outros clientes.”, conta Isis Oliveira, 25 anos, tatuadora. O fetichismo por lésbicas é algo imposto para a sociedade. Dentro da questão de objetificação do corpo feminino para entretenimento do público masculino. Isso é muitas vezes mascarado como aceitação de casais lésbicos, que sofrem tanto quando os casais gays

com agressões, assédio em locais públicos e “estupros corretivos”. “Acredito que ainda há um longo caminho a ser trilhado, em comparação a alguns anos há mais aceitação, porém ainda a muita ignorância, falta de conhecimento e preconceito, é preciso educar, ensinar e continuar lutando para que isso seja cada dia menos um tabu.”, completa Isis.

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Mulheres no mundo dos Games Por Ingrid Fiel Quem

nunca escutou aquela velha

história machista de que mulheres não sabem jogar videogame?

Se

engana quem

ainda pensa assim, pois vídeo game é coisa de menina sim.

Segundo a pesquisa realizada pela Game Brasil 2016, as mulheres já representam 52,6% do público que joga jogos no Brasil. Só para se ter uma idéia do aumento significativo que tivemos nessa área, o mesmo estudo feito em 2013 apontou que as meninas representavam 41%

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desse mercado consumidor, contra 59% dos meninos. Na Game Brasil 2015, o público feminino já era quase metade dos gamers brasileiros. O relatório mostrava que 47,1% dos jogadores no Brasil eram mulheres e 52,9%, homens. Os amantes de games estão envelhecendo e com isso investindo cada vez mais nos consoles e afins. E neste universo as mulheres não participam apenas como jogadoras, mas também como profissionais e desenvolvedoras

de games. Reunimos algumas profissionais do ramo para mostrar que elas entendem mesmo do assunto. O preconceito com as garotas gamers Mesmo representando boa parte desse público, as mulheres ainda têm que lidar com muitos comentários absurdos nos fóruns de gamers pelo mundo a fora. “Como em qualquer outra área, as mulheres sofrem preconceito com ga-


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M: Você trabalha com games, uma área na qual prevalecem profissionais do sexo masculino. Você sente que sofre uma cobrança maior ou algum preconceito dentro da sua área?

“Como em qualquer outra área, as mulheres sofrem preconceito com games também, que não sabemos “jogar direito” ou não sabemos desenvolver jogos interessantes.” Divulgação

mes também, que não sabemos “jogar direito” ou não sabemos desenvolver jogos interessantes”, conta Laura Almeida, 30 anos, radialista especializada na área da edição. “Acho que a única barreira no setor, é o machismo. Essa barreira já se mostra culturalmente desde cedo, uma vez que você vê muito mais meninos do que meninas tendo contato com vídeo games. Durante a vida jovem/adulta, o normal é o homem jogar. Uma mulher jogando é exceção. E isso acontece por diversos motivos. As rotinas são diferentes, as responsabilidades de uma casa, um filho, sempre recaem mais sobre a mulher. Enquanto houver essa diferença, e eu me refiro à vida mesmo, as mulheres não terão tanta familiaridade com o universo dos jogos, o que acaba sendo um impeditivo no mercado. E, quando é uma mulher que tem pleno conhecimento e experiência com o mercado, acaba sofrendo uma cobrança maior no ambiente de trabalho, simplesmente porque é mulher. Porque é exceção. Então, não só para o mercado de games mas sim o mercado em geral, a barreira sempre será o machismo, enraizado na sociedade.”, argumenta Sofia Bareta, 26 anos, que trabalha com desenvolvimento front-end na LevelUp! Games. Confira a entrevista que fizemos a apresentadora do Inside Xbox Thais Matsufugi. Ela conta como passou por cima do preconceito na área e mostrou que entende muito do assunto. Hoje além do programa, ela também reúne uma legião de espectadores em seus gameplay no canal da Xbox Brasil.

Thais Matsufugi Apresentadora do Inside Xbox

TM: Desde a faculdade (tenho bacharelado em game design) a diferença entre homens e mulheres era incontestável, a começar pelo número de alunos. Eu era apenas uma das 4 garotas entre 50 alunos em uma das turmas. Atualmente apresento o programa Inside Xbox, que é exibido primeiro na Dashboard do console Xbox One e depois no Youtube. Uma grande conquista, mas o lado complicado é que meu nome e meu rosto estão lá para qualquer um julgar. No começo foi bem complicado, porque eu nunca havia trabalhado apresentando nada, nem canal de Youtube, então não era conhecida. A grande maioria amava postar em redes que eu não jogava. A internet é bem maldosa! Li comentários na época que diziam que eu estava falando de jogos porque no mínimo eu ia para cama com alguém da Microsoft. Antes do Inside, eu trabalhei numa loja de jogos em um shopping de SP. Dentre 5 funcionários, eu era a única vendedora. Já passei por situações constrangedoras com clientes que falavam para eu trancar a faculdade e ir lavar roupa. Felizmente hoje eu ganhei meu espaço com o pro-

grama e tenho algum reconhecimento entre os jogadores brasileiros. M: Quando e como foi seu primeiro contato com games? TM: Ganhei meu primeiro vídeo game com 3 anos de idade, um master system. Com ele, meu primeiro jogo “Sonic the Hedgehog” e aí pronto! O estrago já estava feito! (risos). Depois joguei a vida toda, passando por gameboy, SNES, Mega Drive, Sega Saturno, N64, todos os Playstations, PC’s, NDS’s e hoje em dia (apesar de manter todos os consoles) me dedico mais ao Xbox. M: Quais são seus jogos preferidos? Por quê? TM: Bom, tenho o meu top 5 sempre em mente. Desde os 7 anos de idade eu me encantei com Mortal Kombat. Brincava que eu era a Kitana com minhas amigas e até hoje jogo com ela no MKX. Ah! Contei isso pessoalmente para o Ed Boon (criador da série). O outro é Mirror’s Edge. A arte do jogo é simples, limpa e a personagem principal (Faith) é incrível. Outro jogo que amo é Portal 19

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M: Quando e por que você decidiu trabalhar com games? TM: Meu interesse por jogos como profissão veio na adolescência. Na minha turma no colégio, eu era a japa de cabelo colorido, cosplayer, otaku e nerd que jogava MMO’s em casa e cuidava de Pokémon no DS nos intervalos das aulas. Só que além de tudo, eu desenhava (coisa que amo fazer até hoje). A Anhembi Morumbi veio fazer uma palestra no meu colégio sobre o curso de design de games. Naquele momento percebi que eu poderia trabalhar desenhando e com games! Foi aí que decidi o meu curso e foi só alegria, porque depois de 2 anos de formada, entrei no time Xbox.

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2! Acho que o meu gênero preferido é puzzle e Portal é puramente isso, sem contar que eu amo robôs. Mais um puzzle que está no top 5 é Professor Layton and the Diabolical Box. A história é linda! Kingdom Hearts 2 é um jogo muito especial na minha vida, porque eu sempre fui fanática pela disney e final fantasy e esse jogo mostra um universo único em que esses dois mundos se encontram. Então: Mortal Kombat, Mirror’s Edge, Portal 2, Professor Layton and the diabolical box e Kingdom Hearts 2.

M: Quais você considera as principais barreiras para que as mulheres possam se igualar em número com os homens nesse mercado? TM: Tratando-se de mercado, posso opinar somente no lado de jornalistas. Acredito que grandes canais de divulgação de notícias em games poderiam ter mais mulheres em suas redações ou à frente de algum projeto. Mulheres podem ser geradoras de conteúdo e, dependendo do assunto, podem entender mais que os homens. Acho que tudo envolve uma coisa muito mais

monstruosa, não só os games. No geral, as mulheres sempre são “menos” que os homens, mas isso já é uma carga cultural que vem de vários anos. Acredito que aos poucos essa realidade se altere, pois temos grandes mulheres à frente de grandes jogos pelo mundo. Outra coisa que ajudaria, em minha opinião, seria os homens da área tentarem ajudar a reverter a situação entre eles. Que os poucos que têm consciência do problema denunciem os preconceituosos e tentem ajudar os outros a entenderem o problema.

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M: Quais suas metas profissionais e quais obstáculos você consegue enxergar para realizá-los? Você acha que algum desses existem por ser você ser mulher? TM: Felizmente, acredito que tenho superado várias barreiras ao longo dos programas que apresentei no Inside. Ao invés de escutar “essa menina não entende nada de games” passei para “a japa viciada em MK” e isso para mim já é algo grande. Entre minhas metas pessoais para aprimorar meu trabalho, estão melhorar meu japonês, fazer cada vez mais matérias para o programa e melhorar meu Gamerscore na live. (risos).

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Charlie Brownie Avenida Marliand, 1270 Mont’Serrat, Porto Alegre RS, 90440-190


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Medo

O medido em quilômetros Por Ingrid Fiel

O assédio que paralisa e que faz parte da rotina diária da maioria esmagadora de mulheres que usam o transporte público.

“Avisa quando chegar”. O famoso pedido que todas as mulheres fazem a suas amigas, filhas, mães e namoradas, para poderem dormir aliviadas ao saber que a companheira não virou mais um

rosto nas estáticas de mulheres estupradas ou desaparecidas. Um local no qual deveríamos nos sentir seguras, torna-se cenário para todo o tipo de atrocidade, cometidas a qualquer hora do dia com os transportes lotados ou não. Conversamos com algumas mulhe-

res sobre o terror de utilizar o transporte público diariamente. “Houve uma tentativa uma vez no trem, o cara queria que eu ficasse “reta” para que ele entrasse atrás de mim e não de lado como eu estava, pois assim não caberia mais ninguém mas dessa forma ninguém me encoxava. Um pouco antes

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v i s i b i l i d a d e “Mesmo que a mulher possa tomar algumas medidas nem sempre é atendida com respeito.”

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“Houve uma tentativa uma vez no trem, o cara queria que eu ficasse “reta” para que ele entrasse atrás de mim e não de lado como eu estava.”

“Ensinar os homens sobre a individualidade do corpo da mulher. E a curto prazo que seria maior punição para essas atitudes abusivas.”

Dalila Amorim Estagiária de arquitetura

Layla Barbosa Estudante de Ciência Sociais

do trem fechar a porta o empurrei para fora e a discussão acabou.”, conta a estagiária de arquitetura, Dalila Amorim, 23 anos “Acredito que todos os dias vemos ou “participamos” de cenas de assédio dentro de transporte público. Um homem olhando pra uma garota, um rapaz se masturbando olhando para uma garota. Já presenciei das cenas mais deploráveis e o desespero de garotas que foram assediadas dentro do transporte. Mas para quem não sofre, não existe isso” Reforça Amanda, 24, assistente de recursos humanos e estudante de Direito. O assédio vem de um grande problema cultural que reforça desde os primórdios da civilização pensamento de que homens têm direitos sobre nossos corpos mulheres. “A educação é muito importante. Problematizar a cultura do estupro e desnaturalizar falas e atitudes machistas”, diz Tatiane Jimenez, 26, pedagoga. Segundo levantamento da ONG

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Tatiane Jimenez Pedagoga

ActionAid mais de 86% das mulheres brasileiras já foram vítimas de assédio em espaços públicos. De acordo com a pesquisa o transporte público é o local no qual elas mais têm medo de sofrer abordagens indesejadas. Segundo outra pesquisa, do Datafolha, feita em 2015 na cidade de São Paulo, as cantadas, encoxadas e “mãos bobas”, já fizeram vítimas 35% das mulheres entrevistadas que usam o metrô, o ônibus ou o trem todos os dias. A taxa é maior do que a de abordagens na rua (33%). Não podemos deixar de observar o quanto esses dados refletem o ideal machista de uma sociedade que normaliza o assédio diário vivido por mulheres. Porém, além da falta de uma rede de proteção e do escárnio sobre seus corpos, a impunidade é um fator determinante para a relativização da violência sexual contra mulher. “Mesmo que a mulher possa tomar algumas medidas nem sempre é atendida com respeito. Na verdade, muitas

vezes, sofre uma segunda humilhação.”, completa Tatiane Jimenez, 26, pedagoga. “Tem a medida em longo prazo (que na minha opinião é a melhor) que seria desde sempre, nas escolas, casas, igrejas e etc, ou seja, lugares de convívio social o debate sobre feminismo fosse aplicado. Ensinar os homens sobre a individualidade do corpo da mulher. E a curto prazo que seria maior punição para essas atitudes abusivas.”, diz Layla Barbosa,19 anos, estudante de Ciência Sociais. Nesses casos é sempre importante não abaixar a cabeça. Chame a atenção das outras pessoas ao redor para o que está acontecendo com você naquele momento, reaja. O número do SMS Denúncia do Metrô é o 97333-2252 e da CPTM é o 97150-4949. Procure um funcionário do metrô para o acionamento da polícia e a realização da denúncia formal. Faça um escândalo!

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Mulheresao volante Por Felipe Oliveira Talvez um dos principais preconceitos contra a mulher ocorra no trânsito. Elas representam segundo o DETRAN-SP, 33,6% do total de motoristas, mas ainda é bem comum elas serem insultadas quando estão dirigindo .

Você

já viu

mulher trabalhando como manobrista?

Dificilmente, não é? Nossa reportagem foi atrás de algumas funcionárias nessa área. Situações de machismo estão mais presentes do que imaginamos, no nosso

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dia a dia, muitas vezes nem percebemos, pois infelizmente já se tornou uma situação corriqueira. Muitos estereótipos, preconceito contra a mulher, em alguns casos duvidando até mesmo de sua capacidade. Thiago Severo dos Santos, 32, é casado pais de dois filhos, supervisor de uma rede de estacionamentos. Admite que já presenciou e até mesmo se envolveu em situações de machismo. Como

trabalha responsável por diversas unidades, o seu deslocamento e o seu contato com diversas pessoas é algo comum no seu dia-a-dia. Segundo ele, a principal situação que ocorre no seu dia-a-dia é o estereótipo da mulher ser má motorista. E nesse fluxo diário de veículos que é São Paulo, sempre que avistamos algum acidente, fechada ou coisas do tipo, a primeiro pensamento é “deve ser uma mulher”. As vezes é sim uma mulher, até


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mesmo porque segundo o DETRAN-SP (Departamento de transito de São Paulo), as mulheres representam 33,6 % do total de motoristas. Neste caso o mais comum é a violência emocional, na qual são insultadas, humilhadas e em alguns casos chegando até mesmo à agressão física. No âmbito de trabalho, o machismo também está muito presente. Em muitos casos as mulheres são desrespeita-

das, humilhadas, impedidas de exercer outras funções por conta do preconceito. Segundo Thiago, no seu trabalho o machismo pode ser caracterizado pelo fato de nenhumas das unidades da empresa têm mulheres trabalhando. Com exceção da contabilidade, mas que neste caso é outra empresa que presta serviços. Como supervisor ele que é responsável pela contratação de funcionários. Questionado sobre o porquê de não ter funcionarias na empresa, a resposta foi curta: “você dificilmente irá encontrar uma mulher manobrista”. Por outro lado, não tem certeza se caso houvesse a oportunidade se contrataria uma. Há 16 anos na empresa ele considera o setor de estacionamentos (uma área restrita) na qual a inserção da mulher é um pouco difícil. Até mesmo nos tempos em que a mãe do atual dono era responsável pela administração não havia mulheres trabalhando na empresa. O estereótipo das mulheres serem más motoristas conta bastante para está falta de profissionais femininas nos estacionamentos. Não que isso seja verdade, mas influencia bastante. Só Para Mulheres Na unidade Jardim America do Fleury Medicina e Saúde, 100% das manobristas são mulheres, seis ao total. Segundo Luciana Ferreira, gerente de operações, está é uma exigência do grupo Fleury, juntamente com a Maxipark

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levando em consideração a localização e o “atendimento atencioso e delicado” que a área da saúde exige. No momento da contratação, segundo Luciana, a experiência é bem vinda, porém, a preferência é para quem não tenha. Isso porque, segundo ela, quando a funcionária é contratada sem experiência é mais fácil à aprendizagem de acordo com as normas da empresa. Tanto que das seis funcionárias que trabalham atualmente na unidade, apenas duas já tinham experiência na área. Amanda Ribeiro, 27 anos, trabalha há quatro anos na empresa. Por já ter experiência dirigindo segundo ela o início foi tranquilo. A única dificuldade foi em relação aos diversos modelos de veículos e as formas de condução de cada um. Porém a desconfiança dos clientes é frequente. Ouvem questionamentos como: você vai saber manobrar meu carro? Teria uma vaga que eu poderia estacionar? O fato mais inusitado que aconteceu com Amanda, já faz certo tempo, ocorreu uma fatalidade de ralar um carro. Quando informado o cliente se alterou. Entre diversos insultos um lhe chamou a atenção: “lugar de mulher é na cozinha mesmo, pilotando o fogão”. Neste caso, o problema foi resolvido internamente pelo estacionamento. Porém o fato dos insultos, não houve qualquer retratação. Para Amanda a escolha da empresa em contratar apenas mulheres, tem relação com a forma com que elas tratam os clientes e da forma mais atenciosa com que elas executam as manobras.

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o n o ism h c a a m i d o a i ra d t n u o e s C o n e o h l traba Por Ingrid Fiel Em ambientes de trabalho, o machismo Entrevista-

vai além do salário desigual.

mos profissionais de áreas consideradas masculinas para lhe ajudar a lidar com isso.

Não é novidade que as mulheres ainda lutam pela igualdade no meio profissional. A área esportiva é apenas mais um campo no qual o machismo ainda persiste. Podemos perceber que na maioria das matérias, tanto impressa quanto online, que a mídia trata o assunto de maneira que o foco seja a beleza física das competidoras ou em caso de uma derrota colocam em dúvida a capacidade técnica ou até como se elas não usassem todo o seu potencial. Como se existisse uma falta de dedicação por parte das competidoras. Na área jornalística, além de suas competências diárias da profissão, a

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mulher ainda tem que lutar pelo reconhecimento do seu trabalho, de maneira que é preciso lidar muitas vezes com piadinhas e insinuações se reafirmar para os colegas de profissão. A jornalista Amanda Abed, 24 anos, especializada em Marketing Esportivo pela Yale Business School conta como enfrenta o preconceito no meio do jornalismo esportivo. Segundo ela é machismo ainda está presente no seu dia a dia desde seus primos comentam quantas mulheres beijaram na balada, até o fato de ter que

Amanda Abed Especializada em Marketing Esportivo pela Yale Business School

ouvir frases como “lugar de mulher não é no estádio”. “Cobri muitos eventos esportivos, já apitei jogo de rugby, então sempre tem o comentário machista de que lugar de mulher não é no esporte. Engraçado que a participação feminina, no quesito resultados, em qualquer esporte que o Brasil pratique, é infinitamente maior que a masculina.”, argumenta Amanda. O machismo está presente nas pequenas coisas. Ainda ouvimos que a mulher é quem está errada por usar um vestido e não o homem por canta-la. Também no fato de em muitos casos, homens que têm a mesma função que uma mulher, ganham mais. Amanda reconhece que faz o tipo chata. “Eu discuto e tento sempre trazer as pessoas para o meu lado e enxergarem o que passamos diariamente. Não

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“Tive que provar primeiro pra mim mesma que eu sou capaz de tudo isso e, hoje, enfrento a tudo e a todos.”

“As leis ainda são muito brandas, e dão a entender que não existem consequências para aquelas que as transpõe.”

Amanda Pereira Recursos humanos

Beatriz Gibelato Advogada

vou a passeatas, tenho preguiça pra dizer bem a verdade. Mas tento mudar aos poucos a cabeça dos que me cercam.”, comenta. Amanda é uma das principais fontes informativas de rugby aqui no Brasil, por ter trabalhado 5 anos na confederação brasileira de rugby. Hoje ela é jornalista PR manager no PokerStars, a maior marca de poker do mundo e que tem 96% dos praticantes homens. Com relação ao mercado de trabalho ela conta que além do preconceito na área por ser mulher, ela é nova para um cargo de grande responsabilidade. “Tive que provar primeiro pra mim mesma que eu sou capaz de tudo isso e, hoje, enfrento a tudo e a todos. Eu me provo com entregas e fazendo o meu trabalho bem feito. Não é à toa que hoje eu coordeno uma equipe, onde tem 3 homens e um trabalhando lado a lado comigo.”, conta. Quanto as metas profissionais, ela pretende ser especialista em Marketing Esportivo no Brasil, que é uma área ainda mal desenvolvida e com poucos profissionais e, os que tem, são homens. “Minha luta é pra não ganhar menos do que um homem, porque muito provavelmente, em currículo, o meu será muito melhor que o dele ou de qualquer um, tanto currículo acadêmico como currículo de experiências mesmo. Com certeza vai ter o mesmo preconceito

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que eu já sou habituada a enfrentar, mas estarei cada vez mais bem preparada para isso.”, diz Amanda. As dificuldades não estão restritas à essa área, é o que podemos perceber na entrevista com a estudante de Direito Amanda Pereira de 24 anos que trabalha com Recursos Humanos. Ela conta que por mais que o número de profissionais femininas seja amplo ainda existe o preconceito por parte dos homens mais velhos, resultado de uma sociedade tradicionalmente machista. Amanda é assistente de recursos humanos em uma empresa de eventos onde a área operacional é 100% masculina. “Muitos homens agem com respeito, porém, alguns coincidentemente os mais velhos agem como se uma mulher não pudesse impor o respeito pelo simples fato de ser mulher. Quando você mostra pro teu empregador que pode executar o mesmo procedimento que um homem e muitas vezes com mais qualidade você está sendo feminista”, argumenta Amanda. Feminista, ela não faz parte de um movimento em questão mas é engajada e defende a causa “Acredito que o movimento ganha força quando as mulheres comuns se juntam a ele. Observo com atenção e adoro ler a respeito do assunto, contra fatos não há argumentos e quanto mais você souber dos fatos mais conseguirá se fazer entender.”, conta.

Amanda é estudante de Direito e comenta a causa do ponto de vista jurídico. “As leis ainda são muito brandas, e dão a entender que não existem consequências para aquelas que as transpõe. A luta vai longe e nós mulheres temos que nas pequenas e nas grandes atitudes mostrar que a nossa causa é justa e deve ser respeitada. Saiba os seus direitos, pesquise, procure saber sobre o que acontece ao seu redor. Precisamos ser fortes e ter coragem de agir contra o agressor, o silêncio não é a solução e você não está sozinha. Conte, peça ajuda, incomode!”, aconselha. Com relação a suas metas profissionais, ela conta que quer ser juíza trabalhista e ajudar mulheres que sofrem com o machismo em seu ambiente de trabalho. Ainda do ponto de vista jurídico conversamos com a advogada Beatriz Gibelato, 27 anos. Ela ensina a lidar com diversas situações de desrespeito do cotidiano. “Existem diversos casos de machismo, alguns mais graves do que outros. Podendo gerar violência contra a mulher, por exemplo. O meu conselho é que procurem as autoridades competentes, pois nós temos leis que nos protegem contra o machismo. Como por exemplo, a lei 11.340 sancionada em 2006 (famosa lei Maria da Penha)” ensina Beatriz.

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CRM

Centro de Referência a Mulher Por Felipe Oliveira CRM Casa Brasilândia (zona norte), Casa Eliane de Grammount (zona sul) e CRM 25 de março (centro), e recém-inauguradas as unidades, zona leste e São Miguel. Como explica a psicóloga

e coordenadora da unidade Brasilândia Rosana Thomas, o número de unidades não é suficiente. Segundo ela, a unidade Brasilândia atende em média de 5 a 6 mulheres por dia, sendo que, apenas

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Os centros de apoio e referência à mulher trabalham especificamente com mulher em situação de violência doméstica e familiar. Hoje conta com cinco unidades na cidade de São Paulo,

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de vida. Desta forma o centro solicita a secretaria o abrigo para a mulher. A secretaria envia um veículo para o transporte da mulher até o abrigo, onde ela devera ficar até ter condições psicológicas e financeiras de sair de lá, o tempo em média que elas ficam é de quatro a seis meses, podendo varia de acordo com cada caso. Os filhos nunca são separados da mãe, no caso de o pai ser o agressor ele fica separado dos filhos enquanto a mulher permanecer no abrigo.

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vezes por semana para ajudar a mulher em questões como, divórcio, medidas protetivas, guarda de filhos e pensão alimentícia. O centro também conta com um grupo de terapia, que acontece todas as quintas-feiras, no período da manhã. O grupo atende atualmente doze mulheres, são mulheres que saíram da situação de violência ou estão tentando sair. Como último recurso o centro trabalha com o abrigo sigiloso, este método é usado apenas em casos extremos, caso de a mulher estar correndo risco

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três delas retornam. O restante volta ao período “lua de mel” que segundo ela é aquele momento em que a mulher perdoa o agressor, e em alguns casos volta à convivência normal. Todas as unidades contam com atendimentos psicológicos, social e jurídico. O atendimento é feito de segunda a sexta feira das 8h as 17h, não é necessário agendamento prévio. A única exigência é ter no mínimo 18 anos, pois o atendimento não é feito com as menores de idade. Quando a mulher chega ao centro não é obrigada a fazer o boletim de ocorrência, porém é feita a orientação no momento do atendimento. Segundo a Rosana quando as mulheres procuram o atendimento, quase sempre é por que houve a agressão física, são raros os casos de mulheres que procuram apoio diante de agressões psicológicas, principalmente nesta unidade que trabalhas com mulheres muitas vezes da periferia e em tese sem certo conhecimento dos seus direitos. “Muitas entendem as agressões psicológicas com algo normal dentro do âmbito domestico e familiar vindo procurar ajuda apenas após a agressão física”, explica. Geralmente a média de idade das mulheres que procuram o centro e de 30 a 40 anos, grande parte após agressão do companheiro. Os casos das mulheres idosas, geralmente o agressor são os filhos ou parentes, muitas vezes usuários de drogas. O período de atendimento é a própria mulher quem determina em média, dura de três a quatro meses dependendo de cada caso. Neste período ela tem o acompanhamento psicológico, jurídico junto com a defensoria pública duas

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O cuidado sem crueldade

C osméticos fazem parte da nossa rotina. Não importa se você é homem ou mulher, sabonetes, desodorante, perfumes, xampus são parte dos cuidados diários. Por Ingrid Fiel

Optar por produtos vegan pode trazer diversas vantagens, além de poder se cuidar sem prejudicar o meio ambiente, contribuir com o sofrimento animal, você também encontra opções de produtos

feitos com ingredientes naturais, o que contribui para a sua saúde e são livres de reações alérgicas. Fizemos uma seleção de lugares em São Paulo, onde você pode encontrar diversos produtos nessa linha.

A loja fica localizada na rua Pamplona em São Paulo, e oferece uma grande variedade de produtos cruelty free nacionais e internacionais a preços acessíveis.

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Endereço: Rua Pamplona, 1375 - Cerqueira César, São Paulo - SP, 01413-100

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A marca é um clássico brasileiro desde 1930, super conhecida e a um preço acessível. Talvez seus sabonetes com base vegetal sejam seus produtos mais conhecidos, mas a empresa tem muito mais para oferecer, incluindo uma linha para animais de estimação. Além do e-commerce oficial da marca, os produtos podem ser encontrados com facilidade em diversas perfumarias e farmácias. www.granado.com.br

Empresa brasileira pioneira quando o assunto é maquiagem e cuidados faciais, com certificados orgânicos, naturais e livres de qualquer ingrediente de origem animal. A Bioart é de Santa Catarina mas os produtos podem ser encontrados no e-commerce da marca.

Lush Cosméticos É uma empresa internacional de cosméticos com mais de 850 lojas em 51 países. Com produtos feitos a mão veganos, sem conservantes e livres de embalagens. Cruetly Free

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Bioart

http://loja.bioart.eco.br

Granado/Phebo

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Neo Kosmos

Endereços: Shopping Center norte (11) 2089-1389 Travessa Casalbueno, 120 - São Paulo - SP, 02089-900 Morumbi Shopping (11) 5189-4701 Avenida Roque Petroni Júnior, 1089 – São Paulo – SP, 04710-220


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Educação livre

de preconceitos

Por Ingrid Fiel nessa matéria especial a

atuais para uma educação desconstruída e livre de preconceitos.

As crianças são como folhas em branco prontas para receberem informação e formarem suas opiniões e valores. Boa parte desses valores aprende-se em casa, por meio de exemplos dos mais velhos e suas experiências, porém a escola e os meios de comunicação hoje têm grande papel na educação e na formação do caráter de uma criança. Conversamos com Tatiane Jimenez, 26 anos, pedagoga formada pela USP, sobre o feminismo e questões de gênero na educação infantil. Ela argumenta que devemos educar as crianças por meio da

brincadeira, pois através dela a criança recebe a informação e consegue refletir sobre ela. Segundo a especialista, esse tipo de atividade estimula a criança a desenvolver seu raciocínio lógico, senso crítico e até interação social com outras crianças, além, é claro, da questão da coordenação motora. “A brincadeira é um meio muito rico de aprendizagem da criança, muito mais do que uma aula expositiva muitas vezes”, diz Tatiane. Na opinião da pedagoga é também a partir das brincadeiras que podemos ensinar a igualdade de gênero. Para isso, basta deixar de lado a velha história de brinquedo “de menina” e brinquedo “de menino”. Ou seja, as crianças devem ser livres para escolher o que

mais gostam, sem censura ou valores herdados de uma geração educada no modo patriarcal. Brinquedo tem gênero? Desde a infância somos condicionados a gostar de determinadas atividades que são designadas para cada gênero. Como as meninas sempre brincando com bonecas, comidinha e os meninos brincando com modelos de construção e jogos mais interativos. Esse tipo de atitude faz com que o menino desenvolva mais habilidades do que a menina que pratica atividades limitadas, como carregar uma boneca e mexer com panelinhas.

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Discutimos

quebra de paradigmas sociais e os desafios


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Nada contra a menina que goste deste tipo de brincadeira, a questão é não limitar a criança a um tipo de brincadeira só porque é menina. “Quando você dá um Lego de 4 mil peças para um menino, dificílimo de montar, ou um helicóptero, você o ajuda a desenvolver certas habilidades. A questão é que na mesma fase muitas vezes as meninas recebem um Lego com peças maiores ou, pior ainda, um fogão e um monte de panelinhas. Com certeza estamos desenvolvendo habilidades diferentes nessas crianças”, analisa Tatiane, lembrando que esse tipo de atitude é injusta com ambos, até porque hoje em dia o homem também precisará cozinhar, limpar a casa, lavar a louça. Questões de gênero desde cedo Outra questão importante é ensinar as crianças sobre o machismo. Percebe-se que ele aparece no dia a dia, quando um menino desrespeita a coleguinha e ela não gosta; ou quando um menino sofre pressão por não gostar de jogar

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de futebol e preferir atividades artísticas. “Quando você fala para uma menina que ela não pode ir de batom vermelho para a escola porque se ela for ofendida pelos meninos a culpa será dela, você está alimentando uma cultura do estupro” Como explica Tatiane, um exemplo bem comum de machismo com as crianças é quando você ensina a menina que se os meninos a desrespeitarem a culpa é dela, por causa da roupa usada, maquiagem ou alguma atitude. “Isso com o tempo irá se agravando”, avisa a especialista. “Esse tipo de coisa começa na infância. O adulto justifica a brincadeira colocando a culpa na vítima. Esse é um reflexo de uma sociedade que a vítima em casos de assédio e até estupro”, argumenta. Segundo Tatiane, isso acontece de forma quase que natural nas escolas, quando se diz para a menina que, para não ser humilhada, ela tem que se dar o respeito. “Quando você fala para uma menina que ela não pode ir de batom vermelho para a escola porque se ela

for ofendida pelos meninos a culpa será dela, você está alimentando uma cultura do estupro”, comenta Tatiane. Para a especialista, esses valores são reforçados na sociedade desde sempre. A prova é que o Brasil é um estado laico, mas com uma bancada evangélica fortíssima, aprovando e desaprovando projetos de leis baseados em princípios morais cristãos, o que fere a Constituição. “E consequentemente temos a presença das igrejas cristãs fortíssimas nas escolas. O cristianismo reforça a imagem da mulher como dependente e submissa ao homem, um ser frágil que precisa obedecer e ser protegida pela figura masculina. Essa ideia ajuda a criminalizar também os homossexuais e a formar crianças preconceituosas”, complementa. Como exemplo, Tatiane cita um caso de uma escola. A garota, que havia acabado um namoro, uma semana depois beijou outro garoto. O menino que havia terminado com ela deu-lhe um soco no peito, no pátio da escola. E sabe o que ele disse para justificar a


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Tatiane Jimenez Pedagoga

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violência? “Ela está me desrespeitando, ela é minha ex-namorada e está beijando outro menino na frente dos meus amigos”. O problema é que quando o pai do menino foi chamado para conversar ele adotou o mesmo discurso: “A namorada do meu filho estava beijando outro menino e você quer que meu filho passe de corno?”.

“Quando você fala para uma menina que ela não pode ir de batom vermelho para a escola porque se ela for ofendida pelos meninos a culpa será dela, você está alimentando uma cultura do estupro.”

Isso tem valor? A questão da desvalorização das tarefas socialmente femininas é outro ponto que preocupa a especialista. Segundo ela, também deve ser trabalhado desde a infância. A melhor forma de fazer isso é ensinar meninos e meninas a desenvolver todos os tipos de habilidades que ajudarão na execução das tarefas do dia-dia. “Se você fala para um amigo seu que a sua filha gosta de brincar de carrinho, todo mundo acho bom, porque isso significa que a menina vai dirigir. É motivo de orgulho porque se trata de um serviço masculino. Mas a reação é totalmente diferente quando se comenta que tal menino gosta de brincar de boneca. Sabe por que? Porque tudo o que a mulher faz tem menos valor”, explica Tatiane. Ela observa ainda que essas atitudes são injustas com as crianças, uma vez que o tipo de brinquedo que ela se interessa não irá determinar a orientação sexual dela. “Limitar as crianças só faz com que elas cresçam com complexos e frustrações, transformando-as em adultos infelizes. Devemos parar de tentar encaixá-las em um padrão imposto pela sociedade e deixá-las livres para serem como são”, defende.

DICAS DE LIVROS Para refletir sobre questões sociais e como as crianças definem certas experiências.

A casa das Estrelas Durante mais de dez anos o professor Javier Naranjo guardou as definições que seus alunos do curso primário (entre 3 e 10 anos) davam para palavras, objetos, pessoas e, principalmente, sentimentos, em suas aulas de espanhol. Algumas centenas destas definições estão reunidas em ‘Casa das Estrelas’. São poéticas, engraçadas, muitas vezes melancólicas Para ler com as crianças e discutir sobre o tema, desenvolvendo assim o raciocínio crítico sobre o pensamento sexista.

Malala: a Menina Que Queria ir para a Escola No primeiro livro-reportagem destinado ao público infantil, a jornalista Adriana Carranca Corrêa relata às crianças a história da adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, baleada por membros do Talibã aos catorze anos por defender a educação feminina.

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Influenciadoras

Digitais Por Ingrid Fiel

Depois de grandes pensadoras do movimento feminista, conhecidas no mundo todo, hoje temos algumas

“pensadoras

contemporâneas”.

ajudam na formação do caráter crítico e desconstrução de padrões de comportamentos impostos pela sociedade em geral. Fizemos um apanhado de canais para você se aprofundar, refletir sobre temas polêmicos e que estão em evidência e também se divertir com assuntos do cotidiano.

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Hoje parte da educação das crianças, adolescentes e até adultos fica por conta da era digital. A internet é responsável por formar opinião e trazer debates e reflexões so-

bre temas que antes seriam vistos como tabus. Como grande parte das pessoas vive conectada as celebridades da internet tem uma grande responsabilidade de certa forma, em formar opinião de uma legião de seguidores. Existem influenciadores ruins e fúteis, porém também existem uma boa parte que promove temas complexos e

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d i c a s Gorda de Boa e Canal das Bees Jessica Tauane é idealizadora dos canais Gorda de Boa e Canal das Bees ambos discutem assuntos como feminismo, gordofobia e tira todas as suas dúvidas sobre questões de gênero e termos do universo LGBT. Afros e Afins

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A idealizadora do canal, Nataly Neri, é pós-graduanda em sociologia e também é uma ótima trançadeira especializada em dreads de lã, box braids e nagô. Em seu canal no YouTube compartilha vídeos sobre assuntos referentes ao feminismo, identidade e estética negra e outros assuntos importantíssimos. No canal você também encontra muitas dicas de moda. Divulgação

JoutJout Com seu canal Jout Jout Prazer, Julia Tolezano levantou a bandeira em prol das mulheres, debatendo questões como violência, relacionamentos abusivos, falou sobre o batom vermelho como ferramenta de empoderamento feminino e até sobre menstruação, afinal, esse assunto ainda é “tabu”. Despretenciosa acabou ajudando uma porção de meninas e mulheres a reconhecerem seus poderes e também a fazer um escândalo quando for necessário

Nana Queiroz

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A jornalista Nana Queiroz criou muitas causas que ajudam as mulheres. Fundou a revista Azmina, que destaca o feminismo e a atuação da mulher; criou a campanha Carnaval Sem Assédio e o movimento Não Mereço Ser Estuprada. Além disso, lançou o livro “Presos que menstruam”, que retrata a situação de presidiárias no Brasil, abrindo um importante debate.

Daiara Figueroa

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Num pedido de socorro contra os massacres de diversas comunidades Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul, a professora Diara Figueroa de Brasília chamou atenção para a causa ao divulgar um vídeo em seu Facebook pessoal. Da etnia Tukano, Daiara, defende as causas e notícias relacionadas aos povos indígenas no Brasil e no mundo, que teem suas terras tomadas e sofrem constantemente com preconceito e agressões. 39 MANIFESTO.COM.BR

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